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1 In: PEDRINI, A. de G. (Org.) Educação Ambiental Marinha e Costeira no Brasil. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010. Implantação de Trilhas Subaquáticas para uso em Educação Ambiental nas Unidades de Conservação. Gisa Eneida Marques Machado Cristina Aparecida Gomes Nassar Alexandre de Gusmão Pedrini Resumo O presente capítulo apresenta uma metodologia para a implantação de uma trilha subaquática em uma unidade de conservação, como forma de geração de renda para as comunidades tradicionais e como estratégia para a realização de projetos de educação ambiental. O estudo de caso apresentado foi desenvolvido na Enseada do Cambury no Parque Estadual da Serra do Mar-Núcleo Picinguaba (Ubatuba-São Paulo) e foi executado em três etapas: 1) estudo preliminar para caracterização da comunidade local, da existência do mercado e para a escolha do local de implantação da atividade; 2) levantamento das bases norteadoras (ambiente, comunidade e visitantes) e 3) retorno às partes com a divulgação do resultado junto à administração da unidade de conservação e à comunidade envolvida. O resultado indicou que deverá ser feito um grande esforço na capacitação dos moradores para atuarem na trilha, bem como na infra-estrutura para a recepção dos visitantes. O trabalho teve a efetiva participação da comunidade que viu com entusiasmo o potencial da atividade e demonstraram grande interesse em implantá-la. Palavras chave: ecoturismo, unidade de conservação, trilha subaquática, educação ambiental, comunidades tradicionais, zona costeira.

Implantação de trilhas subaquáticas

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Page 1: Implantação de trilhas subaquáticas

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In: PEDRINI, A. de G. (Org.) Educação Ambiental Marinha e Costeira no Brasil.

Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010.

Implantação de Trilhas Subaquáticas para uso em Educação

Ambiental nas Unidades de Conservação.

Gisa Eneida Marques Machado

Cristina Aparecida Gomes Nassar

Alexandre de Gusmão Pedrini

Resumo

O presente capítulo apresenta uma metodologia para a implantação de uma trilha

subaquática em uma unidade de conservação, como forma de geração de renda

para as comunidades tradicionais e como estratégia para a realização de projetos

de educação ambiental. O estudo de caso apresentado foi desenvolvido na

Enseada do Cambury no Parque Estadual da Serra do Mar-Núcleo Picinguaba

(Ubatuba-São Paulo) e foi executado em três etapas: 1) estudo preliminar para

caracterização da comunidade local, da existência do mercado e para a escolha

do local de implantação da atividade; 2) levantamento das bases norteadoras

(ambiente, comunidade e visitantes) e 3) retorno às partes com a divulgação do

resultado junto à administração da unidade de conservação e à comunidade

envolvida. O resultado indicou que deverá ser feito um grande esforço na

capacitação dos moradores para atuarem na trilha, bem como na infra-estrutura

para a recepção dos visitantes. O trabalho teve a efetiva participação da

comunidade que viu com entusiasmo o potencial da atividade e demonstraram

grande interesse em implantá-la.

Palavras chave: ecoturismo, unidade de conservação, trilha subaquática,

educação ambiental, comunidades tradicionais, zona costeira.

Page 2: Implantação de trilhas subaquáticas

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Abstract

This chapter presents a methodology to implement an underwater trail at a

conservation unit as a way to provide incomes to traditional communities and as a

strategy to the development of environmental educational projects. The case

presented was carried out at Enseada do Cambury in the Serra do Mar State Park-

Picinguaba Unit (Ubatuba-São Paulo) and was conducted in three stages: 1)

characterization of the local community by an informal approach, search for a

potential market and for a site to implement the activity; 2) basic survey of the

environment, visitors and local community and 3) report of the results to the

conservation unit administration and the community involved. The results indicated

that a strong effort must be applied to improve the local working skills to act on the

trail. It also indicated that the present infra-structure must be adapted to better

serve the visitors. The community worked effectively on this study, showing

enthusiasm with the potential of the activity and the possibility of it implementation

soon.

Key-words: ecotourism, conservation unit, underwater trail, environmental

education, traditional communities, coastal zone.

Introdução

A atividade turística vem aumentando, anualmente, de forma gradativa em

todo o mundo, envolvendo milhões de dólares. Ecoturismo é uma modalidade que,

de forma sustentável, utiliza o patrimônio natural e cultural, incentivando e

buscando sua conservação e a formação de uma consciência ambientalista,

através da interpretação do ambiente, promovendo o bem estar das populações

envolvidas (SAAB & DAEMON, 1995). O ecoturismo possui incorporado no seu

conceito a proposta de não causar qualquer tipo de impactação negativa às áreas

naturais onde é desenvolvido. Porém, vários autores vêm mostrando que a

atividade ecoturística tanto terrestre como costeira ou submarina vem causando

sérios estragos, principalmente, em áreas protegidas, podendo em pouco tempo

descaracterizar uma região (UNDERWOOD & KENNELY, 1990; RUSCHMANN &

SOLHA, 2004; PEDRINI, 2006b; 2007; PEDRINI et al., 2007b; 2008a, b, c). As diferentes

Page 3: Implantação de trilhas subaquáticas

3

percepções de direito a uso em áreas naturais, particularmente, em unidades de

conservação vêm gerando diversos conflitos entre comunidades inseridas nessas

unidades e seus representantes legais (CUNHA, 1993; SIMOES, 2005; PEDRINI

& PINHO, 2006; LOPES, 2006; UEJIMA, 2007). Suas motivações circulam entrem

disputa e direito pela terra, até a necessidade de geração de renda que atenda e

satisfaça, simultaneamente, a legislação e os interesses dessas comunidades

(RUSCHMANN & SOLHA, 2004; MEDEIROS et al 2006). Veja Pedrini et al

(capítulo desse livro) para alguns exemplos de problemas e conflitos que podem

ocorrer em unidades de conservação localizadas nas regiões costeira e marinha

no Brasil.

A implantação de uma atividade ecoturística em ambiente natural tem como

necessidade primária o engajamento da comunidade local com o ambiente em

questão (BRASIL, 2005). Se de um lado, o interesse do visitante e a disposição

para atuar na atividade podem significar o sucesso ou o fracasso de um projeto,

por outro, é a participação dos moradores, que propicia à atividade, seu principal

elemento de manutenção, divulgação e gestão. Pedrini (2006b) fornece um

panorama atual de projetos brasileiros onde ocorre forte interação entre atividades

de educação ambiental, em especial no ambiente marinho, e as atividades de

preservação, recuperação e conservação de biomas e ecossistemas naturais.

Os atores envolvidos com o ecoturismo costeiro e marinho raramente se

reúnem para construir normas de convivência, visando uma adequada gestão dos

recursos naturais e construídos. Um exemplo disso foi a construção coletiva do

documento intitulado como “Carta da Ilha Anchieta” (2001) produto do “Workshop:

Diretrizes para Prática do Mergulho Recreativo, Turístico e de Lazer (RTL) em

Unidades de Conservação”, segundo Augustowski & Francine (2002). Esse

documento transformou-se posteriormente na Instrução Normativa nº 100 (IBAMA,

2006) que fornece as bases para a regulamentação da prática de atividades em

ambiente marinho em unidades de conservação. O documento ressalta a

importância da Educação Ambiental (EA) como fonte de informação e interação de

moradores e visitantes com o ambiente costeiro e a valorização de sua

Page 4: Implantação de trilhas subaquáticas

4

conservação. Ele também estabelece os princípios globais para a realização de

trilhas, com a finalidade de evitar impactos negativos do mergulho.

A adoção de trilhas na Educação Ambiental Marinha e Costeira (EAMC)

A adoção de trilhas costeiras e subaquáticas como estratégia para realizar

projetos de EA é tema ainda pouco conhecido no Brasil. Na parte costeira temos o projeto

Trilha da Vida (TV) idealizado por José Matarezi da Universidade do Vale do Itajaí. Em

vários trabalhos a TV foi caracterizada, mas o trabalho reflexivo mostrando sua

efetividade está melhor apresentado no trabalho de MATAREZI et al. (2003). Nesse

trabalho o autor a apresenta como “Trilha da Vida: Re-descobrindo a Natureza com

os Sentidos” que foi criada e desenvolvida, desde 1997, em parceria com a ONG

Movimento Verde Mar Vida – MVMV (Florianópolis, SC) com apoio da Fundação O

Boticário de Proteção à Natureza. Esse projeto caracteriza-se como um “Experimento

Educacional Transdisciplinar”, em que as pessoas vivenciam situações de olhos

vendados, exercendo intensamente o tato, olfato, paladar e audição na Floresta

Atlântica e ecossistemas costeiros.

Na parte marinha dois trabalhos são emblemáticos no Brasil. O primeiro é o

trabalho de Wegner (2002) que, na realidade é o único apresentando uma

metodologia detalhada de planejamento para a implantação de uma trilha

submarina numa ilha do estado de Santa Catarina. Porém sua preocupação foi a

de propor um produto ecoturístico. Ele inicia sua metodologia apresentando

detalhado estudo dos parâmetros ambientais como batimetria, estudos das

correntes e ventos, de locais potencialmente adequados para implantar uma trilha,

etc. Em seguida formula mapas, demarca áreas, capacita monitores e estuda as

preferências de usuários potenciais para praticar mergulhos. Nesse caso, há

preocupação de estudar os ecoturistas e suas demandas e não a população local

de baixa renda que poderia se beneficiar do ecoturismo, segundo preza o seu

conceito.

O segundo trabalho é o de Berchez et al (2005) que implantaram uma trilha

submarina na parte marinha do entorno do Parque Estadual da Ilha Anchieta,

Page 5: Implantação de trilhas subaquáticas

5

estado de São Paulo, com o fim de realizar atividades de Educação Ambiental

Marinha aos ecoturistas que visitam essa área protegida. Esse estudo mostrou

que as atividades ecoturísticas causavam impacto negativo, mas que eram

minimizadas ou extintas quando eram ministradas preleções (“briefings”) aos

praticantes das atividades com monitores oferecidas pelo Projeto TrilhaSub da

Universidade de São Paulo. Essa atividade foi recentemente avaliada por Pedrini

et al (2007b) tendo se mostrado eficaz como atividade de interpretação ambiental

(PEDRINI, 2007) tal como prevista pela legislação ambiental. No entanto, esse

trabalho também não envolveu a comunidade tradicional da unidade de

conservação e a trilha periodicamente precisa ser recuperada, pois não há uma

adequada manutenção da trilha e seus pontos interpretativos.

Assim, um planejamento responsável para a implantação de uma trilha

subaquática envolve etapas que antecedem a implantação e, que irão determinar

o funcionamento e a manutenção da atividade, devendo envolver a comunidade

humana da localidade. Não basta ter a idéia do projeto, é necessário adequá-lo às

necessidades, a vocação, a vontade e as expectativas dos grupos envolvidos

(moradores-visitantes-gestores). A participação da comunidade local não pode

ser simplesmente um ato de consulta aos moradores, e sim um compromisso de

atuação e contribuição permanente por parte da comunidade envolvida

(RUSCHMANN & SOLHA, 2004). Como uma etapa que antecede a implantação,

o planejamento deve cumprir uma linha de investigação construtiva. O resultado

desse planejamento não só fornecerá a disponibilidade do mercado para o

produto, mas também as necessidades dos grupos, para o efetivo engajamento na

construção das estratégias para sua implantação.

O objetivo do presente capítulo é apresentar uma metodologia para a

implantação de uma trilha subaquática em uma unidade de conservação (UC),

como forma de geração de renda a comunidades tradicionais ainda existentes

tanto nos limites da UC como no seu entorno. Busca a valorização sócio-

ambiental, através de uma atividade auto-sustentável e participativa de EA e que

se bem administrada irá auxiliar na conservação do patrimônio natural.

Page 6: Implantação de trilhas subaquáticas

6

DIAGNÓSTICO PRELIMINARExistência e disponibilidade de local para a atividade; levantamento das

características da comunidade residente e existência de mercado para o produto.

Prim

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Terc

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Autorização para a realização da pesquisae contato com a comunidade local

Entrevista com moradores

LEVANTAMENTO DAS BASES NORTEADORAS

Necessidadede capacitação

RETORNO ÀS PARTESDivulgação dos resultados das etapas anteriores para aadministração da UC e para a comunidade envolvida.

Estabelecimentode parcerias

Interesse pela atividade

Seleção do local porbiólogos e moradores

Possibilidade de uso emanejo do local selecionado

Adaptação da infraestrutura existente

perfil dos futurosgestores da atividade

Entrevista com visitantes

perfil do visitante

Interesse pela atividade

Formas de divulgação

Conhecimento prévio do ambiente marinho

DIAGNÓSTICO PRELIMINARExistência e disponibilidade de local para a atividade; levantamento das

características da comunidade residente e existência de mercado para o produto.

Prim

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Terc

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Autorização para a realização da pesquisae contato com a comunidade local

Entrevista com moradores

LEVANTAMENTO DAS BASES NORTEADORAS

Necessidadede capacitação

RETORNO ÀS PARTESDivulgação dos resultados das etapas anteriores para aadministração da UC e para a comunidade envolvida.

Estabelecimentode parcerias

Interesse pela atividade

Seleção do local porbiólogos e moradores

Possibilidade de uso emanejo do local selecionado

Adaptação da infraestrutura existente

perfil dos futurosgestores da atividade

Entrevista com visitantes

perfil do visitante

Interesse pela atividade

Formas de divulgação

Conhecimento prévio do ambiente marinho

Será apresentado um Estudo de Caso (MACHADO, 2007) realizado no

Núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar como subsídio para a

implantação de uma trilha subaquática por uma comunidade tradicional inserida

em unidade de conservação para a prática de EAM.

A Figura 1 apresenta as etapas principais para se proceder a um estudo

para planejar participativamente uma trilha subaquática para uso em EA. Cada

uma das etapas será detalhada, a seguir, para o caso estudado.

Page 7: Implantação de trilhas subaquáticas

7

Figura 1: Esquema da seqüência de abordagens realizadas para o estudo de

implantação da trilha subaquática na Unidade de Conservação.

A primeira parte envolveu uma sondagem inicial onde o grupo buscou, de

forma informal, as condições básicas para o funcionamento de uma trilha

subaquática, ou seja, verificar: a) a existência e disponibilidade de um local para a

prática; b) as características da comunidade residente e c) a existência de

mercado para o produto (trilha subaquática).

Essa parte envolveu levantamentos bibliográficos que forneceram a base

para a construção das pesquisas, formas de consulta e acesso aos grupos

envolvidos. As informações foram direcionadas ao conhecimento da extensão da

área geográfica, características do ambiente natural, origem étnica das

comunidades, legislação e entidades legais direta e indiretamente envolvidas.

Para a escolha do local para a implantação da trilha subaquática foram

realizados mergulhos autônomos e em apnéia, entre outubro de 2006 e abril de

2007. Durante os mergulhos foram feitas observações e registro de imagem dos

locais, a fim de selecionar os pontos de relevância interpretativa. As áreas

investigadas estavam todas inseridas na enseada do Cambury. Foram vistoriados

cinco pontos nesta enseada, todos eles sugeridos pelos moradores. Durante o

processo de seleção foram considerados aspectos relacionados à distribuição e

associação das principais espécies presentes nos costões (flora e fauna local) e

beleza cênica. Além destes, foram ainda considerados: segurança, presença de

pontos de interpretação sócio-ambiental, distância do ponto de acesso e formas

de deslocamento disponíveis.

Com base nos primeiros resultados, passou-se as etapas de construção e

adequação da pesquisa às características dos moradores. O passo seguinte foi o

de estabelecer contato com a direção da unidade de conservação, para autorizar o

estudo e desenhar as primeiras ações para o início do projeto. Em seguida foram

realizados contatos com os representantes das comunidades e associações

existentes no local. Com a sinalização positiva das partes envolvidas (gestores da

Page 8: Implantação de trilhas subaquáticas

8

UC e comunidade) foi realizada uma pesquisa de opinião sobre a aceitação da

atividade.

Nessa segunda parte do projeto, o processo ganhou um caráter

investigativo onde foram levantadas as necessidades quanto ao: a) uso e manejo

do ambiente selecionado; b) treinamento das comunidades envolvidas para atuar

diretamente na manutenção e monitoramento do ambiente; c) contato e parcerias

necessárias para as campanhas de capacitação, educação ambiental e

treinamento da comunidade para atuar na atividade; d) interesse do visitante pela

atividade; e) perfil do visitante e as formas de divulgação da atividade; f) local para

recepção, palestras e treinamentos.

Durante um feriado prolongado, foram realizadas cinqüenta entrevistas com

visitantes, nas praias da UC. Nessa abordagem foram enfocados dois aspectos: o

perfil do visitante e o mercado para o produto. Esses dados nortearão os cuidados

com a divulgação para o público, a orientação/explanação antes da prática da

atividade, a capacitação da comunidade para fornecer segurança e informação

para os visitantes e as melhores formas de manutenção do interesse da

comunidade visitante.

O grau de aceitação da atividade por parte dos moradores foi obtido através

de pesquisa aplicada entre a comunidade quilombola e caiçara do Cambury,

totalizando trinta questionários, de um total de 70 famílias. Esta pesquisa enfocou

três aspectos: a) o perfil da comunidade; b) o interesse da comunidade na

atividade e c) conhecimento da rotina da atividade. Essas informações

forneceram os dados que determinou se a comunidade teria interesse em atuar na

trilha e a disponibilidade em receber treinamento. A entrevista teve ainda o

objetivo de avaliar o real envolvimento da comunidade com o turismo local. Nessa

fase do trabalho, as entrevistas foram realizadas pelos monitores do Núcleo

Picinguaba, também moradores do bairro.

O resultado dessa etapa forneceu as diferentes expectativas da

comunidade para a implantação de uma nova atividade para o turismo, a visão do

mercado e da abrangência da atividade na economia local e as necessidades de

adaptação ao novo perfil exigido pela atividade. Os moradores puderam ainda

Page 9: Implantação de trilhas subaquáticas

9

expor seus conhecimentos quanto ao ambiente natural que envolve a atividade,

suas limitações para a prática da atividade e a existência de infra-estrutura local

(recepção, armazenamento de equipamento, palestra e exposição).

O estudo buscou ainda, avaliar o conhecimento prévio dos visitantes e moradores

sobre o ambiente marinho, mais especificamente, os costões rochosos. As

informações dessa etapa serão a base para a construção de propostas de temas e

conteúdos para as atividades de divulgação, palestras e cursos. Com essa

finalidade foram realizadas atividades lúdicas como jogo-da-velha com algas,

“Quebra-cabeça” de seis faces e “Jogo-da-memória” com organismos marinhos e

“Seu Mestre mandou” catar o lixo (figura 2) na praia de maior visitação, que

possibilitaram o contato com diferentes faixas etárias, tanto de moradores quanto

de visitantes.

Figura 2: Atividades lúdicas realizadas na praia de maior visitação na UC.

Em uma terceira etapa os resultados foram apresentados aos gestores do

parque e a comunidade local, com as devidas adequações ao público alvo

(relatórios e reuniões).

1. Diagnóstico preliminar

1.1.Caracterização a comunidade onde a trilha poderá ser instalada

A Enseada do Cambury compõe o conjunto de enseadas que recorta a

região costeira do Núcleo Picinguaba, estado de São Paulo, sendo um dos

Page 10: Implantação de trilhas subaquáticas

10

ambientes procurados pelo turismo ecológico para, entre outras atividades, a

prática de esportes náuticos como o “surf” e o mergulho autônomo, este último

com suas variações sujeitas a normas e fiscalização em áreas protegidas

(Figura 3).

Figura 3: Localização da Enseada do Cambury no Núcleo Picinguaba

(Município de Ubatuba – São Paulo).

O bairro do Cambury (Núcleo Picinguaba) localizado no município de

Ubatuba, possui comunidades tradicionais (quilomboa e caiçara), que na década

de 60 sofreram diferentes tipos de intervenções, como a construção da BR-101 e

a incorporação ao Parque Estadual da Serra do Mar. Em função dessas

intervenções, houve o desencadeamento de um turismo intenso e um avanço da

especulação imobiliária. A inserção de 100% de seu território na unidade de

Page 11: Implantação de trilhas subaquáticas

11

conservação, impossibilitou que a comunidade continuasse com seus costumes

tradicionais seculares. Atualmente, as poucas áreas de roças remanescentes e a

pesca artesanal não conseguem fornecer o sustento mínimo para a população

que, em determinadas épocas do ano, sofre com a falta de alimento. O contato

direto com os visitantes ocorre em épocas de feriados, temporadas e férias

escolares. Alguns moradores receberam treinamento e capacitação para serem

incorporados nas rotinas das atividades desta unidade como funcionários braçais,

cozinheiros, vigilantes ou monitores ecológicos, atuando dentro das diretrizes que

regem as atividades desenvolvidas em áreas de proteção ambiental. Apesar dos

esforços em aproveitar o potencial local nas atividades desta UC, muitos

moradores ainda se encontram desempregados e sem opção de renda.

1.2. Autorização para a realização da pesquisa

Uma vez que o trabalho seria realizado em uma UC foi fundamental a anuência

dos gestores para a realização dos estudos de campo e contato com a

comunidade local.

2. Levantamento das bases norteadoras

2.1. A seleção do local da trilha

O local selecionado para a trilha subaquática foi um costão rochoso com

acesso a partir da principal praia da comunidade do Cambury. Nesse trecho da

enseada já existem quiosques de alimentação e diversos “campings”. O local

atendeu a todos os requisitos, tendo ainda como atrativos a presença de cultivo de

mariscos, pesca de cerco e a existência de práticas históricas da comunidade.

Todas essas atividades poderão compor o conteúdo de interpretação e enriquecer

o roteiro da visita. Um local alternativo seria o lado oposto da enseada, no entanto,

o trecho já é utilizado como ponto de entrada e saída dos barcos de pesca.

Segundo os próprios moradores, essa atividade colocaria em risco os

mergulhadores.

Page 12: Implantação de trilhas subaquáticas

12

2.2. Interesse dos moradores pela atividade

As atividades atualmente desenvolvidas pelos moradores (Figura 4) se

dividiram entre aquelas relacionadas ao turismo (30%), trabalhos realizados na

comunidade (20%) e aqueles que se encontram desempregados (20%).

0 10 20 30 40

turismo

comunidade científica

sem atividade

ativ

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percentagem (%)

Figura 4: Atividades desenvolvidas pelos moradores do Bairro do Cambury.

A expectativa da comunidade em relação à trilha subaquática foi

conservadora, como pode ser observado na figura 5. Muitos vêem com reservas a

trilha como atividade transformadora de sua realidade, possivelmente, em função

de expectativas anteriormente frustradas, com projetos semelhantes. A falta de

acesso à energia elétrica é um ponto marcante no dia-a-dia da comunidade.

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20%

30%

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oportunidade para o comercio local

capacitação para o ecoturismo

controle e valorização do ambiente

conscientização para o turismo não predatório

conscientização para a comunidade

geração de renda para os moradores

atrair o turismo

expe

ctat

iva

alta media baixa

Figura 5: Expectativa da comunidade em relação à implantação da trilha

subaquática.

Page 13: Implantação de trilhas subaquáticas

13

Mesmo diante desse quadro, cerca de 75% dos entrevistados gostaria de

receber treinamento para atuar como monitor na trilha subaquática. Entre os

possíveis motivos que levariam ao impedimento em participar deste treinamento,

85% indicaram a falta de equipamento e 15% o fato de não saberem nadar. A

maior parte dos moradores entrevistados já participaram das atividades oferecidas

pelo parque (passeios terrestres e aquáticos, palestras e apresentação de vídeos).

A pesquisa indicou que 80% dos moradores possui alguma experiência em

práticas de atividades em ambiente marinho. Destes, a maioria atua na pesca

(63%), seguida de mergulho (27 %) e atividades diversas (10%).

Alguns moradores além de utilizarem suas embarcações para a pesca,

também disponibilizam as mesmas, para visitas turísticas às praias e ilhas de

difícil acesso. Já durante as etapas de coleta de dados, os moradores se

empenharam em efetuar mudanças em suas embarcações, para melhor adequá-

las a prática da atividade proposta. Com base nas informações obtidas na

pesquisa, já foram providenciados: piso antiderrapante para as lanchas de

alumínio, coberturas, escadas para embarque e desembarque, recipientes para

acomodação do material a bordo e kits de primeiros socorros.

Apesar do grande conhecimento do mar, a maioria dos entrevistados

demonstrou desconhecimento de qualquer atrativo que possa levar os turistas,

que não buscam a pescaria como fonte de lazer, até o costão e a visitar a região

submersa. Com exceção de uma estrutura utilizada como recife artificial, os

próprios pescadores só tinham conhecimento do potencial da área, para cerco de

peixes.

Os moradores se mostraram preocupados com a falta de equipamento

adequado para o início da atividade. Esse resultado aponta para consciência da

comunidade em seus limites financeiros e dificuldades de se equiparem para o

início do processo de treinamento (material básico de mergulho em apnéia, bóias,

placas etc). Em função desse resultado, foram realizados contatos preliminares

com algumas empresas que já se mostraram interessadas em participar do

projeto, através da doação ou venda de material a preço de custo.

Page 14: Implantação de trilhas subaquáticas

14

2.3. Interesse dos visitantes pela atividade

O perfil dos visitantes indicou que 12% possuíam pós-graduação e 48%

possuíam graduação. Quanto à cidade de origem, 80% são oriundos de cidades

costeiras e 20% do interior. As atividades na praia são a razão de 58% dos

entrevistados procurarem o parque, o restante se divide entre as diversas

atividades e visitas disponibilizadas aos visitantes (ex. visita a Casa da Farinha,

Passeio de Bote no Mangue). Dentre os que procuram atividades na praia (Figura

6), o mergulho livre é o que possui a maior percentagem de adeptos (50%). A

quase totalidade dos que realizam essa atividade (92%), gostaria de participar da

trilha subaquática.

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Figura 6: Atividades procuradas pelos visitantes que buscam a praia como

opção de lazer.

Os visitantes receberam uma lista com seis itens para que indicassem a

ordem de importância das características mais importantes no monitor da trilha. A

característica “ter conhecimento do ambiente a ser visitado” ficou em primeiro

lugar (72%), o que destaca a importância da capacitação dos monitores antes do

início da atividade e a confiança que os visitantes possuem no indivíduo que

executa tal atividade. Outro item que mereceu destaque foi a preocupação com a

Page 15: Implantação de trilhas subaquáticas

15

segurança, já que 24% consideraram importante que o “monitor esteja equipado

com material de segurança e primeiros socorros”.

Quando indagado sobre a melhor forma de divulgação da trilha subaquática

(Figura 7), os visitantes consideraram que a melhor forma de divulgação seria

através do “site” do parque (44%), seguido da divulgação nas pousadas da região

(24%). Deve-se destacar que a opção “não divulgar” ficou em terceiro lugar

(14%). Formas mais populares de divulgação (correio, rádio e folhetos) foram

descartadas. Tal fato, de certa forma, evidencia o nível social dos participantes.

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(%)

Figura 7: Melhores formas de divulgação da trilha subaquática segundo os

visitantes.

A pesquisa foi bem recebida pelos participantes (moradores e visitantes),

que se mostraram dispostos a colaborar e interessados no produto final do

trabalho. A sondagem de planejamento também contou com um levantamento de

impedimentos ou incidentes que desvalorizariam a atividade (Figura 8). Os

resultados apontaram para os defeitos e falhas relacionados à manutenção e

conservação do equipamento como o mais grave.

Page 16: Implantação de trilhas subaquáticas

16

Figura 8: Problemas que desvalorizam e inviabilizam a prática da atividade.

Os visitantes quando indagados se estariam dispostos a pagar pelo

acompanhamento de monitores ao longo da trilha, afirmaram que sim, no entanto,

os valores informados foram inferiores a expectativa da comunidade. Na verdade

o valor sugerido pelos potenciais gestores da atividade, se assemelha ao de

outras atividades já praticadas na unidade de conservação. A comunidade além

da trilha subaquática em si, poderá se beneficiar, indiretamente, através do

oferecimento de serviços, tais como alimentação, aluguel de roupas e

equipamentos, além da venda de artesanato local.

A pesquisa realizada junto à comunidade cientifica e estudantes praticantes

de mergulho, indicou os principais organismos que deverão constar nas palestras

que antecederam o acesso a trilha, visando evitar a ocorrência de acidentes com

os visitantes (Figura 9). Ouriços (30%) e peixe-pedra (30%) foram os organismos

mais citados. Esse problema poderá ser minimizado, com a confecção de um guia,

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Page 17: Implantação de trilhas subaquáticas

17

contendo os principais riscos provenientes da atividade, que deverá ser oferecido

aos visitantes.

30%

30%

15%

5%

20%

ouriço peixe-pedra coralmoreía medusas

Figura 9: Organismos que oferecem riscos ao visitante ao longo da trilha.

O levantamento de campo indicou que a região possui infra-estrutura para

promover treinamento e capacitação, tanto para a atuação direta (monitores)

quanto indireta (serviços). Os acampamentos, bares e a própria associação

quilombola podem ser utilizados como elementos de atração de visitantes. Os

moradores e a direção da UC indicaram o centro cultural da comunidade como

melhor opção de localização, espaço e estrutura para expor e acomodar o material

a ser utilizado na trilha subaquática, recepção de visitantes e exposições.

2.4. Conhecimento prévio do ambiente marinho

O conhecimento prévio sobre o ambiente marinho foi avaliado durante as

atividades na praia de maior movimento do núcleo. Durante as atividades foi

possível observar o elevado conhecimento sobre o ambiente marinho e grau de

cuidado e conscientização já adquiridos pelos visitantes. Tanto as crianças quanto

os adultos, traziam noções adquiridas de fontes formais e informais. O acesso a

canais de “televisão por assinatura”, programas de informação ambiental e de

Page 18: Implantação de trilhas subaquáticas

18

divulgação da vida selvagem e marinha foram as formas mais apontadas, como

fonte de aquisição do conhecimento. As campanhas de educação ambiental a

serem implantadas deverão ser norteadas por esses resultados.

Quanto aos moradores, a sondagem de conteúdo indicou grande

desconhecimento do ambiente marinho. Apesar de se tratar de uma comunidade

de região costeira, os entrevistados mostraram pouco conhecimento sobre os

organismos dos costões rochosos. A base do conhecimento da comunidade se

restringia, basicamente, sobre noções dos tipos de peixes da região e seu período

de pesca. A diversidade dos organismos e suas relações biológicas, apresentada

através de jogos, foi recebida com muita curiosidade e espanto. Poucos

entrevistados tinham conhecimento mínimo desse ambiente. Ao serem

apresentados a um álbum com imagens coletadas nos costões da região, os

moradores usaram nomes populares diferentes e por vezes demonstraram

desconhecer a existência dos organismos apresentados.

Com esses dados ficou claro a necessidade de se investir na construção de

conhecimento sobre o ambiente marinho, uma vez que o aumento da

compreensão da importância do ecossistema local, certamente levará a um maior

interesse em sua preservação.

3. Retorno às partes

Divulgação dos resultados

Finalizadas as etapas de pesquisas e seleção de área para implantação da

trilha subaquática, iniciou-se a terceira etapa do projeto, onde os resultados foram

apresentados tanto à administração da UC quanto à comunidade envolvida, em

reunião aberta.

Participaram da reunião representantes dos monitores ecológicos (já atuam

na região), pescadores e suas esposas, além de líderes comunitários.

A reunião teve início com a atividade de dinâmica de grupo (turbilhão de

palavras), que visou despertar a atenção da comunidade para as questões que se

Page 19: Implantação de trilhas subaquáticas

19

relacionam a manutenção e aspecto geral da localidade onde a trilha será

implantada. Juntos eles foram capazes de detectar os principais aspectos

negativos que hoje afastam os turistas da praia onde a comunidade está instalada.

Esses aspectos são a presença de lixo, o uso de drogas e o consumo de bebida

alcoólica em local público. Os participantes discutiram ainda modelos de placas

para sinalização e formas de inibir práticas ilegais na comunidade.

Após as discussões iniciais foram apresentados os resultados da pesquisa.

Os participantes perceberam a importância dos resultados obtidos como

instrumento norteador na elaboração do projeto da trilha, especialmente, no que

diz respeito: ao nível de escolaridade como diferencial do turista da região; ao

interesse do visitante por áreas preservadas e pelo mar; às atividades já

realizadas em outras regiões costeiras, a disposição para participar da trilha

subaquática; os impedimentos e riscos como pontos de maior atenção durante a

implantação, as formas de divulgação, a importância da manutenção do ambiente

e dos equipamentos.

Durante a exibição do vídeo com as imagens subaquáticas coletadas na

região escolhida para a trilha, os participantes mostraram admiração e entusiasmo

com a atividade. Muitos dos participantes estavam vendo pela primeira vez o

fundo do mar da praia onde moram. Após o esclarecimentos das dúvidas e do

debate entre os participantes, o grupo percebeu o leque de abrangência da

atividade e as oportunidades que poderiam advir da mesma. Os moradores

demonstraram conhecimento das limitações de conteúdo específico e da

necessidade de parcerias, para obter capacitação nas diferentes áreas e setores a

serem desenvolvidos. Foi demonstrado um interesse específico em itens como:

hotelaria, higiene alimentar, artesanato, venda e manutenção de equipamentos

fotográficos, confecção de postais entre outros.

No decorrer da apresentação o grupo verbalizou muitas vezes a

necessidade de campanhas de educação ambiental para a comunidade, para que

todas as atividades sejam desenvolvidas dentro de modelos ecologicamente

corretos.

Page 20: Implantação de trilhas subaquáticas

20

Considerações finais

Vale ressaltar, que a implantação desta atividade está diretamente voltada

às necessidades econômicas eminentes da comunidade. A idéia de implantar

uma trilha subaquática está sendo sugerida como forma de atrair o visitante para

essa enseada da UC, descentralizando o acesso a uma área muito visitada e

proporcionando oportunidade de expansão da economia local para um outro bairro

(Cambury). Esse objetivo vai de encontro ao Tratado Internacional de Educação

Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global (TEASS) que

cita como um dos itens do plano de ação, a busca por “alternativas de produção

autogestionária apropriadas econômicas e ecologicamente, que contribuam para

uma melhoria da qualidade de vida”.

A presente proposta se enquadra perfeitamente nas linhas de ação e

estratégias do Programa Nacional de Educação Ambiental-ProNEA (BRASIL,

2005), especialmente, quanto ao fato de estimular e apoiar a “inserção da

educação ambiental nas práticas de ecoturismo, visando garantir a

sustentabilidade social, ecológica e econômica das comunidades receptoras e

proporcionando uma interação adequada dos turistas com os ecossistemas

locais”.

A comunidade recebeu os resultados com entusiasmo e demonstrou

interesse em manifestar-se junto aos representantes da administração da UC e

em dar continuidade ao projeto. Uma iniciativa que tem como objetivo fornecer

uma opção de geração de renda, aliada a gestão e sustentabilidade social, cultural

e ambiental, certamente contará com o apoio da administração da UC. Os

gestores da UC têm demonstrado o interesse em implantar e divulgar o projeto de

trilha subaquática nessa e em outras comunidades da região.

A proposta da trilha subaquática executada pela comunidade se enquadra

na lista de finalidades que envolvem a educação ambiental mencionada por Dias

(2001), dentre elas a de: promover a compreensão da existência e da importância

da interdependência econômica, social, política e ecológica; proporcionar a todas

as pessoas a possibilidade de adquirir os conhecimentos, o sentido dos valores, o

interesse ativo, e as atitudes necessárias para protegerem e melhorarem o meio

Page 21: Implantação de trilhas subaquáticas

21

ambiente; induzir novas formas de conduta, nos indivíduos e na sociedade, a

respeito do meio ambiente.

O contato direto com os visitantes identificou que estes possuem um alto

nível de conhecimento do ambiente marinho e também um alto grau de cuidado e

conscientização, no que diz respeito à conservação do ambiente. Tanto as

crianças quanto os adultos trazem noções adquiridas de fontes formais e

informais. As palestras e exposições que antecederam a participação na trilha

deverão obrigatoriamente, levar essas características em consideração.

Para que a trilha cumpra seu papel de formação e construção de uma

mentalidade ambientalista, preleções e um acompanhamento atento aos

mergulhadores, deve ocorrer durante toda a atividade, evitando-se o máximo

possível os impactos negativos sobre a comunidade marinha (Pedrini et al 2007a;

Berchez et al 2005). Devem ser estabelecidos procedimentos e cuidados antes da

implantação da trilha, nos moldes dos que já ocorrem em trilhas interpretativas

marinhas em localidade do litoral paulista (Pedrini et al 2007a).

Outro problema que deve ser destacado é o pequeno número de

funcionários lotados no parque, que são insuficientes para a manutenção e

fiscalização de toda a área. Portanto, toda e qualquer atividade nova, que venha a

ser implantada, deverá ser mantida e conservada (inclusive equipamentos) pelo

empreendedor, nesse caso, a própria comunidade com apoio de patrocinadores.

Tratada como instrumento da gestão ambiental a trilha subaquática extrapola sua

dimensão social e passa a ser ainda uma forma de fiscalização e monitoramento.

A exemplo do que já existe em outras trilhas subaquáticas, fichas de

identificação dos organismos mais conspícuos estão sendo produzidas e serão

fornecidas à comunidade, a fim de tornar a atividade mais participativa e

educativa. As fotografias subaquáticas e dados sobre a biologia e ecologia dos

organismos serão adaptados a painéis permanentes que ficaram em exposição no

centro de visitantes (Berchez et al 2007). Os cursos de capacitação de monitores

e de introdução à biologia marinha estão sendo planejados para serem

executados antes da próxima temporada de férias de verão.

Page 22: Implantação de trilhas subaquáticas

22

A consciência de que os coordenadores que atuarem nas etapas a seguir

serão mediadores de um processo, é prioritário para o sucesso desta atividade.

Ficou claro para a administração desta UC que as diversas tentativas anteriores

de implantar formas de gestão nesta comunidade fracassaram, quando seus

idealizadores apresentaram modelos prontos e rápidos.

Todo o processo de implantação da trilha subaquática deve envolver a

participação da comunidade em cada momento de criação. Cada idéia, cada

detalhe tem que existir como fruto dos costumes locais, para que durante as fases

futuras, todos vejam em cada placa, cada enfeite, cada visitante satisfeito o

reflexo de seus sonhos e a lembrança de como o processo foi construído.

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