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Nº 0 30 Janeiro de 2012 Preço: 100 Escudos Concorrência traz maiores desafios “ O Associativismo não é o forte dos Cabo- verdia- nos”. pág.3 “Não temos, nenhum acor- do com o vosso governo ...” Lin Xiao Ying pág.4 Quando surgiu a gravidez houve a necessidade de trabalhar. pág. 13 Grande Entrevista Entrevista “ O mercado caiu e muito, devido a falta de fiscaliza- ção e também da crise que está a ocorrer no mundo”. pág.8

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Nº 0

30 Janeiro de 2012

Preço: 100 Escudos

Concorrência traz maiores desafios

“ O Associativismo não é o forte dos Cabo- verdia-nos”.pág.3

“Não temos, nenhum acor-do com o vosso governo ...”Lin Xiao Yingpág.4

Quando surgiu a gravidez houve a necessidade de trabalhar.

pág. 13

Grande Entrevista

Entrevista

“ O mercado caiu e muito, devido a falta de fiscaliza-ção e também da crise que está a ocorrer no mundo”. pág.8

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12EDITORIAL

MELHORES CONDIÇÕES DE VIDAO comércio é principal fonte de ren-dimento do país. Quando se fala no comércio no sucupira pensa-se logo no vestuário e no calçado. Mas na realidade o mercado apresenta di-versificações de sectores.O centro comercial do sucupira da cidade da Praia é considerado o maior mercado do arquipélago. Os rabidantes do mercado são pessoas poucas instruídas, com idade com-preendida entre os 16 aos 60 anos, e na sua maioria são mulheres chefes de famílias que batalham para o próprio sustento. A busca pelo “gan-ha-pão” começa desde o amanhecer até ao pôr-do-sol. O mercado é con-

siderado uma segunda casa pelos rabidantes.Há muito que os chineses estão nesse ramo de comércio, no país e não eram vistos como uma concor-rência, porque mesmo com a forte presença no sector, o mercado do sucupira nunca deixou de ser pro-curado. Porém de uns anos para cá devido a crise o mercado sofreu uma forte queda de venda. As opiniões dos próprios rabidantes divergem-se entre eles. Enquanto uns respon-sabiliza a queda de venda aos chin-eses, outros aponta-o a crise.Sendo assim, o”O Rabidanti” saiu a rua da capital para saber as opiniões dos cidadãos a cerca dessa prob-

lemática. O facto é que a nossa re-vista durante toda a recolha, apurou que estes novos investidores troux-eram benefícios, tanto para a sua população como para a economia do país.Assim, de acordo com os dados re-colhidos, vamos fornecer informa-ções aos públicos com intuito de fazer-lhes conhecerem os dois lados envolvidos (chineses versus rabi-dante), na nossa1ª edição da Revista o “O Rabidanti”.

Ângela Santos

O QUE DIZ A LEI?De acordo com o Decreto-Lei nº 21/2011 de 7 de Março.

A lei diz que, os serviços são o mais importante sector da ecónoma nacional em

termos económicos e de emprego e tem registado um maior desen-volvimento nos últimos anos. Ou seja diante dessas circunstâncias, o governo ciente de que um merca-do competitivo e a eliminação dos entraves ao seu desenvolvimento são fundamentais para promover o crescimento económico e a criação de emprego, vem propugnando pela liberdade de estabelecimento dos serviços no território nacional, em ordem à contribuição para a expan-são e crescimento deste sector. Tam-bém a lei diz no artigo 3º da lei nº 49/

VII/2009, de 30 de Dezembro que o presente diploma visa em desenvol-vimento do princípios de livre esta-belecimento em consonância com os compromissos advenientes da adesão de Cabo Verde à organização mundial do comercio concretamente de acordo geral sobre o comercio de serviços, assegurar que os regimes jurídicos aplicáveis ao sector dos serviços respeitem a liberdade do direito de estabelecimento e da livre prestação de serviços ao estabelecer um conjunto de princípios gerais aplicáveis ao procedimentos que regulamentam o acesso e exercício das actividades de serviços, através de um adequado equilíbrio entre a abertura do mercado e a preserva-ção dos serviços públicos, dos dire-

itos sócias e da protecção reforçadados destinatários dos serviços.Ainda é de se lembrar, o artigo 11º (âmbito territorial e limitação de permissão administrativas) em que a lei diz. 1 - As permissões admin-istrativas concebidas pelos serviços da administração directa e indi-recta do estado devem permitir ao prestador de serviços o exercícioda sua actividade de serviço em todo o território nacional.2- Quando o regime de permissão administrativa de uma actividade assim o exija, o prestador de serviço deve informar a autoridade admin-istrativa competente, através do balcão único, da criação de sucur-sais, filias, agências ou escritórios.

Ana Brandão

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Muhleres fazendo renda Foto: Ana Brandão

PedicureFoto: Ana Brandão

Vendedeira Ambulante Foto: Ana Brandão

ClientesFoto: Ana Brandão

Vendedeira Ambulante Foto: Ana Brandão

Vendedeira Ambulante Foto: Ângela Santos

ClientesFoto: Ângela Santos

FOTO REPORTAGEM

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“ Falta de fiscalização!”Mamadou Trouré Vice – Presidente da As-

sociação dos Rabidantes do Sucupira

Mamadou Trouré, é Nigerianoresidente em Cabo verde cidade da Praia há 22 anos. Comerciante em sucupira há mais de uma década e meio, mostra sua preocupação no que tange ao comércio no Sucu-pira».Segundo, o nosso entrevistado a má fiscalização dos órgãos competentes deste sector, é o grande responsável pela falta de venda neste mercado.Ainda Mamadou diz que há muito que os “Chineses” entraramneste comércio no país. E que até uns dois anos atrás estes não repre-sentavam muita ameaçapara eles como está agora;«Os “Chineses”começaram a fazer-nos concorrência a partir do mo-mento que perceberam que o país não tem controlo, ou melhor não possui uma lei que vigia este tipo de comércio. “A partir daí começaram a frequentaros mesmos mercados que nós e ain-da a copiar os nossos produtos”».

Cita Trouré.Nosso entrevistado deixa transparecer que apesar de existir uma “Associação dos Rabidantes”,essa não é bem aceite por todos ali devidoa várias razões que o próprio diz não vale a pena mencionar. Ainda na sua opinião o associativismonão é o forte dos cabo-verdianos e isto tem preju-dicado a classe. No início

que me integrei na Associação,

ela contava com vinte membros, fectivos e mais de três dezenas de apoiantes sem contar com os outros rabidantesque participavam nas actividades re-alizadas. Hoje em dia nem o próprio Presidente aparece para inteirar dos factos ocorridos. Na qualidade de vice-presidente, devo dizer-vos que muitas vezes quando a classe passa por momentos tensos os problemas

muitas vezes são resolvidos com in-dividualidade.O orgulho dos rabidantes é maior que qualquer conforto, palavras do vice-presidente da associação dos rabidantes.Mamadou não poupa criticas aos colegas sobre “a desunião” entre os rabidantes que de uma certa forma tem sufocado o mercado. Faz-se reuniões da associação não com-parece uma dúzia de colegas cabo-verdianos, e por este motivo, não vale a pena continuarmos com a as-sociação, afirma o rabidante

um pouco indignado.Apesar de possuírem qualidades no produto a queixa pela falta de procura é enorme. A dias que nem dinheiro para o transporte se vende. Hoje nem nas épocas festi-vas procura-se o sucupira como antes.Embora se fala na crise, o facto é que o medo de perder o sustento é cada vez mais a preocupação dos rabidantes.Quando o “O Rabidante”, quis saber se a associação já se reuniu alguma vez para tratardesse tema, de concorrência dos

chineses, a resposta do inqueridoé “nunca”! «Faz-se os comentários, mas na hora de colocaros pingos nos ís ninguém aparece, e começa aquele furdunço,quem está a sentir lesadoque vá procurar o seu direito.O entrevistado apela à participaçãoactiva dos colegas e aponta que “A união faz a força”.

«Os“Chineses”começaram a fazer-nos concorrência a partir do momento que perceberam que o país não tem controlo, ou melhor não possui uma lei que vi-gia este tipo de comércio.“A partir daí começaram a fre-quentar os mesmos mercadosque nós e ainda a copiaros nossos produtos”»

Ana Brandão

Grande Entrevista

Foto: Ângela Santos

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Rabidante: 10 de Janeiro de 2012

Ficha Técnica

Rabidante Foto: Ângela Santos

Vendedeira Ambulante Foto: Ana Brandão

Pedicure Ambulante Foto: Ana Brandão

RabidanteFoto: Ângela Santos

Cabeleleiras no sucupira Foto: Ângela Santos

Rabidante fazendo renda Foto: Ângela Santos

Foto Reportagem

Reporteres:Ana Brandão e Ângela SantosEdição e Paginação:Ângela Santos e Ana BrandãoImprissão: MulticópiaTiragem: 1

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chinesa, está em Cabo Verde há 7 anos, comercianteproprietáriade duas lojas, uma em Achada San-to António e outra em descida Terra Branca.Lin defende a sua classe, desmentin-doaos “boatos” de que eles não pagam alfândega, e de ter qualquer pro-tecção do governo. Porém a com-erciante explica-nos o que faz com que os Rabidantes do Sucupira ten-ham essa visão.«O que leva os Rabidantes do Sucu-pira a pensar que temos protecção do governo, é o seguinte, nós somos muitos e estamos mais bem orga-nizado e preparado do que eles, ad-mito sermos uma concorrência forte face aos Rabidantes do Sucupira. Mas o que acontece é que nós quan-do vamos, ou mandamos exportar de qualquer país para Cabo verde organizamos em grupo e alugamos contentores dos navios por um preço mais acessível devido a quantidade de que alugamos e com isso ex-portamos mais; também na hora de compra o que estamos a fazer é tentar satis-fazer o mercado cabo-verdiano. Não só ven-demos produtos da china, mas o facto é que quando vamos por exemplo ao Brasil compramos qualquer produto em grande quantidade o que faz nos ganhar um desconto bem mais baixa

do que dos Rabidantes do Sucupira por isso a vendemos mais em conta. Agora gostaria de deixar aqui bem cla-ro que nós os comerci-antes “Chineses”não temos, nenhum acordo com o vosso governo, estamos aqui como in-vestidores e pagamos as nossas despesascomo qualquer um», frisa Lin. Enquanto, os Rabidantes do Sucu-pira, atribui a respons-abilidade da aderência de venda ao governo e a concorrência, Ying, culpa a classe de serem os próprios origina-dores, desta crise uma vez que esses não se encontram bem organizados, e ainda de serem pes-soas egoístas. Aponta que a único objectivo dos Rabidantesdo Sucupira é ganhar dinheiro,

e de muitas vezes exagerarem nos preços, não pensando na verdadeirasituação financeira do pais.

Assim como os Rabidantes do Sucupira, a comerciante chinesa, também afirma que o momento é de crise, salientando que antes tinha 3 empregada em cada uma da sua loja, mas hoje só tem uma com ela e a irmã que está a frente da outra loja tem dois empregados sem contarcom o marido da mesma. «Uma vez quando cá cheguei e até dois anos atrás eu vendia muito e às vezestomava uma refeição porque não dava tempo, mas hoje como podem ver estou com loja vazio e a tempo até para ler um livro ou ver um filme, mas nem por isso vou acusar as outras lojas, temos de consolar com “kau mau pa tudo lado». Cita Ying.

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Chineses & RabidantesPONTO DE VISTA

Lin Xiao Ying Foto:Ana Brandão

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Chineses & Rabidantes Elisabete Barros, de 34 anos, pai e mãe de uma filha de 6 anos “diz-nos” que hoje ela tornou rabi-dante ambulante graças aos “chineses”.Com quase a mesma idade da filha de experienciano ramo “Bety” como ela preferi ser chamada.

Elisabete Barros Foto: Ana Brandão

ORabidante – Como é que surgiu esta profissão?Elisabete Barros – Quando surgiu a gravidez surgiu a necessidade de trabalhar, e foi aí que com pouca economiaque tinha fui comprar nas lojas dos chineses no plateau para vender em outros pontos como Tira-chapéu,Fundo Cobom, ASA e etc., no inicio dava mais lucro,porque os fregueses não tinham tempo para deslocaremao plateau, comprava em mim e out-ras colegas depois com abertura de lojas nesses pontos começamosa perder a nossa clientela, porque já não precisavamdeslocar, mas com a pratica comecei a ver que existem

outras necessidades dos fregueses, a qualidade, foi então que pulei dos chineses para o “iá” (roupas usadas, provenientes dos estados Unidos da América).

Após ter deixado de vender grande parte dos produtoschineses, para vender outros produtos, como é que você vê os chineses?Ainda vendo, mas vendo mais o iá! E não tenhorazões de queixa para com os chin-eses, porque a qualidade do produto é diferente.Como estão a decorrer a vendas?Razoável, há dias que se vende e outros não, mas dá para continuar. O momento inspira compreensão,não há dinheiro. As pessoas querem comprar mas no entanto tem outras

prioridades.

Na qualidade de rabidante ambu-lante quais os benefíciose as desvantagens que os chineses trouxeram?A meu ver os “chineses” trouxeram muita alegria aos cabo-verdianos, em vários aspectos: por exemplo uma família numerosa hoje desde que haja mínima condição todos pode se vestir ou calçar e por um preço inferior, e não só eles combat-eram a prostituição e o vandalismo.Quanto as desvantagens penso que os rabidantes do sucupira são de uma forma geral os mais prejudica-dos porque estavam acostumados a “matar”com o preço e também en-tendo as suas posições como pais de famílias. Mas devemos ver as coisas por duas faces. Ângela Santos

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Foto: Ângela Santos Rabidante de Sucupira

Foto: Ângela Santos Comerciante: Chinês

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A concorrência sempre foi

interpretada ao pé da letra.

Assim como, tudo na vida,

tem um lado positivo e outro

negativo, a concorrência tam-

bém tem esses dois lados.

Quem beneficia com a con-

corrência são os clientes, a

medida que ela vai aumentan-

do os preços dos produtos ou

dos serviços vão diminuindo

e sendo, Cabo Verde um país

onde o rendimento é baixo,

qualquer concorrência é

bem aceite. A parte positiva é

que os chineses diminuíram

o desemprego, aumentou

os números de rabidantes,

trouxe mas oportunidade a

famílias numerosas de se ve-

stirem melhor.

O lado negativo é que esses

investidores a partir do mo-

mento que entraram no país,

fez com que os rabidantes de

sucupira perdessem vários

clientes. Essa perda é negati-

vo uma vez são sustento dess-

es rabidantes. Ainda na se-

quência dos acontecimentos

é de salientar que no meu ver

a queda de venda no merca-

do sucupira tem muito a ver

com a entrada dos chineses.

Se formos ver o arquipélago

sempre viveu em situações

económicas pouco favorável,

mas mesmo assim o mercado

sucupira sempre vendeu.

O factor dessa discorda sem-

pre foi o preço. Mas o que

a população nunca parou

para ver é que, ao contrário

dos chineses que vendem

má qualidade por um preço

baixo, os rabidantes de sucu-

pira vendem ao custo elevado

devido a boa qualidade.

Ana Brandão

As duas FacesO

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12Artigo de Opinião

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Já lá vão os tempos áureos da sucu-pira. Me lembro como se fosse hoje, era mais ou menos na mesma época do (Natal) há três anos atrás quando vim estudar na Capital que lá es-tivepara comprar uma sandália. E o tempo era outro parecia com o festival da Gamboa «cheia de agitação, movimentação de cen-tenas de pessoas onde um pisava no “calo” do outro, o mau cheiro de suor, encontro de amigos que a muito não avistava entre outras coisas que não vou mencionar devido a limitação de espaço»; Mas hoje nesta mesma época lá voltei de novo e desta vez não para comprar sapato … foi a passeio mes-mo, saber das novidades etc. Minha gente deparei com um silêncio em termos de tudo que um dia por ali tinha avistado, e pelo incrível que pareça, por um instante coloquei-me no lugar dos rabidantes e a primeira

sensação que tive é de me perguntar a mim mesma, o que será de nós que sustentamos a casa com venda? Depois, de algum minutinhos de-brucei-me sobre uma frisa de parede e pus a falar com uma conhecida que ali vende “Fátima” que assim como eu encontrava debruçada na mesma parede, perguntei-lhe: Fátima agora é assim? Ela me respondeu minha filha se não fosse essa distracção de car-ros a subir e a descer penso que, nós éramos muitos que já tinha deixado

o sucupira, agora somos rabidantes e rabidantes um a olhar para cara do outro; me despedi, dizendo aiai e fui, mais para cima onde um grupo de rabidantes se divertia jogando cartas. Confesso que em parte, aquela tranquilidade me deixou contente, mas vendo as caras tristes dos rabi-

dantes me fizeram sentir uma angús-tia, ao lembrar que aquela tristeza de uma certa forma tinha a ver com o sustento de muitas famílias; por instante senti vontade chorar, mas não o fiz, coloquei a minha fé e pus a orar no meio da caminhada pedin-do a Deus com coração que fizesse aqueles pais venderem alguma coi-sa para não desanimarem; o incrível é ver que estes rabidantes também ajudam outras pessoas a ganharem o sustento, não pude deixar de ver e admirar alguns garotos a rolarem

os bidões, a car-regar aquelas caixas grandes, outros a cobrirem os espinhos em forma de tecto onde mais tarde se não cobridas o sol batia, e tudo isso era feito me-diante um custo que os meus ou-

vidos apurado não pude deixar de ouvir. A curiosidade de observar, fez com que eu permanecesse ali mais do que o tempo previsto, aí em ter-mos de produto circulava de tudo um pouco, ou seja este lugar é uma casa de sustento, durante tempo que ali fiquei pude ver de tudo um pou-

Um dia no Sucupira

“Confesso que em parte, aquela tran-quilidade me deixou contente, mas vendo as caras tristes dos rabidantes me fizeram sentir uma angústia, ao lembrar que aquela tristeza de uma certa forma tinha a ver com o sustento de muitas famílias...”

Crónica

Foto: Ângela Santos

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co (em termos de produtos, ora car-ne, ora peixe, torresmo, sumo, bo-los, panelas, milho etc.), mas o que indignou não era a falta de higiene dos alimentos que vinham cheia de moscas mas, sim quando vin-ha uma criança a fazer aqueleserviço, tenho filho, e na ci-dade o que se ouve todos os dias é a onda de violência e me perguntava como é que os pais podem ser tão irresponsáveis a ponto de mandar uma criança vend-er naquele sitioonde na maior parte das vezes os frequentadores são (ladrões, usuári-os de droga, marginais, pedófilos entre outros) isso mexeu comigo; e em 1ª oportunidade que tive, fa-

lei com uma menina de 9 anos, que vendia água, e ela me contou coisas inacreditáveis (…), depoislevei ela para uma barraca onde jun-tas almoçamos e também aproveitei

para descansar as minhas pernas que já não aguentava. Fartos, me despedi dela, e con-tinuei a minha caminhada cheia de disposição, mais para cima para o lado do parque 5 de Julho meus ol-hos avistaram duas situações, que me deixaram

sem chão, uma menina de menor fa-zia “sexo” com um idoso em pleno dia e quem por ali passava podia ver e no outro lado mesmo próximo dois rapazes e um homem drogava

e de onde eu estava podia sen-tir aquele cheiro forte vindo em minha direcção; Agora pergunto aonde estão esses pais, que não são mere-cedores desse lindo nome! na

casa, segundo a pequenina a espera do fruto dessa exploração para mais tarde irem fazer o proveito…… Continuei com a minha oração, meu Deus enquanto uns mostram-se triste por não conseguir ganhar o pão dos filhos, outros nem aí estão.

“Agora pergunto aonde estão esses pais, que não são mere-cedores desse lindo nome!”

Ana Brandão

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Vany Aguenes, maiense residente na capital, 22anos, esta entrada dos “chineses” foi a melhor coisa que podia ter acontecido. «Nunca se viu os jovens bem vestido como agora e não só hoje mesmo na minha ilha há essa probalidade de se vestir melhor mesmo que seja por um preço mais caro mas, é mais em conta que antes que só tínhamos o sucupira». Sou a favor dessa entrada dos chineses.

A CONCORÊNCIA É BOA OU NÃO?O “O Rabidante” recolheu algumas opiniões, sobre o assunto e de acordo com os entrevistados

pode-se ver que as ideias aproximam uma da outra.

Joana Monteiro, de 37 anos é Li-cenciada em matemática, mãe de família diz que apesar de não usar os produtos dos chineses devido ao facto de possuir pais emigrantes, é a favor dos chineses. A mesma realça que nem todos têm possibilidade de comprar no sucupira. “gossi quem ki ka biste é pamode é ka kré”.

Ivá Semedo, de 26 anos, solteira mãe de um filho, empregada de uma loja chinesa, diz ter conquistado a sua independência com a oportunidade que lhe foi concebida pelos chineses.Para Semedo a patroa e os cole-gas são geradores de emprego;E ainda frisa que na qualidade de mãe (sustentadora do próprio lar), entende a revolta dos Rabidantes do Sucupira.

Zeca Lopes, um jovem de 26 ano pai de família, proprietário de uma bar-raca de CDs. Os chineses diminuíram a venda dos rabidantes do sucupira. Mas combateu muito desemprego, há muitos jovens que estavam a faz-er horrores por aí que hoje, são fun-cionários dos chineses, sou a favor dessa concorrência. Além disso ain-da ajudam muitas familias carren-ciadas, que não tem um rendimento mensal, favoravel ao seu sustento.

Vany Evora, estudante de 20 anos, na minha opinião os chineses vier-am tarde. Sou a favor dessa entrada porque os rabidantes do sucupira ex-ageram muitas vezes nos preços. E não eles mesmo compram dos chin-eses e não tem que reclamar, porque também são clientes dos chinases, mas pede aos mesmos que reflictam,vendo a outra parte posi-tiva, que não sejam egoístas

A VOZ DO CIDADÃO

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Concorrência aumenta número de Rabidantes Am-bulantes Ao que tudo indica os rabidantes ambulantes sempre existiram, mesmo antes da entrada dos chi-neses no país. Só que com essa entrada, surgiram novos e isso fez com que a concorrência se ampli-asse, dificultando aos rabidantesdo sucupira. Estes dizem prejudica-dos uma vez que os chineses, lhes ti-raram a maior clientela os rabidantes ambulantes não só locais também os de demais Ilhas. Afirmando que antes eles eram os fornecedores dos rabidantesambulantes. Ainda a classe que se diz prejudicada, menciona o facto de os rabidantes ambulantes vend-erem produtos que eles têm, como é o caso de (calcinhas, sutiãs, chine-los etc.) no próprio sucupira, sem pagar nenhum tostão, enquanto eles pagam 8.160$00 todos os meses.Situação de criseAté esta, neste ano de 2011, Graça, realça que a procura tem sido ra-zoável em relação aos anos anteri-ores. “Verifica-se que existem cli-entes, aparentemente, vê-se que tem capacidade

financeira mas, que querem poupar porque não sabe do dia de amanhã. Pro-curam qualidade mas querem gastar menos”. Mesmo os chineses apontam o período como des-favorável para o negócio. Lin lamen-ta os tempos atrás e diz que ao contrário de antigamente, nas épocas festivas e não só, nem tempo tinha para fazer uma refeição com

conforto,hoje com menos de uma semana para as grandes festividades

que é o Natal um dos períodos que mais se vende nas lojas, há tempo até para ler livro, ou falar no tele-

fone sem pressa. “O que os rabi-dantes cabo-verdianos precisam entender é que não há dinheiro e aceitar a crise”, cita Lin.A semelhança de Lin os rabidantes do sucupira enquantoesperam os clientes, também buscam formas de passar o tempo, enquanto uns jogam cartas, outros optam por ver televisão, ouvir musica, por a conversa em dia, tirar uma sexta, ou até mesmo limitar-se a sentara porta das barracas, sem fazer nada, apenas a olharo movimento das pessoas que por ali passam, muitas vezes sem sequer olhar para os produtos que vendem.Com ou sem crise, o facto é que os poderes de compra dos cabo-verd-ianos já não é o que era antes, o que afecta tanto os rabidantes do sucu-

pira como para os que lhes fazem concorrência.A todos o que resta é dividir o mercado, visto que cada um apresenta características próprias, o que faz com que aja também públicos específi-

cos, e esperar por tempos melhores

“os rabidantes ambulantes sempre existiram, mesmo antes da entrada dos chineses no país.”

Foto: Ângela Santos

Ângela Santos

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Apesar da crise registada nos últi-mos anos em Cabo Verde, assistiu-se a uma forte expansão do mercado de vestuários e de produtos do género. A proliferação de lojas e comercializa-ção destes produtos gerou uma satu-ração do mercado mas, apesar da con-corrência, há rabidantes que afirmamque o negócio ainda está de boa saúde.

A proliferação e a saturação do comércio

O sucupira é considerado um dos maiores mercados de vestuário da cidade da Praia. Com cerca de mais de um mil rabidantes. Com diver-sidades de sectores de comércio,ainda o mercado conta, com out-ras actividades como,lavagemde automóveis, câmbios etc. O mercado é visto como uma ver-dadeira fonte de rendimento. A entrada dos Chi-neses no mercadodo sector de vestuários no país aconteceu por volta dos anos noventa.Apesar de se tratar de uma forte concorrência, estes só vi-eram ser considerados como tal, alguns anos atrás quando estes começaram a importar de outrosmercados. Os rabidantes realçam sentir-se lesados, com a frequentação destes no mesmo mercado que eles. Hoje em dia as lojas dos chineses de vendas dos produtos de vestuário e do género estão espalhados um pou-co por todo arquipélago com forte presença na cidade da Praia, capi-tal do Pais, onde se regista o maior fluxo de negócios. Só no plateau

existe aproximadamente meia cen-tena dessas lojas de vestuários dos chineses. Elas são tantas que muitasvezes pode se sair de um e entrar no outro sem mesmo caminhar dois passos. A distância mais longe de um para o outro não chega a uma dezena de metro. Nelas, é possível encontrar todo tipo de produtos, e

com custo a c e s s í v e l a todosbolsos. O que não é o caso dos rabidantes de sucupira. De acor-do com as i n f o r m a -

ções obtidas s preços variam conforme a qualidade e a maté-ria-prima. Há lojas dos chinesesque vendem boas qualidades assim como o do sucupira, mas por um preço mais baixo. Segundo Lin isso acontece, não porque não pagam as alfandegas como cita os rabidantesmas, sim, porque com-pram em grande quantidade.Como sobreviver a concor-rência Segundo Maria da Graça San-tos, de 39 anos, casada natu-

ral de Nossa Senhora da Gra-ça residente em Palmarejo,(Dá) como ela prefere ser chamada, com mais de duas décadas de profis-são rabidante do sucupira, a solução no mercado tão saturado é a diver-sificação da oferta, aposta na quali-dade e diferenciação dos produtos. Dá realça “ o mercado caiu e muito, devido a falta de fiscalização e também da crise que está a ocor-rer no mundo”. Ainda na sequênciados acontecimentos a nossa ent-

“Se formos ver os chinesesajudou e muito o nosso país. E não só graças a eles hoje as pessoas da nossa terra vestem melhor, ...”

Grande Reportagem

Foto: Ângela Santos

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-revistada afirma que a concorrência pela parte dos chineses assim como tudo na vida tem o seu lado positivo e negativo. “Se formos ver os chin-eses ajudou e muito o nosso país.E não só graças a eles hoje as pes-soas da nossa terra vestem melhor, e não digo em ter-mos de qualidade porque a própria economia de maioria dos famil-iares da cidade da Praia é baixa, masse antes os pais da-vam aos filhos só uma sandália hoje podem dar mais do que um. O lado negativo é o facto de eles serem uma concorrência. E com a entradadeles, os nossos lucros di-minuíram e muito, mas ainda dá para o sustento pelo menos no meu caso”, palavras de Dá.

Má organização dos rabi-dantes

Ao que tudo indica, de acor-do com as informaçõesrecolhidas os rabidantes do sucupirase encontra mal organiza-dos face aos chineses.

Embora essa classe possua uma Associação, é de notarque a relação entre membros e os demais rabidantes não são boas. Várias são as razões que estão na

base desse desacerto. Uns mencio-nam o egoísmo, a inveja, outros as razões políticas, desinteresse mes-mo, como causas dessa abnegação. Ainda para alguns entrevistados,como é o caso de Manuel de Pina de 49 anos, vendedor no mer-cado de sucupira o melhor a se fazer para melhor organizar-se é harmonizar-se uns com os outros. O mesmo realça que a un-ião faz a força e que todosali deviam se entender uns com os outros, porque todos estão na busca do sustento para a família.

Ao contrário dos chineses que se organizem em grupos para im-portar, os rabidantes do sucupiramostram estar muito desorganizados.

Perfil dos rabidantes do sucupira

Os rabidantes são na maio-ria jovens com idade compreen-

dida entre os 16 a 60 anos. Na maior parte do sexo feminino, são mães solteiras em busca do próprio sustento da família. Pes-soas de baixo nível de escolaridade,mas com prática no comércio. Os rabidantes mais antigos que ali se encontram têm mais de três dé-cadas de exercício da função e os mais novos com mínimo de cinco anos. São indivíduos com uma vida estável, proprietários de im-óveis, automóveis e outro negócios.

“Os rabidantes são na maioria jovens com idade compreendidaentre os 16 a 60 anos. Na maior parte do sexo feminino, são mães soltei-ras em busca do próprio sustentoda família...”

Foto: Ângela Santos

Ana Brandão

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