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Disciplina: Língua Portuguesa II Profª: Anyellen Mendanha Leite Turma: 2º Ano

Língua port. ii sociolinguística

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Disciplina: Língua Portuguesa II

Profª: Anyellen Mendanha Leite

Turma: 2º Ano

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Por que se fala em Sociolinguística? A linguagem não seria essencialmente um fenômeno de natureza social?

É preciso considerar o contexto social mais amplo em que se situam aqueles que se dedicam a pensar o fenômeno linguístico.

SOCIOLINGUÍSTICA

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August Schleicher (linguista alemão do século XIX)Além de linguista, estudava botânica;Se propôs a colocar a Linguística no campo das

ciências naturais.

SÍNTESE DAS ABORDAGENS NO ESTUDO DO FENÔMENO

LINGUÍSTICO

LÍNGUA

CérebroAparelho Fonador

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Saussure (CLG)

Tradição Estruturalista

Língua – sistema invariante que pode ser abstraído das múltiplas variações observáveis na fala.Para Saussure a língua é um fato social, no

sentido de que é um sistema convencional adquirida pelos indivíduos no convívio social.

Privilegia o caráter formal e estrutural do fenômeno linguístico.

Linguística Interna(orientações

formais

Linguística Externa(Orientações Contextuais)

Sociolinguística

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Meillet – a história das línguas é inseparável da história da cultura e da sociedade.

Bakhtin – foca os estudo linguísticos na noção de comunicação social.

Jakobson – privilegia os aspectos funcionais da linguagem.

Marcel Cohen- assume a questão das relações entre linguagem e sociedade a partir da consideração de fatores externos

A relação entre língua e sociedade se resolve pela consideração da língua como

instrumento de análise da sociedade, aquela contém a sociedade e interpreta esta.

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A SOCIOLINGUÍSTICA: FIXAÇÃO DE UM CAMPO DE ESTUDOS

Foi criado o termo Sociolinguística em um Congresso organizado por William Bright na Universidade da Califórnia, em Los Angeles. (Rymes, Labov)

Brigth escreve “As dimensões da Sociolinguística”.

1964

1966Objeto da

Sociolinguística Diversidade Linguística

Fatores socialmente definidos, com os quais se supõem que a variedade linguística esteja relacionada:a)Identidade social do falante;b)Identidade social do receptor;c)O contexto social;d)Atitudes linguísticas.

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SOCIOLINGUÍSTICA

Antropologia Linguísitca (Hymes)

Dialetologia Social

(Labov)

Sociólogos, psicólogos...

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De fato a constituição da Sociolinguística se fez, claramente, a partir da atividade de vários estudiosos e pesquisadores que deram continuidade à Antropologia Linguística.

O que há de novo é a definição de uma área explicitamente voltada para o tratamento do fenômeno linguístico no contexto social do interior da Linguística.

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Hymes – Etnografia da Fala Etnografia da Comunicação

Procura definir as funções de linguagem a partir da observação da fala e das regiões sociais próprias a cada comunidade.

Labov Defendeu sua tese em 1963 sobre um fenômeno de mudança fonética a partir dos dados da fala dos habitantes da ilha de Martha’s Vineyard, no Estado de Massachussetts, mostrando o papel decisivo dos fatores sociais na explicação da variação linguística.

Pesquisadores que buscavam articularLinguagem aspectos de ordem social e cultural

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O motivo da escolha:Por ser uma unidade auto-suficiente, separada do continente norte-

americano por três milhas do Oceano Atlântico e;por apresentar uma complexidade social e geográfica bastante ampla, no

sentido de prover um quadro para diferenciação de comportamento lingüístico.

A ilha é dividida em duas partes denominadas:up-island - caracterizada por ser estritamente rural, com fazendas, casas

de veranistas isoladas, algumas aldeias (onde vivem os 103 índios que representam os habitantes originais de Martha's Vineyard), lagoas salgadas e pântanos, e uma grande área central despovoada, destinada à criação de bezerros.

downisland - comporta três cidades pequenas onde vivem permanentemente quase três-quartos da população total da ilha.

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Finaliza sua pesquisa sobre a estratificação social do inglês em Nova York.

Teoria da Variação ou Sociolinguística Variacionista

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Análise: realizações da vibrante /r/ em lojas de departamento de Nova York.

A realização de /r/ em palavras como guard, car, beer, board, estaria socialmente estratificada.

Análise do fenômeno em 3 lojas de departamento, as quais podem ser correlacionadas a classes socioeconômicas.

Realização do /r/ como retroflexo associada à classe alta.

Não realização do /r/ associada à classe baixa.

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Labov e a Sociolinguística Variacionista

A sociolingüística se opõe ao estudo da linguagem que focaliza apenas a forma (o gerativismo).

A variação e a diversidade lingüística é inerente a linguagem humana, e não ocorre de maneira aleatória, segue regularidades de cunho estrutural ou social.

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Basil Berstein e as deficiências lingüísticas Calvet (2002) e Soares (1996)

“Berstein, especialista inglês em sociologia da educação, será o primeiro a levar em consideração, ao mesmo tempo, as produções lingüísticas reais e a situação sociológica dos falantes.”

Focaliza o fracasso escolar das crianças da classe operária em comparação com as crianças da classe média americana.

Baseia-se na produção lingüística das crianças para propor dois códigos: código restrito e código elaborado.

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• Características do léxico e da morfossintaxe dos dois códigos:

A) Código elaboradoEstrutura gramatical complexa e precisa.Uso freqüente de orações subordinadas

adverbiais, de preposições, de verbos na voz passiva, de adjetivos e advérbios.

B) Código restritoEstrutura gramatical simples e, muitas vezes,

incompleta.Uso freqüente de ordens e perguntas, de

afirmações categóricas, repetição de pronomes pessoais.

Uso limitado e rígido de adjetivos e advérbios.

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A forma de socialização em que as crianças estão imersas (contexto familiar), o que teria como resultado os dois tipos de códigos.

Exemplo: Primeiro diálogo:

Mãe: Segure firme, querido.Criança: Por que?Mãe: Se você não segurar, vai ser jogado para a frente e vai cair.Criança: Por que?Mãe: Porque se o ônibus parar de repente, você vai ser jogado no banco da

frente.Criança: Por que?Mãe: Agora, querido, segure firma e não crie caso.

Segundo diálogo:Mãe: Segure firme.Criança: Por que?Mãe: Segure firme.Criança: Por que?Mãe: Você vai cair.Criança: Por que?Mãe: Eu mandei você segurar firme, não mandei?

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Estudo de Peter Hawkins, muito citado por Berstein:

Foi apresentada a cada criança uma história em quadrinhos muda, composta de quatro cenas: meninos jogando bola, a bola atingindo a janela de uma casa, um homem com gestos ameaçadores, uma mulher olhando pela janela, enquanto os meninos fugiam.

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Produção oral das crianças da classe média (5 anos)“Três meninos estão jogando bola e um menino chuta a bola e ela atravessa a janela a bola quebra o vidro e os meninos olham para ela e sai um homem e grita com eles porque eles quebraram o vidro então eles fogem e depois essa senhora olha pela janela e ela diz aos meninos para irem embora”.

Produção das crianças da classe trabalhadora (5 anos)“Eles estão jogando bola e ele chuta ela e ela atravessa ela quebra o vidro e eles olham para ela e ele sai e grita com eles porque eles quebraram ela então eles fogem e depois ela olha para fora e ela diz para eles irem embora”.

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“Berstein adverte que não se pode afirmar que a criança da classe trabalhadora não seria capaz de produzir uma linguagem semelhante à criança da classe média; a diferença, na verdade, está na maneira como cada uma relacionou linguagem e contexto.”

Esses estudos e essa análise de Berstein estão na base da hipótese do déficit lingüístico que pressupõe que o desenvolvimento da linguagem tem uma relação direta com o desenvolvimento cognitivo. O que explicaria o fracasso escolar das crianças da classe trabalhadora!

É uma tentativa de “patoligição da pobreza”.

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A partir desses estudos na década de 60 e 70 o EUA investe na chamada Educação Compensatória.

Intervenção precoce na educação pré escolar, submetendo a criança a atividades de “socialização”, que partem do pressuposto de que a socialização que ela vivencia em seu contexto familiar é “pobre”.

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Fracasso da Educação Compensatória Soares(1996)

“Nos Estados Unidos, verificou-se que resultados positivos de programas de educação compensatória eram inexistentes ou efêmeros, isto é, crianças a eles submetidas, ao contrário do esperado, não evidenciavam melhor desempenho escolar ou, quando isso ocorria, esse melhor desempenho era limitado, de pouca duração.”

O grave, para nós do Brasil, é que depois de uma década do reconhecido fracasso nos EUA, o Brasil estava reproduzindo esses modelos compensatórios.

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Várias explicações para o fracasso

Sem discutir o pressuposto Pobreza – deficiência lingüística, alguns explicam o fracasso dizendo que a intervenção foi executada tardiamente e que a “privação cultural” já teria exercido efeitos tão profundos que não se pode compensar as “deficiências”.

Nessa linha teve pesquisadores comparando o rendimento de negros e brancos nos EUA que postularam uma hipótese genética, em uma visão claramente racista.

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Várias explicações para o fracassoOutras explicações se voltam para a postura dos

professores, ainda sem questionar o pressuposto básico por trás da deficiência lingüística.

A explicação se baseia na idéia de que os professores criam expectativas negativas em relação aos alunos considerados “deficientes” e o resultado seria o que foi chamado de “a profecia que se autocumpre”. Ou seja, a expectativa que uma pessoa tem sobre a outra acaba influenciando, mesmo que sutil e sem intenção, o seu aprendizado.

Isso gera atitudes tanto por parte do professor, quanto por parte dos alunos que acentua a descriminação. O professor, por exemplo, reduz ou simplifica conteúdos, e os alunos não se empenham por incorporarem uma auto-imagem negativa e de incapacidade.

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Várias explicações para o fracassoOutras explicações, finalmente, vão começar a

colocar em xeque os próprios pressupostos dos programas compensatórios.

“A causa do insucesso está no planejamento baseado em falhas atribuídas às crianças, quando, na verdade, as falhas estariam não nela, mas na própria escola, que repudia os estilos cognitivos e lingüísticos das crianças das camadas populares, porque os julga, erroneamente, em função de uma norma, que é o comportamento das classes socioeconomicamente privilegiadas.”

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Várias explicações para o fracassoUm outro grupo de explicações vão focalizar não só o

ideário da deficiência lingüística e cultural, mas aponta como o ponto central, a própria sociedade e sua estrutura discriminatória como causas desse insucesso.

“O argumento é que a educação compensatória fracassa porque atribui à escola um poder que ela não tem: o de compensar as desigualdades sociais que estão fora dela e que têm sua origem no antagonismo das relações sociais e econômicas, de que a escola não tem condições de fugir”

A escola tem que compensar problemas de saúde,nutrição, afetividade, lingüísticos (???) etc...

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A decisiva contribuiçãode William Labov

Labov estuda as variedades do inglês nãopadrão, particularmente de porto-riquenhos e negros da cidade de Nova York

De forma contundente desmistifica a lógica que atribuía à “privação e pobreza lingüística” a causa para as dificuldades de aprendizagem das classes trabalhadoras e minorias étnicas socialmente desfavorecidas.

Labov rejeita completamente o conceito de deficiência lingüística, que considera um mito sem nenhuma base na realidade social.

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Como explicar então o fracasso escolar, tambématestado e confirmado pelo próprio LABOV?

Para Labov uma das mais sérias falácias da teoria da privação lingüística é que ela se fundamenta em resultados espúrios, que não passam de um artefato da metodologia de pesquisa utilizada.

O dialeto da criança era estudado em experimentos controlados, em entrevistas e situações artificiais e assimétricas. Situação comum para as crianças de classe média e completamente estranha e ameaçadora para a classe trabalhadora. Nessa situação não poderia se esperar das crianças menos favorecidas socialmente mais do que uma linguagem monossilábica, fragmentada e defensiva.

Há o pressuposto equivocado que essa situação de teste seria neutra em termos socioculturais, mas na verdade a causa está na própria situação gerada para coletar os dados.

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Labov mostra que para avaliar a verdadeira capacidade verbal da criança, é necessário estudá-la no contexto cultural em que essa capacidade se desenvolve, e em situações naturais e distensas.

E é isso que Labov faz usando várias técnicas que deixam os falantes à vontade, transformando entrevista em conversa informal, em que o falante esquece até do gravador.

Com isso, fica claro para Labov, que o fracasso escolar não tem a causa na criança e na sua capacidade lingüística e sim na inadequação e na incapacidade da escola em incorporar o dialeto não-padrão em sua realidade pedagógica.

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SOCIOLINGUÍSTICA

Pesquisadores de diferentes campos

do saber

Preocupação com as implicações teóricas e práticas do fenômeno

linguístico

Pesquisas voltadas paras as minorias

linguísticas

Pesquisas voltadas à questão do insucesso escolar dos grupos

sociais desfavorecidos

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Objeto: estudo da língua falada, observada, descrita e analisada em seu contexto social, ou seja, em situações reais de uso.

A SOCIOLINGUÍSTICA: OBJETO, CONCEITOS E PRESSUPOSTOS

Pescadores do litoral do RJ

Rappers

Estudantes de direito

São PauloGoiás

Ianomâmi(Amapá)

COMUNIDADES

LINGUÍSTICAS

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COMUNIDADE LINGUÍSTICA

DIVERSIDADE - VARIAÇÃO

VARIEDADES LINGUÍSTICAS

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Língua e variação são inseparáveis: a Sociolinguística encara a diversidade linguística não como um problema, mas

como uma qualidade constitutiva do fenômeno

linguístico.