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LIRA DOS VINTE ANOS No prefácio da primeira parte, o autor avisa: “É uma lira, mas sem cordas; uma primavera, mas sem flores; uma coroa de folhas, mas sem viço. // Cantos espontâneos do coração, vibrações doridas da lira interna que agitava um sonho, notas que o vento levou – como isso dou a lume essas harmonias”.A poesia aparece aqui como expressão de um estado de espírito marcado pela tristeza e pela melancolia.Ela funciona como um registro de vida, daí sua espontaneidade – sugestão de que não teria passado pelo crivo da razão, originando-se diretamente do coração e da alma do poeta. O anseio de algo que acabou por não se realizar, graças à morte prematura do autor, está prenunciado na referência ao “sonho”.

Lira dos vinte anos jessica 2ºb

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LIRA DOS VINTE ANOS

No prefácio da primeira parte, o autor avisa: “É uma lira, mas sem cordas; uma primavera, mas sem flores; uma coroa de folhas, mas sem viço. // Cantos espontâneos do coração, vibrações doridas da lira interna que agitava um sonho, notas que o vento levou – como isso dou a lume essas harmonias”.A poesia aparece aqui como expressão de um estado de espírito marcado pela tristeza e pela melancolia.Ela funciona como um registro de vida, daí sua espontaneidade – sugestão de que não teria passado pelo crivo da razão, originando-se diretamente do coração e da alma do poeta. O anseio de algo que acabou por não se realizar, graças à morte prematura do autor, está prenunciado na referência ao “sonho”. 

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“Lembrança de morrer” é, significativamente, o texto que encerra essa primeira parte. Poema emblemático de toda a poesia ultrarromântica, trata-se de uma verdadeira súmula temática da estética: referências à morte (“Quando em meu peito rebentar-se a fibra, / Que o espírito enlaça à dor vivente”), o desprezo pela vida (“Eu deixo a vida como deixa o tédio / Do deserto o poento caminheiro”), a saudade materna (“De ti, ó minha mãe! pobre coitada / Que por minha tristeza te definhas!”) e a figura feminina, virginal, veículo de um amor platônico (“É pela virgem que sonhei... que nunca / Aos lábios me encostou a face linda!”).

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Já o prefácio da segunda parte avisa o leitor sobre o que esperar dela: “[O poeta] Tem nervos, tem fibra e tem artérias – isto é, antes e depois de ser um ente idealista, é um ente que tem corpo. E, digam o que quiserem, sem esses elementos, que sou o primeiro a reconhecer, muito prosaicos, não há poesia”. De fato, os poemas se distanciam do idealismo para tratar de aspectos corriqueiros da existência humana. O tratamento temático é ainda romântico, mas a nota cômica que salta aos olhos aqui e ali permite perceber alguma diferença.

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Destaca-se “Namoro a cavalo”, que relata um desastrado encontro amoroso que foge em tudo da média romântica. O próprio enamorado registra o momento final do episódio: “Circunstância agravante. A calça inglesa / Rasgou-se no cair de meio a meio, / O sangue pelas ventas me corria / Em paga do amoroso devaneio!”. Como se vê, nada que faça lembrar os abraços e beijos – mesmo que sonhados – das aventuras amorosas do romantismo.

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SOBRE O AUTOR Álvares de Azevedo foi um poeta

romântico típico. Jovem e tuberculoso, fez da poesia uma válvula de escape para seus anseios e frustrações. Mesmo que haja algo de fictício em sua biografia, o fato é que sua poesia reúne o que há de mais propriamente romântico: o sentimentalismo, a morbidez e o pessimismo que caracterizaram a geração que teve no poeta inglês Byron seu maior modelo.