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________________________ NOTAS BIBLIOGRÁFICAS SOBRE O 1º MARCO DE POSSE DO BRASIL NO RIO GRANDE DO NORTE Autor: Jonas Floripe Ginani Filho ________________________

MARCO DE POSSE DO BRASIL

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Notas bibliográficas sobre o 1º marco de posse do Brasil, colocado na praia dos Marcos, no município de São Miguel do Gostoso.

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Page 1: MARCO DE POSSE DO BRASIL

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NOTAS

BIBLIOGRÁFICAS

SOBRE O 1º MARCO DE

POSSE DO BRASIL NO

RIO GRANDE DO

NORTE

Autor: Jonas Floripe Ginani Filho

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I – Acontecimentos importantes antes de abril de 1500

1. O primeiro descobrimento:

O escritor grego Diodoro (da Sicília) dá, nos capítulos 19 e 20 do 5º livro da

sua História Universal, a descrição da primeira viagem duma frota de fenícios que

saiu da costa da África, perto de Dacar, e atravessou o oceano atlântico no rumo do

sudoeste. Os navegadores fenícios encontraram as mesmas corrente oceânicas de que

se aproveitou Pedro Álvares Cabral para alcançar o litoral brasileiro, e chegaram em

uma viagem de "muitos dias" às costas do nordeste do Brasil.

Esse primeiro descobrimento do Brasil, teria sido em 1100 a.C.. Diodoro

conta a viagem da frota dos fenícios quase com as mesmas palavras com que narram

os compêndios escolares brasileiros a viagem de Cabral: “os navios andavam para o

sul, ao longo da costa da África, mas, subitamente, perderam a vista do continente e

uma violenta tempestade levou-os ao alto mar. Ali, perseguindo as mesmas

correntezas, descobriram eles uma grande ilha, com praias lindas, com rios

navegáveis, com muitas serras no interior, cobertas por imensas florestas, com um

clima ameno, abundante em frutas, caça e peixe, e com uma população pacífica e

inteligente”.

O Brasil está repleto de indícios comprobatórios da passagem dos fenícios, e

tudo indica que eles concentraram sua atenção no nordeste. Pouco distante da

confluência do rio Long e do rio Parnaba, no Estado do Piau, existe um lago onde

foram encontrados estaleiros fenícios e um porto, com local para atracação dos

"carpassios" (navios antigos de longo curso).

Subindo o rio Mearim, no Estado do Maranhão, na confluência dos rios

Pindar e Graja, encontra-se o lago Pensiva, que outrora foi chamado Maracu. Neste

lago, em ambas as margens, existem estaleiros de madeira petrificada, com grossos

pregos e cavilhas de bronze. O pesquisador maranhense Raimundo Lopes escavou

ali, no fim da década de 1920, e encontrou utensílios tipicamente fenícios.

Nas entradas dos rios Camocim (Ceará), Parnaíba (Piauí) e Mearim

(Maranhão), existem muralhas de pedra e cal erguidas pelos antigos fenícios.

No Rio Grande do Norte, por sua vez, depois de percorrer um canal de 11

quilômetros, os barcos fenícios ancoravam no lago Extremoz. O professor austríaco

Ludwig Schwennhagen estudou cuidadosamente os aterros e subterrâneos do local,

e outros que existem perto de Touros, onde os navegadores fenícios vinham a ancorar

após percorrer uns 10 quilômetros de canal. O mesmo Schwennhagen relata que

encontrou na amazônia inscrições fenícias gravadas em pedra, nas quais havia

referências a diversos reis de Tiro e Sidon (887 a 856 a.C.).

E há, finalmente, a famosa inscrião da Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro,

bastante conhecida: Aqui Badezir, rei de Tiro, primogênito de Jetbaal

Schwennhagen acredita que os fenícios usaram o Brasil como base durante

pelo menos oitocentos anos, deixando aqui, além das provas materiais, uma

importante influência linguística entre os nativos.

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Navio fenício Provável planisfério em uma moeda

fenícia

2. A suposta descoberta de Sancho Brandão em 1343:

Sancho Brandão, citado por Cabral em carta ao rei dom Manuel, era um

navegante que teria desgarrado no mar do ocidente castigado pela tempestade, e

impelido por uma correnteza misteriosa, chega a uma terra magnífica, habitada por

homens nus e opulenta em árvores de tinta vermelha. O fato foi relatado por dom

Afonso IV, o bravo, ao Papa Clemente VII, enviando junto um mapa com a inscrição

Insula do Brasil ou Brandão. Esse mapa foi copiado em 1375, por um cartógrafo a

mando do rei da França, Carlos V, e se encontra na Biblioteca Nacional de Paris. A

comunicação do rei de Portugal ao Papa, com outra cópia do mapa, se encontra na

biblioteca do Vaticano.

3. A Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra (1375-1453):

A Guerra dos Cem Anos envolvendo a França e a Inglaterra, além de destruir

a economia e impossibilitar o desenvolvimento, deixando livre o caminho para

Portugal e Espanha entre outros, dificulta o trânsito das especiarias que vinham do

oriente através de rotas terrestres. A dificuldade do transporte por terra leva os

italianos a desenvolverem a rota marítima fazendo escalas em Lisboa. Essa escala

possibilita o aprendizado das técnicas mais avançadas da navegação pelos

portugueses que souberam se valer delas para desenvolver sua força naval e levar à

frente sua exploração ultramarina.

4. O Infante Dom Henrique e a Ordem dos Templários:

Dom Henrique nasceu em 1394 e morreu em 1460. Abdicou da coroa para se

dedicar aos negócios da Ordem de Cristo, sucessora da Ordem dos Templários que foi

banida pelo Vaticano com seu espólio sendo confiscado principalmente na França.

Teve guarida em Portugal com o nome de Ordem de Cristo, e para lá levou grande

parte do seu espólio, tendo o Infante sido seu governador e, portanto, administrador

dos bens. Esse capital foi quem financiou as grandes investidas marítimas de Portugal

no período henriquino, obtendo grandes lucros e usando a bandeira da fé, contra os

mouros infiéis. Fundou em Sagres (1430), um local onde reuniu matemáticos,

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cartógrafos, pilotos de várias origens, engenheiros navais e militares, geógrafos e

astrônomos para desenvolver a ciência e a técnica da navegação de longo curso e com

isso treinar seus pilotos. Sob seu comando as expedições foram guiadas por uma

concepção econômica e política sistemática.

Cavaleiro Templário Cruz da Ordem de Cristo

5. A tomada de Ceuta:

Ceuta era um importante entreposto árabe situado na extremidade da África e

do estreito de Gibraltar. Foi ocupada pelos portugueses em 1415, que a arrasaram

com o saque. Foi o primeiro passo na conquista do litoral africano.

6. A descoberta das ilhas Canárias, Açores e Madeira:

Uma expedição chefiada por dom Fernando de Castro, chega às Canárias em

1424. Um ano depois, 1425, Tristão Vaz Teixeira e João Gonçalves Zarco adentram o

atlântico e descobrem a ilha de Porto Santo na Madeira. Já em 1427, Diogo de Silves

descobre os Açores. Essas descobertas foram os primeiros passos que possibilitaram

a conquista da costa atlântica da África e o posterior caminho das Índias.

7. A conquista do Bojador:

Esse cabo, situado numa das extremidades do Saara Oriental, era o grande

empecilho para as viagens dos portugueses rumo ao sul da África. Além das lendas

sobre água fervente, dragões e vapores pestilentos que muito assustavam, havia uma

restinga de pedra que dele sai ao mar. Devido a essa restinga se perderam navios e

isto, associado às lendas, aterrorizavam os marujos que algumas vezes se

amotinavam e faziam os navios retornarem. Só após a 14º ou 15º tentativa estimulada

pelo Infante dom Henrique que se logrou êxito. Gil Eanes, em 1434, um ex-pajem do

Infante, resolveu fazer diferente e, ao invés de seguir o litoral, afastou-se, aproando

reto ao poente, para depois fazer uma bordada a sudeste, de volta à derrota original,

saindo adiante do Bojador. Este percurso foi denominado volta do mar.

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8. O Mapa de Andrea Bianco e a Volta do Sargaço:

A Volta do Sargaço, ou volta dos Açores ou ainda, volta da mina, como

ficou conhecido esse caminho, primeiro porque passava pelo mar dos sargaços, onde

foi descoberto o arquipélago dos Açores e por fim, devido a descoberta da feitoria

de São José da Mina em Gana. Os pilotos que regressavam da costa da guiné,

partindo da protuberância de Serra Leoa, tomavam, como Gil Eanes, o rumo do

poente, e dessa forma atravessavam o atlântico tendo como guia a corrente

subequatorial, passando pelo mar territorial brasileiro e caribe, daí arredondando

pelos Açores até alcançarem Lisboa. Essa rota foi utilizada a partir da chegada dos

portugueses no Senegal em 1439 com Dinis Fernandes e pode ter sido o

acontecimento decisivo no descobrimento pré-cabralino do Brasil.

No mapa de Andréa Bianco de 1436, redesenhado em 1448 na Inglaterra, já

figurava o saliente nordestino, identificado como uma ilha verdadeira (ixola

oitinticha) e que provavelmente era a mesma que os tripulantes de caravelas,

procedentes da Mina (Gana) e que faziam a volta dos Açores (depois volta da mina)

diziam ver todo ano.

9. A tomada de Constantinopla pelos Mouros:

Constantinopla era passagem das especiarias que vinham do oriente (Índia

principalmente, mas também China), hoje é denominada Istambul e se localiza no

estreito de Bósforo na Turquia. Em maio de 1453 foi tomada pelos turcos que

impediram o comércio livre pela região. Apenas os italianos continuaram a fazer

comércio, mas pagando caro e vendendo caro também na Europa, onde as

especiarias eram muito requisitadas. Isso possibilitou à Portugal a busca do

caminho para às Índias pelo sul da África, pois o custo das especiarias vindo pelo

mar sairia mais em conta do que por terra e se ganharia muito com esse comércio,

além do que se poderia bloquear o comércio dos árabes com as Índias e

combate-los no mar com o objetivo (nunca alcançado) de derrotar os infiéis, numa

versão marítima das cruzadas.

10. O arquipélago de Cabo Verde e a feitoria de São José da Mina:

Em 1457, Gonçalo Velho descobre as ilhas Cabo Verde que foi ponto de

apoio importante para os navios até o descobrimento de aguadas no Brasil. Em São

José da Mina, descoberta em 1471 por João de Santarém e Pero de

Escobar, foi construída uma feitoria e de lá saiu muito ouro e especiarias além de

escravos. Hoje ela é a cidade de Elmina em Gana.

11. As viagens de Diogo Cão:

Diogo Cão chega ao rio Congo na República Democrática do Congo em 1484

indo até a Angola onde chanta padrões de posse nos cabos Lobo(atual Santa

Maria) e nas proximidades do rio Zaire. Esses marcos de posse, denominados

padrões, foram inventados por ele, usando as pedras que serviam de lastro no navio

e que eram conhecidos como mármore de Lisboa (pedra lioz) ou calcário vulgar das

pedreiras de Lisboa. Esses padrões tinham forma de coluna e possuam em relevo,

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esculpidos na mesma face, a cruz da Ordem de Cristo e as armas do rei de Portugal

(cinco escudetes em cruz com cinco besantes em santor sem os castelos). Eles eram

colocados em substituição às cruzes de madeira ou junto à elas quando ocorria

cerimonial religioso (missa).

Em 1485, Diogo Cão volta à África e usa a mesma estratégia de Gil Eanes,

indo a oeste e fazendo adiante contorno largo para voltar ao leste, fugindo dos

bordejos constantes, da zona de calmarias e da corrente contrária de Benguela no

golfo da guiné. Ao retornar à costa africana, chega ao litoral da Namíbia, onde

chanta um padrão na costa dos esqueletos, no Cabo Padrão (Cape Cross) e outro

ainda em Angola no cabo Negro hoje Tombua, chegando bem perto da extremidade

do continente africano. Esse roteiro pode ter servido de base para as viagens que se

seguiram (Bartolomeu Dias e Vasco da Gama).

Diogo Cão chantando o padrão próximo ao rio Zaire Padrão do cabo Santa

(Pintura baseada nos textos) Maria

12. O Mapa de Pero Vaz Bisagudo:

Pero Vaz Bisagudo comandava uma esquadra de vinte galés para reconduzir e

restabelecer nos seus estados ao príncipe Bemoij, de Jofalo, Senegal, e erigir uma

fortaleza na foz do rio Senegal. Estando já na obra da fortaleza, o príncipe é morto

com punhaladas por Bisagudo, dentro do navio deste, após traição, segundo seu

relato.

Fugindo à responsabilidade pelo assassinato, foge no seu barco, quando

acossado por ventos fortes é levado às terras do ocidente. Esse descobrimento

fortuito em 1487,poderia servir para explicar os motivos que moveram dom João II à

clemência, visto que Bisagudo, não sendo cartógrafo, pode ter reconhecido o saliente

nordestino no mapa de Andréa Bianco, elaborado em Londres, onde o mesmo

mantinha estreitos laços de amizade. O mapa de Bisagudo, portanto, seria uma cópia

do de Bianco.

13. Bartolomeu Dias e o Cabo da Boa Esperança:

Bartolomeu Dias, em 1487, utilizando a rota de Diogo Cão, dirigindo-se mais

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ao poente, a partir da mina (talvez passando próximo ao saliente), para depois

bordejar aproando para o sul da África, chega a baía dos tigres, em Angola, onde

deixa sua naveta de mantimentos(invenção sua para suprir as necessidades da longa

viagem) e parte para cruzar nos últimos dias do ano o cabo que nomeou das tormentas

,alterado depois pelo rei dom João II para Boa Esperança. Sem saber que o tinha

ultrapassado, foi parar no rio do Infante, hoje Great Fish River,na África do Sul. No

retorno para na angra de São Brás, atual Mossel Bay, 60 léguas além do cabo da Boa

Esperança para reabastecer-se. Após um incidente com os silvícolas que não queriam

permitir o abastecimento, usou as armas, matando um deles e “apaziguando-os” para

uma futura viagem (Vasco da Gama). Na volta ,resgata a naveta e descobre ter

ultrapassado o cabo da Boa Esperança. Chantou quatro padrões que estão assinalados

no mapa abaixo. Essa rota pelo atlântico sul foi denominada volta do mar, depois, do

Brasil.

14. As viagens de Colombo e Duarte Pacheco:

Cristóvão Colombo em 1492 chega as Bahamas levando os espanhóis para

outra direção, talvez numa manobra para confundi-los quanto ao verdadeiro curso

para a Índia. Suspeita-se de que Colombo seria espião a serviço do rei dom João II.

Já Duarte Pacheco e Cristóvão Colombo, em 1498, em provável expedição

conjunta da Espanha e Portugal, chegam ao saliente nordestino de onde partem para

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localização da linha de demarcação de tordesilhas chegando até a Venezuela.

Rota de Colombo já na Venezuela

15. Vasco da Gama e o caminho para as Índias:

Vasco da Gama parte de Lisboa com quatro navios escoltado por Bartolomeu

Dias em um outro, em 08 de julho de 1497, chega à ilha de Santiago no arquipélago

de Cabo Verde em 09 de julho ,partindo 25 dias depois(um tempo exagerado para

abastecer apenas quatro navios), acompanhado por Bartolomeu Dias, até encontrar a

barreira dos ventos de sudeste, onde se separam, indo Bartolomeu para São José da

Mina e Vasco, seguindo a rota indicada pelo primeiro, vira para sudoeste na direção

do saliente, vindo aparecer 95 dias após, a 07 de novembro, na angra de Santa

Helena, cerca de 30 léguas antes do cabo da Boa Esperança. Carrega apenas lenha,

pois é expulso pelos silvícolas e a 25 de novembro chega a angra de São Brás onde,

após 109 dias, carrega água, lenha e carne. Nesta parada, se desfaz da naveta de

mantimentos distribuindo as sobras entre as outras naus. A 07 de dezembro parte da

angra aportando em 10 de janeiro (um mês e três dias) em um dos braços do

Zambeze, tendo graves problemas de escorbuto entre a tripulação. Ao regressar de

Calicute (Índia), após 79 dias da escala em angediva, sofre novamente com o

escorbuto, tendo entre as vítimas o piloto-mor Pero Dalenquer, que acompanhou

Bartolomeu Dias em 1487.

Causa estranheza o percurso de 109 dias entre Santiago e São Brás sem

reabastecimento, com sobras de mantimentos e sem nenhum problema com escorbuto

quando, com apenas 70 dias, já tinha tripulantes morrendo deste mal. É possível que

Vasco da Gama tenha parado em algum lugar antes de Santa Helena ou São Brás, e o

lugar mais provável é o saliente nordestino que estava na sua proa.

Seguindo o costume de chantar padrões, Vasco da Gama chantou um na

Angra de São Brás, no ilhéu de Santa Maria (Moçambique), em Melinde (Quênia) e,

em Calicute, entregou um ao Samorim para chantá-lo, mas este esqueceu ou não teve

interesse.

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Roteiro da ida e volta de Vasco da Gama

16. Algumas viagens ao saliente antes de Cabral:

Alonso de Ojeda, Juan de La Cosa e Américo Vespúcio, teriam esquadrinhado

parte do litoral norte-riograndense em 1499 a partir do Calcanhar, subindo o litoral

até a Venezuela. Já em janeiro de 1500, Vincente Yáñes Pinzón teria arribado à ponta

do Calcanhar na latitude 5 9’ S e em fevereiro do mesmo ano, Diego de Lepe teria

atingido uma baía ou rio na costa brasileira ao sul do cabo São Roque

(Maxaranguape), a que chamou de San Julian.

II – A viagem de Cabral

1. Versão oficial:

Cabral coadjuvado por Bartolomeu Dias, Duarte Pacheco, Nicolau Coelho e

Pero Escobar (veteranos em viagens para esse lado) além de outros grandes

navegadores experimentados na volta do mar rumo ao sul, parte de Lisboa em 09

de maro de 1500 com 14 navios. No dia 22 do mesmo mês, passa pela ilha de São

Nicolau no Cabo Verde, sem parar. Logo após passar pela ilha, perde a nau de

Vasco de Ataíde e perde também um ou dois dias procurando-a, chegando a um

porto seguro em 30 dias com 13 navios. Era o dia 22 de abril ou 23 (dia de São

Jorge) pelo dia náutico (conforme assinala o mapa de cantino). Aqui passaram 10

dias onde reabasteceram e consertaram os navios, trocaram presentes com os

indígenas, rezaram missa após fincarem uma cruz. Após deliberação com os

capitães, Cabral resolveu mandar de volta o navio de mantimentos sob o comando

de Gaspar de Lemos, com as notícias da terra dadas pelas cartas de Caminha, Mestre

João e Cabral (?) entre outras. No dia 02 de maio partem para as Índias, seguindo

até um ponto ao sul do Brasil, onde aproaram para a extremidade da África, e já no

dia 24 de maio, contornavam o cabo da Boa Esperança. Nesta passagem enfrentam

tormentas, vindo a perder cinco navios, incluindo o de Bartolomeu Dias.

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Chegada de Cabral(pintura de acordo com texto) Rota da viagem

2. As cartas do descobrimento:

a. A carta de Caminha:

Essa carta relata fatos e paisagens observadas durante a estada no porto

seguro. Pela forma escrita, não se pode afirmar ser este ou aquele lugar a área de

porto, pois os acidentes geográficos citados, bem como os fatos ocorridos,

poderiam acontecer de norte a sul do Brasil.

b. A carta de Mestre João:

Mestre João, segundo suspeita-se, era médico e cosmógrafo e redigiu uma

carta também para ser enviada ao rei pelo navio que retornava à Portugal. Entre

os fatos citados, tem a latitude a que julga estar 17º e recomenda ao rei a

consulta ao mapa de Bisagudo (já citado anteriormente). A carta,

contrariamente a de Caminha, não relata fatos ocorridos nem acontecimentos

relacionados à estada no porto seguro, mas sim reclamações da pouca atenção

que lhe dada pelos comandantes, estando ele em um navio bem atrás dos

outros e sofrendo de um mal na perna que se agrava.

c. A relação do piloto anônimo:

Este documento referente ao Brasil foi interceptado após a chegada dos dois

últimos navios da frota cabralina em 21 de junho de 1502, por Domenico Pisani,

um espião a serviço de Veneza. Neste documento está posto que a terra

descoberta é grande, porém não puderam saber se era ilha ou terra firme. Num

comentário em carta pessoal de Pisani ao Doge de Veneza no dia 27 de junho de

1502, possívelmente acompanhando a cópia do documento, ele revela que

Cabral percorrera duas mil milhas de costa e não encontrara fim. Essa distância

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bate com a de onde se encontrou o 1º padrão na praia dos marcos/RN e o 2º em

Cananéia/SP.

d. A carta de Cabral:

Essa carta, que pode ter sido enviada ao rei pelo navio que retornou do porto

seguro ou como defesa pelos excessos cometidos na Índia, relata que “em

obediência à instrução de Vossa Alteza, navegamos no ocidente e tomamos

posse, com padrão, da terra de Vossa Alteza, que os antigos chamavam de

Brandão ou Brasil”. Sobre Brandão ele se refere ao mapa de Sancho Brandão

de 1343, já citado anteriormente.

3. Viagens posteriores a Cabral:

A primeira viagem que se tem notícia é a de João da Nova que,

obedecendo ordens de dom Manuel, refaz a rota de Cabral em busca de notícias.

Ele passa pelo arquipélago do Cabo Verde nas proximidades de 20 de março e

Vera Cruz (Brasil) entre 5º e 8º, ou seja, no saliente nordestino, em 20 de abril,

tendo as mesmas condições de vento e correnteza da rota de Cabral (20/04/1501

– 22/04/1500). Depois de reabastecer-se foi em busca das Índias sem passar

pela Bahia.

Outras viagens importantes que se seguiram, tanto para as Índias como

costa sul da África, ou sul do Brasil, passavam pelo saliente, seja porque

precisavam se abastecer ou porque, apesar de mais longa, tinha a vantagem de

oferecer melhores condições de navegação levando menos tempo. Assim, a

partir de 1502,Afonso de Albuquerque, Vasco da Gama (2ª viagem) e Tristão

da Cunha em viagens para as Índias; Fernão de Loronha com Gaspar de

Lemos e Vespúcio em agosto de 1501 e depois, sem Gaspar de Lemos, em

1503, para tratar de interesses comerciais (arrendamento de terras e pau-brasil).

4. Os acidentes geográficos citados por Caminha no saliente, segundo Lenine

Pinto:

O monte Pascoal avistado pela frota seria o pico Cabugi, com altura de

800 metros, situado no município de Angicos e pode ser avistado à distância

de 50 quilômetros; as outras serras seriam a chapada do morro Verde, com

300 metros de altura, e o serrote da Cutia para os lados de Touros, junto ao

Calcanhar.

No primeiro fundeadouro, as barreiras brancas e vermelhas seriam as

que existem ainda hoje na praia de Touros. As lagoas poderiam ser a do

Boqueirão ou do Avião e o rio, o maceió, hoje totalmente depredado, assoreado

e poluído. As coroas vermelhas são muitas na área, quase todas hoje submersas

devido a forte correnteza que por ali passa.

5. O mapa de Cantino:

Cantino foi um espião a serviço dos italianos, que pagou cerca de 15

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ducados, uma fortuna na época, para que fizessem esse mapa. O fato mais

curioso relacionado ao descobrimento, é que ele apresenta a bandeira com as

quinas portuguesa, no cabo Calcanhar, denominando-o São Jorge. O dia de São

Jorge 23 de abril, dia em que Cabral chegou ao Brasil usando o dia náutico. Para

os navegantes, o dia se encerrava ao meio-dia, virando a ampulheta e passando

a contar o dia seguinte. Cabral chegou ao Brasil no final da tarde, portanto no

dia 23, e era costume se batizar acidentes geográficos pelo santo do dia.

Mapa de Cantino de 1502

III – Os marcos de posse no Brasil:

Seguindo a regra iniciada por Diogo Cão, depois seguida por Bartolomeu

Dias e Vasco da Gama, entre outros, que chantaram esses padrões nas terras

descobertas, Cabral teria chantado os seus também, um na primeira parada, no seu

porto seguro, encontrado na praia dos marcos em São Miguel do Gostoso/RN e o

outro na saída da terra, após percorrer 2000 milhas, em Cananéia/SP. O padrão tem

no primeiro terço a cruz da Ordem de Cristo em relevo e abaixo as armas do rei de

Portugal, cinco escudetes em cruz com cinco besantes (forma de moeda) em santor

(cruzados). Possui altura de 1,62 metro, 32,5 centímetros de largura e 25 centímetros

de espessura. O de Cananéia é mais rústico e bem menor, parece que foi uma

improvisação de uma das pedras do lastro de algum dos navios da frota. Já o que se

encontra em Porto Seguro foi colocado após 1530, quando começou a ser povoado.

Existe uma outra versão para o chantamento dos dois marcos, defendida por

alguns historiadores, que foi a expedição de 1501 comandada por Gaspar de Lemos,

acompanhado por Vespúcio e Fernão de Loronha. Este último veio verificar a terra

para um posterior contrato de exploração. Em 1503, ele retorna à terra descoberta,

mas passando pela ilha que leva seu nome (Fernando de Noronha) e depois descendo

até a baía de Todos os Santos (Salvador), longe portanto, da atual cidade de Porto

Seguro. Esta versão se baseia numa das cartas de Vespúcio, a Lettera, de 04 de

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setembro de 1504, em que relata ter tomado posse em nome do rei de Portugal. Eles

chegam ao saliente (5º 4’ 40” S) em 07 de agosto de 1501, após sete dias partem

passando pelo São Roque a 16 e São Agostinho a 28, todos esses acidentes foram

batizados pela expedição usando o costume da época, o santo do dia. A data 07 de

agosto de 1501, considerada o dia do nascimento oficial do Estado do Rio Grande

do Norte de acordo com a Lei nº 7831 de 30 de maio de 2000.

1º marco de posse com a cruz em relevo Marco comemorativo de P.Seguro

e os escudetes conforme o esquema sem a cruz em relevo

IV – A redescoberta do 1º marco de posse do Brasil

A primeira citação do marco, fora da época quinhentista, ocorre em 1890,

pelo historiador pernambucano José de Vasconcelos, em uma revista do Instituto

Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Segundo ele, o marco era considerado uma

pedra santa e os moradores locais e vizinhos faziam romarias para pedir votos e rezar

o terço. Um morador de nome Félix Batista recebia esmolas que eram usadas para

manter um lampião aceso todas as noites. Esse mesmo morador, foi responsável pela

retirada do marco do local original, salvando-a do avanço do mar, esquecendo

contudo, de levar as duas outras menores chamadas de testemunhas, ou tenentes que

serviam como apoio para a primeira.

Tristão de Alencar Araripe, também em 1890, trata do marco, citando o

referido historiador pernambucano e propunha que o IHGB, do qual era conselheiro,

trabalhasse pela sua remoção.

Em 27 de agosto de 1928, o historiador Câmara Cascudo visita o marco. Ele

encontrava-se com algumas partes danificadas (o primeiro escudete totalmente

danificado, o do centro metade e o da ponta parcialmente), mas no geral em bom

estado. Estava envolto em fitas votivas e flores secas sem o lampião oblacional.

Quando perguntado a moradores sobre a origem de um furo acima do primeiro

escudete, contaram que dois sacrílegos furaram a pedra e quebraram os tenentes em

busca de tesouros deixados pelos holandeses. Sobre os dois contou-se que tinham

sido castigados cruelmente, tendo um morrido dias depois e o outro enlouquecido.

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Em 1955, Cascudo volta ao local, acompanhado de Nestor Lima, encontrando

então uma capela em construção, destinada a abrigar o monumento. O marco

encontrava-se sobre uma sapata, que funcionava como altar.

Em janeiro de 1962, Oswaldo Câmara de Souza, membro do Instituto

Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e representante do Serviço de

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), hoje Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), relata também a presença do marco numa

visita representando o instituto. Ele o encontra numa capela humilde sobre uma

sapata de alvenaria à guisa de altar. Volta um mês depois para registrar, através de

fotos, o padrão português. Quando voltou em janeiro de 1969, já encontra uma

segunda capela em construção, visto que a primeira tinha desabado devido a uma

maré alta, e o marco tinha sido removido para o povoado dos Morros, próximo à

praia, por suspeitarem de que seria levado à força para Natal. Depois de muita

negociação, consegue fazer a população levá-lo para a 2ª capela. Neste translado, o

marco se quebra e é colocado partido na capela. Em 13 de setembro de 1975, depois

de uma grande negociação que iniciou-se em 1969, se trouxe o marco para a

Fortaleza dos Reis Magos em Natal, em troca, o IPHAN colocou uma réplica do

padrão em cantaria, assumiu a construção da capela e a colocação de uma imagem

de santo da escolha da comunidade, que decidiu pela de Nossa Senhora dos

Navegantes. O 1º marco de posse do Brasil se encontra tombado pelo patrimônio

histórico desde 1962 com a denominação de Marco quinhentista.

Réplica na praia dos marcos A capelinha reformada onde se

encontra a imagem da santa

V – Bibliografia

LISBOA,Luiz C. & ROBERTO,P.Andrade. "Grandes Enigmas da Humanidade"

Editora Vozes , (pgs 96-100)

MEDEIROS FILHO,Olavo de.Aconteceu na capitania de Rio Grande.Depto Estadual

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PINTO,Lenine.Reinvenção do Descobrimento,Natal,RN/Econmico,1998.

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