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O PAPEL DOS ESPAÇOS NÃO-FORMAIS DE EDUCAÇÃO NA PRODUÇÃO DE GUIAS DIDÁTICOS POR LICENCIANDOS EM BIOLOGIA DA FFP/UERJ. Regina Mendes (Doutora em Educação, NUPEC/FFP/UERJ); Rafael Augusto R. Brito (Licenciando em Ciências Biológicas, FFP/UERJ). Os espaços não-formais de educação têm contribuído fortemente para a melhoria e diversificação do ensino, principalmente do ensino de ciências. Dentro desta perspectiva, destacam-se os museus, espaços de ciência, parques, áreas de proteção ambiental, zoológicos e jardins botânicos. Neste trabalho, mostramos como essas instituições podem auxiliar licenciandos em ciências biológicas a perceber como os conceitos estudados na graduação estão presentes nas interações ambientais, sociais e culturais proporcionadas por esses espaços, e a sua potencialidade para o ensino básico. Para isso, descrevemos a produção de guias didáticos sobre essas instituições pelos licenciandos em Biologia da FFP/UERJ que cursam a disciplina Laboratório de Ensino III. Nesta disciplina, que aborda os temas ecologia e diversidade biológica aplicados à escola básica, os licenciandos têm a oportunidade de desenvolver habilidades técnicas, conhecimentos teóricos sistematizados e estratégias pedagógicas a partir de visita a uma instituição não-formal de educação, com a posterior elaboração de um guia didático sobre a mesma. Os guias didáticos produzidos pelos licenciandos devem abordar os assuntos ecologia e diversidade biológica, apresentando tópicos como a história da instituição, suas exposições e acervo. Os licenciandos contribuem criativamente, elaborando roteiros originais de visitação. Os guias didáticos são pensados para auxiliar professores da educação básica que desejam visitar estas instituições com seus alunos. Até o momento, 21 guias didáticos já foram produzidos, abordando diversas instituições presentes no estado do Rio de Janeiro. Introdução Os espaços não-formais de educação têm contribuído fortemente para a melhoria e diversificação do ensino, principalmente do ensino de ciências. Sua contribuição para a educação formal vem pautada tanto pela preocupação dos professores em diversificar as

Mendes&brito

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O PAPEL DOS ESPAÇOS NÃO-FORMAIS DE EDUCAÇÃO NA PRODUÇÃO DE

GUIAS DIDÁTICOS POR LICENCIANDOS EM BIOLOGIA DA FFP/UERJ.

Regina Mendes (Doutora em Educação, NUPEC/FFP/UERJ);

Rafael Augusto R. Brito (Licenciando em Ciências Biológicas, FFP/UERJ).

Os espaços não-formais de educação têm contribuído fortemente para a melhoria e

diversificação do ensino, principalmente do ensino de ciências. Dentro desta perspectiva,

destacam-se os museus, espaços de ciência, parques, áreas de proteção ambiental,

zoológicos e jardins botânicos. Neste trabalho, mostramos como essas instituições podem

auxiliar licenciandos em ciências biológicas a perceber como os conceitos estudados na

graduação estão presentes nas interações ambientais, sociais e culturais proporcionadas por

esses espaços, e a sua potencialidade para o ensino básico. Para isso, descrevemos a

produção de guias didáticos sobre essas instituições pelos licenciandos em Biologia da

FFP/UERJ que cursam a disciplina Laboratório de Ensino III. Nesta disciplina, que aborda

os temas ecologia e diversidade biológica aplicados à escola básica, os licenciandos têm a

oportunidade de desenvolver habilidades técnicas, conhecimentos teóricos sistematizados e

estratégias pedagógicas a partir de visita a uma instituição não-formal de educação, com a

posterior elaboração de um guia didático sobre a mesma. Os guias didáticos produzidos

pelos licenciandos devem abordar os assuntos “ecologia e diversidade biológica”,

apresentando tópicos como a história da instituição, suas exposições e acervo. Os

licenciandos contribuem criativamente, elaborando roteiros originais de visitação. Os guias

didáticos são pensados para auxiliar professores da educação básica que desejam visitar

estas instituições com seus alunos. Até o momento, 21 guias didáticos já foram produzidos,

abordando diversas instituições presentes no estado do Rio de Janeiro.

Introdução

Os espaços não-formais de educação têm contribuído fortemente para a melhoria e

diversificação do ensino, principalmente do ensino de ciências. Sua contribuição para a

educação formal vem pautada tanto pela preocupação dos professores em diversificar as

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abordagens, espaços, tempos e práticas no processo de ensino aprendizagem, quanto num

debate permanente entre aqueles envolvidos com os espaços não-formais de ensino sobre o

papel educativo dessas instituições (VALENTE et al, 2005; CAZELLI et al, 1998).

Dentro desta perspectiva, museus, espaços de ciência, parques, áreas de proteção

ambiental, zoológicos e jardins botânicos destacam-se como espaços não-formais de

ensino de ciências e biologia. Neste trabalho, mostramos como essas instituições podem

auxiliar licenciandos em ciências biológicas a perceber como os conceitos estudados na

graduação estão presentes nas interações ambientais, sociais e culturais proporcionadas por

esses espaços, e a sua potencialidade para o ensino básico. Com o objetivo de mostrar

como promover essa triangulação na aprendizagem dos licenciandos, descrevemos aqui

uma atividade prática realizada semestralmente na disciplina Laboratório de Ensino III, do

currículo básico obrigatório da licenciatura em ciências biológicas da Faculdade de

Formação de Professores da UERJ. Essa atividade é a produção de guias didáticos sobre

instituições de educação não-formal, voltados para professores da educação básica.

Entretanto, antes de mostrarmos como os guias didáticos têm sido produzidos pelos

licenciandos em Biologia da FFP, situaremos a importância dos espaços não-formais de

ensino para a educação formal, assim como o debate sobre as especificidades dessas

instituições.

A Ciência no Museu e o Ensino de Ciências

Apesar de haverem se disseminado no Brasil principalmente a partir da década de 1980, os

primeiros museus brasileiros com temática científica surgiram no início do século XIX,

como nos conta Valente e colaboradoras:

“Os primeiros museus brasileiros possuíam temática científica, como observa Lopes

(1996), uma decorrência da exuberância da natureza brasileira. O Museu Nacional do Rio

de Janeiro, criado em 1818 e organizado durante um século, foi a primeira instituição

brasileira dedicada primordialmente à história natural. O Museu Paraense Emílio Goeldi,

em Belém, no Pará, criado em 1866, e o Museu Paulista, conhecido anteriormente como

Museu do Ipiranga, criado em São Paulo, em 1894, são exemplos de instituições dedicadas

às ciências naturais e consolidadas a partir da segunda metade do século XIX (...)”.

(VALENTE et al, 2005:186).

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Voltados primeiramente para a elite aristocrática e intelectual, os museus foram

diversificando aos poucos seu público. A partir do início do século XX, eles passam a

buscar a população em geral. Para essas mudanças, contribuíram a diversificação dos

espaços de produção científica, o advento da tecnologia e o crescimento do papel da

educação não só na formação intelectual dos indivíduos, mas também na sua formação

cultural. Com isso, cresce a importância dos museus como espaços educativos e

multiplicam-se, na sociedade, outras instituições não-formais de educação, incluindo

aquelas voltadas para as ciências físicas e biológicas.

Apesar das discussões atuais sobre o papel social dos museus indicarem que a dimensão

educativa tem ocupado demasiado espaço nos seus objetivos, deixando de lado outras

dimensões importantes — como a dimensão cultural, por exemplo —, é imprescindível

dizer que esta faceta dos museus de ciência tem atraído para estes e outros espaços de

ciência, de forma incontestável, um público fiel e assíduo, composto por professores da

educação básica e seus alunos. Neste sentido, é possível compreender as perspectivas

apresentadas por professores sobre a relação museu-escola, quando sinalizam o museu

como um instrumento pedagógico (CAZELLI et al, 1998:09).

Em levantamento realizado por Cazelli e colaboradores, professores participantes de um

curso em uma instituição não-formal de educação sinalizaram objetivos diversificados para

uma visita. Os autores dividiram esses objetivos em três dimensões, a saber: 1. alternativa

de prática pedagógica; 2. conteúdo científico; e 3. ampliação da cultura. Com relação à

forma de organização da visita com os alunos, outras dimensões também foram

consideradas, como a geração de motivação nos alunos, por parte do professor, antes da

realização da visita; e a seleção dos alunos para participação na visita. Os autores

comentam que poucos professores referiram-se a procedimentos administrativos, como

pedidos de autorização junto à escola, à instituição ou aos colegas. E que alguns deles

afirmaram não ter realizado planejamento algum para a realização da visita (CAZELLI et

al, 1998:07).

Neste sentido, entendemos que os professores percebem o papel pedagógico das

instituições de educação não-formal e utilizam-nas com este fim, mas muitas vezes seus

objetivos se perdem em meio às dificuldades em planejar com mais cuidado essa visita.

Acreditamos que esse planejamento traz uma segurança para o professor, potencializando o

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alcance de dimensões desses espaços de educação não-formal que vão além da apreensão

do conteúdo científico; proporcionando uma diversificação da prática pedagógica que

inclui tanto elementos sócio-culturais quanto aqueles relacionados ao lazer e à ludicidade.

O Guia Didático “Memória da Biologia na Cidade de São Paulo”

A idéia para o trabalho de produção de guias didáticos por alunos da licenciatura em

ciências biológicas da FFP/UERJ surgiu a partir da leitura do guia didático “Memória da

Biologia na Cidade de São Paulo”1, lançado por ocasião do IX EPEB

2. Neste guia,

encontramos informações sobre 4 instituições paulistas ligadas às ciências biológicas: o

Museu de Zoologia, o Instituto de Botânica, o Parque Zoológico e o Instituto Butantan.

Segundo as autoras, além de buscar divulgar “aspectos da história, da coleção, das

exposições e das atividades educativas” realizadas por essas instituições, o guia didático

pretendia “fornecer sugestões para que os diferentes grupos de educadores preocupados

com o ensino e a divulgação científica” pudessem utilizar esses locais, encontrando no guia

propostas de atividades educativas a serem realizadas nessas instituições (MARANDINO

et al., 2004:05).

Em vista de cumprirem seus objetivos, as autoras organizaram 5 seções diferentes para

falar sobre cada uma das instituições escolhidas (MARANDINO et al., 2004:06):

1) Um pouco de História – destaca aspectos relevantes da história de cada instituição. Os

dados apresentados são oriundos de documentos publicados e de consultas feitas às

instituições.

2) Coleções – aponta os acervos que cada uma das instituições abriga. As coleções

indicadas podem estar disponíveis ao público ou constituírem acervo destinado somente à

pesquisa, não se encontrando, por isso, acessíveis aos não-especialistas.

3) Vitrine – ressalta as exposições, principal meio pelo qual esses locais se fazem visíveis

para os visitantes.

4) Ação Educativa – apresenta as diversas ações culturais e educativas oferecidas pelas

instituições para o público em geral e, em especial, para o público escolar. A partir das

1 “Memória da Biologia na Cidade de São Paulo: Guia Didático”, de autoria de Martha Marandino; Silvia L.

Frateschi Trivelato; Luciana Conrado Martins; e Alessandra Bizerra. Foi publicado em 2004, pela Faculdade

de Educação da USP (FEUSP). 2 O IX EPEB (Encontro Perspectivas do Ensino de Biologia) aconteceu em 2004, na cidade de São Paulo, SP.

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informações fornecidas, o educador pode agendar e participar dos eventos oferecidos por

esses locais.

5) Conhecendo a Instituição – faz sugestões de estratégias e atividades didáticas para a

visitação das instituições. Segundo as autoras, essas dicas foram elaboradas levando em

conta alguns princípios básicos referentes à educação não formal.

Ao analisarmos os objetivos e a estrutura desse guia didático, percebemos que ele se

diferencia por ser mais do que um guia de visitação. Ao voltar-se para um público

específico — “educadores de ensino fundamental, médio e superior, estudantes,

profissionais do campo da educação não-formal e educadores em geral” (MARANDINO et

al., 2004:05) — atende a uma demanda crescente nos museus de ciência. Além disso,

entendemos que ele é um “guia didático” porque vai além da compilação de informações,

apresentando sugestões de como os educadores podem conduzir a visitação atentando para

o sentido pedagógico da mesma, seja com ênfase em determinadas partes do acervo, seja

pelo valor histórico, cultural e/ou científico daquelas instituições. Neste sentido, ele busca

orientar a visita do professor com seus alunos, mas também sugerir formas de abordagem

das diversas partes componentes de cada instituição apresentada.

Ao perceber esse diferencial, começamos a construir sua adequação para um trabalho com

os licenciandos em ciências biológicas da FFP/UERJ. Nossa intenção era proporcionar aos

licenciandos o desenvolvimento de um olhar crítico para as instituições de ciência,

dosando o encantamento pelo acervo e pelas exposições temáticas em ciências e biologia,

com o discernimento sobre seus atributos pedagógicos. Acreditamos que essa é uma

habilidade necessária para quem quer trabalhar com espaços não-formais a partir do ensino

formal. Como nosso curso está localizado na cidade fluminense de São Gonçalo, seria

difícil utilizar o guia para uma visita às instituições ali retratadas. Entretanto, era possível

utilizá-lo como um modelo para a construção de outros guias didáticos, que abordassem

instituições presentes no estado do Rio de Janeiro.

A Produção de Guias Didáticos pelos Licenciandos em Biologia da FFP/UERJ

A produção de outros guias didáticos, voltados principalmente para professores de ciências

e biologia, tem feito parte das atividades acadêmicas propostas no programa da disciplina

Laboratório de Ensino III, obrigatória para o currículo da Licenciatura em Ciências

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Biológicas da Faculdade de Formação de Professores da UERJ. Essa disciplina é oferecida

normalmente na grade do terceiro período do curso, e tem carga horária de 60h. De acordo

com sua ementa, a disciplina Laboratório de Ensino III pretende trabalhar os conteúdos de

Ecologia e Biodiversidade, aplicados ao universo da escola. Para isso, os alunos cumprem

diversas atividades ao longo do curso, como leituras e discussão de textos acadêmicos,

visitas técnicas, oficinas, estudos dirigidos e trabalhos escritos. Entretanto, uma das

atividades de maior interesse por parte dos alunos tem sido a confecção dos guias didáticos

que, para atender aos objetivos da disciplina, estão voltados para instituições de educação

não-formal que contemplem os temas ecologia e/ou diversidade biológica.

Neste sentido, instituições como os jardins botânicos e zoológicos, museus de ciências e

biologia, instituições de pesquisa em ciências e biologia com exposições abertas ao

público, parques e áreas de conservação ambiental, têm sido escolhidas pelos alunos para a

produção dos guias. Cada guia didático produzido para a disciplina costuma abordar

apenas uma instituição, e a divisão criada por Marandino e colaboradoras foi adaptada por

nós, resultando na estrutura que descrevemos a seguir.

Descrição dos Guias Didáticos

Para a confecção dos guias didáticos, foram estabelecidos alguns padrões referentes à

encadernação e estrutura do texto. Os guias devem ser confeccionados num padrão de meia

folha A4, com fotos distribuídas por todas as seções. Cada guia didático deve possuir capa

— com o título do guia — e contra-capa — novamente com o título, acrescido do nome

dos autores. Nas páginas seguintes devem ser apresentados os objetivos do guia didático e

o sumário. Ao final, os autores devem citar as referências bibliográficas e as fontes das

fotos e imagens utilizadas ao longo do guia. Em grande parte dos guias já confeccionados,

apesar de não ser obrigatório, os alunos optam por colocar mapas e/ou fotos de satélite para

facilitar a chegada dos visitantes ao seu destino.

Assim como no guia didático de Marandino et al., os guias didáticos confeccionados pelos

licenciandos em biologia da FFP/UERJ apresentam cinco tópicos, com denominações

ligeiramente diferentes do modelo que adotamos: História da Instituição; Coleções;

Exposições; Ação Educativa; e Conhecendo a Instituição. De acordo com a necessidade de

cada instituição, são realizadas alterações, como, por exemplo, no caso de parques e

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reservas ecológicas que não apresentam exposições. Neste caso, este tópico pode ser

substituído por informações sobre a fauna e a flora local.

No tópico onde são tratados os aspectos históricos (História da Instituição), as

informações que aparecem são geralmente retiradas de documentos informativos ou

oficiais da própria instituição, gerando a oportunidade de novos assuntos serem explorados

até mesmo em outras disciplinas. Temos como exemplo o Guia Didático do Parque

Estadual da Serra da Tiririca, mostrando que muito antes do local ter sido transformado em

Parque, recebeu a visita de Charles Darwin, grande cientista inglês que em 1832 passou

pela Serra da Tiririca e realizou coletas para sua pesquisa sobre a fauna e a flora sul-

americana.

De acordo com a instituição escolhida, suas Coleções são apresentadas no segundo tópico

do guia, como por exemplo, no caso do Guia Didático “Um Dia Ecológico em Niterói”. Ao

falarem sobre o Museu de Arqueologia de Itaipu, os alunos relatam que esta instituição

dispõe de um acervo que mostra como era a pré-história do litoral do estado do Rio de

Janeiro. Já no caso do Guia Didático do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, a parte

direcionada para Coleções é substituída por informações referentes à hidrografia, fauna e

flora deste local.

O capítulo reservado para as Exposições serve para traçar um roteiro que sirva como ponto

de partida para o professor, auxiliando-o sobre quais assuntos podem ser explorados com

seus alunos em cada etapa da visita. Neste sentido, entre os guias produzidos pelos alunos

da disciplina, destacam-se os guias didáticos do Jardim Botânico e Zoológico de Niterói;

do Instituto Vital Brazil; e do Zoológico do Rio de Janeiro (Fundação RIOZOO).

As Ações Educativas, quando disponibilizadas pela instituição, exigem um agendamento

prévio. Por isso, é fundamental que tais informações sejam apresentadas em um dos

capítulos do guia. O Guia Didático da Reserva Biológica de Poço das Antas apresenta uma

descrição bastante completa das ações educativas ali realizadas, com comentários sobre as

palestras e trilhas ilustrativas proporcionadas por uma visita guiada a essa instituição.

No capítulo Conhecendo a Instituição, existem três subdivisões: 1.Preparando a Visita;

2.Realizando a Visita; e 3.Retornando da Visita.

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O Preparando a Visita ajuda o professor a avaliar a forma como irá adequar a visita ao

público que pretende levar (crianças pequenas, adolescentes, adultos, portadores de

necessidades especiais, etc). Para isso, traz informações sobre: o vestuário ideal; se o local

dispõe de refeitório ou lanchonete; qual a melhor maneira de chegar ao local; se existe

estacionamento, e se este serve também para ônibus de excursão; se a entrada é paga ou

não; se é permitido o uso de câmeras fotográficas ou filmadoras; etc. Muitos guias trazem

também sugestões de atividades ou conteúdos a serem abordados com os alunos em sala de

aula, de forma que o professor possa prepará-los para o que será visto na visita à

instituição. O guia didático do Parque Estadual da Serra da Tiririca serve como exemplo

para o que descrevemos acima, apresentando como sugestões de assuntos a serem

abordados pelo professor, antes da realização da visita, os conceitos de diversidade

biológica, sucessão ecológica e degradação do meio ambiente.

O Realizando a Visita é a parte que consideramos mais criativa do guia, pois exige dos

alunos da disciplina maior capacidade de mostrar o que aprenderam ao longo dela. Neste

tópico, os licenciandos apresentam um roteiro didático original sobre a instituição e suas

exposições e acervo. Este roteiro didático funciona mais uma vez como uma sugestão ao

professor da escola básica, sobre que conteúdos das áreas de ecologia e biodiversidade

podem ser abordados com seus alunos durante a visita à instituição retratada no guia. O

Guia Didático da Reserva Biológica de Poço das Antas, por exemplo, faz uma descrição

minuciosa de palestra, exposições, jogos didáticos e trilha interpretativa disponíveis para o

público que visita esta instituição.

Finalizando o item Conhecendo a Instituição, o tópico Retornando da Visita apresenta ao

professor opções de atividades para trabalhar, em sala de aula, os temas observados

durante a visita, visando explorar o conhecimento adquirido pelos alunos e potencializar

outros trabalhos que tenham como motivação a ida à instituição. O Guia Didático do

Jardim Botânico e Zoológico de Niterói, por exemplo, sugere de forma simples e criativa

uma maneira de fazer com que os alunos aprimorem os conhecimentos ali adquiridos. Eles

são incentivados a preparar pequenas cartilhas, com a função de orientar a população sobre

temas como o tráfico de animais e as dificuldades em realizar a reabilitação das espécies ao

seu habitat natural.

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Até o momento, 21 guias didáticos foram produzidos pelos alunos da disciplina

Laboratório de Ensino III. Desses, 13 estão disponíveis para empréstimo3. No QUADRO 1,

apresentamos a relação dos guias já produzidos.

Guia Didático sobre: Nº de guias

confeccionados

Área de Proteção Ambiental de Petrópolis 1

Área de Proteção Ambiental do Engenho Pequeno 1

Instituto Vital Brazil 2

Jardim Botânico de Niterói (Horto) 2

Jardim Botânico do Rio de Janeiro 4

Jardim Botânico e Zoológico de Niterói 1

Parque Estadual da Serra da Tiririca 1

Parque Nacional da Serra dos Órgãos 1

Parque Nacional da Tijuca 1

Museu Nacional da UFRJ 1

Reserva Biológica de Poço das Antas 1

Sítio Roberto Burle Marx 1

Um Dia Ecológico em Niterói (Campo de São

Bento, Museu de Arqueologia de Itaipu e Instituto

Vital Brazil)

1

Zoológico do Rio de Janeiro 3

TOTAL DE GUIAS PRODUZIDOS 21

Discussão

Os espaços de educação não-formal possuem um potencial e objetivos educativos

diferentes da escola, no entanto esses locais contribuem fortemente para o ensino formal,

na medida em que despertam alunos e professores para diferentes relações de ensino

aprendizagem. Deve-se deixar claro que estes espaços não substituem o ambiente escolar.

Mas, quando trabalhados junto à educação formal, proporcionam diferentes visões e

formas de compreensão social, cultural e científica, tanto para alunos quanto para

professores.

Para os docentes, o grande diferencial do conteúdo presente nas instituições de educação

não-formal parece ser que, ali, o aluno da educação básica pode interagir com um

conhecimento contextualizado que ora se aproxima, ora se afasta do seu cotidiano. Essa

3 Os guias didáticos produzidos no âmbito da disciplina estão disponíveis para empréstimo tanto à

comunidade interna da UERJ quanto à comunidade externa de professores em formação e em serviço. Para

este fim, basta entrar em contato com a primeira autora deste artigo. Informamos que os guias didáticos estão

passando por processo de registro na Biblioteca Nacional, com o objetivo de resguardarmos a autoria dos

mesmos.

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possibilidade de centralização-descentralização, somada a um ambiente extra-muros da

escola, permite ao aluno explorar aqueles conhecimentos com uma maior liberdade de

ação.

A possibilidade de explorar esses espaços é vista de forma bastante sedutora também pelos

licenciandos. A dedicação que os alunos que passam pela disciplina de Laboratório de

Ensino III demonstram na confecção dos guias didáticos nos revela a importância desta

atividade na formação desses futuros professores. O prazer de pensar e produzir os guias

une-se à angústia para que todos os aspectos técnicos estejam em perfeita ordem. Cabe ao

professor, nesse momento, chamar a atenção dos licenciandos também para os aspectos

pedagógicos presentes tanto no produto final quanto no andamento do trabalho de

confecção dos guias.

Neste processo, procura-se trabalhar tanto as habilidades desses futuros professores em

selecionar, organizar e articular conteúdos de ciências e biologia presentes numa

instituição não-formal, quanto despertá-los para as interfaces pedagógicas proporcionadas

por uma visita, com alunos da educação básica, a essas instituições, abrindo-se assim

possibilidades de diálogo que vão além da aprendizagem científica — levando em

consideração os determinantes sociais, culturais e políticos daqueles conhecimentos.

Finalmente, consideramos que a produção de guias didáticos sobre instituições não-formais

de ensino, voltados para os temas ecologia e diversidade biológica, contribui não só na

formação dos licenciandos em biologia, mas também como forma de aproximar os

professores da educação básica desses conteúdos, a partir da interface entre a educação

formal e as instituições não-formais de ensino.

Referências Bibliográficas

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Martha; FRANCO, Creso. A Relação Museu-Escola: avanços e desafios na

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LOPES, M. M. Le rôle des musées, de la science et du public au Brésil. In: WAAST, R.

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BIZERRA, Alessandra. Memória da Biologia na Cidade de São Paulo: Guia Didático.

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VALENTE, Maria Esther; CAZELLI, Sibele; ALVES, Fátima. Museus, Ciência e

Educação: novos desafios. História, Ciências, Saúde – Manguinhos., 2005, vol.12,

p.183-203. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-

59702005000400010&lng=pt&nrm=iso. Acesso em 24 ago. 2006.