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AUTO DA BARCA DO INFERNO
GIL VICENTE
Professora: Ana Paula Silva
CENA doCENA do
FIDALGOFIDALGO
O primeiro a embarcar é um
Fidalgo que vem acompanhado
por um Pajem, que lhe leva o
manto e uma cadeira.
O Diabo mal vê o Fidalgo diz-lhe para entrar
na sua barca. Este dirige a palavra ao Diabo,
perguntando-lhe para onde ia aquela barca. O
Diabo responde que o seu destino era o
Inferno. Então, o Fidalgo resolve ser sarcástico e
diz que as roupas do Diabo pareciam de uma
mulher e que sua barca era horrível. O Diabo
não gostou da provocação e disse-lhe que
aquela barca era a ideal para tão nobre
senhor. O Fidalgo, admirado, diz ao Diabo que
tem quem reze por ele, portanto, o inferno não
será a sua paragem, mas acaba por saber que
o seu pai também já encontrara guarida
naquela barca.
O Diabo mal vê o Fidalgo diz-lhe para entrar
na sua barca. Este dirige a palavra ao Diabo,
perguntando-lhe para onde ia aquela barca. O
Diabo responde que o seu destino era o
Inferno. Então, o Fidalgo resolve ser sarcástico e
diz que as roupas do Diabo pareciam de uma
mulher e que sua barca era horrível. O Diabo
não gostou da provocação e disse-lhe que
aquela barca era a ideal para tão nobre
senhor. O Fidalgo, admirado, diz ao Diabo que
tem quem reze por ele, portanto, o inferno não
será a sua paragem, mas acaba por saber que
o seu pai também já encontrara guarida
naquela barca.
O Fidalgo tenta entrar noutra barca e, por isso, resolve dirigir-se à barca do Anjo. Começa por perguntar ao Anjo, para onde é a viagem e que aquela é a barca que procura, mas é impedido de entrar, devido à sua tirania, pois aquela barca era demasiado pequena para tão grande fidalgo, ou seja, não havia ali espaço para todas as maldades que cometera em vida.
Assim, o Fidalgo desolado, vai para a barca do Inferno. Porém, e antes disso, pede ao Diabo que o deixe tornar a ver a sua amada, que se queria matar por ele.
O Diabo diz-lhe que a mulher que ele tanto amava o enganava e que tudo que ela lhe escrevia era mentira, mas também a sua esposa dava já graças a Deus por ele ter morrido. O melhor era, portanto, embarcar logo, pois ainda viria mais gente. O Diabo manda o Pajem, que estava junto ao Fidalgo, ir embora, pois ainda não era sua hora.
2- Símbolos cénicos
O Pajem, a cadeira de espaldar e o manto são
elementos cénicos que representam o estatuto
social da personagem, mas também servem
para tecer uma crítica.
Manto – vaidade, estatuto social.
Pajem – criado sobre o qual exercia a tirania e exploração.
Cadeira – gosto excessivo pelo poder e até abuso do poder.
3-Percurso cénico
1
2
4- Argumentos de defesa
• O Fidalgo argumenta que tem quem reze por si e que, por isso, se salvará: • “Que leixo na outra vida• quem reze sempre por mi.”
• Diz ser Fidalgo e só por isso pensa ir para o Paraíso:
• “Sou fidalgo de solar• é bem que me recolhais.”
• • Defende-se dizendo-se importante: • “Pêra senhor de tal marca • nom há aqui mais cortesia?”
5- Argumentos de acusação• É acusado pelo Diabo de viver em pecado e de se fiar nas
orações: “E tu viveste a teu prazer/cuidando cá
guarecer/porque rezam lá por ti?”• O Diabo acusa-o de viver de acordo com o Inferno:
“Segundo lá escolhestes,/assi cá vos contentai”
• O Anjo acusa-o de tirania: “Não se embarca tirania/neste batel divinal”
• É acusado pelo Anjo de vaidade: “Pêra vossa fantesia/mui estreita é esta barca.”
• Acusa-o também de exploração dos mais fracos: “desprezastes os pequenos”
6- Caracterização do fidalgo
Dom Anrique é um fidalgo de solar, vaidoso e arrogante. A forma como se apresenta em cena, com o seu longo manto e o pajem que carrega a sua cadeira, revela bem essa vaidade e ostentação. A forma como reage, inicialmente face ao Diabo e depois face ao Anjo, revela a arrogância de quem sempre esteve habituado a que obedecessem às suas ordens.
Da sua vida sentimental ficamos a saber, através da sua conversa com o Diabo, que além da mulher tinha uma amante, logo era adúltero, mas que também era enganado por elas, apesar de se dizer tão poderoso.
7- Sentença
Condenado
à barca
do Inferno.
Conclusão Nesta cena, o Fidalgo mostra-se arrogante e superior até em relação ao Anjo.
Julgou que seria tratado depois da morte como era em vida, com todas as mordomias e privilégios. Gil Vicente quer provar que afinal somos todos iguais após a morte.
O Fidalgo começa a cena muito seguro e confiante de que iria salvar-se, mas quando percebe que não pode embarcar na barca do Anjo, acaba por revelar preocupação. Fica irritado por ser desprezado, mas acaba por se conformar com a sua condenação. O seu estado de espírito vai mudando consoante o seu julgamento vai decorrendo.
O Pajem não embarca, pois foi alvo de exploração e tirania e não está a ser julgado. Não merece ir para o Inferno. É apenas um símbolo que acompanha o Fidalgo.