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Observ An Prt Cont Educ Mestrados Ii Ciclo 2009 Alunos

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UNIVERSIDADE DE AVEIRO

MESTRADOS EM ENSINO

2008-2009

Observação e análise de práticas e contextos educativos

Maria Helena T. Pedrosa de Jesus

2009 2

� O que significa Observar? O que é Observar?

� Para que serve Observar? Observar para quê ?

� Quem observa? Quem deve observar?

� Como é que se faz? Como observar?

2009 3

� Olhares sob perspectivas diferentes permitem ‘ver’ e ‘compreender’ melhor as situações.

� Diferentes olhares permitem enriquecer a informação sobre o “objecto” de observação.

2009 4

O que é Observar?

� Observar é distinto de ver – para observar não basta ter os olhos bem abertos e ver. É preciso olhar e querer ver.

� Então o que é necessário fazer para que observar seja diferente de ‘ver ’?

� Será necessário acrescentar os métodos para melhor observar .

Observar é ter um olhar diferente, um olhar de quem quer conhecer.

2009 5

� A acção de observar parte de uma atitude de alguém (o sujeito da observação) que se coloca diante de algo (o objecto da observação) com uma finalidade (o para quê da observação), finalidade essa que lhe dirige a atenção e a leva a utilizar estratégias adequadas (o como observar) para recolher informações (os dados, o produto da informação) relativas aos seus objectivos .

Observar é ter um olhar diferente, um olhar de quem quer conhecer.

2009 6

� De Ketele (1980:27) considera “observar como um processo que inclui a atenção voluntária e a inteligência, orientada por um objectivo terminal ou organizador e dirigido sobre um objecto para dele recolher informações”.

� “A observação é um processo em que a sua função primeira e imediata é a de recolher informação sobre o objecto tomado em consideração” (Postic e De Ketele, 1988:13)

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2009 7

Observar não significa interpretar

� “A observação consiste na recolha de evidências, normalmente visuais, de uma forma sistemática e tão precisa quanto possível, de forma a conduzir a julgamentos bem informados e a mudanças consideradas necessárias nas práticas aceites ”(Tilstone, 1998:6)

� Observar significa olhar para recolher informação , enquanto que interpretar pressupõe estabelecer uma relação entre aquilo que se observou, isto é, o objecto observado, e um quadro teórico de referência à luz do qual os fenómenos observados ganham sentido. A interpretação é subjectiva, embora a observação em que se baseia deva ser objectiva .

2009 8

Poderá haver observação sem interpretação?

Ou:será que ao observarmos já nos projectamos a nós próprios no processo de observação e já filtramos e construímos a realidade através das nossas ideias, sentimentos, representações?

� “A observação nunca é neutra e decorre, em muito, dos quadros sociais e culturais em que o observador se insere” ( Estrela, 1990:387) .

� “ What you see in a school will depend on how the school sees you” (Walker & Adelman, 1975:6)

2009 9

Observar é diferente de avaliar , observa-se para recolher informações sobre o nosso objecto de análise. Da observação resulta um conjunto de dados observados, de informações.

Observar não se reduz à utilização de fichas de observação.

2009 10

Então o que é observar?

� A observação é um processo de recolha de informações como via de acesso à representação de uma realidade. Não consegue traduzir essa realidade mas representa-a.

� O ‘produto’ de uma observação é sempre uma representação de um fragmento da realidade feita através de um determinado sujeito, que usa uma determinada estratégia e apresenta os resultados sob uma determinada forma.

� A observação é um processo anterior à avaliação.

Exemplo :

2009 11

Exemplo: a ida de uma criança ao médico� O médico observa a criança para ver se está tudo bem – realiza um

processo.� Entre as várias observações a que procede, pesa a criança,

efectuando assim um processo de medição (processo segundo o qual se atribuem números a ‘coisas’, segundo regras determinadas). Deste processo obtém um produto: 15 quilos.

� Com base nos seus quadros teóricos de referência, considerou que este produto, o peso, não era normal.

� Para além desta observação directa, tentou obter indirectamente, através da mãe, outras informações de relevo – não interpelou a criança porque esta não seria ainda capaz de responder às suas perguntas.

� Tomou então uma decisão: fazer análises e outros exames complementares para posterior diagnóstico.

� Preparava-se , assim, para poder descrever do modo mais completo possível o estado da criança e decidir sobre a acção a tomar, com base no diagnóstico efectuado.

A observação tem, então, várias funções….. 2009 12

Observar para quê?Funções da Observação

� Ser capaz de observar serve para intervir na realidade de modo fundamentado . Isto é, o professor, o formador, o médico, para poder intervir de modo fundamentado, terá de saber observar e problematizar (interrogar a realidade e construir hipóteses explicativas).

� Intervir e avaliar , serão acções consequentes das etapas precedentes.

� Embora a observação não se deva confundir com interpretação, nem com diagnóstico, nem com avaliação, está na base destes processos.

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2009 13

� Quais são, então, as principais Funções

da Observação , no contexto da formação

de professores ?

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Funções da Observação

Observa-se para descrever , para descobrir , para tomar decisões , para regular , para explorar , para verificar , para compreender , para apreciar , para avaliar , para agir , para formar , para classificar ….

DESCOBRIR ����COMPREENDER ���� APRECIAR ���� FORMAR

DESCREVER

VERIFICAR

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Observar para quê?

� Função descritiva – Observa-se para descrever um fenómeno ou uma situação.

� Função formativa – Observa-se para retroagir e a retroacção visa a formação.

� Função avaliativa – Observa-se para avaliar, avalia-se para decidir e decide-se para agir.

� Função heurística – ou observação invocada – Observa-se para fazer emergir hipóteses pertinentes a verificar ulteriormente.

� Função de verificação – ou observação provocada – provoca-se, ou manipula-se uma situação, para verificar uma hipótese

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Campo ou Objecto de Observação

Por campo de observação entende-se o objecto da observação , aquilo que se observa.

Podem observar-se:

� fenómenos, situações, processos, objectos, sujeitos, comportamentos;

� o professor, o aluno, a interacção professor-aluno, a interacção aluno-aluno, a interacção verbal, a interacção não-verbal, etc.

� os processos mentais, as atitudes, as ideias, as representações…

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Podem considerar-se três perspectivaspara definir o objecto de observação:

� A observação pode incidir sobre factos ou sobre representações ;

� A observação pode ser atributiva ou narrativa ;

� A observação pode ser alospectiva ou introspectiva .

2009 18

� Factos – quando a observação orienta a sua atenção para características da situação objecto de observação, comportamentos e/ou interacções.

� Representações – quando a observação visa recolher opiniões, formas de perceber os acontecimentos, comportamentos, atribuições de significado ou de causa. Quando o que se pretende é estudar os processos mentais subjacentes ao que observa (Observação clínica).

� Atributiva – quando se incide sobre o que pode ser afirmado ou negado relativamente a um objecto de observação.

� Narrativa – quando incide sobre o desenrolar da acção; e/ou sobre a sucessão de estados (físicos, afectivos, etc.) que acompanham o desenrolar da acção; e/ou sobre os efeitos da acção; e/ou sobre as consequências da acção.

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2009 19

� Introspectiva – ou autospectiva – quando o sujeito se observa a ele próprio (ou à situação em que está implicado).

Por exemplo: todos os questionários de interesses e atitudes são de natureza introspectiva. O mesmo poderemos dizer da maior parte das entrevistas e de determinados inventários sistemáticos (checklist) e de muitas escalas de apreciação (ratingscales).

� Alospectiva – quando a observação do sujeito (ou da situação) é feita por outro.

2009 20

Evolução dos modelos e métodos de observação

� Na investigação tradicional utilizava-se sobretudo a observação distanciada:- o observador devia assumir uma posição distanciada, isto é, a observação

para ser rigorosa devia desenvolver-se num quadro de extraterritorialidade;- O rigor cientifico decorria, fundamentalmente, da rigidez desta posição, a

qual assentava nos três grandes princípios da estrutura paradigmática da ciência positivista:

� -reversibilidade temporal� -estabilidade situacional� - ordem natural

� Estes princípios cerceavam o processo de observação ao levantamento de interacções de fenómenos, sendo uns definidos como causas e outros como efeitos.

� Esta relação causa-efeito era justificada pela sua repetição em situações diferentes. Os processos de observação eram os seguintes:

� - observação sistemática� - observação naturalista

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O ObservadorQuem observa? Quem deve observar?

� A dificuldade em tornar significativos os comportamentos observados, levou alguns observadores a alterarem a sua posição, passando da distanciação à participação , a fim de aprenderem o significado relacional implícito na situação observada.

� O sujeito observador e o sujeito observado passaram a situar-se no mesmo território.

� Para a sua concretização passaram a utilizar-se as técnicas da:

� - observação participante� - observação participada

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Observação participante e participada� Observação participante – o observador integra-se no grupo que pretende estudar,

participa da vida grupal. Deverá desempenhar um papel bem definido na situação. Este papel poderá ser percebido diferentemente pelo observado (indivíduo ou grupo), conforme a função da observação.

Observador percebido – percebido pelos observados como observador.Observador não percebido – o observador não é percebido como tal.

� Observação participada – quando o observador pode participar, de algum modo, na actividade do observado, mas sem perder o estatuto de observador. Geralmente orienta-se para a observação de fenómenos, tarefas ou situações específicas, nas quais o observado se encontra envolvido.

• Nestes casos, a neutralidade é um mito. O observador não pode ficar exterior ao fenómeno que estuda. Participando na vida do grupo, é necessariamente parte da rede de relações inter-individuais;

• O estudo da compreensão do fenómeno estudado implica um envolvimento pessoal do observador;

• A observação decorre conjuntamente com o desenvolvimento da investigação. A recolha de dados introduz frequentemente mudanças na orientação teórica e no decurso da investigação sobre o terreno, instalando-se uma verdadeira dialéctica entre teoria e observação.

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Observação não participante

� Observador não participante , ou independente – o observador mantém distanciamento relativamente ao objecto de estudo, não se integra no grupo.

Por exemplo: o futuro professor observa uma turma, com vista à sua formação; um investigador observa o comportamento dos alunos durante o recreio.

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Objectividade versus subjectividade do Observador

� O observador, muitas vezes sem querer, introduz as suas posições teóricas e ideológicas, fazendo uma selecção entre os diversos fenómenos que acontecem numa dada situação.

� Contudo, isto não significa que não seja possível ser objectivo, usando metodologias de observação adequadas.

� A objectividade/subjectividade tem a ver com a capacidade de olhar o real .

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Grau de Inferência do observador

A observação comporta sempre um maior ou menor grau de inferência, de acordo com o instrumento que se utiliza e as condições da sua utilização.

� Grau de inferência fraco – quando o observador enuncia criteriosamente o que vê e o que ouve , sem se preocupar com as significações que lhes atribui.

� Grau de inferência forte – quando o observador enuncia intenções, motivos, sentimentos , isto é, atribui significado ao que observa.

Este processo de inferência fundamenta-se nos efeitos do comportamento, nas relações que existem entre os antecedentes e os consequentes….e sobre a própria experiência pessoal do observador.

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A Situação de Observação

A situação observada/estudada pode ser: natural ou criada , manipulada ou livre de qualquer manipulação .

� Natural – Quando os sujeitos observados se encontram no seu quadro de vida ‘habitual’ ou ‘familiar’.

� Criada – Quando o observador/investigador coloca os sujeitos numa situação que sai do seu quadro de vida ‘habitual’ ou ‘familiar’.

Por exemplo: um sujeito é submetido a uma experiência de laboratório, ou a uma bateria de testes.

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� Há, contudo, situações mais subtis, em que o sujeito realiza as suas actividades habituais sem saber que se encontra, de facto, a ser objecto de uma experiência de laboratório: nestes casos consideramos que a situação énatural , mas manipulada .

� Manipulada/não manipulada – Quando o observador/ investigador introduz ou não modificações na situação de observação.

► Pode haver combinações diversas.

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Grau de Liberdade Permitido ao ObservadorDe acordo com o grau de liberdade que é permitido ao observador, a

observação será mais ou menos sistemática.

� Sistemática - Quando tende a respeitar as condições do método experimental, nomeadamente a construção de dispositivos que garantam o distanciamento do observador relativamente ao objecto de observação.

A observação será sistemática quando são seguidas regras precisas para haver validade reconhecida.

1. empregar procedimentos coerentes e repetíveis; 2. definir previamente as condições de observação;3. empregar técnicas rigorosas de observação, de anotação e de

codificação.

� Não Sistemática – Quando tende a não respeitar as condições referidas para a observação sistemática.

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Grau de Liberdade Permitido ao Observador

� Em exterioridade – O observador deve manter uma posição externa relativamente ao que observa.

� Mais Implicada – O observador implica-se na situação que observa, vivendo dois papéis.

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Observação e Notação – Tipos de Anotação

Existem várias formas de registar/anotar as informações obtidas pela observação:

- anotação imediata e anotação diferida ;

- directa ou mediatizada .

� Anotação imediata – quando esta é feita imediatamente a seguir à observação de um comportamento ou de um objecto;

� Anotação diferida – quando há um certo intervalo de tempo entre a observação e a anotação.

A distinção entre estes dois parâmetros tem a ver com a unidade temporal escolhida, embora possa haver um continuum de múltiplos valores intermédios.

Por exemplo, a observação por entrevista, é um dos casos em que não só permite contrastar a anotação imediata e diferida, mas também salientar a relação entre este parâmetro e o precedente: quanto mais diferida for a anotação, maior influência poderá ter no processo de inferência.

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Observação Directa e Observação IndirectaA observação directa :

� O fenómeno estudado é observado no instante em que o corre.Nunca será feita retrospectivamente ou à posteriori;

� O papel do observador é o mais neutro possível . Os registos e anotações devem corresponder à descrição do fenómeno tal como este acontece. Os sujeitos poder ter ou não conhecimento da sua presença. Tudo deverá ser feito para anular ou neutralizar os efeitos do observador e da observação sobre o comportamento dos sujeitos.

� As observações são geralmente feitas em função de uma “grelha de observação”. É, pois, necessário definir categorias à priori (comportamentos verbais e /ou não verbais). Contrariamente ao que se passa na observação participante, no decurso da fase de observação não poderá haver reorientações teóricas

A observação directa , fiel ao princípio da separação entre observador e sujeito/objecto da observação, procura constituir um tipo de observação objectiva . A qualidade de uma observação directa depende da qualidade heurística da grelha de observação em relação ao fenómeno observado e do rigor com que a grelha é utilizada.

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A observação indirecta:

� A observação é provocada . Trata-se de recolher comportamentos verbais ou não verbais que são susci tados pelo observador e não produzidos independentemente da situação de observação. Os dados de uma observação indirecta são sempre reacções ou respostas a um est ímulo apresentado pelo observador.

� A situação de observação é sempre explícita e conhecida dos sujeitos. O facto se saber observado deverá ser considerado como um factor, entre outros, susceptív el de determinar as respostas dadas pelos sujeitos.

� O observador tem um contacto directo com o sujeito . A observação indirecta faz-se, necessariamente, atrav és de um sistema de interacções observador-sujeito, que d eve ser controlado, tanto quanto possível, no momento de utilização do aparelho/instrumento de observação, d evendo ser analisados os eventuais efeitos nas repostas re colhidas.

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Observação Directa e Observação Indirecta

� Como a observação directa e indirecta também têm a ver com o problema da instrumentação, ficam desde logo associadas aos parâmetros de anotação imediata ou diferida .

� De facto, tanto a observação directa como a mediatizada, podem utilizar a anotação imediata(quando o comportamento é observado directamente) ou a anotação diferida (por exemplo, após o período de observação directa ou do registo de dados).

Um caso e outro têm vantagens e limitações.

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Algumas vantagens da observação mediada ou mediatizada :

� é a mais indicada para situações em que a observação directa se revela muito difícil ou mesmo impossível;

� reduz a exigência da atenção por parte do observador;

� permite a recolha da informação em bruto e portanto:-codificá-la posteriormente;-voltar atrás;-controlar a codificação; -utilizar formas inovadoras para tratar a observação;-codificá-la de formas múltiplas, etc.

Os meios mais utilizados para mediar/mediatizar a informação são: o registo sonoro (gravação em áudio), a gravação em vídeo, a fotografia, a transcrição.

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� As estratégias utilizadas dependerão da forma de observação seleccionada.

� Por exemplo: a observação por entrevista , é um método de observação indirecta, que nos permite aceder aos dados através da palavra, isto é, permite-nos aceder às representações, ao modo de pensar do entrevistado.

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O que é que se regista?

� Podem registar-se episódios , ocorrências ,

sequências , etc.

Surgem-nos, assim, várias técnicas de notação. Por

exemplo:

� Registo de episódios – o observador regista o que

observou através de uma pequena narração.

� Como devem ser feitos estes relatos?

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� A construção dos instrumentos de observação e a concretização da observação devem acontecer após um longo trabalho preliminar.

� Em qualquer investigação, a recolha de dados só deve acontecer depois de: definido um quadro conceptual, elaboradas as orientações e hipóteses de investigação e definida a população.

� É importante designar a etapa onde se situa a fase de observação .

� O facto de não ser respeitada a sucessão de fases que precedem a observação pode conduzir a erros que comprometem gravemente não só a qualidade do instrumento utilizado (Ex: inquérito) mas também o seu interesse. Podemos confrontar-nos, por exemplo, com um volume de dados tão grande que torne quase impossível organizá-los e interpretá-los.

� Antes de proceder à escolha dos métodos de observação é, pois, necessário definir os objectivos de observação : - O que devemos observar?- Qual é o quadro teórico/conceptual em que se situa esta observação?- Quais são as hipóteses para as quais procuramos encontrar respostas, ou então, elementos de resposta?

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Diversidade de métodos de observação e validade� Em função do tipo de dados recolhidos:

- os que visam a observação da componente verbal;- os que visam observações das componentes não verbais.

� Os dados relativamente a cada uma destas categorias variam de acordo com a natureza das questões e daquilo que se quer provar.

� A observação coloca um problema metodológico fundamental, que é o da validade .

� A validade de um método tem a ver com a sua capacidade em recolher dados que correspondam às variáveis estudadas, condição essencial para a validação da própria investigação.

� Para alguns métodos, existem procedimentos de validação interna . Por exemplo, num questionário podemos analisar, a partir dos dados recolhidos a ligação entre os factores estudados e os indicadores que dizem respeito a cada um. Este procedimento permite testar a adequação entre os conceitos e a operacionalização que foi feita.

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A OBSERVAÇÃO MÚLTIPLA

� Numa investigação, por vezes faz-se a observação de um mesmo fenómeno utilizando vários métodos de observação, prática que podemos designar por “observação múltipla ”.

� A finalidade/alvo da observação múltipla é garantir uma melhor observação do fenómeno estudado .

� Este procedimento permite exercer algum controlo sobre os dados recolhidos e estudar a sua validade. Assim, comparando podemos testar a coerência das respostas obtidas de diversas maneiras sobre uma mesma informação ou um mesmo indicador. Podemos mesmo proceder a provas de validação inter-métodos.

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FICHA DE OBSERVAÇÃO DA AULA

Estabelecimento, ano e turma: _________________________________Disciplina:___________________Professor:__________Ano:________Assunto: ______________Nº alunos: _______Faltas: ______________Data: _______ Hora: ________ Tempo lectivo: ___________________Observador: ______________ Outros Observadores: ______________

Nota : Protocolo de uma observação naturalista (Estrela, 1990:267-268)

(registar tudo o que ouvirem, virem e pensarem)

ObservaçõesDescrição (situações, comportamentos, inferências)Tempo

PROTOCOLO DE UMA OBSERVAÇÃO NATURALISTA (um exemplo)

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Síntese► Observar é um processo que se situa para lá da simples percepção e

que, para além de tornar as sensações conscientes, também as organiza. O acto de observação é um processo intelectual;

► Observar uma situação é centrar a atenção nos sujeitos que nela estão implicados, é analisar a interdependência dos seus comportamentos;

►O comportamento , que se traduz numa acção de um sujeito sobre o seu ambiente, está ligado à imagem que ele tem de si mesmo (auto-conceito), à representação que ele tem do contexto e dos outros, e àrepresentação que os outros têm dele mesmo e do contexto;

► Os procedimentos do processo de observação podem então ser definidos do seguinte modo: a observação é uma operação de selecção e de estruturação de dados, de modo a que se tornem evidentes as redes de significações.

2009 42

Síntese (cont.)

► Considerando a natureza do objecto a observar, a observação pode ser: atributiva (incidindo sobre a qualidade ou atributo a identificar, a afirmar/negar) ou narrativa (descrevendo a acção).

► Considerando o processo , podemos distinguir entre observação sistemática e observação não-sistemáticae entre observação armada e desarmada.

► Se tivermos em conta o sujeito que realiza a acção , a observação pode ser: observação introspectiva (efectuada pelo próprio sujeito) ou observação alospectiva (efectuada sobre outrem).

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Tip

olog

ia d

a O

bser

vaçã

o

IMEDIATA / DIFERIDADIRECTA / MEDIATIZADA

LONGITUDINAL / TRANSVERSAL

MOMENTO DA OBSERVAÇÃOMOMENTO DA NOTAÇÃO

SISTEMÁTICA / NÃO SISTEMÁTICAEM EXTERIORIDADE / MAIS IMPLICADAPARTICIPANTE / NÃO PARTICIPANTE

GRAU DE LIBERDADE

CRIADANATURAL

MANIPULADANÃO MANIPULADA

SITUAÇÃO DE

OBSERVAÇÃO

FRACOELEVADO

GRAU DE INFERÊNCIA

FACTOSREPRESENTAÇÕES

ATRIBUTIVANARRATIVA

OBJECTODA

OBSERVAÇÃO

PARTICIPANTENÃO PARTICIPANTE

PERCEBIDONÃO PERCEBIDO

OBSERVADOR

DESCRITIVAFORMATIVAAVALIATIVAHEURÍSTICA

VERIFICAÇÃO

FUNÇÕES DA

OBSERVAÇÃO

DISTINÇÕESPARÂMETROS

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Como Observar? Os Instrumentos de Observação

Postic e De Ketele (1988) consideram sete técnicas, que agrupam do seguinte modo:

Observação Sistemática – associada às fichas ougrelhas de observação – em que os atributos que sepretendem observar são estabelecidos previamente.É posta em relevo a coerência dos processos e dosresultados obtidos. São utilizadas técnicas rigorosasem condições suficientemente bem definidas paraserem repetíveis:

1 – Os sistemas de categorias 2 – Os inventários ou sistemas de sinais 3 – As escalas de apreciação (de avaliação, de

estimação ou de julgamento – rating scales)

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Os Instrumentos de ObservaçãoObservação não sistemática – Observação vivencial(expérientielle) – aplica-se na investigação que se efectuaa partir da experiência de uma situação vivida pelo próprioou por outras pessoas. Isto explica que este modelo deinvestigação seja predominantemente clínico (métodosde observação clínica, observação naturalista eetnográfica, observação participante ). Neste caso as técnicas são as seguintes:

4 – O diários5 – A técnica dos incidentes críticos6 – As técnicas de registo de experiências de vida

(diários de vida)7 – Os diários de bordo

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Os Instrumentos de ObservaçãoOutros autores tais como Wragg (1999), Sullivan &Glanz (2000) e Tilstone (1998), agrupam os métodosde observação em:► métodos ou abordagens quantitativas► métodos ou abordagens qualitativas

Os métodos de observação sistemática correspondem às abordagens quantitativas e os métodos de observação não sistemática correspondem às abordagens qualitativas.

As abordagens qualitativas e quantitativas não devem ser vistas como estando situadas em pólos opostos, mas sim como complementares .

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1 – Sistema de categorias (i) - Todo o acontecimento observado deve ser codificado e

classificado , enquanto que num sistema de sinais não sucede o mesmo. Este critério de distinção permite explicar que os sistemas de categorias compreendam, geralmente, muito menos itens de observação que o sistema de sinais. Seria muito mais difícil classif icar “todos” os acontecimentos numa lista de categorias demasiado extensa.

(ii) – É um conjunto fechado de categorias mutuamente exclusivas (Ex: no sistema de categorias de Flanders (1970), par a o estudo da interacção verbal, existe uma categoria d esignada por ‘silêncio-confusão’, para aquelas situações em que não é possível classificar dentro das outras categorias).

(iii) – Implica unidades de observação relativamente estre itase curtas (unidades de observação moleculares).

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2 – Inventários ou sistemas de sinais(i) - São listas de actos ou incidentes específicos ,

susceptíveis de aparecer, ou não, durante um períod o de observação determinado, geralmente relativamente longo – os comportamentos são objecto de um sóregisto, num dado período de observação, mesmo que aconteça mais que uma vez ( Ex: o professor participa ou intervém nas actividades dos alunos; põem alguns al unos a trabalhar em grupo; etc).

(ii) – Como nem todos os acontecimentos observados devem ser necessariamente codificados, um único observador poderá ser responsável por um elevado número de itens de observação (Ex: Rosenshine e Furst(1983) sugerem que, após um bom trabalho de memoriz ação, um observador pode trabalhar com um instrumento até 80 itens).

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Sistema de categorias versus inventários

► Há, por vezes, alguma controvérsia na distinção entre sistemas de categorias e inventários.

► As principais preocupações com os “sistemas de categorias” são a sua pertinência e fiabilidade:

- Pertinência : está relacionada com a selecção das categorias, em função da teoria de partida, mais ou menos explicita (Ex: A escala de Flanders só pode ser usada de modo pertinente no âmbito da teoria de Dewey e um tipo de ensino-aprendizagem onde que sejam possíveis interacções professor-aluno).

- Fiabilidade: está relacionada com a qualidade da utilização do instrumento por observadores diferentes, ou pelo mesmo observador ao longo do tempo. As categorias deverão ser operacionais, os observadores treinados e verificados os acordos inter e intra-observadores.

2009 50

3 – As escalas de apreciação – rating scales

(i) – Esta técnica compreende um conjunto preestabel ecido de categorias ou de sinais e para cada um deles é necessá rio fazer um juízo ponderado. Este juízo pode ser feito atravé s duma descrição, por números, utilizando um gráfico, ou por uma combinação de todas estas modalidades. Exemplo de combinação das três modalidades, para observaç ão das actividades das crianças no recreio (Léon et al , 1977):

-3 -2 -1 +1 +2 +3Desocupado Solitário Observador Jogos Jogos Jogos

paralelos associativos cooperativos

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3 – As escalas de apreciação – rating scales

Estas escalas têm muitas vantagens : menor esforço mental do observador, maior rapidez no registo, possibilidade de registar um grande número de categorias, tratamentos quantitativos mais numerosos e sofisticados, correlações estatísticas com as variáveis dependentes mais frequentemente significativas.

Mas a sua aparente facilidade implica , também, que estejam frequentemente sujeitas a numerosos enviesamentos . Por exemplo:

�erro de abreviação �erro proveniente da perda de parte ‘intermédia’ da mensagem;�efeito de expectativa;�efeito da primeira impressão�localização do observador no espaço e no tempo;�imprecisão dos nossos meios sensoriais;�selectividade da atenção;

2009 52

Relatos

► Os protocolos, diários, cadernos de bordo, relatórios, notas de

campo, diários de vida , portfólios , ou qualquer outra designação de valor

semelhante, têm a finalidade de ajudar a compreender, pela verbalização,

os processos utilizados na execução de uma tarefa ou os sentimentos

relacionados com uma determinada situação, ou as estratégias de

pensamento seguidas pelo seu autor. Estas reflexões, que podem ser

escritas ou gravadas, permitem ser analisadas pelo sujeito que as

escreveu, por um observador ou pelos dois em conjunto. São técnicas

introspectivas, que fomentam estratégias de metacognição e metapraxis.

Além disso, permitem uma observação ao longo do tempo, de tipo

longitudinal.

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4 – Diários

► É uma técnica de observação narrativa e retrospectiva, que consiste em escrever com a linguagem habitual (não excluindo a utilização de termos técnicos familiares para o observador) as suas próprias actividades ou as de outros . Não é, por isso, uma técnica em que o objecto de observação estápredeterminado. O mais importante é a descrição longitudinal (cronológica) de todas as actividades desenvolvidas para conseguir um objectivo.

2009 54

5 – Técnica dos incidentes críticos� É uma outra técnica narrativa, também conhecida por

método de registos anedóticos. Consiste em anotar, o mais rapidamente possível após os acontecimentos, isto é, após o(s) incidente(s) crítico(s). Devem anotar-se as palavras significativas que foram pronunciadas ou as acções significativas que tiveram lugar nas situações concretas, tendo um grande cuidado para não descrever para além dos factos exactos, não apresentando opiniões ou juízos de valor.

� Wright (1960:86) definiu-a como uma técnica ‘sequencial, não selectiva, clara e narrativa do comportamento em condições determinadas’.

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5 – Técnica dos incidentes críticos

► Os erros mais comuns da utilização desta técnica e que convém evitar são os seguintes:� Avaliação do comportamento em vez da descrição do

incidente específico;� Registar apenas os dados negativos;� Generalizar antes de recolher dados suficientes;� Não controlar os dados que são anteriores à eventual

aparição daqueles que posteriormente se mostram significativos.

► A técnica dos incidentes críticos pode ser muito útil como etapa previa na elaboração de uma grelha de observação sistemática.

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6 – Os diários de vida► Há quem reconheça muitas vantagens nesta técnica e uma delas é o

facto de não serem necessários observadores com aptidões especiais para a realizar . Wright (1960) reconhece que proporciona dados teoricamente neutros, muito detalhados, isomorfos com o comportamento real e que permite uma quantificação posterior.

► Contudo, há também quem aponte alguns inconvenientes significativos : dificuldade de utilização num quadro de interacções complexas e rápidas; em certos casos, dificuldade de encontrar uma linguagem adequada para efectuar uma descrição suficientemente rica; heterogeneidade na linguagem utilizada pelos diferentes observadores para descrever o mesmo fenómeno; a validade depende do grau de precisão dos observadores.

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7 – Os diários de bordo

► É uma técnica muito mais rica e completa que a dos diários de vida . Para além da descrição das actividades realizadas, pode compreender informações tão variadas como as intenções, a sua justificação, as actividades previstas à partida, o que na realidade se fez, viu e ouviu, as circunstâncias em que se realizou a acção, os seus efeitos, as dificuldades encontradas, as interpretações dadas aos acontecimentos, o sistema de valores que se quer defender, as representações dos outros, as reacções perante o comportamento do outro, as decisões de acção,….(Postic e De Ketele, 1988:65).

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Dificuldades e Limitações da Observação

► Problemas gerais ligados à percepção;

► Problemas ligados à equação pessoal do observador;

► Problemas ligados ao referencial teórico;

► Problemas ligados a alterações provocadas no sujeito e na situação, devido à própria observação.

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► Obstáculos ligados à percepção● Selectividade natural dos estímulos

- localização do observador num dado espaço e no tempo- imprecisão natural dos meios sensoriais- selectividade da atenção- efeito de assimilação e de contraste- selectividade da memória

● Categorização espontânea e estruturação cognitiva do campo de observação

● Factores sociais da percepção- ligados à origem social do observador- ligados à pertença social/grupal actual do observador.

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► Obstáculos ligados à educação pessoal do observador

● Tipos perceptivos (mais descritivos, mais avaliativos, mais eruditos, mais imaginativos e poéticos);

● Projecção

● Interpretação pessoal

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► Obstáculos ligados ao referencial teórico

● Tendência do observador para codificar/descodificar segundo o quadro teórico adoptado;

● Expectativas e antecipações indutoras dos resultados.

► Obstáculos ligados à modificação dos sujeitos e das situações por serem observados

● Reacções à observação- defesa social- desejo de distância……

● Influência da personalidade do observador● Modificação global da situação e do campo psicossoc ial

- pela presença do observador.

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Problemas Éticos e as suas ImplicaçõesA observação não deverá ser vista apenas como uma

técnica de recolha de dados, em que os observadores/investigadores se consideram objectivos e extrínsecos ao contexto estudado.

Deverá ser considerada como um processo contextualizado, onde os observadores/ investigadores se consideram membros do cenário social e interagem com os outros membros desse contexto num processo dialógico . Esta mudança de paradigma traz, necessariamente, novas dimensões de reflexão e implicações sobre a éticana investigação social.

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Algumas implicações éticas ao nível das estruturas organizacionais

Podem surgir problemas que se prendem com:

� a natureza do problema de observação (investigação);

� o contexto em que a investigação se desenrola;

� os procedimentos necessários ao design da investigação;

� os participantes ou ‘sujeitos’ da investigação;

� razões para a recolha de alguns dados específicos, frequentemente de natureza pessoal.

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Os aspectos mencionados, implicam que devam existir preocupações de natureza ética .

Por exemplo: � a autorização prévia da Organização/Instituição sob

observação; � o consentimento do observado;� a garantia da confidencialidade e anonimato;� o reconhecimento do poder da relação que se

estabelece entre o observador e o observado, considerando ainda o direito do participante em abandonar a investigação se assim o entender;

� a garantia do bem-estar dos participantes, negociando eventuais crenças e pontos de vista do(s) observado(s);

� o acesso à informação e a documentos relevantes, incluindo o relatório final, dando-lhes a possibilidade de exprimirem os seus pontos de vista.