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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO Uninove Diretoria de Educação Curso de História Jhenyfer Batista Rosa Título OLHE, VEJA: A CENSURA E O FEMINISMO NAS COLUNAS DE MILLÔR FERNANDES (1968-1978) São Paulo Dez/2014

OLHE, VEJA: A CENSURA E O FEMINISMO NAS COLUNAS DE MILLÔR FERNANDES (1968-1978)

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Page 1: OLHE, VEJA: A CENSURA E O FEMINISMO NAS COLUNAS DE MILLÔR FERNANDES (1968-1978)

UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO – Uninove

Diretoria de Educação

Curso de História

Jhenyfer Batista Rosa

Título

OLHE, VEJA: A CENSURA E O FEMINISMO NAS COLUNAS DE MILLÔR

FERNANDES (1968-1978)

São Paulo

Dez/2014

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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO – Uninove

Curso de História

Jhenyfer Batista Rosa

Trabalho de Conclusão de curso, entregue à

Universidade Nove de Julho, para a obtenção do

grau de formação do curso de Licenciatura em

História, sob a orientação da Professora Ms. Gislene

Lacerda.

São Paulo 2014

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente a minha mãe Cecília, pelo amor, incentivo e

apoio incondicional e por sempre estar presente na minha vida e na minha

formação como pessoa digna de lutar pelos meus objetivos. Ao meu avô Joel,

esse sim, tem muito agradecer, pois sem ele jamais seria uma pessoa de bem

e de valores pessoais. Através do seu amor e dedicação e que sempre lutou

para criar os netos como fossem seus filhos. Dedico esse TCC, a esse homem

de bem, que me deu a melhor infância e o melhor natal, muito desses

passamos com dificuldade, mas nunca deixou faltar o nosso presente de natal

que era sempre esperando no final do ano. Meu avô ao longo da minha vida

me incentivou pelas leituras e até mesmo por jornal, confesso quando era

criança não gostava muito, hoje vejo quanto tudo isso foi importante para

minha vida.

Agradeço aos meus irmãos, Cintia, Joel, Gerson, Otavio e Luiz, apesar

das diferenças de ideias foram pessoas importantes para minha qualificação

pessoal, especialmente a minha irmã Cintia por ter me dado um ‘empurrão’

para a faculdade.

Sou grata aos meus amigos de faculdade, Aline, Asdra, João e Marcelo,

foram muito tempo juntos, aprendi muito com vocês, desde início até termino,

amizade para sempre, quero levar essas pessoas por toda minha vida.

Não poderia deixar de ser grata a uma pessoa que entrou na minha vida,

somente para somar, Emerson Mathias. Não conseguiria fazer esse trabalho

sem ele, foi uma pessoa fundamental que me ajudou inúmeras vezes sobre

trabalhos acadêmicos até mesmo conselhos sobre o tema tratado aqui.

Agradeço de coração. Você sabe quanto sofreu comigo e quantas vezes

revisou tudo que havia escrito, me puxou as “orelhas”, tudo isso foi válido

porque acreditou no meu potencial.

Agradeço a esta universidade, seu corpo docente, direção e

administração que oportunizaram a janela que hoje vislumbro um horizonte

superior e a confiança no mérito ética aqui presente, meus sinceros

agradecimentos aos meus queridos e queridas professores, Cristina, Kátia

Quenez, Lucio Menezes, Roberto Caresia, Enidelci Bertin, Juliano Sobrinho,

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Geraldo Alves, Elaine Lourenço, Saveiro Lavorato, é meu querido e amado

professor Éber Lopes.

Não esquecendo a minha orientadora Gislene Lacerda, pelo suporte no

pouco tempo que lhe coube, pelas suas correções e incentivos, agradeço por

acredita que seria capaz de refazem esse trabalho em tão pouco tempo, por

causa desse seu empenho descobri que sou capaz de muito mais.

Agradeço ao ilustre ex presidente Inácio Lula Da Silva (PT), e o atual

Presidente Dilma Roussef, do mesmo partido, pela bolsa de estudo, sem isso

não seria possível ter chegado até aqui.

E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação.

O meu muito obrigado!

Jhennifer Batista Rosa

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Maria, Maria É um dom, uma certa magia

Uma força que nos alerta Uma mulher que merece

Viver e amar Como outra qualquer

Do planeta

Maria, Maria É o som, é a cor, é o suor

É a dose mais forte e lenta De uma gente que ri Quando deve chorar

E não vive, apenas aguenta

Mas é preciso ter força É preciso ter raça

É preciso ter gana sempre Quem traz no corpo a marca

Maria, Maria Mistura a dor e a alegria

Milton Nascimento

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Resumo

Os anos de 1960 foi um período em que o movimento feminista tomou

grande impulso, juntamente com o grande número de manifestações sociais

tanto no Brasil em quanto outros lugares do mundo, em nesse sentido que este

trabalho busca discutir como a mulher é retratada na crônica de Millôr

Fernandes na veja no período AI-5. Movimento feminista. Nesse sentido, na

presente pesquisa, analisar a revista Veja como objeto e fonte histórica, desde

sua fundação em 1968 pela editora abril, foram utilizados um espaço

significativo para discurso feminista. Seguindo uma perspectiva de gênero e

levando em consideração o cenário de ditadura e de emergência da 2ª onda

feminista, pretendo perceber que modelos de feminismo foram propagados por

Veja, mais especificamente na coluna de humor de Millôr Fernandes, jornalista,

chargista e humorista, costuma ser uns do nome mais lembrado durante

ditadura civil e militar, ao longo dos 16 anos que fez parte da equipe da revista,

fez do feminismo um objeto de riso e de crítica. Para isso farei uso do método

da análise do discurso, tendo em vista a complexa e rica relação que essa

metodologia propõe para se pensar discurso e história. O Brasil estava em um

período de intensa e forte cesura repressão, o feminismo era mal visto no

Brasil pelos militares e a esquerda, pela sociedade sexista que se expressava

tanto entre os generais de plantão como em uma esquerda intelectualizada,

esse trabalho tem com base principal analisar a coluna de Millôr Fernandes no

período da ditadura militar. Millor recheou as páginas da revista com críticas

ácidas e, com frequência, muito mal recebidas pela censura. Para isso meu

objetivo análise global da produção do jornalista, mas uma análise bastante

específica que, do ponto de vista dos estudos de gênero, pode render bons

frutos: a análise dos discursos sobre feminismo produzidos pelo desenhista,

humorista, dramaturgo e escritor durante sua trajetória na revista Veja.

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Abstract

The 1960s was a period when the feminist movement took great boost,

along with the large number of social events in Brazil as in other parts of the

world, in this sense that this paper seeks to discuss how women are portrayed

in chronic Millor Fernandes in see in AI-5 period. Feminist movement. In this

sense, the present research, analyze Veja magazine as object and historical

source, since its founding in 1968 by the publisher in April, were used a

significant space for feminist discourse. Following a gender perspective and

taking into account the dictatorship scenario and emergency 2nd wave

feminism, I want to realize that feminism models were propagated by See,

specifically in the humor column of Millor Fernandes, journalist, cartoonist and

humorist, often a name most remembered for civil and military dictatorship over

the 16 years that was part of the magazine's staff, made of feminism a laugh

and critical object. For this I will use the method of discourse analysis, with a

view to complex and rich relationship that this methodology proposes to think

about discourse and history. Brazil was in a period of intense and strong

caesura repression, feminism was taboo in Brazil by the military and the left,

sexist society that expressed both between duty generals as an intellectualized

left, this work is based leading analyze the Millôr Fernandes column during the

military dictatorship. Millor has filled the pages of the magazine with stinging

criticism and often very badly received by the censorship. For this my overall

objective analysis of the production of the journalist, but a very specific analysis

that from the point of view of gender studies, can yield good fruit: the analysis of

discourses on feminism produced by designer, comedian, playwright and writer

during his career See the magazine.

Introdução

A década de 1960 foi um período em que o movimento feminista tomou

grande impulso, juntamente com o grande número de manifestações sociais

tanto no Brasil como em outros lugares do mundo; é nesse sentido que este

trabalho buscou discutir como a mulher é retratada na crônica de Millôr

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Fernandes na Revista Veja no período em que vigorou o AI-5. De acordo com

CRESCÊNCIO (2012) estudar a mulher nesse período por meio da luta

feminista, é muito importante para historiografia, a luta feminista não aconteceu

somente no ano de 1968, esse movimento aconteceu nos Estado Unidos e em

vários países, influenciando o Brasil. Mulheres de épocas anteriores já haviam

lutado contra a dominação masculina e o patriarcado de uma maneira geral,

revoltando-se com a baixa instrução que lhes era destinada, exigindo o direito

de votar e mais participação política, entre outras coisas. Mas 1968 foi um ano

barulhento e, para serem ouvidas, as mulheres precisavam fazer barulho,

quando falamos em feminismo, vem somente a mente das pessoas mulheres

queimando sutiãs.

De acordo com TELES (1993) em São Paulo o movimento feminista data

de 1975, proclamado “Ano Internacional da Mulher” pela ONU. Neste ano

ocorreu o 1º Encontro das Sociedades Amigos de Bairros (SaBs), onde foram

discutidos problemas relacionados à assistência materno-infantil. Foi aprovada

nesse encontro uma moção no sentido de constituir uma comissão para

estudar os problemas que afetam as mulheres. Os temas escolhidos foram:

saúde, educação e direitos da mulher (como os da mãe solteira, por exemplo).

Diversas sociedades de bairro foram criadas e muitos encontros ocorreram até

os anos 80 para discutir assuntos relacionados à mulher. Essas militantes

formaram o "Jornal Brasil Mulher", que retratava a atividade na periferia. A

mulher de São Paulo nesse contexto, conscientiza-se dos seus direitos ao lado

das demais mulheres brasileiras, com vista à igualdade de condições

socioeconômicas e jurídicas entre homens e mulheres. Contudo, foram

formados vários movimentos de mulheres feministas ou não, em prol de

direitos específicos para as mulheres e de aspectos gerais, ligados a sociedade

como um todo, ou seja, a participação ativa da mulher na sociedade teve várias

facetas. As feministas lutavam por igualdade de direitos entre homens e

mulheres, nos campos político, jurídico e social. Já a luta feminina estava mais

alinhada à mulher como mãe e esposa que exerce sua cidadania, buscando

creches, união nas famílias, paz, questionando problemas socioeconômicos.

Sobretudo, as duas facetas de luta foram extremamente importantes no

processo de emancipação e consolidação de direitos específicos das mulheres

brasileiras.

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O movimento feminista passa, então, a exercer um fator determinante

nesse processo, e hoje se subdividi em vários grupos, tais como o movimento

das mulheres negras, das universitárias, das lésbicas entre outros. Entretanto,

ainda se constata elevado número de preconceito para com a condição da

mulher dentro de uma sociedade classificada coma machista.

De 1945 a 1964, durante os 19 anos do período democrático-

constitucional, nasceram diversas organizações feministas e femininas no

Brasil, como a Federação das Mulheres do Brasil, Comitê das Mulheres pela

Anistia, (que posteriormente se transformou em Comitê das Mulheres pela

Democracia no período ditatorial), Associação Feminina do Distrito federal, que

foi fechada por Juscelino Kubitschek e ainda a Liga Feminina do Estado da

Guanabara. Sobretudo, essas organizações femininas lutaram por questões

gerais, problemas nacionais e que em algum nível interessavam a elas como

donas de casa e cidadãs conscientes, como a anistia, a paz, o monopólio

estatal do petróleo e a carestia. Contudo, vale observar esse momento da luta

das mulheres como uma luta de mulheres de classe média e não das mulheres

em geral, que nas classes baixas estavam extremamente preocupadas com o

sustento de suas famílias, sendo o tempo algo escasso. Entretanto, todas as

vitórias no campo dos direitos das mulheres trabalhadoras, atingiram

exatamente essas mulheres de classe baixa.

Para TELES (1993) a luta começou ainda no anos 1970, nos bairros

onde grupos de mães e donas-de-casa organizadas em clube de mães,

associações de amigos de bairros começaram a se movimentar, mas mesmo

antes se construir como movimento organizado estas mulheres já despertaram

atenção do militares que faziam vigilância. Ainda segunda a autora, as

preocupações dos militares foram as cartas públicas lidas nas paróquias onde

as mulheres frequentavam as missas dia de domingo, nessas cartas elas

falavam do custo de vida e os baixos salários e da creche. Esses grupos de

mães chegaram até ir algumas autoridades exigir providencias, mas elas foram

mal recebidas e muitas vezes a polícia infiltrados passado a rodar suas

comunidades que moravam.

De acordo com MORAES (1999) o olhar do agente sobre o movimento

feminista, todas as atividades envolvendo os movimentos que aconteciam

foram acompanhados de perto pelos agentes do DEOPS-SP, eles infiltravam-

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se nos eventos, um desses acontecimentos foi o 1º Encontro para diagnostico

da mulher paulista, nesse encontro estava nas mesas-redondas para seguintes

temas, O Ato Internacional da Mulher, a Mulher e a saúde, a mulher e a

participação na sociedade entres outros temas abordado entre elas esse

debate aconteceu durante a semana de 13 a 20 de outubro de 1975. Como

destaque nas observações realizadas pelo agente e por uma das líderes no

auditório, Terezinha de Godoy Zerbini1, do movimento feminista pela Anistia,

que já vinha sendo acompanhado pelos serviços de informações do

DEOPS/SP; como mostra seguinte comentário do agente que estava

monitorando os eventos:

Como já é do conhecimento dessa chefia, Terezinha tem estado em todos os ciclos de conferências, dando a sua participação ativa em prol da campanha de anistia. Em seu discurso, discorreu sobre suas atividades “justas” em prol da concórdia nacional, citando jocosamente o regime de “exceção” em que vivemos.2

Apesar do discurso da esquerda a favor do movimento feminista na

prática continuava sendo machista, isso fica claro com infiltrações de agentes

nos movimentos, muitas vezes mais de um agente, sem que um tivesse

conhecimento do outro, os militares queriam fazer uma comparação nos

relatórios apresentados ao DEOPS.

Fica evidente que através de parte da história que as mulheres

estiveram à frente do movimento, não somente cultural, mas também político, e

sua contribuição ao longo do tempo foi significativa, para explicar e

revidencializar sua historiografia, a mulher deixou de ser apenas esposa e mãe

dona do lar do século XX, mas buscou seu respeito, aceitação e a valorização

do papel de mãe.

Muitas mulheres participaram ativamente da ditadura militar. Entre 1970

e 1980, o movimento das mulheres defendeu a Redemocratização do país. A

1 Dona Therezinha Godoy Zerbini - esposa de um general e cunhada do Dr. Euclides Zerbini, um salvador de vidas, pioneiro dos transplantes de coração no Brasil – fundou o Movimento Feminino pela Anistia, a foi uma das maiores defensoras dessa causa no Brasil. Disponível <http://gilsonsampaio.blogspot.com.br/2013/11/terezinha-zerbini-o-militar-nacional-e.html> em: 12/mar/2014. 2 DEOPS/SP, DAESP. 21-Z-14, n,459, produzido em 14/10/1975. In: MORAES, Letícia Nunes Góes. Agentes infiltrados no movimento feminista brasileiro

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partir de 1977, o movimento feminista passou a seguir outras tendências,

algumas voltadas para a discriminação do aborto ou a equiparação profissional

com os homens. Muitas mulheres conseguiram conquistar postos de trabalho,

antes só ocupados por homens, como cargos políticos, por exemplo. Com a

crise familiar da sociedade, muitas passaram a exercer o cargo de chefe de

família. A mulher sempre foi considerada como o outro pelo homem e não

como o semelhante.

Seguindo uma perspectiva de gênero e levando em consideração o

cenário da ditadura civil militar e da segunda onda feminista, pretendemos

perceber como era visto e veiculados pela Revista Veja, mais especificamente

na coluna de humor de Millôr Fernandes, jornalista, chargista e humorista.

Millor Fernandes costuma ser um dos nomes mais lembrado durante ditadura

civil militar, ao longo dos 16 anos que fez parte da equipe da revista, fez do

feminismo um objeto de riso e de crítica.

O Brasil estava em um período de intensa e forte censura e repressão

(AI5), o feminismo era mal visto no Brasil pelos militares e a esquerda, pela

sociedade conservadora sexista que se expressava tanto entre os generais de

Platão como em uma esquerda intelectualizada.

Esse trabalho teve com base principal analisar a coluna de Millôr

Fernandes no período da ditadura militar, especificamente no período onde

vigorou o Ato institucional número cinco (AI5). Millôr recheou as páginas da

revista com críticas ácidas que foram frequentemente mal recebidas pela

censura. Para isso analisamos sua coluna de humor de uma maneira

específica procurando pontos de vista dos estudos de gênero e como isso era

e pode ser entendido no contexto histórico estudado sobre os discursos

feministas produzidos pelo desenhista, humorista, dramaturgo e escritor Millôr

Fernandes durante sua trajetória na revista Veja.

1. Millôr Fernandes e seu percurso até a Revista Veja

De acordo com CRESCÊNCIO (2012) Millôr Fernandes nasceu no Rio

de Janeiro em 1924. Pouco tempo após o seu nascimento o pai faleceu e o

nível econômico da família caiu bruscamente. Aos 14 anos, já começou a

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trabalhar como jornalista, em 1944 ingressou na gráfica O Cruzeiro, como

jornalista da revista. Em pouco tempo progrediu na carreira, ganhando prestígio

e dinheiro. Em 1964 fundou o jornal alternativo O Pif Paf, que durou pouco,

mas a experiência foi repetida com a fundação d’O Pasquim em 1969.

Paralelamente a essas atividades, Millôr Fernandes expôs desenhos no Masp,

escreveu peças que enfrentaram o problema da censura e traduziu uma porção

de outras vindas do exterior. O humorista, colunista, escritor, teatrólogo,

chargista, ao narrar sua trajetória, ignora o período no qual esteve trabalhando

na revista veja.

Millôr Fernandes tem dedicado sua carreira para fazer ataque ao

movimento feminista, desde 1960, o colunista, chargista usa do método

crônica, charges ou até mesmo texto corrido para atacar o movimento, o

humorista tem métodos como humor para enfatizar seus pensamentos,

explorando risos, para poder atacar as feministas. Em 1971, afirmava com suas

palavras “O maior movimento feminino ainda é o dos quadris”, dizia Millôr

Fernandes. Depois de escrever mais de 800 páginas em suas colunas na

revista, Millôr contribuiu mais de 14 anos na Revista Veja. Millôr Fernandes foi

um jornalista considerado inteligente por muitos intelectuais o modo que

ironizava em sua coluna e em tudo que no seu ponto de vista não era coerente,

uma figura pública com gênio forte, fez inimizade dentro da própria Revista

Veja, mas nunca seus trabalhos foram questionados pela Revista.

.

1.1. Revista Veja e o casamento com Millôr Fernandes

Para CRESCÊNDIO (2012) a Revista Veja foi fundada em 11 de

setembro de 1968. Era um projeto de 1960, que por conta da crise política do

ano de 1961 foi fundada pelo grupo abril que era comandado por Victor Civita e

seu filho Roberto Civita. A revista foi inaugurada tendo uma das maiores

campanhas publicitárias da época e se sustentava tirando seu lucro nas

propagandas e tinha um papel fundamental traçado pela Editora Abril que

propunha um papel inovador, sobretudo, uma formação de novas atitudes,

influenciando hábitos da nação, aguçando a curiosidade, avivando seus

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interesses e aprofundando sua cultura. Segundo CRESCÊNCIO (2012) entre

suas características a Revista Veja apresentava uma temática diferenciando-a

dos jornais pela qualidade do papel, uma liberdade maior no uso de cores em

suas impressões lembrado que a revista foi fundada na ditadura civil militar.

Mas não teve muita interferência nesse período escapando da censura da

época sempre com cuidado em suas palavras e referências, assim conseguia

influenciar aos poucos cada leitor. Boa parte da grande imprensa vivia de

publicidade e não de vendas como característico da imprensa alternativa, já

que maior parte dos leitores da revista veja era de classe média. De acordo

com CRESCÊNCIO (2012) é pertinente levar em consideração as edições de

Veja com páginas repletas de árvores símbolo da Editora Abril, mostrando que

a censura atuou também sobre ela, mesmo que essa não conservasse a

postura opositora de jornais alternativos, como era o caso d’O Pasquim. Millôr,

inclusive, é identificado como o responsável pelo retorno da censura à revista.

É importante termos em mente que a Revista Veja, no contexto capitalista

empresarial, buscava crescer como empresa, ao contrário do que ocorre com

os jornais alternativos que, eminentemente contestadora da ordem vigente,

geravam seus lucros através das vendas, construindo um outro tipo de relação

com o aparelho do Estado. O Pasquim em 1969. Inaugurado em um dos

momentos mais tensos da ditadura brasileira, um ano após a decretação do

AI5, o alternativo prometia inovar dentro da própria imprensa alternativa.

Após a fundação do O Pasquim em 1969, por Millôr, ano que o Brasil

estava e um período de intensa e forte censura e repressão. A autora Andréa

Queiroz, corrobora com essa afirmação:

O Pasquim possuía uma linguagem diferente dos outros alternativos da época a principal ideia era dar voz a uma intelectualidade boêmia da zona Sul do Rio de Janeiro, mas sem um engajamento político-partidário. Era um grupo interessado em contestar o conservadorismo da classe média, da qual eles mesmos faziam parte, como também criar um canal de debate e oposição à ditadura civil-militar (1964-1985). (QUEIROZ, 2011, p. 8).

O feminismo no Brasil nunca teve maior aceitação, tanto da esquerda

quanto dos militares, até mesmo a própria sociedade que estava visualizando

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esse movimento por fora, viam de uma forma diferente, pois acreditava que

fosse um movimento separatista.

Com a vinda ao Brasil da ativista Betty Friedan, 1971, na intenção de

fazer divulgação “A Mística” feminista, a autora sofreu várias críticas na coluna

de Millôr Fernandes, que fez critica acida para autora. “(...) Betty Friedan – Muito

aplicada; tem, porém, a estranha mania de querer ser o homem mais importante do

país” (FERNANDES, 1975 apud ZUCCO, 2005, p. 8).

Para consolidar-se, o movimento feminista teve que enfrentar muitos

preconceitos, da sociedade patriarcal que tinha um pensamento machista

obrigando a mulher viver para outros, e abnegar-se completamente a viver

somente para a família o jornal O Pasquim, no qual a atitude “machista” se

manifestava, conforme observou Bernardo Kucinsky:

Mas, no Brasil, o feminismo ainda era tratado com desdém e mesmo chacota, inclusive por O Pasquim, que faziam gênero do jornal machista como parte de postura geral anti classe - especialmente através dos artigos de Ivan Lessa, Ziraldo e Paulo Francis. Frequentemente associavam feminino a frustração sexual. (KUCINKT,1991, p.78).

Mas não foram somente os militares que o movimento feminista precisou

enfrentar, teve muitas dificuldades para ser aceito, inclusive entre as

organizações de esquerda. Maria Amélia Teles considera que:

As mulheres foram incorporadas aos movimentos de esquerda, tanto no campo como na cidade. Mas essas organizações relutaram a mulher militante de maneira mais adequada ao que ele vinha desempenhado nas diversas áreas da vida social e econômica, talvez por considerarem que as ações guerreiras só diziam respeito aos homens. (...) A falta de compreensão da importância da participação da mulher na transformação da sociedade talvez tenha sido o fator determinante. O relacionamento distante dessas organizações com os vários segmentos sociais, devido ao constante esquema repressivo e mesmo ao comportamento dogmático delas, impedia que enxergassem a ampliação das atividades femininas. De fato, as mudanças sócias eram pouco percebidas por essas organizações, que atuavam influenciadas por idéias conservadoras, particularmente a respeito das mulheres. (TELES, 1993, p. 64 apud CRESCÊNCIO, 2012, p.

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O Pasquim geralmente fazia perseguição a essas feministas e seus

movimentos, Millôr Fernandes, acreditavam que lesbianismo é outra

associação comum feita ao feminismo. Rose Marie Muraro, ativista do

movimento fala também em sua memória da luta pela fundação do feminismo

no Brasil e do preconceito que sofreu por parte do colunista.

Célia Regina jardim Pinto vai identificar os maiores problemas que o

feminismo estava passado naquela época, tentado buscar seu espaço na

sociedade brasileira.

[...] o feminismo era mal visto no Brasil, pelos militares, pela esquerda, por uma sociedade culturalmente atrasada e sexista que se expressava tanto entre os generais de plantão como em uma esquerda intelectualizada cujo melhor representante era justamente o jornal Pasquim, que associava uma liberalização dos costumes a uma vulgarização na forma de tratar a mulher e a um constante deboche em relação a tudo que fosse ligado ao feminismo. (PINTO, 2003, p.64).

Ficou evidente nas citações que foram demonstradas, a 2ª onda do

feminismo brasileiro enfrentou inúmeras barreiras para consolidar seus

interesses, várias reuniões das feministas foram acompanhadas de perto pelo

olhar atento doas agentes do DEOPS/SP. Um desses acontecimentos foi o I

Encontro para Reorganização do Movimento Feminino para diagnostico da

Mulher Paulista, devidamente relatado:

Levamos ao conhecimento dessa chefia que, realizou-se ontem, dia 13/10/75, o início do CICLO DE CONFÊRENCIAS denominado I ENCONTRO PARA DIAGNOSTICO DA MULHER PAULISTA, patrocinado pelo centro de informações Do Rio de Janeiro (subordinado á ONU) e cúria Metropolitana de SÃO Paulo, numa promoção comemorativa do Ano internacional da Mulher.3

3 DEOPS/SP, Daesp.21-14,Nº.459, SD arquivamento, produzido em (14/10/75).

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GOLDBERG (1987) vai dizer em seu trabalho escrito, “no Brasil a

modernização e o processo político não permitiram a emergência de um

movimento de liberação as mulheres como ocorreu em países liberais

avançados no mesmo período”. O movimento feminista do Brasil foi parecido

com da Inglaterra, pois se dividiam em grupos, as divisões mais distintas eram

femininas e as feministas, sobretudo o Brasil demorou muito mais tempo para

as feministas rompe esse padrão marxista que até hoje prevalece na nossa

sociedade.

A Postura de Millôr Fernandes, não era diferente de muitas pessoas na

época, o colunista tinha o pensamento, preconceito e usava de meio da

provocação ao movimento ou contra o método da luta, ridicularizando a

feminista como um tipo de “mulher mal amada”, despida de encantos

femininos, cuja frustração se exprime a inveja que a mulher tem dos homens,

Freud, também corroborava com a mesma pensamento, que a mulher tinha

inveja do órgão genital do homens, todas essas mentalidades só prejudicou as

feminista em separa as mulheres dos homens, afetado a harmonia conjugal e

a unidade de ambos os sexos no empenho comuns.

2. O feminismo nas charges de Millor

Para podemos entender qual a posição tomada por Millor Fernandes em

relação ao movimento feminista no Brasil, antes é necessário compreendermos

o entendimento do escritor sobre a definição de machismo. Só assim, podemos

analisar as suas charges críticas e humor sobre o feminismo. No ano 2002, foi

publicado Millôr definitivo, a bíblia do caos, a obra traz relato da sua própria

autoria seus pensamentos sobre reivindicações do movimento feminista, e

seus pensamentos sobre esse tema. Millôr vai destacar:

O melhor movimento feminino ainda é o dos quadris. (Esta frase, homenagem à mulher menina moça de Ipanema, entre os treze e os dezoito anos, cujo balanço ao andar é uma glória que nenhuma ideologia feminista conseguirá ofuscar, foi tomada pelas feministas – ai, meu saco! – como ‘machista’. Pra começo de conversa trocaram, por pura ignorância, a palavra feminino por feminista (a frase vira um trocadilho idiota), além de

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entenderem e divulgarem a coisa como se eu, grosseiramente, estivesse falando de movimentos dos quadris na cama – não tenho nada contra (1971) (FERNANDES, 2002, p. 230-231).

Ainda nessa mesma análise, Millôr Fernandes vai descrever o seguinte aspecto:

As feministas deviam protestar. Pelo número inacreditável de comerciais de desodorantes femininos que são exibidos na televisão, e pelas somas gigantescas que se gastam nesses comerciais, as mulheres brasileiras podem ser consideradas as mais fedorentas do mundo. Bata em uma mulher hoje mesmo – amanhã ela pode estar no poder. Hoje em dia, se você vai para a cama já de pau duro, a liberada te rosna: “Machista”!”(1981) (FERNANDES, 2002: 348).

Nessa análise Millor Fernandes foi extremamente sutil, pois ao começar

a frase com “As feministas deviam protestar”, ele intencionalmente nos dá o

benefício da dúvida, pois até parece que ele apoia e aceita os protestos das

mulheres sugerindo que elas deveriam protestar independente do motivo. Mais

em seguida, ele já nos dar indícios de sua real posição quando emenda a

próxima frase “Pelo número inacreditável de comerciais de desodorantes

femininos que são exibidos na televisão, e pelas somas gigantescas que se

gastam nesses comerciais, as mulheres brasileiras podem ser consideradas as

mais fedorentas do mundo”. Em outros momentos o colunista vai aborda outro

sentido da mesma mensagem de que as mulheres deveriam pensar em seu

comportamento, em quais caminhos ou estratégias estão usando para se alto

promover, deixando bem claro que não concorda com o exagero de comerciais

de desodorantes femininos e que na visão dele, esse, o mundo enxergava as

mulheres brasileiras como as mais fedorentas, e que as maiores responsáveis

por essa “visão mundial” eram as próprias mulheres. Aqui então se torna

evidente o grau de machismo do autor. Ao lermos a frase, podemos observar

que o autor já faz ataques mais fortes, e que na visão dele, o movimento

feminista que dizia buscar igualdade com os homens, na realidade busca

apenas uma “troca” de posições. As mulheres buscam então ser a “classe

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dominante”, posição até então pertencente aos homens. O autor vai alem,

deixando a entender que as mulheres não teriam limites para alcançar o

objetivo proposto, e que era necessário tomar cuidado ao bater em uma

mulher, pois amanhã ela poderia estar no “poder”, estar na condição de

dominante.

O próprio Millor afirma sua posição e sua critica em relação ao

movimento feminista, onde acredita que o feminismo está apenas buscando a

troca de posições entre homens e mulheres e não a igualdade como

teoricamente seria o proposto. O autor vai além ao afirmar que o movimento

“usa” uma comparação com o machismo para se auto afirmar, que todas as

tomadas de decisão do feminismo estão ligadas ao machismo que as mulheres

sempre enfrentaram Millôr nunca se considerou marxista, mas dizia que cada

pessoa nasce para adequar o sistema da vida, que o papel da mulher era o

cuidado do lar e da educação da família, e isso era para sua própria proteção,

assim como os homens se casam sua obrigação ser progenitor da família. É

necessário esclarecermos e destacarmos que o movimento feminista pouco

dissertou sobre o machismo, em diversas biografias que puder analisar não foi

encontrado evidencia alguma em que aponta que o movimento feminismo tinha

como foco de combate o machismo, portanto, podemos chegar à conclusão

que Millor era extremamente machista e por ser uma pessoa muito culta, ele

jogava com as palavras, piadas e humor, e assim, procurava passar uma

imagem de que ele apenas colocava sua opinião, contrariando e

desvalorizando as ações do movimento e suas reais causas, e que em

momento algum posicionava-se como um homem machista.

2.1. O feminismo no olhar de Millôr Fernandes

Millôr Fernandes atacava frequentemente, o movimento feminista, com

suas colunas semanais, com humor danoso no O Pasquim usava uma arma

antifeminista uma violência que causou retrocesso aos interesses das

feministas. Rachel Soihet, vai dizer o seguinte:

[...] as mulheres em O Pasquim ficavam à mercê dos misóginos de plantão que, sob o rótulo do “humorismo”,

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terminavam por ridicularizar as atitudes de mulheres que buscavam demarcar seus direitos. Aqueles, na verdade, com essas atitudes, visavam reconstruir os estereótipos da subordinação e domesticidade feminina. (SOIHET, 2005, p. 605).

Em suas colunas Millôr retrata o contexto político social de sua época,

faz ironias com fatos do cotidiano brasileiro, como exemplo, política, economia,

cultura e por muitas vezes sobre o movimento feminista. Suas crônicas

apresentam desenhos e caricaturas de personalidades, personagens e

instituições. Em seus textos apresenta um humor picante, irônico e sarcástico

onde faz críticas a diversos setores sociais, nessa estrutura o movimento

feminista tentava sobreviver tentado romper todo o sistema tradicionalismo

político socialista e comunista, Para o autor Moraes, o feminismo estava

representado uma grande potência revolucionária, varias autoras corroborava

chamado atenção para o movimento feminista. Como Alves e Pitanguy que vai

dizer que naquele momento estava surgido paradoxo:

O feminismo brasileiro nasceu e se desenvolveu em um dificílimo paradoxo: ao mesmo tempo que teve de administrar as tensões entre uma perspectiva autonomista e sua profunda ligação com a luta contra a ditadura militar no Brasil, foi visto pelos integrantes desta mesma luta como um sério desvio pequeno-burguês. (PINTO, 2003, p.45).

A esquerda tinha uma ideologia em rompe com a ordem do capitalismo,

com isso lutava contra ao movimento, pois havia certo receio ao crescente

desenvolvimento do movimento feminista que pudesse ser um risco para seu

próprio interesse, visto que o capitalismo se sustentava diferença forma de

opressão, o planeta desde sua origem se relaciona com o poder entre os sexos

e surge essa contradição das classes na sociedade, nessa perspectiva o

movimento tentava se romper dessa sociedade patriarcal.

BEAUVOIR (2009) discorre em sua obra sobre a condição da mulher na

sociedade, “não se nasce mulher, torna-se mulher”, ela traz uma análise

antropológica-filosófica onde constrói o conceito de que a mulher além da luta

feminista, da sua construção, formação e emancipação política e social por

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meio destes movimentos ela possui um caráter intrínseco na mentalidade da

sociedade num processo de longa duração histórica onde está “adormecido” e

latente o patriarcalismo ainda em nossos dias.

Todo indivíduo que se preocupa em justificar sua existência a sente como uma necessidade indefinida de se transcender. Ora, o que define de maneira singular a situação da mulher é que, sendo, como todo ser humano, uma liberdade autônoma, descobre-se e escolhe-se num mundo em que os homens lhe impõem a condição do Outro. Pretende-se torná-la objeto, votá-la à imanência, porquanto sua transcendência será perpetuamente transcendida por outra consciência essencial e soberana. O drama da mulher é esse conflito entre a reivindicação fundamental de todo sujeito, que se põe sempre como o essencial, e as exigências de uma situação que a constitui como inessencial. Como pode realizar-se um ser humano dentro da condição feminina? (BEAUVOIR, DS I, 1980, p. 23).

Nessa perspectiva podemos analisar o pensamento ainda retrógado

machista sobre o movimento feminista no Brasil, Millôr Fernandes ao longo de

sua carreira usava com seu sacarmos é humor para destacar sua idéia do

movimento, o humorista fazia parte de uma hierarquia na Revista Veja aonde

deveria presta conta a seus superiores, mas seu trabalho nunca foi

questionado pela própria Revista, antifeminista foi levada a frente pelo O

Pasquim que difundiu uma visão danosa ao feminista, Veja conhecida como

reacionária a favor do capital de uma hierarquia foi colaboradora de uma

empresa que atrasou as feministas, Millôr uns dos fundadores O Pasquim usou

de diferente discurso ridicularizar os movimentos feministas.

Ao longo da história vemos quanto às mulheres passaram por um

processo de aceitação na sociedade e as leis impostas pelo sistema, essas

mulheres sempre foram vistas por serem inferiores aos homens, muitos

séculos se passaram, houveram grandes mudanças, porém, a mentalidade

ainda é arcaica. As mulheres ao longo dos movimentos feministas foram

discriminadas pela sociedade, eram vistas como desordeiras e até

masculinizadas.

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Segundo John Stuart Mill, em A sujeição das mulheres, a mulher não é

um ser inferior aos homens, mas apenas diferente dele, o autor, defende uma

forma de amizade conjugal baseada na igualdade.

“(...) as mulheres estão totalmente sujeita ás regras dos homens, não tenho nenhum tipo de participação em assunto públicos, e estando sob a obrigação legal de obediência a com quem estão ligadas pelo destino, é estado sob obrigação legal de obediência aos homens com quem estão ligadas pelo destino, é a combinação mais proveitosa para a felicidade e bem-estar de ambos (...) em primeiro lugar, a opinião a favor do sistema atual, onde o sexo mais frágil está totalmente subordinado ao mais forte, está baseada somente na teoria, uma vez que uma houve nenhuma experiência com cada um deles” (MILL, 1869, p. 19).

Essas mulheres que foram consideradas sexo frágil perante a sociedade

patriarcal, lutaram pelos seus diretos que eram renegados as elas. Mas essas

feministas não se abalaram e lutaram contra a desigualdade, muitas delas

participaram ativamente contra a ditadura civil militar e civil. Cobraram cada vez

mais participação política assunto proibido para as mulheres, muitas delas

entraram nessas organizações.

TELES (1993) destaca a importância das mulheres brasileiras, que não

deixaram por menos, foram rebeldes a tirania da sociedade patriarcalista.

De acordo com TELES (1993) diversas feministas foram mortas ou ainda

se encontram na lista das desaparecidas, destacando alguns nomes como

exemplo:

Maria Ângela Ribeiro – morta a tiros pela polícia carioca anos,

assassinada no dia em 21/6/1968, quando da repressão ás manifestações de

rua realizadas nesse dia.

Alceri Maria Gomes da Silva - operária metalúrgica, 27 anos,

assassinada no dia 10/5/1970. Sua casa foi invadida por agentes dos órgãos

de segurança paulista e Alceri metralhada sumariamente juntamente com outro

militar, Antônio dos Três Reis de Oliveira.

Marilena Vilas - Boas Pintos – ferida e presa no tiroteio do dia 3/4/1971.

Marilena, mesmo ferida e sem receber cuidados médicos, foi conduzida ás

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câmaras de tortura do DOI/CODI – RJ (Departamento de Operações e

informação/Centro de Operações e Defesa interna – RJ), e assassinada

algumas horas depois.

Lígia Maria Salgados Nóbrega – Estudante de Pedagogia da USP,

metralhada no dia 29/12/1972, quando a casa em que se encontrava foi

invadida por agentes do DOI/CODI – RJ.

Segundo TELES (1993) essas sufragentes, eram em sua grande maioria

médicas, dentistas, advogadas, escritoras, poetisas, pintoras, engenheiras

civis, funcionárias públicas, parentes de políticos entre outras, mesmo essas

sufragentes não escaparam da censura e violência. A sub representação social

das mulheres são faces da mesma moeda. As mulheres têm status social mais

baixo do que os homens, em decorrência de seu mais baixo status

ocupacional, a partir de 1977, o movimento feminista passou a seguir outras

tendências, algumas voltadas para a discriminação do aborto ou a equiparação

profissional com os homens. Muitas mulheres conseguiram conquistar postos

de trabalho, antes só ocupados por homens, principalmente em como cargos

políticos.

Para CRESCÊNCIO (2012) as charges de Millor Fernandes na Revista

Veja, provavelmente colaboraram para formação da mentalidade das pessoas

naquela época, lembrado que a Revista alcançava um público elitizado que

poderia ser considerado mais intelectual com maior formação cultural. Millôr,

como era conhecido pelas feministas tinha por característica chamar a atenção

com suas charges geralmente fazendo ataques ao movimento feminista

utilizando acontecimentos da época que buscavam ironizar as conquistas do

movimento. Interessante citar que em todas as suas colunas, Millor, variava em

seus ataques. Hora a política e seus políticos, hora o militarismo, o próprio

povo em sua cegueira intelectual mais em todas suas citações o autor sempre

introduz sua opinião crítica sobre o contexto político social em relação às

mulheres e ao feminismo. Hora de maneira sutil, hora de maneira muito direta,

sempre com humor e muita ironia. Ao longo desse processo podemos perceber

que o jornalista deixou uma rara documentação escrita que pode ser estudada

profundamente sobre o período histórico onde os movimentos feministas foram

intensos.

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Imagem 1

Millôr – Charge – Millôr e o eterno masculino. Veja. São Paulo: Abril. n. 221, p. 14. 29 nov. 1972.

A primeira charge relacionada O Xadrez, encontrada na pagina 14, Millor

usa na animação duas mulheres, com biquina, uma deitada e a outra sentada,

supostamente fumando, ambas no mesmo espaço que aparenta ser uma

cama.

Millor começa a charge elogiando o jogo de xadrez, no qual o escritor

entitula de o jogo que esta cada vez mais presente na sociedade. “Reconhece

que o jogo exercita o poder da mente ajudando a aumentar a capacidade

intelectual das pessoas”.

Então, como sempre, Millor mostra seu lado machista e logo em seguida

ataca as mulheres afirmando que o xadrez é um jogo que mostra a

superioridade dos homens sobre os outros animais inclusive sobre a mulher

que segundo o autor joga muito mal, Millôr Fernandes, mostra sua ideia

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egocêntrica e machista contas mulheres em sua fala xadres e jogo somente de

homens.

Nessa mesma página, o chagista faz outro ataque as feminista, a

imagem remente as duas mulhes aparetemente na praia pois elas se econtra

de biquini, uma delas parece estar fumando, Millôr começa ironizado com a

falar “Millôr o eterno masculino”, chamando bem atenção, para essa frase,

qual posição que humorista queria aborda com essa escrta, seria um ataque

para as feminista, a falar de uma das mulheres vai afirma:

“(...) Os homens brasileiros são mesmo uns porcos chovinistas, olha que eu tenho diploma de datilografia, fiz curso de enfermagem, estudei comunicação, estou no segundo ano de sociologia da PUC e eles continuam me olhando como objeto (...) eu tenho diploma de datilografia, fiz curso de enfermagem, estudei comunicação, estou no segundo ano de sociologia da PUC e eles continuam me olhando como objeto sexual”

Para podemos entender essa fala, é preciso voltamos a entender essa

mentalidade da época, que somente no século XX, as mulheres conquistaram

espaço, mas a mentalidade ainda era considerada arcaica e preconceituosa,

Millôr Fernandes, atacas as mulheres dizendo que o movimento feminista não

alcançou tanta vitorias assim, que mesmo a mulher mais estudiosa ainda era

vista como objeto sexual.

3. Análise das charges

Nesta charge a imagem, não foi encontrada e talvez nunca tenha sido

analisada, n. 221, p. 15. 29 nov. 1972.

Nessa charge, o autor coloca uma mulher jovem e bonita já aos modes

da influencia do feminismo, cabelo curto, deitada em um sofa conversando com

o psicologo paretemente bebemdo algo. A mulher fala com propriedade,

dizendo que pode discutir o comportamento dela o qual ela julga estar correta,

um ser superior, que pode debater sobre qualquer assunto. No diálogo

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podemos observar que a mulher esta segura, e se acha um ser superior. A

mulher conta com orgulho tudo que conquistou.

Ela vai dizer – “Bem, Alfredo, você pretende discurtii racionalmente o que houve entreeu, uma mulher plenamente consciente de suas prerrogativa femininas, e Evaldo, um rapaz cujo comportamento soacial é condicionado pela extraodinarias possibilidade e êconomico da elite a que pertence mas abominar, ou prefere continuar acreditando na versão deturpada de uma emprensa corrupta e decadente, interressada apenas no stato- Quo?

Millôr Fernandes, faz um ataque novamente usando dos artificios que as

mulheres adquiriu igualdade, mas mesmo com toda modernidade ainda não e

considerada um “ser” sem mentalidade, o jornalista inferiorizar a mulher, nesse

discuso que para chargista não tem nenhum sentido.

Já na imagem masculina, o que podemos ver é que o psicologo que

esta escutando a fala da mulher, não da importancia alguma, ao contrario o

jeito e as caracteristicas que a imagem estar representado nos leva entender

de que o homem não esta escutando nada do que a mulher esta falando e

ainda menosprezando todas aquelas fala que para ele são totalmente futeis.

Caracterisca da própria mentalidade do marchismo, Millôr já dizia que

mulher boa era mulher calada, reflexâo sobre a feminista que deveriam fazer

seu papel de mulher dona de casa, mãe e esposa.

Millor inicia outra coluna com o título “A vida seria extremamente

divertida se não fossem as diversões”.

Nesta crônica Millôr Fernandes destaca o contexto social do início da

década de 1970, faz ironias com a viagem do homem à lua, a situação política

internacional e com a corrupção na política brasileira. Nesta crônica cita Marisa

Urban (nascida em 1938, atriz, cantora e jurada de programa de Flávio

Cavalcanti) no contexto da crônica. Podemos levantar a hipótese que ela é

citada por ser uma mulher a frente do seu tempo (possivelmente feminista por

ser artista). Por exemplo, neste trecho;

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“(...) a Caixa Econômica pode ser tudo, menos econômica, barbeiros e manicuras continuam a lutar pelo pão de cada dia a unhas e dentes (nos anúncios classificados dos jornais) os astronautas conseguem chegar são e salvos e vejo passar debaixo de minha janela incólume e altaneira, amena, amena, amena, essa palmeira altívaga que é Marisa Urban.”4

Outro trecho da crônica:

”O homem é mesmo um animal corrupto. Já a mulher nem tanto, não é não, meu bem? Descubro, repentinamente encantado, que a rua Bela, tem o quê? Ora, naturalmente que uma fábrica de produtos de beleza, e ouçam bem o que eu digo, amigas minha em flor: Quem cala consente, e a falta de voz é a emoção de consentir.”5

Millor diz que o homem é um animal corrupto mais a mulher nem tanto.

Novamente o escritor ataca as mulheres insinuando que não são corruptas

porque não possui capacidade intelectual.

Imagem 2

Millor. Veja. São Paulo: Abril n. 86, p. 13, 29 abr. 1970.

4 Revista Veja edição 86, ano 1970, abril, pg. 12. 5 Ibidem 4.

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Essa charge mostra a imagem de duas pessoas nuas um homem e uma

mulher, da criação, no paraíso, retratando a cena em que a serpente engana

adão e Eva seduzindo-os a comer o fruto da arvore proibida, ao fundo da

imagem parece ser Deus cercado á arvore e teriam total pode, essa coluna de

Millôr Fernandes, ele não se utilizou quase nenhum texto sobre a imagem, fato

não muito comum do autor, isso possibilitar uma imaginação fértil de cada

pessoa que possa ter entendimento diferente sobre a charge.

Como conta a história os dois comem o fruto da arvore proibida e assim

por serem dominados pela ganância são punidos e expulsos do paraíso,

seriam uma crítica as mulheres que Millôr estava fazendo na charge já que usa

uma frase, Adão nós somos unisex, um significado que sirva para dois sexos, a

imagem mostra a suposta Erva com sorriso bem largo, mostrado estar feliz

querendo abraça o Adão, que parece na imagem não estar bem acomodado

naquela situação, já que Eva usa do termo unisex ao Adão. Eva (a mulher), ela

sim é ambiciosa, deseja poder, liberdade (referindo-se ao movimento

feminista), ela vai em direção de sua liberdade e come o fruto. No

entendimento do autor a mulher que desobedeceu a Deus e não o homem.

O humorista poderia estar fazendo uma crítica ao movimento feminista

que estava crescendo cada vez mais nesse ano é conquistado vário posto de

trabalho antes só ocupada pelos homens, por mais que o jornalista era contra

ao movimento feminista e diversas vezes fizeram ataques feros às feministas

ficam claro Millôr percebiam que ao longo da época as mulheres tiveram

avanço significativo.

Imagem 3

Millor. Veja. São Paulo: Abril n. 466, p.15. 10 ago. 1977.

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Millor inicia sua coluna com um texto de título:

Deus fez homem. O homem ai construiu uma igreja e aprisionou Deus.

Mais uma vez chargista vai usar do artifício da imagem para chamar

atenção já que não se utiliza de nenhum texto, deixado para o leitor a

interpretação da imagem aparentemente. O homem está sentado no sofá

assistindo televisão e a mulher em pé atrás dele com uma arma em uma mão e

na outra passando em sua cabeça.

Então vem a frase: “E não adianta vir com agradinho não Catarina. Eu não dou

o divórcio”.

A partir da charge podemos perceber que Millôr, ironiza a sociedade

machista e faz uma alusão à luta das mulheres contra essa situação, seu

marido não te daria o divórcio, o humorista desenha um homem sossegado

deitado, usando os braços como apoio e assistindo tranquilamente a

televisão e nada. Mentalidade de uma sociedade patriarcalista e machista

onde a mulher não possui igualdade de direitos como o homem.

Outra informação que corroboramos com nossa análise, é que em 1977

é aprovada a lei do divórcio e de movimentos que se espalhavam pelo país e

que tinham como bandeira o tema "violência contra a mulher". A mulher se

engaja definitivamente na política, apesar de diversas discussões sobre o

divórcio na sociedade brasileira, ainda era considerada machista as mulheres

queriam se libertar muitas vezes da violência doméstica que há anos

sobreviveram caladas. As mulheres reivindicavam do direito ao prazer ao

prazer sexual é pela emancipação da mulher, isto significava não só o direito

de livre escolha do companheiro como direito de dissolver a união, se esta

deixa de proporcionar satisfação mútua, e o direito de realizar outra, com novo

companheiro. O divórcio sempre foi encarado pelo movimento feminismo com

bem necessário para garantir a auto realização de homens e mulheres. Sendo

a mulher a parte mais fraca no casamento, vítima frequente de brutalidade pelo

seu parceiro, o divórcio é particularmente importante para ela, como meio de

defesa infelizmente não são incomuns manifestações de machismo nas

camadas mais pobres como o espancamento da esposa pelo marido e a

violação de mulheres.

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Considerações finais

Ao longo da história as mulheres foram consideradas como seres frágeis

pela sociedade arcaica e patriacalista. O feminismo dos anos vinte e trinta

enfatizava a compatibilidade entre o desempenho das funções de mãe e

esposa e o exercício de atividade políticas e profissional por parte das

mulheres.

O movimento feminista atingiu seu auge nas décadas de 1960 e 1970 e

obtiveram conquistas importantes e benéficas para as mulheres em diversos

setores da sociedade.

Enquanto o homem estava indo à lua, as mulheres estavam queimando

sutiã e conquistado seus direitos, muitas morreram para conquista seus

direitos, até hoje ainda vivermos em uma sociedade com reflexos do passado.

Millôr Fernandes com suas charges fazia críticas ao movimento

feminista, o humorista era bem conhecido das feministas que ao longo dos

anos que trabalhou na Revista Veja publicava em sua coluna um humor ácido e

irônico às vezes atacando os movimentos, outras criticando a sociedade

conservadora.

A Revista Veja tinha como público alvo de classe média incluía mulheres

com poder aquisitivo, exatamente aquelas que eram acusadas serem agente

do feminismo, permitiu que o movimento feminista da segunda onda recheasse

as colunas coloridas do escritor com essa exploração de Millôr sobre as

feministas trouxe também resultado benéfico tema de debate antes isso nem

era possível, o chargista faz uso do humor para falar da violência doméstica

contra as mulheres, muito dos seus trabalhos traz à tona esse problema que

não era bem conhecido pela imprensa.

Não há dúvida que os movimentos feministas derrubaram barreiras

sobre a divisão sexual do trabalho, crescendo o número de mulheres que

realizam o mesmo tipo que de atividade que os homens. Mas este fato não

revoga os preconceitos seculares quanto á inferioridade da mulher, que mostra

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desigualdade que ainda se encontra presente na sociedade até os dias atuais,

que ainda as mulheres ganham menos que os homens mesmo tendo a mesma

qualificação profissional. A luta das mulheres pela igualdade contra a

discriminação e pelos seus direitos, embora já tenham progressos notáveis,

ainda se encontra no seu início. A mobilização parece ter atingido, em certos

setores um número restrito de mulheres, o movimento feminista no seio da

classe depende, em boa medida, da dinâmica social geral.

Ao desenvolver essa pesquisa analisei como humor de Millôr Fernandes,

tinham uma função informativa séria apesar de satíricas em suas entrelinhas. O

movimento feminista mobilizou mulheres engajadas por seus direitos, direito a

seu corpo, política e a igualdade de gênero, inclusive pela legalização do

aborto, um dos assuntos mais discutidos pelas feministas do século XXI.

Contudo a história contribuiu para uma maior compreensão do movimento

feminista, sua formação e sua luta refletindo seus desafios e conquistas até

nossos dias.

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Fontes:

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http://veja.abril.com.br/acervodigital/

Edição 06 – 11/09/1968 a edição 538 – 27/12/1978