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Parallel nippon

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O Sumário

A Apresentação 3

A Organização 6

Os Comentários 7

O Vídeo 29

O Impasse 31

Os Painéis 33

O País 35

As Maquetes 36

A Conclusão 37

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A Apresentação

Instalada no Instituto Tomie Otake, a mostra Parallel Nippon apresenta a arquitetura entre 1996 e 2006 sob auspícios da Fundação Japão e do Instituto de Arquitetura do Japão (AIJ), que viajam com a exposição por vários países. Um instrutivo catálogo é oferecido aos visitantes e como aluno curioso de arquitetura sou grato por isso.

Dos quatro textos na abertura do catálogo destaca-se o do professor de História da Arquitetura da Universidade de Tohoku, Taro Igarashi. Ele mostra como o Japão abandona a construção pós-modernista e descontrustivista motivado por um estranhamento diante de uma volumetria que usa o terremoto como metáfora. Realmente, a descontrução fornece, usualmente, obras estranhas, algo parecido com prédios arrebentados.

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Em outras palavras, segundo compreendi do texto, cansaram de Gehry. Dá-se o retorno ao modernismo com sua simplicidade e transparência.

Uma vez mencionada a fase “pós–bolha”, permito-me imaginar que a redução de custos na construção também tenha sido um fator importante nesta mudança projetual. Todavia, movimentos mais significativos ocorrem neste período. É normal que uma família, após passar por uma tragédia, reveja seus valores, passando a apreciar com mais cuidado as coisas simples da vida e demonstrando atenção mais detida a cada um de seus membros, com mais empatia e fraternidade. Parece ser o que ocorreu neste arquipélago, ao se analisar as construções das cidades do interior.

Tais projetos são pensados em comunidade e a preocupação com detalhes atendendo inteligentemente os usuários compõem o quadro de uma escola arquitetônica de ótima qualidade espacial. O resultado não é a arquitetura arrebatadora, com volumetria impactante, mas a arquitetura de forte cuidado

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humano e inserida num vínculo social dinâmico. Impossível não lembrar de Herman Hertzberger. A dor, em certo sentido, parece ter ministrado ao Japão, suas lições de arquitetura.

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A Organização

As 4 salas reuniam, cada uma, um ciclo, que é a mesma organização no catálogo. Até a sequência das imagens nas paredes repetiu a ordem em que se apresentam nas páginas do catálogo, numa prova de organização cuidadosa e inteligente. A mim, anotador e observador de toda a mostra, isto contribui em muito para registrar detalhes e opiniões enquanto seguia com o catálogo em mãos. O conjunto de 112 construções foi dividido em 4 ciclos que são como seguem:

Ciclo da Cidade

Ciclo da Vida

Ciclo da Cultura

Ciclo da Moradia

Registro a seguir todas as obras, com algumas informações seguidas de um comentário pessoal.

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Os Comentários

Em que pese os muitos benefícios de uma mostra deste quilate, entendo ser pertinente frisar suas fraquezas – até para que evolua. O que chamo de fraqueza não é uma falha ou insucesso da Paralell Nippon, antes é uma carência de qualquer mostra de arquitetura: a exígua capacidade de transmitir a realidade espacial das construções. Nem poderia ser de outra forma, uma vez que tal realidade só poderia ser apreendida por visitarmos as obras – e neste caso não teríamos necessidade da mostra.

Talvez no futuro tenhamos condições de apor a cada painel um pequeno vídeo em que ser apresente uma filmagem do entorno e do interior da construção, o que já seria de grande ajuda na compreensão das soluções apresentadas em cada projeto. Técnicas holográficas provavelmente avançarão neste sentido, porém desejo ressaltar o ponto chave: nós como visitantes e

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apreciadores da exposição, emitiremos sempre um parecer pobre sobre as edificações por um motivo adicional, que é nossa submissão à apreciação visual, volumétrica.

Em outras palavras, estamos propensos, como observadores, a dar um parecer rápido sobre o impacto visual da construção.

Ora, este parecer tende a ser maniqueísta (bonito-feio; agradável-opressivo; audacioso-conservador etc.) parcial e, amiúde, inócuo, pois o que de muito maior valor é o julgamento do usuário, aquele que circulou na instalação. Tal pessoa pode avaliar a ventilação, iluminação, temperatura, acústica e algo amplamente subjetivo: a sensação que o prédio confere ao usuário. Se é opressivo, descontraído, repousante, aconchegante, tedioso, triste e assim por diante.

Raramente um visitante de exposições poderá concluir com segurança uma opinião deste nível sobre a arquitetura feita alhures. Conclusão: suas observações tendem a ser frívolas e é o que imagino, aconteceu com as minhas observações registradas na tabela a seguir, de modo que é justo que me desculpe.

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Entretanto ao destacar esse aspecto da superficialidade do julgamento arquitetônico lembro que somos vítimas desta cilada diariamente em nosso curso, na faculdade de arquitetura. Professores mostram fotos de prédios e pedem-nos para analisar a obra, como se fosse possível fazê-lo. Cada vez que me vejo diante desta situação sinto que minha formação e minha experiência arquitetônica se empobrecem.

Esta explanação visa justificar a precariedade dos meus comentários, que tornam-se muito dependentes da mera visão da volumetria. Projetos que registro como de baixo impacto são aqueles que, nessa apresentação, com todas as limitações da minha análise, não consegui detectar relevância projetual. O que de nenhum modo visa desmerecer obras que, em muitos casos, certamente tem muito a ensinar caso conhecesse melhor.

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CICLO DA CIDADEO Centro e a Periferia

Criador e Criatura ComentárioNovo Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur - 1998Kisho Jurokawa Architect & Associates em Sepang, Selangor, Malásia

Perdeu-se a oportunidade de uma criação volumetria inovadora. Talvez meu ponto de vista pós Calatrava esteja mais exigente com essas mega construções. Todavia há uma elegância nas linhas estruturais formando os arcos das coberturas especialmente devido a se combinar vidros em desenho oblongo, criando um efeito de folhas gigantes e luminosas no teto.

Edifício da Estação de Kyoto da JR - 2002Hiroshi Hara + Atelier em Shimogyou-ku, Kyoto, Japão -1997

Interessante o uso do perfil das 4 escadas que se destacam com nitidez na fachada, criando um conjunto visual dinâmico. O pé direito no átrio principal é gigantesco e cria uma espacialidade empolgante.

Terminal Internacional de Passageiros Osanbashi do Porto de YokohamaFarshid Moussavi + Alejandro Zaera em Naka-ku,Yokohama-shi, província de Kanagawa, Japão – 2002

Maravilhoso projeto pensado a partir do corte onde a circulação se dá com suavidade à medida que se transpõe os níveis. Sem grande expressão na elevação é um dos raros projetos que possuem monumentalidade e beleza na planta baixa e no corte. A sinuosidade das rampas e a transposição espacial sem hierarquias destacadas são, na verdade, um poema construtivo. A arquitetura como arte, sob o mão da elegância.

Estação de Metrô IIdabashi - 2000Makoto Sei Watanabe – Architect’s Office em Bunkyo-ku, Tóquio, Japão

Não consegui notar nada além de uma fachada curiosa. Parece que os círculos ali nascem de dutos reais no sub-solo. Não pude averiguar como e se isto de fato se dá.

Centro de Convenções Toki Messe Niigata – Edifício Bandaijima - 2003Fumihiko Maki – Kajima Design em Niigata-shi, província de Niigata, Japão

Baixo impacto. Pouco acrescentou em termos visuais e volumétricos.

Big Palette Fukushima – Pavilhão das Indústrias da Província de Fukushima - 1998Atsushi Kitagawara Architects em Koniyama-shi,

Modernista, por excelência: vidros, pilotis e fachada sinuosa.

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Fukushima, Japão Pavilhão Japonês, Expo 2000, Hannover - 2000Shigeru Ban Architects em Hannover, Alemanha

Talvez a mais bela construção do senhor Ban. Somando-se à isso a ousadia em apresentar um novo elemento estrutural plenamente adaptado ao hodierno requisito da sustentabilidade, cumpre frisar a volumetria do grande casulo que surge com cor e transparência inéditos.

Restam-nos apenas duas atitudes: aplaudir e aprender. Obrigado, Ban Sam.Pavilhão do Grupo Toyota, Expo 2005, Aichi- 2005Mikan Gumi – Aichi-Gun em Província de Aichi

Alumínio encaixado sem parafusos, pela força do atrito. Volume cilíndrico. Construção desmontada após exposição focou a reciclagem e sustentabilidade.

Roppongi Hills - 2003Mori Building Co. + Irie Miyake Architects & Engineer em Tóquio

Baixo impacto. Lembra Dubai, mas sem empolgação.

Omotesando Hills - 2006Tadao Ando Architect & Associates + Mori Building Co., Ltd. + Design Entity em Shibuya-ku, Tóquio, Japão

Senti desprezo pela oportunidade de construir uma fachada mais coerente e menos tediosa. O triângulo poderia ser usado de forma mais criativa.

Bom resultado na qualidade espacial interior, que é outra face importante do trabalho criativo e aquele que vai afetar a circulação e a qualidade de usufruto da construção. Porém, de forma geral, desapontou. Não detectei qualquer acréscimo inovador.

Edifício Marundochi - 2002Mistsubishi Jisho Sekkei Inc. em Chiyoda-ku, Tóquio, Japão

Baixo impacto. Imponente e frio. Nada acolhedor – em que pese ser esse um grande desafio em prédios tão altos.

Edifício Sede da Dentsu - 2002Obayashi Corporation + Atelier Jean Nouvel + The Jerde Partner Ship International Inc. em Minato-ku, Tóquio

Sinuoso. Lembrou o Copan.

Escritório Central de Tóquio da Takenaka Corporation - 2004Takenaka Corporation em Kouto-ku, Tóquio, Japão

Impressionou pelo uso da cor e da transparência interna

Edifício da Nikken Sekkey Tokyo - 2003Nikken Sekkei Ltd. em Chiyoda-ku, Tóquio, Japão

Moderna, mas pobre.

Museu de Tianjin – 2004 Parece ter sido pensado para ser visto à luz noturna. Planta e adequação à topografia excelentes,

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Kawaguchi and Engineers + Shin Takamatsu Architect and Associates em Tianjin, China

revelando maestria na implantação. Aparente ter ótima articulação.

Jian Wai Soho - 2004-2007Plano diretor: Riken Yamamoto & Field Shop - Fases 1 e 2: Riken Yamamoto & Field Shop; Akamatsu – C + A; Mikan Gumi. Fase 3: Riken Yamamoto & Field Shop e outros em Beijing, China,

Baixo impacto. Conjunto muito quadriculado, mas digno de ser estudado com mais cuidado.

Ukawa Termas Spa Yoshono no Sato -2001Atelier Zo em Kyotango-shi, Kioto, Japão

Baixo impacto: volume sem delicadeza.

Umi Tsubaki Hayama - 1999Yoshiji Takehara + Moo Architect Workshop em Shirahama-cho, Província de Wakayama, Japão

Preocupação interessante do arquiteto: buscar variações na textura da madeira. Interessante solução de iluminação zenital.

Louis Vuitton Nagoya - 1999Jun Aoki & Associates em Nagoya-shi, Província de Aichi, Japão

Relata-se um belo efeito dinâmico visual à medida que se caminha diante da fachada. Na exposição, pelas fotos, não pudemos conferir. Podemos apenas imaginar o desafio de se criar soluções interessantes para marcas de alto luxo: inovação e qualidade devem ser primordiais e pelo que vi, tem faltado criatividade.

Louis Vuitton Kochi - 2003Office of Kumiko Inui em Kochi-shi, província de Kochi, Japão

Baixo impacto, merecendo um exame posterior mais atento.

Maison Hermés - 2002Renzo Piano Building Workshop + Rena Dumas Architecture Interiéure + Arup + Takenaka Corporation em Chou-ku, Tóquio, Japão

Este prédio aparece em diversas publicações de arquitetura. Ainda aguardo entender o porquê. Parece que o diferencial se deve à iluminação noturna, quando os blocos de vidro conferem qualidade visual interessante.

Poderia pelo menos oferecer um jogo de cores diferente. Todavia, à luz do dia, em nada difere de um espigão ortogonal conservador e tedioso. Era esta a imagem que o grupo queria passar? Quando um arquiteto famoso assina um projeto fraco, seus fãs parecem ter dificuldades em ver essa realidade – que é típica dos humanos, afinal ninguém é gênio por tempo integral.

Prada Boutique Aoyama - 2003Herzog & De Meuron + Takenaka Corporation em Minato-ku, Tóquio, Japão

Esses meninos sempre conseguem surpreender. Esta fachada é tão interessante,movimentada, luminosa, instigante e inovadora que foi a imagem principal da exposição, aparecendo nos prospectos e cartazes principais da Parallel Nippon. O que é realmente surpreendente, pois podemos discutir até que ponto tratamos aqui de arquitetura

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japonesa genuína. Resta conferir se o efeito obtido pode ser replicado facilmente ou é tão caro que não fará escola.

Sede Distrital de Meguro - 2003 Reforma da antiga sede da Chiyoda Seimei. Projeto original: Murano, Mori Architects. Projeto da reforma: Yasui Architects & Engineers em Meguro-ku, Tóquio, Japão

Baixo impacto, merecendo exame posterior. É um exemplo de “conversão”: obra mudou de uso e precisou ser readaptada.

Centro de Intercâmbio Multigeração da Cidade de Yame - 2001Shigeru Aoki Architect & Associates em Yame-shi, província de Fukuoka, Japão

Ponto positivo: reuso da construção, em oposição à tendência japonesa de reconstruir constantemente, gerando desperdício. O visual aparenta um imitação contida de Frank Gelry, mas ganha personalidade quando se compreende o jogo com as 3 folhas principais da fachada. O desencontro dos vértices permite uma iluminação interna de alta qualidade: alta sem tornar-se opressiva.

Art Plaza (Pavilhão Arata Isozaki) - 1997Arata Isozaki & Associates + Yamamoto Architectural Design Lab. Em Oita-shi, província de Oita, Japão

Baixo impacto, mas com interessante jogo de rampas na fachada.

Edifício da Antiga Aduana de Moji - 1994Hidetoshi Ohno + A P L em Kitakyshu-shi, província de Fukuoka, Japão

Um raro exemplo de visual retro: prédio feito em 1911 teve seu visual restaurado para fins turísticos e o resultado é interessantíssimo conferindo uma face britânica ao bairro.

Arte Piazza Bibai – 1992 - 2006Kan Yasuda em Bibai-shi, província de Hokkaido, Japão

Belíssimo projeto: levou 15 anos para ser feito mas é absolutamente original. Destaco o uso da topografia, tendo o arquiteto aceitado os desníveis como parceiros e não como inimigos. Mobiliário original e excelente relação da criança com o espaço e com as peças, envolvendo relação com a água, o solo e tudo o mais a seu redor.

Valeo Unisia TransmissionsNloriaki Okabe Architeture NetworkAtsugi-shi, província de kanagawa, Japão - 2000

Baixo impacto, mas luz zenital interessante.

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CICLO DA VIDAdo Nascimento ao Funeral

Criador e Criatura ComentárioEscola Infantil Shirokane - 2000Mitsuhiro Suda + Suda Architects em Minato-ku, Tóquio, Japão

A excelência deste projeto não reside na volumetria, em que pese o belo jogo com as janelas que, simples e quadradas, ganharam uma moldura que as projeta um pouco além do limite da fachada, criando um belo jogo de luz e sombras dando movimento de modo que com a mudança da posição da luz do sol sempre surge uma nova volumetria. Todavia é no mobiliário que se nota a inteligência projetual. Desníveis, painéis que se prolongam, paredes que se abrem, degraus que se misturam com prateleiras, enfim tudo foi pensado em provocar a criança a tentar novas descobertas. O resultado disso é riquíssimo: os infantes não apenas vêem a arquitetura: eles brincam com ela. O prédio lhes será parte de sua experiência espacial com tudo que está envolvido nisso em uma escola infantil. Nunca será um local onde a criança entrará com salvaguardas, do tipo cuidado aqui, não chegue até ali. Ao contrário: é um prédio que chama, convoca os pequenos, aceitando-os, dando-lhe liberdade – o que não deixa de ser um forma de respeito aos pequenos seres humanos. Ver este trabalho me fez lembrar Hermann Hertezberger e suas Lições de Arquitetura, onde ele aponta para as grandes qualidades espaciais em coisas simples como um cubo no meio de um pátio e coisas assim. Pensar nos resultados positivos e nas implicações deste tipo de arquitetura requer mais espaço do que seria justo usar aqui. Todavia é justo registrar a forte impressão que nos dá ver um projeto pensado na escala da criança. Escala no sentido espacial e psicológico. A escola Shirokane é um daqueles projetos que dá prazer em ver, pois significa aprender e crescer.

Jardim da Infância de Yatsushiro - 2001Mikan Gumi em Yatsushiro-shi, província de Jumamoto, Japão

“Em vez de buscar um local funcional, pretendia criar uma situação”. Pergunto: será que somos vítimas da obsessão pelo funcional e perdemos a chance de criar espaços provocativos? Tal parece ser o paradoxo dos que lidam com projetos ergonômicos – é tolo buscar a maçaneta mais funcional, num esforço de adaptar o objeto à mão, já que a mão se adapta ao objeto. O valor na relação espaço-corpo transcende a função. Manipular isso é um belo e grande desafio para o arquiteto.

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Escola da Luz - Escola Para Deficientes Físicos de Koriyama da Província de Fukushima - 2001Kazuo Watanabe + Yui Architects and Planner em Koriyama-shi, provincial de Fukushima, Japão

Muito bom: a busca do acesso universal.

Kaze no Wa - Circulo de Vento – 2003 Jun Igarashi Architects em Tokoro-cho, província de Hokkaido, Japão

Lembra o Teatro de Arena: linear e com visão vertical. Parece haver uma sequencia de rampas conduzindo o usuário aos diversos níveis com facilidade. No piso mais alto tem-se uma boa visão de vários setores.

Escola Municipal Fundamental de Hakata e Centro Comunitário de Naraya - 2001Kazumi Kudo + Hiroshi Horiba + Coelacanth K&H Architects Inc. em Hirata-ku, Fukuoka-shi, província de Fukuoka, Japão

Projeto vencedor de concurso e inserido num conjunto multifuncional, o projeto Euralille. Buscou-se um espaço verdadeiramente escolar. Nota-se o cuidado em permitir às crianças diversas experiências espaciais. Exemplo a ser estudado diante de demanda que envolva crianças.

Escola Internacional Fundamental de Lille - 1996Shinobu Akahori + Michelle DuperierJean Christophe Leriche em Lille, França

Do catálogo: “Criar terraços e balcões na face voltada para o pátio, com a finalidade de assegurar o contato com o entorno e o espírito comunitário”. Ótimo, mas pergunto: tem a arquitetura esse poder? Quero crer que sim, ainda que limitado.

Colégio das Artes Liberais e Ciência - 2004Kaxuhiro Kojima + Kazuko Akamtsu – Cat. Plano direotr: Arata Isozak + i-Net em Doha, Qatar

Interessante jogo de luz via painéis na fachada, todavia se a referência dos recortes era a cultura árabe, a proposta é pobre. A riqueza no desenho e cálculo árabe merecia algo mais que simples florezinhas repetidas à exaustão.

Buddha Escola Fundamental e Colegial - 2003 Asian Architecture Friendship (AAF) em Philim, Sirdibas, Gorkha, Nepal

Feito por arquitetos voluntários da AAF. Grande beleza na implantação: numa grande área erma, no alto da montanha, o prédio faz curvas imitando as curvas de níveis do entorno. Não se vê nada ao redor da escola: rua, casas ou comércio. Ermo, como são os lugares das aventuras. E a condição privilegiada deste lote tão aberto foi belamente aproveitada. Curiosidade: salas de aula com chão de terra batida. Obra feita de madeira e pedra, com insolação excelente vinda de aberturas no teto. É o tipo de construção que ensina muito.

Glass House (Casa de Vidro) - 1998Ken Yokogawa Architect & Associates Inc. em Tsuyama-shi, provincial de Okayama, Japão

Efeito cinematográfico, espetacular: o grande casulo transparente, parecendo se mover na vegetação. Grande desafio em conforto ambiental devido ao inverno rigoroso.

Ginásio de Artes Marciais do Colégio Chugei da Província de Kochi - 1995Hisami Yamamoto & Associates em Aki-gun, província de Kochi, Japão

Simplicidade e austeridade com boa utilização da estrutura em madeira nas tesouras do teto. Ciprestes manipulados para vencer o vão de 15 metros. Projeto bastante sóbrio, mas com boa solução de luz zenital e excelente estudo estrutural fazendo a madeira descrever uma curva e atingir

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um grande vão livre. A luz obtida de dia é muito generosa. Parabéns.Estádio de Miyagi - 2000Shoichi Hariu + Hitoshi Abe + Hariu Abe Collaborative Atelier em Rifu-cho, província de Miyagi, Japão

“Situa-se na encosta do morro (e) a grande cobertura de arcos chumbados e as linhas de movimento parecem ser prolongamentos naturais das curvas do morro. A volumetria fundindo-se à paisagem.” É justo acrescentar: é lindo! Simples, sinuoso, nascido do corte. É, também, ímpar, logo, inovador.

Centro Florestal de Tomochi – 2004Taira Nishizawa Architects em Tomochi-machi, província de Kumamoto, Japão

Estranho. Um cubo de vidro envolve uma estrutura de madeira. As duas peças, a meu ver, não dialogam entre si. Parece que a preocupação foi destacar a visão de dentro para fora, ou seja, valorizar a paisagem. É feio e o jogo volumétrico parece inútil. Sofre o risco de todo projeto híbrido: patinar sem obter uma personalidade definida. Todavia, belo efeito noturno, sem dúvida.

Universidade da Província de Saitama - 1999Riken Yamamoto & Field Shop em Koshigaya-shi, província deSaitama, Japão

Com um programa difícil, abrigar 1000 alunos num prédio de faculdade, o projeto pensou fortemente na circulação e fluidez entre os departamentos. Merece um detido estudo nas plantas e e articulação, mas a volumetria não se destaca.

Pavilhão de Campanella da Tsuru Gakuen Campus de Yachiyo -2000Toru Murakami Architect & Associates em Akitakata-shi, Hiroshima, Japão

Arquitetura poética no mais elevado grau! Uma laje limpa, quase 100%, como Niemeyer adora. A laje se torna marquise em curvas implantada com amplidão. Os alunos de EAD que vez por outra comparecem ali devem lamentar, imagino, não retornar mais vezes. Pequeno, mas de ótimo diálogo com a paisagem exuberante que o circunda.

Laboratório de Ciência de Materiais da Universidade de Nagóia - 2003Iida acrhiship Studio em Chigusa-ku, Nagoya-shi, provincial de Aichi, Japão

Bom resultado nos cubos na fachada se projetando em relevo e um maior recuando do nível geral da frente. Há 5 varandas em balanço apoiadas por estais, envidraçadas e negras, delgadas, interessantíssimas.

Mita Bloco Sul da Universidade de Keio – 2005Taisei Corporation + Michel Desvignie Paysagiste + DPLG + Kengo Kuma & Associates em Minato-ku, Tóquio, Japão

Belo terraço e interligação com o prédio principal favorecido pelo uso do vidro, conseguindo luz, muita luz.

Hospital Público Integrado de Katta, 2002Taro Ashihara Architects + Koh Kitayama + Architecture Workshop + Hideo Horiike + Associates em Shiroishi-shi, provincial de Miyagi, Japão

Luz interior bem resolvida, pé-direito generoso e pilotis.

Centro de Tratamento Residencial para Crianças com Distúrbios Emocionais - 2006Sou Fujimoto Arhitects em Date-shi, província de Hokkaido, Japão

Quão desafiador entregar algo de qualidade para um prédio com tal função! Aqui há um jogo duplo e paradoxal com bons resultados: de fora tem –se a impressão de várias moradias agrupadas, semelhantes à um conjunto habitacional. Internamente: amplos espaços abertos, facilitando a

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visualização e circulação, porém cada nicho, cada espaço especializado, contém ambientação próxima de uma casa e não de uma clínica.

Nanohan-kan (Centro Comunitário para Terceira Idade de Kagoshima) - 1998Takasaki Masaharu Architects em Ibusuki-shi, província de Kagoshima, Japão

Lembra prédios do cenário de filmes de monstros japoneses. Uso excessivo de escadas, tendo em vista ser feito para idosos. Estranho, assustador, frio. Por que tanto metal nas fachada?

Hirata Town Center - 2002Yuzuru Tominaga + Formsystem Institute em Sakata-shi, província de Yamagata, Japão

Privilegiou a vista do entorno, mas parece ter exagerado no espaço, que poderia se menor e com mais qualidade. Parece carecer de articulação entre os espaços.

Crematório Urizura de Naka - 2001Jume Sekkei + Yoshihiko Kuwahara + Katsuyuki Ueda + Akihiko Ito em Naka-machi, Ibaraki, Japão

Foco é a visão do lago.

Rooftecture C - (Crematório de Tsukushi no Oka) - 2002Shuhei Endo Architecture Institute em Taishi-cho, província de Hyogo, Japão

Feio. Nada acolhedor, parecendo um galpão fabril.

Cemitério de Kamamura – 2002Y. Ikehara Architect & Associates em Kamakura-shi, província de Kanagawa, Japão

O conceito de túmulo e visitação coletivos é algo estranho. Racional, mas estranho visto que as religiões tendem a adorar os antepassados e as famílias gostam de alimentar esse ritual em diversas religiões. Pode ser uma solução econômica e política, mas duvido que a elite financeira abrirá mão da tradição do túmulo individual. Muito significativo nesta planta é a condução do usuário por um caminho sem opções, direto para o saguão principal.

Crematório Kaze no Oka - 1997Maki and Associates em Nakatsu-shi, província de Oita, Japão

Uso deliberado do cenário: parecido com um gigantesco relógio do sol. De modo geral os projetos de cemitérios apresentados falham como resposta inovadora à uma demanda histórica. A busca do cenário, a contemplação e o vazio são parâmetros velhos para este programa. Sinto falta de uma preocupação com o visitante no sentido de valorizar o aconchego, de se criar espaços para o pranto, para a oração, onde os parentes possam se confraternizar, mas alguém possa também lidar com sua dor em solidão, porém abrigado. As tentativas acima vistas arremedam os cemitérios parques que olham para o cenário e não para o enlutado. Toda essa nulidade construtiva, esse escamoteamento do prédio me cheira à uma fuga da necessidade maior: o trato com os vivos. Essa espacialidade que tenta trazer paz, eu vejo como algo tétrico e que ressalta o abandono. Penso que o enlutado merece algo além disso.

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Não proponho um cemitério festivo, por inoportuno, mas algo que fuja desta insistente ação cenográfica. Há uma assepcia hospitalar nestas construções e isto me incomoda sobremaneira. Uma assepcia no sentido comportamental, social, não física.

Usando uma analogia: é como o costume tolo de usar óculos escuros nos funerais. Uma máscara ambígua, pois pode-se estar com os olhos limpos e de óculos, dando a falsa impressão que se está sofrendo. Melhor seria aparecer de rosto limpo, permitindo se expor com autenticidade, quer sob forte emoção, quer não. Retornando ao programa: pensemos em alguém que visite estes cemitérios e repentinamente caia em prantos. Desta situação deve nascer o projeto.

Igreja Yukarigaoka + Centro Infantil Hiraki no Ko da United Church of Christ in Japan - 2000Makoto Shin Watanabe & Yoko KinoshitaAdh Architects em Sakura-shi, Chiba, Japão

Feio e sem harmonia. Estranho pequeno espaço para a assistência.

Igreja St. Ignatius - 1999Sakakura Associates Architects & Engineers em Chiyoda-ku, Tóquio, Japão

Moderna com planta redonda: volumetria tediosa. Parede externa, muito grande de tijolinhos, é opressiva. O teto em flor é espalhafatoso e em nada combinando com seu exterior.

White Temple (Templo Branco) - 2000Takashi Yamagushi & Associates em Sonobe-cho, Kyoto, Japão

Espetacular efeito no cenário. O cubo branco, a singularidade, a despretensão, algo que beira a ausência do desejo – nada mais budista, não é verdade?

O prédio é um cubo branco, retangular, em balanço. Apesar da simplicidade genial, arrisco-me a dizer que o jogo visual se dá com tal envolvimento com o parque circundante que a obra não permaneceria a mesma caso não estivesse ali. O contraponto do verde e do branco resultam neste primor de volumetria. São coisas assim que nos recompensam por estudarmos arquitetura.

Templo Kannonji - 1996Osamu Ishiyama Laboratory da Universidade de Waseda em Shijnuku-ku, Tóquio, Japão

Provocativo, tem aquela singularidade provocativa dos descontrutivistas. Se os que vão ao templo buscam respostas, esta volumetria já lhes acrescenta diversas novas perguntas – com certeza. A mim pareceu esquizofrênico e irritante.

O país já tem seus terremotos... Não necessita dos arquitetos lhe acrescentarem novos desastres.

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Escritório Central do Santuário Meiji JIngu (Syamusho) - 2002Shimizu Corporation em Shibuya-ku, Tóquio, Japão

Interessante iluminação no teto. Resgata o telhado pagode japonês que se assenta sobre um volume único e grandioso.

Templo Budista Kuhonji: Portão, Ossário e Oratório Principal - 2003Furuichi & Associates + Tomo House em Sasebo-shi, província de Nagasaki, Japão

Feio, muito feio. O arquiteto desdenha o entorno. Muito concreto e brutalismo, insólito no local. Aqui parece se repetir aquele fenômeno católico da contra-reforma de se construir para ostentação. Triste é ver que avançando num modernismo exacerbado, algumas construções japonesas parecem ignorar sua cultura, tradição e propostas arquitetônicas valorosas. Este prédio poderia ser feito em qualquer cidade do mundo, pois ensimesmado ele ignora terreno, bairro, tudo. Todavia, cria uma ambientação toda particular assim que adentra nele pelo exuberante portão quadriculado.

Memorial Nacional da Paz de Hiroshima para Vítimas da Bomba Atômica - 2002Secretaria de Desenvolvimento Regional de ChugokuMinistério da Terra e dos Transportes + Kenzo Tange Associates em Naka-ku, Hiroshima-shi, provincia de Hiroshima, Japão

Grande, parece estar se fazendo ao poucos, a cada ano se acrescentando algo. Simetria, monumentalidade, sentido axial, tudo que se espera de um espaço público solene. Nada novo. Decepcionante, chato, tedioso. Justo na terra do design surge esta grande peça ortogonal e cartesiana. Hausman, na velha França, adoraria.

Memorial da pás de Nagazaki para Vítimas da Bomba Atômica - 2003Secret. de Desenv. Reg. de Kyushu + Minist. da Terra e dos Transportes + Kiryu Archtect & Associates em Nagasaki-shi, Nagasaki, Japão

Especialmente pensado no cenário noturno. Espelho d’água e dezenas de lâmpadas neste espelho compondo um jogo inquietante, perturbador. Seria cada ponto luminoso a lembrança de uma vida eliminada? O reflexo do prédio retangular, como quadro branco luminoso, uma ilustração do porvir ou do que se perdeu? Parabéns. Um tema provocativo obteve uma resposta à altura.

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CICLO DA CULTURAO Meio Ambiente, a Informação e as Artes

Criador e Criatura ComentárioCentro Cultural Hanamidori do Parque Nacional Memorial de Showa - 2005Projeto principal: Masakazu Suzuki + Momoyo Kaijima. Projeto Arquitetônico: Ito + Kuwahara + Kanebako + Kankyo Engineering + Hanamidori Cultural Center Design Team + Atelier Bow-Wow em Tchikawa-shi, Tóquio, Japão

Rampas e acessos, caminhos conjugados com lajes de cobertura. Passa-se de uma cota para outra suavemente num prédio pensado à partir da topografia e do corte.

Museu de Plantas e Povos Makino – 1999Hiroshi Naito + Naito Architect & Associates em Kochi-shi, província de Kochi, Japão

Cabos reforçam o apoio estrutural na construção que dialoga com o relevo. Implantação suave e respeitosa com o sítio.

Museu Echigo-Matsunoyama de Ciência Natural “Kyororo” - 2003Takaharu + Yui Tezuka + Masahiro Ikeda + Mahiro Ikeda Co., Ltd. + Tecnologia Musashi em Tokamachi-shi, província de Niigata, Japão

Ferro bruto jogado no meio do verde. A textura da ferrugem é que dará o tom da fachada, usando o tempo e desgaste como elemento de revestimento. Estranho, indelicado, há uma violência e agressividade nesta composição. Todavia, se o rompante tem seu lugar na literatura e na vida, talvez possa ter um lugar digno na arquitetura. Talvez.

Centro de Orientação da Katsuyamate Medieval Fort Site -2004 - Instituto de Planejamento Para Preservação de Bens Culturais + Hirose Laboratory em Kaminokuni-cho, província de Hokkaido, Japão

Baixo impacto. A parte nobre é o jogo cênico na manipulação da luz em diversos nuances dentro do espaço.

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Parque Moerenuma - 2005Plano diretor: Isamu Noguchi. Supervisão: Isamu Noguchi Foundation. Projeto executivo: Architect 5 Partnership. Paisagismo: Kitaba Landscape Planning em Sapporo-shi, provincial de Hokkaido,

Amplo espaço aberto. O prédio propriamente dito pouco apareceu nas imagens, mas somos informados que foi feito há 70 anos por Isamu Noguchi. Esta preservação não é comum no Japão pelo que a mostra nos informa.

Helsinki 2000 Art Garden - 2000Supervisão: Tadayasu Sakai. Instalação: Masafumi Maita. Kimio Tschiya + Masaaki Nishi + Kazuo Makioka em Helsinque, Finlândia

Os desfiles de alta costura apresentam peças radicais e berrantes que raramente tem uso no mundo real. São elementos de vanguarda testando os limites da industria e da criatividade desdenhando o senso comum. Tal parece ser a função desta mostra de design paisagístico finlandesa. Exceto o trabalho com bambu que possui beleza plástica de fácil constatação quando usa as hastes para compor grandes leques e formas cônicas, as demais experimentações exigem forte abstração e imaginação para convencerem o espectador mediano de seu valor estético.

Exemplo: grelhas de armações metálicas, em forma de cilindro, com aproximadamente 3 metros de altura são recheadas de pedras claras quebradas até seu limite, sendo que algumas delas caem para fora da armação. Enxergar nisto uma referência à árvore é ofender o reino vegetal.

Naturalmente conhecemos bem os jardins de pedra feitos sob princípio zen. Seria impróprio julgarmos aqui os parâmetros estéticos desta tradição minimalista e árida. Mas valorizar um monturo de pedras e os comparar à elegância lírica de uma planta é algo que está além da minha compreensão.

Instalar um paredão de ferro num cenário e encontrar motivos para contemplação é outro desafio ante o qual capitulo de antemão. Conclusão: este evento internacional é um tipo de alta costura dos paisagistas. Toleramo-lo, pois o homem culto busca a coexistência. Entretanto, eu fico com o pret-a-porté.

Galeria de Tesouro do Templo Horyuji - Museu Nacional de Tóquio - 1999Taniguchi and Associates em Taito-ku, Tóquio, Japão

Repetição de volumetria aplicada a diversas construções, inclusive à sede do Itamaraty, de Niemeyer, aqui o arquiteto sai-se bem na leveza das paredes e cobertura.

Elegante, altivo, dramático, enfim um cenário, um palco que fortemente produz sensações no visitante. O efeito delgado conseguido na parede externa é maravilhoso. Esta parede está solta e apenas cobre o bloco principal, sem encostar nele.

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Museu de Arte Contemporânea do Século 21 de Kanazawa – 2004Kazuio Sejima + Ryue Nishizawa – Sanaa em Kanazawa-shi, província de Ishikawa, Japão

Sou fascinado por essa obra. Mesmo sofrendo a influência dos cubos brancos e suas limitações volumétricas, este museu consegue impactar pela inovação e pela audácia. Impressiona-me, sobretudo, a harmonia com o entorno: a preservação do horizonte. Em momento algum ele se eleva além das árvores que o circundam, o que caracteriza uma implantação modesta. Modéstia, aqui, tem o sentido de cuidado, respeito. Um prédio que respeita o horizonte. Isto é bastante incomum. Com todo respeito aos grandes mestres, pense em como ficaria o cenário caso Niemeyer ou Gelhri o assinassem. Isto deve ilustrar o que tento dizer: o museu de Kanazawa é uma obra modesta, como o são aquelas pessoas de cabedal que ficam caladas boa parte do tempo e que ao falar transmitem sabedoria. Impossível ignorá-las, não é verdade?

Outra qualidade que gosto de destacar é a ausência de hierarquia e a circulação como labirinto. O resultado disto é provocar o usuário, resultando num prédio inquieto, ou seja, uma construção que não se entrega rapidamente à compreensão e que ao não dirigir o visitante exige dele o pensamento enquanto escolhe a entrada e as direções lá dentro. Gosto de imaginar que um museu assim é farto nas opções de espaços interessantes. Penso em um rapaz que para impressionar sua namorada a leve à um canto de exposição pouco conhecido e ao qual ele chega com facilidade, demonstrando conhecer o museu como ela não imaginava. Isto não se dá nos museus ortogonais e recheados de placas indicativas.

Em outras palavras: o museu de Kanazawa é rico na variedade de descobertas que podem ser feitas em seu espaço. Profissionais, amantes, alunos e desocupados: cada um vai construir seu roteiro preferido. Dificilmente alguém atribuirá ao museu o ônus do tédio. A piscina falsa é outro elemento precioso que me retenho de comentar para não prolongar em excesso esta nota. Quanta complexidade há nesta brincadeira do falso afogamento! Todavia, nunca entendi a figura humana que fica no telhado, como um arauto hollywoodiano chamando a si os olhares. Mas tudo bem. Aprendi a perdoar aos gênios os seus deslizes. Basta que sejam geniais, servindo-nos com a excelência e a vanguarda. Poupo-lhes da premissa de perfeição.

Museu de Arte Moderna de Fort Worth - 2002Tadao Ando Architect & Associates

Exo-estrutura com forma de Y ladeando o prédio. O jogo de paredes e aberturas controla o olhar do

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Kendall + Heaton Associates em Fort Worth, Texas, EUA

usuário e o dirige para o corpo dágua. Não é tão impactante mas o conjunto esguio de colunas confere elegância ao conjunto de volumes.

Museu de Arte Hiroshige de Nakagawa-Machi Bato - 2000Kengo Kuma & Associates em Bato, Nakagawa-machi, província de Tochigi , Japão

Conforme o catálogo: “O contraste definido de luz e sombra ocorre puçás vezes, pois o espaço interior produzido é preenchido por luzes macias.”

Muito interessante a busca e a apresentação dessas luzes macias. Muito instrutivo.Museu Akino Fuku - 1997Terunobu Fujimori + Yoshio Uchida (Shusakusha) em Hamamatsu-shi, província de Shizuoka, Japão

Medieval, românico. Ousado por romper os parâmetros repetidos do modernismo: concreto, excesso de branco, espelho d’águas etc. Mas não seduz – exceto aos medievalistas. O interior é muito mais interessante.

Museu de a Arte de Aomori - 2006Jun Aoki & Asssociates em Aomori-shi, província deAomori, Japão

“Foi estudada a possibilidade de usar valas de terra como salas de exposição, e a proposta foi trazer para dentro do museu a vala de terra batida, levando adiante a concepção de criar um espaço para exposição que somente aqui seria possível e poderia ser conhecido.” Excelente! Mas é prático? Minha dúvida vem do uso constante do espaço por visitantes, que penso eu, afetaria a terra exposta exigindo constante cuidado. Caso funcione no dia-a-dia das exposições torna-se uma proposta muito a ver com a realidade brasileira. Vale conferir.

Museu de Arte Pola - 2002Nikken Sekkei Ltd em Hakone-machi, província de Kanagawa, Japão

Bela e suave implantação que se eleva a apenas 8 metros do solo, crescendo para baixo, pelo uso intenso do subolo escavado. Resultado: um grande prédio que à primeira vista se tem por reduzido. Lina Bo Bardi fez um jogo similar de escamoteamento no Masp e até hoje o volume retangular que representa a volumetria do museu é apenas uma parte do verdadeiro espaço construído. Aqui o jogo se repete sem o hiato que temos no museu paulista, porém com resultado maravilhoso.

O clima não permite grandes espaços abertos mas o arquiteto propõe uma abertura luminosa em cruz que gera um lobby interno bastante rico ao receber o sol e a variação de sua luz. Este pensamento modesto que repudia a arquitetura do espetáculo obtém, como paga, a qualidade cenográfica do bosque ao redor. A natureza cresce ao ser tratada com respeito e honra e devolve ao prédio o foco do observador num jogo de maestria arquitetônica. Resta aplaudir e aprender que o corte e o estratégia topográfica tem muito a dar aos que sabem manejá-las.

Museu de Arte Tomihiro - 2005 Original? Sim, mas não esperava ver isto neste sítio com tão belo entorno. Estaria bem implantado em

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AAT + Makoto Yokomizo, Architects em Midori-shi, província de Gunma, Japão

algum subúrbio industrial alemão. Não aqui. O abuso do círculo nos leva a perguntar o que fazer com aquelas áreas perdidas onde as curvas se tangenciam, pois há várias delas.É um croqui instigante, não há dúvidas. Remete às pedaladas do Robinho, que são magistrais, porém inócuas quando não resultam em gol.

Museu Bianimale Nomadic - 2005Shigeru Ban Architects em Nova York, EUA - 2005

O senhor Ban é um professor superlativo: tudo que projeta torna-se uma aula. Aqui temos uma grande aula de sustentabilidade, praticidade, ousadia. Uma aula um tanto monótona e desapaixonada, é verdade. Mas uma aula de qualidade.

Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) - 2004Taniguchi & Associates em Nova York, EUA

Aqui um raro momento em que só os mais refinados e sutis arquitetos conseguem atingir. Aquele momento em que se produz maravilhas pelo que não se construiu. Ah, a preciosa capacidade de respirar! Ah, a perspicácia de obter um céu mais amplo em Manhattan! Quantos de nós seriam capazes disso?

Novo Teatro Nacional de Tóquio - 1997Takahiko Yanagisawa + Tak Architects Inc. em Shibuya-ku, Tóquio, Japão

Sem volumetria única, limpa. Sem hierarquia. Provavelmente mais interessante na articulação interna do que as poucas imagens permitiram ver.

Centro Comunitáriode Reihoku - 2002Hitoshi Abe + Yasuaki Onoda + Atelier Hitoshi Abe em Reihoku-machi, província de Kumamoto, Japão

O destaque fica por conta da volumetria em movimento nas paredes que seguem contínuas, na fachada ganhando inclinação à medida que se aproximam da entrada principal. Belo trabalho resultando num cenário singular, uma vez que lida com um lote de grandes dimensões.

Pavilhão Centenário de Nara - 1998Arata Isozaki & Associates em Nara-shi, província de Nara, Japão

Curva clotoide. Seja lá o que isso for...

Centro Comunitário de Arte e Cultura da Cidade de Niigata - 1998Itsuko Hasegawa Atelier em Niigata-shi, província de Niigata, Japão

O catálogo fala de: “Jardim suspenso, suportado pela estrutura em forma de árvore, flutua no mesmo nível do saguão e de outras dependências e está interligado por uma ponte aérea a fim de permitir a circulação. A junção do edifício à paisagem, formando um só corpo, originou um espaço público inteiro que flutua.” Não consegui ver nada disso pelas fotos. Mas amei os círculos de luz no jardim. Um belo show noturno.

Estúdio de Cerâmica Mirasaka - 2000Hideki Yoshimatsu + Archipro Architects em Miyoshi-shi, província de Hiroshima, Japão

Baixo impacto. Feinho. Ponto alto: uso da palavra ceramica como elemento decorativo.

Wakanoura Art Cube - 2003Taketo Shimohigoshi – AAE em Wakayama-shi,

Baixo impacto. Mas interessante as células de trabalho para os jovens artistas, espalhadas no espaço.

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província de Wakayama, JapãoIzumi Village Center (Centro da Vila Izumi) - 1997Koji Takeda & Associates + Rogos Archtect & Partners em Izumi-machi, província de Kunamoto, Japão

Um belo jogo visual: volume curvo e telhado de uma água. Forte, incisivo, simples. Excelente.

Museu do Folclore de Kamiyubetsu– 1996Toyokazu Watanabe Architecture Studio em Kmiyubestu-cho, província de Hokkaido, Japão

O que é isso? Homenagem ao catolicismo num país do extremo Oriente, que não é a Filipinas? Para que essas torres medievais? E esse átrio com estruturas se deformando? Por quê? Aqui temos a negação da escola japonesa que prima pelo simples, pelo respeito à circulação e pela modéstia. Aquela modéstia que leva o arquiteto a pensar no usuário e não em criar modelos extravagantes a fim de atrair a si os holofotes. O senhor Watanabe pode fazer melhor. Queremos crer que sim.

Revesible Destiny Lofts Mitaka: In Memory of Helen Keller - 2005Arakawa + Gins With Yasui Architects and Engineers, Inc.Em Mitaka-shi, Tóquio, Japão - 2005

Cor, formas! Tudo inusitado. Os velhinhos vão ficar agitados. Parabéns! Um projeto que olha para a vida, não para a despedida. Provoca o encontro, não o adeus. É um caso raro em que o arquiteto se liberta da ditadura da funcionalidade. A obsessão aqui parece ser o estar feliz. Merece um prêmio, não acha?

Centro de Cultura Agrária da Terra das Neves Matsudai, “No Butai” (Palco Rural) - 2003MVRDV Super + OS Architectss Office Clip em Matsudai-machi, província de Niigata, Japão

O ponto de café está suspenso em um mesanino no meio do espaço, sendo então o ponto central da obra. Detalhe do interior: espelhos nas mesinhas de café refletem a decoração do forro, causando assim efeito multiplicado no jogo de cor e luz interno. Muito inteligente.

Unidade Kansai-Kan da Biblioteca da Dieta Nacional– 2002Fumio Toki + Fumio Toki Associates em Seika-cho, Kioto, Japão

Não compreendi plenamente o jogo de ambientes, mas pareceu-me algo inusitado: o amplo uso do sub-solo e na cota do terreno uma visão de um bloco enorme, mas translúcido e vazio. Ótimo partido pois o resultado é que este bloco saliente emoldura o bosque do sítio.

Sendai Médiatheque - 2000Toyo Ito & Associates, ArchitectsAoba-ku, Sendai-shi, província de Miyagi, Japão – 2000

Há uma monumentalidade interna no uso das tubulações que atravessam os pavimentos, inclinadas, embaralhadas. O resultado é um cenário interno inusitado. Esse jogo transparece visto de fora. Curiosíssimo.

Softopia Japan Dream Core - 2000Tadasu Ohe + Plantec Architects Inc. em Ogaki-shi, província de Gifu, Japão

Forte na fachada. E... ?

Edifício Seda da FCG (Fuji-Sankei Communications Group) - 1996

Belo uso das escadas como elemento de fachada. São 4 que se delineiam à vista externa criando

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Ken zo Tange Associates em Minato-ku, Tóquio, Japão

movimento visual. Aquela esfera é meio cenário de Ultraman. Mas o espaço amplo entre os pavimentos me pegou de jeito: adoro os interstícios que negam a construção e dão espaço, luz e ar ao usuário.

CICLO DA MORADIA Adaptação ou Afastamento?

Criador e Criatura ComentárioHouse Surgery- 1997Katsuhiro Miyamoto & Associates em Takarazuka-shi, província de Hyogo, Japão

A casa que Miyamoto não quis demolir, apesar de ser considerada como perda total. Poesia pura. Elegia provocativa. É bom ver um arquiteto agir sob contestação, mas custou caro! O retorno vem pela repercussão, tornando seu escritório de arquitetura uma referência internacional.

S-Tube– 1999Arata Naya em Chigasaki, Kanagawa, Japão

Outro que se recusou a demolir. O ambiente agradece.

Machiya Project C House Théa-Ory House NKM 2001C House: Kei-Ichi Irie + Power Unit Studio. Théa-ory House: Hiroshi Maruyama. NKM: Akira Yoneda + Architecton + Masahiro Ikeda + Mahahiro Ikeda Co., Ltd. Produção: Masahiro Ouchi em Arakawa-ku, Tóquio, Japão

Três casas de parentes com interligação entre si. Pré-fabricadas, modulares e adaptadas.

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9 Tsubo House (Sumireaoi House) - 1999Makoto Koisumi + Yasuyuki Okazaki + Commdesign + Boo-Hoo.Com em Mitaka-shi, Tóquio, Japão

9 Tsubo = 30 m2 de terreno. Este modelo com grande visão paisagística serviu de estímulo para uma série de variantes à partir da mesma medida.

Hu-Tong House - 2002Waro Kishi + K. Associates ArchitectsJapão

Há algo de árabe neste pátio interno. Recortes nas paredes permitem a passagem de luz para os cômodos. É interessante este esticar e desagregar o corpo da casa, proporcionando separação dos ambientes e de suas tensões cotidianas. A favela brasileira lida com questões próximas: pouco espaço e a insistência na busca de uma privacidade rara. A relação com a favela ocorreu pela dimensão muita estreita da casa.

Aluminium Eco-Material House- 1999Kazuhiko Namba + Kai Workshop em Tsukuba-shi, província de Ibaraki, Japão

O avesso da anterior: espaço comum sem divisões. Tem seu valor, mas torna difícil para alguém chorar em paz, meditar ou orar.

W-House – 2002 - Akira Watanabe Architect Associates em Meguro-ku, Tóquio, Japão

Taipa de pilão. Não deveríamos ser nós, brasileiros, os professores desta aula? A questão da limpeza: como mantêm é minha pergunta.

Hakuei Residence– 1996Casa Akira Sakamoto Architect & Associates em Minoh-shi, província de Osaka, Japão

Paredes brancas intermitentes. Grande sacada essa itermitência.

House SA 1999 - 1999Kazunari Sakamoto + Architectural Laboratory em Kawasai-shi, província de Kanagawa, Japão

Criar uma sensação de ambigüidade, diz o catálogo. Não vi nada disso.

Layer House - 2003Hiroaki Ohtani em Kobe-shi, província de Hyogo, Japão

Merece um estudo mais acurado: sem qualquer estrutura vertical, apenas com camadas de blocos justapostos horizontalmente intermediados por blocos de vidros. A conferir. No painel há pouca informação visual.

House in a Plum Grove (Casa da Ameixeira) - 2003Kazuiyo Sejima & Associates em Setagaya-ku,Tóquio, Japão

Paredes muito finas, parece ter sido o maior arrojo. Funciona como isolante térmico? O catálogo diz que sim.

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Hakama (Casa das Cortinas) - 1998Jun Tamaki + Tamaki Architectural Atelier em Uji-shi, Kyoto, Japão

Que coisinha sem graça. Trocou as paredes por cortinas. E... ? O que vejo aqui é uma desconsideração do direito primário do ser humano lidar com suas necessidades orgânicas (como arroto e flatulência) e de outros tipos.

A carência espacial do arquipélago costuma fazer o japonês testar o limite de resistência do ser humano, como naquele hotel em que ao invés de quartos se tem casulos mais baixos que a altura de uma pessoa.

Takasugi-Na (Casa de Chá Alta Demais) - 2004 Terunobu Fujimori em Chino-shi, província de Nagano, Japão

O enunciado diz tudo: a casa é alta demais.

O catálogo o julga imaturo e ao buscar observar a paisagem, fugir da realidade. Nisto eu vejo valor. O japonês, como todos nós ocasionalmente, precisa fugir da realidade. Quem sabe isto reduza o número de suicidas.

Vila Setagaya Mura - 2001Ishiyama Osamu Laboratory da Universidade de Waseda em Setagaya-ku, Tóquio, Japão

Erguer a casa. Por que não? Mas, e depois?

Crystal Brik (Tijolo de Cristal) - 2004Hiro Yamashita + Atelier Tekuto + Jun Sato + Jun Sato Structural Engineers em Bunkyo-ku, Tóquio, Japão

A estudar. Uso de blocos de vidro estruturalmente. Não há colunas.

Natural Ellipse - 2002Masaki Endoh + Endoh Design House + Masahiro Ikeda+ Masahiro Ikeda Co., Ltd. em Shibuya-ku, Tóquio, Japão

A estudar. Suporta uma tempestade? Sei não. Parece que vai sair voando. A volumetria é espetacular, porém esse plástico embalando os cômodos não impede uma visão ampla pelas janeas. Aliás, há janelas?

Pipia-Na (Sala da Cerimônia do Chá) - 1999Kan Izue + Izue Architect Associates em Takarazuka-shi, província de Hyogo, Japão

Baixo impacto. Não vi nada relevante.

Fukyo (Casa de Cerimônia do Chá) - 2001Hiroyuki Arima + Urban Fourth em Shimonoseki-shi, Yamaguchi, Japão

Baixo impacto. Nijiri-guchi: tipo de entrada que obriga o visitante a curvar-se ao passar. Por quê? Para quê?

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Weekend House (Casa de Fim de Semana) Japão – 1998Office of Ryue Nishizawa na província de Gunma,

O pátio árabe presente novamente. É uma pena se eliminar aberturas na fachada, por questões de segurança. A paisagem é ótima. Se é para se estar recluso, voltado para o pátio interno, melhor ficar na cidade no fim-de-semana.

Air House (Casa Ar) - 2001Sambuichi Architects em Hagi-shi, província de Yamaguchi, Japão

Aqui temos o oposto: a casa que se abre, que busca o ar, a paisagem, o vento! Ah, a liberdade! Aqui sim, dá vontade de passar o fim-de-semana. A pergunta é como ficam as coisas no inverno, uma vez que boa parte da circulação na casa se dá em áreas sem paredes.

Mangetsukyo (Residência e Ateliê) - 1996Yutaka Saito + Masaru Miyazono em Sapporo-shi, província de Hokkaido, Japão

Exemplos de sukiya, o modo tradicional construtivo que “que coloca em primeiro plano a preferência pessoal do usurário, bem como respeito ao caráter do espaço e à particularidade natural do material. Restam apenas algumas dezenas de mestres da marcenaria que herdaram os preceitos do sukiya autêntico em Kyoto e arredores. Mas os exemplos aqui citados atestam a existência de um grupo de arquitetos contemporâneos que se aproximam da essência do sukiya.”

Arc Shaped Extension - (Ampliação em Arco)Tomoyuki Usumi + MIligram Studio em Karuizawa-machi, província de Nagano

“A casa original é retangular, e nela foi adicionado um bloco curvilíneo que incorpora espaços que ressaltam a curvatura. A cobertura de chapas de cobre estende-se da casa antiga ao bloco ampliado; a estrutura original de madeira foi substituída por uma estrutura de forma fluida e o espaço interno foi transformado da original cor de madeira bruta par um espaço branco. Em vez da solução convencional de conciliação do estilo japonês com o estilo ocidental, a migração espacial foi o tema – de sukiya tradicional para arquitetura contemporânea”.

O Vídeo

Assisti ao vídeo exibido em um monitor colocado em canto inconveniente, pois o espaço do espectador coincidia com painéis da

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exposição, assim ao ver a filmagem atrapalhei quem desejava ver o painel. Uma exibição de vídeo demanda banco ou cadeira para repouso. Os 16 minutos não são cansativos de per si, porém o visitante já ficou em pé por um bom tempo e merecia um tratamento mais apropriado. Resultado, quase ninguém assiste o vídeo.

A produção apresenta algumas obras, sem locução ou legendas. A mim foi utilíssimo por compreender melhor a espacialidade e volumetria destas obras. Um exemplo interessante é o Ginásio de Artes Marciais do Colégio Chugei: ver as filmagens revelou o belo arranjo das armações de madeira do telhado e o movimento que ela possui, à medida que anda sob elas. A iluminação natural oferecida pelas aberturas por todo o telhado também são de qualidade magistral: não se vê clarabóias. Todo o prédio possui um caráter sóbrio, digno e simultaneamente, sólido cálculo estrutural, criatividade e ousadia que se apresentam gradualmente.

Igualmente surpreendente são as cenas do Arte Piazza Bibai. A amplidão e topografia em leve aclive compõem um palco monumental. Ver as crianças brincando nas instalações criadas especialmente para que elas se molhem, subam, escorreguem etc é entusiasmante. Um arquiteto deve calcular cuidadosamente o uso de um espaço tão grande num país exíguo e insular. Aqui, nos parece, o acerto foi total.

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Sugestão ao pessoal de edição do vídeo: reduzam o tempo das vinhetas e acelerem o surgimento do título da obra. Esses segundos preciosos podem ser melhor aplicados pelo visitante em ver os prédios, que são as estrelas do evento. É desnecessário lembrar entre cada filmagem o título da mostra Parallel Nippon. O visitante já sabe onde está e o foco não deve ser design digital, por mais elaborado e de qualidade, como era o caso.

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O Impasse

Notei que em diversos projetos relatou-se a comunicação do escritório de arquitetura com a comunidade local: usuários, órgãos de governo e a comunidade. Esta preocupação em não impor de cima para baixo as decisões mostrou que boa parte destas obras nasceram após se ouvir os envolvidos, ou steakholders, o que resulta num resultado mais próximo do desejado pelo cliente. A outra face desta moeda é que pausteriza a elaboração do prédio, resultando em diversas obras com baixo impacto visual. É o velho dilema do arquiteto: abrir caminhos com ousadia ou trabalhar com mais cuidado sobre o que já existe? O que teria feito Niemeyer se tivesse ouvido a população de Brasília antes de ir para a prancheta? Provavelmente algo bem tedioso.

Todavia, talvez possamos encarar essa participação comunitária como um desafio tendo em mente que é no desafio e nas amarras que nasce a grande arquitetura. Esta é a lição que Koolhas nos apresenta quando considera a estrutura grelhada de Manhattan: do quadriculado é que adveio a riqueza urbanística da ilha. É também a lição que Yopanan

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Rabelo insiste em apontar: aceitar a estrutura como elemento organizador mas não redutor da criatividade.

Na realidade tem-se aqui um falso dilema: o futuro da arquitetura é a ação multidisciplinar e a capacidade de lidar com inúmeras demandas, várias delas conflitantes, é o solo árido onde brotarão as novas soluções geniais.

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Os Painéis

A disposição dos painéis pecou pela diagramação: cada cartaz continha fotos de duas construções induzindo o visitante a imaginar que todas as imagens se referiam ao mesmo projeto. Para complicar, as legendas comentando a obra se situavam abaixo do cartaz maior, em um outro cartaz. Demorei para entender que o primeiro texto referia-se à obra e o segundo parágrafo referia-se à obra do lado direito. Dei-me conta disto após 15 minutos tentando compreender as informações. Ao lado um exemplo fictício do modelo usado nos cartazes.

Alguém poderia me considerar inapto e de pouca capacidade intelectual – o que não discutirei aqui, antes preocupa-me o fato de uma exposição pedagógica não utilizar o meio mais simples e direto: um cartaz para cada projeto. A razão deste registro se baseia na constatação de alguns fatos. Primeiro: a freqüência no sábado entre 11:00hs e 14:00 (quando estive ali) era muito pequena – o que é lamentável tendo em vista a qualidade da mostra. Segundo: algumas pessoas passavam rapidamente pelas imagens e mal liam os comentários. Isto leva a

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conclusão de que precisa-se criar um público apreciador de exposições de qualidade como foi essa. Facilitar a inteligibilidade das informações contribuirá para o proveito dos visitantes. Resumindo: a criatividade na preparação dos painéis não deve comprometer a rápida decodificação da informação. No Brasil há que se ter muito cuidado em não desafiar a capacidade de compreensão de um público tímido, pouco culto e reticente em freqüentar exposições. O recado tem de ser dado direta e rapidamente, sob risco do visitante simplesmente dar as costas ao painel.

Cada obra tinha pelo menos uma reprodução da planta. Às vezes eram a implantação e outras vezes era a planta do primeiro pavimento. Esse cuidado merece elogio, todavia, como aluno de arquitetura sofri com a reduzida dimensão destas plantas e apreciaria se cortes também fossem apresentados. O motivo disso é que não poucos projetos revelavam excelente manejo da topografia, porém a pouca informação em desenhos permitia pequena compreensão de cada projeto.

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O País

Aprendi que o Japão atual sofre algumas mudanças consideráveis em sua cultura e estrutura urbana: a nova geração perdeu o apreço pelo trabalho no campo e com a redução dos custos de terrenos nas grandes cidades houve grande afluxo de pessoas que abandonam a zona rural indo para as cidades. Com o êxodo rural tem se tornado muito custoso a manutenção de serviços municipais, de tal sorte que 3.000 municípios do interior se aglutinaram diminuindo o seu número para 1.800. Não deixa de ser impressionante ver um o país insular sofrendo abandono de terras. A imagem que temos do povo japonês é de que amam o trabalho no campo e se empenham fortemente nele, aplicando o máximo de cuidado e inovações visando aumentar a produtividade. Essa desinteresse pelo campo constitui-se numa relevante mudança cultural nipônica que preocupa, uma vez que ela açambarca diversos valores sociais e familiares.

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O último grande terremoto e a estagnação econômica também se refletiram na prática arquitetônica como se evidência nesta mostra. Pequenas cidades do interior investem em projetos arquitetônicos culturais para, de algum modo, criar novos atrativos para a região. O resultado são construções interessantíssimas em regiões remotas. Terá funcionado a tática? É algo que o tempo vai nos permitir conferir.

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As Maquetes

Haviam algumas maquetes, muito bem feitas. Todas de visual limpo tendo o branco como cor dominante. Algumas de acrílico transparente representando a volumetria sem recortes e detalhes, mas de belo efeito.

Um trabalho de dobradura também se fez presente: alguns prédios clássicos da arquitetura internacional foram recortados em cartão branco, de aproximadamente 20 cm, no método tridimensional: quando se abre o cartão o prédio se eleva delicadamente mostrando seu contorno recortado. Isso é muito usado em livros infantis e não deixa de ser um adorno delicado e curioso para visitantes de todas as idades. Tais maquetes em recorte, umas dez mais ou menos, estavam numa prateleira guarnecidas entre paredes de acrílico, mas sem tampa. Todavia estas maquetes de papel não tinham referência ao tema da mostra, mas representavam prédios famosos espalhados pelo mundo.

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A Conclusão

A Parallel Nippon revelou-se uma exposição muito instrutiva. Simples e inteligível, ainda que os painéis gerassem certa confusão visual. Ideal para um aluno que desconhecia a arquitetura japonesa, como eu. Cento e doze projetos foram apresentados, o que é um número considerável. A mim, aluno sequioso, foi excelente aula de arquitetura nipônica e sou grato pela oportunidade. O Instituto Tomie Otake cedeu 4 salas amplas e bem iluminadas de modo que pude ler e analisar todas as peças apresentada.

Ambiente tranqüilo, seguranças discretos e sempre atentos a orientar no que precisei. O catálogo, assinado pela Japan Foundation, foi-me de muita ajuda já que ali estavam todos os dados e textos integrais dos cartazes, de modo que pude fazer minhas anotações em suas páginas sem precisar anotar referências e nomes.

Assusta compreender as seqüelas do envelhecimento de uma nação. Os custos crescentes na beneficência social é apenas uma das muitas implicações. O próprio uso das edificações vão se alternando, a ponto

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de escolas já serem projetadas como futuras instalações para outros fins, uma vez que o número de crianças é decrescente e tornará o prédio sem uso escolar no futuro.

Uma nação que envelhece, casais que reduzem o número de filhos, perda do apreço pelo trabalho rural e baixa perspectiva de crescimento econômico. O Japão enfrenta graves questões e o Brasil parece trilhar a mesma trajetória. Como lidará com tais desafios e como os arquitetos contribuirão para isto é algo que a Parallel Nippon já elucida em boa parte.

Em contrapartida vemos uma arquitetura bonita, oposta ao espetáculo. Uma arquitetura onde os seus pensadores poucas se impõem arrogamente, antes interagem. Longe da prepotência, perto da modéstia – friso que uso o termo não como pobreza, mas como a humilde singeleza de trabalhar sem rompantes. Senhora de si, numa atitude pragmática que ouve o cliente, respeita seus valores, suas tradições, respeita seu clima e sua topografia.

O rápido descarte das obras, que segundo o catálogo tem vida útil de aproximadamente 26 anos me surpreendeu, (a Inglaterra: 75 anos). É-me difícil entender quanto valor pode um povo dar aos seus prédios quando

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os elimina tão rapidamente. Caso esta tradição seja abandonada acredito ser eliminado o último obstáculo para o Japão apresentar ao mundo uma escola arquitetônica autêntica, senhora de si e difusora da maestria dos seus grandes profissionais.

Por fim, destaco duas obras maravilhosas que justificam a visita: o Templo Branco, em Sonobe-sho e o Museu de Arte Pola, em Nakagawa-machi. Parabéns e obrigado a todos os envolvidos nesta mostra: funcionários do Instituto Tomie Otake, Japan Foundation, Instituto de Arquitetos do Japão e ao Taro Igarashi pelo ótimo texto sobre o tema.

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