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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA ESCOLA SECUNDÁRIA DE VENDAS NOVAS Projecto Novas Oportunidades a Ler+ O Caso do CNO da Escola Secundária de Vendas Novas [Trabalho realizado ao abrigo da Portaria Nº 926/2010, de 20 de Setembro] Outubro de 2011 Adélia de Jesus Caetano Ricardo Barbosa Bentes

Projecto Novas Oportunidades a Ler+ - O Caso do CNO da Escola Secundária de Vendas Novas

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA

ESCOLA SECUNDÁRIA DE VENDAS NOVAS

Projecto Novas Oportunidades a Ler+

O Caso do CNO da Escola Secundária de Vendas Novas

[Trabalho realizado ao abrigo da Portaria Nº 926/2010, de 20 de Setembro]

Outubro de 2011

Adélia de Jesus Caetano Ricardo Barbosa Bentes

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Resumo

Estudos recentes têm demonstrado a persistência de níveis de literacia particularmente

baixos na população portuguesa, apesar dos esforços que têm vindo a ser feitos para

inverter a situação.

Novas Oportunidades a Ler+ é um projecto do Plano Nacional de Leitura, desenvolvido

em parceria com a Agência Nacional para a Qualificação, que visa apoiar o

desenvolvimento do gosto pela leitura junto do público da Iniciativa Novas

Oportunidades, com o objectivo de contribuir para a melhoria dos níveis de literacia dos

adultos envolvidos na Iniciativa, e, de forma indirecta, dos seus familiares e amigos.

O Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária de Vendas Novas aderiu ao Plano

Nacional de Leitura em Setembro de 2009 e tem desenvolvido um conjunto de

actividades e iniciativas neste âmbito.

Neste trabalho serão apresentados os objectivos, as estratégias e as actividades

desenvolvidas pelo Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária de Vendas

Novas no âmbito do projecto Novas Oportunidades a Ler+. Serão também apresentados

alguns resultados da avaliação do projecto, relativos aos anos 2010 e 2011, que nos

permitem retirar algumas conclusões acerca do impacto do projecto junto dos seus

destinatários.

Palavras-chave: literacia, promoção da leitura, competências-chave, aprendizagem ao

longo da vida, adultos

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ÍNDICE

Pág.

Introdução…………………………………………………………………….. 4

I - Conhecimento e Aprendizagem nas Sociedades Contemporâneas……...

5

II – Desenvolvimento do Projecto Novas Oportunidades a Ler+ no CNO

da Escola Secundária de Vendas Novas……………………………………...

12

Conclusões……………………………………………………………………...

25

Referências……………………………………………………………………..

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objecto o desenvolvimento do Projecto Novas

Oportunidades a Ler+ no Centro Novas Oportunidades da Escola Secundária de Vendas

Novas, tendo sido realizado ao abrigo da Portaria Nº 926/2010, de 20 de Setembro.

Em Setembro de 2009 os Centros Novas Oportunidades foram convidados a

apresentarem candidaturas ao projecto, então criado pelo Plano Nacional de Leitura,

com a finalidade de aumentar os níveis de literacia da população adulta inscrita nos

Centros Novas Oportunidades. Foi sem quaisquer hesitações que a equipa do CNO da

Escola Secundária de Vendas Novas aderiu, uma vez que já desenvolvia várias

actividades no âmbito da promoção do gosto pela leitura e pela escrita, junto dos adultos

que desenvolviam processos de Reconhecimento Validação e Certificação de

Competências (RVCC), com o objectivo de melhorar os níveis de literacia dos

candidatos.

Este trabalho reporta-se ao desenvolvimento do projecto durante os anos 2010 e 2011 e

constitui-se como uma reflexão, que visa, entre outros objectivos, permitir a redefinição

de estratégias e rumos a seguir, contribuir para a reflexão sobre a promoção do gosto

pela leitura junto do público adulto, como estratégia para melhorar os níveis de literacia;

e ainda dar visibilidade ao (bom) trabalho que toda a equipa do Centro Novas

Oportunidades tem desenvolvido, nesta área.

No que concerne à estrutura, o trabalho organiza-se em duas partes essenciais. A

primeira, com o título Conhecimento e Aprendizagem nas Sociedades Contemporâneas

é dedicada à análise teórica e visa, essencialmente, clarificar e relacionar os conceitos

de leitura, literacia e competências-chave, no contexto social e económico da sociedade

do conhecimento e da informação. A segunda parte é inteiramente dedicada à descrição

do projecto. Depois de uma breve contextualização, são apresentados os objectivos, as

actividades desenvolvidas, a avaliação e alguns resultados. Segue-se a conclusão onde

são feitas algumas recomendações, a partir da análise dos resultados e perspectiva-se o

futuro do projecto.

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I

CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM NAS SOCIEDADES

CONTEMPORÂNEAS

Sociedade da informação e do conhecimento

A vida contemporânea nas sociedades ocidentais é, segundo alguns investigadores,

marcada pela mutação constante, em resultado de rápidas mudanças tecnológicas,

económicas, culturais e sociais, que podemos sintetizar referindo a rápida evolução

científica e tecnológica, com impacto em muitos domínios da vida do indivíduo; a

transição para uma sociedade da informação e do conhecimento; a rápida disseminação

da tecnologia pelas áreas da comunicação, do trabalho e da aquisição de conhecimento;

o alargamento e a diversificação dos contextos de aprendizagem. Segundo Daniel Bell

(1974), na sociedade pós-industrial, não é apenas a economia que se transforma, mas

toda a estrutura social.

Bell, na interpretação que faz da sociedade pós-industrial, destaca a centralidade do

conhecimento, que sempre foi factor importante de desenvolvimento económico, mas

que, na sociedade pós-industrial, muda o seu carácter: trata-se do conhecimento teórico,

codificado em sistemas abstractos de símbolos, que surge como recurso estratégico e

fonte de inovação. Bell, na sua teoria, dá também muito relevo à informação, por ele

considerada a principal tecnologia das sociedades pós-industriais. O conhecimento e a

informação assumem, assim, um carácter decisivo, afectando o sistema produtivo e os

padrões culturais das sociedades e os modos de agir dos sujeitos. O acesso, sem

precedentes, ao conhecimento, que pode ser acumulado, partilhado e difundido, graças

às tecnologias da informação; torna-o um recurso fundamental.

Desigualdades sociais e conhecimento

Do ponto de vista económico, criou-se também uma nova ordem, marcada pela

globalização dos mercados, com exigências a nível do aumento da competitividade e da

flexibilidade, com enormes riscos a nível social. Kessels (2001) defende que a economia

se está a transformar na economia do conhecimento, sendo que o factor-chave para o

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desenvolvimento é o conhecimento. Neste contexto, a valorização das “competências-

chave”, a transferibilidade das competências e a flexibilidade dos trabalhadores são

vistas como um meio para o desenvolvimento económico. Importa, no entanto, referir

que a informação e o conhecimento encontram-s objectivados, representados

simbolicamente pela escrita. Logo, só se tornam recursos centrais nas sociedades em

que a capacidade de decifração e produção da informação escrita se generalizem.

Se a produção de novos conhecimentos, a reconstrução dos saberes e das competências

disponíveis, e o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem dos indivíduos são

perspectivados como elementos-chave para enfrentar os desafios do futuro; importa

referir que existem profundas desigualdades sociais ao nível da forma como os

indivíduos se posicionam face a esses recursos. A alargada difusão das tecnologias da

informação não garante, por si só, que todos os indivíduos delas possam vir a beneficiar.

Com efeito, nas sociedades e economias actuais, os trabalhadores são desafiados a

desenvolverem tarefas cada vez mais complexas, que requerem, da sua parte,

competências e capacidades para lidarem com conhecimentos especializados e com

informação escrita.

O nível de educação formal é geralmente considerado uma das condições básicas que

possibilita a transição para a sociedade do conhecimento. No entanto, estudos recentes,

dos quais podemos destacar o European Social Suvey (ESS, 2006) têm evidenciado que,

na Europa, existe ainda uma grande disparidade no que respeita a níveis de

escolarização. A situação tem sido especialmente constrangedora em Portugal, que

continua a apresentar dos níveis mais baixos de escolaridade da Europa.

Destaca-se também o estudo nacional sobre literacia publicado em 1996 e coordenado

por Ana Benavente, cujo objectivo foi analisar de que forma as competências de leitura,

escrita e cálculo, e o uso que delas se faz na vida quotidiana; e que permitiu concluir

que a maior parte da população se encontrava em níveis baixos e muito baixos de

literacia: 79,4% distribuíam-se pelos níveis 0 a 2, com apenas 20,6 nos níveis superiores

3 e 4. Cerca de metade das mulheres situava-se nos níveis 0 e 1, numa posição não

muito inferior à dos homens, diferença que, segundo os autores, se deveria

provavelmente aos também inferiores níveis de instrução.

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Para Castells (1998) a ausência de competências para lidar com a sociedade da

informação está intrinsecamente ligada com as problemáticas da exclusão social e da

“nova pobreza”, do que se depreende a importância de preparar os indivíduos para o

uso efectivo das competências básicas de leitura, escrita e cálculo para o processamento

de informação escrita na vida quotidiana.

Maria do Carmo Gomes (2003) comenta o desfasamento entre a certificação de

qualificações escolares e a sua utilização nas várias situações da vida quotidiana

demonstrando que a simples quantificação dos que possuem, ou não, títulos de

frequência ou conclusão de anos de escolaridade não é suficiente para dar conta do

modo como essas competências escolares adquiridas são usadas para o manuseamento

da informação escrita. Esta autora investigou um grupo de adultos do ensino básico

recorrente numa freguesia de Lisboa, para perceber não só as suas práticas de literacia e

os contextos onde estas ocorriam, como as representações que os próprios tinham

quanto à valorização de competências, à avaliação que faziam de si próprios e ainda as

suas percepções de exclusão derivada da falta de domínio dessas competências (Gomes,

2002). Aliás, a esta autora se deve o conceito de Literexclusão, que traduz a exclusão

social, causada pelos baixos níveis de literacia.

Desafios da aprendizagem ao longo da vida

À medida que a informação e o conhecimento se tornam pedras angulares nas

sociedades actuais, novos desafios se colocam aos indivíduos. De facto, o ritmo e a

intensidade das mudanças é de tal ordem, que obrigam os indivíduos a enveredarem por

processos de aprendizagem ao longo da vida, de forma a conseguirem acompanhar as

mudanças que se vão operando. Mariano Enguita (2001), a partir da análise das

transformações ocorridas ao nível do ritmo da mudança social, concluiu que nas

sociedades modernas, de mudança intrageracional, a maioria da população adulta tem

de readaptar-se a novas condições de vida, de trabalho e de sociabilidade. Por contraste

ao que acontecia anteriormente, onde à formação inicial se seguia um período de vida

activa, onde eram aplicadas as competências adquiridas; actualmente, a formação inicial

perde peso para a educação/formação ao longo da vida.

Ora, no caso português, em particular, o principal problema reside no facto de as

competências, nomeadamente as de literacia, estarem situadas em níveis muito baixos,

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sendo elas fundamentais para permitirem que os indivíduos continuem a aprender.

Assim, o que se verifica é que os que mais formação têm são os que mais usufruem das

oportunidades de aprendizagem, aumentando, desta forma, o fosso relativamente aos

que têm menos formação. Cientes das previsíveis graves consequências desta realidade,

organismos como a UNESCO (Delors, 1996) e a Comissão Europeia (2000) têm

produzido documentos de referência na área da educação/formação de adultos, que

evidenciam a centralidade da aprendizagem nas sociedades actuais.

Também em Portugal, nos últimos anos, tem sido feito um enorme esforço no sentido

de aumentar as qualificações escolares e profissionais dos indivíduos, nomeadamente

através da Iniciativa Novas Oportunidades, com o objectivo principal de aumentar os

níveis de literacia da população adulta.

Literacia e Competências-chave

No contexto social já caracterizado, onde a aprendizagem tem lugar em sociedades

estruturadas pelo conhecimento e pela informação; a literacia constitui uma

competência-chave fundamental, quer para o acesso à informação e ao conhecimento,

quer para aprender ao longo da vida, quer ainda na promoção da reflexividade (Giddens,

1992). Valerá então a pena debruçarmo-nos sobre os conceitos de literacia e de

competências-chave.

No trabalho pioneiro nesta área, que foi A Literacia em Portugal - Resultados de uma

Pesquisa Extensiva e Monográfica, publicado em 1996, Ana Benavente propõe um

conceito de literacia, que é definida como “as capacidades de processamento de

informação escrita na vida quotidiana”. A autora contrapõe ainda este conceito ao de

alfabetização, separando-o de escolaridade “ se o conceito de alfabetização traduz o

acto de ensinar e de aprender (a leitura, a escrita e o cálculo) um novo conceito – a

literacia – traduz a capacidade de usar as competências (ensinadas e aprendidas) de

leitura, de escrita e de cálculo” (Benavente, 1996, p.4).

Reveste-se também de especial importância, nesta matéria, o estudo Literacy in the

Information Age – Final Report of the International Adult Literacy Survey (2000), um

estudo comparado de literacia que envolveu 20 países e que permite uma comparação

do nível e da distribuição das competências em literacia na população adulta,

identificando também alguns dos factores que influenciam o desenvolvimento das suas

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competências. Para este trabalho, é também pertinente o conceito de literacia

apresentado no estudo: “The ability to understand and employ printed information in

daily activities at home, at work and in the comunity – to achieve one‟s goals, and to

develop one‟s knowledge and potential”.

O estudo em análise evidenciou a existência de diferenças muito significativas entre os

20 países quanto aos níveis de literacia das respectivas populações. Portugal é

apresentado como um exemplo de como o nível de escolaridade global da população

afecta o desempenho geral em literacia do país, reflectindo, sobretudo, um desempenho

mais baixo entre as pessoas que não beneficiaram da frequência do ensino secundário, a

grande maioria da população. Por outro lado, o estudo evidenciou também que os níveis

de literacia dos pais condicionam, em grande medida, os níveis de escolaridade

atingidos pelos filhos.

Tendo em conta que os indivíduos com competências limitadas têm poucas

possibilidades de terem contacto com actividades / tarefas promotoras de literacia, não é

provável que as consigam desenvolver sem ser através de educação e/ou formação.

Logo, é extremamente importante que aos adultos portugueses continuem a ser dadas

oportunidades de educação/formação variadas, flexíveis e ajustadas às suas

necessidades e interesses.

Nos últimos anos, tem-se generalizado a utilização dos conceitos de competências e de

competências-chave, que têm adquirido uma importância crescente, à medida que têm

aumentado os desafios que se colocam aos indivíduos e às organizações nas sociedades

actuais. Com efeito, adoptam-se, neste trabalho as definições da Comissão Europeia

(2004b), que entende a competência como uma “combinatória de capacidades

conhecimentos, aptidões e atitudes apropriadas a situações específicas, requerendo

também „a disposição para‟ e „o saber como‟ aprender”. Já a definição de

competência-chave é a de “um conjunto articulado, transferível e multifuncional, de

conhecimentos, capacidades e atitudes indispensáveis à realização e desenvolvimento

individuais, à inclusão social e ao emprego” (Comissão Europeia, 2004b).

Podemos, pois, afirmar que os conceitos de literacia e de Competências-Chave estão

intrinsecamente ligados e, neste trabalho, têm especial relevo as competências de

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literacia, concordando com Patrícia Ávila (2005, p. 499) “literacia não é apenas uma

competência-chave (o que poucos contestam), é, além disso, uma competência – chave

decisiva para que outras possam ser desenvolvidas.”. De facto, no quadro das

sociedades contemporâneas, que, ainda segundo a autora, distinguem-se das anteriores,

pela generalização e democratização, sem paralelo, do acesso à leitura e à escrita, e, ao

mesmo tempo que a informação escrita prolifera à nossa volta, generaliza-se também o

número daqueles que são capazes de a decifrar e a utilizam enquanto recurso e enquanto

instrumento, nas várias esferas da sua vida.

Leitura e literacia

São Luís Castro, citada por Maria José Alves Veiga (2000), afirma que o acto de ler

“implica converter um sinal gráfico numa representação linguística fonológica, em que

o ponto de partida é puramente arbitrário”(p. 2). Trata-se, pois, de uma actividade que

exige uma técnica de descodificação complexa e que carece de aprendizagem. Saber ler,

implica, pois, saber compreender, saber negociar sentidos, dentro de uma vasta rede

semântica. Logo, exige uma aprendizagem formal, cuidada e motivante.

Maria José Alves Veiga (2000) aponta também alguns benefícios de que o leitor poderá

vir a usufruir:

“Em termos cognitivos, a leitura incrementa as capacidades de percepção, de

concentração, de aquisição, de inferência e de interpretação de significados.

No seu conjunto, estes factores promovem o crescimento da autonomia, do

autoconhecimento, da autoconfiança e do espírito crítico do sujeito, na medida

em que este acede a instrumentos facilitadores de um melhor poder de

argumentação, esperando-se que esta seja concomitantemente, mais

construtiva e positiva (…) A leitura poderá ser igualmente responsável pelo

desenvolvimento sociocultural do sujeito, devido a um alargamento dos

horizontes culturais e do contacto com novas referências, outros valores,

sentimentos e tradições. Assim, as percepções que o leitor tem de si próprio e

do mundo serão alargadas e contextualizadas de forma mais sistematizada.

(…) a estas vertentes acresce ainda o facto de a leitura concorrer, de igual

modo, para o apuramento dos sentidos do indivíduo, nomeadamente,

promovendo a formação de uma sensibilidade estética” (pp. 3,4)

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A leitura traz, pois, muitos benefícios para o leitor, pelo que será importante que, no

decorrer da realização do processo RVCC o candidato tenha a possibilidade de contactar

com um elevado número de textos, de caractrísticas variadas e em suportes distintos.

Esta primeira parte, dedicada à clarificação de alguns conceitos pertinentes para o

projecto, constitui, também, a sustentação teórica que nos orienta e nos guia,

diariamente, no desenvolvimento das nossas actividades de promoção do gosto pela

leitura e pela escrita, no CNO da Escola Secundária de Vendas Novas.

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II

Desenvolvimento do Projecto Novas Oportunidades a Ler+ no CNO da Escola

Secundária de Vendas Novas

O Projecto

Novas Oportunidades a Ler+ é um projecto do Plano Nacional de Leitura (PNL) em

parceria com a Agência Nacional para a Qualificação (ANQ) destinado a apoiar o

desenvolvimento do gosto pela leitura junto do público da Iniciativa Novas

Oportunidades.

Pretende-se que este projecto possa ser um contributo efectivo para a melhoria dos

níveis de literacia da população portuguesa, tornando a leitura transversal ao processo

de reconhecimento e validação e certificação de competências, que os adultos realizam

no âmbito do Programa Novas Oportunidades, e que lhes permite adquirir, desenvolver

e ampliar saberes e competências.

Por outro lado, prevê-se também que os adultos envolvidos possam vir a ter um papel

importante na promoção da leitura, junto dos seus círculos de familiares e de amigos,

contribuindo para desenvolver os níveis de literacia da população em geral.

Caracterização do problema

Criada em 1975, a Escola Secundária de Vendas Novas (ESVN) tem tido um papel

central na vida dos cerca de 12.000 residentes que constituem a população de Vendas

Novas (INE, 2007), um pequeno concelho do distrito de Évora, com características

especiais, uma vez que constitui, devido à sua localização geográfica,“A Porta do

Alentejo”. Vendas Novas foi crescendo graças às várias indústrias que aqui se

instalaram, a partir dos anos 60. Ainda hoje, o concelho aposta na indústria, tendo um

Parque Industrial com dezenas de empresas que exigem mão-de-obra cada vez mais

qualificada.

No entanto, os dados relativos aos níveis de escolaridade dos habitantes do concelho,

continuam a ser preocupantes, como revela o quadro que se segue:

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Quadro 1: Nível de Instrução e Taxa de Analfabetismo da População de Vendas Novas

Apesar de pouco actualizados, estes são os dados mais recentes, disponíveis, uma vez

que os dados relativos aos CENSOS 2011 não estão ainda disponíveis. No entanto, o

quadro permite-nos verificar que 23% da população não possui qualquer nível de

ensino, 28,7% possui o 1º ciclo completo, só 6,7% da população tem o ensino

secundário completo, apenas 7,5 da população chegou ao ensino superior e a taxa de

analfabetismo é ainda de 13%. São, sem dúvida, dados preocupantes. No entanto, estes

níveis são ainda mais preocupantes se tivermos em conta apenas a população adulta do

concelho, onde os níveis de escolaridade são ainda mais baixos.

Em 2006, com a criação do Centro Novas Oportunidades (CNO), deu-se a abertura da

escola a toda a comunidade, pois apesar de sempre ter tido ensino de adultos, o número

de alunos era residual, a adesão à Iniciativa Novas Oportunidades proporcionou a

centenas de adultos uma oportunidade de retomarem percursos formativos. Por outro

lado, teve também o mérito de ter atraído à escola indivíduos que há muito tinham

desistido de aumentar as suas qualificações escolares.

Passados cinco anos sobre a sua criação, o CNO da Escola Secundária de Vendas Novas

tem acolhido, encaminhado e certificado centenas de indivíduos, como mostra o quadro

que se segue:

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Quadro2:Resultados CNO de Maio 2006 a Setembro 2011 (Inscritos, Encaminhados e Certificados)

Estado Nº Adultos

Inscritos 1661

Em Processo 100

Encaminhados para outras ofertas 332

Certificados RVCC (total + parcial) 546

Fonte: SIGO 09/2011

Pela análise do quadro, verifica-se que o CNO tem tido, desde 2006, um papel

importantíssimo no que diz respeito à captação de público adulto, continuando a

desenvolver esforços para captar público, lutando contra a resistência da população que

ainda não procurou aumentar as suas qualificações.

Na maioria dos casos, a passagem pelo Centro Novas Oportunidades deixa marcas

indeléveis nos candidatos, que se redescobrem e reconstroem como indivíduos e como

aprendentes, redefinindo projectos de vida e de educação aos quais é necessário dar

resposta, como ilustra este testemunho de Teresa (36 anos) quando concluiu a sua

certificação de B3, em 2008 “Depois de concluir o RVCC descobri que todos nascemos

para uma vida verdadeiramente humana. Com isto quero dizer que não temos apenas

direito ao trabalho, à saúde, a uma casa, mas também direito à liberdade para escolher

e aprender”. Teresa obteve, em 2011, o nível secundário e uma carteira profissional,

através da realização de um curso EFA de dupla certificação.

Defensora de uma perspectiva globalizante e alargada sobre a aprendizagem, e tendo em

mente os princípios da aprendizagem ao longo da vida, eneunciados no Memorando

sobre a educação e a formação ao longo da vida (2000), a equipa do Centro Novas

Oportunidades considerou importante oferecer, em articulação com a escola, contextos

de aprendizagem formal, não formal e informal que possibilitassem o envolvimento dos

adultos em experiências de aprendizagem muito diversificadas, visando manter o

estímulo intelectual, a curiosidade e o gosto pela aprendizagem. O exemplo de Teresa,

aqui apresentado, é apenas um entre os muitos casos de sucesso que poderíamos

enumerar.

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Paralelamente, constatámos que, à semelhança do que acontecia à escala nacional, o

nosso público tinha poucos hábitos de leitura e de escrita, apresentando baixas

qualificações escolares e baixos níveis de literacia. Um estudo realizaodo pela equipa do

CNO, relativo aos adultos certificados em 2009, permitiu-nos concluir que a larga

maioria tinha, como habilitação de partida, o 1º ciclo. Por outro lado, os seus percursos

pessoais e profissionais, na generalidade, não oferecem muitas oportunidades de

contacto com o texto escrito, como confessa Maria, 33 anos, certificada com o nível B3

“Porque já há muito tempo que a gente não pega nos livros, não escreve… Eu tenho

muitos livros em casa, mas... é raro ler, porque o tempo é pouco; escrever, dantes ainda

escrevia uns postais de Natal e isso tudo, agora é tudo por telemóvel…”

Objectivos

É neste contexto que surge, em 2009, a candidatura ao projecto “Novas Oportunidades a

Ler+”, promovido pelo Plano Nacional de Leitura (PNL) e pela Agência Nacional para

a Qualificação (ANQ).

O objectivo geral do projecto é a promoção da aproximação dos adultos ao livro e ao

texto escrito em geral, uma vez que optámos por um conceito abrangente e globalizante

de leitura; com vista à melhoria dos níveis de literacia dos candidatos inscritos no CNO.

Podemos, no entanto, elencar alguns objectivos mais específicos, dos quais destacamos:

A promoção da reflexão sobre a importância da leitura, em vários contextos e

com múltiplas finalidades;

A criação de hábitos de leitura e de escrita nos candidatos;

O aumento da visibilidade à leitura no decorrer dos processos de RVCC;

O incentivar à leitura, de acordo com o gosto e as competências de leitura dos

candidatos

Metodologia

Perante o desafio de elaborar um projecto de promoção do gosto pela leitura, junto do

público adulto, a equipa reuniu e analisou as seguintes questões:

Como motivar para a leitura adultos pouco escolarizados, com poucos ou

nenhuns hábitos de leitura e com uma má imagem de si próprios enquanto

leitores?

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Como integrar as actividades no Processo de RVCC, de forma a envolver o

maior número possível de candidatos e sem “acrescentar complexidade” ao

processo?

Como envolver toda a equipa e todas as Áreas de Competência?

Para a elaboração do projecto foi de grande ajuda a brochura Novas Oportunidades a

Ler+, elaborada pelo PNL e distribuída aos CNO que decidiram aderir. O nosso

projecto foi elaborado a partir das linhas orientadoras propostas:

Criar um ambiente de leitura no CNO;

Promover dinâmicas de leitura integradas em diversas áreas dos referenciais de

Competências-Chave;

Apoiar percursos pessoais de leitura;

Organizar um acesso regular a bibliotecas e ao uso dos seus recursos.

Enumeram-se, de seguida, algumas actividades que integram o nosso projecto e que se

encontram agrupadas, de acordo com o contexto em que têm lugar:

Actividades desenvolvidas no âmbito do Processo RVCC

O maior desafio para a equipa foi conseguir integrar actividades de promoção do gosto

pela leitura de forma articulada com e entre as várias áreas de competência. No entanto,

percebeu-se que era possível fazê-lo e assim, de acordo com as recomendaçãoes do

PNL, a promoção do gosto pela leitura é, no nosso CNO transversal a todas as áreas.

Aliás, antes de integrarmos o projecto, já se fazia a promoção do gosto pela leitura, no

entanto, a adesão trouxe-nos a mais-valia de envolver toda a equipa e de passarmos a

agir de forma mais reflexiva e orientada.

Eis alguns exemplos das muitas actividades desenvolvidas e das quais fica um registo

no Portefólio:

Leitura e discussão de artigos de jornais, revistas, e outros documentos,

consultados em papel ou em formato digital.

Pesquisas sobre autores e temas variados, sobretudo realiazados no âmbito da

área de TIC.

Reflexões sobre a importância da leitura na vida do candidato.

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Relatos de experiências de leitura.

Resposta a um questionário sobre hábitos de leitura, que visa consciencializar o

adulto de que a leitura faz parte do seu quotidiano e de que tem algumas

competências de leitura, o que é um factor importante para que o adulto queira

ler mais.

Visitas às bibliotecas municipal e escolar.

Actividades desenvolvidas em articulação com a Biblioteca Escolar

A escola Secundária de Vendas Novas dispõe de uma moderna e bem equipada

biblioteca, onde os candidatos podem ter acesso a livros, revistas, jornais, material

audiovisual e equipamento informático. Logo, a biblioteca tem sido um espaço

privilegiado no que respeita à organização e dinamização conjunta de actividades de

leitura:

Incentivam-se os candidatos a frequentarem a biblioteca, quer inseridos em

grupos, quer autonomamente, com os mais variados objectivos: pesquisas,

consultas, leitura de jornais, revistas e livros, requisição de obras e utilização do

equipamento informático.

Organizam-se visitas à biblioteca escolar, com sessões de formação de leitores,

onde os candidatos ficam a conhecer o espaço e as suas valências, aprendem a

localizar documentos, a procurar, seleccionar e tratar informação.

Organizam-se oficinas e acções de formação / sensibilização sobre temas

variados: O Novo Acordo Ortográfico, Referências Bibliográficas, Realização

de Trabalhos de Pesquisa, Temáticas Ambientais.

Visualizam-se filmes, seguidos de debate.

Participa-se na Semana da Leitura, procurando organizar actividades destinadas

ao público adulto, promovendo actividades intergeracionais: partilha de

experiências de leitura, divulgação de livros / textos.

Dinamiza-se um grupo de leitores “Chá com Livros Sénior”. Pelo interesse que

tem suscitado, pelo impacto que tem tido e pela regularidade com que se realiza,

o grupo de leitores merece aqui um lugar de destaque. Com efeito, os grupos de

leitores têm como finalidade a descoberta de diferentes formas de aproximação

aos livros e à leitura. No nosso caso, um grupo de pessoas reúne-se mensalmente

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Projecto Novas Oportunidades a Ler+ O Caso do CNO da Escola Secundária de Vendas Novas

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na biblioteca escolar para, de forma informal, falar das suas experiências de

leitura do livro do mês.

Para tornarmos o ambiente mais acolhedor e descontraído, acompanhamos a

conversa com chá e biscoitos. Pretende-se, através dos livros previamente

seleccionados, introduzir temas para discussão ligados à vida e à história de

todos, visando, desta forma, aumentar o prazer de ler, estimular o debate, a

reflexão e a partilha de experiências, proporcionando um espaço de

aprendizagem informal, aberto à comunidade. As reuniões mensais

complementam-se com a organização de outros eventos relacionados com a

leitura: exposições temáticas, passeios relacionados com autores/livros, sessões

de leitura em grupo, visitais a feiras do livro e encontros com escritores.

Em 2010, as dinamizadoras (coordenadora do CNO e professora bibliotecária)

elaboraram um folheto de divulgação da actividade, explicando o que é um

grupo de leitores, de que se fala, como se participa, que actividades se

desenvolvem e propondo dez títulos, que foram submetidos à aprovação do

grupo, na altura ainda bastande irregular. Privilegiaram-se autores portugueses,

tentando abarcar vários géneros e indo ao encontro dos interesses e das

competências de leitura dos elementos.

Em Setembro de 2010, os resultados eram já visíveis: o grupo tornou-se coeso,

embora sempre aberto a novos membros, a lista de livros para 2011 foi já

elaborada pelo grupo, que integra leitores mais e menos experientes, com

experiências de vida muito distintas, o que o enriquece; tendo-se tornado

também uma forma de ligação ao CNO de adultos que concluiram o seu

processo de RVCC.

Actualmente, o grupo de leitores, que reune mensalmente, conta com a presença

assídua de 8 a 12 elementos e está já a preparar as propostas de leituras para o

próximo ano, pois todos manifestaram vontade de continuar a pertencer ao

grupo. Há a destacar, nesta actividade, a regularidade com que se realiza, e que

tem sido factor determinante para a criação ou melhoria dos hábitos de leitura

dos seus membros, que têm conseguido ler um livro por mês, apesar de não ser

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Projecto Novas Oportunidades a Ler+ O Caso do CNO da Escola Secundária de Vendas Novas

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condição determinante para participar no grupo, todos querem ler, para poderem

participar na discussão.

De acordo com um testemunho de um elemento da equipa do Plano Nacional de

Leitura, Drª Paula Luís, o nosso Chá Com Livros (Sénior), divulgado na Página

do PNL, foi inspirador para muitos outros CNO, que criaram também grupos de

leitores.

Actividades desenvolvidas em articulação com a Biblioteca Municipal

À semelhança do que acontece com a biblioteca escolar, também a Biblioteca Municipal

de Vendas Novas é nosso parceiro no projecto “Novas oportunidades a Ler+”. Trata-se

de um equipamento cultural de elevado interesse, que, regra geral, não é devidadmente

aproveitado pelos cidadãos.

De entre as actividades planificadas e desenvolvidas em colaboração com a biblioteca

Municipal, destacamos a visita guiada feita por todos os cidadãos que iniciam processos

de RVCC, durante a qual, os que ainda não têm cartão de leitor, procedem à sua

inscrição. Esta visita é devidamente preparada pela equipa, que elabora um guião

destinado a orientar o adulto na elaboração de uma reflexão que será mais tarde

colocada no PRA.

Há depois um conjunto de actividades que incluem a apresentação de livros, o encontro

com escritores, as sessões de leitura e a comemoração de efemérides, que são também

desenvolvidas em colaboração com esta biblioteca.

No entanto, estamos cientes de que há ainda um longo caminho a percorrer, pois uma

grande percentagem dos candidatos continua a ter a ideia, errada, de que a biblioteca é

quase exclusivamente para o público infantil.

Outras actividades

O CNO desenvolve ainda um conjunto de actividades que são transversais e que, por

isso, não se enquadram nas secções anteriores, das quais salientamos:

Criação do canto da leitura no CNO

Uma zona da sala de trabalho da equipa foi decorada com imagens e textos

relacionados com os livros e com a leitura. É também nesse espaço que existe

uma “Mesa de Livros”, destinada à partilha de livros entre os elementos da

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Projecto Novas Oportunidades a Ler+ O Caso do CNO da Escola Secundária de Vendas Novas

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equipa e os adultos. É nesse espaço que os candidatos recebem apoio

individualizado quando se dirigem ao CNO.

Dinamização do blogue Companhia dos Livros

Disponível em companhiadlivros.blogspot.com, o blogue foi criado com o

objectivo de apoiar o desenvolvimento das actividades do CNO, na área da

promoção do gosto pela leitura. Tem sido dinamizado, essencialmente, pela

equipa. Pensamos, no entanto, que seria importante, de futuro, conseguir

motivar os adultos para uma participação mais activa no blogue, o que até à

data ainda não aconteceu, provavelmente porque o público-alvo tem poucas

competências informáticas.

Participação nos Jogos Florais Inter-escolas.

Trata-se de um concurso de escrita, com alguma tradição no concelho, uma vez

que vai para a sua VIII edição. Envolve todas as escolas de Vendas Novas e

tinha cinco escalões, que reflectiam os vários níveis de ensino das escolas.

Por sugestão da equipa do CNO, o concurso, em 2010, passou a ter mais um

escalão, destinado ao público adulto da escola. A criação deste escalão surgiu da

constatação de que alguns candidatos já tinham ou desenvolveram durante o

processo, hábitos de escrita, que seria importante valorizar e estimular. Por outro

lado, a inclusão do 6º escalão reflecte também o que é, hoje, a Escola Secundária

de Vendas Novas, onde a população adulta quase iguala, em número a

população jovem.

Merece especial destaque o aumento do número de trabalhos a concurso em

2011 (17), relativamente a 2010 (4); em grande parte, fruto do empenho da

equipa em estimular a participação. Os concorrentes participaram, com muito

agrado, na cerimónia de entrega de prémios e no Sarau “Aconteceu…”

organizado pela Biblioteca Escolar.

Oficinas de Escrita

Fruto de algumas oficinas de escrita que têm sido realizadas e do incentivo que

tem sido dado aos adultos, o CNO tem já uma boa colecção de textos, que estão

a ser revistos e organizados visando uma possível publicação.

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Projecto Novas Oportunidades a Ler+ O Caso do CNO da Escola Secundária de Vendas Novas

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Espaço da Escrita

Foi criado, no Boletim do CNO, uma secção designada “Espaço da Escrita”,

destinada à divulgação de textos dos candidatos.

Elaboração de listas de livros

Tendo em conta as competências de leitura e as características dos leitores, o

CNO elabora listas de livros, que distribui aos candidatos, com o objectivo de

apoiar percursos individuais de leitura.

Divulgação e Disseminação de boas práticas

A divulgação do projecto e a disseminação de boas práticas e de resultados tem sido

uma preocupação da coordenadora do projecto, em especial, mas que se alarga à equipa,

que, progressivamente, vai tendo um maior envolvimento no projecto.

No que concerne à divulgação das actividades, nomeadamente daquelas que são abertas

à comunidade, a divulgação é feita através de:

Cartazes e desdobráveis

Boletim trimestral do CNO

Rádio local

Portal do PNL

Página da Direcção Regional de Educação do Alentejo.

Relativamente à forma como se tem procedido à disseminação de boas práticas e de

resultados do projecto, há a salientar que o CNO tem sido considerado, por entidades e

por outros CNO, um exemplo de boas práticas no que concerne ao desenvolvimento do

Projecto NO a Ler+, pelo que tem sido convidado, com regularidade, a apresentar

comunicações ou a participar em encontros, seminários e conferências, das quais

destacamos:

Conferência Internacional “Centros Novas Oportunidades:Passaporte Para O

Futuro”, Leiria, 2011

Encontro Técnicos Novas Oportunidades a Ler+, Alcáçovas, 2011

Encontro Novas Oportunidades a Ler+, Évora, 2011-10-02

Encontro Novas Oportunidades a Ler+, Cacilhas 2011-10-02

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Projecto Novas Oportunidades a Ler+ O Caso do CNO da Escola Secundária de Vendas Novas

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IV Encontro CNO, Vendas Novas 2011

Para além destas participações com comunicação, elementos da equipa têm participado

em reuniões de apresentação e de acompanhamento do projecto, promovidas pela

equipa do Plano Nacional de Leitura e/ou por outros CNO. A temática da promoção da

leitura/ literacia tem também integrado os programas dos dois últimos Encontros de

CNO organizados pelo nosso centro.

Finalmente, saliente-se o facto de o projecto ser objecto de estudo de uma investigação

que está a ser realizada sobre o Projecto NO a Ler+, no âmbito de um Curso de

Doutoramento da Universidade de Lisboa.

Avaliação

A avaliação do projecto é feita de forma contínua e sistemática, com o objectivo de

redifinir estratégias e metodologias que melhor nos ajudem a atingir o nosso objectivo

principal: melhorar os níveis de literacia dos nossos candidatos.

A avaliação é feita através de análise documental dos relatórios da equipa e dos

testemunhos dos candidatos, por exemplo nos Portefólios. São também utilizados

questionários, destinados à equipa e aos participantes nas actividades.

Resultados

Os resultados começam a ser visíveis, pois são muitos os candidatos que, no fim do

processo de RVCC, referem como mais-valia o facto de terem começado a ler e a

escrever com mais frequência.

A professora bibliotecária referiu o facto de ter aumentado a procura de documentos,

sobretudo livros, por parte do público adulto.

As nossas actividades são, normalmente, objecto de avaliação por parte dos

participantes, mediante o preenchimento de uma ficha de avaliação da actividade. Na

grande maioria dos casos, as actividades têm tido parecer muito favorável do público,

que tem salientado aspectos como o interesse e a pertinência das actividades.

Por outro lado, é também possível avaliar as acções a partir do número de participantes.

regra geral as actividades são muito participadas.

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O quadro que se segue, elaborado a partir de relatórios da equipa, permite-nos ter uma

perspectiva das actividades realizadas, do número de adultos envolvidos e ainda do

contexto em que a acção se desenvolveu.

Quadro 3:Alguns Resultados da Avaliação do Projecto (2010 a Junho 2011)

Actividades

Adultos envolvidos

Contexto

Observações

Pesquisas sobre poetas

portugueses

65 FC: TIC (B2, B3) Tarefa realizada com

interesse e empenho

Leitura de artigos de jornais

e revistas (análise de

gráficos, tabelas, esquemas)

63 FC: MV (B1, B2,

B3)

eitura e interpretação de

notícias

92 RC. /FC: LC

/CLC/ STC

Leitura e análise de contos e

livros de autores portugueses

e estrangeiros

97 RC./ F.C: LC /

CLC

Tarefa feita a partir

de um guião

Leitura de textos utilitários 97 RC./ FC: todas as

áreas

Visitas à Biblioteca

Municipal

63 Processo RVCC Grande percentagem

de novos leitores

Visitas à Biblioteca Escolar 63 Processo RVCC

Formação utilizadores

Biblioteca Escolar.

35 Processo RVCC

Secundário

Formação sobre temas

variados

30 (por sessão) Processo RVCC /

Cursos EFA

Aberto à comunidade

Encontros com escritores 30 (por sessão) Processo RVCC /

Cursos EFA

Aberto à comunidade

Chá com Livros (grupo de

leitores) – Sessões mensais

2010 2011 Processo RVCC /

Cursos EFA

Aberto à comunidade

15 livros lidos

25

(Por

Sessão)

12

(Por

Sessão)

Jogos Florais 2010 2011 Processo RVCC

4

Trabalhos

17

Trabalhos

Tendo em conta que o nosso objectivo é proporcionar aos adultos em processo de

RVCC oportunidades de contacto com o livro e com o texto escrito, indo ao encontro

dos seus interesses e objectivos, parece-nos que temos cumprido a nossa missão.

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No entanto, estamos cientes de que este é um trabalho de continuidade, que não se

coaduna com actividades pontuais e desarticuladas, mas que exige persistência,

coordenação e continuidade.

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CONCLUSÃO

Pela sua pertinência e pelos resultados alcançados, o Projecto “Novas Oportunidades a

Ler+” irá ter continuidade no nosso Centro Novas Oportunidades, apesar da extinção do

Plano Nacional de Leitura; uma vez que é fundamental continuar a promover o gosto

pela leitura e pela escrita junto da população adulta, não só como forma de melhorar os

níveis de literacia desta faixa etária, mas também como forma de, através da família,

promover o gosto pela leitura junto dos mais novos.

Promover o gosto pela leitura e desenvolver competências de leitura, escrita e

numeracia, em públicos adultos, é especialmente difícil. Há hábitos que estão

enraizados, há também uma auto-imagem muito negativa que o adulto tem de si,

enquanto aprendente e enquanto leitor, que não se altera facilmente. Por outro lado, há

também que ter em conta que um processo de reconhecimento de competências dura

alguns meses, pelo que, aquilo que fazemos é uma sensibilização para a importância da

leitura, tentamos também incutir alguns hábitos de leitura e de escrita, mas se não

houver continuidade, será um trabalho inglório.

Na primeira parte deste trabalho ficou clara a importância da literacia no contexto social

e económico dos nossos dias, ficou também claro que é premente aumentar as

qualificações e melhorar os níveis de literacia daqueles que apresentam níveis mais

baixos e que constituem o nosso público-alvo. Passados dois anos de implementação do

projecto, em fase de elaboração de um novo plano, a análise dos resultados, permite-nos

fazer algumas recomendações:

Há que intensificar as acções de aproximação ao texto escrito, de acordo com as

competências do leitor, nomeadamente ao texto jornalístico, informativo e

pragmático; como forma de aumentar o acesso à informação e melhorar a

participação cívica.

As acções do CNO terão de ter continuidade, mesmo após a certificação. O

Plano de Desenvolvimento Pessoal dos candidatos deve incluir recomendações

da equipa que apelem ao desenvolvimento de competências de literacia. As

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bibliotecas - escolar e municipal - deverão incluir, nos seus planos, actividades

dirigidas a adultos, que deverão incluir a formação de leitores.

As tecnologias de informação e comunicação (TIC), às quais os nossos

candidatos, regra geral, aderem com entusiasmo, constituem um excelente

instrumento de acesso ao conhecimento e à informação. Há que intensificar,

durante a realização do processo de RVCC, a formação nesta área. É também de

lamentar a suspensão do Programa E-Oportunidades, que possibilitou a muitos

adultos inscritos nos CNO a aquisição de computadores.

Actividades de promoção do gosto pela leitura e pela escrita, abertas à

comunidade, podem ser elos de ligação do CNO ao candidato, quer depois da

certificação, quer antes mesmo da inscrição. São também formas de projectar a

imagem do CNO na comunidade onde está inserido.

A análise do questionário passado à equipa, evidencia haver ainda necessidade

de um maior envolvimento de toda a equipa na promoção do gosto pela leitura,

encarada de forma abrangente.

A análise dos resultados, permite-nos também perspectivar o futuro. Pelo que existem já

alguns planos dos quais destacamos:

A publicação de um livro de poesia, com trabalhos de adultos dos Centros que

constituem a Rede de Centros Novas Oportunidades do Alentejo Central;

A divulgação do projecto “Bookcrossing”, com a criação de um “Ponto

Bookcrossing”, especialmente dedicado ao público adulto, no CNO

A candidatura a uma parceria europeia, que permita a partilha e a mobilidade de

técnicos e de adultos.

O desenvolvimento de actividades em parceria com outros CNO, sobretudo com

aqueles com quem já trabalhamos e com os quais nos identificamos, em relação

a esta temática.

A valorização e a divulgação de autores locais, com quem os nossos candidatos

se identifiquem

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De facto, acreditamos que muitos dos cidadãos com quem trabalhamos, hoje, acreditam

que “Ler+ compensa”. É o caso de Maria Roberto, que, a propósito de livros,

confidenciou no seu PRA: “Os livros sempre foram os companheiros silenciosos, mas o

conteúdo da sua leitura fez um ruído permanente na minha vida. Ensinaram-me a ser

livre.”

É também esse o objectivo que perseguimos: contribuir para melhorar as competências

de literacia daqueles que procuram o CNO da Escola Secundária de Vendas,

contribuindo assim para que possam ser cidadãos mais informados e mais activos na sua

participação cívica e, simultâneamente, melhor preparados para os desafios da

sociedade da informação e do conhecimento.

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