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Projetos do Concurso da NovaCap DAUP | UNESP_Campus Bauru Prof. Dr. Adalberto da Silva Retto Jr . A P O S T I L A

Projetos do Concurso da NovaCap

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Projetos do Concurso da NovaCap Adalberto da Silva Retto Jr

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Projetos do Concurso da NovaCap DAUP | UNESP_Campus BauruProf. Dr. Adalberto da Silva Retto Jr.

A P O S T I L A

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Índice

Edital Apresentação dos projetos para a capital Os Projetos Lucio Costa Boruch Milman e equipe Rino Levi e equipe M.M.M. Roberto e equipe Henrique Mindlin, Giarcarlo Palanti e equipe Vilanova Artigas e equipe Atas da Comissão julgadora e depoimentos individuais

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Edital

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Edital do Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital

do Brasil

A Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Capital Federal, com sede na avenida Presidente Wilson, 210, salas 306 e 307, nesta Capital, torna publica a abertura do Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil, sob as normas e condições estabelecidas no presente edital:

I. Inscrição

1. Poderão participar do concurso pessoas físicas ou jurídicas domiciliadas no pais, regularmente habilitadas para o exercício da engenharia, da arquitetura e do urbanismo.2. As inscrições dos concorrentes estarão abertas dentro de 10 (dez) dias a partir da data da publicação do presente Edital no Diário Oficial da União e serão feitas mediante requerimento dirigido ao Presidente da Comissão pelo prazo de 15 dias, contado da abertura das inscrições.3. 0 plano piloto devera abranger:a) tragado básico da cidade, indicando a disposição dos principais elementos da estrutura urbana, a localizarão e in-terligarão dos diversos setores, centros, instalações e serviços, distribuição dos espaços livres e vias de comunicação (escala 1:25 OOO);b) Relatório Justificativo4. Os concorrentes poderão apresentar, dentro de suas possibilidades, os elementos que serviram de base ou que comprovem as razões fundamentais de seus planos, como sejam:a) esquema cartográfico da utilização prevista para a área do Distrito Federal, com localização aproximada das zonas de produção agrícola, urbana, industrial, de preservação dos recursos naturais - inclusive florestas, caga e pesca, con-trole de erosão e proteção de mananciais - e das redes de comunicação (escala 1: 50 000);

b) calculo do abastecimento de energia elétrica, de agua e de transporte, necessários avida da população urbana;c) esquema do programa de desenvolvimento da cidade, indicando a progressão por etapas e a duração provável de cada uma;d) elementos técnicos para serem utilizados na elaboração de uma lei reguladora da utilização da terra e dos recursos naturais da região;e) previsão do abastecimento de energia elétrica, de agua, de transporte e dos demais elementos essenciais a vida da população urbana;f ) equilíbrio e estabilidade econômica da região, Sendo previstas oportunidades de trabalho para toda a popu-lação e remuneração para os investimentos planejados;g) previsão de um desenvolvimento progressivo e equilib-rado, assegurando a aplicação dos investimentos no mais breve espaço de tempo e a existência dos estabelecimen-tos e serviços necessários à população em cada etapa do programa;h) distribuição conveniente da população nas aglomer-ações urbanas e nas zonas de produção agrícola, de modo a criar condições adequadas de convivência social;5. Só poderão participar deste concurso equipes dirigidas por arquitetos, engenheiros ou urbanistas, domiciliados no país e devidamente registrados no Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura.

6. O plano piloto deverá ser executado a tinta, cópia heliográfica ou fotostática, sobre fundo branco e trazer a assinatura dos seus autores, sendo vedada a apresentação de variantes, podendo, entretanto, o candidato apresen-tar mais de um projeto.7. Os relatórios devem ser apresentados em sete vias.8. O júri, presidido pelo Presidente da Cia. Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, compor-se-á de: dois repre-sentantes da Cia. Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, um do Instituto de Arquitetos do Brasil, um do Clube de Engenharia e dois urbanistas estrangeiros.9. Os trabalhos deverão ser entregues dentro de 120 dias, a partir da data da abertura das inscrições.10. O Júri iniciará seu trabalho dentro de cinco dias a con-tar da data do encerramento do concurso e o resultado será publicado logo após a conclusão do julgamento.11. Os concorrentes, quando convocados, farão defesa oral de seus respectivos projetos perante o Júri.12. A decisão do Júri será fundamentada, não cabendo dela qualquer recurso.13. Após a publicação do resultado do julgamento, a Cia. Urbanizadora da Nova Capital do Brasil poderá expor os trabalhos em lugar acessível ao público.14. Os autores do plano piloto, classificados em primeiro, segundo, terceiro, quarto e quinto lugares receberão os

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prêmios de Cr$ 1 000 000,00 (um milhão de cruzeiros), Cr$ 500 000,00 (quinhentos mil cruzeiros),Cr$ 400 000,00 (quatrocentos mil cruzeiros), Cr$ 300 000,00 (trezentos mil cruzeiros) e Cr$ 2.00 000,00 (duzen-tos mil cruzeiros), respectivamente.15. Desde que haja perfeito acordo entre os autores classi-ficados em primeiro lugar e a Cia. Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, terão aqueles a preferência para o de-senvolvimento do projeto.16. O Júri não será obrigado a classificar os cinco mel-hores trabalhos e consequentemente a designar con-correntes que devam ser premiados, se, a seu juízo, não houver trabalhos merecedores de todos ou de alguns dos prêmios estipulados.17. Todo trabalho premiado passará a ser propriedade da Cia. Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, após o pa-gamento do prêmio estipulado, podendo dele fazer o uso que achar conveniente.18. A Comissão de Planejamento da Construção e da Mu-dança da Capital Federal coloca à disposição dos concor-rentes, para consulta, os seguintes elementos:a) mosaico aerofotográfico, na escala de 1:50 000, com curvas de forma de 20 em 20 m (apoiados em pontos de altura determinados no terreno por altímetro de precisão Wallace & Tiernan) de todo o Distrito Federal;b) mapas de drenagem de todo o Distrito Federal;

c) mapas de geologia de todo o Distrito Federal;d) mapas de solos para obras de engenharia de todo o Dis-trito Federal;e) mapas de solos para agricultura de todo o Distrito Fed-eral;f ) mapas de utilização atual da terra de todo o Distrito Federal;g) mapa de conjunto, indicando locais para perfuração de poços, exploração de pedreiras, instalações de usinas hi-drelétricas, áreas para cultura, áreas para criação de gado, áreas para recreação, locais para aeroportos, etc., etc.;h) mapa topográfico regular, na escala de 1:25 000, com curvas de nível de 5 em 5 m, executado por aerofotogra-metria, cobrindo todo o sitio da Capital (cerca de 1000 km2) e mais uma área de 1 000 km2 a leste do sitio da Capital, abrangendo a cidade de Planaltina e grande parte do vale do rio São Bartolomeu;i) ampliação fotográfica dos mapas do sítio da Capital (200 kmi) para a escala de 1: 5 000, com curvas de nível de 5 em 5 m;j) mapas detalhados de drenagem, geologia, solos para engenharia, solos para agricultura e utilização da terra do sítio da cidade (1 000 kmi) e mais 1 000 km* a leste desse sítio;k) mapas topográficos regulares, na escala de 1: 2 000, com curvas de nível de metro em metro e de dois em dois

m, da área de 150 km”, indicada como ideal para a locali-zação da zona urbana da Capital Federal;l) relatório minucioso relativo aos estudos do solo e do subsolo, do macro clima e do micro clima, das águas superficiais e subterrâneas, das possibilidades agrícolas e pecuárias, etc., etc.19. Caberá aos concorrentes providenciar as cópias heli-ográficas, fotográficas etc., que julgarem indispensáveis à elaboração dos projetos, sendo que,para esse fim, serão fornecidos os seguintes elementos:a) mapas topográficos regulares em 1: 25 000, com curvas de 5 em 5 m, do sítio da Capital;b) mapas ampliados para a escala de 1:5 000, de 200 km” do sitio da Capital.c) mapas topográficos regulares, na escala de 1:2 000, com curvas de nível de metro em metro e de dois em dois met-ros, da área de 150km, indicada como ideal para a locali-zação da zona urbana da Capital Federal.20. A Comissão de Planejamento da Construção e da Mu-dança da Capital Federal facilitará aos concorrentes visita ao local da futura Capital, para melhor conhecimento da região.21. Qualquer consulta ou pedido de esclarecimento sobre o presente concurso deverá ser feito por escrito, sendo que as repostas respectivas serão remetidas a todos os demais concorrentes.

22. As publicações relativas ao concurso serão insertas no Diário Oficial da União e em outros jornais de grande circulação no Distrito Federal e nas principais Capitais Estaduais.23. A Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Capital Federal, considerando que o plane-jamento de edifícios escapa ao âmbito deste concurso, decidiu que os projetos dos futuros edifícios públicos serão objeto de deliberações posteriores, a critério desta Comissão.2.4. A participação neste concurso importa, da parte dos concorrentes, em integral concordância com os termos deste Edital.

Rio de Janeiro 19 de setembro de 1956Ernesto Silva, Presidente

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Apresentação dos Projetos Para a Capital

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Primeiro PrêmioIdentificação: Plano Piloto nº 22

Equipe: Arquiteto Lúcio Costa

Produtos apresentados pela equipe

Segundo PrêmioIdentificação: Plano Piloto nº 2

Equipe: Arquitetos - Boruch Milman, João Henrique Rocha, Ney Fontes Gonçalves Colaboradores - José da Silva, Carlos Fonseca de Castro, Cerise Baeta Pinheiro, Elias Kaufman, José Luís Ribeira, Milton de Barros, Renato Lima, Yvanil-do Silva Gusmão.

Produtos apresentados pela equipe

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Terceiro e Quarto PrêmiosIdentificação: Plano Piloto nº 17

Equipe: Arquitetos - Rino Levi, Roberto Cerqueira Ce-sar, L.R. Carvalho Franco Engenheiro - Paulo Fragoso

Produtos apresentados pela equipe

Identificação: Plano Piloto nº8

Equipe: Arquitetos - Marcelo Roberto, Maurício Roberto, Antônio A. Dias, Elinda Engert Engenheiros - Paulo Novaes e Fernando Segadas Vianna Colaboradores - Estephania R. Paixão, Mar-cello Campello Fragelli, Sérgio A. Rocha, H.J.P. Linne-mann, Ivo Magalhães, J.M. Azevedo Neto, J.R. Rego Monteiro, N.A. Gaspar, Antônio A. Teixeira de Frei-tas, João Lyra Madeira, Alfredo Ceschiatti

Produtos apresentados pela equipe

Terceiro e Quarto Prêmios

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Quinto PrêmioIdentificação: Plano Piloto nº 24

Equipe: Arquitetos - Henrique E. Mindlin, Giancarlo Palanti Colaboradores - Walmir Lima Amaral, Marc Demetre Foundoukas, Anny Sirakoff, Olga Verjovsry, Gilson Mendes Lagese André Gonçalves.

Produtos apresentados pela equipe

Quinto PrêmioIdentificação: Plano Piloto nº 1

Equipe: Arquitetos - Carlos Cascaldi, João Vilanova Artigas, Paulo de Camargo e AlmeidaEconomista - Mário Wagner Vieira da Cunha Colaboradores - Heitor Ferreira de Souza, Júlio Rob-erto Katinsky, Mário Alfredo Reginato, Ubirajara Gilioli Conselheiros especiais - Catulo Branco (energia elé-trica), Dirceu Lino de Mattos (planificação regional), Flávio Motta (história), José Calil (agricultura e abastecimento), Lauro Mueller Bueno (legislação), Maria José Garcia Wer-ebe (educação e ensino), Odair Pacheco Pedroso (higiene e assistência hospitalar), Otacilio Pousa Sene (higiene e sanea-mento), Rodolfo dos Santos Mascarenhas (saúde pública)

Produtos apresentados pela equipe

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Os Projetos

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Lúcio Costa

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Lucio Costa Lucio Costa

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Lucio Costa Lucio Costa

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Lucio Costa Lucio Costa

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Lucio Costa Lucio Costa

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Lucio Costa Lucio Costa

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Lucio Costa Lucio Costa

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Boruch Milman e Equipe

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Boruch Milman e Equipe

Exposição esquemática

Boruch Milman e Equipe

Plano Piloto

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Boruch Milman e Equipe

Zonas Residenciais 1, 2 e 3

Boruch Milman e Equipe

Perspectiva do interior de uma quadra

Desenvolvimento linear da cidade

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Boruch Milman e Equipe

Centro governamental e cultural

A - Legislativo B - Judiciário C - Executivo D - Centro cultural

Boruch Milman e Equipe

Centro comercial

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Boruch Milman e Equipe

Perspectivas do centro comercial

Boruch Milman e Equipe

Perspectiva da cidade

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Boruch Milman e Equipe

Humanizar Cultivo do corpo: verde livre para uso comum (interior) verde livre para uso comum (exterior) centros esportivos, hipódromo, clubes de golfe, autódromo, assistência médico-sanitária, jardins ecológico e botânico. Cultivo do espírito: Centro cultural, cidade univer-siária, exposições inter nacionais, escola média, escola primária, jardim da infância e maternal, jardins zoolágico e botânico.

Boruch Milman e Equipe

Etapas de crescimento:A descentralização orgânica e a concepção das quadras possibilita a transferência ime-diata do número de servidores que o go-verno achar conveniente, nas etapas que determinar. Nas quadras ZR1, ZR2 e ZR3 poderão ser alojados em casas isoladas e edifícios de três pavimentos 180 000 ha-bitantes, que correspondem a 25 000 fun-cionários e 11 000 habitantes de economia própria com as respectivas famílias.

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Boruch Milman e Equipe

Circular Circulação de pedestres: mediante a construção de passagens inferiores que a rede de intalações facilita, o pedestre poderá atingir qualquer lugar sem cruzar com veícu-los. Circulação de veículos: tráfego interubano; vias locais de tráfego rápido; vias locais de tráfego lento; vias de abastecimento

Boruch Milman e Equipe

Instalações: galerias subterrâneas e redes de água, esgoto, gás e energia

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Rino Levi e Equipe

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Rino Levi e Equipe

Maquete do setor de habitação intensiva e centro urbano

Rino Levi e Equipe

Maquete do superbloco

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Rino Levi e Equipe

Plano Piloto

Rino Levi e Equipe

Setor de habitação intensiva e centro urbano

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Rino Levi e Equipe

As funções humanas

Rino Levi e Equipe

Organização dos conjuntos de habitação

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Rino Levi e Equipe

Superbloco - 16 mil habitantes

Rino Levi e Equipe

Maquete da cidade

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M.M.M. Roberto e Equipe

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M.M.M. Roberto e Equipe

Memorial metrópole

M.M.M. e Equipe

Memorial unidade

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M.M.M. Roberto e Equipe

Plano Piloto

M.M.M. e Equipe

Distrito Federal

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M.M.M. Roberto e Equipe M.M.M. e Equipe

Unidade urbana

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M.M.M. Roberto e Equipe

Unidade urbana: ampliação de um dos setores

M.M.M e Equipe

Unidade 2: Comunicações

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M.M.M. Roberto e Equipe

Unidade 1: administração do Distrito Federal;Unidade 3: Finanças

Unidade 4: Artes Unidade 5: Ciências e Letras

M.M.M e Equipe

Unidade 6: Bem estar social

Unidade 7: Produção

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M.M.M. Roberto e Equipe

Parque Federal

M.M.M e Equipe

Trecho “frente d’água”

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Page 37: Projetos do Concurso da NovaCap

M.M.M. Roberto e Equipe

Etapas de crescimento: hipótese de crescimento acelerado

Planejamento agrícola: capacidade de uso da terra Planejamento agrícola: distribuição das culturas

Etapas de crescimento: hipótese de crescimento normal

Planejamento agrícola: utilização de terras não agrícolas

Planejamento agrícola: divisão mínima da terra

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Henrique Mindlin, Giancarlo Palanti e Equipe

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Henrique Mindlin, Giancarlo Palanti e Equipe Henrique Mindlin, Giancarlo Palanti e Equipe

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Henrique Mindlin, Giancarlo Palanti e Equipe Henrique Mindlin, Giancarlo Palanti e Equipe

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Henrique Mindlin, Giancarlo Palanti e Equipe Henrique Mindlin, GianCarlo Palanti e Equipe

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Henrique Mindlin, Giancarlo Palanti e Equipe

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Vilanova Artigas e Equipe

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Vilanova Artigas e Equipe Vilanova Artigas e Equipe

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Vilanova Artigas e Equipe Vilanova Artigas e Equipe

Plano Piloto

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Vilanova Artigas e Equipe

Maquete da cidade

Vilanova Artigas e Equipe

Zoneamento urbano

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Vilanova Artigas e Equipe

Governo [centro cívico]

Vilanova Artigas e Equipe

Parque de recreação

Produção e consumo

Educação

Higiene

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Vilanova Artigas e Equipe

Circulação

Vilanova Artigas e Equipe

Programa de desenvolvimento

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Vilanova Artigas e Equipe

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Atas da comissão julgadora edepoimentos individuais

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Aos doze dias do mês de março do ano de 1 957, nesta cidade do Rio de Janeiro, no edifício sede do Ministério da Educação e Cultura, às dezesseishoras, reuniu-se, em sessão de instalação, a Comissão Julgadora do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil, sob a presidência do Dr. Israel Pinheiro da Silva e com a presença dos seus membros: Sir William Holford, André Sive, Stamo Papadakí, Hildebrando Horta Barbosa, Paulo Antunes Ribeiro e Oscar Niemeyer. Abrindo os trabalhos, o Senhor Presidente declarou instalada a Comissão, dando as boas-vindas aos Senhores Sir William Holford, André Sive e Stamo Papadaki, afirmando que a presença desses ilustres arquitetos, pela sua competên-cia e alto conceito firmado na arquitetura mundial, constituía para a Companhia Urbanizadora da Nova Capital mo-tivo de grande satisfação. Em seguida o Senhor Presidente solicitou à Comissão que se manifestasse sobre a ordem e critérios a seguir nos trabalhos. O Senhor André Sive propôs então que os trabalhos se iniciassem diariamente às onze horas, destinando-se a primeira parte da manhã ao exame e revisão, por cada membro, dos trabalhos diários. Usando da palavra, Sir William Holford propôs que a Comissão fizesse, de plano, uma pré-seleção dos trabalhos apresentados, os quais mereceriam então estudos mais apurados. Sobre esta proposta manifestou-se o Doutor Paulo Antunes Ribeiro, declarando que a seu ver não deveria ser feita uma pré-seleção, mas um longo estudo de cada projeto. O Senhor Oscar Niemeyer pediu então que as propostas fossem postas em votação. Usando a palavra o Senhor Presidente declarou que iria apresentar um substitutivo: a Comissão faria a pré-seleção dos trabalhos, desde que essa escolha fosse feita pela unanimidade dos membros da Comissão. Se porém houvesse, pelo menos, um voto divergente seria dado um prazo de vinte e quatro ho-ras ao membro divergente para estudo e apresentação de suas razões, após o que a Comissão decidiria. Essa proposta

Atas da comissão julgadora edepoimentos individuais

ATA DA SESSÃO DE INSTALAÇÃO

foi aceita unanimemente. Declarando assim instalados os trabalhos, o Senhor Presidente informou que aguardava o Relatório Técnico de Classificação dos Concorrentes, e que estaria diariamente às onze horas à disposição dos Senhores membros da Comissão a fim de decidir qualquer questão surgida no andamento dos trabalhos e que dependessem de reunião formal da Comissão. Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente encerrou a sessão, declarando que aguardaria o parecer técnico da Comissão para nova sessão se outra não fosse convocada por qualquer de seus mem-bros. Para constar, eu, Erasmo Martins Pedro, secretário ad hoc da Comissão,lavrei a presente Ata que vai assinada por todos os presentes: Israel Pinheiro da Silva, Paulo Antunes Ribeiro, Hilde-brando Horta Barbosa, WilliamHolford, André Sive, Stamo Papadaki, Oscar Niemeyer e Erasmo Martins Pedro, Secretário.

ATA DA SEGUNDA SESSÃO

Aos dezesseis dias do mês de março do ano de 1957, nesta cidade do Rio de Janeiro, às vinte e uma horas, à Rua Assis Brasil, 146, reuniu-se a Comissão Julgadora do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil, sob a presidência do dr. Israel Pinheiro da Silva, e com a presença dos seguintes membros: Sir William I-Iolford, Stamo Papadaki, Luiz Hilde-brando Horta Barbosa, Paulo Antunes Ribeiro e Oscar Niemeyer. Dada a palavra ao Senhor Oscar Niemeyer, por este foi feito um relatório das atividades do Júri, desde a data de sua instalação, e que foram as seguintes: de acordo com o estabelecido na sessão de instalação, dos vinte e seis trabalhos apresentados, dez foram selecionados por decisão unânime. Passou, então, o júri a examinar esses dez trabalhos, por proposta do Dr. Luiz Hildebrando Horta Barbosa; o Júri decidiu, unanimemente, e antes da segunda seleção, solicitar aos três arquitetos estrangeiros, Sir William Holford, André Sive e Stamo Papadaki, que se reunissem isoladamente durante as manhãs que fossem necessárias para estudar esses dez trabalhos, após o que o Júri continuaria seus estudos em conjunto. Ainda, por proposta do arquiteto Paulo Antunes Ribeiro, decidiu o Júri que o dia 14, quinta-feira, fosse dedicado por cada membro para seus estudos isolados,

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reiniciando-se os trabalhos em conjunto no dia seguinte, pela manhã. Os arquitetos estrangeiros, de suas observações e exame, fizeram estudos sob forma de “croquis” comparativo dos trabalhos que consideraram principais, acompanha-dos de apreciações criticas sintéticas de cada um dos projetos, bem como de seus valores essenciais, sendo igualmente elaborado um relatório para ser apreciado pela Comissão em conjunto. Retomando a palavra o Senhor Presidente so-licitou aos Membros da Comissão que, se tivessem qualquer retificação sobre esse relato das atividades do Júri, se mani-festassem. Não havendo quem o fizesse, o Sr. Presidente passou à leitura do Relatório vazado nos seguintes termos: Relatório do Júri para a escolha do Plano Piloto da Nova Capital. O Júri realizou diversas reuniões a fim de escol-her entre os 26 projetos apresentados, O que melhor serve para a base da Nova Capital Federal. Inicialmente procurou o Júri definir as suas atribuições. De um lado, considerou-se que uma Capital Federal, destinada a expressar a grandeza de uma vontade nacional, deverá ser diferente de qualquer cidade de quinhentos mil habitantes. A Capital, cidade fun-cional, deverá além disso ter expressão arquitetural própria. Sua principal caracteristica é a função governamental. Em torno dela se agrupam todas as outras funções, e para ela tudo converge. As unidades de habitação, os locais de trabal-ho, os centros de comércio e de descanso se integram, em todas as cidades. de uma maneira racional entre eles mesmos. Numa capital tais elementos devem orientar-se “além disso, no sentido do próprio destino da cidade: a função governa-mental”. O Júri procurou examinar os projetos, inicialmente, sob o plano funcional, e, em seguida, do ponto de vista da síntese arquitetônica. A) Os elementos funcionais são: 1. A consideração dos dados topográficos;2. a extensão da cidade projetada em relação com a densidade de habitação(escala humana); 3. o grau de integração, ou sejam as relações dos elementos entre si; 4. a ligação orgânica entre a cidade e os arredores (plano regional).B) A síntese arquitetural compreende: 1. composição geral; 2. Expressão específica da sede do Governo.Levando em consideração o que vem de ser enunciado, 0 Júri selecionou quatro projetos, que até certo ponto preenchem os critérios enumerados: n. 2 (dois) - de Boruch Milman, João Henrique Rocha e Ney Fontes Gonçalves; n. 8 (oito) - de M. M. M. Roberto; n. 17 (dezessete) - de Rino Levi, Roberto Cerqueira César e Luiz Roberto Carvalho Franco; e n. 22 (vinte e dois) - de Lucio Costa. O Júri se deparou com uma tarefa difícil, ao tentar estabelecer uma classificação dos projetos segundo os aspectos funcional e plástico. Realmente, desde logo foi constatada uma contradição. E que,

enquanto certos projetos podiam ser escolhidos tendo em vista determinadas qualidades de ordem funcional, ou mesmo pelo conjunto de dados funcionais, se encarados em seu aspecto plástico não se mostravam igualmente satis-fatórios. Outros projetos, preferíveis sob o ângulo arquitetural, deixavam a desejar quanto ao lado funcional. O Júri procurou encontrar uma concepção que apresentasse unidade e conferisse grandeza à cidade, pela clareza e hierarquia dos elementos. Na opinião de seus membros, o projeto que melhor integra os elementosmonumentais na vida quotidiana da cidade, como Capital Federal, apresentando uma composição coerente, racion-al, de essência urbana - uma obra de arte - é o projeto n. 22 (vinte e dois) do Senhor Lucio Costa; o Júri propõe seja o primeiro prêmio conferido ao projeto de Lucio Costa; para o segundo prêmio, propõe o projeto de n. 2 (dois) de Boruch Milman e outros, que apresenta uma densidade conveniente, agrupando de maneira feliz as habitações na beira do lago. Propõe, em seguida, sejam reunidos o terceiro e quarto prêmios, e atribuídos aos projetos de n. 17 (dezessete) por apresentar uma alta qualidade plástica em harmonia com uma grande competência técnica, e o de n. 8 (oito) por sua ampla pesquisa de desenvolvimento regional e seus estudos aprofundados dos problemas econômicos e admin-istrativos. O Júri propõe, finalmente, seja concedido o quinto prêmio aos seguintes projetos: n. 24 (vinte e quatro), de Henrique E. Mindlin e Giancarlo Palanti; n. 26 (vinte e seis), de Construtécnica S.A. e n. 1 (um), de Carlos Cascaldi, João Batista Vilanova Artigas, Mário Wagner Vieira e Paulo de Camargo e Almeida. Em anexo, um resumo das apreciações que serviram de base à seleção dos projetos premiados.Rio de Janeiro, 15 de março a`e1957.

Assinados: I/Wllíam Halford Stamo Papadakfl André Sive, Oscar Niemeyer e Luíz Hildebrando Horta Barbosa.

Pediu então a palavra o arquiteto Paulo Antunes Ribeiro, para, antes de ser o relatório submetido a votos, fazer a seguinte proposta:“Sugiro que os dez trabalhos separados no primeíro dia, acrescidos do número 11 (onze), na numeração a giz, fossem constituídos como a equipe vencedora do concurso, sem classificação, organizando-se desta forma uma grande Comis-são encarregada de desenvolver o plano de Brasília”.

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O Senhor Presidente submeteu a proposta à Comissão, pedindo a manifestação de seus membros. O Dr. Luiz Hildebrando Horta Barbosa declarou que votava pela classificação dos projetos e, consequentemente, contra a propos-ta, por não considerar todos os trabalhos num mesmo nível, não podendo equipara-los. Em seguida, votou Sir Wil-liam Holford, declarando: se se tratasse de um concurso de outra natureza como por exemplo um concurso de estética, talvez fosse possível a adoção desse critério. Mas em se tratando da escolha de um plano para a construção da Capital de uma grande país, que seria examinado, comentado e criticado no mundo inteiro, como técnico e com a respon-sabilidade de seu nome teria que dar sua opinião sobre os trabalhos, pelo que votava contra a proposta e a favor da classificação. No mesmo sentido manifestou-se o Sr. Stamo Papadaki, dizendo que os projetos apresentados não são da mesma qualidade, e que alguns até são contraditórios entre si, pelo que não podia equipará-los. Pela classificação votou ainda o Sr. Oscar Niemeyer, pelo que o Senhor Presidente declarou rejeitada a proposta e submeteu a votos o relatório com a classificação ali constante. Posto em votação, foi o relatório aprovado, passando assim a constituir o Relatório da Comissão, tendo o arquiteto Paulo Antunes Ribeiro dado o seu voto em separado, assim redigido, e que passou a ser lido para conhecimento da Comissão:Comissão Julgadora dos Trabalhos de Brasília. Voto do arquiteto Paulo Antunes Ribeiro Apesar de ter enviado uma carta ao Dr. Israel Pinheiro, declarando que, como representante do IAB, me retirava do Júri para julgamento do con-curso para o plano piloto de Brasília, em Virtude de não concordar com o critério adotado na escolha dos trabalhos, fui convidado a apresentar o meu voto em separado, digo, relatório em separado, incorporando à Ata que será feita, o que achasse deveria fazê-lo, como meu voto. Como não me acho em condições de opinar tecnicamente, apresento como meu voto apenas o relato do que se passou nos dois dias e meio em que foram estudados e julgados os 26 trabalhos apresentados pelos concorrentes.1. No dia imediato ao encerramento do prazo para a apresentação dos projetos, isto é, no dia 22, terça-feira, foi aberta, às quatro horas da tarde, a exposição dos trabalhos apresentados, a ela comparecendo os membros do Júri e os repre-sentantes da Companhia Urbanizadora;2. Logo após a visita Oficial, que durou aproximadamente quarenta minutos, o Dr. Israel Pinheiro convocou os mem-bros do Júri, solicitando-lhes começassem os trabalhos que ele esperava fossem concluídos em uma semana. Nessa oc-asião, sugeri que fossem distribuídos aos membros do Júri os relatórios dos 26 projetos apresentados, cuja leitura deve-

ria ser o primeiro passo para o seu conhecimento. Logo após, começariam então os trabalhos de exame e comparação;3. Objetou o Sr. Dr. Israel Pinheiro que esse processo tomaria um tempo precioso, o que levou o representante francês a informar que tendo recebido e arrumado os trabalhos sabia que uma parte deles não resistiria a um simples exame, sugerindo que fizéssemos uma volta pelo salão, para verificar a exatidão da sua afirmativa, finda a qual decidiríamos como prosseguir;4. A sugestão foi aceita e o Júri, com todos os seus membros, percorreu toda a exposição durante mais ou menos uma hora, procedendo a um exame sumário dos projetos, dai resultando a seleção de dez trabalhos;5. Com esse resultado, procurou o Júri deliberar sobre como prosseguir. Solicitei, então, novamente que fossem distribuídos os dez relatórios a cada um dos membros do Júri, dando-se-lhe um prazo para o seu estudo e posterior reunião para deliberação. Mais uma vez o fator tempo interveio. A reunião deveria ser no dia seguinte, declarando eu, então, que levaria os relatórios e os leria à noite, mesmo que para isso precisasse de toda ela. Foi o que fiz. E claro que li apenas, sem fazer o estudo que deveria ser feito e que demandaria muito mais tem-po;6. Continuamos ainda, na terça-feira, e ao término dessa reunião foi marcado novo encontro para as duas e meia horas do dia seguinte, quarta-feira;7. Na quarta-feira, às duas horas e meia, compareci com os dez relatórios lidos, somente, é claro. Começada a reunião procurei saber do representante inglês qual o critério a adotar para o exame dos dez trabalhos que estavam sendo estu-dados. Depois de debatido o assunto venceu a ideia do representante da França, de que os trabalhos deveriam ser apre-ciados em função de: a) topografia; b) densidade; c) integração; d) plástica;8. Percorremos então, novamente, a exposição, examinando cada trabalho, oferecendo cada membro do Júri sua opin-ião sumária sobre cada um deles, o que era anotado em folha de bloco pelo representante americano (folha esta que guardei em meu poder);9. Ao finalizar esse exame, voltamos a deliberar, declarando o representante inglês que, tendo sido feita uma apre-ciação rápida demais, seria interessante que nos detivéssemos para aprofundar um pouco mais. Sugeri, então, que o dia seguinte, quinta-feira, fosse deixado livre para pensar e reexaminar o assunto e que, sexta-feira, nos reuníssemos às dez horas para trocar ideias, antes da chegada do Sr. Dr. Israel Pinheiro, marcada para as onze e meia horas;

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10. Quinta-feira passei o dia todo na sala da exposição, copiando trabalho por trabalho, para compará-los melhor, à noite, em minha casa, procurando chegar a alguma conclusão: ao mesmo tempo, repassei os trabalhos deixados para mais tarde, verificando que deveríamos rever mais um projeto, cujo exame seria aconselhável;11. Como combinado, sexta-feira, às dez horas, cheguei ao local dos trabalhos para trocar ideias, pretendendo sugerir o exame do projeto que encontrei no repasse, ai ficando até quinze para as onze horas, quando chegou Oscar Niemeyer acompanhado dos três representantes estrangeiros. Niemeyer, dirigindo-se a mim, entregou-me um pequeno relatório, dizendo-me que era o resultado do trabalho dos três arquitetos estrangeiros. na quinta-feira. Ao ler o documento, verifiquei, com surpresa, que os meus três cole-gas não só tinham escolhido os cinco projetos finais, mas também os tinham classificado, estando portando concluído o julgamento dos projetos no tempo record de dois dias e meio. Contra três votos e mais um de Oscar Niemeyer, não me poderia restar nenhuma veleidade de opinar mesmo que estivesse em condições de fazê-lo, o que não estava, motivo pelo qual, para salvar a responsabilidade do IAB, não concordando com o critério adotado para o julgamento, apresento meu voto em separado. De acordo com as bases conhecidas de todos os associados do IAB, em virtude dos dados arbitrários fornecidos, caberia julgar objetivando a escolha da equipe de real valor e alto padrão técnico, que demonstrasse sua capacidade para desenvolver o projeto da Nova Capital do Brasil. Para finalizar, no intuito de colaborar construtivamente para a solução da questão, sugiro, en-tretanto, que os dez trabalhos separados no primeiro dia, acrescidos de mais um, o de número 11 (onze) na numeração a giz, fossem constituídos como a equipe vencedora do concurso, sem classificação, organizando-se dessa forma, uma grande comissão encarregada de desenvolver o plano de Brasília. Neste caso o assunto estaria resolvido com justiça e a contribuição de todos se faria sentir. São estas as declarações que posso oferecer como meu voto e que serão levadas ao conhecimento do Conselho Diretor do IAB.”Paulo Antunes Ribeiro

Após a leitura solicitou a palavra o Dr. Luiz Horta Barbosa, para declarar haver-se equivocado o dr. Paulo Antunes Ribeiro, quando afirma que o julgamento foi feito em dois dias e meio, pois, iniciando-se os trabalhos na terça-feira, ainda nesta data e a esta hora, sábado, às vinte e duas horas, prosseguiam os trabalhos. Também Sir William Holford

declarou que ainda prosseguiam os trabalhos e que ele, mesmo antes de instalado o Júri, já estava realizando estudos dos projetos apresentados. O senhor presidente, igualmente, disse que desejava fazer uma retificação quanto às consid-erações do voto do arquiteto Paulo Antunes Ribeiro, no seu item 11, quando afirma que ao receber de Oscar Niemeyer o relatório dos arquitetos estrangeiros já estava concluído o julgamento dos projetos em tempo recorde de dois dias e meio e que nada mais lhe cabia fazer. Não houve julgamento, tendo apenas os três membros estrangeiros emitido seu parecer sobre os projetos, já que para isso se julgaram devidamente habilitados. A escolha e o julgamento dependeriam da Comissão plena, sob sua presidência, a qual decidiria, como ora estava fazendo. O parecer ou a opinião de qualquer membro, na reunião da Comissão, seria objeto de apreciação e poderia ser aceito ou rejeitado, não sendo, por con-seguinte, um julgamento. Ressalvado, ainda, que sendo o julgamento realizado em ato coletivo, não em votação secre-ta, porém mediante debate, discutindo-se pontos de vista, não importava ser conhecida, a priori, a opinião ou o parecer de qualquer dos membros. Até pelo contrário, sendo ele conhecido com antecedência, colocado os demais membros com opinião contrária, em melhores condições para analisa-los e debatê-los, e até por força de argumentos modificar as opiniões já emitidas. Após essas considerações o senhor presidente declarou vencedores do concurso, os seguintes projetos: Primeiro lugar - número vinte e dois, do Senhor Lucio Costa; segundo lugar - número dois, de autoria de Boruch Milman, João Henrique Rocha e Ney Fontes Gonçalves; Terceiro e Quarto lugares, em conjunto, os projetos dezessete e oito, respec-tivamente, de Rino Levi, Roberto Cerqueira César e Luiz Roberto Carvalho Franco, o primeiro e de M. M. M. Roberto, o segundo; quinto lugar, em conjunto, os projetos vinte e quatro, vinte e seis, e um, respectivamente, de: Henrique E. Mincllin e Giancarlo Palanti; - da Construtécnica s. A. e o de Carlos Cascaldi, João Batista Vilanova Artigas, Mário Wagner Vieira e Paulo de Camargo e Almeida. Em seguida, pediu a palavra Sir William I-Iolford para declarar que se sentia muito honrado em ter participado de uma missão tão elevada, como seja a de colaborar na escolha de um projeto destinado à construção da Nova Capital do Brasil, e muito satisfeito por verificar o grande desenvolvimento que há no Brasil da arquitetura, e que essa afirmativa mais se comprova nessa atividade pela representação que teve no concurso. O Senhor Presidente, Dr. Israel Pinheiro, declarou então que ao se encerrarem os trabalhos da Comissão Julgadora do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil, queria, em nome da Companhia Urbanizadora e no do Governo brasileiro, agra-decer a todos os participantes da Comissão, e especialmente aos representantes inglês, francês e norte-americano, os

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serviços que prestaram ao grandioso empreendimento que é a mudança da Capital do Brasil, ressaltando o sucesso, sem precedente, do Concurso, quer pela quantidade, quer pela qualidade dos trabalhos apresentados. Nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente encerrou a sessão, da qual, para constar, eu Erasmo Martins Pedro secretário ad hoc da Comissão lavrei a presente Ata, que vai assinada por todos os membros presentes: Israel Pin-heiro da Silva, Oscar Niemeyer,William Holford, Stamo Papadaki, André Sive, Paulo Antunes Ribeiro, Luiz Hildebrando Horta Barbosa e Erasmo Mar-tins Pedro, Secretário.

DECLARAÇÕES INDIVIDUAIS

Stamo Papadaki Mark Twain certa vez observou - ao comentar as desvantagens da linguagem como um meio positivo de comunicação - que frequentes mal-entendidos surgem do fato de que várias pessoas usam a mesma palavra com sentido diferente ou palavras diferentes para exprimir a mesma coisa. Tenho plena consciência deste fato, já que se aplica particularmente no terreno do urbanismo. Por exemplo; as mais desanimadoras contribuições de temas e realidades têm sido oferecidas sob a capa de “tecnológicas” e sob diferentes e atraentes chavões.Sob a promessa de “uma vida boa” para os moradores, encontramos “bairros dormitórios” e seções inteiras de uma ci-dade completamente mortas, e onde reina o enfado. Nessa mesma presunção cada pessoa recebeu uma porção mínima de terreno, de paisagem, de conforto físico na esperança de que, desta forma, fosse atendido um mínimo de aspirações humanas. Facilmente poderia eu estender tais críticas, de forma a abranger outros aspectos funcionais de uma nova cidade além das habitações; mas temo ficar cansativo.

O projeto de Lúcio Costa

O projeto para a nova capital de um país, cujos habitantes se integrarão num sistema coerente de centros urbanos e rurais que abarcam uma área total de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, apresenta alguns problemas gigantescos.

Tais problemas não são fundamentalmente de natureza tecnológica ou sociológica. Dificilmente se poderia conceber a capital como um aglomerado ao redor de uma função particular - digamos, ao redor de um bem concebido conjunto industrial, o qual, neste caso, seria substituído por um complexo administrativo. O plano da nova capital deve apresen-tar, acima de tudo, a essência de uma entidade - podemos dizer, mesmo, de uma personalidade própria. E essa entidade característica deve ser facilmente reconhecível do alto de um aeroplano, do nível do solo, das estradas, de dentro e de fora, como um todo e como o fragmento de um todo. Na minha opinião, o único projeto apresentado ao Concurso do plano piloto de Brasília contendo as sementes de uma entidade real é o de Lucio Costa. Nele há um sentido _de relações entre as partes e o todo; mas, acima de tudo o delineamento geral É tal que con-servará sua identidade mesmo que a cidade cresça de maneira descontrolada num futuro distante - exatamente como podemos encontrar a intenção inicial de L”Enfant na Washington de nossos dias. E é alentador descobrir-se, após exame mais detido do projeto, que cada uma das funções básicas urbanas, longe de serem antagônicas umas às outras ou de apenas coexistirem, oferece elementos plásticos originais de alta distinção - como é o caso das quadras residen-ciais com uma nova escala que conserva certo recolhimento de épocas passadas, sendo mais adequadas às exigências e técnicas do presente; também merece destaque a esplanada sobrelevada do complexo governamental. Além do mais, o homem é respeitado em seu “habitar”, sem se perder num labirinto administrativo ou se prender numa rede de comuni-cações.

Post-scríptumConquanto os arquitetos brasileiros tenham desenvolvido um impressionante aparelhamento para proteger seus ed-ifícios dos raios solares, pouca atenção parece ter sido destinada a aplicar as mesmas ideias à escala urbana. Há muito pouca proteção para o pedestre, os motoristas ou mesmo para os automóveis. Uma tentativa de solucionar este proble-ma climático certamente contribuiria para dar um caráter especial às cidades brasileiras, como já acontece com os seus edifícios.

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André Sive Uma cidade não deve ser desmesurada - veja-se o caso de Chicago, onde há tal desenvolvimento das ruas que, apesar de toda a sua riqueza, a cidade jamais consegue estar convenientemente pavimentada Quem ousará tomar sobre a sua consciência a sobrecarga do contribuinte brasileiro, fazendo-o pagar pelas ruas sem fim de Brasília (mais a tubu-lação que está sob as ruas) quando ele já não terá de trabalhar pouco para construir uma nova capital? Sou deliberadamente a favor dos projetos pouco extensos. Foi-me perguntado se eu tinha uma ideia preconcebida a favor do projeto do Sr. Costa. Sim, sem dúvida, desde que vi tal projeto. Senti que era razoável e claro - um verdadeiro plano diretor (piloto), na medida em que prevê e lo-caliza os elementos essenciais, sem se sobrecarregar de detalhes que, de qualquer modo, apenas podem ser dados como exemplos. O projeto Costa é o mais concentrado. A tal ponto que, em dado momento, se poderia acreditar insuficiente a superfície prevista. Aprofundando o exame do problema, podemos verificar que o Sr. Costa está certo. O projeto premiado em segundo lugar é também um projeto pouco extenso. Contém alguns elementos bastante interessantes, como seja a utilização da península. Em Brasília, examinei o ponto geográfico culminante, que é igualmente o ponto culminante da composição do Sr. Costa. A grandiosidade da paisagem é extraordinária. Que sorte ter o Sr. Costa iogrado acrescentar-lhe ainda uma ênfase complementar! Ao lado do meu trabalho cotidiano, como arquiteto que constrói, sou também arquiteto consultor do Ministério da Reconstrução e Moradia França). Há sete anos, corrijo uma dezena de projetos (grandes e pequenos) por semana. Não hesito em dizer que minha experiência demonstra Serem sempre os bons projetos aqueles que a gente compreende de um relance. Espero ter oc-asião de conhecer o Sr. Costa, e de felicitá-lo. Estudei com bastante interesse, durante noites a fio, os relatórios detalhados de alguns concorrentes, aos quais desejo render minhas homenagens por seus esforços. Era para mim um caso de consciência salientar o valor de tais tra-balhos. No final das contas, consideramos que o fato mesmo de julgar um plano diretor impunha que se desse preferên-cia, preliminarmente, à ideia geral. Sir William Holford Explicando a decisão do júri sobre o plano piloto para Brasília, disse Sir William Holford, membro do órgão julgador, que se tratava de uma competição de ideias e não de detalhes.

Outro aspecto interessante focalizado pelo arquiteto inglês foi aquele em que afirmou estar o valor do projeto na relação entre o projeto arquitetural e de engenharia, de um lado, e o urbanismo de outro.

Rapidez no julgamento À primeira indagação sobre como foi possível julgar, em poucos dias, um concurso da envergadura da do piano piloto da Nova Capital, assim se expressou Sr. William Holford: De acordo com as condições do concurso, no meu entender, tratava-se de uma competição de ideias e não de de-talhe. Nenhum arquiteto, firma ou companhia poderia traçar, nesta fase, um plano seguro de operações, incluindo da-dos sociais e econômicos, e seu custo exato. Em vista disso, as condições estabelecidas demandavam apenas um plano geral e um relatório para esclarecer as ideias do concorrente. Isto era obrigatório. As condições do concurso também permitiam a apresentação de quaisquer outras sugestões ou informações que podiam ser de utilidade para a Compan-hia - como a utilização do solo, reservas, dados técnicos sobre o abastecimento de água etc. Isto não era obrigatório.Portanto - continua Sir William - no julgamento do concurso, o júri tinha de pôr em primeiro lugar a ideia que lhe parecesse oferecer a melhor e a mais engenhosa base para uma cidade que está ainda por ser construída, e que será uma cidade-capital. Este é provavelmente o mais importante problema do urbanismo no século XX. É importante para o Brasil, e tem imenso interesse para o resto do mundo.

Unidade da ideiaE prossegue: Uma ideia engenhosa para uma cidade - prossegue o urbanista inglês - precisa ter unidade. Não pode ser uma simples soma de pequenos desenhos juntados num mapa do local. Todos os grandes planos são fundamentalmente simples. Podem ser apreciados de uma vez, não apenas por arquitetos, mas por todas as pessoas. Uma vez concebidos, parecem inevitáveis. E as pessoas dizem: “Está claro! Como é que eu não havia pensado nisso?” Basta examinar, por exemplo, a praça de São Pedro, em Roma, o desenho de Michelangelo para o Capitólio, ou o plano da cidade na época do Papa Xisto V. Ou, ainda, olhar as linhas centrais de Washington, do alto do monumento; ou o plano de Wren para Londres (1666); ou, enfim, o plano de Saint-Dié, por Le Corbusier.

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Todos estes planos - diz ainda o entrevistado - assim como a própria execução do projeto, podem ser pronta-mente compreendidos. Quanto maisos estudamos, tanto mais os apreciamos; mas não varia nunca a nossa opinião a seu respeito. Uma ideia que não pode ser comunicada - continua Sir William Holford não tem valor; uma ideia que pode desencadear outras subsequentes é o que existe de mais valioso na civilização. E era isso que cabia ao júri buscar no concurso da Nova Capital. Para fazê-lo, levou cinco dias de trabalho intenso: poderia haver terminado mais cedo, não fora a necessidade de ler os relatórios; e alguns destes, escritos em português, precisavam ser traduzidos. Vários foram apresentados igualmente em inglês: melhor para mim. Os desenhos das cidades propriamente ditos eram de fácil com-preensão e o nível dos trabalhos elevado. Quando vemos uma mulher bonita ou um bom quadro não é preciso muito tempo para saber se gostamos. Experiência Mais adiante, explica o arquiteto inglês:- Com referência à experiência que tenho deste tipo de trabalho, devo dizer que há mais de vinte anos venho julgando projetos e relatórios: desde que fui nomeado professor de Planejamento Municipal, em 1935. Tenho sido Assistente e Consultor do Ministério de Alojamento e Planificação, e do Departamento Colonial, da Grã-Bretanha. Também tenho desempenhado as mesmas tarefas para a cidade de Londres, o município de Cambridge, a Corporação da nova cidade de Corby. Tenho trabalhado como conselheiro da Municipalidade de Pretória, na União Sul-Africana, assim como junto ao governo daquele pais, com relação à arquitetura e ao planejamento da capital administrativa. Preparei um relatório para o governo federal da Austrália sobre o desenvolvimento dos recursos regionais na Austrália e na Tasmânia. Pro-jetei e supervisionei a construção das primeiras propriedades industriais e alojamentos de trabalhadores, de acordo com os decretos industriais na Grã-Bretanha, a partir de 1935. Planejei, desenhei e executei o projeto de desenvolvi-mento das Universidades de Liverpool e Exeter, na Inglaterra, e há doze anos sou membro da Real Comissão de Belas -Artes, que aprova todos os projetos, na Inglaterra e no País de Gales, os quais tenham importância nacional. Portanto, posso dizer que estou acostumado a examinar planos e relatórios: e que o meu principal interesse está na relação entre o projeto arquitetural e de engenharia, de um lado, e o urbanismo, do outro. O melhor projeto Sobre o melhor projeto, o do Sr. Lucio Costa, disse: É a melhor “ideia” para uma cidade-capital unificada, e uma das contribuições mais interes-santes e mais importantes feitas em nosso século à teoria do urbanismo moderno.

É verdade que foi apresentada sob a forma de esboço, e não tem a completá-la um plano rodoviário ou de alo-jamento fora da cidade propriamente ou para a Região Federal; mas mostra o que é necessário saber, e o relatório não contém uma só palavra destituída de propósito. É uma obra-prima de concepção imaginativa, podendo ser desen-volvida, sistematicamente, enquanto são elaborados os programas social e estrutural. É o núcleo que pode desencadear toda a obra a ser executada em Brasília. Eis — continua o arquiteta inglês — alguns pontos interessantes do projeto do Sr. Lucio Costa: a) não importa o ponto em que se esteja na cidade ou por onde se chegue, seu plano pode ser apreciado como um todo. É simples, prático e de fácil compreensão; b) O ponto mais elevado da cidade simboliza, pelo mastro de sua torre de televisão, um centro de comunicações mundiais; é também um símbolo dos Estados Unidos do Brasil, e inclui espaço para exibições públicas, restaurantes e uma plataforma panorâmica; c) Dois terços dos habitantes viverão em “praças” autossuficientes ou unidades urbanas, cercadas por vias residenciais e um cinturão de árvores que pode ser plantado na fase inicial. Existe, por conseguinte, uma disciplina urbana e uma ordem gerais no projeto, ao mesmo tem-po que dentro das “praças” poderá haver uma variedade infinita e algum recolhimento. As “praças” podem ser desen-volvidas como operações isoladas de construção e, se algumas forem deixadas vazias nos primeiros anos da cidade, não parecerão um deserto; d) Cada setor da cidade tem seu lugar adequado e um setor conduz natural e engenhosamente a outro. Assim é que o Palácio Residencial está protegido por um lago e uma reserva natural; em seguida vem o centro executivo e legislativo voltado para a cidade numa direção e para o campo na outra. Seguem-se-lhes os Ministérios, edifícios públicos e a catedral, com o Mall (artéria principal) ao centro. Em con-tinuação, a agitada zona de escritórios e comércio, onde se separa a circulação de pedestres da de veículos com dois níveis de ruas e bastante espaço para estacionamento. Vem mais o centro de televisão, o centro cívico e o centro de transporte. As habitações coletivas se abrem do centro da cidade, em duas grandes alas; as habitações individuais situ-am-se em terreno mais baixo, dando para o lago. — Eu diria — observa Sir William — numa palavra, que este plano dá provas de grande experiência e de uma imaginação arquitetural que se pode projetar no futuro.Comentários aos demais Prosseguindo, aludiu aos aspectos mais interessantes dos demais planos premiados, como, por exemplo, o colocado em segundo lugar: — Na minha opinião, este projeto demonstra muito menos experiência do que o primeiro. Além disso, na prática, teria necessidade de modificações, particularmente quanto à posição e à natureza do centro comercial fechado com suas ruas de uma só mão, conforme é ali sugerido.

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Mas o projeto também tem unidade e muitas ideias, particularmente com relação ao desenvolvimento das moradias em todas as situações favoráveis ao redor do lago. Algumas destas ideias são complementares às do projeto vencedor, mas não se combinam de maneira tão eficaz. Quer dizer, não formam uma cidade-capital completa. O conjunto da central de tráfego e hotéis, o sistema de unidades de vizinhança, o agrupamento dos edifícios de apartamentos na península setentrional — todos estes aspectos podem ser de utilidade para a Companhia, mesmo quando da execução do projeto vencedor. E aduziu: — Não haveria sentido em realizar um concurso, se todos os projetos, de qualidade variável, fos-sem igualmente recomendados à Companhia. Segundo se presume, os juízes foram designados para selecionar as mel-hores ideias. Se se tratasse apenas de selecionar dez encantadores projetos — como num concurso de beleza — os juízes podiam facilmente dizer: “Eis aqui dez obras belas; achamos difícil escolher entre elas; escolham vocês mesmos”. Mas o que se pediu ao júri foi que fizesse “a sua” escolha. Se descuidasse de seu dever teria acabado numa confusão; pois não é de se esperar que os concorrentes tivessem idênticos pontos de vista, exceto naquilo em que já pensam da mesma forma. O “projeto” geralmente é melhor realizado pelo indivíduo ou por um grupo muito pequeno; a “execução” é melhor obtida pela colaboração sob uma direção receptiva e unida. Se a companhia aceita o conselho do júri, deve ter a liberdade para posteriormente pedir a colaboração de todos os ar-quitetos e técnicos que demonstraram ter algo a contribuir para a Nova Capital. Não se pode esperar que a Companhia trabalhe através de uma comissão até haver decidido quais os projetos de valor ou não. Impressões do concurso Sobre o concurso, assim se pronunciou: O concurso teve um nível muito elevado. Constitui uma das tarefas mais difíceis da civilização a construção de uma cidade verdadeiramente boa; e fiquei impressionado pelo grande número de concorrentes que revelaram possuir mais do que pura capacidade arquitetural. Um deles, por exem-plo, a firma M. M. M. Roberto, e seus colaboradores, apresentou as propostas mais completas e mais detalhadas para uma cidade em seu meio regional de que, segundo sei, jamais se teve notícia numa competição pública. Os projetos - continua o entrevistado - apresentaram dois tipos de resultado: 1) “ideias” para a forma e a função de uma grande ci-dade-capital; e 2) “propostas” e informações sobre questões correlatas de agricultura, planejamento rural, organização social, engenharia, custos do desenvolvimento e controle do planejamento. A maior parte do segundo tipo não pode ser julgada na fase atual, mas as mais interessantes foram assinaladas para futuro estudo pela Companhia; e, de acordo

com as condições, foram premiadas. Em resumo, o concurso resultou exatamente naquilo que se esperava, na presente fase: a apresentação de uma ou duas grandes ideias quanto à forma e ao caráter da nova capital, e várias ideias menores quanto aos serviços e amenidades e quanto ao desenvolvimento da região circunvizinha. Em ambos os sentidos, foi altamente bem-sucedido. Já a propósito do sítio de Brasília, comentou: É preciso que se examine a região de terra e do ar, para se ter uma ideia completa, como pude ter. Nenhuma fotografia ou mapa revela suficientemente a grandiosidade e vastidão do local, que é cercado de três lados por correntes d’água e futuros lagos, nem dá um apanhado da circunferência perfeita formada pelas colinas distantes. Do ponto de vista técnico, o aspecto mais favorável do local é que o mesmo possui su-ficiente movimentação e diferença de nível para evitar monotonia, sem contudo criar dificuldades de engenharia ou al-tos custos de circulação, como no caso do Rio de Janeiro. Tanto a atmosfera como a água parecem claras e frescas. Com a aplicação científica da água e de materiais orgânicos, devem ser simples o plantio de árvores e a criação de parques de tipo diferente dos que se erguem nas cidades, a fim de criar reservas naturais e florestas. O aeroporto internacional já oferece uma boa ideia da escala e da significação da Nova Capital, assim como dos amplos horizontes de que desfrutará. Por fim, o arquiteto inglês abordou a questão do controle de seu crescimento: Não creio que se possa projetar uma cidade-capital para ser aumentada indefinidamente. Se o centro, o sistema de tráfego, os parques e os edifícios públicos são adequados para uma população eventual de meio milhão a 600 mil pessoas, serão inadequados para uma população de um milhão ou um milhão e meio. Portanto, é preciso haver alguma limitação do crescimento da cidade-mãe, uma vez alcançado o tamanho mais aconselhável; e os desenvolvimentos posteriores, especialmente dos centros agrícolas e industriais, devem ser planejados, a fim de que eles atuem como cidades-satélites e de apoio dentro da região. Os as-pectos essenciais de um satélite são: 1) que seja autossuficiente para fins ordinários devida, trabalho e recreação; e 2) que seja ligado por rápidas rodovias e ferrovias com a cidade-mãe, para as funções especiais que somente uma grande cidade pode oferecer, como: universidade, teatro de ópera, comemorações e cerimônias públicas, departamentos gov-ernamentais, etc. Da mesma forma que em toda parte, num grande país como o Brasil, o problema principal é a circulação de pessoas e de gêneros. A eficiência econômica exigirá uma região motorizada, com boas estradas, cuidadosamente preparadas, ao invés de uma rede aberta de pequenos caminhos. Por este motivo

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igualmente a região deve ser claramente articulada, não se permitindo que se espalhe disformemente em todas as di-reções. [Transcrito de “O Jornal” - Rio de Janeiro, 19 mar. 1957] Oscar Niemeyer A construção de uma cidade tem um alto sentido humano, que o urbanista deve procurar com-preender e respeitar, a fim de que seu trabalho se processe de forma justa, oportuna e realista. Quando se cuidou de edificar algumas cidades na Inglaterra, em 1946, seus planos foram fixados em função dos elementos de pesquisa então existentes — “muito inferiores aos fornecidos para o Concurso do plano piloto de Brasília” (William Holford) — e nen-hum arquiteto britânico se lembrou de adiar o planejamento — necessário e urgente — sob alegação de que fossem os mesmos incompletos. Tratando-se de Brasília, aqueles que conhecem o problema e seu alcance nacional (econômico, político, social etc.) podem sentir a premência do empreendimento que, protelado de governo a governo, encontra ag-ora as condições de otimismo, entusiasmo e determinação capazes de levá-lo a bom termo. O edital do Concurso para o plano piloto de Brasília, elaborado de forma ampla e honesta, exigia o mínimo sem impedir o máximo, dando a todos, sem discriminação de ordem econômica ou de eventual organização profissional, urna possibilidade de participação. Desejava-se, principalmente, encontrar uma ideia urbanística justa, que correspondesse às características especiais do problema em causa. Realmente, um plano de urbanismo reclama em primeiro lugar urna ideia clara, humana e inteli-gente, pois sem este ponto de partida básico, a nada poderá conduzir seu desenvolvimento, por mais seguro e meticu-loso que seja. Esta ideia não pode ser vaga e indefinida, prestando-se a vários casos diferentes, mas deve, ao contrário, ser espontânea e específica, decorrendo diretamente de fatores objetivos e subjetivos peculiares a cada caso. Apresento dois exemplos: quando Le Corbusier aqui esteve, em 1936, sobrevoou a cidade, fazendo alguns cro-quis. Eram sugestões para a urbanização do Rio de Janeiro, e se caracterizavam por um enorme bloco de habitação, estendido paralelamente ao mar, junto às montanhas. Ai se disciplinava toda a circulação, deixando as áreas restantes — posteriormente comprometidas — para construções de baixo porte, parques, jardins, campos de esporte etc. Da natureza, nada se modificava. Respeitá-la foi a maior preocupação do arquiteto, aproveitando suas características naturais, que pelo contraste o projeto buscava realçar e enriquecer. Era a ideia de um homem sensível e inteligente. Confesso que, naquela época, a solução nos pareceu pura fantasia; entretanto, se agora a urbanização do Rio de Janeiro fosse retomada em termos mais amplos, ela marcaria certamente o caminho a seguir. Quando se organizou o plano de Washington, foram aproveitados alguns croquis do arquiteto L’Enfant.

Até hoje, o que existe de interessante na capital dos Estados ‘Unidos, procede sem dúvida daqueles croquis, aos quais os acurados estudos que se seguiram nada de significativo puderam acrescentar. Esses exemplos são suficientes para demonstrar a importância da ideia num plano de urbanismo. No caso de Brasília, a ideia deveria decorrer do próp-rio objetivo do concurso: o projeto da Capital do País. Não se tratava, portanto, de projetar uma cidade qualquer, mas, aproveitando as conquistas do urbanismo contemporâneo, de encontrar urna solução que se harmonizasse com o local e o programa do concurso, e expressasse a atmosfera de cultura, civilização e monumentalidade que uma cidade dessa natureza requer. O plano piloto apresentado pelo arquiteto Lucia Costa, orientou-se nesse sentido, e sua maior preocupação foi descobrir — acima das fórmulas disseminadas pelas revistas técnicas — a solução adequada, aquela que melhor pudesse atender as necessidades sociais, económicas e espirituais da vida brasileira. Seu plano é tão simples, lógico e preciso, que os trabalhos de desenvolvimento se processam praticamente sem modificações. Verifique-se a justeza da solução: a harmoniosa adaptação ao local, o zoneamento lúcido e racional de todos os setores, a simplicidade extraordinária do traçado, rigorosamente classificadas as circulações de veículos e pedestres. Verifique-se o sistema adotado para as quadras de habitação, para o comércio local e demais complementos das áreas de vizinhança, evitando discriminações sociais e estabelecendo um sistema de vida condigno. Verifique-se, enfim, o Eixo Monumental, seus aspectos plásticos, efeitos de visibilidade e perspectiva. Verifique-se tudo, para honestamente concluir, com Sir William Holford, que se trata “de uma das maiores con-tribuições ao urbanismo do século XX”. O Concurso para o plano piloto de Brasília representa incontestável vitória dos nossos arquitetos, pela primeira vez convocados a decidir tão magna questão. Seu resultado, premiando um grande projeto e classificando em segundo lugar o plano de uma equipe de jovens arquitetos, constitui, outrossim, consid-erável incentivo aos que se iniciam na profissão. Não importam as discussões surgidas sobre o assunto. Tudo era de esperar, considerando-se o interesse profissional em jogo. E se houve fatos a lamentar, se no meio das paixões, alguns se desmandaram, o tempo se incumbirá de reconduzi-los à serenidade e à razão. O Concurso de Brasília, com a vitória do projeto de Lucio Costa, abre nova etapa para o urbanismo no Brasil.