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QUINCAS BORBA (1891) MACHADO DE ASSIS

Quincas borba

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QUINCAS BORBA(1891)

MACHADO DE ASSIS

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A MORAL É CLARA: SOBREVIVE O VENCEDOR

Quincas Borba é uma obra metafórica, expressiva dos conflitos, contradições e do jogo de interesses que marcam a convivência social. É uma crítica sarcástica e demolidora de Machado de Assis à sociedade capitalista.

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CAPÍTULO PRIMEIRO

Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.    

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CAPÍTULO IV

Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de ler as Memórias Póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago da existência, que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia. Aqui o tens agora em Barbacena. Logo que chegou, enamorou-se de uma viúva, senhora de condição mediana e parcos meios de vida; mas, tão acanhada, que os suspiros no namorado ficavam sem eco. Chamava-se Maria da Piedade. Um irmão dela, que é o presente Rubião, fez todo o possível para casá-los. Piedade resistiu, um pleuris a levou.     

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CAPÍTULO IV

Foi esse trechozinho de romance que ligou os dois homens. Saberia Rubião que o nosso Quincas Borba trazia aquele grãozinho de sandice, que um médico supôs achar-lhe? Seguramente, não; tinha-o por homem esquisito. É, todavia, certo que o grãozinho não se despegou do cérebro de Quincas Borba, — nem antes, nem depois da moléstia que lentamente o comeu. Quincas Borba tivera ali alguns parentes, mortos já agora em 1867; o último foi o tio que o deixou por herdeiro de seus bens. Rubião ficou sendo o único amigo do filósofo. Regia então uma escola de meninos, que fechou para tratar do enfermo. Antes de professor, metera ombros a algumas empresas, que foram a pique.  

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CAPÍTULO V

Rubião achou um rival no coração de Quincas Borba, — um cão, um bonito cão, meio tamanho, pêlo cor de chumbo, malhado de preto. Quincas Borba levava-o para toda parte, dormiam no mesmo quarto. De manhã, era o cão que acordava o senhor, trepando ao leito, onde trocavam as primeiras saudações. Uma das extravagâncias do dono foi dar-lhe o seu próprio nome; mas, explicava-o por dois motivos, um doutrinário, outro particular.      — Desde que Humanitas, segundo a minha doutrina, é o princípio da vida e reside em toda a parte, existe também no cão, e este pode assim receber um nome de gente, seja cristão ou muçulmano...     

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CAPÍTULO V

— Bem, mas por que não lhe deu antes o nome de Bernardo? disse Rubião com o pensamento em um rival político da localidade.      — Esse agora é o motivo particular. Se eu morrer antes, como presumo, sobreviverei no nome do meu bom cachorro. Ris-te, não?      Rubião fez um gesto negativo.      — Pois devias rir, meu querido. Porque a imortalidade é o meu lote ou o meu dote, ou como melhor nome haja. Viverei perpetuamente no meu grande livro. Os que, porém, não souberem ler, chamarão Quincas Borba ao cachorro, e...     

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CAPÍTULO XVII

Rubião e o cachorro, entrando em casa, sentiram, ouviram a pessoa e as vozes do finado amigo. Enquanto o cachorro farejava por toda a parte, Rubião foi sentar-se na cadeira, onde estivera quando Quincas Borba referiu a morte da avó com explicações científicas. A memória dele recompôs, ainda que de embrulho e esgarçadamente, os argumentos do filósofo. Pela primeira vez, atentou bem na alegoria das tribos famintas e compreendeu a conclusão: "Ao vencedor, as batatas!" Ouviu distintamente a voz roufenha do finado expor a situação das tribos, a luta e a razão da luta, o extermínio de uma e a vitória da outra, e murmurou baixinho:     — Ao vencedor, as batatas!  

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CAPÍTULO XXI

Na estação de Vassouras, entraram no trem Sofia e o marido, Cristiano de Almeida e Palha. Este era um rapagão de trinta e dois anos; ela ia entre vinte e sete e vinte e oito. Vieram sentar-se nos dois bancos fronteiros ao do Rubião, acomodaram as cestinhas e embrulhos de lembranças que traziam de Vassouras, onde tinham ido passar uma semana; abotoaram o guarda-pó, trocaram algumas palavras, baixo.  

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NARRADOR:

Foco narrativo em 3º pessoa (onisciência): tudo percebe, observa, questiona, ironiza;

Revela a paisagem social e humana e penetra no íntimo das personagens para mostrar seus pensamentos mais particulares;

A partir das peripécias e do processo de degradação mental de Rubião, o narrador constrói um painel crítico e irônico da sociedade burguesa sob o reinado de D. Pedro II.

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ENREDO

o O romance gira em torno da origem, ascensão e queda de Rubião.

o Quincas Borba vive confortavelmente em uma chácara na cidade de Barbacena (MG) e tem como enfermeiro e discípulo o ex-professor primário, Rubião que é modesto e tem inteligência limitada não consegue apreender a teoria de Quincas que tenta a todo custa ensiná-la ao enfermeiro.

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ENREDO

o Quincas morre. Toda a sua fortuna é deixada para Rubião, mas com a seguinte condição: o enfermeiro só teria direito à herança se cuidasse do cachorro de Quincas, que também se chama Quincas Borba.

o Com o cachorro e a herança, Rubião se muda para o Rio de Janeiro. Conhece o casal Sofia e Cristiano Palha, na estação em Vassouras (RJ), que percebe quão ingênuo Rubião é e aos poucos passam a administrar sua fortuna.

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ENREDO

o Rubião se apaixona por Sofia, mas não é correspondido, esse fato o leva aos poucos à loucura, a mesma responsável pela morte de Quincas Borba. Louco e explorado por diversas pessoas, dentre elas o casal Palha e Sofia que lhe tiraram toda a fortuna, Rubião falece à míngua e assim se torna a prática da tese do humanitismo. Após três dias, numa rua, o cachorro Quincas Borba é encontrado morto.

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LISTA DE PERSONAGENS Rubião: enfermeiro do derradeiro filósofo

Quincas Borba, herda-lhe, após a morte deste, toda sua herança, e também o cachorro de estimação, também chamado Quincas Borba. Espécie de personagem quixotesco, o protagonista sucumbe à exploração de Palha e Sofia.

Palha: típico homem de negócios, ambicioso, usa a mulher na sua estratégia de ascensão social e econômica. Aproveita-se do desorganizado Rubião, apoderando-se de seus bens.

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LISTA DE PERSONAGENS Sofia: não tem as qualidades das heroínas

românticas (virtude, fidelidade). Tem uma relação de conveniência com o marido que a exibe socialmente. Oriunda de família modesta, resigna-se ao jogo de convenções (ascender socialmente, embora conformada com a estrutura social que a exclui). O narrador revela-lhe a insegurança, contentamento, desejo de amor.

Quincas Borba (o cão filósofo): está presente em toda obra, nos momentos felizes e tristes de Rubião, inclusive na sua morte – simboliza uma espécie de encarnação do falecido dono. É depositária não somente da fortuna, mas também de certas qualidades e valores humanos perdidos pelos personagens humanos: fidelidade, constância, carinho, receptividade.

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CAPÍTULO CXXXIX

Vontade tinha, oh! se tinha vontade de ir na manhã seguinte, com Rubião, estrada acima, bem posta no cavalo, não cismando à toa, nem poética, mas valente, fogo na cara, toda deste mundo, galopando, trotando, parando. Lá no alto, desmontaria algum tempo; tudo só, a cidade ao longe e o céu por cima. Encostada ao cavalo, penteando-lhe as crinas com os dedos, ouviria Rubião louvar-lhe a afoiteza e o garbo... Chegou a sentir um beijo na nuca...  

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CAPÍTULO CLII  

Sofia encolhera-se muito ao canto. Podia ser estranheza da situação, podia ser medo; mas era principalmente repugnância. Nunca esse homem lhe fez sentir tanta aversão, asco, ou outra coisa menos dura, se querem, mas que se reduzia à incompatibilidade, — como direi que não agrave os ouvidos? — à incompatibilidade da epiderme.

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CAPÍTULO CXCIX   Foi a comadre do Rubião, que o agasalhou e mais ao cachorro, vendo-os passar defronte da porta. Rubião conheceu-a, aceitou o abrigo e o almoço.      — Mas que é isso, seu compadre? Como foi que chegou assim? Sua roupa está toda molhada. Vou dar-lhe umas calças de meu sobrinho.      Rubião tinha febre. Comeu pouco e sem vontade. A comadre pediu-lhe contas da vida que passara na Corte, ao que ele respondeu que levaria muito tempo, e só a posteridade a acabaria. (...) Começou, porém, um resumo. No fim de dez minutos, a comadre não entendia nada, tão desconcertados eram os fatos e os conceitos; mais cinco minutos, entrou a sentir medo. Quando os minutos chegaram a vinte, pediu licença e foi a uma vizinha dizer que Rubião parecia ter virado o juízo.

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CONTEXTO

o O romance expressa os dramas, interesses, frustrações, angústias, esperanças e dilemas experimentados pelas pessoas que viveram sob o contexto da sociedade escravocrata, no reinado de D. Pedro II;

o Dentro de uma perspectiva cronológica, as ações se desenrolam, a partir de 1967, em Barbacena, deslocando-se depois para a capital do Império. É cenário é o Segundo Reinado (1841-1889), com a proclamação da República;

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CONTEXTO

o Alusão à Guerra do Paraguai, à dívida externa, ao progresso, ao imperador, à condição degradante do negro na sociedade escravocrata de então.

o Trata sobre temas caros em sua obra: o adultério e a loucura (retratados em outras obras, como Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro,O Alienista, A Cartomante etc.).

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ANÁLISE DA OBRA

A temática da traição, sempre presente nas obras do autor, é insinuada no interesse que Sofia manifesta pelos homens que a cortejam – como Rubião e Carlos Maria. Não chega a perpetrar-se, contudo, talvez porque a moça encontre no marido o seu melhor parceiro no ludibrio e no engodo – esta sim, a temática central da obra. 

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ANÁLISE DA OBRA

O que a generalização do engodo sugere é a existência de uma sociedade improdutiva e parasitária, dissimulada sob máscaras de duvidosas transações financeiras e falsos elogios nos jornais. Uma sociedade na qual o jogo de aparências exerce uma ação poderosa e irresistível.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSIS, Machado de. Quincas Borba. Valer: Manaus: 2010.

ASSIS, Machado de. Quincas Borba. Disponível em: <http://machado.mec.gov.br/obra-completa-menu-principal-173/164-romance>

MARCÍLIO, Fernando. Resumo de Quincas Borba. Disponível em: <http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/quincas-borba.html.> Acesso em 31 de maio de 2015.