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lais-pereira
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Sarau com cantigas de amor, cantigas de amigos, cantigas satíricas, poesia palacianas e textos do famoso Camões.
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A dona que eu am’e tenho por senhorA dona que eu am’e tenho por senhoramostrade-mh-a- Deus, se vos em prazer for,amostrade-mh-a- Deus, se vos em prazer for,se non, dade-mh-a a morte.se non, dade-mh-a a morte.
A dona que eu sirvo e que muito adoroA dona que eu sirvo e que muito adoroMostrai-ma, ai Deus! pois que vos imploro,Mostrai-ma, ai Deus! pois que vos imploro,senão, dai-me a morte.senão, dai-me a morte.
A que tenh’eu por lume d’estes olhos meusA que tenh’eu por lume d’estes olhos meuse por que choran sempre, amostrade-mh-a Deus,e por que choran sempre, amostrade-mh-a Deus,se non, dade-mh-a morte.se non, dade-mh-a morte.
Essa que é a luz destes olhos meusEssa que é a luz destes olhos meuspor quem sempre choram, mostrai-ma, ai Deus!por quem sempre choram, mostrai-ma, ai Deus!senão, dai-me a morte. senão, dai-me a morte.
Essa que vós fezestes melhor parecerEssa que vós fezestes melhor parecerde quantas sei, ay Deus!, fazede-mh-a veer,de quantas sei, ay Deus!, fazede-mh-a veer,se non, dade-mh-a a morte.se non, dade-mh-a a morte.
Essa que entre todas fizestes formosa,Essa que entre todas fizestes formosa,mostrai-ma, ai Deus! onde vê-la eu possa,mostrai-ma, ai Deus! onde vê-la eu possa,senão, dai-me a morte. senão, dai-me a morte.
Ai Deus, que mi-a fezestes mais ca min amar,Ai Deus, que mi-a fezestes mais ca min amar,mostrade-mh-a hu possa con ela falar,mostrade-mh-a hu possa con ela falar,se non, dade-mh-a a morte. se non, dade-mh-a a morte.
A que me fizeste amar mais do que tudo,A que me fizeste amar mais do que tudo,mostrai-me e onde possa com ela falar,mostrai-me e onde possa com ela falar,senão, dai-me a morte.senão, dai-me a morte.
Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo!e ai Deus, se verrá cedo!
Ondas do mar de VigoVistes o meu amigo?Ai, Deus! Eu o verei logo?
Ondas do mar levado,se vistes meu amado?e ai Deus, se verrá cedo
Ondas do mar revoltoVistes o meu amado?Ai, Deus! Eu o verei logo?
Se vistes meu amigo,o por que eu sospiro!e ai Deus, se verrá cedo
Vistes o meu amigo?Aquele por quem suspiro?Ai, Deus! Eu o verei logo?
Se vistes meu amado,Por que ei gran cuidado?E ai Deus, se verrá cedo!
Vistes o meu amado?Aquele por quem tanto sofro?Ai, Deus! Eu o verei logo?
Sedia la fremosa seu sirgo torcendo,
As voz manselinha fremoso dizendo
Cantigas d’amigo.
Estava a formosa seu fio tecendo,
Sua voz harmoniosa, suave dizendo
Cantigas de amigo.
Sedia la fremosa seu sirgo lavrando,
As voz manselinha fremoso cantando
Cantigas d’amigo.
Estava a formosa, sentada, bordando,
Sua voz harmoniosa, suave cantando
Cantigas de amigo.
- Par Deus de Cruz, dona, sey que avedes
Amor muy coytado que tan bem dizedes
Cantigas d’amigo.
Por Jesus, senhora, vejo que sofreis
De amor infeliz, pois tão bem dizeis
Cantigas de amigo.
Par Deus de Cruz, dona, sey que andades
D’amor muy coytada que tan bem cantades
Cantigas d’amigo.
Por Jesus, senhora, eu vejo que andais
De pena de amor, pois tão bem cantais
Cantigas de amigo.
Maria Peres se manifestou outro dia
Pecadora, com se sentiu
E logo prometeu a nosso senhor
Pelo mal que sempre andou
Que tivesse um padre a seu favor em seu poder
Pelos pecados que o Damo
Sempre lhe fez cometer
E com quem ela sempre andou
Manifestou-se, pois
Diz que se achou pecadora
E foi logo rogando a Deus
Porque teve por melhor de guardar
E ela prometeu
Que enquanto vida tiver
Quer ter um padre
Com quem possa se defender
Do demo com sempre andou
E pois que bem seus pecados contou
Já que da morte tem grande pavor
E em pedir sente ela grande sabor
E logo então um padre ela agarrou
E lhe deu a cama que dormia só
E diz que enquanto vida tiver
Fará tudo pelo que Deus lhe concedeu
Até que essa balteira se confessou
Mas depois que viu o padre cair
Entre eles o demo deu-se a se perder
Depois que ela se confessou.
Coraçam, já repousavas
Já não tinha sojeição,
Já vivias, já folgavas;
Pois por que te sogigavas
Outra vez, meu coraçam?
Sofre, pois te nam sofreste
Na vida que já vivias;
Sofre, pois te tu perdeste,
Sofre, pois não conheceste
Como t’outra vez perdidas!
Sofre, pois já livre estavas
E quiseste sojeiçam;
Sofre, pois te não lembravas
Das dores de qu’escapavas,
Sofre, sofre, coraçam!
Que meo espero ou que fim so vão trabalho que sigo, pois que trago a mim comigo, tamanho inimigo de mim?
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.
Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.
Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.
●
Um mover de olhos brando e piedosoSem ver de quê; um riso brando e honesto,Quase forçado; um doce e humilde gesto,De qualquer alegria duvidoso
●
Um despejo quieto e vergonhoso,Um repouso gravíssimo e modesto,Uma pura bondade, manifesto,Indício da alma, limpo e gracioso;
●
Um encolhido ousar, uma brandura,Um medo sem ter culpa, um ar sereno,Um longo e obediente sofrimento;
Quem vê, Senhora, claro e manifestoO lindo ser de vossos olhos belos,Se não perder a vista só em vê-los,Já não paga o que deve a vosso gesto.
Este me parecia preço honesto;Mas eu, por de vantagem merecê-los,Dei mais a vida e alma por querê-los,Donde já não me fica mais de resto.
Assim que a vida e alma e esperança,
E tudo quanto tenho, tudo é vosso,
E o proveito disso eu só o levo.
Porque é tamanha bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho e quanto posso,
Que, quanto mais vos pago, mais vos devo.
Feito por Ângelo Augusto Feito por Ângelo Augusto Vasconcelos PachecoVasconcelos Pacheco
Para Projeto Sarau do CEMSO de Para Projeto Sarau do CEMSO de 20142014
1ºB1ºB
Amor é fogo que arde sem se ver,é ferida que dói, e não se sente;é um contentamento descontente,é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;é um andar solitário entre a gente;é nunca contentar-se de contente;é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;é servir a quem vence, o vencedor;é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favornos corações humanos amizade,se tão contrário a si é o mesmo Amor?
NA FONTE ESTÁ LIANOR LAVANDO A TALHA E CHORANDO, ÀS AMIGAS PERGUNTANDO: - VISTES LÁ O MEU AMOR?
Posto o pensamento nele,
Porque a tudo o amor obriga,
Cantava, mas a cantiga
Eram suspiros por ele.
Nisto estava Lianor
O seu desejo enganando,
Às amigas perguntando:
- Vistes lá o meu amor?
O ROSTO SOBRE UMA MÃO, OS OLHOS NO CHÃO PREGADOS, QUE, DO CHORAR JÁ CANSADOS, ALGUM DESCANSO LHE DÃO. DESTA SORTE LIANOR SUSPENDE DE QUANDO EM QUANDO SUA DOR; E, EM SI TORNANDO,
MAIS PESADA SENTE A DOR.
Não deita dos olhos água, Que não quer que a dor se abrande Amor, porque, em mágoa grande, Seca as lágrimas a mágoa. Despois que de seu amor Soube novas perguntando, De improviso a vi chorando. Olhai que extremos de dor!
Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar me, e novas esquivanças;
que não pode tirar me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver
desgostoonde esperança falta, lá me
esconde Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n'alma me tem
posto um não sei quê, que nasce não
sei onde, vem não sei como, e dói não sei
porquê.
De quantas graças tinha, a NaturezaFez um belo e riquíssimo tesouro,E com rubis e rosas, neve e ouro,Formou sublime e angélica beleza.
Pôs na boca os rubis, e na purezaDo belo rosto as rosas, por quem mouro;No cabelo o valor do metal louro;No peito a neve em que a alma tenho acesa.
Mas nos olhos mostrou quanto podia,E fez deles um sol, onde se apuraA luz mais clara que a do claro dia.
Enfim, Senhora, em vossa composturaEla a apurar chegou quanto sabiaDe ouro, rosas, rubis, neve e luz pura.