56
1

Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Esta é uma pequena biografia de minha história, pretendo completá-la o mais breve possível.

Citation preview

Page 1: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

1

Page 2: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

2

Breve relato: Infância e adolescência.

Dedicação

Dedico estas memórias aos meus adoráveis filhos

que sempre me deram apoio nos momentos mais

difíceis em nossas vidas:

Oséias do Nascimento Ferreira

Osiane do Nascimento Ferreira

Osiel do Nascimento Ferreira

Também ao meu genro Michel Lopes dos Santos

que foi um dos primeiros a ler meus manuscritos e

fazer as devidas críticas.

Page 3: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

3

Meus pais

Após leituras de vários livros de biografias de

pessoas famosas, sinto desejo de registrar para

conhecimento de minha família e de todos que por

ventura se der ao prazer de perder o seu precioso

tempo nestes dados, alguns fatos sobre minha vida

e de meus adoráveis pais e irmãos.

Transcorre o ano de 1934, e em uma cidade do

grande Estado de Minas Gerais, chamada de São

Francisco de Sales, é feito na igrejinha local o

matrimônio de João Gabriel Ferreira e Maria

Geralda de Jesus, ambos nascidos em Campo Belo

MG. “Estes são meus queridos pais”. Ela com doze

anos de idade, uma menina que brincava com

bonequinha de pano, era acostumada a árdua vida

do sertão. Ele “papai” também acostumado à vida

de cultivar a terra nos seus vinte e quatro anos.

Mamãe não sabia o sentido real do casamento e

pensava que casar era para ganhar roupas novas,

ela nasceu em 04 de abril de 1920 ele em 06 de

janeiro de 1910. Mamãe nunca foi alfabetizada e,

contudo me ensinou muitas coisas das quais foram

muito úteis neste mundo que eu vivo.

Page 4: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

4

Filhos do casal

É difícil registrar dados dos filhos de papai e

mamãe, 5 filhas eles tiveram. Mamãe dizia que se

elas fossem Ter a mesma “sina” que ela teve, que

Deus às recolhessem aos céus. Assim aconteceu!

Uma a uma faleceram. No céu, junto eu verei todas

elas, estas que eu nunca pude conhecê-las na terra.

11 de Fevereiro de 1935 São Francisco de Sales

MG Nasce o primogênito João Gabriel Ferreira

filho. “Meu irmão” Meus pais mudam para Tanabi

SP onde é feito o registro do João constando que

ele nasceu nesta cidade de Tanabi SP.

19 de Outubro de 1938 em Tanabi SP nasce

Delcides Gabriel Ferreira, e meus pais mudam

para Álvares Florence SP próximo a cidade de

Votuporanga SP e passam a residir numa fazenda

chamada Arrôio.

11 de Fevereiro de 1942, Nasce Antônio Gabriel

Ferreira

15 de Março de 1943, nasce Ataydes Gabriel

Ferreira

25 de Julho de 1947, nasce Walter Custódio

Ferreira

16 de Setembro de 1950, nasce Arcênio José

Ferreira

Page 5: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

5

Nasci! Aos cinco de Dezembro de 1956 em uma Quarta

feira, na fazenda do Arrôio município de Álvares

Florence SP, nasci! Uma parteira que para mim

nunca a conheci, fez o parto de mamãe.

Prontificaram-se para serem meus padrinhos o

Senhor Segundo e a D. Juliana ambos espanhóis

residentes na fazenda. Diz mamãe que a madrinha

colocava açúcar na chupeta e dava para mim! Meus

irmãos me levavam à roça para mamãe me dar de

mamar. Aos três anos de idade, papai e mamãe

mudam para Votuporanga SP e eu não falava, e

quando ia à venda comprar doces eu apontava com

o dedinho para a maria-mole de dizia “hum hum”

deveria ter problemas na fala. Em 1959 eu já com 3

anos papai e mamãe mudam para o sertão de Minas

Gerais num lugar pertencente ao município de

Iturama MG. Mato por todo lado, à noite só via

algumas lamparinas acesas nas casinhas distantes,

onças pintadas deixavam seus rastros nos trilhos

dos matos, A noitinha ouvia-se os lobos uivarem e

eu cobria a cabeça de medo. Ia pescar com meus

irmãos e um primo por nome de “véio” ainda me

lembro que quando eu pegava um lambari, gritava

bem alto “peguei, peguei” atrapalhando a pescaria

do pessoal. Meu primo e meus irmãos gostavam de

caçar e sempre traziam Inhambus e codornas para

fazer parte de nossa alimentação, algumas

lembranças me vêm à mente: um dia eu coloquei

Page 6: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

6

meu dedinho na boca de uma traíra que eles haviam

pescado e fiquei com o dedinho a sangrar. Minhas

brincadeiras eram de colocar um pedaço de pau

entre as pernas e correr atrás de cavalos e

potrinhos, certa vez levei um coice violento no

rosto e quando voltei a si estava na cama suando

muito frio e até hoje tenho no rosto abaixo do olho

esquerdo uma cicatriz que recebi na infância dos

tempos que vivi no sertão de Minas Gerais.

1962

Com seis anos de idade meus pais mudam para

Indiaporã SP e passamos a morar na casa dos

fundos de uma marcenaria do Sr. João de Matos.

Era uma casinha de dois cômodos de tábua e do

lado de fora viam as luzes da rua, no quintal tinha

uma parreira que sempre estava carregada de uvas

rosadas, e debaixo da parreira, mamãe lavava

roupas para várias casas. Alguns irmãos moravam

em São Paulo e numa das visitas do Delcides, e

como ele gostava muito de mim, levou-me para

morar com ele em Santo André SP. Morando na

Rua Potiguares comecei a freqüentar uma escola

Estadual, Ainda tenho boas lembranças deste

tempo que eu tinha meu caderninho e fazia as

lições.

A saudade da mamãe foi um suplício para mim e eu

chorava e reclamava com o Delcides meu irmão, e

dizia:- Prefiro puxar água no balde para mamãe

lavar roupas e buscar trouxas de roupas do que

Page 7: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

7

ficar aqui longe dela. Até que um dia, o meu irmão

não agüentou mais minhas reclamações e levou-me

de volta para Indiaporã SP.

Breve histórico da cidade de Indiaporã

A cidade teve seu início no dia 8 de agosto de

1.939, quando três jovens, Hipólito Moura,

Alcides Borges e Francisco Leonel Filho

combinaram de adquirir do senhor Luís

Antônio do Amorim (clique aqui),

conhecido popularmente por Luís Caetano,

uma gleba de terras.

Tinham eles, um ideal de, com estas terras, formar

um patrimônio no interior paulista, que

posteriormente se transformaria em uma

cidade.

Luís Antônio do Amorim, animado pelo mesmo

ideal, disse que faria uma doação do terreno

da praça central, a qual leva, em

homenagem póstuma, o seu nome, e que o

restante seria loteado e vendido.

Na época, eram 94 datas de terras, cujas

propriedades eram de 47 contribuintes, e a

escritura foi lavrada no Cartório do Registro

Civil de Monte Aprazível, sob número

14.021.

Estas datas foram medidas pelo engenheiro Dr.

José Dantas, da vizinha cidade de Cardoso

e, logo em seguida, no dia 15 de janeiro de

Page 8: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

8

1.940, foi implantado na praça central o

Cruzeiro, simbolizando a fundação do

Patrimônio de Indianópolis.

Inaugurou-se a primeira capela, e os festejos foram

realizados nos dias 11 e 12 de maio do

mesmo ano, e a primeira missa foi celebrada

pelo Padre Ovídio.

Francisco Leonel Filho e esposa

Antonio Sylvio Cunha Bueno e esposa. O

Deputado Estadual que auxiliou na criação

do Distrito de Paz de Indiaporã

Em 24 de dezembro de 1.948, Indianópolis foi

elevado à categoria de distrito de Paz, sob

empenho do senhor Francisco Leonel Filho,

auxiliado pelo deputado estadual Antonio

Sylvio Cunha Bueno e, a partir daí, passou a

ser chamada de Indiaporã, que na linguagem

tupi-guarani, significa "Índia Bonita", em

homenagem aos índios Cayapós, que viviam

nas proximidades do Rio Grande.

Indiaporã passou a município através da Lei

Estadual n. 2.456, em 26 de dezembro de

1.953, tendo como primeiro Prefeito

Municipal o senhor Djalma Castanheira,

empossado no cargo, no dia 1 de janeiro de

1.955, juntamente com a Câmara Municipal,

composta de 9 vereadores.

Djalma Castanheira - Prefeito Municipal

Page 9: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

9

Vicente Ribeiro Soares - Vice Prefeito

Atacil Luiz Arantes

Adelino Francisco do Nascimento

Alfredo Arthur Pagioro

Cláudio Ribeiro Corrêa

Eunápio Antonio Cotrim

José Oliveira de Souza

Manoel Jerônimo da Silva

Paulo Campos

ASPECTOS FÍSICOS E GEOGRÁFICOS

O município de Indiaporã, que compreende

também o bairro de Tupinambá, possui uma

área de 275 km2. Está situado na região

noroeste do stado de São Paulo e faz parte

da região Administrativa de São José do Rio

Preto.

Localização:

- Latitude 19,59

- Longitude 50,17

- Altitude 440 m acima do nível do mar.

Regiões limítrofes: Limita-se ao norte com o Rio

Grande, que corta o município, fazendo uma

linha divisória entre Indiaporã e o município

de Iturama, Estado de Minas Gerais. Ao sul,

limita-se com o município de Macedônia,

ao leste com o município de Mira Estrela e

Page 10: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

10

a oeste com os municípios de Guaraní

D'Oeste e Ouroeste.

Solo: Em sua composição, o solo do município se

apresenta em 3 tipos:

- Hidromórficos: localizados no extremo norte do

município às margens do Rio Grande.

- Latosol Roxo: Se apresenta na zona central do

município.

- Latosol Vermelho escuro: É identificado na

totalidade da parte sul do município,

representando mais de 50% da composição

total.

Observação: O lençol freático do município

apresenta-se a uma média de 10 metros de

profundidade.

Clima: O clima é tropical semi-úmido, com inverno

seco e verão chuvoso.

A precipitação pluviométrica tem uma média anual

de 1.363 mm.

As temperaturas médias atingem mínimas de

17,5QC e máximas de 33,5QC.

ACONTECIMENTOS

No dia 1 de janeiro de 1.940, houve um mutirão

para roçar o local onde seria a praça da

capela. Compareceram 22 pessoas, com

foices, machados, enxadões e enxadas.

Dentre as pessoas destaca-se a presença de

um rapaz de nome Benevenute Garapa,

Page 11: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

11

vulgo Negrinho Barbeiro, que transportava

água na cabaça. Fez-se a roçada,

arrancaram-se os tocos e foi marcado o local

da capela e, logo em seguida, fizeram um

poço de água. Neste dia houve pagode à

noite toda. Durante o dia, na hora do

trabalho, foi servida uma suculenta

merenda, constando de arroz doce e café,

fornecidos pelo doador do terreno, senhor

Luís Caetano, que morava à beira do

ribeirão Água Vermelha. Estava fundada a

Vila de Indianópolis.

O contingente de pessoas que aportaram nestas

plagas, após o surgimento da Vila de

Indianópolis, são famílias que vieram tanto

para habitar a zona rural, como também o

vilarejo.

Todos estes prestimosos dados foram extraídos do

livro "MEMÓRIAS DE INDIAPORÃ" de

Adelino Francisco do Nascimento.

Indiaporaense ilustre por quem a família

Arantes tem o maior apreço

1963 Já com sete anos de idade, e no fim do ano,

curti a doce vida ao lado de mamãe ajudando-a no

serviço de carregar trouxas de roupas e puxar água

no poço! Janeiro de 1964 com oito anos de idade,

fui matriculado no Grupo Escolar Otaydes Luiz

Arantes cursando o primeiro ano primário.

Page 12: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

12

Nesta idade comecei a fumar não sabia que eu

iria arrepender-me amargamente e sofrer para

deixar este vício tão cruel, catando pontas de

cigarros nas estradas quando ia tomar banho nos

córregos com as molecadas. Passei a ser engraxate

na pequena Indiaporã e o dinheiro que ganhava,

gastava em picolés e maços de cigarros que eu

fumava escondido de mamãe, algumas vezes

fumava até debaixo dos cobertores com medo de

ser visto por ela (como era inocente).

Mamãe sempre mudava de casa e eu creio que

moramos nos quatro cantos da cidade de Indiaporã.

Moramos algum tempo em uma casa de tábua com

um terreno enorme sendo que muitos circos eram

armados no local, eu vendia doces para os

moradores do circo e entrava de graça para assistir

os espetáculos. Em uma das mudanças de mamãe,

passamos a morar no sítio do Sr. Teotônio ficava

distante de Indiaporã quatro quilômetros, mesmo

assim eu não faltava às aulas, se faltasse apanhava

muito de mamãe. Como não tinha bolsa para

carregar o material para a escola, mamãe fazia

embornal de pano e cabia certinhos os lápis e

cadernos. A vida neste sítio era uma maravilha,

pois todos os dias eu ajudava o Sr. Teotônio a tirar

leite das vacas, e eu com a caneca com café forte e

açúcar cristal, tomava leite tirado na hora dos

úberes das vacas. Ganhamos um pedacinho de terra

e nós plantávamos milho. Papai ia constantemente

para Minas Gerais e trabalhava na roça e mamãe

com meus irmãos trabalhavam na roça como bóias

Page 13: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

13

frias. Eu fui um bom aluno e consegui terminar o

primário em 1969 com a nota de 78,33 (setenta e

oito inteiros e trinta e três centésimos) Dos

professores que eu me lembro foram: D. Ágda, D.

Irene e Wanderley. A colação de grau foi no

cinema da cidade, recebi o diploma do primário das

mãos de minha madrinha, O fotógrafo que registrou

a cerimônia perdeu todas as fotos e fiquei sem esta

lembrança.

Final de meus primeiros passos escolares, já com

doze anos de idade dedico-me a ajudar mamãe e

meus irmãos trabalhando na roça em colheita de

algodão e arroz.

Cada época tinha o tempo de certos brinquedos:

Bolinhas de gude, papagaio (pipa) pião, arquinho,

salva pegas. Este brinquedo era de correr e salvar

os moleques que eram capturados, divertíamos

muito nas noites quentes desta cidade.

Page 14: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

14

Permanência em Votuporanga

Em 1973, eu com dezessete anos de idade,

mamãe com meus irmãos resolvem mudar para

Votuporanga SP, é arrumado um caminhão e foi

colocado os (móveis) juntamente com as galinhas,

chegamos em Votuporanga já bem cedo e só ouvia

o cacarejar das aves em plena cidade grande.

A vida em Votuporanga foi um pouco

melhor do que em Indiaporã, mas continuamos a

trabalhar como bóias frias. Sendo ainda menor de

idade com dezessete anos, morávamos numa casa

de meu irmão João distante do centro da cidade

quatro quilômetros. Nossa casa não tinha luz

elétrica e usávamos lamparina que nós

colocávamos querosene, não tínhamos água

encanada, mas dentro da varanda havia um poço

que fornecia uma excelente água, fogão a gás,

também não tínhamos, eu e mamãe íamos nos

matos e trazíamos lenhas para que pudéssemos

cozinhar os nossos alimentos. À tardinha e a noite

devido o forte calor que fazia, éramos atacados por

nuvens de pernilongos que atacavam cruelmente,

em uma lata de dezoito litros, colocávamos fogo

em fezes de gado e com a fumaça dentro de casa

ficávamos livres alguns instantes destes insetos.

Em nossa casa habitavam: Eu, mamãe,

papai e o Ataydes. Papai sempre viajava para

Minas Gerais para trabalhar em fazendas do grande

sertão. Em casa eu e o Ataydes trabalhava nas roças

para poder manter nossa casa com gêneros

alimentícios, colheitas de café, maracujá,

Page 15: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

15

arrancando tocos nas fazendas dos ingleses,

colhendo algodão, em lavoura de amoras para

alimentar bichos da seda.

Em épocas sem colheitas, eu e mamãe,

íamos ao lixão da cidade reciclar lixo. Vendíamos

papel, vidro, alumínio, cobre e tudo que desse

alguns trocados. Com o cheiro forte de lixo podre

suportávamos tudo isso para conseguir algum

dinheiro. Freqüentava bailes nas fazendas mesmo

não sabendo dançar tinha minhas diversões, e na

volta para casa passa nos cafezais já tarde da noite

e furtávamos melancias que nas estradas

cortávamos e além de matar a sede servia de

alimento. Também ia à cidade de Votuporanga,

aos domingos de manhã para trocar revistas e gibis

em frente ao cinema, com estes materiais novos

tinha muita coisa para ler durante a semana, a noite

eu ia tomar vitamina nas lanchonetes e assistir

filmes de bang - bangs, e terror, de volta para casa

pelas estradas desertas morria de medo de

fantasmas. Duas vezes por semana, munido de um

gancho num pau, e um farolete da everedy de três

pilhas eu entrava nos córregos para caçar rãs, que

serviam de mistura para levar para a roça no dia

seguinte. Para quem não sabe a carne de rã é

deliciosa. Mamãe também criava galinhas, e

tínhamos ovos e frangos diariamente como mistura.

Pescávamos nos córregos e conseguíamos

boa mistura para variar o nosso cardápio, bagres

traíras, lambaris davam em abundância nos

córregos. Meu irmão Walter quando nos visitava

trazia roupas que eram úteis para os passeios dos

Page 16: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

16

finais de semana. Com cabelos longos e lisos, e

dentes cariados na boca passava muita vergonha

quando no contato com as pessoas, mas

infelizmente não possuía dinheiro necessário para

cuidar dos dentes.

Completei dezoito anos, e tirei fotos, para o

RG, carteira profissional etc. Consegui um

emprego em uma firma por nome de Sotril, esta

firma trabalhava em canteiros de obras e prestava

serviço para a CESP uma empresa que construía

usina hidrelétrica em Ilha solteira SP. O trabalho

era distante de Votuporanga oitenta quilômetros e

todos os dias em uma caminhão Mercedes, coberto

embarcávamos para as obras, trabalhávamos em

diversas cidades como Guarani do Oeste, Ouro

este, Ilha Solteira e até na adorável Indiaporã. O

salário era muito baixo, mas já era melhor do que

trabalhar de bóia fria.

Fevereiro de 1976 mudança para São

Caetano do Sul

Tendo sonhos de uma vida mais digna e

próspera, senti o chamado da grande cidade de São

Paulo. Já havia feito várias viagens, quando menor

de idade, e eu tinha certeza que já estava gostando

imensamente desta cidade da garoa. Apesar do frio

intenso e garoa, que fazia parte da paisagem

citadina. Comuniquei o desejo para mamãe e ela

com lágrimas nos olhos disse: - Faça o que você

quiser meu filho, sei que Deus vai te abençoar.

Page 17: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

17

Parti, só com minhas roupas de passeio que

foram ganhas, e em uma malinha de couro fui

morar na casa de meu irmão Walter na rua Henrica

Grigolleto Rizzo no. 202 Bairro Santa Maria em

São Caetano do Sul SP. Minha permanência na

casa do Walter foi por pouco tempo. Em Março de

1976, fui informado pelos irmãos da Bete esposa

do Walter que uma firma por nome de Kentinha,

em São João Clímaco S. Paulo estava com vagas

para ajudante de caminhão. Esta firma ficava

distante 40 minutos da casa do Walter, eu tomava

dois ônibus, um até Vila São José em São Caetano

do Sul e outro para São João Clímaco São Paulo,

quando não podia pagar o ônibus eu ia a pé da Vila

São José à São João Clímaco. Fui admitido em 05

de Março de 1976.

Certo dia, o Walter me chamou e disse:-

Jerônimo, me desculpa mas a Bete não te quer mais

em casa pois sua permanência tira a nossa

privacidade, e achamos melhor você procurar um

local para morar. disse com certa tristeza.- Parti, e

fui morar e fui morar em uma pensão no largo de

São João Clímaco nos fundos do “bar do tio”. A

vida na pensão foi terrível, pois dormia num quarto

com oito rapazes recém chegados do nordeste, o

banheiro estava sempre entupido e vivíamos com o

mal cheiro das fezes que boiavam na bacia, a

comida era de péssima qualidade e chorava em

silêncio de saudades da casa da mamãe e de sua

comida quentinha e seu amor por mim. Agora

distante, aquilo que eu nunca preocupava passei a

dar muita importância.

Page 18: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

18

Vida na Kentinha

Kentinha ficava na estrada de São João

Clímaco no. 471, era uma produtora de embalagens

para alimentos e copos descartáveis, tinha dois

prédios, um era a fábrica e outro fica a expedição

de onde partiam os caminhões e kombis para a

distribuição dos produtos. Meu trabalho era de

ajudante de caminhão, e trabalhava das 7:30 às

17:30 horas e haviam os seguintes motoristas: José

Lima, Walter, Joel e Pinheiro. Dos ajudantes eu

me lembro muito bem do José Carlos Dias um

jovem baixinho, mas muito comunicativo. O senhor

José Lima era um pernambucano, sempre disposto

e muito conversador, trabalhávamos nas ruas de

São Paulo fazendo as entregas num caminhão baú

Ford rodando pelas marginais Tietê e Pinheiro e

vários bairros como Vila Maria, Parque Novo

Mundo etc. No depósito de expedição desta firma,

trabalhavam mais ou menos 20 pessoas e a maioria

professavam a fé evangélica, criam em um Deus

Vivo criador de todas as coisas, este Deus era

diferente daquele que eu acreditava. Eu ia às missas

aos domingos desde que eu morava no interior,

fazia minhas orações a vários santos e tinha em

meus bolsos várias rezas para santos que eu julgava

que poderiam me ajudar nos momentos mais

angustiantes da vida, era devoto da Senhora

Aparecida, e minha mente era invadida por muitas

superstições, era viciado em cigarros desde a

Page 19: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

19

meninice, bebia bebidas alcoólicas socialmente e

algumas vezes ficava bêbado.

Minha fé no futuro após a morte era

confusa, não sabia para onde iria minha alma após

meu corpo ser colocado na terra fria, cria num

purgatório, pois desde que eu era criança,

juntamente com a mamãe nós íamos aos cemitérios,

e nas capelinhas deste campo santo queimávamos

vários maços de velas para as almas do purgatório.

Em uma enorme cruz, chamada de cruzeiro,

fazíamos as queimas das velas também. Era

atormentado por arrepios e sempre desmaiava,

dormia com a cabeça coberta por medo de

fantasma. Assim vivendo nesta crendice, conheci

vários crentes que trabalhavam na kentinha, entre

eles estavam: Joel Cirilo Dias, José Carlos Dias,

José Lima, e um chefe de expedição chamado de

João Batista, quase todos pertenciam à igreja

Presbiteriana Renovada de São São João Clímaco,

que fica na mesma rua da firma. A igreja tinha um

salão de adoração nos fundos de um terreno,

outrora era uma centro de macumba, os bancos

eram vermelhos e tinham um compartimento para

os fiéis colocarem suas bíblias e hinários, nas

caixas de som erradiava alguns hinos que o diácono

Hermindo colocava antes do culto. O pastor da

igreja era o senhor Osvaldo Mendes, que era

auxiliado pelos presbíteros: Victor, Joel, José

Antonio, e mais alguns que eu não lembro seus

nomes.

Page 20: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

20

Meus primeiros contatos com o livro da capa preta

Nesse início de 1976, trabalhava com uma

roupa azul, pesava 70 quilos, não usava óculos

apesar de não saber que eu tinha visão míope.

Como ajudante de caminhão, quando não tínhamos

entrega para fazer, ficávamos no interior do

depósito fazendo arrumações das caixas de

embalagens, durante o serviço conversávamos,

sobre vários assuntos. Em uma destas conversas

com o José Carlos eu disse que fazia rezas para

Santa Catarina para arrumar uma namorada para

casar. – O quê? Jerônimo, - disse o José Carlos com

seu ar de gozação – Jerônimo você precisa aceitar

Jesus como teu Salvador e quando você tiver esse

encontro com ele você vai aprender que não é

preciso usar rezas para falar com Deus, pois você

será um filho de Deus e como filho poderá

conversar de filho para pai sem necessidades de

rezas decoradas. - Jogue fora suas rezas e escutar

mais o que eu quero te ensinar. – assim falou e

continuou a mostrar dentro da bíblia vários

assuntos que antes eu desconhecia. Às vezes saia

para fazer entregas na grande São Paulo, com o

caminhão cheio de mercadorias. Em minhas mãos

estavam as notas fiscais e um guia de ruas, na

direção do grande caminhão estava o Joel, sempre

entoando alguns hinos ao seu Jesus, tinha uma

linguagem diferente das que eu era acostumado a

ouvir no meu dia-a-dia. No painel do caminhão,

havia a causa de sua vida ser tão bela e feliz, “uma

Page 21: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

21

Bíblia” livro gasto pelo manuseio diário, rabiscado

em suas páginas, um evidente sinal que este livro

era importante para seu leitor assíduo, este livro

tinha os preceitos que ditavam normas à sua

conduta de vida, e enchia de alegria sua vida com

as promessas Divinas, cada momento de folga eu

via o Joel ler, e fechava os seus olhos em atitude de

adoração, nos restaurantes quando parávamos para

o almoço, antes de nós almoçarmos, ele inclinava

sua fronte e dava graças ao Pai pelo alimento. –

Jerônimo – disse ele – Você precisa aceitar Jesus

como teu Salvador, para onde vai sua alma depois

que você morrer? Você tem certeza de tua

salvação? com esta vida que você leva, para onde

vai sua alma depois que você morrer? Pegue esta

Bíblia e veja o que diz Marcos 8: 36. Eu com muita

vergonha pegava o livro e me atrapalhava

desfolhando, mas ele com paciência achava o texto

e eu lia: - Que aproveita ao homem ganhar o

mundo inteiro e perder sua alma? – palavras de

Jesus. Com estas palavras poderosas eu estava

sendo orientado na nova fé, mas foi muito difícil

largar os vícios, pois mesmo dentro do caminhão,

eu enchia a cabina de fumaça de cigarros, mas

algumas vezes eu tentava por conta própria deixar

os vícios, chegava em casa e ia destruindo algumas

rezas e aquilo que eu considerava que desagradava

a Deus. Este livro semelhante a força e o corte de

uma navalha feriu meu coração e uma operação no

meu modo de pensar teve início. Senti como um

soldado que é rendido por soldados inimigos e

levado à prisão, feito o julgamento é condenado a

Page 22: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

22

execução à cadeira elétrica. A bíblia teve este

impacto em minha vida.

Foi me indicado pelo Joel à pessoa

de Jesus Cristo como um advogado que podia me

libertar dos vícios e dar-me a certeza de um perdão

da pena de morte, e a luz começou a brilhar nas

trevas de minha pobre vida maculada pelos pecados

e uma vida distante de Deus, sentia com muita sede

de ler as verdades contidas neste livro de capa

preta.

Secretamente no recôndito de minha

pensão onde residia, jogava fora, isqueiros, cigarros

e ficava até três dias sem fumar, mas voltava

novamente, cada tragada eu sentia no meu íntimo

duas batalhas, uma vontade de me libertar com as

próprias forças e o desejo de conhecer mais este

Jesus e seu livro de capa preta.

Em uma Quinta-feira, rendi ao poder

soberano de Jesus, fui pela primeira vez à igreja

Presbiteriana Renovada em São João Clímaco, um

local diferente, uma paz inundava o meu coração,

tinha vontade de chorar tamanha era a emoção que

atingia o fundo de minha alma, pelas caixinhas que

estavam fixadas nas paredes da igreja ecoava uma

melodia evangélica, a música era linda e era

cantada pelo cantor evangélico Feliciano Amaral.

A música falava de um banquete em babilônia, e

dizia assim:- Numa orgia nefanda o rebelde

Baltazar com os súditos do seu reino todos eles a

alegrar, com espanto parou quando viu uma mão

que na parede escrevia.

Page 23: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

23

Ouvi a pregação da mensagem

bíblica, e saí da igreja transformado e professando

ser um crente. Destruí tudo aquilo que eu sabia que

não agradava a Deus, encomendei uma bíblia ao

pastor Osvaldo Mendes e passei a lê-la. Transcorria

o ano de 1976.

Continuo a trabalhar na Kentinha, mas agora como

crente, e a cada entrega que eu fazia nas

transportadoras, hospitais, churrascarias e onde

quer que fosse ali deixava folhetos evangelísticos.

Às quintas feiras as entregas eram feitas na baixada

santista. Em Novembro de 1976, tornei-me

membro da Igreja Presbiteriana Renovada,

admitido através do batismo em uma represa. Com

uma toga branca, num lugar com muitas árvores,

com uma camisa vermelha por baixo, uma calça

super apertada de boca de sino, devido Ter

engordado alguns quilinhos, nesta época eu estava

com 75 quilos. Peguei a fila com outros membros

de toga branca e caminhei para a represa onde era

aguardado pelo pastor Osvaldo Mendes e o

presbítero Eduardo. Ao som dos hinos entoados

pelo povo de Deus, apoiado pelo pastor, fui

empurrado para traz na represa, enquanto ouvia a

voz que dizia:- Eu te batizo em nome do Pai e do

Filho e do Espírito Santo amem. As águas me

encobriram simbolizando morte para este mundo,

levantei das águas e as águas escorrendo pelo meu

rosto simbolizando ressurreição com Cristo. Talvez

meu corpo estará consumido pelas larvas, mas meu

espírito estarás ao lado de meu salvador Jesus

Cristo e juntamente com aqueles que já partiram

Page 24: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

24

para a eternidade. Todos que estiverem lendo estas

humildes notas aceitem esta mesma fé que eu

aceitei um dia.

Como membro da igreja, dedico aos trabalhos da

igreja, juntamente com a leitura intensa da bíblia,

aos sábados a tarde eram realizados trabalhos em

um hospital no bairro do Brás, passei a pregar as

mesmas mensagens que um dia havia me

conduzido a Cristo.

Em Fevereiro de 1977 fiz uma ficha na

Mercedes Benz do Brasil para trabalhar de ajudante

de produção, fui chamado, mas estava trabalhando

ainda na Kentinha, e a Mercedes precisava urgente

de fazer a admissão, mas a Kentinha não queria me

dispensar, pedi a conta mas fui obrigado a cumprir

30 dias de aviso prévio. Fiquei desesperado e com

medo de perder o emprego da Mercedes. Falei com

o Joel e relatei meus medos e ele olhando bem

firme nos meus olhos disse:- Jerônimo, se você não

crê no teu Deus e não tem fé que este emprego é

seu pegue sua bíblia jogue fora em não vem mais

para a igreja. Chegue em sua casa e leia o capítulo

11 de Hebreus! Foi uma bronca e tanto mas serviu

para eu testar o meu Deus! Passei 30 dias de aviso

prévio, e no dia 20 de Março de 1977 fui admitido

na Mercedes Benz do Brasil S/A como ajudante de

produção. Cumpriu-se os planos de Deus nesta

nova jornada de fé.! No ano de 1978 freqüentando

a igreja conheci uma jovem por nome de Eunice,

filha do me antigo motorista era kentinha, ela

pernambucana, de baixa estatura, usando óculos de

grau, saia com botões no meio, começamos a

Page 25: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

25

conversar após o culto e iniciamos um namoro. Ela

trabalhava no laboratório Zambom próximo a via

Anchieta. Eu buscava no seu serviço e

namorávamos em sua casa e aproveitava também

para “serrar a bóia” de Dona Dulce assim quase

sempre escapava da péssima comida da pensão.

Neste mesmo ano de 1978 ficamos noivos e em 23

Setembro casamos. A cerimônia foi realizada pelo

pastor Osvaldo, ainda hoje tenho algumas fotos e

uma fita k7 do casamento. Fomos morar na rua

Imoroti no Sacomã no ano seguinte mudamos para

rua Alencar Araripe nos fundos da casa do Senhor

Claudionor. A Eunice sofre o primeiro aborto, mas

em 1979 fica grávida do Oséias e em 1980 nasce

nosso primeiro filho, em 1981 nasce a Osiane, nós

mudamos para rua Caripurá nos fundos de uma

casa que pertencia ao Senhor Sérgio. Na igreja

continuo a trabalhar e já era eleito presbítero. Fui

demitido da Mercedes em 24 de Janeiro de 1983,

mas consegui em emprego como vigilante do banco

Itaú. A direção da igreja me colocou para dirigir

uma pequena congregação no Jardim Maria Estela,

estas atividades trouxe muitos benefícios para

minha vida espiritual pois tive meus conhecimentos

enriquecidos com diversas experiências, mas

comecei a Ter sérios problemas com os ciúmes da

Eunice e trouxe muitas dificuldades para continuar

a trabalhar na igreja. Mudamos para Estrada de São

João Clímaco numero 414 e em seguida para rua

Otaviano L.R da Silva Neste ano no dia 30 de Julho

de 1985 nasce nosso adorável filho: Osiel. Neste

mesmo ano fiz minha cirurgia de vasectomia para

Page 26: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

26

evitar mais filhos. O Osiel nasceu com um tumor

chamado de angioma gigante em seu joelho

esquerdo, foi preciso uma delicada cirurgia na

Clínica Infantil do Ipiranga. Após a cirurgia vieram

as complicações trazendo fortes anemias que

debilitaram o seu frágil corpinho. Ainda me lembro

que todos os dias de manhã, eu enrolava ele em um

chale verde e levava à casa da prima da Eunice

chamada de Irani, sendo ela enfermeira aplicava

fortes doses de injeções em suas nádegas tão

macérrimas, eu gostaria de receber aquelas

injeções, tamanha era o dó que eu sentia deste meu

filho. Os médicos nos alertaram que o período mais

crítico de sua vida seria aos doze anos de idade.

Em 1986 fiz mais uma vez uma ficha na

Mercedes para trabalhar como segurança. Mais

uma vez Deus me abençoou e eu pela Segunda vez

voltei a trabalhar nesta tão boa empresa. Em

Setembro de 1995 fui demitido e passei a trabalhar

em entrega de compras como clandestino na porta

do Rhodia em São Bernardo do Campo fiquei

quatro anos, mesmo assim mantendo meu lar,

porém tive algumas dificuldades antes de

pagamentos porque tinha muitos gastos com a

variante.

Page 27: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

27

Início dos contos e crônicas

Os pássaros que sobrevoam nossas selvas edênicas

Há milhares de espécies de pássaros que são

catalogados pelos nossos ornitólogos, todos são

belos em sua natureza! Quero destacar apenas dois

para dar início a essa crônica. Objetivo? Bem

algumas linhas abaixo deixarei o leitor ciente do

que se trata.

Os falconiformes ou comumente conhecidas como

o nome vulgar de “Abutres” Os mesmos têm

hábitos necrófagos, tem sido os lixeiros do mundo

pois fazem limpeza retirando dos campos animais

mortos, e seus cheiros terríveis. Segundo a ciência,

esses pássaros em cativeiros chegam a viver até 30

anos.

Outros pássaros bem diferente são os colibris, os

nossos beija-flores, com nomes até então

desconhecidos como: cuitelo, chupa-flor, pica-

flor,chupa-mel, binga, guanambi. Existem mais de

300 espécies. Com seus bicos alongados sua

alimentação é a base de néctar.

“Pois é” como dizem nossos amigos do interior de

São Paulo, Os abutres sobrevoam nossas matas

com belas flores, cheiros exuberantes, uma vista

maravilhosa, águas cristalinas, não percebem as

belezas, pois está focado em encontrar apenas sua

refeição “animais mortos” “carniça” Seu foco é

apenas isso, não quer beleza, pois a beleza não

importa, o que para nós é agradável para eles,

Page 28: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

28

desagradável.

Beija-flores são diferentes! Sobrevoam as matas e

não se importa com as feiuras pois está focado nas

flores para retirar os néctares.

Mesmo usufruindo do seu alimento, nos deixam

sua beleza, com seus voos lindos.

Deveríamos ser com os beija-flores, não focar

nossa atenção na feiura e sim no que é belo, após

sermos nutridos deixar nossa beleza, nossa

gratidão, isso é muito importante

Sei que abutres cumprem seus papeis na natureza,

mas essa comparação serve apenas de exemplo.

Tenho visto meu blog, muitos internautas acessam

para suas pesquisas e conhecimentos, poucos

deixam uma mensagem de gratidão ou mesmo

apenas seu nome.

Para quem agradece, pode parecer simples, mas

para mim é de grande valor. Sejamos todos como

beija-flores deixando nossa beleza onde “voarmos”

Page 29: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

29

Coração de sertanejo

O forte cheiro de capim gordura, o fru-fru das

revoadas vespertinas dos pássaros em busca de um

lugar para repouso, o último brilho do sol, invade

este ambiente bucólico com as tribos rubras da

tarde. Bem distante visível apenas uma silhueta,

está um caboclo dando as suas últimas enxadadas

limpando as ervas dadinhas da plantação de arroz,

ergue as mãos e retira o chapéu, dando um gostosa

coçada na cabeça, olha para os raios do Sol que já

se foram. Apanha no bolso roto de sua camisa um

restinho de cigarro de palha, tira do bolso sua

“binga” e acende o cigarro de palha tirando uma

baforada, espantando os mosquitos borrachudos

que teimavam rodear sua vasta cabeleira.

Nesta serra conhecida como “Serra do rola moça”

vive este sertanejo, dedicando todos os dias no

trabalho da terra para retirar seu sustento. Vivem

com ele seus pais. Sua mãe todos os dias prepara

sua marmitinha de alimentos. Seu pai devido a

idade permanece em casa.

Ao vê-lo chegar próximo de casa com sua enxada

nos ombros sua mamãe corre ao encontro dando-

lhe um maravilhoso beijo em suas faces poentas e

disse:

-José, tudo bem? Como foi seu dia? Não teve

nenhum problema com cobras? – Era assim com

essas perguntas e outras que dona Maria Terra

conversava com seu filho querido. O pai um pouco

mais macambúzio, devido suas doenças apenas

dizia um “Deus te abençoes filho”. Eram felizes

Page 30: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

30

apesar da distância e dos barulhos das cidades

grandes. Uns dois quilômetros dali vivia num sítio

vizinho, sua namoradinha que era o motivo de sua

vida, a Tereza. Moça linda com sua tez bronzeada

devido os raios do Sol, cabelos negros comprido

escorriam pelos ombros.

José amava profundamente Tereza e sempre tinha

seus sonhos em ter uma boa colheita e tirar sua

amada deste antro de abandono.

Cada vez que seu rádio de ondas curtas anunciava

a “voz do Brasil” às dezenove horas, com a famosa

música do guarani, José colado os ouvidos no rádio

ouvia embevecido as notícias de Brasília e as

principais cidades como Rio e de São Paulo. José

tinha um sonho: - Ainda vou morar no Sul, ganhar

muito dinheiro e voltar para casar com Tereza.

Partia o coração de sua velha mamãe, filho único

ele era o arrimo da casa. Porém como diziam os

antigos: - Criamos filhos e eles criam asas e

desaparecem de nossos olhos. Nos programas

sertanejos da rádio nacional José ouvia muitas

músicas sobre pessoas que foram para o sul em

busca de uma vida melhor.

Numa fazendinha poucos quilômetros dali, havia

muitos bailinhos com sanfoneiros da região, muitas

vezes bois eram abatidos, e churrasquinhos eram

servidos aos vizinhos. José e sua amada iam

sempre e dançavam felizes da vida, beijos eram

trocados, promessas eram feitas, juras de amor não

faltavam para estes jovens.

Page 31: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

31

-- Tereza, você me ama? Dizia apaixonadamente

com seu rosto colado ao da Tereza, seu calor a

incendiava, com seu rosto colado ao dele dizia:

-Claro José! Meu sonho e é ser sua esposa e juntos

cuidarmos de seus pais, e manter nossa rocinha,

criar galinhas, porcos, vacas, te farei muito feliz.

José vivia nesse conflito, entre o amor e a busca de

seu sonho no sul.

Aproxima o final de ano e José toma uma decisão:

Vou viajar para o Sul em busca de uma vida melhor

e voltar para buscar Tereza. Avisa sua namorada,

que partiria no próximo Domingo, e umas nuvens

escuras pairam sobre seus velhos pais que choram

amargamente já prevendo perder seu filho para a

cidade grande.

No Domingo, numa tarde ensolarada, ao seu lado

estão suas poucas roupas dentro de uma mala de

couro. Tereza estava ao seu lado chorosa, com suas

faces coradas. Ele feliz, impassível, mas feliz

porque ia em busca de seu sonho. Num beijo

apaixonado despede de seu amor e embarca no

ônibus que o levaria ao sul de onde ele dizia que

voltaria logo para casar com seu amor. Nos céus

um bando de patos passam em grande alvoroço, um

bem te vi solta um canto, um casal de João de

Barros traz seus cantos. José dentro do ônibus dava

um adeus a sua amada.

Num forte barulho de motor traz a realidade o José,

estava deixando a Tereza, que sonhava que seria

sua. O ônibus sai, e em cada parada, um forte

suspiro saia da boca de José, a saudade já

Page 32: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

32

começava a apertar. Como machuca a saudade, se

estamos juntos com a pessoa amada, às vezes

poucas coisas é motivo para brigas, mas se estamos

nos separando, queremos com urgência voltar ao

lado da pessoa querida. O homem não foi feito para

ficar só, precisa de alguém para sentir seguro,

parece uma criancinha que sente falta de sua

mamãe querida, de sua caminha, das cantigas de

ninar. Mesmo já adulto encontramos no amor a

figura da mulher que traz um conforto além de seus

beijos e afagos.

Em uma curvinha, lança o olhar perdido em direção

à sua cidadezinha que fica para traz, sua amada

também passou a ser apenas uma vago pensamento.

Após três dias de longa viagem, sente um cheiro

estranho, do rio mais poluído da cidade de São

Paulo, sente uma friozinho da grande cidade,

edifícios tomam sua visão, já estava chegando no

“Sul” como sempre dizia!

Desce no terminal Tietê, meio tonto ainda da

viagem, tudo era estranho, cheiro, edifícios que

suntuosamente estava em seu caminho, agitação

dos ambulantes a anunciar seus produtos, cheiro

forte de carne assada dos churrasquinhos, forte

cheiro de urina dos mendigos que infestam as

pracinhas. José não se preocupa com isso e com seu

olhar devora a cidade sem perder nenhum detalhe.

Procura algum amigo para dar algumas

informações. Que amigo? Todos eram estranhos!

Bem diferente de seu velho sertão onde todos eram

Page 33: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

33

queridos e tratados com dignidade, todos tinhas

seus nomes, todos eram conhecidos.

Um terror toma conta dele, não conhece ninguém,

não tem amigos, é mais um que foi lançado nos

antros desta velha metrópole, mais um que se não

lutar irá moram debaixo dos viadutos, mais um que

irá infectar as praças com cheiro forte de urina e

fezes. José para e pensa:

- Aqui tem um filho do sertão! Sou bravo sou

forte, sou filho do norte!

Avista um “ser humano” de cócoras na calçada e

em seu jeito simples pede um favor:

- Moço me ajuda, preciso de um emprego. O moço

olha com um olhar de desprezo e aponta para uma

placas de uma construtora que pedia servente de

pedreiro. Pela primeira vez na vida, sente ser um

ninguém, uma escória da sociedade. Pessoas da

cidade não conhecem nem um pé de arroz, não dão

valor ao homem do sertão que com suas mãos

calejadas, puxando o cabo do guatambu limpam os

arrozais, colhem e mandam para as grandes cidades

para matar a fome das pessoas. Frutas que

encontramos por aqui com fartura, no Ceasa,

muitas são desperdiçadas jogadas fora, na roça elas

são tratadas com carinhos. Pessoas da cidade dão

pouco valor às frutas e todos os alimentos.

Ao pedir um emprego encontra seus primeiros

problemas, precisa tirar a “carteira de trabalho” e

tirar a chapa dos pulmões. Com sua barriga a

roncar parte em busca dos documentos. Seu local

de dormir era junto com várias pessoas como ele.

Cada um precisava lutar por si só. Esta força de

Page 34: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

34

vontade José tinha! Ah se tinha! Era bravo era forte

era filho do norte este grande sertanejo.

A vida no canteiro de obra não era fácil! Aliás,

onde que a vida é fácil? Conseguiu emprego de

servente de pedreiro, uma salário bem irrisório,

mas já era um começo. Dormia em colchonetes

junto com mais pessoas como ele, ao lado do

canteiro podia-se ouvir da vida da cidade e uma

cantiga de crianças vinha ao seus ouvidos. : “

Ciranda cirandinha vamos todos cirandar..” havia

várias famílias que moravam perto da obra e as

crianças ao lado do tapume cantavam suas

músicas.” Sete, sete são quatorze três vezes sete

vinte e um..”

Trabalha todos os dias inclusive feriados, não tem

tempo para passear, chega ao dormitório tarde e

sem forças para sair e passear. Descobre um curso

por correspondência conhecido por “Madureza”

Escreve, faz sua matrícula e começa o curso

ginasial, sempre desejoso de prosseguir os estudos

e ganhar uma nova profissão! “Escravos de Jó

jogavam, cachangá, tira põe...” As cantigas vinham

até a noitinha. Crianças que em brinquedo de roda

passavam estes momentos infantis felizes.

Ao término do curso de madureza, é orientado

pelos seus chefes que havia universidade que

davam a tal da bolsa de estudos. Estuda com afinco

e se prepara para o vestibular, desejava cursar

engenharia. Manda suas cartinhas para a Tereza

dando as boas novas. As respostas de sua amada

começam a ser escassas.

Page 35: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

35

A vida começa a melhorar, consegue o tão

sonhado curso de engenharia, forma-se e abandona

seu emprego e consegue alguns trabalhadores e se

torna empreiteiro construindo casas e fazendo

reformas.

É feliz, ganha muito dinheiro, mas um vazio ainda

permanece em si, sente saudades da pessoa amada

da sua Tereza. Manda várias cartas e sem resposta.

Resolve viajar de volta ao seu lar no sertão.

Prepara de surpresa sua viagem. Antes de chegar à

rodoviária, passa perto de um grupo de crianças, e

tinha certeza que elas cantavam uma música que

falava de uma tal de Terezinha. Não entendeu

muito bem a melodia e a letra.

Ao findar sua longa viagem, chegando próximo da

casa de sua amada, avista de longe e tem uma triste

surpresa:

“Tereza é de Jesus”

Somente agora recorda as cantigas das crianças

quando chegava próximo da rodoviária. “Terezinha

de Jesus, deu uma queda foi ao chão, acudiram três

cavaleiros, todos os três chapéus nas mãos..” A

cantiga trouxe uma triste verdade ao coração do

José o Sertanejo.

Agradecimentos:

Agradeço ao Professor Ananias de Albuquerque,

pelo seu poema: "O Sertanejo", através dele pude

fazer este conto com algumas adaptações, sem,

contudo deixar de seguir sua originalidade.

Page 36: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

36

Os heróis dos campos

A cidade de Indiaporã , bem pequenina, fundada na

região centro oeste do grande Estado de São Paulo,

fica distante de São Paulo 650 quilômetros. Em

Maio, a pequenina cidade era agitada por grandes

movimentos de bóias frias.

Os bóias frias eram pessoas acostumadas à árdua

vida, de acordar de madrugada quando os galos

saudavam o novo dia, os fogões a lenha são acesos

pelas heroinas dos lares, isto era após de muito

choro por causa da fumaça que toldavam as

pequeninas casinhas de barro. O forte cheiro de

gordura de suínos a aquecer os dentes de alhos,

atraiam os gatos e cachorros, que se assentavam

próximo ao fogão a olhar suas donas. Ao término

do “almoço” que era feito nas madrugadas, o

alimento era colocado nos caldeirões que

juntamente com os talheres são embalados nos

embornais de pano. Pronto está pronto o

“moleque”, apelido que os bóias frias davam ao

almoço que serão levado às roças.! O tempo neste

mês de Maio é frio e as mãos enrijecem, o orvalho

tinge de branco as ervas e as plantas dos quintais

das casas, a tina com água, acumula-se pequenos

flocos de gelo na superfície das águas, as flores

exalam seu adocicado olor enchendo-o o ar desta

fragrância. Mamãe, com meus irmãos, Arcênio,

Ataydes e eu já com nossos chapéus mexicanos de

abas largas, caminham para a praça da matriz à

aguardar o “pau de arara” nome que é dado ao

Page 37: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

37

caminhão, com uma tora de madeira de um

extremo ao outro na carroceria que serve de

sustento aos boias frias. Mamãe com meus irmão se

ajuntam à outras pessoas e picando fumo de corda

que é enrolado em palha de milho, enchem o lugar

com o forte cheiro, ficam a conversar enquanto

aguardam a chegada do motorista José Pinheiro.

Enfim chega o motorista com o seu caminhão

soltando um grande tufo de fumaça de óleo diesel

queimado. Todos sobem pelos pneus e se

acomodam na carroceira e ficam segurando os

grande chapéus, algumas mulheres, queridinhas do

motorista, vão na boleia do caminhão, e assim

começa a viagem até a lavoura de algodão, cujo

local era do outro lado do rio grande. O rio grande,

como o próprio nome diz é grande mesmo e divido

os dois Estados, Minas e São Paulo. A fazenda da

qual íamos trabalhar ficava próximo a esse rio. Na

viagem, o olor de capim gordura, misturado a

poeira empreguinam as roupas, cortante vento faz

tremer os bóias frias, e a única alternativa é se

proteger abaixando a cabeça até o fim da viagem.

Muitos acidentes aconteciam nesta época, devido a

imprudência dos motorista, pois em alta

velocidade, nestas estradas esburacadas, muitos

caminhões tombavam nas curvas, ceifando muitas

vidas destes humildes trabalhadores. Há uma curva

na estrada que recebeu um cômico nome de “curva

da morte” porque lá muitos bóias frias perderam a

vida. Até nos dias de hoje as pessoas passam neste

fatídico local e tiram os seus chapéus e fazem o

Page 38: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

38

sinal da cruz em reverencia às pessoas que

perderam a vida.

As seis horas da manhã, o nosso caminhão chega

no grande rio, e aguarda a chegada da balsa que

fará a travessia para a outra margem, no Estado de

Minhas Gerais, o caminhão sobe na plataforma da

balsa e nós os bóias frias ficamos dentro da balsa

contemplar as águas a correr, pois o tempo de

travessia era de vinte minutos. O tempo ainda está

frio e os fortes ventos obrigam alguns dos bóias

frias a buscarem refugio na frente do caminhão ao

calor do motor já desligado. Pela correnteza do rio,

observa-se madeiras, folhas e alguns peixinhos

como lambaris nas águas turvas a correr. Faltando

uns duzentos metros para a balsa chegar nas

margens do grande rio, por imprudência o

motorista José Pinheiro entra no caminhão e dá

partida, esquecendo que o caminhão estava

engrenado, acontece o imprevisto, o veículo dá um

arrancada para frente e retorna, e com o impacto

projeta para as águas gélidas quatro bóias frias.

desespero total das histéricas mães, que pulam na

embarcação aos gritos de “salvem meu filho por

amor de Deus”, eles com suas pesadas botinas,

embornais pendurados, grossas roupas de frio são

levados pelas fortes correntezas, junto com eles vão

também pãezinhos levados com a correnteza.

Alguns barqueiros num gesto de civilidade

consegue trazer para a balsa alguns náufragos

enquanto outros num forte instinto de se salvarem,

nadam e retornam à balsa.

Page 39: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

39

O dia inicia-se com este fato marcante na vida dos

bóias frias, e o motorista quase apanha das

mulheres revoltosas. Chegamos à lavoura de

algodão e tudo volta a rotina, apesar das

murmurações gerais. Mamãe e meus irmãos

penduram os embornais nas frondosas árvores e

começamos a colher algodão, as nove horas da

manhã o sol começa a lançar seus fortes raios na

terra bronzeando os boias frias. Os mosquitos

borrachudos atacam sem parar, calor torna-se forte

e às quatro horas da tarde vários moleques e entre

eles eu também vamos a pé até o rio para aguardar

a chegada do caminhão. Aproveitamos estas horas

de lazer para se refrescar no rio. Agora sim um

nado voluntário e não forçado.

Mais uma vez em casa com mamãe e meus irmãos

a alegria invade nosso humilde lar. O banho era

tomada em uma bacia de alumínio, com sabão de

soda, à noitinha as lamparinas à querosene eram

acesas e íamos ao quintal contar alguns “causos.”

Os bóias frias são realmente uns heróis dos

campos, pois mesmo enfrentando esta árdua vida,

nas colheitas de algodão são felizes e ainda sobra

tempo a noitinha para irem à praça da matriz para

conversarem e gargalhar dos seus problemas e

desgraças dos outros. Sim são felizes porque estão

ajudando a construir este próspero país.

Page 40: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

40

Bruxos na selva amazônica

Hortolândia, uma maravilhosa cidade da região

metropolitana de Campinas, clima seco, ar puro e

isento das muitas poluições que afetam cidades

grandes, Amanda II um bairro tranquilo que abriga

quase cinquenta mil habitantes. Três amigos de

escola que tinham muitas coisas em comum:

Alberto, um jovem ávido pelo conhecimento,

cursava o 1º ano do ensino médio, seus óculos

(estilo intelectual) destacava dos demais alunos,

passava maior parte do tempo na biblioteca

pesquisando livros sobre lugares exóticos.

Bernardo, cursava o 3º ano do ensino médio, era

assinante de uma das melhores revistas de

circulação periódica a revista “reader digest” na

escola vivia sonhado com passeio pelas regiões

pitorescas do Brasil, afinal ele dizia sempre:

— Nós brasileiros devemos conhecer primeiro

nosso país que é rico em lugares bonitos, prá que se

preocupar em conhecer outros lugares se aqui

temos tudo de bom e bonito? Na sala de aula

adorava as aulas de geografia e se deleitava com as

informações passadas pela professora Mary!

Nos intervalos, seu amigo preferido era o Alberto, e

sempre trocava palavras amigas e discutiam seus

sonhos em conhecer outros lugares.

Carla colega de classe do Bernardo possuía o dom

de fazer novas amizades, dizia que quando

terminasse o ensino médio, faria uma faculdade

voltada para a área de astronomia, queria ser

Page 41: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

41

cientista! A noite sempre olhava para o céu

estrelado de Hortolândia, admirava a constelação

do cruzeiro do sul!

Tarde de uma sexta-feira, Bernardo abre sua

caixinha de coleta dos correios, em meio a várias

contas para pagar, encontrou uma, vinda de sua

revista preferida, dentro, um aviso do diretor da

revista informando que ele havia sido sorteado com

três passagens de ida e volta, para uma viagem para

Manaus!

Alegria tomou conta do seu ser, e espalhou as boas

novas entre seus amigos, a euforia tomou conta

deles, na cantina da escola combinaram que

distribuiriam as passagens somente para seus

amigos íntimos. Como se aproximavam as férias de

dezembro, os jovens se prepararam para a viagem,

fizeram suas malas e incluíram nelas: repelentes

para mosquitos, varas e apetrechos para pesca,

espingarda para caça, lanternas, roupas camufladas,

carnes em conserva, bonés e muitas coisas que

poderiam ser úteis, como a viagem de ida e volta

poderia ser longa, encheram suas malas com vários

livros e entre eles um almanaque do pensamento

que registrava alguns fenômenos e algumas coisas

úteis.

Dia tão esperado chegou! No aeroporto de

Viracopos os três despediram de suas famílias no

saguão do aeroporto, e o avião tomou as alturas

com os jovens aventureiros. Suas mãos suavam, e

tentavam se tranqüilizar falando de coisas banais.

Carla puxou conversa com o Alberto:

Page 42: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

42

— Sabe Alberto, eu li no almanaque que está

previsto um eclipse total do sol, e você não imagina

que só será visto na região norte!

—Duvido! — disse o incrédulo Alberto!

—Último eclipse que se tem notícias foi a vinte

anos atrás e eu era apenas um menino.- disse o

jovem aproximando suas mão da mão da moça,e

sentindo seu perfume adocicado da boticário, seu

coração batia forte sempre que se aproximava de

Carla.

— Pois é, teremos um privilégio, que ninguém de

Hortolândia terá! — Ver este fenômeno de um

único lugar! — Minhas amigas ficarão com muita

inveja.

Suas mãos se tocaram mais uma vez e aproveitaram

para trocar um “selinho” deixando Bernardo de

olhos arregalados.- Bernardo também tinha uma

forte atração por Carla!

Numa manhã ensolarada de sábado, o avião taxia

na pista do aeroporto de Manaus e os três amigos

descem e se dirigem para um hotel da cidade. Antes

de chegar ao hotel foram pegos de surpresas por

uma forte chuva, porque o tempo da Amazonas é

muito instável!

Chegam em um pequeno hotel da grande capital

Manaus, pedem dois quartos um para a Carla e

outro para os dois amigos. Tomam um delicioso

banho e se reúnem na sala de descanso do hotel,

enquanto uma forte chuva cai. Conversam até tarde

quando todos bocejando vão para seus quartos

descansarem.

Page 43: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

43

Quase duas da manhã, enquanto Alberto já dormia

um pesado sono, Bernardo sai devagarzinho e se

dirige ao quarto de Carla, a porta não estava

trancada, sobre o fino lençol Carla deixava aparecer

suas belas pernas, sua pequena calcinha estava a

mostra, Bernardo chegou, e deu um pequeno beijo

nas rosadas faces dela, se remexeu e fingiu dormir,

as mãos de Bernardo tocaram suavemente em suas

pernas, e logo se abraçaram arduamente. Ambos

sedentos de paixão se entregaram um ao outro até

as cinco da manhã quando ele voltou para seu

quarto. Alberto ainda dormia exausto em sua cama

de solteiro.

Amanhece o dia e os três saem do hotel e vão

conhecer a grande Manaus, um anúncio publicava

um telefone de um guia para viagens à selva,

prometia ser um exímio conhecedor do lugar.

Ligam para ele e atende o Zé do Brejo como era

chamado:

- Alô – disse Carla ao telefone.- Precisamos de seu

serviço para um passeio em plena selva, queremos

conhecer tudo que for belo e exótico que exista

nesse lugar. Concordaram o preço e marcaram para

o dia seguinte, o embarque no seu belo barco. Iriam

por água porque por terra era bem difícil o

transporte.

Malas, mochilas e apetrechos de turistas estavam

prontos e embarcaram no barco do Zé do Brejo. O

barco era de tamanho mediano com dois

compartimentos em um dos lugares havia redes

para os turistas descansarem enquanto o barco

Page 44: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

44

singrava as belas águas do rio Amazônia, águas

profundas, turvas.

Em uma pequena curva do rio, os três amigos

acham que é o melhor local para permanecerem

algum tempo e armarem suas barracas. O barco

para enquanto os três descem e começam seu

passeio, árvores são fotografadas, pássaros de

diferentes espécies, dão um verdadeiro show com

seus cantos, doce cheiro de flores, é como um

alucinógeno às narinas dos jovens hortolandenses.

Armam as barracas e curtem os bons momentos

enquanto o barqueiro fica na beira do rio à esperar

o chamado para prosseguir e guia-los à selva mais

densa. Carla e Bernardo não puderam nem se tocar,

um pouco de medo os dominava nesse ambiente

exótico e hostil as visitas indesejáveis, rugido de

feras ecoavam na noite, cantos de pássaros

noctívagos davam um ar tétrico. Barulhos de

chocalho indicavam que havia algumas cobras

venenosas nesse lugar. Atiçaram a fogueira e

conseguiram passar suas primeiras noites.

Amanhece, e ao som dos pássaros matinais,

chamam o guia e se embrenham pela selva adentro,

o guia vai à frente com seu facão cortando os

obstáculos que dificultam a passagem. Um grito de

dor:- Ai... Sangue mancha a camisa do Zé do Brejo,

sobre seu pescoço um forte jato de sangue corre

violentamente enquanto ele cai.

Os três desesperados não sabem o que aconteceu e

correm desnorteados pela mata adentro, Carla

tropeça em um cipó e cai. Sobre ela um ser

estranho agarra suas costas e sua boca é fechada

Page 45: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

45

por uma mão toda manchada de barro, Carla vê que

Bernardo e Alberto estão vindo próximo dela, as

mão dos jovens estão amarradas e atrás deles um

grupo de índios da raça dos Amambiquaras.

Os Amambiquaras é uma raça de índios quase

extinta na região norte do Brasil, os pesquisadores

dizem que deveriam haver poucos índios dessa

raça. Eram antropófagos, andavam praticamente

nus, usavam um pequeno enduape que cobriam as

regiões glúteas, suas extensas cabeleiras eram

presas por penas de aves principalmente de faisão,

era um povo ignoto para os pesquisadores, mas

exerciam extrema violência para com os intrusos.

Nossos amigos foram levados até a taba na

presença do cacique, seus gritos de guerra e seus

falares eram totalmente incompreendidos por Carla,

Bernardo e Alberto.

O cacique era um velho de feição austera, tinha um

pouco de conhecimento das línguas dos brancos e

disse numa mistura de sua língua e a nossa: - O que

os brancos querem aqui?- Carla foi a primeira a

falar tremendo de medo:

- Não queremos nada, apenas ir embora.

Sem ser atendida, todos foram amarrados com cipó

embira em um tronco de árvore que estava defronte

da taba. Começaram as danças, em sua volta via

passar alguns índios a dançar ao som de uns

batuques de tambores. Havia algumas meninas

índias, com seus seios à mostra, pequenas tangas

cobriam seus sexos, os índios quase nus gritavam

uma cantiga estranha, causando terror aos olhos dos

hortolandenses.

Page 46: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

46

Mais ou menos duas horas durou a dança, quando

apareceram algumas índias, tiraram totalmente as

roupas de Carla, Bernardo e do Alberto, usaram

urucum, pintaram seus corpos, com uma ferramenta

rústica, cortaram os seus cabelos.

Alguns índios trouxeram folhas de coqueiros e

alguns gravetos e cercaram os jovens! Terror estava

estampado aos seus olhos, sabiam que seriam

devorados vivos após serem totalmente queimados.

Nessa hora, Carla lembrou das aulas de literatura

que tivera com seu professor Ferreira,

principalmente o texto que havia lido sobre o índio

tupi sendo prisioneiro das tribos dos Aimorés!

Agora vivenciava essa história real sendo a própria

personagem.

Carla não havia perdido o senso de data, teve uma

lembrança de seu livro, lembrou que nesse dia

haveria um eclipse solar, visto totalmente na região

norte, acreditava que seria em torno de 12h45min,

lembrando que havia a diferença de fuso horário.

Quando tudo parecia perdido, Carla ficou histérica

e começou a gritar, causando horror aos jovens

prisioneiros. Gritava, enrolava a língua e olhava

para o sol, os índios não compreendiam nada. De

repente uma pequena mancha no Sol apareceu, a

mancha crescia mais e mais até que começou a

escurecer em pleno meio dia. Índios gritavam,

olhavam para o Sol, alguns caiam com as mãos ao

sol, logo toda a aldeia estava em prantos.

O cacique supondo que os prisioneiros eram bruxos

mandou que os soltassem e disse:

- Fujam daqui vocês são protegidos pelo deus Sol.

Page 47: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

47

Carla, Bernardo e Alberto receberam suas roupas e

suas sacolas. Vestiram-se e ganharam algumas

oferendas e um prato de uma comida que não

sabiam o que eram, devido a fome, comeram

avidamente, comeram algumas frutas.

Ao saírem da aldeia, Alberto lembrou que tinha um

litro de álcool, alguns índios os escoltaram guiando

pela selva. Ao passarem por um pequeno riacho

Alberto despejou o álcool no leito do riacho e

riscou fósforo, houve uma combustão e a água

pegou fogo. Os índios desesperados voltaram em

fuga gritando para suas aldeias.

Rindo e chorando os três perguntam a Carla se ela

sabia do eclipse:- Acho que fomos salvos pelas

leituras e nossos conhecimentos adquiridos na

escola. É verdade sua bruxa, disse rindo o Alberto.

Acho que eu também sou um bruxo.

Andando, chorando de alegria, tropeçando nos

cipós, conseguem chegar até o rio de onde avistam

algumas aves voando em círculo, olhando com

mais atenção descobrem o corpo do barqueiro em

estado de decomposição, pois havia sido devorado

pelas aves.

Avistam o barco e não foi difícil por em

funcionamento, motores são ligados, e sobem o rio

e após três horas de viagem chegam a um

ancoradouro em Manaus. Dirigem-se ao hotel e

caem exaustos no chão do quarto.

Amanhece o dia e verificam que suas passagens

ainda eram validadas, na hora marcada vão até o

aeroporto e tomam o avião rumo à Campinas.

Page 48: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

48

Seus nomes ficarão para sempre na história, pois

aprenderam que muitas vezes a astúcia é melhor do

que a força.

Brasil um lugar belo, porém todo passeio deve ser

antes de tudo bem planejado para não sofrer

consequências desastrosas.

Page 49: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

49

Impossível não viver do passado

Muitos estufam o peito e dizem: - Quem gosta de

passado é museu! Os mais poéticos citam frases

que tem um forte impacto nas pessoas “ Ontem é

passado, hoje é presente e é por isso que tem esse

nome presente” É gratificante mesmo nos

cinquentas e alguns anos trazer à baila os

momentos que marcaram profundamente minha

profícua existência, quero e desejo mais anos de

vida porém nosso criador sabe melhor de nós! As

boas lembranças são como combustível para

inflamar o ego e deixar a mente viajar um pouco.

Na pequenina cidade de Indiaporã Estado de

São Paulo, décadas de 60 e 70, pobre de marre de

si, mas havia uma alegria em viver, No pátio

escolar as deliciosas sopas de trigo, bolachas e

leite com chocolate preparados pelas merendeiras,

hinos escolares cantados pelos coleguinhas” De

manhã já bem cedinho pego o lápis vou escrever...”

broncas dos diretores, as professoras severas,

reguadas na cabeça, final das aulas era aquela

correria para jogar “biroca” jogo de mata-mata e

banca era os melhores. Cada época tínhamos um

brinquedo diferente. Papagaio, pião, arquinho,

pega-pega. Nas tardes finais de semanas íamos aos

“córregos” refrescar quando a fome apertava o

estômago passávamos nos pastos e recolhíamos

cocos que os animais regurgitavam e quebrávamos

nas pedras e saciávamos a fome. Em todas as

épocas tínhamos frutas: Angá, gabiroba, mangas,

jenipapos etc.

Page 50: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

50

A cidade nessa época era poeirenta,

caminhões pipas molhavam as ruas e nós os

moleque corríamos atrás cheirando o forte cheiro

de terra molhada e aproveitávamos para refrescar.

Hoje ao lembrar como conseguíamos

mistura sinto um aperto no coração! Íamos aos

córregos e amassávamos saibro um barro branco,

fazíamos bolinhas e colocava para secar. Quando

secas caçávamos passarinhos nos matos. Inhambus

e codornas eram os preferidos, também armávamos

arapucas para prender os pássaros maiores como

pombos do mato. Eram carnes deliciosas.

A velha caixa de engraxar, os pedidos aos

fregueses: - Quer engraxar? Os trocados recebidos,

os picolés de abacaxi, limão, creme, e os maços de

cigarros que muitos males já me trouxeram. Já aos

oito anos ia as roças de algodão, debaixo de um sol

escaldante e sofria com os mosquitos que

chupavam o sangue sem parar.

Como não viver de passado se os capítulos

da história registram momentos magníficos? As

privações não macularam o viver feliz, foram

partes de aprendizagem, nosso velho e bom mestre

o tempo muito nos ensina, erros cometidos no

passado, hoje são cobrados com juros e dividendos.

Não podemos voltar ao passado, porém podemos

fazer dele um aliado para nutrir nossas mentes de

boas lembranças.

“Viva” Machado de Assis com suas citações: - Os

adjetivos passam, os substantivos ficam!

Page 51: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

51

Um bêbado no coletivo

Tarde de Sábado do dia 19 de janeiro de 2001,

como muitos brasileiros, saio do trabalho apressado

com a sacola a pender sobre os meus ombros e

dirijo-me ao ponto de ônibus para aguardar o

transporte que me conduzirá ao "lar doce lar".

Na viagem de ônibus, fico a observar o motorista, o

cobrador e demais passageiros, cada um absorto em

seus pensamentos. Também me acho concentrado e

monologando, a respeito das pressões externas que

de tão perto me sufocam.

De repente muda a atenção de todos para um

bêbado que entra no coletivo, falando alto e

xingando uma pessoa que ele havia encontrado

alguns minutos atrás, ele paga sua passagem com

uma nota de um real e algumas moedas, continua a

praguejar sem parar!. Passageiros se mexem em

seus assentos, outro passageiro toma as dores e

parte para cima do "bêbado" e começa a falar mal-

lo também, agora são dois, e mais vozes, tumulto

no coletivo, alguém esbraveja:- - Motorista, quando

ver uma viatura, pare-a para que este sujeito desça!.

Outros passageiros se revoltam contra o bêbado e

contra o agressor do bêbado. – Jogue os dois do

coletivo gritou alguém!

Enfim, desce o bêbado e alguns pontos depois o

agressor, a calma volta a reinar no coletivo.

Page 52: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

52

Começo a refletir: " será que também não somos

como este bêbado?" o que nos diferencia desta

pessoa é que ele ingeriu bebidas e nós podemos

estar sóbrios, nós não externamos o que está no

íntimo por causa da vergonha e o caráter. No

alcoolizado é diferente a bebida o torna valente e

"sem vergonha".

Há uma “poderosa força que nos inibe a agirmos

como o bêbado é o autocontrole”

Também queremos externar nossa raiva, mas

engolimos "à seco", mas o mal cria raízes no nosso

âmago, raiva dos políticos, baixos salários que

foram retidos pelos patrões, familiares ou alguém

que feriu nosso ego. Nosso hálito não fede como o

do bêbado, mas muitas vezes as mazelas que estão

no nosso íntimo exala algum odor fétido!.

Estamos no coletivo da vida, e os que estão em

contatos conosco, muitas vezes descem em pontos

que nunca mais os veremos, outro ficam conosco

mais alguns instantes no coletivo da vida, às vezes

quem nós pensávamos que iria até o fim nesta

viagem, desembarcam e nos deixam só!.

Onde estará o bêbado do coletivo? Meu

companheiro de viagem que tanto transtorno trouxe

aos passageiros. Talvez nunca mais o veja, mas

deixou uma lição que me fez reconsiderar muito.

Page 53: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

53

Será que às vezes não estou a incomodar os

passageiros neste coletivo da vida?. Amanhã ele

será apenas um "ex-bêbado" e os meus atos que

perturbam meus semelhantes poderão causar sérios

danos!

E a viagem continua...

Page 54: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

54

Meu nome é Jerônimo

Tenho enfrentado os risos dos meus alunos quando

chego em sala de aula e me apresento: "_Sou o

professor de vocês e meu nome é Jerônimo" O riso

é generalizado, só escuta a turminha gritando

"Jeronimooo"

Certo dia como professor eventual, entrei em uma

5ª série para dar aula de português. Bem sério eu

disse:- Sou professor de português e vou dizer meu

nome, e aquele que rir, vou pegar pelas orelhas e

levar para diretoria. " Meu nome é Jerônimo"

Todos ficaram sérios e eu percebi que eles

mudaram a fisionomia e tentaram não rir, não

aguentaram e eu para melhorar o ambiente disse:

Podem rir!!!! As risadas foram uníssonas!

Consegui dar uma excelente aula e percebi que

todos se empenharam em fazer atividades. Depois

não tive mais problemas e ninguém se importou

mais.

Às vezes temos que manter o bom humor, cara feia

não resolve quase nada. A vida já é dura, e os

alunos aguentarem cinco horas numa cadeira

escolar dura, e um professor chato, carrancudo,

piora ainda mais.

Resolvi fazer uma pesquisa para descobrir o

"porquê" que esse nome provoca risos. E descobri:

"Parece que esse grito estaria relacionado a um

episódio da colonização do oeste dos Estados

Page 55: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

55

Unidos, no final do século 19 - mas na verdade

ninguém sabe quanto da história é verdade e quanto

não passa de lenda.

Tudo começou quando a Cavalaria americana

perseguia um famoso chefe apache chamado

Gerônimo perto do forte Sill, no estado de

Oklahoma.

Ao se ver encurralado na borda de uma ribanceira,

o guerreiro, em vez de se render, tomou impulso e

saltou, montado em seu cavalo. Na queda, antes de

afundar no pequeno rio que passava lá embaixo, o

índio gritou seu nome com toda a força:

"Gerônimooooooooo!".

O mais incrível é que ele e o cavalo se recuperaram

da queda e escaparam a galope. Apesar da fuga

fantástica, Gerônimo seria capturado pouco tempo

depois e morreria na prisão em 1909.

Trinta anos depois, durante a Segunda Guerra

Mundial (1939-1945), seu grito foi adotado nos

saltos dos paraquedistas da 82ª Divisão

Aerotransportada do Exército americano, que

estavam prestes a embarcar para a Europa.

"Tudo indica que a tradição nasceu depois que os

paraquedistas assistiram, no campo de treinamento

na Carolina do Norte, a um filme sobre a vida do

chefe apache", afirma o etimologista Cláudio

Moreno, colunista de Mundo Estranho.

Nas décadas seguintes, os faroestes americanos se

encarregaram de espalhar o costume pelo resto do

mundo. Hoje, a palavra deixou o ambiente militar e

Page 56: Saudades de minha terra - Prof. Jerônimo

56

tem uso bem mais amplo. Por isso, é comum as

pessoas gritarem "Gerônimo!" como aviso de que

algo está caindo."