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Teoria da Atividade como modelo de análise João Filipe Matos Instituto de Educação, Universidade de Lisboa [email protected] Doutoramento em Educação | Seminário Transdisciplinar | 19 maio 2017

Teoria da Atividade - introdução

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Page 1: Teoria da Atividade - introdução

Teoria da Atividade como modelode análise

João Filipe MatosInstituto de Educação, Universidade de Lisboa

[email protected]

Doutoramento em Educação | Seminário Transdisciplinar | 19 maio 2017

Page 2: Teoria da Atividade - introdução

sumário

I. papel da teoria na investigação

II. o investigador de um ponto de vista sociocultural

III. bases da Teoria da Atividade

IV. algumas implicações (para a investigação)

Page 3: Teoria da Atividade - introdução

I

papel da teoria na investigação?

Page 4: Teoria da Atividade - introdução

não há nada tão prático (e útil) como uma ‘boa’ teoria…

Page 5: Teoria da Atividade - introdução

teorias e teorias…

teorias de longo alcance (Darwin)

teorias de médio alcance (Piaget)

teoria substantiva (…)

everyday theories

Page 6: Teoria da Atividade - introdução

Papéis da teoria

descritivo [identifica conceitos chave ou variáveis e estabelece distinções conceptuais de base]

explicativo [revela relações e processos]

preditivo [torna possível fazer previsões numa variedade de contextos potenciais]

prescritivo [fornece linhas estruturantes]

generativo [orienta para a invenção e descoberta,...]

Page 7: Teoria da Atividade - introdução

De que precisamos na investigação?

teoria(s) suficientemente rica que permita capturar os aspectos ‘mais importantes’ do fenómeno/situação problematizada

teoria(s) suficientemente descritiva e generalizante para constituir ferramenta útil de análise

à importância do conceptual framework

Page 8: Teoria da Atividade - introdução

framework teórico (theoretical framework)

“A theoretical framework is a structure that guides research by relying on a formal theory; that is, the framework is constructed by using an established, coherent explanation of certain phenomena and relationships, e.g., Piaget’s theory of conservation (...)” (Eisenhart, 1991, p. 205)

Page 9: Teoria da Atividade - introdução

natureza do framework: estrutura de explicação

papel do framework: os dados são integrados na lógica da teoria (prevalece a lógica da teoria)

Exº: estudos sobre o desenvolvimento da noção de proporcionalidade nas crianças a partir da ‘teoria dos estádios’ de Piaget

Page 10: Teoria da Atividade - introdução

framework prático (practical framework)

“a practical framework, then, guides research by using ‘whatworks’ in the experience or exercise of doing something bythose directly involved in it (...)” (Eisenhart, 1991, p. 207)

Page 11: Teoria da Atividade - introdução

natureza do framework: enraizado nas práticas

papel do framework: os dados são entrelaçados com a teoria e constituem-se em teoria

Exº: estudos sobre a proporcionalidade em adultos não escolarizados usando abordagens da etnomatemática

Page 12: Teoria da Atividade - introdução

framework conceptual (conceptual framework)

“A conceptual framework is an argument including different points of view and culminating in a series of reasons for adopting some points – i.e., some ideas or concepts – and not others. The adopted ideas or concepts then serve as guides: to collecting data in a particular study, and/or to ways in which the data from a particular study will be analyzed and explained” (Eisenhart, 1991, p. 209)

Page 13: Teoria da Atividade - introdução

natureza do framework: estrutura de justificação

papel do framework: rede argumentativa de conceitos para análise

Exº: estudos sobre o uso do tablet entendido como artefacto mediador do pensamento matemático na sua relação com as práticas

Page 14: Teoria da Atividade - introdução

framework conceptual (implicações)

explícito e compreensível

suporte de teoria substantiva

intencionalidade orientada pelo problema

adota aspetos, conceitos, relações de teorias diversas

Page 15: Teoria da Atividade - introdução

framework conceptual (implicações)

• aponta critérios de seleção de terrenos empíricos

• aponta critérios de seleção de formas e conteúdo de dados empíricos a recolher

• instrumento de análise do campo empírico

• delimita e circunscreve o campo teórico da investigação

Page 16: Teoria da Atividade - introdução

framework conceptual (implicações)

● assume um carácter dinâmico● responde ao problema, gerando também novas

questões e novos cenários● convive com modelos alternativos

Page 17: Teoria da Atividade - introdução

II

o investigadorolhado de um ponto de vista

sociocultural

(para chegarmos à Teoria da Atividade)

Page 18: Teoria da Atividade - introdução

investigação

investigador objetonovo

objeto

Page 19: Teoria da Atividade - introdução

mediação

investigador objetonovo

objeto

elementos de mediação

1ª geração da Teoria da Atividade (Vygotsky)

Page 20: Teoria da Atividade - introdução

mediação

os modos como os humanos criam representações e interagem com o mundo constituem processos de ação mediada

(na mediação semiótica) deias, conceitos , significados, palavras tornam-se substitutos de referentes concretos na ausência dos objetos

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Page 22: Teoria da Atividade - introdução
Page 23: Teoria da Atividade - introdução
Page 24: Teoria da Atividade - introdução

Representante Objeto

Manter o espaço limpo e arrumado

Interpretante(deitar os papéis e outros objetos no cesto significa não deitar no chão)

Page 25: Teoria da Atividade - introdução
Page 26: Teoria da Atividade - introdução

mediação no dia-a-dia

indivíduo situação explicação

pré-concepções, ideias, mitos,…

Page 27: Teoria da Atividade - introdução

III

Bases da Teoria da Atividade

Page 28: Teoria da Atividade - introdução

Teoria da Atividade (TA)

Compreender os seres humanos na sua dimensão individual e social na sua vida do dia-a-dia através da análise da génese, estrutura e processos de desenvolvimento da sua atividade

Page 29: Teoria da Atividade - introdução

atividade...

Page 30: Teoria da Atividade - introdução

sujeito

Unidade de análise

resu

ltad

o/

prod

uto

transformaçãoobjecto

artefacto

Vygotsky (1º geração da TA)

Page 31: Teoria da Atividade - introdução

Exemplo: ser estudante na pós graduação

livros, computadores, professores, colegas, disciplinas

ideias, conceitos, processos, etc

estudante de

pós-graduação

sujeito

resu

ltad

o/

prod

uto

transformaçãoobjecto

artefacto

Page 32: Teoria da Atividade - introdução

framework conceptual da TA

estrutura hierárquica da atividade

orientação para o objeto

internalização / externalização

mediação

desenvolvimento

Page 33: Teoria da Atividade - introdução

Actividade

Operações

Acçõesconscientes

orientadas para objetivo

inconscientes

automáticas

estrutura hierárquica

Page 34: Teoria da Atividade - introdução

Actividade

Operações

Acçãouso da alavanca de velocidades

carregar na embraiagem, ouvir o motor, ...

condução de um automóvel

estrutura hierárquica

Page 35: Teoria da Atividade - introdução

Actividade

Operações

AcçõesLigadas a objetivos

Ligadas a condições

Ligada a motivos

estrutura hierárquica

Page 36: Teoria da Atividade - introdução

Actividade

Operações

Acções Ligadas a objetivos

Ligadas a condições

Ligada a motivos

estrutura hierárquica

Page 37: Teoria da Atividade - introdução

sobre a atividade, ação e operação

uma atividade pode perder o(s) seu(s) motivo(s) e transformar-se numa ação

uma ação pode transformar-se em operação (por automatização e/ou quando os objetivos mudam)

as definições são totalmente dependentes daquilo que é o sujeito e o objeto numa situação particular

Page 38: Teoria da Atividade - introdução

sobre as ações

ação como cadeia de operações

uma mesma ação pode pertencer a diferentes atividades

serve uma fase de orientação no quadro de planeamento na atividade

papel dos recursos na ação

Page 39: Teoria da Atividade - introdução

Orientação para o objeto

objeto

“orientação para o objeto”:

- propriedades definidas social e culturalmente

Page 40: Teoria da Atividade - introdução

atividade

atividade interna (contar mentalmente)

atividade externa (contar pelos dedos)

Page 41: Teoria da Atividade - introdução

a Teoria da Atividade não aceita uma visão dualista da atividade

o lado interno da atividade não pode existir sem o lado externo e vice-versa

Page 42: Teoria da Atividade - introdução

internalização

transformação de atividade externa em atividade interna [procurar interações potenciais com a realidade sem manipulação de objetos]

Page 43: Teoria da Atividade - introdução

externalização

transformação de atividade interna em atividade externa [interações com a realidade a partir de atividade interna]

Page 44: Teoria da Atividade - introdução

Internalização e externalização

Internalização

transformação da atividade

externa em algo interno

Externalização

transformação da atividade

interna em algo externo

Relação dialéctica

Page 45: Teoria da Atividade - introdução

artefactos e mediação

os artefactos enformam os modos como os humanos interagem com a realidade

dar forma a atividade externa resulta em enformar também atividade interna e vice-versa.

sujeito objecto

artefacto

Page 46: Teoria da Atividade - introdução

artefactos e mediação

o uso de artefactos é um meio de elaboração e transmissão de conhecimento social

Page 47: Teoria da Atividade - introdução

são moldados pelo contexto social e cultural onde são usados

refletem as experiências das pessoas, através das propriedades estruturais desses artefactos, assim como no conhecimento de como eles devem ser utilizados

são criados e transformados na própria atividade

transportam uma cultura particular – a utilização de artefactos é um meio de elaboração e transmissão de conhecimento cultural.

artefactos

Page 48: Teoria da Atividade - introdução

físico ou conceptual

expande as nossas possibilidades de manipular e transformar diferentes objetos

é entendido e manipulado dentro das limitações marcadas pela ferramenta

fornece poder ao sujeito no processo de transformação

restringe a interação (outras características de objeto podem manter-se invisíveis para o sujeito)

artefacto

Page 49: Teoria da Atividade - introdução

desenvolvimento

a atividade humana desenvolve-se no tempo num quadro histórico

perspectiva a prazo: não se poderá compreender a atividade senão forobservada nos seusciclos de crescimento emudança

Page 50: Teoria da Atividade - introdução

ação individual e atividade coletiva

Leont’ev (2ª geração da TA)

sujeito

regras

comunidade divisão de trabalho

objecto

intrumentos

resultado / produto

(esquema de Engeström, 2007)

Page 51: Teoria da Atividade - introdução

comunidade (aqueles que partilham o mesmo objeto)

necessária à integração das relações sistémicas

regras (normas explícitas e implícitas, convenções e relações sociais com a comunidade)

criadas pela necessidade na atividade

divisão de trabalho (organização explícita e implícita de uma comunidade, particularmente)

necessária ao processo de transformação de um objeto num resultado/produto

conceitos

Page 52: Teoria da Atividade - introdução

Atividade e mediação

sujeito

Regras

(de mediação)comunidade divisão de trabalho (elemento

de mediação)

objecto

artefactos de mediação

resultado / produto

elementos de mediação

Page 53: Teoria da Atividade - introdução

Atividade: exemplo projeto em grupo

aluno

Formas de estar nas aulas, compromissos

com o grupo e o professor,...

Grupo de trabalho, turma,...

Distribuição implícita de tarefas, de cooperação,...

ideias, condições, problemas...

Computadores, fichas de trabalho,...

ideias melhores, mais próximas do reportório científico

elementos de mediação

reificadas num relatório

Page 54: Teoria da Atividade - introdução

mediação na investigação

investigador situação/problema

resultados

teoria(s), instrumentos, procedimentos,…

Page 55: Teoria da Atividade - introdução

investigador situaçãoresultados

teoria(s), instrumentos, procedimentos,…

regras,normas,…

comunidade hierarquia, relaçõesde poder,…

Page 56: Teoria da Atividade - introdução

investigadorresultados

teoria(s), …

regras,normas,

comunidade hierarquia

objeto reviewer

teoria(s), …

regras,normas,

comunidade hierarquia

investigador avaliador

operamos em múltiplos sistemas de atividade

3ª geração da Teoria da Atividade (Y. Engeström)

Page 57: Teoria da Atividade - introdução

sujeito

regras comunidade divisão

de trabalho

objecto1

intrumentos

sujeito

regras comunidade divisão

de trabalho

objecto2

intrumentos

partilha e transformação potencial do objecto

Expansão do modelo básico da TA para incluir pelo menos dois sistemas de atividade interatuando

Engeström (3ª geração da TA)

objecto2 objecto2

objecto3

Page 58: Teoria da Atividade - introdução

actividade

contexto significativo mínimo que permite a compreensão das ações individuais

Page 59: Teoria da Atividade - introdução

Princípios do Sistema de Actividade(Engeström, 2007)

1. sistema de atividade como unidade de análise

2. multivocidade dos sistemas de atividade

3. Historicidade dos sistemas de atividade

4. Papel central das contradições/ tensões /conflitoscomo fontes de mudança e de desenvolvimento

5. Possibilidade de transformações expansivas nos sistemas de atividade

Page 60: Teoria da Atividade - introdução

1. sistema de actividade como unidade de análise

é tomado como unidade de análise um sistema de atividade orientado para o objeto

- sistema de atividade (ação mediada por artefactos)

- sistema de atividade colectivo

Page 61: Teoria da Atividade - introdução

investigadorresultados

teoria(s), …

regras,normas,… comunidade hierarquia

objeto

sistema de atividade como unidade de análise

2ª geração da Teoria da Atividade (Leont’ev)

Page 62: Teoria da Atividade - introdução

2. multivocidade dos sistemas de atividade

Um sistema de atividade

- é sempre uma comunidade de múltiplos pontos de vista, tradições e interesses

- envolve múltiplas dimensões e trajetórias socio-históricas (e.g. nos seus artefactos, regras e convenções)

A divisão de trabalho numa atividade cria diferentes posicionamentos para os participantes

Page 63: Teoria da Atividade - introdução

3. Historicidade dos sistemas de atividade

Os sistemas de atividade tomam forma e transformam-se ao longo do tempo

- problemas e potencialidades podem ser entendidos num quadro histórico

- a própria história dos objetos e dos artefactos necessita de ser analisada

Page 64: Teoria da Atividade - introdução

4. Papel central das contradições/ tensões /conflitos como fontes de mudança e de

desenvolvimento

investigador situação

resultados

teoria(s), instrumentos, procedimentos,…

regras,normas,…

comunidade hierarquia, relações de

poder,…

Page 65: Teoria da Atividade - introdução

investigador situaçãoresultados

teoria(s), instrumentos, procedimentos,…

regras,normas,…

comunidade hierarquia, relaçõesde poder,…

Page 66: Teoria da Atividade - introdução

5. Possibilidade de transformações expansivas nos sistemas de atividade

- ciclos de transformação qualitativa

- transformação expansiva atingida quando o objeto e motivo da atividade são reconceptualizados para novos horizontes de possibilidades

Page 67: Teoria da Atividade - introdução

(relação com o conhecimento)

conhecimento entendido não como propriedade individual...

...mas como produto colectivo construído na interação com os recursos estruturantes da ação

os outros

os artefactos que usamos

as situações e os problemas

Page 68: Teoria da Atividade - introdução

Participar numa prática social, na qual o

conhecimento reside, é um princípio epistemológico

de aprendizagem.

As possibilidades de aprendizagem são definidas:

• pela estrutura social dessa prática

• pelas relações de poder e as condições de legitimidade

e de acesso

Page 69: Teoria da Atividade - introdução

Princípios a considerar nesta perspetiva

1. sistema de atividade como unidade de análise

2. multivocidade dos sistemas de atividade

3. historicidade dos sistemas de atividade

4. papel central das contradições / tensões /conflitoscomo fontes de mudança e de desenvolvimento

5. possibilidade de transformações expansivas nos sistemas de atividade

Page 70: Teoria da Atividade - introdução

IValgumas implicações

Page 71: Teoria da Atividade - introdução

o investigadorde um ponto de vista sociocultural

o investigador é um ser sistémico, social, política e historicamente inscrito

o investigador é não só um produto da cultura, mas também um criador e transformador da subjetividade colectiva

o investigador, e os objetos transformados na sua prática, não podem ser considerados nem compreendidos sem se atender aos meios culturais de acesso ao conhecimento - os artefactos (de mediação)

Page 72: Teoria da Atividade - introdução

relação teoria-fenómeno

metodologia

dados métodos

fenómeno teoria

conceptual framework

Page 73: Teoria da Atividade - introdução

http://multimedia-gallery.web.cern.ch

O que é a análise?

Page 74: Teoria da Atividade - introdução

http://multimedia-gallery.web.cern.ch

O que é a análise?

Page 75: Teoria da Atividade - introdução

Envolve a definição de categorias conceptuais, tipologias, que medeiam a interpretação dos dados para o leitor

As categorias são conceitos indicados pelos dados — não são os dados propriamente ditos

Uma categoria é descrita pelas suas propriedades

Objetivo: construção de hipóteses, laços, ligações entre categorias e propriedades à desenvolvimento de teoria substantiva (relativa à situação específica em análise)

O que é a análise?

Page 76: Teoria da Atividade - introdução

escrever é analisar

a escrita é parte da investigação

‘como é que sei o que penso antes de ler o que escrevi?’

Page 77: Teoria da Atividade - introdução

Há uma incerteza inerente entre o design e a sua realização nas práticas de investigação (uma vez que essas práticas não são o resultado do design mas uma

resposta ao design)

o design e o emergente

Page 78: Teoria da Atividade - introdução

representação da investigação

Page 79: Teoria da Atividade - introdução

representação da investigação

qual é a audiência (da tese)?

que vozes represento?

como me dirijo ao leitor? (voz ativa/passiva,…)

Page 80: Teoria da Atividade - introdução

“Anything that can will be digitased. What will happen to schools?”

SITRA (2015). A Land of People who Love to Learn. Helsinki: Finish Innovation Fund.

Page 81: Teoria da Atividade - introdução

representação multimédia?

incluir texto, tabelas e gráficosdinâmicos, imagens vídeo – e as relações entre esses elementos àrelações hipertextuais…

Page 82: Teoria da Atividade - introdução
Page 83: Teoria da Atividade - introdução

potencialidades…

evolução dos métodos de trabalho

análise e avaliação da investigação

re-análise de dados

replicação de estudos

Page 84: Teoria da Atividade - introdução

investigadorresultados

teoria(s), …

regras,normas,

comunidade hierarquia

objeto arguente

teoria(s), …

regras,normas,

comunidade hierarquia

investigador avaliador/júri

operamos em múltiplos sistemas de atividade

3ª geração da Teoria da Atividade (Y. Engeström)

Page 85: Teoria da Atividade - introdução

bibliografia base