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Geraldo Medeiros de Aguiar T T E E X X T T O O S S S S O O B B R R E E E E C C O O N N O O M M I I A A P P O O L L Í Í T T I I C C A A E E D D E E S S E E N N V V O O L L V V I I M M E E N N T T O O 2008

Textos sobre economia e desenvolvimento

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A proposição do autor Geraldo Medeiros de Aguiar é dotar seus leitores, universitários ou não, deuma consciência crítica abrangente inserta em paradigmas não-cartesianos. O autor considera e conceitua a economia política, como padrão em rede de relações de trabalho e de relações sociais de produção com a natureza.

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Geraldo Medeiros de Aguiar

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2008

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DEDICATÓRIAS E AGRADECIMENTOS

Agradeço e dedico estes TEXTOS a minha esposa Professora Mauricéa Marta B. Wanderley por me motivar a escrevê-los e a meu filho Tiago Wanderley de Aguiar que os formatou e digitou. Dedico, ainda, a minha filha Milena (minha linda flor gentil singela), e aos meus filhos Lucas e Eugênio que, com Marta e Tiago, são a razão de todo meu amor, carinho e dedicação familiar.

Externo, em especial, meus agradecimentos ao Professor Ary Avelar Diniz, (Presidente da Mantenedora do Colégio e da Faculdade Boa Viagem), que financiou a minha participação na Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD XI) e ao Professor Walter Moraes que acreditou no meu trabalho.

Dedico estes TEXTOS aos mestres e amigos: Manuel Figueroa Lazarte, técnico da ONU/FAO, com quem apreendi a contextualizar ou ler a realidade, a Vantuil Barroso Filho meu ilustre contraponto em diferentes fóruns, (na esperança de que volte a apostar na luta para o humanismo concreto).

Também, externo minhas homenagens ao colega e amigo Professor George Emílio Bastos Gonçalves e Felipe Reis e aos meus ex-alunos de Economia Política, ao meu genro Fabrício Azevedo, a minha querida sogra Josamira B. Pontes, a minha neta Thaís e aos meus netos Andrey e Ian Victor pelo carinho e dedicação como me recebem e acolhem.

(Estes textos, ainda, não foram submetidos à revisão gramatical da

língua portuguesa. A redação é a coloquial do Autor. Para publicação terá que ser revisado. No presente momento serve de apostila para os alunos do Autor ).

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ÍNDICE APRESENTAÇÃO 05 I. VISÃO PRÉVIA 08 Velhos e novos paradigmas 08 As ideologias imbricadas à economia política 20 A divisão do trabalho e um mundo sem empregos 21 Outros conceitos importantes 30 Cronologia de acontecimentos importantes no sistema mundo capitalista 42 II. CATEGORIAS BÁSICAS PARA O ENTENDIMENTO DA

SOCIEDADE E DA ECONOMIA POLÍTICA 47 Instância econômica – IE 47 Instância social – IS 48 Instância política – IP 49 Instância ideológica/psicossocial –II 50 Sistemas mundiais 51 Economia política 52 Leis da economia política 57

Trabalho e alienação 59 Bens e mercadorias 61 Teoria da mais valia 62

O valor e suas teorias 64 Valor e processo de trabalho 66 As lógicas do valor 69 Capital e crédito 73 Empresa capitalista 76

Excedente econômico e acumulação de capital 78 Renda, lucro e investimento 81

Comércio mundial 82 A rodada de Doha da OMC. A Conferência de Hong Kong 89

III. MODELOS E SEUS USOS 92 Modelos de desenvolvimento econômico 93 Modelos de desenvolvimento político 100 Nacional capitalismo 101 Capitalismo de estado 102 Socialismo de desenvolvimento 103 Características das realidades emergentes 104 Uso de modelos econométricos. Uma crítica 106

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IV. SINOPSE DAS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTO 112

Teoria do circulo vicioso 112 Teoria do dualismo econômico 114 Teoria do grande incentivo 115 Teoria do crescimento equilibrado 115 Teoria do crescimento não-equilibrado 116 Teoria da transição do arranco para o autodesenvolvimento 117 Teoria da economia periférica ou exportadora dependente 118 Teoria do subdesenvolvimento 122 Teoria do desenvolvimento sustentável 124

V. AS ESTRUTURAS ECONÔMICAS DAS REGIÕES SUBDESENVOLVIDAS 137

A configuração estrutural 137 A dinâmica do subdesenvolvimento 145 As condições do subdesenvolvimento 149

VI. IDÉIAS PARA UM MODELO AUTÔNOMO DE DESENVOLVIMENTO 157 VII. DESENVOLVIMENTO/SUBDESENVOLVIMENTO UMA DESCONSTRUÇÃO DE EDGAR MORIN 179 BIBLIOGRAFIA 184 O AUTOR 193

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APRESENTAÇÃO

Os presentes Textos sobre economia política e desenvolvimento destinam-se aos alunos do autor e leitores diversos. Os Textos, em epígrafe, servem, também, de complemento aos outros trabalhos do autor, voltados para palestras e cursos, intitulados:

a) Notas sobre metodologia de pesquisa científica. Recife, 2001. 90 p. b) Temas sobre epistemologia e ecologia. Recife, 2002. 68 p. c) Política includente de recursos humanos de base local. Recife,

2008. 130 p. (no prelo) d) Leituras sobre planejamento estratégico. Recife. 2003. 108 p. e) Agenda 21 e desenvolvimento sustentável. (Caminhos e desvios).

Recife. Livro Rápido. 2004. 109 p. (2ª edição no prelo) f) Organizações em rede. O que são como funcionam? Recife, 2006.

150 p. (no prelo). g) Anotações sobre a análise da realidade brasileira contemporânea.

Recife 2007. 135 p. Os dois primeiros trabalhos são em co-autoria com a Professora

Mauricéa Marta Bezerra Wanderley que também motivou a elaboração dos outros ensaios, acima citados, e estes Textos sobre economia e desenvolvimento.

A proposição do autor é dotar seus leitores, universitários ou não, de uma consciência crítica abrangente inserta em paradigmas não-cartesianos. Para tanto, busca introduzir nos Textos os elementos básicos da teoria da complexidade a partir de uma visão sistêmica, dialética e transdisciplinar.

A metodologia utilizada foi a de consultas bibliográficas, de indução, participação na UNCTAD XI (com patrocínio da Faculdade Boa Viagem) e contextualização de sua experiência profissional.

A técnica ou plano de trabalho foi voltado para as palestras, ementas e programas pedagógicos das disciplinas dos cursos das organizações de ensino onde o autor atua.

Os conteúdos, apresentados de forma sinótica, servem de ajuda de memória para contextualizações tanto em conferências quanto em salas de aulas e em oficinas de trabalho, a partir de uma visão crítica abrangente com destaques para:

a) Teoria da complexidade com vistas a motivar os leitores à inter e

transdisciplinaridade com os novos paradigmas da visão sistêmica ou holística da realidade

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b) Análise, de forma sinótica, e em tópicos dos assuntos julgados essenciais com vistas a seus desdobramentos, contextualizações e conexões realizadas em salas de aula, em conferências e palestras

c) Síntese a partir das respostas e doações de sentido às ementas e conteúdos pedagógicos e andragógicos das disciplinas que leciona

d) Formação de base de conhecimento para seus alunos, leitores e ouvintes.

Como foi dito os Textos, agora, estão imbricados aos demais trabalhos,

acima citados, em co-autoria ou não com a Professora Marta Wanderley. Fica claro, portanto, que seus leitores e, principalmente, seus alunos tomam conhecimento do que se explicitou naqueles ensaios. Essa é a razão de, na leitura, apresentarem-se repetições dos assuntos tratados em outros ensaios de forma modificada ou não. Os Textos estão divididos em sete partes: a primeira, voltada para uma visão prévia de paradigmas, a segunda, converge para os fundamentos conceituais das categorias de análise da sociedade e da economia política suas principais escolas e categorias de análises; a terceira estuda modelos econômicos e políticos e seus usos, a quarta diz respeito às principais teorias do desenvolvimento e do subdesenvolvimento, a quinta, visualiza as estruturas econômicas das regiões subdesenvolvidas a sexta, volta-se aos fundamentos para um modelo autônomo de desenvolvimento sustentável ( revisada do livro Agenda 21 e desenvolvimento sustentável) e a sétima trata da desconstrução do desenvolvimento/subdesenvolvimento segundo Morin.

O autor no que pese ter feito sua graduação universitária e seu mestrado

na já fragmentada, República Socialista da Tchecoslováquia, hoje, República Tcheca e República da Eslováquia. Ali, estudou, com certa profundidade, o marxismo e participou da Primavera de Praga (movimento importante para a Revolução Mundial de 1968). Deseja explicitar, ao leitor, que não vê e muito menos aceita o marxismo como doutrina ou dogma, mas sim como uma visão, método, concepção e contextualização dos entes humanos em sociedade, nos diferentes modos de produção que não foram e não são realidades estáticas. O marxismo, no seu entender, recria-se no fluir das mudanças e mutações da história da humanidade. Continua a ser “a filosofia da ação transformadora do mundo” ou um “método inacabado para as ciências sociais” mesmo fora do contexto histórico em que surgiu, emergiu e fortaleceu-se, como parte ou contribuição, às ciências humanas cujo objetivo é adquirir conhecimento sobre a realidade, a sociedade e o mundo histórico. Como filosofia é ciência pura, isto é, foge do pragmatismo do controle dos seres humanos sobre a natureza para analisar o metabolismo do capital em seu processo incessante de acumulação.

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O autor considera e conceitua a economia política, como padrão em rede de relações de trabalho e de relações sociais de produção com a natureza. Seu objeto é tão complexo ou similar à própria vida que se autorecria. As suas relações implicam em perspectivas:

> De processo, como mudanças autocriativas ou autodeterminadas das ações induzidas a partir da ação comunicativa humana que se dão nas relações de produção e circulação dos bens econômicos pelo conhecimento reflexivo e pelo metabolismo do capital

> De forma, como ação estratégica dos relacionamentos humanos com a natureza ou biosfera

> De matéria, como ação instrumental de fabricação de instrumentos e meios de trabalho que se dão e se realizam nos processos de trabalho e de produção no mundo concreto

> De sentido ou significado, como apreensão e entendimento das coisas, dos fenômenos e do metabolismo do capital.

A economia política sintetiza todas essas perspectivas ou padrões da vida na terra com o objetivo de atender ilimitadas necessidades humanas com vistas a um cenário de antropolítica.

O autor solicita dos seus leitores, críticas aos Textos pelo correio eletrônico [email protected]

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I. VISÃO PRÉVIA O propósito dessa visão prévia é situar o leitor no sistema mundo capitalista a partir da queda de paradigmas ao tempo que lhe apresenta conceitos e teorias insertas na realidade contemporânea em um contexto que se convencionou chamar de globalização. Essa visão prévia, sem dúvida, é um requisito para a formação de uma base de conhecimento a título de intróito. Velhos e novos paradigmas

O objetivo aqui é situar o ledor no paradigma cartesiano, (reducionista,

mecanicista e determinista) e seu processo de superação por um novo paradigma que pode ser chamado de holístico, ecológico ou sistêmico. Para tanto, em termos sinóticos, busca-se a historicidade da visão do mundo pelos entes humanos e radical mudança do pensamento linear para o pensar complexo.

Grosso modo pode afirmar-se que até os anos dos grandes descobrimentos ou invasões (1492 a 1500) a visão do mundo era orgânica, isto é, se vivenciava a natureza pela interdependência dos fenômenos naturais e espirituais em termos de relações orgânicas, onde prevalecia a subordinação das necessidades individuais às da comunidade. A Igreja fundamentada na filosofia de Aristóteles e na Teologia de Tomás de Aquino estabeleceu a estrutura conceitual do conhecimento durante toda a chamada Idade Média. Aquela visão tinha por finalidade apenas o significado das coisas e não exercia quaisquer predições ou controles dos fenômenos naturais. Seu foco era as questões teístas voltadas para a alma humana e a moral.

Outrossim, em pleno cisma da Igreja Católica Apostólica Romana, nasce e cresce o hedonista Francis Bacon ferrenho crítico de Aristóteles, Platão, escolásticos e alquimistas e reformula, por completo, a indução aristotélica dando a mesma uma grande amplitude e eficácia. Dessa maneira Bacon, em contraponto ao “Organon” aristotélico, expõe em sua obra “Novum organum” um novo método de investigação da natureza a partir das “Tábuas da investigação” que bem caracteriza a sua teoria da indução e seu empirismo.

Em réplica a Platão, Bacon escreve a “Nova Atlântida” em cuja utopia a ciência deixa de ser um exercício de gabinete ou atividade contemplativa para se transformar em um cotidiano de árdua luta com a natureza.

A partir desses escritos, Bacon redefine a visão orgânica do mundo. Coloca o conhecimento em um novo plano científico cuja divisa máxima foi “saber é poder”, princípio este que lhe permitiu construir um vasto, eficaz e virtuoso sistema de idéias para o seu método do empírico de buscar a verdade mesmo violentando a natureza.

Em pleno processo da acumulação primitiva do capital e do capitalismo mercantil ou renascimento surge no, continente europeu, um grande pensador,

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René Descartes (Cartesius), que revoluciona o mundo do pensamento e da ciência com a criação do método cartesiano com base na metafísica e na mecânica. Seu método leva a laicização do saber, isto é, a universalização do conhecimento. Ao desenvolver o princípio da causalidade Descartes, anuncia o advento de um mundo racional e positivo sobre o qual o ente humano proclama seu reinado sobre as potencialidades da natureza. Na tentativa de organizar o mundo em um domínio da natureza Descartes, tenta integrá-la em um universo de máquinas que fundamenta a idéia cartesiana. Dessa forma, Descartes desenvolve o tema da empresa inflectida na caça ao lucro e a mecanização das relações humanas e da natureza fundamentando a forma de pensar cartesiana. O seu “penso logo existo” remete o pensar filósofo a uma ordem natural inerente à progressão do conhecimento, agora, alicerçado na matemática e na geometria cartesiana, ou seja, só se considera verdadeiro o que for evidente e intuitível com clareza e precisão. Sua filosofia racional proclama a universalidade do bom senso. A filosofia cartesiana se explicita na máquina capaz de produzir todos os fenômenos do universo inclusive o corpo humano.

Sua magistral obra está explicita nos seus seguintes escritos: • Discurso do método • Meditações • Objeções e respostas • As paixões da alma • Cartas. Ainda, no renascimento ou iluminismo surgem dois grandes sábios

Galileu Galilei e Kepler que conceberam a idéia de lei natural em toda sua amplitude e profundidade, sem, entretanto, ser aplicada em outros fenômenos além do movimento dos corpos em queda livre e as órbitas dos planetas.

A partir de 1666 vem à luz à física e a mecânica celeste de Isaac Newton que matematiza e experimenta um método para a ciência de forma a unir e superar o empirismo de Francis Bacon e o racionalismo de René Descartes. Isaac Newton (matemático, físico, filosofo e teólogo) desenvolveu o método matemático das flexões com o cálculo diferencial e integral. Criou a teoria sobre a natureza da luz e as primeiras idéias sobre a gravitação universal, enunciaram as leis e princípios da física com ênfase a sistematização da mecânica de Galileu e astronomia de Kepler. Dessa forma criou a metodologia da pesquisa científica da natureza, que consiste na análise indutiva seguida da síntese. Foi ainda criador da teoria do tempo e do espaço absolutos.

Vale dizer que os pensadores aqui, sinteticamente, apresentados foram os grandes formuladores dos paradigmas cartesianos (reducionista, mecanicista

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e determinista) das ciências e que somente a partir dos meados do século XX, começaram a serem superados com o desenvolvimento da teoria da relatividade e da física quântica.

Com os pensamentos de Darwin, Hegel, Marx, Engels, Einstein, Heisenberg, Planck, Bohr, Freud, Chew, Rutenford, Broglie, Schrodinger, Pauli, Dirac, Sartre, Bell, Habermas, Prigogine, Maturana, Varela, Bateson, Margulis, Grof, Lovelock, Capra e outros, dão-se o início da superação dos paradigmas cartesianos por outro que pode ser chamado de holístico, ecológico ou sistêmico que pode ser explícito pelos critérios de:

• Mudança da parte para o todo - Tal critério, nesse novo paradigma,

objetiva apreender as propriedades das partes a partir do todo. As partes são vistas como um padrão em um emaranhado de relações inseparáveis em forma de uma teia

• Mudança de estrutura para processo - No diagnóstico e prognóstico tentar-se-á apreender a realidade na dinâmica da teia, isto é, as estruturas serão vistas como manifestação de um processo subjacente e não a partir de estruturas fundamentais

• Mudança da objetividade real para um enfoque epistêmico, ou seja, a compreensão do processo de conhecimento na descrição dos fenômenos naturais. Dessa forma a objetividade do real passa a conter uma dependência do observador humano e do seu processo de conhecimento

• Mudança de construção para rede como metáfora do conhecimento. Com tal critério tenta-se fugir das chamadas leis e princípios fundamentais para uma metáfora em rede ou reticular. Na medida em que a realidade é percebida como uma rede de relações ou interfaces, passando as descrições a forma de uma rede interconexa dos fenômenos observados. Dessa maneira, o enfoque reticular ou em rede não suporta hierarquias ou alicerces

• Mudança de descrições verdadeiras para descrições aproximadas - É um critério de novo paradigma que não aceita a certeza absoluta e final. Reconhece que os conceitos, as teorias, as descobertas científicas e as inovações tecnológicas são limitados e aproximados. Entende que a própria realidade não pode ter uma compreensão completa, ou seja, sua apreensão depende da maior ou menor aderência do modelo ou enfoque que a apreende. O ente humano lida apenas com descrições limitadas e aproximadas da realidade.

A partir dos novos paradigmas é importante compreender o novo código

da época da revolução pós-industrial, da informação ou do conhecimento que se sustenta nas seguintes categorias:

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a) Interatividade que se constitui de vasta rede de aparelhos eletrônicos interativos onde é deslocado o poder das redes de televisão para os usuários na medida em que estes podem modificar as imagens com total liberdade e, portanto, atenuar ou erradicar a passividade do telespectador. Está imbricada ao desenvolvimento da telemática

b) Mobilidade característica da comunicação em linha imediata de qualquer lugar para qualquer parte do planeta ou situação de trânsito ou lugar fixo. O imediatismo da comunicação móvel ou fixa, inserta nesta categoria, permite a efetividade da conversão ou transferência de informação de um meio para outro

c) Conversibilidade ou conectividade que tem a capacidade de transformar a mobilidade de um sistema de aparelho para outro independentemente de uma marca ou país de origem. A conversibilidade é também um elo fundamental da rede interativa e sua mobilidade;

d) Ubiqüidade consiste na sistemática disseminação dos sistemas de comunicação em rede pelo mundo e por todas as classes e estratos sociais dos países hegemônicos e periféricos. Esta categoria é responsável, hoje, pela divisão da população mundial em "inforrica e infopobre"

e) Globalidade/mundialidade aponta para as ilações de troca onde se explicitam os fenômenos políticos de mundialização versus fragmentação. Também, dá-se o sócio-econômico de exclusão versus inclusão, ou a criação de um sistema mundo onde, ainda, não se visualiza o novo rumo do existente modo de produção capitalista ou de sua possível superação ou negação histórica, por um outro modo de produção que não se sabe qual é.

No cenário de mudanças de paradigmas e do processo de globalização a

educação do futuro demanda uma reconceitualização e reencantamento dos discentes tão profundas que abalam os alicerces das questões orçamentário-financeira, tamanho das classes nas organizações educacionais, formação, salários do corpo docente. Há que se dar atenção aos conflitos curriculares, avaliações e ementas insertas nos planos pedagógicos e andragógicos. Como transformar a educação em um sistema de alta opção em termos de compatibilizar o ensino desfocado e desencontrado com a realidade evolvente e mutante é o cerne da questão educacional em rede.

Vislumbra-se a tendência de as empresas venderem conhecimentos, com apoio das novas tecnologias da informação, com vistas a adequar o ensino ou adaptar a educação às novas realidades indicando novos caminhos que conduzem ao sucesso e orientam o ensino às demandas educacionais do futuro.

O código da revolução da informação e do conhecimento subverte o velho código do industrialismo que foi consubstanciado nas seguintes categorias: padronização; especialização; sincronização; concentração; maximização e centralização.

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É nesse cenário de superação de um código por outro que a educação se projeta combinando o aprendizado com trabalho, com a luta política, com serviços comunal-associativos, com turismo e lazer, etc.. Aponta para um total ou completo reexame educacional tanto nos países cêntricos como nos periféricos com vistas ao humanismo concreto como utopia a ser realizada.

Edgar Morin em seu livro “Os sete saberes necessários à educação do futuro" trata das seguintes questões, aqui, sinòticamente, apresentadas:

a) Aprender a ser, a fazer, a viver juntos e a conhecer (produzir

conhecimento) b) Visão transdisciplinar da educação como processo de construção do

conhecimento comum a todas as especialidades compreendendo principalmente: i) as linguagens para superar as diferenças de conceito e enfoque sobre o mesmo objetam que as especialidades introduzem no processo do conhecimento; ii) o erro e a ilusão, isto é, fazer conhecer o que é conhecer ou, ainda, conhecimento do conhecimento para saber que sabe; iii) o erro e a ilusão que são diretamente condicionados por características cerebrais, mentais e culturais do conhecimento humano

c) Princípios do conhecimento pertinente a: i) aprender problemas globais e neles inserir conhecimentos parciais e locais; ii) saber que o conhecimento fragmentado impede a operação da interface entre as partes e a totalidade; iii) ensinar métodos que permitam estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo

d) Identidade terrena com as percepções: i) do destino planetário do ente humano (geneticamente modificado ou não); ii) das comunicações imediatas entre todos os países e continentes; iii) do destino de vida e de morte compartilhado de forma planetária

e) Incertezas e inesperados nas percepções da vida e do mundo, ou seja: i) preparar as mentes para esperar o inesperado para poder enfrentá-los; ii) pensar estratégias que permitam enfrentar os imprevisto ou incertezas; iii) ensinar a enfrentar as incertezas, isto é, "navegar em mares de incertezas em meio a arquipélagos de certezas"

f) Compreensão mútua entre os humanos para uma frente vital quanto a: i) reforma das mentalidades para novas percepções da vida e do mundo; ii) compreensão da necessidade de sair do estado bárbaro da incompreensão politizando os problemas concretos; iii) estudo da incompreensão a partir de suas raízes, modalidades e efeitos para a erradicação do racismo, da xenofobia, do desprezo e da exclusão social

g) Ética e antropoética com vistas a perceber que o ser humano tem necessariamente a condição de indivíduo-sociedade-espécie, isto é: i) os humanos serem simultaneamente indivíduos, parte da sociedade e parte da espécie; ii) a humanidade ser vista e desenvolvida como comunidade planetária;

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iii) a consciência traduzir a vontade de realizar a cidadania terrena e planetária com vistas à antropolítica.

O paradigma Cartesiano-Newtoniano. Uma Síntese. A tão decantada

civilização tecnológica está em crise. A técnica, o tecnicismo e a alta tecnologia, associadas a uma forma de viver moderna, igualmente técnica, mas cada vez mais estereotipada, pragmática e menos humana, está apontando para a falácia de mais uma promessa: por nos meios de produção ou no extremo desenvolvimento material a chave para a felicidade humana (hoje, tudo isso tem separado cada vez mais os humanos dos humanos e os humanos da natureza, e, também, o humano de si mesmo).

Este paradigma se caracteriza por idealizar uma realidade, ou melhor, uma concepção/visão de mundo mecânica, determinista, material e composta, ou seja, de máquina constituída por peças menores que se conectam de modo preciso. E essa concepção de mundo teve um grande impacto não só na Física, mas muito mais, pélas suas conseqüências filosóficas em: Biologia, Medicina, Psicologia, Economia, Filosofia e Política. A extrema fragmentação das especializações e a codificação da natureza. A ênfase no racionalismo, na fria objetividade e no desvinculamento dos valores humanos superiores, a abordagem mercantil competitiva na exploração da natureza, a ideologia do consumismo desenfreado, as diversas explorações com fins de se obter qualquer vantagem em cima de outros seres vivos, etc. têm sua fundamentação filosófica numa pretensa visão “científica”. Essa visão de um universo mecanicista, reducionista e determinista numa concepção “neodarwinista” da supremacia de umas ditas classes sociais, políticas e profissionais por sobre outras, é reedição aprimorada de um discurso fascista-racista já usado pelos nazistas há algum tempo atrás.

O paradigma Holístico. Um Sumário. O extremo sentimento de mal-

estar que muitas pessoas sentem diante dos complexos e trágicos problemas da atualidade têm levado a uma busca de um diálogo entre os vários núcleos do saber e da atividade humana. Por exemplo, a ONU, a OMS, a UNESCO, a UNCTAD e a FAO, como grandes organizações internacionais, buscam uma maneira conjunta de solucionarem muitos dos atuais problemas humanos, sem falar nos movimentos de encontro interdisciplinares e a busca pela ação cooperativa em todos os âmbitos, a medicina psicossomática e homeopática e a abordagem holística em psicoterapia, etc. É a essa busca de uma visão de conjunto, uma visão do TODO, que se dá o nome holismo.

Desde que Descartes cristalizou, de modo definitivo, a idéia da divisão da ciência em humana e exata (ou melhor, em “Res cogitans” e “Res extensa”, o que viria a se refletir em nossa divisão em corpo e mente etc.). Tem-se visto toda uma vasta gama de atitudes e comportamentos compatíveis com a idéia

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dominante do universo como um sistema mecânico casualmente emergido de um caldo de matéria de modo fortuito.

O desagrado ao modelo cartesiano – e da sua conseqüente visão de mundo – foi expresso de maneira clara por vários grandes cientistas em nosso século, como Albert Einstein, Werner Heisenberg, Niels Bohr, Baterson, Varela e tantos outros.

Enquanto, o mecanicismo cientifico vê o universo como uma imensa máquina determinística, o holismo, sem negar as características “mecânicas” que se apresentam na natureza, percebe o universo mais como uma rede de inter-relações dinâmicas, orgânica.

Sabe-se que a incrível dinâmica do mercado das tecnologias e dos conhecimentos humanos impõe desafios. É preciso mudar sempre, estar aberto às idéias novas sempre. É necessário rever constantemente os conceitos e crenças, e estar sempre prontos a reavaliar os conhecimentos sempre abertos a aprender mais. Esse é o desafio. Não se pode confundir o real com a cópia ou com o virtual.

O fato é que em todas as partes do mundo, todos os dias, pessoas reagem a propostas de mudanças que causam incertezas. Elas sempre são traduzidas nos cérebros humanos como perigo. Todos os dias, ao redor do globo, pessoas repelem novas idéias, empresas rejeitam boas soluções e propostas, apenas porque não estão de acordo com as expectativas dos conhecimentos anteriores das pessoas que tomam as decisões. Essas pessoas têm, em suas mentes, padrões já desenvolvidos de como funciona o mercado, ou a linha de produção, e assim, não conseguem enxergar nenhuma solução ou proposta que não obedeçam esses padrões, esses paradigmas.

No dicionário, paradigma significa “padrão”, “modelo”. Paradigmas são modelos que se concebe de como funciona ou é concebida alguma coisa. Está presente em tudo na vida; em nossas atividades particulares, no trabalho, na sociedade. Por exemplo. William Bridges, autor do best seller “Job shifting” (O mundo sem empregos) diz que as empresas do futuro, mesmo as grandes, não estarão baseadas em um conglomerado de empregos, mas sim em duas redes: uma de pessoas interdependentes (não-empregados) e outra de informações.

Para ver através dos paradigmas, é preciso ter em mente ainda outro conceito: os paradigmas cegam, não deixam ver soluções que fujam ao padrão conhecido. Por isso, a solução costuma vir de gente de fora, de pessoas que não estavam envolvidas com os padrões antigos. Às vezes, de pessoas não especialistas. Por isso, ao apresentar-se uma proposta nova, afaste do caminho aquelas pessoas que dizem “isto não funciona”. Elas vão atrapalhar os que estão buscando novos paradigmas. Quando Henry Ford quis desenvolver o motor V-8, teve como resposta dos especialistas de que não funcionaria. Buscou, então, gente nova, engenheiros novos sem os velhos paradigmas. Isto não significa que os conhecimentos dos mais experientes devam ser desprezados. Mas também, que não se deve desprezar a visão dos mais novos. Idêntico procedimento se deu

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com Thomas Edison não somente no invento da lâmpada incandescente, mas no do telegrafo e outras invenções.

Os cientistas gostam de pensar que contribuem para a marcha constante do progresso. Cada nova descoberta corrige deficiências, traz aperfeiçoamentos ao conhecimento e torna a verdade cada vez mais clara. Eles voltam seus olhos para a história da ciência e observam um contínuo desenvolvimento, convenientemente assinalado pelas grandes descobertas e criações.

Essa visão, entretanto, é ilusória, segundo o historiador de ciência Thomas Kuhn, em seu livro “The struture of scientific revolutions” (1962). A ciência não é uma transição suave do erro à verdade, é sim uma série de crises ou revoluções, expressas como “mudanças de paradigmas”.

Kuhn define “paradigma” como uma série de suposições, métodos e problemas típicos, que determinam para uma comunidade científica quais são as questões importantes, e qual a melhor maneira de respondê-las. Os estudos de Kuhn revelaram duas coisas: que os paradigmas são persistentes e que um derruba o outro de uma só tacada e não com pequenos golpes. O progresso científico está mais para uma série de transformações revolucionárias do que para um crescimento orgânico.

As idéias fundamentais sobre paradigmas:

• O hábito é o maior inimigo do novo • Novos modelos só são propostos nos “limites” da situação atual • O novo só acontece se houver “força” para superar os obstáculos

que virão • Só enxerga-se o novo afastando-se da regra e do comportamento

atual. Apresentam-se, a seguir, alguns princípios da “teoria da complexidade”

para enfatizar as mudanças ou a transposição de paradigmas. Certamente, essa teoria ocupa cada vez mais espaços com a revolução do conhecimento e da informação. Mais ainda, com a gestação de novas fontes de energia (biomassa, eólica, solar) e da economia do hidrogênio com vistas à substituição dos combustíveis fósseis, redistribuição não somente do lucro, mas também, do poder entre os humanos que vivem no planeta. A complexidade necessariamente supera o conhecimento disciplinarizado.

Fala-se, não mais dos processos de produção na organização da empresa convencional, mecânica e complicada, do sistema mundo do capitalismo, mas de uma empresa viva. Esta se autorecria por ser capaz de aprender e pensar a partir das famílias que nela estão insertas, portanto, de uma empresa ou organização tão complexa como a vida ou como a sociedade humana.

Para maior inteligibilidade de como funcionam essas visões da complexidade ou apreensões em rede, nos processos sócio-econômicos e nas organizações reticulares apresentam-se, sinoticamente, os princípios básicos ou características da teoria da complexidade e o holismo com vistas à contextualização e apreensão da ciência, particularmente, da economia política.

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Dinâmica. Com a observação dos campos de forças contrárias

(impulsoras e restritivas) que pressupõem o devir e o fazer novo imbricados as categorias de: atividade, criatividade, objetividade, historicidade e agilidade. Compreende as chamadas “estruturas dissipativas” para a criatividade possível. É o modo inovador do vir a ser. A dinâmica da ciência está no fato de que enquanto mais paradigmática ela for, menos cientifica será.

Não-linear. Esse princípio do pensar complexo embora aceite que toda

intervenção ou criação tecnológica que seja linear como parte da realidade, porém em totalidades complexas, a decomposição das partes desconstrói o todo e é impraticável a partir das partes reconstituírem o todo. É preciso entender que na complexidade da vida na parte está contido o todo. A não-linearidade implica equilíbrio e desequilíbrio que, geralmente, leva à substituição do velho pelo novo. Tudo está conectado. Segundo Demo na “não-linearidade implica, pois, muito mais que emaranhados, labirintos, complicações, onde se podem ver processos que se complicam, mas não se complexificam”. Na complexidade pulsa relação própria entre o todo e as partes. O complexo pode provir do simples como este do complexo.

Reconstrutiva. Essa característica do pensar complexo doa sentido a

produzir-se algo para além de si mesmo. A luz pode ser vista como matéria e onda dependendo do ponto de vista de quem a observa. Apenas na lógica formal linear 2+2 são iguais a 4, haja vista que se leva em conta que o primeiro 2 são dois euros e, o segundo, são dois reais seu somatório jamais serão 4. Muito do que parece igual esconde incomensuráveis diferenças e vice-versa. A reconstrutividade sinaliza sentidos de: autonomia; aprendizagem, reconstrução e reformação. A vida não significa uma matéria nova, mas certamente, uma nova modalidade de organização da matéria.

Processo dialético evolutivo. O computador não aprende, logo, não sabe

errar. É máquina reversível, sofisticada, complicada, mas não complexa. O cérebro humano possui habilidades reconstrutivas e seletivas que ultrapassam todas as lógicas reversíveis. É, portanto, irreversível e complexo. A vida não foi criada, ela mesma se reconstrói. É autocriativa. Dizia Heráclito em 2000 a.C. que: “vive-se com a morte e morre-se com a vida”. Essa assertiva aponta ou compõe o desafio dialético do conhecimento sobre o cosmo e sobre a vida.

Irreversibilidade. Nada se repete. Qualquer depois é diferente do antes.

É não linearidade. É impossível voltar ao passado ou ir ao futuro permanecendo o mesmo. A irreversibilidade sinaliza o caráter evolutivo e histórico da natureza. O tempo-espaço são dimensões irreversíveis. Toda e qualquer realidade está muito além do que aparenta e que se pode verificar. O máximo que se pode fazer é construir um modelo de aderência à realidade. Aquilo que aparece real é muita das vezes virtual ou cópia. A natureza não doa sentido e não tem sentido em si, apenas age ou reage por causa e efeito.

Intensidade de fenômenos complexos. O que bem explicita esse fato é

o chamado efeito borboleta, ou seja, aquelas que esvoaçam em um continente causam um ciclone em outro ou o também conhecido efeito dominó. Demanda

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relação de causa e efeito e ambivalência em sua contextualização. Sabe-se, hoje, que o mundo da complexidade é o mundo das incertezas. No caso do direito pode-se aventar que a justiça é cega, não por ser injusta e imparcial, mas porque é voltada para o que se quer ver. Esse mesmo fenômeno pode ter referência a mais valia e à alienação do trabalho.

Ambigüidade/ambivalência dos fenômenos complexos. Ambigüidade

refere-se à estrutura caótica, isto é, à ordem e à desordem. Ambivalência diz respeito à processualidade dos fenômenos. É o eterno vir a ser. Argumentar é questionar, é penetrar no campo de forças que constitui a dinâmica. A ambivalência subentende a existência e a simultaneidade de idéias com a mesma intensidade sobre algo ou coisa que se opõem mutuamente. Por isso a ambivalência é a tendência do construtivo no destrutivo e vice-versa com vistas à inovação e a criatividade. É o que se conhece como crise.

Sob a alegação que a inteligência humana ser não-linear Pedro Demo, em seu livro “Complexidade e aprendizagem”, cita de Hofstardter o seguinte texto: “ninguém sabe por onde passa a linha divisória entre o comportamento não inteligente e o comportamento inteligente; na verdade, admitir a existência de uma linha divisória nítida é provavelmente uma tolice. Mas, certamente, são capacidades essenciais para a inteligência:

• Responder a situações de maneira muito flexível • Tirar vantagens de circunstâncias fortuitas • Dar sentido a mensagens ambíguas ou contraditórias • Reconhecer a importância relativa de elementos de uma situação • Encontrar similaridades entre situações, apesar das diferenças que

possam separá-las • Encontrar diferenças entre situações, apesar das que possam uni-

las • Sintetizar novos conceitos, tomando conceitos anteriores e

reordena-los de maneiras novas • Formular idéias que constituem novidades”.

Sobre o pensar complexo e sistêmico a aluna Mirella Ferraz, junto com Aristófanes Júnior, contextualizaram o tema resumindo-o nos seguintes princípios:

• “Tudo está ligado a tudo • O mundo natural é constituído de opostos ao mesmo tempo

antagônicos e complementares • Toda ação implica uma retro alimentação (feedback) • Toda retro alimentação resulta em novas ações • Vive-se em círculos sistêmicos e dinâmicos de retro alimentação e

não em linhas estáticas de causa e efeito imediato • Há que se ter responsabilidade em tudo que se influencia • A retro alimentação pode surgir bem longe da ação inicial, em

termos de tempo e espaço • Todo sistema reage segundo a sua estrutura • A estrutura de um sistema muda continuamente, mas não a sua

organização • Os resultados nem sempre são proporcionais aos esforços iniciais

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• Os sistemas funcionam melhor por meio de suas ligações mais frágeis

• Uma parte so pode ser definida como tal em relação a um todo • Nunca se pode fazer uma coisa isolada • Não há fenômeno de causa única no mundo natural • As propriedades emergentes de um sistema não são redutíveis aos

seus componentes • É impossível pensar num sistema sem pensar em seu ambiente ou

contexto • Os sistemas não podem ser reduzidos ao meio ambiente e vice-

versa”.

No final de suas apresentações, em sala de aula, foram enfáticos em

afirmar que, nas suas bases de conhecimento o pensar complexo mostrou que:

• “Pequenas ações podem levar a grandes resultados (efeitos: borboleta e dominó)

• Nem sempre se aprende pela experiência ou repetição • O autoconhecimento se dar com ajuda do outro • Soluções imediatistas podem provocar problemas ainda maiores do

que aquele que se tenta resolver • Toda ação produz efeitos colaterais • Soluções óbvias em geral causam mais mal do que bem • É possível pensar em termos de conexões, e não de eventos

isolados • O imediatismo e a inflexibilidade são os primeiros passos para o

subdesenvolvimento, seja ele pessoal, cultural e grupal”.

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As ideologias imbricadas a economia política A luz do presente tema vale lembrar a historicidade das ideologias entendidas como parâmetros que atribuem à origem das idéias humanas às percepções sensoriais do mundo externo. No dicionário Houaiss lê-se o método marxista tem como ideologia “um conjunto de idéias presentes nos âmbitos teórico, cultural e institucional das sociedades, que se caracteriza por ignorar a sua origem materialista nas necessidades e interesses inerentes às relações econômicas de produção, e, portanto, termina por beneficiar as classes dominantes”. Segundo Wallerstein as ideologias surgem com a Revolução Francesa em 1789 com as ideologias burguesas dos conservadores e dos liberais ou liberalismo. Os primeiros (girondinos) considerados de direita e os segundos (jacobinos) intitulados de esquerda pelas posições que ocupavam no parlamento francês. A ideologia proletária tem sua origem na Revolução Francesa de 1848 (cinqüenta e nove anos depois das ideologias conservadora e liberal). Esta surge com Marx e Engels que fundamentaram a ideologia socialista após absorção e negação de idéias do liberal-socialismo de Saint Simon e da crítica ao blanquismo, prudonismo e anarquismos oriundos do liberalismo. Com o desenvolvimento do capitalismo e do socialismo, pós revolução industrial, é importante, nestes Textos, mencionar-se os principais vieses que tomaram cada uma dessas ideologias:

A ideologia burguesa conservadora teve aparências hegemônicas no colonialismo escravista, fascismo, nazismo e no nacionalismo de direita sempre com ênfase ao crescimento e desenvolvimento econômico A ideologia burguesa liberal ou liberalismo assume

aparências hegemônicas no neocolonialismo, imperialismo, neoliberalismo, teocracismo e nacionalismo de esquerda (industrialismo) todas também voltadas para o desenvolvimentismo induzido pelas forças motrizes do modo de produção capitalista (lucro e poder) Finalmente, a ideologia proletária do socialismo assume as

aparências hegemônicas do leninismo, estalinismo, trotskismo, titoismo e maoísmo todas reivindicando para si o método marxista de Marx e Engels. Curiosamente, todos esses vieses do socialismo de estado tiveram e ainda tem o desenvolvimentismo-industrialismo como meta principal haja vista a China que a partir de um forte “centralismo democrático partidário” tem como bandeira e prática o desenvolvimentismo. As poucas tentativas de prática de autogestão, como tentativa de negação do estado, foram abortadas tanto na

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Iugoslávia, Argélia e Tchecoslováquia, no curto período da Primavera de Praga, que deu origem a invasão soviética no país. Na análise acurada dessas três ideologias vê-se que todas têm em

comum, como princípio, o anti-estatismo ou negação do estado, porém suas práticas são a de manterem um ferrenho cunho estatal para exercer o poder com vistas a implantar seus ideais ideológicos. Sem exceção todas elas usam e abusam da instituição do estado como instrumento de poder político, econômico e social, particularmente, nas organizações do legislativo e do judiciário. O estado, em todas elas, é a instituição e instrumento pelo qual as classes sociais que o detem, são beneficiadas ou privilegiadas na drenagem ou distribuição da mais valiam oriunda do sistema produtivo. Hoje, no Brasil, é a burguesia financeira aquele estrato social que mais se beneficia da mais valia nacional mantendo sobre seu controle os estratos da burguesia agrária, comercial e industrial que também são detentoras do estado nacional. A partir desse ponto de vista as “três ideologias da economia política” (liberal, nacionalista e marxista) em seu livro “A economia política das relações internacionais” merecem ser revisitada e criticada. Epistemologicamente, o marxismo não é uma ideologia e sim um método assim como o nacionalismo pode ser conservador (direita) ou liberal (esquerda).

A divisão do trabalho e um mundo sem empregos A divisão do trabalho é no sistema mundo do capitalismo, a fonte de

todas as alienações. As ciências da administração e da economia política a têm sempre como pano de fundo. Ela é discutida a luz da gestão da fábrica ou da organização da intensidade e da produtividade do trabalho, da intensidade da produção. Da cisão entre o trabalho intelectual e o braçal com vistas à hierarquização e à disciplina inserta no parcelamento das tarefas e nos sistemas de monopolização da técnica e da ciência pelas gigantes instalações e centralização do poder das empresas transnacionais têm-se na produtividade seu instrumento de caça ao lucro.

Essa configuração foi, historicamente, montada pelo metabolismo do capital em seu processo incessante de acumulação em suas diferentes fases. No dizer de André Gorz, “a monopolização da produção pelos aparelhos institucionais – trustes industriais, administrações – e das corporações especializadas (médicos, professores, corporações de Estado) faz com que ela se submeta a produzir o que não consome, a consumir o que não produz e a não poder produzir nem consumir conforme suas próprias aspirações individuais ou coletivas. Não existe mais lugar onde a unidade dos trabalhos socialmente divididos passa a corresponder à experiência da cooperação, da troca, da produção em comum de um resultado global. Essa unidade só é assegurada – de um lado, pelo mercado; do outro, pelas burocracias privadas estatais. Ela se

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impõe aos indivíduos, portanto, como unidade exterior, como ‘uma força estranha da qual não conhece nem a origem, nem a finalidade”.

Em “A ideologia alemã”, ainda, segundo Gorz, Karl Marx explica o tema em lide quando explicitou que “enquanto a atividade não for, pois dividida voluntária, mas naturalmente, o ato próprio do homem torna-se para ele uma força exterior que o subjuga, quando ele deveria dominá-la. Com efeito, desde que o trabalho passa a ser repartido, cada um tem seu currículo de atividade determinado, exclusivo, que lhe é imposto, do qual não pode sair; seja ele caçador, pescador, pastor ou crítico – é forçado a continuar a sê-lo, se não quiser perder seus meios de subsistência; enquanto na sociedade comunista, onde cada um não tem currículo exclusivo de atividade, mas pode aperfeiçoar-se em qualquer ramo, a sociedade regula a produção geral e dá-me, assim, a possibilidade de hoje fazer isso; amanhã, aquilo; de caçar pela manhã, pescar à tarde, cuidar da criação à noite, e mesmo criticar a alimentação, o meu bel prazer, sem jamais tornar-me pescador, caçador, pastor ou crítico. Essa estabilização da atividade social, essa consolidação do nosso próprio produto numa força concreta que nos domina, que foge ao nosso controle, barra as nossas esperanças, anula nossos cálculos, constitui um dos principais fatores do desenvolvimento histórico passado (...). A força social, ou seja, a força produtiva multiplicada, que resulta da colaboração dos diferentes indivíduos condicionados pela divisão do trabalho, aparece para esses indivíduos – porque a própria colaboração não é voluntária, mas, natural – não como a sua própria força unida, mas como força estranha, situada fora deles, da qual não conhecem nem a origem, nem a finalidade, que eles, portanto, não mais podem dominar, mas que agora percorre, ao contrário, toda uma série de fases e de graus de desenvolvimento particular, independente da vontade e da agitação dos homens, até regulando essa vontade e essa agitação”.

Em geral, os estudantes de administração e de economia política têm em sua grade escolar de curso os ensinamentos de Henri Fayol a partir de sua obra “Administração industrial e geral”, base de sua doutrina - o fayolismo - que trata das necessidades e possibilidades de um ensino administrativo e dos princípios e elementos da administração com vistas à divisão racional do trabalho, à autoridade, à responsabilidade, à disciplina, à unidade de mando e à convergência de esforços na empresa. Outro clássico da administração é “Os princípios de administração científica”, de F.W. Taylor, onde ele apresenta suas observações e experiências, particularmente, quanto às formas de desperdícios, procura de homens eficientes, causas da vadiagem no trabalho, lei da fadiga, seleção de pessoal e outros temas relevantes que serviram de fundamentos à sua doutrina, conhecida como teilorismo. Uma das mais belas críticas ao teilorismo, como doutrina, vem do gênio do cinema mudo Charles Chaplin em seu belíssimo filme “Tempos modernos”, que se aconselha a ver, para divertir-se e contextualizar tão importante crítica.

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Tanto Fayol quanto Taylor em muito influenciaram Henry Ford, em sua indústria automobilista, onde, de fato, também criou sua doutrina administrativa mundialmente conhecida como fordismo, que se fundamenta na linha de montagem com ou sem esteira rolante para a produção em série. Esses arautos da administração e da economia fabril ou empresarial Fayol, Taylor e Ford em suas idéias e obras dão uma “aparência científica à racionalização do trabalho de tal forma” a ocultar e camuflar as críticas de Marx. Segundo ele “toda produção capitalista, como geradora não só do valor, mas também da mais-valia, tem esta característica: em vez de dominar as condições de trabalho, o trabalhador é dominado por elas; mas essa inversão de papéis só se torna real e efetiva, do ponto de vista técnico, com emprego das máquinas. O meio de trabalho, tornado autômato ergue-se, durante o processo de trabalho, diante do operário sob a forma de capital, de trabalho morto, que domina e explora a força de trabalho viva”.

É do conhecimento público que, em todos os setores da economia (primário, secundário e terciário) o nível de emprego tende a diminuir e, sem dúvida, não há um único segmento industrial, na última década, onde o emprego não tenha se contraído. A revolução do conhecimento e da informação via telemática, biotecnologia, nanotecnologia, robótica, aeroespacial e agricultura molecular estão levando a mudança radical na empregabilidade. Tanto o crescimento e o desenvolvimento econômicos se dão, hoje, à revelia da geração de empregos e, mais grave ainda, tornando-os obsoletos e o empregado descartável.

A reengenharia do trabalho foi criada pelas grandes corporações para eliminar cargos de todos os tipos e em quantidade maior do que em qualquer época do sistema mundo capitalista. Sua forma de eliminar empregos é comparável a grande crise mundial do capitalismo dos anos 29 e 30 do século passado. Note-se, também, que a reengenharia do trabalho alimenta a queda do poder aquisitivo das comunidades pelo impacto do achatamento das gigantescas burocracias das transnacionais, agora, funcionando em rede ou de forma reticular com total e absoluta transposição de fronteiras, sejam elas quais forem, ou seja, geográficas, culturais, raciais, religiosas, étnicas etc.

Observe-se, também, que as grandes corporações desenvolvem diferentes estratégias de trabalho contingencial para evitar os altos custos, para elas, de benefícios aos trabalhadores, tais como: aposentadorias, assistência médica, férias e licenças médicas pagas, etc. Reduzem, portanto, seu núcleo de trabalhadores fixos, contratando trabalhadores temporários, estagiários universitários, todos com variações sazonais. Na prática, a mão de obra, como mercadoria, recebe todo o impacto da logística “just-in-time”, criada para atender o que há de mais moderno na circulação dos bens econômicos sob a égide da micro-eletrônica.

Por mais que as corporações diminuam a duração de vida dos produtos via aceleradas depreciação moral e material dos mesmos, com sua substituição em

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intervalos cada vez menores, a crise de empregabilidade se torna mais dramática, sem quaisquer ajustes nos campos: econômico-social e ambiental do modo de produção capitalista, justificando o enunciado de Marx, feito em 1857, de que “chegou o tempo em que os homens não mais farão o que as máquinas podem fazer”. Dessa forma, vive-se, hoje, no sistema mundo do capitalismo, com a abolição do emprego obrigando os trabalhadores a disputar entre si as escassas oportunidades de emprego em vez de juntos se organizarem em busca de uma nova racionalidade econômica, política, sociais e ambientais. Na prática, essa crise da empregabilidade tem servido de arma para os detentores de capital com vistas a estabelecer cada vez mais hierarquia, obediência, disciplina na divisão do trabalho nas empresas e corporações transnacionais.

Segundo Gorz, a crise da empregabilidade tem levado os estados capitalistas a um impasse: “não se trata mais de trabalhar para produzir, mas de produzir para trabalhar (...) a economia de guerra e a própria guerra que foram, até hoje, os únicos métodos eficazes para assegurar o pleno emprego dos homens e das máquinas quando a capacidade de produzir ultrapassava a de consumir”.

“O declínio inevitável dos níveis dos empregos e a redução da força global do trabalho”, é o subtítulo do livro, “O fim dos empregos”, de Jeremy Rifkin. Este aponta para se deixar de lado a ilusão de retreinar pessoas para cargos já inexistentes e pondera, institucionalmente, para a ação em um mundo que está eliminando o emprego de massa na produção e na comercialização de bens e serviços. Aconselha a intuir-se uma era pós-mercado em busca de novas alternativas e novas maneiras de proporcionar renda e poder aquisitivo com vistas à restauração das comunidades e reconstrução de uma cultura de sustentabilidade. Sinaliza, também, a necessidade de se iniciar uma grande transformação política, social, econômica e ambiental com vistas ao renascimento do ser humano em toda sua plenitude.

Em seu conhecido livro “A economia do hidrogênio”, o mesmo Rifkin sinaliza que as células combustíveis energizadas por hidrogênio possuído pelas comunidades possibilitarão toda uma nova redistribuição do poder na medida em que qualquer ser humano poderá produzir sua própria energia. Essa “geração distributiva”, preconizada por Rifkin, tornará o controle oligárquico e hierárquico das grandes corporações obsoleta. Afirma ele que “milhões de usuários poderão conectar suas células combustíveis locais, regionais e nacionais de hidrogênio, através dos mesmos princípios e tecnologia da world wide web, compartilhando e criando um novo uso descentralizado da energia”.

Seu otimismo chega a ponto de afirmar que “o hidrogênio pode acabar com a dependência do petróleo, reduzir a emissão de dióxido de carbono e o aquecimento global, além de apaziguar guerras políticas religiosas. O hidrogênio poderá se tornar o primeiro sistema energético democrático da história”.

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Fritjof Capra, também, em sua obra “As conexões ocultas” aponta como tarefa desta e das futuras gerações “a mudança do sistema de valores que está por trás da economia global, de modo que passe a respeitar os valores da dignidade humana e atenda às exigências da sustentabilidade ecológica”.

Após essas breves divagações sobre a divisão do trabalho procura-se, agora, navegar ou proceder a conjecturas sobre um mundo sem empregos.

Contextualizando o livro de William Bridges, “Um mundo sem empregos. JobShift. O desafio da sociedade pós-industrial”, pode-se, grosso modo, sinalizar os seguintes tópicos para a sua compreensão:

1. Da gênese e da evolução ou desenvolvimento, vê-se que o conceito

de emprego não faz parte da natureza na medida em que é uma criação humana. Durante séculos, apresentou-se como arte ou ofício dos humanos nos modos de produção precedentes ao capitalismo e, mesmo, em algumas fases deste. Passou a ter o significado que tem hoje a partir da revolução industrial, através do advento das fábricas, das máquinas e das burocracias institucionais e organizacionais tanto das empresas quanto dos estados nacionais. Não existem empregos fora das organizações fabris ou não-fabris – burocratas. Hoje, as organizações que deram origem ou criaram os empregos estão em processo de mutação, ou seja, desaparecendo via processos de terceirizações (outsourcing) e serviços públicos terceirizados/privatizados.

O emprego nunca foi e não é um fato atemporal da existência humana. É um artefato social próprio de determinadas etapas do desenvolvimento da economia mundo do capitalismo e, muito em particular, do metabolismo do capital.

Do ponto de vista da psicologia social, o emprego proporciona à pessoa o seguinte:

a) Uma ajuda à pessoa a dizer a si mesma e aos outros os que ela é b) Seu envolvimento em uma rede central de relações de amizades em um

contexto social c) Uma estrutura de tempo onde se imagina a padronização dos dias,

meses e anos de sua vida d) Um rol de papéis a serem desempenhados em tempo hábil, ou seja,

lugar e hora de comparecer, coisas a fazer, expectativa quanto a um padrão de carreira e propósitos diários

e) Um significado e ordem de sua vida em função de uma remuneração e direitos sociais empregatícios.

2. Do mundo do emprego para o mundo sem emprego. Nesse processo

de transição vale lembrar os seguintes tópicos:

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a) A força de trabalho insere-se no processo “just-in-time”, tornando-se fluida, flexível e descartável, e as oportunidades e situações de trabalho tendem para tempo parcial, temporalidade e flexibilidade

b) As novas tecnologias facilitam e deslocam a colaboração entre empresas em redes e, também, a partir de fornecedores terceirizados entre diferentes localizações de uma mesma organização transnacional

c) A economia desloca-se das velhas indústrias para novas guiadas pela micro-eletrônica, biotecnologia, robotização e outras informatizadas. A agricultura tradicional passa a dar lugar à agricultura molecular, agrônica e agrótica

d) A reengenharia do trabalho altera significadamente o mundo da divisão do trabalho tanto em seus aspectos qualitativos quanto quantitativos, remetendo para o mundo da administração e da gestão das organizações públicas e privadas o emprego, como parte do problema e não da solução na medida em que o analisa e o vê como inibidor das mudanças

e) O trabalho, informatizado e robotizado demanda um número bem menor de empregados e desloca-se para todo e qualquer lugar. Essa é a razão do fax, dos laptops, dos telefones celulares transformarem qualquer ambiente em um escritório completo

f) O ex-empregado necessita, agora, vender suas habilidades, inventar novas relações com organizações para ocupar seu tempo de trabalho e aprender novas maneiras de trabalhar fora dos empregos, ou seja, nas organizações ou corporações sem empregos.

3. Desse processo de abolição dos empregos deduz-se que levam às mudanças as necessidades não-satisfeitas nos seguintes aspectos das organizações:

a) No abrir dos espaços entre os recursos disponíveis b) Na criação de novas fronteiras e novas interfaces entre as organizações c) Na introdução de novas tecnologias e novas economias a serem

introduzidas no metabolismo do capital d) No obsoletismo dos arranjos técnicos, econômicos e organizacionais. 4. Do trabalho ou ocupação no mundo sem empregos torna-se

necessário que a pessoa ou trabalhador redefina e recicle seus dados pessoais quanto:

a) Às expectativas sob a ótica das incertezas b) Aos hábitos sociais, técnicos, econômicos e criação de cenários

alternativos c) Às regras pessoais quanto à qualificação, atitudes, capacidades,

temperamento e ativos

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d) À estrutura da integridade/identidade doando limites as possibilidades do que se cogita na jornada da vida

e) À estrutura da realidade em constante e permanente mudança f) À criação de um novo sentido com vistas às condições internas e

externas para lidar com esse novo mundo. Nestes tópicos sobre a divisão do trabalho e sobre um mundo sem

empregos, vale, aqui, transcreverem-se as novas atitudes ou estratégias apresentadas por William Bridges em seu livro, acima citado, resumidas no seguinte:

“1. Aprenda a encarar toda situação potencial de trabalho, tanto dentro

quanto fora de uma organização, como um mercado. Até mesmo pessoas que atualmente estão sem trabalho descobrirão, ironicamente, que muito das melhores perspectivas para as futuras situações de trabalho encontram-se na organização que as demitiu de emprego ou as induziu a uma aposentadoria precoce”.

“2. Pesquise seus DADOS (ou seja, suas Aspirações, Capacidades, Temperamento e Pontos Fortes) e recicle-os num produto diferente e mais ‘viável’. Todo mercado está cheio de pessoas à procura de produtos, mesmo quando nenhum emprego está sendo anunciado. Você precisa aprender a transformar seus recursos naquilo que está sendo procurado”.

“3. Pegue os resultados do nº2, construa um negócio (vamos chamá-lo de Você & Co.) em torno do mesmo aprenda a dirigi-lo. Nos anos vindouros, você vai obter menos quilometragem de um plano de carreira no sentido antigo do que de um ‘plano comercial’ para sua própria empresa. Quer você esteja empregado ou não naquilo que costumava chamar de emprego, daqui para frente você está num negócio próprio”.

“4. Aprenda sobre os impactos psicológicos da vida neste novo mundo do trabalho e monte um plano para lidar com eles com sucesso. Não bastará saber para onde você vai se você não puder suportar as pressões do lugar quando chegar lá”.

No ambiente das empresas e organizações pós-emprego, os cargos

tornam-se obsoletos e são substituídos por atribuições de tarefas além de se ter em conta o ócio criativo e uma economia pública. Daí sua estrutura tender para conter os seguintes elementos:

a) Empregados essenciais b) Fornecedores e subcontratantes c) Fregueses e clientes d) Trabalhadores temporários e) Contratações por prazo limitado.

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Nos escritórios e departamentos de empresas que antes estavam repletos

de empregados, hoje se limita a um número pequeno de pessoas fazendo previsões para clientes reais e potenciais ou indivíduos mandando pedidos via fax de seus “laptops” em veículos, hotéis, etc. Muitas dessas pessoas são distribuidores independentes do sistema de vendas direta, contratantes individuais ou trabalhadores temporários para o fluxo de negócios.

A questão de uma organização ou empresa pós-emprego é qualitativamente diferente daquela baseada em cargos. As carreiras são reconceitualizadas e reinventadas desde a disponibilidade de acoplamento tecnológico até as questões idiossincrásicas como são as responsabilidades familiares das partes como as condições de ir e vir ao autoemprego, autonegócios ou trabalho. Há que se rever e refazer o estado em função das empresas ou organizações não-governamentais (ONG) economia social-comunitária.

No pós-emprego das empresas trabalho e lazer também fogem ou se divorciam do cálculo do emprego permanente. O tempo livre não é mais parte do horário de serviço, mas algo inserto nas atribuições de tarefas ou contratos de projeto e aposentadoria torna-se uma questão individual que nada tem a ver com a política organizacional. A economia do hidrogênio certamente provocará a redistribuição do poder no mundo globalizado.

As tendências das empresas ou organizações pós-emprego são três: a) Expansão dos ganhos para participação dos resultados b) Pagamento por habilidades c) Autogestão na direção dos negócios, isto é, aceso direto às

informações que antes eram do domínio das pessoas que tomavam as decisões. Hoje se observa que a economia tende a conectar células combustíveis de hidrogênio com geração autônoma e resdistribuitiva.

Ainda no ambiente da empresa ou organização pós-emprego, a pessoa

faz aquilo que precisa ser feito para facilitar, honrar e realizar a missão, a visão e os valores da organização onde cada pessoa administra o todo e não apenas a sua parte. O hidrogênio como fonte de energia pode se tornar o primeiro sistema energético democrático, libertador e eqüitativo da história humana.

Nas organizações pós-emprego, consegue-se que as pessoas: a) Tomem decisões gerenciais que eram restritas aos gerentes b) Tenham acesso às informações para tais decisões c) as pessoas sejam capacitadas e treinadas para entender as questões

comerciais e financeiras da empresa d) Interessem-se pelo fruto de seu trabalho como forma de

compartilhar com a organização e participar dos seus lucros

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e) Possam na economia do hidrogênio compartilhar e criar um novo uso descentralizado da energia e do bem estar.

Para administrar a transição da sociedade industrial para a sociedade

da informação, onde predominam as organizações pós-emprego, há que se reinventarem também os programas de capacitação e treinamento. Essas ações devem:

a) Objetivar a leitura dos mercados, identificarem as necessidades

oriundas das mudanças e definir o produto de ou para alguém de acordo com as necessidades

b) Identificar outros vendedores de bens ou serviços que estão fazendo aquilo que a organização pretende fazer e como alcançam resultados

c) Induzir a melhorar continuamente a qualidade daquilo que se pretende fazer;

d) Gerir seu tempo pessoal e do “joint-venturing” pessoal na organização. A criação da economia do hidrogênio deve levar à redistribuição do lucro e do poder como forças motrizes de um novo modo de produção.

O novo sistema circulatório da organização pós-emprego requer para a

redisposição de recursos: a) Capacitação e treinamento em como administrar a própria carreira e

oportunidades de negócios b) Estímulo, motivação e entusiasmo para ações multiníveis (networking)

e acesso “on line” às oportunidades de negócios ou de oportunidades de trabalho ou autoemprego

c) Desenvolvimento de estratégias de a própria pessoa atuar como um negócio

d) Informações de como dispor da ajuda para a carreira, em termos de cursos, bancos de dados, serviços de avaliação e coisas afins

e) Com o hidrogênio, como fonte de energia, a geopolítica do sistema mundo do capitalismo entrará em colapso dando lugar a uma política biosférica inserta em uma antropolítica.

Vale lembrar que o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio

Vargas, em seu recente levantamento sobre emprego no Brasil, aponta que “uma em cada três pessoas vai perder o emprego nos próximos dois anos”. (Ver Revista Época nº. 427 de 24/07/2006). Comenta, ainda, a revista em tela que aqueles que pretendem manter seu emprego têm de cuidar das seguintes habilidades:

a) Entender o que é sucesso, conhecendo os valores da empresa

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b) Não prometer demais de forma a apreender a cultura da empresa c) Controlar o tempo, como maneira de focar o trabalho a ser produtivo e

dar resultados d) Ser político, isto é, participar da vontade do time, mesmo que dele não

faça parte de forma a externalizar habilidade política e liderança e) Fazer marketing pessoal de maneira que as pessoas achem que seu

trabalho tem a ver com o sucesso em manter seu emprego ou carreira na empresa.

Outros conceitos importantes Ainda, nessa visão prévia para criação de uma base de conhecimento em

economia política e desenvolvimento, faz-se menção à conceitualização e contextualização de termos usuais, no cotidiano das pessoas, e que muito contribuem para uma consciência crítica da realidade brasileira.

Brasileiro. Etimologicamente, contrabandista de pau-brasil tornou-se

o gentílico, no Brasil, por exclusão social, haja vista que, na língua portuguesa, o sufixo “eiro” é um sufixo de atividade (pedra = pedreiro, ferro = ferreiro, maconha = maconheiro, etc.). No caso concreto do Brasil o gentílico devia ter sido brasilês, para os homens e, brasilesa, para as mulheres. Outrossim, por falta de uma identidade para os cafuzos, curibócos, mamelucos, caboclos, etc. (que deram origem ao povo brasileiro), os portugueses de além mar, por discriminação social e, pejorativamente, os apelidaram de brasileiros que, na época eram conhecidos os contrabandista do pau brasil.

Sociodiversidade. Etimologicamente, sócio é aquele que compartilha,

associa ou participa em conjunto de algo e, diversidade. É a qualidade do que não é igual ou semelhante, isto é, aquilo que é diferente ou distinto. A sociodiversidade é a qualidade de mestiçagem de diferentes pessoas com culturas, religiões, raças, estamentos sociais e etnias diversificadas e que convivem de forma não antagônicas. O Brasil por ser detentor de um povo novo, (Darcy Ribeiro) é uma das maiores e bem sucedidas nação em termos de sociodiversidade (semelhante a Cuba) e tolerância social. Chega-se ao extremo de, em um mesmo local, coexistirem e conviverem status sociais de indigentes e lumpens com grandes burgueses ou status sociais de alta renda.

Cultura e pluralidade cultural. Cultura etimologicamente vem do latin “culturae” que significa ação de cuidar tratar, venerar. A palavra por ser detentora de amplos sentidos e conceitos configura um grande número de epítetos como exemplo cultura de massa, cultura popular, cultura erudita, etc. Do ponto de vista da economia política há que se contextualizar o processo da origem da cultura, sua historicidade, suas funções e suas relações e conexões

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com a natureza circundante e a essência da teoria da cultura. Sendo processo de hominização a cultura está imbricada a evolução da ideação reflexiva dos hominídeos nas ações ou operações inovadoras e prospectivas sobre a natureza e o cosmo.

Como efeito da relação produtiva (indissociável do processo de produção e do processo incessante de acumulação de capital) a teoria da cultura a vê em dois sentidos fundamentais: produção do ser humano por si mesmo e produção dos meios de sustentação da vida e a interpreta em dupla natureza, isto é, bem de consumo e bem de produção. Inserta nos sentidos e naturezas supracitados a cultura é o acervo de conhecimentos, instrumentos e técnicas que permite a exploração coletiva do planeta terra pelos hominídeos. Essa dupla natureza implica em que nas sociedades humanas ou nos diferentes modos de produção a cultura se apresente apropriada por um grupo minoritário que se autodesigna de “cultos” em contra ponto a maioria desapropriada que assume a aparência enganosa de “inculta”.

Sendo o ente humano um bem de produção ou principal força produtiva ele próprio inventa e produz a cultura. Na medida em que lhe doa finalidades, apropriações e desapropriações colocam em evidência todo o fenômeno do processo de alienação do próprio ser humano e da cultura, particularmente imbricado ao conceito de classes sociais, de divisão social do trabalho e da teoria do valor-trabalho.

A cultura, em sua acepção mais ampla, é a maneira pelas quais os hominídeos se humanizaram e se humanizam na criação de sua existência: política; social; ambiental; econômica; religiosa; lúdica e etc. Seus significados podem ser resumidos no seguinte:

a) Posse de certos conhecimentos (artes, literatura, etc.) b) Diferenças sociais (ser ou não ser culto) c) Propriedade individual através de prestígio, respeito, privilégios e

exclusão d) Algo em si ou por si mesmo tais como culturas: brasileira,

francesa, chinesa, australiana, angolana, etc. e) Erudita, culta, intelectual, científica, etc. f) Popular ou vulgar como expressão da massa ou do povo g) Elitista como é exemplo a Doutrina da Escola Superior de Guerra

e outras doutrinas h) De massa quando disseminada pela mídia falada e escrita com

vistas às manipulações i) De comunidade, onde os mitos unificam o tempo e às

interpretações

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j) De atividade agrícola, com os cultivos de vegetais e criatórios de animais

k) Cuidado do ente humano com a natureza e a alma l) Formação e educação dos seres humanos m) Aprimoramento da natureza humana n) Natureza adquirida. Nesta visão prévia dos Textos a cultura pode e deve ser apreciada

como: Cultura histórica. Vista sob o ponto de observação do espírito ou

razão conforme trata HEGEL na “Fenomenologia do Espírito” e em seus tratados sobre a “Estética” tanto no referencial a idéia e o ideal quanto ao belo artístico e o ideal. Historicamente pode ser apreendida segundo a ótica das relações de produção na extensa, oportuna e discutida obra de MARX não somente nos seus “Manuscritos Econômico-Filosóficos”, mas no “Capital” (três volumes) e na “Crítica da Economia Política”.

Cultura e antropologia. Sob essa ótica a cultura é vista como diferença ente humano-natureza, ou seja, é apreendida como a ordem simbólica da lei, da linguagem e do conjunto de práticas, comportamentos e ações entre os humanos entre si e entre eles e a natureza. Em sua análise sobre a cultura brasileira o antropólogo Darcy Ribeiro escreve o seguinte: “o caráter espúrio da cultura brasileira decorre, como vimos, da própria natureza exógena e mercantil da empresa que lhe deu nascimento como formação colonial escravista, organizada para prover o mercado europeu de certos produtos. Nestas condições, o Brasil nasce e cresce como um proletariado externo das sociedades européias, destinado a contribuir para o preenchimento das condições de sobrevivência, de conforto e de riqueza destas e não das suas próprias. A classe dominante brasileira, em conseqüência, é chamada a exercer desde o início, o papel de uma camada gerencial de interesses estrangeiros mais atenta para as exigências destes do que para as condições de existência da população nacional. Não constituía, por isso, um estrato senhorial e erudito de uma sociedade autônoma, mas uma representação local, alienada, de outra sociedade cuja cultura buscava mimetizar. Sua função precípua era induzir a população a atender os requisitos de feitoria produtora de gêneros tropicais ou de metais preciosos e geradora de lucro exportáveis”.

Cultura e ideologia. Sob este ângulo a cultura é vista como imposição das classes dominantes do seu ideal ou ponto de vista sobre a sociedade ocultando as divisões internas. Tanto isto é verdade que MARX, historicamente, colocou que “as idéias das classes dominantes são as idéias dominantes de cada época ... a existência de idéias revolucionárias em uma determinada época já pressupõe a existência de uma classe revolucionária.” Na Crítica a Economia Política, MARX é enfático em afirmar: “o modo de

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produção da vida material condiciona o processo de existência social, política e espiritual no seu conjunto. Não é a consciência dos homens que lhe determina o ser, mas, pelo contrário, é o ser social que lhes determina a consciência”.

Cultura e desenvolvimento sustentável segundo o saudoso economista CELSO FURTADO (Ex-ministro de Planejamento, da Cultura e 1º Superintendente da SUDENE) cabem aos brasileiros, quanto ao item supradito, o seguinte:

a) Tirar proveito da crise atual para fundamentar um novo pacto

social com vistas a erradicar a concentração de rendas e as desigualdades sociais e regionais existentes

b) Aprofundar a percepção da realidade para restaurar a confiança na criatividade da cultura brasileira e da identidade nacional

c) Criar padrões de consumo de conformidade com a configuração da demanda populacional em um forte e consolidado mercado interno sobre bases sustentáveis de desenvolvimento

d) Satisfazer via mercado interno, as necessidades básicas da população com redução radical das desigualdades pessoais de rendas e das regiões

e) Criar ou buscar meios e caminhos para sanear o desastre dos endividamentos externo e interno e salvaguardar a nação da tutela do FMI, BIRD, OMC e BIS sobre a política econômica nacional

f) Modificar as bases do poder de sustentação econômica atual com vistas a assegurar uma participação efetiva nos processos político e cultural dos segmentos sociais vitimados pela racionalização econômica atual

g) Abolir formas sofisticadas de concorrência e de competitividade de elevados custos sociais e que conformam a demanda definindo o status de cada classe de consumidor

h) Compreender que cabe a ação política gerar os recursos de poder requeridos para modificar o modelo atual de desenvolvimento que conduz a ingovernabilidade e a calamitosa situação de bem estar social, econômico e financeiro

i) Adotar políticas culturais, econômicas, sociais e ambientais que atendam de frente os problemas que mais angustiam a população brasileira.

No que diz respeito à dimensão cultural do desenvolvimento

sustentável FURTADO, no seu livro “O Capitalismo Global” afirma: “a cultura deve ser observada simultaneamente, como um processo acumulativo e como sistema, vale dizer, algo que tem uma coerência e cuja totalidade não se explica cabalmente pelo significado das partes, graças a efeitos de sinergia”. Após outras considerações importantes sobre a dimensão cultural enfatiza de

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forma muito clara “a importância do conceito de identidade cultural, que enfeita a idéia de manter com nosso passado uma relação enriquecedora do presente”.

Segundo ROSENTAL (em seu Dicionário Filosófico Abreviado) cultura é o “conjunto dos valores materiais e espirituais criados pela humanidade, no curso de sua história. A cultura é um fenômeno social que representa o nível alcançado pela sociedade em determinada etapa histórica: progresso, técnica, experiência de produção e de trabalho, instrução, educação, ciência, literatura, arte instituições que lhes correspondem. Em um sentido mais restrito, compreende-se, sob o termo cultura, o conjunto de formas da vida espiritual da sociedade, que nascem e se desenvolvem à base do modo de produção dos bens materiais historicamente determinados. Assim entende-se por cultura o nível de desenvolvimento alcançado pela sociedade na instrução, na ciência, na literatura, na arte, na filosofia, na moral, etc. e as instituições correspondentes”.

A partir do conceito acima citado se pode estudar a cultura brasileira em três fases, a saber: a primeira, cultura transplantada anterior ao aparecimento do povo brasileiro. A segunda, cultura transplantada com o surgimento do povo brasileiro, isto é, mamelucos, caipiras, curibocos, crioulos, caboclos, sertanejos, etc. que vem a constituir o proletariado e a chamada classe média. A terceira, a partir da libertação dos escravos, com o surgimento do processo de desenvolvimento da cultura brasileira, muito em particular, depois de 1930, com a era VARGAS, dinamizando as relações capitalistas de produção tanto no agro quanto na urbe consolidando a existência das classes sociais: burguesia e proletariado no Brasil.

Cultura e imperialismo (Globalismo). Considerando que a produção intelectual é à base da cultura capitalista, tanto material quanto espiritual, ela tende ou é dirigida a reproduzir globalmente, idéias, valores, princípios e doutrinas colocando os países periféricos em profunda dependência cultural. A produção intelectual é o produto e a condição do imperialismo cultural, na forma do pensar eurocêntrico e etnocêntrico, que se verifica no chamado processo de globalização. Para superar as formas de pensar eurocêntricas e etnocêntrica há que se contrapor, a elas, o pensar crítico abrangente com as respectivas recomposições: política, econômica, social, psicossocial, institucional e ambiental. Com esta perspectiva o povo do país, alienado culturalmente, deve entender e apreender de forma objetiva não somente os processos de deculturação, mas, principalmente, de aculturação. Na medida em que apreende os processos, em tela, cabe ao povo e à intelectualidade esforçar-se, persistentemente, em conduzir maneiras de auto-afirmação libertando sua cultura da carga de pré-noções e preconceitos destinados a resigná-la. Em contra ponto ao pensar do “centro de dominação" há que se estabelecerem umas compreensões solidárias, criativas e niveladoras na dimensão cultural da nação. O pensar crítico abrangente na sociedade, no

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dizer de Darcy Ribeiro, pode experimentar impulsos progressistas “incorporando à sua cultura elementos de um acervo tecnológico-produtivo que, mais que traços de uma cultura qualquer, fazem parte, hoje em dia, do patrimônio do saber humano”. Ainda, segundo Ribeiro, é necessário ter em conta que "as construções culturais devem ser examinadas valorativamente, em termos de seu papel como instrumentos e estímulos da afirmação de criatividade e desenvolvimento autônomo de um povo, ou ao contrário, de percalços dissuasivos de qualquer esforço renovador. É admitir ademais a possibilidade de restauração da ingenuidade cultural pela erradicação de seus conteúdos espúrios, através de processos autoconstrutivos que seriam revoluções culturais".

A pluralidade cultural se dá no âmbito da teoria da adaptação

(ver HABERMAS) a partir da tolerância que prefigura, envolve e evolve o multiculturalismo e a democracia nas sociedades humanas chamadas ocidentais. O termo tolerância vem do latim “toleranz” que trata da virtude política entre os cidadãos de procedência e modos diferentes de viver. Do ponto de vista da cultura tolerância é considerada a mistura ou miscigenação de diferentes e distintas culturas para a cooperação e compromisso de convivência humanitária, ou seja, mistura, de forma virtuosa, não somente de etnias, mas principalmente, de raças e de religiões.

Sob esse aspecto o Brasil se diferencia, no planeta, na medida em

que é dotado de total e absoluta tolerância étnica, racial e religiosa em todo o seu território. Esse qualificativo da pluralidade cultural ou do multiculturalismo brasileiro aponta para um por vir virtuoso da nacionalidade na solução dos seus problemas internos. Também, em particular, dos problemas mundiais ou internacionais aonde se verificam cerca de 30 conflitos bélicos (guerras) com conteúdos e formas de origem ética, racial e religiosa que se originam na estrutura metabólica do capital no modo produção capitalista e se tornam irreconciliáveis.

Sendo um modelo reduzido das contradições globais, desse modo produção, certamente o Brasil, na medida em que soluciona os seus problemas, pode e deve servir de modelo para a solução dos conflitos atuais do sistema mundo capitalista. Para tanto sua pluralidade é o seu principal ponto forte pela adaptabilidade étnica, racial e religiosa do seu povo.

Com uma séria política de inclusão social acredita-se que o país possa, agora, circunscrever um campo de ação onde possa reivindicar para si e para o mundo uma estrutura e uma lógica de humanidades ou antropolítica ou, ainda, uma nova forma de vida em seu todo. O nexo da teoria da cultura e da teoria da adaptação está, no Brasil, exatamente na miscigenação da cultura. Ela é a gênese da pluralidade cultural ou formação de identidades coletivas

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próprias do seu povo não somente em termos políticos, mas na busca evolvente de mitigar, virtuosamente, a destrutividade social e o discenso irreconciliável das etnias, das raças e das religiões. Com essa sensibilidade e virtuosidade o povo brasileiro tem um ajuste legitimador a um pluralismo de visões do mundo, coexistências e integração político-social para os “por vir” da humanidade ou sociedade globais livres, ecumênicas e sem ranços colonialistas e imperialistas.

Muticulturalismo. Coexistência de diferentes culturas em um mesmo território ou país. O Brasil é por excelência, um país multicultural bem sucedido. Em seu território fala-se mais de 170 línguas com particularidade a oficial o português (substituta da língua geral) integrar sua população em seus 8,5 milhões de km² independentemente de raças, etnias, religiões, níveis sociais e de rendas. Até mesmo os regionalismos existentes servem de catalisadores para a identidade nacional onde as distâncias servem de unidade. O Brasil, como um todo, é a negação do eurocentrismo ou etnocentrismo do determinismo geográfico. O multiculturalismo imbricado ao metabolismo do capital, no Brasil, pode ser explícito como “uma exigência política, uma exigência de grupos que sentiam ser oprimidos, ignorados e reprimidos” (Wallerstein). É por isso versátil e libertador.

Exclusão social. Fenômeno causado pelo metabolismo do capital no

sistema mundo capitalista, ora vigente e que exclui incomensurável número de pessoas dos processos de trabalho e de produção e circulação dos bens e serviços ofertados pelas empresas ou unidades de produção e de circulação de mercadorias. Ela gera, também, em nível mundial, resistências com vistas ao seu inverso, ou seja, a inclusão social e que batem de frente com as forças motrizes do metabolismo do capital (lucro e poder) na expectativa de uma antropolítica. Enquanto a inclusão social trata da ação de inserir, envolver ou introduzir os entes humanos no sistema mundo do capitalismo, a exclusão social, própria do metabolismo do capital, é a ação de descartar os seres humanos dos processos de trabalho. Transforma-os em coisas, isto é, priva-os de ser do sistema e de sua cidadania. Embora, a exclusão social não signifique pobreza vale lembrar que a maioria da população brasileira, está inserta em um dos mais aberrantes e ignóbeis processos de pobreza. Apenas 15% são do país e do mundo e os 85% restantes apenas estão no território sob o manto da mais irracional e perversa concentração de renda, e de riqueza. O Brasil, segundo dados da ONU, só perde em concentração de renda, no mundo, para o mais miserável país do planeta, segundos dados de IDH da ONU que é Serra Leoa no Continente da África. A exclusão social, no Brasil, tende, também, para a exclusão digital, ou seja, no sistema tecnológico da informação, via satélites, e da nanotecnologia sob a ótica da física subatômica. Esta, inclusive muda a visão do mundo e do cosmo descartando o pensamento linear e a visão criacionista da vida no planeta.

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Racismo e sexismo. Qualquer bom dicionário explicita que o racismo configura um conjunto de teorias e crenças com vistas à discriminação entre as raças e entre as etnias e o sexismo é a atitude de se discriminar pessoas com fundamento no gênero, ou melhor, dizendo, na forma de comportamento sexual de um ser humano. Do ponto de vista da economia política o racismo tem a finalidade manter as pessoas dentro do sistema econômico-social como inferiores. Podem e devem, segundo os racistas, ser explorados economicamente (como se dá com os migrantes e imigrantes nos países cêntricos) no processo incessante de acumulação de capital e, por isso, são vistos como atrasados, baderneiros ou bárbaros. Para tristeza dos antropolíticos os cientistas políticos e sociais vêm transformando o racismo em uma questão básica de legislação formal em vez de contextualizar as raízes dos privilégios, dele oriundos, que permeiam as sociedades e que dizem respeitos a todas as suas instituições e organizações inclusas nelas a do saber. Esquece-se que a luta contra o racismo é indivisível e que deve ser extipardo em quaisquer das formas em que se apresente. O sexismo é a maneira pela qual o sistema mundo capitalista discrimina o gênero feminino nos processos de produção e, conseqüentemente, no processo incessante de acumulação de capital onde as mulheres quase sempre têm remuneração mais baixa que os homens para a mesma atividade.

Universalismo e particularismo. Nesta visão prévia, dos Textos, não se

pode deixar de trazer, para as suas contextualizações, os conceitos de universalismo e de particularismo sob o ponto de vista da economia política. O conceito mais amplo de universalismo é aquele que o apresenta como doutrina ou crença que afirma que todos os humanos estão destinados a salvação eterna em virtude da bondade divina. Outro é aquele inspirado pelo iluminismo que só reconhecem como legado universal aquilo que é patrimônio de todos. Já do ponto de vista de determinados segmentos das ciências sociais universalismo é supostamente a visão que se tem de existirem leis, normas, valores ou verdades que se aplicam indistintamente a pessoas, grupos ou sistemas históricos no tempo e no espaço. Essa concepção é muito utilizada, pelos defensores do sistema mundo capitalista para perpetuar o processo incessante de acumulação de capital quando coloca como universal aqueles valores que são criados ou observados, primeiramente, pelo centro hegemônico do sistema de acumulação ou potência imperial.

De um ponto de vista da economia política os conceitos acima citados levam a crença de existirem pelo menos três variedades de universalismo, isto é, o religioso, o humanista-científico e o imperialista. Daí os universalismos se prestarem para oprimir as pessoas que, em troca, se refugiam em particularismo como bem explica Wallerstein. “Os particularismos, por definição, negam os universalismos”. Daí existirem, também, múltiplos particularismos, ou seja, “aqueles reinvidicados pelos atuais derrotados nas corridas do universalismo”. Aqueles “dos grupos em declínios” sejam eles: raça, classe social, etnia, língua

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e religião. Aqueles oriundos “dos grupos persistentes situados no fundo da escala, independentemente de como sejam definidos” sejam eles parias ou não do sistema mundo capitalista que são “os negros, os ciganos, os harijan, os burakumin, os índios, os aborígenes e os pigmeus”. Aqueles formados por “esnobes esgotados que se orgulham da sua elevada cultura” e mesmo pregam a vulgaridade das massas, ou melhor, traduzindo das pessoas comuns e, por fim, aqueles “constituídos pelas elites dominantes”. Notável é que, segundo Wallerstein, tanto os universalismos quanto os particularismos são governados pela lei aristotélica do terceiro excluído e são, em geral, focos centrais das lutas políticas. Para tanto, vale citar a assertiva de Wallerstein “universalismo e particularismo são definidos como antinomia crítica que podemos usar para analisar toda ação social; todos temos de escolher, de uma vez por toda, entre dar prioridade a um ou outro. Isto tem sido útil, para os vencedores e nada útil para os derrotados”.

Novos mapas geopolíticos da globalização/mundialização e da

integração Sul-americana. Sob esse prisma os Textos, de um modo geral, remetem o leitor para o tema em epígrafe, chegando a contextualizar possíveis cenários para o presente século. Discorre sobre o caos estrutural do sistema mundo do capitalismo e sua possível ruptura ou substituição. Procura, ainda, mostrar a inserção do Brasil no chamado mundo globalizado. Discutem-se as grandes contradições do sistema mundo capitalista, em particular, aquela existente entre o capital mudializado versus trabalho local e descartável. Procura-se, para tanto, usar das categorias do pensar crítico abrangente a seguir:

a) Objetividade com a submissão ao real, a transformação do mundo e

ao cuidado com a ocupação e empregabilidade em contraponto a exclusão social b) Historicidade na medida em que trata a realidade como processo, ou

seja, vê o passado como virtualidade do presente e como dinamismo e virtualidade do futuro além da interação entre consciência e processo

c) Racionalidade a partir da sensibilidade social, das correlações causais da consciência útil ao desenvolvimento ou da antropolítica e da dialética da razão e da realidade

d) Totalidade como conexão de sentido e projeto de destino nos âmbitos nacional, sul-americano e de, como povo, pertencer ao mundo

e) Atividade entendida como pensamento e ação, caráter histórico e social dos valores e da ética do desenvolvimento sustentável com vistas a antropolítica

f) Liberdade como ato livre de pertencimento ao mundo e como ato de libertar como dialética da liberdade como existência autêntica da liberdade concreta

g) Nacionalidade como o universal concreto onde se extinga as relações de dominação e se veja a nação como origem de significado, mesmo inserto em

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um megabloco regional (MERCOSUL ou AMERCOSUL) e de fundação do muticulturalismo brasileiro.

Com respeito à integração dos países da América do Sul, FIGUEROA,

em seus livros, (ver bibliografia) de forma explícita ou implícita leva o leitor a concluir, acreditar e ter esperança que a integração dos países da América do Sul deve e pode processar-se a partir do social e não pelo econômico.. Claro que o autor destes Textos concorda totalmente com as teses do seu mestre e amigo e, por isso, contextualiza-as em sala de aula e em conferências. Lamenta não ver os livros do mestre publicados em português e divulgados nas universidades brasileiras.

Políticas públicas. Como se sabe política vem do grego “polis” que

significa cidade, cidadania, cidadão, estado. Como ciência, trata do estado, do poder e do governo em termos de regras, normas, leis e direito. Seu antônimo é idiota que, também, vem do grego “idios” que significa único, singular, privado. O termo tornou-se pejorativo e é remetido para pessoa que carece de discernimento, imbecilizada ou, ainda, vaidosa e estúpida. A palavra apolítica, confundida como antônimo é, em si, uma política, na medida em que todo e qualquer ser humano é por natureza social, portanto, político salvo os autistas e os esquizofrênicos que, por serem idiotas (na acepção etimológica da palavra), vivem em mundos criados por suas mentes. Nas formas como podem ser contextualizados os sentidos de políticas públicas o leitor pode até não aceitar a prática da etimologia do termo público na medida em que todo e qualquer estado é capturado ou tomado por classes sociais. Muitas das vezes, antagônicas, e, portanto, carece da essência de público que remete ou pertence ao povo, a uma coletividade. Como o estado é capturado por classes patrimoniais e elitistas, como no Brasil, a essência do público se esvai e transforma-se no seu oposto, isto é, no privado. As leis votadas pelo poder legislativo (que, no Brasil, nada tem de participativo para ser representativo) são interpretadas e julgadas pelo poder judiciário (no Brasil, onisciente onipotente e onipresente) doam sentido a privatização do estado pelos três poderes, em particular, pelo executivo. O estado é, no Brasil, possuído por uma irrisória minoria de plutocratas, burocratas, meritocratas e cleptocratas (que em conjunto se dizem democratas) e que impõem à nação, como um todo, as suas vontades. Na prática a moral ditada pela minoria elitista que capturou o estado, com seus respectivos poderes, doa sentido à construção de um país nanico ou de uma nação para outras de excluídos e prostituídos em vez de um Brasil Grande de Incluídos que configure uma nação para si e faça jus a ter políticas públicas que doem sentido à cidadania do seu povo.

Terrorismo e violência. De um ponto de vista crítico das classes sociais

despossuídas e oprimidas, no sistema mundo do capitalismo, o conceito de

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violência pode e deve ser contextualizado a partir da violência instituída pelo estado nacional contra seu povo e que o obriga a praticar a contra-violência ou criminalidade, hoje, sem controle, que se vive no Brasil e, também, no mundo. O estado e o governo brasileiro praticam contra a população do país uma violência de tal monta que obriga as massas despossuídas e oprimidas (política, econômica e socialmente) viverem uma autêntica guerra civil disfarçada, camuflada e mantida pelo próprio estado e pelo governo. Vale esclarecer que, em nenhum momento, se deve confundir o estado com o governo sob pena de não se entender a presente crise política. Mesmo, as crises passadas onde os poderes das elites civis e militares costumavam resolvê-las pelas armas impondo suas medíocres vontades às massas. Isso desde a invasão dos europeus no continente sul-americano e, muito em particular, no território que, hoje, se chama Brasil. A dominação, pela medíocre elite, já tem 500 anos onde se muda apenas a forma. Quanto ao terrorismo que se vivencia, em nível mundial, também, pode ser contextualizado a luz do conceito de contra-terrorismo na medida em que a análise parta dos oprimidos e vencidos pelas ações unilaterais do terror de estado praticado pelos Estados Unidos com ou sem apoio da Inglaterra, da Itália, do Japão, do Canadá e da Austrália que conformam os países mais beligerantes do mundo. Que falem os vietnamitas, coreanos, somalis, sérvios, kosovares, bósnios, iraquianos, afeganes, palestinos e muitos outros povos submetidos aos horrores do terrorismo de estado. Também, Israel com sua política genocida contra os palestinos é um bom exemplo de terrorismo de estado. Na América do Sul, a Colômbia, por ter 40% do seu território “como terra de ninguém”, serve de cavalo de tróia para os interesses invasores dos Estados Unidos na Amazônia, principalmente, a brasileira. O Paraguai facilita a presença dos norte-americanos, na tríplice fronteira, com vistas a garantir para os Estados Unidos, via ONU e Empresas Transnacionais à posse e controle das maiores jazidas de águas doces subterrâneas do planeta que é o conhecido aqüífero Guarani. Na prática, as ações terroristas ou as de contra-terror, praticadas em todo o mundo, por distintos povos, são sem dúvida, um contra-terrorismo ao terror de estado praticado pelos Estados Unidos e seus sócios beligerantes do G7 e da OTAN contra a vontade dos povos por eles oprimidos. Não se tem dúvida, que o fim do terrorismo de estado, também, levará ao fim o terrorismo ou ações contra-terror praticadas por organizações ocultas, sem cara e sem território, que usam inclusive seres humanos bombas para seus fins.

Meritocracia. Significa etimologicamente o predomínio numa

sociedade, na organização, no grupo no estado a ocupação daqueles que têm mais méritos, isto é, os mais bem dotados, os mais trabalhadores, os mais meritosos pessoalmente. Contrapõe-se ao conceito do homem medíocre, ou seja, do homem médio. Na prática, os sistemas meritocrático, institucionalizados nas sociedades, ajudam apenas a uns poucos (muitas das vezes medíocres) obterem acesso a posições que não merecem. De um modo geral, permite a muitos

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obterem status e posições na base “de quem indica” ou de outros atributos como nepotismo (nada meritório) sob o manto de terem obtidos por mérito. É na prática, do sistema mundo do capitalismo, uma forma para-facista de discriminação que leva ao racismo-sexismo acima conceituado.

Para concluir, esta visão prévia (como base para contextualização e

conhecimento dos Textos), convém lembrar que o sistema mundo capitalista passa pelos seguintes dilemas:

a) Acumulação incessante de capital em declínio e sob ajustes de baixar

os custos de produção, descobrir novos produtos e encontrar novos compradores b) Legitimação política em declínio cujos ajustes estão nas lutas de

classes, na participação política em eleições e na redistribuição de impostos cada vez mais crescentes pelos estados nacionais

c) Agenda cultural indefinida caracterizada por ajustes entre individualismo versus hedonismo econômico, universalismos versus racismo-sexismo e multiculturalismo versus transgressões das fronteiras culturais.

Note-se que os dilemas supracitados se dão ou estão insertos nos

seguintes clivares do sistema mundo do capitalismo: a) TRÍADE onde a União Européia, os Estados Unidos e o Japão buscam

harmonizar suas contradições no âmbito dos conflitos de mais competição e monopolização de mercado, dentro do sistema mundo do capitalismo e entre os estados nacionais na busca do processo incessante de acumulação de capital ou perseguição ao lucro e poder a custa de tudo e de todos em desenfreado consumismo

b) CONFLITO NORTE-SUL. No Norte além da tríade estão todos os

países desenvolvidos da OCDE sob a hegemonia do G7 e, no Sul, os países tampões, os países entrepostos e os países espectros (no dizer de Rufin) além das terras de ninguém do norte da África, da Colômbia e do Haiti. O Brasil, no fórum da OMC, lidera o G20 em contra posição ao G7 e a OCDE. Desse conflito fazem parte, também, as instituições internacionais opressoras dos países pobres como são exemplos o FMI, o BIRD, a OMC e a própria ONU cujo Conselho de Segurança é manipulado pelos Estados Unidos como país hegemônico e, muito em particular, pelo CFR (Council on Foregn Relations).

c) CONFLITO DAVOS-PORTO ALEGRE. De um lado está o Fórum Econômico Mundial (FEM) formado pelos mais renomados capitalistas do mundo e de representantes dos estados nacionais, criado em 1971 em Davos, na Suíça. O FEM é conhecido popularmente como o “espírito de Davos”. Do outro lado o Fórum Social Mundial (FSM), criado em 2001 na cidade de Porto

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Alegre, no Brasil, e que em janeiro de 2007 está em sua sétima edição. Saliente-se que o FSM reúne mais de 250.000 participantes na busca de uma nova ordem mundial em um cenário de antropolítica. Em contraposição ao FEM o FSM é conhecido como “o espírito de Porto Alegre”.

Cronologia de acontecimentos no sistema mundo capitalista

Apresentam-se, a seguir, uma cronologia muito sumária de acontecimentos que se deram no sistema mundo capitalista com vistas a induzir o leitor a meditar sobre eles com propósitos de se buscar saída para um novo modo de produção mais humano e mais ecumênico.

Saltos qualitativos no modo de produção capitalista

1415-1746. Expansão européia pelo mercantilismo. Invasões e colonizações dos novos e velhos continentes a partir do escravismo colonial principalmente dos negros e dos indígenas

1775-1848. Inicio e período de concretização da Revolução Industrial

1789-1792. Revolução Francesa. Abolição do feudalismo como modo de produção. Proclamação dos direitos do homem. O poder emana do povo. Cria-se o lema igualdade, fraternidade e liberdade

1848. Movimentos revolucionários na Europa. Segunda República Francesa

1870-1873. 1 ª Grande Recessão Mundial e a Guerra Franco-Prussiana

1914-1918. 1 ª Guerra Mundial

1917. Revolução Russa

1929-1932. 2 ª Grande Recessão Mundial

1939-1945. 2 ª Guerra Mundial

1945. Conferência de Yalta e a divisão do mundo

1949-1990. Guerra Fria ou 3 ª Guerra Mundial. O equilíbrio do terror nuclear

1968. Revolução Mundial da Desilusão (Primavera de Praga, quebra-quebra na França, ofensiva do Tet e reação popular nos EUA, revolta racial nos EUA, crise da Polônia, etc.). Inicio da guerra dos ricos contra os pobres pelo metabolismo do capital

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1989-1990. Fim da URSS e do Tratado de Yalta

2001- ? Início da 4 ª Guerra Mundial a partir do ataque da Al-qaeda às torres gêmeas e ao Pentágono nos EUA. Guerra declarada em discurso de Bush que mais parece, em nível mundial, uma caricatura de Hitler.

Fatos que abalaram o sistema mundo capitalista pós Segunda Guerra Mundial

1945. Bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki ordenadas por Truman

1945-1948. Revolução Chinesa. Tomada do poder por Mao Tse Tung

1948-1949. Bloqueio de Berlin

1949. A URSS torna-se potência nuclear. Dá-se inicio a Guerra Fria ou 3 ª Guerra

Mundial com inúmeros conflitos localizados sob tensão nuclear

1949-1991. Equilíbrio do Terror. Conflitos localizados da Guerra Fria principalmente na África pelo conturbado processo de descolonização

1950-1953. Guerra da Coréia. Até hoje existe apenas um armistício sito no paralelo 38 em Pamujon entre as duas Coréias. Os EUA com suas tropas na Coréia do Sul encontram resistência sem controle por parte da Coréia do Norte, hoje, possuindo artefatos nucleares

1954. Partilha da Indochina

1959. Revolução Cubana

1959-1975. Guerra do Vietnam onde os EUA sofrem de fato uma verdadeira derrota militar após arrasar o país e sua retirada desmoralizada de Saigon. Dá-se a unificação do país por Hochimin

1967. Guerra dos seis dias sobre a Palestina (árabes contra judeus) e vitória militar de Israel

1970-1971. Os EUA unilateralmente, no governo Nixon, retira o dólar do padrão-ouro desarticulando o Acordo de Breton Woods. Crise do padrão monetário mundial

1973. 1 ° Choque do petróleo

1979. 2 º Choque do petróleo.

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1979. A Revolução Iraniana

1980-1988. Crise da dívida. Diminuição de tamanho das empresas pela terceirização nas redes corporativas - TEAMNETs

1989-1990. Fim da URSS e do Tratado de Yalta

1990-2000. Criação da primeira moeda transnacional o euro na União Européia. Guerra dos balcães (inicio do fim da Yugoslávia), crise da OTAN, crise asiática, estouro da bolha imobiliária japonesa. Inicio da separação militar EUA versus Europa, intensificação dos conflitos hegemônicos na Tríade

2001- ? Ataque da Al-qaeda aos EUA em 11 de setembro e início da 4 ª Guerra

Mundial declarada pelo Presidente Bush.

Invasões/intervenções dos EUA no Pós 2 ª Guerra Mundial

1953. Iran. Deposição de Mohammad Mussadeq e retorno do Xá Reza Pahlevi ao poder sempre a serviço da CIA até ser deposto e execrado por Komeine

1954 Guatemala. Deposição de Jacobo Arbenz, eleito presidente e deposto pelo títere coronel Castillo Armas a serviço da CIA

1958. Líbano. Tomado por tropas norte-americanas como prevenção de inspiração nacionalista da Síria e do Egito antes da capitulação de Anuar Sadat

1965. Indonésia. Com as sucessivas vitórias do Partido Comunista da Indonésia os EUA desestabilizaram o país e provocaram o massacre de mais de 300.000 comunistas com a tomada do poder pelo general Suharto que, em 1968, depôs o herói nacional Sukarno já completamente desmoralizado pelo golpe militar sob a égide dos EUA

1965. República Dominicana. Os EUA provocaram um golpe militar contra o presidente eleito Juan Bosch com imediata reação da guerrilha pró-Bosch liderada por Caamaño Deno que assume o poder, Os EUA juntos com o Brasil e a Argentina, em nome da OEA, invadem o país depõem o líder revolucionário que é morto por seguidores do carismático Balaguer que volta ao poder

1969. Camboja. Insatisfeitos com a neutralidade de Sihanouk na Guerra do Vietnan e sob alegação do Camboja dar apoio aos guerrilheiros vietnamitas os EUA bombardeiam o país e, em 1970, depõe Sihanouk substituindo-o pelo

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ex-primeiro-ministro marechal Lon Nol cooptado pela CIA que se torna ditador e seu fiel aliado

1969. Somália. Os EUA promoveram o golpe militar que levou seu preposto Siad Barre ao poder que, de há muito, estava a serviço da CIA

1973. Chile. Após a nacionalização de suas empresas mineradoras por Salvador Allende, (que se suicidou), os EUA provocaram de forma hostil à desestabilização do governo e promoveu o golpe de estado mais sanguinário da América do Sul pelo ditador, torturador e genocida general Pinochet que ordenou a matança de mais de 2.300 pessoas. Hoje, esse energúmeno general, já falecido, é um personagem desmoralizado e sua família sob judice de enriquecimento ilícito e pelos crimes que praticaram contra o povo chileno

1980. El Salvador. Sob a égide da CIA os EUA provocaram a guerra civil que se inicia com o assassinato do arcebispo Oscar Romero defensor dos direitos humanos, no país, provocando um morticínio que vai até a queda da União Soviética (1990)

1980. Nicarágua. Após a deposição do seu títere Anastásio Somoza pelos guerrilheiros sandinistas e seu assassinato no Paraguai, os EUA passaram a treinar, financiar e equipar os contra anti-sandinistas pela CIA sob alegação de os nicaragüenses armarem e equiparem os guerrilheiros salvadorenhos além de impor incomensuráveis sanções ao governo sandinista até seu esgotamento

1982. Líbano. Israel sob o beneplácito norte-americano invade o país e massacra civis nos campos de refugiados de Chatila e Sabra matando milhares de civis

1983. Granada. Após o fuzilamento de Bishop por um movimento de esquerda Hudson Austin e Bernardo Gard assumem o poder e logo os EUA invadem o país depõe os governantes e os condena a prisão perpetetua nos EUA

1986. Líbia. Insatisfeitos com a política de Kadafi os EUA bombardeiam o país particularmente o Palácio do Governo e a casa residencial do Presidente numa tentativa de eliminá-lo

1989. Panamá. Após desentendimento com seu ex-aliado Noriega os EUA invadem o país em uma chamada Operação Causa Justa o depõe, seqüestra e o condena a 40 anos de prisão em cárcere norte-americano

1991. Iraque. Depois de romper com sua cria o ditador Sadam Hussein, por ter invadido o Kuvait, os EUA com o aval da ONU bombardeiam e invadem o Iraque impondo severas restrições econômicas e controle do seu espaço aéreo antes de retirar sua tropas do país

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1991. Haiti. Os EUA desestabilizam o governo constitucional transformando o país em terra de ninguém até 2006 quando a ONU tenta estabilizar o país com tropas militares sob comando do Brasil

1992. Somália. Com aval da ONU tropas americanas invadem o país e após verdadeiro caos e guerras entre tribos. Seus soldados são humilhados e retira-se deixando o país como terra de ninguém

1998. Sudão. Por arrogância e desprezo aos povos muçulmanos africanos os EUA, no governo Clinton, bombardeiam o hospital-laboratório AL-Shifa causando a morte direta e indireta de aproximadamente 30.000 africanos. Segundo Noam Shomsky esse bombardeio foi à causa principal do revide da Al-qaeda para destruir as torres gêmeas em Nova York em 11 de setembro de 2001

2002. Afeganistão. Em represália a queda das torres gêmeas os EUA com tropas da OTAN e com o aval da ONU bombardeiam e invadem o Afeganistão depondo o governo dos seus ex-aliados na guerra contra a URSS - os Talibãs sob a liderança de Bin Laden hoje líder soberano da Al-qaeda. Essa invasão/ocupação ainda não foi, concluída por conta de ferrenha resistência e atentados, hoje, existentes contra as tropas da OTAN/EUA

2004. Iraque. Sob a mentira de o Iraque possuir armas de extermínio os EUA unilateralmente, agora, sem aval da ONU, bombardeiam e invadem o Iraque onde se encontram envolvidos em uma guerra civil sofrendo todos os tipos de atentados e perdendo inúmeros soldados nos conflitos. A ocupação ainda não se concluiu e suas tropas estão em acelerado processo de desmoralização em plena guerra civil iraquiana que também levou a derrota de Bush e dos republicanos nas eleições de 2006 para o Congresso

2006. Líbano. Com total e incondicional apoio dos EUA, Israel bombardeia o país e recebe forte resistência do Hezbollar (a quem queria destruir) e é forçado a uma trégua, suspender os bombardeios e retirar suas tropas do sul do Líbano. Pela primeira vez as tropas de Israel saem de um território ocupado, militarmente, desmoralizadas.

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II. CATEGORIAS BÁSICAS PARA O ENTENDIMENTO DA SOCIEDADE E DA ECONOMIA POLÍTICA De um modo geral a categoria de sociedade (S) é vista nos melhores dicionários como um “conjunto de pessoas que vivem em certa faixa de tempo e de espaço, seguindo normas comuns e que são unidas pelo sentimento de consciência do grupo ou corpo social” entre muitas outras conceituações específicas. A sociedade é objeto ou domínio de diferentes ciências humanas como são a: filosofia, antropologia, paleontologia, sociologia, história, geografia, economia política, antropologia e muitas outras. Segundo Marx, em seu materialismo histórico, (contextualizado por Fossaert) “a sociedade é constituída não de produtos, nem mesmo da produção, mas, isto sim, de relações de produção, de dominação, de comunicação (ideologia)” e de classes sociais antagônicas ou não. É a partir dessa complexidade da sociedade que, a seguir, de forma muito sinótica, se pretende levar o leitor a contextualizar aquelas categorias básicas para a apreensão e o entendimento do que vem a ser a sociedade (S). Instância econômica - IE Grosso modo a instância econômica (IE) é a apreensão da sociedade em sua relação dual das forças produtivas versus relações de produção correspondentes e presentes em todo e qualquer modo de produção (MP). Este, por sua vez, é o conjunto das práticas, relações e estruturas sociais de produção na complexidade da teia da vida material dos humanos na rede da sociedade. As relações compõem-se fundamentalmente dos seguintes elementos:

Proprietários (P) Trabalhadores (T) Meios de trabalho (MT) Relações de propriedade (A) Relações de Produção (B).

A fórmula geral para a constituição de qualquer modo de produção está nas combinações de: A+B+P+T+MT. Os modos de produção mais conhecidos, a partir das combinações supra citadas, segundo Fossaert e Srour são: comunitário, tributário/asiático, antigo, camponês, artesanal, capitalista-mercantil, escravista, servil/feudal, latifundiário, capitalista, cooperativo, estatal-capitalista, colonial, escravista-concentracionário, estatal-socialista, capitalista-imperialista. Em cada modo de produção (segundo Fossaert) existe uma lógica do valor, ou seja, valor de uso (VU), valor de troca (VT) e valor

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desenvolvimento (VD) que abrem possibilidades totalmente diferentes e articulações para as formações econômicas (FE). Em tese, as lógicas do valor que conformam as diferentes formações econômicas são:

Lógica do valor de uso constituída dos tributos e do comércio distante pelo capital mercantil e, também, pelo escambo em suas diferentes formas Lógica do valor de troca pela sujeição formal do capital mercantil,

pela troca mercantil, pela sujeição colonial, pela renda capitalista e pelo capital financeiro de sujeição formal Lógica do valor desenvolvimento através das articulações de

trocas no capitalismo de estado ou, ainda, planificadas no socialismo de estado e, principalmente, nas articulações de trocas na economia social comunitária.

Das lógicas do valor acima citadas derivam redes de valores com respeito a impostos/despesa e a moeda/crédito. As Formações econômicas mais conhecidas e estudadas por Fossaert e Srour são: comunitária, tributária, tributário-mercantil, antiga, escravista, servil, servil-mercantil, capitalista-mercantil, dominial-mercantil, dominial-capitalista, capitalista, capitalista-monopolista, estatal-monopolista, mercantil simples, colonial, dominial-estatal-capitalista, transição estatal-socialista, estatal-socialista. Ainda, na instância econômica, a categoria de classe social (CS) é identificada pela situação dos trabalhadores e dos proprietários em determinado modo de produção e formação econômica em que figura com vistas aos meios de trabalho e aos meios de produção. Vale salientar que no próprio âmbito dos trabalhadores e dos proprietários existem e operam estratificações que na linguagem sociológica são conhecidas como estratos sociais ou categorias sociais. Existem situações em que indivíduos configuram presença entre os proprietários e entre os trabalhadores como são exemplos os artesãos, os minifundistas (capitalistas de si mesmo) e alguns manufatureiros. Na instância econômica as classes sociais têm importância nas transferências de uma classe ou de um estrato social a outro no processo de produção de bens e serviços. Instância social - IS A instância social (IS) confunde-se com a própria categoria de modo de produção na medida em que nele são articuladas as representações da sociedade como totalidade, ou seja, as relações das formações: econômica, política e ideológica

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para o espaço e tempo das formações sociais (FS) no sistema mundial. São naquelas instâncias que realmente se configura a teoria das classes sociais, particularmente, da luta de classes que é objeto da formação social caracterizada pelo modo de produção dominante ou hegemônico em determinado tempo e espaço. Devido ao fato da instância social identificar-se, também, como modo de produção é que se conformam os sistemas mundiais ou internacionais inclusive do globalismo. O mundo e a sociedade são construções históricas. Não se confundem com a natureza como ordem do real (N), com o planeta terra e, mesmo ainda, com as concepções do mundo sejam elas evolucionista ou criacionista. Conclui-se, pois, que a terra contempla vários mundos e várias sociedades. Sistemas mundiais são, portanto, uma demarcação para aferir os efeitos dos modos de produção e das seguintes formações que lhe corresponde: econômica, social, política e ideológica. São as articulações entre estados, povos, etnias e nações com as disfunções da revolução demográfica induzida pelos modos de produção que levam a partilha do mundo entre algumas potências que caracterizaram e caracterizam as seguintes formas no sistema mundial: antigo, mercantilista, mercantilista-colonialista, imperialista em construção, imperialista em crise, neo-imperialista e, agora, sistema mundo do capitalismo que se encontra em crise sistêmica e que tende a ser superado por um outro modo de produção, ainda, não identificado ou caracterizado. Instância política – IP A instância política (IP) trata do conjunto da sociedade na sua relação consigo mesma em todo o processo da organização social. É a forma principal de organização que a sociedade assume. Em geral sua organização principal é o estado. Outrossim, existem organizações em clãs, tribos, nações e etnias que normalmente estão representadas por um poder de estado. Os domínios do estado são defendidos pelos aparelhos de estado (AE) concebidos como: forças armadas, judiciário, financeiro, econômico, relações exteriores, administrações locais, etc. As grandes categorias de aparelhos de estado são: embrionários, militares, burocrático-cartoriais, financeiros e panificadores. Nas formações sociais cuja formação econômica é dominada por qualquer modo de produção pré-capitalista a dominação consiste no recobrimento da propriedade pelo poder. Já nas formações sociais cuja formação econômica é capitalista a dominação se dá no livre jogo do valor de troca devidamente monopolizado nas mercadorias. Fossaert e Srour em seus estudos apontam para os seguintes tipos de estado: chefia comunitária, tributário, cidade-estado (antiguidade), escravista, senhorio, principado, cidade-estado (medieval), aristocrático, aristocrático-

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burguês, república burguesa, república camponesa, militar-nacionalista, soviético e transnacional ora em formação pelos blocos de integração como é exemplo a União Européia. Na instância política é muito significativa a conhecida sociedade civil (SC) como conjunto de poderes organizados que, em geral, opõe-se ao estado doando-lhe ou não legitimidade e inteligibilidade. Estado e sociedade civil interpenetram-se e combatem-se dialeticamente de uma sociedade a outra em busca de hegemonia. Toda e qualquer sociedade civil é caracterizada na determinação dos tipos de hegemonia nos sistemas: econômico, político e ideológico. Ainda, na instância política há que se apreender a formação política (FP), isto é, o arranjo ou trama de poderes que se dão na sociedade para estabelecer compatibilidade com um aparelho de estado. A formação política é a relação que se dá entre o estado e a sociedade civil organizada da sociedade. Para tanto, nas formações políticas as classes sociais estão imbricadas a um jogo de determinações com posições variáveis nos aparelhos de estado emanados da formação econômica institucionalizada em organizações diversamente hierarquizadas. Nas formações políticas as classes sociais se apresentam de forma dual e oposta, ou seja, uma dominante detentora do poder do estado e outra de dominados que povoam os aparelhos de estado. Na sociedade o poder é a capacidade de determinadas classes sociais disporem de aparelhos de estado para conduzir ou reprimir segundo seus interesses as atividades dos entes humanos em sociedade. Com respeito ao poder todo aparelho de estado se confunde com o aparelho social que é um sistema organizado de pessoas e de meios materiais institucionalizados ou não. Propriedade e poder são relações idênticas e se confundem na sociedade e particularmente na instância política com vistas às classes sociais. A propriedade fundamenta o poder que a sustenta. Instância ideológica/psicossocial – II Essa instância se verifica no corte transversal do ente humano (EH) com a sociedade (EH/S). Todo ser humano (EH) é um animal político salvo aqueles que são idiotas, na acepção etimológica da palavra e não na acepção vulgar-preconceituosa. Os entes humanos são dotados de conhecimento reflexivo, falam, pensam, escrevem, comunicam-se, doam sentidos as coisas e a natureza, são possuidores de polegar opositor, em cada uma das mãos, além de serem bípedes com coluna vertical ereta e com tele-encéfalo altamente desenvolvido. As formações ideológicas-(FI) explicitam as relações ou vínculos que unem toda vida ideológica ou psicossocial as constrições da economia e da

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política. Está imbricada ao sistema de classes em que se reduzem todas as estruturas sociais. De forma sumária as formações ideológicas apresentam-se na tipologia de: teocráticas (religiosas), cidadãos, raciais, jurídicas, coloniais, nazi-fascistas, comunistas, liberais, neoliberais, socialistas, etc. Consubstanciam naquilo que se identifica como aparelhos ideológicos (AI), isto é, nas imbricações do real ao social e não existem como tais, isto é, situam-se nas entranhas das formações econômicas e misturadas no concreto das formações ideológicas. Materializam-se, em geral, em aparelhos ideológicos de: estado, religiões (igrejas), escolas, publicidade, imprensa (falada, escrita e televisa), artes, lazeres, ciências, assistenciais, associações, clubes, partidos políticos, corporações e sindicatos. Suas expressões categoriais explicitam-se em: embrionários, religiosos, escolares, governados, públicos, de pertença, de clientela, de adesão, etc. Do ponto de vista das classes sociais a instância ideológica se projeta na forma dual e contraditória de reinantes ou dominantes e de mantenedores ou dominados que não são intemporais. As instâncias acima citadas conformam o que se chama discurso social e hegemonia inerente a qualquer sociedade e não servem de base a linguagem e a superestrutura da sociedade. O discurso social fala da pátria ou das próprias formas da integração/identificação da massa ou do povo de uma dada sociedade. Ele elucida a formação das: tribos, clães, etnias, nações, castas e as identificações das classes sociais. É de fato um sistema de valores que leva a hegemonia, ou seja, a uma ideologia dominante. Sistemas mundiais O conhecimento e a sociedade são construções históricas. Não se confundem com o universo natural, com o planeta e menos ainda, com as concepções do mundo. Daí assegurar-se que a terra na sua biosfera contempla vários mundos e sociedades. O próprio conceito de sistemas mundiais é, portanto, uma demarcação para aferir os efeitos dos modos de produção e das seguintes formações: econômica, política, social e ideológica. Os sistemas mundiais são as articulações intercontinentais ou internacionais com as difusões da revolução demográfica induzidas pelos modos de produção que levam a partilha do mundo entre algumas potências que caracterizaram e caracterizam as seguintes formas no sistema mundial: antigo, mercantilista, mercantilista-colonialista, imperialista-monopolista, imperialista em crise, neo-imperialista ou sistema mundo do capitalismo que tende a ser superado por outro modo de produção ainda não identificado. Historicamente, o sistema mundo do capitalismo tem seu inicio com a Revolução Francesa (1789-1799), passando pelas Guerras Napoleônicas (1848-1870 quando Napoleão sonha em transformar a economia mundo capitalista no

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sistema mudo do capitalismo cujo contra ponto foi a criação dos estados nacionais). Em seguida a Revolução Russa de 1917 abala-se os alicerceis da formação do sistema e, no pós–guerra, vive-se a chamada Guerra Fria (1949-1998) passando pela Revolução Mundial das Desilusões de 1968 a partir da qual aquela tendência passa a consolidar-se para o que hoje se chama de globalismo. A atual crise do sistema mudo do capitalismo tem as seguintes causas:

• Transformação de tudo em mercadorias • Privatização dos bens livres e da natureza como um todo • Colapso dos sistemas morais e éticos nas diferentes sociedades • Intensificação da queda das margens de lucro e gigantismo de corporações

com aumento dos seus poderes • Formação de zonas opacas no próprio sistema do capitalismo • Aceleração da desruralização do mundo • Aprofundamento das crises fiscais dos estados nacionais • Transposição de fronteiras de todos os tipos na caça ao lucro pelas

corporações • Intensificação do consumo como ruptura social e das sociedades • Democratização do uso de armamentos a nível planetário com aumento da

grande e pequena violência • Imigração de indivíduos dos países pobres para os países mais ricos quase

sempre em regressão populacional • Aumento das incertezas e da insegurança social, econômica e ambiental • Crises energéticas e ecológicas globais • Mutações dos estados nacionais e formações de megablocos econômicos • Unilateralismo crescente nas decisões internacionais, particularmente,

pelos Estados Unidos da América do Norte. O pior da atual crise do sistema mundo do capitalismo é que passa a ter

aspectos históricos altamente indesejáveis tais como: ter caráter universal; ser de âmbito global; ter escala temporal prolongada ou permanente; ter seu modo de evolução rastejante e ser estrutural afetando a totalidade das sociedades e a vida humana no planeta. Economia política

Etimologicamente, economia vem do grego: oikos, que significa casa e nomos, cujos sentidos são administração, regra, governo ou lei. Política, como se viu, vem de pólis, cidade, cidadania, estado. Economia Política é a ciência das leis imbricadas ao processo de acumulação incessante de capital a partir do processo de produção onde tem lugar o excedente econômico e, oriundo dele, o lucro e o poder. Ressalve-se que a produção e distribuição dos bens econômicos, resultantes dos processos de trabalho e de produção, são para

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satisfazer necessidades ou desejos humanos. Na apresentação destes Textos o autor apresentou o seu conceito de economia política em termos de: processo, forma, matéria e sentido.

Na literatura, encontram-se vários epítetos ou conceitos de economia política como, por exemplo:

a) Ciência das leis da ordem social e da riqueza b) Ciência das leis que regem as atividades econômicas c) Ciência da escassez d) Ciência social que quantifica o produto e) Ciência das leis da oferta, da procura e do valor das mercadorias ou

bens econômicos f) Ciência que explica o mercado e nele as mercadorias g) Ciência das leis do mínimo esforço na oferta e procura de

mercadorias movidas pelas necessidades próprias e não pela consciência das necessidades recíprocas

h) Ciência que estuda as leis características dos modos de produção, historicamente formados e o sistema de distribuição correspondente

i) Ciência que se propõe estudar todas as leis das formações socioeconômicas e abranger o desenvolvimento total da humanidade

j) Ciência que tem por objeto o conhecimento das leis que presidem à formação, à distribuição e ao consumo das riquezas

l) Ciência das leis sociais das atividades econômicas. Segundo a historiografia (conceito eurocêntrico), a expressão economia

política apareceu no início do século XVII, com o escritor francês Antoine de Montchrétien que, em 1615, publicou seu “Traité de l´Economie Politique”, abordando os problemas da atividade econômica do estado e daí passou a fazer parte da linguagem corrente tanto na França como na Inglaterra que foram, posteriormente, os palcos das revoluções: francesa e industrial, respectivamente.

Outrossim, o surgimento do termo se deu no mercantilismo fase anterior à época dos fisiocratas: Williams Petty (1623 - 1687); David Hume (1711-1776) e François Quesnay (1694 -1774). A fisiocracia (domínio ou governo da natureza) se constituiu na primeira escola de economia política, e considerava que a vida econômica está sujeita as leis naturais, e que as necessidades humanas podem ser satisfeitas sem que seja necessário forçar a marcha regular dos fenômenos econômicos. Foram os fisiocratas, os primeiros a visualizar os fatos econômicos como um conjunto da ciência social na medida em que apontaram as relações necessárias entre a “ordem natural” e as necessidades humanas. As escolas de economia política conhecidas como clássica e como marxista partem dos estudos publicados pelos fisiocratas.

A economia política clássica tem início em 1776, com a publicação da obra de Adam Smith (1723 - 1790) “A Riqueza das Nações”, que é,

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essencialmente, uma teoria do crescimento econômico onde se trata da divisão social do trabalho, da troca, do uso da moeda e das teorias do mercado e do preço. Também, as teorias do lucro e da alocação de capital são grandes contribuições de Adam Smith para a economia política como ciência. Não obstante Smith ser considerado o pai da economia clássica John Nash (que em 1994 foi laureado com o Prêmio Nobel de Economia) nas suas descobertas na “Teoria dos jogos” desconstruiu matemática, econômica e politicamente toda a base da economia clássica de Smith. Também, desmontou a economia moderna neoclássica e neoliberal segundo as quais “o nível máximo de bem-estar social é gerado quando cada indivíduo, de forma egoísta, persegue o seu bem-estar individual e nada mais que isso”. Ver o filme Uma Mente Brilhante ganhador do Oscar de Melhor Filme de 2001.

Nash com sua teoria dos jogos desmonta essa panacéia do individualismo e da livre concorrência como alicerce fundamental ou central da economia na medida em que ele prova matematicamente que o indivíduo em favor do seu bem-estar não pode e não deve perder de vista o, outro, ou seja, os demais integrantes do grupo, da equipe ou da sociedade. A não cooperação entre os diferentes jogadores leva os mesmos obterem menor bem-estar do que poderiam. O inverso do que prega Smith, os neoclássicos e os neoliberais.

Dois outros grandes pensadores da escola da economia política clássica foram Thomas Robert Malthus (1766-1834) com a teoria da superpopulação e David Ricardo (1772-1823), com teoria da renda da terra, do valor trabalho e do comércio mundial. Essa escola, que teve, ainda, como pensadores Georg Friedrich List (1789-1846), Thomas Hodgskin (1787-1869), Jean Baptiste Say (1767-1832) e John Stuart Mill (1806-1873) tinham como fundamento a investigação das leis naturais que induzem à vida econômica e à permanente busca dos princípios reguladores na livre concorrência. Essa foi e é, sem dúvida, o alicerce da teoria da economia política até os dias de hoje. E, também, desconstruída por Nash na sua teoria dos jogos.

As premissas das teorias da economia política clássica estavam imbricadas à luta das burguesias industriais da época na Europa, contra os restos das relações feudais de produção. Isso se dava inclusive no mercantilismo e seu rebento, nas colônias, que foi o escravismo colonial racista contra os negros e os indígenas dos territórios invadidos ou ocupados pelos europeus como foi exemplo o Brasil. Por seu conteúdo de classe na contradição básica do modo de produção capitalista que se dá na relação entre os humanos (força de trabalho) e a natureza (bens livres) de onde se origina o capital (parte do excedente econômico ou do lucro em forma de investimento), surgiu a economia política clássica. Ela serviu para racionalizar e melhor encobrir a exploração dos entes humanos por outros humanos, particularmente, no processo de produção capitalista entre a burguesia e o proletariado com ênfase ao operariado fabril e no mais desvairado hedonismo econômico.

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Essa foi à razão que levou Karl Marx (1818-1883) a submeter os fisiocratas, mas, principalmente, os economistas clássicos a uma severa crítica não somente do ponto de vista da própria economia política, mas também da filosofia (materialismo dialético e materialismo histórico) e do socialismo científico. Ao criar a teoria da mais valia, ele a explicitava como “o suplemento de tempo de trabalho do operário apropriado pelo capitalista em seu benefício” e demonstrava a diferença entre o preço de custo e o preço de venda a partir do trabalho não-pago, seja ele resultante da mais valia absoluta ou da mais valia relativa. A radical crítica de Marx a economia política dos fisiocratas e da escola clássica deu origem à escola da economia política marxista ou marxiana. Os mecanismos de obtenção e de distribuição de mais valia absoluta e de mais valia relativa constituem o fundamento da teoria da acumulação incessante do capital, que é a gênese das forças motrizes do capitalismo consubstanciadas no lucro e no poder. Ainda, segundo Marx, o capitalismo concentra o processo de trabalho em grandes empresas produtivas, o que inevitavelmente conduz à sua associação. Outrossim, a propriedade privada dos meios de produção faz com que as relações entre as atividades individuais, via cooperação e divisão social do trabalho, regulem-se de forma espontânea por força da lei do valor. Esse fato causa o caráter irracional ou anárquico do modo de produção capitalista. O efeito da causa em tela retira qualquer direção consciente da sociedade e conduz o capitalismo a colapsos e guerras sob a forma de crises político-econômicas. Outra importante contribuição de Marx foi à descoberta da taxa de uso decrescente no capitalismo que aponta para a “sociedade descartável” que, hoje, se vivencia. Sem dúvida essa taxa “afeta negativamente as três dimensões fundamentais da produção e do consumo capitalista, a saber: bens e serviços, instalações e maquinaria e a própria força de trabalho”. Meszáros explica como a taxa de uso decrescente no capitalismo leva no modo de produção a “linha de menor resistência do capital configurado no complexo militar industrial enquanto agente todo-poderoso e efetivo no deslocamento das contradições internas do capital”. Dessa forma ele explicita a administração das crises e da autoreprodução destrutiva do capital.

A razão da natureza bélica do capitalismo, através de suas crises, produziu nos últimos cem anos nada mais que três grandes conflitos mundiais estando agora, no quarto conflito ou guerra senão vejamos:

a) A primeira guerra mundial entre os anos de 1914 e 1918 b) A segunda guerra mundial entre os anos de 1939 e 1945 c) A terceira guerra mundial denominada de guerra fria durou de 1949

até 1991 d) A quarta guerra mundial teve início em 1991 e foi, unilateralmente,

declarada pelos EUA em 11 de setembro de 2001 e se caracteriza pela guerra dos ricos contra os pobres, diferentes, portanto, das anteriores onde os pobres buscavam alcançar novos direitos e mais liberdade. Hoje, são milhões de

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pessoas implorando para serem exploradas pelo capital, e os capitalistas respondem com a mais cruel exclusão e manipulação social.

Não há previsão de seu término com a hegemonia do império norte-

americano que age de forma unilateral em todos os acontecimentos e eventos internacionais. Haja vista suas recentes intervenções no Afeganistão e no Iraque (neste, inclusive, sem o apoio do Conselho de Segurança da ONU) e a maneira como, através de Israel, sustenta no Oriente Médio um dos maiores genocídios: étnico, religioso e racial do planeta.

A partir da economia política marxista, a burguesia, ainda, na economia mundo do capitalismo adotou a escola da economia política neoclássica ou marginalista e a transformou em neoliberal (após as revoluções mundiais de 1968). Essa é, hoje, a escola cujas disciplinas são ensinadas nas universidades do sistema mundo do capitalismo.

Além de Marx e Engels, a economia política marxiana teve outros grandes pensadores como: Bernstein, Rosa Luxemburgo, Bukharim, Lenine, Hilferding, Plekhamov, Kautsky, Mão Tse Tung, Dobb, Baram, Sweeze, Lange , Fidel Castro e, no Brasil, Caio Prado Junior e Florestan Fernandes. Hoje, um dos grandes filósofos e economistas marxista é o húngaro Istvan Meszáros.

Em 1945, na pós-segunda guerra mundial, destaca-se a escola da economia política neoclássica ou marginalista com Keynes, Wicksell, Marshall e Walras para, em seguida, na Alemanha, tomar corpo a escola de economia política histórica a partir dos estudos de Menger, Jevons, Wieser e Bohm-Bawerk da escola austríaca. Destacam-se, a partir da escola histórica e da escola austríaca os pensadores da economia política conhecidos como: Pareto, Weber e Sombart.

Sob influência da escola marxiana surgiu a teoria do desenvolvimento econômico formulada por Schumpeter, também procedente da escola austríaca. Ainda, na tendência da escola histórica surge a escola institucionalista com Veblen, Mitchell, Commous, e quiçá Robinson e Kalecki.

No período da guerra fria, surgem grandes pensadores econômicos como são exemplos: Berle, Means, Mandel, Leontief, Kuznets, Friedman, Myrdal, Galbraith, Sem, Stiglitz e, no Brasil, Celso Furtado, e na Argentina, Prebisch.

Contemporaneamente, têm-se vários economistas que receberam o Prêmio Nobel quase todos ligados à economia quantitativa e teoria dos jogos muito divulgados nos Estados Unidos e que vivem e trabalham em suas universidades com destaque para John Nash, Lipsey e Lancaster com o teorema do segundo melhor.

No capítulo sobre Teorias do desenvolvimento e subdesenvolvimento se mostram, nestes Textos, as idéias de outros pensadores, voltadas para as ciências sociais, particularmente, da economia política em seu viés desenvolvimentista.

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Após esse breve intróito sobre as escolas da economia política, tratar-se-ão, agora, as principais categorias da ciência economia política com vistas a permitir ao leitor contextualizá-las a fim de formar sua base de conhecimento. Para tanto, é conveniente que ele não somente conheça as categorias aqui apresentadas, mas também não confundam princípios com valores e tenham um mínimo de conhecimento sobre: métodos ou metodologia; lógica e técnica e, fundamentalmente, da epistemologia para construir sua base de conhecimento. Leis da economia política

Na economia política, em geral, tem-se conhecimento de três tipos de

leis econômicas: as leis causais, cujas relações se dão sempre com determinado fato como efeito no tempo onde o fato anterior (causa) induz um fato posterior (efeito); as leis de concomitância, quando as relações entre dois ou mais fatos surgem ou aparecem constantemente juntas e que são normalmente chamadas de “leis estruturais”, por formarem estruturas regulares, e as leis funcionais, quando as relações entre os fatos permitem serem mensuráveis quantitativamente por funções matemáticas, que dão origem aos modelos e funções econométricas. Igualmente, tanto as leis de concomitância como as leis funcionais podem ser apreendidas e contextualizadas, também, como leis causais, que são as leis fundamentais da economia política.

Na controversa contextualização das leis na economia política, existe uma gama de estudiosos que fazem distinções entre “leis de economia política”, reflexos adequados das leis da economia, e “leis econômicas”, pelo caráter estocástico ou de prever as probabilidades (estatísticas) e possibilidades como se apresentam. Não obstante os diferentes enfoques e contextualizações, a quase totalidade dos economistas concorda que as leis econômicas são independentes da consciência e da vontade dos humanos, ou seja, se os humanos têm ou não consciência delas e de suas causas e efeitos.

Segundo Marx “os homens não são livres árbitros de suas forças produtivas – que são a base de toda sua história – porque toda força produtiva é uma força adquirida, produto de uma atividade anterior.”

Essa visão marxista é ampliada por Engels, citado por Lange, da seguinte maneira: “... na história da sociedade, os fatores atuantes são exclusivamente homens dotados de consciência, agindo com reflexão ou com paixão, e perseguindo objetivos determinados; nada é produzido sem desígnio consciente, sem fim desejado (...) só raramente se atinge o objetivo colimado; na maioria dos casos, os numerosos objetivos perseguidos se entrecruzam e se contradizem, ou são eles mesmos a priori irrealizáveis, ou ainda, os meios para realizá-los são insuficientes. É assim que os conflitos das inumeráveis vontades e ações individuais, criam no domínio histórico, um estado inteiramente análogo aos que se encontram na natureza inconsciente. Os objetivos das ações são desejados, mas os resultados que surgem realmente dessas ações não o são,

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ou, se parecem, a princípio, corresponder ao objetivo em vista, têm finalmente conseqüências diferentes das que se pretendia. Assim os acontecimentos históricos se apresentam, de maneira geral, como dominados também pelo acaso. Mas sempre que o acaso parece dominar na superfície, na realidade está sob o império de leis internas ocultas, e basta descobri-las”.

As leis econômicas do comportamento humano ou do entrelaçamento das ações humanas decorrem das necessidades técnicas e materiais no processo de produção, isto é, quando os humanos a partir de estímulos são incitados a realizar os objetivos da atividade econômica colimada.

Ainda, segundo Engels, citado por Lange, “a natureza também (...) percorre uma história efetiva (...) as leis da natureza modificam-se da mesma forma. Todavia, as mudanças que se dão na natureza são muito lentas comparadas com as mudanças que se verificam na história da sociedade humana e, por conseguinte com as condições de modificações de ação das leis econômicas. Essas condições mudam de uma época para outra.”. A economia política, como diz Engels, “... trata de matéria histórica, isto é, em transformação constante; ela estuda em primeiro lugar as leis próprias de cada fase da evolução da produção e da troca... é por esse motivo que as leis econômicas não são de alcance universal, abrangendo todos os estágios do desenvolvimento social, mas sim leis históricas, relativas a níveis definidos de desenvolvimento e desaparecem quando passa para o nível seguinte”.

O que se chamam leis econômicas não são leis eternas da natureza, mas leis históricas que surgem e desaparecem.

No processo da ação recíproca entre os humanos e a natureza que se materializa no processo de produção de bens e serviços, pode-se, para fins didáticos, explicitar três tipos de leis estudadas pela economia política: o primeiro, são as leis das relações de produção e as correspondentes relações de distribuição onde às ações se limitam pela formação social historicamente definida como é exemplo a lei da formação da taxa de lucro; o segundo trata das leis do comportamento humano e do entrelaçamento das suas relações expressa nas conhecidas leis: do valor; da oferta e da procura e da formação dos preços, e o terceiro tipo, são as leis que resultam da ação da superestrutura sobre as relações econômicas, ou melhor, as derivadas da ação recíproca da superestrutura, como por exemplo as leis que estabelecem o status quo no comércio mundial, as do papel-moeda ou meios de pagamento, as do controle do câmbio, a moeda ouro, o protecionismo alfandegário, etc.

Com respeito ao metabolismo do capital há que se levar em conta a lei que estabelece a taxa de uso decrescente no capitalismo, ou seja, o decréscimo de vida útil da mercadoria ou de suas horas de uso. Em outras palavras busca-se sempre aumentar a produtividade do trabalho com vistas, também, ao maior obsoletismo da mercadoria e, em conseqüência, sua maior vendabilidade. Essa lei do capital afeta negativamente as três dimensões da produção e do consumo no capitalismo, a saber:

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Bens e serviços Instalações e maquinarias A própria força de trabalho.

Está imbricada a taxa de uso decrescente no capitalismo o que se conhece como obsolescência prematura, subutilização crônica, ciclo curto de amortização e ociosidade do capital tanto em nível da empresa quanto da sociedade. A sua manifestação mais nociva à sociedade está no desemprego em massa pela substituição do trabalho vivo pelo trabalho pretérito (produtividade do trabalho) e intensidade do trabalho nos processos de produção que leva a criação da força de trabalho supérflua ou ao vulgarmente conhecido desemprego estrutural. Da lei de formação da taxa de uso decrescente no capitalismo resulta a linha de menor resistência do capital que leva a produção destrutiva do capital que a partir do relacionamento com o estado, a doar alto significado ao chamado complexo militar-industrial que se transforma no agente todo poderoso das contradições do capital em seu processo de desumanização ou inumanização. No dizer de Meszáros “o resultado positivo dessa interação dialética entre produção e consumo está muito longe de ser seguro, já que o impulso capitalista para a expansão da produção não está necessariamente ligado a necessidade humana como tal, mas somente ao imperativo abstrato da ‘realização’ do capital ... pela transformação radical da produção genuinamente orientada para o consumo em destruição”.

Trabalho e alienação

Por viver em sociedade, ser dotado de conhecimento reflexivo e produzir bens econômicos e serviços para satisfação de suas necessidades (infinitas), o ser humano foi obrigado a trabalhar. O trabalho tem, por isso, um caráter social, podendo ser: produtivo e não produtivo, abstrato e concreto, vivo e pretérito.

O trabalho produtivo é aquele que se dá no processo de produção de mercadorias, nas organizações empresariais ou não, capazes de satisfazer necessidades humanas e econômicas, e o não-produtivo é aquele ligado aos meios de distribuição das mercadorias (serviços) e das atividades institucional-administrativas.

Em quaisquer circunstâncias, o trabalho tem sua gênese no processo econômico de produção de mercadorias (produtos e serviços) pela relação ser humano – coisa – ser humano ou, ainda, sujeito – objeto – sujeito.

O trabalho pode ser abstrato, isto é, um dispêndio da força de trabalho humana pura e simples, capaz de criar ou de doar valor a quaisquer atividades

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cujo fim seja transformar um bem livre em um bem econômico, e concreto, quando esse mesmo dispêndio tem utilidade, “trabalho útil”, cujo resultado é a criação do valor de uso do bem econômico. O caráter objetivo de um e do outro é puramente social e, portanto, político.

Os marxistas enfatizam que só por meio da troca de mercadorias (valor de troca), o trabalho privado que as produziu se torna social, isto é, a equalização do trabalho como abstrato só ocorre por meio da troca dos produtos desse trabalho. Essa é a razão de o trabalho, tanto abstrato quanto concreto, no processo de produção, doar ao produto seu valor e seu valor de uso desde o seu começo pela intencionalidade de produzi-lo.

O trabalho vivo é aquele dispêndio de energia humana que se dá no próprio processo de produção de bens e serviços de forma direta pelo vendedor de força de trabalho. O trabalho pretérito, morto ou passado é aquele dispêndio de energia humana acumulada, incorporada e materializada nos bens de produção, isto é, máquinas, equipamentos, edificações, infra-estrutura, etc., que, no processo de produção, é transferido ao produto.

Muitos economistas fazem, alusão ao trabalho doméstico como produto da mais valia para o capital na medida em que é uma mercadoria específica ou força de trabalho e, portanto, equivale a uma “fábrica capitalista” com um detalhe que as donas de casa não são assalariadas, logo essa modalidade de trabalho, é historicamente, em sua essência, uma brutal forma de opressão sobre o gênero feminino.

Para uma melhor compreensão da assertiva acima, é necessário que se entenda a categoria força de trabalho como “atributo dos seres humanos vivos que são mantidos pelo seu próprio consumo de valores de uso, alguns dos quais produzidos pelo trabalho doméstico”.

O conceito de trabalho socialmente necessário é, segundo Marx, “o tempo de trabalho socialmente necessário à produção de qualquer valor de uso sob condições de produção normais em uma determinada sociedade e com o grau médio de habilidade e de intensidade de trabalho predominantes nessa sociedade”.

Alienação do trabalho, segundo Marx, “se manifesta por uma parte porque meu meio de subsistência pertence a outro, porque o objeto do meu desejo é o bem inacessível de outro e por outra parte, porque toda coisa é em si mesma outra que ela mesma, porque enfim – e isto vale igualmente para o capitalista – em geral domina o poder inumano”.

Epistemologicamente, esse processo de alienação do trabalho se expressa por dois modos distintos: o primeiro, pela forma ativa de o ser humano ter que trabalhar (sob esse ângulo, o trabalho humano é a principal forma de alienação), o segundo, o ser humano é educado para aceitar o trabalho como essência de sua existência social e não como forma histórica e circunstancial da alienação. À luz desse ponto de vista tanto o trabalho quanto a educação são fatores essenciais do processo de alienação dos humanos. O ser humano, por natureza livre e

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consciente, passa a ser uma coisa que trabalha e aceita ser educado no trabalho para sua existência, desumanizando-se como parte de sua natureza humana pela falsa consciência de si mesmo.

Nas palavras de Marx, “a alienação (...) é a oposição entre o em si e o para si, entre a consciência e a consciência em si, entre o objeto e o sujeito”.

Todo o processo de alienação do trabalho surge com a invenção ou criação humana da propriedade privada (quando do ponto de vista da ética os humanos perdem sua dignidade na medida em que cria, também, uma lógica de vencedores x vencidos, exploradores x explorados, conquistadores x conquistados, etc.). Esse fato transforma sua força de trabalho em mercadoria em contraponto à primitiva propriedade tribal ou comunal onde ela era livre como, ainda, se vê na Amazônia em algumas tribos indígenas.

Daí Marx acentuar, “o operário se converte em mercadoria tanto mais vil quanto maior é a quantidade de mercadoria que produz. A desvalorização do mundo humano cresce em relação direta com a valorização do mundo das coisas”. Afirma, ele, em sua crítica aos clássicos, ”a economia política oculta a alienação que está na essência do trabalho”. Este perde todo o caráter de necessidade humana e a consciência de si. O ser humano projeta-se e satisfaz-se em seu produto, que não é mais seu como não é a sua própria força de trabalho que passa, em toda sua vida, a resumir-se em gastar e recompor sua força de trabalho que foi obrigado a alienar.

O ser humano não aliena ou vende apenas sua força de trabalho, aliena-se ou vende-se, a si próprio, por inteiro tanto pelos processos de trabalho quanto pelo processo de produção de bens e serviços sob a égide do processo de educação que o domestica para a alienação. Bens e mercadorias

O conceito de bens leva o leitor a meditar que são todas as coisas ou

objetos que são úteis e próprios para satisfazerem necessidades humanas. Os bens podem ser classificados como: bens livres e bens econômicos. Os bens livres são aqueles que não tem valor, valor de uso e valor de troca, portanto não são mercadorias, como são exemplos: o ar atmosférico, os oceanos, as águas das chuvas, o clima, a natureza como um todo, etc. Já os bens econômicos são dotados de valor, valor de uso e valor de troca na medida em que são resultado da intervenção humana na natureza com vistas a produzir suas próprias condições materiais de existência, ou seja, são mercadorias. Estas são pela atividade humana dotadas de: valor, valor de uso e valor de troca, tanto pelo trabalho concreto, quanto pelo trabalho abstrato, ou, ainda, pelo trabalho vivo e pelo trabalho pretérito ou material das máquinas. Os bens econômicos são também classificados como:

> Bens de consumo

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> Bens de consumo duráveis > Bens de produção ou bens de capital > Bens intermediários ou insumos. Todo bem econômico é necessário e obrigatoriamente uma mercadoria.

Esta pode ser conceituada como a forma que o produto (quando de sua produção) é mediado pela troca e, portanto, é propriedade de um agente particular (empresa ou célula base da atividade econômica), que tem o poder de dispor dele e de transferi-lo para outro agente. Claro que esse agente pode ser também a família. Esta é a essência, da empresa e a organiza onde se dá não somente o processo de produção, mas, principalmente, o processo incessante de acumulação de capital.

No âmbito das mercadorias, duas delas assumem características especiais, a primeira é à força de trabalho (geradora de mais valia). A segunda, o dinheiro ou moeda, que, pelo valor de troca, estabelece a mediação das diferentes mercadorias no mercado através do preço, isto é, tem a capacidade de transformar o custo de produção ou valor em preço. Também, a mercadoria-dinheiro ou moeda dá origem ao capital, que é o valor que se expande através do processo de produção e da troca. Daí Marx conceituar capital como uma forma da mercadoria-dinheiro que tem fundamento na existência de um sistema de produção de mercadorias e na emergência de forma monetária no valor. Já a mercadoria força de trabalho se apresenta na troca em forma de salário. Hoje, o próprio capital se transforma em mercadoria quando tem um preço (a taxa de juros) e é trocado no mercado financeiro. Note-se que na conceituação de mercadorias torna-se explícito o próprio conceito de mercado como o lócus onde se procedem as trocas. Teoria da mais valia

Essa teoria se explicita na forma específica pela qual se processa a

exploração da força de trabalho sob o modo de produção capitalista onde a “liberdade” da venda da força de trabalho que, sendo humana é criativa por doação do conhecimento reflexivo. Ela é capaz de produzir um valor adicional jamais pago por um salário, por mais justo que ele seja.

O excedente econômico (sobretrabalho, sobreproduto, etc.) advindo do trabalho não-pago, em geral, no processo de produção, toma a forma de lucro. Tanto o lucro quanto o salário são faces que assumem o trabalho excedente e o trabalho socialmente necessário quando estão sob o jugo do capital. Tanto um como o outro se expressa em dinheiro ou moeda, que é a forma objetificada do trabalho humano, pela troca de sua força de trabalho no processo de produção onde o conceito de mais valia ou trabalho não-pago torna-se crucial e relevante.

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O produto resultante da venda da força de trabalho humana, em geral, é apropriado pelo detentor do capital (capitalista). Obtém-se mais valia da diferença entre o valor advindo do trabalho abstrato, imbricado ao produto, e o valor do capital envolvido em seu processo de produção. Este é constituído pelo capital constante ou bens de produção, transferidos ao produto, e pelo capital variável expresso pelo salário que o trabalhador recebe na troca ou venda de sua força de trabalho no dito processo.

Segundo Bottomore, “o capital variável é assim chamado porque sua quantidade varia do começo ao fim do processo de produção; o que no início é valor da força de trabalho ao término é valor produzido por esta força de trabalho em ação. A mais valia é a diferença entre esses dois valores: é o valor produzido pelo trabalhador que é apropriado pelo capitalista sem que um equivalente seja dado em troca. Não há, aqui, uma troca injusta, mas o capitalista se apropria dos resultados do trabalho excedente não- pago”.

Sendo o consumo da força de trabalho o próprio trabalho, sob condições de abstrato e concreto ou útil, na produção de mercadorias, a força de trabalho torna-se, ela própria, a mercadoria. Ela tem a propriedade específica e única de ser capaz de criar valor, além de sua remuneração, que é a essência do trabalho não-pago ou da mais valia oriunda do processo de produção de mercadorias e serviços no modo de produção capitalista.

Bottomore em seu “Dicionário do pensamento marxista” mostra que “os trabalhadores são explorados não em função de uma troca injusta no mercado de trabalho, já que eles vendem sua força de trabalho pelo valor que ela tem, mas devido às sua posição de classe que os leva a entrar no processo de produção capitalista no lugar onde a exploração efetivamente ocorre”.

No modo de produção capitalista, os trabalhadores, na prática, não são livres para não vender sua força de trabalho. O sistema em que se inserem, não lhes permite possuir outro meio de sobrevivência salvo quando transgridem e apelam para a violência do roubo ou da expropriação de excedentes das pessoas comuns ou daqueles que os escravizam com a ilusão do livre arbítrio de serem livres para trabalhar ou não. Daí Marx concluir sobre a dupla liberdade que resta ao trabalhador: “a liberdade de vender sua força de trabalho ou a liberdade de morrer de fome”.

Marx, ao criar a teoria da mais valia no modo de produção capitalista, através de sua monumental obra, que é “O capital”, chegou a estabelecer a taxa de mais valia expressa pela relação entre o montante ou o somatório do excedente produzido, no processo de produção, sobre o capital variável dispendido no mesmo, ou ainda, pela equação:

Trabalho excedente_ = horas dispendidas pelo trabalho para o capitalista____ Trabalho necessário horas dispendidas pelo trabalhador para autoconsumo

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Em sua teoria, Marx explicita não somente o conceito de mais valia como a subdivide ou a diferencia em: mais valia absoluta e mais valia relativa. Como mais valia absoluta, ele mostra a taxa de mais valia ou de exploração à luz do conceito de intensidade do trabalho ou do aumento, no processo de produção, do valor total produzido por cada trabalhador, em uma unidade de tempo, sem alteração do montante de trabalho socialmente necessário. Já a mais valia relativa é conceituada e explicada pela produtividade do trabalho, cujo objetivo é reduzir os custos individuais do capital variável na força de trabalho, também por unidade de tempo, há necessariamente, substituição de trabalho vivo por trabalho pretérito a partir da inovação tecnológica substitutora de força de trabalho, em geral, via mecanização ou robotização no processo de produção de mercadorias. O valor e suas teorias

Entre os conflitos teóricos das diferentes escolas da economia política

um dos mais importantes é aquele que trata das teorias do valor. São duas fundamentais: a teoria do valor-trabalho (concepção dos clássicos, criticada e aperfeiçoada por Marx) e a teoria do valor-utilidade formulada pelos neoclássicos, ou ainda, pela escola marginalista de Keynes.

Essa polêmica ou conflito apresenta-se pelo fato da economia política diferenciar-se de todas as demais ciências sociais pela sua probabilidade e possibilidade de ser quantificada. Esse atributo as outras ciências sociais ou humanas não têm, ou seja, expressam-se de forma qualitativa por relações simétricas, assimétricas, iguais, desiguais, de cooperação, de antagonismo, de comparação estatística, de percepção, de emoções, de atitudes, etc.

A probabilidade/possibilidade de quantificação que tem a economia política, como ciência, decorre exatamente da lei do valor seja ela explicada por quaisquer umas das duas teorias. Essa diferença é que faz o valor econômico ser padrão de medida e fundamento científico da economia política.

Pode o leitor indagar sobre o que vem a ser essas duas teorias do valor e quais as suas importâncias? Essa pergunta pode ser respondida, de forma sinótica, da seguinte maneira.

Em toda atividade econômica de produção, segundo a teoria do valor-utilidade, cria-se valor que reflete o grau de satisfação ou de atendimento a uma utilidade. Essa é a razão que os humanos entre si e o meio ambiente atribuem valor aos objetos e aos serviços na medida em que satisfazem necessidades humanas. Na teoria do valor-trabalho o sentido de valor é doado não pelas relações dos humanos com as coisas ou meio ambiente, mas, sim, dos humanos entre si pelas relações sociais na atividade econômica, isto é, pelo tempo de trabalho produtivo (vivo e material) na produção dos bens econômicos.

Pode-se dizer que a teoria do valor-utilidade parte das relações entre necessidades humanas e os serviços ou objetos que as satisfazem

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(comportamento subjetivo). Por essa razão, o valor utilidade se interessa pela forma como as pessoas experimentam suas necessidades. Por isso, colocam o consumidor no centro do sistema ou em um pedestal com a apologética da sua soberania. É o rei do atual e insustentável consumismo de utilidades e inutilidades econômicas, principalmente, nos países chamados desenvolvidos pelas vias da manipulação da vontade do próprio consumidor, pelo marketing, imagem de marcas, propagandas subliminares e outros procedimentos, legais e ilegais, pela mídia falada, escrita, televisiva, cinematográfica e pela Internet. Galbraith em seu livro “O novo estado industrial” mostra como os capitalistas, para maximizar os seus proveitos no consumismo fazem a apologética da “sua majestade o consumidor”, do “rei do mercado”, do “mercado sabe de tudo”. Essas e outras atitudes inconseqüentes são divulgadas e propaladas pela mídia como se a economia política global fosse capaz de sustentar o consumismo de mais um Estados Unidos da América. Sua economia é comprovadamente insustentável, sem que haja a extorsão e o saque das economias dos chamados países em desenvolvimento ou periféricos a ele e ao G7. Não vêem que a natureza não suporta e que tende a saturação de sua exploração pelo consumismo de utilidades e, principalmente, de inutilidades econômicas.

A teoria do valor-trabalho parte da idéia da economia ou atividade produtiva ser essencialmente coletiva e jamais individual pelo corte transversal da divisão social do trabalho. Claro que há na economia, como um todo, atividades particulares que as pessoas fazem ou produzem. Outrossim, estão imbricadas a outras atividades coletivas. Tanto, isso é verdade que um professor ou outro qualquer profissional liberal têm suas funções reconhecidas na medida em que existe outra atividade coletiva decorrente da divisão social do trabalho. O seu valor se expressa pelo produto social da atividade coletiva de toda a sociedade em que vive. Essa objetividade do valor pode ser medida e qualificada.

Vale salientar que as duas teorias, em discussão, têm enfoques diferentes quanto ao produto social. Enquanto a do valor-utilidade o entende como somatório de cada um dos bens segundo mudam as preferências, expectativas e gostos, a do valor-trabalho afirma ser ele determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário gasto na produção de cada um deles. Em tese a teoria do valor-trabalho trata da transformação de bens livre em bens econômicos, ou seja, todo trabalho que não é socialmente necessário não tem valor, logo todo valor é resultado de um trabalho humano. A forma como se exprime mascara sua utilidade, isto é, o segredo da sua realização. O produto do trabalho e sua utilidade não falam da condição de o humano ser escravo ou livre para produzi-lo. A teoria do valor-trabalho explicita a lógica que regula o processo de produção em cada modo de produção.

Uma análise acurada de ambas as teorias mostra a teoria do valor-utilidade como a - histórica pelo princípio de ser a atividade econômica sempre

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idêntica. Para sua lógica todo e qualquer indivíduo que esteja desempregado é porque preferem o ócio à pequena remuneração que pode auferir em atividades outras de baixa remuneração ou biscates. Tende a justificar a manipulação econômica pelos reflexos condicionados e serve para escamotear e ocultar a exploração do trabalho ou do “homem pelo homem”.

A teoria do valor-trabalho é histórica não somente por definição, mas pela sua doação de sentido. Toda ampliação e amplificação da atividade econômica são, no conjunto da humanidade, reveladas pela teoria do valor-trabalho que mostra o surgimento do valor a partir da lógica do processo de trabalho no processo de produção. Revela, portanto, que o sujeito é produtor social como indivíduo inserto na divisão social do trabalho nos diferentes modos de produção surgidos na história da humanidade salvo no comunismo primitivo ou tribal onde todos os humanos eram coletores e caçadores sem que houvesse quaisquer divisões sociais de trabalho. Naquela época os humanos tinham um “dominante” ou líder que poderia ser um homem grande ou um grande homem. A primeira divisão social do trabalho dá-se, no processo civilizatório, com a criação da agricultura e, em conseqüência, da propriedade privada.

A categoria econômica de excedente econômico é, também, enfocada diferentemente por ambas as teorias. Para a teoria do valor-utilidade é a renúncia do consumo imediato em favor de um consumo futuro denominado poupança. O sacrifício de poupar é compensado com uma remuneração que é chamada de taxa de juros. Para a teoria do valor-trabalho o excedente social é fixado e medido de acordo com o tipo de sociedade que se analisa, ou seja, é essencialmente histórica. O mais importante é que a teoria do valor-trabalho explica a evolução do excedente econômico-social pelo incessante crescimento da produtividade do trabalho. Sua visão é macroeconômica e holística na medida em que trata a economia política como um todo e não pelas suas partes como, por exemplo, a economia da firma, a micro economia. A teoria do valor-trabalho incorpora na sua lógica importantes contribuições da teoria do valor-utilidade sem sacrificar a sua coerência, embora a recíproca não seja verdadeira pela bruta incoerência do valor-utilidade que é essencialmente niilista quando defendida pelos seguidores da escola marginalista. Tal procedimento dos defensores do valor-utilidade talvez negue o valor-trabalho com o propósito de escamotear, negar e encobrir e difamar a luta de classes, a alienação do trabalho e a exploração do capital pelos capitalistas sobre os trabalhadores em geral. Valor e processos de trabalho

Na visão marxista a teoria do valor-trabalho não só designa os efeitos e

as lógicas sociais da produção (pondo em causa toda estrutura econômica da sociedade), mas também, interpreta os fenômenos manifestos no mercado. Podem eles ser os preços, as rendas ou os termos das trocas no âmbito do país e, principalmente, no âmbito mundial ou internacional. Para melhor explicar os

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processos de trabalho ou as lógicas da produção busca-se de forma andragógica explicitar-se o conceito de mais algumas categorias da economia política:

a) Valor. É o fundamento de toda e qualquer concepção que se ajusta

para explicar a produção de mercadorias e, como tal, o dinheiro, o capital e a própria dinâmica dos modos de produção pré-capitalistas, capitalista e socialista de estado em vigor na China, na Coréia do Norte, no Vietnã e em Cuba. Para Marx, segundo Bottomore, “o valor de uma mercadoria expressa a forma histórica particular do caráter social do trabalho sob o capitalismo, enquanto dispêndio de força de trabalho social. O valor não é uma relação técnica, mas uma relação social entre pessoas que assume uma forma material específica sob o capitalismo, e, portanto aparece como uma propriedade dessa forma”

b) Valor de uso. É a mais simples forma do valor e que aparece, com toda sua essência, nas sociedades em que a troca não existe ou se dá de maneira muito rudimentar. Outrossim, o valor de uso estar presente em todo e qualquer bem econômico em função da utilidade que cada produto possui. Sobre essa categoria, Marx faz o seguinte resumo: “não percebo a base de ‘conceitos’ e, portanto, também não a partir do ‘conceito de valor’... Parto da mais simples forma social na qual o produto do trabalho na sociedade contemporânea se manifesta, que é a ‘mercadoria’. É isso que eu analiso, e, em primeiro lugar, para estar seguro, na forma em que ele aparece. Ora, verifico a essa altura que ele é, por um lado, em sua forma natura, uma coisa de valor de uso e, por outro lado, que é portadora de valor de troca desse ponto de vista. Através de uma análise mais aprofundada deste último, descobri que o valor de troca é apenas uma ‘forma de aparência’, um modo independente de manifestação do valor contido na mercadoria. Em seguida abordo a análise desse valor”. Sem dúvida, o valor de uso circula, nos diferentes modos de produção, sem, entretanto, se concretizar como forma propícia à depuração das trocas

c) Valor de troca. “É uma forma bem mais desenvolvida e complexa que o valor de uso” no dizer de Fossaert. Sob essa forma cada produto conserva as suas características aparentes, entretanto, a quantidade de valor de troca a ele incorporado varia de uma a outra mercadoria qualificando todas indistintamente na medida em que assume um valor que exprime o tempo de trabalho socialmente necessário. Este é equalizado ou mediado pelo valor de troca podendo ser trocado em quaisquer transações mercadológicas. As lógicas da produção, ainda segundo Fossaert “torna-se uma função social ambígua: persegue três fins distintos que nem a sua prática, nem o seu conceito podem unificar perfeitamente. A produção de objetos úteis, a produção de lucros e a produção de mais valia (que formam) três círculos excêntricos que girariam indefinidamente sem jamais poderem coincidir. A produção de mais valia estar no cerne do sistema: qualquer capital que emprega trabalho assalariado na produção de mercadorias assegura produção como essa. Mas a mais valia não é realizada, isto é, não é convertida em lucros efetivos, que se possam distribuir

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ou reinvestir, senão a partir do momento em que as mercadorias são vendidas”, ou seja, quando o valor de troca se realiza. “Os capitais empregados na centralização dos capitais (bancos) participam da partilha da mais valia, na mesma qualidade que os capitais empregados na produção em que essa mais valia se cria”.

Entendidas essas breves considerações pode-se, agora, assinalar as

formas da organização concreta dos processos de trabalho, nos diferentes modos de produção, da mais simples a mais complexa, ainda segundo Fossaert:

> Trabalho isolado

> Trabalho coletivo > Trabalho coletivo concreto ou oficina > Sistema de trabalhos coletivos organicamente ligados numa mesma

empresa ou num mesmo grupo > Sistema dos trabalhos coletivos acima citados (b, c, d) sujeitos ao

domínio de um mesmo estado, ou economia nacional >Sistema apresentado em e enriquecido pela regulação, pela ciência e

pela formação do trabalhador. Essa abordagem permitiu Fossaert analisar detalhadamente cada um

desses processos de trabalho, no conjunto da economia de um país e ir além do horizonte econômico que comanda a produtividade do trabalho, sinoticamente, explícita na seguinte imagem:

Uma suficiente coordenação das atividades sociais em jogo

Dinamizar a aplicação da ciência à produção

Ajusta a formação da mão de obra às necessidades da produção

Regulariza os mercados oferecidos a cada produção singular

Não inibida pelos acasos dos mercados

Dinâmica dos meios de trabalho

Dinâmica da organização do trabalho

Dinâmica da qualificação do trabalho

Produtividadedo trabalho X X

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Tal abordagem demanda que se explicite, também, o conceito da

categoria intensidade do trabalho para tornar-se inteligível. Segundo Fossaert “a intensidade do trabalho (que não deve ser confundida com sua duração) é a qualidade do esforço feito em dado tempo, numa produção e com um equipamento determinado.... Designa a qualidade do esforço físico e nervoso exigido do trabalhador, permanecendo iguais os demais fatores. ... A dialética da intensidade e da produtividade do trabalho é mais íntima que aquela que une esses dois fatores à duração do trabalho e a separação analítica desses diversos fatores corta necessariamente uma unidade viva”. As lógicas do valor

Retomando as lógicas do processo de produção e dos processos de

trabalho inclusive da eficiência do trabalho definida pela intensidade versus produtividade do trabalho procede-se, em forma de síntese, as lógicas do valor de uso, do valor de troca e do valor desenvolvimento conforme conceitua Fossaert.

Na lógica de valor de uso tem-se que a eficácia do trabalho é o resultado de sua duração e intensidade e a produção dotada de pequena variação na produtividade do trabalho. Já na lógica do valor de troca que é competidora e abrangente atinge tanto a duração e intensidade do trabalho quanto a sua produtividade. No dizer de Fossaert “a rentabilidade econômica e a oportunidade política limitam o domínio que o capital pode conquistar numa sociedade dada. O ascenso do movimento operário acaba por impor o teto da duração do trabalho e por conter mais ou menos a intensificação do trabalho. Por conseguinte, a produtividade do trabalho que, desde a origem, entra em progresso rápido, acaba por tornar-se o principal senão o único fator de crescimento da produção. Assim a lógica do valor de troca impele ao aumento incessante da produtividade do trabalho”. Em conseqüência há um aumento cada vez maior da exclusão social ou substituição do trabalho vivo pelo trabalho pretérito pela via da valorização do capital em detrimento do trabalho humano (trabalho vivo). Do ponto de vista da análise do metabolismo do capital tal fenômeno leva, sem dúvida, a nível mundial, a guerra dos ricos contra os pobres. Essa é a razão pela qual a burguesia coloca, no sistema mundo do capitalismo, todo o movimento sindical na contramão da história. Contemporaneamente, passa a valer os movimentos de resistência internacional para fazer frente à rapina dos detentores do capital financeiro na medida em que os sindicatos pouco ou nada influenciam na contradição trabalho (descartável e local) versus capital (mundializado, centralizado e concentrado).

Contribui para esse fato a formação técnica e científica de minorias da população e a ciência, como um todo, hoje privatizada pelo sistema mundial de patentes. A regulação e regulamentação desse processo não têm preço

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observável pelo dono do capital na medida em que aquelas formações são, em geral, gratuitas oferecidas pelo estado ou por ele subsidiada. Através dela qualifica e renova os meios e instrumentos de trabalho (cuja obsolescência é cada vez maior na sua utilidade) e cada vez mais modernos e revolucionários. Na prática o custo da formação técnica-científica resulta de impostos resultantes da mais valia de todos os demais trabalhadores, via capitalistas de toda ordem com os ganhos da produtividade do trabalho, hoje, cinicamente, divulgada e apregoada com o epíteto de competitividade. È sabido que não há relação entre os impostos pagos pelos capitalistas e os ganhos da produtividade e da intensidade do trabalho que eles obtêm das atividades sociais estranhas à produção e que os impostos financiam. Dessa maneira a lógica do valor de troca encobre aquilo que promove a força produtiva do trabalho social no mundo contemporâneo.

Fossaert mostra que “o tempo de trabalho socialmente necessário, que determina o valor de troca de um produto qualquer, se definirá como o tempo do trabalho vivo, de qualidade e intensidade médias, que é posto em ação, segundo uma organização do trabalho de eficácia média, e que se aplica a objetos e meios de trabalho que são por sua vez de qualidade média, por exemplo, a máquina cuja idade, o custo que resta amortizar e os desempenhos podem ser considerados como médios na produção em tela”. Portanto, segundo ele, o valor de troca une um quantum de trabalho e um conjunto de qualidades sociais médias que distinguem o trabalho socialmente necessário em termos de sua quantidade e do seu qualificativo. Em resumo, ele apresenta a seguinte lógica para o valor de troca:

a) Valorização do capital ao qual a produção está subordinada b) Impedimento à extensão dos trabalhadores efetiva pelo sistema

capitalista, ao prolongamento da jornada do trabalho e à intensificação do trabalho

c) Aumento incessante da produtividade do trabalho e aumento da mais valia relativa no total da produção

d) Aumento das forças produtivas sociais ou do capital social básico via formação, pesquisa e regulação

e) Indução da produção de valor de uso quando nos períodos de crise ou quando a produção de valor de troca estabiliza ou regride.

Toda essa lógica confirma a assertiva de Marx segundo a qual “a relação

geral - fundamental - entre o capital e o trabalho é a de cada um dos capitalistas com os seus trabalhadores”.

Para finalizar esses breves comentários sobre a lógica do valor, procede-se, agora, a contextualização sobre o que vem a ser valor desenvolvimento e sua lógica no pensamento de Fossaert. Para ele o valor desenvolvimento é uma síntese das três lógicas do valor, aqui, apresentadas. A título de hipótese ele

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conceitua, caracteriza e põe em discussão essa modalidade de valor em acréscimo àquelas contextualizadas por Marx. Essa modalidade de valor incorpora o tempo de trabalho socialmente necessário efetivamente pago pelo capitalista e efetivamente gasto no conjunto da sociedade. A ciência e a tecnologia como as mais sólidas formas de geração de riquezas, aparecem na lógica do valor desenvolvimento “como principal ramo da produção, o que assegura, por saltos qualitativos, o progresso dos demais ramos, isto é, sua aptidão para produzir mais, produzir melhor e produzir novos valores de uso. Progresso que se opera por saltos qualitativos, porque cada inovação científica, tecnologicamente adaptada modifica, por saltos descontínuos, a eficácia da força produtiva social. A formação aparece, na lógica do valor desenvolvimento, como outro ramo da produção que assegura, por um movimento contínuo, o ajustamento da oferta de mão de obra às necessidades de todos os ramos da produção e de todas as demais atividades sociais. A tomada em conta sistemática, em valor desenvolvimento, dessa função produtiva da formação, acompanha-se necessariamente de um efeito em retorno, benéfico para a formação: valor desenvolvimento ajuda a explicitar as adaptações que a produção e as demais atividades sociais devem sofrer para que a formação consiga qualificar melhor os homens”.

Após afirmar que “a humanidade sairá da lógica do valor, quando nenhuma coerção e nenhum cálculo serão mais necessários para garantir a produção de tudo àquilo de que ela tiver necessidade” ele assegura: “na lógica de valor desenvolvimento, a produção perde as suas fronteiras. A rigor, nenhuma atividade social é totalmente estranha à produção dos valores de uso – bens e serviços – que valor desenvolvimento libera de valor de troca e recentra sobre seu objeto primordial”. O corolário político dessa lógica é, segundo ele, a suposição de “que a sociedade se organize de modo que possa escolher a parte das atividades dos homens que é preciso dedicar – ou sacrificar – à produção e que, uma vez feita a escolha, uma organização conveniente se esforce por maximizar a eficácia do tempo de trabalho dedicado à produção”.

Nos debates sobre a exaustão dos recursos naturais pela violência que se comete contra a natureza, em particular contra sua biosfera, pelo consumismo nas sociedades chamadas desenvolvidas com maciças produções de lixo, entulhos e resíduos e pela poluição desenfreada e descontrolada, Fossaert entende que, “pertence à lógica de valor desenvolvimento controlar esses riscos, isto é, reorganizar a relação entre a sociedade e a natureza, moderar o uso dos recursos escassos, organizar a produção de sucedâneos apropriados, conter e eliminar as poluições”.

Vale lembrar que na sua contextualização sobre a lógica do valor desenvolvimento ele explicita que ela não implica no fim da exploração do homem pelo homem ou da alienação do trabalho. Apenas inaugura ou aponta para essa possibilidade não fazendo dela uma necessidade na medida em que a

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exploração está imbricada ao próprio metabolismo do capital. Explicita, ainda, que o valor desenvolvimento é uma hipótese que inspira a definição e conceituação da teoria do valor-trabalho às formas fundamentais das relações de propriedade. Especula ou teoriza que a hipótese de valor desenvolvimento está imbricada aos modos de produção estatal-capitalista e estatal-socialista.

Para melhor ilustra o conjunto de suas idéias apresenta-se dois quadros sinóticos por ele elaborados. O primeiro, com as três lógicas do valor e, o segundo, com a síntese de suas pesquisas sobre os modos de produção com suas respectivas lógicas do valor.

As três lógicas do valor VU

Valor de Uso VT

Valor de Troca VD

Valor de Desenvolvimento

O valor se concretiza em...

Produtos reais Mercadorias Produto social

O excedente ou sobretrabalho manifesta-se sob forma de...

Prestação de trabalho

Mais-valia Excedente socialmente regido

A capacidade de desenvolvimento econômico assinala-se por...

Forte dependência da natureza; crescimento nulo ou fraco e aleatório

Crescimento explosivo assinalado por crises; desvio das necessidades; domesticação e degradação da natureza

Crescimento canalizado

O horizonte econômico é...

Delimitado pelos ciclos naturais ou bélicas

Circunscrito pelas informações recebidas pelos preços mercantis e pelos impostos

Ampliado à tomada em consideração de todos os custos expostos em todas as atividades sociais

O trabalho apresenta-se como...

Produção de produtos materiais

Produção de lucros Produção proporcionada de valores de uso (bens e serviços)

A produção define-se como...

Produção de produtos materiais

Produção de lucros Produção proporcionada de valores de uso (bens e serviços)

As trocas organizadas...

Segundo grande variedade de formas

Segundo a forma uniformizante do

Segundo uma regulação

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não-mercantis mercado coordenadora de formas variáveis

MP1 MP2 MP3 MP4 MP5 MP6 MP7 MP8 VU O O O O O O VU-VT

O O

VT VT-VD

MP9 MP10 MP11 MP12 MP13 MP14 MP15 MP16 VU VU-VT

O O

VT O O O VT-VD

O O O

Convenções: MP1 – Comunitário MP2 – Tributário MP3 – Antigo MP4 – Camponês MP5 – Artesanal MP6 – Capitalista – mercantil MP7 – Escravista MP8 – Servil MP9 – Latifundiário

MP10 – Capitalista MP11 – Cooperativo MP12 – Estatal – capitalista MP13 – “Colonial” MP14 – Escravista – concentracionário MP15 – Estatal – socialista MP16 – Novo modo de produção socialista

VU – Lógica do valor de uso VU–VT – Transição de VU a VT VT – Lógica do valor de troca VT–VD – Transição de VT A VD VD - Lógica do valor de desenvolvimento

Capital e crédito

Em sua forma mais vulgar, capital é um bem que pode gerar um fluxo de renda para seu dono. Confunde-se com riqueza, com investimento, com aplicação financeira, com taxa de retorno, com pagamento de juros e ou com participação no lucro. A expressão, ainda em sua vulgaridade, pode ser entendida como qualquer bem de qualquer natureza que possa ser usado como fonte de renda. Daí se considerar a terra ou uma casa como capital, bem como,

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um conhecimento especializado como capital humano, etc. Ainda, na economia política vulgar, são conhecidos muitos epítetos de capital, como por exemplo:

a) capital fixo b) capital circulante c) capital comercial, capital industrial e capital agrário d) capital mercantil e) capital financeiro f) capital volátil ou capital especulativo g) capital fictício. Independentemente dos epítetos supracitados, o capital pode, na lógica

de Marx, ser caracterizado como capital constante e capital variável, para entender-se o que vem a ser mais valia e a composição orgânica do capital, que é a relação entre o capital constante sobre o capital variável somado a mais valia.

Em resumo, do ponto de vista de Marx, o capital é uma relação coercitiva que aparece como coisa, seja ela mercadoria ou dinheiro. Na forma de dinheiro compreende a mais valia (trabalho não-pago) acumulados no passado histórico dos modos de produção e apropriados pelos capitalistas no presente.

Em “Para além do capital” Meszáros diz que “na realidade o capital é, ele próprio, essencialmente um modo de controle, e não meramente um direito de controle legalmente codificado. Isto é verdadeiro independentemente do fato que, sob condições históricas específicas da sociedade capitalista, o direito de exercer controle sobre a produção e a distribuição seja ‘constitucionalmente’ atribuído a um número limitado de indivíduos, na forma de direitos hereditários de propriedades bem protegidas pelo Estado”. Ainda, segundo ele, “a questão da dominação do capital sobre o trabalho, junto com as modalidades concretas de sua superação, devem se tornar inteligíveis em termos das determinações material-estruturais das quais emergem as várias possibilidades de intervenção pessoal no processo de reprodução social”.

O capital não é uma coisa, mas uma relação social que toma forma de coisa no processo de produção onde se reproduz. Essa é a razão de em sua obra “O capital v.3 cap. XLVIII” Marx afirmar: “(...) o capital não é uma coisa, mas uma relação de produção definida, pertencente a uma formação histórica particular da sociedade, que se configura em uma coisa e lhe empresta um caráter social específico. (...) São os meios de produção monopolizados por certo setor da sociedade, que se confrontam com a força de trabalho viva enquanto produto e condições de trabalho tornados independentes dessa mesma força de trabalho, que são personificados, em virtude dessa antítese no capital. Não são apenas os produtos dos trabalhadores transformados em forças independentes – produtos que dominam e compram de seus produtores – mas

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também, e sobretudo, as forças sociais e a (...) forma desse trabalho, que se apresentam aos trabalhadores como propriedades de seus produtos. Estamos, portanto, no caso, diante de uma determinada forma social, à primeira vista muito mística, de um dos fatores de um processo de produção social historicamente produzido”.

Já o crédito é a promessa de pagamento futuro de um tomador de moeda pela cessão de uma capacidade de compra de uma pessoa ou organização que disponha ou empreste dinheiro. Nesse caso, o vendedor ou detentor de dinheiro ou outra mercadoria concede um crédito a um comprador, e ambos estabelecem uma nova relação, no mercado, como credor e devedor até que a promessa de pagamento seja cumprida. Quando o devedor paga por algo, transferindo dinheiro, tem-se, nessa mercadoria, seu papel de meio de pagamento. Note-se que nos sistemas modernos de crédito os débitos podem se compensar uns aos outros sem a presença ou intervenção do dinheiro. O crédito é, pois a substituição do dinheiro na circulação de mercadorias e na transferência de valor. Reduz os custos de manutenção do valor do dinheiro e acelera a rotação do capital. Pelo crédito cedido por um vendedor de mercadoria (dinheiro) a um comprador, estabelece-se na relação credor-devedor a categoria de juro, que é parte da mais valia que surge no uso do dinheiro para o processo de acumulação incessante do capital. Em determinadas formas o crédito se confunde com o que se convencionou chamar de capital fictício, que são as ações das empresas compradas e vendidas nas bolsas de valores. Outro exemplo de capital fictício é a dívida pública, que não corresponde a um investimento de capital e representa, apenas, uma parte fixa das receitas tributárias de um país. Outrossim, os mercados financeiros tratam à dívida pública como se fosse um investimento produtivo, e, por isso, estabelecem um valor de capital para ela em relação à taxa de juros sobre empréstimos.

No Brasil, em 1979, o Banco Central criou o Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC com o objetivo de tornar transparente e segura a negociação dos chamados títulos públicos. A SELIC identifica a taxa de juros que reflete a média de remuneração dos títulos federais negociados com os bancos ou sistema financeiro.

Para melhor inteligibilidade vale, aqui, fazerem-se breves considerações do que vem a ser imposto, moeda e sua relação com o estado.

O imposto ou tributo, como é sabido, se apresenta como um recolhimento compulsório que é sempre seguido de despesa. A moeda está ligada ao crédito. Ambas as categorias articulam a estrutura econômica da sociedade pela circulação do valor do qual são os principais instrumentos. Sabe-se, também, que o imposto ou o tributo precedem a moeda antes mesmo dela mediatizar o valor de troca das mercadorias. O imposto e o tributo por serem um conjunto de recursos que, em todas as épocas, após a criação das cidades, dos feudos e dos estados nacionais, sempre foi compulsoriamente recolhido da sociedade. Naquelas sociedades onde prevaleceu ou, ainda, prevalecem a troca

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de mercadorias, via moedas, o imposto ou tributo, recolhido pelo sistema fiscal, nutre o estado que se torna o principal redistribuidor da chamada renda nacional. Essa é a razão pela qual a receita e a despesa fiscal são os principais instrumentos dos estados para ajustar a economia nacional.

Foi pela multiplicação das trocas que a moeda passou a desempenhar o papel de equivalente universal em todas as relações de trocas e assumiu a forma dinheiro do valor.

O acompanhamento do crédito pelo capital mercantil, com a junção da moeda com o crédito, implicou no aparecimento de um novo poder social que é o banco e, conseqüentemente, o sistema financeiro para equilibrar dívidas por créditos entre as empresas e as pessoas. Por essa razão a moeda passou a ser o mais líquido dos títulos financeiros. Empresa capitalista

Ao consultar um bom dicionário certamente se encontra um conceito de que empresa é, em geral, empreendimento para realização de um objetivo, ou ainda, organização econômica, civil, comercial, constituída para explorar determinado ramo ou negócio a oferecer ao mercado bens ou serviços econômicos.

Igualmente, do ponto de vista da economia política, a empresa é a célula base da atividade econômica e, por ser complexa, contém em si, toda natureza e essência do modo de produção capitalista na medida em que tem imbricado o processo de produção de bens econômicos (riquezas) ou de serviços. Sem dúvida, a empresa tem sua gênese no processo histórico da evolução humana, como forma de uma atividade econômica com vistas a gerar ou criar excedentes, logo está inserta no princípio da racionalidade metabólica do capital.

Segundo Lange, “a empresa é um conjunto de humanos que se entregam, de uma forma sistemática, a uma atividade de criação de excedentes. (...) A empresa capitalista distingue-se pelo fato de os meios materiais que possibilitam a atividade criadora de excedentes (os meios de produção, os meios de distribuição ou todos os outros meios que prestam serviços) constituírem propriedade privada de uma pessoa ou de um grupo de pessoas (os capitalistas) que ajustam trabalhadores assalariados”.

Viu-se, anteriormente, que o modo de produção capitalista transforma a mercadoria força de trabalho em elemento de preço de custo (valor), expresso em unidades monetárias. Assim, realiza a total comensurabilidade dos meios e dos fins da atividade econômica a partir da empresa que, em sua complexidade, vai se expressar na principal força motriz do capitalismo, que é o lucro, nela totalmente mensurável. É na atividade econômica da empresa, para gerar excedentes, que acontece a necessidade de acumulação incessante de capital a

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partir da impiedosa necessidade da maximização e da otimização do lucro que a leva à categoria do poder.

Essa é a razão pela qual a racionalidade da empresa capitalista tem um caráter privado e não-social quando não serve a quaisquer objetivos que envolvem a totalidade da atividade econômica da sociedade. Por isso mesmo Lange aponta que: “a tendência para uma economia de pilhagem de força de trabalho e das riquezas naturais resulta do fato de a empresa capitalista não ter em conta a necessidade social da produção, nem da força de trabalho, nem das riquezas naturais, o que é a conseqüência do caráter específico das relações de produção capitalistas”.

Na forma como se conceitua a empresa, vale doar sentido ao termo empresário que pode ser definido como aquele ente humano (ou grupo de entes humanos) que a partir da riqueza ou de capitais seus ou emprestados, sob sua absoluta responsabilidade, toma decisões de produzir, comprar e vender bens econômicos. Assume os riscos de seus atos e, portanto, é o dono do lucro ou prejuízo advindo da atividade que se dá na empresa.

Por força metabólica do capital, o empresário e a empresa não se adaptam passivamente ao mercado e às regras e leis pré-estabelecidas. São dotados de atitudes e comportamentos ativos que crescem a partir da inovação tecnológica, do controle, dos atos de participação, da diferenciação dos produtos, da pressão sobre a clientela, etc., para se realizarem no lucro e no poder que movem o sistema do capital.

Voltando ao dicionário, o ledor ainda encontra, entre outros, os seguintes epítetos para a empresa capitalista: a) empresa de capital aberto; b) empresa de capital fechado; c) empresa de economia mista; d) empresa estatal; e) empresa multinacional; f) empresa transnacional; g) empresa pública; h) empresa prestadora de serviços; i) empresa sem fins lucrativos; j) empresa fantasma; l) individual; m) limitada; n) anônima; o) cooperativa; p) sociedade nome coletivo; q) sociedade comandita simples; r) sociedade capital indústria; s) sociedade comandita por ações; t) sociedade economia mista; u) sociedade civil sem fins lucrativos; v) fundação de direto privado; w) sociedade civil comunitária; x) empresa estrangeira; y) empresa física; e z) empresa laranja.

É na empresa que se dá o processo de produção e de acumulação incessante de capital e, em conseqüência, o conhecimento da natureza da riqueza e do capital. O conceito de riqueza está imbricado ao de utilidade na medida em que todo bem econômico (oriundo do processo de produção empresarial) é realizado para atender necessidades humanas ou econômicas segundo os marginalistas. Nesse contexto foi que Say concluiu que “a palavra produção em economia política... não é em absoluto uma criação de matéria, mas uma criação de utilidade”. A utilidade é, portanto, medida pelo valor de troca ou pelo preço da mercadoria.

Vale advertir ao leitor ou ao pesquisador que o tratamento disciplinar ou compartimentalizado da empresa levou-a para campos do pensamento linear ou

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cartesiano. Hoje, a empresa (célula base da atividade econômica) não é tratada à luz da economia política. É tratada de forma estanque e não-sistêmica pela microeconomia (teoria da firma) ou da economia da empresa sob o ponto de vista da ciência da administração, da técnica contábil, da engenharia de produção, dos psicólogos, dos sociólogos e dos juristas. Também, o planejamento estratégico é muito necessário e aplicado na empresa capitalista. Dificilmente, tem-se um estudo que trate da empresa capitalista de forma a se ver nela a totalidade do sistema mundo capitalista ou do metabolismo do capital a partir de suas contradições, particularmente daquelas referentes à:

a) Produção e consumo b) Produção e distribuição c) Produção e controle. A empresa é a entidade que transforma dinheiro em capital nos circuitos:

dinheiro – mercadoria –dinheiro e, ainda, mercadoria – dinheiro – mercadoria, onde a mercadoria força de trabalho está sendo vendida em troca de salário.

Na qualidade de empresa transnacional, a partir da revolução mundial de 1968, o vínculo existente entre os detentores do capital da empresa e o estado, que defendem seus interesses, no sistema mundo do capitalismo, a internacionalização do capital tem como resultado a ambigüidade da nacionalidade dos capitais. Seus interesses se tornam tão complexos que inviabilizam, ou desconstroem o estado nacional. É na empresa capitalista que se realiza ou se reifica a alienação do trabalho.

No seu livro “As conexões ocultas” Capra, tratando das metáforas da administração das organizações, distingue cinco importantes segmentos das empresas modernas: primeiro, a empresa como máquina voltada para a eficiência e o controle do capital via lucro e poder; segundo, a empresa como organismo para o desenvolvimento e a adaptação; terceiro, a empresa como cérebro, isto é, dotada de aprendizagem organizativa; quarto, a empresa como cultura, ou seja, imbuída de valores, crenças e ética, e, quinto, a empresa como sistema de governança frente aos conflitos de interesses (lucro e poder). Em seus estudos sobre os segmentos supracitados, Capra conclui por sugerir “que para superar a crise os administradores precisam mudar suas prioridades, de administrar empresas a fim de otimizar o capital para administrar empresas a fim de otimizar pessoas”. Excedente econômico e acumulação de capital

De maneira geral, na economia vulgar, entende-se como excedente

econômico a parte da produção que não é absorvida pelos custos ou gastos necessários à mesma daí os conceitos de imput e output (entradas e saídas de insumos de produção) dados pelos economistas norte-americanos ao processo de

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produção de mercadorias. Do ponto de vista da escola neoclássica ou marginalista o excedente econômico identifica-se como poupança ou todo e qualquer rendimento recebido por uma entidade (família, empresa, governo) que não é consumido. Segundo Keynes, o montante de rendimento em relação às necessidades normais de consumo é o elemento básico e essencial para explicar a poupança.

Do ponto de vista da economia política marxiana, o excedente econômico é o resultado do sobretrabalho ou sobreproduto oriundo da mais valia no processo de produção de mercadorias, dai as utilizações possíveis da mais valia em produtiva e não-produtiva. As formas de aumentar o excedente econômico se dão, pois, pela produção: i) de mais valia absoluta, quando aumenta o montante de trabalho humano gasto durante o ano sem se aumentar o salário ou pela intensidade do trabalho; e ii) de mais valia relativa pela existência da produtividade do trabalho, ou seja, inovação tecnológica no processo de produção de tal forma que haja substituição de trabalho vivo por trabalho pretérito para a confecção de determinado produto por hora de trabalho. Essa foi à razão de Marx ter conceituado a taxa de exploração pela proporção entre o trabalho vivo (capital variável -v) e a mais valia (mv) dada pelo quociente mv/v, que explica a mais valia absoluta, pela intensidade do trabalho ou mais valia relativa, pela produtividade do trabalho. Vale salientar que o capitalismo não suporta um excedente econômico “excessivo”, sob pena de promover conflitos bélicos mundiais na medida em que necessita de investimentos destrutivos através de corridas armamentistas para sustentação dos países hegemônicos ou capitalistas adiantados.

Já a acumulação incessante de capital é o processo pelo qual uma parte do excedente econômico é convertida em novo capital que se soma ao estoque anterior de que a sociedade é possuidora, ampliando sua capacidade de produção.

Na prática da economia política, existem duas abordagens sobre a acumulação de capital, a primeira é a marxista, que coloca a acumulação do capital em duas partes da mais valia, isto é: a mais valia consumida oriunda do capital variável e a mais valia acumulada, que se dá com a reprodução ampliada do capital que, segundo Rosa Luxemburgo, envolve dentro do sistema do capital parte não-capitalista, como são os gastos militares, que não são produtivos, mas que criam a demanda necessária a que a mais valia acumulada se realize. A segunda abordagem é a marginalista, que depende de dois fatores: da eficiência marginal do capital e da taxa de juros, entendendo-se o primeiro fator como perspectiva de rendimento de investimento novo que se localiza num acréscimo ao estoque de capital já existente. Já o juro passa pela renda auferida com o grau de risco que o crédito ou empréstimo implica. Daí Keynes deduzir que o investidor ou acumulador de capital sempre compra a eficiência marginal do capital (renda almejada) com a taxa de juros desprovida de riscos para seu investimento.

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No que toca à empregabilidade oriunda do processo de produção incessante de capital, Marx conclui: “o mecanismo da produção capitalista e de acumulação adapta continuamente esse número (de trabalhadores) e essas necessidades (de expansão de capital). O começo desse ajustamento é a criação de uma superpopulação relativa ou de um exército industrial de reserva, e o fim a miséria de camadas cada vez maiores do exército ativo e o peso morto do pauperismo”. Comprova essa assertiva de Marx a forte exclusão social, hoje, promovida pelas empresas transnacionais e vivida assimetricamente por todos os cidadãos do mundo, principalmente nos países pobres.

Outrossim, tanto na abordagem marxista quanto na keynesiana, o estado joga um dos mais importantes papéis no processo de acumulação incessante de capital na medida em que no sistema mundo do capitalismo é ele que regula o nível da acumulação e da empregabilidade do sistema. É o estado que mediante gastos não-reprodutivos faz com que a mais valia não consumida pela empresa capitalista seja realizada e convertida em mais capital regulando inclusive quem deve dela se apropriar.

As políticas econômicas: cambial, fiscal, monetária, salarial e de juros servem para tal fim. No Brasil, por exemplo, são os banqueiros e especuladores de toda ordem, os privilegiados pela política econômica, em contraponto aos trabalhadores de todos os matizes (público, privada e da economia social). A política econômica do estado e do governo brasileiro é uma das que mais induzem à concentração de renda, no planeta, com as ações da cleptocracia (corruptos de todos os matizes) e a formação de bolsões de privilégios sob a égide dos plutocratas e forte estrutura burocrata no estado nacional.

Vale lembrar, ainda nesses breves comentários sobre a acumulação incessante de capital, a necessária contextualização das três atuais tendências seculares que limitam a taxa de lucro e, conseqüentemente o processo de acumulação de capital.

A primeira está na tendência secular do aumento do nível do salário real a nível mundial cujo corolário é os constantes e intensificados deslocamentos das empresas das áreas de altos para as de baixos salários, agravadas pela acelerada desruralização do mundo que limita, em muito, o processo de acumulação de capital.

A segunda trata das aquisições e beneficiamento dos insumos ou materiais implicando nas “externalização dos custos” oriundos da questão ecológica que compromete a saúde da biosfera e restringe, cada vez mais, a depredação da natureza e, em conseqüência, o processo de acumulação de capital pelo aumento dos custos ambientais.

A terceira situa-se na questão fiscal, particularmente nos processos de tributação. Esta obriga os estados nacionais aumentarem os gastos sociais para se legitimarem ou não perante a sociedade e melhor controlar as chamadas “classes perigosas” na tentativa de aumentarem a democratização do mundo. Isso necessária e obrigatoriamente, implica em mais reivindicações e maiores

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custos sociais e, em conseqüência, sérias limitações ao processo de acumulação de capital.

São essas tendências seculares que dão origem a inúmeras formas que de maneira sistemática, limitam o metabolismo do capital e entravam o seu processo incessante de acumulação dando origem a constante e complexas crises. Estas apontam para a fase terminal do sistema mundo do capitalismo na medida em que bate de frente com suas forças motrizes que são o lucro e o poder. Renda, lucro e investimento

Renda do ponto de vista da economia política é a parte do produto da

terra que se paga a seu proprietário. O primeiro economista a tratar desse assunto foi David Ricardo, que criou a teoria da renda, posteriormente criticada e revista por Marx, que distingue a renda diferencial I, II e III, e a renda absoluta. Para Marx, enquanto a renda diferencial estava imbricada à concorrência entre capitais, dentro do setor fundiário, a renda absoluta deriva da concorrência entre setores da economia na formação do valor e dos preços de produção.

Na esfera fiscal, renda é o resultado monetário das propriedades urbanas, rurais dadas em aluguel de exploração comercial e industrial; da aplicação financeira; dos salários ou ordenados; dos subsídios; dos emolumentos; das gratificações; das pensões; e da remuneração de diversos serviços. Renda não é sinônimo de patrimônio e pode ser confundida com lucro, que é uma categoria de natureza econômica bastante diferente e, também, muito controvertida a partir dos pontos de vista das diferentes escolas da economia política, bem como de outras ciências como são exemplos o direito e as ciências contábeis.

Na contabilidade social tem-se a renda nacional, (saldo líquido do que uma nação produz em bens e serviços) e renda per capita, (repartição da renda nacional pelo número de habitantes) e a renda pessoal ou remanescente da renda nacional distribuída aos indivíduos. Para tanto, deduzem-se da renda nacional os lucros não-distribuídos das sociedades: anônimas e limitadas e dos impostos de renda, pagos por elas, contribuição à previdência social.

Em termos de repartição de renda, a escola clássica, trata das seguintes categorias: salário; lucro; renda fundiária; e juro, como a estrutura básica de sua repartição. Igualmente, a escola marginalista sobre o assunto faz uma leitura completamente divergente da escola marxista. Enquanto a marginalista vê o ponto de vista do empresário, a marxista estuda a repartição pelo foco do produto socialmente necessário e excedente social. Essa divergência leva a questão da repartição da renda para o campo mais da ideologia do que da economia política.

No que diz respeito à categoria de lucro, esta possui, também, diferentes contextualizações, destacando-se duas principais: a primeira, pelos tratadistas de

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direito comercial e de contabilidade, e a segunda, pelas diferentes leituras realizadas pelas distintas escolas da economia política. No primeiro tipo de contextualização, o lucro se divide em lucro bruto, que compreende fundo de amortização e prêmio de seguro e lucro líquido, que é a chamada compensação ao capitalista. Ainda, nessa contextualização, têm-se os epítetos de: i) lucros suspensos ou forma de reserva; ii) lucro cessante de onde podem resultar perdas e danos com inexecução de obrigações e iii) lucros e perdas, que é a conta resultante do agrupamento de todos os lucros contábeis.

Já do ponto de vista da economia política, podem-se evidenciar pelo menos duas leituras principais: i) a de Say que afirma ser o lucro a “parte que cada produtor ganha do valor do produto criado, em troca do serviço com que contribui para criação desse produto”; e ii) a de Marx que imbrica o lucro a mais valia ou maneira específica assume a exploração sob o capitalismo, em que o excedente toma a forma de lucro, e a exploração resulta do fato de os produtores de mercadorias produzirem em produto líquido que pode ser vendido por mais do que recebem como salário.

Na prática, a visão de Say é mecanicista, reducionista e determinista enquanto a de Marx é complexa e pode ser apreendida não somente pela lógica dialética, mas principalmente, pela teoria dos sistemas ou da complexidade.

O conceito de investimento leva o leitor a imaginar a aplicação de capital em processos produtivos de bens ou serviços. É uma categoria de amplo uso na economia como nas finanças tanto nacionais quanto internacionais. Na concepção marginalista de Keynes o “investimento é a parte não consumida do redito total de uma comunidade”. O rédito ou ingresso total, segundo os marginalistas, é igual ao consumo mais investimento, ou seja, confunde-se com poupança que é precisamente a parte não-consumida do redito total. Também, o investimento pode ser entendido como líquido quando equivale à formação de capital, e público quando o governo constrói a infra-estrutura econômica (capital social básico ou economia externas) ou cria empresas estatais. Note-se, ainda, que vulgarmente a população confunde investimento com aplicações financeiras em bancos de crédito e de fomento. Comércio mundial

Com a expansão européia por meio das invasões nos novos e velhos

continentes, a partir do Século XVI, criaram-se as doutrinas mercantilistas, que prescreviam: exportar o máximo e importar o mínimo de mercadorias de forma a ter uma balança comercial superavitária. Claro que todas essas doutrinas tinham como objeto a acumulação de capital nos países cêntricos da Europa à custa do saque das colônias das Américas, da África e da Ásia.

O aparecimento, em 1776, do livro de Adam Smith, “A riqueza das nações”, surge a teoria das vantagens comparativas que reza o mito de quanto maior a vantagem, tanto menor o custo da mercadoria. Nela se imbricam as

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chamadas vantagens naturais como as vantagens adquiridas que provinham de determinadas especializações em linhas de produção manufatureiras e industriais. A grande novidade da teoria de Smith é a negação da importância de acumulação de tesouros de metais preciosos para a acumulação de capital. Na medida em que o conceito de riqueza, para aquele pensador é obter os bens de uso necessário ao consumo da população com o menor esforço ou gasto de tempo de trabalho humano.

Entretanto, David Ricardo aprimorou a teoria das vantagens comparativas “ao demonstrar que cada país deveria especializar-se na produção das mercadorias em que tivesse maiores vantagens relativas, ainda que para tanto tivesse que importar mercadorias por um valor mais alto de que lhe custaria fabricá-los”. Ricardo afirmava “mesmo que se um país tivesse grandes vantagens naturais e adquiridas em todas as esferas de produções, a especialização apenas nos ramos em que suas vantagens relativas fossem maiores lhe traria mais vantagens do que a auto-suficiência econômica”. (Citado Paul Singer).

O próprio Ricardo, no aprimoramento dessa teoria, introduziu o chamado padrão-ouro para combinar o livre câmbio com equilíbrio da balança comercial de todos os países. Praticamente, o comércio natural da economia mundo do capitalismo em grande parte no Século XIX se orienta pela teoria das vantagens comparativas de Smith, devidamente aperfeiçoada por Ricardo que, também, nela introduziu uma divisão internacional do trabalho pelas especializações advindas da revolução industrial, desequilibrando as vantagens naturais em favor das vantagens adquiridas.

No pós 2º guerra mundial, surge, na CEPAL (Comissão Econômica para América Latina) organismo da ONU, a teoria da deteriorização dos termos de intercâmbio em relação aos países periféricos ou subdesenvolvidos, formulada por Raul Prebisch e desenvolvida por Celso Furtado, que contrariou, totalmente, a teoria das vantagens comparativas até então sem contraponto. A crítica da CEPAL passa a tomar importância não somente nos países periféricos, mas também nos países desenvolvidos e hegemônicos. Tanto isso é verdade que o economista francês Emanuel reformula a teoria das vantagens comparativas contrapondo a ela outra teoria, a das trocas desiguais. Segundo Singer, a teoria das trocas desiguais, a partir da teoria formulada por Prebisch e Celso Furtado, agora, aperfeiçoada por Emanuel, mostra “que, numa economia capitalista internacional em que os capitais se transferem facilmente de um país para o outro, os termos de intercâmbio têm que determinar para os países em que os custos de produção (com particular ênfase no salário) tendem a cair em relação aos parceiros de intercâmbio”, por conta da rigidez da divisão internacional do trabalho.

Durante toda a chamada guerra fria (1949 a 1990) os debates não somente no âmbito das Nações Unidas aumentaram. Evoluiu a partir do acordo mundial do GATT (General Agrement on Tariffs and Trade) antecessor da OMC

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(Organização mundial do Comércio) para ampliação do conceito da divisão internacional do trabalho até chegar-se ao que se convencionou chamar de Política do Status Quo. Esta explicita a exploração dos ricos sobre os pobres. Isso a partir dos termos de intercâmbio em nível mundial que, ainda hoje, estende-se na rodada de Doha da OMC, que, junto com o FMI e o BIRD, tendem a manter e sustentar, no sistema mundo capitalista, suas contradições quanto a: i) produção versus consumo; ii) produção versus controle; e iii) produção versus circulação de bens e serviços aprofundando, via processo de globalização econômica, a exclusão social, a pobreza, a miséria, não somente nos próprios países hegemônicos, mas, principalmente, nos países periféricos, levando-os ao propalado conflito Norte x Sul, ou melhor, entre o centro do sistema e os novos bárbaros.

Nesse imbróglio, fluem, cada vez mais, as contradições das crises: i) ecológica mundial, ii) demográfica intra e internacional, iii) da sobrevivência humana em termos de alimentação, saúde, habitação e saneamento, iv) da afirmação social em termos de educação, profissão, emprego e cultura, v) de liberdade social quanto à: mobilidade, à iniciativa, à informação e ao lazer; e vi) política econômica que além de envolver as contradições do sistema mundo do capitalismo o encaminha para problemas cruciais, como por exemplo: o energético, a inflação, a recessão, o desemprego ou o fim do emprego, as dívidas impagáveis, e a reversão ou a reinvenção dos estados nacionais nos chamados blocos econômicos e, finalmente, o que podemos chamar de quarta guerra mundial.

Defendendo a construção de um Brasil grande de incluídos, é inevitável primar pelos objetivos nacionais permanentes apresentados no diagrama formulado por Ênio Labatut em seu livro “Política de comércio exterior”, publicado pela Editora Aduaneiras. Ver diagrama a seguir.

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AVALIAÇÃO ESTRATÉGICA PERMANENTE

Análise dos Fatores

Políticos Psicossociais Econômicos Militares

Síntese: Premissas Básicas

Do ponto de vista da Política de Comércio Exterior, para o Brasil, acredita-se que Do ponto de vista da política de comércio exterior para o Brasil acredita-

se que o leitor pode e deve produzir conhecimentos nos seguintes pontos de análises com vistas à construção de sua base de conhecimento:

Conceito Estratégico Nacional

Diretrizes Governamentais

Estratégia Política

Estratégica Econômica

Estratégia Psicossocial

Estratégia Militar

COMÉRCIO EXTERIOR

Premissas Específicas

Estratégica de Comércio Exterior

ASPECTOS

Comercial Financeiro Administrativo e Iniciativas do Regulamentar Estado

Política de Comércio Exterior

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a) Sociedade brasileira no quadro do sistema mundo do capitalismo. Sob essa ótica, deve o Brasil adotar uma política de comércio exterior inteligente e autônoma capaz, de buscar os seguintes objetivos: i) definir estratégias iniciando com um planejamento estratégico situacional a partir do conhecimento pleno de seus objetivos nacionais permanentes e da integração da América do Sul; ii) ter perfeito conhecimento dos campos a ser conquistados, fazendo um levantamento das necessidades para alcançar os objetivos explícitos nas estratégias do planejamento situacional; iii) envidar conhecimento amplo e perfeito das necessidades dos países cêntricos do G7 e da Comunidade Européia, dos países emergentes e subdesenvolvidos, particularmente, dos africanos com vistas à expansão do comércio Sul-Sul; iv) levantar com detalhes o “portfólio” dos produtos e serviços de que dispõe, possíveis de serem negociados e trocados no comércio mundial; e v) buscar o conhecimento amplo e adequado dos mercados compradores e da capacidade de reação e retaliação dos países cêntricos como, por exemplo, o que, agora, fazem os Estados Unidos com as exportações dos crustáceos brasileiros, particularmente nordestinos, que têm altíssima produtividade e competitividade

b) Os problemas econômicos, sociais, demográficos e ecológicos brasileiros no âmbito de negociações nacionais e mundiais. Eles têm a ver com um modelo autônomo de desenvolvimento sustentável. Nele além da economia privada competitiva do capitalismo (excluidora de força de trabalho) há que se constituir uma forte economia pública estatal ou não capaz de mediar os efeitos da exclusão social em benefício de outra economia social-comunitária com viés de incluir as pessoas marginalizadas pelas economias privadas competitivas capitalistas com vistas a erradicar as assimetrias de renda entre as pessoas e entre os espaços dinâmicos e letárgicos do Brasil

c) Rodadas de negócios no âmbito da OMC e dos blocos econômicos devem seguir rigorosamente o sentido hoje doado pelo Itamaraty nas negociações internacionais, particularmente naquilo que foi discutido e que obteve consenso na UNCTAD XI, em junho de 2004, na cidade de São Paulo. Uma boa política de comércio exterior, para o Brasil, poderia obedecer aos seguintes requisitos: i) isenção de impostos às exportações de produtos industrializados, principalmente de alta tecnologia, ii) baixas taxações dos produtos do agronegócio e agropastoril exceto madeiras de lei, iii) altas taxações e altos impostos na exportação de produtos minerais estratégicos, sem valor agregado, iv) isenção de impostos à importação de insumos básicos e produtos industrializados sem similar nacional, v) altas taxações e altos impostos sobre importações de manufaturados, e vi) taxas e impostos reduzidos às importações de bens de capital ou de produção sem similar nacional. Tudo isso sem ferir os princípios já acordados na OMC e com o MERCOSUL

d) Desenvolvimento da ciência, da tecnologia, e da criatividade dos brasileiros com vistas a mitigar e anular a forma mais cruel de dominação e exploração dos países cêntricos sobre os países pobres. Aqueles colocam o

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conhecimento, a ciência e a tecnologia como fatores de produção no processo de acumulação incessante de capital, além daquelas preconizados por Smith (natureza, trabalho e capital). Ao impor ao mundo a privatização de dado conhecimento, da ciência e da tecnologia, inclusive da vida, pelas patentes, o centro hegemônico do sistema mundo do capitalismo cria e aplica uma nova e sofisticada modalidade de colonialismo sobre as nações periféricas do sistema. Portanto, cabe aos brasileiros desenvolver sua criatividade, sua ciência e suas tecnologias com vistas a romper com as amarras do centro hegemônico que controlam e submetem aos seus interesses as organizações internacionais a partir de suas empresas transnacionais que fazem rapacidade generalizada sobre os países pobres, tal e qual aconteceram no passado pelo velho e desmoralizado colonialismo

e) Aspectos da economia brasileira com vistas ao comércio mundial descansam no rompimento dos grilhões que entravam sua política econômica nacional e a atrelam aos interesses alienígenas em vez de terem um caráter libertador de seu povo. É sabido que tanto o Ministério da Fazenda quanto o Banco Central e o sistema financeiro são geridos de fora para dentro, pelo centro hegemônico do sistema mundo do capitalismo, capitaneado pelo FMI, o BIRD e a OMC. Eles, à luz do chamado e propalado “mercado”, ditam o sentido da economia nacional frontalmente contra as necessidades da maioria absoluta da população brasileira. Essa é a razão da existência da política de juros extorsivos que alimenta uma dívida interna e externa impagável e que drena as energias e a mais valia de toda a nação para os especuladores, de toda ordem, sejam eles estrangeiros ou nacionais. Há que se ter criatividade e coragem para modificar essa situação neocolonial que faz dos brasileiros um povo prostituído ou possuído em sua essência pela alienação, não somente de sua força de trabalho, mas também, pela exclusão social que lhe é imposta de fora para dentro. Sem dúvida, essa ordem ou desordem mundial imposta pelo sistema mundo do capitalismo via G7, FMI, BIRD e OMC é a unilateralidade dos Estados Unidos aos países emergentes e pobres do planeta são insustentáveis e tão brutal quanto o tão propalado terrorismo ora existente no mundo. É possível que a atual política econômica nacional seja, apenas, um reflexo e um espectro do terrorismo de estado imposto pelos nortes americanos ao chamado mundo livre. Cabe ao Brasil, em matéria de comércio exterior, em sua política econômica: i) proceder a uma auditoria em suas dívidas interna e externa, ii) produzir mais e melhor, iii) reduzir custos de produção em seu sistema produtor de mercadorias para exportação ao tempo que deve consolidar uma forte economia pública e uma economia social comunitária voltada para seu mercado interno e a inclusão social, iv) abastecer o mercado interno sem as formas assimétricas ora existentes e exportar todos os excedentes, v) continuar com a política de substituição de importações, e vi) escapar das pressões norte-americanas sobre o acordo de patentes e da ALCA nos termos por eles colocados

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f) Necessidade de se programar e implementar o planejamento estratégico situacional com vistas à totalidade nacional e, em particular, ao comércio mundial do Brasil em contraponto à propalada e divulgada “mão invisível do mercado”, cujo objetivo é perpetuar a política do status quo dos países hegemônicos no comércio mundial. Para tanto, deve o Brasil desenvolver sua astrofísica com veículos lançadores de satélites, os submarinos atômicas e sofisticadas tecnologias aeroespaciais com vistas a sua soberania na Amazônia (com suas riquezas de água, da fauna, da flora, dos minerais, principalmente nióbio), no espaço aéreo nacional e na plataforma submarina. A defesa e o uso do aqüífero Guarani, bem como da América do Sul, deve ser tema constante do MERCOSUL e, também, do Pacto Amazônico.

No plano acadêmico, há que se tratar dos seguintes aspectos referentes à

Política brasileira de comércio exterior: a) Contextualização das teorias e da política de comércio exterior,

particularmente da teoria do status quo empregadas e praticadas pelos países desenvolvidos. Deve ser revista e a ela contrapor-se uma outra com vistas a incorporar novos paradigmas oriundos da UNCTAD XI, da ampliação do MERCOSUL e da rodada de Doha da OMC

b) A legislação brasileira de comércio exterior necessita ser contextualizada, reformada e atualizada de forma democrática pelas universidades brasileiras e entidades públicas e privadas vinculadas ao setor, inclusive antes de ser votada pelo Congresso Nacional

c) O MERCOSUL e as negociações com o ALCA devem obedecer aos princípios de integração, semelhantes aos da União Européia, para os países da América do Sul e, quiçá, da América Latina. Quanto à ALCA, o Brasil e os demais países da América do Sul devem contrapor-se aos interesses neocolonialistas dos EUA/Canadá e, levando de reboque, o México a partir do NAFTA

d) A OMC e a política brasileira de comércio exterior. Quanto a esse tema, há que se buscar, nas negociações, a erradicação dos subsídios agrícolas em um tempo não-superior a dez anos, de todos os países, particularmente dos Estados Unidos, da União Européia e do Japão. Deve, também, fortalecer o MERCOSUL e o comércio SUL-SUL conforme foi amplamente discutido no âmbito da UNCTAD XI, em junho de 2004 na cidade de São Paulo

e) A UNCTAD, o comércio e o desenvolvimento dos países pobres. Sob esse aspecto, há que se fortalecer e implementar os consensos obtidos por ocasião da UNCTAD XI, em São Paulo, e as novas medidas de um possível acordo no âmbito da OMC.

No plano prático vale lembrar, ao ledor, que em matéria de Política de

comércio exterior, onde o chamado mercado livre serve apenas ao domínio e ao

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controle dos países cêntricos sobre os países periféricos todos os negócios se dão de forma monopolizada como negação do mercado livre. Desde os anos de 1980, dá-se inicio a uma tendência de reversão do processo de controle dos países cêntricos que naquele ano consumiam 69% das exportações dos países periféricos ou em desenvolvimento. Em 2001, com o crescimento dos países asiáticos (China, Índia, Coréia do Sul, etc.), aquela proporção caía para 57%, ou seja, 12% em 20 anos.

Segundo RICÚPERO (quando Secretário Geral da UNCTAD, em artigo na Folha de São Paulo 7/12/03), essa tendência vai acentuar-se pelos próximos anos não pelo fato de que “os ricos vão ficar menos ricos, mas porque inelutavelmente estão ficando menos numerosos. O declínio demográfico no Japão, na Itália, na Espanha, na Europa, em geral, vai encolher uma população que já está próxima a saturação ao nível de consumo. ... os EUA que continuam a crescer ainda graças a perto de 1 milhão de imigrantes legais ou não por ano. Em poucas décadas, 90% dos jovens, os mais prósperos a consumir estarão no Sul. ... O comércio Sul-Sul parecia promessa para o futuro, quase ficção científica. Hoje, ele é realidade com potencial que começa somente ser arranhado. ... É tempo de olhar mais para os parceiros do Sul, nossos sócios no G3 ou no G20. Esses não nos exigem concessões em propriedade intelectual em investimento como condição para o que é de nosso interesse mútuo: explorar a complementaridade de nossas economias. Em outras palavras, são gentes como a gente, que não nos exigem que vendamos a alma”.

A Rodada de Doha da OMC. A Conferência de Hong Kong

Na rodada do Uruguai, nos anos 80 e 90 do século passado, o GATT foi

transformado em Organização Mundial do Comércio (OMC), com uma conseqüente redução das tarifas dos bens industrializados. No reboque da rodada, houve verdadeira capitulação dos países periféricos em relação às suas reivindicações frente aos países hegemônicos que pela via de um acordo comercial injusto praticaram e, ainda, praticam um incomensurável saque, pilhagem ou confisco de renda dos países pobres.

A partir daquela rodada, além de prevalecer a política do status quo nas relações comerciais mundiais, em muito, os países desenvolvidos aumentaram seus subsídios aos produtores agrícolas tanto no lado da produção quanto no da circulação dos bens produzidos pelos chamados países em via de desenvolvimento. Hoje, dezembro de 2005, os subsídios oficiais praticados pela União Européia e os Estados Unidos ultrapassam a US $ 50 bilhões por ano o que implica uma incomensurável pilhagem à economia dos países pobres.

Dentro desse contexto, teve início a rodada de Doha onde estão em jogo os seguintes interesses:

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a) Estados Unidos e União Européia forçam os países em desenvolvimento a abrir mais seus mercados para os produtos de suas empresas transnacionais e se negam a abrir seus mercados e põem barreiras aos produtos agrícolas (que eles fortemente subsidiam) aos países em desenvolvimento. São dois pesos e duas medidas contra os pobres, por eles praticados, que resultam na pilhagem supradita

b) G 20 (Brasil, Índia, África do Sul, China e outros países em desenvolvimento) liderados pelo Brasil, quer o fim dos subsídios praticados pelos países ricos e o corte das tarifas que dificultam o acesso de bens agrícolas aos mercados dos ricos

c) Países ricos superprotecionistas como Japão, Coréia do Sul, Suíça e Noruega que protegem seus subsídios e altas tarifas, ao tempo em que resistem a abrir seus mercados agrícolas, exigem dos países pobres que abram mais seus mercados a seus bens industriais e de serviços

d) Países em desenvolvimento mais pobres, que a partir dos resquícios do período colonial têm acesso “privilegiado” aos mercados dos países colonialistas e ricos por meio de cotas e que temem concorrer com outros países caso percam essas “esmolas ou privilégios”

e) Países que têm grande produção agrícola e economia aberta como Austrália, Nova Zelândia e Chile que defendem abertura em todos os setores: indústrias, agricultura e serviços.

Frente a esses conflitos de interesse, entram em jogo, pela primeira vez,

as negociações sobre o setor serviço. Na medida em que os países desenvolvidos pressionam os países em desenvolvimento para abrir seus mercados, estes, em contraponto, mesmo com posições ambíguas, tentam proteger-se e colocar os serviços como trunfo ou moeda de troca para negociar o fim dos subsídios aos produtos agrícolas.

O incomensurável conflito de interesses chegou ao ápice na Conferência de Hong Kong, em dezembro de 2005. O máximo que se conseguiu foi uma negociação de soma zero, ou seja, foi marcada uma data para o fim dos subsídios europeus, ano de 2013, que foi bom para o G 20 liderado pelo Brasil, porém sem quaisquer avanços no comércio internacional. Também a União Européia, fortemente pressionada e desgastada na Conferência, comemorou a data de 2013 na medida em que ia ao encontro do tempo necessário a sua pretendida reforma na Política Agrícola Comum. Sem dúvida, foram essas as negociações de soma zero da Conferência de Hong Kong.

Em todo o embate nas negociações, na Conferência de Hong Kong da rodada de Doha, o destaque foi a eficiente e eficaz liderança do Brasil no G 20, que sobreviveu ao mais duro teste de resistência nas negociações em que pesem algumas ambigüidades e vacilações, porém, jamais desintegração ou capitulação como era comum acontecer em evento desse porte. Dessa forma, o G 20, liderado pelo Brasil, fez valer a assertiva de que é melhor terminar a

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Conferência sem acordo do que se firmar ou sucumbir a um novo acordo ruim e lesivo aos interesses dos povos pobres do mundo, como aconteceu na rodada do Uruguai.

A rodada foi uma oportunidade para reescreverem-se as normas do injusto sistema de comércio mundial onde os países ricos mantêm tarifas altíssimas e acochantes sobre os bens produzidos pelos países pobres. O debate e as negociações continuarão em 2006, e a tendência é de os países pobres conseguirem um melhor acordo ou a OMC entrará em profunda crise institucional/mundial, como já aconteceu com o GATT.

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III. MODELOS E SEUS USOS O conceito de modelo, em linhas gerais, prende-se a utilização de

métodos matemáticos para soluções de problemas econômicos, de maneira que as relações quantitativas do processo econômico são expressas em forma de modelos econométricos, como são exemplos as equações de ajustes e as inequações. Como modelo matemático de um sistema ou de um processo econômico entende-se a expressão matemática das relações quantitativas de todas às componentes econômicas importantes dentro desse sistema ou processo.

Quando se trata do desenho de relações num determinado tempo, fala-se em modelos estáticos como e exemplo o modelo reduzido de um avião. Os modelos dinâmicos refletem a modificação isomórfica de um processo de mudança estrutural no tempo. Pode ser através de projeção, simulação ou previsão de uma meta proposta para esse processo. Os modelos estáticos são representados, comumente, pelo conjunto de equações ou inequações; os modelos dinâmicos, pelo conjunto de equações diferenciais. No modelo que representa um fenômeno ou processo econômico simplificado, é possível modificar, gradativamente, a magnitude dos indicadores e verificar a sua influência nos resultados. Com a ajuda do modelo é possível então, realizar os experimentos econômicos. Para o modelo podemos calcular a variável ótima de solução dentro das tarefas econômicas concretas. Além da modelação matemática se utiliza também a modelação física principalmente com os computadores analógicos.

Do ponto de vista de utilização dos modelos, é importante usar, para a solução das tarefas econômicas, os modelos já conhecidos e comprovados na prática, isto é, os chamados modelos típicos. A modelação dos sistemas econômicos e processos são importantes para o planejamento prático e para a gerência de produção, porque fornece bases exatas para a busca das alternativas ótimas do plano. Pode ser conveniente, para a própria teoria de política econômica, pois, com base na análise precisa das relações quantitativas complexas, possibilita realizar as conclusões econômicas quantitativas. É necessário ter em conta que o modelo matemático é apenas um quadro simplificado do fenômeno econômico ou do processo. Em geral, verificam-se na conceituação de modelo três imprecisões: localização da idéia de modelo em um campo conceitual que vai do conceito de conceito ao conceito de teoria; relação entre modelos e interpretações matemáticas; conexão entre o conceito de modelo e o conceito de estrutura.

A formulação mais ampla, conhecida pelo autor, do conceito de modelo é aquela que afirma serem os modelos, mais imagens (reais e ideais) de algo (real ou ideal), no sentido de uma representação da forma, padrão ou estrutura de um objeto (real ou simbólico).

Hélio Jaguaribe referindo-se a Karl Deutsch alega que os modelos desempenham quatro funções:

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a) A organizadora, consistindo na habilidade de um modelo de permitir

discernimento de forma, padrão ou estrutura, função que expressa o significado mais amplo de conceito

b) A heurística, consistindo na habilidade de levar a descoberta de novos fatos e novos métodos

c) A preditiva consistindo na habilidade de antecipar, no tempo ou espaço, dados, eventos, em graus variáveis de especificidade e precisão qualitativas e quantitativas

d) A de mensuração, nos casos em que o modelo ê referido ao objeto representado por relações definidas e quantificadas.

Modelos de desenvolvimento econômico O termo modelo é convencionalmente usado sob acepções diferentes:

pode ser uma teoria, uma lei, uma hipótese, uma idéia estruturada ou uma ponte entre os níveis da observação e o teórico. As Nações Unidas usam o conceito de modelo econômico como sendo um “conjunto organizado de relações que descreve o funcionamento de uma entidade econômica sob um grupo de suposições simplificadoras". A partir desta definição se distingue na literatura econômica os seguintes modelos:

a) Não-espaciais de desenvolvimento econômico b) De distribuição espacial do desenvolvimento econômico c) Em escala subnacional d) Em escala supranacional e) De planejamento econômico-social. Os modelos não espaciais são aqueles que, geralmente, se preocupam

com as variações temporais do crescimento econômico. Entre eles são muito conhecidos os modelos conceitual-históricos e os modelos econométricos. Em temos gerais, a lógica dos modelos conceitual-históricos repousa na tentativa de reduzir a algum denominador comum a historia econômica de diferentes países. Um dos principais exemplos deste tipo de modelos é a conhecida “teoria dos estágios", aparecida na Alemanha no século dezenove e recentemente atualizada pelos economistas W.W. Rostow e W.A. Lewis, respectivamente, nas obras "Etapas do desenvolvimento econômico" (Zahar) e "Theory of economic growth" (Allen and unwin).

Já os modelos econométricos de crescimento econômico têm sido largamente utilizados como instrumentos de planejamento, além de, constantemente, aperfeiçoarem novas técnicas estatísticas e de computadores. Daí o aprimoramento cada vez maior dos chamados modelos "agregados" e "interindustriais". Enquanto os primeiros tratam das relações entre produção,

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consumo, investimento, etc. dentro de uma economia, os segundos dizem respeito às análises quantitativas da interdependência das unidades de produção em seus diferentes e complexos aspectos. Entre os modelos econométricos o mais simples e mais conhecido é o modelo de "entrada e saída", particularmente aquele aperfeiçoado por Leontief, e o de contabilidade social em termos de matriz.

Cabe destaque especial, entre os modelos econométricos, a conhecida programação linear, fundamentada não somente nas técnicas do método simplex, mas também nas de programas de transporte. Inclusive, hoje, modelos fundamentados na programação linear podem, em países desenvolvidos, ser usados para analisar o crescimento econômico e determinar, com bastante segurança, o meio mais econômico para alcançar um determinado conjunto de objetivos no desenvolvimento econômico.

Diferentemente dos modelos não-espaciais, os modelos de distribuição espacial não somente se preocupam com as variações temporais, mas também, essencialmente com as variações espaciais do desenvolvimento econômico. Entre estes tipos de modelos destacam-se: os modelos de desigualdade de renda regional, modelos de exportação básica e os modelos matemáticos de regressão. Com relação aos modelos de desigualdade de renda regional, sua premissa é que o desenvolvimento econômico dificilmente se distribui por igual por toda área de uma totalidade nacional, mas, pelo contrario, é muito diferenciado no espaço, concentrando-se e/ou deprimindo-se em certos pontos da área geo-econômica nacional. “Entre os principais modelos de desigualdade da renda regional pode-se citar o modelo de ‘‘concentração cumulativa” de Myrdal e o modelo do "desenvolvimento desequilibrado" de Hirschman. Enquanto o conceito da "causalidade cumulativa" de Myrdal sugere uma divergência continuada nas rendas regionais e "per capita" como aspecto típico dos países subdesenvolvidos, o modelo de Hirschman proporciona um fundamento teórico para considerar a convergência como norma.

Os modelos de exportação básica foram desenvolvidos por vários economistas norte-americanos e aplicados à própria realidade dos Estados Unidos. A tese básica daqueles modelos é de que o crescimento regional foi promovido pela capacidade de uma região produzir bens e serviços demandados pela economia nacional e de exportá-los com vantagens competitivas em relação a outras regiões. Como se vê, o enfoque tem como papel-chave a exportação básica de uma região, ou melhor, os bens e serviços coletivamente exportáveis de uma região.

Os modelos matemáticos de regressão têm como fundamento as variações da distribuição espacial do desenvolvimento econômico dentro de determinada unidade política (País, Estado, Região, etc.) Na prática esses modelos utilizam os métodos matemáticos de regressão para determinar o grau de correlação estatística entre o nível de desenvolvimento econômico e as outras

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variáveis consideradas influentes nos diferentes espaços de um dado País, Estado, etc.

O aperfeiçoamento dos modelos econométricos de "entrada e saída” levou nos últimos tempos a sua aplicação ao crescimento regional diferenciado, para análise das implicações locais do desenvolvimento econômico, objetivando determinar o impacto do aumento dos investimentos ou outras despesas numa região sobre a atividade econômica de outras.

É patente o grande número de problemas que vem levantando o uso dos modelos matemáticos no planejamento governamental quando as realidades espaciais apresentam dificuldades em fornecer dados detalhados necessários e suficientes à análise de entrada e saída.

Os modelos em escala subnacional compreendem todas aquelas análises consubstanciadas nos conceitos de: multiplicador regional e de pólo de crescimento. Segundo D.E. Keeble, o conceito de multiplicador regional diz respeito à maneira pela qual uma elevação da renda, produção ou emprego num grupo de atividades econômicas numa região estimula a expansão de outros grupos através de uma demanda aumentada do primeiro grupo e de seus trabalhadores pelos bens e serviços produzidos pelo último. Esta elevação é introduzida pelas mudanças externas à região. O estímulo interindustrial pode tomar a forma de uma expansão da demanda pela produção real de entradas "insumos necessários ao grupo original; ou pode funcionar indiretamente através do aumento da demanda orientada para os consumidores, de bens e serviços dos mais bem pagos e/ou aumenta o número de trabalhadores empregados por esse grupo". Em termos gerais, os modelos baseados no conceito de multiplicador têm uso bastante diversificado, particularmente nas nações desenvolvidas.

O modelo de pólo de crescimento tem como premissa básica que o desenvolvimento econômico tende a concentrar-se em certas partes, que evoluem e se expandem mais rapidamente do que os espaços ao redor. A essas partes de concentração dá-se o nome de "pólo de crescimento", geralmente considerado urbano industrial ou perto de um centro de uma determinada região. Segundo Perroux, o pólo de crescimento deve sua existência à localização dentro dele de uma "indústria de crescimento", isto é, uma indústria motriz que atrai outras correlatas em virtude das economias externas criadas na localidade. À medida que estas indústrias crescem, sob o estímulo da "motriz", o pólo de crescimento expande-se ainda mais. Martin, no intuito de criticar o modelo de pólo de crescimento, o aprimorou quando o descreveu como "o modelo de uma sociedade dinâmica, industrializando-se, na qual o desenvolvimento econômico ocorre principalmente no tipo urbano de matriz locacional”. Esta evolução produz com o tempo uma disseminação da propriedade para as áreas ao redor:

a) Drenando delas fregueses e matérias-primas industriais e urbanas

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b) Estimulando a produção de alimentos para os mercados urbanos e a introdução no campo de técnicas agrícolas de tipo industrial

c) Encorajando a migração do excesso da população rural para as cidades

d) Descentralizando a população, a indústria e outras instituições urbanas”.

A constatação, nos países subdesenvolvidos, de que a proximidade dos

centros urbano-industriais estimula a prosperidade agrícola, apóia o modelo de Martin.

Os modelos em escala supranacional são aqueles que, abandonando o enfoque dos modelos de equilíbrio, admitem e fundamentam-se na premissa de que a desigualdade internacional está aumentando de forma apreciavelmente maior do que as desigualdades dentro das nações. Ainda dentro desta categoria de modelos estão aqueles, ligados ao conceito de "diferencial histórica". Este conceito significa a medida do intervalo que separa um dado país atrasado daqueles que se acham no grau máximo de desenvolvimento.

Em geral, os modelos ocupados com a diferencial histórica tendem a demonstrar que o desenvolvimento econômico de qualquer realidade subdesenvolvida jamais causa o aumento da diferencial histórica; ou seja, não pode dar-se o caso do país atrasado, por se desenvolver, contribuir para acelerar o desenvolvimento do mais adiantado. A justificativa está na assertiva de que “o crescimento do país desenvolvido é relativamente detido pelo desenvolvimento dos países subdesenvolvidos. Qualquer desenvolvimento do espoliado contribui para frear o crescimento do espoliador, diminuindo a distância que os separa. O processo de desenvolvimento se acelera a si mesmo e acarreta a abolição necessária dos mecanismos espoliativos que asseguravam ao dominador a pacífica exploração em cujo clima florescia”. Em termos econômicos e de poder político demonstram que há uma despesa cada vez maior que afeta a capacidade de crescimento do país dominador que constitui, de fato, o preço da dominação.

Mesmo as normas e recursos a empregar (artifícios políticos, econômicos e culturais) tendem a crescer tanto que chegará ao ponto em que, para conservar uma diferencial histórica que míngua progressivamente, deixará de valer a pena firmar-se a posição de dominador. Outro modelo supranacional bastante conhecido é o modelo “centro-periferia”. Coube aos economistas latino-americanos, liderados por Raul Prebisch, aperfeiçoar e desenvolver o modelo “centro-periferia” de desenvolvimento econômico internacional.

A síntese desse modelo descansa na tese de que: um esquema analítico adequado para o estudo do desenvolvimento deve repousar sobre as noções de processo, de estrutura e de sistema. Não se admite que o subdesenvolvimento seja um momento na evolução contínua (enfoque do desenvolvimento como crescimento) ou descontínua (enfoque do desenvolvimento como sucessão de

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etapas) de uma sociedade econômica, política e culturalmente separada e autônoma: pelo contrário, se postula, baseando-se sobre a observação histórica sistemática, que o subdesenvolvimento é parte do processo histórico global de desenvolvimento, que tanto o subdesenvolvimento como o desenvolvimento são duas faces de um mesmo processo histórico universal; que ambos os processos são historicamente simultâneos; que estão vinculados funcionalmente. Quer dizer que se integram e se condicionam mutuamente, e que sua expressão geográfica concreta se observa em dois grandes dualismos: por uma parte, a divisão do mundo entre os estados nacionais industrial, avançado, desenvolvido denominados centros, e os estados nacionais emergentes, subdesenvolvidos, atrasados, pobres, periféricos, dependentes; e pela outra, a divisão dentro dos estados nacionais em áreas, grupos sociais, atividades avançadas e modernas, e, também, em grupos e atividades atrasadas, primitivas e dependentes; “O desenvolvimento e o subdesenvolvimento podem compreender-se como estruturas parciais, porém interdependentes, que conformam um sistema único. A característica principal que diferencia ambas as estruturas é que a desenvolvida, em virtude de sua capacidade endógena de crescimento, é a dominante, e a subdesenvolvida, dado o caráter induzido de sua dinâmica, é dependente; e isto se aplica tanto entre países como dentro de um país. O problema fundamental do desenvolvimento de uma estrutura subdesenvolvida aparece assim como a necessidade de superar seu estado de dependência, transformar sua estrutura para obter uma maior capacidade autônoma de crescimento e uma reorientação de seu sistema econômico que permita satisfazer os objetivos da respectiva sociedade. Em outros termos, o desenvolvimento de uma unidade política e geográfica nacional significa lograr uma crescente eficiência na manipulação criadora de seu meio ambiente natural, tecnológico, cultural e social, assim como de suas relações com outras unidades políticas e geográficas”.

O enfoque dado por Osvaldo Sunkel e Pedro Vaz está implícito no trabalho do economista J.R. Hicks, da Universidade de Oxford, bem como essa última definição constitui uma ampliação da utilizada por N. Girvan e O. Jefferson.

Em outras palavras, essa perspectiva se apresenta nos trabalhos do economista norte-americano A. Gunder Frank, que se expressa da seguinte maneira: "Para compreender o subdesenvolvimento, precisamos investigar o desenvolvimento do subdesenvolvimento porque o desenvolvimento, sendo distinto do prédesenvolvimento, não preexistiu ao desenvolvimento econômico e nem apareceu por si mesmo ou de repente. O subdesenvolvimento não surgiu assim espontaneamente, mas se desenvolveu juntamente com o próprio desenvolvimento econômico. E ainda hoje tem sido assim. 0 desenvolvimento é uma parte integral, da mesma forma que o subdesenvolvimento econômico do único processo de desenvolvimento ocorrido neste planeta durante os últimos cinco séculos ou mais".

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Segundo o economista Gunder Frank pode-se, portanto, falar não só num estado de subdesenvolvimento como parte de um processo global, mas também decompor este processo global em um processo de desenvolvimento e noutro de subdesenvolvimento, paralelos e complementares. A compreensão desses processos só poderá ser fornecida pela análise histórica. Partindo dessa nova concepção, não basta considerar o subdesenvolvimento como um conjunto de características verificadas empírica ou intuitivamente, tais como: baixa renda per capita, existência de desemprego disfarçado, baixa produtividade, baixos índices sanitários e higiênicos, concentração de renda e da propriedade da terra, dependência econômica externa, etc., ainda que elas possam dispor-se funcionalmente articuladas. O subdesenvolvimento não deve ser considerado como um dado, mas sim como uma determinação particular de um processo histórico bem definido o processo de desenvolvimento do capitalismo como modo de produção do qual ele é parte integrante. A sua compreensão implica em ultrapassar os limites estreitos de um conjunto arbitrariamente abrangente de características diversas apreendidas num momento qualquer, relacionadas conforme as suas conexões lógicas mais imediatas. O subdesenvolvimento que caracteriza determinada economia deve ser compreendido como uma totalidade, embora não autônoma nem autodeterminante, que se constitui e reconstitui dentro do processo histórico, na qual relações lógicas, funcionais e históricas se interpretam dialeticamente, constituindo-se dessa forma, um todo ao mesmo tempo real e racional.

Myrdal acompanha de perto esse modelo "centro-periferia", acima citado, mostrando que, internacionalmente, os “efeitos de ressaca” no comércio e os deslocamentos de capitais, tendem a aprofundar a ''diferencial histórica" entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos.

Por modelos de planejamento econômico-social situacional entendem-se aqueles cujos objetivos básicos estão em detectar e determinar ações a serem realizadas pelo poder público, através da escolha e compatibilização das alternativas prioritárias para execução, observando as restrições dos meios e dos recursos disponíveis. Esses modelos podem ser classificados como: modelos de crescimento convencional e modelos de mudanças estruturais.

Modelos de Crescimento Convencional. Esses modelos se apóiam, em geral, numa visão mecanicista fundamentada na racionalidade da lógica formal. Suas características principais são: importância à formalização das estruturas econômicas sociais; determinação e otimização de funções objetivas e funções instrumentos; estabelecimento apriorístico dos fins a atingir. Esses modelos têm relativa eficiência em realidades desenvolvidas, por refletirem sua "praxis", em geral, de dominação. Entretanto, para o país subdesenvolvido são totalmente inconvenientes, porquanto, entre muitas outras nocividades, eles por não poderem jamais refletir a realidade subdesenvolvida abandonam-na e transpõem-se para o mundo das idéias. Passam a especular sobre a tarefa intelectual de organizar racional e coerentemente a realidade à vista do grupo de

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postulados ou princípios escolhidos na base da suposta intuição dos dados da experiência de outros. Desta forma consideram a racionalidade dos acontecimentos fora dos processos que os determinaram, desligando-os uns dos outros. Esses modelos são geralmente empregados por economistas ou outras categorias de profissionais defensores da economia neoclássica - principal contribuição intelectual a dominação metropolitana.

Na prática esses modelos encobrem a própria essência do processo de planejamento, ou seja, a noção categorial de totalidade. Ignorando o caráter objetivo da lei da universal da ação recíproca dos fatos, vem o todo como uma abstração, sem correspondência com o real. Ignoram a intencionalidade que está contida no sentido de que o fato se reveste causado pelo desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção do sistema socioeconômico. Também, do grau de avanço do processo de desenvolvimento nacional, da qualidade da consciência a ele correspondente, das condições de existência e do conhecimento da realidade a ser examinada e planejada.

Por abjetar ou ignorar a categoria de totalidade, esses modelos fazem do planejamento uma tentativa de imobilizar o real, fragmentando-o em setores ou etapas, na intenção de discipliná-lo. Procuram torná-lo o seguro social contra o imprevisto e, assim, profetizam "estados desejados" que só existem no mundo das idéias. Os fundamentos desses modelos, por serem simplistas, tendem a abolir o futuro, ou melhor, negá-lo, pois ao prevê-lo tendem a forçá-lo a ser como deseja e, assim, a tornar presente tudo quanto possa acontecer.

Modelos de Mudanças Estruturais. Ao contrário dos modelos convencionais, os modelos de mudanças estruturais consideram os problemas do país subdesenvolvido como "parciais” de aspectos que existem e se definem como partes de um todo e exigem a referência a esse todo como relação constitutiva do seu ser. Suas características básicas estão no fato de abordar e ver os problemas e fenômenos de forma objetiva, em sua existência empírica. Esses modelos: percebem os dados como processo. Partem do princípio de que o próprio ente humano é um ser histórico por pertencer a um mundo físico e social que se pretende modificar. Esse fato lhe permite adotar uma dimensão temporal e espacial; captam a realidade através da lógica dialética isto é, do próprio movimento da realidade empírica e nunca por meio de intuição intelectual ou por dedução a partir de verdades reveladas; analisam e interpreta os fatos a luz da categoria de totalidade de forma que o múltiplo aspecto da realidade foi: nem uma unidade de ser, de maneira que não se apresentem imobilizados numa cadeia de ações causais recíprocas, mas ao contrario, pertençam a um dinamismo objetivo que os modificam a todos simultaneamente, ao longo do processo transformador da realidade.

Advogam que a maneira crítica de planejar é, sobretudo afirmação do futuro, é antecipação do acontecer na certeza da sua imprevisibilidade em caráter absoluto, ou seja, incorporam o plano a realidade e nunca o contrário; apreendem os fatos e sua lógica imanente de forma a ligar o pensamento e a

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ação como projeto concreto de modificação da realidade, isto é, transportam o ato de possível a efetivo; captam e apreendem os fenômenos e problemas do real no âmbito da existência que constitui o País, melhor dizendo, através da autoconsciência da realidade nacional; Pelo exposto depreende-se que os modelos de mudança estrutural se compõem, na prática pelos seguintes objetivos:

a) Políticos de desenvolvimento da sociedade, como um todo b) De produção via desenvolvimento social e econômico das atividades

humanas c) De sistemas através de estruturas institucionais flexíveis e

organizações dinâmicas e inovadoras d) De produto, através da qualidade dos estudos e pesquisas

socioeconômicas demandadas pelo processo autêntico de desenvolvimento nacional.

Modelos de desenvolvimento político Por modelos de desenvolvimento político entendem-se os projetos que

estabelecem metas e estratégias, fixando condições e meios para otimização deliberada em dadas condições estruturais, da racionalidade potencial inerente a uma determinada sociedade. As dadas condições estruturais são os cernes de todo o entendimento e compreensão dos modelos de desenvolvimento político. Convêm lembrar que modelos, conforme ficou claro na parte do conceito, são em essência técnicas de otimização e simulação de elementos preexistentes, embora em um crescimento processual endógeno ou auto-induzido.

Hélio Jaguaribe em seu livro “Desenvolvimento político” apresenta os seguintes modelos operacionais:

a) Modelos Tradicionais: Autocracia modernizadora; Elitocracia

modernizadora b) Modelos Implícitos: Liberalismo (Laissez-Faire); Neoliberalismo c) Modelos de Desenvolvimento Explícitos: Nacional-Capitalismo;

Capitalismo de Estado; Socialismo Desenvolvimentista d) Modelos de Bem-estar: Capitalismo de Bem-estar; Socialismo de

Bem-estar. Além de estudar os diversos aspectos de cada modelo supra e suas

formas combinatórias mais freqüentes Hélio Jaguaribe, em sua já citada obra, aprofunda suas análises nos modelos de desenvolvimento explícitos para os quais define duas condições básicas operacionais: “Viabilidade nacional que se refere, em qualquer época dada, em função dos requisitos tecnológicos da mesma época e das condições estruturais da sociedade podem ou não serem

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considerados suficientes para assegurar-lhe condições mínimas de crescimento autônomo e endógeno; mobilizabilidade política que se refere, em função das condições estruturais de uma sociedade, em uma dada fase de sua historia, a se a sociedade apresenta ou não certas possibilidades politicamente programáveis para aumentar a racionalidade do sistema social, no sentido da existência ou não, em sua elite, subelite ou, se for o caso, contra-elite, de setores real ou potencialmente interessados, capazes e mobilizáveis, para promover deliberadamente mudanças políticas e mudanças societais através de meios políticos".

Os modelos de desenvolvimento explícito foram assim caracterizados por Hélio Jaguaribe:

Nacional-capitalismo Caráter Essencial Modelo. Para superar os obstáculos ao

desenvolvimento ocasionados pelo setor disfuncional da elite, através da criação de condições que levem a predominância e liderança o setor funcional desta elite. A mobilização nacional dos setores modernizadores de todas as classes sociais, para apoiar e contribuir ativamente, com os esforços e sacrifícios necessários, para a promoção deliberada de desenvolvimento nacional, de acordo com um plano central formulado pelo Estado e executado sob sua direção e com sua intervenção principal. Ênfase sobre a nação, sua autonomia e endogenia, baseada em, e conducente a, um ethos nacionalista funcional.

Atores Sociais Principais. Setores modernizadores da burguesia e da classe media nacional em aliança com o proletariado e com o apoio dos camponeses mobilizados versus os setores tradicionais e consulares da burguesia e da classe media, seus patrões, sócios e aliados estrangeiros e setores rurais anti-modernizadores.

Modus Operante. Combinação de ação empresarial do Estado e privada, sob a direção do Estado e com sua intervenção principal, mas com tanta descentralização e delegação de responsabilidade ao setor privado nacional quanto compatível com a eficiente execução do plano politico-econômico. Planejamento e controle nacionais centrais, regulamentação pelo Estado da relação investimento-consumo, investimentos reprodutivos maciços e severos, mas socialmente justa contenção do consumo. Empresas organizadas ou apoiadas pelo Estado para indústrias infra-estruturais e básicas. Maior prioridade para a educação geral e superior e para pesquisas e desenvolvimento. Liderança neobismarquiana pelo chefe do Estado, com exercício de arbitragem social de realocação de benefícios entre os setores sociais, de acordo com um realista e societalmente funcional reajustamento igualitário do regime de participação: o novo pacto social. Organização de um Partido Nacional de Desenvolvimento para articular e agregar interesses de acordo com o novo exercício de poder predominantemente através de processos demo eleitorais com o mínimo recurso

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autoritário estrategicamente requerido. Orientação nacionalista para o desenvolvimento e a autonomia.

Capitalismo de estado Caráter Essencial Modelo. Para superar os obstáculos ao

desenvolvimento ocasionados pela elite não funcional, através da criação de condições que levem à tomada de controle a liderança político-econômica. O setor modernizador da subelite, com a subseqüente utilização, em profundidade, do Estado, para promover a mudança societal e o desenvolvimento nacional, com ativa mobilização do apoio das massas rurais e urbanas para suportar os sacrifícios e prestar a contribuição necessária para a promoção acelerada, pelo Estado, do desenvolvimento nacional. Ênfase nas reformas sociais e no desenvolvimento nacional autônomo, baseado em, e conducente a, um ethos social funcional e reformista nacional.

Atores Sociais Principais. Setor modernizador da classe media com pleno apoio das massas urbanas e rurais contra a elite tradicional patrícia e os aliados consulares na burguesia e na classe media particularmente seus patrões, sócios e partidários estrangeiros.

Modus Operante. Emprego total do estado como uma agência de planejamento, do empresariado e de controle. Sem supressão do setor privado, mas com transferência as agências e empresas do Estado, as principais funções econômicas e culturais, agora, com orientação e desenvolvimento do possível empresariado nacional privado para o exercício de atividades suplementares e de apoio. Regulamentação estrita de rendas pessoais, com critérios basicamente igualitários, com o máximo esforço de poupança socialmente tolerável, para concentrar os recursos em investimentos econômica e educacionalmente estratégicos. Maior prioridade na educação geral e superior. Máximos esforços para superar, no menor tempo possível, o atraso científico-tecnológico. Estritos critérios técnico-funcionais na seleção do pessoal e na administração do Estado, combinados com estrita lealdade ao Estado e à Nação nas funções estratégicas. Organização do Partido da Revolução para mobilização ativa de apoio rural e urbano para a mudança social e o desenvolvimento nacional e resistência à intervenção estrangeira, oferecendo recompensas para os partidários e direção na luta contra as forças reacionárias. Exercício de poder predominantemente através de formas autoritárias de cooptação, combinada com plebiscitos de massa. Adoção, desde logo, de mecanismos que levem em conta a futura expansão da participação e do controle democrático, conforme aumente o nível de desenvolvimento geral e político.

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Socialismo de desenvolvimento Caráter Essencial Modelo. Para superar os obstáculos ao

desenvolvimento ocasionados pela elite disfuncional, particularmente em sociedade desigualitárias coercitivas, através da derrubada revolucionária da elite anterior pela contra-elite, mediante o emprego apropriado de um partido bem organizado e disciplinado. Subseqüente socialização dos meios de produção, através da utilização, em profundidade, do Estado para promover mudança societal revolucionária e desenvolvimento nacional, com o apoio revolucionário das massas urbanas e rurais, dentro do marco e para os fins de uma sociedade socialista e nacional. Para tanto, deve suportar os sacrifícios, efetuar a contribuição necessária para a promoção acelerada do desenvolvimento nacional e lutar contra a intervenção estrangeira. Ênfase nas reformas revolucionárias e no desenvolvimento nacional autônomo, baseado em, e conducente a, um ethos revolucionário social e nacional racionalmente estruturado.

Atores Sociais Principais. A intelligentsia da contra-elite, organizada em um partido revolucionário. Este bem disciplinado, com apoio das massas urbanas e rurais controladas por ele e em eventual aliança tática com setores descontentes com a elite e subelite anteriores, versus a elite disfuncional, seus patrocinadores de subelite e respectivo aparato repressivo, e seus patrões, sócios e partidários estrangeiros.

Modus Operante. Revolução promovida, acelerada e guiada pelo partido, de acordo com os modelos da "Revolução Conspirativa", a "Revolução Jacobina" e a "Insurreição Militar de Massas", (Cf. Chalmer Johnson, 1964). Una vez conquistando o poder político, todas as agências e instituições de ação política, cultural, econômica e social anteriormente usada pela elite disfuncional serão suprimidas ou totalmente reajustadas a novos requisitos e propósitos. O estado, sob a direção e controle do partido, e empregado em profundidade, como uma agência de planejamento, de empresariado e de controle de todas às atividades societais relevantes. Com socialização tão completa quanto possível, sem indenização, dos meios de produção, Equalização básica da renda e máxima esforça socialmente suportável de poupanças para a concentração dos recursos para investimentos, econômica, educacional e defensivamente estratégicos. Maior prioridade na educação geral e superior. Máximo esforço para superar em menor tempo possível o atraso científico-tecnologico e de defesa. Nacionalização de todas as patentes e invenções. Estritos critérios técnico-funcionais na seleção de pessoal e administração do Estado, combinados com máxima lealdade ao partido e à nação, em funções estratégicas. Ajustamento do partido revolucionário, apos a conquista do poder, à função de mobilização e politização ativa das massas urbanas e rurais para apoio a revolução, e ao desenvolvimento nacional, ao novo regime e autoridades, à uma alta moral, à prevenção e à supressão de tentativas contra-revolucionárias e à luta mortal

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contra a intervenção estrangeira. Exercício do poder por democracia centralizada no nível de partido, e decisão hierárquica ao nível estatal. Adoção inicial de mecanismos, tão automáticos quanto possíveis, para evitar a conversão do centralismo funcional em oligarquia burocrática, proporcionando a adoção de práticas democrático-eleitorais, de acordo com o aumento do desenvolvimento geral e político.

Este esquema de modelos básicos de desenvolvimento político, compilado da obra de Hélio Jaguaribe, é amplamente estudado, por aquele cientista, que em determinada parte de sua obra defende as seguintes condições do desenvolvimento político para viabilizar quaisquer uns dos modelos ou suas combinações:

a) Viabilidade nacional já conceituada b) Mobilizabilidade política já conceituada c) Adequabilidade da liderança. Aparecimento oportuno, nas cidades, de

uma liderança política individual ou coletiva com uma compreensão apropriada dos meios e modos requeridos para a promoção de mudança política estrutural orientada para o desenvolvimento e mudança societal através de meios políticos e com a vontade e a aptidão necessárias para efetivamente realizar tal mudança, incluindo a mobilização dos necessários quadros de implementação

d) Adaptabilidade do modelo. Adoção, pela liderança política, de um modelo político desenvolvimentista estruturalmente adequado à referida sociedade

e) Coerência do modelo. Ajuste aos requisitos do modelo, das estratégias e táticas efetivamente adotadas

f) Ausência de impedimento extra societal insuperável incluindo permissibilidade internacional (cataclismos ou pragas naturais e intervenção estrangeira). (Ver e consultar a obra de Hélio Jaguaribe intitulada “Desenvolvimento político”. São Paulo. Editora Perspectiva. 1975).

Características das realidades emergentes

Entre os muitos indicadores que identificam uma situação de

subdesenvolvimento de uma região ou país destacam-se os seguintes: a) Consciência reflexa da realidade pelos que detêm os poderes de

decisão b) Ausência, na maioria dos quadros dirigentes de um país

subdesenvolvido, de um pensar crítico capaz de criar uma ideologia de desenvolvimento endógeno a realidade

c) Atraso político-social e cultural da população, com predominância da modalidade ingênua de consciência mesmo nos estratos mais intelectualizados

d) Recursos naturais subutilizados e pequeno volume de produção

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e) Concentração monopolística da propriedade privada da terra e do limitado capital para investimento em infra-estrutura

f) Imperfeição das relações mercantis g) Insuficiência de capital para investimentos produtivos e financeiros h) Baixa produtividade do trabalho e de intensidade de produção i) Baixa renda real e da capacidade de compra da população j) Baixa demanda da população. Adicione-se, ainda, o fato da economia de um país emergente-

subdesenvolvido, ter características e predominâncias do setor primário, muito em particular da parte agrícola sob a égide de uma plutocracia latifundiária e financeira. A configuração estrutural da economia em termos de mercados apresenta:

a) Em primeiro lugar, um setor de mercado externo cujas vinculações

com as metrópoles ditam ou doam o sentido da economia nacional sem ter em conta as necessidades da população do país

b) Em segundo, um setor de mercado interno incipiente e determinado de fora para dentro, para um diminuto estrato social que concentra a quase totalidade da renda acrescida de uma classe média sedenta por consumir, porém, desprovida de emprego e renda

c) Por fim um setor semimercantil ou de autoconsumo com função de sustentar, servir e propiciar as atividades agromercantis da agricultura familiar subordinada à de especulação de mercado ligada ao setor de mercado externo. Esse setor semimercantil está ligado e convalidado pela informalidade da economia.

Dentro desse contexto subdesenvolvido proliferam os vários sofismas

relativos à consciência política para o desenvolvimento. Entre eles destaca-se aquele que supõe e afirma que o desenvolvimento de uma região emergente ou país subdesenvolvido tem de ser feito ou ajudado por outro país que está em condições de pleno desenvolvimento. A nocividade deste sofisma se expressa no seguinte: nega que existem nas realidades subdesenvolvidas forças expansivas capazes de transformá-las; desconhece o desequilíbrio de uma estrutura de relações objetivas, como lei normal do desenvolvimento; perpetuam a situação de relações centro-periferia que envolve a essência da hegemonia das chamadas nações desenvolvidas; nega as regiões ou países subdesenvolvidos à posse de fatores intrínsecos e endógenos de desenvolvimento; ignora que o desenvolvimento econômico-social pode ser feito em parte com o capital estrangeiro, mas nunca pelo capital estrangeiro; desconhece que o investimento de capitais e técnicas nos países subdesenvolvidos só tem efeito salutar no seu processo de desenvolvimento em condições de plena soberania.

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A partir dos condicionantes da consciência reflexa da realidade advêm à manifestação da ingenuidade ideológica configurada no ideal da "tecnização" da função política. Esse equívoco da predominância do técnico sobre o político é lesivo aos interesses das comunidades subdesenvolvidas na medida em que não subordinam as decisões que afetam o conteúdo objetivo da realidade à deliberação dos representantes políticos conceituados estes quando admitidos com investidura de voto popular. Os indicadores e aspectos, anteriormente citados, que caracterizam a situação de atraso politico-econômico-social e retardamento cultural são atribuídos e estudados por muitos profissionais como de "causalidade-circular" ou "círculo vicioso". Os fundamentos dessas teorias e seus respectivos modelos descansam na suposição de que forças e fatores, tanto econômicos como extra-econômicos se influenciam mutuamente em uma determinada causalidade-circular. Desta maneira uma força ou variável atua sobre uma segunda, esta numa terceira e assim de maneira sucessiva até que a última atue sobre a primeira. Segundo essas teorias e modelos correspondentes, as dependências causais se processam em um círculo fechado de pobreza.

Partindo-se da suposição de que não se rompa um elo da corrente circular o processo continuaria sempre o mesmo. Os defensores e principais representações desta teoria e modelos são, entre outros: H. W. Singer, Buchanan, Erike, Solera, G. H. Meier, Baldwin, Nurkse, Myrdal, Leibenstein e R. T. Gill.

Essas teorias e seus respectivos modelos são inadequados e nocivos quando utilizados em realidades subdesenvolvidas, pois não vêem que entre os aspectos diversos da realidade social atrasada não há relação de causalidade, mas totalidade dialética. Os modelos da teoria do círculo vicioso induzem os pensadores dos países subdesenvolvidos a uma situação logicamente insolúvel e faz concluir pela sucessividade da ação cega, a fim de romper um elo qualquer, ao acaso, da cadeia das causas causadas. Contrariamente, o conceito de totalidade dialética leva o pensador ou o profissional a ver que os múltiplos aspectos da realidade formam uma unidade de ser e, portanto, estão constantemente se transformando.

É valida a assertiva que "a ação exercida sobre um deles é simultaneamente exercida sobre todos os demais, que deixam de ser o que eram antes de tal ação. O país subdesenvolvido não está entregue à fatalidade de um círculo vicioso, mas ao dinamismo de um processo histórico”.

Usos de modelos econométricos. Uma crítica Nos capítulos anteriores teve-se o cuidado não somente de conceituar e

apresentar as várias conotações e sentidos do termo "modelo”, mas também de apresentar características de realidades periféricas. Essa parte contém breves considerações sobre a utilidade de alguns modelos usados em pesquisas no Nordeste brasileiro, e uma crítica a sua utilização. Um dos grandes exemplos da

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aplicação de um modelo matemático de simulação no Nordeste foi à pesquisa intitulada "Processos de Mercado no Recife, Área do Nordeste Brasileiro", realizada pela Michigan State University em convênio com a SUDENE. Aquela pesquisa, cujo modelo matemático era "demasiado grande e complexo para ser colocado nos computadores ora disponíveis no Brasil" (outubro de 1968), tinha aproximadamente 70.000 dados e 1.200 variáveis no modelo completo. Segundo os próprios autores, "as analises da simulação usando o modelo foram efetuadas no computador CDC 3.600 da Michigan State University, em Eaat Lansing, Michigan". (Michigan State University Processos Mercadológicos na Área do Recife no Nordeste Brasileiro (Um Sumário para Executivos) pg. 37. Outubro de 1968).

Independentemente dos aspectos políticos e de segurança nacional que poderiam advir do processo de realização da pesquisa, com testes de atitudes das populações, e seu processamento fora do país, procura-se, aqui, indagar:

a) Para que e para quem serviu aquela exaustiva pesquisa? Que utilidade

teve aquela pesquisa no planejamento regional e/ou nacional? b) Tinha a SUDENE preocupações ou prioridades para uma pesquisa

daquela magnitude? c) Que fazer com os resultados da pesquisa? Passados todos esses anos, todas as perguntas aqui formuladas

continuam sem respostas pese a citada pesquisa ter sido elaborada sob forte rigor científico e ter custado aos cofres da Nação uma soma bastante vultosa em termos de contrapartida em moeda nacional, em materiais e em técnicos.

Outro exemplo semelhante foi à pesquisa "A Economia agrícola do Nordeste", realizada pelo BIRD. Aquela pesquisa foi praticamente imposta a SUDENE, em 1973, e formalizada através do acordo SUDENE/BIRD/ UFPE/UFV-MG/INCRA/EMATER-NE/CEPAs. A pesquisa em tela, também realizada sob rigoroso caráter científico, se fundamentou num modelo econométricos de programação linear. Igualmente a anterior, todos os dados da pesquisa BIRD/SUDENE, foram processados no exterior e toda programação foi feita em função dos objetivos do BIRD, que podiam ou não confundir-se com os objetivos da SUDENE. Só após o término da citada pesquisa ê que o BIRD promoveu um Seminário sobre a mesma, divulgando naquela oportunidade um conjunto de modelos matemáticos aplicáveis ao planejamento agrícola.

Independentemente do rigor científico da pesquisa, cabe também as mesmas indagações insinuadas para a pesquisa da Michigan State University. Paralelamente aos exemplos supracitados, acontecem nas Universidades dos Estados do Nordeste inúmeros exemplos semelhantes aos aqui mencionados, particularmente nas Universidades dos Estados de Pernambuco, do Ceará e da Bahia, que foram patrocinadas pela SUDENE e pelo Banco do Nordeste. Em

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nenhuma hipótese pretende-se aqui contestar o rigor científico das pesquisas que se realizaram ou se realizam no Nordeste, mas sim o seu sentido e uso.

A preocupação está no sentido da praticidade, utilização e conveniência das mesmas. Em geral tem-se a impressão de que grandes partes das pesquisas dos tipos aqui mencionados estão voltadas completamente para interesses alienígenas e nunca para os da comunidade nordestina ou brasileira. A preocupação esta, portanto, no caráter acadêmico e diletante das pesquisas e, de modo geral, no mimetismo alienante. Por outro lado, fica-se em dúvida, às vezes, sobre se as Universidades nordestinas, no momento, estão preparando técnicos ou cientistas para resolver problemas de nações desenvolvidas como são exemplos os EE.UU, Israel, ou se do Brasil ou do Nordeste. Quando se acompanha de perto as pesquisas e mesmo os currículos dos cursos de mestrado tem se sempre a impressão de que são partes de universidades circunscritas a outras realidades completamente diferentes das do Brasil e, muito em particular, da sua parte mais subdesenvolvida que é a Região Nordeste.

Una análise mais aprofundada do fenômeno indicaria certamente uma completa disfunção e desfoque das pesquisas com vistas à realidade nordestina e dos seus principais órgãos executores, particularmente as Universidades. Supõe-se que tais desfoques e/ou disfunções descansam na ingenuidade de idealizar a "tecnização" da função política. Esta talvez seja a razão pelas quais as atuais tecnocracias nordestinas e brasileiras primarem por interpretar os fenômenos sócio-econômicos através de sofisticados modelos econométricos, tais como: programação linear, modelos e programações estocásticas e de simulação. Na grande maioria dos casos, sem a devida redução as realidades em análise.

Ao concluir esses breves comentários sobre modelos e seus usos em realidades subdesenvolvidas, faz-se mister apresentar algumas considerações resultantes de alguns debates internacionais. No simpósio sobre "Aplicações Econométricos na Agricultura”, realizado em Minsk, assim como no XV Congresso Internacional de Economistas Agrícolas, realizado em São Paulo (Agosto de 1973), ficou claro que nos paises subdesenvolvidos só para uma determinada situação é que um modelo tecnicamente atinge a solução ideal. Outrossim, "isto não é nada mais do um ideal onde elementos estatísticos são muito poucos e não seguros e difundidos'‘.

As profundas discussões sobre modelos econométricos naqueles eventos deixaram em duvida: a conveniência de se usar em países subdesenvolvidos a programação quadrática, e a conveniência ou não do uso da programação estocástica e modelos dinâmicos baseados na simulação com programação Monte Carlos ou de Jogo. Com respeito à difícil luta para superar as situações marginais que ocupam as atividades produtivas nas economias dos países subdesenvolvidos, verificou-se e discutiu-se a atual tendência de se colocar os modelos matemáticos em cima das prioridades nas soluções dos problemas.

No campo socioeconômico aquela tendência é de não levar em conta que: as dificuldades não estão somente em conseguir uma modificação material,

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mas, fundamentalmente, em desenvolver uma aceitação psicológica de que as mudanças devem ser efetuadas. Tomando as mudanças como resultados de etapas sucessivas de desequilíbrio, Theodor Heidhues, da Universidade de Gottingen, em seu ensaio "Análise Setorial e Regional Objetivos e Métodos", adverte que: "a economia analítica quando se preocupa com a análise de mudanças deve procurar incorporar os elementos essenciais destes processos, focalizando as situações de desequilíbrio e as forças por elas iniciadas. Precisamos desenvolver um estado de consciência que se concentre nas causas, direções e muito particularmente nas taxas de mudança". No supramencionado ensaio, Heidhues, ao analisar as abordagens adaptáveis à construção de modelos no setor primário dos países subdesenvolvidos, faz as seguintes advertências:

a) "O caráter de desequilíbrio dinâmico dos modelos deve permitir ao

analista esboçar o desenvolvimento de um sistema ao longo do tempo com relação a: direções de mudanças explicáveis em termos de princípios conhecidos de teoria econômicas e identificáveis as variáveis causais; taxas de mudanças que estejam sujeitas as restrições econômicas, tecnológicas, políticas e de comportamento. Estas restrições devem permitir uma incorporação explícita de aceitação individual e social das taxas de mudança”

b) "Os modelos devem ser abertos a situações de informação limitada e incerta. De modo ideal eles devem incluir processos de aprendizagem que permitam aos tomadores de decisão avaliar os resultados de ações passadas e adaptar ou melhorar as suas bases de informação. A incerteza requer um comportamento cauteloso de otimização, que avalie os efeitos negativos potenciais. Ambos os aspectos implicam em que os resultados de ações oriundas de decisões de otimização sob condições de incerteza e informação limitada podem se desviar dos resultados esperados, e que os resulta dos reais estão disponíveis como base para decisões futuras”

c) "O caráter parcial de todos os modelos econômicos deve ser reconhecido explicitamente, o que resulta na necessidade do uso de informações ambientais e realimentação. As mudanças no mundo real podem resultar de ações dos tomadores de decisão que provocam realimentação endógena".

É a habilidade dos modelos de incorporarem metas múltiplas e

possibilidades de adaptação dessas metas que constitui um requisito primordial para se desenvolver a abordagem de construção de modelos para satisfazer aos problemas de política.

Para expressar o desejo de desenvolver uma determinada área em

condições de subdesenvolvimento, os modelos econométricos são importantes dentro de parâmetros limitados. Não são suficientes para solucionar aqueles problemas face à fluidez dos atos políticos dos governos, isto é, eles não podem ser solucionados com elucubrações de ordem tecnocrática ou acadêmica, mas

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somente por meio de atos políticos positivos. Muitas condições são necessárias ao uso completo de um modelo econométrico, como é o caso das estatísticas básicas.

Para o Nordeste ou mesmo o Brasil cabe perguntar: a) Onde estão, ou existem estes elementos estatísticos? b) Como será possível aplicar certos modelos econométricos para um

país com tão profundas desigualdades regionais como é o Brasil? c) Até que ponto a "flexibilidade" dos modelos econométricos indicam

"incerteza"? Uma acurada resposta a estas indagações, levará a aceitação da assertiva

segundo a qual a aplicação de modelos econométricos sem as imprescindíveis reduções dentro das reais possibilidades da atual estrutura subdesenvolvida de uma região ou de um país é um sonho ou um academicismo alienante, particularmente quando considerado necessário e suficiente. Acredita-se, mesmo, que a atual proliferação de modelos econométricos na interpretação dos fenômenos socioeconômicos do Brasil ou suas partes (sem a devida redução) descansam na:

a) Participação dos tecnocratas nos setores mais representativos da

consciência ingênua quanto à interpretação da realidade brasileira e/ou regional b) Formação profissional nos livros das nações hegemônicas ou mesmo

nos cursos ou escolas alienígenas transplantadas para o Brasil c) Análise da realidade brasileira através da consciência reflexa, isto é,

de fora para dentro e não de dentro para fora d) Característica sensitiva, irascível, pedante e aristocrática das posições

dos tecnocratas, que se negando a despojar-se do saber adquirido na ou pela metrópole e cegamente empregado no país ou impedem de induzir do real as categorias efetivas com que apreendê-lo.

Com respeito ao planejamento do desenvolvimento rural integrado o

renomado técnico A.T. Mosher, de larga experiência em situações de subdesenvolvimento na Ásia, entre outras coisas deixa explícito em seus trabalhos que para se aferir juízos da proporcionalidade entre as atividades principais no setor agrícola, podem-se atingir as seguintes razões qualitativas:

a) As proporções em que os recursos devem ser comprometidos as

atividades agrícolas dependem das diferentes situações nas várias partes do País b) Não se podem fazer cálculos dos benefícios em produção agrícola

nem em bem estar rural com similar precisão

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c) As análises custos/benefícios não dizem que se aconselhe a realização de um projeto de determinada situação se os mesmos recursos podem aplicar-se a outros fins

d) As análises de insumos/produto e a programação linear são instrumentos úteis para analisar relações em uma firma, indústria ou economia em uma situação dada, mas não para as mudanças necessárias para criar uma agricultura moderna

e) Modelos matemáticos que simulam uma economia não podem dar coeficientes precisos para uma equação de comprometimentos de recursos que inclua todas as atividades agrícolas necessárias à criação de uma agricultura moderna

f) As decisões sobre alocações de recursos no planejamento agrícola, em situação de subdesenvolvimento, deve ser obra de deliberações consultivas.

Para finalizar, cabe chamar a atenção para o fato de, nos dias de hoje,

apresentarem-se, no Brasil, professores universitários, profissionais liberais e adeptos de certas teorias ou "seitas” e ambientalistas ingênuos comprometidos com proposições lesivas aos interesses da população brasileira. Esses arautos preconizam entre outras ingenuidades, que o desenvolvimento e, muito em particular, a modernização da agricultura, reduzem a qualidade da vida. Toda sua argumentação prende-se a crença errônea ou preconceito de que o uso de produtos químicos no solo e nas lavouras (mesmo controlado e submetido às regras da sustentabilidade ambiental e sem malefícios ao meio ambiente) é necessariamente danoso à saúde humana. Tal falácia pode ser suportada ou aceita, por algum tempo, por países desenvolvidos, onde há volumosos subsídios aos excedentes de sua produção agrícola.

Sem dúvida o combate às pragas de forma biológica e o uso de fertilizantes orgânicos naturais são os mais desejáveis e aconselháveis. Porém a conclusão de se condenar fertilizantes químico-minerais devidamente formulados para o tipo de cultivo e solo não tem cabimento. No caso concreto do Brasil não há condições para tais dogmas quando se tem consciência dos miseráveis níveis de vida da maioria absoluta da sua população, cuja prática não é outra senão o sofrimento cotidiano. Destarte, para o brasileiro, não deve haver outro critério de verdade senão a transformação objetiva e radical do seu modo de existência. Esses pregoeiros da defesa do progresso sem tecnologia além de acreditarem que a natureza é pródiga, por si só, são insensíveis aos empreendimentos racionais, encolhem o real, simpatizam com o menor, desejam pouco e valorizam o acanhado. Com esses atributos formulam teoricamente a doutrina do antidesenvolvimento.

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IV. SINOPSE DAS PRINCIPAIS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO E SUBDESENVOLVIMENTO

Na literatura econômica, encontra-se, quase sempre, o conceito de

subdesenvolvimento expresso de modo bastante controvertido. Normalmente, esse conceito é reduzido a uma morfologia muitas vezes abstrata, com referências às características necessárias à identificação de uma área estagnada. As definições de subdesenvolvimento, geralmente, apresentam desajustamentos entre o conceito e a realidade. A categoria econômica de subdesenvolvimento como vem sendo usada na literatura econômico-social é tomada como um estado, estágio ou etapa e nunca como um processo. As concepções e teorias sobre o subdesenvolvimento e o desenvolvimento econômico-social, além das teorias aqui enfocadas, demandam do leitor aprofundá-las em seus estudos:

a) Teorias das modificações estruturais endógenas, compostas pelas

teorias sobre o papel da agropecuária no desenvolvimento e a teoria sobre a industrialização no desenvolvimento

b)Teorias das modificações estruturais exógenas, subdivididas em teorias sobre o papel do comércio exterior no desenvolvimento e papel do capital estrangeiro e ajuda alienígena no desenvolvimento

c) Teoria sobre a p1anificação do desenvolvimento d) Teoria sobre o papel do fator humano no desenvolvimento e) Teoria sobre o problema do financiamento do desenvolvimento f) Teoria sobre os pólos de desenvolvimento. Segue, agora, um breve retrospecto das principais concepções de

subdesenvolvimento e desenvolvimento nas teorias econômicas.

Teoria do círculo vicioso Os fundamentos dessa teoria estão na suposição de que forças e fatores,

tanto econômicos, como extra-econômicos, influenciam-se mutuamente, em um determinado círculo vicioso. Dessa maneira, uma força ou fator atua sobre uma segunda; esta, sobre uma terceira e assim, sucessivamente, até que a última atue sobre a primeira. Segundo essa teoria, todas as dependências causais se processam em um círculo fechado de pobreza. Partindo-se da suposição de que não se rompa um elo da corrente circular, o processo continuaria sempre o mesmo.

Os principais representantes dessa teoria são: H.W.Singer, N. S. Buchanan, S. Enke e V. Salerol , G.H. Méier e R. Baldwin , R. Nurkse , G. Myrdal , H. Leibentein e R.T. Gill .

Segundo alguns de seus defensores, pode-se, esquematicamente, representar essa teoria em forma de diagrama:

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a) Esquema da concepção do círculo da miséria de R.T. Gill:

Baixa produção por habitante

Baixo nível Pequena ou de vida nenhuma formação

de capital

Pequena poupança b) Esquema da concepção do círculo da pobreza de R. Nurkse,

resultante da insuficiente oferta de capital: Pequeno volume

produção Baixo nível de renda Insuficiência de nacional real capital

Baixa produtividade

c) Esquema da concepção do circulo da pobreza de R. Nurkse, resultante da insuficiente demanda de capital:

Baixa capacidade de compra da população

Baixa renda real Fraco estímulo para investir

Baixa produtividade Insuficiência de capital

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d) Esquema do circulo do atraso de G.H. Méier o R. E. Baldwin: Imperfeição das relações mercantis

Recursos sub-utililados

Povo atrasado

Insuficiência de capital Pequenos investimentos baixa produtividade Pequena poupança baixa renda real Baixa demanda Teoria do dualismo econômico

Os traços característicos dessa teoria se fundamentam na existência de

completa desuniformidade dentro do sistema econômico, isto é, na diferença entre os setores da economia que, apesar de manterem unidades recíprocas, em muitos casos, não podem ser requeridos e determinados em seus limites de reciprocidade.

Essa concepção dualista é aplicada tanto para a economia nacional de um determinado país quanto para a economia mundial como um todo, muito embora exista, nos casos individuais, um grande número de variações.

Segundo seu principal defensor o economista holandês J. H. Bocke pode-se, de maneira muito generalizada, identificar dois pontos característicos dessa teoria: primeiro a sua essência fundamenta-se em que uma pequena parte, ou setor da economia se desenvolve enquanto a outra grande parte, ou setor econômico, fica estagnado; segundo, a parte econômica estagnada, em virtude de sua amplitude e de outras qualidades negativas, resultantes da estagnação, freia o crescimento da parte que tende a se desenvolver e dessa maneira há um atraso global na economia.

Em linhas gerais, essa teoria apresenta variações nos diversos países. No Brasil, ela é expressa no dualismo econômico acatado por um grande número de economistas, como setor capitalista e setor pré-capitalista. Dessa maneira, o módulo usual pode-se equacionar da seguinte forma: T = A + B, em que A representa o setor pré-capitalista e o B, o setor capitalista, cuja soma é o produto nacional bruto representado, na equação, pela letra T. O setor capitalista B pode,

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segundo a teoria, subdividir-se em três subsetores, ou seja: B = P + F + G, em que P representa o setor privado, F o setor ligado ao exterior, e G o setor estatal ou público. Já o setor pré-capitalista A é identificado pelas formas de economia natural e, muito em particular, pela agricultura semimercantil resultante de resquícios feudais ou semifeudais, segundo aqueles autores que defendem o dualismo econômico. Teoria do grande incentivo

Essa teoria se fundamenta, principalmente, nas questões que dizem

respeito à construção de uma infra-estrutura para os vários setores da economia. Refere-se a dois problemas distintos: de um lado, a concepção em longo prazo do crescimento da economia nacional e, do outro, as variações médias que se processam em curto espaço de tempo na época do grande incentivo. Harvey Leibenstein, também defensor dessa teoria, diz que o aspecto crucial da teoria refere-se à explicação dos motivos pelos quais o equilíbrio de subsistência é estável para as pequenas alterações, mas não para as de grande monta. O problema divide-se em duas partes. A primeira explica porque, com um nível de renda per capita baixo, ou não muito acima, do de subsistência, a dinâmica da economia é tal que a renda per capita retorna, eventualmente, a seu valor anterior. A segunda indica os conjuntos de relações que demonstram que, se houver uma grande mudança, a economia passa do tipo do equilíbrio para o de não-equilíbrio.

Outro grande defensor dessa teoria, Rosenstein Rodan escreve que o modo de romper com o “circulo vicioso da pobreza” é através do grande incentivo. Sustenta que toda atenção do Estado deve estar concentrada, na época do grande incentivo, na criação de uma nova e sólida infra-estrutura nos setores econômicos. Afirma, ainda, que a parte do capital para investimento na construção de uma sólida infra-estrutura deve atingir de 30 a 40 % do total dos investimentos.

Teoria do crescimento equilibrado Essa teoria inicialmente teve em seus defensores a preocupação das

estruturas dos países desenvolvidos, particularmente, baseada nos modelos de crescimento econômico de Harrod e de Domar, que se baseiam no princípio de que “o rendimento crescerá numa proporção igual ao quociente da propensão a economizar sobre a razão capital-produção, se a capacidade for totalmente utilizada e se o equilíbrio economia–investimento prevalecer”. Resume-se, portanto, a teoria na equação:

Y ́= Y KS e

ks

YY =´

Donde:

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Y’ = KL , significa rendimento por unidade de tempo

K, representa toda a razão capital produção Y, significa a renda da sociedade s, significa a propensão para economizar. Após as interpretações críticas de M. Lipton e H. W. Singer, essa teoria

passou a ser divulgada e utilizada pelos países subdesenvolvidos. Segundo M. Lipton essa teoria obedece a três configurações de

crescimento: a) Extremo, que se expressa na manutenção de uma igual taxa de

crescimento em todos os setores da economia b) Moderado, representado através do crescimento de todos os setores

com várias taxas de crescimento c) Elaborado ou sofisticado, no qual se define uma proporção setorial

que permita o manejo das dependências entre os setores produtivos, inclusive vendas ou despachos dos produtos finais.

H.W. Singer defende a teoria através da seguinte concepção: a) Utilização de fatores não-técnicos, cujo sentido é garantir harmonia ao

desenvolvimento econômico-social e não permitir que o crescimento seja guiado por desproporções sociais

b) Utilização geral da tecnologia, com ambição e sentido, para que se possam medir os programas de desenvolvimento com as fontes geradoras e, assim, garantir o equilíbrio entre a acumulação e as hipóteses de inversões e sempre utilizando a técnica especifica. Para isso, Singer demonstra praticamente todas as formas de crescimento equilibrado, resultantes da estabilidade do mercado e sua proporcionalidade na estrutura dos setores econômicos.

Além de M. Lipton e H. W. Singer (principais defensores do crescimento

equilibrado) essa teoria tem vários aspectos defendidos por autores, corno: Rosenstein-Rodan, Nurkse, Lewis, Scitovsky. Teoria do desenvolvimento não-equilibrado

Criticando a teoria do crescimento equilibrado, Albert O. Hirschman

passa a defender a teoria do desenvolvimento não equilibrado, partindo da hipótese de que, “se a economia desejar manter ativo, o papel da política desenvolvimentista é conservar as tensões, as desproporções, os desequilíbrios. Tal pesadelo da economia do equilíbrio , essa trama, infinitamente, tecida é a espécie de engrenagem que devemos considerar como um inestimável auxilio para o processo do desenvolvimento”.

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Revendo inclusive os modelos de Harrod e Domar, Hischman adverte que ‘‘se alguém pensa que as relações funcionais supostas no modelo sejam umas descrições significativas do processo de desenvolvimento, pode-se atingir um ponto em que a norma se torne mais um estorvo do que um auxilio para a compreensão da realidade dos países subdesenvolvidos”. Comparando, ainda, o modelo entre economias subdesenvolvidas e desenvolvidas, ele afirma: “Nas economias desenvolvidas, as decisões de poupança e de investimento independem umas das outras até um ponto considerável e a renda “per capita” é uma determinante valiosa do suprimento de economias. Por isso a igualdade entre a poupança e o investimento é uma condição de equilíbrio e escrever $ Y por S é um princípio de grande significação na análise da típica atitude de poupança. Em uma economia subdesenvolvida, por outro lado, as decisões de investimento e de poupança apresentam grande interdependência. Ao mesmo tempo, as adições às economia dependem muito mais do oferecimento de oportunidades de investimento e da remoção de vários obstáculos à atividade inversionista do que da renda acrescida.’’ Teoria da transição do arranco para o autodesenvolvimento

Essa teoria tem em W.A. Lewis e, principalmente, em W.W. Rostow seus

principais defensores, e, em linhas gerais, propõe que o caminho para o progresso, modernização, transformação e crescimento econômico para os países pobres ou subdesenvolvidos constitui, em essência, o mesmo que serviu no passado aos países hoje desenvolvidos ou ricos.

Rostow, após analisar as etapas do desenvolvimento o as precondições para o arranco diz, textualmente: “o inicio do arranco pode ser geralmente atribuído a um determinado estímulo bem definido. Pode-se revestir a forma de uma revolução política que afete diretamente as instituições econômicas, a distribuição da renda, ao padrão dos gastos com investimentos e a proporção das inovações potenciais deveras aplicadas. Tal foi o caso, por exemplo, da revolução alemã do 1848, da restauração Meiji no Japão em 1868, e dos mais recentes fatos da independência da India e o da vitória comunista na China. Pode originar-se do uma inovação tecnológica (inclusive dos meios de transporte), que impulsiona uma cadeia de expansão secundária em setores modernos exercendo poderosos efeitos nas economias externas que a sociedade aproveita. Pode assumir a forma de novel ambiente internacional favorável, como foi a abertura dos mercados britânico e francês à madeira sueca, na década do 1860 ou uma elevação”. relativamente abrupta dos preços de exportação e (ou) as novas e vastas importações de capitais, como no caso dos Estados Unidos, nos últimos anos da década de 1840, e do Canadá e da Rússia nos meados de 1890; pode decorrer igualmente de um desafio apresentado pela mudança desfavorável no ambiente internacional, como uma queda violenta das relações de troca (ou um bloqueio do comércio com o estrangeiro em tempos

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de guerra) impondo o urgente desenvolvimento de sucedâneos para as manufaturas importadas, como sucedeu com a Argentina e a Austrália entre os anos de 1930 o 1945”.

O próprio Rostow define o arranco como urna transição decisiva que exige, “ao mesmo tempo, as seguintes três condições inter-relacionadas”:

a) Um aumento da taxa de investimento produtivo, digamos de 5% ou

menos para mais de 10% da renda nacional (ou produto nacional líquido - PNL)

b) O desenvolvimento de um ou mais setores manufatureiros básicos, com um elevado índice de crescimento

c) A existência ou a rápida eclosão de um arcabouço político, social e institucional que aproveite os impulsos expansionistas do setor moderno o os efeitos potenciais das economias externas do arranco e imprima ao desenvolvimento um caráter constante”. Teoria da economia periférica ou exportadora dependente

Essa teoria surgiu após uma sistemática crítica de economistas latino-

americanos, destacando-se dentre eles Raul Prebisch, nos conceitos: riqueza, evolução, progresso e crescimento econômico, assim como industrialização como sinônimo de desenvolvimento. Dessa maneira, aquela corrente de economistas analisa a equivalência dos conceitos supraditos, às correntes dos pensamentos ideológicos que refletem e, ainda, o enfoque que a partir dos requisitos ideológicos e metodológicos de economias capitalistas desenvolvidas são por eles defendidas.

Assim, surge o conceito de subdesenvolvimento e de desenvolvimento econômico-social, como processo.

A síntese dessa teoria, em sua etapa mais avançada, é bem apresentada por Osvaldo Sunkel e Pedro Vaz, quando afirmam que “um esquema analítico adequado para o estudo do desenvolvimento deve repousar sobre as noções de processo, de estrutura e de sistema. Não se admite que o subdesenvolvimento seja um momento na evolução contínua (enfoque do desenvolvimento como crescimento) ou descontínua (enfoque do desenvolvimento como sucessão de etapas) de uma sociedade econômica, política e culturalmente separada e autônoma; pelo contrário, postula-se, baseando-se sobre a observação histórica sistêmica, que o subdesenvolvimento é parte do processo histórico global de desenvolvimento, e que, tanto o subdesenvolvimento, como o desenvolvimento são duas faces de um mesmo processo histórico universal; e que ambos os processos são historicamente simultâneos: que estão vinculados funcionalmente, integram-se e condicionam-se mutuamente, e a sua expressão geográfica concreta se observa em dois ‘grandes’ dualismos: de uma parte, a divisão do mundo entre os estados nacionais industriais, avançados,

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desenvolvidos, CENTROS, e os estados nacionais subdesenvolvidos, atrasados, pobres, periféricos, dependentes; e por outra parte a divisão dentro dos estados nacionais em áreas, grupos sociais, atividades avançadas e modernas, além de áreas, grupos e atividades atrasadas, primitivas e dependentes”.

“O desenvolvimento e o subdesenvolvimento podem ser compreendidos como estruturas parciais, porém interdependentes, na conformação de um sistema único. A característica principal que diferencia ambas as estruturas é que a desenvolvida, em virtude de sua capacidade endógena de crescimento, é a dominante e a subdesenvolvida, dado o caráter induzido de sua dominância é dependente; e isto se aplica tanto entre países como dentro de um país”.

“O problema fundamental do desenvolvimento de uma estrutura subdesenvolvida aparece assim como a necessidade de superar seu estado de dependência, transformar sua estrutura para obter uma maior capacidade autônoma de crescimento e uma reorientação de seu sistema econômico que permita satisfazer os objetivos da respectiva sociedade. Em outros termos o desenvolvimento de uma unidade política e geográfica nacional, significa lograr uma crescente eficiência na manipulação criadora de seu meio ambiente natural, tecnológico, cultural e social, assim como, de suas relações com outras unidades políticas e geográficas”.

O enfoque dado por Osvaldo Sunkel e Pedro Vaz está implícito no trabalho do economista J.R. Hicks da Universidade de Oxford, bem como esta última definição, que constitui uma ampliação da utilizada por N. Girvan e O. Jefferson.

Em outras palavras, essa perspectiva se apresenta nos trabalhos do economista norte-americano A. Gunder Frank que se expressa da seguinte maneira: “Para compreender o subdesenvolvimento precisamos investigar o desenvolvimento desse subdesenvolvimento. Sim, eu digo o desenvolvimento do subdesenvolvimento porque o subdesenvolvimento, sendo distinto do pré-desenvolvimento, não preexistiu ao desenvolvimento econômico, nem apareceu por si mesmo ou do repente. O subdesenvolvimento não surgiu assim espontaneamente, mas se desenvolveu juntamente com o próprio desenvolvimento econômico. E ainda hoje tem sido assim. O desenvolvimento é uma parte integral, da mesma forma que o subdesenvolvimento econômico do único processo de desenvolvimento ocorrido neste planeta durante os últimos cinco séculos ou mais”.

Segundo o economista Gunder Frank, pode-se portanto, falar não só num estado de subdesenvolvimento, como também numa parte de um processo global. Este pode, assim, ser decomposto em um processo de desenvolvimento e noutro, de subdesenvolvimento que são paralelos e complementares. A compreensão desses processos só poderá ser fornecida através da analise histórica.

Partindo dessa nova concepção, não basta considerar o subdesenvolvimento como um conjunto de características verificadas empírica

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ou intuitivamente, tais como: baixa renda per cápita, existência de desemprego disfarçado, baixa produtividade, baixos índices sanitários e higiênicos, concentração de renda e da propriedade da terra, dependência econômica externa, etc., ainda que elas se possam dispor, funcionalmente articuladas.

O subdesenvolvimento não deve ser considerado como um dado, mas sim como uma complexidade particular de um processo histórico bem definido no processo de desenvolvimento do capitalismo como modo de produção - do qual ele é parte integrante. Sua compreensão implica ultrapassar os limites estreitos de um conjunto arbitrariamente abrangente de características diversas apreendidas num momento qualquer, relacionadas conforme suas conexões lógicas mais imediatas.

O subdesenvolvimento que caracteriza determinada economia deve ser compreendido como uma totalidade, embora não-autônoma nem autodeterminante, que se constitui e se reconstitui dentro do processo histórico, no qual relações lógicas, funcionais e históricas se interpenetram dialeticamente, constituindo-se, dessa forma, um todo ao mesmo tempo real e racional.

O subdesenvolvimento, tal como se apresenta expressa uma das facetas do metabolismo do capital no processo global do qual participa, e ao qual está ligado por uma função. Esta é definida pelo processo, estando sempre sujeita a ser redefinida à medida que repercutem sobre a economia subdesenvolvida alterações funcionais induzidas pelo desenvolvimento das forças produtivas ou, pelo menos, num reajustamento das funções internas da economia referida.

A seguir se apresenta o quadro “relações entre centro e periferia”, elaborado por O. Sunkel e Pedro Vaz, com acréscimo do período neoliberal e do socialismo de mercado a partir dos anos de 1990, realizado pelo autor destes Textos. Ver quadro na página seguinte.

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RELAÇÕES ENTRE CENTRO E PERIFERIA PERÍODO EVOLUÇÃO DO CENTRO POTÊNCIA DOMINANTE SISTEMA DE RELAÇÕES EVOLUÇÃO CENTRO PERIFERIA DA PERIFERIA Mercantilista Capitalismo Comercial Espanha, Portugal e Holanda Mercantilismo Comercial Conquista e Institucionalização (1500 - 1750) Apogeu (1570 - 1650) Crise e câmbios (1650 - 1750) Bases da Revolução Inglaterra Liberalismo Antecedentes independência Industrial (1750 - 1850) (1750 - 1820) Industrialização estados nacionais (1820 - 1870) Liberal Apogeu Revolução Inglaterra Apogeu Liberalismo Apogeu (desenvolvimento para fora) (1750 – 1950) Industrial E.U.A (imperialismo) (1870 - 1913) (1850 - 1913) França Alemanha Bélgica-Holanda Crise Capitalismo E.U.A Crise Liberalismo Industrialização por substituição de importações (1913 - 1950) Guerra Fria Auge Neocapitalista E.U.A Neocapitalismo Crise do Modelo industrialização por substituição de importações (1950 - 1990) Estabelecimento do URSS Socialismo de Estado Criação de sociedades socialistas estatais Sistema socialista estatal Fim do socialismo de estado Neoliberalismo Apogeu do capitalismo E.U.A Globalismo Crise do modelo dos NIC (Novos (Globalismo) 1990... Liberal tradicional (Fim da URSS) Paises industriais) e do estado nacional Socialismo de Avanço do socialismo de China, Cuba e Vietnã Socialismo de mercado Abertura, socialista para os mercados mercado 1990... mercado com reconhecimento da lei de valor.

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Teoria do subdesenvolvimento

Na tentativa de propor um pensamento voltado para ação, Celso Furtado cria e desenvolve a teoria do subdesenvolvimento cuja essência está em “aprofundar a percepção do subdesenvolvimento como um processo histórico específico, requerendo um esforço autônomo de teorização. Em sua teoria sobre o subdesenvolvimento, FURTADO transcende a análise econômica apreendendo, na teoria, fatores não-econômicos na configuração dos modelos macroeconômicos. Tanto isto é verdade que FURTADO insiste em uma política cultural que preserve nossa identidade e que venha a “ser a liberação das forças criativas da sociedade”. Para esse mister, no que trata especificamente do Brasil, FURTADO mostra que “o centralismo político significa entre nós prevalência do poder econômico e, por conseguinte, subordinação das regiões economicamente mais débeis aos interesses daquelas que assumiram a vanguarda do processo de industrialização. Portanto, a restauração de autonomia dos estados é condição necessária para que se detenha a concentração geográfica da riqueza e da renda e se obtenha um desenvolvimento fundado no fortalecimento das matrizes históricas de nossa cultura”.

Para melhor se entender a presente teoria, transcreve-se, a seguir, as idéias sínteses de FURTADO sobre a teoria em epígrafe: “Em minhas investigações teóricas, o problema que mais me apaixonou foi o de encontrar explicação para o fato de que a elevação da renda da população brasileira e o avanço considerável de nossa industrialização não se traduziram em redução da heterogeneidade social do país, ao contrário do que ocorreu nas economias que chamamos de desenvolvidas. Como explicar a persistência de nosso subdesenvolvimento se é uma das economias que mais cresceram no correr do último meio século? Observando a realidade de outro ângulo: por que o assinalado crescimento da riqueza nacional somente beneficia uma parcela reduzida da população?”.

“A reflexão sobre esse problema levou-me a formular o que chamei de teoria do subdesenvolvimento. A conformação social dos países que qualificamos de subdesenvolvidos resultaria da forma particular que neles assumiu a difusão do progresso tecnológico que moldou a civilização contemporânea”.

“O que caracterizou a era aberta pela Revolução Industrial foi o aumento persistente da produtividade do trabalho humano, fruto do avanço das técnicas e do esforço de acumulação de capital. Esses dois fatores se condicionaram mutuamente, mas se comportaram seguindo curvas autônomas. A mera acumulação de capital engendrou aumentos na produtividade do trabalho, graças a economias de escala. Por outro lado, ali onde houve acesso a novos mercados, a elevação de produtividade também se concretizou, prescindindo de avanços nas técnicas produtivas, mediante a simples realocação dos recursos existentes. Assim, um país que expandia a sua agricultura de exportação utilizando solos e mão-de-obra antes ocupados na agricultura de subsistência

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pôde beneficiar-se de incrementos de produtividade e renda, sem alterar suas técnicas produtivas”.

“Ninguém contesta que o comércio internacional haja sido durante séculos criador de riquezas, independentemente da introdução de novas técnicas. Quando Ricardo formulou a teoria dos custos comparativos, que explica aumentos de produtividade gerados pelo intercâmbio internacional, não necessitou apelar para o fator avanços nas técnicas.”.

“Os importantes aumentos de renda gerados pela expansão do comércio internacional no século XIX alimentaram a difusão dos novos padrões de consumo criados pela Revolução Industrial. Dessa forma, o que se universalizou não foi a nova tecnologia industrial, e sim os novos padrões de consumo surgidos nos países que lideraram o processo de industrialização”.

“As novas técnicas produtivas também tenderam a universalizar-se, particularmente em setores subsidiários do comércio internacional, como os meios de transporte. Mas, no que concerne às atividades diretamente produtivas, foi lenta a difusão das novas técnicas. Isso deu origem a diferenças qualitativas entre as estruturas econômicas e sociais dos países em que a acumulação e o progresso nas técnicas produtivas avançavam conjuntamente e as daqueles países em que esses avanços privilegiaram o vetor da acumulação em obras improdutivas e bens duráveis de consumo, em geral importados. Cabe, portanto, distinguir os dois processos históricos, cujas diferenças persistiram até o presente, independentemente, das taxas de crescimento da renda e do acesso à industrialização”.

“Essas reflexões me levaram à convicção de que a permanência do subdesenvolvimento se deve à ação de fatores de natureza cultural. A adoção pelas classes dominantes dos padrões de consumo dos países de níveis de acumulação muito superiores aos nossos explica a elevada concentração de renda, a persistência da heterogeneidade social e a forma de inserção no comércio internacional”.

“A variável independente é, em última instância, o fluxo de inovações nos padrões de consumo que irradia dos países de alto nível de renda. Ora, esse mimetismo cultural tem como contrapartida o padrão de concentração da renda que conhecemos. Para liberar-se dos efeitos desse imperativo cultural perverso, faz-se necessário modificar os padrões de consumo no quadro de uma ampla política social, e ao mesmo tempo elevar substancialmente a poupança, comprimindo o consumo dos grupos de elevadas rendas. Essas duas linhas de ação só têm eficácia se perseguidas conjuntamente, e requerem um planejamento que, por seu lado, deve apoiar-se em amplo consenso social”

“O desafio que se coloca é alcançar essas mudanças estruturais sem comprometer o espírito de iniciativa e inovação que assegura a economia de mercado. Sobre a conjugação do planejamento com a iniciativa privada, muito temos a aprender da experiência dos países de industrialização tardia do Sudeste

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asiático, os quais se anteciparam na difícil tarefa de reconstrução de estruturas sociais anacrônicas”.

As citações acima apresentadas do grande pensador e economista brasileiro Celso Furtado deixam o leitor pronto para, a partir de suas idéias básicas, pensarem o Brasil sob as perspectivas de uma visão crítica abrangente. Note-se, ainda, que suas idéias continuam atualizadas e mundialmente respeitadas, haja vista a grande homenagem que lhe foi prestada na UNCTAD XI na cidade de São Paulo em junho de 2004.

Teoria do desenvolvimento sustentável

“Pela exploração do mercado mundial, a burguesia imprime um

trabalho cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países. Para desespero dos reacionários, ela retirou da indústria sua base nacional. As velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a sê-lo diariamente. São suplantadas por novas indústrias, cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas, indústrias que não empregam mais matérias-primas nacionais, mais sim matérias-primas vindas das regiões mais distantes, cujos produtos se consomem não somente no próprio país, mas em todas as partes do globo. Em lugar das antigas necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, nascem novas realidades que reclamam para sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e dos climas mais diversos. Em lugar do antigo isolamento de regiões e nações que se bastavam a si próprias, desenvolve-se um intercâmbio universal, uma universal interdependência das nações. E isso se refere tanto à produção material, como à produção intelectual. As criações intelectuais de uma nação tornam-se propriedade comum de todas. A estreiteza e o exclusivismo tornam-se cada vez mais impossíveis; das inúmeras literaturas nacionais e locais, nasce uma literatura universal”. K. Marx e F. Engels. Manifesto Comunista. Escrito em dezembro de 1847 – Janeiro de 1848 e publicado em Londres em fevereiro de 1848.

O texto supracitado parece ter sido escrito hoje, século XXI quando se

vive o chamado processo de globalização, cujas características distintivas são: a) Integração dos mercados financeiros mundiais b) Crescente presença de empresas transnacionais na economia do país c) Internacionalização das decisões d) Incrível mobilidade de massa de capitais financeiros e sentidos

especulativos e) Manipulação da política monetária e cambial f) Mobilidade das empresas transnacionais sem compromisso com os

países que sediam suas atividades g) Constrangimento do poder dos estados nacionais;

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h) Fabricação de diferentes partes do produto em diferentes países à custa de baixas remunerações “marketing clearing”

i) Relações intracapital ou (cachos de empresas) “producer-driven” j) Incrível velocidade de transmissão de dados e informações que fazem a

dimensão espacial-demográfica perder importância e com impactos instantâneos k) Obsoletismo do emprego com transformação no conceito de ocupação

e geração de uma incontrolável exclusão social a partir de entes humanos supérfluos ao sistema capitalista

l) Obsoletismo da superestrutura, isto é, do direito positivo e a ele contrapondo um direito em rede e a arbitragem, ou ainda, o “direito reflexivo e o direito social”.

A economia mundo do sistema mundo capitalista dá-se, hoje, com as

relações dialéticas concentração versus fragmentação e exclusão versus inclusão. De um lado, assiste-se a necessidades de “network” em forma de “TEAMNETs” (empresas de transposições de fronteiras) que basicamente decidem o que, como, quando e onde produzir os bens e serviços em forma de marcas e redes globais que forçam o processo de concentração nas cadeias de produção. Do outro lado, a participação no mercado “market share” e o processo de acumulação incessante de capital levam as organizações a terceirizar, franquear, associar-se e agir em multinível, dando oportunidades a uma grande quantidade de organizações menores (fragmentação), que alimentam as cadeias produtivas do sistema mundo do capitalismo.

Imbricado à nova contradição supra estabelece-se outra que se explicita no desempenho estrutural crescente dentro de uma dinâmica de uma queda de preços dos produtos em níveis globais na tentativa de incluir aqueles que estão à margem do consumo. Eles são oriundos do processo de exclusão pela ausência de emprego provocado pelas intensas inovações tecnológicas. Esse fato se dá dentro ou fora dos arranjos produtivos locais, “clusters” ou nichos de localização espacial e especializada.

Diante de tais contradições, as organizações levam às ultimas conseqüências a estratégia do suprimento intrafirma “intra-firm sourcing” em empresa-rede “network” globais. As conseqüências dessa estratégia fazem multiplicação do trabalho urbano informal flexível em detrimento do trabalho jornal. Por todos esses motivos, os cidadãos passam a recriar e reinventar sua própria ocupação ou seus autonegócios na medida em que o emprego some e ele tenta sobreviver no processo de exclusão social em massa ou buscar proteção no sistema de cooperativas e de multiníveis ou, ainda, empresas comunitárias.

Na lógica da economia mundo (militar, monetário e comunicação) no sistema mundo capitalista, o fracionamento das cadeias produtivas, vital para as organizações, incorpora e desenvolve bolsões de trabalho mal remunerados, em nível global. Essa tendência provoca, cada vez maior concentração de renda e exclusão social da maioria absoluta dos contingentes populacionais tanto nos

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países centrais como, principalmente, nos periféricos. É importante discernir que o sistema mundo capitalista a partir do G7 é, agora, um império que domina a totalidade econômico-social-espacial do planeta. Não tem limites: temporal; social; espacial; e independe do estado-nação como base de poder, como aconteceu na economia mundo do capitalismo onde o imperialismo (europeu e norte americano) tinha como base o centro do poder, precisamente, o estado-nação ou o estado intervencionista.

Desconhecendo onde começa e termina sua área influência e dominação transnacional, o império do sistema mundo capitalista provoca um novo código de ética multicultural. Nela não mais se separam as esferas públicas das esferas privadas, podendo, em conseqüência, impulsionar forças motrizes que tendam a um direito à cidadania global e a uma renda mínima para uma sobrevivência digna do cidadão/mundo. Esta hipótese é o contraponto do principio de exclusão, ora existente, onde 80% da população mundial tornam-se descartável para que o sistema mundo capitalista possa sustentar apenas os 20% que são do sistema. Por isso o controla na perspectiva de decidir quem sobrevive e quem deve desaparecer por causa da “destruição criadora”, maquinada pela atual estratégia neoliberal, monetarista e consumista do império.

Sabe-se que as causas do fenômeno do globalismo são várias, outrossim, vale mencionar aqui as duas principais:

a) a crise do padrão monetário mundial decidido unilateralmente pelo

governo Norte-americano, em 1971, com a insustentabilidade da paridade dólar-ouro;

b) os choques do petróleo de 1973/1974 e de 1978/1979, que desnivelaram os preços relativos da produção dos bens e serviços, em escala global, com radicais descontroles nas balanças de pagamentos dos países.

No intricado processo da crise, dar-se-á início à transformação de

empresas multinacionais em transnacionais. Observa-se a conversão das ciências e das tecnologias em meio básico de produção de bens e serviços, na ordem econômica mundial, dando como resultado o decrescente ciclo de vida útil dos bens e o acúmulo de lixo e poluição ambiental de toda ordem. Daí surge, ainda, de nível global, um novo padrão de estratificação no processo de acumulação de capital e em seu incessante rendimento, em forma de lucro, via capital financeiro e rentistas, com radical aprofundamento das desigualdades entre pessoas e entre países, oriundos dos novos fluxos de: intercâmbios comerciais; pagamentos tecnológicos; informações; entre economias nacionais e economias regionais e entre capitais mercantis, financeiros, produtivos e rentistas.

Frente a tais fenômenos, a nova ordem (e os novos paradigmas) do processo de produção do modo capitalista passa a ser condicionada pelos seguintes fatores:

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a) Radicais diferenças entre os países cêntricos (G8) e a semiperiferia e a periferia do sistema mundo do capitalismo.

b) Emergência e consolidação de novo paradigma da “especialização flexível da produção” “pós-fordista” em “revolução da gestão do conhecimento”, que relativiza as vantagens comparativas dos países que fazem parte da semiperiferia e da periferia do sistema mundo capitalistas.

c) Padrão de estratificação relacionada à dinâmica da oferta e da procura pós-investimentos diretos e indiretos no âmbito do sistema financeiro internacional, que geram capacidades produtivas de bens e serviços sob a égide das transnacionais, agora organizadas em: muitos centros; cadeias; redes; organicidade; processos; interação; muitos canais decisórios e recursos de informações.

Estreito monitoramento do sistema por organizações mundiais, tais como:

OMC, FMI e BIRD, sob a égide do único país que tem plena soberania e pleno poder de doar sentido ao sistema mundo capitalista que são os EUA e seu consorte G8, onde suas ordens são convalidadas para o sistema mundo.

A partir do cenário acima, há que se buscar uma inserção do Brasil no sistema mundo capitalista, sem sacrifício da identidade nacional e com sustentabilidade em termos de desenvolvimento. Para tanto, não se deve olvidar que a dimensão econômica do globalismo se reificada pode levar a um tipo de reducionismo que oculta outros fatores de ordem política, cultural e ambiental.

Por isso é que a inserção do Brasil não pode se dar nos termos dos EUA ou da União Européia, mas, talvez, como a da China, a da Rússia e a da Índia. Para tanto, há que se garantirem condições mínimas de interdependência e de soberania para decidir a doação de sentido que devem ter a política e a economia nacional, sem interferências externas, como as do FMI, do BIRD e mesmo as dos EUA.

Os conceitos de nação, estado e soberania estão imbricados aos processos econômicos, sociais, políticos e culturais na medida em que: i) a nação expressa no meio político a integração de pessoas com a mesma identidade coletiva, com a mesma historicidade e base econômico-cultural; ii) o estado aponta para um ordenamento e controle induzido pela expansão do capital para estabelecer a unificação de estruturas de poder territorial com aplicação e regras de direito válidas para todo e qualquer habitante cujo contorno institucional, político, burocrático e jurídico deu-se no século XIX; iii) a soberania trata do poder de mando numa determinada sociedade, política, econômica, social e cultural, que é julgado exclusivo, independente, inalienável e supremo. Está relacionada à essência da política expressa internamente pela ordem, e externamente pela guerra.

No contexto do sistema mundo, induzido pelas transnacionais, no processo de globalização, as contradições do capital e, principalmente, do capitalismo apresentam uma forte tendência para o crescente esvaziamento das

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regras ou normas do direito constitucional dos estados nacionais. Isso se dá frente aos novos esquemas regulatórios e, também, das novas formas organizacionais e institucionais supranacionais refletidas pela tendência da formação dos megablocos econômicos.

No pensamento de WALLERSTEIN, há no sistema mundo do capitalismo as seguintes tendências que apontam à agonia do sistema mundo capitalista que o leva para sua bifurcação discipativa ou sua substituição:

a) Desruralização do mundo b) Crise ecológica mundial c) Democratização do mundo d) Reinvenção ou reversão do estado-nacional e) Militarização e autodestruição das forças produtivas f) Financeirização do capital com o abandono da produção de riquezas. Todas essas tendências batem de frente ou se opõem às forças motrizes do

sistema mundo capitalistas, que são o lucro e o poder, ambas resultantes do processo de acumulação incessante de capital.

Diante da situação, sinoticamente aqui apresentada, procuram-se indicar algumas premissas para um cenário mais otimista e de hominização a partir de parâmetros e paradigmas para a sustentabilidade econômico-social dos entes humanos.

Frente a esse contexto histórico do sistema mundo capitalista, veio à luz a Comissão Bruntland que a partir de pressupostos éticos de solidariedades: intergerações, intragerações e interespacial elaboraram o seguinte conceito: “desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”.

Pelo visto, esse conceito imbrica ao processo desenvolvimentista a continuidade e permanência da qualidade de vida e das oportunidades no tempo, incorporando uma perspectiva de longo prazo na realidade como totalidade complexa e, no dizer de Edgard Morin, “o homem não é uma entidade isolada em relação a esta totalidade complexa: é um sistema aberto, com relação de autonomia/dependência organizadora no seio de um ecossistema”.

Uma visualização esquemática do desenvolvimento sustentável pressupõe no processo desenvolvimentista uma área de intersecção de três círculos (sistemas) que refletem o nível ou o grau de compatibilização entre as três dimensões representativas com maior e melhor eqüidade, conservação e racionalidade econômica.

Note-se, esquema nº 1, que o padrão de consumo, a distribuição de renda e o progresso técnico condicionam todo o sistema de desenvolvimento sustentável.

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Esquema nº 1. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Ainda, nesse esquema, vê-se que o desenvolvimento sustentável se conecta com os sistemas de:

a) Ausência de realismo econômico b) Pobreza e desigualdade econômica c) Degradação ecológica d) Equidade social e) Conservacionistas f) Realidade econômica. No esquema n° 2, o estilo do crescimento e o estilo do desenvolvimento

econômico-social condicionam a sustentabilidade ecológica na medida em que as relações que se dão entre as formas: da organização da economia; da sociedade e das condições dos ecossistemas, em que se situam, estão devidamente ordenados pelos componentes apresentados.

Padrão de consumo

Elementos de eqüidade social

Elementos

conservacionistas

Distribuiçãode renda

Progresso técnico

Ausência de realismo

econômico

DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

Pobreza e desigualdade

social

Degradaçãoecológica

Elementos deracionalidade

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Esquema nº 2. COMPONENTES DO ESTILO DE DESENVOLVIMENTO E

ECOLOGIA

Subentende-se que, no estilo de desenvolvimento apresentado no esquema

n° 2, seu padrão tecnológico está voltado para reduzir a taxa de exploração da natureza e de emissão de efluentes na forma como poupa e recicla recursos não-renováveis criando inclusive substitutos para os mesmos. Por essas características se espera que o desenvolvimento sustentável reduza a pobreza e a desigualdade social entre as pessoas, construa uma emulação no seio da competitividade econômica, conserve os recursos naturais e os ecossistemas, reduza as desigualdades espaciais e organize a sociedade em termos de democratização das instituições e organizações.

Tendo-se a certeza de que o planejamento estratégico situacional é o instrumento do conhecimento prospectivo que aponta para a construção do futuro desejado pelos autores sociais se apresenta o esquema nº 3 que, ao retomar as Leituras de Planejamento Estratégico, (trabalho do Autor, 71 p.) os insere na teoria da complexidade, onde a incerteza e a indeterminação diante do futuro é,

Padrão tecnológico

Estrutura produtiva

Padrão de consumo

POTENCIAL DE IMPACTO

Dinâmica demográfica

Dinâmica econômica

ECOSSISTEMA Capacidade de auto-reprodução dos

recursos renováveis. Ritmo de exaustão dos recursos não-renováveis

Qualidade ecológica

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segundo MORIN,“a ordem que se alimenta da desordem para a sua própria organização, sem nunca chegar a esgotá-la totalmente.” Ver esquema nº 3. Esquema nº 3.

Conectando a teoria do desenvolvimento sustentável com a teoria da

complexidade, o planejamento, como instrumento, tem os seguintes desafios: a) Visão de totalidade b) Abordagem inter ou transdisciplinar c) Complexidade da articulação de múltiplas dimensões, tais como: i)

econômica; ii) ecológica; iii) sociocultural; iv) tecnológica; v) epidemiológica e vi) político-institucional

d) Sinergias e impactos cruzados entre as dimensões na abordagem temporal (intercâmbios atuais e futuros) e na abordagem espacial (articulação entre o local e o global)

Conselho político

Estratégias e momentos para ação na situação

Eu o

Outro

P

EU O

OUTRO

CG

P = Plano G = Governabilidade C = Capacidade

Consulta à sociedade

Produção técnica / científica Estudos básicos

MOBILIZAÇÃO DOS ATORES

Conteúdo propositivo

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e) Negociação de interesses entre as gerações atuais e futuras f) Articulação entre necessidades imediatas e perspectivas de longo prazo g) Escolha política e racionalidades técnicas h) Multiplicidade e diversidade de atores sociais e seus respectivos

interesses. Observe-se, ainda, que no esquema nº 3, além de se doar ao processo de

desenvolvimento sustentável uma visão metodológica ampla, imbrica-se postulados de processo participativo de formulação e negociação dos atores sociais, e, também, o tratamento e a sistematização de informação para aderência e compreensão da realidade. Dessa forma, o esquema nos remete para um campo de forças impulsoras e restritivas ao desenvolvimento sustentável. Por essa razão se apresenta o esquema nº 4, que dá uma idéia de contexto do campo de forças com vistas ao conteúdo propositivo do planejamento estratégico situacional do desenvolvimento sustentável. Ver esquema nº 4.

Esquema nº 4

CONTEXTO DO CAMPO DE FORÇAS

Forças impulsoras X Forças restritivas Oportunidades X Ameaças Pontos fortes X Pontos fracos

Efeitos para frente X Efeitos para trás

Problemas Potencialidades

CAMPO DIMENSIONAL SITUACIONAL

Político Momentos: Econômico Explicativo Tecnológico Normativo Sociocultural Estratégico

Ambiental / ecossistêmico Tático operacional Institucional-Administrativo

Plano estratégico situacional (Conteúdo propositivo)

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Nesse caso a teoria do campo de forças é importante para o planejamento estratégico situacional do desenvolvimento sustentável tanto para verificação da gênese como também, da análise e da síntese dos problemas. Vale salientar que a Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade) remete o plano diretor para ser tratado sob a presente ótica do desenvolvimento sustentável.

Esquema nº 5 AÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.

O esquema acima ilustra bem as correlações e iterações das ações na teoria do desenvolvimento sustentável deduzidas das teorias do circulo vicioso, anteriormente apresentada, com vistas ao desmonte daquele circulo.

Redução da pobreza

Geração de emprego

Geração de renda

Dinamismo da economia

Alta capacidade de arrecadação

do estado

Reestruturação do estado

Economia social /

comunitária

Ampliação do mercado

interno Alta

distribuição de renda

Competitividade alta / elevados investimentos

Rearranjos institucionais

Avanços tecnológicos

Melhoria educacional

Aplicação da infra-estrutura

Elevação dos investimentos públicos

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Esquema nº 6 AÇÕES PARA ALTERAR A REALIDADE NA PERSPECTIVA DE NO

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ENFRENTAREM-SE OS PROBLEMAS E APROVEITAR AS POTENCIALIDADES

Observe-se que as ações explícitas no esquema nº 5, além de quebrar os

círculos viciosos, também, apontam para pressupostos de como se pode e se deve romper com a situação de periferia e de exportação dependente com aplicação do mercado interno ou MERCOBRASIL a partir da ênfase ou combate à pobreza; à distribuição de renda; à reconstrução do estado; aos avanços tecnológicos; à melhoria educacional e à aplicação da infra-estrutura.

A inteligibilidade do esquema nº 5 é complementada pela interpretação do esquema nº 6. Esse focaliza ações para alterar a realidade na perspectiva do desenvolvimento sustentável, tendo-se em foco o enfrentamento e a análise dos problemas com vistas ao aproveitamento das potencialidades nas múltiplas dimensões vistas pelo planejamento estratégico situacional no âmbito das ações prioritárias.

Ressalve-se, ainda, que, na abordagem agregada do processo de trabalho para o planejamento estratégico do desenvolvimento sustentável, o mesmo tem a ver, também, com os seguintes tópicos:

a) Análise do contexto com identificação das forças impulsoras e forças

restritivas ou das oportunidades e ameaças b) Processo técnico de consulta à sociedade e a especialistas c) Análise de interação entre as dimensões em termos de causalidade dos

problemas e potencialidades.

Propósito Unificador

Para quem fazer?

O que fazer?

Que alcançar no futuro? (realidade desejada)

Estudos básicos do campo de forças

Imagens objetivos

Com quem fazer?

Ações

Metodologia Instrumentos / organização

Espaço / setor

Onde fazer? Como

fazer?

Problemas

Potencialidades

Eu O Outro

Realidade / situação

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Vale lembrar que o esquema nº 7 permite uma visão sistêmica dos ambientes ou dimensões do sistema de desenvolvimento sustentável. Note-se que no ambiente humano se especificam as condições: socioeconômicas; demográficas; culturais e dos mercados. No ambiente ou dimensão natural ou da natureza, as condições estão na: biotecnologia; edafologia; biodiversidade ou, ainda, em toda biosfera. No ambiente ou dimensão técnico-cultural cuja instância de uso se dá: no espaço; na infra-estrutura; na biomassa; nas máquinas simples ou complicadas e na biotecnologia. No ambiente ou dimensão da produção, as condições ou aspectos importantes descansam no: trabalho, empregabilidade; desenvolvimento eco-agro-industrial; indústria concentrada geralmente de bens de produção; serviços de desenvolvimento; serviços institucional-administrativos e turismo. Todos esses ambientes ou dimensões estão conectados ao ambiente informacional e do conhecimento à luz de conexões, trocas, mudanças e redes transdisciplinares.

Esquema nº 7

VISÃO HOLÍSTICA DOS AMBIENTES NO SISTEMA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

**

Ambiente HumanoCondições:

• Socioeconômico • Demográfica • Psicossocial • Política-cultural • Mercadológica

Ambiente Técnico Cultural

Condições de uso:

• Do espaço • Da Infra-estrutura • Da biomassa • Da energia • Das máquinas • Da biotecnologia

Ambiente da Informação e Conhecimento

• Políticas • Redes • Cibernética • Aeroespacial • Ciência • Tecnologia

Ambiente NaturalCondições:

• Ecossistema • Biosfera • Biodiversidade • Edafoclimática • Morfológica • Urbano • Recurso • Naturais

Ambiente da Produção

Condições: • Trabalho e empregabilidade • Eco-agroindustrial • Indústria concentrada • Serviços de desenvolvimento • Turismo • Infra-estrutura • Institucional-administrativa

*

*

* Conexões e trocas entre os ambientes.

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Para finalizar, essa parte dos Textos, vale citar Wallerstein quando afirma que “a economia-mundo capitalista, tal qual a conhecemos, está sujeita a tensões estruturais com as quais não tem mais condições de lidar. Três tendências seculares estão maduras, a ponto de minar irreversivelmente a acumulação de capital: o aumento dos custos salariais como porcentagem dos custos de produção (que decorre da desruralização do mundo), o aumento dos custos dos materiais (que decorre do esgotamento ecológico) e o aumento da tributação (que decorre da maior participação política dos trabalhadores). Daí a idéia de que, pela primeira vez em quinhentos anos, o capitalismo experimenta de fato uma crise sistêmica”.

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V. AS ESTRUTURAS ECONÔMICAS DAS REGIÕES SUBDESENVOLVIDAS

Esta parte dos Textos, em sua forma original, foi escrito, em 1968, pelos técnicos: Francisco Sá Jr; Geraldo Medeiros de Aguiar; César Garcia e Otamar de Carvalho, para o Grupo de Análise e Programação Agropecuária do Departamento de Agricultura e Abastecimento da SUDENE, sob a coordenação de Carlos Luiz de Miranda, com a colaboração de Maria Emiliana Ribeiro. Foi publicado, em 1970, no Caderno Agrícola nº1 da Comissão de Planejamento Agrícola da Paraíba, na época, coordenada pelo autor destes “Textos”. A presente versão sofreu pequenas revisões e modificações para fins didáticos, porém, com esforço do co-autor, (Geraldo Aguiar), pela fidelidade ao conteúdo em sua forma original. Portanto, quaisquer incorreções são de sua inteira responsabilidade.

Sendo co-autor do trabalho original ele o reapresenta ou reedita, como assunto importante, para melhor apreensão de sua teoria do desenvolvimento sustentável e de suas idéias para um modelo autônomo de desenvolvimento sustentável, aqui também reeditado, e que foi objeto das partes II e III de seu livro “Agenda 21 e desenvolvimento sustentável. (Caminhos e desvios)”. Livro Rápido. 2004.

Vale recordar que as antigas empresas de comércio monopolista, da fase da economia mundo capitalista, inserta no mercantilismo, sob a égide do capital mercantil. No Brasil, bloqueou toda possibilidade de seu desenvolvimento capitalista (fato que não se deu nos EUA por conta de, ali, o capital mercantil ter perdido sua independência para o capital industrial). No Brasil, as monoculturas com base no monopólio da propriedade privada da terra estabeleceram e, ainda, não consolidaram esse perverso processo que entravou e, ainda, entrava o desenvolvimento das forças produtivas. Dessa forma, o capital mercantil, via commodities, continuou a predominar pelo menos até recentemente, a contar com elevado grau de independência na caça de lucros e rendas, cada vez mais concentradas e voltadas ao comércio exterior. Assim, não se conseguia romper com a velha estrutura colonial e desenvolver a produção industrial e de serviços capitalistas a partir do dinamismo de seu mercado interno, com a erradicação da alta concentração fundiária e da renda no país.

A configuração estrutural

Costuma-se apresentar uma determinada região subdesenvolvida como

configurada por três setores: um voltado para o mercado externo, outro, para as atividades semimercantis (informais) e outro, que se volta para o mercado interno. É característica dos países subdesenvolvidos a hipertrofia dos dois primeiros setores, e a atrofia do terceiro. O setor dominante é aquele que está voltado para o mercado externo, abrangendo a atividade agrícola mais especializada e dos agronegócios de exportação, mantendo regime de trabalho assalariado. O setor

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semimercantil abrange os contingentes populacionais que as atividades de mercado não são capazes de absorver total ou parcialmente, funcionando também como fonte de reserva de força de trabalho para complementar as necessidades periódicas desse fator por parte do setor dominante. O setor voltado para o mercado interno comercia os excedentes do setor semimercantil e abrange também, atividades secundárias e terciárias (industriais e serviços).

As dinâmicas desses três setores têm como ponto focal, o resultado das exportações e sua tradução em termos de capacidade de importar. Essa, por sua vez, na medida em que não seja desviada para outras regiões do mesmo país, determina o nível e a diversificação das atividades do setor de mercado interno da própria região.

Assim, quanto à capacidade de importar, mantêm-se elevadas, as necessidades de consumo podem ser satisfeitas através do comércio exterior, reservando-se para o comércio interno apenas aqueles produtos cujo fornecimento interno seja menos dispendioso que o externo, apesar da taxa cambial barata que costuma prevalecer em tais períodos. São, em geral, no dizer de Paul Singer, em Conjuntura e Desenvolvimento, "os que reúnem as seguintes características: amplo consumo pela população do país subdesenvolvido, pequeno valor por unidade de peso ou volume, o que faz com que os custos de transporte sejam proporcionalmente elevados em relação aos custos de produção, processo produtivo que não exija qualificação técnica muito complexa por parte de mão- de- obra, etc.”.

Mesmo quando for relativamente pequeno o número de tais produtos, sua produção deverá ser elevada, em virtude da capacidade de consumo ampliada do setor dominante. Quando a capacidade de importar é baixa, deve, também, reduzir-se o poder de compra do setor voltado para o mercado externo, induzindo uma redução no nível das atividades voltadas para o mercado interno. Contudo, essa redução deve ser ao menos em parte, compensada pela diversificação de sua produção. E isso porque diversos bens que eram costumeiramente importados passam, em virtude da queda na disponibilidade de divisas, a ser solicitados a própria região. O setor de mercado interno atua, de forma reflexa, e, pelas próprias implicações do subdesenvolvimento, não dispõe de condições para autodeterminar-se e crescer por conta própria. A não ser que seja apoiado pelo Estado, o que só seria possível quando ele se desvinculasse dos interesses ligados ao mercado externo, os quais, como se verá, mais adiante, opõem-se, dentro de uma economia emergente ou subdesenvolvida, aos dos setores complementares.

Todas as atividades que não se destinam ao mercado externo estão no setor semimercantil (SSM) ou no setor voltado para o mercado interno (SMI) ou em ambos simultaneamente. O SMI abrange, no mínimo, o mesmo tipo de atividades do SSM, produzindo-as em bases mais eficientes. Esses dois setores não devem ser considerados como duas coisas inteiramente distintas. Qualquer atividade que não se destinar a exportação estará incluída em SSM ou SMI, conforme esteja ou não produzindo um excedente para o mercado interno. Acreditamos poder-se,

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aqui, aplicar aquela lei da dialética, segundo a qual uma mudança qualitativa é condicionada e provocada por outra mudança quantitativa preliminar. A elevação da produtividade do SSM - mudança quantitativa - faz com que as atividades nele desempenhadas se tornem atividades de mercado interno - mudança qualitativa.

Sendo as atividades semimercantis, de todos os setores, o de mais baixa produtividade, sua substituição progressiva pelo SMI implica, evidentemente, uma elevação da produtividade média da economia. Uma economia desenvolvida apresenta apenas um setor voltado para o mercado interno (SMI) e outro para o mercado externo (SME), pois o processo de desenvolvimento implica o desaparecimento do SSM, que poderá ser absorvido pelo SMI ou, simultaneamente, tanto por este como pelo SME. Assim, um modelo ideal de desenvolvimento seria aquele em que o crescimento do SME, depois de implicar a expansão do SMI à custa do SSM, dê condições - através, por exemplo, de uma tarifa protecionista – para o SMI crescer por suas próprias forças, inde-pendentemente das contingências do SME.

Em seu artigo Conjuntura e desenvolvimento, Paul Singer esquematiza o processo de desenvolvimento como constando de duas etapas: a primeira abrange a superação do SSM pelo SMI. Isto implica que o SME consumir a produção do SMI em substituição às importações do exterior. A segunda ocorre quando da própria transformação interna do SMI, que, se na primeira etapa produzia, quase que exclusivamente, bens de consumo, passar, na segunda, também, a fabricar os bens de capital necessários à expansão de sua economia.

A superação progressiva do SSM pelo SMI é uma das condições necessárias para se poder qualificar uma determinada expansão ocorrida como um processo de desenvolvimento, ainda que, por si só, não seja suficiente para tal. Para compreender-se como se pode dar a superação do SSM pelo SMI, é necessário identificar os impulsos e os obstáculos para essa superação. Elas resultam de uma problemática situada em um contexto mais amplo e que abrangem não só a totalidade da estrutura subdesenvolvida, mas, principalmente, suas relações externas, que determinam historicamente a configuração estrutural e em que função característica dessa estrutura do sistema ela se insere. Essa classificação tri-setorial necessita, para esclarecer essa problemática, ser enriquecida por uma perspectiva decorrente de um ponto de vista diverso, no qual as atividades de cada área surgem como determinações particulares. Elas emanam das necessidades gerais da região capitalista dominante sobre a região subdesenvolvida ou letárgica a que ela se vincula. Em vez de considerarmos a região subdesenvolvida através de setores idealmente distintos segundo a natureza de sua atividade. Considerá-la-emos como composta de áreas que, embora abrangendo atividades também distintas, não se distinguem propriamente segundo sua natureza intrínseca, mas sim conforme sua função detentora de uma estrutura configurada de acordo com as determinações do processo de subdesenvolvimento que atua sobre ela.

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As regiões subdesenvolvidas do segundo grupo, referidas anteriormente, englobam uma atividade de exportação dominante e outras atividades subsidiárias e subalternas. A atividade dominante estabelece uma relação complementar com o processo de desenvolvimento de outras regiões, e pode ser chamada de pólo de subdesenvolvimento. O pólo aí assume um duplo sentido: por um lado, caracteriza-se em função de sua relação de complementaridade simétrica com o pólo de desenvolvimento e, por outro, consideram-se as áreas subdesenvolvidas de uma mesma região apenas enquanto mantêm relações entre si; o pólo subdesenvolvido surge como determinante de relações derivadas com as áreas ainda mais subordinadas e subdesenvolvidas da mesma região, mas que não mantêm relação direta com o pólo de desenvolvimento Este, ao estabelecer um vínculo direto com uma área subdesenvolvida, determina, em virtude das próprias limitações que caracterizam sua economia, a necessidade de uma vinculação do mesmo gênero, através de relações derivadas dessa área com outras ainda mais subdesenvolvidas, e assim sucessivamente. Em cada uma delas, os níveis de produtividade são nitidamente diferenciados. As desiguais distribuições de capital e, em muitos casos, as diferenças de fertilidade, fornecem a explicação mais imediata para isso, pois a atividade dominante tende a selecionar as melhores terras para si. Excluído o pólo de subdesenvolvimento de determinada região, as demais áreas poderiam denominar-se, não fosse à excentricidade da palavra, hipo-subdesenvolvidas, pois mantêm com ele uma relação formalmente semelhante à que eles mantêm com o pólo em desenvolvimento. Trata-se de um subdesenvolvimento derivado, mas que é complementar ao núcleo subdesenvolvido mais capitalizado, e, o que é mais importante, indispensável à realização das suas atribuições capitalistas.

Quanto mais próxima do pólo de desenvolvimento se encontra vinculada economicamente uma determinada área, dentro dessa cadeia de relações de subdesenvolvimento derivado, maior é a relação entre a produção destinada ao mercado e a produção total, ou seja, maior a monetarização relativa da área. Inversamente, quanto mais remota sua posição, por serem mais baixas sua capitalização e sua produtividade, vai se tornando mais difícil à população respectiva viver apenas do mercado. A produção semimercantil, de autoconsumo e de subsistência é aí cada vez mais indispensável. Finalmente, após o último elo da cadeia, já não haveria qualquer tipo de relação de mercado, caracterizando-se, assim, uma área inteiramente marginal, de economia primitiva e fechada. Contudo, além dessa área marginal excluída do mercado, costuma existir outra área igualmente marginal, mas localizada dentro das cidades (favelas) e incluída, portanto, no mercado. Isso se deve ao fato de a economia marginal ter sua configuração rural-urbana dependente da disponibilidade de terras marginais accessíveis. Na medida em que essa disponibilidade for se tornando insuficiente, a economia primitiva terá sua expansão parcialmente transferida do campo para a cidade. Essa transferência se dá do campo para a pequena cidade e dela para as grandes cidades, onde a população marginalizada ou excluída viverá, em parte, da

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exploração dos recursos naturais onde os houver (extração de coco, pesca de crustáceos, coleta de lixo). Também, em parte, através da prestação de uma série dos mais variados serviços de baixa produtividade (domésticos, biscateiros, engraxates, vendedores de loteria, zeladores de veículos nos estacionamentos, feirantes, ambulantes) e outras ocupações para as quais ainda não se conseguiu descobrir um nome adequado. Na medida em que aquelas atividades se aproximem da saturação, através do recurso à caridade pública, à violência e ao vandalismo. Caso a economia marginal dos agricultores esteja excluída do mercado, sua parcela urbana, certamente, está incluída nele. Só que, nesse caso, não se trata de um mercado do tipo normal, ou seja, daquele que se estabelece em função da geração de um excedente que ultrapassa as necessidades do autoconsumo. O mercado decorre, nesse caso, justamente de um fenômeno contrário, qual seja o da impossibilidade conjunta tanto do excedente como do próprio autoconsumo ou mesmo da subsistência. A economia marginal nas cidades se estabelece com a intenção de absorver uma parte do excedente econômico e populacional aí concentrado, e que deriva da atividade mais rentável localizada no pólo subdesenvolvido. Este é, assim, obrigado a restituir à área marginal o excedente econômico que não permitiu que ali fosse formado.

O fenômeno da economia nordestina pode ajudar na compreensão de um desses conjuntos de áreas subdesenvolvidas.

A região Nordeste compreende quatro áreas economicamente distintas: uma inteiramente voltada para o mercado, outra em que o mercado se conjuga com as atividades semimercantil e de subsistência, mas predomina sobre ela, outra, em que as atividades semimercantil e de subsistência predominam sobre o mercado. É o caso das áreas de pecuária de cria, que fornecem o gado para a recria e engorda na segunda região. Em tais áreas, as atividades agrícolas e pastoris semimercantis predominam, pois a atividade de mercado só indireta ou remotamente é atingida pelas repercussões do comportamento do preço da carne e do gado de corte.

A área principal, uma em que só há atividades semimercantis engloba a atividade agrícola e o agronegócios exportador, bem como as indústrias e os serviços voltados para o mercado interno. Sendo a primeira a atividade dominante, é ela que compreende o pólo capitalista subdesenvolvido. As áreas do complexo mercado semimercantil-subsistência são complementares e, às vezes, até mesmo agregadas à atividade principal. Em seguida, vêm as áreas rurais economicamente marginalizadas. Essas diversas áreas não estão necessariamente separadas sob o aspecto geográfico, mas, freqüentemente superpõem-se, às vezes, até dentro da mesma unidade produtiva. O pólo subdesenvolvido abrange a monocultura da cana, os cultivos de: soja, cacau, algodão e agave, e está voltada, principalmente, para os mercados de fora da região. As regiões complementares fornecem certo excedente econômico para a área capitalizada bem como um contingente periódico de força de trabalho para satisfazer as necessidades sazonais dos cultivos dominantes. Predominam aí a produção de alimentos e a

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pecuária. No final, há as áreas marginalizadas, para onde se deslocam os contingentes populacionais que as áreas capitalizadas de dentro ou de fora da região não são capazes de absorver. Esse conjunto de áreas, mais ou menos articuladas entre si, formariam a base sobre a qual se assenta a estrutura econômica da Região Nordeste do Brasil, que é periférica ao Sudeste e ao Sul.

A relação entre o pólo subdesenvolvido e a área subdesenvolvida derivada mais próxima não é da mesma natureza daquela que se estabelece entre o pólo desenvolvido e o subdesenvolvido. Caso o fosse, então seria correto admitir que, da mesma forma que o primeiro pólo se desenvolveu historicamente complementando-se à custa do segundo, então este também poderia desenvolver-se à custa da área subdesenvolvida derivada, e assim por diante. Na realidade, enquanto a forma do vínculo entre os dois pólos é determinada pelo primeiro, e conforme suas próprias necessidades, a do outro vínculo não corresponde às necessidades do pólo subdesenvolvido pela simples razão de que elas não podem autodeterminar-se em condições de subdesenvolvimento, ou seja, da dependência externa. As necessidades que configuram esse vínculo são as próprias necessidades do pólo em desenvolvimento, que repercutem sobre a área subdesenvolvida derivada, através do pólo subdesenvolvido. De fato, seria exagero pretender que ele atue sobre a outra apenas como um intermediário. Historicamente, contudo, o vínculo se origina com esse sentido, embora as transformações que se dão, a posteriori, possam tê-lo adaptados às condições particulares do pólo em subdesenvolvimento, sem, contudo, chegar a alterar o próprio sentido da vinculação.

Da mesma forma que o vínculo entre o pólo em desenvolvimento e o subdesenvolvido decorre de uma exigência histórica do desenvolvimento capitalista, determinando uma função de subdesenvolvimento torna-se importante o intenso desenvolvimento da acumulação de capital. Dessa forma quanto mais o capitalista tiver se tornado o pólo subdesenvolvido, mais estreito deve tornar-se sua vinculação com outras áreas ainda mais subdesenvolvidas. Inversamente, quanto mais fraco for o impulso dinâmico externo, menos capitalista se configurará o pólo subdesenvolvido, e menor serão suas relações mercantis com as demais áreas subdesenvolvidas.

Assim, para recorrer a um exemplo histórico, na fase em que caíram as exportações agrícolas, mantendo-se em nível baixo por um longo período, principalmente, da segunda metade do século XVII à primeira do século XIX. Conforme explica Celso Furtado em seu livro Formação econômica do Brasil, a atividade dentro da unidade produtiva, a fazenda tornou-se menos especializada, e passou a configurar-se como um complexo rural. No dizer de Gilberto Pain, englobando, além da produção dominante que se destina ao mercado, uma série de atividades complementares primárias, secundárias e terciárias, que a tornavam auto-suficiente e com aparência pré-capitalista ou feudal. Nesse caso, só teria sentido falar-se num sistema de áreas subdesenvolvidas inter-relacionadas, se for correto admitir a superposição dessas áreas numa mesma unidade produtiva, a

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fazenda ou o complexo rural. Este, de qualquer maneira, testemunha a incapacidade da atividade mercantil de absorver a totalidade dos fatores disponíveis, permanecendo grande parte deles vinculados às puras atividades semimercantil ou de subsistência, num nível mais baixo de produtividade. Entretanto, a maior parte dos produtos primários e secundários produzidos subsidiariamente dentro do "complexo" poderia ser obtida em melhores condições de produtividade, a partir do comércio internacional ou inter-regional.

O alto custo relativo dos fretes marítimos nos séculos passados não é a razão para não se ter desenvolvido esse tipo de comércio. Antes, pelo contrário, como os navios que levavam nossas exportações pouco tinham a trazer no retorno, a não serem escravos e algumas mercadorias de luxo, deveria haver, nas embarcações, uma capacidade ociosa, o que poderia reduzir as despesas de frete para tal fim. Não era, portanto, o frete, mas sim a insuficiência econômica da capacidade de importar, decorrente do baixo nível das exportações, que determinava a formação daquelas atividades subsidiárias dentro da fazenda, com a dupla finalidade de satisfazer as necessidades que o comércio não conseguia suprir, e evitar o desemprego dos fatores ociosos. Já na fase de maior dinamismo do setor externo, o complexo rural tenderia a maior especialização nos cultivos de mercado, incorporando nela os fatores antes aplicados nas atividades subsidiárias. Tornando-se mais capitalista e mais especializada a atividade do pólo subdesenvolvido, o complexo de aparência pré-capitalista ou feudal é forçado a romper-se, deslocando para as áreas mais afastadas os cultivos subsidiários.

Quanto à atividade artesanal e à indústria incipiente, elas tendem a desenvolver-se cada vez menos nas fazendas e cada vez mais nos núcleos urbanos que se terão ampliado em virtude da própria expansão da atividade mercantil no pólo subdesenvolvido. Todavia, as expansões das trocas externas não dão à indústria infante condições de expandir-se; antes, pelo contrario, tendeu a manter sua atividade em nível reduzido, por causa da penetração das manufaturas do exterior, que lhes faziam concorrência. Somente, quando for estabelecida uma tarifa protecionista, ou quando ocorrer queda das exportações cujo efeito depressivo seja refreado por medidas de política econômica interna é que se irão criar as condições necessárias para a expansão industrial. Nesse momento, já se pode falar em desenvolvimento, embora o processo não seja necessariamente irreversível, podendo coexistir com o subdesenvolvimento, ou mesmo, voltar a ser absorvido por ele.

Ao romper-se o complexo rural, as áreas mais subdesenvolvidas passam a distinguir-se com nitidez do pólo subdesenvolvido. Este volta a especializar-se na produção lucrativa - a monocultura especulativa de mercado, mas necessita do excedente da produção das lavouras semimercantis das regiões mais subdesenvolvidas, bem como de um contingente sazonal de força de trabalho que atrai, também, dessas regiões. É bem de se ver que a especialização na atividade mais rentável já é incompatível com o modo de produção do escravismo colonial,

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pelo simples fato de ela procurar absorver, nos cultivos de mercado, todos os fatores produtivos que possa comportar. Em se tratando de cultivos sazonais, a persistência do regime escravista colonial poderia provocar o subemprego dos escravos na entressafra. O encarecimento dos gastos para sua manutenção aumentava, vez que, sendo as terras da região principal ocupadas totalmente pela monocultura especulativa de mercado, ter-se-ia que adquirir de fora os aumentos de renda para manter o escravo parcialmente ocioso. Nesse caso, só seria vantajoso preservar o regime escravista colonial se tivessem permanecido as mesmas condições da escassez de força de trabalho que motivaram a importação dos africanos e preamento dos índios nas épocas precedentes. A sensível diminuição do nível de renda decorrente da queda das exportações, que foi mais intensa desde meados do século XVIII até meados do século seguinte, por ter sido acompanhada por considerável aumento da população. Esta ia penetrando no interior e dedicando-se ora à agricultura de subsistência, ora à pecuária extensiva, ora permanecendo em roças agregadas e subsidiárias às grandes fazendas. Isso fez com que a renda per capita se mantivesse por volta da metade do século XIX sensivelmente "mais baixa do que em qualquer período da colônia, se se consideram em conjunto as várias regiões do país". Sendo assim, seria bastante fácil para os fazendeiros, principalmente no Norte, no Centro-Oeste e no Nordeste, conseguirem trabalhadores livres em abundância, e dispostos a receber remuneração irrisória, e ao nível de subsistência. Nesse caso, o recrutamento de assalariados temporários seria mais econômico do que a manutenção permanente de escravos, o que implica modificação das relações de produção no sentido da substituição do escravo pelo assalariado.

Para que os salários se mantenham em nível baixo no período da safra, quando a demanda de força de trabalho cresce, torna-se necessário que exista um contingente de trabalhadores que se auto-abasteçam durante o resto do ano, e estejam propensos a emigrar para o pólo subdesenvolvido durante aquele período. Essas condições deverão determinar a forma de produção à qual a região subdesenvolvida derivada, que esteja economicamente mais vinculada à região subdesenvolvida dominante, deve ajustar-se. É claro que a simples existência das condições não iria determinar a formação do objeto condicionado. Entretanto, sucede que para a própria região subdesenvolvida derivada interessa que as coisas ocorram desse modo. Aliás, ela não tem condições de optar por qualquer alternativa. As atividades que nela se constituem devem obedecer às condições ecológicas, ter ciclo vegetativo oposto ao dos cultivos dominantes, formando-se uma complementaridade temporal de fatores perfeita ou quase perfeita. Fixadas suas atividades, não em função de suas próprias necessidades, mas sim daquelas da região principal, a região subdesenvolvida do segundo grau procurará aplicar os fatores disponíveis, no período, para a complementação das necessidades de sua população. Mas essa, como dispõe de uma renda monetária auferida durante a safra do cultivo dominante, não necessita ser auto-suficiente. Uma parte dessa renda vai ao mercado, e outra pode beneficiar uma terceira região de

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subdesenvolvimento derivado, para complementar as próprias necessidades, sejam de produção sejam de consumo.

A dinâmica do subdesenvolvimento

Dentro do conjunto de áreas subdesenvolvidas articuladas entre si, ou seja,

dentro do complexo subdesenvolvido, as forças produtivas tenderão a estabelecer uma diferença considerável nos níveis de produtividade dessas diversas áreas. Essa diferença deve acentuar-se ao longo do tempo, primeiro, pela concentração dos estímulos e inovações no pólo subdesenvolvido, e, segundo, pela propensão a rejeitar-se qualquer possibilidade de melhoria nos níveis de produtividade e rentabilidade das áreas subdesenvolvidas derivadas onde se estabelecem as atividades semimercantis e, mesmo, de subsistência. Isso torna difícil ao SSM reunir as condições de produtividade necessárias à formação de um excedente econômico e converter-se, com isso, num setor voltado para o mercado interno (SMI). Tal fato, aliado à dimensão restrita do mercado consumidor, determinado pela concentração da renda pessoal, constitui um obstáculo à consecução da primeira etapa do desenvolvimento de uma economia que, conforme Paul Singer consiste justamente na superação de SSM pelo SMI.

A concentração de estímulos e inversões no pólo subdesenvolvido, bem como a sua propensão a não - facilitar a melhoria da produtividade do SSM, embora sejam passíveis de constatação empírica, podem, também, ser amparadas teoricamente. Em seu trabalho, Desenvolvimento econômico em condições de oferta ilimitada de mão-de-obra, (em Agarwala e Singh) W. Artur Lewis fornece elementos e argumentos pertinentes ao esclarecimento dessa tese.

Qualquer elemento dinâmico que se dirigir para o complexo subdesenvolvido seja ele: estímulo de preço de mercado; inovação tecnológica; estímulo financeiro concedido pelo Estado para a melhoria da produtividade; ou mesmo, investimento de infra-estrutura, etc., tende a ser atraído para o pólo de subdesenvolvimento. No referente aos estímulos de mercado, é evidente que será sempre ele o mais beneficiado vez que está inteiramente voltado para as transações mercantis. Todavia, considerando-se os demais estímulos e inovações, ver-se-á, então que o complexo subdesenvolvido tende a repelir sua incidência sobre qualquer área do complexo que não seja o pólo de subdesenvolvimento. Ele tem sua rentabilidade condicionada pelos níveis de produtividade e rentabilidade, ainda, mais baixas das regiões subdesenvolvidas complementares com que se vincula através do mercado de trabalho. O interesse do pólo de subdesenvolvimento em preservar os níveis baixos de produtividade das regiões derivadas, origina-se do mercado de fatores e, particularmente, da força de trabalho. É lícito imputar ao pólo o receio fundado de que a elevação daqueles níveis pode se não atrair para as regiões derivadas parte dos fatores aplicados no pólo, pelo menos refrear a tendência de emigração permanente ou sazonal de trabalhadores. Costumam dirigir-se a ele, garantindo-lhe abundância de força de

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trabalho e possibilitando, com isso, que o nível de salários aí se mantenha baixo. Dentro de uma perspectiva mais ampla, argumenta Lewis: "o salário que o setor capitalista em expansão terá de pagar é determinado pelo que as pessoas de fora desse setor podem ganhar”.(...) O fato de que o nível salarial no setor capitalista dependa da renda do setor de subsistência é, às vezes, de imensa importância política, uma vez que o seu efeito é de que os capitalistas tenham interesse direto em manter baixa a produtividade dos que trabalham na subsistência. Assim, os proprietários das "plantations" não se interessarão em que o conhecimento de novas técnicas ou novas sementes seja levado aos agricultores, e, se aqueles dispõem de influência sobre o Governo, eles não a utilizarão para estimular a extensão rural. Eles não apoiarão projetos de colonização, e com freqüência, procurarão expulsar os agricultores de suas terras. (...) É-lhes benéfico manter baixos os salários, e, mesmo nos casos em que não atuam diretamente para empobrecer a e economia de subsistência, muito raramente farão qualquer coisa para torná-la mais produtiva. “Para citar um caso concreto, a ação do colonialismo na África, nos tempos modernos, tem sido no sentido de empobrecer a economia de subsistência, seja expropriando os agricultores, seja exigindo trabalho forçado no setor capitalista”. Adiante, ele retoma o tema: "Temos aqui a resposta à pergunta sobre a causa de ser tão barata a produção tropical. Tome-se, por exemplo, o caso do açúcar. Sua produtividade é extremamente elevada, à luz de qualquer critério biológico. Seu rendimento por acre quase triplicou nos últimos 75 anos, taxa de crescimento que não tem paralelo com a de nenhuma outra produção, nem mesmo a do trigo. Não obstante, os trabalhadores da agroindústria açucareira continuam andando descalços e vivendo em casebres, enquanto os da produção de trigo desfrutam dos padrões de vida mais elevados, do mundo. A razão disto é que os salários da agroindústria açucareira mantêm relação com o fato de que os setores de subsistência nas economias tropicais podem liberar tanta mão-de-obra quanto a atividade açucareira desejar, a salários que mantêm baixos, porque, nos trópicos, a produção per capita de alimentos é baixa. Por mais produtiva que se torne a agroindústria do açúcar, os incrementos de produtividade beneficiam principalmente os compradores industriais, sob a forma de baixos preços para esta matéria prima. (...) Para elevar o preço do açúcar torna-se necessário incrementar a produtividade das economias tropicais de gêneros alimentícios no setor de subsistência. Ora, a contribuição da região temperada à região tropical, seja ela na forma de entrada de capitais, seja na de conhecimentos técnicos, tem-se restringido aos produtos comerciais de exportação, em relação aos quais as melhorias técnicas de produtividade se transferem principalmente às zonas temperada sob a forma de uma redução nos preços. Estes só permanecem compatíveis com o pagamento de salários em nível de subsistência, até o momento em que, numa mudança de orientação, o capital e a assistência sejam postos à disposição dos agricultores da lavoura de subsistência, para aumentar a produtividade dos alimentos para consumo interno". Em seguida, conclui: "A

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principal razão ao por que a produção tropical comercial é tão barata em termos do padrão de vida que ela proporciona, é a ineficiência de produção tropical de alimentos pré-capitalista. Praticamente todas as vantagens resultantes da melhoria de eficiência nas atividades de exportação acabam recaindo como benefício para o consumidor estrangeiro; todavia, se, contrariamente se elevasse a eficiência da produção de subsistência, automaticamente se encareceria o produto comercial". Com efeito, o resultado de uma pesquisa na Zona da Mata de Pernambuco, efetuada pelo Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, em 1965, concluiu que o fator decisivo da sobrevivência da agricultura, na Zona da Mata pernambucana, foi, contraditoriamente, "a baixa remuneração que tem suportado o assalariado e o próprio agricultor", acrescentando: "desde que o agricultor local passou a reivindicar melhor remuneração, a agricultura local entrou em crise." (Jornal do Brasil de 09/02/1966).

O interesse por parte do pólo subdesenvolvido, em preservar baixa a produtividade do SSM e, excepcionalmente, o de subsistência, encontra, às vezes, cooperação externa, através da distribuição de excedentes de gêneros alimentícios provenientes do exterior.

É curioso observar que, no Nordeste, apesar da ineficiência da produção de alimentos e do nível baixo dos salários pagos na lavoura canavieira (que, embora se tenham elevado, hoje, retornaram ao nível de subsistência), a cana de açúcar não sai barata, muito pelo contrario. Embora o objetivo da economia primária exportadora, à qual se vincula a agroindústria açucareira, seja o de produzir barato, o resultado não corresponde a esse fim. Tal inadequação do comportamento ao objetivo deve provir do próprio entorpecimento das forças produtivas provocado pelas implicações necessárias ao desempenho da função de subdesenvolvimento. Tal entorpecimento não atinge apenas a parte que se visava atingir, qual seja, no caso, o SSM. Ele pode constituir um foco de deterioração que tende a alastrar-se por toda a economia, abrangendo progressivamente os diversos componentes da forma de produção, até debilitar a eficiência do sistema como um todo, dificultando a realização do sentido original imposto pela função do subdesenvolvimento. Quando isso ocorre, o subdesenvolvimento, originado para complementar uma necessidade do pólo de desenvolvimento, passa a dificultar a satisfação dessa necessidade. A economia subdesenvolvida pode prosseguir num processo de decadência e ser conduzida a uma letargia mais ou menos prolongada, ou então sofrer transformação. Isso dependerá do dinamismo dos agentes produtivos internos e externos. Se o dinamismo se fizer presente, terá provido o despertar das forças produtivas internas reprimidas da região subdesenvolvida, ou dos interesses frustrados do pólo de desenvolvimento. A questão que se coloca é o sentido que assumirá tal transformação. Ela poderá ser suscitada através de uma alteração na função de produção, acompanhada ou não por inovações tecnológicas ou administrativas, mas destinada a fortalecer a estrutura, ou, então, do desencadeamento de rompimento da estrutura no sentido do desenvolvimento das forças produtivas reprimidas. Tudo depende da

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capacidade dos possíveis agentes da transformação em liderar o processo e conduzi-lo aos resultados pretendidos.

A eficiência da agricultura de alimentos, se bem que possa, por um lado, induzir a uma elevação do salário do trabalhador na atividade dominante, conforme o argumento de W. Arthur Lewis poderá, por outro lado, baratear o autoconsumo ou subsistência desse trabalhador. Haveria, então, uma aparente contradição entre o alimento barato e o salário baixo. Contudo, embora o barateamento da alimentação do trabalhador possa permitir um salário baixo, não são os preços dos alimentos que estabelecem o nível de salários, numa economia em que a oferta de força de trabalho for ilimitada. É fato corrente em quase todos os países subdesenvolvidos, a abundância de não-emprego, subemprego, desemprego se traduzindo numa disponibilidade permanente de força de trabalho. Tal fato faz com que a taxa de salário necessária para induzi-la a trabalhar na agricultura capitalista necessita ser apenas ligeiramente superior à renda média da população subempregada. O preço dos alimentos e a eficiência de sua produção não interessam. Assim sendo, os salários não guardam relação necessária com o nível do autoconsumo e da subsistência, estando com freqüência abaixo dele, e induzindo, nesse caso, o trabalhador a suportar uma dieta alimentar que permite uma esperança de vida média inferior aos quarenta ou cinqüenta anos de idade. A única correspondência entre o nível de autoconsumo e da subsistência e a taxa de salário pode situar-se no limite máximo dela, que não ultrapassaria aquele nível para os trabalhadores não-qualificados.

Os argumentos apresentados nesse item permitem concluir que, dentre as áreas do complexo subdesenvolvido, a única que pode dispor de condições estruturais para se expandir e modernizar-se é, justamente, o pólo subdesenvolvido. Mas como ele está, por sua própria natureza, voltado para o mercado externo, sua expansão se traduz num desenvolvimento para fora, e o seu impacto dinâmico não repercute para dentro, de modo a tornar possível o desenvolvimento econômico interno. Isso não implica, necessariamente, ser o desenvolvimento impossível nessas condições. Contudo, coeteris paribus, a impossibilidade permanece inevitável. Somente mediante a ação de um fator que, embora exógeno à estrutura subdesenvolvida, seja, contudo, endógeno ao sistema parcial que a ela corresponde, é que as condições para o desenvolvimento podem surgir. Mesmo, nesse caso, pode ocorrer, ao invés de desenvolvimento verdadeiro, tão somente um impacto desenvolvimentista de crescimento econômico de alcance limitado e duração relativamente curta. Pode significar apenas uma reorganização da estrutura no sentido de seu fortalecimento, sem que se altere sua dependência externa, e, portanto, sua função dentro do sistema mais amplo a que ela pertence.

A concentração dos estímulos e da melhoria da produtividade no pólo subdesenvolvido, aliada à concentração da renda, do capital e dos investimentos e de infra-estrutura na mesma área, cria as condições para que as atividades urbanas ligadas ao mercado interno. Em particular quando recebem eventuais estímulos

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para expandir-se, façam-no justamente nas cidades sedes das operações comerciais ligadas ao mercado externo.

Como tais fenômenos se influenciam reciprocamente em forma cumulativa, as desigualdades econômicas espaciais tendem a agravar-se progressivamente dentro da região subdesenvolvida. Tal efeito, contudo, não deve ser tomado simplesmente como uma resultante mecânica de um processo que foge ao controle dos agentes produtivos. É um efeito que convêm aos interesses ligados ao pólo subdesenvolvido, pois condiciona para ele um suprimento barato e abundante de força de trabalho. Essa é uma das razões que podem explicar as dificuldades encontradas pelos governos dos países subdesenvolvidos, quando eles se propõem a atenuar o processo de concentração do capital, da terra e da renda.

A superposição geográfica das atividades urbanas voltadas para o mercado interno, sobre as sedes das empresas comerciais voltadas para o mercado externo, tende a facilitar as transações de capitais entre os dois tipos de atividades. Se isso é vantajoso, na medida em que uma eventual queda da procura externa possa induzir um fluxo de capitais para SMI; por outro lado, ela pode fazer coincidir os grupos econômicos ligados aos dois mercados. Na medida em que os interesses do SME e do SMI se contradizem, aquela coincidência pode induzir a um comportamento contraditório e ambíguo dos agentes produtivos.

As condições do subdesenvolvimento

Os elementos apresentados nos dois itens anteriores permitem concluir que,

nas regiões primário-exportadoras, haja ou não abundância de força de trabalho, estabelece-se, ao mesmo tempo, uma complementaridade e uma contradição de interesses entre o pólo subdesenvolvido e a área de subdesenvolvimento derivado imediata. As relações estabelecidas entre eles fazem com que a expansão desta entre em conflito com a forma de produção daquele, exatamente porque essa forma se fundamenta no subdesenvolvimento do vizinho. Por isso, é muito difícil o desenvolvimento conjunto de uma economia articulada dessa forma. Não há condições internas para o desenvolvimento surgir endogenamente das forças produtivas vinculadas a uma estrutura desse tipo. O desenvolvimento teria de vir de fora, exogenamente, portanto, e impor-se à estrutura. Porém, em vista da exclusividade que o pólo subdesenvolvido exerce sobre as áreas complementares para a absorção dos estímulos ou fatores dinâmicos, toda introdução de um elemento exógeno com o sentido de desenvolver o complexo terá dificuldade em atingir tais áreas e será atraída para o pólo. Como este é comprometido com o mercado externo, o impacto dinâmico não pode se traduzir em desenvolvimento interno, mas, apenas, em desenvolvimento para fora, ou seja, no desenvolvimento de seu subdesenvolvimento. Ele tenderá, portanto, a ser aplicado no sentido que orienta as forças produtivas aí localizadas, as quais absorverão o impacto desenvolvimentista transformando-o num fator de

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fortalecimento da estrutura tradicional, que se tornará então mais eficiente no desempenho de sua função de subdesenvolvimento.

Séculos inteiros de subdesenvolvimento consolidam uma estrutura e moldam-na de tal forma que sua vocação é as ações passivas e a dependência a um pólo dinâmico externo a ela mesma, contudo, sua capacidade de adaptação passiva as mudanças externas limita-se ao raio da flexibilidade da própria estrutura. Uma mudança externa que implicasse ultrapassar tal limite poderia não mais encontrar resposta adequada por parte dela. Seria o caso de uma frustração estrutural. Esta pode conduzir a economia a um estado de letargia ou decadência, ou então, a uma ruptura, tudo dependendo da natureza da mudança externa e das implicações de possíveis processos autônomos internos ao próprio complexo subdesenvolvido. Os processos autônomos seriam aqueles que, independentemente do processo produtivo abrangido pela estrutura das relações de produção, fossem capazes de modificar os estoques de fatores produtivos (terra, força de trabalho, capital, ciência e tecnologia) e criar necessidades que se sobrepõem àquelas que são normalmente satisfeitas pelas relações de produção vigentes. Essas necessidades emergentes podem ser consideradas como forças produtivas autônomas, uma vez que, embora possam ser estranhas à estrutura, pressionam, contudo, o sistema no sentido de serem satisfeitos. Podem-se citar como processos autônomos, o crescimento da população, o aumento da força de trabalho, o esgotamento ou queda de rendimento de recursos naturais, as repercussões econômicas e sociais de contingências climáticas, etc.

Quando a mudança não implica muito mais que uma simples transferência geográfica do pólo dinâmico, é possível que suas repercussões internas se suavizem.

A crise externa que atingiu o Brasil em 1929/ 30 modificou os requisitos para o desenvolvimento de sua economia. Enquanto as relações de produção prevalecentes no Sudeste e no Sul eram dotadas de condições de flexibilidade para aceitar a mudança e evoluir dentro de um novo sentido, a economia nordestina, prosseguindo ao sabor de decisões efetuadas fora dela, não encontrou em suas forças produtivas as condições para acompanhar a transformação. Limitaram-se ao Sudeste e ao Sul os novos pólos dinâmicos da economia brasileira. As condições estruturais do complexo nordestino não lhe davam outra opção senão a de constituir o pólo oposto, o subdesenvolvido, e um dos alimentadores do desenvolvimento das outras regiões. Para isso, não se exigiriam maiores transformações, mas apenas uma acomodação. Não seria necessários subverter a estrutura de suas relações internas, e a forma de produção poderia permanecer intocada. As mudanças ocorreriam apenas fora da região.

Dois outros tipos de acontecimentos, contudo, viria perturbar essa tendência à acomodação. Um deles tem sido a ocorrência de processos autônomos de ordem climática e demográfica. E o outro se deve à mudança na divisão regional do trabalho que se acentuou posteriormente à substituição do pólo dinâmico.

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O fenômeno de entorpecimento das forças produtivas, que é freqüente nas economias primário-exportadoras, tem dificultado a renovação de técnicas de produção e mantido o Nordeste em níveis de produtividade excessivamente baixos para os dias de hoje. Isso estava se constituindo em ônus para o desenvolvimento da indústria do Sudeste e do Sul, particularmente aquela que se abastecia das matérias primas nordestinas mais tradicionais, como o açúcar, o couro e o algodão. Tal fato, ao qual se aliou uma política de preços para o açúcar, com base nos custos mais elevados da zona da mata nordestina, viria estimular uma forte expansão dos cultivos da cana e do algodão em São Paulo e no Rio de Janeiro. Nesses estados o desenvolvimento das forças produtivas favorecia níveis mais altos de produtividade. A divisão do trabalho, que é fator de integração de regiões com níveis desiguais de desenvolvimento foi, assim, em grande parte eliminada. Ao Nordeste, foi relegado o papel de suprir o Sudeste e o Sul de uma maior capacidade de importação - em dólares - e de capitais – em moeda nacional. Eles foram atraídos pela maior rentabilidade das inversões no novo pólo de desenvolvimento, os quais, em sua maior parte, provinham das mesmas moedas nacionais obtidas no Sudeste e no Sul, em troca dos dólares das exportações nordestinas.

Para avaliar o montante desse tipo de transferência em moeda nacional do Nordeste para o Sudeste e o Sul, ter-se-ia de comparar as vendas para o mercado externo, deduzidas dos respectivos custos de produção e do consumo com o acréscimo na formação de capital privado, aplicado na própria região. Como não se dispõe desses dados, a não ser da primeira, tal estimativa não pode ser realizada agora, o que faz com que a afirmação acima é baseada em aparências, sendo por isso sujeita a controvérsias. Por isso apresenta-se apenas um gráfico ilustrativo do processo. O efeito de todas essas eventualidades foi o agravamento das disparidades e desigualdades regionais, o aumento das migrações de nordestinos e a estagnação da região.

Foi à atuação de dois fatores autônomos, como o fenômeno periódico das secas e as crescentes taxas de natalidade, cujos efeitos, tornavam-se mais graves pela ação recíproca de um sobre o outro, que forçou uma revisão do papel a que vinha sendo relegada a economia do Nordeste. O Estado foi obrigado a intervir de modo mais intenso na economia regional, instituindo, a partir da Inspetoria de Obras Contra as Secas - IOCS, hoje DNOCS, uma série de entidades e programas, cujos objetivos foram se ampliando e melhor definindo suas implicações, até os dias de hoje. Posteriormente veio a criação do BNB e da SUDENE. Toda intervenção governamental, anterior à SUDENE, baseava-se na crença de que a economia deveria permanecer primário-exportadora. Não só por causa dos interesses constituídos e a descrença em alternativas para o sistema. Também porque se admitia que os fatores perturbadores de ordem climática e demográfica poderiam ser reabsorvidos ou orientados através de programas de construção de açudes, estradas e barragens, que preservasse o equilíbrio das estruturas tradicionais, atenuando os efeitos das secas e assegurando a fixação de

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força de trabalho propensa a emigrar. Tais programas, contudo, seja porque não equacionavam corretamente a realidade nordestina, seja porque se converteram em paliativos para assegurar um "status quo" em deterioração, não resolveram o problema, ou quando muito, apenas adiaram alguns de seus efeitos. Uma economia de exportação em decadência, prejudicada pelo comportamento dos preços externos e pela dificuldade de melhorar seus níveis de eficiência, para suportar a concorrência externa e dentro do próprio país, torna-se cada vez mais incompatível com a pressão demográfica. A acumulação de todas essas evidências denunciou a inviabilidade do sistema tradicional e a ineficácia da política contra as secas. O Governo da União, empenhado numa política desenvolvimentista para todas as regiões, foi forçado a mudar de atitude e encarar o problema nordestino. A industrialização do Nordeste passou a ser oficialmente considerada como desejável e, mais do que isso, como ponto focal para cuja efetivação deveriam convergir as políticas de obras públicas e de desenvolvimento agrícola. Para a coordenação dessa tarefa, criou-se a SUDENE.

Mas, essa tomada de consciência esbarrava numa contradição: a escassez da capacidade de importar permanecia desde 1955 o problema mais imediato para a formação de capital do Sudeste e do Sul. Assim sendo, o Nordeste não poderia abrir mão de sua função de supridor de divisas. A industrialização e, de um modo geral, a nova política para o desenvolvimento da região, teriam de harmonizar-se com a função primário-exportadora. O Sudeste e o Sul já tinham dado os exemplos de conciliação entre as exportações agrícolas, principalmente a do café, e o crescimento industrial. Caberia ao Nordeste copiar o modelo. Contudo, enquanto no Sudeste e no Sul tinha havido correspondência entre a constituição da forma histórica de produção e a função, que o desenvolvimento das forças produtivas requeria e requer, ainda hoje, para o setor agrícola, já no Nordeste a forma histórica de produção constituída desde a Colônia até o Império, e que já ocupava a maior parte do território mais fértil, correspondia a função diversa daquela que o sistema hoje postula.

Em Minas, no Rio de Janeiro e em São Paulo, o cultivo de alimentos, para atender a um mercado preexistente, desenvolveu-se como uma substituição de importações de outras áreas contíguas. A mineração e os núcleos comerciais formados por causa disso, o desenvolvimento urbano do Rio de Janeiro e adjacências e, posteriormente, a lavoura de café que embora iniciada no vale do Paraíba em bases escravistas, ao estender-se para São Paulo teve de estruturar-se em bases capitalistas e pagar salários relativamente elevados, enfim, tudo isso ia formando uns mercados internos, crescentes, que foram a causa da expansão e do desenvolvimento da lavoura de alimentos naquelas regiões. No Nordeste, essa lavoura preexistia ao mercado, tendo se formado como complemento ao latifúndio monocultor, com a dupla função de ocupar o trabalhador na entressafra, assegurando sua subsistência a baixos custos, e de manter uma reserva de braços para a lavoura dominante. Assim, enquanto no Nordeste, a contradição monocultura de especulação de mercado baseada na exportacão-industrialização

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procura, ainda, encontrar os meios para sua superação, no Sudeste ela não se tornou problema, pois a contradição nem mesmo teria chegado a se colocar dessa forma.

Caso o desenvolvimento ou o subdesenvolvimento das atividades ligadas aos mercados de outra região implica atrofia da lavoura de alimentos sucede que, no momento em que o pólo capitalista subdesenvolvido precisar do próprio mercado de complexo para expandir-se, tal expansão tornar-se-á incompatível com aquela atrofia. No trabalho citado, Lewis observa que "se o setor capitalista não produz alimentos, sua expansão, aumenta a procura deles, eleva o seu preço relativo face aos preços dos produtos capitalistas, reduzindo dessa forma os lucros. Este ê um dos mecanismos que torna a industrialização dependente da melhoria da agricultura; não ê lucrativo produzir um volume crescente de manufaturas, a não ser que a produção agrícola esteja crescendo simultaneamente. É por isto também que as resoluções industrial e agrária costumam processar-se, de forma conjugada, e que as economias onde a agricultura é estagnada não apresentam desenvolvimento industrial. Assim, desde que o setor capitalista não esteja produzindo alimentos, será necessário que o setor de subsistência aumente sua produção, para que a expansão do setor capitalista não se interrompa por causa das relações de intercâmbio adversas e que engolirão os lucros".

O contraste apresenta-se agora claro: enquanto a atividade dominante depender do mercado externo, ela implicará a atrofia da agricultura de alimentos para o autoconsumo e a subsistência, mas desde que ela necessite do próprio mercado interno para expandir-se, então a lavoura de alimentos terá de desenvolver-se simultaneamente. O mercado interno abrange uma parte urbana e outra rural. A urbana depende do excedente da renda despendida em alimentos, sendo, portanto, inversamente proporcional ao preço dos alimentos e diretamente ao volume de sua produção. A rural, além dessa dependência, depende igualmente do nível de renda dos agricultores, que não pode ser alto se sua produtividade for baixa. Assim, tanto o mercado interno urbano como o rural é diretamente proporcional ao volume e à produtividade da produção de alimentos. Em face dessa contradição uma economia que depender do mercado externo, não como absorvedor de seu excedente, mas como pólo dinâmico principal, e depender igualmente do próprio mercado interno, não terão condição de crescer sem pressões inflacionárias. Estas se tornam cada vez mais intensas e acabam por frustrar esse crescimento, a não ser que se operem mudanças profundas em sua função de produção.

O subdesenvolvimento da produção de alimentos só é condição necessária para o êxito da atividade destinada à exportação, na medida em que ela tenha seu custo de produção baseado na força de trabalho barata. Mudada a função de produção no sentido de uma maior intensidade relativa de capital o produto poderá sair barato mesmo que a força de trabalho se torne cara. Tudo dependerá da relação custos/benefícios do capital a ser introduzido Como o custo da força de

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trabalho mantém relações com a intensidade relativa de seu nível de emprego na sociedade, esse custo será baixo enquanto houver desemprego ou subemprego ou ausência de ocupação na região. Assim, mecanizar a agricultura enquanto a remuneração da força de trabalho for baixa e o subemprego, abundante, é uma atitude irracional tanto do ponto de vista do empresário, como em da coletividade. Contudo, há que se levar, também, em conta - dentro do ponto de vista social - a possibilidade de absorção dessa força de trabalho em outras atividades. Com efeito, uma parte dos trabalhadores liberados em decorrência de suposta capitalização agrícola, poderá ser absorvida pelas atividades ligadas ao mercado interno, pois esse terá se ampliado em virtude da queda dos preços dos alimentos decorrentes da mecanização. A relação entre a força de trabalho liberada e a absorvida depende da importância relativa da queda dos preços. Essa, por sua vez, depende da elasticidade-preço da demanda dos alimentos mecanizados e, sobretudo, do grau de concorrência existente na comercialização desses gêneros alimentícios. Quanto mais baixo for o nível de renda da população, maior será a elasticidade, e tenderá a refrear a queda dos preços. Assim, as vantagens da mecanização passam a depender da concorrência. Mas, se o monopólio predomina, as vantagens podem ser nulas. O efeito da mecanização poderá ser contraproducente, pois implicará liberação de força de trabalho maior do que sua absorção em outra atividade, provocando a exclusão social cada vez maior e a violência urbana e rural, por completa ausência de oportunidades de ocupar-se a força de trabalho.

Do ponto de vista que, a partir de uma contradição original, localizada na forma de produção, decorrem contradições de outro tipo, que tendem a agravar as contradições originais, formando-se um círculo de contradições inter-relacionais e cumulativas. Dessas contradições derivadas, a mais importante se localiza no modo de distribuição da renda, e suas conseqüências sobre a eficácia e o dinamismo das forças produtivas. A função da mão-de-obra numa economia primário-exportadora pode ser contrária àquela que tem a desempenhar uma economia voltada para o próprio mercado. Em ambas, sua finalidade primordial é a de se reduzir ao máximo, mas, enquanto uma economia baseada no mercado interno implica que a força de trabalho tenha capacidade de consumo, a economia primário-exportadora procura sem qualquer restrição minimizar os custos-variáveis que constituem, justamente, o consumo dos trabalhadores.

Apesar de o complexo subdesenvolvido apresentar, como foi mencionado, um conjunto de áreas, algumas mais e outras menos, voltadas para o mercado, implicando grande disparidade nos níveis relativos de produtividade e rentabilidade dessas diversas áreas, tal disparidade não ocorre com a remuneração do trabalho. É característica do complexo subdesenvolvido a existência de fatores de produção e atividades produtivas excluídas do mercado. E isso porque, como foi visto, a dimensão e o âmbito desse mercado são determinados pelas necessidades de fora da economia subdesenvolvida e não de dentro. Essa marginalização conduz ao subemprego dos fatores não-escassos. Assim, a

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abundância do fator força de trabalho induz sua remuneração a estabelecer-se no nível mais baixo possível, principalmente quando não há restrições à mobilidade dos trabalhadores. Por essa razão, as forças produtivas tendem a repelir o estabelecimento de qualquer possível relação de trabalho que implique uma participação elevada da força de trabalho na renda gerada. As relações de trabalho devem estabelecer-se e consolidar-se de forma compatível com a não-superação do nível de subsistência. Esse fenômeno, aliado a uma relativa abundância do fator terra, tende a provocar o desinteresse do empresário agrícola pelas condições de produtividade de seu estabelecimento. Pelo menos, os motivos que poderiam fazê-lo preocupar-se com a produtividade deixam de se apresentar.

Outros fatores atuaram igualmente para acentuar o desinteresse pelo controle de custos e da produtividade, entre as quais as condições históricas que implicam participação muito reduzida do custo de produção e no preço de venda ao consumidor. Com efeito, essa participação é tão mais reduzida quanto maior for a distância geográfica entre o produtor e o consumidor, quanto mais alta for a importância dos fretes na formação do preço final, quanto mais elevada for a relação entre o preço e o valor do produto, e quanto maior for o predomínio de formas monopólicas na comercialização. Ora, todas essas condições de participação reduzida dos custos têm tradicionalmente se apresentadas de um modo superlativo sobre as economias subdesenvolvidas. Nos primeiros séculos do intercâmbio entre elas e as economias líderes, sua presença era ainda mais esmagadora, implicando, para as regiões subdesenvolvidas, a configuração de uma forma histórica de produção impermeável às necessidades de controle de custos e melhoria da produtividade.

Essa ausência de condições estimulantes para a redução dos custos e a elevação da produtividade tende, em longo prazo, a debilitar as potencialidades dinâmicas das forças produtivas. Sejam eles os recursos ou os agentes produtivos, tornando-as entorpecidas e indiferentes às contingências e transformações dos condicionamentos autônomos e/ou externos para o funcionamento da economia. Tal indiferença induz a um congelamento da forma histórica de produção e predispõe a um comportamento preguiçoso em face da oportunidade de inovações que possam exigir atualização daquela forma. Assim sendo, o comportamento da economia só pode apresentar um desempenho satisfatório, enquanto se mantenham intactas as condições dentro das quais se consolidou a estrutura, ou, uma vez alteradas essas condições, enquanto elas voltem esporadicamente a vigorar.

O congelamento da forma histórica de produção se, por um lado, reflete a rigidez da estrutura econômico-social em que ela se inclui, por outro, tende a agravá-la, atuando como efeito e causa ao mesmo tempo. Os outros componentes da estrutura, ou seja, aqueles que se referem às relações dos homens entre si no processo produtivo, e ao sistema jurídico institucional, são igualmente abrangidos por esse congelamento. Quanto aos primeiros, implicam relações de trabalho que procuram não só tornar mínima a participação da força de trabalho na renda

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gerada, mas impedir condições que possam induzir à elevação dessa participação, bem como preservar aquelas que possibilitam o nível baixo da remuneração do trabalho. Quanto ao sistema jurídico-institucional, são moldados pelos grupos monopolistas de forma a institucionalizar as relações de poder e privilegio, através de uma legislação que assegure os interesses vinculados à monocultura, ou às atividades de modo geral, mesmo nas condições adversas, tanto da demanda externa como da oferta. Cumprem-se, por essa forma, as condições para a institucionalização de mecanismo destinado a concentrar os lucros e socializar as perdas, o qual, face à ausência de condições para a utilização produtiva desses lucros na região, priva a economia da possibilidade de transformá-los em fatores de desenvolvimento global. A rigidez estrutural assume, assim, o caráter de mecanismo seguro, destinado a impedir qualquer transformação ou desenvolvimento das forças produtivas. Estas são conduzidas a um estado de esclerose. Assim, uma forma de produção e de distribuição constituída de acordo com a realidade histórica de um período passado, cujas condições raramente voltam a se repetir, torna-se fechada às transformações externas. Estas devem impor-se de fora para dentro e, ao se incorporarem ao sistema, passam a constituir elemento estranho e em contradição com estrutura tradicional, que, tudo faz para repeli-lo.

Não caberia imputar-se, por exemplo, à simples inovação tecnológica o caráter de um elemento estranho ou perturbador da estrutura, já que, em muitos casos, ela se introduz justamente para fortalecê-lo, e não para agravar suas contradições internas. O elemento estranho que pode exercer essa função renovadora e perturbadora poderia ser, por exemplo, uma intervenção governamental que se proponha a desenvolver a região. Entretanto, essa intervenção só é compatível com o desenvolvimento, na medida em que seja aplicada no sentido de liberar as forças produtivas internas cuja autodeterminação esteja reprimida pela estrutura. Porém, se a intervenção, ao contrário, destina-se ou a fortalecer a estrutura ou então, mesmo que não se proponha a isso, destine-se, contudo, a sujeitar aquelas forças a novo tipo de controle, preservando sua contenção, então o desenvolvimento frustra-se.

A passagem das forças produtivas de um estado de atrofia ou entorpecimento, até se tornarem capazes de conduzir a sociedade para a satisfação de suas necessidades internas, pode implicar um período de preparação ou ajustamento mais ou menos longo, para o exercício de uma função que nunca fora exercido. O êxito dessa preparação não pode deixar de depender da consciência com que o elemento exógeno introduzido no sistema exerça sua tarefa liberatória. Esse é o momento mais difícil da transição, e cujo desenrolar será decisivo para seu êxito ou sua frustração, pois é ali que se fará sentir a reação da estrutura sobre o elemento exógeno que lhe foi incorporado. Se ela não puder repeli-lo, ver-se-á na contingência de assimilá-lo, mas, ao mesmo tempo, esforçar-se-á em adaptá-lo como instrumento de preservação de sua forma de produção.

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VI. IDÉIAS PARA UM MODELO AUTÔNOMO DE DESENVOLVIMENTO

“A unidade essencial da América Latina decorre, como se vê, do

processo civilizatório que nos plasmou no curso da Revolução Mercantil – especificamente, a expansão mercantil ibérica -, gerando uma dinâmica que conduziu à formação de um conjunto de povos, não só singular frente ao mundo, mas também crescentemente homogêneo. O processo civilizatório que opera em nossos dias, movido agora por uma nova Revolução Tecnológica – a termonuclear -, por mais que afete os povos latino-americanos, só poderá reforçar sua identidade étnica como um dos rostos pelo qual se expressará a nova civilização. É até muito provável que engendre a entidade política supranacional que, no futuro, será o quadro dentro do qual os latino-americanos viverão o seu destino”. DARCY RIBEIRO.

As formas de exploração dos recursos naturais e humanos, nas diferentes

regiões do Brasil, determinam as características das atividades econômicas e demandam o racional aproveitamento desses recursos, com vistas a ajustar, gradativamente, a economia e a demografia às condições ecológicas dominantes em cada uma delas. É mundialmente conhecida a depredação dos recursos naturais do Brasil, muito em particular, os da Amazônia Legal e não da Amazônia Real, onde satélites artificiais têm fotografado incomensuráveis incêndios, cujas nuvens de fumaça têm alterado e limitado o tráfego aéreo para cidades do Norte e Centro-Oeste. A depredação deixa de ser um problema regional e nacional e assume, pela sua alarmante incidência e rápida extensão, um caráter de problema mundial, por desequilibrar o ecossistema do planeta e, em decorrência, pôr em perigo a sobrevivência da humanidade, da flora e da fauna indistintamente. Ainda sobre a Amazônia brasileira vale lembrar que não se pode e não se deve confundir a Amazônia Real que tem aproximadamente 4 milhões de km² com a Amazônia Legal (com respectivas áreas de transição) que soma mais de 5 milhôes de km². A primeira está praticamente intacta enquanto a segunda se encontra em um incomensurável processo de devastação, muito em particuar nas áres de transição dos cerrados para a floresta perenefólia úmida e, também, para o patanal e cocais.

O processo de acumulação de capital na base da destruição, da deteriorização e da depredação dos sistemas ecológicos e da violência à natureza que acontece em todas as regiões brasileiras deve ser detido e evitado. Não se pode e nem se deve aceitar que, no País, crie-se e expanda-se atividade econômica sem respeito à natureza e à ecologia. Note-se que se trata de respeito e não de subordinação à natureza. Não se quer, neste particular, ser confundido com os reacionários que, sob o pretexto dos condicionantes ecológicos, querem e desejam uma economia primitiva, ou seja, à volta às cavernas. Respeitar a natureza é ter uma atitude responsável para com a ecologia, é conhecer e pesquisar as leis da natureza para colocá-la sob o controle humano sem violentá-

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la. A transformação da natureza é necessária, o que é condenável e intolerável é a violência ao sistema ecológico e a depredação do meio ambiente, através de unidades produtivas agrícolas e industriais, bem como de sistemas de esgotos sanitários e de determinados aterros ou de poluição de cursos d'água e lençóis hídricos, seja através de dejetos ou agrotóxicos de um modo geral, sem falar na maior violência à humanidade: a erosão dos solos por vias hídricas, eólicas e lavradios. Vale dizer que a natureza só age por causa e efeito. Não pode doar sentido que é um atributo único dos seres humanos por serem detentores de conhecimento reflexivo além doconhecimento institivo dos demais seres vivos.

No caso específico da Região Nordeste, as autoridades, tanto federais com estaduais e municipais, devem, urgentemente, definir uma política para a preservação do meio ambiente, fundamentada em práticas de conservação dos solos, principalmente pelo manejo das áreas irrigadas susceptíveis de salinização e de um sistema energético integrado (SEI), onde se tenha o cuidado de obter alta efetividade no uso dos recursos naturais disponíveis nas unidades produtivas agrícolas, não somente pela importante reciclagem dos restolhos e resíduos da agricultura e da agroindústria, mas também pelo fornecimento de energia, fertilizantes, rações e alimentos. Não se pode e nem se deve permitir que, numa importante atividade agrícola como a cajucultura, se desperdice perto de um milhão de toneladas de pseudo-frutos, importantíssimos para a alimentação humana e a animal. Este exemplo pode ser estendido às outras atividades frutícolas, como o coco, a manga, etc, assim como à rizicultura, à cotonicultura e, principalmente, às atividades ligadas ao cultivo da cana-de-açúcar.

À medida que a política aqui sugerida surta seus efeitos, pode e deve ser estendidas às demais regiões onde o problema da reciclagem de resíduos e restolhos agrícolas, bem como o da erosão e da salinização dos solos não são tão relevantes como no Nordeste do Brasil. Vale deixar claro que uma política de preservação de solos e de sistema energético integrado redundará, não somente em substanciais resultados econômicos, como também na melhoria da qualidade de vida através da otimização do uso dos recursos naturais; despoluição do ambiente; conservação e aumento da produtividade dos solos; e geração de oportunidades de emprego no agro e na urbe.

No âmbito dos condicionantes ecológicos do desenvolvimento sustentável, observa-se, no Brasil, a total ausência de um planejamento energético ao nível de unidades produtivas no que concerne aos serviços de desenvolvimento. É inadmissível que uma unidade produtiva agrícola (UPA), de caráter individual ou jurídico, tenha acesso a certos serviços como crédito, extensão rural, preços mínimos, etc. sem apresentar ou respeitar normas definidas por um sistema de planificação energético para conservação do ambiente e da produtividade dos solos. Por todos esses motivos, é que se julga o setor público (federal, estadual e municipal) como o principal responsável pelo caos administrativo e a depredação do meio ambiente nacional. A sua omissão enseja e facilita a violência que hoje se pratica contra a natureza. No Nordeste, em vez de as UPAs utilizarem o

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recurso natural mais abundante, a energia solar, geradora de excelente fotoperiodismo, de forma eficaz, deixam, pelo contrário, que este recurso deteriore os solos quando estes ficam descobertos e expostos a esta intensa e incomensurável fonte de energia, que tanto serve para fazer produzir como para destruir o que há de mais precioso para a existência humana - o solo agrícola. É lastimável e incompreensível a não otimização do uso da energia solar no Nordeste, Norte e Centro-Oeste do Brasil, não somente para a agricultura, mas também para outros usos. Na política , aqui, proposta é imprescindível estabelecer e fazer respeitar normas, padrões e procedimentos para se atender qualquer UPA (pêlos serviços de desenvolvimento dos governos: federal, estadual e municipal), relativos a estudos sobre o potencial energético da mesma, em termos de reciclagem de resíduos e de restolhos agrícolas e de energia (biomassa, biodigestores, gasogênio, eólica, solar, hidráulica, elétrica e dendroenergia).

No caso específico do semi-árido brasileiro (situado no Nordeste), a política voltada para o desenvolvimento sustentável deve ser concebida mediante a ampla compreensão dos fenômenos limitativos que incidem na economia do semi-árido, e não na do Nordeste como um todo. Impõe-se uma distinção precisa entre as políticas para o semi-árido brasileiro, para as terras úmidas e para os cerrados nordestinos. O semi-árido nordestino (que é o único tropical do planeta) exige, para o se desenvolvimento sustentável o ajuste da sua economia à demografia ao estudo, controle e gestão do fator hídrico, que deve doar o sentido a toda e qualquer atividade no que diz respeito aos problemas econômicos e sociais do próprio semi-árido e da totalidade do Nordeste.

A análise do sistema hídrico do semi-árido brasileiro, independentemente, da Região Nordeste, revelará à nação e, muito em particular, aos nordestinos, que o potencial dessa área não é tão limitado como afirmam as oligarquias da Região ou como pensam os brasileiro em geral. As áreas passíveis de irrigação no semi-árido são, sem dúvida, privilegiadas no contexto da agricultura nacional; aquelas não apropriadas para irrigação devem ser equacionadas num rigoroso enfoque onde se tenha em conta os ajustes da economia e da demografia à ecologia de forma racional, frente às questões econômicas e sociais. Sem dúvida a transposição (inicialmente do rio são Francisco e posteriomente do rio Tocantins) para o semi-árido tropical brasileiro vai ao encontro dessa tarefa magda de prdução agrícola e, pricipalmente, se for acompandada pela desmercantilização das UPAs, por elas beneficiadas.

Convém, hoje, não mais confundir o semi-árido brasileiro com a Região Nordeste do Brasil. Esta tem terras úmidas tão boas quanto as melhores das Regiões Sudeste e Sul do Brasil. O motivo de elas não serem tão produtivas quanto à das supracitadas regiões descansa, muito mais, na organização social da produção, dada pelas classes patronais agrícolas, do que nas qualidades e potencialidades das terras ou dos recursos naturais. Note-se, ainda, que as terras úmidas do Nordeste são altamente privilegiadas pela infra-estrutura de transporte, energia e portos marítimos, tanto quanto as do Sul e as do Sudeste. Em verdade,

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as classes sociais que as detêm são retrogradas, vivendo e enriquecendo, a cada vez mais, à custa das chamadas "secas" nordestinas, que nada têm de emergenciais, pois fazem parte, apenas, do semi-árido brasileiro. As secas periódicas e naturais do semi-árido podem, inclusive, deixar de ser flagelos para se tornarem fator positivo para um melhor equilíbrio ecológico da área e de sua exploração mais racional, através da racionalização de seu uso e domesticação de sua flora e fauna nas áreas não irrigáveis e intensificação do manejo científico das áreas irrigadas.

No século XX, particularmente, nos últimos 50 anos, inicia-se e consolida-se o processo de transformação do Brasil agropastoril para o do Brasil urbano-industrial com incontrolável desruralização de sua população.

Essa mudança se dá com as modificações resultantes das ações de natureza política de uma sociedade atomizada para uma sociedade organizada com marginalização política da principal força produtiva, que são os trabalhadores brasileiros, ou melhor, a classe proletária no seu sentido mais abrangente. Claro está que todo este processo se dá à custa da ideologia industrialista/desenvolvimentista, cuja base fundamental é igualar ou identificar a atividade primária ou agrícola com o subdesenvolvimento. Outra característica essencial da transformação está no processo de transferência de recursos da agricultura para as atividades urbano-industriais.

Os conflitos entre o agro e a urbe, na mudança do Brasil agropastoril para a situação urbano-industrial, podem ser explicitados conforme segue:

a) Grande dispersão espacial da produção agrícola, que impede o controle

de excesso e de escassez de produtos b) Tabelamentos dos preços dos produtos agrícolas, ao nível do varejo, e

limitação da exportação através de mecanismos de quotas c) Confisco cambial, quando as relações de troca eram favoráveis aos

agricultores e constante cobrança de impostos de exportação sobre os produtos agrícolas;

d) Sistema de preços voltados para o abastecimento urbano sem qualquer mediação para a estabilização da renda no meio rural

e) Política agrícola ditada pelo imediatismo do governo com fortes sintomas de penalização da agricultura como um todo

f) Intervenção do governo no mercado de produtos agrícolas pela política de preços mínimos e de estoques reguladores do Estado

g) Incentivo ao segmento semimercantil com fortes traços de se financiar a miséria a níveis suportáveis e intensificar o processo de desruralização

h) Educação desfocada do rural e indigência dos recursos humanos ligados ao setor agrícola pelo esforço privilegiado à industrialização, mesmo inserta em processo de acumulação de capital à custa da exploração da mão de obra e da destruição do patrimônio nacional entendido como biomas

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i) Desigualdade de tratamento estatal entre as populações urbanas e do agro com respeito aos serviços de desenvolvimento e sociais básicos com absoluto viés político em favor das atividades econômicas e sociais urbanas

j) Disputa por investimentos em capital social básico ou economias externas entre o agro e a urbe com resultados amplamente favoráveis ao que se convencionou chamar de processo de urbanização em vez de desruralização

l) Apropriação e mercantilização dos processos de produção nas áreas com razoável capital social básico implementado sob a retórica social para os pobres

Nos conceitos básicos da economia política busca-se, agora, apresentar um

conjunto de idéias que possam conformar, para o Brasil, um modelo autônomo de desenvolvimento sustentável que deve ser exaustivamente contextualizado e enriquecido pelo leitor.

Para tal propósito se procura situar a transformação dos espaços e das relações de produção e circulação dos bens e serviços no processo de mundialização ou globalização da economia a partir de três aberturas ou janelas no sistema mundo do capitalismo.

A abertura externa trata da economia privada capitalista sob a égide das multi e transnacionais em termos da competitividade que lhe é inerente, assim como da exclusão social. Toda essa economia é visível e mensurável nas áreas dinâmicas do Brasil e, em geral, associada às diretrizes internacionais do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e da Organização Mundial do Comércio. Em termos do Poder Nacional o Estado Brasileiro está atrelado aos ditames das organizações supracitadas que são, em última instância, as executoras da vontade política do chamado G7 ou G8, quando se inclui a Rússia.

No outro lado e em contraponto a janela externa, se tem à abertura interna que tende a consolidar, no Brasil, uma economia social-comunitária ou solidária com profunda descentralização e inclusão social em quase todos os espaços letárgicos do país e que deve ter um sentido de desmercantilização do processo econômico.

Acredita-se que entre essas duas aberturas há de se lutar, com todos os meios democráticos, para alcançar ou criar uma abertura ou janela para o Estado Brasileiro visando a uma economia pública na qual se possa mediar a transferência de renda da janela externa para a interna com vistas à inclusão social. Admite-se que a abertura do Estado possa exercer o controle da política econômica com esse propósito e estabelecer, para tanto, a gestão pública nacional para a construção da político-social com viés de desmercantilização do processo econômico em relação à categoria de lucro.

Nas instâncias da economia política há que se ter atenção para as duas revoluções, que se dão de forma simultânea, no sistema mundo do capitalismo que são: a revolução técnico-científica e a revolução informacional ou do conhecimento. Na medida em que o Estado Brasileiro possa mediar e controlar os efeitos dessas duas revoluções mundiais com vistas a uma economia pública

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desmercantilizada pode e deve proceder, de imediato, as seguintes reformas: do Judiciário; econômica (tributária/fiscal); política e agrária.

Os impactos de tais vontades políticas, pelo Estado Brasileiro, se darão no sistema do desenvolvimento sustentável com radicais medidas de:

a) Investimento, crescimento e desenvolvimento b) Competitividade, conhecimento e gestão c) Sustentabilidade, desburocratização e equidade d) Inclusão social, descentralização e geração de emprego e redistribuição

de renda gerada localmente. O esquema seguinte apresenta as iterações e interações das variáveis do

Modelo, aqui proposto, e que implicam sobre um dado território a partir de Entes Comunitários insertos ou não nos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável (CMDS) hoje, existentes em todos os municípios brasileiros ou, ainda, em organismos regionais.

Vale salientar que os Estados Brasileiros possuem vários meios legais para programar tal modelo. Pelo lado da abertura do estado com vistas à abertura interna e, nesta, a economia social-comunitária, haja vista a lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) o Código Florestal, o Projeto Crédito Fundiário, o Programa Fome Zero além das linhas de crédito como o PRONAF e o microcrédito. Essas políticas devem ter em seu bojo um sentido de desmercantilização do processo econômico, hoje, voltado para o consumismo onde tudo é mercantilizado inclusive os bens livres e a própria vida humana.

O presente modelo pressupõe que se obtenha ou se aperfeiçoe as grandes vantagens sociais da propriedade privada, principalmente coletiva, depurando-a das suas desvantagens como o hedonismo econômico provocado pelo metabolismo do capital na caça ao lucro e ao poder. Essa é uma das razões de se propor acentuado nível de desmercantilização do processo econômico. Em outras palavras pregam-se atividades econômicas sem fins lucrativos pelas empresas da economia social-comunitária. Há que se dá ênfase a associação de pessoas em vez da associação de capitais na economia em tela.

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Também, os fundos constitucionais do Norte, Nordeste e Centro-Oeste

(FNE, FNO, FCO) poderiam voltar-se totalmente para edificar e consolidar a economia social-comunitária ou solidária proposta no modelo. Carece ao Estado Brasileiro criar e implementar um forte programa habitacional para as classes

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pobres e médias de todo o território nacional. Ambiciosos programas: habitacional, saneamento e de infra-estrutura implicariam em geração de empregos e de redistribuição de renda para grandes parcelas das populações hoje excluídas ou desempregadas pela recessão econômica ou incipiente crescimento no país. No documento “Política de Recursos Humanos com Vistas à Inclusão Social.” (elaborado pelo autor desses Textos) Recife, 2008 se apontam um grande número de iniciativas para se implementar e se consolidar a abertura do estado no que trata da economia pública e da economia social-comunitária, também, proposto no modelo autônomo de desenvolvimento sustentável na abertura interna do processo de globalização ou de mundialização da economia.

Há de se convir que a revolução técnica - cientifica existente hoje, no sistema mundo do capitalismo, se bem controlada a nível nacional pelo Estado Brasileiro pode e deve implicar em crescimento econômico em todas as aberturas apontadas, com efeito, na produtividade do trabalho, na competitividade e na sustentabilidade dos investimentos. Pelo lado da revolução informacional e do conhecimento, pode o Estado incluir a população para acesso as infovias a partir de um padrão próprio de TV digital com vistas às modificações e mudanças TVs analógicas de forma a permitir o acesso da população brasileira, de maneira massiva, à Internet.

Certamente, a implementação de uma economia pública permite que incomensurável parcela da economia social-comunitária ou solidária tenha acesso ao MERCOBRASIL e ao comércio exterior, hoje, quase que totalmente sob a égide da economia privada capitalista, em particular, pelas empresas transnacionais que funcionam no país gerando pouco emprego e transferindo, para fora, muita renda. Nesta economia o Estado é bastante limitado em suas decisões e controles na medida em que ela é ditada de fora para dentro através do FMI, OMC e BIRD.

Tratando-se das reformas previstas, no Modelo, a Reforma do Judiciário implica no maior avanço da reforma do Estado desde 1988 (ano da Constituição), ou seja, transformar o Poder Judiciário do Brasil para ordenar a República Federativa no cumprimento das normas constitucionais puna todos aqueles plutocratas e técnoburocratas que abusam do poder. Os envolvidos no mau desempenho no exercício da função pública, os cleptocratas ou corruptos de todos os matizes, os que traem a nação, aqueles que lavam e desviam dinheiro, contrabandeiam e lidam com o tráfego de drogas e de órgãos humanos devem ser punidos. Também, as pessoas, e todos os mafiosos além dos que subvertem e transgridem a legislação social não somente a previdenciária, mas a do trabalho, a do ambiente e a tributário-fiscal.

Com um Poder Judiciário transparente reformado e recriado do ponto de vista da justiça, da ética e da cidadania têm-se as condições para administrar as políticas e a economia pública na certeza de que há um compromisso visceral do Judiciário com os objetivos nacionais permanentes e atuais (ONP e ONA). É preciso ter justiça social para a construção de um Brasil Grande de Incluídos

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em contra ponto ao atual Brasil Nanico sob a égide de uma irresponsável e alienada elite segregadora e excluidora do povo brasileiro onde o Judiciário contribui para a impunidade dos plutocratas e cleptocratas de todos os matizes.

Augura-se, portanto, uma Reforma do Judiciário que aponte para: a) Um controle externo por um Conselho Nacional de Justiça capaz de

planejar políticas nacionais e corrigir desvios éticos nos poderes da Nação b) Uma moderna e célere administração c) Uma revisão da legislação infraconstitucional d) Uma estrutura democrática onde as defensorias públicas possam de fato

atuar em favor da grande massa de brasileiros totalmente privados de direito e de cidadania.

Almeja-se, inclusive, que as defensorias públicas possam fortalecer e

exercer o papel de legitimar a economia social-comunitária na abertura interna do processo de globalização ou mundialização da economia.

A Reforma Econômica (tributário-fiscal) já está em andamento e, na medida em que seja descentraliza e racionalizada ao nível dos municípios, em muito, contribuirá para a abertura do Estado que a partir da economia pública possa implementar, de fato, a economia social-comunitária na abertura interna prevista no Modelo e inserta no processo de globalização econômica.

Para tanto, há que se desonerar a produção de bens e serviços ampliar a capacidade produtiva do país e incorporar ao mercado interno o vasto contingente de excluídos, de indigentes que, por falta de oportunidades e pela violência dos ricos contra os pobres e do próprio Estado contra os pobres. Essa situação leva-os a engrossar a violência urbana e rural existente, hoje no Brasil, e que toma porte de uma guerra civil não declarada. Cabe, portanto, à reforma econômica (tributário-fiscal) assegurar a população condições econômico-sociais de bem estar, de equidade e de geração de emprego e renda e, principalmente, transferência de renda dos ricos para os pobres e não o inverso que ora se dá.

Note-se que do ponto de vista financeiro o Brasil é detentor de um sistema financeiro estatal e privado capaz de assegurar e doar sustentabilidade ao Modelo bastando, para tanto, colocá-lo a serviço do país.

A Reforma Agrária é a base sobre a qual se pode instituir e solidificar a economia social-comunitária para ampliar a produção, à segurança alimentar, a segurança do abastecimento, gerar empregos e garantir aos sem-terra e aos minifundiários o direito de receber terra e crédito do PRONAF e PCF. Também os fundos constitucionais (FNO, FNE e FCO). Outras fontes públicas e privadas podem e devem ser mobilizadas com vistas a uma vida digna no meio rural brasileiro e, muito em particular na grande Região Nordeste.

Em complemento a reforma agrária cabe ao Estado patrocinar e financiar a infra-estrutura necessária, a capacitação técnica local dos projetos, habilitarem os créditos, assistir as comunidades e acabar ou neutralizar a influência dos

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especuladores, açambarcadores e políticos tradicionais e conservadores na medida em que solidifica uma democracia participativa local. Há que se implementar e programar a plataforma da política de reforma agrária proposta pelo Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva quando afirma: “A reforma agrária é instrumento indispensável de inclusão social, num país de grande concentração de renda como o nosso. Associada aos demais instrumentos convencionais, incluindo uma política auxiliar de crédito fundiário para regiões e setores específicos ela é estratégica para enfrentar a crise social e fomentar as cooperativas, a agricultura familiar e a economia solidária”.

“A aceleração do processo de reforma agrária e um programa de recuperação dos assentamentos já efetuados é indispensável para aumentar o emprego na agricultura e proporcionar segurança alimentar aos trabalhadores e suas famílias”.

“A expansão e integração da produção de alimentos, ao lado da consolidação das diversas formas e níveis de organização produtiva dos beneficiários, desempenhará um papel central na regularização dos fluxos de abastecimento nas esferas local, regional e nacional. Sem prejuízo de outras formas que possam ser utilizadas em situações determinadas, o instrumento central de obtenção de terras para a reforma agrária será a desapropriação por interesse social, nos termos do que estabelece a Constituição Federal”.

“A elevação da eficácia da reforma será alcançada, também, por meio da ampliação da participação dos beneficiários em todas as suas fases e da implantação de sistemas de financiamento e comercialização que contribuam para viabilizar economicamente as unidades produtivas criadas”. (Inserto no site do então candidato à Presidência da República na Internet)

Sendo urgente e necessária, a Reforma Política deve submeter as ações do Estado brasileiro ao amplo controle político da sociedade civil em contra ponto ao atual controle das elites que nos 500 anos de história (a partir da invasão européia). Hoje, no território da República Federativa do Brasil, mostrou-se totalmente irresponsável para com o povo brasileiro defendendo apenas, seus mesquinhos interesses e dos países que representam (Portugal, Inglaterra, França e, hoje, EUA). Melhor explicitando se deseja na reforma política que a sociedade civil organizada participe da definição dos grandes objetivos nacionais seja nas decisões como na implementação das medidas decorrentes, a fim de que os instrumentos se afinem com os propósitos, e a prática se ajuste à retórica conforme pregava Teotônio Vilela e Raphael Magalhães no Projeto Brasil no Senado Federal.

O Partido dos Trabalhadores, agora, no poder, tem explícito em seu programa à necessidade da reforma política, porém de maneira muito tímida, ou seja, em dois parágrafos (63 e 64) omitindo o papel que a mesma tem para se ter de fato e de direito, no Brasil, uma democracia representativa. Isso ocorre a partir da consolidação de uma forte democracia participativa com origem e prática nos municípios onde os Entes Comunitários devem ter efetiva participação. O

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modelo em discussão parte do princípio que só haverá, no Brasil, uma democracia representativa quando seu pressuposto básico, que é a democracia racial e participativa, esteja devidamente implementado desde o nível local ao nacional. Também, a questão dos gêneros deve ser objeto da reforma política.

Vale lembrar que a proposta de reforma política do governo FHC, explicita no documento Avança Brasil ( p.277), se devidamente revisada vai ao encontro das proposições do modelo autônomo de desenvolvimento sustentável e, em muito, contribuirá para sua implementação. As diretrizes ali explícitas não são para se jogar fora e sim para ser melhoradas e ampliadas (do ponto de vista dos excluídos) no Governo Lula ou do Partido dos Trabalhadores, do Partido Socialista e do Partido Comunista do Brasil.

Dentro do modelo, em discussão, cabe ainda, aperfeiçoar as políticas que regulam a economia privada capitalista de forma a compatibilizar sua lógica de maximização do lucro e do poder, no processo de acumulação incessante de capital, com os inalienáveis interesses do Brasil. Há que se ter, também, especial atenção para as empresas estatais e para-estatais (públicas) brasileiras a partir dos interesses do povo e, principalmente, dos excluídos. Essa é, também, uma das razões para o processo de desmercantilização econômica como premissa do modelo.

É preciso controlar, com o máximo rigor, o marcos de regulamentação e de controle que possibilitam o sistema empresarial, particularmente, o financeiro, cumprir com as obrigações que as regras lhes impõem em termos de tributação, previdência, trabalho, social, ambiental, respeito ao cliente e, principalmente, de remessa de lucro ilegal ao exterior. Deve-se, em tese, se doar especial atenção àquelas empresas que criem muitos postos de trabalho e que é solidária com o bem-estar da sociedade brasileira. Nos dispositivos de controle e de regulamentação das empresas ou organizações insertas na economia privada capitalista devem-se administrar critérios e objetivos de equidade entre os diversos setores sociais. Propõe-se que os endividamentos externos, oriundos das operações das empresas capitalistas, sejam mantidos, no âmbito das relações privadas e jamais do setor público como soe acontecer. Necessita-se de amplo rigor contra a evasão fiscal e um controle rigoroso da remessa de lucro, royaties, serviços e dividendos gerados, no país, para o exterior. Em nenhuma hipótese se deve privilegiar uma empresa estrangeira ou transnacional em detrimento daquela que, autenticamente, é nacional, como aconteceu com os governos dos entrególogos Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso que serão julgados pela história.

Para ilustrar, as presentes idéias, seguem-se um esquema sistêmico do que aqui foi apresentado, de forma sinótica, para futuros desdobramentos, leituras e contextualizações.

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SISTEMA MUNDO CAPITALISTA

SISTEMA AUTÔNOMO DO DESENVOLVIMENTO

LUCRO E PODER ESTRATÉGIAS DE TRANSFORMAÇÕES

ABERTURA DO ESTADO ECONOMIA PÚBLICA

CONTROLE DA PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO GESTÃO

PÚBLICA NACIONAL

DESBUROCRATIZAÇÃO

REFORMA DO JUDICIÁRIO

REFORMA ECONÔMICA

E FISCAL REFORMA AGRÁRIA

REFORMA POLÍTICA

ORDENAMENTOCONSTITUCIONAL

RECUPERAÇÃODA JUSTIÇA

DESCENTRALIZAÇÃO

DEMOCRACIA PARTICIPATIVA

CRESCIMENTO (INVESTIMENTOS)

REVOLUÇÃO TÉCNICO-CIENTIFICA

COMPETITIVIDADE SUSTENTABILIDADE

MODELO AUTÔNOMO DE

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NOS

TERRITÓRIOS

EQUIDADETRIBUTAÇÃO

IDH

EMPREGO

REDISTRIBUIÇÃODE

TERRAS

SEGURANÇAALIMENTAR

E SOCIAL

CADEIASPRODUTIVAS

COMÉRCIOEXTERIOR

ASSOCIAÇÕES SOCIAISCOMUNITÁRIAS

INVESTIMENTOS

REVOLUÇÃO INFORMACIONALDESCENTRALIZAÇÃO

ABERTURA EXTERNAECONOMIA PRIVADA CAPITALISTA

EXCLUSÃO SOCIALTERRITÓRIOS DINÂMICOS

ABERTURA INTERNAECONOMIA SOCIAL-COMUNITÁRIA

INCLUSÃO SOCIALTERRITÓRIOS LETÁRGICOS

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Na organização do esforço de planejamento estratégico do desenvolvimento sustentável autônomo, não se trata de fixar uma estrutura formal para a planificação, mas, estabelecer as bases sobre as quais o sistema deve ser organizado. É dizer, definir QUEM participa, QUAL É O PAPEL de cada um dos diferentes participantes, QUE RELAÇÕES devem existir entre esses participantes e COMO DEVEM conduzir-se.

Para concretizar um planejamento estratégico situacional capaz de promover a superação de uma nação para outras para uma situação de uma nação para si, torna-se necessário rever muitos conceitos da economia clássica e neoclássica em situação de neocolonialismo, como sejam:

a) A categoria de MATÉRIA-PRIMA que, para os brasileiros, não pode

ser entendida somente como insumo ou matéria intermediária para a confecção de alguns produtos. Deve, sim, ser apreendida como substância capaz de absorver trabalho humano vivo ou pretérito. Neste caso, convém verificar se seu caráter é renovável ou não. No caso de ser renovável, trata-se necessariamente de um produto vivo da natureza ou do agro; não sendo renovável, é um produto mineral. A partir deste conceito e do caráter da matéria-prima, se pode deduzir que, quando se exporta determinado mineral estratégico ou mineral escasso ou mesmo produtos agrícolas in natura, se está exportando uma determinada quantidade de trabalho que poderia ser agregada ao produto final no próprio país. Na medida em que isto não acontece, a exportação de matéria-prima significa a alienação da capacidade de trabalho nacional. Isto é muito grave quando se exporta as matérias-primas básicas ou estratégicas e se importa produtos manufaturados oriundos delas. Neste caso, a alienação é dupla: exportação de capacidade de trabalho nacional e importação do trabalho agregado de terceiros

b) DESEMPREGO. É outra categoria que, praticamente, não existe em países subdesenvolvidos ou periféricos como o Brasil. O imaginário do brasileiro não é levado a acreditar que uma pessoa que está desempregada já tenha uma determinada qualificação profissional, posto que perdeu seu emprego e aguarda ou busca nova oportunidade, isto é, possui uma determinada aptidão técnica. No contexto econômico desemprego não pode ser entendido apenas como falta de emprego, mas como o resultado de exoneração, demissão ou destituição de função. No Brasil, esses casos existem no Sul e Sudeste e são insignificantes no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O que existe, de fato, são pessoas não qualificadas que buscam emprego muitas vezes pela primeira vez. Em geral, carecem de atributos de qualificação ou aptidão técnica e profissional. Uma coisa é estabelecer uma política de emprego para desempregados; outra é criar empregos ou oportunidades de negócios para pessoas não qualificadas e que nunca trabalharam. Exportando matéria-prima e permanecendo a mão-de-obra ociosa, embora se possa, eventualmente, convertê-la em bens utilizáveis, o país subdesenvolvido ou periférico incide em duplo erro: despoja-se de sua riqueza insubstituível, alienando o trabalho de beneficiamento da matéria-prima, e

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importa o trabalho agregado do país que a industrializa. Acontece, com este duplo erro ou alienação, que o país subdesenvolvido ou periférico, além de reduzir o seu potencial de trabalho, relega seu povo e de seus futuros operários qualificados à condição de semoventes, vegetando no plano de uma política de salários aquém do nível de subsistência. Para o país subdesenvolvido ou periférico, o problema não consiste em saber se a exportação de minérios produz ou não divisas, mas saber se produz ou não trabalho.

Para completar o sistema conceitual supra, vejamos o que acontece com

os conceitos de uso dos recursos naturais, particularmente o conceito de UTILIZAÇÃO DE FATORES.

Opina-se que este conceito não pode ser utilizado nos países subdesenvolvidos tal qual é apresentado pela economia dos países desenvolvidos ou do ponto de vista etnocêntrico, pois contém numerosos aspectos que somente a investigação a partir de um ponto de vista nacional ou crítico abrangente pode descobrir.

Sob a rubrica de utilização de fatores, ou de uso dos recursos naturais, ocultam-se diversas modalidades de aproveitamento dos bens de um país, que podem ser utilizados em proveito próprio e alheio. Segundo Álvaro Vieira Pinto se pode ver que:

a) SUBUTULIZAÇÂO OU SUB-USO. Consiste no aproveitamento

parcial da riqueza existente a partir da capacidade industrial já instalada ou da mão-de-obra oferecida. É a modalidade quantitativa do uso. Caracteriza-se pela utilização dos chamados fatores produtivos em quantidade inferior ao máximo possível. A capacidade ociosa inclui-se nesta modalidade de uso. O país subdesenvolvido usa apenas uma pequena parte dos seus recursos naturais disponíveis, sendo impedido de aumentar o aproveitamento desses bens por motivos de ordem: i) política, por pressão dos países hegemônicos que procuram manter um baixo nível de utilização; ii) econômica, pela debilidade da acumulação interna de capital; e iii) técnica e científica, pela ausência do conhecimento de suas reais possibilidades e da extensão e variedade dos bens naturais

b) SEMÏ-UT1LIZAÇÀO OU SEMl-USO. Consistem na utilização completa dos recursos naturais para, apenas, alguns dos fins de produção, ficando outros entregues à ociosidade ou à demanda de bens, a ser satisfeita pela importação de matérias-primas ou de produtos acabados. Neste caso, temos a modalidade de MAU USO ou MÁ UTILIZAÇÃO, que se definem pela presença simultânea do conveniente aproveitamento de certos recursos e a falta de interesse por outros desconhecidos, mal usados ou não aceitos, sendo substituídos por equivalentes importados. A semi-utilização dos chamados fatores produtivos ocorre freqüentemente nas novas indústrias implantadas no país para explorar alguma riqueza nativa. E oportuno ressaltar, porém, que este procedimento se

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acompanha da importação de máquinas estrangeiras ou de alguns insumos que poderiam ser produzidos internamente, embora parcialmente, fato que ocasiona a imobilização dos implementos, artigos, acessórios etc. que o planejamento de tais indústrias pretende importar e não produzir no país

c) PSEUDO-UTILIZAÇÃO OU PSEUDO-USO. Este conceito concerne à utilização de qualquer recurso natural do país pelo capital estrangeiro. Do ponto de vista do desenvolvimento nacional, trata-se, de fato, de um FALSO USO, porquanto, aparentemente, o recurso está sendo aproveitado pelas condições econômicas em que se realiza esta atividade, falseando assim o uso para si das riquezas do país. Mesmo no uso dos recursos naturais, estes são utilizados em seu exclusivo proveito; tudo se passa como se destruísse a riqueza, anulando-a, transformando-a para outros, aviltando, assim, o valor de trabalho nacional. Exemplo típico deste pseudo-uso no Brasil: a exploração e transformação da bauxita em Barcarena, no Pará, e em São Luís, no Maranhão, onde são alienados não somente o trabalho agregado que poderia ser implementado nos lingotes de alumínio exportados, mas, principalmente, da energia gerada pela maior e mais importante hidroelétrica brasileira que é Tucurui. A falta de confiança que os povos periféricos manifestam nas suas capacidades, seu pessimismo para seu futuro, alegando não disporem de meios para elevar seu nível de vida porque foram mal dotados pela natureza e não têm capacidade de trabalho, são responsáveis pelo clima desfavorável. Resulta isso no aproveitamento inadequado dos bens naturais. Por isso mesmo viça, no povo, uma ideologia reacionária que se explícita em complexo de inferioridade e ausência de auto-estima.

Do desalento proveniente do imaginário brasileiro resulta a

marginalização do povo. Este passa a viver sob a constante pressão ideológica daqueles representantes da ciência estrangeiras a serviço de exploradores que além de comentarem, divulgam e propagam a idéia de ESCASSEZ DE RECURSOS e a dificuldade em mobilizar os recursos que o povo possui. A noção do pseudo-uso dos recursos naturais gera o estado de espírito coletivo que lhe corresponde e, por conseguinte, o câmbio, chegando-se à nova situação de PLENO USO desses recursos que abre o caminho para outra perspectiva ideológica - a consciência crítica da comunidade ou da nacionalidade. Então, rompem-se os grilhões que se impõe às comunidades, sugestionando-as a não crerem na existência de bens aproveitáveis e na efetividade de seu esforço e de seu trabalho. É por isso que o país subdesenvolvido ou periférico necessita conhecer, por si mesmo, os bens naturais de que dispõe e mobilizar seus próprios cientistas para descobrirem a realidade nacional e propor a proteção do uso dos seus recursos naturais. Sabe-se que, sob o manto da hipócrita autoridade de uma ciência supostamente neutra ou impessoal, escondem-se a rapinagem do capital estrangeiro, seus interesses político-imperialistas e suas manobras para manter o domínio sobre a consciência das elites alienadas e mal esclarecidas dos países periféricos ou subdesenvolvidos.

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A programação da pesquisa científica, originalmente destinada a criar a consciência positiva dos países atrasados, é uma tarefa urgente e constitui uma superestrutura relacionada com os princípios básicos de exploração e aproveitamento dos recursos dos países em seu proveito próprio.

A mobilização desses recursos requer dois tipos de medidas: uma de infra-estrutura e outra de superestrutura

As medidas de infra-estrutura visam à plena apropriação dos recursos naturais pelo povo, representado pelo seu Estado verdadeiramente democrático de forma participativa e representativa e a quem compete à posse das fontes de energia. Em conseqüência do crescimento anárquico da produção, do enfraquecimento e imprecisão dos mercados, das pressões externas, da falta de planejamento científico, dos impedimentos de toda ordem, a economia dos países atrasados é naturalmente levada a desbaratar significativamente as próprias possibilidades produtivas. Resulta disso uma parte da capacidade ociosa, a qual se fosse utilizada, daria aos países sem nenhuma necessidade de novas inversões, o imediato aumento dos recursos produtivos que, por falta desta orientação, permanecem inaproveitados. Por isso, é importante investigar, com cuidado, em cada ramo de atividade, quais são e onde se localizam esses recursos mal utilizados e aproveitá-los. E óbvio que a mobilização desses recursos só pode ser feita por meio de uma política de libertação nacional. A economia subjugada ao capital financeiro internacional, como ocorre atualmente no Brasil, não tem nenhum interesse em explorar essas possibilidades latentes na economia nacional, preferindo, em vez disso, aumentar as inversões externas que ampliam a área de dominação.

No Brasil, já existem todas as condições para se planejar nas condições aqui apontadas. A atualização da capacidade ociosa define uma diretriz política que só poderá ser executada por um governo com autodeterminação. No contexto do Nordeste do Brasil, espera-se que os governos estaduais pudessem, a nível nacional, dar os primeiros exemplos. Entretanto, parece que, em nenhum momento, está prestes a seguirem a política aqui explicitada, o que é muito frustrante para os nordestinos e mesmo para todos os brasileiros críticos. Esta política implica obrigatoriamente o fortalecimento dos recursos de que dispõe o país e, portanto, a liberação da economia nacional do julgo ou domínio externo. Forma parte, ainda, do elenco das medidas de infra-estrutura, a incorporação da mão-de-obra ao processo produtivo. Tudo isto pode e deve acontecer no chamado processo de globalização que não é o mesmo de internacionalização da economia nacional.

Este ponto de vista permite considerar o problema da planificação da mobilização dos recursos naturais e humanos sob a ótica de dois novos conceitos que devem servir para interpretar os fatos particulares da nação: a AUTO-UTILIZAÇÃO e a HETÉREO-UTILIZAÇÃO ou HETÉREO-USO.

Estes dois vocábulos híbridos evidenciam a conveniência ou não do uso de determinados recursos naturais, em dado momento, ou seja, determinam se

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eles podem ser utilizados em exclusivo proveito nacional ou, caso contrário, em proveito de outro país. A conceituação do uso dos recursos naturais de um país considerado atrasado não se limita ao aspecto quantitativo nem consistem em investigar, em que extensão e volume são eles valorizados ou mensurados. É preciso atentar para o aspecto qualitativo e indagar QUEM se beneficia com seu uso?

O exame dos aspectos qualitativos revela, pois, este dado essencial. Não basta que se defina a utilização dos recursos brutos nacionais. E indispensável que os efeitos deste aproveitamento permaneçam integralmente no país sob a forma de impulso ao processo de desenvolvimento sustentável.

As noções supracitadas são de importância fundamental para identificar os perigos que oferecem os estudos e projetos a respeito da mobilização da capacidade ociosa existente nos vários setores da economia nacional, os quais apresentam simples aspectos quantitativos, ocultando o verdadeiro conteúdo da questão. Vale dizer qual seja saber se o uso de sua capacidade, até o momento marginalizado, será efetuado em benefício do povo ou contribuirá para piorar a situação subserviente.

Estas breves considerações visam fornecer meios teóricos para o planejamento estratégico situacional, que inclua a noção do futuro desejado em contraposição ao futuro lógico. A noção de FUTURO DESEJADO, para ser adequadamente utilizada, exige criatividade e síntese. Implica valoração, demanda julgamento de valor e definição de fins e necessidades. Requer capacidade para lidar com elevado número de variáveis independentes que necessitam articulação, ordenamento, interação e iteração.

Após essas breves considerações sobre o Modelo Autônomo de Desenvolvimento Sustentável se comenta, a seguir, o diagrama do seu Sistema de Gestão com vistas a que o leitor possa, de forma sistêmica e holística, apreender as conexões do Modelo.

No diagrama, que se apresenta a seguir, se colocam, no centro do sistema, os atributos, as dimensões e os códigos para o Modelo funcionar com as devidas interconexões com os sistemas: cultural, filosófico e inovacional. Busca-se, também, a interatividade com as habilidades gerenciais empresariais e com as adaptações nas esferas: pública, privada e solidária e as necessárias e imprescindíveis mobilidades e conectividades com as percepções: macro-sistêmica, micro-sistêmica e institucional-administrativa com objetivos explícitos de conversibilidade, ubiqüidade e globalidade ou totalidade no Sistema Autônomo de Desenvolvimento Sustentável. Acredita-se que o diagrama é auto-explicativo dispensando maiores comentários sobre o mesmo.

Para ilustrar as idéias vale salientar que as mesmas são um convite a toda e qualquer pessoa a trazer sua crítica e contribuição criativa e responsável socialmente para o desenvolvimento sustentável de um Brasil Grande de Incluídos em contra ponto ao Brasil Nanico de exclusão social, de expropriadores e de segregacionistas. As idéias do modelo proposto não são fáceis de serem

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implementadas, porém estão focadas no sistema mundo capitalistas em grave crise anti-sistêmica e em pleno caos de transição para outro que não se sabe se será melhor ou pior do que esse que ora se bifurca. Esse fato aponta que não se pode fugir da transição restando a obrigação de se introduzir ao debate público essas idéias no contexto das múltiplas necessidades e diferentes interesses de todos que estão insertos na transição do sistema. Vale apenas tentar e lutar pela sua implementação que deve ser melhorada nesses horizontes de aproximadamente 50 anos.

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Essas idéias têm como premissa básica uma ampla estratégia alternativa que segundo Wallerstein resume-se em:

1. “Expandir o espírito de Porto Alegre”, ou seja, fomentar e promover, ao máximo, movimentos ou eventos anti-sistêmicos com vistas a: clareza intelectual das ações anti-sistêmicas no processo de transição; ações militantes o mais amplas possível de mobilização popular; defender alterações fundamentais de contenção ao processo incessante de acumulação de capital em curto, médio e longos prazos. O espírito de Porto Alegre deve inserir-se naquilo que se convencionou chamar de “coligação arco-íres” de Jesse Jackson, “esquerda plural” dos movimentos franceses e “frente ampla (Brasil) ou frente amplio” em toda América Latina. O FUNDO SOCIAL MUNDIAL (FSM) criado em Porto Alegre espelha e reflete essa estratégia.

2. “Usar táticas eleitorais defensivas”, isto é, ter a convicção de que vitórias eleitorais não transformarão o mundo, mas não podem e não devem ser negligenciadas por serem mecanismos que podem politizar e proteger necessidades das populações excluídas ou dominadas por elites irresponsáveis. Para tanto, fazer valer do nível local ao mundial o espírito de Porto Alegre onde ficou explícito que as eleições quando vitoriosas são apenas táticas defensivas no processo de transição do sistema mundo capitalista e há que se cobrar as promessas de campanhas.

3. “Promover incessantemente a democratização” seja pela participação seja pela representação política e, principalmente, pelo viés racial. Pressionar, ao máximo, as exigências sobre: mais saúde, mais educação, mais renda vitalícia, mais seguro desemprego, mais segurança alimentar, mais segurança social, mais infra-estrutura social, mais habitação e mais tudo que possa inibir as possibilidades do aumento do lucro e do poder pelo metabolismo do capital gerido pelos capitalistas em seu processo incessante de acumulação.

4. “Fazer com que o centro liberal seja fiel às suas preferências teóricas”. Pregando a emigração e imigração em grande escala e o mais livre possível, a abertura das fronteiras geográficas, a não-salvação dos empresários que fracassam nos mercados, pagar auxílios- desemprego, subsidiar a formação educacional, praticar economia-solidária, abolir e limitar o acordo de patentes, criarem empregos ou ocupações e redistribuir rendas. Promover e fomentar toda e qualquer mobilização popular em torno dos direitos legais e direitos humanos dos cidadãos e das chamadas minorias.

5. “Fazer do anti-racismo a medida definidora da democracia”, isto é, pregar e praticar, com veemência, a democracia racial como essência da democracia participativa e da representativa. Conscientizar as populações, por todos os meios, de que o “racismo é o modo primário de distinguir entre aqueles que têm direitos (ou mais direitos) e os outros, os que não têm ou têm menos direitos” no dizer de Wallerstein.

6. “Avançar na direção da desmercantilização”. Segundo Wallerstein “a principal coisa errada no sistema capitalista não é a propriedade privada, que é

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apenas um meio, mas sim a mercantilização, que é o elemento essencial da acumulação de capital”. O modelo na janela interna e na janela do estado explicita como avançar nessa direção.

7. “Recordar sempre que vivemos na era de transição do sistema mundo existente para algo diferente”. Com tal atitude, pretende-se buscar novas alternativas de desenvolvimento e enfatizar que a única alternativa que de fato não existe é continuar fora das contradições da estruturas em crise do sistema mundo capitalista que com certeza vai se bifurcar. Essa recordação demanda do cidadão a necessidade de avaliar e dissecar as propostas e blefes daqueles que advogam e fomentam o status quo do sistema mundo em plena crise sistêmica. No dizer de Morin há que se lutar por um mundo relativamente democrático e solidário com vistas a um cenário de antropolítica.

Como princípio de mudança comum às três economias do Modelo, sem

dúvida, é a AUTOGESTÃO, entendida como gestão por si própria, que tem seu oposto na HETEROGESTÃO ou a gestão de outro com a empresa ou com a vida. A autogestão, não pode e não deve ser confundida com a CO-GESTÃO seja ela no nível da organização técnica do trabalho ou no nível da política geral da unidade produtiva ou de serviços. A autogestão, também, se diferencia da GESTÃO COOPERATIVA tradicional na medida em que seu conceito vai muito além das expectativas cooperativas.

Na sua acepção política a autogestão pode e deve alcançar o significado de SOCIEDADE AUTOGERIDA como projeto político. Ela se opõe a qualquer tipo de centralismo democrático/burocrático de um estado nacional negando-o em sua plenitude. A autogestão se espelha na antropolítica (Morin) ou no humanismo concreto (Basbaun) como antítese da alienação dos humanos, repousando no princípio de igualdade plena de oportunidades e de liberdade inteira de cada membro de uma organização ou de uma sociedade autogerida conforme previu Rousseau no Contrato Social.

Levada as últimas conseqüências, em uma dada sociedade, a autogestão como teoria política pode abranger e superar o clivar entre meios de decisões coletivas versus meios de decisões que permanecem privadas pelo estado nacional.

Cabe lembrar que o conceito de autogestão transita pelo anarquismo científico (Bakunin), pelo marxismo (Marx, Rosa Luxemburgo Anton Pannekoek) e é a negação do centralismo democrático/burocrático de Lênin, Stalin, Mao Tse Tung e seus seguidores. Refuta enfàticamente os princípios da chamada “organização científica do trabalho” de Fayol, Taylor e Ford, ainda hoje, muito apregoada pelos heterogestores do sistema mundo do capitalismo.

Em tese a “autogestão implica em uma mudança radical e instauração de uma outra maneira de viver em comum, inteiramente nova”. (Guillerm e Bourdet). Demanda, por isso, em todas as instâncias e níveis em que se apresenta uma radical responsabilidade ambiental sem as externalidades implícitas no

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metabolismo do capital nas corporações capitalistas. Em nenhuma hipótese pode se dá na sociedade autogerida a privatização do lucro ou renda, por um lado, e a socialização das perdas e custos de produção das empresas pelo outro. Para tanto, ela imbrica-se ao gerenciamento ecológico com respeito às relações humanas com a natureza e com a relatividade recíproca entre: indivíduo e sociedade e “entre massa social e energia histórica” (Morin) quando comparada a relatividade da física de Einstein com a relatividade da história da humanidade.

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VII. DESENVOLVIMENTO/SUBDESENVOLVIMENTO UMA DESCONSTRUÇÃO POR EDGAR MORIN

Considerando as oscilações das crises e não-crises da economia política

mundial, bem como, suas regulações e desregulações sob os epítetos de “progresso/recessão” ou de “desenvolvimento/subdesenvolvimento” o mercado entre os países, no sistema mundo do capitalismo, manifesta-se segundo:

Desordem nas cotações do comércio das matérias-primas ou

“commodities” em cadeias econômicas de empresas com profunda exclusão social e exploração dos países pobres Relações monetárias artificiais, precárias e desreguladas de forma a ser

um desastroso cassino global sob a égide de uma seletiva plutocracia imbricada às corporações e ao capital financeiro Surgimento de máfias sob epítetos de corporações que mutilam as

sociedades de todos os países em todos os continentes a partir da hedonística caça ao lucro e ao poder liderado por uma poderosa cleptocracia corporativista Perturbações sistêmicas no metabolismo do capital que levam aos

bloqueios, fechamentos de fronteiras e guerras localizadas que se manifestam sob as óticas; ora de racismo, ora religiosa e ora étnica ou, simultaneamente, com duas ou mais vertentes sob base econômica hegemônica/imperialista Acumulação incessante de capital a custa da depredação da natureza

(biomas e ecossistemas), da exploração hiperintensiva da mão de obra, agora, descartáveis ou não, inclusive de crianças, por corporações em todos os seus matizes do trabalho até mesmo escravista em pleno Século XXI e da crescente e incontrolável produção de lixo provocada pelo metabolismo do capital nas corporações Concorrência monopolista ou desigual no mercado mundial onde os

países hegemônicos através de suas corporações, seus estados nacionais e das organizações internacionais, (OMC, BIRD, FMI, Conselho de Segurança da ONU, etc.), por eles controlados, impõem fome e miséria a 80% da população mundial de forma a beneficiar 20% da mesma população Desruralização do mundo altamente perversa em favor de uma vida

urbana em guetos, favelas, mocambos, cortiços ou assentamentos subnormais com péssimas ou inumanas qualidades de vida e com violência social de toda ordem.

A partir desses pressupostos é que no entender do autor destes Textos, o cientista Edgar Morin mostra que “o problema do desenvolvimento depara-se

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diretamente com o problema cultural/civilizacional e o problema ecológico. O próprio sentido da palavra desenvolvimento, tal como foi aceito, contém nele e provoca subdesenvolvimento”. Em sua contextualização ou desconstrução da categoria de desenvolvimento Morin mostra que a partir dos anos de 1945 (pós 2ª Guerra Mundial) surge como panacéia imbricada a categoria de desenvolvimento a tríade “ciência-técnica-indústria” como uma ideologia acoplada ou atrelada à noção positivista de “progresso”. Esta leva a concretizar, no sistema mundo capitalista, uma total e absoluta incapacidade de conceber um futuro para a humanidade em termos de “antropolítica” que vem a ser uma política do ente humano com vistas a tratar a biosfera em sua multidimensionalidade de problemas. Por isso, Morin antever na “antropolítica” que o devir do ser humano “traz em si o problema filosófico, doravante politizado, no sentido da vida, das finalidades humanas, do destino humano. A política, portanto, se vê de fato levada a assumir o destino e o devir do ente humano assim como do planeta”. Considera Morin que na nova problemática política fora da incensatez da ideologia desenvolvimento/subdesenvolvimento “o viver, o nascer e o morrer estão doravante no campo político. As perturbações que afetam as noções de pai, mãe, filho, masculino, feminino, isto é, o que havia de fundamental na organização da família e da sociedade, reclamam normas políticas. A noção de ser humano, tornado modificável por manipulações, em breve se arrisca a ser normatizada por um poder político que disponha do poder de manipular o poder de manipulação.”

Confirmando a “tragédia do desenvolvimento” Morin mostra os dois aspectos fundamentais do desenvolvimento, ou seja: “de um lado, é um mito global no qual as sociedades industrializadas atingem o bem-estar, reduzem suas desigualdades extremas e dispensam aos indivíduos o máximo de felicidade que uma sociedade pode dispensar. Do outro, é uma concepção redutora, em que o crescimento econômico é o motor necessário e suficiente de todos os desenvolvimentos sociais, psíquicos e morais. Essa concepção tecno-econômica ignora os problemas humanos da identidade, da comunidade, da solidariedade, da cultura. Assim, a noção de desenvolvimento se apresenta gravemente subdesenvolvida. A noção de subdesenvolvimento é um produto pobre e abstrato da noção pobre e abstrata de desenvolvimento”.

Com uma análise, que tende a confirmar a chamada hipótese 20/80, nas desigualdades humanas do sistema mundo capitalista, Morin mostra que no após guerra ou nos últimos 60 anos (voltados para a ideologia do desenvolvimento/subdesenvolvimento) o capitalismo levou o planeta, ao desequilíbrio explícito no clivar Norte/Sul. Para tanto, “as grandes potências conservam o monopólio da alta tecnologia e se aproximam até mesmo do poder cognitivo e manipulador do capital genético das espécies vivas, inclusive a humana. O mundo desenvolvido destrói seus excedentes agrícolas, põe suas terras em pousio enquanto fomes e miséria se multiplicam no mundo pobre.

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Quando há guerras civis ou desastres naturais, a ajuda filantrópica momentânea é devorada por parasitas burocráticos ou políticos interessados em negócios. O terceiro mundo continua a sofrer a exploração econômica, mas sofre também a cegueira, o pensamento limitado, o subdesenvolvimento moral e intelectual do mundo desenvolvido”.

Em sua crítica a cegueira da ideologia do desenvolvimento/subdesenvolvimento Morin mostra que as incertezas, as turbulências, as bifurcações e as oscilações imprevistas da realidade histórica têm levado renomados economistas e cientistas a condicionar seu ponto de vista a uma interpretação economicista da história. A economia “ignora os acidentes, os indivíduos, as paixões, a loucura humana. Ela julga perceber a natureza profunda da realidade numa concepção que a torna cega à natureza complexa dessa realidade”. Segundo ele, a realidade “não é feita só de imediato, não é legível de maneira evidente nos fatos, não é senão nossa idéia de realidade depende também da aposta” e que não refletindo a realidade concreta apenas a traduz “de um modo que pode ser errôneo”. É certo que nestes Textos a crítica de Morin tem muita procedência o que leva os leitores e discentes a desconstruirem muitas das assertivas, neles existentes, o que permite ao alunado criar suas próprias idéias sobre os modelos de aderência àquilo que se denomina ou se imagina ser realidade. Esta é regida pelos princípios da incerteza, da ordem e da desordem ou simplesmente da teoria do caos, ou seja: “o possível é impossível e vivemos num mundo impossível em que é impossível atingir a solução possível”. É, portanto, ambivalência. Com essa assertiva augura-se aos discentes e leitores destes Textos possam entender o metabolismo do capital que tem imbricado em si o espírito de competição, de êxito, de progresso, e desenvolve o hedonismo a um nível tal a dissolver toda e qualquer possibilidade de solidariedade humana. Ele subordina o ente humano produtor ao ser humano consumidor e este ao produto vendido no mercado monopolizado que por sua vez fomenta as orças libidinais, cada vez menos controladas, no processo de circulação das mercadorias. Essa agitação econômico-social mercadológica é, segundo Morin, “superfícial e se apodera dos indivíduos assim que escapam às coerções escravizantes do trabalho. O consumo desregrado torna-se super-consumo insaciável que alterna com curas de privação; a obsessão dietética e a obsessão com a forma fisica multiplicam os temores narcísicos e os caprichos alimentares sustentam o culto dispendioso das vitaminas e dos oligo-elementos. Entre os ricos o consumo se torna histérico, maníoaco pelo prestígio, a autenticidade, a beleza, a tez pura, a saúde. Eles percorrem as vitrines, os grandes magazines, os antiquários, os mercados de pulgas. A bibelomania se conjuga com a bugingangomania”. Ainda, na desconstrução de muito que foi dito nos Textos, vale lembrar que Morin mostra que sobrepor o técnico-econômico ao político é pura ingenuidade, principalmente, na competição técnico-econômica entre os países e, especialmente, em conjunturas de depressão ou crise. Dessa forma, o técnico-

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econômico se torna um problema político permanente, envolvendo os vieses das ideologias, da técnica, da ciência e das idéias enfraquecendo o papel democrático vital às soluções dos conflitos. Conclui, portanto, que “os econocratas, muito capazes de adaptar o progresso técnico aos humanos, não conseguem imaginar soluções novas de reorganização do trabalho e de repartição da riqueza”. Também Antônio Delfim Neto, no Brasil, tem sistematicamente apontado os desvios dos econocratas na sua coluna Sextante na revista Carta Capital. Sobre o papel do estado-nação, Morin é enfático em afirmar que “se tornou bastante forte para destruir maciçamente humanos e sociedades, ele se tornou demasiado pequeno para se ocupar dos grandes problemas agora planetários, embora seja demasiado grande para se ocupar dos problemas singulares concretos de seus cidadãos”. As classes sociais subordinadas nos estados-nação são “cada vez mais incapazes de salvaguardar as identidades culturais que são provinciais e se defendem justamente exigindo a diminuição dos poderes do Estado”. ... “A superação do Estado-nação não é sua liquidação, mas sua integração em associações mais amplas, a limitação de seu poder absoluto de vida e de morte sobre etnias e sobre os indivíduos”. Para o leitor ter idéia do que vem a ser corporação, aqui várias vezes citadas, vale transcrever, a contextualização da dileta aluna Marluce de Castro Acosta sobre o documentário canadense “The Corporation” dirigido por Mark Achbar e Jennifer Abbott com roteiro de Joel Bakan apresentado em sala de aula. A citada aluna assim resume sua contextualização: “O filme, ou documentário descreve, o que, de fato é uma corporação. Tudo se deu início em 1886, quando o condado de Santa Clara, nos EUA, enfrentou nos tribunais a Southern Pacific Railroad, poderosa companhia de estradas de ferro. No veredicto, sem maiores explicações, o juiz responsável pelo caso declarou, em sua argumentação, ‘a corporação ré é um indivíduo que goza das premissas da 14a Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que proíbe ao Estado que este negue, a qualquer pessoa sob sua jurisdição, igual proteção perante a lei’. Isso significa que, a partir daquele momento, era estabelecida uma jurisprudência através da qual, perante as leis Norte Americanas, corporações poderiam considerar-se como indivíduos”.

“Corporações são consideradas como pessoas perante a lei. Podem comprar, vender, alugar, acionar judicialmente, sofrer perdas, capitalizar ganhos, incorporar patrimônio e tantas outras ações que as pessoas físicas realizam durante suas existências nesse planeta. Diferentemente de mim ou de você, não têm corpo físico definido e, tampouco alma. Sua principal razão de ser é a obtenção de lucro, mesmo que isso se oponha ao bem estar comum de toda a coletividade humana”.

“O documentário mostra os rumos da vida nesse planeta ao gerenciarmos de forma irresponsável e inconseqüente os recursos que por aqui existem. Estamos legando para as

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próximas gerações de habitantes da Terra um mundo destruído, falido e, para finalizar, doente ou até mesmo morto”...

“O que mais me impressiona nesse documentário é a nossa impotência diante de tudo isso, o fato de milhões de crianças ingerirem leite podre e estragado e ninguém fazer nada, e quando alguém tenta, é obrigado a se calar, porque no mundo em que vivemos não importa quem somos e sim o quanto ganhamos, também não importa se uma menina de nove anos trabalha por prato de comida, no final o que importa, é a satisfação da usar um tênis, uma camisa ou uma bolsa que foi confeccionada através do trabalho escravo de uma inocente que não tem futuro, não ao menos um futuro no mínimo decente”.

“É lógico que o documentário nos mostra uma mídia que só está preocupada em lucros e em vender, vender e vender, não importando-se com nada exceto bater metas, produzir mais consumo e vender mais sonhos. Achei o documentário excelente sim, só acho uma pena que a maioria dos jovens de hoje pouco se preocupem com isso, até porque estão tão concentrados em seus próprios problemas que se esquecem que isso afeta a todos, inclusive à eles próprios”.

“Eu sou uma pessoa positiva e que acredita ainda em mudanças, e assistir algo assim é realmente libertador para mim, pois, me certifica do que quero fazer, e me mostra que a publícidade também pode servir para algo bom e positivo, pode sim servir como um alerta, pois foi através da publicidade que tivemos acesso a esse tipo de material. É lógico que mesmo antes de assistir ao documentário em questão, sempre preocupei-me com o fato das grandes corporações serem tão dominantes como são, é possível que eu não tivesse consciência da dimensão desse problema, mas isso já me preocupava, o documentário mostra também os dois lados de uma mesma moeda, questiona como seria se o mundo inteiro fosse privatizado, idéia essa que já existe”.

“Gostaria de destacar que a certa altura do documentário um alto executivo de uma multinacional se diz, em alto e bom tom, impotente para mudar qualquer ação da empresa onde trabalha, mesmo considerando que muitas das práticas contrariam seus princípios e filosofia de vida. Outro depoimento, de um destacado consultor do mercado financeiro, atesta que graves crises, como o ataque terrorista ao World Trade Center, ou guerras, como aquelas que são travadas no Oriente Médio, são um ótimo negócio para os investidores que apostam suas fichas diariamente em ouro, petróleo, indústria bélica, água, alimentos. Isso é o fim”!

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O AUTOR Geraldo Medeiros de Aguiar. Engenheiro Econômico e Mestre em Engenharia e

Administração de Empresas pela Escola Superior de Economia de Praga (República Tcheca). Tem seus diplomas revalidados: o de Engenharia Econômica como Economista na Universidade Federal da Paraíba e o de Mestre em Administração de Empresas na Universidade Federal Rural de Pernambuco. Habilitado pelo CORECON sob o nº 777.

Possui longa experiência nos setores: público, privado e da economia social. Participou do quadro técnico e trabalhou como Consultor em grandes empresas e ONGs. Têm publicado mais de 75 ensaios e trabalhos científicos incluindo-se entre eles: relatórios técnicos e trabalhos em equipe. Tem obras publicadas em co-autoria ou não, no Brasil e, ainda na República Tcheca, Polônia, Eslováquia, e Nicarágua.

Foi ativista estudantil, particularmente na “Primavera de Praga”, e conferencista em mais de 50 eventos em várias universidades brasileiras e professor convidado em mais de 20 cursos de pós-graduação. Foi agricultor (premiado pelo INCRA como agricultor modelo no município de Gravatá por duas vezes) e fez parte do quadro de técnicos e de dirigentes da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) durante 22 anos. Em junho de 2004, patrocinada pela Faculdade Boa Viagem, participou da UNCTAD XI (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento) em São Paulo. Foi co-autor de vários planos diretores setoriais e urbanos nos estados do Nordeste e, também, de EIAs e RIMAs de diferentes barragens para o DNOCS.

É autor dos livros: Agenda 21 e desenvolvimento sustentável. (Caminhos e desvios). (Livro Rápido, 2004). Agriculturas no Nordeste. Apreciação e sugestões de políticas. (Vozes, 1985) e, co-autor das obras: Estudo de problemas brasileiros (UFPE, 1971); Aspectos gerais da agropecuária do Nordeste (volume 3 da Série Projeto Nordeste, SUDENE, 1984); Políticas econômicas setoriais e desigualdades regionais, (UFPE-PIMES/ SUDENE / IPEA, 1984), Política fundiária no Nordeste (Massangana, 1990). Agenda 21 do Estado de Pernambuco (SECTMA, 2003), Agenda 21 do Ipojuca (FADURPE/SEDETMA, 2004), Agenda 21 de Igarassu (FADURPE, 2006) e Turismo, desenvolvimento local e integração regional (Ed. UFPB, 2007). Segurança alimentar e biocombustíveis. (Ed. UFPB, 2008).

Em diferentes ocasiões foi Consultor da FAO, OEA, BID e IICA através de contratos específicos e temporários. No momento, é Professor Universitário (dá aulas em cursos de pós-graduação, cursos de graduação superior e de especialização profissional) em diferentes organizações de ensino. É Consultor Autônomo e da FADURPE (para elaboração de agendas 21, planos diretores e planejamento estratégico). Foi relator de temas: nas Agendas 21 de Pernambuco e dos municípios do Ipojuca e de Igarassu. Como Coordenador Técnico do CENTRU (Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural) capacitou e coordenou a assistência técnica a 32 comunidades nos sertões do: Pajeú; do Moxotó, de Itaparica e do São Francisco pelo Crédito Fundiário/FUNTEPE e elaborou projetos para o PCPR/Projeto Renascer financiado pelo BIRD e Ministério do Desenvolvimento Agrário.

É conferencista e palestrante em seminários ou oficinas de trabalho (workshop) no Brasil, muito em particular, nos estados da Região Nordeste da qual é grande conhecedor transdisciplinar. Atende pelo telefax (081) 3326-6428, celular (081) 99728025 e pelos e-mails [email protected]

Tem curriculum vitae detalhado no sistema LATES do CNPQ, cujo site é: www.cnpq.org.br