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Vila Citrus Romance

Vila Citrus - Daniel de Carvalho

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Daniel de Carvalho

São Paulo 2009

Vila CitrusRomance

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Copyright © 2009 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa LuizDeLuca

Projeto Gráfico e DiagramaçãoAline Benitez

Parecer LiterárioVanise Macedo

Revisão gramaticalAmanda Neves

ImagensCorel Gallery

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

______________________________________________________________C322v Carvalho, Daniel de Vila Citrus / Daniel de Carvalho. - São Paulo : Baraúna, 2009. ISBN 978-85-7923-058-5 1. Romance brasileiro. I.Título.

09-4226. CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

21.08.09 26.08.09 014626

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Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua João Cachoeira, 632, cj.11CEP 04535-002 Itaim Bibi São Paulo SP

Tel.: 11 3167.4261

www.editorabarauna.com.br

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Dedico este romance Vila Citrus à minha querida esposa Neusa.

Daniel de CarvalhoMarço de 2009Piracicaba - SP

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GODOFREDO

NA PRIMEIRA segunda-feira de 2008, em São Paulo, mal amanhecera e a Via Anhanguera já estava com o trânsito carregado. Principalmente no sentido São Pau-lo – Campinas. Os viajantes eram, na maioria, famílias que voltavam para suas cidades depois de passar as festas de fim de ano na capital do Estado.

Godofredo, o motorista da caminhonete de cabine dupla, tinha razões especiais para estar, tão cedo, enfren-tando todo aquele trânsito. Ele estava de bem com a vida e de muito bom humor. Sentia-se calmo, tranquilo e sem preocupações. Havia três meses que se divorciara amiga-velmente terminando, assim, um casamento mal sucedi-do. Deixara recentemente um emprego de farmacêutico, no qual trabalhara entediado por dez longos anos. Por fim, acabara de receber por herança uma boa soma que lhe garantiria estabilidade financeira por muito tempo. Nessas circunstâncias, Godofredo decidira planejar uma nova vida. E para fazer isso, resolvera viajar sem destino

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determinado e sem data para voltar. Iria passar alguns dias em um lugar qualquer onde pudesse meditar e de-cidir seu futuro com toda tranquilidade. Procuraria, ao acaso, por uma cidade bem pequena, ou uma aldeia sos-segada e sem agitação.

A caminhonete já tinha rodado por mais de quatro horas quando Godofredo parou para almoçar num res-taurante de estrada. Logo depois, entrou aleatoriamente num trevo e pegou uma estrada secundária. A paisagem foi se tornando cada vez mais bucólica. Era exatamente o que Godofredo procurava. Mas ainda não se conten-tara. Depois de rodar mais duas horas, entrou em outro trevo, desta vez com acesso a uma rodovia estreita quase sem movimento. A região era montanhosa. As aldeias ou municípios iam rareando cada vez mais. Propositalmen-te, Godofredo não consultava mapas. Seu destino seria aquele ao qual sua intuição o mandasse.

Praticamente não havia mais trânsito. Fazia trinta minutos que não cruzava com outro veículo, quando lhe chamou a atenção uma pequena placa de madeira apodrecida semiescondida numa touceira de capim. A placa, em forma de seta, que mal podia ser lida, indicava a entrada para Vila Citrus. Godofredo teve o impulso de parar, mas como já tinha passado continuou seu ca-minho. Menos de cinco minutos depois, viu um galpão com uma placa comercial:

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ENTREPOSTO DE SUCOS CÍTRICOS MOZZART LTDA.

Godofredo estacionou e entrou para informar-se sobre a placa na estrada que indicava a entrada para Vila Citrus. Notou grande quantidade de recipientes de suco, provavelmente a espera do transporte que os levariam aos compradores. Um jovem alto e magro, de cabelos ruivos, se aproximou e ficou olhando, a espera que Godofredo dissesse alguma coisa.

— O senhor poderia me informar a quanto tempo estamos de Vila Citrus? — perguntou Godofredo.

O rapaz pareceu hesitar.Godofredo complementou.— Gostaria de conhecer a cidade. Talvez me hos-

pedar lá por alguns dias...O homem olhava meio desconfiado e não abria

a boca.— Algum problema? — questionou Godofredo.— Não, — respondeu o rapaz — apenas não co-

nheço Vila Citrus.— Mas a estrada para Vila Citrus começa a menos

de cinco minutos daqui... e o senhor não conhece?O homem balançou a cabeça confirmando que

não sabia de nada. Godofredo olhou para os fundos do galpão na esperança de ver mais alguém que talvez pudesse lhe dar informações. Nada! Parecia não haver ninguém por ali.

— Obrigado! Vou até lá assim mesmo — disse Go-dofredo dando meia volta.

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— Espere...Godofredo voltou-se.— O senhor não deve ir para Vila Citrus...— Não? E por quê?O rapaz estava muito hesitante.— Talvez... bem... não seria bom...— Por que não seria bom?O homem continuou olhando sem dizer nada.— Obrigado de qualquer forma — agradeceu Go-

dofredo, sem dar importância, e retirando-se em seguida.

Deu uma ré e voltou até a placa de entrada de Vila Citrus. Pegou a estradinha de terra. Logo no iní-cio, havia um túnel de pedras com cerca de dez metros de comprimento. O túnel era muito estreito. Veículos grandes não teriam como prosseguir e também não ha-veria como contorná-lo.

Godofredo não se deu conta de que, ao atravessar o pequeno túnel, um sensor acusou sua passagem e fez acender uma luz vermelha no entreposto.

Pela aparência da estradinha, presumia-se que não passavam muitos carros por ali. Godofredo suspirou en-tusiasmado com as matas fechadas que ladeavam o per-curso e ponderou:

Era um lugar assim mesmo que eu estava procurando! Essa tal de Vila Citrus deve ser bem pequena e atrasada. Ótima para eu passar alguns dias e repensar minha vida com tranquilidade...

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No entreposto, o rapaz magro e alto de cabelos rui-vos olhou para a lâmpada vermelha piscando e balançou a cabeça, apertando os lábios com ar de pesar e reprovação.

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TRANSTORNO INESPERADO

A CAMINHONETE avançava velozmente pela estradinha tortuosa, cheia de subidas e descidas, deixando um rastro de poeira atrás de si. Ladeando a estrada, tanto à direita como à esquerda, havia morros muito altos que não permitiam uma visão mais ampla da região. O vento entrava furioso pelos vidros abertos fazendo esvoaçarem os cabelos de Godofredo que assobiava despreocupado, tamborilando os dedos no volante do carro. Depois de quarenta minutos, desde que iniciara o percurso, ainda não havia sinal de Vila Citrus. Inesperadamente, num trecho plano, Godofredo avistou dois policiais rodoviá-rios plantados no meio do caminho acenando para que ele parasse. Um dos policiais veio até a caminhonete en-quanto o outro permaneceu distante com as mãos nos coldres das armas.

— Os documentos! — ordenou o policial, a um metro da janela da caminhonete.

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Godofredo tirou os documentos do porta-luvas e os entregou ao policial. Estranhou que eles estivessem naquele local tão longe das rodovias mais movimentadas. Mas estava tranquilo, pois não tinha cometido nenhuma infração. Enquanto o policial examinava os documentos, Godofredo o estudava. O policial que estava mais distan-te tinha uma pose de general. Com as pernas separadas, sem tirar as mãos das armas, não desviava os olhos de Go-dofredo. O outro, que examinava os documentos, tinha uma aparência ameaçadora, com o quepe quase cobrindo os óculos escuros.

— Desça! — ordenou o policial, guardando os do-cumentos no bolso e dando um passo para trás.

Godofredo sentiu-se confuso. O policial levou as mãos até as armas que portava na cintura passando a exibi-las acintosamente. Assim que saiu do carro, o policial informou:

— O senhor ultrapassou o limite de velocidade. O veículo está apreendido!

— Como é possível??? — reclamou Godofredo. — Nem dá para correr nesta estrada acidentada... e nem há placas de limite de velocidade...

Enquanto falava, não viu que o outro policial tinha entrado na caminhonete. Só percebeu quando ouviu o ronco do motor.

— Ei!!! O que vocês estão fazendo???A caminhonete fez uma manobra aprontando-se

para seguir em direção oposta de onde viera. Depois pa-rou por um segundo. Tempo suficiente para o policial que

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estava com os documentos entrar, ocupando o banco ao lado do motorista. Enquanto a caminhonete arrancava, Godofredo caiu em si constatando que suas malas estavam lá e que seus documentos ficaram com o policial. Apalpou todos os bolsos e percebeu que seu celular e seu dinheiro também ficaram na caminhonete. Desesperou-se.

Miseráveis! Não devem ser policiais! Com certeza são assaltantes... Que faço agora?

Sentou-se à beira da estrada e, angustiado, ficou pensando no que poderia fazer. Foram necessários mais de dez minutos para que voltasse a raciocinar com mais calma. Percebeu que a partir daquele ponto, somente à direita, a estrada continuava a ser ladeada por morros. À esquerda, havia extensas áreas de laranjais. Levantou e despreguiçou-se. Isso o ajudou a refletir.

Ou volto a pé... ou sigo caminhando até Vila Citrus...

Optou por seguir em frente. Em Vila Citrus veria o que fazer. Assim, começou uma longa caminhada. Ia ro-gando pragas e murmurando palavrões, ao mesmo tempo em que não deixava de deleitar-se com o silêncio e com a beleza da paisagem. Andou muito. Eram cinco da tarde quando finalmente chegou a um estreito riacho. Não havia ponte e, para transpô-lo, teve que meter o pé na água.

Caminhou mais um pouco e finalmente avistou casas. Tinha chegado à Vila Citrus.