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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA ENGENHARIA E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL TRABALHO DE GRADUAÇÃO ESTUDO SOBRE OS CONDICIONANTES DE ALAGAMENTOS NA AVENIDA FERNANDO CORRÊA DA COSTA, CUIABÁ/MT ABSSA PRADO ZORZO CUIABÁ/MT 04 DE FEVEREIRO DE 2015

Zorzo, a. p. (2015) estudo sobre os condicionantes de alagamentos na av. fernando corrêa da costa, cuiabá mt

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ARQUITETURA ENGENHARIA E TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

TRABALHO DE GRADUAÇÃO

ESTUDO SOBRE OS CONDICIONANTES DE ALAGAMENTOS NA

AVENIDA FERNANDO CORRÊA DA COSTA, CUIABÁ/MT

ABSSA PRADO ZORZO

CUIABÁ/MT

04 DE FEVEREIRO DE 2015

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ABSSA PRADO ZORZO

ESTUDO SOBRE OS CONDICIONANTES DE ALAGAMENTOS NA

AVENIDA FERNANDO CORRÊA DA COSTA, CUIABÁ/MT

Trabalho de Graduação submetido ao Corpo

Docente da Faculdade de Arquitetura, Enge-

nharia e Tecnologia da Universidade Federal

de Mato Grosso como requisito parcial para a

obtenção do título de Bacharel em Engenharia

Civil.

PROF. M.Sc. RAFAEL PEDROLLO DE PAES

ORIENTADOR

CUIABÁ/MT

04 DE FEVEREIRO DE 2015

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DEDICATÓRIA

Aos gestores públicos e corpo técnico da Pre-

feitura Municipal de Cuiabá, para os quais

espero ter contribuído de maneira produtiva

com as informações presentes neste trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Ao Senhor Deus, que em Sua infinita bondade, iluminou meus caminhos e agraciou

minha vida com a maravilhosa oportunidade de estudar.

Aos meus pais, Ademir e Zildete, por seu amor e carinho incondicionais, por não me-

direm esforços em proporcionar as melhores condições para que eu pudesse concluir a facul-

dade e por serem exemplos de dedicação, honestidade, persistência e muito trabalho.

Ao meu irmão, Kauê, por apoiar minhas decisões, vibrar com minhas conquistas e me

consolar quando estive angustiada.

Às irmãs de coração, Gabriela, Janaína, Luana, Marianna e Tassiane, por se tornarem

minha família durante os anos que estive longe do meu lar.

Ao meu namorado Diogo, por compreender minha ausência nos períodos de provas e

trabalhos, por me alegrar quando estive em momentos difíceis e por me ajudar, de longe ou de

perto, a resolver diferentes questões relacionadas à faculdade.

Aos amigos e amigas de faculdade, pelo companheirismo, troca de conhecimentos e

paciência durante os anos de estudo que passaram, especialmente, à minha querida amiga Jés-

sica, por ser minha grande parceira na elaboração de trabalhos e jornadas de estudo.

Presto minha gratidão também, a todos os professores que contribuíram de alguma

maneira para meu crescimento pessoal e profissional, em especial, ao professor Rafael Pedrol-

lo, pela orientação, ensino e disposição para a realização deste trabalho.

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RESUMO

A urbanização da capital mato-grossense tem impactado de maneira significativa a

população e o ambiente. Entre seus efeitos, estão os problemas relacionados à drenagem de

águas pluviais, decorrentes da modificação dos processos do ciclo hidrológico natural. O de-

senvolvimento urbano gera, por exemplo, o aumento dos volumes do escoamento superficial,

trazendo entre outras consequências o aumento da frequência e do nível de alagamentos em

regiões importantes da cidade como o trecho da Av. Fernando Corrêa da Costa, localizado

próximo a Universidade Federal de Mato Grosso. Diante deste cenário, este trabalho estudou

o escoamento superficial sobre a bacia de contribuição na qual a área atingida pelos alaga-

mentos está inserida, com intuito de descobrir quais fatores condicionam a frequente ocorrên-

cia dos problemas de drenagem na avenida. Para analisar a interferência da urbanização em

relação ao escoamento superficial foi considerado um período de dez anos, segundo o qual

foram elaborados diagramas de áreas permeáveis e impermeáveis da bacia para o início e o

final desse intervalo. Simultaneamente, foi consultada a legislação municipal em vigor como

meio de identificar o zoneamento previsto para a bacia, bem como seus respectivos coeficien-

tes urbanísticos. Paralelamente, foram analisadas as características topográficas da bacia, com

foco na Av. Fernando Corrêa da Costa e nas vias diretamente interligadas àquela. E, finalmen-

te, foi elaborado o mapeamento e o registro das condições de manutenção e limpeza da maio-

ria das bocas de lobo (BL) da bacia. Os resultados encontrados com os diagramas de áreas

permeáveis mostraram que, de 2004 para 2014, houve um crescimento de 13,7% das áreas

impermeabilizadas na bacia. Com o mapeamento foi verificado que 43,6% das BL identifica-

das na bacia apresentaram algum tipo de dano estrutural e que, 57,6% do total de BL, apresen-

taram algum tipo de obstrução ao escoamento. Também foi verificado que a declividade das

vias interligadas com a Av. Fernando Corrêa da Costa contribui para o direcionamento das

águas para a avenida e que a falha na execução dos dispositivos de microdrenagem na bacia,

bem como a canalização do Córrego do Barbado influenciam no comportamento do escoa-

mento superficial sobre a bacia. Diante dos resultados ficou comprovado que a topografia e a

falha na execução dos dispositivos de microdrenagem podem contribuir para a ocorrência dos

alagamentos e que a impermeabilização do solo e a deficiência nas operações de manutenção

e limpeza do sistema de microdrenagem podem condicionar, com maior intensidade, a ocor-

rência dos alagamentos na Av. Fernando Corrêa da Costa.

Palavras-chave: Drenagem urbana. Escoamento superficial. Impermeabilização do solo. Boca

de lobo. Execução de obras.

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ABSTRACT

The urbanization of the capital of Mato Grosso has impacted significantly the popula-

tion and the environment. Among its effects, are problems related to drainage of rainwater,

resulting from the modification of the processes of the natural water cycle. Urban deve-

lopment generates, for example, the increase in volumes of runoff, bringing among other con-

sequences the increased frequency and overflow level in important areas of the city as the

stretch of Av. Fernando Corrêa da Costa, located near the Federal University Mato Grosso.

Before this scenario, this paper studied the runoff on the contribution basin in which the area

affected by flooding is inserted, with the aim of find out which factors influence the frequent

occurrence of drainage problems on the avenue. To evaluate the effect of urbanization in rela-

tion to runoff was considered a period of ten years, according to which they were drawn dia-

grams of permeable and impermeable areas of the basin to the beginning and end of that ran-

ge. At the same time, was consulted to municipal legislation as means of identifying the plan-

ned zoning for the basin, as well as their urban coefficients. At the same time, we analyzed

the topographical features of the basin, focusing on Av. Fernando Correa da Costa and the

roads directly linked to that. And finally, were done the mapping and recording the state of

maintenance and cleaning of most of the sluice gates of the basin. The results with the per-

meable areas diagrams showed that, from 2004 to 2014 there was an increase of 13.7% im-

permeable areas in the basin. By mapping was found that 43.6% of sluice gates identified in

the basin had some type of structural damage and that 57.6% of sluice gates, had some type of

obstruction to the flow. There were also found that the slope of roads connected with Av. Fer-

nando Corrêa da Costa contributes to direct water to the avenue and the failure in the executi-

on of micro drainage devices in the basin as well as the channeling of Barbados Stream have

influence on behavior runoff in the basin. With the results it was proved that the topography

and the failure in execution the microdrainage devices can contribute to the occurrence of

overflow and soil sealing and disability in the maintenance and cleaning of the microdrainage

system can condition, with greater intensity, the occurrence of overflow at Av. Fernando Cor-

rea da Costa.

Keywords: Urban drainage. Runoff. Soil sealing. Culverts. Execution of works.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Perfil esquemático dos eventos de enchente e inundação. ...................................... 15

Figura 2 – Boca de lobo obstruída por resíduos sólidos. .......................................................... 15

Figura 3 – Escoamento concentrado das águas pluviais........................................................... 16

Figura 4 – Balanço hídrico numa bacia urbana. ....................................................................... 18

Figura 5 – Modificações no hidrograma pela urbanização da bacia. ....................................... 18

Figura 6 – Efeitos da urbanização na ocorrência de alagamentos e problemas de poluição. ... 19

Figura 7 – Disposição dos elementos de uma rede de microdrenagem pluvial urbana. ........... 22

Figura 8 – Esquema clássico da microdrenagem urbana. ......................................................... 23

Figura 9 – Ilustração esquemática dos conceitos de reservação x canalização. ....................... 24

Figura 10 – Obstrução e presença de resíduos na drenagem urbana. ....................................... 25

Figura 11 – Corte esquemático da sarjeta e demais elementos da via. ..................................... 33

Figura 12 – Disposição das bocas de lobo nas vias. ................................................................. 34

Figura 13 – Altura mínima e máxima da abertura das bocas de lobo. ..................................... 35

Figura 14 – Av. Fernando Corrêa da Costa vista do entroncamento com a Av. Miguel Sutil em

maio de 2014.......................................................................................................... 38

Figura 15 – Congestionamento na Av. Fernando Corrêa da Costa devido ao alagamento do dia

12/12/2014. ............................................................................................................ 39

Figura 16 – Alagamento na região do Viaduto Jornalista Clóvis Roberto, na Av. Fernando

Corrêa da Costa, no dia 12/12/2014. ..................................................................... 39

Figura 17 – Alagamento na Av. Fernando Corrêa da Costa no dia 12/12/2014 dificultou a

circulação de veículos e pedestres. ........................................................................ 40

Figura 18 – Veículo guinchado em razão de problemas mecânicos causados por alagamento

na Av. Fernando Corrêa da Costa no dia 12/12/2014. ........................................... 40

Figura 19 – Alagamento na Av. Fernando Corrêa da Costa no dia 14/01/2014....................... 41

Figura 20 – Alagamento na Av. Fernando Corrêa no dia 18/03/2013. .................................... 42

Figura 21 – Vista do Córrego do Barbado no entroncamento da Av. Fernando Corrêa da Costa

com Av. Tancredo Neves durante a chuva do dia 27/10/2013. ............................. 42

Figura 22 – Vista da Av. Fernando Corrêa da Costa após ocorrência da chuva no dia

27/10/2013. ............................................................................................................ 43

Figura 23 – Bacia de contribuição do trecho da Av. Fernando Corrêa da Costa atingido por

alagamentos. .......................................................................................................... 48

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Figura 24 – Perfil longitudinal do trecho da Av. Miguel Sutil que contribui no escoamento na

bacia. ...................................................................................................................... 49

Figura 25 – Perfil longitudinal do trecho da Rua Paraguaçú que contribui no escoamento na

bacia. ...................................................................................................................... 50

Figura 26 – Perfil longitudinal do trecho da Rua Capitão Iporã que contribui no escoamento

na bacia. ................................................................................................................. 50

Figura 27 – Perfil longitudinal do trecho da Av. São Miguel que contribui no escoamento na

bacia. ...................................................................................................................... 51

Figura 28 – Perfil longitudinal do trecho da Rua La Paz que contribui no escoamento na bacia.

............................................................................................................................... 51

Figura 29 – Perfil longitudinal do trecho da Rua Garcia Neto que contribui no escoamento na

bacia. ...................................................................................................................... 52

Figura 30 – Perfil longitudinal do trecho da Av. Tancredo Neves que contribui no escoamento

na bacia. ................................................................................................................. 52

Figura 31 – Perfil longitudinal do trecho da Rua “Sem Identificação” que contribui no

escoamento na bacia. ............................................................................................. 53

Figura 32 – Perfil longitudinal do trecho da Av. Cidade do México que contribui no

escoamento na bacia. ............................................................................................. 53

Figura 33 – Perfil longitudinal do trecho da Av. Haiti que contribui no escoamento na bacia.

............................................................................................................................... 54

Figura 34 – Perfil longitudinal do trecho da Av. Brasília que contribui no escoamento na

bacia. ...................................................................................................................... 54

Figura 35 – Perfil longitudinal do trecho da Av. Parque Barbado que contribui no escoamento

na bacia. ................................................................................................................. 55

Figura 36 – Perfil longitudinal do trecho da via de acesso à UFMT que contribui no

escoamento na bacia. ............................................................................................. 55

Figura 37 – Perfil longitudinal do trecho da Rua Um que contribui no escoamento na bacia. 56

Figura 38 – Perfil longitudinal do trecho da Av. Fernando Corrêa da Costa que contribui no

escoamento da bacia. ............................................................................................. 57

Figura 39 – Áreas permeáveis e impermeáveis da bacia de contribuição, 09/05/2004. ........... 58

Figura 40 – Áreas permeáveis e impermeáveis da bacia de contribuição, 04/07/2014. ........... 58

Figura 41 – Zoneamento da bacia de contribuição. .................................................................. 60

Figura 42 – Índices urbanísticos do município de Cuiabá/MT. ............................................... 60

Figura 43 – Av. Parque Barbado. ............................................................................................. 61

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Figura 44 – Transbordamento do Córrego do Barbado em região à jusante da canalização. .. 62

Figura 45 – Áreas permeáveis em região à montante da bacia de contribuição em 09/05/2004.

............................................................................................................................... 63

Figura 46 – Áreas permeáveis em região à montante da bacia de contribuição em 04/07/2014.

............................................................................................................................... 63

Figura 47 – Boca de lobo nº 14 – Rua Garcia Neto. ................................................................ 66

Figura 48 – Boca de lobo nº 15 – Rua Garcia Neto. ................................................................ 66

Figura 49 – Boca de lobo nº 16 – Rua Garcia Neto. ................................................................ 66

Figura 50 – Boca de lobo nº 94 – Av. Fernando Corrêa da Costa. ........................................... 66

Figura 51 – Boca de lobo nº 94 – Av. Fernando Corrêa da Costa. ........................................... 66

Figura 52 – Boca de lobo nº 97 – Av. Fernando Corrêa da Costa. ........................................... 66

Figura 53 – Boca de lobo nº 95 – Av. Fernando Corrêa da Costa. ........................................... 67

Figura 54 – Boca de lobo nº 96 – Av. Fernando Corrêa da Costa. ........................................... 67

Figura 55 – Deposição de sedimentos, lixo e entulho próximo ao conjunto de bueiros que

direcionam o Córrego do Barbado sob a Av. Fernando Corrêa da Costa em

05/12/2014. ............................................................................................................ 67

Figura 56 – Presença de resíduos obstruindo os bueiros do Córrego do Barbado sob a Av.

Fernando Corrêa da Costa em 20/03/2013. ........................................................... 68

Figura 57 – Início das obras de implantação da Av. Parque Barbado: desmatamento e limpeza

das margens do córrego. ........................................................................................ 69

Figura 58 – Trabalhos de movimentação de terras e assentamento do canal de concreto no

Córrego do Barbado. .............................................................................................. 69

Figura 59 – Vista do Viaduto Clóvis Roberto. ......................................................................... 69

Figura 60 – Sarjeta e boca de lobo instalada no entorno do Viaduto UFMT. .......................... 71

Figura 61 – Falha na execução da sarjeta dificulta o engolimento das águas pela boca de lobo.

............................................................................................................................... 71

Figura 62 – Vista da boca de lobo nº 159 disposta no vértice da esquina. ............................... 71

Figura 63 – Vista da boca de lobo nº 153. ................................................................................ 72

Figura 64 – Boca de lobo nº 90 com altura da abertura aparentemente menor que a

recomendada por Watanabe (2014) em 05/12/2014. ............................................. 72

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Áreas permeáveis e impermeáveis na bacia de contribuição, em percentual, nos

anos de 2004 e 2014. ............................................................................................. 59

Gráfico 2 – Estado de manutenção das bocas de lobo verificadas na bacia de contribuição. .. 64

Gráfico 3 – Estado de limpeza das bocas de lobo verificadas na bacia de contribuição. ......... 64

Gráfico 4 – Estado de manutenção e limpeza das bocas de lobo verificadas na bacia de

contribuição. .......................................................................................................... 64

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Procedimentos de inspeção para os dispositivos de microdrenagem. ................... 26

Quadro 2 – Procedimentos de limpeza para os dispositivos de microdrenagem...................... 27

Quadro 3 – Procedimentos de manutenção para os dispositivos de microdrenagem. .............. 27

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13

2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 14

2.1 EVENTOS HIDROLÓGICOS .................................................................................................................... 14

2.1.1 Enchente, inundação, alagamento e enxurrada .................................................................................. 14

2.2 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA .................................................................................................... 16

2.2.1 Efeitos da urbanização no ciclo hidrológico das bacias .................................................................... 17

2.2.2 Controle das águas decorrentes do escoamento superficial ............................................................... 20

2.2.2.1 Medidas estruturais de controle da drenagem urbana .................................................................... 21

2.2.2.2 Medidas não estruturais de controle da drenagem urbana .............................................................. 24

2.2.3 Manutenção e limpeza do sistema de drenagem urbana .................................................................... 25

2.3 PLANEJAMENTO EM DRENAGEM URBANA ..................................................................................... 27

2.3.1 Formulação dos planos de drenagem ................................................................................................. 28

2.4 DIRETRIZES PARA EXECUÇÃO DE OBRAS DE MICRODRENAGEM ............................................. 31

2.4.1 Critérios para o traçado da rede de drenagem................................................................................... 32

2.4.2 Critérios para disposição e execução de sarjetas ............................................................................... 32

2.4.3 Critérios para disposição de bocas de lobo ........................................................................................ 33

2.4.4 Critérios de projeto para canalização de curso d’água ..................................................................... 35

2.5 CUIABÁ, A AV. FERNANDO CORRÊA DA COSTA E AS ÁGUAS PLUVIAIS ................................... 37

3 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 44

3.1 GERAL ....................................................................................................................................................... 44

3.2 ESPECÍFICOS ............................................................................................................................................ 44

4 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 45

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................................... 48

5.1 DELIMITAÇÃO DA BACIA DE CONTRIBUIÇÃO ................................................................................ 48

5.2 COMPORTAMENTO DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL NA BACIA ................................................ 49

5.3 IMPERMEABILIZAÇÃO DA BACIA ...................................................................................................... 58

5.4 SITUAÇÃO DAS BOCAS DE LOBO DA BACIA .................................................................................... 63

5.5 DIRETRIZES PARA EXECUÇÃO DE OBRAS DE DRENAGEM NA BACIA ....................................... 68

5.5.1 Av. Parque Barbado............................................................................................................................ 68

5.5.2 Viaduto Jornalista Clóvis Roberto (Viaduto UFMT) .......................................................................... 69

5.5.3 Considerações sobre a execução de elementos do sistema de microdrenagem .................................. 70

6 CONCLUSÕES.................................................................................................................... 73

7 SUGESTÕES ....................................................................................................................... 75

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 77

APÊNDICE A ......................................................................................................................... 80

ANEXO A ................................................................................................................................ 81

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1 INTRODUÇÃO

O crescimento acelerado das cidades tem impactado de maneira significativa a popula-

ção e o ambiente. Entre os efeitos causados pela urbanização estão os problemas relacionados

à drenagem de águas pluviais, que ocasiona, entre outros impactos, o aumento da frequência e

do nível de alagamentos no meio urbano (BRASIL, 2006).

Os alagamentos ocorrem em razão de problemas no sistema de drenagem pluvial, po-

dendo ser entendidos como o acúmulo temporário de águas de chuva, ou de outras origens,

em uma dada região (BRASIL, 2007). Essas falhas podem gerar o risco de perder vidas hu-

manas, a paralização de atividades econômicas e de serviços públicos nas regiões atingidas, a

redução do tempo de serviço dos trabalhadores presentes na área atingida, em complicações

no trânsito, prejuízos aos cofres públicos, poluição das águas, entre outros.

Do mesmo modo que em outras cidades, Cuiabá tem passado por um processo de ur-

banização que tem sobrecarregado o sistema de drenagem e causado alagamentos em regiões

importantes da cidade como o trecho da Avenida Fernando Corrêa da Costa, localizado pró-

ximo a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Diante dos frequentes impactos que a Av. Fernando Corrêa da Costa está suscetível e

da magnitude que os alagamentos têm alcançado, este Trabalho de Graduação estudou o esco-

amento superficial da bacia de contribuição, dentro da qual a região atingida está inserida.

O estudo teve como principal objetivo a identificação dos fatores que podem condici-

onar a ocorrência dos problemas de drenagem na avenida. Para tanto, supôs-se que a topogra-

fia, a impermeabilização do solo, a falha na manutenção e limpeza do sistema de microdrena-

gem e a falha na execução de projetos de mobilidade urbana e dos dispositivos de microdre-

nagem da bacia podem condicionar a ocorrência dos alagamentos.

A identificação dos fatores condicionantes abrangeu desde a análise do comportamen-

to da urbanização sobre a bacia, considerando um período de dez anos, até a verificação do

estado de manutenção e limpeza das bocas de lobo da área de drenagem.

Conhecer os fatores condicionantes de alagamentos na bacia contribuirá para o estabe-

lecimento de planos de manutenção e limpeza dos dispositivos de drenagem da bacia, para a

implantação de técnicas compensatórias sobre a área de drenagem e, se possível, com a revi-

são dos índices urbanísticos que regulam as áreas permeáveis sobre os lotes da cidade.

Essas três ações, aliadas ao conhecimento das características naturais da bacia e.do

comportamento das águas pluviais sobre a mesma, possibilitarão prevenir, ou ao menos limi-

tar, os impactos negativos associados aos problemas de drenagem urbana em Cuiabá.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 EVENTOS HIDROLÓGICOS

As cheias e inundações são eventos hidrometeorológicos que fazem parte da dinâmica

natural da Terra, ocorrendo em razão de chuvas fortes e rápidas, de chuvas intensas de longa

duração, degelo nas montanhas e pela ocorrência de eventos climáticos (BRASIL, 2007). A

ocorrência e a magnitude desses fenômenos, acrescentando-se ainda a existência de pontos de

alagamento e casos de enxurradas, são intensificadas por modificações no ambiente e por in-

tervenções produzidas pelo homem (BRASIL, 2006).

Entre as diversas alterações citam-se a impermeabilização do solo, a retificação de

cursos d’água, a redução da cobertura vegetal e das calhas de drenagem dos corpos hídricos,

este último em virtude da realização de obras ou por assoreamento, o destino irregular dos

resíduos sólidos e as obstruções à passagem do escoamento nos dispositivos de drenagem.

Todas essas intervenções têm causado desequilíbrios ao ciclo natural das águas, gerando

transtornos às comunidades urbanas (BRASIL; RIO DE JANEIRO, 2005, 2001).

Diante da intensidade e da frequência que os problemas têm ocorrido, o significado

dos fenômenos de cheia, inundação, alagamento e enxurrada acaba sendo confundido pelos

diversos veículos de comunicação. Até mesmo entre técnicos e cientistas não há consenso

sobre os termos, existindo várias interpretações. Assim, esse trabalho não pretende criar con-

ceitos, mas apresentar definições comumente utilizadas para caracterizar esses eventos e con-

tribuir para a correta denominação dos fenômenos que ocorrem nas cidades.

2.1.1 Enchente, inundação, alagamento e enxurrada

Os corpos hídricos se desenvolvem de maneira natural. As águas são pressionadas pela

força gravitacional e escoam gradualmente pelos pontos mais baixos da superfície terrestre.

Com o passar do tempo, forma-se uma calha principal de escoamento, a qual assume diferen-

tes perfis geométricos ao longo das estações, modificando-se segundo o regime de vazões

decorrente da variação dos índices pluviométricos, das características topográficas e do solo

da região, entre outros fatores (RIO DE JANEIRO, 2001).

O Ministério das Cidades, em conjunto com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas

(IPT), define enchente como a “elevação temporária do nível d’água em um canal de drena-

gem devida ao aumento da vazão ou descarga” (BRASIL, 2007), ou seja, quando a precipita-

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ção se intensifica e o solo perde a capacidade de infiltração, os fluxos escoam para o sistema

de drenagem principal, ocasionando acréscimos à vazão dos corpos hídricos por um período

de tempo (Figura 1).

Figura 1 – Perfil esquemático dos eventos de enchente e inundação.

Fonte: BRASIL, 2007.

No período de cheia, em razão da persistência de chuvas intensas e de outros fatores

agravantes, sejam eles naturais ou criados pela ação antrópica, as vazões atingem proporções

que podem ultrapassar a capacidade de descarga da calha principal do corpo hídrico, extrava-

sando para áreas que geralmente não são atingidas pelas águas. A este transbordamento dá-se

o nome de inundação (BRASIL, 2007).

Os casos de alagamento, por outro lado, podem não ter relação direta com os proces-

sos naturais de cheia e inundação. De acordo com o Ministério das Cidades e o IPT (BRASIL,

2007), as situações de alagamento caracterizam-se pelo “acúmulo momentâneo de águas em

uma dada área decorrente de deficiência do sistema de drenagem” (Figura 2).

Figura 2 – Boca de lobo obstruída por resíduos sólidos.

Fonte: disponível em <http://www.horacioalmeida.com.br/wp-content/uploads/2011/02/LIXO-09.jpg>. Acesso

em 13/12/2014.

As enxurradas, por sua vez, podem estar relacionadas, ou não, às regiões envolvidas

com os processos fluviais e são definidas como “o escoamento superficial concentrado e com

alta energia de transporte” (BRASIL, 2007). Vias executadas sobre antigos canais d’água, em

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regiões íngremes e com alto gradiente hidráulico, tendem a ser atingidas com mais frequência

por esse fenômeno (Figura 3).

Figura 3 – Escoamento concentrado das águas pluviais.

Fonte: BRASIL, 2007.

2.2 SISTEMA DE DRENAGEM URBANA

O sistema de drenagem é uma das infraestruturas inseridas no meio urbano, se sobres-

saindo como um dos serviços públicos mais sensíveis aos problemas decorrentes do desen-

volvimento acelerado das cidades, tanto em razão de sua interferência com as demais infraes-

truturas, como pelos danos que pode causar ao ambiente e à população. Esta sensibilidade

diante da urbanização é rapidamente comprovada com a existência de pontos de alagamentos,

ocorrência de enxurradas e casos de inundações, mesmo que as precipitações não sejam con-

sideradas intensas (SÃO PAULO, 1999).

Em relação aos outros serviços públicos, o sistema de drenagem possui duas peculiari-

dades: a primeira é a de que o escoamento pluvial sempre ocorrerá, independente do serviço

existir, ou não, de maneira adequada na cidade (SÃO PAULO, 2012a), e a segunda está rela-

cionada com a solicitação esporádica do sistema, isto é, a infraestrutura só é utilizada durante

e após as precipitações e não de maneira contínua como os demais serviços públicos (SÃO

PAULO, 1999), ou ainda, quando do despejo de águas de lavagem nas sarjetas; isto, conside-

rando que não haja ligações clandestinas de esgoto sanitário nas galerias de águas pluviais.

De uma maneira geral, a drenagem urbana consiste na coleta das águas superficiais

que se originam das chuvas, no seu transporte e no seu retorno aos corpos hídricos, podendo

ser entendido ainda como um sistema preventivo contra alagamentos, enxurradas e inunda-

ções, principalmente em regiões baixas, que são mais suscetíveis à ocorrência desses fenôme-

nos (PINTO; PINHEIRO, 2006).

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17

O controle da drenagem pluvial envolve também o planejamento e gestão integrados

do espaço urbano, uma vez que esse sistema interfere nas demais infraestruturas e vice-versa

(CANHOLI, 2005). Além disso, a impermeabilização e o uso inadequado do solo, decorrentes

do processo desordenado de urbanização, e a ocupação das várzeas de córregos e rios, estão

intimamente relacionadas ao funcionamento eficiente do sistema, uma vez que dificultam e

modificam o comportamento do ciclo hidrológico sobre a bacia.

2.2.1 Efeitos da urbanização no ciclo hidrológico das bacias

“O desenvolvimento urbano altera a cobertura vegetal, provocando vários efeitos, que

alteram os componentes do ciclo hidrológico natural” (BRASIL, 2006). As águas que antes

escoavam lentamente sobre a bacia, infiltravam no solo, percolavam para os reservatórios

subterrâneos, ficavam retidas nas depressões do terreno, evaporavam ou eram interceptadas

pela vegetação, agora escoam pelas superfícies impermeáveis (telhados, ruas, calçadas, entre

outros), condutos e canais da cidade, sobrecarregando o sistema de drenagem (BRASIL; RIO

DE JANEIRO, 2006, 1991).

“O comportamento hidrológico de uma bacia urbanizada difere significativamente do

comportamento das bacias ainda em situação próxima das condições naturais” (SÃO PAULO,

2012b). Na Figura 4 é apresentada a distribuição da precipitação em cada parcela do ciclo

hidrológico. No cenário “a”, não existem interferências decorrentes do processo de urbaniza-

ção, ou seja, a superfície não sofreu qualquer tipo de impermeabilização ou alteração da co-

bertura vegetal que dificultem o ciclo das águas. Assim, 50% da precipitação infiltra no solo e

percola para o lençol freático, 40% atende ao processo de evapotranspiração e apenas 10%

das chuvas escoa pela superfície.

No cenário urbanizado “b”, a distribuição se altera. Com a redução da cobertura vege-

tal em lugar às construções, a evapotranspiração é reduzida aos 25% e com o aumento da ve-

locidade dos escoamentos, decorrente da pavimentação das vias, canalizações e condutos, as

águas não tem tempo suficiente para saturar o solo, infiltrar, percolar e recarregar os aquífe-

ros, havendo uma redução de 50% para 30% da parcela de chuva que se encaminha para os

reservatórios subterrâneos.

E se a água não infiltra, não percola para os aquíferos, não é interceptada pelos vege-

tais, não fica retida nas depressões do terreno e não evapora, ela passa a incrementar a parcela

do escoamento superficial, conduzindo 45% das precipitações (Figura 4).

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Figura 4 – Balanço hídrico numa bacia urbana.

Fonte: Brasil, 2006.

Sob a perspectiva hidrológica, os fatores diretamente afetados pelo desenvolvimento

urbano são o volume e os parâmetros de tempo do escoamento superficial e a vazão de pico.

Os hidrogramas típicos de uma bacia não urbanizada e de uma bacia modificada pelo desen-

volvimento urbano estão representados na Figura 5. As alterações na superfície terrestre e no

ciclo hidrológico contribuem para o aumento da vazão máxima (Qmáx.1), para a antecipação do

pico de vazão (t1) e para o aumento do volume do escoamento superficial (BRASIL, 2006).

Figura 5 – Modificações no hidrograma pela urbanização da bacia.

Fonte: disponível em <http://fontehidrica.blogspot.com.br/2011/11/impactos-da-urbanizacao-em-bacias.html>.

Acesso em 19/12/2014.

Essa sobrecarga na parcela do escoamento superficial, somada à ineficiência ou inexis-

tência de um sistema de drenagem adequado, pode gerar uma série de complicações à popula-

ção e aos gestores públicos.

O volume excedente que escoa sobre a malha urbana, além de contribuir para a ocor-

rência de alagamentos gera outros efeitos. Com o aumento da velocidade das vazões há o au-

mento das erosões no solo, do transporte de sedimentos e da poluição difusa, situações que se

agravam ainda mais com a execução indevida de serviços de movimentação de terra e obras

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em geral, desgaste da pavimentação, lixo e partículas de solo como areia e argila, óleo lubrifi-

cante, entre outros (SÃO PAULO, 2012b).

Segundo o mesmo autor, todos esses processos diminuem a qualidade da água pluvial

coletada, alteram a recarga subterrânea, pioram a qualidade das águas dos caldais, arriscam a

estabilidade dos solos, reduzem a capacidade das obras de drenagem executadas, entre outros

efeitos. Na Figura 6 são apresentados estes e outros efeitos da urbanização que resultam na

ocorrência de problemas de alagamento e de poluição.

Figura 6 – Efeitos da urbanização na ocorrência de alagamentos e problemas de poluição.

Fonte: São Paulo, 2012b, editado pela autora.

Por essas razões, a hidrologia urbana preocupa-se em conhecer as características das

chuvas que atingem as áreas urbanizadas, obtendo informações sobre sua magnitude, risco de

ocorrência e sua distribuição no tempo e no espaço, uma vez que a bacia hidrográfica pode

responder de maneira prejudicial às sobrecargas no escoamento superficial.

Esta ciência preocupa-se ainda com as características de ocupação da área de drena-

gem, pois elas têm influência direta sobre as taxas de infiltração, as vazões máximas, os picos

de vazão e sobre o aumento do volume escoado superficialmente (SÃO PAULO, 2012b).

Segundo o mesmo autor, as características fisiográficas da bacia (forma, área drenada,

declividade, entre outros) e o grau de intervenções antrópicas dispostas no sistema de drena-

gem natural (existência de canais, galerias, reservatórios de detenção, entre outros) também

influem, significativamente, na resposta das bacias frente ao escoamento superficial. Bacias

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20

com altas declividades ou um rio que sofreu retificação de seu curso, por exemplo, tendem a

aumentar a velocidade e o volume do escoamento, pois a chance de infiltração é menor.

2.2.2 Controle das águas decorrentes do escoamento superficial

Durante muitos anos, engenheiros e profissionais da área de recursos hídricos, respon-

sáveis por criar soluções e estratégias de controle das águas pluviais, tentaram corrigir os pro-

blemas de drenagem urbana por meio de obras que coletassem o escoamento excedente de

uma determinada área, encaminhando-o, o mais rápido possível, para um ponto distante de

seu local de origem (SÃO PAULO; CANHOLI, 1999, 2005).

Segundo Canholi (2005), esse tipo de controle da drenagem urbana provoca, além da

aceleração do escoamento, a redução do tempo de concentração à jusante. Essa estratégia po-

de contribuir para a redução de prejuízos nas regiões afetadas, no entanto, ela gera apenas a

transferência das vazões, ou seja, do problema, para áreas à jusante. “Esse tipo de solução é

apropriado a um trecho da bacia, sem previsão das consequências para o restante dela, e sem

considerar diferentes horizontes de ocupação urbana” (BRASIL, 2006).

A partir da década de 70 começaram a surgir conceitos que envolviam a aplicação de

fundamentos de hidrologia e de estudos relativos às características da bacia e não somente o

uso de conceitos hidráulicos e execução de obras que afastassem as águas o mais rápido pos-

sível de sua fonte (COSTA; SIQUEIRA; MENEZES, 2007).

Essas soluções passaram a promover o retardamento dos escoamentos, o que propicia

o aumento dos tempos de concentração e, consequentemente, a redução das vazões máximas.

Embora haja bons exemplos do uso dessas ideias em países desenvolvidos, no Brasil esses

princípios ainda não estão fortemente difundidos entre os profissionais e gestores (CA-

NHOLI, 2005).

Segundo o mesmo autor, as estratégias para o controle do escoamento superficial e,

consequentemente, para a redução da exposição da população aos riscos de alagamento, ainda

remetem em sua maioria, à adoção de medidas estruturais intensivas, ou seja, continuam re-

correndo largamente às obras de engenharia como forma de prevenir ou corrigir os problemas

de drenagem, ignorando a aplicação dos conceitos que surgiram nos anos 70. Isto se deve às

dificuldades políticas, decorrentes da pressão pela urbanização, e às dificuldades econômicas

em razão da falta de recursos.

Por outro lado, esse quadro vem sofrendo modificações nos últimos anos. Com a regu-

lamentação do Estatuto das Cidades pela lei nº 10.257/01, a promoção de medidas não estru-

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turais de controle do sistema de drenagem vem sendo cada vez mais difundida, uma vez que a

lei exige dos municípios com mais de 20 mil habitantes a elaboração do Plano Diretor, ins-

trumento básico da política municipal de desenvolvimento e expansão urbana, por meio do

qual deriva a criação dos Planos Diretores de Drenagem Urbana (SÃO PAULO, 2012a).

2.2.2.1 Medidas estruturais de controle da drenagem urbana

As medidas estruturais de controle da drenagem urbana são aquelas que envolvem

obras de engenharia que se destinam a desviar, deter, reduzir ou escoar de maneira mais rápi-

da as águas do escoamento superficial. Muitas dessas medidas envolvem a execução de proje-

tos hidráulicos que resultam em construções dispendiosas e, por vezes, inviáveis economica-

mente (CANHOLI; SÃO PAULO, 2005, 1999).

Em razão do alto custo de implantação, as obras não são projetadas para proporcionar

proteção absoluta à população, no entanto, essas construções acabam criando a falsa sensação

de segurança tanto que podem encorajar a ocupação de áreas alagáveis ou que tenham risco de

inundação (CANHOLI, 2005).

Entre as medidas de controle do escoamento superficial está a implantação do sistema

de drenagem inicial da bacia, mais conhecido como sistema de microdrenagem urbana.

A microdrenagem trata do sistema de drenagem pluvial em nível de loteamento ou de

rede primária urbana (BRASIL, 2004), devendo ser dimensionada para as chuvas que ocor-

ram, em média, a cada 10 anos. Na ocorrência de chuvas mais críticas é a microdrenagem

quem deve comportar parte do escoamento superficial, de maneira a reduzir, ou eliminar, os

riscos de alagamento na malha viária urbana.

Quando bem projetado e devidamente conservado, esse sistema praticamente elimina

os alagamentos no meio urbano, evitando assim os efeitos danosos sobre a população e seus

bens. No entanto, em razão das obras hidráulicas não serem dimensionadas para garantir total

proteção, o alagamento de vias e calçadas pode ser admissível, desde que isto não ocorra com

frequência. “Os níveis d’água que resultem na inundação de vias de intenso fluxo de veículos

e pedestres, de residências e de estabelecimentos comerciais ou industriais, devem ser ainda

mais raros” (SÃO PAULO, 2012a).

Fundamentalmente, a microdrenagem é composta por elementos artificiais associados

aos pavimentos, tendo por objetivo garantir as características de tráfego e conforto dos usuá-

rios destas estruturas. Seus dispositivos captam e conduzem as águas, provenientes de chuvas

e de captações existentes nas edificações e lotes, que chegam aos elementos viários como cal-

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çadas, ruas e praças. Os principais elementos que compõem o sistema são (SÃO PAULO,

2012c):

a) meio-fio: elemento feito em pedra ou em concreto. É instalado de forma que fique pa-

ralelo ao eixo da rua, localizando-se entre o passeio e a via. Sua face superior fica no

mesmo nível do passeio;

b) sarjetas: elemento de drenagem das vias públicas que fica numa posição paralela e vi-

zinha ao meio-fio. A calha formada recebe as águas superficiais que incidem sobre a

via e as direciona para as bocas de lobo;

c) bocas de lobo: elemento edificado em pontos convenientes das vias públicas junto às

sarjetas. São responsáveis pela captação das águas superficiais;

d) tubos de ligação: são tubulações que conduzem as águas superficiais captadas nas bo-

cas de lobo para as galerias ou poços de visita;

e) galerias: canalizações públicas que conduzem as águas superficiais provenientes das

bocas de lobo e das ligações privadas; e,

f) poços de visita: permitem a inspeção e limpeza das galerias. São posicionados em pon-

tos onde há mudanças de direção, de declividade e/ou de diâmetro das tubulações, ou

ainda, em trechos longos, a cada 100 m em média, para facilitar a manutenção.

Na Figura 7 está esquematiza a disposição dos elementos de uma rede de microdrena-

gem pluvial na planta baixa de uma área urbana. Foram representadas as bocas de lobo junto

às calçadas, os tubos de ligação, a galeria e os poços de visita.

Figura 7 – Disposição dos elementos de uma rede de microdrenagem pluvial urbana.

Fonte: COSTA; SIQUEIRA; MENEZES, 2007.

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Na Figura 8 está esquematiza a seção transversal clássica de uma via e a disposição de

alguns dos dispositivos de drenagem.

Figura 8 – Esquema clássico da microdrenagem urbana.

Fonte: disponível em <http://fabianekrolow.blogspot.com.br/>. Acesso em 08/01/2015. Editado pela autora.

As medidas estruturais abrangem ainda soluções de controle mais sustentáveis que

buscam, por exemplo, recuperar e incrementar o processo de infiltração das águas no solo,

reter os escoamentos em reservatórios como forma de amortecer os picos de vazão, deter o

escoamento adicional gerado pela impermeabilização da bacia, retardar o fluxo nas calhas dos

corpos hídricos, entre outras estratégias (CANHOLI; RECESA, 2005, 2007).

Segundo Tucci e Genz (1995 apud RECESA, 2007) as técnicas compensatórias de

controle do escoamento, também conhecidas como medidas não convencionais de controle da

drenagem urbana (CANHOLI, 2005), se fundamentam no princípio “de que qualquer novo

empreendimento deve manter as condições naturais pré-existentes de vazão para um determi-

nado risco”.

De acordo com Canholi (2005) as obras e dispositivos que contribuem para a redução

dos picos de vazões são as medidas mais significativas e abrangentes em termos de medidas

não convencionais. Segundo o autor, a detenção dos escoamentos é feita por meio do amorte-

cimento conveniente das águas pluviais, obtida pelo armazenamento de parte do volume esco-

ado.

Braga (1994 apud CANHOLI, 2005) apresentou uma ilustração com os principais dis-

positivos utilizados segundo os conceitos sustentáveis de reservação e os tradicionais de cana-

lização, mostrando os efeitos de cada uma dessas visões no comportamento do hidrograma de

vazões (Figura 9).

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Figura 9 – Ilustração esquemática dos conceitos de reservação x canalização.

Fonte: Braga (1994) apud Canholi (2005).

Além de ampliar a capacidade do sistema de drenagem da bacia, a utilização dessas

medidas vem sendo associada também a outros usos, como recreação, lazer, paisagismo e à

melhoria da qualidade das águas (CANHOLI, 2005).

2.2.2.2 Medidas não estruturais de controle da drenagem urbana

Entre as medidas de controle do escoamento superficial existem ainda àquelas que não

se utilizam de obras hidráulicas para prevenir, ou reduzir, os impactos da ocorrência de ala-

gamentos nas cidades, são as chamadas medidas não estruturais. Elas se destinam a introduzir

leis, normas e planos que visam desde a regulamentação do uso e ocupação do solo, ao desen-

volvimento de campanhas de conscientização da população quanto à importância da conser-

vação dos dispositivos de drenagem para o funcionamento eficiente do sistema (CANHOLI;

SÃO PAULO, 2005, 1999).

Canholi (2005) afirma que as ações não estruturais podem ser mais eficazes que as

medidas estruturais de controle, isto porque demandam menores custos para sua implantação

e, ainda, possibilitam horizontes mais prolongados de atuação no sistema urbano. As medidas

de regulamentação do uso e ocupação do solo estabelecem, por exemplo, um zoneamento do

perímetro urbano, cada qual contendo índices urbanísticos específicos que, entre outros obje-

tivos, limitam a impermeabilização de lotes e terrenos.

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Em geral, as ações não estruturais estão relacionadas às legislações urbanísticas, sendo

mais comum a aplicação do plano diretor, instrumento obrigatório para cidades com mais de

20 mil habitantes conforme prevê o Estatuto das Cidades, da lei de uso e ocupação do solo e

do código de obras do município.

Juntas, estas leis contribuem para o controle do escoamento superficial do município,

uma vez que estabelecem diretrizes que disciplinam a ocupação do solo e ordenam a urbani-

zação. Por outro lado, mesmo que exista regulamentação, se não houver o monitoramento da

aplicação dessas legislações e, mais ainda, se não houver envolvimento mútuo entre os gesto-

res, engenheiros e a comunidade, não será possível obter os resultados que se esperam com a

aplicação das medidas não estruturais, isto porque, essas ações geralmente envolvem aspectos

culturais, o que pode dificultar sua implantação em curto prazo (SÃO PAULO, 1999).

2.2.3 Manutenção e limpeza do sistema de drenagem urbana

Com a urbanização vários elementos produzidos pelo homem são introduzidos na ba-

cia e passam a atuar sobre o ambiente. Entre os efeitos da ação antrópica estão o aumento de

sedimentos e de resíduos sólidos e as obstruções ao escoamento. O primeiro diz respeito à

erosão do solo, ao assoreamento das seções de drenagem e à poluição difusa e o segundo com

as construções que dificultam a passagem do escoamento, como pontes e aterros, ao destino

irregular do lixo urbano e à ineficiência ou falta das ações de manutenção (BRASIL, 2006).

Na Figura 10 são apresentados diferentes exemplos de obstrução à passagem do esco-

amento e de interferências de outras obras no sistema de drenagem.

Figura 10 – Obstrução e presença de resíduos na drenagem urbana.

Fonte: Brasil, 2006.

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26

Esses efeitos dificultam a passagem do escoamento e comprometem o funcionamento

adequado dos dispositivos de drenagem, aumentando os riscos de ocorrência de alagamentos e

inundações e também da poluição das águas. Nesse sentido, os serviços periódicos de inspe-

ção, limpeza e manutenção, bem como a observância das interferências de diferentes obras

nos sistemas de drenagem, tornam-se imprescindíveis para manter a rede de águas pluviais em

condições de receber, conduzir, armazenar e tratar o escoamento, garantindo-se assim, as

condições previstas nos projetos (SÃO PAULO, 2012a).

Segundo o mesmo autor, as prefeituras devem contratar serviços de limpeza urbana

que executem, periodicamente, a varrição de guias e sarjetas, a pintura das guias, a limpeza e

manutenção da estrutura das bocas de lobo, a lavagem dos espaços públicos, a remoção de

vegetais arbustivos dos dispositivos de drenagem, entre outros. Além disso, o executivo mu-

nicipal deve encontrar meios de fiscalizar a execução e qualidade desses serviços e de punir as

prestadoras de serviços quando for necessário.

O Manual de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais da cidade de São Paulo (2012a)

recomenda, por exemplo, que a limpeza e desobstrução de bueiros e bocas de lobo sejam exe-

cutadas com periodicidade diferenciada nos períodos de seca e de chuvas, atentando que os

dispositivos do sistema de microdrenagem urbana devem estar completamente livres de obs-

truções e interferências antes de começar as estações chuvosas.

O mesmo manual propõe algumas recomendações quanto à rotina e frequência mínima

de execução de serviços de inspeção, limpeza e manutenção dos dispositivos dos sistemas de

drenagem urbana.

Na Quadro 1 estão descritas as rotinas de inspeção de algumas das estruturas do siste-

ma de águas pluviais.

Quadro 1 – Procedimentos de inspeção para os dispositivos de microdrenagem.

Fonte: São Paulo, 2012a.

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Na Quadro 2 estão descritas as rotinas de limpeza de algumas das estruturas do siste-

ma de águas pluviais.

Quadro 2 – Procedimentos de limpeza para os dispositivos de microdrenagem.

Fonte: São Paulo, 2012a.

Na Quadro 3 estão descritas as rotinas de manutenção de algumas das estruturas do

sistema de águas pluviais.

Quadro 3 – Procedimentos de manutenção para os dispositivos de microdrenagem.

Fonte: São Paulo, 2012a.

2.3 PLANEJAMENTO EM DRENAGEM URBANA

Com a acelerada expansão das cidades e a ineficiência dos poderes públicos no contro-

le desse crescimento, ocorre a implantação de loteamentos sem o devido planejamento, au-

mentando a ocupação de áreas impróprias para as construções (margem de corpos hídricos,

regiões de alta declividade, áreas de solos instáveis, entre outros). Esse adensamento dificulta

a elaboração de planos urbanos consistentes, resultando na execução de projetos de drenagem

inadequados e na eliminação de possíveis áreas de armazenamento das vazões pluviais

(COSTA; SIQUEIRA; MENEZES FILHO, 2007).

Segundo os mesmos autores, esse cenário acaba criando a necessidade de ampliação

da capacidade das redes de drenagem existentes e da execução de novos projetos, que mais

uma vez, poderão não atender eficientemente a população, uma vez que não foram previstas

adaptações e/ou correções nas diretrizes de projeto propostas por àquele plano urbano incoe-

rente. O quadro piora ainda mais pela falta de recursos para elaboração e aperfeiçoamento dos

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planos urbanos de drenagem e para a execução de projetos públicos apropriados (CANHOLI,

2005).

Desse modo, o par “demanda de ampliação e correção dos sistemas versus escassez de

recursos” resulta na impossibilidade de realização de novas obras ou na execução de projetos

que não consideram os fundamentos interdisciplinares básicos que essa infraestrutura exige

para o seu funcionamento eficiente (CANHOLI, 2005).

2.3.1 Formulação dos planos de drenagem

O Plano Diretor de Drenagem Urbana (PDDU) é um dos instrumentos de gestão do

sistema de drenagem (BRASIL, 2006). Para o desenvolvimento de planos urbanos que asse-

gurem o controle do escoamento superficial de maneira sustentável, ou seja, incorporando,

despoluindo, preservando e reestabelecendo, o quanto possível, o sistema de drenagem ao

ambiente, priorizando assim os mecanismos naturais do escoamento (PINTO; PINHEIRO,

2006), gestores, engenheiros e demais profissionais envolvidos devem basear-se nos seguintes

princípios básicos:

a) o sistema de drenagem pluvial faz parte do meio urbano

Sabendo que o sistema de drenagem é uma das infraestruturas da cidade e que interfe-

re diretamente em outros serviços públicos, seu planejamento deve ser pensado de maneira

integrada às demais infraestruturas, e vice-versa. Deve-se levar em conta, que o sistema de

drenagem não funciona isoladamente e deve ser organizado de maneira articulada com as de-

mais infraestruturas urbanas (SÃO PAULO, 1999).

Além disso, deve-se analisar a influência da urbanização de novas áreas sobre a bacia

hidrográfica como um todo, pois o desenvolvimento urbano progressivo gera sobrecargas no

escoamento superficial, aumentando seu volume e suas vazões. Desse modo, as medidas esta-

belecidas nos planos não podem reduzir os impactos em uma dada região em detrimento das

áreas à jusante (BRASIL, 2006).

Este princípio possibilitará a melhoria do meio urbano de maneira mais ampla e har-

mônica com o ambiente.

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b) as várzeas são áreas de armazenamento natural

Em geral, as áreas próximas aos córregos e rios são planas e, aparentemente, muito

propícias à ocupação humana, seja para habitação, transporte ou consumo das águas. Embora

as várzeas estejam com menor frequência em contato com o escoamento, elas estão susceptí-

veis aos processos climáticos naturais e às ações antrópicas e, por vezes, são atingidas por

maiores volumes e vazões (BRASIL, 2006).

Com o aumento do nível dos corpos hídricos e a ocupação irregular das várzeas sur-

gem os problemas relacionados à ocorrência de alagamentos e inundações, isto porque, essas

áreas marginais são naturalmente destinadas a receber os excessos de água que extravasam do

leito dos caudais (BRASIL, 2007).

Segundo as Diretrizes Básicas para Projetos de Drenagem Urbana no Município de

São Paulo (SÃO PAULO, 1999, p. 12):

As funções primárias de um curso d'água e de sua várzea associada são a coleta, ar-

mazenamento e veiculação das vazões de cheias. Essas funções não podem ser rele-

gadas a um plano secundário em favor de outros usos que se possa imaginar para as

várzeas, sem a adoção de medidas compensatórias normalmente onerosas. Respeita-

da essa restrição, as várzeas têm a potencialidade de contribuir para a melhoria da

qualidade da água e do ar, a manutenção de espaços abertos, a preservação de ecos-

sistemas importantes e acomodação de redes de sistemas urbanos adequadamente

planejados.

c) drenagem é um problema de destinação de espaço

O volume de água que escoa sobre a bacia não pode ser comprimido ou reduzido, por-

tanto, o planejamento da drenagem urbana deve envolver a administração do problema de

alocação dessas águas no espaço (CANHOLI, 2005).

Com a urbanização desordenada e o uso inadequado do solo há uma redução da capa-

cidade de armazenamento natural dos deflúvios, situação que se agrava quando não são pre-

vistas medidas compensatórias adequadas para o controle do escoamento superficial. Dessa

forma, as águas das chuvas ocuparão, inevitavelmente, espaços muitas vezes indesejáveis à

população (SÃO PAULO, 1999).

Conforme visto no item 2.2.2.1, as técnicas compensatórias promovem o armazena-

mento e amortecimento dos deflúvios e se apresentam como instrumentos de controle do es-

coamento superficial, podendo ser regulamentadas pelas legislações municipais e inseridas

aos planos urbanos.

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Além de contribuírem para o controle do escoamento, em geral essas medidas estão

associadas a outros usos, como recreação e paisagismo, ou seja, a utilidade pública que os

planos podem incorporar no incentivo à utilização dessas soluções vai além do controle de

alagamentos e inundações. Diante de determinadas circunstâncias, há, ainda, a possibilidade

das águas armazenadas serem utilizadas para irrigação, recarga do lençol freático, abasteci-

mento industrial, entre outros (SÃO PAULO, 1999).

d) as medidas de controle de poluição são parte essencial em um plano de drenagem

Os procedimentos de inspeção e limpeza dos dispositivos de drenagem e da malha viá-

ria, a coleta e o tratamento de esgoto, a presença de ligações clandestinas de esgoto na rede de

drenagem e a regulamentação dos serviços de movimento de terras devem ter atenção especial

nos planos, uma vez que “o controle da poluição das águas é essencial para que sejam alcan-

çados os benefícios potenciais que podem oferecer os cursos d'água urbanos e suas várzeas”

(SÃO PAULO, 1999).

Segundo o mesmo autor, o planejamento em drenagem urbana deve ser realizado se-

gundo critérios bem estabelecidos para que atenda de maneira benéfica às particularidades

físicas, econômicas, sociais e institucionais do município. Para tanto, a municipalidade deve

estar sempre pautada em regulamentos adequados de forma a produzir projetos de drenagem

factíveis, técnica e economicamente eficientes, coerentes com as demais infraestruturas da

cidade e condizentes com as necessidades da população.

Além dos princípios enunciados, Wanielista e Yousef (1993 apud CANHOLI, 2005, p.

27) afirmam que um plano de drenagem abrangente envolve:

O levantamento das características físicas da bacia de drenagem, notadamente da-

quelas que influenciam os deflúvios (run-off); a formulação de planos alternativos

de controle ou correção de sistemas de drenagem, explicitando os respectivos objeti-

vos; a análise da viabilidade técnica e econômica das alternativas, considerando

também os aspectos sociopolíticos (aceitação pela comunidade) e ambientais; e uma

metodologia consistente para seleção da alternativa ótima.

De um modo geral, os estudos necessários para a formulação dos planos de drenagem

envolvem o diagnóstico dos problemas existentes e a previsão de problemas futuros, além da

determinação, hierarquização e redimensionamento de soluções mais adequadas aos sistemas

levando-se em conta fatores técnicos, econômicos e ambientais (CANHOLI, 2005).

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31

2.4 DIRETRIZES PARA EXECUÇÃO DE OBRAS DE MICRODRENAGEM

A execução de obras de drenagem em geral requer, antes de qualquer ação, o planeja-

mento minucioso de todas as atividades que serão desenvolvidas para a concretização dos

projetos a implantar, uma vez que vários dos serviços envolvidos exigem rigorosos procedi-

mentos de segurança em algumas fases de projeto e a utilização de metodologias específicas a

cada local (RECIFE, 2002).

Para tanto, deverá haver a participação de uma equipe multidisciplinar que fará dife-

rentes análises quanto à viabilidade de execução de cada fase. Serão feitas avaliações geotéc-

nicas, dos materiais e equipamentos a serem utilizados, de possíveis interferências e de aspec-

tos legais do município ou região (MANGIERI, 2012).

Os resultados dessas avaliações e a utilização dos métodos adequados possibilitarão a

execução de obras mais eficientes, econômicas e como o mínimo de interferências ao entorno

do canteiro.

No planejamento das obras de drenagem também serão definidas: as frentes de execu-

ção das obras, os desvios das águas pluviais durante a fase de obras, possibilitando a sua exe-

cução, o remanejamento provisório ou definitivo de outras infraestruturas públicas que interfi-

ram nas obras, a localização de áreas de empréstimo e “bota-fora”, a localização dos canteiros

de serviço, os espaços necessários para a livre movimentação de pessoal, de equipamentos e

de materiais dentro da área de trabalho, o esquema de desvio de trânsito no entorno da obra, o

acesso dos moradores aos domicílios adjacentes à obra, o esquema de medicina e segurança

do trabalho e os esquemas emergenciais no caso de chuvas intensas e/ou enchentes durante as

obras (RECIFE, 2002).

Segundo Mangieri (2012), as etapas de execução de uma obra de microdrenagem ur-

bana são: (1) locação; (2) sinalização; (3) rompimento ou remoção da pavimentação (caso

exista); (4) escavação; (5) escoramento (se necessário); (6) esgotamento da vala (se necessá-

rio); (7) preparo do fundo da vala; (8) assentamento da rede; (9) reaterro da vala; (10) recom-

posição do pavimento ou pavimentação; e, (11) cadastro da rede (as built).

Em geral, as obras de drenagem urbana são construídas de jusante para montante, pois

assim há a facilidade de criar esquemas de desvio das águas de chuva e a possibilidade do

esgotamento das águas afluentes pelo trecho de obra já construído. Há casos em que essa or-

dem pode ser invertida, desde que sejam tomadas providências especiais para evitar o alaga-

mento do canteiro de obras (RECIFE, 2002).

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32

As obras de microdrenagem são necessárias para criar condições razoáveis de mobili-

dade urbana diante da ocorrência de chuvas com períodos de retorno de até 10 anos (SÃO

PAULO, 2012a) e conforme exposto no item 2.3.2.1, a microdrenagem é constituída de dis-

positivos que controlam o escoamento superficial em nível de loteamento.

Além da manutenção permanente, com a limpeza e desobstrução de seus dispositivos,

a execução de projetos em microdrenagem exige a observação cuidadosa aos detalhes cons-

trutivos desses elementos, que se não forem respeitados, poderão comprometer o funciona-

mento eficiente do sistema e contribuir para a ocorrência de alagamentos no meio urbano

(SÃO PAULO, 2012a).

Neste trabalho serão abordados apenas os aspectos construtivos relativos ao traçado da

rede, à execução de sarjetas e bocas de lobo, além de algumas considerações a respeito da

ordem de execução de obras de porte, como a canalização de caudal e obra de arte especial

inseridas no meio urbano.

2.4.1 Critérios para o traçado da rede de drenagem

Com base nos dados topográficos disponíveis, no pré-dimensionamento hidrológico e

hidráulico e na delimitação da bacia de contribuição pode-se realizar o traçado da rede coleto-

ra de águas pluviais.

Diversas configurações de rede são analisadas, isto porque a definição da concepção

inicial é mais importante para a economia global do sistema e para o melhor aproveitamento

do mesmo, do que os estudos posteriores que serão necessários durante as fases executivas do

projeto (PORTO ALEGRE, 2002).

A análise do traçado deve ainda, ser desenvolvida levando-se em conta os planos ur-

banísticos do município e suas considerações em relação às vias e quadras da malha urbana.

2.4.2 Critérios para disposição e execução de sarjetas

O escoamento superficial na malha urbana se dá pelos terrenos, ruas e sarjetas. As vi-

as, entre outros motivos, possuem uma determinada declividade transversal e inclinação lon-

gitudinal para facilitar que as águas sejam direcionadas para as sarjetas.

Deve ser prevista uma inclinação transversal nas sarjetas para que a água da chuva seja

acomodada sobre esse dispositivo durante o escoamento. Quanto maior a inclinação e a largu-

ra da sarjeta maior será a capacidade de transporte de água. A inclinação mais usada é de

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20%, não sendo recomendado que se ultrapasse os 25%, pois grandes inclinações oferecem

riscos à população (WATANABE, 2014).

Segundo o mesmo autor, não há limitação para a largura da sarjeta. Em geral, utiliza-

se uma largura de 40 cm. Sarjetas com maiores larguras oferecem maior capacidade condução

do escoamento, no entanto, isto pode dificultar a passagem de crianças e idosos por cima da

sarjeta nos dias de chuva.

De acordo com o Manual de Drenagem de São Paulo (2012a), o transbordamento das

águas para fora das sarjetas, ou seja, o alagamento do leito carroçável e até mesmo das calça-

das são permissíveis, desde que essa situação não seja frequente.

Na Figura 11 estão representadas as dimensões usuais de um conjunto guia-sarjeta.

Figura 11 – Corte esquemático da sarjeta e demais elementos da via.

Fonte: Watanabe, 2014.

Quando a vazão é maior que a capacidade de escoamento da sarjeta pode ocorrer ala-

gamentos, inundação das calçadas e erosão do pavimento devido à velocidade excessiva das

águas. Em razão disto, e do peso decorrente dos veículos estacionados sobre sua estrutura,

esses dispositivos devem ser construídos com material resistente e seu acabamento deve ser o

mais liso possível, para facilitar o escoamento (GEMAQUE; NEGRÃO, 2010).

2.4.3 Critérios para disposição de bocas de lobo

As bocas de lobo (BLs) têm por finalidade a captação do escoamento direcionado pe-

las sarjetas, conduzindo as vazões superficiais para a rede de condutos subterrâneos. Elas são

dispostas nos pontos mais baixos da malha viária com vistas a evitar a criação de zonas de

alagamentos e de águas paradas, além é claro, de serem instaladas para evitar o transborda-

mento das águas na pista de rolamento.

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Os principais critérios utilizados para a determinação do local onde esses dispositivos

serão instalados são (PORTO ALEGRE, 2005):

a) instalação em ambos os lados da rua;

b) instalação nos pontos mais baixos das vias;

c) quando suas capacidades de engolimento forem atingidas;

d) quando a capacidade de condução da sarjeta for superada;

e) instalação em pontos localizados à montante em relação às faixas de pedestres e cru-

zamentos de vias.

O mesmo autor faz outra recomendação a respeito da disposição desses dispositivos na

malha viária, a de que não é conveniente a instalação de BLs junto ao vértice de ângulo de

interseção das sarjetas de duas ruas convergentes, primeiro porque os pedestres teriam que

saltar a torrente num trecho de máxima vazão superficial para cruzarem uma rua e, segundo,

porque as torrentes convergentes pelas diferentes sarjetas resultariam no escoamento em sen-

tido contrário ao da afluência para o interior da BL.

Na Figura 12 está esquematizada a disposição recomendada e a não recomendada das

bocas de lobo nas guias.

Figura 12 – Disposição das bocas de lobo nas vias.

Fonte: Porto Alegre, 2005.

Em ruas íngremes o escoamento pode atingir altas velocidades e, em razão disto, há a

possibilidade das águas passarem direto pela boca de lobo. A solução proposta para esses ca-

sos é a execução de rebaixo na sarjeta, o que facilitaria o engolimento do fluxo pelo dispositi-

vo (WATANABE, 2014).

Também existem recomendações quando às dimensões mínimas e máximas das aber-

turas das bocas de lobo e das grelhas, que não devem ultrapassar certos limites, pois podem

oferecer riscos às pessoas, como permitir a passagem de crianças por aberturas muito grandes

das bocas de lobo.

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Há ainda os problemas decorrentes de uma abertura muito pequena. Quando o escoa-

mento percorre a bacia, traz junto consigo vários tipos de resíduo, dependendo do tamanho

desses detritos, pode ocorrer o entupimento das bocas de lobo, obstruindo a passagem do es-

coamento.

Em razão dessas situações, foram estabelecidas as dimensões mínima e máxima para a

altura da abertura das bocas de lobo, sendo, respectivamente, 8,5 cm e 15 cm (Figura 13).

Figura 13 – Altura mínima e máxima da abertura das bocas de lobo.

Fonte: Watanabe, 2014.

Quando instaladas de maneira estratégica, as bocas de lobo promoverão o rápido esco-

amento das águas e minimizarão os riscos de ocorrência de alagamentos no meio urbano.

2.4.4 Critérios de projeto para canalização de curso d’água

Segundo Barros (1995, apud GEMAQUE; NEGRÃO, 2010, p. 50), no Brasil as inter-

venções no fundo de vale privilegiam, com certa predominância, obras de canalização dos

corpos hídricos em estruturas de concreto, muitas vezes constituídas de canais fechados. Em

geral, esses canais são executados por baixo das vias com o intuito de melhorar a mobilidade

no trânsito. O grande problema desse tipo de obra é a descaracterização completa do ambiente

natural.

Em razão de sua localização, no fundo do vale, normalmente, os trabalhos de execução

dos canais são realizados na presença de água, seja ela proveniente do lençol freático ou de-

corrente do corpo hídrico existente (RECIFE, 2003). Assim, a principal característica desse

tipo de obra, que a diferencia de outras construções, é a exigência de técnicas construtivas

especiais que possibilite a convivência da obra com a presença da água.

Assim como em toda obra, antes do início da canalização, as empreiteiras devem

aprovar juntos aos órgãos fiscalizadores, o planejamento da construção, no qual será descrito

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o esquema de manejo e desvio do caudal durante a obra (RECIFE, 2003). No planejamento

deverão ser consideradas:

a) o período do ano em que serão executadas as obras;

b) as vazões mínimas e máximas previstas durante o período de execução da obra;

c) a proteção dos serviços em execução contra inundações; e,

d) o não agravamento das cheias usuais no entorno das obras, durante sua execução.

Já na fase de projeto das obras de canalização dos cursos d'água, inseridos no meio ur-

bano, a alocação dos espaços destinados para o canal, para as vias de tráfego marginais e para

o alinhamento de edificações, é essencial levar em consideração os seguintes fatores básicos

(SÃO PAULO, 1999):

a) apesar dos projetos serem elaborados para cheias com períodos de retorno médios,

cheias de maior amplitude poderão acontecer e causarão graves impactos;

b) geralmente os projetos são concebidos para certo quadro de ocupação da bacia a mon-

tante, sem considerar a possibilidade de aumento significativo desse quadro no futuro,

o que resulta em vazões mais elevadas do que as inicialmente previstas no projeto;

c) frequentemente, as margens dos cursos d’água apresentam intensa ocupação, com o

passar o passar do tempo o leito, que já era estreito em razão da ocupação das mar-

gens, torna-se insuficiente para veicular as vazões de pico de cheia atuais e, ainda,

acabam recebendo acréscimos de volume pelo efeito da urbanização a montante; e,

d) a ausência de planos diretores, voltados para as áreas de recursos hídricos, aumenta as

incertezas nas avaliações das características hidrológicas que dão suporte para a con-

cepção dos projetos de drenagem urbana.

De acordo com o mesmo autor, a alocação de espaços ao longo das canalizações no

meio urbano, deveriam ter seus projetos baseados nas seguintes diretrizes (SÃO PAULO,

1999, p. 25):

1) sempre que o espaço disponível para implantação do leito do canal permitir, pre-

ver faixas laterais, eventualmente inundáveis que permitam futuras ampliações

do canal, caso necessário;

2) como decorrência do item anterior, as pistas marginais de vias de tráfego deveri-

am, tanto quanto possível, serem afastadas das margens do canal e, evidentemen-

te, limitadas por outro lado pelo alinhamento das edificações. Neste sentido é

oportuno lembrar que tal medida contribui para valorizar as áreas marginais;

3) as faixas destinadas às edificações em cada margem, tanto quanto possível, de-

vem estar fora da faixa de inundação correspondente à cheia de 100 anos de pe-

ríodo de retorno;

4) nos casos em que as medidas acima não sejam possíveis em virtude da ocupação

existente, é conveniente caracterizar as áreas inundáveis como áreas de risco que

poderão no futuro ser reurbanizadas ou, eventualmente beneficiadas com obras

de detenção na bacia, a montante, que venham reduzir a incidência de inunda-

ções.

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37

2.5 CUIABÁ, A AV. FERNANDO CORRÊA DA COSTA E AS ÁGUAS PLUVIAIS

A capital mato-grossense nasceu por volta dos anos de 1720, em razão da expansão

bandeirante que vinha em busca de indígenas, riquezas e domínio de novos territórios. A par-

tir de então, Cuiabá foi palco de vários conflitos que desencadearam em fases de fluxo e re-

fluxo populacional, ocasionando o desenvolvimento descontínuo do espaço urbano (CUIA-

BÁ, 2012).

Segundo o mesmo autor, o crescimento da cidade ocorreu de maneira mais intensa a

partir dos anos 60, em razão de incentivos fiscais e de créditos concedidos pela Superinten-

dência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Os estímulos federais deram oportunida-

des para que grandes empresas agropecuárias se estabelecessem no norte de Mato Grosso,

intensificando a ocupação do Estado e posicionando a capital como centro de apoio à ocupa-

ção e aos fluxos migratórios.

“Cuiabá, na década de 70, foi um dos municípios brasileiros com as mais altas taxas

de crescimento populacional, devido às frentes migratórias oriundas dos mais diversos Esta-

dos brasileiros.” (CUIABÁ, 2007a). Segundo dados apresentados no Plano Diretor de Desen-

volvimento Estratégico de Cuiabá (CUIABÁ, 2007b), a população da cidade se manteve com

aproximadamente 50 mil habitantes até 1960 e, em 1970, eram mais de 100 mil habitantes na

cidade. Em 1980, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE registrou mais de

200 mil habitantes e, em 1991, a população duplicou, ultrapassando a marca dos 400 mil habi-

tantes.

De acordo com o censo demográfico do IBGE realizado em 2010, Cuiabá abrigava

mais de 550 mil habitantes naquele ano e a população estimada para julho de 2014 ultrapassa-

va os 575 mil habitantes (IBGE, 2014).

Esse incremento populacional demandava a ocupação de novos espaços e a implanta-

ção de equipamentos urbanos, no entanto, os poderes públicos não conseguiram oferecer os

serviços com a mesma velocidade (CUIABÁ, 2012). Do mesmo modo que em outras grandes

cidades, o processo de urbanização verificado em Cuiabá favoreceu a ocupação desordenada

do solo, reduzindo drasticamente o controle dos gestores sobre o planejamento, implantação e

manutenção das infraestruturas públicas, entre elas, o sistema de drenagem pluvial.

A Av. Fernando Corrêa da Costa é uma via de grande importância para a economia e

mobilidade urbana. Segundo a Lei Complementar (LC) nº 232 de 2011, que dispõe sobre a

hierarquização viária do município, a referida avenida, em toda sua extensão, é classificada

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como via estrutural, ou seja, é formada por vias de atravessamento com alta capacidade de

tráfego, fazendo parte do eixo estrutural transversal da cidade (CUIABÁ, 2011).

Além de atender ao fluxo de veículos vindos de diversas partes da cidade, a Av. Fer-

nando Corrêa da Costa dá acesso ao trecho urbano da rodovia BR 364/163/070, ligando o

município a outros estados e regiões de Mato Grosso (CUIABÁ, 2011). Isto significa que,

parte da via, recebe o tráfego de veículos de cargas e de passeio que estão em trânsito por

Cuiabá. Em função disso, várias indústrias e empresas de bens e serviços, como concessioná-

rias automotivas, postos de combustíveis, restaurantes, oficinas mecânicas, hotéis, supermer-

cados, entre outras, se instalaram às margens da avenida.

O desenvolvimento urbano ao longo desta via também foi impulsionado em decorrên-

cia de seu asfaltamento, o que reforçou a ligação do Centro com a região do Coxipó, e à insta-

lação das dependências da UFMT na avenida (CUIABÁ, 2012). O desenvolvimento do muni-

cípio, como um todo, foi ainda maior em decorrência do anúncio de que Cuiabá seria uma das

cidades-sede da Copa do Mundo FIFA 2014.

Com o passar do tempo, edificações comerciais, loteamentos residenciais, empresas do

gênero alimentício, supermercados, shopping center, redes hoteleiras, instituições educacio-

nais, financeiras e religiosas, entre vários outros segmentos comerciais, se instalaram ao longo

da via. Portanto, é notória a importância da Av. Fernando Corrêa da Costa ao desenvolvimen-

to urbano e socioeconômico de Cuiabá.

Na Figura 14, que mostra parte da avenida na região dos bairros Jardim das Américas

e Pico do Amor, é possível verificar o adensamento no entorno da via.

Figura 14 – Av. Fernando Corrêa da Costa vista do entroncamento com a Av. Miguel Sutil em maio de 2014.

Fonte: GOOGLE, 2013.

Com a crescente ocupação no entorno da avenida e, em razão de sua importância ao

sistema viário da cidade, os alagamentos têm causado impactos cada vez mais abrangentes.

Entre os danos estão os prejuízos de natureza social, como a impossibilidade de ir e vir em

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função do acúmulo e correnteza das águas, estresse, ansiedade, entre outros, os prejuízos de

natureza econômica, com a manutenção de veículos, limpeza de pátios e estacionamentos dos

comércios atingidos, com adaptações na estrutura das edificações susceptíveis à invasão das

águas, a fim de minimizar os efeitos de outros possíveis alagamentos, e os transtornos ao trân-

sito, causando congestionamentos e acidentes (Figura 15).

Figura 15 – Congestionamento na Av. Fernando Corrêa da Costa devido ao alagamento do dia 12/12/2014.

Fonte: imagem gentilmente concedida por Raphael Lourenço Dias Guerra.

Outra consequência de natureza mais importante é o risco de se perder vidas humanas

por afogamentos e por complicações mais graves no trânsito, por exemplo. Além disso, os

alagamentos registrados têm alcançado proporções alarmantes.

De acordo com as publicações de vários grupos e canais jornalísticos da cidade, com a

breve chuva do dia 12 de dezembro de 2014, a água acumulada ultrapassou a altura dos pneus

de carros utilitários, invadindo os veículos (Figura 16) e impossibilitando o trânsito de pedes-

tres (Figura 17).

Figura 16 – Alagamento na região do Viaduto Jornalista Clóvis Roberto, na Av. Fernando Corrêa da Costa, no

dia 12/12/2014.

Fonte: disponível em <http://www.gazetadigital.com.br/conteudo/show/secao/9/materia/437409/t/chuva-alaga-

fernando-correa->. Acesso em 12/12/2014.

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Figura 17 – Alagamento na Av. Fernando Corrêa da Costa no dia 12/12/2014 dificultou a circulação de veículos

e pedestres.

Fonte: imagem gentilmente concedida por Igor Rossini Smerecki.

Na mesma ocasião houve até a necessidade de guinchar um veículo que sofreu pro-

blemas no motor pelo acúmulo de água em seu interior (Figura 18).

Figura 18 – Veículo guinchado em razão de problemas mecânicos causados por alagamento na Av. Fernando

Corrêa da Costa no dia 12/12/2014.

Fonte: disponível em <http://glo.bo/1GuA7ef>. Acesso em 12/12/2014.

Outros alagamentos já tinham ocorrido na Av. Fernando Corrêa da Costa naquele

mesmo ano. Em 14 de janeiro de 2014, por exemplo, pedestres, motoristas e os comerciantes

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sofreram com os transtornos causados pela ineficiência do sistema de drenagem da região

(MENDES, 2014).

Na Figura 19 é possível perceber que as duas pistas da avenida foram encobertas por

uma lâmina d’água que ultrapassava a altura dos pneus dos veículos de passeio, alcançando

até mesmo as portas do ônibus público e invadindo parte do viaduto Clóvis Roberto e do esta-

cionamento de um supermercado da região.

Figura 19 – Alagamento na Av. Fernando Corrêa da Costa no dia 14/01/2014.

Fonte: MENDES, 2014.

Os mesmos problemas eram verificados muito antes da implantação de obras de mobi-

lidade para a Copa do Mundo. Em abril de 2001, um temporal, aliado à destruição de um re-

servatório particular, o que pode ter contribuído para a sobrecarga no escoamento do Córrego

do Barbado, causaram sérios problemas a vários bairros da capital.

Entre os danos materiais, houve a queda de um veículo no Córrego do Barbado, na re-

gião do entroncamento da Av. Fernando Corrêa da Costa com a Av. Tancredo Neves, que foi

arrastado pela correnteza (VARGAS, 2001). As pessoas que estavam dentro daquele carro

foram salvas, o mesmo não acontecendo com pelo menos 15 pessoas de outros bairros, que

perderam suas vidas devido a essa mesma eventualidade (PINTO, 2001).

Também há notícias de que, em 2004, as bocas de lobo não suportavam o fluxo e as

águas já ocupavam as pistas e calçadas da avenida (LANNES, 2004) e de acordo com Amaral

e Filho (2014), em 28/05/2009 também foi registrada a ocorrência de alagamento na Av. Fer-

nando Corrêa da Costa, não havendo informações sobre o número de pessoas atingidas.

Ocorrências mais significativas voltaram a ser registradas a partir de 2013. Segundo

matéria publicada por Dióz e Maia (2013), a Defesa Civil registrou que a lâmina d’água al-

cançou cerca de 50 cm de altura durante o período mais intenso da chuva (Figura 20).

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Figura 20 – Alagamento na Av. Fernando Corrêa no dia 18/03/2013.

Fonte: disponível em <http://glo.bo/11bBJtO>. Acesso em 04/09/2014.

No mesmo ano, com a chuva do dia 27 de outubro, mais uma vez a mesma região da

Av. Fernando Corrêa da Costa e outras vias próximas foram alagadas, dificultando o trânsito

de pedestres e veículos de pequeno porte, além de provocar transtornos aos estabelecimentos

comerciais do entorno.

Em outubro de 2013, as obras do viaduto Clóvis Roberto no entroncamento da Av.

Fernando Corrêa da Costa com as avenidas Brasília e Tancredo Neves, destinada à implanta-

ção do modal Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), já tinham iniciado. Com a chuva do dia 27,

as águas invadiram o canteiro de obras, gerando mais complicações na região, seja pelas inter-

ferências ao trânsito, seja pela deposição ainda maior de partículas e outros resíduos nas águas

acumuladas (Figuras 21 e 22).

Figura 21 – Vista do Córrego do Barbado no entroncamento da Av. Fernando Corrêa da Costa com Av. Tancre-

do Neves durante a chuva do dia 27/10/2013.

Fonte: TEIXEIRA, 2013.

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Figura 22 – Vista da Av. Fernando Corrêa da Costa após ocorrência da chuva no dia 27/10/2013.

Fonte: TEIXEIRA, 2013.

De acordo com Arantes (2013), um estudo sobre o impacto econômico dos alagamen-

tos na cidade de São Paulo, realizado por Eduardo Amaral Haddad, professor titular do De-

partamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Uni-

versidade de São Paulo (FEA-USP), e por Eliane Teixeira dos Santos, mestranda em Teoria

Econômica e orientanda de Haddad, revela que:

cada ponto de alagamento formado na cidade de São Paulo após uma chuva forte

provoca um prejuízo diário de mais de R$ 1 milhão ao país. Com 749 pontos de ala-

gamento identificados na cidade, as perdas anuais no âmbito do município chegam a

quase R$ 336 milhões. E, com o espraiamento dos efeitos pelas longas cadeias de

produção e renda, o prejuízo vai a mais de R$ 762 milhões em escala nacional.

Mesmo não se tratando da cidade de Cuiabá, o estudo se adapta a realidade de qual-

quer município que sofra com problemas relacionados às águas pluviais: a de que a ocorrência

de alagamentos, e outros eventos de natureza hidrometeorológica, trazem, além dos impactos

já mencionados, prejuízos aos cofres públicos.

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44

3 OBJETIVOS

3.1 GERAL

Este Trabalho de Graduação teve como objetivo identificar os fatores que podem con-

dicionar a ocorrência de alagamentos na Av. Fernando Corrêa da Costa considerando o com-

portamento do escoamento superficial segundo às características topográficas da bacia, ao uso

e ocupação do solo no período de dez anos, vinculando estas discussões aos índices urbanísti-

cos municipais, e aos aspectos relativos à sua captação, abordando a execução e, principal-

mente, a manutenção e limpeza dos dispositivos de microdrenagem existentes na bacia.

3.2 ESPECÍFICOS

Os seguintes objetivos específicos contribuíram para a verificação das hipóteses pro-

postas:

a) compreender a influência da topografia no comportamento do escoamento pluvial

sobre a bacia de contribuição;

b) compreender a influência da impermeabilização do solo no comportamento do es-

coamento pluvial sobre a bacia de contribuição;

c) fornecer subsídio aos gestores públicos para o direcionamento de ações de manu-

tenção e limpeza dos dispositivos de drenagem da bacia de contribuição;

d) verificar o uso dos critérios de execução das bocas de lobo e sarjetas dispostos no

sistema de microdrenagem da bacia de contribuição;

e) compreender a influência da execução de projetos de mobilidade urbana no compor-

tamento do escoamento pluvial sobre a bacia de contribuição.

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4 MATERIAIS E MÉTODOS

Com vistas a alcançar os objetivos estabelecidos, o estudo do escoamento pluvial no

trecho da Avenida Fernando Corrêa da Costa envolveu o levantamento de informações relati-

vas:

a) à topografia das vias que integram a bacia de contribuição e que sejam diretamente

ligadas à Av. Fernando Corrêa da Costa;

b) ao mapeamento e verificação do estado de manutenção e limpeza dos dispositivos

de microdrenagem da bacia;

c) aos aspectos regulatórios de uso e ocupação do solo em Cuiabá; e,

d) ao planejamento e processo executivo de obras públicas e privadas inseridas na ba-

cia de contribuição.

Os estudos relativos à drenagem pluvial partem da análise das características e do

comportamento do escoamento em uma bacia de contribuição (SÃO PAULO, 1999), assim,

foi feita a delimitação da área de drenagem, dentro da qual o trecho da Avenida Fernando

Corrêa da Costa, atingido pelos problemas de drenagem, está inserido.

O contorno que limita a bacia estudada foi feito com base nas curvas de nível do mapa

“Base Geral Cuiaba_completando.dwg”, de autoria desconhecida, em recursos do aplicativo

Google Earth (2013) e por meio de visitas de campo, tomando os pontos de cotas mais eleva-

das para comporem a linha da divisão topográfica.

Com o traçado do divisor de águas foi possível identificar as vias incluídas na bacia e

verificar o comportamento do escoamento pluvial sobre as mesmas. A verificação do caminho

das águas foi feita com auxílio dos perfis longitudinais das vias diretamente ligadas à Av.

Fernando Corrêa da Costa. Os perfis foram gerados com uso do recurso “perfil de elevação”,

do aplicativo Google Earth (2013). Além disso, foram realizadas visitas de campo, em dias de

céu aberto e dias de chuva, como forma de complementar o estudo do comportamento das

águas na bacia.

Após as análises foi feito o traçado do fluxo do escoamento pluvial na planta-baixa da

bacia de contribuição. O caminho percorrido pelas águas foi representado por setas de cor

azul escuro, com uso de recursos do aplicativo AutoCAD (2011).

Para estimar as áreas permeáveis e impermeáveis da bacia foram utilizadas imagens de

satélite disponibilizadas pelo aplicativo Google Earth (2013), cujo banco de dados fornece

registros fotográficos da área desde o ano de 2004. Com base nesse banco de imagens, foram

selecionadas duas fotografias da bacia, uma registrada em maio de 2004 e outra em dezembro

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de 2014. Para ambas as imagens, a estimativa das áreas permeáveis e impermeáveis foi feita

com o emprego dos comandos “polyline” e “area”, no aplicativo AutoCAD (2011).

A demarcação das áreas permeáveis foi feita, somente, sob a percepção visual da auto-

ra diante das imagens coletadas e, ainda, com base nas informações coletadas durante as visi-

tas de campo. Foram selecionadas regiões que apresentavam áreas verdes, áreas de solo sem

cobertura vegetal, terrenos baldios e os canteiros públicos. Não foram contabilizados os coefi-

cientes de permeabilidade sobre os lotes edificados públicos e particulares.

Da área total da bacia foi subtraída a área permeável contabilizada, obtendo-se a área

impermeável. Com os valores obtidos, para o ano de 2004 e 2014, e o emprego de recursos do

aplicativo Microsoft Excel (2010), foi elaborado gráfico do tipo “colunas agrupadas”, o qual

ilustrou de forma comparativa, o comportamento do processo de urbanização na bacia, no

intervalo de dez anos.

Com a planta de zoneamento do município de Cuiabá foram verificadas quais zonas

abrangem a bacia de contribuição, os índices urbanísticos de cada uma delas, elaborado um

exemplo numérico, de modo a visualizar a abrangência do coeficiente de permeabilidade so-

bre a superfície de drenagem, e feita uma comparação entre a área permeável obtida com o

exemplo e a área permeável estimada para o ano de 2014, conforme citado anteriormente nes-

te item.

No exemplo foi suposto que a área de toda a bacia pertence à zona que apresenta o

menor dos coeficientes de permeabilidade, isto porque um índice menor exige a reserva de

uma área menor para infiltração das águas. Em seguida o índice adotado foi multiplicado pela

área da bacia e o resultado foi comparado à área permeável da bacia para o ano de 2014.

A verificação da manutenção (condição estrutural) dos dispositivos de microdrenagem

da bacia (bocas de lobo e sarjetas), inclusive do seu estado de limpeza, foi feita por meio de

visitas de campo e com uso do aplicativo Google Earth (2013), neste último sendo usada a

ferramenta “Street View”. Além dessas observações, especificamente nos dias de chuva, as

visitas tiveram por objetivo verificar o funcionamento dos dispositivos de drenagem na região

mais crítica da bacia, ou seja, na “Área Atingida por Alagamentos”.

Todas as bocas de lobo (BLs) verificadas, seja por visitas em campo seja com uso do

Google Earth (2013), receberam uma identificação numérica e tiveram registros fotográficos.

O número de registro das BLs, bem como seu modelo (simples, dupla, entre outros), seu esta-

do de manutenção (presença de danos físicos), estado de limpeza (presença de obstruções),

nome da imagem de visualização e data do registro fotográfico, foram organizados em tabelas

do aplicativo Microsoft Excel (2010) e vinculadas ao “Mapa de traçado do escoamento e de

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localização das bocas de lobo existentes na bacia de contribuição da Av. Fernando Corrêa da

Costa” (APÊNDICE A).

Por meio do aplicativo AutoCAD (2011) foram inseridas a localização aproximada e a

identificação numérica das BLs no referido mapa. Para representar os dispositivos sem pre-

sença de danos físicos foi usado um círculo preenchido com a cor verde e as BL que estavam

danificadas foram identificas por um círculo preenchido com a cor vermelha. A informação

de que as bocas de lobo continham obstruções ao escoamento estão presentes somente na ta-

bela de informações anexada junto ao mapa exposto no Apêndice A.

Como meio de obter informações a respeito dos serviços de limpeza e manutenção dos

dispositivos de microdrenagem da bacia, foi feita consulta telefônica ao departamento de soli-

citação de limpeza de bocas de lobo, vinculado à Secretaria de Obras de Cuiabá. Foi verifica-

do ainda, se a secretaria dispunha de rotinas e procedimentos periódicos para a manutenção

desses dispositivos.

Por fim, foi solicitado à Secretaria de Obras Públicas de Cuiabá o acesso aos projetos e

memoriais referentes às obras de mobilidade urbana, inseridas na Av. Fernando Corrêa da

Costa, como forma de compreender a influência do planejamento e execução dessas obras no

funcionamento do sistema de drenagem da região. Também foram realizadas visitas de campo

como complemento a análise.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 DELIMITAÇÃO DA BACIA DE CONTRIBUIÇÃO

Na Figura 23 é apresentada a bacia de contribuição delimitada. O polígono de cor azul

representa o divisor de águas da bacia, a linha de cor verde, a Av. Fernando Corrêa da Costa e

o polígono de cor vermelha, a “Área Atingida por Alagamentos” (AAA). Os nomes das vias

interligadas à Av. Fernando Corrêa da Costa e dos bairros que pertencem à bacia, foram iden-

tificadas pelo texto de cor preta. Os nomes dos bairros receberam ainda, um destaque acima e

abaixo do texto.

Além da Av. Fernando Corrêa da Costa, a AAA abrange as avenidas Brasília e Haiti

(bairro Jd. das Américas), a Rua Garcia Neto (bairro Pico do Amor), a Av. Parque Barbado

(limite entre os bairros Jd. das Américas e Boa Esperança) e a Av. Tancredo Neves (limite

entre os bairros Pico do Amor e Jd. Petrópolis).

Figura 23 – Bacia de contribuição do trecho da Av. Fernando Corrêa da Costa atingido por alagamentos.

Fonte: Elaborado pela autora.

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A bacia de contribuição possui aproximadamente 1,10 km², a AAA atinge cerca de

0,04 km² de toda a bacia, correspondendo a 3,63% da área de drenagem, e o trecho da Av.

Fernando Corrêa da Costa, que está inserido na bacia, possui aproximadamente 1,6 km de

extensão.

5.2 COMPORTAMENTO DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL NA BACIA

Após a delimitação da bacia foi possível gerar os perfis longitudinais das vias interli-

gadas à Av. Fernando Corrêa da Costa (Figuras 24 a 37).

A linha de cor amarela corresponde ao trecho selecionado das vias interligadas com a

Av. Fernando Corrêa da Costa. Esses segmentos das vias fazem parte da área de drenagem da

bacia, contribuindo no escoamento superficial sobre a mesma.

A seta de cor vermelha representa o ponto localizado sobre a Av. Fernando Corrêa da

Costa e os números escritos acima e ao lado esquerdo da seta correspondem à cota altimétrica

do ponto sobre a Av. Fernando Corrêa da Costa e ao comprimento do trecho selecionado, res-

pectivamente.

Conforme dados apresentados pelo Google Earth (2013), a cota da Av. Fernando Cor-

rêa da Costa no entroncamento com a Av. Miguel Sutil é de 187 m e a diferença de cotas do

trecho selecionado alcança os 12,4 m (Figura 24).

Figura 24 – Perfil longitudinal do trecho da Av. Miguel Sutil que contribui no escoamento na bacia.

Fonte: Google, 2013.

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Conforme dados apresentados pelo Google Earth (2013), a cota da Av. Fernando Cor-

rêa da Costa nos entroncamentos com a Rua Paraguaçú (Figura 25) e com a Rua Capitão Ipo-

rã (Figura 26) é de 180 m e 177 m, respectivamente. E a diferença de cotas do trecho selecio-

nado dessas mesmas vias é de 5,64 m e 4,97 m, respectivamente.

Figura 25 – Perfil longitudinal do trecho da Rua Paraguaçú que contribui no escoamento na bacia.

Fonte: Google, 2013.

Figura 26 – Perfil longitudinal do trecho da Rua Capitão Iporã que contribui no escoamento na bacia.

Fonte: Google, 2013.

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Conforme dados apresentados pelo Google Earth (2013), a cota da Av. Fernando Cor-

rêa da Costa nos entroncamentos com a Rua São Miguel (Figura 27) e com a Rua La Paz

(Figura 28) é de 173 m e 172 m, respectivamente. E a diferença de cotas do trecho seleciona-

do dessas mesmas vias é de 5,69 m e 6,34 m, respectivamente.

Figura 27 – Perfil longitudinal do trecho da Av. São Miguel que contribui no escoamento na bacia.

Fonte: Google, 2013.

Figura 28 – Perfil longitudinal do trecho da Rua La Paz que contribui no escoamento na bacia.

Fonte: Google, 2013.

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Conforme dados apresentados pelo Google Earth (2013), a cota da Av. Fernando Cor-

rêa da Costa nos entroncamentos com a Rua Garcia Neto (Figura 29) e com a Av. Tancredo

Neves (Figura 30) é de 168 m e 166 m, respectivamente. E a diferença de cotas do trecho se-

lecionado dessas mesmas vias é de 8,62 m e 3,70 m, respectivamente.

A Av. Tancredo Neves é resultado da canalização do Córrego do Barbado e, sendo

uma via de fundo de vale, é justificável a presença das menores cotas da bacia (Figura 30).

Figura 29 – Perfil longitudinal do trecho da Rua Garcia Neto que contribui no escoamento na bacia.

Fonte: Google, 2013.

Figura 30 – Perfil longitudinal do trecho da Av. Tancredo Neves que contribui no escoamento na bacia.

Fonte: Google, 2013.

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Conforme dados apresentados pelo Google Earth (2013), a cota da Av. Fernando Cor-

rêa da Costa nos entroncamentos com a Rua “Sem Identificação” (Figura 31) e com a Av.

Cidade do México (Figura 32) é de 174 m e 169 m, respectivamente. E a diferença de cotas

do trecho selecionado dessas mesmas vias é de 9,69 m e 16,90 m, respectivamente.

Figura 31 – Perfil longitudinal do trecho da Rua “Sem Identificação” que contribui no escoamento na bacia.

Fonte: Google, 2013.

Figura 32 – Perfil longitudinal do trecho da Av. Cidade do México que contribui no escoamento na bacia.

Fonte: Google, 2013.

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Conforme dados apresentados pelo Google Earth (2013), a cota da Av. Fernando Cor-

rêa da Costa nos entroncamentos com a Av. Haiti (Figura 33) e com a Av. Brasília (Figura 34)

é de 168 m e 166 m, respectivamente. E a diferença de cotas do trecho selecionado dessas

mesmas vias é de 11,70 m e 9,84 m, respectivamente.

Figura 33 – Perfil longitudinal do trecho da Av. Haiti que contribui no escoamento na bacia.

Fonte: Google, 2013.

Figura 34 – Perfil longitudinal do trecho da Av. Brasília que contribui no escoamento na bacia.

Fonte: Google, 2013.

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Conforme dados apresentados pelo Google Earth (2013), a cota da Av. Fernando Cor-

rêa da Costa nos entroncamentos com a Av. Parque Barbado (Figura 35) e com a via de aces-

so à UFMT (Figura 30) é de 166 m e 164 m, respectivamente. E a diferença de cotas do trecho

selecionado dessas mesmas vias é de 9,32 m e 13,70 m, respectivamente.

A Av. Parque Barbado também resulta da canalização do Córrego do Barbado e, sendo

uma via de fundo de vale, é justificável a presença das menores cotas da bacia (Figura 35).

Figura 35 – Perfil longitudinal do trecho da Av. Parque Barbado que contribui no escoamento na bacia.

Fonte: Google, 2013.

Figura 36 – Perfil longitudinal do trecho da via de acesso à UFMT que contribui no escoamento na bacia.

Fonte: Google, 2013.

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Conforme dados apresentados pelo Google Earth (2013), a cota da Av. Fernando Cor-

rêa da Costa no entroncamento com a Rua Um (Figura 37) é de 174 m e a diferença de cotas

do trecho selecionado dessa via é de 4,71 m.

Figura 37 – Perfil longitudinal do trecho da Rua Um que contribui no escoamento na bacia.

Fonte: Google, 2013.

Com os dados topográficos fornecidos pelo Google Earth (2013), para cada um dos

perfis, ficou comprovado que a declividade das vias interligadas à Av. Fernando Corrêa da

Costa favorece que o escoamento superficial seja direcionado para a via estrutural.

Com as cotas altimétricas nos cruzamentos das vias com a Av. Fernando Corrêa da

Costa também foi possível verificar que a própria via estrutural apresenta características topo-

gráficas que favorecem o direcionamento das águas pluviais à AAA. Isto se justifica pelo fato

da Av. Fernando Corrêa da Costa formar entroncamento com as avenidas Parque Barbado,

Tancredo Neves e a via de acesso à UFMT, região de fundo de vale que apresenta as cotas

mais baixas da bacia.

A flecha vermelha indicada na Figura 38 foi posicionada de modo a indicar a região

mais crítica da AAA. A cota neste ponto é de 168 m e o mesmo está localizado nas proximi-

dades da Av. Garcia Neto (Figura 33) e da Av. Haiti (Figura 33), cujas declividades alcançam

a ordem dos 8 m e 11 m, respectivamente (GOOGLE, 2013).

Diante das altas declividades dessas vias, o escoamento superficial chega nesta região

com altas velocidades, o que diminui o tempo de concentração e também a possibilidade de

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infiltração dos deflúvios no solo (BRASIL; SÃO PAULO; RIO DE JANEIRO, 2006, 2012b,

2001).

Essa mesma situação foi observada nas demais vias interligadas à Av. Fernando Cor-

rêa da Costa, mas o alagamento só é observado na região à jusante, onde a seta vermelha foi

locada, em razão da declividade da Av. Fernando Corrêa da Costa favorecer o direcionamento

das águas para essa área (Figura 38).

Aqui cabe uma observação. O ponto mais crítico da AAA não está sobre a região com

as menores cotas da bacia, que seria nas proximidades com a Av. Parque Barbado, Av. Tan-

credo Neves e a via de acesso à UFMT.

Isto pode estar relacionado a outros fatores como a falha na manutenção e limpeza das

bocas de lobo da Rua Garcia Neto e da Av. Haiti, às altas taxas de impermeabilização do solo

nessas duas vias citadas e à presença do Viaduto Jornalista Clóvis Roberto, o qual funciona

como uma obstrução à passagem dos deflúvios sobre a Av. Fernando Corrêa da Costa. Esses

possíveis condicionantes serão discutidos mais adiante.

Figura 38 – Perfil longitudinal do trecho da Av. Fernando Corrêa da Costa que contribui no escoamento da

bacia.

Fonte: Google, 2013.

Conforme foi visto, quanto maior a declividade, maior a velocidade, menor o tempo de

concentração e menor a possibilidade de infiltração das águas no solo. Com isso, há um acrés-

cimo no volume escoado e o risco de sobrecarga do sistema de drenagem, o que pode condi-

cionar a ocorrência dos alagamentos na bacia (BRASIL; RIO DE JANEIRO, 2006, 2001).

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Além disso, segundo os mesmos autores, os trechos com menores declividades geram

problemas de sedimentação por causa da baixa velocidade na superfície, enquanto que decli-

vidades maiores aumentam a velocidade do escoamento e ocasionam a erosão do solo.

Sabendo que as águas escoam para as áreas baixas da superfície (RIO DE JANEIRO,

200), tanto os perfis longitudinais quanto as verificações feitas em campo, contribuíram para o

traçado do fluxo do escoamento na bacia, cuja representação foi disposta no mapa apresenta-

do no Apêndice A.

5.3 IMPERMEABILIZAÇÃO DA BACIA

As Figuras 39 e 40 apresentam a delimitação das áreas permeáveis e impermeáveis da

bacia de contribuição, nos anos de 2004 e 2014, respectivamente.

Os polígonos de cor verde representam às áreas permeáveis e a área pontilhada na cor

rosa representa as áreas impermeáveis da bacia. Em 2004 (Figura 39), as áreas permeáveis

correspondiam a 35,5% da área total da bacia de contribuição, caindo para os 21,8% no ano

de 2014 (Figura 40). Isto quer dizer que, no período de dez anos, uma área de 13,7% de co-

bertura natural foi substituída por materiais de natureza impermeabilizante.

Figura 39 – Áreas permeáveis e impermeáveis da bacia

de contribuição, 09/05/2004.

Fonte: imagem do Google Earth (2013) editada pela

autora.

Figura 40 – Áreas permeáveis e impermeáveis da

bacia de contribuição, 04/07/2014.

Fonte: imagem do Google Earth (2013) editada pela

autora.

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No Gráfico 1 estão ilustradas as porcentagens correspondentes à áreas permeáveis e

impermeáveis nos anos de 2004 e 2014.

Gráfico 1 – Áreas permeáveis e impermeáveis na bacia de contribuição, em percentual, nos anos de 2004 e 2014.

,

Fonte: elaborado pela autora.

Por meio das Figuras 39 e 40 foi possível verificar que a ocupação da bacia aconteceu,

predominantemente, de jusante para montante. Com isso, à medida que essa área se desenvol-

veu, os picos de vazão aumentaram, parecendo haver aí, a necessidade de se ampliar a capaci-

dade do sistema de drenagem nas áreas à jusante.

Conforme visto no item 2.2.1, a urbanização das bacias altera os processos do ciclo

hidrológico e provoca diversos efeitos, entre eles, verificou-se que a ação conjunta da redução

da cobertura vegetal e do aumento das áreas impermeabilizadas na bacia contribui para o au-

mento da velocidade do escoamento superficial, fazendo com que os deflúvios cheguem rapi-

damente à AAA quando da ocorrência de precipitações.

Sabendo que uma maior velocidade do escoamento acarreta no menor tempo de con-

centração e na menor possibilidade de infiltração, as águas pluviais tendem a escoar sobre a

superfície, gerando acréscimos no volume escoado e aumentando os riscos de sobrecarregar o

sistema de drenagem existente (BRASIL; RIO DE JANEIRO, 2006, 2001). Logo, esse cená-

rio pode estar contribuindo para as ocorrências de alagamentos sobre a bacia.

De acordo com a planta de zoneamento de Cuiabá (Figura 41), a bacia abrange três

zonas diferentes da cidade: a Zona de Centros Regionais ou Subcentros (ZCR), caracterizada

por ser tratar de uma zona formada por desdobramentos funcionais da área central, a Zona

Predominantemente Residencial (ZPR) e a Zona Urbana de Uso Múltiplo (ZUM), área onde é

recomendada a integração de vários usos e atividades, desde que sejam compatíveis com a

vizinhança (CUIABÁ, 2011).

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Figura 41 – Zoneamento da bacia de contribuição.

Fonte: Cuiabá, 2011. Editado pela autora.

Os índices urbanísticos correspondentes a cada uma dessas zonas constam na Lei de

Uso e Ocupação do Solo do município (CUIABÁ, 2011). A lei complementar nº 231/2011

exige, por exemplo, que nos projetos implantados nessas três zonas sejam mantidos, pelo me-

nos, 20% da área total do lote para trabalhos paisagísticos e/ou cobertura com gramíneas. Tra-

ta-se da aplicação do coeficiente de Cobertura Vegetal Paisagística (CVP).

Além do índice CVP, as ZUM e ZPR devem atender ao coeficiente de cobertura vege-

tal arbórea, que exige, na elaboração dos projetos arquitetônicos, a previsão de pelo menos

5% da área total do lote para preservação ou recuperação da área com maciço de vegetação

arbórea e arbustiva nessas regiões. Por fim, “a relação da somatória entre o coeficiente de

cobertura vegetal arbórea e o coeficiente de cobertura vegetal paisagística com a área do pró-

prio lote forma o coeficiente de permeabilidade” (CUIABÁ, 2011).

Na Figura 42 são apresentados todos os índices urbanísticos das zonas que fazem parte

da bacia estudada, eles se referem aos textos grifados na cor amarela.

Figura 42 – Índices urbanísticos do município de Cuiabá/MT.

Fonte: CUIABÁ, 2011. Adaptado pela autora.

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61

Um exemplo prático do uso desses coeficientes sobre a bacia é o seguinte: supondo

que toda a bacia fosse subordinada aos índices referentes à Zona de Centros Regionais ou

Subcentros (ZCR), ou seja, que o coeficiente de permeabilidade de toda a bacia correspondes-

se a 20% de sua área total, a área permeável que deveria existir atualmente na bacia seria de

0,22 km², pouco abaixo da área estimada no ano 2014, que era de 0,24 km² (Figura 40).

A intenção da Prefeitura com a aplicação desses índices é a de controlar o padrão de

ocupação do solo urbano. No entanto, essa medida não estrutural parece não estar contribuin-

do, suficientemente, para o controle do escoamento superficial da bacia, uma vez que os ala-

gamentos tem se tornado cada vez mais abrangentes ao invés de terem seu risco minimizado

com a utilização dos coeficientes urbanísticos ao longo dos anos.

Pode ser que, os benefícios que esses índices trazem para a cidade não estejam sendo

alcançados devido à falta de conscientização de empreiteiros e proprietários sobre a importân-

cia da aplicação desses coeficientes.

Muitas vezes os projetos básicos preveem as áreas de infiltração necessárias, mas ape-

nas até o tempo de conseguir os alvarás de construção da Prefeitura. Durante a execução da

obra essas áreas são relegadas e ocupadas por mais áreas impermeáveis, sobrecarregando ain-

da mais o escoamento superficial das bacias.

A inconsciência com esses aspectos não são particulares aos empreiteiros e proprietá-

rios. A Prefeitura também tem sua parcela de responsabilidade na falta de obediência à aplica-

ção dos índices urbanísticos, uma vez que não cria meios de fiscalizar e punir àqueles que não

respeitam os limites impostos pela LUOS.

Pelo zoneamento definido sobre a bacia, também se notou que não foi dada atenção

especial às áreas de várzea do Córrego do Barbado, tanto que, conforme verificado na figura

40, suas margens são intensamente urbanizadas e, recentemente, quase 2 km de sua extensão

foram canalizados para a construção da Av. Parque Barbado, o que contribui ainda mais para

a redução de áreas permeáveis da bacia e outras consequências (Figura 43).

Figura 43 – Av. Parque Barbado.

Fonte: disponível em < http://midianews.com.br/conteudo.php?sid=14&cid=177350>. Acesso em 28/01/2015.

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Esse tipo de intervenção prejudica, além da regulação climática e da biodiversidade da

região, a recarga dos aquíferos, já que as águas não podem mais infiltrar no solo em razão da

impermeabilização do leito do córrego. Sem os obstáculos naturais, o escoamento acelera e

chega com alta velocidade nas regiões mais baixas da bacia, provocando alagamentos e outros

graves problemas (BRASIL; SÃO PAULO, 2012b, 2006).

A Figura 44 retrata o transbordamento do Córrego do Barbado na região à jusante da

canalização do córrego, na Av. Tancredo Neves, bairro Grande Terceiro.

Figura 44 – Transbordamento do Córrego do Barbado em região à jusante da canalização.

Fonte: Deus, 2011.

Apesar da utilidade pública anunciada com a implantação e duplicação da Av. Parque

Barbado, a canalização do Córrego parece ser uma tentativa de mascarar os problemas de sa-

neamento existentes em Cuiabá. Afinal, os esgotos sanitários lançados no mesmo é que deve-

riam ser canalizados e não o córrego.

Em entrevista ao site de notícias NavegadorMT.com, o coordenador da Defesa Civil

de Cuiabá, José Pedro Zanetti, afirma que a solução não é a canalizar ou tampar os cursos

d'água da capital. O coordenador argumenta que "Tem que despoluir e retirar a carga de esgo-

to que caem nos córregos. Fazer a rede de coleta e tratar" (DEUS, 2011).

Outra consideração importante verificada quanto ao processo de urbanização da bacia

de contribuição está na ocupação progressiva de uma extensa área à montante da bacia, locali-

zada no bairro Jardim das Américas.

A região caracteriza-se pela presença de altas declividades e, anos atrás, segundo rela-

tos de engenheiros mais experientes de Cuiabá, ela promovia a redução da velocidade dos

escoamentos, pois possuía extensa cobertura vegetal.

Com o passar dos anos, a urbanização alcançou essa área, estabelecendo-se ali condo-

mínios residenciais, supermercado, empresas automotivas, hotéis e distribuidora de materiais

de construção.

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63

A implantação de um desses estabelecimentos gerou uma série de processos junto ao

Ministério Público Estadual (MPE), que verificou irregularidades ambientais no empreendi-

mento. Entre as medidas previstas no Termo de Ajustamento de Conduta, assinado entre as

partes, estava a execução de projetos para alterações no sistema de drenagem na rua lateral ao

empreendimento, evidenciando o impacto negativo que essa ocupação gerou à drenagem da

bacia (DIÁRIO DE CUIABÁ, 2011).

A área dentro do círculo de cor amarela, ilustrada nas Figuras 45 e 46, está localizada

no bairro Jardim das Américas e caracteriza-se pela conformação bastante íngreme do terreno.

Em 2004 essa região possuía extensa cobertura vegetal que contribuía para a redução da velo-

cidade dos escoamentos. Em 2014, grande parte da cobertura natural já tinha sido substituída

por superfícies impermeáveis.

Figura 45 – Áreas permeáveis em região à montante

da bacia de contribuição em 09/05/2004.

Fonte: imagem do Google Earth (2013) editada pela

autora.

Figura 46 – Áreas permeáveis em região à montante

da bacia de contribuição em 04/07/2014.

Fonte: imagem do Google Earth (2013) editada pela

autora.

5.4 SITUAÇÃO DAS BOCAS DE LOBO DA BACIA

O mapeamento das bocas de lobo revelou a existência de pelo menos 172 unidades

desses dispositivos instalados na bacia. Desse total, foi verificado que 75 bocas de lobo apre-

sentaram algum tipo de dano na sua estrutura, o que equivale a 43,6% do total (Gráfico 2).

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64

Considerou-se como dano nos dispositivos: a presença de trincas em qualquer parte da

BL, a quebra, desencaixe ou deterioração de qualquer parte da BL e a ausência da tampa de

concreto.

Das 172 bocas de lobo verificadas, 99 apresentaram alguma obstrução ao escoamento,

seja pela presença de resíduos, de sedimentos ou mesmo das partes deterioradas das bocas de

lobo, equivalendo a 57,6% do total (Gráfico 3).

Gráfico 2 – Estado de manutenção das bocas de

lobo verificadas na bacia de contribuição.

Fonte: elaborado pela autora.

Gráfico 3 – Estado de limpeza das bocas de lobo

verificadas na bacia de contribuição.

Fonte: elaborado pela autora.

Com a capacidade de engolimento de mais de 50% das BLs da bacia comprometida,

pode-se inferir que a falta de manutenção e limpeza desses dispositivos pode ter relação com

as ocorrências de alagamento na Av. Fernando Corrêa da Costa.

Foi verificado ainda que das 99 BLs obstruídas, 68 dispositivos correspondiam a BLs

danificadas, o que equivale a 68,7% das bocas de lobo com problemas de manutenção

(Gráfico 4).

Gráfico 4 – Estado de manutenção e limpeza das bocas de lobo verificadas na bacia de contribuição.

Fonte: elaborado pela autora.

Por meio do mapa apresentado no Apêndice A é possível perceber que muitas das bo-

cas de lobo situadas em regiões à montante da bacia estão danificadas. Isto quer dizer que

desde o início da rede de drenagem da bacia, o escoamento não é coletado de maneira ade-

Page 66: Zorzo, a. p. (2015) estudo sobre os condicionantes de alagamentos na av. fernando corrêa da costa, cuiabá mt

65

quada. E se as águas não são coletadas pelo sistema, elas passarão a escoar pelas vias da ba-

cia, que segundo já foi visto, possuem declividades que propiciam o aumento das velocidades

e o direcionamento de todo o escoamento para a Av. Fernando Corrêa da Costa.

Com o aumento da velocidade das vazões há o carreamento de resíduos e sedimentos

do solo, bem como das cargas poluentes, para as regiões à jusante (SÃO PAULO, 2012b). O

transporte de todos esses materiais acaba resultando no entupimento e desgaste de outras bo-

cas de lobo da bacia, agora naquelas situadas à jusante da Av. Fernando Corrêa da Costa e das

vias laterais, aumentando ainda mais os problemas no sistema de drenagem da bacia (FIGU-

RAS 47 A 53).

Todas as bocas de lobo verificadas tiveram registro fotográfico e esses arquivos foram

salvos em CD digital (APÊNDICE A). Em razão do grande número de bocas de lobo verifi-

cadas (172 unidades), este trabalhão não fará a exposição de todas essas imagens, mas apenas

dos dispositivos mais críticos, presentes na Área Atingida por Alagamentos.

Durante vários meses a Rua Garcia Neto integrou a rota de desvio da Av. Fernando

Corrêa da Costa quando da execução do Viaduto Jornalista Clóvis Roberto, também conheci-

do como Viaduto Trevo da UFMT.

Por se tratar de uma via estreita e que suportava a passagem de veículos de passeio, de

carga e passageiros, além é, claro, da movimentação dos pedestres, era de se esperar que essas

bocas de lobo, instaladas justo na AAA, apresentassem estado menos satisfatório de conser-

vação (FIGURAS 47 A 49). No entanto, o desvio terminou, o período chuvoso chegou e os

dispositivos continuaram apresentando condições ruins de manutenção e/ou limpeza.

Acrescentando-se ainda, que a declividade e a impermeabilização da bacia também in-

fluenciam no comportamento do escoamento pluvial, a possibilidade de ocorrer alagamentos

na Av. Fernando Corrêa torna-se ainda maior em razão da falha na manutenção e limpeza dos

dispositivos, seja na Rua Garcia Neto, seja nas demais vias que integram a bacia.

Em consulta telefônica à Secretaria de Obras Pública, especificamente ao departamen-

to de solicitação de limpeza de bocas de lobo (telefone: 065 3313-3050), no dia 18/12/2014,

foi informado pelo atendente que os serviços de limpeza e manutenção das bocas de lobo da

cidade são feitos mediante solicitação ao referido departamento, não havendo qualquer plane-

jamento ou rotina por parte da secretaria que vise a inspeção periódica desses dispositivos.

Page 67: Zorzo, a. p. (2015) estudo sobre os condicionantes de alagamentos na av. fernando corrêa da costa, cuiabá mt

66

Figura 47 – Boca de lobo nº 14 – Rua Garcia Neto.

Fonte: acervo próprio.

Figura 48 – Boca de lobo nº 15 – Rua Garcia Neto.

Fonte: acervo próprio.

Figura 49 – Boca de lobo nº 16 – Rua Garcia Neto.

Fonte: acervo próprio.

Figura 50 – Boca de lobo nº 94 – Av. Fernando Corrêa

da Costa.

Fonte: acervo próprio.

Figura 51 – Boca de lobo nº 94 – Av. Fernando Corrêa

da Costa.

Fonte: acervo próprio.

Figura 52 – Boca de lobo nº 97 – Av. Fernando Corrêa

da Costa.

Fonte: acervo próprio.

Page 68: Zorzo, a. p. (2015) estudo sobre os condicionantes de alagamentos na av. fernando corrêa da costa, cuiabá mt

67

Figura 53 – Boca de lobo nº 95 – Av. Fernando Corrêa

da Costa.

Fonte: acervo próprio.

Figura 54 – Boca de lobo nº 96 – Av. Fernando Corrêa

da Costa.

Fonte: acervo próprio.

A falta de ações que visem a inspeção, limpeza e manutenção dos dispositivos de dre-

nagem traz sérios riscos ao funcionamento adequado do sistema de drenagem de uma bacia

como a ocorrência de alagamentos e inundações.

Além da falha nas ações de inspeção, limpeza e manutenção dos dispositivos de mi-

crodrenagem, foi verificado que não está sendo dada a devida atenção às condições de con-

servação de um dos conjuntos de bueiros instalados no Córrego do Barbado.

As vazões que vêm da bacia estudada e de outras regiões da cidade por onde o corpo

hídrico passa, chegam aos bueiros sob a Av. Fernando Corrêa da Costa e trazem consigo dife-

rentes resíduos que obstruem os dispositivos e contribuem para a redução da seção de escoa-

mento dos bueiros (Figura 55).

Figura 55 – Deposição de sedimentos, lixo e entulho próximo ao conjunto de bueiros que direcionam o Córrego

do Barbado sob a Av. Fernando Corrêa da Costa em 05/12/2014.

Fonte: acervo próprio.

Page 69: Zorzo, a. p. (2015) estudo sobre os condicionantes de alagamentos na av. fernando corrêa da costa, cuiabá mt

68

No dia 20 de março de 2013, Carvalho (2013) já havia verificado e registrado o mes-

mo cenário frente aos bueiros do Córrego do Barbado (Figura 56).

Figura 56 – Presença de resíduos obstruindo os bueiros do Córrego do Barbado sob a Av. Fernando Corrêa da

Costa em 20/03/2013.

Fonte: Carvalho, 2013.

5.5 DIRETRIZES PARA EXECUÇÃO DE OBRAS DE DRENAGEM NA BACIA

Considerando o que foi exposto no item 2.4, esta seção abordará alguns dos critérios

de execução utilizados nas obras de drenagem presentes na bacia de contribuição.

5.5.1 Av. Parque Barbado

A Avenida Parque foi concebida para facilitar o fluxo de veículos na região de aces-

so à Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e promover ligação entre as

avenidas Fernando Corrêa da Costa e Archimedes Pereira Lima. A obra foi licitada

pela Secopa por R$ 23 milhões e o último prazo estabelecido para a conclusão é 16

de outubro deste ano. Os trabalhos são de responsabilidade do consórcio Guaxe-

Encomind. (DIÓZ, 2014).

Conforme visto no item 2.5.4 Critérios de projeto para canalização de curso d’água, a

grande característica desse tipo de obra é a presença de água durante todo o trabalho de exe-

cução da mesma, exigindo o uso de técnicas construtivas especiais.

Não foram obtidas informações a respeito das obras de drenagem complementares da

avenida (microdrenagem) e também não foi possível o acesso aos projetos executivos da via.

De maneira resumida, foi observado ao longo da execução da obra que os trabalhos

iniciaram com o desmatamento e a limpeza das áreas de trabalho no entorno do córrego, em

seguida ocorreram os serviços de movimentação de terra e, posteriormente, a pavimentação

de parte do trecho canalizado (Figuras 57 e 58).

Page 70: Zorzo, a. p. (2015) estudo sobre os condicionantes de alagamentos na av. fernando corrêa da costa, cuiabá mt

69

Figura 57 – Início das obras de implantação da Av.

Parque Barbado: desmatamento e limpeza das margens

do córrego.

Fonte

1

Figura 58 – Trabalhos de movimentação de terras e

assentamento do canal de concreto no Córrego do

Barbado.

Fonte

2

5.5.2 Viaduto Jornalista Clóvis Roberto (Viaduto UFMT)

Segundo informações publicadas no site da Secretaria Extraordinária da Copa (SECO-

PA), o viaduto tem 428 metros de comprimento e está edificado sobre os entroncamentos das

avenidas Brasília, Fernando Corrêa da Costa, Tancredo Neves e a via de acesso à UFMT.

A obra será constituída de duas faixas de rolagem por sentido de tráfego e de uma via

permanente que abrigará os trilhos por onde passará o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Sob

a obra de arte será prevista uma rotatória e pistas marginais que darão acesso às vias citadas.

De acordo com o exposto no site da SECOPA, a drenagem superficial do elevado já

foi concluída, bem como a execução dos dispositivos de microdrenagem no entorno e embai-

xo do viaduto (Figura 59).

Figura 59 – Vista do Viaduto Clóvis Roberto.

Fonte: disponível em <http://www.mtnacopa.com.br/download.php?id=278866>. Acesso em 02/02/2015.

1 Disponível em

<http://www.olhardireto.com.br/copa/noticias/exibir.asp?noticia=Comeca_implantacao_da_avenida_Parque_do_

Barbado_video_e_fotos_&id=1858#!prettyPhoto>. Acesso em 01/02/2015. 2 Disponível em <http://www.primeirahora.com.br/noticia/106795/governo-de-mt-adia-entrega-de-cots-

aeroporto-e-outras-3-obras-da-copa>. Acesso em 01/02/2015.

Page 71: Zorzo, a. p. (2015) estudo sobre os condicionantes de alagamentos na av. fernando corrêa da costa, cuiabá mt

70

Por outro, a Prefeitura Municipal apresenta um discurso diferente ao apresentado pela

SECOPA. Após constantes ocorrências de alagamento na Av. Fernando Corrêa da Costa, pró-

ximo ao viaduto e, em especial, após a chuva do dia 14/12/2014, o Secretário Municipal de

Obras Públicas tornou público o ofício nº 1317 (ANEXO A).

No documento direcionado à SECOPA a Prefeitura alega que foram verificadas falhas

nos projetos de drenagem apresentados pela Secretaria Extraordinária e que foram requisita-

das as devidas correções. No entanto, até o dia 15/12/2014, os projetos corrigidos ainda não

tinham sido submetidos à aprovação municipal. Dessa maneira, não existe projeto aprovado

na Prefeitura.

No mesmo ofício foi solicitada em caráter de urgência, num prazo de 15 dias corridos,

a apresentação do Projeto Executivo de Drenagem de Águas Pluviais de toda a extensão da

bacia da Av. Fernando Corrêa da Costa, para devida aprovação e implantação imediata. No

documento ainda foi cogitada a implosão do viaduto caso a SECOPA não apresentasse solu-

ções para os problemas.

Segundo Aguiar (2014), a assessoria da SECOPA não se manifestou quanto às decla-

rações da Prefeitura e do secretário municipal de obras públicas, mas informou que o Consór-

cio VLT, responsável pela execução do viaduto, foi notificado a prestar explicações e solu-

ções para resolver o problema.

Diante deste cenário, foi possível compreender a não autorização de acesso ao projeto

de drenagem do viaduto, uma vez que ele ainda não foi aprovado pelo executivo municipal.

Passaram-se mais de 40 dias do envio do ofício e a Prefeitura ainda informa aos veícu-

los de comunicação que nenhum projeto foi enviado para aprovação.

5.5.3 Considerações sobre a execução de elementos do sistema de microdrenagem

Conforme visto nos itens 2.4.2 e 2.4.3, que explicaram os principais critérios para dis-

posição e execução de sarjetas e bocas de lobo, respectivamente, foram feitas algumas obser-

vações sobre a execução desses elementos na bacia.

As novas sarjetas implantadas no entorno do Viaduto Jornalista Clóvis Roberto, por

exemplo, apresentam erros construtivos que contribuem para o alagamento dos leitos carroçá-

veis, o que não poderia ocorrer de maneira frequente como vem acontecendo.

Pelas figuras 60 e 61 percebe-se que os blocos de concreto que formam as sarjetas fo-

ram instalados acima da cota da via, dessa maneira a inclinação transversal das sarjetas não

acompanha a inclinação da seção da rua e o elemento não consegue acomodar o escoamento.

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71

Na tentativa de minimizar o problema, foi retirada a base da sarjeta nos encontros com

as bocas de lobo, assim, mesmo que não resolva o problema por completo, a água da via pode

ser parcialmente coletada.

Figura 60 – Sarjeta e boca de lobo instalada no entor-

no do Viaduto UFMT.

Fonte: acervo próprio.

Figura 61 – Falha na execução da sarjeta dificulta o

engolimento das águas pela boca de lobo.

Fonte: acervo próprio.

Um erro de execução verificado em várias bocas de lobo da bacia foi a disposição des-

ses elementos nos vértices das esquinas das vias, contrariando uma das recomendações feitas

no item 2.5.3. Esse problema foi verificado em várias bocas de lobo existentes no bairro Jar-

dim das Américas, conforme pode ser observado nas Figuras 62 e 63.

Figura 62 – Vista da boca de lobo nº 159 disposta no vértice da esquina.

Fonte: Google, 2013.

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72

Figura 63 – Vista da boca de lobo nº 153.

Fonte: Google, 2013.

Segundo o que foi observado em campo, entre as várias bocas de lobo verificadas,

àquelas instaladas nos vértices das esquinas parecem ser as que mais apresentam danos e obs-

truções.

Não foi verificado se as dimensões mínimas e máximas das aberturas das bocas de lo-

bo existentes na bacia foram atendidas conforme citado no item 2.4.3. Contudo, aparentemen-

te, vários desses dispositivos apresentam alturas muito menores ou maiores do que àquelas

recomendadas por Watanabe (2014) como é o caso da boca de lobo nº 90, que além do pro-

blema com a altura da abertura apresenta obstruções ao escoamento (Figura 64).

Figura 64 – Boca de lobo nº 90 com altura da abertura aparentemente menor que a recomendada por Watanabe

(2014) em 05/12/2014.

Fonte: acervo próprio.

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73

6 CONCLUSÕES

O processo inconsciente de urbanização verificado nas últimas décadas ao longo da

Av. Fernando Corrêa da Costa é o principal responsável pela ocorrência dos alagamentos na

bacia. Nesse contexto pode-se incluir a questão do uso dos índices de áreas permeáveis.

De acordo com os resultados apresentados, a utilização dos coeficientes urbanísticos

de áreas permeáveis está sendo aplicada satisfatoriamente sobre a bacia, mesmo assim, é pre-

ciso que os legisladores municipais revisem os valores desses índices, elaborando estudos que

equacionem o impacto desses coeficientes sobre o escoamento pluvial e que visem potenciali-

zar os benefícios desses índices sobre o meio urbano e, consequentemente, sobre a população.

Outro fator importante quanto à impermeabilização é a falta de mecanismos legais e

administrativos de fiscalização de obras no município, que exijam o atendimento dos índices

urbanísticos propostos nas Leis de Uso e Ocupação do Solo e do Plano Diretor de Cuiabá. A

existência desses mecanismos permitiria a melhora dos efeitos positivos desses coeficientes

sobre a bacia.

A falha nas operações de inspeção, limpeza e manutenção dos dispositivos de micro-

drenagem da bacia e dos bueiros presentes na canalização do Córrego do Barbado também

pode ter forte relação com as ocorrências de alagamentos na Av. Fernando Corrêa da Costa.

Conforme verificado no “Mapa de traçado do escoamento e de localização das bocas

de lobo existentes na bacia de contribuição da Av. Fernando Corrêa da Costa” e apresentado

nos resultados deste trabalho, uma parte significativa das bocas de lobo da bacia apresentam

danos físicos ou obstruções que comprometem o funcionamento eficiente desses dispositivos.

Além disso, na própria execução das bocas de lobo e sarjetas da bacia, os critérios bá-

sicos para construção desses dispositivos não tem sido atendidos, o que também interfere no

funcionamento eficiente desses elementos e do sistema de drenagem como um todo.

As altas declividades verificadas contribuem para o aumento das velocidades e para os

acréscimos das vazões à jusante, o que também pode estar relacionado com as ocorrências dos

alagamentos na Av. Fernando Corrêa da Costa.

A implantação das obras da Av. Parque Barbado e do Viaduto Jornalista Clóvis Rober-

to aumentaram as áreas impermeáveis da bacia, o que também pode estar relacionado às ocor-

rências dos alagamentos.

Além de reduzir as áreas permeáveis, o viaduto dificulta a passagem do escoamento

pluvial em direção ao Córrego do Barbado e, segundo declarações da Prefeitura Municipal,

não foi apresentado um projeto de drenagem do viaduto e seu entorno que atenda às necessi-

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74

dades da bacia, contribuindo ainda mais para que as águas se acumulem por um período de

tempo na cabeceira da obra de arte.

Paralelamente, a inexistência de um Plano Diretor de Drenagem Urbana direcionado

às realidades de Cuiabá, que procure equacionar os problemas de drenagem particulares à

capital e oriente engenheiros e projetistas na elaboração de projetos mais eficientes também

pode condicionar o agravamento dos alagamentos na avenida.

E, por fim, talvez um dos grandes fatores que contribuem para a ocorrência dos ala-

gamentos na Av. Fernando Corrêa da Costa seja a inconsciência da população quanto à pre-

servação da cobertura vegetal natural e da importância de se manter a cidade limpa e seus

dispositivos de drenagem conservados.

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75

7 SUGESTÕES

Indica-se como sugestões para trabalhos futuros:

a) estudo sobre as técnicas compensatórias mais viáveis para minimizar os riscos de ala-

gamentos na Av. Fernando Corrêa da Costa.

b) estudo sobre a o impacto dos índices de áreas permeáveis sobre o escoamento pluvial

da bacia de contribuição;

c) verificação do dimensionamento hidráulico das bocas de lobo da bacia;

d) estudo sobre os impactos econômicos causados pelos alagamentos na Av. Fernando

Corrêa da Costa;

Como meio de minimizar os riscos de alagamentos em Cuiabá e melhorar a eficiência

do sistema de drenagem da bacia estudada e das redes de drenagem do município em geral,

indica-se como sugestões aos gestores públicos municipais:

a) a ampla utilização de técnicas compensatórias nos projetos públicos de drenagem,

uma vez que essas medidas tem se mostrado muito eficientes no controle das águas

pluviais, como ocorreu na capital francesa, com a operação Urbana Paris Rive Gauche,

e na cidade de Seul, Coréia do Sul, no canal Cheonggyecheon.

O uso dessas técnicas pela Prefeitura, aliado ao fomento, por parte do poder

público, ao uso das medidas não convencionais nos projetos de empreendimentos

privados, servirá de exemplo para a população da importância do funcionamento efi-

ciente do sistema de drenagem e dos benefícios que essas técnicas podem trazer para a

cidade e a comunidade.

Neste contexto, inclui-se a recuperação e revitalização do Córrego do Bar-

bado, tornando esse ambiente integrado à comunidade e desvinculado da imagem de

local destinado ao lançamento de esgotos ou de utilidade imprescindível à melhoria do

trânsito da cidade como já ocorre nos países europeu e asiático, citados anteriormente.

b) a criação de planos de inspeção, limpeza e manutenção periódicos dos dispositivos

de drenagem existentes na bacia de contribuição, utilizando-se como instrumento pa-

ra a orientação das ações o “Mapa de traçado do escoamento e de localização das bo-

cas de lobo existentes na bacia de contribuição da Av. Fernando Corrêa da Costa”,

apresentado no Apêndice A deste trabalho;

c) a verificação e revisão dos índices de áreas permeáveis presentes na LUOS de Cui-

abá, associando esses coeficientes à declividade, ao tipo de solo, enfim, às característi-

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76

cas naturais das bacias, uma vez que o comportamento do escoamento pluvial é influ-

enciado por esses e outros fatores;

d) a elaboração, em regime de urgência, do Plano Diretor de Drenagem Urbana,

conforme recomendado no Plano Diretor de Desenvolvimento Estratégico de Cuiabá

(CUIABÁ, 2007b), a fim de subsidiar engenheiros e projetistas no desenvolvimento

de projetos futuros que sejam mais sustentáveis e na correção ou maximização dos re-

sultados de projetos já implantados;

e) disseminação de campanhas orientativas e de conscientização da população quan-

to ao funcionamento do sistema de drenagem, sua conservação e importância no cená-

rio urbano.

Indica-se como sugestões às universidades e faculdades de engenharias e arquitetura:

a) inclusão da disciplina “Drenagem de Águas Pluviais Urbanas” na ementa dos

cursos de engenharias e arquitetura com vistas a formar profissionais conscientes

quanto à elaboração e execução de projetos mais eficientes, uma vez que essa infraes-

trutura interfere nos demais serviços públicos e vice-versa.

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77

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APÊNDICE A

Ver “Mapa de traçado do escoamento e de localização das bocas de lobo existentes na

bacia de contribuição da Av. Fernando Corrêa da Costa” e pasta de arquivos fotográficos digi-

tais “Imagens das BLs verificadas na bacia”.

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ANEXO A

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Fonte: disponível em <http://www.midianews.com.br/conteudo.php?sid=3&cid=219390>. Acesso em

18/12/2014.