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ELIS::01 SUBÚRBIO Ariadne Louca Creuza Dona Maria Dorida Flor Florisbela Magnólia Reis Maria Maria Munique Duarte Valeska Aguiar Virgínia Z. Weronika Kieslowski participações especiais Fernanda Nocam Adriana Azenha Renata Polydoro revista literária on line::ano01.número01.edição01::março2012

Revista ELIS::01.edição

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::Revista ELIS::01.edição | março.12Elis é uma Revista Literária online que traz a mulher na cena da literatura brasileira.O tema da 1ª edição da Revista é: SUBÚRBIO.Neste subúrbio, os leitores se deparam com os seguintes papéis femininos: Dama, Mãe, Puta, Lavadeira, Senhora, Louca e Álibi. Além de uma seção especial sobre o livro virtual 'Pinapoly' e o texto 'Nem toda brincadeira me diverte!!!'.Aprecie sem moderação.

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ELIS::01

SUBÚRBIO

Ariadne LoucaCreuza

Dona MariaDorida FlorFlorisbela

Magnólia ReisMaria Maria

Munique DuarteValeska Aguiar

Virgínia Z.Weronika Kieslowski

participações especiais

Fernanda NocamAdriana Azenha

Renata Polydororevista literária on line::ano01.número01.edição01::março2012

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02elis::subúrbio

editora::Ani Almeidaco-editora.diagramação::Tammy Almeidacolaboradores::Adriana Azenha::Alessandro de Paula::Cláudia de Andrade A. Curcio::Daniele Souza Freitas::Francisco Ferreira::Glória Lopes::Guilherme C. Antunes::Leonardo Valesi Valente::Munique Alvim Duarte::Rafael Zenparticipação especial::Adriana Azenha::Fernanda Nocam::Renata Polydoroimagens::André de Miranda::Bruno Veiga::Celine Michel::Fao Carreira::Gabriel Antônio Serpa de Magalhães::Hélder Oliveira::Ialê Cardoso::Jussara Romão::Renata Cabral::Renata Polydoro

ELIS::01

::Por ser uma Revista literária de colaboração coletiva, as idéias e con-ceitos expressos pelos autores selecionados são de responsabilidade dos mesmos, assim como as declarações de autoria.

contate::colabore::

[email protected]: @revistaelis

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ELIS é uma Revista Literária Online, gratuita, que tem a mulher como personagem principal.

"Elis é irreverente, feminina, ousada, criativa, inteligente... Elis é mulher, ama, sofre, talvez sofra mais do que ame, e continua, viva. Elis é o que sobra no reflexo do espelho: o elemento secreto em cada mulher."

mundo da ELIS | Com uma temática diferente à cada Edição, os colaboradores são convidados a assumir um papel feminino e contar uma história da forma que quiser (prosas, verso, imagens, etc), com o desafio de convencer o leitor de que sua trama é a melhor da Edição.

Opiniões e gostos à parte, o intuito é trazer ao leitor uma variedade literária para o seu desfrute, com muito bom gosto e prazer.

Assuma o seu melhor papel de mulher, perca o controle, escreva e convença o leitor de que o seu texto é o mais feminino da Revista, de que nele há a presença da Elis (mulher brasileira, musa inspiradora da Revista, talvez, uma entidade).

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editorial::

ensaio::

Nem toda brincaderia me diverte!!!

dama::

Solitária::Meramãe::

Papo BraboNáuseaCarmen

Pietá do Morroputa::

especial PinapolyJustiça Torta

neide.Aprisionados

lavadeira::

A Lavadeira.Lavadeiras::Saindo do subúrbio

.alma.a.quarar.Roupa suja se lava na rua

senhora::

.errante.linha.louca::

Marliálibi::

Três mulheres: mistérios do subúrbio do mundo e do sentir

créditos::

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Sumário

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Ani Almeida

"Foi na constante busca por espaços onde eu, mulher e poetisa, pudesse publicar e ser lida sem precisar escrever de forma velada a minha feminilidade, de imprimir minha alma na palavra, que senti crescer uma necessidade vital por tal espaço: um abrigo confortável, um lar literário para ver desabrochar a palavra. Sem muitos sucessos, pensei Por que não? Criar um espaço, compartilhá-lo com tantos colegas e desfrutar dos resultados dessa soma-múltipla, por quê não? E num ímpeto mais forte que eu, ela já estava lá, a Elis! Bastava apenas compartilhar a idéia... Agora, vem o desfrute. Apreciemos sem moderação!"

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É num misto de êxtase, prazer e fé que trago a vocês a primeira edição dela, de nós: Elis!

Impressionante é notar como temos olhos, mas os olhares jamais são os mesmos. No nosso subúrbio, uns se intimidam, olham com medo, intolerância, curiosidade, tentam viver e vivenciar. Outros, vivem, vêem, ou fingem tudo de forma tão natural que, de repente, entramos no cotidiano de famílias suburbanas desse Brasil.

E as mulheres...Ah, as mulheres! Muitas putas (p.16) brotaram das propostas, umas mais bem resolvidas que outras, umas ácidas, sarcásticas, outras cômicas, sofridas e todas bem-vindas.Mães (p.10) e lavadeiras (p.22) também se juntaram à caminhada, aos montes, cantam e gritam suas dores e alegrias, e têm exaltadas sua reconhecida beleza e encanto.Sentimos muita falta das filhas e médicas suburbanas que parecem ter se ausentado do nosso chamado, uma pena...

Mas, como compensação, recebemos álibis bons,

instigantes. Alguns suburbanos, vividos na pele de retirantes, artistas, escritoras; outros demasiado femininos, nas musas, damas (p.09), caçadoras e até num combinado do tipo três-em-um (p.31), que buscaram traduzir a alma feminina suburbana.Dos textos recebidos, porém, muitos não estavam embasados na temática central desta edição da Revista - o subúrbio; e/ou não exploraram o sentido de viver de Elis - o sagrado feminino.

Todos os textos foram recebidos de peito aberto, analisados conforme os critérios de nossa política editoral e guardados com muito carinho em nossos arquivos.

Eis que a Revista Elis é viva e agora caminha com as

próprias pernas!

Com imenso prazer, apresento-lhes Esse fruto do trabalho de muitos escritores e escritoras - novos, amadores, profissionais, poéticos: apreciem sem moderação!

::editorial Caras Amigas,

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Elis, assim tão irreverente...pode ser uma exigência ao invés de meta. A mulher de hoje está encantada com um modelo de mulher feminista rebelde, que é ao mesmo tempo feminina, fera, é autônoma, é independente, sabe gastar, sabe ganhar, sabe dizer, sabe estar por cima, sabe bem o que é estar por baixo.Essa mulher que não dá chá de colher, que é rosa choque, que por favor, não provoque, essa mulher louca, apaixonada, madame, bem amada por si mesma, ah...essa mulher não é de nada.Essa mulher é o máximo, é de revista, é de papel....não caiu do céu, é potente, mas é fake, é inteligente, a base de Gloss... o que ela quer não é pensar pensar pensar pensar...é ser linda, ser amada, ser alguma coisa que a cubra de olhares, ser desejada, ser respeitada......mas essa mulher não é de nada!!!Ela sai com alguns garotos ao mesmo tempo, ela dança, ela remexe, ela sabe colocar camisinha sem perder o fôlego, sabe discutir sobre ecologia, sabe sobre combate a celulite, sobre transtorno bipolar, manda muitas mensagens por celular, ela não leva adiante esses namoros, seu humor é inconstante, ela engorda mesmo quando come alface, corta o alface,

e come chocolate....de salto alto o pé dói, combina um tênis com mini-saia, pele bronzeada, menina arretada, ela fala palavrão com a boca pintada. Ela já tem 40 mas parece 20, cabelos compridos, toda maquiada, corpo escultural (em que será que ela foi moldada?), faz teatro, canta, nada, trabalha muito para poder investir mais em suas marcas prediletas....O preço das coisas não importa, o que importa é ficar em vantagem....por que afinal, ela não é de nada!!!!Que insistência a minha dizer mal dessa menina tão bem aparentada.....com conta cheia, cama desarrumada, livro aberto na ultima página, é Goethe? Não, é auto-ajuda, é auto-maquiagem, é Vogue, é Caras, é cara dela ficar envergonhada quando lê sobre coisas que não dizem nada....

Essa menina está tão pra frente, é tão guerreira, e é tão vazia, que se sente desamparada, uma plástica a mais pode resolver, uma transa a menos talvez, um amante para o fim de tarde....os homens preferem cerveja neste horário....um pouco de glamour, um reality show, uma novela, arrasar na passarela, serve pelo menos passear no shopping ou postar uma foto nova no facebook......mas continua a menina

Nem toda brincadeira me diverte!!!Fernanda Nocam::ensaio

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sendo ela mesma, com suas questões, um sentimento de vazio, um sentimento de que quer algo, quer ser algo, como se já não o fosse....Ora, embaixo de tanta produção há alguém com coração (perguntou o homem de lata a Dorothy)?Na busca desenfreada ela abandona o chocolate, o pão, e até o alface....é a vez da água.....Mais magra, mais magra, mais magra, o que importa é ver o que há dentro, o que sobra de uma existência baseada no prazer? Sobra um esqueleto e uma sensação dolorida, que se vive as próprias custas...com o pouco de ar que ainda respira.Por outro lado essa menina, muda de idéia.....ela vai as compras. E gasta....e assume para si tudo aquilo que é pensado como belo....ela não sabe mais o que acha belo, aquilo que acreditava ridículo faz parte do seu figurino.....quem é ela?Chateada com tanto exterior, com tanta pintura da fachada, com viver de água, com viver de Daslu, a menina, viaja, e trafega em si mesma, é dolorido, é abafado o espaço que existe entre o que ela é, e o que gostaria de ser, o que é, e o que acredita ser......assim mesmo mergulha para bem dentro de si....leva consigo uma bussola e a chama de liberdade, joga

fora na metade da viagem.....parou com besteira e aboliu as bobagens...bagagens....Ela é uma pessoa, com vagina, e isso a intimida, ser penetrada, falta algo nela? Engravida-se de grandes ideias, passa a transformar o mundo para postar-se nele, penetrar o mundo e ser penetrada pela existência. Suas fotos são de paisagens, fatos, mundos, e ela agora é uma lente, um olhar, sua imagem é uma lembrança de que ela não é outra pessoa, ela tem contorno...se ama assim, separada de tantas identidades vendidas no açougue da mídia....Tem medo de perder-se de novo, tem medo de que essa sensação de simplicidade renda-se logo a alguma necessidade imposta, de ser doutora, de ser gostosa, de ser genial, de ser uma bosta, de ser gentil, de ser fogosa, de ser submissa, de ser poderosa, de ser vítima.....Ela quer apenas, ser Feliz, ou Elis......pelo menos feliz com a sua proposta de ser-se. Por isso mesmo que ela não é de nada.....nem disso...nem daquilo...nem dessa tribo....nem daquela praia....e sendo nada tudo pode ser.

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O véu da noite oprimeas dobras da pele. Mordaça na escuridão essa imprópria vesteainda intocada.Espalho a vozpor dentre o desejogritando-me palavras vãs.Sou prisão,se não me amaramoutro poder.

Dorida Flor

Solitária::dama

Não amaA dor CópulaÉ esmolaNo corpoAlma vaziaPelas mãosArma continhaEsperava vidaQuem nunca foiE morriaVaziaLevezaEra rainhaOs olhosPerdidos de vistaCoraçãoGozo proibidoE de novoA pele fria

Dorida Flor

Mera

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Alguém tem que falar pra esse menino que agora ele calça quarenta e já tem o bigode esboçado na cara. Que ele não pode usar meias com desenhos de bola de basquete. Video game só duas horas por dia e refrigerante dia sim e outro não. Alguém precisa dizer pra esse menino que a toalha tem que ir pro varal e a roupa suja não pra debaixo da cama. Que deve tratar as mulheres com jeito, os cães só com ração e que o interurbano está pela hora da morte. Esse menino já tem idade pra saber que dinheiro não se colhe em árvore, que fumar é proibido e que filmes proibidos continuam proibidos. A cada semana cortar as unhas e a cada mês lavar a garagem. Carro? Sem idade pra isso! Moto? Nem sonhando! Bicicleta? Nem pensar em vender pro vizinho embrulhão que mora na frente. Boné de marca só no sonho, e laptop só na televisão.Esse menino tão marmanjo tem que se arranjar na escola, ter notas exemplares e parar de sujar a barra da calça em dia de garoa. Passar direto ao ver boteco, bordéu, banca de jogo, desmanche de carro, boca de fumo, cambista de ingresso, mendigo suspeito e manifestação política. Passar direto de ano também.

Papo braboMunique Duarte::mãe

Quem vai ensinar pra ele "certas coisas" da vida? Quem vai dizer pra ele que a vida não é fácil, que é mais não do que sim, que o bonzinho pode ser muito mau, o bobo muito esperto e a mulher nem tão mulher assim?Quem vai falar isso tudo pra ele? Quem? Eu? Eu tenho muito o que fazer nesta vida. Lavar, passar, cozinhar, cuidar das crianças, cuidar da casa inteira e da tintura do meu cabelo. Esse menino precisa nascer de novo, parar de almoçar cachorro-quente e não estragar os botões do controle remoto.Vai falar você com ele. Hoje é meu dia de carteado e não tenho hora pra voltar.

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Náusea, nadaPausa, pálidaEntre verões e nuvens turvasAo lado do seu chapéuO tempo passa e paraGardênia prometida e esquecidaTão doces eram seus passos na chegadaEuforiaO relógio dispara e com ele se vãoAmor, paciência, temência, perdãoVestido de noiva empoeiradoQuatro resguardosColchão marcado Móveis gastosBom diaBoa tardeBoa noiteLábios empedradosCulpas guardadasAres sem perguntas, pois perderam a importânciaNão tem problemaA mala está no porãoSó não me leve o dinheiro do mêsResguardo

NáuseaMunique Duarte::mãe

São cincoE sintoQue tudo começou ainda ontem mesmo

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E limpa o quarto, pelo amor de Deus. Hoje de manhã fui arrumar ele e nunca vi tanta roupa jogada em cima da cama. Como é que você consegue? Tem pena da tua mãe, pelo amor de Deus. Pelo menos teu quarto deixa arrumado. Ninguém consegue viver numa sujeira daquelas, Alessandro. Ninguém. Ainda mais agora que a Gisele arranjou emprego de manhã. Foi terça, não, foi segunda que ela me ligou dizendo que agora ela só pode vir um dia por semana e a tarde. Daí já viu, né? Em uma tarde ela não tem condição de arrumar a casa toda. Vai ter que todo mundo ajudar um pouco. Se bem que é até bom, que daí a gente gasta menos com isso, né? Mas vai ter que todo mundo ajudar um pouco. Até teu pai passou um paninho na casa inteira ontem. Verdade. Eu queria chegar em casa agora e dar uma geral na cozinha, mas eu estou tão cansada. Chega por essa hora me dá uma dor nas costas. Acho que vou ver a novela primeiro. Dou uma descansada e depois arrumo a cozinha. Vais sair hoje, filho? Não, né? Acho que teu pai vai. Mas é só aquela voltinha que ele dá, depois já volta. Daí vocês podiam me ajudar lavando a louça enquanto eu arrumo o armário das panelas. Aquilo está uma folia. É tu e teu pai encostar nas

CarmenVirgínia Z.::mãe

panelas que aquele armário fica uma zona. Pelo amor de Deus, como que vocês conseguem ser assim. Eu iria morrer se fosse assim estabanada. Daí a gente chega em casa e tu me ajudas a limpar a cozinha, teu pai podia dar banho no Toby. Ele está imundo. Teu pai já está reclamando que não agüenta mais o cheiro daquele cachorro em cima do sofá. Eu já falei que lugar de cachorro não é no sofá, é lá fora na casinha dele, mas daí ele toma as dores do cachorro e já viu, né? Daí eu chego em casa, dou uma dormida, quando acordar te chamo e a gente arruma a cozinha, e teu pai arruma o Toby. Quarta eu queria dar uma geral na casa, sabe? Porque com meio período só, a Gisele não vai dar conta de limpar direitinho tudo. Como o teu quarto, Alessandro. Tem que levantar a cama, passar aqueles produtos no armário que dá brilho, o computador? Tem que tirar aquele negocinho pra fora e tirar o pó lá atrás, porque a coitada não vai poder ver os detalhes assim, né? Vai mais dar uma limpada por cima. Já falei pro teu pai. Se quiser passear no final de semana, a gente pode passear. Mas antes deixar a casa ajeitada, né? Vai que chega visita no domingo e

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a sala tá aquela zona que tava hoje ao meio dia. Teu pai chega do trabalho e joga cada dia um sapato novo em cima da poltrona. Adivinha se ele tira? Por ele fica a semana toda lá. Já falei que, se ele quiser, a gente muda a sapateira pra sala, pra ser mais confortável pro queridão lá. Agora já falei pra Giseli que ela não precisa mais botar nada no lugar, senão não dá tempo nem de lavar as vidraças. Esses dias, acho que foi na sexta, cheguei na sala e teu pai tinha palitado os dentes e deixado o palito em cima do sofá. Em cima do sofá. Vê se pode uma coisa dessas. Já meti a língua e disse: Não gosto dessas coisas. A Dona Rose tava me falando de um produto que passa, assim, no chão, e fica o brilho por uma semana. Uma semana sem precisar limpar o chão de novo. Se bem que ali em casa eu duvido, né? Tem muito pó. Mas é que a gente deixa muito as janelas abertas, também, daí é normal acumular pó, né? Mas esse produto, ela disse que passou e, na casa dela, ficou uma semana brilhando. Eu queria comprar, só pra testar. Ela inventa um pouco também. Mas se eu comprasse, bem, tu e teu pai iam ter que mudar um pouco, sabe? Não chegar com o tênis cheio de barro e andar pelo piso, não sair molhado do banho correndo

pro quarto, essas coisas que estragam o piso da gente. Não sei se vou comprar não. Muita poeira na nossa casa. Só se teu pai visse tv na sala com a janela fechada. Se ele der banho no Toby duas vezes por semana acho que nem dá de sentir o cheiro do cachorro, daí. Problema vai ser o calor, né? Nossa rua faz calor porque não tem vento. Se tivesse vento ia dar de ficar domingo a tarde vendo tv ali. Odeio ficar na varanda no domingo, os vizinhos ali da frente ficam reparando na gente. Esses dias eu vi como aquela pequena que usa sempre o short curto ficou caçoando do teu pai. Mas também. Teu pai vive arrotando ali fora. Pensa que os vizinhos não ouvem. Ouvem tudo, meu filho, ouvem tudinho. Será que ainda tem pão em casa? Acho que vai ter que passar no mercado e comprar. Se bem que eu to tão cansada. Podias botar o Toby na coleira e ir a pé no mercado, né Alessandro? Assim a mãe podia descansar, vendo a novela, enquanto tu compravas o pão. Daí tens que lembrar de comprar leite também. E margarina, acho que aquela está acabando. Daí, lá perto do pão, tem sempre uma prateleira cheia de uns bolinhos, sabe? Aqueles que o mercado mesmo

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faz. Sabe, Alessandro? Se tiver um com caldinha de maracujá por cima, podes trazer também. Mas só se tiver aquela caldinha de maracujá com as sementinhas. É tão gostoso aquele bolo. Se bem que sempre dá sujeira, tu e teu pai comendo em cima do sofá. O Toby que se esbanja com tanta migalha lá em cima. Quer saber? Não traz o bolo, não. A gente tá gordo que chega, já. Chega de tanta comida... comilança. Traz só o pão. Se tiver aquele pão mais escurinho, de forma, com sementes em cima, pode ser daquele. Compra também uns pães franceses porque teu pai reclama se só tiver pão de forma. Não esquece do leite, se tu for depois passear com o Toby e passar no mercado pra mãe. Meu Deus o horário com a costureira. Eu era obrigada a passar lá hoje pra ver o vestido que mandei fazer pro casamento da Gerusa. Já fosse atrás de algum amigo teu que tenha terno? Aposto que não, né? Mas já falei com uma amiga da mãe, lá do trabalho, e ela disse que o terno do filho dela pode ser que sirva. Ele é mais magro, mas é mais largo, também. Vamos ver, né? Até que enfim eu chego em casa e ainda tem vaga nesse estacionamento, né? A Dona Lina sempre

estaciona aquela porcaria daquele fusca na minha vaga, mas a mãe tem dó de reclamar, né? Ajuda a mãe a trazer esses panos, depois. Tá chorando, filho? Que aconteceu? Pára de chorar, Alessandro. Ajuda a mãe que passa.

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O rosto imberbe do filhosobre o seio já murchosugados leite e sanguepelas agruras do temponum tempo de agruras.As feridas sangram as almasalma que se esvaicom a vida adolescentealma de mãe - ressequida alma -que embrutescee penetra-lhe mais e maiso corpo alquebrado.

Dor maior de mãemãe de um de menor...

Pietá do MorroAriadne, a Louca

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Pinapoly(especial)::puta

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Desceu do ônibus um pouco antes do sol raiar, o bairro ainda mergulhado num silêncio sepulcral. Começou a andar devagar, o salto fazendo um barulho irritante na calçada velha. Daqui a pouco vai ter chefe de família engravatado indo para o trabalho e aquelas velhacas de véu a caminho da missa. Mas por enquanto a rua era só dela e dos vagabundos. Andava sem medo, nada poderia lhe acontecer. Não havia mal maior do que sua vida. Há menos de uma hora saíra de um muquifo rançoso no centro da cidade. Bons tempos aqueles em que desfilava pelo calçadão de Copacabana... Mas agora, o peito já meio murcho, a bunda caindo, não dava mais pra escolher. Lembrou-se da ruiva novinha que chegou na Casa outro dia. Aquela estória de musculação dava certo mesmo? As menininhas viviam na academia... ela tinha dúvidas se compensava tanto esforço e suor. Então lembrou que tinha que tomar o coquetel quando chegasse em casa e deixou escapar um suspiro que subiu quente e aveludado como fumaça de cigarro. Talvez não tomasse. Talvez fosse melhor assim. Talvez não precisasse se preocupar com a bunda, enfim... O barulho do salto ainda a irritava. Segurou-

Justiça tortaValeska Aguiar::puta

se num poste e arrancou as sandálias. Naquele vestidinho florido até parecia uma mulher descente, mas não precisava sofrer pra manter a pose. E não tinha vergonha de quem era. Voltava pra casa com um dinheiro minguado mas ganho honestamente. Pensou em especial na última nota de cinquenta, largada com má vontade sobre o criado mudo. O cretino tinha deixado quase metade do que ela cobrava. Antigamente eles lhe davam até mais do que pedia. E eram mais gentis também. Agora só pegava esses porcos que achavam de fazer com ela o que tinham vontade e depois atiravam o dinheiro na cara, como uma ofensa. Sentiam tesão até nisso, aqueles sujos que durante o dia se travestiam de pais de família. Como se isso fosse alguma grande coisa... pais de família... fugiu de casa com quatorze por causa dos abusos do seu. E passou a vida sendo abusada por outros. Esse não era diferente. Arrancou sua roupa com violência, fez com ela tudo o que não tinha coragem de fazer com a esposa, aquela santa nojenta que, provavelmente, só abria as pernas pra fazer filho. E quando ela o lembrou da camisinha o calhorda riu, apertou seu pescoço até quase sufocar e meteu

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fundo. Gonorréia, herpes, cancro mole... já devia ter pego todas as doenças venéreas de nojentos como esse. Todos se achando super-homens, alguns felizes em lhe dar alguma doença de presente. Sorriu maliciosamente pensando com nojo no imbecil sobre ela, resfolegando e suando como um animal. Quem disse que essa vida era fácil? Mas agora até que tinha um lado bom. E ela nem tinha culpa, o chauvinista não se preveniu porque não quis. Ultimamente era essa a sua vingança. Esse o prazer que a mantinha. Antes até pensava em aposentadoria, mas parar justo agora, quando finalmente se divertia? Não. A justiça sempre foi uma coisa muito torta, pensou. Agora eu distribuo a minha, sussurrou entre dentes enquanto apertava carinhosamente o ventre pensando no vírus com o carinho de quem espera um filho.

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Daí eu pensei em vender Natura, mas pra isso eu precisava comprar aquele estojinho, sabe? E eu não tinha condições de comprar o estojinho porque eu queria o emprego justamente porque eu estava sem grana nenhuma. Pensei também em vender aqueles iogurtes do tipo Top Term, mas tinha que comprar os ingredientes, os lactobacilos vivos, aquela coisa toda. Eu fiquei pensando: meu Deus, o que eu posso fazer sem precisar gastar com fabricação, com estojinho? Sabe quando rola aqueles estalos do tipo: Eureka? No outro dia eu era puta.O engraçado é que nunca me passou pela cabeça que o que eu fazia era errado. Eu achava um pouco incômodo. Estranho. Normal, né? Parando para analisar, era alguém que eu não conhecia, dentro de uma parte minha que eu conhecia menos ainda. Eram dois estranhos dentro de mim e eu lá, parada. Não que, ás vezes, eu não gostasse, isso é mito. Tive experiências prazerosíssimas no ramo. Mas na maior parte das vezes eu ficava lá, parada, quieta, ganhava meu dinheiro e ia embora. Pode até parecer patético da minha parte, mas, por exemplo, eu nunca tive uma banheira. É até engraçado, logo eu, dizer isso, porque eu vim de uma

neide.Virgínia Z.::puta

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uma culpa. Uma tristeza que eu não sabia de onde começava, mas que parecia que vinha do pé e subia até a garganta. Tentei procurar outras coisas pra fazer, mas sempre que você se candidata, no meio da entrevista, tem aquele espaço em branco que diz: profissão anterior. Eu olho aquele espacinho e saio da sala. E eu sempre roubo a caneta. Ontem fui buscar meu filho na escola e um cliente meu estava parado na porta da sala do lado, buscando uma menina bonita, do cabelo cacheadinho. Ele me olhou como se fosse um crime eu buscar meu filho naquela escola. Eu o busco quantas vezes achar que devo, busco na faculdade se quiser (e ele deixar). Ele vai ser advogado, juiz, pra ser mais precisa. E eu não vou dar a mínima pra quando o povo dizer que ele é um "grandessíssimo filho da puta".

cidade não muito grande, mas de onde banheira era um luxo igual casa na praia. Então eu não tive banheira, tive daquelas duchas que só tem verão e inverno. E eu achava o máximo deitar naquelas banheiras enormes quando um cliente me levava pro motel. Eu me sentia mulher. Uma daquelas loiras do olho claro que se deitam na banheira como se não existisse nada pra fazer. Nenhuma louça pra lavar, roupa pra deixar tomando sol, nada. Elas simplesmente deitam e se lavam. Um banho desses lava até a alma, se perguntarem pra mim. Mas ninguém nunca pergunta. É engraçado. Às vezes estou andando pelo calçadão e para um corno qualquer e pergunta: de onde veio essa beleza toda, hein vagaba? Eu digo: do Acre. Eles somem. Pode parecer vaidade, mas ali nua em cima de uma cama, com um homem embaixo de mim, eu me sentia boa em alguma coisa. E não um bom cheio de pecado, cheio de pudor, como achava meu ex-marido, o Clóvis. Não. Um bom, bom. Meu corpo era apenas bom. Eu colocava a roupa e a sensação no momento passava, mas aqueles trinta minutos na cama me visitavam a semana toda. Eu tentei parar. Um dia acordei e me bateu

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Sente um aperto no coração diante do homem esquálido, olhos arregalados a boca entreaberta. Era amante, deixou de ser. A morte e a vulnerabilidade do corpo. Chama a enfermeira, ela examina daqui e dali, O doutor, já vem - diz. Enquanto espera, a brisa invade suas vestes. Recompõem-se. Se tivesse prestado atenção, ela bem que avisou. Ele: Benzinho, cerveja é cerveja. O doutor e o olhar preciso, além das lentes, Hum... Não fala, ela já sabia. Maldita sorte. Não chora. Não consegue se condoer por ele. A mulher dele deve vir grudada com os filhos. Não. Segue o pensamento nele. Não há amor, nem ódio. Quer do veneno que o levou. Sente uma leve tontura. A enfermeira vai buscar um copo d'água, o doutor a retém pelo braço. Senta-a na cadeira ao lado do corpo ainda morno - triste. Pensa nas crianças, menino com oito e menina com cinco. Um a cara dele, outro a simbiose dele com a mulher. A brisa e o desatino, Que horas são? Três e quinze, responde o médico. Abraça o corpo pouco febril do amante. A água. Nem bebida nem consideração. Se não voltasse para ela, se esquecesse àquela mulher sem eira nem beira, os cabelos despenteados de tanto

AprisionadosMaria Maria::puta

amar, pernas grossas, toda ela redonda, farta. Bebe da água e sente o veneno enodoando seu corpo. Obrigada. Tinha que ter agilidade na direção, para chegar rápido em casa, para não alimentar suspeitas. Naquele dia encontrou uma árvore no caminho de volta para casa. Está pálida. O doutor pesca as palavras. Quero ir embora. Ele sugere repouso. Examina-a, olha além de seus olhos e dispara: Avisaremos quando o corpo do seu marido for liberado.

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Quando seu pai a abandonou, menina nova saiu de casa para sustentar o lar e cuidar da mãe, ou vice-versa. Aprendeu ser lavadeira na casa de senhora que a ensinou outras coisas mais do que apenas tanques e sabão. Além de secar as roupas ao sol, menina aprendeu a secar as próprias lágrimas, entre as humilhações da patroa que dizia guria fazer tudo errado. Aprendeu matemática mesmo tendo largado tão cedo a escola, quando se dividiu em duas, para dar conta das obrigações da vida e dar atenção à sua mãe doente. Aprendeu que os domingos não eram como o padre lá do bairro dizia, guardado para festas ou um cadinho que seja de descanso, mas antes mais um dia comum de trabalho. Aprendeu menina a gostar da noite, quando sozinha voltava pelas ruas na madrugada, sem dinheiro pra pagar a condução. Aprendeu que ter doença só serve pra diminuir o seu salário e ouvir mais broncas. Aprendeu também menina, entre os amargos da vida, lavar a Alma com as gentilezas que ao longo do dia se apercebia, passar ao largo da tristeza quando esta chamava seu nome, costurar sorrisos na boca e no coração. Pela varanda sabia do mundo; entre o imundo sabia sua luz. Menina fazia hora-extra para ser feliz.

A Lavadeira.Florisbela

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Inspirou-se nela:Anos e Danosde amor a eleEm troca: roupa suja.

A filha mais velhaPreferiu o lucro abriu uma lavanderia:Dona Maria- homenagem a mãe.

Saindo do subúrbioDona Maria::lavadeira

Mulher ajoelhada na pedraManga arregaçada, coxa descoberta.No mexe e remexe ela cria sua dança,A roupa suja a acompanha:Lava...Lava, esfrega,Esfrega , lava, esfrega.Enxágua...Enxágua, esfrega, Esfrega , enxágua, esfrega.E a tarde inteira se vai no mesmo ritmo:Mulher e roupa dançam à beira do subúrbio.

Outra mulher traz a roupa E joga numa caixa fria e oca.Máquina ligada na tomada,Com sabão em pó e alvejante. Batidas mecânicas,Ritmo sem beleza.Tudo ficará pronto num instante!Basta apertar um botão.

LavadeirasDona Maria

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O rio que cantaO rio que cresceMaldito rio que me vê apodrecê

O rio inchôComo meu buchoE em lua cheialevô o pai

A menina nasceu órfãdum e d'otraabandoneipelo ralo do barraco.

Peito apertadolancei feito oferendaa prenda do desgostoe lavei rosto com as ropaágua e sabão.

.alma.a.quarar.Magnólia Reis::lavadeira

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Cleonice: Roupa suja se lava em casa.

Creuza: Não! Roupa suja se lava na rua.Tem tanta luta pública, tanto movimento, passeata, assentamento.Tem muita roupa suja de sangue sendo lavada em lavanderia Express.O negócio funciona assim: à luz do dia, um homem de terno e gravata chega com sua cesta, retira uma ficha, coloca na máquina as roupas sujas, algumas já muito antigas, senta, pega uma revista, uma xícara de café e um cigarro e lava tudo publicamente, paga uma quantia ínfima e sai com tudo limpinho, dobrado. Toda semana é assim e o pior é que a roupa suja é lavada na rua, bem debaixo da nossa fuça.

Cleonice: Entendi. E a gente se faz de besta, fica de olho só na nossa cesta.É. Lavanderia é coisa de gente fina, gente que não suja a mão, prefere pagar pra outro lavar.

Creuza: Sabia que tem gente que lava também dinheiro, abrindo bingo, creche, escola de samba, igreja e até puteiro?

Roupa suja se lava na ruaCreuza::lavadeira

Cleonice: Dinheiro sujo me dá medo.

Creuza: Não quer sujar as mãos?Então, lave a roupa suja por causa justa.Escolha suas armas, mas de preferência bote a mão na massa.Roupa suja, roupa pública.Não lave as mãos.

Cleonice: A não ser que seja pra evitar a contaminação. Creuza: Esteja com as mãos limpas e a consciência tranquila. Se for preciso, faça a revolução, lavando a roupa suja da corrupção. Eu aprendi isso a duras penas. Quando meus filhos eram pequenos, a gente morava num bairro próximo a uma rodovia de pista larga, perigosa e pra levar as crianças pra escola que ficava do outro lado, era muito arriscado. Então a gente se revesava. É, porque tudo que era mãe trabalhava. Um dia tava eu na beira da estrada com a garotada, quando Edmilson, meu afilhado, filho da comadre Lurdes, desenbestou a correr atrás de uma pipa.

(Diálogo para Creuza e Cleonice)

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Cleonice: Não diga?

Creuza: Maldita, veio o caminhão, se eu pudesse parava ele com a mão, ai meu coração, o caminhão, o menino caido no chão, morreu na hora, o anjinho, 9 anos.

Cleonice: Tadinho.

Creuza: Foi o velório mais triste que eu já vi na vida. A comadre teve que tomar uma bomba na veia, acompanhou o cortejo dopada.

Cleonice: Coitada.

Creuza: A dor a era tanta que a gente achava que ela ia se enterra debaixo da terra junto com ele.Mas sabe o que é isso?

Cleonice: Destino.

Creuza: Não. Isso é descaso. A gente já tinha feito tanto abaixo assinado, pra botar passarela, lombada, farol, qualquer merda pra garantir a segurança da garotada. Mas dessa vez a gente não foi civilizada,

nós rodamos a baiana.

Cleonice: Bacana.

Creuza: Tudo quanto é mãe se reuniu na beira da estrada e fizemos uma fogueira que ardia e de longe se via. Queimamos pneu, colchão, estrado de cama, caixote de feira e um monte de tranqueira. Cada mãe que surgia trazia uma tralha a almentar a fumaça.

Cleonice: Que desgraça.

Creuza: O céu ficou preto, fizemos não sei quantos quilômetros de engarrafamento. Peitamos de frente um bando de caminhoneiro metido a machão, a gente deitava no chão e se fingia de morta. A gente tava morta. "Vai passa encima, passa encima se tu é homem". Baixou polícia, corpo de bombeiro, repórter.

Cleonice: Repórter?

Creuza: Eu dei até entrevista, meti bronca, botei a boca no trombone. Deu no rádio, no jornal, na televisão.

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Cleonice: Televisão?

Creuza: Não demorou muito, a passarela tava lá, teve inauguração, com direito a discurso, rojão, uma pataquada, uma conversa fiada e no meio daquela confusão eu fiz o meu minuto de silêncio, de saudade, de revolta, aprendi a lição.Não se pode esconder a roupa suja dentro da gaveta,

Cleonice: Ela pode criar fungo, mofar, pode empestear nosso lar.

Creuza: Se há algo de podre no reino da nossa casa, de nosso bairro, cidade, país, a gente não pode perder tempo - avante!

Cleonice: Eu convoco os responsáveis e boto todo mundo em torno do tanque.

Creuza: E esteja certa de que a tarefa foi concluída e de que não restou nem um resíduo, nenhum resquício das nojeiras que fedem e poluem nossas lutas mais verdadeiras.Pelotão! Escovão na mão! Preparar. Apontar.

Cleonice: Fogo!Ops! Quero dizer. Água neles!

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Fiode cabelocaicomo caina vida,aturdida.

Fioum vestido novoum tecido novoparao dia branco.

Fiopor aí vaino mundo vainascidodesgostoso.

::senhora

Fiode cabelocaicomo caemmeus dias,brancos.

Fioum tecido novoum vestido novoparanova vida.

Fiopor aí vaino mundo vaifugidomonstruoso.

.errante.linha.Magnólia Reis

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No porta malas. O Ademar está morto no porta malas. Calma, não fui eu quem o matou. Eu só o trouxe aqui para provar o fraque.As moças me olham de lado. Essas mocinhas aí de vinte e pouquíssimos anos, peitinhos durinhos, balconistas. Já devem ter chamado a polícia por estas horas, assim que me viram abrir o porta malas para tirar algumas medidas que faltavam. A família dele também já deve tê-los acionado.Eu estava desesperada. Mulher quando passa dos quarenta e não casou, dizem que o ventre seca. Meu sonho é ter um filho. Mas filho de pai mesmo. Filho de vidrinho pouco me interessa. Eu tinha quarenta e três. Conheci o Ademar.Ele é pouco bonito, pouco atraente, pouquíssimo inteligente. Deus sabe que eu não estava em posição de exigir grande coisa, pois se há algo de terrível neste mundo, este algo é uma mulher solteira. Velha e solteira.Marcamos o casamento três meses depois da primeira noite. Estou com tudo pronto, pode conferir. Velas, flores, vestido, salão, suspensório e o fraque. Tudo conforme manda a tradição. Ontem, durante o trabalho, me bateu uma alegria súbita que há tempos

MarliVirgínia Z.::louca

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mil. Se vivesse até os oitenta (eu chuto por baixo) seriam mais de vinte e nove mil. Destes vinte e nove, Ademar escolhe morrer ontem. Um dia antes do casamento que eu planejo desde que ganhei minha boneca noiva. Dizem que a vida é uma loteria. Touché.A família dele. Ah, a família dele. Belo consolo que me ofereceram nesta madrugada. A gente leva a comida e as bebidas pro velório uma ova. Desculpem se pareço demasiada egoísta, mas a celebração é minha. A celebração é nossa. Eu vou entrar na igreja, de um jeito ou de outro.Você deve se perguntar se eu estou respeitando a vontade do morto. O morto, rufem os tambores, está morto. Morto. E a vontade da viva, ninguém vai respeitar, meu bom Deus? Eu acredito que se Ademar tivesse que escolher, ele escolheria não estar morto. Não estando morto, casaríamos no dia de hoje.Eu pago o fraque, pego ele sobre meu braço direito, ergo e saio triunfante. No caminho, jogo um pequeno buquê no chão da loja. As meninas dos peitos duros olham aterrorizadas e tentam se esconder no provador. Eu olho por cima do ombro, sorrio um pouco, entre uma risadinha forçada digo: quem pegar o buquê é a próxima a casar.

eu não sentia. Uma vontade incrível. Era como se eu fosse chegar em casa e a minha vida de mulher casada começaria em instantes. Eu estava noiva. Noiva, feliz e, finalmente, magra. Chego em casa, abro a porta e vejo o Ademar. Morto. No chão. Durinho. Só para me provocar: com um sorriso na cara.Eu sou viúva antes mesmo do casamento. E não uma viúva honrada, dessas que batem no peito e dizem "O Alessandro era bombeiro, morreu salvando oito criancinhas de um incêndio no centro". Tampouco sou o tipo de noiva "O Carlos era um ótimo homem. Morreu de câncer no cérebro, tadinho. Tinha 28 anos". Ademar morreu de ataque cardíaco comendo um pacote de sonho de valsa. Eu não sou uma viúva digna de pena.Entendam minha amargura. Três dias atrás, num ataque fulminante de romantismo inédito, Ademar me olhou e disse: Amor, promete que nosso amor durará para sempre? Que nenhum de nós jamais se encontrará com outra pessoa? O que eu poderia dizer? Eu era noiva. Eu disse um grande, gordo e ácido: sim. Desculpem pelo uso da palavra, mas eu quero que karma se foda.Existem trezentos e sessenta e cinco dias em um ano. Eu, com quarenta e quatro, já vivi cerca de dezesseis

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1. VERONICA

Tive pena daquela criatura, quase um homem, quase um ser vivo.

Quase morto.

Tive pena porque era um espetáculo vil. Sempre era vil. As pessoas parecem ter prazer na crueldade, em ver o sofrimento alheio.

E eu, quem sou? Não sou alguém. Era, no máximo, a mulher no meio do caminho. Sempre estive a caminho de algo. Vertia meu sangue e ninguém me notava. Não era importante e tampouco ameaçava o Estado. Seria estranho se alguém me notasse.

Ele estava ali, carregando aquele madeiro pesado. Chicoteado e escarrado por quê? Por que podia mais do que eu ou do que você que lê? Diziam que ele era maluco, que iria causar uma revolução e derrubar toda a estrutura do que havia no mundo.

Quem tem o poder sempre tem medo de cair, né?

Três mulheres: mistérios nos subúrbios do mundo e do sentirWeronika Kieslowski::álibi

Mas nem ligo pra esses. Apenas a crueldade de tudo me faz chorar.

Era insuportável. Tive que levar a toalha e sair do meio da multidão dos sem identidade. Uns piedosos, como eu - principalmente mulheres -, outros escarnecedores. Tive ódio e quis pisar em seus calos. Fiz melhor: avancei por entre a multidão, pus-me ao seu lado em seu caminho e limpei a face daquele homem que mal tinha uma expressão naquele momento. Não era justo nem digno. Se pudesse, recebê-lo-ia em meu seio e o protegeria do sarcasmo, dos risos repletos de maldade, das cusparadas e golpes que recebia.

De mim, ele receberia o amor que merece. Caminharia com ele apenas, se pudesse salvá-lo. E, no entanto, ele é quem me salvou. Porque já estaria morta agora, se continuasse a deixar meu sangue pelos caminhos.

Foi apenas um toque.

Vivi e hoje tenho aquela face gravada. Vocês acreditam em milagres? Pois só aqui foram dois. Nem vou dizer outra coisa. Sei que vai parecer muito absurdo pra

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vocês. Pra mim também é absurdo, mas sei o que aconteceu. Depois, quando o homem morria, pregado ao madeiro, ainda vi o céu tão estranho, preenchido por tantas cores, que parecia que o mundo ia acabar. Parecia um lamento de morte e era. A cada minuto o mundo morria de crueldade.

Deixo que os outros digam, porque cada vez mais se fala no nome daquele homem, que nem sei se era maluco como diziam antes. Agora dizem que ele era mágico. Mas morria como um bandido entre bandidos; como um porco retirado do chiqueiro.

"Filho do Pai", ele dizia. Parece que falava em palavras de amor e de guerra. Que iria causar mesmo uma revolução. Falava de cidades que arderiam em chamas. E que muitas coisas iriam acontecer à humanidade de agora e do futuro. Mas seu reino não era desse mundo, era também o que se ouvia falar dele. Falaram até que o viram subir para o céu na companhia de anjos. Loucura tudo isso?

[Pausa para olhar para o céu]

Não sei dessas coisas. Tenho só este mundo para viver. Mas gostei de não precisar mais perder sangue como era antes. Tenho o sangue dele em minha toalha. Coitado...

Tive tanta pena...

2. A SEM NOME E SEM SALVAÇÃO

Não tive pena. Esbofeteei aquele cara e esmaguei o saco dele. Pensando o quê? Se deixasse, era ele quem vinha pra cima de mim.

Saí correndo daquela pocilga onde estávamos, peguei um táxi e agora estou aqui. Tarado filho da puta.

Tá bom, eu sei, a puta sou eu, mas ele não é meu filho nem gigolô pra querer me explorar. Já basta eu mal ter esse quarto aqui, no cu do mundo, pra poder dormir. Você tem pó? Tô precisando, pra aguentar essa merda toda. Não é porque eu ganho a vida com a buceta que qualquer um pode se apropriar dela como quiser. Até puta quer dignidade.

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Fazer a vida na rua é foda, amiga, você sabe. Quantas vezes nós estivemos na corda bamba? Quantas vezes quiseram fuder você? Ao menos, você tem um caralho no meio das pernas. Se fosse só o sexo... ah ah ah! Cadê o pó, seu traveco de merda? Já te pedi no outro parágrafo.

Olha, essa vida tá ficando cada dia mais difícil. Se ao menos me dessem um trampo de caixa num supermercado, mas ah... eu não ia aguentar aquele tédio. A exploração também existe ali e nem é divertido. Trampo decente, trampo decente... trampo decente as minhas bolas, que eu nem tenho! Ah ah ah!

[Pausa para o pó]

Porque a gente se diverte com alguns carinhas, pelo menos, né? Eu me mato de rir, por dentro, quando vem menino que nem sabe fazer as coisas direito. Mas eles têm que aprender, né? Até curto ensinar. Seria uma boa professora, ó. Dar aula de educação sexual pra pivetada... ah ah ah! Ia dar muito. Você não? Ei,

ficou alguma coisa no meu nariz? Olha direitinho, que eu não gosto que sobra nada.Agora, sim. Tô legal, tô ligadona. Nessa vida, a gente tem que estar ligada, mulher. Mas também até que tem uns caras gentis, que respeitam a gente. Pode até ser feio, ter barriga, faltar dente. Só não gosto de homem que cheira mal e de homem que bate na gente. Daí eu boto pra correr. Ou ele ou eu. Tô ligada, amiga.

Tenho medo de homem, não. Sabe do que tenho medo? De ficar velha e ninguém mais me querer. Hoje eu tenho o corpo em cima, sou gostosona. Pega aqui nos meus peitos, ó. Não te dá vontade, não, viado? Até você fica a fim, não é? Sou gostosa pacas, meu! Ah ah ah! Mas e depois? Depois é só o fim do mundo... preferia morrer. Mas não na mão de homem.

Homem tem é que penar com mulher. Tem que ser tudo corno. Por que eles corneiam mesmo, né? Tirando um ou outro...

Faz outra carreira aí pra mim, vai. Tem pena de mim. Não vê que eu tô morrendo?

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3. A MOÇA NO APARTAMENTO

Eu, neste apartamento, meu cubículo suburbano, neste domingo chuvoso e de folga. Isolada, da janela vi torrentes de água na rua intransitável. Nada que possa fazer. Sozinha hoje, anseio meu amor. Na impossibilidade, devaneio.

Entre essas duas mulheres que vêm de assalto à minha mente, há tantas outras:

Mulher mãe, mulher esposa.

Mulher com medo. Mulher que trabalha feito homem. Que trabalha mais que homem. Que nada faz: só cara de paisagem.

Mulher com corpo sarado, mulher relaxada.

Mulher rainha. Princesa, sonhadora. Realista. Pessimista.

Mulher que canta. Que escreve. Mulher poeta.

Mulher quase santa, quase puta. Mulher na cama, no fogão.

Mulher que sai do subúrbio para o centro.

Mulher em casa de suruba. Que sabe gozar. Mulher que nunca goza.

Mulher com juízo, mulher louca.

Mulher nascendo.Florescendo.Morrendo.

Eu, mulher.

Escrevo sem pausas e tenho pavor. Compaixão. Amor. E sou, tão somente, mulher como tantas, inserida entre rótulos do que é ser mulher, assumindo meu papel de jovem e modesta jornalista, meu não rosto. Com minhas unhas, arranho a superfície do mistério dessas mulheres. Meu mistério, também. De tudo, sei que existo e tenho o dom de fazer existir.

Da minha simplicidade e limitação, recrio dois perfis de mulheres. Admiro-as e sou capaz de amá-las. Invejo-as. Estou no subúrbio de seu exercício de ser em cada linha, incapaz de consolar o Cristo e da valentia da que não tem salvação.

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Desespero-me com esta chuva, a imobilidade que ela traz. Minha mente viaja enquanto meu corpo fica imóvel, depositado na cadeira frente à escrivaninha do meu quarto pouco iluminado por opção. Enlouqueço de existir e criar. Você, que está tão longe agora, pode me dar sua mão? Ajuda-me, meu homem, meu amor, a ser mais mulher?

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Ani Almeida é comunicóloga e poetisa com pretensões de escritora iniciante. É também a idealizadora e editora da Revista [email protected]

Tammy Almeida é arquiteta e sonhadora

::participação especial::

Fernanda Nocam é Atriz, psicóloga clínica, doutora em saúde [email protected]

Pinapoly, um livro virtual de:

Adriana Azenha e Renata Polydorohttp://www.youblisher.com/p/152094-Pinapoly-Gestos-e-Palavreados/

créditos

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Ariadne Louca é Francisco FerreiraPoeta e contista do interior de Minas Gerais, alguns prêmios literários, umas participações em antologias e dois ou três livros em compasso de espera para serem [email protected]

Creuza é Adriana AzenhaAtriz, dramaturga e diretora de teatro. Autora dos espetáculos: A Bomba Anatômica, Jejum-no suor do teu rosto comerás o teu pão torradinho, A Mãe d'Ele, Lavadeiras da Memória, Garden Now e O Miolo da Missiva. É diretora da Cia Azenha de Teatro, onde desenvolve projetos de pesquisa de linguagem cênica em caráter permanente.www.azenhadeteatro.com.br | [email protected]

Dona Maria é Daniele Souza FreitasNatural de Criciúma, Santa Catarina. Formada em Letras, Daniele é professora de Língua Potuguesa. Conquistou vários prêmios literários, dentre eles o terceiro lugar no TOC 140 - poesia no twitter organizado pela FLIPORTO. Interessada na área da literatura digital desenvolveu um estudo monográfico sobre Twitteratura e participou da organização dos primeiros saraus literários no twitter.www.imaginacaoemacao.blogspot.com | [email protected]

Dorida Flor é Leonardo Valesi ValentePoeta, terapeuta de formação, dedica-se ao postulado da ausência - seu meio de produção de linguagem e estética perante o vazio da vida, esse tão intransponível de se dizer. Radicado em Montes Claros / MG. Organizador do Coletivo Revolucionário.www.lioh.arteblog.com.br | [email protected]

créditos

Florisbela é Guilherme C. AntunesSommelier de groselha, alvissareiro, poeta e farsante. Sinestésico e musical. Buscador, contraditório, intenso. Vasto...www.arkhipelago.blogspot.com | [email protected]

Magnólia Reis é Ani AlmeidaPoetisa paulista com pretensões de escritora iniciante, tem mil textos começados. Publicou, independente e artesanal, Uma Simples Coletânea a Uma Pessoa Rara em 2009, além de colaborações com algumas Revistas Literárias.www.lunaticapoesia.blogspot.com | [email protected]

Maria Maria é Cláudia de Andrade Aurelio Curcio31 anos, é natural da cidade de Esteio/RS. Escrevendo a mais de uma década tem algumas premiações em concursos literários. Formou-se em Letras em 2004. Em 2001 cursou Oficina de Criação Literária com Luiz Antonio de Assis Brasil. Atualmente participa do grupo Reinações, coordenado pelo escritor Caio Ritter.www.claudiacurcio.com.br | [email protected]

Munique Duarte é Munique Alvim DuarteNasceu e vive em Santos Dumont-MG. É jornalista responsável pelas publicações de quatro sindicatos em Juiz de Fora-MG. Já colaborou n'O BULE, Sobrecapa Literal, Escrita Criativa (Portugal), Revista Diversos Afins, Jornal Opção e Jornal Relevo.www.textosimperdoaveis.blogspot.com | [email protected]

autores desta edição

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Valeska Aguiar é glohlopes (assim mesmo, em minúsculas)Nasceu em Guaratinguetá-SP. Passou a vida se escondendo pelo mundo. Há sete anos aderiu à Aldeia Global e fixou residência em São Paulo. É psicóloga não praticante, empresária falida, artista amadora. Viciada em internet, freecell e balas de hortelã. Detesta filmes de terror, violência e a nova reforma ortográfica.www.glohlopes.com | [email protected]

Virgínia Z. é Rafael ZenPublicitário, participa de projetos nas áreas da literatura, dança, artes visuais e fotografia. Os poemas aqui publicados são inéditos e pertencem a um projeto intitulado "Não deixamos sementes".www.rafikizen.blogspot.com | [email protected]

Weronika Kieslowski é Alessandro de PaulaProsador e poeta paulistano, Alessandro de Paula é o cara por trás (opa!) de Weronika Kieslowski. Admirador de cinema europeu, razão pela qual o pseudônimo lhe pareceu natural. Aos 38 anos, sobrevive de revisar textos para editoras e agências de marketing. Como poeta, lançou o livro Palavra Atômica (2003), esgotado, e faz parte do Coletivo Revolucionário, grupo que promove saraus de poesia no Twitter.www.coletivorevolucionario.blogspot.com

www.comalma.tumblr.com

www.boulevardocine.blogspot.com | [email protected]

créditosimagensautores desta edição

::capa::Sem título da série SubúrbioBruno Veiga::foto

::09::Senhora CobalteCeline Michel::pintura

::12::Sem título, in: Série PROCURA-SE: Boa Dona de CasaJussara Romão::desenho

::15::Lembrança de pai e mãeHélder Oliveira::pintura

::16::Periférica, in: PinapolyRenata Polydoro::ilustração

::19::A ProstitutaFao Carreira::desenho

::22::Sem título, in Releituras das Lavadeiras de Mário ZaniniIalê Cardoso::desenho

::24::A LavadeiraGabriel Antônio Serpa de Magalhães::xilogravura

::28::Sem títuloAutoria desconhecida::desenho

::29::Noiva NeuróticaRenata Cabral::escultura

::36::SUBÚRBIO 2André de Miranda::xilogravura