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Revista Literária

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OS ÓRFÃOS DA ORPHANDADE

JONES S. CUSTÓDIO

LITERATURA DE MANICÔMIO

Balbucio:

a árvore mastiga o armário,eu sinto provérbio, matoe me estrangulo, a planta , carnívora e o medo

– sapo vitória-régia com a cidade –

tudo cresce

e o tempero das coisas concisascom sentimentospulos de vidasgatos de 7 delasbalas de morangoa infância acende alguém.

Nicola Gonzaga

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Jones S. Custódio

os possessivos me transtornamelas me mentem

- as sensações, todas, afogadas num copo de vinho. - tinto.seco.

reticências me dão pluraisentrelinhas me escrevem.

a liberdade da formaa idade da pedra:

antepassados me habitamfuturos cicatrizam

- femininos me engolem- femininos me vestem- femininos me despem

além.

Nicola Gonzaga

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(...) Tomo um café pra afugentar o sono. Aula de sintaxe pra entender a estrutura. Chuva lá fora pra molhar os desprevenidos. Argumento externo depende do verbo. Sentença agramatical denominada vida. Insanidade temporária pra apagar uma ilusão. Dor no ponto do dente que não existe mais. Árvores que se formam pra revelar Deep Structure. Frases sem nexo pra dispersar a atenção e encobrir o pensamento que não vale a pena revelar. Eu sou a Maria! Eu não tenho caso. Maria sempre muda para algum spec. O verbo desejar é inacusativo e não dá caso pra Maria. O verbo parecer faz Maria flutuar sem caso pro spec do IP. Eu não entendo nada desses casos de desejo e de parecer...

Carla Mello

Mundo Azul

Ele estava cansado, em sua camisa várias manchas de suor, parecia um inferno lá fora. Seus passos gordos eram suavizados pelo carpete macio. Jogou a maleta em um dos cantos e afrouxou sua gravata com grande alívio. Sua garganta pedia algo gelado, foi até a geladeira, pegou uma lata de cerveja, grandes goles fizeram com que a latinha não durasse nem um minuto..

Latinha, lixo.

O sofá gemeu quando sentiu o homem se jogar sobre ele sem pena. Enfim podia relaxar, ligou a tevê em busca de algo que o distraísse, talvez um filme bobo, ou um desenho como os que via em seus dias de infância. Quando parou de mexer no controle remoto sentiu uma corrente de ar gelada passar pelas suas costas, todos os pelos do corpo se arrepiaram de imediato. Olhou para trás, talvez tivesse deixado a geladeira aberta, mas não era isso.

Passava Bob Esponja na tevê, o homem ria a cada besteira que via, principalmente quando pegou fogo em baixo d'água, era tão absurdo quanto engraçado. Mas o cansaço era maior que qualquer coisa, e aos poucos seus olhos foram pesando e pesando, até que por fim seus roncos ecoavam por todo o apartamento.

Acorda.

Jones S. Custódio

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