9
A terceira vez, a terceira edição. Cá estamos nós novamente, caros leitores, e muito gratos com as participações, críticas e diferentes opiniões que têm surgido. Algumas pessoas têm perguntado o que queremos com o Outras Farpas, quais são nossos “verdadeiros” objetivos, vertentes políticas, etc, etc. O Outras Farpas, no entanto, está do “outro lado”, pertence a uma outra coisa, momento e proposta, não precisa de rótulos, não anseia por um “perfil”, não carece de armaduras. E é por isso, leitores e amigos, que cá ecoamos um “outro” grito: “Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça para o total.“ Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas Foto: Manoel Neves Ano I - Edição III Definir alguém é estuprá-lo em suas múltiplas possibilidades indefiníveis. Se definir é assassinar em si mesmo essas possibilidades. Não sei ao certo o que sou, mas certamente o que penso que sou não condiz com o que as outras pessoas pensam de mim, nesse ponto lembro da máxima de Pessoa que diz “pensar é estar doente dos olhos”. Os homens costumam orgulhar-se de “ser algo”, mas esse “algo” é apenas uma construção, não pode ser outra coisa senão uma construção. Não sou fraco o suficiente para forjar uma personalidade e apresentá-la de pronto “eis o homem!”. Estou aberto a todas as interpretações, nenhuma me é agressiva e inaceitável, sei bem tolerar todas as impressões com relação a mim, elas me revigoram, me fortalecem! Escarneço das certezas humanas, tudo que há de mais seguro na humanidade me parece vazio e sem sentido, duvido profundamente de todas as “verdades” canonizadas pelo tempo e pela cultura... a própria definição de homem me parece uma construção absurda e desinteressante. Quando pensamos na palavra HOMEM nos remetemos inevitavelmente à idéia de HUMANIDADE, duas mentiras atraentes, mas não suficientemente poderosas para me convencer. Para além das palavras e seus significados há a vida em si, que não é nada mais que um fragmento sem passado nem futuro! Portanto, vivamos sem medidas nem fronteiras, deixemos os conceitos e as definições pros tiranos e seus escravos, conscientizemo-nos que não somos absolutamente nada e talvez assim cheguemos mais próximos de uma definição apropriada de nós mesmos! Santo Antonio de Jesus, 30 de setembro de 2008. Leandro Bulhões e Jean Michel F. Santos Transcodificação...

Revista Outras Farpas [terceira edição]

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Revista Outras Farpas [terceira edição]

Citation preview

Page 1: Revista Outras Farpas [terceira edição]

A terceira vez, a terceira edição. Cá estamos nós novamente, caros leitores, e muito gratos com as participações, críticas e diferentes opiniões que têm surgido. Algumas pessoas têm perguntado o que queremos com o Outras Farpas, quais são nossos “verdadeiros” objetivos, vertentes políticas, etc, etc.O Outras Farpas, no entanto, está do “outro lado”, pertence a uma outra coisa, momento e proposta,

não precisa de rótulos, não anseia por um “perfil”, não carece de armaduras.E é por isso, leitores e amigos, que cá ecoamos um “outro” grito:

“Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça para o total.“

Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas

Foto: Manoel Neves

Ano I - Edição III

Definir alguém é estuprá-lo em suas múltiplas possibilidades indefiníveis. Se definir é assassinar em si mesmo essas possibilidades. Não sei ao certo o que sou, mas certamente o que penso que sou não condiz com o que as outras pessoas

pensam de mim, nesse ponto lembro da máxima de Pessoa que diz “pensar é estar doente dos olhos”. Os homens costumam orgulhar-se de “ser algo”, mas esse “algo” é apenas uma construção, não pode ser outra coisa senão uma

construção. Não sou fraco o suficiente para forjar uma personalidade e apresentá-la de pronto “eis o homem!”. Estou aberto a todas as interpretações, nenhuma me é agressiva e inaceitável, sei bem tolerar todas as impressões com relação a mim, elas me revigoram, me fortalecem! Escarneço das certezas humanas, tudo que há de mais seguro na humanidade me

parece vazio e sem sentido, duvido profundamente de todas as “verdades” canonizadas pelo tempo e pela cultura... a própria definição de homem me parece uma construção absurda e desinteressante. Quando pensamos na palavra HOMEM

nos remetemos inevitavelmente à idéia de HUMANIDADE, duas mentiras atraentes, mas não suficientemente poderosas para me convencer. Para além das palavras e seus significados há a vida em si, que não é nada mais que um fragmento sem passado nem futuro! Portanto, vivamos sem medidas nem fronteiras, deixemos os conceitos e as definições pros tiranos e seus escravos, conscientizemo-nos que não somos absolutamente nada e talvez assim cheguemos mais próximos de uma

definição apropriada de nós mesmos!

Santo Antonio de Jesus, 30 de setembro de 2008.

Leandro Bulhões e Jean Michel F. Santos

Transcodificação...

Page 2: Revista Outras Farpas [terceira edição]

Pós-Modernidade em 1/4

Não viemos plantar sementes,

viemos colher os frutos.A marreta é uma extensão de

nosso corpo, é nossa mão direita, a esquerda é uma picareta!

Nós, os apologistas do contrário, somos tudo que há, sem ser nada - e temos consciência disso!

Nada deixaremos para as próximas gerações a não ser o cheiro nostálgico de nossa fluidez, o ranço cansado de nosso gozo demorado e o desprezo displicente de nossas vidas que não valem e jamais valerão nada: um fragmento de nada!

Sim, éramos fortes demais para o casulo, quebramos a casca e nos libertamos, porém o mundo não ganhou novas borboletas! A nossa fome é de agora, e engolimos com pressa. E nossa existência é um eterno engolir

ininterrupto e convulsivo! Nossos estômagos são pequenos demais, nós os explodiremos e riremos disso.

Não somos bons, nem maus, nem rancorosos, nem simples, nem felizes, nem tristonhos - essas palavrinhas não dizem nada! Simplesmente não somos e gozamos muito em não ser!

Aquilo que te custou mais caro, teu sonho mais íntimo, tua meta mais preciosa, teu principal objetivo, joga-o fora e entenderás um milésimo do nosso desprezo...

Quando raiou o mais lindo dia, e toda a natureza espreguiçou-se orgulhosa e contente: os pássaros cantaram seus mais predestinados cantos, as planícies e colinas e montanhas e florestas se incendiaram com a luminosidade de todas as cores numa dança caleidoscópica e radiante, e quando os ventos mais suaves e gentis roçaram a face das águas e nos

campos levantaram as florzinhas mais leves e delicadas provocando em todo o universo uma sensação também de leveza... E quando todos saíram de suas casas para -reunidos - contemplarem tal manifestação divina e foram transpassados (todos) por um sentimento de renascimento e mudança e compaixão e sensibilidade, ... nós, acordamos tarde, cansados e ressaquiados, e quando nos contaram os últimos acontecimentos... Rimos, nos viramos pro lado e voltamos a dormir!

___________________Jean Michel F. Santos é licenciado em história pela Universidade do Estado da Bahia UNEB Campus V, Mestrando em Cultura, Memória e Desenvolvimento Regional também pela UNEB Campus V e Graduando do curso de direito da UNEB Campus XV. Atualmente reside entre Valença e Santo Antonio de Jesus.

Por Jean Michel F. Santos

Quando ele finalmente retornou sabe-se lá de onde

estava, ela continuava em sua frente, ainda a reclamar, e foi bem no momento em que pronunciava a última frase de seu longo discurso:

“Não vou guardar mágoa por isso, mas entenda que você me deixou chateada.”

Chateada, ele a havia deixado chateada. Naquele mesmo instante novamente a companheira e deu início a uma nova viagem. Pouco importava o que ele havia feito ou deixado de fazer, o fato era que havia provocado nela uma reação ímpar: ela estava chateada!

Dentro do seu universo, esta conseqüência despertou uma admirada incompreensão ao defrontá-lo com a forma feminina do particípio do verbo chatear. De repente achou tão lindo o fato de as mulheres terem uma forma só delas de expressar seu aborrecimento, algo tão diferente, tão somente conjeturável à percepção masculina, e tal constatação o guiou por uma estrada de devaneios onde o ecoar daquela palavra, dita por voz tão suave, ganhava nova significação, adquirindo ares extremamente sedutores.

Poderia passar horas ouvindo-a dizer que estava chateada, sem por sua vez se chatear com isso. Foi quando sua viagem passou então a buscar concentração naquelas formas delicadas, naquele olhar sério, lábios cerrados, ouvidos atentos, prostrados em sua frente, aguardando a confissão da culpa. Estava tão linda, séria, fragilizada, sensibilizada, ornada por uma multidão de adjetivos terminados com a letra “a”. Estava diante de uma

mulher, e não havia o que pudesse ser feito, jamais alcançaria a plena compreensão de como pensava aquele ser.

Para encerrar, concluiu que ambos eram metades condenadas a buscar eternamente seus encerramentos um no outro, custasse o que custasse.

Acordou do transe e um pouco envergonhado percebeu que ela havia notado que ele estivera longe.

Meio sem graça, mas com o peito dilacerado pela admiração, não esboçou outro tipo de reação a não ser ostentar um leve e cândido sorriso, talvez o mais sincero desde a sua remota infância, sorriso este que, incompreendido pela alma feminina, que tal qual a masculina, lança uma projeção de si mesma para tentar entender o outro, aborreceu a jovem ainda mais.

“Do que está rindo? Poxa, você nem presta atenção ao que eu digo.”

“Meu bem, eu te amo!” Disse com a feição mais sincera, decodificada como sendo a expressão da cara mais deslavada.

“Ainda por cima é cínico. Olha, eu vou embora. Nem sei o que vim fazer aqui hoje.”

“Ta bom meu anjo, pode ir... mas estou falando sério, ta bom?”

Ela resmungou e saiu. Talvez no fundo soubesse que ele realmente a amava.

Ele sorriu mais um pouco e ali ficou, inundado por um mar de tranqüilidade, envolvido nas suaves ondas da certeza de que outros momentos como aquele fariam parte do por vir, feliz por saber que nem sempre reagiria da melhor forma para os dois, se é que tal reação pudesse existir.

Chateada Por Manoel Neves

Page 3: Revista Outras Farpas [terceira edição]

CINEMA E “REALIDADE”Reflexões da professora que vê ( parodiando Bertolt Brecht)

Qual não foi minha surpresa pra ir

entrando logo de sola no assunto quando vi, no HULK 2008, produção norte-americana, o exército dos Estados Unidos invadindo uma favela brasileira para capturar seu monstrengo verde produzido em laboratório; cujo General comandante deseja transformar aquele tipo de mutação em super soldiers, armas humanas, super soldados, etc., e assim tentar dominar outros Afeganistãos, Iraques, Vietnãs, quiçá Amazônias, quiçá Brasis...!!!

No filme, é como se não existissem Forças Armadas no Brasil, não existisse nem governo no Brasil, na verdade eles consideram o Brasil como um quintal deles, lugar comum onde eles podem entrar e sair impunemente conforme sua própria vontade! Afinal o filme nem sequer cogita uma comunicação com o Exército Brasileiro ou com o Governo do Brasil. Tive a impressão de que se deseja semear essa idéia, torná-la comum no inconsciente coletivo: que é possível aquilo que acontece lá a invasão-intervenção que fere os princípios de paz entre as nações, desrespeitando fronteiras, ameaçando a paz continental. E então, no dia em que acontecer, já estará banalizado entre nós, será considerado como uma coisa corriqueira- mais ou menos o que a Colômbia fez no Equador para matar os guerrilheiros das FARC, ajudada pelas intelligentsia do FBI

e da CIA. .Aliás, essa é a justificativa do General o tempo inteiro: que ele é um fugitivo! Então ele ser um fugitivo justifica a invasão? Será que é isso que estão preparando para nós? Uma desculpa, uma justificativa, para ratificar ações de desrespeito à soberania nacional?

Não vou fechar questão. Estou abrindo o questionamento, estou colocando a dúvida na mesa, porque Hollywood só nos traz certezas e convicções! O fundamento destas certezas e convicções é ideológico, mas depois de Foucault não se pode mais falar de ideologia que se é logo taxado de xiita, radical e outros rótulos mais que o capitalismo inventou e instaurou como verdade para reduzir seus críticos e minimizar aqueles que questionam suas práticas xenófobas e genocidas.

A indústria bélica que financiou a campanha do Presidente dos Estados Unidos, George W Bush, vem sendo muito bem remunerada nestes anos de seus governos (Governo para os norte-americanos e des-governo para os povos do Oriente Médio, da América Latina e algumas nações do Extremo Oriente), com a perseguição a Osama Bin Laden, ao terrorismo como um todo , já que os EUA combatem o terrorismo com terrorismo de Estado - a invasão ao Iraque e tantas outras ações imperialistas comandadas por esse lunático que mata crianças, destrói hospitais e mesquitas, financia golpes de Estado nas democracias da América Latina e manda seus jovens à

morte nas trincheiras para salvar a própria pele e defender os interesses dos arqui-bilionários empresários da indústria de armamentos pesados. Não é à toa que a indústria cinematográfica serviçal da burguesia capitalista internacional produziu nesse período, em Hollywood, tantos longas-metragens cuja temática principal foram as armas, a violência, as chacinas, o tráfico de drogas, genocídios e fratricídios, sempre com a justificativa de que se está retratando a realidade mas até onde o cinema e as artes áudios-visuais não re-criam elas mesmas uma nova realidade a partir do que forjam em suas histórias, nas telas dos cinemas? Até que ponto o cinema é influenciado e até onde ele influencia no imaginário do inconsciente coletivo? Deixo essas questões com o leitor, para que observe, analise, teça suas próprias considerações e mantenha bem abertos os olhos. Leia as entrelinhas, as letras e palavras que não foram escritas, as imagens que não foram gravadas, escute o silêncio, tateie o inalcançável e esteja alerta pois assim como o Iraque e a Bolívia têm petróleo, nós temos aqüíferos, nós temos o Pantanal e nós temos a Amazônia!

_____________________Diacui PataxóProfessora de Filosofia, Arte, Religião e História, especialista em Política Educacional e vive em Ilhé[email protected]

Por Diacuí Pataxó

Ódio (ou o paradoxo do esquecimento)Daniel Santos

Esquartejei em pedaços meu silêncioE lavo com seu sangue a minha alma imunda de tuas recordações.Arranco meus olhos para deixar de ver-te;Mas insistes e vagar em meus subterrâneos.Persegues-me? Ou tua existência é a mais torpe das torturas?

Em vão abortam de tua garganta palavras encardidas (não as ouço).

Já não ouso mais destilar teu amor.Me encontro nu, rastejando entre cacos de espelhos.

A síntese das horas é amar-te.Sinto ódio e tanto te desejar, ódio em vários graus.Queria encontrar a finitude, com ela conversar nessa tarde cinza e nela espargir-me...Poder reconstruir minhas asas e escapar de mim mesmo, pois em mim tu habitas.

{Não sabes o quanto sofro no paradoxo do esquecimento!}

Imperai finitude... Em prantos encontro-me em teus braços.

Page 4: Revista Outras Farpas [terceira edição]

.

Para àqueles que não procuram estar em dias com os

“sucessos” literários do momento, e que fogem de leituras inócuas, eis que indico o livro “O Lobo da Estepe” do escritor alemão, Hermann Hesse. Este autor, Prêmio Nobel de Literatura em 1946, através dessa obra-prima retrata a fascinante história de um homem em conflito com a sociedade burguesa de sua época, os símbolos de poder e os ideais estéticos vigente na Alemanha, logo após a Primeira Guerra Mundial.

O período de criação da obra tem como contexto político, o acirramento do revanchismo belicista por parte de grupos políticos radicais, oriundos da classe burguesa alemã. É dentro desse ambiente claustrofóbico que surge o personagem principal da história; que, por conta da inadaptabilidade social, mantêm-se, inteiramente “às margens do mundo convencional”, aprofundando assim, uma conflituosa relação com o seu alter-ego. Este, que cada vez mais domina a sua personalidade.

Utilizando-se de elementos da psicanálise na construção de seus personagens, Hesse; expõe os inerentes conflitos que compõem os “impulsos naturais do ser e as contenções do espírito”, antagonismos e dualismos que atormentam e afligem os indivíduos na sociedade moderna.

As profundas observações psicológicas existente na obra, felizmente não impedem a sua compreensão e a visualização do universo apresentado por Hesse. Pelo contrário, ela convida, envolve e lentamente subverte a sua psique, ampliando o olhar para si dentro de si, graças à luminosidade de seu estilo e ao poderoso arsenal léxico de suas construções elaboradas.

Apesar de ter sido escrito em 1927, “O Lobo da Estepe” ainda hoje apresenta-se atual e perturbadoramente desafiador, pois os anseios, impulsos e sentimentos que norteiam os indivíduos e a sua existência são comuns e independem da sociedade em que vive. Como o próprio Hesse disse: “ (...) A história do Lobo da Estepe é, sem dúvida alguma, de sofrimento e necessidades, mas mesmo assim não é um livro de um homem em desespero, mas o de um homem que crê. Embora trate de enfermidade e crise, não conduz à destruição e à morte, mas ao contrario, à redenção”.

Sendo assim, recomendo para todos que são ávidos por uma literatura que como eu disse, foge do comum.

Por Acton Lobo

ALÍVIO Por Naiara “Ariana”.

Respirar o sabor do alívioCantar o mar com sorrisos Dançar na chuva descalçaSentir o calor dos seus braços

Suspirar em teu corpoCalar-me no silêncio dos teus gestosBeijar-te com o ardor dos meus olhosComer-te como um sonho interrompido

E neste dia em meu seioQuero que deságües tua parteE junto a minha faceRevele o prazer que juntos escondemosNo âmago da nossa rotinaMas reveladas na sutileza de nossos afetos.

EFÊMERA Por Manoel das Neves

Apenas uma noite,E a saudade que senti não foi do costume,A demanda não foi da rotina,Amei sem desfrutar dos venenos da vida. Apenas numa noite,Percebi este amor em todos os signos,O encontro, o gozo, o abandono,Choros, risos e vontades. Deixei morrer, para continuar vivoEm busca de sabores e lugares.Um verdadeiro amor, numa noite,A vida sem vaidades.

Page 5: Revista Outras Farpas [terceira edição]

Quando aqui chegamos

trazíamos na bagagem pesos de uma vidinha simplista, limitada e cheia de pudores. Não sabíamos o que a vida nos reservava. Atravessamos nossos medos e fronteiras que pareciam, até então, intransponíveis.

O medo da solidão nos aproximou. A convivência nos tornou intimas. O cotidiano nos revelou semelhanças de identidades e, aqui em SAJ, descobrimos que poderíamos aflorar nossos desejos e externar de diversas formas nossas vontades.

Nós enganamos quando aqui chegamos. O que era pra ser uma reclusa vida de intelectuais tornou-se um mundo de múltiplas possibilidades. Estamos experimentando novas cores, novos sabores, novas essências, novos prazeres (antes nos limitávamos a um objeto de prazer), hoje buscamos o prazer no que é inédito - o novo e proibido. Começamos a desbravar novas fronteiras permeando o caminho dos múltiplos orgasmos. Confessamos que no início ficamos receosas pelas novidades e diferenças que SAJ nos apresentou. Tudo era novo e exótico.

O desejo latente de vivenciar novas emoções nos rever velhos conceitos, dirimir antigas concepções e quebrar nossos tabus. Adotamos uma filosofia de vida onde “é proibido proibir”! Zonas erógenas, as quais jamais pensávamos nos proporcionar prazer foram descobertas, a cada nova experiência que vivemos, uma festa! Um turbilhão de prazeres verdadeiros orgasmos múltiplos.

O primeiro impacto: sexual. Em SAJ, tudo é possível. Extravasamos desejos antes contidos e saímos do campo da imaginação para nos permitir realizar nossas fantasias, sem privar nossos corpos do prazer.

O primeiro desejo realizado: sexo por prazer. Hum, que prazer! Pela primeira vez liberamos nossos desejos contidos em cada gemido. O segundo desejo: sexo selvagem... Aqui descobrimos que isso é coisa da “malemolência do Recôncavo baiano”. Hum, que afrodisíaco! Atravessamos a fronteira do imagético e desvencilhamos nossos corpos do proibido, fomos totalmente vadias. Perdemos nossa virgindade moral e adoramos ser “putas”.

No submundo de SAJ, nos

prostituímos por prazer: pelo conhecimento, pela intelectualidade, pelo alargamento das nossas idéias, pela construção de nossas próprias histórias. Aqui experimentamos o sagrado e o profano tudo isso pela satisfação do corpo e do espírito, descobrimos o gosto de sermos pueris e depravadas. Sermos humanamente possíveis.

Nessa primeira etapa de rupturas e conflitos entre o velho e o novo, ainda somos aprendizes no “burilar” do mundo multifacetado de SAJ, as promessas são muitas, as possibilidades infindas, as experiências serão várias, aguardaremos ansiosas para nas próximas edições relatarmos mais farpas dos múltiplos gozos que provaremos.

* Saudações a Fanny Hill, Norma Lúcia, Madame Bovary, Luísa (a prima de Basílio), etc... no entanto, a grande obra da pós-modernidade, definitivamente, é o mundo das possibilidades!

Em tempos de “política”, texto enviado por leitoras mais preocupadas em viver.

Continuem enviando, caros leitores e leitoras!

MULHERES MULTIFACETADAS: AVENTURAS EM SAJ -

UM MUNDO DE POSSIBILIDADES!!!

Jogo de luzes

Quando te quis ali já não sabia ter de mim qualquer movimento. O não - agir é um espelho submerso em águas conhecidas onde meus desejos se turvam até mesmo para mim que procuro imagem refletida... Narciso às avessas, brinco, canto e dissimulo. Encontro

outros, entre passos e palavras, em qualquer espaço de relances e descuidos, realizando longos passeios em mim.

Mas, como se de súbito precisasse viver, evanesço em agonias, e nesse desvelamento de alma, penso (gratuito, verdade insuficiente!) nesse teu olho que por hora perpassa meu corpo como uma carícia desejada... Desço novamente degraus de ineficiências e, nesta sombra densa, me observas. Misturo-me às arestas de luz que saem de teus olhos como um farol refratando minha matéria e dissolvo-me entre pigmentos nossos, pedaços de vidas silenciosas que se tocam ali, numa dança em cadência de poeira de corpos

quietos à espreita.

Ainda elimino do mundo qualquer porção de superfície convencional de aparência. Cá onde reino.

Por Leandro Bulhões

Page 6: Revista Outras Farpas [terceira edição]

Eu disse que voltaria, pois bem

eis aqui. Outubro está chegando, mês das crianças - não precisam mudar de página não vou escrever sobre infância e bonecas novamente, risos! -, mas, existe outra data no calendário escolar que apesar de não gerar lucro para os comerciantes, é muito significativa, o dia 15 de outubro - Dia do Professor. Não serei piegas, romântica, sonhadora - como costumam rotular-me - e não escreverei aqui sobre meus colegas que como Eu, acreditam na educação como instrumento de transformação do ser humano, que trabalham com afinco e dedicação, que auxiliam na formação não de meros reprodutores de conhecimento e sim de cidadãos críticos e conscientes do seu papel como sujeitos sociais. Seria repetitiva se fizesse isso, pois acredito que nós sabemos da nossa importância social e a fazemos sem precisar de condecorações diárias, até porque o “ser professor” é um tema inesgotável e que já recebeu todo tipo de homenagem no cinema, televisão, teatro, obras literárias, entre outros.

Peço licença aos verdadeiros mestres do saber para demonstrar a minha indignação e repúdio àqueles que se titulam professores e que não passam de usurpadores do aparelho educacional. Leciono há quase dez anos, e observando a postura dos colegas, identifiquei, “batizei” e selecionei tipos de profissionais da educação - qualquer semelhança com a realidade infelizmente não é mera coincidência... - que posso denominar de qualquer outro termo menos de PROFESSORES, são estes:

Os APROVEITADORES: usam a educação para beneficio próprio, uma boa parte dos licenciados que hoje estão na escola publica a utilizam como ponte

para fazer suas pós-graduações e conseguirem suas vagas nas instituições de ensino superior, a preocupação com o desempenho do aluno não existe, após almejarem seus objetivos dão uma “banana” para o ensino básico, a maior

parte tornam-se sindicalistas na Academia e levantam a bandeira do

“Ensino superior Laico, Gratuito e de Qualidade”;

Os COMERCIANTES: usam a educação como atividade exclusivamente comercial colocando o conhecimento como mercadoria e os estudantes como meros depositários deste conhecimento;

Os “TAPA-BURACOS”: Não são licenciados, profissionais de outras áreas, geralmente desempregados, que ensinam só para poder ter uma “graninha” no final do mês, enquanto não encontram “nada melhor”,

pois acreditam que ser professor não exige muito do seu tempo, e podem continuar procurando emprego;

Os ACOMODADOS; são licenciados e tem preguiça de pensar, pesquisar e planejar continuam reproduzindo o conhecimento tradicional, não se renovam, acreditam que a culpa da “educação pública, gratuita e de má qualidade” é exclusivamente do “GOVERNO”. Existem outros tipos, mas, para não deprimir vou parar por aqui.

Essas “hienas” que se auto-denominam PROFESSORES, deseducam, analfabetizam e alienam a si e as “hienas infanto- juvenis” que estão sob sua tutela como educador. A esses seres Ignóbeis que contribuem para a formação de cidadãos letárgicos, sem nenhum senso crítico, político e social dedico uma canção - não caros leitores não é “Ao mestre com carinho” - a essas criaturas o desprezo. A música do compositor pernambucano Acciolly Netto, foi composta na década de 70 para “homenagear” nossa nação que passava por um processo de bestialização

coletivo naquele período - e que parece durar até hoje -, essa canção foi imortalizada na voz do saudoso cantor Jessé, apesar de ter sido composta há quase quarenta anos, se faz atual, é uma “homenagem” às “hienas da educação”,mas, é sabido que as “hienas” estão em todos os segmentos sociais do nosso país, que podemos considerar um verdadeiro “Paraíso das hienas”.

Paraíso das HienasAbençoai as hienasPrincipalmente as morenasTricampeãs mundiaisPois desse lado do muroO jogo é tão duro, meu paiQue só ter piedade de nós não vale a penaOração não voga quando não há vagaCoração não roga quando só a raivaE a roupa do corpo três vezes ao diaNovena não paga ao homem da vendaNão adianta nada, não enche barrigaSubir de joelhos as escadariasAbençoai as hienasPrincipalmente as “da Silva”Campeãs de carnavaisPois desse lado do becoO olhar é tão seco, meu paiQue só ter piedade de nós não vale a pena.

Há e eu volto, incomodando novamente, como dizia o dramaturgo Dias Gomes: “Quem nasceu para não incomodar, não deveria ter nascido”, este é meu slogan e o das farpas. Até!

__________________Cristiane PuridadeLicenciada em História pelaUniversidade do Estado da Bahia -UNEB. É professora do Centro Educacionalde Correntina, cidade em quereside.

Abençoai as Hienas Por Cristiane Puridade

Peço licença aos

verdadeiros

mestres do saber

para demonstrar a

minha indignação e

repúdio àqueles que

se titulam

professores e que

não passam de

usurpadores do

aparelho

educacional.

Page 7: Revista Outras Farpas [terceira edição]

Algumas situações apresentam-se tão cômicas e inusitadas que é quase impossível não desejar eternizá-las através de alguns breves parágrafos. A todo instante as nossas retinas estão sendo bombardeadas com informações sutis, carregadas por mensagens imperceptíveis, e que, após serem apresentadas, acabam sendo dissolvidas em cores, sons e imagens sem ao menos proporcionar uma sinapse ou um “lampejo” revelador para quem presencia, assiste, ouve, ou observa.Infelizmente nem sempre é possível captar tudo que é colocado à disposição de nossos sentidos, sendo às vezes, necessário transcender o olhar para níveis de interpretação ousadamente mais amplos, libertando-nos com isso, dos grilhões de uma demência lúcida, sabiamente agregada às desafiadoras limitações perceptivas que tanto nos atordoam, principalmente, quando estamos diante de algo aparentemente banal, vulgar e comum. A “aparência das coisas” nos ludibria a todo momento, levando-nos sem hesitar a intuições imprecisas, deduções precipitadas e especulações maliciosas. Vitimando-nos com pré-conceituações infames, reprodutoras do ódio e do temor daquilo que vemos, mas, que paradoxalmente não enxergamos. É, por conta dessas “limitações perceptivas”, que, não raramente, ovacionamos o que há de mais estúpido em nossa natureza humana. O personagem dessa história não tem nome, sendo que, parcamente lembro-me de sua feição. A sua voz, contudo, ecoa em minha memória, fazendo-me recordar de um acontecimento que tragou-me da minha quietude pensativa e levou-me suavemente, à densidade opressiva da vida em uma cidade, que progressivamente caminha em direção a um colapso estrutural e que assiste no presente, o futuro de seus cidadãos afundar-se em um caos de imobilidade viária, insegurança e stress urbano, semelhantes aos verificados em outras metrópoles.O humor do céu tinha começado a se decompor desde muito cedo, deixando sobre a cidade, um espesso véu plúmbeo e extremamente pesado. A viagem seria

“normal” como qualquer outra: Trânsito congestionado, freiadas bruscas e repetitivas, pessoas conversando, gente cochilando, tombos, empurrões, solavancos. Situações corriqueiras em se tratando de um ônibus à caminho da região mais movimentada de Salvador: A região do Iguatemi. Apesar da normalidade com que todo aquele incômodo se apresentava, algo ali dentro contrastava com toda aquela fatigante tensão, fornecendo um inesperado ingrediente àquela indesejável e convencional ordem das coisas. Estranhamente, a paz e a tranqüilidade de cada um ali dentro, estava sendo estremecida pelo nosso personagem anônimo.Contrastando serenamente com os semblantes sisudos e funestos, ele cantava com uma paz advinda de uma serenidade indescritível, absorto em uma felicidade genuína e transgressora. O seu canto romântico e despretensioso separava-o daquela realidade ignota e triste, servindo como um imaginário e indestrutível escudo protetor em oposição aos olhares odiosos e abjetos, que, como lanças virulentas, tentavam em vão destruí-lo.Quanto mais entoava as suas canções, proporcionalmente, revelava-se aos meus sentidos como este personagem colocava à prova a paciência mal-humorada dos passageiros. Bocas se “entortavam” violentamente, frenéticos movimentos com os pés e pernas faziam surgir uma bizarra e insólita orquestra, olhares corroíam-se de ódio e vozes sussurravam palavrões como se o próprio demônio, ali estivesse, divertindo-se com o seu prazer solitário. Todo esse espetáculo humano estava diante dos meus olhos, que a esta altura, transcendia o meu “olhar” a uma velocidade atordoante, tornando fascinante, o suplício naquele ônibus lotado e hermeticamente fechado, devido agora, ao aguaceiro instantâneo e arrasador que convertia às ruas da cidade em piscinas imundas. A uma certa altura, já não ouvia mais música alguma, e sim, um poderoso mantra que separava quem estava bem de fato e quem estava fenecendo por algum mal, seja da mente, do corpo, ou do espírito. Um mantra que derretia a gélida realidade e se distinguia por sua

indiferença transgressora ao mal-humor do passageiros, do clima e tudo mais que existisse. Qual poder emanava daquelas canções a ponto de atordoar tantos indivíduos desconhecidos, mas, que comungavam da mesma ojeriza e asco? Que felicidade é essa que não pode ser cantada em um ambiente coletivo?Cantar em público, para si mesmo, tornou-se um ato de subversão à ordem constituída? Tive medo da minha resposta e aprofundei-me com mais vigor em minha reflexões. O olhar transcendental daquele momento fez-me enxergar de como a sociedade pós-moderna, tem imposto perigosas condições para a convivência humana. O estado de tensão contínuo, a aversão ao outro e as suas atitudes, por mais pacificas, serenas e não-ofensivas que se apresentem, estão sempre sendo mal interpretadas, bloqueadas e reduzidas à maliciosas especulações. Vi naquele instante, o nascimento de um “novo” primitivismo: O primitivismo pós-moderno. Primitivismo este, onde todos são potenciais inimigos, bastando somente encontrar-se em um estado de espírito elevado para se tornar um alvo de opróbrios injuriosos. Naquele exato momento, o ato de cantar do anônimo personagem, tornava-o um “espírito elevado” e para os demais aquilo era algo grosseiro, inusitado e explicitamente ofensivo, e, que necessitava ser liquidado a todo custo.Levantei pronto para sair dali, pois chegara o meu destino. Com bastante dificuldade fui equilibrando-me por entre corpos tensos e semblantes sombrios. Caminhava para sair daquele ônibus, mas antes disso, desejava unicamente ver quem levava a paz à espíritos tão perturbados. Então, à beira da saída do ônibus, virei-me para visualizá-lo. Fiz um sinal de positivo, lançando uma mensagem criptografada ao ar, e o que vi, foi a serenidade irradiante de um sorriso. Um sorriso de alguém que entendeu a mensagem. É, ele sabia que estava transcendendo tudo aquilo... ____________________*Acton Lobo é licenciado em geografiapela Universidade do Estado da BahiaUNEB Campus V. Atualmente reside emSalvador.E-mail: [email protected]

O olhar transcendental Por Acton Lobo

Page 8: Revista Outras Farpas [terceira edição]

Aos olhos novos, àqueles que se permitem ao novo: “os olhos da Cuca” fragmentos de experiências de uma República que existiu em ruas próximas à

UNEB e que hoje sobrevive na vida daqueles que a constituíram a Santas Frígidas da Buarqueolândia.

É muito mais do que ser, ter ou aparentarDo que experimentarA palavra saudade, mesmo que unicamente se verifique em nosso idioma, não contempla esta coisa inominávelSentir falta é uma expressão também muito vaga diante da lembrança de nossos passos em direções desordenadas, mas que se entrecruzavam num horizonte imaginável nos nossos devaneios...O que é o amor comparado ao entrelaçar de nossas existências?Ah, talvez um deus saiba!Ou ao menos compreenda esta coisa, a magnificência dos desejos realizáveis sem a lâmpada mágica do sobrenatural.Ah como dói esta mistura de cores e sentidos antagônicos: Felicidade e infelicidade coexistem num encéfalo camarim! Feliz pela benção ter vivido e infeliz - por ter sido extinto?Buena vista social club hoje faz parte desta marcha implacável que me comove estridentementeNesse bailado cubano emergem memórias e lágrimas amalgamadas, nas quais estou submergidaSantas frígidas, paraíso reencontrado e estabelecido terrestremente em singelas casas santoantonienses:Dionísio, Baco, Eros, Amochilê...Estou esquartejada:Como restituir minha alma se agora se encontra dissipada em Cachoeira, Salvador, Santo Amaro, Santo Antônio de Jesus e Valença?Confetes pisoteados após a apoteose carnavalesca.... Ah, como amo e como me fustiga amar sem a correspondência de bobagens ditas...Fomos sagrados quando intensamente profanos Fomos água e fogo.O som do trovão ecoa na microfonia do vivido, na convulsão misteriosa evocada na audição do Pink, do Led, dos Bobs, do Chico.Virtudes e defeitos que nos foram legados destes olhos múltiplos e verdadeiros.Amor...Vocábulo simplório e medíocre quando penso....Que somente a nós nos foi chancelado a onipotência de um sentimento muito maior.Ai, como posso ter sido tão boba donzela ao ter me apaixonado dessa forma sem armaduras! Me doado com tanta alma em nossas laranjeiras, nas conversas intermináveis da madrugada... Fofocas e injúrias inocentes...Acreditando que poderia viver pa sempe protegida nas fortificações de nossa torre de marfim...Que saudade de ser mãe, filha, irmã, mulher, amante, menina, aprisionada na plena Liberdade das frenéticas gargalhadas e noCorpo, pele, abraços que não existiam antes dessa conspiração cósmicaOlhar e ver o outro como você, como outro, como seu e como dele;Hoje, esfacelado e empalado nestas melancólicas malas prontas para um recomeçoIninteligível para quem não foi: - Apenas arrogantes idiotas reunidos numa sociedade secreta para se suprirem do cotidiano alucinógeno...Sem saber que o entorpecente consistia no estarEstar junto...E querer estar...Juntos...Imbricados e indissociavelmente estandoVivendo a leveza de amar e ser amado, materializada em expressões chulas ou homéricas,A leveza do ócio, do se querer e se fazer bem, apenas no silêncio ou no respirar....Como gostaria de voltar a sentir a respiração de cada um, Algumas vezes ofegantes e eufóricas, as vezes apenas mecânica e necessária...Mas de ambas as formas inebriantes e vitais,Pois se fez minha.Ao ouvir de cada vento emitido do peito a existência se tornava concretaAh, como sinto a falta de existir, apenas sentir esta presença que me fazia ter a certeza de não ser mais um esquizofrênico espectro a vagar por entre sombras inertes, da certeza de estar viva...

(Pelos olhos da Cuca)

Page 9: Revista Outras Farpas [terceira edição]

Como sempre cansada, desaplaudida e desantenada do mundo real, vivendo num reino tão, tão, tão, tão distante, Leo Pó me liga e diz:

_ Rô! Já fez o texto pro jornal? Hoje é o ultimo dia.

Respondo:Claro! Que não.Pego algumas folhas de papel e

coloco-me a pensar (um monte de diarréias me vêem a cabeça), vou tentando organizar as idéias e me recordo de uma velha discussão: É o pau que guia o homem ou vice-versa?

Falar de pau é praxes entre mulheres e algumas defendem a teoria que um homem (falo de todos os homens heteros ou homo) é bem resolvido ou não dependendo do tamanho de seu pau.

O homem com pau tamanho G normalmente (independente dele - o homem, ser bonito ou não), normalmente é desencanado, auto-suficiente e não tem problemas de auto-estima.

O tamanho M: proporcionalmente igual.

No entanto, os tamanhos P e PP... Nossa! Esses são homens extremamente problemáticos. Segundo relatos de algumas mulheres que tiveram relações sexuais ou até se casaram com homens de pau P e PP, eles são inseguros, extremamente ciumentos e se comparam com outros homens constantemente. Além disso, normalmente, apresentam dificuldades de ereção ou ejaculam precocemente. Tudo fruto do psicológico dos caras.

Calma gente! Isso não é regra, nem tão pouco baseado em nenhum estudo científico, são só devaneios de mulheres como eu que pensam em pau ou os desejam pra sua satisfação sexual. Essas coisas são tão relativas... e várias discussões politicamente corretas que eu poderia sugerir aqui podem ser devidamente suplantadas por um velho e sábio provérbio de vovó:

“O problema de comer a lingüiça é ter que levar o porco”.

Você deve estar pensando que não

tenho nada melhor pra fazer (é fato), ou escrever (é fato). Contudo, estou me deliciando imaginando as discussões fúteis e prazerosas em torno do assunto. Sugiro ainda que mande pro meu e-mail com seus protestos, críticas e aplausos (no caso específico de concordância da temática).

Percebam que minha real intenção é que anotem a nova receita. Vamos deixar eles (os paus) de ladinho...

Risoto de Camarão

Ingredientes:

2 xícaras de arroz para risoto 2 cubinhos de caldo de galinha ou de camarão dissolvidos em 8 xícaras de água fervente.700 gramas de camarão sem casca½ xícara de vinho branco2 colheres bem cheias de manteiga1 cebola grande picada1 pacote de queijo parmesão raladoPreparo:Refogue a cebola na manteiga, acrescente o arroz e em seguida o vinho branco. Deixe o vinho evaporar por aproximadamente 2 a 3 minutos e vá adicionando, aos poucos, a água já misturada com o caldo de galinha ou camarão;Por fim acrescente o camarão previamente temperado em sal, alho e caldo de limão, mexendo sempre por 5 minutos;Rende 6 porções generosas, sirva quente e salpique queijo parmesão ralado ao prato.

-------------------------------Rosangela dos Reis Mercês SantosPsicopedagoga, graduanda em História da UNEBE-mail: [email protected]

Equipe Outras Farpas:

Acton Lôbo,Jean Michel,

Leandro Bulhões (Leo Pó);Manoel “Durrel” das Neves.

Colaboraram com esta edição:

Rosangela “Rô” dos Reis Mercês; ;Cristiane Puridade;

Lucas Santos;Diacui Pataxo;Daniel Santos;Naiara “Ariana”;Elí Cuca Buarque.

E-mail: [email protected]

Uma farpinha espetada na cabeça do seu pau

Por Rosagela Mercês