19
Dr. Cláudio Costa

Psiq inf da teoria à prática 2011

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Resumo da minha apresentação para Residentes de Psiquiatria Infantil do HC/UFMG, convidado que fui pelo Dr. Arthur Kümmer. [2011]

Citation preview

Page 1: Psiq inf da teoria à prática 2011

Dr. Cláudio Costa

Page 2: Psiq inf da teoria à prática 2011

A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes

Origens: Ramo da Educação: crianças

ineducáveis, cegas, surdas, débeis Ramo da Psiquiatria: a partir da

psicopatologia do adulto. Exemplo: “demência precocíssima” (1906)

A especialidade se constitui a partir de uma prática, não de uma elaboração teórica

“Mosaico conceitual”: teorias genéticas, psicológicas, educacionais, psicanálise. (Ajuriaguerra-1986)

Page 3: Psiq inf da teoria à prática 2011

A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes

Origens: “Infância” = infans = aquele que não

fala Primeiro paradigma: criança como

adulto em miniatura Primeiro objeto: crianças atrasadas

com déficits comportamentais Primeiro objetivo: educabilidade Jean Itard (séc. XVIII) – educação do

“selvagem de Aveyron”

Page 4: Psiq inf da teoria à prática 2011

A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes

Paradigmas psiquiátricos (até 1930): Doença mental como demência (Heller,

Bleuler, Sancte de Santis) Psicopatologia da infância como decalque

da clínica psiquiátrica do adulto Concepção médico-anatomista: doenças

do cérebro MOREL (1852): usa o termo Demência

Precoce para descrever uma criança que se afundou na idiotia

MOREAU DE TOURS (1888): Folie chez l´enfant: crianças que perdem o espírito e vêem sua inteligência enfraquecer...

Page 5: Psiq inf da teoria à prática 2011

A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes

Desenvolvimento da Especialidade após 1930: Duas vertentes:

Concepção psicológica-funcionalista: estudo da gênese, desenvolvimento e função das atividades psicológicas. Organismo = um todo espírito-corpo, engajado na tarefa de adaptação ao meio ambiente

Concepção desenvolvimentista: saúde mental como destino = um plano traçado geneticamente, mais ou menos influenciado pelas condições do meio. Daí o conceito de falhas, déficits e incompetências

Page 6: Psiq inf da teoria à prática 2011

A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes

A contribuição da Psicanálise (após 1930): Freud: Teoria da causalidade psíquica:

toda manifestação psicopatológica é resultado de um conflito psíquico: caso pequeno Hans.

Contribuição dos pós-freudianos: Melanie Klein, Donald Winnicott, Françoise Dolto, Maud Mannonni.

A criança passa a ter uma história de vida e, portanto, singularidade.

Page 7: Psiq inf da teoria à prática 2011

Tentativa de definição

A Psiquiatria da Infância e Adolescência é uma especialidade médica que se dedica ao estudo e tratamento dos transtornos mentais que acometem crianças e adolescentes.

Trata-se de uma prática social que está constantemente sob múltiplas interferências, uma vez que seu objeto (transtornos mentais) padece de questionamentos de toda ordem: cultural, ideológica, científica (como se define transtorno mental, qual sua etiologia, etc.).

Page 8: Psiq inf da teoria à prática 2011

“Conforme o Children Act 1989 (Wallace, 1997) cerca de 20% das crianças necessitarão passar por serviços de Saúde Mental durante sua infância em função de problemas de desenvolvimento ou de saúde mental.”

DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EMSAÚDE MENTAL NO BRASIL – ABP - 2006

http://www.abpbrasil.org.br/diretrizes_final.pdf

Há necessidade do Psiquiatra da Infância e Adolescência?

Qual psiquiatra formar?Como?

Page 9: Psiq inf da teoria à prática 2011

Há necessidade do Psiquiatra da Infância e Adolescência?

Qual psiquiatra formar?Como?

Dr. Francisco Baptista Assumpção sobre as dificuldades na atenção psiquiátrica de crianças e adolescentes devidas ao baixo número de profissionais que atuam especificamente na área:

Isso acontece porque não há uma análise criteriosa da área de atuação nem formação específica para psiquiatria infantil. “Pela ABP, nós não temos nem 200 especialistas. Mesmo considerando o Brasil temos ao todo 300, é muito pouco”, disse o médico paulista.

Ele também falou sobre a escassez de pesquisas científicas em psiquiatria infantil. “Não é uma especialidade de ponta. Os recursos são poucos e não há investimentos na área. As universidades não se interessam”.

Notícias da ABP, 2.maio.2007 in: http://www.abpbrasil.org.br/medicos/noticias/exibNoticia/?not=419

Page 10: Psiq inf da teoria à prática 2011

Questões sobre a Especialidade

A Psiquiatria da Infância e Adolescência, antes chamada apenas de Psiquiatria Infantil, herdou da Psiquiatria Geral (de adultos) o arcabouço conceitual básico: Objeto: a doença mental Metodologias para diagnóstico: próprias?

vindas da psicologia? neurobiológicas? Metodologias para tratamento:

intervenções psicofarmacológicas e outras (não médicas?)

Page 11: Psiq inf da teoria à prática 2011

Considerações sobre a Especialidade

Se é verdade que a PIA se constituiu num campo cultivado anteriormente pela Psiquiatria Geral, entretanto estabeleceu conceitos próprios a partir da década de 30 para responder a algumas questões: A educabilidade dos retardados mentais A influência dos aportes psicanalíticos A herança nosológica da Psiquiatria Geral: doença

mental como demência, degenerescência ~Construção da psicopatologia decaldada da

psicopatologia do adulto

“A criança não deve ser vista como adulto em miniatura” se tornou palavra de ordem para buscar outras referências e estabelecer-se um

novo paradigma.

Page 12: Psiq inf da teoria à prática 2011

O que se exige para a clínica psiquiátrica com crianças e

adolescentes

Aos conhecimentos tradicionais de Desenvolvimento, Psicopatologia, Nosologia e Psicofarmacologia,

acrescentem-se as transformações da assistência à saúde mental (Reforma Psiquiátrica, novos dispositivos assistencias, a interdisciplinariedade, etc.), apontando para práticas muito além das do hospital e do tradicional ambulatório, tais como: orientação familiar, psicoterapias, participação em equipes multi-profissionais, programas de consultoria escolar e hospitalar (interconsultas), programas de prevenção e orientação, etc.

Page 13: Psiq inf da teoria à prática 2011

Um psiquiatra da infância e adolescência deve ser capaz de:

Diagnosticar os transtornos condutuais e psicopatológicos que acometem crianças e adolescentes;

Compreender os processos evolutivos da personalidade em formação (áreas: emocional, cognitiva, psicomotora, neurobiológica, linguagem, sociabilidade, etc.);

Indicar e executar práticas terapêuticas adequadas, quer por atuação psicoterápica e intervenção sócio-familiar, quer por adequada utilização de recursos farmacológicos;

Page 14: Psiq inf da teoria à prática 2011

Um psiquiatra da infância e adolescência deve ser capaz de:

Privilegiar a escuta da criança, no sentido mais amplo do termo, a fim de que o atendimento possa se transformar em lugar de acolhimento e segurança para aqueles que “perderam a palavra”;

Dedicar-se a uma prática assistencial integral de tal forma que a clínica oriente as reflexões teóricas e por elas se deixe conduzir.

Trabalhar em equipe interdisciplinar, respeitando as diferenças e demarcando o próprio campo da especialidade.

Page 15: Psiq inf da teoria à prática 2011

Duas questões:

Quais referências teóricas devem embasar a formação?

Como evitar o biologicismo e o psicologismo?

Page 16: Psiq inf da teoria à prática 2011

As questões da prática

a) A prática médica como expressão de

ação Política: conceito de cidadania e saúde (mental) como direito inalienável e prioritário (ECA)

b) Fundamentação nas teorias que sustentam a condução do tratamento, interdisciplinaridade, observação, pesquisa, farmacologia...

c) Atenção aos avanços das pesquisas genéticas, neuroimagem e outros recursos da neurociências;

d) Ética: o cliente como Sujeito, portador de história pessoal

Page 17: Psiq inf da teoria à prática 2011

A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes

Algumas particularidades: Cuidados com a farmacoterapia:

Diagnóstico correto Sintomas alvo Consentimento informado Fatores fisiológicos próprios da idade Relativização dos aspectos biológicos

em função das causalidades psicológicas, ambientais e relacionais, resistência por parte dos pais e/ou da criança/adolescente

Page 18: Psiq inf da teoria à prática 2011

Campos de atuação e interseção da Psiquiatria com Crianças e Adolescentes

Campo Neurobiológico: Psicofarmacologia Desenvolvimento Neurofisiológico (Genética,

Endócrino, etc) Campo Psicológico:

Desenvolvimento sociopsicológico – cultura, ambiente, família

Psicanálise/Teorias Psicológicas/Psicoterapias Intervenção Familiar

Diagnóstico: Psiquiátrico (CID-10, DSM-IV, 0 a 3, Francesa, etc.) Neuropsicológico (Funções Psíquicas) Psicológico: Psicopatologia Psicanalítico: estruturas psíquicas) – ou outros

Page 19: Psiq inf da teoria à prática 2011

1)Atenção ao grande empecilho para uma boa prática psiquiátrica é a criança que mora dentro de todo psiquiatra.

2)Mudar de objeto: da criança da qual se fala para a criança que fala.

Cláudio [email protected]

Dois lembretes: