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241988012 189199111-comercio-internacional-esquematizado-roberto-caparroz-pdf

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  1. 1. Rua Henrique Schaumann, 270, Cerqueira Csar So Paulo SP CEP 05413-909 PABX: (11) 3613 3000 SACJUR: 0800 055 7688 de 2 a 6, das 8:30 s 19:30 [email protected] Acesse:www.saraivajur.com.br FILIAIS AMAZONAS/RONDNIA/RORAIMA/ACRE Rua Costa Azevedo, 56 Centro Fone: (92) 3633-4227 Fax: (92) 3633-4782 Manaus BAHIA/SERGIPE Rua Agripino Drea, 23 Brotas Fone: (71) 3381-5854 / 3381-5895 Fax: (71) 3381-0959 Salvador BAURU (SO PAULO) Rua Monsenhor Claro, 2-55/2-57 Centro Fone: (14) 3234-5643 Fax: (14) 3234-7401 Bauru CEAR/PIAU/MARANHO Av. Filomeno Gomes, 670 Jacarecanga Fone: (85) 3238-2323 / 3238-1384 Fax: (85) 3238-1331 Fortaleza DISTRITO FEDERAL SIA/SUL Trecho 2 Lote 850 Setor de Indstria e Abastecimento Fone: (61) 3344-2920 / 3344-2951 Fax: (61) 3344-1709 Braslia GOIS/TOCANTINS Av. Independncia, 5330 Setor Aeroporto Fone: (62) 3225-2882 / 3212-2806 Fax: (62) 3224-3016 Goinia MATO GROSSO DO SUL/MATO GROSSO
  2. 2. Rua 14 de Julho, 3148 Centro Fone: (67) 3382-3682 Fax: (67) 3382-0112 Campo Grande MINAS GERAIS Rua Alm Paraba, 449 Lagoinha Fone: (31) 3429-8300 Fax: (31) 3429-8310 Belo Horizonte PAR/AMAP Travessa Apinags, 186 Batista Campos Fone: (91) 3222-9034 / 3224-9038 Fax: (91) 3241-0499 Belm PARAN/SANTA CATARINA Rua Conselheiro Laurindo, 2895 Prado Velho Fone/Fax: (41) 3332-4894 Curitiba PERNAMBUCO/PARABA/R. G. DO NORTE/ALAGOAS Rua Corredor do Bispo, 185 Boa Vista Fone: (81) 3421-4246 Fax: (81) 3421-4510 Recife RIBEIRO PRETO (SO PAULO) Av. Francisco Junqueira, 1255 Centro Fone: (16) 3610-5843 Fax: (16) 3610-8284 Ribeiro Preto RIO DE JANEIRO/ESPRITO SANTO Rua Visconde de Santa Isabel, 113 a 119 Vila Isabel Fone: (21) 2577-9494 Fax: (21) 2577-8867 / 2577-9565 Rio de Janeiro RIO GRANDE DO SUL Av. A. J. Renner, 231 Farrapos Fone/Fax: (51) 3371-4001 / 3371-1467 / 3371-1567 Porto Alegre SO PAULO Av. Antrtica, 92 Barra Funda Fone: PABX (11) 3616-3666 So Paulo
  3. 3. ISBN 978-85-02-13397-6 Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) Caparroz, Roberto Comrcio internacional esquematizado / Roberto Caparroz; coordenador Pedro Lenza. So Paulo : Saraiva, 2012. 1. Comrcio exterior 2. Direito comercial 3. Direito internacional I. Lenza, Pedro. II. Ttulo. ndices para catlogo sistemtico: 1. Comrcio internacional esquematizado: Direito 341.5:347.7 DIRETOR DE PRODUO EDITORIAL Luiz Roberto Curia GERENTE DE PRODUO EDITORIAL Lgia Alves EDITOR Jnatas Junqueira de Mello ASSISTENTE EDITORIAL Sirlene Miranda de Sales PRODUO EDITORIAL Clarissa Boraschi Maria PREPARAO DE ORIGINAIS, ARTE, DIAGRAMAO E REVISO Know-how Editorial SERVIOS EDITORIAIS Ana Paula Mazzoco e Elaine Cristina da Silva CAPA Aero Comunicao PRODUO GRFICA Marli Rampim Data de fechamento da edio: 31-8-2011 Dvidas? Acesse www.saraivajur.com.br Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prvia autorizao da Editora Saraiva. A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Cdigo Penal.
  4. 4. DEDICATORIA Take your time, dont live too fast Troubles will come and they will pass Go find a woman and youll find love And dont forget, son there is someone up above And be a simple kind of man Be something you love and understand Baby, be a simple kind of man Wont you do this for me, son? If you can? (Simple Man, Lynyrd Skynyrd) Aos meus filhos Gustavo e Leonardo, Razo e Essncia da minha vida, com a certeza de que s o amor constri.
  5. 5. AGRADECIMENTOS Livros so sonhos individuais que s se concretizam de forma coletiva. Sem pessoas especiais, que contribuem com seu amor, esforo e talento, nenhuma obra de qualidade poderia ser realizada. Este livro tem um grande patrono, a quem sou eternamente grato: meu amigo Pedro Lenza, que acreditou no autor e no projeto, fez crticas no momento certo e contribuiu de maneira decisiva para a realizao do nosso sonho literrio. No mbito pessoal, nada poderia acontecer sem a mulher da minha vida, a minha querida esposa Patrcia. Agradeo pelo amor e companheirismo de quase duas dcadas. Tudo o que j vivi e aquilo que me espera s faz sentido ao seu lado. Devo eterna gratido aos meus pais Anna e Roberto, que sempre me apoiaram, incondicionalmente, em todos os projetos. O amor de vocs insubstituvel. Gostaria, ainda, de agradecer aos amigos Monteiro, Tavares e Richard, do antigo Pr Concurso, onde, h muito tempo, comecei a ministrar aulas para cursos preparatrios, justo com a matria de Comrcio Internacional. Obrigado por acreditarem num professor jovem e recm- aprovado na Receita Federal. A primeira oportunidade sempre a mais importante. Agradeo imensa famlia Saraiva, pela acolhida e oportunidade de participar desse projeto de enorme sucesso que a Coleo Esquematizado, como autor e cocoordenador da rea fiscal, ao lado do Pedro Lenza. Registro, portanto, meu muito obrigado ao Luiz Roberto Curia e ao Jnatas Mello, em nome de todos os que compem essa gloriosa casa. Sou particularmente grato s amigas Roseli e Rose, que comandam a equipe incrivelmente competente e atenciosa da Know-how, exemplo de profissionalismo e qualidade. Aproveito para mandar um abrao especial para a Cintia, por tudo o que aconteceu. Por fim, meu agradecimento especial vai para os milhares de alunos que tive nesses anos, que sempre foram generosos ao extremo comigo, pelo incentivo e motivao para escrever. Se no fosse a cobrana constante de todos vocs, agora meus leitores, este livro jamais teria nascido.
  6. 6. METODOLOGIA ESQUEMATIZADO Durante o ano de 1999, pensando, naquele primeiro momento, nos alunos que prestariam o exame da OAB, resolvemos criar um estudo que tivesse linguagem fcil e, ao mesmo tempo, contedo suficiente para as provas e concursos. Depois de muita dedicao, batizamos o trabalho de Direito constitucional esquematizado, na medida em que, em nosso sentir, surgia uma verdadeira e pioneira metodologia, idealizada com base em nossa experincia dos vrios anos de magistrio, buscando sempre otimizar a preparao dos alunos, bem como atender s suas necessidades. A metodologia estava materializada nos seguintes pilares: esquematizado: verdadeiro mtodo de ensino, em que a parte terica apresentada de forma direta, em pargrafos curtos e em vrios itens e subitens. Por sua estrutura revolucionria, rapidamente ganhou a preferncia nacional, tornando-se indispensvel arma para os concursos da vida; superatualizado: em relao s carreiras jurdicas, com base na jurisprudncia do STF e Tribunais Superiores, o texto encontra-se em consonncia com as principais decises e as grandes tendncias da atualidade e, de modo geral, a obra estrutura-se na linha dos concursos pblicos de todo o Pas; linguagem clara: a exposio fcil e direta traz a sensao de que o autor est conversando com o leitor; palavras-chave (keywords): a utilizao do azul possibilita uma leitura panormica da pgina, facilitando a recordao e a fixao do assunto. Normalmente, o destaque recai sobre o termo que o leitor grifaria com o seu marca-texto; formato: leitura mais dinmica e estimulante; recursos grficos: auxiliam o estudo e a memorizao dos principais temas; provas e concursos: ao final de cada captulo, o assunto ilustrado com a apresentao de questes de provas e concursos ou por ns elaboradas, facilitando a percepo das matrias mais cobradas, bem como a fixao do assunto e a checagem do aprendizado. Inicialmente publicado pela LTr, poca, em termos de metodologia, inovou o mercado
  7. 7. editorial. A partir da 12 edio, passou a ser produzido pela Editora Saraiva, quando, ento, se tornou lder de vendas. Realmente, depois de tantos anos de aprimoramento, com a nova cara dada pela Editora Saraiva, no s em relao moderna diagramao mas tambm em razo do uso da cor azul, o trabalho passou a atingir tanto os candidatos ao Exame de Ordem quanto todos aqueles que enfrentam os concursos em geral, sejam das reas jurdica ou no jurdicas, de nvel superior ou mesmo os de nvel mdio, assim como os alunos de graduao e demais profissionais. Alis, parece que Ada Pelegrini Grinover anteviu, naquele tempo, essa evoluo do Esquematizado. Em suas palavras, ditas em 1999, escrita numa linguagem clara e direta, a obra destina-se, declaradamente, aos candidatos s provas de concursos pblicos e aos alunos de graduao, e, por isso mesmo, aps cada captulo, o autor insere questes para aplicao da parte terica. Mas ser til tambm aos operadores do direito mais experientes, como fonte de consulta rpida e imediata, por oferecer grande nmero de informaes buscadas em diversos autores, apontando as posies predominantes na doutrina, sem eximir-se de criticar algumas delas e de trazer sua prpria contribuio. Da leitura amena surge um livro fcil, sem ser reducionista, mas que revela, ao contrrio, um grande poder de sntese, difcil de encontrar mesmo em obras de autores mais maduros, sobretudo no campo do direito. Atendendo ao apelo de vrios concurseiros do Brasil, resolvemos, com o apoio incondicional da Editora Saraiva, convidar professores e autores das principais matrias dos concursos pblicos, tanto da rea jurdica como da no jurdica, lanando, assim, a Coleo Esquematizado. Para nossa felicidade, tivemos a colaborao de Roberto Caparroz, que nos ajudou na coordenao das obras voltadas s matrias no jurdicas. Metodologia pioneira, vitoriosa, consagrada, testada e aprovada. Professores com larga experincia na rea dos concursos pblicos. Estrutura, apoio, profissionalismo e know-how da Editora Saraiva: sem dvida, ingredientes suficientes para o sucesso da empreitada, especialmente na busca de novos elementos e ferramentas para ajudar os nossos ilustres concurseiros! Para o comrcio internacional, tivemos a honra de contar com o precioso trabalho de Roberto Caparroz, que soube, com maestria, aplicar a metodologia esquematizado sua vasta e reconhecida experincia profissional. Caparroz doutor em direito tributrio pela PUCSP e mestre em filosofia do direito pela Unimes, ttulos obtidos com nota mxima. Alm de ser bacharel em direito, tambm bacharel em computao e ps-graduado em administrao tributria (ESAF) e marketing (ESPM). Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil desde 1997, foi Inspetor-Chefe do Aeroporto Internacional de So Paulo Guarulhos, estando, atualmente, lotado na diviso de tributao internacional da Delegacia Especial de Maiores Contribuintes (SP). O autor, alm de ser representante do governo brasileiro em diversas reunies para
  8. 8. discusso de tratados internacionais na rea tributria e aduaneira (Cairo, Montreal, Toronto, Buenos Aires), palestrante internacional em eventos de tributao internacional patrocinados pela OCDE e CIAT (Guatemala, Santiago e So Paulo). Autor de diversas publicaes nas reas de direito tributrio, aduaneiro e comrcio internacional, Caparroz foi vencedor do 2 Prmio Microsoft de Direito (categoria mestrado e doutorado), promovido pela Faculdade de Direito da USP. Professor de ps-graduao em direito tributrio e internacional da FGV, COGEAE/PUC, IBET e EPD, instrutor da ESAF, do Ministrio da Fazenda, o autor professor, desde 1998, das disciplinas direito tributrio, comrcio internacional e direito internacional nos principais cursos preparatrios do pas (Damsio, LFG e Marcato, entre outros), tanto para as carreiras fiscais como jurdicas. Assim, no temos dvida de que o presente trabalho contribuir para encurtar o caminho do meu ilustre e guerreiro concurseiro na busca do sonho dourado! Sucesso a todos! Esperamos que a Coleo Esquematizado cumpra o seu papel. Novamente, em constante parceria, estamos juntos e aguardamos qualquer crtica ou sugesto. Pedro Lenza E-mail:[email protected] Twitter:@pedrolenza
  9. 9. APRESENTAO Todos os anos, milhes de pessoas, com os mais variados perfis e histrias de vida, resolvem ingressar no mundo dos concursos pblicos. Trata-se de um movimento contnuo, crescente, inesgotvel e tipicamente brasileiro. Portanto, se a ideia j passou pela sua cabea, saiba que voc no est sozinho. A constatao serve, a um s tempo, tanto como estmulo para os estudos quanto para que possamos compreender o calibre do desafio que aguarda os candidatos. Quais os motivos para esse fenmeno, que s faz crescer? A resposta mais simples e direta reside no fato de que o Estado, para a nossa realidade, um excelente empregador. Se compararmos a remunerao da iniciativa privada com a de carreiras pblicas equivalentes, em termos de exigncias e atividades, na maioria dos casos, o valor percebido pelos servidores ser igual ou superior. Some-se a isso a estabilidade, o regime diferenciado de previdncia e a possibilidade de ascenso funcional e teremos a perfeita equao para a verdadeira legio de concurseiros que existe no Brasil. Como vencer o desafio dos concursos, se a concorrncia to grande? Ao contrrio do que muita gente imagina, a dificuldade certamente no quantitativa, pois o nmero de concorrentes, na prtica, pouco importa. Todos os grandes concursos oferecem vagas suficientes, capazes de premiar os candidatos que conseguirem obter mdias elevadas. O fator determinante para o sucesso de natureza qualitativa e exige o domnio de duas metodologias: saber estudar e resolver questes. H muitos anos digo aos alunos que o segredo dos concursos no simplesmente estudar mais (muito embora os vencedores estudem bastante), mas, principalmente, estudar melhor. E o que significa isso? Estudar melhor implica escolher uma fonte de referncia segura, completa e atualizada para cada matria, absorv-la ao mximo e, depois, verificar o aprendizado por meio de questes. Costumo ponderar que, se um candidato ler dois autores sobre o mesmo tema, provavelmente elevar ao quadrado suas dvidas, pois no saber como enfrentar, nas
  10. 10. provas, as divergncias de pensamento que, apesar de comuns e salutares no meio acadmico, devem ser evitadas a todo custo nos concursos. Essa uma das propostas da presente Coleo Esquematizado. Quando o amigo Pedro Lenza me convidou para ajud-lo na coordenao das obras voltadas para as matrias no jurdicas, imediatamente vislumbrei a possibilidade de oferecer aos alunos das mais diversas carreiras a mesma metodologia, testada e aprovada no consagrado Direito Constitucional Esquematizado. Sabemos que a grande dificuldade dos concursos de ampla concorrncia, abertos a candidatos de qualquer formao, reside na quantidade e variedade de matrias, de tal sorte que no seria exagero afirmar que ningum conhece, a priori, todos os temas que sero exigidos, ao contrrio das carreiras jurdicas, nas quais os alunos efetivamente travaram conhecimento com as disciplinas durante a faculdade. Ningum faz faculdade para concursos, at porque, na prtica, ela no existe. Os candidatos provm de reas diferentes e acumularam conhecimento em temas que normalmente no so objeto de questes. comum o relato de candidatos iniciantes que tiveram pior desempenho justamente nas matrias que conheciam a partir da experincia profissional. O s concursos no jurdicos exigem preparao especfica, na qual os candidatos normalmente iniciam do zero seus estudos. A metodologia empregada na Coleo Esquematizado permite que o leitor, de qualquer nvel, tenha acesso mais completa e atualizada teoria, exposta em linguagem clara, acessvel e voltada para concursos, acrescida de questes especialmente selecionadas e comentadas em detalhes. O projeto, apesar de audacioso, se sustenta pela qualidade dos autores, todos com larga experincia na preparao de candidatos para as diferentes provas e bancas examinadoras. As matrias so abordadas de forma terico-prtica, com farta utilizao de exemplos e grficos, que influem positivamente na fixao dos contedos. A abordagem dos temas busca esgotar os assuntos, sem, no entanto, se perder em digresses ou posies isoladas, com o objetivo de oferecer ao candidato uma soluo integrada, naquilo que os norte-americanos chamam de one stop shop. Com a estrutura e o suporte proporcionados pela Editora Saraiva, acreditamos que as obras sero extremamente teis, inclusive para os alunos dos cursos de graduao. Lembre-se de que o sucesso no mundo dos concursos no decorre do se, mas, sim, do quando. Boa sorte e felicidade a todos! Roberto Caparroz E-mail:[email protected]
  11. 11. NOTA DO AUTOR Todo livro tem uma histria, e a deste comeou h muito tempo, quando iniciei as aulas de Comrcio Internacional para cursos preparatrios na rea fiscal. Durante todo esse tempo a matria evoluiu, ganhou relevncia e se consolidou, principalmente em razo da globalizao e da forte interdependncia entre pases e mercados, conforme se pode observar neste incio de sculo XXI. A importncia dos temas aqui abordados decorre da tendncia irreversvel de insero do Brasil no cenrio internacional e do fortalecimento da nossa posio econmica e poltica. Definitivamente, deixamos de ser meros observadores e passamos a atuar mais prximos dos principais protagonistas mundiais. Nesse contexto, o livro tem por objetivo abranger, de forma completa e aprofundada, todos os temas de comrcio internacional solicitados nos principais concursos pblicos federais, como Receita Federal do Brasil, Carreiras Diplomticas e, ainda, aqueles relacionados ao comrcio exterior. Alm disso, muitas provas jurdicas, voltadas para concursos como Magistratura Federal, Ministrio Pblico Federal, Polcia Federal, Advocacia Pblica e Procuradorias, exigem questes de Comrcio Internacional, especialmente sobre os temas de integrao econmica (como Unio Europeia e MERCOSUL) e organismos internacionais, com os correspondentes mecanismos de soluo de controvrsias, bem como diversos tpicos relacionados tributao internacional. Acredito que o livro seja particularmente til para os cursos de graduao de diversas reas, os quais possuem a matria Comrcio Internacional nos respectivos currculos, como Administrao, Economia, Direito, Relaes Internacionais e, obviamente, Comrcio Exterior. O profissional da rea aduaneira tambm poder encontrar, ao longo dos captulos, informaes importantes e atualizadas para o desempenho de suas atividades, numa linguagem direta e acessvel, sem prejuzo dos comentrios jurdicos pertinentes, dado que os livros de comrcio internacional do mercado normalmente abordam os temas de modo tcnico, baseado
  12. 12. exclusivamente nas normas infralegais. Em relao ao contedo, tivemos o cuidado de selecionar os assuntos mais relevantes e apresent-los de forma agradvel, seguindo a metodologia da Coleo Esquematizado, com grficos, quadros, tabelas e mapas, que ajudam na compreenso da matria. Pensando nos amigos concurseiros, o livro est repleto de exemplos prticos, e conta, ainda, com mais de 200 questes comentadas de provas oficiais. Como este autor gosta de notas de rodap, fica a sugesto de que o prezado leitor as estude com ateno, especialmente aquelas que contm explicaes ou comentrios que, se includos no texto principal, dele retirariam a fluncia necessria, especialmente em razo da extenso da matria. Por fim, todas as obras esto sujeitas a crticas e imperfeies. As existentes no presente trabalho so de minha exclusiva responsabilidade, e ficarei muito feliz em receber comentrios nesse sentido, que sero levados em considerao em futuras edies. So Paulo, inverno de 2011. Roberto Caparroz E-mail:[email protected]
  13. 13. SUMRIO 1. POR QUE O COMRCIO INTERNACIONAL IMPORTANTE? 1.1. Por uma teoria do comrcio internacional 1.1.1. O comrcio ultramarino 1.1.2. Mercantilismo: o desenvolvimento do comrcio internacional 1.1.2.1. Pressupostos do mercantilismo 1.1.3. O sistema de livre-comrcio 1.1.4. A afirmao do capitalismo 1.1.5. Adam Smith e a teoria das vantagens absolutas 1.1.6. David Ricardo e a teoria das vantagens comparativas 1.1.7. O mundo globalizado 1.1.7.1. As faces da globalizao 1.1.8. Livre-cambismo e protecionismo 1.1.9. Barreiras tarifrias e no tarifrias 1.1.9.1. Barreiras tarifrias: conceito e aplicao 1.1.9.1.1. Breve introduo tributao das importaes 1.1.9.1.2. Carter protecionista das alquotas do imposto de importao 1.1.9.1.3. Competncia do Poder Executivo para a alterao das alquotas do imposto de importao 1.1.9.1.4. Alquotas mdias das importaes no Brasil 1.1.9.1.5. Tipos de alquotas do imposto de importao 1.1.9.2. Modalidades no tarifrias de interveno 1.1.9.2.1. Sistema de cotas 1.1.9.2.2. As cotas no acordo multifibras 1.1.9.2.3. Proibio nas importaes 1.1.9.2.4. As barreiras sanitrias e fitossanitrias 1.1.9.2.5. As barreiras tcnicas ao comrcio
  14. 14. 1.1.9.2.6. O licenciamento das importaes 1.1.9.2.6.1. Sistemtica de licenciamento no Brasil 1.1.9.2.6.1.1. Licenciamento automtico 1.1.9.2.6.1.2. Licenciamento no automtico 1.1.9.2.6.1.3. Produtos sujeitos a controles especficos 1.1.9.2.7. Outras barreiras no tarifrias 1.1.9.2.7.1. Medidas de natureza financeira 1.1.9.2.7.2. Organismo estatal importador 1.1.9.2.7.3. Servios e ndices nacionais obrigatrios 1.1.9.2.7.4. Exigncia de bandeira nacional 1.1.9.2.7.5. Restries voluntrias de exportao 1.1.9.2.7.6. Inspees prvias ao embarque 1.1.9.2.7.7. Procedimentos aduaneiros especiais e a iniciativa para a segurana de contineres 1.2. Questes 2. O SISTEMA MULTILATERAL DO COMRCIO 2.1. A Carta de Havana e o Fracasso da Organizao Internacional do Comrcio 2.2. O Acordo Geral sobre Tarifas e Comrcio 2.2.1. Os princpios do GATT e da OMC 2.2.1.1. Princpio da no discriminao 2.2.1.2. Princpio da transparncia 2.2.1.3. Princpio da reduo geral e progressiva das tarifas 2.2.1.4. Princpio da proibio de medidas no alfandegrias 2.2.1.4.1. Restries para proteo do equilbrio da balana de pagamentos 2.2.1.5. Princpio da previsibilidade 2.2.1.6. Princpio da concorrncia leal 2.2.1.7. Princpio do tratamento diferenciado para pases em desenvolvimento 2.2.1.8. Princpio da flexibilizao em caso de urgncia 2.2.1.9. Princpio da ao coletiva 2.2.1.10. Princpio do reconhecimento dos processos de integrao 2.2.2. As Rodadas no mbito do GATT 2.2.2.1. A etapa provisional (1948-1955) 2.2.2.2. A etapa de desenvolvimento (1955-1970) 2.2.2.3. A etapa de maturidade (1970-1985) 2.2.2.4. A etapa de reconstruo (1985-1994) 2.3. A Rodada Uruguai: do GATT OMC 2.4. A Organizao Mundial do Comrcio 2.4.1. Estrutura
  15. 15. 2.4.2. Pases-membros 2.4.3. Adeso de novos membros 2.4.4. Sistema de deciso 2.4.5. Soluo de controvrsias 2.4.5.1. Prazos processuais 2.4.6. Acordos no mbito da Organizao Mundial do Comrcio 2.4.6.1. Acordo Geral sobre o Comrcio de Servios (GATS) 2.4.6.1.1. Quadro geral do Acordo 2.4.6.1.2. Princpios do GATS 2.4.6.1.3. Compromissos especficos 2.4.6.2. Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comrcio (TRIPS) 2.4.6.2.1. Princpios do TRIPS 2.4.6.2.2. Direitos de autor e direitos conexos 2.4.6.2.3. Direitos relativos a marcas 2.4.6.2.4. Proteo das indicaes geogrficas 2.4.6.2.5. Proteo dos desenhos industriais 2.4.6.2.6. Direitos sobre patentes 2.4.6.2.6.1. Licenciamento compulsrio de medicamentos 2.4.6.2.7. Proteo aos circuitos integrados 2.4.6.2.8. Proteo de informaes confidenciais 2.4.6.2.9. Controle de prticas de concorrncia desleal em contratos de licenas 2.4.6.2.10. Aplicao das normas de proteo dos direitos da propriedade intelectual 2.4.6.3. Acordo sobre Medidas de Investimento Relacionadas ao Comrcio (TRIMS) 2.4.6.4. Acordo sobre Aplicao de Medidas Sanitrias e Fitossanitrias (SPS) 2.4.6.5. Acordo sobre Barreiras Tcnicas ao Comrcio (TBT) 2.4.6.5.1. Procedimentos para a avaliao de conformidade 2.5. Conferncias ministeriais e o fracasso da rodada do milnio 2.6. Os Mandatos de Doha e a Rodada do Desenvolvimento 2.7. Questes 3. ORGANIZAES E ORGANISMOS INTERNACIONAIS RELACIONADOS AO COMRCIO 3.1. A Conferncia das Naes Unidas sobre Comrcio e Desenvolvimento (UNCTAD) 3.1.1. Breve histrico da UNCTAD 3.1.1.1. Primeira fase: anos 1960 e 1970 3.1.1.2. Segunda fase: dcada de 1980
  16. 16. 3.1.1.3. Terceira fase: dos anos 1990 at os dias de hoje 3.1.2. Ral Prebisch e a Teoria Cepalina 3.1.3. As Conferncias da UNCTAD 3.2. A Comisso das Naes Unidas para o Direito Comercial Internacional (UNCITRAL) 3.2.1. Princpios fundamentais 3.3. Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE) 3.4. Organizao Mundial das Aduanas (OMA) 3.4.1. Principais atribuies da OMA 3.4.2. Competncia dos comits 3.5. Fundo Monetrio Internacional (FMI) 3.5.1. Como funciona o Fundo Monetrio Internacional? 3.6. Banco Mundial 3.7. Questes 4. PROCESSOS DE INTEGRAO ECONMICA 4.1. Estgios de Integrao 4.1.1. Zollverein 4.2. Unio Europeia 4.2.1. Antecedentes histricos 4.2.1.1. A Comunidade Europeia do Carvo e do Ao (CECA) 4.2.1.2. A Comunidade Econmica Europeia (CEE) 4.2.1.3. O caminho at Maastricht 4.2.2. Estrutura e funcionamento 4.2.2.1. O Parlamento Europeu 4.2.2.2. O Conselho Europeu 4.2.2.3. O Conselho 4.2.2.4. A Comisso Europeia 4.2.2.5. O sistema do Tribunal de Justia 4.2.2.6. O Banco Central Europeu 4.2.2.7. O Tribunal de Contas 4.2.3. O processo de integrao econmica e monetria 4.2.3.1. A criao do Euro 4.2.3.1.1. Critrios de convergncia 4.2.3.1.1.1. Anlise dos parmetros 4.3. Associao Latino-Americana de Integrao (ALADI) 4.3.1. Objetivos
  17. 17. 4.3.2. Acordos de Alcance Regional (AAR) 4.3.3. Acordos de Alcance Parcial (AAP) 4.3.4. Estrutura 4.4. Acordo de Livre-Comrcio da Amrica do Norte (NAFTA) 4.4.1. O fenmeno das empresas maquiladoras no Mxico 4.5. Comunidade Andina (CAN) 4.5.1. Estrutura e objetivos 4.6. rea de Livre-Comrcio das Amricas (ALCA) 4.7. Unio das Naes Sul-Americanas (UNASUL) 4.7.1. Estrutura institucional 4.8. Questes 5. O MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL) 5.1. Perspectiva histrica 5.1.1. A fase de transio (1991 a 1994) 5.2. Tratados e Protocolos Adicionais 5.2.1. Acordos de associao ao MERCOSUL 5.2.2. A questo da Venezuela 5.2.3. Outros acordos no mbito do MERCOSUL 5.3. Objetivos do MERCOSUL 5.4. A Estrutura Institucional do MERCOSUL 5.4.1. O Conselho do Mercado Comum 5.4.2. O Grupo Mercado Comum 5.4.3. A Comisso de Comrcio do MERCOSUL (CCM) 5.4.4. O Parlamento do MERCOSUL 5.4.5. Foro Consultivo Econmico-Social (FCES) 5.4.6. Secretaria do MERCOSUL 5.5. Personalidade e Fontes Jurdicas do MERCOSUL 5.6. O Mecanismo de Soluo de Controvrsias 5.6.1. O Protocolo de Olivos 5.7. Aspectos Econmicos e Comerciais do MERCOSUL 5.7.1. Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML) 5.7.2. O comrcio intrabloco 5.7.3. Fundo de Convergncia Estrutural do MERCOSUL (FOCEM)
  18. 18. 5.8. Questes 6. ADMINISTRAO E INSTITUIES INTERVENIENTES NO COMRCIO EXTERIOR BRASILEIRO 6.1. Cmara de Comrcio Exterior (CAMEX) 6.1.1. Competncias 6.2. Secretaria de Comrcio Exterior (SECEX) 6.2.1. Departamento de Comrcio Exterior (DECEX) 6.2.2. Departamento de Negociaes Internacionais (DEINT) 6.2.3. Departamento de Defesa Comercial (DECOM) 6.2.4. Departamento de Planejamento e Desenvolvimento do Comrcio Exterior (DEPLA) 6.2.5. Departamento de Normas e Competitividade no Comrcio Exterior (DENOC) 6.3. Banco Central do Brasil (BACEN) 6.4. Ministrio das Relaes Exteriores (MRE) 6.5. Secretaria da Receita Federal do Brasil 6.6. O Sistema Integrado de Comrcio Exterior (SISCOMEX) 6.7. Questes 7. O ACORDO SOBRE REGRAS DE ORIGEM 7.1. Regras de Origem no MERCOSUL 7.1.1. Certificados de origem 7.1.2. Procedimentos de investigao 7.2. Regime de Origem na ALADI 7.3. Questes 8. SISTEMAS PREFERENCIAIS DO COMRCIO INTERNACIONAL 8.1. O Sistema Geral de Preferncias (sgp) 8.1.1. Condies para obteno do benefcio 8.2. Sistema Global de Preferncias Comerciais (SGPC) 8.3. QUESTES 9. PRTICAS DESLEAIS NO COMRCIO INTERNACIONAL E MEDIDAS DE DEFESA COMERCIAL 9.1. Dumping e Direitos Antidumping 9.1.1. Conceito de dumping 9.1.2. A margem de dumping
  19. 19. 9.1.3. Determinao do dano 9.1.4. Natureza jurdica dos direitos antidumping 9.1.4.1. Direitos antidumping como sano 9.1.4.2. Direitos antidumping como tributo 9.1.4.3. Direitos antidumping como normas de direito econmico 9.1.4.4. Da natureza aduaneira dos direitos antidumping 9.1.4.5. Dumping como fenmeno do comrcio internacional 9.1.5. Da singularidade da relao jurdica dos direitos antidumping 9.1.6. Ciclo jurdico e etapas de investigao do dumping 9.1.6.1. Do encerramento da investigao 9.2. Subsdios e Medidas Compensatrias 9.2.1. Conceito de subsdio 9.2.2. Classificao dos subsdios 9.2.3. Apurao do dano e do montante de subsdio acionvel 9.2.4. Procedimento de investigao dos subsdios 9.2.5. Medidas compensatrias e compromissos de preos 9.2.6. Subsdio de produtos agrcolas 9.3. Salvaguardas 9.3.1. Procedimento de investigao das salvaguardas 9.4. Defesa Comercial no Brasil 9.5. Defesa Comercial no Mercosul 9.6. Defesa Comercial na Organizao Mundial do Comrcio 9.7. Medidas em Vigor 9.8. Questes 10. CLASSIFICAO ADUANEIRA DE MERCADORIAS 10.1. Sistema Harmonizado de Designao e de Codificao de Mercadorias 10.2. Tarifa Externa Comum e Nomenclatura Comum do MERCOSUL 10.2.1. Alteraes na tarifa externa comum 10.3. Estrutura da Nomenclatura Comum do Mercosul 10.4. Regras de Interpretao do Sistema Harmonizado 10.5. Exemplo de utilizao da NCM e TEC 10.6. Nomenclatura de Valor Aduaneiro e Estatstica (NVE) 10.7. Questes 11. VALOR ADUANEIRO
  20. 20. 11.1. A Base de Clculo do Imposto de Importao 11.1.1. A valorao aduaneira e as distores na base de clculo do imposto de importao 11.2. Acordo sobre a Implementao do Artigo VII do GATT 11.3. A Valorao Aduaneira no Brasil 11.4. Normas sobre valorao aduaneira 11.5. Aplicao dos Mtodos 11.5.1. Mtodos substitutivos de valorao 11.5.2. Particularidades da valorao aduaneira no Brasil 11.6. Administrao do Acordo de Valorao Aduaneira 11.7. Questes 12. CONTRATOS INTERNACIONAIS E INCOTERMS 12.1. Conveno das Naes Unidas sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias (Conveno de Viena) 12.2. Termos do Comrcio Internacional (INCOTERMS 2010) 12.2.1. Conceito 12.2.2. Possibilidade de arbitragem 12.2.3. Os INCOTERMS e a legislao brasileira 12.2.4. Classificao dos INCOTERMS 12.2.5. Os grupos de INCOTERMS 12.2.6. Outras inovaes e recomendaes dos INCOTERMS 2010 12.2.7. Estrutura dos INCOTERMS 2010 12.2.7.1. Ex Works 12.2.7.2. Free Carrier 12.2.7.3. Free Alongside Ship 12.2.7.4. Free On Board 12.2.7.5. Cost and Freight 12.2.7.6. Cost, Insurance and Freight 12.2.7.7. Carriage Paid To 12.2.7.8. Carriage and Insurance Paid To 12.2.7.9. Delivered At Terminal 12.2.7.10. Delivered At Place 12.2.7.11. Delivered Duty Paid 12.3 Questes 13. PAGAMENTOS NO COMRCIO INTERNACIONAL
  21. 21. 13.1. A questo do risco e a interveno de terceiros nos pagamentos internacionais 13.2. Modalidades de Pagamento do Comrcio Internacional 13.2.1. Remessa ou pagamento antecipado 13.2.2. Remessa sem saque 13.2.3. Cobrana documentria 13.2.4. Crdito documentrio 13.2.5. Crditos e clusulas especiais 13.3. Questes 14. CMBIO 14.1. Mercado de Cmbio 14.1.1. Classificao dos mercados de cmbio 14.2. Contrato de Cmbio 14.2.1. Contratos de cmbio nas operaes de exportao 14.2.1.1. Financiamento das exportaes 14.2.1.2. O paradigma internacional Ex-Im Bank 14.2.1.3. BNDES Exim 14.2.1.3.1. BNDES Exim pr-embarque 14.2.1.3.2. BNDES-Exim ps-embarque 14.2.1.4. Programa de Financiamento s Exportaes (PROEX) 14.2.1.4.1. PROEX financiamento 14.2.1.4.2. PROEX equalizao de taxas de juros 14.2.1.4.3. PROEX financiamento produo exportvel 14.2.1.5. Adiantamento sobre Contratos de Cmbio (ACC) e Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACE) 14.2.2. Contratos de cmbio nas operaes de importao 14.3. Taxas de cmbio 14.3.1. Cotao das taxas de cmbio 14.3.2. Regimes cambiais 14.3.2.1. O padro-ouro 14.3.2.2. Taxas de cmbio fixas 14.3.2.3. Taxas de cmbio flutuantes 14.3.3. Teoria da paridade do poder da compra 14.3.4. Classificao das taxas de cmbio 14.4. Arbitragem 14.5. Swaps, Derivativos e Hedge 14.6. Controle Cambial
  22. 22. 14.7. Questes 15. REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS 15.1. Caractersticas Gerais 15.2. Trnsito Aduaneiro 15.2.1. Procedimentos do trnsito aduaneiro 15.3. Admisso Temporria 15.3.1. Extino do regime ou exigncia do crdito tributrio 15.3.2. Admisso temporria para utilizao econmica 15.3.3. Admisso temporria para aperfeioamento ativo 15.4. Drawback 15.4.1. Drawback suspenso 15.4.2. Drawback iseno 15.4.3. Drawback restituio 15.5. Entreposto Aduaneiro 15.5.1. Entreposto aduaneiro na importao 15.5.2. Entreposto aduaneiro na exportao 15.5.3. Responsabilidade tributria 15.6. Entreposto Industrial sob Controle Aduaneiro Informatizado (RECOF) 15.7. Regime Aduaneiro Especial de Importao de Insumos destinados Industrializao por Encomenda (RECOM) 15.8. Exportao Temporria 15.8.1. Exportao temporria para aperfeioamento passivo 15.9. Regime Aduaneiro Especial de Exportao e de Importao de Bens destinados s atividades de pesquisa e de lavra das jazidas de Petrleo e de Gs Natural (Repetro) 15.10. Regime Aduaneiro Especial de Importao de Petrleo Bruto e seus derivados (REPEX) 15.11. Regime Tributrio para Incentivo Modernizao e Ampliao da Estrutura Porturia (Reporto) 15.12. Loja Franca 15.13. Depsito Especial 15.14. Depsito Afianado 15.15. Depsito Alfandegado Certificado 15.16. Depsito Franco 15.17. Regimes Aduaneiros Aplicados em reas Especiais
  23. 23. 15.17.1. Zona Franca de Manaus 15.17.1.1. Normas especficas 15.17.2. reas de livre-comrcio 15.17.3. Zonas de processamento de exportao 15.18. Questes REFERNCIAS
  24. 24. POR QUE O COMRCIO INTERNACIONAL IMPORTANTE? 1.1. Por uma teoria do comrcio internacional 1.1.1. O comrcio ultramarino 1.1.2. Mercantilismo: o desenvolvimento do comrcio internacional 1.1.2.1. Pressupostos do mercantilismo 1.1.3. O sistema de livre-comrcio 1.1.4. A afirmao do capitalismo 1.1.5. Adam Smith e a teoria das vantagens absolutas 1.1.6. David Ricardo e a teoria das vantagens comparativas 1.1.7. O mundo globalizado 1.1.7.1. As faces da globalizao 1.1.8. Livre-cambismo e protecionismo 1.1.9. Barreiras tarifrias e no tarifrias 1.1.9.1. Barreiras tarifrias: conceito e aplicao 1.1.9.1.1. Breve introduo tributao das importaes 1.1.9.1.2. Carter protecionista das alquotas do imposto de importao 1.1.9.1.3. Competncia do Poder Executivo para a alterao das alquotas do imposto de importao 1.1.9.1.4. Alquotas mdias das importaes no Brasil 1.1.9.1.5. Tipos de alquotas do imposto de importao 1.1.9.2. Modalidades no tarifrias de interveno 1.1.9.2.1. Sistema de cotas 1.1.9.2.2. As cotas no acordo multifibras 1.1.9.2.3. Proibio nas importaes 1.1.9.2.4. As barreiras sanitrias e fitossanitrias 1.1.9.2.5. As barreiras tcnicas ao comrcio 1.1.9.2.6. O licenciamento das importaes 1.1.9.2.6.1. Sistemtica de licenciamento no Brasil 1.1.9.2.6.1.1. Licenciamento automtico
  25. 25. 1.1.9.2.6.1.2. Licenciamento no automtico 1.1.9.2.6.1.3. Produtos sujeitos a controles especficos 1.1.9.2.7. Outras barreiras no tarifrias 1.1.9.2.7.1. Medidas de natureza financeira 1.1.9.2.7.2. Organismo estatal importador 1.1.9.2.7.3. Servios e ndices nacionais obrigatrios 1.1.9.2.7.4. Exigncia de bandeira nacional 1.1.9.2.7.5. Restries voluntrias de exportao 1.1.9.2.7.6. Inspees prvias ao embarque 1.1.9.2.7.7. Procedimentos aduaneiros especiais e a iniciativa para a segurana de contineres 1.2. Questes Desde que os povos passaram a se organizar, nos primrdios da civilizao, parece ter surgido a ideia natural de que o comrcio seria capaz de produzir benefcios mtuos. Essa percepo decorre de uma questo prtica: impossvel produzir com eficincia todos os bens necessrios para certa sociedade. Claro que o universo de necessidades tambm se expandiu a partir do contato entre os povos. Isso porque bens outrora desconhecidos passaram a ser considerados indispensveis, seja por sua evidente utilidade, seja, talvez, pelo simples prazer que proporcionam. Nas aulas sempre utilizo o seguinte exemplo: imaginem a primeira vez que um fara egpcio, que se considerava uma divindade suprema e sem igual, deparou-se com um hipottico emissrio do Oriente, vestido com trajes da mais pura seda. Qual no deve ter sido sua reao ao constatar que um mero servial poderia ostentar roupas to maravilhosas, que ele simplesmente no tinha? Imagino a encrenca em que se meteu o alfaiate real quando foi chamado a se justificar. O ser humano , por definio, referencial, vale dizer, baseamo-nos pelo o que os outros so, fazem ou possuem e, no mais das vezes, o que mais queremos exatamente aquilo que no temos. Desse breve raciocnio podemos, quem sabe, construir a noo de que o comrcio internacional foi, em tempos remotos, impulsionado pelos desejos individuais de lderes poderosos, que simplesmente queriam ter tudo o que de melhor existisse. Paralelamente, os demais membros das sociedades antigas, em especial aqueles tambm detentores de certo poder e prestgio, buscavam acompanhar o soberano e as novas tendncias de consumo. E, para atender a esse grupo de afortunados, surgiu uma importante classe de intermedirios, os mercadores, que buscavam no exterior produtos em voga para suprir as exigncias desses primeiros consumidores.
  26. 26. O aperfeioamento do modelo, tanto em termos logsticos como econmicos, propiciou sua rpida expanso, at o ponto em que uma parcela significativa das pessoas realmente passou a depender de produtos oriundos do exterior, criando o que poderamos chamar de mercados incipientes. Claro que a viso apresentada bastante simplista, at porque elaborada com o intuito de introduzir o primeiro fator de desenvolvimento do comrcio, nitidamente influenciado por desejos individuais. Por bvio, outro componente, no menos importante, foi essencial para essa deciso favorvel ao desenvolvimento do comrcio internacional. Em algum momento histrico, quando uma gama variada de bens j estava disposio das pessoas, algum deve ter percebido que nem todos so capazes de produzir aquilo de que necessitam. Embora a teoria econmica modernamente fale em economia de escala, ganhos com o comrcio e eficincia na alocao de recursos, uma explicao anterior, bem mais singela, precisa ser lembrada: a simples vontade de empreender esforos no basta para a tarefa de produzir bens. Em alguns cenrios, mesmo que o esforo fosse descomunal, o resultado seria pfio ou mesmo nulo. Um pas do norte da Europa no produzir bananas, assim como no Japo a carne bovina sempre ser uma iguaria. Ou seja, independentemente do empenho na produo, fatores geogrficos ou climticos so determinantes para as escolhas das naes. Curiosamente, foi a partir desse panorama de diversidade que surgiu a necessidade de especializao como alternativa para a obteno de vantagens no comrcio internacional. Como ressalta Paul Krugman1, vencedor do Prmio Nobel de Economia e grande terico do comrcio internacional: Os pases participam do comrcio internacional por duas razes bsicas, cada uma delas contribuindo para seus ganhos do comrcio. Primeiro, os pases comercializam porque so diferentes uns dos outros. Os pases, assim como os indivduos, podem ser beneficiados por suas diferenas, atingindo um arranjo no qual cada um produz as coisas que faz relativamente bem. Segundo, os pases comercializam para obter economias de escala na produo. Isto , se cada pas produz apenas uma variedade limitada de bens, ele pode produzir cada um desses bens em uma escala maior e, portanto, mais eficientemente do que se tentasse produzir tudo. 1.1. POR UMA TEORIA DO COMRCIO INTERNACIONAL Podemos afirmar que a teoria do comrcio internacional um dos mais antigos captulos da histria do pensamento poltico e econmico. Desde tempos remotos, quando os primeiros assentamentos de seres humanos organizados partiram para a grande aventura da civilizao, os contatos comerciais entre diferentes povos foi objeto de indagaes.
  27. 27. Os filsofos gregos, por exemplo, j conviviam com a dicotomia gerada pelo comrcio exterior: se, por um lado, eram inegveis os benefcios em termos de aquisio de novos produtos, costumes e riqueza, por outro j parecia evidente a preocupao com o mercado domstico, que sofria com o enfrentamento da concorrncia externa. Mais do que a mera importao de bens, a questo tambm gerava reflexos na cultura e no trabalho das pessoas, de tal forma que ideais protecionistas nasceram praticamente juntos do prprio comrcio. Ao longo da histria, vrios ciclos econmicos tiveram influncia direta nos fluxos do comrcio internacional. De vises puramente livre-cambistas at a adoo de prticas protecionistas questionveis, o cenrio das transaes oscilou ao sabor dos interesses dos pases, da existncia ou no de regulamentao e, por fim, da viso terica desenvolvida por ilustres personagens. Nosso objetivo, no restante deste captulo, ser o de apresentar os principais modelos, suas caractersticas marcantes e o impacto de tais polticas, que compem a chamada teoria geral do comrcio internacional. 1.1.1. O comrcio ultramarino O desenvolvimento de navios mercantes, de porte avantajado e capazes de cruzar os oceanos, propiciou uma rpida expanso do comrcio internacional a partir do sculo XVI. Alm das transaes entre diferentes portos da Europa, com especial destaque para os holandeses, novas rotas transocenicas descobertas entre o Velho Continente e o Leste permitiram a importao de produtos em grande quantidade da sia, a preos relativamente baixos e de forma muito mais eficiente do que a alternativa terrestre, caracterizada pelas caravanas. A descoberta das Amricas possibilitou o comrcio de novas mercadorias, tais como o tabaco e uma diversidade de espcies de rvores, cuja madeira era bastante apreciada nas metrpoles. Entretanto, foi com a explorao espanhola das ricas minas de ouro e prata no Mxico e no Peru que o comrcio internacional da poca ganhou consistncia. A Europa finalmente detinha a propriedade de commodities amplamente aceitas em todo o Oriente, o que impulsionou as transaes de longa distncia e permitiu a aproximao econmica de culturas to distintas. Com o desenvolvimento das negociaes, novas formas de organizao comercial surgiram. Foram criadas companhias de navegao, com a participao de acionistas comerciantes, que financiavam, por conta prpria, as arriscadas empreitadas martimas. Esse fracionamento permitiu a quebra das barreiras sociais entre as diferentes classes de mercadores; o acesso ao comrcio internacional no era mais privilgio de poucos. 1.1.2. Mercantilismo: o desenvolvimento do comrcio internacional
  28. 28. A partir do momento em que filsofos e pensadores polticos passaram a analisar a natureza dos Estados modernos, o comrcio com outros pases tornou-se objeto de estudos mais elaborados, voltados principalmente s questes de ordem prtica e a seus possveis reflexos na economia. Da dizer-se que o mercantilismo representou a contrapartida econmica do absolutismo e que um de seus princpios basilares era a acumulao de riquezas, principalmente ouro e prata. A supremacia econmica deveria ser alcanada a qualquer custo, e o bem-estar da nao s seria possvel mediante o fortalecimento do poder estatal. No modelo mercantilista a chama do nacionalismo ardia sem hesitao. Para as metrpoles europeias, que no possuam recursos minerais em abundncia, restavam duas opes: a explorao de suas colnias e o comrcio internacional. Qualquer que fosse a opo ou mesmo no caso de ambas serem adotadas, quando isso era possvel outro problema deveria ser levado em considerao: a necessidade de saldo positivo nas transaes comerciais. Como resultado, a soluo adotada era simples e pressupunha o encorajamento das exportaes e severas restries s importaes, empregando-se a diferena eventualmente positiva na aquisio de metais preciosos. As colnias serviam como mercados consumidores de produtos acabados do imprio e fornecedores de matrias-primas; o comrcio era privilgio exclusivo da metrpole e qualquer forma de manufatura nos territrios coloniais era proibida. Para completar a teoria, uma nao forte deveria possuir uma grande populao, que fornecesse mo de obra e soldados, assim como um vasto mercado consumidor. Como ingredientes finais, recomendava-se boa dose de protecionismo aliada a um mnimo de direitos humanos e sociais. Invocamos, a respeito, a opinio de Maurice Dobb2: Em suma, o Sistema Mercantil foi um sistema de explorao regulamentada pelo Estado e executada atravs do comrcio, que desempenhou um papel importantssimo na adolescncia da indstria capitalista, sendo essencialmente a poltica econmica de uma era de acumulao primitiva. Foi considerado to importante em sua prpria poca, que em algumas obras mercantilistas encontramos uma inclinao a tratar o ganho auferido do comrcio exterior como sendo a nica forma de excedente e, portanto, fonte nica de acumulao de renda e capital.... Essa era a receita de desenvolvimento do perodo mercantilista, momento histrico que sob a tica geopoltica pode ser considerado como a primeira manifestao, em larga escala, do fenmeno que hoje se conhece por globalizao. Foi nesse cenrio em franca expanso que o economista escocs Adam Smith publicou, em 1776, o clssico A riqueza das naes, em que exps, entre muitos outros assuntos, sua teoria sobre o comrcio internacional, baseada no princpio da vantagem absoluta, ou seja, cada pas devia se especializar na produo de bens que pudessem ser obtidos pelo menor custo.
  29. 29. Smith foi tambm um dos primeiros filsofos a estudar o fenmeno da tributao, chegando a estabelecer, inclusive, seus pressupostos fundamentais. Na verdade, esse livro uma obra de flego3, que expe a um s tempo todo o panorama econmico europeu e a consequente participao inglesa no processo. 1.1.2.1. Pressupostos do mercantilismo Como vimos, o mercantilismo, como manifestao econmica do nacionalismo, tinha como objetivo a construo de Estados acumuladores de riqueza, especialmente ouro e prata4. Adam Smith cunhou o termo sistema mercantil para descrever esse modelo de enriquecimento, especialmente voltado para o comrcio exterior, no qual o equilbrio favorvel das trocas permitiria a gerao de ganhos estatais e a manuteno do nvel de emprego domstico. O interesse por uma balana comercial positiva decorria de prticas intervencionistas, da aplicao de tributos sobre produtos estrangeiros competitivos e da busca incessante pela importao de produtos in natura, com a exportao de bens manufaturados. Por bvio que a prtica jamais poderia dar certo se todos os pases a adotassem simultaneamente, o que gerou uma corrida sem limites por novas fontes de riqueza, em relevante medida, impulsionando o perodo das grandes navegaes. O sistema mercantilista dominou as polticas dos grandes Estados da Europa ocidental do sculo XVI ao sculo XVIII. Como modelo, fundava-se na concentrao de poder regional, decorrente do feudalismo, e atingiu seu apogeu com o estabelecimento de colnias ultramarinas, cujo principal objetivo era prover as grandes metrpoles europeias com novos produtos e especiarias, alm de fornecer os metais preciosos para a formao de uma base monetria para as transaes. A Lex Mercatoria nasceu como resultado das prticas comerciais, que exigiam um mnimo de princpios e convenes para que as transaes pudessem lograr xito. Trata-se de um tecido jurdico costurado a partir de costumes, aceitos e referendados reciprocamente pelos atores do comrcio internacional, sem nenhuma vinculao com o ordenamento jurdico de qualquer pas. A despeito de manifestaes espordicas anteriores, a Lex Mercatoria ganha fora a partir do desenvolvimento do comrcio na Europa, inicialmente nas cidades italianas e depois se espalha por diversos pases. Segundo Jos Carlos de Magalhes e Agostinho Tavolaro5, as regras que compunham a Lex Mercatoria diferiam das normas locais, reais, feudais ou eclesisticas ento vigentes e possuam cinco aspectos fundamentais: eram regras transnacionais; tinham como base uma origem comum e fidelidade aos costumes mercantis;
  30. 30. eram aplicadas no por juzes profissionais, mas pelos prprios mercadores, por meio de suas corporaes ou das cortes que se constituam nos grandes mercados ou feiras; seu processo era rpido e informal; e enfatizavam a liberdade contratual e a deciso dos casos ex aequo et bono. Em certa medida, o conjunto de regras conhecido como Lex Mercatoria aproxima-se do atual conceito de arbitragem, mecanismo de soluo mais importante e eficaz do comrcio internacional. Nas palavras de Magalhes e Tavolaro6: Havendo litgio solucionado por arbitragem, a efetividade da deciso no repousa na fora do Estado, mas na da corporao em que se integram as partes desavindas. O vencido que no acatar o laudo arbitral dela ser excludo, ante a falta de credibilidade e de confiabilidade que passar a caracteriz-lo perante seus pares. Ademais, as regras da Lex Mercatoria, desenvolvidas no comrcio internacional, embora nem sempre previstas nos direitos nacionais, no so necessariamente com estes conflitantes, sendo com frequncia compatveis com os princpios que governam o direito obrigacional. Os tribunais podero dar-lhes efetividade, seja fundamentado no princpio do pacta sunt servanda e no da boa-f, seja na sua adequao aos princpios gerais do direito. O perodo tambm foi prdigo em grandes conflitos militares, de modo que a formao de reservas e de uma base econmica sustentvel era fundamental para a manuteno de foras permanentes, capazes de fazer frente aos ataques inimigos e garantir a constante e necessria expanso territorial. A poltica expansionista contava com o apoio da nova classe mercantil, formada por prsperos empreendedores privados e que, mediante o pagamento de tributos e tarifas diversos, subsidiava os esforos militares. Tudo isso para garantir a aplicao de medidas protecionistas, que limitavam o volume de importaes e impunham severas restries s exportaes de ferramentas e utenslios, ante o receio de que as naes concorrentes e, at mesmo, as colnias pudessem desenvolver produtos manufaturados. Para Portugal e Espanha, por exemplo, que mantinham vastos territrios alm-mar, a consolidao do modelo mercantilista e o domnio dos oceanos eram de fundamental importncia, especialmente diante do temvel poderio naval da Holanda, Frana e Inglaterra. Um dos melhores exemplos da aproximao entre governo e particulares na garantia da supremacia mercantilista foi a criao da Companhia Britnica das ndias Orientais, formada em 1600 por comerciantes londrinos sob os auspcios da Rainha Elizabeth I e que, durante sculos, manteve o monoplio de lucrativos produtos. No caso especfico do ch, explorado pela Companhia, o enfrentamento com produtores rebeldes norte-americanos, que assaltaram trs navios britnicos no porto de Boston, em 1773, deu incio ao conflito entre os pases, que redundou, pouco tempo depois, na Declarao de Independncia dos Estados Unidos da Amrica.
  31. 31. Muito embora no possamos afirmar que o mercantilismo se manifestou de modo consistente e uniforme pela Europa, algumas caractersticas bsicas podem ser apontadas, conforme quadro a seguir. 1.1.3. O sistema de livre-comrcio O modelo mercantilista era obviamente imperfeito e fadado ao fracasso. medida que se fortalecia a capacidade industrial na Europa, a partir da segunda metade do sculo XVIII, a concepo de um comrcio livre comeava a ganhar fora. A partir de teorias que levavam em considerao as vantagens obtidas pelos pases, como consequncia da soma das vantagens individuais de seus agentes econmicos, a interveno governamental nos mercados s fazia sentido quando pudesse garantir a liberdade das trocas. Adam Smith, ao se debruar sobre a questo, foi o primeiro a expressar esse sentimento, no j citado A riqueza das naes. O sistema de livre-comrcio prevaleceu durante todo o sculo XIX, fortemente impulsionado pela Revoluo Industrial, que surgiu na Inglaterra e provocou enormes transformaes na agricultura, na produo e no transporte de bens e mercadorias. O declnio do mercantilismo fez surgir a figura do industrial, em substituio ao antigo mercador, que passou a explorar a mo de obra humana na operao das novas mquinas e equipamentos, o que ensejou o surgimento do capitalismo. 1.1.4. A afirmao do capitalismo No existe uma conceituao correta e especfica para o capitalismo, tamanhas so as variantes e implicaes econmicas do conceito. De modo simples, podemos definir capitalismo como um sistema econmico no qual os meios de produo so majoritariamente privados, visando obteno de lucro numa economia de mercado. Em termos gerais, o capitalismo surge a partir do fracasso do feudalismo e do interesse das pessoas em possuir bens e participar ativamente do comrcio, por meio de empresas ou corporaes.
  32. 32. Muito embora seja possvel oferecer um conceito bsico para o capitalismo, sua total compreenso algo bem mais complexo, a comear pela prpria origem e o fundamento do sistema. O ponto de partida comum parece ser a chamada escola liberal, que, no fim do sculo XVIII, com as ideias traadas por Adam Smith e alguma influncia dos fisiocratas franceses (Quesnay, Turgot e Du Pont), pode ser considerada a origem do capitalismo. No incio do sculo XX, o modelo foi aperfeioado, entre outros fatores, pela introduo do conceito de marginalismo7 e passou a ser denominado neoclassicismo. O liberalismo clssico, que deu origem ao capitalismo, toma por referncia quatro pilares centrais: o interesse pessoal como motor da sociedade, que conduz os indivduos a servir tambm aos interesses da comunidade, como se guiado por uma mo invisvel, na clebre definio de Adam Smith; a concorrncia entre as empresas como regra natural do sistema de oferta e procura dos mercados livres; a ausncia de regulamentao pelo Estado, salvo nas hipteses de ofensa lei ou relevante interesse nacional; a especializao das tarefas, com a respectiva diviso do trabalho, de modo a aumentar a eficcia do sistema livre-cambista. Na esteira do capitalismo e da acumulao de dinheiro em espcie, o sistema financeiro se desenvolve profundamente e pe em marcha complexas relaes de mercado, caracterizadas por investimentos, assuno de riscos e dvidas, bem assim especulaes de toda ordem. Por bvio que a concentrao de capital decorrente do mercado financeiro fez com que o capitalismo inicial, baseado na ideologia do laissez-faire, se transformasse, prximo do fim do sculo XIX, em um campo frtil para a formao de cartis e monoplios. Apesar da percepo generalizada de que o capitalismo efetivamente ajudou a promover o crescimento econmico, avaliado pelo aumento do Produto Interno Bruto (PIB) dos pases e da qualidade de vida das pessoas, entre outros fatores, algumas crticas importantes podem ser destacadas. Se nos parece inequvoco que as pessoas passaram a trabalhar menos horas por semana, a consumir maiores quantidades de itens de conforto e a obter oportunidades individuais historicamente tolhidas pelos sistemas feudal e mercantilista, pode-se tambm, ao revs, dizer que o capitalismo aumentou a disparidade social entre os indivduos, ou seja, o modelo se mostrou incapaz de distribuir de forma justa a riqueza gerada. Isso exige dos Estados modernos maiores preocupaes intervencionistas, especialmente voltadas para a garantia de direitos sociais mnimos, constitucionalmente fixados, acompanhados de polticas de insero e capacitao dos indivduos, notadamente os de baixa
  33. 33. renda. Como nunca houve e provavelmente jamais haver uma economia realmente livre, os diversos governos dos pases ocidentais, ao longo das ltimas dcadas, tm adotado mecanismos especficos de controle ou regulamentao dos mercados. As medidas mais frequentes passam pelo controle de preos ou pela utilizao de tributos para estimular ou reduzir o consumo, com especial destaque para aquelas relacionadas ao comrcio exterior. Em razo do jogo de foras atualmente em vigor na maior parte dos pases, vrios autores consideram o modelo atual como de economia mista, no qual se objetiva, nem sempre com sucesso, certo equilbrio entre as relaes de mercado e a necessria proteo aos interesses domsticos. 1.1.5. Adam Smith e a teoria das vantagens absolutas Adam Smith nasceu numa pequena vila da Esccia em 1723. Considerado o fundador da economia moderna, Smith foi o primeiro a refutar o modelo mercantilista com A riqueza das naes, de 1776. Para Smith, o comrcio livre traria benefcios para todos os envolvidos, alm de propiciar a necessria especializao para que se alcanassem economia de escala, eficincia e crescimento. O pensamento de Smith inaugurou os conceitos de mercado livre e laissez-faire, bem como influenciou a economia britnica na prtica de tal modo, que a Inglaterra, na segunda metade do sculo XIX, j havia banido todos os resqucios da era mercantilista, o que em muito colaborou para o seu posicionamento como potncia econmica e financeira da poca. Smith era, por formao, um filsofo, com enorme vocao para detalhes e observaes minuciosas. Foi a arguta percepo da realidade que o levou a formular suas mais importantes concluses. famosa a histria sobre como Smith percebeu a importncia da diviso e da especializao do trabalho, temas centrais do seu pensamento. Certa vez, ao visitar uma pequena fbrica de alfinetes, com no mais do que dez funcionrios, ele anotou: Um homem puxa o fio, outro o acerta, um terceiro o corta, um quarto
  34. 34. faz-lhe a ponta, um quinto prepara a extremidade para receber a cabea, cujo preparo exige duas ou trs operaes diferentes. Coloc-la uma ocupao peculiar; prate-la outro trabalho. Arrumar os alfinetes no papel chega a ser uma tarefa especial (...). Feito o relato, Smith intuiu que os trabalhadores, assim divididos, eram capazes de produzir 48 mil alfinetes num dia, contra 20 mil ou at menos se trabalhassem isoladamente em todo processo. Ao extrapolar o raciocnio e lev-lo para o comrcio internacional, Adam Smith formulou a Teoria das Vantagens Absolutas , segundo a qual a vantagem absoluta de um pas na produo de um bem decorre da maior produtividade, assim entendida a utilizao de menos fatores de produo. No seu modelo simplificado, o nico fator de produo considerado era o trabalho, e os rendimentos de escala eram constantes. Na viso de Smith, cada pas deveria se concentrar na produo de bens que lhe oferecessem vantagem absoluta, de forma que o excedente ao consumo interno seria exportado, e a receita correspondente empregada na importao de bens do outro pas8. O fator determinante para as escolhas seria o custo de produo, ou seja, a capacidade de produzir com a menor alocao de insumos. O pensamento de Smith, como o de praticamente todos os filsofos, foi fruto da poca em que viveu. Ao observar uma Inglaterra vigorosa, industrial e renovada, foi-lhe fcil defender um mercado livre e sem interveno estatal. Adam Smith fez uma apologia contundente do mercado livre, baseado na premissa de que os gastos estatais so irresponsveis e contraproducentes, de modo que a nica soluo para as vergonhosas relaes econmicas e comerciais observadas no perodo seria a adoo de uma poltica de laissez-faire. Apesar disso, reconheceu, com prodigiosa clarividncia, a inevitvel reduo da participao humana nos modelos de produo em massa e a incondicional necessidade de investimento na educao pblica, como nica forma de retirar o povo de sua miservel condio. Seu radicalismo liberal era, pois, centrado nas intervenes de mercado: Smith abominava restries s importaes, subsdios para exportaes ou regulamentaes de carter protecionista. O grande legado de seu pensamento foi levantar a bandeira de que os mercados deviam ser livres para fixar seus nveis naturais de preos, salrios, lucros e produo. Todas as interferncias no mercado s prejudicariam a verdadeira riqueza da nao, como destaca Heilbroner9. claro que, nos dias de hoje, se analisarmos o pensamento de Adam Smith sob a perspectiva histrica, vrios problemas podem ser apontados. O mais frequente diz respeito ao carter quase utpico dos mercados livres, que, em tese, contribuiriam para o agravamento das desigualdades do sistema econmico internacional.
  35. 35. Um dos pensadores mais influentes da atualidade, Joseph E. Stiglitz10, que sempre destacou o mrito do pioneirismo de Smith, afirma: Os polticos e economistas que prometem que a liberalizao do comrcio ir melhorar a vida de todos no esto sendo sinceros. A teoria econmica (e a experincia histrica) indica o contrrio: mesmo que a liberalizao possa melhorar a situao do pas como um todo, ela faz com que alguns grupos fiquem em situao pior. E sugere que, pelo menos nos pases industriais avanados, so aqueles que esto na base da pirmide os trabalhadores no especializados que sofrero mais. O mundo de Adam Smith e dos defensores do livre-comrcio, o qual no melhorar a vida de todos, no apenas um mundo mtico de mercados funcionando perfeitamente sem desemprego: tambm um mundo em que o risco no importa porque h mercados de seguros perfeitos que podem assumi-lo e onde a competio sempre perfeita, sem Microsofts e Intels que dominem o campo11. O cenrio atual, no qual grandes crises internacionais, como a deflagrada em 2008, foram consequncia direta da desregulamentao dos mercados, realmente nos faz refletir sobre a posio francamente liberal e no intervencionista de Adam Smith. Ainda assim, sua estatura como fundador da moderna concepo econmica e como irrestrito defensor da importncia do comrcio internacional para o desenvolvimento das naes mrito inquestionvel, que jamais ser esquecido. 1.1.6. David Ricardo e a teoria das vantagens comparativas Quase meio sculo depois de A riqueza das naes, o economista ingls David Ricardo alterou a teoria de Smith, propondo a utilizao do princpio da vantagem comparativa, que incentivava o comrcio entre dois pases toda vez que um deles possusse um produto cujo preo fosse melhor no exterior do que em seu mercado interno. David Ricardo escreveu numa poca em que os interesses comerciais j haviam adquirido certo grau de organizao e a interveno poltica , bem como, por decorrncia, a jurdica em favor deles alcanara o Parlamento. A percepo da fora dos grandes latifundirios e negociantes internacionais exerceu profunda influncia no pensamento de Ricardo, que se mostra bem mais pessimista que Adam Smith. David Ricardo talvez tenha sido o primeiro a perceber que o mundo das relaes econmicas no era harmnico, mas, sim, palco de uma declarada guerra de interesses, cujos vencedores, em sua opinio, j estavam escolhidos. Com base nessa constatao, ele deixou ao mundo uma brilhante e evidente contribuio, nas palavras de Heilbroner12: Despira-o de seus aspectos no essenciais, deixando-o exposto ao exame de todos. Na sua prpria irrealidade estava a sua fora, pois a estrutura nua de um mundo grandemente simplificado no somente revelava as leis da renda como elucidava tambm as questes vitais do comrcio externo, do dinheiro, impostos e poltica econmica. Construindo um mundo modelo, Ricardo deu economia a poderosa ferramenta da abstrao ferramenta
  36. 36. essencial para superarmos a confuso da vida diria e compreender o seu mecanismo subjacente. Ricardo se interessou por economia aos 27 anos, justamente aps conhecer a obra de Adam Smith. At o fim da vida dedicou-se a escrever ensaios econmicos, e sua contribuio mais conhecida a elaborao da Teoria das Vantagens Comparativas , at hoje apontada por muitos como a base para a teoria do livre-comrcio, cuja essncia foi divulgada na obra Princpios da economia poltica e tributao, de 1817. Ele defendia que a eficincia no depende da capacidade absoluta de produo de certo bem, mas, sim, da capacidade de produo desse bem em relao a outro. Frieden13 destaca a importncia da teoria para o comrcio internacional: O princpio da vantagem comparativa tem claras implicaes no livre-comrcio. Uma vez que um pas sempre se beneficia ao seguir as suas vantagens comparativas, e as barreiras comerciais impedem que ele seja capaz de faz-lo, a proteo comercial nunca benfica economia como um todo. Polticas governamentais que evitam a importao simplesmente foram os pases a produzir mercadorias fora de suas vantagens comparativas. Proteo comercial aumenta o preo das importaes e diminui a eficincia da produo domstica. No intuito de compreendermos melhor a importncia da teoria desenvolvida por Ricardo e suas implicaes no comrcio internacional, vejamos dois exemplos hipotticos. Exemplo 1 Digamos que os trabalhadores do pas A podem produzir uma pizza em 6 horas e um litro de azeite de oliva em 3 horas. Em contrapartida, os trabalhadores do pas B conseguem produzir uma pizza em 1 hora e um litro de azeite em 2 horas, o que significa que so mais produtivos. primeira vista, parece-nos que o pas B, por ser mais eficiente nos dois produtos, no teria vantagem alguma ao negociar com o pas A. No verdade. Se o preo da pizza for o mesmo do litro de azeite, os dois pases ganharo com o comrcio e a especializao. A produo de uma pizza exige metade das horas de trabalho no pas B, que ir se especializar nesse produto. Ao contrrio, o pas A se especializar no azeite de oliva, pois a produo de pizza, no seu territrio, exige o dobro de horas daquele produto. Nesse cenrio, ambos tero vantagens, pois B produz apenas 1/2 litro de azeite em 1 hora, a qual poderia ser utilizada para produzir pizza, que seria trocada por um litro de azeite com A. Do mesmo modo, o pas A pode utilizar 1 hora de trabalho para produzir 1/6 de pizza, mas mais vantajoso empregar essa hora para produzir 1/3 de azeite, que poder ser trocado por 1/3 de pizza. Isso significa que os recursos foram utilizados pelos pases A e B de forma duas vezes mais eficiente, apenas porque decidiram comercializar em vez de produzir. Exemplo 214
  37. 37. Imagine que Ado e Eva so as duas ltimas pessoas do mundo e as nicas coisas de que necessitam so mas e peixes. Se Ado passar o ms todo colhendo mas, ele conseguir cem unidades, mas nenhum peixe. Ao contrrio, se gastar seu tempo de trabalho pescando, no fim do ms ter 200 peixes. Se dividir o tempo igualmente para as duas tarefas, cada ms lhe proporcionar 50 mas e 100 peixes. Por seu turno, se Eva se concentrar nas mas, obter, durante o ms, 50 frutas. Caso decida passar o tempo todo dedicando-se pesca, conseguir 50 peixes. Se dividir seus esforos, ter 25 unidades de cada item. Nesse passo, podemos elaborar um quadro simples com as quantidades mximas de mas e peixes que cada um consegue produzir durante um ms, de acordo com a escolha adotada. Tabela 1.1. Possibilidades de produo ADO EVA Mas 100 50 Peixes 200 50 Se eles no interagissem o que seria pssimo para o nosso exemplo , a quantidade mxima que cada um poderia consumir seria exatamente aquilo que conseguissem produzir. Contudo, se eles decidirem negociar entre si, o nosso amigo David Ricardo poderia nos demonstrar que a teoria das vantagens comparativas permitir que eles possam consumir mais produtos do que conseguiriam produzir. Vamos supor que, por razes lgicas, Ado e Eva dividam igualmente o tempo de trabalho de cada um para obter os dois itens de que precisam, assim, o total que conseguiriam produzir e consumir est na tabela a seguir: Tabela 1.2. Bens produzidos e consumidos sem especializao e comrcio ADO EVA Mas 50 25 Peixes 100 25 Digamos, agora, que Ado encontre Eva e, ao verificar suas habilidades, faa a seguinte proposta: Dou-lhe 37 peixes em troca de 25 mas. Suponhamos que ambos desejam manter, aps o negcio, o consumo de mas original. Nossa prxima tabela mostra as quantidades de mas e peixes que Ado e Eva produziro ante a expectativa de fechamento do negcio (perceba que Ado investiu 1/4 do tempo na produo de mas e 3/4 na obteno de peixes, enquanto Eva concentrou-se exclusivamente nas mas). Tabela 1.3. Quantidades produzidas com especializao e comrcio ADO EVA Mas 25 50 Peixes 150 0 Concludo o acordo, a prxima tabela demonstrar que as quantidades consumidas pelos
  38. 38. dois sero superiores do que no cenrio anterior, sem a troca comercial. Ambos tm o mesmo nmero de mas que possuam antes do negcio, mas Ado tem agora 13 peixes a mais e Eva 12 peixes a mais do que antes. Tabela 1.4. Quantidades consumidas com especializao e comrcio ADO EVA Mas 50 25 Peixes 113 37 Interessante notar que o mercado do exemplo (a produo total de Ado e Eva) tem agora 25 peixes a mais do que antes, como resultado direto da especializao, algo que Adam Smith no havia imaginado, mas que David Ricardo magistralmente intuiu (alis, fundamental destacar que Ricardo, ao contrrio de outros economistas famosos, no utilizava modelos matemticos complexos, o que s valoriza suas concluses). A mgica por trs do raciocnio de Ricardo decorre do fato de que, para cada peixe que Eva consegue, h o sacrifcio de uma ma. Como o custo de produo de Ado para os peixes menor, ou seja, meia ma por peixe, Eva deve se especializar nas mas. Enquanto para Ado o custo da ma de dois peixes, para Eva a proporo de um para um. Portanto, Ado deve se especializar nos peixes. Sob o ponto de vista individual, Ado sabe que cada peixe lhe custa meia ma; desse modo, ser um bom negcio vender cada peixe por um preo superior ao de meia ma. No nosso exemplo, o negcio foi fechado por aproximadamente 2/3 de ma por peixe. Eva sabe que cada ma lhe custa o equivalente a um peixe e, portanto, tem interesse em vender suas mas por um preo tambm superior (no exemplo, ela vendeu a fruta na proporo de 1,5 peixe, o que tambm foi um bom negcio). O importante para a teoria de Ricardo que pelo menos um dos preos seja mutuamente vantajoso para as partes. Por bvio que o modelo tambm se aplica a mercados mais realistas, nos quais milhes de pessoas e produtos interagem em busca de vantagens comparativas. O modelo proposto por David Ricardo considera o trabalho como nico fator de produo, de modo que a especializao do comrcio ter como referncia, para os pases envolvidos, as exportaes de bens que foram produzidos a partir da alocao eficiente do trabalho interno, e as importaes sero relativas a bens cujo trabalho interno no poderia ser eficientemente alocado. Da surgem os benefcios recprocos do comrcio, o ponto fundamental da teoria das vantagens comparativas. Krugman descreve a situao e conclui15: H duas maneiras de demonstrar que o comrcio beneficia um pas. Primeiro, podemos imaginar o comrcio como um mtodo indireto de produo. Em vez de produzir um bem para o consumo interno, o pas pode produzir outro bem e comercializ-lo pelo bem desejado. Esse modelo simples mostra que, sempre que um
  39. 39. bem importado, deve ser verdade que essa produo indireta requer menos trabalho que a produo direta. Segundo, podemos mostrar que o comrcio aumenta as possibilidades de consumo de um pas, levando-o a ganhos de comrcio. As obras de Adam Smith e David Ricardo estabeleceram as fundaes da chamada economia clssica, cuja aplicao no comrcio internacional repercute at os dias de hoje, como ponto inicial de referncia para sua compreenso, alm de oferecer importante anlise sobre os reflexos nos sistemas de tributao ao longo dos tempos. MODELO HECKSHER-OHLIN Conceito A partir da Teoria das Vantagens Comparativas de David Ricardo, os economistas suecos Eli Hecksher e Bertil Ohlin (ganhador de Prmio Nobel de Economia em 1977) desenvolveram um modelo que analisa as propores entre diferentes fatores de produo nos pases (tambm conhecido como teoria das propores dos fatores) Premissas Concluses Mercado com dois pases, no qual cada um produz apenas dois bens Na Teoria das Vantagens Comparativas, a determinao do comrcio internacional adviria das diferenas na produtividade entre os pases, enquanto no modelo de Hecksher-Ohlin o fundamental seria a intensidade dos fatores de produo Cada bem utiliza somente dois fatores de produo (capital e trabalho, por exemplo) Os pases com abundncia em capital exportaro bens de capital intensivo, e os pases com abundncia de trabalho exportaro produtos de trabalho intensivo Atuao num mercado de concorrncia perfeita, sem interferncia de outros fatores Os pases tendem a produzir (e, em consequncia, exportar) relativamente mais bens que utilizam de modo intensivo seus recursos abundantes 1.1.7. O mundo globalizado Muito se tem escrito sobre a globalizao e suas implicaes no cenrio econmico mundial. O fenmeno no , ao contrrio do que usualmente se pensa, novo ou original. Suas razes se assentam no capitalismo e na acumulao de riquezas surgidos com a circulao de mercadorias em escala global. Aps a fase puramente mercantilista e com o advento da Revoluo Industrial no sculo XIX, o capital industrial aliou-se aos recursos provenientes do setor bancrio, vido por novos investimentos, o que ensejou a criao do chamado mercado financeiro internacional, viabilizado pelo avano dos transportes e das comunicaes. Uma nova mentalidade empreendedora surgiu, alterando as relaes entre capital, produo e distribuio. A maximizao do lucro era o objetivo, e a corrida para a dominao dos mercados havia comeado.
  40. 40. Importante notar que essa tendncia expansionista do capital foi detectada, originalmente, por Karl Marx, que em 1848 j a advertia no Manifesto comunista16: A grande indstria criou o mercado mundial, preparado pela descoberta da Amrica. O mercado mundial promoveu um desenvolvimento incomensurvel do comrcio, da navegao e das comunicaes. Esse desenvolvimento, por sua vez, voltou a impulsionar a expanso da indstria. E na mesma medida em que a indstria, comrcio, navegao e estradas de ferro se expandiam, desenvolvia-se a burguesia, os capitais se multiplicavam e, com isso, todas as classes oriundas da Idade Mdia passavam a um segundo plano (...). A burguesia no pode existir sem revolucionar constantemente os instrumentos de produo, portanto as relaes de produo, e por conseguinte todas as relaes sociais (...). A necessidade de mercados sempre crescentes para seus produtos impele a burguesia a conquistar todo o globo terrestre. Ela precisa estabelecer-se, explorar e criar vnculos em todos os lugares. Pela explorao do mercado mundial, a burguesia imprimiu um carter cosmopolita produo e ao consumo em todos os pases (...). As indstrias tradicionais foram, e ainda so, a cada dia, destrudas. So substitudas por novas indstrias, cuja introduo se tornou essencial para todas as naes civilizadas. Essas indstrias no utilizam mais matrias-primas locais, mas matrias-primas provenientes das regies mais distantes, e seus produtos no se destinam apenas ao mercado nacional, mas tambm a todos os cantos da terra. Marx apontou o problema com maestria, mas no viveu o suficiente para v-lo em sua forma acabada. O capital, at atingir sua concepo hodierna, passou, na verdade, por trs fases distintas: da vocao meramente industrial para o ingresso do capital financeiro e, finalmente, para a criao dos chamados fundos de investimentos internacionais. Da porque considerarmos que a globalizao, em sua configurao atual, difere substancialmente daquela principiada com a internacionalizao do comrcio: o que temos hoje , acima de tudo, a globalizao do capital, e no uma globalizao de trocas como no passado. Para ilustrar a diferena, que ser mais bem discutida no prximo tpico, vale invocar, mais uma vez, o pensamento de Marx, cristalizado na famosa mxima: O capital cria um mundo sua imagem. 1.1.7.1. As faces da globalizao Vimos que o capital, alm de ter revolucionado o comrcio internacional, possui tambm o poder de mudar as relaes globais. Alis, o vnculo entre o capital e o poder poltico praticamente indissocivel. E foi justamente pela influncia poltica neoliberal dos pases economicamente mais fortes que se pautou o processo de globalizao em vigor. A nova globalizao surge, num cenrio internacional conturbado, como deciso poltica do capital. Como destaca Jeremy Rifkin17: A primeira-ministra Margareth Thatcher, na Gr- Bretanha, e o Presidente Ronald Reagan, nos EUA, comandaram uma rebelio poltica contra os
  41. 41. grandes governos, pregando os valores da desregulamentao da indstria e da privatizao dos servios pblicos. A ideia era dispersar o mximo possvel de atividades do governo pela arena comercial e pelo setor sem fins lucrativos, quais, presumia-se, o mercado e a sociedade civil proporcionariam meios mais eficazes para a proviso de valor. O quanto mais melhor perdeu o atrativo, e a descentralizao entrou em voga. No incio da dcada de 1980, diversas mudanas de ordem econmico-institucional foram introduzidas pelos governos Reagan, Thatcher e Kohl. O modelo adotado previa, entre outras coisas, a liberalizao dos fluxos de comrcio exterior. Aliada a um grande desenvolvimento tecnolgico, especialmente das telecomunicaes, a orientao neoliberal ganhou fora e passou a ser a nica sada para a crise do capital. A cartilha tambm ditava a necessidade de restrio da participao estatal e a privatizao do patrimnio pblico, juntamente do estreitamento do espao destinado sociedade civil. Tudo em prol de uma massa mais homognea de consumidores globais. Os pases latino-americanos, mais deriva do que a reboque, acataram prontamente a determinao. Seguindo o mesmo raciocnio, os mercados deveriam se ajustar racionalmente, sem a necessidade de mecanismos regulatrios eficientes que permitissem uma soluo justa dos conflitos comerciais internacionais. Dois momentos histricos emblemticos podem ser destacados como o estopim do atual modelo de globalizao: a fragmentao da Unio Sovitica e a derrocada do regime socialista nos pases do leste europeu; a queda do Muro de Berlim, smbolo mximo da diviso poltica, econmica e ideolgica entre o capitalismo e o socialismo. Quando Mikhail Gorbachev, ento lder da Unio Sovitica, deu incio ao processo de abertura econmica e poltica do pas, nos anos 1980, por meio de mecanismos que ficaram conhecidos como glasnost (transparncia, no sentido de conferir maior liberdade de expresso s pessoas, aps dcadas de represso e censura) e perestroika (reconstruo do modelo econmico, com maior participao da iniciativa privada), certamente no imaginava que seu eventual fracasso levaria ao colapso da Unio Sovitica e ao desfazimento da Repblica, rapidamente dividida em diversos novos pases, que surgiram a partir dos anos 1990 do sculo passado. A anlise de Frieden precisa18: Em 1991, enquanto Gorbachev lutava para administrar o que agora seria uma transio clara para o estilo ocidental de economia e democracia, a URSS entrou em colapso. O regime comunista, a poltica autoritria, a planificao econmica e a Guerra Fria haviam chegado ao fim, muito mais rpida e pacificamente do que qualquer um
  42. 42. poderia ter previsto. Em meio desordem socioeconmica, ainda faltava desmontar os sistemas poltico e econmico e construir uma nova ordem capitalista. Entretanto, a transformao do mundo comunista estava completa, da mesma forma como ocorrera anteriormente no mundo capitalista avanado e nos pases em desenvolvimento. Em meio crise sovitica, as principais foras do Ocidente perceberam a oportunidade de instalar um novo regime, em bases globais, baseado na liberalizao do comrcio e do mercado de capitais, proposta que ficou conhecida como Consenso de Washington19. A vitria ocidental ensejou a adoo de uma nova perspectiva para o planeta. Nas palavras de Frieden20, O novo ponto de vista, cujo nome variava livre mercado, neoliberalismo ou ortodoxia , adotava a austeridade anti-inflacionria, cortes de impostos e gastos, privatizao e desregulamentao. O Consenso de Washington, como foi rotulado pelo economista John Williamson, logo se tornou o princpio para a organizao da maioria das discusses sobre poltica econmica. O Consenso de Washington repercutia com fora crescente no mundo em desenvolvimento, durante a luta dos pases contra as crises da dvida e de crescimento dos anos 1980 e tambm no mundo comunista, que se afastava do planejamento central dos anos 1990. No fim do sculo, havia mais concordncia em torno da doutrina econmica do que em qualquer outra poca desde 1914. Contudo, o arqutipo proposto pelo Consenso de Washington, segundo Stiglitz21, apresentava vrios problemas: Ele enfatizava a diminuio de escala do governo, a desregulamentao, liberalizao e privatizao rpidas. Nos primeiro anos do milnio, a confiana no Consenso de Washington j estava desgastada e surgia um consenso ps-Consenso de Washington. O Consenso, por exemplo, havia dado pouqussima ateno s questes de equidade, emprego e competio, ao gradualismo e sequenciamento das reformas, ou ao modo como deveriam ser conduzidas as privatizaes. Existe agora tambm um consenso de que ele punha um foco excessivo em um simples aumento do PIB, no em outras coisas que afetam os padres de vida, e dava pouca ateno sustentabilidade se o crescimento pode ser sustentado econmica, social, poltica e ambientalmente. Com base na diretriz ento dominante, o mundo todo, a partir do incio da dcada de 1990, passou a vivenciar o fenmeno da globalizao, exponencialmente alavancado pela internet, o mais famoso exemplo de evoluo das telecomunicaes. A correlao entre a velocidade das comunicaes e o desenvolvimento do comrcio internacional destacada por Frieden22: A computao e as telecomunicaes modernas favoreceram a integrao econmica internacional, pois reduziram os custos das transaes comerciais e dos investimentos e tambm os custos de monitorao dos interesses estrangeiros. Alm disso, alguns dos elementos mais importantes do setor de alta tecnologia eram intangveis softwares e programao, por exemplo , e seria tecnicamente difcil impedir transaes internacionais que os envolvessem. Finalmente, a indstria de alta tecnologia veio a requerer um
  43. 43. grande volume de pesquisa e desenvolvimento, entre outras demandas relacionadas, indicando que a rentabilidade passaria a depender de produo ou distribuio em larga escala, o que tipicamente s era alcanado por meio dos mercados globais. Devido facilidade propiciada pela tecnologia, que tornou praticamente instantneas muitas transaes internacionais, a circulao livre do capital consolidou o modelo neoliberal e desregulamentado dessa primeira fase de integrao em escala global. Quando se instalou, a globalizao foi recebida com euforia pelos mercados, especialmente nos pases em desenvolvimento, que passaram a abrir suas economias ao investimento estrangeiro e a receber fluxos de capitais que aumentavam a cada ano. Havia a percepo de que todos ganhariam com a globalizao, pois o acesso a mercados e o livre fluxo de bens e servios trariam benefcios tanto para os pases ricos, que teriam bilhes de novos consumidores potenciais, como para os pases em desenvolvimento, que receberiam investimentos e poderiam, no mdio prazo, absorver novas tecnologias. O problema que a globalizao, altamente centrada na liberdade do capital e, portanto, geradora de grande interdependncia entre os pases , em certa medida enfraqueceu o conceito de Estado-nao, que durante muitas dcadas foi o centro de deciso e poder poltico. Ao ingressar numa economia globalizada, os pases, at ento concentrados em questes domsticas ou regionais, passam a enfrentar problemas em larga escala (comrcio internacional, crises econmicas e degradao ambiental, para citarmos apenas os mais relevantes), cujas solues dependem, igualmente, de respostas fornecidas por organismos internacionais fortes e eficientes, situao muito distante da realidade atual. Por mais que se possa afirmar que a criao da Organizao Mundial do Comrcio (OMC), a partir de 1995, tenha sido um importante passo na direo certa, muitos ainda so os desafios que precisam ser enfrentados. A liberdade do fluxo de capitais nos levou, paradoxalmente, a uma grande concentrao de poder. Quando eu era estudante do nvel mdio, minha professora de geografia, ao comentar sobre os efeitos de uma possvel abertura dos mercados, insistia na teoria de ganhos recprocos para todos os pases. Sem as barreiras que proibiam a importao de quase tudo no Brasil dos anos 1980 (trazer um simples computador do exterior poderia ser tratado como crime, graas estapafrdia lei de reserva de mercado para informtica), dizia ela, seria possvel que pequenos produtores nacionais comeassem a fazer negcios com outros em situao semelhante espalhados pelo mundo. Com a expanso do fenmeno em escala global, pequenos empreendedores, em todos os continentes, teriam acesso a novas e incrveis oportunidades, com a consequente expanso dos mercados e do desenvolvimento econmico. Quando a internet se tornou realidade, permitindo a comunicao entre pessoas de todo o
  44. 44. planeta a custos prximos de zero, tudo indicava que as previses otimistas da minha professora (e de tantos outros tericos) realmente se confirmariam. Infelizmente, passadas mais de duas dcadas do incio da globalizao, o cenrio que consigo vislumbrar bem mais complicado. Em vez de facilitar o acesso a mercados para as pequenas empresas, o efeito mais perceptvel da globalizao, em termos de comrcio internacional, parece ter sido reduzir as oportunidades, com a concentrao de poder na mo de poucas empresas, chamadas de transnacionais. Se o amigo leitor quiser confirmar isso, basta abrir os jornais, num dia qualquer, na seo de economia, e provavelmente encontrar alguma notcia ou especulao acerca de novas fuses e incorporaes entre grandes empresas, as modalidades mais frequentes de concentrao do capital. Com efeito, costumo perguntar aos alunos, em classe, que me indiquem algum setor estratgico de produtos ou servios que no esteja limitado a meia dzia de grandes empresas. Indago-lhes isso porque, segundo a minha percepo, existem verdadeiros cartis, formado por empresas transnacionais, em praticamente todas as atividades com relevncia econmica. Do setor petrolfero aos laboratrios farmacuticos, dos fabricantes de processadores para computadores aos prprios softwares que os utilizam, dos fornecedores militares s empresas de telecomunicaes, passando, por exemplo, pelos fabricantes de avies, pela gua mineral que bebemos e assim sucessivamente, parece-me muito rdua a tarefa de encontrar mercados pulverizados, nos quais empresrios de todos os portes e nveis tecnolgicos disputam clientes em condies de livre-comrcio. Claro que, por ter alunos inteligentes, frequentemente recebo como resposta minha pergunta o exemplo do setor automobilstico, no qual haveria certa disperso e verdadeira concorrncia de mercado. Historicamente tenho aceitado esse bom argumento como exceo que confirmaria a regra, com a ressalva de que as montadoras possuem, em escala global, importantes participaes societrias umas nas outras. Todavia, ao pesquisar mais profundamente os temas para este livro, deparei-me com uma situao diferente da que imaginava. Ao verificar o maior mercado automobilstico do mundo, o norte-americano, qual no foi minha surpresa ao constatar que 84% dos carros vendidos nos Estados Unidos em 2007 saram de apenas seis montadoras23! Isso significa dizer que, mesmo no bero do neoliberalismo, num mercado teoricamente bastante competitivo e talvez na rea mais sensvel para a indstria norte-americana , a concentrao de poder tambm a regra do jogo. Grfico 1.1. Comrcio intrafirmas de servios nos EUA em relao ao total das exportaes privadas (1997-2007)
  45. 45. Fonte: OMC World trade developments in 2008. Da podermos afirmar, com certa margem de segurana, que a globalizao atual, muito mais propcia livre circulao do capital24 do que propriamente dos produtos (que enfrentam barreiras protecionistas de toda ordem, como teremos oportunidade de observar) gera enormes distores e dificuldades para os pequenos players, que, a despeito do avano nas telecomunicaes, no conseguem colocar seus produtos em mercados atrativos. Some-se a isso o fato de que 80% da populao do mundo vive em pases em desenvolvimento, com baixa renda, nveis precrios de educao e elevadas taxas de desemprego. Parece-nos claro que para essas pessoas que a globalizao precisa gerar oportunidades. inquestionvel, contudo, a participao das grandes empresas globais na economia, fenmeno que se iniciou na dcada de 1970, conforme relata Frieden25: Na Europa, as multinacionais em especial, as norte-americanas se espalharam por todos os lugares. Em grande parte dos Estados, 1/4 ou mais das vendas era de produtos industrializados. Mais da metade da indstria canadense passou a ser controlada por empresas estrangeiras. Nos pases em desenvolvimento, o predomnio multinacional na produo fabril era ainda maior. Na maioria dos pases latino-americanos, de 1/3 a metade da produo industrial provinha de empresas estrangeiras. Como as bancas examinadoras de concursos, historicamente, tm solicitado dos candidatos uma viso mais crtica do processo de globalizao, achamos oportuno indicar, conforme lista compilada por Stiglitz26, quais as principais censuras de natureza econmica e social feitas ao atual modelo: as regras do jogo que governam a globalizao so injustas e especificamente projetadas para beneficiar os pases industriais avanados. Na verdade, algumas mudanas recentes so
  46. 46. to injustas que pioraram a situao de alguns dos pases mais pobres; a globalizao promove os valores materiais acima de outros valores, tais como a preocupao com o meio ambiente e com a prpria vida; o modo como a globalizao foi administrada tirou grande parte da soberania dos pases em desenvolvimento e de sua capacidade de tomar decises em reas essenciais, que afetam o bem-estar de seus cidados. Nesse sentido, ela prejudicou a democracia; embora os defensores da globalizao afirmem que todos se beneficiaro em termos econmicos, h provas suficientes, tanto nos pases em desenvolvimento como nos desenvolvidos, de que existem muitos perdedores em ambos os lados; e o que talvez seja mais importante, o sistema econmico que foi recomendado com insistncia aos pases em desenvolvimento em alguns casos, imposto a eles inapropriado e, com frequncia, altamente danoso. A globalizao no deveria significar uma americanizao da poltica econmica ou da cultura, mas foi isso que aconteceu, muitas vezes, provocando ressentimento. O leitor perspicaz poderia contra-argumentar no sentido de que algumas dessas crticas podem ser rebatidas, se a questo for tomada sob outra perspectiva. O raciocnio correto, e s refora a tese de que a globalizao suficientemente complexa e importante para ser tratada de modo genrico, a partir de solues de gabinete, prontas e acabadas. Talvez a maior prova disso tenha sido a crise econmica deflagrada em 2008, na qual os pases desenvolvidos foram os que sofreram mais profundamente, a ponto de alguns lderes internacionais declararem a necessidade de reviso do modelo, es