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Ana M. Campelos ADVOGADA e CONSULTORA A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA -Reflexões... Alocução elaborada pela autora para o Departamento das Mulheres Alocução elaborada pela autora para o Departamento das Mulheres Socialistas do Algarve, no âmbito do Dia Internacional para a Socialistas do Algarve, no âmbito do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a mulher Eliminação da Violência contra a mulher “Honrai as mulheres! Elas traçam e tecem Rosas celestes na vida terrestre, Traçam os laços felizes do amor. E na graça de seus véus decentes Nutrem vigilantes o fogo eterno De belo sentimentos Com mão abençoada" (Schiller 1759-1805, Da dignidade das Mulheres) O grande problema, e sempre este o será, é o esquecimento de determinados conceitos, valores-guia, referências sociais e morais e familiares, virtudes e competências e que fazem as regras de convivência sã em determinado momento histórico e que integram e se sobrepõem aos conceitos e regras legais. Assegurar que todos os indivíduos (cidadãos) que independentemente do seu género, condição e idade, da sua nacionalidade, regionalidade ou etnicidade tem tutelados e garantidos direitos e são sujeitos de obrigações e responsabilidades, é um factor de ordem e coesão social. Reservador os direitos de autor 1

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violência doméstica; crime de ofensas corporais; medidas contra a violência domêstica; estádios da violência

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A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA -Reflexões...

Alocução elaborada pela autora para o Departamento das MulheresAlocução elaborada pela autora para o Departamento das MulheresSocialistas do Algarve, no âmbito do Dia Internacional para aSocialistas do Algarve, no âmbito do Dia Internacional para a

Eliminação da Violência contra a mulherEliminação da Violência contra a mulher

“Honrai as mulheres! Elas traçam e tecemRosas celestes na vida terrestre,Traçam os laços felizes do amor.E na graça de seus véus decentesNutrem vigilantes o fogo eternoDe belo sentimentosCom mão abençoada"(Schiller 1759-1805, Da dignidade das Mulheres)

O grande problema, e sempre este o será, é o esquecimento de determinadosconceitos, valores-guia, referências sociais e morais e familiares, virtudes ecompetências e que fazem as regras de convivência sã em determinado momentohistórico e que integram e se sobrepõem aos conceitos e regras legais.

Assegurar que todos os indivíduos (cidadãos) que independentemente do seugénero, condição e idade, da sua nacionalidade, regionalidade ou etnicidade temtutelados e garantidos direitos e são sujeitos de obrigações e responsabilidades, é umfactor de ordem e coesão social.

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Porém, não obstante ser um factor de ordem e de coesão social, estas dicotomiasou dualismos (vg., direitos-deveres) criam tensões, não apenas entre os indivíduos(cidadãos) mas entre os demais agentes intervenientes.

Os primeiros documentos consagradores dos direitos – e.g. Bill of Rights,Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – incluíam predominantemente osdireitos civis e políticos, entre os quais o direito ao julgamento justo, o direito dereunião, o direito à liberdade de expressão e o direito à prática de culto religioso.

No entanto, os direitos humanos também incluem os direitos sociais, económicos eculturais, tais como o direito a uma habitação condigna, aos cuidades de saúde e a umaremuneração justa.

O actual entendimento dos direitos humanos fundamenta-se, então, numsistema de valores mais lato e mais abrangente.

Os direitos humanos não estão referenciados ao direito de cidadania exclusivode um país em particular. Nos direitos humanos também estão incluídas as relaçõesdos indivíduos uns com os outros assim como as relações entre os indivíduos e oEstado. Todo o ser humano tem direito a conhecer os seus direitos e a saber omodo como exercê-los.

Assim, na sequência da Declaração Universal dos Direitos Humanos, verifica-seuma tendência para alargar o conceito de direitos fundamentais por forma a incluírem,também, os novos direitos económicos, sociais e culturais, tendo em vista obstar asituações de desigualdade de oportunidades e acrescentando assim ao valor-guia daliberdade - que estruturou os direitos civis e políticos -, o valor-guia da igualdade..

Mais recentemente, àquelas duas gerações tradicionais de direitos das pessoastêm-se vindo a somar outros, como por exemplo, o direito a um ambiente sadio, odireito dos consumidores à qualidade dos produtos e serviços, o direito aopatrimónio cultural, o direito ao desenvolvimento ou o direito à diferença. Estesnovos direitos vêm acentuar o valor-guia da solidariedade e, simultaneamente,introduzir uma lógica de discriminação positiva (e não já de mera não-discriminaçãoformal), reforçando as dimensões da subjectividade contra a massificaçãouniformizadora.

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O que tudo dito, nos leva a perguntar?

Existe a nível nacional, comunitário e internacional leis (no seu sentido amplo,leis, Decretos-Leis, Portarias, Regulamentos, etc.) que tutelem os direitos dosindividuos, enquanto seres humanos?

Existirão então leis que protejam e tutelem os direitos dos indivíduos que,históricamente, por variadíssimas razões (e aqui impossiveis de elencar, face aotempo), continuam a ser alvo e vitimas de violência? De violência, hoje,genericamente falada de Violência Doméstica?

Claro que sim. Diríamos, nós, até de mais!

Proliferam tantas1 que se tornam, às vezes, difíceis para o próprio operadorde justiça, para os órgãos e agentes, para os elementos das organizações quedefendem e apoiam os vitimizados, de as saber. De resto, mais dificil ainda as sãopara as vítimas de violência, em particular, indivíduos (homens e mulheres) menosletrados e informados, crianças e idosos.

Ademais, também para eles, surge, mesmo sabendo e podendo, os consabidosconstrangimentos – pessoais, físicos e psico-emocionais - inerentes à denúnciacontra o agressor de que eles próprios são vítimas.

Mas, não nos podemos esquecer que é consabido que as vitimas escolhidas peloagressor apresentam sempre uma qualquer vulnerabilidade ou traço distintivo.

Pode ser um judeu em França, um sem-abrigo no Porto, uma criança, um idoso, umhomem ou, simplesmente… uma mulher. O estado civil é indiferente, pois não exclui avitimização do outro.

E, sejam aqueles indivíduos, os atrás evindenciados, inseridos no contexto deinstitucionalizações – por exemplo, lares, abrigos, hospitais -, ou, onde estatisticamenteé mais frequente, inseridos no contexto familiar de parentesco ou afinidade.

Está mais que estudado pelas áreas do saber competentes que os indivíduos, atéobterem o apoio e serem afastados do agressor, e pior, às vezes, até à sua morte não

1 Vejam-se as resenhas de legislação e informação anexa

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natural – v.g. são assassinadas -, vivem num ciclo contínuo e vicioso de violência e medode cortar com a relação de subjugação do ofensor, do agressor.

As razões são múltiplas e plúrimas, e transversias a todas as classes sociais,idades, géneros, raças e religiões ou credos.

*

FASES DO CICLO DE VIOLÊNCIA2

I -a) A Fase de Aumento da Tensão.As tensões quotidianas acumuladas pelo ofensor, tensões que ele não sabe resolversem o recurso à violência, criam um ambiente de eminente perigo para a mulhervítima, que é culpabilizada por tais tensões. Sob qualquer pretexto, o ofensor vaiexpulsar todas as suas tensões sobre a mulher vítima. Os pretextos podem ser muitosimples, recorrendo o ofensor a situações do quotidiano familiar, como pode tambémacusá-la de ter amantes ou outro namorado. O aumento da tensão pode resultar emdiscussão entre ambos. Pode ainda ser facilitado pela embriaguez ou pelo uso dedrogas por parte do ofensor; O mesmo acontece em relação às crianças, quemantendo-as no medo sob a ameaça de castigo, seja corporal, seja afectivo – porexemplo – não brincar com, não dar afectos, fchar no quarto ou despensa – oagressor, matém a criança sob o signo da depêndencia com medo da perda do apoio,carinhos e afectos, interiorizam dever sofrer tais abusos; Igualmente e comcontornos tão idênticos acontece em relação aos idosos. De notar que o aumentode tensões e pretextos ocorrem por banda da mulher em relação ao homem, sejaele marido, namorado ou companheiro, criando-lhes os mesmos constrangimentos edependências.

b) Segue-se a A Fase do Ataque Violento.O ofensor maltrata, física e psicologicamente, a vítima, que procura defender-seapenas pela passividade , esperando que ele pare e não avance com mais violência. Esteataque pode ser de grande intensidade, ficando, por vezes, o individuo-vítima em estadobastante grave, necessitando de tratamento médico, ao qual ele nem sempre lhe dáacesso imediato; ou ao qual a vitima, homem ou mulher hábil, não recorrem por vergonha,

2 Fonte APAV adaptado pela Autora

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a maior parte das vezes por vergonha; sendo criança ou idoso, porque desconhecem ounão têm capacidade ou meios para o fazerem.

c) E depois A Fase do Apaziguamento.O ofensor, depois da tensão ter sido direccionada, sob a forma de violência, sobrea vítima, manifesta lhe arrependimento e promete não voltar a ser violento/a . Pode invocar motivos para que ela desculpabilize o seu comportamento, como, porexemplo, ter corrido mal o dia de trabalho, não ter descansado na noite anterior,ter-se embriagado, ter estado sob efeito de drogas, etc, etc.. Para reforçar o seu pedido de desculpas, trata delicadamente a vítima, fazendo-aacreditar que, de facto, foi essa a última vez que ele/a se descontrolou. Porque oofensor envolve a vítima, gora, de bons tratos e a seduz, esta fase é também chamadade Lua de Mel. Este Ciclo é vivido pela (mulher/homem/criança/idoso) vítima numa constante de medo eesperança. O medo que sente é motivado pelas experiências de violência já vivenciadas epelo perigo, que é real e está sempre presente. A esperança que sente prende-se com avontade que tem de se ver livre de tal relacionamento.

O Ciclo da Violência dificulta muito as tomadas de decisão da vítima, pois esta vivenele fases muito dramáticas (a tensão e o ataque violento), mas que terminam numafase considerada gratificante (o apaziguamento), na qual a sua esperança de ter umavivência sem violência faz acreditar e tentar novamente o projecto de vida sonhado.

Este ciclo caracteriza-se pela sua continuidade no tempo, isto é, pela sua repetiçãosucessiva, podendo ser cada vez menores as fases da tensão e do apaziguamento e cadavez maior e mais intensa a fase do ataque violento, que pode resultar em homicídio(conjugal, infanticida, fraticida, parricida, etc.).

II| A VÍTIMA DE VIOLÊNCIA vive SOB O DOMÍNIO DO OFENSOR

A vítima encontra-se no Ciclo da Violência sobretudo pelo domínio que exerce sobreela o seu ofensor, que usa estratégias diversas para ter esse poder sobre ela.Estas estratégias são usadas, isolada ou conjuntamente, de um modo subtil ouviolento.

Como é consabido que estas estratégias podem ser as seguintes:

a) Exercer violência física sobre a vítima.

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Consiste em actos como agredi-la com sovas, apertar-lhe o pescoço, puxar-lhe ocabelo violentamente, bater-lhe com a cabeça contra paredes ou superfíciessemelhantes, bater com a própria cabeça na sua cabeça, empurrá-la pelas escadasabaixo, pontapetear-lhe a barriga (em alguns casos durante uma gravidez), apontar-lhearmas brancas ou de fogo, sequestrá-la e mantê-la em sequestro em dependências decasa ou não (invariavelmente, em sótãos, arrumos, caves), ameaçar e tentar matá-la, nãoa assistir depois dos ataques ou na doença;

b) Exercer violência psicológica sobre a vítima.Consiste em actos como gritar-lhe para a atemorizar, humilhá-la com palavras ecomportamentos, persegui-la na rua e/ou no emprego, compará-la negativamente comoutras pessoas, referir-se de forma negativa a tudo quanto ela faça, difamá-la eatribuir-lhe amantes, namorado/as, humilhá-la referindo de forma negativa o seuaspecto físico, maltratar e assediar os seus familiares e amigos (que começam aevitar estar próximos do problema), quebrar a mobília e objectos, acordá-la durante anoite para atemorizar, chantageá-la, atirar comida para o chão, atribuir-lhe oexercício da prostituição e dirigir-lhe outros insultos, ameaças e consideraçõesdesprestigiantes dos atributos fisicos ou morais;

c) Exercer violência sexual sobre a vítima.É outra das tácticas e comportamentos do/a agressor, silenciando-a atraavés doisolamento relacional, das ameaças e intimação e da violência psicológica, à mistura.

d) Isolamento relacional.Consiste em proibir a vítima de trabalhar, de sair de casa, de ter amigos, decontactar outras pessoas frequentemente com os familiares. Estes, por sua vez,também podem não querer ter qualquer aproximação com a mulher vítima, temendoagravar a situação desta ou mesmo temendo as represálias do ofensor. Por sua vez, avítima também evita relacionar-se com outras pessoas, temendo a cólera do ofensor, porum lado, e sentindo vergonha do problema que tem, temendo a incompreensão dos outros,por outro lado. Estabelece uma espécie de relacionamento-ghetto, em alguns casos,efectivamente, consumado, pois sequestra em casa a vítima, temendo perder sobre ela odomínio;

e) Intimidação e ameaças.Consiste em manter a vítima sempre com muito medo do que ele/a possa vir a fazercontra si e contra os seus familiares e amigos (sobretudo aos filhos/pais) e às suascoisas. O ofensor pode usar palavras, gritos, simples olhares e expressões faciais,

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mostrar ou mexer em objectos (como limpar a espingarda, carregar o revólver, afiar umafaca, exibir um bastão, etc.). Pode ainda servir-se da sua estatura.

f ) Domínio económico.É, cada vez mais – e nos tempos que correm – um facto de opressão por um lado, mas mais um factor de dependência da vitima: o medo de falta de abrigo/casa, de fome, de carência de meios económicos para prover à sua subsistência (muitas vezes também dos filhos que são igualmente vitimizados -, de medicação e de ajuda por doença, invalidez ou velhice- leva a vitima a “aguentar” todas as brutalidades e ser vilependiada, recusando-se, mesmo sabendo como, a sair de casa e pedir auxilio e denunciar o agressor.

Estas estratégias mantêm a vítima sempre atemorizada e sob domínio,

acompanhando sempre o Ciclo da Violência, de onde a vítima dificilmente se liberta.

A violência não consiste numa agressão pontual, isolada. Consiste na vitimaçãocontinuada no tempo, revelando a existência de um sistema - o Ciclo da ViolênciaConsiste em muitas agressões, físicas e psicológicas, sobre a vítima. Consiste na práticade vários crimes pelo ofensor contra a vítima, repetidamente.

E libertando-se do jugo que a prendia, a vitima, continua muitas das vezes,nesta liça de violência provocada pelo agressor.

Os fins não justificam os meios!

Mas se o entorse caracterial do agressor poderá levar a uma atenuação daimputabilidade, Tendo em vista, porém, a evolução do pensamento ético-juridico elegislativo, e os valores da prevenção geral e especial que com a punição se visampreservar, como de resto o demonstra o novo código penal e a legislação avulsa sobre atemática, com vista a uma maior e acertada punição dos crimes de violência perpetrados,não nos podemos esquecer que a denúncia, e punição, com aplicação de penas previstas nalei, devem sempre levar a que as mesmas contribuam para transmitir um sentimento dedignidade e de segurança à vitima do crime perpetrado, e bem assim, reorganizar osvalores do agressor de modo a que ele se reabilite e não se torne a também em vitima deuma sociedade que aprendeu a ludibriar e a desrespeitar.

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As pessoas como motor da igualdade

“A convivência democrática inspira os indivíduos rumarem na busca de efetivaçãodos seus direitos fundamentais, condição elementar para o exercício da cidadania,ampliando os horizontes de uma cidadania que se deseja além do exercício dos direitospolíticos. Nessa perspectiva o acesso à justiça surge como direito-instrumento; forma deingresso na esfera da jurisdição. O acesso à justiça como portal de entrada no universoda proteção judicial dos direitos declarados.

O acesso à justiça demanda, exige por um estado Judiciário afinado com o mundoda realidade, aberto às novas possibilidades de compreensão do Direito. O respeito aosDireitos Humanos torna-se fator preponderante no que concerne a um sistema judicialadequado aos anseios de cidadania. A democratização do Judiciário é tarefa ainda por sefazer. Essa democratização deve realizar-se em conjunto com a adopção de novos meiosde acesso à justiça. Acesso à justiça não significa apenas o acesso ao Poder Judiciário,mas, acima de tudo, acesso a formas razoáveis de resolução de conflitos”3.

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Instrumentos para a igualdade Instrumentos para a igualdade 44::

As acções positivas As acções positivas - São medidas de tratamento preferencial a - São medidas de tratamento preferencial a favor dos elementosfavor dos elementosmais desfavorecidasmais desfavorecidas ou fragilizaos, em função da idade, género, recursos económicos, ou fragilizaos, em função da idade, género, recursos económicos,sexo, raça, etnia, etc. Mais recentemente pensar em implementar medidas em função dasexo, raça, etnia, etc. Mais recentemente pensar em implementar medidas em função daclasse social. classe social.

ObjectivoObjectivo: compensar descriminações : compensar descriminações passadas e/ou prevenir a reprodução depassadas e/ou prevenir a reprodução dedescriminações sistemáticas. Por exemplo, repensar as reformas que justificam medidasdescriminações sistemáticas. Por exemplo, repensar as reformas que justificam medidasde discriminação positiva. E repensar, séria e criterialmente, na formaçãode discriminação positiva. E repensar, séria e criterialmente, na formaçãointerdisciplinar e conjugada de todos os profissionais e em particular os que lidam numainterdisciplinar e conjugada de todos os profissionais e em particular os que lidam numaprimeira fase com as vitimas e agressores nas Unidades de apoio e recepção dasprimeira fase com as vitimas e agressores nas Unidades de apoio e recepção dasdenúncias, passando pelos psicólogos e responsáveis das Casas de abrigo, até aosdenúncias, passando pelos psicólogos e responsáveis das Casas de abrigo, até aosfuncionários da Segurança social, e advogados nomeados, até aos estabelecimentosfuncionários da Segurança social, e advogados nomeados, até aos estabelecimentosprisionais, para a particularidade e sensibilidades que estes crimes comportam. prisionais, para a particularidade e sensibilidades que estes crimes comportam.

O “mainstream” O “mainstream” - É um princípio estratégico que visa - É um princípio estratégico que visa integrar o princípio da igualdade integrar o princípio da igualdade

3 Cit., in Cidadania, democracia e acesso à justiça -http://br.vlex.com/vid/cidadania-democracia-acesso-22662894

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entre homens e mulheres, a todos os níveis político, económico e social.entre homens e mulheres, a todos os níveis político, económico e social.

A auditoria de género - A auditoria de género - É um complemento do mainstreamÉ um complemento do mainstream

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Posto tudo quanto antecede, dir-se-á, em conclusão, que o Direito Posto tudo quanto antecede, dir-se-á, em conclusão, que o Direito comocomoMotor da Igualdade e justiça, consubstanciado nas leis existentes, não necessitam, noMotor da Igualdade e justiça, consubstanciado nas leis existentes, não necessitam, nomeu parecer, de serem aumentadas em número e conteúdo nem, que das existentesmeu parecer, de serem aumentadas em número e conteúdo nem, que das existentesresultem “buracos” ou falhas de lei, que o sistema juridico, em si e de per si, não possaresultem “buracos” ou falhas de lei, que o sistema juridico, em si e de per si, não possaresolver. resolver.

Existe, sim, do que me é dado saber de experiência feita, que ocorre aindaExiste, sim, do que me é dado saber de experiência feita, que ocorre aindaelevada carência de interacção entre os vários operadores e intervenientes, sejam extraelevada carência de interacção entre os vários operadores e intervenientes, sejam extrajudiciais, sejam-no judiciais, esquecendo a uns e não lembrando a outros, os direitos-judiciais, sejam-no judiciais, esquecendo a uns e não lembrando a outros, os direitos-deveres que existem e impendem sobre ambos os intervenientes: agressor e vítima. deveres que existem e impendem sobre ambos os intervenientes: agressor e vítima.

A ânsia, desajustada e, às vezes, impensada de “resolver” mais um caso de A ânsia, desajustada e, às vezes, impensada de “resolver” mais um caso de violência doméstivca, leva a não “ver” nem “ouvir” todas as peças do puzle, culminado os violência doméstivca, leva a não “ver” nem “ouvir” todas as peças do puzle, culminado os procesos crimes em medidas de injunção aplicadas ao agressor procesos crimes em medidas de injunção aplicadas ao agressor [no limite, “forçando” a conciliação entre agressor e [no limite, “forçando” a conciliação entre agressor e vítima – que em breve voltarão ao ciclo da violência], nada vítima – que em breve voltarão ao ciclo da violência], nada se fazendo, ou muito pouco, para a ressocialização do agressor, se fazendo, ou muito pouco, para a ressocialização do agressor, volvendo este, passados que sejam os prazos das ditas volvendo este, passados que sejam os prazos das ditas injunções [ou, na “paz forçada” da reconciliação], a repetir, injunções [ou, na “paz forçada” da reconciliação], a repetir, os comportamentos violentos, culminando, invariavelmente, os comportamentos violentos, culminando, invariavelmente, numa escalada cada vez maior de violência que culmina numa escalada cada vez maior de violência que culmina com a morte ou incapacidade permanente da vítima. com a morte ou incapacidade permanente da vítima.

Porto, 2012-11-23Porto, 2012-11-23

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