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FACULDADE DE AMERICANA DIREITO QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS NO ÂMBITO PENAL 3º Semestre Noturno Americana 2014

Direito Penal - Injúria Racial

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FACULDADE DE AMERICANA DIREITO

QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS NO ÂMBITO PENAL 3º Semestre – Noturno

Americana 2014

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FACULDADE DE AMERICANA

DIREITO

QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS NO ÂMBITO PENAL 3º Semestre – Noturno

Trabalho desenvolvido como exigência complementar para aprovação na disciplina Direito Penal, ministrada pela Prof.º Edmon Antonio Rached Soubihe, na modalidade atividades do Portal Acadêmico, ao terceiro semestre do Curso de Direito da Faculdade de Americana- FAM.

Área: Direito Penal

Americana

2014

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" Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar "

Nelson Mandela

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4

OS CRIMES DE PRECONCEITO NO ORDENAMENTO JURÍDICO ......................... 4

PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS ............................................................................. 6

CONCLUSÃO ............................................................................................................. 7

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 8

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INTRODUÇÃO

A tipificação dos crimes raciais teve inicio na legislação brasileira com a

instituição da lei 1390 de 1951, conhecida como Lei Afonso Arinos, o que

praticamente não efetivou resultados no comportamento da sociedade brasileira,

pois considerava os atuais crimes raciais como contravenção penal com penas

brandas e de nenhuma eficácia.

A constituição de 1988 trouxe consigo, um fator muito importante, a

transformação dos crimes raciais ou de preconceito em inafiançáveis e

imprescritíveis.

Posteriormente com a aprovação da CAO, 7.716 de 1989, o crime de racismo

ou preconceito racial passou a ter pena de detenção de 1 a três anos de reclusão,

sendo conforme a Constituição de 1988, inafiançável e imprescritível.

Quando a ofensa racial foi de foro intimo, atingido apenas a honra da vítima,

trata-se de injúria racial, tipificado no artigo 140 do Código Penal.

Nestes aspecto foi desenvolvido este trabalho, analisando a interação com os

princípios constitucionais da igualdade, da legalidade, do “non bis in idem” e da

fragmentariedade.

OS CRIMES DE PRECONCEITO NO ORDENAMENTO JURÍDICO

A Constituição brasileira de 1988, conhecida como constituição cidadã tem

como uma de suas premissas a luta pela igualdade de todos os brasileiros. Tendo o

combate à prática do racismo como uma das estratégias essenciais de se atingir tal

meta. O inciso IV do artigo 3º deixa claro que o combate ao preconceito é um dos

objetivos fundamentais de nosso país, conforme se expõe:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

No artigo 4º da Constituição é reafirmado o compromisso de se combater o

racismo não apenas no território nacional, mas também no que couber em nas

relações internacionais, conforme segue:

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Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

No entanto, apenas nortear os princípios constitucionais no combate ao

racismo não seria o suficinte, por isso o legislador foi mais além e tornou mais

severa a legislação que estiver em vigor que tipifique as praticas de preconceito

racial. Portanto, o artigo 5º inciso LXII, considera a prática do racismo como um

crime inafiançável e imprescritível, sujeitando ao agente apena de reclusão nos

termos da Lei, da seguinte forma:

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;

Infraconstitucionalmente, os crimes resultantes de preconceito de raça, cor,

etnia, religião ou procedência nacional estão tipificados na Lei 7.716 de 5 de janeiro

de 1989 temos tipificados os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de

raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, com alteração pela Lei nº 9.459 de

13 de maio de 1997, vejamos:

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

Pena: reclusão de um a três anos e multa.(Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)

O Código Penal, de forma mais branda, tipifica também a injúria, aquela em o

agente ofende a honra subjetiva da vítima, conforme segue:

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:

I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;

II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.

§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

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Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997)

Segundo Delmanto, "comete o crime do artigo 140, § 3º do CP, e não o delito

do artigo 20 da Lei nº 7.716/89, o agente que utiliza palavras depreciativas

referentes a raça, cor, religião ou origem, com o intuito de ofender a honra subjetiva

da vítima" (Celso Delmanto e outros. Código Penal comentado, 6ª ed., Renovar, p.

305) in: Injúria Racial x Racismo. MPDFT.

Nota-se que tanto na Lei 7716/89 ou Código penal, a pena prevista ao agente

é de 1 a três anos de reclusão e multa.

O crime de Racismo é imprescritível, inafiançável e de Ação Penal Pública

Incondicionada.

Já o crime de Injúria Racial é prescritível, afiançável e de Ação Penal Púbilca

condicionada, ou seja, é necessária a representação por parte da vítima.

Vale ressaltar que até 29 de setembro de 2009, o crime de injúria racial era de

iniciativa privada, que foi alterado pelo artigo 1º da lei 12.033/2009, conforme norma:

Art. 1o Esta Lei torna pública condicionada a ação penal em razão de injúria consistente na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.

Esta alteração é de suma importância, pois antes de seu advento, a vítima

tinha fazer representação no prazo de até seis meses após conhecimento do autor

da injúria e tinha que arcar com a constituição de advogado e demais custas

provenientes podendo ter gastos ainda maiores no caso de perda da ação.

PRINCIPIOS CONSTITUCIONAIS

O Principio da igualdade presente em nossa constituição e em outros

diplomas legais, por si só não tem nenhuma eficácia, passa-se de abstrato à uma

ação efetiva quando, de maneira prática, o ordenamento jurídico veda a instituição

do racismo e do preconceito, tipificando como crime tais atitudes.

Por um outro as ditas ações afirmativa, que muitos chamam de benefícios, em

verdade são uma maneira de buscar a igualdade, favorecendo os que por muito

tempo foram tratados como desiguais.

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O principio da Legalidade no Direito penal, o se divide em principio da

anterioridade e princípio da reserva legal, ou seja, ninguém será punido sem que

haja uma lei prévia que tipifique o crime e está lei deve estar presente de forma legal

no ordenamento jurídico, tendo como base estes princípios, podemos dizer que

somente em 1951 começas a considerar crime a parática do racismo, levando em

conta a brandura da lei Afonso Arinos, teoricamente somente em 1988 que

efetivamente o racismo passou a ser visto como crime pela sociedade brasileira.

O Princípio do Non Bis In Idem, É a prevalência do "Direito Penal do fato"

sobre o "Direito Penal do autor", estabelece que ninguém poderá ser punido mais de

uma vez por uma mesmo fato.

Segundo Santos, ocorria que, em virtude do não advento da Lei 12.033 de 29

de setembro de 2009, o juiz poderia decretar que em casos em que o crime de

racismo fosse desclassificado como injuria, o autor do fato, mesmo que condenado,

não poderia ser punido, pois a ação de crime racial fora postulada pelo membro do

Ministério Publico por se tratar de Ação Penal Pública. Já a injuria era considerada

matéria de Ação Penal Privada que deveria ser postulada por advogado da vítima.

O Princípio da Fragmentariedade condiz que o direito penal deve se

preocupar com bens jurídicos de relevantes e com ofensas graves a estes, deixando

se valer pela intervenção mínima, gerando de certo modo, o Princípio da

Insignificância, deixando de existir a conduta típica por exclusão.

Um exemplo dessa aplicação no tocante aos crimes de preconceitos são as

situações em que uma pessoa tem um apelido relacionado com sua cor, origem ou

nacionalidade.

CONCLUSÃO

Apesar do atraso a legislação brasileira de combate ao racismo, demonstra

que procura ser parte de uma solução para se atingir a igualdade tão mencionada na

Carta Magna e nos demais diplomas infraconstitucionais. Estas normas podem a

longo prazo virarem o fator para realmente civilizar a sociedade brasileira que com

124 anos de abolição continua a tratar seu cidadão como escravo ou um inferior,

estas atitudes tem como origem a dissiminação da cultura racista que vem emprega

por gerações.

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Somente com as punições previstas na Lei de racismo e no crime de injúria

do Código Penal é que aos poucos nossa civilização irá avançar.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Casa Civil. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Brasil: Governo Federal. 1988. Disponível em: < httphttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 21 abr 2014. _______. Casa Civil. Código Penal. Brasil: Governo Federal. 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm>. Acesso em: 21 abr 2014. _______. Casa Civil. LEI Nº 12.033. Brasil: Governo Federal. 2009. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12033.htm>. Acesso em: 21 abr 2014. _______. Casa Civil. LEI Nº 7.716,. Brasil: Governo Federal. 1989. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716.htm>. Acesso em: 21 abr 2014. CASTELLO, Rodrigo. Princípio da Fragmentariedade no Direito Penal. 2012. Disponível em: <http://atualidadesdodireito.com.br/rodrigocastello/2012/03/19/ principio-da-fragmenta riedade-no-direito-penal/>. Acesso em: 21 abr 2014. DELMANTO, Celso. Injúria Racial x Racismo. In: Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Disponível em: <http://www.mpdft.mp.br/portal/index.php/ conhecampdft-menu/nucleos-menu/ncleo-de-enfrentamento-discriminao-ned-main menu-130/3047-injuria-racial-x-racismo>. Acesso em: 21 abr 2014. JORIO, Israel Domingos. Princípio do "non bis in idem": uma releitura à luz do direito penal constitucionalizado. 2006. Disponível em: <http://jus.com br/artigos/8884/principio-do-non-bis-in-idem> Acesso em:21 abr 2014.

SANTOS, Christiano Jorge. Racismo e injúria: Os limites que diferenciam as duas tipificações. Disponível em: < https://psxsistemas.websiteseguro.com /system/fam/frame_alu_plano_estatisticas.php?atividades=X&atv_id=77&tipo_acesso=&curso=70&serie=03&turma=A&disc=7137&ano=2014&sem=1> Acesso em: 21 abr 2014.

SOARES FILHO, Almiro de Sena. Estudo da Legislação Penal de Combate ao Racismo. Disponível em: <http://www.mpdft.mp.br/pdf/unidades/nucleos/ned/Estudo _legislacao_penal_combate_racismo.pdf> Acesso em: 21 abr 2014