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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ
NÚCLEO DE COMBATE À IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E CORRUPÇÃO
Assunto:
Organizador:
Núcleo de Combate à Improbidade Administrativa e
Corrupção do Ministério Público do Estado do Pará
Belém/PA
2015.2
PROGRESSUM PRAETORIUM
Nº 03
Autor: Nome
Tipo de livro: Digite o tipo de
livro aqui
Labor
Omnia
Vincit
Improbus
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Ministério Público do Estado do Pará
Núcleo de Combate à Improbidade
Administrativa e Corrupção
Revista Progressum Praetorium nº 03
2015.2
SUMÁRIO
1. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: ......................................................... 5
1.1. CONSTITUCIONALIDADE E CONVENCIONALIDADE DA SANÇÃO DE
SUSPENSÃO DE DIREITOS POLÍTICOS POR ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA: ....................................................................................... 5
2. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: .................................................... 9
2.1. AGENTES POLÍTICOS E LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: .... 9
2.2. DOLO, LEI INCONSTITUCIONAL E O ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA: ..................................................................................... 10
2.3. NEPOTISMO NA NOMEAÇÃO DE SECRETÁRIO MUNICIPAL COMO ATO
DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ........................................................ 11
2.4. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NA AÇÃO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA: ..................................................................................... 20
2.5. ATRASO NA PRESTAÇÃO DE CONTAS E IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA: ..................................................................................... 23
2.6. PRESCRIÇÃO POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DO
PARTICULAR QUE AGE COM O AGENTE PÚBLICO:................................... 24
2.7. PRESCRIÇÃO SERVIDOR EFETIVO E COMISSIONADO AO MESMO
TEMPO: ..................................................................................................... 25
2.8. PRESCRIÇÃO PENAL NAS AÇOES DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA… ................................................................................... 26
2.9. A DEMORA DA CITAÇÃO E O PRAZO PRESCRICIONAL: .................... 27
2.10. LEGITIMIDADE PASSIVA DO PARTICULAR NA AÇÃO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: ............................................................. 28
2.11. CONTRATAÇÃO DE SERVIDOR SEM PRÉVIO CONCURSO PÚBLICO
COMO ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR VIOLAÇÃO AOS
PRINCÍPIOS: .............................................................................................. 29
2.12. NEPOTISMO COMO ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR
VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS: ..................................................................... 31
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2.13. A SANÇÃO DA PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA POR ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: ............................................................. 32
2.14. PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO SOCIETATE NO RECEBIMENTO DA
AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: ............................................. 35
2.15. PERICULUM IN MORA PRESUMIDO NA INDISPONIBILIDADE DE BENS
POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: ........................................ 38
2.16. DESNECESSIDADE DE SE INDIVIDUALIZAR OS BENS A SEREM
INDISPONÍVEIS:......................................................................................... 39
2.17. PRORROGAÇÃO DE CONTRATO ADMINISTRATIVO SEM
LICITAÇÃO:…. ........................................................................................... 40
2.18. CONCESSÃO IRREGULAR DE ISENÇÃO DE TARIFA COMO ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS: ........ 41
2.19. PROMOÇÃO PESSOAL EM PROPAGANDA COMO ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS: ........ 42
2.20. NÃO RECOLHIMENTO À PREVIDÊNCIA PARA OUTRA DESTINAÇÃO
PÚBLICA: ................................................................................................... 43
2.21. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CUMULADA COM
PEDIDO DE RESSARCIMENTO AO ERÁRIO: .............................................. 44
2.22. FRAUDE NO PONTO DE FREQUÊNCIA COMO ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA: ..................................................................................... 45
2.23. DISPENSA ACIMA DO VALOR PERMITIDO COMO ATO DE
IMPROBIDADE POR LESÃO AO ERÁRIO E VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS: ... 46
2.24. INEXIGIBILIDADE IRREGULAR COMO ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA POR VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS SEM NECESSIDADE DA
PROVA CONCRETA DO PREJUÍZO: ............................................................ 47
2.25. RECURSO PÚBLICO PARA DESPESAS PRIVADAS COMO ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR ENRIQUECIMENTO ILÍCITO: ......... 49
2.26. DESPESA SEM PRÉVIO EMPENHO E SEM LASTRO CONTÁBIL COMO
ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR VIOLAÇÃO AOS
PRINCÍPIOS:… ........................................................................................... 50
2.27. UTILIZAÇÃO DE SERVIDOR PÚBLICO E BENS PÚBLICOS PARA
PROMOÇÃO PESSOAL COMO ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: . 50
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2.28. OBRIGATORIEDADE DA APLICAÇÃO DA PENA DE DEMISSÃO: ..... 51
2.29. NULIDADE RELATIVA POR VIOLAÇÃO A NOTIFICAÇÃO PARA DEFESA
PRÉVIA: ..................................................................................................... 52
2.30. FRAUDE AO CARATER COMPETITIVO DA LICITAÇÃO COMO ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR VIOLAÇÃO AOS PRINCIPIOS. ........ 53
2.31. SERVIDORES FANTASMAS COMO ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA NAS TRÊS MODALIDADES: ........................................... 54
2.32. CONTRATAÇÃO IRREGULAR DE ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA POR
INEXIGIBILIDADE: ..................................................................................... 55
3. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ: ................................. 56
3.1. PRESTAÇÃO DE CONTAS DE FORMA INCOMPLETA COMO ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS
ADMINISTRATIVOS: ................................................................................... 56
3.2. MAJORAÇÃO DE SUBSÍDIOS SEM PRÉVIA APROVAÇÃO DE LEI COMO
ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: ................................................ 57
3.3. PERICULUM IN MORA PRESUMIDA NA INDISPONIBILIDADE DE BENS
POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA: ........................................ 58
3.4. RECEBIMENTO DA AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA,
PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO SOCIETATE E O ELEMENTO SUBJETIVO DO
TIPO NORMATIVO ...................................................................................... 59
3.5. AFASTAMENTO DO CARGO PÚBLICO EM AÇÃO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA E A DEMONSTRAÇÃO DO RISCO À INSTRUÇÃO: .......... 61
3.6. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE SENTENÇA NA AÇÃO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA: ..................................................................................... 62
3.7. APLICABILIDADE DA RESPONSABILIDADE POR ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA AOS AGENTES POLÍTICOS:................... 63
3.8. DA MANUTENÇÃO DOS EFEITOS DE MEDIDA URGENTE PRATICADO
POR JUIZ INCOMPETENTE NAS AÇÕES DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA:... .................................................................................. 64
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1. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL:
1.1. CONSTITUCIONALIDADE E CONVENCIONALIDADE DA SANÇÃO DE
SUSPENSÃO DE DIREITOS POLÍTICOS POR ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA:
AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. ART. 12 DA LEI DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. SUSPENSÃO DOS DIREITOS
POLÍTICOS. ART. 23 DA CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS
HUMANOS. ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE REJEITADA NO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS. ALEGADO DESCUMPRIMENTO DA SÚMULA VINCULANTE N. 10 DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. INEXISTÊNCIA. AGRAVO
REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. (In: STF; Processo: Rcl
18183-AgR; Relator(a): Min. Cármen Lúcia; Órgão Julgador: Segunda
Turma; Julgamento: 10/02/15; Publicação: 26-02-15)
O precedente acima citado pretende o reconhecimento da
incompatibidalidade do art. 12 da Lei de Improbidade Administrativa no que
concerne a sanção de suspensão dos direitos politicos com o art. 23 da
Convenção Americana de Direitos Humanos, o que foi rejeitado (a
inconstitucionalidade) pelo Tribunal de Justiça de origem.
Neste sentido, o art. 23 da Convenção dispõe que:
Artigo 23 - Direitos políticos
1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes direitos e
oportunidades:
a) de participar da condução dos assuntos públicos, diretamente ou
por meio de representantes livremente eleitos;
b) de votar e ser eleito em eleições periódicas, autênticas, realizadas
por sufrágio universal e igualitário e por voto secreto, que garantam a
livre expressão da vontade dos eleitores; e
c) de ter acesso, em condições gerais de igualdade, às funções públicas
de seu país.
2. A lei pode regular o exercício dos direitos e oportunidades, a que se
refere o inciso anterior, exclusivamente por motivo de idade,
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nacionalidade, residência, idioma, instrução, capacidade civil ou mental,
ou condenação, por juiz competente, em processo penal.
Ou seja, a Reclamação supracitada argumenta que a Convenção
Interamericana de Direitos Humanos garantiria que a limitação a direitos
politicos somente poderia ser feita em razão da condenação em processo penal,
não se aplicando a sanção nos casos de processo cível (como é a improbidade
administrativa).
Ressalta-se que o STF apenas deu improvimento ao caso concreto com
base na Súmula Vinculante nº 10/STF, já que o Tribunal de Justiça não
declaranou qualquer insconstitucionlidade, não havendo, assim, violação a
clausula de reserva de plenário (art. 97 da CF/88), sem entretanto analisar o
mérito do feito.
Súmula nº 10/STF: “Viola a cláusula de reserva de plenário (CF,
artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não
declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do
Poder Público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.”
Entretanto, ad argumentando tantum, é necessário ressaltar que a própria
Constituição Federal de 1988 previu expressamente a sanção de suspensão de
direitos politicos por condenação em ação de improbidade administrativa:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (…)
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a
suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e
gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
Portanto, a Lei nº 8.429/92 apenas regulamentou o art. 37, § 4º, da CF/88,
não havendo como se argumentar pela inconstitucionalidade da LIA.
Contudo, diante do julgamento do Recurso Extraordinário nº 466.343
do STF, que consolidou o entendimento pela natureza supralegal dos tratados
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internacionais de direitos humanos incorporados pelo Brasil sem o quorum
qualificado do art. 5º, §3º, da CF/88, há quem entenda que a mesma solução
jurídica sobre prisão civil do depositário infiel deveria ser adotada no conflito
aparente entre a Lei de Improbidade Administrativa e a Conveção Interamericana
de Direitos Humanos.
Em 2008, no julgamento do RE nº 466.343-DF decidiu-se que a norma
constitucional sobre a prisão civil do depositário infiel (art. 5º, inciso LXVII, da
CF/88) não foi revogada pela adesão do Brasil à Convenção Interamericana de
Direitos Humanos. Contudo, a prisão civil deixou de ter aplicabilidade diante da
supralegalidade do tratado frente à legislação infraconstitucional que
regulemanta a prisão civil do depositário infiel (Código Civil).
Sendo assim, há quem defenda que o art. 12 da Lei de Improbidade
Administrativa teria sua aplicabilidade suspensa, mesmo havendo previsão
constitucional expressa da sanção de suspensão de direitos políticos por ato de
improbidade administrativa (art. 37, §4º, da CF/88), em razão da
supralegalidade da suspensão de direitos politicos.
Nestes termos, já que não há dúvidas sobre a constitucionalidade da Lei
de Improbidade Administrativa (já reconhecido pelo STF na ADI nº 2797), resta
necessário aprofundar a análise sobre o controle de convencionalidade da Lei de
Improbidade Administrativa.
Neste sentido, Mazzouli leciona que existe de um duplo processo de
compatibilização das leis internas (controle de constitucionalidade e controle de
convencionalidade):
"(…) se a Constituição possibilita sejam os tratados de direitos humanos
alçados ao patamar constitucional, com equivalência de emenda, por
questão de lógica deve também garantir-lhes os meios que prevêm a
qualquer norma infraconstitucional ou emenda de se protegerem contra
investidas não autorizadas do direito infraconstitucional." (In: MAZZOULI,
Valério. Controle de Convencionalidade. SP: Ed. RT, 2010, p. 235)
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Ou seja, resta necessário analisar a jurisprudência internacional sobre o
art. 23 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, sendo que, salvo
melhor juízo, não há incompatibilidade com os critérios utilizados pela Lei de
Improbidade Administrativa.
Neste sentido, no julgamento do caso “Castañeda Gutman Vs. Estados
Unidos Mexicanos”, que envolvia a possível violação a direitos políticos em face
da negativa da pretensão de Jorge Castañeda Gutman de disputar, como
candidato independente e sem vínculo com qualquer partido político, o cargo de
Presidente do México, a Corte Interamericana reconheceu que as limitações
do art. 23 da Convenção Interamericana não são exclusivas, podendo cada
Estado regulamentar normas com outros limites para restringir direitos políticos:
“(…) a Corte estima que não é possível aplicar ao sistema eleitoral que se
estabeleça num Estado somente as limitações do parágrado 2 do artigo 23 da
Convenção Americana”
Ademais, é necessário ressaltar que no Caso “López Mendoza Vs.
Venezuela”, que diz respeito à pretensa violação de direitos humanos em razão
da inabilitação para o exercício de função pública aplicada a Leopoldo López
Mendoza por decisões administrativas que o impediram de disputar as eleições,
não pode ser utilizado como paradigma para, de forma abstrata, impedir as
sanções do art. 12 da LIA, já que o caso tratou de decisões administrative que
teriam sido influenciadas por motivações de perseguição política a dissidentes
do Governo.
A decisão da Corte assentou no Caso López Mendoza vs. Venezuela que o
art. 23.2 da Convenção deve ser interpretada de forma sistemática e evolutiva,
nos termos da “Living Constitution Living”, que entende que a interpretação
constitucional deve acompanhar a evolução social:
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“17. A la luz de una interpretación evolutiva y sistemática del artículo
23.2 y en atención al carácter vivo de la Convención, cuya interpretación
tiene que acompañar la evolución de los tiempos y las condiciones contemporáneas de la evolución institucional, lo crucial es que sea una
autoridad de naturaleza judicial, vale decir en sentido amplio, y no
restringida a un juez penal. En este caso la sanción no la impuso una
autoridad judicial.”
2. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA:
2.1. AGENTES POLÍTICOS E LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE
DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO ÍMPROBO. REEXAME DOS REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO
ESPECIAL. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA
ENTRE OS ACÓRDÃOS CONFRONTADOS. APLICAÇÃO DA LEI DE
IMPROBIDADE AOS AGENTES POLÍTICOS. ACÓRDÃO EMBARGADO
EM HARMONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. SÚMULA 168/STJ.
(…) 2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é assente quanto à aplicação da Lei de Improbidade Administrativa aos agentes
políticos. Incidência do óbice da súmula 168/STJ. 3. Agravo
regimental não provido. (In: STJ; Processo: AgRg nos EREsp
1294456/SP; Relator: Min. Benedito Gonçalves; Órgão Julgador:
Primeira Seção; Julgamento: 13/05/15; Publicação: DJe, 19/05/15)
O Tribunal da Cidadania assentou o entendimento que aplica-se a Lei de
Improbidade Administrativa (Lei nº 8.492/92) aos agentes politicos.
Conforme argumenta Emerson Garcia “por imperativo constitucional, as
figuras coexistem. Além disso, como ensejam sanções diversas, por vezes
aplicadas em esferas distintas (jurisdicional e política), não se pode falar, sequer,
em bis in idem. Com escusas pela obviedade, pode-se afirmar que a Lei n.
1.0791950 é lei especial a que se refere o parágrafo único do art. 85 da
Constituição, enquanto a Lei n. 8.429/1992 é a lei a que se refere o §4º do art.
37”. (In: GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade
Administrativa. 13ª Edição. SP: Ed. Saraiva, 2013, p. 601).
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Neste mesmo sentido, o Superior Tribunal de Justiça tem entendido
plenamente aplicável as disposições da Lei nº 8.429/92 aos Prefeitos Municipais,
sem incidência de bis in idem com o Decreto-Lei nº 201/67:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. POSSIBILIDADE DE O
TRIBUNAL DE ORIGEM PROCEDER A EXAME DE MÉRITO NO JUÍZO
DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DE FUNDAMENTOS ADOTADOS PELA
DECISÃO AGRAVADA. APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DA SÚMULA
182/STJ. PREFEITOS MUNICIPAIS ESTÃO INSERIDOS NO CAMPO DE
INCIDÊNCIA DA LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. (..) 3.
Consoante a firme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a
Lei nº 8.429/1992 é aplicável aos Prefeitos Municipais, não cabendo falar em incompatibilidade com o Decreto-Lei nº 201/1967. 4. Agravo
regimental a que se nega provimento. (In: STJ; Processo: AgRg no AREsp
173.359/AM; Relator: Min. Sérgio Kukina; Órgão Julgador: Primeira
Turma; Julgamento: 17/03/2015; Publicação: DJe, 24/03/2015)
2.2. DOLO, LEI INCONSTITUCIONAL E O ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. FUNDAMENTOS. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO
ESPECÍFICA. SÚMULA 182/STJ, POR ANALOGIA. 1. O Agravante não
apresenta, no regimental, argumentos suficientes para desconstituir a
decisão agravada. 2. A jurisprudência desta Corte firmou-se no
sentido de que fica difícil identificar a presença do dolo genérico do agente, se sua conduta estava amparada em Lei Municipal que, ainda
que de constitucionalidade duvidosa, autorizava a contratação dos
Servidores Públicos. Precedentes: AgRg no Ag 1.324.212/MG, Rel.
Min. MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe 13.10.2010; AgRg no AgRg
no REsp 1.191.095/SP, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJe
25.11.2011. 3. A mera afirmação em sentido oposto não é suficiente para desconstituir a decisão que se pretende ver reformada, razão pela qual,
consoante a jurisprudência desta Corte, incide, por analogia, o enunciado
182 da Súmula do STJ à matéria cujos fundamentos não foram
impugnados suficientemente no regimental. 4. Agravo Regimental não
conhecido. (In: STJ; Processo: AgRg no AREsp 124.731/SP; Relator: Min. Napoleão Nunes Maia Filho; Órgão Julgador: Primeira Turma;
Julgamento: 24/03/15; Publicação: DJe, 06/04/15)
É necessário assentar os limites do presente precedente (ratio decidendi),
de modo a impedir a sua aplicação em casos não semelhantes, aplicando-se a
técnica do distinguish na interpretação de precedents judiciais.
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Segundo entendeu o STJ, o ato pautado em lei de inconstitucionalidade
duvidosa retiraria a caracterização do elemento subjetivo (dolo genérico) para a
configuração do ato de improbidade administrativa.
É necessário ressaltar que o precedente supracitado menciona “lei de
constitucionalidade duvidosa”, ainda não esclarecendo a questão quanto ato
fundamentado lei patentemente inconstitucional, notadamente nos casos de ato
de improbidade administrativa por lesão ao erário (art. 10 da LIA), que admite a
responsabilidade na modalidade culposa, não sendo necessário o dolo genérico.
Em outros termos, caberá ao autor da ação de improbidade administrativa
um esforço argumentativo e elementos probatórios para provar a conduta dolosa
quando o ato administrativo praticado pelo Chefe do Poder Executivo tiver
fundamento em lei inconstitucional.
Neste mesmo sentido, o precedente acima citado também não deve ser
aplicado para impedir de forma abstrata os atos de improbidade administrativa
legislativa ou judicial, ou seja, a aprovação de lei ou a prolação de decisão judicial
de forma ímproba.
2.3. NEPOTISMO NA NOMEAÇÃO DE SECRETÁRIO MUNICIPAL COMO
ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. PROPOSITURA DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO
DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CABIMENTO. PRECEDENTES.
CERCEAMENTO DE DEFESA. NECESSIDADE PRODUÇÃO DE PROVAS.
REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA N. 7 DO STJ. PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS N. 282 E N. 356/STF. LEI N.
8.437/92. OITIVA PRÉVIA DO ENTE PÚBLICO QUE NÃO FAZ PARTE DO
POLO PASSIVO. DESNECESSIDADE. ELEMENTO SUBJETIVO. DOLO
CARACTERIZADO. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE.
PRECEDENTES. REVISÃO DA DOSIMETRIA DAS PENAS. IMPOSSIBILIDADE REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.
SÚMULA N. 7/STJ. 1. Cinge-se a controvérsia dos autos à aplicação ou
não da Súmula Vinculante n. 13 aos agentes políticos. O Tribunal de
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origem manteve a condenação por improbidade administrativa, uma vez
que a Prefeita do Município de Pilar do Sul/SP JANETE PEDRINA DE
CARVALHO PAES nomeou seu cônjuge, MAURÍCIO JOSÉ PAES, para Secretário de Gabinete, Segurança Pública e Trânsito. 2. A jurisprudência
desta Corte firmou entendimento no sentido de que "é cabível a
propositura de ação civil pública que tenha como fundamento a prática
de ato de improbidade administrativa, tendo em vista a natureza difusa
do interesse tutelado. Também mostra-se lícita a cumulação de pedidos
de natureza condenatória, declaratória e constitutiva nesta ação, porque sustentada nas disposições da Lei n. 8.429/92 " (REsp 757.595/MG, Rel.
Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA). Precedente. 3. Não é possível o
conhecimento do recurso especial quando visa reformar entendimento do
Tribunal a quo pela desnecessidade de produção de prova. Recorrente
sustenta ter havido, com isso, cerceamento de sua defesa. Isso porque alterar a conclusão do julgador a quo, pela desnecessidade da prova,
demandaria o reexame de fatos e provas, o que é vedado pela Súmula n.
7 do STJ. 4. Verifica-se que a Corte de origem não analisou, ainda que
implicitamente, o art. 267, VI, do Código de Processo Civil. Desse modo,
impõe-se o não conhecimento do recurso especial por ausência de
prequestionamento, entendido como o indispensável exame da questão pela decisão atacada, apto a viabilizar a pretensão recursal. 5. A Lei n.
8.437/92, que dispõe sobre a concessão de medidas cautelares contra
atos do Poder Público, não se aplica ao caso concreto, uma vez que ação
civil pública foi direcionada apenas aos recorrentes, não fazendo parte da
presente ação o ente público. 6. O Supremo Tribunal Federal firmou entendimento, no sentido de que as nomeações para cargos políticos não
se subsumem, em regra, às hipóteses descritas na Súmula Vinculante n.
13/STF, no entanto, "a configuração do nepotismo deve ser analisado
caso a caso, a fim de se verificar eventual “troca de favores” ou
fraude a lei" (Rcl 7.590, Relator Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma,
julgado em 30/09/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-224, DIVULG 13-11-2014, PUBLIC 14-11-2014.). 7. As considerações feitas pelo
Tribunal de origem NÃO afastam a prática do ato de improbidade
administrativa, caso em que a conduta dos agentes se amoldam ao
disposto no art. 11 da Lei n. 8.429/1992, pois atenta contra os
princípios da Administração Pública, em especial a impessoalidade. Precedentes. 8. A jurisprudência desta Corte é uníssona no sentido de
que a revisão da dosimetria das sanções aplicadas em ações de
improbidade administrativa implica reexame do conjunto fático-
probatório dos autos, o que esbarra na Súmula n. 7/STJ, salvo em
hipóteses excepcionais, nas quais, da leitura do acórdão recorrido,
exsurgir a desproporcionalidade entre o ato praticado e as sanções aplicadas, o que não é o caso vertente. Precedentes. Recurso especial
improvido. (In: STJ; Process: REsp 1.516.178/SP; Relator: Min.
Humberto Martins; Publicação: DJe, 30/06/2015)
O STF em decisão paradigmática consagrou entendimento que mesmo sem
lei formal proibitiva a probição ao nepotismo tem fundamento na força
normativa dos princípios que regem a administração pública por si só já
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constitui fundamento para anular os atos de nepotismo na Administração
Pública, dando aplicação direta aos princípios elencados no art. 37, caput, da
CF/88:
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. VEDAÇÃO NEPOTISMO. NECESSIDADE DE LEI FORMAL. INEXIGIBILIDADE. PROIBIÇÃO QUE DECORRE DO
ART. 37, CAPUT, DA CF. RE PROVIDO EM PARTE. I - Embora restrita ao
âmbito do Judiciário, a Resolução 7/2005 do Conselho Nacional da
Justiça, a prática do nepotismo nos demais Poderes é ilícita. II - A
vedação do nepotismo não exige a edição de lei formal para coibir a
prática. III - Proibição que decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da Constituição Federal. IV - Precedentes.
V - RE conhecido e parcialmente provido para anular a nomeação do
servidor, aparentado com agente político, ocupante, de cargo em
comissão. (In: STF; Processo: RE nº 579951; Relator(a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI; Órgão Julgador: Tribunal Pleno; Julgamento: 20/08/2008; Publicação: 24/10/2008, PP-01876)
O caso analisava a constitucionalidade e legalidade dos atos de nomeação
de irmão de vereador e de irmão do Vice-Prefeito, para o exercício dos cargos,
respectivamente, de Secretário Municipal de Saúde e de motorista da Prefeitura
municipal.
Asseverou-se, inicialmente, que, embora a Resolução nº 7/2005 do CNJ1
seja restrita ao âmbito do Judiciário, a vedação do nepotismo se estende aos
demais Poderes, pois decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37,
caput, da CF, tendo força normativa própria, independentemente de lei
formal neste sentido.
Ressaltou-se, ademais, que admitir que apenas ao Legislativo ou ao
Executivo fosse dado exaurir, mediante ato formal, todo o conteúdo dos
princípios constitucionais em questão, implicaria mitigar os efeitos dos
postulados da supremacia, unidade e harmonização da Carta Magna,
1 Esta Resolução do CNJ disciplinou sobre o exercício de cargos, empregos e funções por parentes, cônjuges e
companheiros de magistrados e de servidores investidos em cargos de direção e assessoramento, no âmbito dos
órgãos do Poder Judiciário, sendo declarada constitucional pelo STF (ADC nº 12), mesmo diante da inexistência de
lei formal proibitiva.
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subvertendo-se a hierarquia das normas jurídica (interpretação da constituição
conforme a Lei).
O Relator destacou que “os princípios constitucionais, que não configuram
meras recomendações de caráter moral ou ético, consubstanciam regras jurídicas
de caráter prescritivo, hierarquicamente superiores às demais e positivamente
vinculantes, sendo sempre dotados de eficácia.”
Considerou-se que a referida nomeação de parentes ofende, além dos
princípios da moralidade administrativa e da impessoalidade (princípio da
equidade), o princípio da eficiência administrativa.
Entretanto, o Relator considerou nulo o ato de nomeação do motorista
(irmão do Vice-Prefeito), considerando hígida a nomeação para o cargo político
de Secretário Municipal de Saúde (irmão de Vereadora), notadamente por não
vislumbrar ser o caso de nepotismo cruzado.
Ou seja, é importante ressaltar, até mesmo para a realização do
distinguishing, que o voto relator não fez a distinção em nenhum momento
entre os cargos políticos e cargos administrativos, apenas evidenciando que
naquele caso concreto não vislumbrou a ocorrência de nepotismo (no fato
do irmão do vereador ser nomeado secretário municipal).
Ressalta-se que a Resolução nº 13 do CNJ já havia sido declarada
constitucional pelo STF no julgamento da ADC nº 12, que também assentou não
haver inconstitucionalidade no fato de um ato normativo extralegal dispor sobre
hipóteses de nepotismo mesmo sem a existência de lei em sentido formal:
AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE, AJUIZADA EM
PROL DA RESOLUÇÃO Nº 07, de 18/10/2005, DO CONSELHO
NACIONAL DE JUSTIÇA. MEDIDA CAUTELAR. Patente a legitimidade da Associação dos Magistrados do Brasil - AMB para propor ação
declaratória de constitucionalidade. Primeiro, por se tratar de entidade
de classe de âmbito nacional. Segundo, porque evidenciado o estreito
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vínculo objetivo entre as finalidades institucionais da proponente e o
conteúdo do ato normativo por ela defendido (inciso IX do art. 103 da CF,
com redação dada pela EC 45/04). Ação declaratória que não merece conhecimento quanto ao art. 3º da resolução, porquanto, em 06/12/05,
o Conselho Nacional de Justiça editou a Resolução nº 09/05, alterando
substancialmente a de nº 07/2005. A Resolução nº 07/05 do CNJ
reveste-se dos atributos da generalidade (os dispositivos dela constantes
veiculam normas proibitivas de ações administrativas de logo
padronizadas), impessoalidade (ausência de indicação nominal ou patronímica de quem quer que seja) e abstratividade (trata-se de um
modelo normativo com âmbito temporal de vigência em aberto, pois
claramente vocacionado para renovar de forma contínua o liame que
prende suas hipóteses de incidência aos respectivos mandamentos). A
Resolução nº 07/05 se dota, ainda, de caráter normativo primário, dado que arranca diretamente do § 4º do art. 103-B da Carta-cidadã e
tem como finalidade debulhar os próprios conteúdos lógicos dos
princípios constitucionais de centrada regência de toda a atividade
administrativa do Estado, especialmente o da impessoalidade, o da
eficiência, o da igualdade e o da moralidade. O ato normativo que se faz
de objeto desta ação declaratória densifica apropriadamente os quatro citados princípios do art. 37 da Constituição Federal, razão por que não
há antinomia de conteúdos na comparação dos comandos que se
veiculam pelos dois modelos normativos: o constitucional e o
infraconstitucional. Logo, o Conselho Nacional de Justiça fez adequado
uso da competência que lhe conferiu a Carta de Outubro, após a Emenda 45/04. Noutro giro, os condicionamentos impostos pela Resolução em
foco não atentam contra a liberdade de nomeação e exoneração dos
cargos em comissão e funções de confiança (incisos II e V do art. 37). Isto
porque a interpretação dos mencionados incisos não pode se desapegar
dos princípios que se veiculam pelo caput do mesmo art. 37. Donde o
juízo de que as restrições constantes do ato normativo do CNJ são, no rigor dos termos, as mesmas restrições já impostas pela
Constituição de 1988, dedutíveis dos republicanos princípios da
impessoalidade, da eficiência, da igualdade e da moralidade. É dizer:
o que já era constitucionalmente proibido permanece com essa tipificação,
porém, agora, mais expletivamente positivado. Não se trata, então, de discriminar o Poder Judiciário perante os outros dois Poderes Orgânicos
do Estado, sob a equivocada proposição de que o Poder Executivo e o
Poder Legislativo estariam inteiramente libertos de peias jurídicas para
prover seus cargos em comissão e funções de confiança, naquelas
situações em que os respectivos ocupantes não hajam ingressado na
atividade estatal por meio de concurso público. O modelo normativo em exame não é suscetível de ofender a pureza do princípio da separação dos
Poderes e até mesmo do princípio federativo. Primeiro, pela consideração
de que o CNJ não é órgão estranho ao Poder Judiciário (art. 92, CF) e não
está a submeter esse Poder à autoridade de nenhum dos outros dois;
segundo, porque ele, Poder Judiciário, tem uma singular compostura de âmbito nacional, perfeitamente compatibilizada com o caráter
estadualizado de uma parte dele. Ademais, o art. 125 da Lei Magna
defere aos Estados a competência de organizar a sua própria Justiça,
mas não é menos certo que esse mesmo art. 125, caput, junge essa
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organização aos princípios "estabelecidos" por ela, Carta Maior, neles
incluídos os constantes do art. 37, cabeça. Medida liminar deferida
para, com efeito vinculante: a) emprestar interpretação conforme para incluir o termo "chefia" nos inciso II, III, IV, V do artigo 2° do ato
normativo em foco b) suspender, até o exame de mérito desta ADC, o
julgamento dos processos que tenham por objeto questionar a
constitucionalidade da Resolução nº 07/2005, do Conselho Nacional de
Justiça; c) obstar que juízes e Tribunais venham a proferir decisões que
impeçam ou afastem a aplicabilidade da mesma Resolução nº 07/2005, do CNJ e d) suspender, com eficácia ex tunc, os efeitos daquelas decisões
que, já proferidas, determinaram o afastamento da sobredita aplicação.
(In: STF; Processo: ADC 12 MC / DF; Relator(a): Min. CARLOS BRITTO;
Julgamento: 16/02/2006; Órgão Julgador: Tribunal Pleno; Publicação:
DJ, 01/09/2006)
Após o julgamento do Recurso Extraordinário já ementado (leading case),
no mesmo dia 20/08/2008, a Suprema Corte editou a seguinte súmula
vinculante:
Súmula Vinculante nº 13: “A nomeação de cônjuge, companheiro ou
parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,
inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa
jurídica, investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para
o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de função
gratificada na Administração Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios,
compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a
Constituição Federal.”
A Súmula proíbe a contratação de parentes de autoridades e de
funcionários para cargos de confiança, de comissão e de função gratificada no
serviço público nos três poderes, no âmbito da União, dos estados e municípios.
A divergência, entretanto, surgiu cerca de dois meses depois, em
16/10/2008, quando o Supremo Tribunal Federal voltou a tratar da matéria,
decidindo acerca dos limites da aplicação da súmula vinculante aos chamados
agentes políticos.
AGRAVO REGIMENTAL EM MEDIDA CAUTELAR EM RECLAMAÇÃO.
NOMEAÇÃO DE IRMÃO DE GOVERNADOR DE ESTADO. CARGO DE
SECRETÁRIO DE ESTADO. NEPOTISMO. SÚMULA VINCULANTE Nº 13.
INAPLICABILIDADE AO CASO. CARGO DE NATUREZA POLÍTICA.
AGENTE POLÍTICO. ENTENDIMENTO FIRMADO NO JULGAMENTO DO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO 579.951/RN. OCORRÊNCIA DA FUMAÇA
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DO BOM DIREITO. 1. Impossibilidade de submissão do reclamante,
Secretário Estadual de Transporte, agente político, às hipóteses
expressamente elencadas na Súmula Vinculante nº 13, por se tratar de cargo de natureza política. 2. Existência de precedente do Plenário
do Tribunal: RE 579.951/RN, rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJE
12.9.2008. 3. Ocorrência da fumaça do bom direito. 4. Ausência de
sentido em relação às alegações externadas pelo agravante quanto à
conduta do prolator da decisão ora agravada. 5. Existência de equívoco
lamentável, ante a impossibilidade lógica de uma decisão devidamente assinada por Ministro desta Casa ter sido enviada, por fac-símile, ao
advogado do reclamante, em data anterior à sua própria assinatura. 6.
Agravo regimental improvido. (In: STF; Processo: Rcl nº 6650 MC-AgR;
Relator(a): Min. ELLEN GRACIE; Órgão Julgador: Tribunal Pleno;
Julgamento: 16/10/2008; Publicação: DJe, 21/11/2008)
O STF, então, afastou a incidência da súmula para os cargos de natureza
essencialmente política (no caso Secretário Estadual de Transportes).
Asseverou-se que a nomeação de parentes para cargos políticos não implica
ofensa aos princípios que regem a Administração Pública, em face de sua
natureza eminentemente política.
A súmula não alcançaria os cargos políticos como auxiliares imediatos
de chefes de Poder Executivo, a saber, os Ministros de Estado e os
Secretários de Estado, do Distrito Federal ou de Municípios.
Todavia, posteriormente, o STF identificou a inviabilidade da generalização,
ou seja, a incongruência da não aplicabilidade da súmula para todos os cargos
políticos, notadamente diante da indefinição do termo. Assim, em 2009 a
Corte voltou a tratar da matéria, analisando liminarmente a validade da
nomeação para o cargo de Conselheiro de um Tribunal de Contas estadual,
quando então se posicionou de forma relativamente diversa:
AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL.
DENEGAÇÃO DE LIMINAR. ATO DECISÓRIO CONTRÁRIO À SÚMULA VINCULANTE 13 DO STF. NEPOTISMO. NOMEAÇÃO PARA O
EXERCÍCIO DO CARGO DE CONSELHEIRO DO TRIBUNAL DE CONTAS
DO ESTADO DO PARANÁ. NATUREZA ADMINISTRATIVA DO CARGO.
VÍCIOS NO PROCESSO DE ESCOLHA. VOTAÇÃO ABERTA. APARENTE
INCOMPATIBILIDADE COM A SISTEMÁTICA DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. PRESENÇA DO FUMUS BONI IURIS E DO PERICULUM IN MORA. LIMINAR DEFERIDA EM PLENÁRIO. AGRAVO PROVIDO. I - A
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vedação do nepotismo não exige a edição de lei formal para coibir a
prática, uma vez que decorre diretamente dos princípios contidos no art.
37, caput, da Constituição Federal. II - O cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Paraná reveste-se, à primeira vista,
de natureza administrativa, uma vez que exerce a função de auxiliar
do Legislativo no controle da Administração Pública. III - Aparente
ocorrência de vícios que maculam o processo de escolha por parte da
Assembléia Legislativa paranaense. IV - À luz do princípio da simetria, o
processo de escolha de membros do Tribunal de Contas pela Assembléia Legislativa por votação aberta, ofende, a princípio, o art. 52, III, b, da
Constituição. V - Presença, na espécie, dos requisitos indispensáveis para
o deferimento do pedido liminarmente pleiteado. VI - Agravo regimental
provido. (In: STF; Processo: Rcl 6702 MC-AgR/PR; Relator: Min.
RICARDO LEWANDOWSKI; Julgamento: 04/03/2009; Órgão Julgador:
Tribunal Pleno; Publicação: DJe, 30/04/2009)
Tratou-se de caso em que irmão do Governador do Estado do Paraná fora
nomeado para o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas local, após votação
dos deputados estaduais integrantes da Assembleia Legislativa.
Por conseguinte, deferiu-se, por unanimidade, a liminar, para sustar os
efeitos da nomeação sob exame até o julgamento da mencionada ação popular.
Considerou-se que a natureza do cargo de Conselheiro do Tribunal de
Contas não se enquadraria no conceito de agente político, uma vez que
exerce a função de auxiliar do Legislativo no controle da Administração Pública.
Ressalta-se que o Min. Menezes Direito fez ressalva no sentido de não se
comprometer com a manifestação do relator acerca da natureza jurídica do cargo
de Conselheiro do Tribunal de Contas.
Ocorre que a doutrina nacional majoritária enquadra os Ministros do
Tribunal de Contas da União e os Conselheiros de Tribunais de Contas estaduais
como agentes políticos, por (a) exercerem competências conferidas diretamente
pela própria Constituição Federal, e (b) atuarem, nesse âmbito, com
independência funcional, também nos moldes definidos pela Carta Magna.
O fundamento da corte para a concessão (unânime) da liminar foi
afastar tal enquadramento, ou seja, negar a condição de agente político aos
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Conselheiros de Cortes de Contas Estaduais, e a partir daí decidir
liminarmente pela incidência da Súmula Vinculante nº 13 ao caso em
concreto.
Por fim, em decisão monocrática de 03/11/2011, o Ministro Joaquim
Barbosa concedeu medida liminar em Reclamação suspendendo o ato de
nomeação do irmão do prefeito do município de Queimados para o cargo de
secretário de educação daquela municipalidade, afirmando não haver qualquer
entendimento assentado pelo STF de exceções à Súmula Vinculante, sendo
necessário verificar caso a caso, visto que o teor da Sumula Vinculante é
proibitivo e não autorizativo (não excepcionando qualquer caso), ressaltando
também que os demais julgados não possuem, em tese, efeitos erga omnes, mas
meramente inter partes:
Assim, em linha com o afirmado pelo reclamante, tenho que os acórdãos
proferidos por este Supremo Tribunal Federal no RE 579.951 e na medida cautelar na Rcl 6.650 não podem ser considerados
representativos da jurisprudência desta Corte e tampouco podem ser
tomados como reconhecimento definitivo da exceção à súmula
vinculante 13 pretendida pelo município reclamado.
Bem vistas as coisas, o fato é que a redação do verbete não prevê a exceção mencionada e esta, se vier a ser reconhecida, dependerá da
avaliação colegiada da situação concreta descrita nos autos, não
cabendo ao relator antecipar-se em conclusão contrária ao previsto na
redação da súmula, ainda mais quando baseada em julgamento proferido
em medida liminar.
Registro, ainda, que a apreciação indiciária dos fatos relatados, própria do juízo cautelar, leva a conclusão desfavorável ao reclamado. É que não
há, em passagem alguma das informações prestadas pelo município,
qualquer justificativa de natureza profissional, curricular ou técnica para
a nomeação do parente ao cargo de secretário municipal de educação.
Tudo indica, portanto, que a nomeação impugnada não recaiu sobre reconhecido profissional da área da educação que, por acaso, era
parente do prefeito, mas, pelo contrário, incidiu sobre parente do
prefeito que, por essa exclusiva razão, foi escolhido para integrar o
secretariado municipal.
Ante o exposto, defiro a cautelar pleiteada pelo reclamante para
determinar o afastamento de Lenine Rodrigues Lima do cargo de secretário estadual de educação do município de Queimados, até o
julgamento final da presente reclamação. (...) (In: STF; Processo: Rcl nº
12478; Decisão Monocrática de Joaquim Barbosa; Relator: Min. Roberto
Barroso; Divulgado: 07/11/11 Publicado: DJe, 08/11/2011)
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Na decisão acima citada, o Ministro Joaquim Barbosa fez questão de
analisar a capacidade técnica do Secretário, fazendo uma ponderação se a
nomeação do parente foi em razão de reconhecimento professional ou por
privilégio pessoal do prefeito.
É nesse sentido que a decisão do Superior Tribunal de Justiça em análise
foi proferido. As decisões do STF sobre nepostimo não permitiram de forma
abstrata a nomeação indiscriminada de parentes a cargos natureza política,
devendo-se analisar as peculiaridades do caso concreto, sendo possível o
enquadramento como ato de improbidade administrativa, notadamente se
comprovado a troca de valores, a violação de lei específica ou mesmo a nomeação
por critérios exclusivamente pessoais.
2.4. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NA AÇÃO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO ESPECIAL. IMPUTAÇÃO DA PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR DESCUMPRIMENTO DE
DECISÃO JUDICIAL. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO PARA
CUMPRIMENTO. PROVA DIABÓLICA: EXIGÊNCIA DE FATO NEGATIVO,
POR ILÓGICO QUE PAREÇA. CERCEAMENTO DE DEFESA. REQUISITO
DA MÁ-FÉ. ACÓRDÃO EM CONFRONTO COM A JURISPRUDÊNCIA DO STJ POR ENTENDER INDISPENSÁVEL A DEMONSTRAÇÃO DO DOLO.
VIOLAÇÃO AO ART. 11, DA LEI 8.429/92 RECONHECIDA. 1. O Tribunal
a quo não demonstrou a presença do indispensável elemento subjetivo
do agente; pelo contrário, assentou, expressamente, que a existência de
má-fé na negativa do fornecimento das informações não é relevante,
importando, apenas, que não foi cumprida uma decisão judicial transitada em julgado; essa orientação não tem o abono jurisprudencial
do STJ, que exige o dolo como elemento da conduta, para submeter
legitimamente o infrator às iras do art. 11 da Lei 8.429/92. 2. Caso
entenda-se que o dolo está no resultado, pode-se dizer que todo resultado
lesivo será automaticamente doloso; no entanto, certo é que o dolo está na conduta, na maquinação, na maldade, na malícia do agente, sendo
isso o que deve ser demonstrado e o que não foi, no caso em apreço. 3. O
ato havido por ímprobo deve ser administrativamente relevante,
sendo de se aplicar, na sua compreensão, o conhecido princípio da
insignificância, de notável préstimo no Direito Penal moderno, a
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indicar a inaplicação de sanção criminal punitiva ao agente, quando
o efeito do ato agressor é de importância mínima ou irrelevante,
constituindo a chamada bagatela penal: de minimis non curat Praetor. 4. Agravo Regimental a que se nega provimento. (In: STJ;
Processo: AgRg no REsp 968.447/PR; Relator: Min. Napoleão Nunes
Maia Filho; Órgão Julgador: Primeira Turma; Julgamento: 16/04/15;
Publicação: DJe, 18/05/15)
O julgado acima citado deve ser devidamente interpretado para não
vincular entendimentos em desacordo com o ratio decidendi do precedente, já
que a ementa parece transparecer a aplicação do Princípio da Insignificância nas
ações de improbidade administrative, em analogia ao Direito Penal.
Ao contrário, o julgado consigna apenas que a inexistência do dolo retiraria
a caracterização do ato de improbidade administrativa por violação aos
princípios (art. 11 da LIA), o que não se confunde com a bagatela (minima lesão
do ato ímprobo).
Em verdade, mesmo existindo divergência doutrinária e jurisprudencial, a
indisponibilidade do interesse público e da moralidade administrativa
impossibiltaria inclusive a aplicação do princípio da insignificação nas ações de
improbidade administrativa, o que inclusive já foi reconhecido pelo Tribunal da
Cidadania:
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PRINCÍPIO DA
MORALIDADE ADMINISTRATIVA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
MERA IRREGULARIDADE ADMINISTRATIVA. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. DISTINÇÃO ENTRE JUÍZO DE IMPROBIDADE DA CONDUTA E JUÍZO DE DOSIMETRIA DA SANÇÃO. (…) 3. A
implementação judicial da Lei da Improbidade Administrativa segue uma
espécie de silogismo – concretizado em dois momentos, distintos e
consecutivos, da sentença ou acórdão – que deságua no dispositivo final
de condenação: o juízo de improbidade da conduta (= premissa maior) e o juízo de dosimetria da sanção (= premissa menor). 4. Para que o defeito
de uma conduta seja considerado mera irregularidade administrativa,
exige-se valoração nos planos quantitativo e qualitativo, com atenção
especial para os bens jurídicos tutelados pela Constituição, pela Lei da
Improbidade Administrativa, pela Lei das Licitações, pela Lei da
Responsabilidade Fiscal e por outras normas aplicáveis à espécie. Trata-se de exame que deve ser minucioso, sob pena de transmudar-se a
irregularidade administrativa banal ou trivial, noção que legitimamente
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suaviza a severidade da Lei da Improbidade Administrativa, em senha
para a impunidade, business as usual. 5. Nem toda irregularidade
administrativa caracteriza improbidade, nem se confunde o administrador inábil com o administrador ímprobo. Contudo, se o juiz,
mesmo que implicitamente, declara ou insinua ser ímproba a conduta do
agente, ou reconhece violação aos bens e valores protegidos pela Lei da
Improbidade Administrativa (= juízo de improbidade da conduta), já não
lhe é facultado – sob o influxo do princípio da insignificância, mormente
se por "insignificância" se entender somente o impacto monetário direto da conduta nos cofres públicos – evitar o juízo de dosimetria da sanção,
pois seria o mesmo que, por inteiro, excluir (e não apenas dosar) as penas
legalmente previstas. 6. Iniqüidade é tanto punir como improbidade,
quando desnecessário (por atipicidade, p. ex.) ou além do necessário (=
iniqüidade individual), como absolver comportamento social e legalmente reprovado (= iniqüidade coletiva), incompatível com o marco
constitucional e a legislação que consagram e garantem os princípios
estruturantes da boa administração. 7. O juiz, na medida da reprimenda
(= juízo de dosimetria da sanção), deve levar em conta a gravidade, ou
não, da conduta do agente, sob o manto dos princípios da razoabilidade
e da proporcionalidade, que têm necessária e ampla incidência no campo da Lei da Improbidade Administrativa. 10. A insatisfação dos eminentes
julgadores do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul com o resultado
do juízo de dosimetria da sanção, efetuado pela sentença, levou-os, em
momento inoportuno (isto é, após eles mesmos reconhecerem
implicitamente a improbidade), a invalidar ou tornar sem efeito o próprio juízo de improbidade da conduta, um equívoco nos planos técnico, lógico
e jurídico. 11. A Quinta Turma do STJ, em relação a crime de
responsabilidade, já se pronunciou no sentido de que "deve ser afastada
a aplicação do princípio da insignificância, não obstante a pequena
quantia desviada, diante da própria condição de Prefeito do réu, de quem
se exige um comportamento adequado, isto é, dentro do que a sociedade considera correto, do ponto de vista ético e moral." (REsp 769317/AL, Rel.
Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, DJ 27/3/2006). Ora, se é assim no
campo penal, com maior razão no universo da Lei de Improbidade
Administrativa, que tem caráter civil. 12. Recurso Especial provido,
somente para restabelecer a multa civil de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais), afastadas as sanções de suspensão de direitos
políticos e proibição de contratar com o Poder Público, pretendidas
originalmente pelo Ministério Público. (In: STJ; Processo: REsp
892.818/RS; Relator: Min. Herman Benjamin; Órgão Julgador: Segunda
Turma; Julgamento: 11/11/2008; Publicação: DJe, 10/02/2010)
Ou seja, não se pode confundir a inexistência de ato de improbidade
administrativa por falta de elemento normativo (conduta subjetiva do agente)
com a insignificância da lesão (impacto econômico), pois seria o mesmo que
excluir por inteiro a responsabilidade em desacordo com os princípios mais
basilares do Direito Administrativo pátrio.
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2.5. ATRASO NA PRESTAÇÃO DE CONTAS E IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA:
ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ART. 11, INC. VI, DA LEI N. 8.429/92.
MERO ATRASO NA PRESTAÇÃO DE CONTAS. AUSÊNCIA DE DOLO E
MA-FÉ AFIRMADO PELA CORTE DE ORIGEM COM BASE NO
CONJUNTO PROBATÓRIO. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 1. Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior, para a
configuração do ato de improbidade previsto no art. 11, inc. VI, da
Lei n. 8.429/92, não basta o mero atraso na prestação de contas,
sendo necessário demonstrar a má-fé ou o dolo genérico na prática
de ato tipificado no aludido preceito normativo. Precedentes: REsp
1161215 / MG, Rel. Ministra Marga Tessler (Juíza Federal Convocada do TRF 4ª Região), Primeira Turma, DJe 12/12/2014, AgRg no REsp
1223106 / RN, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe
20/11/2014, AgRg no REsp 1382436 / RN, Rel. Ministro Humberto
Martins, Segunda Turma, DJe 30/08/2013. (...) (In: STJ; Processo:
AgRg no REsp 1420875/MG; Relator: Min. Benedito Gonçalves; Órgão Julgador: Primeira Turma; Julgamento: 26/05/2015; Publicação: DJe,
09/06/2015)
No precedente acima ementado o Tribunal da Cidadania reitera o seu
clássico entendimento de que o mero atraso da prestação de contas não
caracteriza ato de improbidade administrativa se não demonstrado o ato de má-
fé ou o dolo, ao menos genérico, caracterizador do ato de improbidade
administrativa.
Entretanto, mesmo diante de tal entendimento, o STJ faz diferencia dos
casos em há ausência de prestação de contas, conforme consolidou
entendimento no julgado abaixo transcrito:
ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ISENÇÃO PREVISTA NA AÇÃO
CIVIL PÚBLICA. SÚMULA 83 DO STJ. PRESCRIÇÃO. ART. 23 DA LEI N. 8.429/92. TÉRMINO DO MANDATO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS. MORALIDADE, INTERESSE PÚBLICO E
LEGALIDADE. AUSÊNCIA DE PRESTAÇÃO DE CONTAS.
POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. (...) 4. A conduta do agente se amolda
ao disposto no art. 11 da Lei 8.429/1992, pois atenta contra os princípios da administração pública, em especial interesse público, legalidade e da
moralidade, bem como, da publicidade. As considerações feitas pelo
Tribunal de origem NÃO afastam a prática do ato de improbidade
administrativa por violação de princípios da administração pública, uma
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vez que foi constatado o elemento subjetivo dolo na conduta do agente,
mesmo na modalidade genérica, o que permite o reconhecimento de ato
de improbidade administrativa. 5. Não se pode aceitar que prefeitos não saibam da ilicitude da não prestação de contas. Trata-se de
conhecimento mínimo que todo e qualquer gestor público deve ter.
Demonstrada a conduta típica por meio de dilação probatória nas
instâncias ordinárias, não se pode rediscutir a ausência de dolo em sede
de recurso excepcional, haja vista o impedimento da Súmula 7/STJ. 6.
No tocante ao alegado de que houve prestação de contas, não é possível analisar sem afastar o óbice da Súmula 7 desta Corte, uma vez que o
acórdão expressamente afirmou e determinou a condenação por
improbidade administrativa, exatamente por sua ausência. Agravo
regimental improvido. (In: STJ; Processo: AgRg no REsp 1411699/SP;
Relator: Min. Humberto Martins; Órgão Julgador: Segunda Turma;
Julgamento: 12/02/15; Publicação: DJe, 19/02/15)
Ressalta-se que também é necessário evoluir as interpretações sobre a
ausência de prestação de contas para abarcar as situações de prestações de
contas incompletas ou simuladas como ato de improbidade administrativa, pois
um simples protocolo de uma prestação de contas jamais poderá ser entendida
como uma prestação de contas efetiva.
2.6. PRESCRIÇÃO POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DO
PARTICULAR QUE AGE COM O AGENTE PÚBLICO:
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO.
AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PARTICULAR EM
CONLUIO COM AGENTES PÚBLICOS. APLICAÇÃO DO ART. 23 DA LIA.
POSSIBILIDADE. 1. A compreensão firmada no Superior Tribunal de
Justiça é no sentido de que, nas ações de improbidade administrativa,
para o fim de fixação do termo inicial do curso da prescrição, aplicam-se
ao particular que age em conluio com agente público as disposições do
art. 23, I e II, da Lei nº 8.429/1992. Precedentes: REsp 1405346 / SP,
Relator(a) p/ Acórdão Min. Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe
19/08/2014, AgRg no REsp 1159035/MG, Rel. Ministra Eliana Calmon,
Segunda Turma, DJe 29/11/2013, AgRg no REsp 1197967 / ES, Rel.
Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 08/09/2010. 2. Agravo
Regimental não provido. (In: STJ; Processo: AgRg no REsp 1510589/SE;
Relator: Min. Benedito Gonçalves; Órgão Julgador: Primeira Turma;
Julgamento: 26/05/15; Publicação: DJe, 10/06/15)
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No presente julgdo, o Tribunal da Cidadania reafirma seu entendimento
de que o termo inicial da prescrição em improbidade administrativa em relação
a particulares que se beneficiam, concorrem ou induzem o ato ímprobo é idêntico
ao do agente público que praticou a ilicitude, lembrando-se que é inviável a
propositura de ação civil de improbidade administrativa exclusivamente contra
o particular, sem a concomitante presença de agente público no polo passivo da
demanda.
2.7. PRESCRIÇÃO SERVIDOR EFETIVO E COMISSIONADO AO MESMO
TEMPO:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ART. 23, I, DA
LEI 8429/92. MANDATO ELETIVO. AFASTAMENTO PARA EXERCÍCIO
DE CARGO EM COMISSÃO. CONTINUIDADE DO VÍNCULO PARA FINS
DE CONTAGEM DO PRAZO PRESCRICIONAL. ARTS. 9º 10 E 11 DA LEI 8429/92. ELEMENTO SUBJETIVO DO ATO ÍMPROBO
EXPRESSAMENTE RECONHECIDO PELO TRIBUNAL DE ORIGEM.
REVISÃO DAS SANÇÕES IMPOSTAS. PRINCÍPIOS DA
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. VERIFICAÇÃO. REEXAME
DE MATÉRIA FÁTICO PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 1. A Segunda Turma desta colenda Corte já se pronunciou no
sentido de que, caso sejam exercidos cumulativamente, cargo efetivo
e cargo comissionado, ao tempo do ato reputado ímprobo, deve
prevalecer o primeiro para fins de contagem da prescrição, em razão
do vínculo mantido pelo agente com a Administração Pública. (...) (In: STJ;
Processo: AgRg no REsp 1500988/RS; Relator: Min. Mauro Campbell Marques; Órgão Julgador: Segunda Turma; Julgamento: 12/02/15;
Publicação: DJe, 19/02/15)
Segundo entendeu o Tribunal da Cidadania na hipótese do servidor
público que praticou ato de improbidade administrativa ser servidor efetivo em
exercendo função comissionada, deve-se aplicar o przo prescrional que seria
aplicado ao servidor efetivo, nos termos do art. 23, inciso II, da LIA:
Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas
nesta lei podem ser propostas:
II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas
disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público, nos casos
de exercício de cargo efetivo ou emprego.
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Trata-se de uma interpretação, em tese, mais favorável à moralidade
administrativa, pois o fim da função comissionada nestes casos não significa o
fim do vínculo com a administração pública.
Contudo, diante do caso concreto, o aplicação do prazo prescricional da lei
que rege as faltas disciplinares podem ser até mesmo menores que os cinco anos
contados do final do cargo em comissão (art. 23, inciso I, da LIA).
2.8. PRESCRIÇÃO PENAL NAS AÇOES DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA:
ADMINISTRATIVO. PROCESSO CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC.
INEXISTÊNCIA. MILITAR. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
PRESCRIÇÃO. ILÍCITO ADMINISTRATIVO E PENAL. PRAZO
PRESCRICIONAL. ART. 142, § 2º, DA LEI N. 8.112/90. PRESCRIÇÃO
NÃO CARACTERIZADA. SÚMULA 83/STJ. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE COTEJO ANALÍTICO. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA. (…) 2. Segundo o art. 23, inciso II, da Lei n.
8.429/92 - Lei de Improbidade Administrativa -, o prazo prescricional
para a ação de improbidade é o "previsto em lei específica para faltas
disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público, nos casos
de exercício de cargo efetivo ou emprego". 3. O art. 142, § 2º, da Lei n. 8.112/90 remete à lei penal o prazo prescricional quando o ato também
constituir crime. In casu, o recorrente foi denunciado na Ação Penal de
n° 2007.34.00.032360-4 (IPL n° 2007.3 4.00.024276-0), em trâmite na
12º Vara Seção Judiciária, pelo crime de estelionato, cujo prazo
prescricional é de 12 (doze) anos. Considerando-se o termo inicial da
prescrição a data em que o fato se tornou conhecido, ou seja, em 28.3.2001, não se encontra prescrita a presente ação, uma vez que
ajuizada em 14.8.2006. Precedentes. AgRg no REsp 1.386.186/PE, Rel.
Min. Humberto Martins, Segunda Turma; REsp 1.386.162/SE, Rel. Min.
Herman Benjamin, Segunda Turma; REsp 1234317/RS, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, Segunda Turma. Incidência da Súmula 83/STJ. (…) (In: STJ; Processo: AgRg no AREsp 654.501/DF; Relator: Min.
Humberto Martins; Órgão Julgador: Segunda Turma; Julgamento:
28/04/15; Publicação: DJe, 06/05/15)
O precedente reafirma o entendimento pela aplicabilidade do prazo
prescrcional criminal nas ações de improbidade administrativa, nos termos do
art. 23, inciso II, da LIA, inclusive ressaltando a forma da contagem
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considerando o termo inicial da prestação a partir da data que o fato se tornou
conhecido.
2.9. A DEMORA DA CITAÇÃO E O PRAZO PRESCRICIONAL:
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. PRETENSÃO RESSARCITÓRIA. RESSARCIMENTO
AO ERÁRIO. PRESCRIÇÃO. DEMORA DA CITAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. FALHA DA MÁQUINA JUDICIÁRIA. REVISÃO. SÚMULA 7/STJ. 1. O
prazo prescricional para as ações de improbidade administrativa é, em
regra, de cinco anos, ressalvando-se a imprescritibilidade da pretensão
de ressarcimento ao erário. No caso de agente político detentor de
mandado eletivo ou de ocupantes de cargos em comissão e de função de confiança inseridos no polo passivo da ação, inicia-se a contagem do
prazo com o fim do mandato. Exegese do art. 23, I, da Lei 8.429/92.
Precedentes. 2. O Tribunal de origem afastou a ocorrência da prescrição,
reconhecendo que a demora da citação deu-se por mecanismos inerentes
ao Judiciário. Portanto, aferir as circunstâncias que deram causa à
demora na citação demandaria o reexame de todo o contexto fático-probatório dos autos, o que é defeso a esta Corte em razão do óbice da
Súmula 7/STJ. Agravo regimental improvido. (In: STJ; Processo: AgRg
no AREsp 663.951/MG; Relator: Min. Humberto Martins; Órgão
Julgador: Segunda Turma; Julgamento: 14/04/2015; Publicação: DJe,
20/04/2015)
A demora da citação por circunstâncias do Poder Judiciário não enseja a
prescrição do ato de improbidade administrative, pois não há como culpar a
demora na citação ao autor da ação.
Ou seja, o STJ reafirmou o seu entendimento no sentido de que, nesses
casos, deve-se prosseguir com a demanda e acaso recebida a ação de
improbidade, seja realizada a citação do Réu com a retroação dos efeitos da
interrupção da prescrição para o momento da propositura da ação:
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE.
REQUERIMENTO DE NOTIFICAÇÃO REALIZADO FORA DO PRAZO
PRESCRICIONAL. PRESCRIÇÃO. AFASTAMENTO. I – O Tribunal a quo entendeu que a propositura da ação não teria o condão de interromper o
prazo prescricional se o autor não pleiteia a notificação prevista no
parágrafo 7º do artigo 17 da lei 8.429/92, com os acréscimos impostos
pela MPV n. 2225/2001, dentro deste período. II – Ocorre que a norma
acima aludida não impõe alteração aos critérios de interrupção do prazo
prescritivo, sendo de rigor desta feita, a observância do artigo 219,
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parágrafo 1º, do Código de Processo Civil. III – Assim, em sendo realizada
a notificação imanente ao parágrafo 7º do art. 17 da Lei 8.429/92, mesmo
fora do prazo qüinqüenal do artigo 23, I, daquele diploma legal, deveria o magistrado prosseguir com as providências previstas nos parágrafos
seguintes para, acaso recebida a petição inicial, ser realizada a citação e
efetivada a interrupção da prescrição com a retroação deste momento
para o dia da propositura da ação. IV – Recurso especial provido. (In: STJ;
Processo: REsp 695084/RS; Relator: Ministro Francisco Falcão; Órgão
Julgador: T1 – Primeira Turma; Julgamento: 20/09/2005; Publicação:
DJU, 19/12/2005)
Neste mesmo sentido, enuncia a Súmula nº 106 do STJ: “Proposta a ação
no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes
ao mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da argüição de prescrição ou
decadência.”
2.10. LEGITIMIDADE PASSIVA DO PARTICULAR NA AÇÃO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. VIOLAÇÃO DO
ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. CONDIÇÕES DA AÇÃO. SÚMULA 7/STJ. POSSIBILIDADE DE O PARTICULAR FIGURAR NO POLO
PASSIVO DA ACP. POSSIBILIDADE. ATO ÍMPROBO. ELEMENTO
SUBJETIVO DOLO GENÉRICO. CARACTERIZADO. PRECEDENTES.
SÚMULA 83/STJ. DOSIMETRIA DA PENA. ART. 12 DA LEI N. 8.429/92.
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. ANÁLISE. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA 7/STJ. (…) 3. A
jurisprudência desta Corte firmou entendimento no sentido de que "os
particulares não podem ser responsabilizados com base na LIA sem que
figure no pólo passivo um agente público responsável pelo ato
questionado, o que não impede, contudo, o eventual ajuizamento de Ação
Civil Pública comum para obter o ressarcimento do Erário" (REsp 896.044/PA, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em
16.9.2010, DJe 19.4.2011), o que não ocorre no presente caso. 4. No caso
dos autos, ficou comprovada a improbidade administrativa, bem como o
elemento subjetivo dolo na conduta do recorrente, sob entendimento de
que "Restou evidenciado que o réu seria o beneficiário imediato e direto da renovação do contrato entre a Caixa Econômica Federal e a empresa
GTECH, então responsável pelo gerenciamento das loterias sob a
responsabilidade da CEF". 5. Como se vê, as considerações feitas pelo
Tribunal de origem não afastam a prática do ato de improbidade
administrativa, uma vez que foi constatado o elemento subjetivo dolo
genérico na conduta do agente, independente da constatação de dano ao erário, o que permite o reconhecimento de ato de improbidade
administrativa previsto no art. 11 da Lei 8.429/92. (…) (In: STJ; Processo:
AgRg no AREsp 595.192/DF; Relator: Ministro Humberto Martins;
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Órgão Julgador: Segunda Turma; Julgamento: 12/02/2015; Publicação:
DJe, 04/03/2015)
O Tribunal da Cidadania consolidou entendimento pela legitimidade
passiva do particular nas ações de improbidade administrativa, desde que
obedecidos os ditames do art. 3º da LIA – benefício direto, concorrência ou
participação com ato de improbidade – e desde que em cumulação com o agente
público ímprobo.
2.11. CONTRATAÇÃO DE SERVIDOR SEM PRÉVIO CONCURSO PÚBLICO
COMO ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR VIOLAÇÃO
AOS PRINCÍPIOS:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. CONTRATAÇÃO DE SERVIDOR SEM CONCURSO
PÚBLICO. PRÁTICA DE ATO VIOLADOR DE PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS. ARTIGO 11 DA LEI 8429/92. RECONHECIMENTO
DE DOLO GENÉRICO. PENALIDADE APLICADA. PROPORCIONALIDADE.
REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO E PROBATÓRIO DOS AUTOS.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 1. A jurisprudência desta Corte
Superior de Justiça é no sentido de que não se pode confundir improbidade com simples ilegalidade. A improbidade é a ilegalidade
tipificada e qualificada pelo elemento subjetivo da conduta do agente.
Assim, para a tipificação das condutas descritas nos artigos 9º e 11 da
Lei 8.429/92 é indispensável, para a caracterização de improbidade, que
o agente tenha agido dolosamente e, ao menos, culposamente, nas
hipóteses do artigo 10. 2. Os atos de improbidade administrativa descritos no artigo 11 da Lei nº 8429/92, como visto, dependem da
presença do dolo genérico, mas dispensam a demonstração da ocorrência
de dano para a Administração Pública ou enriquecimento ilícito do agente.
3. Na hipótese dos autos, o Tribunal a quo, embora tenha consignado que
era prescindível a demonstração de dolo ou culpa do agente, reconheceu expressamente ser "flagrante a inobservância da regra de provimento
dos cargos públicos por meio de concurso público, conforme previsto
na Carta Magna, deve ser reconhecida a ilegalidade na contratação",
daí porque não há que se falar na inexistência do elemento doloso.
(…) (In: STJ; Processo: AgRg no REsp 1500812/SE; Relator: Min.
Mauro Campbell Marques; Órgão Julgador: Segunda Turma; Julgamento:
21/05/15; Publicação: DJe, 28/05/2015)
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A contratação de servidor público em flagrante desrespeito as regras de
concurso público é, há muito tempo, entendido como ato de improbidade
administrativa por violação aos princípios administrativos.
Contudo, é interessante ressaltar que o próprio STJ, mesmo entendendo
que essas contratações ilegais caracterizam ato de improbidade administrativa,
não obriga por si só a presença, no polo passivo da demanda dos contratados de
forma ilegal, conforme enuncia o julgado abaixo:
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. IMPROBIDADE. PREFEITO.
GESTORES MUNICIPAIS. CONTRATAÇÃO. EMPREGADOS PÚBLICOS.
AUSÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO. CESSÃO AO MUNICÍPIO. MULTA
PROCESSUAL. ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. AFASTAMENTO. VIOLAÇÃO DOS ART. 165, 458, II, E 535, I, DO CPC. ACÓRDÃO
FUNDAMENTADO. INEXISTENTE. PRESCRIÇÃO EM RELAÇÃO À PARTE
DOS GESTORES DA EMPRESA PÚBLICA. VERIFICADA. DADOS NO
ACÓRDÃO. VIOLAÇÃO DO ART. 23, I, DA LEI 8.429/92. TIPIFICAÇÃO
DA CONDUTA NO ART. 11 DA LIA E CRITÉRIOS PARA MULTA CIVIL.
SÚMULA 7/STJ. CONDUTA ÍMPROBA DO PREFEITO AO ACOLHER OS EMPREGADOS CEDIDOS. SÚMULA 7/STJ. CONDENAÇÃO SOLIDÁRIA.
POSSIBILIDADE. SÚMULA 83/STJ. LITISCONSÓRCIO PASSIVO.
DESNECESSIDADE. SÚMULA 83/STJ. COTEJO ANALÍTICO.
DEFICIÊNCIA. 1. Recursos especiais interpostos contra acórdão que
manteve condenação dos réus em ação civil pública ajuizada contra a contratação de empregados, sem concurso, para empresa pública
municipal, que eram cedidos à Administração Pública municipal. O
acórdão determinou a nulidade dos contratos de trabalho e fixou multa
civil em caráter solidário aos gestores. (…) 5. No caso concreto, o
acórdão proferido na origem é muito claro ao evidenciar a presença
do dolo genérico e da infração ao art. 11 da Lei n. 8.429/92, uma vez que não é aceitável a contratação de empregados em empresa pública,
com a cessão deles ao Poder Executivo municipal sem a ocorrência
do devido concurso público. Desconstituir tal panorama fático exigiria
incorrer em violação do teor da Súmula 7/STJ. Precedentes: REsp
1.424.550/SP, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ Acórdão Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, Dje 14.8.2014; AgRg no
AgRg no AREsp 533.495/MS, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda
Turma, Dje 17/11/2014; AgRg no AREsp 135.509/SP, Rel. Ministra
Eliana Calmon, Segunda Turma, Dje 18/12/2013. 8. A jurisprudência
do Superior Tribunal de Justiça é clara ao indicar que a
responsabilidade nas ações de improbidade, entre os ímprobos é solidária. Aplicável a Súmula 83/STJ. Precedente: Resp 1.407.862/RO,
Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, Dje
19/12/2014. 9. Não há violação dos arts. 47 e 267 do Código de Processo
Civil em razão da ausência de formação do polo 30 assive com os
empregados públicos ilegalmente contratados. A questão é semelhante às
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encontradas nas ações de improbidade dirigidas contra contratações de
empresas sem licitação. Aplicável a Súmula 83/STJ. Precedentes: Resp
1.407.862/RO, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, Dje 19/12/2014; Resp 1.243.334/SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves,
Primeira Turma, Dje 10/5/2011. (…) (In: STJ; Processo: Resp
1261057/SP; Relator: Min. Humberto Martins; Órgão Julgador:
Segunda Turma; Julgamento: 05/05/15; Publicação: Dje, 15/05/15)
Ou seja, o Tribunal da Cidadania entende que a responsabilidade pelo ato
de improbidade administrative é solidária entre os ímprobos, mas isso não
geraria a legitimidade passiva necessária dos contratados de forma ilegal, salvo
se comprovado que o mesmo também agiu de forma dolosa nos termos do art.
3º da LIA, beneficiando-se, concorrendo ou induzindo o ato ímprobo.
2.12. NEPOTISMO COMO ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR
VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS:
ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. NEPOTISMO. NOMEAÇÃO DE FAMILIARES PARA
OCUPAR CARGOS EM COMISSÃO ANTES DA EDIÇÃO DA SÚMULA
VINCULANTE 13/STF. DESCUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL. VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. OFENSA AO
ART. 11 DA LEI 8.429/1992. DESPROPORCIONALIDADE DAS SANÇÕES.
INEXISTÊNCIA. 1. Na origem, o Ministério Público do Estado de Minas
Gerais propôs ação civil pública, na qual imputa aos réus a prática de
atos de improbidade administrativa oriundos de nepotismo, requerendo
sua condenação nas sanções previstas nos arts. 4 e 11 da Lei n. 8.429/1992. 2. No caso, a prática de nepotismo está efetivamente
configurada, e, como tal, representa grave ofensa aos princípios da
Administração Pública, em especial, aos princípios da moralidade e da
isonomia, enquadrando-se, dessa maneira, no art. 11 da Lei n.
8.429/1992. 3. A nomeação de parentes para ocupar cargos em comissão, ainda que ocorrida antes da publicação da Súmula
Vinculante 13 do Supremo Tribunal Federal, constitui ato de
improbidade administrativa, que atenta contra os princípios da
Administração Pública, nos termos do art. 11 da Lei n. 8.429/1992,
sendo despicienda a existência de regra explícita de qualquer
natureza acerca da proibição. 4. A revisão da dosimetria das sanções aplicadas em ações de improbidade administrativa implica reexame do
conjunto fático-probatório dos autos, o que esbarra na Súmula 7/STJ,
ressalvados casos excepcionais, nos quais, da leitura dos julgados
proferidos na instância ordinária, exsurgir a desproporcionalidade entre
o ato praticado e as sanções aplicadas, o que não ocorre no caso vertente. Agravo regimental improvido. (In: STJ; Processo: AgRg no REsp
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1362789/MG; Relator: Min. Humberto Martins; Órgão Julgador:
Segunda Turma; Julgamento: 12/05/15; Publicação: DJe, 19/05/2015)
O Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento de que a
nomeação de parente para ocupar cargos em comissão constitui ato de
improbidade administrativa por violação aos princípios, inclusive indepedente
de qualquer regra de proibição explícita neste sentido, já que a regra proibitiva
advém dos próprios princípios constitucionais (art. 37 da LIA).
PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. NEPOTISMO. VIOLAÇÃO DE
PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. OFENSA AO ART. 11 DA
LEI 8.429/1992. DESPROPORCIONALIDADE DAS SANÇÕES.
INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. (…) 2. No caso,
a prática de nepotismo está efetivamente configurada e como tal
representa grave ofensa aos princípios da Administração Pública, em especial aos princípios da moralidade e da isonomia, enquadrando-se,
dessa maneira, no art. 11 da Lei n. 8.429/92. Precedentes 3. A nomeação
de parentes para ocupar cargos em comissão, ainda que ocorrida antes
da publicação da Súmula vinculante 13 do Supremo Tribunal Federal,
constitui ato de improbidade administrativa, que atenta contra os
princípios da Administração Pública, nos termos do art. 11 da Lei n. 8.429/92, sendo despicienda a existência de regra explícita de qualquer
natureza acerca da proibição. 4. Ante a gravidade da conduta descrita no
acórdão recorrido, não se observa desproporcionalidade das penas
impostas, quais sejam: (I) ressarcimento do danos havidos ao erário, e (II)
multa de dez vezes o valor do seu subsídio mensal líquido. (…) (In: STJ; Processo: REsp 1499622/SP; Relator: Min. Humberto Martins; Órgão
Julgador: Segunda Turma; Julgamento: 24/02/15; Publicação: DJe,
12/03/15)
2.13. A SANÇÃO DA PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA POR ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. IMPROBIDADE. PERDA DA
FUNÇÃO PÚBLICA. SENTENÇA CONDENAÇÃO. TRÂNSITO EM
JULGADO. DECLARAÇÃO POR PARTE DA ADMINISTRAÇÃO. MERO
CUMPRIMENTO DE DECISÃO JUDICIAL. PRECEDENTES. ALEGAÇÃO
DE VIOLAÇÃO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. AUSÊNCIA.
INEXISTÊNCIA DE LIQUIDEZ E CERTEZA AO DIREITO POSTULADO. 1.
Recurso ordinário em mandado de segurança impetrado contra o ato
administrativo que declarou a perda da função pública de servidor
público por atenção ao teor de sentença judicial transitada em julgada.
O impetrante alega violação do devido processo legal e o abuso de direito.
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2. A aplicação da penalidade de perda de função pública, prevista nos
arts. 9º, 10º e 11 da Lei n. 8.429/1992 (Lei de Improbidade
Administrativa), abrange todas as atividades e vínculos que o agente
ímprobo eventualmente possuir com o poder público. 3. "A sanção de
perda da função pública visa a extirpar da Administração Pública aquele
que exibiu inidoneidade (ou inabilitação) moral e desvio ético para o
exercício da função pública, abrangendo qualquer atividade que o agente
esteja exercendo ao tempo da condenação irrecorrível" (REsp
1.297.021/PR, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe
20.11.2013). No mesmo sentido: REsp 924.439/RJ, Rel. Ministra Eliana
Calmon, Segunda Turma, DJe 19.8.2009. 4. Não há falar em violação do
devido processo legal, pois o ato administrativo atacado (fl. 12) somente
deu cumprimento administrativo à decisão judicial, transitada em
julgado, por meio da qual se declarou a perda da função pública. Recurso
ordinário improvido. (In: STJ; Processo: RMS 32.378/SP; Relator: Min.
Humberto Martins; Órgão Julgador: Segunda Turma; Julgamento:
05/05/15; Publicação: DJe, 11/05/15)
O STJ entende que a sanção de perda da função pública deve ser entendida
de forma aplica, abrangendo todos os tipos de vínculos que o agente ímprobo
eventualmente mantiver com o Poder Público, não se limitando à função em sí e
englobando a hipótese de perda do emprego ou cargo público, conforme também
já teve oportunidade de decidir:
PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
ART. 12 DA LEI N. 8.429/1992. PENA DE PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA.
CONTROVÉRSIA A RESPEITO DOS SEUS EFEITOS. 1. Não se discute
nos autos a caracterização de ato de improbidade em razão da
acumulação ilegal de cargos públicos. 2. Recurso especial no qual se discute se a sanção de perda da função pública se limita à proibição do
exercício da função até então desempenhada pelo agente ímprobo, ou
acarreta a perda do direito de ocupar o cargo público por meio do qual a
desempenhava. 3. O art. 12 da Lei n. 8.429/1992, quanto à sanção de
perda da função pública, refere-se à extinção do vínculo jurídico entre o
agente ímprobo e a Administração Pública, de tal sorte que, se o caso de improbidade se referir a servidor público, ele perderá o direito de ocupar
o cargo público, o qual lhe proporcionava desempenhar a função pública
correlata, que não mais poderá exercer. Recurso especial provido para
cassar o acórdão recorrido e restabelecer a sentença. (In: STJ; Processo:
REsp 1069603/RO; Relator: Min. Humberto Martins; Órgão Julgador:
Segunda Turma; Julgado: 11/11/2014; Publicação: DJe, 21/11/2014)
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Nesta mesma toada, o STJ também entendeu que a sanção de perda da
função pública também deve ser aplicada em desfavor dos membros do
Ministério Público:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONTROVÉRSIA A
RESPEITO DA POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA PENA DE PERDA
DE CARGO A MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. POSSIBILIDADE.
1. Recurso especial no qual se discute a possibilidade de haver aplicação
da pena de perda do cargo a membro do Ministério Público, em ação civil pública por ato de improbidade administrativa. 2. Constatado que a Corte
de origem empregou fundamentação adequada e suficiente para dirimir
a controvérsia, é de se afastar a alegada violação do art. 535 do CPC. 3.
Nos termos do art. 37, § 4º, da Constituição Federal e da Lei n.
8.429/1992, qualquer agente público, de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios pode ser punido com a pena de perda do cargo que ocupa, pela prática de atos de improbidade
administrativa. 4. A previsão legal de que o Procurador-Geral de Justiça
ou o Procurador-Geral da República ajuizará ação civil específica para a
aplicação da pena de demissão ou perda do cargo, nos casos elencados
na lei, dentre os quais destacam-se a prática de crimes e os atos de improbidade, não obsta que o legislador ordinário, cumprindo o
mandamento do § 4º do art. 37 da Constituição Federal, estabeleça a
pena de perda do cargo a membro do Ministério Público quando
comprovada a prática de ato ímprobo, em ação civil pública específica
para sua constatação. 5. Na legislação aplicável aos membros do
Ministério Público, asseguram-se à instituição as providências cabíveis para sancionar o agente comprovadamente ímprobo. Na Lei n.
8.429/1992, o legislador amplia a legitimação ativa, ao prever que a ação
será proposta "pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica
interessada" (art. 17). Não há competência exclusiva do Procurador-Geral.
6. Assim, a demissão por ato de improbidade administrativa de membro do Ministério Público (art. 240, inciso V, alínea b, da LC n. 75/1993) não
só pode ser determinada pelo trânsito em julgado de sentença
condenatória em ação específica, cujo ajuizamento foi provocado por
procedimento administrativo e é da competência do Procurador-Geral,
como também pode ocorrer em decorrência do trânsito em julgado da
sentença condenatória proferida em ação civil pública prevista na Lei n. 8.429/1992. Inteligência do art. 12 da Lei n. 8.429/1992. 7. Recurso
especial provido para declarar a possibilidade de, em ação civil
pública por ato de improbidade administrativa, ser aplicada a pena
de perda do cargo a membro do Ministério Público, caso a pena seja
adequada à sua punição. (In: STJ; Processo: REsp 1191613/MG; Relator: Min. Benedito Gonçalves; Órgão Julgador: Primeira Turma; Julgamento:
19/03/2015; Publicação: DJe, 17/04/2015)
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2.14. PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO SOCIETATE NO RECEBIMENTO DA
AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 458 E
535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ART. 17, § 6º, DA
LEI N. 8.429/92. FUNDAMENTAÇÃO SUCINTA. POSSIBILIDADE. FASE EM QUE SE DEVE OBSERVAR O PRINCÍPIO DO IN DÚBIO PRO
SOCIETATE. PRECEDENTES. SÚMULA 83/STJ. 1. De início, não
procede a alegação de ofensa ao art. 458, inciso II, do Código de Processo
Civil, pois o Tribunal de origem não pecou na fundamentação do acórdão
recorrido, pois decidiu a matéria de direito valendo-se dos elementos que
julgou aplicáveis e suficientes para a solução da lide. 2. Não há a alegada violação do art. 535 do CPC, pois a prestação jurisdicional foi dada na
medida da pretensão deduzida, como se depreende da leitura do acórdão
recorrido, que enfrentou, motivadamente, os temas abordados no recurso
de apelação, ora tidos por omitidos. 3. Existindo indícios de atos de
improbidade nos termos dos dispositivos da Lei n. 8.429/92, sendo procedente a ação e adequada a via eleita, cabe ao juiz receber a inicial e
dar prosseguimento ao feito. Não há ausência de fundamentação a
postergação para sentença final da análise da matéria de mérito.
Ressalta-se, ainda, que a fundamentação sucinta não caracteriza
ausência de fundamentação. 4. Ademais, nos termos do art. 17, § 8º, da
Lei n. 8.429/1992, a ação de improbidade administrativa só deve ser rejeitada de plano se o órgão julgador se convencer da inexistência do ato
de improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da via
eleita, de tal sorte que a presença de indícios da prática de atos
ímprobos é suficiente ao recebimento e processamento da ação, uma
vez que, nessa fase, impera o princípio do in dubio pro societate. Precedentes. Súmula 83/STJ. Agravo regimental improvido. (In: STJ;
Processo: AgRg no AREsp 612.342/RJ; Relator: Min. Humberto
Martins; Órgão Julgador: Segunda Turma; Julgamento: 05/03/15;
Publicação: DJe, 11/03/15)
Segundo consolidou entendimento, a ação de improbidade adinistrativa
somente pode ser rejeitada de plano se o magistrado se convencer da inexistência
do ato de improbidade administrativa, da improcedência ou da inadequação da
via eleita (nos termos do art. 17, §8º, da LIA), sendo necessário o recebimento da
ação quando houver indícios da prática do ato ímprobo (Princípio do in dubio pro
societate), possibilitando a instrução processual do feito.
PROCESSO CIVIL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PETIÇÃO INICIAL.
RECEBIMENTO. PRESENÇA DE INDÍCIOS DE COMETIMENTO DE ATO
ÍMPROBO. IN DUBIO PRO SOCIETATE. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. AGRAVO REGIMENTAL
NÃO PROVIDO. 1. Cuida-se, na origem, de Ação de Improbidade
Administrativa proposta pelo Ministério Público Estadual contra o ora
recorrente, objetivando a condenação pela prática de atos ímprobos. 2. O
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Juiz de 1º Grau recebeu a petição inicial, e dessa decisão o ora agravante
interpôs Agravo de Instrumento. 3. O Tribunal a quo negou provimento
ao Agravo de Instrumento e assim consignou na decisão: "E, especificamente quanto à Contplan e seus sócios, aqui incluído o
agravante, destaca que 'respondem por improbidade administrativa,
porque anuiram e colaboraram para que a fraude restasse perfectílizada
e beneficiaram-se de modo direto com o recebimento dos valores
indevidamente1 (fl. 25). Diante deste contexto, não se pode afirmar, ao
menos em sede de cognição sumária, tenha sido agravante incluído desarrazoadamente no pólo passivo da demanda, como quer fazer crer"
(fl. 785, grifo acrescentado). 4. O Ministério Público Federal, no seu
parecer, bem analisou a questão: "O fundamento central da decisão
agravada é que não só sua qualidade de sócio foi considerada na petição
inicial, mas também o fato de ter a exordial aludido a suposto conluio entre os agentes públicos e particulares integrantes do polo passivo da
demanda" (fl. 786, grifo acrescentado). 5. Nos termos do art. 17, § 8º, da
Lei 8.429/1992, a presença de indícios de cometimento de atos previstos
na referida lei autoriza o recebimento da petição inicial da Ação de
Improbidade Administrativa, devendo prevalecer na fase inicial o
princípio do in dubio pro societate. 6. Ademais, modificar a conclusão a que chegou a Corte de origem, de modo a acolher a tese do recorrente,
demandaria reexame do acervo fático-probatório dos autos, o que é
inviável em Recurso Especial, sob pena de violação da Súmula 7 do STJ.
7. Agravo Regimental não provido. (AgRg no AREsp 604.949/RS, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
05/05/2015, DJe 21/05/2015)
ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE.
PRÉVIO INQUÉRITO CIVIL QUE ENCONTRA RESPALDO NO ART. 129,
III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ART. 17, §§ 6º e 8º, DA LEI Nº 8.429/92. ABASTECIMENTO DE VEÍCULOS DE PARTICULARES ÀS
EXPENSAS DO ERÁRIO MUNICIPAL. INDÍCIOS SUFICIENTES DA
EXISTÊNCIA DO ATO ÍMPROBO. RECEBIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL.
DECISÃO CORRETA. RECURSO DESPROVIDO. 1. O reconhecimento da
existência de indícios da prática de atos de improbidade, em casos como
o presente, não reclama o reexame de fatos ou provas. O juízo que se impõe restringe-se ao enquadramento jurídico, ou seja, à consequência
que o Direito atribui aos fatos e provas que, tal como delineados no
acórdão, darão suporte (ou não) ao recebimento da inicial. 2. Não há falar
em nulidade ou ilegalidade do prévio inquérito civil presidido pelo Parquet
autor, cujo procedimento investigativo encontra desenganado respaldo na própria Constituição Federal (art. 129, inc. III). 3. A jurisprudência
desta Corte tem asseverado que "é suficiente a demonstração de
indícios razoáveis de prática de atos de improbidade e autoria, para
que se determine o processamento da ação, em obediência ao
princípio do in dubio pro societate, a fim de possibilitar o maior
resguardo do interesse público" (REsp 1.197.406/MS, Rel.ª Ministra Eliana Calmon, 2.ª T., DJe 22/8/2013). 4. Como sinaliza o § 6º do art.
17 da Lei nº 8.429/92, o recebimento da exordial da ação de improbidade
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supõe a presença de indícios suficientes da existência do ato de
improbidade, sendo certo que, pela dicção do § 8º do mesmo art. 17,
somente será possível a prematura rejeição da ação caso o juiz resulte convencido da inexistência do ato de improbidade, da improcedência da
ação ou da inadequação da via eleita. 5. No caso em exame, atribui-se
aos réus, dentre eles o recorrente, a ilícita conduta de permitir, às custas
do erário municipal de Orizânia/MG, o abastecimento de veículos
pertencentes a particulares, podendo-se extrair dos autos a existência
de indícios suficientes da caracterização das figuras ímprobas tipificadas nos arts. 10 e 11 da LIA, contexto em que o
encaminhamento judicial deverá operar em favor do prosseguimento
da demanda, exatamente para se oportunizar a ampla produção
probatória, tão necessária ao pleno e efetivo convencimento do
julgador. 6. Recurso especial a que se nega provimento. (In: STJ; Processo: REsp 1504744/MG; Relator: Min. Sérgio Kukina; Órgão
Julgador: Primeira Turma; Julgamento: 16/04/2015; Publicação: DJe
24/04/2015)
Neste mesmo sentido, o STJ também já consolidou entendimento de que o
elemento subjetivo da conduta (dolo, má-fé, etc) somente poderá ser percebido
após a devida instrução do feito (após recebimento da ação de improbidade
administrativa).
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO
ESPECIAL. RECEBIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL.
POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. RECEBIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL. INDÍCIOS DE
ATO ÍMPROBOS EXPRESSAMENTE RECONHECIDOS PELO TRIBUNAL
DE ORIGEM. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO PROBATÓRIA.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. ANÁLISE DA EFETIVA PRESENÇA
DO ELEMENTO SUBJETIVO DA CONDUTA. NECESSIDADE DE INSTRUÇÃO PROCESSUAL. PRECEDENTES DO STJ. AGRAVO
REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. É pacífica a orientação desta Corte
Superior no sentido da possibilidade do recebimento de embargos de
declaração como agravo regimental quando a pretensão contida no
recurso integrativo tiver nítido e exclusivo caráter infringente. 2. A
conclusão alcançada pelo Tribunal a quo deve ser mantida em todos os seus termos, pois existindo indícios de cometimento de atos enquadrados
na Lei de Improbidade Administrativa, a petição inicial deve ser recebida,
fundamentadamente, pois, na fase inicial prevista no art. 17, §§ 7º, 8º e
9º, da Lei n. 8.429/92, vale o princípio do in dubio pro societate, a fim de
possibilitar o maior resguardo do interesse público. 3. Além disso, deve ser considerada prematura a extinção do processo com julgamento
de mérito, tendo em vista que nesta fase da demanda, a relação
jurídica sequer foi formada, não havendo, portanto, elementos
suficientes para um juízo conclusivo acerca da demanda, tampouco
quanto a efetiva presença do elemento subjetivo do suposto ato de
improbidade administrativa, o qual exige a regular instrução
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processual para a sua verificação. Nesse sentido: AgRg no REsp
1.384.970/RN, 2ª Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 29.9.2014.
(In: STJ; Processo: EDcl no REsp 1387259/MT; Relator: Min. Mauro Campbell Marques; Órgão Julgador: Segunda Turma; Julgamento:
16/04/2015; Publicação: DJe, 23/04/2015)
Em outros termos, exigir a comprovação imediata do elementos subjeivo
antes do recebimento da ação de improbidade e, portanto, antes da devida
instrução do feito, constitui grave lesão ao próprio direito de ação, não se
podendo afirmar qualquer juízo conclusive sobre os fatos.
2.15. PERICULUM IN MORA PRESUMIDO NA INDISPONIBILIDADE DE
BENS POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ART. 7º DA LEI
Nº 8.429/92. INDISPONIBILIDADE DE BENS. DESNECESSIDADE DE
COMPROVAÇÃO DE DILAPIDAÇÃO IMINENTE OU EFETIVA DO
PATRIMÔNIO DO DEMANDADO E DE INDIVIDUALIZAÇÃO DOS BENS A
SEREM ALCANÇADOS PELA CONSTRIÇÃO. 1 - A Primeira Seção do STJ, no julgamento do REsp 1.366.721/BA, sob a sistemática dos recursos
repetitivos (art. 543-C do CPC), consolidou o entendimento de que o
decreto de indisponibilidade de bens em ação civil pública por ato de
improbidade administrativa constitui tutela de evidência e dispensa
a comprovação de dilapidação iminente ou efetiva do patrimônio do
legitimado passivo, uma vez que o periculum in mora está implícito no art. 7º da Lei nº 8.429/1992 (LIA). 2 - Nas "demandas por
improbidade administrativa, a decretação de indisponibilidade prevista
no art. 7º, parágrafo único, da LIA não depende da individualização dos
bens pelo Parquet, podendo recair sobre aqueles adquiridos antes ou
depois dos fatos descritos na inicial, bem como sobre bens de família" (REsp 1.287.422/SE, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda
Turma, DJe 22/8/2013). Nesse mesmo sentido, vejam-se, ainda: REsp
1.343.293/AM, Rel. Ministra Diva Malerbi - Desembargadora Convocada
TRF 3ª Região -, Segunda Turma, DJe 13/3/2013; AgRg no REsp
1.282.253/PI, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJe
5/3/2013; REsp 967.841/PA, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 8/10/2010; bem como as seguintes decisões
monocráticas: REsp 1.410.1689/AM, Relª. Ministra Assusete Magalhães;
DJe 30/9/2014; e AREsp 436.929/RS, Rel. Ministro Benedito Gonçalves,
DJe 26/9/2014, e AgRg no AREsp 65.181/MG, Rel. Ministro Arnaldo
Esteves Lima, DJe 12/5/2014. 3 - Recurso especial provido. (In: STJ; Processo: REsp 1461882/PA; Relator: Min. Sérgio Kukina; Órgão
Julgador: Primeira Turma; Julgamento: 05/03/2015; Publicação: DJe
12/03/2015)
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O STJ consolidou entendimento de que a medida de indisponibilidade de
bens por ato de improbidade administrativa constitui tutela de evidência (art. 7º
da LIA), independendo da demonstração concreta do periculum in mora que é
presumido nessas demadandas.
Ou seja, não faz-se necessário demonstrar a efetiva dilapidação dos bens
do demandado, nem qualquer outros element volitivo para demonstrar a´demora,
pois o perigo da demora é presumido nessas demandas.
PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO
CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ART. 7º
DA LEI N. 8.429/92. PERICULUM IN MORA PRESUMIDO. REVISÃO.
SÚMULA 7/STJ. ORIENTAÇÃO FIRMADA PELO STJ SOB A
SISTEMÁTICA DO ART. 543-C DO CPC. DESPROVIMENTO. 1. O pleito de reversão da cautelar foi indeferido com base nos documentos
acostados pelo Ministério Público, o que impede a revisão dessa prova na
via especial, sob pena de ofensa à Súmula 7/STJ. 2. A Primeira Seção
desta Corte de Justiça, no julgamento do REsp 1.366.721/BA,
solucionado sob a sistemática dos recursos repetitivos (art. 543-C do CPC), consolidou o entendimento de que o decreto de indisponibilidade
de bens em ação civil pública por ato de improbidade administrativa
constitui tutela de evidência, dispensando a comprovação de periculum
in mora. É suficiente para o cabimento da medida, portanto, a
demonstração, numa cognição sumária, de que o ato de improbidade
causou lesão ao patrimônio público ou ensejou enriquecimento ilícito, o que ocorreu na espécie. 3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(In: STJ; Processo: AgRg no AREsp 369.857/SP; Relator: Min. Og
Fernandes; Órgão Julgador: Segunda Turma; Julgamento: 28/04/2015;
Publicação: DJe, 06/05/2015)
2.16. DESNECESSIDADE DE SE INDIVIDUALIZAR OS BENS A SEREM
INDISPONÍVEIS:
PROCESSUAL CIVIL. OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO
CONFIGURADA. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. MEDIDA CAUTELAR DE
INDISPONIBILIDADE DE BENS. ART. 7º DA LEI 8.429/92. VIOLAÇÃO.
DESNECESSIDADE DE INDIVIDUALIZAÇÃO DOS BENS. BENS IMPENHORÁVEIS. EXCLUSÃO. (…) 3. A decretação da
indisponibilidade, que não se confunde com o sequestro, prescinde
de individualização dos bens pelo Parquet. A exegese do art. 7º da Lei
8.429/1992, conferida pela jurisprudência do STJ, é de que a
indisponibilidade pode alcançar tantos bens quantos necessários a garantir as consequências financeiras da prática de improbidade, mesmo
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os adquiridos anteriormente à conduta ilícita, excluídos os bens
impenhoráveis assim definidos por lei, salvo quando estes tenham sido,
comprovadamente, adquiridos também com produto da empreitada ímproba, hipótese em que se resguarda apenas os essenciais à
subsistência do indiciado/acusado. 4. No caso, o Tribunal de origem
cassou a decisão de primeiro grau que deferira a indisponibilidade de
bens não por considerar ausentes os requisitos para concessão da
medida cautelar, mas por entender que o ato acautelatório deferido teria
sido gravoso demais 5. O Tribunal a quo cassou a medida de indisponibilidade que recaía sobre os bens do recorrido unicamente por
ela, equivocadamente, abranger recursos impenhoráveis. Assim, é
patente a violação ao art. 7º da Lei 8.429/1992, pois não seria o caso de
indeferir totalmente tal medida, mas apenas de restringir seu alcance ao
montante necessário para garantir as consequências financeiras da prática da improbidade, com exclusão dos bens impenhoráveis. 6.
Recurso especial parcialmente provido para determinar a
indisponibilidade dos bens penhoráveis do recorrido no montante
necessário à reparação do dano ao erário decorrente do ato ímprobo que
lhe é imputado, excluídos, portanto, os proventos de aposentadoria da
abrangência de tal Medida Cautelar. (In: STJ; Processo: REsp 1461892/BA; Relator: Min. Herman Benjamin; Órgão Julgador:
Segunda Turma; Julgamento: 17/03/15; Publicação: DJe, 06/04/2015)
Ainda quanto a medida de indisponibilidade de bens, o STJ reafirmou o
entendimento de que a constrição de bens pode recair inclusive sobre bens
adquiridos antes do ato ímprobo, sendo desnecessário a individualização de tais
bens, devendo recair sobre todos os bens necessários ao ressarcimento integral
da lesão, salvo os impenhoráveis, salvo se derivarem diretamente do ato ímprobo.
2.17. PRORROGAÇÃO DE CONTRATO ADMINISTRATIVO SEM
LICITAÇÃO:
ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONCESSÃO DE
EFEITO SUSPENSIVO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. VIOLAÇÃO DO
ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. ATO ÍMPROBO. ELEMENTO
SUBJETIVO DOLO GENÉRICO. CARACTERIZADO. PRECEDENTES.
SÚMULA 83/STJ. DOSIMETRIA DA PENA. ART. 12 DA LEI N. 8.429/92.
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. ANÁLISE. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA 7/STJ. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL PREJUDICADA. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE
FÁTICA. (…) 3. No caso dos autos, ficou comprovada a improbidade
administrativa, bem como o elemento subjetivo dolo na conduta do
recorrente, ao omitir-se na regularização da situação jurídica da concessão de transporte público, qual seja, a prorrogação do contrato
sem licitação pública, bem como, autorizando ilegal aumento de
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tarifa. 4. As considerações feitas pelo Tribunal de origem NÃO afastam a
prática do ato de improbidade administrativa por violação de princípios
da administração pública (II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício), uma vez que foi constatado o elemento
subjetivo dolo na conduta do agente, mesmo na modalidade genérica, o
que permite o reconhecimento de ato de improbidade administrativa. 5.
A jurisprudência desta Corte é uníssona no sentido de que a revisão da
dosimetria das sanções aplicadas em ações de improbidade
administrativa implica reexame do conjunto fático-probatório dos autos, o que esbarra na Súmula 7/STJ, salvo em casos excepcionais, nas quais,
da leitura do acórdão exsurgir a desproporcionalidade entre o ato
praticado e as sanções aplicadas, o que não é o caso vertente. (…) (In:
STJ; Processo: AgRg no AREsp 597.359/MG; Relator: Min. Humberto
Martins; Órgão Julgador: Segunda Turma; Julgamento: 16/04/2015;
Publicação: DJe, 22/04/2015)
O Superior Tribunal de Justiça considerou que, em tese, a prorrogação
indevida de contrato administrativo e a manutenção irregular de uma situação
jurídica em desacordo com os ditames da Lei nº 8.666/93 constitui ato de
improbidade passível de responsabilização pela Lei nº 8.429/92.
2.18. CONCESSÃO IRREGULAR DE ISENÇÃO DE TARIFA COMO ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR VIOLAÇÃO AOS
PRINCÍPIOS:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PREFEITO
MUNICIPAL QUE EXERCE INGERÊNCIA SOBRE O SERVIÇO
AUTÔNOMO DE ÁGUAS E ESGOTO PARA QUE SEJA CONCEDIDA
ISENÇÃO ILEGAL DO PAGAMENTO DE TARIFAS EM SERVIÇOS DE
FORNECIMENTO DE ÁGUA E ESGOTO. PRÁTICA DE ATO VIOLADOR
DE PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS. ARTIGO 11 DA LEI 8429/92. DESNECESSIDADE DE PREJUÍZO AO ERÁRIO. RECONHECIMENTO DE
DOLO GENÉRICO. 1. A hipótese dos autos diz respeito ao ajuizamento
de ação civil pública por ato de improbidade administrativa, pelo
Ministério Público do Estado de Minas Gerais, sob o argumento de que o
então prefeito de São João Batista da Glória, teria exercido influência junto ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto - SAAE, pra que o diretor
do referido órgão isentasse os contribuintes da cobrança pelo
fornecimento de água, satisfazendo interesses próprios e de terceiros. (…)
4. Da leitura do acórdão, verifica-se que, na espécie, o juízo de origem
esclareceu que "ao advogar isenções de tarifas para determinadas
pessoas ou grupo de pessoas, o requerido arrostou os princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da pessoalidade e da
eficiência, inscritos em nossa constituição, proporcionando uma
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evasão de divisas que deveriam ser empregadas nas necessidades
sociais de toda a comunidade", daí porque não há que se falar na
inexistência do elemento subjetivo doloso. (…) (In: STJ; Processo: AgRg no REsp 1355136/MG; Relator: Min. Mauro Campbell Marques; Órgão
Julgador: Segunda Turma; Julgamento: 16/04/2015; Publicação: DJe,
23/04/2015)
A isenção indevida de tarifas, segundo entendeu o Tribunal da Cidadania,
também pode constituir ato de improbidade administrativa por fraude nas
receitas públicas, não sendo necessário a demonstração concreta de prejuízo já
que o art. 11 da LIA independe da demonstração do prejuízo concreto.
2.19. PROMOÇÃO PESSOAL EM PROPAGANDA COMO ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR VIOLAÇÃO AOS
PRINCÍPIOS:
PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC.
INEXISTÊNCIA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. APLICAÇÃO DA LEI
DE IMPROBIDADE AOS AGENTES POLÍTICOS. CABIMENTO.
PRECEDENTES. SÚMULA 83/STJ. ART. 11 DA LEI N. 8.429/92. NECESSIDADE DE DOLO GENÉRICO NO ELEMENTO SUBJETIVO DO
TIPO. PROMOÇÃO PESSOAL EM PROPAGANDA. ATO ÍMPROBO POR
VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO IMPESSOALIDADE CARACTERIZADO. (…) 4.
No caso dos autos, ficou comprovada a utilização de recursos
públicos em publicidade, para promoção pessoal, uma vez que a
veiculação da imagem do agravante não teve finalidade informativa, educacional ou de orientação, desviando-se do princípio da
impessoalidade. 5. Caso em que a conduta do agente se amolda ao
disposto no art. 11 da Lei 8.429/1992, pois atenta contra os princípios
da Administração Pública, em especial a impessoalidade, além de ofender
frontalmente a norma contida no art. 37, § 1º, da Constituição da República, que veda a publicidade governamental para fins de promoção
pessoal. 6. As considerações feitas pelo Tribunal de origem NÃO afastam
a prática do ato de improbidade administrativa por violação de princípios
da Administração Pública, uma vez que foi constatado o elemento
subjetivo dolo na conduta do agente, mesmo na modalidade genérica, o
que permite o reconhecimento de ato de improbidade administrativa. Agravo regimental improvido. (In: STJ; Processo: AgRg no AREsp
634.908/MG; Relator: Min. Humberto Martins; Órgão Julgador:
Segunda Turma; Julgamento: 14/04/2015; Publicação: DJe,
20/04/2015)
O julgado supracitado entendeu que a utilização de recursos públicos em
publicidade com a finalidade de promoção pessoal do agente público, ou seja,
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publicidade sem finalidade informativa, educacional ou de orientação, agride o
princípio da impessoalidade (art. 37 da CF/88), podendo-se caracterizar ato de
improbidade administrative por violação aos princípios.
2.20. NÃO RECOLHIMENTO À PREVIDÊNCIA PARA OUTRA DESTINAÇÃO
PÚBLICA:
ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
RECURSO ESPECIAL INTERPOSTO APENAS PELO MINISTÉRIO
PÚBLICO. AÇÃO MOVIDA, DENTRE OUTROS, CONTRA O GESTOR DO FUNDO E CONTRA O PREFEITO, POR ALEGADA FALTA DE REPASSE A
FUNDO PREVIDENCIÁRIO DE VALORES DESCONTADOS DE
SERVIDORES E DE RECOLHIMENTO DE MONTANTE A CARGO DA
PREFEITURA. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO EM PRIMEIRO GRAU E
IMPROCEDÊNCIA EM SEDE DE APELAÇÃO. RECONHECIMENTO, NESTA QUADRA RECURSAL ESPECIAL, DE EXTEMPORANEIDADE DA
APELAÇÃO OFERTADA PELO GESTOR DO FUNDO NA INSTÂNCIA
ORDINÁRIA, DAÍ RESULTANDO O RESTABELECIMENTO DE SUA
CONDENAÇÃO NOS TERMOS DA SENTENÇA DE PISO. JÁ QUANTO AO
PREFEITO, REJEIÇÃO DO ESPECIAL DO PARQUET NO TOCANTE À
PRETENDIDA OFENSA AO ART. 535 DO CPC, MAS ACOLHIMENTO EM RELAÇÃO À CARACTERIZAÇÃO DA CONDUTA ÍMPROBA DE VIOLAÇÃO
A PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, PRESENTE O DOLO
GENÉRICO, COM O RESTABELECIMENTO DAS SANÇÕES IMPOSTAS
EM PRIMEIRA INSTÂNCIA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (…) 3.
Já no que respeita ao Alcaide, consoante desponta do arcabouço fático
delineado no acórdão, sobre o qual não há controvérsia, e diversamente da conclusão adotada pela instância recursal de origem, está claramente
demonstrado o dolo desse recorrido, no mínimo genérico, resultante da
ausência de repasse ao Fundo Previdenciário dos Servidores Públicos
do Município de verba a este pertencente por determinação legal,
alusiva aos valores efetivamente descontados dos vencimentos dos servidores e também da contribuição devida pela Prefeitura
Municipal. Tal conduta, atentatória ao princípio da legalidade, nos
termos da jurisprudência desta Corte, é suficiente para configurar o ato
de improbidade capitulado no art. 11, caput e II, da Lei nº 8.429/92. (…)
(In: STJ; Processo: REsp 1238301/MG; Relator: Min. Sérgio Kukina;
Órgão Julgador: Primeira Turma; Julgamento: 19/03/2015; Publicação:
Dje, 04/05/2015)
O STJ entendeu que o desvio de finalidade dos recursos recolhidos da
contribuição previdenciária do servidor público (consignados previdenciários)
caracteriza ato de improbidade administrativa por violação aos princípios, já que
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a omissão de transferir recursos vinculados agride de morte o princípio da
legalidade administrativa.
É importante ressaltar que o caso concreto foi omisso quanto a
caracterização do ato de improbidade administrativa por lesão ao erário, já que,
em tese, o não recolhimento das contribuições previdenciárias constituem em
mora tanto o servidor como o município, causando dano material (pelo
pagamento de juros e/ou multa) e dano moral coletivo.
2.21. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA CUMULADA COM
PEDIDO DE RESSARCIMENTO AO ERÁRIO:
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. PRESCRIÇÃO. PRESCINDIBILIDADE DE
PROPOSITURA DE AÇÃO AUTÔNOMA PARA PLEITEAR
RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. TEMA NÃO PREQUESTIONADO.
AUSÊNCIA DE ALEGAÇÃO DE AFRONTA AO ART. 535 DO CPC.
SÚMULA 211/STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. O Tribunal de origem não se manifestou sobre a tese de que "não parece
tecnicamente adequado, com a devida vênia do entendimento contrário,
é valer-se de um instituto processual prescrito - ação civil de
responsabilização por atos de improbidade - para obter o fim único do
ressarcimento - que deveria ser buscado pela via ordinária" e o ora agravante não indicou no recurso especial ofensa ao art. 535 do CPC,
alegando a existência de possível omissão. 2. Nada obstante a instância
judicante de origem tenha genericamente declarado como
prequestionados os dispositivos legais tidos por vulnerados no recurso
especial, o fato é que não procedeu ao exame da matéria. Nesse contexto,
é inafastável a incidência da Súmula 211/STJ, conforme a reiterada jurisprudência do STJ. 3. Ainda que superado o óbice processual
apontado, melhor sorte não teria o agravante. Isso porque a 1ª Seção do
STJ firmou sua compreensão no sentido da prescindibilidade de
propositura de ação autônoma para se pleitear ressarcimento ao
erário, ainda que já estejam prescritas as penas referentes à prática de
atos de improbidade (REsp 1.289.609/DF, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 2/2/2015). 4. Agravo regimental a que
se nega provimento. (In: STJ; Processo: AgRg no AREsp 160.306/SP;
Relator: Min. Sérgio Kukina; Órgão Julgador: Primeira Turma;
Julgamento: 17/03/2015; Publicação: DJe 16/04/2015)
O Tribunal da Cidadania reafirmou o seu entendimento sobre a
desnecessidade de ajuizamento de ação de ressarcimento, sob o rito ordinário,
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mesmo após o reconhecimento da prescrição dos fatos em ação de improbidade
administrativa.
Em verdade, tratando-se de processo coletivo, regido pelo princípio da
primazia do mérito e pela instrumentalidade das formas, a necessidade de se
ajuizar uma nova ação autônoma requerendo o ressarimento ao erário torna-se
despicienda.
Neste mesmo sentido, o STJ inclusive já entendeu inclusive pela
irrelevância do nomen juris confirido à ação judicial (ação de improbidade
administrativa e ação de ressarcimento), mas o direito afirmado e os fatos
narrados:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. IMPRESCRITIBILIDADE. ART. 37, § 5º, DA CF. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. LEGITIMIDADE DO
MINISTÉRIO PÚBLICO. DEMONSTRAÇÃO E COMPROVAÇÃO DA
PRÁTICA DE ATO DE IMPROBIDADE COMO CAUSA DE PEDIR
RESSARCIMENTO. CIRCUNSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA QUE LEGITIMA
A ATUAÇÃO DO PARQUET. NOMEN IURIS DA AÇÃO. IRRELEVÂNCIA.
RITO DEFINIDO PELO OBJETO DA PRETENSÃO. ADOÇÃO DE PROCEDIMENTO ESPECÍFICO OU MAIS AMPLO AO EXERCÍCIO DO
DIREITO DE DEFESA. ADEQUAÇÃO. PRECEDENTE DA PRIMEIRA
SEÇÃO. RECURSO NÃO PROVIDO, DIGERGINDO DO RELATOR. (In: STJ;
Processo: REsp 1261660/SP; Relator p/ Acórdão: Min. Benedito
Gonçalves; Órgão Julgador: Primeira Turma; Julgamento: 24/03/2015;
Publicação: DJe 16/04/2015)
2.22. FRAUDE NO PONTO DE FREQUÊNCIA COMO ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. FRAUDE EM
ASSINATURA DE PONTO DE FREQUÊNCIA. REVALORAÇÃO DA
PREMISSA FÁTICA CONTIDA NO ACÓRDÃO RECORRIDO. ATO DE IMPROBIDADE CARACTERIZADO. ART. 11 DA LEI N. 8.429/1992.
APLICAÇÃO DE MULTA. (…) 2. No caso, o Tribunal de Justiça a quo
externou o entendimento de que a conduta desidiosa, imoral e ilegal de
servidora pública, ocupante do cargo de técnico-judiciário, no
desempenho de suas funções, pode caracterizar ilícito administrativo e penal; nada obstante, externou que, pelo fato de não ter sido detectado o
ânimo de favorecer a si mesma ou a terceiros, ou de prejudicar os serviços
administrativos judiciários, sua conduta, "quando muito, revela
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desmotivação profissional que assola boa parte do serviço público,
resultado de uma soma indeterminada de fatores. Assim, dúvidas não há
de que apesar de altamente reprovável a conduta praticada pela servidora, não enseja a caracterização de ato ímprobo". 3. O agente público, seja
qual for o cargo que ocupa, deve atuar conforme as competências e
limitações que a lei estabelecer. E disso tem ciência desde o momento em
que toma posse no cargo, estando suas atribuições, obrigações e deveres
delineados na legislação que o regulamenta. (…) 7. Com efeito,
revalorando-se a premissa de que a ré "[...] solicitou que a estagiária [...] efetuasse o registro de seu ponto, já que estaria impossibilitada de
exercer suas funções naquela data [...] além da evidente má-fé, tal ato
caracteriza ilícito penal", observa-se que essa conduta é dolosa e
violadora dos princípios da legalidade, da moralidade, da impessoalidade,
da honestidade e da lealdade à instituição, o que caracteriza, com nitidez, ato ímprobo descrito no art. 11 da Lei n. 8.429/1992. (…) 8.
Considerando a gravidade da conduta de determinar à estagiária a
assinatura do ponto de frequência, em nome do servidor faltoso, bem
como o fato de não se ter notícia no acórdão recorrido que esse proceder
era uma constante, aplica-se a sanção de multa, no valor de 10 vezes o
valor da remuneração relativa ao dia em que foi assinado o ponto pela estagiária. Recurso especial parcialmente provido para cassar o acórdão
recorrido e, reconhecendo a prática de ato improbo pela servidora Vera
Lúcia Vieira, condená-la à pena de multa, no valor de 10 vezes sua
remuneração diária. (In: STJ; Processo: REsp 1453570/SC; Relator:
Min. Humberto Martins; Órgão Julgador: Segunda Turma; Julgamento:
19/03/2015; Publicação: DJe, 07/05/2015)
O STJ entendeu que a fraude no ponto de frequência do servidor público
faltoso constitui ato de improbidade administrativa por violação aos princípios,
sendo a má-fé atestada pela própria conduta fraudulenta para atestar os
registros.
2.23. DISPENSA ACIMA DO VALOR PERMITIDO COMO ATO DE
IMPROBIDADE POR LESÃO AO ERÁRIO E VIOLAÇÃO AOS
PRINCÍPIOS:
PROCESSUAL CIVIL, CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AQUISIÇÃO DE
GÊNEROS ALIMENTÍCIOS PARA A MERENDA ESCOLAR COM
RECURSOS PÚBLICOS FEDERAIS. ALÍNEA “C”. NÃO DEMONSTRAÇÃO
DA DIVERGÊNCIA. REVISÃO. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. (…) 3. Hipótese em que o Tribunal de origem consignou, com base no 46uarto46 fático-probatório dos autos,
que, “Com relação ao mérito da causa, entendo que ficaram comprovadas
a autoria e a materialidade de ato de improbidade. (…) A simples leitura
dos vários dispositivos da citada Lei, que tratam das modalidades de
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improbidade, já permite denotar a ocorrência de hipóteses em que o mero
enriquecimento ilícito ou a violação de princípios administrativos já basta
para que se tenha por consubstanciada a improbidade. No caso concreto, o apelante foi Prefeito do Município de Macambira/SE, que recebeu
recursos públicos federais, do Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação – FNDE, destinados à aquisição de merenda escolar. Na espécie,
foram empregados R$ 20.774,20 (vinte mil, setecentos e setenta e
47uarto reais e vinte centavos), mediante dispensa de licitação, sem
que se configurasse hipótese de tal dispensa, já que ultrapassado o teto legalmente previsto. Esta prática resultou em cerceamento da
competitividade, vulneração à isonomia e afronta à legalidade, como
assinalado na sentença vergastada. Cometeu-se ato de improbidade
contemplado no artigo 10, VIII, da Lei nº 8.429/92, que menciona a
conduta de ‘frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente’. O ‘caput’ de tal dispositivo, bastante abrangente, se
reporta à ação ou omissão, dolosa ou culposa, do agente, logo, também é
cabível na forma culposa. Também se evidenciou a contrariedade aos
deveres de imparcialidade e legalidade a que faz menção o artigo 11, da
mesma Lei. No que tange à dosimetria das penas (…) foi adequada a
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo
de 3 (três) anos” (fls. 746-747, e-STJ). A revisão desse entendimento
implica reexame de fatos e provas, obstado pelo teor da Súmula 7/STJ.
Precedentes: AgRg no Resp 1.437.256/SC, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, Dje 30.9.2014; e AgRg no AREsp 532.658/CE,
Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, Dje 9.9.2014. 4. O
agravante reitera, em seus memoriais, as razões do Agravo Regimental,
não apresentando nenhum argumento novo. 5. Agravo Regimental não
provido. (In: STJ; Processo: AgRg no Resp 1417974/SE; Relator: Min.
Herman Benjamin; Órgão Julgador: Segunda Turma; Julgamento:
10/03/2015; Publicação: Dje, 06/04/2015)
O Tribunal da Cidadania consignou que a dispensa indevida de licitação,
no caso a dispensa em valor superior ao limite legal, constitui ato de improbidade
administrativa por lesão ao erário presumido, já que cerceia a competetividade
impossibilitando a participação dos demais interessados.
2.24. INEXIGIBILIDADE IRREGULAR COMO ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA POR VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS SEM
NECESSIDADE DA PROVA CONCRETA DO PREJUÍZO:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. A
DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO RECURSAL ATRAI O ÓBICE DA
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SÚMULA 284/STF. CONTRATAÇÃO DIRETA REALIZADA PELO PODER
PÚBLICO SEM SUPORTE LEGAL. DOLO GENÉRICO SUFICIENTE PARA
ENSEJAR A CONDENAÇÃO DO RÉU NO CAPUT DO ART. 11 DA LIA. DISPENSA DE PROVA DE PREJUÍZO AO ERÁRIO E DE
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO DO AGENTE. RECURSO DESPROVIDO. (…)
2. No âmbito das contratações pelo Poder Público, a regra é a
subordinação do administrador ao princípio da licitação, decorrência,
48umer, do art. 37, XXI, da Constituição Federal. Tratando-se, portanto,
a inexigibilidade de licitação de exceção legal, é certo que sua adoção, pelo gestor público, deverá revestir-se de redobrada cautela, em
ordem a que não sirva de subterfúgio à inobservância do certame
licitatório. No caso concreto dos autos, desponta que a contratação
direta realizada pelo Poder Público de Assis-SP, por intermédio de seus
prepostos, careceu de suporte legal. 3. O STJ tem compreensão no sentido de que “o 48umerou subjetivo, necessário à configuração de
improbidade administrativa censurada nos termos do art. 11 da Lei
8.429/1992, é o dolo genérico de 48umerous conduta que atente contra
os princípios da Administração Pública, não se exigindo a presença de
dolo específico” (Resp 951.389/SC, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Primeira Seção, Dje 4/5/2011). 4. Segundo o arcabouço fático delineado no acórdão local, sobre o qual não há controvérsia, restou claramente
evidenciado o dolo do recorrente, quando menos genérico, no passo em
que anuiu à inexigibilidade de procedimento licitatório, ensejando a
indevida contratação direta de prestação de serviço técnico de
elaboração de estudos de viabilidade, projeto e acompanhamento do processo de municipalização do ensino de 1º grau em Assis-SP. Tal
conduta, atentatória ao princípio da legalidade, nos termos da
jurisprudência desta Corte, é suficiente para configurar o ato de
improbidade capitulado no art. 11 da Lei nº 8.429/92. 5. É for a de
dúvida que a conduta do agente ímprobo pode, sim, restar tipificada na
própria cabeça do art. 11, sem a necessidade de que se encaixe, obrigatoriamente, em qualquer das figuras previstas nos oito incisos que
compõem o mesmo artigo, máxime porque aí se acham descritas em
caráter apenas exemplificativo, e não em regime 48umerous clausus. 6.
O ilícito de que trata o art. 11 da Lei nº 8.429/92 dispensa a prova de
prejuízo ao erário e de enriquecimento ilícito do agente. 7. Recurso especial a que se nega provimento. (In: STJ; Processo: Resp
1275469/SP; Relator p/ Acórdão: Min. Sérgio Kukina; Órgão Julgador:
Primeira Turma; Julgamento: 12/02/2015; Publicação: Dje, 09/03/2015)
No mesmo sentido que a dispensa indevida de licitação, entendeu o STJ
que a contratação direta por meio de inexigibilidade indevida de licitação também
constitui ato de improbidade administrativa. No caso, entretanto, condenou-se
os demandados por ato de improbidade administrativa por violação aos
princípios administrativos (princípio da licitação e da moralidade administrativa),
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que inclusive indepente da demonstração do prejuízo concreto ao erário e o
enriquecimento ilícito derivado do ato ímprobo.
2.25. RECURSO PÚBLICO PARA DESPESAS PRIVADAS COMO ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR ENRIQUECIMENTO ILÍCITO:
ADMINISTRATIVO. UTILIZAÇÃO DE RECURSOS PÚBLICOS PARA
PAGAMENTO DE DESPESAS PARTICULARES. ART. 9º, XII, LEI 8.429/1992. ILÍCITO INCONTROVERSO. DESNECESSIDADE DE
DEMONSTRAÇÃO DE DOLO ESPECÍFICO. RESSARCIMENTO AO
ERÁRIO QUE NÃO AFASTA A OCORRÊNCIA DA PRÁTICA DE
IMPROBIDADE. 1. Hipótese em que o Tribunal de origem aferiu a
inequívoca existência de atos de improbidade consistente na utilização,
por policiais militares, de recursos públicos da instituição policial para pagar despesas particulares em restaurantes, bem como para presentear
esposas de oficiais com bolsas e sapatos. 2. A prática do ato de
improbidade descrito no art. 9º, XII, da Lei 8.429/1992 prescinde da
demonstração de dolo específico, pois o elemento subjetivo é o dolo
genérico de aderir à conduta, produzindo os resultados vedados pela norma jurídica. 3. O ressarcimento, embora deva ser considerado na
dosimetria da pena, não implica anistia e/ou exclusão do ato de
improbidade. 4. O reconhecimento judicial da configuração do ato de
improbidade leva à imposição de sanção, entre aquelas previstas na Lei
8.429/1992, ainda que minorada no caso de ressarcimento. 5. Recurso
Especial parcialmente provido. (In: STJ; Processo: REsp 1450113/RN; Relator: Min. Herman Benjamin; Órgão Julgador: Segunda Turma;
Julgamento: 05/03/2015; Publicação: DJe, 31/03/2015)
Segundo a decisão acima ementada o uso de dinheiro público para
despesas particulares constitui ato de improbidade administrativa na
modalidade enriquecimento ilícito, nos termos do art. 9º, inciso XII, da LIA:
Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando
enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial
indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente:
(…)
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1°
desta lei.
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Em verdade, o STJ inclusive admitiu que as condutas do art. 9º da LIA
exigem apenas o dólo genérico – que abrangeria o dolo específico e o dolo eventual
-, não sendo necessário o dolo específico.
2.26. DESPESA SEM PRÉVIO EMPENHO E SEM LASTRO CONTÁBIL
COMO ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR VIOLAÇÃO
AOS PRINCÍPIOS:
PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. DESPESAS SEM EMPENHO E AQUISIÇÃO DE BENS
E SERVIÇOS SEM O REGULAR PROCEDIMENTO LEGAL. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 535 E 515 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. VIOLAÇÃO DOS
ARTS. 11 E 12 DA LEI N. 8.429/1992. NÃO OCORRÊNCIA. SANÇÕES
APLICADAS COM OBSERVÂNCIA AO PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALIDADE. (…) 2. Não ocorre violação do princípio da
individualização da pena quando o Tribunal de origem reconhece identidade de condutas entre os réus. Realização de despesa pública sem
lastro contábil e sem prévio empenho. 3. Inexistência de violação dos
princípios da proporcionalidade e razoabilidade quando o acórdão
impugnado, mediante análise probatória, adéqua as sanções dentro dos
limites mínimos do art. 12 da lei n. 8.429/92. Agravo regimental
improvido. (In: STJ; Processo: AgRg no REsp 1424418/ES; Relator: Min. Humberto Martins; Órgão Julgador: Segunda Turma; Julgamento:
03/03/2015; Publicação: Dje, 09/03/2015)
A realização de despesa pública sem prévio empenho e sem lastro contábil
(registro da operação financeira) constitui ato de improbidade administrativa por
violação aos princípios administrativos, inclusive os princípios regedores da
execução financeiro orçamentário, sendo aplicado as disposições da Lei nº
8.429/92.
2.27. UTILIZAÇÃO DE SERVIDOR PÚBLICO E BENS PÚBLICOS PARA
PROMOÇÃO PESSOAL COMO ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
DESIGNAÇÃO DE SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL PARA
DISTRIBUIÇÃO DE INFORMATIVO, COM FINS DE PROMOÇÃO
PESSOAL, INCLUSIVE MEDIANTE PAGAMENTO DE DIÁRIAS E USO DE
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VEÍCULO OFICIAL. SUBMISSÃO DOS AGENTES POLÍTICOS ÀS
DISPOSIÇÕES DA LEI 8.429/92. AUSÊNCIA DE DECISÃO DE
RECEBIMENTO DA INICIAL DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA. NULIDADE. AUSÊNCIA. PREJUÍZO PARA A DEFESA NÃO DEMONSTRADO. INÉPCIA
DA INICIAL. NÃO OCORRÊNCIA. PEDIDO CERTO. CONFIGURAÇÃO DE
ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E PROPORCIONALIDADE
DAS SANÇÕES FIXADAS NA ORIGEM. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO REGIMENTAL
IMPROVIDO. I. Agravo manifestado contra decisão que, por sua vez, não admitiu Recurso Especial interposto contra acórdão que julgou
procedente o pedido, em Ação Civil Pública ajuizada pelo ora agravado,
na qual postula a condenação do agravante, então Prefeito do Município
de Vilhena/RO, por ter designado servidor público municipal, inclusive
com o pagamento de diárias e uso de veículo 51nformat, para distribuição de um “51nformative”, com conteúdo de promoção pessoal. (In: STJ;
Processo: AgRg no AREsp 353.745/RO; Relator: Min. Assusete
Magalhães; Órgão Julgador: Segunda Turma; Julgamento: 03/03/2015;
Publicação: Dje, 10/03/2015)
No caso julgado pelo Tribunal da Cidadania acima ementado, além da
promoção de cunho pessoal, o demandado também utilizou-se de pessoal e bens
públicos, demonstrando não somente o malgrado aos princípios administrativos
(moralidade e impessoalidade), como também lesão ao erário.
2.28. OBRIGATORIEDADE DA APLICAÇÃO DA PENA DE DEMISSÃO:
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS CAPAZES
DE MACULAR A LEGALIDADE DO PROCEDIMENTO. INADEQUAÇÃO DA VIA MANDAMENTAL PARA AFERIR A LEGALIDADE DOS ATOS
ATRIBUÍDOS À CONDUTA DO IMPETRANTE. SEGURANÇA DENEGADA.
(…) 2. Ao servidor público impõe-se a aplicação de pena disciplinar por
diversas condutas não imbricadas, necessariamente, com as atribuições
do cargo, a exemplo da prática de crime contra a Administração Pública,
de improbidade administrativa, de corrupção e de lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional. (…) 9. Compreendida a
conduta do impetrante nas disposições dos arts. 117, IX, e 132, IV e
XIII, da Lei n. 8.112/90, inexiste para o administrador
discricionariedade a autorizar a aplicação de pena diversa da demissão.
10. Segurança denegada, com a revogação da liminar anteriormente concedida. Pedido de reconsideração da União prejudicado. (In: STJ;
Processo: MS 12.642/DF; Relator: Min. Rogerio Schietti Cruz; Órgão
Julgador: Terceira Seção; Julgamento: 25/02/2015; Publicação: DJe,
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Segundo entendeu o STJ sempre que identificado conduta qualificada
como improbidade administrativa ao administrador público não há
discricionariedade, devendo ser aplicado a sanção de demissão, nos termos do
art. 132, inciso IV, da Lei nº 8112:
Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos: (…)
IV - improbidade administrativa;
Ressalta-se que o julgado trata do processo administrativo disciplinar e
não do processo judicial por ato de improbidade administrativa, demonstrando
a gravidade da conduta improba.
2.29. NULIDADE RELATIVA POR VIOLAÇÃO A NOTIFICAÇÃO PARA
DEFESA PRÉVIA:
ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO
ESPECIAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. NOTIFICAÇÃO PARA
DEFESA PRÉVIA (ART. 17, § 7º, DA LEI 8.429/92). DESCUMPRIMENTO DA FASE PRELIMINAR. NULIDADE RELATIVA. NECESSIDADE DE
OPORTUNA E EFETIVA COMPROVAÇÃO DE PREJUÍZOS. ORIENTAÇÃO
PACIFICADA DO STJ. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO
ESPECIAL PROVIDOS. (…) 4. É manifesto que o objetivo da fase
preliminar da ação de improbidade administrativa é evitar o processamento de ação temerárias, sem plausibilidade de fundamentos
para o ajuizamento da demanda, em razão das graves consequências
advindas do mero ajuizamento da ação. Entretanto, apesar de constituir
fase obrigatória do procedimento especial da ação de improbidade
administrativa, não há falar em nulidade absoluta em razão da não
observância da fase preliminar, mas em nulidade relativa que depende da oportuna e efetiva comprovação de prejuízos. 5. Ademais, não seria
adequada a afirmação de nulidade processual presumida, tampouco
seria justificável a anulação de uma sentença condenatória por ato de
improbidade administrativa após regular instrução probatória com
observância dos princípios da ampla defesa e contraditório, a qual, necessariamente, deve estar fundada em lastro probatório de fundada
autoria e materialidade do ato de improbidade administrativa. Todavia, é
necessário ressalvar que tal entendimento não é aplicável aos casos em
que houver julgamento antecipado da lide sem a oportunização ou
análise de defesa prévia apresentada pelo réu em ação de improbidade
administrativa. 6. Nesse sentido, os seguintes precedentes: AgRg no REsp 1.194.009/SP, 1ª Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe de
30.5.2012; AgRg no AREsp 91.516/DF, 1ª Turma, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, DJe de 17.4.2012; AgRg no REsp 1.225.295/SP, 1ª Turma,
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Rel. Min. Francisco Falcão, DJe de 6.12.2011; REsp 1.233.629/SP, 2ª
Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 14.9.2011; AgRg no REsp
1.218.202/SP, 2ª Turma, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJe de 29.4.2011; AgRg no REsp 1.127.400/MG, 1ª Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido,
DJe de 18.2.2011; REsp 1.034.511/CE, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana
Calmon, DJe de 22.9.2009; AgRg no REsp 1.102.652/GO, 2ª Turma, Rel.
Min. Humberto Martins, DJe de 31.8.2009; REsp 965.340/AM, 2ª Turma,
Rel. Min. Castro Meira, DJe de 8.10.2007. 7. No caso dos autos, o
Tribunal de origem expressamente consignou que a nulidade apontada pelo descumprimento do art. 17, § 7º, da Lei 8.429/92, é relativa e que
não houve indicação ou comprovação de prejuízos em razão do
descumprimento da norma referida. 8. Embargos de divergência providos.
(In: STJ; Processo: EREsp 1008632/RS; Relator: Min. Mauro Campbell
Marques; Órgão Julgador: Primeira Seção; Julgamento: 11/02/2015;
Publicação: DJe, 09/03/2015)
No julgado supraementado o STJ reafirmou a sua jurisprudência no
sentido de que a ausência de defesa preliminar (art. 17, §7º, da LIA) é causa de
nulidade relativa, devendo comprovar-se no caso concreto o prejuízo sofrido pela
parte (pas de nulitté sans grief).
Ou seja, a simples ausência de defesa preliminar não causa por si só
nulidade do feito, devendo o demandado impugnar em tempo oportuno e
demonstrando o prejuízo sofrido para que seja reconhecido a nulidade.
2.30. FRAUDE AO CARATER COMPETITIVO DA LICITAÇÃO COMO ATO
DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR VIOLAÇÃO AOS
PRINCIPIOS.
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. FRAUDE NO PROCEDIMENTO
LICITATÓRIO. ART. 11 DA LEI 8.429/1992. VIOLAÇÃO DOS
PRINCÍPIOS DA MORALIDADE E DA LEGALIDADE. DESNECESSIDADE
DE DANO MATERIAL AO ERÁRIO. OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO DEMONSTRADA. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA
284/STF. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA
7/STJ. 1. Hipótese em que o Tribunal local consignou que o ora agravante
incidiu em fraude ao caráter 53egents53r53e do certame licitatório
referente à carta convite 008/2002 e feriu os princípios da legalidade e da moralidade, essencial à atividade administrativa, 53egent pelo qual foi
enquadrado no art. 11 da Lei 8.429/1992. (…) 3. Ademais, ao apreciar o
pleito, o Tribunal de origem afirmou, com base no 53egents fático-
probatório dos autos, que os elementos trazidos aos autos são capazes
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de “54egents54r a participação dos réus no esquema montado a fim
de direcionar as licitações com vistas ao fornecimento de unidades
móveis de saúde por empresas propositadamente escolhidas”, que “o conjunto probatório encartado nos autos confirma, com segurança,
a prática de ato de improbidade administrativa pelos recorridos,
consistente não somente em enriquecimento ilícito e causar
prejuízo ao erário, mas em grave e reiterada violação aos princípios
54egents da atividade administrativa, em especial a legalidade e a
moralidade” e que “os réus, ora apelados, atuaram em conluio para fraudar o processo licitatório realizado para execução do convênio n°
1550/2002, circunstância essa que faz atrair a incidência, na hipótese,
das disposições da Lei n° 8.429/92, mais precisamente o art. 11”. A
revisão desse entendimento implica reexame de fatos e provas, obstado
pelo teor da Súmula 7/STJ. Precedentes: AgRg no AREsp 481.858/BA, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, Dje 2.5.2014; AgRg no
Resp 1.419.268/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma,
Dje 14.4.2014; Resp 1.186.435/DF, Rel. Ministro Og Fernandes,
Segunda Turma, Dje 29.4.2014. (…) (In: STJ; Processo: AgRg no AREsp
575.077/TO; Relator: Min. Herman Benjamin; Órgão Julgador: Segunda
Turma; Julgamento: 10/02/2015; Publicação: Dje, 19/03/2015)
Segundo o Tribunal da Cidadania a fraude a certames licitatórios pelo
direcionamento dos contratos administrativos constitui ato de improbidade
administrativa por violação aos princípios (art. 11 da LIA), inclusive
independentemente da demonstração do prejuízo causado ao erário ou o
enriquecimento ilícito do agente público.
2.31. SERVIDORES FANTASMAS COMO ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA NAS TRÊS MODALIDADES:
PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. CONTRATAÇÃO DE SERVIDORES “FANTASMAS”. ELEMENTO SUBJETIVO. DOLO, LESÃO AO ERÁRIO E
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO CARACTERIZADOS. APLICAÇÃO DA LEI DE
IMPROBIDADE AOS AGENTES POLÍTICOS. CABIMENTO.
PRECEDENTES. SÚMULA 83/STJ. (…) 3. As considerações feitas pelo
Tribunal de origem NÃO afastam a prática do ato de improbidade administrativa, caso em que a conduta do agente se amolda ao disposto
nos arts. 9º e 10 da Lei 8.429/1992, pois restou caracterizado o
enriquecimento ilícito por apropriação de rendas públicas, bem como a
lesão ao erário na contratação fictícia de funcionários, além de 54ffender
frontalmente a norma contida no art. 37, II e V, da Constituição da
República, que veda a contratação de servidores sem concurso público. 4. O reconhecimento da repercussão geral pela Suprema Corte não enseja
o sobrestamento do julgamento dos recursos especiais que tramitam no
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Superior Tribunal de Justiça. Agravo regimental improvido. (In: STJ;
Processo: AgRg no Resp 1485110/SC; Relator: Min. Humberto Martins;
Órgão Julgador: Segunda Turma; Julgamento: 05/02/2015; Publicação:
Dje, 12/02/2015)
Conforme se depreende do julgado acima colacionado, o STJ consignou
que, em tese, a manutenção de servidores fantasmas constitui ato de
improbidade administrativa nas modalidades de enriquecimento ilícito, lesão ao
erário e a violação aos princípios administrativos.
2.32. CONTRATAÇÃO IRREGULAR DE ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA POR
INEXIGIBILIDADE:
RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. OMISSÃO INEXISTENTE. ART. 535 NÃO VIOLADO. AÇÃO CIVIL DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONTRATAÇÃO POR MUNICÍPIO DE
ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA SEM LICITAÇÃO. HIPÓTESE EM QUE
NÃO HÁ INEXIGIBILIDADE. SERVIÇOS TÉCNICOS NÃO SINGULARES.
VIOLAÇÃO DOS ARTS. 25, II, § 1º C/C 13, V, DA LEI 8.666/93.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ART. 11 DA LEI 8.429/92. 1. Trata-se de Ação Civil por Ato de Improbidade Administrativa ajuizada pelo
Ministério Público do Estado de Minas Gerais contra o então Prefeito,
membros da Comissão Permanente de Licitação e Contratos do Município
de Visconde do Rio Branco e o Procurador Municipal pela contratação
do escritório de José Nilo de Castro Advocacia Associada S/C, sem a realização do devido procedimento licitatório, sob o fundamento da
inexigibilidade. (…) 3. Nos termos do art. 13, V c/c art. 25, II, § 1º, da Lei
8.666/1993 é possível a contratação de serviços relativos ao patrocínio
ou defesa de causas judiciais ou administrativas sem procedimento
licitatório. Contudo, para tanto, deve haver a notória especialização do
prestador de serviço e a singularidade deste. A inexigibilidade é medida de exceção que deve ser interpretada restritivamente. 4. A singularidade
envolve casos incomuns e anômalos que demandam mais do que a
especialização, pois apresentam complexidades que impedem sua
resolução por qualquer profissional, ainda que especializado. 5. No caso
dos autos, o objeto do contrato descreve as atividades de patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas e elaboração de pareceres,
as quais são genéricas e não apresentam peculiaridades e/ou
complexidades incomuns, nem exigem conhecimentos demasiadamente
aprofundados, tampouco envolvem dificuladades superiores às
corriqueiramente enfrentadas por advogados e escritórios de advocacia
atuantes na área da Administração Pública e pelo órgão técnico jurídico do município. Ilegalidade. Serviços não singulares. 6. O STJ possui
entendimento de que viola o disposto no art. 25 da Lei 8.666/1993 a
contratação de advogado quando não caracterizada a singularidade na
prestação do serviço e a inviabilidade da competição. Precedentes: REsp
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1.210.756/MG, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, DJe
14/12/2010; REsp 436.869/SP, Rel. Ministro João Otávio de Noronha,
DJ 01/02/2006, p. 477. 7. A contratação de serviços sem procedimento licitatório quando não caracterizada situação de inexigibilidade viola os
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência e os
deveres de legalidade e imparcialidade. Improbidade administrativa - art.
11 da Lei 8.429/92. (…) (In: STJ; Processo: REsp 1444874/MG; Relator:
Min. Herman Benjamin; Órgão Julgador: Segunda Turma; Julgamento:
03/02/2015; Publicação: DJe, 31/03/2015)
O Superior Tribunal de Justiça vem consolidando entendimento no sentido
de ser cabível a responsabilização por ato de improbidade administrativa a
contratação direta, por inexigibilidade de licitação, de escritório de advocacia
para a prestação de serviços não singulares (rotineiros) e sem a demonstração
da notória especialização do escritório de advocacia para a prestação dos serviços
singulares.
A ausência de demonstração desses requisitos legais (singularidade e
especialização) acabaria por possibilitar a competição entre escritórios com vista
a melhor atender o interesse público, o que constituiria ato de improbidade
administrativa por violação aos princípios administrativos (art. 11 da LIA).
3. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ:
3.1. PRESTAÇÃO DE CONTAS DE FORMA INCOMPLETA COMO ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA POR VIOLAÇÃO AOS
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS:
APELAÇÃO CÍVEL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PRESTAÇÃO DE
CONTAS INCOMPLETA. AUSÊNCIA DE DOCUMENTOS. INEXISTÊNCIA
DE PROVAS ACERCA DOS GASTOS REALIZADOS COM VERBA
PÚBLICA REPASSADA MEDIANTE CONVÊNIO COM ÓRGÃO FEDERAL. A APRECIAÇÃO DE CONTAS PELO CONTROLE INTERNO NÃO É
JURISDICIONAL. INDEPENDÊNCIA ENTRE AS INSTÂNCIAS
ADMINISTRATIVAS E JUDICIAL. JULGAMENTO ADMINISTRATIVO QUE
NÃO VINCULA A DECISÃO JUDICIAL. ART. 21, II DA LEI. 8.429/92. RÉU
QUE NÃO JUNTOU NENHUMA PROVA NOS AUTOS CAPAZ DE AFERIR ACERCA DA REGULARIDADE NA PRESTAÇÃO DE CONTAS. PARECER
FINANCEIRO IDENTIFICANDO IRREGULARIDADES. DEVER LEGAL DE
PRESTAÇÃO DE CONTAS. ATO COMISSIVO POR OMISSÃO DO EX-
PREFEITO. EXISTÊNCIA DO ELEMENTO SUBJETIVO DO DOLO.
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CONDUTA TIPIFICADA NO ART. 11, VI DA LEI. 8.429/92. A
OPORTUNIZAÇÃO DE DEFESA NA ESFERA ADMINISTRATIVA NÃO SE
REVESTE DA CARACTERÍSTICA DE FATO NOVO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA RECORRIDA. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. (In:
TJ/PA; Processo: Apelação nº 2015.02779781-50; Acórdão nº 149.251,
Relator: Des. Constantino Augusto Guerreiro; Órgão Julgador: 5ª Camara
Civel Isolada; Julgamento: 2015/07/30; Publicação: 2015/08/05)
O Tribunal de Justiça do Estado do Pará consignou que a prestação de
contas incompleta, com ausência de informações e documentos comprobatórios,
constitui ato de improbidade administrativa por violação aos princípios
administrativos.
Trata-se de uma importante interpretação feita pela Corte Estadual, já que
não há como se interpretar o mero protocolo de informações incompletas como
prestação de contas efetiva.
3.2. MAJORAÇÃO DE SUBSÍDIOS SEM PRÉVIA APROVAÇÃO DE LEI
COMO ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
APELAÇÃO CÍVEL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. MAJORAÇÃO DE SUBSÍDIOS DE VEREADORES, SECRETÁRIOS, VICE-PREFEITO E
PREFEITO. ATO NORMATIVO QUE VIOLOU A CF/88. PROJETO DE LEI
RETIRADO DE PAUTA EM RAZÃO DO CONHECIMENTO DE QUE O
MESMO NÃO SERIA APROVADO. MANOBRA LEGISLATIVA. AUMENTO
CONCEDIDO POR MEIO DE RESOLUÇÃO E DECRETO LEGISLATIVO.
VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. RÉUS QUE SABIAM DA EXIGÊNCIA LEGAL PARA A MAJORAÇÃO. ATO ÍMPROBO. INTUITO DE
OBTER O AUMENTO DOS SUBSÍDIOS MESMO QUE POR MEIOS
CONTRÁRIOS AOS PREVISTOS PELA CONSTITUIÇÃO. OS AGENTES
PÚBLICOS QUE CONTRIBUÍRAM PARA A PRÁTICA DO ATO ILEGAL
FORAM OS MESMOS QUE SE BENEFICIARAM COM O AUMENTO. ATO DOLOSO E DE MÁ-FÉ. INTERPRETAÇÃO FÁTICA DISTINTA DA
SENTENÇA, PORÉM, QUE NADA ALTERA O DISPOSITIVO DESTA.
CONDUTA DOS RÉUS QUE SE ADEQUAM AO ART. 11 DA LEI Nº
8.429/92. NÃO OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA HONESTIDADE,
LEALDADE E IMPARCIALIDADE. PARECER DO TRIBUNAL DE CONTAS
DO MUNICÍPIO. ATOS NORMATIVOS QUE VIOLARAM O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE E ANTERIORIDADE. ART. 37, X E 29, VI DA CF/88. ART.
15 DA LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE BAIÃO. RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE NA APLICAÇÃO DAS SANÇÕES PREVISTAS NO
ART. 12 DA LEI Nº 8.429/92. DANO AO ERÁRIO. DEVOLUÇÃO DOS
VALORES ILEGALMENTE RECEBIDOS. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. (In: TJ/PA; Processo: Apelação nº 2015.02779465-28;
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Acórdão nº 149.245; Relator: Constantino Augusto Guerreiro; Órgão
Julgador: 5ª Camara Civel Isolada; Julgamento: 2015/07/30; Publicação:
2015/08/05)
Segundo entendeu o TJ/PA a majoração dos subsídios sem prévia
aprovação de lei (Princípio da Reserva Legal) constitui ato de improbidade
administrativa por violação aos princípios, sendo inclusive necessário o
ressarcimento pelos valores pagos de forma indevida.
3.3. PERICULUM IN MORA PRESUMIDA NA INDISPONIBILIDADE DE
BENS POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CAUTELAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS E AFASTAMENTO DO CARGO. PEDIDO
DE REFORMA DA DECISÃO. EXONERAÇÃO DO CARGO. PREJUDICA A
RECONDUÇÃO. INDISPONIBILIDADE DE BENS. MANUTENÇÃO.
CONFIGURAÇÃO DOS REQUISITOS NOS TERMOS DO ART. 7º DA LEI
N. 8.429/1992. PERICULUM IN MORA PRESUMIDO. IMPROVIMENTO.
1. O Ministério Público Estadual ingressou com ação civil pública visando o ressarcimento do prejuízo causado ao erário público, decorrente de atos
de improbidade administrativa, descritos nos artigos 10 e 11 da Lei
Federal nº 8.429/92, sustentando para tanto, a prática de condutas
atinentes à concessão de diárias ao prefeito sem justa causa e supostas
fraudes em procedimentos licitatórios, realizados pelas secretarias de educação, transporte, finanças e departamento de licitação, beneficiando
certas empresas. 2. Tendo sido procedida a exoneração do cargo de
Secretário de Educação, torna-se prejudicado o pleito de recondução do
agravante. 3. A indisponibilidade de bens deve ser preservada, uma vez
que o artigo 7º da Lei nº 8.429/1992 prevê que a medida é cabível quando
o ato de improbidade administrativa causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, devendo recair sobre o necessário que
assegure o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo
patrimonial resultante do enriquecimento ilícito, sendo desnecessário o
periculum in mora concreto. (Precedentes do STJ) 4. Agravo conhecido e
improvido à unanimidade. (In: TJ/PA; Processo: Agravo de Instrumento nº 2015.02417942-40; Acórd 148.240; Relator: Luiz Gonzaga Da Costa
Neto; Órgão Julgador: 5ª Camara Civel Isolada; Julgamento: 2015/07/02;
Publicação: 2015/07/08)
O Tribunal de Justiça do Estado do Pará, seguindo a jurisprudência
consolidada pelo Superior Tribunal de Justiça, também reafirmou entendimento
que a medida de indisponibilidade de bens por ato de improbidade
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administrativa é espécie de tutela de evidência que dispensa a demonstração
concreta do perido da demora (implícito), apenas sendo necessário comprovar os
fatos ímprobos e os indícios de autoria (justa causa), demonstrados em um juízo
de cognição sumária.
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CAUTELAR DE
INDISPONIBILIDADE DE BENS. MANUTENÇÃO. CONFIGURAÇÃO DOS
REQUISITOS NOS TERMOS DO ART. 7º DA LEI N. 8.429/1992.
PERICULUM IN MORA PRESUMIDO. IMPROVIDO. 1. O Ministério
Público Estadual ingressou com ação civil pública visando o
ressarcimento do prejuízo causado ao erário público, decorrente de atos de improbidade administrativa, descritos nos artigos 10 e 11 da Lei
Federal nº 8.429/92, sustentando para tanto, a prática de condutas
atinentes à concessão de diárias ao prefeito sem justa causa e supostas
fraudes em procedimentos licitatórios, realizados pelas secretarias de
educação, transporte, finanças e departamento de licitação, beneficiando certas empresas, dentre elas, a agravante. 2. A indisponibilidade de bens
deve ser preservada, em razão da acusação de superfaturamento do
contrato havido entre a administração pública e a empresa particular,
uma vez que o artigo 7º da Lei nº 8.429/1992 prevê que a medida é
cabível quando o ato de improbidade administrativa causar lesão ao
patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, devendo recair sobre o necessário que assegure o integral ressarcimento do dano, ou
sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito, sendo
desnecessário o periculum in mora concreto. (Precedentes do STJ) 3.
Agravo conhecido e improvido à unanimidade. (In: TJ/PA; Processo:
Agravo de Instrumento nº 2015.02150962-51; Acórdão nº 147.494; Relator: Des. Luiz Gonzaga da Costa Neto; Órgão Julgador: 5ª Camara
Civel Isolada; Julgamento: 2015/06/18; Publicação: 2015/06/22)
3.4. RECEBIMENTO DA AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA,
PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO SOCIETATE E O ELEMENTO
SUBJETIVO DO TIPO NORMATIVO
AGRAVO INTERNO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ALEGAÇÃO DE NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO QUE
RECEBEU A PETIÇÃO INICIAL. INOCORRÊNCIA. DECISÃO
DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. PRECEDENTE DO C. STJ. MÉRITO.
RECEBIMENTO DA AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
PRESENÇA DE MEROS INDÍCIOS. PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO SOCIETATE. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE ATOS DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. MATÉRIA DE MÉRITO DA AÇÃO PRINCIPAL.
CORRETO RECEBIMENTO DA INICIAL. PRECEDENTES DESTE
EGRÉGIO TRIBUNAL E DO C. STJ. APLICAÇÃO DO ART. 557, ?CAPUT?,
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DO CPC. NEGADO SEGUIMENTO. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO (In: TJ/PA; Processo: Agravo de Instrumento nº
2015.02387401-95; Acórdão nº 148.157; Relator: Des. Constantino Augusto Guerreiro; Órgão Julgador: 5ª Camara Civel Isolada; Julgamento:
2015/07/02; Publicação: 2015/07/06)
O Tribunal de Justiça do Estado do Pará, corroborando com o
entendimento consolidado pelo STJ, entendeu no caso ementado que o
recebimento da ação de improbidade administrativa deve se ater a um juízo de
prelibação, sendo que sendo demonstrando os fatos teoricamente ímprobos,
deve-se haver o recebimento da ação (Princípio do in dubio pro societate) para a
devida instrução do feito, resguardando o juízo definitivo sobre o caso somente
após a instrução definitiva.
Em outros termos, nessa fase de recebimento da ação de improbidade deve
o magistrado se ater na identificação dos indícios da prática de ato de
improbidade administrativa (prova indiciária acerca da existência do ato de
improbidade administrativa):
AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
RECEBIMENTO DA INICIAL DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PRESENÇA DE
INDICIOS. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. UNANIMIDADE. 1. O recebimento da ação de improbidade unicamente deve ser analisada a
existência de fato capaz de afastar o recebimento da demanda, não
havendo como se discutir a conduta imputada, tampouco se houve ou
não dano ou violação aos princípios administrativos, cujo juízo de
ponderação será realizado ao final do processo, com a sentença,
bastando para o recebimento da inicial a mera prova indiciária acerca da existência de atos de improbidade administrativa, o que
tenho como presente no caso dos autos. 2. Existindo indícios de ato
ímprobo a demonstrar a possibilidade de êxito da ação, impõe-se o
recebimento da inicial, pois ?a veracidade dos fatos, a produção de outras
provas e o exame aprofundado das questões se dará ao longo do processo, sob pena de cercear o direito do autor comprovar os fatos que alega.?,
(STJ, Petição n° 2.428, Relator o em. Ministro Carlos Alberto Menezes
Direito, em 24/05/2005). 3. Quanto ao fato da ação de improbidade
administrativa ter sido ajuizada após o distrato da doação, firmado entre
a Sra. Maria Moreira da Silva e o Município de Rondon do Pará, não é o
bastante para afastar de pronto o ato de improbidade administrativa imputada ao agravante visto que, de acordo com o disposto no art. Art.
23 da Lei 8.429/92, as ações destinadas a levar a efeitos as sanções
previstas nesta lei podem ser propostas até cinco anos após o término do
exercício de mandato, de cargo em comissão ou de função de confiança
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(art. 23, inciso I). (In: TJ/PA; Processo: Agravo de Instrumento nº
2015.01237615-36; Acórdão nº 144.988; Relator: Des. Diracy Nunes
Alves; Órgão Julgador: 5ª Camara Civel Isolada; Julgamento:
2015/04/09; Publicação: 2015/04/16)
De fato, o Princípio do in dubio pro societate obriga a devida instrução
processual do feito visando exatamente que o mérito da ação de improbidade
seja analisado (Princípio da primazia do conhecimento de mérito).
Sendo assim, a exigência da comprovação do ato de improbidade
administrativa antes do recebimento da ação de improbidade constitui flagrante
desrespeito ao direito de ação, já que os fatos devem ser provados dentro do
processo, sendo, neste mesmo sentido, indevido a comprovação do elemento
subjetivo da conduta ímproba antes do recebimento da ação, conforme também
já entendeu necessária a devolução dos autos para a instrução em ação de
improbidade administrativa:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONTRATAÇÃO DE SERVIDOR SEM
CONCURSO PÚBLICO. INDÍCIOS DE ILEGALIDADE. NECESSIDADE DE
INSTRUÇÃO DO PROCESSO. APURAÇÃO DO ELEMENTO SUBJETIVO NA CONDUTA DOS EX-GESTORES MUNICIPAIS PARA
CARACTERIZAÇÃO DO ATO DE IMPROBIDADE. RITO ESPECIAL DA LIA.
RETORNO DOS AUTOS À COMARCA DE ORIGEM. APELO CONHECIDO
E PROVIDO. À UNANIMIDADE. (In: TJ/PA; Processo: Apelação nº
2015.00145267-32; Acórdão nº 142.244; Relator: Des. Diracy Nunes Alves; Órgão Julgador: 5ª Camara Civel Isolada; Julgamento:
2015/01/15; Publicação: 2015/01/21)
3.5. AFASTAMENTO DO CARGO PÚBLICO EM AÇÃO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA E A DEMONSTRAÇÃO DO RISCO À INSTRUÇÃO:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO POR ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. LIMINAR DE AFASTAMENTO DO AGENTE PÚBLICO DO EXERCÍCIO DO CARGO. PRELIMINAR DE AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTAÇÃO. REJEITADA. RISCO À INSTRUÇÃO PROCESSUAL.
INEXISTÊNCIA. 1 ? Na decisão vergastada o magistrado primevo expôs
a contento todas as razões de seu convencimento, cumprindo a função
endoprocessual da fundamentação. Logo, cumpriu o disposto no artigo 93, IX da CF/88. 2 ? O art. 20, parágrafo único, da Lei nº 8.429/92
possibilita o afastamento do agente público do exercício do cargo,
emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida visa
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garantir o bom andamento da instrução processual na apuração das
irregularidades apontadas. 3 ? Da análise dos autos, embora haja
indícios da prática de ato de improbidade, entende-se que não há base jurídica, neste momento processual, para que seja o agravante afastado
do cargo para o qual foi eleito, uma vez que inexistem elementos
verossímeis a consubstanciar que o mesmo possa atrapalhar a instrução
processual. 4 - Recurso conhecido e parcialmente provido. (In: TJ/PA;
Processo: Agravo de Instrumento nº 2015.01512484-26; Acórdão nº
145.603; Relator: Des. Celia Regina De Lima Pinheiro; Órgão Julgador: 2ª Câmara Cível Isolada; Julgamento: 2015/04/27; Publicação:
2015/05/13)
Seguindo o entendimento do STJ, o TJ/PA tem entendido que a
verossimilhança dos atos de improbidade não satisfaz por si só os requisitos para
o afastamento do cargo público dos demandados, fazendo-se necessário
comprovar concretamente o risco à instrução do feito, nos termos do art. 20,
parágrafo único, da LIA.
Ou seja, diferentemente da medida de indisponibilidade de bens por ato
de improbidade administrativa, o afastamento tem natureza cautelar e com
fundamentação vinculada pela lei ao risco à instrução processual ou da
investigação:
AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE LIMINAR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AFASTAMENTO DE
AGENTE PÚBLICO DO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES. MEDIDA
EXCEPCIONAL. AUSÊNCIA DE PROVAS DE OBSTRUÇÃO A INSTRUÇÃO
PROCESSUAL. ARTIGO 20, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 8.429/1992.
RECONDUÇÃO AO CARGO. MANTIDA A INDISPONIBILIDADE DE BENS
PARA GARANTIR O RESSARCIMENTO AO ERÁRIO EM CASO DE LESÃO PATRIMÔNIO PÚBLICO. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO. (In: TJ/PA; Processo: Agravo de Instrumento nº
2015.00309352-52; Acórdão nº 142.745; Relator: Des. Helena Percila
De Azevedo Dornelles; Órgão Julgador: 2ª Câmara Cível Isolada;
Julgamento: 2015/01/26; Publicação: 2015/02/03)
3.6. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DE SENTENÇA NA AÇÃO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
RECEBIMENTO DA APELAÇÃO APENAS NO EFEITO DEVOLUTIVO.
CORRETA. SUSPENSÃO DE DIREITOS POLÍTICOS. LEI DE
IMPROBIDADE QUE JÁ DISPÕE SER IMPOSSIVEL A EXECUÇÃO
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PROVISÓRIA. DESNECESSIDADE DE ATRIBUIÇÃO DE EFEITO
SUSPENSIVO. DEMAIS PENALIDADES. IMPOSSIBILIDADE DE
ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE LESÃO GRAVE. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO. I ? A lei de improbidade administrativa prevê que somente
após o trânsito em julgado da sentença condenatória é que se pode
aplicar a perda da função pública e a suspensão dos direitos politicos do
réu. Assim, sendo impossivel a execução provisória pela própria norma
vigente, desnecessário se faz atribuir efeito suspensivo nesses moldes. II- As demais penalidades são regidas pelos ditames da lei 7.347/85, já que
não há previsão na lei de improbidade. Nesse caso, o recurso como regra
sera recebido apenas no efeito devolutivo, conferindo o efeito suspensivo
apenas em casos de lesão grave e de dificil reparação; III- Não há nos
autos provas concretas que atestem as alegações contidas na inicial, principalmente no que se refere que as contas foram devidamente
prestadas, o que mostra a lesão aos cofres públicos. Além do mais, o risco
da execução provisória por si só, não autoriza a atribuição de efeito
suspensivo à apelação. IV- Em face do exposto decido pela manutenção
da decisão que recebeu a o RECURSO DE APELAÇÃO interposto pela
agravada no seu efeito devolutivo, portanto conheço do Agravo de Instrumento, mas nego-lhe provimento. (In: TJ/PA; Processo: Agravo de
Instrumento nº 2015.00496775-92; Acórdão nº 143.144; Relator: Des.
Gleide Pereira De Moura; Órgão Julgador: 1ª Câmara Cível Isolada;
Julgamento: 2015/02/10; Publicação: 2015/02/19)
Segundo entendeu o Tribunal de Justiça do Estado do Pará a sanção de
suspensão dos direitos políticos e a perda da função pública na ação de
improbidade administrativa somente tem efeito após o reconhecimento da coisa
julgada em razão do que dispõe o art. 20, caput, da LIA.
Com relação às demais sanções, entretanto, é possível a execução
provisória do feito, sendo aplicado os ditames da Lei de Ação Civil Pública que,
em regra, somente prevê o efeito devolutivo salvo se demonstrado o risco de grave
lesão ou de difício reparação (efeito suspensivo).
3.7. APLICABILIDADE DA RESPONSABILIDADE POR ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA AOS AGENTES POLÍTICOS:
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. APELAÇÃO. PRELIMINAR DE SOBRESTAMENTO DO
RECURSO EM RAZÃO DE RECONHECIMENTO PELO STF DE
REPERCURSSÃO GERAL DA QUESTÃO DEBATIDA. REJEITADA.
PRELIMINAR DE FALTA DE INTERESSE DE AGIR. ADEQUAÇÃO. NÃO
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ACOLHIDA. APLICABILIDADE DA LEI DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA AOS PREFEITOS E EX-PREFEITOS. PRECEDENTES
DO STF. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1 ? No âmbito dos Tribunais de Justiça, o exame da necessidade de sobrestamento do feito,
em razão do reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal da
repercussão geral da questão debatida, é cabível apenas por ocasião do
juízo de admissibilidade de Recurso Extraordinário interposto, nos
termos do art. 543-B do Código de Processo Civil. Preliminar rejeitada.
2- Segundo precedentes recentes do Supremo Tribunal Federal, é admissível o ajuizamento da ação de improbidade administrativa, com
fundamento na Lei nº 8.429/92, em desfavor de agentes políticos.
Preliminar não acolhida. 3- Recurso conhecido e desprovido. (In: TJ/PA;
Processo: Apelação nº 2015.02320112-08; Acórdão nº 147.942;
Relator: Des. Maria Do Ceo Maciel Coutinho; Órgão Julgador: 1ª Câmara
Cível Isolada; Julgamento: 2015/06/29; Publicação: 2015/07/02)
O TJ/PA afastou, no julgado acima, a suspensão do processo que trata
sobre ação de improbidade administrativa ajuizada em desfavor de agente
político (Prefeito) em razão do reconhecimento da repercussão geral pelo
Supremo Tribunal Federal sobre a aplicabilidade da Lei nº 8.429/92 contra esses
agentes.
Nem poderia ser diferente, já que os mais recentes julgados dos Tribunais
Superiores (STF e STJ) tem conhecido a aplicabilidade dos ditames da Lei de
Improbidade Administrativa a esses agentes políticos, sendo o sobrestamento
desses feitos uma grave lesão à moralidade administrativa, até mesmo por
sobrestar os efeitos da Lei da Ficha Limpa.
3.8. DA MANUTENÇÃO DOS EFEITOS DE MEDIDA URGENTE
PRATICADO POR JUIZ INCOMPETENTE NAS AÇÕES DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO RECEBIDO COMO AGRAVO INTERNO.
PREVISÃO DO ART. 557, §1º DO CPC. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
VERBAS PNAE. RECONHECIMENTO DE COMPETÊNCIA JUSTIÇA
FEDERAL. LIMINAR DE AFASTAMENTO DO PREFEITO E DE BLOQUEIOS DE BENS MANTIDA. PODER GERAL DE CAUTELA.
PRECEDENTES DO STJ. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
DECISÃO UNANIME. 1. O recorrente interpôs agravo de instrumento,
visando a reforma da decisão interlocutória proferida pelo Juízo a quo,
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que concedeu a antecipação dos efeitos da tutela, nos autos da AÇÃO
CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. 2. Em
Decisão Monocrática, acatei a preliminar suscitada pelo recorrente de incompetência absoluta da Justiça Estadual e determinei o
encaminhamento dos autos a Vara Federal da Seção Judiciária de
Marabá, uma vez que na presente ação se discute emprego irregular de
verbas oriundas do Programa Nacional de Merenda Escolar em que, de
acordo com o art. 8 da Lei 11.947/2009, as prestações de contas devem
ser prestadas ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e ao Tribunal de Contas da União. 3. Também, na mesma decisão,
considerando a necessidade da efetiva prestação jurisdicional, bem como
o poder geral de cautela previsto nos arts. 798 e 799 do CPC, diante da
excepcionalidade do caso, foi mantida a medida de urgência deferida, a
qual deverá ser ratificada ou cassada pelo Juízo competente. 4. In casu, nos termos do disposto nos artigos 798 e 799 do CPC, o poder geral de
cautela autoriza manter, provisoriamente, a liminar deferida,
resguardando o interesse em demanda, sem que haja ofensa ao disposto
no art. 113 , § 2º, do CPC. Precedentes do STJ. 5. Agravo interno
conhecido e desprovido. Decisão Unânime. (In: TJ/PA; Processo:
Agravo de Instrumento nº 2015.02039448-40; Acórdão nº 147.171; Relator: Jose Roberto Pinheiro Maia Bezerra Junior; Órgão Julgador: 5ª
Camara Civel Isolada; Julgamento: 2015/06/11; Publicação:
2015/06/30)
O Tribunal de Justiça do Estado do Pará no caso supracitado reconheceu
a compatência da Justiça Federal no feito, entretanto manteve os efeitos da
medida de urgência aplicado pela Justiça Estadual com base no Poder Geral de
Cautela até a reassunção do processo pelo magistrado federal e a decisão
definitiva sobre a medida de urgência (ratificando, retificando ou até mesmo
cassando).
Neste mesmo sentido, o próprio Superior Tribunal de Justiça já aplicou o
instituto da translatio iudici para manter os efeitos de medida de urgência:
PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA JULGADO ORIGINARIAMENTE POR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DECISÃO
DENEGATÓRIA. RECURSO ESPECIAL. ERRO GROSSEIRO.
FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. 1. Em obséquio ao
art. 105, II, "b", da Carta Magna, a interposição de recurso especial pelo
impetrante contra acórdão denegatório de mandado de segurança julgado originariamente por Tribunal de Justiça constitui erro grosseiro, não
sendo aplicável o princípio da fungibilidade. Precedentes. 2. O art. 113, §
2º, do CPC, não tem carga normativa suficiente para infirmar as razões
alinhavadas pelo aresto recorrido, que reconheceu a incompetência
absoluta do juízo, mas manteve o deferimento de liminar em face da
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urgência até manifestação do juiz competente. Incidência da Súmula
284/STF. 3. O dispositivo não trata, e também não impossibilita o
juiz, ainda que absolutamente incompetente, de deferir medidas de urgência. A norma em destaque, por força dos princípios da
economia processual, da instrumentalidade das formas e do
aproveitamento dos atos processuais, somente determina que,
reconhecendo-se a incompetência do juízo, os atos decisórios serão
nulos, devendo ser aproveitado todo e qualquer ato de conteúdo não
decisório, evitando-se com isso a necessidade de repetição. Precedente: AgREsp 1.022.375/PR, de minha relatoria, DJe
01º.07.11. 4. Recurso especial do particular não conhecido. Recurso
especial do Estado do Espírito Santo conhecido em parte e, nesta parte,
provido tão somente para afastar a multa aplicada com base no art. 538,
parágrafo único, do CPC. (In: STJ; Processo: REsp 1273068/ES; Relator: Min. Castro Meira; Órgão Julgador: Segunda Turma; Julgamento:
01/09/2011; Publicação: DJe, 13/09/2011)
Ou seja, reconheceu-se a aplicação do instituto da tanslatio iudicii para
preservar os efeitos de uma tutela de urgência (como é o afastamento cautelar e
indisponibilidade de bens), mesmo que proferida por Juiz aparentemente
incompetente (absoluta ou relativamente), até que o novo Juízo analise o caso,
já que a reforma imediata agrediria de morte a própria urgência da tutela e,
portanto, violaria o Princípio do Devido Processo Legal sob o aspecto da
efetividade.
Conforme leciona Fredie Didier, o instituto da translatio iudicii determina
que “a incompetência (absoluta ou relativa) não gera a automática invalidação dos
atos decisórios já praticados. Nada obstante reconhecida a incompetência,
preserva-se a eficácia da decisão proferida pelo juízo incompetente, até ulterior
determinação do juízo competente.” (In: DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de
Direito Processual Civil. Volume 1. 17ª edição. Bahia: Ed. Juspodivm, 2015)
O novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015) fez previsão expressa
do instituto da translatio iudicci em seu art. 64, §4º: “Salvo decisão judicial em
sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo
incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente”.