MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO DE JANAÚBA EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ FEDERAL DA VARA ÚNICA DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE JANAÚBA/MG Ref. IC nº 1.22.005.000097/2006-91 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por meio do Procurador da República que esta subscreve, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, com fulcro nos artigos 129, inciso III, da Constituição Federal, no art. 5º, III, “c” e “e” da Lei Complementar 75/93, nos artigos 1º, VII e seguintes da Lei Federal nº 7.347/1985 e no Código de Processo Civil, vem, respeitosamente, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA em face da: UNIÃO, pessoa jurídica de direito público interno, a ser citada na pessoa do Advogado Geral da União, na Av. Dulce Sarmento, 140 - 6º Andar - Centro Empresarial Master Center - Bairro São José - Montes Claros - MG - Cep. 39400-318 - (38) 21012450 e; INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA (INCRA), entidade autárquica vinculada à Casa Civil da Presidência da República 1 , inscrita no CNPJ sob o nº 00.375.972/0001-60, a ser citada na pessoa do(a) advogado(a) público(a) chefe da Procuradoria Federal 1 Arts. 4º, IV, e 74, X, da Medida Provisória nº 782, de 31 de maio de 2017. Endereço : Rua São José, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 1/28 Documento assinado via Token digitalmente por EDUARDO HENRIQUE DE ALMEIDA AGUIAR, em 04/10/2017 20:30. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave CC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
1. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA EXCELENTSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ FEDERAL DA
VARA NICA DA SUBSEO JUDICIRIA DE JANABA/MG Ref. IC n
1.22.005.000097/2006-91 O MINISTRIO PBLICO FEDERAL, por meio do
Procurador da Repblica que esta subscreve, no uso de suas atribuies
constitucionais e legais, com fulcro nos artigos 129, inciso III,
da Constituio Federal, no art. 5, III, c e e da Lei Complementar
75/93, nos artigos 1, VII e seguintes da Lei Federal n 7.347/1985 e
no Cdigo de Processo Civil, vem, respeitosamente, propor a presente
AO CIVIL PBLICA COM PEDIDO DE ANTECIPAO DOS EFEITOS DA TUTELA em
face da: UNIO, pessoa jurdica de direito pblico interno, a ser
citada na pessoa do Advogado Geral da Unio, na Av. Dulce Sarmento,
140 - 6 Andar - Centro Empresarial Master Center - Bairro So Jos -
Montes Claros - MG - Cep. 39400-318 - (38) 21012450 e; INSTITUTO
NACIONAL DE COLONIZAO E REFORMA AGRRIA (INCRA), entidade autrquica
vinculada Casa Civil da Presidncia da Repblica1 , inscrita no CNPJ
sob o n 00.375.972/0001-60, a ser citada na pessoa do(a)
advogado(a) pblico(a) chefe da Procuradoria Federal 1 Arts. 4, IV,
e 74, X, da Medida Provisria n 782, de 31 de maio de 2017. Endereo:
Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP
39.400-119 Fone: (38)3224-7600 1/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
2. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA Especializada junto ao INCRA em Belo
Horizonte/MG, situada na Avenida Afonso Pena, 3500, Bairro Serra,
CEP: 30130-009, Belo Horizonte/MG ([email protected] .gov.br),
aduzindo, para tanto, os seguintes fundamentos de fato e de
direito: I - DA COMPETNCIA DA JUSTIA FEDERAL PARA A CONDUO DA CAUSA
Conforme estatui o art. 109, I, da Constituio Federal, a Justia
Federal, por fora de determinao constitucional, competente para o
conhecimento das causas em que a Unio, entidade autrquica ou
empresa pblica federal figurem no polo passivo. Pela natureza do
feito, portanto, inegvel a competncia da Justia Federal para julgar
o presente processado. Primeiro, pela presena do Ministrio Pblico
Federal no polo ativo da demanda; segundo, por estar a Unio e o
INCRA no polo passivo da lide. O art. 68 das Disposies
Constitucionais Provisrias, por outro lado, determina o
reconhecimento do direito titulao definitiva das terras ocupadas
pelas comunidades quilombolas, devendo a Unio adotar as providncias
para tanto. Assim, a sistemtica surgida com a consagrao de tal
direito regularizao fundiria dos territrios quilombolas incluiu a
Fundao Palmares (rgo federal ligado ao Ministrio da Cultura) como
responsvel pela certificao de reconhecimento da comunidade
tradicional aqui tratada (inicio do procedimento de estabelecimento
dos direitos fundirios e culturais) e o INCRA como o rgo investido
dos deveres de concretizar o Direito dessas comunidades terra
(Decreto regulamentador). Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os
Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 2/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
3. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA II DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTRIO PBLICO
FEDERAL Induvidosa a legitimidade do Ministrio Pblico Federal para
figurar no polo ativo da demanda. A Constituio Federal incumbiu ao
Parquet a defesa da ordem jurdica, do regime democrtico e dos
interesses sociais e individuais indisponveis, essencial funo
jurisdicional do Estado (art. 127). Estabelecida esta premissa,
dispe em seguida: Art. 129. So funes institucionais do Ministrio
Pblico: (...) III - promover o inqurito civil e a ao civil pblica,
para a proteo do patrimnio pblico e social, do meio ambiente e de
outros interesses difusos e coletivos; Do comando constitucional
transcrito percebe-se que o constituinte originrio encarregou o
Ministrio Pblico da relevante tarefa de defender os direitos e
interesses coletivos, misso essa que ser exercida judicialmente por
meio de ao civil pblica. Infraconstitucionalmente, diversas normas
asseguram a legitimidade do Ministrio Pblico para a defesa de
interesses das minorias tnicas: A Lei de Ao Civil Pblica (Lei n
7347/85), assim dispe: Art. 1 Regem-se pelas disposies desta Lei,
sem prejuzo da ao popular, as aes de responsabilidade por danos
morais e patrimoniais causados: IV - a qualquer outro interesse
difuso ou coletivo. VII honra e dignidade de grupos raciais, tnicos
ou religiosos. () Art. 5oTm legitimidade para propor a ao principal
e a ao cautelar: I - o Ministrio Pblico; (grifos destacados).
Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG.
CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 3/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
4. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA Do outro lado, a Lei Complementar n 75/93 Lei
Orgnica do Ministrio Pblico da Unio preceitua: Art. 5 So funes
institucionais do Ministrio Pblico da Unio: (...) III - a defesa
dos seguintes bens e interesses: c) o patrimnio cultural
brasileiro; e) os direitos e interesses coletivos, especialmente
das comunidades indgenas, da famlia, da criana, do adolescente e do
idoso; Art. 6 Compete ao Ministrio Pblico da Unio: VII - promover o
inqurito civil e a ao civil pblica para: c) a proteo dos interesses
individuais indisponveis, difusos e coletivos, relativos s
comunidades indgenas, famlia, criana, ao adolescente, ao idoso, s
minorias tnicas e ao consumidor; No presente caso, a ao civil
pblica tem por escopo garantir comunidade tradicional de quilombola
LAPINHA o direito finalizao, em tempo razovel, do processo
administrativo que pode culminar no reconhecimento, demarcao e
titulao da rea que ocupa. III DA LEGITIMIDADE PASSIVA A
legitimidade passiva ad causam da Unio decorre da competncia
constitucional comum do referido ente, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municpios, aos quais cabe zelar pela guarda da
Constituio, das leis e das instituies democrticas e conservar o
patrimnio pblico (Art. 23 da CF). Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro
Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone:
(38)3224-7600 4/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
5. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA Numa acepo mais ampla, patrimnio pblico o
conjunto de bens e direitos que pertence a todos e no a um
determinado indivduo ou entidade. Neste conceito insere-se o
conceito de patrimnio cultural brasileiro (art. 216 da CF), cabendo
ao Poder Pblico sua promoo e proteo, conforme consta do 1 do
mencionado artigo. Por vontade do Constituinte de 1988 foram
tombados todos os documentos e os stios detentores de reminiscncias
histricas dos antigos quilombos (art. 216, 5, da CF), aos quais
cabe tambm a Unio proteger. ainda competncia comum e, portanto,
tambm da Unio combater as causas da pobreza e os fatores de
marginalizao, promovendo a integrao social dos menos desfavorecidos
(art. 23, X, da CF), sendo esta a hiptese dos autos. A obrigao de
emitir ttulos de terras s comunidades quilombolas da Unio, que
elegeu o INCRA como encarregado do procedimento administrativo.
Como esta entidade vinculada ao ente federativo, fazendo parte da
administrao pblica indireta, cabe a Unio prover os meios necessrios
para que o INCRA cumpra com seu mister. tambm interesse da Unio e
do INCRA, bem como da coletividade, a pacificao social obtida por
meio da valorizao do postulado da segurana jurdica conferida aos
particulares, ao poder pblico local e sociedade como um todo, ao
velar-se pela demarcao, reconhecimento e titulao de reas de
remanescentes de quilombolas tendo por perspectiva o princpio da
razovel durao do processo. A esse respeito, colhe-se precedente do
Eg. TRF da 3 Regio, verbis: CONSTITUCIONAL - CIVIL E PROCESSO CIVIL
- ADMINISTRATIVO - REMANESCENTES DE COMUNIDADE DE QUILOMBOS -
PROPRIEDADE - FORMA ORIGINRIA DE AQUISIO - ARTIGO 68, ADCT -
CONDIES DA AO: LEGITIMIDADE ATIVA - LEGITIMIDADE PASSIVA -
INTERESSE DE AGIR - REEXAME OBRIGATRIO - TERRAS DEVOLUTAS E TERRAS
DE PARTICULAR - ORIGEM DA COMUNIDADE Endereo: Rua So Jos, 547.
Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone:
(38)3224-7600 5/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
6. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA COMPROVADA - POSSE COMPROVADA - AO PROCEDENTE -
REMESSA OFICIAL IMPROVIDA. () (...) 3. A existncia da fundao, Unio
Cultural Palmares, dotada de personalidade jurdica, e seus
objetivos, ditados pelo artigo 2, da Lei 7.668, de 22 de agosto de
1988, no retiram da Unio Federal a legitimidade para figurar no
polo passivo da ao, em face dos limites de atuao da fundao, que,
poca do ajuizamento da ao, no estava autorizada a promover demarcao
e titulao de rea ocupada pelos remanescentes de comunidades de
quilombos. 4. A legitimidade passiva de parte da Unio Federal
subsiste mesmo em face da competncia ampliada da Fundao Cultural
Palmares, na medida em que o direito reivindicado no se limita
prtica de atos de natureza administrativa, mas envolve um interesse
maior, qual seja, o direito de propriedade. Preliminar de
ilegitimidade rejeitada. (TRF3, REO 200403990374534, JUIZ HELIO
NOGUEIRA, QUINTA TURMA, 03/02/2009) grifos destacacos. Por fim,
regulamentando o Direito constitucionalmente protegido, a Lei n
9.649/98 e o Decreto n 4.887/03 assim dispe: Lei n 9.649: Art.14 Os
assuntos que constituem rea de competncia de cada Ministrio so os
seguintes: (...) IV - Ministrio da Cultura: (.) c) aprovar a
delimitao das terras dos remanescentes das comunidades dos
quilombos, bem como determinar as suas demarcaes, que sero
homologadas mediante decreto; Decreto n 4.887/03: Art. 1 Os
procedimentos administrativos para a identificao, o reconhecimento,
a delimitao, a demarcao e a titulao da propriedade definitiva das
terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos, de
que trata o art. 68 do Ato das Disposies Constitucionais
Transitrias, sero procedidos de acordo com o estabelecido neste
Decreto. Art. 2 Consideram-se remanescentes das comunidades dos
quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos tnico-raciais,
segundo critrios de auto atribuio, com trajetria histrica prpria,
dotados de relaes territoriais especficas, com presuno de
ancestralidade negra relacionada com a resistncia opresso histrica
sofrida. 1 Para os fins deste Decreto, a caracterizao dos
remanescentes das comunidades dos quilombos ser atestada mediante
autodefini o da prpria comunidade. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro
Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone:
(38)3224-7600 6/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
7. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA 2 So terras ocupadas por remanescentes das
comunidades dos quilombos as utilizadas para a garantia de sua
reproduo fsica, social, econmica e cultural. Art. 3 Compete ao
Ministrio do Desenvolvimento Agrrio, por meio do Instituto Nacional
de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA, a identificao,
reconhecimento, delimitao, demarcao e titulao das terras ocupadas
pelos remanescentes das comunidades dos quilombos, sem prejuzo da
competncia concorrente dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municpios. 1 O INCRA dever regulamentar os procedimentos
administrativos para identificao, reconhecimento, delimitao,
demarcao e titulao das terras ocupadas pelos remanescentes das
comunidades dos quilombos, dentro de sessenta dias da publicao
deste Decreto. 3 O procedimento administrativo ser iniciado de
oficio pelo INCRA ou por requerimento de qualquer interessado. Art.
4 Compete Secretaria Especial de Polticas de Promoo da Igualdade
Racial, da Presidncia da Repblica, assistir e acompanhar o
Ministrio do Desenvolvimento Agrrio e o INCRA nas aes de
regularizao fundiria, para garantir os direitos tnicos e
territoriais dos remanescentes das comunidades dos quilombos, nos
termos de sua competncia legalmente fixada. Grifos destacados. IV-
DO INTERESSE DE AGIR O interesse de agir para o presente feito
baseia-se na inao e desdia dos rus, os quais, aps mais de 12 (doze)
anos da emisso de certido de autoreconhecimento da comunidade em
questo e da instaurao do processo administrativo n.
54170.003689/2005-14, relativo identificao, delimitao e demarcao de
titulao de terra em favor da comunidade, ainda no foram capazes de
concluir os trabalhos (fl. 32). Cumpre destacar que esse quadro que
inclui atos administrativos abusivamente atrasados, providncias
nunca concludas e procedimentos insuficientes, so equivalentes e
caracterizam a omisso da Administrao, at porque sobre tais atos
administrativos aplica-se o princpio da eficincia. Endereo: Rua So
Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119
Fone: (38)3224-7600 7/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
8. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA Nesta linha, importante destacar que no pode
(nem deve) toda uma comunidade ver negado seu direito
constitucionalmente assegurado por conta de atrasos e omisses,
equvocos ou outras escusas que nada justificam. Devem, ao contrrio,
ser assegurados o atendimento aos princpios da eficcia e da
razoabilidade. Acompanhados os trmites, reiteradamente requisitadas
as diligncias e providncias, sem obter a agilizao dos procedimentos
ou uma soluo, nada mais resta ao rgo ministerial seno levar os
fatos ao controle do Judicirio, a fim de obter a satisfao da
obrigao positiva imprescindvel ao aperfeioamento da previso legal
(dever inafastvel). A regularizao, o reconhecimento e a outorga
definitiva do direito de propriedade aos remanescentes das
comunidades quilombolas - instrumento de incluso e de promoo da
justia social, j que seus beneficirios so, majoritariamente pessoas
em situao de fragilidade social, no mais das vezes vtimas tambm da
discriminao racial que graa no pas - a garantia de subsistncia
dessa cultura e comunidade diferenciada. V DOS FATOS No ano de
2006, instaurou-se o inqurito civil em epgrafe com o intuito de
apurar denncias de que o Instituto Estadual de Floresta IEF/MG
estaria demarcando de forma arbitrria a rea do Parque Estadual
Lagoa do Cajueiro, avanando sobre terras de propriedade da
comunidade remanescente de quilombo LAPINHA, situada no municpio de
Matias Cardoso/MG (fls. 02-07). Oficiado, o IEF esclareceu que o
Parque Estadual Lagoa do Cajueiro foi criado pelo Decreto Estadual
n. 39.954, de 08.10.1998 e que j realizou a desapropriao de uma rea
aproximada de 20.000,00 hectares, uma vez que foi constatada a
inexistncia de reas pertencentes citada comunidade (fls. 35-36).
Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG.
CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 8/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
9. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA Conforme o relatrio de diligncias nas
Comunidades Vazanteiras localizadas em Matias Cardoso e Manga,
elaborado pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, as
famlias da referida comunidade viviam na Ilha da Ressaca desde
1970, porm foram expulsas da rea a partir do processo de expropriao
desenvolvido pelo Projeto Jaba e, posteriormente, pela criao das
reas de preservao permanente. Assim, desde 2006 at os dias atuais,
as famlias iniciaram o processo de retomada do seu territrio
tradicional e ocuparam 22ha da fazenda Casa Grande. Ainda de acordo
com o relatrio, desde ento, a comunidade vem pressionando o INCRA e
a Fundao Palmares para realizao dos estudos antropolgicos e
demarcao do territrio. Em visita, constatou-se a precria situao que
vive a comunidade LAPINHA diante da ausncia de titularidade da
terra (fls. 103- 122). Veja-se: Como estas famlias no possuem a
titularidade da terra, melhorias no podem ser realizadas na rea.
Segundo informaram Comisso, a prefeitura recebeu verba de 870 mil
reais para construo de uma escola na comunidade, porm, no possvel a
construo enquanto o direito de acesso ao territrio no for
regularizado. A comunidade relata a insatisfao com a Instruo
Normativa do Incra n 49, que regulamenta o Decreto 4887, de 2003, e
estabelece o procedimento para identificao, reconhecimento,
delimitao, demarcao, desintruso, titulao e registro das terras
ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos, pois
impossibilita a contratao de terceiros para realizao dos estudos
antropolgicos. Isto torna quase que impossvel a realizao de
qualquer estudo, considerando que o INCRA em MG possui apenas um
antroplogo e o estado cerca de mais de 450 comunidades
reconhecidas. Tambm informaram que no acessam a nenhum programa de
auxlio do Governo Federal, recebem apenas cestas bsicas distribudas
pelo INCRA e uma vez por ms a prefeitura manda um caminho
distribuir verduras. (...) No h como garantir o direito humano
alimentao, pois no podem cultivar uma horta que o IEF emite uma
multa. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes
Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 9/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
10. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA Destaca-se que a Comunidade de LAPINHA obteve
certido de auto reconhecimento como remanescente de comunidade
quilombola, pela Fundao Cultural Palmares, em 02.06.2005, publicada
no DOU em 12.07.2005, seo 1, n. 132, fls. 15 (fls. 32) e que o
processo administrativo instaurado naquele ano no mbito do INCRA
ainda no foi finalizado. inegvel que a mora na demarcao e titulao
da rea de remanescente de quilombos ocupada pela Comunidade LAPINHA
desvaloriza o postulado da segurana jurdica, mormente quando se tem
em vista que parte da rea que possivelmente integra a rea da
comunidade em apreo foi desapropriada para criao do Parque Estadual
Lagoa do Cajueiro. Aps vrias vezes oficiado, em maro de 2016,
aduziu o INCRA que o Relatrio Tcnico de Identificao e Delimitao
havia sido aprovado pelo Comit de Deciso Regional do INCRA/MG e
teve seu resumo publicado no DOU de 30 e 31.12.15, reconhecendo,
preliminarmente, o territrio pleiteado pela comunidade com dimenso
de 7.566,1612 hectares (ofcios de fls. 282-283 e 286). Ocorre que
pouco ou nada se avanou nas fases que se seguem: a) notificao aos
ocupantes e confrontantes para apresentarem eventuais consideraes
sobre o RTID no prazo de 90 dias; b) anlise e julgamento, pelo
Comit de Deciso Regional/INCRA-MG, de contestaes ao RTID, aps
ouvidos os setores tcnicos e a Procuradoria Federal
Especializada/INCRA- MG; c) anlise e julgamento, pelo Conselho
Diretor do INCRA Sede Braslia/DF, de eventuais recursos
administrativos; d) edio, pela Presidncia do INCRA, de portaria de
reconhecimento e declarao dos limites do territrio quilombola; e)
edio, pela Presidncia da Repblica, de decreto declaratrio do
territrio quilombola como rea de interesse social. Cabe destacar
que, desde a instaurao do procedimento administrativo em 2005, e da
instaurao do inqurito civil em epgrafe em 2006, no se chegou a uma
concluso destinada a possvel demarcao e Endereo: Rua So Jos, 547.
Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone:
(38)3224-7600 10/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
11. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA titulao da rea ocupada pela indigitada
comunidade tradicional. A omisso do INCRA diante do poder-dever de
conduzir de modo assertivo e efetivo o processo administrativo que
trata da rea sob litgio fez-se cabalmente comprovada diante da
recalcitrncia da autarquia - reiterada e documentada - de no
concluir o j citado processo. Restou amplamente documentado no
curso do inqurito civil em epgrafe que a mora na concluso do citado
processo reala, livre de dvidas, a vulnerabilidade da populao
tradicional interessada, nomeadamente porque at mesmo o
investimento de dinheiro pblico em servios essenciais em prol da
comunidade resta prejudicado em decorrncia da litigiosidade da rea.
Assim, tendo sido o procedimento de reconhecimento e regularizao
territorial da comunidade quilombola instaurado em 2005 e at esta
data sem concluso ou, ao menos, previso para tanto, entende-se no
ser mais possvel esperar. A reiterada negligncia no possibilita
outra soluo que no a de buscar a atuao jurisdicional. VI DOS
FUNDAMENTOS JURDICOS Na presente demanda, busca-se prestao
jurisdicional que condene a Unio e o INCRA em obrigao de fazer,
qual seja, realizar, em carter urgente, todas as etapas faltantes
para eventual demarcao, reconhecimento e titulao da rea sob litgio
ocupada pela Comunidade Quilombola LAPINHA, a ser implementada em
prazo certo e determinado. A proteo e a incluso dos variados grupos
tnicos que compem a comunho nacional, decorrem de sua posio social
extremamente fragilizada, reconhecidas dentre as preocupaes
fundamentais da Constituio de 1988 (art. 3, IV), reconhecendo o
Estado brasileiro como pluritnico e multicultural (art. 215,
CF/88). Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes
Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 11/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
12. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA A outorga do direito de propriedade aos
remanescentes das comunidades quilombolas (a qual constitui
instrumento de promoo da justia social, haja vista serem seus
beneficirios, na sua expressiva maioria, pessoas em situao de
miserabilidade) a garantia de subsistncia desse povo e de sua
cultura, de indiscutvel relevo para a sociedade brasileira. Nesse
sentido, h que destacar a interpretao teleolgica do art. 68/ADCT, o
qual no se limitou a ordenar ao Estado que adotasse as medidas
necessrias transferncia da propriedade s comunidades tnicas em
questo, mas conferiu diretamente aos remanescentes dos quilombos a
titularidade do domnio sobre as terras tradicionalmente ocupadas; a
propriedade preexiste aos atos oficiais, de natureza declaratria e
no constitutiva. Diante dos princpios da efetividade da Constituio
e da aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais (artigo 5, 1
da CF), prevalece o entendimento de que o citado artigo 68
autoaplicvel, prescindindo de regulamentao no plano legislativo
para surtir seus efeitos. Art. 68. Aos remanescentes das
comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras
reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes
os ttulos respectivos. Conforme artigo 3 do Decreto n 4.887/2003,
recai sobre o INCRA o poder-dever de demarcar as reas ocupadas
pelos remanescentes de quilombos, verbis: Art. 3o Compete ao
Ministrio do Desenvolvimento Agrrio, por meio do Instituto Nacional
de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA, a identificao,
reconhecimento, delimitao, demarcao e titulao das terras ocupadas
pelos remanescentes das comunidades dos quilombos, sem prejuzo da
competncia concorrente dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municpios. 1o O INCRA dever regulamentar os procedimentos
administrativos para identificao, reconhecimento, delimitao,
demarcao e titulao das terras ocupadas pelos remanescentes das
comunidades dos quilombos, dentro de sessenta dias da publicao
deste Decreto. 2o Para os fins deste Decreto, o INCRA poder
estabelecer convnios, contratos, acordos e instrumentos similares
com rgos da Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos.
Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 12/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
13. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA administrao pblica federal, estadual, municipal,
do Distrito Federal, organizaes no-governamentais e entidades
privadas, observada a legislao pertinente. 3o O procedimento
administrativo ser iniciado de ofcio pelo INCRA ou por requerimento
de qualquer interessado. 4o A autodefinio de que trata o 1o do art.
2o deste Decreto ser inscrita no Cadastro Geral junto Fundao
Cultural Palmares, que expedir certido respectiva na forma do
regulamento. E o artigo 5, inciso LXXVIII, da Constituio Federal,
assegura a todos a razovel durao do processo: a todos, no mbito
judicial e administrativo, so assegurados a razovel durao do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitao e
fato que tal postulado comprovadamente vem sendo desonrado pelos
rus. Com efeito, em julgado recente, o STF2 sedimentou o
entendimento de que a deciso judicial que obriga o INCRA a
apresentar um cronograma de estudos e, se assim for, realizar a
demarcao e titulao de rea de remanescente de quilombos, no fere o
princpio da separao de Poderes. Na verdade, no se trata de mero
descumprimento de prazos, mas de inadmissvel demora de anos, mais
de doze anos no caso em tela! Se de um lado correto dizer que para
certas fases e atos no h prazo definido em norma, de outro no se
pode concluir que se trata de um cheque em branco, no qual o INCRA
pode demorar mais de uma dcada para demarcar um territrio
quilombola. A administrao deve ser guiada, entre outros, pelo
princpio da razoabilidade, e a durao razovel do processo
administrativo. Destaca-se a existncia de mais um procedimento
instaurado no mbito desta Procuradoria (e no diversa a realidade no
restante do Brasil) que vem durando mais de treze anos sem que
tenha ocorrido qualquer avano no processo de regularizao fundiria
das reas quilombolas3 . 2 Recurso Extraordinrio com Agravo
1.022.166 So Paulo. 3 Ics n 1.22.000.001039/2004-63. Endereo: Rua
So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP
39.400-119 Fone: (38)3224-7600 13/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
14. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA Em hipteses similares presente, a jurisprudncia
tem fixado prazo para concluso de processo administrativo. Em caso
envolvendo terras quilombolas, decidiu o TRF da 1 Regio:
CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AO CIVIL PBLICA.
REGULARIZAO FUNDIRIA DE TERRAS OCUPADAS POR COMUNIDADES DE
REMANESCENTES DE QUILOMBOS. IMPLEMENTAO DE POLTICAS PBLICAS. OMISSO
DO PODER PBLICO. OCORRNCIA. CONTROLE JURISDICIONAL POSSIBILIDADE.
AGRAVO RETIDO. AUSNCIA DE RATIFICAO. NO CONHECIMENTO. PRELIMINARES.
QUESTES DE ORDEM PBLICA. REJEIO. (...) IV - As comunidades de
remanescentes de quilombos, por fora do Texto Constitucional,
constituem patrimnio cultural brasileiro (CF, art. 216, incisos I,
II, e respectivos pargrafos 1 e 5), sendo-lhes assegurada, ainda, a
propriedade das terras tradicionalmente ocupadas, nos termos do
art. 68 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias,
impondo-se ao Poder Pblico a adoo das medidas necessrias
efetividade dessa garantia constitucional. V - Na hiptese em
comento, a omisso do Poder Pblico, cristalizada pela inrcia do
Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA quanto
prtica dos atos administrativos necessrios efetiva concluso do
procedimento administrativo instaurado com a finalidade de
identificao, reconhecimento, delimitao, demarcao e titulao das
terras ocupadas pela comunidade de quilombolas descrita nos autos,
afronta o exerccio pleno desse direito, bem assim, a garantia
fundamental da razovel durao do processo, com os meios que garantam
a celeridade de sua tramitao, no mbito judicial e administrativo
(CF, art. 5, inciso LXXVIII), a autorizar a estipulao de prazo
razovel para a concluso do aludido procedimento. VI - Agravo retido
no conhecido. Apelao provida. Sentena reformada, para julgar-se
procedente o pedido formulado na petio inicial, compelindo-se as
promovidas, no raio de suas respectivas competncias (Decreto n.
4.887/2003, arts. 3, 4 e 5), a conclurem, no prazo de 360
(trezentos e sessenta) dias, a contar da intimao desta deciso, o
procedimento administrativo de identificao, reconhecimento,
delimitao, demarcao e titulao das terras ocupadas pela comunidade
de remanescentes do Quilombo descrita nos autos, sob pena de multa
coercitiva, no montante de R$ 1.000,00 (mil reais), por dia de
atraso no cumprimento do provimento mandamental em tela (CPC, art.
461, 5). (AC 200943000075437, Desembargador Federal Souza Prudente,
TRF1 QUINTA Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos.
Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 14/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
15. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA TURMA, e-DJF1 DATA:26/11/2012 PAGINA:103.)
Note-se que o Ministrio Pblico Federal em momento algum pretende
ingressar no mrito administrativo, na convenincia e oportunidade
afetas ao crivo to somente do administrador. E no o faz por duas
razes. Primeiro, porque o ato ora reivindicado vinculado e no
discricionrio. Com efeito, se o procedimento vem acompanhado de
estudos antropolgicos e histricos, no pode a regularizao ser
denegada por questes que no sejam tcnicas. A segunda razo ainda
mais singela: o Ministrio Pblico Federal no requer judicialmente
deciso neste ou naquele sentido, mas apenas deciso que encerre
etapa do procedimento administrativo e permita o prosseguimento do
feito at final reconhecimento da terra quilombola. claro que
eventual deciso contrria h de ser devidamente motivada,
autorizando, assim, a devida impugnao judicial das razes elencadas
(teoria dos motivos determinantes). Por tudo isso e considerando
que a omisso evidente, que causa gravame s comunidades
interessadas, semeando a insegurana e a incerteza, no h razo
plausvel para que o Judicirio deixe de emanar ordem e estancar
tamanha inconstitucionalidade. Pelo contrrio. Exatamente para
situaes como a destes autos o legislador constituinte estabeleceu
que nenhuma leso ou ameaa de leso ser excluda do Poder Judicirio
(artigo 5, inciso XXXV, da Constituio Federal). O controle judicial
dos atos administrativos reconhecido pela unanimidade da doutrina,
e a constatao de que a hiptese em testilha contempla um legtimo
caso de silncio administrativo (que fato e no ato) nem por isso
afasta o controle jurisdicional. A falta de razoabilidade do prazo
j decorrido evidente, desmerecendo ilaes maiores. Destarte, a
inobservncia das normas e regulamentos e a falta de zelo na
concluso do processo administrativo faz imperiosa a interveno do
Poder Judicirio, sob pena da ilegalidade e Endereo: Rua So Jos,
547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone:
(38)3224-7600 15/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
16. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA inconstitucionalidade perpetuarem-se
indefinidamente, sem qualquer possibilidade de reao por parte do
cidado administrado. De fato, tratando-se o pleito de obrigar o
INCRA a concluir o processo tendente a demarcar e titular rea
ocupada por comunidade remanescente de quilombo, no se est a
protagonizar ingerncia indevida na discricionariedade que acorre
Administrao Pblica, porquanto tal no implica em compelir a
autarquia agrria a efetivamente reconhecer a terra sob litgio como
sendo de titularidade de quem a ocupa. De outro giro, ao forar o
INCRA a concluir os trabalhos a seu encargo relativamente ao
territrio ocupado pela Comunidade Quilombola LAPINHA, to somente se
cuida de assegurar o direito razovel durao do processo, garantia
constitucional que a todos socorre e que, em ltima anlise,
interessa a toda a coletividade, na medida em que valoriza o
postulado da segurana jurdica e, sobretudo, mitiga a
vulnerabilidade dos remanescentes de quilombo interessados. O
procedimento de titulao das terras quilombolas complexo, no
entanto, no ritmo atual em que a Autarquia Fundiria o conduz
nenhuma perspectiva h para o seu encerramento. Por se tratar de uma
garantia fundamental do cidado, cabe ao Poder Judicirio controlar a
durao dos prazos dos processos administrativos, dando efetividade
ao due process of law, aplicando um juzo de razoabilidade. Nesse
sentido: Recurso Extraordinrio com agravo. Administrativo. Ao civil
pblica ajuizada pelo Ministrio Pblico Federal em face do Incra.
obrigao de fazer. Elaborao de cronograma de execuo das aes
referentes ao processo de identificao e demarcao de terras ocupadas
por remanescentes da comunidade quilombola do carmo, situada no
municpio de So RoqueSP. artigo 60, 4, iii, da Constituio da
Repblica. Ausncia de prequestionamento. Incidncia. das Smulas 282 e
356 do Stf. Violao ao princpio da separao de poderes. Inocorrncia.
Alegao de prazo exguo para o cumprimento da deciso judicial e de
carncia de disponibilidade econmico-financeira. Necessidade de
reexame de fatos e provas. (Recurso Extraordinrio 1.022.166 So
Paulo. Relator: min. Luiz Fux Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro
Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone:
(38)3224-7600 16/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
17. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA recte.(s): Instituto Nacional de Colonizao e
Reforma Agrria Incra Proc.( a / s )( es ): Procurador Geral Federal
recdo .(a/s):Ministrio Pblico Federal) grifos destacados.
Fundamentado na excessiva demora da demarcao de terras dos ndios
Guarani, o Superior Tribunal de Justia fixou prazo para que a Unio
conclusse o procedimento administrativo, reconhecendo o direito do
cidado a um prazo razovel na atuao do Estado: PROCESSUAL CIVIL.
ADMINISTRATIVO. RECURSOS ESPECIAIS. DEMARCAO DE TERRAS INDGENAS. AO
CIVIL PBLICA. VIOLAO DO ART. 535 DO CPC. NO- OCORRNCIA. FIXAO DE
PRAZO RAZOVEL PARA O ENCERRAMENTO DO PROCEDIMENTO DEMARCATRIO.
POSSIBILIDADE. 1. No viola o art. 535 do CPC, tampouco nega a
prestao jurisdicional, o acrdo que, mesmo sem ter examinado
individualmente cada um dos argumentos trazidos pelo vencido,
adotou, entretanto, fundamentao suficiente para decidir de modo
integral a controvrsia. 2. O aresto atacado abordou todas as
questes necessrias integral soluo da lide, concluindo, no entanto,
que possvel a fixao, pelo Poder Judicirio, de prazo razovel para
que o Poder Executivo proceda demarcao de todas as terras indgenas
dos ndios Guarani. 3. A demarcao de terras indgenas precedida de
processo administrativo, por intermdio do qual so realizados
diversos estudos de natureza etno-histrica, antropolgica,
sociolgica, jurdica, cartogrfica e ambiental, necessrios comprovao
de que a rea a ser demarcada constitui terras tradicionalmente
ocupadas pelos ndios. O procedimento de demarcao de terras indgenas
constitudo de diversas fases, definidas, atualmente, no art. 2 do
Decreto 1.775/96. 4. Trata-se de procedimento de alta complexidade,
que demanda considervel quantidade de tempo e recursos diversos
para atingir os seus objetivos. Entretanto, as autoridades
envolvidas no processo de demarcao, conquanto no estejam
estritamente vinculadas aos prazos definidos na referida norma, no
podem permitir que o excesso de tempo para o seu desfecho acabe por
restringir o direito que se busca assegurar. 5. Ademais, o inciso
LXXVIII do art. 5 da Constituio Federal, includo pela EC 45/2004,
garante a todos, no mbito Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os
Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 17/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
18. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA judicial e administrativo, a razovel durao do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitao. 6.
Hiptese em que a demora excessiva na concluso do procedimento de
demarcao da Terra Indgena Guarani est bem evidenciada, tendo em
vista que j se passaram mais de dez anos do incio do processo de
demarcao, no havendo, no entanto, segundo a documentao existente
nos autos, nenhuma perspectiva para o seu encerramento. 7. Em tais
circunstncias, tem-se admitido a interveno do Poder Judicirio,
ainda que se trate de ato administrativo discricionrio relacionado
implementao de polticas pblicas. 8. "A discricionariedade
administrativa um dever posto ao administrador para que, na
multiplicidade das situaes fticas, seja encontrada, dentre as
diversas solues possveis, a que melhor atenda finalidade legal. O
grau de liberdade inicialmente conferido em abstrato pela norma
pode afunilar-se diante do caso concreto, ou at mesmo desaparecer,
de modo que o ato administrativo, que inicialmente demandaria um
juzo discricionrio, pode se reverter em ato cuja atuao do
administrador esteja vinculada. Neste caso, a interferncia do Poder
Judicirio no resultar em ofensa ao princpio da separao dos Poderes,
mas restaurao da ordem jurdica." (REsp 879.188/RS, 2 Turma, Rel.
Min. Humberto Martins, DJe de 2.6.2009) 9. Registra-se, ainda, que
por demais razovel o prazo concedido pelo magistrado de primeiro
grau de jurisdio para o cumprimento da obrigao de fazer consistente
em identificar e demarcar todas as terras indgenas dos ndios
Guarani situadas nos municpios pertencentes jurisdio da Subseo
Judiciria de Joinville/SC, nos termos do Decreto 1.775/96, ou, na
eventualidade de se concluir pela inexistncia de tradicionalidade
das terras atualmente ocupadas pelas comunidades de ndios Guarani
na referida regio, em criar reservas indgenas, na forma dos arts.
26 e 27 da Lei 6.001/73 ,sobretudo se se considerar que tal prazo
(vinte e quatro meses) somente comear a ser contado a partir do
trnsito em julgado da sentena proferida no presente feito. 10. A
questo envolvendo eventual violao de preceitos contidos na Lei de
Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000), a despeito da oposio de
embargos declaratrios, no foi examinada pela Corte de origem,
carecendo a matria, portanto, do indispensvel prequestionamento.
11. Recursos especiais parcialmente conhecidos e, nessas partes,
desprovidos. (REsp 1114012 / SC, RECURSO ESPECIAL 2009/0082547-8,
Relator(a) Ministra DENISE ARRUDA, rgo Julgador T1 - PRIMEIRA
TURMA, Data do Julgamento 10/11/2009, DJ, 01/12/2009) grifos
destacados. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos.
Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 18/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
19. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA Cabe destacar, por indispensvel, que o artigo 14
da Conveno 169 da OIT assegura o direito posse e titulao das reas
tradicionalmente ocupadas, verbis: 1. Dever-se- reconhecer aos
povos interessados os direitos de propriedade e de posse sobre as
terras que tradicionalmente ocupam. Alm disso, nos casos
apropriados, devero ser adotadas medidas para salvaguardar o
direito dos povos interessados de utilizar terras que no estejam
exclusivamente ocupadas por eles, mas s quais, tradicionalmente,
tenham tido acesso para suas atividades tradicionais e de
subsistncia. Nesse particular, dever ser dada especial ateno situao
dos povos nmades e dos agricultores itinerantes. 2. Os governos
devero adotar as medidas que sejam necessrias para determinar as
terras que os povos interessados ocupam tradicionalmente e garantir
a proteo efetiva dos seus direitos de propriedade e posse. 3.
Devero ser institudos procedimentos adequados no mbito do sistema
jurdico nacional para solucionar as reivindicaes de terras
formuladas pelos povos interessados. A mora na atuao do INCRA no se
sustenta diante da gravidade das consequncias que, conforme j
salientado, reverbera na potencializao da vulnerabilidade e
hipossuficincia do povo tradicional interessado e, pela via
reflexa, impacta o seu direito existncia digna. No por outra razo,
alis, que o princpio da reserva do possvel no pode ser invocado
como apangio omisso do Estado, porquanto envolvido no caso concreto
vilipndio ao princpio do mnimo existencial. Neste sentido, as
provas documentais que instruem esta pea exordial demonstram a
excessiva demora da demarcao e titulao das terras ocupadas pela
comunidade remanescente de quilombo LAPINHA, porquanto passados
mais de doze anos que o procedimento administrativo correlato no
foi concludo. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos.
Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 19/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
20. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA Outra concluso no poder ser, portanto, que a
atuao dos rus ultrapassou os limites da razoabilidade, indicando a
urgente necessidade da atuao jurisdicional na forma ora pretendida.
VI.1. Do Dano Moral Coletivo Consoante a redao do art. 37, 6, da
Constituio da Repblica de 1988, as pessoas jurdicas de direito
pblico respondem de forma objetiva pelos danos causados a terceiros
por seus agentes, quando agirem na qualidade de agentes pblicos,
tendo direito de regresso em face do causador do dano nos casos de
dolo ou culpa. Ou seja, consagra-se a responsabilidade objetiva do
Estado e a responsabilidade subjetiva do agente pblico. Os
requisitos para a responsabilidade objetiva do Estado so trs: a)
conduta estatal; b) dano; c) nexo causal entre a conduta estatal e
o dano causado. A necessidade de demonstrar culpa na conduta
estatal substituda pelo nexo de causalidade, ou seja, basta que o
prejuzo sofrido seja originado de uma conduta estatal para ser
passvel de indenizao, independentemente da demonstrao ou no de
culpa na ao ou omisso administrativa. A conduta estatal que gera o
dano indenizvel pode ser tanto lcita (de acordo com as regras
jurdicas) quanto ilcita (em desacordo com o ordenamento jurdico),
uma vez que se trata de responsabilidade objetiva, aonde no se
perquire o fator subjetivo do dolo ou culpa. Tanto condutas
comissivas (fazer) como omissivas (no fazer) do Estado so passveis
de responsabilizao. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os
Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 20/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
21. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA Evidencia-se, no caso sub judice, o nexo de
causalidade entre a ao omissiva do Estado e o dano comunidade em
questo, porquanto a omisso, que perdura mais de doze anos desde a
instaurao do processo administrativo, tem impedido o exerccio pleno
dos direitos originrios da comunidade LAPINHA diante da ausncia de
titularidade das terras. Em se tratando de violao de interesses
coletivos, a condenao por dano moral se justifica to somente pela
sua violao, ou seja, decorre da prpria situao de fato criada pela
conduta do agente danos in re ipsa , o que torna desnecessria a
prova do efetivo prejuzo, na medida em que se presume em face da
prpria leso aos direitos extrapatrimoniais da coletividade. Assim
expe Andr de Carvalho Ramos4 : O ponto-chave para a aceitao do
chamado dano moral coletivo est na ampliao de seu conceito,
deixando de ser o dano moral um equivalente da dor psquica, que
seria exclusividade de pessoas fsicas. (...) Devemos ainda
considerar que o tratamento transindividual aos chamados interesses
difusos e coletivos origina-se justamente da importncia desses
interesses e da necessidade de uma efetiva tutela jurdica. Ora, tal
importncia somente refora a necessidade de aceitao do dano moral
coletivo, j que a dor psquica que alicerou a teoria do dano moral
individual acaba cedendo lugar, no caso do dano moral coletivo, a
um sentimento de desapreo e de perda dos valores essenciais que
afetam negativamente toda uma coletividade. grifos destacados.
Nessa esteira, alis, recentemente o Egrgio STJ reconheceu a
possibilidade de fixao de indenizao por dano moral coletivo, o qual
deve ser aferido in re ipsa, como se observa: 4 Ao Civil Pblica e o
dano moral coletivo. Revista de Direito do Consumidor n. 25, So
Paulo: Revista dos Tribunais, jan-mar, 1998, p. 82. Endereo: Rua So
Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119
Fone: (38)3224-7600 21/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
22. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA ADMINISTRATIVO - TRANSPORTE - PASSE LIVRE -
IDOSOS - DANO MORAL COLETIVO - DESNECESSIDADE DE COMPROVAO DA DOR E
DE SOFRIMENTO - APLICAO EXCLUSIVA AO DANO MORAL INDIVIDUAL -
CADASTRAMENTO DE IDOSOS PARA USUFRUTO DE DIREITO - ILEGALIDADE DA
EXIGNCIA PELA EMPRESA DE TRANSPORTE - ART. 39, 1 DO ESTATUTO DO
IDOSO - LEI 10741/2003 VIAO NO PREQUESTIONADO. 1. O dano moral
coletivo, assim entendido o que transindividual e atinge uma classe
especfica ou no de pessoas, passvel de comprovao pela presena de
prejuzo imagem e moral coletiva dos indivduos enquanto sntese das
individualidades percebidas como segmento, derivado de uma mesma
relao jurdica-base. 2. O dano extrapatrimonial coletivo prescinde
da comprovao de dor, de sofrimento e de abalo psicolgico,
suscetveis de apreciao na esfera do indivduo, mas inaplicvel aos
interesses difusos e coletivos. (...) (REsp 1057274/RS, Rel.
Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/12/2009, DJe
26/02/2010) (grifo aposto) No obstante a desnecessidade de
demonstrao do prejuzo, no presente caso, restou cabalmente provado
o dano comunidade, com o absurdo transcurso de mais de doze anos
sem que a Unio/INCRA finalizem o processo de demarcao, impedindo o
acesso a programas governamentais e ao direito fundamental de
moradia, reduzindo o exerccio da cidadania dos membros da
comunidade quilombola, que nada podem fazer a no ser contar com uma
eficiente atuao do Estado na busca da concretude de seus direitos,
mas, no caso em tela, se deparam com a vexatria e absurda situao de
completo abandono estatal, que ao cabo de mais de uma dcada no se
dignou de nem ao menos finalizar o processo de demarcao de suas
terras. So vtimas claras do descaso estatal, que indubitavelmente
vem agredindo a moral coletiva da comunidade de remanescentes de
quilombo Lapinha. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos.
Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 22/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
23. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA Assim, no h dvida da possibilidade de fixao de
indenizao por dano moral coletivo no caso dos autos. Por fim,
deve-se ter em conta que a reparao pelos prejuzos comunidade
LAPINHA somente se dar de forma completa em sendo observada a sua
funo punitiva e inibitria punitive or exemplary damages5 , mediante
a fixao de indenizao pelos danos causados. Trata-se, de fato, do
carter punitivo-preventivo que informa a responsabilizao pelo dano
moral coletivo, j que sua previso no apenas objetiva compensar a
coletividade, revertendo o valor pecunirio em favor de finalidade
que a todos aproveita, como tem por fim punir aquele que, de forma
ilcita, violou interesse metaindividual. Isso porque, mediante a
imposio de grave sano jurdica para condutas como as dos requeridos,
confere-se real e efetiva tutela aos direitos tnicos e culturais da
comunidade quilombola em apreo, assim como a outros bens jurdicos
transindividuais. Portanto, ao se ponderar acerca de verba
indenizatria por dano moral de carter coletivo, no se pode olvidar
a natureza do interesse que o instituto visa a proteger, bem como a
funo que exerce no sistema afeto tutela coletiva. VII DO PEDIDO
LIMINAR A probabilidade do direito e o perigo de dano no caso
concreto esto amplamente documentados no processado que serve de
base inicial. Com efeito, a recalcitrncia documentada e reiterada
da Unio/INCRA diante do dever de concluir o processo concernente 5
Nesse sentido: STF, AI 455846/RJ, Min.-Relator CELSO DE MELLO, j.
11/10/2004, Informativo 364. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos
os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600
23/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
24. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA demarcao, reconhecimento e titulao da rea
ocupada pela comunidade LAPINHA menospreza de modo ostensivo o
direito razovel durao do processo (desde 2005 o Processo
Administrativo n 54170.003689/2005-14 tramita perante a autarquia
agrria e, mesmo a partir da instaurao do inqurito civil em espeque
no ano de 2006, pouco se avanou em termos de concluso dos
trabalhos). De outro lado, h que consignar que a omisso do INCRA na
consecuo do dever de finalizar, em tempo razovel, a eventual
demarcao e titulao da rea ocupada pela comunidade LAPINHA tem
atentado manifestamente contra o postulado da segurana jurdica,
afinal, conforme j consignado, o IEF informou que j realizou a
desapropriao de uma rea aproximada de 20.000,00 hectares, sendo
constatada a inexistncia de reas pertencentes comunidade quilombola
de Lapinha. Esto presentes, portanto, os requisitos para a concesso
da ANTECIPAO DA TUTELA, na forma prevista no artigo 12 da Lei n
7.347/85 c/c o art. 300 do Novo Cdigo de Processo Civil, haja vista
a comprovao da probabilidade do direito invocado, frente ao
manifesto prejuzo comunidade tradicional envolvida e sociedade como
um todo. Nesse sentido, cumpre transcrever trecho de recente deciso
do TRF da 1 Regio, da lavra do Exmo. Desembargador Souza Prudente,
em sede de agravo de instrumento interposto pelo MPF, deferindo a
tutela antecipada para determinar ao INCRA a concluso do RTID da
comunidade remanescente de quilombo So Sebastio, no prazo de 180
dias: Com efeito, embora eventuais dificuldades de ordem
operacional, por parte da Administrao, possam inviabilizar a
elaborao, a tempo e modo, do Relatrio Tcnico de Identificao e
Demarcao RTID da rea de remanescentes de quilombolas descrita nos
autos, na hiptese em comento, o requerimento de regularizao
fundiria remonta h mais de 2 (dois) anos, sem que sequer tenha sido
concludo o aludido Relatrio, que Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro
Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone:
(38)3224-7600 24/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
25. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA consiste numa das primeiras fases do respectivo
procedimento administrativo, e sem qualquer perspectiva quanto sua
concluso, o que no se admite, em casos que tais, em manifesta
violao aos princpios da eficincia, da moralidade e da razovel durao
do processo, impondo-se, na espcie, a interveno do Poder Judicirio
Republicano, para assegurar o direito demarcao das terras que
ocupam, que se encontram constitucionalmente tuteladas (CF, arts.
5, XXXV e LXXVIII e 37, caput, da Constituio Federal e art. 68 do
Ato das Disposies Constitucionais Transitrias, regulamentado pelo
Decreto n 4.887/2003, na determinao de que aos remanescentes das
comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras
reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes
os ttulos respectivos. Com estas consideraes, defiro o pedido de
antecipao da tutela recursal formulado na inicial, para determinar
que o Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria INCRA, no
prazo de 180 (cento e oitenta) dias, a contar da cincia desta
deciso, elabore e conclua o "Relatrio Tcnico de Identificao e
Delimitao RTID, relativo comunidade remanescente de quilombo So
Sebastio, inclusive com os estudos antropolgicos necessrios
identificao do grupo, com a respectiva publicao na imprensa
oficial. (TRF 1 Regio. AI n. 0042541-24.2016.4.01.0000/MG. Relator:
DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE. Data da deciso: 02.03.17) No
caso supra mencionado a mora do INCRA era de dois anos, tempo nfimo
se comparado aos mais de doze anos de espera da comunidade
quilombola Lapinha na presente demanda. Assim, com fundamento no
art. 12 da Lei n 7.347/85 c/c os arts. 300 e 303 do Cdigo de
Processo Civil, tambm com fulcro no poder Endereo: Rua So Jos, 547.
Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone:
(38)3224-7600 25/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
26. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA geral de cautela deferido ao Juiz pelo art. 297
do mesmo diploma, requer- se o deferimento da medida liminar sem a
oitiva dos rus para determin-los a: a) no prazo de 180 (cento e
oitenta) dias concluir a anlise de eventuais contestaes e recursos
administrativos ao RTID publicado; b) no prazo de 90 (noventa)
dias, conclua a anlise da situao fundiria, caso haja incidncia em
unidade de conservao constituda, rea de segurana nacional, faixa de
fronteira ou terra indgena; c) no prazo de 30 (trinta) dias,
publique portaria de eventual reconhecimento e declarao dos limites
da terra quilombola; d) no prazo de 90 (noventa) dias, adote
medidas cabveis visando a retomada da rea, em caso de terras
reconhecidas e declaradas de posse particular sobre rea de domnio
da Unio; e) no prazo de 90 (noventa) dias, conclua o estudo sobre a
autenticidade e legitimidade dos ttulos de propriedade particular
que eventualmente incidam sobre o territrio, mediante levantamento
da cadeia dominial do imvel at a sua origem, e dispense a fase de
desapropriao e indenizao de benfeitorias de boa-f em caso de
particulares no-quilombolas que no possuam legtimo ttulo de domnio
e que no preencham os requisitos da Instruo Normativa n 73/2012,
promovendo a desintruso, no qual se d a notificao e retirada dos
ocupantes no-quilombolas; f) no prazo de 90 (noventa) dias, conclua
o procedimento de desapropriao, visando a obteno do imvel, caso
incida a terra em rea com ttulo de domnio particular vlido e
eficaz; g) no prazo de 90 (noventa) dias, conclua o reassentamento,
em outra rea, caso haja famlias de agricultores no- quilombolas,
desde que preencham os requisitos da legislao agrria; h) no prazo
de 90 (noventa) dias, conclua a demarcao e emita ttulo coletivo de
propriedade em nome da referida comunidade quilombola, com registro
e matrcula no cartrio de imveis competente. VIII PEDIDOS E
REQUERIMENTOS FINAIS Ante o exposto, o Ministrio Pblico Federal,
pelo Procurador da Repblica signatrio, requer: Endereo: Rua So Jos,
547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone:
(38)3224-7600 26/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
27. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA a) a concesso de tutela antecipada na forma
requerida, em carter de urgncia; b) a fixao de multa diria caso os
rus no cumpram fielmente o cronograma at a concluso de todas as
etapas listadas e que eventual multa a ser aplicada seja depositada
em conta vinculada a este Juzo, para fins de aplicao em aes
ambientais e sociais na rea a ser reconhecida em favor da
comunidade de remanescentes do quilombo em anlise, conforme
projetos a serem propostos pela comunidade e acatados pelo MPF; c)
a citao dos entes demandados, na pessoa de seus representantes
legais, para que, caso queiram, contestem a presente ao, at final
procedncia, sob pena de revelia e confisso; d) a integral
procedncia da pretenso ora deduzida, confirmando-se, em definitivo,
o pedido feito em sede de tutela antecipada, condenando-se a Unio e
o INCRA a realizar todas as etapas tendentes a concluir o processo
administrativo n 54170.003689/2005-14 para eventual reconhecimento,
demarcao e titulao da rea ocupada pela Comunidade Quilombola
LAPINHA; e) a condenao da Unio e do INCRA obrigao solidria de
pagamento de indenizao a ttulo de danos morais coletivos, em valor
no inferior a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), devendo o valor
apurado ser aplicado em aes ambientais e sociais na rea a ser
reconhecida em favor da comunidade de remanescentes do quilombo em
anlise, conforme projetos a serem propostos pela comunidade e
acatados pelo MPF; Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os
Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 27/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
28. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO
MUNICPIO DE JANABA f) a juntada aos autos do Inqurito Civil n
1.22.005.000097/2006- 91, que acompanha a presente petio inicial;
g) Sendo a questo de mrito unicamente de direito, e meramente
pendente de anlise documental, seja julgada antecipadamente a lide,
nos termos do art. 355, I, do Cdigo de Processo Civil, ou, se outro
o ilustrado entendimento desse DD. Juzo Federal, seja deferida a
produo de todos os meios de prova admitidos em direito, notadamente
documentos, depoimento pessoal dos representantes legais do ru,
oitiva de testemunhas, realizao de percias e inspees judiciais,
dentre outros oportunamente especificados. D-se causa o valor de R$
500.000,00 (quinhentos mil reais). Requer, por fim, a iseno de
custas e demais emolumentos, nos termos legais. Nesses termos, pede
deferimento. Montes Claros/MG, 04 de outubro de 2017. (documento
assinado digitalmente) EDUARDO HENRIQUE DE ALMEIDA AGUIAR
Procurador da Repblica Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os
Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 28/28
DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse
http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0