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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO MUNICÍPIO DE JANAÚBA EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ FEDERAL DA VARA ÚNICA DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE JANAÚBA/MG Ref. IC nº 1.22.005.000097/2006-91 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por meio do Procurador da República que esta subscreve, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, com fulcro nos artigos 129, inciso III, da Constituição Federal, no art. 5º, III, “c” e “e” da Lei Complementar 75/93, nos artigos 1º, VII e seguintes da Lei Federal nº 7.347/1985 e no Código de Processo Civil, vem, respeitosamente, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA em face da: UNIÃO, pessoa jurídica de direito público interno, a ser citada na pessoa do Advogado Geral da União, na Av. Dulce Sarmento, 140 - 6º Andar - Centro Empresarial Master Center - Bairro São José - Montes Claros - MG - Cep. 39400-318 - (38) 21012450 e; INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA (INCRA), entidade autárquica vinculada à Casa Civil da Presidência da República 1 , inscrita no CNPJ sob o nº 00.375.972/0001-60, a ser citada na pessoa do(a) advogado(a) público(a) chefe da Procuradoria Federal 1 Arts. 4º, IV, e 74, X, da Medida Provisória nº 782, de 31 de maio de 2017. Endereço : Rua São José, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 1/28 Documento assinado via Token digitalmente por EDUARDO HENRIQUE DE ALMEIDA AGUIAR, em 04/10/2017 20:30. Para verificar a assinatura acesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave CC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0

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  1. 1. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA EXCELENTSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ FEDERAL DA VARA NICA DA SUBSEO JUDICIRIA DE JANABA/MG Ref. IC n 1.22.005.000097/2006-91 O MINISTRIO PBLICO FEDERAL, por meio do Procurador da Repblica que esta subscreve, no uso de suas atribuies constitucionais e legais, com fulcro nos artigos 129, inciso III, da Constituio Federal, no art. 5, III, c e e da Lei Complementar 75/93, nos artigos 1, VII e seguintes da Lei Federal n 7.347/1985 e no Cdigo de Processo Civil, vem, respeitosamente, propor a presente AO CIVIL PBLICA COM PEDIDO DE ANTECIPAO DOS EFEITOS DA TUTELA em face da: UNIO, pessoa jurdica de direito pblico interno, a ser citada na pessoa do Advogado Geral da Unio, na Av. Dulce Sarmento, 140 - 6 Andar - Centro Empresarial Master Center - Bairro So Jos - Montes Claros - MG - Cep. 39400-318 - (38) 21012450 e; INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAO E REFORMA AGRRIA (INCRA), entidade autrquica vinculada Casa Civil da Presidncia da Repblica1 , inscrita no CNPJ sob o n 00.375.972/0001-60, a ser citada na pessoa do(a) advogado(a) pblico(a) chefe da Procuradoria Federal 1 Arts. 4, IV, e 74, X, da Medida Provisria n 782, de 31 de maio de 2017. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 1/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  2. 2. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA Especializada junto ao INCRA em Belo Horizonte/MG, situada na Avenida Afonso Pena, 3500, Bairro Serra, CEP: 30130-009, Belo Horizonte/MG ([email protected] .gov.br), aduzindo, para tanto, os seguintes fundamentos de fato e de direito: I - DA COMPETNCIA DA JUSTIA FEDERAL PARA A CONDUO DA CAUSA Conforme estatui o art. 109, I, da Constituio Federal, a Justia Federal, por fora de determinao constitucional, competente para o conhecimento das causas em que a Unio, entidade autrquica ou empresa pblica federal figurem no polo passivo. Pela natureza do feito, portanto, inegvel a competncia da Justia Federal para julgar o presente processado. Primeiro, pela presena do Ministrio Pblico Federal no polo ativo da demanda; segundo, por estar a Unio e o INCRA no polo passivo da lide. O art. 68 das Disposies Constitucionais Provisrias, por outro lado, determina o reconhecimento do direito titulao definitiva das terras ocupadas pelas comunidades quilombolas, devendo a Unio adotar as providncias para tanto. Assim, a sistemtica surgida com a consagrao de tal direito regularizao fundiria dos territrios quilombolas incluiu a Fundao Palmares (rgo federal ligado ao Ministrio da Cultura) como responsvel pela certificao de reconhecimento da comunidade tradicional aqui tratada (inicio do procedimento de estabelecimento dos direitos fundirios e culturais) e o INCRA como o rgo investido dos deveres de concretizar o Direito dessas comunidades terra (Decreto regulamentador). Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 2/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  3. 3. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA II DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTRIO PBLICO FEDERAL Induvidosa a legitimidade do Ministrio Pblico Federal para figurar no polo ativo da demanda. A Constituio Federal incumbiu ao Parquet a defesa da ordem jurdica, do regime democrtico e dos interesses sociais e individuais indisponveis, essencial funo jurisdicional do Estado (art. 127). Estabelecida esta premissa, dispe em seguida: Art. 129. So funes institucionais do Ministrio Pblico: (...) III - promover o inqurito civil e a ao civil pblica, para a proteo do patrimnio pblico e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; Do comando constitucional transcrito percebe-se que o constituinte originrio encarregou o Ministrio Pblico da relevante tarefa de defender os direitos e interesses coletivos, misso essa que ser exercida judicialmente por meio de ao civil pblica. Infraconstitucionalmente, diversas normas asseguram a legitimidade do Ministrio Pblico para a defesa de interesses das minorias tnicas: A Lei de Ao Civil Pblica (Lei n 7347/85), assim dispe: Art. 1 Regem-se pelas disposies desta Lei, sem prejuzo da ao popular, as aes de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. VII honra e dignidade de grupos raciais, tnicos ou religiosos. () Art. 5oTm legitimidade para propor a ao principal e a ao cautelar: I - o Ministrio Pblico; (grifos destacados). Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 3/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  4. 4. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA Do outro lado, a Lei Complementar n 75/93 Lei Orgnica do Ministrio Pblico da Unio preceitua: Art. 5 So funes institucionais do Ministrio Pblico da Unio: (...) III - a defesa dos seguintes bens e interesses: c) o patrimnio cultural brasileiro; e) os direitos e interesses coletivos, especialmente das comunidades indgenas, da famlia, da criana, do adolescente e do idoso; Art. 6 Compete ao Ministrio Pblico da Unio: VII - promover o inqurito civil e a ao civil pblica para: c) a proteo dos interesses individuais indisponveis, difusos e coletivos, relativos s comunidades indgenas, famlia, criana, ao adolescente, ao idoso, s minorias tnicas e ao consumidor; No presente caso, a ao civil pblica tem por escopo garantir comunidade tradicional de quilombola LAPINHA o direito finalizao, em tempo razovel, do processo administrativo que pode culminar no reconhecimento, demarcao e titulao da rea que ocupa. III DA LEGITIMIDADE PASSIVA A legitimidade passiva ad causam da Unio decorre da competncia constitucional comum do referido ente, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, aos quais cabe zelar pela guarda da Constituio, das leis e das instituies democrticas e conservar o patrimnio pblico (Art. 23 da CF). Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 4/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  5. 5. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA Numa acepo mais ampla, patrimnio pblico o conjunto de bens e direitos que pertence a todos e no a um determinado indivduo ou entidade. Neste conceito insere-se o conceito de patrimnio cultural brasileiro (art. 216 da CF), cabendo ao Poder Pblico sua promoo e proteo, conforme consta do 1 do mencionado artigo. Por vontade do Constituinte de 1988 foram tombados todos os documentos e os stios detentores de reminiscncias histricas dos antigos quilombos (art. 216, 5, da CF), aos quais cabe tambm a Unio proteger. ainda competncia comum e, portanto, tambm da Unio combater as causas da pobreza e os fatores de marginalizao, promovendo a integrao social dos menos desfavorecidos (art. 23, X, da CF), sendo esta a hiptese dos autos. A obrigao de emitir ttulos de terras s comunidades quilombolas da Unio, que elegeu o INCRA como encarregado do procedimento administrativo. Como esta entidade vinculada ao ente federativo, fazendo parte da administrao pblica indireta, cabe a Unio prover os meios necessrios para que o INCRA cumpra com seu mister. tambm interesse da Unio e do INCRA, bem como da coletividade, a pacificao social obtida por meio da valorizao do postulado da segurana jurdica conferida aos particulares, ao poder pblico local e sociedade como um todo, ao velar-se pela demarcao, reconhecimento e titulao de reas de remanescentes de quilombolas tendo por perspectiva o princpio da razovel durao do processo. A esse respeito, colhe-se precedente do Eg. TRF da 3 Regio, verbis: CONSTITUCIONAL - CIVIL E PROCESSO CIVIL - ADMINISTRATIVO - REMANESCENTES DE COMUNIDADE DE QUILOMBOS - PROPRIEDADE - FORMA ORIGINRIA DE AQUISIO - ARTIGO 68, ADCT - CONDIES DA AO: LEGITIMIDADE ATIVA - LEGITIMIDADE PASSIVA - INTERESSE DE AGIR - REEXAME OBRIGATRIO - TERRAS DEVOLUTAS E TERRAS DE PARTICULAR - ORIGEM DA COMUNIDADE Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 5/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  6. 6. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA COMPROVADA - POSSE COMPROVADA - AO PROCEDENTE - REMESSA OFICIAL IMPROVIDA. () (...) 3. A existncia da fundao, Unio Cultural Palmares, dotada de personalidade jurdica, e seus objetivos, ditados pelo artigo 2, da Lei 7.668, de 22 de agosto de 1988, no retiram da Unio Federal a legitimidade para figurar no polo passivo da ao, em face dos limites de atuao da fundao, que, poca do ajuizamento da ao, no estava autorizada a promover demarcao e titulao de rea ocupada pelos remanescentes de comunidades de quilombos. 4. A legitimidade passiva de parte da Unio Federal subsiste mesmo em face da competncia ampliada da Fundao Cultural Palmares, na medida em que o direito reivindicado no se limita prtica de atos de natureza administrativa, mas envolve um interesse maior, qual seja, o direito de propriedade. Preliminar de ilegitimidade rejeitada. (TRF3, REO 200403990374534, JUIZ HELIO NOGUEIRA, QUINTA TURMA, 03/02/2009) grifos destacacos. Por fim, regulamentando o Direito constitucionalmente protegido, a Lei n 9.649/98 e o Decreto n 4.887/03 assim dispe: Lei n 9.649: Art.14 Os assuntos que constituem rea de competncia de cada Ministrio so os seguintes: (...) IV - Ministrio da Cultura: (.) c) aprovar a delimitao das terras dos remanescentes das comunidades dos quilombos, bem como determinar as suas demarcaes, que sero homologadas mediante decreto; Decreto n 4.887/03: Art. 1 Os procedimentos administrativos para a identificao, o reconhecimento, a delimitao, a demarcao e a titulao da propriedade definitiva das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos, de que trata o art. 68 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias, sero procedidos de acordo com o estabelecido neste Decreto. Art. 2 Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos tnico-raciais, segundo critrios de auto atribuio, com trajetria histrica prpria, dotados de relaes territoriais especficas, com presuno de ancestralidade negra relacionada com a resistncia opresso histrica sofrida. 1 Para os fins deste Decreto, a caracterizao dos remanescentes das comunidades dos quilombos ser atestada mediante autodefini o da prpria comunidade. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 6/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  7. 7. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA 2 So terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos as utilizadas para a garantia de sua reproduo fsica, social, econmica e cultural. Art. 3 Compete ao Ministrio do Desenvolvimento Agrrio, por meio do Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA, a identificao, reconhecimento, delimitao, demarcao e titulao das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos, sem prejuzo da competncia concorrente dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios. 1 O INCRA dever regulamentar os procedimentos administrativos para identificao, reconhecimento, delimitao, demarcao e titulao das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos, dentro de sessenta dias da publicao deste Decreto. 3 O procedimento administrativo ser iniciado de oficio pelo INCRA ou por requerimento de qualquer interessado. Art. 4 Compete Secretaria Especial de Polticas de Promoo da Igualdade Racial, da Presidncia da Repblica, assistir e acompanhar o Ministrio do Desenvolvimento Agrrio e o INCRA nas aes de regularizao fundiria, para garantir os direitos tnicos e territoriais dos remanescentes das comunidades dos quilombos, nos termos de sua competncia legalmente fixada. Grifos destacados. IV- DO INTERESSE DE AGIR O interesse de agir para o presente feito baseia-se na inao e desdia dos rus, os quais, aps mais de 12 (doze) anos da emisso de certido de autoreconhecimento da comunidade em questo e da instaurao do processo administrativo n. 54170.003689/2005-14, relativo identificao, delimitao e demarcao de titulao de terra em favor da comunidade, ainda no foram capazes de concluir os trabalhos (fl. 32). Cumpre destacar que esse quadro que inclui atos administrativos abusivamente atrasados, providncias nunca concludas e procedimentos insuficientes, so equivalentes e caracterizam a omisso da Administrao, at porque sobre tais atos administrativos aplica-se o princpio da eficincia. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 7/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  8. 8. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA Nesta linha, importante destacar que no pode (nem deve) toda uma comunidade ver negado seu direito constitucionalmente assegurado por conta de atrasos e omisses, equvocos ou outras escusas que nada justificam. Devem, ao contrrio, ser assegurados o atendimento aos princpios da eficcia e da razoabilidade. Acompanhados os trmites, reiteradamente requisitadas as diligncias e providncias, sem obter a agilizao dos procedimentos ou uma soluo, nada mais resta ao rgo ministerial seno levar os fatos ao controle do Judicirio, a fim de obter a satisfao da obrigao positiva imprescindvel ao aperfeioamento da previso legal (dever inafastvel). A regularizao, o reconhecimento e a outorga definitiva do direito de propriedade aos remanescentes das comunidades quilombolas - instrumento de incluso e de promoo da justia social, j que seus beneficirios so, majoritariamente pessoas em situao de fragilidade social, no mais das vezes vtimas tambm da discriminao racial que graa no pas - a garantia de subsistncia dessa cultura e comunidade diferenciada. V DOS FATOS No ano de 2006, instaurou-se o inqurito civil em epgrafe com o intuito de apurar denncias de que o Instituto Estadual de Floresta IEF/MG estaria demarcando de forma arbitrria a rea do Parque Estadual Lagoa do Cajueiro, avanando sobre terras de propriedade da comunidade remanescente de quilombo LAPINHA, situada no municpio de Matias Cardoso/MG (fls. 02-07). Oficiado, o IEF esclareceu que o Parque Estadual Lagoa do Cajueiro foi criado pelo Decreto Estadual n. 39.954, de 08.10.1998 e que j realizou a desapropriao de uma rea aproximada de 20.000,00 hectares, uma vez que foi constatada a inexistncia de reas pertencentes citada comunidade (fls. 35-36). Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 8/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  9. 9. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA Conforme o relatrio de diligncias nas Comunidades Vazanteiras localizadas em Matias Cardoso e Manga, elaborado pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, as famlias da referida comunidade viviam na Ilha da Ressaca desde 1970, porm foram expulsas da rea a partir do processo de expropriao desenvolvido pelo Projeto Jaba e, posteriormente, pela criao das reas de preservao permanente. Assim, desde 2006 at os dias atuais, as famlias iniciaram o processo de retomada do seu territrio tradicional e ocuparam 22ha da fazenda Casa Grande. Ainda de acordo com o relatrio, desde ento, a comunidade vem pressionando o INCRA e a Fundao Palmares para realizao dos estudos antropolgicos e demarcao do territrio. Em visita, constatou-se a precria situao que vive a comunidade LAPINHA diante da ausncia de titularidade da terra (fls. 103- 122). Veja-se: Como estas famlias no possuem a titularidade da terra, melhorias no podem ser realizadas na rea. Segundo informaram Comisso, a prefeitura recebeu verba de 870 mil reais para construo de uma escola na comunidade, porm, no possvel a construo enquanto o direito de acesso ao territrio no for regularizado. A comunidade relata a insatisfao com a Instruo Normativa do Incra n 49, que regulamenta o Decreto 4887, de 2003, e estabelece o procedimento para identificao, reconhecimento, delimitao, demarcao, desintruso, titulao e registro das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos, pois impossibilita a contratao de terceiros para realizao dos estudos antropolgicos. Isto torna quase que impossvel a realizao de qualquer estudo, considerando que o INCRA em MG possui apenas um antroplogo e o estado cerca de mais de 450 comunidades reconhecidas. Tambm informaram que no acessam a nenhum programa de auxlio do Governo Federal, recebem apenas cestas bsicas distribudas pelo INCRA e uma vez por ms a prefeitura manda um caminho distribuir verduras. (...) No h como garantir o direito humano alimentao, pois no podem cultivar uma horta que o IEF emite uma multa. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 9/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  10. 10. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA Destaca-se que a Comunidade de LAPINHA obteve certido de auto reconhecimento como remanescente de comunidade quilombola, pela Fundao Cultural Palmares, em 02.06.2005, publicada no DOU em 12.07.2005, seo 1, n. 132, fls. 15 (fls. 32) e que o processo administrativo instaurado naquele ano no mbito do INCRA ainda no foi finalizado. inegvel que a mora na demarcao e titulao da rea de remanescente de quilombos ocupada pela Comunidade LAPINHA desvaloriza o postulado da segurana jurdica, mormente quando se tem em vista que parte da rea que possivelmente integra a rea da comunidade em apreo foi desapropriada para criao do Parque Estadual Lagoa do Cajueiro. Aps vrias vezes oficiado, em maro de 2016, aduziu o INCRA que o Relatrio Tcnico de Identificao e Delimitao havia sido aprovado pelo Comit de Deciso Regional do INCRA/MG e teve seu resumo publicado no DOU de 30 e 31.12.15, reconhecendo, preliminarmente, o territrio pleiteado pela comunidade com dimenso de 7.566,1612 hectares (ofcios de fls. 282-283 e 286). Ocorre que pouco ou nada se avanou nas fases que se seguem: a) notificao aos ocupantes e confrontantes para apresentarem eventuais consideraes sobre o RTID no prazo de 90 dias; b) anlise e julgamento, pelo Comit de Deciso Regional/INCRA-MG, de contestaes ao RTID, aps ouvidos os setores tcnicos e a Procuradoria Federal Especializada/INCRA- MG; c) anlise e julgamento, pelo Conselho Diretor do INCRA Sede Braslia/DF, de eventuais recursos administrativos; d) edio, pela Presidncia do INCRA, de portaria de reconhecimento e declarao dos limites do territrio quilombola; e) edio, pela Presidncia da Repblica, de decreto declaratrio do territrio quilombola como rea de interesse social. Cabe destacar que, desde a instaurao do procedimento administrativo em 2005, e da instaurao do inqurito civil em epgrafe em 2006, no se chegou a uma concluso destinada a possvel demarcao e Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 10/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  11. 11. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA titulao da rea ocupada pela indigitada comunidade tradicional. A omisso do INCRA diante do poder-dever de conduzir de modo assertivo e efetivo o processo administrativo que trata da rea sob litgio fez-se cabalmente comprovada diante da recalcitrncia da autarquia - reiterada e documentada - de no concluir o j citado processo. Restou amplamente documentado no curso do inqurito civil em epgrafe que a mora na concluso do citado processo reala, livre de dvidas, a vulnerabilidade da populao tradicional interessada, nomeadamente porque at mesmo o investimento de dinheiro pblico em servios essenciais em prol da comunidade resta prejudicado em decorrncia da litigiosidade da rea. Assim, tendo sido o procedimento de reconhecimento e regularizao territorial da comunidade quilombola instaurado em 2005 e at esta data sem concluso ou, ao menos, previso para tanto, entende-se no ser mais possvel esperar. A reiterada negligncia no possibilita outra soluo que no a de buscar a atuao jurisdicional. VI DOS FUNDAMENTOS JURDICOS Na presente demanda, busca-se prestao jurisdicional que condene a Unio e o INCRA em obrigao de fazer, qual seja, realizar, em carter urgente, todas as etapas faltantes para eventual demarcao, reconhecimento e titulao da rea sob litgio ocupada pela Comunidade Quilombola LAPINHA, a ser implementada em prazo certo e determinado. A proteo e a incluso dos variados grupos tnicos que compem a comunho nacional, decorrem de sua posio social extremamente fragilizada, reconhecidas dentre as preocupaes fundamentais da Constituio de 1988 (art. 3, IV), reconhecendo o Estado brasileiro como pluritnico e multicultural (art. 215, CF/88). Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 11/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  12. 12. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA A outorga do direito de propriedade aos remanescentes das comunidades quilombolas (a qual constitui instrumento de promoo da justia social, haja vista serem seus beneficirios, na sua expressiva maioria, pessoas em situao de miserabilidade) a garantia de subsistncia desse povo e de sua cultura, de indiscutvel relevo para a sociedade brasileira. Nesse sentido, h que destacar a interpretao teleolgica do art. 68/ADCT, o qual no se limitou a ordenar ao Estado que adotasse as medidas necessrias transferncia da propriedade s comunidades tnicas em questo, mas conferiu diretamente aos remanescentes dos quilombos a titularidade do domnio sobre as terras tradicionalmente ocupadas; a propriedade preexiste aos atos oficiais, de natureza declaratria e no constitutiva. Diante dos princpios da efetividade da Constituio e da aplicabilidade imediata dos direitos fundamentais (artigo 5, 1 da CF), prevalece o entendimento de que o citado artigo 68 autoaplicvel, prescindindo de regulamentao no plano legislativo para surtir seus efeitos. Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os ttulos respectivos. Conforme artigo 3 do Decreto n 4.887/2003, recai sobre o INCRA o poder-dever de demarcar as reas ocupadas pelos remanescentes de quilombos, verbis: Art. 3o Compete ao Ministrio do Desenvolvimento Agrrio, por meio do Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA, a identificao, reconhecimento, delimitao, demarcao e titulao das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos, sem prejuzo da competncia concorrente dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios. 1o O INCRA dever regulamentar os procedimentos administrativos para identificao, reconhecimento, delimitao, demarcao e titulao das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos, dentro de sessenta dias da publicao deste Decreto. 2o Para os fins deste Decreto, o INCRA poder estabelecer convnios, contratos, acordos e instrumentos similares com rgos da Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 12/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  13. 13. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA administrao pblica federal, estadual, municipal, do Distrito Federal, organizaes no-governamentais e entidades privadas, observada a legislao pertinente. 3o O procedimento administrativo ser iniciado de ofcio pelo INCRA ou por requerimento de qualquer interessado. 4o A autodefinio de que trata o 1o do art. 2o deste Decreto ser inscrita no Cadastro Geral junto Fundao Cultural Palmares, que expedir certido respectiva na forma do regulamento. E o artigo 5, inciso LXXVIII, da Constituio Federal, assegura a todos a razovel durao do processo: a todos, no mbito judicial e administrativo, so assegurados a razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitao e fato que tal postulado comprovadamente vem sendo desonrado pelos rus. Com efeito, em julgado recente, o STF2 sedimentou o entendimento de que a deciso judicial que obriga o INCRA a apresentar um cronograma de estudos e, se assim for, realizar a demarcao e titulao de rea de remanescente de quilombos, no fere o princpio da separao de Poderes. Na verdade, no se trata de mero descumprimento de prazos, mas de inadmissvel demora de anos, mais de doze anos no caso em tela! Se de um lado correto dizer que para certas fases e atos no h prazo definido em norma, de outro no se pode concluir que se trata de um cheque em branco, no qual o INCRA pode demorar mais de uma dcada para demarcar um territrio quilombola. A administrao deve ser guiada, entre outros, pelo princpio da razoabilidade, e a durao razovel do processo administrativo. Destaca-se a existncia de mais um procedimento instaurado no mbito desta Procuradoria (e no diversa a realidade no restante do Brasil) que vem durando mais de treze anos sem que tenha ocorrido qualquer avano no processo de regularizao fundiria das reas quilombolas3 . 2 Recurso Extraordinrio com Agravo 1.022.166 So Paulo. 3 Ics n 1.22.000.001039/2004-63. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 13/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  14. 14. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA Em hipteses similares presente, a jurisprudncia tem fixado prazo para concluso de processo administrativo. Em caso envolvendo terras quilombolas, decidiu o TRF da 1 Regio: CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AO CIVIL PBLICA. REGULARIZAO FUNDIRIA DE TERRAS OCUPADAS POR COMUNIDADES DE REMANESCENTES DE QUILOMBOS. IMPLEMENTAO DE POLTICAS PBLICAS. OMISSO DO PODER PBLICO. OCORRNCIA. CONTROLE JURISDICIONAL POSSIBILIDADE. AGRAVO RETIDO. AUSNCIA DE RATIFICAO. NO CONHECIMENTO. PRELIMINARES. QUESTES DE ORDEM PBLICA. REJEIO. (...) IV - As comunidades de remanescentes de quilombos, por fora do Texto Constitucional, constituem patrimnio cultural brasileiro (CF, art. 216, incisos I, II, e respectivos pargrafos 1 e 5), sendo-lhes assegurada, ainda, a propriedade das terras tradicionalmente ocupadas, nos termos do art. 68 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias, impondo-se ao Poder Pblico a adoo das medidas necessrias efetividade dessa garantia constitucional. V - Na hiptese em comento, a omisso do Poder Pblico, cristalizada pela inrcia do Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA quanto prtica dos atos administrativos necessrios efetiva concluso do procedimento administrativo instaurado com a finalidade de identificao, reconhecimento, delimitao, demarcao e titulao das terras ocupadas pela comunidade de quilombolas descrita nos autos, afronta o exerccio pleno desse direito, bem assim, a garantia fundamental da razovel durao do processo, com os meios que garantam a celeridade de sua tramitao, no mbito judicial e administrativo (CF, art. 5, inciso LXXVIII), a autorizar a estipulao de prazo razovel para a concluso do aludido procedimento. VI - Agravo retido no conhecido. Apelao provida. Sentena reformada, para julgar-se procedente o pedido formulado na petio inicial, compelindo-se as promovidas, no raio de suas respectivas competncias (Decreto n. 4.887/2003, arts. 3, 4 e 5), a conclurem, no prazo de 360 (trezentos e sessenta) dias, a contar da intimao desta deciso, o procedimento administrativo de identificao, reconhecimento, delimitao, demarcao e titulao das terras ocupadas pela comunidade de remanescentes do Quilombo descrita nos autos, sob pena de multa coercitiva, no montante de R$ 1.000,00 (mil reais), por dia de atraso no cumprimento do provimento mandamental em tela (CPC, art. 461, 5). (AC 200943000075437, Desembargador Federal Souza Prudente, TRF1 QUINTA Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 14/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  15. 15. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA TURMA, e-DJF1 DATA:26/11/2012 PAGINA:103.) Note-se que o Ministrio Pblico Federal em momento algum pretende ingressar no mrito administrativo, na convenincia e oportunidade afetas ao crivo to somente do administrador. E no o faz por duas razes. Primeiro, porque o ato ora reivindicado vinculado e no discricionrio. Com efeito, se o procedimento vem acompanhado de estudos antropolgicos e histricos, no pode a regularizao ser denegada por questes que no sejam tcnicas. A segunda razo ainda mais singela: o Ministrio Pblico Federal no requer judicialmente deciso neste ou naquele sentido, mas apenas deciso que encerre etapa do procedimento administrativo e permita o prosseguimento do feito at final reconhecimento da terra quilombola. claro que eventual deciso contrria h de ser devidamente motivada, autorizando, assim, a devida impugnao judicial das razes elencadas (teoria dos motivos determinantes). Por tudo isso e considerando que a omisso evidente, que causa gravame s comunidades interessadas, semeando a insegurana e a incerteza, no h razo plausvel para que o Judicirio deixe de emanar ordem e estancar tamanha inconstitucionalidade. Pelo contrrio. Exatamente para situaes como a destes autos o legislador constituinte estabeleceu que nenhuma leso ou ameaa de leso ser excluda do Poder Judicirio (artigo 5, inciso XXXV, da Constituio Federal). O controle judicial dos atos administrativos reconhecido pela unanimidade da doutrina, e a constatao de que a hiptese em testilha contempla um legtimo caso de silncio administrativo (que fato e no ato) nem por isso afasta o controle jurisdicional. A falta de razoabilidade do prazo j decorrido evidente, desmerecendo ilaes maiores. Destarte, a inobservncia das normas e regulamentos e a falta de zelo na concluso do processo administrativo faz imperiosa a interveno do Poder Judicirio, sob pena da ilegalidade e Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 15/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  16. 16. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA inconstitucionalidade perpetuarem-se indefinidamente, sem qualquer possibilidade de reao por parte do cidado administrado. De fato, tratando-se o pleito de obrigar o INCRA a concluir o processo tendente a demarcar e titular rea ocupada por comunidade remanescente de quilombo, no se est a protagonizar ingerncia indevida na discricionariedade que acorre Administrao Pblica, porquanto tal no implica em compelir a autarquia agrria a efetivamente reconhecer a terra sob litgio como sendo de titularidade de quem a ocupa. De outro giro, ao forar o INCRA a concluir os trabalhos a seu encargo relativamente ao territrio ocupado pela Comunidade Quilombola LAPINHA, to somente se cuida de assegurar o direito razovel durao do processo, garantia constitucional que a todos socorre e que, em ltima anlise, interessa a toda a coletividade, na medida em que valoriza o postulado da segurana jurdica e, sobretudo, mitiga a vulnerabilidade dos remanescentes de quilombo interessados. O procedimento de titulao das terras quilombolas complexo, no entanto, no ritmo atual em que a Autarquia Fundiria o conduz nenhuma perspectiva h para o seu encerramento. Por se tratar de uma garantia fundamental do cidado, cabe ao Poder Judicirio controlar a durao dos prazos dos processos administrativos, dando efetividade ao due process of law, aplicando um juzo de razoabilidade. Nesse sentido: Recurso Extraordinrio com agravo. Administrativo. Ao civil pblica ajuizada pelo Ministrio Pblico Federal em face do Incra. obrigao de fazer. Elaborao de cronograma de execuo das aes referentes ao processo de identificao e demarcao de terras ocupadas por remanescentes da comunidade quilombola do carmo, situada no municpio de So RoqueSP. artigo 60, 4, iii, da Constituio da Repblica. Ausncia de prequestionamento. Incidncia. das Smulas 282 e 356 do Stf. Violao ao princpio da separao de poderes. Inocorrncia. Alegao de prazo exguo para o cumprimento da deciso judicial e de carncia de disponibilidade econmico-financeira. Necessidade de reexame de fatos e provas. (Recurso Extraordinrio 1.022.166 So Paulo. Relator: min. Luiz Fux Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 16/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  17. 17. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA recte.(s): Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria Incra Proc.( a / s )( es ): Procurador Geral Federal recdo .(a/s):Ministrio Pblico Federal) grifos destacados. Fundamentado na excessiva demora da demarcao de terras dos ndios Guarani, o Superior Tribunal de Justia fixou prazo para que a Unio conclusse o procedimento administrativo, reconhecendo o direito do cidado a um prazo razovel na atuao do Estado: PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSOS ESPECIAIS. DEMARCAO DE TERRAS INDGENAS. AO CIVIL PBLICA. VIOLAO DO ART. 535 DO CPC. NO- OCORRNCIA. FIXAO DE PRAZO RAZOVEL PARA O ENCERRAMENTO DO PROCEDIMENTO DEMARCATRIO. POSSIBILIDADE. 1. No viola o art. 535 do CPC, tampouco nega a prestao jurisdicional, o acrdo que, mesmo sem ter examinado individualmente cada um dos argumentos trazidos pelo vencido, adotou, entretanto, fundamentao suficiente para decidir de modo integral a controvrsia. 2. O aresto atacado abordou todas as questes necessrias integral soluo da lide, concluindo, no entanto, que possvel a fixao, pelo Poder Judicirio, de prazo razovel para que o Poder Executivo proceda demarcao de todas as terras indgenas dos ndios Guarani. 3. A demarcao de terras indgenas precedida de processo administrativo, por intermdio do qual so realizados diversos estudos de natureza etno-histrica, antropolgica, sociolgica, jurdica, cartogrfica e ambiental, necessrios comprovao de que a rea a ser demarcada constitui terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios. O procedimento de demarcao de terras indgenas constitudo de diversas fases, definidas, atualmente, no art. 2 do Decreto 1.775/96. 4. Trata-se de procedimento de alta complexidade, que demanda considervel quantidade de tempo e recursos diversos para atingir os seus objetivos. Entretanto, as autoridades envolvidas no processo de demarcao, conquanto no estejam estritamente vinculadas aos prazos definidos na referida norma, no podem permitir que o excesso de tempo para o seu desfecho acabe por restringir o direito que se busca assegurar. 5. Ademais, o inciso LXXVIII do art. 5 da Constituio Federal, includo pela EC 45/2004, garante a todos, no mbito Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 17/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  18. 18. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA judicial e administrativo, a razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitao. 6. Hiptese em que a demora excessiva na concluso do procedimento de demarcao da Terra Indgena Guarani est bem evidenciada, tendo em vista que j se passaram mais de dez anos do incio do processo de demarcao, no havendo, no entanto, segundo a documentao existente nos autos, nenhuma perspectiva para o seu encerramento. 7. Em tais circunstncias, tem-se admitido a interveno do Poder Judicirio, ainda que se trate de ato administrativo discricionrio relacionado implementao de polticas pblicas. 8. "A discricionariedade administrativa um dever posto ao administrador para que, na multiplicidade das situaes fticas, seja encontrada, dentre as diversas solues possveis, a que melhor atenda finalidade legal. O grau de liberdade inicialmente conferido em abstrato pela norma pode afunilar-se diante do caso concreto, ou at mesmo desaparecer, de modo que o ato administrativo, que inicialmente demandaria um juzo discricionrio, pode se reverter em ato cuja atuao do administrador esteja vinculada. Neste caso, a interferncia do Poder Judicirio no resultar em ofensa ao princpio da separao dos Poderes, mas restaurao da ordem jurdica." (REsp 879.188/RS, 2 Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJe de 2.6.2009) 9. Registra-se, ainda, que por demais razovel o prazo concedido pelo magistrado de primeiro grau de jurisdio para o cumprimento da obrigao de fazer consistente em identificar e demarcar todas as terras indgenas dos ndios Guarani situadas nos municpios pertencentes jurisdio da Subseo Judiciria de Joinville/SC, nos termos do Decreto 1.775/96, ou, na eventualidade de se concluir pela inexistncia de tradicionalidade das terras atualmente ocupadas pelas comunidades de ndios Guarani na referida regio, em criar reservas indgenas, na forma dos arts. 26 e 27 da Lei 6.001/73 ,sobretudo se se considerar que tal prazo (vinte e quatro meses) somente comear a ser contado a partir do trnsito em julgado da sentena proferida no presente feito. 10. A questo envolvendo eventual violao de preceitos contidos na Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000), a despeito da oposio de embargos declaratrios, no foi examinada pela Corte de origem, carecendo a matria, portanto, do indispensvel prequestionamento. 11. Recursos especiais parcialmente conhecidos e, nessas partes, desprovidos. (REsp 1114012 / SC, RECURSO ESPECIAL 2009/0082547-8, Relator(a) Ministra DENISE ARRUDA, rgo Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA, Data do Julgamento 10/11/2009, DJ, 01/12/2009) grifos destacados. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 18/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  19. 19. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA Cabe destacar, por indispensvel, que o artigo 14 da Conveno 169 da OIT assegura o direito posse e titulao das reas tradicionalmente ocupadas, verbis: 1. Dever-se- reconhecer aos povos interessados os direitos de propriedade e de posse sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Alm disso, nos casos apropriados, devero ser adotadas medidas para salvaguardar o direito dos povos interessados de utilizar terras que no estejam exclusivamente ocupadas por eles, mas s quais, tradicionalmente, tenham tido acesso para suas atividades tradicionais e de subsistncia. Nesse particular, dever ser dada especial ateno situao dos povos nmades e dos agricultores itinerantes. 2. Os governos devero adotar as medidas que sejam necessrias para determinar as terras que os povos interessados ocupam tradicionalmente e garantir a proteo efetiva dos seus direitos de propriedade e posse. 3. Devero ser institudos procedimentos adequados no mbito do sistema jurdico nacional para solucionar as reivindicaes de terras formuladas pelos povos interessados. A mora na atuao do INCRA no se sustenta diante da gravidade das consequncias que, conforme j salientado, reverbera na potencializao da vulnerabilidade e hipossuficincia do povo tradicional interessado e, pela via reflexa, impacta o seu direito existncia digna. No por outra razo, alis, que o princpio da reserva do possvel no pode ser invocado como apangio omisso do Estado, porquanto envolvido no caso concreto vilipndio ao princpio do mnimo existencial. Neste sentido, as provas documentais que instruem esta pea exordial demonstram a excessiva demora da demarcao e titulao das terras ocupadas pela comunidade remanescente de quilombo LAPINHA, porquanto passados mais de doze anos que o procedimento administrativo correlato no foi concludo. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 19/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  20. 20. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA Outra concluso no poder ser, portanto, que a atuao dos rus ultrapassou os limites da razoabilidade, indicando a urgente necessidade da atuao jurisdicional na forma ora pretendida. VI.1. Do Dano Moral Coletivo Consoante a redao do art. 37, 6, da Constituio da Repblica de 1988, as pessoas jurdicas de direito pblico respondem de forma objetiva pelos danos causados a terceiros por seus agentes, quando agirem na qualidade de agentes pblicos, tendo direito de regresso em face do causador do dano nos casos de dolo ou culpa. Ou seja, consagra-se a responsabilidade objetiva do Estado e a responsabilidade subjetiva do agente pblico. Os requisitos para a responsabilidade objetiva do Estado so trs: a) conduta estatal; b) dano; c) nexo causal entre a conduta estatal e o dano causado. A necessidade de demonstrar culpa na conduta estatal substituda pelo nexo de causalidade, ou seja, basta que o prejuzo sofrido seja originado de uma conduta estatal para ser passvel de indenizao, independentemente da demonstrao ou no de culpa na ao ou omisso administrativa. A conduta estatal que gera o dano indenizvel pode ser tanto lcita (de acordo com as regras jurdicas) quanto ilcita (em desacordo com o ordenamento jurdico), uma vez que se trata de responsabilidade objetiva, aonde no se perquire o fator subjetivo do dolo ou culpa. Tanto condutas comissivas (fazer) como omissivas (no fazer) do Estado so passveis de responsabilizao. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 20/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  21. 21. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA Evidencia-se, no caso sub judice, o nexo de causalidade entre a ao omissiva do Estado e o dano comunidade em questo, porquanto a omisso, que perdura mais de doze anos desde a instaurao do processo administrativo, tem impedido o exerccio pleno dos direitos originrios da comunidade LAPINHA diante da ausncia de titularidade das terras. Em se tratando de violao de interesses coletivos, a condenao por dano moral se justifica to somente pela sua violao, ou seja, decorre da prpria situao de fato criada pela conduta do agente danos in re ipsa , o que torna desnecessria a prova do efetivo prejuzo, na medida em que se presume em face da prpria leso aos direitos extrapatrimoniais da coletividade. Assim expe Andr de Carvalho Ramos4 : O ponto-chave para a aceitao do chamado dano moral coletivo est na ampliao de seu conceito, deixando de ser o dano moral um equivalente da dor psquica, que seria exclusividade de pessoas fsicas. (...) Devemos ainda considerar que o tratamento transindividual aos chamados interesses difusos e coletivos origina-se justamente da importncia desses interesses e da necessidade de uma efetiva tutela jurdica. Ora, tal importncia somente refora a necessidade de aceitao do dano moral coletivo, j que a dor psquica que alicerou a teoria do dano moral individual acaba cedendo lugar, no caso do dano moral coletivo, a um sentimento de desapreo e de perda dos valores essenciais que afetam negativamente toda uma coletividade. grifos destacados. Nessa esteira, alis, recentemente o Egrgio STJ reconheceu a possibilidade de fixao de indenizao por dano moral coletivo, o qual deve ser aferido in re ipsa, como se observa: 4 Ao Civil Pblica e o dano moral coletivo. Revista de Direito do Consumidor n. 25, So Paulo: Revista dos Tribunais, jan-mar, 1998, p. 82. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 21/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  22. 22. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA ADMINISTRATIVO - TRANSPORTE - PASSE LIVRE - IDOSOS - DANO MORAL COLETIVO - DESNECESSIDADE DE COMPROVAO DA DOR E DE SOFRIMENTO - APLICAO EXCLUSIVA AO DANO MORAL INDIVIDUAL - CADASTRAMENTO DE IDOSOS PARA USUFRUTO DE DIREITO - ILEGALIDADE DA EXIGNCIA PELA EMPRESA DE TRANSPORTE - ART. 39, 1 DO ESTATUTO DO IDOSO - LEI 10741/2003 VIAO NO PREQUESTIONADO. 1. O dano moral coletivo, assim entendido o que transindividual e atinge uma classe especfica ou no de pessoas, passvel de comprovao pela presena de prejuzo imagem e moral coletiva dos indivduos enquanto sntese das individualidades percebidas como segmento, derivado de uma mesma relao jurdica-base. 2. O dano extrapatrimonial coletivo prescinde da comprovao de dor, de sofrimento e de abalo psicolgico, suscetveis de apreciao na esfera do indivduo, mas inaplicvel aos interesses difusos e coletivos. (...) (REsp 1057274/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/12/2009, DJe 26/02/2010) (grifo aposto) No obstante a desnecessidade de demonstrao do prejuzo, no presente caso, restou cabalmente provado o dano comunidade, com o absurdo transcurso de mais de doze anos sem que a Unio/INCRA finalizem o processo de demarcao, impedindo o acesso a programas governamentais e ao direito fundamental de moradia, reduzindo o exerccio da cidadania dos membros da comunidade quilombola, que nada podem fazer a no ser contar com uma eficiente atuao do Estado na busca da concretude de seus direitos, mas, no caso em tela, se deparam com a vexatria e absurda situao de completo abandono estatal, que ao cabo de mais de uma dcada no se dignou de nem ao menos finalizar o processo de demarcao de suas terras. So vtimas claras do descaso estatal, que indubitavelmente vem agredindo a moral coletiva da comunidade de remanescentes de quilombo Lapinha. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 22/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  23. 23. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA Assim, no h dvida da possibilidade de fixao de indenizao por dano moral coletivo no caso dos autos. Por fim, deve-se ter em conta que a reparao pelos prejuzos comunidade LAPINHA somente se dar de forma completa em sendo observada a sua funo punitiva e inibitria punitive or exemplary damages5 , mediante a fixao de indenizao pelos danos causados. Trata-se, de fato, do carter punitivo-preventivo que informa a responsabilizao pelo dano moral coletivo, j que sua previso no apenas objetiva compensar a coletividade, revertendo o valor pecunirio em favor de finalidade que a todos aproveita, como tem por fim punir aquele que, de forma ilcita, violou interesse metaindividual. Isso porque, mediante a imposio de grave sano jurdica para condutas como as dos requeridos, confere-se real e efetiva tutela aos direitos tnicos e culturais da comunidade quilombola em apreo, assim como a outros bens jurdicos transindividuais. Portanto, ao se ponderar acerca de verba indenizatria por dano moral de carter coletivo, no se pode olvidar a natureza do interesse que o instituto visa a proteger, bem como a funo que exerce no sistema afeto tutela coletiva. VII DO PEDIDO LIMINAR A probabilidade do direito e o perigo de dano no caso concreto esto amplamente documentados no processado que serve de base inicial. Com efeito, a recalcitrncia documentada e reiterada da Unio/INCRA diante do dever de concluir o processo concernente 5 Nesse sentido: STF, AI 455846/RJ, Min.-Relator CELSO DE MELLO, j. 11/10/2004, Informativo 364. Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 23/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  24. 24. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA demarcao, reconhecimento e titulao da rea ocupada pela comunidade LAPINHA menospreza de modo ostensivo o direito razovel durao do processo (desde 2005 o Processo Administrativo n 54170.003689/2005-14 tramita perante a autarquia agrria e, mesmo a partir da instaurao do inqurito civil em espeque no ano de 2006, pouco se avanou em termos de concluso dos trabalhos). De outro lado, h que consignar que a omisso do INCRA na consecuo do dever de finalizar, em tempo razovel, a eventual demarcao e titulao da rea ocupada pela comunidade LAPINHA tem atentado manifestamente contra o postulado da segurana jurdica, afinal, conforme j consignado, o IEF informou que j realizou a desapropriao de uma rea aproximada de 20.000,00 hectares, sendo constatada a inexistncia de reas pertencentes comunidade quilombola de Lapinha. Esto presentes, portanto, os requisitos para a concesso da ANTECIPAO DA TUTELA, na forma prevista no artigo 12 da Lei n 7.347/85 c/c o art. 300 do Novo Cdigo de Processo Civil, haja vista a comprovao da probabilidade do direito invocado, frente ao manifesto prejuzo comunidade tradicional envolvida e sociedade como um todo. Nesse sentido, cumpre transcrever trecho de recente deciso do TRF da 1 Regio, da lavra do Exmo. Desembargador Souza Prudente, em sede de agravo de instrumento interposto pelo MPF, deferindo a tutela antecipada para determinar ao INCRA a concluso do RTID da comunidade remanescente de quilombo So Sebastio, no prazo de 180 dias: Com efeito, embora eventuais dificuldades de ordem operacional, por parte da Administrao, possam inviabilizar a elaborao, a tempo e modo, do Relatrio Tcnico de Identificao e Demarcao RTID da rea de remanescentes de quilombolas descrita nos autos, na hiptese em comento, o requerimento de regularizao fundiria remonta h mais de 2 (dois) anos, sem que sequer tenha sido concludo o aludido Relatrio, que Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 24/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  25. 25. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA consiste numa das primeiras fases do respectivo procedimento administrativo, e sem qualquer perspectiva quanto sua concluso, o que no se admite, em casos que tais, em manifesta violao aos princpios da eficincia, da moralidade e da razovel durao do processo, impondo-se, na espcie, a interveno do Poder Judicirio Republicano, para assegurar o direito demarcao das terras que ocupam, que se encontram constitucionalmente tuteladas (CF, arts. 5, XXXV e LXXVIII e 37, caput, da Constituio Federal e art. 68 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias, regulamentado pelo Decreto n 4.887/2003, na determinao de que aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os ttulos respectivos. Com estas consideraes, defiro o pedido de antecipao da tutela recursal formulado na inicial, para determinar que o Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria INCRA, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, a contar da cincia desta deciso, elabore e conclua o "Relatrio Tcnico de Identificao e Delimitao RTID, relativo comunidade remanescente de quilombo So Sebastio, inclusive com os estudos antropolgicos necessrios identificao do grupo, com a respectiva publicao na imprensa oficial. (TRF 1 Regio. AI n. 0042541-24.2016.4.01.0000/MG. Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE. Data da deciso: 02.03.17) No caso supra mencionado a mora do INCRA era de dois anos, tempo nfimo se comparado aos mais de doze anos de espera da comunidade quilombola Lapinha na presente demanda. Assim, com fundamento no art. 12 da Lei n 7.347/85 c/c os arts. 300 e 303 do Cdigo de Processo Civil, tambm com fulcro no poder Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 25/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  26. 26. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA geral de cautela deferido ao Juiz pelo art. 297 do mesmo diploma, requer- se o deferimento da medida liminar sem a oitiva dos rus para determin-los a: a) no prazo de 180 (cento e oitenta) dias concluir a anlise de eventuais contestaes e recursos administrativos ao RTID publicado; b) no prazo de 90 (noventa) dias, conclua a anlise da situao fundiria, caso haja incidncia em unidade de conservao constituda, rea de segurana nacional, faixa de fronteira ou terra indgena; c) no prazo de 30 (trinta) dias, publique portaria de eventual reconhecimento e declarao dos limites da terra quilombola; d) no prazo de 90 (noventa) dias, adote medidas cabveis visando a retomada da rea, em caso de terras reconhecidas e declaradas de posse particular sobre rea de domnio da Unio; e) no prazo de 90 (noventa) dias, conclua o estudo sobre a autenticidade e legitimidade dos ttulos de propriedade particular que eventualmente incidam sobre o territrio, mediante levantamento da cadeia dominial do imvel at a sua origem, e dispense a fase de desapropriao e indenizao de benfeitorias de boa-f em caso de particulares no-quilombolas que no possuam legtimo ttulo de domnio e que no preencham os requisitos da Instruo Normativa n 73/2012, promovendo a desintruso, no qual se d a notificao e retirada dos ocupantes no-quilombolas; f) no prazo de 90 (noventa) dias, conclua o procedimento de desapropriao, visando a obteno do imvel, caso incida a terra em rea com ttulo de domnio particular vlido e eficaz; g) no prazo de 90 (noventa) dias, conclua o reassentamento, em outra rea, caso haja famlias de agricultores no- quilombolas, desde que preencham os requisitos da legislao agrria; h) no prazo de 90 (noventa) dias, conclua a demarcao e emita ttulo coletivo de propriedade em nome da referida comunidade quilombola, com registro e matrcula no cartrio de imveis competente. VIII PEDIDOS E REQUERIMENTOS FINAIS Ante o exposto, o Ministrio Pblico Federal, pelo Procurador da Repblica signatrio, requer: Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 26/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  27. 27. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA a) a concesso de tutela antecipada na forma requerida, em carter de urgncia; b) a fixao de multa diria caso os rus no cumpram fielmente o cronograma at a concluso de todas as etapas listadas e que eventual multa a ser aplicada seja depositada em conta vinculada a este Juzo, para fins de aplicao em aes ambientais e sociais na rea a ser reconhecida em favor da comunidade de remanescentes do quilombo em anlise, conforme projetos a serem propostos pela comunidade e acatados pelo MPF; c) a citao dos entes demandados, na pessoa de seus representantes legais, para que, caso queiram, contestem a presente ao, at final procedncia, sob pena de revelia e confisso; d) a integral procedncia da pretenso ora deduzida, confirmando-se, em definitivo, o pedido feito em sede de tutela antecipada, condenando-se a Unio e o INCRA a realizar todas as etapas tendentes a concluir o processo administrativo n 54170.003689/2005-14 para eventual reconhecimento, demarcao e titulao da rea ocupada pela Comunidade Quilombola LAPINHA; e) a condenao da Unio e do INCRA obrigao solidria de pagamento de indenizao a ttulo de danos morais coletivos, em valor no inferior a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), devendo o valor apurado ser aplicado em aes ambientais e sociais na rea a ser reconhecida em favor da comunidade de remanescentes do quilombo em anlise, conforme projetos a serem propostos pela comunidade e acatados pelo MPF; Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 27/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0
  28. 28. MINISTRIO PBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPBLICA NO MUNICPIO DE JANABA f) a juntada aos autos do Inqurito Civil n 1.22.005.000097/2006- 91, que acompanha a presente petio inicial; g) Sendo a questo de mrito unicamente de direito, e meramente pendente de anlise documental, seja julgada antecipadamente a lide, nos termos do art. 355, I, do Cdigo de Processo Civil, ou, se outro o ilustrado entendimento desse DD. Juzo Federal, seja deferida a produo de todos os meios de prova admitidos em direito, notadamente documentos, depoimento pessoal dos representantes legais do ru, oitiva de testemunhas, realizao de percias e inspees judiciais, dentre outros oportunamente especificados. D-se causa o valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais). Requer, por fim, a iseno de custas e demais emolumentos, nos termos legais. Nesses termos, pede deferimento. Montes Claros/MG, 04 de outubro de 2017. (documento assinado digitalmente) EDUARDO HENRIQUE DE ALMEIDA AGUIAR Procurador da Repblica Endereo: Rua So Jos, 547. Bairro Todos os Santos. Montes Claros/MG. CEP 39.400-119 Fone: (38)3224-7600 28/28 DocumentoassinadoviaTokendigitalmenteporEDUARDOHENRIQUEDEALMEIDAAGUIAR,em04/10/201720:30.Paraverificaraassinaturaacesse http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento.ChaveCC7AD586.69A9A85D.61469310.A44297B0