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Paulo Cardoso e Rui Cardoso (Maio 2010 Novembro 2010) OS DESABAFOS DE RUI CARDOSO -I

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Paulo Cardoso e Rui Cardoso

(Maio 2010 – Novembro 2010)

OS DESABAFOS

DE RUI CARDOSO

-I

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Índice

Introdução: ............................................................................................................................... 2

2 – Crónica / Saúde (04-02-2010) ............................................................................................. 7

3 – Crónica / Juventude (11-02-2010) ..................................................................................... 11

4 – Crónica / Desporto (18-02-2010) ...................................................................................... 14

5 – Crónica / A Internet (25-02-2010) ..................................................................................... 17

6 – Crónica / Mulher (04-03-2010) ......................................................................................... 20

7 – Crónica / Cultura (11-03-2010) ......................................................................................... 23

8 – Crónica / Terceira Idade (18-03-2010) .............................................................................. 26

9 – Crónica / Segurança nas Escolas (25-03-2010) ................................................................. 29

10 – Crónica / Ambiente (01-04-2010) .................................................................................... 33

11 – Crónica / Economia (08-04-2010) ................................................................................... 36

12 – Crónica / Grandes Superfícies (15-04-2010).................................................................... 39

13 – Crónica / 25 de Abril (22-04-2010) ................................................................................. 42

14 – Crónica / 1º de Maio (29-04-2010) ................................................................................. 45

15 – Crónica / Mães (06-05-2010) ......................................................................................... 49

16 – Crónica / Modelo Político (13-05-2010) ......................................................................... 52

17 – Crónica / Portalegre (20-05-2010) ................................................................................. 55

18 – Crónica / Balanço (27-05-2010) ..................................................................................... 58

19 – Crónica / Acessibilidades (05-10-2010) ........................................................................... 62

20 – Crónica / Projectos Vida (12-10-2010) ............................................................................ 66

21 – Crónica / Literatura (19-10-2010) ................................................................................... 69

22 – Crónica / Ranking das escolas (26-10-2010) ................................................................... 72

23 – Crónica / Orçamento de Estado (02-11-2010) ................................................................. 75

24 – Crónica / Dependências (09-11-2010) ............................................................................. 78

25 – Crónica / Balanço (16-11-2010) ...................................................................................... 81

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Introdução:

Não foi uma surpresa constatar o desempenho do Rui como

mandatário da lista candidata às Legislativas de 2009 pelo círculo de

Portalegre. Porém, a experiência como cronista aos microfones da

Rádio Portalegre apresentou-se como um desafio que o Rui venceu

e convenceu. Numa fase dos estudos em que o tempo andava, já a

alta velocidade, o Rui contou com uma equipa de apoio que lhe

permitiu estar descansado com esta responsabilidade, de todas as

quintas-feiras transmitir ao auditório, assuntos interessantes de

forma abreviada e clara.

Essa equipa, todas as semanas trabalhou o tema, dando tópicos,

pesquisando, coordenando e orientando o texto. Por fim, ouvia a

crónica com atenção para perceber onde se podia melhorar. A

satisfação foi enorme quando percebemos através de ouvintes,

comentários elogiosos às crónicas e ao desempenho do Rui.

Em meu nome e do Rui, ficam aqui os agradecimentos a essa

equipa:

Adelina Roque, Elsa São João, Milu e

Nuno Cardoso (também autor da capa desta colectânea)

E porque toda a equipa reconhece que não fora os problemas de

saúde poderíamos contar com outra valiosa ajuda. A ele, dedicamos

esta colectânea de crónicas.

Força, Adelino Cardoso!

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Paulo Cardoso

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1 – Crónica / A Educação (28-01-2010)

Boa tarde, o meu nome é Rui

Cardoso, tenho 18 anos, sou de

Portalegre e estudo na Antiga Escola

Industrial e Comercial de Portalegre,

hoje Secundária de S. Lourenço.

Caros ouvintes, na minha primeira crónica não posso deixar de

escolher um assunto que me afecta, assim como a todos os jovens,

sem deixar de parte os professores. É fácil perceber que vou

abordar o tema da educação que é, ou devia ser, junto com a

saúde, o pilar de um país. Apontada por alguns como a sua paixão,

por exemplo, por António Guterres, a Educação tem sido alvo das

experiências de governos incompetentes com políticas falhadas que

arrastaram o país para a situação em que estamos.

Do Magalhães só nos resta esperar por mais uma multa da União

Europeia, depois da avultada multa da compra de submarinos de

Paulo Portas. Depois, os Magalhães ficarão no rol de medidas

falhadas porque a casa foi construída pelo telhado.

Em relação a Portalegre, acuso o ministério de irresponsabilidade

quando gasta mais de 4,5 milhões de euros na Mousinho da Silveira

e os alunos e professores trabalharam sem aquecimento nos dias

rigorosos que tivemos há pouco tempo. O meu aplauso vai para os

manifestantes que deram um raro exemplo em Portalegre de que o

silêncio nada resolve e a manifestação deu, logo, frutos.

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Não só esta, mas muitas outras escolas deixam muito a desejar, o

estatuto do aluno e a guerra travada pelo Governo Sócrates contra

os professores tornaram o ensino num verdadeiro estado de sítio.

Outras medidas como os PIEF, do tempo de Durão Barroso e os

Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP) e Novas

Oportunidades, são o retrato de medidas avulsas cujo único

resultado é a transfiguração da realidade nas estatísticas.

A maioria das escolas de intervenção prioritária têm altas taxas de

insucesso e mantêm os problemas de indisciplina, conforme consta

do resultado de uma recente avaliação externa. Em Portalegre,

temos uma das 17 escolas do país de intervenção prioritária ainda

em avaliação, falo da Escola José Régio. Esta, a par das restantes,

no seu funcionamento deixa muito a desejar, sendo o campo da

indisciplina o que mais me preocupa, não esquecendo as altas taxas

de insucesso. Ainda recentemente uma professora e uma

funcionária foram agredidas e os alunos vivem em sobressalto.

Ainda assim, gostaria de fazer uma referência positiva ao aumento

da verba para o IPP (15 milhões de euros) no orçamento para 2010.

Esta verba já garante os salários para os funcionários desta

importante instituição, oxalá se consiga baixar o valor das propinas

para desta forma podermos atrair mais estudantes. Também faço

votos para que se criem mais cursos apelativos e com saída no

mercado de trabalho.

Melhorar, seriamente, estas escolas é prioritário e, infelizmente, não

vale a pena pensar em mais escolas. Contudo, massificar os

estudantes como fizeram erradamente com os reclusos dos Centros

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Educativos como o de Vila Fernando que fechou seria outro erro e

por isso vos digo, terminando - Ainda bem que o estádio não veio

abaixo!

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2 – Crónica / Saúde (04-02-2010)

Caros ouvintes, na crónica anterior referi a educação como um pilar

sem deixar de mencionar a saúde que é o princípio de um bom

desenvolvimento porque implica, segundo a ONU, capacidade de

bem-estar e acima de tudo um factor de humanização e a garantia

de um verdadeiro estado social agora tão posto em causa por

Portugal e até pela Europa. Não é por acaso que, actualmente, a

saúde é regulada por números e não por necessidades sociais.

Fecham-se maternidades e, outras especialidades como,

recentemente, foi anunciado em oncologia. Retiram-se os apoios a

doentes crónicos e paga-se aos privados para fazerem o que o SNS

podia fazer. Enquanto isso, gastamos 45 milhões em vacinas para a

nova estirpe da Gripe (H1n1), que a maioria dos portugueses não

vai levar. E eu, que sou um jovem estudante, para ser assistido

tenho de pagar uma taxa moderadora, numa violação ao artigo 64º

da Constituição Portuguesa. Quando o SNS nasceu, por mão do

socialista António Arnaut, estava muito longe de imaginar que seria

o próprio PS que mais tarde iria ameaçar a sua grande obra.

Falando de Portalegre, o processo da Hemodiálise só não tem

contornos de escândalo, porque atinge uma pequena minoria e as

restantes pessoas preferem ignorar e calar-se. Desde concursos

anulados, à demora e anúncios com pompa e circunstância, tudo

vale e fica bem patente o rumo que leva o nosso país também nesta

área.

Mas a saúde também passa pela qualidade de vida e dessa não

sabemos porque razão não existiram durante décadas, a

monitorização do ar que se respira em Portalegre. Será que o medo

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do fecho da Robinson justificava poluir casas e pessoas, em especial

as que moram em S. Cristóvão? Era simples, tinham mudado as

instalações para a periferia e talvez a Robinson hoje ainda fosse um

símbolo da nossa terra.

A saúde também passa pela mobilidade em condições dignas e

ainda mais quando nos dirigimos a um centro de saúde. E aqui

caros ouvintes, todos nós sabemos o que sentimos quando nos

dirigimos ao nosso centro de saúde, em especial, de autocarro. Para

quem é idoso, é penoso o trajecto, e se tiver problemas de ossos ou

de articulações o caso agrava-se, não se percebe como se coloca

uma calçada tão desconfortável num acesso tão importante...

Lamentavelmente é uma lacuna nossa, mas a prevenção na saúde é

o primeiro passo para um SNS com menos despesas e as apostas do

estado em oftalmologia e estomatologia são importantes para a

saúde, desenvolvimento e produtividade de um país. São os países

que fazem estas apostas que vêem os efeitos práticos desse

desenvolvimento, não esquecendo que o mais importante é a

qualidade de vida das pessoas. Não é por acaso que Barak Obama

decidiu apostar num serviço nacional de saúde onde quatro vezes a

população de Portugal, é o número de Americanos que não têm

acesso à saúde. Por isso, espero que Obama consiga este propósito,

que sabemos não ser fácil na actual conjectura, em que os Estados

Unidos precisam de muitos dólares para manterem as suas guerras

às quais Portugal vai dando uma ajuda.

Mas a saúde também se faz com pessoas e é necessário pessoal

especializado. Todos sabemos da dificuldade em atrair médicos e

outros especialistas que tudo fazem para não virem para o interior.

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E o que acontece a jovens, como eu, que querem entrar no ramo

profissional da saúde? É isso, temos de ir para fora estudar! E

muitos, depois, acabam por não regressar, uma vez que a oferta de

trabalho no nosso distrito está cada vez mais escassa. Isto, quando

temos no nosso distrito apenas licenciatura em enfermagem (Escola

Superior de Saúde) e enfermagem veterinária (Escola Superior

Agrária), um jovem como eu e outros se quiserem outras

especialidades têm que ir estudar para fora. Fiz questão de elogiar o

aumento da dotação orçamental para o IPP na crónica anterior, mas

também referi que era importante termos mais atracção e para isso

era bom fixar cá os nossos jovens. O tecido empresarial é diminuto

e sem expectativas de melhorar. O comércio e os serviços públicos

já tiveram melhores dias e por isto tudo vos digo, a nossa saída

pode estar no desenvolvimento do Politécnico, também na saúde,

não esquecendo a nossa Escola Superior de Arte que podia ter mais

que a área da formação musical. Saliento também a falta de cursos

que apostem na engenharia genética, que poderia levar à

descoberta de novos tratamentos para o cancro, por exemplo, e à

realização de tratamentos de terapia génica.

Na ordem do dia está a greve dos enfermeiros que reclamam para

verem as suas licenciaturas reconhecidas e serem pagos como tal.

Recordo que este assunto também se aplica aos técnicos da saúde,

como os analistas, fisioterapeutas, radiologistas e outros. Mais uma

vez saúdo quem luta pelos seus direitos.

Para terminar não posso deixar de incentivar os jovens à prática do

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desporto e a todas e todos que me ouvem, façam uma alimentação

variada, com pouca gordura, pouco sal e pratiquem exercício físico

regularmente. E muita saúde é o que vos desejo.

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3 – Crónica / Juventude (11-02-2010)

O processo de humanização da nossa sociedade sofre evidentes

retrocessos, muito por culpa dos governos subvertidos ao

capitalismo. Estes desistiram de apostar no modelo social para

insistir no modelo capitalista neoliberal. Este modelo, que tem

aumentado as desigualdades, e que provoca a asfixia económica, é

o principal responsável por um mundo cada vez menos sustentável.

Com impactos negativos em larga escala, são os jovens, que

atingidos, não conseguem ter um projecto de vida e são herdeiros

de um futuro hipotecado por políticas desastrosas. O Governo

Sócrates em sintonia com a Europa de Barroso empenhou-se em

defender as grandes fortunas e a banca, deixando à sua sorte as

vítimas de um sistema corrupto e viciado por entendimentos de

favorecimentos políticos aos grandes grupos económicos.

Os trabalhadores, em especial as mulheres e os jovens, sujeitos ao

Código Vieira da Silva (dito socialista), passaram a ser mera

mercadoria laboral, descartável e sem direitos, por isso já somos

conhecidos pela geração dos 500€. Todas as alíneas dos direitos

consagrados na lei, não passam de meras intenções, destronadas

pela precariedade imposta por um código do trabalho perverso que

permite o despedimento ao livre arbítrio e alimenta a exploração por

parte de empresas de trabalho temporário, agora até na saúde.

É por estas razões que o apelo de Cavaco Silva e outros políticos, à

participação dos jovens na vida política e o incentivo ao

“empreendedorismo”, não passam de puras hipocrisias num país em

que a formação e o apoio não passam de malabarismos para as

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estatísticas, com poucos efeitos práticos na vida profissional. Por

exemplo, as Novas Oportunidades não passam de uma mera

certificação da ignorância e da iliteracia; Os apoios aos projectos de

jovens portalegrenses não passam dos papéis, com um QREN que

não passa de uma miragem com cerca de 6,5% de execução.

A participação dos jovens é condicionada pela falta de estabilidade e

pelo crescente abuso das empresas cada vez mais a impor mais

horas de trabalho sem retribuição e com a consequente falta de

tempo e de disposição para outras actividades. Destas actividades

destacam-se as dificuldades no Associativismo estudantil, cultural e

desportivo, do direito ao sindicalismo e à criação de Comissões de

Trabalhadores. Este é um ponto que vai decerto também afectar a

vida das colectividades não só pelo afastamento dos jovens mas

também porque muitos dos que foram os impulsionadores e garante

do funcionamento destas instituições sofrem também do mesmo

problema e esta é uma consequência terrível que preconiza o

desmoronamento de uma sociedade eclética e plural.

Durante o tempo que tenho de vida, sucessivos governos têm dado

primazia à salvaguarda dos grandes interesses económicos num

jogo de interesses entre as grandes empresas e classe política, num

casamento perfeito. Os resultados estão à vista e a factura quem a

vai pagar são os jovens que já começaram a perceber esta

realidade. A aposta deve estar numa viragem na política

portuguesa, políticas para as pessoas e não para interesses

capitalistas como defendem os partidos que têm governado

Portugal. Está na hora de dizermos que estamos fartos de tanta

mentira e hipocrisia e que um outro modelo de sociedade é possível

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e exigível. Só com políticas sociais sérias (sem aproveitamentos) e

apostas sérias na educação, na cultura e no investimento público é

possível criamos condições para que os jovens possam acreditar no

futuro.

É muito importante que a aposta nos jovens seja séria para que

possamos garantir uma sociedade sustentável e justa e para

terminar, faço aqui um apelo aos jovens que me ouvem – Lutem

pelo vosso futuro exigindo direitos e respeito. A recente

manifestação, exigindo educação sexual e um outro estatuto do

aluno é mais um exemplo que devemos exigir respeito para

podermos respeitar.

Jean Jacques Rousseau escreveu - «Todo o homem nasce bom, o

contacto com a sociedade é que o corrompe». Nós queremos uma

sociedade diferente!

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4 – Crónica / Desporto (18-02-2010)

Caros ouvintes, terminei a minha primeira crónica dizendo, ainda

bem que o estádio não veio abaixo. Seria um crime, perdermos um

espaço emblemático e raro para a prática desportiva. Bem sei que a

sua manutenção é um custo acrescido para uma câmara endividada

e um país desgovernado, mas se fosse destruído era mais um bem

que perderíamos, a par dos lindos jardins que Portalegre já teve.

A CERCI, não podia estar dependente deste crime, merece e tem

de ter, um espaço próprio e condigno. É uma vergonha a forma

como tratamos os nossos deficientes, e as pessoas que se dedicam

a esta nobre causa.

A Escola Cristóvão Falcão, também, precisa de uma solução com

melhores resultados do que o pavilhão, que construíram em anexo,

e que foi um autêntico desastre. Provavelmente, também não se

sabe se os terrenos do estádio municipal têm condições para se

construir.

É preciso aprender com os erros do passado, como por exemplo no

caso da Urbanização do Ribeiro do Baco cujo projecto comprado

pelo edil da altura, Rui Simplício, que além de caro, foi um autêntico

fiasco, por falta de estudos de vária ordem, acerca do terreno.

O nosso parque desportivo é pobre, e com deficiências, incluindo as

estruturas mais recentes, como o estádio Eduardo Sousa Lima.

Temos, Inclusive, um espaço desportivo que é o Clube de Ténis que

está desaproveitado. Não se percebe como é que este espaço com

características únicas no distrito, não é utilizado. O Governo Civil e a

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Câmara de Portalegre têm responsabilidades, e deviam ter a

coragem de tomar uma atitude. Portalegre bem precisa de quem se

interesse pelo seu património. Ainda, a Entidade Turismo devia

estar mais atenta a estes espaços importantes, dado que o turismo

não é só gastronomia.

Na última crónica referi a importância do exercício físico para a

saúde. Os acessos pedonais, que aos poucos vão aparecendo, são

um bem precioso para a comunidade. Também se devia apostar nas

ciclovias entre Portalegre, Fortios, Alagoa, Urra e Ribeira de Nisa. As

caminhadas promovidas por grupos como os Pés Vagarosos são

também um bom exemplo a manter; seria igualmente bom que os

responsáveis pelas freguesias cuidassem das nossas fontes, para os

nossos caminheiros poderem satisfazer a sua sede, com a garantia

de beber as nossas águas, com tão boa tradição, mas que por falta

de análises ou boa vontade estão carimbadas com um "Imprópria

para consumo".

Mal ou bem, o desporto foi sempre sustentado pelas colectividades,

e se hoje as SAD representam a deturpação do verdadeiro

sentimento clubista, assistimos no actual contexto ao

desmoronamento do associativismo desportivo. Onde eu quero

chegar é ao facto de faltar um verdadeiro modelo sustentado da

prática desportiva, que garanta o funcionamento das colectividades.

Uma actividade tão importante para a mobilização de jovens e para

a saúde não pode estar assente apenas na carolice e boa vontade

de algumas instituições. Hoje assiste-se às dificuldades dos grupos

desportivos por falta de apoio estatal, à altura pois sempre se

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apoiou nos financiamentos ocasionais públicos e privados. Em

Portalegre, cada vez são menos as empresas e com capacidade de

apoiar as colectividades, simultaneamente a Câmara com as

dificuldades económicas que tem, não consegue dar os apoios

necessários.

Por tudo isto vos digo que este modelo é insuficiente e não garante

o desenvolvimento desportivo. O estado tem que garantir as infra-

estruturas necessárias para a prática do desporto. Da mesma forma,

Os utentes da CERCI não podem ser votados ao esquecimento.

Exige-se condições condignas para eles.

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5 – Crónica / A Internet (25-02-2010)

Caros ouvintes, em primeiro lugar, não posso deixar de expressar o

meu sentimento de pesar pelos recentes acontecimentos na

Madeira. Estou certo que a minha mensagem chegará à região dado

que temos madeirenses que estudam cá em Portalegre. Para eles

vai, toda a minha solidariedade.

Nos dias de hoje, as rádios já têm um alcance que antes não

imaginávamos. Há pouco tempo, soube que um casal de

portalegrenses emigrantes em Inglaterra, há vários anos, ouve a

Rádio Portalegre pela Internet. Este facto, tem uma importância

enorme, dado que assim se consegue ter uma ligação à terra de

origem através da Rádio, via Internet.

Ninguém, dúvida da utilidade e do impacto da Internet. Também,

todos sabemos dos perigos que a Internet oferece, em especial às

crianças. Sabendo da sua importância, dimensão e alcance, não nos

admiramos que a China, onde além das constantes violações dos

direitos humanos, o governo chinês controla e censura a Internet.

Este controlo estende-se, imaginem, em sites de informação política

onde até, já, bloqueou sites como o Twitter, o Flickr e o Hotmail.

Ainda este mês, assistimos à tentativa do governo Iraquiano de

controlar a Internet sem sucesso, e aqui está a grande força que

mete medo a países como a China e o Irão. Lembrem-se, não é só

em Portugal que há controlo na informação, este problema, só na

Internet envolve 60 países. Nestes países não só assistimos ao

controlo da Internet como até à detenção de blogguer’s, uma

espécie de jornalismo na Internet.

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A qualidade da Internet e a propaganda do governo apoiada pela

publicidade enganosa das operadoras é um autêntico embuste. Esta

falta de seriedade atira-nos para os piores do mundo na relação

qualidade/preço. No acesso à Internet, em 2009, estávamos em 22º

lugar, entre os 27 países da União Europeia, - 42% das pessoas

entre os 16 e os 74 anos têm acesso à Internet, o que deixa

Portugal só à frente de Itália, Chipre, Grécia, Bulgária e Roménia.

Enganosa, foi, ainda, toda a política de multiplicação de pontos

públicos de acesso, que o governo em tempos anunciou, e que até

teve um nome: "Rede de Espaços Internet". Esta rede ficou parada

e esquecida, aquém das expectativas. A Internet no Interior do país

sai prejudicada com uma deficiente distribuição de fibra óptica, o

Gavião nem acesso tem à Banda Larga tem e a banda larga móvel,

aqui no interior é um autêntico desastre.

O Magalhães foi mais uma oportunidade falhada, a par dos fundos

estruturais europeus. Percebe-se, agora, que o Magalhães foi mais

um negócio das operadoras de telecomunicações, e mais um

negócio de trapalhadas, até nas entregas aqui em Portalegre e

Castelo de Vide. A ideia podia ter sido boa, mas não houve

preocupação em preparar os programas, as escolas e os

professores, o que interessou foi distribuir Magalhães e, retirar a

empresa, J.P. Sá Couto do buraco. Por isso, agora estamos sujeitos

a uma pesada multa europeia por ter sido entregue o negócio, sem

concurso, a essa empresa. Coisa deste governo, que se diz

caluniado… Porque será?

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Para terminar, e porque quero abrir este espaço a todos vós, deixo

aqui o meu endereço de e-mail para quem queira colocar questões,

ou sugestões às minhas crónicas. O meu endereço é:

[email protected] ou podem escrever para DesabafosRui –

Rádio Portalegre, Avenida de Santo António, Edifício Régio I r/c –

154, 7300-074 Portalegre.

E agora, não se esqueçam, desabafem, também, que faz bem…

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6 – Crónica / Mulher (04-03-2010)

Desculpem-me os homens mas não posso deixar de dedicar esta

crónica às mulheres. Aproxima-se o dia 8, o Dia Mundial da Mulher

e pouca coisa mudou nesta sociedade ainda machista que continua

a descriminar as mulheres. Esta descriminação existe muito por

culpa das religiões que as condenaram e discriminaram logo à

partida, dos políticos que falam do assunto mas não adoptam

medidas sérias e dos homens que se dizem apaixonados e depois

esquecem-se de respeitar quem nos dá o ser. Também existe por

falta de progresso civilizacional, onde muitos homens optam por

uma mentalidade medieval.

De 2009, em relação à violência doméstica ficaram os números

chocantes de 25 mulheres assassinadas e uma média de 81 queixas

por dia. Face à falta de leis e de forças de segurança, muitas

mulheres vivem num inferno solitário e muitas vezes escondidas

para evitarem, fazer parte do número de crimes que mais mata em

Portugal e que tem a mão leve da justiça por falta de um código

penal eficaz.

Digo aqui às mulheres que devem acreditar num futuro diferente a

não baixarem os braços, pois algumas conquistas já foram feitas.

Devem incentivar, apoiar quem tenta fazer deste Portugal um país

melhor nem que para isso seja necessário remar, contra as

tendências neoliberais criadas por uma globalização que tem como

mote o grande interesse económico / capitalista. Este sistema que

descrimina muito as mulheres arrasta os nossos políticos medíocres

numa atitude cínica a colocarem de lado os valores humanos que

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têm sido cultivados em prol de um mundo melhor. Por isso fecham

os olhos ao mercado sujo da actual escravatura feminina como por

exemplo a que tem origem na Tailândia, Brasil, Birmânia e países do

leste europeu para servirem de escravas domésticas e sexuais. Não

posso também, esquecer as vítimas do fundamentalismo islâmico

que condena as mulheres à morte por degolamento e

apedrejamento… assim como uma prática comum a muitos países

até ocidentais que é a aviltante mutilação dos órgãos sexuais

femininos.

No nosso país faltam leis sérias que protejam as mulheres. Todos os

anos, assistimos impávidos ao número de mortes de mulheres

vítimas de violência doméstica. A partir de 2000 passou a ser um

crime público, mas por falta de coragem dos governos seguintes,

incluindo o actual, este crime não é suficientemente reprimido e a

vítima sai sempre bastante prejudicada. É preciso uma Lei clara,

com objectivos bem definidos e que de facto proporcione avanços

no combate à violência doméstica. O “Estatuto de vítima” que este

governo quer aprovar pode ser um retrocesso nesta luta que

esbarra com muita hipocrisia.

Neste dia da mulher não é a oferta de uma flor ou enviar uma

mensagem que me deixa satisfeito, mas sim continuar respeitar a

minha mãe, a minha irmã, as minhas avós, as minhas amigas e

todas as mulheres do mundo, durante o ano inteiro, declarando-me

contra os que sustentam esta sociedade machista!

Daqui envio um beijinho especial para todas as mulheres, não

esquecendo as que trabalham nesta rádio, e todas as que telefonam

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aqui para a Rádio, todos os dias, a enviar de forma tão carinhosa,

beijinhos para todos.

Mais uma vez, deixo aqui o meu endereço de e-mail para quem

queira colocar questões, ou sugestões às minhas crónicas. O meu

endereço é: [email protected] ou podem escrever para

DesabafosRui – Rádio Portalegre, Avenida de Santo António, Edifício

Régio I r/c – 154, 7300-074 Portalegre.

E agora, não se esqueçam, desabafem, também, que faz bem…

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7 – Crónica / Cultura (11-03-2010)

Caros ouvintes, hoje venho falar-vos de Cultura. Da mesma forma

como vos falei das dificuldades que as associações desportivas

atravessam, também as associações e actores culturais sofrem do

mesmo problema. Não existe um projecto sustentável e os apoios

são cada vez mais escassos. Falta no país uma política cultural que

facilite o acesso das populações à fruição de bens culturais e a

meios de produção artística e cultural; Falta também a salvaguarda

do património cultural e a defesa dos direitos laborais dos

profissionais do sector cultural e a sua sustentabilidade. Por

exemplo, não chega criar uma rede nacional de leitura, é necessário

dar continuidade a esse trabalho e continuar a investir para não se

perder, também não chega fazer obras em museus, é preciso dar-

lhes vida.

Em Portalegre temos associações importantes e antigas, como é

exemplo a Euterpe, a banda mais antiga do país no activo, que

sobrevive sem o apoio que devia ter. Também, os artistas e

artesãos portalegrenses sentem-se abandonados pelo poder local e

nacional. O Município, a Entidade de Turismo e o Governo estão de

costas voltados para os nossos artistas e artesãos. O orçamento de

estado é sempre miserável para a importante área da Cultura que

até é rentável e necessária para dar apoio ao turismo e edificar um

país. A nossa identidade não se resume à gastronomia e corre-se o

risco de perdermos o pouco que temos. Os nossos artistas não são

apoiados, divulgados e pior, muitas vezes ainda são desprezados.

Page 25: Cronicas desabafos rp_i

24

Temos pessoas da terra que não esperam que os outros façam por

nós e tentam eles promover e dar expressão ao que temos em

Portalegre. Mesmo assim, esbarram com a falta de apoio e a falta

de uma política cultural que passa apenas por espectáculos pára-

quedistas. Tem sido esta a política dos últimos vereadores da

cultura que não passaram de meros agentes de espectáculos, muito

criticados pelos artistas locais.

Para piorar, verifica-se que a informação dos eventos tem vindo a

ser cada vez mais insuficiente. Por exemplo, hoje, quinta-feira

temos dois eventos importantes sobre Régio, um ás 18H00 no

Castelo, alusivo à chegada de Régio a Portalegre e às 21H30 no

CAEP, com Francisco Ceia a cantar Régio. A divulgação destes

eventos foi muito pobre, pior do que o habitual. Aproveito para

fazer publicidade a uma iniciativa de apoio à luta contra o cancro

inserido no Projecto “Um dia pela Vida”, a realizar no Centro de

Congressos da Câmara Municipal, quando era para ser no CAEP.

Esta iniciativa tem lugar no dia 26 de Março pelas 21H30 e conta

com artistas portalegrenses que vão colaborar de forma generosa e

gratuitamente. Saliento que é preciso ter uma política cultural séria,

bem divulgada e apoiada.

Temos Grupos, Associações, artistas e artesãos com muito valor e é

escandaloso como deixamos perder este património. Por isso, as

festas da cidade eram muito importantes. E pergunto, porque não

recuperar a festa dos aventais com o seu famoso concurso de

aventais, agora também alargado às artes plásticas? Convidar os

nossos artistas e artesãos, fazer daquele evento, uma grande festa

Page 26: Cronicas desabafos rp_i

25

que chame pessoas a nível nacional, como fazia a festa das flores

em Campo Maior e como faz a festa da castanha em Marvão.

Portalegre merece sair desta condição de cidade morta. Temos

gente com ideias e vontade de trabalhar, falta o apoio e condições.

Como jovem não posso deixar de evidenciar a importância do CAEP.

Deixo agora de lado a escolha do local o atraso com custos

acrescidos e os problemas que já surgiram entretanto. O importante

é termos esse espaço e faço um apelo, usem esse espaço também

para os artistas locais e por favor melhorem a qualidade da exibição

dos filmes que aparecem tardiamente.

Para terminar, recordo o meu endereço de e-mail para quem queira

colocar questões, ou sugestões às minhas crónicas. O meu endereço

é: [email protected] ou podem escrever para DesabafosRui –

Rádio Portalegre.

E agora, não se esqueçam, desabafem, também, que faz bem…

Page 27: Cronicas desabafos rp_i

26

8 – Crónica / Terceira Idade (18-03-2010)

Caros ouvintes, falando da terceira idade é hábito falar-se em idosos

e é assim que os vou referir nesta crónica, embora na verdade eu

esteja a falar dos nossos queridos velhinhos e velhinhas. Sendo eu

um jovem perguntarão o que me move a falar deste assunto? Por

respeito a todos, amor aos meus avós e lembrem-se todos nós um

dia seremos velhinhos e vamos precisar de amor e de um lar de

acolhimento e onde pergunto eu?

É um dever de qualquer sociedade, tratar bem e respeitar aqueles

que nesta fase da vida precisam de apoio e protecção. Mas, a

realidade é bem diferente, o estado falha e outros, da necessidade

fazem um negócio, é o caso das Misericórdias que cobram 14 meses

aos utentes em vez de 12. «Vemos, ouvimos e lemos, não podemos

ignorar», escreveu um dia Sophia de Mello Breyner Andresen, por

isso não podemos ficar indiferentes quando sabemos de notícias de

alguns casos em que não tratam os idosos da melhor forma,

chegando a existirem denúncias de casos de maus-tratos um pouco

por todo o país.

Com a bandeira do combate à pobreza, o governo Sócrates criou o

“complemento solidário para idosos”, este sim devia ser de 14

meses. Esta medida abrangeria apenas 300 mil idosos, ou seja,

menos de um em cada três reformados com pensão inferior a 300

euros por mês. Este complemento foi mais um acto de propaganda

e a prova de falta de eficácia no combate à pobreza onde temos em

2009 pelos números da DECO, 40 mil idosos a passar fome. Com

este PEC que nos impõem para resolver a crise por eles criada, são

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a classe média em vias de extinção, os jovens e os velhinhos quem

mais vão sofrer. Ao contrário adia-se a tributação das mais-valias e

corta-se nas pensões mínimas e sociais.

O factor de sustentabilidade baseado na teoria da quarta idade é

mais um erro destes governos insensíveis. A evolução da nossa

sociedade tem que visar a qualidade de vida e não o acelerado

enriquecimento de algumas elites. A liberalização das horas de

trabalho e o aumento do tempo de trabalho para a reforma vão

deitar por terra a ambição de uma sociedade sustentada. As

famílias, as instituições e as pessoas vão sofrer com isto. Pior, com

os salários miseráveis e pensões miseráveis deste país, excepto para

os cargos daqueles que defendem este modelo, a nossa sociedade

pode atingir num futuro próximo o colapso. E são principalmente os

jovens e os idosos que mais sofrem com estas medidas desumanas

praticadas por um governo que até se diz socialista. É urgente criar

a carta dos direitos dos cidadãos no acesso aos equipamentos

sociais públicos ou que beneficiem de financiamento público.

Os cuidados continuados e paliativos, tardam em se tornarem

efectivos serviços públicos a prestarem um bom serviço. Também

ao nível dos medicamentos este governo teima em ceder ao lobby

farmacêutico e em contrapartida cresce o número de idosos que

têm dificuldade em comprar os medicamentos e nem quero falar do

escasso apoio que têm os doentes crónicos. Recentemente este

governo aumentou os encargos dos doentes aliviando o estado.

Ora, a crise nunca pode ser combatida por esta via tão desumana.

Já em 2007 Sócrates diminuiu as comparticipações e não havia o

Page 29: Cronicas desabafos rp_i

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cenário de crise e eu pergunto: É este um governo socialista? Claro

que não, está à vista que só defende os interesses económicos e as

grandes negociatas onde os seus amigos estão envolvidos. Porreiro

Pá! Tão amigos que nós somos, os nossos velhinhos estão ao

“rubro” com o tratado de Lisboa, realmente ainda não perceberam o

que é que melhorou a não ser que os deputados europeus ficaram a

ganhar o dobro, mas as pensões não deixam de ser miseráveis e o

acesso aos medicamentos um escândalo.

Fazer algo pelos nossos idosos não é assim tão difícil e vou dar-vos

um exemplo. Devolvam os velhinhos, mas confortáveis bancos de

madeira ao vandalizado Jardim da Corredoura, devolvam as flores,

uns cisnes e os velhinhos agradecem e até voltam a frequentar

aquele espaço outrora emblemático onde até os candeeiros eram

castiços. Já agora, alguém sabe dizer onde estão esses candeeiros?

Por favor, respeitem e cuidem dos nossos velhinhos e velhinhas, um

dia seremos nós a precisar.

Para terminar, recordo o meu endereço de e-mail para quem queira

colocar questões, ou sugestões às minhas crónicas. O meu endereço

é: [email protected]

E agora, não se esqueçam, desabafem, também, que faz bem…

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9 – Crónica / Segurança nas Escolas (25-03-2010)

Caros ouvintes, nos últimos dias muito se tem falado de Bowling nas

escolas. Estima-se que nas escolas, um em cada quatro alunos são

vítimas de agressão, muitas vezes abandonadas e até silenciadas.

Os pregões de uma escola inclusiva, ou seja uma escola para todos

e uma escola segura, não passam de mais propaganda do Ministério

da Educação. Na minha primeira crónica, denunciei o caso de

violência de um aluno para com uma funcionária e uma professora.

Neste fenómeno, conhecido por Bulling, ao contrário do Bowling são

os docentes e funcionários as vítimas, não só de alunos, mas

também dos pais. São, ainda, vítimas de assédio moral por parte

daqueles que desempenham cargos de destaque. Estes, de forma

pouco clara, tudo fazem para impor o seu estatuto e as medidas da

escola a qualquer preço.

A razão que me faz voltar a este tema, é o facto de o problema se

agudizar dia após dia. Basta ouvir os noticiários, para percebermos

a gravidade da situação. Um aluno dispara sobre outro, e a

responsável da escola diz na televisão para não ficarmos

preocupados, porque o aluno não ia ser expulso, e agora pergunto

eu: - porque razão foi o caso silenciado? Um aluno morre, um

professor suicida-se e eu pergunto: - Quem assume

responsabilidades? Paulo Portas, nas suas recentes propostas

populistas, parece falar muito bem, eu, ao contrário, fico indignado

porque ele não apresenta soluções, apenas apresenta sanções, e

não tem a mais pequena ideia do resultado desastroso que iriam ter

essas medidas. Mas, o Governo Sócrates não está melhor, o

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estatuto da carreira docente, é a vergonha do sistema educativo, o

modelo de gestão das escolas é um ataque desenfreado à sua

democratização e o estatuto do aluno perturba o funcionamento das

escolas. Estes, deviam ser pensados numa lógica conjunta e não

separadas, como faz a Ministra da Educação. Nem oito, nem oitenta,

devolvam a autoridade aos professores e o respeito pelos alunos e

tudo será bem melhor. Ponham de lado os interesses pessoais e

económicos, e as teorias baratas que já provaram não nos levar a

lado nenhum. Como já vos disse, não ganhamos nada em trabalhar

para as estatísticas, nem em certificar a ignorância. É preciso uma

escola séria, democrática, construtiva e evoluída!

Mas o principal problema está no clima repressivo que se vive nas

escolas. Em função de uma melhor classificação das escolas, os

professores são pressionados e até intimidados como aconteceu em

recentes manifestações. Do trabalhar para as estatísticas, à

fabricação de resultados, e à pressão de alguns pais e funcionários,

tudo indica que é necessário alterar a administração e gestão da

escola pública. Assim, qualquer dia, a escola pública é como a

escola privada, em que o dinheiro compra as notas. Esta situação

torna-se mais difícil de resolver, porque diminui a democracia nas

escolas. A concentração de poder na figura do director, dá origem

ao aumento do “amiguismo” e convergência de BOYS, desta vez do

partido, dito socialista. Por exemplo, até o concelho geral da escola

é pouco democrático e os cargos distribuídos vão, na maior parte,

para os BOYS. Os partidos que têm governado, transformaram-se

em agências de empregos e fabricantes de tachos, e, assim,

Page 32: Cronicas desabafos rp_i

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dificilmente saímos deste estado de sítio; o ensino está ao nível das

lojas dos chineses e o resultado reflecte-se nos alunos a todos os

níveis, a violência é um deles.

Outro dos problemas, tem a ver com o decréscimo de funcionários

nas escolas, onde, imagine-se Paulo Portas, o dos submarinos, é um

dos culpados, quer em coligação com o PSD ou em parceria com o

PS. Alguns dos funcionários e professores, por medo ou por

reconhecimento de favores, alinham neste esquema da intriga

escolar e o clima de instabilidade, acaba por dar aos alunos

indisciplinados um espaço difícil de controlar. Até os agentes da

escola segura, chegam a ter receio de ter de intervir no espaço

escolar. É urgente, uma política de educação séria e políticas sociais

efectivas. É preciso investir e a segurança também passa pela

credibilidade das instalações escolares. Por exemplo, na Escola José

Régio, alunos, docentes e não docentes correm riscos no seu

ginásio, contudo recentemente o PS com a ajuda do PSD e CDS

inviabilizaram uma pequena verba para reparar o problema. É assim

que querem a credibilidade nas escolas? Tenham vergonha!

Dignifiquem as escolas! Os alunos e professores até passam frio e

depois querem que tudo corra bem? Foi preciso a ministra mandar

ligar os aquecimentos, e já agora porque não pede para nos

portarmos todos bem? Enfim…

Para se ser respeitado, é preciso dar-se ao respeito e Bowling ou

Bulling aparte, já me ensinaram as minhas avós – Casa onde não há

pão, todos ralham e ninguém tem razão! Os pais, aqui, também têm

um papel importante, quer nas escolhas dos políticos, quer na

Page 33: Cronicas desabafos rp_i

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intervenção correcta nas escolas e mais importante ainda, nos

valores que transmitem aos filhos. Passou o dia do pai e eu lembrei-

me, que todos os dias evoco os princípios com os quais o meu pai

me educou. Esses sim fazem de mim um homem!

Terminando, recordo o meu endereço de e-mail -

[email protected]

E agora, não se esqueçam, desabafem, também, que faz bem…

Page 34: Cronicas desabafos rp_i

33

10 – Crónica / Ambiente (01-04-2010)

Caros ouvintes, quando falamos de ambiente, é inevitável falar de

aquecimento global e este, é o assunto que mais aflige os cientistas.

O caso é sério, há países no pacífico sul que podem desaparecer. As

alterações climáticas são uma ameaça ao equilíbrio do ecossistema.

Todos nós somos responsáveis, mas não posso deixar de acusar os

países mais industrializados de não quererem reduzir as emissões,

aplicando medidas para o efeito. A ganância das companhias

petrolíferas, das grandes indústrias, o consumismo e a forma de

vida das sociedades, impediram que a Cimeira de Copenhaga

tivesse sucesso. Antes pelo contrário, foi mais um fracasso e a

prova evidente que os países mais ricos queriam esta Cimeira

manipulada. Do Tratado de Quioto, ao Tratado de Lisboa, passando

por estas cimeiras estamos conversados, não passam de desfiles de

vaidades a espalhar hipocrisia. Temos um mundo capitalista,

toxicodependente, viciado em combustíveis sólidos. Em Portalegre

por exemplo faltam ciclovias!

Em Portugal, apesar de alguns avanços importantes continua-se a

privilegiar o negócio em detrimento do ambiente. O recente projecto

“Renováveis”, teria todo o sentido se fosse extensivo a todos e não

só a grupos económicos ou empresas.

O passo positivo foi dado na reciclagem que além de contribuir para

menos poluição, cria postos de trabalho. No entanto, ainda está

longe do ideal e os cidadãos questionam-se quanto às taxas de

resíduos sólidos quando eles ao reciclarem, contribuem para os

lucros das empresas ligadas ao sector como é exemplo a Valnor. Os

Page 35: Cronicas desabafos rp_i

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pontos de recolha são outro ponto a melhorar em especial nas

pilhas e baterias. E para quando a recolha de tampinhas?

Outro passo positivo foi o fim das lixeiras a céu aberto e a criação

de Etar’s. Foi feito um investimento de milhões de euros, mas,

infelizmente estamos a recuar. Recentemente por ocasião de uma

importante acção de limpeza que envolveu milhares de voluntários,

o Sr. Governador Civil Jaime Estorninho, lamentou o facto de

estarem a surgir lixeiras clandestinas. Mas eu lembro também, que

a ETAR de Tolosa já está a funcionar mal há muito e ainda

recentemente os Deputados do PS, PSD e CDS, inviabilizaram uma

verba para reparar este problema de saúde pública, porquê?

O Sr. Governador apelou aos jovens para inverter esta situação e eu

dou-lhe o meu aplauso não só pela sua participação mas também

por compreender que os actuais responsáveis são incapazes de

mudar a sua mentalidade, tal como os governantes dos países mais

ricos que muito falam e pouco fazem. Assim como Obama recebeu o

prémio Nobel da Paz, só me falta ver o maior poluidor do mundo ser

apelidado de ambientalista. Em matéria de ambiente garanto-vos,

há muita hipocrisia! Desde abate de sobreiros para construções de

luxo a um presidente de câmara, Fernando Ruas, que incita ao

apedrejamento aos ambientalistas vê-se de tudo. Isto, sem

esquecer os famosos PIN, Projectos de Interesse Nacional apoiados

pelo governo Sócrates, em que vale tudo sem estudos de impacto

ambiental. Hoje é o dia das mentiras e não deixa de ter a sua piada

porque quando oiço os nossos governantes a falarem de ambiente

lembro-me sempre deste dia…

Page 36: Cronicas desabafos rp_i

35

Apesar da fraca participação, os meus parabéns para a iniciativa de

plantação de árvores na tapada da Escola José Régio, por ocasião

do dia da árvore. Espero que para o ano haja mais participantes.

Tal como no ambiente, cuja poluição contribui para doenças

cancerígenas, temos de mudar os nossos comportamentos

alimentares e sedentários para invertermos as estatísticas desta

doença que espreita qualquer um. Não posso deixar de aplaudir o

concerto promovido pela organização, Um dia pela Vida. Foi um

espectáculo único, como nunca tinha ocorrido em Portalegre.

Parabéns aos Promotores, ao Prof. João Banheiro, António

Eustáquio e o seu Guitolão, Quarteto do Sol e Grupo de Cantares “O

Semeador” que generosamente participaram nesta luta contra o

cancro.

Para terminar, recordo o meu endereço de e-mail:

[email protected]

E agora, não se esqueçam, desabafem, também, que faz bem…

E até à próxima crónica!

Page 37: Cronicas desabafos rp_i

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11 – Crónica / Economia (08-04-2010)

Caros ouvintes, esta Páscoa foi bem mais pobre para a maioria dos

portugueses. Depois de em 2008 assistirmos a uma miopia

económica e social por parte do governo Sócrates, que via tudo cor-

de-rosa, miopia essa reforçada pelos comentadores do sistema,

agora assistimos a um distúrbio psicótico pelo mesmo governo que

tem a mania da perseguição. Os partidos da direita em nome do

“sentido de estado” que no meu entender deixa muito a desejar,

deram as mãos ao PS e viabilizaram um orçamento de estado com o

qual não concordavam e, o próprio PS sabe ser inviável. Este é o

sentido de estado destes políticos que apenas se preocupam com as

agências de rating, agências estas, que, também, fazem parte do

problema e assumem-se como entidades sérias quando não o são.

O próprio Teixeira dos Santos, em Janeiro, acusava estas agências

de interesses de estratégia comercial e depois alegou a necessidade

de aprovar medidas para calar estas agências. Daí podemos deduzir

que as medidas do governo, além de comerciais são incoerentes. Já

no PEC, o CDS recuou a tempo, apesar de saber que esse PEC é a

repetição do que já fizera no governo, mas o populismo fala mais

alto, apesar de os submarinos andarem lá bem no fundo… O PSD

continua enleado às políticas de Sócrates que afinal sempre foram

as do PSD. O que custa perceber, é, como os militantes do PS

aprovaram um programa eleitoral e aceitam outro no governo.

Com a desculpa da crise os portugueses têm sido castigados,

enquanto os responsáveis engordam os lucros. As medidas

continuam a penalizar os inocentes e a criar cada vez mais vítimas,

Page 38: Cronicas desabafos rp_i

37

o desemprego e a pobreza são exemplos. Pior, não existem

garantias das condições de vida das pessoas e a única garantia é “a

do crescimento das desigualdades”. Sócrates, e com alguma razão,

aponta o problema para a crise mundial, mas o que faz em relação

a isso? Nada! Alinha e colabora sem exigir nada, antes pelo

contrário gastamos o dinheiro que não temos numa guerra de apoio

a um governo que sustenta o Narcotráfico no Afeganistão e viola os

direitos humanos. E quem são os partidos que apoiam tudo isto?

Claro, do PS à direita, todos de mãos dadas. Porque será que a

OCDE elogia o PEC português? Porque será que convidam Victor

Constâncio para fazer o que não soube fazer em Portugal? Uma

deputada luxemburguesa disse que é como dar dinamite a um

pirómano. Para ser realista eu garanto-vos, a recuperação

económica internacional é um embuste e só ganha quem se

aproveita da crise para explorar ainda mais. Os Offshore aí estão

intocáveis e os contribuintes mais sobrecarregados, onde é que está

a justiça? Sócrates e Barroso no nacional porreirismo!

O pior disto tudo é termos o país em saldo e prestes a ser entregue

por atacado a privados. O caso é sério e os proveitos justificam

manter e não vender. Esta forma de gestão ruinosa do país não tem

o apoio dos portugueses, o programa do PS não falava disto em

Setembro do ano passado e a crise já era reconhecida. Existe

portanto aqui um abuso e mais uma vez, um discurso nas eleições e

outro no governo.

Em Portalegre, os reflexos são maiores, sentimos com mais impacto

esta governação que nos vira as costas, e é no desemprego que o

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caso se agrava e assume um cenário de desastre. Podemos explicar

a crise pegando no nosso caso, as pessoas ao perderem poder de

compra, o comércio e serviços ficam penalizados e começam por

despedir e depois fechar e o que acontece? Mais crise, mais

desemprego, resultado, muitos adiam o projecto de família, outros

procuram soluções fora de Portalegre e continuamos a enfraquecer

e a desaparecer. E quem tem a culpa disto? O desemprego cria

mais encargos para o estado e mais problemas sociais e tudo isto

podia ser evitado se Sócrates tivesse políticas sérias para as pessoas

e não para os grandes interesses económicos.

A Banca continua a beneficiar de grandes privilégios fiscais com

fugas de capitais para offshore, uma taxa de IRC privilegiada e a

abusar dos seus funcionários e dos seus clientes e o que lhes

acontece? Eu digo-vos – Têm milhões de lucros! E Sócrates mexe

com estes grupos de terrorismo económico? Claro que não, é mais

fácil carregar em cima do Zé-povinho que é pacífico e encolhe os

ombros recordando que foi sempre assim, habituados a pedir por

favor aquilo que é seu. Tudo isto, um dia pode mudar, mas isso

requer uma revolução de mentalidades. É altura de se perceber que

Sócrates não é de confiança, que engana os portugueses! Até

quando?

Para terminar, recordo o meu endereço de e-mail:

[email protected]

E agora, não se esqueçam, desabafem, também, que faz bem…

E até à próxima crónica!

Page 40: Cronicas desabafos rp_i

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12 – Crónica / Grandes Superfícies (15-04-2010)

Caros ouvintes, a instalação de uma grande superfície, origina

transformações sociais significativas. Portalegre, à imagem de

outras cidades, foi também invadida por este novo estilo de vida e

de mercado. O Comércio tradicional e a vida dos portalegrenses

sofreram as inevitáveis alterações.

Podemos considerar positivas, na óptica do consumidor, quando

podem significar acesso, ainda que temporário, a preços mais

baixos, horários alargados ou maior variedade de passatempos num

espaço físico concentrado.

Mas, também temos transformações negativas na óptica dos

pequenos comerciantes, porque, acelera o enfraquecimento das

pequenas lojas, do mercado dito tradicional e com isso aumenta o

número de falências e empobrecimento de um sector que abrange

muitas pessoas já em dificuldades. A par deste problema, regista-se

a desertificação dos centros históricos, o facto do lucro destes

espaços não ser investido na região e a ameaça sempre presente da

deslocalização.

Aparentemente induzirá aumento de emprego, o que é quase

sempre contrariado pelo desemprego que advém das falências dos

pequenos comerciantes. Quase sempre o emprego criado é muito

instável e mal remunerado. Sujeitos ao desemprego, os

trabalhadores aceitam, “antes estes que nenhum”. Mas, já todos se

vão apercebendo das condições precárias destes postos de trabalho

onde as já pobres leis do trabalho não têm efeito.

Page 41: Cronicas desabafos rp_i

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Em qualquer um destes aspectos citados, o poder local pode ter um

papel de pressão sobre o investidor. Em primeiro lugar porque é a

Câmara que tem sempre a palavra final sobre a licença de

utilização, em segundo lugar, porque os representantes dos

cidadãos têm uma palavra a dizer em sua defesa. Por exemplo, se

uma superfície comercial no contrato se comprometeu com noventa

trabalhadores, não pode estar a funcionar com metade. E é o que

acontece com toda a impunidade.

Mas há outros aspectos interessantes, as grandes superfícies estão

a verticalizar a cadeia de distribuição de produtos. Cada vez é mais

difícil aos pequenos produtores terem acesso à distribuição dos seus

produtos. As compras das grandes superfícies, em geral,

condicionam os preços ao produtor em baixa e pagam a este só

depois de receberem a revenda dos produtos. O que, por vezes,

induz condições de empobrecimento em sectores já em dificuldades,

como é o caso da agricultura. Os nossos governantes nada fazem

para reparar este problema.

As grandes superfícies promovem o consumo padronizado. A roupa

é toda daquelas mesmas marcas que existem numa outra qualquer

superfície do país, o que faz por vezes diminuir a diversidade aos

consumidores; por exemplo os alfaiates e costureiras entraram em

crise e começamos a comprar roupa feita por mão-de-obra barata,

explorada, e até produzida em condições de escravatura. A comida

das grandes superfícies é tendencialmente de “plástico”, o que

tende a aumentar problemas como a obesidade e a má nutrição e

Page 42: Cronicas desabafos rp_i

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um peso acrescido para o sistema nacional de saúde. Mais de

metade da população é obesa.

Acontece também, que as pessoas estão a trocar os passeios e

momentos de lazer, por passeios nos Centros Comerciais. Não se

apercebem de que trocam o descanso e o convívio, pela estadia

num local que apesar de parecer atraente é ruidoso e de ar

saturado. Com isto, estão a contribuir para fazer crescer os números

de uma calamidade que conhecemos por Stress. Dados muito

recentes, demonstram que em alguns locais, chega-se a ter 100

decibéis de ruído. Outros dados indicam que o número de roubos

tem aumentado e, sabe-se, que este número é mais significativo

nos clientes e não nos funcionários. No entanto, são estes que

vivem constantemente sob vigilância e até são condicionados

quando passam de funcionários a clientes.

Agora, pensem naqueles que trabalham nesses locais, a maior parte

de forma muito precária e sem direitos. E agora a abertura aos

Domingos à tarde? Dá mais postos de trabalho? Os funcionários

recebem mais? Claro que não, e nós sem querer estamos a apoiar

este tipo de exploração porque preferimos, antes, ir para o Centro

Comercial do que ir passear ou conviver para os locais próprios e

mais saudáveis.

Para terminar, recordo o meu endereço de e-mail:

[email protected].

E agora, não se esqueçam, desabafem, também, que faz bem…

E até ao próximo desabafo!

Page 43: Cronicas desabafos rp_i

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13 – Crónica / 25 de Abril (22-04-2010)

Caros ouvintes, a minha geração é posterior à Revolução do 25 de

Abril, mas não tenho dúvidas do que foi e porque razão, Portugal

teve de acabar com uma ditadura que nos deixava cada vez mais

atrasados e isolados do resto do mundo. Muitos, e em especial os

mais velhos porque viveram outros tempos com características

diferentes, associam a violência, a falta de educação e a

toxicodependência ao 25 de Abril. É errado, pois estes problemas

sociais também apareceram em outros países onde não aconteceu o

25 de Abril. Tudo resulta, da evolução das sociedades que

acarretam sempre os seus custos negativos. Muitos, ainda, vêem

Salazar como um homem que impunha o respeito, porém, caros

ouvintes, o respeito não se impõe, conquista-se. Não é por acaso

que Fernando Pessoa classificou o ditador Salazar como fazendo

parte do «rol de políticos cínicos e medíocres».

O 25 de Abril permitiu aos portugueses fazerem as suas escolhas,

evoluir, crescer e acima de tudo garantir a justiça, educação e

saúde. Hoje percebe-se que existe um retrocesso e o estado social

está em risco. Os governos pós 25 de Abril, aos poucos foram

cedendo aos grandes grupos económicos e hoje temos um país

endividado e praticamente entregue a esses grupos económicos.

Então o que falhou? Em todos os países, os períodos pós

revolucionários são sempre conturbados e levam algum tempo a

estabilizarem. No entanto, quando começaram a existir condições

para tal, começou o descalabro provocado pelos oportunistas, todos

eles apoiados nos partidos que governaram.

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Quando Cavaco Silva governou, perdemos uma grande

oportunidade de evoluirmos. Relatórios da OCDE indicam que um

dos problemas da frágil situação de Portugal deve-se à falta de

aproveitamento dos fundos europeus e o primeiro descalabro

aconteceu porque Cavaco Silva não soube gerir, nem impor regras.

Muitas pessoas ainda se devem lembrar dos famosos jipes no lugar

de tractores, rebanhos fantasma e outras vigarices. Pois é, hoje

pagamos isso e os governos seguintes alinharam pelo mesmo

diapasão. Além disso, também, temos o caso de muitos fundos que

não foram sequer aplicados por falta de eficiência, e isto deve-se ao

facto de que os cargos são entregues a “boys” e não a pessoas

competentes, é um bom exemplo recente o ex - administrador da

PT indicado pelo governo – Rui Pedro Soares que em 2009 ainda

arrecadou de prémio, milhão e meio de euros. Esses relatórios,

também, indicam outro problema de Portugal, a corrupção, e hoje

vemos antigos governantes do PSD, CDS e PS embrulhados numa

teia de trapalhadas que só vão sendo abafadas porque estamos a

regressar ao tempo da outra senhora. Veja-se este pequeno

exemplo, O projecto Magalhães – “E-Escolinhas”, custou 80 milhões

de euros e existiram procedimentos que não foram correctos, até

apontados pela União Europeia e o que acontece? O PS e PSD não

colaboram no apuramento da verdade.

Eu e os meus amigos olhamos para este país com preocupação,

depois de saqueado pelos oportunistas o que vamos ter? Custos

mais caros com a Educação, saúde refém da indústria farmacêutica

e clínicas privadas, emprego precário e mal pago e com o

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desemprego sempre na mira. Não foi para isto que homens e

mulheres tanto lutaram pelo fim da ditadura.

É notório o falhanço destes governos, as apostas foram erradas e a

melhor homenagem que podemos fazer ao 25 de Abril é lutarmos

por uma mudança e acabar com o escândalo de Portugal estar no

topo das desigualdades.

No dia 25 de Abril, lembrem-se que esta data também representa a

mudança e é prova de que o futuro está sempre na nossa mão.

Para terminar, recordo o meu endereço [email protected],

E agora, não se esqueçam, desabafem, também, que faz bem…

E até à próxima crónica!

Page 46: Cronicas desabafos rp_i

45

14 – Crónica / 1º de Maio (29-04-2010)

Caros ouvintes, aproxima-se o 1º de Maio, o dia do trabalhador e

muitos ignoram a origem deste dia. Para a história ficou o 1º de

Maio de 1886, uma manifestação operária com mais de um milhão

de trabalhadores, através de uma greve geral em Chicago que

terminou com mortes e detenções. Três anos depois nascia o Dia do

Trabalhador.

Durante a ditadura, o 1º de Maio não era comemorado em Portugal

como acontecia nos países evoluídos e livres. Foi preciso o 25 de

Abril para se poder voltar a festejar o dia do trabalhador sem se ser

preso. Foi no séc. XIX e princípio do séc. XX que a luta dos

trabalhadores conseguiu as primeiras grandes conquistas como a

subida de salários, a diminuição dos horários de trabalho e a

melhoria das condições de trabalho. Hoje assiste-se a uma inversão

e a um regresso ao séc. XIX. A falta de sensibilidade e de vergonha

destes governos mostram bem que estão curvados perante o

capitalismo insaciável e desumano.

Agora, reduz-se salários em nome da crise quando se sabe que essa

medida só a aumenta, por falta de poder de compra. Este processo

extravasou com a lei 99/2003 de Bagão Félix. Este governante, quis

convencer que a sua nova lei iria atrair muitas empresas e dinamizar

o crescimento económico. Tal teoria foi logo desmentida pelos

efeitos antagónicos, evidenciados desde 2004 até 2008, sem o

cenário da crise mundial. O que de facto sucedeu foi a conversão ao

emprego do terceiro mundo e uma derrocada no sistema social

português, contribuindo para o aumento das desigualdades sociais.

Page 47: Cronicas desabafos rp_i

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Na realidade foram criadas condições para fomentar a baixa

produtividade, resultante da insatisfação provocada pelo trabalho

sem direitos, sem limites e sem protecção. Vieira da Silva, que

criticou Bagão Félix agravou com a lei 7/2009, fazendo o que o seu

antecessor de direita não teve coragem de fazer.

O vazio da lei e a falta de capacidade das autoridades, ACT, para

fiscalizar e fazer cumprir uma lei que oferece várias interpretações

ao desejo da entidade patronal, deixam os trabalhadores entregues

aos caprichos e desígnios de quem já não compra mão-de-obra,

mas faz desta um artigo seu impondo as regras e o preço.

A flexibilização dos horários de trabalho acabou, não só com as

horas extraordinárias como passou a permitir à entidade patronal,

dispor e abusar sempre que quiser, onde o banco de horas ainda

consegue ser o mal menor e a família é relegada para segundo

plano.

Igualmente, na representatividade dos trabalhadores a nossa frágil

democracia está pobre. A demagogia de Bagão Félix e Vieira da

Silva estão carregadas de hipocrisia numa tentativa de flexi-

segurança, à portuguesa. Estamos a assistir ao engordar da

corrupção laboral, do trabalho precário e da desumanização das

condições de trabalho. Temos uma sobre protecção ao sector

privado e em contrapartida o assassinato dos direitos colectivos. E

quando o despedimento for na hora, tipo "simplex", qual vai ser o

trabalhador que vai denunciar a entidade patronal? Sabendo de

antemão que a protecção judicial e social são limitadas ou

inexistentes? Violando as indicações da OIT, Organização

Page 48: Cronicas desabafos rp_i

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Internacional do Trabalho, o governo Sócrates insiste no seu

exercício musculado de hipocrisia, enquanto as empresas vão

asfixiando os trabalhadores e recorrendo às empresas de trabalho

temporário. Estas são defendidas por Vitalino Canas que não

consegue ou não quer ver o que se passa nesta dupla exploração.

Por outro lado temos os “jobs for the boys” e salários de gestores e

administradores acima do nível europeu, contrastando com os

baixos salários.

Uma última palavra para os sindicatos. Muito se fala sobre o

sindicalismo, esquecendo que são os sindicatos quem tem a

obrigação de defender os trabalhadores. Devem ter esse ponto em

conta, isentos de interesses particulares e políticos. Sem bons

sindicatos nunca chegaremos ao nível dos países mais

desenvolvidos onde os mesmos são fortes, como acontece na

Alemanha. Mas, os trabalhadores, também, têm a sua

responsabilidade, há que escolher bem o sindicato e exigir dele,

competência.

Defender e festejar o dia do trabalhador é prestar homenagem

àqueles que ganham o pão de uma forma honesta. Apelo para que

todos quantos nos ouvem, sigam o exemplo de milhares de

trabalhadores que em todo o mundo, independentemente da sua

ideologia política, participam nas manifestações de comemoração

deste dia, eu próprio não deixarei de o fazer!

Para terminar, recordo o meu endereço de e-mail

[email protected]

Page 49: Cronicas desabafos rp_i

48

E agora, não se esqueçam, desabafem, também, que faz bem…

E até à próxima crónica!

Page 50: Cronicas desabafos rp_i

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15 – Crónica / Mães (06-05-2010)

Caros ouvintes, não posso deixar de referir que passou este

domingo mais um dia da mãe, o qual acontece todos os anos no

primeiro domingo de Maio. Ninguém fica indiferente à palavra

“mãe”, a mãe é a origem, o princípio de tudo, é aquela que dá o

ser, a que traz o filho ao mundo e sofre todas as suas dores, pela

vida fora. A relação umbilical, entre mãe e filho, é sempre

privilegiada e dura para a vida inteira. Parafraseando Fernando

Pessoa, «o melhor do mundo são as crianças», e por isso vos digo,

quem as trás ao mundo merecem a nossa admiração. A primeira

homenagem que quero prestar é à minha mãe. Admiro-a enquanto

mulher e, igualmente, enquanto mãe. Saúdo, ainda, todas as mães,

mas não posso deixar de dar uma palavra especial de carinho para

aquelas mães que por circunstâncias da vida, ficaram sem os filhos,

ou estão privadas dos seus filhos. Muitas, por problemas vários, até

de saúde, vêem-se na contingência de deixar os filhos nos

Internatos e, decerto, o seu amor por eles não está em causa.

Ao longo da história da humanidade, o papel das mães, também,

tem sofrido alterações. Com a emancipação da mulher e as

transformações sociais e económicas, esta tomou parte na vida

activa da sociedade, o que provocou alterações profundas nas vidas

das famílias. Para as mães que trabalham por turnos, a prestação

na vida familiar já não é a desejável. Com a flexibilização dos

horários de trabalho a situação agravou-se, dado que impede

muitas mães de ter uma vida familiar estabilizada. Eu já abordei

esse assunto e a propósito deste tema quero aqui afirmar que

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Bagão Félix e Vieira da Silva, através do Código do Trabalho,

contribuíram para a destruição da harmonia familiar. Com a

precariedade no mundo do trabalho, são as mães as mais

penalizadas. Começa logo na gravidez onde muitas até são

despedidas. Os baixos salários obrigam muitas mães de famílias

monoparentais a grandes sacrifícios para criar os seus filhos. Como

é que estes governantes, que incham de hipocrisia, querem falar de

família? Muitas empresas porque não são obrigadas a isso, pagam

salários mais baixos às mulheres e uma mãe com três filhos não

tem distinção na declaração de IRS, de uma mãe com um filho

apenas. E ainda falam da baixa natalidade…

Os Infantários, Jardins de Infância, Atl’s, que durante o dia

substituem as mães trabalhadoras, já tiveram melhores dias. Em

Portalegre escasseiam as soluções e as mães vivem sempre na

angústia de saber onde colocar as suas crianças e a oferta /

qualidade começam a preocupar. O Infantário de S. Lourenço,

pertencente à Segurança Social, já foi uma referência. Está, agora

num processo de transformação que passa pelo interesse

económico e não pelo interesse das crianças. Esta cultura do

negócio, da privatização agora parcial, é o princípio do descalabro

de um estado de direito. Os responsáveis assobiam para o lado e os

pais vão encolhendo os ombros. Teimo em afirmar que o estado

relega para segundo plano o superior interesse das nossas crianças.

Também não posso esquecer as mães que são vítimas de violência

doméstica e que têm de se esconder, bem como, os filhos como se

Page 52: Cronicas desabafos rp_i

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fossem criminosas, tudo porque os governos não têm tido coragem

de tomar medidas que as protejam verdadeiramente.

Vários foram os escritores e músicos que dedicaram as suas obras

às mães. Mas, as melhores homenagens que podemos fazer às

nossas mães, é respeitá-las enquanto mulheres.

Em criança, pela mão da minha mãe entrava no antigo parque

infantil da Corredoura e de fronte estava uma bela quadra alusiva à

mãe numa Pedra de Xisto que infelizmente desapareceu. Na falta

desta e porque este ano é dedicado a José Régio, termino com uma

linda quadra desse ilustre professor que escrevia, pintava e

coleccionava arte: A quadra versa assim:

P’ra que o dia fosse enorme

Bastava

Toda a ternura que olhava

Nos olhos de minha Mãe…

Page 53: Cronicas desabafos rp_i

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16 – Crónica / Modelo Político (13-05-2010)

Caros ouvintes, fazendo uma análise sobre as políticas europeias e

perante os actuais resultados, importa, questionarmos o modelo

político actual. A Europa, dos valores sociais, da democracia e da

cultura, está encaixada no mundo globalizado em que os grandes

impérios, americano e chinês dominam. Estão em perigo os valores

sociais para poder competir com esses impérios, cujos mercados

agressivos assentam no capitalismo puro e duro como modelo e

desta forma a Europa é arrastada por uma crise que não é, só

financeira, mas também de valores. Paradoxalmente, mas pela via

do populismo, a extrema-direita, semeando o ódio social, tira

dividendos e consegue crescer neste cenário crítico. A Europa Social

Democrata, com os Partidos (ditos) Socialistas também convertidos,

começa a perder o controlo da situação, onde o tratado de Lisboa

não passa de um inútil exercício de ambiguidades. Nunca foi tão

oportuno, nem tão necessário, transmitir às populações que o

capitalismo gera desigualdades e injustiças; Que, para sobreviver

usa a ganância, a exploração e a sua ferocidade para atingir os fins.

Também, é importante que as populações percebam, que existem

outras alternativas, e que, essas alternativas, por razões óbvias são

combatidas com todos os meios de que as elites dispõem. Chamar a

atenção para as realidades políticas, é talvez o maior exercício que

se impõe e isso implica um discurso distinto e uma postura

pragmática. É necessário um modelo político que seja entendido

como credível e exequível. Os modelos não capitalistas não são

tidos em conta como governativos, dada a conjectura em que nos

Page 54: Cronicas desabafos rp_i

53

situamos. E o pior, é que a falta de preparação das populações para

estas realidades, leva a que tudo isto pareça um novelo entrelaçado.

Estamos perante uma ofensiva de terrorismo social. Este terrorismo

atinge cirurgicamente o emprego e quem detém o poder, sabe da

importância e o papel que o trabalho representa na sociedade.

Ninguém sobrevive sem uma fonte de rendimento ou no mínimo,

apoio social. Em ambos os casos os governos neoliberais atacam

sem piedade semeando o terror social. Desta forma, tem crescido o

sucesso das empresas de trabalho temporário, permitindo aos

patrões “escravizar” os trabalhadores e inibir muitos dos que

querem simplesmente lutar pelos seus direitos.

Não foi surpresa nenhuma, assistir ao fracasso das medidas de

combate à crise. Aqueles que a provocaram estão agora a preparar

a segunda ofensiva. Os governos e a União Europeia, subjugados à

Banca Internacional cuidaram dos banqueiros sacrificando o

dinheiro dos contribuintes, e agora é o segundo assalto comandado

pelas agências de rating. Estas, considerando as dez mais

importantes, lucraram no ano da crise, em 2009, 18 mil milhões de

euros. O momento actual é decisivo e temos de confrontar os

defensores do capitalismo e responsabilizá-los pelos falhanços

económicos e sociais. Neste “assalto”, disfarçado de crise onde a

Grécia com os empréstimos que vai obter, uma parte, 17 mil

milhões de euros vão direitinhos para a Banca. Então, qual foi o

resultado das medidas contra a crise? Tratou-se de mais uma

mentira de Obama, Angela Merkel, Barroso, Sócrates e companhia

quando garantiam o fim dos paraísos fiscais. Agora, o Governo

Page 55: Cronicas desabafos rp_i

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Sócrates prepara-se para provocar um novo assalto ao contribuinte.

Teixeira dos Santos confirmou isso mesmo com o I.V.A. e não se

admirem, se, a seguir, o governo queira cortar no subsídio de natal.

No entanto o governo deixa fugir 18 mil milhões de euros para

offshore e perdoa os fabulosos bónus dos gestores.

Entretanto, esta crise serve para alguns que se aproveitam e a

outros que já esconderam as suas fortunas colossais. Enquanto isso

a América, desorientada, tenta segurar o jogo económico numa

altura em que a China se torna a segunda potência mundial e a

Índia começa a incomodar. Por tabela, são os europeus que estão a

pagar e muito por culpa de não termos uma Comissão Europeia

competente. Durão Barroso e a sua equipa continuam a revelar falta

de capacidade e o tratado de Lisboa é um rotundo falhanço.

Resultado, o Euro e a própria Europa estão sob ameaça, refém do

seu próprio modelo neoliberal. Agora, são os europeus e os

portugueses que devem questionar e decidir que modelo político

querem afinal. Ou continuamos a ser enganados…

Para terminar, recordo o meu endereço de e-mail:

[email protected]

E agora, não se esqueçam, desabafem, também, que faz bem…

E até à próxima crónica!

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55

17 – Crónica / Portalegre (20-05-2010)

Caros ouvintes, começo esta crónica ao jeito de José Régio,

professor irreverente, que não tinha receio de falar, escrever e lutar

contra o que o próprio considerava não estar certo. Régio, sofria de

uma sedução inquietante por Portalegre, como o mesmo, relatou

em carta a Branquinho da Fonseca a 25-4-1942, in Colóquio /

Letras, n.º 79, Maio 1984, pg.45-46.

«Em Portalegre, cidade do Alto Alentejo cercada de serras, ventos,

penhascos, oliveiras e sobreiros», e, também, cercada de barreiras

ao progresso, vive muito boa gente convencida de que tudo corre

bem e de que não vale a pena lutar e exigir atenção para esta

região. Sinto alguma revolta e tristeza, por verificar que estamos

abandonados e sem recursos. Resta-nos o ensino superior, a escola

da GNR e os serviços públicos, também eles, ameaçados.

Com as recentes medidas de agravamento fiscal, todo o país sabe

que vamos ter tempos, ainda, mais difíceis. E, aqui, no interior do

país, como é que ficamos? É evidente que vamos ter o golpe de

misericórdia, as pessoas, o comércio e as empresas vão sofrer o

maior golpe desde o 25 de Abril. Ao contrário do que acontece com

as ilhas, a nossa região não tem qualquer tipo de apoio especial,

muito pelo contrário. Estas medidas do Bloco Central PS/PSD vão

afectar, igualmente, a nossa Câmara que tem um problema

financeiro grave, por resolver e será, ainda mais, asfixiada com

estas medidas. Sem esquecer os erros que levaram a este

descalabro financeiro, é preciso não esquecer que uma Câmara não

sobrevive sem receitas, e que nesta matéria a cidade pouco vai

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tendo, com uma indústria quase inexistente e a que existe deixa de

contribuir como é o caso da Selenis, antiga Finicisa. Para umas

dezenas de trabalhadores da Selenis, este ano, as festas da cidade

vão ter o sabor amargo do despedimento. Vamos esperar pelos

habitantes do concelho, pelos nossos vizinhos espanhóis para dar

alento ao Comércio Tradicional. É inegável que somos as grandes

vítimas da crise com os cortes no investimento que nos separam do

resto do país. Enquanto, que o IC13 fica parado vamos assistir à

construção da terceira travessia do Tejo. Estamos mergulhados

numa crise com mais despedimentos e fome à vista. Permanecem

alguns resistentes que não se conformam e vão remando contra a

maré, nesta cidade e neste país desgovernado.

«Quando não os consegues vencer junta-te a eles». Este provérbio

aplica-se bem à dupla Sócrates e Passos Coelho por motivos

diferentes. Se os motivos são diferentes as políticas na prática são

idênticas, Sócrates, sem maioria tem agora um grande aliado e

Passos Coelho “reclama” para si as medidas de direita. Na prática aí

está o bloco central a funcionar, com a batuta de Cavaco Silva. São

esses dois partidos, os liquidatários deste distrito. Ironias do

destino, pelo Alto Alentejo, foram eleitos dois deputados, um do PS,

outro do PSD. Seria interessante ouvir o deputado do PS que nada

diz e aceitar as desculpas do deputado do PSD que é conivente.

Louvo, aqui, o grupo Pró-Portalegre que anunciou a intenção de

recuperar as festas dos aventais. Se aceitarem a sugestão que dei

numa das minhas crónicas anteriores, sejam audazes e promovam

esta festa a nível nacional.

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E, como Tristezas não pagam dívidas, desejo a todos e a todas

umas boas festas da cidade. Apareçam!

Para terminar, recordo o meu endereço de e-mail:

[email protected]

E agora, não se esqueçam, desabafem, também, que faz bem…

E até à próxima crónica!

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18 – Crónica / Balanço (27-05-2010)

Caros ouvintes, esta é a minha última crónica, desta edição dos

“Desabafos”. Não posso deixar de fazer um balanço aos momentos

que este programa me proporcionou e de vos transmitir o que

penso sobre a actualidade. Falei-vos dos problemas da educação, da

saúde, dos jovens, dos idosos, dos trabalhadores e dos

desempregados. Dei a minha opinião sobre cultura, economia,

política, comunicação entre outros assuntos. Resumindo, desabafei

o que me ia na alma e estou certo de que alguns concordaram

comigo, outros não, mas o importante foi, debater os assuntos.

Muito mais há para dizer e decerto, outros assuntos também com

importância, tais como, os problemas da nossa interioridade, da

dependência do álcool, do tabaco e outras drogas. Porém, o tempo

das crónicas é limitado e pode parecer que me limitei a criticar,

contudo dei algumas sugestões, teci elogios e seria interessante

poder dizer-vos ainda que é possível um projecto exequível para

esta região que vários governos têm negado. Nós temos muito para

fazer e para oferecer, o nosso único problema é o abandono e o

desprezo a que nos votaram. Por isso não posso deixar de voltar a

reprovar os eleitos locais pela sua inoperância. Os factos estão à

vista, Miranda Calha só apresentou algum trabalho por Portalegre

quando teve como 2º deputado, Ceia da Silva. Agora, sem o Ceia da

Silva a sua participação por este distrito é quase inexistente.

Participei pela primeira vez, activamente, na campanha eleitoral das

legislativas de 2009 na qual fui mandatário pelo Bloco de Esquerda.

Conheço o programa e os projectos do Bloco relativos ao

Page 60: Cronicas desabafos rp_i

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desenvolvimento económico, necessários para este distrito. Do PS e

do PSD, tirando a Barragem do Pisão e as estradas, não se

percebeu mais nada, mas elegeram deputados. Para quê? Falta-lhes

um projecto, ideias credíveis, que se possam concretizar e acima de

tudo vontade dos seus partidos em apostar nesta região como

reconheceu, recentemente, Passos Coelho.

Comentei, várias vezes, o problema da crise financeira dando o meu

parecer e como, infelizmente, este panorama nos vai perseguir nos

próximos anos não quero deixar de mostrar o meu desagrado com a

falta de honestidade política do Governador do Banco de Portugal. O

país que tem a 14ª maior reserva de ouro do mundo e a 7ª da

Europa, cujos governantes e gestores, em especial Victor Constâncio

são pagos acima da média europeia, vem, agora, falar em baixar

salários quando são eles os responsáveis por tanta despesa

excessiva? Não posso deixar de dizer que se estamos assim é

porque tivemos um PS e um PSD que gastaram acima das

possibilidades. Santana Lopes apela a um governo de salvação

nacional e eu até concordo, desde que não contem com os partidos

que conduziram o país a este estado. Vejam só o que acontece em

tempo de crise, o parlamento vai poder gastar mais 7 milhões de

euros em despesas. Na função pública há congelamento de

admissões, mas o mesmo não se passa nos gabinetes dos Ministros.

Mas que belo exemplo! E qualquer dia temos aí a terceira versão do

PEC com mais sacrifícios para os mesmos, enquanto Sócrates e

Passos Coelho dançam o tango da tanga.

Page 61: Cronicas desabafos rp_i

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São estes programas da Rádio que permitem a pluralidade na

comunicação e acima de tudo a possibilidade de transmitir várias

opiniões e sensibilidades. Este é o verdadeiro espírito da democracia

e o espírito da liberdade. Eu respeito quem não concorda comigo,

que tem opiniões diferentes e vice-versa. A informação, tal como a

cultura são essenciais para o desenvolvimento da sociedade e nunca

podem ser manipuladas ou instrumentalizadas. Vem a propósito,

falar-vos de um profissional da comunicação que recentemente foi

homenageado pelos seus colegas. Amado por uns, odiado por

outros, este profissional tem ao longo dos anos, quer na imprensa

escrita, quer através da rádio, defendido os seus pontos de vista

sempre chamando a atenção para os problemas de Portalegre.

Entre várias causas relembro a sua participação na luta pela

manutenção da Extensão do Centro de Saúde do Atalaião. Falo

como muitos, já, sabem do Sr. João Trindade. Quer se goste ou

não, é uma voz que diz o que pensa, que tem uma opinião vincada

e que, como tal deve ser respeitada. Envio-lhe, daqui, os meus mais

sinceros parabéns parafraseando Charles Evans Hughes (político

americano), “quando perdemos o direito de ser diferentes,

perdemos o privilégio de ser livres”.

Não posso deixar de agradecer à Rádio Portalegre pela

oportunidade que me deu e a todas e todos quantos contribuíram

de várias formas, quer para o meu e-mail, quer, inclusivamente,

com contributos pessoais. O meu muito obrigado pelas sugestões,

críticas e apoio. Fica aqui, também, um cumprimento, muito

especial, aos funcionários da Rádio Portalegre pela sua simpatia e

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profissionalismo. Finalmente, quero saudar todos os ouvintes para

os quais foi um prazer contribuir com as minhas opiniões.

A todos, um até sempre.

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19 – Crónica / Acessibilidades (05-10-2010)

Caros ouvintes, é para mim, um enorme privilégio voltar a poder

desabafar convosco. Desta vez, quero manifestar a minha tristeza

por continuar a constatar o desprezo que os governantes têm por

Portalegre. Agora, encontro-me a estudar em Castelo Branco e ao

falar com outros colegas, vindos de outras terras, constato que

mesmo sendo de mais perto, sou o que tenho mais dificuldades em

chegar a Castelo Branco. Muitos deles usam o comboio, mais rápido,

mais barato e mais seguro. Eu estou limitado a duas carreiras de

expresso durante a semana e ao fim de semana só tenho uma. Pior

é saber que se for de carro com outros portalegrenses que,

também, estudam em Castelo Branco, vou estar sujeito às

portagens na A23, já a partir de Abril do próximo ano e o

combustível mais caro com a subida do IVA. A nossa ligação à A23

está longe de ser a que outras cidades têm às vias rápidas. A nossa

ferrovia foi abandonada e querem que paguemos portagens na A23.

Enquanto potencial utilizador, assisto estupefacto à nova central de

camionagem que não passa de uma paragem de autocarro

avantajada com acessos complicados. É desolador, mas mais uma

vez complica-se o que era fácil e hipoteca-se a possibilidade de

termos uma central de transportes a sério. "A promoção da indústria

local", "a atracção de mais fábricas" e o aumento da zona industrial

que mais parece comercial, não fosse a existência da Hutchinson,

são prioridades para o desenvolvimento. Segundo o Presidente da

Câmara, a grande prioridade para a zona industrial seriam as

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63

empresas tradicionais, que este designou por "investimentos

estratégicos", entre as quais destacou as "agro-indústrias". O

Projecto Lei do Bloco de Esquerda (N.º 311/XI Assembleia da

República, 11 de Junho de 2010), que consiste na criação do banco

público de terras agrícolas para arrendamento rural, foi

recentemente apresentado pelo BE e chumbado pelo governo. Este

projecto, daria decerto a hipótese de ressuscitar a área da produção

agrícola e as unidades agro-alimentares destruídas por sucessivos

governos incompetentes. O que a cidade e a zona industrial

precisam é de melhores acessos e, desculpem a minha insistência, a

via-férrea tem de chegar a Portalegre; este foi o investimento que

sempre faltou e atirou a cidade para o buraco em que está. O

contraste entre Portalegre e Castelo Branco é enorme. A beleza de

Portalegre não chega para colmatar a falta que nos faz uma A23 e

um comboio à porta, e isto faz toda a diferença. O anúncio recente

de uma auto-estrada para Portalegre, feito pelo Secretário de

Estado em Castelo de Vide, não nos deixa descansados, pois

sabemos que não passa de mais propaganda. Nem a conclusão do

IC13 o governo é capaz de garantir, quanto mais a auto-estrada. É

importante, que o próximo orçamento de estado, que se prevê

anoréctico e suicida, não seja mais uma vez tão penalizador para

este distrito. Se tem que haver cortes, que os façam para todos,

pois também aqui, são os mais desprotegidos que pagam mais com

a factura da crise. Estamos a pagar a economia da ganância que se

torna na economia do medo, o medo de investir e o medo de perder

o emprego.

Page 65: Cronicas desabafos rp_i

64

Não posso deixar de comentar a recente novela do orçamento de

estado onde se percebeu que Passos Coelho fez o papel de moço de

recados e agora depois de se entender com Sócrates, vai, sem ser

às escondidas, viabilizar o Orçamento de Estado. Este orçamento é

o mais violento ataque de que há memória às pessoas, às

instituições e à economia. Existem outras soluções como taxar as

transferências para offshore, as mais-valias, as grandes fortunas, tal

como se faz em países desenvolvidos. Temos a certeza de que vem

aí mais crise e mais recessão porque os governantes não tomam

medidas sérias, justas e corajosas como defende o Nobel da

economia Paul Krugman.

Para terminar, quero deixar aqui uma palavra sobre a República que

hoje comemora cem anos. No lugar de um representante por

descendência monárquica temos, desde há um século, um

representante democraticamente eleito pelo povo, e que

brevemente irá a votos. Espero que o próximo presidente faça algo

em defesa dos mais desfavorecidos e condene estas políticas

injustas e incompetentes. Este mandato de Cavaco Silva, não

representa bem a república e não apaga a má imagem que este

deixou como primeiro-ministro, que lhe valeu o apelido de o pai do

“monstro” da despesa pública. Hoje pagamos caro, os seus erros e

Cavaco Silva insiste em apoiar políticas gémeas às suas que

conduzem esta república para uma crise sem precedentes.

Enquanto Primeiro-Ministro, recebemos verbas para melhorar as

acessibilidades. O ex-ministro de Cavaco Silva, Mira Amaral que até

dá o nome a uma avenida em Portalegre, esqueceu-se da nossa

Page 66: Cronicas desabafos rp_i

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cidade. Precisamos de acessos que nos tirem do interior esquecido

atraindo mais gente a esta terra, por exemplo, mais estudantes para

o nosso Politécnico. E já agora, fica o meu desabafo: tive de ir

estudar para Castelo Branco porque a Escola Superior de Saúde

continua apenas a ter Enfermagem e o novo curso de Higiene Oral.

Esta escola não pode ter mais cursos a funcionar porque é muito

pequena, teriam de construir uma nova escola ou ampliar a que

existe, não se investe, e os filhos da terra têm que partir. Estou

certo de que os meus amigos vão provavelmente imigrar para outra

terra, mas gostaria de vir a sonhar um dia, que iriam apostar e

ajudar a desenvolver a terra que os viu nascer.

Recordo o meu endereço de e-mail para quem queira colocar

questões, ou sugestões às minhas crónicas. O meu endereço é:

[email protected] , e AGORA, NÃO SE ESQUEÇAM,

DESABAFEM, TAMBÉM, QUE FAZ BEM…

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20 – Crónica / Projectos Vida (12-10-2010)

Caros ouvintes, o desenvolvimento, o sucesso e o futuro de um país

assentam na Educação. Infelizmente, as apostas neste sector têm

sido desastrosas, a começar pelo fracasso dos cursos de Formação

financiados pela União Europeia, que na maior parte dos casos

funcionaram para alguns senhores poderosos e ou oportunistas

ganharem muito dinheiro em proveito próprio e não para o

desenvolvimento profissional dos jovens deste país. Actualmente, as

novas oportunidades, são mais oportunidades perdidas, mas, mais

grave é o que se passa no ensino superior com cursos muitos deles

sem interesse e fraca procura no mundo laboral, no entanto com

notas de acesso baixas. Hoje ser estudante no ensino dito superior

significa ter de contar com cerca de 1000€ para propinas, tirar um

curso à pressão, uma “receita bolonhesa”, faltando depois tempo

para outras actividades académicas. Os apoios sociais para os

estudantes diminuem e aceder a eles é uma corrida contra o tempo.

No âmbito das comemorações do centenário da República foram

Inauguradas 100 escolas. Este anúncio foi feito como se de algo

grandioso se tratasse. E até pode ser, pois aqui, foram aproveitados

os fundos da União Europeia e as escolas com condições são

essenciais para o desenvolvimento do país. Contudo, estas

inaugurações contrastam com o fecho de 700 escolas. Isto

representou acima de tudo, mais desemprego e crianças a estudar

longe de casa. Acresce também a falta de pessoal auxiliar, a

vergonhosa contratação barata e a mobilidade de pessoal nos

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agrupamentos, que todos começamos a perceber agora a

verdadeira intenção.

Trabalha-se para as estatísticas e entretanto, as Escolas foram

despojadas do espírito democrático. A figura do Director, predomina

em todos os órgãos de gestão, e o Estatuto da Carreira Docente

deixa as decisões para o órgão directivo. Resumindo, quem é da cor

come, quem não é, não come. E dado que o estatuto da carreira

docente retirou limites e direitos, à semelhança do Código do

Trabalho, hoje é possível atribuir mais que quatro níveis a um

professor, sacrificando-o e pondo em risco o bom desempenho do

ensino. Isto associado ao número de alunos por turma, o resultado,

sendo assim só pode ser mau. A desorientação é evidente e para

trás ficam as Associações de Estudantes e a possibilidade dos pais

participarem na vida da escola com os seus horários agora

flexibilizados pelo código do trabalho.

Agora, associemos isto tudo ao desemprego e a uma economia

estagnada. E pergunto: - O que podem esperar os jovens deste

país? Quais são as saídas que temos? O que quer dizer Cavaco Silva

com jovens empreendedores se tudo isto é uma falácia? Num país

com tantas dificuldades e pobreza, mas recordista em

desigualdades, muitos jovens vêem-se logo impedidos de sonhar

mais alto pois somos aqueles que na zona euro mais pagam pela

educação. Assim, é difícil pensar num projecto de vida!

Para terminar, não posso deixar de aplaudir o facto da UGT se

juntar à CGTP na greve geral do dia 24 de Novembro, contra as

novas medidas de austeridade anunciadas pelo Governo.

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Recordo o meu endereço de e-mail para quem queira colocar

questões, ou sugestões às minhas crónicas. O meu endereço é:

[email protected]

E AGORA, NÃO SE ESQUEÇAM, DESABAFEM, TAMBÉM, QUE FAZ

BEM…

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21 – Crónica / Literatura (19-10-2010)

Caros ouvintes, neste distrito, onde Régio viveu e escreveu grande

parte da sua obra, nasceram pessoas com uma forte ligação à

literatura. O Professor Catedrático, António Ventura é o responsável

por várias obras que vão desde a monarquia à implantação da

República, passando, pela história da Maçonaria no distrito de

Portalegre. Este homem é uma referência a nível nacional e foi

eleito como Académico de Número da Academia Portuguesa de

História. Recentemente, assistimos à atribuição do “Grande prémio

do romance e novela, da Associação Portuguesa de Escritores” a Rui

Cardoso Martins com o seu segundo romance, “Deixem passar o

homem invisível”. Igualmente, José Luís Peixoto, das Galveias,

editou mais uma obra com o título, “Livro”. Devo dizer-vos que tive

o prazer de conhecer, pessoalmente, o José Luís Peixoto. As obras

destes filhos da terra estão editadas em várias línguas. Tanto um

quanto outro já ganharam vários prémios e galardões e no caso do

José Luís Peixoto recebeu, entre outros, o Prémio Saramago em

2001. Por sinal, os dois escritores privaram bastante e tinham um

relacionamento de amizade bastante salutar.

Saramago foi sem dúvida a maior referência dos últimos tempos,

amado por uns, odiado por outros, deixou assinalada a nossa

literatura ao ter sido nomeado com o Nobel. Também não se

consegue falar de Saramago sem evitar a má memória das atitudes

do Ministro da Cultura do governo de Cavaco Silva e até a sua falta

de sentido de estado, no funeral de Saramago. Cavaco Silva, prefere

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70

nunca comentar, mas quanto à sua presença física não é possível

disfarçar e vem ao de cima toda a verdade que se branqueou para o

eleger como Presidente. Refiro-me, por exemplo, a comentadores

como Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros, que depois do

fracasso de Cavaco enquanto Primeiro-Ministro trabalharam, para

limpar a sua imagem e conduzi-lo a Presidente. A leitura é

fundamental, pois é através dela que nos vamos instruído e fruindo

o saber, não correndo riscos de ter um curso superior e ser um

mero tecnocrata como Cavaco Silva. Foi por isso, que ele e o seu

ex-ministro Sousa Lara revelaram toda a sua mediocridade, que veio

novamente à tona no funeral de Saramago.

Da mesma forma, em Portalegre, o executivo Camarário de Mata

Cáceres não percebeu que foi uma afronta para quem defende os

nossos valores, ter destruído o banco de homenagem a José Duro.

Agora, lá foi reposto o tributo, numa imitação barata. Ao invés deu-

se um grande destaque à estátua de D. João III, os “seis metros de

horrores” como lhe chamou Rui Martins no seu primeiro romance,

“E se eu gostasse muito de morrer”. Esta obra, muito frontal, acaba

por ser um retrato crítico do Rui em relação a Portalegre. Ora,

crítica não significa que não se gosta de Portalegre nem dos

portalegrenses, antes pelo contrário. Também eu, ao fazer aqui os

meus comentários, os faço para chamar a atenção do que, na minha

opinião está errado, e do que gostaria de ver mudado.

Recentemente, Portalegre teve a oportunidade de contar com a

presença de Rui Martins e Alexandre Afonso, no CAEP, sob o lema:

“À conversa com os meus botões”, iniciativa, lamentavelmente,

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pouco divulgada, sobressaindo a ausência dos estudantes de

Jornalismo desta cidade. Alexandre Afonso, é outro jornalista de

sucesso da nossa cidade, que trabalhou na Rádio Portalegre e que

agora evidencia o seu profissionalismo na Antena 1. É importante

que os jovens percebam que se apostarem com força no que fazem,

podem chegar longe, como as pessoas que mencionei nesta crónica.

É fundamental que não se deixe de investir em Portalegre e nas

suas gentes. E a propósito de investimento, o próximo Orçamento

de Estado vai ser mais uma machadada no nosso distrito, a avaliar

pelo assalto que vão fazer aos portugueses e à miséria em que

estão a deixar o país.

Para terminar, quero dar os parabéns pelo convívio da Rádio

Portalegre em Nisa. É importante unir as pessoas e provar que

apesar da crise esta equipa mantém um grande espírito de

fraternidade!

Para quem queira colocar questões, ou sugestões às minhas

crónicas, podem enviar para: [email protected]

E AGORA, NÃO SE ESQUEÇAM, LER TAMBÉM FAZ BEM…

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72

22 – Crónica / Ranking das escolas (26-10-2010)

Caros ouvintes, as recentes notícias da situação do distrito no

Ranking Nacional das Escolas, colocou-nos outra vez no fundo da

tabela. O problema repetiu-se e só me resta dizer que estes

Rankings afinal não servem para nada. Apenas colocam uns contra

os outros no lugar de promover a cooperação. Na minha primeira

crónica eu acusei as escolas de funcionarem por “capelinhas”. Não

me enganei e continuamos a ter um sistema de ensino caduco e

injusto. A escolaridade obrigatória não é gratuita como José

Sócrates quis fazer crer, e a resolução dos problemas não se tratam

com comunicações ao país como fez a Ministra da Educação, não se

livrando de cair no ridículo. Tanta hipocrisia faz com se esqueçam

que o PS foi o único partido que não aprovou a aquisição faseada de

manuais escolares, que dá a curto e médio prazo, redução na

despesa. Mas esta é a imagem de um país que insiste em fazer

reformas contra as pessoas. Os alunos estão em auto-gestão e os

professores à beira de um ataque de nervos lutando contra a falta

de democracia nas escolas, assim como de pessoal auxiliar e

docente.

O Ranking de uma Escola não passa de uma média aritmética obtida

pelos alunos de uma dada escola na execução de um exame. Quer-

se fazer crer, que esta ou aquela escola funciona melhor ou pior, e

que o resultado obtido é o reflexo do trabalho dos professores.

Enquanto os exames vão perdendo níveis de exigência, os

professores são pressionados para dar boas notas. Vale tudo, e em

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vez de tempo para o bom desempenho das funções, os docentes

são sobrecarregados com tarefas burocráticas e no lugar de

trabalharem em equipa, são pressionados a competirem uns com os

outros num ambiente repleto de condicionalismos. Quanto às

escolas, elas já funcionam como capelinhas isoladas, competindo

entre si. Quem perceber o que é o programa Nord Plus dos países

Nórdicos, percebe que se devia promover o contrário. Não é por

acaso que o recente relatório do Conselho Nacional de Educação,

transmite o insucesso de tirarmos o país do atraso em que o antigo

regime nos deixou ao nível da Educação.

Mas não me vou alongar quanto ao sistema de educação, é um

tema com “pano para mangas”, mas sim no propósito que está por

detrás do Ranking. Dadas as desigualdades de circunstâncias em

que se encontram as escolas, professores e alunos, esta

competição, não é mais do que uma ofensiva brutal à escola

pública. Destrói a sua credibilidade e vai abrindo caminho ao

privado. Estas comparações não têm em linha de conta as

características do meio e dos actores sociais. Agora com os cortes

sociais, as desigualdades vão ser abismais e os problemas vão

agravar-se. Vamos pagar estas irresponsabilidades mais tarde.

Muitas famílias vão sentir mais dificuldades já em Novembro com os

cortes dos abonos, enquanto, os ricos cada vez mais ricos, fazem

subir a venda de carros de luxo.

Tenho a dizer que nos países nórdicos tão falados pelo seu modelo

de educação, investe-se a sério, e o sistema educativo nada tem a

ver com o primitivo e irracional sistema português. Na Finlândia não

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existem Rankings das escolas, nem avaliações formais aos

professores… Existe sim, um forte investimento na escola pública.

Por cá, investe-se em bancos falidos e nós vamos pagar essa

factura… Os pais, embalam nesta manobra de hipnotismo, atirando

com as culpas para as escolas e professores, esquecendo-se da sua

responsabilidade de educadores e do sistema de educação. Não

podemos permitir que estes Rankings provoquem uma

estigmatização generalizada, nesta espécie de julgamento público às

escolas. Exige-se outro modelo de ensino, os impostos dos

portugueses, deviam ser bem aplicados numa área tão importante

para o desenvolvimento de um país, a Educação.

O meu endereço para sugestões às minhas crónicas é:

[email protected]

E AGORA, NÃO SE ESQUEÇAM, DESABAFEM, TAMBÉM, QUE FAZ

BEM…

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23 – Crónica / Orçamento de Estado (02-11-2010)

Caros ouvintes, deste Orçamento de Estado dos banqueiros, versão

PS/PSD, tenho duas certezas: Vamos ter mais crise, porque se

continua a apostar em políticas erradas. E mais uma vez, Portalegre,

é a capital de distrito que recebe menos verbas. Este distrito além

de estar abandonado, os representantes locais estão paralisados por

falta de capacidade e os representantes nacionais só nos conhecem

nas eleições.

O OE não vai ser chumbado, pois já se percebeu que Passos Coelho

aceita o aumento de impostos, IRS e IVA. A aprovação acaba por

ser o verdadeiro problema para o país. Com este orçamento vamos

ter recessão económica e mais crise. Os funcionários públicos vão

perder um mês de salário. Os cortes nos apoios sociais, como no

abono de família e desempregados vão aumentar a pobreza. O ano

de 2011, vai ser pior que 2010 e sem melhoras à vista.

Todos reconhecemos a natureza deste distrito onde o

envelhecimento da população é acentuado e a tendência depressiva

é uma realidade. Por isso, vamos sentir da pior forma os cortes na

saúde, estimados em mais ou menos 250 milhões de euros em

medicamentos. Os cidadãos necessitados, vão ter de pagar mais

pelo acesso aos medicamentos e como prémio, ainda são privados

de uma correcta oferta de ambulâncias e de estabelecimentos de

saúde. O que se passa nesta área é só por si um escândalo

nacional, uma vergonha, com consequências trágicas a curto prazo.

Não vai ser preciso muito tempo, para todos perceberem que além

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da incompetência, estamos perante uma enorme responsabilidade.

Muitos medicamentos passaram para o dobro do preço. Resultado,

ou não se tratam ou recorrem a tratamentos mais baratos, mas que

destroem a saúde a outros níveis. O escândalo é tão grande que as

caixas dos medicamentos vão deixar de ter o preço indicado.

Também os médicos, no sistema informático, não têm os preços

actualizados. Pior, há casos em que uma caixa por exemplo de 50

unidades fica mais cara que duas de 30. É o descontrolo total e um

dia vamos pagar bem caro estas irresponsabilidades, porque muitos,

vão ter outros problemas, ou os mesmos agravados. E podem

perguntar, se o estado não tem dinheiro, como fazer? Investir na

prevenção da saúde e em tratamentos adequados, o país mais tarde

vai ganhar com isso. A falta de dinheiro, só se dá, porque se

esbanja onde não é preciso, como os submarinos que não servem

para nada. Assim como, gastar 50 milhões na cimeira da Nato,

incluindo 5 milhões em 6 veículos anti-motim e 134 mil euros num

Mercedes de alta cilindrada. A propósito da Cimeira, esta, tem o

mérito de ter redescoberto o deputado distrital, Miranda Calha em

S. Bento. Como um ser que aparece do além. Veio dizer-nos que a

oposição ainda está no Jurássico dos anos 70, defendendo esta

cimeira e os seus gastos escandalosos. Talvez fosse bom que os

dinossauros dos anos 70 recordassem ao Sr. Deputado os valores

de Abril que ele já considera primitivos. Esquece muito a quem

nunca soube…

Por exemplo em Portugal o montante que o estado enterrou no BPP

e BPN diminuía o défice em 2,7%. A dívida pública é, ainda assim,

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inferior á dívida da banca ou dos privados. Mesmo a nível europeu,

enquanto o défice é de 7% nos EUA é de 11%. Basta as agências

de notação mostrarem desconfiança e os juros sobem. Esta

especulação não é séria e a Comissão Europeia cala-se perante este

atentado.

Este orçamento podia ser outro. O Bloco de Esquerda apresentou 15

medidas que dão mais receita e menos despesa sem afectar a vida

das pessoas, protegendo as empresas e promovendo a economia.

Para quem queira colocar questões, ou sugestões às minhas

crónicas: [email protected]

E AGORA, NÃO SE ESQUEÇAM, DESABAFEM, TAMBÉM, QUE FAZ

BEM…

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24 – Crónica / Dependências (09-11-2010)

Caros ouvintes, segundo um estudo recente de David Nutt,

investigador do Imperial College London, colocou o álcool, ao nível

de outras drogas pesadas e mais prejudicial que as chamadas

drogas leves. Claro, a diferença está, que o álcool e o tabaco são

ambos drogas legais que pagam impostos.

Conhecidas as opções anti-sociais do Orçamento de Estado, vamos

ter mais um resultado desastroso dos cortes orçamentais

irresponsáveis. O Instituto da Droga e Toxicodependência anunciou

o despedimento de 200 funcionários. Isto significa o abandono de

muitos toxicodependentes do tratamento necessário, com todas as

implicações negativas no futuro. Estamos a andar para trás e vamos

bem pagar caro estes erros no futuro.

Menos apoios sociais, desemprego e aumento de pobreza aumenta

a probabilidade de as pessoas caírem na rede do álcool. As bebidas

alcoólicas, fazem parte da vida social da maior parte das pessoas e

a medicina até reconhece as excelentes propriedades do vinho.

Quem está familiarizado com a culinária, até sabe, que se utiliza o

vinho para temperar, e o brandy para dar gosto.

Não podemos ter uma atitude fundamentalista contra o álcool, mas

é importante perceber que o seu consumo descuidado pode levar a

sérios problemas ao nível da toxicodependência. Fazem muita falta

campanhas de informação sérias e apelativas, a começar pelas

escolas. Ao contrário, assistimos à publicidade falaciosa e

tendenciosa nas televisões com efeitos contrários. Além do

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problema que já temos das drogas, também o álcool contribui para

problemas sociais, até ao nível escolar, contribuindo para o mau

aproveitamento e violência nas escolas.

É por isso, que considero o estudo deste investigador muito

importante, e já é altura de se perceber que enquanto não se

tomarem medidas sérias, como já deviam ter sido tomadas com a

despenalização das drogas leves e o respectivo apoio, como se faz

nos países desenvolvidos, nós vamos continuar a ter problemas de

desenvolvimento. Por cá, podemos dar o exemplo e o pontapé de

partida. Somos uma região com problemas reconhecidos a este nível

e eu faço aqui um apelo ao Sr. Governador Civil. Assim como iniciou

a campanha de segurança rodoviária de forma empenhada, que

reúna condições e pessoas para uma campanha de sensibilização

para os problemas do álcool. Considero também importante a

criação de uma Associação de Alcoólicos Anónimos. Sei que já foram

realizadas algumas acções mas considero que é necessária uma

campanha continuada e bem estruturada.

E já agora uma palavrinha em relação ao tabaco. Sei que em

tempos de crise os fumadores são uma boa fonte de receitas para o

ministério de Teixeira dos Santos, mas o Sr. Ministro que recolha

impostos a quem tem muito e não paga e deixem lá o “tabaquinho”.

Conheço de perto o sofrimento que o tabaco pode provocar e não o

desejo a ninguém.

E já sabem, para quem queira colocar questões, ou sugestões às

minhas crónicas. O meu endereço é: [email protected]

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80

Além das críticas e desabafos podem contar com a minha resposta e

a respectiva opinião sincera.

E AGORA, NÃO SE ESQUEÇAM, BEBAM MODERADAMENTE.

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25 – Crónica / Balanço (16-11-2010)

Caros ouvintes, muito se tem falado nos últimos tempos sobre a

crise. Há até quem, já, ache que crise é falar sobre a crise.

Felizmente, a Rádio Portalegre vai resistindo, tendo completado no

passado dia nove, vinte e um anos de emissões regulares. A

«Rádio» e todos os seus profissionais cujo trabalho é inestimável,

pois, dia a dia, levam a casa dos ouvintes uma série de serviços

bastante úteis para todos. Desejamos a continuação deste trabalho

útil, em especial de quem lá trabalha, pois são eles a força desta

rádio. Parabéns a todos vós.

Nas minhas crónicas, já referi a falta de investimento em Portalegre,

nomeadamente, nas acessibilidades. Nas dificuldades dos jovens de

hoje, e nos casos de sucesso na escrita, como António Ventura, Rui

Cardoso Martins, José Luís Peixoto e na Rádio, Alexandre Afonso. Fiz

questão de abordar o Rankings nas escolas e o estado do ensino,

demonstrando como o ministério da educação tem trabalhado mal.

Confesso, que também falei muito sobre a novela do irresponsável

orçamento de estado. Bastante cedo, declarei que o PSD ia viabilizar

o orçamento, mesmo com aumento de impostos. E agora, percebe-

se toda a falácia, quando os mercados financeiros não acalmaram e

subiram os juros. Os bancos portugueses, exigiram cortes de

salários, de abonos de família e aplaudiram o acordo entre o PS e

PSD para o orçamento. Depois, vem o saque ao comprarem dívida

pública nacional com juros de mais de 7%. Ou seja, os bancos

emprestam 350 milhões e vão cobrar 700 milhões de euros. O

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crime, quer dizer, a crise compensa e a imoralidade não tem limites.

Sócrates e Passos Coelho ficam para a história como os intérpretes

do tango da desgraça cuja autoria é da união europeia ao serviço

das instituições financeiras, em especial, as alemãs.

Também na crónica anterior, falei sobre os cuidados a ter com o

álcool e outras dependências e a irresponsabilidade do governo

sobre estas matérias. Espero, que este assunto seja, também,

objecto de interesse para o observatório, recentemente, criado para

discutir a situação económica e social da região. Este, corre o risco

de um dia já não ter nada para discutir e a provar temos as notícias

recentes do fecho da INVICAR, as Insolvências da Selenis e as

dificuldades da CERCI. Depois de tanto apelar ao melhoramento e

desenvolvimento da ferrovia, já se ouvem rumores de que vamos

perder o ramal de Cáceres. Estamos tão no fundo, que creio, já nem

o observatório vai conseguir observar, passo a redundância. E já

agora, compreendam que assinar a petição pela construção da nova

escola da GNR, é o mínimo que podemos fazer para mostrar

interesse pela nossa cidade. Não podemos continuar eternamente

de braços cruzados.

O facto de estar a estudar fora, o escasso tempo e a falta de

garantias de poder vir regularmente a Portalegre, leva-me, com

muita pena minha, a pedir para ser substituído nas crónicas por

alguém da minha confiança. Quando tiver condições para tal,

regressarei a este espaço com muito prazer e sempre que esta

Rádio o entender. Mantenho à mesma, o meu contacto para quem

queira colocar questões, ou sugestões às crónicas,

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[email protected]. Estou convicto de que vão ficar bem

acompanhados pela Maria da Luz Louro. Sempre é mais uma voz

feminina que tanta falta faz, em tanto lugar, apesar da lei da

paridade assim o exigir. Aos profissionais desta Rádio, a minha

profunda admiração e um obrigado pela atenção dos ouvintes, e

VAMOS DESABAFANDO, QUE FAZ BEM…