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Documento Temático-Jardim Zoológico da Maia

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Documento Temático, desenvolvido pela Juventude Socialista da Maia, relativo ao Jardim Zoológico da Maia.

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Jardim Zoológico da Maia

Documento Temático da JS Maia

A defesa dos animais deve, nos nossos dias, ser encarada como uma grande prioridade

da Humanidade. O maior desafio do século XXI é, sem dúvida, permitir que as várias forças

dinâmicas em convivência no nosso planeta atinjam um equilíbrio capaz de potenciar a sua

sustentabilidade.

Actualmente, a fauna mundial sofre, diariamente, agressões variadas. A diminuição

dos ecossistemas naturais, o comércio ilegal de animais silvestres, a caça ilegal, ou o

aumento da poluição em todos os ecossistemas, contribuem para a degradação de várias

populações animais. Considerados inicialmente apenas locais de lazer, gradualmente os

jardins zoológicos foram adquirindo um papel importante nos esforços de conservação e

sensibilização. É a muitos Jardins Zoológicos que é incumbida a árdua missão de garantir a

continuidade das espécies, inclusive de algumas que se encontram em vias de extinção, para

além de constituírem importantes pólos de atracção turística e até de investigação.

Na sequência de algumas notícias publicadas sobre alegadas irregularidades no Jardim

Zoológico da Maia, a Juventude Socialista da Maia decidiu fazer duas visitas a este espaço:

uma primeira visita, informal, a fim de constatarmos aspectos mais logísticos, como habitats,

espaços ou tipo de alojamento; e uma segunda visita, formal, acompanhada pelo responsável

do Jardim Zoológico da Maia, a fim de nos inteirarmos de situações associadas a aspectos

bio-médico-sanitários e com as vertentes pedagógica e de acolhimento temporário de animais

em risco. Estas visitas mostraram-se indispensáveis para fundamentar a apresentação de um

documento isento sobre as condições deste espaço.

De acordo com o documento elaborado pela IUCN (União para a Conservação Mundial)

e pela IUDZG (Organização Mundial de Zoológicos e Aquários) - “World Zoo Conservation

Strategy” (1993) - foram definidos os principais objectivos das instituições de conservação

ex-situ (conservação das espécies fora do seu habitat natural), como é o caso dos jardins

zoológicos. Este documento estabelece não só as estratégias de conservação a seguir, mas

define também uma filosofia mundial comum de conservação.

Não é nosso intuito tomar uma posição a favor ou contra os Jardins Zoológicos em

geral. Centrar-nos-emos no Jardim Zoológico da Maia, que existe há 21 anos, onde muitos dos

animais expostos (à semelhança do que acontece em muitos outros jardins zoológicos) já

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nasceram em cativeiro. Durante a visita do dia 27 de Outubro vimos bons e maus exemplos.

Há, de facto, animais em condições que não contribuem para o seu bem-estar, por não terem

acesso a condições básicas de movimento, isolamento ou socialização. Todavia, em relação às

más condições generalizadas de que o Jardim Zoológico tem sido acusado, a JS considera que

é importante que, antes de qualquer generalização, se identifiquem os animais cujo bem

estar está posto em causa, e que, para esses, se tomem as medidas consideradas adequadas.

Numa época em que cada vez mais se fala no bem-estar psicológico dos animais, a sua

retirada do habitat onde, apesar das condições não serem as ideais, eles se sentem bem, tem,

por vezes, consequências desastrosas.

Durante a nossa visita pudemos ter uma visão clarificadora de todos os aspectos

positivos e negativos que caracterizam o Jardim Zoológico da Maia.

O que está bem

1) Em termos de funcionamento/recursos humanos

Os recursos humanos do Zoo da Maia, embora não sendo, na sua grande maioria,

especialistas, mantêm com as diferentes espécies relações de muita proximidade, em alguns

casos diríamos que de “afectividade”, indispensáveis para a sobrevivência de animais em

cativeiro. Fomos informados do caso de animais (Pitecídeos raríssimos) que foram levados,

aparentemente para melhores condições e que acabaram por morrer.

Numa época em que a investigação sobre o bem-estar psicológico dos animais é cada

vez mais valorizada e concludente, estes aspectos não são de menosprezar.

2) Em termos pedagógicos

Não podemos desprezar a contribuição importante que os jardins zoológicos têm na

educação da população, criando uma consciência ecológica. Nesse sentido, o Zoo da Maia tem

feito alguns esforços, de que é exemplo o espaço dedicado ao ciclo da água, que deverá

contudo ser da responsabilidade de funcionários permanentes e com as devidas competências.

3) Em termos de protecção

Quando há necessidade urgente de resgatar animais selvagens de condições não

condignas, os jardins zoológicos têm um papel fundamental. O Zoo da Maia tem prestado um

bom serviço no caso de animais em risco.

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Um Jardim Zoológico deverá ter como objectivo primordial o bem-estar dos animais.

Um dos indicadores do bem estar animal é o índice de reprodução das espécies mantidas em

cativeiro. Assim, durante as visitas ao Zoo, a JS Maia pôde verificar que há animais que se

estão a reproduzir (caso dos Saguis prateados), podendo até ser contraproducente a

introdução de alterações no equilíbrio desta comunidade através, por exemplo, da sua

deslocação para um outro habitat. A reprodução, em qualquer espécie animal, é uma das

primeiras funções fisiológicas bloqueadas quando qualquer necessidade básica não está a ser

atendida. Se uma espécie apresentar bons índices de reprodução em cativeiro, é sinal que

está bem adaptada, com alimentação e cuidados básicos bem atendidos.

O que está menos bem e/ou pode ser melhorado

1) Em termos de funcionamento/espaços/condições

A JS Maia considera que, apesar de existir vontade para melhorar o habitat de muitos

dos animais, a falta de espaço crónica do Jardim Zoológico não permite que sejam dadas as

melhores condições. O caso mais flagrante é o do Pongídeo (Orangotango), que se encontra

em instalações provisórias há cerca de cinco anos. A jaula em que está instalado é pequena e

desapropriada, já que se trata de um animal arborícola. Fomos informados de que a sua

deslocação para outro jardim zoológico está para breve mas, ao vermos a ligação deste

primata com os seus tratadores, lamentamos que a Câmara Municipal não tenha encontrado

mais cedo uma solução para o alargamento do Zoo e que o Orangotango tenha de ser afastado

do seu ambiente “familiar”, pondo seriamente em causa a sua sobrevivência.

Além do Orangotango, há outras animais mal instalados: os Ursos e os Leões têm

pouco espaço disponível. Os Chimpanzés também não apresentam as melhores condições de

habitat: sendo animais de extrema inteligência e com capacidade de interacção com o

público, precisariam estar mais protegidos dos visitantes.

2) Em termos de Recursos Humanos e Protecção

Outro aspecto que consideramos negativo é a falta de formação dos recursos humanos

que trabalham no Zoo. Não vimos sinais de falta de cuidados para com os animais, sendo

facilmente observável o afecto com que são tratados. Contudo, um Jardim Zoológico exige

uma equipa multidisciplinar, com elementos residentes de diferentes áreas, nomeadamente

biólogos. Um Jardim Zoológico, de acordo com legislação comunitária – Portugal conta com

um Decreto-Lei (59/2003), um Despacho (7203/2004) e uma Portaria (961/2005) para aplicar

a directiva comunitária – não deve apenas preocupar-se com o bem-estar das espécies que

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alberga, mas deve também elaborar trabalhos de investigação e de monitorização destes

mesmos animais. O cativeiro dos animais deve servir para o estudo de biologia das espécies

(comportamentos de reprodução, comportamentos alimentares, etc.) que será fundamental

para a definição de estratégias de conservação adequadas in-situ (no habitat natural das

espécies). A criação de Reservas, especialmente para as espécies em vias de extinção, como é

o caso de muitos primatas, exige muitos conhecimentos que deverão ser retirados dos animais

cativos nos diversos jardins zoológicos. Como é óbvio, a inclusão destas diferentes valências

exige o estabelecimento de protocolos de colaboração com outras instituições,

nomeadamente universidades. A colaboração com a Universidade do Porto, que

espacialmente é tão próxima do Jardim Zoológico da Maia, deve ser uma prioridade da

direcção do jardim zoológico.

3) Em termos sanitários

Outro problema detectado pela JS, tanto em Junho como em Outubro, foi a presença

frequente de ratos. Todos os Zoológicos no Mundo sofrem desta praga e a forma mais recente

de controlo a população de ratos adoptada pela direcção do Zoo da Maia, após a

experimentação de outras que se mostraram nefastas, parece não ser ainda a mais eficiente.

Conclusão

O Zoo da Maia tem um número considerável de visitantes, sendo grande parte

proveniente de visitas escolares. É, por isso, uma estrutura pedagógica importantíssima para

o Norte de Portugal, que deve ser acarinhada; cresceu muito, em grande parte pela

dedicação do seu responsável máximo, exigindo actualmente uma gestão mais profissional no

que concerne a aspectos eco-biológicos, sanitários e de habitat. Há, por parte da direcção do

Zoo da Maia, vontade de melhorar as condições de alojamento de algumas espécies, o que só

poderá ser concretizado com uma expansão das instalações e uma gestão técnico-científica

que responda às exigências que são feitas a este tipo de equipamentos.

O Zoo da Maia ajudou a projectar o Concelho da Maia. Apesar de estar situado na

freguesia que dá o nome ao Concelho, o Zoo é de toda a Maia. Por isso, está nas mãos da

Câmara Municipal da Maia converter o “problema” que hoje representa o Zoo numa

oportunidade e num desafio ambiciosos. Reiteramos que o respeito pela vida animal deve

estar em primeiro plano; trata-se de um princípio de que a JS não abdicará. Mas também não

deixaremos que sob a capa de uma pretensa protecção dos animais se esconda uma protecção

de outro tipo de interesses.

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Sendo encarado como uma infra-estrutura de grande atractividade para uma região

de três milhões de habitantes, um jardim zoológico moderno e de grande dimensão situado na

Maia não deixaria de representar uma expressiva inversão no caminho de perda de

competitividade que o nosso concelho tem trilhado continuamente.

Fomos informados, aquando da visita formal, que é vontade do presidente da Junta

de Freguesia da Maia criar uma Fundação que tenha como objectivo a gestão do Zoo da Maia.

A JS Maia acredita que esta será uma solução positiva para ultrapassar muitos dos problemas

do Jardim Zoológico, apoiando, desde já, essa iniciativa. Acreditamos que a formação de uma

entidade independente, sem fins lucrativos, que possa ser fiscalizada e controlada, podendo

ter património próprio, receber doações, bem como angariar mecenas, poderá trazer à Maia

um Jardim Zoológico ao nível dos melhores da Europa.