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INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO FORMAÇÃO DE UM GRUPO DE BIODANZA DIFICULDADES E FACILIDADES RIO DE JANEIRO 2008

Formação de Um Grupo de Biodanza: Dificuldades e Facilidades | Por Daisy Broxado dos Santos e Nívea Broxado dos Santos Falcão

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INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION

ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA

ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO

FORMAÇÃO DE UM GRUPO DE BIODANZA

DIFICULDADES E FACIL IDADES

RIO DE JANEIRO

2008

INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION

ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE BIODANZA

ROLANDO TORO DO RIO DE JANEIRO

FORMAÇÃO DE UM GRUPO DE BIODANZA

DIFICULDADES E FACIL IDADES

Daisy Broxado dos Santos

Nívea Broxado dos Santos Falcão

Monogra f ia ap resen tada à Esco la de B iodanza Ro lando To ro do R io de Jane i ro como requ is i t o pa rc ia l para ob tenção do t í tu lo de p ro fessoras de B iodanza Orientadora: Profª Didata Gladys Trindade de Araújo. Reg. RJ Nº 9719

Rio de Janeiro

2008

INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION

MONOGRAFIA APRESENTADA A ASSOCIAÇÃO

ESCOLA DE BIODANZA ROLANDO TORO DO RIO

DE JANEIRO E APROVADA PELOS DIDATAS

___________________________________________________ Gladys Trindade de Araújo

Orientadora

Facilitadora Didata

International Biocentric Foundation

Reg. RJ Nº 9719

___________________________________________________ Hedilane Alves Coelho

Facilitadora Didata

International Biocentric Foundation

Reg. RJ Nº XXXX

___________________________________________________ Rosimar Santos Girão

Facilitadora Didata

International Biocentric Foundation

Reg. RJ Nº 0355

Visto e permitido a impressão Rio de Janeiro,

___________________________________________________ Antônio José Sarpe

Diretor da Associação Escola de Biodanza

Rolando Toro do Rio de Janeiro

International Biocentric Foundation

Reg. RJ Nº 8515

Aos nossos pais. Pela dedicação, amor e carinho. Por nos ter brindado com um grupo familiar fértil baseado na amizade e solidariedade.

AGRADECIMENTOS

O texto completo do presente “agradecimentos” encontra-se em

nosso coração, único lugar em que havia espaço suficiente para que nós

inscrevessemos cada Ser que contribuiu com seu afeto nesta e em todas

as outras travessias da nossa vida.

Eu, Nivea agradeço especialmente ao Valter, esposo querido e ao

Michel e Roger, filhos maravilhosos que me ensinam e apóiam em cada

passo da minha vida, meu amor e gratidão eternos!

Eu, Daisy agradeço com todo o meu coração transbordando de

amor, à minha filha Julyana, companheira e amiga de todos os momentos.

E a minha amiga Maria de Fátima por ter me proporcionado conhecer a

Biodanza, este presente guardarei para sempre.

À nossa querida, especial e única irmã Shirley, guerreira,

inesgotável fonte de amor, por estar sempre ao nosso lado, sendo o

nosso pilar em todas as trajetórias.

Aos nossos irmãos Sidney e Rodney pelo carinho, amizade e

compreensão, e aos nossos sobrinhos e sobrinhas, cunhados e

cunhadas, naturais e agregados, por nos fazerem existir!

A todos os nossos amigos, por serem amigos.

À amiga Nedjma, ao nosso diretor e mestre Antonio, aos nossos

colegas da turma V, VI, e todos os outros que permearam nossos

caminhos, pelo carinho, por nos terem feito rir e chorar, aprender e

crescer.

À Gladys, a amiga, a mestra, a orientadora, que nos brindou com

sua sabedoria, seu amor e dedicação.

RESUMO

Este trabalho aborda o confronto com a realidade prática da formação de

um grupo de Biodanza, permeado pelas dificuldades e facilidades que

implicam tal processo. Busca pontuar quais os contextos que devem ser

observados e trabalhados no esforço de superar tais dificuldades para

obtenção do êxito na constituição de um grupo de Biodanza.

ABSTRACT

This work search confrontation with the practical reality of shaping a

Biodanza group touched by the difficulties and facilities resulting from such

process. It is trying to point out which context should be observed and

worked in the effort to get over such difficulties to get success in the

instituition of a Biodanza group.

APRESENTAÇÃO

A finalidade deste trabalho é apresentar um estudo que faça

pontuações na teia tramada por determinados procedimentos e fatores

capazes de dificultar e facilitar a formação e manutenção de um grupo

dentro do Sistema Biodanza.

O estudo está estruturado em cinco capítulos. O Capítulo I é uma

proposta de contextualizar o tema, com algumas ciências das quais a

Biodanza utiliza os fundamentos. O Capítulo II apresenta o

desenvolvimento da existência do grupo orquestrando, na teia de

relações, o devir às estruturas sistemáticas de Lewin, Schutz e Moscovici.

O Capítulo III tem o objetivo de apresentar, sucintamente, o Sistema

Biodanza. O Capítulo IV versa sobre os fundamentos básicos do grupo de

Biodanza. E finalmente o Capítulo V registra a operacionalização de

grupos de Biodanza conduzidos pelas autoras deste estudo.

A Conclusão pontua os resultados gerados pelo acariciamento aos

pontos de tensão da temática deste trabalho.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO – O

Problema….…………………………………………

10

CAPÍTULO I – CIÊNCIAS SOCIAIS…................................................. 12

Sociologia……….................................................................................. 12

Antropologia......................................................................................... 14

Psicologia............................................................................................. 16

CAPÍTULO II – TEIA – O GRUPO E SUAS TRAVESSIAS…….…...... 19

Kurt Lewin............................................................................................. 21

Will Schutz............................................................................................ 26

Fela Moscovici……............................................................................... 28

CAPÍTULO III – A BIODANZA.............................................................. 31

Breve Histórico…….............................................................................. 32

Princípio

Biocêntrico.………....................................................

.............

34

Conceitos

Estruturais……..........................................................

..........

34

Modelo Teórico..................................................................................... 36

CAPÍTULO IV – GRUPO DE BIODANZA........................................... 39

Fundamentos Básicos do Grupo de Biodanza..................................... 40

CAPÍTULO V – A OPERACIONALIZAÇÃO DE GRUPOS DE

BIODANZA...........................................................................................

46

CONCLUSÃO....................................................................................... 55

Sugestões para trabalhos futuros......................................................... 56

ANEXOS.............................................................................................. 58

BIBLIOGRAFIA..................................................................................... 75

Saber Viver

Não sei... Se a vida é curta Ou longa demais pra nós,

Mas sei que nada do que vivemos Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:

Colo que acolhe, Braço que envolve,

Palavra que conforta, Silêncio que respeita, Alegria que contagia,

Lágrima que corre, Olhar que acaricia, Desejo que sacia,

Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo, É o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela Não seja nem curta, Nem longa demais,

Mas que seja intensa, Verdadeira, pura... Enquanto durar

CORA CORALINA

INTRODUÇÃO – O Problema

A Biodanza é um sistema criado nos anos 60, no Chile, pelo

antropólogo e sociólogo Rolando Toro Araneda. Trata-se de uma

atividade que desenvolve a integração do ser humano – do pensar, do

sentir e do agir – possibilitando viver com mais harmonia e plenitude.

Regenera o vínculo com a vida, aumentando a disposição para a ação.

Biodanza, “a dança da vida”. A dança é uma das formas mais

antigas do homem se relacionar com as forças da natureza e com os

deuses da criação, propiciando o desenvolvimento pessoal que utiliza

como instrumentos; a música, o movimento e a emoção para trabalhar as

potencialidades do ser humano, buscando resgatar em cada um a sua

própria dança, a própria maneira de viver a sua vida e de ser feliz.

A Biodanza nos proporciona uma nova sensibilidade frente à vida,

o que possibilita uma percepção ampliada da realidade. A Biodanza pode

propiciar a passagem de um estado de consciência, enquanto indivíduo,

para outro estado de consciência de si na fusão da totalidade, enquanto

parte de um todo maior.

Apesar de servir tanto ao indivíduo quanto ao seu contexto social

uma série de benefícios, é primordial a existência do grupo de Biodanza,

pois é através do comprometimento e dos encontros regulares deste

grupo, que resultados poderão ser obtidos.

Em princípio tal afirmação pode parecer de uma lógica redundante.

Daí por que há que se questionar: Quais os fatores estruturais e

conjunturais que influenciam as dificuldades ou facilidades na formação e

na manutenção de um grupo de Biodanza, e até que ponto? A resposta a

tal pergunta será delineada no desenvolvimento deste estudo, cujo

objetivo é identificar alguns aspectos que dificultam e/ou facilitam a

constituição e manutenção de um grupo de Biodanza.

A relevância deste trabalho está no fato do mesmo pretender

abordar um problema vivenciado por alguns facilitadores, recém-formado

ou não, que optam pela tarefa de desempenhar facilitar grupos.

Este estudo está delimitado à dinâmica de um grupo de Biodanza,

desde a sua fase inicial até sua continuidade.

Acreditando no potencial de transformação da Biodanza afetando a

qualidade de vida das pessoas, consideramos importante contribuir para

minimização das dificuldades surgidas para formação e manutenção de

um grupo.

CAPÍTULO I

CIÊNCIAS SOCIAIS

Vamos abordar recortes de três ciências que desabrocharam no

séc. XVIII e utilizaram os conhecimentos nos séculos XIX e XX para

estabelecerem todo o seu vigor e potencial junto à humanidade, até

porque a razão de cada uma delas existir é exatamente esta mesma

humanidade. Estamos falando da Sociologia, Antropologia e Psicologia.

O nosso objetivo é destacar alguns conceitos importantes que

entendemos serem capazes de nos ajudar a refletir sobre o atual

momento de um turbilhão de acontecimentos que afetam não somente as

ciências, como também cada um de nós.

Sociologia

Durante a Revolução Francesa, existiam filósofos que desejavam

transformar a sociedade. Os iluministas, que também objetivavam

demonstrar a irracionalidade e injustiças de algumas instituições.

Pregavam a liberdade e a igualdade dos indivíduos, dogmas estes

posteriormente identificados como falsos. Diante deste cenário constituiu-

se um estudo científico da sociedade, daí o alvorecer da Sociologia, que

na tentativa de reorganizar a sociedade para estabelecer a ordem,

dedicou-se a conhecer as leis que regem os fatos sociais. Este

movimento reabilitou certas instituições que a revolução francesa tentou

destruir e criou uma "física social", cujo pai é Auguste Comte (1798 –

1857). Seu seguidor, Émile Durkheim (1858 – 1917), tornou-se um grande

teórico desta nova ciência, se esforçando para emancipá-la como

disciplina científica.

Gabriel Tarde (1843 – 1904), apesar de contemporâneo de

Durkheim e da valorosa projeção de seus pensamentos naquela época,

foi curiosamente colocado “de lado” no primeiro momento da evolução da

Sociologia. Como bem enuncia a dissertação de mestrado de Vargas

(2000), está sendo resgatado “antes tarde do que nunca” o valoroso

legado que dele herdamos. Foi promulgada por Vargas a dívida

impagável que Tarde tem com o filósofo e matemático alemão Leibniz,

pois foi baseado em estudos deste, que o autor construiu a amálgama de

sua sociologia infinitesimal. Na contramão de seu contemporâneo

Durkheim que idealizou uma sociologia que valorizava a célula social,

Gabriel Tarde e sua sociologia infinitesimal exaltavam, sobretudo, a

relação entre aquilo que considerava “átomos sociais”.

E Vargas se manifesta:

“Como um autor conhecido e atuante em seu tempo, dono de um sistema de pensamento próprio e singular pode ser esquecido? O que está em jogo quando se excluem determinados autores de um campo de investigação? O que faz com que determinadas idéias sejam recalcadas no processo de institucionalização de uma disciplina? (…) Antes Tarde do que Nunca aborda essas questões (…) trazer à tona a força e a beleza do sistema de pensamento de Gabriel Tarde, ativamente esquecido e relegado a um plano secundário na história da disciplina.”(1)

Assim Tarde pretende explicar a base de sua forma de pensar a

sociologia do devir, afirmando que o evolucionismo evolui, a diferença vai

diferindo e a mudança vai mudando. Com isto estava admitindo que a

sociologia só pudesse ser pensada se tomando como realidade todos os

atravessamentos possíveis, considerando que no mundo existem mais

agentes do que habitualmente imaginam as ciências humanas.

1 VARGAS, Antes Tarde do que Nunca, 2000, p. 1.

E Vargas ressalta ainda:

“Em Tarde, crenças e desejos são 'as duas forças da alma' (…) Eis também um equívoco que acomete os sociólogos desde Durkheim, o de conceber o social como uma realidade sui generis. A questão é que em Tarde a palavra social tem um significado muito peculiar, posto que não define um domínio específico da realidade ou uma zona ontológica particular reservada aos humanos, mas designa toda e qualquer modalidade de associação; de forma que, em vez de substância, social é sempre relação, logo diferença.”(2)

Um século foi necessário para fertilizar apropriadamente as idéias

de Gabriel Tarde, que agora ressurgem para dialogar com as de seu

contemporâneo Durkheim, conduzindo a Sociologia para um caminho

vertiginoso, que, entretanto esta ciência não o desafia solitária.

Antropologia

A Biodanza se baseia nos estudos antropológicos, para justificar o

entendimento do homem. A palavra antropologia deriva do grego, onde

anthropos corresponde a homem/pessoa e logos a razão/pensamento. A

divisão clássica da antropologia separa a Antropologia Social da

Antropologia Física.

É correto acreditar que ela conquistou lugar de ciência nas últimas

décadas, embora o estudo das sociedades humanas remonte à

Antigüidade Clássica. A antropologia nasceu como ciência, efetivamente,

da grande revolução cultural iniciada com o Iluminismo.

Com o intuito de pensar as sociedades humanas, a antropologia

trata de detalhar, tanto quanto possível, os seres humanos que as

compõem e com elas se relacionam, seja nos seus aspectos físicos, na

2 VARGAS, Monadologia e Sociologia e outros Ensaios, 2007, p. 21.

sua relação com a natureza, seja na sua especificidade cultural. Para o

saber antropológico o conceito de cultura abarca diversas dimensões:

universo psíquico, os mitos, os costumes e rituais, suas histórias

peculiares, a linguagem, valores, crenças, leis, relações de parentesco,

entre outros tópicos.

Dentro da Antropologia Social existe área específica onde o

interesse está focado na saúde do ser humano. Segundo Bonet (2007)

nos Estados Unidos da América este ramo da antropologia tem um

enfoque de pesquisa prática associada à experiência da doença e por isto

é conhecida como Antropologia Médica. O mesmo ramo na França

focaliza sua atenção na representação entre saúde e doença, em virtude

do que passou a ser conhecida como Antropologia da Saúde.

Na América do Sul, mais especificamente no Peru e no Brasil, esta

área de interesse da antropologia recebe uma atenção muito especial e é

praticada sob uma óptica que de certa forma comunga a visão do vizinho

do norte, com a do outro de além mar e que está se ratificando com a

denominação francesa, em virtude de esta ser mais abrangente.

No olhar desta jovem ciência muitos fenômenos que circundam o

“homem total” exigem, minimamente, o atravessamento da biologia, da

sociologia e da psicologia para serem abarcados. Na questão específica

da saúde o enfoque central está na pessoa, enquanto um corpo doente e

na emoção da pessoa, enquanto significado da vida. A Antropologia da

Saúde visa a polissemia destes conceitos, isto é, a variação de sentidos

que podem estar ali contidas. A concepção que orienta esta filosofia de

atuar está voltada para uma percepção total do indivíduo.

A antropóloga Luz (2005) defende a busca da recuperação e/ou

promoção da saúde de um indivíduo, acentuando sua autonomia, dando

outro tom ao valor existente na relação entre ele e aquele que cuida. Para

a Medicina o indivíduo é visto como um todo biopsíquico – expressão cara

à psicossomática – e que, em termos antropológicos, seria uma unidade

sócio-espiritual, inserida numa cultura específica, na qual esse sujeito

deve viver e atuar. Enfatiza que a questão não é simplesmente combater

ou erradicar doenças e sim de incentivar a existência de cidadãos

saudáveis capazes de interagir em harmonia com outros cidadãos,

conseguindo desenvolver para si próprio e para aqueles que o cercam um

ambiente harmônico, gerador de saúde.

Psicologia

Wilhelm Wundt (1832 – 1920) que com seus experimentos

pioneiros em laboratório, definiu o nascimento da Psicologia Moderna; seu

padrinho foi William Mac Dougall que a batizou com o nome de Psicologia

em 1908 e a definiu como ciência do comportamento. Sigmund Freud

(1856 – 1939) e sua psicanálise indubitavelmente garantiram à Psicologia

um novo status no cenário das ciências e desde então muitos grandes

teóricos têm contribuído para a evolução dessa ciência ousada que

pretende conduzir o ser humano às profundezas do seu próprio Ser.

Todavia, partindo da visão antropológica de Luz, pode-se vincular a

idéia da Psicologia com a „ecosofia’ de Félix Guattari (1930 - 1992). A

ecosofia está conceituada como uma outra forma de articulação ético-

política entre o meio-ambiente, as relações sociais e a subjetividade

humana.

Para reverter à crise ecológica o autor acredita que é necessário

promover uma ação em escala planetária através de uma revolução

política, social e cultural reorientando os objetivos da produção de todo

tipo de bens, quer materiais, quer imateriais.

E Guattari continua:

“Essa revolução deverá concernir, portanto, não só as relações de forças visíveis em grande escala, mas também aos domínios moleculares de sensibilidade, de inteligência e de desejo.”(3)

No contexto da ecosofia social a proposta é de reconstruir a

maneira de ser-em-grupo, tanto pelas intervenções “comunicacionais”,

como pelas mutações existenciais no que dizem respeito à essência da

subjetividade.

Já o desafio da ecosofia mental seria de reinventar a relação do

sujeito com o corpo, com o tempo que passa e com os “mistérios” da vida

e da morte.

É curioso refletir sobre a abrangência do paradoxo revelado por

Guattari de que a reviravolta mais espetacular sobre os processos de

subjetivação possa despontar das ciências exatas e que faz a seguinte

citação:

“Insistindo nos paradigmas estéticos, gostaria de sublinhar que, especialmente no registro das práticas „psi‟, tudo deveria ser sempre reinventado, retomado do zero, do contrário os processos se congelam numa mortífera repetição.”(4)

O ponto zero tem sido uma referência para o empreendimento das

grandes mudanças que se fizeram perceber em todo o contexto da

humanidade. Tais pontos já se fizeram enunciar a partir de muitas

diferentes égides. A natureza, em sua singeleza, provou ao longo da

história da vida que revestida de paciência tem empreendido toda sorte

de mudança, ao que denominamos evolução. As guerras existiram na

3 GUATTARI, As Três Ecologias, 2000, p. 9.

4 GUATTARI, As Três Ecologias, 2000, p. 22.

história de toda a humanidade e têm sido revoluções operadas pela força

física. Já os pensadores formam o exército das revoluções empreendidas

pela força mental. É muito bom sabermos que, ao seu modo, outros

filósofos mais racionais também concordavam que o ponto zero é o único,

talvez, possível, para empreendermos as grandes e necessárias

mudanças.

Reportando a Descartes:

“(…) de forma que são bem mais o costume e o exemplo que nos convencem do que qualquer conhecimento correto e que, apesar disso, a pluralidade das vozes não é prova que valha algo para as verdades um pouco difíceis de descobrir, por ser bastante mais provável que um único homem as tenha encontrado do que todo um povo: eu não podia escolher ninguém cujas opiniões me parecessem dever ser preferidas às de outros, e achava-me como coagido a tentar eu próprio dirigir-me.”(5)

Cremos ser este o tipo de discurso capaz de fazer com que a

ousadia existente em todos nós seja acionada. Também acreditamos que

motivados por este tipo de força, Rolando Toro, em 1965, enveredou pelo

caminho que o conduziu a Biodanza.

5 DESCARTES, O Discurso do Método, 2003.

CAPÍTULO II

TEIA – O GRUPO E SUAS TRAVESSIAS

Rizoma é um termo da biologia que descreve um campo onde

elementos da natureza estão conectados de tal forma a inviabilizar a

possibilidade de detectarmos onde cada elemento começa e acaba,

assim no Rizoma os elementos compõem algo que é uno. Se cada

elemento encontra-se interligado e interdependente, é possível que haja

uma unidade.

A visão atomista e reducionista cede cada vez mais terreno a este

novo contexto holístico e universal de interagir com a vida. Física

quântica, biologia, sociologia, psicologia são alguns exemplos entre as

ciências naturais, sociais e até mesmo as ciências exatas que ressaltam a

vida desde esta nova óptica que veio para ficar. Neste contexto pensar o

grupo tornou-se então imprescindível e talvez por isto diversos autores de

diversas áreas impuseram-se o desafio de elucidar este conteúdo tão

complexo; o grupo.

Gilles Deleuze (1925 – 1995) e Félix Guattari (1930 - 1992)

introduzem seu livro denominado “Mil Platôs” com um texto intitulado

“Rizoma”, onde anunciam o conceito do Princípio de Multiplicidade,

segundo o qual, o que até então teoricamente tendia a ser visto

separadamente; o “um” e o “múltiplo”, adquiriu a possibilidade de ser

encarado de uma forma renovada, isto é, “o um e o múltiplo”, dando assim

amplitude a uma ação conjunta de muitos outros conceitos.

Os autores assim explicam:

“Os fios ou as hastes que movem as marionetes – chamemo-los „a trama‟. Poder-se-ia objetar que sua multiplicidade reside na pessoa do ator que a projeta no texto. Seja, mas suas fibras nervosas formam por sua vez uma trama. (...) O jogo se aproxima da pura atividade dos tecelões, a aqueles que os mitos atribuem às Parcas e às Norns(*). Um agenciamento é precisamente este crescimento das dimensões numa multiplicidade que muda necessariamente de natureza à medida que ela aumenta suas conexões.”(6)

A partir desta perspectiva delineamos o nosso objetivo, que é o de

realçar alguns conceitos importantes produzidos pelos autores Schutz e

Moscovici, que se baseia na Teoria de Campo do Kurt Lewin.

Pode-se pensar em campo como um espaço ilimitado onde se

estabelece uma rede de relacionamentos, visíveis e invisíveis, diretos ou

não.

O filósofo Henri Bergson (1859 – 1941), em conferências

pronunciadas na Universidade de Oxford em 1911, versou sobre o tema

do “movente”. Naquela ocasião convidou os ouvintes a abandonarem

suas formas filosóficas convencionais de perceberem a vida direcionando-

os para um outro nível de critério, o qualitativo. Bergson começa

exemplificando como os artistas detêm o poder de nos conduzir a outro

nível de percepção da vida, seja através de um quadro, uma escultura ou

um poema. Para facilitar o raciocínio, ele utiliza-se de uma situação

cotidiana; a de dois trens emparelhados, em movimento, na mesma

velocidade e direção, pois nesta situação, uma pessoa na janela do vagão

de um dos trens poderia conversar com outra pessoa na janela do outro

* Ernst Junger, Approches drogues et ivresse, Table ronde, p. 304,218. [Na mitologia germânica, a Norns correspondem às Parcas latinas que, por sua vez, correspondem às Moiras gregas (Moirai): Átropo, Cloto e Láquesis, divindades fiandeiras que tecem a regulação da vida, desde o nascimento até a morte]. JUNGER apud DELEUZE ; GUATTARRI, Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia, 1995, p. 5. 6 DELEUZE ; GUATTARRI, Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia, 1995, p. 5.

trem! A partir daí constrói uma ponte para que se torne possível

compreender sua concepção de movente.

E explica:

“O movimento, para nós, é uma posição, depois uma nova posição(…) deve haver outra coisa e que, de uma posição para outra posição, há a passagem pela qual se transpõe o intervalo(...) Essa passagem, nós adiamos indefinidamente o momento de considerá-la. Admitimos que ela exista, damos-lhe um nome e isto basta(…) Temos instintivamente medo das dificuldades que seriam suscitadas para nosso pensamento pela visão do movimento naquilo que este tem de movente(…) Se o movimento não for tudo, não será nada; e, se de início pusemos que a imobilidade pode ser uma realidade, o movimento escorregará entre nossos dedos quando acreditamos tê-lo pego(…) Se a mudança é contínua em nós e contínua também nas coisas, em compensação, para que a mudança ininterrupta que cada um de nós chama „eu‟ possa agir sobre a mudança ininterrupta que chamamos „coisa‟, é preciso que essas duas mudanças se encontrem, uma com relação à outra, numa situação análoga a dos dois trens de que falávamos há pouco.”(7)

Bergson nos convida a desviar o foco da mudança da “coisa” em si

e fixá-lo no “processo” de mudança, não só no “tempo” da mudança como

também o sujeito e a coisa nela envolvidos. Refletir então sobre o tempo,

da mesma maneira como o fez Bergson com o movimento é chegar ao

movente, que dizimado em partes ínfimas, ainda assim teria que se fazer

pensar sobre a passagem. Em seu discurso o filósofo tenta conduzir a

uma reflexão dos conceitos de “eu” e “coisa”, para “eu e coisa”, que nesta

relação estão unificadas, criando um campo relacional indivisível.

Kurt Lewin

A temática da importância dos grupos, quer terapêuticos, quer

7 BERGSON, O Pensamento e o Movente, 2006, p.167-168.

aqueles destinados à análise institucionais, foram estudados por

importantes autores do último século, tais como, S. Freud, J. Moreno, J.

Piaget, F. Perls, I. Yalom, M. Foucault, F. Guattari, G. Deleuze e Suely

Rolnik. Porém consideramos ímpar a contribuição de Kurt Lewin (1890-

1947) através da sistematização da Teoria de Campo. Este psicólogo

social introduziu o termo “dinâmica de grupo” e sua teoria fez e continua

fazendo toda a diferença no contexto do trabalho em grupo.

Assim se manifesta:

“Estou convencido de que a Sociologia científica e a Psicologia Social, baseadas em íntimas combinações de experimentos e teoria empírica, podem contribuir, tanto ou mais que as ciências naturais, para a melhoria humana. Contudo o desenvolvimento de tal ciência social, realista, não-mística, e a possibilidade de sua aplicação fecunda, pressupõe a exigência de uma sociedade que acredite na razão.”(8)

Os pontos altos abordados pela teoria de Lewin são;

Campo: que corresponde ao espaço da vida de uma pessoa.

Espaço vital: correlacionado aos amigos, família, escola, trabalho,

etc.

Comportamento: cuja observação depende das mudanças que

ocorrem no espaço vital em um determinado intervalo de tempo.

Dentre os atributos descritos por Lewin podemos pensar a Teoria

de Campo como um método de construções e não de classificação.

Ressalta que o interesse primordial baseia-se nos aspectos dinâmicos

dos acontecimentos e que a perspectiva é psicológica e não física. De

seus princípios gestálticos(*), herda-se a predisposição para uma análise

8 LEWIN, Problemas de Dinâmica de Grupo, 1973, p.99.

* Princípios gestálticos norteiam a Gestalt-Terapia, teoria do psicólogo alemão F. Perls cuja idéia central é de assimilar um “organismo” pela sua totalidade, sua fundamentação filosófica encontrou no humanismo de Sartre a idéia de que o homem é o principal responsável por suas escolhas e pela forma como conduz sua vida. Gestalt; palavra alemã sem tradução equivalente. WIKIPÉDIA.

de toda a situação, sendo imprescindível à distinção entre problemas

sistemáticos e históricos (fatos presentes e fatos passados, a gênese

histórica e sua dinâmica da situação presente refletida no

comportamento), além de uma representação matemática do campo.

Na teoria de campo de Lewin existe a preocupação de mostrar

como uma conduta orientada inicialmente para um objetivo, numa direção

determinada, se especifica e se diferencia durante uma experiência que a

coloca em contato com obstáculos.

A psicologia social é responsável por um avanço ímpar, decorrente

da transposição da noção de campo psicológico para campo social. Ao

inserir na dinâmica dos grupos a visão estruturalista da psicologia

individual, Lewin concebe a noção de campo social como o somatório do

grupo e seu ambiente, tal como ele concebia o campo psicológico como

formado pela pessoa e seu ambiente. Nesta óptica, não faz sentido a

afirmação de que um grupo é constituído pela soma de seus membros,

tão pouco que a característica essencial de um grupo seja a semelhança

entre seus membros. Calcado neste conceito o que sintoniza o grupo é a

interdependência dinâmica entre todo o campo envolvido na formação

daquele grupo, isto é, elementos, ambientes e outros fatores.

E sinaliza:

“É preciso analisar a situação, quando se deseja compreender a correlação entre as suas partes e propriedades, a possibilidade da coexistência de ambas e suas possíveis influências sobre as diversas partes (por exemplo, sobre o desenvolvimento da criança). Mas tal análise precisa ser „gestáltico-teórica‟, porque a situação social, como a psicológica, constituem um todo dinâmico. Isto significa que, uma alteração de uma de suas partes implica alteração de outras partes.”(9)

9 LEWIN, Problemas de Dinâmica de Grupo, 1973, p. 35.

O conceito de força e causa do comportamento estão diretamente

ligados e de acordo com Lewin as várias teorias psicológicas sobre as

causas do comportamento, apesar de diferirem entre si, contêm a tese de

que o comportamento é causado por entidades dirigidas. “As forças

psicológicas” seriam, portanto, vetores.

A conceituação de “Força Psicológica” se refere aos fatos

dinâmicos considerados como “causas” do comportamento. Vital

apreender que “Força” não é um conceito geométrico, mas dinâmico,

designa fatos que não podem ser observados, mas representados entre

as relações observadas.

Outro conceito preponderante é o de valência, contudo é muito

importante compreender que “Valência não é Força” e sim a propriedade

que uma região possui de atrair ou repelir o individuo. Pode ser

conseqüência dos mais variados fatores, tais como fome, estado

emocional, condição social, etc. “Uma região que possui uma valência é

definida como uma região do espaço de vida de um indivíduo que atrai ou

repele este individuo”.

Força e valência são conceitos teóricos utilizados para vislumbrar

diferentes potenciais resultantes da existência do grupo enquanto um

processo. Na prática podemos citar como exemplo, a mudança, a

resistência a ela, ou ainda os conflitos gerados por esta resistência e/ou

pela ausência de mudança. O conflito é uma situação caracterizada pela

oposição de forças de igual intensidade. As ações decorrentes do conflito

podem expressar-se na relação recompensa-punição.

Lewin afirma que as forças psicológicas não afetam diretamente o

sistema motor da pessoa, mas sim as regiões intrapessoais, ações não

mecânicas e sim “motivacionais”. Para que possamos entender as forças

psicológicas, temos que considerar não apenas a estrutura e as

propriedades do meio, mas também as da pessoa.

As forças sociais e psicológicas atuam sobre o grupo e se fazem

observar constantemente através da coesão, coerção, pressão social e

atração. Também atuam a rejeição e a resistência à mudança, além do

equilíbrio e do quase-equilíbrio.

Outro processo importante destacado por Kurt Lewin é o da

dinâmica do campo psicológico, cujo conceito supõe que tudo aquilo que

afete o comportamento num dado momento, deve ser representado como

parte integrante do campo existente naquele momento, uma realidade

fenomenológica.

O campo psicológico é o que se denomina de “espaço de vida”

considerado dinamicamente, isto é, a totalidade dos fatos coexistentes e

mutuamente interdependentes, compreendendo tanto a pessoa como o

meio.

A noção de campo não é originária em Lewin e sim em Kohler,

Inicialmente aplicada ao processo perceptivo, esta noção foi re-elaborada

em Lewin através do conceito de tensão e aplicada a todo o

comportamento psicológico.

Outra noção da teoria de Lewin é o campo social definido pela idéia

do grupo ser o terreno sobre o qual a pessoa se sustenta. A estabilidade

ou instabilidade do comportamento do individuo depende da sua relação

com o grupo. Quando sua participação está bem estabelecida, seu

espaço de vida se caracteriza por uma estabilidade maior do que quando

ela não está bem definida, sob esta óptica o indivíduo aprende desde

cedo a utilizar o grupo como um instrumento para satisfazer suas

necessidades físicas e sociais. O grupo é como uma totalidade da qual o

individuo é uma parte por isto uma mudança na situação do grupo afeta

diretamente a situação do individuo.

Assim como o individuo e seu ambiente forma um campo

psicológico, o grupo e seu ambiente formam um campo social. O conceito

de campo social abraça a dinâmica e as estrutura deste espaço. A

conduta de um grupo será, então, explicada em função de forças

objetivas que decorrem da própria situação no momento.

As forças frenadoras constituem um elemento na rede do campo

sem possibilidades de, por si mesma, criar uma modificação. Na

contramão está um outro elemento da teoria, a motivação que, do ponto

de vista dinâmico, é um conjunto de forças com a propriedade de

provocar uma ação, é característica de uma necessidade ou quase-

necessidade que pode ser representada coordenando-a a um “sistema

em tensão”.

O espaço de vida de uma pessoa tem de ser considerado como um

campo conexo ao fato das necessidades poderem ser modificadas por

alterações que ocorram em quaisquer de suas partes: no meio, nas

regiões intrapessoais; no nível de realidade ou no de irrealidade; assim

como mudanças na estrutura cognitiva do futuro e do passado

psicológico.

Will Schutz

Partindo de Lewin, Schutz enfoca que o desenvolvimento individual

está associado ao desenvolvimento do grupo, através de três fases e

onde o conteúdo de cada fase representa as fases de evolução da vida

humana. Desta forma a inclusão é conectada basicamente com a fase da

existência humana onde a predominância é de busca e ratificação de

vínculos. A seguir a fase de controle associada a sociabilização e

finalmente a do afeto que seria o estágio onde o amadurecimento do ser

é suficiente para o desenvolvimento de relações afetivas. Quer seja na

formação de um novo grupo ou na inclusão de um novo elemento em um

grupo já formado esta fase refere-se à etapa onde a pessoa que está

sendo inserida levanta uma série de questionamentos de ordem prática e

afetiva sobre a inter-relação que está criando com aquele grupo. As

respostas a seus questionamentos serão obtidas através do convívio com

o grupo e do repertório de respostas nascerá a decisão de aderir ou não

ao grupo. Obviamente esta fase não está delimitada cartesianamente no

tempo ou espaço da relação do elemento com o grupo, visto que é um

processo essencialmente subjetivo.

Schutz ressalta a importância do “papo furado” nesta fase

enfatizando sua funcionalidade:

“Embora a discussão destes tópicos seja frequentemente inoperante quanto a seu conteúdo, por meio dela é que os participantes em geral passam a se conhecer. Enquanto membro de um grupo, conheço melhor quem responde favoravelmente à minha pessoa, quem vê as coisas pelo mesmo prisma que eu, o quanto sou inteligente em comparação aos outros, e como o líder reage a mim. Identifico também o tipo de papel que posso esperar desempenhar no grupo. Contrariando as aparências, essas discussões são inevitáveis e servem a uma função importante.”(10)

O autor caracteriza a máxima desta fase cuja importância está de

certa forma associada à manutenção do elemento no grupo, pois é aí o

momento em que ele negocia suas ansiedades básicas, dimensionando

seu comprometimento, responsabilidades e influência, buscando

estabelecer a quantidade de poder e de dependência que seja mais

conveniente a si próprio.

Schutz explica:

“Assim que estiver relativamente delineada a noção de estar reunido o grupo, as questões relativas ao controle passam para o primeiro plano. As questões de controle incluem tomadas de decisão, compartilhar responsabilidades, distribuir poder.”(11)

10

SCHUTZ, Profunda Simplicidade, 1989, p. 111. 11

SCHUTZ, Profunda Simplicidade, 1989, p. 111 e 112.

Não estritamente cartesiano, mas somente superada a fase do

controle é que os temas afetivos passam a ser o cerne de interesse do

grupo. Nesta fase a questão a ser investigada é de tornarem-se

emocionalmente integrados, aqui preferências, ciúmes, hostilidade e

outras emoções assumem a posição de destaque na teia. Os limites de

proximidade e distância estão sendo construídos. “(…) quero ficar perto o

suficiente para receber calor, mas longe o bastante para evitar a dor dos

espinhos mais pontiagudos.”(12)

Os desvios inesperados no curso do desenvolvimento do grupo

surgem com os desafios que são pertinentes a existência de qualquer

grupo. Através dos conflitos e outras intermináveis questões que

atravessam sua existência o grupo será convidado a sobreviver

fortalecido ou a sucumbir.

Fela Moscovici

A experiência da vida esclarece que soluções prontas não estão

catalogadas à espreita dos problemas. O grupo é um processo em

contínuo desenvolvimento e o que está atuando é uma rede de fatores

intrínsecos e extrínsecos graduados e potencializados pela subjetividade

atribuída por cada elemento participante. Contudo a importância que a

interferência destes fatores provoca no desenvolvimento do grupo

despertou o interesse de autores envolvidos com o tema. Eles se

esforçam para contribuir da maneira mais positiva em busca de resultados

que descontinuem a tensão de tais conflitos.

Fela Moscovici ratifica sua crença de que o desenvolvimento

pessoal e do grupo é passível de interferência através da prática de

técnicas e dinâmicas capazes de alterar as condições de conflitos e

amplificar o grau de motivação.

12

SCHUTZ, Profunda Simplicidade, 1989, p.112.

Assim se manifesta:

“Educação de laboratório é um termo genérico, aplicado a um conjunto metodológico visando mudanças pessoais a partir de aprendizagens baseadas em experiências diretas e vivências.”(13)

A autora acredita que as atividades propostas em laboratório

assemelham-se à realidade dos participantes e por isto caracterizam o

padrão de trabalho “aqui-e-agora”, que é também um enfoque utilizado na

Biodanza.

Servindo-se dos quatro níveis de aprendizado – cognitivo,

emocional, atitudinal e comportamental – os resultados provocados são

capazes de alterar a condição de existência do grupo e/ou do elemento a

ele pertencente. Destacamos o feedback como uma entre as ferramentas

capazes de enriquecer tais resultados e de sua concepção podemos fazer

uma analogia com o relato de vivência que experimentamos na Biodanza.

Moscovici explica:

“Feedback é um termo da eletrônica significando retroalimentação: qualquer procedimento em que parte do sinal de saída de um circuito reinjetado no sinal de entrada para ampliá-lo, diminuí-lo, modificá-lo ou controlá-lo.”(14)

Para a autora, após a atividade uma análise seguida de

informações e fundamentação teórica conduzirá a uma conexão. Em

capítulos posteriores constataremos que as mudanças conseqüentes das

atividades da Biodanza ocorrem em uma outra seqüência, contudo o que

vale ressaltar é a legitimidade do método vivencial.

13

MOSCOVICI, Desenvolvimento Interpessoal: Treinamento em Grupo, 2005, p. 5. 14

MOSCOVICI, Desenvolvimento Interpessoal: Treinamento em Grupo, 2005, p. 53.

Quando se abre a possibilidade de dar e receber feedback e este é

aceito pelas pessoas envolvidas, a tendência é a dissolução do conflito,

tornando a comunicação clara e aberta, alcançando a sinergia do grupo.

Porém desenvolver essa habilidade de comunicação humana é um dos

itens mais difíceis no desenvolvimento interpessoal.

CAPÍTULO III

A BIODANZA

Ao buscar uma definição, podemos equivocadamente tentar

encaixar a Biodanza nos mais diversos tipos de atividades. Isto acontece

porque, antes de tudo, ela é fruto da transdisciplinaridade, ou seja, da

fusão do conhecimento de diversas áreas que possibilita a criação de algo

completamente inédito. Rolando Toro, o criador da Biodanza, a define “um

sistema de integração afetiva, renovação orgânica e reaprendizagem das

funções originárias de vida.”(15)

É um sistema orientado para o estudo e o fortalecimento de

expressão das potencialidades humanas através da música, do canto, do

movimento e indução de vivências integradoras que levam a pessoa a

perceber como está o seu relacionamento com as outras, consigo mesmo

e com o mundo. Esta percepção permite que tenha oportunidade de

aprender novamente as funções simples e básicas da vida, a vivenciar

intensamente e por inteiro o momento presente, respeitando o ritmo de

cada pessoa. Rolando Toro descobre que a dança, devido a seus

conteúdos emocionais e arquetípicos, pode levar o dançarino a contatar

seus potenciais não manifestos.

Biodanza é um sistema cujos conceitos e práticas se inspiram nas

ciências naturais e humanas: Biologia, Antropologia, Medicina, Sociologia,

Ecologia, Psicologia, Filosofia, Etologia e outras disciplinas afins e na

investigação experimental. Daí por que o referencial teórico deste estudo

deu uma visão geral da contribuição de algumas dessas ciências para seu

entendimento.

Apesar dos seus vários efeitos terapêuticos, ela não se pretende

como terapia por não estar voltada à cura. Também não é uma religião,

15

TORO, Apostila Definição e Modelo Teórico de Biodanza do Curso de Formação Docente de Biodanza, Turma V, 2003.

embora propicie o reconhecimento da importância da valorização da vida

e do contato, oferecendo ao participante a possibilidade de perceber o

valor transcendente de sua presença no mundo.

Cada indivíduo assume a responsabilidade de regular sua própria

evolução e encontrar suas respostas. Desenvolve-se à parte que ainda

permanece sã: os impulsos de liberdade, os esboços de sinceridade, a

potencialidade criativa, a ternura, a graciosidade de movimentos, os

restos de auto-estima, o equilíbrio, o entusiasmo etc. A Biodanza não

analisa a miséria humana, mas sim busca alcançar a grandeza do

homem.

Na Biodanza as pessoas dedicam um tempo para si mesmos,

resgatando, aumentando ou mantendo sua auto-estima, sua capacidade

de contornar obstáculos na vida, de serem mais flexíveis e transparentes.

As pessoas percebem que há muitas pessoas como ela buscando formas

de viver mais solidárias e mais afetivas na busca de um mundo diferente,

centrado na inteligência afetiva e na qualidade de vida.

Foi acreditando na força da Dança e da Música que Rolando Toro,

docente das disciplinas de Psicopatologia da arte, Psicologia da

expressão e Criatividade no Instituto de Estética da Pontifícia

Universidade Católica de Santiago, e membro docente do Centro de

Estudos Antropologia Médica da Escola de Medicina da Universidade do

Chile, iniciou a criação do Sistema Biodanza.

Breve Histórico

A história começou em 1965, quando Toro desenvolvia um trabalho

de pesquisa em uma faculdade de Medicina do Chile. Com um grupo de

esquizofrênicos, do Hospital Psiquiátrico de Santiago, que tinham perdido

muitas de suas referências de vida, Rolando resolveu testar um método

não convencional com a música e a dança.

“Eles estavam tão deprimidos que decidi fazê-los dançar um pouco.

A resposta foi surpreendente, muito mais rápida e efetiva do que qualquer

outra linha terapêutica”(16), conta o antropólogo que a partir daí

fundamentou seu método em bases teóricas.

A Biodanza foi se espalhando e ratificando sua validade

indiscriminadamente, especialmente para os enfermos da civilização, que

têm dificuldade de contato com o próximo, de comunicação, problemas

familiares e que precisam resgatar sua expressão criativa e genuína.

A música é excelente para isso, porque não passa pelo mental, vai

direto para o “emocional”, afirma Rolando.

Através dos vários ritmos as pessoas vão se soltando e

descobrindo como estão vivendo a sua vida, constatam paulatinamente,

alterações em seu estilo de desfrutar a existência, melhorando sua

qualidade de vida e a qualidade das suas relações.

Para os diferentes momentos são devidamente estudados os mais

diversos ritmos, desde samba até músicas clássicas. Cada pessoa

encontra uma maneira original de se expressar; descobrem sentimentos,

necessidades, desejos. Gradativamente vai se vivenciando e se

apoderando de todos seus potenciais.

“A música permeia a pele, chega ao coração e transforma a

vida.”(17)

A dança é o movimento gerado pela emoção que a música propõe.

Quando existe um total envolvimento do dançarino com a música, ele vive

completamente o instante do aqui e agora como dimensão atemporal sem

passado ou futuro. Na dança, o dançarino está completamente voltado

para a manifestação de si mesmo através da emoção do movimento que,

de acordo com a semântica musical, o conduz a vivenciar seus potenciais;

alguns já manifestos, outros vivenciados pela primeira vez.

16

TORO apud PEREIRA, O Criador do Sistema Biodanza. 17

TORO apud CAMPOY, Aceita esta dança? Viva Feliz.

Princípio Biocêntrico

Rolando propõe um novo paradigma, intitulado Princípio

Biocêntrico. Este paradigma situa o respeito à vida como centro e ponto

de partida de todas as disciplinas e comportamentos humanos.

Restabelece a noção de sacralidade da vida.

Dança, amor, e vida são termos que falam ao fenômeno da

Unidade Cósmica.

É de Rolando, a explicação:

“O Principio Biocêntrico concentra seu interesse no Universo como sistema vivente. Não são apenas os animais, as plantas ou o homem o reino da vida. Tudo o que existe, desde os neutrinos até os quazares, desde as rochas até os pensamentos, mais sutis, formam parte de um fantástico ‟organismo‟ biológico. O Princípio Biocêntrico é, portanto, um ponto de partida para estruturar as novas percepções e as novas ciências do futuro. (…)movimentos originais e as primordiais percepções de vinculação da vida com a vida. (…) Nossas vidas surgem da sabedoria milenar do grande pulsador da vida, do útero cósmico, que se nutre e respira nas e no amor dos elementos."(18)

Em última análise, a coerência universal - dança de determinações

e indeterminações de fluxos presentes em um Universo altamente

instável, evolutivo, irreversível e auto organizado.

Conceitos Estruturais

Inconsciente Vital se refere ao psiquismo das células e órgãos,

significa que as células e os órgãos tem memória, sistemas de defesa,

afinidade e rejeição, solidariedade entre elas e uma riquíssima forma de

18

TORO, Teoria da Biodanza - (coletânea de Textos. Vol. I e II.), p.35 e 36.

comunicação. É um verdadeiro funcionamento integrado onde este

psiquismo é quem dá origem aos estados de humor.

A Vivência é o instrumento através do qual a Biodanza trabalha.

Existe um diferencial significativo entre vivência e elaboração cognitivo-

verbal. O termo "vivência" introduzido por Dilthey, significa "instante

vivido", ou seja, a sensação ou emoção que experimentamos em um dado

momento. A vivência é o elemento operativo essencial. Os exercícios,

portanto, estão especialmente destinados a ativar o sistema límbico,

mundo dos instintos e emoções, e dos estados de regressão e êxtase. A

vivência é a percepção intensa e apaixonada de estar vivo aqui e agora. É

a intuição do instante de vida capaz de estremecer harmonicamente o

sistema vivente humano.

Os exercícios de Biodanza estão destinados a vivenciar e somente,

muito posteriormente, a conscientizar: A vivência em si tem um poder de

regulação; a consciência, por outro lado, é um espelho que registra e

denota os novos estados de integração, regulação e otimização.

Existem cinco Linhas de Vivência, em que o desenvolvimento dos

potenciais genéticos se realiza mediante o bombardeio de ecofatores

positivos sobre cinco grandes conjuntos de potenciais:

Vitalidade

Sexualidade

Criatividade

Afetividade

Transcendência

As cinco linhas de vivências se relacionam entre si e se

potencializam reciprocamente, reativando as funções originárias de vida

(capacidade de amor, alegria, coragem de viver).

A música é o instrumento de mediação entre a emoção e o

movimento corporal. É uma linguagem universal acessível a crianças,

adultos de qualquer idade e região, sua influência vai diretamente na

emoção sem passar pelos filtros analíticos do pensamento.

A identidade é permeável a música e por isso mesmo pode

expressar-se através desta.

A carícia induz trocas funcionais a nível orgânico e existencial,

desperta a fonte do desejo e expressa a identidade. O desenvolvimento

do princípio vital no processo de troca. É um dos instrumentos

fundamentais da Biodanza.

Música-Movimento-Vivência formam uma estrutura unitária, cujos

componentes estão em relação dinâmica e possuem um efeito específico,

sendo que a música é rigorosamente selecionada em relação aos

exercícios e engloba toda a expressão vivente de sons naturais ou

artificiais, com as qualidades de ritmo (vínculo com a natureza), harmonia

(vínculo consigo mesmo), melodia e tonalidade (vínculo com o outro), e no

que diz respeito ao movimento (dança) se considera todo movimento vivo

orgânico e em particular os movimentos humanos surgidos da mais íntima

profundidade: caminhar, saltar, abraçar, trabalhar, etc. induzindo

vivências que se pretende alcançar.

Modelo Teórico

Os exercícios estão sistematizados de acordo com o Modelo

Teórico da Biodanza. Seus efeitos são controlados e as seqüências dos

exercícios estão desenhadas dentro de pautas que têm objetivos

precisos. Ela não pode ser restringida a uma metodologia, ou mesmo um

método; apesar de utilizar uma metodologia que expressa um sistema de

pensamento. Neste sentido, se operacionaliza através de um modelo

teórico complexo e sistêmico que propõe uma interação sincrônica entre

processos metabólicos, fisiológicos, físicos e emocionais. Ao considerar

todos os processos como um único processo, vê o ser vivo como único e

vital em sua interação com o meio, cujos aspectos ambientais são

chamados em Biodanza, de ecofatores. Estes podem ser positivos ou

negativos, ou seja, podem estimular ou inibir os potenciais (características

genéticas herdadas).

No Modelo Teórico, foram localizados em um pólo os exercícios de

regressão e no outro pólo o fortalecimento da identidade através de

danças euforizantes. A ldentidade-Regressão é pulsante e gira em forma

espiral sobre um eixo vertical que parte do núcleo de informação genética

(potencialidades) e se eleva em um processo de crescimento integrativo

que produz entropia negativa. Ambos conjuntos de exercícios apresentam

respostas neurovegetativas específicas. Exercícios euforizantes que

estimulam a identidade dão respostas simpático-adrenérgico. Exercícios

de regressão em “câmara lenta” induzem respostas parassimpático-

colinérgico.

A seguir o Modelo Teórico da Biodanza, criado por Rolando Toro:

Fig.1 – Modelo Teórico

CAPÍTULO IV

O GRUPO DE BIODANZA

“O Grupo de Biodanza se torna de imediato uma experiência do maravilhoso, em que as pessoas

Se encontram, se necessitam e presenteiam Uns aos outros com o melhor de si mesmos,

Uma experiência encantadora de ternura, Sob o efeito deflagrador da música

Essa experiência não se dá na realidade de todos

Os dias, opressiva, estressante e, às vezes, aterradora.

O grupo de biodanza constitui, assim uma Antecipação de um mundo altamente evoluído

Do futuro. Não se trata da realização onírica De uma utopia, mas da colocação

Em marcha, aqui e agora, das mais altas Potencialidades humanas.

Viver ainda que durante duas horas,

Essa realidade paradisíaca impulsiona A muitas pessoas fortes, enamoradas da vida, A lutar para conquistar para nossa existência

Ou a de nossos filhos e netos, Essa possibilidade de plenitude.

A experiência de Biodanza tem, portanto,

Um valor prospectivo, que vai além dos processos De harmonização e renovação orgânica imediata

A experiência de Biodanza é uma antecipação dos

Grandes Ritos de Amor e Encontro do Terceiro Milênio”.

Rolando Toro Criador do Sistema Biodanza

Fig.2 –

Jornada de

Biodanza –

maio/2007

O grupo é a matriz do desenvolvimento humano. A socialização compõe

um fator fundamental na formação da nossa maleável relação com o

mundo, determinando grande parte de nossos comportamentos futuros. O

ser humano possui uma grande capacidade de aprendizado. Desta forma,

podemos dizer que a qualidade da convivência com pais, avôs, familiares,

amigos e comunidade é um fator determinante para o ser humano, na

medida em que o compartilhar com os demais favorece a troca de

saberes.

O grupo é um elemento fundamental na estruturação da identidade,

o reconhecimento dos demais é a base para o próprio reconhecimento,

portanto a qualidade da convivência em grupo influencia a saúde mental e

somática de cada indivíduo. Em Biodanza, o grupo é matriz de

renascimento, haja vista que novas aquisições são incorporadas ao

desenvolvimento humano.

Fundamentos Básicos do Grupo de Biodanza

No último século identificamos uma influente corrente de

pensadores e teóricos que investiram na tendência da psicoterapia

dirigida a um único indivíduo, crendo ser este um método capaz de

promover uma transformação através de uma relação isolada com um

terapeuta. Contudo contextualizamos fortemente a existência de uma

outra corrente, muito contundente, e não menos brilhante, apostando que

o devir é obra resultante do homem como ser relacional e nesta frente

filosófica, além dos autores citados anteriormente, enfatizamos ainda

Martin Bube, Pichon Riviere, James Hilmann e Kenneth J Gergen.

A Biodanza compactua com esta última corrente de pensamento e

também acredita que a presença de um semelhante tem a capacidade de

modificar o modus operandi de uma pessoa em todos os seus níveis

orgânicos e existenciais, por isto tende a ser aplicada a grupos

específicos com, características semelhantes tais como:

Crianças, adolescentes, adultos e idosos.

Gestantes

Famílias (participam os pais, filhos, tios, sobrinhos,

primos, etc.).

Pessoas não marginalizadas, socialmente adequadas e

que, entretanto, possuem dificuldade para estabelecer

vínculos profundos. Característica quase sempre

causada por: insegurança, estados depressivos,

angústia, desconfiança, hostilidade, egocentrismo,

carência afetiva, falta de ímpeto vital, stress, ausência de

motivações para viver.

Grupos especiais de reabilitação existencial, doentes

mentais, hipertensos, mutilados cirúrgicos ou por

acidentes, deficientes de nascença, toxicomaníacos e os

portadores de: mal de Parkison, transtornos

psicomotores leves, alterações sensoriais (cegos, surdos,

surdos-mudos), alterações psiquiátricas (neuroses e

psicoses), distúrbios sexuais, enfermidades

psicossomáticas (cardiopatias, alergias, diabete,

gastropatias, transtornos respiratórios, obesidade, etc).

A Biodanza ativa as funções gerais conhecidas como a expressão

da identidade, a comunicação afetiva e as funções integrativas do

organismo. Devido a esta característica agrega positivamente na busca

de solução de uma grande diversidade de problemas e quadros clínicos,

atuando de diferentes formas, seja profilática, reabilitadora ou clínica.

Nos primeiros momentos de vida de um grupo, a coesão entre os

indivíduos é, geralmente, mínima; talvez fosse mais correto considerá-lo

como um agrupamento de indivíduos. Todavia, na medida em que as

sessões transcorrem, há uma acentuada tendência a que os participantes

estabeleçam progressivamente as relações inter-humanas,

paulatinamente o grupo começa a integrar-se e se transforma em uma

entidade supra-individual.

Cada indivíduo apresenta reações ambivalentes frente ao grupo:

temor, ódio e amor entrelaçam-se em uma dança peculiar. O ato de entrar

em um grupo é sinônimo de expor sua identidade a uma série de riscos,

somente pelo fato de enfrentar identidades diferentes. Fenômenos de

intensa projeção são facilitados através do convívio com o grupo, a ponto

de nos possibilitarem afirmar que os demais passam a representar as

qualidades reprimidas inconscientes. Assim, dentro do grupo são

projetados o medo, o amor, o desejo de contato, os impulsos agressivos,

a rejeição, etc. Ao mesmo tempo, são produzidos sentimentos de empatia

e calor. É natural, portanto, que no decorrer das sessões surjam

componentes antagônicos angustiantes e, ao mesmo tempo, de atração e

afinidade, ativando-se distintos sistemas de defesa. Se o grupo serve

para a projeção de nosso inconsciente reprimido, os mecanismos de

defesa que normalmente utilizamos vão se revelar como no negativo de

um filme.

À medida que o grupo se integra para formar um organismo supra-

individual, vai se criando um sentimento de solidariedade cada vez maior

e, ao mesmo tempo, uma sensação de perigo pela angústia de uma

possível separação. É progressiva a intimidade entre os membros, pois

durante as sessões, os participantes vão se conhecendo de acordo com

suas afinidades e criando relações diferenciadas.

No grupo de Biodanza, cuja característica é a diminuição de

controles corticais e, portanto, da repressão diante do contato, a angústia

natural própria dos grupos, pode aumentar ou atenuar-se bruscamente.

Grupos terapêuticos podem ser abertos ou fechados, mas no caso

específico da Biodanza, onde um fator desafiante é superar a inibição

diante do “estranho”, há uma tendência em compor grupos semi-abertos.

A aula aberta é então uma ferramenta que possibilita que o grupo

seja visitado para então praticar sua condição de semi-aberto,

possibilitando que novos membros sejam agregados ao grupo. Knust

Jaubert, Facilitador de Biodanza, explica que, metodologicamente correto,

seria a manutenção de um grupo de iniciação e outro de aperfeiçoamento,

orientação esta que não condiz com a realidade do mercado carioca. A

prática da aula aberta, além de prejudicar a progressividade do grupo,

também o expõe a outros perigos.

Relata Jaubert:

“Na prática, o resultado da manutenção de um único grupo é que ele se torna misto, seus participantes estão em etapas diferentes de seus processos de integração. Com isso, aumenta a dificuldade no planejamento progressivo das sessões, com prejuízo para o desenvolvimento do grupo. Devemos atender adequadamente ao participante que se inicia ou continuamos aprofundando, com prioridade para os participantes que já passaram pelo processo inicial de integração? Segundo nosso entendimento, qualquer desses caminhos deixa muito a desejar."(19)

Adotando como verdade que o indivíduo é um ser relacional,

entendemos que ao comprometer-se semanalmente com o grupo de

Biodanza, está implícita a disponibilidade para deflagrar um processo de

autodesenvolvimento que considera tanto a intervenção do facilitador de

Biodanza como do grupo. Com o intuito de ratificar esta premissa, é

responsabilidade do facilitador informar ao participante novato que o

Curso Semanal de Biodanza se articula em três níveis: de Iniciação, de

Aprofundamento e de Radicalização de Vivências e que a evolução entre

os níveis não é cartesianamente restrita ao período médio de dois a três

anos. Ocorre que além das peculiaridades individuais, também está

diretamente arrolado a este processo outros fatores, tais como o

comprometimento e a assiduidade. Por isto justifica-se a necessidade de

informar ao facilitador de Biodanza, com a devida antecipação, quando

19

JAUBERT, Progressividade em Biodanza, 2002.

houver a necessidade de faltar, possibilitando que o próprio facilitador

possa transmitir a situação aos outros participantes do grupo.

O desenvolvimento evolutivo em Biodanza prevê a superação

progressiva dos mecanismos de defesa, que se ativam frente ao medo de

ser si mesmo e de expressar a própria identidade através das Cinco

Linhas de Vivência. A tendência ou exigência interior de mudar

frequentemente de grupo e de facilitador, em geral, revela uma

inconsciente eleição de fuga diante das dificuldades de confrontar-se com

os próprios mecanismos de defesa para podê-los superar. Neste sentido,

mudar de grupo ou de facilitador pode significar criar um novo ponto de

partida no percurso de crescimento pessoal. Uma vertente capaz de

acalantar o desejo de trabalhar com diferentes facilitadores, pode ser

satisfeito com a participação em maratonas conduzidas por outros,

enquanto se continua a participar do curso semanal com o próprio

facilitador.

A Biodanza não é uma proposta de recreação para o tempo livre,

na qual se poderia compreender a ansiedade de saltar de um grupo para

outro. O processo de crescimento pessoal mediante Biodanza requer um

compromisso sério e profundo com a própria vontade de evoluir, portanto,

um compromisso consigo mesmo, com o facilitador em quem se

depositou a confiança e também com o grupo.

O relato de vivências constitui uma fenomenologia falada, na qual o

aluno descreve alguns aspectos íntimos, pessoais e que constituem uma

revelação dos processos mais relevantes de sua experiência interior

durante o exercício. Tem a importante função de permitir reviver

emocionalmente uma vivência já experimentada. Incluindo elementos de

consciência válidos para si mesmo (Conexão consigo mesmo),

estabelecer um vínculo de sinceridade e comunhão com os outros

participantes do grupo (Conexão com o outro) e compartilhar com o grupo

uma experiência interior, ainda que esta seja uma função de caráter

catártico, produz um efeito de profunda conciliação com o mundo

(Conexão com o Universo). Ao empregar a linguagem, gera um processo

de duração do significado da própria vivência no tempo, porque através

da linguagem se manifestam componentes simbólicos e se aumenta a

consciência da experiência vivida. Este processo constitui uma passagem

da vivência à emoção, da emoção ao sentimento, porque ao relatar sua

vivência, o aluno assume a experiência vivida. Este é um processo de

reforço da identidade através da expressão de si mesmo dentro de um

grupo.

O relato de vivências é um recurso verbal, mas a Biodanza deve

ser apreendida como uma disciplina vivencial, pois dentro da metodologia

esta é uma das poucas intervenções de linguagem. Em seu aspecto

metodológico, consiste em estimular no participante a busca da expressão

sincera do que tenha sentido durante a vivência e a compreensão dos

reflexos desta vivência em sua vida. O relato de vivências não se trata de

um diálogo terapêutico e não prevê nenhuma forma de interpretação.

O relato de vivências se realiza no começo da sessão de Biodanza

e jamais no final, porque a ativação cortical provocada pela linguagem

anula os efeitos psicofisiológicos produzidos pelas vivências.

A entrevista individual é realizada eventualmente quando o aluno

sente dificuldades durante a vivência e manifesta para o facilitador a

necessidade de um diálogo privado, onde o facilitador deve limitar-se ao

“escutar ativo”. Não se trata, portanto, de uma sessão de psicoterapia.

Trata-se de um recurso metodológico suplementar de apoio que permite

ao facilitador oferecer ao aluno uma assistência individual.

CAPÍTULO V

A OPERACIONALIZAÇÃO DE GRUPOS DE BIODANZA

As autoras deste trabalho tiveram a oportunidade de praticar seu

aprendizado de Biodanza em quatro grupos, aqui relacionados:

O Grupo de Copacabana – Características:

Fig.3 – Grupo de Copacabana – novembro/2007

Adultos

Faixa etária: 25 a 60 anos

Iniciante

Particular

6 a 8 alunos

Sexo masculino – 2 alunos

Sexo feminino – 6 alunos

Classe média

o Metodologia

Em 2005 foi realizado no Hotel Atlântico Copacabana, em parceria

com outra facilitadora experiente, um evento do qual participaram cerca

de quarenta pessoas, onde a Biodanza foi apresentada para a maioria

delas. Foi surpreendente a qualidade dos relatos de vivências. O sucesso

deste evento foi responsável pela formação do grupo.

Este grupo apresentou dificuldades com a questão financeira e

algumas pessoas solicitaram descontos que possibilitassem a sua

permanência no mesmo. Este tipo de concessão gera diminuição do valor

arrecadado, desestabilizando aspectos práticos para a manutenção do

mesmo. A formação e manutenção de um grupo de Biodanza envolvem

questões materiais tais como, aluguel da sala, panfleto, cartões de visitas,

CD‟s, cursos de reciclagem, cujos custos elevados interferem na

sustentabilidade do mesmo.

A divulgação praticada (Anexo A), devido ao custo e inexperiência,

foi e ainda é passível de muito aprendizado. Um dos recursos utilizados

na captação de novos participantes tem sido a aula aberta que

obviamente acarreta uma série de conseqüências. Interfere na

progressividade do grupo; em contrapartida, é também uma oportunidade

de presenciar a maturidade dos componentes em recepcionar os novatos.

Infelizmente, reconhecemos que o percentual de visitantes que aderiram

ao grupo até o presente momento tem sido um tanto desalentador.

Certamente tratamos de questionar nossas falhas enquanto facilitadoras

iniciantes, no sentido de redirecionar e aprimorar nossas atitudes em

relação às tais questões.

A integração afetivo-motora progressivamente tem gerado

resultados positivos, com relação ao ritmo, coordenação e sensibilidade.

Quanto aos relatos de vivências, não podemos estabelecer uma

regra de comportamento, pois se algumas vezes são potentes tanto em

conteúdo como em “insights”, outras, porém, são vazios e superficiais.

Sabemos que vínculo entre os participantes do grupo, relatos de

vivência e a própria progressividade na prática existencial desenharia um

gráfico semelhante à trajetória de uma montanha russa, não sem motivos

justos. Consideremos que esta foi a primeira experiência que vivenciamos

enquanto facilitadoras, portanto nosso universo prático de aprendizes. O

grupo também passou por adesões e perdas significantes, especialmente

no começo de sua formação. Fato que interferiu profundamente,

dificultando a constituição de uma matriz.

O comprometimento relativo de alguns dos participantes

comprovados pelas ausências ou atrasos são fatos que, associados à

quantidade de participantes do grupo, o conduzem a viver alguns

momentos críticos, em que a possibilidade de realizar o trabalho se torna

inviável. Mais uma vez questionamos o nosso papel enquanto

facilitadoras, pois deveríamos qualificar os presentes, contudo muitas

vezes a realidade quantitativa nos impede.

Começamos a enfocar uma reflexão sobre a dificuldade que a vida

prática moderna proporciona na decisão de assumir o compromisso

semanal que a Biodanza estabelece, as faltas regulares, apesar de

justificadas, prejudicam a progressividade do aluno e como conseqüência

à do grupo. Bem como o planejamento das aulas, pois por diversas vezes,

sem a quantidade adequada de pessoas, as vivências precisavam ser

alteradas.

Em alguma fase deste grupo havia uma representatividade

significante de familiares, contudo não identificamos para este grupo tal

fator como exatamente positivo.

Se por um lado elementos do grupo estenderam suas inter-

relações pessoais para contextos sociais privados, por outro lado

identificamos algumas lacunas que, acreditamos, podem ser preenchidas

por uma relação terapêutica mais estreita, mas esta matéria necessita

uma reflexão mais profunda. De todas as formas o grupo de Copacabana

é detentor de peculiaridades ímpares.

Finalmente atribuímos às supervisões e estágios de observação o

mérito pela contribuição significativa para o crescimento das facilitadoras

e do grupo. Entretanto foi no cotidiano de nossa existência como

facilitadoras deste grupo que identificamos quão valoroso seria um

intercâmbio mais acentuado entre facilitadores, especialmente com

aqueles mais experientes.

É uma satisfação percebermos a significante melhora na auto-

estima dos integrantes e a mudança do seu estilo de vida, além daquelas

observadas face às dificuldades e/ou situações do cotidiano sejam nas

relações familiares, no trabalho e no meio social. Estamos conscientes

dos frutos colhidos tanto pelos participantes como pelas facilitadoras, seja

pelo melhoramento da qualidade de vida ou pelo aumento da consciência

de si, do outro e do mundo. Entretanto sabemos que por todas as

dificuldades experimentadas em sua fase de formação, este grupo está

carente de uma reciclagem e uma atitude capaz de alterar sua existência,

desafio este que nos leva a desejar mais desenvolvimento pessoal, quer

seja enquanto indivíduo quer seja enquanto facilitadoras.

O Grupo de Iguaba Grande – Características:

Adultos

Faixa etária: 25 a 70

Iniciante

Familiar

5 a 7 alunos

Sexo masculino – 2

Sexo feminino – 5

Classe média

Fig.4 – Grupo de Iguaba Grande – março/2006

o Metodologia

Consideramos que a experiência propulsora deste grupo com a

Biodanza ocorreu no aniversário de 70 anos da nossa mãe. Estavam

reunidos cerca de cem familiares na ocasião e fizemos uma roda de

harmonização e uma roda alegre que resultou numa vivência indescritível,

surpreendente e inesquecível. Muitos participantes vivenciaram um

estado tal de comoção que foi inevitável o despertar da curiosidade o que

os conduziu a buscar nos facilitadores daquele evento espontâneo uma

explicação. Daquela experiência ímpar desabrochou o grupo de Iguaba.

O grupo foi formado em 2005 e sua peculiaridade residia no fato de

ser quase totalmente composto por membros da família. As aulas

regulares eram semanais e freqüentadas por nossa mãe, irmão, sua

esposa e sua ex-esposa, um de nossos sobrinhos e a empregada

doméstica da nossa mãe. O ambiente proporcionava certa tranqüilidade

aos participantes, pois se sentiam seguros em decorrência do fato de

confiarem plenamente nas facilitadoras, contudo no início houve uma

grande dificuldade de vencer a vergonha degenerada pelo alto grau de

intimidade existente entre os participantes.

No decorrer das sessões, a integração, a participação assídua e a

confiança, progressivamente permitiu um bom resultado na construção de

um vínculo diferenciado do existente, possibilitando uma capacidade de

entrega o que gerou um aprofundamento nas vivências e em seus relatos,

além da oportunidade de confrontar muitas descobertas internas sobre

potências e limites.

Neste sentido, julgamos oportuno citar Keitel, quando trata do

reforço dos vínculos e que propicia a compreensão do processo grupal:

“Os processos de construção de vínculos nas relações humanas e sua função no desenvolvimento afetivo dos indivíduos, e como este processo se correlaciona com a qualidade e quantidade das relações estabelecidas nos grupos. A compreensão do processo de desenvolvimento

das relações interpessoais se torna importante no processo Biodanza, pois segundo Rolando Toro, a mesma se objetiva justamente a oferecer vivências de qualidade afetiva que possibilitem novas formas de contato interpessoal, fundadas no amor e na ética e, por conseguinte a médio e longo prazo possibilitar a reparentalização, reorganizando formas de estabelecer os vínculos afetivos, que advém de matrizes muito primitivas de nosso desenvolvimento psicológico."(20)

Durante a existência do grupo foi realizada uma aula aberta, mas

praticamente não houve visitas.

As sessões eram realizadas em um salão próprio, sem custo, o que

facilitava a manutenção do mesmo, visto que era praticamente sem ônus

por parte dos facilitadores bem como dos integrantes.

Hoje, o grupo está parado por impossibilidade geográfica das

facilitadoras, haja vista que as mesmas se transferiram para o Rio de

Janeiro. É estimulante saber que os alunos sentem falta das atividades da

Biodanza.

O Grupo de Niterói – Características:

Adultos

Faixa etária: 30 a 60

Iniciante

Particular

6 a 8 alunos

Sexo masculino – 2

Sexo feminino – 6

Classe média

Fig.5 – Grupo de Niterói – janeiro/2008

20

KEITEL, Construção de Vínculos Inter-Pessoais e Constituição de Grupos, 2005.

o Metodologia

Começou em 2007 e comporta alguns aspectos que facilitaram a

formação do grupo: local onde a aula é realizada (espaço terapêutico e

criativo); a movimentação da rua que favorece a propagação da

divulgação “boca a boca”.

O grupo é composto por uma maioria de iniciantes e conta com

mais dois alunos que já haviam participado de outros grupos de Biodanza.

Atualmente vivenciamos os primeiros meses de aula e estamos

desenvolvendo a integração-afetivo-motora, com o devido

comprometimento e empolgação da turma o que tem nos facilitado

observar resultados progressivos no fortalecimento do vínculo, da

confiança e na matriz grupal.

No momento verbal ratificamos os efeitos orgânicos e psicológicos

e em alguns alunos denunciam mudanças visíveis de comportamento e

estilo de vida.

Apesar de iniciantes são receptivos e afetivos quando acontecem

visitas ou aulas abertas.

O Grupo do Retiro dos Artistas – Características:

Idosos

Faixa etária: 60/92

Iniciantes

Empresa –

Projeto Social

6 a 8 alunos

Sexo masculino – 2

Sexo feminino – 6

Classe média Fig.6 – Grupo do Retiro dos Artistas – julho/2007

o Metodologia

Uma visitante de aula aberta do Grupo de Copacabana foi

designada para dirigir um Projeto de Responsabilidade Social financiado

pela UNIMED-Rio, cuja demanda era a indicação de uma atividade

criativa para os idosos residentes no Retiro dos Artistas. Ela percebeu que

a Biodanza era ideal para inserir no Projeto; então fomos convidadas para

a concorrência. Assim o grupo do Retiro dos Artistas desabrochou em

meados de 2007 com o objetivo de integrar, elevar a auto-estima e

resgatar a alegria de viver.

De todos os integrantes, somente um deles havia participado

anteriormente de uma sessão de Biodanza.

O fato de residirem no mesmo local onde ocorrem as aulas, parecia

a princípio um fator altamente facilitador da proposta de estabelecer um

grupo de Biodanza, entretanto não demoramos a perceber o contrário. O

ambiente tenso devido às dificuldades financeiras, físicas e psicológicas,

constitui fatores intensamente desgastantes capazes de influenciar

prejudicialmente nossas atividades semanais. Tem sido um desafio

enriquecedor, pois cada encontro é um evento inédito, nem sempre

motivador. Contudo em algumas outras oportunidades temos vivenciado

experiências extremamente gratificantes, capazes de nutrir nossa

determinação em busca de resultados.

Existe uma dificuldade de gerar uma matriz no grupo, devido à

rotina do Retiro dos Artistas. Os acontecimentos são diversos, tais como,

visitação pública, gravações, doenças, exames, consultas e

especialmente os falecimentos.

Apesar de todas as dificuldades relatadas e do curto período em

que o projeto está sendo desenvolvido, estamos orgulhosas com os

resultados obtidos até aqui, especialmente alguns de ordem individual,

percebido nos participantes que se dedicam assiduamente e

comprometidamente com a proposta obtendo melhoria no quadro geral da

saúde física, no humor, nas relações com o outro e no convívio consigo.

Para nortear a atividade didática das autoras, foi aplicado um

questionário para os facilitadores de Biodanza no Rio de Janeiro. O

formulário e os resultados obtidos fazem parte do Anexo B.

Fig.7 – Grupo do Retiro dos Artistas – janeiro/2008

CONCLUSÃO

Na realidade prática, a formação de um grupo de Biodanza é em si

um grande desafio e acreditamos que quando associado à inexperiência

prática do facilitador esta questão torna-se mais acentuada ainda. O

nosso intuito foi suscitar e não esgotar este diálogo, uma vez que os

fatores estruturais e conjunturais dificultam e facilitam a formação de um

grupo de Biodanza.

Assim, é possível chegar as seguintes conclusões:

1. Propaganda – é um fator importante. Quando o facilitador

dispõe de recursos para tal investimento ou é detentor de

técnicas de marketing, tais implementações são então

facilitadoras na operacionalização do grupo, contudo esta não é

a realidade de maior ocorrência, portanto um dificultador.

2. Aula aberta – Se por um lado facilita o ingresso de novas

pessoas no grupo, por outro lado interfere na progressividade

do mesmo. O resultado do questionário demonstra pouca

utilização.

3. Quantidade de participantes do grupo – o questionário

aponta a existência vitoriosa de grupos pequenos ou

numerosos. Em nossa experiência este fator tem sido o maior

dificultador na operacionalização do grupo.

4. Relato de Vivências e o Vínculo - Sobre o relato de vivência

podemos destacar o papel que este tem no desenvolvimento do

grupo, especialmente em conteúdos tão importantes como na

progressividade do mesmo ou na constituição de sua matriz. O

vínculo, além de imprescindível, de forma geral, é também

amálgama da constituição desta mesma matriz. Este fator não

deixa de interferir no processo de manutenção do grupo.

5. Relação Terapêutica - A relação individual entre um

participante e o facilitador, através de outras terapias, tende a

ser um diferencial altamente positivo neste contexto, pois

reafirma o vínculo.

6. Inter-relação Grupal - Um dos fatores mais preponderantes de

toda teia grupal são os participantes. A confiança nos outros

elementos do grupo e em especial no facilitador é um

ingrediente imprescindível e facilita o sucesso do grupo,

contribuindo para o desenvolvimento pessoal de cada

participante a ele relacionado.

7. Gratuidade - prática comum relativa aos participantes de

grupos sociais. O questionário demonstra ser o fator de maior

sucesso na constituição de um grupo, pois apresenta evasão

quase nula e adesão elevada. Entretanto a gratuidade pode

interferir no comprometimento do aluno com as aulas.

8. Dupla de Facilitadores – constatado pelo questionário é uma

prática rica no sentido de que cada um dos facilitadores da

dupla tende a trazer seus conteúdos pessoais que geralmente

são complementares. Pode tomar o contexto oposto quando

entre eles houver competitividade.

9. Experiência de Outros Facilitadores – os resultados do

questionário indicaram o caminho percorrido por alguns grupos

de Biodanza, que serviram de subsídio valioso para aumentar a

percepção das autoras deste estudo.

Sugestões para trabalhos futuros

Os procedimentos previamente estabelecidos para a realização

das experiências então relatadas, têm sido fundamentais para o seu êxito.

Assim, passamos a apontar alguns deles e que poderão servir de

sugestão.

1. A partir da escolha do grupo, torna-se indispensável uma

reunião prévia com os dirigentes da instituição.

2. Realização de entrevistas individuais, para apresentação da

metodologia da Biodanza, esclarecimentos das dúvidas

existentes, minimização das ameaças internas, medos,

insegurança e outras preocupações naturais. Tal procedimento

é indispensável para os facilitadores do grupo, pois possibilitará

um conhecimento prévio dos participantes.

3. Indispensável, também o desenvolvimento da sensibilidade do

facilitador, pois facilitará a leitura de cada momento do grupo,

reforçando o “feedback” e assim, reformulando o planejamento

das futuras sessões.

4. No que diz respeito ao aspecto propaganda, em função do seu

elevado custo, o facilitador pode lançar mão do seu aprendizado

adquirido na linha de vivência da Criatividade, utilizando

recursos eficazes para o alcance dos resultados desejados.

5. O “boca a boca” é muito eficiente, pois no fundo o indivíduo

“biodanzado” quer apenas regalar ao outro uma possibilidade

que a ele próprio parece maravilhosa. Considerando ser uma

atitude sem quaisquer ganhos materiais secundários, é em si

uma postura que já tem seu valor, obviamente potencializado

tanto por tratar-se de um ato de amor, como por estar inserida

em uma cultura capitalista.

6. As orientações de facilitadores experientes é um aspecto

importante, haja vista que a troca de experiência favorece o

desempenho e enriquece o grupo como um todo.

7. A reciclagem do facilitador e seu comprometimento em manter-

se na humilde qualidade de um Ser em constante

desenvolvimento, postura esta imprescindível para todo o

profissional que optou cuidar de seu semelhante.

Enfim, concluímos que, ao desfilar por tais fatores, não

encontramos quaisquer soluções cartesianas, contudo cremos ter melhor

dimensionado a coragem daqueles que os estão enfrentando e valorando

os que estão obtendo sucesso em sua empreitada.

ANEXOS

ANEXOS - A

Jornal Prana Universo Holístico – IX ano, 105ªed. Nov.2005

ANEXOS – B

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Aulas Abertas

boca a boca

Curso de Iniciacao a BiodanzaInternet

jornal

pagina amarelaPanfletos

radioworkshop

Propaganda e Aulas Abertas

Resultados do questionário por amostragem aplicado a facilitadores de Biodanza.

Propaganda e Aula Aberta

Usamos os dois meios de propaganda mais utilizados e abaixo

demonstramos a ênfase da Aula Aberta.

Quantidade de participantes no grupo

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Início

Atual

0 1 2 3 4 5 6

Administrador

Analista Sistemas

Arquiteto

Assistente Social

Contabilidade

Economia

Letras

Matematica

Médico

Professor

Psicólogo

Publicitária

outras

Formação do Facilitador

Quantidade de participantes do grupo

Disponibiliza adesão, evasão e quantidade de elementos no grupo.

Relação Terapêutica

Obs: Questionados, os psicólogos ressaltaram o vínculo terapêutico como

um diferencial altamente positivo.

Tipo de Grupo

Social

Particular

Faixa etária do Grupo Social

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

idosos adultos

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Qte. inicial Qte. Final

Evasão de alunos idosos em grupos sociais

Gratuidade

Os grupos sociais

representam menos de 20%

do total de grupos de

Biodanza.

Dos grupos sociais

existentes 67% são idosos.

A quantidade de

evasão é quase nula.

Sendo a gratuidade um

facilitador.

0

5

10

15

20

25

grupos com 1 facilitador grupos com 2 facilitadores

1 ou 2 facilitadores

76

78

80

82

84

86

88

90

92

94

quantidade inicial de alunos quantidade atual de alunos

Grupo com 2 facilitadores

155

160

165

170

175

180

185

190

195

200

205

210

quantidade inicial de alunos quantidade atual de alunos

Grupo com 1 facilitador

Dupla de Facilitadores

Praticamente 30% dos grupos de Biodanza são conduzidos por

dois facilitadores.

O grupo conduzido por 2 facilitadores apresenta um aumento de

13%, enquanto o grupo conduzido por 1 facilitador apresentou decréscimo

de 16% no seu número de participantes.

Outros

segunda

terça

quarta

quinta

sexta

S1

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Grupo em que dia da semana?

Motivos da evasão de alunos

0

5

10

15

20

25

30

Férias Financeiro Problemas de

Saúde

Mudança de

Endereço

Problemas

Pessoais

Não deram

Satisfação

outras terapias Outros Cursos

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Professor em titulação Professor Didata

Formação em BIODANZA

Feminino

Masculino

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

Sexo

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

iniciante intermediário aprofundamento

Nível do Grupo

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Baixa Media Media Alta

Classe Social

BIBLIOGRAFIA

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