148

Informe agropecuario feijão

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Informe agropecuario feijão
Page 2: Informe agropecuario feijão
Page 3: Informe agropecuario feijão

Informe Agropecuário Belo Horizonte v. 25 n.223 p.1-144 2004

ISSN 0100-3364

Informe AgropecuárioUma publicação da EPAMIG

v.25 n.223 2004Belo Horizonte-MG

Sumário

Apresentação

Editorial ............................................................................................................................. 3

Entrevista ........................................................................................................................... 5

Produtividade e custo de produção do feijão em diferentes níveis tecnológicos

José Mauro Chagas, Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira, Trazilbo José de Paula Júnior e

Rômulo Bastos Chagas ....................................................................................................... 7

Elementos climáticos e produtividade do feijoeiro

Agostinho D. Didonet e Silvando Carlos da Silva .................................................................. 13

Cultivares

Magno Antonio Patto Ramalho, Ângela de Fátima Barbosa Abreu e

José Eustáquio S. Carneiro ................................................................................................... 21

Importância do uso de sementes de feijão livres de patógenos

Rogério Faria Vieira e Trazilbo José de Paula Júnior ............................................................. 33

Manejo de solos para a cultura do feijoeiro

José Carlos Cruz, Ramon Costa Alvarenga, Israel Alexandre Pereira Filho, Derli Prudente

Santana, Etelvino Henrique Novotny e Egídio Arno Konzen .................................................. 42

Métodos culturais

Clibas Vieira ......................................................................................................................... 57

Nutrição e adubação do feijoeiro

Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira, Messias José Bastos de Andrade e

Geraldo Antônio de Andrade Araújo .................................................................................... 61

Irrigação

Pedro Marques da Silveira e Luis Fernando Stone ................................................................ 74

Manejo de plantas daninhas na cultura do feijoeiro em plantio direto

Tarcísio Cobucci, José Geraldo Di Stefano, João Kluthcouski e Dionidio Feitosa Sousa ........ 83

Manejo integrado de doenças do feijoeiro

Trazilbo José de Paula Júnior, Rogério Faria Vieira e Laércio Zambolim ................................ 99

Manejo integrado dos insetos e outros invertebrados pragas do feijoeiro

Eliane D. Quintela ................................................................................................................ 113

Colheita mecanizada

José Geraldo da Silva e Pedro Marques da Silveira ............................................................. 138

A produção de feijão em Mi-

nas Gerais é de, aproximadamente,

500 mil toneladas (2002), o que ga-

rante ao Estado o segundo lugar

entre os maiores produtores do País.

O cultivo é realizado em todas as re-

giões, com os mais variados níveis

tecnológicos e sistemas de produção.

Mesmo com toda essa diversidade,

a produtividade obtida por muitos

agricultores é ainda baixa.

A simples adoção de tecnolo-

gias já disponibilizadas pela pesqui-

sa pode modificar este panorama,

principalmente entre os pequenos

e médios produtores, responsáveis

por parcela expressiva da produção.

Com base nesses dados, a

EPAMIG coloca à disposição dos

produtores esta edição da revista

Informe Agropecuário, que contém

as principais recomendações técni-

cas para o cultivo do feijão. Entre

os temas abordados estão o uso de

sementes de qualidade, provenien-

tes de variedades melhoradas, clima,

plantio direto, adubação, irrigação e

controle de plantas daninhas, pragas

e doenças.

Trazilbo José de Paula Júnior

Alexandre C. de Barcellos Ferreira

Rogério Faria Vieira

Page 4: Informe agropecuario feijão

© 1977 EPAMIG

ISSN 0100-3364

INPI: 1231/0650500

É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer

meios, sem autorização escrita do editor. Todos os direitos

são reservados à EPAMIG.

Os artigos assinados por pesquisadores não pertencentes

ao quadro da EPAMIG são de inteira responsabilidade de

seus autores.

COMISSÃO EDITORIAL

Baldonedo Arthur Napoleão

Luis Carlos Gomes Guerra

Manoel Duarte Xavier

Carlos Alberto Naves Carneiro

Maria Lélia Rodriguez Simão

Edson Marques da Silva

Sebastião Gonçalves de Oliveira

Aldo Fernandes da Silva Júnior

Cristina Barbosa Assis

Vânia Lacerda

EDITOR

Vânia Lacerda

COORDENAÇÃO TÉCNICATrazilbo José de Paula Júnior, Alexandre C. de Barcellos Ferreira

e Rogério Faria Vieira

REVISÃO LINGÜÍSTICA E GRÁFICA

Marlene A. Ribeiro Gomide e Rosely A. R. Battista Pereira

NORMALIZAÇÃO

Fátima Rocha Gomes

PRODUÇÃO E ARTE

Diagramação/formatação: Rosangela Maria Mota Ennes

e Maria Alice Vieira

Design e Capa: Thiago Fernandes Barbosa

Fotos da capa: Erasmo Pereira e Thiago Fernandes Barbosa

PUBLICIDADE

Assessoria de Marketing

Décio Corrêa

Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova

Caixa Postal, 515 - CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG

Telefone: (31) 3488-8468

IMPRESSÃO

EMBRAPA

Informe Agropecuário é uma publicação da

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais - EPAMIG

Assinatura anual: 6 exemplares

Aquisição de exemplares

Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC/EPAMIG)

Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - Cidade Nova

Caixa Postal, 515 - CEP 31170-000 Belo Horizonte-MG

Telefax: (31) 3488-6688

E-mail: [email protected] - Site: www.epamig.br

CNPJ (MF) 17.138.140/0001-23 - Insc. Est.: 062.150146.0047

Os nomes comerciais apresentados nesta revista são citados

apenas para conveniência do leitor, não havendo

preferências, por parte da EPAMIG, por este ou aquele produto

comercial. A citação de termos técnicos seguiu a nomenclatura

proposta pelos autores de cada artigo.

O Informe Agropecuário é indexado na

AGROBASE, CAB INTERNATIONAL e AGRIS

Governo do Estado de Minas Gerais

Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Sistema Estadual de Pesquisa Agropecuária

EPAMIG, UFLA, UFMG, UFV

Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - Belo

Horizonte: EPAMIG, 1977 - .

v.: il.

Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatísti-

ca. - v.1, n.1 - (abr.1975).

ISSN 0100-3364

1. Agropecuária - Periódico. 2. Agricultura - Aspecto

Econômico - Periódico. I. EPAMIG.

CDD 630.5

Page 5: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , 2 0 0 4

Tecnologia garante rentabilidadepara a cultura do feijão

O consumo de feijão no Brasil é de cerca de 16 kg/habitan-

te/ano, o que faz dessa leguminosa não só um dos alimentos básicos

da população, mas também a responsável pelo fornecimento de grande

parte da proteína necessária ao corpo humano. O plantio de feijão

alcança diversas regiões do território nacional, podendo ser cultivado

em diferentes sistemas de produção.

Neste cenário, os produtores de feijão classificam-se em dois

grupos: os pequenos, que ainda usam baixa tecnologia e têm sua renda

associada às condições climáticas, concentrados na produção das águas

(primeira safra), e os grandes, com lavoura tecnificada, com alta pro-

dutividade, plantio irrigado, concentrado na produção da seca e de

inverno (segunda e terceira safras).

As duas primeiras safras são responsáveis por 90% da produ-

ção nacional. Esta provém de 2,9 milhões de hectares de lavouras de

pequenos e médios produtores, que utilizam, na sua maioria, mão-de-

obra familiar com baixo nível tecnológico, tendo como conseqüência,

uma produtividade média de 776 kg/ha, considerada baixa. A safra

de inverno de, aproximadamente, 156 mil hectares, garante os 10%

restantes da produção, através do manejo da lavoura com alto nível

tecnológico, onde a irrigação é essencial para alcançar produtivida-

des médias de 1.584 kg/ha. Estes dados mostram que a tecnologia é

imprescindível para o aumento da produtividade e a conseqüente

rentabilidade da cultura feijoeira num mercado altamente competi-

tivo.

Disponibilizar tecnologias adequadas aos pequenos e médios

produtores é essencial para o aumento da produtividade de feijão.

Com este objetivo, a EPAMIG apresenta o Informe Agropecuário, que

contém informações e orientações para a condução das lavouras de

feijão com uso de tecnologias que garantem produtividade e lucro

para o produtor.

Baldonedo Arthur Napoleão

Presidente da EPAMIG

GOVERNO DO EST ADO DE MINAS GERAISAécio Neves da Cunha

Governador

SECRETARIA DE EST ADO DE AGRICULTURA,PECUÁRIA E ABASTECIMENTO

Silas BrasileiroSecretário

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais

PresidênciaBaldonedo Arthur Napoleão

Diretoria de Operações TécnicasManoel Duarte Xavier

Diretoria de Administração e FinançasLuiz Carlos Gomes GuerraGabinete da Presidência

Carlos Alberto Naves CarneiroAssessoria de Comunicação

Aldo Fernandes da Silva JúniorAssessoria de Planejamento e Coordenação

Ronara Dias AdornoAssessoria Jurídica

Gilson Márcio BoncompagniAssessoria de Informática

Luiz Fernando Drummond AlvesAuditoria Interna

Carlos Roberto DitadiDepartamento de Transferência e Difusão de Tecnologia

Cristina Barbosa AssisDepartamento de Pesquisa

Maria Lélia Rodriguez SimãoDepartamento de Negócios Tecnológicos

Edson Marques da SilvaDepartamento de Ações e Desenvolvimento

Sebastião Gonçalves de OliveiraDepartamento de Recursos HumanosJosé Eustáquio de Vasconcelos Rocha

Departamento de Patrimônio e Administração GeralMarlene do Couto Souza

Departamento de Contabilidade e FinançasJosé Roberto de Castro Massensini

Superintendência Financeira dos Centros Tecnológicos eFazendas Experimentais

José Roberto EnoqueSuperintendência Administrativa dos Centros Tecnológicos e

Fazendas ExperimentaisArtur Fernandes Gonçalves Filho

Centro Tecnológico-Instituto de Laticínios Cândido TostesGérson Occhi

Centro Tecnológico-Instituto Técnico deAgropecuária e Cooperativismo

Marusia Guimarães Pereira RodriguesCentro Tecnológico do Sul de Minas

Adauto Ferreira BarcelosCentro Tecnológico do Norte de Minas

Marco Antonio Viana LeiteCentro Tecnológico da Zona da MataJuliana Cristina Vieccelli de CarvalhoCentro Tecnológico do Centro-Oeste

Cláudio Egon FacionCentro Tecnológico do Triângulo e Alto Paranaíba

Roberto Kazuhiko Zito

A E PAMIG in tegra oSistema Nacional de Pesquisa Agropecuária,

coordenado pela EMBRAPA

Page 6: Informe agropecuario feijão
Page 7: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , 2 0 0 4

Investir na pesquisa é fundamental para aumento da produtividade

O engenheiro agrônomo José

Aristóteles Pereira dos Santos possui

vários cursos de desenvolvimento e

aprimoramento nas áreas de Fitotecnia,

Entomologia, Irrigação, Administração

Rural, Planejamento Rural e Plantio

Direto. É consultor independente para

assuntos agropecuários, através da

Projetar Planejamento e Assessoria. José

Aristóteles é proprietário da Fazenda

Bocaina, distante 60 km da cidade de

Unaí, MG. A Fazenda, que possui área

total de 739 ha, apresenta características

de solo e topografia que lhe conferem

alta aptidão para irrigação e integração

lavoura pecuária. Para a safra 2004/2005 está programado o sistema de integração (milho com braquiária – Sistema

Santa Fé), feijão com estilosantes (Mineirão, Campo Grande I e Campo Grande II).

Com essa estratégia, José Aristóteles pretende garantir, após a colheita do milho, pastagem de braquiária de

primeiro ano, que permanecerá verde durante a seca, e a manutenção de banco de proteína (estilosantes) nas áreas de

feijão que, normalmente, é colhido em janeiro/fevereiro.

IA - Como o senhor classifica, em ter-

mos de quantidade, alta produtivi-

dade de feijão?

José Aristóteles - Classifico como

alta produtividade do feijoeiro, ren-

dimentos acima de 3 mil kg/hectare.

Com relação à dificuldade de obter

alta produtividade, classifico da seguin-

te forma:

- produtividade até 40 sacas/hec-

tare – fácil;

- produtividade de 40 a 50 sacas/

hectare – normal;

- produtividade acima de 50 sacas/

hectare – difícil;

- produtividade acima de 60 sacas/

hectare – muito difícil.

IA - Qual foi a maior produtividade de

feijão alcançada em sua região? Em

que condições de manejo essa pro-

dutividade foi obtida?

José Aristóteles - Em torno de 74

sacos/hectare, em condições de plantio

no mês de maio e sob sistema de irriga-

ção do tipo pivô central, considerando

também a nutrição equilibrada (com

avaliação e análises do solo e foliar) com

aplicação no sulco de plantio dos nu-

trientes, conforme análise de solo, re-

posição e/ou complementação através

de aplicação via foliar ou via quimi-

gação dos nutrientes que apresenta-

ram níveis baixos pela análise foliar.

Além disso vale ressaltar a utilização

da técnica de manejo integrado de pra-

gas e doenças, o que baixa sensivel-

mente o custo de produção e contribui

para o aumento da produtividade.

Page 8: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , 2 0 0 4

IA - Na sua opinião, quais os principais

fatores que influenciam na produ-

tividade?

José Aristóteles - Em primeiro

lugar, destaco a alta temperatura, que,

durante a fase de floração, favorece a

produção elevada de flores e acelera as

taxas respiratórias, o que causa elevada

demanda por carboidratos, com conse-

qüente redução no vingamento de flo-

res e vagens. Esta fase requer bastante

atenção do produtor. A temperatura

exerce ainda grande influência na fase

de germinação. A temperatura ideal é

de 25ºC. Na fase pós-germinação, até o

início do florescimento, a temperatura

ideal varia de 24ºC a 26ºC e, durante o

florescimento, 21ºC a 23ºC.

A adubação balanceada é um fator

importante, tendo em vista que o fei-

joeiro é uma planta altamente exigente

e cheia de detalhes. O produtor deve

estar atento a alterações que surgirem

nas plantas ocasionadas por adubação

inadequada.

Outros fatores são: escolha da cul-

tivar ideal para o plantio em determi-

nada época do ano, uma vez que esta

medida pode garantir o sucesso da la-

voura, espaçamento adequado para ca-

da cultivar e, o mais importante, acom-

panhamento diário da lavoura.

IA - Qual a importância do uso de cul-

tivares melhoradas na obtenção de

altas produtividades?

José Aristóteles - O uso de culti-

vares melhoradas é importante, devido

às características de sanidade e quali-

dade da semente. A maioria das doen-

ças de importância econômica do fei-

joeiro, exceto a ferrugem e o mosaico

dourado, são transmitidas pela semen-

te. A obtenção de altas produtividades

depende, em princípio, das caracte-

rísticas de qualidade e sanidade das

sementes.

IA - Como as novas tecnologias estão

chegando em sua região?

José Aristóteles - Considerando

que a nossa região hoje é uma das maio-

res produtoras de feijão do País, há

grande interesse, tanto por parte das

empresas de pesquisas oficiais, como

Epamig, Embrapa, e de assistência téc-

nica, como Emater, e também das mul-

tinacionais envolvidas no segmento de

produção de grãos, em facilitar os

ensaios de pesquisas, manter campos

demonstrativos e em promover simpó-

sios, dias de campo regionais e nacio-

nais. Desta maneira são apresentados

resultados e novas tecnologias para a

região.

IA - Com a sua experiência, que su-

gestões daria aos pesquisadores,

para o aumento do teto de produti-

vidade de feijão em Minas Gerais?

José Aristóteles - Considerando

que a essência do conhecimento cientí-

fico e a sua aplicação prática são fun-

damentais para o aumento do teto de

produtividade do feijão no estado de

Minas Gerais e também no Brasil, sugi-

ro aos pesquisadores que associem as

pesquisas de laboratório à prática, em

nível de campo, em áreas expressivas

com obtenção de resultados mais con-

fiáveis. Estudos na área de ecofisiolo-

gia, para entendimento do efeito de

estresses abióticos (calor, déficit hídri-

co, frio, baixo fósforo, etc.), poderiam

ter uma repercussão muito grande no

aumento de produtividade do feijoeiro.

Assim, é necessário entender como os

componentes de produção interferem

na produtividade do feijoeiro, tais co-

mo: índice de área foliar (área foliar por

unidade de área de solo); número de

grãos/unidade de área; número de va-

gens/planta; número de grãos/vagem,

número de plantas/unidade de área;

peso de grãos, além das temperaturas

ideais para cada estádio fenológico (prin-

cipalmente as temperaturas durante o

florescimento) e disponibilidade de luz.

Pesquisas nestas áreas poderiam dar

um novo impulso no teto de produtivi-

dade de feijão em Minas Gerais.

IA - Qual o papel da assistência técnica

no aumento da produtividade?

José Aristóteles - A assistência téc-

nica é vital para capilarizar os resul-

tados gerados pela pesquisa. Ela é o elo

de ligação entre a pesquisa e o cam-

po e tem uma contribuição significativa

no aumento de produtividade.

IA - É possível conciliar a alta produ-

tividade com o aumento de lucro

do produtor?

José Aristóteles - Sim. Se juntar-

mos dois importantes fatores, a tecnolo-

gia disponível e o talento para condu-

zirmos uma lavoura de feijão, ou seja,

escolha da variedade certa, época ideal

para o plantio, nutrição/adubação ade-

quadas, utilização de técnicas de mane-

jo integrado de pragas e doenças, entre

outras. Ao juntarmos esses dois fatores,

com certeza baixaremos o custo de

produção e, conseqüentemente, haverá

um aumento de lucro para o produtor.

Por Vânia Lacerda

Page 9: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 7 - 1 2 , 2 0 0 4

7Feijão d e a lta p rodutividade

Produtividade e custo de produção do feijãoem diferentes níveis tecnológicos

José Mauro Chagas1

Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira2

Trazilbo José de Paula Júnior3

Rômulo Bastos Chagas4

1Engo Agr o, D.Sc., Pesq. EMBRAPA/EPAMIG-CTZM, Vila Gianetti 46, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 V içosa-MG. Cor reio eletrônico:[email protected]

2Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM, Vila Gianetti 46, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agro, Ph.D., Pesq. EPAMIG-CTZM, Vila Gianetti 46, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agronomia UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected]

Resumo - Na atividade agrícola, a obtenção de maiores produtividades pode contribuir naredução dos custos de produção por unidade de produto. Por outro lado, maiores níveisde produtividade exigem, geralmente, investimentos na adoção de tecnologias. Os custosde produção do feijão irrigado são estimados para dois níveis de alta tecnologia. Comisso, destaca-se a importância do planejamento das operações no sistema agrícolaempresarial de produção de feijão, dando enfase à sustentabilidade da lavoura.

Palavras-chave: Phaseolus vulgaris. Aspecto econômico. Coeficiente técnico. Planejamentosustentável.

INTRODUÇÃO

Desde o início da década de 90, há umatendência de redução da área cultivadacom feijão no Brasil, que não tem refletidona redução da produção (Gráfico 1). Issopode ser explicado pela maior produtivi-dade da cultura com os incrementos advin-dos do feijão irrigado e de sua conduçãode forma mais empresarial. A produtivida-de média brasileira de feijão, que, em 1990,era de 510 kg/ha, passou a 753 kg/ha, em2002, com um aumento de 48% (BRASIL,2003).

Os preços da saca de feijão recebidospelos agricultores de Minas Gerais (Gráfi-co 2) e de todo o Brasil, entre os meses dejaneiro de 1995 e março de 2003, denotamdois períodos de valorização do produ-to nos últimos 10 anos. Por outro lado,constatam-se períodos de desestímulo aoplantio, decorrentes dos baixos preços

do produto, muitas vezes insuficientes pa-ra pagar os custos de produção. As osci-lações observadas podem ser atribuídas,em parte, à inconsistência das políticasagrícolas governamentais. Entretanto, coma crescente incorporação de áreas não-tradicionais e o cultivo em áreas irrigadas,os preços tendem a flutuar menos acentua-damente.

O aumento de lucros na atividade agrí-cola, segundo Prochnow (1999), é resulta-do de produtividade mais elevada, melhoriana qualidade dos produtos, estratégias demarketing mais adequadas, diminuição decustos de produção ou uma combinaçãodesses fatores. Esse autor cita que estudosrealizados com produtores de soja do esta-do de Iowa, nos Estados Unidos, compa-rando as práticas adotadas por 20% dosprodutores que obtiveram os maiores lu-cros, com 20% dos que obtiveram os meno-res lucros mostraram, que:

a) mais de 70% do aumento do lucroforam devidos ao aumento da produ-tividade;

b) cerca de 20% foram devidos à redu-ção do custo;

c) aproximadamente 10% foram atri-buídos ao melhor marketing.

A redução do custo e o melhormarketing, embora importantes, não foramos principais fatores relacionados com oaumento da receita líquida, mas sim com oaumento da produtividade. Dessa forma,entende-se que o potencial de lucro do agri-cultor depende da obtenção de maioresprodutividades, o que contribuiria decisi-vamente para baixar os custos de produçãopor unidade de produto.

De modo geral, os cultivos com maio-res níveis de produtividade são, até certoponto, os mais rentáveis. Muitas vezes,entretanto, os aumentos de produtividade

Page 10: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 7 - 1 2 , 2 0 0 4

8 Feijão d e a lta p rodutividade

400

1.400

2.400

3.400

4.400

5.40019

90

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

área (mil ha) produção (mil t) produtividade (kg/ha)

Gráfico 1 - Área plantada, produção e produtividade de feijão no Brasil, no período1990-2002

FONTE: Brasil (2003).

são limitados pela escassez de recursos fi-nanceiros dos agricultores, o que dificultaa adoção de tecnologias.

O cultivo de feijão nos períodos deoutono-inverno e inverno-primavera, emregiões de inverno ameno, realiza-se, geral-mente, sob sistema de irrigação por asper-são. De modo geral, as lavouras são con-duzidas em áreas médias e grandes, comemprego de tecnologia sofisticada e obten-ção de altos índices de produtividade. Essecultivo difere da estrutura produtiva tradi-

cional, que é normalmente conduzida combaixo nível tecnológico e em pequenas pro-priedades. O feijão irrigado tem alcançadoexcelentes rendimentos de grãos, muitasvezes acima de 3 mil kg/ha, uma vez quesão utilizadas, aliadas à irrigação, grandesquantidades de insumos e variedades me-lhoradas com resistência múltipla às prin-cipais doenças do feijoeiro (VIEIRA etal., 1991; RAMALHO; ABREU, 1998;YOKOYAMA, 2002).

O feijão irrigado é produzido, geral-

mente, por grandes produtores, em períodode entressafra, com preços mais favoráveis.Por isso, a remuneração alcançada é, mui-tas vezes, superior à obtida pelo pequenoprodutor, pois, além de obter elevada pro-dutividade, os grandes produtores nego-ciam diretamente com os empacotadoresou varejistas, eliminando a figura do inter-mediário (SANTOS; BRAGA, 1998). Por-tanto, a alta produtividade associada a me-lhores preços permitiu a consolidação daposição da cultura irrigada.

CUSTOS DE PRODUÇÃO

Os custos de produção do feijão irriga-do variam com a região, com o sistema deexploração, com a época de plantio e, prin-cipalmente, com o nível tecnológico empre-gado. De acordo com a Comissão de Fertili-dade do Solo do Estado de Minas Gerais(RIBEIRO et al., 1999), há quatro níveis tec-nológicos básicos para a cultura do feijãono Estado, sendo dois deles consideradosníveis de alta tecnologia - NT3 (1.800 a 2.500kg/ha) e NT4 (acima de 2.500 kg/ha). Usandocomo referência as produtividades preco-nizadas por essa Comissão, são apresen-tados, a seguir, os custos de produção esti-mados para dois níveis de tecnologia decultivo de feijão irrigado. No Quadro 1, sãoindicados os coeficientes técnicos levan-tados junto a técnicos e instituições, bemcomo os preços coletados no comércio ata-cadista de produtos agropecuários e, noQuadro 2, os custos de produção variáveise fixos.

Verifica-se, no Quadro 2, que o gastocom fertilizantes no NT3 foi de R$ 432,00, oque correspondeu a 18,96% do custo total,e no NT4 foi de R$ 531,00, equivalente a21,29% do custo total. Por sua vez, o gastocom horas/máquinas variou de R$ 546,00,no NT3, a R$ 568,00, no NT4, representando23,96% e 22,78% do custo total, respec-tivamente, enquanto que o custo da mão-de-obra foi 5,7% do custo total (R$ 130,00),em NT3 e 7,82% (R$ 195,00), em NT4.

O custo médio por saca de 60 kg de fei-jão variou de R$ 56,98, no nível de menor

Gráfico 2 - Preços recebidos pelo produtor rural no período de janeiro de 1995 a marçode 2003

FONTE: Fundação Getúlio Vargas (2003).

10,00

35,00

60,00

85,00

110,00

jan.

/95

jul./

95

jan.

/96

jul./

96

jan.

/97

jul./

97

jan.

/98

jul./

98

jan.

/99

jul./

99

jan.

/00

jul./

00

jan.

/01

jul./

01

jan.

/02

jul./

02

jan.

/03

Pre

ços

rece

bido

s pe

lo p

rodu

tor (

R$/

saca

)

Média brasileiraMédia de Minas Gerais

Page 11: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 7 - 1 2 , 2 0 0 4

9Feijão d e a lta p rodutividade

produtividade, a R$ 49,88, no nível de maiorprodutividade (Quadro 2), o que eviden-ciou que o aumento de produtividade é umadas formas mais eficientes para reduzir ocusto por unidade de produto. Isso ocorre,uma vez que os agricultores exercem poucainfluência no estabelecimento dos preçosde mercado de feijão e nos componentesde custo de produção. É interessante sa-lientar que, eventualmente, alta incidênciade doenças e pragas pode elevar os custosde produção, em decorrência da neces-sidade de seu controle.

PLANEJAMENTO

Grande parte do sucesso da implanta-ção de uma lavoura em sistema agrícolaempresarial está no planejamento das ope-rações com a devida antecedência. Plane-jar não aumenta os custos e é uma etapaimportante na administração do empreen-dimento, contribuindo para a redução dosriscos de insucesso.

O planejamento deve começar com aescolha da variedade a ser plantada. O gru-po de feijão-vermelho, por exemplo, apre-senta melhor cotação de preço no mercadoda Zona da Mata de Minas Gerais, em com-paração com o valor obtido por feijões deoutros tipos, como carioca e preto. Tal res-posta de mercado foi comprovada por Soareset al. (2002), que trabalharam com a varieda-de melhorada ‘Ouro Negro’ (grupo preto)e com uma variedade regional de grãos ver-melhos. Com esta variedade, obteve-se re-torno financeiro de R$ 837,00/ha, superiorao conseguido com a variedade ‘Ouro Ne-gro’, que produziu 317 kg/ha a mais. Issoocorre também em outras regiões com di-versos materiais, a exemplo das variedadesde feijões especiais de consumo restrito(grupo manteigão, brancos e outros), cujaprodutividade, geralmente, é inferior à demateriais tradicionalmente cultivados dosgrupos carioca e preto.

Definidas as variedades, seguem-seoutras etapas importantes do planejamen-to. A seguir, é apresentado um exemplo deplanejamento de uma lavoura de feijão irri-gado, no sistema convencional, segundo

N kg 30 + 40 30 + 60(cobertura) (cobertura)

P2O

5 (disponibilidade baixa) kg 90 110

K (disponibilidade baixa) kg 40 50

Mo g 80 80

Calcário + frete t 1 1

B kg 1 1

Zn kg 4 4

Defensivos agrícolas

Fungicida (tratamento de sementes) kg 0,05 0,05

Herbicida pré-emergente L 1,5 1,5

Herbicida pós-emergente L 2,0 2,0

Inseticida L 1,0 1,0

Fungicida (pulverização) kg 0,6 0,6

Óleo adjuvante L 1,0 1,0

Fosfeto de alumínio (pastilhas) Ud 10,0 12,0

Serviços mecânicos

Aração + gradação h/m 3,0 3,0

Nivelamento h/m 1,5 1,5

Plantio + adubação h/m 2,0 2,0

Aplicação de herbicida h/m 1,0 1,0

Aplicação de defensivos h/m 3,5 3,5

Adubação de cobertura h/m 2,0 2,0

Trilha h/m 0,7 1,0

Transporte da produção h/m 0,5 0,5

Outros insumos

Sementes kg 50 50

Irrigação kW/h 1.000 1.000

Sacaria Ud 40 50

Óleo diesel para transporte L 20 20

Serviços manuais

Colheita + enleiramento d/ H 8,0 12,0

Trilha (ajudante de trator) d/ H 1,0 2,0

Ensacamento e pesagem d/ H 2,0 3,0

Expurgo + armazenamento d/ H 1,0 1,5

Operador de irrigação e manutenção d/ H 1,0 1,0

NOTA: NT3 e NT

4 – Níveis tecnológicos de acordo com a Comissão de Fertilidade do Solo do

Estado de Minas Gerais (RIBEIRO et al., 1999).h/m – hora/máquina; d/H – dia/homem.

QUADRO 1 - Coeficientes técnicos estimados para dois níveis tecnológicos de produtividade defeijão irrigado (1 ha)

Componente do custo UnidadeNT

3

(2.400 kg/ha)NT

4

(3.000 kg/ha)

Page 12: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 7 - 1 2 , 2 0 0 4

10 Feijão d e a lta p rodutividade

critérios e procedimentos do Programa deQualidade Total:

a) escolha da área e características

do solo:

- escolher terreno com boa drenagem;- preferir terrenos com declives sua-

ves ou planos;- caracterizar química e fisicamente

o solo;- priorizar solos com saturação por

bases > 50% e pH em torno de 6;

NOTA: NT3 e NT

4 - Níveis tecnológicos de aordo com a Comissão de Fertilidade do Solo do Estado

de Minas Gerais (RIBEIRO et al., 1999).Câmbio: US$ 1.00 = R$ 2,88 em dezembro de 2003.

- escolher terrenos livres de nema-tóides e outros patógenos do so-lo;

- evitar áreas infestadas de plantasdaninhas de difícil controle;

- preferir áreas em sistemas de ro-tação de culturas;

b) preparo do solo:

- fazer a aração profunda com aiveca(20-30 cm), em solo com umidade

adequada, para soterrar plantasdaninhas iniciais;

- fazer gradagem, se necessário, comgrade aradora ou apenas grade ni-veladora;

- aplicar herbicidas em pré-plantioincorporado ou em pré-emergência;

c) calagem e adubação:

- proceder à análise do solo;- realizar a calagem até 15-20 cm de

profundidade;- fazer adubação de plantio a 10 cm

de profundidade;- fazer adubação nitrogenada de

cobertura aos 20 - 30 dias após aemergência das plantas;

d) semeadura:

- utilizar sementes de boa proce-dência, livres de patógenos e tra-tadas com fungicidas, dando pre-ferência a variedades resistentes adoenças;

- cultivar no período de outono-inverno;

- evitar locais cujas médias das tem-peraturas mínimas sejam menoresque 10°C; temperatura ideal: 30°C/21°C (dia/noite); evitar temperaturadiurna > 35°C;

- usar espaçamento entre as linhasde 50 cm;

- número de sementes/m: 12-15;- profundidade de plantio: 2-4 cm;- umidade do solo: seco ou levemen-

te úmido;

e) controle de plantas daninhas:

- aplicar herbicidas em pós-emer-gência de acordo com as recomen-dações técnicas;

- regular previamente a vazão dos bi-cos do pulverizador em área plana;

f) irrigação:

- irrigar com base nos métodos dotensiômetro ou do tanque clas-se A;

QUADRO 2 - Estimativa dos custos de produção de feijão irrigado (R$/ha) e sua relação com ocusto total (%), em dois níveis de alta tecnologia

Custos variáveis 1.770,00 77,67 1.960,00 78,60

Calcário t 40,00 1,76 40,00 1,60

Fertilizantes kg 432,00 18,96 531,00 21,29

Sementes kg 125,00 5,48 125,00 5,01

Inseticidas L 67,00 2,94 67,00 2,69

Fungicidas kg 104,00 4,56 104,00 4,17

Herbicidas L 140,00 6,14 140,00 5,61

Hora/máquina h/m 546,00 23,96 568,00 22,78

Energia elétrica - irrigação kW/h 170,00 7,46 170,00 6,82

Dia/homem d/H 130,00 5,70 195,00 7,82

Sacaria ud 16,00 0,07 20,00 0,08

Custos fixos 509,00 22,33 534,00 21,40

Juros sobre a terra

(6% x 5 meses) 45,00 1,97 45,00 1,80

Juros sobre o custeio

(9% a.a. x 5 meses) 80,00 3,51 88,00 3,53

Depreciação equipamento

de irrigação (4%) 100,00 4,39 100,00 4,00

Manutenção equipamento

de irrigação (5%) 125,00 5,49 125,00 5,00

Assistência técnica (2%) 35,00 1,54 39,00 1,56

Impostos (4%) 71,00 3,11 78,00 3,13

Administração (3%) 53,00 2,33 59,00 2,37

Custo total 2.279,00 100,00 2.494,00 100,00

Custo médio (R$/saca 60 kg) 56,98 49,88

NT3

(2.400 kg/ha)

NT4

(3.000 kg/ha)Componente do custo Unidade % %

Page 13: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 7 - 1 2 , 2 0 0 4

11Feijão d e a lta p rodutividade

g) tratos fitossanitários:

- monitorar insetos;

- iniciar pulverização com base nodano foliar crítico;

- fazer controle preventivo e curati-vo, dependendo das doenças maisfreqüentes na região;

- promover a rotação de culturas,especialmente com gramíneas, paramanejar doenças de solo;

h) colheita, trilha, beneficiamento e

armazenamento:

- iniciar a colheita, quando as plan-tas perderem todas as folhas e assementes apresentarem teor deágua em torno de 20%;

- arrancar as plantas, deixá-las nasleiras ao sol e protegê-las ao entar-decer;

- efetivar a trilha mecânica, quandoo teor de água for < 20%;

- secar as plantas, após a trilha, aosol ou em secadores até o teor deágua de 11% a 14%;

- ensacar e pesar após o beneficia-mento;

- controlar as pragas no armazena-mento; realizar o expurgo dos grãoscom fosfeto de alumínio;

- armazenar o feijão em ambiente se-co e bem ventilado.

Planejamentoe sustentabilidade

A sustentabilidade da lavoura de feijãodepende de procedimentos de conservaçãodo solo e do ambiente a serem implemen-tados pelos produtores. Muitas áreas deexploração intensa da cultura, especial-mente sob pivô central, têm apresentadoproblemas fitossanitários e de compac-tação e erosão do solo, típicos do manejoinadequado da cultura. Algumas técnicasagrícolas, como a rotação de culturas e o

plantio direto, embora não proporcionemnecessariamente retorno financeiro a cur-to prazo, são fundamentais para a manuten-ção da sustentabilidade de cultivos fu-turos.

Chagas et al. (2002) avaliaram agro-nômica e economicamente cinco sistemasde rotação de culturas (Quadro 3), envol-vendo mucuna, milho, feijão e arroz, comalto nível de tecnologia (altas doses de fer-tilizantes, irrigação do feijão, controle depragas e doenças e uso de variedades me-lhoradas), na Zona da Mata de Minas Ge-rais. A relação benefício/custo variou de1,47 a 1,89. Houve, portanto, retornos finan-ceiros positivos em todos os sistemas tes-tados. No sistema 5, por exemplo, para cadaR$ 1,00 investido, obteve-se retorno finan-ceiro de R$ 0,89. O sistema 4 foi o que apre-sentou maior renda líquida. Entretanto, osistema 5 apresentou a maior relação be-nefício/custo. Naturalmente, esse resulta-do pode ser alterado de acordo com o preço

(1) Preço dos produtos x produtividade. Arroz em casca: R$ 0,20/kg; feijão: R$ 0,67/kg; milho: R$ 0,20/kg; o valor da produção (VP) foi calculadousando as médias das produtividades de grãos obtidas pelas culturas, em cada sistema, multiplicadas pelo seu preço por kg, vigente no mercado naocasião do estudo. (2) O feijão, após a mucuna, não recebeu adubação nitrogenada. (3) Milho + feijão (feijão da “seca” semeado no final do ciclo domilho, nas entrelinhas). (4) Nesse ano e sistema, não foi plantado o feijão.

Sistema 1

Sistema 2

Sistema 3

Sistema 4

Sistema 5

QUADRO 3 - Avaliação econômica de sistemas de rotação das culturas mucuna, arroz, milho e feijão – Leopoldina (MG)

Nov./98 (2)Abr./99 Nov./99 Abr./00 Nov./98 (2)Abr./99 Nov./99 Abr./00

Sistemasde

rotação

Épocas de plantio (1)Valorda

produção(VP)

(R$/ha)

Custototal(CT)

(R$/ha)

Receitalíquida

(VP - CT)(R$/ha)

Produtividade(kg/ha)

Benefício/Custo

(VP/CT)

Custo de produção(R$/ha)

Mucuna

Mucuna

Mucuna

Milho

8.464

(3)M + F(4)7.950 + 0

Feijão

2.368

Feijão

2.304

Feijão

2.531

Feijão

2.138

Milho

7987

Arroz

4.732

(3)M + F

8.223 +

769

Milho

7.669

(3)M + F

8.143 +

1.076

Feijão

2.230

Feijão

2.260

Feijão

1.954

Mucuna

198,00

Mucuna

198,00

Mucuna

198,00

Milho

825,00

(3)M + F(4)825,00 + 0

Feijão

902,00

Feijão

902,00

Feijão

902,00

Feijão

1.009,00

Milho

825,00

Arroz

620,00

(3)M + F

825,00 +

440,00

Milho

825,00

(3)M + F

825,00 +

440,00

Feijão

1.009,00

Feijão

1.009,00

Feijão

1.009,00

4.678,00

4.004,00

3.856,00

5.968,00

3.940,00

2.934,00

2.729,00

2.365,00

3.668,00

2.090,00

1.744,00

1.275,00

1.491,00

2.300,00

1.850,00

1,59

1,47

1,63

1,63

1,89

Page 14: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 7 - 1 2 , 2 0 0 4

12 Feijão d e a lta p rodutividade

do feijão e dos componentes do custo deprodução. O fato de a mucuna ocupar aárea que seria cultivada pelas outras cul-turas, não gerando receita, fez com que ossistemas dos quais ela participou apresen-tassem as menores receitas líquidas. Por-tanto, a utilização de leguminosas comoadubo verde em sistemas de rotação é maisrecomendável, quando se observar declí-nio na produção de grãos das culturasdecorrente, por exemplo, da queda da fer-tilidade do solo, infestação de doenças,plantas daninhas e pragas.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Agricultura. Evolução daprodução de grãos. Brasília, 2003. Disponívelem: <http://www.agricultura.gov.br/spa/pagespa/ch02/2_1.xls>. Acesso em: 21 ago. 2003.

CHAGAS, J.M.; SOARES, P.C.; SALGADO, L.T.;CHAGAS, R.B. Avaliação agronômica e econô-mica de cinco sistemas de rotação com (mucu-na, milho, arroz e feijão). In: CONGRESSO DA

CADEIA PRODUTIVA DE ARROZ, 1.; REU-NIÃO NACIONAL DE PESQUISA DE ARROZ -RENAPA, 7., 2002, Florianópolis. [Resumosexpandidos...] Santo Antônio de Goiás: EmbrapaArroz e Feijão, 2002. v.1, p.319-321. (EmbrapaArroz e Feijão. Documentos, 134).

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Rio de Janeiro,2003. Disponível em: <http://www.fgvdados.fgv.br>.Acesso em: 19 maio 2003.

PROCHNOW, L.I. Agricultura: progresso atravésdo conhecimento. Informações Agronômicas ,Piracicaba, n.87, p.1-3, set. 1999.

RAMALHO, M.A.P.; ABREU, A. de F.B.Cultivares. In: VIEIRA, C.; PAULA JÚNIOR, T.J.de; BORÉM, A. (Ed.). Feijão: aspectos gerais ecultura no estado de Minas. Viçosa, MG: UFV,1998. p.435-449.

RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZV., V.H. (Ed.). Recomendação p ara o u so d ecorretivos e fertilizantes em Minas Gerais:5a aproximação. Viçosa, MG: Comissão de Ferti-lidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999.359p.

SANTOS, M.L. dos; BRAGA, M.J. Aspectoseconômicos. In: VIEIRA, C.; PAULA JÚNIOR,T.J. de; BORÉM, A. (Ed.). Feijão: aspectos geraise cultura no estado de Minas. Viçosa, MG: UFV,1998. p.19-53.

SOARES, P.C.; CHAGAS, J.M.; SALGADO, L.T.;CARDOSO, A.A. Efeito de quatro níveis detecnologia sobre o rendimento e “stand” final emvariedades de feijão melhorada (Ouro Negro) ecomum (vermelho). In: CONGRESSO NACIO-NAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 7., 2002,Viçosa, MG. Resumos expandidos... Viçosa, MG:UFV, 2002. p.623-625.

VIEIRA, C.; ARAÚJO, G.A. de A.; CHAGAS, J.M.Efeitos das datas de plantio sobre o feijão cultivadono outono-inverno. Pesquisa AgropecuáriaBrasileira, Brasília, v.26, n.6, p.863-873, jun.1991.

YOKAYAMA, L.P. O feijão no Brasil no períodode 1984/85 a 1999/00: aspectos conjunturais. In:CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISA DEFEIJÃO, 7., 2002, Viçosa. Resumos expan-didos... Viçosa, MG: UFV, 2002. p.654-657.

Page 15: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 3 - 1 9 , 2 0 0 4

13Feijão d e a lta p rodutividade

1Engo Agr o, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:[email protected]

2Engo Agrícola, M.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:[email protected]

Elementos climáticos e produtividade do feijoeiro

Agostinho D. Didonet1

Silvando Carlos da Silva2

INTRODUÇÃO

O aumento do rendimento de grãos dofeijoeiro, ao longo dos últimos anos, foiobtido melhorando o controle de doençase pragas e reduzindo as restrições nutricio-nais. A deficiência de nutrientes e de águae a incidência de pragas e doenças podemser manejadas adequadamente, por meiode adubação, irrigação, cultivares resisten-tes e/ou defensivos. Porém, alguns fatoresdeterminados pela posição geográfica po-dem limitar o rendimento. São eles radiaçãosolar, temperatura do ar e, em alguns casos,fotoperíodo. Em situações de cultivo, emque os fatores controláveis são adequada-mente supridos, as condições climáticasafetam expressivamente o rendimento degrãos.

Na agricultura moderna, a maximizaçãodos rendimentos e a redução dos custose dos riscos de insucesso dependem cadavez mais do uso criterioso dos recursos fi-nanceiros. Nesse processo, o agricultordeve tomar decisões em função dos fatores

disponíveis de produção e dos níveis derisco que envolvem sua atividade, visan-do maior rentabilidade. Dentre os fatoresenvolvidos na produção agrícola, o clima épraticamente incontrolável. No Brasil, vá-rios são os exemplos de quebras de safrasem razão da ocorrência de adversidadesclimáticas, as quais causam enormes pre-juízos à agricultura e à sociedade. Portanto,para que qualquer empreendimento agríco-la tenha sucesso, as respostas interativasentre clima e planta precisam ser adequada-mente quantificadas e monitoradas. É desuma importância conhecer as variaçõesdos elementos climáticos como a radiaçãosolar, a temperatura do ar, a precipitaçãopluvial, o fotoperíodo, ao longo dos anos.

ELEMENTOS CLIMÁTICOSE VARIEDADES

Dentre os elementos climáticos que maisinfluenciam a produção de grãos do fei-joeiro salientam-se a temperatura, a radia-ção solar e a precipitação pluvial. Em rela-

ção ao fotoperíodo, as cultivares brasileirasde feijoeiro geralmente são insensíveis, ouseja, seu desenvolvimento e crescimentosão controlados somente pela temperatura.

Em ensaios comparativos de rendimen-to em diferentes locais e épocas de plantio,cultivares de feijoeiro mais estáveis e quese adaptaram à maioria dos ambientes favo-ráveis e desfavoráveis foram as mais pro-dutivas (CARBONELL et al., 2001). O quese espera é alto rendimento em determinadoambiente, desde que sejam dadas as condi-ções para a cultura utilizar, da forma maiseficiente possível, os fatores determinantesda produção, quer sejam genéticos, quersejam bióticos ou abióticos.

Para maximizar o rendimento, é precisolembrar que o de grãos do feijoeiro é conse-qüência do hábito de crescimento, do ciclode vida, do ambiente, do sistema de pro-dução, das práticas de manejo, etc. Entreesses determinantes do rendimento, algunssão intrínsecos da cultivar. Por exemplo,nos últimos anos, tem sido dada alguma

Resumo - Dentre os vários fatores envolvidos na produção do feijão, o clima é praticamenteincontrolável e pode influenciar sobremaneira na produtividade. As respostas interativasentre clima e planta necessitam ser adequadamente conhecidas e estudadas, para que setenha o menor risco possível de insucesso. Radiação solar, temperatura do ar e precipitaçãopluvial, são os principais elementos climáticos que influenciam diretamente no rendimentode grãos do feijoeiro. Para maximizar o aproveitamento desses elementos na condução docultivo, são indicadas algumas práticas de manejo.

Palavras-chave: Feijão. Phaseolus vulgaris. Rendimento de grãos. Clima. Radiação solar.Temperatura. Precipitação pluvial.

Page 16: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 3 - 1 9 , 2 0 0 4

14 Feijão d e a lta p rodutividade

ênfase a cultivares de feijoeiros de ciclo devida curto, de hábito determinado, de plan-tas eretas, com uniformidade de maturaçãoe sementes com tamanho e forma uniformes,além de ampla adaptabilidade (KELLY etal., 1998). Essas características que nor-malmente estão associadas ao hábito decrescimento determinado são geralmenteencontradas em cultivares com baixo po-tencial e baixa estabilidade de rendimentode grãos, quando comparadas às cultivaresde hábito de crescimento indeterminado.O encurtamento do ciclo, importante emcondições desfavoráveis de cultivo, estádiretamente associado ao menor potencialindividual de rendimento de grãos. Em culti-vares de hábito indeterminado, cada dia deencurtamento de ciclo resultou em redu-ção de 74 kg/ha no rendimento (WHITE;SINGH, 1991) e, para cada 100 mg de aumen-to na massa da semente, o rendimento re-duziu 280 kg/ha (WHITE; GONZÁLEZ,1990).

O rendimento, a massa dos grãos secos,o índice de colheita e o acúmulo de bio-massa estão mais associados com o nú-mero de dias até a maturação das plantasdo que com o número de dias até o flores-cimento, o que indica que variedades commaior potencial de rendimento são as quepossuem maior período disponível para oenchimento de grãos. Pelo menos parte des-sa resposta deve-se à reação do genótipoa temperaturas e à influência delas no de-senvolvimento dos feijoeiros. Na prática,como a precocidade implica em pouco tem-po disponível para o crescimento, essascultivares devem ter alto índice de colheitae elevada taxa fotossintética por unidadede área, para proporcionarem altos rendi-mentos de grãos (WALLACE et al., 1993).Mesmo tendo menor potencial de rendi-mento, feijoeiros com ciclo de vida precocesão eficientes em acumular biomassa, po-rém essa eficiência não chega a compensara menor capacidade produtiva de grãos.Assim, a taxa de crescimento do grão é ine-rente à cultivar, com o ambiente interferindobasicamente no tempo de atuação destataxa (FERRÃO et al., 2001).

Radiação solar

A radiação solar atinge a superfície ter-restre de forma direta e difusa. O acúmulodesses dois componentes denomina-seradiação global. A quantidade e a intensi-dade da radiação difusa dependem, basi-camente, da latitude, da altitude, da decli-nação solar e da quantidade de nuvens.

A utilização da radiação solar pelasplantas depende da capacidade de inter-ceptação e da eficiência de transformaçãoda energia luminosa em biomassa. Estudosagrometeorológicos sobre a radiação solarem plantas devem considerar não apenaso processo fotossintético, mas também aestrutura do dossel e a arquitetura delas.

A radiação solar influencia conside-ravelmente na taxa de fotossíntese dasplantas. A quantidade de radiação solar,necessária para máxima atividade fotossin-tética, varia com a idade e o tipo da planta.De forma geral, regiões que apresentamradiação solar de 13-22 MJ m-2 dia-1 sãoconsideradas ideais para o feijoeiro. Acimade 35 MJ m-2 dia-1, a taxa fotossintéticapermanece praticamente constante.

A interceptação de radiação solar pelasplantas e a utilização dessa energia paraprodução de biomassa representam o pro-cesso fundamental que governa o cresci-mento e a produtividade. A quantidade debiomassa produzida por unidade de radia-ção solar interceptada define a eficiência deuso da radiação (RUE) - (g de biomassa/MJde radiação interceptada por unidade deárea). Em situação de cultivo, o máximo deeficiência na utilização da radiação é atin-gido, quando toda a radiação disponívelpara a fotossíntese é interceptada pela co-bertura vegetal. Assim, quanto mais rápi-do houver cobertura total do solo, maior oacúmulo de biomassa. Porém, nem sempreisso acontece. No caso do feijoeiro, grandeprodução de folhas e ramos pode reduziro rendimento de grãos, causando o auto-sombreamento, uma vez que somente a par-te superior do cultivo recebe radiação solar.O auto-sombreamento ocorre, por exemplo,quando a população de plantas por unida-

de de área é superior à considerada ótima,e é crítico, no período de vingamento devagens e grãos (PORTES; CARVALHO,1983; DIDONET; MADRIZ, 2002).

A radiação solar também tem efeito naredução do percentual de abortamento deflores e no aumento do percentual de re-tenção de vagens do feijoeiro. Quanto maiorfor a radiação solar disponível da emer-gência ao início do florescimento (estádioR5), maior será o número de vagens porunidade de área (Gráfico 1). Isso indica quese deve manejar a cultura de modo que asplantas consigam interceptar a maior quan-tidade de radiação solar possível, princi-palmente na fase vegetativa, para que sejaacumulada uma quantidade adequada debiomassa e, definido um número alto devagens/planta.

Rápido aumento na expansão da áreafoliar por unidade de área de solo - Índi-ce de Área Foliar (IAF) - está relacionadocom maior interceptação de radiação solare, conseqüentemente, com maior rendimen-to. No entanto, alto IAF pode provocarauto-sombreamento e causar acamamentoe aumento na severidade de doenças.

Embora o IAF do feijoeiro seja bastantevariável, as cultivares disponíveis parecemter um IAF ótimo de 3 a 3,5 (WHITE;IZQUIERDO, 1989). Esse IAF é semelhanteao da soja, que deve ser capaz de intercep-tar o máximo de radiação solar, quando asplantas estão iniciando o de crescimentode grãos, para que o rendimento seja alto(SINGER, 2001). A cultivar, o sistema decultivo, a distribuição de plantas na área ea época de plantio podem aumentar oudiminuir expressivamente o IAF. Época deplantio coincidente com temperaturas ele-vadas, principalmente até o início da flo-ração, favorece o aumento do IAF e causa,conseqüentemente, auto-sombreamento.

Temperatura

Além de influenciar na duração dasfases fenológicas, a temperatura do ar éum dos fatores determinantes do rendi-mento de grãos por influenciar no aborta-mento de flores, vagens e grãos.

Page 17: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 3 - 1 9 , 2 0 0 4

15Feijão d e a lta p rodutividade

Gráfico 1 - Radiação solar global incidente entre a emergência e o estádio R5 (MJ m-2 dia-1)Nota: Relação entre a radiação solar global incidente no período entre emergência e

início de floração (estádio R5) e o percentual de abortamento de flores (A – r2=0,26**)e a retenção de vagens (B – r2=0,23**) das cultivares Pérola, Valente e Jalo Precoce,cultivadas com irrigação, no período de inverno de 2001 e 2002. Resultadosmédios de quatro repetições em cinco épocas de semeadura.

Radiação solar global incidente(MJ m-2dia-1)

0

20

40

60

80

28 30 32 34 36 38 40

Flor

es a

borta

das

(%)

A

0

20

40

60

80

28 30 32 34 36 38 40

Vag

ens

redi

tas

(%)

B

Em relação à germinação das sementes,temperaturas em torno de 28oC são consi-deradas ótimas, enquanto as temperaturasótimas entre a emergência e a maturaçãofisiológica ficam entre 12oC e 30oC. Tempe-raturas acima e abaixo dessa faixa provocamdecréscimo de rendimento de grãos, porcausa do abortamento de flores e vagens,e menor formação de grãos.

Em geral, o florescimento só ocorreapós as plantas acumularem determinadonúmero de “unidades térmicas” (oC/dia),acima de uma temperatura base mínima parao crescimento. Portanto, temperaturas altas,que geralmente estão associadas à alta ra-diação, diminuem o número de dias para oflorescimento e reduzem o ciclo de vida dofeijoeiro. Esses efeitos devem-se à influ-ência da temperatura no aumento (tempe-ratura elevada) ou na diminuição (tempe-ratura baixa) dos processos metabólicosinternos da planta, e podem estar relacio-nados com mudanças visuais externas queocorrem durante o ciclo de vida dela (apa-recimento de folhas novas, ramos late-rais, flores, vagens, grãos, etc.). Essas fasesdo desenvolvimento das plantas são cha-mados estádios fenológicos, cada uma comsua importância para a definição do ren-dimento de grãos (por exemplo: fase ve-getativa, floração, enchimento de grãos,etc.).

Page 18: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 3 - 1 9 , 2 0 0 4

16 Feijão d e a lta p rodutividade

Em feijoeiro, as estruturas reprodutivassão bastante sensíveis à temperatura, tantoque a ocorrência de altas temperaturas, noperíodo de um a seis dias antes da antese(florescimento), reduz muito a retenção devagens. Tal efeito é explicado por danosprovocados pela temperatura elevada nasestruturas florais, que provocam desde oabortamento de flores e de vagens, até oaparecimento de vagens defeituosas e de-suniformes. Em termos gerais, o aborta-mento de botões florais, flores e vagens éalto, quando temperaturas entre 30oC e 40oCcoincidem com o período reprodutivo dofeijoeiro, o que causa redução acentuadada produtividade. Evitar que a floração coin-cida com temperaturas elevadas, atravésdo plantio em épocas mais adequadas, po-de representar um passo decisivo para aobtenção de altos rendimentos. Tempe-raturas inferiores a 10oC também podemprovocar efeitos negativos sobre o rendi-mento.

No feijoeiro, a porcentagem de flores ede vagens menores que 2 cm que abortamé alta e variável entre cultivares, em decor-rência de fatores do ambiente. Esse aborta-mento ocorre para ajustar a capacidade desuprimento de fotoassimilados (fonte), coma demanda dos grãos (dreno), que são re-tidos, fazendo com que as vagens comreduzida capacidade de demanda sejamabortadas. As primeiras flores e, conse-qüentemente, as primeiras vagens têmpreferência (dominância) na demanda defotoassimilados necessária para o enchi-mento dos grãos, em relação às vagensmais novas. Portanto, o balanço entre osuprimento e a demanda de fotoassimiladosdetermina quantas vagens a planta poderásuportar.

A temperatura, ao afetar a duração dasfases fenológicas, altera o tempo de capta-ção de energia luminosa, afetando a pro-dução e a distribuição de fotoassimilados.O aumento da produção de flores no fei-joeiro em altas temperaturas está associadoà esterilidade reprodutiva. Das várias flo-res que aparecem, normalmente o primeiroovário fertilizado exerce dominância sobre

as flores mais tardias, provocando-lhes oabortamento, a fim de ajustar a quantidadede vagens produzidas com a capacidadede a planta sustentá-las. Em altas tempe-raturas, o pegamento de vagens e/ou grãosé inibido: e as flores continuam a se desen-volver, ou seja, há aumento do número deflores e da duração do florescimento. O re-sultado desse efeito é o surgimento de maisvagens com poucos e pequenos grãos, alémde maturação desuniforme.

O calor excessivo pode causar danosao feijoeiro em qualquer fase do desenvol-vimento fenológico, porém o período maiscrítico é entre alguns dias antes do apare-cimento dos botões florais até o início daformação das vagens. O número de semen-tes por vagem varia com o genótipo, comas condições de ambiente e com o mane-jo. No feijoeiro, há, geralmente, excesso deflores em relação ao número potencial devagens que pode ser produzido pela planta.A abscisão de órgãos reprodutivos chegaa atingir mais de 50%, quando as tempera-turas diurnas estão acima de 30oC e notur-nas, acima de 20oC(SILVEIRA et al., 1980;MARIOT, 1989). Porém, o número de grãosque efetivamente cada vagem terá, irá de-pender das condições do cultivo (sanidade,

nutrição, atividade fotossintética, dispo-nibilidade de água, etc.), no período crítico,que se estende da floração ao início da faseintermediária de enchimento de grãos. Esseperíodo foi comprovado por estudos efe-tuados com a cultivar Pérola em altas tem-peraturas: houve aumento na massa dasfolhas e de ramos secos (Gráfico 2), reduçãoexpressiva na massa de grãos secos (Grá-fico 3) e menor número de grãos por vagem(Gráfico 4). Assim, a exposição a altas tem-peraturas, mesmo que por curtos períodos,promove crescimento vegetativo exuberan-te, porém rende poucos grãos, que apresen-tam baixo valor comercial. Isso ocorre, basi-camente, por causa do abortamento de mui-tas flores e vagens em floradas sucessivas.

Precipitação pluvial

Normalmente, não é possível saber queevolução os valores de precipitação plu-vial terão ao longo do tempo e do espaço.Isto, conseqüentemente, gera dificuldadesno planejamento das atividades agrícolas.Portanto, a utilização de longas séries dedados e de maior número de estações me-teorológicas possibilitarão melhor enten-dimento sobre a distribuição espacial daprecipitação de uma região.

Gráfico 2 - Massa de folhas e ramos secos da cultivar Pérola submetida a altas temperaturas

NOTA: Aumento na massa de folhas e ramos secos da cultivar Pérola submetida por 72 h a37oC/25oC, dia/noite, 12/12 h, nos estádios V4 (terceiro trifólio), R5 (início da floração)e R7 (início da formação de vagens), avaliado na maturação fisiológica, em comparaçãocom plantas crescidas permanentemente a 22oC/18oC, dia/noite, 12/12 h.

0

20

40

60

80

100

Aum

ento

(%

)

Terceiro trifólio (V4)

Início floração (R5)

Primeira vagem (R7)

Massa de folhas secas Massa de ramos secos

Page 19: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 3 - 1 9 , 2 0 0 4

17Feijão d e a lta p rodutividade

mais apropriados ao cultivo do feijoeiro emfunção da quantidade e, principalmente, dadistribuição de chuvas, o que é possívelcom o zoneamento agroclimático.

A Figura 1 mostra o risco climáticoque a cultura do feijoeiro está exposta,considerando-se o ciclo da cultivar, a capa-cidade de armazenamento de água no soloe o período de semeadura, em Goiás, MatoGrosso, Mato Grosso do Sul, Minas Geraise Bahia. Esse estudo baseou-se no balançohídrico, considerando-se a precipitação, aevapotranspiração potencial e real, a capa-cidade de armazenamento de água no solo,o coeficiente de cultura e as fases feno-lógicas da planta. No cálculo do balançohídrico, é quantificada a relação ETr/ETm(evapotranspiração real/evapotranspira-ção máxima), que expressa a quantidadede água que a planta irá consumir e o to-tal necessário para garantir alta produti-vidade. Com essa relação é possível defi-nir, em termos de estresse hídrico, se umalocalidade, em um dado período, apresentacondições favoráveis ao cultivo do fei-joeiro.

Ainda, em relação à Figura 1, observa-se que, com o aumento da capacidade dearmazenamento de água no solo, ocorreacréscimo de áreas com baixo risco climá-tico. No entanto, para aumentar a capaci-dade de armazenamento de água no solo éessencial que ele seja preparado adequa-damente, para que haja suprimento dasnecessidades hídricas da cultura por umperíodo de seca mais longo.

De forma geral, os dados mostram queem semeaduras realizadas após 20 de feve-reiro, nos Estados mencionados, a culturado feijão é de alto risco, exceto em algu-mas localidades de Mato Grosso e de MatoGrosso do Sul. Nesse estudo, considerou-se apenas a precipitação pluvial como ele-mento climático limitante à cultura. Obvia-mente, com a utilização de irrigação, osperíodos de semeaduras poderão ser amplia-dos, mas em algumas áreas pode ocorrerrestrição, devido a outros elementos climá-ticos.

Gráfico 4 - Massa de grãos secos e número de grãos/vagem da cultivar Pérola submetidaa altas temperaturas

NOTA: Redução na massa de grãos secos e no número de grãos/vagem na cultivar Pérola,submetida por 72 h a 37oC/25oC, dia/noite, 12/12 h, nos estádios V4 (terceirotrifólio), R5 (início da floração) e R7 (início da formação de vagens), avaliada namaturação fisiológica, em comparação com plantas crescidas permanentemente a22oC/18oC, dia/noite, 12/12 h.

0

20

40

60

80

100

Red

ução

(%

)

Terceiro trifólio(V4)

Início floração(R5)

Primeira vagem(R7)

Massa do grão seco

Número de grãos por vagem

Gráfico 3 - Massa de grãos secos da cultivar Pérola submetida a altas temperaturas

NOTA: Redução na massa de grãos secos na cultivar Pérola, submetida por 72 h a 37oC/25oC, dia/noite, 12/12 h, nos estádios V4 (terceiro trifólio), R5 (início da floração) eR7 (início da formação de vagens), avaliada na maturação fisiológica, em comparaçãocom plantas crescidas permanentemente a 22oC/18oC, dia/noite, 12/12 h.

A cultura do feijoeiro, quando subme-tida a estresse hídrico, apresenta reduçãona área foliar e aumento da resistência esto-mática. Quando a diminuição de águaocorre no período de floração, pode haverredução tanto na estatura da planta, quan-to no tamanho e no número de vagens e de

sementes por vagem, o que afeta o rendi-mento da cultura.

Por outro lado, o excesso de água tam-bém pode trazer prejuízos à cultura, princi-palmente se ocorrerem chuvas na épocada colheita. Torna-se, então, necessário de-finir áreas, regiões e períodos de semeadura

0

20

40

60

80

100

Red

ução

(%

)

Terceiro trifólio (V4)

Início floração (R5)

Primeira vagem (R7)

Page 20: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 3 - 1 9 , 2 0 0 4

18 Feijão d e a lta p rodutividade

Figura 1 - Espacialização de riscos climáticos para a semeadura de feijoeiro com 75 dias de ciclo

NOTA: Nos períodos de 21 a 31/1; 1 a 10/2 e 11 a 20/2, considerando-se solos com capacidade de armazenamento de água de

30 mm (arenosos) e 50 mm (argilosos).

Page 21: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 3 - 1 9 , 2 0 0 4

19Feijão d e a lta p rodutividade

REFERÊNCIAS

CARBONELL, S.A.M.; AZEVEDO FILHO, J.A. de; DIAS, L.A. dos S.; GONÇALVES, C.;ANTONIO,C.B. Adaptabilidade e estabilidade deprodução de cultivares e linhagens de feijoeiro noestado de São Paulo. Bragantia, Campinas, v.60,n.2, p.69-77, 2001.

DIDONET, A.D.; MADRIZ, P.M. Abortamen-to de flores e vagens no feijoeiro: efeito da tem-peratura e da radiação solar. In: CONGRESSONACIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 7.,2002, Viçosa, MG. Resumos expandidos...Viçosa, MG: UFV, 2002. p.55-58.

FERRÃO, M.A.G.; VIEIRA, C.; CRUZ, C.D.;CARDOSO, A.A. Causas genéticas das correlaçõesentre caracteres do feijoeiro avaliados no inverno.Revista Ceres, Viçosa, v.48, n.279, p.573-582,set./out. 2001.

KELLY, J.D.; KOLKMAN, J.M.; SCHNEIDER,K. Breeding for yield in dry bean (Phaseolus

vulgaris L.). Euphytica, Wageningen, v.102,p.345-356, 1998.

MARIOT, E.J. Ecofisiologia do feijoeiro. In:IAPAR. O feijão no Paraná . IAPAR: Londrina,1989. cap. 2, p.25-41. (IAPAR. Circular, 63)

PORTES, T. de A.; CARVALHO, J.R.P. de. Áreafoliar, radiação solar, temperatura do ar e rendi-mentos em consorciação e em monocultivo dediferentes cultivares de milho e feijão. PesquisaAgropecuária Brasileira , Brasília, v.18, n.7,p.755-762, jul. 1983.

SILVEIRA, P.M. da; PORTES, T. de A.; STONE,L.F. Idade de floração e vingamento de flores emduas cultivares de feijão. Pesquisa Agropecuá-ria Brasileira, Brasília, v.15, n.2, p.229-232,abr. 1980.

SINGER, J.W. Soybean light interception and yieldresponse to row spacing and biomass removal.Crop Science , Madison, v.41, p.424-429, 2001.

WALLACE, D.H.; BAUDOIN, J.P.; BEAVER,

J.S.; COYNE, D.P.; HALSETH, D.E.; MASAYA,P.N.; MUNGER, H.M.; MYERS, J.R.;SILBERNAGEL, M.; YOURSTONE, K.S.;ZOBEL, R.W. Improving efficiency of breedeingfor higher crop yield. Theoretical and AppliedGenetics, New York, v.86, p.27-40, 1993.

WHITE, J.W.; GONZÁLEZ, A. Characterizationof the negative association between seed yieldand seed size among genotypes of common bean.Field Crops Research, Amsterdam, v.23, p.159-175, 1990.

_______; IZQUIERDO, J. Dry bean: physio-logy of yield potential and stress tolerance. In:INTERNATIONAL CENTER FOR TROPICALAGRICULTURE. Technical cooperation net-work of food crops production. Cali, Colômbia,1989. 81p.

_______; SINGH, S.P. Source and inheritance ofearliness in tropically adapted indeterminatecommon bean. Euphytica, Wageningen, v.55,p.15-19, 1991.

Page 22: Informe agropecuario feijão
Page 23: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 2 1 - 3 2 , 2 0 0 4

21Feijão d e a lta p rodutividade

1Engo Agro, D.Sc., Prof. Tit. UFLA - Dep to Biologia, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agra, D.Sc., Pesq. EMBRAPA/UFLA, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agro, D.Sc., Prof. Adj. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected]

Cultivares

Magno Antonio Patto Ramalho1

Ângela de Fátima Barbosa Abreu2

José Eustáquio S. Carneiro3

Resumo - É inquestionável a contribuição do melhoramento de plantas para o incrementoem produtividade das espécies cultivadas. No caso do feijoeiro, embora o esforço dedicadoà pesquisa não seja comparável ao de outras espécies, esse fato também é uma realidade.A contribuição tem sido enorme, sobretudo na resistência a alguns patógenos, qualidadede grãos e maior adaptação aos diferentes sistemas de cultivo. O estado de Minas Geraisfoi um dos pioneiros no Brasil no melhoramento dessa leguminosa e, atualmente, é oEstado que possui um dos maiores grupos de melhoristas com dedicação à obtenção denovas cultivares. Muito embora o sucesso obtido tenha sido grande, ainda é restrita aproporção de agricultores que utilizam sementes das melhores cultivares disponíveis. É desuma importância conhecer a evolução do melhoramento genético dessa espécie, desde osprincipais objetivos dos programas de melhoramento, até os problemas para se atingiresses objetivos, assim como as estratégias que têm sido empregadas na obtenção de novascultivares e na melhoria da eficiência do processo de registro, produção e comercializaçãode sementes.

Palavras-chave: Feijão. Phaseolus vulgaris. Melhoramento genético. Doença.

INTRODUÇÃO

Os primeiros trabalhos de pesquisacom feijão no Brasil iniciaram-se na décadade 30, na Escola Superior de Agricultura eVeterinária de Viçosa (Esav), Viçosa (MG),e no Instituto Agronômico de Campinas(IAC), Campinas (SP) (VIEIRA, 1996;VOYSEST, 2000). Nessa época, os traba-lhos com feijão eram incipientes, princi-palmente no caso do melhoramento gené-tico.

Na década de 50, foram realizados osprimeiros testes de cultivares de feijão emMinas Gerais, em São Paulo e no Rio Gran-de do Sul, incluindo não só o material locale regional, mas também o oriundo de intro-duções de outros países. Nessa ocasião,

a Esav, na pessoa do Prof. Clibas Vieira, e aEstação Experimental de Patos, represen-tada pelo Dr. Ricardo José Guazzelli, reali-zaram importantes trabalhos de coleta e deintrodução de cultivares dos Estados Uni-dos, Costa Rica, México, Venezuela, Guate-mala e outros países. Como exemplo, pode-se citar a cultivar Rico 23, introduzida daCosta Rica em 1954, recomendada inicial-mente para Minas Gerais (VIEIRA, 1959) e,depois, para mais seis Estados.

O Ministério da Agricultura, em 1963,criou a Comissão Brasileira de Feijão (CBF),com o objetivo de estabelecer metodolo-gias e normas para experimentação emfeijão. Feitos importantes da CBF foram oestabelecimento do Ensaio Nacional de

Feijão e a realização do I Simpósio Brasilei-ro de Feijão, em 1971, em Campinas (SP).Essa comissão teve uma atuação marcanteno período de 1964 a 1973, com a realizaçãode 11 reuniões freqüentadas por represen-tantes dos diversos órgãos de pesquisadaquela época. Importantes instituições,como o Instituto Agronômico do Paraná(Iapar) e o Instituto Pernambucano de Pes-quisa Agropecuária (IPA), iniciaram seustrabalhos de melhoramento nessa época.

A década de 70 foi marcada por eventosimportantes no melhoramento genético dofeijoeiro:

a) criação da Embrapa Arroz e Feijão edas Empresas Estaduais de PesquisaAgropecuária;

Page 24: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 2 1 - 3 2 , 2 0 0 4

22 Feijão d e a lta p rodutividade

b) estabelecimento do Programa Feijãodo Centro Internacional de Agricul-tura Tropical (Ciat), Colômbia;

c) início dos trabalhos de melhoramen-to do feijoeiro em outras universida-des, além da Universidade Federalde Viçosa (UFV) e da UniversidadeFederal de Lavras (Ufla);

d) lançamento da cultivar de feijão Ca-rioca, com profundas alterações nospadrões de grãos produzidos e con-sumidos no Brasil (ALMEIDA,2000).

O período de 1976 a 1982 foi marcadopela entrada, no Brasil, dos Viveiros Inter-nacionais (Ibyan), organizados pelo Ciat.Foram introduzidas nesse período 198 li-nhagens, das quais 12 foram recomendadascomo novas cultivares.

A Comissão Regional de Avaliaçãoe Recomendação de Cultivares de Feijão(CRC-Feijão) foi criada em 1981, pela Por-taria MA 178 (ZIMMERMANN et al., 1996),com a finalidade de coordenar e promovera avaliação e a recomendação de cultiva-res no País e com o objetivo de fornecer aoMinistério da Agricultura, anualmente, umarelação das cultivares recomendadas e suasáreas de atuação. Dessa forma, passou ahaver uma recomendação oficial de culti-vares no País.

Em 1982, foram criadas, pela Embrapa,as Comissões Técnicas Regionais com oobjetivo de subsidiar a CRC na sua função.Seguindo o mesmo critério da CRC, o Brasilfoi dividido em três regiões, sendo a RegiãoI composta pelos Estados do Sul (RS, SC ePR); a Região II, pelos Estados das regiõesCentro-Oeste e Sudeste (MT, MS, GO/DF,MG, SP, RJ e ES); a Região III pelos Estadosdo Nordeste e Norte (BA, SE, PE, AL, PB,RN, PI, CE, MA, PA, AM, AC, RO, TO, RRe AP). Assim, foi instituída uma estratégiade avaliação de linhagens de forma inte-grada e participativa, envolvendo todas asinstituições de pesquisa do País. Tal estra-tégia foi viabilizada por meio dos ensaios

nacionais, em que cada instituição tinha aoportunidade de avaliar o comportamentode suas linhagens em outras regiões, assimcomo introduzir linhagens de outros pro-gramas de melhoramento. No período de1982 a 1995, foram testadas no Brasil 1.122linhagens oriundas de diversas institui-ções. Dessas, 68 foram recomendadas e 35introduzidas via ensaio nacional.

Até 1992, as instituições de pesquisarecebiam os Ensaios Nacionais e, com ba-se em seus resultados, selecionavam asmelhores linhagens para os ensaios esta-duais. Em 1993, foi criado o Ensaio Regio-nal, composto pelas melhores linhagens doEnsaio Nacional numa dada região (I, II ouIII, conforme apresentadas anteriormente).Assim, a Embrapa passou a ter a responsa-bilidade de enviar os Ensaios Nacionais eRegionais a todas as instituições de pes-quisa que os solicitassem. Com isso, oEnsaio Regional passou a ser o Ensaio Fi-nal ou Estadual, do qual se obtinham infor-mações que subsidiavam a recomendaçãode novas cultivares.

Com a aprovação da Lei de Proteção deCultivares no Brasil (BRASIL, 1997) e asconseqüentes portarias e regulamentações,foi abolido o conceito de “recomendaçãooficial de cultivares”, passando toda aresponsabilidade da recomendação aoobtentor da cultivar, que também passou aassumir toda a responsabilidade perante oCódigo de Direito do Consumidor. Atravésda Lei de Proteção de Cultivares foi intro-duzido o direito de proteção.

Atualmente, o Melhoramento Genéticodo Feijoeiro no Brasil é realizado princi-palmente por empresas públicas, ativida-de concentrada no Sul, Sudeste e Centro-Oeste, com um número pouco expressivode melhoristas com atuação exclusiva nacultura (VIEIRA et al., 1999). Contudo, oestado de Minas Gerais conta ainda comum dos maiores contingentes em institui-ções e especialistas atuando nessa área.Isso é fruto de uma parceria efetiva entreas instituições de pesquisa atuantes noEstado.

OBJETIVOS DOS PROGRAMASDE MELHORAMENTO DOFEIJOEIRO EM MINAS GERAIS

Para ser bem-aceita, uma nova cultivarde feijão deve atender, inicialmente, aosanseios dos consumidores. Caso contrário,ela não terá condições de ser comerciali-zada. É evidente que para os consumidoresinteressam apenas aspectos relacionadoscom os grãos, como cor, tamanho, forma equalidade culinária.

Na maioria das regiões do estado deMinas Gerais, a preferência recai nos grãosdo tipo carioca, com exceção da Zona daMata, cuja preferência abrange os grãos decores preta e vermelha. Assim, os maioresesforços dos programas de melhoramentotêm sido direcionados à obtenção de novascultivares com tipo de grão carioca, ou seja,de cor creme com rajas marrons.

O maior problema para obter grãos den-tro do padrão comercial carioca é o grandenúmero de genes envolvidos (LEAKEY,1988; BASSET, 1996). Há genes respon-sáveis pela tonalidade da cor creme, da pre-sença das rajas e sua tonalidade, cor dohalo e presença ou não de brilho. Só em re-lação à cor já foram identificados 18 genes.Esse fato já evidencia a dificuldade de obterlinhagens com grãos, cuja cor atenda aosanseios dos consumidores.

Além do mais, a cor creme escurece apósalgum tempo de armazenamento. Assim, seas novas cultivares apresentarem essa cormais escura, dificilmente serão aceitas, poismesmo recém-colhidas poderão ser con-fundidas com grãos velhos. Portanto, a corcreme deve ser clara, bem como a tonalidadedas rajas marrons. Além do mais, esse ca-ráter é muito influenciado pelas condiçõesambientais. Nesse aspecto, é preciso sa-lientar que a tonalidade da cor do grão édependente, também, em grande parte, domanejo durante a colheita. Assim, mesmogrãos claros, se forem submetidos a umaseca excessiva na planta ou após colhi-dos, ou se ficarem expostos a chuvas porocasião da maturação, terão o processo de

Page 25: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 2 1 - 3 2 , 2 0 0 4

23Feijão d e a lta p rodutividade

escurecimento acelerado e a conseqüenteredução da qualidade.

Em relação à cor do halo em torno dohilo, ela deve ser da mesma tonalidade dacor creme, ou seja, deve passar desperce-bida. Isto porque linhagens que possuemhalo amarelo não são comercialmente acei-tas. A cor amarela do halo está associada àdemora no cozimento. Esta característicafoi observada na cultivar Carioca 80, quepossuía halo amarelo e apresentava pro-blemas de cozimento. Na realidade, a coramarela do halo depende de alguns genes.Um deles é o J (LEAKEY, 1988). Quandopresente o alelo dominante desse gene, ocozimento é prejudicado, pois ele tem efeitopleiotrópico na cor e na absorção de água.Há, contudo, outros genes envolvidos nacor amarela do halo que não afetam a qua-lidade dos grãos. Portanto, nem sempre apresença do halo amarelo é indicativo deproblemas no cozimento. Mesmo assim,para evitar rejeição dos consumidores, emtodos os programas de melhoramento quevisam à obtenção de grãos do tipo carioca,linhagens com halo amarelo são descar-tadas.

O brilho da semente também é umimportante atributo que determina a acei-tação ou não de uma nova cultivar. À exce-ção do feijão vermelho consumido na Zonada Mata, a preferência é por feijões de te-gumento opaco. Principalmente no feijãodo tipo carioca, o brilho da semente tam-bém é associado à má qualidade, especial-mente demora no cozimento. O alelo do-minante do gene Asp é responsável pelapresença do brilho, altera a estrutura dasuperfície do tegumento e dificulta a embe-bição da água. Bushey et al. (2002) subme-teram três cultivares, diferindo na presençado brilho, ao tratamento com substânciasquímicas e verificaram que a absorção deágua aumentou, especialmente na cultivarcom sementes mais brilhantes. Estes auto-res concluíram que a espessura e a unifor-midade de deposição de cera na superfíciedo tegumento são fatores que afetam aabsorção de água pelas cultivares.

Outro caráter associado à aceitação deuma nova cultivar é o tamanho dos grãos.A preferência é pelos grãos de tamanhomédio, isto é, 100 grãos pesando de 23 a25 gramas. Se o tamanho estiver fora des-ses limites, principalmente abaixo de 23 gra-mas, certamente haverá restrições na suaadoção. Esse é um caráter influenciado pormaior número de genes e também pelascondições ambientais. Em relação ao for-mato, grãos que sejam achatados ou queapresentem a forma de rim normalmente sãorejeitados. A preferência é pelo grão oblon-go.

Finalmente, em relação à qualidade dosgrãos, toda nova cultivar, antes de ser re-comendada, deve ser submetida a testesde cozimento. Para ser considerada boa, oideal é que apresente tempo médio de cozi-mento inferior a 30 minutos. Para realizaresse teste, utiliza-se o cozedor experimentalJAB-77 tipo minor (Fig. 1). Esse aparelho éconstituído de alguns pinos, cujo peso cor-responde à força realizada pelas donas decasa com os dedos indicador e polegar, paraverificar se os grãos já estão cozidos.

A cultivar Carioca, obtida em 1970,reúne todas as qualidades de grãos já

Figura 1 - Cozedor experimental JAB-77 tipo minor

Page 26: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 2 1 - 3 2 , 2 0 0 4

24 Feijão d e a lta p rodutividade

mencionadas. Contudo, ela apresenta sé-rios problemas de suscetibilidade a doençase porte da planta prostrado. Desse modo,os programas de melhoramento de feijão,conduzidos no Estado, buscam associar aogrão tipo carioca resistência a patógenos,planta mais ereta e elevada produtividadede grãos.

O feijoeiro é uma cultura que está sujei-ta ao ataque de inúmeros patógenos, quepodem causar danos econômicos expressi-vos, dependendo das condições do ambi-ente. Há inúmeras alternativas de contro-le, mas, praticamente em todos os casos, aprincipal medida é o uso de cultivares re-sistentes, sobretudo pela economicidade,maior eficiência e menor prejuízo ao meioambiente.

Entre os patógenos, o que tem mereci-do maior atenção dos melhoristas, devi-do à sua ampla distribuição no Estado, é oColletotrichum lindemuthianum , agentecausador da antracnose. O esforço da pes-quisa dedicado à resistência à antracnosetem sido enorme no Brasil e no mundo. Jáforam identificadas várias fontes de re-sistência, entre elas ‘Cornell 49-242’, ‘Mé-xico 222’, ‘To’, ‘Tu’, ‘AB 136’ e ‘G 2333’(PASTOR-CORRALES et al., 1994;ALZATE-MARIN, 1996; ARRUDA, 1998;YOUNG et al., 1998). Também foram obti-das muitas linhagens resistentes, algumasdas quais recomendadas para o cultivo.Contudo, a vida útil dessas cultivares temsido pequena, isto porque o fungo apresen-ta grande variabilidade, refletida em umgrande número de raças. Em Minas Gerais,as raças 73, 81 e 89 são as observadas commaior freqüência em condições de campo(RAVA et al., 1994; SARTORATO, 2002).Cultivares muito plantadas no Estado, co-mo ‘Carioca’, ‘Pérola’ e ‘Rudá’, são susce-tíveis a essas raças (LANZA et al., 1996).Já a cultivar BRSMG Talismã, recentemen-te recomendada para o plantio em MinasGerais, pela UFLA/Embrapa/UFV/EPAMIG,é resistente.

As linhagens ‘AB 136’ e ‘G 2333’ apre-sentaram resistência a todos os isolados

de C. lindemuthianum coletados em váriasregiões produtoras de feijão (RAVA et al.,1994). Por isso, elas têm sido intensiva-mente utilizadas nos programas de hibri-dação que visam à obtenção de cultivaresque associem, principalmente, tipo de grãocarioca e resistência ao patógeno. Um com-plicador na utilização dessas linhagens éque elas apresentam grãos de outras corese fora do padrão comercial. Por isso, osmelhoristas estão tendo dificuldades emassociar todos os genes de resistência des-sas linhagens e os grãos do tipo carioca.

Outra doença de grande importância éa mancha-angular, causada pelo fungoPhaeoisariopsis griseola , de ocorrênciageneralizada, não só em Minas Gerais, co-mo em praticamente todas as regiões produ-toras de feijão no Brasil. Ela pode ocasio-nar perdas na produtividade de grãos quevariam de 7% a 70%, dependendo da cul-tivar, da época de cultivo e do momento emque ocorre a infecção pelo patógeno (SAR-TORATO; RAVA, 1992). Nos últimos anos,essa doença tem merecido grande atençãoda pesquisa. Nesses estudos, as linhagens‘México 54’, ‘AND 277’, ‘Cornell 49-242’,‘MAR-2’, ‘G 5686’ e ‘BAT 332’ têm sobres-saído como importantes fontes de resistên-cia para uso em programas de melhoramen-to (NIETSHE et al., 2000; SARTORATO,2001; ABREU et al., 2002).

Os melhoristas estão tendo dificulda-des em obter cultivares com resistênciacompleta, devido à grande variabilidade dopatógeno. Mais de 50 raças já foram iden-tificadas na América Latina (PASTOR-CORRALES; JARA, 1995; PASTOR-CORRALES; PAULA JÚNIOR, 1996;NIETSHE et al., 1997, 1999; APARÍCIO,1998; SARTORATO, 2001). Em Minas Ge-rais, Nietshe et al. (1997) identificaram 13raças, o que demonstra a expressiva varia-bilidade do fungo no Estado. As principaisraças encontradas foram 31.21, 31.23, 63.23,63.39 e 63.55. A 63.23 foi a mais freqüen-te, estando amplamente distribuída nasregiões estudadas. Por isso, a maioria dascultivares utilizadas em Minas Gerais com

grãos do tipo carioca é, em menor ou maiorgrau, suscetível à mancha-angular. A cul-tivar que tem apresentado maior tolerânciaé a ‘Pérola’.

O mofo-branco, causado pelo fungoSclerotinia sclerotiorum, é uma doençade importância crescente, especialmenteem áreas irrigadas. Este patógeno é de difí-cil controle, pois tem vários hospedeiros epode permanecer no solo por vários anos.Poucas pesquisas foram realizadas no Brasil,visando à obtenção de cultivares resisten-tes. A principal dificuldade é a ausência deboas fontes de resistência. O que tem sidorelatado é que plantas com arquitetura maisereta são mais tolerantes, porque o maiorarejamento entre as plantas é menos propí-cio ao desenvolvimento do patógeno.

A murcha-de-fusarium (Fusariumoxysporum) é outra doença de grandeimportância, e que tem atraído pequeno es-forço da pesquisa. Mesmo assim, provavel-mente por ação da seleção natural, elimi-nando as plantas mais suscetíveis, têm sidoidentificadas linhagens com bom nível deresistência, como ‘Carioca MG’ e ‘BRSMGTalismã’.

A arquitetura da planta é outro caráterque também tem merecido grande atençãodos melhoristas. O objetivo é obter plantaseretas, por apresentarem inúmeras vanta-gens, como: maior facilidade para realizaçãodos tratos culturais e da colheita mecânica;redução de perdas na colheita se esta coin-cidir com período prolongado de chuvas,uma vez que as vagens não ficam em con-tato com o solo; redução da severidade dealgumas doenças, principalmente do mofo-branco, em razão do maior arejamento entreas plantas.

O melhoramento que visa à obtençãode plantas eretas iniciou-se no Estado em1974 e, posteriormente, em outras regiõesdo País. A seleção desse caráter não temsido fácil, devido ao número de genes en-volvidos e, sobretudo, ao efeito do ambi-ente. Com umidade e temperatura altas, hátendência de as plantas tornarem-se de-cumbentes. Por essa razão, algumas cultiva-

Page 27: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 2 1 - 3 2 , 2 0 0 4

25Feijão d e a lta p rodutividade

res consideradas eretas, dependendo dacondição de cultivo, podem-se apresentarprostradas. Mesmo assim, houve grandesavanços nesse período. Linhagens comporte bem ereto foram obtidas. Entretanto,essas linhagens não apresentam grãos dopadrão comercial desejado, especialmentedo tipo carioca. Praticamente todas as li-nhagens com plantas eretas e tipo cariocapossuem grãos pequenos. Estudos maisrecentes, contudo, evidenciam ser possí-vel obter linhagens com boa arquitetura egrãos de tamanho médio (KORNEGAY etal., 1992; BROTHERS; KELLY, 1993;COLLICCHIO et al., 1997).

Em áreas irrigadas, o feijoeiro pode sercultivado até três vezes por ano, desde queseja elaborado um programa de rotação deculturas, que possibilite não só a reduçãode ocorrência de patógenos, mas, principal-mente, oportunidades de comercializaçãoem épocas de escassez de oferta do produ-to no mercado. Nesse contexto, a utilizaçãode cultivares precoces pode tornar o siste-ma de rotação de culturas mais eficiente.No caso da cultura do feijoeiro, a maioriadas cultivares disponíveis apresenta ciclode 90 dias da semeadura à colheita. Con-tudo, há linhagens também disponíveis comciclo de até 70 dias. O problema é que elas,além de não apresentarem tipo de grãos deboa aceitação no mercado, normalmentesão muito suscetíveis aos patógenos e aoutras condições ambientais adversas, quelimitam o seu potencial produtivo e restrin-gem sua recomendação como cultivares.

Além de todas as características men-cionadas, para que uma cultivar seja ado-tada é fundamental que ela apresente altaprodutividade de grãos, nas diferentes re-giões de cultivo. Isso exige que, antes darecomendação, ela seja extensivamente ava-liada em todo o Estado.

ESTRATÉGIAS PARA OBTENÇÃODE UMA NOVA CULTIVAR

O feijoeiro é planta tipicamente autóga-ma, freqüentemente com menos de 5% defecundação cruzada (MARQUES JÚNIOR;

RAMALHO, 1995; PETERNELLI; BORÉM,1999). Existem vários métodos de me-lhoramento comuns às plantas autógamasque são aplicáveis à cultura do feijoeirono Brasil. Detalhes sobre esses métodossão apresentados em vários livros-textos(ALLARD, 1999; RAMALHO et al., 2001).Desses métodos, um dos mais empregadosem Minas Gerais tem sido a introdução delinhagens, que, após estudos de adaptaçãoem experimentos conduzidos no Estado,podem ser recomendadas como cultivares.Entre as cultivares obtidas por esse métodoestão ‘Rico 23’, ‘Milionário 1732’, ‘Emgopa201-Ouro’, ‘Aporé’ e ‘Rudá’.

No futuro, a importância desse proces-so dever ser reduzida. A Lei de Proteçãode Cultivares existente no Brasil deverálimitar a introdução de linhagens e seu usocomo cultivar. Para que isso possa ser feito,é necessário que ocorra acordo formal pré-vio entre as instituições envolvidas, paraque a linhagem possa ser recomendada e asemente comercializada. Outra opção é ométodo das linhas puras, já detalhado porRamalho e Santos (1982) e Ramalho eAbreu (1998).

O método que tem sido mais utilizadoé o da hibridação. Tem como objetivo reu-nir, em um único indivíduo (linhagem), osalelos desejáveis que se encontram em li-nhagens distintas (FEHR, 1987; ALLARD,1999; RAMALHO et al., 2001). Quando dautilização desse método, há sempre algunsquestionamentos: Que cultivares (geni-tores) devem ser cruzadas? Como realizaros cruzamentos? Há vantagens em inter-cruzar plantas F2? Qual procedimento uti-lizar na condução das populações segre-gantes?

Muitas das respostas a essas questõesnão estavam disponíveis na literatura, porisso as instituições de pesquisa no Estado,paralelamente ao processo de obtenção denovas linhagens, têm dado ênfase em obtermais informações sobre esses questiona-mentos, visando melhorar a eficiência dométodo. Entre as principais conclusõesdesses trabalhos estão:

a) sempre que possível, devem-seutilizar pais com o mesmo tipo degrãos, de preferência o mais próximopossível do desejado pelo merca-do, isto porque, o número de genesenvolvidos no controle desse caráteré grande, e recuperar o fenótipo de-sejado é muito difícil (ABREU et al.,1999);

b) os genitores devem ter boa adapta-ção, isto é, alta produtividade degrãos na região e, de preferência, deorigens diferentes (ABREU et al.,1999, 2002);

c) se os genitores são bem escolhidosé possível ter bons resultados a partirde cruzamentos biparentais, isto é,envolvendo dois pais. Porém, se nãofor possível utilizar procedimentoseficientes, os cruzamentos múltiplos,envolvendo vários pais, são uma boaalternativa. Desse modo, concentra-se o trabalho em uma população se-gregante, permitindo maior atençãono processo seletivo (CARNEIRO,2002);

d) o intercruzamento de plantas F2,sugerido por alguns melhoristaspara aumentar a variabilidade, nãose mostrou vantajoso. A variabilida-de que pode ser liberada não com-pensa o tempo gasto nessa ope-ração. Será mais vantajoso se essetempo for destinado a avaliações maisextensivas das famílias (AGUIAR,2003);

e) todos os processos de conduçãodas populações segregantes, se bemconduzidos, são eficientes. Contu-do, o método de bulk, pela sua fa-cilidade e flexibilidade no trabalhodos melhoristas e pela ação da sele-ção natural, normalmente benéfica,deve ser mais utilizado (RAPOSO etal., 2000; GONÇALVES et al., 2001;CORTE et al., 2002);

f) o tipo de grão é o principal fator naadoção de uma nova cultivar. Assim,

Page 28: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 2 1 - 3 2 , 2 0 0 4

26 Feijão d e a lta p rodutividade

os esforços devem-se concentrar, omais cedo possível, nas famílias como tipo de grãos desejado. Foi cons-tatado que a seleção do tipo de grãosna geração F2 não altera a variabili-dade genética nem o sucesso sele-tivo da produtividade de grãos emgerações mais avançadas (SANTOSet al., 2001).

Como os caracteres de importância paraa cultura do feijoeiro são quantitativos, istoé, controlados por muitos genes e influen-ciados pelo ambiente, é muito difícil atingiro objetivo de acumular todos os alelos fa-voráveis em um único indivíduo. A opçãoque resta é promover a seleção recorren-te, ou seja, ciclos sucessivos de seleçãoprecedidos sempre pelo intercruzamentodas melhores famílias.

No estado de Minas Gerais estão sen-do conduzidos alguns programas de se-leção recorrente. O mais antigo teve inícioem 1990, visando à obtenção de melho-res linhagens com grãos do tipo carioca.O esquema adotado na condução do pro-grama é mostrado na Figura 2. A popu-lação-base foi obtida em 1990, como jámencionado, a partir dos seguintes geni-tores: ‘BAT 477’, ‘IAPAR 14’, ‘FT 84-29’,‘Jalo’, ‘A 252’, ‘A 77’, ‘Ojo de Liebre’,‘ESAL 645’, ‘Pintado’ e ‘Carioca’. Foi rea-lizado o cruzamento dialélico para obtençãodos híbridos duplos. Cento e cinqüenta se-mentes da geração F2 de cada híbrido du-plo, com melhor aspecto de grãos, forammisturadas para obter a população originaldo ciclo 0 (C-0), geração S0. As famíliassão sempre avaliadas nas gerações S0:1 eS0:2 e identificadas as melhores para seremrecombinadas e iniciarem o processo dociclo seguinte.

Após cada ciclo seletivo, a avaliaçãodas famílias superiores é continuada, comomostra a Figura 2. As melhores linhagensassim obtidas passam então a participardos experimentos de avaliação de linha-gens em todo o Estado. Foi a partir desseprocedimento, após o terceiro ciclo seletivo(C-II), que se obteve a linhagem CII-102.

1990

1991

1992

1992

1993a

1999

2000

2001

2002

2003

Avaliação dasfamílias S3

Foram intercruzadasdez melhores para

obtenção do ciclo I

Foram incluídas, narecombinação, três

linhagens superioresde outros programas

Ciclo 0 - Intercruzamentodos 10 genitores e obtenção

das gerações F1 e F2 (S0)

Avaliação e seleção dasfamílias S1 e S2

Avaliação dasfamílias S4

Obtenção dageração S0 do ciclo I

Obtenção dos ciclos I, II , III e IV como relatado anteriormente, e avaliaçãodas melhores linhagens obtidas nos ensaios regionais e nacionais

As 18 melhores famílias do ciclo IV e as cultivares A 805 e AND 285foram intercruzadas para obtenção do ciclo V

Obtenção das famílias S0:1do ciclo V

Avaliação das famílias S0:1 eS0:2 do ciclo V

Continuação da avaliação dasfamílias até S0:7

As 20 melhoresfamílias serão

intercruzadas paraobtenção do

ciclo VI

Obtenção das famílias S0:1

do ciclo VI

Figura 2 - Esquema do procedimento adotado na aplicação da seleção recorrente nomelhoramento do feijoeiro

Seleção delinhagens paraparticipar dos

ensaios regionais

Page 29: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 2 1 - 3 2 , 2 0 0 4

27Feijão d e a lta p rodutividade

Lavras Outono-inverno 1998 2.599 2.183 2.308 15,7

Lavras Outono-inverno 1998 2.777 2.438 2.260 18,2

Lavras Águas 1998 1.582 1.202 1.492 17,4

Lavras Águas 1998 2.210 1.890 2.081 11,3

Lavras Águas 1998 2.444 1.584 2.171 30,2

Lavras Águas 1999 2.180 2.409 1.897 1,3

Lavras Seca 1999 2.379 2.258 2.726 -4,5

Lavras Águas 2001 3.350 3.211 2.656 14,2

Ijaci Seca 1999 1.276 1.287 977 12,7

Ijaci Águas 2001 2.104 2.058 2.026 3,0

Lambari Seca 1999 1.415 1.650 1.163 0,6

Lambari Águas 2001 1.876 1.176 1.359 48,0

Patos de Minas Seca 1998 1.093 1.075 1.143 -1,5

Patos de Minas Seca 2001 1.769 1.606 1.765 5,0

Sete Lagoas Seca 1999 2.517 2.620 1.935 10,5

Sete Lagoas Inverno 2001 5.536 4.903 4.852 13,5

Coimbra Seca 2001 3.553 2.775 3.059 21,8

Coimbra Inverno 2001 2.466 2.309 2.818 -3,8

Coimbra Águas 2001 1.786 1.231 1.320 40,0

Ponte Nova Seca 2001 2.357 1.853 2.418 10,4

Leopoldina Seca 2001 2.707 1.998 2.687 15,6

Unaí Outono-inverno 1998 3.178 3.078 3.491 -3,2

Ubá Seca 2001 3.778 4.152 3.676 -3,5

G. Valadares Seca 2001 2.025 1.500 1.804 2,3

Janaúba Seca 2001 1.505 1.739 1.055 7,7

Média geral 2.418 2.167 2.206 10,6

QUADRO 1 - Produtividade média de grãos, em kg/ha, da cultivar ‘BRSMG Talismã’ e dastestemunhas ‘Carioca’ e ‘Pérola’, por local, época e ano de avaliação - Minas Gerais

Variação (%)em relação àmédia das

testemunhas

Local Época AnoBRSMGTalismã

Carioca Pérola

Esta linhagem associou, aos grãos do pa-drão comercial carioca, resistência a algu-mas raças de C. lindemuthianum , preco-cidade de, aproximadamente, dez dias emrelação às cultivares recomendadas noEstado e boa produtividade. Esta últimaobservação pode ser constatada no Qua-dro 1, onde estão apresentados os resul-tados de produtividade de grãos da referidalinhagem em 25 experimentos no Estado.Em virtude desse desempenho, ela foiregistrada para o estado de Minas Gerais,em 2002, com o nome ‘BRSMG Talismã’.

Com a Lei no 9.456 (BRASIL, 1997), refe-rente à proteção de cultivares, esperava-se que as empresas privadas produtorasde sementes desenvolvessem programaspróprios de melhoramento. Infelizmente,no caso do feijoeiro, até o momento issonão ocorreu, e a produção de novas culti-vares está concentrada no poder público.

Foi também criado, no âmbito do Mi-nistério da Agricultura, o Registro Nacionalde Cultivares (RNC). Esse registro é indis-pensável para a comercialização de semen-tes de qualquer cultivar, protegida ou não.

Para obter o registro é necessário que sejamconduzidos experimentos denominadosValor de Cultivo e Uso (VCU). Esses expe-rimentos devem ser conduzidos em, pelomenos, três locais por região edafoclimáti-ca de importância para a cultura, em cadaépoca de cultivo (primavera-verão, verão-outono e outono-inverno), por um períodomínimo de dois anos. As demais instruçõespara a condução dos VCUs são apresen-tadas no Anexo IV da Portaria no 294, de 14de outubro de 1998 (Anexo A), e podemtambém ser obtidas pela internet (BRASIL,1998).

Um dos principais problemas dos me-lhoristas de feijão é fazer com que suaslinhagens sejam efetivamente utilizadaspelos agricultores. Normalmente, são obti-das boas linhagens, mas não há um proces-so eficiente de difusão e, sobretudo, de pro-dução de sementes. Desse modo, o esforçodedicado ao melhoramento é praticamenteperdido e a taxa de utilização de sementesde cultivares melhoradas no Estado conti-nua baixa, cerca de 10% (ANUÁRIO..., 2002).Preocupadas com esse fato, Embrapa, UFV,Ufla e EPAMIG firmaram um convênio pa-ra a condução dos experimentos de VCUem Minas Gerais. Por esse convênio, cadainstituição terá igual número de linhagensno VCU e será responsável pela conduçãodos experimentos em suas regiões de atua-ção. Após dois anos de avaliação, a melhorlinhagem será entregue para a EmbrapaNegócios Tecnológicos, a qual terá a res-ponsabilidade de obter o registro e con-duzir o processo de difusão e comerciali-zação das sementes. Com essa estratégia,a cada dois anos, o Estado terá novas li-nhagens de feijão carioca, preto ou verme-lho, em condições de serem utilizadas pe-los agricultores. É esperado que não só ataxa de utilização de sementes melhora-das aumente, mas também que a ofertadessa importante leguminosa no Estadoseja ampliada.

No Quadro 2, são listadas as principaiscultivares de feijão recomendadas paraMinas Gerais.

Page 30: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 2 1 - 3 2 , 2 0 0 4

28 Feijão d e a lta p rodutividade

QUADRO 2 - Principais cultivares de feijão recomendadas para Minas Gerais, com suas origens, ano de recomendação e principais características

Principais característicasAnoOrigemCultivar

Grão tipo carioca; peso médio de 100 sementes de 20-25 g; hábito de crescimentoindeterminado III; porte prostrado; ciclo normal; resistente ao mosaico-comum

Grão tipo jalo; peso médio de 100 sementes de 30-40 g; hábito de crescimentoindeterminado III; porte prostrado; ciclo médio; tolerante à mancha-angular

Grão preto; peso médio de 100 sementes de 16-18 g; hábito de crescimento indeterminadoII; porte ereto; resistente ao mosaico-comum

Grão preto; peso médio de 100 sementes de 19-20 g; hábito de crescimento indeterminadoIII; porte prostrado; resistente ao mosaico-comum

Grão tipo jalinho; peso médio de 100 sementes de 16-18 g; hábito de crescimentoindeterminado II; porte ereto; ciclo normal; resistente à antracnose, à ferrugem e aomosaico-comum

Grão tipo carioca; hábito de crescimento indeterminado II/III; porte semi-ereto;resistente ao mosaico-comum

Grão preto; peso médio de 100 sementes de 20-24 g; hábito de crescimentoindeterminado II; porte semi-ereto; ciclo normal; resistente ao crestamento-bacteriano-comum e ao mosaico-comum

Grão preto; peso médio de 100 sementes de 25-27 g; hábito de crescimentoindeterminado III; porte prostrado; ciclo normal; alta capacidade de fixação simbióticade nitrogênio; resistente à ferrugem e à antracnose; tolerante ao frio

Grão tipo carioca; peso médio de 100 sementes de 20-22 g; hábito de crescimentoindeterminado II; porte ereto; ciclo normal; resistente à antracnose e ao mosaico-comum

Grão tipo carioca com halo amarelo; peso médio de 100 sementes de 23-25 g; hábitode crescimento indeterminado III; porte prostrado; ciclo normal; resistente àantracnose, à mancha-angular e ao mosaico-comum

Grão tipo carioca, peso médio de 100 sementes de 23-24 g; hábito de crescimentoindeterminado II; porte ereto; ciclo normal; resistente à antracnose e ao mosaico-comum

Grão roxo; peso médio de 100 sementes de 20-24 g; hábito de crescimentoindeterminado III; ciclo normal

Grão tipo jalo; peso médio de 100 sementes de 30-40 g; hábito de crescimentodeterminado I; porte ereto; ciclo médio; resistente à antracnose e tolerante à mancha-angular

Grão branco; peso médio de 100 sementes de 45-50 g; hábito de crescimentodeterminado I; porte ereto; ciclo médio; resistente ao mosaico-comum

Grão vermelho-claro; peso médio de 100 sementes de 19-23 g; hábito de crescimentoindeterminado II; porte ereto; ciclo normal; resistente à antracnose e ao mosaico-comum

Grão preto; peso médio de 100 sementes de 18-23 g; hábito de crescimento indeterminadoII; porte ereto; ciclo normal; resistente ao mosaico

Grão tipo carioca; peso médio de 100 sementes de 23-25 g; hábito de crescimentoindeterminado II/III; porte semi-ereto a prostrado; ciclo normal; resistente à mancha-angular, à ferrugem e ao mosaico-comum

Grão preto; peso médio de 100 sementes de 21-22 g; hábito de crescimento indeterminadoII; porte ereto; ciclo normal; resistente ao mosaico-comum e à ferrugem e reaçãointermediária à mancha-angular

Grão rajado; peso médio de 100 sementes de 44-45 g; hábito de crescimentodeterminado I; porte ereto; ciclo precoce; resistente à antracnose, à ferrugem e aomosaico-comum e reação intermediária à mancha-angular

Grão tipo carioca; peso médio de 100 sementes de 26-27 g; hábito de crescimentoindeterminado III; porte prostrado; ciclo médio; resistente à antracnose e ao mosaico-comum

IAC

Ipeaco

Ciat

Ciat

Ciat

IAC

Embrapa Arroz e Feijão

Honduras

Ufla

Embrapa Arroz e Feijão

Ciat

Ufla

Embrapa Arroz e Feijão

Ciat

Ciat

UFV e EPAMIG

Embrapa Arroz e Feijão

Embrapa Arroz e Feijão

Embrapa Arroz e Feijão

Ufla, Embrapa Arroz eFeijão, UFV e EPAMIG

Carioca

Jalo EEP 558

Milionário 1732

Rico 1735

Emgopa 201-Ouro

IAC-Carioca

Diamante Negro

Ouro Negro

Carioca MG

Aporé

Rudá

Roxo 90

Novo Jalo

Ouro Branco

Vermelho 2157

Meia Noite

Pérola

BRS Valente

BRS Radiante

BRSMG Talismã

1975

1980

1983

1983

1984

1987

1991

1991

1992

1992

1992

1992

1993

1993

1993

1994

1994

2001

2001

2002

Page 31: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 2 1 - 3 2 , 2 0 0 4

29Feijão d e a lta p rodutividade

ANEXO A – ANEXO IV DA PORTARIA 294 DE 14/10/1998

Requisitos Mínimos para Determinação do Valor de Cultivo

e Uso de Feijão (Phaseolus vulgaris),

para a Inscrição no Registro Nacional de Cultivares - RNC

I - Ensaios

A) Número de locais: 3 (três) locais por região edafoclimática de im-

portância para a cultura, para cada época de cultivo (águas, seca e

outono-inverno).

B) Período mínimo de realização: dois anos.

C) Tratos culturais: recomenda-se não efetuar o controle de doenças,

exceto o tratamento de sementes. As pragas deverão ser controladas

sempre que necessário. O uso de irrigação é recomendado somente

para o estabelecimento da população inicial de plantas ou quando

esta prática for usual no sistema de produção utilizado. Se houver

interesse por parte do requerente/responsável pela cultivar, dados

adicionais de ensaios conduzidos com controle químico de doenças

poderão ser apresentados.

II - Delineamento experimental

A) Blocos casualizados com no mínimo três repetições, ou outro

delineamento com igual ou maior precisão experimental.

B) Dimensão das parcelas: as parcelas deverão ser constituídas de no

mínimo quatro fileiras de 4 metros de comprimento desprezando-

se as duas fileiras laterais.

C) Testemunhas: deverão ser utilizadas no mínimo duas cultivares inscritas

no RNC, por grupo de cor, sendo que a escolha deverá obedecer os

seguintes critérios: a) Cultivar mais plantada na região ou a cultivar

com maior potencial de rendimento e b) cultivar de livre escolha.

D) Análise estatística: Os ensaios deverão ser analisados estatistica-

mente, sendo que serão considerados aqueles que apresentarem

coeficiente de variação (CV) de no máximo 20%.

III - Características a serem avaliadas:

A) Descritor (item 8 do formulário): preencher no caso da cultivar não

estar protegida no Brasil.

a) Antocianina no hipocótilo: ausente, presente;

ANEXO IV

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTOSECRETARIA DE APOIO RURAL E COOPERATIVISMOSERVIÇO NACIONAL DE PROTEÇÃO DE CULTIVARES

b) Flor - cor da asa: branca, rosa, roxa;

c) Flor - cor do estandarte: branca, rosa, roxa;

d) Sementes - venações na testa: ausente, presente.

B) Características agronômicas (item 9 do formulário):

a) Hábito de crescimento: determinado ou indeterminado;

b)Porte: ereto, semi-ereto ou prostrado, a ser determinado na

maturação fisiológica;

c) Comprimento médio da guia: curta, média, longa (Obs.: poderá

haver dupla opção);

d)Cor da flor: uniforme, desuniforme;

e) Cor do hipocótilo;

f) Cor das vagens na maturação fisiológica;

g) Cor das vagens na maturação de colheita;

h)Vagem - forma da seção transversal (somente para feijão vagem);

i) Vagem - presença de fio (somente para feijão vagem);

j) Vagem - textura da superfície (somente para feijão vagem);

k)Cor do tegumento (coloração predominante e quantificar em

percentagem as possíveis variações);

l) Cor do halo (quantificar em percentagem as possíveis variações);

m)Forma da semente;

n)Brilho da semente;

o)Peso médio de 1000 sementes;

p)Grupo comercial:

- Carioca - (Ex.: Carioca, Rudá, Pérola, Princesa, IAPAR-14, IAC-

Carioca);

- Preto - (Ex.: Rio Tibagi, Diamante Negro, IAC-Una, IAPAR-44,

FT-Nobre, IPA-10);

- Mulatinho - (Ex.: IPA-7, Corrente da Bahia, Bambui);

- Rosinha - (Ex.: Rosinha G2);

- Bico de Ouro - (Ex.: IAC Bico de Ouro);

- Branco - (Ex.: Ouro Branco);

- Manteiga - (Ex.: Jalo EEP 558, Jalo Precoce, Novo Jalo, Bagajó,

Carnaval);

- Roxo - (Ex.: Roxo 90);

- Outros - (vermelhos, rajados, pintados, enxofre, pardo) - (Ex.:

Irai, Emgopa 201-Ouro, IAPAR 31, Vermelho 2157).

Page 32: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 2 1 - 3 2 , 2 0 0 4

30 Feijão d e a lta p rodutividade

q)Ciclo - número médio de dias da emergência ao florescimento;

r) Ciclo - número médio de dias da emergência a maturação fisioló-

gica.

C) Reação a doenças (item 10 do formulário):

a) Antracnose (Colletotrichum lindemuthianum): resistente, inter-

mediária, suscetível;

b)Crestamento bacteriano comum (Xanthomonas campestris pv

phaseoli): resistente, intermediária, suscetível;

c) Ferrugem (Uromyces phaseoli var. typica): resistente, intermediária,

suscetível;

d)Mancha angular (Isariopsis griseola): resistente, intermediária,

suscetível;

e) Mosaico-comum (BCMV): resistente, suscetível;

f) Mosaico dourado (VMDF, BGMV): resistente, intermediária, sus-

cetível, sem informação;

g) Murcha de Fusarium (Fusarium oxysporum): resistente, inter-

mediária, suscetível, sem informação;

h)Observação: qualquer informação adicional poderá ser acres-

centada;

D) Reação a adversidades (item 11 do formulário):

a) Reação a seca;

b)Reação a baixas temperaturas;

c) Reação a altas temperaturas, ocorridas durante a fase reprodutiva;

d)Outros fatores.

E) Avaliação da produtividade (item 12 do formulário):

O rendimento do ensaio será a média do peso total dos grãos das

parcelas úteis, transformado em kg/ha e ajustado para 13% de umi-

dade. As médias obtidas sempre serão comparadas com a média das

testemunhas do ensaio.

Será inscrita no RNC a cultivar que, nos ensaios de VCU, tenha

obtido, estatisticamente, uma produtividade, no mínimo, igual ao

da média das cultivares testemunhas. Caso contrário, o interessado

na inscrição, deverá indicar a existência de outras características

importantes que justifiquem a sua inclusão no RNC.

F) Avaliação da qualidade tecnológica/industrial (item 13 do formulá-

rio):

a) Tempo médio de cozimento: determinado no cozedor de Mattson

(PROCTOR; WATTS, 1987);

b)Sólidos totais no caldo: determinado pelo método de Plhak et al.

(1989) e Garcia-Vela e Stanley (1989);

c) Percentagem de grãos inteiros após o cozimento: (PLHAK et al.,

1989; GARCIA-VELA; STANLEY, 1989);

d)Percentagem de absorção de água pela amostra antes e após o

cozimento (PLHAK et al., 1989; GARCIA-VELA; STANLEY, 1989);

e) Coloração do caldo (para feijão preto)

- Referência para caldo escuro - Ex.: Rio Tibagi;

- Referência caldo claro - Ex.: Macanudo;

f) Teor de proteína: a concentração de proteína é estimada a partir

do conteúdo de nitrogênio total do grão determinado pelo método

microKjeldhal utilizando-se o fator 6,25 para converter o nitro-

gênio em proteína (AOAC, 1980).

IV - Atualização de informações

Novas informações sobre a cultivar, tais como: mudanças na

região de adaptação, reação a pragas, doenças, limitações, etc.,

devem ser enviadas, nos mesmos modelos do VCU, para serem

anexados ao documento de inscrição.

V - Observação: no preenchimento do formulário, sempre que

necessário, utilizar folhas anexas.

VI - Referências Bibliográficas

AOAC (Association of Official Analytical Chemists). Official

analysis. 13. ed, 1980.

GARCIA-VELA, L.A.; STANLEY, D.W. Water-holding capacity in

hard-cook bean (P. vulgaris): effect of pH and ionic strength. J.

Food Science, ,v.54, n.4, p.1080-1081, 1989.

PLHAK, L.C.; CALDWELL, K.B.; STANLEY, D.W. Comparision of

methods used to characterize water imbibition in hard-to-

cook beans. J. Food Science, , v.54, n.3, p. 326-336, 1989.

PROCTOR J. R.; WATTS, B. M. Development of a modified Mattson

bean cooker procedure based on sensory panel cookability

evaluation. Can. Inst. Food Science and Tecn. Journal, , v.20,

n.1, p.9-14, 1987.

Page 33: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 2 1 - 3 2 , 2 0 0 4

31Feijão d e a lta p rodutividade

REFERÊNCIAS

ABREU, A. de F.B.; RAMALHO, M.A.P.;CARNEIRO, J.E. de S.; GONÇALVES, F.M.A.Seleção recorrente fenotípica no melhoramentodo feijoeiro visando a resistência a Phaeoisariopsisgriseola. In: CONGRESSO NACIONAL DE PES-QUISA DE FEIJÃO, 7., 2002, Viçosa, MG. Re-sumos expandidos... Viçosa, MG: UFV, 2002.p.233-235.

_______; _______; FERREIRA, D.F. Selectionpotential for seed yield from intra- and inter-racial populations in common bean. Euphytica,Wageningen, v.108, p.121-127, 1999.

_______; _______; SANTOS, J.B. dos. Predictionof seed-yield potential of common bean populations.Genetics and Molecular Biology , Ribeirão Pre-to, v.25, n.3, p.323-327, 2002.

AGUIAR, M.S. de. Implicações do número deintercruzamentos nas propriedades gené-ticas de uma população segregante de feijo-eiro. 2003. 53f. Tese (Mestrado em Genética eMelhoramento) - Universidade Federal de Lavras,UFLA, 2003.

ALLARD, R.W. Principles of plant br eeding.2.ed. New York: John Wiley, 1999. 254p.

ALMEIDA, L.D’A. de. O feijão Carioca: refle-xos de sua adoção. Campinas: IAC, 2000. Nãopaginado.

ALZATE-MARIN, A.L. Resistência à antrac-nose do feijoeiro ( Phaseolus vulgaris L.):diversidade genética de raças de Colletotrichumlindemuthianum, herança de resistência e identi-ficação de marcadores moleculares. 1996. 65f.Tese (Doutorado em Genética e Melhoramen-to) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG,1996.

ANUÁRIO ABRASEM 2002. Brasília: Associa-ção Brasileira dos Produtores de Sementes, 2002.135p.

APARICIO, B.H.E. Caracterización de ladiversidad molecular y la virulencia deaislamentos del hongo Phaeoisariopsis griseolade Brasil e Bolivia. 1998. 130p. Trabalho (Gra-do) - Universidad del Valle, Cali, Colombia.

ARRUDA, M.C.C. Resistência d o f eijoeiro-comum à antracnose : herança, identificaçãode marcadores moleculares e introgressão do geneCo-4 no cultivar Rudá. 1998. 97f. Tese (Mestrado

em Genética e Melhoramento) - UniversidadeFederal de Viçosa, Viçosa, MG, 1998.

BASSET, M.J. List of genes: Phaseolus vulgarisL. Annual Report of the Bean ImprovementCooperative, New York, v.39, n.39, p.1-19,1996.

BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abas-tecimento. Lei no 9.456, de 25 de abril de 1997.Institui a Lei de Proteção de Cultivares, e dá outrasprovidências. Diário Oficial [da] RepúblicaFederativa do Brasil , Brasília, 25 abr. 1997.Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br>.Acesso em: 2004.

_______. Portaria no 294, de 14 de outubro de1998. Estabelece os critérios mínimos a seremobservados nos ensaios para determinação de Valordo Cultivo e Uso - VCU de cultivares de algodão,arroz, batata, feijão, milho, soja, sorgo e trigo eos respectivos formulários de solicitação de ins-crição de cultiva-res no Registro Nacional deCultivares - RNC, na forma dos anexos I a VIIIdesta Portaria. Diário Oficial [da] Repúbli-ca Federativa do Brasil , Brasília, [1998].Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br>.Acesso em: 2004.

BROTHERS, M.E.; KELLY, J.D. Interrelation-ship of plant architecture and yield componentsin the pinto bean ideotype. Crop Science ,Madison, v.33, n.6, p.1234-1238, 1993.

BUSHEY, S.M.; HOSFIELD, G.L.; OWENS, S.The role of the epicutilar wax layer in watermovement across the bean seed coat. AnnualReport of the Bean Improvement Coope-rative, East Lansing, v.45, p.12-13, 2002.

CARNEIRO, J.E. de S. Alternativas para obten-ção e escolha de populações segregantes nofeijoeiro. 2002. 134f. Tese (Doutorado em Ge-nética e Melhoramento) - Universidade Federalde Lavras, Lavras, 2002.

COLLICCHIO, E.; RAMALHO, M.A.P.; ABREU,A. de F.B. Associação entre o porte da planta dofeijoeiro e o tamanho de grãos. Pesquisa Agro-pecuária Brasileira , Brasília, v.32, n.3, p.297-304, mar. 1997.

CORTE, H.R.; RAMALHO, M.A.P.; GONÇAL-VES, F.M.A.; ABREU, A. de F.B. Natural selectionfor grain yield in dry bean populations bred by thebulk method. Euphytica, Wageningen, v.123,p.387-393, 2002.

FEHR, W. R. Principles of cultivar develop-ment: theory and technique. New York: Mac-Millan, 1987. 536p.

GONÇALVES, F.M.A.; RAMALHO, M.A.P.;ABREU, A. de F.B. Natural selection in fourcommon bean traits. Crop Breeding and AppliedBiotechnology, Londrina, v.1, n.3, p.213-220,2001.

KORNEGAY, J.; WHITE, J.W.; CRUZ, O.O. dela. Growth habit and gene pool effects oninheritance of yield in common bean. Euphytica,Wageningen, v.62, n.3, p.171-180, 1992.

LANZA, M.A.; PAULA JÚNIOR, T.J.;MENARIM, H.; QUEIROZ, T.F.N.; BARROS,E.G.; MOREIRA, M.A. Comportamento devariedades de feijão recomendadas para MinasGerais quanto à resistência à antracnose. In:REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISA DEFEIJÃO, 5., 1996, Goiânia. Resumos... Goiânia:EMBRAPA-CNPAF, 1996. v.1, p.313-315.(EMBRAPA-CNPAF. Documentos, 69).

LEAKEY, C.L.A. Genotypic and phenotypicmarkes in common bean. In: GEPTS, P. (Ed.).Genetic resources in Phaseolus beans. Boston:Klumer Academic, 1988. p.245-327.

MARQUES JÚNIOR, O.G.; RAMALHO, M.A.P.Determinação da taxa de fecundação cruzada dofeijfoeiro (Phaseolus vulgaris L. ) nas diferentesépocas de semeadura em Lavras-MG. Ciência ePrática, Lavras, v.19, n.3, p.339-341, jul./set.1995.

NIETSCHE, S.; BORÉM, A.; ROCHA, R.C.;CAIXETA, E.T.; BARROS, E.G. de; MOREIRA,M.A. Fontes de resistência à mancha-angular dofeijoeiro-comum no Brasil. Revista Ceres ,Viçosa, MG, v.47, n.273, p.567-571, set./out.2000.

_______; _______; _______; _______; _______;_______. Identificação de raças de Phaeoiosariopsisgriseola no estado de Minas Gerais. In: REUNIÃONACIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 6.,1999, Salvador. Anais... Santo Antônio de Goiás:Embrapa Arroz e Feijão, 1999. v.1, p.198-200.(Embrapa Arroz e Feijão. Documentos, 99).

_______; CARVALHO, G.A.; BORÉM, A.; PAU-LA JÚNIOR, T.J.; FERREIRA, C.F.; BARROS,E.G.; MOREIRA, M.A. Variabilidade patogêni-ca de Phaeoisariopsis griseola em Minas Gerais.Fitopatologia Brasileira , Brasília, v.22, p.289-

Page 34: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 2 1 - 3 2 , 2 0 0 4

32 Feijão d e a lta p rodutividade

290, ago. 1997. Suplemento: Resumos do XXXCongresso Brasileiro de Fitopatologia.

PASTOR-CORRALES, M.A.; ERAZO, O.;ESTRADA, E.I.; SINGH, S.P. Inheritance ofanthracnose resistance in common bean accessionG2333. Plant Disease , St. Paul, v.78, n.10,p.959-962, Oct. 1994.

_______; JARA, C.E. La evolución de P. griseolacom el frijol comum en América Latina. Fito-patologia C olombiana, Cali, v.19, n.1, p.15-23, 1995.

_______; PAULA JÚNIOR, T.J. Estudo da di-versidade genética de Phaeoisariopsis griseola noBrasil. In: REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISADE FEIJÃO, 5., 1996, Goiânia. Anais... Goiânia:EMBRAPA-CNPAF, 1996. v.1, p.39-241.(EMBRAPA-CNPAF. Documentos, 69).

PETERNELLI, L.A.; BORÉM, A. Hibridação emfeijão. In: BORÉM, A. (Ed.). Hibridação arti-ficial de plantas, Viçosa, MG: UFV, 1999. p.269-294.

RAMALHO, M.A.P.; ABREU, A. de F.B.Cultivares. In: VIEIRA, C.; PAULA JÚNIOR, T.J.de; BORÉM, A. (Ed.). Feijão: aspectos gerais ecultura no estado de Minas Gerais. Viçosa, MG:UFV, 1998. p.435-449.

_______; _______; SANTOS, J.B. dos. Melhora-mento de espécies autógamas. In: NASS, L.L.;VALOIS, A.C.C.; MELO, I.S. de; VALADARES-INGLIS, M.C. (Ed.). Recursos genéticos emelhoramento: plantas. Rondonópolis: Fun-dação MT, 2001. p.201-230.

_______; SANTOS, J.B. dos. Melhoramento dofeijão. Informe Agropecuário , Belo Horizonte,v.8, n.90, p.16-19, jun. 1982.

RAPOSO, F.V.; RAMALHO, M.A.P.; ABREU,A. de F.B. Comparação de métodos de conduçãode populações segregantes de feijoeiro. Pesqui-sa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.35,n.10, p.1991-1997, out. 2000.

RAVA, C.A.; PURCHIO, A.F.; SARTORATO, A.Caracterização de patótipos de Colletotrichumlindemuthianum que ocorrem em algumas regiõesprodutoras de feijoeiro comum. FitopatologiaBrasileira, Brasília, v.19, n. 2, p.167-172, jun.1994.

SANTOS, V. da S.; RAMALHO, M.A.P.; CARNEI-RO, J.E. de S.; ABREU, A. de F.B. Consequencesof early selection for grain type in common beanbreeding. Crop Breeding and Applied Bio-technology, Londrina, v.1, n.4, p.347-354, 2001.

SARTORATO, A. Determinação da variabili-dade fitopatogênica do fungo Colletotrichumlindemuthianum (Sacc.) Scrib. In: CONGRESSONACIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 7.,2002, Viçosa, MG. Resumos expandidos...Viçosa, MG: UFV, 2002, p.114-116.

_______. Variabilidade de Phaeoisariopsis griseolano feijoeiro comum. In: CONGRESSO BRASI-LEIRO DE MELHORAMENTO DE PLANTAS,1., 2001, Goiânia. Anais... Goiânia: UFG/Em-brapa Arroz e Feijão, 2001. CD-ROM.

_______; RAVA, C.A. Influência da cultivar e donúmero de inoculações na severidade da mancha

angular (Isariopsis griseola) e nas perdas na pro-dução do feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris).Fitopatologia Brasileira , Brasília, v.17, n.3,p.247-251, set. 1992.

VIEIRA, C. O feijão e eu: memórias de um ex-aluno da ESAV. Viçosa, MG: UFV, 1996. 178p.

_______. Rico – 23, nova variedade de feijãopreto para a Zona da Mata, Minas Gerais. RevistaCeres, Viçosa, MG, v.11, n.61, p.22-26, maio/dez. 1959.

_______; BORÉM, A.; RAMALHO, M.A.P. Me-lhoramento do feijão. In: BORÉM, A. (Ed.).Melhoramento de es pécies cultivadas . Viçosa,MG: UFV, 1999. p.273-349.

VOYSEST, O.V. Mejoramiento genético delfrijol (Phaseolus vulgaris L.): legado de varie-dades de América Latina 1930 - 1999. Cali,Colombia: CIAT, 2000. 195p.

YOUNG, R.; MELOTTO M.; NODARI R.O.; KELLY, J.D. Marker-assisted dissection ofoligogenic anthracnose resistance in the com-mon bean cultivar, ‘G 2333’. Theoretical andApplied Genetics , Berlin, v.96, n.1, p.87-94,1998.

ZIMMERMANN, M.J. de O.; CARNEIRO,J.E.S.; DEL PELOSO, M.J.; COSTA, J.G.C.;RAVA, C.A.; SARTORATO, A.; PEREIRA,P.A.A. Melhoramento genético e cultivares.In: ARAÚJO, R.S.; RAVA, C.A.; STONE, L.F.; ZIMMERMANN, M.J. de O. (Coord.).Cultura do feijoeiro comum no Brasil .Piracicaba: POTAFOS, 1996. p.224-273.

Page 35: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 3 3 - 4 0 , 2 0 0 4

33Feijão d e a lta p rodutividade

1Engo Agr o, D.Sc., Pesq. EMBRAP A/EPAMIG-CTZM, Vila Gianetti 46, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correioeletrônico: [email protected]

2Engo Agro, Ph.D., Pesq. EP AMIG-CTZM, Vila Gianetti 46, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:[email protected]

Importância do usode sementes de feijão livres de patógenos

Rogério Faria Vieira1

Trazilbo José de Paula Júnior2

INTRODUÇÃO

Em regiões com condições climáticas fa-voráveis aos feijoeiros no outono−inverno,as produtividades alcançadas nos primei-ros anos, após o início da exploração de umagleba (Fase 1), são altas, ou seja, elas va-riam normalmente entre 2.500 e 3.500 kg/ha(41,7 a 58,3 sacas/ha). Essas produtivi-dades proporcionam alto retorno finan-ceiro aos agricultores: o lucro líquido podevariar de 21,7 a 38,3 sacas de 60 kg/ha,considerando-se o custo de produção de20 sacas/ha.

No entanto, depois de alguns anos decultivo, as produtividades começam a cairpaulatinamente, até estabilizar-se em umnível mais baixo que os alcançados nos pri-meiros anos de exploração da gleba. Isso

ocorre simultaneamente ao aumento docusto de produção (Fase 2). Conseqüente-mente, o lucro líquido por hectare tambémcai. Em caso de queda expressiva no pre-ço do feijão, a situação de lucro pequenoou médio poderia passar a ser de prejuízo.Apesar disso, os agricultores continuam aexplorar a cultura do feijão, embora a cadanova safra o custo de produção aumentesem o correspondente aumento de pro-dutividade. O limite de sobrevivência doempreendimento ocorre, quando as pro-dutividades igualam-se às alcançadas naFase 2 (1.800 a 2.500 kg/ha), mas o custo deprodução é ainda mais alto, em torno de30 sacas/ha. Nessa nova situação (Fase 3),qualquer queda expressiva no preço dofeijão (que pode fazer com que o custo de

produção seja superior a 40 sacas/ha) podesignificar prejuízos altíssimos para os pro-dutores. Conseqüentemente, ele passa aprocurar novas opções de cultivo, as quais,geralmente, são menos rentáveis finan-ceiramente que o feijão na Fase 1, ou têmmercado limitado.

Na verdade, a situação inicial (Fase 1),de altíssimas produtividades e baixo custode produção, raramente é mantida por mui-tos anos, especialmente em regiões onde aleguminosa é cultivada extensivamente esem a devida rotação de culturas. Portan-to, a pergunta que surge é: como prolon-gar ao máximo a Fase 1? A resposta a essapergunta é ampla e abrange as diferentesáreas agronômicas (fitopatologia, entomo-logia, fertilidade, etc.). Na prática, tem-se

Resumo - Entre os principais patógenos causadores de doenças no feijoeiro, apenas ofungo Uromyces appendiculatus (agente causador da ferrugem) e o vírus do mosaico-douradonão são transmissíveis pela semente. Em geral, patógenos como Sclerotinia sclerotiorum

(mofo-branco), Colletotrichum lindemuthianum (antracnose), Fusarium spp. (murcha-de-fusarium, prodridão-radicular-seca), Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli (crestamento-bacteriano-comum) disseminam-se a curta distância, quando não há interferência do homem.Este, no entanto, introduz esses patógenos ao adquirir semente contaminada e/ou infectadae ao distribuí-la em gleba de cultivo ainda não infestada. Patógenos como C. lindemuthianum

e X. axonopodis pv. phaseoli, presentes na semente, podem provocar epidemia na lavoura jáno primeiro ciclo de cultivo de feijão. Os fungos de solo geralmente não causam epidemia,mas os prejuízos a médio e a longo prazos podem ser maiores que os causados porpatógenos que atacam a parte aérea dos feijoeiros.

Palavras-chave: Phaseolus vulgaris. Semente. Fungos. Bactérias. Vírus.

Page 36: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 3 3 - 4 0 , 2 0 0 4

34 Feijão d e a lta p rodutividade

observado que os seguintes fatores têmmaior peso nessa dinâmica da exploraçãodo feijão:

a) aumento do número e da intensidadedas doenças;

b) piora das qualidades físicas, bioló-gicas e químicas do solo;

c) aumento da infestação da lavouracom plantas daninhas;

d) redução da uniformidade de aplica-ção de água pelo equipamento deirrigação.

A reversibilidade dessa situação (daFase 3 para a Fase 1) é muito difícil, espe-cialmente em lavouras com alta incidênciade fungos de solo. Estes, por serem de di-fícil controle e por terem a capacidade desobreviver sem a presença dos restos dosfeijoeiros, são os principais responsáveispor essa situação praticamente irreversí-vel.

Como esses fungos de solo são intro-duzidos na gleba? As sementes de feijão(e de outras culturas) são as principais res-ponsáveis pela introdução desses pató-genos na lavoura. Portanto, o emprego desementes livres de patógenos é tecnologiaque não se pode prescindir, para que a Fa-se 1 da dinâmica de exploração do feijãoseja mantida por tempo relativamente lon-go. Essa tecnologia também permite, casoa Fase 2 já tenha sido alcançada, que se re-tarde a situação mais indesejável, ou seja,que se atinja a Fase 3. Será possível con-cluir, ao final, que semente de boa quali-dade não é despesa para o agricultor, éinvestimento.

DISSEMINAÇÃO DE PATÓGENOS

A disseminação de patógenos, tantodentro da lavoura como de uma lavourapara outra, pode ocorrer pela ação dos se-guintes agentes: vento, água de chuva oude irrigação, insetos, animais e homem. Estepode disseminar patógenos ao empregar,no preparo de solo, equipamento no qualse encontra aderido solo contaminado e,no plantio, sementes infectadas. No Qua-

dro 1, são apresentados os principais meiosde disseminação de alguns patógenos dofeijão. A maioria deles tem na semente oprincipal veículo de disseminação a longadistância.

Segundo Menten (1986), a dissemina-ção de patógenos por meio de sementes émais eficiente do que os outros meios pelosseguintes motivos:

a) patógenos de importância econômi-ca podem ser disseminados, inde-pendentemente da distância;

b) a semente, por ser um ótimo subs-trato, mantém o patógeno viável pormuito tempo;

c) o contato direto do patógeno com asemente preserva-lhe a patogenici-dade (capacidade de um patógenocausar doença), que tenderia a dimi-nuir ou a desaparecer muito mais

rapidamente no caso da associaçãodo patógeno com restos de cultura,solo, etc.;

d) o inóculo (patógeno ou parte delecapaz de infectar plantas) está intima-mente associado ao hospedeiro, ouseja, ao feijoeiro, condição que fa-vorece o crescimento e a reproduçãodo patógeno, particularmente numafase altamente suscetível como é afase de plântula.

Embora o fungo Colletotrichumlindemuthianum, agente causador daantracnose, sobreviva por tempo limitadonos restos de cultura, ele pode sobreviverpor até 15 anos na semente. O tempo de so-brevivência do vírus do mosaico-comum eda bactéria Xanthomonas axonopodis pv.phaseoli na semente pode ser superior a30 anos (GILBERTSON; MAXWELL, 1992;

QUADRO 1 - Principais meios de disseminação de alguns patógenos do feijoeiro

Vírus do mosaico-dourado _

Vírus do mosaico-comum Sementes

Uromyces appendiculatus Corrente de ar

Alternaria spp. Corrente de ar,

Phaeoisariopsis griseola sementes

Erysiphe polygoni

Ascochyta spp. Sementes

Colletotrichum lindemuthianum

Xanthomonas axonopodis pv.

phaseoli

Thanatephorus cucumeris Sementes

Sclerotinia sclerotiorum Sementes

Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli Sementes

Fusarium solani f. sp. phaseoli

Macrophomina phaseolina

Rhizoctonia solani

Sclerotium rolfsii

Longa

distânciaPatógenos

Curta distância

(de metros até poucos quilômetros)

FONTE: Vieira e Paula Júnior (1998).

Mosca-branca

Pulgões, sementes

Vento, chuva ou irrigação, insetos, ani-

mais e homem

Vento, chuva ou irrigação, insetos, ani-

mais e homem

Gotas de água acompanhadas de ven-

tos que atingem as lesões, chuva ou

irrigação, vento, insetos, animais, ho-

mem e sementes

Gotas de água que atingem o solo infes-

tado ou os restos de cultura infectados,

chuva ou irrigação, vento, homem, in-

setos, animais e sementes

Chuva ou irrigação, vento, insetos, ani-

mais, homem e sementes

Chuva ou irrigação, vento, homem, ani-

mais e sementes

Page 37: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 3 3 - 4 0 , 2 0 0 4

35Feijão d e a lta p rodutividade

VIEIRA et al., 1993). O tempo de sobrevi-vência do patógeno na semente dependeda quantidade do inóculo, de sua localiza-ção e do tipo de propágulo. Em geral, quan-to maior o número de propágulos − prin-cipalmente os de resistência − no interiorda semente, maior o tempo de sobrevivên-cia do patógeno (AGARWAL; SINCLAIR,1987).

É interessante salientar que várias espé-cies vegetais podem atuar como hospe-deiras alternativas ao feijão. Algumas delaspodem transmitir o patógeno por inter-médio da semente (Quadro 2). Portanto, ocuidado com a sanidade da semente tam-bém deve abranger essas espécies.

Os métodos de controle de doenças,com base no princípio da exclusão, visamimpedir a entrada de patógenos numa gle-ba, onde ele ainda não está presente. Comomuitos patógenos têm na semente o prin-cipal veículo de disseminação a longas dis-tâncias, a exclusão deles por meio do usode semente sadia é maneira eficaz de evitara doença.

Transporte e transmissãode patógenos pela sementede feijão

Entre os principais patógenos causado-res de doenças no feijoeiro, apenas o fun-go Uromyces appendiculatus (agente cau-

sador da ferrugem) e o vírus do mosaico-dourado não são transmissíveis pela se-mente.

Segundo McGee (1981), os microrga-nismos transportados pela semente podemser classificados em quatro classes:

a) patógenos que têm na semente aprincipal fonte de inóculo;

b) patógenos que não têm na sementea principal fonte de inóculo;

c) não-patogênicos, embora possamcausar redução da germinação dassementes;

d) organismos que podem infectar asemente no campo ou durante o seuarmazenamento, reduzindo o ren-dimento e a qualidade dela.

Transporte pela semente

Os patógenos associados às sementessão transportados de duas formas: infec-tando e/ou contaminando as sementes(Quadro 3). Há infecção, quando são trans-portados internamente nas sementes. Hácontaminação, quando são transportadosna superfície da semente, ou quando otransporte dá-se por meio de partes infec-tadas da planta, partículas de solos infes-tados e/ou propágulos misturados às se-mentes.

Normalmente, a contaminação das se-mentes de feijão ocorre durante a trilhadas plantas. Por exemplo, os escleródiosde Sclerotinia sclerotiorum (agente cau-sador do mofo-branco) desprendem-se dasplantas doentes durante essa operação.O solo, que se desprende das raízes duran-te a trilha e adere às sementes, pode estarcontaminado com Fusarium solani f. sp.phaseoli e Macrophomina phaseolina .Pedaços de plantas infectados podem trans-portar propágulos de F. oxysporum f. sp.phaseoli.

O inóculo (propágulos, pedaços deplantas infectados e solo infestado) trans-portado em companhia das sementes podeser eliminado durante o processo de bene-ficiamento. Escleródios de S. sclerotiorum,que muitas vezes têm o tamanho da semen-te de feijão, são mais difíceis de eliminar.

Os patógenos localizados na superfíciedas sementes são facilmente controladosmediante o tratamento delas com fungici-das protetores (Quadro 4). Para o controle

Alternaria spp. crucíferas

Ascochyta spp. feijão-fava

Vírus do mosaico-comum caupi, feijão-azuki, mungo

Colletotrichum lindemuthianum feijão-fava

Macrophomina phaseolina algodão, amendoim, caupi, girassol, soja, sorgo

Rhizoctonia solani algodão, amendoim, ervilha, feijão-fava, soja, tomate

Sclerotium rolfsii alface, amendoim, arroz, tomate, trigo

Sclerotinia sclerotiorum cenoura, crucíferas, ervilha, feijão-fava, girassol, soja, trevo

Thanatephorus cucumeris ervilha

Xanthomonas axonopodis pv.

phaseoli Lablab niger, Phaseolus acutifolius, soja

QUADRO 2 - Culturas que podem introduzir, por intermédio da semente, patógenos do feijão

numa gleba

FONTE: Dados básicos: Vieira e Paula Júnior (1998).

Patógenos Culturas

Alternaria spp. sim sim

Ascochyta spp. sim sim

Vírus do mosaico-comum não sim

Colletotrichum lindemuthianum sim sim

Erysiphe polygoni sim não

Fusarium oxysporum f. sp.phaseoli sim não

Fusarium solani f. sp. phaseoli sim não

Phaeoisariopsis griseola sim sim

Macrophomina phaseolina sim sim

Rhizoctonia solani sim sim

Sclerotinia sclerotiorum sim sim

Sclerotium rolfsii sim não

Thanatephorus cucumeris sim sim

Xanthomonas axonopodis pv.phaseoli sim sim

Infe

cção

FONTE: Vieira e Paula Júnior (1998).

QUADRO 3 - Formas de transporte de patóge-

nos nas sementes de feijão

Patógenos

Con

tam

inaç

ão

Page 38: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 3 3 - 4 0 , 2 0 0 4

36 Feijão d e a lta p rodutividade

de patógenos localizados internamente nasemente é recomendado o uso de fungici-das sistêmicos (Quadro 4). Ademais, otratamento é usado para proteger sementese plântulas contra patógenos já presentesno solo.

Transmissão

Refere-se à passagem do inóculo da se-mente infectada ou contaminada para anova planta. A presença de organismospatogênicos na semente não é suficientepara garantir a infecção da planta. Entre-tanto, a associação patógeno−sementeindica que há potencial de transmissão epossível estabelecimento da doença nocampo.

Segundo Menten (1986), estes fatoresafetam o estabelecimento e o desenvolvi-

mento na planta de um patógeno transpor-tado pela semente:

a) inerentes ao ambiente, como tem-peratura, umidade, luz, pH do solo,etc.;

b) inerentes ao patógeno, como raça,virulência, potencial de inóculo, etc.;

c) inerentes ao hospedeiro, como graude resistência, morfologia da planta,estado nutricional, etc.

O potencial de inóculo, por exemplo,é fator importante para o estabelecimen-to e o desenvolvimento do crestamento-bacteriano-comum: o número mínimo debactérias por semente, necessário para ocor-rer a infecção das plantas, varia de 103 a104 (AGGOUR et al., 1989).

A transmissão do patógeno da sementepara a planta pode ser sistêmica (invadetoda a planta) ou não-sistêmica (localiza-da). Em geral, a infecção do embrião da se-mente leva à transmissão sistêmica, comono caso da X. axonopodis pv. phaseoli edo vírus do mosaico-comum, embora ainfecção do tegumento da semente porX. axonopodis pv. phaseoli também pos-sa levar a esse tipo de infecção. Embora C.lindemuthianum possa infectar o embriãoda semente de feijão, sua transmissão é não-sistêmica: sementes contaminadas podemproduzir plântulas sadias, mas o fungopode permanecer viável no solo e, poste-riormente, quando as plantas estiveremmais desenvolvidas, infectá-las. Na conta-minação do lote de sementes com propágu-los, solo infestado ou pedaços de plantasinfectados, a transmissão é não-sistêmica.Nesse caso, o patógeno é introduzido nosolo junto com as sementes e pode causarinfecção em qualquer estádio de desenvol-vimento da planta.

Prejuízos causados por

microrganismos transmitidos

pelas sementes

Vê-se, no Quadro 5, que os microrga-nismos transmitidos pela semente podemafetar o rendimento da cultura das seguin-tes maneiras:

a) ao causarem redução da popula-

ção de plantas

A população de plantas de feijãopode ser reduzida por causa da mortedas sementes ou do tombamentodas plantinhas:

- morte das sementes: sementes con-taminadas e/ou infectadas podem-se deteriorar durante o armazena-mento, principalmente por causados fungos Aspergillus spp. ePenicillium spp., ou depois da se-meadura, como as que transpor-tam M. phaseolina e Rhizoctoniasolani. Crescimento rápido e agres-sividade são características dessesfungos;

Protetores

Captan Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli, Macrophomina phaseolina,

Phaeoisariopsis griseola, Rhizoctonia solani, Sclerotinia sclerotiorum

PCNB Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli, Colletotrichum lindemuthianum,

F. solani f. sp. phaseoli, Macrophomina phaseolina, Rhizoctonia solani,

Sclerotium rolfsii

Thiram Colletotrichum lindemuthianum, Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli,

F. solani f. sp. phaseoli, Rhizoctonia solani, Macrophomina phaseolina

Iprodione Rhizoctonia solani, Alternaria spp.

Tolyfluanid Colletotrichum lindemuthianum

Sistêmicos

Carbendazin Colletotrichum lindemuthianum, Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli,

Macrophomina phaseolina, Phaeoisariopsis griseola, Rhizoctonia solani

Carboxin Macrophomina phaseolina, Rhizoctonia solani

Fludioxonil Fusarium spp., Sclerotinia sclerotiorum, Macrophomina phaseolina,

Rhizoctonia solani, Colletotrichum lindemuthianum

Tiabendazol Colletotrichum lindemuthianum, Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli,

F. solani f. sp. phaseoli

Tiofanato metílico Colletotrichum lindemuthianum, Sclerotinia sclerotiorum, Fusarium

oxysporum f. sp. phaseoli, F. solani f. sp. phaseoli

Difenoconazole Colletotrichum lindemuthianum, F. solani f. sp. phaseoli, Rhizoctonia

solani, Macrophomina phaseolina

QUADRO 4 - Principais fungicidas utilizados no tratamento de sementes de feijão e patógenos

controlados

Patógenos controladosFungicidas

FONTE: Dados básicos: Vieira e Paula Júnior (1998).

Page 39: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 3 3 - 4 0 , 2 0 0 4

37Feijão d e a lta p rodutividade

- tombamento: patógenos asso-ciados às sementes também po-dem infectar a plântula em desen-volvimento (antes ou depois daemergência) e causar tombamento(damping off). Esses microrganis-mos têm uma taxa de crescimento/reprodução mais lenta e são menosagressivos do que os que causama morte das sementes;

b) ao provocarem a debilitação das

plantas

Patógenos transmitidos pelas se-mentes também podem diminuir ovigor das plantas ao causarem po-dridões nas raízes (F. solani f. sp.phaseoli, R. solani etc.) ou ao atua-rem sistemicamente na planta (vírusdo mosaico-comum, F. oxysporumf. sp. phaseoli etc.). Conseqüente-mente, essas plantas são mais sensí-veis a estresses (seca, alta umidade,extremos de temperatura) e maisvulneráveis ao ataque de outras do-enças e pragas;

c) ao causarem epidemias

Há patógenos associados às se-mentes que podem causar reduçãoda população de plantas e/ou debi-litação delas e, ademais, podem serresponsáveis por epidemias (Qua-dro 5). Em geral, nesse caso, os da-nos à cultura são maiores. Em ambien-te favorável, pode ocorrer epidemiamesmo quando a porcentagem desementes infectadas ou contamina-das é baixa, pois esses patógenospodem completar vários ciclos dadoença durante o ciclo de vida dosfeijoeiros. Wallen e Sutton (1965)verificaram que 0,5% de sementesinfectadas por X. a xonopodis pv.phaseoli em um lote foi o bastantepara causar epidemia no campo. Essamesma porcentagem de sementesinfectadas pelo vírus do mosaico-comum pode causar perda total dalavoura, se a população de vetoresestiver ativa na fase inicial de de-senvolvimento da cultura.

Importância da semente natransmissão de patógenos

A importância relativa da semente defeijão na introdução de patógenos aindanão presentes em determinada gleba deplantio depende, principalmente, dos outrosmeios de disseminação do patógeno e decomo ele sobrevive na ausência do hospe-deiro. Uma tentativa de classificar os pató-genos do feijoeiro quanto à importância dasemente na sua introdução numa gleba não-infestada é apresentada no Quadro 6. Nãofoi levada em consideração, nessa classifi-cação, a magnitude dos prejuízos propor-cionados à cultura pelas doenças causadaspelos patógenos.

A transmissão a longa distância dospatógenos causadores da murcha-de-fusarium e da podridão-radicular-seca só éfeita por intermédio das sementes de feijão.Essa é uma situação específica e diferen-te da que ocorre com outros patógenos, osquais podem ser introduzidos por sementesde outras espécies de plantas (Quadro 2).Portanto, o uso de sementes livres dessasduas espécies de Fusarium é fator rele-vante para evitar a ocorrência das doen-

ças na lavoura. Além disso, por se tratar defungos de solo e, no caso de F. solani f.sp. phaseoli, de não haver cultivar co-mercial resistente, após a introdução delesnuma gleba, geralmente a doença aumen-ta a cada cultivo. Embora as espécies deFusarium só sejam transportadas exter-namente à semente (Quadro 3), o que faci-lita o seu controle através do tratamentocom fungicidas, a introdução dessas espé-cies em novas áreas de cultivo tem sidocreditada ao uso de semente contamina-da. A dificuldade de conseguir coberturaadequada de todas as sementes do lote comfungicidas pode explicar tal fato.

O mofo-branco é, provavelmente, a do-ença mais prejudicial ao feijão de outono−inverno (VIEIRA; PAULA JÚNIOR, 1998).As sementes de feijão − e de muitas outrasculturas (Quadro 2) − são o principal veícu-lo de introdução do patógeno em novasáreas de cultivo (Quadro 1), principalmen-te se não houver num raio de 5 km em tor-no da gleba outra lavoura que apresente adoença.

Os cuidados com a qualidade sanitáriadas sementes também são importantes para

Alternaria spp. X X

Ascochyta spp. X X

Vírus do mosaico-comum X X

Colletotrichum lindemuthianum X X X

Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli X

Fusarium solani f. sp. phaseoli X

Macrophomina phaseolina X X X

Rhizoctonia solani X X X

Sclerotinia sclerotiorum X X X

Sclerotium rolfsii X X

Thanatephorus cucumeris X X X X

Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli X X X

QUADRO 5 - Principais prejuízos causados à cultura do feijão decorrentes da utilização de semente

infectada ou contaminada por patógenos

Tomba-

mento

Patógenos

Redução da população

de plantas Debilitação

da

planta

EpidemiasMorte

da semente

FONTE: Vieira e Paula Júnior (1998).

Page 40: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 3 3 - 4 0 , 2 0 0 4

38 Feijão d e a lta p rodutividade

evitar a introdução de novas raças de pató-genos numa gleba de plantio, onde eles jáse encontram estabelecidos. Um dos pro-blemas disso é a dificuldade de conseguircultivar que seja resistente a todas as ra-ças. Por exemplo, há no mínimo 25 raças deC. lindemuthianum e existem cultivares defeijão com resistência a algumas delas, masnão há uma cultivar que seja resistente àmaioria das raças.

Aquisição das sementes

O emprego de semente certificada oufiscalizada é garantia para o agricultor de

que ele está investindo em cultivar reco-mendada pela pesquisa, com alta purezagenética e porcentagem de germinação, eque há pouco risco de introduzir na lavouraplantas daninhas de difícil controle.

No que diz respeito à qualidade sanitá-ria da semente fiscalizada ou certificada, ocontrole atual é relativamente rígido, masnão há 100% de garantia de que ela estálivre de patógenos. Logo, semente certifi-cada ou fiscalizada não é sinônimo de se-mente sadia, como pensam muitos agri-cultores. Mesmo assim, elas constituem amelhor opção disponível no mercado.

COMO DIMINUIR ORISCO DE INTRODUZIRPATÓGENOS OU NOVAS RAÇASDE PATÓGENOS NA LAVOURA

Glebas já infestadas com algunspatógenos

Alguns cuidados na aquisição e nomanejo das sementes podem reduzir o riscode introdução de novos patógenos e denovas raças de patógenos na gleba deplantio.

Não adquirir sementes de outros

Estados ou regiões

Aquelas sementes adquiridas de outrosEstados, principalmente dos que têm me-nor controle de qualidade, podem intro-duzir patógenos ainda não constatados emuma determinada região. Algumas doençassão mais comuns em certos Estados, comoé o caso da macrofomina, na Bahia, da melae da mancha-de-ascoquita, no Espírito San-to. Nos últimos anos, surgiram, em algumasregiões do Brasil, três novas doenças compotencial para causar perda significativa norendimento dos feijoeiros: carvão (causadopelo fungo Microsbotryum phaseoli), sarna(Colletotrichum dematium f. truncata ) emurcha-de-curtobacterium (Curtobacteriumflaccumfaciens pv. flaccumfaciens). O car-vão é mais comum no Centro-Oeste e Su-deste, enquanto a sarna encontra-se distri-buída principalmente em Minas Gerais eGoiás. Tanto o carvão quanto a sarna sãomais comuns quando o feijoal é cultivadoem plantio direto após o milho ou o sorgo.A murcha-de-curtobacterium é mais comumno Sul. Outro fator que deve ser considera-do é o risco de introdução de novas raçasde patógenos já presentes na gleba, o quedificulta o controle de doença com culti-vares resistentes.

Exigir teste de sanidade

do lote de sementes

Recomenda-se que a compra de um lotede sementes seja feita após a análise dosresultados dos testes de sanidade de dife-rentes lotes disponíveis no mercado.

Alternaria spp.

Erysiphe polygoni

Phaeoisariopsis griseola

Rhizoctonia solani

Macrophomina phaseolina

Sclerotium rolfsii

Sclerotinia sclerotiorum

Thanatephorus cucumeris

Ascochyta spp.

Vírus do mosaico-comum

Colletotrichum lindemuthianum

Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli

Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli

Fusarium solani f. sp. phaseoli

QUADRO 6 - Importância relativa da semente de feijão na introdução de patógenos em glebas não-

infestadas

VermelhoPatógenos Verde

FONTE: Dados básicos: Vieira e Paula Júnior (1998).

NOTA: Verde - Patógenos facilmente disseminados pelo vento. Eventualmente a semente, pode

introduzir novas raças na gleba; Verde-amarelo - Patógeno pode ser nativo do solo e infec-

tar vários hospedeiros, mas há risco de introdução de novas raças por meio de semente;

Amarelo - A semente é o principal veículo de disseminação dos fungos a longas distâncias,

os quais podem sobreviver no solo por muitos anos; no entanto, eles podem ser introduzidos

também pelas sementes de muitas culturas; Amarelo-vermelho - A semente de feijão é o

principal veículo de disseminação a longas distâncias, mas por se tratar de microrganismos

não-habitantes do solo, é possível erradicá-los por intermédio de rotação de culturas,

cultivares resistentes, etc. O vírus do mosaico-comum não sobrevive em restos de cultura,

tampouco no solo, mas pode sobreviver em algumas espécies de leguminosas nativas;

Vermelho - A semente de feijão é o único veículo de introdução desses patógenos na gleba,

os quais podem sobreviver no solo por muitos anos.

Amarelo

Page 41: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 3 3 - 4 0 , 2 0 0 4

39Feijão d e a lta p rodutividade

Adquirir sementes produzidas

durante a primavera−verão

(feijão “das águas”)

No caso de não poder comparar lotesde sementes por meio de testes de sanida-de, deve-se optar por sementes produzidasna primavera−verão (feijão “das águas”),pois elas geralmente apresentam menorrisco de introdução de alguns patógenosna lavoura. As condições climáticas, prin-cipalmente temperatura, durante esse pe-ríodo do ano são desfavoráveis ao desen-volvimento de doenças que se poderiamtornar problema no cultivo de outono−inverno. Essas sementes têm pouca chan-ce de estar infectadas por S. sclerotiorume pelos fungos causadores da mancha-de-ascoquita e da podridão-radicular-seca. Poroutro lado, o risco de introdução da bacté-ria X. axonopodis pv. phaseoli é maior.

Rebeneficiar as sementes adquiridas

Várias máquinas podem ser empre-gadas no beneficiamento das sementes defeijão. Em geral, as de ventilação e peneirassão utilizadas nas unidades de beneficia-mento de sementes. Essas máquinas sãoeficientes para eliminar impurezas leves esementes pequenas. No entanto, como sevê no Quadro 7, manchas e deformaçõesnas sementes podem ser sintomas da pre-sença de patógenos, independentementedo tamanho delas. Conseqüentemente,sementes infectadas de tamanho normalnão são eliminadas pelas peneiras, entre-tanto elas podem ser menos densas do queas sadias. O uso da mesa gravitacional, quesepara as sementes por densidade, é ajudaadicional para eliminar sementes infec-tadas. Ademais, esse procedimento podemelhorar a percentagem de germinação e ovigor da semente. Embora o rebeneficia-mento não dê origem a semente sadia porsi só, pode-se conseguir, com essa práti-ca, a diminuição do inóculo primário dadoença. Um foco inicial de infecção de C.lindemuthianum, ou seja, uma única se-mente infectada (ou contaminada) podecausar doença em plantas localizadas até10,5 m de distância (VIEIRA et al., 1993).

Portanto, é possível evitar uma epidemiana lavoura limitando-se o número de se-mentes portadoras do patógeno, no casode a semente ser a única fonte de inóculoprimário. O número de plantas infectadaspor F. oxysporum f. sp. phaseoli, que sóproduz novo inóculo no final do ciclo devida do feijão (patógeno monocíclico), édiretamente proporcional ao número desementes contaminadas usadas no plantio.Após a introdução do patógeno, com o pas-sar dos anos, reboleiras de plantas doentesde tamanho crescente são observadas aoredor dos focos iniciais da doença. Nessecaso, mesmo quando o patógeno já está pre-sente na gleba, o cuidado com a sementedeve continuar, pois novos focos da doençapodem surgir, se continuarem a ser empre-gadas no plantio sementes contaminadas.

Tratar a semente com fungicidas

O tratamento de sementes com fungi-cidas é medida importante para o controlede microrganismos patogênicos que sãotransportados por elas. Esse controle nãoé total, especialmente de patógenos que

são transportados internamente na semen-te. A mistura de fungicida sistêmico comprotetor é recomendável para ampliar oleque de patógenos controlados e diminuiro risco de o patógeno desenvolver resis-tência a determinado fungicida.

Glebas não-infestadas porpatógenos

Em glebas não-infestadas por patóge-nos, onde o feijão vai ser plantado pela pri-meira vez, deve-se tomar um cuidado adi-cional: encomendar semente sadia de umainstituição de pesquisa. Em geral, a produ-ção de semente sadia tem início em casa devegetação, com posterior multiplicação nocampo. Portanto, a encomenda deve serfeita com, pelo menos, um ano de antece-dência ao plantio. Em razão do alto preçodessa semente, é aconselhável multiplicá-la antes de iniciar a produção comercial,observando as seguintes recomendações:

a) local: multiplicação das sementes,tratadas com fungicida, em gleba vir-gem, de preferência, ou em glebanunca antes cultivada com feijão e

FONTE: Vieira e Paula Júnior (1998).

Antracnose Manchas que variam de amarelas a café-escuras.

Crestamento-bacteriano Mancha amarela na região do hilo; amarelecimento, descoloração e/ou

enrugamento do tegumento. Sementes aparentemente sadias também

podem estar contaminadas ou infectadas.

Mancha-angular Manchas marrons ao redor do hilo e no tegumento.

Mancha-de-ascoquita Manchas escuras com margem cinza-esverdeada.

Mancha-de-alternária Descoloração e, às vezes, presença de manchas marrons em sementes

brancas.

Mela Manchas castanho-avermelhadas e sementes malformadas ou apa-

rentemente sadias.

Mofo-branco Pequenas, descoloridas, enrugadas ou aparentemente normais.

Mosaico-comum Pequenas, leves e enrugadas.

Macrofomina Descoloração, deformação, presença de escleródios e picnídios ou apa-

rentemente sadias.

Podridão-radicular Tegumento esbranquiçado ou levemente amarelo.

QUADRO 7 - Principais sintomas de sementes infectadas por patógenos do feijoeiro

Sintomas nas sementesDoença

Page 42: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 3 3 - 4 0 , 2 0 0 4

40 Feijão d e a lta p rodutividade

em local isolado de outras lavourasdessa leguminosa. O isolamento docampo de produção de semente visa,principalmente, diminuir o risco de con-taminação dos feijoeiros por doençaspresentes em lavouras vizinhas. Bar-reiras físicas, como faixas plantadascom milho, podem ser úteis para me-lhorar o isolamento da cultura;

b) irrigação: empregar irrigação porsulcos. O molhamento da parte aéreadas plantas, proporcionado pela irri-gação por aspersão, favorece muitasdoenças. Se for usada a irrigação poraspersão, deve-se diminuir o númerode regas, mesmo que tal prática ve-nha a reduzir a produtividade. Irriga-ções pesadas e esparsas são prefe-ríveis a irrigações leves e freqüentes.Se possível, as irrigações devem serfeitas durante o período noturno. Acultura não deve receber mais águaassim que as vagens mais velhasamarelecerem;

c) época de plantio: plantar em qual-quer época do ano que seja favorá-vel ao cultivo do feijão. O plantio naprimavera-verão (feijão “das águas”)pode ser feito sem o uso de irrigaçãoou apenas com irrigação suplementar;

d) densidade de plantio: distribuir oitosementes por metro de sulco, manten-do 0,75 m entre as fileiras. Dessa for-ma, uma saca de 60 kg de feijão do tipocarioca (com massa de 100 sementesde 25 g), aproximadamente, é suficien-te para semear mais de dois hectares;

e) roguing: eliminar plantas fora do pa-drão durante todo o ciclo de vida dofeijão. Essa operação é mais eficaz nasfases de floração e de vageamento;

f) plantas daninhas: manter as plantasdaninhas sob controle, a fim de pro-porcionar boa insolação e ventilaçãoentre as fileiras de feijão e facilitar oroguing. Ademais, a eliminação delasreduz possíveis hospedeiros de pa-tógenos do feijão;

g) aplicação de fungicidas: aplicar,preventivamente, fungicidas ou mis-

turas deles a partir dos 20 dias após aemergência até próximo à maturaçãodas plantas;

h) aplicação de inseticidas: essa ope-ração tem por objetivo garantir altaprodutividade e controlar possíveisvetores de patógenos;

i) colheita: realizar a colheita assim queas folhas estiverem amarelecidas e asvagens mais velhas, secas;

j) secagem das plantas: iniciar imedia-tamente após a colheita, espalhandoas plantas sobre local cimentado oulona plástica;

k) trilha: fazer a trilha quando o teor deágua das sementes estiver em tornode 16%, com uma trilhadeira rigorosa-mente limpa e regulada;

l) pré-limpeza: usar o peneirão parapré-limpeza;

m) secagem das sementes: expor as se-mentes ao sol até que o seu teor deágua atinja 12%-13%;

n) beneficiamento: usar máquina deventilação e peneira e, em seguida, amesa gravitacional. Quando essasmáquinas não estiverem disponíveis,a catação manual é a melhor solução;

o) rendimento: o rendimento esperadoé, em geral, menor que o alcançadoem área comercial, por causa da redu-ção das regas e do aumento do espa-çamento entre plantas. Normalmente,são obtidas de 20 a 30 sacas por hec-tare;

p) controle de carunchos: fazer o con-trole de carunchos, se as sementes nãoforem utilizadas logo após a colheita;

q) armazenamento: armazenar as se-mentes em lugar limpo, fresco, venti-lado e protegido contra a entrada derato e caruncho;

r) teste de sanidade: realizar o teste desanidade, para confirmar a qualidadeda semente produzida;

s) tratamento das sementes com fun-

gicidas: fazer o tratamento de semen-te para minimizar o risco de introduzirna lavoura patógenos por intermédiodelas.

Seguidas essas recomendações, o agri-cultor tem grande chance de excluir muitospatógenos da lavoura e obter rendimentosestáveis por muitos anos e com baixo custode produção. No entanto, o agricultor devesaber que a semente de feijão é apenas umdos veículos de disseminação de patóge-nos. Outros como implementos agrícolascontendo solo infestado e sementes de outrasculturas (Quadro 2) também devem ser obser-vados com cuidado. Novas cultivares de fei-jão são lançadas a cada dois ou três anos.Portanto, o agricultor pode ter em mãos se-mentes sadias das novas cultivares, manten-do contato com instituições de pesquisa.

REFERÊNCIAS

AGARWAL, V.K.; SINCLAIR, J.B. Principles ofseed pathology. Boca Raton: CRS, 1987. v.1, 176p.

AGGOUR, A.R.; COYNE, D.P.; VIDAVER, A.K.;ESKRIDGE, K.M. Transmission of the commonblight pathogen in bean seed. Journal of theAmerican Society for Horticultural Science ,Alexandria, v.114, n.6, p.1002-1008, Nov. 1989.

GILBERTSON, R.L.; MAXWELL, D.P. Commonbacterial blight of bean. In: CHAUBE, H.S.; KUMAR,J.; MUKHOPADHYAY, A.N.; SINGH, V.S. (Ed.).Plant diseases of international importance:diseases of vegetables and oil seed crops. NewJersey: Prestice Hall, 1992. v.2, p.8-39.

MCGEE, D.C. Seed pathology: its place in modernseed production. Plant Disease , St. Paul, v.65,p.638-642, 1981.

MENTEN, J.O.M. Importância da semente natransmissão de patógenos. In: SIMPÓSIOBRASILEIRO DE PATOLOGIA DE SEMENTES,2., 1986, Campinas. Palestras... Campinas:Fundação Cargill, 1986. p.27-38.

VIEIRA, R.F.; PAULA JÚNIOR, T.J. de. Semente:veículo de disseminação de patógenos. In: VIEIRA,C.; PAULA JÚNIOR, T.J. de; BORÉM, A. (Ed.).Feijão: aspectos gerais e cultura no estado deMinas. Viçosa, MG: UFV, 1998. p.451-505.

_______; VIEIRA, C.; RAMOS, J.A. de O. Produ-ção de sementes de feijão . Viçosa, MG:EPAMIG, 1993. 131p.

WALLEN, V.R.; SUTTON, M.D. Xanthomonasphaseoli var. Fuscans (Burkh.) Starr e Burkh. onfield bean in Ontario. Canadian Journal ofBotany, Ottawa, v.43, p.437-446, 1965.

Page 43: Informe agropecuario feijão
Page 44: Informe agropecuario feijão

42 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 4 2 - 5 5 , 2 0 0 4

INTRODUÇÃO

O manejo adequado do solo é um pré-requisito que se deve ter sempre em mente,quando se propõem sistemas de cultivos.Sabe-se que o solo, quando passa a sercultivado, sofre degradação em seus atri-butos físicos, químicos e biológicos de talmodo que a condição inicial não é mais con-seguida. A intensidade da degradaçãodepende grandemente das condições nasquais o manejo é executado.

Manejo de solos para a cultura do feijoeiro

José Carlos Cruz1

Ramon Costa Alvarenga2

Israel Alexandre Pereira Filho3

Derli Prudente Santana4

Etelvino Henrique Novotny5

Egídio Arno Konzen6

O feijoeiro, por ser cultivado em dife-rentes épocas e com ciclo que propicia maisde uma safra anual na mesma área, pode-seconstituir em fator de risco à degradação,quando comparado com outras culturascultivadas em sistema convencional, comapenas um semeio anual. Soma-se a istoo fato de o agricultor, ao trabalhar com umcronograma bem definido de atividades,executar, muitas vezes, operações como otráfego de máquinas ou preparo de solo,

1Engo Agr o, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sor go, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG . Correio eletrônico: [email protected]

2Engo Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: ramon@ cnpms.embrapa.br3Engo Agro, M. Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agro, Ph.D., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agro, D.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agro, M.Sc., Pesq. Embrapa Milho e Sorgo, Caixa Postal 151, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: [email protected]

quando este apresenta condições inade-quadas de umidade. Isto invariavelmentecausa maior dano e acelera ainda mais adegradação do solo. Por outro lado, o fei-joeiro é uma planta com sistema radicularbastante delicado e concentrado na camadasuperior do solo, aproximadamente 20 cm.Solos friáveis, com boa aeração, não sujei-tos ao encharcamento, são os recomen-dados para o cultivo do feijoeiro.

O preparo do solo, definido como sua

Resumo - O cultivo do feijoeiro é realizado em diferentes épocas, o que lhe propicia maisde uma safra por ano na mesma área, envolvendo inclusive agricultura irrigada. Nes-ta situação, o solo é intensivamente cultivado, o que consiste um fator de grande risco àdegradação, em comparação ao sistema tradicional de sequeiro de outras culturas comapenas um cultivo anual. Excessiva mecanização resulta em destruição da estrutura dosolo, em compactação subsuperficial e em formação de crosta superficial. Em áreas irri-gadas, o uso mais intenso do solo poderá resultar na sua desestruturação, principalmente,em função de suas características. O plantio direto, por seus efeitos benéficos sobre osatributos físicos, químicos e biológicos do solo, é uma ferramenta essencial para alcançara sustentabilidade dos sistemas agropecuários. Por se tratar de um sistema mais tecnificado,exige-se que o agricultor tenha um conhecimento amplo e domínio de todas as fases doprocesso, que envolva rotação de culturas e, muitas vezes, a associação de agricultura epecuária.

Palavras-chave: Feijão. Phaseolus vulgaris. Manejo sustentável. Rotação de cultura. Plan-tio direto. Sucessão de cultura.

Page 45: Informe agropecuario feijão

43Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 4 2 - 5 5 , 2 0 0 4

manipulação física, química ou biológi-ca, tem por objetivo básico otimizar as con-dições de germinação, de emergência e oestabelecimento das plântulas. Atualmente,com maiores preocupações para desenvol-ver uma agricultura sustentável, o preparodo solo deve ser visto como algo a mantersua estrutura, com baixa probabilidade dedesagregação e transporte de suas partí-culas por água ou vento e maior infiltraçãode água, de modo que reduza a enxurrada ea erosão a um mínimo tolerável.

O manejo inadequado do solo é tambémresponsável pela redução da porosidade,particularmente a macroporosidade, o queresulta na diminuição da taxa de infiltraçãoda água e do fluxo de oxigênio para o seuinterior. Sua excessiva mecanização resul-ta na destruição de sua estrutura, na suacompactação subsuperficial e na formaçãode crosta superficial. Em áreas irrigadas, ouso intensivo do solo poderá resultar emsua desestruturação, principalmente devidoàs características do solo. Essa desestru-turação faz com que as partículas individua-lizadas do solo sejam facilmente colocadasem suspensão pela água de irrigação e, prin-cipalmente, pelas chuvas. Com a infiltraçãoda água, essas partículas sedimentam-se,justapondo-se de maneira organizada, detal modo que há formação de crostas pou-co permeáveis na superfície. A crosta su-perficial ou selamento reduz a entrada e adifusão de oxigênio para o interior do solo,além de diminuir a taxa de infiltração deágua, o que aumenta a enxurrada e os riscosde erosão.

COMPACTAÇÃO

A habilidade de as plantas exploraremo solo, em busca de fatores de crescimento,depende grandemente da distribuição dasraízes no perfil do solo, que, por sua vez,depende das condições físicas e químicas,passíveis de alterações em função do ma-nejo adotado. A compactação é reconheci-da como uma das principais conseqüênciasdo manejo inadequado do solo e aparece,geralmente, logo abaixo da camada cultiva-da, resultado do trabalho de implementos

como arados e/ou grades, por sucessivosanos agrícolas, a uma mesma profundida-de. A compactação altera o padrão de cres-cimento das raízes, pelo aumento da re-sistência e decréscimo na porosidade dosolo. O solo está compactado, quando aproporção do volume total de poros para ovolume total do solo é inadequada para omáximo desenvolvimento de uma culturaou manejo eficiente do campo. A porosi-dade é um termo de significado importan-te em relação à compactação do solo, umavez que relaciona o conteúdo de água e arno volume de solo explorado pelas raízes.É comum observar áreas com solo severa-mente compactado, no qual as raízes dasculturas não penetram, ficando concentra-das acima dessa camada. A água tambémtem sua taxa de infiltração reduzida e, emconseqüência, aumenta-se o deflúvio e aerosão.

Na camada compactada, as caracterís-ticas químicas e, principalmente, físicas dosolo são modificadas, como a redução nonúmero de poros grandes, de tal modo queo crescimento das raízes sofre uma série demodificações, tanto de ordem morfológica,quanto fisiológica, que vão afetar o seudesempenho e, por conseguinte, o da plan-ta. A difusão do oxigênio no interior do so-lo, através da solução, é 10 mil vezes maiordo que através do próprio ar, pelos macro-poros. Solos com problemas de compac-tação e selamento superficial são facilmen-te saturados, principalmente por irrigação.Com isso, o fluxo do oxigênio é extrema-mente prejudicado, podendo, inclusive,haver deficiência para as plantas. Há muitoé conhecido que mudanças na morfologia,hidratação e taxa de respiração podem serassociadas à habilidade de a raiz penetrarem solos compactados. Nestes tipos de so-los ou nos adensados, as raízes tornam-securtas, grossas, com alto peso de materialseco e apresentam parede celular grossa,sugerindo maior resistência estrutural emaiores taxas de respiração.

A presença de uma camada compactada,de subsuperfície, segundo Moraes et al.(1988), foi a responsável pela redução no

crescimento do sistema radicular da soja,da ordem de 50,65%, para Terra Roxa Estru-turada (Nitossolo) e de 59,68%, para Latos-solo Roxo (Latossolo Hiperférrico). Kawa-saki et al. (1985) observaram que, na regiãodos Cerrados, o crescimento de plantas desoja foi prejudicado a partir do segundoano de uso do solo. A raiz pivotante nãocresceu em profundidade e as laterais cres-ceram próximas da superfície do solo.

O rompimento da camada compactadadeve ser feito com um implemento quealcance a profundidade, imediatamenteabaixo do seu limite inferior. Até 35 cm, elapode ser rompida com arado de aiveca ouarado escarificador; já em profundidadesmaiores, com subsolador. Quando for usa-do escarificador ou subsolador para o rom-pimento de camada compactada, deve-selevar em consideração que o espaçamentoentre as hastes determina o grau de rompi-mento da camada compactada pelo imple-mento, devendo ser de 1,2 a 1,3 vez a profun-didade de trabalho pretendida. É importantesalientar que os equipamentos de discossão ineficientes nessa operação.

O teor de umidade tem grande influên-cia no processo de compactação do solo.Especialmente em condições irrigadas e demanejo intensivo, deve-se ter em mente oalto risco à degradação do solo, como re-sultado do manejo irracional. Em razãodisso, deve-se buscar um sistema que nãomobilize o solo mais do que o necessário,como forma de minimizar as alterações fí-sicas, que, por sua vez, irão causar menorimpacto negativo sobre as taxas constan-tes de escoamento superficial e de infiltra-ção da água no solo. Essas taxas têm efeitodireto sobre a umidade do solo, que desem-penha um importante papel sobre a com-pactação.

ÉPOCA DE PREPARO DO SOLO

O preparo do solo deve ser efetuadoem condições de friabilidade. Nesta situa-ção ele apresenta baixa resistência, alta amoderada capacidade de suporte de cargae resistência à compressão, ou seja, quandoo solo está com um teor de umidade em

Page 46: Informe agropecuario feijão

44 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 4 2 - 5 5 , 2 0 0 4

que parte dele, ao ser comprimida na mão,é facilmente moldada, mas que tão logocessada esta força, a amostra é facilmenteesboroada. Figueiredo et al. (2000) observa-ram, em Latossolo Roxo (Latossolo Hiper-férrico), no município de Lavras (MG), quea umidade crítica de compactação é menordo que o limite de plasticidade, sendo esteo limite superior da zona de friabilidade dosolo. Verificaram também que a umidade crí-tica de compactação está contida na faixade umidade, em que o tráfego de máquinasé realizado. Sugerem que o tráfego de máqui-nas não seja realizado, quando a umidadedo solo for aproximadamente igual ao limitede plasticidade, o que evita maiores riscosde compactação. Ressaltaram, ainda, a uti-lização de alguns atributos do solo, taiscomo 90% do limite de plasticidade, 90%da água retida a -0,01 MPa ou a água retidaa -0,033 Mpa, como tentativa de obtençãoda umidade crítica de compactação. Emfunção desses resultados, percebe-se quea condição ideal para a mobilização do soloé aquela em que o seu teor de umidade este-ja abaixo desses valores. Nesse sentido,Mantovani (1987) sugere que se obtenhauma curva de compactação para o solo eque seja evitado o trabalho com máquinaspróximo ao ponto de ótimo teor de umidadepara máxima compactação. Ressalta aindaque, à medida que a energia de compactaçãoaumenta, com o uso de equipamentos maispesados, é necessária uma quantidade me-nor de umidade no solo para se alcançar omáximo de compactação. Isto reafirma a ne-cessidade de planejamento do preparo dosolo em áreas irrigadas, visando evitar maio-res danos.

Quando o solo é preparado com umida-de em torno da capacidade de campo, alémda maior probabilidade de formação de ca-mada superficial compactada, pode ocorrermaior aderência do solo aos implementos(em solos argilosos), até o ponto de impos-sibilitar a operação de preparo. Por outrolado, deve-se também evitar o preparo dosolo muito seco, pois será necessário maiornúmero de gradagens para obter suficientedestorroamento, de modo que permita a

operação de semeadura. A condição idealde umidade pode ser detectada facilmen-te em campo: um torrão de solo, coletadona profundidade média de trabalho e sub-metido à leve pressão entre os dedos pole-gar e indicador, deve-se desagregar semoferecer resistência. Quando for usado oarado e a grade para preparar o solo, deve-se considerar como umidade ideal a faixavariável de 60 a 70% da capacidade de cam-po, para solos argilosos, e de 60% a 80%para solos arenosos, ou seja, quando o so-lo estiver na faixa de umidade friável. Quan-do for usado o escarificador e o subsolador,a faixa ideal de umidade é de entre 30% e40% da capacidade de campo, para solosargilosos. Na agricultura extensiva, de se-queiro, é praticamente inviável trabalharsomente nas melhores condições de umi-dade. Entretanto, na agricultura irrigada, éperfeitamente viável trabalhar-se com umi-dade adequada, diminuindo os riscos decompactação e de desestruturação do so-lo.

Se o principal objetivo do preparo dosolo for o controle de plantas daninhas oua incorporação de restos de cultura, ele po-de ser realizado com bastante antecedên-cia em relação à semeadura. Neste caso,recomenda-se fazer a aração após a colheitada cultura anterior, realizando-se a grada-gem imediatamente antes da implantaçãoda nova cultura. Pode-se também incor-porar os restos de cultura ao solo com ouso da grade e, após 10 a 15 dias, realizar aaração.

SISTEMAS DE PREPARODO SOLO

Na escolha de um sistema de preparodo solo para o feijoeiro, devem ser conside-rados os fatores relacionados com a eco-nomia de combustível e de tempo e com aconservação de solo e água, evitando-se ouso continuado, por vários anos, de umúnico equipamento agrícola, que opere auma mesma profundidade ou muito super-ficialmente, para evitar a formação de ca-madas compactadas no solo.

Existem, no mercado, vários implemen-tos para o preparo do solo e, para cada um,há variações quanto à forma, ao peso, aonúmero e ao tamanho das partes ativas.Assim, para cada situação haverá um de-terminado implemento mais adequado. Paraque um equipamento seja utilizado de ma-neira racional e eficiente, é necessário co-nhecer o sistema de manejo de solo que elevai atender, as características desejáveisque o solo deverá apresentar, a energia con-sumida e também a sua capacidade efeti-va de trabalho (ha/h). Na última década,aumentou-se muito o interesse por méto-dos conservacionistas de manejo de solos.Neles busca-se ajustar tecnologias quepossibilitem aliar menor mobilização do so-lo e preservação da matéria orgânica, que éreconhecidamente de fundamental impor-tância não só para a sustentabilidade doecossistema, mas também pela influênciadireta e indireta nos processos químicos,físicos, físico-químicos e biológicos. Essesmétodos promovem menor revolvimentodo solo e deixam maior quantidade deresíduos de cultura sobre a sua superfície,conferindo-lhe maior resistência contra osagentes causadores de degradação, espe-cialmente a erosão hídrica.

Dois métodos (arado escarificador eplantio direto) merecem destaque, devidoao seu papel conservacionista, baixo nívelde dano e alto nível de proteção do solo,de tal modo que é possível aliar produti-vidade e conservação do solo e da água,binômio da maior importância para a sus-tentabilidade de sistemas agrícolas.

Implementos de preparodo solo

A seguir serão apresentados os imple-mentos usados no preparo do solo maiscomuns no Brasil.

Grade aradora

As grades pesadas, assim como outrosequipamentos de discos, são agentes cau-sadores de maior compactação, pois o pesototal do equipamento é distribuído numaárea muito pequena do disco. É um dos

Page 47: Informe agropecuario feijão

45Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 4 2 - 5 5 , 2 0 0 4

principais implementos usados no prepa-ro do solo nas grandes lavouras e em áreasde expansão da agricultura, provavelmenteem função da possibilidade de obter maiorrendimento do serviço com menor consumode combustível (Quadro 1), além de conse-guir realizar tanto a aração primária quantoa secundária, destorroamento e nivelamen-to. Pode ser utilizada em condições desfa-voráveis, como solos recém-desbravados,com tocos e raízes, ou com alta infestaçãode plantas daninhas, além de ser um equi-pamento de fácil regulagem. Uma desvan-tagem da grade aradora é que ela provocagrande pulverização do solo. O seu usopor anos sucessivos pode provocar a for-mação do “pé-de-grade”, uma camada com-pactada logo abaixo da profundidade decorte, a 10-15 cm. Essa camada reduz a infil-tração de água no solo, o que, por sua vez,favorece maior escorrimento superficial e,conseqüentemente, a erosão do solo e aredução da produtividade das culturas. Aincorporação de corretivos e, esporadica-mente, de fertilizantes a menores profun-didades, com a grade aradora, associada àexistência de uma camada compactada lo-go abaixo, estimula o sistema radicular dasculturas a permanecer na parte superficialdo solo. A planta passa a explorar, portanto,menor volume de solo e fica mais vulnerávela veranicos que porventura ocorram duran-te o ciclo da cultura, podendo causar prejuí-zos ao agricultor. Verifica-se que, à medidaque se aumenta a área da propriedade, hápreferência pela grade aradora em detrimen-to do arado de disco (Quadro 2), possivel-mente decorrente do maior rendimento de

trabalho e menor consumo de combustívelcom a grade.

Arado de disco

O arado de disco trabalha a uma profun-didade média de 20 cm, incorporando par-cialmente os resíduos vegetais e plantasdaninhas. Seu uso generalizado deve-se asua boa adaptação aos vários tipos e con-dições de solo, como os pedregosos ou osrecém-desbravados, onde ainda existamraízes e tocos, e por promover uma boa mis-tura de calcário ao solo. Suas desvantagenssão o baixo rendimento do trabalho e o altoconsumo de combustível na operação. Emterrenos com grande quantidade de massavegetal na superfície, é necessário trituraresse material, para que o arado de disconão apresente problemas de embuchamen-to. Enfim, consegue-se boa penetração doarado, quando a umidade do solo é adequa-

da, a regulagem do arado está correta e nãohá excesso de resíduos vegetais na super-fície do terreno. Como no caso da gradearadora, quando se faz a aração sempre auma mesma profundidade, há o apareci-mento de uma camada compactada (pé-de-arado) abaixo da zona revolvida pelo arado.

Arado de aiveca

A procura por esse equipamento nãoé grande, embora ele apresente algumasvantagens: é eficiente na descompacta-ção, porque penetra à profundidade de até40 cm, controla melhor as invasoras e enter-ra restos vegetais e sementes. Suas des-vantagens são: dificuldade para trabalharem áreas onde existam muitos tocos e raí-zes, embora a indústria venha trabalhandopara dotá-lo de mecanismo que reduza essalimitação, e menor adaptabilidade a diferen-tes solos. Para os solos pegajosos, o maisrecomendado é o arado de aiveca com te-lha tombadora recortada. Para os de texturamédia, o arado com telha inteiriça ou lisa émais apropriado, embora deixe muito pou-co resíduo vegetal na superfície. Demanda,ainda, maior potência na tração para reali-zar aração profunda, o que, de certa forma,aumenta os riscos de compactação, devidoao peso dos tratores empregados. SegundoKluthcouski et al. (1988), os arados devemser regulados para operar a uma profundi-dade de 25 a 35 cm, visando eliminar cama-das compactadas localizadas superficial-mente e favorecer o desenvolvimento dosistema radicular das plantas. Recomendam,ainda, a utilização da grade para incorporaros resíduos vegetais com uma antecedên-cia de 10 a 15 dias em relação à aração, euma aração com arado de disco ou de aive-ca como método mais adequado para a cul-tura do feijoeiro.

Arado escarificador

Sua principal característica é de, no pre-paro, somente tornar o solo mais frouxo,sem revolvê-lo muito e sem causar compac-tação, trabalhando até a profundidade de40 cm e, quando dotado de rolo destorroa-dor/nivelador, dispensar a gradagem. É degrande eficiência na descompactação do

QUADRO 1 - Consumo de combustível e rendimento de diferentes implementos de preparo dosolo

L/ha

Arado de discos 25,7 (100) 0,40

Grade aradora 13,9 (54) 0,90

Escarificador 17,1 - 20,6 (67 - 80) 0,70 - 0,87

Equipamento

Consumo de combustívelRendimento

(ha/h)Relativo(%)

FONTE: Hoogmoed e Derpsch (1985 apud DERPSCH et al., 1991).

0 - 50 84 16

51 - 100 100 0

101 - 200 75 25

201 - 500 25 75

501 - 1000 0 100

QUADRO 2 - Porcentagem de uso do arado dedisco e da grade aradora por extra-to de áreas - município de Ituiuta-ba (MG)

Gradearadora

FONTE: Gois (1993 apud MANTOVANI et al.,2001).

Área(ha)

Porcentagem

Arado dedisco

Page 48: Informe agropecuario feijão

46 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 4 2 - 5 5 , 2 0 0 4

solo e deve ser empregado quando esteapresentar-se mais seco, entretanto, den-tro da faixa de friabilidade (30% a 40% dacapacidade de campo), para que não hajaformação de grande quantidade de torrõesgrandes. Apresenta bom rendimento e pro-porciona bom desenvolvimento radiculare facilidade para a infiltração de água. O di-ferencial entre esse equipamento e aquelesde preparo convencional reside no fato deo escarificador possibilitar que grande par-te dos resíduos vegetais continue sobre asuperfície do solo. Como desvantagens elepode apresentar, em áreas onde há muitostocos e raízes, um trabalho de pior quali-dade, mesmo com equipamentos dotadosde mecanismos de desarme automático,embora terrenos com essas característicassejam raros para a prática de agriculturairrigada. Quando existe uma massa vegetalmuito densa, que é o caso da agriculturairrigada, pode ocorrer embuchamento doequipamento, inclusive naqueles dotadosde disco de corte de palha. Nessa situação,deve-se dedicar maior atenção às opera-ções que antecedem a aração, como cuidarpara que os resíduos vegetais estejam uni-formemente distribuídos e secos, pois, casoestejam apenas murchos, a operação decorte é prejudicada, aumentam-se os riscosde embuchamento e a qualidade do plan-tio diminui. Como este arado não inverte acamada superficial do solo, haverá umapronta emergência de plantas daninhas.Portanto, deve haver um perfeito conheci-mento para uso de herbicidas no momentoadequado.

Sistema Plantio Direto (SPD)

Trinta anos após sua introdução em ter-ritório nacional, o SPD consolidou-se comouma tecnologia conservacionista larga-mente aceita pelos agricultores. Está fun-damentado na mobilização mínima do solo,numa faixa estreita da superfície do terrenopara o plantio, na manutenção de palhadasobre o solo, no controle químico de plan-tas daninhas e na necessidade da sucessãoe rotação de culturas. Requer cuidados nasua implantação, mas, depois de estabele-

cido, seus benefícios estendem-se não ape-nas ao solo e, conseqüentemente, ao rendi-mento das culturas e à competitividade dossistemas agropecuários, mas também, de-vido à drástica diminuição da erosão, àredução do potencial de contaminação domeio ambiente. Este sistema dá ao agricul-tor maior garantia de renda, pois a estabi-lidade da produção é ampliada em com-paração com os métodos tradicionais demanejo de solo. Por seus efeitos benéficossobre os atributos físicos, químicos e bio-lógicos do solo, pode-se afirmar que o SPDé uma ferramenta essencial para se alcançara sustentabilidade agropecuária.

Iniciado no Paraná e no Rio Grande doSul, em 1970, e com o processo de adoçãopelos agricultores a partir de 1976, o SPDestá, hoje, sendo adotado e adaptado emquase todas as regiões do Brasil. Segun-do a Federação Brasileira de Plantio Diretona Palha (2004), na safra 1990/1991, apenas1 milhão de hectares eram cultivados comeste sistema. Dois anos depois, em 1992/1993, a área dobrou e, em 1994, atingia trêsmilhões de hectares. Hoje são cerca de 18milhões de hectares expandindo-se em to-do o território nacional, incluindo grandes,médios e pequenos produtores e, dentreestes, os que utilizam tração animal. O RioGrande do Sul, o Paraná e a região dos Cer-rados são os locais de maior expansão des-sa técnica, que hoje é aplicada não só nasculturas de soja e milho, mas também defeijão, arroz, trigo, cana-de-açúcar e pas-tagens, além das aplicações de pré-plantiopara florestas, citros e café.

Fundamentos do SPD

O plantio direto, definido como o pro-cesso de semeadura em solo não revolvido,no qual a semente é colocada em sulcos oucovas, com largura e profundidade sufici-entes para a adequada cobertura e contatodas sementes com a terra, é hoje entendidocomo um sistema com os seguintes funda-mentos que interagem entre si:

a) eliminação/redução das operações

de preparo do solo: como resultado,há maior manutenção da estabilidade

de agregados, o que melhora a estru-tura do solo, evita compactação, me-lhora a taxa de infiltração da água emantém a umidade, melhora o areja-mento e a atividade biológica dosolo, além de manter nele a matériaorgânica;

b) uso de herbicidas para o controle

de plantas daninhas: usar herbici-das dessecantes significa substituira energia mecânica do preparo dosolo (óleo diesel, que é não-renová-vel), pela energia química. É funda-mental o uso de métodos integradosde controle de plantas daninhas, queexplorem culturas de cobertura, ro-tação de culturas e herbicidas espe-cíficos;

c) formação da cobertura morta: prote-ge o solo contra a ação de ventos eo impacto das gotas d’água, reduzo escorrimento superficial e a ero-são; protege o solo contra o efeitode raios solares, o que reduz a eva-poração, a temperatura e a amplitudetérmica; aumenta a matéria orgânicado solo, necessária a uma ativida-de microbiana mais rica, que permitemaior reciclagem de nutrientes. Alémdisso, auxilia no controle de plantasdaninhas, pela supressão ou efeitoalelopático;

d) rotação de culturas: a combinaçãode espécies com diferentes exigên-cias nutricionais, produção de fito-massa e sistema radicular torna osistema mais eficiente, além de fa-cilitar o controle integrado de pra-gas, doenças e plantas daninhas;

e) uso de semeadoras específicas: parao plantio em solo não-revolvido, énatural que exista maior resistência,devido à presença da palha sobre asuperfície e ao rompimento do solopara a abertura dos sulcos. Em razãodisso, há necessidade de utilizar se-meadoras especialmente desenvol-vidas para trabalhar nessas condi-

Page 49: Informe agropecuario feijão

47Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 4 2 - 5 5 , 2 0 0 4

ções. Elas são equipadas com dispo-sitivos especiais de corte de palha ede abertura de sulcos, onde são de-positados os adubos e as sementes,deixando o máximo de palha sobre osolo.

Requisitos básicos para

o SPD

O sucesso ou insucesso da implanta-ção do SPD depende, além dos requisitosbásicos, da capacidade do produtor e desua experiência na mecanização agrícola eno manejo de diferentes culturas que farãoparte dos sistemas de rotação e/ou suces-são de culturas, que envolve, muitas ve-zes, agricultura e pecuária e, em algumasáreas, o manejo de plantas daninhas comuso de herbicidas. Nos últimos anos, temsido comum produtores não muito expe-rientes, motivados pelo sucesso do SPD,implantarem-no sem obedecer os requisi-tos básicos, alegando que isso implicariaem atraso. Ocorre que a não observânciade alguns dos princípios básicos compro-mete a viabilidade técnica e econômica, ge-ra frustrações e, muitas vezes, implica noabandono do SPD antes que ele possa ma-nifestar todo o seu potencial. Assim, é pru-dente que o produtor inicie o sistema empequenas áreas, para melhor entendimentoe domínio da tecnologia.

a) qualificação do agricultor: por se tra-tar de um sistema complexo, exigeque o agricultor tenha conhecimen-to mais amplo e domínio de todas asfases do sistema, envolvendo o ma-nejo de mais de uma cultura e, mui-tas vezes, associação de agriculturae pecuária. O sistema exige, ainda,um acompanhamento mais rígido dadinâmica de pragas, doenças e plan-tas daninhas, do manejo de fertili-zantes e das modificações causadasao ambiente;

b) gerenciamento e treinamento de

mão-de-obra: pelas razões já expos-tas, há necessidade de maior treina-mento de mão-de-obra;

c) boa drenagem de solos úmidos com

lençol freático elevado: necessáriapara que esses solos sejam aptos aosistema, pois o plantio direto já pro-move aumento da água no solo (emconseqüência de menor escorrimen-to superficial, de maior infiltração ede menor evaporação). Isto poderáagravar o problema de excesso deumidade em solos com drenagem de-ficiente, principalmente em solos“pesados”, em razão da quantidadede argila, onde temperaturas maisfrias podem afetar a germinação e aemergência de plântulas. No Brasil,baixas temperaturas do solo dificil-mente constituirão um problema;

d) eliminação, antes da implantação, de

compactação ou de camadas aden-

sadas: a presença de camadas com-pactadas no solo, geralmente resul-tantes do uso inadequado de aradosou grade aradora, após sucessivosanos, sempre a uma mesma profun-didade, causa uma série de proble-mas: redução da infiltração de águano solo, favorecendo o escorrimentosuperficial e a erosão; concentraçãodo sistema radicular nas camadassuperficiais do solo, reduzindo o vo-lume de solos explorado pelas raí-zes, tanto em termos de nutrição dasplantas quanto de absorção de umi-dade, o que torna as plantas maissuscetíveis aos veranicos, reduzin-do sua produtividade. Como o plan-tio direto não elimina essas cama-das, esse trabalho deve ser realizadoantes da implantação do sistema;

e) superfície do terreno deve estar ni-

velada: solos cheios de sulcos ouvaletas devem ser preparados pre-viamente, tornando a superfície doterreno a mais nivelada possível. Oproblema é muito comum em áreasde pastagens degradadas. Existemno mercado plantadoras com sistemade plantio que permite acompanharo microrrelevo do solo, entretanto,

o ideal é o nivelamento prévio daárea;

f) correção da acidez do solo antes de

iniciar o plantio direto: como no SPDo solo não será revolvido, é impor-tante corrigi-lo quimicamente, tantona camada superficial como na sub-superficial. Para isso, ele deverá seramostrado de 0-20 e de 20-40 cm e, senecessário, efetuar a calagem, incor-porando o calcário o mais profundopossível. Se for conveniente, fazeraplicação de gesso. O uso do calcá-rio na superfície do solo tem sidoefetivo e traz vantagens econômicas(menor custo da aplicação do calcá-rio sem incorporação por meio daaração e gradagens) e de conserva-ção do solo, pois, sem o revolvimen-to, sua estrutura física é mantida, oque é fundamental no controle daerosão, principalmente em solos are-nosos;

g) níveis de fertilidade devem-se situar

na faixa de média a alta: a correçãodos teores de fósforo e potássio énecessária antes de iniciar o SPD.Na realidade, o agricultor deve man-ter, como meta, os níveis de fertili-dade na faixa alta e estabelecer umprograma de adubação de reposição,considerando o sistema como umtodo e as menores perdas de nutri-entes resultantes da menor erosão;

h) restos de cultura na superfície devem

cobrir, pelo menos, 50% do solo, ou

6 t/ha de matéria seca para cober-

tura do solo: provavelmente, este éum dos requisitos mais importantespara o sucesso do SPD, por afetarpraticamente todas as modificaçõesque o sistema promove. As opçõesde palhadas e a sua permanência so-bre o solo variam entre diferentes re-giões, pois dependem das condiçõesclimáticas de cada local;

i) jamais queimar os restos de cultura:

este requisito é claro, mas pode ser

Page 50: Informe agropecuario feijão

48 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 4 2 - 5 5 , 2 0 0 4

um problema para a cultura do algo-dão, pois, por razões fitossanitárias,o produtor é obrigado a queimar osrestos de cultura. A diversificaçãodas culturas no sistema agrícola é amaneira adequada de contornar esseproblema;

j) uso do picador e distribuidor de pa-

lhas nas colhedoras: o objetivo des-sa prática é promover a melhor dis-tribuição dos restos de cultura nasuperfície do solo, conferindo-lhemaior proteção e facilitando o plan-tio;

k) eliminação de plantas daninhas pe-

renes: são de difícil controle e tendema aumentar sua infestação com o usodo SPD. É importante que elas sejamerradicadas no início da implantaçãodo sistema;

l) baixa infestação de plantas dani-

nhas muito agressivas: essas plantasdaninhas, além de difícil controle,oneram o custo da produção;

m) plantas daninhas devem ser identifi-

cadas e receber controle específico,

antes da implantação do SPD: noplantio direto, as plantas daninhassão controladas sem o uso de pro-cessos mecânicos e seu custo repre-senta um alto percentual do custototal de produção. Portanto, todaação que reduzir ou facilitar o con-trole dessas plantas, antes da insta-lação do SPD, deve ser adotada.

Rotação de culturas

Na implantação e condução do SPD demaneira eficiente, é indispensável que oesquema de rotação de culturas promova,na superfície do solo, a manutenção per-manente de uma quantidade mínima depalhada, que nunca deverá ser inferior a2 t/ha de matéria seca. Como segurança,devem ser adotados sistemas de rotaçãoque produzam, em média, 6 t/ha/ano, oumais, de matéria seca. Neste caso, a soja con-tribui com muito pouco, raramente ultra-passa 2,5 t/ha de massa seca (RUEDELL,

1998). No início do SPD, é importante prio-rizar a cobertura do solo, principalmente seas áreas apresentarem certo grau de de-gradação. Para isso, onde for possível, asculturas de milho e de aveia integradas ede forma planejada no sistema de rotaçãoproporcionam alto potencial de produçãode fitomassa de elevada relação C/N, e ga-rantem a manutenção de cobertura do solo,dentro da quantidade mínima preconizadae por maior tempo de permanência na super-fície. Também as braquiárias apresentamessas condições e representam uma exce-lente alternativa em áreas de integraçãolavoura-pecuária.

A rotação de culturas é fundamentalpara a sustentabilidade do SPD. Quandose pensa em sistemas de rotação, deve-seconsiderar o ciclo completo da rotação. Umacultura que entra no sistema não deve seravaliada isoladamente, pois, além do re-torno econômico direto, deve-se consi-derar o retorno indireto, isto é, os benefíciosgerados às culturas complementares (re-ciclagem de nutrientes, produção de fito-massa, controle de doenças, pragas e plan-tas daninhas, aumento no rendimento degrãos, melhoria das condições químicas,físicas e biológicas do solo).

Existem vários sistemas de rotação decultura em SPD, que envolvem a cultura dofeijão, para diferentes regiões do Brasil.Suzuki et al. (2002) verificaram que, apósquatro anos de manejo com diferentes su-cessões de cultura, não houve influênciados resíduos das plantas de milho, sojaou algodão, em cobertura, na produção degrãos de feijão de inverno. Verificaram ain-da maior rendimento no SPD, em que assucessões com soja e algodão foram me-lhores para o rendimento do feijão. No pre-paro convencional, o feijão plantado apóso algodão foi a melhor opção. Plastino etal. (2000) não constataram efeito significa-tivo da rotação, ao utilizarem milho, soja,arroz, e da adubação verde ou pousio noverão sobre o rendimento de duas cultiva-res de feijão plantadas em SPD no outono-inverno. Após seis anos de estudo, foiverificado que a rotação de culturas teve

efeito significativo sobre o rendimento dofeijoeiro, tendo a rotação arroz consorcia-do com calopogônio propiciado os maioresrendimentos para aquela cultura nos seisanos de cultivo, mostrando que o aduboverde cultivado anteriormente foi benéficoa ela. Os rendimentos do feijoeiro, após oarroz, foram iguais aos rendimentos da ro-tação anterior em quatro dos seis anos deestudo. Na rotação soja-trigo-soja-feijão-arroz-feijão, observou-se que, quando ofeijão foi semeado após um ano de ausênciano cultivo anterior de inverno (cultivos deinverno de 1994 e 1997, quando foi cultivadotrigo), seus rendimentos foram iguais aomelhor tratamento, mostrando que o cultivodo feijoeiro em intervalos maiores é bené-fico. De modo geral, os piores rendimentosdo feijoeiro foram alcançados na rotaçãomilho-feijão e milho-feijão-milho-feijão-arroz-feijão. A menor produtividade dofeijoeiro após o milho pode ser atribuída,em parte, à deficiência de nitrogênio, de-vido à maior competição dos microrganis-mos para o nutriente, durante a decom-posição da palhada de milho (SILVEIRA,2001). Segundo este autor, já foi observada,em feijoeiros cultivados em sucessão aomilho, clorose semelhante àquela desenvol-vida por deficiência de nitrogênio e meno-res conteúdos de nitrogênio na planta, emrelação à sucessão ao arroz. O menor ren-dimento de grãos de feijão, verificado nasucessão com milho, foi também observadopor Carvalho (2000), que o relacionou à altarelação C/N nos restos da cultura de milho.Ele observou, ainda, que, nos tratamentosanteriores com milho, a cultura do feijoeiroapresentava amarelecimento provenientede deficiência de nitrogênio, efeito imediatoda aplicação de material orgânico com lar-ga relação C/N sobre a imobilização do ni-trogênio assimilável do solo. Pereira Filhoet al. (1996) não observaram efeito de nívelde palhada de milho (0, 4 e 8 t/ha), plantadoem outubro, sobre o rendimento do feijoei-ro plantado em fevereiro. Esses autores nãoverificaram diferença de rendimento entreo SPD e o sistema convencional de prepa-ro do solo: encontraram crescimento linear

Page 51: Informe agropecuario feijão

49Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 4 2 - 5 5 , 2 0 0 4

na produtividade do feijoeiro com o aumen-to das doses de nitrogênio.

Dinâmica de plantas daninhas

Os sistemas de manejo que apresentamdiferentes graus de mobilização do solo e apresença de diferentes tipos de restos decultura na superfície podem modificar abiomassa, a densidade de indivíduos e acomposição botânica de plantas daninhas.Souza et al. (2002) verificaram que o trata-mento de grade pesada, mais arado de dis-co, apresentou biomassa seca acumula-da superior aos demais tratamentos e asparcelas com arado de disco apresentaramacúmulo de biomassa superior ao do SPD.Falleiro et al. (2002) verificaram que os sis-temas de manejo do solo apresentaram asseguintes médias estimadas de biomassaseca total (g/m2) e densidade de indivíduos(plantas/m2), respectivamente: SPD (217,85e 78,95), arado de disco (413,57 e 418,25),arado de aiveca (388,86 e 698,25), grade pe-sada (377,78 e 306,00), grade pesada + ara-do de disco (734,38 e 589,00) e grade pesada+ arado de aiveca (313,15 e 449,75). Em plan-tio de feijão cultivado após milho paraprodução de grãos ou silagem, verificou-se que, no SPD, as espécies dicotiledôneasforam mais importantes, principalmenteCoronopus didymus, e que no plantio con-vencional houve maior densidade, freqüên-cia e acúmulo de biomassa de Cyperusrotundus, independentemente da finali-dade de uso anterior da cultura do milho(JAKELAITIS et al., 2002).

A semeadura de feijão em áreas complantas espontâneas de capim-marmelada(Brachiaria plantaginea) e braquiária (B.decumbens) é prática comum no Brasil,sendo que essas plantas, após dessecadas,podem constituir uma importante coberturapara o SPD. Lollato et al. (2002) avaliaram oefeito de 2, 4 e 8 t/ha dos dois capins e con-cluíram que suas coberturas de palha secapodem ser utilizadas com êxito no plantiodireto de feijão e que, em maiores quantida-des, podem aumentar a produção de semen-tes. No plantio do feijão, a maior quantidadede cobertura morta contribuiu para a menor

emergência de plantas daninhas na culturado feijoeiro no inverno, indicando umaquebra no ciclo das plantas daninhas, di-minuindo sua incidência (COBUCCI et al.,2001).

Modificações causadaspelo plantio direto

Por ser um sistema que não revolve osolo e por estar fundamentado na presençade restos de cultura sobre a superfície e emsistemas de rotação de culturas, uma sériede modificações ocorre no ambiente do soloe afeta o desenvolvimento e a produtivi-dade das culturas.

a) características físicas

Como as características físicas do solosão interdependentes, a ocorrência de mo-dificações em uma delas normalmente acar-reta mudança em todas as outras. Uma dasprimeiras preocupações, quando se tratado manejo do solo, é sua influência naabsorção e disponibilidade de água, poiso estado em que se encontra a superfíciedo solo exerce grande influência na infiltra-ção, drenagem e escorrimento superficial.A crosta que se forma nessa superfície du-rante chuvas intensas tem efeito maior naabsorção de água que o tipo de solo, a de-clividade do terreno ou o seu conteúdo deumidade. O escoamento superficial depen-de da infiltração de água no solo e, conse-qüentemente, de todos os fatores que ainfluenciam. Em geral, ele é menos influen-ciado do que as perdas de solo pelo tipode preparo (BERTOL et al., 2000). Segun-do estes autores, o escorrimento superficialpode ser expressivo, mesmo sem preparodo solo, especialmente quando for subme-tido a chuvas de alta erosividade e, princi-palmente, longos comprimentos de rampae/ou declividades acentuadas, onde os resí-duos de cultura podem ser removidos dasuperfície do solo pelo escoamento. O Qua-dro 3 exemplifica o efeito de restos de cul-tura no escorrimento superficial, infiltraçãoe perdas de solo.

A cobertura vegetal (viva ou morta) temefeito na intercepção das gotas de água,dissipando sua energia cinética, porque

evita o impacto direto sobre a superfíciedo solo, reduzindo a desagregação de suaspartículas, que é a fase inicial do processoerosivo. Além disso, ela reduz a velocidadedo escorrimento das enxurradas e melhoraou mantém a capacidade de infiltração deágua no solo. Reduz também o efeito dadesagregação do solo e evita o selamentosuperficial provocado pela obstrução dosporos com as partículas finas desagrega-das. Exemplificando essa situação, dadosde Derpsch et al. (1986 apud CASTRO,1989) mostram, com curvas de infiltraçãoobtidas com chuva simulada, que a infil-tração básica para o plantio direto foi de45 mm/h (100%), para o preparo com aradoescarificador, foi de 35 mm/h (78%) e para opreparo convencional, somente 26 mm/h(58%). Por isso, o solo deveria permanecersempre completamente coberto por restosvegetais. A infiltração total de água, em con-dições de altas precipitações pluviais sóé garantida por 100% de cobertura do solo.Para tanto, são necessárias de 4 a 6 t/ha decobertura morta (DERPSCH et al., 1991).Para uma mesma quantidade de água per-dida por escorrimento, o transporte de solopela água é muito menor no SPD do que nosistema convencional. Entretanto, algunscasos de erosão significante têm sido obser-vados em área de plantio direto, devido àbaixa cobertura do solo com resíduos, à

QUADRO 3 - Efeito de diferentes quantidades

de resíduos de cultura no escor-

rimento superficial, infiltração e

perda de solo, em declividade de

5%

0 45,3 54,7 13,69

0,550 24,3 74,7 1,56

1,102 0,5 99,5 0,33

2,205 0,1 99,9 0

4,410 0 100,0 0

Perdade solo

(%)

FONTE: Ramos (1976 apud RUEDELL, 1998).

Resíduost/ha

Efeitos sobre a água e o solo

Escorri-mento

(%)

Infil-tração(%)

Page 52: Informe agropecuario feijão

50 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 4 2 - 5 5 , 2 0 0 4

retirada do sistema de terraceamento e aoplantio sem obedecer às curvas de nível.

Vale lembrar que o excesso de palhapoderá causar algum problema operacionaldurante o plantio, na emergência das plân-tulas, e irá requerer maior atenção com aadubação nitrogenada, devido à imobili-zação desse nutriente pelos microrganis-mos, a qual causa deficiência às plantas.O escoamento superficial de água é forte-mente influenciado pelo declive, ou seja, aprobabilidade de haver erosão cresce como aumento da declividade do terreno, exis-tindo, assim, um comprimento crítico dodeclive a partir do qual a erosão hídricaaumenta. Faz-se necessário, portanto, inter-ceptar o escoamento, para que o fenômenoda erosão seja minimizado. A maneira maiseficaz é o secionamento do comprimentodo declive, pela construção de um sistemade terraceamento. Embora sua eficiênciaseja inegável, deve-se ter em mente que ter-raço não é sinônimo de conservação dosolo, por isso, deve ser sempre empregadoem associação com outras técnicas de ma-nejo e de conservação do solo e da água,com vistas a que o sistema seja o mais sus-tentável possível. Há uma corrente quedefende a retirada dos terraços no SPD,entretanto, em alguns casos, essa práticatem causado o retorno da erosão, principal-mente em áreas com solos de textura média.Bertol et al. (1997) demonstraram a neces-sidade de manutenção dessas estruturasmesmo em áreas sob SPD, como forma deminimizar os prejuízos advindos da erosão,pois, a partir de determinado comprimentode declive, o volume da enxurrada aumentae passa a escorrer por debaixo da camadade resíduos, erodindo o solo.

Os dois principais tipos de terraços quese têm usado em terras agricultáveis são ode base larga e o de base estreita. Eles po-dem, ainda, ser construídos em nível, tam-bém chamados terraços de armazenamentode água. Em solos com baixa taxa de infil-tração de água, o tipo de terraço indicadoé com gradiente, para drenar o excesso deágua que será conduzido para canaisescoadouros naturais, artificiais ou para

bacias de contenção, armazenamento einfiltração. Especialmente em áreas comagricultura irrigada, o terraço de base largaapresenta algumas vantagens sobre o debase estreita. A primeira delas é a de quenão constitui obstáculo ao tráfego, poispode-se transitar e plantar sobre ele, o queelimina muitas manobras de veículos emáquinas sobre a área. Essa racionalizaçãono tráfego reduz a compactação superficiale, por conseguinte, a erosão. Também dimi-nui o consumo de combustível, melhora orendimento das operações realizadas nasdiversas fases das culturas e ganha-se tem-po em todas as etapas. Outra vantagem éque há o aproveitamento de 100% da áreaagrícola. Atualmente, programas para com-putadores têm possibilitado dimensionar eotimizar a implantação e o manejo de siste-mas de conservação de solos e de drena-gem de superfície, constituindo-se, dessaforma, em poderoso aliado para o planeja-mento conservacionista e, conseqüente-mente, para o próprio desenvolvimentosustentável da agricultura. Tradicionalmen-te, o espaçamento entre terraços é feito como uso de tabelas. Entretanto, é importantesalientar que o sistema de manejo do solo,a seqüência de culturas e as característicaslocais de relevo e de solo podem interferirno sistema de terraceamento. Nunca édemais lembrar que o sistema de terracea-mento não resolve o problema da erosãona faixa de plantio entre eles. Nesse caso,é necessário que outras tecnologias demanejo de solo, de água e de plantas sejamassociadas, para que esses problemas se-jam minimizados.

- densidade do solo e porosidade:

Comparado com o preparo convencio-nal, embora os valores da densidade dosolo sejam maiores no SPD, há uma maiorhomogeneidade ao longo do perfil. Nosistema convencional, os valores da den-sidade são menores na camada arável, maspodem-se verificar valores maiores logoabaixo, caracterizando a presença de pé-de-arado ou pé-de-grade. Por outro lado, ouso excessivo de máquinas sobre áreas de

plantio direto em solo com teor de umida-de inadequado pode agravar os problemasde aumento da densidade global. Esseproblema é mais sério em solos argilosos.Embora os maiores valores de densidadeglobal e baixo volume de macroporos doplantio direto, em relação ao convencional,sejam características que poderiam limitara infiltração, outras características, como onão-revolvimento do solo, a continuidadedos macroporos e dos canalículos cons-truídos pela mesofauna, a maior estabili-dade de agregados e os efeitos da cobertu-ra morta, que reduzem ou eliminam o efeitode selamento superficial do solo e o escorri-mento superficial, acabam promovendomaior infiltração de água no solo sob SPD.

Tem-se observado maior compactaçãodo solo nos primeiros anos após a implan-tação do SPD. Esse efeito pode mesmo afe-tar o rendimento de culturas mais sensíveis,como a do algodão. Entretanto, o efeitonocivo da compactação desaparece, à me-dida que o plantio direto se estabelece ade-quadamente. É de se esperar que, em áreassob SPD, onde se observam os princípiosbásicos de sua implantação, principalmentecom relação ao estabelecimento de cober-tura morta adequada e a eliminação préviade camadas compactadas, o efeito da com-pactação seja menor e desapareça mais ra-pidamente.

- estabilidade de agregados:

Outra importante característica do SPDé o aumento da estabilidade de agregados,o que confere maior resistência à desagre-gação pelo impacto das gotas de chuva e,conseqüentemente, menores problemascom a formação de selamento superficial,resultando em maior infiltração e menor ero-são. Segundo Vieira (1985), a maior estabi-lidade de agregados no SPD, em compara-ção com o preparo convencional, pode serexplicada pelas razões a seguir:

• a destruição mecânica dos agregadosno preparo convencional, por meiodo revolvimento pelos implementos,geralmente mais de uma vez por ano,debilitaria a estrutura do solo;

Page 53: Informe agropecuario feijão

51Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 4 2 - 5 5 , 2 0 0 4

• uma maior concentração de cátionscomo Ca++ e Mg++ próxima à su-perfície do solo sob SPD poderiaafetar positivamente a estrutura;

• a presença constante de material orgâ-nico em decomposição na superfí-cie do solo favoreceria a agregaçãodo solo, sobretudo na camada de 0a 2 cm;

• a cobertura morta, que evita o impac-to direto das gotas de chuva, prote-geria a estrutura superficial do so-lo;

• com a maior densidade global no SPD,os agregados tornar-se-iam mais re-sistentes à desagregação;

• uma maior população de minhocasno SPD produz coprólitos que for-mam agregados de alta estabilidade.

- temperatura do solo:

A temperatura do solo exerce influênciasobre as plantas o que promove variaçõesna velocidade de germinação das semen-tes, na emergência de plântulas, na absor-ção de água e nutrientes e no desenvol-vimento radicular. É alterada pelo SPD,considerando que é afetada pela radiaçãosolar, propriedades físicas, conteúdo deágua no perfil, condutividade térmica e co-bertura do solo. Devido à camada de co-bertura morta, ocorrem no SPD menoresoscilações de temperaturas, menores tem-peraturas ao longo do dia e temperaturasinferiores durante o ciclo das culturas. Alémdo desenvolvimento de plantas, o balançohídrico e a temperatura do solo têm grandeinfluência na atividade biológica do solo.Temperaturas acima de 32oC podem afetara fixação de N2 pela associação feijoeiro xrizóbio.

b) fertilidade do solo

No SPD, o aporte constante de restosde cultura na superfície do solo, o não-revolvimento dele e o uso de fertilizantes ecorretivos resultam na formação de umgradiente de fertilidade no sentido verticale maior variabilidade no sentido horizontal,

pelas linhas de adubações, principalmentena fase de implantação do sistema.

c) atividade biológica

O conteúdo de matéria orgânica do solotem sido considerado há muito tempo co-mo um dos mais importantes condicionan-tes da produtividade das culturas. A ma-téria orgânica disponibiliza nutrientes àsplantas, melhora a estrutura do solo, influ-encia as relações entre água, ar, resistên-cia mecânica e temperatura do solo, auxiliano controle de erosão e melhora o desem-penho dos equipamentos de preparo dosolo. A disponibilidade de matéria orgâni-ca é fundamental para a vida microbianado solo, pois é dela que a maioria dos orga-nismos obtém a energia e os elementos mi-nerais e orgânicos para a realização de seusprocessos vitais. Mesmo partindo-se deprodução de iguais quantidades de res-tos de cultura, o fato de, no SPD, os restosde cultura ficarem na superfície do solo,enquanto são enterrados no preparo con-vencional, resulta em diferentes taxas dedecomposição do material vegetal. Ao sefazer a incorporação dos restos de culturano preparo do solo, o arejamento é favore-cido, o que, concomitantemente com aintrodução de resíduos vegetais, acelera aatividade microbiana e, conseqüentemen-te, a sua decomposição. Por outro lado, noSPD, a terra mantém-se não revolvida e osresíduos ficam na superfície, o que reduz ocontato com os microrganismos e, por isso,a taxa de decomposição é menor. Assim,em iguais circunstâncias, o teor de matériaorgânica é maior em áreas com SPD, com-parado com áreas preparadas convencio-nalmente e isso corresponde a uma ativi-dade microbiana mais elevada.

O SPD, pela ação da cobertura mortana superfície do solo, mantém o teor deumidade mais constante, sendo menosfreqüentes os ciclos de umedecimento esecagem do solo. Por outro lado, o revolvi-mento do solo pela aração e gradagem cau-sa grandes modificações nas populaçõesmicrobianas, pois os microrganismos quese encontram em maiores profundidades

são trazidos para a superfície nua do soloe, não suportando a exposição às amplitu-des térmicas e alternâncias de umidade,morrem. No preparo convencional, a aera-ção provocada pela aração e gradagem e aincorporação maciça dos resíduos orgâ-nicos incrementam a atividade temporáriados microrganismos que logo decresce,quando os resíduos são consumidos. NoSPD, a decomposição é mais lenta, manten-do a população microbiana mais constante.Uma das principais conseqüências desseaspecto é o efeito do SPD sobre a simbioserizóbio e leguminosas.

d) ocorrência de pragas

No preparo convencional do solo, aaração e a gradagem, além de controlaremplantas daninhas, têm também o objetivode eliminar ou minimizar problemas cau-sados por certas pragas que passam, pelomenos, uma parte de seu ciclo biológicono solo ou na sua superfície. Para o SPD,as pragas conhecidas de hábito subterrâ-neo são as mais importantes. Por causa daausência de preparo do solo, desenvolvem-se grupos de pragas com ciclo biológicomais longo e a bioecologia dessas pragasdifere substancialmente daquela do siste-ma convencional de plantio. A maioria dosinsetos subterrâneos considerados pragasutiliza como hospedeiros culturas comomilho, soja, trigo, arroz, feijão, usualmentecomponentes do SPD. Vários grupos deinsetos danificam as sementes após o plan-tio ou atacam o sistema radicular dessasculturas. Geralmente, o ataque acarreta fa-lhas nas lavouras e as plantas sobreviven-tes tornam-se improdutivas ou aumentamas perdas na colheita, devido ao tomba-mento ou danos causados às sementes eao sistema radicular.

Tem sido relatada grande ocorrência delesmas em plantios de feijão irrigado noperíodo de janeiro a março, especialmenteno SPD, quando o feijoeiro é plantado apóso milho. Há indicações de que o problemapode ser reduzido, quando a palhada da cul-tura anterior produzir em sua decomposiçãomais celulose/lignina que carboidratos.

Page 54: Informe agropecuario feijão

52 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 4 2 - 5 5 , 2 0 0 4

e) ocorrência de doenças

Os efeitos do SPD sobre a ocorrência dedoenças, no Brasil, ainda são pouco estu-dados. Sabe-se que os restos de culturamantidos sobre a superfície do solo servemcomo fonte de nutrientes e abrigo para asobrevivência, crescimento e reproduçãode organismos patogênicos. Em algunscasos, a intensidade de doenças é maiorno SPD. Em outros, a presença de inóculona palha não significa necessariamentedesenvolvimento de epidemias. As conse-qüências são mais nocivas se um sistemaadequado de rotação de culturas não forestabelecido. No caso de patógenos veicu-lados pelo vento, uma lavoura pode sofrerinfluência de restos de cultura de áreasadjacentes.

A severidade de doenças como o mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum) tem aumen-tado na região do Cerrado, onde sistemasde produção, que envolvem seqüências deculturas suscetíveis, como feijão, ervilhaou tomate, no inverno e soja, no verão, pas-saram a ser adotados, com a irrigação quepropicia condições favoráveis de umidadepara o desenvolvimento da doença. Segun-do Nasser e Karl (1998), o plantio direto defeijão sobre palhada de arroz ou milho re-duziu o ataque de S. sclerotiorum , o queparece estar relacionado com a umidade, atemperatura e a maior atividade biológicade inimigos naturais do fungo.

No Sistema Santa Fé, cultivam-se, se-qüencialmente, uma ou duas culturas sol-teiras por ano e uma última, a safrinha, queconsiste em um consórcio de uma cultu-ra precoce com uma gramínea forrageira.A exploração agrícola, nessas condições,caracteriza-se por um cultivo solteiro noinício da estação chuvosa, seja de milho,seja soja ou arroz, e um cultivo de safrinhaassociada a uma forrageira, comumente aBrachiaria brizantha (OLIVEIRA et al.,2001). Geralmente, utiliza-se como culturade safrinha o milho, o sorgo ou o milheto,também em plantio direto. Como resultado,tem-se, a partir do segundo ano ou mais decultivo, solos agricultáveis corrigidos, comaltos níveis de fertilidade e fisicamenteestruturados. Essas áreas, inicialmente de

fertilidade comprometida, passam a apre-sentar altos teores de matéria orgânica,baixos níveis de acidez e elevada infiltra-ção de água no solo em relação às áreas,onde ainda se utilizam práticas tradicionaisde cultivo. Outro enfoque do Sistema San-ta Fé é sua implantação anual, que consisteem cultivo consorciado de culturas anuaiscomo milho, sorgo, milheto, arroz de terrasaltas e soja, com espécies forrageiras, prin-cipalmente as braquiárias, em áreas agrí-colas, em solos parcial ou devidamentecorrigidos. As práticas que compõem o sis-tema minimizam a competição precoce daforrageira, o que evita redução do rendi-mento das culturas anuais e permite, apósa colheita destas, uma produção forrageiraabundante e de alta qualidade para a ali-mentação animal. A braquiária, em consór-cio com o milho, pode ser utilizada pos-teriormente como palhada e, através dosanos, ou com seu uso contínuo, pode indu-zir supressividade geral de Rhizoctoniasolani e Fusarium solani f.sp. phaseoli ou

servir como barreira física à disseminaçãodo mofo-branco, quando essa doença forproveniente de ascosporos originários doinóculo no solo. Oliveira et al. (2001) res-saltam o uso de braquiárias em SPD, commenor incidência de mofo-branco e su-pressão de R. solani e F. solani.

f) desenvolvimento de plantas e

produtividade

As diferenças na produtividade dasculturas refletem, além do sistema de mane-jo do solo, todas as características do sis-tema de produção utilizado. Mais do quequalquer resultado de pesquisa, a espe-tacular expansão do SPD a partir dos anos90 demonstra a competitividade desse sis-tema. Obviamente, sua maior eficiência,refletida em produtividade, vai dependerda eficiência de sua implantação e das con-dições edafoclimáticas da região. O Qua-dro 4 mostra uma comparação entre os ren-dimentos obtidos com o SPD e o sistemaconvencional.

Aidar et al. (2002) 1 2.762 A 1.506 B

Alvarenga (1996) 2 2.266 A 2.653 A

Arf et al. (2002) 1 1.809 A 1.891 A

Cruz et al. (1996) 7 1.888 A 1.581 B

Derpsch et al. (1991) (produção relativa) 3 100 % 103 %

Muzilli (1981) 3 1.535 A 1.478 A

Pereira Filho et al. (1996) 3 1.762 A 1.647 A

Rubin et al. (2002) 1 1.986 A 1.973 A

Santos et al. (2002) 1 1.077 A 1.107 A

Sequinatto et al. (2002) 1 2.399 A 2.288 A

Silva et al. (2002a) 1 2.520 A 2.430 A

Silva et al. (2002b) 2 1.782 B 1.830 A

Silveira (2001) 6 2.512 A 2.486 A

Suzuki e Alves (2002) 1 891 A 549 B

Média 30 1.990 1.866

QUADRO 4 - Comparação de rendimento de feijão em SPD e sistemas convencionais (grade arado-ra, arado de disco ou combinação de ambos)

NOTA: Nas linhas, médias seguidas pela mesma letra não apresentam diferença significativa.

FonteSafras

avaliadas

Plantio

convencional(kg/ha)

Plantiodireto(kg/ha)

Page 55: Informe agropecuario feijão

53Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 4 2 - 5 5 , 2 0 0 4

O SPD na produção de

feijão irrigado

O sistema de plantio de feijoeiro irriga-do tornou-se popular nos anos 80, em re-giões onde as temperaturas de inverno nãoficam abaixo de 10oC. Nesse tipo de siste-ma, o feijoeiro é cultivado intensivamente,utilizando-se alto investimento, e a produ-tividade varia de 2,5 mil a 3 mil kg/ha. Apósalguns anos, a produtividade tem declina-do, mesmo com o aumento de insumos quí-micos. Essa queda é atribuída à compac-tação do solo, formação de pé-de-grade eperda de matéria orgânica, além de umaumento significativo da incidência de fun-gos e pragas. O começo da degradação dosolo não é percebido pelos agricultores,porque ocorre de forma gradual, atravésde erosão laminar. O terraceamento e o cor-dão em contorno podem reduzir significati-vamente a erosão do solo. Mesmo assim, aerosão ocorre, devido à precipitação naestação chuvosa em solos sem vegetaçãoou sem cultura de cobertura. Entretanto,nos últimos anos, a semeadura direta dofeijoeiro irrigado por aspersão vem tendoaceitação cada vez maior na região centraldo Brasil.

Os atributos positivos do SPD em re-lação aos preparos convencionais do solosão notórios, principalmente nos aspec-tos físico-hídricos deste, que indicam queo manejo da irrigação do feijoeiro podeser diferenciado no SPD. O solo em SPD,geralmente, apresenta maiores valores dedensidade e microporosidade e menoresvalores de porosidade total e macroporo-sidade nas camadas superficiais do perfil,quando comparado a outros sistemas depreparo. Tais condições sugerem baixosíndices de infiltração. Contudo, no SPD,com a superfície do solo coberta por restosde cultura e maior rugosidade, associada àmaior estabilidade estrutural, a infiltraçãoda água é mais elevada que em outros sis-temas de preparo, o que ocasiona menorperda por escoamento superficial. Outracaracterística hídrica importante do solosob SPD refere-se à capacidade de armaze-

namento de água. Sob SPD ou em sistemasde preparo reduzido ocorre maior retençãode água pelo solo, principalmente em baixastensões, o que pode ser atribuído às alte-rações sofridas na porosidade e ao maiorconteúdo de matéria orgânica. Por outrolado, Derpsch et al. (1991) e Moreira et al.(1995) atribuem esse comportamento àmaior quantidade de microporos encontra-dos no SPD.

A cobertura morta em SPD reduz asperdas de água por evaporação, como con-seqüência de três aspectos:

a) reduz a quantidade de radiação solardireta que atinge a superfície do solo,diminuindo a quantidade de energiadisponível para a água mudar doestado líquido para o gasoso;

b) a água em estado gasoso necessitadifundir-se por meio da espessurada camada de restos de cultura, oque reduz substancialmente sua per-da, quando comparado com as per-das de uma superfície de solo expos-to;

c) a camada de resíduos orgânicos atuacomo um isolante térmico, reduzin-do a condução do calor para den-tro do solo. Conseqüentemente, hámaior disponibilidade de água paraas plantas.

Verificou-se, também, que a dinâmicada água parece não se alterar muito, quan-do se mantêm pelo menos 6 t ha-1 de re-síduos sobre a superfície do solo, o quesignifica economia no consumo de águapara irrigação. Além da maior infiltração emenor perda por evaporação, a maior dis-ponibilidade de água para as plantas noSPD também pode ser atribuída à modifi-cação na curva característica da água nosolo. Segundo Sidiras et al. (1983), o SPD écapaz de reter de 36% a 45% mais água dis-ponível para as culturas.

Nos primeiros anos de implantação doSPD, o solo geralmente apresenta maior com-pactação na camada de 0 a 20 cm de pro-

fundidade, devido a sua maior densidade ea sua menor porosidade total e macropo-rosidade, quando comparado a outrossistemas de preparo. Quanto mais compac-tado o solo, menor será o volume do con-junto de poros existentes entre os agrega-dos. Isto significa que o teor de água desaturação, bem como a redução inicial doconteúdo de água, como conseqüência daaplicação da tensão, são diminuídos. Poroutro lado, em solos compactados, é maioro volume dos poros de tamanho interme-diário, uma vez que poros originalmentegrandes podem ter sido comprimidos e re-duzidos em tamanho pela compactação, aopasso que os poros internos nos agrega-dos, os microporos, permanecem inatin-gidos. Isto explica o fato de solos compac-tados e não compactados poderem apre-sentar curvas quase idênticas, sob condi-ções de alta tensão. Com o passar do tempo,entretanto, a densidade do solo sob SPDpode vir a diminuir, devido, em parte, aoaumento do conteúdo de matéria orgânicana camada superficial, que favorece a me-lhoria da estrutura do solo e pode modifi-car a sua capacidade de retenção de água.Urchei (1996) verificou que, sob SPD, hámaior retenção de água na camada do solode 0-10 cm de profundidade, do que sobpreparo convencional. Nas camadas de11-20 cm e 21-30 cm de profundidade, ascurvas de retenção de água tiveram pratica-mente o mesmo comportamento nos doissistemas de preparo do solo.

Moreira (1999) verificou que a produ-tividade máxima do feijoeiro no SPD ocor-reu quando as irrigações foram realizadascom tensão de água do solo em torno de16,2 kPa. Admitindo-se uma redução na pro-dutividade de 10%, esse autor recomendainiciar a irrigação, quando a tensão matri-cial da água do solo se situar entre -20 kPae -35 kPa, o que aumenta o intervalo entreirrigações, com a conseqüente redução noscustos de operação do sistema de irriga-ção. Esse valor está na faixa de tensão daágua do solo recomendada por Silveira eStone (1994), para o reinício da irrigação

Page 56: Informe agropecuario feijão

54 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 4 2 - 5 5 , 2 0 0 4

do feijoeiro, em condições de preparo con-vencional. Isso implica que, em condiçõesidênticas de irrigação, no SPD poderá havermais água disponível para as plantas e me-nor variação no seu conteúdo que em sis-temas de preparo que revolvem o solo.Stone e Silveira (1999) verificaram que atensão matricial da água do solo foi menore menos variável ao longo do ciclo do fei-joeiro em SPD do que em parcelas prepa-radas com grade aradora e com arado deaiveca. Outros detalhes sobre a eficiênciano uso da água em SPD podem ser encon-trados no artigo Irrigação.

A cobertura do solo é de extrema impor-tância na determinação das vantagens doSPD em relação a outros preparos quemobilizam o solo. Verifica-se economia deágua, quando a cobertura do solo é superiora 50%. Ressalta-se que o feijão, uma dasprincipais culturas conduzidas sob irriga-ção, produz uma pequena quantidade depalha após a colheita. Por isso, é importan-te a presença do milho ou de culturas queapresentem maior produção de fitomassaem sucessão a culturas irrigadas, para queo plantio direto atinja maior eficiência.

REFERÊNCIAS

AIDAR, H.; KLUTHCOUSKI, J.; THUNG, M.;OLIVEIRA, I.P. de; SANTOS, A.B. dos. Mane-jo da palhada do arroz, para o cultivo do feijão-comum, em várzeas tropicais irrigadas por sub-irrigação. In: CONGRESSO NACIONAL DEPESQUISA DE FEIJÃO, 7., 2002, Viçosa, MG.Resumos expandidos... Viçosa, MG: UFV, 2002.p.593-595.

ALVARENGA, A. de P. Respostas da planta edo solo ao plantio direto e convencional desorgo e feijão, em sucessão a milho, soja ecrotalária. 1996. 162f. Tese (Doutorado emFitotecnia) - Universidade Federal de Viçosa, Vi-çosa, MG, 1996.

ARF, O.; RODRIGUES, R.A.F.; SÁ, M.E. de;BUZETTI, S.; NASCIMENTO, V. do. Manejo dosolo, adubação nitrogenada em cobertura e lâ-minas de água em feijoeiro cultivado no períodode inverno. In: CONGRESSO NACIONAL DE

PESQUISA DE FEIJÃO, 7., 2002, Viçosa, MG.Resumos expandidos... Viçosa, MG: UFV, 2002.p.619-622.

BERTOL, I.; COGO, N.P.; CASSOL, E.A.Distância entre terraços usando o comprimentocrítico de rampa em dois preparos conservacio-nistas do solo. Revista Brasileira de Ciênciado Solo, Viçosa, MG, v.24, n.2, p.417-425, abr./jun. 2000.

_______; _______; LEVIEN, R. Comprimentocrítico de declive em sistemas de preparo conser-vacionistas de solo. Revista Brasileira de Ciên-cia do Solo , Campinas, v.21, n.1, p.139-148,jan./mar. 1997.

CARVALHO, M.A.C. de. Adubação verde e su-cessão de culturas em semeadura direta econvencional em Selvíria-MS . 2000. 189f.Tese (Doutorado em Agronomia) - Faculdade deCiências Agrárias e Veterinárias, UniversidadeEstadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Ja-boticabal, 2000.

CASTRO, O.M. de. Preparo do solo para cul-tura do milho . Campinas: Fundação Cargill,1989. 41p. (Fundação Cargill. Boletim Técni-co, 3).

COBUCCI, T.; KLUTHCOUSKI, J.; AIDAR, H.Aproveitando-se da planta daninha. Cultivar,Pelotas, v.3, n.27, p.26-30, 2001.

CRUZ, J.C.; PEREIRA FILHO, I.A.; SANS,L.M.A.; LEITE, C.E.P.; ALVARENGA, R.C.;SANTOS, N.C.L.N.; BAHIA, F.G.T.C. Avaliaçãode diferentes combinações de métodos de prepa-ro do solo sobre a produção de milho e feijão irri-gados. In: CONGRESSO NACIONAL DE MILHOE SORGO, 21., 1996, Londrina. Resumos...Londrina: IAPAR, 1996. p.245.

DERPSCH, R.; ROTH, C. H.; SIDIRAS, N.;KÖPKE, U. Controle da erosão no P araná,Brasil: sistemas de cobertura do solo, plantio di-reto e preparo conservacionista do solo. Eschborn:GTZ/IAPAR, 1991. 272p. (GTZ. Sonderpublika-tion, 245).

FALLEIRO, R. de M.; SOUZA, C.M. de; SILVA,A.A. da; SEDIYAMA, C.S.; SILVA, C.S.W.;SOUZA, B. A. de. Influência dos sistemas depreparo do solo na composição botânica da co-

munidade de plantas daninhas na cultura do fei-jão. In: CONGRESSO NACIONAL DE PESQUI-SA DE FEIJÃO, 7., 2002, Viçosa, MG. Resumosexpandidos... Viçosa, MG: UFV, 2002. p.475-478.

FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE PLANTIODIRETO NA PALHA. Área de plantio dir e-to no Brasil . Ponta Grossa, 2004. Disponí-ve l em: <h t tp : / /www. feb rapdp .o rg .b r /area_PD_Brasil_2002.htm>. Acesso em: 19abr. 2003.

FIGUEIREDO, L.H.A.; DIAS JUNIOR, M.S.;FERREIRA,M.M. Umidade crítica de compac-tação e densidade do solo máxima em resposta asistemas de manejo num latossolo roxo. Revis-ta Brasileira de Ciência do Solo , Viçosa, MG,v.24, n.3, p. 487-493, jul./set. 2000.

JAKELAITIS, A.; FERREIRA, L.R.; SILVA, A.A.;AGNES, E.L. Efeitos de diferentes sistemas demanejo da cultura do milho sobre a população detiririca e de outras plantas daninhas na culturado feijão. In: CONGRESSO NACIONAL DEPESQUISA DE FEIJÃO, 7., 2002, Viçosa, MG.Resumos expandidos... Viçosa, MG: UFV, 2002.p.461-464.

KAWASAKI, H.; IWATA, F.; MESQUITAFILHO, M.V. de. Concentration of soybean rootsin uppermost layers of cerrado soils of Brazil.JARQ, Ibaraki, v.18, n.4, p.260-276, Mar. 1985.

KLUTHCOUSKI, J.; BOUZINAC, S.; SEGUY, L.Preparo do solo. In: ZIMMERMANN, M.J.(Coord.). Cultura do feijoeiro: fatores queafetam a produtividade. Piracicaba: POTAFOS,1988. p.249-259.

LOLLATO, M.A.; PARRA, M.S.; SHIOGA, P.S.Efeitos de coberturas do solo com capins mar-melada e braquiária sobre o desenvolvimento dofeijoeiro (Phaseolus vulgaris L.). In: CONGRES-SO NACIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 7.,2002, Viçosa, MG. Resumos expandidos...Viçosa, MG: UFV, 2002. p.610-611.

MANTOVANI, E.C. Compactação do solo. Infor-me Agropecuário, Belo Horizonte, v.13, n.147,p.52-55, mar. 1987.

_______; CRUZ,J.C.; PEREIRA FILHO, I.A. Me-canização da cultura do milho . Sete Lagoas:

Page 57: Informe agropecuario feijão

55Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 4 2 - 5 5 , 2 0 0 4

Embrapa Milho e Sorgo, 2001. 24p. (EmbrapaMilho e Sorgo. Circular Técnica, 11).

MORAES, M.H.; LIBARDI,P.L.; BENEZ, S.H.;CARVALHO, W.A. Influência de camadas com-pactadas de subsuperfície no desenvolvimentodo sistema radicular de plantas de soja (Glycinemax (l.) Merril). In: CONGRESSO BRASILEIROE ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISASOBRE CONSERVAÇÃO DO SOLO, 7.,1988,João Pessoa. Programa e Resumos... Campinas:Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1988.p.90.

MOREIRA, J.A.A.; SANTOS, A.B. dos; DINIZ,A.J. Relação massa/volume e retenção de água deum Latossolo Vermelho-Amarelo de Jussara, GO.In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DOSOLO, 25., 1995, Viçosa, MG. Resumos... Viçosa,MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo/UFV,1995. v.3, p.1746-1748.

_______; _______; SILVA, S.C. da; SILVEIRA,P. M. da. Irrigação do feijoeir o no sistemaplantio direto. Santo Antônio de Goiás: Embra-pa Arroz e Feijão, 1999. 31p. (Embrapa Arroz eFeijão. Circular Técnica, 33).

MUZILLI, O. Outras alternativas. In: IAPAR.Plantio direto no estado do Paraná . Londrina,1981. p.211-214. (IAPAR. Circular Técnica, 23).

NASSER, L.C.B.; KARL, A.C. Mofo branco dofeijoeiro irrigado e o plantio direto nos cerrados.Direto no cerrado , Brasília, v.3, n.8, p.11-12,1998.

OLIVEIRA, I.P. de; ROSA, S.R.A. da; KLUTH-COUSKI, J.; AIDAR, H.; COSTA, J.L. da. Palhadano Sistema Santa Fé. Informações Agronô-micas, Piracicaba, n.63, p.6-9, mar. 2001.

PEREIRA FILHO, I.A.; COELHO, A.M.; CRUZ,J.C. Influência do manejo do solo, níveis de palhade milho e doses de nitrogênio no plantio e emcobertura sobre a produtividade do feijoeiro. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE PLANTIO PA-RA UMA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL, 1.,1996, Ponta Grossa. Resumos expandidos...Ponta Grossa: IAPAR, 1996. p.34-35.

PLASTINO, P.R.; SEIXAS, E.P.M. de; SÁ, M.E.de. Efeitos da rotação de cultura, adubação verdee adubo nitrogenado sobre a produção e qualida-de das sementes em dois cultivares de feijão

(Phaseolus vulgaris L.), Campeão 2 e Pérola emsistema de plantio direto. In: CONGRESSO DEINICIAÇÃO DA UNESP, 12., 2000, São José doRio Preto. Resumos... São Paulo: UNESP, 2000.p.203.

RUBIN, R.B.; CARLESSO, R.; SPOHR, R.B.;MELO, G.L.; CARDOSO, C.D.V. Crescimento deplantas de feijão irrigado cultivado nos sistemasde plantio direto e convencional. In: REUNIÃOBRASILEIRA DE MANEJO E CONSERVAÇÃODO SOLO E DA ÁGUA, 14., 2002, Cuiabá.Anais... Cuiabá: UFMT, 2002. CD-ROM.

RUEDELL, J. A soja numa agricultura sustentável.In: SILVA, M.T.B. da (Coord.). A soja em rota-ção de culturas no plantio direto. Cruz Alta:FUNDACEP-FECOTRIGO, 1998. p.1-34.

SANTOS, R.L.L. dos; CORRÊA, J.B.D.;ANDRADE, M.J.B. de. Produtividade de cultiva-res de feijão no plantio direto em diferentes co-berturas do solo. In: CONGRESSO NACIONALDE PESQUISA DE FEIJÃO, 7., 2002, Viçosa,MG. Resumos expandidos... Viçosa, MG: UFV,2002. p.626-628.

SEQUINATTO, L.; SILVA, V.R. da; REICHERT,J.M.; REINERT, D.J.; STRECK,C.A.; KAISER,D.R. Sistemas de preparo do solo, resistência me-cânica à penetração, disponibilidade hídrica erendimento do feijoeiro. In: REUNIÃO BRASI-LEIRA DE MANEJO E CONSERVAÇÃO DOSOLO E DA ÁGUA, 14., 2002, Cuiabá. Anais...Cuiabá: UFMT, 2002. CD-ROM.

SIDIRAS, N.; DERPSCH, R.; MONDARDO, A.Influência de diferentes sistemas de preparo dosolo na variação da umidade e rendimento da soja,em Latossolo Roxo distrófico (oxisol). RevistaBrasileira de Ciência do Solo , Campinas, v.7,n.1, p.103-106, jan./abr. 1983.

SILVA, C.S.W.; FALLEIRO, R.M.; SOUZA, C.M. de; FAGUNDES, J.L.; SILVA, A.A. da;SEDIYAMA, C.S. Influência de diferentes sistemasde preparo do solo sobre a cultura do feijão. In:CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISA DEFEIJÃO, 7., 2002, Viçosa, MG. Resumos expan-didos... Viçosa, MG: UFV, 2002a. p.564-565.

SILVA, M.G. da; ARF, O.; SÁ, M.E. de; BUZETTI,S.; SORATTO, R.P.; SILVA, T.R.B. da. Manejodo solo e adubação nitrogenada em cobertura em

feijoeiro de inverno. In: CONGRESSO NA-CIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 7., 2002,Viçosa, MG. Resumos expandidos... Viçosa, MG:UFV, 2002b. p.612-614.

SILVEIRA, P.M. da. Preparo do solo e r otaçãode culturas para o feijoeiro irrigado . SantoAntônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2001.2p. (Embrapa Arroz e Feijão. Pesquisa em Fo-co, 50).

_______; STONE, L. F. Manejo da irriga-ção do feijoeiro: uso do tensiômetro e avalia-ção do desempenho do pivô central. Goiânia:EMBRAPA-CNPAF/Brasília: EMBRAPA-SPI,1994. 46p. (EMBRAPA-CNPAF. Circular Téc-nica, 27).

SOUZA, B.A. de; FALLEIRO, R. de M.; SOUZA,C.M. de; SILVA, A.A. da; SEDIYAMA, C.S.; SILVA,C.S.W. Influências dos sistemas de preparo do so-lo na comunidade de plantas daninhas da culturado feijão. In: CONGRESSO NACIONAL DEPESQUISA DE FEIJÃO, 7., 2002, Viçosa, MG.Resumos expandidos... Viçosa, MG: UFV, 2002.p.455-457.

STONE, L.F.; SILVEIRA, P.M. da. Efeitos dosistema de preparo na compactação do solo, dis-ponibilidade hídrica e comportamento do fei-joeiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira ,Brasília, v.34, n.1, p. 83-91, jan. 1999.

SUZUKI, L.E.A.S.; ALVES, M.C. Influência deplantas de cobertura, preparo do solo e sucessãode culturas no rendimento de feijão (Phaseolusvulgaris) em um latossolo vermelho de cerrado.In: REUNIÃO BRASILEIRA DE MANEJO ECONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA, 14., 2002,Cuiabá. Anais... Cuiabá: UFMT, 2002. CD-ROM.

URCHEI, M.A. Efeitos de plantio direto e dopreparo convencional sobre alguns atributosfísicos de um Latossolo Vermelho-Escuroargiloso e no crescimento e produtivida-de do feijoeiro ( Phaseolus vulgaris L .) s obirrigação. 1996. 150f. Tese (Doutorado) - Uni-versidade Estadual Paulista “Júlio de MesquitaFilho”, Botucatu.

VIEIRA, M.J. Comportamento físico do solo emplantio direto. In: FANCELLI, A.L. Atualiza-ção em plantio direto . Campinas: FundaçãoCargill, 1985. p.163-179.

Page 58: Informe agropecuario feijão
Page 59: Informe agropecuario feijão

57

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 5 7 - 5 9 , 2 0 0 4

Feijão d e a lta p rodutividade

1Engo Agro, Dr., Prof. Tit. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa - MG. Correio eletrônico: [email protected]

INTRODUÇÃO

Neste trabalho serão abordados os se-guintes assuntos: épocas de plantio, espa-çamento de semeadura, gasto de sementes,tratamento de sementes e profundidade desemeadura. Por se tratar de técnicas sim-ples, de nenhuma ou pouca influência nocusto de produção, mas com efeito signi-ficativo no rendimento de grãos, o empregodelas deve ser criterioso. Entre esses assun-tos, épocas de plantio merece destaque,pois o uso das tecnologias de ponta for-necidas nesta publicação pode não ter oefeito desejado, se a época de cultivo dofeijão não for adequada.

ÉPOCAS DE PLANTIO

Considerando todo o estado de MinasGerais, o feijão pode ser semeado de janei-ro a dezembro, mas as diversas áreas deprodução apresentam, cada uma delas, asépocas preferenciais, que basicamentedependem das condições climáticas. Áreasde verão muito quente não servem para

plantio nessa estação, pois o excesso decalor não só diminui a porcentagem deflores que vingam, como também faz de-crescer o número de sementes por vagem.Inverno rigoroso, por sua vez, é desfavo-rável ao crescimento da planta. Em certasáreas, como Viçosa e municípios vizinhos,que fogem dos excessos climáticos men-cionados, pode-se semear feijão em qual-quer mês, obviamente com o emprego dairrigação nos meses secos do meio do ano.Deve-se lembrar, também, que há algumadiferença entre as cultivares, quanto a to-lerância à alta ou à baixa temperatura.

Didaticamente, podem-se classificar asépocas de plantio do feijão pelas datas deplantio e de colheita. Assim, têm-se os cul-tivos de primavera-verão, verão-outono,outono-inverno e inverno-primavera, ouseja, as semeaduras de primavera, verão,outono e inverno.

O cultivo de primavera-verão constituio que os agricultores denominam feijãodas “águas”. A semeadura é feita em outu-bro ou novembro, em pleno período chu-

voso, e a colheita no começo do verão.Apresenta a grande vantagem de, normal-mente, dispensar a irrigação, porém pos-sibilita as seguintes desvantagens:

a) a colheita pode ser perdida ou, então,colhem-se grãos manchados e ger-minados, se chover na época da ma-turação;

b) em algumas áreas, o excesso de calorno período de floração prejudica se-riamente o rendimento cultural;

c) em terrenos planos e mal drenados,o excesso de chuvas pode ocasionarencharcamento do solo, com a con-seqüente morte de feijoeiros;

d) o excesso de chuvas pode favorecercertos patógenos;

e) ocorre maior problema com as plan-tas invasoras.

O cultivo de verão-outono é muito apre-ciado pelos pequenos agricultores, apesardo perigo de chover escassamente a par-

Métodos culturais

Clibas Vieira1

Resumo - A cultura do feijão pode ser estabelecida em diferentes épocas do ano, depen-

dendo da área produtora. Essas épocas de cultivo, de acordo com as datas de semea-

dura e colheita, são denominadas primavera-verão (plantio das “águas”), verão-outono

(plantio da “seca”), outono-inverno e inverno-primavera, as duas últimas, obrigato-

riamente, com irrigação. O espaçamento de plantio mais recomendado é o de 40 a 50 cm

entre fileiras, com 10 a 15 sementes por metro de fileira. Com isso, gastam-se cerca

de 50 kg/ha de sementes pequenas e o dobro disso de sementes graúdas. O tratamento

das sementes com fungicidas, antes da semeadura, é indicado. Em geral, a profundidade

de semeadura é de 4-5 cm.

Palavras-chave: Feijão. Phaseolus vulgaris. Época de semeadura. Espaçamento. Semente.

Page 60: Informe agropecuario feijão

58

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 5 7 - 5 9 , 2 0 0 4

Feijão d e a lta p rodutividade

tir de abril e, às vezes, a partir de março.Eles enfrentam esse perigo com o cultivoconsorciado com o milho (já em processode maturação), que cria um microclima fa-vorável aos feijoeiros. Evidentemente, aescassez de chuvas pode ser corrigida pelairrigação, prática pouco empregada pelospequenos agricultores. Este cultivo resul-ta no chamado feijão da “seca”, tambémdenominado, em algumas áreas, feijão “dotempo”.

O cultivo de verão-outono possibilitaa colheita em época praticamente livre dechuvas, resultando na obtenção de grãosde ótima qualidade. Mas também há des-vantagens:

a) a escassez e a má distribuição daschuvas ocorrem com freqüência, pro-vocando baixas produções;

b) o período é mais favorável ao ataqueda cigarrinha-verde;

c) maior problema com o mosaico-dourado, nas áreas onde ocorremessa virose.

O cultivo de outono-inverno é o pre-ferido pelos grandes produtores do nor-te e noroeste de Minas Gerais, os quaisutilizam alta tecnologia, incluindo o em-prego de irrigação por pivô central. A se-meadura é feita no outono (abril a junho) ea colheita no inverno. Nessa época prati-camente não chove, tornando obrigatóriaa irrigação. Esta semeadura é denomina-da, por muitos, como “terceira época deplantio”.

Grandes vantagens são apontadas parao cultivo de outono-inverno:

a) possibilita maior envolvimento doempresário agrícola, pois, tratando-se de cultura irrigada, exige investi-mento e alta tecnologia;

b) a produção é garantida, atingin-do altos rendimentos (2 a 3 t/ha oumais);

c) a cultura torna-se menos dependen-

te de fatores climáticos, ocorrendomaior estabilidade de produção;

d) a colheita é feita em período seco, oque a torna fácil, além de possibili-tar a obtenção de grãos de ótimaqualidade;

e) a cultura do feijão pode-se expandirsem concorrer, em área, com outrasplantas, como soja e arroz, plantadasna primavera.

O cultivo de outono-inverno não é indi-cado para áreas de inverno muito rigoro-so, o que tem favorecido o surgimento deduas doenças destrutivas: mofo-branco emurcha-de-fusarium. No início do outo-no, pode também ocorrer problema com omosaico-dourado.

Por vezes, o cultivo irrigado de feijão éretardado, sendo a semeadura realizada empleno inverno, isto é, em julho ou começode agosto, e a colheita no início da prima-vera. É o cultivo de inverno-primavera. Emáreas de inverno mais rigoroso, a semea-dura muitas vezes é realizada em plenoagosto, com o objetivo de a cultura irrigadaescapar dos rigores do frio. Neste caso, acolheita acontecerá em novembro.

A grande desvantagem do cultivo deinverno-primavera em relação ao de outo-no-inverno é a possibilidade de a estaçãochuvosa começar mais cedo, em fins de se-tembro ou início de outubro, o que trariaproblemas tanto para a colheita, quantopara a qualidade dos grãos. Chuvas prema-turas podem anular ou atenuar as vanta-gens do cultivo irrigado. Mofo-branco emurcha-de-fusarium também podem cons-tituir problema.

ESPAÇAMENTO DE SEMEADURA

Para a mecanização da cultura, o feijãodeve ser semeado seguindo um alinha-mento, com fileiras distanciadas de tal modoque facilitem a semeadura com máquinasde tração animal ou mecânica e, mais tarde,possibilitem a passagem do cultivador

entre as linhas. É essencial, também, que ointervalo entre as fileiras e a densidade desemeação dentro delas levem a altas pro-duções.

Experimentos sobre espaçamentos edensidades de semeadura têm sido reali-zados nas diversas Unidades da Federa-ção, e são tão numerosos que a tarefa decitá-los, um a um, tornar-se-ia enfadonha,mesmo porque, em geral, levam quase àsmesmas conclusões.

Embora alguns desses experimentosmostrem que espaçamentos menores, como30 cm entre as linhas, conduzam a produ-ções maiores, esses intervalos não têm sidorecomendados, porque dificultam os tratosculturais ou exigem o emprego de herbici-das, além de impor maior gasto de semen-tes. Cultivares precoces de hábito de cres-cimento determinado e eretos, de perfilestreito, são as que mais respondem emrendimentos aos intervalos entre fileiras de30 cm.

Espaçamentos mais amplos, de 40 a50 cm, têm sido indicados, com densidadede 10 a 15 sementes por metro de fileira, oque vai redundar em populações de 200 mila 375 mil plantas por hectare, mas, em geral,procura-se obter cerca de 250 mil plantaspor hectare. Populações maiores implicammaior gasto de sementes por área, sem acompensação de obter maior produtivi-dade, e populações menores podem reduziro rendimento.

Em determinadas circunstâncias, o in-tervalo de 60 cm entre as linhas tem sidorecomendado. Em Tocantins, em áreasbaixas tropicais, foi verificado que esse é oespaçamento mais favorável à produção.Nos cultivos irrigados de inverno, maiorintervalo entre fileiras (e mesmo menor den-sidade de plantas dentro das fileiras), a fimde provocar melhor circulação do ar, cons-titui medida auxiliar de controle do fungocausador do mofo-branco. Alguns pro-dutores também utilizam o intervalo de60 cm para facilitar o trabalho com máqui-nas.

Page 61: Informe agropecuario feijão

59

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 5 7 - 5 9 , 2 0 0 4

Feijão d e a lta p rodutividade

GASTOS DE SEMENTES

Nas cultivares de sementes pequenas,como as dos tipos comerciais preto, cario-ca e vermelho, cada lote de 100 grãos pesa,usualmente, de 17 a 25 gramas. Esta varia-ção depende de muitos fatores, entre osquais a temperatura, a umidade, a fertili-dade do solo, o espaçamento e a época deplantio. Considerando-se a população de250 mil plantas/hectare e o poder germina-tivo de 100% (o que usualmente não acon-tece), gastar-se-iam de 42,5 kg a 62,5 kg desementes por hectare, ou seja, cerca de50 kg/ha. As sementes graúdas dos feijõesdo tipo manteigão – jalo, pintado, mantei-gão tosco etc. – pesam habitualmente de34 a 50 gramas cada 100 unidades, ou seja,o gasto é o dobro em relação às cultivaresde sementes pequenas.

Para precisão no cálculo da quantida-de necessária de sementes, utiliza-se a fór-mula:

em que:

Q = quantidade de sementes, em kg;

M = massa de 100 sementes, em g;

D = no de sementes por metro de filei-ra;

A = área da lavoura, em m2;

G = poder germinativo das sementes,em %;

E = espaçamento entre fileiras, em m.

Por exemplo: para o plantio de um hec-tare, no espaçamento de 50 cm entre linhase 12 sementes por metro de linha, usando-se sementes cuja massa média é de 20 gpor 100 unidades e poder germinativo de90%, seriam gastos:

TRATAMENTO DASSEMENTES

Para formar a lavoura de feijão, o pro-dutor deve procurar obter sementes de boaqualidade e de cultivar produtiva queatenda às exigências do mercado. Se con-fiar em suas próprias sementes, recomenda-se pelo menos passá-las por uma catação,a fim de eliminar as defeituosas, quebradas,manchadas ou suspeitas da presença depatógeno. Por vezes, essa simples cataçãopromove grande melhoria no estande ini-cial da plantação.

Sementes guardadas em local não apro-priado ou que foram armazenadas sem adevida secagem podem tornar-se porta-doras de fungos, que não ficam apenas notegumento, podendo atingir o embrião. Há,ademais, patógenos que, no próprio cam-po, alcançam as sementes, sendo transmi-tidos por intermédio delas. Vagens queentram em contato com o solo, em razão dabaixa altura dos feijoeiros ou porque estesacamam, também possibilitam a infecçãofúngica das sementes.

Deve-se evitar o plantio de sementesportadoras de fungos e com baixa por-centagem de germinação. Se, entretanto,for necessário semeá-las, o tratamentocom fungicidas é eficiente no controle des-ses fungos e melhora o índice de emer-gência no campo. Bons resultados têmsido conseguidos com captan, thiram emmistura com fungicida sistêmico apro-priado.

A inoculação das sementes com as bac-térias dos nódulos radiculares – os rizó-bios – é prática que pode ser feita, masque freqüentemente não mostra resulta-do. Primeiro, porque as bactérias fixadorasde nitrogênio não são capazes de fornecê-lo em quantidade suficiente, quando sealmejam altos rendimentos. Segundo, por-que usualmente o solo já é povoado porestirpes nativas de rizóbio, as quais con-correm em vantagem com as introduzidas

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ARAÚJO, G.A. de A. Preparo do solo e plan-tio. In: VIEIRA, C.; PAULA JÚNIOR, T. J. de;BORÉM, A. (Ed.). Feijão: aspectos gerais e cul-tura no Estado de Minas. Viçosa, MG: UFV, 1998.p.99-122.

CHAGAS, J.M. Plantio. In: ZIMMERMANN,M. J. de O.; ROCHA, M.; YAMADA, T. (Ed.).Cultura do feijoeiro: fatores que afetam aprodutividade. Piracicaba: POTAFOS, 1988.p.303-316.

DOURADO NETO, D.; FANCELLI, A. L.Produção de feijão . Guaíba: Agropecuária,2000. 385p.

FLESCH, R.D. Cultivares e semeadura do fei-jão. In: EPAGRI. A c ultura d o f eijão e mSanta Catarina . Florianópolis, 1992. p.147-160.

SILVA, C.C. da. Estabelecimento da cultura. In:ARAÚJO, R. S.; RAVA, C. A.; STONE, L. F.;ZIMMERMANN, M.J. de O. (Coord.). Culturado feijoeiro comum no Brasil . Piracicaba:POTAFOS, 1996. p. 417-432.

VIEIRA, C. Cultura do feijão. Viçosa, MG: UFV,1978. 146p.

pela inoculação das sementes. Na Zonada Mata de Minas Gerais foi constatadoque a aplicação foliar de molibdênio tor-na os rizóbios nativos mais eficientes,dispensando a inoculação. De qualquerforma, em terrenos que nunca receberam ofeijão ou que não o recebem há muito tem-po, é conveniente fazer a introdução dorizóbio.

PROFUNDIDADE DESEMEADURA

De modo geral, recomenda-se que a pro-fundidade de semeadura seja de 3-4 cm,nos solos argilosos ou úmidos, e de 5-6 cm,nos arenosos, para assegurar mais umi-dade.

MDAQ =

1.000GE

20 x 12 x 10.000Q =

1.000 x 90 x 0,5= 53,3 kg

A EPAMIG externa reconhecimento pela produtiva parceria com o pesquisador Clibas Vieira (27/12/1927 - 14/10/2004)

Page 62: Informe agropecuario feijão
Page 63: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 6 1 - 7 2 , 2 0 0 4

61Feijão d e a lta p rodutividade

1Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG-CTZM, Vila Gianetti, 46, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico:[email protected]

2Engo Agr o, D.Sc., Prof. Adj. UFLA - Dep to Agricultura, Caixa Postal 37, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio e letrônico:[email protected]

3Engo Agro, D.Sc., Prof. Tit. UFV - Depto Fitotecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected]

Nutrição e adubação do feijoeiro

Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira1

Messias José Bastos de Andrade2

Geraldo Antônio de Andrade Araújo3

Resumo - Adoção de tecnologias no cultivo do feijão tem contribuído sensivelmente namelhoria da produtividade da cultura. Informações técnicas disponíveis, entre as quaisas que dizem respeito à nutrição e adubação, devem ser convenientemente exploradas.O desafio da agricultura empresarial abrange a intensificação do uso racional dos recur-sos naturais, dos fertilizantes e das tecnologias de cultivo do feijoeiro, tornando-o produ-tivo e capaz de remunerar adequadamente o produtor. Particularidades e princípios danutrição e adubação do feijoeiro são apresentados com o propósito de auxiliar o bommanejo nutricional e propiciar alta produtividade e rentabilidade.

Palavras-chave: Feijão. Phaseolus vulgaris. Fertilidade do solo. Calagem. Fertirrigação.Fertilizante. Diagnóstico nutricional.

INTRODUÇÃO

O feijão cultivado nos períodos dooutono-inverno e do inverno-primavera,em regiões de inverno ameno, tem contri-buído significativamente para o aumentoda produtividade da cultura em MinasGerais. Apesar de requerer investimentosrelativamente elevados, o cultivo do feijãonessas épocas pode proporcionar bom lu-cro.

A utilização de tecnologias avançadas,representada pelo cultivo irrigado e pelointenso uso de insumos, como defensivosagrícolas, variedades melhoradas, fertili-zantes e outras técnicas de produção, temproporcionado rendimentos superiores a3.500 kg/ha. A acidez elevada, a presençade alumínio trocável e a baixa reserva denutrientes nos solos brasileiros, principal-mente nos do Cerrado, exigem a adoção deum minucioso programa de manejo da

calagem e da adubação, para possibilitar aobtenção de alto rendimento do feijoeiro.

EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS

O feijoeiro é considerado uma plantaexigente em nutrientes, para poder expres-sar todo o seu potencial produtivo. As con-dições de baixa fertilidade dos solos ge-ram nutrição inadequada, comprometem aprodução, ou, em casos extremos, levamas plantas à morte precoce. O equilíbrio nu-tricional é, muitas vezes, o fator mais impor-tante e crítico na determinação da produ-tividade vegetal.

Entre os macronutrientes, elementosquímicos exigidos em maiores quantidadespelas plantas e fornecidos por meio dasadubações, estão o nitrogênio (N), o fósfo-ro (P), o potássio (K), o cálcio (Ca), o mag-nésio (Mg) e o enxofre (S). Entre os nu-trientes exigidos em pequena quantidade

(micronutrientes) pelas plantas estão o ferro(Fe), o cobre (Cu), o zinco (Zn), o manga-nês (Mn), o boro (B) e o molibdênio (Mo).Embora as exigências pelo feijoeiro em mi-cronutrientes sejam pequenas, a deficiên-cia de um deles pode comprometer o balan-ço nutricional e a produtividade da cultura.

Considerando-se uma produtividadede 3 mil kg/ha, há exportação pelos grãosde, aproximadamente, 100 kg/ha de N, 10kg/ha de P, 50 kg/ha de K, 10 kg/ha de Ca,10 kg/ha de Mg e 15 kg/ha de S (VIEIRA,1998a).

Nitrogênio

Entre os nutrientes essenciais, o N é omais exigido pelo feijoeiro. Ele é compo-nente estrutural de aminoácidos e proteí-nas, enzimas e coenzimas, bases nitrogena-das, molécula de clorofila, ácidos nucléicose outros, sendo fundamental para o cres-cimento e o desenvolvimento de todas as

Page 64: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 6 1 - 7 2 , 2 0 0 4

62 Feijão d e a lta p rodutividade

plantas cultivadas, participando, direta ouindiretamente, de inúmeros processos bio-químicos. O adequado suprimento dessenutriente está associado à alta atividadefotossintética, a crescimento vegetativovigoroso e a folhas de cor verde-escuro(VIEIRA, 1998a).

A absorção do N pela planta é afetadapelas condições ambientais (temperatura,aeração, pH do solo, atividade de outroselementos na solução, estresse hídrico econcentração do sal na zona radicular) epelo genótipo. A taxa de absorção variadurante o ciclo de vida da planta e a épocade maior exigência ocorre nos primeiros 50dias após a sua emergência (DAE). O pe-ríodo de maior demanda pela planta ocorredo início do florescimento ao período deformação das vagens.

O feijoeiro pode utilizar o nitrogênio dosolo, do adubo e da fixação biológica donitrogênio atmosférico (FBN). A plantaresponde muito bem à aplicação do nitro-gênio, embora a freqüência e a magnitu-de variem entre regiões ou mesmo dentroda própria região. Bactérias do gêneroRhizobium (R. leguminosarum biovarphaseoli, R. etli e R. tropici), em simbiosecom o feijoeiro, fixam o N atmosférico,disponibilizando-o à planta. Porém, o Nfornecido pelo processo de FBN geralmen-te é insuficiente em relação às quantida-des necessárias para altas produtividades(VIEIRA, 1978; ROSOLEM; MARU-BAYASHI, 1994), devido à baixa eficiênciado processo, sendo recomendada a adu-bação nitrogenada.

Quando ocorre deficiência de N, asplantas ficam atrofiadas, com caule e ramosdelgados, as folhas apresentam coloraçãoentre verde-pálida e amarela, o crescimentoé reduzido, flores, vagens e sementes sãomalformadas e em menor número, além dediminuir a massa das sementes.

Fósforo

O P é o nutriente mais deficiente namaioria dos solos brasileiros, e um dos ele-mentos que têm proporcionado maior res-posta do feijoeiro. Ele é componente essen-

cial dos ésteres de carboidratos, fosfolipí-dios, ácidos nucléicos e coenzimas, partici-pando do armazenamento e da transferênciade energia, além dos vários processos me-tabólicos das plantas.

O período que o feijoeiro mais necessitade P vai de, aproximadamente, 30 até 55 DAE,ou seja, do período de pré-florescimentoaté o início da formação das vagens (ROSO-LEM; MARUBAYASHI, 1994). As plantasdeficientes em P são raquíticas, com redu-ção do número e do tamanho dos ramos edas folhas, e possuem menor número deflores e vagens. Como conseqüência, hásevera queda da produção (OLIVEIRA etal., 1996).

Potássio

O potássio (K) participa, dentre outros,dos processos de abertura e fechamentodos estômatos, da fotossíntese, da res-piração e do transporte de carboidratos eoutros produtos.

Segundo Rosolem e Marubayashi(1994), há dois períodos de maior deman-da por K: entre 25 e 35 DAE e entre 45 e 55DAE. O primeiro período corresponde à di-ferenciação dos botões florais e, o segundo,ao final do florescimento e início de forma-ção das vagens, quando a translocação defotoassimilados das folhas para os grãosaumenta significativamente. Quando emdeficiência de K, o feijoeiro se desenvolvepouco, apresenta caule pequeno e delgado,forma poucas flores e apresenta vagenscom poucas sementes.

A deficiência de K ocorre em solosformados de material de origem pobre nonutriente, com pouca matéria orgânica, emsolos arenosos, principalmente sob con-dições de irrigação, em que a lixiviação desais é maior, e quando não há reposiçãoadequada do nutriente por meio das adu-bações e incorporação dos restos culturais,uma vez que a sua maior concentração naplanta encontra-se na palhada.

Cálcio, magnésio e enxofre

O cálcio (Ca) tem papel fundamentalna formação e funcionamento da membrana

celular, na absorção iônica, na divisão ce-lular, nas reações com hormônios vegetaise na ativação enzimática, influenciando ocrescimento e o desenvolvimento da plan-ta. Quando em deficiência de Ca, as folhasmais jovens ficam malformadas; a plantapára de emitir brotações e há lesões necró-ticas no caule, perto do ponto de crescimen-to. O Mg é componente estrutural da mo-lécula de clorofila e atua em várias funçõesna planta, como exemplo, na fotossíntese ena respiração. O S faz parte dos aminoáci-dos cisteína e metionina, participando dafotossíntese, respiração e sínteses de gor-duras e de proteínas.

As exigências de S pelo feijão são maio-res em solos arenosos, com baixo teor dematéria orgânica, ou em solos fertilizadoscom adubos sem o elemento na formulação.

Micronutrientes

Os micronutrientes atuam em váriosprocessos metabólicos nas plantas, geral-mente como constituintes ou ativadoresenzimáticos. Alguns influenciam direta-mente no processo fotossintético (Fe, Cue Mn) e respiratório (Fe, Cu, Mn e Zn), ouparticipam do metabolismo do N (Fe e Mo).O B está envolvido na divisão celular, nocrescimento e na formação da parede celu-lar, na síntese de proteínas e no transpor-te e na fosforilação dos carboidratos. Temtambém importante função na lignificaçãoe diferenciação do xilema e no transpor-te de sacarose através da membrana celu-lar (MALAVOLTA et al., 1997; THUNG;OLIVEIRA, 1998).

O cobalto, que às vezes é aplicado naslavouras de feijão, não é nutriente essencialao feijoeiro, mas sim para o Rhizobium noprocesso de FBN.

As deficiências dos micronutrien-tes nos solos brasileiros geralmente sãoobservadas nas condições descritas noQuadro 1.

Em Minas Gerais, o Mo é o micronutrien-te mais estudado na adubação do feijoeiro.Ele é constituinte de enzimas catalisadoras,entre as quais a redutase do nitrato e a ni-trogenase, estando, dessa forma, associado

Page 65: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 6 1 - 7 2 , 2 0 0 4

63Feijão d e a lta p rodutividade

ao metabolismo do nitrogênio. Em virtudedessa relação com a nutrição nitrogenada,os sintomas de deficiência são iguais aosdo N. O Mo tem sido empregado com gran-de freqüência e sucesso na adubação dofeijoeiro na Zona da Mata de Minas Gerais(VIEIRA et al., 1992; AMANE et al., 1994;FERREIRA et al., 2003) e no Sul de Minas(ANDRADE et al., 1996; RODRIGUES etal., 1996), proporcionando expressivos ga-nhos de rendimento.

A grande exportação de nutrientes pormeio dos grãos, a intensificação da explo-ração das áreas agricultáveis e a ausênciade adubação de manutenção com micronu-trientes têm, gradativamente, reduzido asreservas naturais desses nutrientes no solo,afetando a capacidade produtiva de algu-mas culturas.

Maiores informações sobre os fatoresque afetam a disponibilidade dos micro-nutrientes podem ser obtidas em Ferreira eCruz (1991).

CALAGEM

A maioria dos solos de Minas Geraisapresenta elevada acidez, altos teores dealumínio trocável e deficiência de nutri-entes.

O pH do solo que oferece as melhorescondições para o desenvolvimento do fei-joeiro situa-se em torno de 6,0. A calagemdiminui a concentração do alumínio e domanganês, que podem ocasionar toxidezàs plantas, aumenta a disponibilidade dosmacronutrientes e do Mo, fornece Ca e Mgao solo e aumenta a capacidade de trocacatiônica. É muito conhecida a interaçãopositiva entre a adubação fosfatada e a ca-lagem, pois, com o aumento do pH, há maiordisponibilidade de P e melhor aproveita-mento do adubo fosfatado (ROSOLEM,1996).

Os pontos importantes para aumentara eficiência do calcário no solo são os se-guintes:

a) na escolha do corretivo deve-se darprioridade aos calcários dolomíticoe magnesiano, quando o solo for de-ficiente em Mg. A relação Ca:Mg docorretivo, às vezes, é mais importan-te do que a quantidade de corretivoa ser aplicada ao solo. Quando essarelação no solo é estreita, o calcáriocalcítico deve ser recomendado. Mes-mo que o solo esteja com boa relaçãoCa:Mg (próximo de 5:1), pode-seusar o calcário calcítico, desde que

o Mg seja suprido por outra fon-te, como o sulfato e o carbonato demagnésio, ou o óxido de magnésio;

b) a distribuição do calcário deverá serfeita de maneira uniforme, atingindotodo o terreno a ser cultivado, pre-ferencialmente até 60 dias antes doplantio, e sua incorporação ao solorealizada logo a seguir por intermé-dio da aração e da gradagem;

c) caberá ao técnico definir a escolhado calcário a ser aplicado entre asvárias alternativas existentes, deacordo com o poder relativo de neu-tralização total (PRNT) do calcário,com a sua composição, principal-mente quando o teor de Mg no solofor menor que 0,45 cmolc/dm3 e como preço por tonelada efetiva do cor-retivo, considerando-se os custosde transporte e aplicação.

Em Minas Gerais, um dos métodosutilizados na determinação da necessidadede calagem é o “Método da neutralizaçãoda acidez trocável e da elevação dos teoresde Ca e de Mg trocáveis”. A fórmula usadapara estimar a quantidade de calcário a seraplicada é:

FONTE: Dados básicos: Ferreira e Cruz (1991), Oliveira et al. (1996) e Vieira (1998a).

QUADRO 1 - Condições do solo que favorecem a deficiência de micronutrientes

Condições

Fe Calagem excessiva, solos alcalinos, solos arenosos, solos ácidos com níveis excessivamente elevados de Mn solúvel, Zn e Cu, solos

orgânicos e turfosos.

Cu Solos ácidos e ricos em matéria orgânica, calagem excessiva, solos muito cultivados, solos formados de material de origem pobre em

Cu.

Zn Solos com pH elevado ou calagem excessiva, solos mal drenados ou com arejamento insuficiente, solos formados com material de

origem pobre em Zn, solos com alta capacidade de fixação de micronutrientes, ricos em matéria orgânica ou que receberam altas

doses de adubo fosfatado.

Mn Solos alcalinos, solos arenosos ou originados de rochas pobres em Mn.

B Solos pobres em matéria orgânica, solos originados de material pobre em B, solos leves ou arenosos, solos alcalinos, solos turfosos

ou orgânicos.

Mo Solos ácidos, arenosos ou muito cultivados.

Nutriente

Page 66: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 6 1 - 7 2 , 2 0 0 4

64 Feijão d e a lta p rodutividade

em que:

NC = necessidade de calagem, ou seja, quantidade de CaCO3 ou calcário, em toneladas,com PRNT = 100%, a ser incorporado por hectare, na camada de 0 a 20 cm deprofundidade;

Y = valor variável na dependência da capacidade tampão da acidez do solo (CTH) eque pode ser definido por interpolação, de acordo com a textura do solo (Qua-dro 2) ou com o valor de fósforo remanescente (P-rem) (Quadro 3);

Al3+ = acidez trocável, em cmolc/dm3;

mt = máxima saturação por Al3+ tolerada pelo feijoeiro (valor tabelado = 20%);

t = capacidade de troca catiônica (CTC) efetiva, em cmolc/dm3;

X = valor referente ao requerimento de Ca e de Mg pelo feijoeiro (valor tabelado =2 cmolc/dm3);

Ca2+ + Mg2+ = teores de Ca e de Mg trocáveis no solo, em cmolc/dm3.

A calagem excessiva ou supercalagemdeve ser evitada, para isso, é preciso seguiras orientações técnicas com base na aná-lise de solo. A calagem em excesso é muitodifícil de ser corrigida, sendo tão prejudi-cial quanto a acidez elevada, além de redu-zir a disponibilidade do P e a dos micronu-trientes, exceto a do Mo.

RECOMENDAÇÃO DEADUBAÇÃO

A adubação do feijoeiro é prática indis-pensável para a obtenção de maiores pro-dutividades. Porém, não é correto o pro-cedimento de generalizar os critérios derecomendações de adubação, devido àcomplexidade de fatores inerentes a essaprática e às peculiaridades de solo, de climae dos aspectos socioeconômicos de cadaregião.

Na prática da adubação, devem-se con-siderar quais nutrientes serão aplicados,quais as doses, quando adubar e como apli-car. Rotineiramente, os produtores que vi-sam grandes produtividades realizam asadubações, às vezes, até em excesso. A uti-lização de critérios de interpretação de aná-lises de solo e de folha é premissa básicaao manejo preciso da adubação, pois reduzas possibilidades de acidificação do solo,de eutroficação das águas e de contamina-ção do lençol freático, aumenta a produ-tividade das culturas, a qualidade dos ali-mentos e a lucratividade da atividade agrí-cola.

Em Minas Gerais, as recomendações deadubação para o feijoeiro foram desenvol-vidas com base em informações obtidas emexperimentos de campo em várias regiõesagroecológicas do Estado, sendo apresen-tadas pela Comissão de Fertilidade do Solodo Estado de Minas Gerais (RIBEIRO etal., 1999). As recomendações de adubaçãotambém consideram a extração e a expor-tação de nutrientes, diretamente afetadaspelos níveis de tecnologia e produtividadeesperada.

Uma das primeiras etapas para a reco-mendação de adubação é a avaliação dafertilidade do solo, conhecida por meio de

NC = Y . [Al3+ - (mt . ) ] + [ X - (Ca2+ + Mg2+) ]t100

QUADRO 2 - Valores de Y de acordo com a tex-tura do solo

Y

Arenoso 0 a 15 0,0 a 1,0

Textura média 15 a 35 1,0 a 2,0

Argiloso 35 a 60 2,0 a 3,0

Muito argiloso 60 a 100 3,0 a 4,0

Textura do soloArgila(%)

FONTE: Alvarez V. e Ribeiro (1999).

FONTE: Alvarez V. e Ribeiro (1999).

NOTA: P-remanescente = concentração de fós-

foro na solução de equilíbrio após agitar,

durante 1 hora, a TFSA com solução

de CaCl2 10 mmol/L, contendo 60 mg/L

de P, na relação 1:10.

QUADRO 3 - Valores de Y de acordo com o va-lor de fósforo remanescente

(P-rem)

Y

0 a 4 4,0 a 3,5

4 a 10 3,5 a 2,9

10 a 19 2,9 a 2,0

19 a 30 2,0 a 1,2

30 a 44 1,2 a 0,5

44 a 60 0,5 a 0,0

P-remanescente(mg/L)

Outro método muito empregado nocálculo da quantidade de calcário a ser apli-cada é o “Método da saturação por bases”,que considera a relação existente entreo pH e a saturação por bases (V). A fór-mula é:

em que:

NC = necessidade de calagem, em t/ha;

T = CTC a pH 7 = Ca + Mg + K + H + Al,em cmolc/dm3;

V1 = saturação por bases atual no so-

lo

V2 = saturação por bases desejada parao feijoeiro = 50% (ALVAREZ V.;RIBEIRO, 1999).

O calcário a ser aplicado para o posteriorcultivo do feijão deve ser incorporado até20 cm. A quantidade de calcário a ser real-mente usada (QC) em 1 hectare dependedessa profundidade de incorporação ao so-lo (P em cm) e do PRNT do calcário. Assim,temos:

NC =T (V2 - V1)

100

=100 (Ca + Mg + K)

T

QC = NC x xP20

100PRNT

Page 67: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 6 1 - 7 2 , 2 0 0 4

65Feijão d e a lta p rodutividade

possível aumentar o número de vagens porplanta (ROSOLEM, 1996).

Com a utilização de doses elevadas deadubo nitrogenado em cobertura, há neces-sidade do parcelamento, geralmente reali-zado aos 20 e aos 30 DAE, para melhorar aeficiência da fertilização. A incorporaçãodo adubo nitrogenado aplicado em cober-tura deve ser realizada imediatamente apósa fertilização, evitando sua exposição e vo-latilização de amônia, principalmente se oadubo for a uréia. Quando a uréia é aplicadana superfície do solo, principalmente combaixa umidade, ou sobre restos culturais,pode haver perda de até 54% do N (LARACABEZAS et al., 2000). Sua incorporaçãoà profundidade de 5 a 8 cm reduz as perdasa valores desprezíveis. A própria irrigaçãopode ser utilizada para incorporar o fertili-zante ao solo, principalmente no plantiodireto. Muitos produtores que optam porduas adubações de cobertura usam o sul-fato de amônio na primeira, o qual dispo-nibiliza também o enxofre e, na segunda,empregam a uréia.

A necessidade de N pelo feijão deoutono-inverno é maior que a do planta-do nas épocas tradicionais, principalmenteem solo onde se incorporou a palhada demilho colhido anteriormente. A incorpo-ração ao solo de restos vegetais com altarelação C:N, geralmente demanda que aprimeira adubação nitrogenada em cober-tura seja realizada mais cedo. Em algunscasos de severas condições de deficiênciade N, a aplicação do adubo deve ser feitano máximo até os 15 DAE, porque parte doN mineral do solo e do adubo usado noplantio é imobilizada pelos microrganismospara decompor os resíduos vegetais. Pelamesma razão, no plantio direto pode havermaior demanda de N nos primeiros anos,requerendo doses maiores do nutriente.

O grande investimento na produçãodo feijão e a necessidade de obtenção dealtas produtividades para cobrir os custose auferir retorno financeiro têm levado mui-tos agricultores à aplicação de doses mui-to elevadas de fertilizantes nitrogenados.

FONTE: Dados básicos: Ribeiro et al. (1999).

(1) a) Calagem, adubação, sementes fiscalizadas, 220 mil a 240 mil plantas/ha, controle fitossanitá-

rio, tratamento de sementes, herbicidas, irrigação. Produtividade esperada de 1.800 a 2.500 kg/ha;

b) nível tecnológico A, apenas com maiores doses de adubos. Produtividade esperada maior que

2.500 kg/ha. (2) Aplicado no plantio, junto ao fósforo e ao potássio. (3) Classes de interpretação da

disponibilidade de P e K (Quadro 5). (4) A adubação nitrogenada de cobertura deve ser parcelada,

com aplicação aos 20 e aos 30 dias após a emergência.

A 30 90 70 50 40 30 20 40

B 40 110 90 70 50 40 20 60

QUADRO 4 - Recomendação de adubação com macronutrientes, em kg/ha, para dois níveis tecno-

lógicos de produção de feijão - Minas Gerais

Dose de K2O

(1)Nível

Tecnológico

(2)Nno

plantio

(3)Teor de P no solo (3)Teor de K no solo(4)N

emcobertura

Baixo Médio Alto Baixo Médio Alto

Dose de P2O5

análises químicas. Algumas normas devemser seguidas para evitar equívocos e nãocomprometer a representatividade do soloamostrado, como: a área deve ser divididaem várias glebas homogêneas, de acordocom o histórico de uso, cor, textura, topo-grafia, condições de drenagem, aspectosda vegetação ou plantas daninhas; a pro-fundidade deve ser até 20 cm, podendo,ao longo dos anos, amostrar também nacamada de 20-40 para monitorar e corrigirpossíveis deficiências subsuperficiais; onúmero de amostras simples deve ser de20 a 30, em cada gleba, para depois retirar aamostra composta.

A recomendação da adubação de ma-nutenção (Quadro 4) tem como instrumen-tos referenciais as análises de solo (Qua-dro 5), para o fósforo e o potássio, e osníveis de tecnologia empregados.

Adubação nitrogenada

Para altas produtividades, quantidadessuperiores a 100 kg/ha de N são absorvi-das pelos feijoeiros. Parte do N absorvidopela cultura pode vir da mineralização damatéria orgânica do solo ou da FBN. Pa-ra produtividade inferior a 1.300 kg/ha, aprática de inoculação das sementes comRhizobium é promissora, principalmenteem solo ainda não cultivado com feijão, me-

lhorando o estado nutricional nitrogenadoe o rendimento da cultura. Entretanto, paraa obtenção de alta produtividade, a FBNpode não ser suficiente, pois as bactériasinoculadas não são eficientes em competircom as estirpes nativas do solo pelos sítiosde nodulação radicular. Além disso, a apli-cação de altas doses de adubo nitrogenadono plantio e em cobertura inibe a nodulaçãoe também diminui a eficiência das bactériasno processo de FBN.

A recomendação de adubos nitroge-nados no plantio e em cobertura, para amaioria das culturas, não segue norma con-sensual, não havendo métodos de orien-tação ou análise que sirvam de referênciaaos agricultores para a safra em curso. Asanálises de rotina de amostras de solo, parafins de recomendação, não incluem o N.Assim, a recomendação de adubação nitro-genada para o feijoeiro (Quadro 4) é feitacom base em resultados obtidos em experi-mentos regionais nas diversas condiçõesde solo, clima e sistemas de cultivo, de mo-do que os resultados de um local não po-dem ser extrapolados para outro.

Parte do adubo nitrogenado deve seraplicada no sulco de plantio e o restanteda dose parcelada até o início do flores-cimento, de forma que propicie uma boanutrição da planta na época em que ainda é

Page 68: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 6 1 - 7 2 , 2 0 0 4

66 Feijão d e a lta p rodutividade

Entretanto, o produtor tem que consideraros aspectos econômicos e ambientais dafertilização nitrogenada e adubar criteriosa-mente para coexistir produtividade, renta-bilidade e sustentabilidade.

Caso o produtor realize adubação ver-de com leguminosas, a dose de N pode serreduzida, dependendo da quantidade demassa incorporada e da sua relação C:N(ROSOLEM, 1996).

A adubação nitrogenada no plantioquase sempre é feita com adubos formu-lados NPK. Esses fertilizantes geralmenteapresentam alta concentração de nutrien-tes, o que é vantajoso quanto ao transporte,armazenamento e aplicação. Porém, muitasvezes são pobres em macronutrientes se-cundários. Entre os principais formuladosNPK estão: 04-14-8; 08-28-16; 08-24-16;

08-24-12, 06-24-12, 08-20-20, 08-24-20,05-25-15 e 04-30-16.

Os principais fertilizantes nitrogenadosutilizados em cobertura são a uréia (45%de N) e o sulfato de amônio (20% de N e24% de S). A pesquisa tem mostrado quenão há diferenças entre a uréia fertilizan-te e o sulfato de amônio como fontes de Npara o cultivo do feijoeiro irrigado.

Adubação fosfatada

Em Minas Gerais existem enormes áreasde solos de cerrado que apresentam gran-de potencial agrícola. Entretanto, a acidezelevada, a presença de alumínio trocável eo baixo teor de P disponível no solo limitamo cultivo de feijão, caso não sejam adota-das medidas corretivas.

A recomendação de adubação fosfa-

tada (Quadro 4) está diretamente relaciona-da com a concentração de fósforo no soloe com o teor de argila ou P-remanescente(Quadro 5). Devido às características doíon P2O5 e do solo, todo adubo fosfata-do deve ser localizado no sulco de plantio.Os fosfatos solúveis têm sido os mais indi-cados. Os adubos fosfatados mais utiliza-dos são o superfosfato simples (18% deP2O5, 12% de S e 20% de Ca), o superfos-fato triplo (41% de P2O5 e 14% de Ca), ofosfato monoamônico (MAP) (48% de P2O5

e 9% de N), o fosfato diamônico (DAP) (45%de P2O5 e 16% de N) e os formulados NPKdescritos anteriormente para a adubaçãonitrogenada.

Adubação potássica

Os solos brasileiros, principalmente osde cerrado, apresentam baixa CTC e altograu de intemperização, tendo baixos teo-res de K na sua composição. O potássioé um dos nutrientes mais absorvidos pe-lo feijoeiro, sendo encontrado em gran-de quantidade na planta. A adubação po-tássica objetiva, principalmente, repor onutriente exportado pelas sementes, que,em caso de rendimento da ordem de 3 milkg/ha, atinge cerca de 50 kg/ha (VIEIRA,1998a). O uso intensivo do solo ao longodos anos e as perdas de K por lixiviação,sobretudo com a irrigação em áreas comsolo de textura média ou arenosa, aos pou-cos podem exaurir as reservas naturais depotássio. A recomendação da adubaçãopotássica (Quadro 4) é feita de acordo coma análise de solo (Quadro 5).

Se o produtor for usar dose de K2Oacima de 50 kg/ha, esta deve ser parcela-da, colocando-se no máximo 50 kg/ha noplantio e o restante em cobertura, junto coma primeira cobertura nitrogenada, pois opotássio é facilmente lixiviado e os adubospotássicos apresentam alto poder de sali-nização. O adubo fonte de K mais utiliza-do em cobertura é o cloreto de potássio(58% de K2O). No plantio, basicamenteempregam-se os formulados NPK, confor-me descritos anteriormente.

> 60 ≤ 5,4 5,5 a 8 > 8

35 - 60 ≤ 8 8,1 a 12 > 12

15 - 35 ≤ 12 12,1 a 20 > 20

< 15 ≤ 20 20,1 a 30 > 30

(3)P-rem (mg/L)

0 - 4 ≤ 4,3 4,4 a 6 > 6

4 - 10 ≤ 6 6,1 a 8,3 > 8,3

10 - 19 ≤ 8,3 8,4 a 11,4 > 11,4

19 - 30 ≤ 11,4 11,5 a 15,8 > 15,8

30 - 44 ≤ 15,8 15,9 a 21,8 > 21,8

44 - 60 ≤ 21,8 21,9 a 30 > 30

≤ 40 41 a 70 > 70

QUADRO 5 - Teores de P e K no solo e sua classificação

(2)Fósforo disponível

Característica

(1)Teor (mg/dm3)

Baixo Médio Alto ou bom

Argila (%)

(2)Potássio disponível

FONTE: Ribeiro et al. (1999).

(1) O limite superior desta classe indica o nível crítico. (2) Método Mehlich-1. (3) P-remanescen-

te = concentração de fósforo na solução de equilíbrio após agitar, durante 1 hora, a TFSA com

solução de CaCl2 10 mmol/L, contendo 60 mg/L de P, na relação 1:10.

Page 69: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 6 1 - 7 2 , 2 0 0 4

67Feijão d e a lta p rodutividade

Adubação com osmacronutrientes cálcio,magnésio e enxofre

O fornecimento de cálcio e magnésioao feijoeiro geralmente ocorre por meio daaplicação do calcário. Na adubação comenxofre, as melhores respostas do feijoeirotêm ocorrido em solos arenosos, com baixoteor de matéria orgânica, ou em solos cul-tivados durante muito tempo com o empre-go de adubos concentrados. O S acumula,em boa proporção, nas sementes. De modogeral, a fertilização com S é feita por meioda aplicação de adubos que contêm o S emsua fórmula, como sulfato de amônio (24%de S) e superfosfato simples (12% de S).Quando não se usa nenhum adubo con-tendo esse nutriente, pode-se fornecê-loatravés do gesso agrícola (18% de S) oupelo S elementar (100% de S).

Em solos com baixos teores de Mg e/ouS, recomenda-se aplicar 20 kg/ha de cadaum desses nutrientes, no sulco de plantio(RIBEIRO et al., 1999).

Recomendações gerais

Algumas considerações são necessá-rias para a correta disposição dos adubosno solo:

a) as sementes não podem ficar em con-tato direto com os adubos, princi-palmente os nitratos, cloretos e sul-fatos, para evitar danos às sementese raízes. A má colocação do adubono solo pode reduzir-lhe o efeito oumesmo anulá-lo. Na cultura do feijão,recomenda-se colocar os adubos nu-ma faixa lateral, 2,5 a 4 cm afastadosdo sulco de plantio e 4 a 5 cm abaixodo nível das sementes, mas, em adu-bações com emprego de altas doses,é conveniente afastá-los de 5 a 7 cm(VIEIRA, 1998a);

b) a incorporação da uréia deve ser rea-lizada imediatamente após a sua apli-cação em cobertura, evitando comisso sua exposição e volatilização.As perdas de N ocorrem, principal-mente, em clima quente ou seco. Nas

lavouras irrigadas por aspersão,pode-se incorporar o adubo com aágua de irrigação, inclusive no plan-tio direto;

c) a maioria dos fertilizantes comerciaisusados nos trópicos, entre os quaisos sulfatos, nitratos e cloretos, cau-sa acidez, e sua aplicação contínuaem altas doses requer o acompanha-mento das condições químicas dosolo para eventuais aplicações decalcário.

A aplicação via foliar de macronutrien-tes geralmente não é recomendada, porquea quantidade de nutriente aplicada é mui-to pequena, comparada com a necessida-de da planta nos seus vários estádios decrescimento (THUNG; OLIVEIRA, 1998).

Adubação com micronutrientes

Nas adubações, em geral, tem-se dadopouca importância aos micronutrientes.Poucos trabalhos têm estudado o efeitodos micronutrientes na cultura do feijãoem Minas Gerais. A maioria dos existentesenvolve o molibdênio, o zinco e o boro.

Às vezes pode ocorrer deficiência dealgum micronutriente e resultar na reduçãoda produtividade, mas a planta não exibe osintoma de insuficiência. Esse fenômeno échamado “fome oculta”.

A necessidade de fertilização com mi-cronutrientes está relacionada com a carên-cia de cada nutriente e com as particula-ridades do solo, principalmente com relaçãoao pH. Entre os micronutrientes, o molibdê-nio é o que tem proporcionado os melho-res resultados no rendimento da cultura(VIEIRA et al., 1992; RODRIGUES et al.,1996; BERGER et al., 1996). A calagem porsi só pode, às vezes, disponibilizar o Monecessário ao feijoeiro. Entretanto, em solosformados por material de origem pobre emMo, ou muito cultivados, a deficiência de-ve ser corrigida com as adubações de ma-nutenção. Os principais adubos fontes deMo são o molibdato de sódio (39% de Mo),o molibdato de amônio (54% de Mo) e otrióxido de molibdênio (66% de Mo). Osdois primeiros são os mais comuns no mer-

cado, mas em várias cidades mineiras nãosão encontrados no comércio.

A pulverização foliar é a forma de apli-cação mais eficiente do Mo, sendo reco-mendada a dose de 60 g/ha (RIBEIRO etal., 1999). Recentemente, bons resultadosforam obtidos na Zona da Mata de MinasGerais, com o uso de doses mais elevadasde Mo, entre 80 e 90 g/ha (BERGER et al.,1996; PESSOA et al., 2000; FERREIRA etal., 2003). A melhor época de aplicação porintermédio da pulverização foliar é entre 14e 28 dias após a emergência das plantas(BERGER et al., 1996). O adubo molíbdicopouco influencia o custo de produção, umavez que a quantidade do fertilizante é mui-to pequena e a sua aplicação pode ser feitajunto à aplicação de defensivos, como her-bicidas pós-emergentes (SILVA et al., 1999;ARAÚJO et al., 2002) inseticidas e fungi-cidas (SILVA et al., 1999), não gerando des-pesa extra com a operação de aplicação doadubo.

Por intermédio do histórico da área,quando forem constatadas deficiênciasde boro e/ou zinco, deve-se aplicar 1 kg/hade B e 2 a 4 kg/ha de Zn, no sulco de plan-tio.

Muitos produtores utilizam, freqüen-temente, micronutrientes por meio do em-prego de Fritted Trace Elements (FTE) nasformulações BR-12 ou BR-15, na dose de30 a 50 kg/ha, no sulco de plantio. Tam-bém é crescente a adoção da pulveriza-ção com micronutrientes nas folhas. Váriosadubos são fontes de micronutrientes epodem ser usados em aplicações foliares(Quadro 6).

Alguns produtores têm seguido a orien-tação da assistência técnica e utilizadocobalto (Co) no cultivo de feijão, aplicando-o junto às sementes ou por via foliar. O co-balto é indispensável para a produção dofeijoeiro, quando a necessidade em nitro-gênio está sendo suprida por meio da asso-ciação simbiótica feijoeiro-bactéria, pois oelemento é essencial ao Rhizobium para oprocesso de FBN.

A questão do fornecimento de micro-nutrientes à cultura do feijão ainda deman-

Page 70: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 6 1 - 7 2 , 2 0 0 4

68 Feijão d e a lta p rodutividade

da muitos estudos, pois há muitas áreasnão estudadas e diversos pontos a seremesclarecidos.

Fertirrigação

A fertirrigação é a técnica de aplicaçãode fertilizantes químicos nas lavouras, uti-lizando a água de irrigação como veículo.Ela é usada para complementar a adubaçãode plantio, cujo efeito diminui com o desen-volvimento da planta (VIEIRA; RAMOS,1999).

Os nutrientes aplicados na fertirriga-ção devem ser móveis no solo, como o N, oS, o K, o Mg e o B, para serem incorpora-dos com a água. Os mais empregados sãoo N e o K.

A fertirrigação do feijoeiro por meio depivô central ou aspersão convencional temsido empregada, embora alguns produtoresnão a adotem alegando problemas decorrosão no equipamento de irrigação, oque pode ser reduzido com a utilização deuréia como fonte de adubo nitrogenado.

As principais vantagens e desvanta-gens do sistema, de acordo com Vieira(1998b) e Vieira e Ramos (1999), são:

Vantagens:

a) reduz a volatilização, que é a principallimitação do uso da uréia nos méto-dos convencionais;

b) evita-se a movimentação de máqui-nas na lavoura para a distribuiçãodo fertilizante. Conseqüentemente,não ocorre compactação do solo edanos ao feijoeiro;

c) possibilita a aplicação em qualquerépoca e estádio de desenvolvimentodo feijoeiro, permitindo mais parce-lamentos da adubação;

d) permite maior uniformidade de apli-cação em comparação aos métodosconvencionais;

e) reduz os custos de aplicação, po-dendo ser realizada simultaneamen-te com a aplicação de defensivos.

Desvantagens:

a) pode ocorrer corrosão de partes dosistema de irrigação;

b) impossibilita a localização do fertili-zante;

c) existe risco de contaminação do ambi-ente, se não forem adotadas medi-das de segurança e de adequaçãodos equipamentos de fertirrigação.

Segundo Vieira (1998b), não há dúvidasobre a eficiência da fertirrigação com N.Ela permite o uso de pequenas doses dessenutriente em várias aplicações, com pou-

co acréscimo de custo. Nas condições emque o feijão é cultivado em Minas Gerais,três fertirrigações com N são suficientes,considerando-se: o ciclo curto do feijoeiroe a exigência em N pela cultura; os solosgeralmente argilosos ou de textura mé-dia; as chuvas escassas durante o outono-inverno, conseqüentemente, reduzindo asperdas por escoamento superficial, lixivia-ção, erosão e denitrificação. A adubaçãocomplementar com P via fertirrigação, reali-zada com MAP ou DAP, é uma técnica duvi-dosa, principalmente em solos com elevadacapacidade de fixação do P.

Informações sobre equipamentos deinjeção dos fertilizantes na água de irriga-ção, calibração e manejo podem ser obtidasem Costa et al. (1994).

ADUBAÇÃO DO FEIJOEIRONO SISTEMADE PLANTIO DIRETO

O sistema de plantio direto (SPD) temparticipação fundamental no aumento daprodução e na manutenção da sustenta-bilidade do solo. A ausência do preparoconvencional e a formação de camada enri-quecida de resíduos orgânicos alteram adinâmica da matéria orgânica e a liberaçãode nutrientes no solo (SÁ, 1993), deman-dando estratégias diferentes de manejo dasadubações e da calagem, para garantir asustentabilidade do sistema.

Quando os solos apresentam fertilidadenatural muito baixa, é importante o seucultivo no sistema convencional por, pelomenos, dois anos, antes da adoção do SPD,de modo que haja a correção gradativa dassuas condições químicas. O êxito do SPDdepende, entre muitos fatores, da correçãoda acidez do solo e dos níveis de fertilida-de, principalmente de fósforo, até 30-40 cmde profundidade, antes da adoção do sis-tema (BALBINO et al., 1996; FREIRE et al.,2001). Após a correção do pH e do alumí-nio trocável do solo e posterior implantaçãodo SPD, deve-se realizar a calagem compequenas doses anuais, ao invés de altasdoses a cada três ou quatro anos, como

Zn Sulfato de zinco 23 2,5

Zn-EDTA 14 1,0

Cu Sulfato de cobre 25,5 2,0

Mn Sulfato de manganês 25 2,0

Fe Sulfato ferroso 20 0,6

Fe-EDTA 5 - 14 1,0

B Bórax 11 2,5

Ácido bórico 17 1,5

QUADRO 6 - Principais fertilizantes para fornecimento de micronutrientes e doses para adubação

por via foliar

(1)Concentraçãoda calda

FONTE: Dados básicos: Thung e Oliveira (1998) e Vieira e Ramos (1999).NOTA: EDTA – Ácido etilenodiaminotetraacético.(1) Dose (kg fertilizante/100 litros de água).

Nutriente FertilizanteTeor do nutriente

(%)

Page 71: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 6 1 - 7 2 , 2 0 0 4

69Feijão d e a lta p rodutividade

acontece no sistema convencional (LOPES,1999), e aplicar o calcário na superfície dosolo, não o incorporando (CAIRES et al.,2000).

O SPD apresenta maior eficiência deaproveitamento do P, devido ao não revol-vimento do solo, que reduz o contato entreo fertilizante fosfatado e as partículas dosolo. Ademais, a presença de resíduos ve-getais na superfície do solo propicia maiorumidade, o que facilita o processo de difu-são do P até as raízes (CAIRES, 2000).

No SPD, é importante manejar adequa-damente os níveis e a disposição do adubono solo. O acúmulo excessivo de nutri-entes na superfície do solo provoca ini-bição do desenvolvimento radicular dasplantas e restringe a expressão do potencialprodutivo do feijoeiro (KLUTHCOUSKI;AIDAR, 2002; KLUTHCOUSKI et al.,2002). As maiores concentrações dos saisnas camadas superficiais do solo podemser reduzidas com o uso de máquinas se-meadoras adaptadas com facas, as quaispossibilitam a incorporação mais profundado adubo.

Nos primeiros anos no SPD, há neces-sidade de maiores quantidades de nitro-gênio, devido ao acúmulo de matéria orgâ-nica, que gera perdas por imobilização, pordenitrificação e por lixiviação (TISDALEet al., 1993). Entretanto, com o decorrer dotempo e estabilização do sistema, ocorreequilíbrio no balanço de nitrogênio pro-duzido e consumido, desde que se faça ro-tação gramínea-leguminosa na seqüênciadas culturas (THUNG; OLIVEIRA, 1998).

A perda de N-NH3 é grande no SPD,quando a uréia é aplicada em cobertura nasuperfície do solo, mas ela pode ser reduzi-da com a incorporação do adubo por meioda irrigação após a adubação.

O acompanhamento das condições quí-micas e físicas do solo cultivado no SPDdeve ser constante, principalmente nosprimeiros anos de adoção do sistema, deforma que as informações obtidas subsi-diem a recomendação de fertilizantes e cor-retivos e garantam a sustentabilidade dosistema.

DIAGNÓSTICO DOESTADO NUTRICIONAL DOFEIJOEIRO

O monitoramento nutricional objetivao acompanhamento sistemático dos fatoresde produção que afetam a produtividadevegetal, com vistas a orientar o processode diagnose nutricional e de recomendaçãode nutrientes, em consonância com os prin-cípios da tecnologia de aplicação de do-se variável ou adaptada a cada ambiente,ou condição de cultivo, e com a necessida-de de otimizar os recursos de fertilizaçãoem função dos custos (FONTES, 2001).

Um dos principais métodos utilizadospara avaliar o estado nutricional do feijoei-ro é a diagnose foliar. A planta funcionacomo extrator do nutriente do solo e permi-te uma avaliação direta de seu estado nutri-cional, pois a folha é o centro das ativida-des fisiológicas e, antes do florescimento,é o principal local para onde os nutrientesabsorvidos pelas raízes são transportados.As concentrações dos nutrientes nos te-cidos vegetais são interpretadas, geralmen-te, por meio da comparação com valores-padrão preestabelecidos e fornecidos emtabelas, obtidos em plantas muito produ-tivas, preferencialmente da mesma varie-dade, e que tenham nos seus tecidos todosos elementos em quantidades e proporçõesadequadas, para determinada condiçãoedafoclimática.

Há interesse crescente pelo uso dadiagnose foliar, principalmente na agricul-tura empresarial, em que os riscos devemser minimizados para garantir o retorno aosinvestimentos aplicados na produção.

A análise foliar deve ser complementarà análise de solo, garantindo uma avaliaçãomais eficiente e indicando ou não a neces-sidade de alteração dos programas de adu-bação.

O sucesso da análise foliar na avaliaçãodo estado nutricional da planta envolveuma série de procedimentos de amostra-gem no campo e de análise no laboratório.Na etapa de amostragem, algumas reco-mendações devem ser seguidas para nãomascarar os resultados: não amostrar fo-

lhas próximas ao solo ou cobertas compoeira, danificadas por insetos, injuriadasmecanicamente ou com sintomas de doen-ças. Folhas sujas de poeira, terra, resíduosde adubos ou outros possíveis contami-nantes devem ser lavadas e depois coloca-das sobre papel absorvente para retirar oexcesso de umidade; não amostrar em áreascom alta umidade e plantas com estressepor alta temperatura; não colocar amostrasem saco plástico, porque as folhas túrgi-das deterioram-se rapidamente (THUNG;OLIVEIRA, 1998); as folhas devem ser co-locadas em saco de papel ou de pano, comidentificação e encaminhado rapidamenteao laboratório para análise; as folhas devemser amostradas até o estádio de pleno flo-rescimento, porque a partir deste a plantacomeça a mobilizar os nutrientes para osórgãos reprodutivos, havendo diminuiçãosignificativa da concentração de nutrientesnos tecidos foliares. Na amostragem foliar,recomenda-se coletar 30-40 folhas trifolio-ladas do terço mediano da planta, no flores-cimento (ROSOLEM; MARUBAYASHI,1994; MARTINEZ et al., 1999).

De posse do resultado da análise foliar,as decisões só poderão ser implementadasno cultivo posterior, pois, com o ciclo curtodo feijoeiro e o tempo gasto entre a tomadadas amostras e a obtenção dos resultados,a planta atinge um estádio de desenvolvi-mento em que não mais responde à adu-bação de correção.

Na interpretação dos resultados daanálise foliar podem ser utilizados diferen-tes métodos, como nível crítico (NC), fai-xa de suficiência (FS) e Diagnose andRecommendations I ntegrated Sy stem(DRIS).

O NC (Quadro 7) é a faixa de concentra-ção do nutriente no tecido vegetal, abaixoda qual a planta apresenta carência nutri-cional e acima pode ocorrer toxicidade.Quando o teor do nutriente encontra-se naFS (Quadro 7) indica que a cultura estáadequadamente nutrida. Abaixo dessa con-centração pode haver deficiência nutri-cional e acima pode ocorrer desequilíbrionutricional ou toxidez, comprometendo a

Page 72: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 6 1 - 7 2 , 2 0 0 4

70 Feijão d e a lta p rodutividade

REFERÊNCIAS

ALVAREZ V., V.H.; RIBEIRO, A.C. Calagem. In:RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZV., V.H. (Ed.) Recomendação para o uso decorretivos e fertilizantes em Minas Gerais :5a aproximação. Viçosa, MG: Comissão de Ferti-lidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999.p.43-60.

AMANE, M.I.V.; VIEIRA, C.; CARDOSO. A.A.;ARAÚJO, G.A. de A. Resposta de cultivares defeijão (Phaseolus vulgaris L.) às adubações nitro-genada e molíbdica. Revista Ceres, Viçosa, MG,v.41, n.234, p.202-216, mar./abr. 1994.

ANDRADE, M.J.B. de; ALVARENGA, P.E. de;SILVA, R. da; CARVALHO, J.G. de; LUNKES,J.A. Resposta do feijoeiro (Phaseolus vulgarisL.) às adubações nitrogenada e molíbdica e àinoculação com Rhizobium leguminosarum bv.phaseoli. In: REUNIÃO NACIONAL DE PES-QUISA DE FEIJÃO, 5., 1996, Goiânia. Anais...Goiânia: EMBRAPA-CNPAF, 1996. p.79-81.(EMBRAPA-CNPAF. Documentos, 69).

produtividade do feijoeiro. A toxidez nu-tricional é observada especialmente paraos micronutrientes. Ela está associada aaltas doses de fertilizantes (minerais, orgâ-nicos, resíduos industriais), solos com bai-xo pH (Fe, Cu, Zn e Mn), solos com materialde origem rico no elemento e espécie, oucultivar com alta capacidade de absorção etranslocação do nutriente.

Na interpretação por meio do NC e daFS (Quadro 7), considera-se que a concen-tração de um nutriente independe da dosdemais (MALAVOLTA et al., 1997), nãolevando em consideração as relações eas interações entre os nutrientes e a não-definição daqueles que mais limitam a pro-dutividade da cultura. Quando o feijoeirotem grande crescimento vegetativo, causa-do por excesso de nitrogênio, por exemplo,pode ocorrer efeito de diluição, o que re-sulta em baixo teor total dos nutrientes.

O método do DRIS permite identificar aordem de limitação nutricional, agrupandoos nutrientes desde o mais limitante pordeficiência até aquele que está em nívelexcessivo, não indicando se determinadonutriente encontra-se em níveis de carênciaou toxidez (MARTINS et al., 1999). Por estemétodo, identifica-se o balanço dos nutri-entes e determina-se se o crescimento daplanta está sujeito à limitação de naturezanutricional ou não-nutricional (BATAGLIAet al., 1996). No DRIS, o uso das relaçõestem sido indicado para sobrepujar as limita-

ções impostas pelos efeitos de diluição ede concentração.

No Brasil, o DRIS ainda não foi inten-samente testado quanto à utilidade, à pre-cisão, à facilidade de uso, dentre outrosatributos, na cultura do feijoeiro, devido anão-familiaridade e à falta de dados de cam-po sobre calibração e correção do método.O uso do método limita-se apenas a algu-mas culturas, como citros, café, milho, algo-dão, soja e eucalipto. Wortmann et al. (1992)modificaram o DRIS para utilizá-lo no fei-joeiro, mas o sistema precisa ser testadonas condições brasileiras.

Um método que vem sendo utilizadona cultura da soja é o Plant Analysis withStandardized Scores (PASS) - análises deplantas com valores padronizados, queassocia os pontos positivos do DRIS e dafaixa de suficiência. Entretanto, esse mé-todo foi pouco estudado quanto à pratici-dade e precisão, não sendo ainda utilizadono feijão.

O uso de medidores portáteis de cloro-fila (clorofilômetro) tem agilizado o diagnós-tico do estado nutricional nitrogenado dasplantas, sendo empregado com grande su-cesso nas culturas do milho, arroz, trigo,algodão, batata, e outras. O aparelho deter-mina a intensidade de cor verde das folhase a leitura correlaciona-se muito bem com aprodutividade e com os teores de clorofi-la e de nitrogênio da planta. No feijoeiro, oclorofilômetro Minolta SPAD-502 foi usado

com êxito na estimativa da concentraçãode N nas folhas do feijoeiro (STONE et al.,2002) e na orientação para a recomendaçãoda adubação nitrogenada (SILVEIRA et al.,2002). A técnica parece ser promissora edeve ser aperfeiçoada. Novos trabalhossão necessários para maximizar a eficiên-cia do manejo da adubação nitrogenadana cultura do feijoeiro, aperfeiçoando o usodo clorofilômetro diante das diversassituações edafoclimáticas e variedades cul-tivadas, objetivando o diagnóstico do esta-do nutricional nitrogenado o mais cedopossível, de modo que possibilite a corre-ção de possíveis deficiências durante asafra em curso.

A avaliação do diagnóstico deve serrealizada pelo produtor para acompanhare verificar sua exatidão. Os extensionis-tas e os agricultores devem ser informadosdas possibilidades e limitações das apro-ximações da diagnose foliar e do seu carátercomplementar à análise de solo. A decisãode adubar deve ser tomada de modo que arecomendação realizada gere ganho de pro-dutividade compatível com os gastos deadubação.

N 3,00 - 3,50 B 100 - 150

P 0,40 - 0,70 Cu 8 - 10

K 2,70 - 3,50 Fe 300 - 500

Ca 2,50 - 3,50 Mn 200 - 300

Mg 0,30 - 0,60 Zn 45 - 55

S 0,15 - 0,20 (2)Mo (A)1 - 5

QUADRO 7 - Faixa de suficiência (FS), de macro e micronutrientes para a interpretação dos re-

sultados de análise da matéria seca de folhas do feijoeiro

(1)FS

(mg/kg)

FONTE: Dados básicos: Martinez et al. (1999) e (A) Hall e Schwartz (1993).(1) Menor e maior concentrações correspondem aos níveis críticos inferior e superior, respecti-vamente. (2) Método do iodeto de potássio (EIVAZI et al., 1982 apud PESSOA, 1998).

Nutriente(1)FS

(dag/kg)Nutriente

Page 73: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 6 1 - 7 2 , 2 0 0 4

71Feijão d e a lta p rodutividade

ARAÚJO, G.A. de A.; THOMAS, A.; SILVA, A.A.da; CARDOSO, A.A.; TEIXEIRA, A.R. Misturade herbicidas com adubo molíbdico na cultura dofeijão (Phaseolus v ulgaris). In: CONGRESSONACIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 7.,2002, Viçosa, MG. Resumos expandidos...Viçosa, MG: UFV, 2002. p.458-460.

BALBINO, L.C.; MOREIRA, J.A.A.; SILVA, J.G.da; OLIVEIRA, E.F. de; OLIVEIRA, I.P. de. Plantiodireto. In: ARAÚJO, R.S.; RAVA, C.A.; STONE,L.F.; ZIMMERMANN, M.J. de O. (Coord.).Cultura do feijoeiro comum no Brasil . Pira-cicaba: POTAFOS, 1996. p.301-352.

BATAGLIA, O.C.; DECHEN, A.R.; SANTOS,W.R. Princípios da diagnose foliar. In: ALVAREZ,V.H.; FONTES, L.E.F.; FONTES, M.P.F. O solonos grandes domínios morfoclimáticos doBrasil e o desenvolvimento sustentado. Vi-çosa, MG: SBCS/UFV, 1996. p.647-660.

BERGER, P.G.; VIEIRA, C.; ARAÚJO, G.A. deA. Efeitos de doses e épocas de aplicação de molib-dênio sobre a cultura do feijão. Pesquisa Agro-pecuária Brasileira , Brasília, v.31, n.7, p.473-480, jul. 1996.

CAIRES, E.F. Manejo da fertilidade do solo nosistema de plantio direto: experiências no estadodo Paraná. In: REUNIÃO BRASILEIRA DEFERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DEPLANTAS, 25., 2000, Santa Maria. Fertibio2000. Santa Maria: SBCS, 2000. CD-ROM.

_______; BANZATTO, D.A.; FONSECA, A.F.Calagem na superfície em sistema de plantio direto.Revista Brasileira de Ciência do Solo , Viçosa,MG, v.24, n.1, p.161-169, jan./mar. 2000.

COSTA, E.F. da; VIEIRA, R.F.; VIANA, P.A.Quimigação: aplicação de produtos químicos ebiológicos via irrigação. Sete Lagoas: EMBRAPA-CNPMS/Brasília: EMBRAPA-SPI, 1994. 315p.

FERREIRA, A.C. de B.; ARAÚJO, G.A. de A.;CARDOSO, A.A.; FONTES, P.C.R.; VIEIRA, C.Características agronômicas do feijoeiro em funçãodo molibdênio contido na semente e da sua aplica-ção via foliar. Acta Scientiarum. Agronomy, Ma-ringá, v.25, n.1, p.65-72, Jan./June 2003.

FERREIRA, M.E.; CRUZ, M.C.P. da (Ed.).Micronutrientes na agricultura . Piracicaba:

POTAFOS, 1991. 734p. Simpósio sobre Micro-nutrientes na Agricultura, Jaboticabal, 1988.

FONTES, P.C.R. Diagnóstico do estado nu-tricional das plantas . Viçosa, MG: UFV, 2001.122p.

FREIRE, F.M.; VASCONCELLOS, C.A.;FRANÇA, G.E. de. Manejo da fertilidade do so-lo em sistema plantio direto. Informe Agro-pecuário, Belo Horizonte, v.22, n.208, p.49-62, jan./fev. 2001.

HALL, R.; SCHWARTZ, H.F. Common bean. In:BENNETT, W.F. (Ed.). Nutrient deficiencies& toxicities in crop plants. St. Paul: AmericanPhytopathological Society, 1993. p.143-147.

KLUTHCOUSKI, J.; AIDAR, H. Efeito domanejo do solo e da adubação sobre o rendimentodo feijoeiro. In: CONGRESSO NACIONAL DEPESQUISA DE FEIJÃO, 7., 2002, Viçosa, MG.Resumos expandidos... Viçosa, MG: UFV, 2002.p.721-724.

_______; _______; OLIVEIRA, I.P. de; THUNG,M. Efeito do manejo do solo sobre o desenvol-vimento radicular do feijoeiro. In: CONGRESSONACIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 7.,2002, Viçosa, MG. Resumos expandidos...Viçosa, MG: UFV, 2002. p.725-727.

LARA CABEZAS, W.A.R.; TRIVELIN, P.C.O.;KORNDÖRFER, G.H.; PEREIRA, S. Balanço daadubação nitrogenada sólida e fluida de coberturana cultura de milho, em sistema de plantio diretono Triângulo Mineiro (MG). Revista Brasileirade Ciência do Solo, Viçosa, MG, v.24, n.2, p.363-376, abr./jun. 2000.

LOPES, A.S. Recomendações de calagem e aduba-ção no sistema plantio direto. In: RIBEIRO, A.C.;GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZ V., V.H. (Ed.).Recomendação para o uso de corretivos efertilizantes em Minas Gerais: 5a aproxi-mação. Viçosa, MG: Comissão de Fertilidade doSolo do Estado de Minas Gerais, 1999. p.93-98.

MALAVOLTA, E.; VITTI, G.C.; OLIVEIRA, S.A. de. Avaliação do estado nutricional dasplantas: princípios e aplicações. 2.ed. Piracicaba:POTAFOS, 1997. 319p.

MARTINEZ, H.E.P.; CARVALHO, J.G. de; SOU-ZA, R.B. de. Diagnose foliar. In: RIBEIRO, A.C.;

GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZ V., V.H. (Ed.).Recomendação para o uso de corretivos e fer -tilizantes e m M inas G erais: 5a aproximação.Viçosa, MG: Comissão de Fertilidade do Solo doEstado de Minas Gerais, 1999. p.143-168.

MARTINS, O.C.; LIMA, R.O.; VIVIANI, C.A.;BORGES, F.G. Aplicação do DRIS, do PASS e doPIDAP (Programa Integrado de Diagnósticos pa-ra Aumento da Produtividade) no monitoramen-to nutricional de soja e algodão. In: SIMPÓSIOMONITORAMENTO NUTRICIONAL PARA ARECOMENDAÇÃO DA ADUBAÇÃO DE CUL-TURAS, 1999, Piracicaba. Anais... Piracicaba:POTAFOS, 1999. CD-ROM.

OLIVEIRA, I.P. de; ARAÚJO, R.S.; DUTRA, L.G.Nutrição mineral e fixação biológica de nitro-gênio. In: ARAÚJO, R.S.; RAVA, C.A.; STONE,L.F.; ZIMMERMANN, M.J. de O. (Ed.). Culturado feijoeiro comum no Brasil . Piracicaba:POTAFOS, 1996. p.169-221.

PESSOA, A.C. dos S. Atividades de nitrogenasee redutase do nitrato e produtividade do fei-joeiro em resposta à adubação com molibdê-nio e fósforo. 1998. 151f. Tese (Doutorado emSolos e Nutrição de Plantas) - Universidade Federalde Viçosa, Viçosa, MG, 1998.

_______; RIBEIRO, A.C.; CHAGAS, J.M.; CASSI-NI, S.T.A. Concentração foliar de molibdênio eexportação de nutrientes pelo feijoeiro “OuroNegro” em resposta à adubação foliar com molib-dênio. Revista Brasileira de Ciência do Solo ,Viçosa, MG, v.24, n.1, p.75-84, jan./mar. 2000.

RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZV., V.H. (Ed.). Recomendação p ara o u so d ecorretivos e f ertilizantes e m M inas G erais:5a aproximação. Viçosa, MG: Comissão de Ferti-lidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999.359p.

RODRIGUES, J.R. de M.; ANDRADE, M.J.B. de.;CARVALHO, J.G. de. Resposta de cultivares defeijão (Phaseolus vulgaris L.) a doses de molib-dênio aplicadas via foliar. Ciência e Agrotec-nologia, Lavras, v.20, n.3, p.323-333, jul./set.1996.

ROSOLEM, C.A. Calagem e adubação mineral.In: ARAÚJO, R.S.; RAVA, C.A.; STONE, L.F.;ZIMMERMANN, M.J. de O. (Coord.). Cultura

Page 74: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 6 1 - 7 2 , 2 0 0 4

72 Feijão d e a lta p rodutividade

do feijoeiro comum no Brasil . Piracicaba:POTAFOS, 1996. p.353-390.

_______; MARUBAYASHI, O.M. Seja doutor doseu feijoeiro. Informações Agronômicas, Pira-cicaba, n.68, dez. 1994. Encarte Arquivo doAgrônomo, n.7, p.1-16.

SÁ, J.C. de M. Manejo da fertilidade do solono plantio direto . Castro, PR: Fundação ABC,1993. 96p.

SILVA, M.V.; ALVES, V.G.; ANDRADE, M.J.B.Aplicação foliar simultânea de molibdênio e de-fensivos agrícolas na cultura do feijoeiro. In:REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISA DE FEI-JÃO, 6., 1999, Salvador. Resumos expandidos...Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Fei-jão, 1999. v.1, p.753-755. (EMBRAPA-CNPAF.Documentos, 131).

SILVEIRA, P.M. da.; BRAZ, A.J.B.P.; DIDONET,A.D. Uso do clorofilômetro como indicador danecessidade de adubação nitrogenada na cultivarde feijão Pérola. In: CONGRESSO NACIONALDE PESQUISA DE FEIJÃO, 7., 2002, Viçosa.

Resumos expandidos... Viçosa, MG: UFV, 2002.p.791-793.

STONE, L.F.; SILVA, G. de M. e; MOREIRA,J.A.A. Uso do clorofilômetro SPAD-502 na esti-mativa do nitrogênio foliar específico e da pro-dutividade do feijoeiro. In: CONGRESSO NA-CIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 7., 2002,Viçosa, MG. Resumos expandidos... Viçosa, MG:UFV, 2002. p.743-746.

THUNG, M. D. T.; OLIVEIRA, I. P. de. Pro-blemas abióticos que afetam a produção dofeijoeiro e seus métodos de controle . SantoAntônio de Goiás: EMBRAPA-CNPAF, 1998.172p.

TISDALE, S.L.; NELSON, W.L.; BEATON, J.D.; HAVLIN, J.L. Soil fertility and fertilizers .5.ed. New York: MacMillan, 1993. 634p.

VIEIRA, C. Adubação mineral e calagem. In:VIEIRA, C.; PAULA JÚNIOR, T.J. de; BO-RÉM, A. (Ed.). Feijão: aspectos gerais e culturano estado de Minas. Viçosa, MG: UFV, 1998a.p.123-151.

_______. Cultura do feijão . Viçosa, MG: UFV,1978. 146p.

_______; NOGUEIRA, A.O.; ARAÚJO, G.A. deA. Adubação nitrogenada e molíbdica na culturado feijão. Revista d e A gricultura, Piracicaba,v.67, n.2, p.117-124, 1992.

VIEIRA, R.F. Quimigação e fertigação. In: VIEIRA,C.; PAULA JÚNIOR, T.J. de; BORÉM, A. (Ed.).Feijão: aspectos gerais e cultura no estado de Minas.Viçosa, MG: UFV, 1998b. p.221-266.

_______; RAMOS, M.M. Fertirrigação. In: RI-BEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZV., V.H. (Ed.). Recomendação p ara o u so d ecorretivos e f ertilizantes e m M inas G erais:5a aproximação. Viçosa, MG: Comissão de Ferti-lidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999.p.111-130.

WORTMANN, C.S.; KISAKYE, J.; EDJE, O.T.The diagnosis and recommendation integratedsystem for dry bean: determination and validationof norms. Journal of Plant Nutrition, New York,v.15, n.11, p.2369-2379, 1992.

Page 75: Informe agropecuario feijão
Page 76: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 7 4 - 8 2 , 2 0 0 4

74 Feijão d e a lta p rodutividade

1Engo Agr o, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:[email protected]

2Engo Agr o, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:[email protected]

INTRODUÇÃO

O rendimento do feijoeiro é bastanteafetado pela condição hídrica do solo. Defi-ciência ou excesso de água, nos diferentesestádios da cultura, causam redução naprodutividade em diferentes proporções.Os efeitos do déficit hídrico iniciam-se,quando a taxa de evapotranspiração supe-ra a taxa de absorção de água pelas raízese sua transmissão para as partes aéreas daplanta. O déficit hídrico está associado,portanto, a uma redução progressiva daágua no solo, que acompanha a profundi-dade radicular. Quanto maior a redução,mais severo será o déficit.

Em condições de excesso de água, odesenvolvimento vegetativo e o rendimen-to do feijoeiro são bastante prejudicados.O efeito na planta depende do solo, do está-dio de desenvolvimento, da cultivar, datemperatura, do tempo de duração do exces-so hídrico, entre outros. A respiração é umdos aspectos mais sensíveis da atividadeda planta e a redução da sua atividade tem

Irrigação

Pedro Marques da Silveira1

Luis Fernando Stone2

Resumo - A produtividade da cultura do feijoeiro é dependente da quantidade de águaque lhe é fornecida. Vários fatores interferem no volume de água utilizado pela planta.Não se deve permitir déficit ou excesso de água no solo, para a obtenção de máxima pro-dutividade. Discutem-se a evapotranspiração máxima, o coeficiente de cultura, o métodode irrigação por aspersão e os critérios que permitem decidir o momento de irrigare quantificar a lâmina d’água a ser aplicada por irrigação. A uniformidade de aplicaçãode água do equipamento de irrigação é aspecto importante para a obtenção de altaprodutividade.

Palavras-chave: Feijão. Phaseolus vulgaris. Manejo de água. Tensiômetro. Evapotranspiração.

efeito limitante no desenvolvimento da cul-tura. O aumento da resistência ao movimen-to de água, através das raízes, a queda daabsorção de nutrientes, o aumento da con-centração de substâncias tóxicas na plantae a redução do crescimento e do potencialde água na folha são aspectos negativosque ocorrem, quando há excesso de água.Além disso, essa situação favorece a inci-dência de doenças radiculares. Em condi-ções de encharcamento, o aparecimento deraízes adventícias é muito comum e facil-mente observado.

Assim, para a obtenção de altas produ-tividades deve-se evitar déficit ou excessode água no solo em qualquer fase do ciclodo feijoeiro.

PRODUTIVIDADE EQUANTIDADE DE ÁGUA

A produtividade do feijoeiro cresce como aumento da quantidade de água que lheé fornecida, até determinado limite. Os da-dos de Silveira e Moreira (1990), obtidos na

região dos cerrados em feijoeiro de outono-inverno, mostram que a maior produtivi-dade, de 2.325 kg ha-1, foi alcançada com aaplicação de 447 mm de água, durante ociclo da cultura (Gráfico 1).

Isso significa que foram gastos 2 millitros de água para produzir 1 quilo de fei-jão (4.470.000 litros/2.235 kg). Entretanto,não se pode dizer que 447 mm de água se-ria a quantidade recomendada para o fei-joeiro.

Vários fatores interferem na quantidadede água utilizada pela cultura, como rela-tado a seguir:

a) cultivar: há influência da cultivarde feijoeiro na quantidade de ener-gia solar interceptada. Esta dependedo índice de área foliar, da arquite-tura da planta e da extensão e carac-terísticas da superfície transpirante.O sistema radicular também afeta aperda de água, uma vez que suas ca-racterísticas (densidade, profundida-de e eficiência na absorção de água)

Page 77: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 7 4 - 8 2 , 2 0 0 4

75Feijão d e a lta p rodutividade

influenciam a quantidade e a velo-cidade com que a água é absorvida.Em uma mesma cultivar, o consumode água varia com o seu estádio dedesenvolvimento e, entre cultivares,com a duração do ciclo de vida;

b) manejo da cultura: o consumo deágua é afetado pelo manejo da cul-tura, porque ele pode influenciar aarquitetura da planta e o índice deárea foliar. Mack e Varseveld (1982)compararam as populações de 43 e21,5 plantas por m2. Verificaram maisrápida depleção da água do solo namaior população. Guimarães et al.(1982) observaram que na popula-ção de 30 plantas por m2, o feijoalconsumiu um pouco mais de águado que na população de 20 plantaspor m2, especialmente na floração;

c) manejo do solo: o efeito do mane-jo do solo no consumo de água po-de ser observado pelos resultadosobtidos por Stone e Moreira (2000).Estes autores verificaram que noplantio direto (mais cobertura mor-ta) os feijoeiros foram mais efici-entes no uso da água em relação aosistema de preparo do solo com gra-de aradora. Com a cultivar Safira, deplantas eretas, a produtividade obti-da em plantio direto (mais cobertu-

ra morta), com 280 mm de água, foisemelhante à obtida com 400 mm nopreparo com grade, o que representauma economia de água de 30%. Coma cultivar Aporé, de plantas prostra-das, a economia foi menos expres-siva. A produtividade máxima des-sa cultivar no sistema plantio direto(mais cobertura morta) foi obtida com343 mm de água, correspondente àobtida com 400 mm no preparo comgrade, o que representa uma econo-mia de 14%. A palhada na superfície

do solo reduz a taxa de evaporação,devido à reflexão de energia radian-te. A redução da evaporação depen-de da quantidade da cobertura mor-ta e da arquitetura e desenvolvimen-to do dossel dos feijoeiros. Assim,quando a palhada é pouca ou é ra-pidamente decomposta e a culturacobre rapidamente o solo, o benefícioda cobertura morta não é tão expres-sivo.

Moreira (1999) observou que aeconomia de água no sistema plan-tio direto começa a ser significativacom 50% de cobertura do solo pelapalhada, implicando em menor nú-mero de irrigações do feijoeiro (Grá-fico 2);

d) condições climáticas: em condiçõesde ótima disponibilidade de água nosolo, a perda de água pela evapotrans-piração é função da vegetação e, prin-cipalmente, das condições climáti-cas. A radiação solar, a velocidadedo vento, a temperatura e a umidaderelativa do ar são os principais fato-res que vão determinar a magnitudeda evapotranspiração do feijoeiro.Esses fatores variam com a épocado ano e, conseqüentemente, a eva-

Gráfico 1 - Produtividade do feijoeiro em função da lâmina d’água aplicada

y = -0,0198x2 + 19,314x - 2442 R2 = 0,9989

0

400

800

1.200

1.600

2.000

2.400

160 240 320 400 480

Lâmina d'água total (mm)

Pro

dutiv

idad

e (k

g ha

-1)

y = 0,00001x3 - 0,0019x2 + 0,0476x + 13,971R2 = 0,9957

9

10

11

12

13

14

15

0 25 50 75 100

Cobertura do solo (%)

Núm

ero

de ir

rigaç

ões

Gráfico 2 - Número de irrigações efetuadas durante o ciclo do feijoeiro, em função da

porcentagem de cobertura do solo pela palhada

FONTE: Dados básicos: Moreira (1999).

Page 78: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 7 4 - 8 2 , 2 0 0 4

76 Feijão d e a lta p rodutividade

potranspiração também varia. Issofoi observado por Stone e Silveira(1995), que verificaram que, à medi-da que se atrasou a semeadura dofeijoeiro, a partir de abril, em Goiânia-GO, aumentou-se o consumo totalde água.

EVAPOTRANSPIRAÇÃOMÁXIMA

A evapotranspiração máxima do feijo-eiro, medida em um determinado local, éfunção das condições climáticas duranteo desenvolvimento da cultura. O cresci-mento e o desenvolvimento das plantas,os quais estão naturalmente associados atipo e fertilidade do solo, época de semea-dura, cultivar utilizada e práticas culturais,entre outros, também exercem influênciasobre o consumo de água. No entanto, osfatores preponderantes são os relaciona-dos com a demanda evaporativa da atmos-fera. O consumo de água, portanto, determi-nado em condições específicas de um dadolocal, ano e época de semeadura, não po-de ser extrapolado para outras condiçõesem valores absolutos. Para se estimar a ne-cessidade hídrica de uma cultura em umacondição específica, é necessário determi-nar coeficientes, denominados geralmente“coeficientes de cultura”. Estes são obti-dos pela relação entre a evapotranspira-ção máxima (ETM), medida no campo, ealguns elementos climáticos ou fórmulasde estimativa de evaporação ou evapo-transpiração.

Por meio da evaporação do tanque(ECA), estima-se a evapotranspiração dereferência (ETO). Assim:

ETO = ECA x Kp

em que:

Kp é o coeficiente do tanque.

A relação entre a ETM e a ETO é o coefi-ciente de cultura (Kc) ou:

ETM = ETO x Kc

Em culturas anuais, o valor do Kc aumen-ta desde a emergência até a cobertura to-

tal do solo, decrescendo, em seguida, atéa maturação e a colheita. Steinmetz (1984)determinou os valores do Kc e da evapo-transpiração máxima de três fases do ciclodo feijoeiro (Quadro 1), utilizando o lisíme-tro para medir a ETM e o tanque Classe Apara estimar a ETO. Existem, na literatura,algumas variações entre os valores de Kc,devido, possivelmente, à cultivar utilizadae às práticas culturais adotadas. Para finsde planejamento da irrigação, entretanto,essas variações não são muito importan-tes.

Stone e Silva (1999) determinaram o

coeficiente de cultura para o feijoeiro nosistema plantio direto (Quadro 2) e verifi-caram que o valor mais elevado, 1,06, ocor-reu dos 45 aos 54 dias após a emergência.Comparando com o valor máximo de Kcobtido por Steinmetz (1984), no sistemaconvencional de plantio, que foi igual a1,28, observa-se que o sistema plantio di-reto propiciou uma economia de água decerca de 20%.

Stone e Silveira (1995) mostraram que aevapotranspiração do feijoeiro varia com aépoca de semeadura da cultura, conformeo Quadro 3.

FONTE: Steinmetz (1984).

QUADRO 1 - Coeficiente de cultura (Kc) e evapotranspiração máxima de três fases do ciclo do

feijoeiro - Goiânia (GO)

Evapo-

transpiração

máxima

(mm/dia)

Germinação ao início da floração 35 0,69 3,4

Floração 25 1,28 6,0

Desenvolvimento de vagens à maturação 20 1,04 4,7

Fase da culturaDuração

(dias)Kc

FONTE: Stone e Silva (1999).

QUADRO 2 - Coeficientes de cultura do feijoeiro, cultivar Aporé, no sistema plantio direto

Kc

0 - 14 0,49

15 - 24 0,69

25 - 34 0,77

35 - 44 0,90

45 - 54 1,06

Dias após

a emergência

Dias após

a emergênciaKc

55 - 64 0,89

65 - 74 0,74

75 - 84 0,48

85 - 94 0,27

Abril 2,9 4,6 3,9 294,5

Maio 2,5 4,8 4,5 297,5

Junho 2,6 5,5 5,4 336,5

Julho 3,0 6,7 5,3 378,5

Agosto 3,6 6,5 4,8 384,5

QUADRO 3 - Evapotranspiração máxima (ETM) do feijoeiro em função dos meses de semeadu-

ra - Goiânia (GO)

ETM ciclo

(mm)

Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out.

Mês de

semeadura

ETM

(mm dia-1)

Page 79: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 7 4 - 8 2 , 2 0 0 4

77Feijão d e a lta p rodutividade

MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO

Na cultura do feijoeiro, a irrigaçãopor aspersão, nos sistemas convencional,autopropelido e pivô central, tem sido ométodo mais utilizado. Em menor escala,também têm sido utilizadas a irrigação porsulcos e a subirrigação em solos de várzeas.Considerando-se o método de irrigação poraspersão, o sistema pivô central é o maisapropriado para irrigar áreas grandes e, porisso, tem sido o mais usado na cultura dofeijoeiro, visto que a lucratividade obtidacom essa cultura depende, entre outros fa-tores, do tamanho da área plantada. É umsistema de irrigação que possibilita bomcontrole da lâmina d’água aplicada e apre-senta grande diversificação de equipamen-tos e sistemas. De modo geral, a eficiênciado sistema está próxima de 70%, poden-do alcançar 90% em alguns equipamentos.Em condições severas de clima a eficiênciapode ser reduzida a 50%. O vento, a umi-dade relativa do ar e a temperatura são osprincipais fatores climáticos que afetam aeficiência da irrigação por aspersão. O ven-to interfere na uniformidade de distribui-ção da água aplicada pelos aspersores e,com a temperatura e a umidade relativa doar, afeta a perda de água por evaporação(BERNARDO, 1989).

A distorção provocada pelo vento de-penderá da sua velocidade e do tamanhodas gotas de água aplicadas. Quanto maiora velocidade do vento e menor o tamanhodas gotas, maior será a distorção na distri-buição da água, quando comparada com aconseguida em condições calmas de vento(OLITTA, 1982).

Para minimizar os problemas causadospelo vento em pivô central, os aspersorestêm sido montados em tubos de descidaou bengalas. Nesses casos, a intensidadeda precipitação cresce, devido à reduçãona área molhada. Difusores de baixa pres-são, devido à menor área molhada, reque-rem menor espaçamento entre si. Isso podetrazer o inconveniente de possíveis coli-sões de gotas, provenientes de difusoresadjacentes, resultando em locais com inten-sa aplicação de água, o que reduz, drasti-camente, a uniformidade da irrigação.

UNIFORMIDADEDE APLICAÇÃO DE ÁGUA

A uniformidade de aplicação de águaem área irrigada influencia diretamente aprodutividade da cultura e a energia gastano bombeamento da água. A produtivida-de tende a aumentar com melhor unifor-midade da irrigação. Se a uniformidade ébaixa, a área irrigada apresentará setorescom déficit e com excesso de água. Este,por sua vez, representa gasto desnecessá-rio de energia em seu bombeamento. Ossetores que recebem menos água produ-zirão menos. A uniformidade da irrigaçãoem pivôs centrais é afetada pelo diâme-tro dos bocais e pressão de operação dosaspersores e pela ação do vento.

A eficiência de aplicação de água (EA)é a relação entre a quantidade de água incor-porada ao solo, até a profundidade efetivado sistema radicular, e a quantidade de águaaplicada. As perdas que podem ocorrer naaplicação de água, por meio de aspersores,são resultantes da evaporação que aconte-ce desde a saída do jato de água dos bocais,até a superfície do solo, da percolação parabaixo da profundidade efetiva do sistemaradicular e do escoamento superficial parafora da área cultivada (SCALOPPI, 1986).

O dimensionamento adequado do sis-tema de irrigação por aspersão não devepermitir perdas de água por escoamentosuperficial. Assim, a EA é função apenasda perda por evaporação e deriva causadapelo vento e por percolação profunda. Estaúltima depende da uniformidade de distri-buição de água e da proporção água re-querida/água aplicada.

Keller (1979) considera que as perdasdecorrentes da deriva pelo vento e da eva-poração variam de 5% a 10%. As perdaspor evaporação são maiores, quanto me-nor for a lâmina d’água aplicada. No casodo pivô central, isso ocorre quando a velo-cidade de operação é alta, ou seja, a águaaspergida é colocada em contato com o arainda seco, o que favorece a evaporaçãodireta.

As perdas por evaporação e deriva,

causada pelo vento, variam com a lâminad’água aplicada, com a velocidade do ven-to e com a demanda evaporativa da atmos-fera. Como as perdas por percolação pro-funda são difíceis de avaliar em sistemasde irrigação por aspersão, também fica di-fícil determinar a EA que deve ser usadano cálculo da lâmina bruta. Seria necessárioconsiderar, em cada irrigação, um valor deEA, dependendo da lâmina d’água a seraplicada e das condições climáticas vigen-tes. Dessa maneira, considera-se que cul-turas de elevado valor econômico, como ofeijoeiro irrigado, requerem aplicação deágua mais uniforme possível. Keller (1979)recomendou utilizar, para o cálculo da quan-tidade de água a ser aplicada em cultu-ras de elevado valor econômico, o valor docoeficiente de uniformidade de distribui-ção (CUD), como estimativa da EA, por seríndice de uniformidade relativamente rigo-roso.

As perdas por percolação e a porcen-tagem da área deficientemente irrigada sãotanto menores, quanto maior for o valor deCUD, ou seja, quanto mais uniforme for adistribuição da água na área irrigada.

A CEMIG (1993) avaliou a uniformidadede aplicação de água de 11 pivôs centraislocalizados em regiões tipicamente agríco-las do estado de Minas Gerais. O númerode amostras por região foi proporcional àquantidade de pivôs. As regiões avaliadassão apresentadas no Quadro 4, e a locali-zação delas pode ser visualizada na Figu-ra 1. Vê-se, no Quadro 4, que os pivôs apre-sentaram uniformidade de aplicação de águamédia de 80,1%, pouco acima do limite de80% recomendado. Entretanto, houve casosem que a uniformidade esteve abaixo darecomendada. Em quatro pivôs, observou-se que o valor de CUD foi menor que o re-comendado, que é de 70%, e o menor valorfoi constatado no pivô no 2, o mesmo queapresentou menor valor de coeficiente deuniformidade de Christiansen (CUC). Osresultados mostram que quase metade dospivôs tiveram algum problema de unifor-midade de distribuição de água.

Page 80: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 7 4 - 8 2 , 2 0 0 4

78 Feijão d e a lta p rodutividade

MANEJO DAÁGUA DE IRRIGAÇÃO

O manejo adequado da irrigação do fei-joeiro consiste em fornecer água ao solono momento oportuno (quando irrigar) ena quantidade suficiente (quanto irrigar),para atender à necessidade hídrica das plan-tas. Esse manejo tem como objetivos: maxi-mizar a produtividade da cultura, minimizaro uso de água e o custo de energia, aumen-tar a eficiência de adubos, diminuir a inten-sidade de doenças e manter, ou melhorar,as condições químicas e físicas do solo.Apesar de todos esses benefícios, a maio-ria dos produtores de feijão irrigado nãodá a devida importância ao manejo dairrigação. Várias causas podem ser citadaspara explicar essa atitude: baixo custo daágua, carência de dados edafoclimáticos,baixa prioridade em relação às outras prá-ticas culturais e desconhecimento da téc-nica (SILVEIRA et al., 2001). Quanto à água,por enquanto o insumo nada custa ao pro-dutor irrigante, mas isso vai durar pou-co. Pela Constituição Brasileira, os recur-sos hídricos são de propriedade do Esta-do. A Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997(BRASIL, 1997), diz no Inciso 1 do Art. 1o: aágua é um bem de domínio público. O Inci-so 4 do Art.5o institui a cobrança pelo usodos recursos hídricos. Com referência àenergia elétrica, é certo que diminuirão ouacabarão as tarifas especiais para irrigação.

Quando irrigarO fornecimento de água no momen-

to oportuno exige que se faça um manejoadequado da irrigação. Para isso, são apre-sentados os métodos do tensiômetro edo tanque Classe A. Pela simplicidade e

Figura 1 - Localização dos pivôs centrais estudados em Minas Gerais

FONTE: CEMIG (1993).

FONTE: CEMIG (1993).

NOTA: CUC - Coeficiente de uniformidade de Christiansen; CUD - Coeficiente de uniformidade

de distribuição.

Andrade et al. (2002) obtiveram valoresda produtividade do feijoeiro em funçãoda uniformidade de aplicação da água deirrigação (Quadro 5). Quando o CUD di-minuiu de 86% para 66%, a produtivida-

de do feijoeiro decresceu de 2.759 para2.423 kg ha-1, o que significa que em áreairrigada de 100 ha, a redução total na pro-dução seria de 33.600 kg, ou seja, de 560sacas. 86 2.759

66 2.423

1 Veneza Araguari 86,9 79,8

2 Santa Fé Uberaba 63,6 53,6

3 Bagagem de Baixo Planura 83,9 80,1

4 Pampa Presidente Olegário 84,9 78,6

5 Santa Cruz São Gonçalo do Abaeté 81,4 70,3

6 Agropecuária Campo Lindo Brasília de Minas 78,6 70,8

7 Arapuim Agropecuária Januária 78,5 63,1

8 Agropasto Manga 84,7 72,3

9 Rio Dourado Empreendimentos Rurais Taiobeiras 74,9 67,0

10 Oriente Paraguaçu 80,3 70,8

11 Agropecuária Michels Iraí de Minas 83,3 69,9

Média 80,1 70,6

QUADRO 4 - Fazenda, localização, CUC e CUD dos pivôs centrais avaliados

CUD

(%)Número Fazenda Localização

CUC

(%)

QUADRO 5 - Rendimento do feijoeiro em fun-

ção do CUC

FONTE: Dados básicos: Andrade et al. (2002).

NOTA: CUC - Coeficiente de uniformidade de

Christiansen.

CUC Produtividade

(%) (kg ha-1)

Page 81: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 7 4 - 8 2 , 2 0 0 4

79Feijão d e a lta p rodutividade

praticidade é dada maior ênfase ao métododo tensiômetro.

TensiômetroO tensiômetro constitui-se de um tubo

plástico, de comprimento variável, cuja extre-midade inferior tem uma cápsula de porce-lana porosa. É fechado hermeticamente naextremidade superior, onde se encontra ummanômetro de mercúrio ou um vacuôme-tro metálico tipo Bourdon, que atua comoelemento indicador do vácuo existente den-tro do aparelho, quando ele está em opera-ção.

O vacuômetro metálico geralmente for-nece valores de tensão em centibar ou emmilímetro de mercúrio (mmHg), mas elestambém podem ser dados em centímetrosde água, bar ou Pascal (Pa), de acordo comas relações:

1 atm = 76 cmHg = 1033 cm H2O =1,013 bar = 101,3 kPa

O tensiômetro com vacuômetro tem o seuemprego mais recomendado para o con-trole das irrigações no campo, em virtudede sua simplicidade e facilidade de opera-ção, comparado com o tensiômetro providode manômetro de mercúrio (AZEVEDO;SILVA, 1999).

Interpretação das leituras

O tensiômetro mede diretamente a ten-são de água e, indiretamente, a porcenta-gem de água do solo. Valores baixos indi-cam solo úmido e valores altos, solo seco.No tensiômetro, a capacidade para leitu-ras de tensão vai até 0,8 bar (80 kPa). Comtensões maiores do que essa, entra ar nosporos da cápsula de cerâmica e o aparelhopára de funcionar. Por isso, ele avalia indi-retamente somente parte da água dispo-nível do solo. Em latossolos dos cerrados,o tensiômetro avalia 65% ou mais da águadisponível (AZEVEDO et al., 1983).

Para o feijão, uma leitura de 0-0,1 bar(0-10 kPa) indica solo muito úmido paraa cultura. Leituras entre 0,1 e 0,3-0,4 bar(10 a 30-40 kPa) representam condiçõesideais de água e arejamento do solo. À me-dida que as leituras ultrapassam 0,4 bar

(40 kPa), a água começa a se tornar limitan-te para a cultura. Esse processo é aceleradoem regiões de alta demanda atmosférica.

Instalação no campo

O tensiômetro deve ser instalado nalavoura de feijão após a emergência dasplantas e depois de três a quatro irrigações,quando o solo já se encontra com teor deágua suficiente para o funcionamento doaparelho.

Com o auxílio de um cano de ferro oude um trado do diâmetro do tubo do tensiô-metro, faz-se um buraco até a profundi-dade desejada. Em seguida, introduz-se otensiômetro nesse buraco. O bom contatoda cápsula com o solo é fundamental paraobter leituras precisas. A adição de um pou-co de terra solta e água no espaço entre otensiômetro e a “parede” ajuda a melho-rar esse contato. Deve-se ter o cuidado pa-ra não danificar o vacuômetro metálico aointroduzir o tensiômetro no solo.

Posição junto às plantas

e profundidades de instalação

O tensiômetro deve ser instalado entreas fileiras de feijão e em duas profundida-des, uma a 15 cm e outra a 30 cm, lado a la-do. A esse conjunto dá-se o nome de bate-ria. A profundidade é medida a partir da

metade da cápsula. A leitura do tensiô-metro de 15 cm indica a tensão média dacamada superficial de solo de 0-30 cm, aqual engloba a quase totalidade das raízesdo feijoeiro. Esse tensiômetro é chamadotensiômetro de decisão (SAAD; LIBARDI,1992), porque indica o momento da irrigação(quando irrigar). O tensiômetro instalado a30 cm é chamado tensiômetro de controle.Este último indica se a irrigação está sen-do bem-feita, para que não haja excesso oufalta d’água. Ao lado da bateria de tensiô-metros, deve ser instalado um pluviômetro,a cerca de 1,0 m de altura. Este servirá paraa coleta da água de irrigação ou da chuvae, também, como referência para a locali-zação dos tensiômetros no campo.

Número de baterias e

locais de instalação

Devem ser instaladas três baterias detensiômetros na área irrigada. A Figura 2mostra o posicionamento dos tensiômetrosinstalados na área irrigada por pivô cen-tral.

Nos sistemas convencional e autopro-pelido, o tensiômetro se presta, principal-mente, para o acompanhamento da tensãoda água do solo e como instrumento devalidação do turno de rega implantado.No pivô central, ele é o instrumento mais

Figura 2 - Posicionamento dos tensiômetros em área irrigada por pivô central

Tensiômetro

Pluviômetro

Pivô central

Estrada

Área p arada/partida

Page 82: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 7 4 - 8 2 , 2 0 0 4

80 Feijão d e a lta p rodutividade

prático para indicar o momento da irrigação.Neste sistema, as baterias devem ser ins-taladas a 4/10, 7/10 e 9/10 do raio do pivô,em linha reta a partir da base (SILVEIRA;STONE, 1994). Dessa forma, cada bateriarepresenta, aproximadamente, 33,3% daárea irrigada. Observa-se na Figura 2 que opivô central, ao movimentar-se no sentidoda seta, tem a posição de parada/partidasempre antes da linha dos tensiômetros.A parada nessa posição pode ser automá-tica ou manual. Assim, os tensiômetros sãoos “sinaleiros”. O equipamento só é liga-do, quando o “sinal” abre, ou seja, quandoa média das leituras dos tensiômetros dedecisão indicar o momento da irrigação.

Havendo desuniformidade de solos, ostensiômetros devem ser instalados nas áreasmais representativas do terreno, evitando-se pontos em pequenos aclives ou depres-sões. Um detalhe muito importante é queos tensiômetros, por serem equipamentosde leituras pontuais, devem ser instala-dos após a verificação da uniformidade dedistribuição de água do equipamento deirrigação. Esse procedimento servirá co-mo orientação, para que as baterias sejaminstaladas em locais que recebem lâminasd’água semelhantes, evitando-se que a áreade uma bateria receba mais ou menos águaque a outra, o que interferiria nas leituras enão representaria a condição de umidadeda área como um todo. Assim, se necessá-rio, pequenos deslocamentos podem serfeitos nos locais das baterias de tensiô-metros.

Valor da leitura para irrigação

Na literatura são relatados diferentesvalores máximos que a tensão da água nosolo pode atingir, de maneira que não ocor-ra redução na produtividade do feijoeiro.A diferença entre os valores deve-se, prin-cipalmente, à profundidade da medição, àdistância de instalação em relação ao fei-joeiro e à demanda atmosférica. Boa reco-mendação (SILVEIRA; STONE, 1994) é pro-mover irrigação toda vez que a média dastrês baterias dos tensiômetros de decisão,instalados a 15 cm de profundidade, alcan-çar a faixa de 0,3-0,4 bar (30-40 kPa).

Em solos de cerrado, com baixa reten-ção de água, ao atingir essa faixa de tensão,já foram consumidos de 50% a 60% da águadisponível, principalmente se se conside-rar a capacidade de campo (CC) desses so-los, como o teor de água correspondente àtensão na faixa de 0,08 a 0,1 bar (8 a 10 kPa).As irrigações, com base nas leituras dostensiômetros, devem-se iniciar 15 a 20 diasapós a emergência das plantas. Logo apósa semeadura, devem-se fazer irrigações maisfreqüentes, para manter a camada super-ficial do solo sempre úmida, favorecendo agerminação e o desenvolvimento inicial dasplantas e repondo a água na camada do so-lo abrangida pelo tensiômetro de decisão.

Considera-se que houve bom manejoda irrigação, quando a tensão de água nosolo, durante o ciclo de vida da cultura, va-riar de acordo com o apresentado no Gráfi-co 3. Nota-se, nessa figura, que o tensiôme-tro de decisão não causou excesso (abaixode 0,1 bar ou 10 kPa-CC) ou déficit (acimade 0,4 bar ou 40 kPa) de água no solo.

A irrigação deve ser suspensa, quandoas folhas de feijão tornam-se amareladaspelo amadurecimento.

Método do tanque Classe AEste método consiste num tanque de

aço inoxidável ou galvanizado, com 121,9 cm

de diâmetro interno e 25,4 cm de profun-didade e que deve ser enchido com águaaté 5 cm da borda superior. Na medição daevaporação da água, feita com um micrô-metro de gancho ou outro instrumento,estão integrados os efeitos da radiação so-lar, do vento, da temperatura e da umidaderelativa do ar, os quais também atuam naplanta. Entretanto, pelo fato de os proces-sos de evaporação da água livre no tanque(ECA) e de a evapotranspiração máximada cultura (ETM) serem semelhantes ape-nas nos seus aspectos físicos, devem serconsiderados dois coeficientes: coeficientedo tanque Classe A (Kp), e coeficiente dacultura (Kc). Para converter ECA em ETM,empregue esta equação:

ETM = ECA x Kp x Kc

Portanto, o “quando irrigar” ocorreráassim que a soma dos valores de evapo-ração de tanque, multiplicada pelos coefi-cientes, alcançar o valor da lâmina líqui-da de irrigação, previamente determinada,a ser aplicada à cultura.

As avaliações dos coeficientes Kp e Kcconstituem a principal dificuldade do usodo método do tanque. Valores para Kp po-dem ser obtidos no trabalho de Doorenbose Kassam (1979).

Gráfico 3 - Comportamento da tensão de água do solo durante o ciclo de vida do

feijoeiro

Page 83: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 7 4 - 8 2 , 2 0 0 4

81Feijão d e a lta p rodutividade

Quanto irrigar

Método da curvade retenção deágua no solo

A curva de retenção re-laciona o teor ou o conteúdode água no solo com a for-ça (tensão) com que ela estáretida nele (Gráfico 4). Elaé determinada em laborató-rio, preferencialmente comamostras indeformadas, co-letadas em anéis apropria-dos, submetidas a diferen-tes tensões, com o auxílio

Utilizando-se do Gráfico 4 para exemplificaro cálculo da LL, para uma camada de solode 0-30 cm de profundidade (PC), tem-se:

LL = (0,28 - 0,23) x 30 cm =1,5 cm = 15 mm

Logo, toda vez que a média dos tensiô-metros de decisão atingir 0,3 bar (30 kPa), aLL será de 15 mm.

A lâmina bruta de irrigação (LB) serádada pela equação:

em que:EA = eficiência de aplicação de água do

equipamento = CUD.

Se a EA do equipamento de irrigação,por exemplo, for igual a 0,83, a LB será:

O mesmo cálculo pode ser feito, se seconsiderar o momento de irrigação (MI) iguala 0,4 bar (40 kPa) ou a outro valor. Observa-se que, por esse método, o agricultor, dis-pondo da curva de retenção de água doseu solo, pode conhecer a quantidade deágua de irrigação antes mesmo de fazero plantio do feijão e esse é o único cálculonecessário.

LL

EALB =

15

0,83LB = = 18mm

REFERÊNCIAS

ANDRADE, C.A. de B.; REZENDE, R.; GON-ÇALVES, A.C.A.; FRIZZONE, J.A.; FREITAS,P.S.L. de; BERTONHA, A. Variáveis de produção

da cultivar de feijão Iapar 57 em função da uni-formidade de irrigação.In: CONGRESSO NA-CIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 7., 2002,Viçosa, MG. Anais... Viçosa, MG: UFV, 2002.p.441-444.

AZEVEDO, J.A. de; SILVA, E.M. da. Tensiôme-tro: dispositivo prático para controle da irriga-ção. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1999. 39p.(EMBRAPA-CPAC. Circular Técnica, 1).

_______; _______; RESENDE, M.; GUER-RA, A.F. Aspectos sobre manejo da irriga-ção por aspersão para o cerrado . Planaltina:EMBRAPA-CPAC, 1983. 53p. (EMBRAPA-CPAC. Circular Técnica, 16).

BERNARDO, S. Manual de irrigação . Viçosa,MG: UFV, 1989. 596p.

BRASIL. Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997.Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos,cria o Sistema Nacional de Gerenciamento deRecursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX doart. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1o

da Lei no 8.001, de 13 de março de 1990, quemodificou a Lei no 7.990, de 28 de dezembrode 1989. Diário Oficial [da] República Fe-derativa do Brasil , Brasília, 9 jan. 1997. Dis-ponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acessoem: 2004.

CEMIG. Estudo de otimização energética:setor irrigação – pivô-central. Belo Horizonte,1993. 22p.

DOORENBOS, J.; KASSAM, A.H. Efectos delagua en el rendimiento de los cultivos . Roma:FAO, 1979. 212p. (FAO. Riego & Drenage, 33).

GUIMARÃES, C.M.; STEINMETZ, S.; PORTESE CASTRO, T. de A. Uso de microlisímetros nadeterminação da evapotranspiração do feijoeiroda seca. In: REUNIÃO NACIONAL DE PES-QUISA DE FEIJÃO, 1., 1982, Goiânia. Anais...Goiânia: EMBRAPA-CNPAF, 1982. p.133-137.(EMBRAPA-CNPAF. Documentos, 1).

KELLER, J. Sprinkler irrigation. In: SOIL CON-SERVATION SOCIETY. National engineeringhandbook. 2.ed. Washington, 1979. cap.11.

MACK, H. J.; VARSEVELD, G. H. Responseof bush snap beans (Phaseolus v ulgaris L.) toirrigation and plant density. Journal of theAmerican Society for Horticultural Scien-ce, Alexandrina, v.107, n.2, p.286-290, Mar.1982.

Gráfico 4 - Curva de retenção de água no solo

de placas porosas, em câmaras de pressão.Obtém-se a curva relacionando o teor deágua do solo com diversas tensões, como:0,1; 0,3; 0,6; 1,0; 3,0 e 15 bar (10; 30; 60;100; 300 e 1500 kPa).

A avaliação da curva de retenção per-mite uma estimativa rápida da disponibi-lidade de água no solo para as plantas, emdeterminada profundidade de solo. Assim,pode-se determinar a quantidade máximade armazenamento de água (capacidade decampo), o armazenamento mínimo (pontode murchamento) e o armazenamento emqualquer ponto da curva.

Cálculo da lâmina deirrigação

A quantidade de água ou lâmina líqui-da de irrigação (LL), utilizando-se a curvade retenção, é o resultado da diferença entrea quantidade máxima de água (CC) e a quan-tidade de água existente no solo na tensãopara reinício da irrigação (MI), multiplicadopela espessura da camada de solo consi-derada (PC). Assim:

LL = (CC-MI) x PC

Na realidade, a lâmina d’água a ser apli-cada nada mais é do que o déficit de águaexistente no solo no momento de reiniciara irrigação. No Gráfico 4, a quantidade má-xima de água no solo (CC) ocorre na tensãode 10 kPa, que corresponde a 0,28 cm3/cm3.A quantidade de água no momento dairrigação (MI), considerada, no caso, iguala 0,3 bar (30 kPa), é igual a 0,23 cm3/cm3.

10

0,28

0,23

30 100 1000

Tensão (kPa)

1500

Page 84: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 7 4 - 8 2 , 2 0 0 4

82 Feijão d e a lta p rodutividade

MOREIRA, J.A.A. Estudo da tensão da águado solo para as culturas do feijão, milho etrigo, cultivados em plantio direto, visandoa irrigação por aspersão . Santo Antônio deGoiás: Embrapa Arroz e Feijão, 1999. 6p.(Embrapa. Programa Recursos Naturais. Sub-projeto 01094337-18). Relatório de Andamento.

OLITTA, A.F.L. Os métodos de irrigação . SãoPaulo: Nobel, 1982. 267p.

SAAD, A.M.; LIBARDI, P.L. Uso prático dotensiômetro pelo agricultor irrigante . SãoPaulo: IPT, 1992. 27p.

SCALOPPI, E.J. Características dos principaissistemas de irrigação. ITEM. Irrigação e Tecno-logia Moderna , Brasília, n.25, p.22-27, 1986.

SILVEIRA, P.M. da; MOREIRA, J.A.A. Respostado feijoeiro a doses de fósforo e lâminas de águade irrigação. Revista Brasileira de Ciênciado Solo , Campinas, v.14, n.1, p.63-67, jan./abr.1990.

_______; STONE, L.F. Manejo da irrigação dofeijoeiro: uso do tensiômetro e avaliação do de-sempenho do pivô central. Goiânia: EMBRAPA-CNPAF/Brasília: EMBRAPA-SPI, 1994. 46p.(EMBRAPA-CNPAF. Circular Técnica, 27).

_______; _______; SILVA, J.G. da. Manejo daágua de irrigação. In: SILVEIRA, P.M. da; STONE,L.F. (Ed.). Irrigação do feijoeiro. Santo Antôniode Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2001. p.139-169.

STEINMETZ, S. Evapotranspiração máxi-ma no cultivo do feijão de inverno . Goânia:EMBRAPA-CNPAF, 1984. 4p. (EMBRAPA-CNPAF. Pesquisa em Andamento, 47).

STONE, L.F.; MOREIRA, J.A.A. Efeitos de sis-temas de preparo do solo no uso da água e na pro-dutividade do feijoeiro. Pesquisa AgropecuáriaBrasileira, Brasília, v.35, n.4, p.835-841, abr.2000.

_______; SILVA, S.C. da. Uso do tanque Clas-se A no controle da irrigação do feijoeiro nosistema plantio direto. Santo Antônio de Goiás:Embrapa Arroz e Feijão, 1999. Não paginado.(Embrapa Arroz e Feijão. Pesquisa em Foco, 25).

_______; SILVEIRA, P.M. da. Determinaçãoda evapotranspiração para fins de irriga-ção. Goiânia: EMBRAPA-CNPAF, 1995. 49p.(EMBRAPA-CNPAF. Documentos, 55).

Page 85: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 8 3 - 9 7 , 2 0 0 4

83Feijão d e a lta p rodutividade

Manejo de plantas daninhas na cultura do feijoeiroem plantio direto

Tarcísio Cobucci1

José Geraldo Di Stefano2

João Kluthcouski3

Dionidio Feitosa Sousa4

1Engo Agr o, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás - GO. Correio eletrônico:[email protected]

2Engo Agr o, M.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás - GO. Correio eletrônico:[email protected]

3Engo Agr o, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás - GO. Correio eletrônico:[email protected]

4Graduando e m A gronomia, U niversidade F ederal d e G oiás, C aixa P ostal 1 31, C EP 7 4001-970 G oiânia - G O. Co rreio e letrônico:[email protected]

Resumo - O feijoeiro, por ser planta de ciclo curto, é muito sensível à competição exer-cida pelas plantas daninhas, cujo controle consiste na adoção de certas práticas que resul-tam na redução da infestação, mas não necessariamente na sua completa eliminação.O período crítico de competição das plantas daninhas com o feijoeiro situa-se entre 15 e30 dias após a emergência da cultura. Os métodos de controle podem ser preventivo,cultural, mecânico, químico e a combinação de todos estes. O controle preventivo envolveo uso de práticas que visam prevenir a introdução, estabelecimento e/ou disseminaçãode determinadas espécies em área ainda não infestada. O controle cultural consiste emaproveitar as próprias características do feijoeiro e das plantas daninhas, de modo que acultura leve vantagem sobre as invasoras. O controle mecânico faz uso de práticas de eli-minação de plantas daninhas por meio do efeito físico-mecânico, como a capina manuale o cultivo mecânico. O controle químico, com o emprego de herbicidas, tem sido um dosmétodos mais utilizados na cultura do feijoeiro, devido à maior praticidade e à grandeeficiência. Por tratar-se de método que envolve o uso de produtos químicos, requer-se ummínimo de conhecimento, principalmente para atender os requisitos: alcançar máximaeficiência, custos reduzidos e o mínimo de impacto ambiental.

Palavras-chave: Feijão. Phaseolus vulgaris. Herbicida. Controle preventivo. Controlecultural. Controle químico.

INTRODUÇÃO A adaptação da maioria das cultiva-

res de feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) àsmais variadas condições edafoclimáticasdo Brasil, faz com que essa cultura integrea maior parte dos sistemas de produçãodos micros e pequenos produtores rurais.Os cultivos das “águas” (semeadura emoutubro/novembro) e da “seca” (semea-

dura em janeiro/fevereiro) são igualmen-te importantes no Sul e Sudeste do País.Na região Centro-Oeste, o cultivo da “se-ca” é mais importante. O feijoeiro tambémé cultivado no inverno, período seco com-preendido entre maio e setembro, com irri-gação, principalmente no Sudeste e Centro-Oeste e em algumas microrregiões do Nor-deste, atraindo médios e grandes produ-

tores, geralmente usuários de tecnologia.O manejo de plantas daninhas é uma

técnica importante em muitos agroecossis-temas e a definição dessas plantas não étão fácil. Entre as numerosas definições,há a que “plantas daninhas são aquelasque estão fora de lugar”. Por exemplo, emuma lavoura de feijão, plantas voluntáriasde milho provenientes de sementes do

Page 86: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 8 3 - 9 7 , 2 0 0 4

84 Feijão d e a lta p rodutividade

cultivo anterior são consideradas plantasdaninhas. No agroecossistema, as plantasque crescem sem ser semeadas tendem acompetir com os cultivos semeados e po-dem provocar efeitos negativos. Entretan-to, em alguns casos, a completa eliminaçãodessas “plantas naturais” pode ser pior doque deixar uma baixa população. Os efeitosbenéficos das plantas daninhas, por exem-plo, podem traduzir em diminuição de ero-são, reciclagem de nutrientes, formação decobertura morta e favorecimento de inse-tos benéficos. Dessa forma, o agricultordeve manejar as plantas daninhas para man-ter esses benefícios.

As plantas invasoras são plantas dani-nhas ou são plantas cultivadas? O manejode plantas daninhas é a eliminação totaldessas espécies? Esses são alguns ques-tionamentos que devem ser feitos antes dedeterminar o manejo adequado de plantasdaninhas, o qual tem as seguintes premis-sas: minimizar a competição com as plantascultivadas e os efeitos nocivos ao ambien-te e maximizar os benefícios das plantasdaninhas no sistema.

PRINCIPAIS ESPÉCIESDE PLANTAS DANINHAS

Entre, aproximadamente, 1.200 espéciesde plantas daninhas que ocorrem no Brasil,pelo menos 32 são citadas como importan-tes na cultura do feijão. Destas, mais de60% pertencem às famílias Poaceae (12) eAsteraceae (8), e a maioria é de ciclo anuale se reproduz por sementes. Apenas trêsplantas daninhas estão entre as dez maisimportantes no mundo (Cyperus spp.,Cynodon dactylon e Eleusine indica). Sãopoucos os estudos que relacionam noci-vidade das espécies de plantas daninhasao feijoeiro, nas diferentes épocas de plan-tio e condições de solo e clima. Nos culti-vos tradicionais, as espécies Brachiariaplantaginea, Cenchrus echinatus, Digitariasanguinalis, Acanthospermum hispidum,Bidens pilosa e Galinsoga parviflora sãotidas como plantas daninhas de alta noci-vidade para o feijoeiro (Quadro 1). Resul-tados de um questionário realizado pela

Embrapa Arroz e Feijão, em 1995, com pro-dutores de feijão, indicaram que as prin-cipais plantas daninhas eram B. pilosa, B.plantaginea, Euphorbia heterophylla,Amaranthus spp., C. echinatus, Commelinabenghalensis e Digitaria horizontalis.

INTERFERÊNCIASDAS PLANTAS DANINHAS

Por ser cultivado em diversas épocasdo ano, em diferentes sistemas de cultivo(solteiro e consorciado) e nas mais varia-das condições edafoclimáticas, o feijoeiropode sofrer interferência de diversas espé-cies de plantas daninhas. Além disso, portratar-se de planta de ciclo de vida curto, ébastante sensível à competição, sobretudonos estádios iniciais de desenvolvimentovegetativo. Quando não são controladasadequadamente, as plantas daninhas, alémde competir por fatores essenciais (água,luz e nutrientes), dificultam a operação decolheita, depreciam a qualidade do produtoe servem, ainda, como hospedeiras inter-

mediárias de insetos, nematóides e agentescausadores de doenças.

O feijoeiro (planta C-3) desenvolve-semelhor em temperaturas amenas, em tor-no de 21oC, e apresenta baixo ponto de com-pensação luminosa: de 150 a 250 J/m2s1,em relação às plantas C-4, como milho esorgo, que apresentam taxa fotossintéticamáxima em níveis de luminosidade três ve-zes superiores aos relatados para o feijão.No plantio da “seca” e de outono-inverno,no Centro-Sul, temperaturas relativamen-te baixas favorecem o desenvolvimentodo feijoeiro, o que torna mais fácil o contro-le das plantas C-4, na maioria gramíneas.No período das “águas”, a ocorrência dealtas temperaturas favorece mais o desen-volvimento das gramíneas que o do feijo-eiro. Por isso, é necessário iniciar o controlemais precocemente de gramíneas C-4, bemcomo de outras espécies como beldroega,caruru e tiririca. Esses são alguns exemplosde plantas daninhas altamente agressivasem cultivos de verão.

FONTE: Arevalo e Rozanski (1991).

NOTA: 1 - Muito escasso; 2 - Escasso; 3 - Pouco abundante; 4 - Abundante; 5 - Muito abundante.

(1) Atualmente Rottboelia cochinchinensis (Lour.) Clayton.

QUADRO 1 - Nocividade de algumas espécies de plantas daninhas à cultura do feijão

Nocividade

Brachiaria plantaginea (Link) Hitch capim-marmelada 5 alta

Cenchrus echinatus L. capim-carrapicho 5 alta

Digitaria sanguinalis (L) Scop capim-colchão 5 alta

Eleusine indica (L.) Gaertn capim-pé-de-galinha 5 média

(1)Rottboellia exaltata L. capim-rotboelia 4 média

Setaria geniculata (Lam.) Beauv. rabo-de-gato 5 média

Lolium multiflorum Lam. azevém 4 moderada

Paspalum plicatulum Michx capim-cuiabano 5 moderada

Paspalum urvillei Stend capim-de-raça 4 moderada

Acanthospermum hispidum DC carrapicho-de-carneiro 5 alta

Bidens pilosa L. picão-preto 5 alta

Galinsoga parviflora Cav. picão-branco 5 alta

Senecio oligophy Baver flor-das-almas 4 média

Indigofer campestris Bronen anil-falso _ _

Espécies Nome comumAbundância

relativa

Page 87: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 8 3 - 9 7 , 2 0 0 4

85Feijão d e a lta p rodutividade

Para o estudo da competição das plan-tas daninhas com o feijoeiro faz-se neces-sária uma revisão dos estádios fenológicos.Estádio V0 - germinação, V1 - emergência,V2 - desdobramento das folhas primárias,V3 - emissão da primeira folha trifoliola-da; a partir desse momento, evidencia-seo rápido desenvolvimento vegetativo daplanta, o qual assume ritmo máximo so-mente no estádio V4 - emissão da terceirafolha trifoliolada. A partir deste estádio,há aumento pronunciado do índice de áreafoliar. A ocorrência de estresse (hídrico,nutricional, competição com plantas dani-nhas, fitotoxicidade de produtos químicos)nesse estádio poderá prejudicar o desen-volvimento da planta. O feijoeiro de hábi-to de crescimento indeterminado deveráatingir o estádio R6 (florescimento) com 20a 22 folhas trifolioladas expandidas e fo-tossinteticamente ativas.

Kozlowski et al. (1999) determinaramque o período crítico de prevenção da inter-ferência (PCPI) no feijoeiro (cultivar ‘FTNobre’) está entre os estádios V4e R6. Comomencionado, após o estádio fenológico V4,a planta apresenta uma taxa de crescimentomaior (arranque) e, dessa forma, qualquercompetição que ocorra nessa época afetao índice de área foliar, refletindo na pro-dução final. A competição após R6 não afetaa produção, pois as vagens já estarão todasformadas.

Victoria Filho (1994), revisando diver-sos trabalhos, relata que o período maisimportante da competição entre plantasdaninhas e feijoeiros situa-se entre 20 e30 dias após a emergência dos feijoeiros.Ainda, segundo esse mesmo autor, a com-petição das plantas daninhas com a culturado feijão depende de uma série de fatoresrelacionados com a cultura ou com as plan-tas daninhas, como: variedade, espaça-mento, densidade e adubação do feijoei-ro, tipo de planta infestante, densidade deocorrência e período de interferência dasplantas daninhas. Dentre esses fatores des-tacam-se a densidade e o tipo de plantasdaninhas e a época em que essa competiçãoocorre. Trabalhos realizados na Embrapa

Arroz e Feijão mostraram que, quando acompetição entre a planta daninha e o fei-joeiro é antecipada em dez dias, há reduçãoda produtividade, dentro de uma mesmadensidade de plantas daninhas. Tais resul-tados demonstram a importância do usode estratégias, para que a competição dasplantas daninhas com o feijoeiro ocorra emestádios mais avançados da cultura.

Devido aos vários fatores que afetam acompetição planta daninha e feijoeiro, asperdas de rendimento do feijão, devido àmatocompetição é bastante variável. Per-das entre 23% e 80%, no Brasil, e de 20% a80% em nível mundial têm sido relatadas(Quadro 2). Além da redução no rendimen-to, algumas plantas daninhas hospedamagentes causais de doenças. Alguns exem-plos de doenças, influenciadas pelas plan-tas daninhas, são:

a) mosaico-dourado: o vírus é trans-mitido pela mosca-branca; portanto,a severidade da doença está rela-cionada com a população de plan-tas hospedeiras do inseto e do vírus.Entre as plantas hospedeiras do inse-to, incluem-se as seguintes espécies:leiteiro (Euphorbia heterophylla) ,guanxuma (Sida spp.), corda-de-viola (Ipomoea ssp.) e trapoeraba(Commelina benghalensis). Para

as hospedeiras do vírus, incluem-sevárias espécies de Phaseolus e deMacropitilium;

b) tombamento: o fungo possui ocor-rência generalizada e grande variabi-lidade patogênica. Algumas plan-tas como trapoeraba, picão-preto(Bidens pilosa), carrapicho-rasteiro(Acanthospermum australe) aumen-tam a população de espécies de fun-gos causadores de podridões ra-diculares;

c) podridão-cinzenta-do-caule: a ti-ririca (Cyperus esculentus ) predis-põe as plantas ao estresse hídrico eaumenta a incidência da doença;

d) galha-das-raízes: a sobrevivên-cia e a multiplicação das espécies deMeloidogyne durante a entressafradependem da presença de plantashospedeiras. Por meio de observa-ções de campo em áreas irrigadasconstatou-se que as lavouras de fei-joeiro de áreas com alta infestaçãode trapoeraba, mentrasto (Ageratumconyzoides), carrapicho-de-carneiro(Acanthospermum hispidum), erva-de-santa-luzia (Chamaesyce hirta ),quebra-pedra (Phyllanthus tenellus)e tiririca, apresentavam maior seve-ridade da doença;

Campinas-SP 23 Blanco et al. (1969 apud AREVALO; ROZANSKI, 1991)

Viçosa-MG 35-70 Vieira (1970 apud AREVALO; ROZANSKI, 1991)

Viçosa-MG 50 William (1973 apud AREVALO; ROZANSKI, 1991)

Viçosa-MG 25 Kranz (1978)

Viçosa-MG 80 William (1973 apud AREVALO; ROZANSKI, 1991)

Ilha Solteira-SP 29 Machado Neto e Andrade (1983)

Goiânia-GO 11 Kluthcouski et al. (1988)

Canadá 82 Blackshaw e Esau (1991)

Chapingo-México 98 Jorge Nieto et al. (1968 apud AREVALO; ROZANSKI, 1991)

Mundial 20-80 Zindahl (1980 apud AREVALO; ROZANSKI, 1991)

QUADRO 2 - Porcentagem de perdas na produtividade causadas pela matocompetição na cultura

do feijoeiro em relação a tratamentos sem competição

FonteLocaisPerdas

(%)

Page 88: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 8 3 - 9 7 , 2 0 0 4

86 Feijão d e a lta p rodutividade

e) mofo-branco: o agente causal dadoença é polífago e pode atacar maisde 300 espécies de plantas. O grandenúmero de hospedeiros mantém oinóculo da doença nos períodos derotação de cultura, pousio e entres-safra, dificultando o controle. O pa-tógeno pode também sobreviver pormeio das estruturas de resistência(escleródios).

MÉTODOS DE MANEJODAS PLANTAS DANINHAS

A população de plantas daninhas po-de ser dividida em três componentes: se-mentes ativas, sementes inativas/latentese plantas. A semente ativa (pronta paragerminar) pode originar-se de três fontes:produzida pelas plantas na lavoura, pro-venientes de fora do sistema e das queestavam latentes e que, por alguma razão,transformaram-se em ativas. A sementeinativa também pode vir dessas três fontes.

O manejo de plantas daninhas envolveatividades dirigidas para elas (manejodireto) e/ou para o sistema solo e cultura(manejo indireto). O manejo direto refere-se à eliminação direta das plantas daninhascom o uso de herbicidas, de ação mecânicaou manual e biológica. No manejo do solo(indireto) trabalha-se com a relação semen-tes ativas e inativas. Nesse caso, procura-se aumentar a germinação das plantasdaninhas e depois controlá-las com o usode técnicas como a aplicação seqüencialde dessecantes. O manejo cultural baseia-se no desenvolvimento de feijoeiros comcapacidade de manifestar seu máximo po-tencial produtivo e competir com as plantasdaninhas, pela utilização de práticas comoo equilíbrio na fertilidade do solo, densi-dade de semeadura, manejo de adubação,arranjo espacial das plantas, época ade-quada de plantio, entre outras. A utilizaçãode seqüência de cultivos (sucessão ou ro-tação), em que os restos culturais de umcultivo exerçam efeitos alelopáticos/su-pressivos sobre a biota nociva do cultivo,também é importante.

Na estratégia de controle das plantasdaninhas devem estar associados o melhormétodo e o momento oportuno, antes doperíodo crítico de competição. A escolha dométodo, entretanto, deve estar relaciona-da com as condições locais de mão-de-obrae de implementos, sempre considerando a aná-lise de custos. Deve-se utilizar a associaçãode métodos sempre que possível.

A terminologia “controle integrado”significa a utilização de dois ou mais mé-todos de controle de plantas daninhas, como objetivo de manter as populações abaixodo nível de dano econômico e com o míni-mo de impacto ambiental. Para cada condi-ção edafoclimática (topografia, tipo de so-lo, precipitação, espécies de plantas dani-nhas, tipos de equipamentos disponíveis), édefinido o método ou a associação de méto-dos de controle que irá permitir ao produtormaior eficiência, economia e a preservaçãodo meio ambiente. A utilização de um únicométodo de controle de plantas daninhas poranos consecutivos pode acarretar sériosproblemas na área, tais como: adensamentodo solo, acúmulo de resíduos de herbicidase seleção de plantas daninhas resistentes.

MANEJO CULTURAL

O controle cultural consiste em utilizaras características inerentes ao feijoeiro eàs plantas daninhas, de modo que o fei-joeiro leve vantagem sobre as plantas da-ninhas. Ainda que o feijoeiro apresentereduzida capacidade competitiva com asplantas daninhas, o método cultural é extre-mamente importante para propiciar à plantacultivada as melhores condições possíveis,a fim de que ela se estabeleça rapidamente.

Para que o feijoeiro tenha alguma van-tagem sobre as plantas daninhas é funda-mental, de acordo com o hábito de cresci-mento (tipo I - determinado arbustivo; tipoII - indeterminado arbustivo; tipo III - inde-terminado ramador e tipo IV - indetermina-do volúvel ou trepador), que se estabele-ça o espaçamento adequado, bem comouma densidade apropriada e homogêneaao longo do sulco de semeadura. Na prática,o arranjo espacial adequado entre fileiras é

aquele que permite a cobertura total do solo,quando a cultura atingir seu pleno desen-volvimento vegetativo. Além do tipo deplanta, as condições edafoclimáticas tam-bém são importantes na escolha do espa-çamento. A redução do espaçamento entrelinhas geralmente proporciona vantagemcompetitiva à maioria das culturas sobreas plantas daninhas sensíveis ao sombrea-mento. Para o feijoeiro, as variedades dehábito de crescimento determinado e inde-terminado arbustivo devem ser semeadasem espaçamentos menores que 0,5 m, sen-do tanto menores, quanto menor for a fer-tilidade do solo, ou a adubação utilizada.Nas variedades de hábito de crescimentoindeterminado prostrado, o espaçamentopode ser de 0,5-0,6 m, levando-se em contaas condições edafoclimáticas.

A rotação de culturas, além das inúme-ras vantagens que proporciona, é prati-cada para prevenir o surgimento de altaspopulações de certas espécies de plantasdaninhas, mais adaptáveis à determinadacultura. A monocultura, assim como a repe-tição continuada de um mesmo herbicidana mesma área, pode favorecer o estabe-lecimento de certas espécies de plantasdaninhas resistentes, aumentando suainterferência sobre a cultura (COBUCCI etal., 1996). Segundo estes autores, a escolhado tipo de cultura a ser incluída em umarotação, quando o controle de plantas dani-nhas é o principal objetivo, deve recairsobre espécies, cujas características morfo-lógicas sejam bem contrastantes com asdo feijoeiro.

PLANTIO DIRETO:COBERTURA MORTA ECOBERTURA VIVA

No caso do plantio direto, a maior con-centração de sementes de plantas daninhasocorre próximo à superfície, enquanto nosmétodos convencionais de preparo do solo,as sementes são distribuídas no perfil dosolo. Por isso, no plantio direto há decrés-cimo, com o passar dos anos, do banco desementes do solo por indução de germi-nação ou perda de viabilidade, ainda mais

Page 89: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 8 3 - 9 7 , 2 0 0 4

87Feijão d e a lta p rodutividade

considerando que nesse sistema ocorremalterações na física, química e biologia dosolo e interferência na penetração de luz,umidade e na temperatura do solo. Alémdisso, a cobertura morta causa impedimentofísico à emergência de plantas daninhas e,durante a sua decomposição, pode produ-zir substâncias alelopáticas que inibem agerminação das sementes das invasoras.Plantas de canola, nabo forrageiro e ervilha-ca, apesar de inicialmente apresentarembom volume de massa seca, podem sofreralta taxa de decomposição, o que facilita agerminação das plantas daninhas.

A cobertura verde pode ser utilizadacomo prática de redução de população ecompetitividade das plantas daninhas nofeijoal, mas o principal objetivo dessa prá-tica é melhorar as propriedades físicas, quí-micas e biológicas do solo. Muitas plantas(Stilozobium aterrinum, Crotalaria juncea,C. paulina , Cajanus cajan, Canavaliaensiformes, Dolichos lablab , etc.) podeminibir o desenvolvimento de certas espéciesde plantas daninhas. Esses efeitos persis-tem após o corte e a distribuição de restosvegetais sobre o solo.

Nos sistemas com cultivo intensivo,as plantas daninhas constituem fonte deinóculo primário de algumas doenças dofeijoeiro durante a entressafra. A maior par-te dos problemas é causada por plantas defolhas largas e não por gramíneas. Estas,geralmente, não são hospedeiras e contri-buem para a diminuição de várias doenças.Existem poucas informações sobre o mane-jo de plantas daninhas, visando a reduçãode inóculo e o controle integrado de doen-ças do feijoeiro. Resultados satisfatóriostêm sido obtidos com o controle das plan-tas daninhas de folhas largas e com o usode práticas que favorecem o crescimentode gramíneas (Brachiaria plantaginea,Eleusine indica e Cench rus echinatus ),durante o período de pousio.

A Embrapa Arroz e Feijão vem pes-quisando o consórcio milho e Brachiariabrizantha (Sistema Santa Fé) com o intui-to de diminuir as plantas daninhas hos-pedeiras de fungos e pragas e de produ-zir massa forrageira para o confinamento

de gado e cobertura morta para o plantiodireto do feijoeiro. Resultados prelimina-res mostraram que o uso de subdoses deherbicidas nas culturas de milho ou soja,com o objetivo de paralisar momentanea-mente o crescimento da forrageira, reduza produtividade da cultura de 5% a 10%(Quadro 3). Tal redução é compensada, comsobras, com o aproveitamento do capimpara a produção animal (formação de pas-to após a colheita da cultura) e a formaçãode cobertura morta. Esta contribui para adiminuição do uso de herbicidas, fungici-das e inseticidas no feijoeiro cultivado noinverno.

HERBICIDAS

Época de aplicação

a) pré-plantio (PRE): aplicado antes dasemeadura do feijão;

b) pré-plantio incorporado (PPI): oherbicida é aplicado antes da semea-dura do feijão e incorporado super-

ficialmente ao solo com a gradagem.Essa prática reduz as perdas de par-te de alguns herbicidas por volati-lização e/ou fotodegradação. A apli-cação pode ser feita em solo seco,aguardando a umidade ideal para sefazer a semeadura;

c) pré-emergência (PE): a aplicaçãoé feita após a semeadura e antes daemergência do feijoeiro. Para o bomdesempenho dos herbicidas é neces-sário que o solo esteja úmido ou queocorram chuvas após a aplicação,ou se façam irrigações para a incor-poração dos herbicidas na camadasuperficial do solo, 0-10 cm, onde amaioria das sementes das plantasdaninhas germina. A ocorrência dealtas luminosidade e temperatura ebaixa umidade relativa do ar e do soloinduz a uma maior volatilização doherbicida aplicado em pré-emergên-cia, principalmente no momento daaplicação;

(1) Valores entre parênteses referem-se à relação percentual, considerando a produtividade dacultura solteira como 100%. (2) nicosulfuron+atrazina (20+1.000g i.a./ha). (3) 2,4-D (536 g/ha).Economia em herbicida equivalente a 450 kg/ha de milho. (4) 2,4-D (536 g/ha)/ nicosulfuron(16 g i.a./ha). (5) fomesafen (250 g i.a./ha)/ haloxyfop-methyl (96 g i.a./ha). (6) fomesafen (250 gi.a./ha). Economia em herbicida equivalente a 291 kg/ha de soja. (7) fomesafen (250 g i.a./ha)/haloxyfop-methyl (24 g i.a./ha).

Santa Helena - GO 98/99 7.737 (100) 8.236 (106,4) –Santa Helena - GO 99/00 7.764 (100) 6.791 (87,4) 7.365 (94,8)

Luziânia - GO 5.155 (100) 4.841 (93,9) 6.298 (122,1)

Campos N. Parecis - MT 6.631 (100) 5.492 (82,9) –Barreiras - BA 7.831 (100) 8.513 (109) –

Santa Helena - GO 2.536 (100) 1.938 (76,4) 2.352 (92,7)

Luziânia - GO 3.631 (100) 3.148 (86,7) –Campos N. Parecis - MT 3.270 (100) 1.617 (48,7) 3.062 (93,6)

Barreiras - BA 3.318 (100) 2.674 (80,6) 2.980 (89,8)

QUADRO 3 - Produtividade (kg/ha) das culturas solteiras e consorciadas com Brachiaria brizantha

(1)ProdutividadeMunicípios

Milho

(4)Consorciado

com subdose degraminicida

(3)Consorciado(2)Solteiro

(7)Consorciada

com subdose degraminicida

(6)Consorciada(5)Solteira Soja

Page 90: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 8 3 - 9 7 , 2 0 0 4

88 Feijão d e a lta p rodutividade

d) pós-emergência (POS): a aplicaçãoé feita em área total após a emergên-cia do feijão e das plantas daninhaspara os herbicidas seletivos, e locali-zada para os não-seletivos. Os her-bicidas usados em pós-emergênciadevem ser aplicados, quando asplantas daninhas encontram-se noestádio jovem, normalmente com me-nos de quatro folhas verdadeiras, fa-se essa correspondente ao períodoanterior à interferência (PAI).

Os herbicidas recomendados para o fei-joeiro são basicamente aplicados em pré-plantio incorporado, pré-emergência e pós-emergência. Os herbicidas aplicados empós-emergência sobre as plantas daninhase sobre a cultura são absorvidos principal-mente via foliar. Esses herbicidas são indi-cados para o controle de plantas daninhastardias ou daquelas que resistiram aos pro-dutos utilizados em pré-emergência. Seusefeitos são condicionados ao estádio dedesenvolvimento do feijoeiro e das plan-tas daninhas por ocasião da aplicação. Deacordo com Victoria Filho (1985), as con-dições para que haja sucesso na ação dosherbicidas aplicados em pós-emergênciasão:

a) que atinja o alvo, ou seja, cubra uni-formemente a superfície foliar dasplantas;

b) que ocorra retenção do herbicida nasuperfície foliar, para que ele sejaabsorvido. Se chover logo após aaplicação, o herbicida pode perder aeficiência, daí a necessidade da adi-ção de surfactantes;

c) que fatores ambientais como umida-de relativa, temperatura, luz, chuvae vento não afetem a absorção dosherbicidas (passagem pela cutículae pela parede celular, até atingir ointerior da célula).

Fatores que influenciam aeficiência

Fatores externos, não inerentes aos her-bicidas, são muito importantes para obter

boa eficiência. Dizem respeito ao tipo desolo, ao clima, à técnica e aos cuidados nomomento da aplicação:

a) tipo de solo: um prévio conheci-mento da textura do solo e do teorde matéria orgânica é fundamental,já que as argilas e húmus tendem aadsorver os herbicidas aplicadosem pré-emergência, tornando-os me-nos disponíveis para absorção pelasplantas, reduzindo, ainda, sua mobi-lidade no solo. Esses aspectos sãorelevantes na determinação da dosea ser aplicada, já que, quanto maio-res os teores de matéria orgânica ede argila, principalmente as de maioratividade – maior capacidade de tro-ca catiônica (CTC) –, maiores dosesserão requeridas;

b) teor de água do solo: a maioria dosherbicidas pré-emergentes é poucoeficiente, quando aplicados em soloseco. Entretanto, para os herbicidasque necessitam de incorporação su-perficial, devido à maior pressão devapor e sensibilidade à luz, a exemploda trifluralina, no momento da aplica-ção, o solo deve estar seco ou ligei-ramente úmido. Na presença de altaumidade, o herbicida poderá ser pou-co absorvido pelo solo e, como con-seqüência, movimentar-se para asuperfície, onde ocorrerá perda porvolatilização. No caso dos herbici-das pré-emergentes, que necessitamde água para a distribuição no per-fil do solo, a aplicação em solo se-co e a demora das chuvas ou dasirrigações reduzem a eficiência doproduto. Com os herbicidas pré-emergentes, alcança-se maior efici-ência, quando as plantas apresen-tam elevada atividade metabólica,ou seja, quando não sofrem estressehídrico (COBUCCI et al., 1996);

c) umidade relativa do ar: quandoinferior a 60%, a umidade do ar com-promete seriamente a eficiência damaioria dos herbicidas aplicados em

pós-emergência. A baixa umidaderelativa do ar, durante ou logo apósa aplicação do herbicida, causa de-sidratação da cutícula, o que podereduzir a penetração dos produtossolúveis em água, principalmentese cristalizados na superfície foliar.A incidência da alta luminosidade,aliada à baixa umidade relativa do are à baixa umidade do solo, induz àsíntese de cutícula, com aumento dacamada lipofílica, dificultando a pe-netração dos herbicidas;

d) temperatura: a temperatura exer-ce grande influência agronômicasobre os herbicidas usados em prée pós-emergência. No caso dospós-emergentes, temperaturas altasaumentam a espessura da cutículae afetam a atividade metabólica dasplantas, além de favorecer a evapora-ção das gotículas de água e a volatili-zação, prejudicando a absorção dosherbicidas. Tanto altas como baixastemperaturas podem causar estressenas plantas daninhas, interferindona absorção;

e) ventos: além da deriva, o vento aumen-ta as perdas de herbicidas voláteis.Isso pode representar menor efici-ência do produto e causar danosconsideráveis em culturas vizinhas.Tal problema pode ser minimizado,quando, no momento da aplicação,a velocidade do vento for inferior a8 km/h;

f) tecnologia de aplicação: devem serconsideradas as características dospulverizadores, das pontas de pul-verização responsáveis pela distri-buição do produto (bicos) e do alvosobre o qual o produto deve atuar.Esses aspectos somados às condi-ções climáticas irão determinar osfatores necessários, para que o her-bicida atinja o alvo sem excessos esem agressão ao meio ambiente e aooperador. Outros cuidados referem-se a: evitar aplicações, quando hou-

Page 91: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 8 3 - 9 7 , 2 0 0 4

89Feijão d e a lta p rodutividade

ver risco de chuva antes do tempomínimo necessário para a absorçãodo herbicida (pós-emergentes); evitaraplicações, quando as plantas dani-nhas estiverem com crescimento ve-getativo paralisado (pós-emergente),quando o solo não estiver bem pre-parado, ou com teor de água ade-quado (pré-plantio incorporado e pré-emergentes); evitar aplicações comventos fortes, de intensidade supe-rior a 8 km/h; evitar o uso de águabarrenta, com grande quantidade deargila em suspensão, que pode com-prometer a ação dos herbicidas, etc.

Alguns agricultores têm aplicado her-bicidas via água de irrigação, método deno-minado herbigação. As principais vanta-gens desse método são: redução dos danosmecânicos ao solo (compactação), umidadeadequada no solo e economia. A herbiga-ção pode reduzir os custos de aplicação, emrelação à aplicação tratorizada, em até 50%.

Vale lembrar que a falta de produtos regis-trados para esse fim constitui o maior entra-ve à utilização dessa técnica. Além disso,esse método requer lâminas d’água variá-veis entre 5 e 25 mm, sendo tanto menorquanto mais arenoso for o solo, já que oproduto pode ser arrastado para camadasabaixo da zona de emergência das plantasdaninhas. A solubilidade e o coeficiente deabsorção (kd do herbicida) também influ-enciam na altura da lâmina d’água a ser apli-cada (COBUCCI et al., 1996). A aplicaçãodo herbicida através da irrigação é reco-mendada para herbicidas pré-emergentes,tais como atrazine, alachlor, benefin, ben-sulide, butylate, chloramben, cyanazina,DCPA, diphenamid, EPTC, ethalfluralina,fluormeturon, imazaquin, metolachlor, me-tribuzine, oryzalina, pendimethalin e triflu-ralina. Alguns agricultores estão utilizandoos herbicidas trifluralina e pendimethalinem pré-plantio na cultura do feijão, via águade irrigação, alcançando resultados fa-voráveis.

Manejo de herbicidasaplicados em pré-plantio

A principal característica do sistemade plantio direto, no tocante a plantas da-ninhas, é a eliminação delas antes da se-meadura da cultura. Essa operação-chavesubstitui as operações de preparo do solodestinadas, entre outros objetivos, aocontrole das plantas daninhas. Essa fase édenominada manejo ou dessecação, na qualpodem ser empregados diversos herbi-cidas (Quadro 4). A maioria das plantasdaninhas anuais é de fácil manejo, já asperenes são as mais problemáticas, princi-palmente gramíneas, a partir de seis mesesde germinação.

Principais herbicidasrecomendados para o manejo deárea em plantio direto

Glifosate e sulfosate

São herbicidas translocados pelo xilemae floema, ou seja, os que atingem todas as

FONTE: Cobucci et al. (1996).

(1) Acrescentar 0,1% de surfactante não-amônico.

(1)Paraquat Gramoxone 200 200 0,2 - 0,4 1,0 - 2,0 Controle de monocotiledôneas anuais.

2,4-D amina Diversos – 0,7 - 1,1 – Controle de dicotiledôneas anuais.

(1)Paraquat + diuron Gramocil 200 + 100 0,4 - 0,6 + 0,2 - 0,3 2,0 - 3,0 Controle de mono e dicotiledôneas anuais, comexceção de guanxumas, leiteiro, buva, poaia-do-campo, maria-mole.

Sulfosate Zapp 480 0,48 - 0,96 1,0 - 2,0 Controle de mono e dicotiledôneas anuais, comexceção de trapoeraba e poaia-do-campo.

Glifosate Diversos 480 0,48 - 0,96 1,0 - 2,0 Controle de mono e dicotiledôneas anuais, comexceção de trapoeraba e poaia-do-campo.

(1)Paraquat + diuron Gramocil 200 + 100 0,4 - 0,6 + 0,2 - 0,3 2,0 - 3,0 Controle de mono e dicotiledôneas anuais. com 2,4-D amina Diversos – 0,7 - 1,1 –

Sulfosate com 2,4- D amina Zapp 480 0,48 - 2,4 1,0 - 5,0 Controle de mono e dicotiledôneas anuais eDiversos – 0,7 - 1,1 – perenes.

Glifosate com 2,4- D amina Roundup 480 0,48 - 2,4 1,0 - 5,0 Controle de mono e dicotiledôneas anuais eDiversos – 0,7 - 1,1 – perenes.

QUADRO 4 - Herbicidas para manejo de plantas daninhas em pré-plantio na cultura do feijoeiro

Nome técnico Nomecomercial

Concen-tração

Doses

kg i.a./ha L p.c./ha

Observação

Page 92: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 8 3 - 9 7 , 2 0 0 4

90 Feijão d e a lta p rodutividade

partes da planta. Devido à forte adsorçãopelas argilas e matéria orgânica, esses herbi-cidas ficam indisponíveis à absorção pelasraízes e causam pouco impacto ao ambiente,já que a sua degradação pelos microorga-nismos ocorre em poucos dias. É funda-mental que tais herbicidas sejam aplicados,quando as plantas estiverem em pleno de-senvolvimento e apresentarem boa cober-tura vegetal. Devem-se evitar aplicações,quando as plantas daninhas apresentarem-se estressadas, tanto por deficiência hídri-ca como por baixas temperaturas. Essesprodutos podem ser aplicados com volu-mes de calda inferiores a 50 L/ha, práticaque otimiza a absorção pelas plantas, devi-do ao menor escorrimento sobre as folhas.Deve-se evitar a aplicação, quando houverrisco de ocorrência de chuva num períodoinferior a seis horas após a aplicação.

Paraquat + diuron

Segundo Cobucci et al. (1996), a absor-ção simultânea do paraquat e do diuronpelas plantas daninhas inibe a rápida açãodo paraquat, conferindo melhor ação doproduto sobre as invasoras. Um períodode meia hora sem chuva, após a aplicaçãodeles, é suficiente para que sejam eficientes.Uma única aplicação é recomendada, quan-do as plantas daninhas tiverem menos de20 cm de altura. Acima desse limite é reco-mendável a aplicação seqüencial (duasvezes), com intervalos de cinco a sete dias,para evitar o efeito guarda-chuva, permi-tindo o controle mais eficaz das plantasmenores ou sob sombreamento. Quandohouver plantas daninhas latifoliadas, dedifícil controle, como a guanxuma, o leiteiro,a buva, a poaia-do-campo e a maria-mole,devem-se realizar aplicações seqüenciaisacrescentando-se 2,4-D na primeira apli-cação. Por causa da rápida velocidade deabsorção do 2,4-D pelas plantas, o paraquatnão prejudica a absorção e a eficiência des-se herbicida.

2,4-D (amina)

Quando o 2,4-D for utilizado para des-secação, deve-se observar criteriosamenteo período de carência para a semeadura do

feijão (Quadro 5). Se ocorrerem chuvas demais de 40 mm após a aplicação do 2,4-D, operíodo de espera pode ser reduzido paratrês a quatro dias, já que o herbicida éfacilmente lixiviado para camadas abaixo donível das sementes.

tas daninhas Sida rhombifolia, Euphorbiaheterophylla, Commelina benghalensis eoutras. Os ovos, ninfas e pupas nas plantashospedeiras contribuem para o aumentoda população da mosca-branca, principal-mente em épocas secas, quando o feijãode inverno é introduzido no sistema de plan-tio. Conseqüentemente, o manejo das plan-tas daninhas em pré-plantio pode reduzir apopulação inicial da mosca-branca. Traba-lho realizado na Embrapa Arroz e Feijãomostrou que, quanto mais rápida a desse-cação das plantas daninhas, menor a emer-gência do adulto da mosca-branca, poismenor foi o tempo para o desenvolvimentodas ninfas e pupas até chegar a fase adulta.Outro ponto importante da interação ma-nejo de área em plantio direto e pragas seriacoincidir o plantio da cultura com a desse-cação completa da cobertura verde, poisaté a emergência do feijoeiro, que ocorrecom cerca de cinco dias, as pragas não te-riam hospedeiros e, conseqüentemente, apopulação inicial delas iria diminuir dras-ticamente. Nesse caso, seria necessária adessecação antecipada (10 a 15 dias) comherbicidas sistêmicos, com a complemen-tação de um herbicida de contato no plantiopara o controle daquelas plantas daninhasque eventualmente germinassem.

Manejo de herbicidas empré e pós-emergência

As plantas daninhas classificam-se emdois grandes grupos: as monocotiledôneasou de folhas estreitas, destacando-se nacultura do feijão, as famílias das Gramineaee Cyperaceae, e as dicotiledôneas, latifo-liadas, ou de folhas largas (Asteraceae,Amaranthaceae, Fabaceae, Commelinaceae,Euphorbiaceae, Convolvulaceae, Malva-ceae, Compositae e Rubiaceae). As plan-tas daninhas, separadas por esse critério,e suas respectivas tolerâncias a alguns her-bicidas recomendados para a cultura do fei-jão encontram-se relacionadas nos Qua-dros 6 e 7. Os principais herbicidas reco-mendados para o feijoeiro são mostradosno Quadro 8.

Alternância de herbicidas de manejo

no sistema de plantio direto

Ainda que não exista registro na lite-ratura de plantas resistentes ao glifosa-te, a rotação de herbicidas, assim como deculturas, evita o surgimento de planta-problema. Enquanto o glifosate e o sulfo-sate controlam melhor a guanxuma e gra-míneas perenes, o paraquat e paraquat +diuron apresentam superioridade no contro-le da trapoeraba. Dessa forma, aplicaçõesseqüenciais com doses reduzidas de gli-fosate ou sulfosate, com 2,4-D ou sem ele,e a aplicação do paraquat alguns dias apósproporcionam excelentes resultados no ma-nejo de todas as combinações de plantasdaninhas. Alguns produtos estão em estu-do para substituir o 2,4-D na mistura comglifosate ou sulfosate na dessecação de área:sulfentrazone, 150 g i.a./ha (GAZZIERO etal., 2000), flumioxazin, 20 g i.a/ha (SILVA;COBUCCI, 2000) e carfentrazone-ethil,20-30 g i.a./ha (GARCIA; NASCIMENTO,2000). Com esses novos herbicidas nãohá necessidade de período de espera antesdo plantio do feijoeiro.

Interação de herbicidasaplicados em pré-plantio epragasA mosca-branca (Bemisia tabaci Gem.),

que transmite o vírus do mosaico-dourado,tem como hospedeiras alternativas as plan-

1.080 10

600 7

QUADRO 5 - Período de espera para o plantio

do feijão, após a aplicação de 2,4-D

FONTE: Cobucci et al. (1996).(1) Formulação amina.

(1)g i.a./ha Dias

Page 93: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 8 3 - 9 7 , 2 0 0 4

91Feijão d e a lta p rodutividade

Brachiaria decumbens Braquiária T T S M - A S T T S A A S A

Brachiaria plantaginea Capim-marmelada T T A A M A S T T S A A S A

Cenchrus echinatus Capim-carrapicho T T A A S A A P T A S A A A

Cynodon dactylon Grama-seda P T S M - - - P T P P M M P

Cyperus rotundus Tiririca P P T T - - - P P S P T T P

Digitaria horizontalis Capim-colchão T T A A S A A P T A S A S A

Echinochloa crusgali Capim-arroz T T A A - - - T T A S A A A

Eleusine indica Capim-pé-de-galinha T T A A - S S T T A A A A A

Lolium multiflorum Azevém T T A A - - - T T S S A S A

Panicum maximum Capim-colonião T T A A - - - T T S S S M S

Pennisetum setosum Capim-oferecido T T A - - - - T T M S A A S

Setaria geniculata Capim-rabo-de-raposa T T A A - - - T T S A A S A

Sorghum halepense Capim-massambará T T A A - - - T T S S S M S

QUADRO 6 - Suscetibilidade das principais plantas daninhas de folhas estreitas a alguns herbicidas registrados para a cultura do feijoeiro

Trifl

ural

in

Nome científico Nome comum

Bentazon Clethodin

Imaz

amox

Fluazifop-p-butil Fomesafen

Met

olac

hlor

Pend

imet

halin

Sethoxidin

i t i t i t i t i t

FONTE: Lorenzi (1994).

NOTA: A - Altamente suscetível (acima de 95% de controle); S - Suscetível (de 85% a 95% de controle); M - Medianamente suscetível (de 50% a85% de controle); P - Pouco suscetível (menos de 50% de controle); T - Tolerante (0% de controle); - Sem informação; i - Pós-emergênciainicial até o perfilhamento para gramíneas; t - Pós-emergência tardia, um a quatro perfilhos para gramíneas.

Page 94: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 8 3 - 9 7 , 2 0 0 4

92 Feijão d e a lta p rodutividade

Brachiaria decumbens Braquiária T T S M - A S T T S A A S

Acanthospermum australe Carrapicho-rasteiro S M T T S T T S M S P T T

Acanthospermum hispidum Carrapicho-carneiro S M T T A T T A S M T T T

Ageratum conyzoides Mentrasto A S T T - T T A M M P T T

Alternanthera tenella Apaga-fogo P P P P A T T A M S S P T

Amaranthus deflexus Caruru S M T T S T T A S S A T T

Amaranthus spinosus Caruru-de-espinho S M - - A T T A S M A T T

Amaranthus viridis Caruru-de-mancha S M - - A T T A S M A T T

Bidens pilosa Picão-preto S M T T S T T S M P P T T

Senna obtusifolia Fedegoso P P T T - T T S M P P T T

Senna occidentalis Fedegoso P P T T - T T M P P P T T

Chenopodium album Ançarinha-branca S S T T - T T S - S M T T

Chenopodium ambrosiodes Erva-de-santa-maria S S T T - T T A S S M T T

Commelina benghalensis Trapoeraba S M T T S T T S M S P T T

Emilia sonchifolia Falsa-serralha M M T T T T T A S S S T T

Galinsoga parviflora Botão-de-ouro S M T T - T T A S S M T T

Euphorbia heterophylla Leiteiro P P T T A T T S M P P T T

Hyptis lophanta Catirina M M T T - T T A S M P T T

Hyptis suaveolens Bamburral M P T T A T T A S M M T T

Ipomoea acuminata Corda-de-viola A S T T - T T M M P P T T

Ipomoea grandifolia Corda-de-viola S M T T S T T S M P P T T

Ipomoea hederifolia Corda-de-viola S - T T - T T S M P P T T

Ipomoea purpurea Corda-de-viola S M T T - T T S M P P T T

Lepidium virginicum Mastruço A S T T - T T S M M M T T

Oxalis latifolia Trevo M M T T - T T M P - M T T

Portulaca oleracea Beldroega S S T T A T T S S S A T T

Raphanus raphanistrum Nabiça S M T T A T T A S M S T T

Richardia brasiliensis Poaia-branca M P T T S T T A S S M T T

Sida cordifolia Guanxuma S - T T - T T M M M P T T

Sida rhombifolia Guanxuma A S T T S T T M M M P T T

Sida santaremnensis Guanxuma S M T T - T T - - S P T T

Sida spinosa Guanxuma A S T T - T T - - M P T T

Sinapsis arvensis Mostarda S S T T - T T S M - M T T

Solanum sisymbrifolium Joá P P T T - T T M P P P T T

Sonchus oleraceus Serralha S M T T T T T S M P S T T

Waltheria americana Malva-veludo S M T T - T T - - P P T T

Nome científico Nome comum

Bentazon Clethodin

Imaz

amox

Fluazifop-p-butil Fomesafen

Met

olac

hlor

Pend

imet

halin

Sethoxidim

i t i t i t i t i t

FONTE: Lorenzi (1994).NOTA: A - Altamente suscetível (acima de 95% de controle); S - Suscetível (de 85% a 95% de controle); M - Medianamente suscetível (de 50% a 85%

de controle); P - Pouco suscetível (menos de 50% de controle); T - Tolerante (0% de controle); - Sem informação; i - Pós-emergência inicial(duas a quatro folhas); t - Pós-emergência tardia (quatro a oito folhas).

QUADRO 7 - Suscetibilidade das principais plantas daninhas de folhas largas a alguns herbicidas registrados para a cultura do feijoeiro

Page 95: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 8 3 - 9 7 , 2 0 0 4

93Feijão d e a lta p rodutividade

Bentazon Basagran SA 480 g/L Basf Pós Folhas largas 1,5 a 2,0 Aplicar quando os feijoeiros estiverem

no estádio da 1a e 3a folhas trifolioladas,

com o solo úmido e a umidade relativa

do ar entre 70% e 90%. Usar adjuvante

recomendado pelo fabricante.

Clethodim Select 340 CE CE 240 g/L Hokko Pós Gramíneas 0,4 a 0,6 L Aplicar quando os feijoeiros estiverem

no estádio da 1a e 3a folhas trifolioladas,

com o solo úmido e a umidade relativa

do ar entre 70% e 90%. Usar adjuvante

recomendado pelo fabricante, estando as

gramíneas no início do desenvolvimento

(até três perfilhos).

Imazamox Sweeper DG 700 g/kg Cyanamid Pós Folhas largas 42 g Aplicar quando os feijoeiros estiverem

no estádio da 1a e 3a folhas trifolioladas,

com o solo úmido e a umidade relativa

do ar entre 70% e 90%. Usar adjuvante

recomendado pelo fabricante. Não tóxi-

co para o milho em plantio seqüencial.

Fluazifop-p-butil Fusilade CE 125 g/L Zeneca Pós Gramíneas 1,5 a 2,0 L Aplicar quando a cultura estiver com até

quatro folhas e com as gramíneas infes-

tantes no início do desenvolvimento

(até três perfilhos).

Fluazifop-p-butil + Robust ME 200 + Zeneca Pós Gramíneas e 0,8 a 1,0 L Aplicar quando os feijoeiros estiverem

no estádio da 1a e 3a folhas trifolioladas,

com o solo úmido e a umidade relativa

do ar entre 70% e 90%. Usar adjuvante

recomendado pelo fabricante. Pode ser

tóxico para o milho e sorgo em plantio

seqüencial.

Fomesafen Flex SA 250 g/L Zeneca Pós Folhas largas 0,9 a 1,0 L Aplicar quando os feijoeiros estiverem

no estádio da 1a e 3a folhas trifolioladas,

com o solo úmido e a umidade relativa

do ar entre 70% e 90%. Usar adjuvante

recomendado pelo fabricante. Pode ser

tóxico para o milho e sorgo em plantio

seqüencial.

Metolachlor Dual 960 CE CE 960 g/kg Novartis Pré Gramíneas e 2,0 a 3,0 L Aplicar logo após o plantio em solo úmido

ou irrigar logo após. Não usar em solo

muito arenoso.

Pendimethalin Herbadox CE 500 g/kg Cyanamid PPI Gramíneas e 1,5 a 3,0 L Incorporar superficialmente ao solo,

mecanicamente ou via água de irrigação,

em caso de pouca umidade do solo.

QUADRO 8 - Principais herbicidas recomendados para a cultura do feijão

ObservaçõesNometécnico

Nomecomercial

Formulação FabricanteÉpoca

deaplicação

Plantasdaninhas

controladas

(1)Dose(L ou

g ha-1)

(continua)

fomesafen 250 g/L folhas largas

algumas

folhas largas

500 CE ou folhas largas

Pré

Page 96: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 8 3 - 9 7 , 2 0 0 4

94 Feijão d e a lta p rodutividade

Indicações de usodos principais herbicidasrecomendados parao feijoeiro

Herbicidas recomendados

em pré-emergência

(metolachlor, pendimethalin

e trifluralin 600)

No plantio direto, apesar de ser um sis-tema completamente diferente do conven-cional, os herbicidas pré-emergentes con-tinuam sendo recomendados nas mesmasdoses, em ambos os casos, não se levandoem conta a capacidade desses produtosde lixiviar da palhada para o solo (alvo).Fatores como a quantidade de coberturamorta e características físico-químicas dosprodutos interferem na lixiviação, refletin-do na eficiência agronômica deles. Algunsherbicidas como pendimethalin, trifluralin

e metolachlor, mesmo ocorrendo chuvas lo-go após a aplicação, são retidos na palhadae não atingem o solo. Outros produtos sãofacilmente lixiviados no solo, com chuvasque ocorram 24 horas após a aplicação,como é o caso do sulfentrazone. Por isso,há boas perspectivas no seu uso em plan-tio direto, apesar de ainda não ser registra-do para o feijoeiro. O metolachlor aplicadosobre 8 t/ha de matéria seca, tem pequenacapacidade de lixiviar da palhada para osolo.

Herbicidas recomendados

em pós-emergência

(fomesafen, bentazon, imazamox,

paraquat+bentazon, sethoxydim,

fluazifop-p-butil e clethodim)

O fomesafen é um herbicida recomen-dado para o controle de plantas daninhas

de folhas largas e deve ser aplicado, quan-do elas apresentam de duas a seis folhas,dependendo da espécie. Em altas pressõesde ervas, especialmente do leiteiro, e/oucondições de baixa umidade relativa do arno momento da aplicação, recomendam-seaplicações seqüenciais, ou seja, a aplicaçãode metade da dose, quando as plantas da-ninhas apresentarem duas folhas desen-volvidas, e a outra metade entre sete e dezdias depois. Para o controle da trapoerabae do joá-de-capote, em estádios mais avan-çados (mais de seis folhas), e da guanxu-ma, recomenda-se a mistura do fomesafencom o bentazon. Misturas de bentazon comgraminicidas não anulam a eficácia decontrole sobre as plantas daninhas. O ben-tazon é também um herbicida recomenda-do para o controle de plantas daninhasde folhas largas, nos estádios iniciais de

Herbiflan,

Trifluralin,

Defensa,

Treflan,Tritac

ObservaçõesNometécnico

Nomecomercial

Formulação FabricanteÉpoca

deaplicação

Plantasdaninhas

controladas

(1)Dose(L ou

g ha-1)

(conclusão)

Sethoxydim Poast CE 184 g/L Basf Pós Gramíneas 1,25 L Aplicar quando os feijoeiros estiverem

no estádio da 1a e 3a folhas trifolioladas,

com o solo úmido e a umidade relativa

do ar entre 70% e 90%. Usar adjuvante

recomendado pelo fabricante.

Trifluralin Diversos: CE 445 g/L Diversos: PPI Gramíneas e 1,2 a 2,4 L Aplicar em solo bem preparado, seco ou

pouco úmido. Incorporar ao solo até 8

horas depois da aplicação.

Trifluralin Premerlin CE 600 g/L Milenia Pré Gramíneas e 3,0 a 4,0 L Aplicar em solo úmido ou irrigar logo

após a aplicação.

Paraquat+ Pramato SA 30 + Ihara Pós Gramíneas e 1,5 a 2,5 L Aplicar quando os feijoeiros estiverem

no estádio da 1a e 3a folhas trifolioladas,

com o solo úmido e a umidade relativa

do ar entre 70% e 90%. Usar adjuvante

recomendado pelo fabricante.

CE 480 g/L Milenia algumas

folhas largas

algumas

folhas largas

bentazon 48 g/L folhas largas

FONTE: Cobucci et al. (1996).

NOTA: Pré - Pré-emergência da cultura e das plantas daninhas; Pós - Pós-emergência da cultura e das plantas daninhas; PPI - Pré-plantio incorporado;

CE - Concentrado emulsionável; DG - Grânulos dispersos em água; SA - suspensão aquosa; ME - Microemulsão.

(1) Refere-se à dose do produto comercial.

Page 97: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 8 3 - 9 7 , 2 0 0 4

95Feijão d e a lta p rodutividade

desenvolvimento. O modo de ação do her-bicida é o impedimento da reação de Hillnos cloroplastos. Ele depende de luz paraser eficaz. Misturas com graminicidas di-minuem a eficácia de controle das plantasdaninhas de folha estreita, mas não dasde folha larga. A redução do antagonismopode ser obtida pela aplicação do grami-nicida e, após um intervalo superior a trêsdias, a do bentazon. Após as aplicações,são necessárias pelo menos três horassem chuva para assegurar a sua absorção.A mistura de bentazon + paraquat (contro-le do desmódio), em dose baixa, apresentaação sinérgica às plantas daninhas e anta-gônicas em relação à toxicidade à cultura.O bentazon parece proteger a cultura con-tra a toxicidade provocada pelo paraquat.Entretanto, essa mistura tem baixa eficiên-cia em leiteiro. Neste caso, recomenda-se amistura com imazamox, que é um herbicidapertencente ao grupo das imidazolinonas,recentemente registrado para controle deplantas daninhas de folhas largas na cul-tura do feijão. As imidazolinonas inibem aenzima sintetase do ácido acetohidróxido(ALS), que participa na formação de trêsaminoácidos: leucina, valina e isoleucina.O produto é preferencialmente absorvidopelas folhas e translocado. Os primeirossintomas caracterizam-se pela clorose nasfolhas mais novas, seguidos de necrosedos meristemas apicais. Bons resultadosde controle têm sido obtidos com misturade bentazon e/ou aplicação seqüencial como fomesafen (este em primeira aplicação).Os herbicidas sethoxydim, fluazifop-p-butil, fenoxaprop-p-ethyl e clethodim sãograminicidas e requerem boa umidade dosolo e das plantas para melhor absorçãoe translocação nas plantas. A absorção ébastante rápida, não sendo prejudicada porchuvas que podem ocorrer depois da seca-gem da calda sobre as folhas. A ação efe-tiva desses herbicidas sobre as plantasdaninhas ocorre cerca de cinco a dez diasapós a aplicação e caracteriza-se pela des-coloração das folhas, que se estende gra-dualmente por toda a superfície. O cresci-mento das folhas e das raízes é inibido.

Verifica-se a morte do meristema apical dasplantas daninhas cerca de duas semanasapós a aplicação.

Seletividade dos herbicidas

Segundo Victoria Filho (1994), a sele-tividade dos herbicidas para a cultura dofeijão ocorre da seguinte maneira:

a) nas aplicações em PPI, além das ca-racterísticas de atuação do herbicida(seletividade fisiológica), as plân-tulas de feijão conseguem sair rapi-damente da camada tratada com oherbicida, por possuírem raízes pi-votantes. As gramíneas não têm amesma capacidade, devido às raízesserem fasciculadas;

b) nas aplicações em pré-emergência,a seletividade deve-se a um posi-cionamento do herbicida no solo e,em muitas situações, está envolvidaa seletividade fisiológica;

c) nas aplicações em pós-emergência,a seletividade é mais fisiológica, ouseja, a planta degrada o produto eevita ser injuriada por ele.

Entretanto, para alguns produtos po-dem existir problemas de fitotoxicidadeinicial. A intensidade desses danos e a recu-peração dos feijoeiros dependem de váriosfatores, como: variedades (ciclo), estádiode crescimento do feijoeiro no momentoda aplicação, manejo de irrigação, distri-buição de raízes no perfil do solo e con-dições edafoclimáticas. Para o herbicidas-metolachlor, trabalhos realizados pelaEmbrapa Arroz e Feijão mostraram que asua aplicação após a irrigação diminuiu atoxicidade do feijoeiro, comparada com otratamento em que a irrigação foi feita logoapós a aplicação. De forma geral, o feijoeirodeve estar livre de danos fitotóxicos de her-bicidas no estádio V4, pois, a partir daí, háaumento pronunciado do índice de áreafoliar. Esse estádio de crescimento é con-siderado um dos mais importantes, poisdetermina o arranque da planta.

Trabalhos de seletividade de herbici-

das pós-emergentes (tratamentos manti-dos livres de plantas daninhas) mostraramque as aplicações de imazamox (COBUCCI;MACHADO, 1999) e paraquat+bentazondevem ser realizadas entre os estádios V2 eV3 e nunca em V1 ou V4, devido à maiorfitotoxicidade apresentada com aplicaçõesnestes estádios. Quanto aos herbicidasbentazon e fomesafen a aplicação pode serrealizada em V1, V2, V3 e V4. Nesses mes-mos trabalhos, foi avaliado o efeito dafitotoxicidade inicial na produtividade dofeijoeiro. Na média dos ensaios, a aplicaçãode imazamox a 30 g i.a./ha reduziu a pro-dutividade do feijoeiro em 10%. Com oacréscimo de bentazon (480 g i.a./ha) aoimazamox, a fitotoxicidade foi eliminada e,em conseqüência, a produtividade não foiafetada. A presença de bentazon provavel-mente reduziu a absorção do imazamox pelofeijoeiro. A mistura imazamox + fomesafennão reduziu a fitotoxicidade do feijoeiro.Imazamox a 21 g i.a./ha, apesar da pequenafitotoxicidade, não ocasionou efeitos ne-gativos na produtividade. Paraquat + ben-tazon ou paraquat + bentazon + fomesafen,apesar dos danos iniciais, não afetaram aprodutividade. Quanto à mistura paraquat+ bentazon + imazamox, houve redução daprodutividade, quando se aplicou imazamoxna dose de 30 g i.a./ha.

Trabalhos realizados no Paraná porBuzatti e Podolan (2000) mostram que nascondições locais, em plantio na época das“águas” (outubro-novembro), a aplicaçãode imazamox, na dose de 30-40 g i.a./ha, nãoafetou a produtividade do feijoeiro das va-riedades ‘Carioca’ e ‘FT Bonito’. Provavel-mente, a menor fitotoxicidade nessa região,comparada à verificada na região do Cerrado,pode estar relacionada com a temperatura,pois menores temperaturas, principalmenteà noite, são verificadas nos plantios de inver-no no Cerrado. Em São Paulo, Araújo et al.(2000) observaram que as variedades ‘Una’e ‘Onix’ não se recuperaram da fitotoxicidadeinicial do imazamox, enquanto as variedades‘IAPAR 20’ e ‘Bolinha’ foram tolerantes aoherbicida. Rozanski (2000) testou imaza-mox nas doses de 40, 50 e 60 g i.a./ha, nas

Page 98: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 8 3 - 9 7 , 2 0 0 4

96 Feijão d e a lta p rodutividade

variedades ‘Eté’ e ‘Aruã’, e não verificousinais que pudessem caracterizar quais-quer sintomas de injúrias às plantas de fei-jão.

Persistência de herbicidasno solo

Nas aplicações de herbicidas no solo,é muito importante conhecer seu efeito re-sidual para evitar injúrias à cultura sub-seqüente. Até o presente, pouco se conhe-ce sobre o efeito injurioso dos resíduosde herbicidas na agricultura brasileira, prin-cipalmente pela predominância de um cul-tivo por ano, na maioria dos sistemas deprodução. Nos cultivos intensivos (irriga-dos ou safrinha), o efeito residual de algumherbicida pode comprometer a cultura se-guinte.

Dentre os herbicidas aplicados na cul-tura do feijoeiro, fomesafen, acifluorfen eimazamox podem apresentar problemas defitotoxicidade em culturas subseqüentes(carryover). Santos et al. (1991), trabalhan-do com o herbicida fomesafen, no sistemafeijão-milho, constataram que o efeito doherbicida persistia até 100 dias após a apli-cação, causando redução significativa nocrescimento da parte aérea de plantas desorgo usadas como planta-teste. Entretan-to, na dose de 0,375 kg/ha, o efeito persistiupor até 180 dias. Cobucci (1996), estudan-do o efeito de resíduos de fomesafen emsolo cultivado com milho, detectou resí-duos em até 20 cm de profundidade, mascom maior concentração na camada de 0 a10 cm. Os resíduos de fomesafen reduziramo conteúdo de clorofila na folha e o volumede raízes de milho plantado 65 dias após aaplicação do herbicida, mas a cultura nãofoi afetada, com o plantio feito 212 diasapós a aplicação do fomesafen.

O potencial de injúria nas culturas sub-seqüentes por resíduos de herbicidas de-pende da suscetibilidade da cultura a essesresíduos e também da taxa de degradaçãodos herbicidas no solo. Cobucci et al. (1998)mostraram que o sorgo apresentou-se maissuscetível aos resíduos dos herbicidas no

solo, não tolerando concentrações supe-riores a 5 ppb, enquanto o arroz e o milhoforam mais resistentes (Quadro 9). Trabalhorealizado recentemente na Embrapa Arroze Feijão indica que a quantidade de lâminad’água aplicada no feijão (umidade do solo)é um dos fatores mais importantes para adegradação dos herbicidas no solo. Nessetrabalho, maiores lâminas d'água propor-cionaram maior taxa de degradação dosprodutos.

Silva et al. (1995), em solo argiloso, comprecipitação de 285,9 mm e suplementaçãode 300 mm de água via irrigação, no períodode 212 dias entre a aplicação dos herbici-das na cultura do feijão e plantio do milhoBR 201, verificaram que os herbicidas ima-zamox (35 e 70 g/ha) e imazethapyr (50 ou100 g/ha) não deixaram resíduos no solocapazes de causar qualquer problema aomilho.

Cobucci et al. (1998), em dois solos (are-noso e argiloso) com diferentes lâminasd’água de irrigação, constataram que o inter-

valo de dias necessários para o plantio dasculturas subseqüentes ao feijoeiro variouem relação à lâmina d’água aplicada e à re-sistência das culturas aos resíduos dos her-bicidas no solo (Quadro 10). A textura dosolo não foi tão importante como a umidadepara a degradação dos produtos no solo.Considerando que o plantio das culturassubseqüentes, após a colheita do feijão, éfeito aproximadamente 75 dias após a apli-cação do produto, a probabilidade de injú-ria ao sorgo por resíduos de fomesafen(250 g i.a./ha), acifluorfen (170 g i.a./ha) eimazamox (40 g i.a./ha) é alta. Para milho earroz, a injúria é possível em certas condi-ções ambientais (baixo teor de água do soloe alto conteúdo de argila e matéria orgâni-ca), entretanto, ela parece ser baixa em con-dições de alta precipitação.

Os herbicidas pendimethalin e triflura-lin (dinitroanilinas), também utilizados nacultura do feijoeiro, geralmente não causamproblemas de toxicidade em culturas sub-seqüentes, quando o teor de água do solo

QUADRO 10 - Intervalo de dias necessário entre a aplicação dos produtos e o plantio de culturassubseqüentes ao feijoeiro, com duas lâminas d’água aplicadas durante o ciclo dofeijoeiro

(1)L1 (2)L2 L1 L2 L1 L2

Culturassubseqüentes

Fomesafen(250/ha)

Imazamox(40g/ha)

Acifluorfen(170 g/ha)

Sorgo 114 179 78 139 6 139

Milho 69 132 68 111 56 89

Arroz 29 5 25 75 1 95

FONTE: Cobucci et al. (1998).(1) L1 = 6mm/dia. (2) L2 = 4mm/dia.

FONTE: Cobucci et al. (1998).

QUADRO 9 - Concentração de herbicidas no solo (ppb) que não causam efeitos tóxicos às cul-turas subseqüentes

Sorgo <5,0 <5,0 <5,0

Milho 11,6 12,5 14,7

Arroz 24,4 39,9 15,2

ppb ppb ppb

Culturassubseqüentes

Fomesafen(250/ha)

Imazamox(40g/ha)

Acifluorfen(170 g/ha)

Page 99: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 8 3 - 9 7 , 2 0 0 4

97Feijão d e a lta p rodutividade

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, G.S.; DURIGAN, J.C.; SILVA, F.A.Seletividade dos herbicidas fomesafen, imaza-mox e halosulfuron para cultivares de feijão.In: CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIADAS PLANTAS DANINHAS, 22., 2000, Fozdo Iguaçu. Resumos... Londrina: Sociedade Bra-sileira da Ciência das Plantas Daninhas, 2000.p.247.

AREVALO, R.A.; ROZANSKI, A. Plantas dani-nhas na cultura do feijão. In: SEMINÁRIO SOBREPRAGAS E DOENÇAS DO FEIJOEIRO, 4., 1991,Campinas. Anais… Campinas: Secretaria da Agri-cultura e Abastecimento, 1991. p.33-43.

BLACKSHAW, R.E.; ESAU, R. Control of annualbroadleaf weeds in pinto beans (Phaseolus vulgarisL.). Weed Technology, Lawrence, v.5, p.532-538, 1991.

BUZATTI, W.J.S.; PODOLAN, M.J. Efeitode herbicidas pós-emergentes latifoliadicidas norendimento de grãos do feijão campeão II. In:CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DASPLANTAS DANINHAS, 22., 2000, Foz do Iguaçu.Resumos... Londrina: Sociedade Brasileira daCiência das Plantas Daninhas, 2000. p.246.

COBUCCI, T. Avaliação agronômica dos her -bicidas fomesafen e bentazon e efeito deseus resíduos no ambiente, no sistema irri-gado feijão-milho. 1996. 106f. Tese (Dou-torado) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa,MG, 1996.

_______; FERREIRA, F.A.; SILVA, A.A. da.Controle de plantas daninhas. In: ARAUJO, R.S.;RAVA, C.A.; STONE, L.F.; ZIMMERMANN, M.J.de O. (Coord.). Cultura do feijoeiro comumno Brasil . Piracicaba: POTAFOS, 1996. p.433-464.

_______; MACHADO, E. Seletividade, eficiên-cia de controle de plantas daninhas e persistênciano solo de imazamox aplicado na cultura do

feijoeiro. Planta Daninha, v.17, n.3, 1999,p.419-432.

_______; PRATES, H.T.; FALCÃO, C.L.M.;REZENDE, M.M.V. Effect of imazamox, fome-safen, and acifluorfen soil residue on rotationalcrops. Weed Science, Lawrence, v.46, n.2,p.258-263, 1998.

GARCIA, I.; NASCIMENTO, E. Avaliação doherbicida carfentrazone-ethyl (Aurora 400 CE)em mistura com glyphosate e sulfosate no con-trole de plantas daninhas em semeadura direta.In: CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIADAS PLANTAS DANINHAS, 22., 2000, Foz doIguaçu. Resumos... Londrina: Sociedade Bra-sileira da Ciência das Plantas Daninhas, 2000.p.121.

GAZZIERO, D.L.P.; BRIGHENTI, A.M.; VOLL,E.; MACIEL.C.D.G. Herbicide alternatives for2,4-D in no-till cropping systems . In: INTER-NATIONAL WEED SCIENCE CONGRESS, 3.,2000, Foz do Iguaçu. Abstracts... Corvallis:International Weed Science Society, 2000. p.134-135.

KLUTHCOUSKI, J.; BOUZINAC, S.; SEGUY, L.Preparo do solo. In: ZIMMERMANN, M.J. deO.; ROCHA, M.; YAMADA, T. (Ed.). Culturado feijoeiro: fatores que afetam a produtivi-dade. Piracicaba: POTAFOS, 1988. p.249-259.

KOZLOWSKI, L.A.; RONZELLI JÚNIOR, P.;PURÍSSIMO, C.; DAROS, E.; KOEHLER, H.S.Interferência das plantas daninhas na cultura dofeijoeiro comum em sistema de semeadura direta.In: REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISA DEFEIJÃO, 6., 1999, Salvador. Resumos expan-didos... Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroze Feijão, 1999. v.1, p.499-502. (Embrapa Arroze Feijão. Documentos, 99).

KRANZ, W.M. Efeitos em cultivar es de feijão(Phaseolus vulgaris L .) d a co mpetição c omervas daninhas. 1978. 59f. Tese (Mestrado emFitotecnia) - Universidade Federal de Viçosa,Viçosa, MG, 1978.

LORENZI, H. J. Manual de identificação econtrole d e p lantas d aninhas: plantio diretoe convencional. 4.ed. Nova Odessa: Plantarum,1994. 299p.

MACHADO NETO, J.G.; ANDRADE, T.L.C.Efeitos de herbicidas de pós-emergência na culturado feijão (Phaseolus vulgaris L.) e no controle deplantas daninhas. Planta Daninha , Campinas,v.6, n.2, p.123-128, dez. 1983.

ROZANSKI, A. Avaliação da eficiência doherbicida imazamox em dois cultivares defeijão IAC-carioca, Eté e Aruã. In: CONGRES-SO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTASDANINHAS, 22., 2000, Foz do Iguaçu. Resu-mos... Londrina: Sociedade Brasileira da Ciênciadas Plantas Daninhas, 2000. p.251.

SANTOS, J.G.M.; CARDOSO, A.A.; FERREIRA,L.R.; CHAGAS, J.M.; SILVA, J.F. Avaliação dapersistência do fomesafen aplicado na cultura dofeijão de inverno. In: CONGRESSO BRASILEIRODE HERBICIDAS E PLANTAS DANINHAS, 18.,1991, Brasília. Resumos... Brasília: Socieda-de Brasileira de Herbicidas e Ervas Daninhas,1991. p.78.

SILVA, J.B.; ARCHÂNGELO, E.R.; KARAM,D. Avaliação do efeito residual de imazamoxe imazethapyr aplicados na cultura do feijãosobre o milho em sucessão. In: CONGRESSOBRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTASDANINHAS, 20., 1995, Florianópolis. Re-sumos... Florianópolis: Sociedade Brasileirada Ciência das Plantas Daninhas, 1995. p.348-350.

SILVA, M.A.; COBUCCI, T. Herbicidas aplica-dos em pré-plantio no controle de plantas da-ninhas, na cultura do feijoeiro. In: CONGRESSOBRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTASDANINHAS, 22., 2000, Foz do Iguaçu. Resu-mos... Londrina: Sociedade Brasileira da Ciênciadas Plantas Daninhas, 2000. p.235.

VICTORIA FILHO, R. Manejo integrado de plan-tas daninhas do feijoeiro (Phaseolus vulgaris ).In: SEMINÁRIO SOBRE PRAGAS, DOENÇAS EPLANTAS DANINHAS DO FEIJOEIRO, 5.,1994, Piracicaba. Anais... Piracicaba: ESALQ,1994. p.100-111.

_______. Potencial de ocorrência de plantas da-ninhas em plantio direto. In: FANCELLI, A.L.Atualização em plantio direto . Campinas:Fundação Cargill, 1985. p.31-48.

é adequado para a decomposição deles(precipitação acima de 4,0 mm/dia). Seme-lhantemente ao herbicida fomesafen, asdinitroanilinas são rapidamente degra-dadas em solos úmidos

Page 100: Informe agropecuario feijão
Page 101: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 9 9 - 1 1 2 , 2 0 0 4

99Feijão d e a lta p rodutividade

1Engo Agro, Ph.D., Pesq. EPAMIG-CTZM, Vila Gianetti 46, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected] Agr o, D .Sc., P esq. E mbrapa/EPAMIG-CTZM, Vila Gianetti 46, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 V içosa-MG. Cor reio eletrônico:

[email protected] Agro, Ph.D., Prof. Tit. UFV – Dep to Fitopatologia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: [email protected]

INTRODUÇÃO

A dinâmica da produção de feijão noBrasil alterou-se muito nos últimos anos.Apesar da redução da área plantada, aprodutividade brasileira apresentou cres-cimento significativo de 1990 (510 kg ha-1)a 2002 (753 kg ha-1), em torno de 48%(MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 2003).Não obstante, nas regiões de plantio defeijão irrigado, após aumentos de rendi-mento nos primeiros anos, tem-se obser-vado a redução paulatina do rendimentodo feijão, no decorrer das safras, devidaaos seguintes fatores: rotação inadequadade culturas, com o conseqüente aumentoda incidência e da severidade de doenças;aparecimento de novas doenças; compac-tação do solo; desequilíbrio nutricional;salinização do solo entre outros. Muitosagricultores tentam minimizar o problemacom doses maciças de fertilizantes e apli-cações excessivas de defensivos químicos.Desta forma, os resultados nem sempre são

Manejo integrado de doenças do feijoeiro

Trazilbo José de Paula Júnior1

Rogério Faria Vieira2

Laércio Zambolim3

Resumo - As doenças mais freqüentes do feijoeiro são: mancha-angular (Phaeoisariopsis

griseola), antracnose (Colletotrichum lindemuthianum), ferrugem (Uromyces appendiculatus),mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum), murcha-de-fusarium (Fusarium oxysporum f. sp.phaseoli), podridão-radicular-seca (F. solani f. sp. phaseoli) e mosaico-dourado (vírus domosaico-dourado do feijoeiro). O manejo integrado das doenças, por meio da utilizaçãosimultânea de várias estratégias, visa impedir a entrada de patógenos na lavoura ou mantersuas populações em níveis abaixo das que causam dano econômico e, ao mesmo tempo,minimizar os efeitos negativos de produtos fitossanitários ao ambiente.

Palavras-chave: Feijão. Phaseolus vulgaris. Mancha-angular. Antracnose. Ferrugem. Mofo-branco. Murcha-de-fusarium. Podridão-radicular-seca. Mosaico-dourado.

satisfatórios, além de aumentar o custo deprodução.

Ao mesmo tempo em que inovaçõestecnológicas, como irrigação e plantio di-reto, têm sido incorporadas ao processoprodutivo, novos desafios têm surgido,especialmente em relação às doenças cau-sadas por patógenos do solo. As doençasque ocorrem na cultura do feijoeiro cons-tituem uma das principais causas da suabaixa produtividade no Brasil. Dependen-do das condições climáticas, muitas dessasdoenças podem causar grandes perdas naprodução, ou, então, inviabilizar determi-nadas áreas para o cultivo.

Neste trabalho será enfatizado o manejointegrado de doenças do feijoeiro, espe-cialmente em áreas irrigadas. No Quadro 1,encontram-se resumidos, para cada doen-ça, o modo de sobrevivência e de dissemi-nação dos patógenos, as condições climá-ticas favoráveis e os principais métodosde controle.

DOENÇAS DO FEIJOEIRO NASÁREAS IRRIGADAS

Nas áreas irrigadas, a principal épocade plantio de feijão é entre os meses deabril e julho (outono-inverno). As condi-ções climáticas durante essa época são di-ferentes das verificadas nas épocas tradi-cionais de cultivo. Os dias são mais curtose as temperaturas mais baixas. Esses fatores,aliados ao molhamento constante propor-cionado pelos pivôs, propiciam condiçõesfavoráveis ao desenvolvimento de váriasdoenças, algumas delas pouco prejudiciaisnas épocas tradicionais de plantio.

As doenças causadas por fungos desolo têm-se tornado cada vez mais pre-judiciais aos feijoeiros nas áreas irrigadas.Muitas vezes esses fungos interagem en-tre si e com nematóides, o que dificulta odiagnóstico das doenças e o seu controle.Os patógenos de solo mais comumenteisolados das áreas irrigadas são Sclerotiniasclerotiorum, Fusarium oxysporum f. sp.

Page 102: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 9 9 - 1 1 2 , 2 0 0 4

100 Feijão d e a lta p rodutividade

QUADRO 1 - Resumo das principais doenças do feijoeiro

Principais métodos de controle

Mancha-angular

Antracnose

Ferrugem

Mofo-branco

Murcha-de-fusarium

Mela

Oídio

Podridão-cinzenta-do-caule

Podridão-do-colo

Mancha-de-alternária

Phaeoisariopsis

griseola

Colletotrichum

lindemuthianum

Uromyces

appendiculatus

Sclerotinia

sclerotiorum

Fusarium

oxysporum f. sp.phaseoli

Thanatephorus

cucumeris

Erysiphe polygoni

Macrophomina

phaseolina

Sclerotium rolfsii

Alternaria spp.

Restos de culturaSemente

SementeRestos de cultura

Restos de culturapor até 60 dias

EscleródioSemente

ClamidosporoRestos de culturaSemente

EscleródioRestos de culturaSemente

Em folhas porperíodo curto

Saprófita no soloAmpla gama dehospedeirosEscleródioRestos de culturaSemente

EscleródioAmpla gama dehospedeirosSemente

SementeRestos de cultura

Vento

Respingos de água dechuva ou irrigaçãoSementeInsetos

Vento

SementeÁgua de enxurradaÁgua de irrigaçãoSolo aderido a imple-mentos agrícolasVento

SementeSolo aderido a imple-mentos agrícolasÁgua de enxurrada

VentoChuvaImplementos agríco-lasSemente

VentoInsetos

SementeÁgua de enxurradaSolo aderido a imple-mentos agrícolas

SementeÁgua de enxurradaSolo aderido a imple-mentos agrícolasÁgua de irrigação

VentoSemente

Temperatura entre22oC-26oCAlta umidade

Temperatura entre15oC-20oCAlta umidade

Temperatura 17oC-22oC

Temperatura 15oC-22oCAlta umidadeAlta população deplantasVariedades prostradase/ou de crescimentoexuberante

Temperatura 24oC-28oCSolos arenososSolos ácidosEstresse hídricoPresença denematóides-das-galhas

Umidade relativa altaTemperatura > 23oC

Baixa umidadeTemperatura moderada

Alta temperaturaEstresse hídricoSolo arenoso

Temperatura 25oC-30oCAlta umidade

Temperatura 16oC-20oCAlta umidade

Variedade resistenteSemente sadia e tratadaFungicidasRotação de culturasNutrição equilibrada comK e N

Variedade resistenteSemente sadia e tratadaRotação de culturasFungicidas

Variedade resistenteFungicidasRotação de culturas

Semente sadia e tratadaFungicidasAumento do espaçamentoentre fileirasRedução da densidade deplantasVariedades de porte eretoControle da irrigaçãoRotação com gramíneas

Semente sadia e tratadaVariedade resistenteRotação com gramíneasCalagem do solo

Semente sadia e tratadaRotação de culturasControle da irrigação

FungicidasVariedade resistente

Semente sadia e tratadaRotação de culturas

Semente sadia e tratadaRotação de culturas

Semente sadia e tratadaRotação de culturasFungicidas

Doença PatógenoSobrevivência

do patógeno após acolheita

Principais meios de disseminação

Condições favoráveisao patógeno

(continua)

Page 103: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 9 9 - 1 1 2 , 2 0 0 4

101Feijão d e a lta p rodutividade

Principais métodos de controle

Doença PatógenoSobrevivência

do patógeno após acolheita

Principais meios de disseminação

Condições favoráveisao patógeno

(conclusão)

Mancha-de-ascoquita

Podridão-radicular

Podridão-radicular-seca

Carvão

Sarna

Murcha-de-curtobacterium

Crestamento-bacteriano-comum

Mosaico-comum

Mosaico-dourado

Nematóides-das-galhas enematóides-das-lesões

Ascochyta sp.Phoma exigua

Rhizoctonia solani

Fusarium solani

f. sp. phaseoli

Microbotryum

phaseolis

Colletotrichum

dematium truncata

Curtobacterium

flaccumfasciens pv.flaccumfasciens

Xanthomonas

axonopodis pv.phaseoli

Vírus do mosaico-comum dofeijoeiro (BCMV)

Vírus do mosaico-dourado dofeijoeiro (BGMV)

Meloidogyne spp. ePratylenchus

brachyurus

SementeRestos de cultura

EscleródioRestos de culturaSemente

ClamidosporoSemente

SementeRestos de cultura

SementeRestos de cultura

SementeRestos de cultura

SementeRestos de culturaHospedeirosalternativos

Semente

Hospedeirosalternativos

HospedeirosalternativosRestos de cultura

Respingos de água dechuva ou irrigaçãoSemente

Água de enxurradaSolo aderido aimplementosagrícolasSemente

SementeÁgua de enxurradaSolo aderido a imple-mentos agrícolas

SementeSolo aderido a imple-mentos agrícolas

SementeChuva acompa-nhada de ventosSolo aderido a imple-mentos agrícolas

SementeChuva, especial-mente de granizoSolo aderido a imple-mentos agrícolas

ChuvaVentoInsetosImplementos agríco-lasSemente

Afídeos (váriasespécies)

Mosca-branca

Solo aderido aimplementos agrí-colasÁgua de enxurrada

Temperatura 18oC-25oCAlta umidade

Temperatura 18oC-22oC

Temperatura 22oC-28oCAlta umidadeCamada de solocompactada

Temperatura 28oC-33oCPlantio direto apósmilho

Temperatura 28oCAlta umidadePlantio direto apósmilho ou sorgo

Temperatura acima de30oCVariações bruscas deumidadeGranizos

Alta temperaturaAlta umidade

Temperatura 20oC-30oC

Temperatura altafavorece vetor

Solos arenososAlta umidade

Semente sadia e tratadaRotação de culturasFungicidas

Semente sadia e tratadaRotação com gramíneas

Semente sadia e tratadaSolos bem drenadosRotação com gramíneas

Semente sadia e tratadaRotação de culturas

Semente sadia e tratadaRotação de culturas

Semente sadiaVariedade resistenteRotação de culturas

Semente sadiaRotação de culturasVariedade tolerante

Semente sadiaVariedade resistente

Zoneamento agrícolaControle do vetor(tratamento de sementese aplicação de inseticidas)Variedade tolerantePlantio em épocas detemperaturas maisamenas

Rotação de culturasRevolvimento do soloUso de plantasantagonistasPlantio em solos nãoarenosos

Page 104: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 9 9 - 1 1 2 , 2 0 0 4

102 Feijão d e a lta p rodutividade

phaseoli, Fusarium solani f. sp. phaseoli,Macrophomina phaseolina , Rhizoctoniasolani e Sclerotium rolfsii. Destes, os trêsprimeiros têm sido responsáveis por se-veros prejuízos.

Entre as doenças causadas por pató-genos da parte aérea, a mancha-angular(Phaeoisariopsis griseola ), a antracnose(Colletotrichum lindemuthianum ), aferrugem (Uromyces appendiculatus ) e omosaico-dourado do feijoeiro - bean goldmosaic virus (BGMV) têm exigido atual-mente mais a atenção dos fitopatologistas.

A importância relativa das doenças dofeijão plantado no outono-inverno depen-de da facilidade com que o patógeno aden-tra a lavoura, dos meios de sobrevivênciadele entre cultivos de feijão, dos métodosdisponíveis para o controle da doença, dosdanos que esta pode causar à cultura e daadaptação do patógeno às condições cli-máticas dessa época de plantio. Com basenesses fatores, fez-se uma tentativa de clas-sificar, quanto à importância, as doençasque ocorrem ou têm potencial de ocorrerno feijão de outono-inverno cultivado emMinas Gerais (Quadro 2). Vê-se, por exem-plo, que, atualmente, o mosaico-comum éuma doença de pouca importância econô-mica. Entretanto, aquelas como mancha-angular e mofo-branco podem causar pre-juízos sérios aos feijoeiros. A mancha-de-ascoquita, embora ainda não seja problemaem Minas Gerais, tem, no clima reinante nooutono-inverno, condições ótimas para sedesenvolver.

Mancha-angular

A mancha-angular (Fig. 1), causada porP. griseola , é, provavelmente, a mais im-portante doença da parte aérea do feijoei-ro. Até o final da década de 80, a mancha-angular era reconhecida como doença depequena importância econômica. Algunsfatores, entretanto, fizeram com que ela setornasse séria ameaça à cultura do feijão,em Minas Gerais. São eles: plantio da cul-tura no outono-inverno-primavera, quandoas temperaturas são favoráveis; presençade plantas de feijoeiro ou restos de cultura

FONTE: Dados básicos: Vieira e Paula Júnior (1998).

NOTA: Verde - Pequena importância. Em geral, as cultivares comerciais são imunes ao mosaico-

comum; Verde-amarelo - Em geral, são doenças pouco prejudiciais à cultura em Minas

Gerais. A mela e, principalmente, o crestamento-bacteriano podem, ocasionalmente, causar

prejuízos moderados ao feijoal; Amarelo - Podem causar prejuízos de moderados a sérios

à cultura, mas o uso de cultivar resistente e/ou de sementes sadias são métodos eficientes

para o controle da antracnose e da mancha-de-ascoquita. Essas doenças também podem

ser mantidas sob controle com a aplicação de fungicidas. A mancha-de-alternária causa

menor dano às plantas, pois, geralmente, aparece no final do ciclo de vida dos feijoeiros.

No entanto, é facilmente disseminada pelo vento e, em geral, as cultivares comerciais não

lhe são resistentes; Verde-amarelo-vermelho - O mosaico-dourado não é problema em

regiões onde não se planta soja ou algodão, como na Zona da Mata de Minas Gerais. Essa

virose pode ser problema sério, se o plantio for feito no início do outono em regiões que

cultivam soja. Os recursos disponíveis para o controle do mosaico-dourado são limitados;

Amarelo-vermelho - Podem causar prejuízos sérios à cultura. A ferrugem e a mancha-

angular são facilmente disseminadas pelo vento. O uso de cultivares resistentes é um

meio eficiente para o controle da ferrugem, ademais, essa doença pode ser controlada com

fungicidas. A mancha-angular é a doença mais comum nas áreas produtoras e não há

cultivar imune, por isso são necessárias aplicações periódicas de fungicidas. A murcha-de-

fusarium e a podridão-radicular-seca têm sido observadas em muitas lavouras, onde de-

vem ter adentrado por meio de sementes contaminadas; são fungos habitantes do solo,

não controlados com fungicidas; em áreas não infestadas com nematóides, o uso de cul-

tivares resistentes é um método eficaz no controle da murcha-de-fusarium. O mofo-

branco tem sido observado na maioria das lavouras irrigadas em Minas Gerais. O patógeno

tem sido introduzido em novas áreas de plantio principalmente por meio de sementes

infectadas e/ou contaminadas. O fungo é muito difícil de ser erradicado depois de intro-

duzido e, como não há disponibilidade de cultivares resistentes, ele é mantido sob certo

controle com o uso de fungicidas, em geral caros.

Mosaico-comum

Macrofomina

Podridão-do-colo

Mela

Podridão-radicular

Crestamento-bacteriano

Oídio

Mancha-de-alternária

Mancha-de-ascoquita

Antracnose

Ferrugem

Murcha-de-fusarium

Podridão-radicular-seca

Mancha-angular

Mosaico-dourado

Mofo-branco

QUADRO 2 - Importância relativa de doenças do feijão nas condições de outono-inverno em

Minas Gerais

VermelhoDoenças Verde Amarelo

Page 105: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 9 9 - 1 1 2 , 2 0 0 4

103Feijão d e a lta p rodutividade

contaminados no campo durante todo oano; emprego da irrigação por aspersão,que propicia condição de umidade favorá-vel à doença; utilização de semente conta-minada, que introduz o patógeno em novasregiões; plantio de variedades com basegenética restrita de resistência à doença;possíveis alterações nos patótipos do pató-geno ao longo dos anos (PAULA JÚNIOR;ZAMBOLIM, 1998). Pastor-Corrales e Pau-la Júnior (1996) verificaram grande variabi-lidade de isolados de P. griseola no Brasil.Levantamentos mostraram que existeminúmeros patótipos do patógeno em MinasGerais (NIETSCHE et al., 1997) e em Goiás(SARTORATO, 2002).

Epidemiologia

A produção de sinêmios e de conídiosdo fungo é intensa durante períodos pro-longados de alta umidade. Entretanto, aliberação de esporos e mesmo o desenvol-vimento de sintomas podem ocorrer emcondições relativamente secas. Tempera-turas entre 16oC e 28oC, com um ótimo em24oC, favorecem o desenvolvimento dadoença. No campo, alterações de condiçõesclimáticas (temperatura, umidade relativa,

luz solar) concorrem para aumentar aseveridade da doença. Os conídios podemser disseminados em grandes distânciaspor correntes de ar. O patógeno pode so-breviver, de uma safra para outra, em restosde cultura deixados no campo.

Controle

As medidas de controle incluem uti-lização de semente sadia e tratada comfungicidas e de variedades resistentes, ro-tação de culturas e nutrição equilibrada,especialmente com potássio e nitrogênio.A aplicação de fungicida na parte aérea dasplantas geralmente proporciona bom con-trole da doença. A extensa variabilidadede P. griseola no Brasil tem sido um desa-fio aos programas de melhoramento dofeijoeiro para resistência à mancha-angular.Mesmo assim, algumas variedades têmsido relatadas na literatura como resisten-tes à mancha-angular (PAULA JÚNIOR;ZAMBOLIM, 1998). A cultivar Pérola temapresentado certa tolerância à doença nocampo. Variedades de ciclo curto, como‘Carnaval’ e ‘Jalo MG-65’, devem ser pre-feridas. Essas variedades de grãos gran-des (origem andina) são mais resistentesà doença em Minas Gerais, provavelmen-te por causa da predominância de raçasdo patógeno de origem mesoamericana(PAULA JÚNIOR, 1995). Desse modo,recomenda-se o rodízio entre variedadesde grãos grandes e pequenos.

Antracnose

A antracnose (Fig. 2), causada por C.lindemuthianum, ocorre com freqüência emregiões com alta umidade e temperaturasamenas (15oC-22oC). Dependendo da seve-ridade, a doença pode depreciar a qualida-de dos grãos. A doença é mais prejudicialnos estádios iniciais de desenvolvimentoda cultura.

Epidemiologia

Para que a doença ocorra, é necessá-rio que as condições de ambiente sejamfavoráveis por um período de, no mínimo,6 horas. O patógeno sobrevive no interiordas sementes e em restos de cultura e pode

ser disseminado por meio de respingos deágua de chuva e de irrigação, especialmentequando o vento é forte. Chuvas ou irriga-ções moderadas e freqüentes favorecem adoença.

Controle

A utilização de sementes sadias e tra-tadas com fungicidas protetores e sistê-micos é uma das estratégias mais eficientesde controle da antracnose. A variabilidadepatogênica de C. lindemuthianum dificul-ta o desenvolvimento de variedades resis-tentes. Aquelas extensamente plantadas,como a ‘Pérola’ e a ‘Carioca’, são suscetíveisàs principais raças observadas em MinasGerais. A cultivar Ouro Negro, entretanto,mantém resistência a essa doença no cam-po, desde que foi lançada, em 1991. A ro-tação de culturas é medida importante naredução do inóculo inicial que sobreviveno solo. O controle químico com fungicidasgeralmente proporciona bons resultados.

Ferrugem

A ferrugem (Fig. 3), causada por U.appendiculatus, pode causar severas per-das, especialmente nos plantios da “seca”

Figura 1 - Mancha-angular na vagem

Figura 2 - Antracnose na folha

Figura 3 - Ferrugem do feijoeiro

Page 106: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 9 9 - 1 1 2 , 2 0 0 4

104 Feijão d e a lta p rodutividade

e do inverno. Em condições favoráveis, ese a infecção for severa, pode haver des-folha.

Epidemiologia

Temperaturas moderadas (17oC-22oC)e molhamento foliar contínuo durante pe-ríodos superiores a 8 horas são condiçõesque favorecem o progresso da doença. Osuredosporos são disseminados especial-mente pelo vento.

Controle

As principais medidas de controle incluemo uso de variedades resistentes e o contro-le químico com fungicidas. O uso de varie-dades resistentes é dificultado pela grandevariabilidade do patógeno. Entretanto, asvariedades disponíveis para plantio apre-sentam certo grau de resistência à doença.Algumas mostram-se resistentes em de-terminadas regiões, ou por determinadosperíodos, em razão de diferenças no quadrode raças do patógeno de uma região oude uma época para outra. As variedadesresistentes à ferrugem, lançadas em MinasGerais, têm vida útil variável, geralmenteem torno de 4 anos (PAULA JÚNIOR;ZAMBOLIM, 1998). Todavia, a cultivarOuro Negro, recomendada desde 1991,ainda é resistente à doença.

Mofo-branco

O mofo-branco (Fig. 4), causado por S.sclerotiorum, é uma das doenças mais des-trutivas do feijoeiro em áreas irrigadas doBrasil, notadamente nos plantios efetua-

repolho, tomate rasteiro e ervilha, e diversasespécies de plantas invasoras, como picão,carrapicho, caruru, mentrasto e vassouratambém são suscetíveis.

Epidemiologia

A doença é mais severa com tempera-turas moderadas (15oC-25oC) e alta umida-de. O fungo sobrevive no solo, por algunsanos, na forma de escleródios. Os ascos-poros, considerados o inóculo primário dopatógeno, são produzidos em estruturasdenominadas apotécios, originados da ger-minação dos escleródios. Os ascosporospodem sobreviver até 12 dias no campo esão levados pelo vento para diferentes par-tes da planta e para outras plantas na mes-ma área, podendo atingir, ainda, outroscampos de cultivo. Temperaturas superio-res a 20oC parecem inibir a formação deapotécios. Flores senescentes provêem aenergia necessária para a germinação dosascosporos. A doença também se dissemi-na de um local para outro por meio de escle-ródios misturados, ou aderidos às semen-tes. Estas podem-se apresentar infectadascom micélio do fungo. Os escleródios pre-sentes no solo e nos restos de cultura tam-bém podem ser disseminados pela água deirrigação, enxurradas ou implementosagrícolas.

Controle

As medidas de controle de S. sclero-tiorum devem ser tomadas em conjunto, afim de impedir a entrada do patógeno emáreas onde a doença ainda não ocorre e de

evitar ambiente favorável ao desenvolvi-mento da doença, pois, uma vez presentenos campos de cultivo a erradicação dopatógeno é difícil. As medidas de controlerecomendadas para essa doença são:

a) utilizar sementes sadias e tratadascom fungicidas;

b) eliminar plantas que apresentaremsintomas de mofo-branco, antes daformação dos escleródios, em cam-pos onde a doença, anteriormente,não tenha sido constatada;

c) evitar que a doença seja disseminadade um campo ou de uma região paraoutra, fazendo a limpeza dos imple-mentos agrícolas utilizados no pre-paro do solo, antes de eles serem le-vados para áreas isentas da doença;

d) realizar rotação com gramíneas (tri-go, milho, milheto, aveia ou braquiá-ria), para reduzir o inóculo do patóge-no. Canteri et al. (1999) recomendamutilizar as gramíneas por pelo menosum ano, com irrigação, de maneiraque os apotécios sejam formados eliberem ascosporos. Na ausência deplantas hospedeiras, haverá reduçãodo inóculo;

e) plantar o arroz submerso em áreaspassíveis de inundação, visando re-duzir o inóculo;

f) utilizar maior espaçamento entre fi-leiras e menor número de sementespor metro nas linhas de cultivo;

g) preferir variedades de feijão eretas eprecoces;

h) orientar as fileiras paralelas à direçãopredominante dos ventos, para fa-cilitar a aeração das plantas;

i) evitar adubações pesadas com nitro-gênio, para que não ocorra acama-mento e as plantas não apresentemcrescimento exuberante;

j) preferir regas pesadas mas menos fre-qüentes para evitar o excesso de águano solo. Além disso, recomenda-seque a água seja aplicada de maneirauniforme no campo;Figura 4 - Mofo-branco do feijoeiro

dos nas safras de outono-inverno. Em Minas Gerais,nas regiões produtoras irri-gadas por aspersão, as per-das decorrentes do mofo-branco têm sido elevadasnos últimos anos. A doen-ça torna-se ainda mais se-vera, onde ocorre abundan-te crescimento vegetativoda cultura e menor areja-mento e penetração da luzsolar. Outras culturas, co-mo soja, algodão, alface,

Page 107: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 9 9 - 1 1 2 , 2 0 0 4

105Feijão d e a lta p rodutividade

k) aplicar fungicidas, preventivamente,no início da floração em áreas ondea doença esteja disseminada e emépocas favoráveis à sua ocorrên-cia.

Murcha-de-fusarium

A ocorrência cada vez maior da murcha-de-fusarium , causada por F. oxysporum f.sp. phaseoli , e as dificuldades na adoçãode medidas eficientes para o seu contro-le têm feito dessa doença uma das maisprejudiciais à cultura do feijoeiro nas áreasirrigadas (Fig. 5).

Epidemiologia

O patógeno pode sobreviver saprofi-ticamente no solo e nos restos de cultura.Produz macro e microconídios e pode resis-tir a condições adversas por meio de espo-ros chamados clamidosporos. Temperatu-ra entre 24oC e 28oC, solos arenosos e áci-dos e estresse hídrico favorecem a doença.Esta pode ser transmitida por meio de se-mentes contaminadas. O fungo pode sertransportado também pelas enxurradas,pela água de irrigação e pelo solo aderidoaos equipamentos agrícolas. A intensida-de da doença pode aumentar, com a presen-ça de nematóides do gênero Meloidogyne,que facilitam o processo de infecção com ofungo.

Controle

Devem-se utilizar sementes sadias e tra-tadas com fungicidas, bem como evitar otrânsito de máquinas e implementos agrí-colas provenientes de áreas contamina-das. Uma vez detectada a doença no campo,recomendam-se certas práticas, como a eli-minação de restos de cultura contaminadose a rotação de culturas por no mínimo cin-co anos, especialmente com gramíneas.‘Talismã’, ‘Carnaval’, ‘Jalo MG-65’, ‘OuroNegro’ e ‘Pérola’ são variedades de feijãoque apresentam resistência moderada nocampo.

Podridão-radicular-seca

A podridão-radicular-seca (Fig. 6), cau-sada por F. solani f. sp. phaseoli, ocorria,

a utilização de menor densidade de plan-tio. Apesar de existirem alguns genótiposde feijão com alto nível de resistência aF. solani f. sp. phaseoli, não se dispõem,ainda, de cultivares comerciais resistentesà doença.

Mosaico-dourado

O vírus do mosaico-dourado do fei-joeiro – do inglês bean gold mosaic virus(BGMV) – pertence à família Geminiviri-dae. A doença (Fig. 7) está disseminadanas regiões produtoras do Sudeste, Sul eCentro-Oeste do Brasil. Em Minas Gerais,o mosaico-dourado causa prejuízos nasregiões do Triângulo Mineiro, Noroeste eAlto Paranaíba. A importância da doença,a partir da década de 70, está relacionadacom a expansão da soja nessas regiões, queé excelente hospedeira da mosca-branca(Bemisia tabaci Genn.), inseto-vetor doBGMV. O feijão é infectado, especialmente,nos períodos em que a soja se aproxima damaturação e a mosca-branca migra para oscampos de feijão.

Transmissão e epidemiologia

O BGMV é um vírus que não é transmiti-do pelas sementes, mas pela mosca-branca,que também pode transmitir outras viroses.O vírus é adquirido pelo inseto de plantasinfectadas. Apesar de ele não se multiplicarno inseto-vetor, o período de sua retençãopode durar toda a vida do inseto. Outrasculturas e plantas daninhas, principalmen-te espécies de leguminosas, servem comohospedeiras do vírus. A mosca-branca,

Figura 5 - Plantas de feijoeiro com sinto-

mas de murcha-de-fusarium

há alguns anos,de forma gene-ralizada em Mi-nas Gerais, massem causar pre-juízos graves.Entretanto, a do-ença é hoje res-ponsável por se-veros prejuízosà cultura do fei-jão. A severidade da doença é maior na pre-sença de nematóides, ou de outros pató-genos, como Pythium sp. ou R. solani.

Epidemiologia

A doença é mais severa com tempera-turas próximas de 22oC. A disseminação dopatógeno ocorre por meio de sementes ede solo contaminado, enxurradas e águade irrigação. O fungo produz macro e micro-conídios e pode sobreviver no solo na for-ma de clamidosporos ou como saprófita.A doença é mais prejudicial em áreas comsolos compactados.

Controle

Recomenda-se a utilização de sementesisentas do patógeno e tratadas com fun-gicidas. A rotação com gramíneas, no mí-nimo por cinco anos, propicia a reduçãodo inóculo do patógeno. Outras medidasincluem o plantio em solos bem drenados e Figura 7 - Mosaico-dourado

Figura 6 - Podridão-

radicular-seca

Page 108: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 9 9 - 1 1 2 , 2 0 0 4

106 Feijão d e a lta p rodutividade

além de colonizar a soja e o feijão, colonizadiversas espécies vegetais, como algodão,amendoim-bravo e Sida spp. Altas popu-lações do vetor, ao se desenvolver em plan-tas daninhas, podem agravar sobremaneiraa doença durante o plantio da “seca”. Altastemperaturas aceleram os estádios de de-senvolvimento de B. tabaci, entretanto, adisseminação da doença pode ser maisdependente da migração e da existência dereservatórios do vírus, do que da tempera-tura propriamente dita (FARIA et al., 1996).Durante os períodos de temperaturas maisamenas do ano, observa-se rápido decrés-cimo das populações dos vetores no cam-po. O cultivo intensivo e paulatino de fei-jão irrigado tem favorecido a disseminaçãodo vírus por altas populações de moscas-brancas, ocorrendo migrações dos insetosdos primeiros plantios de feijão para os maisnovos.

Controle

A incidência da doença pode ser re-duzida plantando-se o feijão longe de

possíveis fontes de vírus, como soja ealgodão. O zoneamento agrícola tem dadobons resultados nos estados de São Pauloe do Paraná (DE FAZIO, 1985). Outra me-dida eficiente é a alteração da data de plan-tio, buscando, quando possível, épocascom temperaturas mais amenas. O plantiodas “águas” também coincide com níveisbaixos de população de vetores. Muitosagricultores têm retardado o plantio defeijão de inverno nas áreas produtoras desoja, até que esta seja totalmente colhidae a população de mosca-branca tenha si-do reduzida. A eliminação de plantas vo-luntárias de soja e de outros hospedeirosalternativos da mosca-branca (como algo-dão e fumo) e do vírus (como feijão-mungoe caupi) é recomendada. O controle damosca-branca com inseticidas é eficaz,apesar de ser caro e dificultado pelas mi-grações do inseto. O tratamento de semen-tes com inseticidas permite o controle damosca-branca nas primeiras semanas apósa emergência das plântulas. Os tratamen-tos subseqüentes com inseticidas, com

4-5 pulverizações, devem ser realizados atéa fase de floração. Variedades tolerantesem uma região podem não ser em outrasáreas.

ESTRATÉGIAS DEMANEJO INTEGRADO

O manejo integrado de doenças podeser entendido como a utilização de todasas estratégias disponíveis dentro de umprograma unificado, de modo que mante-nha as populações dos patógenos abaixodo limiar de dano econômico, procurando-se, ao mesmo tempo, minimizar os efeitosnegativos ao meio ambiente. Duas princi-pais macroestratégias governam o manejointegrado de doenças do feijoeiro: elimina-ção ou redução do inóculo inicial e reduçãoda taxa de progresso de doença no campo.Essas estratégias incluem medidas que po-dem ser recomendadas antes do plantio edurante a condução da cultura no campo.No Quadro 3, são apresentados métodosde controle de doenças do feijão que po-dem ser utilizados em diferentes fases do

(continua)

Antes do plantio Instalar os pivôs (ou a lavoura) longe dos da vizinhança Causadas, principalmente, por patógenos disseminados pelo

vento e por insetos

Antes do plantio Evitar, se possível, a proximidade entre os pivôs, ou Causadas, principalmente, por patógenos disseminados pelo

vento e por insetos

Antes do plantio Aquisição de sementes sadias Todas as doenças importantes no plantio de outono-inverno,

com exceção da ferrugem e do mosaico-dourado

Antes do plantio Rotação adequada de culturas Todas as doenças causadas por fungos, bactérias e nematóides

Antes do plantio Rotação de cultivares de feijão recomendadas pela pesquisa Principalmente antracnose, ferrugem, mancha-angular,

murcha-de-fusarium e oídio

Antes do plantio Usar semente sadia de culturas, nas rotações, que podem Principalmente macrofomina, mela, mofo-branco, podridão-

do-colo e podridão-radicular

Antes do plantio Plantio de leucena para incorporação ao solo duas semanas Murcha-de-fusarium, podridão-do-colo e podridão-radicular

Época de plantio Evitar o cultivo no início do outono Mosaico-dourado

Época de plantio Evitar o cultivo durante os meses mais frios Mofo-branco, podridão-radicular e podridão-radicular-seca

Preparo do solo Lavar rodas de máquinas e de implementos agrícolas que Macrofomina, mela, mofo-branco, murcha-de-fusarium,

podridão-do-colo, podridão-radicular e podridão-radicular-seca

QUADRO 3 - Métodos de controle de doenças do feijão em diferentes fases do empreendimento

Doenças controladasFases/ Práticas Métodos/Objetivos

isolá-los com faixas de mata

introduzir patógenos que atacam o feijão

antes do plantio

operaram em outra gleba

Page 109: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 9 9 - 1 1 2 , 2 0 0 4

107Feijão d e a lta p rodutividade

(conclusão)

Doenças controladasFases/ Práticas Métodos/Objetivos

Preparo do solo Aração profunda com tombamento da leiva Todas as doenças causadas por fungos e bactérias

Preparo do solo Redução da compactação do solo Murcha-de-fusarium, podridão-do-colo, podridão-radicular e

podridão-radicular-seca, mofo-branco

Plantio Considerar a direção prevalecente do vento para a escolha Patógenos transportados pelo vento

Plantio Alternar culturas entre pivôs adjacentes Patógenos disseminados, principalmente pelo vento e por

insetos

Plantio Alternar cultivares de feijão entre pivôs adjacentes Principalmente antracnose, ferrugem, mancha-angular e oídio

Plantio Tratamento de sementes com fungicidas Doenças fúngicas transmissíveis pela semente

Plantio Depositar as sementes em sulcos rasos Macrofomina, podridão-radicular e podridão-radicular-seca

Plantio Maior espaçamento entre as fileiras e entre as plantas Antracnose, crestamento-bacteriano, ferrugem, mancha-angular,

mancha-de-alternária, mancha-de-ascoquita, mela, mofo-branco,

murcha-de-fusarium, podridão-do-colo, podridão-radicular e

podridão-radicular-seca

Plantio Controlar nematóides Murcha-de-fusarium e podridão-radicular-seca

Plantio Direto ou cultivo mínimo Macrofomina, mofo-branco, podridão-radicular e podridão-

radicular-seca

Pós-emergência Cobertura morta sobre o solo Macrofomina, mela, mofo-branco, podridão-do-colo e podridão-

radicular

Pós-emergência Evitar movimentação de homens e máquinas na lavoura Antracnose, crestamento-bacteriano e mancha-de-ascoquita

Irrigação Manejo adequado da irrigação: aplicar água uniformemente Mofo-branco, podridão-do-colo, podridão-radicular e podridão-

radicular-seca

Adubação Correção da acidez do solo Mela, murcha-de-fusarium e podridão-do-colo

Adubação Evitar adubação nitrogenada em excesso Mofo-branco e murcha-de-fusarium

Controle de Fazer bom controle Antracnose, crestamento-bacteriano, mancha-angular, mofo-

branco, oídio e podridão-do-colo

Controle de Evitar o corte das raízes laterais formadas próximas à Murcha-de-fusarium e podridão-radicular-seca

Controle de Aplicação de inseticidas Principalmente viroses (controle de vetores)

Controle de Aplicação de fungicidas Antracnose, ferrugem, mancha-angular, mancha-de-alternária,

mela, mofo-branco e oídio

Beneficiamento Limpeza das sementes Causadas por patógenos que podem contaminar as semen-

tes

Beneficiamento Eliminação de sementes fora do padrão Causadas por patógenos que infectam as sementes

do primeiro pivô a ser semeado

quando as plantas estiverem úmidas

e sem excesso

plantas daninhas

plantas daninhas superfície do solo

insetos

doenças fúngicas

da parte aérea

FONTE: Dados básicos: Vieira e Paula Júnior (1998).

Page 110: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 9 9 - 1 1 2 , 2 0 0 4

108 Feijão d e a lta p rodutividade

empreendimento agrícola. Informações so-bre a disponibilidade de cultivares imunes,resistentes ou tolerantes (Quadro 4) sãoimportantes para o planejamento do con-trole de determinadas doenças.

Rotação de culturas

Ao analisar-se o Quadro 1, pode-seobservar que uma das estratégias de con-trole mais apropriada é a rotação de cul-turas. Essa medida deve ser empregadaespecialmente para patógenos invasores(não-habitantes) do solo, por pelo menos18 meses, embora seja medida recomenda-da também para os habitantes do solo, osquais geralmente produzem estruturas desobrevivência. Para estes últimos, o perío-do em que o feijão não é incluído na rotaçãodeve ser de pelo menos quatro anos. Noentanto, a eliminação completa do inóculodo patógeno é, geralmente, impossível.Mesmo no caso de patógenos biotróficos,como ferrugem e oídio, que não apresentamfase saprofítica e são facilmente transpor-tados pelo vento, a rotação de culturas podeser medida complementar de controle. Nes-se caso, basta evitar o cultivo de feijão apósfeijão, para que a fonte de inóculo seja eli-minada.

Algumas características dos patógenoshabitantes do solo podem limitar a utilizaçãoda rotação de culturas. Rhizoctonia solani,por exemplo, apresenta grande habilidadede competição saprofítica; Fusarium spp.,S. rolfsii, S. sclerotiorum, M. phaseolinae Pythium sp. produzem estruturas de so-brevivência; muitos desses patógenos pos-suem ampla gama de hospedeiros. Entre-tanto, mesmo nesses casos, a rotação deculturas, especialmente com gramíneas, éestratégia recomendada. Quando se promo-ve a rotação com culturas não-hospedeiras,o patógeno não dispõe mais de fonte nu-tricional para sobreviver ou multiplicar-se. O uso de espécies suscetíveis a S.sclerotiorum, como nabo forrageiro, gi-rassol e canola, em esquemas de rotaçãocom o feijoeiro, pode favorecer o mofo-branco (COSTAMILAN; YORINORI,1999).

Antracnose As cultivares recém-lançadas pela pesquisa, em geral, apresentam

resistência à maioria das raças predominantes. Porém, essa resistência

pode ser perdida com o passar dos anos por causa do “surgimento” de

novas raças do fungo.

Crestamento-bacteriano Não há cultivar imune. Algumas cultivares toleram mais a doença do

que outras. Em geral, as plantas são mais suscetíveis após a floração.

Ferrugem As cultivares recém-lançadas pela pesquisa, em geral, apresentam

resistência à maioria das raças predominantes. Porém, essa resistência

pode ser perdida com o passar dos anos por causa do “surgimento” de

novas raças do fungo.

Mancha-angular Não há cultivar comercial imune. As cultivares recém-lançadas geral-

mente são mais tolerantes às raças predominantes. A rotação entre

cultivares de grãos grandes e pequenos é recomendável.

Mancha-de-ascoquita As cultivares comerciais são, provavelmente, suscetíveis.

Mancha-de-alternária As cultivares comerciais são, em geral, suscetíveis. O feijão tipo jalo

apresenta certa resistência.

Mela Não há cultivar imune a essa doença. As cultivares comerciais não

têm sido avaliadas, quanto à tolerância à mela. A melhor circulação

do ar proporcionada pelo plantio de cultivares de porte ereto é condição

desfavorável ao desenvolvimento do fungo.

Mofo-branco Não há cultivar comercial resistente a essa doença. Em geral, cultivares

cuja arquitetura permite melhor circulação de ar e penetração de luz

são menos propensas ao ataque da doença.

Mosaico-comum As cultivares lançadas pela pesquisa são, em geral, imunes a essa

doença. Exceção: ‘Ouro Negro’.

Mosaico-dourado Não há cultivar imune. Algumas cultivares toleram mais a doença do

que outras.

Murcha-de-fusarium A presença na gleba de nematóides causadores de galhas-das-raízes

pode anular a resistência de algumas cultivares, como ‘Rudá’, ‘Pérola’,

‘Carnaval’ e ‘Jalo MG-65’.

Oídio As cultivares de grãos grandes, como as do tipo jalo, são, em geral,

mais suscetíveis.

Macrofomina As cultivares comerciais não têm sido avaliadas, quanto à resistência

a essa doença.

Podridão-do-colo As cultivares comerciais não têm sido avaliadas, quanto à resistência

a essa doença.

Podridão-radicular As cultivares comerciais não têm sido avaliadas, quanto à resistência

a essa doença. Em geral, cultivares de grãos pretos são mais tolerantes

à infecção das raízes e das sementes.

Podridão-radicular-seca As cultivares comerciais não têm sido avaliadas, quanto à resistência

a essa doença. Em geral, a resistência está associada a cultivares de

sementes pequenas, à maturação tardia e ao crescimento indeter-

minado.

FONTE: Dados básicos: Vieira e Paula Júnior (1998).

Grau de resistência das cultivares

QUADRO 4 - Controle de doenças do feijão por meio de cultivares tolerantes, resistentes ouimunes

Doenças

Page 111: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 9 9 - 1 1 2 , 2 0 0 4

109Feijão d e a lta p rodutividade

Além dos fungos acima relacionados, osnematóides-das-galhas (Meloidogyne spp.)e os nematóides-das-lesões (Pratylenchusbrachyurus) também podem causar sériosdanos à cultura. Medidas de controle denematóides incluem freqüentemente a ro-tação com espécies não-hospedeiras. Vieira(1983) salienta que o plano de rotação deveprever a ausência de feijoeiros ou de outrasculturas suscetíveis no terreno infestado,por dois ou três anos, no mínimo. Para ocontrole de Meloidogyne spp., recomenda-se a rotação com gramíneas, a fim de redu-zir a densidade populacional dos nematói-des. Plantas antagonistas, como crotaláriase mucunas têm sido utilizadas, proporcio-nando benefícios adicionais ao solo. Aocontrário, outras espécies utilizadas comoadubos verdes, como as leguminosas tre-moço, feijão-de-porco e lablab, favore-cem a multiplicação dos nematóides-das-galhas. Para o controle dos nematóides-das-lesões, a rotação com amendoim (VIEIRA,1983) e plantas antagonistas (ABAWI;AGUDELO, 1994) tem sido recomendada.A atividade antagonista de certas espé-cies de plantas a nematóides é conhecida.Espécies como Tagetes minuta, Crotalariaspectabilis e Indigofera hirsuta podemreduzir as populações de nematóides-das-galhas e de nematóides que causam lesõesnas raízes. Para a escolha das culturas quecomporão um plano de rotação, é funda-mental que se conheça a espécie de nema-tóide que ocorre na área. Deve-se evitar oplantio do feijão em campos contaminadospor P. b rachyurus, especialmente ondetenham sido cultivados, anteriormente,soja ou milho.

Os restos de cultura de plantas uti-lizadas como adubo verde e de plantasantagonistas a nematóides podem inibiro desenvolvimento e a sobrevivência depatógenos do solo. Um dos desafios atuaisda pesquisa do feijão, em Minas Gerais,é associar o manejo integrado das doen-ças causadas por patógenos de solo àstécnicas de adubação verde e de plantiodireto, com o objetivo de assegurar que

os benefícios proporcionados por essastécnicas não prejudiquem o controle dospatógenos.

Plantio diretoe coberturas mortas

O plantio direto resulta em profundaalteração das populações de organismosque possuem fase saprofítica no solo. Se-gundo Zambolim et al. (2001), o maior poten-cial de inóculo (em razão da não eliminaçãodos restos de cultura) e o seu posiciona-mento mais próximo aos sítios de infecçãogarantem maior eficiência no processo deinoculação, favorecendo o desenvolvi-mento inicial mais severo de algumas do-enças. No Sul do Brasil, tem-se observadoque a realização de práticas culturais, comosemeadura em condições de alto teor deágua no solo, favorecem a ocorrência dedoenças radiculares em plantas de soja ede feijão em sistemas de plantio direto(COSTAMILAN et al., 1999). Segundoesses autores, a diminuição da temperaturado solo pode causar retardamento da ger-minação e redução da taxa de desenvolvi-mento de plântulas, principalmente na se-meadura em época fria. Essa situação podefavorecer, inicialmente, o tombamento deplântulas e as doenças de raízes induzidaspor patógenos de solo beneficiados porbaixas temperaturas, como Fusarium spp.,R. solani e Pythium sp. Por outro lado, oplantio direto pode criar ambiente supres-sivo a fitopatógenos do solo, tendo em vis-ta que solos com teor de nutrientes maisequilibrado, maior porcentagem de matériaorgânica, maior diversidade de microrga-nismos, além de melhor estrutura física dosolo, favorecem a ação de organismos anta-gonistas (ZAMBOLIM et al., 2001). Nasseret al. (1999) reportaram que a palhada degramínea reduziu a sobrevivência de escle-ródios de S. sclerotiorum, e que a ocorrên-cia do mofo-branco foi menor no sistemade plantio direto do que no plantio conven-cional. Ademais, o plantio direto cria tambémuma barreira física à dispersão dos ascos-poros. Oliveira et al. (2002) verificaram alta

incidência de mofo-branco em feijoeiro cul-tivado sobre palhada de soja. No entanto,quando a cultura foi plantada sobre pa-lhada de milho consorciado com braquiá-ria ou sobre palhada de arroz, a doença nãoocorreu. Além de S. sclerotiorum, o plan-tio direto sobre palhada de braquiária po-de induzir supressividade a R. solani eFusarium spp.

Para que o plantio direto tenha sucesso,é muito importante empregar sementes sa-dias e tratadas, praticar a rotação de cultu-ras e utilizar variedades resistentes, quandohouver disponibilidade. Algumas doençasobservadas na região do cerrado, como a sar-na e o carvão, parecem estar associadas aosistema de plantio direto realizado sem esque-mas adequados de rotação de culturas.

Tratos culturais

A incorporação de restos de feijoeiroscontaminados com patógenos é recomen-dada como parte das estratégias de contro-le integrado. Entretanto, no caso de patóge-nos habitantes do solo, essa medida não éapropriada, a não ser que a incorporaçãodos resíduos contaminados seja feita emprofundidade superior a 20 cm (PAULAJÚNIOR, 2002).

O uso de maior espaçamento entreas fileiras e entre as plantas pode serimportante no controle da antracnose, docrestamento-bacteriano, da ferrugem, damancha-angular, da mancha-de-alternária,da mancha-de-ascoquita, da mela, domofo-branco, da murcha-de-fusarium, dapodridão-do-colo, da podridão-radiculare da podridão-radicular-seca (VIEIRA;PAULA JÚNIOR, 1998).

O controle da irrigação e uma boa dre-nagem do solo podem contribuir para ocontrole de doenças como mofo-branco.Solos não encharcados, mas com bom teorde água, podem favorecer populações deorganismos antagônicos e, indiretamente,contribuir para o controle de patógenos dosolo (PAULA JÚNIOR, 2002).

Plantas de feijão podem tolerar mais asdoenças, desde que corretamente aduba-

Page 112: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 9 9 - 1 1 2 , 2 0 0 4

110 Feijão d e a lta p rodutividade

das. No caso de áreas contaminadas porpatógenos do solo, são recomendadas prá-ticas culturais que permitam rápida emer-gência de plântulas, como uso de semen-tes de boa qualidade, plantio em períodos

de altas temperaturas e adequado teor deágua no solo.

Muitos patógenos do feijoeiro podemsobreviver durante a entressafra parasi-tando ou infectando outras plantas hos-

(1)Alternaria spp. Nos restos de cultura de feijão e de plantas daninhas, como epífita, ou como patógeno do feijão

e/ou de outras plantas nos anos seguintes.

(1)Ascochyta spp. Nos restos de cultura como patógeno de outras culturas e de plantas indígenas.

(2)Vírus do mosaico-comum do feijoeiro Em algumas espécies de leguminosas nativas, de onde os pulgões podem adquirir o vírus para

transmiti-lo ao feijão.

(1)Colletotrichum dematium truncata Nos restos de cultura de feijão.

(1)Colletotrichum lindemuthianum Nos restos de cultura de feijão por até dois anos.

(1)Curtobacterium flaccumfasciens Nos restos de cultura de feijão.

pv. flaccumfasciens

Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli Nos restos de cultura, na forma de micélio e esporos e no solo na forma de clamidosporos. Tam-

bém sobrevive na ausência do hospedeiro ao invadir e colonizar outras plantas.

Fusarium solani f. sp. phaseoli No solo, na forma de clamidosporos. Estas estruturas germinam e reproduzem-se na presença de

sementes e de raízes de muitas plantas não-hospedeiras e de matéria orgânica. Por isso, o fungo po-

de sobreviver indefinidamente no solo.

(1)Phaeoisariopsis griseola Nos restos de cultura por mais de um ano.

Macrophomina phaseolina Em plantas daninhas, ou em outras culturas suscetíveis, e nos restos de cultura na forma de escle-

ródios e picnídios. Os escleródios são os propágulos mais importantes para a sobrevivência do

patógeno no solo.

(1)Microbotryium phaseoli Nos restos de cultura de feijão.

Rhizoctonia solani No solo, na forma de escleródios ou de micélio associados a resíduos de plantas suscetíveis, ou

como saprófita. Por isso, pode sobreviver indefinidamente no solo. Pode estar presente em solos

não cultivados anteriormente.

Sclerotium rolfsii Os escleródios sobrevivem no solo por pelo menos um ano. Também podem sobreviver em tecidos

infectados de plantas hospedeiras e como saprófitas.

Sclerotinia sclerotiorum No solo, na forma de escleródios por vários anos. Ademais, os escleródios podem produzir escleródios

secundários, garantindo a sobrevivência do fungo por tempo indeterminado.

Thanatephorus cucumeris No solo, na forma de escleródios (por vários anos) e na forma de micélio nos restos de cultura.

(1)Uromyces appendiculatus Em restos de cultura, os uredosporos sobrevivem até 60 dias.

(1)Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli Até um ano nos restos de cultura e como epífita, por até seis meses, em folhas de soja, milho e em

muitas plantas daninhas.

pedeiras. No Quadro 5, são apresentadosos meios de sobrevivência de alguns pa-tógenos. No Quadro 6, são apresentadosalguns hospedeiros alternativos dos pató-genos do feijão.

QUADRO 5 - Meios de sobrevivência de alguns patógenos na entressafra do feijão

Patógenos Meios de sobrevivência

FONTE: Dados básicos: Vieira e Paula Júnior (1998).

(1) Patógenos não-habitantes do solo. A incorporação dos restos de cultura contaminados ao solo, para a sua rápida decomposição, reduz o tempode permanência do patógeno na gleba. (2) Não sobrevive em restos de cultura e no solo.

Page 113: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 9 9 - 1 1 2 , 2 0 0 4

111Feijão d e a lta p rodutividade

Alternaria spp. Crucíferas, girassol e trigo.

Ascochyta spp. Algodão, berinjela, caupi, feijão-fava, fumo, mungo, pimentão, quiabo, soja, tomate, tremoço.

Vírus do mosaico-comum do feijoeiro Alfafa, Canavalia ensiformes, caupi, Crotalaria spectabilis, ervilha, Lablab purpureus, siratro e várias

espécies de Phaseolus.

Colletotrichum lindemuthianum Caupi, feijão-fava, mungo.

Erysiphe polygoni Causa doença em mais de 350 espécies de plantas, inclusive em várias leguminosas.

Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli Algumas espécies de Phaseolus.

Fusarium solani f. sp. phaseoli Caupi, feijão-fava, ervilha e outras leguminosas.

Phaeoisariopsis griseola Caupi, feijão-fava e outras leguminosas.

Macrophomina phaseolina Causa doença em mais de 500 espécies de plantas, incluindo abóbora, algodão, amendoim, batata,

berinjela, caupi, girassol, grão-de-bico, lentilha, melancia, melão, milho, mungo, pepino, quiabo, soja,

sorgo, tomate.

Rhizoctonia solani Amendoim, batata, canola, caupi, cebola, ervilha, fumo, milho, soja, tomate.

Sclerotium rolfsii Causa doença em mais de 500 espécies de mono e dicotiledôneas, mas leguminosas, solanáceas e

cucurbitáceas são mais suscetíveis.

Sclerotinia sclerotiorum Causa doença em mais de 400 espécies de plantas, incluindo algodão, batata, canola, cenoura, ervilha,

girassol, soja, tomate, trevo.

Thanatephorus cucumeris Algodão, arroz, caupi, milho, soja, tomate e muitas hortaliças.

Uromyces appendiculatus Muitas espécies de Phaseolus, caupi, siratro.

Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli Caupi, ervilha, feijão-fava, Lablab purpureus, mungo, soja e outras leguminosas.

FONTE: Dados básicos: Vieira e Paula Júnior (1998).

Plantas hospedeiras

QUADRO 6 - Alguns hospedeiros alternativos de patógenos do feijão

Patógenos

Uso de sementes sadias

O uso de sementes sadias é funda-mental para evitar a introdução de pató-genos, ou para diminuir o potencial deinóculo de patógenos em áreas já conta-minadas. Além disso, o tratamento de se-mentes com fungicidas é recomendado emmuitos casos. No capítulo “Importânciado uso de sementes de feijão livres de pa-tógenos” esse assunto é abordado comdetalhes.

Controle químico

A eficiência do controle químico comfungicidas é maior, se outras medidas decontrole forem usadas simultaneamen-te. Alguns produtos já têm registro paraaplicação via água de irrigação. Apesar depossíveis impactos na população de mi-crorganismos antagônicos do solo, essatécnica reduz o custo da distribuição dofungicida e evita a entrada de tratores nagleba.

Cultivares resistentes

A resistência genética é uma das formasmais baratas que o agricultor dispõe comoestratégia de controle integrado das doen-ças do feijoeiro, principalmente as causadaspor patógenos da parte aérea. A melhorcirculação do ar proporcionada pelo plan-tio de cultivares de porte ereto é condiçãodesfavorável ao desenvolvimento de váriasdoenças. O plantio de cultivares precocespermite, em certos casos, que a colheita

Page 114: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v . 2 5 , n . 2 2 3 , p . 9 9 - 1 1 2 , 2 0 0 4

112 Feijão d e a lta p rodutividade

REFERÊNCIAS

ABAWI, G.S.; AGUDELO, F.V. Nemátodos. In:PASTOR-CORRALES, M.A.; SCHWARTZ, H.F.(Ed.). Problemas de producción del frijos enlos trópicos . 2.ed. Cali, Colômbia: CIAT, 1994.p. 495-517.

BERGAMIN FILHO, A.; AMORIM, L. Doençasde plantas tropicais: epidemiologia e controleeconômico. Piracicaba: Agronômica Ceres, 1996.299p.

CANTERI, M.G.; SILVA, O.C. da; DALLA PRIA,M.; COSTA, J.L. da S.; SOUZA, E.D. de T.;BERNI, R.F. Principais medidas de controle. In:CANTERI, M.G.; DALLA PRIA, M.; SILVA, O.C.da. Principais d oenças f úngicas d o f eijoeiro:

orientações para manejo econômico e ecológico.Ponta Grossa: UEPG, 1999. p.139-159.

COSTAMILAN, L.M.; LHAMBY, J.C.B.;BONATO, E.R. Sobrevivência de fungos necro-tróficos em restos de cultura de soja, em sistemade plantio direto. Fitopatologia B rasileira,Brasília, v.24, n.2, p.175-177, jun. 1999.

_______; YORINORI, J.T. Efeito do sistema deplantio direto sobre algumas doenças em legumi-nosas na região sul do Brasil. FitopatologiaBrasileira, Brasília, v.24, p.219-220, ago. 1999.Suplemento: XXXII Congresso Brasileiro deFitopatologia.

DE FAZIO, G. O mosaico dourado do feijoeiro noBrasil. Fitopatologia Brasileira , Brasília, v.10,p.41-48, fev. 1985.

FARIA, J.C. de; ANJOS, J.R.N. dos; COSTA, A.F.da; SPERANDIO, C.A.; COSTA, C.L. Doençascausadas por vírus e seu controle. In: ARAÚJO,R.S.; RAVA, C.A.; STONE, L.F.; ZIMMERMANN,M.J.O. (Coord.). Cultura do feijoeiro comumno Brasil . Piracicaba: POTAFOS, 1996. p.732-769.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. Evoluçãoda produção de grãos. Brasília, 2003. Disponívelem: <http://www.agricultura.gov.br/spa/pagespa/ch02/2_1.xls>. Acesso em: 21 ago. 2003.

NASSER, L.C.B.; CAFÉ FILHO, A.C.; AZE-VEDO, J.A.; GOMES, A.C.; ALBRETCH, J.C.;FREITAS, M.A.; KARL, A.C.; FERRAZ, L.L.C.;MEDEIROS, R.G.; ARANCIBIA, R.C.;NAPOLEÃO, R.L.; JUNQUEIRA, N.T.V. Manejodo cancro da haste da soja e mofo branco dofeijoeiro em sistemas de produção do cerrado.Fitopatologia Brasileira , Brasília, v.24, p.220-222, ago. 1999. Suplemento: XXXIII CongressoBrasileiro de Fitopatologia.

NIETSCHE, S.; CARVALHO, G.A.; BORÉM, A.;PAULA JÚNIOR, T.J.; FERREIRA, C.F.;BARROS, E.G.; MOREIRA, M.A. Variabilidadepatogênica de Phaeoisariopsis griseola em MinasGerais. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.22,p.289-290, ago. 1997. Suplemento: XXX Con-gresso Brasileiro de Fitopatologia.

OLIVEIRA, R.M. de; OLIVEIRA, I.P. de; FA-RIA, C.D. de; KLIEMANN, H.J. Propágulos deSclerotinia sclerotiorum no solo e incidência domofo-branco na parte aérea do feijoeiro cultivadoem plantio direto sobre várias coberturas mortas.In: CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISA DEFEIJÃO, 7., 2002, Viçosa, MG. Resumos expan-didos... Viçosa, MG: UFV, 2002. p.180-183.

PASTOR-CORRALES, M.A.; PAULA JÚ-NIOR, T.J. Estudo da diversidade genética dePhaeoisariopsis griseola no Brasil. In: REUNIÃONACIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 5.,1996, Goiânia. Anais... Goiânia: EMBRAPA-CNPAF, 1996. v.1, p.239-241. (EMBRAPA-CNPAF. Documentos, 69).

PAULA JÚNIOR, T.J. Ecological investigationsas a basis for integrated management of beanRhizoctonia root rot . 2002. 78f. Dissertation(Doktor) - Universität Hannover, Alemanha.

_______. Mancha angular do feijoeiro no estadode Minas Gerais, Brasil. In: INTERNATIONALWORKSHOP ON ANGULAR LEAF SPOT OFCOMMON BEANS, 1., 1995, Cali, Colômbia.Abstracts... Cali, Colômbia: CIAT, 1995. p.6.

_______; ZAMBOLIM, L. Doenças. In: VIEIRA,C.; PAULA JÚNIOR, T.J.; BORÉM, A. (Ed.).Feijão: aspectos gerais e cultura no estado deMinas. Viçosa, MG: UFV, 1998. p.375-433.

SARTORATO, A. Variabilidade de Phaeoisariopsisgriseola em dois municípios do Estado de Goiás.In: CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISA DEFEIJÃO, 7., 2002, Viçosa, MG. Resumos expan-didos... Viçosa, MG: UFV, 2002. p.120-124.

VIEIRA, C. Doenças e pragas do feijoeiro.Viçosa, MG: UFV, 1983. 231p.

VIEIRA, R.F.; PAULA JÚNIOR, T.J. Semente:veículo de disseminação de patógenos. In:_______; _______; BORÉM, A. (Ed.). Feijão:aspectos gerais e cultura no estado de Minas.Viçosa, MG: UFV, 1998. p.451-505.

ZAMBOLIM, L.; CASA, R.T.; REIS, E.M.Manejo integrado de doenças em plantio direto.Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.22,n.208, p.73-83, jan./fev. 2001.

seja realizada antes que as condições climá-ticas sejam favoráveis e/ou que a intensi-dade de doença aumente muito e causeperdas substanciais.

Escape

O plantio de feijão em época desfa-vorável a determinadas doenças visa nãoapenas à redução de perdas, como tam-bém à redução do potencial de inóculo dospatógenos. Atualmente, essa estratégiavem sendo usada com sucesso no caso domosaico-dourado. A alteração da data deplantio, buscando épocas com tempera-turas mais amenas ou com níveis baixos depopulação de mosca-branca, é recomen-dada no controle da virose.

CONCLUSÃO

O manejo integrado das doenças dofeijoeiro não deve ser visto como a simplessobreposição de duas ou mais técnicas decontrole. Como comentam Bergamin Filhoe Amorim (1996), deve haver uma integra-ção de todas as técnicas apropriadas demanejo com os elementos naturais limi-tantes e reguladores do ambiente, levando-se em conta, igualmente, as preocupaçõeseconômica dos produtores e ecológico-ambiental da sociedade.

Page 115: Informe agropecuario feijão

113Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 2 0 04

1Enga Agr a, Ph.D., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás-GO. Correio eletrônico:[email protected]

INTRODUÇÃO

Na cultura do feijoeiro podem ocorrervárias espécies de artrópodes e de moluscos.Elas são agrupadas em cinco categorias:

Manejo integrado dos insetos e outros invertebradospragas do feijoeiro

Eliane D. Quintela1

Resumo - Para o estabelecimento de um manejo eficiente das espécies-pragas que podem ocor-rer na cultura do feijoeiro, é imprescindível ter um conhecimento detalhado do desenvol-vimento biológico, comportamental e dos danos causados por essas pragas, da capacidadede recuperação das plantas, do número máximo de pragas que pode ser tolerado antes queocorra dano econômico (nível de controle) e do uso de inseticidas seletivos de forma criteriosa.Informações sobre aspectos bioecológicos das principais pragas, metodologia de monitoramentodelas e seus inimigos naturais na lavoura, bem como níveis de controle para cada uma sãoapresentadas para facilitar a utilização da tecnologia de manejo de pragas no campo.

Palavras-chave: Feijão. Phaseolus vulgaris. Controle integrado. Cigarrinha-verde. Lagarta-rosca.Mosca-branca. Tripes.

pragas das sementes, plântulas e raízes;das folhas; das hastes e axilas; das vagense de grãos armazenados (Quadro 1). Os artró-podes e moluscos podem causar reduções

significativas no rendimento do feijoeiro,as quais variam de 11% a 100%, dependen-do da espécie-praga, da cultivar plantada eda época de plantio do feijoeiro.

Pragas das sementes, plântulase raízes

Larvas-das-sementes Delia pratura

Lagarta-rosca Agrotis ipsilon

Lagarta-cortadeira Spodoptera frugiperda

Lagarta-elasmo Elasmopalpus lignosellus

Gorgulho-do-solo Teratopactus nodicollis

Larvas-de-vaquinhas Diabrotica speciosa

Cerotoma arcuata

Lesmas Sarasinula linguaeformis

Derocerus spp.Limax spp.Phyllocaulis spp.

Pragas das folhasVaquinhas Diabrotica speciosa

Cerotoma arcuata

Cerotoma tingomarianus

Minadora Liriomyza huidobrensis

Lagarta-das-folhas Omiodes indicata

Lagarta-cabeça-de-fósforo Urbanus proteus

Cigarrinha-verde Empoasca kraemeri

Lesmas Sarasinula linguaeformis

Derocerus spp.Limax spp.

QUADRO 1 - Principais invertebrados encontrados na cultura do feijoeiro no Brasil

Pragas das folhasÁcaro-rajado Tetranychus urticae

Ácaro-branco Polyphagotarsonemus latus

Mosca-branca Bemisia tabaci biótipo A e BTripes Thrips palmi

Caliothrips brasiliensis

Thrips tabaci

Pragas das hastes e axilasBroca-das-axilas Epinotia aporema

Tamanduá-da-soja Sternechus subsignatus

Pragas das vagensPercevejos-dos-grãos Neomegalotomus parvus

Nezara viridula

Piezodorus guildini

Euschistus heros

Lagarta-das-vagens Thecla jebus

Maruca vitrata

Etiella zinckenella

Heliothis spp.

Pragas dos grãos armazenadosCarunchos Zabrotes subfasciatus

Acanthoscelides obtectus

Nome comum Nome comumNome científico Nome científico

Page 116: Informe agropecuario feijão

114 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 20 0 4

ASPECTOS BIOECOLÓGICOSDAS PRINCIPAIS PRAGAS

Pragas das plântulase raízes

Lagarta-rosca

Agrotis ipsilon (Lepidoptera: Noctuidae)

Os adultos são mariposas de cor pardo-escuro a marrom, com algumas manchasescuras nas asas anteriores e as posterio-res são semi-transparentes (Fig. 1A). Asmariposas medem em torno de 50 mm deenvergadura. A fêmea, durante à noite,efetua a postura de 600 a 1.000 ovos emrachaduras no solo, sobre as plântulas ouem matéria orgânica no solo próximo à plan-ta hospedeira. O período de incubação dosovos é, em média, de cinco dias. As lagartassão de cor variável, cinza-escuro a marrom-escuro, e podem medir 45-50 mm no seumáximo desenvolvimento (Fig. 1B). Apre-sentam a sutura epicranial na forma de Yinvertido. As lagartas têm hábitos notur-nos e, durante o dia, encontram-se na baseda planta, protegidas sob torrões, ou a pou-cos centímetros de profundidade no solo,na posição de rosca (Fig. 1C). A fase de la-garta dura em média 28 dias. A câmara pupal

cor verde-azulado com cabeça marrom emedem 15 mm de comprimento, quandocompletamente desenvolvidas (Fig. 2C).Elas movimentam-se com muita agilidade,constroem casulos revestidos de solo e derestos culturais, que ficam na entrada dosorifícios que fazem na planta e servem derefúgio (Fig. 2D). A lagarta forma uma câ-mara pupal no solo ligada ao talo (Fig. 2E).

O dano é causado pela lagarta que per-fura o caule próximo à superfície do solo(colo) ou logo abaixo dele e faz galeriasascendentes no xilema, que provocam ama-relecimento, murcha e morte das plantas(Fig. 2F e 2G). Dano maior ocorre quandoas plantas são atacadas na fase inicial dedesenvolvimento. Plantas com mais de 20dias raramente são atacadas. Larvas do 1o

e 2o instares têm pouca capacidade de per-furar o caule. Também consomem sementese raízes e, na ausência de plantas, podemcompletar a fase consumindo vegetais mor-tos. O ataque normalmente ocorre em pa-drões irregulares, quando as plantas estãocom 10 a 12 cm de altura e com duas folhas.

Lesmas

Sarasinula linguaeformis, Derocerus spp.,Limax spp. e Phyllocaulis spp.

(Stylomenatophora: Veronicellidae)

A lesma é um molusco de corpo acha-tado de coloração marrom, parda ou cinza,que, quando adulta, mede de 5 a 7 cm decomprimento (Fig. 3A, 3B e 3C). Durante alocomoção, deixa atrás de si um rastro bri-lhante, resultado do secamento da secreção(muco), que expele, para facilitar a loco-moção e manter o corpo úmido (Fig. 3D).As lesmas são hermafroditas e colocam emmédia 80 ovos em massas, em resíduos deplantas, ou em rachaduras no solo (Fig. 3E).Os ovos são ovais, translúcidos e eclodementre 20 e 24 dias, a 27oC. Em temperaturasmais elevadas, eles desenvolvem-se maisrapidamente. Em períodos de seca, os ovospodem demorar 6 meses para eclodir. Aslesmas jovens são parecidas com os adul-tos e ficam adultas em dois a cinco meses.As lesmas vivem por 12 a 18 meses. Umageração desenvolve-se em oito semanas,

Figura 1 - Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)NOTA: Figura 1A - Adulto. Figura 1B - Lagarta no último instar. Figura 1C - Lagarta na posição de

rosca. Figura 1D - Corte da planta pela lagarta-rosca.

é construída pelas lagartas no solo e a fasede pupa dura, aproximadamente, 15 dias.

As lagartas consomem as sementes oucortam as plântulas rente ao solo (Fig. 1D).O dano causado pelo inseto será maior,se houver população elevada de lagartasgrandes, provenientes de plantas hospe-deiras, na fase de germinação. As plantasmais desenvolvidas podem tolerar o danopor mais tempo, porém murcham e podemsofrer tombamento pelo vento.

Lagarta-elasmo

Elasmopalpus lignosellus

(Lepidoptera: Pyralidae)

A mariposa fêmea apresenta colora-ção cinza-escuro. O macho, de cor pardo-amarelado, mede cerca de 20 mm de enver-gadura (Fig. 2A). Deslocam-se com vôosrápidos e curtos e, quando pousadas nosolo, as mariposas confundem-se com osrestos culturais (Fig. 2B). A postura apro-ximada de 130 ovos é realizada individual-mente nas folhas, talos ou no solo. Os ovossão de cor verde-pálido.

O estádio larval dura de 13 a 26 dias, eexistem seis instares. As lagartas são de

José

A. F

. Bar

rigos

siEm

brap

a Ar

roz

e Fe

ijão

Page 117: Informe agropecuario feijão

115Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 2 0 04

podendo haver duas gerações por ano.As lesmas têm hábitos noturnos e, duran-te o dia, escondem-se debaixo de pedras,restos culturais (sob ou dentro da palhada)e no solo. Elas são inativas durante osperíodos de seca (enterram-se no solo) eas condições de alta umidade são ideaispara o seu desenvolvimento. Populaçõesmais altas ocorrem perto de rios, córregosou canais de irrigação, em solos argilosos,

em campos com alta concentração de plan-tas daninhas e em áreas com cobertura mor-ta em sistemas de plantio direto. Em hortali-ças, o rejeito vegetal, originário do desbastee do raleamento nos canteiros, favorece aconcentração de alta população desse mo-lusco.

A maioria do dano ocorre nas bordasda cultura, perto das áreas mais úmidas, eavança para o interior, especialmente se a

vegetação e os restos de cultura oferece-rem proteção para as lesmas durante o dia(Fig. 3F). Com a chegada do período seco ecom a colheita do milho e da soja, as lesmasmigram para áreas de cultivo de feijoeirosob pivô-central. Os danos ocasionadospor lesmas jovens é aparente, quando a fo-lha inteira é consumida, restando somenteo talo. Lesmas mais desenvolvidas conso-mem toda a folha e podem cortar as plantasrente ao solo, semelhantemente à lagarta-rosca. Plântulas inteiras podem ser consumi-das e dano nas vagens pode ser observado.

Além disso, as lesmas, em altos níveispopulacionais, podem transmitir doenças.O nematóide Angiostrongylus costaricen-sis pode ser transmitido ao ser humano,principalmente a crianças, através do mu-co produzido pela lesma (Fig. 3D), doençadenominada angiostrongilose abdominal.Muitos casos desta doença têm sido diag-nosticados no Sul do Brasil, tornando-seum problema de saúde pública. Para evitara transmissão do verme, não se deve tocarnas lesmas ou entrar em contato com a se-creção do muco. As lesmas podem tambémser vetores de patógenos de plantas, porexemplo, Phytophthora infestans, em ba-tatinha; Mycospharella brassicola, em re-polho, e Peronospora sp., em feijão-de-lima.

Pragas das folhas

Vaquinhas

Diabrotica speciosa, Cerotoma arcuata

(Coleoptera: Chrysomelidae)

O adulto de Cerotoma arcuata é umbesouro de coloração castanha, com man-chas escuras no dorso e mede de 5 a 6 mmde comprimento (Fig. 4A). A fêmea põe,em média, 1.200 ovos no solo, e as larvasbranco-leitosas, com a cabeça e o últimosegmento abdominal escuros, passam portrês instares no solo em, aproximadamente,nove dias (Fig. 4B).

O adulto de Diabrotica speciosa vi-ve, em média, de 50 a 60 dias, apresentacoloração verde com três manchas amarelasno dorso e mede cerca de 6 mm de compri-

Figura 2 - Lagarta-elasmo ou broca-do-colo (Elasmopalpus lignosellus)NOTA: Figura 2A - Adultos, larvas e pupas. Figura 2B - Mariposa de elasmo pousada no solo.

Figura 2C - Larva. Figura 2D - Casulo da larva. Figura 2E - Câmara pupal. Figura 2F - Cau-

le (colo) perfurado pela lagarta. Figura 2G - Sintoma de plantas murchas.

Elia

ne D

. Qui

ntel

aEm

brap

a Ar

roz

e Fe

ijão

Dirc

eu N

eri G

asse

nEm

brap

a Ar

roz

e Fe

ijão

Dirc

eu N

eri G

asse

nEl

iane

D. Q

uint

ela

Elia

ne D

. Qui

ntel

a

Page 118: Informe agropecuario feijão

116 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 20 0 4

Figura 3 - LesmasNOTA: Figura 3A, 3B e 3C - Diferentes espécies

de lesmas. Figura 3D - Secreção

produzida pela lesma para auxiliar na

locomoção e manter o corpo úmido.

Figura 3E - Ovos e formas jovens das

lesmas. Figura 3F - Danos das lesmas

em plantas de feijoeiro em reboleiras.

Figura 4 - Vaquinhas, Diabrotica speciosa e Cerotoma arcuata

NOTA: Figura 4A - Adulto de C. arcuata. Figura 4B - Larvas de vaquinha. Figura 4C - Adulto de D.

speciosa. Figura 4D e 4E - Desfolha em folhas do feijoeiro causada por vaquinhas. Figura

4F e 4G - Dano em raízes por vaquinhas.

mento (Fig. 4C). A fêmea põe cerca de 420ovos, que eclodem após seis a oito dias, eas larvas, semelhantes às de C. arcuata ,também apresentam três instares após 9 a14 dias. A pupa de coloração branco-leitosodesenvolve-se no solo após 6 a 8 dias.

Os adultos das vaquinhas causam des-folha durante todo o ciclo da cultura, o quereduz a área fotossintética (Fig. 4D e 4E).Os danos mais significativos ocorrem no

estádio de plântula, pois podem consumiro broto apical, se ocorrerem altas popu-lações de insetos e não houver área foliardisponível, o que causa a morte da planta.Em outros estádios, o dano é menor, poiso feijoeiro pode tolerar níveis considerá-veis de desfolha (20%-66%), sem que ocor-ra perda na produção. Os adultos podem-se alimentar de flores e vagens, quando aincidência deles for alta na fase reprodutiva

Elia

ne D

. Qui

ntel

a

Elia

ne D

. Qui

ntel

a

Embr

apa

Arro

z e

Feijã

oEm

brap

a Ar

roz

e Fe

ijão

Embr

apa

Arro

z e

Feijã

o

Embr

apa

Arro

z e

Feijã

oEm

brap

a Ar

roz

e Fe

ijão

Page 119: Informe agropecuario feijão

117Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 2 0 04

da planta. As larvas alimentam-se das raí-zes, nódulos e sementes em germinação,fazendo perfurações no local de alimen-tação (Fig. 4F e 4G). Quando as larvasalimentam-se das sementes, as folhas coti-ledonares podem apresentar perfuraçõessemelhantes às causadas pelos adultos.Se o dano à raiz for severo, as plantas atro-fiam e ocorre amarelecimento das folhasbasais.

Minadora

Liriomyza huidobrensis(Diptera: Agromyzidae)

Os adultos medem de 1-1,5 mm, sendoo macho menor, e vivem por, aproximada-mente, seis dias (Fig. 5A). A fêmea podeovipositar isoladamente, dentro do teci-do foliar, entre 500 e 700 ovos, de preferên-

cia no período da manhã e nos primeirosdias de vida (Fig. 5B). Cada fêmea coloca,em média, 35 ovos diariamente. Após doisou três dias nascem as larvas de colora-ção hialina e, após a primeira troca de pe-le, tornam-se amareladas. O estádio larvaldura de quatro a sete dias, passando portrês instares (Fig. 5C e 5D). A pupa, de cormarrom-claro a escuro, desenvolve-se apóscinco a sete dias (Fig. 5E). A maioria daslarvas transforma-se em pupas no solo eaproximadamente 30% delas empupam nasfolhas.

Os adultos alimentam-se do exsudadodas folhas, através da punctura realizadapelo ovipositor das fêmeas. As larvas abremgalerias serpenteadas entre a epidermesuperior e a inferior das folhas, formandolesões esbranquiçadas, e podem penetrar

nas nervuras (Fig. 5F). Quando a popula-ção de larvas na folha é alta, ocorre reduçãosignificativa da área fotossintética, poden-do causar murcha e queda prematura dasfolhas.

Cigarrinha-verde

Empoasca kraemeri

(Homoptera: Cicadellidae)

Os adultos, de coloração verde, medemcerca de 3 mm e vivem, em média, 60 dias(Fig. 6A). As fêmeas ovipositam de 30 a168 ovos, média de 107 ovos por fêmea. Osovos são inseridos isoladamente nas fo-lhas, pecíolos ou caule, com 50%-82% dosovos localizados nos pecíolos. Nas folhas,mais da metade dos ovos são encontradosnas folhas cotiledonares. Os ovos eclodemem oito a nove dias, e os cinco estádiosninfais são completados em 8 a 11 dias. Asninfas são de coloração esverdeada seme-lhante à dos adultos, não possuem asas elocomovem-se lateralmente (Fig. 6B). Osadultos e ninfas localizam-se normalmentena face inferior das folhas.

O dano é causado pelas ninfas e adul-tos que se alimentam da seiva da planta,provocando amarelecimento seguido desecamento nas margens das folhas, o quereduz severamente o rendimento. Uma toxi-na parece estar envolvida no dano à plan-ta, mas isso ainda não foi demonstradoexperimentalmente. Os sintomas causadospela cigarrinha caracterizam-se pelo amare-lecimento das bordas foliares e pela curva-tura destas para baixo (Fig. 6C e 6D). O da-no é mais severo quando altas populaçõesda cigarrinha-verde ocorrem no início docrescimento do feijão ou durante o flores-cimento. Nestes casos, o inseto pode acar-retar perdas acima de 60%.

Mosca-branca

Bemisia tabaci biótipo A e B(Homoptera: Aleyrodidae)

Os adultos (Fig. 7A) possuem dois pa-res de asas brancas e membranosas reco-bertas por uma substância cerosa . A fêmeae o macho medem, em média, 0,9 e 0,8 mm,

Figura 5 - Larva minadora, Liriomyza huidobrensis spp.NOTA: Figura 5A - Adulto. Figura 5B - Pontos brancos em folha do feijoeiro, devido à oviposição.

Figura 5C e 5D - Larvas de minadora em folhas. Figura 5E - Pupa da larva minadora.

Figura 5F - Dano nas folhas causado pela larva minadora.

Elia

ne D

. Qui

ntel

aEl

iane

D. Q

uint

ela

Elia

ne D

. Qui

ntel

a

Elia

ne D

. Qui

ntel

aEl

iane

D. Q

uint

ela

Elia

ne D

. Qui

ntel

a

Page 120: Informe agropecuario feijão

118 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 20 0 4

Figura 6 - Cigarrinha-verde, Empoasca kraemeri

NOTA: Figura 6A - Adultos. Figura 6B - Ninfas. Figura 6C e 6D - Amarelecimento e curvatura das

bordas dos folíolos, devido à alimentação da cigarrinha-verde.

respectivamente. A fêmea põe de 20 a 350ovos (Fig. 7B) durante seu tempo de vida.No feijoeiro, a maioria dos ovos eclode apósoito dias. A ninfa de primeiro instar é trans-parente (Fig. 7C) e locomove-se por algu-mas horas ou dias até fixar-se na planta.Após estabelecida, ela se mantém séssilem todos os outros estádios, até a emergên-cia do adulto. A ninfa de segundo instar émaior e um pouco mais arredondada quea da fase anterior, embora menos avoluma-da que na fase seguinte. No terceiro está-dio, apresenta-se mais translúcida, deixan-do à mostra o estilete. No quarto e últimoinstar, as ninfas possuem três formas dis-tintas. A duração média da fase de ovo àde adulto é de, aproximadamente, 33 dias,o que indica que a mosca-branca pode terde 10 a 11 gerações por ano na cultura dofeijoeiro.

O dano direto, pela sucção da seiva daplanta, não causa prejuízo às plantas dofeijoeiro, e o inseto torna-se importante emépocas e regiões onde ocorre a transmissãodo vírus. Os danos indiretos são causa-dos pela transmissão do vírus do mosaico-dourado e são proporcionais à cultivarplantada, à porcentagem de infecção pelo

vírus e ao estádio de desenvolvimentoda planta na época da incidência da do-ença. Os danos indiretos podem atingir100%, quando ocorrem altas populaçõesda mosca-branca no início do desenvolvi-mento da planta do feijão.

Os sintomas do mosaico-dourado po-dem variar, dependendo da cultivar e doestádio de desenvolvimento das plantasna ocasião da infecção. Em campo, os pri-meiros sintomas nas folhas aparecem do14o ao 17o dia do plantio. Contudo, os sin-tomas nítidos da doença são observados,quando as plantas têm três a quatro folhastrifolioladas (25-30 dias) (Fig. 7D). As folhasdo feijoeiro ficam com uma aparência ama-relo-intensa. Os sintomas iniciam-se nasfolhas mais novas com um salpicamentoamarelo-vivo, atingindo, posteriormente,toda a planta. As folhas jovens podem-seenrolar ligeiramente ou apresentar rugo-sidade bem definida e, em geral, há poucaredução no tamanho das folhas. As plan-tas infectadas precocemente (até os 20 diasde idade) apresentam redução no porte,vagens deformadas, sementes descoloridas,deformadas e de peso reduzido (Fig. 7Ee 7F).

Figura 7 - Mosca-branca, Bemisia tabaci

NOTA: Figura 7A - Adultos. Figura 7B - Ovos.

Figura 7C - Ninfas do 1o ao 4o instares.

Figura 7D - Sintomas do mosaico-

dourado do feijoeiro (MDF) transmitido

pela mosca-branca. Figura 7E - Vagens

sadias do feijoeiro. Figura 7F - Vagens

deformadas, devido ao MDF.

Embr

apa

Arro

z e

Feijã

o

Elia

ne D

. Qui

ntel

aEl

iane

D. Q

uint

ela

Gen

i L. V

illas

Boas

Elia

ne D

. Qui

ntel

aEl

iane

D. Q

uint

ela

Elia

ne D

. Qui

ntel

a

Embr

apa

Arro

z e

Feijã

o

Embr

apa

Arro

z e

Feijã

oEm

brap

a Ar

roz

e Fe

ijão

Page 121: Informe agropecuario feijão

119Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 2 0 04

Tripes

Thrips palmi(Thysanoptera: Thripidae)

Várias espécies de tripes ocorrem nacultura do feijoeiro, havendo, atualmente,uma predominância do Thrips palmi . Ascondições favoráveis ao desenvolvimentodo tripes são temperaturas elevadas e bai-xa umidade.

Os adultos de T. palmi, com 1-1,2 mmde comprimento, são de cor amarelo-claroe dourado, sendo a fêmea maior que o ma-cho (Fig. 8A). Os ovos branco-amareladossão colocados separadamente nas folhase flores, através de uma incisão feita peloovipositor da fêmea. Os dois estádios nin-fais (1o e 2o instares) são amarelo-claros ealimentam-se das flores e folhas do feijoei-ro. Quando maduras, as ninfas do 2o instar,jogam-se ao solo, onde se transformam empré-pupas e, em seguida, em pupas. A maio-ria das ninfas tende a cair no solo próximoà haste da planta. Os dois estádios pupais(pré-pupa e pupa) também apresentam co-loração amarelada, sendo a pupa imóvel ea pré-pupa com pouca mobilidade. Os está-dios de ovo, ninfa e pupa duram, em média,6,3; 4,8 e 14 dias, respectivamente.

Os danos causados pelo tripes sãodecorrentes da alimentação das folhas eflores pelas ninfas e adultos. As folhas,inicialmente, apresentam pontos brancosna face superior (Fig. 8B). Surgem pontosprateados na superfície inferior das folhas(Fig. 8C), resultantes da entrada de ar nostecidos que servem de alimentos ao tripes.Com o tempo, os tecidos mortos necrosam,ficam bronzeados ou ressecam e tornam-se quebradiços. Brotos foliares e botõesflorais, quando atacados, tendem-se a atro-fiar (Fig. 8D). Pode ocorrer queda prematurados botões florais e vagens, se a populaçãode tripes for alta.

Ácaro-branco

Polyphagotarsonemus latus

(Acarina: Tarsonemidae)

A ocorrência do ácaro-branco,Polyphagotarsonemus latus , tem aumen-tado muito no feijoeiro, em especial nosplantios de verão-outono e de outono-inverno. O ácaro-branco fica na página infe-rior das folhas e é praticamente invisívela olho nu. Sua coloração varia de bran-co, âmbar a verde-claro, com o tegumentobrilhante. Seu ciclo de vida é curto, po-

dendo passar pelo estádio de ovo, larva,pseudopupa e adulto em seis ou sete dias(Fig. 9A). As fêmeas são maiores que osmachos e vivem por, aproximadamente, 15dias. A fêmea coloca, em média, 48 ovosna face inferior das folhas do feijoeiro. Ini-cialmente, o ataque ocorre em reboleirase é visível nas folhas do ponteiro que fi-cam com as bordas dos folíolos, enroladaspara cima, de cor verde-escuro brilhante(Fig. 9B). Posteriormente, a face inferior dofolíolo torna-se bronzeada devido à mortedos tecidos, e as folhas ficam ressecadas equebradiças (Fig. 9C). Em altas infestações,o ácaro-branco ataca as vagens, que ficamprateadas e, posteriormente, bronzeadas eretorcidas (Fig. 9D).

Pragas das vagens

Percevejo-dos-grãos

Neomegalotomus parvus

(Hemiptera: Alydidae)

A espécie Neomegalotomus parvustem aumentado significativamente em la-vouras de feijão, com ocorrência em SãoPaulo, Minas Gerais e Goiás. Infestaçõesde percevejos comuns à lavoura de so-ja, como o Nezara viridula, Piezodorusguildini e Euschistus heros , vêm aumen-tando de intensidade a cada ano na culturado feijão.

O adulto de N. parvus é de cor marrom-claro e mede de 10 a 11mm (Fig. 10A e 10B).As fêmeas ovipositam, eqüidistantemente,nas folhas e vagens do feijoeiro (Fig. 10C).As ninfas são semelhantes a formigas ecausam maiores danos aos grãos a partirdo 4o instar (Fig. 10D).

Os percevejos possuem alta capacida-de de causar danos e, mesmo em baixaspopulações, provocam perdas significa-tivas já que se alimentam diretamente dosgrãos, desde o início da formação de vagens.Os grãos atacados ficam pequenos, enru-gados, chochos e mais escuros. Além dosdanos diretos causados ao produto final,os percevejos prejudicam também a qua-lidade das sementes, reduzindo-lhes opoder germinativo e transmitindo-lhes a

Figura 8 - TripesNOTA: Figura 8A - Adulto de Thrips palmi. Figura 8B - Pontos brancos na face superior das folhas

causados pelo tripes. Figura 8C - Pontos prateados e áreas necrosadas, devido à alimentação

do tripes na face inferior das folhas. Figura 8D - Tripes em flor do feijoeiro.

Elia

ne D

. Qui

ntel

aBa

yer C

rop

Scie

nce

Elia

ne D

. Qui

ntel

aEl

iane

D. Q

uint

ela

Page 122: Informe agropecuario feijão

120 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 20 0 4

mancha-de-levedura, causada pelo fungoNematospora corylli, o que deprecia acen-tuadamente a classificação comercial doproduto.

Lagarta-das-vagens

Maruca vitrata

(Lepidoptera: Pyraustidae)

As lagartas-das-vagens eram consi-deradas pragas secundárias do feijoeiro,por não apresentarem ataques freqüentes.Entretanto, a ocorrência delas tem aumen-tado nas lavouras de feijão nas regiões Sule Centro-Oeste do Brasil.

O adulto da Maruca vitrata é uma ma-riposa, com, aproximadamente, 2 cm deenvergadura e de cor marrom-claro. Apre-senta nas asas áreas transparentes por fal-ta de escamas (Fig. 11A). Vive cerca de umasemana, e a fêmea oviposita cerca de 150ovos nas gemas de folhas e flores. O perío-do de incubação dos ovos é de cinco dias,e as lagartas com cinco instares alimentam-se de pedúnculos, flores e vagens (Fig. 11B).A penetração das lagartas na vagem ocor-re, principalmente, nos locais de contatodas vagens com as folhas, ramos ou outrasvagens. O aparecimento de excrementos(Fig. 11C) e orifícios (Fig. 11D) caracterizaa ocorrência da praga. Normalmente, em-pupam no solo e, algumas vezes, nas va-gens.

PASSOS PARA AREALIZAÇÃO DO MANEJOINTEGRADO DE PRAGASDO FEIJOEIRO

Identificar os danos, as pragase seus inimigos naturais

Para que o manejo integrado das pra-gas possa ser efetuado com eficiência, éimprescindível o conhecimento das pragasdo feijoeiro, seus danos e seus inimigosnaturais, que podem ocorrer na lavoura.A amostragem dos inimigos naturais auxi-liará o produtor na tomada de decisão parao controle das pragas. Os materiais neces-sários para amostragem de pragas do fei-joeiro e os inimigos naturais são apresen-tados na Figura 12.

Figura 9 - Ácaro-branco, Polyphagotarsonemus latus

NOTA: Figura 9A - Ovos, formas jovens e adultos do ácaro-branco. Figura 9B - Bordas do folíolo

enroladas para cima devido ao ataque do ácaro-branco. Figura 9C - Face inferior do

folíolo bronzeada devido à alimentação do ácaro-branco. Figura 9D - Vagens bronzeadas

devido à alimentação do ácaro-branco.

Figura 10 - Percevejo do grão, Neomegalotomus parvus

NOTA: Figura 10A - Macho de N. parvus. Figura 10B - Fêmea de N. parvus. Figura 10C - Ovos

de N. parvus. Figura 10D - Ninfa de N. parvus.

José

Dag

ober

to D

e N

egri

Elia

ne D

. Qui

ntel

a

Embr

apa

Arro

z e F

eijã

oEl

iane

D. Q

uint

ela

Elia

ne D

. Qui

ntel

aEl

iane

D. Q

uint

ela

Elia

ne D

. Qui

ntel

aEl

iane

D. Q

uint

ela

Page 123: Informe agropecuario feijão

121Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 2 0 04

Figura 11 - Lagarta-das-vagens, Maruca vitrata

NOTA: Figura 11A - Adulto de M. testulalis. Figura 11B - Larvas de M. vitrata. Figura 11C - Dano de M. testulalis.

Figura 11D - Dano de lagarta-das-vagens.

Figura 12 - Kit para amostragem de pragas do feijoeiroNOTA: Pano de batida, metro, placa branca para amostragem de tripes, lupa de bolso de 20 X, prancheta, ficha de

amostragem para pragas, inimigos naturais e tripes nas flores.

Amostraras pragas e osinimigos naturais

As amostragens das pra-gas do feijoeiro e seus ini-migos naturais devem serrealizadas semanalmente emdiversos pontos da lavou-ra. Em lavouras de até 5 hadevem ser realizadas quatroamostragens; em lavouras deaté 10 ha, cinco amostragens.Em lavouras de até 30 ha,devem-se amostrar seis pon-tos. Em lavouras de até 50 hasão amostrados oito pontose, nas de até 100 ha, dez pon-tos. O caminhamento na la-voura para amostragem daspragas deve ser feito de for-ma que represente o melhorpossível a área total, normal-mente em ziguezague. Emáreas maiores que 100 ha,recomendam-se dividi-las emtalhões menores. Se a diver-sidade e a população de inimi-gos naturais forem elevadas,e a população da praga esti-ver próxima ao nível de con-trole, é aconselhável aguardarde 3 a 4 dias e amostrar nova-mente o campo. Nesse caso,é possível que os inimigos na-turais, sozinhos, mantenhama população da praga abaixodo nível de controle.

Forma deamostragem daemergência até oestádio de 3 a4 folhas trifolioladas

Devem-se amostrar as plan-tas em 2 m de linha até o está-dio de 3 a 4 folhas trifolioladas(Fig. 13). Para isso, marcam-se 2 m na linha de plantio,amostrando da seguinte for-ma para cada praga ou da-no:

Embr

apa

Arro

z e

Feijã

oEm

brap

a Ar

roz

e Fe

ijão

Elia

ne D

. Qui

ntel

aEm

brap

a Ar

roz

e Fe

ijão

Elia

ne D

. Qui

ntel

a

Page 124: Informe agropecuario feijão

122 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 20 0 4

Figura 14 - Planta morta na linha de plantio Figura 15 - Bordas dos folíolos superiores da planta enroladaspara cima, devido ao ácaro-branco

a) pragas de solo: ano-tar o número de plan-tas mortas (Fig. 14);

b) vaquinhas, mosca-

branca, cigarrinha-

verde e inimigos

naturais: amostrar asfolhas na parte supe-rior e inferior dos fei-joeiros;

c) ácaro-branco: ve-rificar a presença desintomas de ataquenas folhas da partesuperior da planta(Fig. 15).

Outras pragas e tecidoscom danos devem-se amos-trar da seguinte forma:

a) desfolha: avaliaçãovisual do nível dedesfolha (Fig. 16) emárea de raio igual a5 m, centrada no pon-to de amostragem;

b) larva minadora:

amostrar o número de

Elia

ne D

. Qui

ntel

a

Elia

ne D

. Qui

ntel

a

Figura 13 - Forma de amostragem de pragas do feijoeiro em 2 m de linha até o estádio de 3 folhastrifolioladas

NOTA: Figura 13A e 13B - Marcação da área a ser amostrada em 2 m de linha. Figura 13C e 13D - Amostragem

das pragas na face inferior e superior das folhas.

Elia

ne D

. Qui

ntel

aEl

iane

D. Q

uint

ela

Elia

ne D

. Qui

ntel

aEl

iane

D. Q

uint

ela

Page 125: Informe agropecuario feijão

123Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 2 0 04

larvas, com lupa de aumento, em dezfolhas trifolioladas/ponto de amos-tragem, não considerando o ataquenas folhas primárias (Fig. 17);

c) tripes: bater vigorosamente as plan-tas presentes em 1 m de linha emplaca branca/ponto de amostragem(Fig. 18);

d) lesmas: em locais de ataques de les-mas, contá-las em 1 m2/ponto de amos-tragem.

Forma de amostragem apóso estádio de 3 a 4 folhastrifolioladas

Após o estádio de 3 a 4 folhas trifolio-ladas, as amostragens devem ser realizadascom o pano branco de batida, com 1 m decomprimento por 0,5 m de largura, com umsuporte de cada lado (Fig. 19). O pano deveser inserido cuidadosamente entre duasfilas de feijão, para não perturbar os insetose os inimigos naturais presentes nas plan-tas. Estas devem ser batidas vigorosamen-te sobre o pano para deslocar os insetos einimigos naturais. Anotam-se na ficha delevantamento de campo os insetos caídosno pano. Nesta etapa, também devem seranotados os níveis de desfolha, o númerode tripes, de lesmas, de larvas minadoras ea presença de sintoma de ataque do ácaro-branco, como descrito anteriormente.

Figura 17 - Amostragem da larva minadora com lupa e larvas vivas no folíolo

Figura 16 - Diferentes níveis de desfolha no feijoeiro

Elia

ne D

. Qui

ntel

a

Elia

ne D

. Qui

ntel

a

José

A. F

. Bar

rigos

si

30,2%39,5% 49,5%

5,1%11,5% 19,1%

Page 126: Informe agropecuario feijão

124 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 20 0 4

Forma de amostragemno estádio de florescimento ede formação de vagens

Nestes estádios, as amostragens devemser direcionadas para tripes, ácaro-branco,percevejos e lagartas-das-vagens. Deve-se inserir, cuidadosamente, o pano entreas plantas e amostrar nesta ordem:

a) verificar a presença de sintomas deataque do ácaro-branco nas folhasna parte superior da planta na áreada batida de pano (Fig. 15);

b) contar os percevejos que estão naparte superior das plantas e movê-las, cuidadosamente, para observaraqueles que estão nas partes media-na e inferior delas;

c) após amostragem dos percevejos,

Figura 18 - Utilização da placa de plástico branca (50 x 40 cm) para amostragem detripes em folhas do feijoeiro

NOTA: São efetuadas duas batidas com a placa por ponto de amostragem.

Figura 19 - Forma de amostragem com o pano branco após o estádio de 3-4 folhas trifolioladasNOTA: Figura 19A, 19B e 19C - Colocando o pano entre as filas do feijoeiro. Figura 19D - Batendo vigorosamente as folhas do feijoeiro sobre o pano

branco. Figura 19E - Contagem dos insetos caídos no pano.

A B C

Elia

ne D

. Qui

ntel

aEl

iane

D. Q

uint

ela

Elia

ne D

. Qui

ntel

a

Elia

ne D

. Qui

ntel

aEl

iane

D. Q

uint

ela

Page 127: Informe agropecuario feijão

125Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 2 0 04

bater vigorosamente as plantas so-bre o pano e contar os insetos e osinimigos naturais caídos nele;

d) amostrar, visualmente, as vagensquanto à presença de lagarta-das-vagens (Fig. 20);

e) próximo à área amostrada, coletar25 flores e visualizar a presença detripes (Fig. 21).

Os resultados devem ser anotadosnas fichas de amostragem para o tripes nasflores (Anexo A), as pragas (Anexo B) e osinimigos naturais (Anexo C). Essas fichasde amostragem podem ser obtidas no setorde venda de publicações da Embrapa Arroze Feijão.

TOMADA DE DECISÃO

O momento adequado para efetuar ocontrole com inseticidas está apresen-tado no Anexo B, última coluna, ondeencontram-se também os níveis de contro-le para as principais pragas do feijoeiro.Esses níveis estão amparados por boa mar-gem de segurança, de forma que a sua uti-lização cuidadosa permitirá a aplicação

Figura 20 - Amostragem visual das vagens para verificação do ataque da lagarta-das-vagens

Figura 21 - Tripes em flores de feijoeiro

de inseticidas somente quando houver ne-cessidade, sem que ocorra perda na pro-dução.

Escolha dos inseticidas

Se o nível para o controle da praga foiatingido, deve-se efetuar a pulverizaçãoescolhendo os inseticidas mais seletivos,conforme a classe toxicológica e os níveisde toxicidade estabelecidos para mamíferose aves, peixes, abelhas e predadores (Qua-dro 2).

MANEJO INTEGRADODE PRAGAS DO FEIJOEIROEM ÁREAS DE INCIDÊNCIADA MOSCA-BRANCA

Devido à importância da mosca-brancacomo transmissora do vírus-do-mosaico-dourado do feijoeiro (VMDF), seu manejodeve ser realizado de acordo com a épo-ca de plantio. Em áreas com histórico dealta incidência do mosaico-dourado e noplantio da “seca” (janeiro a abril), desdeque a mosca-branca esteja presente na áreaamostrada, seu controle deve ser feito doplantio até o estádio de florescimento, comtratamento de sementes e complementadocom pulverizações semanais. Normalmente,quatro a cinco pulverizações são suficien-tes. O período que vai da germinação até oflorescimento é a fase em que a planta émais suscetível ao VMDF e, conseqüente-mente, quando são observadas as maioresperdas na produção. Após o florescimentodo feijoeiro, não há necessidade de fazer ocontrole da mosca-branca, pois os danoscausados pelo VMDF são pouco signifi-cativos, não justificando o controle dovetor.

No plantio das“águas” (agosto a de-zembro) e de inver-no (maio a agosto),recomenda-se somen-te o tratamento de se-mentes, não havendonecessidade de pulveri-zações, pois a incidên-cia da mosca-brancae do VMDF é menosintensa. Nessas épocasde plantio, geralmen-te, as populações damosca-branca são me-nores, pois não ocorremculturas de soja e algo-dão, as quais multipli-cam essa praga, ou essaslavouras não estão emfinal de ciclo.

Elia

ne D

. Qui

ntel

a

Elia

ne D

. Qui

ntel

a

Page 128: Informe agropecuario feijão

126 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 20 0 4

Cig

arri

nh

a-T

hia

met

hox

amC

ruis

er 7

00 W

SN

eoco

tin

óid

e0,

1-0,

15 k

g/S

istê

mic

oIn

det

erm

i-

verd

e10

0 kg

sem

ente

sn

ada

(Em

poa

sca

Act

ara

250

WG

Neo

coti

nói

de

0,1-

0,2

kg/h

aS

istê

mic

oII

I14

kra

emer

i)C

yflu

thri

nB

aytr

oid

CE

Pire

trói

de0,

2 L/

ha

Con

tato

I14

11

25

3

Bet

acyf

lutr

inTu

rbo

Pire

trói

de0,

1 L/

ha

Con

tato

II14

21

35

2

Bu

lld

ock

125

SC

Pire

trói

de0,

05 L

/ha

Con

tato

II14

Tri

clor

fon

Dip

tere

x 50

0O

rgan

ofos

fora

do

1,6

L/h

aC

onta

to/

II7

22

11

Inge

stão

Para

tion

met

ílic

oFo

lisu

per

600

BR

Org

anof

osfo

rad

o0,

45-0

,67

L/h

aC

onta

to/

I15

45

15

3

Inge

stão

Foli

dol

600

Org

anof

osfo

rad

o0,

45-0

,67

L/h

aC

onta

to/

I15

Inge

stão

Imid

aclo

prid

Gau

cho

Clo

ron

icot

inil

0,2

kg/1

00 k

gS

istê

mic

oIV

Ind

eter

min

ado

sem

ente

s

Gau

cho

FSC

loro

nic

otin

il0,

25 L

/100

kg

Sis

têm

ico

IVIn

det

erm

inad

o

sem

ente

s

Pro

vad

oC

loro

nic

otin

il0,

15 k

g/h

aS

istê

mic

oIV

21

Con

fid

or 7

00 G

rDA

Clo

ron

icot

inil

0,15

kg/

ha

Sis

têm

ico

IV21

Met

amid

ofós

Str

onO

rgan

ofos

fora

do

0,5-

1,0

L/h

aS

istê

mic

oI

214

41

33

Ham

idop

600

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

I21

Met

afós

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

I21

Met

amid

ofós

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

I21

Met

asip

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

I21

Faro

Org

anof

osfo

rad

o0,

5 L/

ha

Sis

têm

ico

II21

Tam

aron

BR

Org

anof

osfo

rad

o0,

5 L/

ha

Sis

têm

ico/

II21

Con

tato

/

Inge

stão

Th

iacl

opri

dC

alyp

soC

loro

nic

otin

il0,

2 L/

ha

Sis

têm

ico

III

31

Mon

ocro

top

hos

Agr

oph

os 4

00O

rgan

ofos

fora

do

0,75

-1,2

5 L/

ha

Sis

têm

ico/

I21

41

55

3

Con

tato

Azo

dri

n 4

00O

rgan

ofos

fora

do

0,75

-1,2

5 L/

ha

Sis

têm

ico

I9

Con

tato

/

Inge

stão

Bif

enth

rin

Bri

gade

25

CE

Pire

trói

de0,

2-0,

25 L

/ha

Sis

têm

ico

II

Qu

adro

2 -

In

seti

cid

as e

aca

rici

das

reg

istr

ados

par

a a

cult

ura

do f

eijo

eiro

Prag

aP

rod

uto

téc

nic

oM

arca

com

erci

alG

rup

o qu

ímic

oD

ose

Mod

o de

ação

Cla

sse

toxi

coló

gica

Perí

odo

de c

arên

cia

(dia

s)

MIP

MA

PA

bPr

(con

tin

ua)

Page 129: Informe agropecuario feijão

127Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 2 0 04

Cig

arri

nh

a-C

arba

ryl

Sev

in 4

80 S

CC

arba

mat

o1,

9-2,

25 L

/ha

Con

tato

/II

32

11

41

verd

ein

gest

ão

(Em

poa

sca

Sev

in 8

50 P

MC

arba

mat

o1,

2-1,

5 kg

/ha

Con

tato

/II

20

kra

emer

i)in

gest

ão

Car

bary

l Fer

sol

Car

bam

ato

2,0-

2,3

L/h

aC

onta

to/

II3

480

SC

inge

stão

Car

bary

l Fer

sol

Car

bam

ato

15-2

0 kg

/ha

Con

tato

/II

I3

Pó 7

5in

gest

ão

Clo

rpir

ifós

Vex

ter

Org

anof

osfo

rad

o0,

8 L/

ha

Con

tato

II25

31

12

2

Lors

ban

480

BR

Org

anof

osfo

rad

o0,

8 L/

ha

Con

tato

II25

Clo

rpir

ifós

Fer

sol

480

CE

Org

anof

osfo

rad

o0,

8 L/

ha

Con

tato

II25

Terb

ufó

sC

oun

ter

50 G

Org

anof

osfo

rad

o40

kg/

ha

Sis

têm

ico

IIn

det

erm

inad

o

Cou

nte

r 15

0 G

Org

anof

osfo

rad

o13

kg/

ha

Sis

têm

ico

IIn

det

erm

inad

o

Del

tam

eth

rin

Del

tap

hos

Pire

trói

de0,

35-0

,50

L/h

aC

onta

toI

16

Car

bofu

ran

Ral

zer

50 G

RC

arba

mat

o20

kg/

ha

Sis

têm

ico

I30

Ral

zer

350

SC

Car

bam

ato

2,0

L / 1

00 k

gS

istê

mic

oI

Ind

eter

min

ado

sem

ente

s

Fura

dan

50

GC

arba

mat

o20

kg/

ha

Sis

têm

ico/

I75

Con

tato

/

Inge

stão

Dia

fura

n 5

0C

arba

mat

o20

kg/

ha

Sis

têm

ico

I30

Th

iodi

carb

Futu

r 30

0C

arba

mat

o2,

0 L

/ 10

0kg

Sis

têm

ico

III

Ind

eter

min

ado

22

13

1

sem

ente

s

Ph

orat

eG

ran

uto

xO

rgan

ofos

fora

do

20-3

0 kg

/ha

Sis

têm

ico

IIn

det

erm

inad

o

Gra

nu

tox

150

GO

rgan

ofos

fora

do

7-10

kg/

ha

Sis

têm

ico

IIIn

det

erm

inad

o

Car

bosu

lfan

Mar

zin

c 25

0 T

SC

arba

mat

o1,

5-2,

0 kg

/S

istê

mic

oII

Ind

eter

min

ado

100

kg s

emen

tes

Fen

pro

pat

hri

nD

anim

en 3

00 C

EPi

retr

óide

0,1-

0,2

L/h

aC

onta

toI

143

4

Meo

thri

n 3

00Pi

retr

óide

0,1-

0,2

L/h

aC

onta

toI

14

Mon

ocro

top

hos

Nu

vacr

on 4

00O

rgan

ofos

fora

do

0,75

-1,2

5 L/

ha

Sis

têm

ico/

I9

Con

tato

/

Inge

stão

Pyr

idap

hen

thio

nO

fun

ack

400

CE

Org

anof

osfo

rad

o1,

25 L

/ha

Con

tato

III

15

(con

tin

ua)

Prag

aP

rod

uto

téc

nic

oM

arca

com

erci

alG

rup

o qu

ímic

oD

ose

Mod

o de

ação

Cla

sse

toxi

coló

gica

Perí

odo

de c

arên

cia

(dia

s)

MIP

MA

PA

bPr

Page 130: Informe agropecuario feijão

128 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 20 0 4

Cig

arri

nh

a-A

cep

hat

eO

rth

ene

750

BR

Org

anof

osfo

rad

o0,

2-0,

5 kg

/ha

Sis

têm

ico

III

14M

TPT

TA

T

verd

eO

rth

ene

750

BR

Org

anof

osfo

rad

o1,

0 kg

/ 10

0 kg

Sis

têm

ico

IVIn

det

erm

inad

o

(Em

poa

sca

par

a se

men

tes

sem

ente

s

kra

emer

i)D

isu

lfot

onS

olvi

rex

GR

100

Org

anof

osfo

rad

o15

kg/

ha

Sis

têm

ico

III

Ind

eter

min

ado

Esf

enva

lera

teS

um

idan

25

CE

Pire

trói

de0,

4 L/

ha

Con

tato

I14

15

Fen

itro

thio

nS

um

ith

ion

500

CE

Org

anof

osfo

rad

o1,

0-1,

5 L/

ha

Sis

têm

ico

II14

23

25

3

Dim

etoa

toT

iom

et 4

00 C

EO

rgan

ofos

fora

do

0,32

-0,6

4 L/

ha

Sis

têm

ico

I3

PTA

TPT

AT

Eto

fen

pro

xTr

ebon

300

CE

Ari

l Pro

pil

-0,

5 L/

ha

Con

tato

III

33

24

23

ben

zile

ter

Laga

rta-

rosc

aC

arba

ryl

Sev

in 4

80 S

CC

arba

mat

o1,

9-2,

25 L

/ha

Con

tato

/II

32

11

41

(Agr

oti

s sp

.)In

gest

ão

Car

bary

l Fer

sol

Car

bam

ato

2,0-

2,3

L/h

aC

onta

to/

II3

480

SC

Inge

stão

Ace

ph

ate

Ort

hen

e 75

0 B

RO

rgan

ofos

fora

do

1,0

kg /

100

kgS

istê

mic

oII

I14

par

a se

men

tes

sem

ente

s

Trip

esPa

rati

on m

etíl

ico

Foli

sup

er 6

00 B

RO

rgan

ofos

fora

do

0,27

-0,3

5 L

/ h

aC

onta

to/

I15

45

15

3

(vár

ias

Inge

stão

esp

écie

s)Fo

lid

ol 6

00O

rgan

ofos

fora

do

0,25

-0,3

7 L

/ h

aC

onta

to/

I15

Inge

stão

Imid

aclo

prid

Gau

cho

FSC

loro

nic

otin

il0,

25 L

/100

kg

Sis

têm

ico

IVIn

det

erm

inad

o

sem

ente

s

Met

amid

ofós

Met

afós

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico/

I21

44

13

3

Con

tato

/

Inge

stão

Str

onO

rgan

ofos

fora

do

0,5-

1,0

L/h

aS

istê

mic

oI

21

Met

asip

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

I21

Ham

idop

600

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

I21

Tam

aron

BR

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

II21

Pir

imif

ós m

etil

Act

elli

c 50

0 C

EO

rgan

ofos

fora

do

0,16

L/h

aC

onta

to/

II3

1

Fum

igaç

ão

Car

bary

lS

evin

480

SC

Car

bam

ato

1,9-

2,25

L/h

aC

onta

to/

II3

21

14

1

Inge

stão

(con

tin

ua)

Prag

aP

rod

uto

téc

nic

oM

arca

com

erci

alG

rup

o qu

ímic

oD

ose

Mod

o de

ação

Cla

sse

toxi

coló

gica

Perí

odo

de c

arên

cia

(dia

s)

MIP

MA

PA

bPr

Page 131: Informe agropecuario feijão

129Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 2 0 04

Trip

esC

arba

ryl

Car

bary

l Fer

sol

Car

bam

ato

2,0-

2,3

L/h

aC

onta

to/

II3

(vár

ias

480

SC

Inge

stão

espé

cies

)C

arba

ryl F

erso

lC

arba

mat

o15

-20

kg/h

aC

onta

to/

III

3

Pó 7

5In

gest

ão

Terb

ufó

sC

oun

ter

50 G

Org

anof

osfo

rad

o40

kg/

ha

Sis

têm

ico

IIn

det

erm

inad

o

Cou

nte

r 15

0 G

Org

anof

osfo

rad

o13

kg/

ha

Sis

têm

ico

IIn

det

erm

inad

o

Car

bofu

ran

Ral

zer

50 G

RC

arba

mat

o20

kg/

ha

Sis

têm

ico

I30

Ral

zer

350

SC

Car

bam

ato

1,0-

1,5

L /

Sis

têm

ico

IIn

det

erm

inad

o

100

kg s

emen

tes

Dia

fura

n 5

0C

arba

mat

o20

kg/

ha

Sis

têm

ico

I30

Fura

dan

50

GC

arba

mat

o20

kg/

ha

Sis

têm

ico/

I75

Con

tato

/

Inge

stão

Ph

orat

eG

ran

uto

xO

rgan

ofos

fora

do

20-3

0 kg

/ha

Sis

têm

ico

IIn

det

erm

inad

o

Gra

nu

tox

150

GO

rgan

ofos

fora

do

7-10

kg/

ha

Sis

têm

ico

IIIn

det

erm

inad

o

Car

bosu

lfan

Mar

zin

c 25

0 T

SC

arba

mat

o1,

5-2,

0 kg

/S

istê

mic

oII

Ind

eter

min

ado

100

kg s

emen

tes

Ace

ph

ate

Ort

hen

e 75

0 B

RO

rgan

ofos

fora

do

1,0

kg/h

aS

istê

mic

oII

I14

MT

PTT

AT

Th

iodi

carb

eS

emev

in 3

50 R

AC

arba

mat

o1,

5 L/

100

kgS

istê

mic

oII

Ind

eter

min

ado

22

13

1

sem

ente

s

Ald

icar

beTe

mik

150

Car

bam

ato

6,5

kg/h

aS

istê

mic

oI

80

Dim

eth

oate

Tio

met

400

CE

Org

anof

osfo

rad

o0,

32-0

,64

L/h

aS

istê

mic

oI

3PT

AT

PTA

T

Esf

enva

lera

teS

um

idan

25

CE

Pire

trói

de0,

4 L/

ha

Con

tato

I14

15

Fen

itro

thio

nS

um

ith

ion

500

CE

Org

anof

osfo

rad

o1,

0-1,

5 L/

ha

Sis

têm

ico

II14

23

25

3

Mos

ca-b

ran

caB

etac

yflu

trin

Turb

oPi

retr

óide

0,1

L/h

aC

onta

toII

142

13

52

(Bem

isia

Bu

lld

ock

125

SC

Pire

trói

de0,

05 L

/ha

Con

tato

II14

taba

ci)

Imid

aclo

prid

Con

fid

or 7

00 G

rDA

Clo

ron

icot

inil

0,25

kg/

ha

Sis

têm

ico/

IV21

Con

tato

/

Inge

stão

Gau

cho

Clo

ron

icot

inil

0,2

kg/

Sis

têm

ico

IVIn

det

erm

inad

o

100

kg s

emen

tes

Gau

cho

FSC

loro

nic

otin

il0,

25 k

g/S

istê

mic

oIV

Ind

eter

min

ado

100

kg s

emen

tes

Pro

vad

oC

loro

nic

otin

il0,

15 L

/ha

Sis

têm

ico

IV21

(con

tin

ua)

Prag

aP

rod

uto

téc

nic

oM

arca

com

erci

alG

rup

o qu

ímic

oD

ose

Mod

o de

ação

Cla

sse

toxi

coló

gica

Perí

odo

de c

arên

cia

(dia

s)

MIP

MA

PA

bPr

Page 132: Informe agropecuario feijão

130 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 20 0 4

Mos

ca-b

ran

caM

etam

idof

ósFa

roO

rgan

ofos

fora

do

0,5-

1 L/

ha

Sis

têm

ico

II21

44

13

3

(Bem

isia

Str

onO

rgan

ofos

fora

do

0,5-

1,0

L/h

aS

istê

mic

oI

21

taba

ci)

Met

afós

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico/

I21

Con

tato

/

Inge

stão

Met

amid

afós

Fer

sol

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

I21

600

Met

asip

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

I21

Ham

idop

600

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

I21

Tam

aron

BR

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico/

II21

Con

tato

/

Inge

stão

Th

iacl

opri

dC

alyp

soC

loro

nic

otin

il0,

2 L/

ha

Sis

têm

ico

III

31

Mon

ocro

top

hos

Azo

dri

n 4

00O

rgan

ofos

fora

do

0,5-

0,75

L/h

aS

istê

mic

o/I

94

15

53

Con

tato

/

Inge

stão

Agr

oph

os 4

00O

rgan

ofos

fora

do

0,5-

0,75

L/h

aS

istê

mic

o/I

21

Con

tato

Bu

pro

fezi

nA

pp

lau

d 2

50Ti

adia

zin

0,1-

0,2

L/C

onta

to/

IV21

100

L ág

ua

Reg

ula

dor

de

cres

cim

ento

Bif

enth

rin

Bri

gade

25

CE

Pire

trói

de0,

2-0,

25 L

/ha

Sis

têm

ico

II

Terb

ufó

sC

oun

ter

50 G

Org

anof

osfo

rad

o40

kg/

ha

Sis

têm

ico

IIn

det

erm

inad

o

Cou

nte

r 15

0 G

Org

anof

osfo

rad

o13

kg/

ha

Sis

têm

ico

IIn

det

erm

inad

o

Del

tam

eth

rin

Del

tap

hos

Pire

trói

de0,

35-0

,50

L/h

aC

onta

toI

16

Car

bofu

ran

Dia

fura

n 5

0C

arba

mat

o30

-40

kg/h

aS

istê

mic

oI

30

Ral

zer

50 G

RC

arba

mat

o30

-40

kg/h

aS

istê

mic

oI

30

Ral

zer

350

SC

Car

bam

ato

2,0

L / 1

00 k

gS

istê

mic

oI

Ind

eter

min

ado

sem

ente

s

Fura

dan

50

GC

arba

mat

o30

-40

kg/h

aS

istê

mic

o/I

75

Con

tato

/

Inge

stão

Ph

orat

eG

ran

uto

xO

rgan

ofos

fora

do

20-3

0 kg

/ha

Sis

têm

ico

IIn

det

erm

inad

o

Fen

pro

pat

hri

nD

anim

en 3

00 C

EPi

retr

óide

0,1-

0,2

L/h

aC

onta

toI

143

4

Meo

thri

n 3

00Pi

retr

óide

0,1-

0,2

L/h

aC

onta

toI

14

(con

tin

ua)

Prag

aP

rod

uto

téc

nic

oM

arca

com

erci

alG

rup

o qu

ímic

oD

ose

Mod

o de

ação

Cla

sse

toxi

coló

gica

Perí

odo

de c

arên

cia

(dia

s)

MIP

MA

PA

bPr

Page 133: Informe agropecuario feijão

131Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 2 0 04

Mos

ca-

Mon

ocro

top

hos

Nu

vacr

on 4

00O

rgan

ofos

fora

do

0,5-

0,75

L/h

aS

istê

mic

o/I

9

bran

caC

onta

to/

(Bem

isia

Inge

stão

taba

ci)

Pyr

idap

hen

thio

nO

fun

ack

400

CE

Org

anof

osfo

rad

o1,

0-1,

5 L/

ha

Con

tato

III

15

Ace

ph

ate

Ort

hen

e 75

0 B

RO

rgan

ofos

fora

do

0,2-

0,5

kg/h

aS

istê

mic

oII

I14

MT

PTT

AT

Ort

hen

e 75

0 B

RO

rgan

ofos

fora

do

1,0

kg/1

00kg

Sis

têm

ico

IVIn

det

erm

inad

o

sem

ente

s

Fura

thio

carb

Pro

met

400

CS

Tio

carb

amat

o0,

8 L/

100k

gS

istê

mic

oII

IIn

det

erm

inad

o

sem

ente

s

Ald

icar

bTe

mik

150

Car

bam

ato

6,0-

13,0

kg/

ha

Sis

têm

ico

I80

Pyr

ipro

xyfe

nC

ordi

al 1

00Pi

ridi

l éte

r1,

0 L/

ha

Ovi

cida

I14

11

Tig

er 1

00 C

EPi

ridi

l éte

r1,

0 L/

ha

Ovi

cida

I14

Dim

eth

oate

Tio

met

400

CE

Org

anof

osfo

rad

o0,

64-1

,25

L/h

aS

istê

mic

oI

3PT

AT

PTA

T

Clo

rpir

ifós

Lors

ban

480

BR

Org

anof

osfo

rad

o0,

8 L/

ha

Con

tato

II25

31

12

2

Vex

ter

Org

anof

osfo

rad

o1,

0 L/

ha

Con

tato

II25

Ace

tam

ipri

dM

osp

ilan

Neo

nic

otin

óid

e0,

15-0

,25

kg/h

aS

istê

mic

oII

I7

23

11

Th

iam

eth

oxan

Cru

iser

700

WS

Neo

coti

nói

de

0,15

kg

/ 10

0 kg

Sis

têm

ico

III

Ind

eter

min

ado

sem

ente

s

Act

ara

250

WG

Neo

coti

nói

de

0,1

kg/h

aS

istê

mic

oII

I21

Vaq

uin

ha

Bet

acyf

lutr

inB

ull

doc

k 12

5 S

CPi

retr

óide

0,05

L/h

aC

onta

toII

142

13

52

(Dia

bro

tica

Turb

oPi

retr

óide

0,1

L/h

aC

onta

toII

14

speci

osa

;Im

idac

lopr

idC

onfi

dor

700

GrD

AC

loro

nic

otin

il0,

15 k

g/h

aS

istê

mic

oIV

21

Cer

oto

ma

Gau

cho

Clo

ron

icot

inil

0,2

kg/1

00 k

gS

istê

mic

oIV

Ind

eter

min

ado

arc

ua

ta)

sem

ente

s

Gau

cho

FSC

loro

nic

otin

il0,

25 L

/100

kgS

istê

mic

oIV

Ind

eter

min

ado

sem

ente

s

Pro

vad

oC

loro

nic

otin

il0,

15 k

g/h

aS

istê

mic

oIV

21

Terb

ufó

sC

oun

ter

50 G

Org

anof

osfo

rad

o40

kg/

ha

Sis

têm

ico

IIn

det

erm

inad

o

Para

tion

met

ílic

oFo

lid

ol 6

00O

rgan

ofos

fora

do

0,45

-0,6

7 L/

ha

Con

tato

/I

154

51

53

Inge

stão

Foli

sup

er 6

00 B

RO

rgan

ofos

fora

do

0,45

-0,6

7 L/

ha

Con

tato

/I

15

Inge

stão

Th

iodi

carb

Futu

r 30

0C

arba

mat

o2,

0 L

/ 100

kg

Sis

têm

ico

III

Ind

eter

min

ado

22

13

1

sem

ente

s

Car

bosu

lfan

Mar

zin

c 25

0 T

SC

arba

mat

o1,

5-2,

0 kg

/S

istê

mic

oII

Ind

eter

min

ado

100

kg s

emen

tes

(con

tin

ua)

Prag

aP

rod

uto

téc

nic

oM

arca

com

erci

alG

rup

o qu

ímic

oD

ose

Mod

o de

ação

Cla

sse

toxi

coló

gica

Perí

odo

de c

arên

cia

(dia

s)

MIP

MA

PA

bPr

Page 134: Informe agropecuario feijão

132 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 20 0 4

Vaq

uin

ha

Met

amid

ofós

Ham

idop

600

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

I21

44

13

3

(Dia

bro

tica

Str

onO

rgan

ofos

fora

do

0,5-

1,0

L/h

aS

istê

mic

oI

21

speci

osa

;Ta

mar

on B

RO

rgan

ofos

fora

do

0,5-

1,0

L/h

aS

istê

mic

o/II

21

Cer

oto

ma

Con

tato

/

arc

ua

ta)

Inge

stão

Met

afós

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

I21

Met

amid

afós

Fer

-

sol

600

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

I21

Met

asip

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

I21

Ace

ph

ate

Ort

hen

e 75

0 B

RO

rgan

ofos

fora

do

0,5-

1,0k

g/h

aS

istê

mic

oII

I14

MT

PTT

AT

Ort

hen

e 75

0 B

RO

rgan

ofos

fora

do

1,0

kg /

100

kgS

istê

mic

oIV

Ind

eter

min

ado

par

a se

men

tes

sem

ente

s

Car

bary

lC

arba

ryl F

erso

lC

arba

mat

o2,

0-2,

3 L/

ha

Con

tato

/II

32

11

41

480

SC

Inge

stão

Sev

in 4

80 S

CC

arba

mat

o1,

9-2,

25 L

/ha

Con

tato

/II

3

Inge

stão

Esf

enva

lera

teS

um

idan

25

CE

Pire

trói

de0,

4 L/

ha

Con

tato

I14

15

Fen

itro

thio

nS

um

ith

ion

500

CE

Org

anof

osfo

rad

o1,

0-1,

5 L/

ha

Sis

têm

ico

II14

23

25

3

Laga

rta-

Th

iam

eth

oxam

Cru

iser

700

WS

Neo

coti

nói

de

0,1-

0,15

kg/

Sis

têm

ico

III

Ind

eter

min

ado

das

-fol

has

100

kg s

emen

tes

(Om

iod

es

Act

ara

250

WG

Neo

coti

nói

de

0,15

-0,2

kg/

ha

Sis

têm

ico

III

14

ind

ica

ta)

Lam

bdac

yalo

thri

nK

arat

e ze

on 5

0 C

SPi

retr

óide

0,15

-0,2

L/h

aC

onta

to/

III

15

Inge

stão

Car

bary

lS

evin

480

SC

Car

bam

ato

1,9-

2,25

L/h

aC

onta

to/

II3

21

14

1

Inge

stão

Car

bary

l Fe

rsol

Car

bam

ato

2,0-

2,3

L/h

aC

onta

to/

II3

480

SC

Inge

stão

Ace

ph

ate

Ort

hen

e 75

0 B

RO

rgan

ofos

fora

do

0,5-

1,0

kg/h

aS

istê

mic

oIV

14M

TPT

TA

T

Laga

rta-

Tri

clor

fon

Dip

tere

x 50

0O

rgan

ofos

fora

do

1,6

L/h

aC

onta

to/

II7

22

11

1

da-

soja

Inge

stão

(An

tica

rsia

Car

bary

lS

evin

480

SC

Car

bam

ato

1,9-

2,25

L/h

aC

onta

to/

II3

21

14

1

gem

ma

tali

s)In

gest

ão

Car

bary

l Fer

sol

Car

bam

ato

2,0-

2,3

L/h

aC

onta

to/

II3

480

SC

Inge

stão

(con

tin

ua)

Prag

aP

rod

uto

téc

nic

oM

arca

com

erci

alG

rup

o qu

ímic

oD

ose

Mod

o de

ação

Cla

sse

toxi

coló

gica

Perí

odo

de c

arên

cia

(dia

s)

MIP

MA

PA

bPr

Page 135: Informe agropecuario feijão

133Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 2 0 04

Laga

rta-

Car

bary

lC

arba

ryl F

erso

lC

arba

mat

o15

-20

kg/h

aC

onta

to/

III

3

da-

soja

Pó 7

5In

gest

ão

(An

tica

rsia

Para

tion

met

ílic

oFo

lid

ol 6

00O

rgan

ofos

fora

do

0,45

-0,6

7 L/

ha

Con

tato

/I

154

51

53

gem

ma

tali

s)In

gest

ão

Foli

sup

er 6

00 B

RO

rgan

ofos

fora

do

0,45

-0,6

7 L/

ha

Con

tato

/I

15

Inge

stão

Dim

eth

oate

Tio

met

400

CE

Org

anof

osfo

rad

o0,

32-0

,64

L/h

aS

istê

mic

oI

3PT

AT

PTA

T

Pulg

ãoIm

idac

lopr

idG

auch

o FS

Clo

ron

icot

inil

0,25

L/1

00 k

gS

istê

mic

oIV

Ind

eter

min

ado

(Ap

his

sem

ente

s

cra

cciv

ora

;P

hor

ate

Gra

nu

tox

Org

anof

osfo

rad

o20

-30

kg/h

aS

istê

mic

oI

Ind

eter

min

ado

Sm

yn

thu

rod

es

Met

amid

ofós

Ham

idop

600

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

I21

44

13

3

bet

ae;

Met

afós

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico/

I21

Ap

his

Con

tato

/

rum

icis

)In

gest

ão

Str

onO

rgan

ofos

fora

do

0,5-

1,0

L/h

aS

istê

mic

oI

21

Met

asip

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

I21

Ace

ph

ate

Ort

hen

e 75

0 B

RO

rgan

ofos

fora

do

1,0

kg /

100

kgS

istê

mic

oIV

Ind

eter

min

ado

MT

PT T

AT

par

a se

men

tes

sem

ente

s

Piri

mic

arb

Pi-R

imor

500

PM

Car

bam

ato

0,1

kg /

100

LC

onta

to/

II7

águ

aFu

mig

ação

Car

bofu

ran

Ral

zer

350

SC

Car

bam

ato

2,0

L / 1

00 k

gS

istê

mic

oI

Ind

eter

min

ado

sem

ente

s

Dis

ulf

oton

Sol

vire

x G

R 1

00O

rgan

ofos

fora

do

15 k

g / h

aS

istê

mic

oII

IIn

det

erm

inad

o

Dim

eth

oate

Tio

met

400

CE

Org

anof

osfo

rad

o0,

32-0

,64

L/h

aS

istê

mic

oI

3PT

AT

PTA

T

Man

hos

oM

onoc

roto

ph

osA

grop

hos

400

Org

anof

osfo

rad

o1,

25 L

/ha

Sis

têm

ico/

I21

41

55

3

(Ch

alc

od

em

us

Con

tato

bim

acu

latu

s)C

arba

ryl

Sev

in 4

80 S

CC

arba

mat

o1,

9-2,

25 L

/ha

III

32

11

41

Car

bary

l Fer

sol

Car

bam

ato

15-2

0 kg

/ha

II3

Pó 7

5

Ace

ph

ate

Cef

anol

Org

anof

osfo

rad

o0,

1 kg

/ 10

0 L

Sis

têm

ico

III

14M

TPT

TA

T

águ

a

Ace

fato

Fer

sol

Org

anof

osfo

rad

o0,

5-1,

0 kg

/ha

Sis

têm

ico

IV14

750

PS

Ort

hen

e 75

0 B

RO

rgan

ofos

fora

do

0,5-

1,0

kg/h

aS

istê

mic

oII

I14

(con

tin

ua)

Prag

aP

rod

uto

téc

nic

oM

arca

com

erci

alG

rup

o qu

ímic

oD

ose

Mod

o de

ação

Cla

sse

toxi

coló

gica

Perí

odo

de c

arên

cia

(dia

s)

MIP

MA

PA

bPr

Page 136: Informe agropecuario feijão

134 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 20 0 4

Mos

ca-

Car

tap

Car

tap

BR

500

Tio

carb

amat

o0,

17 k

g / 1

00 L

Con

tato

/II

I14

21

min

ador

aC

lori

drat

ode

águ

aIn

gest

ão

(Lir

iom

yza

Car

bofu

ran

Dia

fura

n 5

0C

arba

mat

o20

kg/

ha

Sis

têm

ico

I30

hu

idob

ren

sis)

Tri

azop

hos

Hos

tath

ion

400

BR

Org

anof

osfo

rad

o1,

0 L/

ha

Con

tato

/I

14

Inge

stão

Pyr

idap

hen

thio

nN

uva

cron

400

Org

anof

osfo

rad

o1,

5 L/

ha

Con

tato

/I

9

Inge

stão

Ofu

nac

k 40

0 C

EO

rgan

ofos

fora

do

1,5

L/h

aC

onta

toII

I15

Ace

ph

ate

Ort

hen

e 75

0 B

RO

rgan

ofos

fora

do

1,0

kg /

100

kgS

istê

mic

oIV

Ind

eter

min

ado

MT

PT T

AT

para

sem

ente

sem

ente

s

Ald

icar

bTe

mik

150

Car

bam

ato

6,5

kg/h

aS

istê

mic

oI

80

Car

tap

Th

iobe

l 50

0T

ioca

rbam

ato

0,17

kg/

100

LC

onta

to/

II14

águ

aT

ran

slam

inar

Cyr

omaz

ine

Trig

ard

750

PMTr

iazi

nas

0,1

kg/h

aS

istê

mic

oIV

21

Aba

mec

tin

aV

erti

mec

Aba

mec

tin

a0,

3-0,

6 L/

ha

Con

tato

/II

I14

Inge

stão

Laga

rta-

fals

a-D

elta

met

hri

nD

ecis

25

CE

Pire

trói

de0,

12-0

,16

L/h

aC

onta

toII

I16

31

15

3

med

idei

raD

ecis

50

SC

Pire

trói

de0,

06-0

,08

L/h

aC

onta

toII

I16

(Pse

ud

op

lusi

a

inclu

den

s)

Bic

hei

ra-

Ace

ph

ate

Ort

hen

e 75

0 B

RO

rgan

ofos

fora

do

1,0

kg /

100

kgS

istê

mic

oIV

Ind

eter

min

ado

MT

PT T

AT

do-

feij

oeir

ose

men

tes

(Del

ia p

ratu

ra)

Áca

ro-b

ran

coT

riaz

oph

osH

osta

thio

n 4

00 B

RO

rgan

ofos

fora

do

0,8-

1,0

L/h

aC

onta

to/

I14

(Poly

ph

ago

ta-

Inge

stão

son

em

us

Pyr

idap

hen

thio

nN

uva

cron

400

Org

anof

osfo

rad

o1,

5 L/

ha

Con

tato

/I

9

latu

s)In

gest

ão

Ofu

nac

k 40

0 C

EO

rgan

ofos

fora

do

1,5

L/h

aC

onta

to/

III

15

Inge

stão

Tetr

adif

onTe

dio

n 8

0C

loro

dif

len

il1,

2-2,

5 L/

ha

Con

tato

/II

I14

su

lfon

asT

ran

slam

inar

Aba

mec

tin

aV

erti

mec

Aba

mec

tin

a0,

3-0,

6 L/

ha

Con

tato

/II

I14

Inge

stão

Pro

fen

ofós

Cu

racr

onO

rgan

ofos

fora

do

0,6-

0,8

L/h

aS

istê

mic

oII

I14

(con

tin

ua)

Prag

aP

rod

uto

téc

nic

oM

arca

com

erci

alG

rup

o qu

ímic

oD

ose

Mod

o de

ação

Cla

sse

toxi

coló

gica

Perí

odo

de c

arên

cia

(dia

s)

MIP

MA

PA

bPr

Page 137: Informe agropecuario feijão

135Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 2 0 04

Áca

ro-

Para

tion

met

ílic

oFo

lid

ol 6

00O

rgan

ofos

fora

do

0,45

-0,6

7 L/

ha

Con

tato

/I

154

51

53

verm

elh

oIn

gest

ão

(Tetr

an

ych

us

Met

amid

ofós

Ham

idop

600

Org

anof

osfo

rad

o1,

0 L/

ha

Sis

têm

ico

I21

44

13

3

lud

en

i)

Áca

ro-

Met

amid

ofós

Ham

idop

600

Org

anof

osfo

rad

o1,

25 L

/ha

Sis

têm

ico

I21

44

13

3

raja

doTa

mar

on B

RO

rgan

ofos

fora

do

1,25

L/h

aS

istê

mic

o/II

21

(T.

urt

ica

e)C

onta

to/

Inge

stão

Ph

orat

eG

ran

uto

xO

rgan

ofos

fora

do

20-3

0 kg

/ha

Sis

têm

ico

IIn

det

erm

inad

o

Fen

pro

pat

hri

nD

anim

en 3

00 C

EPi

retr

óide

0,2-

0,3

L/h

aC

onta

toI

143

4

Meo

thri

n 3

00

Dim

eth

oate

Tio

met

400

CE

Org

anof

osfo

rad

o0,

64-1

,25

L/h

aS

istê

mic

oI

3PT

AT

PTA

T

Laga

rta-

Clo

rpir

ifós

Vex

ter

Org

anof

osfo

rad

o1,

25 L

/ha

II25

31

12

2

das

-vag

ens

Lors

ban

480

BR

Org

anof

osfo

rad

o1,

25 L

/ha

Con

tato

II25

(Hel

ioth

is z

ea;

Car

bary

lS

evin

480

SC

Car

bam

ato

1,9-

2,25

L/h

aC

onta

to/

II3

21

14

1

Th

ecla

jeb

us)

Inge

stão

Laga

rta-

elas

mo

Car

bary

lC

arba

ryl F

erso

lC

arba

mat

o2,

0-2,

3 L/

ha

Con

tato

/II

32

11

41

(Ela

smop

alp

us

480

SC

Inge

stão

lign

ose

llu

s)S

evin

480

SC

Car

bam

ato

1,9-

2,25

L/h

aC

onta

to/

II3

Inge

stão

Car

bary

l Fer

sol

Car

bam

ato

15-2

0 kg

/ha

Con

tato

/II

I3

Pó 7

5In

gest

ão

Th

ioca

rbe

Sem

evin

350

RA

Car

bam

ato

1,5

L / 1

00 k

gS

istê

mic

oII

Ind

eter

min

ado

22

13

1

Futu

r 30

0C

arba

mat

o2,

0 L/

100

kgS

istê

mic

oII

IIn

det

erm

inad

o

sem

ente

s

Ace

ph

ate

Ort

hen

e 75

0 B

RO

rgan

ofos

tora

do

1,0

kg /

100

kgS

istê

mic

oIV

Ind

eter

min

ado

MT

MT

PTT

AT

par

a se

men

tes

sem

ente

s

(con

clu

são)

Prag

aP

rod

uto

téc

nic

oM

arca

com

erci

alG

rup

o qu

ímic

oD

ose

Mod

o de

ação

Cla

sse

toxi

coló

gica

Perí

odo

de c

arên

cia

(dia

s)

MIP

MA

PA

bPr

NO

TA

:C

lass

e to

xic

oló

gica

: I - A

ltam

ente

tóxic

o; I

I - M

edia

nam

ente

tóxic

o; I

II - P

ou

co tóxic

o; I

V - P

rati

cam

ente

ató

xic

o.

MIP

- M

anej

o in

tegr

ado d

e p

raga

s; M

- M

amíf

eros;

A

- A

ves

; P

- P

eixes

; A

b - A

bel

has

; P

r - P

red

adore

s; E

T - E

xtr

emam

ente

tóxic

o;

AT

- A

ltam

ente

tóxic

o;

MT

- M

edia

men

te tóxic

o;

PT

- P

ou

co tóxic

o;

T - T

óxic

o;

NT

- N

ão T

óxic

o.

Mam

ífer

os

e A

ves

: DL

5O

Ora

l (m

g/kg)

, com

esc

ala:

1 =

> 1

000;

2 =

200 a

1000;

3 =

50 a

200;

4 =

10 a

50;

5 =

< 1

0;

Pei

xes

: CL

50, 4

8h

(p

pm

), c

om

esc

ala

: 1 =

1,0

; 2 =

0,1

a 1

,0;

3 =

0,0

1 a

0,1

; 4

= 0

,001 a

0,1

; 5 =

< 0

,001; A

bel

has:

DL

5O

Tóp

ica (

ug/

g), co

m e

scala

: 1 =

100; 2

= 2

0 –

100; 3

= 5

– 2

0;

4 =

1 –

5; 5 =

< 1

; P

red

ad

ore

s: 1

= 0

– 2

0%

;

2 =

21 –

40%

; 3

= 4

1 –

60%

; 4

= 6

1 –

100%

.

Page 138: Informe agropecuario feijão

136 Feijão d e a lta p rodutividade

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 1 3 - 1 3 6 , 20 0 4

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tecnologia do manejo integrado depragas (MIP) - Feijão foi validada em váriasregiões produtoras de feijão. Na região deSanta Helena de Goiás - GO, com a utiliza-ção desta tecnologia, reduziu-se em 64% aaplicação de inseticidas, com uma econo-mia de 78% no custo de controle e produ-tividade média de 3030,7 kg/ha. Na regiãode Cristalina-GO e Gameleira de Goiás-GO,em algumas das áreas amostradas, o feijãofoi colhido sem nenhuma pulverização e,em outras, com somente uma pulverização,reduzindo o custo de controle em cerca de89,2%.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

MARTINEZ, S.S.; CARVALHO, A.O.R. de;VIEIRA, L.G.; NUNES, L.M.; BIANCHINI, A.Identificação das espécies de mosca branca,Bemisia spp. que ocorrem no Paraná e sua dis-

tribuição geográfica. In: REUNIÃO NACIONALDE PESQUISA DE FEIJÃO, 6., 1999, Salvador.Resumos expandidos... Santo Antônio deGoiás: Embrapa Arroz e Feijão, 1999. v.1, p.120-122. (Embrapa Arroz e Feijão. Documentos, 99).

QUINTELA, E.D. Manejo integrado de pra-gas do feijoeiro . Santo Antônio de Goiás:Embrapa Arroz e Feijão, 2001. 28p. (EmbrapaArroz e Feijão. Circular Técnica, 46).

_______. Relationship between Bemisia spp.density and damage in dry bean (Phaseolusvulgaris). In: INTERNATIONAL CONGRESSOF ENTOMOLOGY, 21., 2000, Foz do Iguaçu.Abstracts... Londrina: Embrapa Soja, 2000.v.1, p.282. (Embrapa Soja. Documentos, 143).

_______; YOKOYAMA, M. Insetos-praga. In:MOREIRA, J.A.A.; STONE, L.F.; BIAVA, M.(Ed.). Feijão: o produtor pergunta, a Embraparesponde. Brasília: Embrapa Informação Tecno-lógica, 2003. 203p. (Embrapa Informação Tecno-lógica. Coleção 500 Perguntas, 500 Respostas).

ANEXO B - FICHA DE AMOSTRAGEMPARA AS PRAGAS

ANEXO C - FICHA DE AMOSTRAGEM PARA INIMIGOS NATURAIS

ANEXO A - FICHA DE AMOSTRAGEM

PARA TRIPES NAS FLORES

Page 139: Informe agropecuario feijão
Page 140: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 3 8 - 1 4 4 , 20 0 4

138 Feijão d e a lta p rodutividade

1Engo Agr o, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás - GO. Correio eletrônico:[email protected]

2Engo Agr o, D.Sc., Pesq. Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, CEP 75375-000 Santo Antônio de Goiás - GO. Correio eletrônico:[email protected]

INTRODUÇÃO

Diversos métodos podem ser emprega-dos na colheita do feijoeiro, os quais variamem função do sistema de cultivo, do tipode planta e do tamanho da lavoura. Ultima-mente, tem-se verificado grande interessepelo cultivo do feijoeiro em monocultivoem extensas lavouras, cuja colheita tem sidofeita por processo mecanizado, utilizando-se ceifadoras, recolhedoras-trilhadoras ecolhedoras automotrizes.

ÉPOCA DE COLHEITA

A época adequada de colheita do fei-joeiro é de grande importância para a obten-ção de grãos de boa qualidade. As lavouraspodem ser colhidas logo após as sementesalcançarem a maturação fisiológica, quecorresponde ao estádio de desenvolvimen-to, quando as plantas estão com as folhasamarelas, as vagens mais velhas secas e assementes no seu desenvolvimento máximo.A maturação fisiológica refere-se às altera-

Colheita mecanizada

José Geraldo da Silva1

Pedro Marques da Silveira2

ções morfológicas, fisiológicas e funcio-nais, que culminam com o ponto máximode matéria seca nas sementes. Nesse pon-to, a semente alcança o máximo de podergerminativo e de vigor (POPINIGIS, 1985).Na prática, a maturação fisiológica nassementes de cor preta é alcançada, quan-do o teor de água está entre 30% e 40%(SILVA et al., 1975); nas de cor bege, comteor de água entre 38% e 44% (NEUBERN;CARVALHO, 1976).

MECANIZAÇÃO DA COLHEITA

A mecanização na cultura do feijoeiro,independente do sistema de cultivo empre-gado, não apresenta maiores problemas noque se refere à realização das operaçõesque antecedem a colheita. Podem ser usa-dos equipamentos convencionais empre-gados em outras culturas, como nas doarroz, do milho e da soja, para o preparodo solo, a semeadura e os tratos culturais.Entretanto, para mecanizar a colheita dessa

Resumo - A colheita é uma das etapas mais importantes do processo de produção do fei-jão e, quando bem processada, reduz as perdas de grãos e contribui de maneira decisivapara a obtenção de um produto de boa qualidade, com alto valor comercial. Ela pode serrealizada pelos sistemas manual, semi-mecanizado e mecanizado. São apresentadas infor-mações sobre os sistemas de colheita, procedimentos de operações de ceifadora de plantas,de recolhedora-trilhadora e de colhedora automotriz, para obter bom desempenho naoperação. Ainda são mostrados resultados de campo sobre desempenho de máquinas,cuidados para reduzir as perdas de grãos e métodos para estimar essas perdas.

Palavras-chave: Feijão. Phaseolus vulgaris. Ceifadora. Recolhedora-trilhadora. Colhedoraautomotriz. Perda durante a colheita.

leguminosa, diversos fatores relacionadoscom o sistema de cultivo, a área de plantioe o tipo de planta, tais como acamamento,desuniformidade de maturação, planta pros-trada, pequena altura de inserção e deis-cência de vagens, têm dificultado o empre-go direto das colhedoras tradicionais.

SISTEMAS DE COLHEITA

De modo geral, são três os sistemasempregados na colheita do feijoeiro: o ma-nual, o semi-mecanizado e o mecanizado.

No sistema manual, todas as operaçõesda colheita, como o arranquio, o recolhimen-to e o trilhamento, são feitas manualmente.Esse sistema consiste em arrancar as plan-tas inteiras, a partir da maturação fisiológi-ca das sementes. As plantas arrancadaspermanecem na lavoura, em molhos, comas raízes para cima, para completar o pro-cesso de secamento até os grãos atingiremo teor de água próximo de 14%. Em seguida,as plantas são dispostas em terreiros, em

Page 141: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 3 8 - 1 4 4 , 2 0 04

139Feijão d e a lta p rodutividade

camadas de 30 a 50 cm, onde se processa abatedura com varas flexíveis, ou com rodasde trator. Por último, realizam-se a separa-ção e a limpeza dos grãos.

No sistema semi-mecanizado, o arran-quio e o enleiramento das plantas são, nor-malmente, manuais e o trilhamento é meca-nizado. Neste, são empregadas trilhadorasestacionárias, máquinas recolhedoras-trilhadoras ou colhedoras automotrizesadaptadas.

No sistema mecanizado, todas as ope-rações de colheita são feitas com máqui-nas, por dois processos: direto ou indire-to. No processo direto, são empregadascolhedoras automotrizes, que realizam si-multaneamente o corte, o recolhimento, atrilha, a abanação e, em determinados ca-sos, o ensacamento dos grãos. No indireto,o processo é caracterizado pela utilizaçãode equipamentos como a ceifadora e arecolhedora-trilhadora, em operações dis-tintas.

O uso das colhedoras convencionaisno feijoeiro apresenta vários inconvenien-tes: a barra de corte trabalha no nível dosolo ou pouco acima dele, cortando muitasvagens, as quais, na maioria das cultivares,chegam a tocar o solo. Além do problemado corte das vagens, as perdas são aumen-tadas pela ação do molinete sobre as plan-tas, o que provoca a abertura de vagens.Também nesse tipo de colhedora, ocorreuma acentuada quebra de grãos durante otrilhamento.

CEIFADORA

A ceifadora (Fig. 1) opera acoplada auma colhedora automotriz, após a retiradade sua plataforma, ou na frente de um trator.O mecanismo de corte, acionado por bom-ba e motor hidráulico, ceifa as plantas defeijão; a plataforma recolhedora, formadapor pinos metálicos, recolhe e direcionaas plantas para a esteira transportadora.A plataforma trabalha com um controlevariável de velocidade para evitar a deis-cência das vagens. A roda-guia evita quea ceifadora toque o terreno, mas permiteque ela trabalhe bem próxima do solo.

Figura 1 - Ceifadora-enleiradora

RECOLHEDORA-TRILHADORA

As máquinas recolhedoras-trilhadoras recolhem no campoas plantas enleiradas, arranca-das ou ceifadas e realizam a ba-tedura, a separação e o ensaca-mento ou o acondicionamentoa granel das sementes. São aco-pladas aos tratores pela barrade tração e acionadas pela to-mada de potência.

O sistema de recolhimentodas máquinas é constituído porcilindro recolhedor, rolo guia,esteira transportadora e cilindrocondicionador e direcionador(Fig. 2). O cilindro recolhedorgira no sentido anti-horário. Elepossui dedos retráteis dispos-tos em sua periferia, que apa-nham as plantas enleiradas nosolo. O rolo guia, ou cilindronivelador, acompanha os des-níveis da superfície do terrenoe tem a função de manter o cilin-dro recolhedor bem próximo aosolo. A esteira transportadoraconduz as plantas para o cilin-dro condicionador e direciona-dor, que faz o encaminhamentodas plantas para o cilindro detrilha.

O sistema de trilhamento éprovido de um cilindro trilha-dor de fluxo axial, com pinos

Figura 2 - Sistema de recolhimento

NOTA: A - Cilindro recolhedor; B - Esteira; C - Rolo guia;

D - Cilindro condicionador.

Page 142: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 3 8 - 1 4 4 , 20 0 4

140 Feijão d e a lta p rodutividade

Figura 4 - Unidade de limpeza

NOTA: A - Classificador de grãos; B - Elevador de grãos; C - Sapatas de transporte.

Figura 3 - Sistema de trilhamento

batedores dispostos na sua periferia, e deuma tela cilíndrica perfurada denominadacôncavo (Fig. 3). O cilindro de fluxo axial,pelo seu movimento de rotação, conduzas plantas longitudinalmente ao seu eixo,trilhando-as até que a palhada seja descar-regada pelo saca-palha, localizado na suaparte posterior. O ajuste dos pinos batedo-res permite que se controle a intensidade eo tempo de trilha em função da maturaçãoda planta. As plantas parcialmente madurasnecessitam de maior tempo de trilhamentopara o desprendimento dos grãos das va-gens. Esse tempo diminui, à medida que a

trilha é feita com plantas mais secas. Quan-to menor o tempo de trilhamento, maiorpoderá ser a capacidade de trilhamento damáquina e a velocidade de deslocamentodo conjunto trator/recolhedora. A tela cilín-drica perfurada envolve o cilindro axial. Elaretém a palhada durante o trilhamento, per-mitindo somente a passagem de grãos e depequenas impurezas.

A unidade de limpeza da recolhedora-trilhadora possui ventilador, transportadore classificador de grãos (Fig. 4). Os grãos,as vagens verdes e as impurezas são trans-portados por uma rosca helicoidal e subme-

tidos a um fluxo de ar produzido pelo ven-tilador para eliminar as pequenas impure-zas. Os grãos e as vagens verdes são trans-portados até o classificador que separa,através de peneiras, os grãos secos dasvagens verdes. Os grãos limpos são condu-zidos para a unidade de ensacamento oupara o depósito a granel, conforme o mo-delo da máquina.

COLHEDORA AUTOMOTRIZ

As máquinas colhedoras automotrizesrealizam simultaneamente as operações decorte, recolhimento, trilhamento e limpezados grãos. As automotrizes convencionaisdisponíveis no Brasil apresentam desem-penho insatisfatório em relação à perda e àdanificação de grãos de feijão. O desempe-nho das máquinas melhorou com o desen-volvimento das plataformas de corte flexí-veis (Fig. 5) e dos mecanismos para diminuiros danos aos grãos e a mistura de terra.Algumas colhedoras possuem ajuste doângulo de operação da plataforma de cor-te e recolhimento em relação ao terreno, oque ajuda a manter baixa a altura de cortedas plantas, a fim de diminuir a perda degrãos.

O mecanismo de trilhamento das colhe-doras é formado por cilindro trilhador, comfluxo de plantas no sentido radial ou axial(Fig. 6). O cilindro radial possui barra dededos ou de estrias que apresenta desem-penho inferior aos dedos por danificar maiorquantidade de feijão.

Para melhorar o desempenho no feijo-eiro, as colhedoras automotrizes devem serequipadas com um conjunto de acessórios(kit), composto basicamente de:

a) dedos levantadores: são acopladosà barra de corte e servem para levan-tar as plantas acamadas antes daceifa;

b) sapatas de plástico: facilita o desli-zamento da plataforma de corte nosolo;

c) chapa perfurada na plataforma

de corte: elimina a terra antes de asplantas entrarem na máquina;

Page 143: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 3 8 - 1 4 4 , 2 0 04

141Feijão d e a lta p rodutividade

d) chapa perfurada no alimentador

do cilindro trilhador: elimina a terraantes de as plantas entrarem no sis-tema de trilhamento;

e) redutor de velocidade: reduz a ve-locidade do cilindro trilhador parapróximo de 200 rpm;

f) elevador de canecas: substitui oelevador do tipo raspador para re-duzir os danos mecânicos nos grãos;

g) bandejão perfurado: elimina a terrados grãos após o trilhamento.

DESEMPENHO DASMÁQUINAS COLHEDORAS

Uma recolhedora-trilhadora de feijão,com cilindro de fluxo axial e tracionada portrator, foi avaliada utilizando-se a cultivarPérola, com produtividade de 2.481 kg/h.O equipamento foi submetido a três veloci-dades de deslocamento (2,6; 3,2 e 4,1 km/h)

e a três taxas de alimentação com leiras for-madas por 6, 8 e 10 fileiras de plantas (SILVAet al., 2000). A máquina apresentou capa-cidade média de trabalho de até 1,7 ha/h.Ao operar nas leiras formadas por 10 fi-leiras de plantas, que foram cultivadas noespaçamento de 0,5 m, e na velocidade de4,1 km/h, a capacidade de trabalho atingiu2,1 ha/h. Observou-se que a máquina tevedesempenho satisfatório nas velocidadesde operação e nos volumes de leiras empre-gados nos ensaios, ficando, provavelmente,abaixo da sua capacidade máxima de tra-balho. A pureza dos grãos colhidos foi su-perior a 95% e a quantidade de grãos quebra-dos foi inferior a 3,8%. A pureza de grãose a porcentagem de grãos quebrados nãoalteraram com a variação dos tamanhos dasleiras e as velocidades de operação. A per-da média de grãos foi de 0,95% (23,7 kg/ha),bem inferior à perda provocada pelo enlei-ramento das plantas, cuja média foi de 2,8%(70,5 kg/ha).

Noutro experimento, Silva et al. (1999b)estudaram o efeito de três velocidades deoperação (2, 4, e 6 km/h) de uma colhedo-ra automotriz com plataforma de corte de17 pés (5.185 mm) provida de mecanismolevantador de plantas e de cilindro de tri-lhamento de fluxo axial sobre a altura decorte das plantas e a perda de grãos nacolheita de quatro cultivares. No momentoda colheita, as cultivares Pérola, Xamego,Carioca e Valente apresentavam teores deágua nos grãos de 11,3%, 11,1%, 14,4% e14,2%, e produtividade de 2.767, 2.445, 2.492e 2.902 kg/ha, respectivamente. Os feijo-eiros ‘Pérola’ e ‘Carioca’ possuem hábitode crescimento indeterminado (tipo 3), eos ‘Xamego’ e ‘Valente’, indeterminado(tipo 2). A altura de corte das plantas pelacolhedora não variou em função da veloci-dade de operação e da cultivar. A superfícieplana, desprovida de curvas de nível e desulcos, permitiu o ceifamento das plantasnuma altura uniforme.

Figura 5 - Plataforma de corte flexível e com ajuste transversal

Figura 6 - Sistema de trilhamento das colhedoras

NOTA: A – Cilindro trilhador de barra; B – Cilindro trilhador de dente; C – Cilindro trilhador de fluxo axial.

Page 144: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 3 8 - 1 4 4 , 20 0 4

142 Feijão d e a lta p rodutividade

A perda de grãos também não foi afe-tada pelas velocidades de operação da co-lhedora. Entretanto, ela variou muito entreas cultivares de feijão. Nas cultivares Pérolae Valente, as perdas foram inferiores à pro-porcionada pela cultivar Carioca. A perdamédia na ‘Xamego’ foi semelhante à verifi-cada na ‘Valente’. Apesar de as cultivaresPérola e Carioca possuírem plantas rama-doras (tipo 3), na primeira o entrelaçamentoentre plantas ocorreu mais distante do so-lo que na segunda. Por isso, as vagens da‘Pérola’ ficam mais altas que as da ‘Cario-ca’, o que facilita o ceifamento da planta ereduz a perda de grãos durante a colheita.

Nessa pesquisa, os resultados permi-tiram as seguintes conclusões:

a) em solo com superfície plana e des-provida de curvas de nível e de sul-cos, a altura média de corte dos feijo-eiros foi de 113 mm;

b) a perda de grãos na colheita diretado feijoeiro variou de 172 kg/ha, nacultivar Pérola, a 435,2 kg/ha, na cul-tivar Carioca, representando 6,2% e15,0% de suas produtividades, res-pectivamente.

CUIDADOS PARA MINIMIZARA PERDA DE GRÃOSNA COLHEITA

Para que a ceifadora de plantas, a reco-lhedora-trilhadora e a colhedora automotriztenham bom desempenho, proporcionandopouca perda de grãos e boa capacidade detrilhamento, é necessária a adoção de di-versos procedimentos nas fases de insta-lação e condução da lavoura e colheita dofeijoeiro.

O terreno para a instalação da lavoura,no sistema de plantio direto ou conven-cional, deve ser adequadamente preparadopara receber as sementes e o adubo. Apóso preparo, o solo deve ficar sem valetas,buracos, raízes e plantas daninhas. A se-meadura deve ser feita para que se obtenhaboa uniformidade no espaçamento dassementes, dentro da linha de plantio. Paraisso, é necessário o uso de sementes com

elevado percentual de germinação, semea-das mecanicamente na profundidade de3 a 5 cm, com semeadoras-adubadoras bemreguladas e que causem pouco dano àssementes. Semeadoras que operam emvelocidades de até 6 km/h e que possuamdosadores de sementes apropriados e devi-damente regulados, geralmente, apresen-tam boa uniformidade de distribuição desementes.

Durante a condução da lavoura devemser adotadas práticas de controle de plan-tas daninhas, de doenças e de pragas. A adu-bação nitrogenada em cobertura deve serrealizada na época recomendada, para faci-litar o desenvolvimento das plantas. La-vouras malconduzidas produzem plantasatípicas, inapropriadas para as operaçõesdas ceifadoras, das recolhedoras-trilhado-ras ou das colhedoras automotrizes.

A colheita feita fora da época ideal po-de afetar a produção da lavoura por cau-sar aumento na porcentagem de perda degrãos. Quando o feijoeiro é deixado por umlongo período no campo, após a maturação,ocorrem perdas de sementes pela deiscên-cia das vagens, natural ou provocada pelaoperação de arranquio, principalmente emregiões de clima quente e seco. Também hádepreciação das sementes, por ficarem expos-tas por mais tempo ao ataque de pragas edoenças. A conseqüência disso é a redu-ção da germinação e do vigor das semen-tes, e elevação do percentual de sementesinfectadas por patógenos e atacadas porinsetos.

A uniformidade de maturação das plan-tas e das vagens é fator de extrema impor-tância para que a colheita seja processadaem condições ótimas. Fatores relacionadoscom o solo, a topografia do terreno, o ambi-ente, as práticas culturais, as doenças, adisponibilidade de água para as plantase o hábito de crescimento das cultivaresinfluenciam a maturação do feijoeiro. As cul-tivares de hábito de crescimento determina-do (tipo I) apresentam maturação uniforme.Algumas cultivares de hábito indetermi-nado, principalmente dos tipos III e IV,apresentam maturação desuniforme, o quepode elevar as perdas na colheita.

MÉTODOS PARA MEDIRPERDAS DE GRÃOSNA COLHEITA

É de extrema importância determinar asperdas de grãos antes e durante a operaçãodas máquinas colhedoras. Dessa forma, épossível avaliar o prejuízo e tomar as devi-das providências para reduzi-lo.

Basicamente, existem três métodos pa-ra avaliar as perdas: o visual, o da quanti-ficação e o do copo medidor. O métodovisual, apesar de ser bastante utilizado pe-los produtores, não reflete com precisão ograu de perdas durante a operação de co-lheita. O método de quantificação feito porpesagens demanda o uso de balança, e ofeito pela contagem de grãos exige muitotrabalho e tempo para avaliação. O métodode avaliação pelo copo medidor deve ser opreferido, por ser mais simples, preciso erápido na obtenção dos resultados.

Desenvolvimento de ummedidor de perdas de grãos

O medidor de perdas (Fig. 7) de grãos éempregado após a operação de colheita. Eleé confeccionado em plástico transparente,apresenta escala específica para o feijão,

Figura 7 - Medidor de perdas de grãos na

colheita do feijoeiro

Page 145: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 3 8 - 1 4 4 , 2 0 04

143Feijão d e a lta p rodutividade

que indica a quantidade de grãos perdidosna colheita com base no volume do medi-dor ocupado pelos grãos. A escala do co-po medidor foi elaborada para fornecer osresultados de perdas em sacas (60 kg) porhectare (SILVA et al., 1999a). Ele foi desen-volvido a partir da determinação do volumee da massa de 1.000 grãos de 101 cultivares/linhagens dos grupos carioca, preto, mula-tinho, roxo, jalo e branco. O medidor, alémde determinar as perdas, permite tambémestimar a produtividade da lavoura, inde-pendente do tipo e do tamanho do grão.Constitui-se numa forma fácil, precisa eprática de medir as perdas na colheita dofeijoeiro, a exemplo do que já existe para asculturas do arroz, da soja e do milho.

Para medir as perdas na colheita do fei-joeiro são necessários o medidor de perdase uma armação feita com barbante e ripasde madeira. A perda deve ser quantificadaem pelo menos três áreas de 2 m². A arma-ção deve ser colocada sobre o solo em po-sição transversal às fileiras ou à leira deplantas, de forma que cubra integralmente

uma passada da recolhedora-trilhadora ouda colhedora automotriz. Dentro da áreademarcada são coletados os grãos que caí-ram no solo. Estes são então depositadosno medidor e a quantidade de perda é indi-cada diretamente no medidor.

Os procedimentos adotados para a de-terminação das perdas são os seguintes:

a) antes da operação da máquina: re-tirar as plantas enleiradas da área demedição e avaliar a perda devida aoarranquio e ao enleiramento manualdas plantas;

b) depois da operação da máqui-

na: avaliar, em outra área de medi-ção, a perda total de grãos, devidaao arranquio e enleiramento manualdas plantas e à operação da máquinarecolhedora-trilhadora;

c) perda devida à utilização da re-

colhedora-trilhadora: subtrair daperda total de grãos (item b) a perdano arranquio e enleiramento manual(item a);

d) copo medidor: em áreas de 2 m², co-letar os grãos sobre o solo e os devagens desprendidas das plantas edepositar no copo medidor. A leitu-ra é feita diretamente e é fornecidaem sacas por hectare.

A produtividade estimada, em sacaspor hectare, é avaliada em áreas de 2 m²,adotando-se o procedimento de depositaros grãos colhidos no medidor.

Para avaliar a perda de grãos causadadurante a operação da colhedora automo-triz, deve-se, antes da colheita, medir a per-da causada pela degrana natural, e, depois,medir a perda total. Por fim, subtrair a perdatotal da natural para obter a perda provo-cada pela colhedora.

Os principais problemas, as possíveiscausas e as respectivas soluções, relacio-nadas com as perdas na colheita mecâni-ca são apresentados no Quadro 1, paraas operações com a colhedora automotrize, no Quadro 2, para as operações com arecolhedora-trilhadora.

Solução

QUADRO 1 - Operação com colhedora automotriz

Problema Causa

Grãos debulhados na colhedora

antes do ceifamento das plantas

Perda de grãos e de vagens duran-

te o ceifamento

Presença de muitos grãos quebra-

dos no graneleiro

Grãos sujos de terra

Grãos com excesso de impureza

Rotação do molinete não está ajustada à

velocidade da colhedora

Velocidade excessiva da colhedora

Altura elevada de corte das plantas

Presença de sulco deixado pela semeadora

na linha de plantio

Velocidade excessiva do cilindro trilhador

Grãos com baixo teor de água

Sistema de elevação de grãos inadequado

Plataforma de corte recolhendo muita terra

Fluxo de ar e peneiras mal regulados

Regular a rotação do molinete em relação ao deslocamento da

máquina e às condições da lavoura

Operar a colhedora com velocidade inferior a 4 km/h.

Regular a plataforma para cortar as plantas rente ao solo

Usar plataforma de corte flexível

Usar levantador de plantas na plataforma de corte

Operar a colhedora no sentido transversal às linhas de plantio

Reduzir a velocidade do cilindro trilhador e/ou aumentar a folga

entre cilindro e côncavo

Evitar colher nas horas mais quentes do dia

Substituir o sistema de elevação raspador por um de caneca

Controlar melhor a altura de corte da plataforma

Usar chapas perfuradas na plataforma de corte, no alimentador

do cilindro trilhador e no bandejão da máquina

Regular o fluxo de ar e as peneiras da máquina

Page 146: Informe agropecuario feijão

I n f o r m e A g r o p ec u á r i o , B e l o H o r i z o n t e, v. 2 5 , n . 2 2 3 , p . 1 3 8 - 1 4 4 , 20 0 4

144 Feijão d e a lta p rodutividade

Quadro 2 - Operação com recolhedora-trilhadora

Solução

Recolhimento parcial da leira

Feijão sujo de terra

Perda de feijão no recolhimento

Perda de grãos trilhados na saída de palha

Perda de vagem na saída de palha

Quebra de grãos

Feijão com impurezas

Leira dentro de buraco ou vala

Molas da esteira com muita tensão

Cilindro recolhedor passando longe do solo

Dedos do cilindro recolhedor entrando em

contato com o solo

Molas da esteira frouxas

Excesso de torrões na leira

Vagens abrem durante o recolhimento em

razão de o feijão estar muito seco

Tela do cilindro trilhador obstruída por

impurezas

Grande volume de palha sendo eliminado

Fluxo excessivo de ar

Excesso de rotação no cilindro trilhador

Pouco tempo de trilha

Volume pequeno de feijoeiros na leira

Pinos trilhadores passam perto da tela do

cilindro trilhador

Excesso de rotação do cilindro trilhador

ou tempo de trilha muito longo

Fluxo de ar mal regulado

Excesso de trilhamento e de rotação

Leirar o feijoeiro em local plano

Diminuir a tensão das molas de forma que o cilindro

nivelador toque e deslize suavemente no solo

Diminuir a distância entre o cilindro e o solo para pró-

ximo de 4 cm

Aumentar a distância do cilindro recolhedor em rela-

ção ao solo

Apertar a rosca do esticador das molas

Eliminar os torrões da leira ou diminuir o tempo de

trilhamento no caso de feijão seco

Colher nas horas de maior umidade e mais baixa

temperatura, diminuir a velocidade do trator, leirar de

maneira que o feijoeiro não fique esparramado

Diminuir a distância entre os pinos trilhadores e a

tela

Regular apenas o último pino batedor para triturar

mais a palha

Regular o fluxo de ar do ventilador

Regular a rotação da tomada de potência do trator para

540 rpm

Regular os quatro últimos pinos trilhadores para

aumentar o tempo de trilha

Aumentar o volume da leira

Aumentar a distância entre os pinos e a tela

Diminuir a rotação da tomada de potência do trator e

o tempo de trilha

Regular o fluxo de ar

Regular a posição dos pinos trilhadores em relação à

tela e à rotação do cilindro trilhador

Problema Causa

REFERÊNCIAS

NEUBERN, R.G.; CARVALHO, N.M. Maturaçãode sementes de feijão (Phaseolus vulgaris L.).Científica, Jaboticabal, v.4, n.1, p.28-32,1976.

POPINIGIS, F. Fisiologia da semente . Brasília:ABRATES, 1985. 289p.

SILVA, C.M. da; VIEIRA, C.; SEDIYAMA, C.S. Qualidade fisiológica das sementes de feijão(Phaseolus vulgaris L.) colhidas em diferentesperíodos após a fecundação do óvulo. Revista

Ceres, Viçosa, MG, v.22, n.122, p.267-271, jul./ago. 1975.

SILVA, J.G. da; AIDAR, H.; BEDUSHI, L.C.Medidor de perdas de grãos na colheita do feijo-eiro. In: REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISADE FEIJÃO, 6., 1999, Salvador. Resumos expan-didos... Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroze Feijão, 1999a. p.452-454. (Embrapa Arroz eFeijão. Documentos, 99).

_______; _______; _______; MARDEGANFILHO, J.; FONSECA, J.R. Mecanização da

colheita do feijoeiro: uso de recolhedoras tri-lhadoras. Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroze Feijão, 2000. 23p. (Embrapa Arroz e Feijão.Circular Técnica, 37).

_______; _______; KLUTHCOUSKI, J. Colhei-ta direta do feijoeiro com colhedora automotriz.In: REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISA DEFEIJÃO, 6., 1999, Salvador. Resumos expan-didos... Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroze Feijão, 1999b. p.432-433. (Embrapa Arroz eFeijão. Documentos, 99).

Page 147: Informe agropecuario feijão
Page 148: Informe agropecuario feijão