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Medresumos 2016 omf - digestório

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Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● OMF – SISTEMA DIGESTÓRIO

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MÓDULO: ORGANIZAÇÃO MORFO-FUNCIONAL (OMF) – SISTEMA DIGESTÓRIO

Arlindo Ugulino Netto

Alanna Almeida Alves

Lívia Tafnes Almeida de Araújo

Raquel Torres Bezerra Dantas

Rebeca Isabel Rodrigues Abrantes Nassim Chattah

Tainá Rolim Machado Cornélio

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EMBRIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO

No início da quarta semana de desenvolvimento, o intestino primitivo está fechado na sua extremidade cranial pela membrana bucofaríngea e na sua extremidade caudal pela membrana cloacal. O intestino é formado quando as pregas cefálica, caudal e laterais incorporam a porção dorsal do saco vitelino no embrião. O endoderma do intestino primitivo origina a maior parte do epitélio e das glândulas do trato digestivo. Para fins descritivos, o intestino primitivo é dividido em três partes: Intestino Anterior, Intestino Médio e Intestino Posterior.

INTESTINO ANTERIOR São derivados do intestino anterior:

A faringe primitiva e seus derivados; O sistema respiratório inferior; O esôfago e o estômago; O duodeno, proximal à abertura do dueto biliar; O fígado, o aparelho biliar (ductos hepáticos, vesícula biliar e ducto biliar) e o pâncreas.

Todos esses derivados do intestino anterior, exceto a faringe, o trato respiratório e a maior parte do esôfago, são vascularizados pelo Tronco Celíaco. DESENVOLVIMENTO DO ESÔFAGO O esôfago desenvolve-se imediatamente caudal à faringe. O septo traqueoesofágico gradualmente divide o divertículo respiratório da parte dorsal da porção anterior do tubo digestório primitivo, originando o esôfago. Inicialmente, o esôfago é curto, mas ele se alonga rapidamente devido ao crescimento e à descida do coração e dos pulmões. O esôfago alcança seu comprimento final na 7ª semana de desenvolvimento.

Arlindo Ugulino Netto; Alanna Almeida Alves.

MÓDULO: ORGANIZAÇÃO MORFO-FUNCIONAL – RESPIRATÓRIO 2016

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Atresia esofágica: Resulta de um desvio do septo traqueoesofágico em uma direção posterior, como resultado, há uma separação incompleta do esôfago do tubo laringotraqueal. A atresia também pode ser gerada através da falta de recanalização do esôfago durante a oitava semana do desenvolvimento (causada por proliferação defeituosa de células endodérmicas). Um feto com atresia esofágica é incapaz de deglutir líquido amniótico, isso gera um quadro de poliidrâmnio (acúmulo de uma quantidade demasiada de líquido). Baba excessiva pode ser notada logo após o nascimento, sendo que o diagnóstico da atresia deve ser considerado se o bebê não consegue se alimentar, apresentando regurgitação imediata e tosse. O tratamento é cirúrgico.

Estenose esofágica: O estreitamento da luz do esôfago (estenose) pode existir em qualquer local, mas

comumente ocorre no seu terço terminal. Comumente resulta de uma recanalização incompleta do órgão, mas pode originar-se da deficiência no desenvolvimento de vasos sanguíneos na área afetada.

DESENVOLVIMENTO DO ESTÔMAGO A porção final do intestino anterior é inicialmente uma simples estrutura tubular. Em torno da metade da 4ª semana, uma ligeira dilatação fusiforme indica o local do primórdio do estômago. Durante as próximas duas semanas, a face dorsal do estômago cresce mais rapidamente do que a sua face ventral, isso demarca a grande curvatura do estômago. Após adquirir sua forma final, o estômago roda, vagarosamente, 90º no sentido horário em torno de seu eixo longitudinal. Os efeitos dessa rotação são:

A face ventral (pequena curvatura) se desloca para a direita, e a dorsal (grande curvatura), para a esquerda;

Antes da rotação, as extremidades cranial e caudal do estômago estão no plano médio. Durante a rotação e o crescimento, sua região cranial se move para a esquerda e ligeiramente para baixo, enquanto sua região caudal vai para a direita e para cima;

A rotação e o crescimento do órgão explicam por que o nervo vago esquerdo supre a sua parede anterior e o nervo vago direito inerva a sua parede posterior.

Fendas isoladas (cavidades) desenvolvem-se no mesênquima, formando o espesso mesogástrio dorsal. As fendas logo aglutinam-se e formam uma única cavidade, a Bolsa Omental. A rotação do estômago puxa o mesogástrio dorsal para a esquerda, aumentando assim a bolsa, um grande recesso da cavidade peritoneal. A bolsa omental se comunica com a parte principal da cavidade abdominal através de uma abertura, o forame omental. No adulto, este forame está localizado posteriormente à borda livre do omento menor.

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Estenose Pilórica Hipertrófica Congênita: Bebês com essa anomalia

apresentam um expressivo espessamento do piloro, a região do esfíncter distal do estômago (as fibras musculares estão hipertrofiadas). Isso resulta na obstrução à passagem de alimento, tornando o estômago bastante distendido, fazendo com que o bebê lance seu conteúdo gástrico com força considerável (vômitos em jato). A sintomatologia típica, além de vômitos em jato sem bile, inclui peristaltismo visível no epigástrio, no sentido da esquerda pra baixo à direita. A prática cirúrgica resume-se em exteriorizar a oliva pilórica e fazer uma incisão longitudinal que abrange o peritônio visceral e a musculatura do piloro. Após essa incisão, afasta-se a musculatura pilórica para que ocorra a protrusão da mucosa e o alívio imediato da obstrução.

DESENVOLVIMENTO DO DUODENO No início da quarta semana, o duodeno começa a se desenvolver a partir da porção caudal do intestino anterior, da porção cranial do intestino médio e do mesênquima esplâncnico associado ao endoderma dessas porções do intestino primitivo.

O duodeno cresce rapidamente, formando uma alça em forma de C que se projeta ventralmente;

A medida que o estômago roda, a alça duodenal gira para a direita e vai se localizar retroperitonealmente;

O duodeno é suprido por ramos das artérias celíaca e mesentérica superior;

Durante a quinta e a sexta semanas, a luz do duodeno se torna progressivamente menor e é, temporariamente, obliterada, devido à proliferação de suas células epiteliais;

No final do período embrionário, o duodeno é recanalizado (vacuolização).

Estenose duodenal: É a oclusão parcial da luz do duodeno, geralmente resulta da recanalização incompleta,

em consequência de defeito na vacuolização. Por causa da oclusão, o vômito frequentemente contém bile.

Atresia duodenal: Ocorre a oclusão completa da luz do duodeno. O bloqueio quase sempre ocorre na junção dos ductos biliar e pancreático (ampola hepatopancreática), mas ocasionalmente envolve a parte horizontal (terça parte) do duodeno. Em bebês com atresia duodenal, os vômitos começam poucas horas após o nascimento, e quase sempre contém bile. O poliidrânimo também pode ocorrer, pois há o impedimento da absorção normal do líquido amniótico pelos intestinos. O diagnóstico é sugerido pela presença do "sinal da dupla bolha" nos exames radiológicos e ultrassonográficos.

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DESENVOLVIMENTO DO FÍGADO E DO APARELHO BILIAR O fígado, a vesícula biliar e as vias biliares originam-se de um brotamento ventral, divertículo hepático, da porção caudal ou distal do intestino anterior, no início da 4ª semana. O divertículo hepático expande-se para o septo transverso, uma massa de mesoderma esplâncnico situada entre o coração e o intestino médio (o septo transverso forma o mesentério ventral nessa região). O divertículo hepático cresce rapidamente e se divide em duas porções, à medida que penetra por entre as camadas do mesentério ventral.

A parte cranial, maior, é o primórdio do fígado; O fígado cresce rapidamente em direção ao septo transverso, ocupando grande parte da cavidade abdominal

superior; A quantidade de sangue oxigenado que flui da veia umbilical para o fígado determina o seu desenvolvimento e

sua segmentação funcional; A hematopoese se inicia durante a 6ª semana, dando ao fígado uma aparência vermelho-brilhante; A formação de bile pelas células hepáticas começa durante a 12ª semana; A pequena porção caudal do divertículo hepático origina a vesícula biliar, e o pedículo do divertículo forma o

ducto cístico. OBS: O mesentério ventral origina:

O omento menor, que vai do fígado à pequena curvatura do estômago (ligamento hepatogástrico) e do fígado ao duodeno (ligamento hepatoduodenal);

O ligamento falciforme, que se estende do fígado à parede abdominal ventral.

Atresia Biliar Extra-Hepática: é a obstrução dos ductos na porta do fígado ou superior a ela (uma fissura transversal na face visceral). A atresia pode também resultar de uma infecção do fígado durante o período final do desenvolvimento fetal. A icterícia ocorre logo após o nascimento e as fezes tem cor de terra. Quando a atresia não pode ser corrigida cirurgicamente, a criança pode morrer se não for realizado um transplante de fígado.

DESENVOLVIMENTO DO PÂNCREAS O pâncreas se forma dos brotos pancreáticos ventral e dorsal originados de células endodérmicas da porção caudal do intestino primitivo que crescem entre as camadas dos mesentérios.

A maior parte do pâncreas é derivada do broto pancreático dorsal, ele é maior, aparece primeiro, e desenvolve-se num local ligeiramente mais cranial do que o broto ventral;

O broto pancreático ventral desenvolve-se próximo à entrada do ducto biliar no duodeno; O broto pancreático ventral forma o processo uncinado e parte da cabeça do pâncreas; O ducto pancreático principal se forma a partir do ducto do broto ventral e da parte distal do ducto do broto

dorsal.

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Pâncreas Anular: Consiste em uma fina faixa achatada de

tecido pancreático circundando a segunda porção do duodeno, ou a porção descendente. Um pâncreas anular poder estar associado a síndrome de Down, atresia intestinal, ânus não perfurado, pancreatite e má rotação.

INTESTINO MÉDIO Os derivados do intestino médio são:

O intestino delgado; O ceco, o apêndice vermiforme e o colo ascendente; A metade direita até os dois terços do colo transverso.

Todos esses derivados do intestino médio são supridos pela Artéria Mesentérica Superior. ALÇAS INTESTINAIS Com o alongamento do intestino médio, forma-se uma alça intestinal ventral com a forma de U, a alça intestinal média.

Em torno do início da sexta semana, a alça do intestino médio se projeta para dentro da parte proximal do cordão umbilical;

No interior do cordão umbilical, a alça do intestino médio sofre uma rotação em sentido anti-horário, em torno do eixo da artéria mesentérica superior. Isso leva o ramo cefálico (intestino delgado) da alça do intestino médio para a direita e o ramo caudal (intestino grosso) para a esquerda;

Durante a décima semana, os intestinos retornam ao abdome, processo denominado “redução da hérnia do intestino médio”. Ao retornarem, os intestinos continuam em rotação;

A diminuição do tamanho relativo do fígado e dos rins e o aumento da cavidade abdominal são provavelmente fatores importantes relacionados com o retorno do intestino médio ao abdome;

O intestino delgado (formado pelo ramo cranial) retorna primeiro, passando por trás da artéria mesentérica superior, e ocupa a parte central do abdome. Quando o intestino grosso retorna, ele sofre uma rotação adicional no sentido anti-horário de 180º;

Ocorre ainda uma rotação adicional de 90º do intestino, para um total de 270º; Quando o cólon volta para a cavidade abdominal, sua extremidade cecal sofre uma rotação para a direita e entra

no quadrante inferior direito do abdome.

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CECO E APÊNDICE VERMIFORME O primórdio do ceco e do apêndice vermiforme, o divertículo cecal, aparece, na 6ª semana, como uma dilatação no limite antimesentérico do ramo caudal da alça intestinal média.

O ápice da tumefação não cresce tão rapidamente quanto o restante e desta forma o apêndice é um pequeno divertículo do ceco;

O apêndice aumenta rapidamente de tamanho. Ao nascimento, ele é um tubo vermiforme que surge da extremidade distal do ceco.

Onfalocele congênita: Essa anomalia consiste na persistência dos componentes intestinais na porção inicial do

cordão umbilical. A cavidade abdominal é proporcionalmente pequena quando há uma onfalocele, já que faltou o estímulo para o seu crescimento. É necessária uma correção cirúrgica e, em geral, isto é adiado se o defeito for grande demais. Bebês com onfalocele grande geralmente sofrem de hipoplasia pulmonar ou torácica, e adiar o fechamento é uma decisão clínica melhor.

Hérnia umbilical: Acontece quando os intestinos voltam à cavidade abdominal durante a 10ª semana e em

seguida se herniam através de um umbigo imperfeitamente fechado. Na hérnia umbilical, a massa protrusa (geralmente o omento maior e parte do intestino delgado) é coberta por tecido subcutâneo e pele. A hérnia faz proeminência durante o choro, esforço, ou tosse, e pode ser facilmente reduzida através do anel fibroso do umbigo.

Gastrosquise: A gastrosquise resulta de um defeito lateral ao plano mediano da parede abdominal anterior. O defeito linear permite a extrusão das vísceras abdominais, sem o envolvimento do cordão umbilical. As vísceras saem para a vesícula amniótica e são banhadas pelo líquido amniótico.

Má ou não rotação intestinal: A não-rotação do intestino é uma condição relativamente comum, geralmente é não-assintomática, mas pode ocorrer torção dos intestinos. Ela ocorre quando a alça do intestino médio não roda no seu retorno para o abdome. O ramo caudal da alça retorna antes para o abdome e o intestino delgado se localiza no lado direito e todo o intestino grosso do lado esquerdo. Os sintomas são: vômitos biliosos, diarreia, dor abdominal, sangramento retal, isquemia de tecidos intestinais.

Rotação invertida: A alça intestinal média roda no sentido horário em vez de rodar no sentido anti-horário. Como resultado, o duodeno fica localizado anteriormente à artéria mesentérica superior (AMS), e não posteriormente a ela. Enquanto o colo transverso se localiza posterior em vez de anterior a AMS.

Estenose e Atresia Do Intestino: Essas anomalias são resultantes da falta de um número adequado de vacúolos necessários para desenvolver a recanalização do intestino. Outra causa é a interrupção do suprimento sanguíneo de uma alça do intestino fetal resultante de um AVF (acidente vascular fetal).

Divertículo Ileal: O divertículo ileal é remanescente da porção proximal do canal vitelínico. Tem significado clínico porque ele às vezes se inflama e causa sintomas que simulam apendicite. O divertículo pode estar conectado ao umbigo por um cordão fibroso (o que pode predispor uma obstrução intestinal já que o intestino pode se enrolar em torno deste cordão).

Duplicação do intestino: Quase todas as duplicações são causadas pela falta da recanalização normal, como resultado, são formadas duas luzes. O segmento duplicado localiza-se do lado mesentérico do intestino. A duplicação do intestino normalmente contém mucosa gástrica ectópica, o que pode resultar em ulceração péptica local e sangramento gastrointestinal.

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INTESTINO POSTERIOR Os derivados do intestino posterior são:

O terço esquerdo até metade do colo transverso; o colo descendente e o colo sigmoide; O reto e a parte superior do canal anal; O epitélio da bexiga urinária e a maior parte da uretra.

Todos os derivados do intestino posterior são supridos pela Artéria Mesentérica Inferior. CLOACA É a porção terminal do intestino posterior revestida pelo endoderma que está em contato com o ectoderma superficial na Membrana Cloacal. Esta membrana é composta pelo endoderma da cloaca e pelo ectoderma do proctodeu.

A cloaca recebe o alantoide ventralmente, que é um divertículo digitiforme; A cloaca é dividida em uma parte dorsal e outra ventral por uma cunha de mesênquima: Septo Urorretal (entre o

alantoide e o intestino posterior); O septo cresce em direção a membrana cloacal, desenvolvendo extensões que produzem invaginações das

paredes laterais da cloaca; Estas pregas crescem uma em direção a outra e se fundem formando uma parede que divide a cloaca em duas

partes: O reto e o Seio Urogenital.

CANAL ANAL É caracterizado pela junção do epitélio derivado do ectoderma do proctodeu com o epitélio derivado do endoderma do intestino posterior. É indicado, grosseiramente, pela linha pectinada, localizada no limite inferior das válvulas anais. Essa linha indica aproximadamente o local primitivo da membrana anal.

Megacólon Congênito: É definida como uma ausência de células ganglionares (aganglionose) em uma extensão variável do intestino distal. Resulta da falta de migração das células da crista neural para a parede do colo, durante o período entre a quinta e a sétima semanas. Uma parte do colo está dilatada em virtude da ausência de células ganglionares autônomas, no plexo mioentérico distal àquele segmento. A dilatação resulta da falta de peristaltismo do segmento aganglionar, o que impede a movimentação do conteúdo intestinal.

Anus Imperfurado: Causada pelo desenvolvimento anormal do septo urorretal, que resulta na separação

incompleta da cloaca nas partes urogenital e urorretal. O ânus imperfurado ocorre em cerca de um em cada 5.000 bebês recém-nascidos e é mais comum no sexo masculino.

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HISTOLOGIA: APARELHO DIGESTIVO

O aparelho digestivo é formado pelo tubo digestivo e as suas glândulas anexas. Tem por função digerir os alimentos e retirar deles os metabólicos necessários para a manutenção e desenvolvimento do organismo, ou seja, retirar das macromoléculas ingeridas suas unidades fundamentais para oferecer energia e nutrientes necessários ao corpo.

O trato digestivo é formado pela cavidade oral, a orofaringe (reservatório compartilhado com o trato respiratório), o esôfago, o estômago, o duodeno, o jejuno, o íleo, o cólon, o reto e o ânus. Podemos citar também as glândulas anexas (glândulas salivares, pâncreas e fígado), cujas secreções são jogadas para dentro do trato.

TRATO DIGESTIVO O trato digestivo é dividido em quatro camadas principais (túnicas): a mucosa, a submucosa, a muscular e a serosa. MUCOSA A camada interna do tubo digestivo é a túnica mucosa, composta por um revestimento epitelial (lâmina epitelial) com glândulas que dele derivam e uma camada subjacente de sustentação, constituída de tecido conjuntivo frouxo (lâmina própria) muito vascularizado, apresentando nódulos e vasos linfáticos.

Além desses, há uma camada de musculatura lisa da mucosa (sendo uma interna circular e outra, mais externa, longitudinal) que reveste o canal alimentar do esôfago até o ânus: a camada muscular da mucosa. SUBMUCOSA A submucosa é um tecido conjuntivo fibroelástico denso não-modelado que envolve a mucosa, sendo ele, geralmente, mais denso que a lâmina própria. OBS: essa camada não possui glândulas, exceto no esôfago e duodeno, pois nestes, respectivamente, as glândulas facilitam a passagem do alimento graças à sua secreção de muco e diminui o pH do quimo. A submucosa contém vasos sanguíneos e linfáticos, além de um componente do sistema nervoso entérico denominado plexo submucoso de Meissner. Este plexo composto por células nervosas pós-ganglionares do parassimpático controlam a motilidade da mucosa assim como a atividade secretora de suas glândulas e é excitado logo com a presença de alimento. MUSCULAR EXTERNA É constituída por duas túnicas de músculo liso: uma interna circular e outra externa longitudinal. Esta ultima é responsável pela atividade peristáltica que movimenta o conteúdo da luz ao longo do trato alimentar. Além disso, nessa camada, encontra-se o plexo mioentérico de Auerbach, situado entre essas duas camadas, desde o esôfago até a ampola retal, sendo diretamente ligado com a dilatação do canal digestivo. Este plexo é extremamente sensível à doença de Chagas (doença do megacólon), o que faz com que ele se dilate prejudicando a contração dos músculos responsáveis pela peristalsia. OBS: Presença de músculo esquelético na musculatura do esôfago e do canal retal. OBS²: O estômago possui três camadas musculares, sendo de dentro para fora: oblíqua (paralela a parede do estômago), circular e longitudinal, auxiliando na homogeneização do quimo com as secreções gástricas. SEROSA OU ADVENTÍCIA A muscular externa está envolvida por uma camada delgada de tecido conjuntivo, que pode ou não estar circundada por epitélio pavimentoso simples do peritônio visceral (mesotélio). Quando a região do canal alimentar é intraperitoneal, está envolvida pelo peritônio e é denominada serosa. Quando um órgão é retroperitoneal (aderido à parede do corpo) é denominado adventícia. A camada serosa é totalmente substituída por adventícia no esôfago e reto. A adventícia possui forma mais densa, de origem embrionária ectodérmica, e está em contato com outros órgãos.

Arlindo Ugulino Netto; Raquel Torres Bezerra Dantas.

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A camada serosa é revestida pelo mesotélio (delgada camada epitelial). Na cavidade abdominal esse epitélio passa a ser chamado de peritônio visceral, sendo revestida também por um tecido conjuntivo subjacente, que é ricamente inervado com inúmeras terminações sensoriais.

Esta camada é banhada pelo líquido peritoneal, formado a partir da superfície do fígado, sendo ela homóloga do folheto parietal do peritônio, que reveste a cavidade abdominal.

A principal importância da serosa é o revestimento, realizando as seguintes funções: Prover uma barreira seletivamente permeável; Facilitar o transporte e a digestão dos alimentos; Produzir a absorção dos produtos dessa digestão; Produzir hormônios reguladores da atividade do sistema digestivo (CKK, secretina, gastrina).

CAVIDADE ORAL É revestida por um epitélio pavimentoso estratificado, queratinizado ou não. Formado por lábios, bochechas, gengivas, palatos e língua. Ela está subdividida em duas regiões: vestíbulo (região delimitada entre os lábios e os dentes, onde há liberação da saliva) e cavidade oral propriamente dita (localizada após os dentes, que inclui língua, palato duro e palato mole). Diferentemente do resto do tubo digestivo, em certas estruturas da cavidade oral existe, uma camada de queratina revestindo seu epitélio (apenas nas gengivas, língua e palato duro, revestindo parcialmente os lábios) para proteger a mucosa de agressões físicas. A mucosa oral pode ser dividida de acordo com a função desempenhada por cada região: - mucosa mastigatória: com queratina, localizada na região onde há contato com o alimento, envolvido no processo de mastigação. É constituído por TER estratificado pavimentoso queratinizado e TCDNM. EX: gengiva, superfície dorsal da língua e palato duro. - mucosa de revestimento: sem queratina, localizada na região onde não há contato grande com alimento. É constituído por TER estratificado pavimentoso não queratinizado e TCDNM, sendo mais frouxo que o da mucosa mastigatória. EX.: restante da cavidade oral. - mucosa especializada: sem queratina, está envolvida com a identificação dos sabores devido a presença dos botões gustativos. EX.: superfície dorsal da língua, mucosa da faringe, áreas do palato mole. LÁBIOS Possuem quatro tipos de tecidos:

Face externa: é constituída pela pele que envolve os lábios. Apresenta tecido queratinizado, folículo piloso, glândulas sebáceas e glândulas sudoríparas.

Zona de transição ou borda vermelha: é o lábio propriamente dito. Apresenta tecido com pouca queratina, lâmina própria com vasos sanguíneos. Não apresenta folículo piloso nem de glândulas sebáceas.

Face interna ou membrana mucosa: mucosa sem queratina, umidificada pelas glândulas salivares presentes na cavidade bucal.

Centro do lábio: é o preenchimento interno do lábio, constituído pelo músculo esquelético e tecido adiposo, permitindo a movimentação e articulação da boca.

LÍNGUA A língua é a maior estrutura da cavidade oral. Sua mobilidade é dada pelo seu principal constituinte: uma massa de fibras musculares estriadas entrelaçadas que podem ser classificadas em dois grandes grupos: (1) os músculos extrínsecos, que se originam de fora da língua e (2) intrínsecos, que se originam e se encerem nela. Ela possui uma superfície dorsal, uma ventral e duas superfícies laterais. A superfície dorsal é constituída por dois terços anteriores e pelo terço posterior. Essas duas regiões estão separadas por um sulco raso em forma de “V”, o sulco terminal (região V). A superfície dorsal do terço posterior da língua apresenta as tonsilas linguais. Já as papilas linguais cobrem os dois terços anteriores da superfície dorsal da língua. PAPILAS LINGUAIS Há quatro tipos de papilas linguais:

Papila Filiforme: são estruturas delgadas cobertas por epitélio pavimentoso estratificado queratinizado. Possuem formas de ondas voltadas para a extremidade posterior da língua e não possui botões gustativos.

Papila Fungiforme: assemelha-se a um cogumelo cujo pedículo delgado liga um “chapéu largo” à superfície da língua. É revestida por tecido epitelial pavimentoso estratificado não-queratinizado, por isso, o sangue que circula por alças capilares subepiteliais são visíveis como pontos vermelhos entre as papilas filiformes. Possuem botões gustativos.

Papilas Caliciformes ou Circunvaladas: estão localizadas ao longo do aspecto pôstero-lateral da língua. Elas aparecem como sulcos verticais. Possuem corpúsculos gustativos funcionais do recém-nascido, mas estes se degeneram no segundo ou terceiro ano de vida. Essas papilas produzem a enzima lipase lingual, que evita a

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formação de camadas hidrofóbicas sobre as papilas, o que evitaria a percepção do gosto dos alimentos. Essa lipase é produzida pelas glândulas salivares de von Ebner.

BOTÕES GUSTATIVOS São órgãos sensoriais intra-epiteliais que agem na percepção do gosto. Estão presentes na superfície da língua com aproximadamente 3000 corpúsculos. Cada um deles tem estrutura oval e na sua extremidade estreita há uma abertura chamada poro gustativo, constituído por células epiteliais pavimentosas que o cobrem. O corpúsculo gustativo é constituído por quatro tipos de células: células basais (acredita-se que funcionam como células de reserva e regeneram o corpúsculo gustativo), células escuras, células claras e células intermediárias. Acredita-se que essas células dão origem as células escuras, e estas, quando amadurecem, tornam-se células claras, que se tornam células intermediárias e morrem. O processo de percepção de gostos é causado mais pelo aparelho olfativo do que corpúsculos gustativos, como é evidenciado pela diminuição da capacidade gustativa das pessoas com congestão nasal. DENTES Os seres humanos possuem dois tipos de dentição: decídua (dentes de leite – 20 dentes), que é substituída pelos permanentes (compostos por 32 dentes). Na cavidade oral, os dentes se organizam de tal forma que cada grupo desempenha uma função específica na mastigação. O dente está fixado no alvéolo por meio do ligamento periodental, constituído por tecido conjuntivo denso não-modelado. A parte do dente visível na cavidade oral é chamada de coroa, já a parte fixada é chamada de raiz, e entre elas, está o colo. Toda raiz é constituída por três substâncias calcificadas, que envolvem a polpa. Esta, por sua vez, é um tecido conjuntivo frouxo gelatinoso subdividido em duas regiões: câmara polpar e canal da raiz, que em sua porção terminal encontra-se o forame apical, por onde passam nervos e vasos sanguíneos.

Componentes Mineralizados o Esmalte: recobre a dentina da coroa e é

constituída por 96% de cristais de hidroxiapatita (a substância mais rígida do organismo) e 4% de material orgânico, como glicoproteínas (enamelinas) e água. O esmalte é formado por células ameloblásticas que morrem antes da erupção dentária. Por isso, o esmalte não é reposto pelo organismo.

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o Dentina: É constituída de cerca de 70% de cristais de hidroxiapatita e está localizada abaixo do esmalte. Ela contribui para a proteção do esmalte, pois seu tecido é elástico, e o protege contra impactos e fraturas. A dentina é produzida por células chamadas odontoblastos, que permanecem durante toda a vida. Na dentina, o material orgânico é composto por fibras de colágeno do tipo I.

o Cemento: o cemento recobre a dentina da raiz e é constituído por 50% de hidroxiapatita e o material orgânico é composto por fibras colágenas tipo I. Em sua região apical, existem os cementócitos que estão dentro de lacunas (espaços lenticulares). Os prolongamentos dos cementócitos se projetam das lacunas dentro dos canalículos para o ligamento periodental vascular. Por isso que ele é chamado de cemento celular. Sua região coronal não contém cementócitos, por isso é chamado de cemento acelular. Contudo, ambos os cementos possuem cementoblastos, responsáveis pela formação desse tecido. Já os cementoclastos absorvem o cemento na fase de substituição dos dentes decíduos pelos permanentes.

Polpa É formada por tecido conjuntivo frouxo gelatinoso, proteoglicanos e glicosaminoglicanos. Ele faz comunicação com o ligamento periodental, através do forame apical. A polpa é subdividida em três zonas:

o Zona odontoblastica: formada por células odontoblasticas. o Zona isenta de células: não possui um tipo específico de células. o Zona rica em células: envolve o núcleo da polpa e é rico em células mesenquimatosas e fibroblastos.

O núcleo da polpa possui células adiposas e fibras nervosas simpáticas, que controlam o tamanho dos vasos e fibras sensitivas, que transmitem a sensação da dor. Na realização de um canal, o dentista retira a polpa através do canal da radicular.

Alvéolo É um soqueto dentro da qual a raiz está fixada pelo ligamento periodental. É considerado uma continuação óssea da mandíbula e da maxila. Um alvéolo está separado do outro pelo septo interaveolar. Ele está dividido em três regiões: as placas corticais, que formam uma borda firme de sustentação de osso compacto revestido por osso esponjoso. Este osso esponjoso envolve uma delgada camada de osso compacto: o osso alveolar propriamente dito.

Periodonto O periodonto é o conjunto dos tecidos que revestem e envolvem o dente. É também chamado de aparato de inserção, estabelecendo uma unidade funcional biológica e evolutiva que sofre modificações com o meio bucal e também modificações decorrentes da idade. É graças ao ligamento periodontal que o uso de aparelhos ortodônticos pode modificar e mover a sua estrutura.

ESÔFAGO O esôfago é um tubo muscular que transporta o bolo alimentar da faringe oral para o estômago. Localiza-se na cavidade torácica por trás da traqueia, estendendo-se da 6ª vértebra cervical à 11ª vértebra torácica (diafragma). MUCOSA DO ESÔFAGO

É constituída por epitélio pavimentoso estratificado não-queratinizado, lamina própria fibroelástica e muscular da mucosa. Neste epitélio, encontram-se as células de Langerhans, que fagocitam antígenos, reduzindo-os a pequenos polipeptídeos denominados epítopos. A lamina própria contém as glândulas cardíacas-esofágicas situadas em duas regiões do esôfago: próximo a faringe e perto da junção com o estômago. Essas glândulas produzem muco que cobrem o revestimento do esôfago, lubrificando para proteger o epitélio quando ocorrer a passagem do bolo alimentar. A muscular da mucosa é constituída por uma única camada longitudinal de músculo liso que se tornam mais espessos nas proximidades do estômago. SUBMUCOSA DO ESOFAGO A submucosa é constituída por tecido conjuntivo denso fibroelástico, que contém glândulas esofágicas propriamente ditas. OBS

4: O esôfago e duodeno são as únicas regiões do trato digestivo que contém glândulas na submucosa, pois no

primeiro, é necessária a produção de muco para a passagem do alimento, e no segundo por diminuir o pH do quimo. A submucosa do esôfago é composta, basicamente, por dois tipos celulares:

Células mucosas: possuem grânulos de secreção repletos de muco.

Células serosas: secretam muco.

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MUSCULAR EXTERNA É composta por células musculares esqueléticas e lisas. É formada por duas camadas: uma circular interna e outra, longitudinal externa. A muscular externa, que está no terço superior do esôfago, é constituída de músculo esquelético; seu terço médio possui músculo esquelético e liso; e o terço inferior, apresenta somente fibras musculares lisas. O plexo Auerbach está localizado entre a camada muscular circular interna e longitudinal externa. OBS

5: A musculatura do esôfago é tão desenvolvida que chega a criar

pregas, justamente para impulsionar o alimento com mais vigor.

Este órgão está coberto por uma adventícia até o ponto em que perfura o diafragma. Depois que passa a ser coberto por uma serosa. HISTOFISIOLOGIA DO ESÔFAGO

O esôfago não possui esfíncter anatômico, mas possui dois esfíncteres fisiológicos (o esfíncter faringoesofágico e gastresofágico) que impedem o refluxo do esôfago para faringe e do estômago para o esôfago, respectivamente. ESTÔMAGO É o órgão responsável pelo processamento do alimento ingerido, o transformado em fluido ácido e espesso denominado quimo. É a porção mais dilatada do canal alimentar. O estômago exerce função exócrina e endócrina. São digeridos no estômago lipídios e proteínas. A digestão dos carboidratos será continuada apenas no duodeno. O bolo alimentar passa pela junção gastresofágica e penetra no estômago transformando-se em quimo. Através da válvula pilórica o estômago lança pequenas alíquotas de seu conteúdo no duodeno. O estômago liquefaz o alimento através da produção de HCl e das enzimas pepsina, renina e lípase gástrica.

Este órgão possui uma curvatura maior convexa e uma menor côncava. Anatomicamente, ele está dividido em quatro regiões:

Cárdia: região estreita situada na junção gastresofágica.

Fundo: região em forma de cúpula frequentemente cheia de gás.

Corpo: a maior região, responsável pela formação do quimo.

Piloro: porção estreitada afunilada dotada do espesso esfíncter pilórico, que controla a liberação do quimo para o duodeno. Histologicamente, o estômago está diferenciado em três regiões apenas: cárdia, fundo e corpo, piloro.

Cárdia: contém glândulas tubulares (da cárdia) com algumas células mucosas (responsáveis pela secreção de muco) e enteroendócrinas (liberação de hormônios polipeptídios na corrente sanguínea, que regulam a motilidade intestinal e a função endócrina).

Fundo e corpo (são histologicamente iguais): glândulas fúndicas divididas em três setores: istmo, colo e base. Essas glândulas são invaginações na mucosa (epitélio e lâmina própria).

Piloro: glândulas pilóricas com células enteroendócrinas. FOSSETAS GÁSTRICAS

O revestimento epitelial do estômago se invagina na mucosa formando fossetas gástricas na região da cárdia e mais profunda na região pilórica. Essas fossetas aumentam a área da superfície do revestimento gástrico dando origem às glândulas gástricas (promovem produtos de secreção). Em cada uma delas desembocam cerca de 5 a 7 glândulas gástricas. REGIÃO CÁRDICA A cárdia é uma banda circular estreita, com cerca de 1,5-3,0 cm de largura, na transição entre o esôfago e o estômago. Sua mucosa contém glândulas tubulares simples ou ramificadas, denominadas glândulas da cárdia. As porções terminais destas glândulas são frequentemente enoveladas, com lúmen amplo. Muitas das células secretoras produzem muco e lisozima (enzima que destrói a parede de bactérias), mas podem-se encontrar algumas células produtoras de ácido clorídrico. Difere da região fúndica por suas fossetas gástricas serem mais rasas e pela população de células compostas por: células de revestimento epitelial, algumas células enteroendócrinas e células parietais. Além disso, não possuem células principais.

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REGIÃO FÚNDICA A mucosa fúndica do estômago é constituída por três componentes: epitélio (revestindo a luz), tecido

conjuntivo subjacente (lamina própria) e as camadas de músculo liso formando a muscular da mucosa.

Epitélio: é o revestimento do estômago constituído por células colunares simples (células de revestimento superficial) que produzem o muco visível, um gel que se adere ao revestimento do estômago protegendo-o da autodigestão. Além disso, os íons bicarbonatos presos na camada de muco são capazes de manter um pH relativamente neutro, a despeito do pH ácido do conteúdo da luz. Células regeneradoras estão presentes na base das fossetas.

Lamina própria: composto por tecido conjuntivo frouxo altamente vascularizado com abundância nas seguintes células: plasmócitos, linfócitos, mastócitos, fibroblastos e células musculares lisas. Grande parte da lamina própria está invadida por inúmeras glândulas gástricas, denominadas em seu conjunto, glândulas fúndicas. Cada glândula fúndica estende-se da muscular da mucosa até a base da fosseta gástrica e está subdividida em três setores: istmo, colo e base, sendo diferenciadas pelo tipo de células que as compõe:

o Istmo: região mais apical. Apresenta células mucosas, células-tronco (células indiferenciadas – produzem outras células do colo e base - produtoras de muco) e células parietais (células produtoras do ácido clorídrico).

o Colo: Região central. Apresenta células-tronco, mucosas do colo, células parietais e células enteroendócrinas.

o Base: células parietais, zimogênicas e enteroendócrinas.

Muscular da Mucosa do Estômago: presença de células musculares lisas dispostas em três camadas: circular interna, longitudinal externa e ocasionalmente, uma circular externa.

OBS6: Glândulas Fúndicas:

Células mucosas do colo: são células colunares que produzem um muco solúvel (mucina) que se mistura e lubrifica o quimo reduzindo o atrito quando este segue pelo trato digestivo.

Células-tronco (regenerativa): são células colunares que estão dispersas entre as células mucosas do colo das glândulas fúndicas sendo dotadas de uma alta atividade mitótica. Essas células proliferam-se a fim de substituir todas as células especializadas que revestem as glândulas fundicas.

Células parietais: são responsáveis pela produção de acido clorídrico (HCl) e o fator gástrico intrínseco, que é uma glicoproteína necessária para absorção de vitamina B12 (faz parte do radical heme da hemoglobina) no ílio do intestino delgado, cuja carência causa uma eritropoiese defeituosa com desenvolvimento de anemia perninciosa. Durante a produção de HCl, o número de microvilosidades dessas células aumenta, portanto, as membranas são usadas na formação das microvilosidades, aumentando a superfície da célula, preparando-a para a produção de HCl. Além disso, as células parietais produzem histamina e gastrina.

Células zimogênicas: produzem as enzimas pepsinogênio, renina e lípase gástrica.

Células enteroendócrinas: são células que produzem hormônios endócrinos parácrinos e neurócrinos. Estas células estão dispersas entre outras células epiteliais da mucosa gástrica. Secreta serotonina e somatostatina.

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REGIÃO PILÓRICA Contém o mesmos tipos celulares da região cárdica mas as células estão localizadas na porção pilórica. Além disso, produzem muco e secretam lisozima, uma enzima bactericida. SUBMUCOSA DO ESTÔMAGO Constituída por tecido conjuntivo denso não-modelado e possui uma rica rede vascular e linfática que supre e drena os vasos da lâmina própria. O plexo submucoso (Meissner) está localizado nas proximidades da musculatura externa. É responsável por estimular a motilidade da mucosa e das secreções glandulares. MUSCULAR EXTERNA DO ESTÔMAGO Difere-se das demais camadas musculares por apresentar 3 camadas de músculo liso: a camada oblíqua interna, a circular média (localizada na região pilórica, onde se forma o esfíncter pilórico) e a camada longitudinal externa (localizada na região cárdica e no corpo do estômago). A presença dessa camada extra de músculo está relacionada com a função gástrica de homogeneizar o bolo alimentar com as secreções gástricas. O plexo mioentérico está localizado entre as camadas circular média e longitudinal externa. HISTOFISIOLOGIA DO ESTÔMAGO O revestimento interno e as glândulas do estômago produzem e liberam secreções compostas por água, HCl, fator gástrico intrínseco, pepsinogênio, renina, lípase gástrica, muco visível e solúvel. PRODUÇÃO DE HCL O HCl é responsável pela desnaturação das proteínas além de ativar a proenzima pepsinogênio, tornando-a em enzima ativa (pepsina). Esta enzima requer um pH baixo para sua atividade. Por isso a necessidade de um meio ácido proporcionado pelo HCl. A sua secreção é feita em três fases: cefálica, gástrica e intestinal.

Cefálica: secreções causadas por efeito psicológico. É induzida por impulsos parassimpáticos trazidos pelo nervo vago, causando a liberação de acetilcolina.

Gástrica: secreção resultante da presença do alimento no estômago. É induzida pelos hormônios gastrina e histamina, produzidas pelas células enteroendócrinas.

Intestinal: secreção causada pela presença do alimento no intestino delgado estimulado pelo hormônio gastrina. MECANISMO DE PRODUÇÃO DO HCL

A produção de HCl inicia-se quando a gastrina, a histamina e a acetilcolina ligam-se a membrana plasmática basal das células parietais. O processo da produção de HCl é dada da seguinte maneira: 1. A enzima anidrase carbônica facilita a ionização do H2CO3, ionização liberando íons H+ e bicarbonato (HCO3

-)

no citoplasma da célula parietal. 2. Por meio do uso de ATP, a célula parietal bombeia o H+ intracelular para fora da célula e transfere o K+ extracelular para dentro da célula. 3. Proteínas carregadoras, utilizando o ATP, bombeiam o KCl (ionizam-se em H+ e Cl-) para fora da célula. Desta maneira, Cl- e H+ chegam separadamente à luz no canalículo intracelular, onde se combinam em HCl. 4. O K+ é transportado ativamente para dentro da célula, aumentando o seu nível intracelular. Essa alta concentração faz com que o K+ saia da célula através de canais iônicos localizados no plasmalema basal. Assim, o K+ é constantemente recirculado para dentro e para fora da célula. 5. A água proveniente do fluido extracelular penetra na célula parietal e sai do citoplasma e entra no canalículo intracelular, graças às forças osmóticas. Assim a solução do HCl passa do canalículo para o estômago.

INTESTINO DELGADO É o sítio terminal de digestão, absorção de nutrientes e secreção endócrina. Está dividido em três regiões: duodeno (que recebe enzimas e tampão alcalino do pâncreas e bile do fígado), jejuno e ílio. As três regiões do intestino apresentam algumas modificações em sua superfície, tais como: pregas circulares (são pregas transversais da mucosa e submucosa que aumentam a área da superfície e diminui a velocidade do quimo, facilitando absorção), vilosidades (protrusões digitiformes da lamina própria cobertas por epitélio; elas são numerosas no jejuno e no ílio, e tem como função aumentar a superfície do intestino delgado).

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MUCOSA INTESTINAL A mucosa intestinal é composta de três camadas: um epitélio colunar simples, lâmina própria e a camada muscular da mucosa.

EPITÉLIO O epitélio é composto por células absortivas superficiais, caliciformes, enteroendócrinas e células M.

Células absortivas: São células colunares altas que participam da parte final da digestão e da absorção de água e nutrientes. Além disso, elas reesterificam ácidos graxos em triglicerídeos, formam quilomícrons e transportam a massa de nutrientes absorvidos para a lâmina própria de onde serão distribuídos para o resto do corpo. Na sua porção apical, há presença de microvilosidades (borda estriada).

Células caliciformes: são glândulas unicelulares que secretam mucinogênio, cuja forma hidratada constitui a mucina, um componente do muco.

Células enteroendócrinas: células endócrinas associadas ao tecido intestinal. São células que produzem hormônios parácrinos e endócrinos. Secretam hormônios como secretina, colescistoquinina, peptídeo inibidor gástrico.

Células M: são células que fagocitam e transportam antígenos da luz para a lâmina própria. Elas fazem parte do sistema mononuclear fagocitário. Localizam-se abaixo do tecido linfoide associado e possui aspecto semelhante ao macrófago. Também estão presentes na lâmina própria, próximas as células de Paneth. Podem estar presentes na submucosa agregadas as placas de Payer.

LÂMINA PRÓPRIA

Constituída por tecido conjuntivo frouxo. Possui numerosas glândulas tubulosas chamadas criptas (glândulas) de Lieberkuhn, além disso, possui tecido linfoide o protege de invasões e microorganismos.

Criptas (glândulas) de Lieberkuhn: essas criptas aumentam a área da superfície do revestimento intestinal. Elas são constituídas por célula enteroendócrinas, células absortivas superficiais, células caliciformes, células regeneradoras e células de Paneth.

Células regeneradoras: são as células tronco do intestino delgado, que proliferam extensamente, repovoando o epitélio das criptas da superfície mucosa e vilosidades.

Células de Paneth: são células piramidais que ocupam a porção inferior das criptas de Lieberkuhn. Elas secretam um antibacteriano chamado lisozina, fator de necrose tumoral α e proteínas de defesa (defensinas).

CAMADA MUSCULAR

É constituída por uma camada circular interna e longitudinal externa. As fibras musculares da camada circular interna penetram nos vilos, estendendo-se até a membrana basal. Na digestão, essas fibras musculares se contraem, encurtando o vilo várias vezes por minuto.

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SUBMUCOSA

Constituído por tecido conjuntivo fibroelástico, mais fibroso que o da lâmina própria. Ela possui uma rica rede de vasos sanguíneos e linfáticos. Sua inervação provém do plexo de meissner. Especialmente no duodeno, são encontradas as glândulas de Bruner, que produzem um fluido mucoso rico em bicarbonato, que são lançadas no lúmen do duodeno. Além disso, elas secretam o hormônio urogastrona que inibe a produção de HCl e amplifica a atividade mitótica das células epiteliais. MUSCULAR

Possui uma camada circular interna e outra longitudinal externa. Além disso, há a presença do plexo mioentérico (ou de Auerbach) localizado entre as duas camadas. CAMADA SEROSA Composta por mesotélio (tecido epitelial que reveste a serosa externamente) com subserosa subjacente. INTESTINO GROSSO

O intestino grosso é subdivido em ceco, colo, reto e anus. Ele é responsável pela absorção da maior parte de água e íons do quimo provenientes do intestino delgado. Além disso, compacta o quimo em fezes para a eliminação. Ele tem como aspecto histológico uma mucosa sem vilosidades, glândulas intestinais longas com abundância de células caliciformes e poucas absortivas.

A função primordial do intestinal grosso se resume a absorção de água, formação da massa fecal e produção de muco. Há pouca absorção de nutrientes.

O cólon está corresponde a quase todo comprimento do intestino grosso. Ele recebe o quimo do ílio na valva ílio cecal, um esfíncter que impede o refluxo do ceco para o íleo. O cólon não possui vilosidade, mas tem grande riqueza em criptas de Lieberkhun. Especialmente, nessas criptas, não há as células de paneth.

A mucosa anal é constituída por um epitélio cuboide simples, do reto até a linha pectinada, pavimentoso estratificado não queratinizado dessa linha até o orifício anal externo, e pavimentoso estratificado queratinizado no ânus. Sua lâmina própria, constituída por tecido conjuntivo fibroelástico, contém as glândulas anais e perianais. Sua muscular da mucosa é constituída por uma camada circular interna e longitudinal externa de músculo liso.

A submucosa anal é constituída de tecido conjuntivo fibroeslástico. Ela contém dois plexos nervosos: o plexo hemorroidário interno e externo, situado na junção do canal anal com o orifício externo. Sua muscular externa é constituída por uma camada circular interna e longitudinal externa de músculo liso. A camada circular interna, na região da linha pectinada, forma o esfíncter anal interno e o músculo esquelético do assoalho da pelve forma o esfíncter anal externo, que está sob controle voluntário.

CAMADA MUCOSA DO INTESTINO GROSSO

A sua superfície luminal é lisa, apresentando as mesmas criptas de Lieberkuhn, sendo mais longas e folículos linfoides mais frequentes, ou seja, possui uma maior quantidade de GALT (tecido linfoide associado ao intestino). Na porção superior do canal retal uma há mudança de epitélio: deixa de ser simples pavimentoso, passando a ser um epitélio queratinizado, mudando de camada serosa para adventícia.

CAMADA SUBMUCOSA DO INTESTINO GROSSO

Há a presença do plexo de Meissner. CAMADA MUSCULAR DO INTESTINO GROSSO

Circular interna, longitudinal externa com três faixas – tênias do colo. CAMADA SEROSA DO INTESTINO GROSSO

Apêndices epiploicos. Na porção do reto, sob a forma de adventícia.

GLÂNDULAS ANEXAS Estão situadas fora do sistema digestivo, estando incluídas as glândulas salivares (parótida, submandibular e sublingual associadas à cavidade oral), pâncreas, fígado e vesícula biliar. Cada uma delas funciona auxiliando no processo digestivo. PÂNCREAS

Possui glândulas mistas: de natureza exócrina (enzimas): glândula acinosa composta; e de natureza endócrinas (hormônios): ilhotas de Langerhans (insulina pelas células β, glucagon pelas células α). As glândulas exócrinas do pâncreas possuem um formato acinoso, ou seja, formato de concha, com ductos intercalares. Apenas os acinos pancreáticos possuem a penetração das porções iniciais dos ductos intercalares no lúmem dos ácinos.

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HISTOFISIOLOGIA DO PÂNCREAS EXÓCRINO Suas células acinosas produzem e liberam enzimas digestivas, enquanto as células centro-acinosas e as células dos ductos intercalares liberam uma solução tampão rica em bicarbonato que neutraliza o quimo ácido que chega ao duodeno. Este fluido é pobre em enzimas e sua liberação é induzida pela secretina, hormônio produzido pelas células S.

A liberação de suas enzimas é induzida pelo hormônio colecistoquinina, produzido pelas células I do intestino delgado. Com isso, há liberação de enzimas tais como: amilase e lípase pancreática, quimiotripsinogênio e tripsinogênio (são pró-enzimas). FÍGADO

O fígado exerce inúmeras funções. Ele é a maior glândula do corpo humano (2º maior órgão, depois da pele), pesando aproximadamente 1500g. Ele está subdividido em quatro lobos: direito, esquerdo, quadrado e caudado, sendo eles, divididos em inúmeros lóbulos, que recebem nutrientes derivados de ramos venosos da veia porta provenientes do intestino.

Assim como o pâncreas, ele tem a sua função endócrina e exócrina. O hepatócito do fígado é responsável por sua secreção exócrina, a bile, e por seus produtos endócrinos.

O espaço de Disse está entre a placa de hepatócitos e as células de revestimento do sinusoides (são espaços entre as placas de hepatócitos cujo revestimento endotelial é composto por células de revestimento sinusoidal). As microvilosidades dos hepatócitos ocupam grande parte desse espaço. Facilitando, assim, a troca de material entre o sangue e os hepatócitos. Além disso, o espaço de Disse (tecido conjuntivo denso) contém fibras de colágeno tipo III (reticulares), tendo como função a sustentação aos sinusoides.

As células de Kupffer são macrófagos que estão associados às células de revestimento endotelial dos sinusoides que realizam fagocitose de patogenos que possam entrar na circulação porta. As células de Ito são células armazenadoras de gordura de capacidade imunitária, que estão situadas ocasionalmente no espaço de Disse. Acredita-se que essas células armazenem vitamina A. GLÂNDULAS SALIVARES

São glândulas túbulo-alveolares ramificadas de cuja cápsula de tecido conjuntivo partem septos, que as subdividem em lobos e lóbulos. Os elementos vasculares e nervosos das glândulas chegam às unidades secretoras através de sua estrutura de tecido conjuntivo. PARÓTIDA É a maior das glândulas salivares. Produz uma saliva serosa que constitui 30% do total de saliva. Essa saliva produzida contem altos níveis de amilase salivar (ptialina) e de IgA secretora. A amilase participa da digestão do amido até o estômago, local onde o HCl inativa a mesma. A IgA inativa antígenos localizados na cavidade oral.

A parótida é uma glândula acinosa composta, formada por ácinos serosos envolvidos por células mioepiteliais, cuja cápsula envia septos e libera suas secreções em ductos intercalares.

SUBMANDIBULAR

É uma glândula túbulo acinosa composta formada por ácinos serosos e poucos ácinos mucosos, associados a semi-luas serosas produzindo uma secreção mista. Os ácinos são circundados por células mioepiteliais e o seu sistema de ductos é extenso. Ela é responsável pro 60% do total da produção de saliva.

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SUBLINGUAL É uma glândula túbulo-acinosa cuja cápsula não é bem definida. Produz uma secreção mista, pois possui

predominantemente ácinos mucosos associados a semiluas serosas e circundados por células mioepeteliais com ductos não extensos. VASOS DO TRATO ESOFAGOGASTRINTESTINAL

Tem como função nutrir todas as células do trato, inclusive o intestino, e removendo os produtos de nutrição absorvidos a nível entérico. Esses vasos partem da submucosa, perfuram as fibras da muscular da mucosa para vascularizar com capilares a lâmina própria, podendo atingir abaixo da membrana (lâmina) basal do epitélio na região apical da vilosidade, retornando com a remoção dos produtos de digestão: carboidratos em forma de monossacarídeos e proteínas em forma de amino ácidos.

O transporte dos lipídios (armazenados em quilomícrons) é feito por vasos linfáticos de fundo cego. Esses vasos partem em direção à lâmina própria, acima da muscular da mucosa, formando depôs um plexo linfático na submucosa, onde circundam os nódulos linfáticos (GALT).

Toda a drenagem dos produtos provenientes da digestão é encaminhada pelas veias mesentéricas até a veia porta hepática.

SISTEMA PORTA

O fígado possui uma circulação peculiar, uma vez que é este órgão que recebe todos os produtos da degradação dos alimentos: carboidratos e proteínas através da circulação sanguínea e lipídios da circulação linfática. A artéria hepática é responsável por levar os produtos metabolizados no fígado para todo o restante do corpo. INERVAÇÃO DO TRATO ESOFAGOGASTRINTESTINAL

O trato esofagogastrintestinal recebe fibras autônomas motoras e sensitivas, sendo elas divididas em componentes extrínsecos. As fibras motoras são simpáticas e parassimpáticas. OBS

7: A inervação da musculatura esquelética do esôfago e do esfíncter anal externo

é motora somática. O componente extrínseco é característico da manifestação motora motoras,

sendo intermediado por fibras provenientes do exterior (sistema nervoso autônomo, logo, de musculatura lisa), ou seja, fibras pós-ganglionares simpáticas e parasimpáticas. É responsável pela manutenção da peristalse.

O componente intrínseco é feito por fibras nervosas da própria parede dos tubos e pelos plexos mioentérico (Auerbach, responsável pela contração – fibras simpáticas - e dilatação – fibras parassimpáticas - do tubo) e submucoso (Meissner).

OBS

8: Nos dois plexos, as células ganglionares motoras fazem sinapse com fibras

simpáticas e pré-ganglionares parassimpáticas. A parte intrínseca é conhecida também como sistema nervoso entérico, uma vez que além de neurônios motores, tem neurônios sensitivos nos gânglios que, no plexo submucoso inervam o epitélio e

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registram as ações que o afetam, causando os reflexos mioentéricos locais, que dirigem, por exemplo, os movimentos peristálticos. Em geral, os axônios dos neurônios motores provenientes do plexo mioentérico inervam as camadas musculares da túnica muscular, enquanto os neurônios motores do plexo submucoso inervam a muscular da mucosa e as células glandulares da mucosa.

Além da acetilcolina, intervêm outros transmissores na função do sistema nervoso entérico. São exemplos de

peptídeos do sistema nervoso entérico: somatostatina (que inibe a secreção ácida no estômago e a motilidade intestinal) e o hormônio liberador de gastrina (GRP, que estimula a secreção de gastrina). OBS

9: A contração e dilatação da musculatura do trato digestivo são mediadas, então, por mecanoreceptores e

quimiorecptores. O primeiro corresponde a presença do alimento no tubo e o segundo, mediada pelos hormônios secretados pelas células endócrinas. CÉLULAS ENTEROENDÓCRINAS O tubo gastrointestinal contém um número pequeno de células endócrinas ou endocriniformes, denominadas células enteroendócrinas ou argentafins, concentradas especialmente no estômago e no intestino delgado. Essas células enteroendócrinas recebem nomes individuais de acordo com a substancia produzida. Em geral, um único tipo de célula secreta somente um agente, apesar de tipos celulares ocasionais poderem secretar dois agentes diferentes. Há pelo menos 13 tipo de células enteroendócrinas, das quais alguns estão localizados na própria mucosa gástrica. São classificadas quanto a presença de microvilosidades ou não no seu ápice:

Tipo aberto: ápice com microvilos (fariam a secreção exócrinas).

◦ Tipo fechado: ápice recoberto com células epiteliais (fariam à secreção endócrina) sendo elas a grande maioria no TGI.

Órgão Célula Hormônio Ação do Hormonio

Estômago e Intestino Delgado

A Glucagon

(enteroglucagon) Estimula a glicogenólise pelos hepatócitos, elevando assim, os níveis de glicose do sangue

Estômago, intestinos

delgado e grosso

Enterocromafim

Serotonina

Aumenta os movimentos peristálticos

Estômago Semelhante à Enterocromafim

Histamina Estimulação e secreção de HCl

Estômago, intestinos

delgado e grosso

D

Somatostatina

Inibe a liberação de hormônios pelas células DNES em sua vizinhança

Estômago e

Intestino delgado

Produtora de

gastrina

Gastrina

Estimula a secreção de HCl, a motilidade gástrica (contração da região pilórica e relaxamento do esfíncter pilórico, regulando o esvaziamento gástrico) e proliferação das células regeneradoras do corpo do estômago

Estômago, intestinos

delgado e grosso

Produtora de glicentina

Glicentina

Estimula a glicogenólise pelos hepatócitos, elevando os níveis de glicose do sangue.

Estômago e Intestino Grosso

Célula produtora de polipeptídeo pancreático

Polipeptídeo pancreático

Estimula a liberação de enzimas para as células principais. Diminui a liberação do HCl pelas células parietais. Inibe a liberação do pâncreas exócrino.

Estômago, intestinos

delgado e grosso

Produtora de peptídeo intestinal

vasoativo

Peptídeo intestinal vasoativo

Aumenta a ação peristáltica dos intestinos delgado e grosso e estimula a eliminação de água e íons pelo trato GI

Intestino delgado I

Colecistoquinina (CCK)

Estimula a liberação do hormônio pancreático e a contração da vesícula biliar.

Intestino delgado K

Peptídeo inibidor da gastrina

Inibe a secreção de HCl

Intestino delgado Célula produtora de motilina

Motilina Aumenta o peristaltismo intestinal

Intestino delgado Célula produtora de neurotensina

Neurotensina Aumenta o fluxo sanguíneo para o íleo e diminui a ação peristáltica dos intestinos delgado e grosso

Intestino delgado S Secretina

Estimula a liberação de fluido rico em bicarbonato pelo pâncreas

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ANATOMIA SISTÊMICA: SISTEMA DIGESTÓRIO

Para todas as atividades desenvolvidas pelas células do nosso corpo, é necessário o consumo de substâncias nutritivas (Ex: proteínas, vitaminas, gorduras, açúcares), as quais são obtidas no meio externo através dos alimentos que fazem parte de nossa dieta diária.

Entretanto, os nutrientes da maneira em que são encontrados nos alimentos, não conseguem atravessar a parede capilar em direção ao sangue, e assim ser distribuídos para os tecidos.

Ao conjunto de transformações físicas e químicas, responsáveis, por solubilizar os nutrientes, damos o nome de Digestão. Os órgãos envolvidos na digestão constituem o Sistema Digestório. DIVISÃO ANATÔMICA

Canal alimentar: tubo apresentando 10 a 12m de comprimento, se estendendo da cabeça à pelve. Ao longo deste tubo os alimentos vão sofrendo transformações visando reduzi-los até seus constituintes elementares. Esse processo é denominado de digestão.

Boca Faringe Esôfago Estômago Intestino Delgado Intestino Grosso

Glândulas anexas: glândulas que apresentam atividade exócrina associada a alguns segmentos do canal alimentar, responsáveis por produzir e secretar para estes compartimentos, um fluído contendo substâncias denominadas enzimas. As Enzimas agem sobre os alimentos, produzindo uma digestão química.

Glândulas Salivares: Parótidas, Submandibulares, Sublinguais Fígado Pâncreas

BOCA A boca é a primeira porção do canal alimentar. Apresenta um aspecto cuboide, com 06 limites para estudo.

Através da boca os alimentos iniciam seu percurso ao longo do canal alimentar. Na boca ocorre digestão Física e Química dos alimentos. A digestão dos alimentos verificada na boca, produz como resultado o bolo alimentar. Seus limites são:

Limite Anterior: Lábios Limite posterior: Istmo das Fauces Limite Superior: Palato Duro Limite Inferior: Assoalho da boca Limites Laterais: Bochechas

Anatomicamente, a boca pode ser dividida em vestíbulo, arcos alvéolo-dentais e cavidade da boca

propriamente dita.

Arlindo Ugulino Netto; Raquel Torres Bezerra Dantas; Prof. Roberto Guimarães Maia.

MÓDULO: ORGANIZAÇÃO MORFO-FUNCIONAL – RESPIRATÓRIO 2016

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VESTÍBULO DA BOCA

A região do vestíbulo é um espaço limitado, por diante pelos Lábios, lateralmente pelas bochechas, e posteriormente pelos arcos alvéolo-dentais. Na região interna correspondente às bochechas (mucosa jugal), encontramos 02 estruturas associadas às Gls. Parótidas: a Papila Parotídea (lateralmente ao 2º ou 3º molar superior) e o Ducto Parotídeo.

Nos Lábios, em nível do plano mediano, encontramos 02 pregas da mucosa: o Frênulo do Lábio Superior e o Frênulo do Lábio Inferior. CAVIDADE DA BOCA

Compartimento situado para trás dos arcos alvéolos-dentais. Na cavidade da boca propriamente dita, fazem saliência:

Dentes: órgãos rijos e esbranquiçados, implantados através das Gonfoses Dento-alveolares, na maxila e mandíbula. São responsáveis pela mastigação dos alimentos.

Língua: órgão muscular envolvido na mastigação, fonação, e também com o sentido especial da Gustação.

Os dentes apresentam uma camada mais externa (o esmalte), uma

intermediária (dentina) e uma mais interna (polpa dental). Durante a infância, a dentição da decídua apresenta apenas três grupos de dentes (em um número total de 20): incisivos, caninos e molares. Já na dentição permanente (em número de 32), temos: incisivos, caninos, pré-molares e molares. A língua é um órgão muscular de forma cônica, com a base voltada para Faringe, e o Ápice, de forma arredondada, está voltada para o vestíbulo. Ela auxilia na condução dos alimentos para os dentes executarem a digestão mecânica, através da mastigação. Está dividida para estudo anatômico em Corpo e Raiz:

Raiz: a raiz é representada pelo bloco muscular que se situa posteriormente entre a mandíbula e osso hioide. A raiz é representada pelo bloco muscular que se situa posteriormente entre a mandíbula e osso hioide.

Corpo: é dividido em dorso e ventre, separados entre si pelas margens laterais. o Dorso da língua: O Dorso da língua é dividido em duas partes através de um sulco em forma da letra “V”,

o Sulco Terminal. Na parte Oral da Língua encontramos os receptores da gustação, associados as Papilas Linguais.

o Ventre da língua: em nível do plano mediano da Face Ventral da Língua, identificamos o Frênulo da Língua. A cada lado do Frênulo Lingual, identificamos por transparência, as Veias Linguais.

As Veias Linguais costumam apresentarem-se varicosas em pacientes hipertensos.

FARINGE

Apenas as Partes Oral e Laríngea da Faringe participam da condução do bolo alimentar. Depois de passar pela parte Laríngea da Faringe, o bolo alimentar é conduzido para o Esôfago.

A descrição de suas partes já foi realizada junto com o Sistema Respiratório. Neste momento iremos nos deter, apenas em comentar sobre o Istmo das Fauces.

O istmo das fauces corresponde a um espaço estreitado, responsável por comunicar, a Cavidade da Boca com a Faringe. Seus limites são:

Superior: Úvula Inferior: Dorso da Língua Laterais: Arco Palatoglosso (mais anterior) e Arco Palatofaríngeo (mais posterior), que delimitam a fossa tonsilar

(onde está alojada a tonsila palatina). ESÔFAGO

Trata-se de um tubo fibro-músculo-mucoso, estreitado, com cerca de 25cm, responsável por conduzir o bolo alimentar, da Faringe para o Estômago. É dividido em três porões: cervical, torácica e abdominal (esta abaixo do diafragma).

Ao cruzar do pescoço ao abdome, sua relação com outros elementos anatômicos, determinam estreitamentos em seu calibre. São eles:

Cricoideo: Produzido pelo M. Constrictor Inferior da Faringe.

Aórtico: Resultante da compressão do Arco da Aorta.

Bronquial: Decorrente da compressão do Brônquio Principal Esquerdo.

Diafragmático: Ocorre quando da passagem do Esôfago através do M. Diafragma.

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OBS: Divisão topográfica do abdome. O abdome é dividido em nove regiões por quatro planos: 2 planos horizontais (transversais): plano subcostal (atravessa a margem inferior da reborda costal que cruza com a linha hemiclavicular de cada lado) e o plano transtubercular (que atravessa os tubérculos ilíacos, pontos mais elevados da crista ilíaca, ao nível do corpo de L5); e 2 planos verticais (sagitais): geralmente são o planos medioclaviculares (que seguem do ponto médio das clavículas até os pontos médio-inguinais, que são os pontos médios das linhas que unem a espinha ilíaca ântero-superior e a margem superior da sínfise púbica). As regiões delimitadas por esses planos são: Hipocondríaca direita, Hipocondríaca esquerda, Flanco direito, Flanco esquerdo, Fossa ilíaca direita (região inguinal direita), Fossa ilíaca esquerda (região inguinal esquerda), Região Epigástrica, Umbilical e Hipogástrica. Posteriormente, o abdome é dividido, a partir de uma linha mediana, em duas regiões: região Lombar Direita e região Lombar Esquerda.

1. Hipocôndrio Direito: fígado, vesícula biliar, rim direito, flexura hepática do cólon. 2. Epigástrio: fígado (lobo esquerdo), piloro, duodeno, cólon transverso e cabeça e corpo do pâncreas. 3. Hipocôndrio Esquerdo: baço, estômago, flexura esplênica do cólon, pâncreas (cauda), rim esquerdo. 4. Flanco (lateral) Direito: cólon ascendente, jejuno e rim direito. 5. Mesogástrio ou umbilical: duodeno, jejuno, íleo, aorta abdominal, mesentério, linfonodos. 6. Flanco (lateral) Esquerdo: cólon descendente, jejuno, íleo. 7. Fossa Ilíaca Direita: ceco, apêndice, ovário e tuba uterina direita. 8. Hipogástrio: bexiga, útero, ureter. 9. Fossa Ilíaca Esquerda: cólon sigmoide, ovário e tuba esquerda.

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PERITÔNIO O peritônio consiste em uma vasta membrana serosa contínua, que reveste as paredes e vísceras do abdome.

Apresenta duas camadas:

Peritônio Visceral: folheto do Peritônio responsável por revestir as Vísceras

Peritônio Parietal: folheto peritoneal que reveste as paredes do Abdome.

Essas camadas delimitam, dentro do abdome, duas cavidades menores. São elas:

Cavidade Peritoneal: espaço virtual, situado entre os folhetos Visceral e Parietal do Peritônio e preenchido por Líquido Peritoneal.

Retroperitoneal: Termo utilizado para referenciar vísceras fixas à parede posterior do Abdome através do folheto Parietal do Peritônio. Tais vísceras só serão revestidas por peritônio em um de suas faces.

O Peritônio forma reflexões, as Pregas Peritoneais, que auxiliam a fixação dos órgãos no Abdome. Representam

pregas do peritônio: Omento, Meso e Ligamento.

Omento: Prega do Peritônio acompanhada de vasos e nervos, responsável por unir duas vísceras entre si. Ex: Omento Maior.

Meso: Prega do Peritônio acompanhada de vasos e nervos, responsável por unir Uma Víscera à parede do Abdome. Ex: Mesentério.

Ligamento: Prega do Peritônio sem vasos ou nervos em sua constituição. Os ligamentos, tanto podem ligar duas vísceras entre si, como pode ligar víscera à parede do Abdome. Ex: Ligamento Falciforme

ESTÔMAGO O estômago é uma dilatação do Canal

Alimentar, onde os alimentos permanecem, até que sejam convertidos em Quimo, através da ação do suco gástrico, e dos movimentos de mistura proporcionados por sua musculatura. Tem comprimento de 25cm, com largura de 25cm, apresentando uma capacidade média de armazenamento de cerca de 1,5 litro.

Está situado na parte superior do Abdome, abaixo do fígado, por cima do Colo Transverso do Intestino Grosso. Ocupa o hipocôndrio esquerdo e o parte da Região epigástrica.

Paredes: o Anterior: Voltada para o M. Diafragma e

para o Fígado o Posterior: Voltada para o Pâncreas

Margens: o Curvatura Maior: inferior o Curvatura Menor: superior

Comunicações: o Superior: Esôfago (através do óstio

cárdico) o Inferior: Duodeno (através do óstio pilórico)

Além de sua continuação com Esôfago e Duodeno, e da Pressão Intra-Abdominal, Auxiliam na fixação do órgão,

as seguintes pregas peritoneais:

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Omento Maior: Liga a curvatura maior do Estômago ao Colo Transverso do Intestino Grosso.

Omento Menor: Liga a curvatura menor do Estômago à Face Visceral do Fígado.

Omento Gastro-Esplênico: Liga a curvatura maior do Estômago ao Hilo do Baço. INTESTINO DELGADO O intestino delgado é longo órgão músculo-tubular que pode ser dividido, para estudo anatômico, em três partes: Duodeno, Jejuno e Íleo. DUODENO O termo duodeno significa “12 dedos”, e faz alusão à sua extensão. Pode ser dividido nas seguintes partes:

1ª porção (ampola): inicia após o piloro, com 5cm de extensão , dirige-se para trás, para cima e para direita. Próximo ao Rim D. apresenta um encurvamento, a flexura superior do duodeno, e logo após muda de direção, sendo continuado pela Parte Descendente.

2ª porção (descendente): desce verticalmente (7,5cm), por diante do rim D. até o seu Polo Inferior, onde um novo encurvamento, a flexura inferior do duodeno, muda novamente sua direção, originando uma nova porção para o órgão.

3ª porção (horizontal): estende-se para esquerda, apresentando trajeto transversal (6cm), até a passagem dos Vasos Mesentérico Superiores, quando então passa apresentar um trajeto oblíquo, voltado para cima, originado a ultima porção do órgão.

4ª porção (ascendente): Mantém o trajeto ascendente (6,5cm) até terminar por uma brusca angulação, a flexura duodenojejunal. Está Flexão é mantida através do M. suspensor do duodeno.

O Duodeno ocupa as Regiões Epigástrica e

Umbilical. Está fixado à Parede Posterior do Abdome através do Folheto Parietal do Peritônio. A Ampola do Duodeno, situada na região Epigástrica, é uma região suscetível ao aparecimento de Úlceras, em razão de ser o primeiro segmento do órgão a entrar em contato com o quimo. Em razão da suscetibilidade da Ampola, e de sua situação, pacientes com dor na Região do Epigástrio devem ser investigados em relação a presença de Úlcera Duodenal.

A porção descendente do duodeno corresponde a parte mais importante do Duodeno, pois em sua Face Póstero-Medial encontramos os orifícios de desembocadura para as secreções do fígado e do pâncreas.

Papila maior (ou principal) do duodeno: orifício de desembocadura da ampola hepatopancreática, a qual reúne os ductos colédoco (bile) e pancreático principal (suco pancreático).

Papila menor do duodeno: orifício de desembocadura do ducto pancreático acessório (suco pancreático).

JEJUNO/ÍLEO

Corresponde a 2ª e a 3ª Porção do intestino delgado. Está envolvido diretamente com a Absorção dos Nutrientes para o Sangue, em razão de sua mucosa apresentar projeções cônicas denominadas vilosidades intestinais. Estende-se até o Óstio Íleo-cecal. Tem comprimento médio de 6 metros.

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O Jejuno/Íleo ocupa os 06 quadrantes inferiores do Abdome. Seus Meios de Fixação são representados pela pressão intra-abdominal, e por uma prega do peritônio, o mesentério. A raiz de implantação para o mesentério na parede posterior do abdome apresenta 15cm de extensão, com direção oblíqua de L2 (Processo Transverso) até a Articulação Sacro-Ilíaca D. Sua margem livre, aderida ao Jejuno/Íleo, acompanha a extensão do Órgão.

Sua localização associada ao comprimento longo, e sua grande mobilidade, faz com que as alças do Jejuno/Íleo possam sofrer alterações, como invaginações deu uma valva na outra; torções; e herniações. Cada uma dessas situações poderá proporcionar oclusão intestinal, com consequências tão graves que podem ocasionar até a morte do paciente. A hérnia ocorre quando uma alça intestinal ou parte do omento maior sofre uma protrusão através de um ponto frágil da parede anterior do Abdome, podendo ser inguinal ou umbilicais.

INTESTINO GROSSO

O intestino grosso (IG) corresponde ao último segmento do canal alimentar. Começa no óstio ileocecal e termina no ânus. No IG é confeccionado o bolo fecal. Nenhuma substância nutritiva é absorvida em nível do IG, apenas Água e Eletrólitos. Tem o comprimento de 1,5 metros.

Está subdividido, sequencialmente, em 06 porções:

Ceco: corresponde à 1ª porção do IG, apresenta forma de fundo de saco. Ocupa a Região Inguinal Direita.

o Óstio ileocecal: orifício de desembocadura do Jejuno/Íleo, localizado na parede medial do Ceco. Neste orifício encontramos a valva ileocecal, responsável por evitar o refluxo do conteúdo do Ceco para o íleo.

o Apêndice Vermiforme: fino e curto segmento tubular, que representa uma expansão do Ceco, localizado em sua parede ínfero-medial. Apresenta natureza linfoide.

Colo ascendente: continua cranialmente o ceco, atravessando à região lombar d até alcançar o hipocôndrio direito, onde toca o fígado, e logo após flete-se para direita, sendo continuado pelo colo transverso. O ponto de transição entre os colos é denominado flexura direita do colo.

Colo transverso: vai do hipocôndrio direito ao esquerdo, cruzando à região umbilical. Ao alcançar o hipocôndrio esquerdo, flete-se para baixo, sendo continuado pelo colo transverso. No ponto de transição entre os colos transverso e descendente, identificamos a flexura esquerda do colo.

Colo descendente: vai do hipocôndrio esquerdo até a crista ilíaca, a partir da qual, é continuado pelo colo sigmoide.

Colo sigmoide: apresenta um aspecto sinuoso, se estendendo da região inguinal esquerda até a hipogástrica, quando então será continuado pelo reto.

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Reto: Assim denominado pelo aspecto quase retilíneo que apresenta ao longo de sua extensão. Inferiormente apresenta uma porção mais dilatada denominada ampola do reto. O reto termina ao perfurar o diafragma pélvico, sendo continuado até o meio externo, pelo canal anal.

A apendicite corresponde à inflamação no apêndice vermiforme. O paciente refere, normalmente, dor na região inguinal direita à descompressão brusca do examinador. Pode cursar com febre e aumento dos leucóticos no sangue. Configura uma urgência cirúrgica.

O canal anal corresponde ao segmento final do canal alimentar. Apesar do curto trajeto que apresenta (3cm),

algumas formações associadas a este segmento são de relevada importância funcional. O canal anal abre-se para o meio externo através do ânus.

Esfíncter Interno do Ânus: está situado profundamente, resultado do espessamento de fibras circulares lisas. É de controle involuntário.

Esfíncter Externo do Ânus: é constituído por fibras musculares estriadas. Dispõe-se externamente, em torno do esfíncter interno do ânus.

Colunas Anais: pregas longitudinais e paralelas identificadas na mucosa anal. Entre as colunas encontramos depressões, os seios anais. Na base das colunas anais, em nível da camada Submucosa, identificamos o plexo venoso retal (hemorroidas). A dilatação do plexo origina a doença hemorroidária.

No que diz respeito à configuração externa do IG, temos:

Saculações: dilatações identificadas ao longo do IG, estas dilatações estão separadas entre si através de sulcos transversais.

Tênias do Colo: São 03 faixas de M. Liso, 1cm de Largura, que percorrem o IG longitudinalmente, em toda sua extensão, reunindo-se em nível do Apêndice Vermiforme. As tênias recebem o nome de mesocólica; omental; e livre.

Apêndices Adiposos: Representam coleções de gordura envolta por Peritônio, pedunculados e apresentando forma irregular, identificados ao longo do IG, principalmente em nível do colo sigmoide.

GLÂNDULAS SALIVARES

São Formações exócrinas, responsáveis pela produção e secreção da saliva para a cavidade da boca. A saliva, além de ser um excelente lubrificante para a mucosa bucal, também participa do processo de digestão (enzima = Amilase) dos alimentos. A ausência de saliva é conhecida como xerostomia (boca seca), enquanto que sua produção excessiva e denominada sialorreia.

As Glândulas Salivares são divididas em Maiores e Menores. As Gls. Salivares Maiores são representadas por 03 pares:

Menores: são representadas por pequenos corpúsculos espalhadas pelas paredes da boca. São elas: labiais, palatinas, da bochecha, linguais e molares.

Maiores: Parótidas, Submandibulares e Sublinguais. PARÓTIDAS

A glândula parótida é a mais volumosa das glândulas salivares. Está localizada na parte lateral da cabeça, em uma escavação situada entre ao o ramo da mandíbula e o Processo Mastoide do Osso Temporal. Este espaço é denominado de compartimento parotídeo.

O ducto parotídeo emerge da margem anterior da Glândula, dirigindo-se horizontalmente na face externa do M. Masseter, logo após perfura o M. Bucinador e abre-se no vestíbulo, em nível do segundo molar superior. A desembocadura deste Ducto é marcada por uma prega de mucosa, a papila parotídea.

A Parotidite Epidêmica corresponde a infecção viral aguda da Gl. Parótida (também chamada de caxumba ou “papeira”). O principal sintoma apresentado pelos pacientes corresponde à dor durante a abertura bucal.

Os sialólitos são formações calcificadas que podem obstruir o ducto da Glândula, impedindo a drenagem da saliva para boca. A dor na região da glândula é referida pelos pacientes como sintoma comum antes das refeições.

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GLÂNDULAS SUBMANDIBULARES Apresentam um volume bem inferior,

quando comparado às Parótidas. Estão localizados na Face Medial do Corpo da Mandíbula, abaixo da linha e do M. Milo-hioideo, em uma escavação denominada fóvea submandibular.

O ducto submandibular emerge da face medial da Glândula, dirigindo-se medialmente para diante. Abre-se a cada lado do frênulo da língua, em nível da carúncula sublingual.

As glândulas submandibulares representam as Gls. salivares mais acometidas por sialolitos, em razão da relação angulada existente entre a glândula e seu ducto. a dor na região submandibular, durante as refeições, acompanhada de aumento de volume do assoalho da boca, representam forte indícios da presença de sialólitos obstruindo o ducto da glândula, e impedindo o fluxo da saliva para a boca.

GLÂNDULAS SUBLINGUAIS

São as Gls. de menor volume dentre as Salivares. Estão localizados na Face Medial do Corpo da Mandíbula, acima da linha e do M. Milo-hióideo, em uma escavação denominada fóvea sublingual.

A saliva produzida pelas Sublinguais desemboca no assoalho da boca, através de múltiplos ductos (15 a 20) sublinguais maiores e menores. FÍGADO

Glândula mais volumosa do Corpo Humano tem função mista. Está situado no abdome, ocupando o hipocôndrio direito e se estendendo pela região epigástrica e pelo hipocôndrio esquerdo. Uma de suas secreções endócrinas corresponde a própria glicose, enquanto a exócrina é liberada no duodeno, sendo denominada bile (derivada do metabolismo da hemoglobina), tendo a função de emulsificar a gordura proveniente da alimentação. No vivo, juntamente com o sangue circulante, o Fígado pesa cerca de 2kg.

Os meios de fixação do fígado são: Lig. Falciforme, Lig. Redondo, Ligg. Triangulares e Lig. Coronário. O Fígado está dividido para estudo anatômico em 02 Faces:

Face Diafragmática: Lisa e convexa em toda sua extensão, ajusta-se à Cúpula do M. Diafragma. Esta Face é subdividida pelo Lig. Falciforme em 02 Lobos: o direito e esquerdo.

Face Visceral: irregularmente côncava, está voltada para as vísceras abdominais. Esta Face é subdividida por 03 sulcos, em 04 Lobos: direito; esquerdo; quadrado; e caudado.

Entre os lobos direito e quadrado, encontramos a vesícula biliar, ajustada em uma escavação a fossa da

vesícula biliar. Entre os lobos direito e caudado, encontramos a veia cava inferior, ajustada em um sulco, o sulco da veia

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cava inferior. Entre os lobos caudado e quadrado, encontramos a porta do fígado. Através da porta do fígado atravessam os elementos que vão constituir o pedículo hepático.

Na face visceral (posterior), encontramos as seguintes impressões e fissuras: Fissura sagital esquerda e direita; sulco para veia cava inferior; fossa da vesícula biliar; impressão esofágica; impressão gástrica; impressão renal; impressão duodenal; impressão cólica; ligamento venoso. OBS: Pedículo hepático: A. hepática própria; V. porta; e o ducto hepático comum.

A vesícula biliar corresponde a uma formação sacular localizada na fossa da vesícula biliar do fígado, tendo como função armazenar e concentrar a bile. Esta dividida em: Fundo, Corpo e Colo. Dela, parte do ducto cístico.

A inflamação da vesícula biliar é denominada de colecistite, uma patologia comum. Geralmente é decorrente de um processo de formação de cálculos (colelitíase); mas eventualmente, não ocorre a formação de cálculos (colecistite alitiásica).

PÂNCREAS

O Pâncreas é uma glândula de função mista. Elabora e secreta a insulina para o sangue (hormônio hipoglicemiante), e o suco pancreático para o duodeno. Os Ductos que conduzem o Suco Pancreático para o Duodeno são: Ducto Pancreático Principal e Ducto Pancreático Acessório.

Está fixo à parede posterior do Abdome pelo Folheto Visceral do Peritônio Parietal. Pode ser localizando nas regiões do hipocôndrio esquerda; epigástrica e região umbilical.

Está dividido para estudo anatômico em:

Cabeça: parte dilatada do órgão, alojada na concavidade do duodeno.

Colo: representado por um estreitamento, que corresponde a região de transição entre a cabeça e o corpo.

Corpo: corresponde a maior porção do órgão, disposta transversalmente, da direita para esquerda.

Cauda: extremidade afilada. Estende-se até a face medial do baço.

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ROTEIRO PARA ESTUDO PRÁTICO BOCA

Vestíbulo da Boca: Lábios da boca Frênulo do lábio superior Frênulo do lábio Inferior Bochecha (Papila do Ducto Parotídeo)

Cavidade Própria da Boca: Palato Duro Palato Mole Istmo das Fauces Úvula palatina Arco palatoglosso Arco palatofaríngeo Tonsila palatina Língua Gengivas

FARINGE

Parte nasal da Faringe: Óstio Faríngeo da Tuba Auditiva; Toro Tubário; Tonsila faríngea

Parte Oral da Faringe

Parte Laríngea da Faringe: Cartilagem epiglótica; Adito da laringe; Recesso piriforme.

ESÔFAGO

Parte Cervical

Parte Torácica

Parte Abdominal

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ESTÔMAGO

Parede Anterior

Parede Posterior

Curvatura Maior

Curvatura Menor

Omento maior

Omento menor

Cárdia: Óstio Cárdico

Fundo Gástrico

Corpo Gástrico

Parte Pilórica: Piloro, Óstio Pilórico

INTESTINO DELGADO

Duodeno : Papila Maior do Duodeno Papila Menor do Duodeno

Jejuno-íleo

INTESTINO GROSSO

Ceco: Apêndice Vermiforme

Colo Ascendente

Colo Transverso

Colo Descendente

Colo Sigmóide

Reto

Canal Anal FÍGADO

Face Diafragmática Lobo Direito Ligamento Falciforme Lobo Esquerdo

Face Visceral Lobo Direito Lobo Esquerdo Lobo Quadrado Porta do Fígado

Veia Porta; A. Hepática; Ducto Hepático.

Lobo Caudado Vesícula Biliar Veia Cava Inferior Ligamento Redondo do Fígado

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VESÍCULA BILIAR

Ducto Cistíco

Ducto Colédoco PÂNCREAS

Cabeça do Pâncreas

Corpo do Pâncreas

Cauda do Pâncreas

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FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL

O trato alimentar fornece ao organismo suprimento contínuo de água, eletrólitos e nutrientes. Para o desempenho dessa função, é necessário o movimento do alimento ao longo do tubo digestivo, a secreção de sucos digestivos e a digestão do alimento. BOCA A boca representa a primeira porção do trato digestivo. A cavidade oral é revestida, internamente, pela mucosa oral. É delimitada, anteriormente, pelos lábios; lateralmente, pelas mucosas jugais (bochechas); superiormente, pelo palato; e inferiormente, pelos músculos do assoalho da boca. A avaliação da boca de um paciente é um procedimento indispensável, avaliando o cuidado com a higiene e cuidado com esta estrutura. A cavidade bucal encontra-se dividida em duas regiões: vestíbulo (espaço entre os lábios e as gengivas e dentes) e cavidade oral propriamente dita. LÍNGUA A língua é a maior estrutura da cavidade oral. Órgão muscular recoberto por mucosa, de participação ativa na gustação, deglutição e na fala (articulação da palavra). Observa-se no dorso da língua uma divisão – o sulco terminal – que separa a língua em duas porções: corpo (parte anterior) e raiz (posterior, fixada na parede). Observam-se também as papilas linguais, onde se localizam os receptores gustativos. É através desses receptores que informações sobre o sabor dos alimentos são repassadas aos nervos facial (via nervo lingual), glossofaríngeo e vago (nervos cranianos relacionados com a gustação). A análise da língua dos pacientes pode revelar o desenvolvimento de certas doenças, como cânceres e infecções. O paladar é uma função desses botões gustativos com contribuição da olfação, uma vez que o centro do olfato e do paladar no SNC são próximos e interligados (isto justifica o fato de que nas gripes e resfriados ocorre uma diminuição da apreciação do gosto dos alimentos). O gosto é perceptível aos botões devido aos seus receptores químicos, ou seja, receptores de sódio, potássio, cloro, adenosina e enosina. A percepção química é diferenciada em estímulos nervosos para as respectivas sensações: doce, amargo, salgado e ácido.

As células gustatórias propriamente ditas estão divididas nas seguintes partes: poro gustatório e fibras nervosas gustatórias, que vão transmitir o impulso nervoso da gustação. Na superfície de cada uma das células gustativas, observam-se prolongamentos finos como pelos, projetando-se em direção da cavidade bucal; são chamados microvilosidades. Para que haja a propagação do impulso nervoso, as células devem ser previamente despolarizadas e enviem o impulso nervoso para as vias de transmissão até o tronco encefálico e, daí, ao tálamo e córtex cerebral. Inicialmente, os estímulos captados pelas papilas gustativas passam, primeiramente, pelo nervo lingual, depois pela corda do tímpano, e alcançam o nervo facial, para por fim, chegar ao núcleo do trato solitário, localizado no bulbo (estrutura do tronco cerebral). Os nervos glossofaríngeo e vago também participam da sensação do paladar no terço posterior da língua. Em seguida, os estímulos são transmitidos ao tálamo; do tálamo passam ao córtex gustativo primário e, subsequentemente, às áreas associativas gustativas circundantes e à região integrativa comum que é responsável pela integração de todas as sensações.

Arlindo Ugulino Netto; Rebeca Isabel Rodrigues Abrantes.

MÓDULO: ORGANIZAÇÃO MORFO-FUNCIONAL – RESPIRATÓRIO 2016

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OBS

1: Qualquer lesão em nível das estruturas nervosas relacionadas com a gustação (nervos facial, glossofaríngeo e

vago; núcleo do trato solitário; tálamo; córtex gustativo), pode desencadear a diminuição na percepção dos gostos.

PAPILAS LINGUAIS Com base em sua estrutura e função, as papilas linguais são divididas em quatro tipos: filiformes, fungiformes,

foliadas e circunvaladas. Todas elas estão localizadas anteriormente ao sulco terminal.

Papilas filiformes: estruturas delgadas que dão aspecto aveludado à superfície dorsal. Não possuem botões gustativos.

Papila fungiforme: assemelha-se a um cogumelo. Possuem corpúsculos gustativos no aspecto dorsal de seu chapéu.

Papilas foliadas: apresentam sulcos verticais que lembram páginas de um livro. Possuem corpúsculos gustativos apenas na infância.

Papilas valadas: dispostas em V imediatamente anteriores ao sulco terminal. Possuem botões gustativos.

DENTIÇÃO Os dentes são estruturas rígidas e esbranquiçadas implantadas na maxila e mandíbula responsáveis pela mastigação e por dar forma à porção inferior da face. Estão divididos em três partes: coroa, raiz e colo.

No adulto, encontram-se 32 dentes, sendo eles divididos em quatro tipos, de acordo com as suas formas e funções:

Incisivos: oito dentes, com margem cortante e raiz única.

Caninos: quatro dentes, com coroa cônica terminando em ponta e raiz única.

Pré-molares: oito dentes, com coroa apresentando dois tubérculos e raiz única ou bífida.

Molares: doze dentes, coroa com três a cinco tubérculos e duas a três raízes.

SALIVAÇÃO O volume diário de saliva produzida é cerca de 1000ml, com pH entre 6,0 a 7,0 (isto é: favorável a ação digestiva da ptialina). A saliva contém dois tipos principais de secreção proteica:

Secreção serosa: contém ptialina (α-amilase), uma enzima responsável pela digestão de amidos.

Secreção mucosa: contém mucina para lubrificação e proteção de superfícies. As glândulas parótidas secretam exclusivamente o tipo seroso, enquanto as glândulas submandibular e sublingual secretam tanto seroso quanto mucoso. ÍONS NA SALIVA A saliva possui quantidade particularmente grande de íons potássio e de íons bicarbonato. Por outro lado, a concentração de íons sódio e cloreto é consideravelmente mais baixa do que no plasma. Isso acontece pois os íons sódio são ativamente reabsorvidos a partir de todos os ductos salivares, que, por sua vez, secretam íons potássio ativamente em troca do sódio. Com isso, a concentração de Na+ na saliva fica reduzida, enquanto a de K+ aumenta. Porém, a reabsorção de sódio é bastante excessiva em relação a saída de K+ dos ductos, o que cria uma grande negatividade nesses ductos, fazendo com que haja absorção passiva de íons cloreto. Por isso que a concentração de Na+ e Cl- nos ductos é baixa, e na saliva, é alta. Já os íons bicarbonato são secretados pelo epitélio ductal para o lúmen do ducto por um processo secretor ativo. Esses íons são, em parte, responsáveis por manter o pH estável.

FUNÇÕES DA SALIVA

O fluxo de saliva ajuda a remover as bactérias patogênicas, bem como partículas alimentares. Contém diversos fatores capazes de destruir bactérias: íons tiocianato, lisozinas e anticorpos (combatem,

inclusive, bactérias que causam cáries). Participa no processo conhecimento como clareamento do esôfago, que consiste na lubrificação e limpeza da

mucosa esofágica a partir da saliva deglutida.

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REGULAÇÃO NERVOSA DA SECREÇÃO SALIVAR A regulação da secreção salivar é feita por sinais nervosos parassimpáticos dos núcleos salivatórios superior e inferior no tronco cerebral (na ponte e no bulbo, respectivamente). Pode ser estimulada ou inibida por sinais nervosos que chegam aos núcleos salivatórios provenientes dos centros superiores do SNC. O núcleo salivatório superior envia fibras via nervo facial e nervo lingual para inervar as glândulas submandibular e sublingual; o núcleo salivatório inferior envia fibras para inervar a glândula parótida via nervo glossofaríngeo. Os sinais nervosos parassimpáticos que induzem a salivação copiosa também dilatam moderadamente os vasos sanguíneos. Por esta razão, o suprimento sanguíneo das glândulas afeta a secreção salivar, já que a secreção sempre requer um nutrição adequada. A escassez de saliva pode estar associada a lesões no sistema nervoso periférico ou lesões vasculares. A estimulação simpática também pode aumentar a salivação em grau moderado. Esses nervos simpáticos se originam dos gânglios cervicais superiores. MASTIGAÇÃO Os dentes são admiravelmente construídos para a mastigação. Nesse processo, o alimento é convertido em pedaços menores, porém permite uma maior atuação de enzimas digestivas, aumentando as áreas de contato. Além disso, a mastigação estimula o centro da saciedade. DEGLUTIÇÃO

Fase voluntária: quando o alimento está pronto para ser deglutido, e é voluntariamente empurrado pela língua para a faringe.

Fase faríngea da deglutição: o alimento é empurrado involuntariamente para o esôfago. Nesse processo, uma série de músculos é ativada para o fechamento das vias aéreas e abertura do esfíncter superior do esôfago (músculo cricofaríngeo). Esta estimulação é intermediada por receptores na faringe para os nervos glossofaríngeo, vago e acessório, controlado pelo centro da deglutição no bulbo (núcleo ambíguo).

ESÔFAGO O esôfago é um tubo muscular com aproximadamente 25cm de comprimento, que transporta o bolo alimentar da faringe oral para o estômago. ESFINCTER SUPERIOR DO ESÔFAGO Está localizado na junção faringoesofagiana, tendo como base anatômica os músculos e a musculatura esofágica abaixo dele. Tem como função manter fechada a extremidade superior do esôfago, impedindo a passagem de ar para o mesmo e o refluxo do alimento para a faringe. A contração tônica do ESE é feita pela excitação de fibras somáticas vagais. O seu relaxamento é feita pela inibição transitória dos neurônios centrais. Tal excitação e inibição são coordenadas pelo centro da deglutição, localizado no bulbo. O M. constrictor inferior da faringe exibe uma atividade elétrica constante com a frequência de descarga proporcional ao tônus do M. em repouso. Quando ocorre o relaxamento, essas descargas cessam, possibilitando a passagem do alimento. O tônus é controlado pelas aferências neurais que coordenam o relaxamento do músculo, ocorrido com a deglutição. CORPO DO ESÔFAGO É limitado proximalmente pelo esfíncter superior do esôfago e distalmente pelo esfíncter inferior do esôfago. É inervado por plexos oriundos do nervo vago. É a porção responsável pelo transporte do bolo alimentar pela ação da gravidade e de ondas peristálticas.

Doença do refluxo: normalmente, o esfíncter cárdico (esofágico inferior), enquanto não nos alimentamos, ele permanece

fechado. Pessoas que sofrem de refluxo (sensação de azia, pirose) não possuem controle no fechamento dessa válvula, podendo causar regurgitação. É uma doença crônica e multifatorial (aumento de peso – aumenta a pressão das vísceras sobre o estômago; genético; anatômico) de períodos de melhora e piora.

Esofagite: inflamação causada devido aos ácidos do

estômago quando há regurgitação. Apresenta grande vermelhidão no esôfago diagnosticado por endoscopia, que pode evoluir para o esôfago de Barret, que é uma

condição pré-neoplásica. Hérnia de hiato: é o deslizamento do estômago em

direção ao esôfago, fazendo com que o estômago se projete sobre o diafragma. Esta alteração anatômica ocorre devido à diferença entre a alta pressão dentro do abdome em relação à baixa pressão dentro do tórax.

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OBS2: Mecanismo Anti-refluxo. Refluxo gastresofágico é o retorno do conteúdo do estômago, como o suco gástrico

(ácido) e alimentos, para o esôfago. Quando este refluxo se apresenta de forma intensa e em vários episódios durante o dia, ele é chamado de refluxo gastresofágico patológico. A doença do refluxo gastresofágico ocorre devido ao funcionamento precário dos mecanismos antirreflexo. Esses mecanismos podem ser de natureza anatômica e fisiológica.

Mecanismos funcionais Pressão do esfíncter inferior do esôfago: o tônus normal do esfíncter inferior do esôfago bloqueia o

retorno de qualquer substância gástrica para o esôfago. O aumento acentuado da pressão intra-abdominal comprime o esôfago neste ponto. Esse fechamento tipo valvular da porção inferior do esôfago evita que a elevada pressão no estômago force o conteúdo gástrico na direção do esôfago. A pressão exercida pela musculatura diafragmática contribui no reforço deste esfíncter.

Peristaltismo do esôfago: a peristalse primária é simplesmente a continuação da onda peristáltica que se inicia na faringe e se propaga para o esôfago durante a fase faríngea da deglutição. A peristalse primária, portanto, está diretamente ligada com a digestão. Se a onda peristáltica primária for insuficiente para movimentar todo o alimento que entra no esôfago em direção ao estômago, ondas peristálticas secundárias causam da distensão do esôfago pelo alimento retido. Estas ondas são idênticas às primárias, a não ser pelo fato de se originarem no próprio esôfago, e não na faringe. As ondas peristálticas secundárias mantêm-se até que todo o alimento tenha passado para o estômago. Doenças que afetem o peristaltismo do esôfago (como a esclerodermia ou o megaesôfago chagásico) predispõem ao desenvolvimento de DRGE.

Ação da saliva e clareamento do esôfago: limpeza do tubo pela ação da saliva deglutida, permitindo a este órgão uma maior capacidade de empurrar o ácido através de suas contrações. O alto teor de bicarbonato e proteínas tamponantes neutraliza o ácido no esôfago. Doenças que afetem a produção de saliva podem influenciar de maneira negativa neste mecanismo (como a síndrome de Sjögren, doença reumatológica que influencia na produção e secreção de saliva).

Volume e tempo de esvaziamento do conteúdo gástrico: deve acontecer rapidamente e com pouco volume.

Resistência da mucosa do esôfago: A resistência tissular não é um fator isolado, mas representa um conjunto de estruturas e funções que se dispõem em camadas e interagem para formar uma barreira dinâmica. Desta forma, temos:

Defesa pré-epitelial (muco esofágico): ação do muco produzido pelo próprio epitélio esofagiano, que reduz a ação do ácido clorídrico. O muco, com suas propriedades e viscoelasticidade, forma uma excelente barreira à penetração de macromoléculas, como pepsina (não bloqueia, contudo, a passagem de íons H

+).

Defesa epitelial (epitélio escamoso do esôfago): ação exercida pelo tecido epitelial de revestimento (T.E.R.) Estratificado Pavimentoso Não-queratinizado que reveste o esôfago, um epitélio bastante resistente. Este epitélio escamoso apresenta células firmemente aderidas entre si (por junções intercelulares muito firmes) que não permitem a passagem de íons entre as células. Contudo, ele não é resistente à agressão contínua exercida por enzimas pancreáticas, sais biliares e ácido clorídrico.

Defesa pós-epitelial (vascularização): função exercida pelo suprimento sanguíneo esofágico, responsável por carrear os radicais livres formados neste órgão.

Mecanismos anatômicos: Entrada oblíqua do esôfago no estômago: tal fenômeno ameniza o impacto da deposição do bolo

alimentar no estômago e promove o seu fechamento quando está cheio. Roseta da mucosa gástrica: pregas resistentes presente na porção inicial do estomago (a nível da

cárdia) que dificulta o refluxo funcionando como uma engrenagem. Elementos de fixação do estômago: artéria gástrica esquerda e ligamentos frênico-esofágico

(membrana fibroelástica que se origina de uma condensação da fáscia abdominal; quando lesado, pode haver hérnia de hiato), pilares diafragmáticos ao nível do hiato.

Musculatura diafragmática: as fibras do diafragma auxiliam no mecanismo funcional de defesa exercido pelo esfíncter inferior do esôfago.

OBS

3: O esôfago não possui a ultima camada serosa, o que o deixa mais vulnerável a perfurações.

OBS4: Ao se ingerir medicamentos via oral, deve tomar líquidos para que o comprimido, no caso, não fique aderido às

paredes do esôfago, podendo irritá-las e perfura-las.

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PRINCÍPIOS GERAIS DA MOTILIDADE GASTRINTESTINAL As paredes do trato GI é composto, basicamente, por 5 camadas, sendo elas, de fora para dentro (luz): serosa, camada muscular longitudinal, camada muscular circular, submucosa (possui uma parte nervosa: plexo de Meissner) e mucosa. O esôfago não possui a camada serosa, e o estômago possui uma camada circular média a mais. Essas paredes têm funções motoras (por se tratar de órgãos responsáveis por motilidade e mistura do bolo alimentar) bem como função de sincício, isto é, quando um potencial de ação é desencadeado em qualquer parte no interior da massa muscular, percorre, geralmente, todas as direções pelo músculo.

FUNÇÃO DE ATIVIDADE ELÉTRICA DO M. LISO O aparelho digestivo possui uma certa atividade elétrica intrínseca, ou seja, seu potencial de ação é gerado por si próprio, como ocorre no automatismo do coração. Essa atividade apresenta dois tipos básicos de ondas elétricas: ondas lentas (3/min) e ondas em ponta. As ondas lentas não se tratam de potencial de ação, mas sim, alterações lentas ondulantes no potencial de repouso da membrana. As ondas em ponta são verdadeiros potenciais de ação, que se dá pela abertura de canais lentos de cálcio-sódio, o que explica a longa duração dos potenciais de ação. Para que haja a contração, é necessário que aconteça uma alteração mínima na voltagem do potencial de repouso da membrana, como uma distensão muscular (chegada do alimento) ou estímulos parassimpáticos (acetilcolina) e simpáticos (norepinefrina). OBS

5: Por isso, quando o indivíduo não se alimenta, acontecem as chamadas contrações de fome, pois, toda

contração de um órgão oco, gera dor. OBS

6: Quando uma pessoa está nervosa ou ansiosa, há uma descarga adrenérgica, fazendo com que o parassimpático

estimule a produção de ácido clorídrico, gerando dores semelhantes a gastrites. Ou seja, o stress emocional pode desencadear alterações na voltagem do potencial de repouso do M. liso, causando dispepsia (sintomas semelhantes à gastrite). OBS

7: Não comer também engorda, por isso que é aconselhável a uma pessoa em regime se alimentar em períodos

regulares. Isso acontece porque, caso o indivíduo passe muito tempo sem se alimentar, o organismo assimila a uma escassez, e quando o indivíduo se alimenta depois de um longo período, o ele retém nutrientes desnecessários para burlar essa “falta” de alimento. CONTROLE NEURAL DA FUNÇÃO GASTRINTESTINAL O trato gastrintestinal tem um sistema nervoso próprio, denominado de sistema nervoso entérico. Esse sistema localiza-se inteiramente na parede do intestino, começando no esôfago até o ânus. O sistema nervoso entérico é composto basicamente por dois plexos:

Plexo de Auerbach (mioentérico): situado entre as camadas longitudinal e circular.

Plexo de Meissner (submucoso): localizado na submucosa.

Existem doenças que atacam primordialmente estes plexos. O Trypanossoma cruzi, de indivíduos portadores da doença de chagas, destrói os plexos nervosos, causando distúrbios motores como: a dilatação do esôfago, que perde a capacidade de se contrair, causando problemas de motilidade em todo tubo digestivo; doença do megacólon chagásico; problemas de constipação; etc.

ÍONS CALCIO E CONTRAÇÃO MUSCULAR A contração do músculo liso ocorre em resposta a entrada de cálcio na fibra muscular. Os íons cálcio, ao atuarem através do mecanismo de controle da calmodulina, ativam os filamentos de miosina na fibra, gerando forças de atração que se desenvolvem entre os filamentos de miosina e os de actina, causando, assim, a contração muscular.

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As ondas lentas não são responsáveis pela entrada de cálcio na fibra muscular lisa (apenas a entrada de íons sódio). Em contrapartida, é durante os potenciais de ponta gerados nos picos das ondas lentas, que grande quantidade de íons cálcio penetra nas fibras, causando a maior parte de sua contração. TIPOS FUNCIONAIS DE MOVIMENTOS NO TRATO GASTRINTESTINAL

O trato gastrintestinal apresenta dois tipos de movimento: propulsivo (movimentos peristálticos propriamente ditos) e mistura (ajudam os peristaltismos, mas tem uma função de misturar e homogeneizar o bolo alimentar).

Além disso, a peristalse do esôfago pode acontecer de três formas: a peristalse primária, provocada pelo estímulo da deglutição; a peristalse secundária, que não está relacionada à deglutição; e a peristalse terciária, mais comum no idoso, caracterizada por contrações do esôfago não relacionada à deglutição nem a nenhum outro fenômeno de distensão ou de refluxo, de forma que as contrações são ineficazes, isto é, sem função alguma. As contrações terciárias estão bem relacionadas com algumas patológicas, mas podem acontecer sem que haja qualquer doença associada.

ESTÔMAGO O estômago, região mais dilatada do canal alimentar, é uma estrutura semelhante a um saco que, no adulto médio, pode acomodar aproximadamente 1500ml de comida e suco gástrico, em sua distensão máxima. O bolo alimentar passa pela junção gastresofágica e penetra obliquamente no estômago onde é processado, transformando-se em um fluido viscoso denominado quimo. FUNÇÕES MOTORAS DO ESTÔMAGO O estômago é tido como um órgão de armazenamento a partir do momento que o alimento chega (por via reflexo vago vagal) ao esfíncter esofágico inferior, o qual relaxa, permitindo a entrada e o acúmulo de alimento no estomago, o qual se acomoda, progressivamente, ao volume recebido. OBS

8: Quanto mais o indivíduo se alimenta em proporções cada vez maiores, mais o estômago cresce (dilatação

receptiva).

A função de mistura realizada pelo estômago, por intervenção das ondas constrictoras peristálticas fracas, faz com que a porção média da parede deste órgão se mova em direção ao antro no intuito de realizar uma maior homogeneização do quimo com as secreções gástricas. Esse movimento é associado aos movimentos de retropulsão, em que o piloro se fecha, fazendo com que o alimento não ultrapasse para o duodeno, retornando para cima, para continuar sofrendo mistura, até que o quimo esteja bastante homogêneo. OBS

9: Contração de fome: sinal que o estômago envia ao sistema nervoso ao perceber uma baixa concentração de

açúcar no sangue, gerando tônus gástrico. A função de esvaziamento se dá por contrações intensas justamente por ser responsável a expulsar o alimento do estômago. A maior parte das contrações estomacais são fracas, intensificando-se, justamente, no momento da evacuação. O esvaziamento é controlado por fatores:

Gástricos: liberação de gastrina, hormônio produzido na mucosa do antro, que aumenta a produção de suco gástrico pelas glândulas fúndicas e estimula a ação da bomba pilórica.

Duodenais: reflexo enterogastrico (quando o alimento sai do estomago para o intestino, começam as ondas peristálticas no intestino); liberação de hormônios intestinais, como o CCK, inibidor do esvaziamento; presença de gordura retarda o esvaziamento, para que haja tempo de assimilação desses nutrientes; grau de acidez do quimo.

OBS

10: A digestão deve ser feita calmamente, pois caso haja uma surpresa moral, todo sangue destinado à receber os

nutrientes será desviado para a cabeça e músculos, paralisando o esvaziamento do estômago. OBS

11: Quanto maior o volume do estômago, maior será retardado o esvaziamento deste órgão. Por isso não se deve

ingerir muito líquido durante as refeições. Há um provérbio chinês que dita: “Saia da mesa ainda com fome”.

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REGIÕES DO ESTÕMAGO DO PONTO DE VISTA ANATÔMICO Anatomicamente, a observação macroscópica mostra que o estômago tem quatro regiões:

Cárdia: região estreita, situada na junção gastroesofágica. Possui glândulas responsáveis por produzir muco contra ação do ácido clorídrico.

Fundo: uma região em forma de cúpula à esquerda do esôfago, frequentemente cheia de gás. Presença de células endócrinas produtoras de gastrina.

Corpo: a maior região, responsável pela formação do quimo. Assim como o fundo, há um maior predomínio de células parietais (produtoras do HCl) e células principais (produção de pepsinogênio) situadas nas glândulas fúndicas.

Antro: porção final do estômago, dotada do espesso esfíncter pilórico, que controla a liberação intermitente do quimo para o duodeno. Há predomínio de glândulas produtoras de muco que reveste a mucosa do estômago que o protege da autodigestão.

CÉLULAS PARIETAIS Presentes, principalmente, no corpo do estômago, são as responsáveis pela produção de ácido clorídrico. Estas células possuem receptores diferenciados (figura ao lado) que estimulam a produção do ácido: receptores de histamina, gastrina e acetilcolina, que ativam essas células a secretarem ácido clorídrico. Na região basal dessas células, existe uma enzima chamada bomba hidrogênio-potássio-ATPase. Essa enzima, quando ativada, elimina o H+ na luz do canalículo em troca de K+. Esse H+ se une ao Cl- , previamente bombeado para fora da célula, onde se combinam em HCl. A água captada do líquido extracelular chega ao canalículo devido à osmolaridade gerada nessa região. O HCl é importante por converter o pepsinogênio (inativo) em pepsina (ativo).

OBS

12: É possível realizar o bloqueio dessa bomba de prótons inibindo os receptores de histamina, gastrina ou

acetilcolina por meio de medicamentos, porém não é aconselhável, pois, do ponto de vista fisiológico, existem outros receptores de histamina em variados tecidos mais importantes do corpo, que seriam inibidos também. Pode-se então utilizar medicamentos que inibam diretamente e temporariamente a bomba, como o Omeprazol, muito utilizado para doenças relacionadas à hiperacidez (ácido peptídicas, como gastrite, úlceras gástricas ou duodenas, duodenites, doença do refluxo). OBS

13: Anti-inflamatórios reduzem o número de prostaglandinas, responsáveis pela produção de muco e estimulação da

irrigação sanguínea da parede gástrica, tornando o estomago vulnerável a ação do ácido clorídrico. A administração de anti-inflamatórios deve ser feita associada a inibidores da acidez. OBS

14: Ulceras gástricas podem ser causadas pela bactéria H. pylori (considerado um carcinógeno tipo 1 pela OMS)

presente em 70% da população mundial, mas que só se torna patogênica em pessoas com predisposição genética. Essa bactéria provoca um desequilíbrio fisiológico, resultando em uma produção desordenada de HCl, bem como na redução da produção de muco. Por isso, utiliza-se antibióticos e inibidores da bomba de prótons. Essa bactéria sobrevive a ação do ácido clorídrico por se esconder abaixo da camada de muco e por ter uma enzima urease que alcaliniza o meio.

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OBS15

: As células parietais produzem ainda o fator intrínseco, glicoproteína produzida na mucosa gástrica, que se liga a vitamina B12 (responsável pela maturação de células da linhagem vermelha) para que ela não seja degradada no duodeno para ser absorvida no íleo.

A Helicobacter pylori é considerada pela Organização Mundial de Saúde como um carcinógeno tipo 1, ou seja, dependendo da cepa dessa bactéria no estômago, relacionado a uma predisposição genética, o indivíduo está propenso a adenocarcinoma gástrico. Essa bactéria, nesses casos, provoca uma reação inflamatória, em que o organismo passa a se defender por meio de citotoxinas, substância tóxicas que tentam combater a bactéria, mas destroem as próprias células da mucosa, desenvolvendo gastrites crônicas e ulceras. Para combater essas patologias, deve-se combater primeiramente a bactéria com antibióticos. Gastrites crônicas, por levarem a degradação da mucosa estomacal, diminui a formação do fator intrínseco, o que prejudica a absorção da vitamina B12. Isso gera a anemia perniciosa, devido a falta de maturação e eritrócitos pela medula vermelha.

REGIÕES DO ESTÔMAGO DO PONTO DE VISTA FISIOLÓGICO Fisiologicamente, o estômago está dividido em duas regiões apenas: porção oral (2/3 iniciais) e porção caudal (que corresponde ao corpo e antro). HORMÔNIOS RELACIONADOS AO FUNCIONAMENTO GASTRICO

Gastrina: hormônio produzido pelas células G do estômago e intestino delgado. Estimula a produção de HCl pelas células parietais do estômago, que possuem um receptor específico

para esse hormônio. Crescimento da mucosa gastrintestinal: a gastrina tem função trófica que estimula a proliferação e

diferenciação celular. Isso justifica a razão de não usar medicamentos que poderiam bloquear os receptores das células parietais para esse hormônio, uma vez que bloquearia a renovação da mucosa gástrica.

Estimula a motilidade gástrica, especialmente a contração da região pilórica (bomba pilórica) e o relaxamento do esfíncter pilórico regulando o esvaziamento gástrico.

Secretina: hormônio antagonista da gastrina, produzido pelas células S do intestino delgado. Sua secreção pode ser estimulada pela acidez do quimo.

Estimula a produção de suco pancreático (solução alcalina, rica em bicarbonato) pelo pâncreas, que neutraliza, de certa forma, a acidez com que o quimo chega ao duodeno.

No estômago, estimula a produção e secreção de pepsina (quebra proteínas) e inibe a secreção de ácido clorídrico.

No fígado, estimula a produção da bile. No duodeno, estimula a produção de suco entérico.

Colecistocinina (CCK): hormônio produzido pelas células I do intestino delgado (mucosa do jejuno) Estimula o crescimento celular do pâncreas e a secreção do suco pancreático. Provoca o esvaziamento da vesícula biliar. Ação inibitória no estômago.

OBS

16: O stress emocional pode estimular a secreção de HCl devido a sobrecarga do sistema nervoso simpático (reduz

a vascularização da parede gástrica) e parassimpático (estimula a produção de acetilcolina), estimulando a secreção de acetilcolina e diminuindo a vascularização do estômago, podendo gerar gastrites nervosas que evoluem para ulceras. UNIDADE SECRETORA PANCREÁTICA O pâncreas, situado paralelamente abaixo do estômago, é uma grande glândula composta cuja estrutura interna se assemelha à das glândulas salivares, apresentando um amplo sistema de ductos e ácinos pancreáticos (originam-se nas células acinares, completando-se nos ductos extralobulares), responsáveis pela produção e secreção das enzimas digestivas pancreáticas. SUCO PANCREÁTICO O pâncreas em atividade secreta soluções que vão agir sobre o quimo (bolo alimentar que já sofreu a ação de enzimas desde a boca ao estômago), que é extremamente ácido, e chega ao duodeno, podendo ter sua mucosa lesada por essa propriedade. É por esta razão que o suco pancreático é composto de uma grande quantidade de água, enzimas e grandes quantidades de bicarbonatos, com função de neutralizar a natureza ácida do quimo.

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FUNÇÕES O suco pancreático é responsável pela hidrólise da maioria das moléculas de alimento, bem como, continuar a digestão de carboidratos (através da ação da amilase pancreática, que fragmenta o amido em maltose) iniciada na boca pela amilase salivar; proteínas (enzimas proteases: quimiotripsina e tripsina); gorduras (lípases) e ácidos nucleicos (nucleases). A secretina é o hormônio pró-estimulante do pâncreas, que ativa sua função eletrolítica (bicarbonatos). Em contrapartida, é um hormônio inibidor do estômago: com o intuito de parar a função do estômago e iniciar a ação pancreática. COMPONENTES A secreção do suco pancreático consiste em dois componentes:

Componente aquoso rico em HCO3-

: neutraliza o H+ que chega ao duodeno.

Componente enzimático: digere carboidratos, proteínas e lipídios, que são ativadas apenas na luz do intestino. Essas enzimas são recobertas com uma membrana lisossomal para se manterem inativas até a chegada no intestino.

INERVAÇÃO DO PÂNCREAS EXÓCRINO

Estímulo parassimpático: estimula a secreção.

Estímulo simpático: inibe a secreção.

Indivíduos alcoolistas podem desenvolver um quadro de pancreatite aguda, pois o álcool estimula a ativação precoce das enzimas pancreáticas, causando necrose do tecido pancreático. Indivíduos que continuam bebendo, desenvolvem pancreatite crônica, com o tecido pancreático totalmente destruído. Desse modo, o indivíduo será incapaz de quebrar nutrientes e nem assimilá-los, gerando quadros de desnutrição proteico-calóricas graves. O tratamento é feito através de reposição de enzimas pancreáticas ou células tronco.

AMILASE PANCREÁTICA (PH ENTRE 7,8 E 8,2) Continua a digestão dos carboidratos que foi iniciada na boca. Sua ação é semelhante ao da ptialina, transformando o amido (cana, frutas, leite, batata, arroz, trigo) em maltose e glicose. Essa etapa da digestão é importante pois esses carboidratos são fonte de energia em nosso organismo. OBS

17: A digestão do amido é completada no intestino porque, como o alimento permanece pouco tempo na boca, a

ptialina não é capaz de quebra-lo totalmente. TRIPSINA E QUIMIOTRIPSINA (PH 7,8 E 8,2) São enzimas proteolíticas produzidas em forma inativa (tripsinogênio e quimiotripsinogênio) para não atacar as proteínas do próprio órgão produtor (pâncreas). A atuação do tripsinogênio é ativada pela enteroquinase, enzima produzida pelo próprio duodeno, que por sua vez, já como tripsina, converte quimiotripsinogênio em quimiotripsina. Essas enzimas transformam as proteínas decompostas no estômago em substâncias mais simples – os aminoácidos. As fontes de proteínas são: carne, queijo, leite, ervilha, etc.

LIPASE PANCREÁTICA Atua na digestão dos lipídios, transformando triglicerídeos em glicerol e ácidos graxos. Dissociado dessa maneira, os enterócitos podem absorver esses nutrientes. RIBONUCLEASES (RNASE) E DESOXIRRIBONUCLEASES (DNASE) Atuam na digestão inicial dos ácidos nucleicos que são adquiridos na alimentação. HORMÔNIOS REGULADORES DA SECREÇÃO PANCREÁTICA As células acinares, assim como as parietais gástricas, são estimuladas por três mediadoes: acetilcolina, secretina e CCK. Quando o quimo ainda está no estômago, há a secreção de gastrina para a realização das funções do estômago. Quando o quimo chega à luz do duodeno, a secretina é liberada, retardando a secreção da gastrina e estimulando a secreção de suco pancreático. A CCK, além de, juntamente a secretina, inibem a secreção de gastrina, estimula a secreção da vesícula biliar para que a bile seja secretada juntamente ao suco pancreático, fazendo com que ambas atuem simultaneamente no quimo.

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FASES DA SECREÇÃO PANCREÁTICA

OBS

18: É por isso que dizem que “a digestão começa na visão”, pois ao observar um alimento, por estímulo vagal,

enzimas começam a ser secretadas, como ocorre com a salivação (“água na boca”). SECREÇÃO BILIAR A vesícula biliar armazena (no máximo 30 a 60ml), secreta e concentra (retira água) da bile, secreção digestiva produzida pelo fígado (600 a 1000ml por dia) . A bile possui importantes funções: ajuda a emulsificar grandes partículas de gorduras, bem como ajuda no processo de absorção dos produtos terminais dessa gordura digerida; serve como meio de excreção de vários produtos importantes de degradação de células sanguíneas: bilirrubina e excesso de colesterol. A primeira dessas funções não é realizada por meio de enzimas, uma vez que são inexistentes na bile, mas sim, pela ação dos ácidos biliares.

Icterícia: excesso de bilirrubina no sangue devido a defeitos metabólicos. Os sintomas são pele e esclerótica amarelados.

Pode ser causada por distúrbios ainda no metabolismo da bilirrubina (nas funções dos hepatócitos) ou por obstrução nos ductos de excreção (icterícia obstrutiva)

Icterícia neonatal: recém-nascidos, geralmente, não conseguem excretar a bile, elevando os níveis de bilirrubina no sangue.

É necessária a fototerapia, responsável por transformar a bilirrubina de uma forma pouco excretável para uma forma mais facilmente excretável. Se não for tratado, a bilirrubina trará problemas neurológicos, por ser tóxica e capaz de atravessar a barreira hematoencefálica.

Cálculos biliares: o colesterol, que também é excretado pela bile, em condições anormais pode sofrer precipitação resultando na formação de cálculos biliares de colesterol. A concentração de colesterol presente na bile é determinada, em

parte, pela quantidade de gordura ingerida pelo indivíduo (uma vez que o colesterol é um dos produtos do metabolismo das gorduras). Indivíduos que adotam dietas ricas em gorduras durante períodos de muitos anos, estão sujeitos à formação de cálculos biliares.

OBS19

: cálculos biliares podem se desenvolver a partir da cristalização do excesso de qualquer um dos componentes da bile concentrada (sais biliares, lecitina, bilirrubina e colesterol). OBS

20: A bilirrubina é o produto da destruição do grupamento heme de hemácias velhas, e é excretada pelo fígado

(onde é conjugada, sendo transformada de bilirrubina indireta não-excretável e insolúvel, em bilirrubina excretável e solúvel) e transportada junto à albumina (por ser tóxica) para ser excretada pela urina ou fezes (urobilina). SECREÇÃO DA BILE PELO FÍGADO Os hepatócitos captam a bilirrubina e a elimina pelos canalículos biliares até a luz intestinal. Até chegar à vesícula biliar, a bile sofre modificações. Até na vesícula, haverá alterações estruturais e bioquímicas na bile como a sua concentração (retirada de água, Na+ e Cl- tornando-a mais espessa e osmótica) pela mucosa da vesícula, restando na bile os seguintes componentes:

Sais biliares Lecitina (lisina, que forma micelas) Colesterol Bilirrubina

FASE ESTÍMULO SECREÇÃO

CEFÁLICA (pouco importante)

Vagal Pequeno volume Rico em enzimas

GÁSTRICA (média importância)

Contrações gástricas Gastrina (já sinaliza a secreção

de secretina para estimular o pâncreas)

Volume médio Rica em enzimas

FASE INTESTINAL (muito importante)

Ácido no duodeno Secretina

CCK (contração da vesícula biliar)

Grande volume Rica em HCO

3-

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OBS21

: Circulação Êntero-hepática dos Sais biliares: Os sais biliares percorrem cerca de 18 vezes o circuito êntero-hepático antes de serem reabsorvidos para o sangue, ou seja, ao serem liberados na luz do intestino, são novamente reabsorvidos pelo sangue, retornando ao fígado, onde são devolvidos às células hepáticas e secretados novamente na bile.

O aumento de qualquer um dos componentes acima pode causar cálculos na vesícula, inclusive o excesso de bilirrubina por meio de cálculos de bilirrunatos. Pacientes com anemia hemolítica, anemia falciforme, talassemia ou eristroblastose, por terem uma grande demanda de bilirrubina, passam a apresentar grandes concentrações de bilirrubina indireta gerando icterícia. Conclui-se, então, que indivíduos ictéricos estão propensos a desenvolver pedras na vesícula.

Indivíduos com problemas de tireoide, por terem problemas no metabolismo de cálcio, podem gerar cálculos. A ausência de sais biliares, responsáveis pela digestão de gorduras, também causam distúrbios metabólicos ao

organismo: o colesterol é necessário para formação de hormônios; e os ácidos graxos são indispensáveis na formação das membranas celulares.

ESVAZIAMENTO DA VESÍCULA BILIAR Quando o alimento começa a ser digerido na porção superior do TGI, a vesicular biliar também começa a se esvaziar, sobretudo quando alimentos gordurosos chegam ao duodeno, cerca de 30 minutos depois da refeição. O esvaziamento acontece pelas contrações rítmicas da parede da vesícula e pelo relaxamento simultâneo do esfíncter de Oddi. Toda essa série de acontecimentos é estimulada pela CCK. Trata-se da mesma colecistocinina que induz a secreção de enzimas digestivas pelas células acinares do pâncreas, para que ambas secreções ajam juntas no alimento.

Bile Gordura emulsificada(Bile + Agitação)

Gordura emulsificada

Lipase pancreática Ác. Graxos2-monoglicerídios

HORMÔNIOS REGULADORES DA SECREÇÃO BILIAR A secretina, assim como é estimulante do pâncreas, também vai atuar estimulando a secreção de bile, para neutralizar o quimo ácido pela ação do bicarbonato. A colecistocinina estimula o esvaziamento da vesícula biliar, cerca de 30 minutos depois da refeição, ocorre concentrações da parede da vesícula e o relaxamento do esfíncter de Oddi (do colédoco para o duodeno). O pico de CCK é atingido com a chegada de gordura no estômago. ESTÍMULO NERVOSO A vesícula é estimulada por fibras nervosas do sistema nervoso autônomo parassimpático, através da liberação de acetilcolina, dos nervos vagos e do sistema nervoso entérico. FISIOLOGIA HEPÁTICA O fígado, pesando cerca de 1500 g, trata-se da maior glândula do corpo. Está situado no quadrante superior direito da cavidade abdominal, logo abaixo do diafragma. Esta glândula apresenta inúmeras funções relacionadas ao metabolismo. Assim como o pâncreas, o fígado tem funções exócrinas e endócrinas; entretanto, ao contrário do pâncreas, a mesma célula (o hepatócito) do fígado é responsável pela sua secreção exócrina (a bile) e por seus diversos outros produtos endócrinos. Além disso, os hepatócitos convertem substâncias nocivas em materiais não tóxicos, que são secretados na bile, como a bilirrubina. OBS

22: Do ponto de vista histológico, esses hepatócitos estão organizados em trabéculas distribuídas de forma radial,

onde no centro do lobo hepático está presente a veia hepática central, e nas regiões angulares têm-se as artéria e veia hepática. Em certas patologias que acometam o fígado, incidem geralmente na região central ou na circulação portal. FUNÇÕES RELACIONADAS AO METABOLIMSO INTERNO

Metabolismo da bilirrubina: transformando-a em bilirrubina conjugada, que é mais solúvel e excretável. Metabolismo dos carboidratos: armazenamento de energia em forma de glicogênio; transformação desse

glicogênio em glicose para ser usado pelo corpo. Metabolismo dos lipídios: produção de outros lipídios, fosfolipídios de membrana e colesterol para hormônios. Metabolismo das proteínas

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Metabolismo da bile Metabolismo de drogas e substâncias exógenas: toda substância exógena (que não é típica do corpo) é

metabolizada por um complexo enzimático. Alterações nesse funcionamento hepático, o indivíduo apresentará quadros de intoxicação.

Função de reservatório sanguíneo Função de manutenção do equilíbrio hidroeletrolítrico: manutenção da homeostase. Função de defesa imunológica: células de Kupffer. Propriedade de regeneração.

METABOLSMO DA BILIRRUBINA

As hemácias velhas vão passar por um sistema de hemólise (que pode ser no fígado, rins e ossos longos), sofrendo degradação de seu grupo heme, tendo como subproduto a bilirrubina, que vai ser transportada pelo sangue juntamente a albumina, por ser uma substância tóxica. Ao chegar aos hepatócitos, essa bilirrubina vai sofrer a ação dos seguintes processos: processo de captura (feito por uma proteína específica, que houver defeitos, pode desenvolver icterícia), sistema metabólico (convertendo-se em um metabólito conjugado e de fácil eliminação) e liberação nos canalículos para ser excretado para a vesícula, para depois ser enviado ao intestino pelo canal colédoco.

METABOLISMO DOS CARBOIDRATOS Na dieta humana normal, é ingerido na forma de polissacarídeos (amido) e dissacarídeos (sacarose, lactose). Esses açúcares sofrerão ação enzimática na luz do intestino transformando-se em monossacarídeos (glicose, frutose e ribose) de fácil absorção. A partir daí, atingiram os vasos mesentéricos, para que, por meio da veia porta, cheguem até o fígado para serem metabolizados em energia. Nos hepatócitos, ocorre a fosforilação (glicose sendo transformada em glicose-6-fosfato), sendo armazenada em forma de glicogênio. Com isso, dependendo das necessidades fisiológicas, o fígado comandará a glicogênese ou a glicogenólise. OBS

23: Defeitos na mucosa do intestino causarão déficits de absorção de glicose.

OBS24

: Defeitos na enzima glicogênio-6-fosfatase comprometem o metabolismo adequado dessa glicose. METABOLISMO DAS GORDURAS Os triglicerídeos (ésteres do glicerol com ácidos graxos) sofrem hidrólise parcial na luz intestinal pela ação das lípases, com transporte do glicerol, que é hidrossolúvel, ao fígado. Os ácidos graxos podem formar complexos hidrossolúveis com sais biliares e penetrar na parede intestinal, podendo haver nova síntese de TGs. Podem se ligar a lipoproteínas para ser transportado pelo sangue. É no fígado que os lipídios são destinados às suas funções nas diversas vias metabólicas do organismo, como a β-oxidação mitocondrial (via na qual a gordura é convertida em energia) ou na produção de colesterol (esteroides, ácidos biliares, corpos cetônicos). COLESTEROL É um esterol sintetizado em diferentes tecidos, inclusive no fígado, mucosa intestinal, suprarrenal e parede arterial, sendo excretado na bile como esterol neutro. Pode ser convertido em ácidos biliares primários; é armazenado no fígado na forma estratificada. OBS

25: A aterosclerose pode ser desenvolvida pela ingestão excessiva de colesterol ou pela produção exagerada desse

esterol na parede dos vasos.

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METABOLISMO DE PROTEÍNAS O fígado é a sede principal do metabolismo dos aminoácidos intermediários e de síntese de proteínas. Os AA existem na forma livre em diversos tecidos, a maioria dos AA no fígado não é essencial (que são produzidos pelo próprio corpo: alanina, ácido glutâmico, glutamina, glicina). Após a alimentação ocorrem picos de aminoácidos no sistema porta, que foram ingeridos na forma de proteínas, desintegradas pelo processo digestivo em aminoácidos. Ao chegar ao fígado, esses aminoácidos são transformados em novas proteínas para realizarem novas funções. OBS

26: A amônia (substância tóxica) produzida por bactérias intestinais é absorvida pela mucosa do intestino, para ser

excretado pelo trato digestivo ou pela respiração. OBS

27: A ureia é o produto do metabolismo do nitrogênio, sendo facilmente excretável pelo rim. Pode ser hidrolisada

para amônia no TGI, sendo um meio eficaz de detoxificação desta. Indivíduos podem ter intoxicação pelo aumento de amônia ou por ureia, no caso de insuficiência renal ou hepática.

Pacientes com cirrose hepática em estado avançado apresentam distúrbios mentais (encefalopatia hepática), por não conseguir metabolizar e eliminar amônia, que atravessa a barreia hematoencefálica, deixando o indivíduo confuso mentalmente, podendo melhorar por uso de antibióticos, que vão atacar as bactérias intestinais que transformam ureia em amônia.

A maioria das proteínas plasmáticas é sintetizada no fígado, como albumina, fibrinogênio, fatores (V, VII, IV, X; ligados a vitamina K), fator VIII (parcialmente), hepatoglobinas, transferrina (transporta o ferro no sague), ceruloplasmina (proteína que anula o efeito tóxico do cobre e excreta esse metal pesado), globulinas α-1 e α-2 (sistema imunológicos) e as lipoproteínas (HDL, LDL e VLDL) que transportam a gordura no sangue. OBS

28: Insuficiência hepática que traga falta de albumina, pode acarretar edemas devido o extravio de líquidos para o

tecido. Além disso, a falta de fibrinogênio e os fatores ligados à vitamina K trará malefícios à coagulação sanguínea. METABOLISMO DE DROGAS E SUBSTÂNCIAS EXÓGENAS A maior parte do metabolismo das drogas e outros compostos exógenos ocorrem no fígado, através da ação de enzimas localizadas nos microssomos do retículo endoplasmático liso e de cofatores, como o NADPH, citocromo P450 (liga-se a substância promovendo o seu metabolismo). Toda droga ingerida tem seu endereço certo para ser metabolizada no fígado pelo sistema P450, para que se torne uma substância não tóxica, apta para a eliminação. Esta desintoxicação está dividida em duas fases:

1ª fase: oxidação, redução, hidrólise.

2ª fase: conjugação com ácido glicurônico ou AA (glicina, glutamina), tornando a droga ou metabólito mais solúvel ou mais polar (mais facilmente eliminado), com diminuição da atividade biológica do composto.

OBS

29: Existem medicamentos que competem com o fígado, ou seja, o indivíduo pode estar fazendo uso de dois

medicamentos em que um bloqueie a ação das enzimas, impedindo a desintoxicação do outro. Com isso, o segundo medicamento, será considerado tóxico. FUNÇÃO DE RESERVATÓRIO DE SANGUE As grandes dimensões do fígado, órgão ricamente vascularizado e localizado entre as circulações porta e sistêmica, conferem-lhe a propriedade de reservatório de sangue e líquido extracelular, podendo aumentar ou diminuir a sua capacidade em resposta a situações patológicas e fisiológicas (Ex: insuficiência cardíaca congestiva, em que o coração não dá conta de bombear o volume de sangue a ser bombeado, gerando uma hepatomegalia). OBS

30: Indivíduos que sofrem hemorragias intensas, geralmente apresentam hepatomegalia e esplenomegalia, para

manter a pressão sanguínea aproximadamente constante. FUNÇÃO DE MANUTENÇÃO DO EQUILÍBRIO HIDROELETROLÍTICO Considerando que toda água e eletrólitos ingeridos e absorvidos passam através do fígado, este órgão apresentará papel importante na manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico. Além disso, o fígado produz substâncias hormonais responsáveis pela homeostase. FUNÇÃO DE DEFESA IMUNOLÓGICA O fígado exerce função imunológica através de macrófagos nomeados de células de Kupffer (representantes do sistema retículo endotelial do fígado) que estão relacionados com a produção de gamaglobulinas, anticorpos e atividade fagocítica. Essa ação é importante por neutralizar bactérias e toxinas oriundas do sistema porta, vindas junto aos nutrientes. É por isso que o fígado é tido como um órgão de filtração.

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OBS

31: Indivíduos com função hepática reduzida estão propensos ao desenvolvimento de infecções.

PROPRIEDADES DE REGENERAÇÃO Os hepatócitos são células com elevada atividade metabólica, mesmo após a remoção de 70% de sua massa parenquimatosa. Após a hepatectomia parcial, observa-se aumento das mitocôndrias, da atividade lisossomal e intensa atividade mitótica. Essa propriedade é importante em ressecções de tumores, transplantes, etc. OBS

32: Nódulo no fígado é uma elevação sólida, enquanto cisto é de conteúdo líquido. O emangiôma é um nódulo

benigno de origem vascular hepático. INTESTINO DELGADO

É o órgão mais longo do trato alimentar. O intestino delgado está divido em três regiões: duodeno (porção proximal do intestino delgado, que recebe secreções pancreáticas e biliares para neutralizar o quimo ácido do estômago e continuar o processo digestivo do alimento), jejuno (região média, mais longa e onde ocorre maior absorção de nutrientes) e íleo (porção final, em contato com o intestino grosso). Esse órgão digere material alimentar e absorve nutrientes resultantes do processo digestivo.

FUNÇÕES Do ponto de vista digestivo, o intestino delgado é responsável por neutralizar a acidez do quimo proveniente do estômago, adicionar enzimas digestivas e bile a este quimo, quebrar proteínas, carboidratos e lipídios para a maior absorção desses materiais. 95% da absorção acontece nesse órgão. OBS

33: A mucosa (T.E.R. Simples Cilíndrico com Vilosidades) intestinal é dotada de

vilosidades altamente irrigadas especializadas na absorção dos alimentos. Indivíduos com falta de vilosidades, com mucosa lisa, apresentarão desnutrição devido à absorção deficiente. MOVIMENTOS DO INTESTINO DELGADO

Movimentos segmentares (Contrações de Mistura): o quimo no ID provoca um tipo de contração chamada de segmentar, por ser ácido e hiperosmolar, que causa pequenas septações no intestino misturando o quimo com as secreções intestinais liberadas.

Movimentos propulsivos (movimentos peristálticos): a distensão do ID pelo quimo desencadeia ondas peristálticas que se deslocam em direção ao ânus, numa velocidade de 0,5 a 2 cm/s. São contrações fracas, fazendo com que o quimo se desloque lentamente para ter o tempo necessário para absorção realmente efetiva, durante cerca de 3 a 5h do piloro até a válvula ileocecal. Este tipo de movimento é controlado de duas maneiras:

o Mecanismo nervoso: o sistema nervoso autônomo parasimpático (estimula, por participar de um sistema pró-digestão) e simpático (retardando, através de adrenalina, desviando o sangue da digestão para “órgãos nobres”: coração, músculos e cérebro) controlam esses movimentos. Os reflexos gastrentéricos, desencadeados pela distensão do estômago, estimulam o plexo mioentérico aumentando a intensidade dos movimentos peristálticos.

o Mecanismo hormonal: reflexo da gastrina, CCK, serotonina, insulina; os quais estimularão, da mesma forma, o plexo mioentérico.

OBS

34: Caso haja uma maior necessidade metabólica de gorduras, proteínas e carboidratos, as vilosidades do ID

aumentam para acontecer uma maior absorção de nutrientes.

Amebíase: ameba é um protozoário que atravessa a mucosa do ID recobrindo as vilosidades, impedindo a absorção eficaz dos nutrientes. Os indivíduos acometidos apresentarão diarreia e desnutrição.

SECREÇÕES DO INTESTINO DELGADO A mucosa do intestino delgado secreta o suco entérico, solução rica em enzimas e de pH aproximadamente neutro. Uma dessas enzimas é a enteroquinase. Outras enzimas são as dissacaridases, que hidrolisam dissacarídeos em monossacarídeos (sacarase, lactase, maltase). No suco entérico há enzimas que dão sequência à hidrólise das proteínas.

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A intolerância à lactose é uma condição clínica por uma deficiência da enzima lactase (presente nos enterócitos da região apical da mucosa intestinal), responsável pela digestão da lactose. Pode ser de etiologia primária (devido a um declínio exagerado na produção da enzima), secundária (causada por lesões da mucosa intestinal, como ocorre em algumas viroses) ou congênita. Clinicamente, com o aumento de lactose não digerida na luz intestinal, caracteriza-se por diarreia osmótica, distensão abdominal, flatulência e fezes mais ácidas.

INTESTINO GROSSO

O intestino grosso é subdivido em ceco, cólon (ascendente, transverso, descendente e sigmoide), reto e ânus; tendo aproximadamente 1,5m de comprimento. Ele não está ligado a absorção de micronutrientes, mas sim, pela maior absorção de água e íons do quimo provenientes do intestino delgado, compactando o quimo em fezes que serão eliminadas. Além da produção de vitamina K e B por bactérias simbióticas. As funções do cólon são:

Absorção de água e de eletrólitos do quimo – cólon direito. Armazenamento da matéria fecal até que possa ser excretada (colon

esquerdo).

OBS35

: O vibrião colérico produz uma toxina que bloqueia a absorção de água e sódio pelos enterócitos, gerando uma diarreia volumosa. MOVIMENTOS DO INTESTINO GROSSO

Movimentos de mistura (haustrações): é semelhante aos movimentos do ID, porém de forma mais lenta.

Movimentos propulsivos (de massa): quando o colo fica excessivamente cheio, ocorre contração de um segmento do colo forçando o conteúdo fecal a deslocar-se em massa colo abaixo em 30 segundos, com relaxamento de 2 a 4 minutos até um novo movimento. Esse movimento de massa perdura por apenas 10 a 30 minutos, e se não houver defecação, um novo movimento virá em torno de 12 a 24h.

ESTÍMULOS PARA OS MOVIMENTOS DE MASSA Existem alguns estímulos intrínsecos do aparelho intestinal que fazem com que a massa fecal seja deslocada.

Reflexo gastrocólico: Desencadeado pela distensão do estômago após uma refeição. Caso o indivíduo receba um sinal gastrocólico, percebendo a necessidade de defecar, e tente regula-lo voluntariamente, esse reflexo pode ser perdido ao longo do tempo, causando constipação.

Reflexo duodenocólico: Desencadeado pela distensão do duodeno após uma refeição, que ocorre em sequência do reflexo gastrocólico.

Estimulação parassimpática

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DEFECAÇÃO Normalmente, o reto não contém fezes, uma vez que o esfíncter funcional (junção do colo sigmóide e do reto) está a 20 cm do ânus. Quando o movimento de massa força a passagem de fezes para o reto, ocorre um tipo especial de reflexo – o reflexo da defecação – que provoca:

Contração reflexa do reto: encurtam-se as fibras do reto Relaxamento do esfíncter anal Prensa abdominal: pressão do diafragma e vísceras abdominais.

OBS

37: A defecação pode ser inibida até certo ponto devido a contração da musculatura estriada esquelética do

esfíncter anal externo. O controle da defecação é feita justamente pela constrição do esfíncter anal interno (músculo liso) e esfíncter anal externo (músculo estriado). REFLEXO DA DEFECAÇÃO O enchimento das porções finais do intestino grosso estimula terminações nervosas presentes em sua parede, através da distensão da mesma. Impulsos nervosos parassimpáticos são, então, em intensidade e frequência cada vez maior, dirigidos a um segmento da medula espinhal (sacral) e acabam por desencadear uma importante resposta motora que vai provocar um aumento significativo e intenso nas ondas peristálticas por todo o intestino grosso, ao mesmo tempo em que ocorre um relaxamento no esfíncter interno do ânus. Desta forma ocorre o reflexo da defecação. Se, durante este momento, o esfíncter externo do ânus também estiver relaxado, as fezes serão eliminadas para o exterior do corpo, através do ânus. Caso contrário, às fezes permanecem retidas no interior do reto e o reflexo desaparece, retornando alguns minutos ou horas mais tarde. CÉLULAS ENTEROENDÓCRINAS O tubo gastrointestinal contém um número pequeno de células endócrinas ou endocriniformes, denominadas células enteroendócrinas ou argentafins, concentradas especialmente no estômago e no intestino delgado. Essas células enteroendócrinas recebem nomes individuais de acordo com a substância produzida. Em geral, um único tipo de célula secreta somente um agente, apesar de tipos celulares ocasionais poderem secretar dois agentes diferentes. Há pelo menos 13 tipo de células enteroendócrinas, das quais alguns estão localizados na própria mucosa gástrica. São classificadas quanto a presença de microvilosidades ou não no seu ápice:

Tipo aberto: ápice com microvilos (fariam a secreção exócrina).

Tipo fechado: ápice recoberto com células epiteliais (fariam à secreção endócrina) sendo elas a grande maioria no TGI.

Órgão Célula Hormônio Ação do Hormonio

Estômago e Delgado

A Glucagon (enteroglucagon)

Estimula a glicogenólise pelos hepatócitos, elevando assim, os níveis de glicose do sangue

Estômago, delgado e grosso

Enterocromafim Serotonina Aumenta os movimentos peristálticos

Estômago Semelhante à Enterocromafim

Histamina Estimulação e secreção de HCl

Estômago, delgado e grosso

D Somatostatina Inibe a liberação de hormônios pelas células DNES em sua vizinhança

Estômago e delgado

Produtora de gastrina

Gastrina Estimula a secreção de HCl, a motilidade gástrica (especialmente a contração da região pilórica e o relaxamento do esfíncter pilórico regulando o esvaziamento gástrico) e a proliferação das células regeneradoras do corpo do estômago

Estômago, delgado e grosso

Produtora de glicentina

Glicentina

Estimula a glicogenólise pelos hepatócitos, elevando os níveis de glicose do sangue.

Estômago e Intestino Grosso

Célula produtora de polipeptídeo

pancreático

Polipeptídeo pancreático

Estimula a liberação de enzimas para as células principais. Diminui a liberação do HCl pelas células parietais. Inibe a liberação do pâncreas exócrino.

Estômago, delgado e grosso

Produtora de peptídeo intestinal

vasoativo

Peptídeo intestinal vasoativo

Aumenta a ação peristáltica dos intestinos delgado e grosso e estimula a eliminação de água e íons pelo trato GI

Intestino delgado I Colecistoquinina Liberação do hormônio pancreático e a contração da vesícula biliar.

Intestino delgado K Peptídeo inibidor da gastrina

Inibe a secreção de HCl

Intestino delgado Célula produtora de motilina

Motilina Aumenta o peristaltismo intestinal

Intestino delgado Célula produtora de neurotensina

Neurotensina Aumenta o fluxo sanguíneo para o íleo e diminui a ação peristáltica dos intestinos delgado e grosso

Intestino delgado S Secretina Estimula a liberação de fluido rico em bicarbonato pelo pâncreas

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BIOQUÍMICA: METABOLISMO DO GLICOGÊNIO

Após 2h de ter sido ingerida, a glicose chega a 140mg/dl de sangue, sendo então absorvida pelas células para só então ser armazenada, após a secreção de insulina. Para esse armazenamento, a glicose deve ser fosforilada pela enzima hexocinase, aprisionando-se dentro das células. No formato de glicose-6-fosfato ela pode então dar início a 3 vias distintas: a glicogênese (armazenamento em forma de glicogênio), a via glicolítica (uso de glicose para fornecimento de energia para todo o corpo) ou a via das pentose fosfato.

OBS

1: Quando há excesso de glicose no corpo, esse açúcar, por meio de enzimas e outros substratos, é convertido em

ácidos graxos, dando origem a gordura corporal. GLICOGÊNESE É a formação de glicogênio a partir do armazenamento de glicose pelo corpo. O glicogênio é uma molécula de polissacarídeo com ligações α-(1;4), possuindo inúmeras ramificações de ligação α-(1;6). Desse polissacarídeo, apenas uma extremidade é redutora e o restante, extremidades não redutoras. É a partir dessas extremidades não redutoras das ramificações que, dependendo da necessidade do organismo, são liberadas as moléculas de glicose simultaneamente. O glicogênio ao ser sintetizado é armazenado no fígado ou músculos, sendo utilizado como fonte de energia, entre uma refeição e outra, quando os níveis glicêmicos caem.

Esse glicogênio pode ser formado a partir da

adição de glicose a uma cadeia de glicogênio pré-existente ou através de uma proteína iniciadora chamada glicogenina, necessária para a síntese de glicogênio quando não há mais reserva deste. A glicogenina se autocatalisa, fazendo com que resíduos de glicose se liguem à tirosina-194 de sua cadeia, para que com auxílio da glicogênio-sintetase haja a formação de uma nova cadeia de glicogênio para armazenamento. A glicogênese a partir de glicogenina ocorre com maior frequência nos músculos. OBS

2: Para que ocorra a formação de glicogênio, a

insulina deve estar sendo sintetizada e reconhecida pelas células de maneira adequada.

Arlindo Ugulino Netto; Lívia Tafnes Almeida de Araújo; Raquel Torres Bezerra Dantas

MÓDULO: ORGANIZAÇÃO MORFO-FUNCIONAL – RESPIRATÓRIO 2016

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OBS3: O tecido muscular armazena mais glicogênio que o fígado por ter maior massa.

ATIVAÇÃO DA GLICOSE E SUA ADIÇÃO À MOLÉCULA DE GLICOGÊNIO

Para que a glicose seja incorporada ao glicogênio, ela deve estar na sua forma ativada, estando ligada a um nucleotídeo de uracila, constituindo a uridina difosfato glicose (UDP-Glicose).

GLICOGENINA COMO ACEPTOR DE RESÍDUOS DE GLICOSE

A glicogênio-sintase não pode iniciar a síntese das cadeias utilizando a glicose livre como aceptor de uma molécula de glicose da UDP-glicose. A glicogenina funciona como primer (iniciador), pois a enzima glicogênio sintase só pode adicionar glicosilas se a cadeia contiver mais de quatro oses.

O C-1 da primeira unidade dessa cadeia é ligado de modo covalente à hidroxila fenólica de uma tirosina (194) específica da glicogênina.

A glicogenina autocatalisa a adição de oito unidades de glicose provenientes da UDP-glicose. Essa cadeia serve como aceptor dos resíduos de glicose. FORMAÇÃO DE RAMIFICAÇÕES

O glicogênio é um polímero ramificado. As ramificações são importantes porque aumentam a solubilidade do glicogênio e a velocidade de síntese e de degradação da molécula.

As ramificações são formadas em um intervalo de oito a doze resíduos de glicosil. As ramificações aumentam o número das extremidades não redutoras nas quais novos resíduos de glicose podem ser adicionados ou removidos.

A ramificação é catalisada pela enzima ramificadora. As ligações α-(1,6), encontradas no ponto de ramificação são formadas pela enzima ramificadora do glicogênio: Amilo (1,4)→(1,6) transglicosilase. OBS

4: Enquanto a glicogênio sintase adiciona cerca de 11 resíduos de glicose na formação da cadeia de glicogênio, a

enzima ramificadora transfere certos segmentos de glicose para a ligação α-(1;6), tornando a cadeia de glicogênio mais ramificada, para então haver uma maior demanda de glicose.

Formação da UDP-glicose:

Glicose + ATP Glicose-6-fosfato + ADP hexocinase

Glicose-6-fosfato ↔ Glicose-1-fosfato

fosfoglicomutase

Glicose-1-fosfato + UTP ↔ UDP-Glicose + PPi UDP-glicose pirofosforilase

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GLICOGENÓLISE É a quebra de glicogênio pelo fígado (para os demais tecidos do corpo) ou pelo tecido muscular (para uso próprio exclusivo) para a liberação de glicose e utilização desta para obter energia. Quando os níveis sanguíneos de glicose diminuem, o glucagon é o hormônio liberado. OBS

5: O glicogênio armazenado pelo fígado pode ser utilizado como forma de energia para os diversos tecidos do corpo

devido a este órgão possuir a enzima glicose-6-fosfatase, que retira a glicose-6-fosfato da célula, podendo ser utilizada, então, como fonte de energia. Diferentemente dos músculos, que não possuem essa enzima. A única maneira que o músculo pode servir como tecido de reserva energética é por meio da via glicolítica anaeróbica, dando origem ao lactato, que entra na gliconeogênese no próprio fígado.

Para que haja a glicogenólise, o hormônio glucagon deve ser secretado na corrente sanguínea. Esse hormônio, ao ser captado por seus respectivos receptores nas células, ele ativa a proteína G estimulante, que por sua vez ativa a enzima adenilato (adenilil) ciclase no interior da membrana. Essa enzima transforma ATP em AMPCíclico, que por sua vez ativa a proteína quinase dependente de AMPC (PKA, que só é ativada quando a concentração de AMPC está alta). Essa PKA em atividade inibe a glicogênese, por ativar a fosforilação de algumas enzimas:

A PKA fosforila (inativa) a glicogênio sintetase, a enzima produtora de glicogênio (glicogênese). A PKA fosforila (ativa) a fosforilase-quinase, enzima que tem como função fosforilar (ativar) a enzima glicogênio

fosforilase, que promove, de fato, a glicogenólise. A PKA fosforila também a proteína inibidor-1 (ativa), a qual inibe a atividade da enzima fosfatase-protéica, que

faria a desfosforilação da fosforilase quinase e, consequentemente, da fosforilase (enzima supra citada, responsável pela glicogenólise). Isso diminui a desfosforilação das enzimas responsáveis pela degradação do glicogênio.

Então, com o aumento da PKA e a ativação da fosforilase, é possível que ocorra a glicogenólise:

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1. O glicogênio é uma molécula ramificada. A fosforilase libera os resíduos de glicose que estão nas extremidades não redutoras simultaneamente, para que haja uma grande demanda de glicose, justamente na ligação α-(1;4). Note que o glicogênio possui apenas uma extremidade redutora (figura ao lado).

2. A fosforilase libera a glicose na forma de glicose-1-fosfato, sendo transformada em glicose-6-fosfato (não é permeável à membrana plasmática) através da enzima fosfoglicomutase. 3. A glicose-6-fosfatase (do fígado) converte a glicose-6-P em glicose (permeável à membrana), que será transferida ao sangue para ser usada pelos demais tecidos do corpo como fonte de energia. OBS

6: Acontece que o glicogênio é uma molécula ramificada, e a fosforilase

só atua até o 3º resíduo de glicose de uma ramificação. Como isso, entra em ação a enzima α1-4-glicano transferase, que transfere esse trio de glicoses para outra extremidade da molécula de glicogênio para, só então, serem hidrolisadas novamente pela fosforilase. A glicose restante da ramificação é hidrolisada pela enzima α1-6-glicosidase. OBS

7: A fosforilase muscular difere da fosforilase hepática pois aquela

pode ser ativada independentemente de AMPC, ativando-se pela liberação de Ca

2+ no citoplasma das fibras musculares no momento da contração.

A glicogenólise continua acontecendo até que o indivíduo se alimente e restitua seus níveis normais de glicose no sangue. IMPORTÂNCIA DA SÍNTESE E DA DEGRADAÇÃO DO GLICOGÊNIO

A glicogênese e glicogenólise regulam o nível de glicose no sangue e fornecem uma reserva de glicose para a atividade muscular.

Ambas ocorrem por vias diferentes de reações, com diferentes enzimas.

A regulação da síntese e do metabolismo do glicogênio é efetuada por efetores alostéricos e por fosforilação.

o Quando a insulina está elevada, aumenta-se a glicogênese, como forma de armazenamento de glicose para futuras necessidades.

o Quando o glucagon está elevado, aumenta-se a glicogenólise, devido o aumento da concentração do AMPC (que é o efetor alostérico).

OBS

8: Efetor alostérico é uma enzima que possui um sítio ativo, um

sítio de ligação do substrato e um sítio alostérico (difere dos outros sítios de ligação). Funciona estimulando (efetor alostérico +) ou inativando (efetor alostérico -) outras enzimas. Ex: O AMPc é um efetor alostérico positivo da fosforilase e efetor alostérico negativo para a glicogênio sintase.

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DEGRADAÇÃO DO GLICOGÊNIO NO FÍGADO PELA EPINEFRINA A epinefrina/adrenalina é um hormônio hiperglicemiante (como o glucagon) para situações de perigo ou fuga, em que o SNC necessita urgentemente de glicose como fonte de energia. Ela se liga a receptores α ou β-adrenérgicos:

Quando ela se liga a receptores β-adrenérgicos, realiza a mesma ação do glucagon: ativando a adenilil ciclase, aumentando as concentrações de AMPC, estimulando os processos de glicogenólise.

Quando ela se liga a receptores α-adrenérgicos, ela estimula a fosfolipase C, enzima que forma inositol-1,4,5-trifosfato (IP3) e diacilglicerol a partir de fosfatidil-inositol-4,5-difosfato (PIP2). O IP3 libera Ca

2+ no citoplasma de

células musculares, estimulando a glicogenólise. O diacilglicerol inibe a ação da glicogênese.

CONTROLE NEURAL DA DEGRADAÇÃO DE GLICOGÊNIO NO MÚSCULO ESQUELÉTICO A fosforilase muscular, como foi dito previamente, é diferente da fosforilase hepática. Ela possui 4 subunidades: α e β (onde ocorrerá a fosforilação), γ (gama, sítio ativo) e δ (delta, a calmodulina, que será estimulado pelo cálcio). Durante o impulso nervoso, há despolarização da membrana plasmática e liberação de cálcio pelo retículo endoplasmático liso. Quando ocorre a liberação de cálcio na fibra muscular, ativa-se o sítio ativo da fosforilase muscular, iniciando a glicogenólise.

OBS8: Quando o glucagon não está em ação, a insulina, para manter a

homeostase, estimula a síntese de glicogênio no músculo e no fígado. A insulina estimula a síntese de glicogênio no músculo e no fígado. Esse hormônio, ao se ligar com seus receptores, ativa a enzima fosfodiesterase que converte AMPC em AMP, diminuindo os níveis de AMPC, causando a inativação da PKA e da fosfatase quinase e a fosforilase, inibindo a glicogenólise. Isso ocorre logo após a alimentação, em que os níveis de glicose se elevam e a insulina é liberada para que ocorra a glicogênese por ação da glicogênio sintetase.

Músculo Fígado

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GLICOGENOSES São defeitos enzimáticos da glicogenólise, causando o acúmulo gradativo de glicogênio, resultando em certas patologias classificadas como glicogenoses.

Glicogenose Tipo I (Doença de Von Gierke) É a glicogenose mais frequente. Doença hepática caracterizada pela deficiência da atividade da enzima glicose-6-fosfatase (enzima que

quebra a glicose-6-fosfato do fígado para que ela seja utilizada pelos variados tecidos do corpo), resultando no acúmulo de glicose-6-fosfato.

Esse defeito resulta em um quadro de hipoglicemia caso o indivíduo não se alimente regularmente. OBS: A glicogenólise ocorre normalmente (a quebra do glicogênio pela enzima fosforilase), o que não

ocorre é a liberação dessa glicose para a demandar energética do corpo. A glicose-6-fosfato ativa a síntese do glicogênio, utilizada na via das pentosefosfato e na via glicolítica,

ativando mais ainda essas vias metabólicas devido ao seu acúmulo. Desse modo, seu excesso gera NADPH e ribose (purinas), que tem como subproduto de sua degradação ácido úrico, podendo gerar gota (artrite úrica).

A deficiência da glicose-6-fosfatase impede a formação da glicose a partir do glicogênio (glicogenólise), do lactato e de aminoácidos.

A glicose-6-fosfato é degradada pela via glicolítica: o piruvato e o lactato sanguíneo apresentam-se elevados.

A hipoglicemia estimula a lipólise (elevação dos ácidos graxos, dos triglicerídeos e do colesterol, desenvolvendo um fígado gorduroso e uma acidose metabólica) por não dispor da energia limpa da glicose.

Síntese protéica reduzida. Sintomas clínicos: Hipoglicemia, hepatoesplenomegalia com aumento acentuado do volume abdominal. Tratamento: Anastomose da veia porta, desviando a circulação porta e fazendo o sangue circular

diretamente do intestino para circulação sistêmica, para que a glicose seja utilizada.

Glicogenose Tipo II (Doença de Pompe) Deficiência da enzima lisossomal (α-1,4-glicosidase), que degrada o glicogênio presente nos lisossomos,

resultando no acúmulo de glicogênio nessas organelas das células de todo o organismo, impedindo os lisossomos de realizarem suas funções.

Doença grave, fatal. Geralmente, não ultrapassam os dois anos de vida (falência múltipla dos órgãos em especial insuficiência

cardíaca).

Glicogenose Tipo III (Doença de Cori) Deficiência da enzima desramificadora (α-glicanotransferase e amilo-1,6-glicosidase). Acúmulo do glicogênio não degradado (pontos de ramificação α(1-6)). Hipoglicemia leve, pois ocorre a degradação do glicogênio (a fosforilase atua nas extremidades não-

redutoras das ramificações, até o ponto de ramificação) até certa parte. Evolução benigna.

Glicogenose Tipo IV (Doença de Anderson) Deficiência da enzima ramificadora (transferases) Amilo (1,4)→(1,6) transglicosilase. Como o glicogênio

deve ser uma molécula muito ramificada, com o defeito dessa enzima, a molécula torna-se então linear, com pouca capacidade de fornecer glicose, por só possuir uma extremidade não redutora.

Glicogênio formado é do tipo linear, apresentando ligações apenas α (1-4). Estrutura semelhante à amilopectina vegetal (amilopectinose). Hipoglicemia e hepatomegalia Doença hepática grave que envolve a destruição dos hepatócitos. Doença grave (crianças óbito nos primeiros anos de vida), pois o glicogênio é reconhecida como uma

substância estranha.

Glicogenose Tipo V (Doença de McArdle) Deficiência da enzima fosforilase muscular. Metabolismo do glicogênio hepático normal. Acúmulo do glicogênio muscular. Deficiência da produção de lactato. Aumento da gliconeogênese proteica. Diagnóstico: Paciente submetido a exercícios musculares extenuantes.

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BIOQUÍMICA: GLICÓLISE E GLICONEOGÊNESE

Glicólise é o metabolismo da glicose para obtenção de energia. Quando os níveis desse açúcar se elevam no sangue, a insulina é liberada, para que as células captem esse carboidrato ao acionar os transportadores de glicose (GLUT).

GLUT 1: Hemácias, rins e cérebro. Não possui interferência da insulina

GLUT 2: Fígado e pâncreas, não depende de insulina, mas o seu transporte aumenta com a presença desse hormônio. Tem a função de captação de carboidratos, quando há aumento da glicose.

GLUT 3: Neurônios e placenta. Não possui interferência da insulina

GLUT 4: células musculares e adiposas, dependente de insulina. Aumento de glicose, aumenta insulina, aumenta GLUT 4.

GLUT 5: parede do intestino delgado. Apresenta afinidade maior pela frutose.

O metabolismo da glicose inicia pela captação celular. Neste momento, ela é transformada em glicose-6-fosfato, a qual já participa da glicogênese, da glicólise e na via das pentose fosfato. Logo, ela tem como principais destinos:

Armazenada: glicogênio, amido, sacarose. Oxidada através da glicólise: piruvato. Oxidada através da via das pentoses fosfatos.

OBS

1: Tipos de degradação da glicose.

Glicólise anaeróbica: Ocorre na ausência de oxigênio, produzindo dois moles de ATP por molécula de glicose.

Glicólise aeróbica: Presença de oxigênio com produção de 2 moles de ATP e 2 de NADH. VIA GLICOLÍTICA É a via metabólica, que ocorre no citosol, responsável por quebrar a molécula de glicose nos tecidos é uma série de 10 reações que prepara a glicose para o fornecimento de energia, convertendo-a em piruvato.

A via glicolítica pode acontecer aerobicamente ou anaerobicamente. Nesta, o rendimento é de apenas 2 moléculas de ATP, enquanto a via aeróbica, o rendimento e de cerca de 38 ATP, sendo muito mais vantajosa. Note que a formação de piruvato a partir da glicose pode ocorrer de forma anaeróbica, sendo transformada em lactato (como nos músculos lisos). OBS²: Principais fontes de carbono e energia para a glicólise:

Carboidratos: Amido: nutriente derivado dos vegetais (maltose e isomaltose) Lactose: componente do leite (glicose e galactose) Sacarose: presente nas frutas (glicose e frutose)

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Glicose: produto da digestão do amido, sendo a forma de carboidrato mais abundante nas células do corpo.

Glicogênio: forma de armazenamento da glicose nos animais, sendo classificado como um polímero de glicose. A via glicolítica está dividida em duas fases distintas: fase de investimento (a glicose transformada em gliceraldeído-3-P por meio de uma via em que não há ganho de ATP, mas sim, uso de energia) e fase de ganho de energia (gliceraldeido-3-P transformado em piruvato, produzindo quatro moléculas de ATP), tendo um rendimento geral de 2 ATP. 1. Fase de Investimento: - 2ATP

A glicose, para entrar e ser armazenada dentro das células, deve ser fosforilada. Para isso, a enzima glicoquinase (no tecido hepático) ou a hexocinase (nos demais tecidos) retira uma partícula de fósforo de um ATP e o introduz na molécula deste carboidrato, formando a glicose-6-fosfato. Esta constitui um substrato da enzima fosfoglico-isomerase, responsável por convertê-la em frutose-6-fosfato. A fosfofruto-cinase-1 é a enzima responsável pelo uso de mais uma molécula de ATP nesta via de investimento, formando frutose-1,6-bifosfato, uma molécula de 6 carbonos que pode ser degradada em 2 moléculas menores (diidroxiacetona-fosfato e gliceraldeído-3-fosfato, cada uma com 3 átomos de carbono) através da ação da aldolase. Destas duas moléculas menores, apenas o gliceraldeído-3-P é capaz de participar da 2ª fase da via glicolítica.

2. Fase de ganho energético: -2ATP + 2ATP + 2ATP = 2ATP + 2 moléculas de NADH+H

+.

Para cada molécula de glicose, entram na fase de ganho energético da via glicolítica duas moléculas de gliceraldeído-3-fosfato (portanto, todo saldo de ATP a cada reação será multiplicado por 2). Cada molécula de gliceraldeído-3-fosfato ganha um átomo de fósforo inorgânico (Pi) na reação catalisada pela enzima gliceraldeído-3-fosfato-desidrogenase. Nesta reação, ocorre a formação de 2 moléculas de NAD+H

+ (cada uma

destas moléculas será convertida em 3 moléculas de ATP na última etapa do metabolismo energético aeróbio do corpo: a cadeia respiratória; portanto, estas moléculas de ATP não entram na contagem do saldo da via glicolítica). Esta reação forma, então, duas molécula de 1,3-bifosfoglicerato, convertidas pela fosfogliceratocinase em duas moléculas de 3-fosfoglicerato, reação que rende as 2 primeiras moléculas de ATP da via glicolítica. As moléculas de 3-fosfoglicerato são convertidas em duas moléculas de 2-fosfoglicerato pela enzima fosfoglicerato-mutase, a qual não produz ATP, mas apenas muda a localização do fosfato na cadeia de carbono. A conversão das moléculas de 2-fosfoglicerato em fosfoenolpiruvato ocorre graças a ação da enzima enolase, a qual promove uma reação de desidratação. As duas moléculas de fosfoenolpiruvato são então convertidas em piruvato, através da reação catalisada pela piruvato-cinase, formando mais 2 moléculas de ATP. OBS

3: A via glicolítica ocorre tanto na presença quanto na ausência de

O2. OBS

4: Note que há três reações irreversíveis na via glicolítica (a 1ª, a 3ª

e a 10ª reação), sendo elas as reguladoras da via glicolítica. Porém, a principal reguladora é a enzima fosfofrutocinase (3ª reação), que não permite a continuação da via se houver algum erro.

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ENZIMAS REGULADORAS DA GLICÓLISE

1. Fosfofrutoquinase: Principal enzima de controle da via glicolítica. Catalisa a etapa comprometedora da via glicolítica que é a fosforilação da frutose -6-fosfato a frutose

1,6-bifosfato. Regulada por efetores alostéricos negativos: ATP, citrato e íons hidrogênio. Regulada por efetores alostéricos positivos: AMP e frutose-2,6-difosfato.

2. Hexocinase

Catalisa a primeira reação da glicólise É inibida pela elevação da concentração de glicose 6-fosfato A inibição da fosfofrutoquinase leva a inibição da hexoquinase.

2. Glicoquinase: isoenzima da hexoquinase presente no fígado.

Não é inativada pela glicose 6-fosfato Fornece glicose 6-fosfato para a síntese do glicogênio Proporciona ao cérebro e aos músculos a primeira opção à glicose quando o seu suprimento é limitado.

3. Piruvato quinase

Quando o nível de glicose é baixo, o glucagon dispara uma série de reações de AMP cíclico fosforilando a piruvato quinase diminuindo a sua atividade.

Atividade reduzida pela alta concentração de ATP. OBS

5: Defeitos nessas enzimas da via glicolítica são muito raras, pois, é incompatível à vida um indivíduo ser incapaz de

realizar a glicólise. Defeito na enzima piruvato quinase, por exemplo, gera um quadro de anemia hemolítica, pois ela está relacionada com a ATPase que dá o aspecto bicôncavo da hemácia. INIBIDORES DA GLICÓLISE

1. A 2-desoxiglicose: É um outro substrato da hexoquinase, que pode dar preferência a ela, formando 2-desoxiglicose 6-

fosfato. A 2-desoxiglicose 6-fosfato não é um substrato da reação catalisada pela fosfoglico isomerase. A 2-desoxiglicose 6-fosfato acumula-se na célula e compete com a enzima.

2. Reagentes sulfidrílicos: Inibem a glicerol 3-fosfato desidrogenase. 3. Fluoreto: o anticoagulante fluoreto impede que as hemácias consumam a glicose do soro para análise, inibindo

a enzima enolase (impedindo que ocorra a via glicolítica), evitanto a coleta de resultados errôneos, diferentemente do anticoagulante EDTA.

REGENERAÇÃO DO NAD+

O NAD oxidado (NAD+) tem uma concentração limitada no citosol, porém, ele é de suma importância para realizar a 6ª reação da via glicolítica, quando se converte em NAD reduzido (NADH+H

+). Por isso, é necessário uma

regeneração (reoxidação) do NAD para que essa molécula mantenha suas concentrações citosólicas constantes e participe da via glicolítica.

Essa regeneração ocorre em duas condições: 1. Condição anaeróbica: Quando o piruvato é convertido

em lactato, ele utiliza o NAD reduzido, recuperando-o como NAD oxidado. A enzima que catalisa essa reação é a lactato desidrogenase.

OBS

6: Quando o lactato é produzido demasiadamente pelos músculos em exercícios rigorosos, esse lactato causa

acidez nas fibras musculares, gerando câimbras.

2. Condição aeróbica: se dá por meio de duas lançadeiras: a malato-aspartato (rende 3 ATPs por meio da NADH+H

+) e a glicerol-fosfato (rende 2 ATPs, por meio do FADH2). Esse rendimento energético se dá

justamente por meio desses equivalentes redutores (NAD e FAD) que, quando reduzidos, participam da cadeia respiratória na mitocôndria. Porém, é interessante manter a concentração de NAD oxidado no citoplasma, daí a importância dessas lançadeiras.

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a) Lançadeira malato-aspartato: neste conjunto de reações, o α-cetoglutarato (α-KG) e o aspartato são convertidos em aspartato e oxalacetato a partir da ação da aspartato-amino transferase (TGO), isto é, uma reação de transaminação (OBS

14). O oxalacetato é convertido em malato graças à reação catalisada pela

enzima malato desidrogenase citosólica – reação responsável por restaurar a molécula de NAD, a qual torna-se novamente oxidada para participar da via glicolítica. Para que estas reações continuem acontecendo, é necessário que o malato forme aspartato novamente. Para isso, o malato deve entrar na mitocôndria por meio de um sistema anti-porte (isto é: o malato entra na organela em troca de uma molécula de α-KG). Uma vez na mitocôndria, o malato é convertido em oxalacetato, o qual é convertido, junto ao glutamato, em aspartato. O aspartato, então, sai da mitocôndria (em troca de uma molécula de glutamato que entra na organela) e inicia o ciclo novamente.

b) Lançadeira Glicerol-fosfato: o diidroxiacetona-fosfato formado a partir da degradação da glicose-6-fosfato na

última reação da 1ª fase da via glicolítica, pode ser convertida em gliceraldeído-3-fosfato (pela enzima triose-fosfato-isomerase, para então participar da 2ª fase da via glicolítica) ou em glicerol-3-fosfato (por meio da ação da enzima glicerol-3-desidrogenase). Nesta reação, ocorre a regeneração do NAD para restabelecer seus níveis citosólicos.

OBS

7: FADH2: 2 ATPs; e NADH+H

+: 3 ATPs

O NADH mitosólico formado pela lançadeira malato-aspartato pode ser utilizado pela cadeia respiratória, para a produção de três moléculas de ATP pela fosforilação oxidativa.

O FADH2 obtido pela lançadeira glicerol fosfato gera apenas duas moléculas de ATP:

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GLICONEOGÊNESE Após uma refeição rica em

carboidratos, os níveis de glicose se elevam. Nesse momento, a insulina é liberada facilitando a captação de glicose pelas células, sendo fosforilada para seguir três caminhos. Um desses caminhos é o armazenamento e forma de glicogênio, que durante os intervalos das refeições, será degradado para fornecimento de energia com o auxílio da liberação de glucagon. Porém, esse glicogênio se esgota em um prazo de 18 a 24 horas. Em um jejum prolongado, o organismo lança mão de outro meio para buscar energia, como a gliconeogênese ou a lipólise (β-oxidação).

A gliconeogênese é a formação de glicose a partir de substâncias que não são carboidratos: piruvato, lactato, alanina e glicerol. É uma via universal encontrada em todos os animais, vegetais, fungos e microorganismos. OBS

8: A alanina utilizada na gliconeogênese é garantida pela dieta (resultado da degradação protéica), pois o organismo

dificilmente utiliza proteínas armazenadas no corpo (massa magra), uma vez que elas são essenciais para inúmeras outras funções. A gliconeogênese, assim como na glicólise, ocorre por meio de 10 reações (que resultam em piruvato). A diferença, é que a primeira se dá no percurso inverso da segunda, em que teremos piruvato dando origem a glicose. Sete, das 10 enzimas da glicólise, são as mesmas. Mudam apenas as enzimas das reações irreversíveis (hexocinase – 1ª; frutocinase-1 – 3ª; e piruvato quinase-10ª). FORMAÇÃO DE GLICOSE A PARTIR DO LACTATO

O lactato é formado a partir de piruvato quando a via glicolítica segue na ausência de oxigênio, como em um músculo em atividade intensa. Vale lembrar também que, nessa condição anaeróbica, até o NAD é reoxidado. Na presença de O2, o piruvato segue o ciclo de Krebs, resultando em CO2 e H2O.

O glicogênio é quebrado pela via glicolítica até formar piruvato (muscular), que será transformado em lactato pela enzima lactato desidrogenase. Este cairá na corrente sanguínea para ser novamente transformado em piruvato no fígado pela mesma enzima (reação reversível), para seguir a via da gliconeogênese, transformando-se em glicose-6-fosfato para ser disponibilizada para os diversos tecidos para obtenção de energia.

Ao chegar aos hepatócitos, o piruvato entra nas mitocôndrias, pois só esta organela possui enzimas capazes de transformar o piruvato em uma substância gliconeogênica. OBS

9: Indivíduos que tem deficiência na enzima biotinase,

vão sofrer de hipoglicemia por não acontecer a gliconeogênese, que tende a manter constantes os níveis glicêmicos (homeostase). O exame desta enzima é parte do “teste do pezinho”. OBS

10: A gliconeogênese ocorre no citoplasma, apenas

essa pequena parte das reações (ao lado) ocorre nas mitocôndrias para que o lactato seja convertido em uma substância gliconeogênica (oxaloacetato).

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a) Lactato é formado a partir do Piruvato (formado pela via glicolítica). Nos músculos o Piruvato é convertido em lactato pela lactato desidrogenase. b) Lactato através da corrente sangüínea vai para o fígado. c) No fígado, o lactato é convertido em piruvato pela ação da lactato desidrogenase. O piruvato não forma o fosfoenolpiruvato (reação irreversível). d) O piruvato penetra na mitocôndria e sofre uma carboxilação pela ação da piruvato carboxilase, formando oxaloacetato. Essa enzima requer biotina como cofator. e) O oxaloacetato não é transportado para o citosol e é transformado em malato pela malato desidrogenase, a qual através de transportadores de membrana é transportado para o citosol. f) No citosol, o malato é transformado em oxaloacetato pela malato desidrogenase citosólica. g) O oxaloacetato é descarboxilado pela fosfoenolpiruvato carboxicinase, formando o fosfoenolpiruvato. h) O fosfoenolpiruvato, através das reações da gliconeogênese, forma a glicose-6-P, a qual pela ação de glicose-6-fosfatase, forma a glicose.

OBS

11: A glicose formada pela via gliconeogênica segue pela corrente sangüínea e é usado como fonte de energia pelos

músculos e outros tecidos. OBS

12: Reações da via glicolítica que não são utilizadas pela gliconeogênese.

1ª reação:

3ª reação:

10ª reação: Na gliconeogênense, essas reações, por serem irreversíveis, serão catalisadas por novas enzimas: 10ª reação:

3ª reação:

1ª reação:

OBS

13: A via da gliconeogênese requer gasto de ATP, sem ter nenhum rendimento. Essa energia é proveniente da β-

oxidação, que nos dá uma boa produção de ATP.

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VIA DA GLICONEOGÊNESE A PARTIR DO GLICEROL O glicerol é produzido pela lipólise dos triglicerídeos no fígado. Ele é fosforilado pela glicerol cinase, formando o

glicerol-3-P. Este se transforma em diidroxiacetona-P, através da enzima glicerol-3-P-desidrogenase. São necessários 2 moléculas de glicerol (3 C), uma forma diidroxiacetona-P e a outra gliceraldeído-3-P. Juntas

formam a frutose-1,6-bifosfato, a partir daí segue as reações da gliconeogênese para a formação da glicose.

VIA DA GLICONEOGÊNESE A PARTIR DA ALANINA No músculo, o piruvato resultante da glicólise, pode ser convertido em alanina

pela reação de transaminação. A alanina vai para a corrente sanguínea e segue para o fígado.

No fígado, a alanina é convertida novamente em piruvato, e este é usado para produzir glicose pela via gliconeogênese em um processo semelhante ao do lactato.

OBS

14: Reação de transaminação: um aminoácido se

liga a um α-cetoácido e seu grupo amino é transferido, tornando-se em outro aminoácido. AMINOÁCIDOS GLICONEOGÊNICOS

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VIAS OPOSTAS DA GLICÓLISE E DA GLICONEOGÊNESE

INIBIÇÃO DA GLICONEOGÊNESE

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BIOQUÍMICA: CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO (CICLO DE KREBS)

O piruvato é uma molécula comum ao metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas. Ele tem vários caminhos: se for anaeróbico, forma lactato; se o metabolismo for aeróbico, forma acetil coenzima A, que dá continuidade ao ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs. Este ciclo acontece na matriz mitocondrial. CONSIDERAÇÕES GERAIS FUNÇÕES DO CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO

Gerar equivalentes redutores (NADH e FADH2) que serão utilizados pelas células para síntese de ATP na cadeia respiratória.

É uma via anfibólica (serve tanto a processos catabólicos quanto anabólicos), em que os intermediários do ciclo tanto servem para processos catabólicos quanto para anabólicos.

Produz a maior parte do CO2 (2 moléculas) formado nos tecidos humanos; Transfere o excesso de energia e intermediários para a síntese de ácidos graxos; Fornece precursores para a síntese de aminoácidos, proteínas e ácidos nucleicos (oxaloacetato e o α-

cetoglutarato). Fornece uma molécula de GTP, que corresponde a uma de ATP.

FONTES E DESTINOS DA ACETIL CoA

Completa oxidação do grupamento acetil no ciclo dos ácidos tricarboxílicos para geração de energia caso o organismo necessite.

No fígado, conversão de acetil CoA em corpos cetônicos (acetoacetato e b-hidroxibutirato).

Transferência das unidades acetil para o citosol para a biossíntese de esteroides, e ácidos graxos.

FORMAÇÃO DE ACETIL CoA A PARTIR DO PIRUVATO

OBS

1: Complexo da piruvato desidrogenase: Enzima localizada na matriz

mitocondrial presente em altas concentrações no músculo cardíaco e rim. Realiza uma reação irreversível (alto valor negativo do delta Go) e representa a principal razão pela qual a acetilCoA formado pela degradação dos ácidos graxos não seja convertida em piruvato.

E1: Piruvato desidrogenase Tiamino Pirofosfato (TTP) E2: Diidrolipoil Transcetilase (Ácido lipoico, CoA) E3: Diidropolil Desidrogenase (FAD e NAD)

REGULAÇÃO DO COMPLEXO PIRUVATO DESIDROGENASE

A acetil CoA e NADH inibem o complexo de maneira competitiva. Duas formas do complexo: ativa (forma desfosforilada) e a inativa (forma

fosforilada). A proteína cinase Mg

++ ATP-dependente é responsável pela inativação do

complexo. A fosfoproteína fosfastase Mg

++ Ca

++ dependente é responsável pela ativação

do complexo.

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OBS2: Estrutura da CoA.

OBS3: A acetil CoA não se transforma em piruvato, pois a reação catalisada pelo complexo da piruvato desidrogenase é

irreversível. Logo, ela não entra na gliconeogênese. CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO

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O piruvato, molécula comum ao

metabolismo de carboidratos (via glicolítica), lipídios e proteínas, sofre ação do complexo da piruvato desidrogenase, formando a acetil-CoA (com 2 carbonos em sua cadeia principal) e a primeira molécula de NADH desta etapa.. Deste modo, a acetil-CoA pode entrar para participar do ciclo de Krebs.

Logo no início, a acetil-CoA e uma molécula de oxalacetato (4 carbonos) passam por uma reação de condensação (catalisada pela enzima citrato sintase), formando o citrato (com 6 carbonos). Nesta reação, ocorre o uso de uma molécula de água e a perda da CoA-SH. O citrato passa por uma hidratação catalisada pela aconitase, formando isocitrato. Este, por sua vez, sofre ação da isocitrato desidrogase e perde um átomo de carbono (na forma de CO2) e um átomo de hidrogênio (formando o segundo NADH

da reação). Esta reação é caracterizada

por esta dercarboxilação oxidativa, formando o α-cetoglutarato (α-KG, com 5 carbonos).

O α-KG, graças a ação da α-cetoglutarato desidrogenase, recebe uma CoA-SH, perde um átomo de carbono (na forma de CO2). Nesta reação (também caracterizada por uma descarboxilação oxidativa) ocorre a formação de mais um NADH e resulta na formação de uma nova molécula – o succinil-CoA (com 4 carbonos) – que dará continuidade ao ciclo.

O succinil-CoA, por sua vez, sofre uma reação de fosforilação catalisada pela succinil CoA-sintetase, liberando a CoA-SH e formando o succinato. Este sofre uma desidrogenação catalisada pela enzima succinato desidrogenase, formando FADH2 e fumarato, que passa por uma hidratação catalisada pela fumarase, formando o malato. Este, por ação da malato desidrogenase, forma o oxalacetato e mais uma molécula de NADH. Este oxalacetato restaurado volta a participar do ciclo de Krebs ao ser condensado a uma nova molécula de acetil-CoA, dando continuidade ao ciclo.

Portanto, para cada acetil-CoA que entra no ciclo de Krebs, temos o seguinte rendimento: 4 NADH 4 x 3 ATP = 9 ATP 1 FADH 1 x 2 ATP = 2 ATP 1 GTP 1 ATP

FORMAÇÃO DO CITRATO

O citrato se forma já na primeira reação, em que há uma condensação do oxalacetato com a acetil CoA, reação catalisada pela citrato sintase. OBS

4: O fluorocetato, substância presente no veneno de rato, se liga com a CoA desta primeira reação formando o monofluoracetil

CoA. Nessa configuração, ele se condensa com o oxaloacetato formando o monofluoracitrato, que inibe a ação da enzima aconitase

(que não reconhece este substrato), bloqueando assim, gradativamente e completamente, o ciclo de Krebs. Isso resulta em uma carência grande de energia pelo organismo, o que leva a morte. OBS

5: A ingestão demasiada de carboidratos causa excesso de acetil-CoA, que, entrando no ciclo de Krebs, gera um excesso de

isocitrato. Este composto, quando em excesso, inibe a ação da enzima isocitrato desidrogenase. Com isso, o isocitrato passa a se acumular na mitocôndria, e, por reversão, se converte em citrato novamente, que escapa do ciclo na matriz mitocondrial para o citosol (por meio de transportadores). Lá, este citrato será degradado em acetil CoA e Oxaloacetato através da enzima citrato liase. Estando no citosol, a acetil-CoA será convertida em ácidos graxos e colesterol por biossíntese. Por meio deste mecanismo, conclui-se então que o excesso de carboidratos engorda.

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DESTINOS E FUNÇÃO DO CITRATO

BIOSSÍNTESE DE ÁCIDOS GRAXOS E ESTEROIDES A PARTIR DO CITRATO O citrato, formado na mitocôndria (condensação da acetil CoA e oxaloacetato), atravessa a membrana mitocondrial em troca do malato. No citoplasma, vai sofrer ação da ATP citrato liase formando, novamente, acetil CoA e oxaloacetato. Este primeiro é utilizado na biossíntese de esteroides e ácidos graxos (ver OBS² na página anterior). FORMAÇÃO DO α-CETOGLUTARATO O α-cetoglutarato, dependendo do estado metabólico do indivíduo, pode ser liberado do ciclo do ácido cítrico e sofrer uma transaminação para formar amino ácidos gliconeogênicos. OBS

6: Todos os aminoácidos são gliconeogênicos, exceto a lizina e a leucina.

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FONTES E DESITINOS DO SUCCINIL CoA O succinil CoA é fonte da β-oxidação de ácidos graxos de cadeia ímpar (os 3 ultimos carbonos do ácido graxo formarão o propionil CoA, precursor da succinil). Ele pode deixar o ciclo do ácido cítrico, dependendo do estado metabólico, e participar da síntese das porfirinas (como o grupo heme, porfirina ligada a Fe). Além disso, ele pode se condensar com o acetoacetato, formando o aceto acetil CoA.

OBS

7: A α-cetoglutarato desidrogenase é um

complexo enzimático formado por: α-cetoglutarato desidrogenase (E1), diidrolipoil-transuccinilase (E2) e diidrolipoil-desidrogenase (E3). OBS

8: Como na via glicolítica, um defeito enzimático

no ciclo de Krebs é raro por ser incompatível com a vida.

REGULAÇÃO DO CICLO DE KREBS

O excesso de acetil CoA e de NADH inibe o complexo piruvato quinase, pois a acetil CoA ativa a enzima piruvato quinase que fosforila a piruvato desidrogenase, tornando-se inativa. Já o magnésio e o cálcio reativem essa enzima.

Citrato-sintase Inibida: NADH, Succinil CoA, Citrato e ATP Ativada: ADP

Isocitrato-desidrogenase Inibida: ATP Ativada: Ca 2+ e ADP

α-cetoglutarato desidrogenase Inibida: Succinil Coa, NADH Ativada: Ca 2+

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FUNÇÕES ANFIBÓLICAS DO CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO RENDIMENTO ENERGÉTICO DA GLICOSE Durante a via glicolítica, além da formação de 2 ATP, são obtidos dois equivalentes redutores NADH que devem ser transportados do citoplasma para a mitocôndria para participar da cadeia respiratória (e assim, converter-se em 3 moléculas de ATP cada). Cada glicose forma, então, duas moléculas de piruvato, que vão se transformar em acetil CoA por meio de uma descarboxilação oxidativa com a produção de dois mols do equivalente redutor NADH, já na mitocôndria. No ciclo do ácido cítrico, o rendimento é de 6 NADH, 2 FADH2 e duas moléculas de GTP (equivalente ao ATP), resultando em CO2 e água. Portanto, de um modo geral, para cada molécula de glicose, temos o seguinte rendimento energético: Via glicolítica

2 NADH 2 x 3 ATP = 6 ATP 2 ATP

2 Piruvato – 2 Acetil-CoA 2 NADH 2 x 3 ATP = 6 ATP

Ciclo de Krebs

6 NADH 6 x 3 ATP = 18 ATP 2 FADH2 2 x 2 ATP = 4 ATP 2 GTP 2 ATP

TOTAL = 38 ATP

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BIOQUÍMICA: TRANSPORTE DE ELÉTRONS E FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA – CADEIA RESPIRATÓRIA

De uma maneira geral, a oxidação da glicose em CO2 e água rende, de forma direta, apenas 4 moléculas de ATP: 2 ATPs na glicólise e 2 ATPs no ciclo do ácido cítrico. O restante do rendimento energético oriundo do metabolismo da glicose se dá por conta dos equivalentes redutores (NADH e FADH). Daí a importância da fosforilação oxidativa (cadeia respiratória), em que os equivalentes redutores transferem seus elétrons para gerar energia na forma ADP+Pi. A cadeia respiratória consiste em um complexo proteico, localizado na membrana interna da mitocôndria, cujas proteínas são especializadas no transporte de elétrons. Consiste no conjunto de reações de oxi-redução, em que o NAD transporta seu elétron, oxidando-se e reduzindo uma determinada proteína do complexo, que, por sua vez, reduz a próxima, gerando assim uma cadeia. Essa cadeia ocorre nas cristas mitocondriais. Os complexos da cadeia estão localizados na membrana interna da mitocôndria, e são eles: CI, CII, CIII e CIV; e dois complexos menores que são a ubiquinona e o citocromo C. São bombas de prótons que se reduzem ao receber os elétrons dos NADH e FADH, gerando uma força protomotriz, que é convertida em uma força eletromotriz. No momento do transporte de elétrons, os H+ (prótons) são lançados no espaço inter-membranoso para depois retornar por um complexo ATP sintase e gerar energia.

É na volta do H+ para a matriz mitocondrial através deste complexo ATP sintase que é gerada energia suficiente para a produção de ATP a partir de ADP+Pi. O ADP que vai ser transformado em ATP entra na mitocôndria pela ADP translocase.

MITOCÔNDRIAS As mitocôndrias são organelas complexas, responsáveis principalmente pela respiração celular, ou seja, obtenção de energia. Suas funções, de um modo geral, são:

Oxidação dos metabólicos energéticos: produção de nucleotídeos reduzidos. Transporte de elétrons:

Os elétrons de nucleotídeos reduzidos são transferidos através de uma sequência de reações para o oxigênio formando a água.

A energia livre disponível da oxidação das coenzimas reduzidas é utilizada para bombear os átomos para o exterior da mitocôndria.

O gradiente de prótons é descarregado através de uma enzima que utiliza a energia livre do gradiente de prótons para sintetizar ATP a partir de ADP e fosfato.

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PRINCIPAIS COMPONENTES DA CADEIA RESPIRATÓRIA

Complexo I (NADH-CoQ-redutase): Flavoproteínas (FMN) e 6 grupos ferro-enxofre ( [2 Fe-2S] e [4 Fe-4S] ).

Complexo II (succinato-CoQ-redutase): FAD e 6 grupos ferro-enxofre ( [4 Fe-4S] e [2 Fe-2S] ) e citocromo b560.

Complexo III (CoQ-citocromo c redutase): Citocromo b, citocromo c1 , [2Fe-2S].

Complexo IV (citocromo c oxidase): Citocromo a, citrocromo a3 , centro CuA e CuB .

Coenzima Q10 (Ubiquinona): a Coenzima Q10 (CoQ10), ou ubiquinona, conecta as flavoproteínas do complexo I e complexo II com os citocromos. Essa coenzima age como um coletor de todos os hidrogênios que entram na cadeia respiratória. Quando a CoQ é reoxidada, elétrons, e não átomos de hidrogênio, são transferidos para o componente seguinte da cadeia. Os prótons são liberados para a matriz mitocondrial.

Citocromo: Os citocromos são proteínas que contêm o grupo heme (complexo de porfirina e ferro). Os citocromos b e c1: o grupo heme é a protoporfirina férrica IX. O citocromo c : possui grupo heme C (ligado a cisteína). Os citocromos a e a3 : contêm heme A (ligado a uma cadeia lateral de isopreno). São agentes transferidores de elétrons. O ferro dos citocromos pode sofrer mudança reversível de Fe 3+ para Fe 2+ e, portanto são carregados

de elétrons. CADEIA RESPIRATÓRIA A fosforilação oxidativa justifica a quantidade de ATPs que cada equivalente redutor pode oferecer e como seus elétrons são convertidos em energia. De uma forma geral, podemos afirmar que:

NADH: rende 3 ATP.

FADH: rende 2 ATP. A oxidação de NADH e FADH2 é realizada pela cadeia de transporte de elétrons ou cadeia respiratória e corresponde à primeira fase da fosforilação oxidativa. É formada por três bombas de prótons impulsionadas por elétrons. Os elétrons são transferidos do NADH para o O2 através de uma cadeia de três grandes complexos protéicos: NADH-Q redutase, citocromo C redutase e citocromo C oxidase. Os grupamentos transportadores de elétrons nessas enzimas são: flavinas, aglomerado ferro-enxofre, hemos e iontes-cobre. Os elétrons são carreados do Complexo I e do Complexo II para o Complexo III pela Coenzima Q10 (UQ10 ou ubiquinona), e do Complexo III para o Complexo IV pela proteína periférica da membrana, o citocromo c.

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Os elétrons do NADH são transferidos para o complexo I, enquanto que os eletrons do FADH2 são transferidos para o complexo II. O complexo I é independete do complexo II, e vice-versa. Este fato explica o rendimento energético de cada equivalente redutor (ver OBS

3).

A ubiquinona (Q) recebe os eletrons tanto do complexo I (oriundos do NADH) e do complexo II (oriundos do FADH2), e os transfere para o complexo III de forma sequencial, ou seja, em cadeia. Os hidrogênios são lançados para o espaço intermembranoso, produzindo energia na forma de ATP. Os elétrons então transferidos para o complexo III são enviados ao citocromo C e deste para o complexo IV. Este transfere o elétron para o O2 que, reduzido, reage com os H

+ que retornam (após gerar energia na ATP sintase) à

matriz para formar H2O. Essa água produzida pela cadeia respiratória é suficiente para manter animais hibernantes vivos e hidratados. O CO2, outro produto da quebra da glicose, é proveniente do ciclo de Krebs. OBS

1: Vale relembrar preceitos básicos da química que: Quem oxida, perde elétrons; Quem reduz, ganha elétrons.

OBS²: Os complexos I, III e IV são chamados de bomba de prótons, pois são capazes de lançar o H+ para o espaço intermembranoso, gerando uma força eletromotriz, sendo capaz, então, de gerar energia. Já o complexo II não gera energia suficiente para lançar H

+ no espaço intermembranoso, sendo então excluso desse grupo.

OBS³: O fato do NADH lançar seus eletrons já no complexo I, justifica seu rendimento de 3 ATPs. Já o FADH, que lança seus eletrons no complexo II, deixa de ganhar uma molécula de ATP, gerando apenas 2 ATPs (observe melhor na figura acima). Serão demonstrados agora, com mais detalhes, as reações que ocorrem no íntimo de cada complexo que compõe a cadeia respiratória. COMPLEXO I O complexo I (NADH desidrogenase, NADH-CoQ-redutase) catalisa a oxidação de NADH pela Ubiquinona (UQ):

NADH + H+ + UQ (oxidada) → NAD+ + UQH2 (reduzido) Os elétrons do NADH são transferidos para o FMN

(flavinamononucleotídeo), grupamento prostético da NADH-Q redutase, formando FMNH2 reduzida. Essa redutase contém um segundo grupo prostético que são centros Fe-S. Os elétrons são então transferidos do FMNH2 para o aglomerado Fe-S. Por sua vez, os elétrons do Fe-S são transferidos a UQ.

O fluxo de dois elétrons do NADH para o UQH2, através da NADH-Q redutase, resulta no bombeamento de quatro H+ da matriz para o lado citosólico da membrana mitocondrial interna.

COMPLEXO II O Complexo II (Complexo succinato-Q redutase) catalisa a oxidação de FADH2 pela UQ:

FADH2 + UQ (oxidada) → FAD + UQH2 (reduzida)

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Essa reação não libera energia livre suficiente para sintetizar o ATP. Ela serve somente para injetar os elétrons a partir do FADH2 (originado na lançadeira glicerolfosfato, ciclo de Krebs e processo de β-oxidação de ácidos graxos) na cadeia de transporte de elétrons.

O complexo succinato-Q redutase e outras enzimas que transferem elétrons de FADH2 para UQ não são bombas de prótons porque a variação de energia livre é muito pequena.

Formam-se, portanto, menos ATP pela oxidação da FADH2 do que pela NADH. COMPLEXO III O complexo III (ubiquinol-citocromo c redutase) catalisa a oxidação da UQ pelo citocromo c.

UQH2(reduzida ) + citocromo c (oxidado) → UQ (oxidado) + citocromo c (reduzido)

Os elétrons fluem do ubiquinol para o citocromo c através da citocromo redutase. A segunda das três bombas de prótons na cadeia respiratória é a citocromo redutase. A função do citocromo redutase é de catalisar a transferência de elétrons de UQH2 para o citocromo c, que é

uma proteína hidrossolúvel que bombeia prótons pela membrana mitocondrial interna. O ubiquinol transfere um de seus elétrons de alto potencial ao aglomerado F-S na redutase. Esse elétron é

transferido seqüencialmente ao citocromo c1 e ao citocromo c, que o leva para fora do complexo. COMPLEXO IV O complexo IV é também chamado de citocromo oxidase.

Citocromo c (reduzido) + O2 → citocromo c (oxidado) e H2O A citocromo oxidase, o último dos três complexos bombeadores de prótons da cadeia respiratória, catalisa a transferência de elétrons do citocromo c (a forma reduzida) para o oxigênio molecular, o aceptor final.

4 Cit c (+2) + 4H+ + O2 → 4 cit c (+3) + 2H2O A citocromo oxidase contém citocromos a e a3, bem como dois iontes cobre. Um ferro do hemo e um ionte nessa oxidase transferem elétrons para o O2, o aceptor final, formando H2O. Quatro elétrons são levados ao O2 para reduzi-lo completamente a H2O e bombear prótons da matriz mitocondrial para o lado citosólico da membrana mitocondrial interna, gerando o bombeamento de prótons para fora da matriz mitocondrial que gera uma força próton-motriz constituída de um potencial elétrico transmembrana. OBS

4: O cobre (Cu) é extremamente importante ao recém-nascido, que não tem reservas desse íon. Por isso que não

se deve alimentar bebês com leite da gado, que é pobre em Cu, trazendo distúrbios à cadeia respiratória. FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA A fosforilação oxidativa é o processo que explica a formação de ATP quando elétrons do NADH ou do FADH2 são transferidos até uma molécula de oxigênio por intermédio de uma série de transportadores de elétrons. Esta é a principal fonte de ATP para os organismos aeróbicos. No caso da quebra ou bloqueio deste processo, o indivíduo passa a realizar a via glicolítica anaeróbica, resultando em uma acidemia lactica devido á produção de lactato. SÍNTESE DE ATP

O bombeamento de prótons para fora da matriz mitocondrial gera uma força próton-motriz constituída de um potencial elétrico transmembrana.

O ATP é sintetizado quando os prótons fluem de volta à matriz mitocondrial através de um complexo enzimático chamado de ATP sintase (ver tópico logo adiante). Portanto, a oxidação e a fosforilação estão acopladas por um gradiente de prótons através da membrana mitocondrial interna.

A força eletromotriz é convertida à força próton-motriz e daí a um potencial de fosforilas. OBS

5: Elementos desacopladores são substâncias que inserem o próton H

+ para si, levando-o para a matriz

mitocondrial sem que esses prótons passem pela ATP sintase, gerando energia não em forma de ATP, mas em forma de calor. São exemplos: 2,4-dinitrofenol (sintético), a termogenina (desacoplador natural) presente no tecido adiposo marrom (recém-nascidos e animais hibernantes). Essas substâncias eram usadas da década de 50 para perda de peso, pois, como há pouca produção de energia devido ao uso de elementos desacopladores, mais glicose seria metabolizada. OBS

6: Grandes concetrações de desacopladores é fatal, pois o ATP seria fruto apenas da quebra anaeróbica.

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COMPLEXO ATP SINTASE A ATP sintase é um complexo enzimático que sintetiza o ATP na membrana mitocondrial interna. Seus componentes são:

• Canal de prótons (Fo): é a porção da ATP sintase em forma de tubo que é sensível à oligomicina, um potencial inibidor deste complexo e, portanto inibe também a fosforilação oxidativa.

• F1 ATP Sintase: sintetiza ATP em conjunto com Fo. Esta ligado ao canal de prótons por meio de um tronco. Possui subunidades α e β intercaladas circundantes a uma subunidade γ. Quando o H

+ flui de volta a matriz mitocondrial através

do canal de prótons, ocorre uma rotação da subunidade γ que provoca uma modificação conformacional dessas subunidades. Acredita-se que essa modificação é a responsável pela ligação do ADP com o Pi. A subunidades β constituem três sítios distintos: um sítio vazio, onde se liga o ADP; outro sítio para ligação do ADP+Pi e outro para a liberação do ATP. As subunidades α reagem como o H

+ para gerar a mudança conformacional.

O ADP entra na mitocondria pela ADP translocase. OBS

7: Tanto o complexo FoF1 como o F1 isolado, hidrolisa ATP

em ADP e Pi. A função biológica da ATP sintase é catalisar a formação do ATP a partir de ADP e Pi.

INIBIDORES DA CADEIA RESPIRATÓRIA

Rotenona: inseticida que inibe o complexo I da cadeia respiratória. Isso não impede que a cadeia prossiga, pois só inibe a utilização do NAD. O FAD continua sendo usado através do complexo II. Portanto, tal substância reduz o rendimento energético de ATP.

Antimicina-A: antibiótico que inibe o complexo III. O ácido ascorbico (um redutor) pode corrigir este quadro por retomar a cadeia de elétrons ao restabeler e corrigir a cadeia a patir do citocromo C, mas tendo uma menor produção de ATP.

Cianeto e Monóxido de Carbono: inibem o complexo IV, o que não é corrigido facilmente. Trata-se, portanto, de uma situação emergencial e grave.

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BIOQUÍMICA: METABOLISMO DAS LIPOPROTEÍNAS

Os lipídios (colesterol, éster de colesterol, triglicerídeos, fosfolipídios, etc.) não circulam livremente no plasma sanguíneo (por ser um meio predominantemente aquoso), mas sim, evolvidos por complexos proteicos denominados lipoproteínas plasmáticas. A lipoproteína tem estrutura esferoide, de caráter micelar, em que na superfície estão os lipídios anfipáticos e no interior os lipídios hidrofóbicos. Além dos lipídios, há também a porção proteica, que pode ser mais periférica ou integral (atravessam toda a estrutura da lipoproteína). Os lipídios se condensam à apoproteína (porção proteica da lipoproteína), formando a estrutura esférica que caracteriza a lipoproteína plasmática. No centro dessa esfera, situam-se os compostos mais apolares: triglicerídeos, ésteres de colesterol. Mais na região periférica se concentram o colesterol e fosfolipídios (por serem menos apolar que aqueles compostos que ficam no centro).

A partícula de lipoproteína é constituída por uma monocamada externa que contém colesterol livre, fosfolipídios e apoproteínas. Os ésteres de colesterol e os triglicerídeos localizam-se no interior da partícula.

Em resumo, as lipoproteínas são partículas esféricas com um centro hidrofóbico (triglicerídeos e colesterol esterificado) e na superfície da membrana, apolipoproteínas, colesterol livre e fosfolipídios. CLASSIFICAÇÃO Podem ser encontradas circulando na corrente sanguínea quatro diferentes tipos de lipoproteínas: quilomícrons, VLDL, LDL e HDL. O que diferencia uma da outra é o conteúdo que cada uma carrega. Esse grupo pode ser classificado quanto a dois critérios:

Quanto à densidade: Quilomícrons: são sintetizados no intestino delgado (enterócitos). São ricos em TGL provenientes da dieta.

Possui um conteúdo proteico muito pequeno (cerca de 1% a 2% de sua massa), sendo então considerada uma molécula leve. Apresentam, principalmente 3 apoproteínas: Apo B48, Apo CII e CIII, Apo E, Apo AI e AII.

VLDL (Very Low Density Lipid): Sintetizada no fígado (hepatócitos). Transporta majoritariamente os TGL endógenos (sintetizados pelo próprio organismo a partir do excesso de carboidratos). Apresenta principalmente 2 apoproteínas: Apo B100 e Apo CIII.

LDL (Low Density Lipid): Transporta majoritariamente o colesterol livre. Tem como principal apoproteína associada a Apo B100.

HDL (High Density Lipid): também sintetizada pelo fígado, transporta principalmente fosfolipídios e ésteres de colesterol. De todas as lipoproteínas, é a que tem maior conteúdo proteico, daí sua designação como “alta densidade”. Tem como principais apoproteínas: Apo AI, Apo CII e a Apo E.

OBS

1: Quanto maior o conteúdo proteico, maior a densidade.

De acordo com a mobilidade eletroforética: Quilomícrons β-lipoproteína (LDL) Pre-β-lipoproteína (VLDL) α-lipoproteína (HDL)

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APOLIPOPROTEÍNAS Para se tornar solúvel, o lipídio precisa se ligar às apoproteínas (ou apolipoproteínas). São as principais

componentes das lipoproteínas, sendo classificadas de acordo com a designação alfabética de A a E. São responsáveis pelo reconhecimento da partícula pelos receptores. FUNÇÕES DAS APOLIPOPROTEÍNAS

Fazem parte da estrutura das lipoproteínas. Ex: Apo B. São co-fatores enzimáticos. Ex: Apo C-II da lipoproteína lipase; Apo A-I da lecitina colesterol-aciltransfrase. Servem como ligantes para a interação com os receptores de lipoproteínas dos tecidos. Ex: Apo B-100 e apo E

para o receptor-LDL (Apo B100/Apo E); Apo E para a proteína relacionada a receptor (LRP); Apo A-I para o receptor da HDL.

TIPOS DE APOPROTEÍNAS

A-I (28.300) - principal proteína da HDL. 90 –120 mg% no plasma; ativadora da LCAT (Lecitina colesterol acil transferase, responsável

pela esterificação do colesterol)

A-II (8.700) – ocorre na HDL 30 – 50 mg %; aumenta a atividade da lipase hepática.

B-48 (240.000) – encontrada apenas nos quilomícrons. <5 mg %; derivado da apo B-100; não possui a região de ligação da LDL-receptor da apo B-100.

Isso se dá devido ao fato da apo B-48 possuir a região amino-terminal da proteína Apo-B100, porém, a região que é reconhecida pelos receptores é a região carboxi-terminal.

B-100 (500.000) – principal proteína na LDL. 80 –100 mg %; liga-se ao LDL receptor

C-I (7.000) – quilomícrons, VLDL, HDL 4 – 7 mg %; ativa a LCAT

C-II (8.800) – quilomícrons, VLDL, HDL 3 – 8 mg %; ativa a lipoproteína lípase

C-III (8.800) - quilomícrons, VLDL, IDL, HDL 8 15 mg %; inibe a ativação da lipoproteína lípase

D (32.500) - HDL 8 – 10 mg %; também chamada de colesterol ester proteína transfererase (CETP)

E (34.100) - quilomícrons, VLDL, IDL HDL 3 – 6 mg %; liga-se ao LDL receptor

H (50.000) – quilomícrons; também conhecido como β-2-glicoproteína I (envolvido no metabolismo dos TG). PRINCIPAIS ENZIMAS DO METABOLISMO DAS LIPOPROTEÍNAS

Lipoproteína Lipase (LPL): hidrolisa o triglicerídeo dos quilomícrons e VLDL estimulada pela ApoCII

Triglicerídeo Lipase Hepática (HTGL): hidrólise dos triglicerídeos das Lipoproteínas parcialmente digeridas pela LPL, convertendo IDL em LDL.

Lecitina Colesterol Aciltransferase (LCAT): esterifica o colesterol remanescente da HDL.

Proteína Transferidora de Ésteres de Colesterol (CEPT): Transfere os ésteres de colesterol de HDL para VLDL ou LDL, em troca de triglicerídeos.

QUILOMÍCRONS

Os quilomícrons (QM) são lipoproteínas de densidade muito baixa (menor que 1.006). São responsáveis por transportar os triglicerídeos da dieta do intestino para os tecidos periféricos. Suas principais características são:

Densidade <1.006 Diametro 80 - 500 nm Triglicerides da dieta ApoB-48, apoA-I, apoA-II, apoA-IV, apoC-II/C-III, apoE Eletroforese: não migra, permanecendo no ponto de aplicação. A meia-vida é curta, inferior a uma hora.

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METABOLISMO DOS QUILOMÍCRONS

Os lipídios da dieta (TGL exógenos) passam pelo trato gastrointestinal e, em nível do enterócito, são ressintetizados, sendo associados a proteínas, formando assim os QM nascentes. A principal apoproteína sintetizada no intestino é a apo B48. Os QM nascentes passam para a circulação linfática. E em nível do ducto torácico, passam para o sangue. Nesse nível, o QM recebe Apo CII e a Apo E de uma partícula de HDL existente.

Ao receber a Apo CII, os QM, agora ativos, sofrem ação da lipoproteína lipase vascular, presente nos capilares linfáticos. Estas atuam hidrolisando o TGL presente em uma concentração muito elevada nesses QM, liberando AG e glicerol, que serão captados por tecidos extra-hepáticos (periféricos).

É dessa forma que os lipídios ingeridos começam a ser estocados no tecido adiposo ou transportados para os músculos. Com isso, essa lipoproteína perde cerca de 80% da massa de TGL inicial que continha, perdendo em grande parte seu diâmetro, passando a se chamar quilomícron remanescente. Ao ser hidrolisada, devolve à HDL as apo A e apo C, permanecendo apenas com a apo E. O destino dessa partícula é ser captada pelo fígado por meio do receptor da LDL (LDL Apo B100/Apo E) por reconhecer a apo E. O conteúdo dos QM, ao chegar ao fígado, é degradado para ser utilizado na formação das VLDL. OBS

2: A lipoproteína lipase é chamada de fator de clareamento do plasma, pois ao quebrar os TGL, deixa o soro mais

límpido. Defeitos nessa enzima (ou na ApoCII) gera um acúmulo de TGL no sangue. OBS

3: O processo de clearence consiste na degradação (depuração) do QM remanescente no fígado, retirando-o do

sangue. VLDL

A VLDL é uma partícula rica em TGL sintetizados no fígado (TGL endógeno). É um pouco mais denso que os QM, possuindo como apoproteínas: Apo B100, Apo E e as Apo CII e CIII. As principais características da VLDL são:

Densidade >1.006 Diâmetro 30 - 80nm Transporta triglicerídeos endógeno ApoB-100, apoE, apoC-II/C-III Migração na eletroforese: pré-betalipoproteína Formado no fígado como VLDL nascente (contém: triglicerídeos, apoE and apoB-100)

SÍNTESE DA VLDL A síntese da VLDL ocorre no fígado, ao receber os TGL endógenos com a apo B100. A VLDL nascente apresenta uma grande quantidade de TGL, os quais foram sintetizados pelo fígado a partir da degradação dos QM remanescentes. A VLDL é então lançada no sangue. No sangue, a HDL doa a apo CII e apo E para a VLDL. A apo CII ativa então a lipoproteína lipase, que começa a digerir os TGL da VLDL, fazendo dela uma partícula menor, a VLDL remanescente (ou IDL – lipoproteína de densidade intermediária). A apo CII é então devolvida para a HDL. É dessa forma que o organismo estoca o excesso de lipídios e carboidratos no tecido adiposo.

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A VLDL remanescente tem dois destinos: Ser absorvida pelo fígado e metabolizada; Grande parte da VLDL forma a LDL (rica em colesterol) por meio da enzima Triglicerídeo Lipase Hepática

(HTGL). IDL

Densidade: 1.006 - 1.019 Diâmetro: 25 - 35nm Ésteres de colesterol e triglicerídeos apoB-100, apoE, apoC-II/C-III Eletroforese: pre-β

LDL Lipoproteína de baixa densidade, formada a partir da VLDL da circulação. É chamada de "colesterol ruim" ou "colesterol mau", porque em altas taxas ela está relacionada com a aterosclerose, e, portanto está também indiretamente relacionada ao infarto e AVC, por exemplo. Em geral, o LDL transporta colesterol e triglicerídeos do fígado e intestino delgado às células e tecidos que estão necessitando destas substâncias. Suas principais características são:

Densidade: 1.019 - 1.063 Diâmetro: 18-25nm Ésteres de colesterol ApoB-100 Migração na eletroforese: Beta Valores de Referência:

Desejável: < 130 mg/dL Risco moderado: 130-159 mg/dL Alto risco: >160 mg/dL SÍNTESE DA LDL Na verdade, a LDL é formada a partir da VLDL remanescente, após a digestão dos TGL. Por isso, a LDL transporta principalmente o colesterol livre, tendo como função distribuir o colesterol às células. Todos os nossos tecidos reconhecem a LDL através de receptores para a apo B100, que captam a LDL circulante, retirando-a da circulação sanguínea (endocitose mediada por receptor). O colesterol é um excelente componente de membrana, sendo de grande importância no organismo. Além disso, nas glândulas suprarrenais e órgãos sexuais, é precursor dos hormônios esteroides. METABOLISMO DA LDL

Os LDL-receptores são sintetizados no RER e transportados ao CG, onde sofre transformações para serem liberados à membrana plasmática. Na MP, os receptores passam a se localizar em fendas revestidas por clatrinas. A apo B100 se liga ao receptor e se internaliza na célula formando um endossomo. Ao formar o endossomo, os LDL-receptores voltam à membrana plasmática em um mecanismo conhecido por reciclagem. Os lisossomos possuem enzimas digestivas que vão degradar a apo B100 a aminoácidos e quebrar o colesterol esterificado em colesterol livre, que será utilizado na estruturação da MP. OBS

4: Ver em Correlações Clínicas, mais adiante,

hipercolesterolemia familiar.

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O excesso do colesterol na célula é regulado de três formas: Inibição da síntese de receptores da LDL; Inibição da atividade da enzima HMG CoA redutase (enzima que regula a síntese de colesterol

endógeno); Aumento da atividade da enzima ACAT (acil colesterol aciltransferase, que esterifica o colesterol livre

dentro da célula). A enzima LCAT, diferentemente da ACAT, esterifica o colesterol dentro da HDL. LIPOPROTEÍNAS (a) – LP(a)

É uma lipoproteína aterogênica que consiste em LDL ligada a uma proteína a. A apo-a é covalentemente ligada a apoB-100 por ligação sulfídrica. Seus altos índices geram um alto risco associado com desenvolvimento prematuro de doenças arterial coronariana. HDL Chamada de lipoproteína de alta densidade por ter um grande conteúdo proteico, sendo a principal proteína constituinte da HDL a apo A. Ela faz o transporte do colesterol dos tecidos para o fígado. É chamada de "colesterol bom", porque se acredita que ela seja capaz de retirar ateromas das artérias. Suas principais características são:

Densidade: 1.063-1.210 Diâmetro: 5-12nm Ésteres de colesterol e fosfolipídios apoA-I, apoA-II, apoC-II/C-III and apoE Migração eletroforética: posição alfa Função: faz o transporte reverso do colesterol (transporta o colesterol dos tecidos perifericos para o fígado).

TIPOS DE HDL

HDL nascente: partícula discoide o Contem: colesterol, fosfolípideos, apoA-I, apoA-II, apoE.; o É formado no fígado e no intestino o O HDL adquire o colesterol nos tecidos periféricos e pela ação de LCAT é esterificado, formando uma partícula

esférica denominada HDL3.

HDL3 o Composto de colesterol, ésteres de colesterol, fosfolipídeos, apoA and apoE. o Pela ação da CETP, (Proteína transferidora de ésteres de colesterol) os ésteres de colesterol são transferidos

para o VLDL, quilomícrons e remanescentes em troca de triglicerídeos. o O triglicerídeo adquirido aumenta o tamanho da partícula que é denominada de HDL2. o A enzima lipase hepática hidrolisa o fosfolipídeos e triacilglicerol, permitindo que o colesterol esterificado seja

liberado no fígado. o A partícula se torna mais densa e forma a HDL3.

METABOLISMO DA HDL Diferentemente da LDL, que é formada a partir da VLDL, a HDL é sintetizada independentemente. A HDL pode ser formada no fígado e no intestino delgado. Ao ser formada, apresenta um formato discoidal por possuir uma bicamada fosfolipídica.

A HDL, bastante rica em lecitina, apresenta ainda a Apo AI. Essa apoproteína capta uma enzima plasmática conhecida como LCAT (lecitina colesterol acil transferase). OBS: Defeitos na apo AI, não haverá

funcionamento da LCAT, por ser um co-fator dessa enzima. A LCAT esterifica o colesterol livre. Além disso, a LCAT cliva um ácido graxo da lecitina. Dessa forma, sob ação da LCAT, são produzidos um éster de colesterol e a liso-lecitina (lecitina sem AG na posição 2).

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A HDL transporta então os ésteres de colesterol, que se localizam mais no interior da lipoproteína por serem mais apolares, tornando-se menos disponíveis, então, para se livrarem (colesterol bom). A HDL faz uma troca de colesterol esterificado por TGL com os quilomícrons e VLDL, tornando-se uma partícula maior e menos densa. A HDL nascente, recém-formada no fígado, tem formato discoide, devido ao seu conteúdo de lipídios hidrofóbicos. Na medida em que é metabolizada, se enriquecendo de ésteres de colesterol, adquire uma forma mais esférica, passando a ser designada como HDL2. Esta é captada pelo fígado, tendo seu conteúdo de colesterol secretado pela bile. Quando maior for o conteúdo de colesterol HDL2 de um paciente, mais favorável, pois significa que está havendo uma boa esterificação e esse colesterol tende a ser excretado pelo fígado. FUNÇÕES DA HDL

Transfere proteínas para outras lipoproteínas (apo C e apo E). Adquire lipídeos de outras lipoproteínas. Adquire colesterol dos tecidos periféricos. Converte colesterol em ésteres de colesterol pela ação da LCAT. Transfere ésteres de colesterol para outras lipoproteínas (VLDL e quilomícron em troca de triglicerídeos pela

ação da CETP) as quais as transfere para o fígado. Este processo é chamado de transporte reverso do colesterol.

CORRELAÇÕES CLÍNICAS

Hipercolesterolemia familiar: doença genética caracterizada pela carência de receptores de LDL normais, que passam a não captar o colesterol devidamente, causando uma hipercolesterolemia. Pacientes acometidos apresentam um alto risco de desenvolver doenças coronarianas.

Hipertrigliceridemia familar: causada por defeito genético envolvendo a lipoproteína lipase ou por defeito em seu

co-fator (a Apo CII).

Hiperlipidemia familiar combinada: apresenta tanto colesterol quanto TGL elevados.

Abetalipoproteinemia: doença genética rara que se caracteriza pela incapacidade do organismo em sintetizar a apo B, gerando uma carência de produção de quilimicrons e de VLDL. A gordura que seriam transportadas por essas lipoproteínas passam a se acumular nos hepatócitos e enterócitos como gotículas de gordura. Os pacientes apresentam deficiências de vitamina lipossolúvel e um déficit neurológico.

Analfaproteinemia: incapacidade de sintetizar a apo A. Os pacientes não sintetizam, com isso, a HDL, elevando os

níveis de colesterol no sangue, por não serem capazes de degradar o colesterol no fígado. Apresentam déficit neurológico e armazenamento de ésteres de colesterol em sítios anormais.

Estetose Hepática: Acúmulo de lipídios em células ou tecidos onde normalmente não ocorre, geralmente em

consequência de distúrbios metabólicos. Os lípides são quase sempre triglicérides. O fígado é o órgão que mais frequentemente sofre esteatose, o que reflete seu papel central no metabolismo das gorduras. A esteatose hepática não é uma doença. É uma alteração morfofisiológica dos hepatócitos que ocorre em consequência de diversas desordens metabólicas. No ser humano, é observada principalmente em três situações:

Desnutrição crônica. Diabetes mellitus descompensado. Alcoolismo crônico.

CAUSAS COMUNS DAS HIPERLIPIDEMIAS SECUNDÀRIAS

Diabetes melito aumento de TG

Excesso de ingestão de álcool aumento de TG

Insuficiência renal crônica aumento de TG

Drogas (como os diuréticos de tiazida) aumento de TG

Hipotireoidismo aumento de colesterol

Síndrome nefrótica aumento de colesterol TERAPIA MEDICAMENTOSA

Sequestrantes de ácidos biliares o Ação: liga-se a ácidos biliares no intestino impedindo sua reabsorção êntero-hepática. Depleção do

estoque de colesterol nos hepatócitos, formando mais receptores B-E que captam LDL-c. Aumenta atividade da enzima HMG-CoA-redutase, aumentando biossíntese de colesterol e de VLDL-c, aumentando níveis de triglicérides.

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o Indicação: em crianças, gestantes e mulheres na idade reprodutiva sem controle contraceptivo adequado.

Vastatinas o Ação: inibe por competição a HMG-CoA-redutase, reduzindo depósitos de colesterol. Maior formação de

receptores B-E removendo LDL-c, IDL-c e VLDL-c do sangue. Melhora função endotelial, com benefícios de vasorreatividade e na trombogenicidade

o Indicação: hipercolesterolemia isolada. Não é indicada para gestantes ou lactantes. o Reações Adversas: miopatias, aumento das enzimas hepáticas.

Fibratos o Ação: aumenta atividade da lipase lipoproteica levando a hidrólise dos triglicerídeos. Reduz síntese de

VLDL-c e mobilização dos ácidos graxos do tecido adiposo. o Indicação: hipertrigliceridemias isoladas e dislipidemias mistas. o Efeitos adversos: modificar perfil de coagulação e fibrinólise, reduzindo risco tromboembólico;

potencializa anticoagulantes e hipolipemiantes.

Ácido Nicotínico o Ação: reduz produção de VLDL-c e lipólise periférica, reduzindo oferta de ácidos graxos livres, levando a

menor produção de IDL-c e LDL-c . Reduz o catabolismo de HDL-c e apolipoproteína A-I. o Indicação: hipercolesterolemia isolada, hipertrigliceridemia isolada, dislipidemia mista com ou sem

hipoalfalipoproteinemia (níveis baixos de HDL-c) e lipoproteína A elevada. o Efeitos colaterais: rubor facial, hiperglicemia, hiperuricemia, dispepsia e hepatotoxicidade.

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BIOQUÍMICA: CONSIDERAÇÕES BIOQUÍMICAS SOBRE O ETANOL

O etanol (CH3CH2OH), também chamado álcool etílico e, na linguagem popular, simplesmente álcool, é uma substância obtida da fermentação de açúcares, encontrado em bebidas como cerveja, vinho e aguardente, bem como na indústria de perfumaria.

O etanol é o mais comum dos álcoois. Os álcoois são compostos que têm grupos hidroxilo ligados a átomos de carbono sp3. Podem ser vistos como derivados orgânicos da água em que um dos hidrogênios foi substituído por um grupo orgânico. ABSORÇÃO DO ÁLCOOL

O etanol é uma molécula pequena. Por isso, ela é absorvida principalmente no intestino delgado, e em menores quantidades no estômago (0 a 5%) e no cólon. Não existem enzimas digestivas para o etanol. Após sua absorção, 80-90% do etanol é oxidado no fígado. O restante distribuído para os outros tecidos e, de 2 a 10% do etanol absorvido, é expelido pela respiração ou excretado na urina (daí a eficácia do teste de bafômetro). O alcool causa inúmeras interferências na fisiologia humana. Em dosagens moderadas, estimula a produção do GABA, que é um neurotransmissor de inibição, ou seja, depressor do SNC. Além disso, ele provoca vaso dilatação periférica e vermelhidão nas extremidades do corpo, provocando também perda de calor e hipoxia. Estimula também as secreções salivares e gástricas, o que explica a relação do uso crônico do alcool e as gastrites. METABOLISMO DO ETANOL O metabolismo do etanol se dá por duas vias: pelo sistema da alcool desidrogenase e pelo sistema microssomal de oxidação do etanol. Em ambas as vias, o etanol é transformado em acetaldeido.

Nessa primeira via, a oxidação do etanol ocorre nos hepatócitos onde há a enzima álcool desidrogenase responsável por essa etapa. A oxidação do etanol é relativamente independente da concentração sanguínea e é constante com o tempo (cinética de ordem zero). Em um indivíduo sadio, consumidor não habitual de álcool, a velocidade de biotransformação oscila entre 60 a 150 mg/Kg/hora.

Praticamente todo o álcool que se biotransforma no organismo sofre um processo oxidativo que ocorre em duas fases. A primeira fase, ainda no citoplasma, é iniciada pela enzima álcool desidrogenase (ADH) que converte o etanol à acetaldeído. Em uma segunda fase, agora na mitocôndria, a enzima aldeído desidrogenase (ALDH) converte o aldeído em ácido acético (acetato), que é finalmente convertido em dióxido de carbono e água, liberando energia.

a) Álcool desidrogenase (ADH) Presentes no citosol. Não possui mecanismos de regulação. Presente também na mucosa gástrica, apresentando uma atividade 60% menor nas mulheres do que nos homens, fazendo com que mais etanol seja absorvido pelas mulheres.

b) Aldeído desidrogenase (ALDH)

Presente na mitocôndria. Sua deficiência é considerada “fator antialcoolismo” – alta incidência em orientais, os quais representam baixos índices de consumo alcoólico. Tratamento para alcoolistas envolve a inibição da ALDH (que se faz com uma medicação conhecida como Dissulfiram, por exemplo, de nome comercial sugestivo: Antietanol®), gerando um efeito antabuse (ver OBS

7),

uma vez que o acetaldeido (substância tóxica) gera tontura, náuseas e dores de cabeça quando elevado. Produz NADH (cadeia respiratória) e acetato (se converte em acetil CoA).

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OBS1: O consumo exagerado de álcool causa coma alcoólico. Em

grandes quantidades, o álcool é mais facilmente absorvido do que outros nutrientes celulares, diminuindo o rendimento energético, principalmente devido à carência de glicogênio. Além disso, devido ao metabolismo do etanol, há uma grande produção de NADH. Com isso, o organismo lança mão de gliconeogênese em larga escala a partir do piruvato, que será convertido em lactato, nesse sentido, para que haja produção de NAD+ (NAD oxidado) devido à alta demanda de NADH (NAD reduzido) do metabolismo do etanol. O normal seria o contrário: lactato em piruvato. Caso o etilista não se alimente, ele pode entrar em quadros de hipoglicemia severa devido a falta de glicogênio e a pouca gliconeogênese, causando a perda da consciência por carência de glicose (o tratamento do quadro é a própria aplicação endovenosa de soro glicosado). OBS²: Grandes concentrações de lactato geram acidose láctica. Além disso, devido à pequena concentração de NADH, o oxaloacetato é convertido em malato, deixando de ser gliconeogênico. OBS³: O alcoolismo aumenta os níveis de ácido úrico no sangue, predispondo o desenvolvimento da artrite gotosa (gota). Isso ocorre porque o lactato, quando elevado, compete com o ácido úrico para ser eliminado na urina, gerando acúmulo de ácido úrico no sangue. OBS

4: O álcool eleva os níveis de triglicerídeos no fígado, gerando quadros de esteatose hepática (fígado gorduroso).

Isso ocorre porque o excesso de acetato, formado na degradação do etanol, é convertido em acetil CoA, que em parte é liberado para o sistema extra hepático e parte fica no fígado, formando gordura. OBS

5: As mulheres são mais sensíveis aos efeitos do alcool do que os homens. Isso é devido ao conteúdo de água

corporal da mulher ser menor em relação ao dos homens, fazendo com que o etanol percorra o sangue mais concentrado. O fato de o cérebro ser um órgão altamente irrigado, facilita a rapidez dos efeitos do alcool. Além desse fator, o funcionamento da enzima alcool desidrogenase na mucosa gastrica nas mulheres é menor, fazendo com mais etanol alcance sangue do que o acetaldeído. OBS

6: O alcool tem um efeito energético devido a uma certa produção de NADH em seu metabolismo, que entra na

cadeia respiratória para produção de ATP. Isso é um dos fatores que fazem com que os alcóolatras passem longos perídos sem se alimentar, gerando quadros de hipoglicemia severa. OBS

7: O Dissulfiram é uma opção farmacológica no tratamento de etilistas (alcoolistas). O etanol (álcool) sofre uma

biotransformação, através da enzima álcool desidrogenase, tornando-se acetaldeído, este por sua vez através de outra enzima, a aldeído desidrogenase, modifica-se em gás carbônico e água. A droga age inibindo, a enzima aldeído desidrogenase. Desta forma ocorre um acúmulo de acetaldeído, sendo este muito tóxico para o organismo. Seus efeitos, são extrema vasodilatação e consequente queda de pressão arterial, taquicardia e cefaleia. Estes efeitos denominam-se antabuse ou dissulfiram-like. O paciente rejeita o álcool por associação aos efeitos relatados, que se manifestam quando se utiliza da bebida. SISTEMA MICROSSOMAL DE OXIDAÇÃO DO ETANOL (MEOS)

Quando o consumo de álcool supera determinado limite, e especialmente se é frequente, entra em funcionamento um sistema enzimático denominado MEOS (microsomal ethanol oxidizing system) cuja atividade é desempenhada pela citocromo P450 isoforma 2E1. A indução dessa isoenzima gera desequilíbrios metabólicos pela formação de radicais livres que são de grande importância na hepatotoxicidade induzida pelo etanol.

Este sistema aumenta de atividade no alcoolismo crônico sendo responsável pelo aumento da degradação do etanol nestas condições (aumento da concentração de acetaldeido e acetato na corrente sanguínea). Há consumo de NADPH e O2 (podendo levar o indivíduo alcoolista crônico à hipóxia) e produção de H2O e radicais livres (devido ao grande uso de NADPH, envolvido na retenção de radicais livres no organismo).

OBS

8: Em alcoolismo agudo, essa via é ativa em 10%, e aumenta de atividade proporcionalmente ao aumento do

consumo de álcool. DESTINO DO ACETATO

Convertido em acetil-CoA (acetil-CoA sintase). Síntese de Ácidos graxos, corpos cetônicos e colesterol. Lançado na corrente sanguínea oxidação em outros tecidos.

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ENERGIA PRODUZIDA

Forma-se: 1 NADH citosólico (pela ADH), 1 NADH mitocondrial, 1 Acetil-CoA Formação de ATP varia de acordo com quantidade ingerida Quanto mais álcool mais CYP2E1 ativa menos energia proporcionalmente obtida Em alcoolistas crônicos, menos energia é aproveitada Danos hepáticos diminuem a fosforilação oxidativa.

AUMENTO DA RELAÇÃO NADH/NAD+

Ocorre aumento porque não há regulação efetiva da oxidação do etanol. Altera quase todas vias metabólicas do fígado. Diminui a via glicolítica (devido à pequena quantidade de NAD oxidado) e o ciclo de Krebs. Inibe a beta-oxidação (devido à grande quantidade de acetil CoA derivada do acetato). Aumenta síntese de triacilglicerol, uma vez que o acetil CoA forma TG (causa esteatose hepática). Aumenta concentração lactato resulta em acidose láctica. Diminui excreção de ácido úrico (gota). Inibe a gliconeogênese (desvio do substrato: piruvato, glicerol-P e oxalacetato).

ALCOOLISMO E RELAÇÕES FISIOLÓGICAS INTOXICAÇÃO AGUDA POR ALCOOL

A intoxicação aguda por álcool é uma emergência médica causada pelo consumo rápido de uma grande quantidade de álcool. A gravidade depende da tolerância do paciente ao álcool, do seu tamanho (ou peso), da sua frequência de ingestão e de quanto alimento consumiu junto com o álcool.

A intoxicação tem como base os seguintes sintomas: pensamento demorado, suscetibilidade emocional, comportamento desinibido, euforia ou depressão, agitação, convulsão, andar instável, tremores, náuseas, vômito, hipotermia, vermelhidão ou palidez, fraqueza muscular e coma. A gravidade dos sintomas depende parcialmente do nível sanguíneo de álcool. Dentre os principais sintomas, destacam-se:

Acidose lática: piruvato lactato. Hipoglicemia: inibição da gliconeogênese Coma alcoólico: efeitos tóxicos do etanol no SNC (parada respiratória)

Há também algumas alterações anátomo-fisiológicas. As alterações gástricas constituem gastrite aguda e

ulceração. No sistema nervoso central, o álcool por si é um agente depressivo que afeta primeiramente as estruturas subcorticais (provavelmente a formação reticular do tronco cerebelar superior) que modulam a atividade cortical cerebral. Em consequência, há um estímulo e comportamentos cortical, motor e intelectual desordenados. Em níveis sanguíneos progressivamente maiores, os neurônios corticais e, depois, os centros medulares inferiores são deprimidos, incluindo aqueles que regulam a respiração. Pode advir parada respiratória. Efeitos neuronais podem relacionar-se com uma função mitocondrial danificada; alterações estruturais não são em geral evidentes no alcoolismo agudo. Os teores sanguíneos de álcool e o grau de desarranjo da função do SNC em bebedores não habituais estão intimamente relacionados.

O tratamento de emergência consiste na infusão intravenosa de glicose e, em casos extremos, hemodiálise para retirada direta do álcool (rever OBS

1).

ALCOOLISMO CRÔNICO

É considerado uso crônico o consumo acima de 80g de etanol diárias (1/4 de garrafa de cachaça). O alcoolismo crônico é responsável pelas alterações morfológicas em praticamente todos os órgãos e tecidos do corpo, particularmente no fígado e no estômago. Somente as alterações gástricas que surgem imediatamente após a exposição pode ser relacionadas com os efeitos diretos do etanol sobre a vascularização da mucosa. A origem das outras alterações crônicas é menos clara. O acetaldeído, um metabólico oxidativo importante do etanol, é um composto bastante reativo e tem sido proposto como mediador da lesão tissular e orgânica disseminada. Embora o catabolismo do acetaldeído seja mais rápido do que o do álcool, o consumo crônico de etanol reduz a capacidade oxidativa do fígado, elevando os teores sanguíneos de acetaldeído, os quais são aumentados pelo maior ritmo de metabolismo do etanol no bebedor habitual. O aumento da atividade dos radicais livres em alcoólatras crônicos também tem sido sugerido como um mecanismo de lesão. Mais recentemente, foi acrescentado o metabolismo não-oxidativo do álcool, com a elaboração do ácido graxo etil éster, bem como mecanismos imunológicos pouco compreendidos iniciados por antígenos dos hepatócitos na lesão aguda.

Seja qual for à base, os alcoólatras crônicos têm sobrevida bastante encurtada, relacionada principalmente com lesão do fígado, estômago, cérebro e coração. O álcool é a causa bastante conhecida de lesão hepática que termina em cirrose, sangramento maciço proveniente de gastrite ou de úlcera gástrica pode ser fatal. Ademais, os alcoólatras crônicos sofrem de várias agressões ao sistema nervoso. Algumas podem ser nuticionais, como a deficiencia em

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vitamina B1, comum em alcoólatras crônicos. As principais lesões de origem nutricional são neuropatias periféricas e a síndrome de Wernicke-Korsakoff. Pode surgir a degeneração cerebelar e a neuropatia óptica, possivelmente relacionadas com o álcool e seus produtos, e, incomumente, pode surgir atrofia cerebral.

São consideradas como as principais complicações do alcoolismo crônico: Deficiências vitamínicas (piridoxina, tiamina, folato) desnutrição devido à má absorção intestinal. Distúrbios neurológicos. Agravamento da gota.

DOENÇA HEPÁTICA ALCOOLICA

O alcoolismo é principal causa de doenças hepáticas. Entretanto, apenas de 10 a 20 % dos alcoólatras crônicos evoluem para cirrose. Essa evolução pode durar de 6 a 20 anos, dependendo da quantidade diária ingerida. Os distúrbios hepáticos iniciam-se com acúmulo de triacilgliceróis no fígado (esteatose), causando alterações nas estruturas das células. Isso gera uma hepatite alcoólica (lesão inflamatória e degenerativa), causando insuficiência hepática progressiva.

Esteatose alcoólica (fígado gorduroso): dentro de poucos dias após a administração de álcool a gordura aparece dentro das células hepáticas, representa principalmente aumento na síntese de triglicerídeos em virtude do maior fornecimento de ácidos graxos ao fígado, menor oxidação dos ácidos graxos, e menor formação e liberação de lipoproteínas. Ela pode surgir sem evidências clínicas ou bioquímicas de doença hepática. Sintomas: anorexia, náuseas, distensão abdominal, hepatomegalia hipersensível, às vezes icterícia e níveis elevados de aminotransferase.

Hepatite alcoólica: caracteriza-se principalmente por necrose aguda das células hepáticas. Em alguns pacientes, apesar da abstinência, a hepatite persiste e progride para cirrose. Ela representa a perda relativamente brusca de reserva hepática e pode desencadear um quadro de insuficiência hepática.

Cirrose alcoólica: apesar de o álcool ser a causa mais comum de cirrose no mundo ocidental, sendo responsável aí por 60 a 70% de todos os casos, apenas 10 a 15% evolui para cirrose.

INTERAÇÃO ÁLCOOL-MEDICAMENTOS Além de oxidar o etanol, a citocromo P-450 (CYP2E1) inativa também uma série de medicamentos como analgésicos (paracetamol), barbitúricos, etc. O consumo de etanol aumenta a concentração da citocromo P-450 que é responsável pela metabolização no fígado de diversos antibióticos. Isso aumenta a resistência de alcoólatras a alguns medicamentos em abstinência. No entanto, os efeitos tóxicos são maiores para os usuários crônicos de álcool. Certos medicamentos como: metronidazol (antiprotozoário), penicilina (ampicilina) e vários antibióticos, algumas cefalosporinas, entre elas a cefalexina, a cefadroxila e a cefradina são capazes de promover efeito "antabuse". Certos antibióticos reagem diretamente com o acetaldeído, diminuindo a concentração do fármaco no sangue. Isto significa que, em termos farmacêuticos, fica diminuída a disponibilidade do antibiótico para agir. Uma vez que existe menor concentração de antibiótico, seu efeito será reduzido. Além destes efeitos, o álcool estimula diretamente as membranas do aparelho digestivo, promovendo maior produção de ácido clorídrico no estômago (que ioniza o medicamento e dificulta sua absorção) e também o aumento dos movimentos do intestino e do estômago, podendo provocar diarreia e vômitos. Estes dois fatores promovem uma passagem mais rápida e uma menor absorção do medicamento pelo estômago e pelo intestino (especialmente o duodeno, onde a maioria dos fármacos é normalmente absorvida) devido as diarreias e vômitos. A ação do álcool não ocorreria diretamente sobre a substância antibiótica, mas sim na sua absorção. Com uma absorção menor, o medicamento estaria em menor concentração na corrente circulatória, diminuindo sua ação. OBS

9: Absorção dos Fármacos. Os

antibióticos normalmente encontram-se na forma não ionizada, que é bem absorvida pelo nosso corpo. Dependendo das condições de acidez do meio, elas podem se converter na forma ionizada, que é pouco absorvida. OBS

10: Os efeitos de algumas medicações e

do álcool, quando ingeridos em conjunto, são potencializados. OBS

11: O álcool tem um efeito diurético (inibe

o hormônio antidiurético ou ADH), diminuindo ainda mais a concentração de medicamentos na corrente sanguínea.