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I, II e III João
Silvio Dutra
DEZ/2015
2
A474 Alves, Silvio Dutra I, II e III João. /Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2015. 79p.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Comentário Bíblico. 3. Amor 4.Epístola. 5. Renúncia. I. Título.
CDD 230.227
3
Sumário
I JOÃO
I João 1...........................................................
5
I João 2..........................................................
17
I João 3..........................................................
31
I João 4..........................................................
41
I João 5..........................................................
52
II JOÃO
II João 1.........................................................
61
III JOÃO
III João 1........................................................ 73
4
I JOÃO
5
I João 1
O Que Era Desde o Princípio
O Verbo; A Palavra, tradução do original grego
logos, que dá vida eterna, e que era desde o
princípio, encarnou e habitou entre nós num corpo
como o nosso, de modo que pôde ser contemplado
pelos olhos dos apóstolos, e sentido pelo seu tato, e
Sua voz foi ouvida por eles, de forma que puderam
anunciar o que viram e ouviram, quanto à comunhão
espiritual que é possível ter com Deus Pai e com seu
Filho Jesus Cristo (I João 1.1-3).
Palavra não é matéria. Especialmente a Palavra
Viva Divina.
Mas ao encarnar, o Verbo jamais deixou de ser o
Verbo, porque não é a carne a fonte da vida eterna,
mas o Verbo, o espírito divino, a essência da
natureza divina, da qual somos chamados a
participar pela nossa comunhão com o Deus triúno,
através da nossa união com o Seu Filho, que foi
dado pelo Pai para ser a nossa Cabeça.
A vida de Deus em nós não é um complemento da
nossa vida terrena. Ao contrário, esta vida natural
está destinada a ser aniquilada para que no porvir,
apenas exista aquilo que o próprio Deus é em Sua
natureza, a saber: espírito.
Por isso se diz de Jesus na profecia, de Isaías 11.2
que:
6
“repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o espírito
de sabedoria e de entendimento, o espírito de
conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento
e de temor do Senhor.”
Uma das razões de não encontrarmos uma só linha
no Novo Testamento, que fale de Jesus ou dos
apóstolos se esforçando por fazer uma crítica
acirrada a qualquer religião, porque esta vida do
Verbo não pode ser conhecida por dogma, preceito
ou culto religioso, mas por revelação do próprio
Cristo às almas perdidas.
Observe que na profecia que lemos anteriormente,
de Isaías 11.2, diz-se de Cristo, o mesmo que pode
ser aplicado aos cristãos, pois ali se fala de terem o
Espírito Santo, que foi tanto para Cristo quanto é
para eles, espírito de sabedoria e de entendimento,
o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de
conhecimento e de temor do Senhor.”
É por ignorância desta verdade que alguns se
entregam à ideia ilusória de tentar fazer convertidos
por meio do convencimento teológico, por meio de
comparação de religiões, tentando cada um de per
si, comprovar que a sua é a verdadeira.
Os eleitos serão alcançados pelo evangelho, que é o
poder de Deus para a salvação dos que nEle crerem,
e estes serão oriundos de todas as camadas sociais,
de todos os países, sem distinção de raça ou
religião.
Então, é pura perda de tempo se entregar a
confrontações religiosas, ou a debates teológicos,
7
para se alcançar convertidos para Cristo, porque o
próprio Deus os atrairá irresistivelmente a se
entregarem a Seu filho, quer tenham sido
religiosos, ateus, ou qualquer outra coisa.
Jesus é espírito vivificante.
Por isso Ele diz que é a videira verdadeira, e aqueles
que se encontram nEle são como os ramos da
videira.
É daqui que entendemos o vigor com que o apóstolo
alerta os cristãos nesta epístola quanto aos
enganadores, que pretendiam negar esta qualidade
sobre-excelente, sobrenatural, especial e essencial
do espírito de Cristo, mormente quanto àqueles que
intentavam negar o fato de Ele ter encarnado num
corpo como o nosso, porque se esta falsa doutrina
fosse aceita, toda a obra da redenção seria
desacreditada, porque se Cristo não encarnou não
poderia ter oferecido o seu corpo como sacrifício
pelo pecado, nem poderia ter ressuscitado depois da
morte no Calvário, e assim todos os homens teriam
que permanecer mortos em seus pecados, e sem
qualquer esperança relativa à ressurreição dos seus
corpos, quando nosso Senhor voltar para arrebatar
os que nEle creem.
Se os apóstolos chegaram a conhecer a Jesus
segundo a carne, não foi somente deste modo que o
conheceram, porque o próprio apóstolo João afirma
nesta epístola que é pelo Espírito Santo que
conhecemos que o Senhor permanece em nós, e nós
nEle (I Jo 3.24; 4.11) e que é o Espírito que dá
testemunho da nossa união com Cristo (I Jo 5.7).
8
João não se referiu apenas ao homem divino que foi
visto, ouvido e apalpado por eles, mas ao Verbo que
dá a vida eterna.
É nesta condição que importa que Cristo seja
conhecido.
Então, ser o Verbo, no original grego Logos,
geralmente traduzido por Palavra, se refere muito
mais do que simplesmente à letra das Escrituras,
senão a todas as realidades espirituais que se
encontram em Cristo, e que foram descritas nas
Escrituras por meio de palavras.
Cristo é o Logos, mas transcende os conceitos sobre
o Logos, porque estes são apenas a expressão das
realidades que se encontram no Seu ser divino.
Alguém disse apropriadamente que somente falar
da virtude não é ser virtuoso.
Se o Logos fosse apenas palavra, seria possível
pensar que não houvesse uma correspondência entre
o que se afirma e a realidade.
Por isso, ao ter falado que o Verbo se fez carne, o
apóstolo se apressou em apresentar uma definição
mais clara daquilo que havia afirmado dizendo que
Deus é luz e que não há nEle qualquer treva (I João
1.5).
O verdadeiro conhecimento de Deus é feito na luz.
Não numa luz exterior, mas na luz que é o próprio
Deus.
O apóstolo quis mostrar o caráter deste
conhecimento de Deus, que é obrigatoriamente em
comunhão com Ele, porque é nEle que temos a luz
necessária para conhecê-lo pessoalmente.
9
Fora dEle há trevas espirituais.
Não há qualquer possibilidade de um verdadeiro
conhecimento de Deus sem a iluminação do
Espírito Santo, portanto é preciso que
permaneçamos nEle, para que Ele também
permaneça em nós.
É na união do Espírito Santo com o nosso espírito
que podemos ter o conhecimento por Sua
revelação ao nosso espírito, das coisas espirituais
que estão na pessoa de Deus, e que se discernem
somente espiritualmente.
Uma das principais coisas que os apóstolos viram
em relação à manifestação da vida eterna, por meio
de Cristo, é que a comunhão com Ele e com Deus
Pai gera a mais pura alegria espiritual (Jo 1.4).
Todos os que andarem na luz e que tiverem
comunhão com Deus haverão de experimentar esta
alegria.
A dispensação do evangelho não é uma dispensação
de terror e de tristeza, mas de paz e de alegria.
O terror que havia no Monte Sinai não existe para
aqueles que se aproximam do monte Sião, porque
aqui não se recebe a Lei escrita em tábuas de pedra,
mas escrita no novo coração, recebido na
regeneração pelo Espírito Santo.
O apóstolo João disse que é preciso andar na luz
para se ter comunhão com Deus e uns com os
outros.
Isto significa que é, portanto necessário, viver e
andar como nova criatura, e não na carne, segundo
10
o velho homem, porque é desta forma que nos
voltamos do pecado para Deus, das trevas para a luz,
por coparticiparmos da Sua natureza divina, que é
quem na verdade triunfa sobre o pecado e a velha
natureza.
Como não há em Deus qualquer treva não é possível
ter comunhão com Ele se tivermos alguma treva em
nós.
A pessoa de Deus é ilustrada por uma luz pura, sem
qualquer obscurecimento.
Na verdade, não é possível contaminar a luz.
Não é possível sujar a luz.
Assim, se o ser de uma pessoa está na luz, isto
significa que não há impureza num tal espírito e
alma.
Esta é uma necessidade básica e importantíssima
para se ter uma verdadeira vida espiritual, que
cresça no conhecimento de Deus, e das realidades
relativas ao Seu reino.
O apóstolo estava vendo quanto os cristãos dos seus
dias estavam tentando tocar a vida cristã aparte da
comunhão espiritual necessária com o Pai e com o
Filho, e ainda que alguns estivessem se esforçando
neste sentido, estavam errando o alvo por não
levarem em conta a necessidade de se purificarem
do pecado, pela sua mortificação, para que pudesse
prevalecer neles o novo coração puro, recebido de
Deus na conversão.
O pecado deve receber a devida consideração da
parte dos cristãos.
11
Eles não podem fechar os olhos para os seus
pecados e ainda assim tentarem agradar a Deus.
Eles já foram limpos pela Palavra do Senhor, mas
necessitam ainda lavarem continuamente os seus
pés, ou seja, mortificarem os resquícios do pecado
que permanecem na carne, enquanto vivem neste
mundo.
O Senhor viveu como pura luz neste mundo e
sempre foi e será pura luz.
João queria que todos os cristãos soubessem esta
verdade, para que também vivessem como luz,
andando na luz, ou seja, segundo a nova natureza,
impulsionada pelo Espírito Santo e pela Palavra de
Deus.
É por uma constante aproximação de nosso Senhor,
pela fé, que somos purificados continuamente pelo
Seu sangue.
Foi por este motivo que o apóstolo disse o seguinte:
“Se dissermos que temos comunhão com ele, e
andarmos nas trevas, mentimos, e não praticamos a
verdade;” (v. 6).
E também:
“8 Se dissermos que não temos pecado nenhum, nos
enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em
nós.
9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e
justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de
toda injustiça.
10 Se dissermos que não temos cometido pecado,
fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em
nós.” (v. 8, 10).
12
João não está fazendo, como não poderia
fazer, qualquer apologia em favor do pecado, no
sentido de justificar o pecado ou mesmo o fato de
sermos pecadores.
Mas não poderia deixar de considerar a realidade de
que estamos sujeitos às tentações do diabo e da
carne, e do fascínio do mundo, e por isso,
necessitamos recorrer à fonte do sangue, da luz, que
é nosso Senhor Jesus Cristo, para sermos
purificados, pela mortificação do pecado, porque
Ele é o Cordeiro que tira o pecado de nós, que o
destrói, pelo lavar renovador e regenerador
do Espírito Santo, quando nos dispomos a
confessar que temos andado na carne, mas que não
estamos dispostos a seguir em tal inclinação carnal,
para que andemos no Espírito.
Como disse Paulo:
“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado,
para que abunde a graça?
De modo nenhum. Nós, que já morremos para o
pecado, como viveremos ainda nele?” (Rom 6.1,2).
Como ele prossegue nos ensinando na carta
aos Romanos, devemos entender que estamos
mortos com Cristo, que a Sua morte na cruz, foi
também a nossa morte, a morte do nosso velho
homem, para que não vivamos mais segundo a
inclinação da carne, mas segundo a do Espírito,
porque ressuscitamos para uma nova vida espiritual
que se chama novidade de vida, quando fomos
batizados na morte do Senhor, a qual é ensinada em
13
figura no batismo das águas, assim como a
ressurreição para esta nova vida no Espírito.
Não há, portanto, mais nenhuma condenação ou
acusação contra o que é verdadeiramente cristão,
porque ele é considerado por Deus como
estando morto para tal viver na carne, tendo por
isso recebido a habitação do Espírito Santo no seu
novo nascimento.
O cristão é chamado a abandonar a vida que é
dirigida pelo pecado, porque não está mais debaixo
do domínio do pecado... o senhorio do pecado sobre
ele foi destruído por Cristo, que é agora o seu novo
Senhor, juntamente com a Sua graça.
Ele agora deve servir a Deus, à justiça do evangelho,
à vida que é segundo a piedade.
A confissão dos pecados não tem portanto o
objetivo de reduzirmos a influência do
pecado sobre nós, mas para que a luz e o sangue do
Senhor possam de fato exterminá-lo, pela sua
mortificação.
É preciso compreender que há uma pureza absoluta
na natureza de Deus, e que Ele requer também
pureza de nós, ainda que de caráter evangélico,
porque ela não existe em grau absoluto em nós neste
mundo, isto é, a nossa santificação é também de
caráter evangélico porque somos aceitos por Deus
pela nossa sinceridade e fé verdadeira em buscar
nEle tal pureza de coração, e não propriamente pelo
grau absoluto que ela exista em nós.
Na verdade não existe esta pureza no nosso coração
que é corrupto mais do que todas as coisas, e por
14
isso é trocado por Deus de coração de pedra, para
coração de carne.
Isto não vem de nós, e nem se encontra em nós,
porque o recebemos do alto, do Senhor mesmo, pela
fé.
Por isso é preciso estar nEle para que sejamos
purificados.
É andando na luz, no Espírito Santo, numa fé
sincera, com uma boa consciência na nossa busca
do Senhor em espírito, que o Espírito Santo realiza
o trabalho da nossa purificação, através da
manifestação do Seu poder.
Por isso o apóstolo diz que são mentirosos todos
aqueles que dizem que têm tido comunhão com
Deus, mas nos quais falta esta sinceridade para
deixarem toda forma de impureza e pecado, porque
isto comprova obviamente que não estão andando
no Espírito, mas segundo a carne.
A muito mais se referiu João dizendo que caso
tentemos esconder a nossa condição de estar
vivendo deliberadamente na prática do pecado, e ao
mesmo tempo, afirmamos que não temos cometido
pecado, não somente somos mentirosos, como
chamamos a Deus de mentiroso indiretamente com
a nossa atitude, porque Ele afirma expressamente na
Sua Palavra que todos os homens são pecadores e
são purificados dos seus pecados somente pelo
sangue de Jesus.
Por isso o apóstolo disse que a palavra de Deus não
está em nós quando dizemos que não temos
cometido pecado, quando na verdade
15
permanecemos na prática deliberada do pecado (v.
10).
Porque se a Palavra estivesse habitando ricamente
em nós, não teríamos esta atitude, porque seríamos
convencidos pela Palavra acerca da nossa real
condição, e nos arrependeríamos e buscaríamos a
graça do Senhor para sermos purificados.
“1 O que era desde o princípio, o que ouvimos, o
que vimos com os nossos olhos, o que
contemplamos e as nossas mãos apalparam, a
respeito do Verbo da vida
2 (pois a vida foi manifestada, e nós a temos visto,
e dela testificamos, e vos anunciamos a vida eterna,
que estava com o Pai, e a nós foi manifestada);
3 sim, o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos,
para que vós também tenhais comunhão conosco; e
a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho
Jesus Cristo.
4 Estas coisas vos escrevemos, para que a nossa
alegria seja completa.
5 E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos
anunciamos: que Deus é luz, e nele não há trevas
nenhuma.
6 Se dissermos que temos comunhão com ele, e
andarmos nas trevas, mentimos, e não praticamos a
verdade;
7 mas, se andarmos na luz, como ele na luz está,
temos comunhão uns com os outros, e o sangue de
Jesus seu Filho nos purifica de todo pecado.
16
8 Se dissermos que não temos pecado nenhum,
enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está
em nós.
9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e
justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de
toda injustiça.
10 Se dissermos que não temos cometido pecado,
fazemô-lo mentiroso, e a sua palavra não está em
nós.”
17
I João 2
Uma Questão de Vida e Não de Religião
O primeiro versículo do segundo capítulo de I João
nos mostra de forma muito direta e clara qual é o
caráter da santificação evangélica, isto é, a
santidade que temos por meio da fé no evangelho, e
não por tê-la na nossa própria natureza terrena.
João mostra que o caráter desta santificação é uma
posição firme e resoluta contra qualquer forma de
pecado:
“Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que
não pequeis;” (v. 1a).
Mas como ainda estamos na carne neste mundo ele
admite que sempre haverá necessidade de se
mortificar o pecado, pelo trabalho de crucificação
do carregar diário da cruz, e da confiança no
trabalho de Cristo como nosso Sumo Sacerdote e
Advogado à direita do Pai.
Então ele diz:
“mas, se alguém pecar, temos um Advogado para
com o Pai, Jesus Cristo, o justo.” (v. 1b).
Aqui se demonstra melhor o caráter da santificação
evangélica, a saber, o fato de termos em Cristo um
intercessor e um mediador para a purificação de
todos os nossos pecados.
Então há esta oportunidade para uma constante
restauração e renovação espiritual, que está baseada
18
no sangue que Jesus derramou por nós na cruz, e no
seu trabalho como nosso Advogado à direita do Pai.
Assim temos esperança e confiança apesar de nos
ser exigido que não se faça qualquer concessão ao
pecado, ou que se tenha qualquer atitude indulgente
em relação às nossas fraquezas, as quais são obras
da carne, do velho homem, porque a nova criatura
é perfeita em santidade, e caso estivéssemos de fato
andando no Espírito, não estaríamos vivendo em
pecados, produzidos pela carne.
Por isso é requerida plena diligência, daqueles que
querem agradar a Deus e serem usados por Ele na
obra do evangelho (II Timóteo 2.21-26).
Aliás, este é o modo de vida que está proposto por
Deus para todos os cristãos, de forma que João se
dirigiu a todos eles quando lhes exortou a não
pecarem.
Porque o pecado, o diabo e o mundo nos
assediam bem de perto, sempre esperando a
oportunidade de nos levar a pecar.
Requer constante vigilância e oração para um viver
vitorioso sobre a carne, para que a carne seja
mantida na condição de ter sido crucificada em nós
juntamente com suas paixões e cobiças, pela nossa
identificação com a morte de Cristo.
Disto depende a manutenção da nossa preciosa
comunhão com o Deus Altíssimo.
Os cristãos podem se aproximar com confiança para
serem purificados de seus pecados, porque há um
Advogado de defesa no tribunal celestial
19
constituído para defendê-los das acusações de
Satanás contra eles, por causa dos seus pecados.
Cristo não perderá uma só causa daqueles que se
aproximam dEle pedindo que seus pecados sejam
perdoados.
Ele os perdoará, defenderá e absolverá.
Não há outro Advogado que possa defender a nossa
causa porque somente Cristo morreu por nós.
Ele é a propiciação pelos nossos pecados que foi
inteiramente aceita pelo Pai, isto é, Ele próprio foi a
única oferta que Deus aceitou como sacrifício para
satisfazer inteiramente a Sua justiça que determina
a morte espiritual do pecador (morte espiritual =
falta de conhecimento de Deus e de comunhão com
Ele).
Morrendo no nosso lugar, Cristo satisfez então
inteiramente à justiça de Deus.
É neste sentido que Ele não é somente a propiciação
pelos pecados dos que se encontravam salvos nos
dias de João, mas de todos aqueles que viessem a se
salvar depois deles (I João 2.2a).
João falou sobre o modo como os cristãos devem
caminhar neste mundo, a saber, na luz.
De maneira que aquele que diz que está andando na
luz, deve viver e agir conforme está prescrito na
Palavra de Deus.
Jesus deixou mandamentos para serem guardados
pelos seus discípulos.
Estes mandamentos foram registrados pelos
apóstolos nos Evangelhos e nas epístolas, enquanto
viviam, de modo que o testemunho da verdade
20
permanecesse entre nós, em todas as épocas da
história da Igreja.
Cristo requer obediência a esta Palavra que Ele
ordenou que deveria ser guardada por nós.
A falta de obediência a esta Palavra impede o
conhecimento e o crescimento neste conhecimento
de Cristo (I Jo 2.3).
João acrescenta o argumento de que aquele que diz
que tem conhecido a Cristo, mas que não guarda
efetivamente os Seus mandamentos é mentiroso,
porque não está andando na verdade (v. 4), uma vez
que a única verdade relativa à vida com Deus está
somente na Palavra de Cristo, e se nós não estamos
guardando esta Palavra, dá-se, por conseguinte que
não estamos vivendo na verdade, em vidas
santificadas, mas no erro, de um viver segundo a
carne.
Não mentimos que não temos a vida do Espírito,
porque como cristãos a possuímos, mas mentimos
quanto ao fato de dizermos que andamos na luz, ou
seja, no Espírito, porque se estivéssemos andando
no Espírito, as obras da carne não prevaleceriam
sobre nós.
Assim é somente naqueles que guardam a Palavra
de Cristo que o amor de Deus é aperfeiçoado,
porque revelará e manifestará somente a estes a Sua
graça e poder.
Segundo João é por este meio que podemos saber
que estamos de fato no Senhor, porque aquele que
diz que está nEle, deve ser um imitador de Cristo
quanto ao modo de vida que Ele viveu (v. 5, 6).
21
A graça produz somente santidade.
A nova criatura não tem pecado, ou seja, a nova
natureza recebida do Espírito Santo na conversão.
Assim, se estamos vivendo segundo a nova
natureza, comprovamos que temos vencido o
pecado, porque este é o único modo dele ser
vencido.
Então é nisto que consiste o caminhar na luz
referido pelo apóstolo no capítulo anterior.
O Espírito Santo revelará aos que caminham de tal
modo o real significado dos mandamentos de
Cristo, e lhes capacitará a viverem em
conformidade com estes mandamentos, como por
exemplo, o de se autonegarem, carregarem a cruz, e
seguirem a Cristo diariamente, sobretudo o de
serem batizados e cheios do Espírito, e de andarem
no Espírito para serem purificados, renovados e
capacitados com poder para fazer a vontade de
Deus, abundando em boas obras.
Muitos alegam terem grande conhecimento dos
mistérios divinos; e conseguem fazer com que
muitas pessoas fiquem aprisionadas às suas
imaginações sedutoras, mas não é tanto ao que
afirmam que devemos dar atenção, mas ao fruto da
vida destas pessoas, se está de acordo com os
mandamentos de Cristo.
É pelo fruto que se conhece a árvore.
Certamente, se o seu caminhar não é um caminhar
segundo Cristo, e não andam como Ele andou; as
palavras não serão também inteiramente
correspondentes à verdade, porque Deus não lhes
22
concederá o verdadeiro conhecimento que é
possível somente por iluminação do Espírito.
Logo, quem está andando na luz é porque está
obedecendo à verdade; não a verdade que se alega
ser a verdade, por se imaginar na mente o que ela
seja, e que não está plenamente em conformidade
com o verdadeiro significado da revelação escrita
na Bíblia, que importa ser conhecido por revelação
do Espírito Santo ao nosso espírito.
Sem esta iluminação do Espírito todo o nosso
conhecimento das Escrituras pode ser falso ou
ineficaz.
Por isso há muitos que se declaram ortodoxos, e
fazem muitas feridas nas almas de homens piedosos
com o seu falso conhecimento ineficaz, porque é
mera letra segundo a sua própria compreensão
carnal, de uma Palavra que é espírito e vida, e que
importa ser aprendida e vivida em humildade e
submissão a Cristo, para que se tenha a instrução,
direção e capacitação do Espírito para não somente
entendê-la, mas também praticá-la.
Uma das características apontadas por João como
conhecimento e prática verdadeiros da Palavra é o
aperfeiçoamento no amor de Deus (v. 5), não no
amor natural, mas no amor espiritual de Deus.
No amor ágape.
Isto significa que aquele que tem realmente
obedecido a Palavra terá isto manifestado num viver
sobrenatural em amor a Deus e a seus irmãos em
Cristo.
23
Um amor de comunhão espiritual como o apóstolo
se referiu no primeiro capítulo, porque está de fato
caminhando na luz e na verdade.
Jesus colocou um desprezo no amor natural que é
inconstante e mutável, que pode inclusive se
transformar em ódio, quando disse que aqueles que
amam aos que lhes amam nada fazem demais com
isto, porque este é o amor natural que se manifesta
somente quando tudo vai bem no relacionamento.
Mas, para mostrar que é preciso amar com um amor
superior a este e que permanece para a eternidade,
ele disse que devemos amar os nossos inimigos,
porque somente com o amor espiritual que procede
de Deus é possível amá-los (Mt 5.44-48).
Um dos grandes inimigos e impedimento para o
amor cristão é o amor ao mundo.
Por isso o apóstolo alertou os cristãos quanto a isto
nos versos 12 a 17.
Os cristãos tiveram os seus pecados perdoados por
Cristo (v. 12).
Especialmente os cristãos maduros têm conhecido o
modo pelo qual importa que Deus seja servido, por
terem as suas faculdades exercitadas para
discernirem tanto o bem quanto o mal, e por isso
João os chama de pais, porque são como
verdadeiros chefes da família de Cristo (v. 13a).
Os jovens, apesar de não terem a mesma
experiência, têm, tanto quanto eles, já vencido o
Maligno, porque todos os que estão em Cristo não
estão mais sob o domínio de Satanás, já não
pertencem mais ao seu reino de trevas (v. 13 b).
24
Mas, apesar deste conhecimento de Cristo, desta
vitória sobre os poderes das trevas, desta força na
graça do Senhor, os cristãos devem se guardar de
muitas coisas para permanecerem num viver de
verdadeira vitória espiritual, e uma destas coisas é
se guardarem de amar o mundo (v. 15 a 17).
Todos devem se guardar do fascínio das coisas que
há no mundo, tanto cristãos jovens quanto velhos,
experientes e inexperientes, porque é possível
apagar o amor de Deus em nossos corações por
causa deste amor ao mundo.
Tudo aquilo que nós amarmos acima de Deus passa
a ser idolatria e ele não pode tolerar isto porque deve
ser amado acima de todas as coisas.
O amor ao mundo é inconsistente com o amor de
Deus.
Ninguém pode amar a dois senhores. Ou se ama ao
Senhor ou às riquezas. Deus é completamente
incompatibilizado com Mamon.
Nós somos provados na nossa fé e no nosso amor ao
Senhor pelas coisas que há no mundo, de modo que
demonstremos na prática se amamos mais as
criaturas do que ao Criador.
Se é o mundo que recebe a maior parte dos nossos
afetos, consequentemente nós deixaremos o Senhor
num segundo plano, e isto é inverter a ordem da
criação, porque importa que Ele tenha a maior parte
dos nossos afetos, para que possamos ter os nossos
afetos pelas demais pessoas e coisas manifestado
numa forma equilibrada e ordenada.
25
Por isso Jesus disse que não somos dignos dele, e
não poderemos segui-lo, se amarmos mais aos
nossos entes queridos e até a nós mesmos, mais do
que a Ele.
Depois de ter alertado a Igreja quanto ao perigo do
amor ao mundo, João falou do mistério da
iniquidade, daqueles que têm um espírito anticristo
aos quais João chamou de anticristos, porque o
escárnio e blasfêmias deles contra tudo o que é de
Deus e que é santo será revelado em toda a sua força
e plenitude quanto o Anticristo se manifestar sobre
a terra.
Assim, estes blasfemadores, desde há muito, estão
preparando o caminho para ele.
Estes são aqueles que foram plantados como joio na
Igreja pelo Inimigo para o propósito mesmo de
aprenderem sobre as coisas de Deus para logo
depois saírem blasfemando contra estas coisas (v.
18,19).
Não são poucos aqueles que ao longo da história da
Igreja têm agido desta forma a serviço de Satanás
para o seu grande propósito de blasfemar de modo
contundente e generalizado no futuro contra o nome
de Deus em toda a terra através do Anticristo e dos
seus seguidores.
É por esta razão que vemos a iniquidade se
multiplicando, e não diminuindo, à medida que o
tempo tem avançado.
Estes que apostataram do seio da Igreja e saíram
falando contra Cristo, na verdade nunca O
26
conheceram, e eram hipócritas na profissão de fé
que fizeram (v. 19).
Finalmente, o apóstolo advertiu contra o perigo da
apostasia de verdadeiros cristãos, por se deixarem
arrastar pelo erro destes insubordinados (v. 20 a 29).
Os cristãos verdadeiros têm a unção do Espírito
Santo e conhecem a verdade conforme são
ensinados pelo Espírito.
Portanto devem permanecer naquilo que ouviram
dos apóstolos (e que hoje temos na forma escrita,
como nesta epístola de João).
É permanecendo na Palavra do Senhor que
permanecemos nEle (v. 24, 27).
Por isso Jesus disse que se nós permanecêssemos na
Sua Palavra, permaneceríamos consequentemente
nEle e no Seu amor (João 15.7-10).
Os cristãos devem permanecer na unção do Espírito
que lhes ensina a verdade de Deus, para que não
venham a ser enganados (v. 26).
Se entristecerem o Espírito com os seus pecados,
por um viver carnal, não poderão contar com a
permanência nesta unção.
O assunto da nossa relação com Cristo Jesus é vida
eterna (v. 25) e por isso não devemos nos deixar
entreter ou enganar por meros debates relativos à
religião que nos afastem deste alvo supremo da
promessa de Deus para os cristãos em Cristo Jesus.
Ninguém se iluda com um ensino que glorifica a
Deus Pai e que desonra a Jesus Cristo, porque o
próprio Pai tem determinado que será honrado pela
honra que for dada ao Filho (João 5.23).
27
Tal é o ensino de muitos que rebaixam a Cristo da
sua condição de verdadeiro Deus que Ele é, junto
com o Pai e o Espírito Santo.
Por isso João afirmou no verso 23 deste capítulo:
“Qualquer que nega o Filho, também não tem o Pai;
aquele que confessa o Filho, tem também o Pai.”
Isto é mais do que confissão religiosa, porque é
confissão de testemunho em progresso em
santificação por permanecer na verdade da Palavra
por meio do poder do Espírito.
É assim que o cristão deve viver: se preparando para
o seu encontro com o Senhor.
Santificação é um assunto de permanecer no
Senhor, santos, inculpáveis e irrepreensíveis (v. 28)
para que Ele seja glorificado no modo pelo qual
vivemos neste mundo demonstrando a eficácia do
poder operante da Sua graça em nós.
Esta santificação consiste num caminhar na justiça
do evangelho, assim como o nosso Senhor é justo
(v. 29).
Aquele no qual estiverem faltando estas coisas será
vã a sua religião, por mais religioso que ele possa
ser.
“1 Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para
que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos um
Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.
2 E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não
somente pelos nossos, mas também pelos de todo o
mundo.
28
3 E nisto sabemos que o conhecemos; se guardamos
os seus mandamentos.
4 Aquele que diz: Eu o conheço, e não guarda os
seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a
verdade;
5 mas qualquer que guarda a sua palavra, nele
realmente se tem aperfeiçoado o amor de Deus. E
nisto sabemos que estamos nele;
6 aquele que diz estar nele, também deve andar
como ele andou.
7 Amados, não vos escrevo mandamento novo, mas
um mandamento antigo, que tendes desde o
princípio. Este mandamento antigo é a palavra que
ouvistes.
8 Contudo é um novo mandamento que vos escrevo,
o qual é verdadeiro nele e em vós; porque as trevas
vão passando, e já brilha a verdadeira luz.
9 Aquele que diz estar na luz, e odeia a seu irmão,
até agora está nas trevas.
10 Aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e
nele não há tropeço.
11 Mas aquele que odeia a seu irmão está nas trevas,
e anda nas trevas, e não sabe para onde vai; porque
as trevas lhe cegaram os olhos.
12 Filhinhos, eu vos escrevo, porque os vossos
pecados são perdoados por amor do seu nome.
13 Pais, eu vos escrevo, porque conheceis aquele
que é desde o princípio. Jovens, eu vos escrevo,
porque vencestes o Maligno.
14 Eu vos escrevi, filhinhos, porque conheceis o
Pai. Eu vos escrevi, pais, porque conheceis aquele
29
que é desde o princípio. Eu escrevi, jovens, porque
sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós,
e já vencestes o Maligno.
15 Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se
alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.
16 Porque tudo o que há no mundo, a
concupiscência da carne, a concupiscência dos
olhos e a soberba da vida, não vem do Pai, mas sim
do mundo.
17 Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência; mas
aquele que faz a vontade de Deus, permanece para
sempre.
18 Filhinhos, esta é a última hora; e, conforme
ouvistes que vem o anticristo, já muitos anticristos
se têm levantado; por onde conhecemos que é a
última hora.
19 Saíram dentre nós, mas não eram dos nossos;
porque, se fossem dos nossos, teriam permanecido
conosco; mas todos eles saíram para que se
manifestasse que não são dos nossos.
20 Ora, vós tendes a unção da parte do Santo, e
todos tendes conhecimento.
21 Não vos escrevi porque não soubésseis a
verdade, mas porque a sabeis, e porque nenhuma
mentira vem da verdade.
22 Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que
Jesus é o Cristo? Esse mesmo é o anticristo, esse
que nega o Pai e o Filho.
23 Qualquer que nega o Filho, também não tem o
Pai; aquele que confessa o Filho, tem também o Pai.
30
24 Portanto, o que desde o princípio ouvistes,
permaneça em vós. Se em vós permanecer o que
desde o princípio ouvistes, também vós
permanecereis no Filho e no Pai.
25 E esta é a promessa que ele nos fez: a vida eterna.
26 Estas coisas vos escrevo a respeito daqueles que
vos querem enganar.
27 E quanto a vós, a unção que dele recebestes fica
em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos
ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito
de todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira,
como vos ensinou ela, assim nele permanecei.
28 E agora, filhinhos, permanecei nele; para que,
quando ele se manifestar, tenhamos confiança, e
não fiquemos confundidos diante dele na sua vinda.
29 Se sabeis que ele é justo, sabeis que todo aquele
que pratica a justiça é nascido dele.”.
31
I João 3
Andar Como Filhos da Luz
O terceiro capítulo de I João é um desdobramento
e aprofundamento das coisas ensinadas nos
capítulos anteriores.
João começa afirmando a união vital e filial que há
entre o cristão e Deus.
O caráter desta união vital e filiação é em amor
espiritual.
Aqueles que amam o mundo não podem
permanecer neste amor, conforme o próprio Cristo
ensinou aos seus apóstolos.
A plenitude desta paternidade divina e desta filiação
dos cristãos a Deus será vista em plenitude quando
Cristo se manifestar na Sua volta.
Mas ainda que venhamos a trazer a plenitude da
imagem e semelhança com Cristo somente na Sua
volta, nós já somos filhos de Deus presentemente e
esta imagem e semelhança está sendo implantada
em nós pelo trabalho da graça, mediante o poder do
Espírito.
De forma que todos os que são de fato de Cristo e
que aguardam por esta perfeição absoluta na glória,
comprovam que a sua filiação a Deus é verdadeira
pelo fato de se purificarem, pela santificação do
Espírito, pela Palavra, porque o seu Senhor é
inteiramente puro (I João 3.3).
32
Todos aqueles que se rebelam contra este ensino
relativo à verdade da necessidade da nossa
santificação progressiva, e que permanecem na
prática habitual do pecado estão em estado de
rebeldia contra Deus, porque Ele classifica o pecado
como rebelião à Sua santa vontade (I JO 3.4).
Os cristãos que não se purificam viverão na Igreja,
em seus lares ou onde quer que seja como se fossem
pessoas do mundo, porque aqueles que resistem à
obra de santificação pelo Espírito, serão achados
vivendo seguindo a inclinação da carne e não a do
Espírito, e sabemos que a carne é inimizade contra
Deus, e não está sujeita à Lei de Deus e nem mesmo
pode estar, conforme dizer do apóstolo Paulo.
Os que estão na carne não podem ter prazer nas
coisas de Deus.
Definitivamente os cristãos devem abandonar toda
forma de impureza para que possam agradar
verdadeiramente ao Senhor.
Enquanto permanecerem rebeldes contra este
mandamento, não receberão graça da Sua parte
tanto para viverem em vitória, sobre estas
impurezas das quais devem se despojar por um
andar no Espírito, quanto para praticarem o que é
exigido deles em relação às boas obras de justiça,
como fruto de uma fé viva e operante.
Aqueles que vivem pela esperança de que serão um
dia completamente santos, devem viver de modo
digno desta esperança, a saber, purificando a si
mesmos no temor de Deus.
33
Nós vivemos em dias difíceis porque a teologia
liberal conseguiu triunfar obscurecendo a verdade
bíblica da diligência e perseverança para a
santificação pelo Espírito.
O apóstolo diz que Jesus se manifestou exatamente
para tirar os nossos pecados, e isto porque nEle não
há nenhum pecado (v. 5).
De modo que todo aquele que permanece de fato
nEle não viverá pecando; não terá o hábito de pecar,
mas o de se santificar (v. 6a).
Mas todos os que vivem na prática deliberada do
pecado não têm visto nem conhecido ao Senhor,
porque se o tivessem de fato visto e conhecido se
santificariam, porque seriam convencidos disto e
impelidos a isto, pelo Espírito, não apenas em suas
mentes, mas pelo mover e revelação do Espírito em
seus espíritos lhes incentivando a se santificarem (v.
6).
O mover do Espírito no interior do cristão o
conduzirá a se interessar pela causa da justiça
evangélica e a praticar a justiça, porque o Senhor é
justo.
Pelo Espírito, o cristão que se santifica aborrecerá o
mal e amará o bem (v. 7).
Se o pai do pecado é o diabo, como podem aqueles
que afirmam serem filhos de Deus permanecerem
na prática deliberada do pecado?
Jesus se manifestou exatamente para destruir as
obras do diabo, então nenhum cristão pode justificar
o ato de permanecer na prática deliberada do pecado
(v. 8).
34
Se forem genuínos eleitos, serão disciplinados e
corrigidos por Deus, porque conforme o dizer
do autor de Hebreus, não são bastardos mas filhos.
Aqueles que são do diabo fazem as obras do diabo,
assim como aqueles que são de Deus fazem as obras
de Deus.
Os filhos de Deus devem ser imitadores das obras
do seu Pai, não simplesmente por uma questão de
dever moral, mas pelo fato de ter sido implantada
neles uma nova natureza na regeneração do
Espírito, que é a semente de vida eterna semeada
neles.
Esta semente é santa e incorruptível.
Ela não pode ser destruída.
De forma que onde há esta semente haverá uma
chamada para um crescimento em santidade, e não
para a permanência na prática do pecado (v. 9).
Então, esta divina semente que é uma nova natureza
no cristão há de manifestar neles a sua filiação com
Deus, e praticarão a justiça e amarão os seus irmãos
(v. 10).
Por isso é absolutamente necessário que sejam
instruídos na sã doutrina, que lhes ensinará estas
verdades, para que nunca se desviem da maneira
pela qual importa viverem.
Um falso ensino poderá fazer com que esta semente
de vida eterna fique abafada e não germine
produzindo os devidos frutos.
Como dissemos antes, o caráter da união dos
cristãos com Cristo é vital.
É uma relação de Vida gerando vida.
35
De Vida espiritual e eterna que se manifesta na
nossa vida.
Não é apenas mero relacionamento social.
O relacionamento dos cristãos com Cristo e uns com
os outros é um relacionamento de manifestação de
vida, que gera comunhão e comunicação espiritual
de uns com os outros, porque formam no Senhor,
um só espírito com Ele (I Cor 6.17).
De modo que onde houver um verdadeiro mover do
Espírito há de se sentir esta unidade espiritual entre
os cristãos e Deus, e deles entre si.
Os que são como Caim estarão para sempre a
serviço do diabo e não podem amar com o amor de
Cristo.
Mas, se ordena aos cristãos que se amem uns aos
outros (v. 11), porque não são do Maligno como
Caim, mas de Deus.
Os que permanecem se identificando com as obras
das trevas, que não vêm para a luz de Jesus, são
chamados por Jesus, e pelo apóstolo, de filhos do
diabo, porque gostam de fazer as mesmas obras que
ele faz.
Mas, os que são de Deus são como Abel, que foi
morto por seu irmão Caim, porque suas obras eram
justas e as do seu irmão eram más (v. 12).
Os cristãos, especialmente depois de serem usados
por Deus trazendo danos ao reino de Satanás,
poderão provar as investidas que Satanás procurará
fazer contra eles através destes seus instrumentos
humanos, para tentar intimidá-los a não
36
prosseguirem adiante na sua consagração à vontade
do Senhor (v. 13).
No entanto, por maiores que sejam as investidas de
Satanás contra os cristãos, diretamente ou através
daqueles que estão debaixo da sua influência, eles
sabem que já passaram da morte para a vida
exatamente por causa deste amor e comunhão
espiritual que privam com seus irmãos, que é uma
das provas que têm a habitação do Espírito Santo
em seus corações (v. 14).
Tendo falado do ódio do mundo pelos cristãos, João
se apressou em esclarecer qual deve ser a atitude dos
cristãos, em sentido contrário, em relação ao
mundo.
Eles são odiados pelo mundo, mas devem amar a
todos os que estão no mundo, sejam cristãos ou não,
amigos ou inimigos.
Eles devem imitar o exemplo deixado pelo próprio
Cristo que fez o bem a todos os homens, sem
distinção, em Seu ministério terreno.
Deus é amor em Sua natureza, e foi por isso que
João disse que todo aquele que odeia a seu irmão é
homicida, e nenhum homicida pode ter a vida eterna
permanecendo nele (v. 15).
Um verdadeiro cristão não odiará a seu irmão,
porque o Espírito que nele habita lhe conduzirá a
amar a todos os que são nascidos de Deus tal como
ele.
Se Cristo deu a Sua vida pelos que são Seus, então
é um dever de todo cristão amar como Cristo nos
37
amou e dar a vida pelos seus irmãos, assim como
Ele deu a sua vida por nós (v. 16).
Este amor cristão se manifestará de modo prático no
atendimento de necessidades, inclusive materiais
(v. 17, 18).
Então, se amarmos, não somente saberemos que
somos da verdade, isto é, que somos de fato filhos
de Deus, como também teremos uma boa
consciência perante o Senhor, de modo que o nosso
coração não nos condenará, mas ainda que a nossa
consciência não seja uma boa consciência, não pelo
motivo de não estarmos cumprindo o nosso dever,
mas por ser uma consciência fraca e sensível, que
nos condene injustamente, maior é o testemunho de
Deus, de que nos tem dado a capacidade de amar e
de fazer o que Lhe é agradável (v 19, 20).
Entretanto, é importante cultivar uma boa
consciência de forma que o nosso coração não nos
condene, por estarmos cumprindo aquilo que nos
tem sido ordenado por Deus em relação a amarmos
os nossos irmãos, de modo que teremos confiança
para com Ele em tudo o que lhe pedirmos, sabendo
que Ele ouvirá as nossas orações porque temos
guardado os seus mandamentos e feito o que é
agradável diante dos Seus olhos, especialmente no
que se refere a mantermos a unidade do corpo de
Cristo, que é a Igreja (v. 21, 22).
Afinal, tudo o que temos foi recebido pela graça.
38
“1 Vede que grande amor nos tem concedido o Pai:
que fôssemos chamados filhos de Deus; e nós o
somos. Por isso o mundo não nos conhece; porque
não conheceu a ele.
2 Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não
é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos
que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes
a ele; porque assim como é, o veremos.
3 E todo o que nele tem esta esperança, purifica-se
a si mesmo, assim como ele é puro.
4 Todo aquele que vive habitualmente no pecado
também vive na rebeldia, pois o pecado é rebeldia.
5 E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os
pecados; e nele não há pecado.
6 Todo o que permanece nele não vive pecando;
todo o que vive pecando não o viu nem o conhece.
7 Filhinhos, ninguém vos engane; quem pratica a
justiça é justo, assim como ele é justo;
8 quem comete pecado é do Diabo; porque o Diabo
peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se
manifestou: para destruir as obras do Diabo.
9 Aquele que é nascido de Deus não peca
habitualmente; porque a semente de Deus
permanece nele, e não pode continuar no pecado,
porque é nascido de Deus.
10 Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os
filhos do Diabo: quem não pratica a justiça não é de
Deus, nem o que não ama a seu irmão.
11 Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o
princípio, que nos amemos uns aos outros,
39
12 não sendo como Caim, que era do Maligno, e
matou a seu irmão. E por que o matou? Porque as
suas obras eram más e as de seu irmão justas.
13 Meus irmãos, não vos admireis se o mundo vos
odeia.
14 Nós sabemos que já passamos da morte para a
vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama
permanece na morte.
15 Todo o que odeia a seu irmão é homicida; e vós
sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna
permanecendo nele.
16 Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua
vida por nós; e nós devemos dar a vida pelos irmãos.
17 Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu
irmão necessitando, e fechar-lhe o seu coração,
como permanece nele o amor de Deus?
18 Filhinhos, não amemos de palavra, nem de
língua, mas por obras e em verdade.
19 Nisto conheceremos que somos da verdade, e
diante dele tranquilizaremos o nosso coração;
20 porque se o coração nos condena, maior é Deus
do que o nosso coração, e conhece todas as coisas.
21 Amados, se o coração não nos condena, temos
confiança para com Deus;
22 e qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a
receberemos, porque guardamos os seus
mandamentos, e fazemos o que é agradável à sua
vista.
23 Ora, o seu mandamento é este, que creiamos no
nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns
aos outros, como ele nos ordenou.
40
24 Quem guarda os seus mandamentos, permanece
em Deus e Deus nele. E nisto conhecemos que ele
permanece em nós: pelo Espírito que nos tem dado.”
41
I João 4
Não podemos esquecer que João começou esta
epístola falando sobre a encarnação do Verbo (Jesus
Cristo) para dar vida eterna aos homens que se
convertem do mundo a Ele.
É isto que João tinha em perspectiva ao escrever
tudo o que há nesta epístola.
Ele pretendia deixar registrado de modo muito claro
que toda negação da pessoa de Cristo e da Sua obra,
significa rejeitar a própria salvação, a vida eterna, o
amor sobrenatural de Deus, a habitação do Espírito
Santo, e tudo o mais que se refira aos dons que Deus
tem doado pela graça aos que creem em Cristo,
porque é somente nEle que é possível ter acesso a
todas estas realidades espirituais.
Se negamos a Cristo, negamos a possibilidade de ter
vida eterna, porque isto é possível somente por uma
conhecimento íntimo e pessoal do Senhor pela
participação da Sua própria vida.
É isto em resumo que João vinha dizendo ao longo
da sua epístola e que continuou dizendo neste
capítulo, conforme veremos adiante.
Como toda a vida que temos recebido pela fé é
espiritual e revelada pelo Espírito, porque a carne
para nada aproveita senão para gerar o que é terreno
e carnal, devemos ter muito cuidado em provar os
espíritos para saber sua a procedência, se são
espíritos enganosos, ou se são espíritos que
procedem de Deus.
42
Os espíritos dos falsos profetas que já se
encontravam em operação nos dias apostólicos não
provinham de Deus, porque não eram movidos pelo
Espírito Santo, e não davam testemunho da verdade
(v. 1).
Os gnósticos estavam atacando a Igreja nos dias de
João afirmando que Jesus não havia encarnado, e
então o apóstolo os classificou também como
espíritos que não eram de Deus, porque todo
espírito que é movido pelo Espírito de Deus
confessa que Jesus veio a este mundo e encarnou
para morrer pelos pecadores (v. 2, 3).
Estes gnósticos que negavam a encarnação de Jesus
foram chamados por João de espíritos do anticristo,
porque todos estes espíritos que se opõem ao
evangelho de Cristo e ao próprio Cristo estão
operando no mundo para dar sustentação às
blasfêmias do Anticristo quando ele se manifestar
(v. 3).
O espírito da falsidade e do engano que opera no
mundo e que se levanta contra a verdade de Deus
revelada em Cristo está agindo mas não fora do
controle do Espírito Santo que opera na Igreja e é
mais poderoso do que todos estes espíritos
enganosos, que operam no mundo, seja de
demônios seja de homens; de modo que não
poderão prevalecer contra a Igreja, porque os
crentes são assistidos pelo Espírito Santo que os
conduz em vitória sobre estes espíritos do engano
(v. 4).
43
Como estes espíritos são do mundo, e não são
inspirados pelo Espírito que nos foi dado do alto,
falam somente das coisas que são deste mundo
porque não podem discernir e conhecer as coisas
que são espirituais, celestiais e divinas.
Eles são ouvidos por aqueles que são do mundo
porque eles próprios são também do mundo. Eles
não são de Deus (v. 5).
Os que são do mundo não ouvem aqueles que são
de Deus, porque estes falam a verdade, movidos
pelo Espírito, e o mundo não ama a verdade senão a
mentira, por isso os que são do mundo dão ouvidos
aos espíritos do erro (v. 6).
Mas os que são pela verdade ouvirão aqueles que
pregam pelo Espírito Santo. Os que conhecem a
Deus ouvem aqueles que são de Deus, mas quem
não é de Deus não pode ouvi-los, porque as coisas
de Deus se entendem somente pelo Espírito, de
forma que aqueles que resistem ao Espírito não
podem conhecer a Deus e ouvir e entender as coisas
que são de Deus (v. 6).
O crente ama, e especialmente os seus irmãos em
Cristo. É fácil portanto de identificar quem é de
Deus, porque os que conhecem a Deus amam os
seus irmãos na fé. Quem não ama os crentes não
conhece a Deus, porque aquele que é nascido de
Deus amará a todos os que forem também nascidos
dEle (v. 7 a 9).
Jesus veio para nos desarraigar deste mundo
tenebroso. Assim, todo espírito que estiver a serviço
44
de Deus pregará e ensinará isto. Mas todo espírito
do mundo ama o mundo e prega e ensina o amor ao
mundo. Eles pensam somente no que é mundano e
o seu coração cogita somente sobre as coisas que
são do mundo. O seu coração está viciado em
pompa, prazer, dinheiro, fama e tudo o mais que é
deste mundo. Eles falam portanto daquilo que é do
mundo porque a boca fala daquilo que o coração
está cheio.
O reino de Jesus não é deste mundo e os crentes
apesar de estarem no mundo não são do mundo
tanto quanto não é o seu Senhor. Os crentes
buscarão em primeiro lugar o reino de Deus e os
interesses do Seu reino, que como dissemos, não é
deste mundo.
O mundo não pode viver no amor de Deus porque
este amor é conhecido por uma experiência pessoal
com o Espírito Santo que é quem derrama este amor
sobrenatural nos nossos corações.
Por isso João continuou dissertando sobre o amor de
Deus nos versos restantes deste capítulo. Ele tinha
convivido pessoalmente com Cristo em Seu
ministério terreno e havia testemunhado
pessoalmente que Ele não tinha somente amor, mas
que era o próprio amor, de modo que afirma que
Deus é amor (v. 8, 16).
O amor verdadeiro espiritual que é comunicado aos
crentes procede de Deus que é a fonte deste amor.
O Espírito Santo é Espírito de amor. A nova
natureza nos crentes é resultante deste amor do
45
Espírito. O fruto do Espírito é amor (Gál 5.22). O
amor procede do céu.
Então João disse que aquele que não ama com este
amor que procede do céu não conhece a Deus,
porque Deus é amor (v. 8).
E o grande argumento que comprova o amor de
Deus para conosco é que Ele enviou Jesus ao mundo
para que pudéssemos viver por meio dEle (v. 9), isto
é, Ele não veio e nos deu vida e se foi, mas nos
mantém vivos e não mortos, porque nos sustenta no
Seu próprio ser, assim como uma gestante carrega o
seu filho no ventre. Nós temos vida em Cristo
estando ligados vitalmente a Ele, e isto é feito por
uma ligação real e consciente do Senhor em relação
a nós, num trabalho amoroso e paciente que está
operando a nossa transformação em Seu próprio ser
divino. Então é um amor de compromisso,
responsabilidade, trabalho permanente em serviço
dedicado que Ele tem por nós. Há uma prova de
amor maior do que esta? Acrescente-se que para que
tudo isto fosse possível foi necessário, ainda que Ele
carregasse sobre Si, os nossos pecados e culpa,
morrendo no nosso lugar na cruz.
Não há de fato e nem pode haver maior amor do que
o do Senhor! Glorificado e exaltado seja para todo
o sempre o Seu santo nome!
Deus tomou a iniciativa e veio ao nosso encontro se
revelando a nós, embora estivéssemos desviados e
perdidos em nossos pecados. Nunca poderíamos
achá-l0 caso não nos tivesse amado e se revelado a
46
nós pela operação do Espírito Santo (v. 10, 19). Mas
o Espírito não poderia fazer este trabalho caso
Cristo não tivesse se oferecido como propiciação
pelos nossos pecados.
Se o amor de Deus por nós se revelou de tal forma,
então é óbvio que os crentes devem se amar
mutuamente (v. 11).
Nós somos amados e amamos um Deus invisível,
mas temos a firme convicção de que o temos
conhecido porque o Espírito tem aperfeiçoado o
amor de Deus em nós, dando-nos crescimento
espiritual, de modo que podemos testificar junto
com o Espírito que Jesus foi enviado de fato ao
mundo para morrer por nós e nos enviar o Espírito
para nos purificar dos nossos pecados e nos
capacitar a viver de modo agradável a Deus (v. 12 a
14).
De maneira que se nos amarmos uns aos outros
Deus permanece em nós, e temos verdadeira
comunhão com Ele (v. 12, 16), e além disso
sabemos que todo aquele que confessar que Jesus é
o Filho de Deus, Deus permanecerá nele pela
habitação do Seu Espírito, e tal pessoa permanecerá
em Deus (v. 15).
A Bíblia fala da necessidade de os crentes serem
santos e irrepreensíveis, e João nos ajuda na mesma
Bíblia a compreender que esta santidade e
irrepreensibilidade, é sobretudo em amor, porque é
deste modo que devemos viver neste mundo, de
forma que no dia do juízo tenhamos confiança que
não seremos condenados juntamente com o mundo,
47
porque poderemos estar de pé diante do Senhor,
sendo achados por Ele com nossas vidas
transformadas pelo Seu amor (v. 17, 18).
Assim, se os crentes estiverem de fato andando no
Espírito, amarão primeiramente a Deus, e por este
amor que devotam ao Senhor serão capacitados pelo
mesmo Espírito a amarem também os seus irmãos,
de modo que João afirma que aquele que amar a
Deus também amará o seu irmão, porque se não
amar a seu irmão a quem vê, como poderá estar
amando de fato a Deus a quem ele não vê?
O argumento do apóstolo é, em resumo, o seguinte:
quem estiver amando verdadeiramente a Deus,
consequentemente amará também aos seus irmãos,
e é este amor espiritual pelos irmãos, que comprova
que de fato estamos amando a Deus, porque não
vemos ao Senhor, mas vemos aos nossos irmãos e
saberemos o quanto temos sido de fato,
impulsionados pelo Espírito Santo, na medida em
que constatamos que há em nós este amor espiritual
pelos nossos irmãos em Cristo.
Evidentemente o amor referido pelo apóstolo é o
amor ágape, não o amor filéo de amizade, e muito
menos eros de caráter sensual. Como já nos
referimos anteriormente, este amor não é natural,
mas sobrenatural, de modo que ninguém se
incentive a sair praticando obras na carne a pretexto
de alegar o dever de amar seus irmãos, porque não
é a tal tipo de amor que Cristo se refere, porque este
amor na carne está cheio de justiça própria e de
orgulho, e não busca a glória exclusiva de Deus,
48
senão obter o aplauso dos homens, mérito pessoal
ou qualquer outro fim interesseiro egoísta. Que
Deus nos livre deste tipo de amor na Igreja, porque
é um amor falso que não edifica. Ao contrário
provoca divisões e constrangimentos no corpo de
Cristo.
O amor que procede de Deus fará com que seja
inflamado, renovado e manifestado da maneira
devida, o amor, paternal, filial, conjugal e fraternal,
estando os corações unidos e vinculados pelos laços
deste amor divino.
“1 Amados, não creiais a todo espírito, mas provai
se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos
profetas têm saído pelo mundo.
2 Nisto conheceis o Espírito de Deus: todo espírito
que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de
Deus;
3 e todo espírito que não confessa a Jesus não é de
Deus; mas é o espírito do anticristo, a respeito do
qual tendes ouvido que havia de vir; e agora já está
no mundo.
4 Filhinhos, vós sois de Deus, e já os tendes
vencido; porque maior é aquele que está em vós do
que aquele que está no mundo.
5 Eles são do mundo, por isso falam como quem é
do mundo, e o mundo os ouve.
6 Nós somos de Deus; quem conhece a Deus nos
ouve; quem não é de Deus não nos ouve. assim é
que conhecemos o espírito da verdade e o espírito
do erro.
49
7 Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o
amor é de Deus; e todo o que ama é nascido de Deus
e conhece a Deus.
8 Aquele que não ama não conhece a Deus; porque
Deus é amor.
9 Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco:
em que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo,
para que por meio dele vivamos.
10 Nisto está o amor: não em que nós tenhamos
amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e
enviou seu Filho como propiciação pelos nossos
pecados.
11 Amados, se Deus assim nos amou, nós também
devemos amar-nos uns aos outros.
12 Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns
aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é
em nós aperfeiçoado.
13 Nisto conhecemos que permanecemos nele, e ele
em nós: por ele nos ter dado do seu Espírito.
14 E nós temos visto, e testificamos que o Pai
enviou seu Filho como Salvador do mundo.
15 Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de
Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus.
16 E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus
nos tem. Deus é amor; e quem permanece no amor,
permanece em Deus, e Deus nele.
17 Nisto é aperfeiçoado em nós o amor, para que no
dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é,
somos também nós neste mundo.
50
18 No amor não há medo antes o perfeito amor
lança fora o medo; porque o medo envolve castigo;
e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor.
19 Nós amamos, porque ele nos amou primeiro.
20 Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu
irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão,
ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu.
21 E dele temos este mandamento, que quem ama a
Deus ame também a seu irmão.”.
51
I João 5
União Vital com Cristo
É dito tanto pelo Senhor Jesus quanto pelos
apóstolos, que o cumprimento da Lei consiste em
viver no amor.
De fato, se não tivermos comunhão com o Senhor
em Espírito, amando-o com todo o nosso coração,
alma e força, qual seria a real importância de tudo o
mais que fôssemos ou fizéssemos?
Daí o apóstolo Paulo ter afirmado que sem este
amor de Deus a governar nossas vidas nada somos,
e os nossos melhores esforços para nada aproveitam
para aquela vida que é eterna e sobrenatural e
divina.
Por isso Deus afirma, que nós somente O
encontramos quando o buscamos com todo o nosso
coração.
Certamente é um modo diferente de se referir ao
dever de buscá-Lo para um relacionamento
espiritual movido pelo amor.
Não se pode conhecer verdadeiramente a Deus, de
outra forma.
No quinto capítulo de I João, o apóstolo afirmou que
todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, isto é, o
Messias, o Ungido prometido em Isaías 61.1-3, é
porque nasceu de novo de Deus pelo Espírito, e todo
aquele que ama a Deus, o qual lhe deu este novo
nascimento, também amará a todos os filhos de
52
Deus que forem gerados por Ele, pela fé em Cristo
(I Jo 5.1).
Mas, para mostrar que o caráter deste amor não é
meramente sentimental, mas espiritual e baseado na
verdade que recebemos na implantação da nova
natureza que recebemos pela fé, João afirmou que
conhecemos que amamos de fato, os filhos de Deus,
se amamos a Deus e guardamos os seus
mandamentos (I João 5.2).
Jesus havia definido o amor a Ele como sendo a
guarda dos Seus mandamentos (João 14.15; 21),
isto é, aquele que O amar de fato comprovará este
amor pelo ato de guardar os Seus mandamentos; ou
seja, a verdadeira graça e piedade celestial e divina
habitando no cristão, lhe impulsionará no seu viver
diário, a produzir consequentemente este resultado
de ser capacitado a guardar os mandamentos do
Senhor, e a amar os seus irmãos na fé.
João acrescentou que os mandamentos do Senhor
não são penosos (v. 3).
Na verdade, quando andamos no Espírito, e não
somos dominados pela carne, cumprir os
mandamentos do Senhor é um prazer, porque a Sua
graça nos capacita a isto, e é o grande prazer do
cristão fiel honrar Àquele que o salvou e que se
tornou o Senhor da sua vida.
Tendo nascido de Deus o cristão vence o mundo por
meio da sua fé no Senhor.
Jesus venceu o mundo, e os que estão nEle também
vencem o mundo (v. 4, 5).
53
Ou seja, eles não agirão em conformidade com o
mundo, mas de acordo com o reino de Deus e a Sua
justiça.
Esta fé do cristão, que lhe foi dada como um dom
de Deus está bem fundada, em evidências que dão
testemunho da missão divina de Jesus Cristo.
João disse que Jesus veio pela água e pelo sangue, e
o Espírito Santo dá testemunho dEle, sendo Espírito
da verdade.
João viu sair água e sangue do lado de Jesus quando
ele foi perfurado pela lança de um soldado romano
quando estava na cruz.
A purificação de pecados no Velho Testamento
estava tipificada pelo uso da água e do sangue, e era
uma figura da purificação que é realizada por Jesus
Cristo, pelo sangue e água que Ele derramou na
cruz.
Além deste testemunho na terra que é dado pelo
Espírito, pela água e pelo sangue, há também o
testemunho acerca de Jesus que é dado desde o céu,
pelo Pai, pelo Espírito e pelo próprio Cristo.
Ele havia dito em Seu ministério terreno que não
dava testemunho de Si mesmo quanto à Sua missão
divina, porque este testemunho era dado pelo Pai, e
seria dado também pelo Espírito quando fosse
enviado por Ele como outro Consolador para estar
para sempre com os cristãos (v. 6 a 9).
O testemunho que o Pai e o Espírito deram do Filho
nas Escrituras foi inteiramente cumprido em Seu
ministério terreno, e o Pai também testificou desde
o céu que Ele era o Messias esperado, quando falou
54
a João Batista que Ele era o Seu Filho amado, e
quando também falou com os apóstolos no monte
da transfiguração que deveriam ouvir a Cristo.
O Espírito Santo tem dado testemunho acerca dEle
até hoje em dia e continuará dando até que Ele volte,
confirmando assim que as palavras e promessas de
Jesus são fiéis e verdadeiras.
Então a missão de Cristo não está fundada no
testemunho dos homens, mas no testemunho que o
próprio Deus e o Seu sangue derramado e a água
que saiu do Seu lado dão pela purificação de
milhões de pessoas, que têm achado a salvação
nEle, e das muitas que ainda serão salvas por Ele
dos seus pecados.
Nos versos 10 a 13 deste quinto capítulo, João
afirma que os cristãos têm em si mesmos o
testemunho de que Cristo é realmente o Salvador e
Senhor, porque isto se comprova pelas suas vidas
transformadas pelo Espírito.
Transformação esta que ocorreu na regeneração
(novo nascimento espiritual), e que tem progredido
na santificação pelo mesmo Espírito, por causa da
sua fé em Cristo.
Além desta transformação há a testificação do
Espírito com o espírito do cristão, confirmando que
ele é agora filho de Deus, e que alcançou a vida
eterna por meio de Jesus Cristo, por causa da sua
união com Ele.
É realmente somente pela íntima comunhão com
Jesus que se pode crescer na graça e no amor de
Deus.
55
A vida eterna está nEle, e se comprova de modo
quase visível, que há crescimento nesta vida
somente quando se permanece em Cristo pela fé.
Tal é a relação vital que há entre os cristãos que
permanecem em comunhão com Cristo, por
guardarem os Seus mandamentos, que tudo o que
pedirem ao Pai em oração, e que seja segundo a
vontade de Deus, lhes será concedido que sejam
ouvidos, não propriamente por causa deles, mas por
estarem assim tão intimamente associados a Cristo,
que obteve todos os méritos junto ao Pai, para
atender a todas as nossas necessidades.
O Pai nos atenderá porque pedimos em nome do Seu
Filho, e porque estamos efetivamente nEle (v. 14).
A resposta da oração poderá não ser dada
imediatamente, mas se nossa petição for feita pela
intercessão do Espírito Santo, e segundo a vontade
de Deus, é certo que seremos atendidos no momento
mesmo em que fizermos a nossa petição, ainda que
a resposta leve algum tempo para chegar a nós (v.
15).
João se referiu a um pecado que é para a morte, e
pelo qual não se deve orar.
Não se trata de um tipo específico de pecado, este
que é para morte, mas situações que ensejam um
juízo de morte da parte de Deus (v. 16).
Não se trata também de se pecar contra o Espírito
Santo, que é o único pecado que não será perdoado
aos homens, porque os cristãos não podem cometer
tal pecado, porque não resistiram ao Espírito. Ao
contrário, eles possuem a Sua habitação.
56
Apesar de toda injustiça ser pecado, Deus reserva
para Sua exclusiva autoridade exercer juízos de
morte física sobre aqueles que praticam
determinados pecados, não propriamente pela
natureza destes pecados, mas por causa da
Soberania do Seu juízo (v. 17).
Entretanto, nenhum cristão verdadeiro, o qual
nasceu de novo de Deus, não vive na prática
deliberada do pecado, e o Senhor Jesus encarnou
nascendo na manjedoura de Belém, exatamente
para o propósito de livrar os cristãos de viverem
escravizados ao pecado, de modo que fossem
retirados de debaixo do domínio do diabo (v.
18,19).
Jesus é o verdadeiro Deus e a vida eterna. Veja que
é dito que Ele é a própria vida eterna.
Ele é o verdadeiro Deus e a verdadeira vida.
É nEle que temos a vida eterna, fluindo do Seu
próprio ser para o nosso espírito, em nossa
comunhão vital com Ele (v. 20).
O Senhor mesmo é quem nos dá entendimento
espiritual pela revelação do Espírito Santo, para
conhecermos a Ele próprio, que é a verdade e a vida.
João fechou sua epístola com uma exortação para
que os cristãos se guardassem da idolatria (v. 21),
uma vez que há somente um único e verdadeiro
Deus, sendo o único que é digno de todo o nosso
amor e adoração.
A Ele seja a glória pelos séculos dos séculos.
Amém!
57
“1 Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é
nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o
gerou, ama também ao que dele é nascido.
2 Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus,
se amamos a Deus e guardamos os seus
mandamentos.
3 Porque este é o amor de Deus, que guardemos os
seus mandamentos; e os seus mandamentos não são
penosos;
4 porque todo o que é nascido de Deus vence o
mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a
nossa fé.
5 Quem é o que vence o mundo, senão aquele que
crê que Jesus é o Filho de Deus?
6 Este é aquele que veio por água e sangue, isto é,
Jesus Cristo; não só pela água, mas pela água e pelo
sangue. E o Espírito é o que dá testemunho, porque
o Espírito é a verdade.
7 Pois há três que dão testemunho no céu: o Pai, a
Palavra e o Espírito Santo; e estes três são um.
8 E três são os que dão testificam na terra: o
Espírito, a água, e o sangue; e estes três concordam.
9 Se admitimos o testemunho dos homens, o
testemunho de Deus é este, que de seu Filho
testificou.
10 Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o
testemunho; quem a Deus não crê, mentiroso o faz,
porque não crê no testemunho que Deus dá de seu
Filho.
11 E o testemunho é este: Que Deus nos deu a vida
eterna, e esta vida está em seu Filho.
58
12 Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o
Filho de Deus não tem a vida.
13 Estas coisas vos escrevo, a vós que credes no
nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes
a vida eterna.
14 E esta é a confiança que temos nele, que se
pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele
nos ouve.
15 e, se sabemos que nos ouve em tudo o que
pedimos, sabemos que já alcançamos as coisas que
lhe temos pedido.
16 Se alguém vir seu irmão cometer um pecado que
não é para morte, pedirá, e Deus lhe dará a vida para
aqueles que não pecam para a morte. Há pecado
para morte, e por esse não digo que ore.
17 Toda injustiça é pecado; e há pecado que não é
para a morte.
18 Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus
não vive pecando; antes o guarda Aquele que
nasceu de Deus, e o Maligno não lhe toca.
19 Sabemos que somos de Deus, e que o mundo
inteiro jaz no Maligno.
20 Sabemos também que já veio o Filho de Deus, e
nos deu entendimento para conhecermos aquele que
é verdadeiro; e nós estamos naquele que é
verdadeiro, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é
o verdadeiro Deus e a vida eterna.
21 Filhinhos, guardai-vos dos ídolos.”. (I João 5.1-
21)
59
60
II JOÃO
61
II João 1
O autor da epístola se intitula o presbítero, palavra
grega que significa ancião. Não padece dúvida pela
semelhança de conteúdo e estilo que se trata do
mesmo autor de I João.
Quando João escreveu esta epístola já se encontrava
em idade muito avançada, e todos os demais
apóstolos já haviam morrido.
Jesus o manteve em vida até além dos noventa anos
de idade para dar cumprimento à palavra que havia
proferido acerca dele de que deveria permanecer até
que voltasse (João 21.22).
Jesus disse estas palavras em relação a João porque
Pedro lhe havia perguntado o que ocorreria com ele,
já que a Pedro revelou que a sua morte seria em
martírio.
Estas palavras de Jesus indicam que João não seria
martirizado como a maioria dos apóstolos, mas que
o manteria em vida por um tempo prolongado,
porque quando a Igreja estava debaixo de forte
perseguição, e quase todos os apóstolos haviam sido
martirizados, o Senhor consolou o Seu povo através
dos escritos de João, especialmente do livro de
Apocalipse, que foram todos produzidos por João,
por direção divina, quando a Igreja precisava ser
fortalecida por alguém que tinha sido testemunha
ocular do ministério de Jesus e da Sua ressurreição.
O velho e honorável apostolo estava agora
grandemente experimentado no serviço santo, e
62
tinha visto e provado mais do céu, do que quando
creu no princípio.
Por decênios ele havia sustentado o testemunho fiel
da verdade, em pleno conhecimento da vontade de
Deus conforme lhe fora revelado pessoalmente pelo
Senhor, e depois pelo Espírito, conforme promessa
que Jesus havia feito aos apóstolos de que seriam
instruídos em toda a verdade, pelo Espírito Santo.
Então ele sustentou e manteve a mesma doutrina
(ensino do evangelho) conforme havia transmitido
durante toda a sua vida, e manifesta esta verdade nas
poucas, mas significativas palavras que escreveu
nesta epístola.
Nesta sua segunda epístola, ele saudou a senhora
eleita e os seus filhos. Uma provável forma em
código de se referir a uma determinada igreja local.
Ele protesta o seu amor baseado na verdade
revelada pelos crentes desta igreja que ele chama de
senhora eleita, porque a Igreja é composta pelos
eleitos de Deus (v. 1).
E diz que não somente ele os amava, como também
todos os que conhecem a verdade, por causa da
verdade que permanece nos crentes e que para
sempre estará com eles (v. 1,2).
A verdade à qual João se refere é o próprio Cristo,
que havia se definido aos apóstolos em Seu
ministério terreno como sendo Ele próprio, o
caminho, e a verdade e a vida.
O mesmo Cristo havia proferido a eles que todo o
que viesse a Ele de maneira nenhuma seria lançado
fora, e é por isso que João afirma que a verdade
63
permanecerá para sempre naqueles que a têm
conhecido por uma experiência pessoal com ela.
O Espírito Santo habita nos crentes como um selo,
um penhor, uma garantia da salvação deles; de que
nada mais os separará do amor de Deus que está em
Cristo Jesus.
Então João disse que a graça, a misericórdia e a paz
da parte de Deus Pai e da parte de Jesus Cristo, serão
com os crentes em verdade e amor (v. 3). Isto é,
estes dons permanecerão continuamente com os
crentes que permanecerem na verdade e no amor,
porque Jesus havia dito que aquele que permanece
nEle, permanece no Seu amor, e aquele que guarda
os Seus mandamentos é aquele que o ama.
João não está falando portanto que os crentes podem
experimentar o amor de Deus e andarem na verdade,
ainda que eles vivam contrariamente aos
mandamentos de Cristo. Ele está dizendo que aquilo
que Deus tem dado aos crentes Ele não retirará, mas
o modo de se desfrutar estas graças divinas é pela
perseverança no amor e na verdade, isto é, na
obediência aos mandamentos de Cristo.
Por isso ele disse que muito se alegrou no fato de ter
achado alguns dos filhos da senhora eleita andando
na verdade, segundo o mandamento que recebemos
de Deus Pai (v. 4). Na verdade sempre haverá em
cada Igreja não somente joio que não poderá andar
na verdade, porque não são salvos, como também
crentes desobedientes à verdade, e por isso João diz
que o motivo da Sua alegria era por aqueles que
estavam vivendo de modo obediente à vontade de
64
Deus, porque não há como se alegrar de fato com
aqueles que andam contrariamente aos
mandamentos de Deus e que por conseguinte
entristecem o Espírito Santo, e assim não
entristecem apenas ao Espírito, mas todos aqueles
que têm andado no Espírito.
Assim, para o propósito de reafirmar a doutrina de
Cristo àquela Igreja, ele lhes rogou que
permanecessem no mandamento que haviam
recebido desde o princípio do Senhor, de que se
amassem uns aos outros assim como Cristo lhes
havia amado, isto é, com o amor divino, e disse-lhes
que eles sabiam que não estava lhes pedindo para
cumprir um novo mandamento, senão o que havia
sido ordenado por Cristo desde o Seu ministério
terreno (v. 5).
João sabia por experiência própria, que não foi sem
razão que Jesus deixou um novo mandamento para
ser cumprido pela Igreja além dos mandamentos
morais da Lei de Moisés.
Amar com o próprio amor de Deus demanda que se
tenha comunhão íntima com Deus porque Ele é a
fonte do amor.
É principalmente por este amor que o coração de
pedra é quebrado, e que se recebe em seu lugar um
coração de carne, porque é impossível amar com o
amor de Cristo, com um coração de pedra.
É possível cumprir muitos mandamentos com um
coração de pedra, mas é absolutamente impossível
amar com um tal coração.
65
Então o crente que for cumprir este mandamento
terá primeiro que permitir a Deus que seja quebrado
por Ele, de maneira que terá que se autonegar para
poder amar com um amor que não se encontra nele
próprio e que lhe virá do alto, segundo o poder
operante do Espírito Santo.
O amor de Deus é derramado nos nossos corações
pelo Espírito Santo (Rom 5.5).
Então ao falar no mandamento do amor, tanto Jesus
quanto João estavam incluindo o cumprimento de
muitos mandamentos, de maneira que Paulo diz que
aquele que ama tem cumprido a Lei.
E Jesus havia afirmado que o amor ao próximo é o
cumprimento de toda a Lei e os Profetas.
Então João confirma tudo isto no verso 6 dizendo
que o amor é que andemos segundo os
mandamentos de Cristo, e que este mandamento foi
dado à Igreja desde o princípio para que ande nele.
Está muito claro para nós agora porque Paulo diz
em I Cor 13 que se não tivesse amor nada seria e
teria, ainda que fizesse muitas boas obras, e tivesse
muitos dons espirituais, porque é pelo amor a Deus
e ao próximo que se comprova o quanto temos
realmente tido comunhão com Deus e uns com os
outros.
Como é muito comum, transferir o grande objetivo
da religião para muitos alvos, o velho e
experimentado apóstolo apontou novamente para o
Norte do evangelho, indicando qual o caminho a ser
seguido.
66
Assim ele alertou a Igreja quando aos muitos
enganadores que haviam saído pelo mundo afora,
não confessando que Jesus veio em carne, isto é, que
Ele não havia de fato encarnado num corpo como o
nosso, porque era puro espírito.
Este era o ensino dos gnósticos nos dias de João e
que permaneceu atacando a Igreja nos primeiros
séculos.
João os chamou de enganadores e anticristos.
Eles estavam a serviço de Satanás procurando
demolir a sã doutrina, e assim afastarem as pessoas
da possibilidade de serem salvas por Cristo, e
também para enfraquecerem a fé dos crentes,
quanto ao fato de que não tinham em Cristo um
substituto que se ofereceu no lugar deles na cruz
para livrá-los dos seus pecados e da condenação
eterna (v. 7).
Então o apóstolo advertiu os crentes para que
olhassem por si mesmos, isto é, que vigiassem
contra estes enganadores, e permanecessem na sã
doutrina, conforme haviam sido instruídos pelos
apóstolos, porque poderiam perder o fruto do
trabalho que os apóstolos haviam feito com eles, de
maneira que perderiam galardões caso permitissem
serem desviados da verdade apostólica (v. 8).
Em Apo 3.11 Jesus fez a mesma advertência que o
apóstolo João fizera no verso 8:
“Venho sem demora; guarda o que tens, para que
ninguém tome a tua coroa.” (Apo 3.11).
O que temos alcançado com esforço em nossa
obediência ao evangelho é muito precioso e deve ser
67
guardado com toda vigilância e cuidado através de
uma vida piedosa de oração e obediência à verdade,
num viver perseverante e diligente.
Tal é o cuidado que se deve ter com a doutrina de
Cristo, que aquele que não permanece nela não tem
a Deus, porque é somente permanecendo nos
mandamentos de Cristo, no Seu ensino, que temos
tanto ao Pai quanto ao Filho. Esta é a única maneira
de permanecermos nEle e Ele em nós, a saber, sendo
obedientes à Sua Palavra (v. 9).
Esta é também a única maneira de sabermos que
somos verdadeiramente salvos, porque os que
foram salvos perseverarão na fé e na obediência à
Palavra de Deus.
Aquele que tem se desviado da Palavra tem portanto
se desviado do próprio Cristo. Por isso Ele nos
advertiu seriamente quanto a isto em Seu ministério
terreno.
É tão importante e vital para nossa vida espiritual e
vitória neste viver cristão, quanto ao zelo necessário
para que vivamos na doutrina de Cristo, que João
disse que se alguém vem ter conosco, isto é, para
um relacionamento de comunhão, e não traz esta
doutrina verdadeira, não devemos receber tal pessoa
em nossa casa, nem sequer saudá-la com a graça e
paz do Senhor, conforme era o costume dos cristãos
antigos. Isto quer dizer que não podemos ter como
amigos do peito quem não é amigo do peito dos
mandamentos de Jesus. Não podemos compartilhar
num mesmo espírito com aqueles que não andam na
verdade do Senhor (v. 10).
68
João diz que aquele que simplesmente saúda uma
tal pessoa, participa de suas más obras, porque está
no mesmo espírito de quem está no erro e não na
verdade (v. 11).
Quem anda no amor de Deus detestará o mal, o
pecado, e jamais será cúmplice daqueles que andam
nas obras infrutíferas das trevas.
Isto mostra de modo muito claro que o amor a que
João se refere como o cumprimento do novo
mandamento do Senhor é o amor ágape que
demanda pureza de coração e unidade de espírito
em obediência ao Senhor.
Finalmente o apóstolo se despede daquela Igreja
dizendo que tinha ainda muitas coisas para escrever,
mas esperava visitá-los e instruí-los face a face, para
que a alegria deles, e a sua própria, fossem
completas. Certamente esta alegria é o fruto do
Espírito que é decorrente de um andar na verdade.
Por isso João pretendia ir ter com eles, de maneira
que na comunhão no mesmo Espírito, por estarem
em obediência à vontade do Senhor, ele sela esta
comunhão dos crentes e o Seu agrado nela, gerando
grande alegria espiritual em seus corações (v.
12). Ele fala na saudação final da epístola, que uma
outra igreja, à qual ele chama de “tua irmã, a eleita”
estava saudando a senhora eleita, à qual havia
destinado esta sua epístola. Certamente se tratava da
igreja onde João se encontrava quando escreveu
esta epístola.
69
“1 O ancião à senhora eleita, e a seus filhos, aos
quais eu amo em verdade, e não somente eu, mas
também todos os que conhecem a verdade,
2 por causa da verdade que permanece em nós, e
para sempre estará conosco:
3 A graça, a misericórdia, e a paz, da parte de Deus
Pai e da parte de Jesus Cristo, o Filho do Pai, serão
conosco em verdade e amor.
4 Muito me alegro por ter achado dentre teus filhos
aqueles que andam na verdade, assim como
recebemos mandamento do Pai.
5 E agora, senhora, rogo-te, não como te escrevendo
um novo mandamento, mas aquele mesmo que
desde o princípio tivemos: que nos amemos uns aos
outros.
6 E o amor é este: que andemos segundo os seus
mandamentos. Este é o mandamento, como já desde
o princípio ouvistes, para que nele andeis.
7 Porque já muitos enganadores saíram pelo mundo,
os quais não confessam que Jesus Cristo veio em
carne. Tal é o enganador e o anticristo.
8 Olhai por vós mesmos, para que não percais o
fruto do nosso trabalho, mas para receberdes pleno
galardão.
9 Todo aquele que vai além da doutrina de Cristo e
não permanece nela, não tem a Deus; quem
permanece neste ensino, esse tem tanto ao Pai como
ao Filho.
10 Se alguém vem ter convosco, e não traz esta
doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o
saudeis.
70
11 Porque quem o saúda participa de suas más
obras.
12 Embora tenha eu muitas coisas para vos escrever,
não o quis fazer com papel e tinta; mas espero
visitar-vos e falar face a face, para que a nossa
alegria seja completa.
13 Saúdam-te os filhos de tua irmã, a eleita.”
71
72
III JOÃO
73
III João
Esta epístola foi destinada pelo apóstolo João a um
certo Gaio, ao qual ele chama de amado (v. 1,2).
João não se identifica como apóstolo, mas como
presbítero (ancião, pastor) como era seu costume
em suas demais epístolas.
O apóstolo Pedro também costumava se identificar
como um presbítero entre os demais presbíteros,
porque afinal, a principal missão dos apóstolos era
também a de apascentar o rebanho de Cristo (I Pe
5.1).
E esta missão de apascentar o rebanho do Senhor
deve ser realizada sobretudo em amor. No amor do
Espírito que une os corações daqueles que são do
Senhor e que andam na verdade. Daí João dizer que
amava a Gaio na verdade.
O voto para que Gaio tivesse saúde, foi vertido do
termo original grego hugiaíno, que tem vários usos
no Novo Testamento como por exemplo: são, sadio,
saudável em muitas passagens dos evangelhos,
como por exemplo em Lc 15.27; e de sadio na fé
como em Tito 2.2; sãs palavras, em II Tim 1.13, e
sã doutrina, como em II Timóteo 4.3; de maneira
que não se restringia simplesmente nas palavras do
apóstolo a votos de saúde física, mas de um viver
saudável em todos os sentidos, especialmente no
que é relativo à saúde espiritual.
74
Quanto à referência que fizera de prosperidade da
alma de Gaio, a palavra no original grego para
próspera é eudóo, que é encontrada também em
outras duas passagens do Novo Testamento, a saber,
em Rom 1.10, em que tem o sentido de jornada
próspera, bem sucedida, e em I Cor 16.2, em que se
refere à prosperidade em recursos materiais e
financeiros; sendo que nesta última passagem, não
se fala de riqueza, mas de ser liberal em ofertar
segundo as suas posses; Isto é, que cada um deve
contribuir segundo as suas próprias possibilidades;
e não com o que não possui.
Portanto, estes votos de João a Gaio não servem de
base como muitos costumam fazer para apoiar a
doutrina da prosperidade material que ensina
falsamente que todo crente deve possuir
progressivamente cada vez mais, bens deste mundo,
e nem da saúde sempre perfeita, que afirma que
nenhum crente fica enfermo, senão somente aqueles
que não têm fé.
Cabe destacar que ao falar de prosperidade, João
não se referiu a prosperidade material, mas
prosperidade de alma (v. 2).
Agora, devemos admitir que um espírito próspero
no Senhor ajuda a nos manter saudáveis física e
emocionalmente.
O amor de Gaio pela verdade, e o seu caminhar na
verdade eram testemunhados pelos irmãos acerca
dele (v. 3).
E a verdade que foi testemunhada acerca de Gaio
era relativa ao amor que ele tinha pelos irmãos e
75
pelos interesses da Igreja do Senhor; e do modo fiel
como ele agia, segundo a vontade de Deus, não
somente quanto aos crentes da Igreja local na qual
ele congregava, como também para com os irmãos
itinerantes, especialmente evangelistas que iam ter
com eles, aos quais ele recebia com verdadeiro amor
cristão.
O modo digno como Gaio recebeu estes irmãos que
foram visitar a sua igreja foi elogiado por João, uma
vez que, tais homens haviam saído em Nome do
Senhor, nada recebendo dos gentios para tal,
somente confiando na assistência que receberiam
dos santos para ministrar-lhes a verdade do
evangelho, do qual eles eram cooperadores (v. 7, 8).
Esta regra foi estabelecida pelo próprio Senhor, de
que aqueles que pregam o evangelho são dignos de
serem mantidos pelo próprio evangelho, através
daqueles aos quais ministram.
João escreveu para incentivar Gaio a continuar
procedendo com a mesma fidelidade que vinha
agindo até então para com a obra do evangelho, ao
mesmo tempo em que reprovou o comportamento
de um certo Diótrefes que agia como se fosse o dono
da Igreja, que não recebia não somente os que eram
enviados pelo Senhor para lhes ministrar, como se
opunha também ao próprio apóstolo João,
proferindo contra ele palavras maliciosas, valendo-
se da sua ausência entre eles.
Este jamais deve ser o comportamento de um
verdadeiro crente, porque a fé opera pelo amor.
Amor ao Senhor, amor aos irmãos, amor à obra do
76
evangelho, e isto demanda morrer para o nosso eu e
vontade, para conhecer e fazer tão somente a
vontade do Senhor. Isto incluirá receber em amor
aqueles que Ele nos enviar para a nossa edificação,
e dar-lhes o tratamento digno que eles merecem
porque são embaixadores do evangelho, enviados
para a nossa própria edificação.
Então quão repreensível e contra o evangelho era o
comportamento de Diótrefes; e por isso João disse a
Gaio que quando fosse ter com eles, traria à
memória do tal Diótrefes, quão irregularmente ele
vinha procedendo em relação à Igreja, lançando fora
da mesma aqueles que lhes eram enviados.
A razão deste comportamento carnal é citada por
João no verso 11, no qual diz que quem faz o mal
não tem visto a Deus. Como poderia então o tal
Diótrefes agir de modo correto se não tinha
nenhuma comunhão com o Senhor?
Estes que procedem ainda hoje, tal como ele, como
donos da Igreja do Senhor, não podem fazer a
vontade de Deus, por maior que seja o zelo que eles
possam alegar ter por Sua obra; porque no fundo
querem notoriedade, fama, reconhecimento pessoal
egoísta, e não servir a Cristo e aos irmãos por um
amor verdadeiro e desinteressado, que é segundo o
Espírito.
Portanto, Gaio deveria permanecer na prática da
verdade e do amor tal como vinha fazendo até então,
e não seguir jamais o mau exemplo de Diótrefes (v.
11).
77
Graças a Deus que levanta crentes fiéis para
servirem de apoio, exemplo e incentivo para o
comportamento dos muitos Gaios da Sua igreja, tal
como Demétrio, cujo testemunho foi também
elogiado pelo apóstolo João, do qual este disse que
até a própria verdade dava testemunho acerca de
Demétrio, assim como todos os crentes (v. 12).
Crentes fiéis virão portanto a receber bom
testemunho de todos que andam na verdade. Este é
um bom indicativo para sabermos de até que ponto,
temos de fato nos consagrado ao serviço do Senhor
de maneira fiel.
Certamente não teremos nenhum louvor da parte
dos Diótrefes, mas os Gaios e Demétrios darão bom
testemunho acerca de nós, quando estivermos
andando na verdade, compromissados com o reino
de Deus, do mesmo modo que eles estiveram em
seus dias.
Irmãos que andam na verdade são verdadeiros
amigos, porque aqueles que guardam os
mandamentos de Cristo não são apenas Seus amigos
como também de todos aqueles que também
praticam a Sua Palavra.
Não há como haver verdadeira amizade fora destas
bases, porque é somente andando na verdade e no
Espírito, que se pode viver o caráter da verdadeira
amizade cristã.
Por isso João se refere aos crentes que andam na
verdade como sendo amigos, e que estes devem se
saudar mutuamente como amigos que são em Cristo
Jesus.
78
“1 O presbítero ao amado Gaio, a quem em verdade
eu amo.
2 Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas,
e que tenhas saúde, assim como é próspera a tua
alma.
3 Porque muito me alegrei quando os irmãos
vieram, e testificaram da tua verdade, como tu andas
na verdade.
4 Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir
que os meus filhos andam na verdade.
5 Amado, procedes fielmente em tudo o que fazes
para com os irmãos, e para com os estranhos,
6 Que em presença da igreja testificaram do teu
amor; aos quais, se conduzires como é digno para
com Deus, bem farás;
7 Porque pelo seu Nome saíram, nada tomando dos
gentios.
8 Portanto, aos tais devemos receber, para que
sejamos cooperadores da verdade.
9 Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura
ter entre eles a primazia, não nos recebe.
10 Por isso, se eu for, trarei à memória as obras que
ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas;
e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e
impede os que querem recebê-los, e os lança fora da
igreja.
11 Amado, não sigas o mal, mas o bem. Quem faz
o bem é de Deus; mas quem faz o mal não tem visto
a Deus.
12 Todos dão testemunho de Demétrio, até a própria
verdade; e também nós testemunhamos; e vós bem
sabeis que o nosso testemunho é verdadeiro.
13 Tinha muito que escrever, mas não quero
escrever-te com tinta e pena.
14 Espero, porém, ver-te brevemente, e falaremos
face a face.
15 Paz seja contigo. Os amigos te saúdam. Saúda os
amigos pelos seus nomes.”