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Livro - Morrer e Depois - Waldo Lima do Valle

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O livro trata sobre a morte sob à luz de diversas religiões e doutrinas e por último o auto, espírita, coloca a realidade do que viveu, em sua vida pessoal com a perda do filho, como é passar por essa fase perturbadora na vida de qualquer pai ou ente querido.

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Morrer.E depois?

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Endereço do autor para correspondência:

Waldo Lima do ValleAv. Gov. Argemiro de Figueirêdo, 3711 – BessaJoão Pessoa – Paraíba – BrasilCEP: 58036–030 – Fone: (83) 3246 11 40

E-mail: [email protected]

Waldo Lima do Valle

Morrer.E depois?

Laser Plus Studio Gráfico

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Copyright © 1997 by Waldo Lima do Valle

Capa:Waldo L. V. Filho

Ilustração da capa:Fotoarte

Revisão:Waldemir Lopes de Andrade

ImpressãoLaser Plus Studio Gráfico

CIP – Brasil Catalogação na fonte

218V181m Valle, Waldo Lima doMorrer… e depois?: como vivem os que morrem / Waldo Lima do Valle.

João Pessoa, 1997.324 p.1.Imortalidade 2.EspiritismoI–Título

Aos simples de coração,Que amam a verdade,E buscam,Na ânsia de encontrá-la…

Ao filho Waldo, que leu este livro antes de ele ser escrito…

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Agradecimentos

Meu agradecimento especial vai para Nelson Eduardo Lima Ribeiro e esposa, Solange Venâncio Travassos, pelo apoio logístico e incentivo à edi-ção deste trabalho.

Sou sinceramente grato a Marcelo de Sousa Santos, que digitou o texto, e o fez com extrema dedicação e amor.

Agradeço ao Professor Waldemir Lopes de Andrade que, com rara com-petência e habilidade, fez toda a revisão de linguagem, ajustando e melho-rando a estrutura formal, o que contribuiu para a maior clareza dos temas abordados.

Finalmente, minha gratidão a Maria da Conceição Moura dos Santos, por um gesto nobre e silencioso de Amor-Cristão.

O Autor.

Dois Esclarecimentos

O autor, embora escreva sobre a morte, somente crê na Vida. Por isso, decidiu, numa liberdade ortográfica, enfatizar a palavra Vida, grafando-a com inicial maiúscula, no decorrer de todo o livro. Ao leitor espírita Este livro é ecumênico. Nada tem de polêmico. Consequentemente, não visa converter ninguém. Por isso, na redação dos Capítulos sobre as visõesde outras religiões (Parte III), respeitamos, integralmente, as exposições dos entrevistados, na justificação dos seus pontos de vista. Daí, resultaram textosredigidos pelo autor, sem qualquer análise crítica. A “Visão Espírita” foi exposta pelo autor em mais de 200 páginas, em que justificou, com argumentos, as suas convicções. Desse modo, o leitor espírita terá a oportunidade de conhecer as “visões” de outras religiões e o leitor em geral ficará inteiramente livre para a escolhae o aceite daquela “visão” mais lógica e convincente. “Examinai tudo. Retende o bem.” (I Tess. 5, 21)

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“Não reclames, da Terraos seres que partiram…Olha a planta que volta,na semente, a morrer.Chora, de vez que o prantopurifica a visão;No entanto, continuaagindo para o bem.Lágrima sem revolta,é orvalho de esperança…A morte é a própria Vida,numa nova edição!…”

(Emmanuel / Francisco Cândido Xavier)

“O pássaro é livre,na prisão do ar.O espírito é livre,na prisão do corpo.Mas livre, bem livre,é mesmo estar morto…”

(Carlos Drummond de Andrade)

Por que a irmã gêmea da Vida se chama morte?Morte: palavra pesada, semelhante a toneladas de escuridão, esmagando-

nos…A morte poderia muito bem ser chamada de “passagem”. É leve. É suave.Chegando ao final da viagem, encontramos a “passagem”…Depositamos no chão a roupagem física.Não morremos.

“Passamos”.Que tranqüilidade!…

Hélia F. Barata (Ely)

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Ao leitor:

Preciso dar-lhe uma notícia que, talvez, você ainda não saiba.Pensei em suavizar esta notícia, pintá-la com cores mais brilhan-

tes, enchê-la com promessas de Paraíso, visões do Absoluto, explicações esotéricas.

Mas, embora tudo isto exista, não vem ao caso tocar, agora, nesses assuntos.

Respire fundo e prepare-se.Sou obrigado a ser direto e franco e, posso assegurar-lhe, tenho absoluta

certeza do que vou dizer.É uma previsão infalível, sem qualquer margem de dúvidas.A notícia é a seguinte: “você vai morrer”!Pode ser hoje, amanhã, daqui a cinqüenta anos… mas, cedo ou tarde,

“você vai morrer”.Mesmo que não concorde.Mesmo que tenha outros planos.Pense com todo o cuidado no que você irá fazer hoje. E amanhã.E no resto dos seus dias…

Paulo Coelho(In “Maktub”, secção diária do jornal O correio da Paraíba, edição do dia 29 de dezem-

bro de 1996)

Súmario

IPreâmbulo

À Guisa de Prefácio 21Os Que Não Devem Ler Este Livro 25

IIAntes da Morte

Considerações Gerais Sobre a Morte e o Morrer 29Da Morte Para a Vida… Da Vida Para a Morte… 37À Espera da Morte – O Doente Terminal 43Experiências de Quase-morte 47Experiências de Quase-morte: um Enfoque Espírita 53O Melhor Lugar Para Morrer 59A Melhor e a Pior Forma de Morrer 63

IIIA Morte e o MorrerA Visão Contemporânea de Cinco Religiões

A Visão Católica 69A Visão Evangélica 79A Visão Judaica 87A Visão Islâmica 91A Visão Budista 97

IVDepois da Morte – A Visão EspíritaComo Vivem os Que Morrem

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A Matéria e Seus Estados Mais Sutis 107Esferas Espirituais 111Cidades Espirituais 115Solos Espirituais 123As Trevosas Regiões Subcrostais 125Regiões Purgatoriais e Infernais 127Céu e Céus – Regiões Felizes 133Anjos e Demônios 135O Instante da Morte 139Os Técnicos da Morte 143Visão Retrospectiva, no Instante da Morte 147O Cordão Prateado 149O Sono Após a Morte 152O Despertar do Espírito no Outro Lado da Vida 155Reencontros nos Planos Espirituais 159O Retorno dos Bons à Vida Espiritual 163Religiões no Mundo dos Espíritos 167O Trabalho dos Espíritos 173Alimentação dos Espíritos 177Como se Vestem os Espíritos 181Locomoção dos Espíritos – Volitação 185Trânsito dos Espíritos Entre Esferas Espirituais 187Aeronaves Espirituais 191Famílias Espirituais 197Amor e Afetividade Entre os Espíritos 201Namoro, Noivado e Matrimônio no Além 205Sexo nos Planos Espirituais 209Vida Social nos Planos do Espírito 213A Arte no Além-vida 217Enfermidades Espirituais 221Recordação de Existências Passadas 225Crianças nos Planos Espirituais 227Selvagens – Como Vivem no Além 229Ateus e Agnósticos na Vida Espiritual 233

A Outra Vida dos Animais 237Morte por Eutanásia 241Morte por Aborto 245Morte por Suicídio (I) 255Morte por Suicídio (II) 261Morte por Suicídio (III) – Depoimentos 265Mortes Violentas 273Mortes Coletivas 277Espíritos Inferiores – O Que Fazem no Além 281Vampirismo Entre Dois Mundos 287Legião É o Meu Nome, Porque Somos Muitos 291Como Vivem os Bons Espíritos 293Espíritos de Luz 297O Estado Glorioso dos Puros Espíritos 301A Aura dos Espíritos 305A Visão de Deus e de Jesus 309Envoltórios Espirituais 313Vidas e Mortes na Caminhada Evolutiva do Espírito 317Ação dos Espíritos no Mundo em Que Vivemos 321Assombrações – Por Que Acontecem 323Missões de Amor nas Regiões Inferiores do Astral 327Justiça nos Planos Espirituais 329Prisões e Confinamentos nos Planos Espirituais 333Deixemos os Que Morrem em Paz 337

Epílogo 341

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IPreâmbulo

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1À Guisa de Prefácio

Poderá parecer aos que vão ler estas páginas que o seu autor seja um “filo-tânato” – permitam-me o neologismo – isto é, um amante do mórbido

ou do macabro, para escrever, com tanta riqueza de detalhes, sobre “a morte e o morrer”.

Puro engano!Vejo-me, pelo contrário, um “biófilo”, isto é, um amante da Vida, na sua

gama infinita de manifestações, escrevendo sobre a morte por nela não acre-ditar e por considerá-la a antecâmara da Vida.

Sem a morte, jamais haveria ressurreição e nunca poderíamos penetrar na “Vida Abundante” das promessas de Jesus no Seu Evangelho de luz e de redenção.

Foi Ele quem afirmou: “— Eu vim a este mundo para que todos tenham Vida e a tenham em abundância” ( Jo. 10, 10), como quem diz: Vim anunciar que, além das fronteiras deste mundo, existem outras dimensões de Vida, onde a Verdade, a Beleza, a Bondade e a Justiça acontecem em níveis ainda desconhecidos, aqui, na Terra.

Este livro, cujo subtítulo é Como vivem os que morrem visa, acima de tudo, esclarecer e confortar os que temem a morte, aqueles que jamais a querem ver, os que dela sentem aversão e pavor. Nele, procuramos demonstrar, atra-vés de sólida argumentação e com base em relatos recebidos do Além por médiuns idôneos, que, para lá do sepulcro, a Vida continua em dimensões ainda desconhecidas da grande maioria dos que, aqui, habitam.

O livro que escrevi procura elucidar, consolar e fazer luz sobre o ou-tro lado da Vida, mostrando que, neste mundo, nada mais somos do que Espíritos revestidos de carne. Morrer, portanto, é deixar, sob os túmulos de pedra, o invólucro carnal, partindo o espírito, livre, para as Mansões da Casa do Pai.

O próprio Jesus afirmou: “— Não se turbe o vosso coração. Crede em

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Deus. Crede também em mim. Na Casa de meu Pai há muitas moradas.” ( Jo. 14, 2)

Entretanto, este livro encerra, também, uma grave advertência: tal Vida, tal morte! Ou, como escreveu Paulo, em sua Carta aos Gálatas: “Não vos enganeis. De Deus não se zomba. Pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gal. 6, 7), o que significa dizer: Vida reta, neste mundo, pautada nos ditames do Evangelho do Mestre, equivale, para o espírito, a portas abertas nos Planos Espirituais superiores. Vida errada, voltada tão so-mente para as baixas paixões e interesses mesquinhos do mundo, representa, para a alma, dores e sofrimentos atrozes em seu reingresso aos páramos da Eternidade.

O livro tem, portanto, um nobre objetivo: despertar as consciências hu-manas para as vantagens de um viver digno, reto, nos braços da Lei de Deus, na certeza de que, somente assim, seremos felizes, tanto nesta, quanto na outra Vida.

“A morte não nos faz o que a Vida não nos fez…!” – afirmou o grande filósofo cristão Huberto Rohden.

Finalmente, poderíamos sintetizar toda a filosofia que inspirou este tra-balho, na afirmação de Rudyard Kipling, em Se, seu célebre poema: “Diante da morte, nem desejo de a ver, nem temor de vê-la.”

Não queremos, evidentemente, estimular ninguém a buscar a morte, en-curtando, voluntariamente, seus anos de Vida, na Terra. Não! Absolutamente, não! Pelo contrário, queremos que todos aproveitem, e muito bem, os mi-nutos e segundos de suas vidas na construção de si mesmos e na reedifica-ção do mundo, considerando a oportunidade da existência, na carne, uma bênção de Deus, e a permanência, neste orbe, um aprendizado dos mais valiosos que, se levado a sério, guindará o ser humano aos Altos Cimos da Vida Espiritual.

Este livro escancara as portas da Eternidade, exprimindo como devemos viver na Terra para entrar no Além, de fronte erguida pela consciência do dever cumprido. Estimula cada um a criar o céu dentro de si mesmo: “O Reino de Deus está dentro de cada um de vós” (Lc. 17, 21), disse o Cristo. Quem não constrói esse paraíso interior, jamais penetrará, um dia, no Paraíso Celestial, isto porque, como diz Richard Bach em sua obra-prima

– A história de Fernão Capelo Gaivota: “O Paraíso não é um lugar nem é um

tempo… O Paraíso é ser perfeito e você o encontrará quando houver atin-gido a perfeição.”1

O Autor

1 Richard Bach, A história de Fernão Capelo Gaivota, p. 89.

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2Os Que Não Devem Ler Este Livro

Este é um livro sobre a morte e o morrer. Um estudo tanatológico, sob um prisma religioso.

O autor é ecumênico por convicção. Sua religião está sintetizada em qua-tro afirmações do filósofo francês Léon Denis: “Por templo, o Universo. Por altar, a consciência. Por imagem, Deus. Por lei, o amor”. Entretanto, sua for-mação religiosa básica é a espírita. E foi exatamente essa religião que o levou ao ecumenismo, vez que o Espiritismo tem como um dos seus postulados básicos o de que “fora do amor não há salvação”.

A Doutrina Espírita, síntese da sabedoria dos séculos e dos milênios, pos-sui um tríplice aspecto: é ciência, filosofia e religião.

No seu aspecto religioso, fundamenta-se na mensagem de Jesus, por Ele próprio sintetizada numa máxima ética de validade universal: “Tudo quan-to, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles porque esta é a Lei e os Profetas.” (Mt. 7, 12)

Em verdade, isto é amor, e amor na expressão mais sublime desse sentimento.

Por tratar-se de um livro quase todo baseado em princípios espíritas, somente deve ser lido por pessoas sem preconceitos, abertas ao novo, que realmente “pensam para saber”; pessoas não satisfeitas, em caráter absoluto, com as respostas que as suas crenças, sistemas e ideologias têm dado aos magnos problemas do existir humano, e do Além-túmulo.

Como seu autor, desaconselho a sua leitura a todos os profitentes orto-doxos de qualquer religião. Que o leiam os que têm fome e sede da Verdade que liberta; os que anseiam conhecer como vivem os Espíritos no outro lado da Vida; os que possuem uma fé fundamentada no raciocínio; em suma, os inquietos por respostas mais plausíveis sobre o futuro eterno do espírito humano.

Asseguro a esses últimos que o livro que irão ler valerá como uma “gi-

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nástica do espírito”2 expressão que tomo de empréstimo do autor espiritual André Luiz, e muito os ajudará nos seus primeiros passos, após a transição inelutável para a Vida Espiritual.

Trata-se de um livro sobre a morte, mas que, paradoxalmente, só trata da Vida, da Vida Plena e Abundante que, segundo as promessas de Jesus, os que “morrem” haverão de encontrar quando deixarem, aqui, bem enterrados, seus corpos de carne, envoltórios grosseiros da individualidade imortal.

A proposta do autor visa levar todos os seres humanos a encarar a mor-te com naturalidade, de tal sorte que medos e pavores restem vencidos so-bre essa “passagem” tão natural para novas e mais autênticas dimensões de Vida.

E, ao encarar assim a morte como prenúncio da verdadeira Vida, o autor pretende estimular a todos que vivam intensamente o seu dia a dia, na cer-teza de que um futuro de paz e de alegria, no amanhã, depende de um hoje bem vivido, dentro dos princípios sacrossantos da ética cristã, nos braços da Lei de Deus! •

O Autor

2 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Os mensageiros, p. 120.

IIAntes da Morte

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3Considerações Gerais Sobre

a Morte e o Morrer

Na Natureza existem milhões de seres vivos, numa versátil e imensa va-riedade. Os seres vivos têm suas características próprias, bem como

suas atividades básicas: nascem, crescem, respiram, alimentam-se, excretam, procriam e morrem.

Tais seres, para que possam continuar vivos, integram-se a outros seres – os não vivos – e dessa integração resulta o milagre da plenitude da Vida.

Os seres vivos não vivem para sempre. Todos, sem exceção, fatalmente, morrerão, um dia. Aliás – ressalte-se – esta é uma de suas características bási-cas. E, embora possa parecer uma tautologia, seres vivos só morrem porque estão vivos. Minerais não morrem. Também nunca tiveram a experiência da Vida.

O ser humano é um ser vivo e, portanto, um ser que morre.Os corpos dos seres vivos, inclusive os dos seres humanos, são formados

pelas substâncias minerais, espalhadas no solo do mundo. No livro “Gênesis”, o primeiro da Bíblia sagrada, atribuído a Moisés, está escrito: “E então for-mou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego da Vida, e o homem passou a ser alma vivente!” (Gen. 2, 7)

Nada mais verdadeiro.Por ocasião da morte, pela decomposição, todas as substâncias minerais

que constituíam os corpos dos seres vivos, inclusive os humanos, retornam à Natureza para dar Vida a outros seres. Conseqüentemente, é a morte que torna possível a continuidade da Vida.

Nascer e morrer, portanto, são os acontecimentos mais naturais, dentro do viver. E a morte não é um fenômeno exterior, mas um acontecimento imanente aos seres vivos, presente, a todo instante, no existir humano.

No rico cancioneiro popular do nosso país, há uma música de autoria de Alberto Luiz, interpretada por Moacir Franco, onde ele afirma em dois dos

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seus versos: “Só se vive mesmo nove meses… pois o resto, amiga, a gente morre…”3 E, em verdade, o ser humano começa a morrer no dia em que vê, pela primeira vez, a luz da Vida. Conseqüentemente, deveria, desde cedo, aprender a conviver, diuturnamente, com a morte, aceitando-a com natura-lidade, como um fato indispensável ao prosseguimento da Vida.

Por que, então, o medo ou o quase pavor da morte na maior parte dos seres humanos? Por que a rejeição ou a negação desse acontecimento, espe-cialmente no mundo ocidental?

Religiões prometem o Paraíso aos bons, aos nobres, aos limpos de co-ração, mas todos eles, geralmente, resistem em aceitar o aniquilamento do corpo, com naturalidade, mesmo que um céu de beatitudes os esteja aguar-dando. Por quê?

Jesus veio ao mundo para eliminar, definitivamente, o medo da morte e do morrer. A saga do Cristianismo tem o seu início com um túmulo vazio

— “Ele não está aqui. Ressuscitou, como havia dito. Vinde ver onde Ele jazia” (Lc. 24, 5). Foram palavras de um varão, vestido de branco, anjo dos céus, di-rigidas a três santas mulheres que, num domingo de luz, foram à tumba de Jesus, levando-lhe aromas e ungüentos para embalsamá-lo.

Paulo de Tarso, o arauto do Cristianismo nascente, disse em uma de suas cartas: “— O último inimigo a vencer é a morte…” (I Cor. 15, 26) Em verdade, aquele que venceu a morte, passa a melhor saborear a Vida, degustando-a muito mais intensamente. Por isso mesmo, a realidade da morte deveria despojar-se de suas características tétricas e apavorantes, para se constituir uma fonte de crescimento integral do ser humano.

Como dissemos, linhas atrás, os ocidentais, ao contrário dos povos do Oriente, têm deixado em aberto o problema da morte. A cultura do Ocidente, pragmática e materialista, mais voltada para a ânsia incontida do

“ter mais” do que para a busca do “ser mais”, prefere negar a morte, evitando qualquer referência a seu respeito.

Até médicos que lidam, diariamente, com a morte e o morrer, viram as costas para o problema, e quando, dentro de um hospital, um paciente expira em uma mesa de cirurgia ou mesmo de morte natural, eles evitam,

3 Moacir Franco, ‘Balada n.º 7’, Aquelas antigas, letra de Alberto Luiz e música de Moacir Franco.

por todos os meios, contatos mais demorados com o corpo sem Vida. Nos nosocômios, há os encarregados de, imediatamente, após a morte do pa-ciente, fazer “desaparecer” o cadáver, através de compartimentos especiais, adredemente projetados pelos arquitetos, a fim de que os outros doentes, ou mesmo os serventuários, não presenciem o acontecido.

A preocupação central dos que integram a equipe hospitalar é a de mer-gulhar o fato no bojo do esquecimento. Querem levar as pessoas presentes ou envolvidas a se absorverem com outras atividades, a fim de “esquecerem” que alguém morreu, deixando o rol dos vivos para penetrar nos umbrais do Além-túmulo.

É a rejeição mais feroz, a recusa mais flagrante do “morrer”, semelhante a uma atitude muito curiosa, própria do avestruz que, ante a perseguição ou o perigo iminente, afunda a sua cabeça dentro de um buraco, achando que, assim, pode se livrar da ameaça que paira sobre ele.

Ledo engano! Mais dia, menos dia, a morte atinge a todos, sem exceção, e de nada adianta enganar-se a si mesmo, buscando evasivas para esse fato inevitável a todo ser vivo.

No Ocidente, insistimos, a morte é, ainda, um tabu. Evita-se falar dela aos que estão com doenças incuráveis e terminais. Médicos e familiares fa-zem os maiores arrodeios para não tratarem do assunto com os “desengana-dos”, e isto por um ato de “caridade” para com os enfermos incuráveis, a fim de que, iludidos, possam eles “desfrutar” os últimos dias de suas existências, mesmo com uma péssima qualidade de Vida.

Sempre a rejeição e a recusa em aceitar uma ocorrência que, desde o nas-cimento, acompanha o ser humano em todas as fases de sua existência.

O Dr. Evaldo A. D’Assumpção, professor de Ética Profissional da PUC, de Minas Gerais, em excelente artigo publicado na revista Diálogo, o qual me tem servido de inspiração para a redação do presente texto, diz, a certa altura do seu trabalho:

Enfrentar a morte de uma pessoa é confrontar-se com a realidade de sua própria morte, pois a cada ser humano que morre, eu também morro um pouco com ele, e, na medida em que eu negar a morte de uma pessoa, estarei criando a minha própria imortalidade. Se um ser humano igual a mim não morrer, ficará a certeza de que eu

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também não morrerei. (Evaldo A. D’Assumpção, ‘Tanatologia e o Doente Terminal’, Diálogo médico, 10 (2): pp. 22–36, 1984)

Na cultura oriental, a morte não é encarada como uma megera de manto negro, portadora de uma foice e caminhando pelo mundo em sua faina de segadora de Vidas. Nessa cultura e em outras, a morte é algo tão natural que, por vezes, chega a ser até encarada com descontração e alegria. Antológica é a pequena estória integrante do filme Sonhos, de Akira Kurosawa, o grande e genial cineasta japonês, retratando a morte de um camponês, cujo fére-tro é conduzido com regozijo, ao som de músicas e danças, ao seu último destino.

Na cultura ocidental, a morte tem tudo a ver com tristeza, revolta, dor, perda irreparável, desolação e luto. Em suma, algo trágico, terrível, macabro e até repugnante. Onde a morte acontece, aqui no Ocidente, as crianças são, imediatamente, afastadas das casas ou locais onde ocorreu o óbito e, quando, na sua curiosidade natural, indagam sobre o acontecido, recebem respostas evasivas e até mentirosas, confirmando a tese da recusa e da rejeição.

As cerimônias fúnebres, por sua vez, retratam, com fidelidade, o horror que o homem ocidental tem à morte e ao morrer. Lágrimas inestancáveis, olheiras fundas, ataques histéricos, gritos lancinantes, beijos sucessivos nos cadáveres e até a ministração de drogas estupefacientes aos familiares do morto, a pretexto de mantê-los calmos e “desligados”.

Acrescente-se a tudo isto, a busca de uma pretensa “imortalidade” pelos integrantes das Academias de Letras, e a ânsia de “imortalizar” os defuntos com a construção de imponentes mausoléus em pedra granito ou em már-more, materiais de durabilidade quase indefinida.

Por que tanto horror a um fato tão presente no âmago da Vida? No exces-sivo apego à existência material reside, no nosso entender, a causa principal da rejeição à morte.

Pessoas ricas e abastadas, gozadoras da Vida, com os seus bolsos cheios de dinheiro, amantes dos prazeres da mesa e do sexo, detentores de bens materiais em abundância, não querem, nem de longe, pensar em trocar tudo isto pelo “desconhecido”. E, mesmo pertencentes às fileiras das religiões cristãs, não cogitam de permutar essa Vida prazerosa por outra que se lhes

afigura um lusco-fusco impreciso, um mistério insondável, cercado de mil incógnitas e interrogações…

Para os “apegados” a esta Vida, não há opção possível entre “viver e mor-rer”. Mergulhados no mais ferrenho materialismo, vêem a morte como a ex-tinção de todas as emoções e prazeres proporcionados pela Vida da matéria. A quase unanimidade desses sibaritas gostaria de viver a Eternidade aqui mesmo, sendo o seu céu, o próprio inferno pintado pelas teologias tradi-cionais. Todos os pecados seriam, então, permitidos e a ausência de Deus não os inibiria de revelar a plenitude de seus instintos, na prática de todas as misérias morais.

Neste mundo, ninguém, a rigor, é proprietário de nada. Todos os bens são concedidos ao ser humano a título de empréstimo, por um determinado lapso de tempo. Vão passando de umas para outras mãos, numa silenciosa lição de desapego a todos os caminhantes da Vida.

No mesmo artigo acima mencionado, lê-se esta feliz colocação do seu autor:

A Natureza não se dobra às pessoas. As posições, os bens materiais se esvaem como areia por entre os dedos que se fecham para dominá-los. A morte não se importa com nossas pretensões. Ela nos tira as pessoas que pretendíamos controlar e a nós mesmos dos cargos e posições que pretendíamos manter. Daí, ante essa realidade terrível que tudo devora e nada respeita, é preferível a negação, a rejeição, a ojeriza à morte. (Evaldo A. D’Assumpção, ‘Tanatologia e o Doente Terminal’, Diálogo mé-dico, 10 (2): pp. 22–36, 1984)

Existencialistas contemporâneos consideram situações privilegiadas aquelas em que está presente a ameaça imprevista da morte ou o perigo iminente de Vida. Nessas ocasiões, como num passe de mágica, descobre-se que se está vivo, e esse reencontro com o viver é considerado pelos filósofos da existên-cia, altamente benéfico para o ser humano, conduzindo-o, por vezes, a uma reformulação completa de sua Vida.

Pessoas que morreram clinicamente ou que escaparam de graves aciden-tes, tendo perdido a consciência por lapsos variáveis de tempo, dão depoi-mentos de que esse fato alterou, profundamente, a sua tábua de valores. Daí por diante, passaram a vivenciar uma nova e salutar filosofia de Vida.

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E, mais uma vez, temos de reconhecer que, também nesse sentido, sem qualquer conotação religiosa, a Vida emerge, de uma forma inesperada, do bojo escuro da morte. Nesses casos, a Vida passa a ter um novo sentido, nes-te mundo. A pessoa deixa de sentir-se “materialmente” imortal, atingindo toda a contingência, fragilidade e efemeridade do viver.

Conviver, conscientemente, com a morte, é profundamente benéfico para o ser humano. É encarar a Vida numa dimensão muito mais rica, en-contrando, numa hora, milênios de Vida interior. Em suma, “é existir por minutos e segundos numa dimensão de Eternidade!”, na expressão feliz do Dr. Ivo Pitanguy, em recente entrevista à televisão brasileira.

A perspectiva de morrer leva o ser humano a tentar responder, satisfa-toriamente, a esta singular pergunta: — Por que existo? Por que e para que estou neste mundo? Sem uma resposta cabal a essas indagações, o viver torna-se uma caminhada louca e desvairada, sem rumo, sem destino. Que bom, quando a morte ou a perspectiva de morrer ajuda o ser humano, nesse reencontro decisivo com o real sentido de sua própria Vida?!

Todas as religiões primam em apontar o crescimento moral e espiritual do ser humano como o objetivo maior da existência. Crescer, nesse sentido, significa evoluir, hierarquizar valores, optando pelos espirituais sem, entre-tanto, qualquer desprezo maniqueísta pelos materiais.

Muito poética e real a exclamação do Cristo, no Sermão da Montanha:

Ah! Homens de pouca fé, não andeis ansiosos pela vossa Vida, quanto ao que ha-veis de comer e beber. Nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a Vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que as vestes? Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros, contudo, vos-so Pai Celeste as sustenta. (…) E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo, eles não trabalham nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qual-quer deles. (…) Buscai, pois, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a Sua Justiça e todas estas coisas vos serão dadas por misericórdia e de acréscimo. (Mt. 6, 25-33)

A morte deveria ser para o homem o coroamento final de um processo evolutivo de hierarquização de valores e teria o seu início com o desper-tar da consciência para o que, de fato, é valioso, nesta Vida. Tal processo

prosseguiria durante toda a existência até o seu termo. Felizes – para citar, mais uma vez, o Cristo – os que tiveram a felicidade de, nessa caminhada,

“ajuntar tesouros nos céus” (Mt. 6, 20), sendo que esse Reino Celeste segundo, ainda, os Seus ensinamentos, reside na interioridade do ser humano.

Jesus revela-se o fundador de uma nova religião. Não queremos, aqui, re-ferir-nos ao “Cristianismo” – criação humana – nem a nenhum outro “ismo” derivado da mensagem cristã.

A Boa Nova que o Cristo veio trazer ao mundo foi a Religião do Amor: amor a Deus, amor ao irmão de humanidade, amor aos bons, amor aos maus, aos justos, aos injustos, amor em todas as suas múltiplas faces, única condi-ção, para Jesus, de o ser humano crescer e tornar-se, um dia, “um com Ele e com o próprio Deus” que, ainda segundo Jesus, é o próprio Amor.

Este é o verdadeiro crescimento que deveremos todos buscar, nesta Vida. Somente assim criaremos, aqui mesmo, o nosso céu. Passaremos, então, a viver, no contigente, a Vida Eterna em que já estamos mergulhados e que continuaremos a desfrutar depois da morte.

Diante dessa concepção maior de uma Vida Eterna, já possível de ser experimentada dentro do efêmero e do contingente, acaba-se, por inteiro, todo o pavor da morte! Tudo se esvai como a sombra diante da luz, como o mal diante do bem, como a tempestade, ante a bonança que a sucede.

Eis porque, crescer em amor e sabedoria significa vencer a morte e passar a viver, por antecipação, a Vida Abundante das promessas do Senhor.

Então, o que passa a importar mesmo, em nosso viver, não é a quanti-dade dos anos vividos, mas a qualidade desses anos. Nesse sentido, uma criança ou um jovem, arrebatado pela morte no verdor dos anos, pode ter tido uma existência muito mais fecunda do que um velho de noventa anos, se este resumiu todo o seu viver no usufruto dos gozos fugazes que a Vida carnal proporciona.

Há entes humanos que, à semelhança dos seres inferiores da criação, “nascem, crescem, respiram, comem, bebem, procriam e morrem…” e nisto e apenas nisto, resumiu-se o carreiro de suas vidas…

O grande poeta português Fernando Pessoa oferece-nos, com o seu gê-nio e a sua sensibilidade acutíssima, uma página de luz acerca da morte e do morrer. Com ela, concluiremos estas considerações:

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Nem tudo é dia de Sol!E a chuva, quando falta muito, pede-se.Por isso, tomo a infelicidade como a felicidade.Naturalmente.Como quem não estranha que haja montanhas e planíciesE que haja rochedos e ervas.O que é preciso é ser-se natural e calmo…Sentir como quem olha…Pensar como quem anda…E quando se vai morrer, lembrar-se que o dia também morre,E que o poente é belo…E é bela a noite que fica…

4Da Morte Para a Vida… Da Vida Para a Morte…

Lemos no Evangelho de Mateus que, certa feita, um dos seguidores de Jesus fez-lhe a seguinte ponderação: “— Senhor, permite que antes de

seguir-te eu vá, primeiro, sepultar meu pai”, ao que o Cristo respondeu: “— Segue-me! E deixa aos mortos o cuidado de sepultar seus próprios mortos!” (Mt. 8, 21-22)

Em outra ocasião, afirmou Jesus: “— Eu vim para que todos tenham Vida e a tenham em abundância.” ( Jo. 10, 10)

No primeiro texto, o Cristo chamou de “mortos” aos vivos deste mun-do e, no segundo, ao afirmar que veio trazer a Vida, implicitamente, mais uma vez, considerou “mortos” muitos dos que peregrinam na superfície da Terra.

Segundo o Apóstolo Paulo, com a queda do espírito em sua trajetória evolutiva, “entrou o pecado no nosso mundo e, com o pecado, a morte”. (Rom. 5, 12)

Por conseguinte, mortos, neste mundo, estão todos os que não crêem na alma e na sua imortalidade. Mortos são os que jazem mergulhados no abismo do erro e do pecado. Mortos são os apegados, excessivamente, aos bens materiais, pensando, enganosamente, que tudo possuem quando, na realidade, eles é que são os “possuídos…” pelo que possuem. Mortos, em suma, estão os que caminham pelo mundo sem divisar um ponto de chega-da em Deus e, conseqüentemente, sem norte, sem direção.

Entretanto, parafraseando o texto bíblico, “Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva!” (II Pe. 3, 9) Foi o próprio Cristo quem afirmou, ao contar a parábola da ovelha desgarrada: “— Haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrependa do que por noventa e nove que não necessitem de arrependimento.” (Lc. 15, 7) E isto soa, coerentemente,

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com toda a Sua mensagem, que é dirigida, em primeiro lugar, aos “doentes” e não aos “sãos”. Estes últimos não necessitam de médico…

Conhecer o Cristo, mergulhar fundo em Sua mensagem, vivenciar os Seus divinos ensinamentos, é passar da morte à Vida e, já neste mundo, pre-ludiar a ventura celeste.

Morrer com o Cristo é ressuscitar para a Vida verdadeira que estua, em promessas de luz, na gloriosa imortalidade! É voltar à Pátria do Espírito! É retornar ao paraíso perdido…

Conseqüentemente, as palavras mais adequadas para o fenômeno mor-te são: “passagem”, “transição”, “mudança”. Com Jesus, “passaremos” da morte para a Vida. Mudaremos de residência. Trocaremos de vestuário, permutando os farrapos perecíveis do corpo carnal pela “veste nupcial” da incorruptibilidade.

Nesta Vida, semeamos. Na outra, colheremos. Por vezes, aqui mesmo, já segamos o que plantamos. Entretanto, na Vida Maior é que as contas nos serão pedidas mais rigorosamente. Por isso, o retorno à Pátria Espiritual po-derá trazer-nos grandes alegrias e, também, enormes frustrações.

Os descrentes – agnósticos, materialistas e ateus – se foram bons, neste mundo, ao despertarem no outro e comprovarem a continuidade da Vida, reformularão, aos poucos, seus conceitos negativistas. Serão tratados com muita compreensão, consoante a palavra evangélica de que “aquele que não soube a vontade de Deus e fez coisas dignas de repreensão, levará poucos açoites…” (Lc. 12,48) Todavia, terão de recomeçar, nos Planos Espirituais, um longo e paciente aprendizado acerca das Leis da Vida. Se foram maus, sofre-rão, atrozmente, em regiões sombrias e inferiores, até despertarem para os valores superiores do espírito.

Quanto aos que, aqui, na Terra, sempre acreditaram na continuidade da Vida e que, também, foram bons, ao despertarem, em outras dimensões da existência, sentir-se-ão “em casa”. Assim como, ao nascermos, há sempre alguém por perto para testemunhar a nossa entrada na luz desta Vida, do mesmo modo, os que nos antecederam na “grande viagem” – pais, mães, pa-rentes e amigos – estarão a nossa espera no outro lado. E pelo nosso bom ou mau desempenho, na “escola do mundo”, receber-nos-ão, festivamente, ou plenos de compaixão, no caso de havermos estacionado na evolução por nossa desídia e deserção dos deveres capitais.

Na Vida além da morte valem tão somente os “tesouros da alma” (Mt. 6, 20), isto é, as aquisições morais e espirituais que tenhamos feito, o “novo nascimento”, traduzido, neste mundo, numa Vida de amor a nós mesmos e aos nossos semelhantes.

E quando nos referimos ao amor a nós mesmos, recomendado pelo pró-prio Cristo, está claro que não queremos identificar qualquer tipo de ego-centrismo exacerbado, mas sim o respeito que devemos ter pelo nosso cor-po – “o templo do espírito” (I Cor. 6, 19) –, pela nossa Vida, que deve ser toda consagrada a realizações nobres, numa valorização, em todos os sentidos, da grande oportunidade que Deus, em Sua infinita misericórdia, nos concedeu, de uma reencarnação terrena.

Disse o Cristo: “Se o grão de trigo não cair em terra e morrer, não dará frutos, mas, se morrer, dará muitos frutos.” ( Jo. 12, 24) Aludia o Senhor, de forma premonitória, a Sua morte e ressurreição; todavia, assim como Ele ressuscitou, todos nós ressuscitaremos, um dia, para a Vida Eterna.

Encaremos, pois, a morte, com destemor, entusiasmo e até com alegria. Será ela que nos abrirá as portas da Eternidade!

Da Vida também se pode retornar à morte. A volta a este mundo, pelas por-tas da reencarnação, é uma “morte” para a alma.

Espíritos de mediana evolução, já despertos para as realidades da Vida Espiritual, nela engajados em múltiplas atividades, com um círculo bem am-plo de irmãos formando a sua família espiritual, sofrem, e muito, antes da retomada de um novo corpo físico. É que a Vida livre do espírito constitui uma fonte permanente de inefável prazer. Lá, as percepções são muito mais dilatadas. A sensibilidade, apuradíssima. Permutar essa Vida verdadeira pela prisão da carne, é “morrer”, na sua mais lídima expressão.

Reencarnam os que ainda não saldaram os seus compromissos para com o nosso mundo e, mais cedo ou mais tarde, têm de a ele retornar, a fim de quitarem débitos perante a Lei. Erros cometidos na Terra têm de ser repara-dos aqui mesmo. Faltas praticadas contra seres humanos têm de ser saldadas em contato com a humanidade terrestre.

Após o despertar no outro lado da Vida, permanece o espírito, por um período de tempo variável, naqueles planos compatíveis com o seu nível evolutivo. Um dia, chega o momento de analisar o seu “deve” e o seu “haver”

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perante a Lei. Geralmente, pesa mais o débito do que o crédito e, por conta disto, pede-se uma nova oportunidade de retornar à Terra.

Muitas vacilações, nessa hora, estarão presentes ao espírito reencarnante. Há um medo real de recair nas mesmas faltas cometidas em passadas exis-tências. Há receios, bem fundados, de que o mergulho no escafandro de carne, leve-os a esquecer compromissos assumidos nos Planos Espirituais, e muitos, por isso mesmo, ficam adiando, por tempo indeterminado, a sua volta à esfera física.

Entretanto, não obstante essas protelações, o dia do retorno, fatalmente, chegará e o espírito terá de retomar o indumento carnal com uma destas três finalidades: 1) expiar faltas cometidas em reencarnações pregressas; 2) passar pelas mais variadas provas, de cujo sucesso vai depender o seu futuro espiritual; e 3) desempenhar as mais diversificadas missões, de maior ou de menor relevo, em prol da construção de um mundo melhor e mais feliz. Às vezes, dentro da programação reencarnatória de cada um, muitas dessas últimas tarefas estão mescladas, também, com provas e expiações.

Quanto aos Espíritos atrasados, ainda involuídos, com grandes débitos perante a Lei, voltam à carne, automaticamente, sem qualquer direito de opinar sobre os seus novos projetos de Vida. E que a liberdade somente cresce na proporção da evolução conquistada.

Despedir-se de parentes, amigos, instrutores espirituais, companheiros de trabalho; mergulhar na inconsciência, por um certo número de anos, nos primeiros tempos da infância carnal; mudar de envoltório, revestindo-se de um corpo grosseiro e denso; perder a antiga apresentação, assumindo outra que lhe será inteiramente desconhecida, porque dependente de fatores cár-micos e hereditários; deixar o ambiente espiritual a que já se adaptara com-pletamente; renunciar a todos os bens espirituais que já reunira no outro lado; em suma, reduzir percepções e sensibilidade, sendo o seu amanhã uma interrogação… isto é reencarnar, isto é retomar à experiência terrestre, ver de novo a luz deste mundo… e é, também, “morrer” para a Vida Espiritual.

E, de resto, mais uma vez, Vida e morte, como diz Pietro Ubaldi, “são dois contrários que se compensam, dois impulsos que resultam em equilí-brio, duas fases complementares de um mesmo ciclo”.4

4 Pietro Ubaldi, A grande síntese, p. 286.

E a Vida na matéria torna-se, assim, uma morte para o espírito. •

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5À Espera da Morte – O

Doente Terminal

Quem quer que escreva sobre a morte e o morrer, na atualidade, não poderá deixar de fazer referência aos estudos de uma notável psiquia-

tra suíça, radicada nos Estados Unidos – Dra. Elisabeth Kübler-Ross.5 Suas pesquisas, nessa área, deram origem a uma nova ciência: a Tanatologia.

Lidando, por muito tempo, com doentes terminais, ao lado de enfermei-ros, religiosos e médicos, essa pesquisadora chegou a conclusões que redun-daram em grandes benefícios para os próprios doentes. Estes passaram a ser melhor conhecidos em sua interioridade, o que lhes proporcionou novas e melhores formas de assistência.

Tais conclusões são, além de interessantes, deveras surpreendentes. Pacientes terminais desenganados, embora não pareçam à primeira vista, têm plena consciência da dimensão de suas enfermidades. Sentem uma vontade íntima de conversar abertamente sobre os seus males com aqueles que os rodeiam: a equipe médica, bem como parentes e amigos. Entretanto, como aqueles que deles se aproximam fecham-se a esse respeito, eles, embo-ra conscientes de que estão a um passo da morte, silenciam.

Muitos desses doentes, diante do silêncio e das palavras de conforto e otimismo dos amigos e familiares, não abordam, com eles, o quadro real de suas doenças, tão somente para não fazê-los sofrer (?). E, diante da triste-za, da aflição e, até, do desespero dos que deles se aproximam, chegam ao ponto de confortá-los, mentindo sobre a gravidade do seu estado de saúde.

5 Elisabeth Kübler-Ross, psiquiatra suíça, radicada nos Estados Unidos. Em 1960 deu início a um trabalho com doentes terminais que viria dar origem a uma nova ciência: a Tanatologia. É autora de livros, hoje, traduzidos em várias línguas, três dos quais para o português: Morte, estágio final da evolução, Sobre a morte e o morrer e A roda da eternidade, os dois primeiros publicados pela Editora Record e o último pela Editora Sextante.

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Invertem-se, assim, os papéis, e aquele que deveria receber consolo e alívio, passa a ser quem conforta e desoprime.

As conclusões da Dra. Elisabeth Kübler-Ross foram muito importantes para a adoção de uma nova metodologia no trato com pacientes terminais. Uma abordagem clara, transparente, do quadro real das enfermidades, foi introduzida, em nada alterando a serenidade desses pacientes, ante o pre-núncio da morte.

O doente terminal, via de regra, intui que vai morrer e, depois de um certo tempo, aceita esse fato como um alívio, diante do desconforto propor-cionado pelas enfermidades incuráveis. Eis porque, médicos e parentes que mentem para confortar esses doentes, são alvos, por vezes, até de uma espé-cie de zombaria silenciosa por parte dos próprios enfermos que já “sabem” toda a verdade acerca da evolução inelutável de suas enfermidades.

A Dra. Elisabeth Kübler-Ross assinala cinco fases por que passa, geral-mente, o doente desenganado, desde o momento em que intui ou lhe é re-velado que possui uma doença incurável e terminal.

Analisemo-las:A primeira é a da “negação” da enfermidade. Nessa fase, o doente recusa,

por todos os meios, que esteja com uma doença incurável, precursora da morte. Prefere, então, enganar-se a si mesmo, achando que houve um erro de diagnóstico e quejandos. Recorre a todo tipo de tratamento, mesmo que seja com charlatães e feiticeiros, a fim de alimentar a esperança de que não é verdade que os seus dias estejam contados.

Nessa fase, o paciente terminal necessita de muito apoio médico e ajuda familiar. Negando a sua enfermidade e, numa expectativa esperançosa de cura, ele pode eximir-se de tomar a medicação que lhe foi prescrita pelos médicos, e esta lhe dará melhor qualidade de Vida nos estágios progressivos da doença insidiosa e fatal.

A segunda fase é a da “raiva” ou “indignação”. O enfermo revolta-se con-tra tudo e contra todos. Contra médicos que diagnosticaram a sua enfermi-dade ou que a insinuaram, utilizando-se de eufemismos. Contra os familia-res e amigos que o procuram para confortá-lo. A sua revolta vai até contra Deus, se ele não possui uma sólida fé religiosa. E toda essa revolta reside no fato de a doença fatal tê-lo atingido e não a outra pessoa. Muito apoio, amor, paciência e compreensão necessita o doente, nesse estágio. Afinal de contas,

o seu viver sofreu um violento choque e torna-se necessário algum tempo para que ele possa adaptar-se ao seu novo estado.

A terceira fase é a da “negociação” ou “regateio”. Nesse estágio, o doente terminal promete tudo à equipe médica que o assiste, se ela conseguir a cura de sua enfermidade. A blasfêmia contra Deus é esquecida, dando lugar a

“promessas” de todos os tipos, a santos de sua devoção ou não. Trata-se de uma espécie de “barganha” que o doente faz, à semelhança de um náufrago que procura se agarrar a qualquer coisa que lhe impeça o mergulho definiti-vo nas profundezas do desconhecido.

A quarta fase é a da “compreensão gradativa”, também chamada de “in-teriorização da enfermidade”. Nesse estágio, começa a acontecer a com-preensão gradual do paciente acerca do seu estado. Tem início, então, um processo de interiorização do grave problema que está vivenciando. Ele já intui que o seu quadro patológico é, realmente inelutável e trata de ultimar providências para deixar resolvidos todos os problemas pendentes, antes de sua partida deste mundo. E isto ele faz com extrema frieza e disposição, sendo até impertinente com familiares e amigos que relutam em dar curso àquelas medidas por ele sugeridas e/ou planejadas. Trata-se de uma fase muito importante, porque, preparatória para a última que vem a seguir. Aqui, ele costuma fazer uma revisão de toda a sua Vida e, por vezes, mergulha num silêncio e num isolamento singulares, evitando visitas e mesmo a convivên-cia com outras pessoas, provocando a inquietação dos familiares.

Esse é um estágio muito positivo, de preparação interior para o desfecho final. São momentos de reencontro do enfermo consigo mesmo, e se ele pos-sui um forte sentimento religioso, aproveitará a ocasião para uma tentativa de reconciliação com antigos inimigos ou simples desafetos e, também, para gestos de generosidade, adiados freqüentemente, no decurso de sua Vida.

Segue-se a essa, a última fase – a de “aceitação”, em que se desenvolve, no doente terminal, uma grande confiança em si mesmo e onde ele se sente completamente preparado para viver os últimos instantes de sua existência, neste mundo.

Todas as providências para o amanhã dos familiares foram tomadas. As tarefas inacabadas estão concluídas. As reconciliações foram tentadas ou concretizadas. Nada mais resta a fazer aqui. É aceitar a fatalidade e aguardar serenamente o lance final: a morte.

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Essa última fase nada tem de sofrida ou desoladora. Por isso mesmo, ela costuma surpreender os parentes próximos do doente. Antes, é uma atitude de profunda maturidade quando o ser humano como que “desperta” para a realidade inevitável de que “toda Vida”, na Terra, termina com a morte! Ele partirá agora, mas todos os que o cercam, sem exceção, bem assim toda a humanidade que lhe foi contemporânea, também deixará este mundo, hoje ou amanhã, pelas mesmas portas que ele vai atravessar brevemente.

Nesse estágio, cabe apenas aos que o cercam serem solidários com o enfermo, mantendo junto a ele uma atmosfera de serenidade e equilíbrio diante do inevitável.

Os que deixam esta Vida, nessa fase, realizam a passagem para o outro lado de uma forma tranqüila e feliz. Nos ataúdes, seus rostos parecem sorrir, no mergulho profundo num oceano de silêncio e de paz.

Façamos, por último, uma reflexão mais profunda acerca dessas cinco fases por que passa o doente terminal, aplicando-as ao nosso viver diário.

É perfeitamente possível a qualquer ser humano amadurecido, mesmo não possuindo uma robusta fé religiosa, nem sendo portador de qualquer doença terminal, começar a viver no seu “aqui e agora”, as cinco fases apon-tadas pela Dra. Elisabeth Kübler-Ross. Isto implica numa plena consciência de que todo o mundo vai morrer um dia. Por que, então, não começar, desde já, a vivenciar as cinco etapas mencionadas?

Assim procedendo, o ser humano passará a conviver, diuturnamente, com a morte, o que vai significar um maior e mais saudável reencontro com a Vida. Cada minuto e cada segundo do seu existir será encarado como se fosse o último, e isto dará lugar a um autêntico e verdadeiro viver!

Vivenciadas as cinco fases, no dia a dia, a morte estará vencida e a paz interior, definitivamente, conquistada. •

6Experiências de Quase-morte

Num livro sobre a morte e o morrer, cabem perfeitamente algumas bre-ves considerações acerca das pesquisas de um psiquiatra norte-ame-

ricano, também Doutor em Filosofia – Dr. Raymond A. Moody Jr.6 – feitas com pessoas que sofreram a chamada “morte clínica”, ou que estiveram bem próximas da morte, em virtude de graves ferimentos em acidentes diversos.

Nos declarados clinicamente mortos, o coração pára por segundos ou minutos, sem ocorrer, entretanto, a morte cerebral. Daí a possibili-dade do retorno à Vida, após processos sofisticados de reanimação ou ressuscitamento.

Esse ilustre pesquisador, cujos trabalhos são, hoje, reconhecidos em todo o mundo, reuniu em dois livros – Vida depois da vida e Reflexões sobre vida depois da vida – depoimentos dessas pessoas que perderam a consciência e depois a retomaram. Comparando esses relatos, pôde ele traçar um perfil, tanto quanto fiel, do que se passou com todos aqueles que deixaram esta Vida, embora por momentos, para depois retomá-la, num símile aproxima-do da morte verdadeira.

A “morte clínica” seria, assim, uma espécie de amostra da morte real. Daí o extraordinário valor das conclusões desse notável psiquiatra, por entrever, com as suas pesquisas, o que a alma vai encontrar “no outro lado”, após o decesso do corpo físico.

As conclusões dessas pesquisas confirmam, de forma convincente, a tese da Doutrina Espírita e de algumas correntes evangélicas, de que a morte, a rigor, não existe, sendo tão somente uma “transição” ou uma “passagem”, em suma, uma crise repentina que redundará na transferência da individualida-de imortal para novas esferas de Vida.

6 Raymond A. Moody Jr., psiquiatra norte-americano e também Doutor em Filosofia. Autor de dois livros “best-sellers”: Vida depois da vida e Reflexões sobre vida depois da vida, ambos publicados no Brasil pela Editorial Nórdica.

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Por ser um homem de ciência, o Dr. Raymond A. Moody Jr. recolheu depoimentos de centenas de pessoas, procedentes dos mais diferentes países, filiadas a diversas religiões e possuidoras de níveis culturais bastante diferen-tes. Todos os relatos coincidem em vários pontos, segundo as conclusões desse pesquisador:7

Os que vivenciaram a “experiência de quase-morte” disseram ser muito difícil descrevê-la na linguagem comum. Foi algo sentido e vivido subjeti-vamente, impossibilitando o seu relato, dada a imperfeição e os limites da linguagem humana. O que lhes aconteceu – todos são unânimes em afirmar

– foi uma vivência tão profunda e intensa que somente um grande silêncio seria capaz de exprimir. Entretanto, mesmo mergulhados num estado de quase inconsciência, todos foram capazes de lembrar de palavras, comen-tários e juízos emitidos pelos que lhes estavam perto ou em salas contíguas, onde os seus corpos se encontravam sendo objeto de ressuscitamento ou reanimação.

Muitos, ao tentarem descrever o que sentiram fora do corpo físico, afir-maram ter experimentado estados muito agradáveis de quietude e alívio, que os estimulava a permanecer, no outro lado, sem desejo de retornar ao corpo da carne.

A grande maioria ouviu os mais variados sons, uns muito agradáveis como música fina, suave, quase celestial. Outros, ouviram sinos e acordes semelhantes ao de harpas celestiais. Já outros, escutaram ruídos fortes, sons de campainhas e assobios cortantes, cuja natureza não podiam precisar com segurança.

Os que passaram por esse transe, sentiram-se ainda como se tivessem sendo “sugados” através de um túnel escuro, em alta velocidade, experi-mentando uma sensação indefinível de “estar metade aqui e metade noutro lugar”,8 mas, depois dessa passagem, todos sentiram agradáveis sensações de euforia e liberdade.

Nessa singular “experiência” quase todos se sentiram “fora do cor-po”, suspensos do solo a uma curta distância, de onde podiam observar,

7 Segue-se uma síntese, feita pelo autor, dos acontecimentos comuns nas experiências de morte segundo as conclusões do Dr. Raymond A. Moody Jr., relatadas em seu livro Vida depois da vida, pp. 26 e seg.8 Idem, ibidem, p. 32.

perfeitamente, seus corpos carnais deitados em leitos, em pedras de necro-tério, ou vagando sobre a água, nos casos de afogamento. Muitos assistiram, de cima, as tentativas bem sucedidas de reanimação de seus indumentos carnais, e a sensação que tinham era a de que estavam na posse de um outro corpo, em tudo semelhante ao de carne, mas de natureza sutil e imponderá-vel. Um dos entrevistados pelo Dr. Moody, tendo sofrido um grave acidente em que, inclusive, perdeu a maior parte da perna, assim descreveu, entre outras coisas, o que lhe aconteceu:

“Eu sentia o meu corpo (o corpo espiritual) e estava inteiro. Sabia disso. Sentia-me inteiro e percebia que estava com todas as partes ali, embora não estivesse.” (Raymond A. Moody Jr., Vida depois da vida, p. 50)

Os que viveram a “experiência” narraram, quase à unanimidade, o encontro com Espíritos de parentes, amigos ou mesmo desconhecidos, cuja disposi-ção era a de ajudá-los naquela situação. Doutras vezes, esses seres os avisa-vam de que ainda não era daquela vez que eles deixariam, definitivamente, o corpo de carne e que, por isso mesmo, deveriam retornar a este mundo.

Eis um pequeno trecho de um depoimento dessa natureza registrado pelo Dr. Moody:

— Percebi, naquele momento, minha avó e uma menina que eu tinha conhecido na escola (ambas já haviam morrido). Pareciam felizes. Senti que tinham vindo me proteger e me guiar. Era como se eu estivesse voltando para casa e eles estivessem lá para saudar-me com boas vindas. Nessa ocasião, tive a sensação de que tudo era luz e beleza. Foi um momento lindo e glorioso! (Idem, ibidem, p. 52)

Um dos pontos mais comuns, considerado pelo próprio Dr. Moody como dos mais incríveis é o encontro com um “ser de luz”. A luz que desse ser se irradia não incomoda a vista, muito embora seja de um brilho incandescen-te. Desse ser – e todos foram unânimes em seus relatos – irradiava-se muito amor, sendo que esse sentimento não era expresso por palavras.

Quem estava vivenciando a “experiência”, sentia-se atraído por esse “ser de luz” que se comunicava telepaticamente com o “morto”, formulando, em silêncio, indagações relacionadas com a qualidade de Vida levada por ele até

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aquele momento. Era como se fosse uma suave advertência sobre a impor-tância do existir humano, implicando em sérias responsabilidades de cresci-mento pessoal através do amor a todos os irmãos de humanidade. E o mais interessante era que esse “ser de luz” não acusava nem incriminava ninguém. Todos sentiam, vindos dessa “luz”, somente amor e compaixão.

O fenômeno da visão retrospectiva da Vida, desde a primeira infância até o instante da singular “experiência”, foi, também, um ponto comum em todos os entrevistados. As lembranças aconteciam sempre de uma forma vertiginosa, numa percepção abrangente de toda a existência, desde os fatos menos importantes aos mais significativos. Tudo era relembrado com uma abundante riqueza de detalhes, induzindo a uma espécie de “auto-julgamen-to” da Vida levada até então.

Geralmente, isto acontecia dentro de uma ordenação no tempo. Às vezes não. As imagens eram muito vivas, como num filme cinematográfico, em três dimensões. O “ser de luz” sempre estava presente a essa experiência reme-morativa, e todos foram acordes em expressar que, a partir daquela presença luminosa, é que se havia desencadeado todo o processo de revisão de vida.

Em todos os entrevistados pelo Dr. Moody, sempre aparece um espaço-limite entre os dois planos – o material e o espiritual. Ele é descrito de várias maneiras, representando um último obstáculo a ser vencido. Um estado ge-ral de leveza e de liberdade foi também assinalado por todas essas pessoas e, quando pareciam estar fadadas a ultrapassar esse último obstáculo, eis que se sentiam arrastadas, impetuosamente, de volta aos seus corpos, “renascen-do”, assim, para a Vida que estivera prestes a extinguir-se.

Todas as pessoas, envolvidas nessas “experiências” obviamente retorna-ram aos seus corpos, senão inexistiria qualquer registro. Entretanto, o que é mais interessante em tudo isto é o seguinte: quando a experiência atingia uma profundidade maior, com a quase ultrapassagem do último limite, as pessoas sentiam-se num estado geral de tamanha satisfação, paz e liberdade que, às vezes, resistiam, até, ao retorno à prisão do corpo. Segundo as con-clusões do Dr. Moody, isto sempre aconteceu àqueles que chegaram a ter contato com “o ser de luz”. Ele cita o depoimento de um homem que chegou a declarar: “— Eu não queria ter nunca saído da presença desse ser.”9

9 Raymond A. Moody Jr., Vida depois da vida, p. 73.

Retornando à vida física, muitas pessoas disseram ao Dr. Moody que te-miam contar às pessoas do seu círculo íntimo o que lhes acontecera. Embora a “experiência” tivesse sido absolutamente real, nada tendo de alucinante ou fantasiosa, essas pessoas temiam serem alvo do ridículo pelos outros. Alguns receavam que as tomassem por desequilibradas mentais. Desse modo, mui-tos preferiram permanecer em silêncio acerca dos fatos que lhes acontece-ram, relatando-os, agora, ao Dr. Moody, estimuladas por testemunhos seme-lhantes. Uma das entrevistadas chegou a dizer:

— Quando eu tentava contar a minha experiência, eles ouviam com interesse, mas depois eu descobria que ficavam dizendo: — Essa aí pirou mesmo! Quando desco-bri que, para eles, era tudo uma grande piada, parei de tentar comunicar qualquer coisa. (Raymond A. Moody Jr., Vida depois da vida, p. 80)

Nos momentos de emancipação do espírito, todos foram capazes de fazer uma auto-avaliação de suas vidas, em termos do bem que estavam espalhan-do, ou não, em tomo dos seus passos. Todos como que submetiam os seus atos ao tribunal interior de suas consciências. Assim, ao retomarem os seus corpos, passaram a ver a Vida humana sob um novo prisma, retificando ca-minhos e alterando, substancialmente, a tábua de valores que, até então, ti-nha norteado o seu viver.

Passaram a ter inclusive, depois de tão singular transe, uma nova visão da morte, perdendo qualquer receio do morrer. Evidentemente, essas pessoas não passaram a desejar a morte. Simplesmente, o “morrer” não lhes causava mais nenhum espanto ou pavor. Todos robusteceram a sua fé no além-vida e muitos que, por medo, nunca estavam presentes a cerimônias fúnebres, passaram a encarar os velórios com toda a naturalidade. Agora, tinham a certeza de que a sua individualidade era imortal e de que a morte verdadei-ra iria ser uma experiência, em tudo por tudo, semelhante àquela por que haviam passado.

Por último, surgia a necessidade da confirmação desses relatos por pes-soas presentes nos ressuscitamentos ou nos graves acidentes. E isto foi per-feitamente possível, com o testemunho de pessoas que confirmaram em vá-rios pontos os relatos dos entrevistados. Muitos médicos ficaram estupefatos

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com os testemunhos dos “quase-mortos”. Vamos, aqui, transcrever um deles, dentre os mais interessantes narrados pelo Dr. Raymond A. Moody Jr.:

— Quando eu acordei, depois do acidente, meu pai estava lá (…). Contei a ele quem tinha puxado o meu corpo para fora do prédio e até a cor das roupas que essa pessoa estava usando. Contei, ainda, como me tiraram de lá e, até, sobre todas as conversas que estavam ocorrendo naquela área. E meu pai me disse: — Bem! Sim! Essas coisas aconteceram de verdade! (Raymond A. Moody Jr., Vida depois da vida, p. 92)

Os estudos e pesquisas do Dr. Raymond A. Moody Jr. ratificam o conteú-do de inúmeros relatos mediúnicos, documentados pela Doutrina Espírita, acerca dos fenômenos que envolvem a morte corporal e a entrada do espíri-to liberto nos planos de uma outra Vida.

Todos os pontos coincidentes desses relatos de “experiências de quase-morte” são explicados pela Doutrina Espírita, e em sua maioria estão regis-trados em livros e mensagens mediúnicos, através de instrumentos da maior respeitabilidade, como Francisco Cândido Xavier e Yvonne do Amaral Pereira.

Tentaremos fazer uma análise comparativa no próximo capítulo. •

7Experiências de Quase-morte:

um Enfoque Espírita

Os Espíritos, ao tentarem descrever situações e paisagens de Além-túmulo, insistem sempre na grande dificuldade que encontram em

traduzir, na linguagem humana, o que se passa “do lado de lá”. Como ser possível reduzir a três o que acontece em quatro ou mais dimensões? Como encontrar termos de comparação?

Diante de tais dificuldades, eles utilizam-se de analogias e metáforas que resultam sempre imperfeitas, reduzindo-se, assim, a sombras o que acontece em plena luz, como no mito platônico da caverna.

Mesmo em nosso mundo, poetas de hiper-sensibilidade sempre encon-traram a maior dificuldade em expressar verbalmente os seus “estalos” de inspiração que mais se assemelham a relâmpagos de contemplação extática da beleza. Isto, Augusto dos Anjos, poeta paraibano, traduziu, em poema antológico. No soneto A Idéia, diz ele nos tercetos finais:

…vem (a idéia) do encéfalo absconso que a estringe e chega às cordas da laringe, pá-lida, tênue, muda, raquítica… Quebra a força centrípeta que a amarra e, finalmente, quase morta, esbarra, no molambo da língua paralítica… (Augusto dos Anjos, Eu e outras poesias, p. 61)

Se, neste mundo, seres humanos encontram tais empeços na linguagem ver-bal, dá para aquilatar as dificuldades dos Espíritos e daqueles que visualiza-ram “o outro lado da Vida” nas “experiências de quase-morte”, para contar o que, efetivamente, viram por lá. Compreende-se.

Livros e mensagens recebidos por médiuns idôneos narram que, por ocasião da morte, o espírito em processo de liberação, sente-se num estado deve-ras singular, vivendo uma Vida dupla: uma, na esfera física onde o corpo

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material está prestes a consumir-se; outra, na Esfera Espiritual, onde está penetrando, aos poucos, de volta a sua verdadeira morada.

Nessas condições, a individualidade eterna, em processo de liberação, sente-se pertencente a dois mundos – o da matéria e o do espírito. Daí, po-der ouvir tudo quanto está ocorrendo em torno de seu corpo físico, como, por exemplo, vozes, opiniões, comentários, exclamações, prantos, etc.

Enfermos graves, em estado de coma, ao retornarem, por instantes, à lu-cidez, costumam tecer comentários acerca do que estava acontecendo em torno dos seus leitos. Reproduzem com fidelidade, comentários feitos a res-peito deles. É que a morte somente se consuma quando o laço fluídico que une corpo e espírito é desfeito. Enquanto isto não ocorre, ainda é possível o retorno à Vida.

As regiões superiores do Mundo Espiritual caracterizam-se por uma paz permanente.

Humberto de Campos, no livro mediúnico Reportagens de além-túmulo, afirma ser “o bulício próprio dos homens e o silêncio próprio de Deus”.10

A calma que experimentaram todos os que estiveram “mortos”, por mo-mentos, representa uma pequena amostra do clima de serenidade e quietu-de das Esferas Espirituais mais altas, reflexo do céu interior que os Espíritos elevados construíram dentro de si mesmos. Sentem-se serenos e tranqüilos,

“no outro lado”, os que, aqui, na Terra, já desfrutavam daquela imperturbável paz interior.

“O Reino de Deus está dentro de cada um de vós”, disse Jesus. (Lc. 17, 21)

Quanto à audiência de sons de múltipla natureza, no instante da morte, isto deve-se à imersão do espírito, em transe liberatório, numa espécie de dupli-cidade de Vida.

Esses sons, ora são do próprio mundo material que a alma está dei-xando, ora do Mundo Espiritual, onde ela está ingressando. Assim como, neste mundo, há sons, luzes e cores dos mais variados matizes, o mesmo ocorre “no outro mundo”, onde esses fenômenos atingem as raias do ini-maginável. Daí, muitos dos que vislumbraram o Além, nas “experiências de

10 Francisco Cândido Xavier & Espírito Humberto de Campos, Boa nova, p. 141.

quase-morte”, poderem ouvir e ver sons e luzes cuja natureza não puderam precisar corretamente.

Oportuno lembrar, aqui, como ilustração, o Apóstolo Paulo em sua se-gunda Epístola aos Coríntios:

Conheço um homem em Cristo (deve ter sido ele mesmo; por modéstia, torna o re-lato impessoal) que, há catorze anos, foi arrebata do até ao terceiro céu, se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe. Sei que tal homem foi arrebatado ao Paraíso e lá ouviu ditos indizíveis os quais não é lícito ao homem referir. (II Cor. 2-4)

Quase todos os que passaram pela “experiência de quase-morte” dizem ter sentido, nesse momento, uma sensação de “estarem sendo puxados através de uma espécie de espaço escuro”. Segundo o Dr. Raymond A. Moody Jr., esse espaço é descrito em múltiplas entrevistas, como “caverna, poço, buraco, cercado, funil, túnel, vácuo, vazio, bueiro, vale e cilindro”.11

Por ocasião da “morte verdadeira”, sensações semelhantes também po-dem acontecer. É que a morte, embora um fenômeno natural, não deixa de ser uma crise, isto é, um momento decisivo em que o espírito deixa um envoltório grosseiro de que se serviu por largo espaço de tempo – o corpo carnal – para assumir um outro, tênue e imponderável. Daí, as imagens uti-lizadas pelos que estiveram, por momentos, “no outro lado”, associando o instante da transição a “espaço escuro, vazio, vale, vácuo”, e, também, a “tú-nel, funil, bueiro e cilindro”.12 Todos esses termos têm perfeita analogia com

“passagem entre dois pontos”. São sensações inusitadas, próprias do momen-to em que o espírito transpõe o plano da matéria grosseira para adentrar a outra Vida.

Nesses momentos, o ser espiritual sente-se “sugado” para outras dimen-sões de Vida e, ao mesmo tempo, “puxa do” para o corpo físico, sensações que sugerem transição entre dois planos, fenômeno que, efetivamente, está se processando, em virtude do “cordão de prata” não se ter rompido ainda.

11 Raymond A. Moody Jr., Vida depois da vida, p. 30.12 Idem, ibidem.

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A contemplação do corpo físico pela alma recém-liberta é fato muito co-mum nos casos de “morte verdadeira”. Nesse momento, a individualidade sente-se em duplicata e observa, em corpo espiritual, o indumento material, a certa distância, nos estertores da agonia, prenunciadora da libertação.

Relato impressionante pela abundância de detalhes é o do espírito Irmão Jacob, pseudônimo de Frederico Figner, um dos diretores da Federação Espírita Brasileira, há cinco décadas atrás. Em livro psicografado pelo mé-dium Francisco Cândido Xavier, esse espírito descreve, com pormenores, como ocorreu a sua morte. Eis alguns trechos desse relato, onde ele fala so-bre a visão do seu corpo físico, confirmando, mais uma vez, tudo o que foi visualizado pelos que tiveram a “experiência de quase-morte”:

Assombrado, vi-me em duplicata. (…) Fixei meu corpo a enrijecer-se, num misto de espanto e amargura. (…) A contemplação do corpo imóvel, não obstante agu-çar-me o propósito de observar e aprender, era-me aflitiva. O cadáver perturbava-me com as sugestões da morte. (…) Alongando o raio do meu olhar, verifiquei a existência de prateado fio ligando-me o novo organismo (o corpo espiritual) à cabeça imobilizada (do corpo material) (…) Eu seria o cadáver ou o cadáver seria eu? Por intermédio de que boca pretendia falar? Da que se fechara no corpo ou da que me servia agora? (Francisco Cândido Xavier e Espírito Irmão Jacob, Voltei, pp. 38–39)

Depoimentos semelhantes a este são freqüentes em todos os relatos mediú-nicos de pessoas em processo de morte iminente.

Espíritos amigos, Espíritos parentes que já se encontram nos Planos Espirituais, costumam vir receber os que estão deixando este mundo. Ninguém estará sozinho nessa hora. Pode acontecer que muitos não per-cebam a assistência que estão recebendo, em virtude do apego excessivo ao mundo que estão deixando, mas essa presença é fato sobejamente compro-vado e revelado nos comunicados mediúnicos.

A sabedoria popular nos diz que quando o moribundo começa a ver e a chamar pelos que morreram, é que está bem próxima a sua partida desta para a outra Vida. Isto é uma grande verdade.

Freqüentemente, dependendo do nível de evolução dos que estão

morrendo, muitos desses Espíritos se dão a conhecer, conversam com o mo-ribundo, dirigindo-lhe palavras de conforto e de otimismo para tranqüilizá-los, naquele transe.

Em outros casos, quando acontece “o sono da alma” e esta acorda em instituições da Espiritualidade, é muito comum ali se encontrarem Espíritos amigos e protetores, prontos para ajudá-la no seu despertar no berço da ou-tra Vida. Esse fenômeno é uma prova evidente de que as almas, no Além, não estão confinadas em determinados “lugares”. Elas habitam todo o es-paço cósmico, podendo transitar livremente em múltiplas atividades, como nas missões de amor, junto aos que estão deixando a Vida material.

O que viria a ser um encontro com “um ser de luz”? Evidentemente que esse ser não é o Cristo. Trata-se de Espíritos luminosos, guias, anjos guardi-ães e protetores que vêm ao encontro dos que estão deixando este mundo, mormente daqueles que cumpriram a sua missão dentro dos ditames da Lei Divina. Pessoas que se iluminaram, aqui, na Terra, merecem ser recebidas, nos pórticos do Além, por seres, também, iluminados.

A apresentação dos Espíritos superiores é sempre muito nobre e bela. Usam eles túnicas luminescentes de cores variadas, com belíssimas nuanças, e a sua presença sempre irradia amor e paz. Esses Espíritos, pelo seu porte e majestade, são, por vezes, confundidos com o Cristo pelos que estão às portas da Eternidade.

Esses seres de luz são habitantes de esferas superiores, mas não desde-nham em descer aos planos inferiores para virem receber seus entes que-ridos, em especial os que venceram, galhardamente, na Terra as provas e expiações a que se submeteram.

O fenômeno da recapitulação da existência vivida é um fato comum em todos casos de morte real e quando o decesso ocorre por causas naturais. Todos revêem a sua existência, desde a mais tenra infância até o instante final, com uma riqueza impressionante de pormenores. Nada escapa a esse registro extraordinário que se radica no corpo espiritual, verdadeiro arquivo da individualidade eterna: a alma humana.

Como já tecemos considerações, alhures, em torno desse tópico, nos li-

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mitaremos, agora, a transcrever um extraordinário depoimento obtido, via mediúnica, acerca do singular fenômeno:

Vi-me diante de tudo o que eu havia sonhado, arquitetado e realizado na Vida. Insignificantes idéias que emitira, tanto quanto meus atos mínimos, desfilavam, absolutamente precisos, ante meus olhos aflitos, como se me fossem revelados de roldão, por estranho poder, numa câmara ultra rápida, instalada dentro de mim. Transformara-se-me o pensamento num filme cinematográfico, misteriosa e ino-pinadamente desenrolado, a desdobrar-se, com espantosa elasticidade, para o seu criador assombrado que era eu mesmo. (Francisco Cândido Xavier e Espírito Irmão Jacob, Voltei, p. 31)

No livro Obreiros da vida eterna, de autoria do espírito André Luiz, pela me-diunidade de Francisco Cândido Xavier, vamos encontrar uma referência a esse mesmo fenômeno, por ocasião da morte do personagem Dimas.

Antes de cortar o cordão fluídico que ainda prendia o espírito ao corpo, o Assistente Jerônimo dirige-se à mãe do desencarnante que viera recebê-lo, nestes termos:

“Por enquanto, repousará ele (Dimas) na contemplação do passado, que se lhe des-cortinará, em visão panorâmica, no campo interior.” (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Obreiros da vida eterna, p. 212)

A grande maioria dos que tiveram a “experiência de quase-morte” retornou à Vida, porque não ultrapassou uma barreira por eles visualizada. Na “morte verdadeira”, esse limite é transposto. O “cordão de prata” que une o espírito ao corpo carnal é rompido definitivamente, e a alma alça vôo para a Esfera Espiritual compatível com o seu nível evolutivo.

As sensações de paz, leveza e liberdade que os entrevistados do Dr. Raymond A. Moody Jr. experimentaram, constituem uma pálida e inex-pressiva amostra do que está reservado, de forma perene, às almas nobres e cristificadas que deixaram a Vida terrena.

Transposta a “barreira”, o espírito não retornará mais ao corpo. A morte acontece… mas a Vida continua!… •

8O Melhor Lugar Para Morrer

O melhor lugar para morrer é em casa, com a plena consciência do “mor-rer”, cercado do carinho e da assistência dos parentes, amigos e vizi-

nhos, todos orando por aquele que está deixando este mundo. Jamais em leitos, por mais macios e sofisticados que sejam, de hospitais e uteís ou em

“confortáveis” abrigos-depósitos para idosos.Era assim que se morria antigamente, mesmo no Ocidente, sendo o cor-

po – vestimenta do espírito – velado, respeitosamente, nos lares onde ocor-ria o óbito. Era dali que o féretro saía para as necrópoles.

O que vemos, agora, nos dias que correm?Exceção feita das pequenas cidades do interior, em 95% dos casos, morre-

se em hospitais públicos e particulares. Ocorrido o decesso do corpo, é este imediatamente retirado dos nosocômios, de uma forma disfarçada. São as casas funerárias que se encarregam, por vezes, até de vestir ou de “maquiar” o morto, como é costume nos Estados Unidos da América, a fim de que o cadáver seja apresentado nas solenidades fúnebres que precedem o sepulta-mento ou cremação, com o melhor aspecto possível.

Certa vez, anos atrás, estudando nos Estados Unidos, na Universidade de Houston, Texas, tive a oportunidade de participar das cerimônias fúne-bres pelo falecimento de um inquilino do complexo de apartamentos em que morava. Aconteceu a morte. Nenhum dos vizinhos estava presente aos instantes finais do falecido. Imediatamente, a empresa especializada em ser-viços fúnebres foi acionada, e o morto levado às pressas para destino de todos ignorado. A família, chorosa e entristecida, comunicou-nos que, no dia seguinte, haveria uma cerimônia íntima que precederia a cremação do cadáver. No outro dia, lá estive. Era um cemitério-parque, belíssimo, onde não se via nenhuma cova aberta ou mausoléu sobre os restos mortais dos se-pultados. Apenas os seus nomes em pequeninas placas de metal, quase invi-síveis, espalhadas por uma área imensa. A cerimônia estava marcada para as 16 horas. Às 15 horas cheguei. Havia muitos parentes e alguns poucos amigos

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especialmente convidados. Acerquei-me de todos. A maioria comentava a perfeição da maquiagem do morto. Realmente, o seu rosto estava impecavel-mente retocado, revelando uma beleza que não possuía em Vida. Era um ve-lho e parecia um jovem! Aos presentes, foi servida uma rodada de uísque e refrigerantes, de acordo com o gosto de cada um. Muitos fumavam, e até os fósforos, distribuídos como brindes, imitavam o fogo fátuo tão comum nos cemitérios. Precisamente, às 16 horas, o caixão foi levado até uma espécie de altar. Uma cortina foi fechada. Diante dele, um botão acionado. Desceram o esquife e o cadáver ao forno crematório subterrâneo, e, de volta, quando descerrada a cortina, surgiu uma bela urna já com as cinzas do morto. Esta foi entregue, solenemente, aos familiares. Estava encerrada a cerimônia. Sem choros, sem lamentações. Mais uma festa do que um enterro!

Nada teríamos a comentar sobre o fato se, nas entrelinhas de tal sole-nidade, não vislumbrássemos aquilo que já dissertamos anteriormente: a tentativa de negação da morte e isto bem presente nas exclamações admira-tivas dos visitantes, parentes e curiosos: “— Não está morto! Parece dormir! Como está bonito depois de morto! Parece que está sorrindo para nós!”, e quejandos…

A transferência do corpo para as casas funerárias, como já é costume em nosso país, encerra um objetivo: o de não se encarar a morte de frente. Daí a escolha de um lugar “mais conveniente”, em que haja um espaço maior para visitantes e convidados, numa verdadeira festa macabra onde, por vezes, os aperitivos estão sempre presentes com o objetivo de “dopar” um pouquinho as pessoas, ante a presença da morte.

Não se morre mais em casa. Quando a família pressente a ronda da mor-te sobre o seu ente querido, desloca-o, mesmo contra os seus desejos, ex-pressos verbalmente ou por escrito, para hospitais e uteís, onde eles ultima-rão os seus dias, neste mundo.

É fato notório que a medicina atingiu, hoje em dia, níveis de progresso tecnológico admiráveis. Aparelhagens sofisticadas substituíram, aos poucos, as apalpadelas do bonachão e paternal médico da família. São instrumentos de última geração, capazes de detectar tudo o que se passa na intimidade do organismo humano, com grandes e inegáveis benefícios para os pacientes, portadores das mais diversas enfermidades.

Todavia, nenhum desses instrumentos é capaz de substituir a presença

humana daquele que exterioriza amor pelo moribundo e se transforma, em-paticamente, mesmo em silêncio, num apoio moral e espiritual para quem está vivendo os seus últimos dias de experiência terrestre.

A frieza dos hospitais e das uteís pode causar aos que vão morrer, uma agonia e, até certo pavor nunca presentes nos ambientes domésticos, onde a atmosfera da casa proporciona tranqüilidade e confiança ao moribundo, pelas ricas inter-relações pessoais que favorece. Tais ambientes podem pro-longar, por um tempo variável e até indeterminado, a Vida dos doentes, mas não lhes oferece o calor humano e a solidariedade de que tanto eles neces-sitam, nessa hora.

Um caso bem recente e que ficará nos anais da Tanatologia, é o do pro-fessor e senador Darci Ribeiro, doente terminal, portador de câncer gene-ralizado. Literalmente, ele “fugiu” de uma uteí, onde estava confinado e, lá fora, livre e consciente da ronda da morte em sua Vida, optou por viver. E na hora em que escrevo este texto (1.º/dez./1996), esse homem admirável já escreveu dois livros e ultimou a elaboração de mais um; promete um quarto e está sempre presente em programas de TV, comparecendo em determina-dos dias, ao Senado, numa programação de Vida, rica, fecunda e plena de realizações.

Nas uteís, o moribundo é apenas um número. Ali não está uma pessoa, um amigo, um pai ou uma mãe, nas suas despedidas deste mundo. Não! Ele é um estranho entre estranhos. As visitas, quando permitidas, não são vistas com bons olhos pelas equipes médicas nem pelas administrações hospitala-res, porque podem flagrar algum desrespeito ou negligência ao doente. E os parentes e amigos permanecem de fora, curtindo a sua angústia e inquieta-ção e contentando se com boletins de informações sobre o estado geral do paciente.

Nessas unidades o revezamento das equipes hospitalares faz com que os seus ambientes sejam visitados, semanalmente, por dezenas de profissionais, todos especialistas, sem a criação de quaisquer vínculos pessoais, afetivos ou de simpatia com qualquer um dos pacientes. Por isso mesmo, muitos doen-tes entram e saem dessas unidades sem criar laços de amizade com nenhum membro dessas equipes. Diga-se o mesmo das enfermarias coletivas, nos hospitais públicos e particulares, com visitas restritas a determinados dias da semana; das indigências hospitalares e dos abrigos para idosos, onde todos

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estão matriculados para um “morrer solitário”, em lugares que se transforma-ram, em depósitos de doentes à espera angustiante da hora da morte!…

Por outro lado, médicos, enfermeiros e outros profissionais que atendem nas uteís e enfermarias coletivas, lidando com doentes graves, nem sempre possuem o tato psicológico para cuidar desse tipo de pacientes que estão a exigir tratamento delicado e especial.

E, assim, prevalece a tecnologia médica em detrimento do calor humano. A aparelhagem sofisticada e fria substitui o aperto de mão, a solidariedade do médico de família ou a presença confortadora dos familiares.

Aos poucos, vai-se instalando em nossa sociedade capitalista a “indús-tria da morte”, tentando-se prolongar vidas que já se extinguiram. Estas são mantidas, indefinidamente, por meios artificiais, criando uma situação des-confortável para as famílias dos pacientes, mas, que rende milhões aos cofres dos donos das empresas hospitalares.

Infelizmente, é assim que se morre, atualmente, no mundo ocidental. Sem consciência de que se vai morrer. Sem a presença dos familiares e ami-gos. Na frieza das uteís. Na companhia de estranhos e sem o conforto da atmosfera doméstica que traz confiança e paz ao moribundo.

Muito triste morrer em tais condições… •

9A Melhor e a Pior Forma de Morrer

A morte atinge o ser humano de múltiplas maneiras. Morre-se de doen-ças incuráveis, de acidentes de várias naturezas, em conseqüência de

cataclismos naturais e, ainda, por homicídio, suicídio e até de velhice.Qual seria, dentre as inúmeras formas de morrer, aquela menos trauma-

tizante para o espírito que está prestes a partir deste mundo?É o que tentaremos responder neste capítulo.Muita gente pensa que a morte de maior merecimento é a repentina. Um

violento ataque do coração, o rompimento de um aneurisma, um trombo no cérebro, e pronto: acontece a morte inopinada e libertadora. Outros chegam a ansiar que a morte lhes aconteça num acidente aéreo ou automobilístico, que, pela sua violência, implicaria num aniquilamento rápido e indolor do corpo carnal. Outros, ainda, gostariam de que a morte lhes chegasse duran-te o sono corporal. Sabe-se que, por ocasião do sono, a alma das pessoas de mediana evolução libera-se, parcialmente, das amarras carnais. A mor-te, nesse caso, dar-se-ía pelo corte do “cordão de prata”, durante a inconsci-ência do sono, possibilitando uma passagem tranqüila e suave para a Vida Espiritual. Esta, em nossa opinião, é uma das melhores formas de morrer, senão a melhor.

As mortes ocasionadas por doenças incuráveis, geralmente, configuram resgates cármicos. São mortes aflitivas e dolorosas. Todavia, passados os maus momentos, oriundos desses sofrimentos, em especial se eles forem estoicamente suportados, a alma entra na Pátria Espiritual, luminosa e redi-mida. Excetuam-se, nesse caso, as doenças desse tipo contraídas por insânia e irresponsabilidade, bem assim aquelas devidas a comportamentos anor-mais, gerando torpes viciações, comprometedoras da saúde física e mental da pessoa.

A morte natural, como o próprio termo expressa, é a forma que, em tese, a Natureza estabeleceu para a liberação do espírito. Nela, mesmo que acon-

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teça em virtude de doenças dolorosas e traumatizantes, há o “desate” do “cordão de prata”, este, elo de ligação entre o espírito e o corpo.

Já nas mortes subitâneas e violentas, em acidentes inesperados, não há o desatamento desse cordão e essa providência liberatória vai exigir a in-tervenção de Espíritos benfeitores e amigos, treinados para isto. Eis porque, nas mortes inopinadas, o estado de perturbação do espírito perdura por um tempo variável, consoante o nível evolutivo de cada um. Já na morte natural, mormente se ela ocorre na idade provecta, o estado de perturbação é bem menor, e chega quase a inexistir se a pessoa que se está transferindo para a outra margem da Vida, tem fé na imortalidade da alma e pautou a sua exis-tência pelos padrões éticos da mensagem de Jesus.

Aquele que, nesta Vida, foi temperante na alimentação, sereno emocio-nalmente, controlado na prática do sexo, possuidor de nobres sentimentos, enfrentará a morte com sobranceria, transferindo-se para o outro lado numa atmosfera de paz e serenidade.

O mesmo não ocorre com os intemperantes na mesa, no sexo ou que se escravizaram a viciações deletérias como o fumo e o álcool. Estes, se forem nobres de caráter e bons de coração, poderão até atingir a longevidade, mas sofrerão nessa fase de suas Vidas, as conseqüências fatais de suas levianda-des e irreflexões. Terão, em suma, uma velhice de má qualidade e, conse-qüentemente, uma morte mais lenta, penosa e angustiante.

É de se concluir, portanto, que, em tese, a melhor forma de morrer é na senectude do corpo, com o espírito vígil, em plena lucidez, não obstante o natural esgotamento das forças físicas.

E essa forma de morrer nada tem de dolorosa ou desesperadora. É a cha-mada morte do passarinho, ou seja, uma passagem feliz para as moradas de luz do infinito, com um despertar luminoso no Além. Melhor, ainda, seria dizer que essa forma de morrer é uma volta, uma retomada do caminho de casa, vez que a verdadeira morada do ser humano – espírito revestido de carne – não é aqui, neste mundo, mas sim, no outro. A Terra é o exílio temporário da alma.

Nas suas despedidas dos Apóstolos, Jesus foi muito claro quando lhes disse: “— Vós não sois do mundo, assim como eu, também, não sou do mundo.” ( Jo. 17, 16)

Importantíssima, portanto, é a manutenção permanente do equilíbrio

físico e mental. Isto gera uma excelente qualidade de Vida e também uma extraordinária qualidade de morte. Vivendo assim, a morte não será uma ruptura, mas um desenlace; não será uma angústia, mas uma forma de re-nascer; não será um empeço, mas uma transição calma de uma margem para a outra do grande e perene rio da Eternidade.

Morrer, assim, vale a pena. É como um sono de paz que termina com o mais venturoso despertar.

Temos falado, até agora, na melhor forma de morrer. Existiria, então, uma pior? Claro que sim. Vejamos.

Sem sombra de dúvida, a pior forma de morrer é por suicídio, voluntário ou não.

Dedicamos, neste livro, três dos seus capítulos ao suicídio, essa maneira ofensiva a Deus de desertar da Vida. Nesses capítulos, analisamos as dolo-rosas e inimagináveis conseqüências, no outro lado da existência, desse ato tresloucado. Remetemos o leitor a esses capítulos (52, 53 e 54).

Seguem-se, como formas mais indesejáveis de morte, aquelas caracteri-zadas pela violência, como nos homicídios e acidentes de variada espécie.

Por último, nessa gradação dos piores tipos de morte, estão as mortes por cataclismos naturais, também muito dolorosas e angustiantes, mas sempre devidas a programações reencarnatórias de natureza cármica.

Todavia, em todos esses casos, embora traumatizantes, o auxilio do Alto sempre far-se-á sentir, por ser infinita a misericórdia de Deus. •

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IIIA Morte e o Morrer

A Visão Contemporânea de Cinco Religiões

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10A Visão Católica

(Texto baseado em entrevista com o Prof. Francisco Pereira Nóbrega, líder católico, Doutor em

Filosofia pela Universidade de Paris, e por ele revisto)

A morte não tem a última palavra. Ela não é o fim. Existe outra Vida de-pois dela. E esta certeza – temos de convir – é muito maior para os cris-

tãos, uma vez que Jesus ressuscitou. O seu sepulcro, vazio até hoje, é a maior prova da inexistência da morte como algo definitivo. Ao vencer a morte, o Cristo de Deus deu todo sentido à Vida humana.

Referindo-se à morte de seu amigo, Lázaro, o Cristo disse: “— Lázaro não morreu. Ele dorme, mas vou para despertá-lo” ( Jo. 11, 11). Com isto, o Cristo significou que a morte é algo tão precário, passageiro, quanto o sono físico que leva ao despertar de amanhã.

O que seria a Vida Eterna?O que o cristão chama de “Vida Eterna” é, acima de tudo, a sociabilidade

no amor. Descartado está que a Vida Eterna do ser humano seja um “estar sozinho”. A outra Vida será um “estar com Cristo”, um “estar com Deus”.

Onde estariam as almas após a morte?Os conceitos “onde” e “quando” referem-se à matéria e só a ela convém.

Precisaríamos de outras categorias de pensamento para podermos falar da realidade da Vida Eterna. O ser material, porque tem extensão, ocupa um

“onde”, que a alma, o espírito, Deus, não ocupam.Se falarmos do “quando”, a dificuldade é a mesma. Digamos que Deus e o

mundo têm suas durações. Mas a duração da matéria é sucessiva, enquanto a de Deus é simultânea. À sucessiva denominamos tempo. A simultânea, cha-mamos de Eternidade. O tempo entende-se em termos de “antes” e “depois”. Eternidade não tem “antes” nem “depois”. A duração de Deus é toda ela em um instante só que não passa jamais.

Falemos de almas e Espíritos. Não são a mesma coisa. A alma humana é uma espécie de espírito que tem apetência pela matéria. Seu modo natural

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de existir é animando a matéria. Toda alma humana implora a corporeidade, mesmo depois da morte.

A alma é “forma” cujo conteúdo é a matéria. É essa “forma” que dá unida-de, sustentação, permanência, na existência do ser humano. É ela que vitaliza, anima, humaniza a matéria. A alma é princípio de unidade e de sustentação do ser humano.

Em que parte do corpo está a alma?Existem realidades que nunca estão nas partes, mas no todo. A Vida, a

existência, a unidade do corpo humano não estão em nenhuma de suas par-tes. A alma também é assim.

Após a ressurreição, cada alma terá uma corporeidade, conforme sua ap-tidão natural de existir. Não será um corpo físico, como o atual, sujeito ao calor, à fome, ao sono, a todas as necessidades materiais da Vida. Paulo fala de um corpo glorioso, “incorruptível”, como aquele do Cristo que, após res-suscitado, entrou em uma sala, onde todas as portas e janelas estavam fecha-das. Esse corpo glorioso, portanto, não tem necessidades materiais mesmo sublimadas. Não tem necessidade física nenhuma.

Qual é a identidade do ser humano que tombou na Eternidade?Seremos, eternamente, o que fomos. Nossa identidade é nossa história,

nossas virtudes e fraquezas, acrescentadas ao arrependimento nosso e ao perdão de Deus. Tudo isto se eternizará. Tudo isto será a nossa face, eterna-mente. Não há outra coisa para se eternizar, no Além, senão esse “eu”, com a sua história e as intervenções de Deus.

Moisés e Elias aparecem, no Tabor, ao lado de Jesus. Ambos estão com as vestes judaicas, com os mesmos traços fisionômicos do seu povo. Estavam ali revelando suas identidades. Se não aparecessem assim, não seriam Moisés nem Elias.

Quando seremos julgados?Cada um, isoladamente, após a morte? Todos, simultaneamente, no juízo

final?Voltamos a falar do “quando”.

“Tempo”, como o entendemos, só existe, aqui, no mundo, porque tempo é medida de mudanças em termos de “antes” e “depois”. Na Eternidade não existe “antes” nem “depois”.

Teólogos católicos, e das igrejas reformadas, inclinam-se, atualmente, a

entender que é esta a condição do ser humano, ao tombar na Eternidade: morreu, ressuscitou. No próprio instante da morte, aconteceria a ressurrei-ção, também o julgamento.

Isto não invalidaria o juízo final, porque algo existe, além de cada homem, chamado civilização, cultura, a “História Humana”, afinal. É esta dimensão de realidades coletivas que passa a merecer o julgamento final.

Os textos bíblicos que falam desse julgamento, aludem a uma ressurrei-ção dos corpos que, até aquela data, estariam em suas condições mortais. Reconhecemos que isto oferece resistência à tese teológica de “morreu, res-suscitou”. A questão continua em aberto para o debate dos teólogos.

Quais são as condições que nos fazem merecer o céu?De imediato, digamos que nenhum ser humano tem direito ao céu pelos

seus próprios méritos. O homem chegará a Deus gratuitamente, mesmo o herói, o santo, o altruísta, o que deu a Vida pelos outros. O ser humano não chegará a Deus como chegam, aos seus espetáculos, os faquires, em virtude de seus longos jejuns. Nenhuma força humana levará o homem a Deus. Os que atingirem o céu, lá aportarão pela graça de Deus.

Como seria este “estar no céu”?Todas as palavras do vocabulário humano são pobres para traduzir essa

visão de Deus, esse êxtase em Deus. Não serão os olhos da matéria que ve-rão a Deus.

Nas primeiras páginas do livro do “Gênesis”, lê-se: “— E disse Deus, faça-mos o homem a nossa imagem e semelhança” (Gen. 1, 26), o que significa di-zer que o ser então criado, poderá, um dia, ter a visão de Deus sem os olhos da carne, de maneira semelhante a que Deus nos vê. É o espírito perante o espírito. Eis o máximo a que poderemos chegar acerca da visão de Deus.

O que seria o inferno?É um estado de alma negativo, violento. É o estado de quem eternizou o

ódio, o mal, a perseguição aos outros, a calúnia, a hipocrisia.A morte revela o que a Vida fotografou. Na Eternidade, tudo é consciên-

cia. O inferno é a consciência infeliz. É a infelicidade ontológica do ser que não se aceita e que não tem como fugir de si mesmo. O inferno não é algo imposto por Deus ao homem. E a história da verdade de cada um, de suas opções, contada pela própria consciência.

Que é o purgatório?

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E um estado intermediário, mas transitório, de dor, e arrependimento. E só isto. O que mais se disser sobre esse assunto é pura imaginação.

Os teólogos contemporâneos tendem a colocar o purgatório no tempo, não na Eternidade. Seria, talvez, o último instante de tempo de cada um, quando se toma a consciência do que se é, no limiar da Eternidade. Haverá dor se a consciência é infeliz.

Que é o limbo?Esta palavra não aparece no Velho, nem no Novo Testamento. Durante

séculos de fé cristã, nunca se pronunciou esta palavra. Alguns teólogos se questionaram sobre a história de determinados seres humanos que não po-diam ir para o inferno nem, talvez, para o céu. Imaginemos crianças abor-tadas, mortas nos primeiros meses de existência. Imaginemos seres anor-mais, como os mongolóides, na inconsciência de si próprios. Não pecaram. Acrescente-se, ainda, que nem sequer foram batizados. Certa Teologia ca-tólica imaginou para eles um lugar que a Bíblia não revela, chamado limbo. Hoje, no catecismo católico, não se menciona limbo. Ele não existe. Nunca existiu. Crianças ou adultos que tenham passado por esta Vida, nestas con-dições, certamente estão no céu. Deus criou o ser humano para o Paraíso. Só quem pode violar este plano de Deus é a liberdade humana. Se esses seres não tiveram consciência nem liberdade, se nunca optaram contra Deus, a criação é positiva e eles estão salvos.

Trabalha-se, no outro lado da Vida?A Teologia católica responde que, na Eternidade, não há lugar para o tra-

balho, como o entendemos, aqui, na Terra. Na condição humana atual, o trabalho resulta de uma necessidade. Na Vida Eterna, a única necessidade é de Deus. Quem tem a visão direta Dele, de mais nada precisa. Deus é amor e a Eternidade é apenas o êxtase do amor em Deus, sem necessidade nenhu-ma das coisas terrenas.

Nossos relacionamentos recíprocos de amizade, amor, continuariam no Além?

Segundo a tradição católica, a Vida Eterna não nos faz desconhecidos uns dos outros – o parente, o amigo. Todavia, o homem biológico não exis-te mais no Além. Ele se encerra nesta Vida. Na Eterna, não há fome, sede, sono, sexo. Relações de marido e mulher também acabam-se na Eternidade. Lá, não mais existe a amizade marital. Os laços conjugais estão desfeitos.

A amizade e o amor continuam. Assim como, ao olharmos num espelho, vemos tudo o que nele está refletido, do mesmo modo, e muito mais radi-calmente, quem contempla Deus, face a face, também conhece e reconhece todos aqueles que Nele estão refletidos. Em suma, na Vida Eterna nós nos conheceremos melhor ainda do que aqui na Terra.

Deus estaria indiferente ao sofrimento dos que estão no purgatório ou no inferno?

Deus é profundamente solícito para com toda a Sua criação, e especial-mente para com o destino final do ser humano. A grande paixão de Deus é o homem. Esta paixão do Criador pelo ser humano revela-se, ainda mais, quando o Cristo nos fala da “ovelha perdida”, do “filho pródigo” e, sobretudo, quando Ele próprio diz: “— Eu vim para salvar as ovelhas perdidos da Casa de Israel.” (Mt. 15, 24)

Tudo isto seja dito do que Deus pode fazer pelo ser humano, no tempo. Na Eternidade – repitamos – não há “antes” nem “depois”. Se não há “depois”, não há como alterar a situação do condenado. Do lado que a árvore cai, ali ela fica. Do mesmo modo, do jeito que o ser humano tomba na Eternidade, desse jeito ele se eterniza. Ele é a sua identidade. Ele é a consciência infeliz. Ele é o remorso de si próprio, eternamente se mordendo e se remoendo. Deus não acende uma só chama para queimar esse ser. Deus, também, está impossibilitado de alterar essa situação. Há, sim, “impossíveis” perante Deus, senão não existiriam nem verdade, nem justiça. O inferno, repito, é a cons-ciência que o condenado tem de si, sem se aceitar.

E qual seria, na Eternidade, a sorte dos suicidas?A Bíblia nada diz de específico sobre os suicidas. Estão os teólogos, por-

tanto, a considerar esta morte sob a mesma categoria de todas as outras. Nada de especial. Entretanto, convém ajuntar a estas reflexões o que, hoje, nos diz a Psicologia, a Psiquiatria e a Psicanálise. Estas ciências tendem a ad-mitir que, talvez, nem exista culpa nos que se suicidam. Eles, ao praticarem esse ato tresloucado, fizeram-no em virtude de tendências congênitas ou de depressões profundas. Não estariam mais na posse plena de sua consciência, de sua liberdade.

O Cristo não destacou categorias especiais de sofrimento para nenhum tipo de morte. E a morte por suicídio não seria uma exceção.

Existem anjos e demônios?

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A Teologia católica fala-nos de anjos criados por Deus. Não foram cria-dos antes nem depois do homem, porque “antes” e “depois”, repitamos, só existem para quem está no tempo. Anjos são Espíritos e espírito é “forma pura”, sem nenhum conteúdo material.

Os anjos foram um tipo de criação: a criação imaterial. A esses foi dada uma possibilidade de escolha. E isto é muito próprio de Deus, que não quer que ninguém vá até Ele, senão por livre escolha. Os que escolheram Deus, ainda hoje são ditos anjos. Os demônios são aqueles anjos que se escolhe-ram a si mesmos, ao invés de escolher a Deus.

Não poderia Deus dar uma chance ao anjo como deu ao homem?O anjo não tem como se arrepender. Arrepender-se significa rever uma

opção anterior. Ora, aquele que conhece tudo de uma só vez – e este é o conhecimento angélico – não tem como se arrepender mais tarde. Para o anjo não existe o “mais tarde”.

E mais uma vez temos de eximir Deus de qualquer culpa contra as repre-sentações infantis de um Ser Divino, acendendo e mantendo aceso o fogo do inferno.

Os anjos poderiam assistir aos que estão no purgatório ou no inferno?Anjos, arcanjos, querubins, serafins são mensageiros de Deus. Na Bíblia,

anjos aparecem como protetores dos homens. São os chamados, comumen-te, de “anjos da guarda”. O texto bíblico que se refere a esses anjos dá a en-tender que todo ser humano teria um anjo protetor.

A Bíblia não faz nenhuma referência sobre anjos protetores de seres humanos, no purgatório. A resposta honesta sobre esta pergunta seria o silêncio.

Com relação ao inferno, é totalmente impossível uma ajuda angelical. Não há o que mudar, não há o que fazer, conforme acima foi dito.

Não se ligue tanto “anjo da guarda” a crianças. Os anjos protegem todo ser humano, independentemente da idade. E proteção maior precisam mais os adultos do que as crianças, porque mais responsáveis, mais expostos ao bem e ao mal.

O pensamento católico admite que anjos possam vir até o nosso mundo, guardar e proteger seres humanos. Isto está contido na Teologia do “anjo da guarda”. Entretanto, o pensamento católico desconhece que seres huma-nos, após esta Vida, possam retornar da Eternidade para trazer mensagens a

quem, neste mundo, vive. Nada na Bíblia nos autoriza a transferir a pessoas mortas a função que os anjos têm.

Sobre o demônio, a Bíblia fala sempre no plural. Fala de anjos que se perderam. Quanto aos anjos bons, a Bíblia sugere uma hierarquia: anjos, ar-canjos, querubins, serafins, tronos e outras mais.

Mas, não falemos tanto do demônio. O discurso freqüente sobre ele qua-se sempre o apresenta como um rival de Deus. Não existe um princípio do mal, rivalizando com o princípio do bem que é Deus. Menos ainda imagi-nemos que Deus e demônio estariam lutando, em igualdade de condições, dentro da “História Humana”. Não! Esta é uma tese maniqueísta que a Bíblia não endossa. Segundo os textos bíblicos, o demônio já perdeu essa guerra. Ele é um súdito de Deus.

Deus pode permitir uma ação demoníaca sobre o ser humano. Entretanto, mesmo sendo possível, o demônio não precisa sair do inferno para vir até este mundo. Somente a matéria é que, para se deslocar até outro ponto, pre-cisa sair do seu lugar. Demônio é espírito e espírito não ocupa lugar. Age de lá como se estivesse aqui. “O espírito sopra onde quer” ( Jo. 3, 8) e, como Deus, é eqüidistante de toda a realidade.

Será que a matéria projetar-se-á, de forma sutil, no Além?À vezes, encontram-se relatos, em literatura religiosa, que descrevem solo,

árvores, animais e objetos outros semelhantes aos existentes na Terra, feitos de matéria sutil, no Além. A resposta do pensamento católico a esse respeito é “não”. Entretanto, é preciso dizer algo mais sobre o tema.

Quando toda a humanidade tombar na Eternidade, a materialidade de cada um não vai desaparecer, nem tampouco a materialidade do nos-so mundo desaparecerá. A Terra não vai ser aniquilada e, sim, renovada. O Apocalipse de São João diz: “— Haverá um novo céu e uma nova Terra” (Apo. 21, 1). Portanto, é certo pensar-se que o mundo inteiro será glorificado com a ressurreição da humanidade. Não se trata de um outro mundo mate-rial. É este mesmo mundo que se vai perpetuar, de uma forma renovada e sublimada.

O que dizer sobre catástrofes coletivas?Sobre isto, para o pensamento católico existe uma vi são científica e a

outra, religiosa.Terremotos, inundações, cataclismos e desastres de toda natureza podem

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ter as suas causas cientificamente explicadas. E a Teologia não precisa negar essa relação de causa e efeito para continuar dizendo que, também, tudo isto pode ser um sinal de Deus. Para Deus agir sobre o mundo não precisa can-celar a ordem física com as suas leis. Pelo contrário, Deus usa as próprias leis físicas para exercer a sua ação sobre o mundo. E as coisas vão acontecendo, aos olhos dos homens, tendo causas puramente físicas.

Exemplifiquemos: Sodoma e Gomorra eram cidades pecadoras. Seus ha-bitantes estavam mergulhados em vícios e excessos de toda ordem. Hoje, o lugar delas é a maior depressão da superfície da Terra. É o Mar Morto. Algo de extraordinário, de raro, aconteceu ali.

A ciência, diante desse fenômeno, provavelmente dirá que, ali, um gran-de meteorito chocou-se com a superfície da Terra, deixando o seu solo a quatrocentos metros abaixo do nível do mar. Isto pode ser uma verdade científica, mas, ainda, continua sendo uma verdade religiosa: Deus quis a destruição de Sodoma e Gomorra, por razões morais e, para tanto, usou um meteorito que se deslocava no espaço, conforme as leis da Natureza.

Em suma, o pensamento católico nega que a maneira normal de Deus agir sobre o mundo e a humanidade seja o milagre, a exceção. Deus não precisa fazer isto. O que acontece no mundo pode ser, ao mesmo tempo, uma conseqüência das leis físicas e, também, uma manifestação da vontade de Deus.

Por último, diga-se que todas as mortes coletivas não estão ignoradas nos planos de Deus. Não são obras do acaso. Como disse Jesus: “— Até os cabelos de vossas cabeças estão contados.” (Lc. 12, 7)

Por isso mesmo, nesses acidentes coletivos, acontecem fatos impressio-nantes, diante dos quais conclui-se, claramente, que Deus colocou a sua mão para salvar alguém.

Existiria uma outra Vida para animais, ferozes ou domésticos?Deles podemos dizer que têm um “princípio anímico” ou uma “alma

animal”. Seja lembrado o que atrás foi dito sobre “alma”, como princípio de Vida, de unidade, de sustentação de um ser. Isto, também, existe no animal. Apenas, eles não têm a imaterialidade da alma humana. Isto transparece na capacidade humana de ter idéias, elemento puramente espiritual que ne-nhum animal tem. O animal, feroz ou domesticado, quando morre, morre todo. Só o espírito tem condições de ver o espírito.

Melhor seria dizer-se que o Universo inteiro participa da sorte humana.No paraíso terrestre, por exemplo, com o pecado de Adão, também

acontece uma degradação da matéria. Diz-se: “A Terra dará espinhos” (Gen. 3, 18). Quer dizer, não só o homem caiu, a materialidade do Universo, tam-bém. Algo, na própria Natureza, degradou-se. Esta participação da matéria também ocorre no momento em que o Cristo morre na cruz. A Bíblia diz que, naquele instante, houve terremotos, o céu escureceu, o véu do templo rasgou-se de alto a baixo.

O Apóstolo Paulo vê essa participação da matéria, de uma forma impres-sionante, quando diz: “— Toda a Criação geme e se angustia até agora…” (Rom. 8, 22) Ao dizer “toda a Criação”, ele abrange o mundo inanimado e ani-mado, todos participando, a seu modo, dessa caminhada em busca de Deus. Daí, voltamos a insistir, citando o Apocalipse de São João: “— Haverá um novo céu e uma nova Terra.” (Apo. 21, 1)

A glorificação final da matéria não implica em dizer que todo ser que existe, neste mundo, venha a participar da visão de Deus. Somente o es-pírito, repito, vê o espírito. Após toda a Criação, o “Gênesis”, Deus diz: “— Façamos o homem a nossa imagem e semelhanças” (Gen. 1, 26). Só este ho-mem, espírito semelhante ao espírito, é, no mundo inteiro, a única parcela capaz de ver o Espírito.

Ao concluirmos, podemos dizer que a morte é o maior e, talvez, o único problema do ser humano.

O homem passa a Vida inteira tentando sobreviver. Todo esse esforço seria radicalmente inútil, se a morte tivesse a última palavra.

Para agravar ainda mais a problemática da morte, verifica-se que ela não é somente o último instante da Vida humana. A cada minuto que vivemos, também estamos morrendo. E, para completar essa tragédia, o ser humano é o único que sabe que vai morrer. Só ele tem a consciência da morte.

Diante de tudo isto, só existe uma saída: a da fé. Por isso mesmo, em todos os tempos da História Humana, o homem voltou-se para um Ser Superior, buscando algo além do físico. Desde o Egito antigo, passando por todas as grandes civilizações do passado, está sempre presente a certeza de uma Vida depois desta. Isto está escrito, de forma indelével, na História do homem e de sua cultura.

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Esta caminhada da fé acontece, também, hoje em dia, como uma neces-sidade absoluta para o ser humano.

Retornamos, agora, ao início de nossa reflexão. Jesus venceu a morte. Seu túmulo está vazio até hoje. Ele caminha conosco todos os dias, segundo a Sua promessa. Suas palavras, proferidas há dois mil anos, ainda ressoam, bem vivas, aos nossos ouvidos e nos enchem de esperança: “— Eu Sou a res-surreição e a Vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá!” ( Jo. 11, 25) •

11A Visão Evangélica

(Texto baseado em entrevista com o Pastor Estêvão Fernandes, da Primeira Igreja Batista de João

Pessoa, Paraíba, e por ele revisto)

Diga-se, preliminarmente, que o pensamento aqui expresso é o da Teologia evangélica da Reforma, fundamento das chamadas Igrejas

Protestantes Históricas (Presbiteriana, Luterana, Batista e Assembléia de Deus).

A morte, segundo essa Teologia, não é o fim. Pelo contrário, é o começo de tudo. É a contemplação de Deus pela alma e, ao mesmo tempo, a sua par-ticipação e integração na “Vida Abundante” das promessas de Jesus.

O fundamento de tudo isto está na fé evangélica de que a Vida, como um todo, desde a concepção intra-uterina até a sua continuidade após a morte, é um ato eterno.

Sendo assim, a Vida nunca termina. Mesmo neste mundo, na dimensão humana, já se está vivendo a Vida Eterna. O que finda é a Vida material, Vida esta, entretanto, inteiramente subordinada à soberania de Deus.

A morte é não somente um intervalo, uma parada, mas também o pre-núncio do reencontro dos justos numa Vida plenificada no seio de Deus e na Eternidade.

Desse modo, a Vida autêntica, verdadeira, infinita, começa com a morte física. Quando o ser humano morre, o que realmente desaparece é apenas o seu invólucro físico. A alma, de natureza espiritual, sendo eterna, volta para Deus.

Dentro da concepção evangélica e com base nos textos bíblicos, a morte entrou, neste mundo, como o “fruto do pecado”. Entretanto, temos de levar em consideração, nesse particular, que há vários tipos de morte.

Há mortes que são o resultado da inconseqüência e da brutalidade hu-mana, como as guerras de extermínio, por exemplo. Outras são o resulta-do da imprevidência e da irresponsabilidade, como as que ocorrem nas

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disputas automobilísticas, e há, ainda, aquelas que são próprias da condição humana, por conta da imperfeição das estruturas sociais e, até, por vezes, pela ausência de solidariedade humana.

No Brasil, por exemplo, morrem de fome, anualmente, segundo dados do UNICEF, quinhentas mil crianças. A rigor, não se pode culpar Deus por isto. É o atraso e a imperfeição das formas de convivência social. Agora, em qualquer circunstância e em primeiro plano, está sempre a soberania de Deus. Em suma, a Vida humana dura o tempo que Deus permitir.

Quanto à Vida do espírito propriamente, isto é, quanto à Vida plenificada em Deus, esta nada mais tem a ver com a Vida material. Por isso mesmo, o que caracteriza a condição humana – fome, sede, apetite sexual, sono, can-saço, doença – tudo isto deixa de existir nessa outra dimensão, porquanto lá se vive outro tipo de realidade, muito além das necessidades e limitações humanas.

Ao deixar este mundo, a alma terá um corpo. Segundo o pensamento do Apóstolo Paulo, o homem nasce de uma semente corruptível, tendo em si o germe do pecado. Pela fé em Jesus Cristo e no Seu sacrifício, a alma atinge, após o decesso do corpo físico, a imortalidade, vestindo-se, então, de um corpo incorruptível e glorificado. Este corpo terá a forma humana, permi-tindo a plena identificação das almas entre si.

Moisés e Elias, por exemplo, ao aparecerem ao lado de Jesus, no monte Tabor, por ocasião da transfiguração, foram percebidos por três dos seus dis-cípulos que ali se encontravam, sob uma forma e aparência semelhantes às que tinham quando viveram em nosso mundo. Por isso mesmo, foram eles identificados como tais. Seus corpos, entretanto, não estavam mais presos às limitações terrenas. Eram corpos imateriais, glorificados, plenificados em Deus. Daí o poder que eles tinham de aparecer e de desaparecer.

É que, assim como o Cristo ressuscitou, todos os seres humanos que nele depositaram a sua fé também ressuscitarão um dia, consistindo essa ressurreição na própria continuidade da Vida, após a morte. A crença em Jesus e na Sua morte e ressurreição conferem ao ser humano o poder de vencer a morte!

Segundo a Teologia evangélica, todas as almas serão, um dia, julgadas pelos atos praticados neste mundo, mas o julgamento final de que fala o

evangelista Mateus, somente ocorrerá por ocasião da volta de Jesus Cristo, quando Ele, então, virá “para julgar os vivos e os mortos”. (II Tim. 4, 1)

Quanto aos que morreram antes dessa segunda vinda do Cristo, se par-tiram deste mundo na fé em Jesus e no amor a Deus, permitindo-se, assim

– para usar uma expressão bem evangélica – “ser lavadas e regeneradas pelo sangue do Cordeiro”, estes irão estar, para sempre, com Deus. Para essas almas não haverá a necessidade de esperar pelo julgamento final.

Já os que, neste mundo, rejeitaram a mensagem do Cristo e o Seu amor, vivendo fora dos ditames da Lei de Deus, estes, segundo a própria Escritura Sagrada, já estão condenados, porque não creram no Filho Unigênito de Deus.

Após o seu julgamento, as almas terão dois destinos: o céu ou o inferno. Segundo a Teologia evangélica, não há lugares intermediários, tais como o purgatório ou o limbo da Teologia católica.

Quanto ao céu, a Teologia evangélica não o concebe como “um lugar fecha-do nas regiões siderais”, mas como um “estado d’alma”, inefável, muito difícil, portanto, de se definir e de se conceber. Quem está no céu vive uma Vida plenificada, numa dimensão extraterrena, eterna, à luz de Deus.

Os seres humanos que morrem em tenra idade – as crianças – bem assim os abortados, os selvagens, os doentes mentais de todos os matizes, todos esses que não tiveram contato com o pecado, quando morrem, já estão no céu, no seio de Deus, participando da Vida gloriosa. E isto com fundamento na Sagrada Escritura que diz: “Deus não leva em conta o tempo de ignorân-cia”. (At. 17, 30)

Com relação aos povos que viveram na Terra antes da vinda do Cristo, também serão alvo de julgamento, porquanto, segundo a Teologia evangé-lica, Deus nunca deixou de revelar-se aos seres humanos. Com o Cristo – é bem verdade – essa revelação atingiu o seu ponto máximo, sendo o próprio Jesus a encarnação e a plenificação de Deus.

Entretanto, antes de Jesus, Deus sempre esteve presente em Sua obra, revelando-se aos homens de múltiplas maneiras e, especialmente, através dos Seus profetas e de outros homens superiores, detentores de elevada formação moral e espiritual. Em todas as épocas da História Humana, eles

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estiveram neste mundo como enviados de Deus, conclamando os homens e o mundo a voltarem as suas vistas para os valores superiores do espírito.

Ainda, referindo-nos ao céu, na concepção evangélica, não há lugar para se pensar em trabalho por lá, pelo menos dentro do conceito humano de trabalho, pelo fato de, na Vida Eterna do espírito, viver-se noutro tipo de realidade, numa dimensão totalmente diversa da dimensão terrena.

No céu, não haverá qualquer tipo de discriminação. Todos estarão glori-ficados em Deus, havendo a possibilidade de identificação dos nossos entes queridos, daqueles a quem, na Terra, amamos verdadeiramente, na condição de pais, mães, filhos, irmãos e amigos.

Quanto à visão de Deus, nas regiões celestes, prometida pelo Cristo no Sermão das Bem-aventuranças, esta pode começar aqui mesmo na Terra, pela fé em Jesus Cristo e pela nova Vida que disso resulta.

Disse Jesus, certa vez, a dois de seus discípulos: “— Quem vê a mim, vê a meu Pai.” ( Jo. 14, 9 ) Conseqüentemente, pela fé em Jesus, é possível ao ser humano começar a ter uma visão de Deus em sua Vida, muito embora essa visão seja limitada pela condição humana.

Em segundo lugar, a visão de Deus é, também, a visão do nosso próximo. Isto significa que, quando o ser humano, pela fé, descobre o sentido real da existência humana, ele começa a ver o mundo das coisas criadas por Deus, bem assim os outros, seus irmãos de humanidade, como uma extensão do próprio Deus. E, então, passa a ter uma visão de Deus, à medida que serve ao outro e passa, a amá-lo como a si mesmo.

No que diz respeito ao inferno, este, também, não é um lugar confinado, debaixo da Terra, segundo as concepções medievais. É um “estado d’alma”, caracterizado pelo afastamento de Deus, em virtude da falta de fé em Jesus Cristo e, ainda, por conta do erro e do pecado.

Quanto aos suicidas, não se pode dizer que estejam todos no inferno. A Teologia evangélica considera que o sofrimento dessas almas, no Além, é inconcebível e inenarrável, por terem eles atentado contra aquilo que exis-te de mais nobre, aqui na Terra: a Vida que lhes foi concedida por Deus. Entretanto, dentro da concepção evangélica, não cabe a qualquer um de

nós julgá-los. “A ninguém julgueis” (Mt. 7, 1), disse o Cristo. Desse modo, o julgamento dos suicidas é inteiramente da alçada de Deus.

Entende ainda a fé evangélica que a memória dessas pessoas deva ser pre-servada e suas famílias, carinhosamente, assistidas. Preces também devem ser dirigidas a Deus em favor dessas almas porque os seus sofrimentos, no outro lado da Vida, devem ultrapassar os limites do inimaginável.

Deus, no alto de Sua majestade, e na infinidade do Seu amor, apieda-se das almas que estão condenadas ao inferno, isto porque, na concepção evangé-lica, nunca se pode separar a idéia de Deus da idéia de Pai. Um pai sempre sofre com os desvios dos seus filhos da estrada reta. Deus é o nosso eterno Pai e, segundo o Apóstolo Paulo, não quer que nenhuma alma se perca, por-quanto se Ele abomina o pecado, ama o pecador de todo o coração.

Afirmando a existência do céu e do inferno, a Teologia evangélica aceita a existência de anjos e demônios.

Anjos são seres celestiais, criados por Deus para a Sua glória e, também, para a extensão do Seu reino. Demônios são todas aquelas almas que se re-belaram contra o Criador, como Lúcifer, referido na Escritura Sagrada, que era um anjo de luz e que, pela sua prepotência, arrogância e rebeldia, revol-tou-se contra Deus.

Segundo a Bíblia Sagrada e consoante a expressão de David, “os anjos acampam-se ao redor dos que temem o Senhor e os livram de todo o mal” (Sal. 34, 7). Nessa palavra bíblica está a gênese da doutrina dos anjos guardiães que a Teologia católica, para estimular a devoção a esses seres, transformou numa espécie de guarda pessoal ou segurança individual de cada um. O fato é que os anjos de Deus guardam os seus, aqui, na Terra, sem qualquer tipo de discriminação, sejam eles adultos ou crianças.

A Teologia evangélica reluta em aceitar a possibilidade de as almas, que estão no céu, descerem à Terra, a fim de amparar, proteger e auxiliar os seres humanos. Os anjos podem fazê-lo. As almas, mesmo purificadas, não. É que, segundo a concepção evangélica, os anjos foram criados por Deus antes das almas, e estas são seres que se foram para a Eternidade, tendo sido, antes, humanos. Com fundamento na parábola evangélica do rico e de Lázaro, a Teologia evangélica não vê a possibilidade de comunicação entre Planos

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Espirituais e a Vida material, considerando que “há um abismo entre os dois níveis”, impossibilitando qualquer forma de intercâmbio.

Segundo o pensamento evangélico, há, nas regiões celestes, dois reinos bem definidos: o da luz e o das trevas. Esse conceito está fundamentado na própria palavra de Jesus que chega a falar em “casta de demônios”, e também em outras passagens bíblicas, como o episódio do “endemoninhado gada-reno”, quando o espírito imundo, expulso por Jesus, se intitula, ele próprio, de “Legião”.

Por outro lado, o Apóstolo Paulo, em sua Epístola aos Efésios, quando fala sobre a armadura do cristão, diz claramente que devemos nos fortalecer contra “os principados, as potestades e as forças espirituais que atuam nas regiões celestes” (Efe. 6, 12). Isto atesta a existência de uma espécie de hierar-quia maligna constituída de muitos demônios.

Desde os tempos evangélicos que se registram casos de possessões de-moníacas e, na atualidade, em nosso mundo, encontramos pessoas cujos comportamentos e atitudes, pela sua violência e brutalidade, desafiam a Psiquiatria e os tratamentos mais sofisticados da medicina tradicional ou alternativa, numa prova inconteste de que tais criaturas estão possuídas por entidades malignas. É que os demônios podem vir até o nosso mundo para causar assombrações, exercer a sua influência maléfica e até o domínio sobre os seres humanos.

Quanto à existência de realidades “concretas” nas regiões celestes, semelhan-tes às que existem em nosso mundo, como: solo, árvores, animais, objetos, etc., a concepção evangélica considera isto viável, com base em alguns textos bíblicos, especialmente o Apocalipse de João que se refere à existência, no outro lado, de “rios de ouro e de cristal” (Apo. 4, 6. e 21, 18), entrevistos em suas visões quando em estado de arrebatamento espiritual.

A Teologia evangélica silencia sobre a existência ou não de um princípio anímico ou uma “alma animal” nos seres infra-humanos, princípio este que poderia sobreviver ou não à morte de seus corpos físicos. Considera isto um mistério que somente será desvendado entre Deus e eles – os seres inferio-res da Criação.

Sobre as mortes coletivas por acidentes de várias naturezas ou por cataclis-mos naturais, a Teologia evangélica entende que tudo isto acontece dentro dos planos e da soberania de Deus, ressalvados os casos devidos a falhas humanas.

Finalizando, na concepção das Igrejas Reformadas, a morte não é o fim. Por isso mesmo, nos sepultamentos evangélicos, não há lugar para velas, de-sesperos ou lágrimas inconsoláveis. A luz da Vida não é uma vela, mas Jesus Cristo. Se alguém morreu com Ele, morreu na luz! Sente-se a dor da sauda-de, porquanto a morte não significa uma ruptura radical, mas, tão somente, como já frisamos, um intervalo ou uma parada, porque Deus assim o quis. Neste caso, a morte se transformará num prenúncio de reencontros futuros, no amanhã, com Deus, numa Vida gloriosa, plenificada, eterna.

Em suma, Jesus, com a Sua vinda ao mundo e pelo Seu sacrifício, trans-formou a morte física, apenas, numa ponte, entre o homem e a Eternidade! •

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12A Visão Judaica

(Texto baseado em entrevista com o Rabino Yossef Benzecry, da Sinagoga do Recife, Pernambuco, e

por ele revisto)

Para o Judaísmo, a Vida, neste mundo, assume tamanho grau de impor-tância, que as preocupações com a morte passam a ocupar um lugar

secundário.Para os judeus, o futuro do ser humano, nesta Vida e na outra, depende,

fundamentalmente, de suas ações no dia a dia.Um viver nobre e justo define-se pela observância fiel dos ensinamentos

contidos na Torá, os cinco livros escritos por Moisés, os quais constituem a Lei judaica.

O Judaísmo não crê que a Vida acabe com a morte. Pelo contrário, a morte, dentro da concepção judaica, é uma continuação desta Vida, se bem que num plano diferente: o plano da alma. Conseqüentemente, a morte con-duz, necessariamente, à Vida da alma.

Segundo a doutrina judaica, é muito difícil fazer-se uma idéia de como é a Vida no Além-túmulo, por ser algo que ultrapassa todas as concepções do cérebro humano. Vivendo esta Vida, presos ao solo do mundo, não temos qualquer oportunidade de imaginar o que se passa na outra, tornando-se muito difícil conceber algo que nunca provamos. Exemplificando, seria a mesma coisa que tentar explicar a alguém o gosto de uma fruta desconheci-da. Para tanto, ter-se-ia de usar artifícios de linguagem, como comparações com algo que se aproxime do sabor da fruta, o que se tornaria muito com-plexo e difícil.

Para o Judaísmo, a Vida no outro mundo não se compara a nada do que existe neste. Não guarda relação com qualquer coisa de natureza física que tenhamos conhecido, neste mundo, porquanto é uma recompensa puramen-te espiritual.

Quanto à alma humana, compara-se a uma energia que torna possível

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a Vida. Todavia, o conceito de alma humana pode ter mais de um sentido. Alma pode significar apenas a força, a vitalidade do corpo físico e, também, num sentido mais elevado, a consciência da escolha que todo ser humano possui, para fazer o bem ou o mal.

Após a morte corporal, segundo o Judaísmo, as almas destinam-se ao céu ou ao inferno, dependendo das boas ou más ações praticadas durante a Vida. Entretanto, o conceito de Paraíso envolve aspectos mais profundos, com visões muito diferentes, não convindo, aqui, abordá-los. Em síntese, poderíamos dizer que o Paraíso é o merecimento da alma, depois desta Vida, de usufruir uma maior aproximação de Deus. O inferno seria o contrário: o total afastamento de Deus.

Por isso mesmo, no Além-Vida, a vestimenta da alma depende, basica-mente, do que ela fez neste mundo. Quem aproveitou os seus dias, aqui, para fazer o bem e espalhar o amor, possuirá uma vestimenta pura. Quem praticou o mal, se vestirá de forma contrária.

O Judaísmo crê num julgamento final que, entretanto, somente aconte-cerá quando da vinda do Messias a este mundo, porquanto, para os judeus, o Messias ainda está por vir. Não foi Jesus Cristo, como é crença entre os cristãos.

Quanto à morte por suicídio, o Judaísmo considera isto um gravíssimo crime perante a Lei Divina. Na concepção judaica, o suicídio é um ato bem pior do que o homicídio. O suicida é, realmente, um homicida, só que um homicida de si mesmo. Quando uma pessoa mata outra, neste mundo, tem até uma chance de se arrepender depois. Todavia, quando a pessoa se mata a si própria, essa chance desaparece e, depois da morte, a alma não pode mais arrepender-se. Conseqüentemente, o suicida é um homicida no pior dos termos. Excetuam-se, é claro, os casos de suicídios causados por situações inusitadas. Esses casos têm atenuantes, mas, de um modo geral, o suicídio, para o Judaísmo, é um dos mais graves crimes que o ser humano comete perante a Lei Divina.

O Judaísmo acredita na existência de anjos, seres puríssimos, criados por Deus. Quanto à doutrina dos anjos de guarda, de inspiração católica, o Judaísmo encara-a de uma maneira diferente. Deus, o Ser Supremo, está acima de tudo e é Ele quem guarda cada um dos seres humanos. Por sua vez,

qualquer pessoa, pelas suas boas ações tem, também, a possibilidade de es-tar próxima de Deus.

Quanto ao destino final das almas que foram parar no inferno, elas não vão ficar, por lá, eternamente, salvo os casos de pessoas que foram extrema-mente perversas. Haverá uma chance de elas alcançarem o Paraíso. Aliás, na visão judaica, o inferno não é uma punição em si, configurando um castigo imposto por Deus para toda a Eternidade, mas uma oportunidade que as almas têm de, pelo sofrimento, purificar-se do que fizeram de errado nesta Vida, para, então, depois, atingirem o Paraíso.

Quanto ao demônio ou demônios, para o Judaísmo, trata-se do próprio mau instinto existente dentro de cada ser humano, tentando induzi-lo à prá-tica da maldade. Ele perde a sua força quando a pessoa liga-se a Deus. Não é concebível que se confira ao demônio o poder de tomar conta completa-mente do ser humano. Isto, inclusive, seria uma interferência no livre arbí-trio das pessoas. Cada um, nesta ou na outra Vida, pode ser um demônio, ao comprometer-se voluntariamente com o mal e ao dar vazão aos seus piores instintos.

Para o Judaísmo, no outro lado da Vida não existe nada parecido com as paisagens deste mundo. Por isso mesmo, o pensamento judaico nega a exis-tência de solo, casas, árvores, animais, bem assim de um mundo espiritual formado de matéria sutil ou etérea com seres semelhantes aos que consti-tuem o mundo material.

Quanto às mortes coletivas por acidentes múltiplos, como desabamentos, incêndios, quedas de aviões ou outros cataclismos naturais, do tipo terre-motos, erupções vulcânicas, furacões, etc., acha o Judaísmo que nada disto acontece por acaso. Aliás, não existe o acaso dentro do Universo. Tudo está dentro dos planos de Deus e tem uma razão de ser.

No que diz respeito aos seres inferiores da Criação, os animais, por exem-plo, estes possuem uma alma que é a energia que lhes dá a Vida, mas essa alma não sobrevive após a morte de seus corpos.

Conta-se que um estrangeiro pediu, certa vez, ao Rabino Hilel que dissesse tudo sobre o Judaísmo, enquanto estivesse de pé sobre uma só perna, ao que o Mestre, em sua sabedoria, respondeu: “— Nunca faça aos outros aquilo que para você é detestável. Esta é a Lei. Tudo o mais é comentário.”

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Eis porque, ainda, para o Judaísmo, o amor ao próximo e a prática de todo o bem possível, neste mundo, são as condições indispensáveis para assegurar ao ser humano a sua ressurreição e a sua felicidade, na Vida futura da alma. •

13A Visão Islâmica

(Texto baseado no livro O alcorão ao alcance de todos, de autoria de Mansour Challita, considerado o

mais exato tradutor do pensamento islâmico para a língua portuguesa)

O Islamismo possui as mesmas raízes do Judaísmo, sendo considerado uma das três maiores religiões monoteístas do mundo. Foi fundado

pelo profeta Maomé, no século VII d.C. Também para ele, a Vida não ter-mina com a morte.

Para os muçulmanos, a felicidade do ser humano, nesta Vida e no Além, depende, fundamentalmente, da crença em Deus – Alá – e no seu último profeta – Maomé – e bem como da prática de atos nobres, caracterizados pelos sentimentos de amor, justiça e caridade. Segundo o Islamismo, a Vida neste mundo é um mero passatempo e os gozos terrenos são insignificantes e ilusórios, quando comparados às delícias que os justos e piedosos desfru-tarão no Além.

Nascido na cidade de Meca (Arábia Saudita), entre os anos 570 e 580 d.C., Maomé, segundo a tradição, foi chama do por Deus através de uma revelação do Arcanjo Gabriel. Tal revelação levou-o a ofertar ao mundo o livro O alcorão ou Corão que, traduzido para o nosso idioma, significa “A Palavra de Deus”.

Era o mês de Ramadã, o nono do calendário muçulmano. Maomé tinha então, 40 anos de idade. Ele dormia ou permanecia em estado de êxtase quando teve uma visão do Arcanjo Gabriel que passou a ditar-lhe todo o conteúdo do livro Sagrado.

Besworth Smith, citado por Austregésilo de Athaíde no Prefácio do livro O alcorão ao alcance de todos, de autoria de Mansour Challita, numa edição da Associação Cultural Internacional Gibran, assim define o Corão: “— Um livro que é um poema, um código de lei, um manual de orações, uma bíblia, e que é reverenciado por um sexto da raça humana como um milagre de pureza de estilo, de sabedoria e de verdade.”

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O alcorão é considerado o maior monumento literário da língua árabe. Tem o seu lugar reservado entre os grandes livros da humanidade, figurando como uma das obras primas da literatura universal. Nele, segundo a tradição islâmica, está a palavra divina e, conseqüentemente, o fundamento dos dog-mas, da lei civil e do culto religioso do povo islâmico. É, ainda, um livro que orienta toda a literatura e a arte desse povo…

A lei islâmica é rigorosíssima no que se refere aos costumes sociais, que obriga as mulheres ao uso do véu do rosto (o chador), determinando o ape-drejamento das adúlteras, impondo a pena de morte aos homossexuais e contrabandistas, e proibindo a música profana e a dança. Um contraste mar-cante com o comportamento liberal da sociedade ocidental, muito permissi-va até mesmo para os crentes, O alcorão contém ainda muitas outras proibi-ções, dentre as quais a ingestão de carne de porco, de bebidas alcóolicas e a prática do jogo de cartas. O uso de imagens ou a feitura de estátuas também estão dentro de suas proibições pelo risco de conduzir à idolatria.

O Cristo e o Buda (Sidartha Gautama) nada escreveram. Os Evangelhos e os livros sacros do Budismo são uma reconstituição da tradição oral, fei-ta por discípulos fiéis desses iniciados. Do mesmo modo, O alcorão não é de autoria de Maomé que, inclusive, não sabia ler nem escrever. Segundo a tradição islâmica, como já frisamos acima, esse livro é o fruto de uma revelação.

A doutrina islâmica, fundamentada no Alcorão, insurge-se contra os ju-deus, acusando-os de terem corrompido o Judaísmo; investe também contra os cristãos, em especial contra todas as correntes do Cristianismo que con-sideram Jesus como sendo Deus.

Para o Islamismo, Deus é um ser único e deve ser adorado com total e absoluta exclusividade.

Na religião islâmica, Deus é denominado de Alá. É o Deus do patriarca Abraão. E o Supremo Poder, o Senhor Absoluto dos céus e da terra e de tudo o que neles há. Deus tudo sabe, tudo pode, tudo vê. Esse Deus é, ao mesmo tempo, vingativo e generoso, justo e clemente.

O Islamismo, à semelhança do Judaísmo, também acredita na existência de anjos, mensageiros de Deus. São eles que transmitem a palavra de Deus aos mortais, desempenhando inúmeras missões neste mundo. O lugar dos anjos é o Paraíso, mas eles não devem ser adorados, e a reverência que lhes

deve ser tributada será sempre na condição de “enviados” de Deus. Na “gee-na”, o inferno islâmico, segundo O alcorão, anjos rudes e duros podem, cum-prindo ordens divinas, guardar os suplícios dos condenados. A fé islâmica também aceita a doutrina dos anjos decaídos. Estes, revoltaram-se contra Deus e, por vingança, induziram Adão e Eva ao pecado.

Segundo o pensamento islâmico, o Cristo é apenas um profeta, e a Sua missão, como a de todos os profetas, é a transmissão da palavra de Alá. Maomé é o profeta maior, em virtude de ter recebido de Deus a missão de restaurar a mensagem divina, deturpada através dos tempos.

Além da crença em Alá e no seu profeta maior, os outros dogmas basila-res da religião islâmica são: a ressurreição dos mortos, o juízo final e a crença no Paraíso e no inferno.

A ressurreição dos mortos, segundo o Islamismo, acontecerá antes do juízo final e, após esse julgamento, as almas serão recompensadas por Deus pelas ações que praticaram neste mundo. Os bons, os justos e os piedosos receberão como prêmio o Paraíso, e os maus serão precipitados na “geena”. Guindados ao céu ou precipitados no inferno, ali permanecerão definitiva-mente, por toda a Eternidade.

No Alcorão, as delícias do Paraíso são descritas através de alegorias. Ali, os crentes e os justos desfrutarão de toda a sorte de prazeres materiais, es-pecialmente aqueles de que foram privados neste mundo. Não mais conhe-cerão a morte e terão, em abundância, frutas variadas, sombras acolhedoras, jardins maravilhosos, água de nascentes, rios de leite, de vinho e de mel des-tilado, e, ainda, esposas jovens, virgens e belas. Aos eleitos serão servidas, em bandejas de ouro, taças cheias de tudo o que o homem deseja. Isto bem traduz os anseios e as necessidades prementes do beduíno que enfrenta a aspereza e a aridez do deserto.

Quanto à “geena”, é este descrito como um lugar de sofrimentos inenar-ráveis. Ali, os condenados sofrerão o vento calcinante, viverão no meio de trevas de fumaça negra e terão por bebida a água fervente. Mas o que pre-domina mesmo na “geena” é o fogo, a queimar os corpos dos condenados. E, segundo O alcorão, à proporção que as peles vão sendo queimadas, serão substituídas por outras, a fim de que o suplício seja contínuo e interminável. Na “geena”, a morte rondará os condenados por todos os lados e eles não conseguirão “morrer”.

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Portanto, para serem felizes na Vida futura, os mulçumanos devem se-guir rigorosamente os dogmas, os ensinos e as leis contidos no Alcorão. O Paraíso está reservado a todos aqueles que crêem em Alá e no seu último profeta, bem assim aos que não ambicionam as grandezas terrenas nem se-meiam a corrupção. O crente deve, ainda, para ganhar o céu, cumprir cinco deveres essenciais que são: – fazer orações cinco vezes ao dia, ajoelhando-se na direção da cidade de Meca; jejuar durante todo o mês de Ramadã; dar esmolas aos pobres; peregrinar até a cidade de Meca pelo menos uma vez por ano e fazer a chamada “guerra santa” ou “jihad”. Os que participarem das guerras santas, quer triunfem, quer morram, irão todos para o Paraíso. Isto bem explica as lutas sangrentas entre iranianos e iraquianos e entre árabes e israelitas, inclusive com atitudes extremas de autodestruição, através das chamadas “bombas humanas”.

Para o Islamismo, todos os homens são iguais perante Deus. A religião islâmica não faz qualquer tipo de discriminação por questões de raça, cor, nacionalidade, cultura, posses econômicas ou classes sociais. Entretanto, há algo que tem um peso fundamental na distinção dos homens entre si: a sua fé religiosa. O mundo está, assim, dividido entre aqueles que crêem em Alá e no seu profeta – o mundo dos muçulmanos crentes – e aqueles que neles não crêem – os descrentes ou infiéis. Diz O alcorão que, no dia do julgamen-to final, Alá separará os que crêem dos judeus, cristãos, magos e idólatras.

Segundo a doutrina islâmica, o maior crime perante Deus e o que con-duz aos suplícios mais terríveis da “geena”, é a descrença em Alá e no seu último profeta.

O Islamismo exalta a generosidade, a caridade, a hospitalidade, a gratidão, a piedade, e condena a avareza, a mentira, a hipocrisia, a avidez, a desleal-dade, o orgulho e a arrogância. Ao prescrever um comportamento assim virtuoso, a religião islâmica consagra um código de ética de valor universal.

Há belos preceitos no Alcorão, enumerando as recompensas que aguar-dam, no Paraíso, os crentes e aqueles que, neste mundo, praticaram boas ações. Também serão gratificados os que foram justos, mesmo contra pais ou parentes próximos, pessoas ricas ou indigentes, amigos ou inimigos.

Quanto às mortes coletivas, por toda a sorte de desastres e cataclismos naturais, essas desgraças acontecem, segundo a doutrina islâmica, com a permissão de Deus e estão inseridas dentro de Seus planos.

A doutrina islâmica é extraordinariamente rigorosa e fechada a todas as tentativas de reforma. Algumas foram tentadas na Turquia e no Irã (Ataturk e Riza Khan), com a introdução de costumes europeus. Após a morte desses inovadores, entretanto, uma violenta reação dos líderes religiosos e do pró-prio povo fizeram-se sentir e a lei islâmica foi novamente estabelecida.

E assim tem sido através dos séculos… •

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14A Visão Budista

(Texto baseado em entrevista com o Prof. José Guilherme do Amaral Nogueira, membro da Soka

Gakkai Internacional, e por ele revisto)

Preliminares – Linha Hinayana

O Budismo surgiu na Índia, no século VI a.C., numa reação ao Bramanismo, a religião tradicional daquele país. Essa religião consa-

grava a superioridade religiosa dos brâmanes, a casta mais alta, guindando-os à condição de seres sagrados e os únicos qualificados, na condição de sacerdotes, a celebrar os rituais védicos, ensinando-os aos outros.

O Budismo foi fundado pelo príncipe Sidartha Gautama ou Çaquia-Muni e os seus ensinamentos encontraram campo fértil para a sua difusão, especialmente nas classes sociais mais baixas, na Índia. Estas encontraram, no Budismo, a possibilidade de um crescimento espiritual baseado mais no talento e no esforço pessoal de cada um do que num direito hereditário, como preconizava o Bramanismo.

Impressionado com a dor, a doença, a velhice e a morte e diante de um sacerdócio privilegiado que pontificava, cercado de um excessivo forma-lismo religioso, Çaquia-Muni deu início a um movimento de renovação da Vida, das crenças, da religião e da própria filosofia hindu. Em verdade, o Budismo, a rigor, não é uma religião, nem uma filosofia, nem mesmo uma ética superior, mas é tudo isso ao mesmo tempo, possuindo ainda algo de próprio, único, original.

A reforma religiosa iniciada pelo Budismo visava, acima de tudo, libertar os seus adeptos da excessiva preocupação com os problemas metafísicos, substituindo-os pelo desejo perseverante de atingir a iluminação, o nirvana.

O Budismo, através dos tempos, desdobrou-se em diferentes linhas, dentre as quais destacam-se a “corrente hinayana”, correspondente ao

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Budismo tradicional; a “corrente mahayana provisória”; e a “linha mahayana” propriamente dita.

Um dos princípios do Budismo tradicional é o de que a alma de todos os seres é regida pela mesma lei que rege os mundos. Os seres humanos evol-vem pela prática das virtudes e involuem com a queda nos vícios. Ao dar pri-mazia às virtudes, a alma atinge o nirvana, o estado mais alto de iluminação, caracterizado pela ausência total de desejos, da dor, e pela posse absoluta da verdade. Nesse estado, a alma estará livre da roda dos renascimentos.

Para atingir o nirvana, deve o adepto conhecer e vivenciar, na prática, as quatro nobres verdades que são: 1. o sofrimento existe. Sofre-se ao nascer, ao crescer, ao adoecer e ao morrer; 2. o sofrimento provém do desejo, acom-panhado da ansiedade pela sua satisfação; 3. o sofrimento pode cessar; 4. elimina-se o sofrimento quando se palmilha o caminho da virtude. Este se desdobra em oito etapas: 1. a reta compreensão ou a reta visão das coisas; 2. o reto pensamento; 3. a reta palavra; 4. a reta ação; 5. os retos meios de sub-sistência; 6. o reto esforço; 7. a reta consciência; e 8. a reta meditação.

Todo aquele que assim procede alcança a perfeição já nesta Vida, tornan-do-se um “bodisattva”, isto é, atingindo a perfeição moral. Um “bodisattva” é capaz de dar a sua própria Vida pela humanidade, e, para o Budismo, cada ser humano é, também, um “bodisattva” em potencial. A prática budista visa levar o adepto e atingir, em plenitude, esse estado de Vida. Somente assim estaremos bem próximos do estado de iluminação: o estado de Buda. E isto pode acontecer ainda nesta existência. Nesse nível, alcança-se um completo domínio sobre todas as paixões e desejos, sobre a dor e, inclusive, sobre a morte.

Aqueles que se desviam dos caminhos da virtude podem renascer, neste mundo, em péssimas condições de Vida e até como animais, precipitando-se em um dos dezoito planos inferiores de existência que se caracterizam por sofrimentos atrozes, verdadeiramente infernais.

Linha Mahayana

Segue-se a visão do Budismo Mahayana, também considerado o Budismo dos Últimos Dias, sinalizando a propagação dessa doutrina por todo o mundo.

Para essa linha do Budismo, a Vida está contida no Universo, e o Universo está contido em todo ser, inclusive no ser humano, considerado um microcosmo. Partindo desse princípio, a Vida não tem um começo nem tampouco terá um fim. Ela transcorre ciclicamente e não, de forma retilínea. Num círculo não conseguimos identificar nem um ponto inicial nem um ponto final, O mesmo acontece com a Vida.

Todos os seres humanos, ao chegarem a esta existência, estão provindo de vidas passadas, e a condição de Vida atual de cada um depende, basi-camente, de causas desencadeadas no passado. Do mesmo modo, as ações humanas, no presente, são determinantes do nosso futuro.

Dentro dessa concepção, a morte surge como um fato comum, inerente à Vida, do qual nenhum ser pode escapar. O mesmo acontece com o nas-cimento, a doença e a velhice que completam as preocupações iniciais do fundador do Budismo e que foram por ele denominadas de “os quatro so-frimentos da Vida”.

Após a morte, o ser humano vai ocupar um estado de Vida no Universo que será, exatamente, aquele por ele atingido no instante do decesso. A prá-tica do Budismo pretende conduzir o homem, já nesta Vida, ao estado de Buda ou de iluminação, para nele permanecer, além da morte.

Na concepção budista, a morte e o morrer acontecem na Vida, a todo instante, nas mais diferentes situações. Morre a nossa pele pelo envelhe-cimento dos tecidos. Cabelos e unhas morrem para darem lugar a formas novas. Morrem afeições, todos os dias, nas situações de perda. Morrem os grãos para que a mesa surja farta diante de nós. Morrem os seres animais fra-cos, devorados pelos mais fortes. Desse modo, a morte atinge não somente o ser humano. Ela está presente no bojo da Vida, dela fazendo parte como algo que lhe é intrínseco.

Para o Budismo, a alma está sempre associada à essência da Vida e, por isso mesmo, está presente tanto nos seres sensíveis quanto nos seres insen-síveis; tanto nos seres racionais como nos irracionais. Essa alma, nos seres infra-humanos, está em estado latente. “Em toda pedra há um Buda ador-mecido”. Nos seres humanos, ela já emergiu, deixando de ser apenas uma potencialidade. Isto porque, ao contrário dos seres infra-humanos, o homem é capaz de mudar e de conduzir o seu próprio destino, caminhando de um estado inferior para estados superiores, até atingir a sua iluminação.

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O Budismo assinala a existência de dez estados de Vida que também poderiam ser chamados de “canais de freqüência”. São eles os estados de inferno, fome, ira, animalidade, tranqüilidade, êxtase, erudição, absorção,

“bodisattva” e Buda.O estado de Vida, em que cada um se encontra num determinado ins-

tante, tem uma profunda influência no meio em que a pessoa está situada. É que o ambiente em que nos movimentamos possui todos os estados de Vida de uma forma latente e, desse modo, capta o estado em que nos encontra-mos. Este é o princípio budista do “ensho-funi”. De sorte que, quando se está num estado superior, tudo ao nosso redor impregna-se de aspectos positivos, o mesmo ocorrendo, em sentido contrário, quando estamos num estado inferior. Tudo, então, a nossa volta, manifesta-se de uma forma negativa.

Segundo a doutrina budista, não é tão fácil atravessar “o portal da sabe-doria”. Isto exige que estejamos em estados de Vida bem elevados. Somente, a partir do estado de “bodisattva”, será possível ao ser humano romper esse

“portal”, alcançando o estado de Buda. Então o ser passará a gozar da mais absoluta liberdade. Nada de externo o poderá abalar.

Para o Budismo, a alma – essência da Vida – não possui uma forma de-terminada. Ao deixar a Vida material, pela morte, essa energia reintegra-se ao Universo no estado de Vida em que se encontrava ao morrer. Aí, o ser fica como se existisse e não existisse ao mesmo tempo. É o mesmo que acontece quando dormimos. No estado de sono, a nossa mente não pára, mas para nós que estamos dormindo, ela desaparece. No momento que despertamos, ela retorna. Ou seja, durante o sono a mente existe e não existe ao mesmo tempo, e bem sabemos que nem todo sono é tranqüilo… Algo semelhante, também, acontece na morte, permanecendo a alma num estado análogo ao estado de sono: inconsciente, mas em existência.

No Budismo não existe nenhum julgamento após a morte, nem tam-pouco, nenhum julgamento final. Isto porque julgar é uma operação mental sempre feita por alguém que está fora de nós. Ora, para a doutrina budista, são os pensamentos, palavras e ações que geram o nosso carma. Não há lugar, portanto, dentro dessa concepção, para qualquer julgamento provindo do exterior, diante desse autojulgamento de cada um, através do carma.

Quanto ao céu e ao inferno, para o Budismo, são eles estados de Vida. Quando a pessoa, neste mundo, está fora da senda, envolvida com toda

a espécie de vícios ou, ainda, sofrendo a miséria e as privações, em suma, quando se está em amargas condições de existência, isto é o inferno. Caso contrário, se a pessoa está caminhando nos braços da lei, no exercício das virtudes para alcançar o estado de Buda, está no céu. Cada um constrói, pe-las suas próprias ações, o seu céu ou o seu inferno. Dentro dessa linha de pensamento, não há lugar para um inferno de castigos eternos. Ninguém castiga, nem salva ninguém. A própria pessoa é que se castiga ou se salva a si mesma. Entretanto, através da meditação, poderemos canalizar energias positivas em direção aos que estão “mortos”, sejam eles parentes, amigos e até pessoas que não conhecemos, para que elas retornem, mais rapidamente, a este mundo e invertam o processo de sofrimento. Mas, ainda aí, apenas estaremos mentalizando energias positivas em favor deles, e somente eles poderão reverter o processo.

Para a doutrina budista, a lei do Universo opõe-se ao acaso. Nesta Vida ou alhures, na dimensão em que vivemos ou em outras dimensões, na Terra, ou em outros planetas, nada é casual. Encontros, desencontros, grandes ami-zades, afinidades, simpatias, antipatias, casamentos, nada disto acontece por acidente.

O Budismo é agnóstico. A tradição budista não acre dita que o Universo e os seres humanos sejam regidos por um Ser Supremo que os criou. Se assim fosse, segundo a doutrina, não teríamos a capacidade de transformar ou de aliviar o nosso carma, porque estaríamos totalmente submissos a uma Lei. Existe uma diferença significativa entre as tradições religiosas orientais e ocidentais. Segundo as crenças do Ocidente, por mais virtuosa que a pessoa seja, por mais esforço que faça no sentido de ascender a níveis superiores de consciência, por maior que tenha sido o nível de perfeição moral alcançado, jamais poderá ser, um dia, igual a Deus. No Budismo isto é possível. Através de pensamentos, palavras e ações nobres e, ainda, por meio de determinadas práticas religiosas diárias, pode-se atingir o estado de Buda.

No Budismo, quando nos referimos a Deus e a deuses, queremos sinali-zar as forças da Natureza, e depende tão somente de que cada um canalize essas forças a seu favor ou não. O ser humano tem que girar no sentido em que gira o Universo, caminhando sintonizado e em harmonia com ele. Mas, ainda aí, foi a própria pessoa quem decidiu seguir nessa direção, procurando viver em perfeita harmonia com as forças naturais.

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Quanto ao suicídio, o Budismo considera-o uma causa negativa muito grave, gerando um carma bastante doloroso e isto porque, por mais que a pessoa tente destruir a própria Vida, jamais poderá acabar com ela. A Vida não cessa nunca. Numa próxima existência, os que se suicidam retomam num lamentável estado de Vida para sofrerem as graves conseqüências do ato insano. Os que renascem aleijados, retardados mentais, cegos, surdos-mudos, não aportam assim, nesta Vida, por acaso. Tais desequilíbrios são efeitos desencadeados por causas negativas do passado.

Anjos e demônios não são, para o Budismo, seres criados perfeitos ou que tenham decaído e cuja existência ocorra fora deste mundo. Anjos e de-mônios somos nós mesmos. Se a pessoa atinge estados de Vida superiores, cada vez mais altos, termina por transformar-se num anjo. Caso contrário, quando o ser humano mergulha no abismo do erro e do vício, praticando toda a sorte de maldades, em franca oposição à lei do Universo, torna-se um demônio. Desse modo, toda pessoa tem, dentro de si, um anjo e um demônio em potencial e torna-se imprescindível que trabalhe essas forças positivas ou negativas na direção do estado final de Buda, de iluminação.

Para a doutrina budista, o bem e o mal, o anjo e o demônio nunca estão dissociados. São faces de uma mesma moeda. E “a velocidade da flecha de-pende da força do arco”. A capacidade de transformação de nossa Vida e a proteção dos deuses ou das forças da Natureza vão depender, essencialmen-te, da intensidade de nossa fé. E pela fé que cada um atrai as forças positivas para o seu lado, convertendo-se, dia após dia, em um ser de luz!

Quanto à existência, noutras dimensões de Vida, de solo, árvores, ani-mais e objetos semelhantes aos existentes no nosso mundo, o Budismo acha isso possível, não em Planos Espirituais, mas em outros planetas espalhados pela vastidão infinita do Universo. Não estamos sós no cosmos.

Todos os seres infra-humanos – minerais, vegetais e animais – estão em movimento e, como tal, possuem potencialidade para atingir estados supe-riores de Vida. Por outro lado, dentro da roda incessante dos renascimentos, os seres humanos também podem criar causas muito negativas e retornarem a esta Vida na condição de animais. Desse modo, tanto os animais podem chegar à condição humana, como os seres humanos podem retroagir à con-dição de animais. É a crença budista.

A essência do Budismo é trabalhar pela paz mundial e pela felicidade de

todos os seres humanos, sem esquecer os demais seres inferiores da Criação. Essa paz, entretanto, não pode ser trabalhada de cima para baixo. Ela começa com a nossa transformação interior, gerando conseqüências benéficas nos entes mais próximos e, num efeito multiplicativo, atingindo os que estão mais distantes. Quando a pessoa, individualmente, eleva os seus “sinais de freqüência” produz reflexos positivos sobre a humanidade inteira. E vale, aqui, acrescentar que, para o Budismo, independentemente da tradição que cada um segue, da religião que cada um professe, o que importa mesmo é que estejamos voltados para os nobres e elevados objetivos da iluminação pessoal e da felicidade humana.

No estado final de Buda, o ser entra em fusão com todo o Universo. E, para alcançar esse estado, é condição absoluta eliminar o abismo existente entre o discurso e a prática. No Budismo, o esforço diário de ascese do adep-to através da meditação profunda e de outras práticas, serve para ir eliminan-do esse abismo e fazer a ponte entre os ensinamentos e a sua vivência, entre a lei e o seu fiel cumprimento.

E, somente assim, cada um poderá atingir níveis superiores de consciên-cia, transformando-se em um novo ser que estará por fim, segundo a Gita, a Sublime Canção dos hindus, liberto da enfermidade e da morte, do re-nascimento e da dor, da inquietude e da velhice, bebendo as águas vivas da Imortalidade, em paz, no esplendor da luz! •

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IVDepois da Morte – A

Visão EspíritaComo Vivem os Que Morrem

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15A Matéria e Seus

Estados Mais Sutis

Cientistas contemporâneos chegaram à conclusão de que a matéria de que são feitos o mundo e todos os seres criados – minerais, vegetais,

animais e hominais – é pura energia, “energia congelada”, ou seja, energia que se solidificou ou densificou.

Consoante as especulações mais antigas e as constatações científicas mais recentes, tudo quanto existe em nossa volta é formado de partículas infinitesimais chamadas átomos que, por sua vez, são constituídos de outras tantas partículas, também, infinitamente pequenas.

Os átomos, segundo as deduções da ciência contemporânea, deixaram de ser “coisas” que possam ser descritas, porque no nível atômico, segundo o grande físico Werner Heisenberg, “o mundo objetivo do espaço e do tempo deixa de existir e os símbolos matemáticos da Física teórica, referem-se a possibilidades, não a fatos”.13

Essa é a matéria do nosso mundo. Uma forma grosseira de energia, ou seja, energia pulsando em baixíssimo padrão vibratório. Entretanto, a ciên-cia deste século, ao estudar a constituição íntima da matéria, deu-nos a co-nhecer, a partir do átomo e de suas partículas, outros estados mais delicados, como o gasoso e o radiante, este último descoberto por William Crookes. Considere-se, ainda, os raios, correntes, as ondas e as vibrações diversas que também são formas mais finas de matéria, invisíveis ao olhar humano.

O espírito Emmanuel, orientador da missão mediúnica de Francisco Cândido Xavier, afirma, em prefácio do livro Nos domínios da mediunidade, que “o corpo de carne ficou reduzido a um turbilhão atômico, regido pela consciência”.14 E todo corpo tangível, nos reinos conhecidos, nada mais é do

13 Hernani T. Sant’anna & Espírito Áureo, Universo e vida, p. 19.14 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Nos domínios da mediunidade, p. 8.

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que uma porção concentrada de energia, vivificada pelo princípio anímico. No mesmo prefácio, esse espírito ainda diz que os cientistas do nosso século transformaram-se,

“sem o desejarem, em sacerdotes do espírito (o destaque é nosso), isto porque as suas investigações, nesse campo, destruíram o materialismo, exatamente por falta de ma-téria, a base de todas as suas especulaçães negativistas”. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Nos domínios da mediunidade, p. 8)

No livro E a vida continua…, o autor coloca nos lábios do Irmão Cláudio, um dos personagens do texto, a seguinte ponderação: “Qualquer aprendiz de ciência elementar, no planeta, não desconhece que a chamada matéria densa não é senão a energia radiante condensada.” Em última análise, che-gamos à conclusão de que a matéria é “luz coagulada”, substância divina, que nos sugere a onipresença de Deus. “O futuro, em verdade, pertence ao es-pírito. E quanto mais o homem evolui, mais ele conclui pela inexistência da morte como cessação de Vida.”15

Há, portanto, outras formas de matéria muito mais sutis do que as mais tênues, conhecidas em nosso mundo, e é essa matéria que vamos encontrar nos Planos Espirituais que se seguem à crosta terrestre. Matéria, sim, mas num padrão vibratório muito mais vaporoso e quintessenciado. Essa matéria não é vista por nós, seres humanos, mergulhados nas substâncias grosseiras deste mundo. Já os médiuns, que vivem “entre os dois mundos” – o mate-rial e o espiritual –, se possuidores de faculdades de vidência, conseguem enxergar a matéria astral e os Espíritos que aí vivem em outras dimensões vibratórias.

É por isso que, nas regiões celestes fronteiriças à crosta terrestre, há casas, edifícios, carros, transportes coletivos diversos, utensílios e móveis, minerais, vegetais, animais, tudo, enfim, que existe aqui na Terra, e em formas muito mais aperfeiçoadas do que as que encontramos em nosso mundo.

E, para os que vivem nessa outra dimensão, essa forma mais tênue de ma-téria nada tem de transparente ou inconsistente. Os Planos Espirituais, para aqueles que os habitam, não são feitos de “névoa” ou de “fumaça”. Os que lá

15 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, E a vida continua…, pp. 66 e seg.

vivem, “sentem-se” uns aos outros, abraçam-se, apertam-se as mãos, são tão concretos como nós, vivendo uma Vida autêntica, dinâmica, verdadeira.

Nos planos mais elevados do Mundo Invisível, a matéria continua a vi-brar em padrões ainda mais refinados. Espíritos purificados possuem envol-tórios de matéria tenuíssima, em dimensões inimagináveis para nós. E os pla-nos em que habitam esses Espíritos são constituídos de substâncias da mes-ma natureza, tudo compatível com o grau de evolução dessas entidades.

Um dia nós também faremos morada nesses planos mais sutis onde vi-vem os Espíritos de luz.

O amor e a sabedoria nos levarão até lá.Por enquanto, ainda estamos chumbados ao solo terrestre, semelhantes

aos avestruzes e aos pingüins que têm asas mas não voam…Quando crescermos espiritualmente seremos quais andorinhas, libran-

do-nos, suavemente, nos espaços infinitos!Os bons terão, um dia, o peso da luz! •

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16Esferas Espirituais

Planos ou Esferas Espirituais; planos de existência; primeiro, segundo e terceiro céus… Isto é o que encontraremos no outro lado da Vida.

Depois da morte, evidentemente, a situação não é a mesma para todos. Cada um que deixa este mundo, consoante o seu nível evolutivo, achar-se-á no plano ou Esfera Espiritual que “merecer”.

Ninguém atingirá, de assalto, os Planos Espirituais superiores. O céu é uma conquista lenta e gradativa do espírito em crescimento e em processo de maturação. A ele chegará o ser espiritual, caminhando com seus próprios pés ou voando com suas próprias asas. E, somente quando tivermos o céu dentro de nós é que o encontraremos nos planos do espírito.

As Esferas Espirituais interpenetram-se, mas não se misturam. E o mes-mo que acontece com as cores do arco-íris, claramente identificáveis e dis-tintas, sem se confundirem umas com as outras. Semelhantemente, temos as notas de uma sinfonia, criando perfeita harmonia para os que a ouvem, sem se embaralharem entre si. Ondas eletromagnéticas, de vários tipos, também percorrem o espaço infinito, cada uma com o seu comprimento, sem se cru-zarem, e cada aparelho receptor, de rádio ou TV, capta tão somente aquelas que sintonizam com a sua freqüência.

Os Planos Espirituais são, também, assim. Estão justapostos, sem se mis-turarem ou confundirem. São estados de existência. Não são, propriamente,

“lugares”, segundo a concepção comum. Por isso mesmo, assim como Deus está onipresente em toda a Sua criação, habitando os céus, a Terra, e até os infernos, do mesmo modo, em qualquer ponto do espaço infinito, podem coexistir várias Esferas Espirituais.

Cada espírito, de acordo com o seu “peso específico”, ou seja, a sutile-za dos seus corpos espirituais, habitará aquele plano compatível com o seu grau de evolução. É que cada plano possui um padrão vibratório típico. É estruturado em múltiplas formas de uma mesma energia, dando origem a vários tipos de matéria.

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Para sermos absolutamente claros, poderíamos exemplificar, tomando de empréstimo a excelente comparação que o Yogue Ramacháraca utiliza em seu livro A vida depois da morte. Diz ele que “é assim como se um primeiro plano fosse formado de água-gelo; um segundo, de água-líquido e um ter-ceiro, de água-vapor, e assim por diante”.16

Por sua vez, o espírito Áureo, entidade de extraordinária elevação, em seu livro Universo e vida, fala-nos da existência de “outras formas de energia do desconhecimento da ciência terrestre: a energia mental, por exemplo, que se exprime através do pensamento”.17 E é essa energia, segundo o mesmo espírito, que “cria e organiza as esferas espirituais nas quais o espírito, em diferentes graus evolutivos, vive e se movimenta”.18

Geralmente, ao conjunto de planos ou Esferas Espirituais, dá-se o nome de Plano Astral ou Mundo dos Espíritos, denominação abrangente de todas as esferas de existência que se estendem além da crosta terrestre, incluindo os planos denominados “superiores”, cuja natureza é, ainda, uma incógnita para a mente humana em seu atual estágio evolutivo.

Não é o objetivo deste livro descrever os variados planos de existência que se desdobram além da Vida material. Fixar-nos-emos, apenas, naqueles que são adjacentes à Terra, também chamados planos de continuidade ou de seguimento da Vida material. Estes são habitados por “homens e mulheres” que deixaram, neste mundo, seus corpos materiais, passando a constituir uma “outra humanidade”, apenas sem o veículo carnal.

Podemos elevar-nos de uma esfera a outra, como também descer a pla-nos inferiores. Essas expressões, entretanto, não possuem um significado literal. Não se faz isto como se sobe ou desce os degraus de uma escada. Sobe-se ou desce-se de plano pelo aumento ou diminuição do nosso padrão vibratório, conforme acontece com as ondas eletromagnéticas.

Vejamos mais um exemplo que extraímos do livro do Yogue Ramacháraca, acima citado: “Apertando as cordas de um instrumento musi-cal, aumentamos o seu grau de vibração e teremos, assim, notas mais altas”.19

16 Yogue Ramacharaca, A vida depois da morte, pp. 25 e seg. e 67 e seg.17 Hernani T. Sant’anna & Espírito Áureo, Universo e vida, p. 17 e seg. e 67 e seg.18 Idem, ibidem.19 Yogue Ramacharaca, op. cit., pp. 26 e seg.

A exemplificação é simples, mas ajuda-nos a “intuir” o que acontece quando o espírito evolui e passa de um estado a outro.

Na Vida Espiritual, podemos enxergar aqueles Espíritos que, evoluti-vamente, estão abaixo de nós, mas não veremos os que habitam as Esferas Espirituais mais altas. Sucede o mesmo que ocorre, aqui, em nosso planeta. Na Terra, não conseguimos divisar as Esferas Espirituais nem os seres que as habitam, mas estes conseguem ver-nos. Assim também, depois de dei-xarmos a Vida material, veremos tão somente os planos e os Espíritos de evolução iguais a nossa. Não enxergaremos os Espíritos superiores, embora estes consigam ver-nos perfeitamente. E, mais uma vez, o postulado budista cresce em veracidade: “Assim como é em cima é também em baixo”.

À proporção que formos crescendo espiritualmente e purificando os nossos envoltórios espirituais, iremos habitando “moradas” cada vez mais elevadas. Um dia, chegaremos próximos ao Ser Divino, podendo, “estar com Ele”, “ser Um com Ele” e seremos, então, “perfeitos como Ele é perfeito” (Mt. 5, 48), segundo o anseio de Jesus expresso no Sermão da Montanha.

Certa vez, afirmou o Cristo:

“— Na Casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar, e quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos rece-berei para mim mesmo, para que onde eu estou, estejais vós também.” ( Jo. 14, 2)

Essa promessa do Cristo, com certeza, se cumprirá! •

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17Cidades Espirituais

Depois da morte, somente encontraremos Vida plena e abundante, se-gundo as promessas do Cristo.

As almas que partem da Terra não ficam vagando, sem rumo, nas regiões celestes, nem tampouco permanecem confinadas a determinados “lugares” de sofrimento ou de ventura.

Na Natureza, tudo se encadeia de uma forma contínua e harmoniosa, e a Vida Espiritual nada mais é do que um seguimento da Vida física. Por isso mesmo, nos Planos do Espírito, vamos encontrar cidades rigorosamente pla-nejadas e de uma beleza raramente encontrada na Terra.

Outras cidades também existem, no Além, habitadas por Espíritos igno-rantes e inferiores e cujas paisagens assemelham-se às piores favelas do nos-so mundo.

Os Espíritos que deixam a Terra vivem nessas cidades. Todas elas estão vinculadas a estados ou regiões de determinados países ou, ainda, a países ou grupo de países do nosso mundo.

Num primeiro momento, no estágio evolutivo atual da humanidade ter-restre, os que deixam o corpo carnal não vão, todos, para o mesmo “lugar”, isto é, para a mesma Esfera Espiritual. A Natureza obedece rigorosamente a princípios de seqüência. Os que morrem em cidades do Norte/Nordeste do Brasil, por exemplo, vão para cidades espirituais vinculadas a essas re-giões. Lá, dentro dos mesmos princípios de continuidade, vão encontrar usos e costumes próprios dessas regiões e falarão a mesma língua que aqui falavam.

As cidades espirituais superiores são modelos de administração. Via da regra, esta é exercida por um dirigente, possuidor de méritos inquestioná-veis, assessorado por colegiados de Espíritos constituindo Departamentos ou Ministérios.

Os critérios de escolha dos governantes dessas cidades, bem assim de todos os seus colaboradores, radicam-se sempre no mérito pessoal, fruto

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da evolução moral e espiritual dos indicados. São também levados em con-sideração a competência e as aptidões desenvolvidas para a execução dos mais diferentes tipos de tarefas. Ninguém atinge os quadros administrativos dessas urbes, sem passar por uma rigorosa triagem, feita por Espíritos pu-rificados, prepostos de Jesus, o Governador do nosso mundo e de todas as regiões espirituais que lhe são adjacentes.

A organização administrativa dessas cidades é perfeita, com serviços de utilidade pública rigorosamente definidos e funcionando, eficiente e harmoniosamente. Dentre esses serviços, cabe destacar os de Transporte, Iluminação, Abastecimento d’Água, Educação, Saúde, inclusive Parques Industriais para a produção de vestuário e alimento.

A única coisa que não existe, nas cidades espirituais, é o comércio lucra-tivo com a movimentação de dinheiro. A moeda que circula, no outro lado, é a do mérito pessoal, é a do serviço efetivamente prestado à cidade e a sua população.

Tomando como exemplo a cidade Nosso Lar, descrita minuciosamente pelo espírito André Luiz, no livro do mesmo nome, recebido psicografica-mente pelo médium Francisco Cândido Xavier, ali, por cada hora de serviço prestado, cada um de seus habitantes, desde o Governador ao mais humil-de servidor, recebe “bônus-hora”. São fichas comprobatórias das horas de trabalho e que valem como o único meio de aquisição de certos bens. Por outro lado, trazem vantagens de ordem moral e espiritual para aqueles que os conquistam. (ver Capítulo 32, “O Trabalho dos Espíritos”)

Os três reinos que existem na Terra continuam a existir no Além. Daí porque, nessas cidades, “no solo mineral de outro padrão vibratório”, desen-volvem-se árvores encantadoras, bem como animais de espécies conhecidas e até desconhecidas em nosso mundo.

As cidades espirituais são colméias de trabalho ininterrupto. O ócio ali não tem vez. E os que trabalham avançam para os reinos de luz. Os ociosos, estacionam em sua escala da evolutiva.

Até aqui temos falado de cidades espirituais que denominamos de su-periores, cuja população é constituída de Espíritos que já despertaram ou estão despertando para os valores mais altos da Vida. São entidades que já abandonaram as zonas mais baixas, por revelarem sinais de uma sincera renovação espiritual.

Falemos, agora, das cidades que se erguem nas zonas espirituais inferio-res, para onde se dirigem, todos os dias, milhares e milhares de Espíritos que deixam o nosso mundo ainda materializados e escravos das mais baixas paixões.

Tais cidades não possuem nenhuma organização. Assemelham-se, como já dissemos, às piores favelas deste mundo, habitadas por marginais de toda espécie. Caracterizam-se por possuírem rústicas edificações, distribuídas sem qualquer planejamento, através de becos e ruelas estreitas, com barra-cos improvisados, luzes mortiças e áreas de sinistro aspecto, exalando odo-res fétidos. Nas vias públicas, há toda espécie de Espíritos nas mais precárias condições espirituais, inclusive doentes de vária natureza, tais como alei-jados, neuróticos, psicóticos, etc. Outros, ainda, caminham sem rumo ou jazem entregues às mais torpes viciações.

Nessas cidades inferiores, surgem, por vezes, aqui e ali, algumas rudi-mentares organizações de serviços que funcionam de forma incipiente e improvisada. São, geralmente, governadas por Espíritos impiedosos e cruéis, com poderes que lhes são concedidos, precariamente, pelas autoridades es-pirituais superiores sobre Espíritos infelizes, preguiçosos, viciados e delin-qüentes. (ver Capítulo 20, “Regiões Purgatoriais e Infernais”).

A lei divina pode, por vezes, utilizar os trabalhos de entidades imperfei-tas e enfermiças para corrigir outros Espíritos também endurecidos e bru-talizados. O mesmo ocorre em nosso mundo, onde carcereiros rudes e até cruéis, prestam valioso serviço nas penitenciárias da Terra. Pela sua própria natureza, tal trabalho jamais poderia ser desempenhado por pessoas de ele-vação moral e espiritual. O diamante lapida o diamante e, em determinadas circunstâncias, o mal pode corrigir o mal.

A rigor, nem podemos falar de cidades espirituais nessas zonas inferiores, mas num conglomerado de casas e/ou barracos onde a dor, a angústia, o desespero e a infelicidade são a tônica dos seus habitantes. E, mais uma vez, verifica-se a grande semelhança da Vida, na Terra e nos Planos Espirituais que a ela se seguem. Aqui e lá, as mais diversificadas paisagens, cada uma exteriorizando o nível mental dos seus habitantes.

Todavia, a misericórdia de Deus preenche o Universo inteiro. O Criador está presente a tudo o que se passa em Sua Obra, e aguarda, pacientemente,

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a transformação de Seus filhos rebeldes e insubmissos. Basta uma faísca de renovação, e a Sua luz far-se-á presente para amparar, redimir e transformar.

Apenas para ilustrar o que dissemos acima, sobre as cidades espirituais, e também para demonstrar que nada disso constitui novidade, passaremos a transcrever pequenos trechos de livros mediúnicos, recebidos em épocas diversas, em países diferentes, os quais ratificam tudo quanto, hoje em dia, se sabe sobre a Vida Espiritual.

Em setembro de 1913, o Reverendo G. Vale Owen, à época, Vigário de Oxford, Lancashire, Inglaterra, começava a receber, mediunicamente, relatos sobre a Vida no Além, ditados por sua mãe, falecida em 1909. Essas mensa-gens foram reunidas em vários livros, sendo o primeiro A vida além do véu

– As regiões inferiores do céu. Eis alguns trechos dessa obra:

Na primeira esfera de luz, encontramos árvores e flores, como as que nascem nos jardins da Terra. Flores e árvores mais belas, que não emurchecem, que não mor-rem, que formam parte integrante de nossa Vida. Em torno de nós há pássaros e animais. Conservam-se, ainda, amigos do homem, de quem estão mais próximos. São mais inteligentes (que os da Terra) e já não sofrem os temores nem padecem as crueldades que experimentavam no planeta. Encontramos casas e jardins, po-rém, de substância, cor e atmosfera mais de acordo conosco. A água borbulha com sonoridades musicais. Há maior harmonia de cores. Tudo é mais radiante, mais alegre, mais interessantemente complexo, e, não obstante estar a nossa atividade multiplicada, é a nossa Vida mais remansosa. (Rev. G. Vale Owen, A vida além do véu, pp. 24 e 123)

Avistamos a cidade e descemos em frente à porta principal, pela qual penetramos na principal rua. Esta cortava toda a cidade e saía em outra porta, no lado opos-to. De cada lado desta rua larga, havia grandes casas ou palácios, em terrenos es-paçosos (…) Quando vínhamos em direção à cidade, notamos diversas pessoas (Espíritos) trabalhando nos campos e, também, muitos edifícios, que não eram evidentemente residências, mas tinham algum fim útil. E, agora, que estávamos dentro dos seus muros, vimos a perfeição, tanto das construções, como da horticul-tura. Cada casa tinha um jardim típico, em harmonia com ela, tanto na cor, quanto no formato (…) Depois de caminharmos um pouco, entramos numa grande praça,

onde belas árvores cresciam em prados da mais verde grama e as fontes formavam um conjunto harmonioso. (Idem, ibidem)

No livro, Testemunho de luz, proveniente, como bem diz a médium, “da men-te sobrevivente de Frances Banks, M.A.”, vamos encontrar descrições seme-lhantes da outra Vida, nestes termos:

Temos um novo lar. Partilho, com outros do grupo, uma propriedade muito linda. Este lugar tem amplos gramados em declive, árvores e flores da mais primorosa beleza, e avenidas de luz. Não tenho outras palavras para descrevê-lo. (…) A mú-sica das esferas ecoa ao longo destas avenidas e torna-se uma glória que arrebata nossos pensamentos e aspirações para a contemplação dos Mistérios da Divindade e da Vida Eterna. (Helen Greaves e Espírito Frances Banks, M.A., Testemunho de luz, p. 145)

No livro O mundo que eu encontrei, vamos encontrar outros relatos seme-lhantes aos precedentes, recebidos do espírito Luiz Sérgio, através da mé-dium Alayde de Assunção e Silva, a partir do ano de 1980:

Prometi que faria uma descrição da cidade onde vivo. Realmente pode-se chamar assim, embora não seja muito grande. É um local de trânsito. Isto significa que não paramos muito nela. Já me disseram que, de lá, ou se reencarna ou se muda para outras, de acordo com as possibilidades de cada um. (…) Fui até lá conduzido por amigos, assim que tive de me afastar (da Vida material), depois que tudo terminou (quando ele morreu). Cheguei inesperadamente e me senti entrando num oásis de luz, não produzida por lâmpadas, mas emitida pelo conjunto de casas, ruas e tudo o mais. Sim, há casas e prédios austeros, mas não sombrios. A luz penetra ou é irradiada por tudo. Durante o dia, há Sol e, quando ele desce, a luz difusa continua. (…) Percorri tudo o que pude: ruas, jardins, examinando cada casa, observando as pessoas que caminhavam como eu também, procurando conversar com elas e perguntar tudo o que eu queria saber. (…) Se você imaginar umas ruas sem traça-do uniforme, onde, em cada curva, você encontra um belo espetáculo da Natureza, emoldurando uma construção branca e brilhante, terá feito dela (da cidade) uma pálida imagem. (…) De que são feitas as construções? Do mesmo material que for-

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ma a solidez em que nos firmamos para caminhar. Foi só o que pude saber. (Alayde de Assunção e Silva e Espírito Luiz Sérgio, O mundo que eu encontrei, pp. 34 e seg.)

A descrição mais completa e pormenorizada de uma “cidade, no Além”, é a que fez o espírito André Luiz acerca da colônia espiritual onde vive atu-almente e que tem o nome de Nosso Lar, título de um livro de sua autoria. Nessa obra, ele conta todos os seus passos, no outro lado da Vida, depois do decesso de seu corpo, neste mundo.

O livro, Nosso Lar, foi publicado, pela primeira vez, em 1944, pela Federação Espírita Brasileira, e as narrações que ele contém sobre a Vida Espiritual confirmam todos os relatos recebidos em outros países, por di-ferentes médiuns. Esta obra tem a garantia de ter sido psicografada por um médium da maior idoneidade, respeitado, hoje em dia, pelos profitentes de todas as religiões, em nosso país: Francisco Cândido Xavier. Trata-se de um

“best seller”, com mais de um milhão de exemplares vendidos.Seguem-se alguns trechos desse livro:

Deleitava-me, agora, contemplando os horizontes vastos, debruçado às janelas espaçosas (do Parque Hospitalar em que ele estava internado). Impressionavam-me, sobretudo, os aspectos da Natureza. Quase tudo, melhorada cópia da Terra. Cores mais harmônicas, substâncias mais delicadas. Forrava-se o solo de vegeta-ção. Grandes árvores, pomares fartos e jardins deliciosos. Desenhavam-se montes coroados de luz em continuidade à planície onde a colônia repousava. (…) A pe-quena distância, alteavam-se graciosos edifícios. Alinhavam-se a espaços regulares, exibindo formas diversas. Nenhum sem flores à entrada, destacando-se algumas casinhas encantadoras, cercadas por muros de hera, onde rosas diferentes desabro-chavam, aqui e ali, adornando o verde de ambientes variados. Aves de plumagens policromas cruzavam os ares e, de quando em quando, pousavam, agrupadas, nas torres muito alvas, a se erguerem retilíneas, lembrando lírios gigantescos, rumo ao céu. Das janelas largas, observava, curioso, o movimento do parque. Extremamente surpreendido, identificava animais domésticos, entre as árvores frondosas, enfilei-radas no fundo. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Nosso lar, pp. 38 e seg.)

No capítulo intitulado “Organização de Serviços”, diz, ainda, o mesmo autor:

Impressionou-me o espetáculo das ruas. Vastas avenidas, enfeitadas de árvores fron-dosas. Ar puro, atmosfera de profunda tranqüilidade espiritual. Não havia, porém, qualquer sinal de inércia ou de ociosidade, porque as vias públicas estavam repletas. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Nosso lar, pp. 42 e seg.)

Por último, transcreveremos outro relato do espírito André Luiz, através do mesmo médium, incluído no livro Libertação:

Adiantamo-nos, caminho afora, como se fazia possível. Em minutos breves, pene-tramos vastíssima aglomeração de vielas, reunindo casario decadente e sórdido. Rostos horrendos contemplavam-nos furtivamente, a princípio, mas, à medida que varávamos o terreno, éramos observados, com atitude agressiva, por transeuntes de miserável aspecto. Alguns quilômetros de via pública, repletos de quadros deplorá-veis, desfilaram a nossos olhos. Mutilados às centenas, aleijados de todos os matizes, entidades visceralmente desequilibradas ofereciam-nos paisagens de arrepiar. (…) Um médico do mundo surpreenderia, aqui, às centenas, casos de amnésia, de psi-castenia, de loucura, através de neuroses complexas, alcançando a conclusão de que toda a patogenia permanece radicada aos ascendentes de ordem mental. (…) Notei a existência de algumas organizações de serviços que nos pareceriam, na esfera car-nal, ingênuas e infantis, reconhecendo que a ociosidade era, ali, a nota dominante. (…) Subimos, dificilmente, a rua íngreme e (…) a paisagem alterou-se. Palácios estranhos surgiam imponentes, revestidos de claridade abraseada, semelhante à auréola de aço incandescente. Praças bem cuidadas, cheias de povo, ostentavam carros soberbos, puxados por escravos e animais. Liteiras e carruagens transporta-vam personalidades humanas, trajadas de modo surpreendente, em que o escarlate exercia domínio, acentuando a dureza dos rostos que emergiam de singulares in-dumentos. E enquanto nos movimentávamos, admirávamos o suntuoso casario em contraste chocante com o vasto reino de miséria que atravessáramos. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Libertação, pp. 57 e seg.)

Diante de descrições tão vivas sobre os Planos Espirituais, superiores e in-feriores, concluímos com o próprio André Luiz que afirma em uma de suas

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obras: “O homem não encontrará na morte mais do que a Vida e nesse mis-terioso umbral a sua maior surpresa será o encontro de si mesmo!” • 18

Solos Espirituais

Em vários capítulos deste livro, temos feito referência a paisagens espiri-tuais que se descortinam após a morte física, revelando uma Vida em

“quase tudo” semelhante a do nosso planeta. Essa Vida, em muitos casos, é mais aperfeiçoada do que a da Terra, especialmente naquelas esferas habita-das por Espíritos mais evoluídos.

Temos, ainda, feito alusão à existência, nesses planos, de casas, edifícios, parques hospitalares, bosques, jardins, árvores, viaturas, estradas, em suma, a tudo quanto existe nas mais modernas urbes do nosso mundo.

E lógico e evidente que todos esses implementos têm de estar, de certo modo, fincados a um solo ou, pelo menos de existirem em referência a ele.

Geralmente, ao cogitarmos dos Planos Espirituais, vem sempre a nossa cabeça a idéia de uma Vida aérea, onde os que lá estão, flutuam no espa-ço, quais Espíritos errantes, voando, indefinidamente, sem ponto fixo de chegada.

Não! Não é bem assim que as coisas acontecem no outro lado da Vida.Se, no Além, há cidades perfeitamente organizadas e plenas de Vida in-

tensa, tais metrópoles, com todos os seus apetrechos, têm de existir sobre uma base relativamente sólida. E assim é. O solo espiritual é formado de matéria astral, sutil, numa perfeita correspondência com todas as coisas lá existentes, também formadas da mesma matéria.

Por isso mesmo, os corpos dos Espíritos, bem assim as edificações e de-mais objetos existentes nas Esferas Espirituais são tão concretos para as al-mas quanto as substâncias que formam o solo da Terra – a areia, o calcário, a argila e a matéria orgânica – o são para nós. Desse modo, os Espíritos que caminham, volitam e labutam nesse solo, têm a mesma sensação de solidez que nós experimentamos no mundo de matéria grosseira em que vivemos.

Quem mais fez luz sobre essa temática dos solos astrais foi o espírito Lucius, no singular livro Cidade no além. Diz-nos esse espírito que a Terra é um imenso imã, com o seu campo magnético próprio e extremamente ativo,

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dentro do qual estão todas as Esferas Espirituais adjacentes e distantes do planeta, esferas essas que se vão tornando mais e mais tênues, à proporção que se afastam da superfície da Terra.

Entretanto, como adiante esclarece o mencionado espírito, a partir da superfície da Terra até os limites mais sutis dos Planos Espirituais,

“os continentes e mares se projetam e, onde o espírito estiver situado pela sua identidade vibratória, seja onde for, nesse vasto espaço magnético, sob os seus pés terá terra firme e sobre a sua cabeça, céu aberto”. (Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha e Espíritos André Luiz e Lucius, Cidade no além, p. 70)

Há muita lógica no que nos informa esse espírito. Se não, vejamos: vivemos sobre o solo da Terra. Sabemos que a Vida pulula nas Esferas Espirituais que estão acima de nós, mas não vemos esses planos nem os seres que os habi-tam. Tão somente enxergamos a abóbada azul, bordada de nuvens durante o dia e, à noite, marchetada de estrelas.

Nos Planos Espirituais, tudo acontece analogicamente. Os Espíritos que vivem nas regiões espirituais inferiores pisam em solos etéreos grosseiros. Por não poderem ver, pelo seu baixo padrão vibratório, as esferas e os se-res que lhes estão acima, apenas visualizam um céu sobre as suas cabeças e, assim, acontece, sucessivamente, nos solos mais etéreos de outras Esferas Espirituais.

Há, portanto, tantos solos, mais ou menos rarefeitos, quantos forem os Planos Espirituais, e os que vivem sobre esses solos não causam qualquer transtorno aos que lhes estão acima, cercados de matéria mais leve, numa outra faixa vibratória.

Se há “chão sólido”, “terra fértil”, “vegetação farta” e “construções diver-sas” em solos etéreos acima de nós, poderíamos ter a impressão de que vi-vemos no interior da Terra, envolvidos por faixas ou cintas de matéria mais delicada, invisíveis ao olhar humano.

O fato é que a Vida estua, por toda parte, em manifestações inusitadas e surpreendentes, num espetáculo multiforme de beleza e perfeição propor-cionado pela sabedoria e grandeza do Criador! •

19As Trevosas Regiões Subcrostais

Não é sem razão de ser que as teologias tradicionais situam o inferno nas profundezas da Terra, e o céu, muito além das estrelas.

As gradações evolutivas dos Espíritos, assim como as involutivas, são infinitas.

Neste mundo, há seres que se brutalizaram tanto, atingindo níveis tão baixos de degradação que, ao deixarem a roupagem física, não têm condi-ções nem de permanecerem nas regiões espirituais inferiores, limítrofes ao plano físico. Assim como os morcegos, os bacuraus, os gambás e outros ani-mais notívagos, esses Espíritos infelizes não podem suportar qualquer raio de luz, e mergulham na mais completa escuridão, fugindo, até mesmo, das regiões semi-obscuras do astral inferior.

Tais Espíritos, decaídos ao extremo e que, quando na carne, foram ho-mens e mulheres cruéis, desalmados, pervertidos, hipócritas, viciados, bus-cam, animalescamente, as grutas e cavernas existentes nos planos subcros-tais. Ali, em grupo afins, ocultam-se, comprazendo-se nas degradações mais torpes, num estado de infelicidade e perturbação dos quais não podemos fazer a mínima idéia.

A primeira vista, poderia até parecer que esses Espíritos involuíram, ante o estado deplorável em que se encontram. Entretanto, como os Espíritos su-periores disseram a Allan Kardec: “O espírito não involui. O rio não retorna a sua nascente…”20

Em futuro próximo ou remoto, o Senhor concederá a esses seres espi-rituais múltiplas oportunidades de refazerem o seu caminho, na própria Terra ou em mundos ainda mais inferiores. Pela lei das vidas sucessivas, es-ses Espíritos recalcitrantes no erro conseguirão retomar os estágios evoluti-vos que já tinham alcançado, e seguir na direção de melhores destinos. “Os pecados podem ser vermelhos como o escarlate, mas tornar-se-ão brancos

20 Allan Kardec, O livro dos Espíritos, p. 612.

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como a neve” (Is. 1, 18), diante da infinita misericórdia de Deus. É o que nos diz a Sagrada Escritura.

As regiões habitadas por esses Espíritos são as mais inferiores dos Planos Espirituais. Lá não estão somente as almas infelizes, provenientes da Terra. Outras que continuavam o seu processo evolutivo nos Planos Espirituais, tendo já quitado uma boa parte de suas dívidas para com o planeta, podem, ainda, precipitar-se em quedas desastrosas, indo, de degrau em degrau, mer-gulhar nessas furnas infernais, no interior da Terra.

Abordando essa temática no seu livro Nosso Lar, assim se expressa o es-pírito André Luiz:

— A Terra não é somente o campo que podemos ferir ou menosprezar a nosso bel-prazer. É organização viva. Possui leis que nos escravizarão ou libertarão, se-gundo as nossas obras. A alma esmagada de culpas não poderá subir à tona do lago maravilhoso da Vida. Quem estime viver exclusivamente nas sombras, embotará o sentido divino da direção. O abismo atrai o abismo e cada um de nós chegará ao local para onde esteja dirigindo os seus próprios passos. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Nosso lar, pp. 217–218)

O que expusemos até agora, equivale a dizer, dentro do espírito do Evangelho, que “tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gal. 6, 7). É que o mal, o erro, o pecado, o inferno não são criações de Deus. O Pai Celestial é só amor, doçura, misericórdia e bondade. Entretanto, com a liber-dade, patrimônio inapreciável do ser racional, o espírito em evolução tem o direito de fazer as suas opções e é, em virtude desse direito, que surgem as zonas purgatoriais e infernais, exteriorizações do purgatório e do inferno que cada um carrega dentro de si mesmo.

Todavia, nunca será demais repetir: a misericórdia de Deus está presente e manifesta-se em toda a Sua Criação infinita. E Jesus sentenciou: “— É a vontade de vosso Pai Celeste que não perca um só destes pequeninos.” (Mt. 18, 14) •

20Regiões Purgatoriais e Infernais

Bons e maus não podem ter o mesmo destino após a morte. É uma ques-tão de bom senso e de justiça. O próprio Jesus disse, certa vez, ao pro-

por aos seus discípulos a parábola do juízo final ou do grande julgamento: “E irão estes para o castigo eterno, porém os justos para a Vida eterna” (Mt. 25,46). Portanto, conforme a promessa do Cristo, os bons verão a glória de Deus. Os maus “serão lançados na fornalha acesa. Ali haverá pranto e ranger de dentes”. (Mt. 13, 42)

As teologias tradicionais concebem um inferno eterno, de sofrimentos atrozes, Ali, os pecadores sofrem horrores, entre labaredas ardentes, lagos de azeite fervente, pântanos nauseabundos e diabos a espetarem os conde-nados com tridentes afiados.

Semelhante ao inferno, o purgatório dessas teologias é descrito como um lugar repleto de almas em sofrimento transitório, num processo de purifica-ção a fim de terem acesso ao céu.

O céu, dentro dessa mesma linha de pensamento, é sempre descrito como uma estância plácida e serena onde se louva a Deus. Reunião de al-mas santificadas que se amam entre si e que, ali estão, eternamente, cercadas de anjos, arcanjos e de todos os santos e apóstolos, em estado de graça, na presença de Deus.

A Doutrina Espírita comprova que nas Esferas Espirituais, existe tudo que é descrito pelas teologias sobre as três situações das almas, após a mor-te… e mais alguma coisa. É que o espírito, consoante os sentimentos que dele se irradiam, “vive na onda espiritual com a qual se identifica, criando, para si próprio, o seu céu ou o seu inferno”.21

As regiões purgatoriais são vastas, para não dizer, vastíssimas e habitadas por Espíritos endividados perante a lei divina. São eles de todos os tipos: perversos, ignorantes, viciosos, irresponsáveis, zombeteiros, ociosos, vadios,

21 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Ação e reação, pp. 12 e seg.

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brincalhões, semelhantes aos homens e às mulheres que foram, quando estavam, com a veste de carne, em nosso mundo. A essas regiões, André Luiz denominou, genericamente, de “Umbral” – o pórtico de entrada para o “Mundo dos Espíritos” – com seu início na superfície do planeta, expan-dindo-se em todas as direções.

O espírito Efigênio S. Victor, em mensagem contida no livro Instruções psicofônicas, diz-nos que essas regiões purgatoriais se estendem até 50 qui-lômetros acima da superfície terrestre, formando o que ele chama de “cinta densa”. Mais além, começa o que ele denomina de “cinta leve”, com uma extensão de 1.000 quilômetros, para cima.22

Os Espíritos que permanecem nessas regiões purgatoriais, necessitam “queimar” resíduos mentais inferiores, provenientes de uma Vida, na Terra, caracterizada pelo materialismo e conseqüentes desvios da lei divina. Na realidade, esses Espíritos estão num processo de purgação, isto é, limpando as suas mentes e seus envoltórios espirituais, a fim de que, diminuindo de

“peso”, possam adejar em esferas mais altas.Nessas regiões, faz-se a limpeza moral desses Espíritos, a fim de que,

mais tarde, possam ser admitidos em instituições especializadas dos Planos Espirituais, onde reiniciarão a sua educação, tomando consciência do seu glorioso destino que é a perfeição no seio de Deus.

Os sofrimentos, no Além, dos que se desviam do caminho reto e pra-ticam, neste mundo, conscientemente, o mal, são inconcebíveis para nós, seres humanos. É que, depois da morte, a sensibilidade do espírito torna-se exacerbada e tudo por que ele passa, em termos de gozo ou de sofrimento, atinge proporções inimagináveis.

Nas zonas purgatoriais e infernais, existe tudo quanto as teologias escre-veram sobre o purgatório e sobre o inferno. Espíritos sofredores rastejam em pântanos mal cheirosos e habitam abismos, onde a promiscuidade é a tônica. Permanecem, por vezes, cegos para a matéria astral, nada enxergando das paisagens que os cercam, mas, sendo constantemente assediados por remoques, ironias e impropérios de Espíritos perversos e vingativos. A fome, a sede e outras necessidades físicas atormentam, até ao desespero, esses Espíritos infelizes que, por sua própria culpa, foram parar nessas regiões.

22 Francisco Cândido Xavier & Espíritos diversos, Instruções psicofônicas, pp. 128 e seg.

Ali o tempo custa a passar. Um minuto é como se fosse um dia, uma hora, um ano, um século, um milênio. E nada disto é castigo de Deus. Cada um está colhendo o que plantou aqui na Terra. Homens que foram mesquinhos, invejosos, viciados, maledicentes, vingativos, cruéis, hipócritas e perversos, agora, na condição de Espíritos livres, não podem se sentir bem nem de-sejar merecer a companhia dos anjos. Os semelhantes se atraem. É a lei. E assim vão surgindo os infernos que nada mais são do que a exteriorização dos sentimentos inferiores e dos pensamentos em desequilíbrio das almas invigilantes e comprometidas com o mal. E, como o pensamento é criador, as paisagens, nessas regiões purgatoriais e infernais, são as mais dolorosas e horripilantes.

Todavia, nenhum espírito que habita essas regiões, ali permanecerá eter-namente. O tempo que ficarão, nessas paisagens de dor e sofrimento, varia de acordo com as transformações que se forem operando no íntimo de cada um, em direção aos valores mais altos do bem e do amor.

Como todas as criaturas a quem Deus concedeu o dom da Vida são per-fectíveis, isto é, potencialmente destinadas à perfeição, aos poucos, esses Espíritos infelizes irão sentindo a necessidade de palmilhar a estrada estrei-ta que conduz à felicidade e à paz. E, ante a mais simples melhora deles, Espíritos bondosos e missionários, estarão sempre em visita a essas plagas, amparando e recolhendo os que revelarem, sinceramente, o mínimo de re-novação interior. Estes serão conduzidos a instituições socorristas do Além, onde cada um iniciará a sua renovação espiritual, preparando-se para novas experiências reencarnatórias presididas pela lei do carma.

Em suma, inferno e purgatório existem, mas não são eternos. Esta é a tese espírita. E isto parece confirmar as palavras de Jesus quando afirmou:

“E a vontade daquele que me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que Ele me deu.” ( Jo. 6, 39)

Ao fim do capítulo, tivemos a inspiração dos mentores espirituais para incluirmos algumas descrições feitas por Espíritos, através de médiuns con-fiáveis, dessas regiões espirituais inferiores:

…Penetramos vasto domínio de sombras. A volitação fácil se fizera impossível. A vegetação exibia aspecto sinistro e angustiado. As árvores não se vestiam de folha-gem farta e os galhos, quase secos, davam a idéia de braços erguidos em súplicas

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dolorosas. Aves agoureiras, de grande tamanho, de uma espécie que poderá ser situada entre os corvídeos, crocitavam em surdina, semelhando-se a pequenos monstros alados espiando presas ocultas, O que mais contristava, porém, não era o quadro desolador (…) e sim os apelos cortantes que provinham dos charcos. Gemidos tipicamente humanos eram pronunciados em todos os tons. Acredito, teríamos examinado individualmente os sofredores que aí se localizavam, se nos entregássemos à detida apreciação… (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Libertação, pp. 52 e seg.)

Centenas de milhares de criaturas aqui padecem amargos choques de retorno à realidade, sob a vigilância de tribos cruéis, formadas de Espíritos egoístas, inve-josos e brutalizados. Para a sensibilidade medianamente desenvolvida, o sofrimen-to aqui é inapreciável. (…) A direção, neste domínio, é concedida pelos Poderes Superiores, a título precário. Na atualidade, este grande empório de padecimentos regenerativos permanece dirigido por uma sátrapa de inqualificável impiedade, que aliciou para si próprio o pomposo título de Grande Juiz, assistido por assessores políticos e religiosos, tão frios e perversos quanto ele mesmo. Grande aristocracia de gênios implacáveis aqui se alinha, senhoreando milhares de mentes perigosas e enfermiças… (Idem, ibidem)

Em minutos breves, penetramos vastíssima aglomeração de vielas, reunindo ca-sario decadente e sórdido. Rostos horrendos contemplavam-nos furtivamente, a princípio, mas, à medida que varávamos o terreno, éramos observados, com atitude agressiva, por transeuntes de miserável aspecto. (…) Mutilados às centenas, alei-jados de todos os matizes, entidades visceralmente desequilibradas ofereciam-nos paisagens de arrepiar. (…) Eu sabia que semelhantes criaturas não envergavam corpos carnais e que se congregavam num reino purgatorial, em beneficio pró-prio; entretanto, vestiam-se de roupagens de matéria francamente imunda. (…) Plantas exóticas, desagradáveis ao nosso olhar, ali proliferavam, e animais em cópia abundante, embora monstruosos, se movimentavam a esmo… (…) Becos e des-penhadeiros escuros se multiplicavam em derredor, acentuando-nos o angustioso assombro. (Idem, ibidem)

Ventania ululante, carreando consigo uma substância escura, semelhante à lama aeriforme, remoinhava com violência, em torvelinho estranho, à maneira de treva encachoeirada… E do corpo monstruoso do turbilhão terrível, rostos humanos

surdiam em esgares de horror, vociferando maldições e gemidos. Apareciam de re-lance, jungidos uns aos outros, como vastas correntes de criaturas agarradas entre si, em hora de perigo, na ânsia instintiva de dominar e sobreviver. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Ação e reação, pp. 13 e seg.)

Infelizes desencantados, em despenhadeiros de dor, imploravam piedade. Monstros de variadas espécies, desafiando as antigas descrições mitológicas, compareciam, horripilantes, ao pé de vítimas desventuradas. As paisagens (…) infundiam terror. (…) Víamos soturnas procissões de seres humanos despojados do corpo, sob céus nevoentos e ameaçadores, cortados de cataclismos de natureza magnética, (…) almas desalentadas e semi-inconscientes (…) atoladas em poços escuros de lama e padecimento. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Obreiros da vida eterna, p. 22)

Indefiníveis ruídos alcançaram-nos o ouvido, e Zenóbia, pálida, calou-se igualmen-te. Em poucos segundos, tornaram-se mais nítidos. Eram gritos aterradores, como se à curta distância devêssemos afrontar hordas de enraivecidos animais ferozes. (…) A esse tempo, tornara-se enorme o vozerio. Pus-me, assombrado, a identificar rugidos estridentes de leões e panteras, casados a uivos de cães, silvos de serpentes e guinchos de macacos. (…) Não se figuravam lamentos de corações sofredores, mas algazarra de feras soltas. (…) Enraízam-se os pobrezinhos tão intensamente nas idéias e propósitos do mal e criam tantas máscaras animalescas para si mesmos, em virtude da revolta e da desesperação a lhes consumirem a alma, que adquirem, de fato, a semelhança de horrendos monstros, entre a humanidade e a irracionali-dade. (Idem, ibidem, pp. 61 e seg.)

Denso nevoeiro abafava a paisagem, sob o céu de chumbo. (…) Víamos o Sol, fundamente diferenciado, em pleno crepúsculo. Semelhava-se a um disco de ouro velho, sem qualquer irradiação, a perder-se num oceano de fumo indefinível. (…) Congregavam-se aí, longos precipícios infernais e vastíssimas zonas de purgatório das almas culpadas e arrependidas. (…) A ausência de vegetação, aliada à neblina pesada e sufocante, infundia profunda sensação de deserto e tristeza. (Idem, ibi-dem, p. 79)

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Vagavam no espaço estranhos sons. Ouviam-se perfeitamente gritos de seres sel-vagens e, em meio deles, dolorosos gemidos humanos, emitidos, talvez, à imensa distância… Aves de monstruosa configuração, mais negras do que a noite, de longe em longe se afastavam de nosso caminho, assustadiças. (…) Infinita desolação am-biente. (…) Atingimos zona pantanosa, em que sobressaía rasteira vegetação. Ervas mirradas e arbustos tristes assomavam indistinta mente do solo. Fundamente es-pantado, porém, a ladear imenso charco, ouvi soluços próximos. Guardava a nítida impressão de que as vozes procediam de pessoas (Espíritos) atoladas em repelentes substâncias, tais as emanações desagradáveis que pairavam no ar. (…) A treva di-fusa não deixava perceber minudências… (…) Figuras animalescas e rastejantes, lembrando sáurios de descomunais proporções, avançaram para a nossa caravana, ausentando-se da zona mais funda dos charcos. Eram em grande número e davam para estarrecer o ânimo mais intrépido. (Idem, ibidem, pp. 83 e seg.)

Acreditamos que tais descrições ganham, e muito, para os quadros pintados pelas teologias tradicionais, representando o purgatório e o inferno. •

21Céu e Céus – Regiões Felizes

No livro A história de Fernão Capelo Gaivota, extraordinária fábula acer-ca de um ser em busca do infinito e da perfeição, há uma passagem,

digna de registro, pela sua profundidade. Ao atingir uma região de radio-sa beleza, nos páramos do infinito, o personagem central da estória, vendo tudo ao seu redor envolvido numa atmosfera de paz e de serenidade, indaga a uma gaivota mais velha que o conduzia:

— Então, este lugar não será o Paraíso com que tanto sonhamos? Ao que o outro pássaro, mais experiente, responde, sabiamente: — Não, Jonathan, este lugar não é o Paraíso, porque o Paraíso não é um lugar nem é um tempo… O Paraíso é ser perfeito! Você o encontrará quando houver atingido a perfeição! (Richard Bach, A história de Fernão Capelo Gaivota, pp. 88 e seg.)

Eis uma grande verdade.As concepções religiosas ocidentais costumam “localizar” o céu “em

cima”, nas mais altas regiões além da Terra, e o inferno, “em baixo”, nas pro-fundezas do globo terrestre. E assim foi desde a mais remota Antigüidade.

Durante toda a Idade Média, prevaleceu a crença indiscutível, porque dogmática, na veracidade do sistema cosmogônico de Ptolomeu que admitia a existência de sete céus ou esferas concêntricas, em torno da Terra, ficando o Paraíso, propriamente dito, a chamada morada dos bem-aventurados ou

“empíreo”, acima de todas essas esferas.Àquela época, a Terra era considerada, ainda dentro da concepção pto-

lomaica, como o centro de todo o Universo conhecido. A revolução de Nicolau Copérnico, colocando o Sol no centro do sistema solar, modificou tudo. Com o sistema heliocêntrico, não há mais nada “em cima” ou “em baixo”. A Terra, juntamente com a Lua e todos os planetas e satélites que formam o sistema solar, estão “no céu”, isto é, no espaço infinito, percorren-

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do órbitas determinadas a velocidades inimagináveis. Prova disso é que os astronautas que foram à Lua, fotografaram de lá, a “Terra, no céu…”

O “céu” não é um “lugar” determinado nas regiões siderais. Isto parece ser um ponto pacífico, hoje em dia, em quase todas as religiões originárias do Cristianismo. Melhor seria, portanto, pluralizar e falar em “céus”, ou seja, Esferas Espirituais de diferentes padrões vibratórios, habitadas por Espíritos de diferentes graus evolutivos.

Eis aí o “Reino de Deus”, a “Casa do Pai”, referida por Jesus no Seu Evangelho. E nela, há “muitas moradas” ( Jo. 14, 1-27), segundo, ainda, a pala-vra do Cristo.

Por céu, no singular, deve-se entender um estado d’alma de perfeita paz de consciência, de total tranqüilidade interior, onde já se instalou um senso de justiça perfeito e uma capacidade de amar, incondicionalmente, ao nosso Criador e Pai, a todos os Seus filhos e demais seres por Ele criados. Céu é luz interior. É chama inapagável de amor. É êxtase de Deus!

Agora, se não construirmos o nosso céu interior, jamais atingiremos o céu exterior, isto é, as mais altas Moradas do Infinito, onde vivem os anjos, os arcanjos e todos os Espíritos de luz que já atingiram os últimos estágios de sua evolução. Um dia, seremos, também, como eles, porque, conquista-do o nosso céu interior, somente exteriorizaremos amor do imo de nossas almas. Tais vibrações serão o passe livre para habitarmos essas gloriosas Mansões.

Nos Planos Espirituais superiores, há regiões belíssimas, paradisíacas, encantadoras e indescritíveis. A linguagem humana será sempre pobre para descrevê-las. E elas podem estar bem pertinho de nós, mas, como a nossa faixa vibratória ainda é muito grosseira, nada divisamos dessa beleza inefá-vel. Daí a necessidade de sutilizarmos nossas vibrações, crescendo em amor e sabedoria. Aí, então, redimidos e cristificados, mergulharemos no Infinito Oceano de Deus e, segundo as promessas de Jesus, seremos Um com Ele. •

22Anjos e Demônios

Anjos são Espíritos de luz, mensageiros de Deus. Geralmente, chama-mos de anjos aqueles Espíritos que já alcançaram o mais alto grau da

escala evolutiva, reunindo em si todas as perfeições. Entretanto, eles não têm de ser, em um certo sentido, necessariamente, puríssimos Espíritos. Seres espirituais menos evoluídos transformam-se, aos poucos, com o pas-sar dos anos, também, em mensageiros divinos, guardiães e protetores dos homens. Até entre nós, que vivemos na prisão da carne, quando encontra-mos alguém a irradiar bondade e amor, nós a denominamos de anjo.

Os anjos, dentro da concepção espírita, não são seres espirituais à parte da Criação Divina, nascidos perfeitos das mãos de Deus. Não! Anjos, arcan-jos, querubins e serafins conquistaram a sua perfeição, através de séculos e milênios de evolução.

Todos os seres saídos das mãos de Deus foram criados simples, ingênuos, tendo por destino a perfeição. O Senhor da Vida nada criou para permane-cer estacionado no tempo. Seres minerais caminham, através dos evos, para o estágio vegetal. Vegetais ascendem para a animalidade. Animais, por sua vez, avançam para a racionalidade. Atingido o nível racional, os seres huma-nos e espirituais têm um só destino: a angelitude.

Nos planos materiais e espirituais, vamos encontrar a Criação Divina, em todos esses estágios. As mentes subumanas sempre submissas às men-tes racionais e estas, altamente responsáveis por aquelas. As mentes racio-nais, por sua vez, deveriam estar sempre submissas às mentes angélicas, isto é, aos Espíritos puros, prepostos de Deus e Seus colaboradores diretos no Governo da Vida. Infelizmente, pela liberdade que o Criador lhes concedeu, isto nem sempre acontece e muitos, voluntariamente, transformam-se em demônios.

Seres racionais habitam todos os planos: materiais e espirituais. Nos Planos Espirituais vamos encontrá-los nos mais diversos estágios da escalada evolutiva. Mas, à proporção que eles crescem em amor e sabedoria, vão-se

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transformando em mensageiros de Deus, em anjos guardiães, também cha-mados de Espíritos protetores, familiares, simpáticos, amigos, com a missão, por eles mesmos escolhida; de protegerem as criaturas humanas.

A missão do anjo de guarda é a mesma de um pai com relação a seus filhos: a de guiar o seu protegido pela senda do bem, auxiliá-lo com os seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, levantar-lhe o ânimo nas provas da Vida. (Allan Kardec, O livro dos Espíritos, p. 247)

Óbvio que o Criador não iria designar Espíritos puros e já completamente redimidos, para permanecerem ao lado de seres humanos, ainda imperfei-tos e involuídos. Seria o mesmo que designar um anjo para ser vigilante de prisioneiros nas masmorras do mundo.

O processo reencarnatório consolida-se até os 7 anos de Vida. Até essa fase, os anjos de guarda dedicam-se muito mais intensamente aos seus pro-tegidos. É que, até essa idade, os recém-imersos na carne, necessitam de muito maior ajuda e proteção, em virtude das inconseqüências próprias da primeira infância. Depois, essa assistência continua em menor intensidade. Na fase adulta, ela ainda acontece, desde que pautemos a nossa Vida pela divina moral contida na Lei de Deus. Se nos desviarmos do caminho reto, os nossos protetores, após algumas tentativas no sentido de nossa regeneração, afastam-se e ficaremos entregues a nossa própria sorte. Conseqüentemente, só depende de cada um de nós recebermos a assistência espiritual desses Espíritos bondosos e elevados que só querem o nosso bem e torcem pelo êxito de nossas tarefas e missões, aqui, na Terra.

Quanto aos demônios, ou anjos do mal, somos nós mesmos, seres ra-cionais criados por Deus, quando nos desviamos da lei e passamos a prati-car toda a sorte de desatinos e crueldade, tentando ameaçar o equilíbrio da Ordem Divina.

Eis porque os demônios estão por toda parte. Habitam o nosso mundo e também os Planos Espirituais inferiores adjacentes à Terra. Não há, nos rei-nos infernais, nenhum demônio-chefe com o nome de Satanás ou Belzebú. O que existe são milhares e/ou milhões de demônios, cada um pior do que outro, formando, por vezes, legiões, e que são atraídos pelos homens e mulheres do nosso mundo que compartilham com as suas imperfeições. A

sabedoria popular reflete essa verdade quando, diante de pessoas desassisa-das e em desequilíbrio, violentas e perturbadas, afirma que tais pessoas estão

“possuídas do demônio” ou, simplesmente, “com o diabo no corpo”.Deus é a fonte eterna de onde somente promanam o bem e o amor. Das

mãos do Criador não nasceram os demônios. Demônios são seres voltados para o mal, e o mal não pode provir de Deus. A treva não pode nascer da luz! Os demônios se fizeram a si mesmos demônios pelos seus desvios vo-luntários da Lei Divina. Entretanto, como o mal terá sempre uma existência efêmera dentro da Obra de Deus, um dia, após séculos e milênios de sofri-mentos, todos os demônios se converterão ao bem e se transformarão em anjos, porque, como afirmou Jesus, “das ovelhas que meu Pai me confiou, nenhuma se perderá”. (Mt. 18, 14)

É certo que os bons e os puros chegarão primeiro no seio de Deus, mas ou outros, desviados do reto caminho, também virão.

As trilhas da evolução nem sempre são como aqueles rios que têm um curso reto. Esses caminhos, por vezes, imitam as torrentes que fazem mean-dros, mas o mar será sempre o seu destino.

E, em Deus, todos, sem exceção, mergulharemos, um dia, para usufruir, eternamente, a paz e a felicidade dos anjos de luz! •

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23O Instante da Morte

A certeza de que a Vida continua após a morte, mesmo entre os crentes fervorosos de todas as religiões, inclusive os espíritas, não elimina, de

todo, o medo e apreensões acerca da passagem fatal desta para a outra Vida. Entretanto, o instante de morrer, para aquelas pessoas de Vida retilínea, no-bre, nada tem de doloroso ou assustador.

Os extremos sempre se encontram. Por isso mesmo, nascimento e morte são muito semelhantes, mas, assim como não há dois nascimentos iguais, não há, também, duas mortes idênticas.

Quando o espírito volta a este mundo, através da reencarnação, o faz num estado de inconsciência em que todas as suas faculdades permanecem, por algum tempo, em estado latente. O mesmo ocorre quando se deixa esta Vida. Uma espécie de torpor toma conta do espírito e este, raramente, tem a plena consciência do momento exato de sua transição para o outro lado. Em outras palavras, os últimos instantes da Vida material nunca são dolorosos, porque são passados, inconscientemente.

A morte é muito mais lastimosa para os que ficam, pela dor da sauda-de que sentem quando há verdadeiro amor pelos que partiram. Nascer é aprisionar-se nos planos de matéria densa. Morrer é libertar-se e penetrar nos planos mais sutis da alma.

Nascer e morrer são fenômenos absolutamente naturais. Daí porque não existe “dor da morte”, como muitos ainda crêem. Se alguma dor existe, nesse momento, advém das enfermidades cármicas ou não, contraídas pelo ser humano durante a Vida. É fato indiscutível que existe a dor do infarto do miocárdio, do rompimento de um aneurisma, de um insulto cerebral, de todos os tipos de câncer, mas a “dor da morte”, definitivamente, não existe.

Muitas vezes, as agonias que os moribundos extravasam num estado precomatoso, por exemplo, representam nada mais nada menos do que as fases gradativas do processo de desprendimento do espírito do corpo mate-rial. Para os circunstantes, pode até parecer que há sofrimento, mas, para o

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espírito em processo liberatório, são momentos de antegozo de uma liber-dade que ele está prestes a usufruir.

O espírito deixa o corpo carnal quando este não tem mais nenhuma condição de ser animado por aquele, e a morte acontece quando se rompe, definitivamente, o laço fluídico ou o “cordão prateado” que unia o espírito, através do perispírito, ao corpo material.

Todavia, há os que sofrem, amargamente, no instante da morte. São os que não querem morrer de forma alguma, porque estão gostando demais dos gozos que a Vida material lhes está oferecendo. Entre estes, incluem-se os apegados excessivamente aos bens materiais, como os avaros e os sen-suais que, por se terem descurado de sua espiritualização, angustiam-se, inquietam-se, apavoram-se diante da morte. É que, quando em Vida, em-bora tenham negado a sobrevivência do espírito, lá no ínfimo, quase incons-cientemente, crêem que a Vida não termina no túmulo. Daí, a angústia, o desconforto e o desespero dessas pessoas. Para estas, torna-se bem mais difícil o rompimento do cordão fluídico que une o espírito à matéria, e o desprendimento opera-se com grandes dificuldades porque o espírito reluta em deixar esta Vida.

Para os crentes e espiritualistas de todas as religiões, que foram bons de coração, a morte é passagem serena. É como um sono definitivo e total do qual se acorda, calmamente, para a contemplação das belezas sem par que a Vida Espiritual reserva. Esse despertar, entretanto, como temos dito, varia de pessoa para pessoa, isto é, de espírito para espírito, consoante o grau de espiritualidade de cada um.

Não se pode deixar de considerar, no instante da morte, um quadro na-tural de perturbação que varia ao infinito, de acordo com o estado moral e espiritual daquele que está deixando esta Vida. Sem educação para a morte, esse momento é de confusão e incerteza. Se, pelo contrário, o ser humano preparou-se para a transição, através de uma educação religiosa madura e racional, o instante de morrer nada tem de tétrico ou de assustador.

No momento da morte, o ser em processo liberatório participa de duas vidas: a da carne e a do espírito. Isto acontece em quase todos os casos de morte natural. É comum, então, o espírito entrever uma duplicidade de cor-pos. Naqueles instantes em que está mais liberto do que preso ao veículo fí-sico, ele enxerga o seu corpo material estendido no leito e, ao mesmo tempo,

se vê, com outro corpo, o espiritual, à pequena distância do indumento car-nal. São instantes de uma leve perturbação em que o ser que está morrendo não entende, por vezes, a situação, especialmente se não conhece um pouco da ciência do espírito com a noção de que ele, enquanto ser humano, nada mais foi do que um espírito revestido de um corpo de carne.

Importantíssimo para o espírito, nesse instante, é ter a idéia exata dos fenômenos que, com ele, estão ocorrendo, inclusive para colaborar no seu próprio desprendimento. É comum, na fase que antecede a transição defini-tiva, a visão de Espíritos de parentes e amigos que os precederam na “gran-de viagem”. De acordo com o grau de evolução daquele que está morrendo, essas visitas espirituais podem tornar-se agradáveis e estimulantes ou an-gustiantes e embaraçosas, quando aqueles que os vêm receber, são inimigos cruéis. Passam, então, a circundar o moribundo, para infligir ao espírito, em forma de vingança, toda a sorte de suplícios e atrocidades.

Entretanto, ninguém estará sozinho no instante da morte. Assim como, no nascimento, sempre há alguém por perto, desde uma simples parteira inexperiente ao mais afamado ginecologista, do mesmo modo, por ocasião da partida da alma, sempre haverá um espírito protetor, um anjo guardião, um parente distante, um pai ou uma mãe à espera. E, mais uma vez, manifes-tam-se aí a infinita misericórdia divina e o amor de Deus por todos os Seus filhos, sem distinção.

Nessa assistência que o Pai Celestial permite que todos recebam, somen-te Espíritos perversos, cruéis e desalmados, criam barreiras quase intranspo-níveis para a intercessão dos Espíritos do bem. Ficam, então, entregues a sua própria sorte, envolvidos pelas vibrações doentias de vingança e represália dos seus desafetos, e chegam a sofrer, duramente, nas mãos desses seres das trevas, até que despertem para os valores superiores do espírito.

Por oportuno, vale a referência a um belo fragmento da sabedoria orien-tal: “— Quando nasceste, todos riam, só tu choravas. Faze por viver de tal forma que, na hora da tua morte, todos chorem, só tu rias.” Para que isto também aconteça conosco, mister se faz que tenhamos vivido uma Vida cristã, nos braços da Lei de Deus.

O instante da morte é o significativo momento do retorno à verdadeira Vida. Para os que atenderam ao chamado de Jesus e seguiram o caminho por Ele apontado, cumprir-se-á, naquele momento, a visão do profeta Isaías,

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quando afirmou: “— Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais sentiu o coração humano o que Deus preparou para aqueles que o amam.” (I Cor. 2, 9) •

24Os Técnicos da Morte

A Mitologia antiga referia-se a três deusas – Cloto, Láquesis e Átropos – que fiavam, dobavam e cortavam o fio da Vida, por ocasião da mor-

te. O simbolismo mitológico encerra uma grande verdade. São Espíritos esclarecidos que realizam esse trabalho bastante especializado. Trata-se de operações complexas, visando facilitar o desprendimento do espírito pelo desate dos laços que o prendem ao corpo físico. Esse trabalho requer rigoro-sa preparação em instituições existentes nos Planos Espirituais.

Esses Espíritos poderiam ser chamados de “técnicos da morte”. Seu pa-pel, junto aos agonizantes, é importantíssimo e, quase sempre, anônimo, em ordem à liberação suave e tranqüila de todos os que atingiram o “tempo de morrer”.

Por ocasião da aproximação desse “tempo”, os “técnicos da morte” des-locam-se até o nosso mundo em autênticas missões de amor. Via de regra, eles permanecem ao lado dos que estão morrendo, assistindo-os em todas as fases do processo de libertação do espírito.

Faz parte, também, das tarefas desses Espíritos, confortar os familiares dos moribundos. Isto torna-se possível através de reuniões com eles, por ocasião do sono físico, a fim de fortalecê-los a enfrentarem, com serenidade, a iminente separação de seus entes queridos.

Dos processos que utilizam para facilitar a partida do espírito, fazem par-te até melhoras fictícias que eles infundem no estado geral dos agonizantes. Então, os familiares mais inconformados, afastam-se da proximidade dos leitos, deixando-os mais à vontade para agir. A sabedoria popular costuma designar essas melhoras súbitas no leito de morte, de “visitas da saúde”, pre-lúdio fatal do decesso que se lhes segue quase de imediato.

Esses “técnicos da morte” não são Espíritos de escol, em estágios finais de perfeição. São, antes, Espíritos inteligentes, bondosos, elevados, de evo-lução acima da média que, através dessas missões, estão somando valiosos créditos para futuras reencarnações. Associada a sua competência, têm esses

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Espíritos, geralmente, uma grande capacidade de compreensão e um nível bastante elevado de amor ao próximo. Sua missão só termina, quando eles deixam os Espíritos liberados e em segurança nas Esferas Espirituais com-patíveis com o seu grau de evolução, situando-os em Postos de Socorro ou em hospitais educandários ligados às cidades espirituais que, no futuro, vão acolher esses Espíritos.

Aqueles que fracassaram em suas tarefas reencarnatórias e, conseqüen-temente, retardaram a sua escalada evolutiva, são conduzidos às zonas infe-riores. Ali, segundo a advertência de Jesus, “haverá choro e ranger de dentes” (Mt. 8, 12) até que o sofrimento, como o cinzel do escultor, transforme a alma revel em uma peça preciosa capaz de refletir o brilho da luz.

Essas operações dos “técnicos da morte” consistem, fundamentalmen-te, em retirar, aos poucos, o espírito e o seu corpo astral do indumento de carne.

Ora, como é sabido, o corpo perispiritual possui sete centros de força, ou “chakras”, três dos quais ligados diretamente ao processo liberatório do espírito. São eles: o centro vegetativo, ou “chakra do umbigo”, correspon-dente, no organismo físico, ao plexo solar; o centro emocional ou “chakra do coração”, sede dos desejos e sentimentos e, por último, o centro coronário, também denominado de “chakra da coroa”, localizado no topo da cabeça. É daí que parte o “cordão prateado”, liame fluídico que liga o cérebro do corpo espiritual ao do corpo de carne.

Os “técnicos da morte” iniciam o processo de liberação pelo “chakra” li-gado ao ventre, ou seja, o “chakra do umbigo”. Dessa primeira operação, re-sulta o enrijecimento e esfriamento dos membros inferiores do corpo carnal. A seguir, através de operações magnéticas no tórax, eles atingem o centro emocional ou o “chakra do coração”, ocasionando intensa arritmia cardíaca, precursora do estado comatoso do agonizante. A última intervenção é no centro coronário, mas mesmo depois de realizada essa última operação, o laço fluídico ainda permanece ligando o corpo ao espírito. Para familiares e amigos, entretanto, está consumado o desenlace. Para os “Parcas” modernos, resta, ainda, desatar o laço final que une cérebro a cérebro. Este, todavia, somente é rompido após um determinado período de tempo, que varia de espírito para espírito, consoante o estado evolutivo de cada um e o tipo de morte envolvido.

Nesse momento em que o espírito não está ainda totalmente desvincula-do do veículo físico, é que ocorre o fenômeno da visão panorâmica de toda a Vida que ele está deixando, desde a mais tenra infância até o último dia consciente. Voltaremos a falar desse fenômeno, no Capítulo 25 deste livro.

Todos os seres humanos deixarão esta Vida mais ou menos assim. Bons e maus, justos e injustos, crentes e descrentes, todos estarão, um dia, passando por essa transição que resultará num despertar feliz ou infeliz nos planos da Vida Eterna.

Muito embora as mortes variem de acordo com o grau evolutivo de cada um, todos os seres humanos, entretanto, possuem dentro de si a marca do seu Criador e Pai: luz em potencial. Em uns, a boa vontade, o esforço per-severante, a ânsia de crescer, a vivência evangélica fazem com que essa luz comece a brilhar aqui mesmo na Terra. Isto facilita, e muito, a entrada do espírito na Vida Maior. Noutros, os desvios da estrada reta e as toneladas de vazio que invadem o ser, retardam o brilho dessa luz; mas todos, sem exce-ção, um dia, estarão redimidos nos Planos do Infinito, descansando, felizes, nos braços amorosos de Deus. •

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25Visão Retrospectiva, no

Instante da Morte

Este é um dos fenômenos mais singulares que ocorrem em todos os ca-sos de morte natural e, até mesmo, em algumas mortes subitâneas, por

acidentes diversos.A pessoa, nos instantes finais de sua existência, vê passar diante de si,

como numa tela de cinema ou num monitor de vídeo, toda a Vida que está prestes a deixar. Os primeiros meses do renascimento, a pré-infância, a in-fância, a puberdade, a adolescência, a juventude e a fase adulta, tudo, tudo que foi experimentado em cada um desses estágios do desenvolvimento bio-psicológico do ser humano, vem à tona com uma riqueza de pormenores absolutamente incomum.

Deve-se este fenômeno ao registro minucioso feito pelo corpo perispiri-tual de todos os acontecimentos vividos pelo ser humano em cada uma de suas existências. Nada deixa de ser fixado pelo envoltório sutil da alma, e é, graças a essa transcrição minuciosa, que podemos, aqui mesmo, em nosso mundo e, mais tarde, na Vida Espiritual, lembrar-nos de todas as nossas exis-tências pregressas.

Essa visão retrospectiva possibilita ao ser uma contemplação crítica e analítica de todas as ações por ele praticadas, durante a última existência, num prévio julgamento consciencial, com vistas à situação que ele merece na Pátria Espiritual.

Através desse retrospecto, pode o espírito avaliar a imensa distância que ainda o separa de um viver, realmente, pautado dentro da legislação divina. Por outro lado, verifica-se, também, que até o centavo que um dia doamos, como esmola, ao mais humilde dos pedintes, ali está registrado.

O fenômeno é instantâneo. Acontece num átimo. O que mais importa, entretanto, não é a sua duração, mas a sua qualidade. Mesmo os segredos mais íntimos que, por vezes, o ser humano reprime para o seu inconsciente,

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vêm à tona com absoluta fidelidade, numa demonstração de que nada per-manecerá enterrado, para sempre, nos porões da mente. E isto apenas con-firma as palavras de Jesus, quando disse: “— Nada há oculto que não venha, um dia, a ser conhecido.” (Mt. 10, 26)

Nessa retrospectiva, os fatos negativos servem de advertência, e possi-bilitam ao espírito entrever as conseqüências cármicas que, no futuro, eles desencadearão. Isto nas almas mais esclarecidas, com senso de responsabi-lidade e noções precisas de Vida Eterna e reencarnação. Já os fatos positivos, também recordados, servem como estímulo a um maior crescimento moral e espiritual nas novas dimensões da Vida em que a alma está penetrando.

O grande vate português Luiz de Camões, em soneto célebre, afirma: “— Numa hora, encontro mil anos e é de jeito que em mil anos não encon-tro uma hora…” De fato, o tempo psicológico do espírito e suas vivências espirituais não são medidos exteriormente com os parâmetros habituais dos ponteiros dos relógios. Esse tempo não cronológico, representado pelo acúmulo de experiências vividas, só pode ser avaliado, interiormente, em visões retrospectivas, no instante da morte, ou nos estados de emancipa-ção da alma. No sonho, no sono hipnótico ou sonambúlico, é perfeitamente possível ao espírito reviver, em segundos, fatos que ocuparam, por vezes, metade de uma existência.

Ao despertar no Além e na posse integral dessa visão panorâmica de sua última existência, o espírito transformar-se-á no grande juiz de si mesmo, no tribunal silencioso de sua consciência… •

26O Cordão Prateado

Já fizemos referência, inúmeras vezes, neste trabalho, à profunda seme-lhança entre o nascer e o morrer.Liga-se o feto à mãe pelo cordão umbilical. Através dele, durante nove

meses, o feto respirou, alimentou-se, excretou, em suma, atendeu a todas as funções biológicas de um ser vivo.

Semelhantemente, durante todo o tempo em que permaneceu, aqui, re-encarnado, o espírito se manteve ligado ao corpo por um outro cordão – o de prata – laço fluídico de matéria sutil, entre o espírito e a matéria. E como se tivéssemos vivido no grande útero do mundo, aguardando um parto de luz para a Vida do espírito.

No Eclesiastes, livro integrante da Bíblia sagrada, há uma singular refe-rência a esse “cordão prateado”. Ali se lê: “Ou o cordão de prata se solte ou o vaso de ouro se parta”. (Ecle. 12, 6)

Através desse elo, as energias do espírito, captadas do Sol, são transmiti-das ao corpo da alma e, deste, ao corpo carnal, vitalizando-o e repassando-lhe, de forma mitigada, todos os dons espirituais.

Sem essa vitalização, não teríamos o ser humano na plenitude de suas faculdades, pensando, agindo e interagindo, neste mundo. O fato dá-nos a prova evidente de que a criatura humana é um espírito a animar a roupa-gem da carne. Em notável sermão acerca da morte, já dizia o Padre Antônio Vieira: “Quereis ver o que é um corpo sem alma? Olhai um cadáver!”

No instante da morte, “o cordão de prata”, à semelhança do laço um-bilical por ocasião do nascimento, é desfeito ou quebrado, assinalando o reingresso do espírito, com a sua autonomia, aos Planos Espirituais. Isto dá lugar à desintegração do corpo físico.

É a permanência desse “cordão de prata” que torna tão dolorosa a mor-te por suicídio. Nesse tipo de morte, que será objeto de um estudo mais aprofundado em outra parte deste livro, o espírito deixa o corpo extempo-raneamente. O elo fluídico não se rompe e o espírito fica ligado ao cadáver

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por tempo indeterminado. Passa a sentir, assim, de uma forma dolorosa e apavorante, todos os fenômenos da decomposição cadavérica.

O “cordão prateado” liga-se do cérebro perispiritual ao cérebro mate-rial, saindo deste pelo topo da cabeça, onde se situa a moleira dos recém-nascidos. Por isso, os orientais denominam esse alto da cabeça de “abertura de Brahma”.

Na liturgia católica, esse ponto é ungido por ocasião do recebimento dos sacramentos do batismo e do crisma, e isto, como se dizia antigamente,

“para uma limpeza do portão da alma”.A extensão do “cordão de prata” não tem limite, podendo o espírito, du-

rante estados de emancipação, hipnóticos, sonambúlicos, mediúnicos, de sono e de meditação profunda, volitar a quilômetros e quilômetros de dis-tância, permanecendo ligado por ele ao corpo físico. Este, desse modo, tem assegurada a sua plena vitalidade com o funcionamento regular de todos os órgãos, sistemas e aparelhos.

Shirley MacLaine, no “best seller” Minhas vidas, relata uma experiência de desdobramento espiritual, por ela vivenciada quando percorria os Andes Peruanos. No transe, visualizou o “cordão prateado” ligando o seu corpo espiritual ao corpo físico.

Eis alguns trechos do seu relato:

Respirei fundo. Uma espécie de bílis subiu-me pela garganta. (…) Sentia a cabeça estonteada. Tinha a sensação física de que um túnel se abria em minha mente. (…) Não tinha braços, não tinha pernas, não tinha corpo, não tinha forma física. Tornei-me o espaço em minha mente. Senti-me fluir para o espaço, povoá-lo, flutuar para fora, saindo do corpo e subindo. Estava consciente de que o corpo permanecia na água. (A autora tomava banho em um poço de água sulfurosa, nas montanhas an-dinas.) Olhei para baixo e o vi. (…) Meu espírito, mente ou alma, o que quer que fosse, foi subindo pelo espaço, cada vez mais alto. (…) Sentia que estava voando, literalmente… Não, voar não era a palavra certa… era mais gentil do que isso… flutuar parecia uma palavra mais apropriada… flutuar cada vez mais alto, até que podia contemplar as montanhas, a paisagem lá embaixo, reconhecendo o que vira durante o dia. E ligado ao meu corpo havia um cordão prateado muito fino, que permanecia preso ao corpo, ainda na água. Não era um sonho. Eu estava consciente de tudo. (…) Observei o cordão prateado ligado ao meu corpo. Já lera a respeito

na literatura metafísica. Faiscava no ar. Parecia ilimitado em comprimento… to-talmente elástico, sempre preso ao meu corpo. (…) E eu subia cada vez mais alto, imaginando até que ponto poderia ir sem que o cordão arrebentasse. (…) Já podia perceber a curvatura da Terra, a escuridão no outro lado do globo. Comecei a per-ceber ondas de conexão de energia e padrões ondulantes de energia de pensamen-to. O cordão prateado não estava esticado. Apenas flutuava gentilmente. (Shirley. MacLaine, Minhas vidas, pp. 284–285)

Por ocasião da morte corporal, todas as energias do espírito, diluídas no corpo denso, passam a concentrar-se na mente do moribundo. De sua cabe-ça, então, passa a irradiar-se um brilho singular que pode ser, perfeitamente, entrevisto por qualquer clarividente, numa semelhança ao “vaso de ouro”, referido no Eclesiastes.

A morte somente se consuma quando o “cordão de prata” é quebrado ou desfeito. Nesse momento, um pouco de energia ainda permanece no corpo carnal para evitar a decomposição imediata do cadáver, mas a maior parte dessa energia vai constituir, a partir dos elementos concentrados na mente, o corpo espiritual ou perispírito.

À semelhança do cordão umbilical, “o cordão de prata” não é um ele-mento essencial ao corpo do espírito, após a transição da morte. Sendo tão somente um elo de ligação entre dois corpos, com a desintegração do corpo material, não tem mais sentido a sua permanência no envoltório diáfano do espírito.

E assim, sem mais nenhum liame que o prenda ao corpo físico, liberta-se a alma do cativeiro da carne para despertar na Vida Imortal! •

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27O Sono Após a Morte

No capítulo anterior, assinalamos a grande semelhança existente entre o nascer e o morrer.

Ao despertar o espírito, pelo nascimento, para a luz desta Vida, perma-nece inconsciente por larga margem de tempo. Recém-nascidos costumam dormir quase as vinte e quatro horas do dia.

Da mesma forma, depois da morte, geralmente, permanece o espírito num estado de sono profundo, cuja duração varia de acordo com uma ade-quada educação para a morte, recebida durante a Vida.

O nível evolutivo de cada um, também pesa na duração desse estado.Em todos os relatos vindos do Além, através de médiuns confiáveis, há

referência a esse período de sono que faz parte da ordem natural das coisas e que, também, revela a perfeição da Obra Divina e a infinita misericórdia de Deus.

A literatura oriental, filosófico-religiosa, também está repleta de alusões a esse sono, comparando-o com o período de inconsciência do feto no útero materno, bem assim com os primeiros momentos do reingresso do espírito ao palco da Vida humana.

Esse repouso, após o decesso do corpo, garante aos que ingressam na Pátria do Espírito, um merecido descanso, após as lutas e vicissitudes da experiência carnal, assegurando-lhes um despertar, no Além, sem choques bruscos, por que paulatino, gradual, na seqüência natural da Vida que, em verdade, nunca termina.

Isto, pelo menos, é o que acontece com aqueles que, neste mundo, se esforçaram por viver dentro dos princípios da Lei Divina. Esses Espíritos, via de regra, depois do período de sono, despertam, na Vida Espiritual, em instituições especializadas – Postos de Socorro, estâncias de repouso, hos-pitais-educandários, Casas Transitórias – e, ali, passam a receber carinhosa assistência, necessária a sua readaptação às novas dimensões de Vida.

Como a grande maioria dos que partem desta Vida tem uma deficiente

educação religiosa, o despertar, no Além, sempre acarreta alguma pertur-bação. Os que aportam do outro lado, com raras exceções, não tomam, de imediato, conhecimento do seu novo estado. Daí a necessidade do acompa-nhamento desses recém-libertos por Espíritos orientadores que, aos poucos, lhes vão informando de sua nova situação. A reação deles a esses esclareci-mentos varia, consoante o grau de iniciação de cada um acerca das realida-des da Vida Espiritual e, também, como já o dissemos, de acordo com o nível evolutivo do espírito.

Pessoas espiritualizadas, aceitam a nova realidade de forma suave. Outros, semi-espiritualizados, emocionam-se até as lágrimas, ao despertarem do ou-tro lado, separados dos seus familiares e entes queridos, deixados no mundo, mas, rapidamente, conformam-se, adaptam-se à nova situação.

Outros, de coração nobre e portadores de elevadas concepções de Vida, mas muito apegados, ainda, aos laços consangüíneos e aos prazeres materiais, choram, amargamente, ao se saberem “mortos”, e sofrem a saudade dos que aqui ficaram, bem assim a falta das alegrias do mundo.

A fixação mental nos afetos e parentes deixados na Terra aumenta, e muito, a perturbação dos recém-libertos. Muitos têm de ser submetidos a operações magnéticas para dormirem por um maior espaço de tempo. Despertarão, mais tarde, em melhores condições espirituais.

Com os maus, os perversos, os criminosos de todos os matizes, as coisas se passam de forma bem diferente. Estes, quando não são arrebatados, quase inconscientemente, por verdadeiras hordas de Espíritos em desequilíbrio, dormem inquieta e intranqüilamente por largos períodos de tempo, cuja duração não se pode precisar. Esse sono é povoado de terríveis aflições e pe-sadelos. Muitos permanecem nesse estado, ao relento, em cavernas e grutas escuras das zonas inferiores. Outros, por estarem em melhores condições espirituais, são recolhidos a instituições especializadas do Além.

André Luiz, no livro Os mensageiros, dá-nos notícia de uma instituição desse molde, nos Planos Espirituais próximos da Terra – um Posto de Socorro da cidade espiritual “Campos de Paz” – onde, segundo o seu relato, encontravam-se dormindo, em sono profundo, quase dois mil Espíritos. Diz o autor, textualmente:

“Muitos tinham o semblante horrendo e poucos traziam as pálpebras cerradas. Em quase todos, estampavam-se nos olhos, aparentemente

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vitrificados, o extremo pavor e o doloroso desespero da morte, porquanto cadavérica palidez cobria-lhes as faces. Ali, segundo a narrativa, “raríssimos pareciam dormir um sono natural”, e o Instrutor que acompanhava André Luiz, de nome Aniceto, diante do lamentável quadro que se desdobrava ante os olhos dos visitantes, esclareceu que

“estavam ali, com a benção do abrigo, milhares de criaturas humanas que, quando na Terra, acreditaram convictamente na morte como sendo o nada, o fim de tudo, o sono eterno. Estavam, assim, magnetizados pelas próprias convicções negativistas.” (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Os mensageiros, pp. 117 e seg.)

A duração desse sono perturbado, cheio de inquietantes pesadelos, é inde-terminada, O fato, entretanto, é que todos despertarão, um dia, para assu-mirem, em processos cármicos inevitáveis, a responsabilidade de todos os seus atos.

Gratificante é a leitura integral do Capítulo 22, “Os Que Dormem”, do li-vro supracitado, que encerra uma grave advertência aos que ainda estão mer-gulhados, neste mundo, no doloroso sono da indiferença ante os problemas do espírito. Ao final desse capítulo, o autor coloca nos lábios do instrutor Aniceto esta ponderação, digna de registro:

A fé sincera é ginástica do espírito. Quem não a exercita, na Terra, preferindo a negação injustificável, encontrar-se-á, mais tarde, sem movimento. (Idem, ibidem, p. 120)

28O Despertar do Espírito

no Outro Lado da Vida

Muitos que deixam esta Vida continuam a pensar, por algum tempo, no outro lado, que ainda não a deixaram, em virtude da semelhança

de paisagens e objetos que encontram nos Planos Espirituais próximos do nosso planeta.

Nisto, mais uma vez, manifesta-se a inesgotável misericórdia divina que torna o despertar, na outra Vida, algo gradativo, suave, natural. Todavia, não há duas mortes iguais.

Os bons, independentemente da religião que professaram, neste mundo, ao abrirem os olhos no Além, verão objetos e paisagens compatíveis com o seu grau de evolução, móveis e utensílios semelhantes aos existentes na Terra, meios de transporte dos mais variados tipos, em suma, cidades, cheias de Vida e movimento.

Geralmente, para os Espíritos de mediana evolução, o despertar no Além-Vida, acontece em hospitais ou estâncias de repouso que primam pelo conforto, beleza e funcionalidade. Eles acordam como de um longo sono e se sentem em quartos arejados, com camas confortáveis, cercados de apare-lhos médicos de última geração, campainhas de toque, lençóis muito alvos e macios, luzes suaves e tranqüilizantes. A cor branca não prevalece nesses ambientes hospitalares e as “paredes” quase sempre são pintadas de cores muito bonitas, suaves e repousantes. Portas e janelas são feitas de substân-cias muito leves, semelhantes ao vidro, mas de uma aparência e consistência muito mais delicada. E freqüentemente, alguém que lhes é familiar e que já deixou este mundo, vem ao seu encontro para dar as boas vindas e esclare-cer-lhes sobre o seu novo estado.

Oportuno transcrever, aqui, as primeiras impressões do espírito André Luiz, constantes do seu livro Nosso Lar, ao ser recolhido das zonas inferiores onde permanecera por oito anos:

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A meus olhos surgiu, então, a porta acolhedora de alvo edifício, à feição de grande hospital terreno (…)… ao mesmo tempo que era conduzido a confortável aposen-to de amplas proporções, ricamente mobiliado, onde me ofereceram leito acolhe-dor. (…) A essa altura, serviram-me caldo reconfortante, seguido de água muito fresca que me pareceu portadora de fluidos divinos. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Nosso lar, pp. 21 e seg.)

Quanto aos Espíritos materializados e inferiores, estes despertam em regiões sombrias, as “trevas exteriores” (Mt. 8, 12), a que se referiu Jesus, várias vezes, no Seu Evangelho. Ali, mergulhados em uma semi ou quase completa escu-ridão, ouvem vozes acusatórias pelos seus graves deslizes morais. Sentem fome, sede, ansiedade, angústia, desespero, solidão e sofrem com a ausência dos entes queridos deixados, à distância, na Terra. Por vezes, a perturbação que os atinge é tamanha que não sabem se ainda estão neste mundo ou nos Planos Espirituais. Circunscritos a essas regiões trevosas e inferiores, ali per-manecem por tempo indeterminado, mas, nunca eternamente.

Essas regiões podem ser chamadas de purgatoriais. Quando os Espíritos terminam de “purgar” suas faltas, isto é, desvencilhar-se dos resíduos men-tais inferiores que tornam mais densos seus corpos espirituais, começam a perceber melhor a paisagem que os circunda. Geralmente, de acordo com a concepção religiosa de cada um, oram a Deus, a Jesus e aos santos de sua de-voção. A oração facilita, e muito, a percepção desses planos, como também a visão dos Espíritos mais elevados, caridosos e benevolentes, em missões nes-sas zonas de aflição e sofrimento. Parentes e amigos também podem tornar-se visíveis a eles, momentaneamente ou não, ajudando-os a se internarem em Postos de Socorro existentes nesses planos, para posterior ingresso em instituições hospitalares das cidades espirituais.

O próprio André Luiz, hoje um espírito evoluído, conta, com humildade, como foi o seu despertar no outro lado, ele que ali chegara na condição de suicida involuntário:

Estava convicto de não mais pertencer ao número dos encarnados no mundo e, no entanto, meus pulmões respiravam a longos haustos. (…) Sentia-me, em ver-dade, amargurado duende nas grades escuras do horror. (…) Muitas vezes gritei como louco, implorei piedade… (…) Formas diabólicas, rostos alvares, expressões

animalescas surgiam… (…) A paisagem, quando não totalmente escura, parecia banhada de luz alvacenta. (…) Reconhecia, agora, a esfera diferente a erguer-se da poalha do mundo… (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Nosso lar, pp. 13 e seg.)

É assim que se processa o despertar do espírito nos Planos Espirituais. Para os bons, um acordar, suave, luminescente. Para os maus, inquietação, angús-tia, treva…

E, mais uma vez, confirma-se a advertência evangélica: “A cada um será dado de acordo com as suas obras.” (Apo. 20, 12) •

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29Reencontros nos

Planos Espirituais

Uma pergunta sempre permanece no ar diante da perda, através da mor-te, de nossos entes queridos: — Será que, um dia, iremos reencontrá-

los no outro lado da Vida? Amigos sinceros, cônjuges que muito se amaram, irmãos queridos, namorados e noivos que perderam, precocemente, os seus parceiros, companheiros de ideais, será que todos voltarão a se ver e a se reconhecer na Vida Espiritual?

A Doutrina Espírita faz luz sobre o assunto, afirmando e comprovando a total possibilidade desses reencontros. E são, justamente, os que deixaram esta Vida que nos vêm dizer, através de médiuns idôneos, que os laços do afeto e do amor não desaparecem nos Planos do Espírito. Os que, verdadei-ramente, se amaram, neste mundo, reencontrar-se-ão no outro, onde a afe-tividade tem um sabor todo especial, proporcionando aos Espíritos nobres um estado da mais pura e completa felicidade.

É que o amor é a maior força do Universo. Jesus sintetizou, no amor a Deus e aos nossos irmãos de humanidade, toda a Lei Divina e, também, tudo quanto os profetas ensinaram aos homens. “Deus é Amor”, disse o Apóstolo João (I Jo. 4, 8), e bem o sabemos que, tão só por amor, Jesus veio a este mun-do e, por amor, sacrificou-se por toda a humanidade. Como poderiam, então, os laços do amor ser partidos na transição desta para a outra Vida?

Tudo, na Natureza, acontece dentro de princípios de seqüência, e esses reencontros, na outra Vida, dão um encanto todo especial ao despertar do espírito liberto. Nesses Planos, “o amor é alimento das almas”,23 na feliz, ex-pressão de André Luiz, sendo, por isso mesmo, o sustentáculo de belas e nobres realizações espirituais.

Há leis que regulam os reencontros, no Além. A primeira condição para

23 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Nosso Lar, pp. 86 e seg.

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que isto se torne possível é a afinidade espiritual entre as almas. Essa sin-tonia guarda relação com o nível de evolução alcançado pelos Espíritos e, também, com os gostos e interesses comuns. Ora, se não é fácil encontrar-mos isto mesmo entre amigos, parentes, esposos e irmãos, aqui na Terra, o mesmo ocorre, no outro lado, dificultando os reencontros nos planos do espírito eterno.

A escada evolutiva tem infinitos degraus. Espíritos em crescimento espiri-tual ocupam pontos diferenciados, nessa subida, em direção à perfeição. Em nosso mundo, sob a roupagem da carne, todos são visíveis uns aos outros; entretanto, nos Planos Espirituais, é diferente. Espíritos mais evoluídos têm envoltórios mais quintessenciados e não podem ser vistos por Espíritos ain-da involuídos, cujos corpos espirituais possuem baixa densidade vibratória. É exatamente isto que dita a lei das afinidades. Somente Espíritos evoluídos vêem e comunicam-se com Espíritos evoluídos. Espíritos atrasados e infeli-zes afinam-se com Espíritos do mesmo nível.

Quando, pelo decesso do corpo carnal, deixamos esta Vida, somente veremos os Espíritos do nosso grau evolutivo ou, então, aqueles que, por caridade, em missões de amor, densificam os seus envoltórios a fim de se tornarem visíveis nos planos inferiores. Muitas vezes, Espíritos amigos que estiveram, na Terra, unidos pelos laços da consangüinidade e do mais puro afeto, e que, agora, desfrutam de uma posição mais elevada nas Esferas Espirituais, diminuem, voluntariamente, o grau de suas vibrações a fim de virem receber os seus entes queridos que estão deixando a Vida material. Estes, então, podem vê-los por alguns momentos, mas, depois, eles se afas-tam e retomam o seu padrão vibratório próprio. Quem não tem méritos, não consegue vê-los.

Conseqüentemente, se os que estão, neste mundo, desejam encontrar-se e conviver, no Além, com os detentores de elevadas posições espirituais, que perseverem no bem, se cristifiquem, cresçam em amor e sabedoria. Desse modo, sutilizarão seus envoltórios espirituais e poderão penetrar no campo vibracional dessas entidades superiores.

Que decepção, diante do que acima expusemos, a dos amantes apaixo-nados que se suicidam, através de pactos de morte, pensando em reencon-trar-se no Além! O suicídio é o maior dos crimes perante a Lei de Deus, e os que o praticam mergulham num verdadeiro inferno de sofrimentos

inimagináveis. A dor, a angústia, a perturbação que os envolvem são de tão alto grau que lhes impossibilita qualquer reencontro e isto, por muitos e muitos anos, para não dizer séculos.

Os que possuem o mesmo nível de evolução reencontram-se, facilmente, nos Planos do Espírito, sendo uma praxe a preparação de belas recepções, em homenagem aos que cumpriram as suas tarefas e missões, com êxito, aqui, na Terra. Muitos, no outro plano, aguardam as suas “almas gêmeas” para, juntos, usufruírem da felicidade eterna em um novo lar espiritual mui-to mais bonito do que o da Terra.

Em suma, com toda a certeza, voltaremos a rever aqueles que conhece-mos em nosso mundo, tanto afetos como desafetos. O reencontro com os desafetos e com aqueles a quem ferimos, é muito mais doloroso, mas ele acontece e deve ser aproveitado para as reconciliações e o esquecimento definitivo das ofensas e ressentimentos. O fato é que, passando para a outra Vida, não mudamos, substancialmente. Continuamos os mesmos, mas, com uma grande diferença a salientar: aqui, na Terra, podemos esconder, com a máscara da face, o que se passa no íntimo do nosso ser. Lá, isto é impossível. Somos vistos por dentro e por fora, numa confirmação da palavra do Cristo de que “nada há oculto que não venha a ser conhecido”. (Mt. 10, 26)

Os reencontros nos Planos Espirituais constituem uma das mais doces revelações da Doutrina Espírita e um dos maiores estímulos para crescer-mos em virtudes, neste mundo, a fim de, no outro, podermos contar com a companhia dos Espíritos de luz. •

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30O Retorno dos Bons

à Vida Espiritual

Os que foram bons, neste mundo, após a morte não terão quase nenhum problema de adaptação à nova Vida. O “quase” que incluímos na asser-

tiva é tão somente para ressaltar a importância do conhecimento do Mundo Espiritual, para um despertar, no outro lado, muito mais consciente e feliz.

Não obstante a falta de preparação da grande maioria da humanidade para a transição da morte, voltamos a insistir: os bons rapidamente estarão integrados à Vida no Além, prosseguindo em sua caminhada evolutiva cuja meta é a perfeição.

Como a misericórdia e o amor de Deus são infinitos, a Providência Divina tomou todos os cuidados para que o despertar dos bons, no Além-Vida, sempre aconteça sem choques de qualquer natureza. Existem, nos Planos Espirituais, instituições especificamente destinadas a recebê-los, quer pertençam a esta ou àquela religião, ou mesmo, sem filiação a qualquer gru-po religioso. Basta que tenham tido, em sua passagem pelo mundo, Vida reta, digna, limpa, honesta, pautada nos princípios da ética cristã.

Estes, recolhidos e internados nessas instituições, têm um despertar su-ave, cercados do carinho e do amor de Espíritos bondosos e compreensi-vos. Aos poucos, por si mesmos, e também com a ajuda de Assistentes e Psicólogos competentes, vão tomando consciência de seu novo estado que nada tem a ver com a morte, e sim com a Vida imperecível.

Em contatos com Espíritos na mesma situação, nos parques de repouso dessas instituições, eles vão, pela troca de idéias e de experiências, toman-do, aos poucos, consciência das belezas inefáveis da Vida Eterna. Quando as dúvidas sobre o seu novo estado começam a crescer a ponto de levá-los a uma maior inquietação, Espíritos generosos e amigos consideram que é chegada a hora de informá-los da nova e alvissareira verdade: — a morte não existe! A Vida continua!… Só há Vida e Vida Abundante, nos planos

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de Deus! Quando, na Terra, todos já participavam dessa Vida incessante, sendo a morte apenas uma mudança de veste, uma transferência para novos estados de existência.

No Além todos os que deixaram este mundo permanecem vivos e, em certo sentido, muito mais vivos do que na Terra. Os bons, mesmo sem te-rem conhecido a mensagem de amor do Cristo, nem por isso, deixarão de ter abertas para eles, as portas da Vida Eterna, numa festa perene de amor e luz.

No livro O céu e o inferno, integrante da Codificação do Espiritismo, em sua II Parte, Capítulo 2, Allan Kardec trata da boa situação que desfrutam, nos Planos Espirituais, os Espíritos felizes. Encontramos ali uma comunica-ção mediúnica de um espírito que morreu precocemente, aos dezoito anos. Não era, ao que parece, militante de qualquer religião, mas tinha um bom caráter. Era “doce, terno, simpático”,24 possuindo, além disso, qualidades mo-rais apreciáveis!

Segue-se, de uma forma condensada, um trecho da belíssima mensagem que transmitiu a um de seus amigos, alguns meses após a sua morte:

Não estou morto. Estou mais vivo que vós. Apenas o corpo morreu. O espírito, esse vive sempre. Estou livre, feliz, isento de enfermidades e de dores. Apenas sofri, antes da morte, os efeitos da moléstia, mas esse sofrimento diminuía à proporção que o último instante se aproximava.

Um dia, adormeci, sem pensar na morte. E tive, então, um sonho delicioso! Sonhei que estava curado, que não mais sofria, que respirava, a longos haustos, pra-zerosamente, um ar embalsamado e puro. Transportava-me, através do espaço, uma força desconhecida. Brilhante luz resplandecia em torno, sem cansar-me a vista!

Vi, então, meu avô, não mais esquálido, alquebrado, porém com aspecto juve-nil e loução. E ele estendia-me os braços, estreitando-me efusivamente ao coração. Uma multidão de outras pessoas, de risonhos semblantes, o acompanhavam, aco-lhendo-me, todos, com benevolência e doçura. Parecia-me reconhecê-los e, ventu-roso por tornar a vê-los, trocávamos felicitações e testemunhos de amizade.

24 Allan Kardec, O céu e o inferno, p. 232.

Pois bem! O que eu supunha ser um sonho, era a realidade, porque de tal sonho não mais despertei na Terra. Acordei no mundo espiritual! — (Maurice Gontran). (Allan Kardec, O céu e o inferno, p. 232)

Aos céus, portanto, não chegaremos pelo fato de pertencermos a essa ou àquela denominação religiosa, nem por termos freqüentado, com assidui-dade, missas, cultos evangélicos, sessões espíritas ou templos de quaisquer religiões. O Paraíso está reservado aos que têm o coração pleno de amor, em direção a todos os seus irmãos de humanidade.

Os bons e os puros de coração verão a Deus face a face! •

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31Religiões no Mundo dos Espíritos

Deus é Pai de infinita misericórdia e respeita todos os caminhos que Seus filhos escolhem para alcançarem a perfeição.

Muitos Espíritos, durante um sem número de existências, permanecem fiéis a princípios religiosos dogmáticos. Outros, em muitas romagens terre-nas, somente conseguem louvar e adorar a Deus, através de objetos sagrados do Culto, tais como rosários, terços, escapulários, imagens, altares, partículas consagradas, etc.

O Senhor da Vida que ama a todos os Seus filhos, indistintamente, in-clusive “os maus e os injustos” (Mt. 5, 45), como asseverou o Cristo, recebe adorações e louvores de todas as formas que lhe são dirigidos. Eis porque, católicos, evangélicos, espíritas e profitentes de quaisquer religiões, se or-todoxos, isto é, ainda presos às cadeias sectárias e às normas rígidas que estabeleceram para as suas crenças religiosas, permanecem, no outro lado da Vida, com as mesmas convicções.

Deus não força a conversão de ninguém a essa ou aquela denominação religiosa. O que o Senhor da Vida quer de cada um de nós, é que nos con-vertamos ao amor, que “amemos uns aos outros como o Cristo nos amou” ( Jo. 13, 34). Esta é a única conversão agradável a Deus, e Ele aguarda, paciente-mente, que alcancemos esta Verdade maior, a Verdade das Verdades: o amor incondicional a toda criatura, desde os seres minerais, vegetais e animais, até aos seres humanos, em suma, a tudo o que é obra Sua.

Por isso mesmo, nos planos que se seguem à Vida material, vamos encon-trar organizações religiosas de todas as denominações, com seus fervorosos adeptos. Muitos deles continuam freqüentando os mesmos templos que dei-xaram, aqui, no mundo, inspirando os seus companheiros de convicções a se fortalecerem cada vez mais em sua fé. Franciscanos, Dominicanos, Clarissas, Batistas, Presbiterianos, Pentecostais, Kardecistas e Roustainguistas, todos continuam adeptos das mesmas convicções, nos Planos Espirituais, desen-volvendo as mais diversificadas tarefas em nome da fraternidade e do amor.

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Entretanto, à proporção que o espírito do Evangelho vai penetrando es-ses seres, quando o Cristo começa a tocar verdadeiramente os seus corações, o amor universal vai sendo a tônica de suas Vidas e, de repente, passam a amar a todos, indistintamente, assim como Deus nos ama. Os sectarismos desaparecem e, irmanados em torno desse sentimento divino, todos renun-ciam a qualquer interpretação particularista dos textos evangélicos.

As teologias cederão, aos poucos, ao sentimento do amor que é pura do-ação e espírito de serviço. Padres e freiras, pastores evangélicos e líderes es-píritas, rabinos e aiatolás, todos, um dia, incendiarão de amor as suas Vidas e sentir-se-ão irmanados em “um só rebanho com um só Pastor”. ( Jo. 10, 16)

Denominações religiosas não elevam ninguém aos céus. O que vale mes-mo, em termos de religião, é o “novo nascimento” ( Jo. 3, 3), é a renovação espiritual de nossa Vida, é o Cristo vivendo em nós, é a prática da bondade

– filha do amor –, é a dedicação aos nossos semelhantes, é a alegria de servir. São estes os sentimentos que definirão, no amanhã, nosso estado de paz e de felicidade.

Não foi por outro motivo que Jesus advertiu: “Nem todo aquele que diz Senhor!, Senhor!, entrará no Reino dos Céus, mas tão somente aquele que fizer a vontade do meu Pai que está nos céus.” (Mt. 7, 21)

São muitos os livros espíritas de caráter mediúnico, recebidos por mé-diuns de comprovada idoneidade, que fazem referência a religiões e religio-sos, de todos os credos, em atividades missionárias, nos Planos Espirituais.

No livro Obreiros da vida eterna, vamos encontrar o Padre Hipólito (espí-rito) em serviço ativo na “Casa Transitória de Fabiano”,25 instituição socor-rista situada nas Esferas Espirituais inferiores.

Em outro livro, Memórias de um suicida, assinalamos a presença de dois sacerdotes católicos (Espíritos): O Padre Anselmo, dirigindo a “Torre de Vigia”, uma dependência do “Departamento de Vigilância da Legião dos Servos de Maria”, Colônia Correcional existente nos Planos Espirituais, des-tinada, especificamente, à reeducação de Espíritos suicidas, e o Padre Miguel

25 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Obreiros da vida eterna, pp. 52 e seg.

de Santarém (espírito), dirigindo o “Isolamento”, setor pertencente ao “Hospital Maria de Nazaré”, uma das instituições ligadas à mesma Colônia.26

No livro E a vida continua…, encontramos a seguinte observação do Irmão Cláudio, um dos mentores que desenvolve atividades no “Instituto de Ciências do Espírito”, outra instituição dos Planos Espirituais:

A Igreja aqui está positivamente renovada, posto que possamos encontrar represen-tantes de todas (o destaque é nosso) as religiões terrestres, aferrados a dogmas, con-cepções estreitas, preconceitos e tiranias diversas do fanatismo, nas áreas vizinhas (da cidade espiritual onde eles viviam) em que se congregam milhares e milha-res de inteligências rebeldes e perturbadas. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, E a vida continua…, p. 71)

Em outra obra, Quando se pretende falar da vida, pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier, da autoria de David Muszkat, um jovem ju-deu, vamos encontrar a informação desse espírito de que, ao deixar este mundo, foi recebido, no Além, pelos seus avós já falecidos, em uma Colônia Espiritual denominada “Erets Israel” (Terra de Israel ou Terra do Renascimento), de indescritível beleza, situada no espaço de Israel, onde continuou a viver segundo a fé judaica.

E, por último, para não tornar muito longa e cansativa a série de citações, registraremos as ponderações do Instrutor Gúbio, no livro Libertação, sobre um santuário católico do nosso mundo, onde havia centenas de Espíritos assistindo a uma missa:

Em todas as casas de fé, os mensageiros do Senhor distribuem favores e bênçãos compatíveis com as necessidades de cada um; entretanto, é imprescindível que se prepare o coração nas linhas do mérito a fim de recolhê-las. (…) A missa é um ato religioso tão venerável quanto qualquer outro em que os corações procuram identificar-se com a Proteção Divina. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Libertação, p. 121)

26 Yvonne do Amaral Pereira & Espírito Camilo Cândido Botelho, Memórias de um suicida, pp. 199 e 296 e seg.

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Segue-se, a propósito deste tema, pela oportunidade, beleza e verdade de que se reveste, uma adaptação, em prosa, por nós realizada, de um poema de Maria Dolores, recebido pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier e, integrante do livro, Coração e vida:

A Promoção

E tudo aconteceu num Jardim Celeste, em pleno espaço infinito!Reunidas, ali se encontravam quarenta e duas almas de escol que, na Terra, em

diferentes épocas, haviam desempenhado as mais altas missões de amor.A esfera onde se reuniam era belíssima. Uma nesga azul de solo rarefeito, mati-

zada de flores, onde somente podiam respirar aqueles que de si irradiassem as mais suaves vibrações de fé sublime e do bem perfeito.

O que de mais puro a humanidade havia produzido, ali se encontrava. E todos eram candidatos a uma promoção que elevaria um deles – e apenas um – a uma esfera mais alta da mais extasiante e arrebatadora beleza!

Somente alguém, ali, nessa festa de brilho e de beleza, parecia um mendigo triste e mudo…

Era o Irmão Jonakim.Suas vestes, muito modestas, denotavam, aqui e ali, sinais de sangue, lodo e

areia. Permanecia a um canto, humilde e pensativo, enquanto toda a assembléia conversava em regozijo.

Enfim, chegou o instante do teste maior que iria conferir a um deles, a esperada promoção. O critério era o seguinte: aquele, dentre todos, que tivesse o menor peso espiritual, seria alçado a moradas mais altas e mais belas da Vida Universal.

Ao recinto, chegaram dois encarregados de presidir a escolha. Eram os “Anjos da Balança”.

Todos os candidatos, a partir de então, deixavam-se pesar no instrumento per-feito que ia identificando, em cada um, a sua evolução imensa… e à proporção que o peso espiritual de cada um era aferido, verificava-se que todos, sem exceção, eram leves, tão leves que não se tinha sequer uma base mínima para identificar a menor diferença entre eles.

Jonakim permanecia longe, recatado, quase escondido e, por isso mesmo, foi o último a ser chamado a exame.

Aproximou-se, acanhado, pés descaIços, a mão direita apoiada num bordão singelo.

Então, um dos Anjos perguntou-lhe: — “Jonakim, meu irmão, qual foi, na Terra a tua religião?”

E Jonakim, humilde respondeu:— Mensageiro do Bem, vou ser sincero. Não tive, em verdade, quando na Terra,

nenhuma religião.Sempre acreditei, como ainda acredito, na presença de Deus em toda parte.

Seu templo, para mim, é o Universo inteiro. O altar em que O adoro é a minha consciência.

Em minha última romagem terrena, por mais que desejasse ardentemente encontrar uma Igreja ou algum lugar para aprender como se deve adorar a Deus, nunca tive tempo de sair da pequena vila onde morava.

Ali, todos os que sofriam eram meus irmãos.A gleba em que vivi era um verdadeiro deserto e, por isso mesmo, despendi

muito tempo a transportar crianças e doentes para que recebessem os cuidados da educação e a cura do corpo.

Assim, minha pequenina choupana tornou-se, aos poucos, uma porta aberta à desventura humana.

Por vezes, eram velhinhos desvalidos e agonizantes que morriam em meus bra-ços, clamando, em vão, pelos parentes próximos. De outras vezes, eram crianças famintas que me buscavam e com as quais eu dividia o meu pão de cada dia…

Por tudo isso, nunca me foi possível buscar os Templos da Fé para aprimorar as minhas crenças.

Certo dia, ouvi falar de um santo homem que, quando esteve na Terra, nunca descansou, fazendo o bem. Este, segundo me informaram, amou aos bons e aos maus, sem jamais ferir a ninguém.

Ah!, Anjo da Bondade, como desejaria tê-lo visto! Soube que se chamava Jesus e que ensinara como um Mestre. Mas nunca tive tempo de ler os seus luminosos ensinos!…

A pequena assembléia escutava, entre enternecida e expectante, aquele que soubera amenizar a dor de tantos com um amor que se expandia, luminoso, de todo o seu ser…

Ao final, puseram Jonakim para o teste definitivo. E, depois de alguns segundos, os Anjos da Balança anunciaram, num largo sorriso:

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“— JONAKIN É O VENCEDOR! ELE TEM O PESO DA LUZ!” (Francisco Cândido Xavier e Espírito Maria Dolores, Coração e vida, p. 30)

O texto dispensa qualquer comentário. Traduz o mais puro amor cristão! •

32O Trabalho dos Espíritos

O trabalho é uma lei. Por ser uma lei, é, também, uma necessidade. O homem trabalha, aqui, na Terra. Os Espíritos também trabalham nas

Esferas Espirituais. É através do trabalho que o ser humano e os Espíritos crescem em múltiplas direções, especialmente, em amor e conhecimento. O próprio Cristo asseverou: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho tam-bém.” ( Jo. 5, 17) A enxada abandonada cria ferrugem. O lago parado torna-se depósito de sujeira e podridão. A ociosidade mata.

Li, certa vez, na revista Seleções, uma anedota inglesa acerca de um ho-mem que, tendo levado uma Vida irresponsável e leviana, inteiramente di-vorciada dos padrões da ética cristã, ao morrer, sentiu-se, no Além, alvo da maior solicitude por parte daqueles que o receberam: casa confortável com jardins muito bonitos. Cama macia. Às 7 da manhã, um garçom, vestido a caráter, servia-lhe um café variado. Às 11, o mesmo garçom trazia-lhe um far-to almoço, e, às 6 da tarde, mais uma vez, era-lhe oferecido um lauto jantar repleto de iguarias.

Isto sucedia-se, dia após dia… E o homem pensava consigo mesmo: — eu nem fiz nada na Terra para merecer tanto!

Todos os dias se passavam, dentro da mesma rotina.Ao final de um mês, o hóspede, já um tanto inquieto, ansioso por engajar-

se em qualquer atividade, indagou ao servidor, após este trazer-lhe o jantar: — Meu amigo, aqui não se trabalha? Ao que este respondeu: — Não. Aqui não se faz nada!… — Então, tornou o homem, já um pouco desesperado:

— Se é assim, eu preferia ter ido para o inferno… Ao que o mordomo lhe retrucou: — E onde é que você pensa que está?

A pequena historieta cabe muito bem no contexto deste capítulo.Nos Planos Espirituais não falta trabalho para ninguém. Trabalha-se em

todas as esferas, das inferiores às mais altas. O céu não é uma estância de repouso. E, antes, uma colméia de labor ininterrupto em que todos, para se sentirem alegres e felizes, têm de desenvolver as mais diferentes atividades.

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Isto não significa que, nos Planos Espirituais, não haja Espíritos deso-cupados, inertes, irresponsáveis, brincalhões e zombeteiros. Estes estão em toda parte. Palmilham tanto os caminhos da Terra quanto os do Além. Entretanto, embora não aparentem, todos sofrem, amargamente, e estacio-nam em sua marcha ascensional para Deus. Quanto mais ociosos, mais se embrutecem, precipitando-se no fundo de insondáveis abismos de treva e de aflição

Experiências adquiridas e aptidões desenvolvidas, aqui, na Terra, são aproveitadas no Além. Após a morte, o espírito de mediana evolução ajusta-se àquela atividade que coincida com os seus talentos e inclinações. Isto não significa dizer, por exemplo, que quem foi Médico, na Terra, vá exercer, ne-cessariamente, a mesma profissão nos Planos Espirituais. Não! No caso, a Medicina, por lá, exige outros requisitos. Todavia, quem foi Médico espiritu-alizado, em nosso mundo, terá muito mais facilidade em ajustar-se a ativida-des médicas e paramédicas, nos Planos Espirituais. O mesmo acontece com qualquer outra profissão exercida em nosso planeta, com amor e dignidade.

Espíritos superiores trabalham, geralmente, para soerguer entidades infe-lizes, ainda mergulhadas nas trevas da ignorância e do desequilíbrio. E todos aqueles Espíritos que já despertaram para as realidades da Vida Espiritual, depois de receberem a ajuda e o esclarecimento dos seus guias e mentores, passam a ajudar, por sua vez, as entidades inferiores. Assim, todos, engaja-dos no trabalho que é lei da Vida, vão crescendo, moral e espiritualmente, credenciando-se, assim, a habitar as Esferas de Luz do Infinito.

Na Terra, o trabalho tem como contrapartida o salário. E foi o próprio Jesus quem afirmou: “— O operário é digno do seu salário.” (Lc. 10, 7) Nos Planos Espirituais de mediana elevação, somente o trabalho que contribui para o crescimento da alma é devidamente recompensado, e de uma forma inteiramente diferente, segundo acontece em nosso mundo.

Em sua obra Nosso Lar, o espírito André Luiz revela-nos uma forma sin-gular de remuneração, vigente nos Planos Espirituais próximos à Terra – “o bônus-hora”. Não se trata de nenhuma moeda semelhante às que circulam em nosso mundo, mas de uma “ficha de serviço individual, funcionando como valor aquisitivo”.27

27 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Nosso Lar, pp. 104 e seg.

O “bônus-hora” remunera todo o esforço de melhoria e crescimento es-piritual. E é exatamente aí que consiste a originalidade desse tipo de com-pensação. O sistema não funciona do mesmo modo para todos os Espíritos. Nessa retribuição, por serviços prestados, há a considerar o nível evolutivo do trabalhador espiritual, a sua aptidão e competência para o desempenho de determinadas tarefas, a quantidade das horas despendidas e, acima de tudo, “o modo como as horas de trabalho foram preenchidas”, o que implica na qualidade do labor executado.

Nas Esferas Espirituais, obviamente, todo ganho tem de ser de natureza espiritual, ao contrário do que acontece na Terra, em que a corrida de to-dos é atrás do lucro material imediato, consubstanciado no metal amoedado. Nos Planos do Espírito, buscam-se, através do trabalho, tão somente aquisi-ções, tais como: a experiência, a educação, o crescimento integral do espírito, em suma, a cristificação do ser.

André Luiz chega a afirmar que, na Terra, a maioria dos seres humanos “está simplesmente ensaiando o espírito de serviço e aprendendo a trabalhar nos diversos setores da Vida humana”.28 Visando tão somente o lucro ex-terno, os homens descuram-se, inteiramente, da qualidade do trabalho em execução, esquecendo, tanto os dirigentes de empresas quanto os operários, dos deveres morais implicados em suas ações. Por isso mesmo, na Terra, até a ociosidade é remunerada, porque uma grande maioria possui emprego, no entanto, não trabalha…

No sistema de “bônus-hora” há para o trabalhador, acima de tudo, o lu-cro espiritual e o prêmio ao seu ofício. É ele próprio quem se esforça por fa-zer o melhor, porque, só assim, crescerá espiritualmente. Não adianta, nesse sistema, “matar o tempo”. Seria iludir-se a si mesmo. E, justamente, no amor, na dedicação, na assiduidade e no gosto com que a atividade é desenvolvida que está o segredo de todo o aproveitamento. E o “bônus-hora” paga, exata-mente, essa “mais valia” invisível que nada tem a ver com o simples número de horas trabalhadas.

Quanto mais o espírito evolui, mais sublimes e diversificadas se tornam as suas ocupações e, conseqüentemente, as suas aquisições espirituais. Nos Planos de Luz torna-se, inteiramente, desnecessária qualquer contagem de

28 Idem, ibidem, p. 106.

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horas de trabalho. A alma redimida tem o seu relógio interior que sabe me-dir, de maneira infalível, o tempo real do aproveitamento do espírito. E o autocrescimento, norteado por uma consciência iluminada, onde a Lei de Deus está escrita em caracteres indeléveis.

O trabalho, nos Planos Espirituais, conduz o espírito à mais pura alegria cristã. Este, engajado em múltiplas atividades, sente-se, acima de tudo, um colaborador de Deus, uma vez que o labor é luz para o espírito, com a con-seqüente ascensão aos mais Altos Cimos da Espiritualidade. •

33Alimentação dos Espíritos

Como a Natureza não dá saltos, os seres humanos que deixam este mun-do, com raríssimas exceções, necessitam, nos seus primeiros dias de

adaptação à nova Vida, de alimentação diferenciada.Dissemos “alimentação diferenciada”, porque ela será tanto mais pesada

e grosseira quanto mais densos forem os corpos espirituais desses Espíritos. Por outro lado, será tanto mais leve e frugal quanto mais tênues forem os seus envoltórios que lhes assinalam os graus evolutivos conquistados.

Os que, quando na Terra, abusaram dos prazeres da mesa, entregando-se a excessos alimentares de toda ordem, chegam aos Planos Espirituais cheios de inquietações e ansiedades, sofrendo, duramente, a impossibilidade de atender a esses caprichos e requintes do paladar.

O escritor Humberto de Campos em ditado post mortem, sob o título “Treino para a morte” adverte-nos de que os maus hábitos alimentares “nos acompanham até aqui (até os Planos Espirituais) e são verdadeiros tiranos para nós. E é, ainda, esse mesmo espírito quem aconselha:

Comece o seu preparo para a morte com a sua renovação de Vida, mudando o prato de cada dia. Diminua a volúpia de comer carne de animais. O cemitério da barriga é um tormento, depois da grande passagem. O lombo de porco ou o bife de vitela, temperados com sal e pimenta, não nos situam muito longe dos nossos antepassa-dos, os tamoios e os caiapós, que se devoravam uns aos outros. (Francisco Cândido Xavier e Espírito Humberto de Campos, Cartas e crônicas, p. 16)

Apesar dessas viciações alimentares com que muitos chegam ao outro lado da Vida, os Espíritos elevados que os atendem e assistem, em instituições especializadas da Vida Espiritual, vão dosando a sua alimentação, tornando-a pouco a pouco, mais leve, mais delicada, a fim de que eles possam ir-se adaptando aos padrões vibratórios das regiões espirituais mais altas.

Muitos homens e mulheres acostumados, neste mundo, a absorver uma

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alimentação condimentada e excitante, ao se transferirem para a Vida Maior, costumam vampirizar pessoas ainda na carne, também entregues aos ex-cessos da mesa, transformando-os, indiretamente, em “pratos vivos”, para atenuar-lhes a fome devoradora e insaciável. Permanecem, desse modo, por muito tempo, no halo vital dessas pessoas, estimulando-as a comer cada vez mais, a fim de que possam degustar a sua parte.

Não é por outro motivo que, no Umbandismo e no Quimbandismo, es-pecialmente neste último, os médiuns ou “cavalos”, comem e bebem duran-te as sessões, a fim de alimentar a fome e matar a sede alcoólica de alguns Espíritos “em serviço”. Os despachos nas encruzilhadas nada mais são do que presentes de alimentos e de bebidas a Espíritos ainda presos aos vícios alimentares. Em troca, eles prestam favores aos que lhes concedem tais “ofe-rendas”. Diga-se o mesmo do sangue de animais sacrificados, cujo plasma é sugado por Espíritos animalizados, em estado de perturbação e inferiorida-de, a fim de absorver-lhe os elementos vitais.

Segundo nos informa André Luiz, em seu livro Evolução em dois mundos, os que chegam ao Além, com vícios de alimentação, são conduzidos

“pelos agentes da Bondade Divina a centros de reeducação do Plano Espiritual, onde encontram alimentação semelhante à da Terra, porém, fluídica, recebendo-a em porções gradualmente reduzidas até que se adaptem aos sistemas de alimen-tação das esferas superiores”. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Evolução em dois mundos, p. 169)

Essa alimentação dos Espíritos é, basicamente, constituída de elementos quintessenciados, extraídos de frutos da Natureza, em forma de sucos; de uma educação respiratória adequada que os ensina a extrair elementos nu-tritivos da atmosfera, e ainda acontece através da absorção, pelo corpo espi-ritual, de elementos energéticos da Natureza em torno.

Resta-nos, por último, falar do mais completo de todos os alimentos para o espírito: o amor. Em última análise, é este sentimento que, verdadeira-mente, sustenta as almas entre si, elevando-as a níveis cada vez mais altos de sabedoria e santidade.

Na fonte acima citada, lemos:

Essa alimentação psíquica (…) trocada entre aqueles que se amam, é muito mais importante do que o nutricionista do mundo possa imaginar, de vez que é por ela que se origina a ideal euforia orgânica e mental da personalidade. Daí porque toda criatura tem necessidade de amar e de receber amor para que se lhe mantenha o equilíbrio geral. (Idem, ibidem)

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34Como se Vestem os Espíritos

Espíritos que habitam as esferas de prosseguimento à Vida física, ainda sob o domínio da forma, não podem prescindir do uso do vestuário

para a sua apresentação.Todos os dias, milhões de almas deixam este mundo e despertam, no

outro, com um corpo diferente: leve, para uns; grosseiro, para outros, con-soante o “peso espiritual” de cada um.

O corpo sutil do espírito, como já temos dito, é, em tudo, semelhante ao corpo físico deixado, aqui, na Terra. Daí porque, nas aparições dos Espíritos a pessoas deste mundo, dotadas de vidência, ou mesmo quando os entre-vemos em sonhos, eles sempre se mostram com a forma humana de nós conhecida, inclusive trajando roupas semelhantes às usadas quando viviam na Terra. Até mesmo as manifestações visíveis dos Santos e da Virgem Maria não fogem a esta regra.

O problema de como se vestem os Espíritos sempre inquietou teólo-gos e religiosos, de um modo geral. Basta lembrar que, no julgamento de Joana D’Arc, por exemplo, um dos seus acusadores – o Bispo de Beauvais

– perguntou-lhe, durante um interrogatório, se as entidades que ela via e com quem conversava, lhe apareciam despidas ou não, ao que a donzela de Orleans, num surto de inspiração, retrucou: “— Não acha o senhor que Deus sabe muito bem como vesti-las?”

O vestuário dos Espíritos varia muito. Espíritos materializados que, pe-rambulam pelas zonas inferiores dos Planos Espirituais, costumam apresen-tar-se com indumentária semelhante à que usavam neste mundo Tais rou-pas são uma resultante da criação de suas mentes perturbadas e enfermiças. Com o passar do tempo, essas vestes vão-se tornando rotas e sujas, e eles fi-cam parecidos com os mendigos esfarrapados que circulam em nossas ruas.

Espíritos orgulhosos, vaidosos, cruéis e dominadores, que exercem po-der de mando, a título precário, em conglomerados habitacionais das zonas trevosas do Mundo Invisível, vestem-se espalhafatosamente, usando tiaras,

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coroas e paramentos extravagantes, em cores muito vivas e berrantes, onde o ouro e o escarlate predominam. Assim procedem a fim de impressionarem, com essa forma pomposa de apresentação, os Espíritos incautos e infelizes que vivem sob o seu jugo.

Espíritos de mediana evolução, recuperados, inteiramente, da crise da morte e engajados em atividades múltiplas, nas cidades espirituais que os acolheram, vestem-se segundo exigência do tipo de trabalho que exercem nessas urbes.

Se ainda estão nas primeiras fases de readaptação à Vida Espiritual, em hospitais, casas de repouso ou postos de socorro, recebem da adminis-tração dessas instituições, roupas, mais ou menos padronizadas, simples, mas de muito bom gosto, ajustadas às atividades e ao ambiente em que se movimentam.

O pensamento é criador. A mente, associada à vontade, pode fazer surgir os mais variados tipos de vestuário para o espírito. Isto, entretanto, requer preparação, treino mental, evolução. A grande maioria dos que deixam este mundo não tem, ainda, a força mental para realizar esse tipo de operação. Por isso, existem, nas cidades espirituais, oficinas e fábricas destinadas à pro-dução de tecidos e à confecção de roupas para esses Espíritos.

Há seres espirituais já completamente adaptados à Vida Maior. Estes vi-vem há dezenas e, até, centenas de anos nas cidades do Além e conquistaram, pelo seu trabalho e méritos pessoais, o direito de adquirir vestes variadas, bonitas e elegantes.

Espíritos ainda mais evoluídos, criam mentalmente, a seu bel prazer, os seus vestuários, de acordo com os seus gostos e o tipo de atividades missio-nárias que desempenham. Alguns deles, que cumpriram, com êxito, missões em nosso planeta, em épocas recuadas, costumam, por vezes, mentalizar trajes que tiveram a satisfação de usar nessas missões, sentindo-se bem nessa forma de apresentação.

Espíritos de grande elevação espiritual, habitantes de esferas sublimes, quando se apresentam “materializados” nos Planos Espirituais mais baixos, costumam envergar túnicas de rara beleza; muito alvas ou de um azul celeste brilhante, semelhantes às vestes usadas por Jesus em sua gloriosa passagem por este mundo.

Nas regiões espirituais que já ultrapassaram o domínio das formas, o ves-tuário dos Espíritos redimidos e purificados, atinge o inimaginável.

Relata-nos o Evangelho que, por ocasião de transfiguração de Jesus, no Monte Tabor, “as Suas vestes tornaram-se brancas como a neve e o Seu ros-to brilhante como o Sol” (Mt. 28,3). É assim que se vestem, nos Cimos da Espiritualidade, os Espíritos de luz, puros de coração! •

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35Locomoção dos

Espíritos – Volitação

Nas Esferas Espirituais adjacentes à Terra, os Espíritos locomovem-se de diferentes formas, sempre ditadas pelo nível evolutivo em que se

encontram.Seres humanos e animais caminham. Aves voam. Espíritos volitam.

Volitar é sinônimo de esvoaçar, de flutuar ao vento em espaço livre. É voar, enfim. E assim como o andar é próprio dos seres humanos, ainda presos às amarras da carne, volitar é o meio normal de locomoção dos Espíritos evoluídos.

Quanto aos Espíritos recém-libertos da carne, estes, em sua esmagadora maioria, “caminham” normalmente, como o faziam na Terra. À proporção que se vão adaptando às novas condições de Vida, aprendem ou reaprendem a utilizar as faculdades volitivas, peculiares a sua condição de Espíritos.

Espíritos de evolução mediana, que, de há muito, já possuem o domí-nio completo da volitação, nem sempre a utilizam em suas tarefas habituais. Tendo atingido níveis mais altos de evolução, eles, bondosamente, privam-se desses dons, conquistados por méritos próprios e inquestionáveis, para não infligirem qualquer humilhação aos que não os desenvolveram ainda.

A volitação depende, em parte, da maturidade alcançada e, em parte, da força mental do espírito. Exige um domínio completo do pensamento e uma direção segura da vontade, voltada para aquele fim.

Em nosso planeta, têm asas tanto os avestruzes quanto as andorinhas. Entretanto, os primeiros apenas correm, presos ao solo da Terra, enquanto os pássaros libram-se no infinito azul, desferindo vôos de incomparável be-leza. Isto significa que, potencialmente, todos os Espíritos têm a capacidade de volitar, mas o seu domínio depende dos fatores acima alinhados.

Nas zonas purgatoriais inferiores, os Espíritos, em sua grande maioria, permanecem, todo o tempo, adstritos ao solo espiritual, como qualquer ser

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humano preso ao solo terrestre. Todavia, aqueles que, nessas zonas inferio-res, têm força mental e exercem, embora a título precário, algum poder de mando, conseguem desferir vôos baixos, dentro dos limites preestabelecidos pela sua própria condição espiritual.

A locomoção dos Espíritos de luz atinge o inconcebível. São eles capazes de deslocar-se através de distâncias incomensuráveis, com a rapidez do pen-samento, bem maior do que a velocidade da luz.

O espírito Irmão Jacob, pseudônimo de Frederico Figner, um dos ex-diretores da Federação Espírita Brasileira, após volitar com a sua filha, Marta, em direção ao estado da Califórnia, nos Estados Unidos, a fim de fazer uma visita ao grande inventor Thomas Alva Edison, assim descreve a sua experi-ência no livro Voltei, de sua autoria:

Como descrever a maravilhosa viagem para o leitor faminto de informações Não guardo a presunção de fazê-lo. Temos aqui, em jogo, forças e elementos inapreci-áveis ao senso contemporâneo e seria tão difícil explicar minha rápida jornada ao oeste dos Estados Unidos, quanto seria impraticável qualquer narrativa, por parte de um homem comum, aos seus vizinhos, depois de haver viajado no espaço, com velocidade mais ou menos semelhante à da luz ou à do som. (Francisco Cândido Xavier e Espírito Irmão Jacob, Voltei, p. 135)

Volitar pelos espaços sem fim é um dos prazeres mais sublimes do espírito liberto.

Em nosso mundo, um repórter perguntou, certa vez, a um homem-pás-saro, em sua asa delta, o que ele sentia ao adejar sobre o mundo naquela máquina voadora, ao que este respondeu: “— Sinto o que os pássaros sen-tem…” O interlocutor insistiu: “— E o que sentem os pássaros?” A resposta do jovem desportista foi imediata, quase intuitiva: “— Pergunte a eles!…”

Analogicamente, o mesmo devem sentir os Espíritos superiores e ilu-minados quando, felizes, em paz consigo mesmos, alegres como crianças, libram-se pelos espaços sem fim, em missões de amor, irradiando a bondade, a beleza, a verdade e a luz! •

36Trânsito dos Espíritos Entre

Esferas Espirituais

As Esferas Espirituais são separadas por diferentes padrões vibratórios. Interpenetram-se, mas não se misturam. Já o dissemos anteriormente.

Cidade no além é uma obra mediúnica originalíssima. Foi recebida em duas cidades diferentes – Uberaba e Sacramento. É de autoria de dois Espíritos – André Luiz e Lucius – e estes se comunicaram por dois médiuns diferentes – Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha. Nesse livro, um dos autores – Lucius – explica que

“o trânsito entre as esferas espirituais se faz por maneiras diversas: por estradas de luz (…) que são caminhos especiais, destinados a transporte mais importante, e através dos chamados campos de saída, que são pontos nos quais duas esferas pró-ximas se tocam”. (Francisco Cândido Xavier e Heigorina Cunha e Espíritos André Luiz e Lucius, Cidade no além, p. 71)

Espíritos superiores podem, se o quiserem, transitar livremente pelas Esferas Espirituais inferiores, e o fazem, por amor, no desempenho das mais varia-das tarefas e missões. Já o mesmo não acontece com os Espíritos inferiores. Estes, com os envoltórios que lhes são próprios, não conseguem atingir as esferas mais altas, à semelhança dos seres humanos que não transitam, com o seu corpo carnal, nos Planos Espirituais que se seguem ao plano físico.

Excepcionalmente, Espíritos pouco evoluídos podem visitar Planos mais elevados, com a ajuda de Espíritos superiores. Estes lhes fornecem o impul-so necessário para esses vôos maiores. Fazem-no, por espaços limitados de tempo, quando recebem, pelos seus méritos, o prêmio dessas visitas.

Nessas excursões a esferas mais altas, esses Espíritos menos evoluí-dos visualizam a glória sublime dos que desfrutam a Vida nessas regiões. Contemplam a beleza inenarrável desses planos e sentem-se, por sua vez,

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intimamente, estimulados a apressar o seu próprio burilamento espiritual, encorajando-se a dar início a novos programas reencarnatórios, com esse objetivo.

Espíritos de mediana evolução podem, também, ascender a Esferas Superiores, durante estados de emancipação da alma – o sono ou o transe mediúnico –, fenômenos que são comuns, tanto no plano material quan-to nas Esferas Espirituais mais “próximas” da Terra. No caso, seus envol-tórios mais grosseiros permanecem nas regiões inferiores, e seus espíritos libram-se a alturas com corpos mais finos. São verdadeiras “viagens astrais”, em tudo semelhantes às que fazem, neste mundo, os médiuns de desdobra-mento, quando em transe sonambúlico, bem como àqueles nossos irmãos de humanidade que, entre nós, já se conduzem dentro dos padrões evangélicos. Os que vivem seus dias, construtivamente, à noite, por ocasião do sono cor-poral, desenvolvem múltiplas atividades nos Planos Espirituais adjacentes à crosta terrestre.

O trânsito dos Espíritos entre Esferas Espirituais é intenso, especialmen-te das esferas superiores para as inferiores. É que o Paraíso não é completo sem a presença dos seres a quem queremos bem. Muitos que amamos, ainda habitam regiões inferiores, mergulhados nas sombras de indescritíveis sofri-mentos. Os Espíritos do bem, em sublimes missões de amor, vão ao encon-tro desses seres para ajudá-los a subir alguns degraus da escada da perfeição. E, à semelhança do Cristo, esses mensageiros de Deus descem do alto a fim de levar o conforto e a esperança a esses doentes do espírito.

Não é raro, também, Espíritos de grande elevação irem ao extremo sa-crifício de, voluntariamente, sem, a rigor, terem necessidade disto, retorna-rem à carne tão somente para auxiliarem no soerguimento moral de entes queridos que eles amam e desejam ver juntos de si, no Paraíso por eles já conquistado.

Outras missões intercessoras também acontecem nas regiões fronteiriças entre duas esferas, nos chamados “campos de saída ou lugares limites entre as esferas inferiores e superiores, pontos em que, de alguma sorte, a mani-festação da luz será possibilitada ante as trevas”, no dizer de André Luiz, em seu magnífico livro Libertação.

Nessas regiões intermediárias, Espíritos de sublime elevação conseguem densificar os seus corpos espirituais e aparecem “materializados” aos que se

encontram nas zonas sombrias do Invisível. Desses encontros que encerram os mais belos e nobres gestos de renúncia e de amor, podem nascer muitas transformações de Espíritos inferiores, assinalando o início de processos redentores de libertação espiritual. •

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37Aeronaves Espirituais

Espíritos superiores volitam, em todos os Planos Espirituais. Nada cons-titui obstáculo para eles, podendo, inclusive, adejar na atmosfera terre-

na e transpor, com a maior facilidade, a matéria grosseira do mundo físico.Espíritos inferiores, “caminham”, como todos os habitantes da Terra. Os

de mediana evolução, já esclarecidos e adaptados à Vida Espiritual, cami-nham e volitam, de acordo com as circunstâncias que os cercam, à propor-ção que desenvolvem, gradativamente, até à plenitude, as suas faculdades volitivas.

Ora, se no outro lado da Vida, conforme relatos mediúnicos idôneos, há Espíritos que voam e outros que caminham, tem de existir, para os que ca-minham, meios de locomoção rápidos e seguros, como acontece no plano físico.

Nas zonas espirituais inferiores, por ocasião das missões de amor dos mensageiros do bem, quando eles recolhem, por exemplo, Espíritos infelizes já em condições de receberem assistência, é muito freqüente a utilização de veículos de tração animal. Cavalos e muares são usados em viaturas que, via de regra, têm o formato das antigas diligências tão comuns nos velhos tem-pos, no oeste americano. A topografia dessas regiões purgatoriais é muito acidentada, cheia de caminhos tortuosos e estreitos, exigindo esse tipo de transporte, rudimentar e grosseiro.

Nas regiões mais altas, habitadas por Espíritos superiores, predominam os transportes coletivos que são silenciosos, velozes, semelhantes, em sua forma, aos metrôs de superfície do nosso planeta. Tais veículos são movidos por forças eletromagnéticas muito sutis que os fazem flutuar a alguns metros acima do solo, descendo, suavemente, em determinadas estações.

Há, também, nessas cidades, outros meios de transporte do tipo indi-vidual ou para pequenos grupos de pessoas, semelhantes aos automóveis, microônibus e ultraleves terrenos. São feitos de material muito leve, po-dendo deslizar nas boas estradas existentes nos planos mais altos, ou alçar

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vôo, quando as circunstâncias assim o permitirem, tal a sua delicadeza e versatilidade.

Os meios de transporte, no Além, variam de esfera para esfera. São, na sua grande maioria, veículos de serviço, utilizados nas mais diversificadas missões em favor de Espíritos necessitados e infelizes. Podem, também, ser usados para excursões de estudo e de lazer.

Não há, nos Planos Espirituais superiores, os veículos de luxo, existentes no nosso mundo, sinaladores do “status” social dos seus usuários e, muitas vezes, utilizados, egoisticamente, em exibições de orgulho e vaidade. E isto porque, do lado de lá, o dinheiro e o poder econômico não contam mas, tão somente, o mérito individual. A virtude, ali, é a moeda corrente, e os cresci-dos espiritualmente, têm as suas próprias asas.

Livros mediúnicos, psicografados por instrumentos competentes como Francisco Cândido Xavier, Yvonne do Amaral Pereira e Zíbia Milani Gasparetto, dão notícias dos mais variados e sofisticados meios de trans-porte nas Esferas Espirituais e algumas obras chegam a entrar em detalhes curiosos sobre velocidade, tamanhos e formatos.

Na cidade espiritual Nosso Lar, referida por André Luiz, há um meio de transporte coletivo que o autor denomina de “aeróbus”, assim descrito:

Mal me refazia da surpresa, quando surgiu grande carro, suspenso do solo a uma altura de cinco metros mais ou menos e repleto de passageiros. Ao descer até nós, à maneira de um elevador terrestre, examinei-o com atenção. Não era máquina conhecida na Terra. Constituída de material muito flexível, tinha enorme compri-mento, parecendo ligada a fios invisíveis, em virtude do grande número de antenas na tolda. Mais tarde, confirmei minhas suposições, visitando as grandes oficinas do Serviço de Trânsito e Transporte (Da cidade Nosso Lar). (Xavier, Francisco Cândido (pelo espírito André Luiz). Nosso Lar. Op. cit. p. 103 e 170)

No livro Os mensageiros, do mesmo autor, lê-se textualmente: “…Os sistemas de transporte nas zonas mais próximas da crosta são muito mais numerosos do que se poderia imaginar, em bases transcendentes de eletromagnetismo.”29 No Capítulo 19, o espírito Alfredo, dirigente de um dos Postos de Socorro

29 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Os mensageiros, pp. 103 e 170.

da cidade espiritual “Campos da Paz”, diante de uma tormenta iminente que ameaçava cair na região, oferece a André Luiz e ao seu Instrutor de nome Aniceto, “o seu próprio carro” para que eles prossigam em sua viagem de estudos “até a zona em que se torne possíveI”,30 tudo isto ante a estupefação de André, ainda neófito nas realidades da Vida Espiritual.

Silveira Sampaio, homem de televisão e dramaturgo brasileiro, em livro mediúnico – O mundo em que eu vivo, faz interessantíssimas revelações acer-ca dos meios de transporte nos Planos Espirituais.

No capítulo “A Experiência”, do citado trabalho, refere-se o autor a

“aparelhos de locomoção ágeis e perfeitos, esclarecendo que eles possuem todas as características dos chamados discos voadores, possuindo forma esférica e podendo parar no ar, subir e descer verticalmente com velocidade incrível”. (Zíbia Milani Gasparetto & Espírito Silveira Sampaio, O mundo em que eu vivo, pp. 97 e seg.)

O autor faz, ainda, alusão a “Centros de Pesquisas” que projetam esses apa-relhos e a outros núcleos que os fabricam. Esclarece, também, que eles, ge-ralmente, circulam nos limites dos Planos Espirituais, podendo, entretanto, deslocar-se até a atmosfera terrestre, “transportando pessoas (Espíritos) dos Postos de Socorro e atendendo a trabalhos urgentes”.31

Segue-se uma descrição que o espírito Silveira Sampaio nos dá de uma dessas aeronaves: “um veículo em forma de esfera, com uma plataforma ao redor, como um anel de material semelhante ao aço, da Terra”.32 O veículo, por ele descrito, não estava “aterrissado” no solo espiritual. Planava a, mais ou menos, um metro do chão, podendo a ele se ter acesso, através de uma pequena escada de material muito leve.

“Dentro, era mais espaçoso do que se podia perceber do lado de fora. Havia algumas poltronas no centro e, ao redor, cabines e painéis de comando com aparelhagem específica e complicada que não saberia descrever.” (Zíbia Milani Gasparetto e Espírito Silveira Sampaio, O mundo em que eu vivo, pp. 97 e seg.)

30 Idem, ibidem.31 Zíbia Milani Gasparetto & Espírito Silveira Sampaio, O mundo em que eu vivo, pp. 97 e seg.32 Idem, ibidem.

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No livro E a vida continua…, há referência a um veículo espiritual que serviu de transporte aos personagens Evelina Serpa e Ernesto Fantini, dos Planos Espirituais até a superfície da Terra, tendo pousado “rente à Via Anchieta”,33 rodovia que une a cidade de Santos a São Paulo. O veículo, segundo o autor, era conduzido por um espírito adestrado no seu manuseio e que combinou, com os passageiros, apanhá-los, no dia seguinte, a fim de regressarem, todos, às Esferas Espirituais onde residiam.

E assim aconteceu, segundo o que descreve o autor, no Capítulo 21, onde afirma que

“a perplexidade e a aflição de ambos (Evelina Serpa e Ernesto Fantini) se viram atenuadas com a vinda do “carro voador” que se transportara da Via Anchieta à Praia do Mar Casado (Guarujá) onde eles se achavam, a fim de conduzi-los a São Paulo”. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, E a vida continua…, pp. 137 e 167 e seg.)

Depois de alguns instantes de vôo, os dois personagens foram internados, para repouso e assistência, numa das casas espíritas cristãs da cidade de São Paulo.

Anteriormente, no Capítulo 13, o autor já fazia referência a

“máquinas voadoras, que se dirigiam da cidade (espiritual) para o território som-brio, semelhantes a grandes borboletas silenciosas, refletindo o Sol que lhes pu-nha à mostra as asas, como que estruturadas em pedaços de arco-íris”. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, E a vida continua…, pp. 97–98)

E ante a surpresa de um dos personagens, os esclarecimentos do Irmão Cláudio não se fizeram esperar: “— São aparelhos volantes, em que viajam comissões de trabalho, em tarefas de identificação e assistência.”34

33 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, E a vida continua…, pp. 137 e 167 e seg.34 Idem, ibidem.

E, adiante, o autor ainda fala em “conduções regulares”,35 existentes das cidades espirituais para o mundo físico.

Eis a Vida Espiritual que nos espera. Em tudo semelhante à Vida terrena, sendo que lá tudo se passa de forma mais perfeita e em padrões de qualidade muito acima dos existentes no mundo em que, presentemente, habitamos. •

35 Idem, ibidem.

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38Famílias Espirituais

Define-se, neste mundo, a instituição familiar como a reunião dos côn-juges e dos filhos, ligados, entre si, por laços de amor. Designa-se, tam-

bém, por família, o lar, sendo este, obviamente, mais do que a casa em que se habita, e sim, o espírito de união, de paz, de concórdia e de amor que deveria reinar no seio da família.

Infelizmente, não é isto o que, freqüentemente, ocorre. Em noventa e cinco por cento dos casos, ou mais, os lares terrestres são focos de desarmo-nia, guerras intestinas e “desencontros marcados”…

Os Espíritos evoluem em grupos, solidariamente, reunidos por laços fra-ternos. Esses grupos, nos Planos Espirituais, nem sempre se congregam num mesmo lugar, entretanto, mesmo em esferas diferentes, não deixam de estar unidos, tendo em vista os projetos reencarnatórios conjuntamente traçados. São as famílias espirituais. Nelas, todos se ajudam, reciprocamente, perse-guindo um objetivo maior: a sua evolução.

Desde a descida do espírito aos planos de matéria densa, em múltiplas vidas sucessivas, vai ele conquistando amizades e, também, gerando desafe-tos. Aos poucos, afetos e desafetos vão constituindo as famílias espirituais. Estas passam a reunir-se, na Terra, através da reencarnação, pelos laços da consangüinidade, para vivenciarem as mais variadas experiências missioná-rias e expiatórias.

Afetos inexplicáveis, simpatias súbitas, afinidades imediatas, amores à primeira vista representam, neste mundo, o reencontro de Espíritos que já se conheciam e se amavam, anteriormente, em vidas pregressas ou nos Planos Espirituais, antes da reencarnação.

Antipatias, aversões, ódios que eclodem, de repente e sem razão, são re-encontros de adversários e inimigos do pretérito, e isto, muitas vezes, acon-tece dentro dos laços de sangue para o “milagre” da reconciliação. A família transforma-se, assim, no grande laboratório dos mais singulares e surpreen-

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dentes resgates cármicos, sob a supervisão dos Espíritos superiores, guias e protetores desses grupos espirituais.

É por essa razão que, neste mundo, as famílias, embora unidas pelos laços da consangüinidade, nem sempre são, espiritualmente, afins.

Quanto aos membros dessas famílias que residem nos Planos Espirituais, passam eles a ser verdadeiros “anjos da guarda” dos que os antecederam nos prélios reencarnatórios. Amparam-nos, dentro de suas possibilidades, para que tenham força e coragem em suas provas e expiações. Vibram de alegria, quando os seus protegidos conseguem sair-se vitoriosos, retornando, lumi-nosos e redimidos, à Pátria Espiritual.

Enquanto peregrinamos na Terra, é possível aumentar nossa família espi-ritual. Basta semearmos amor em torno de nós. Iremos, assim, granjeando a simpatia de outros irmãos de humanidade. Tais amizades podem tornar-se tão sólidas e ricas que ultrapassam os limites das fronteiras físicas, atingindo os Planos do Espírito. Ao incorporarmos ao nosso grupo familiar novas afei-ções, estaremos ampliando, também, as nossas chances de retorno à Terra, em futuras reencarnações, para acertos de contas com a Lei Maior.

Na Terra, as famílias, geralmente, estão abrigadas sob o mesmo teto. Nos Planos Espirituais ocorre o mesmo, mas, tão somente com aqueles que sou-beram bem desempenhar as suas missões, neste mundo. Estes, no outro lado, desfrutam, em família, o amor verdadeiro e espiritualizado, fonte de paz e de felicidade perenes.

Essa situação, entretanto, por mais bela que seja, é, ainda, transitória. À proporção que o espírito vai crescendo em santidade, desprende-se, grada-tivamente, dos “laços consangüíneos”, transformando-se num ser cósmico que passa a desenvolver, em seu coração, um sentimento divino de amor universal.

Tudo isto é perfeitamente natural e lógico, contribuindo, decisivamente, para tanto, a lei da reencarnação. Esta lei, aos poucos, vai eliminando toda e qualquer hierarquia familiar e convertendo os membros de uma mesma família em irmãos uns dos outros, filhos do mesmo Pai, que é Deus.

Nas programações reencarnatórias, aqueles que foram pais, numa exis-tência, podem voltar como filhos de seus filhos, na outra. Mães podem re-tornar como irmãs de seus “ex-maridos”. Amantes e apaixonados podem ser, em Vidas futuras, filhos uns dos outros. Avós podem renascer como filhos

de seus netos e bisnetos. Inimigos e adversários ferrenhos de hoje, se torna-rão, no amanhã, irmãos de sangue, ou pais e filhos… e assim por diante, O exercício de um amor sem lindes pode, paulatinamente, ultrapassar os limi-tes da consangüinidade e anular as afeições particulares, bem assim qualquer tipo de ascendência de um membro da família sobre os demais. E todos vão atingindo, aos poucos, a dimensão do amor crístico.

Nas esferas de luz, onde vivem Espíritos puros e redimidos, reina apenas um sentimento: o do amor universal. Uma só família. Todos se amando uns aos outros como Jesus nos amou. Cresce, então, em verdade, a ponderação do Cristo aos que lhe vieram avisar, certa vez, que

“Sua mãe e Seus irmãos estavam do lado de fora e queriam falar-lhe. — Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?” – perguntou o Mestre. E, estendendo a mão para os discípulos, disse: “— Eis minha mãe e meus irmãos, porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai Celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe”. (Mt. 12, 47-50) •

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39Amor e Afetividade

Entre os Espíritos

A morte não destrói a afetividade dos que, neste mundo, provaram “o verdadeiro amor” e a “lídima amizade”. Pelo contrário, fortalece-os ain-

da mais, nos Planos do Espírito. Isto acontece – já o dissemos – com os que se amaram “verdadeiramente”, na mais pura afinidade espiritual.

Neste mundo, noventa por cento, ou mais, dos que dizem se amarem, não conhecem a sublimidade do amor. Na grande maioria dos casos, são relacionamentos ditados por outros sentimentos, por vezes parecidos com o amor. Uns procuram parceiros para preencher uma carência afetiva; ou-tros estão em busca de uma estabilidade emocional; enquanto uns tercei-ros partem para uniões que nada têm de sinceras, movidos tão somente por interesses subalternos de somar heranças ou unir famílias tradicionais. Há, ainda, aqueles que, no relacionamento a dois, buscam atender apenas às for-tíssimas exigências do sexo, sem amor.

Somente a união por laços espirituais garante a continuidade do amor nos planos da Eternidade. Não que o sexo seja algo inferior ou deprimente. Não! É que, se a união afetiva se baseou apenas num corpo bonito, de for-mas esculturais, ou em qualquer outro dote físico do parceiro, bem cedo esse corpo envelhecerá e, com a morte dos tecidos, vem, de parceria, a mor-te do amor.

Em seu livro magistral Construir o homem e o mundo, o Padre Michel Quoist diz algo sobre o amor que merece citação integral:

O amor tem o seu próprio caminho. Começa pelo corpo, mas seu destino é o espíri-to imortal. Vai do contingente ao transcendente. Do finito ao infinito. Do temporal ao eterno. Por isso, o amor entre dois seres deve ir-se elevando progressivamente, em qualidade. De uma atração e união de corpos a uma atração e união de corações,

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para atingir, por fim, aquele estado ideal de união de almas. (Pe. Michel Quoist, Construir o homem e o mundo)

Somente aí, então, cumpre-se o anseio do Cristo em seu Evangelho de luz: “Não serão dois, mas uma só carne…” (Mc. 10, 8)

O amor está muito além das emoções que irrompem entre dois seres, naquelas etapas tão bonitas que os casais atravessam neste mundo: o fler-te, o namoro, o noivado, o casamento. A mulher prova o verdadeiro amor quando a fêmea, que há nela, transforma-se na mulher-mãe. O amor da mãe tem algo de divino. Por sua vez, o homem passa a conhecer em si mesmo os puros sentimentos do vero amor quando o macho, que há nele, transforma-se em homem e o homem em pai ou avô, acarinhando, nessa condição, os filhos e netos do seu amor…

Quando isto não acontece é que o sexo, “e apenas o sexo”, presidiu a união de dois “apaixonados”. O prazer carnal foi procurado em primeiro lu-gar e os filhos passam a ser, apenas, a conseqüência de uma satisfação, egois-ticamente, buscada.

Há, também, a considerar outras formas de amor: o sentimento fraterno entre pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferente que, por vezes, tem muito maior consistência e autenticidade do que a hétero-relação convencional unindo duas pessoas pelos laços do matrimônio.

Fizemos essa pequena digressão para assinalar que o amor que perdura nos Planos do Espírito é o amor-doação, o amor-entrega, o amor-renúncia, o amor-ternura, o amor-sacrifício. Em suma, o amor incondicional que Jesus nos ensinou, aquele que se dá completamente feliz com a felicidade do ser amado.

Os que se amaram, assim, neste mundo, continuarão a amar-se, do mes-mo modo, nos Planos do Espírito e lá, é perfeitamente possível a casais con-tinuarem “casados”, vivendo sob o mesmo teto e traçando novas programa-ções redentoras em futuras experiências reencarnatórias.

Já aqueles que muito se amaram, nesta Vida, e foram abruptamente se-parados pela morte, dentro do seu carreiro de provas remissoras, unir-se-ão mais tarde, para viverem, nos Planos Espirituais, o mesmo amor, numa di-mensão ainda maior. Muitas vezes, esses seres felizes, verdadeiras “almas-

gêmeas”, desfrutam, aqui na Terra, uma felicidade a dois tão grande que se esquecem de estender esse amor às outras criaturas humanas, consoante a recomendação do Cristo do “amor ao próximo como a nós mesmos” (Lc. 10, 27). E, por vezes, para o bem desses casais, a morte vem e os surpreende para que, distantes um do outro, aprendam a amar, além dos limites de uma união espiritual a dois, mas numa dimensão universal, cósmica. A separa-ção “momentânea” dessas criaturas que, verdadeiramente, se amaram, neste mundo, redunda sempre num bem imenso para o crescimento espiritual de ambos.

O mesmo acontece com pais e mães que perdem os seus filhos em ten-ra idade e que, a princípio, ficam inconformados, mas, depois, conseguem dilatar o seu amor e estendê-lo aos filhos do infortúnio, da miséria e do abandono.

Diz Pietro Ubaldi, em seu livro A grande síntese, que:

O amor é o impulso fundamental da Vida e a grande força da coesão que rege todo o Universo. Manifesta-se, de início, sob a forma de impulso sexual e esse impulso jamais deverá ser destruído, mas sim, sublimado e aprimorado. O amor evolui no ser humano, e a sua função é a de criar, conservar, proteger, levando-o a sentir a mais pura e verdadeira alegria que é a alegria espiritual. Aos gozos de atrito da matéria, devem suceder-se os gozos livres do espírito, porque este – o espírito – abre os braços ao infinito e tudo possui sem pedir nada… (Pietro Ubaldi, A grande síntese, pp. 325 e seg.)

Na opinião de Ubaldi, um dia atingiremos o amor do santo, daquele que ama, impetuosamente, todas as suas criaturas irmãs. Francisco de Assis, no seu Cântico das criaturas chama de “irmãos”, o Sol, a Lua, os ventos, as pe-dras, as árvores, os animais, os bons, os maus, os justos, os injustos… e até a morte.

Deus, o Criador incriado, aquece de amor o Universo inteiro… O Cristo, também, por amor, sacrificou-se por toda a Humanidade e assim definiu o Ser Supremo a Quem devemos a Vida: “Deus é amor”. (I Jo. 4, 8) •

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40Namoro, Noivado e

Matrimônio no Além

Temos afirmado, neste livro, repetidas vezes, que a Vida Espiritual guar-da grandes semelhanças com a Vida material, pelo menos nas esferas

que se seguem, imediatamente, ao plano físico. Há semelhanças – repeti-mos – mas nada do que se passa do outro lado é “idêntico” ao que aqui acontece. Há um axioma da filosofia oriental, muito conhecido, e oriundo do Budismo, nestes termos: “Assim como é em cima é também em baixo”. Lemos, em algum lugar, certa vez: “O além é o espelho do aquém, menos o corpo físico que se abandonou.”

Neste trabalho, em todas as descrições dos Planos Espirituais, temos ten-tado reproduzir, embora imperfeitamente, o que se passa “no outro lado da Vida”. A própria expressão usada, com tanta freqüência, neste trabalho – “o outro lado” – já diz muito por si mesma. É “outro” o lado que se procura descrever e a pretensão é a de mostrar “a outra face” de uma mesma Vida que se desdobra em múltiplas dimensões e noutros padrões vibratórios. E isto faz a diferença.

Temos que ser honestos e dizer: este livro, à semelhança de tantos outros do mesmo gênero, inclusive os mediúnicos, é todo ele feito de “tentativas de explicação” dessa “outra face da Vida”, porque, em verdade, tudo o que por lá se passa obedece a outras leis, a outros padrões, a outras escalas de valores. Em muitos casos, inexistem os termos adequados de comparação entre “aquela outra” realidade e a que estamos vivendo, agora.

Isto nos leva a uma conclusão: somente saberemos “realmente” o que acontece por lá, além das fronteiras da morte, quando deixarmos este mun-do. Estamos afirmando o óbvio. E temos de possuir a humildade de fazer tal confissão. Não existe, na face da Terra, nenhum PhD em Vida Espiritual que possa descrever, “exatamente”, como se passam as coisas “no outro lado”.

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Namora-se, noiva-se, casa-se nos Planos Espirituais? Responderemos que sim, em termos analógicos.

Em nosso mundo, pelo menos em tese, namora-se como uma fase pre-liminar que conduz ao noivado e, em seguida, ao casamento. O que leva alguém a iniciar esse processo, nesta Vida, é uma atração natural e instintiva existente entre sexos opostos. Daí pode emergir, com o passar do tempo, o mais nobre dos sentimentos – o amor – em belíssimas formas de expressão.

Todavia, esse sublime sentimento nem sempre desponta entre os seres humanos porque outros, infelizmente, se sobrepõem a ele, comprometendo a nobreza e elevação que deveriam caracterizar as mais puras relações afeti-vas em nosso orbe.

O amor segue um caminho próprio. A beleza desse sentimento depende do apuro da sensibilidade. A união afetiva pode muito bem começar, aqui na Terra, pelo amor físico – a atração de um corpo pelo outro – mas a sua destinação é o espírito imortal. O amor é um sentimento que deve crescer cada dia, em qualidade, até possibilitar uma união duradoura e perene de duas almas. Quem desposa alguém, apenas pelos dotes físicos, bem cedo cairá na rotina e passará a desejar outro.

Por isso mesmo, como nos diz Pietro Ubaldi, em sua obra magistral, A grande síntese:

O amor, por vezes, manifesta-se sob a forma do impulso sexual. Este, entretanto, deve sublimar-se para atingir o nível mais alto de domínio sobre as forças biológi-cas. As formas de amor ascendem gradualmente, e do selvagem ao homem civiliza-do e deste ao santo, cada um ama diversamente, de acordo com o grau de perfeição alcançada”. (Pietro Ubaldi, A grande síntese, pp. 326 e seg.)

Há, portanto, gradações no sentimento do amor que, aos poucos, num cres-cendo evolutivo, vai caminhando do amor ciumento e dominador, num cli-ma de paixão, até ao amor universal do Cristo sobre a cruz, amando os seus algozes e pedindo a Deus por eles, ao dizer: “— Perdoa-lhes, meu Pai, não sabem o que fazem.” (Lc. 23, 34)

Foi preciso fazer esta pequena digressão a fim de melhor compreender-mos o amor nos Planos Espirituais.

Nas regiões inferiores do Além, tudo se passa como na Terra: paixões

desvairadas, ciúmes enlouquecedores, amor possessivo, sexo confundido com amor e até promiscuidade e perversões sexuais.

Ascendendo de nível, o amor também assume, entre os Espíritos, formas mais elevadas, e é nesse clima e nessa dimensão que o namoro, o noivado e o matrimônio acontecem nos Planos do Espírito.

Mesmo aqui na Terra – lembra-nos André Luiz:

Entre casais mais espiritualizados, o carinho e a confiança, a dedicação e o enten-dimento mútuos permanecem muito acima da união física. Para que se alimente a ventura, basta a presença e, às vezes, apenas a compreensão. O homem da Terra saberá mais tarde que a conversação amiga, o gesto afetuoso, a bondade recíproca, a confiança mútua, a luz da compreensão e o interesse fraternal são qualidades que derivam do amor e constituem sólidos alimentos para a Vida em si. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, p. 88.)

É mais ou menos assim que as coisas se passam nas Esferas Espirituais. Lá, a afetividade entre as almas cresce na proporção da afinidade existente. Amam-se por lá, mais profundamente, os que mais se espiritualizam e pas-sam a enxergar a Vida e as relações afetivas sob prismas mais nobres e mais elevados. Sentem o amor os que, despojados de qualquer egoísmo, anseiam pelo bem-estar do outro, na imensa felicidade em fazer o parceiro feliz. E, havendo reciprocidade nesse sentimento, os que se amam não são mais dois, mas um só espírito, ou duas almas gêmeas.

Namoro, noivado e matrimônio acontecem nos Planos Espirituais como a mais bela forma de exercício das dimensões mais sublimes do sentimento do amor.

Jesus, em sua passagem por este mundo, não experimentou nenhuma das fases do amor humano. Não casou, mas não deixou de, com a sua mensagem e com o seu exemplo, fecundar, até hoje, milhões de almas, gerando filhos da luz, aqueles que, segundo o Apóstolo João “não nasceram nem do sangue, nem do desejo da carne, mas da vontade de Deus”. ( Jo. 1, 13) •

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41Sexo nos Planos Espirituais

O amor é constantemente aviltado, neste mundo, a tal ponto que o ato de fazer sexo é freqüentemente definido como o ato de “fazer amor” e

vice-versa. Não se “faz amor”, porque o amor é um sentimento tão sublime que não pode ser “fabricado” nos fugazes instantes em que duas pessoas permutam energias sexuais, sem nada criar.

A grande maioria dos seres humanos ainda está dominada pelas baixas paixões que levam tão somente aos gozos efêmeros, propiciados pela união dos corpos.

“A sede do sexo não está no corpo grosseiro, mas na alma, em sua sublime organização.”36

Realmente, os caracteres primários e secundários que definem, em nosso mundo, ambos os sexos, provêm do espírito que anima o corpo. E, mais uma vez, o visível é determinado pelo invisível. É o espírito reencarnante, com o seu corpo espiritual ou perispírito, que modela o corpo de carne, determi-nando o sexo.

Por conseguinte, masculinidade e feminilidade são atributos do ser es-piritual, e o espírito, para ser perfeito, no amanhã de sua evolução, terá de possuir tanto as qualidades masculinas quanto as femininas, ou seja, aquelas qualidades predominantemente ativas ou acentuadamente passivas que se manifestam no mundo das formas, na escalada do espírito.

Diz-se, comumente, que as almas não têm sexo. Isto, entretanto, no que concerne a Espíritos muito evoluídos, habitantes de esferas superiores, além do domínio das formas. Nos Planos Espirituais “mais próximos” do nosso mundo, o que vamos encontrar, como já o dissemos alhures, são homens e mulheres despojados dos indumentos carnais.

Ora, se existem o masculino e o feminino nesses planos de prossegui-mento à crosta terrestre, há, também, nessas regiões, todos os fenômenos

36 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, No mundo maior, p. 147.

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correlatos ao sexo, próprios do nosso mundo, até a viciação dessas energias criadoras. Isto, entretanto, caracteriza o comportamento de Espíritos infe-riores e animalizados que, quando em nosso mundo, não educaram, conve-nientemente, as suas forças genésicas.

Homens e mulheres que deixaram este mundo no pleno vigor de suas energias sexuais por não terem abraçado os valores do espírito, sublimado-res dessas energias, chegam ao outro lado dominados pelas inquietações do sexo. Se já possuem méritos acumulados em sua trajetória evolutiva e a boa vontade para crescerem espiritualmente, são auxiliados e assistidos em instituições especializadas do Além. Reeducados, modificam a sua posição mental, ajustando-se às novas dimensões de existência.

Outros, entretanto, que, neste mundo, foram viciados na prática do sexo, considerando-o, única e exclusivamente, uma fonte de prazer, sem utilizá-lo, também, como um instrumento do amor e da procriação, estes, erotizados e mentalmente em desequilíbrio, partem, nos Planos Espirituais inferiores, à procura das mesmas emoções em que estavam centradas a sua mente e os seus interesses.

E assim, como acontece com os viciados no tabaco, no álcool, nas dro-gas mais pesadas, no jogo e quejandos, esses Espíritos sensuais e libidino-sos juntam-se, segundo a lei da atração, a outros Espíritos do mesmo jaez, desencarnados e encarnados, para a prática dos mesmos hábitos abjetos e pervertidos.

Nos planos inferiores do astral, o prazer que esses Espíritos alcançam não tem a intensidade por eles experimentada quando viviam na roupagem carnal. Daí, para amenizarem a angústia que sentem, associam-se, num pro-cesso de “simbiose mental”, a homens e mulheres sensuais do nosso mundo, em processos de vampirização. (ver o Capítulo 58, “Vampirismo Entre Dois Mundos”)

Vemos, assim, que a teoria esotérica dos súcubos e íncubos; isto é, de Espíritos, respectivamente, masculinos e femininos que mantém relações sexuais com os seres humanos, tem toda a procedência.

Nas regiões inferiores, a situação dos Espíritos desequilibrados, sexu-almente, é a mais penosa possível. Nos vales de sofrimento desses planos, a promiscuidade impera. Seres animalizados, dominados pela sede insa-ciável do prazer, entregam-se à prática de todas as aberrações sexuais que

experimentaram em nosso mundo. Entretanto, a satisfação desses instintos, nos Planos do Espírito, é, até certo ponto, ilusória, e o desejo, apenas par-cialmente satisfeito, perdura, indefinidamente, levando-os a martírios e a angústias desesperadoras.

Muitos desses Espíritos atingem estados avançados de loucura, tendo que se internarem e até se confinarem em instituições especializadas do Mundo Invisível, oferecendo os quadros mais lastimáveis de sofrimento que os Planos Espirituais podem mostrar.

O fato é que, como já afirmamos várias vezes, a passagem, pela morte, deste mundo para o outro, não altera, substancialmente, o que somos, in-trinsecamente. Deixado o envoltório carnal no sepulcro, saímos do mundo com a nossa própria individualidade e, espiritualmente, os mesmos.

Espíritos, viciados no sexo, ao revelarem algum sintoma de sincera reno-vação, são recolhidos das regiões sombrias em que vivem e internados em instituições educativas da Espiritualidade, onde o tratamento é dos mais difíceis e demorados. Segundo nos informam os Espíritos superiores, são as únicas instituições do Além, cuja visita é desaconselhada a Espíritos de mediana evolução, em reajustamento nos Planos Espirituais, pelas imagens degradantes e torpes que transmitem e que poderiam impressionar, desfa-voravelmente, as almas em processo de ascensão espiritual. Tais instituições são dirigidas por Espíritos altamente qualificados e especializados nesse tipo de assistência. Esses Espíritos já atingiram níveis sublimes no campo do amor. Vêem esses seres desequilibrados com uma profunda compaixão e, irradiando de si próprios a força puríssima do amor, tocam essas almas pervertidas, conduzindo-as ao conveniente reajuste.

À proporção que evolui, vai o espírito sublimando as suas energias se-xuais e, aos poucos, essas forças vão-se convertendo em fontes criadoras de obras imperecíveis nos campos das artes, das construções espirituais e da fraternidade humana.

Numa frase lapidar que nos vem dos Planos Espirituais, “o sexo deve ser um instrumento do amor, sem que o amor seja o sexo”.

Tão grave quanto as drogas estupefacientes, o sexo desequilibrado tortu-ra, avilta e degrada o espírito. Todos pagarão severamente o desrespeito para com essas forças tão nobres que colocam a criatura humana, pelo milagre da procriação, no relevante papel de um ser co-criador com o Pai Celestial.

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Viciar essas energias sublimes, vulgarizando-as, é conspurcar o que de mais belo e de mais elevado foi concedido por Deus à criatura humana – a sublime oportunidade de tornar-se uma fonte co-criadora da Vida! •

42Vida Social nos Planos do Espírito

O espírito humano é gregário por natureza. Realiza-se através do contato com outros seres, seus semelhantes. Socialmente, em nosso mundo,

todos se interdependem, exercendo cada um funções complementares, ge-radoras do equilíbrio da sociedade.

Um grande filósofo existencialista contemporâneo, Jean Paul Sartre, che-ga a afirmar que o “existir autêntico” somente acontece através da convivên-cia, ou seja, quando se “vive com”. E é ele quem afirma, de forma singular:

“Não há eu sem tu”.Se conviver socialmente, aqui na Terra, é tão necessário ao espírito,

não poderia ser diferente nos Planos Espirituais, onde a Vida prossegue em padrões muito semelhantes aos da esfera física. Daí, haver, nos Planos Espirituais, Vida social intensa.

As teologias tradicionais criaram, dentro das religiões cristãs, um céu de beatitude eterna onde os justos, após a morte, estariam louvando o Deus Criador, por todos os séculos dos séculos sem fim. Também, criaram um inferno eterno de agruras inenarráveis, onde sofreriam, eternamente, após deixarem esta Vida, os que cometeram graves infrações à Lei de Deus.

Para a Doutrina Espírita, na Vida Espiritual, a alma liberta é levada a desempenhar múltiplas atividades que oscilam entre oportunidades de tra-balho, de estudo e, também, de descanso e de lazer. A Vida social, em termos de convivência mais íntima, acontece, exatamente, nos intervalos de tempo reservados ao descanso e ao lazer. Essa Vida consiste, basicamente, em visi-tas, reuniões, confraternizações e, até mesmo, recepções e festas intimistas, tudo isto numa escala de valores bem mais elevada do que a vigente em nosso mundo.

Por isso mesmo, a Vida social, nesses Planos do Espírito, reveste-se de um singular encantamento, pela sinceridade das afeições, pela natureza dos relacionamentos, pela verdade das opiniões e pelo elevado nível das conversações.

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Socialmente, reúnem-se os Espíritos esclarecidos e elevados para permu-tarem experiências vividas, delinearem planos para o futuro, comentarem, com regozijo, os êxitos alcançados por amigos queridos em suas últimas ex-periências reencarnatórias ou em suas missões de renúncia e de amor. E tais encontros não configuram nenhuma perda de tempo, exatamente porque, nessas assembléias de luz, não existe aquilo que é tão comum nos planos da matéria: o artificialismo, a hipocrisia, a exibição, o exagero do convenciona-lismo, tudo associado aos vícios ditos sociais como o fumo, o álcool, o jogo e outros.

As reuniões sociais, nos Planos do Espírito, realizam-se ora em residên-cias familiares, ora em áreas especialmente reservadas para este fim, nos parques, bosques e jardins das cidades espirituais. As recepções mais ínti-mas, restritas a pequenos grupos, são levadas a efeito em lares acolhedores e equilibrados, revestindo-se de um sabor especial, pela maior profundidade dos relacionamentos e das afinidades espirituais.

Em todas essas festas de luz, estão presentes as mais belas manifestações da arte divina. Instrumentistas de alta sensibilidade executam, nesses even-tos, belíssimas peças musicais, dedilhando, com maestria, os mais variados instrumentos, como pianos, cravos, cítaras, harpas, violinos, além de outros, ainda desconhecidos, em nosso planeta. Números de poesia e de canto tam-bém abrilhantam esses saraus da Espiritualidade, onde se incluem corais de rara beleza e jograis harmoniosos. Em muitos solos musicais, os intérpretes recordam, com suas canções, passadas experiências terrenas, extravasando sentimentos de amor, gratidão e louvor ao Autor da Criação.

Dessas reuniões também participam Espíritos que vivem em Esferas mais elevadas, mas que ainda possuem afetos retidos nos planos mais bai-xos da Vida Espiritual. Nessas ocasiões, os Espíritos descem ao encontro dos seus afetos queridos para permutar os mais nobres valores afetivos, bem como traçar projetos de futuras reencarnações, onde tentarão, juntos, au-mentar os seus tesouros espirituais.

A Vida social, nos Planos do Espírito, cria momentos de suave descon-tração. Ali, os prazeres superiores já substituíram, totalmente, aqueles cen-trados nos interesses efêmeros da matéria. A convivência é sadia, harmo-niosa e criadora, definindo uma nova Vida, plena de alegria e de encanta-

mento e mergulhando todos numa atmosfera de paz, de amor e de grandes esperanças no amanhã.

Em outras ocasiões; grupos fraternos e afins confraternizam-se em ex-cursões lúdicas e educativas onde, mais uma vez, a arte não poderia deixar de estar presente. É quando o teatro, o cinema, a dança, a música sinfônica, oferecem a esses Espíritos de bom gosto espetáculos inesquecíveis, muitos deles realizados ao ar livre, tendo como palco a relva macia e como teto o zimbório estrelado.

Vale a pena transcrever, aqui, um pequeno trecho das apreciações do es-pírito André Luiz, sobre a Vida social nos Planos Espirituais mais elevados:

Poucas vezes, no círculo carnal, tivera o prazer de assistir a reunião tão seleta. Grandes árvores, docemente agitadas pelo vento brando, pareciam refletir o clarão lunar. Pares graciosos passeavam ao longo da varanda e das escadarias extensas. O júbilo transparecia em todos os rostos e eu, observando a beleza do espetáculo, meditava na ventura da Vida social, no ambiente daqueles que começavam a com-preender e praticar o amai-vos uns aos outros, distanciados da hipocrisia e das con-venções aviltantes. O recinto estava prodigiosamente iluminado por luzes de um azul doce e brilhante e música deliciosa embalava-nos a alma. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Os mensageiros, pp. 161 e seg.)

São essas as alegrias que aguardam a todos os que vivem, neste mundo, nos braços da Lei de Deus! •

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43A Arte no Além-vida

A arte é uma das mais belas expressões do espírito humano. Nasce das profundezas do espírito. É o profundo mergulho da sensibilidade den-

tro da Ordem Divina. Exterioriza os mistérios da alma, exprimindo os mais puros e nobres sentimentos. A verdadeira arte deve estar sempre repassada de singeleza para melhor traduzir o divino que dela emerge.

Sendo a arte, essencialmente, espírito, o corpo de carne – clausura da alma – sufoca as mais belas e puras manifestações artísticas, cerceando as suas sublimes expressões.

Solto das amarras da carne, o espírito pode, na plena liberdade que passa a usufruir nos Planos do Infinito, entregar-se a formas mais finas dessa re-velação do espírito, refletindo, em suas criações, a harmonia, o equilíbrio, a ordem, a beleza e a paz imanentes no Universo.

Nos Planos Espirituais, a arte está sempre presente no viver de todos os que habitam as esferas mais altas. Nessas regiões, em cidades espirituais de transição para os planos superiores, todas as formas de arte acontecem, exteriorizando a beleza em múltiplas dimensões.

A música, por exemplo, não falta a todos os setores de trabalho dessas es-feras, realizando a harmonização dos ambientes. Nos templos consagrados à Religião do Amor Universal, associada à prece, a música sinfônica favorece a sintonização com as fontes do Amor Divino. Nesses planos, os instrumen-tos atingem o máximo grau da perfeição, filtrando sons da maior pureza e harmonia.

Outras expressões de arte, como a pintura, a escultura, a arquitetura, o teatro, a dança, são, sob múltiplas formas, também cultivadas nas esferas do infinito.

Nessas regiões elevadas, mas, ainda adjacentes ao planeta, existem inúmeras Escolas de Arte, onde, além de se cultuar a beleza, estimula-se a inquietação positiva dos artistas, levando-os a tentar “exprimir até o inex-primível” como, por exemplo, a verdade conjugada à beleza, a sabedoria

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fecundada pelo amor, a grandeza de Deus e a Sua onipresença na Criação Infinita.

Nos Planos de Luz, muito além de nossa imaginação, habitados por al-mas purificadas e sublimes, todas as artes fundem-se para exprimir aquele

“grito de infinito”, sempre presente, em maior ou em menor grau, em todos os seres criados. E dessa fusão surge uma “música diferente”, semelhante, tal-vez, à “música das esferas”, intuída pelos antigos, cântico de glória, alegria e amor em honra ao Ser Universal, Pai Amantíssimo e Sol de Amor a aquecer a Vida no mais divino dos silêncios!

A arte, lídima expressão do Infinito e da Eternidade, é presença indis-pensável nos Planos Espirituais superiores, onde a alma sensível identifica-se com o Criador Incriado, o Artista Maior de todo o Universo. Em suas múltiplas formas de manifestação, tem sido objeto de um sem número de comunicações espíritas, através de médiuns dignos da maior confiança.

Esses comunicados dão notícia de pintores, instrumentistas e esculto-res sublimes; de corais de crianças, abrilhantando festas íntimas em lares espirituais; de corais de jovens e adultos sempre presentes em assembléias solenes; de números de dança, especialmente da arte do balé, em espetá-culos de rara e extasiante beleza; de projetos arquitetônicos perfeitos; de exposições de pintura de todas as escolas. É a arte pura e universal, emoldu-rando paisagens e atividades do espírito liberto e saciando a fome de Infinito presente em todas as almas a caminho da união com Deus, Autor e Maestro da Grande Sinfonia da Vida!

Um fato interessantíssimo, e que bem demonstra o nível estético que atingiu a arte nos Planos Espirituais superiores, é narrado pelo espírito André Luiz em seu livro Os mensageiros, recebido pela mediunidade psico-gráfica de Francisco Cândido Xavier. Ei-lo:

Visitava André Luiz o Posto de Socorro de uma cidade espiritual – Campos da Paz – e, ao entrar no salão principal do edifício central daquela instituição, divisou que, de suas paredes, pendiam vários quadros de grande beleza. Dentre eles, um lhe chamou particular atenção. Era, na concepção de André, “cópia” de uma tela do pintor francês Florentino Bonnat, sobre o martírio de São Diniz, o Apóstolo das Gálias, martir nos tempos prime-vos do Cristianismo nascente. A tela retratava esse missionário do Bem, cuja cabeça fora decepada, tentanto levantar o seu próprio crânio, ante a

perplexidade e o espanto dos seus carrascos. Dos Cimos do Infinito, descia um anjo de luz ofertando àquele servo de Deus a coroa e a palma da vitória.

Ante a observação de André ao Administrador do Posto de que conhece-ra o original daquela tela no Panteão de Paris, Alfredo, o dirigente da institui-ção, para surpresa de André, informou-lhe que o verdadeiro original estava em uma cidade espiritual ligada à França, a qual fora visitada em sonho por aquele artista. Bonnat viu o quadro e nele inspirou-se para criar a sua famosa tela.

André Luiz conclui o Capítulo 16 do livro supracitado, onde este fato é descrito, com uma bela apreciação sobre a arte que vale a pena ser transcrita:

“Toda arte elevada é sublime na Terra, porque traduz visões gloriosas do homem à luz dos Planos Superiores (…) Ninguém cria sem ver, ouvir ou sentir, e os artistas de superior mentalidade costumam ver, ouvir e sentir as realidações mais altas do caminho para Deus.” •

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44Enfermidades Espirituais

É muito freqüente, nas zonas purgatoriais dos Planos Espirituais, a pre-sença de Espíritos portando as enfermidades mais diversas, desde um

simples mal estar até as doenças mais dolorosas como o câncer, a lepra, a tuberculose, a AIDS, além de deformidades físicas de toda natureza.

Isto se deve a uma interação recíproca de três elementos: mente, corpo espiritual e corpo físico.

O corpo físico é sustentado pelo corpo espiritual. Este é semelhante a um molde a que o outro se ajusta. Ora, as causas de todas as enfermidades estão sempre na mente enfermiça. Ódios, ressentimentos, cobiça, inveja, luxúria, vingança e outras paixões, afetam diretamente os centros de força (“chakras”) do corpo espiritual. Estes entram em desarmonia e perturbação, com reflexos imediatos naqueles campos do perispírito que deles recebem influência, com repercussões fatais em importantes órgãos do corpo físico. Aí está a gênese de todas as doenças físicas que, além de produzirem grandes sofrimentos, podem causar até a morte do corpo carnal.

Quando o espírito deixa esta Vida, essas doenças, por terem a sua origem na mente doentia, continuam presentes no envoltório do espírito, necessi-tando, no outro lado, de tratamento cuidadoso, contínuo e demorado.

Nos Planos Espirituais, os métodos terapêuticos são completamente di-ferentes dos adotados na Terra. Lá se cuida, em primeiro lugar, de harmoni-zar a mente dos enfermos, e esta, em equilíbrio, vai, aos poucos, tornando saudável o corpo do espírito e a própria individualidade eterna.

O número de Espíritos doentes, nos Planos Espirituais inferiores, é imenso e somente com a sua internação em hospitais e outras instituições especializadas do Além, é que eles conseguem, aos poucos, recuperar a saú-de espiritual. Muitos desses Espíritos, mesmo depois de longo tempo de internação, não conseguem curar-se de seus males e permanecem, assim, em lamentável estado de sofrimento até a sua volta, pela reencarnação, a novas experiências carnais, expiatórias e reparadoras.

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A propósito, vale, aqui, fazer uma referência aos Espíritos dos suicidas. Estes conservam, por muitos anos, na Vida Espiritual, em seus corpos as-trais, os ferimentos e lesões traumáticas que ocasionaram as suas mortes. Aqueles que, por exemplo, dispararam projéteis no ouvido, permanecem sangrando, nesse ponto, por tempo indeterminado. Outros que ingeriram substâncias tóxicas, costumam revelar, em alguns órgãos do aparelho respi-ratório do corpo espiritual, ferimentos dolorosos. Aqueles que, para mor-rerem, jogaram-se em baixo de rodas de trens ou de outros veículos, ou se atiraram de grandes altitudes, chegam aos Planos Espirituais na condição de “retalhados”, exibindo no perispírito as marcas de todas as lesões sofridas pelo corpo físico, por ocasião da morte.

Em nota de pé-de-página do livro mediúnico Memórias de um suicida, de autoria do escritor português Camilo Castelo Branco, a médium relata um fato bastante singular que aqui reproduzimos, por oportuno:

Certa vez, há cerca de 20 anos, um dos meus dedicados educadores espirituais – Charles – levou-me a um cemitério público do Rio de Janeiro, a fim de visitarmos um suicida que rondava os próprios despojos em putrefação. Escusado será escla-recer que tal visita foi realizada em corpo astral. O perispírito do referido suicida, hediondo qual demônio, infundiu-me pavor e repugnância. Apresentava-se com-pletamente desfigurado e irreconhecível, coberto de cicatrizes, tantas cicatrizes quantos haviam sido os pedaços a que ficara reduzido seu envoltório carnal, pois o desgraçado jogara-se sob as rodas de um trem de ferro, ficando despedaçado. Não há descrição possível para o estado de sofrimento desse espírito! Estava enlouque-cido, atordoado, por vezes furioso, sem se poder acalmar para raciocinar, insensível a toda e qualquer vibração que não fosse a sua imensa desgraça! Tentamos falar-lhe. Não nos ouvia! E Charles, tristemente, com um acento indefinível de ternura, falou:

— Aqui, só a prece terá virtude capaz de se impor! Será o único bálsamo que pode-remos destilar em seu favor, santo bastante para, após certo período de tempo, po-der aliviá-lo… — E essas cicatrizes? – perguntei, impressionada. Só desaparecerão

– tornou Charles – depois da expiação do erro, da reparação em existências amargas, que requererão lágrimas ininterruptas, o que não levará menos de um século, talvez muito mais… Que Deus se amerceie dele, porque, até lá… Durante muitos anos orei por esse infeliz irmão em minhas preces diárias. (Yvonne do Amaral Pereira e Espírito Camilo Cândido Botelho, Memórias de um suicida, pp. 39–40)

Outros suicidas que morreram por enforcamento, por exemplo, mostram, na condição de Espíritos, o pescoço intumescido e a língua cianozada, quase a saltar pela boca. Quanto aos suicidas “involuntários”, isto é, aqueles que morreram porque abusaram do fumo, do álcool, das drogas e da alimentação, estes chegam aos Planos Espirituais com as mais diversificadas lesões naque-les órgãos que guardam uma relação direta com esses abusos e vão necessitar de tratamento especializado, por largos períodos de tempo.

O espírito André Luiz, em sua obra Nosso Lar, reveladora de facetas até então desconhecidas da Vida Espiritual, narra o que aconteceu a ele próprio, quando foi recolhido das regiões inferiores do Astral, para um hospital da Espiritualidade.

Examinado, ali, por um membro da equipe médica, este, depois de nele concentrar toda a sua atenção, informa-o de que a sua morte se deu por suicídio indireto, esclarecendo que “o organismo espiritual apresenta em si mesmo a história completa das ações praticadas no mundo”.37

André morrera em virtude de uma oclusão intestinal, provocada por câncer. Não resistira a duas intervenções cirúrgicas para corrigir o mal. E o médico espiritual, ante os protestos do paciente de que lutara por mais de 40 dias nos hospitais da Terra contra a morte, esclareceu:

A oclusão derivava de elementos cancerosos (…) e a moléstia, talvez, não assu-misse características tão graves se o procedimento mental (o destaque é nosso), no planeta, estivesse enquadrado nos princípios da fraternidade e da temperança. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Nosso Lar, p. 26)

Em seguida, o médico da Espiritualidade passa a apontar o seu corpo espi-ritual, esclarecendo:

Seu fígado foi maltratado pela sua própria ação (…) Os rins foram esquecidos (…) Todo o aparelho gástrico foi destruído à custa de excessos de alimentação e bebidas alcoólicas (…) A sífilis devorou-lhe as energias essenciais… (Idem, ibi-dem, p. 27)

37 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Nosso Lar, pp. 20 e seg.

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Ainda, no mesmo livro, no Capítulo 19, sob o título “A Jovem Desencarnada”, vamos encontrar o relato acerca de uma moça que morreu em virtude de tuberculose e que revelava, no seu corpo espiritual, todas as características da doença que a tinha vitimado. Mostrava-se abatida, “o tórax a arfar-lhe violentamente com freqüentes crises de choro”.38

Em outro livro, também de André Luiz, há o caso do espírito Júlio, ainda sob a aparência de uma criança que, tendo sido suicida na sua última exis-tência, pela ingestão de veneno altamente corrosivo, revelava no seu corpi-nho espiritual “uma extensa chaga na fenda glótica, na região das cartilagens aritenóides”.39

As enfermidades que acompanham os Espíritos, no Além, são aquelas que eles contraíram por sua própria culpa ou invigilância, em virtude de desequilíbrios mentais.

Quanto às doenças cármicas que atingem muitos Espíritos em sua pere-grinação terrena, sem que eles tenham contribuído para o seu surgimento na atual reencarnação – e aí se incluem as doenças graves e incuráveis como o câncer, o pênfigo, a artrite reumatóide e muitas cardiopatias – estas, se suportadas com estoicismo e resignação, serão totalmente “filtradas” pelos corpos físicos, por ocasião da morte corporal. Morrem com os corpos que foram entregues à sepultura, e os Espíritos retornam à Pátria Espiritual, lim-pos, redimidos, para viver, em plenitude, a saúde integral da alma. •

38 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Nosso Lar, pp. 90 e seg.39 Idem, Entre a terra e o céu, p. 59.

45Recordação de

Existências Passadas

A morte não conduz o espírito, de imediato, à recordação parcial ou total de suas vidas passadas. Mais uma vez, tudo está a depender da evolu-

ção da alma.Há muitos que deixam esta Vida, passam uma infinidade de anos em re-

giões inferiores dos Planos Espirituais e retornam a novas experiências reen-carnatórias, sem nada terem recordado de suas vidas anteriores. Incluem-se, nesse rol, Espíritos de nível evolutivo mais baixo, cujo carma é manipulado, a sua revelia, pelos Espíritos superiores, para o maior bem deles. E tudo, ri-gorosamente, dentro dos ditames da Justiça Divina.

Outros Espíritos, após algum tempo de permanência nas Esferas Espirituais inferiores, despertam para as belezas da Nova Vida integrando-se às mais diversas atividades, nas cidades espirituais em que passam a residir. E assim, com o seu crescimento espiritual, passam a recordar, aos poucos, as suas vidas pregressas.

Geralmente, essas lembranças, de início, não abrangem todas as expe-riências reencarnatórias anteriores, mas, em especial, aquela ou aquelas que tenham uma ligação direta com as provas e expiações mais recentes.

As recordações de vidas pretéritas não acontecem aleatoriamente. Ao primeiro sinal dessas lembranças que vão emergindo pouco a pouco dos porões do inconsciente, em fragmentos dispersos, os Espíritos sentem a ne-cessidade de procurar “serviços especializados”, existentes nas cidades espiri-tuais. Ali, técnicos, nessa área – magnetizadores lúcidos e experientes – sub-metem-nos a operações rememorativas, por vezes, pacientes e demoradas.

A recordação, entretanto, somente acontecerá, se redundar em um bem maior para o espírito. Jamais ocorrerá, para atender a uma mera curiosida-de ou se as lembranças vierem a causar perturbações de vulto, no seu viver atual.

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As Leis Divinas são perfeitas e, ainda aqui, mais uma vez, a Natureza não dá saltos. Geralmente, a recuperação de 200 a 300 anos de memória integral é mais do que suficiente para revelar ao espírito quanto ele ainda deve, car-micamente, ao planeta, cabendo-lhe retornar à Terra, tantas vezes quantas forem necessárias, a fim de saldar esses débitos, em aberto, perante a Lei.

A recordação de vidas passadas pode, ainda, neste mundo ou no outro, ser uma excelente terapia para Espíritos já esclarecidos, mas, por vezes, in-conformados e inquietos sobre as causas dos seus sofrimentos na existência que estão vivendo ou que já viveram. Ao recordarem um passado de invi-gilância e de infrações à Lei Maior, inteirando-se de todas as suas quedas e erros do pretérito, a luz far-se-á aos poucos, em seu presente, e, com ela, a compreensão do imenso amor de Deus para com todas as Suas criaturas.

Espíritos já evoluídos e que estiveram, neste mundo, em sublimes mis-sões de amor e de redenção, não têm nenhum problema quanto à recordação de suas existências passadas. Elas virão à tona, gradativamente, na ocasião em que eles quiserem. Entretanto, assim como ocorre conosco, nesta Vida, em que não gostamos de relembrar os erros e inconseqüências da moci-dade, do mesmo modo, esses Espíritos elevados não ficam a repassar, em suas mentes, a sua infância e mocidade espirituais, preferindo seguir adian-te, sempre à frente e para o alto, na construção definitiva de um luminoso porvir.

No mundo em que vivemos, diz-se comumente que “recordar é viver”. Nos Planos Espirituais, “recordar é sofrer”, porquanto é tomarmos conheci-mento da imensa distância que ainda nos falta percorrer para atingir à quita-ção plena de nossos erros milenares. E somente ao resgatá-los, integralmente, é que mereceremos habitar as Mansões de Luz da Casa do Pai! •

46Crianças nos Planos Espirituais

Não tem sido tarefa fácil, para a maioria das religiões, a tentativa de ex-plicar o destino das crianças depois da morte.

Dependendo do seu nível de crescimento espiritual, aqueles que dei-xaram este mundo, na condição de crianças, permanecem, em sua grande maioria, como crianças nos Planos Espirituais, até receberem do Governo da Vida, uma nova oportunidade de retornarem ao planeta, pelas portas da reencarnação.

Há, também, a assinalar o caso de Espíritos já evoluídos que, por vezes, renascem, no mundo, com a sublime missão de, morrendo na fase infantil de suas vidas, “despertarem”, pais, familiares e companheiros de outras jornadas reencarnatórias, para os valores do espírito. Estes, por serem evoluídos, têm absoluto comando sobre a matéria plasticizante de que é formado o corpo espiritual, conseguindo retornar, quase de imediato, após a morte, à sua con-dição normal de Espíritos adultos.

Muitas crianças morrem, pela incúria de pais e familiares que as confiam a serviçais negligentes e até perversos. Estas, ao deixarem o nosso mundo, continuam crianças na Vida Espiritual, desenvolvendo-se, normalmente, do lado de lá, e atravessando todas as fases de crescimento como se ainda esti-vessem na posse de seus corpinhos de carne.

Existem inúmeras instituições especializadas, nas cidades espirituais, para recolherem, carinhosamente, esses infantes. Eles jamais ficam peram-bulando pelas zonas inferiores, tendo como a maioria das crianças da Terra, um tratamento especial, nos Planos Espirituais. O seu destino, entretanto, via de regra, será sempre o de retornarem ao mundo em novas programa-ções reencarnatórias.

A morte precoce de crianças constitui, por vezes, uma severa provação para pais e familiares que, em passadas migrações terrenas, não souberam dignificar a paternidade e a maternidade. Muitos deles encararam o matri-mônio com leviandade e impediram, através de processos naturais e anti-

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naturais, o renascimento de seres que lhes estavam destinados, dentro de seus programas cármicos.

Assim é que a limitação exagerada de filhos, o aborto, e até a irresponsa-bilidade de pais e mães, mais preocupados em se afirmarem como machos e fêmeas do que, propriamente, como pais e mães, no passado, têm muito a ver com as provações dolorosas de hoje, nesse campo.

Mães e pais podem, durante os momentos de sono corporal, visitar os seus rebentos levados precocemente desta Vida, o que proporciona imen-sa alegria e sublime conforto para os seus corações feridos pela dor da saudade.

Por outro lado, a revolta e o desespero de pais, mães e familiares, diante da perda de seus filhos, ainda infantes, acarreta grandes sofrimentos para eles, no Além. Pelo fio do pensamento, eles sentem toda a angústia e aflição dos progenitores e demais familiares em desespero. Por outro lado, no Além, muitas crianças sofrem, terrivelmente, a falta de sua família e se esta se revela inconformada, aos prantos, agrava, muito mais, a dor desses entezinhos.

Em suma, pais e mães que tiveram os seus filhos arrebatados pela morte, ainda na infância, conformem-se com os desígnios impenetráveis de Deus e aguardem o futuro, pacientemente. Um dia, todos estaremos reunidos no-vamente na Eternidade e, então, teremos a visão panorâmica das nossas ex-periências pregressas no palco da Vida humana, com a compreensão integral dos dramas, dolorosamente, vividos.

Não há “acasos” na Natureza. “Até os cabelos de vossa cabeça estão con-tados.” (Lc. 12, 7) Uma verdade evangélica. Como, então, não acatar os desíg-nios do Senhor, quanto às crianças mortas em tenra idade? Elas que são para Ele as flores do jardim da Vida?!

O nosso Criador e Pai, em Sua bondade e amor infinitos, jamais permiti-ria que essas flores fossem colhidas antes do tempo devido, a não ser para o seu próprio bem e para o bem dos que ficaram.

Todos os pequeninos são alvo do Amor de Deus e, se partem, mais cedo, desta Vida, é porque está dentro de sua programação evolutiva, e isto garan-tirá, para eles, um futuro de luz no seio da Eternidade! •

47Selvagens – Como Vivem no Além

Os selvagens ainda estão na infância espiritual. Suas concepções rudi-mentares acerca de Deus, da alma humana e da outra Vida, confirmam

a assertiva.Segundo a Lei de Deus, a responsabilidade cresce na proporção do co-

nhecimento adquirido. Conseqüentemente, depende do amadurecimento espiritual de cada um. Afirmou o Cristo, ao contar a parábola do servo vi-gilante: “Àquele a quem muito foi dado, muito lhe será pedido e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão.” (Lc. 12, 48)

Diante disto, a responsabilidade dos selvagens, pelos seus atos, é diminu-ta, e será sob esse prisma que a Lei os julgará.

Numa das definições mais simples e perfeitas do “pecado”, assim se expri-me Sócrates, o Pai da Filosofia: “— Pecado é tudo aquilo que o ser humano faz e, depois de ter feito, envergonha-se de tê-lo feito.”

Tal conceito de pecado, evidentemente, não pode ser aplicado aos selva-gens. O índio antropófago que extermina o seu adversário a golpes de tacape e, em seguida, devora-o, avidamente, acreditando assenhorear-se de suas qualidades de coragem e valentia, não “sente” que está cometendo crime algum. A sua consciência ainda está em desenvolvimento, e os seus maio-res interesses e paixões, centrados nos instintos básicos da Vida humana: a alimentação e o sexo. Agem, portanto, de forma semelhante a alguns ani-mais, e quase todas as suas atividades são reguladas sabiamente pelas Leis da Natureza. Nessas condições, a Vida desses Espíritos, após a morte, é muito semelhante à que eles tinham neste mundo.

O que mais aspira um índio, aqui na Terra, no seio de sua tribo, é ter vas-tas extensões de terra, rios e lagos cheios de peixes, caça de todos os tipos, mulheres, amigos e mesa farta. Nisto consiste, basicamente, a felicidade do seu “céu”, aqui, na Terra, e será exatamente isto que esse homem, de evolu-ção incipiente, irá encontrar no Além, numa projeção mental dos seus mais íntimos desejos.

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Assim como, neste mundo, muitos dos nossos sonhos exteriorizam an-seios reprimidos, do mesmo modo, por ocasião da morte, os selvagens reali-zam a quase totalidade de seus desejos e aspirações, permanecendo, no lado de lá, numa atmosfera de sonho até a sua próxima reencarnação.

Desse modo, como sucede com os animais, a permanência dos selvagens nos Planos Espirituais, é muito curta. A grande maioria retorna à Terra, qua-se imediatamente, após a morte. Outros ficam, no outro lado, tão somente o tempo necessário para aguardarem uma nova oportunidade reencarnatória. E o bom senso diz que assim é que deve ser. Como poderia a alma de um selvagem, após a transição da morte, sentir-se bem nas esferas superiores, em companhia de Espíritos de luz, nobres, esclarecidos?!

É princípio válido, tanto na Química quanto entre os seres humanos, que “os semelhantes se atraem”. Colocar os selvagens nas regiões espirituais dos civilizados, seria causar-lhes um enorme constrangimento e infelicidade. O que poderia, à primeira vista, parecer-lhes um céu, ser-lhes-ia um autêntico inferno.

Eis porque, sabiamente, a Natureza proporciona a cada espírito, após a morte, a região espiritual compatível com o grau de evolução de cada um. E isto bem traduz a justiça e a misericórdia infinitas de Deus e de Sua Lei.

Nos Planos Espirituais, os selvagens progridem relativamente pouco. Esse progresso consiste, basicamente, na diminuição de seu espírito belicoso, na atenuação de sua sede de conquista, na redução do seu espírito egoísta e no abrandamento de seus pendores violentos e instintivos.

Ao retornarem à Vida terrestre, pela reencarnação, os selvagens, muitas vezes, nem tomam conhecimento de que estiveram, por lapsos variados de tempo, nas Esferas Espirituais. Adormecem, no outro lado, e nesse estado de inconsciência, imergem na carne, prosseguindo, assim, cegamente, a sua escalada evolutiva.

Quanto aos pajés e outros Espíritos “mais sábios” da tribo, estes chegam a tomar plena consciência de sua permanência nos Planos Espirituais, mas, mesmo assim, não administram, diretamente, o seu reingresso em novos prélios reencarnatórios. Os “Senhores do Carma”, Espíritos benevolentes e sábios, prepostos do Senhor da Vida, decidem por eles. É que, quanto mais ignorância e imaturidade, menos liberdade. É um dos ditames da Lei Maior.

Por conseguinte, os selvagens não provam, no outro lado, nem do in-ferno, nem do céu ou purgatório. Estes são “estados d’alma” que traduzem necessidade de julgamento e, conseqüentemente, redundam em penas ou recompensas. Eles estão muito aquém desse contexto, por serem “exatamen-te” selvagens, crianças espirituais, almas primitivas em estágios iniciais de expansão de suas potencialidades. Daí, o tratamento especial que desfrutam nos planos do Além.

O estágio evolutivo em que se encontram os selvagens é transitório. Eles estão emergindo da animalidade para a “racionalidade” e, através de múlti-plas experiências nos planos materiais e espirituais, atingirão, um dia, pela bênção da reencarnação, os Cimos da Vida. Disse o Cristo: “— E a vontade de quem me enviou é esta: Que nenhum eu perca de todos os que me deu…” ( Jo. 6, 39) O rebanho de Jesus é constituído por todos os filhos de Deus que integram a humanidade terrestre, inclusive os selvagens, que ainda ensaiam os primeiros passos, em direção à luz e à perfeição. •

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48Ateus e Agnósticos

na Vida Espiritual

Os bons não terão maiores problemas na transição da morte. Já o disse-mos em outros pontos deste livro. Aliás, o próprio Cristo foi bem claro

a esse respeito quanto estabeleceu, na parábola do juízo final, que a primeira condição para a alma entrar no Reino dos Céus é a prática do amor, em suas múltiplas faces.

“Dar de comer a quem tem fome; água ao sedento; vestir os nus; vi-sitar enfermos e encarcerados” (Mt. 25, 31-46); em suma, amar ao próximo, eis, segundo Jesus, o que torna o caminho livre para as Moradas de Luz da Eternidade.

Deus não se sente ofendido com aqueles que o negam – os ateus – ou com aqueles outros que vivem, neste mundo, indiferentes à Sua existência

– os agnósticos. O Senhor da Vida, infinito em Suas perfeições, não cobra nem implora a adoração de ninguém e, ao conceder a liberdade ao espírito humano, implicitamente, respeita crenças e convicções, quaisquer que elas sejam.

Todavia, o fato de os bons não terem maiores problemas, ao aportarem no Além, não significa que não enfrentem algumas dificuldades, próprias dos baldos da fé. É que a descrença ou a indiferença quanto aos valores do espírito, fecha as portas da alma por onde entram a luz e o amor de Deus.

Recorremos, aqui, a título de ilustração, a uma imagem simples, mas que torna bem claro o tema em estudo. O Sol inunda, com os seus raios, todo o nosso planeta, atingindo, indistintamente, a humanidade inteira. Entretanto, se permanecermos com as portas e as janelas de nossas casas cerradas, fica-remos privados de sua luz. Alguém poderia dizer: — Mas ainda resta a luz artificial, invento dos homens. Entretanto, não há termos de comparação en-tre uma e outra. A luz do Sol é mais luz. Não oscila. Não apaga nem queima. É sempre a mesma para todos, assim como a luz de Deus.

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Ateus e agnósticos podem permanecer com a luz artificial de alguns va-lores positivos por eles incorporados ao seu viver, por terem sido bons e corretos durante a Vida humana, mas privam-se dessa luz maior, apanágio dos que têm fé e se curvam, humildemente, à vontade do Criador.

Não significa isto que o Senhor dos Mundos não ame os ateus e os ag-nósticos, mas o Seu amor esbarra num obstáculo quase intransponível, por-que, voluntariamente, erigido pelo ser descrente, entre ele e o seu Criador. Esse empecilho tem um nome: egoísmo, com os seus filhos diletos que são o orgulho e a vaidade.

Desse modo, crendo apenas nas dimensões estreitas da matéria e, con-seqüentemente, que a morte é o fim de tudo, ao transporem os umbrais do Além, entram esses Espíritos num estado de tremenda perturbação que atin-ge, por vezes, níveis angustiantes.

Profundamente apegados aos interesses secundários do mundo, acre-ditando tão somente no nada após a morte, sentem-se, esses seres espiri-tuais no outro lado, realmente, “mortos” em plena Vida Abundante e, com a mente assim embotada, não vêem a Vida exuberante e sem fim que se des-dobra diante deles, após o sepulcro. Também não conseguem enxergar os seus anjos guardiães, Espíritos protetores e amigos que vêm ao seu encontro. Não visualizam a matéria astral, de nível vibratório mais sutil, e sentem-se sozinhos, num diálogo mudo com as circunstâncias, em plena escuridão. Os Espíritos amigos que os rodeiam nada podem fazer a não ser esperar, como Deus espera, pacientemente, pelo regresso ao Seu seio de todos os filhos rebeldes e ingratos.

A porta da salvação e da Vida Eterna somente se abre por dentro, e a sua chave é a fé em Deus e nos valores do espírito.

Ateus e agnósticos permanecem, por vezes, no outro lado da Vida, nessa perturbação, por longos espaços de tempo, difíceis de precisar, muito em-bora o seu sofrimento nada tenha de terrificante, por terem sido bons de coração.

Trata-se, entretanto, de “um sofrimento real” e de uma situação espiritual muito desconfortável, em virtude de se terem privados de uma maior movi-mentação nos planos do espírito eterno.

Todavia, Deus é Pai de misericórdia e de amor e a Sua augusta Lei leva

em consideração os valores positivos que nortearam, na Terra, a Vida desses Espíritos.

Assistidos, carinhosamente, pelos emissários do Senhor, vão eles des-pertando, lenta e gradualmente, para as realidades gloriosas da Vida Imortal, abrindo, assim, aos poucos, as janelas de suas almas para a entrada da luz de Deus.

As palavras imperativas do Cristo, ao final da parábola do amigo impor-tuno, fazem muita luz sobre o tema em estudo. Disse o Mestre: “— Pedi e dar-se-vos-á. Buscai e achareis. Batei e abrir-se-vos-á.” E Jesus ainda com-plementou, tautologicamente, o Seu ensino, enfatizando: “— Porque quem pede, recebe. Quem busca, acha e a quem bate, se lhe abre.” (Mt. 7, 7)

Em verdade, assim é. Ao final de Sua missão, neste mundo, disse Jesus: “— Eis que estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos.” (Mt. 28, 20) Não é possível que tenha sido esta uma promessa vã. As palavras de Jesus têm sabor de Eternidade. Jamais passarão. O fato é que Ele nunca deixou de estar conosco. Nós é que deixamos de estar com Ele, porque não lhe abrimos, por inteiro, as portas do coração.

Impressionante é que muitos ateus, mesmo no Além e já despertos para a Vida Espiritual, relutam em aceitar a existência de Deus, simplesmente porque não O vêem, no outro lado, na condição de um soberano, sentado num trono de ouro e rodeado de adoradores por todos os lados.

Outros, mais dóceis, particularmente os agnósticos, ao se sentirem vivos, no Além, amargam algum remorso por terem ficado indiferentes à Paternidade Divina, e passam a aceitar a existência de Deus.

Para uns e outros, entretanto, o tempo é o remédio salvífico que os fará amadurecer, espiritualmente, a fim de se curvarem, um dia, humildes e reve-rentes, à majestade de Deus e à grandeza de Sua Criação Infinita! •

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49A Outra Vida dos Animais

É de Léon Denis, o grande filósofo espiritualista, colaborador de Allan Kardec, na Codificação do Espiritismo, a seguinte assertiva: “— A alma

dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e desperta no homem.”A sabedoria oriental, por sua vez, numa mesma linha de pensamento,

afirma que em toda pedra há um Buda adormecido.Os Espíritos superiores confirmam a mesma tese da evolução do prin-

cípio anímico, através dos três reinos da Criação: o mineral, o vegetal e o animal. Esses Espíritos de luz, em O livro dos Espíritos, primeira obra da Codificação kardequiana, disseram o seguinte:

— Tudo serve, tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o anjo que também começou por ser átomo (o destaque é nosso). Admirável lei de harmonia, que o vosso acanhado espírito ainda não pode apreender no seu conjunto. (Allan Kardec, O livro dos Espíritos, p. 266)

O princípio anímico, fonte da Vida, em todos os seres inferiores da Criação, à semelhança da alma humana, também sobrevive à morte física. Por vezes, esse princípio é, impropriamente, chamado de “alma”, e quando dizemos

“impropriamente” é porque a alma é um ser inteligente, racional, e o princí-pio anímico ainda está nos primórdios da evolução.

Considerando a profunda relação de todos os seres que constituem os diferentes reinos da Natureza, a evolução acontece, partindo da irracionali-dade para a racionalidade e, desta, para a angelitude. Isto é o que nos dizem os Espíritos superiores, através de médiuns dignos de toda fé. E é a sublime lei da reencarnação que torna possível a ascensão de todos os seres, nessa escalada em direção à perfectibilidade.

Assim como o espírito humano, o princípio anímico também possui envoltórios. Por isso, ao regressarem os animais, pela morte, aos Planos Espirituais, lá se apresentam com o seu corpo espiritual e com a mesma

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aparência que tinham quando habitavam este mundo. Isto está sobejamente provado e comprovado por médiuns clarividentes e ratificado pelas comu-nicações mediúnicas.

No outro lado da Vida, há animais de todas as espécies existentes na Terra e até de espécies ainda desconhecidas em nosso mundo. André Luiz, no seu livro Nosso Lar, um “best-seller” com mais de um milhão de exem-plares vendidos, refere-se, por exemplo, a uma espécie de ave existente nas regiões do astral inferior, semelhante às aves de rapina do nosso mundo. Foi ela denominada de ibis viajores40 e definida como um pássaro de corpo volu-moso que voa a pequena altura, devorando as “formas-pensamento” criadas pelos Espíritos inferiores.

Cavalos, muares, cães e outros animais que, em nosso mundo, são deno-minados de “domésticos”, desempenham os mais diversificados trabalhos nos Planos Espirituais, colaborando com Assistentes e Instrutores em suas missões de amor nas regiões sombrias do Além. Tais animais tornam-se ex-tremamente úteis quando aqueles obreiros do bem vão recolher, nesses pla-nos inferiores, Espíritos sofredores que já apresentam condições de receber assistência espiritual nas instituições educativas da Espiritualidade.

Nos Planos Espirituais, os animais carregam cargas, fornecem calor em determinadas situações, guardam as caravanas do bem, além de puxarem pa-cientemente, viaturas de transição, tipo diligência, freqüentemente utilizadas nessas missões nas regiões inferiores. Os cães, como acontece aqui na Terra, são valiosos guardiães desses “comboios”, defendendo os seus integrantes dos ataques de Espíritos enlouquecidos e rebeldes, bem como de animais selvagens e ferozes, por vezes manipulados por Espíritos inferiores para ame-drontarem aquelas entidades ainda iniciantes nos “mistérios do Além”.

Nas esferas superiores também existem animais de espécies variadíssi-mas, desempenhando tarefas que escapam a nossa apreciação. Todavia, não obstante revelarem alguma superioridade em relação aos animais existentes em nosso mundo e nas zonas espirituais inferiores, estão sempre na condi-ção infra-humana, não sendo dotados de racionalidade. Nesses planos mais altos, os Espíritos nos dão notícia da existência de aves do mais belo canto e da mais exuberante plumagem multicor, algumas até luminosas, durante

40 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Nosso Lar, p. 159.

a noite. Esses pássaros não temem os Espíritos elevados, convivendo com eles, pacificamente, e encantando as regiões superiores com a sua beleza, o seu canto e o seu porte.

Os animais não se demoram muito nos Planos Espirituais. A grande maioria deles retorna à Terra, imediatamente, após a morte e, do lado de lá, permanecem durante aquela cota de tempo necessária ao desempenho de tarefas como as que já aludimos acima.

No Além, há um respeito absoluto pelos reinos inferiores da Criação. Todos esses seres são ali tratados com o máximo de carinho e de amor, por terem saído das mãos de Deus e desempenharem um papel importantíssimo no equilíbrio da Vida. E todos estão fadados a um futuro de luz, porque o Senhor dos Mundos nada criou para permanecer na inferioridade.

Poetas e escritores geniais, em nosso mundo, intuíram a evolução do princípio anímico, antevendo esse encadeamento existente entre todos os seres criados. O grande poeta paraibano Augusto dos Anjos, genial pela singularidade de seus versos, dedicou um de seus sonetos “A um gérmen”, afirmando nos tercetos finais dessa obra-prima:

Antes, geléia humana, não progridas,E, em retrogradações indefinidas,Volvas à antiga inexistência calma!…

Antes, o Nada, oh! gérmen, que ainda haveresDe atingir, como o gérmen de outros seres (o destaque é nosso),Ao supremo infortúnio de ser alma!(Augusto dos Anjos, Op. cit, p. 188)

Intuição sublime, não obstante a conotação pessimista do autor, caracterís-tica de sua Vida e do seu estilo. •

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50Morte por Eutanásia

“A morte é o fim da Vida”. Esta é a mais simples definição da morte, quando encarada de um ponto de vista físico, material.

Ateus, agnósticos, materialistas e espiritualistas vêem a morte sob pris-mas diversos. Sobre a morte, pode o ser humano filosofar de mil maneiras, escrevendo artigos e tratados ou proferindo palestras e conferências sobre ela.

Com o “morrer”, tudo se passa diferentemente. O ato, através do qual a morte acontece, é algo chocante e trágico, guardando profundas ligações com o instinto de conservação, presente em todos os seres vivos, inclusive no ser humano. Esse ato é sempre acompanhado de apreensão, dor, sofri-mento e saudades dos que aqui ficam.

O “morrer”, em si, é indolor. O sofrimento que, por vezes, antecede o morrer advém de enfermidades graves, contraídas, na grande maioria dos casos, pela imprevidência e irresponsabilidade dos enfermos e doentes ter-minais. Estes padecem em muitos casos, por meses ou anos a fio, em leitos de dor, a despertar sentimentos de inquietação e piedade nos parentes e amigos.

A angústia de ver o pai, o filho, o esposo ou o amigo sofrerem, em cima de uma cama, sem nenhuma esperança de recuperação, vitimados pelo câncer, pela AIDS ou outros males incuráveis, leva alguns profissionais da Medicina e, até mesmo entes queridos dos doentes, a pensarem, imediata-mente, na “morte piedosa”, com a aplicação de drogas letais, a fim de alivia-rem os sofrimentos desses moribundos.

Por vezes, há nisto uma intenção nobre, pura, ditada pela compaixão, mas, que traduz um total desconhecimento da outra face do problema.

De outras vezes, filhos, netos e outros herdeiros indiretos, materialistas e inescrupulosos, ansiosos por lançar mão de vultosas heranças de pais e avós, também utilizam recursos drásticos para abreviarem, criminosamente, suas vidas.

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As duas situações, acima descritas, configuram casos de eutanásia.Os que defendem e praticam a eutanásia, apenas observam o que se está

passando no plano da matéria densa, sem a visão completa do problema e dos seus desdobramentos no Além-Vida. Essa visão somente possuem os que já estão “no outro lado”, na expectativa de receberem os entes queridos por ocasião do seu retorno à Pátria do Espírito.

A propósito, diz o Evangelho de Jesus: “Não se vendem dois passarinhos por uns centavos? No entanto, nenhum cai por terra sem a vontade do vosso Pai.” (Mt. 10, 29)

Se assim é, consoante a palavra do Cristo, o dia da partida do espírito, deste mundo, está dentro dos planos de Deus, nos casos de morte natural e, também, naqueles casos de morte violenta, não causadas pela imprevidência e irresponsabilidade.

O tempo longo que alguém passa em cima de uma cama, sofrendo dores atrozes e ultimando-se, aos poucos, em longos estados comatosos, revela o cumprimento da lei de causa e efeito. Essas pessoas não estariam atraves-sando os momentos finais de sua existência, desse modo, sem uma razão plausível.

Os sofrimentos suportados com resignação e paciência, nesses últimos momentos, são providenciais para que o espírito liquide todos os seus débi-tos para com o planeta que está deixando.

Dores, angústia, desconforto, aqui suportados, evitam anos de perma-nência, em situações idênticas ou piores, nas regiões espirituais fronteiriças da Terra. Ali, todos teriam de purgar os erros da existência que está findan-do ou de um passado ainda mais remoto. Melhor passar por essa fase aqui mesmo, na Terra, do que ingressar nos Planos Espirituais, na condição de doentes, necessitados de sofrimentos purgatoriais.

“Ninguém corte onde possa desatar”.41 É a recomendação sensata que nos vem do “outro lado”, através do espírito André Luiz, advertindo-nos para as conseqüências nefastas da eutanásia, como meio de encurtar a existência humana e diminuir o sofrimento dos moribundos.

No livro Obreiros da vida eterna, descrevendo a morte de um dos per-sonagens, André Luiz revela a “extrema preocupação” do seu Orientador

41 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Obreiros da vida eterna, pp. 274–281.

Espiritual, de nome Jerônimo, ante a perspectiva, infelizmente, consumada, da aplicação, numa enfermaria de indigentes, da eutanásia em um dos pa-cientes. O autor comenta o fato da seguinte maneira:

Sem qualquer conhecimento das dificuldades espirituais, o médico ministrou a cha-mada injeção compassiva (o destaque é nosso), ante o gesto de profunda desaprova-ção do meu Orientador. (…) Cavalcante, para o espectador comum, estava morto. Não para nós, entretanto. A personalidade desencarnante estava presa ao corpo inerte, em plena inconsciência e incapaz de qualquer reação. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Obreiros da vida eterna, pp. 274–281)

A droga anestésica, violentamente, aplicada, atingiu, particularmente, o sis-tema nervoso do enfermo, daí alcançou os seus centros perispirituais, o que levou o Orientador Jerônimo a fazer o seguinte comentário que, pelo seu realismo e oportunidade, somos levados a transcrever na íntegra:

Cavalcante permanece, agora, colado a trilhões de células neutralizadas, dormen-tes, invadido, ele mesmo, de estranho torpor que o impossibilita de dar qualquer resposta ao nosso esforço. Provavelmente, só poderemos libertá-lo, depois de de-corridas mais de doze horas. (Idem, ibidem)

Além de permanecer jungido às células físicas, por um período de tempo in-determinado, com sérios prejuízos para um despertar sereno e feliz na Vida Imortal, o espírito que atravessa as fronteiras da morte pelas vias da eutaná-sia, ao tomar conhecimento da “morte piedosa” que lhe foi infligida, pode ter as mais diversas reações.

Se houve uma boa intenção por parte dos que praticaram o ato mortal, procurando, na sua “santa ignorância”, mitigar os sofrimentos do moribundo, o espírito, desperto para a nova Vida, compreende e perdoa.

Se a “morte suave” foi aplicada por interesses subalternos e se o espíri-to desencarnante não tem suficiente elevação espiritual, a eutanásia pode desencadear as mais imprevisíveis reações, do espírito recém-liberto: pen-samentos e mentalizações de revolta, indignação e ódio, com dolorosas re-percussões naqueles que, direta ou indiretamente, participaram do ato cri-minoso, gerando, inclusive, processos obsessivos de longa duração.

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Somente Deus é o Senhor da Vida. Nenhum ser humano tem o direito de dispor sobre o tempo da Vida de ninguém. A Natureza é sábia. O ho-mem não pode interferir nos planos de Deus que se caracterizam por infini-to amor e infinita sabedoria.

Será oportuno citar, aqui, pequeno trecho do excelente artigo do Dr. Evaldo A. D’Assumpção, “Tanatologia e o Doente Terminal”. Já referido por nós em capítulo anterior, o autor, escrevendo sobre o sentido da exis-tência humana, assim se expressa, de uma forma profunda, convincente e definitiva:

Nós não somos capazes de determinar quando a pessoa terá completado o sentido de sua Vida. Portanto, não temos o direito de determinar, para qualquer ser huma-no, independentemente de sua idade e de suas condições de Vida, o seu tempo vital. Isto significa que, tanto no suicídio, como o aborto e a eutanásia, são intromissões do homem, no seu próprio tempo de Vida ou no tempo de Vida do seu semelhante. Assim como o homem não é capaz de criar a Vida do nada, ele, também, não pode tirar a Vida como se esta nada fosse. (Evaldo A. D’Assumpção, ‘Tanatologia e o Doente Terminal’, Diálogo médico, 10 (2): 1984)

51Morte por Aborto

O aborto é crime previsto no Código Penal Brasileiro e punível com pe-nas de detenção ou reclusão, de um a dez anos, consoante determina-

dos fatores atenuantes ou agravantes envolvendo a sua prática.Por sua vez, o Art. 5º da Constituição Federal do nosso país, em vigor,

considera o direito à Vida como um dos direitos fundamentais da pessoa humana.

Segundo uma lúcida interpretação do Dr. Fabrício Samprogna Matielo, Professor da Universidade Federal de Pelotas, Rio Grande do Sul:

No texto constitucional, Vida não significa tão somente o aspecto puramente bio-lógico da existência (…) É algo dinâmico, um processo instaurado com a concepção, que se transforma continuamente e evolui. Todos os fatores que interferirem no natural fluir da existência são, conseqüentemente, contrários à Vida. (todos os des-taques são nossos)

Segundo essa visão, o aborto, sob todas as suas formas, configurando a in-terrupção da gravidez, com a destruição do seu produto – o ser humano – é um desses fatores.

O aborto é um homicídio. Claro que estamos referindo-nos ao aborto provocado por quaisquer tipos de técnicas. É o assassinato frio e cruel de um ser humano, em potencial, sem nenhuma possibilidade de defesa. É a maior agressão que o homem, dotado de razão e consciência, pratica contra a Natureza, no que ela tem de mais belo e sublime: o florescer de uma nova Vida!

A Organização das Nações Unidas (ONU) define a criança como “um ser vivo, desde a fecundação, durante o período uterino, e após o nascimento, até os sete anos de idade”.42

42 Boletim da campanha de preservação da vida, 1994.

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Toda mãe carrega no ventre uma criança. Portanto, quando o Art. 227 da nossa Constituição estabelece que é dever da família, da sociedade e do Estado, assegurar à criança o direito à Vida, o texto está garantindo ao feto, total e integral proteção.” (o destaque é nosso) (Boletim da campanha de preservação da vida, 1994)

Homem e mulher, no instante em que se unem para gerar uma nova Vida, tornam-se, nesse momento, co-criadores com Deus. Aniquilar essa Vida nascente é destruir um ser humano único, irrepetível, complementar à hu-manidade, criado dentro dos planos de Deus e que “com certeza só espera o direito de cumprir o seu destino e ter uma história para viver”.43

Ao trespassar a cabeça do feto com uma sonda perfurante, com agu-lhas de tricô ou outros instrumentos pontiagudos; ao matá-lo, por asfixia, utilizando-se substâncias letais; ao consentir na prática da microcesária ou da microcureta; ao sugá-lo, com máquinas mortíferas, da placidez do útero materno, o homem a ser pai, a mulher a ser mãe, ou, ainda, médicos ines-crupulosos, parteiras e enfermeiras “fazedoras de anjos”, transformam-se em homicidas desalmados. São todos passíveis das penas cominadas pelas leis humanas e, também, das penalidades cármicas imprevisíveis, impostas pela Lei Divina que estabeleceu, em letras de fogo, o “não matarás”. (Ex. 20, 13)

A Doutrina Espírita não crê, como as grandes religiões derivadas do Cristianismo, que a alma seja criada no momento da concepção, isto é, no instante da reunião das duas células: o espermatozóide e o óvulo. Para essa Doutrina, a alma preexiste nos Planos Espirituais e, por ocasião da união ce-lular, passa a vitalizar e a humanizar a matéria para que se tenha, mais tarde, um ser humano completo, a enriquecer a Criação Infinita de Deus.

Não é fácil renascer neste mundo, e o retorno à Vida humana é a grande esperança de milhões de Espíritos. Estes aguardam, pacientemente, no ou-tro lado da existência, a oportunidade de retomarem um corpo carnal, a fim de reiniciarem seu crescimento espiritual.

O espírito que se candidata a um corpo em formação, que é por ele mo-delado, assim como um escultor cria a obra-prima de estatuária, é um ser ra-cional e consciente. Este ser, na preexistência, acompanha, entre estupefato e assombrado, os planos, cuidadosamente elaborados e postos em execução,

43 Ibidem.

para matar o seu corpo, frustrando-lhe a bendita oportunidade de renascer no mundo, para progredir.

Vivendo numa outra dimensão vibratória, sem poder atuar, com maior eficiência e determinação, sobre o plano grosseiro da matéria densa, o espíri-to reencarnante não pode gritar, protestar e fazer sentir aos seus algozes que ele quer voltar a esta Vida. E assim, o candidato a um novo nascimento, sofre, amargamente e angustia-se ao extremo, quando presencia a concretização de um crime, a destruição impiedosa do seu corpo em formação por “seres racionais” que ocupam o ápice da escala animal, os seres “humanos”.

Os Espíritos destinados a esses corpinhos, aniquilados pelo aborto cri-minoso, retornam, após a morte, aos Planos Espirituais, em diferentes con-dições psicológicas. As repercussões do ato homicida, no seu existir, variam de caso a caso. Quanto mais perversa for a intenção de matar e quanto mais consciente e irresponsável a ação criminosa, maior será a indignação da en-tidade em processo reencarnatório.

Espíritos, que possuem um nível evolutivo mais alto, conformam-se com a frustração que lhes foi imposta, e, entristecidos, aguardam, no Além, uma outra oportunidade.

Outros, menos evoluídos, revoltam-se, ao extremo, diante de crime tão bárbaro. Por não terem, ainda, a nobreza de espírito e a formação cristã que os levaria a perdoar e esquecer tamanho delito, reagem, violentamente, contra os seus agressores, em proporção, às vezes, muito maior do que a violência de que foram vítimas. Transformam-se, assim, em obsessores e perseguidores cruéis dos que seriam seus pais e de todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para interceptar o seu retorno aos campos da Vida humana. Devolvem, na mesma moeda, a indiferença e a repulsa, configuradas na violência com que foram tratados.

Muitas vezes, a onda mental de ódio desses Espíritos é tão intensa que eles permanecem ligados, mesmo após o aborto, ao organismo perispiritual materno, mais propriamente ao “chakra genésico”, provocando lesões gine-cológicas irreversíveis que podem repercutir letalmente no invólucro físico da mãe, causando-lhe, até, a morte, através de hemorragias inestancáveis.

“Outros Espíritos, vítimas do aborto, tornam-se, pela vampirização energética, ver-dadeiros endoparasitas do organismo perispiritual (daquela que seria a futura mãe),

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aderindo-lhe ao chakra esplênico e sugando o fluido vital materno.” (Ricardo Di Bernardi, Gestação, sublime intercâmbio, p. 161)

Daí por diante, por ocasião do reencontro, na Vida Espiritual, dos agres-sores e suas vítimas, o que pode acontecer ultrapassa os limites de nossa imaginação. Inúmeros processos de vingança, de duração indefinida, têm continuidade nos Planos Espirituais, acarretando os mais graves prejuízos para a jornada evolutiva desses Espíritos.

Pais, médicos e outros profissionais desalmados que foram cúmplices nos crimes de aborto, ao regressarem ao Mundo Espiritual, tentam, inutil-mente, anos a fio, e até por séculos, retornar ao planeta, sem consegui-lo. Quando reencarnam, são, nesta Vida, pais e mães que sofrem, no matrimô-nio, a solidão a dois, impossibilitados de ter filhos, sonhando e ansiando, dia após dia, minuto após minuto, por rebentos que nunca chegam.

Outros, no caso das mulheres, por exemplo, podem renascer com pre-disposições congênitas para contrair doenças pertinazes, como o câncer da mama, de útero ou de ovários ou, no caso dos homens, o câncer de pênis ou de próstata.

Muitos desses infratores das leis humanas e divinas, frustrados em suas tentativas de renascerem, terminam passando séculos, nos Planos Espirituais inferiores, em grandes sofrimentos, sem o direito de usufruírem e contem-plarem as belezas da Vida Eterna.

Todavia, como Deus é Pai de amor e misericórdia, oferece o tempo como remédio para a redenção dessas almas criminosas. Após reencarnações do-lorosíssimas, retomarão elas a sua trajetória evolutiva e o farão com marcas indeléveis, em seus espíritos, desse crime covarde e nefando.

Há, ainda, a assinalar, aqui, o caso de Espíritos que resistem à reencarna-ção, para evitar reencontros com antigos adversários ou inimigos do passado. Estes podem, com a sua força mental, conscientes de sua iminente imersão nos fluidos carnais, provocar o rompimento dos laços que os prendem ao embrião, provocando a expulsão do feto pelo aborto espontâneo. Os seus carmas serão agravados por isto e, no futuro, encontrarão, também, grandes dificuldades de reencarnarem, dando lugar a gestações inviáveis em casais que mereçam passar por traumas de perderem filhos através do aborto.

Matar embriões e fetos é matar crianças, e crianças são as meninas dos olhos de Deus. Foi o Cristo quem proferiu esta sentença: “— E quem rece-ber uma criança tal como esta, em meu nome, é a mim que recebe.” (Mt. 18, 5) •

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52Morte por Suicídio (I)

O suicídio é um ato covarde de rebeldia contra o Criador. É a recusa da bênção da Vida à própria face do seu Autor Magnânimo. É a tentativa

voluntária de fuga das provações e expiações necessárias e retificadoras. É, em suma, uma gravíssima transgressão à Lei de Deus.

Por isso mesmo, esse ato de pusilanimidade acarreta a quem o pratica as mais severas e terríveis conseqüências nos Planos do Espírito.

O suicídio não é um mergulho no nada e sim a queda espetacular no abismo do desespero e da loucura, elevados a potências inimagináveis.

Pelo suicídio, o ser humano antecipa, voluntariamente, o dia de sua mor-te, esquecendo-se de que, assim como há um tempo de nascer, do mesmo modo há, também, um tempo de morrer.

Ao assim proceder, o suicida desencadeia dois fatos que são uma decor-rência do ato insano. Primeiro, como acontece em todas as mortes violentas, o “cordão prateado”, elo fluídico entre o espírito e o corpo de carne, não se desata pelo suicídio. O seu autor permanece, após a morte, ligado ao corpo por muito tempo, o que o leva a sentir todos os fenômenos repugnantes da decomposição cadavérica. Algo como se, em plena Vida material, víssemos, assombrados e inermes, os vibriões devorando, vorazmente, o nosso corpo, com a sensação viva de suas picadas nos órgãos internos e na pele que os re-cobre. Impossível traduzir, em palavras, a intensidade de tamanho martírio.

É muito freqüente encontrarem-se, nos cemitérios e necrotérios, Espíritos suicidas completamente desarvorados, sentados ou deitados so-bre os seus túmulos, tanques ou mesas de necropsia. Médiuns clarividentes vêem, claramente, o cordão de prata saindo do centro de suas cabeças e pe-netrando terra a dentro ou no local em que estão colocados os seus corpos, numa prova evidente do que afirmamos acima.

Em segundo lugar, a vitalidade armazenada no corpo etérico, outro en-voltório semimaterial do espírito, não se extingue com o ato do suicídio, dando lugar a dolorosos processos de vampirização dessas energias etéricas,

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por Espíritos infelizes, perturbados e animalizados. Estes, quais vampiros insaciáveis, aproveitam-se dessas energias para se sentirem “mais vivos”, no outro lado, e darem pasto às suas paixões e desregramentos inferiores. Tal vitalidade foi concedida ao espírito por ocasião da reencarnação, para durar todo o tempo de sua Vida, agora abreviada, criminosamente, pelo ato do suicídio. A morte voluntária não destrói essa força vital e, enquanto ela per-durar, o espírito, no outro lado, sentir-se-á um autêntico “morto-vivo” ou um “vivo-morto”.

Se a causa do suicídio foi a ingestão de veneno ou qualquer outra subs-tância corrosiva, o espírito sentirá, no Além, por todo o tempo que ele ainda deveria permanecer neste mundo, a dor da queimadura causada pelo tóxico, descendo-lhe pelo esôfago, até os intestinos. Se o instrumento do suicídio foi uma arma de fogo disparada contra a cabeça ou o coração, o barulho do estampido e a dor da ferida aberta acompanharão o “morto-vivo” pelo mes-mo período de tempo. Se o decesso criminoso ocorreu por enforcamento, o processo asfixiante que antecedeu a extinção do corpo acompanhará o suicida por um período de tempo indeterminado. Se ele ateou fogo às vestes, atingindo o corpo físico, o seu perispírito, transformar-se-á numa brasa viva. Aliás, de todas as narrativas mediúnicas que nos chegam desses pobres se-res, as mais dolorosas e apavorantes são as dos queimados vivos e, também, as dos “retalhados”, isto é, daqueles que se atiraram embaixo de veículos pesados, como trens e vagões de metrôs. O sofrimento desses Espíritos é enlouquecedor e ultrapassa todas as torturas que podem ser infligidas a um ser humano, neste mundo.

E o que mais impressiona, diante de quadros tão tétricos e aterradores, é que, nos Planos Espirituais, o tempo não escorre como aqui, na Terra, mor-mente para os suicidas. Dias, meses e anos podem, no outro lado, ter a dura-ção real de séculos e milênios.

O inferno, como já o dissemos em outra parte deste trabalho, é a exte-riorização da “geena” interior da alma. Os suicidas trazem o inferno dentro de si e o exteriorizam nos planos inferiores que lhes servem de habitação. Ali, com as suas mentes em desequilíbrio, criam vales dolorosos e tristes, cavernas sombrias e úmidas e as mais hediondas paisagens de dor, angústia e desespero.

É freqüente, nesses sítios de sofrimento e aflição, verem-se,

objetivamente, as criações mentais desses infelizes. Enforcamentos, afoga-mentos, ateamentos de fogo ao próprio corpo, disparos de armas de fogo, tudo isto ali acontece entremeado por quadros vivos de seres sangrando pe-los ouvidos, “morrendo de novo” nos horrores da asfixia ou, ainda, correndo como loucos e atirando-se em escuros precipícios. São painéis terrificantes, dignos de um inferno muito mais doloroso do que os descritos por todas as teologias tradicionais.

O suicida é considerado, pela Lei Maior, um marginal da Espiritualidade. À semelhança dos proscritos da Terra, todos os direitos lhe são negados no Além. E até que o espírito suicida atinja o somatório do tempo que ainda tinha a viver em nosso mundo, muito pouco poderá ser feito em seu bene-fício, na Vida Espiritual. Ficam, assim, entregues a sua própria sorte, assisti-dos “indiretamente” por Espíritos benevolentes e caridosos que tudo fazem, em nome do amor, na tentativa, quase infrutífera, de mitigar-lhes tamanhos padecimentos.

Há dois livros, na literatura espírita cristã, que podem ser considerados “clássicos” sobre os horrores do suicídio, ambos editados pela Federação Espírita Brasileira: o primeiro, escrito há mais de cinqüenta anos, mas, tão atual quanto no seu lançamento – O martírio dos suicidas – de autoria de Almerindo Martins de Castro, e o segundo, assinado pela médium Yvonne do Amaral Pereira e ditado pelo famoso escritor português Camilo Castelo Branco, sob o pseudônimo de Camilo Cândido Botelho. Este último li-vro é uma obra-prima. É o mais completo trabalho e um fiel e autêntico depoimento acerca das conseqüências funestas do suicídio nos Planos da Eternidade. Ambos os livros foram escritos por amor, numa advertência a to-dos os que pensaram, um dia, ou ainda pensam, em atentar contra a própria Vida. Dificilmente, após a sua leitura, alguém praticará a autodestruição.

No livro de Yvonne do Amaral Pereira, é feita uma singular revelação: Maria, a Virgem de Nazaré, espírito evoluidíssimo, que habita as mais lu-minosas Mansões do Infinito e que, neste mundo, desempenhou a sublime missão de ser a mãe de Jesus tomou a si o encargo de proteger, amparar e ser a advogada da causa de todos os suicidas. Amorosamente, esse espírito de luz intercede junto a Jesus por todos esses réprobos infelizes.

Os suicidas, de um modo geral, após determinados períodos de tempo nos Planos Espirituais, com longos estágios de recuperação em instituições

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especializadas do Além, voltam à Terra pelas portas benditas da reencarna-ção. Aqui, repetirão a experiência interrompida pelo ato violento do autocí-dio e passarão, novamente, pelas mesmas experiências dolorosas que os leva-ram, um dia, a cometer esse delito. E a sua situação estará bastante agravada, porque os seus corpos materiais refletirão, consoante fatores atenuantes ou agravantes, os traumas sofridos pelo corpo espiritual em conseqüência desse ato de deserção da Vida.

O suicida é um espírito que cometeu um crime hediondo contra si pró-prio e contra a Lei Divina, e terá, forçosamente, de repará-lo. O seu retorno a um novo corpo de carne se dará em condições penosíssimas, com graves deficiências de certos órgãos, especialmente aqueles que foram mais afeta-dos pela autodestruição do corpo. É comum renascerem cegos ou surdos-mudos aqueles que se mataram, atirando projéteis de grosso calibre nos seus ouvidos. Retornam ao mundo com sérias deficiências nas cordas vo-cais, traquéia, esôfago e intestinos, aqueles que ingeriram voluntariamente substâncias tóxicas e corrosivas. Renascem aleijados e paralíticos, os que se mataram atirando-se sob as rodas de carros ou de pesadas composições ou precipitando-se de grandes altitudes. Voltam loucos, retardados mentais ou, então, com equimoses generalizadas em todo o corpo, os que se mataram ateando fogo ao próprio envoltório carnal.

E esse retorno à carne, em tão dolorosas condições de expiação, é inevi-tável, o que acontecerá ou não pela livre vontade do suicida. Sem quitar-se com a Lei pelo crime ominoso de autodestruição, o espírito suicida jamais retomará a escalada evolutiva. Por isso mesmo, muitos suicidas retornam, quase que imediatamente, ao nosso mundo em expiações dolorosíssimas. Outras vezes, quando há atenuantes para o seu crime, são internos, por pe-ríodos de tempo razoáveis, em instituições educativas no Mundo Espiritual. Ali, assistidos por Espíritos benfeitores, em sua maioria, ex-suicidas, fazem cursos, submetem-se a rígidas disciplinas, em suma, reeducam-se, tomando consciência da gravidade da falta que cometeram. Partem, em seguida, para a reencarnação em melhores condições espirituais. Isto, entretanto, não os exime das dolorosas expiações retificadoras nos planos da matéria densa, nem tampouco da tentação de, novamente, cometerem o mesmo delito, por ser a nova Vida uma reprodução “agravada” da sua Vida anterior. E a essa

nova tentação poderá resistir ou não, consoante o preparo porque passou nos Planos Espirituais.

Segundo Yvonne do Amaral Pereira, na obra supracitada, o suicida é “um clandestino do espaço”, que abala a harmonia do Mundo Invisível com a sua presença, por lá, antes da época determinada para o seu retorno. Somente são tolerados, na Espiritualidade, graças à infinita misericórdia divina.

O sofrimento dos suicidas, não pode ser levado à conta de um castigo que lhes foi infligido por Deus. Não! Aliás, Deus nunca castiga nenhum dos Seus filhos. O Pai Celestial é só amor e do Amor Absoluto não pode proce-der nenhuma forma de punição. O suicídio é um mal, e o mal é uma criação da liberdade humana e, jamais, uma criação de Deus. O suicida, ao cometer esse ato de insanidade, fere princípios da Lei Divina. Lesa, conseqüentemen-te, importantes centros espirituais do psicossoma. Por tudo isto, é ele e so-mente ele que a si próprio inflige o mais doloroso dos castigos. Assemelha-se, com o seu gesto tresloucado, a alguém que, com uma faca afiada desferisse um corte profundo no seu próprio corpo. Essa pessoa, fatalmente, terá de esperar o processo de cicatrização que levará algum tempo, processando-se de dentro para fora. O mesmo, analogicamente, poder-se-á dizer do suicida que rompe, abruptamente, o fio de sua Vida. Terá de sofrer, em si mesmo, as conseqüências desse corte violento, e o processo de cicatrização moral também levará tempo ocorrendo, igualmente, do interior para o exterior.

O suicida desliga-se, prematuramente, das provas e expiações adrede-mente programadas e que teriam um salutar efeito remissor nas suas almas. Ele deserta da Vida num gesto insano, por insurgir-se, geralmente, contra o remédio amargo que lhe curaria todas as feridas da alma.

Deus, entretanto é só amor e misericórdia e perdoa a todos os Seus filhos por maiores que sejam as faltas cometidas. Esse perdão, entretanto, consiste no oferecimento, pelo Criador, de oportunidades sem fim de retificação dos erros da alma revel.

O Apóstolo João afirmou que “Deus é amor” ( Jo. 4, 8), e Pedro comple-mentou a assertiva do Mestre, dizendo: “e o amor cobre a multidão dos pe-cados”. (Pe. 4, 8) •

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53Morte por Suicídio (II)

Não se suicidam somente aqueles que, num momento de insanidade, ingerem o veneno corrosivo que lhes devora as entranhas, ou se preci-

pitam voluntariamente de grandes altitudes, espedaçando-se no chão. Esses e outros que escolheram formas ainda mais sinistras de morrer, o fazem por atos livres de vontade, característicos do exercício da liberdade humana.

São, também, suicidas, ditos involuntários, aqueles que, por exemplo, abusam da velocidade em veículos de todos os tipos, à cata de fortes emo-ções, precipitando-se, muitas vezes, em acidentes fatais. Incluem-se, aqui, os pilotos de todas as “fórmulas” conhecidas no mundo. Estes transformam seus carros em foguetes sobre rodas, ao atingirem velocidades acima de tre-zentos quilômetros por hora. Se o fazem como “meio de Vida”, melhor seria que tal tipo de atividade fosse chamado de “meio de morte”.

Também são suicidas, em potencial, os que se entregam à prática de to-dos os esportes perigosos, tais como o surf aéreo, os saltos acrobáticos de skis, “vôos” de motos ou de automóveis sobre extensos obstáculos e outras proezas semelhantes, tudo praticado por mera exibição vaidosa de coragem, com total desprezo pela Vida humana.

Matam-se, ainda, irresponsavelmente, os praticantes da “brincadeira” da “roleta russa” e todos os que lidam, levianamente, com armas de fogo como se fosse folia de criança.

Suicidam-se, também, os que, por pusilanimidade, se entregam aos vícios do tabagismo, do etilismo social ou crônico e das drogas estupefacientes, e, ainda, os freqüentadores dos cassinos de luxo, onde varam dias e noites, en-tregues às perigosas emoções dos jogos de azar. A prática de tais vícios pro-voca sérias lesões no corpo espiritual, com reflexos mórbidos no organismo humano, levando-o à enfermidade e até mesmo à morte.

Estão na mesma situação os gastrônomos e filopanças que, por vício, não comem para viver e sim, vivem para comer. Também atentam, todos os dias,

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contra a Vida, os desequilibrados da emoção, os temperamentais e coléricos, sempre prontos a explodir a sua bílis por motivos banais.

Matam-se, aos poucos, os negativistas de toda ordem, que cultivam a tristeza, o desencanto e o pessimismo, somente enxergando o lado escuro e negativo de si próprios, das pessoas e das situações. Estes adoecem e mor-rem de mágoas e ressentimentos, mergulhados nas trevas do mais ferrenho egoísmo.

Aniquilam-se, paulatinamente, os torcedores fanáticos de todos os jogos esportivos, ao comprometerem a sua saúde na exaltação histérica de seus ânimos ou nas discussões violentas que, por vezes, levam ao infarto ou à apoplexia cerebral.

Comprometem, ainda, as suas vidas, de uma forma letal, os maquiavéli-cos e caluniadores de toda sorte, que sentem o prazer mórbido de denegrir a reputação alheia. Essas maquinações venenosas afetam, em primeiro lugar, a eles próprios, assim como a bala ao ser disparada deixa, primeiro, a fuligem no cano da arma.

Chegam aos milhões, portanto, os que, todos os dias, deixam esta Vida pelas portas da leviandade e da inconseqüência, assumindo graves compro-missos perante a Lei Divina.

Todos esses serão tratados, no Além, como suicidas involuntários e amargarão dolorosos sofrimentos. Em geral, permanecem confinados por muito tempo – tempo metafísico e não cronológico – a regiões sombrias do Mundo Espiritual, onde curtirão a sua dor, privados de todas as facilidades de que dispunham neste mundo.

O livro Nosso Lar relata-nos o caso do próprio autor que, após perma-necer por oito anos, em regiões sombrias, foi recolhido por Espíritos ami-gos e internado em hospital da cidade espiritual que dá nome ao livro. Ali, médicos e assistentes da Espiritualidade constataram, para a sua surpresa e protesto, que as causas de sua morte se deviam a um suicídio involuntário, por excessos da mesa e de bebidas alcoólicas.

A estória de André Luiz representa uma séria advertência aos que brin-cam de viver, encarando a existência humana mais como um presente con-cedido por Deus, sem visualizá-la por outro prisma: nós é que fomos dados à Vida para torná-la melhor.

Emmanuel, no prefácio da obra supracitada, escreve, textualmente:

André Luiz vem lembrar a você, leitor amigo, que a Terra é oficina sagrada, e que ninguém a menosprezará, sem conhecer o preço do terrível engano a que submeteu o próprio coração: Guarde a experiência dele no livro da alma. Ela diz bem alto que não basta à criatura apegar-se à existência humana, mas precisa saber aproveitá-la dignamente. (Francisco Cândido Xavier e Espírito André Luiz, Nosso Lar, pp. 10–29)

Em outras palavras, foi o que o Cristo quis dizer, numa advertência que vale-rá por todos os séculos e milênios sem fim: “De que vale ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma?!” (Mc. 8, 36) •

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54Morte por Suicídio

(III) – Depoimentos

Inspirado por mentores espirituais que me têm assistido na elabora-ção deste livro, abro, aqui, espaço, e passo a transcrever, “de uma forma

condensada”, depoimentos de suicidas, recebidos por médiuns da maior confiabilidade.

Faço-o, atendendo à intuição desses orientadores que me fizeram ver os benefícios que poderão advir da leitura desses testemunhos a todos aqueles que, um dia, alimentaram, ou ainda alimentam, propósitos de autodestruição.

Os Espíritos superiores insistem em afirmar, com a sua autoridade: — Não há sofrimento maior, no outro lado da Vida, do que o da criatura que destrói, voluntariamente, o seu corpo físico.

Ei-los:

Precisamente no mês de janeiro de 1891, fora eu surpreendido com o meu aprisio-namento em região do mundo invisível, cujo desolador panorama era composto de vales profundos a que as sombras presidiam. Gargantas sinuosas e cavernas sinistras, no interior das quais uivavam, quais maltas de demônios enfurecidos, Espíritos que foram homens, dementados pela intensidade e estranheza dos sofrimentos que os martirizavam.

Nessa paisagem aflitiva – esfera purgatorial que circunda as mediações infe-riores do globo terráqueo – a vista torturada do grilheta não distinguiria sequer o doce vulto de um arvoredo que testemunhasse suas horas de desesperação. Ali não penetrava outra forma de Vida que não a traduzida pelo supremo horror.

O solo, coberto de matérias enegrecidas e fétidas, lembrando a fuligem, era imundo, pastoso, escorregadio, repugnante! O ar pesadíssimo, asfixiante, gelado, enoitado por bulcões ameaçadores, e ao respirarem-no os Espíritos ali ergastula-dos, sufocavam-se como se matérias pulverizadas, tenuíssimas, nocivas mais do

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que a cinza e a cal, lhes invadissem as vias respiratórias, martirizando-os com um suplício inconcebível ao cérebro humano, habituado às gloriosas claridades do Sol e às correntes vivificadoras dos ventos sadios que tonificam a organização física dos habitantes da Terra.

Não havia, ali, nem paz, nem consolo, nem esperança. Tudo, em seu âmbito, marcado pela desgraça, era miséria, assombro, desespero e horror.

No presídio purgatorial que tento descrever, só havia a dor que nada consola, a desgraça que nenhum favor ameniza, a tragédia que idéia alguma vem orvalhar de esperança. Não há céu, não há luz, não há Sol, não há perfume, não há tréguas. O que há é o choro convulso e inconsolável dos condenados que nunca se har-monizam! É o assombroso ranger de dentes (o destaque é nosso) da advertência prudente e sábia do Mestre de Nazaré! O que há é a raiva envenenada daquele que já não pode chorar porque ficou exausto sob o excesso das lágrimas! É o desaponto, a surpresa aterradora daquele que se sente vivo a despeito de se haver arrojado à morte! É a revolta, a praga, o insulto, o ulular de corações que o percutir monstruo-so da expiação transformou em feras! O que há é a consciência conflagrada, a alma ofendida pela imprudência das ações cometidas! É o inferno, na mais repulsiva e dramática exposição, porque, além de tudo, existem ali cenas incríveis de animali-dade, práticas abjetas dos mais sórdidos instintos, as quais eu me pejaria de revelar aos meus irmãos, os homens!

Quem ali, temporariamente, estaciona é a escória do mundo espiritual – fa-langes de suicidas a se despojarem das forças vitais que se encontram, geralmente, intactas, revestindo-lhes os envoltórios físico-espirituais, em virtude de seqüências sacrílegas do suicídio, daqueles que, levianos e inconseqüentes, fartos da Vida que não quiseram compreender, se aventuraram no Desconhecido em procura do olvi-do, pelos despenhadeiros da morte!

O Além-túmulo acha-se longe de ser a abstração que na Terra se supõe. Ele é, antes, simplesmente, a Vida real, e o que encontramos ao penetrar suas regiões é Vida, Vida intensa, dispondo de organizações sociais e educativas modelares, a servirem de padrão para o progresso da Humanidade.

É bem possível que haja quem ponha em discussão a veracidade do que vai es-crito nestas páginas, querendo negar a Vida fecunda, intensa e, absolutamente, real, após a morte. Não os convidarei a crer. Entretanto o a que os convido, o que arden-temente desejo e para o que tenho todo o interesse de pugnar, é que se eximam de conhecer essa realidade através dos canais trevosos a que me expus, dando-me ao

suicídio por desobrigar-me da advertência de que a morte nada mais é do que a verdadeira forma de existir. (Yvonne do Amaral Pereira e Espírito Camilo Cândido Botelho, Memórias de um suicida, pp. 17 e seg.)

Era eu, pois, presidiário dessa cova ominosa do horror! Não habitava, porém, ali, sozinho. Acompanhava-me uma coletividade, falange extensa de delinqüentes como eu. Então ainda me sentia cego. Contudo, a mim, cego, não passaria desper-cebido o que ali se apresentasse de mau, feio, sinistro, imoral, obsceno, pois meus olhos tinham visão bastante para toda essa escória contemplar.

Às vezes, conflitos brutais se verificavam pelos becos lamacentos onde se enfi-leiravam as cavernas que nos serviam de domicílio. A fome, a sede, o frio enregela-dor, a fadiga, a insônia; exigências físicas martirizantes; a natureza como que agu-çada em todos os seus desejos e apetites, qual se ainda trouxéssemos o envoltório carnal; a promiscuidade, muito vexatória, de Espíritos que foram homens e dos que animaram corpos femininos; tempestades constantes, inundações mesmo; a lama, o fétido, as sombras perenes, a desesperança, o supremo desconforto físico e moral

– eis o panorama, por assim dizer, material (o destaque é nosso) que emoldurava os nossos ainda mais pungentes padecimentos morais.

Não sabíamos quando era dia e quando voltava a noite, porque sombras pere-nes rodeavam as horas que vivíamos. Perdêramos a noção do tempo. Apenas, esma-gadora sensação de distância e longevidade do que representasse o passado ficaram para açoitar nossas interrogações, afigurando-se-nos que ali estávamos há séculos, jungidos a tão ríspido calvário.

Às vezes, procurávamos fugir do local maldito para voltarmos aos nossos lares, e o fazíamos, desabaladamente, em insanas correrias de loucos furiosos! Mas cor-rentes irresistíveis, como imãs poderosos, atraíam-nos de volta ao tugúrio sombrio, arrastando-nos de envolta a um a turbilhão de nuvens sufocadoras e estonteantes.

De outras vezes, tateando nas sombras, lá íamos, por entre gargantas, vielas e becos, sem lograrmos indício de saída… Cavernas! Sempre cavernas ou longos espaços pantanosos, quais lagos lodosos circulados por muralhas abruptas que nos afiguravam levantadas em pedra e ferro, como se fôramos sepultados vivos nas pro-fundas tenebrosidades de algum vulcão!

Era um labirinto onde nos perdíamos, sem podermos jamais alcançar o fim! Por vezes, acontecia não sabermos retornar ao ponto de partida, isto é, às cavernas que nos serviam de domicílio, o que forçava a permanência ao relento, até que deparássemos algum covil desabitado para outra vez nos abrigarmos.

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Nossa mais vulgar impressão era a de que nos encontrávamos encarcerados no subsolo, em presídio cavado no seio da Terra. Esta ingênua suposição tomava, por vezes, foros de realidade e, aterrados, entrávamos a bramir em coro, furiosamente, quais maltas de chacais danados, para que nos retirassem dali, restituindo-nos à liberdade! (Idem, ibidem, pp. 19 e seg.)

Como se fantásticos espelhos perseguissem obsessoramente nossas faculdades, lá se reproduzia a visão macabra: – o corpo a se decompor sob o ataque dos vibriões esfaimados. A faina detestável da podridão no curso natural da destruição orgânica, levando de roldão nossas carnes, nossas vísceras, nosso sangue, nosso corpo, enfim, que se sumia para sempre no banquete asqueroso de milhões de vermes vorazes, carcomido lentamente sob nossas vistas estupefatas!… Ele, o corpo, morria, era bem verdade, enquanto nós, seus donos, nosso ego sensível, pensante, inteligen-te, desapontado e pávido ali estávamos bem vivos, desafiando a possibilidade de também morrer. Vivos, nós, em espírito, diante do corpo putrefato, sentíamos a corrução atingir-nos!… Doíam em nosso corpo astral as picadas monstruosas dos vermes! Enfurecia-nos até a demência esta repercussão no nosso perispírito ainda animalizado a refletir o que se passava com o corpo em decomposição. (Idem, ibi-dem, pp. 21 e seg.)

Um dia, em seleta reunião de psiquistas, apareceu um espírito que, comunicando-se pelo médium, revelava a mais extraordinária dor. Gritava aflitivamente como se estivesse sendo martirizado. A custo, foi acalmado e entre gemidos e gritos, contou a causa do seu sofrer.

Era mulher. Tinha sido uma suicida. Cansada de uma Vida sofrida, decidira-se matar-se e atirou-se debaixo de um trem. Tombara sobre os trilhos. Sentiu as rodas passando sobre o seu corpo. Ouviu o ranger de ossos triturados. Sentiu suas car-nes dilaceradas. Fragmentos de seus membros rolaram com o impulso do choque que os decepara e, não obstante, sentia que não morria. Via-se desfeita, esmagada, informe.

Olhou e viu acudir gente, gritando. Notou que examinavam, compungidos, os seus restos. Viu chegarem as autoridades e, em seguida, um homem que juntou to-dos os pedaços do seu corpo espostejado, mantendo-os em um caixote de madeira. Queria afastar-se do lugar, mas não podia. Gritava, mas ninguém lhe ouvia nem dava atenção. Agarrou-se a um policial, pedindo-lhe que a levasse para casa, mas

o policial não a atendeu. Não a sentia nem a ouvia. Deixou-o e agarrou-se a outras pessoas. Sucedeu o mesmo. Ninguém lhe respondia nem se importava com ela.

Entretanto, ouvia sempre o rodar do trem. Sentia-se passar, esmagando, cortan-do e arrastando-lhe o corpo e ouvia o ruído do esmagar dos ossos. Era horrível!

As autoridades afastaram-se. Dois homens levaram-lhe o corpo esmigalhado e em fragmentos. Não compreendia como se via morta e em pedaços, ao mesmo tempo que lhe parecia estar viva e a sentir dores, muitas dores em todo o corpo. Imaginou que dormisse e fosse vítima de um pesadelo. Mas, rapidamente, via toda a sua Vida, até o momento de atirar-se para debaixo do trem, em procura do des-canso da morte. Lembrava-se dos filhos. Mas a sua visão fixava-se unicamente no trem, no seu corpo despedaçado, no caixote com o seu cadáver em bocados, es-correndo sangue e estendendo dois fios vermelhos pela rua a fora… Não via mais nada.

Algum tempo depois, começou a notar ao seu redor pessoas que não conhecia, horrendamente feias, que se riam dela, a empurravam, e lhe diziam gracejos e sar-casmos por ter querido fugir às dores da Vida, matando-se. Pareciam-lhe demônios e apavorava-se com o medo de que a viessem buscar para o inferno. Suplicava-lhes que a deixassem… Redobravam de risadas e de empurrões. O riso era de endoide-cer… E não deixava de sentir a trituração do seu corpo, de ouvir o rodar do trem, o estalar dos ossos, o esmagar da carne!…

E aqueles demônios que dela se aproximaram nunca mais a deixaram. Iam uns e vinham outros… Riam às gargalhadas, gemiam, berravam. Diziam-lhe que eram seus eternos companheiros e iguais a ela, porque, perdidos, também se tinham matado por suas próprias mãos… Havia momentos em que pareciam todos doi-dos furiosos. Cada um berrava a sua maneira. Ouvia-os, sentia-os e só uma vez lhe parecera tê-los visto. Eram todos vestidos de negro e faziam caretas de sofrimento. Parecia-lhe que alguns deles estavam esmagados, como vira o seu corpo. Outros com a cara inchada e outros ainda com fios de sangue a escorrer-lhe pelos ouvi-dos!… Era coisa do inferno e não quisera ver mais… Mas, quer fechasse os olhos, quer não, via-os do mesmo modo. Para ela, era tudo noite escura, mas noite escura através da qual via os filhos, como os deixara, doentes e famintos.

E sempre o trem a correr por cima dela, o seu corpo a partir-se pelo cortar de suas carnes… E isto não acabava nunca…

A pobre mulher contara essas coisas a pedaços, sufocada em gemidos e ex-clamações de horror. Depois, retirou-se do médium, não sem ter deixado, numa

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exclamação final, a mais dolorosa impressão que a comunicação com os Espíritos pode dar em tais circunstâncias: — “E é isto a morte, meu Deus?!!!” (o destaque é nosso) (Almerindo Martins de Castro, O martírio dos suicidas, pp. 17 e seg.)

Estava convicto de não mais pertencer ao mundo dos vivos deste mundo. Sentia-me um fantasma nas grades escuras do horror. Cabelos eriçados. Coração aos saltos. Medo terrível. Muitas vezes gritava como um louco, implorando piedade. Gargalhadas sinistras rasgavam a quietude do ambiente. Formas diabólicas. Rostos alvares. Expressões animalescas surgiam aqui e ali, agravando-me o assombro.

A paisagem, quando não totalmente escura, parecia banhada de luz alvacenta como que amortalhada em neblina espessa. Fugia. Fugia sempre. O medo me im-pelia de roldão. Onde o lar, a esposa, os filhos? Perdera toda a noção de rumo. O receio do ignoto. O pavor da treva absorvia-me todas as forças. Preferiria a ausência total de razão. O não ser.

Em minutos raros, felicitava-me a bênção do sono. Seres monstruosos, po-rém, acordavam-me, irônicos. Era imprescindível fugir-lhes. Em momento al-gum o problema religioso surgiu tão profundo a meus olhos. É que – meditava

– a Humanidade não se constitui de gerações transitórias, mas sim de Espíritos eternos a caminho de gloriosa destinação. Semelhante análise surgia, contudo, tardiamente.

Conhecia as letras do Velho Testamento. Folheara o Evangelho. Entretanto, era forçoso reconhecer que nunca procurara as letras sagradas com a luz do coração. E algo me fazia experimentar a noção do tempo perdido com a silenciosa acusação da consciência. Não desenvolvera os germes divinos que o Senhor da Vida colo-cara em minha alma. Sufocara-os no desejo incontido de bem-estar. Não adestrara órgãos para a Vida nova!

Suicida! Suicida! Criminoso! Infame! Gritos assim cercavam-me de todos os lados. Por vezes, enxergava os que gritavam, escorregadios na treva espessa. Gargalhadas sarcásticas feriam-me os ouvidos, enquanto os vultos negros desapa-reciam na sombra. Torturava-me a fome. A sede escaldava. Crescera-me a barba. A roupa começava a romper-se naquela região desconhecida.

Que buscas, infeliz? Aonde vais, suicida? Tais objurgatórias incessantemente repetidas, perturbavam-me o coração. Na paisagem úmida e escura, a caminha-da parecia não ter fim. Persistiam as necessidades fisiológicas, sem modificação. Castigava-me a fome todas as fibras. De quando em quando deparavam-se-me

verduras que me pareciam agrestes, em torno de humildes filetes d’água a que me atirava sequioso. Devorava as folhas desconhecidas. Colava os lábios à nascente turva. Muitas vezes, suguei a lama da estrada, recordei o antigo pão de cada dia, vertendo copioso pranto. Não raro era imprescindível ocultar-me das enormes ma-nadas de seres animalescos que passavam em bando, quais feras insaciáveis. Eram quadros de estarrecer. (Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Nosso Lar, pp. 13 e seg.)

Após reparador e profundo repouso, sentia-me outro. Nisto, abriu-se a porta e vi entrar Clarêncio acompanhado de simpático desconhecido. (Clarêncio é Ministro na Colônia Espiritual Nosso Lar, um espírito de elevada expressão hierárquica que recolheu André Luiz das zonas sombrias onde ele se encontrava, por intercessão de sua mãe, também habitante de Esferas Superiores). Sorridente, o velhinho ami-go apresentou-me o companheiro. Era o Assistente Henrique de Luna. Trajado de branco, Henrique auscultou-me, demoradamente, sorriu e explicou: — É de lamentar que tenha vindo pelo suicídio.

Recordei, de imediato, as acusações dos seres perversos das sombras e retru-quei: — Creio que haja engano. Meu regresso do mundo não teve essa causa. Lutei mais de quarenta dias, na casa de saúde, tentando vencer a morte. Sofri duas opera-ções graves devido à oclusão intestinal. — Sim, esclareceu o médico, mas a oclusão radicava-se em causas profundas, derivando de elementos cancerosos, e estes, por sua vez, de algumas leviandades do estimado irmão no campo da sífilis. Seu fígado foi maltratado pela sua própria ação. Os rins foram esquecidos com terrível menos-prezo às dádivas sagradas. O meu amigo iludiu excelentes oportunidades, desper-diçando patrimônios preciosos da experiência física. Todo o sistema gástrico foi destruído à custa de excessos da alimentação e bebidas alcoólicas, aparentemente sem importância. A sífilis devorou-lhe energias essenciais. Como vê, o suicídio é incontestável. (Idem, ibidem, pp. 21 e seg.)

Paramos por aqui. Os testemunhos e depoimentos transcritos são gritos vi-vos de dor, angústia e aflição indiscutíveis. Valem por si mesmos. Nenhum comentário a mais a fazer. Foram, aqui, reproduzidos a fim de evitar que muitos cometam a loucura do suicídio, na tentativa ilusória de destruir o que é indestrutível: a própria Vida! •

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55Mortes Violentas

Milhares de seres humanos deixam este mundo, todos os dias, de uma forma imprevista, violenta e, por vezes, irresponsável. Muitas vidas

são ceifadas devido a acidentes graves e a incidentes de toda espécie: desas-tres vários, tentativas de assalto, brigas ferozes, quedas, choques elétricos, balas perdidas, atropelamentos.

O dia da morte, na grande maioria dos casos, é um dia fatal. Está escrito na programação reencarnatória de cada um. Assim como há tempo de nas-cer, há, também, tempo de morrer. Já o dissemos. Evidentemente, estamos nos referindo aos casos de morte natural ou em virtude de acidentes inevitá-veis, onde as pessoas envolvidas não têm a menor culpa do acontecido.

Todavia, o dia da morte não é uma fatalidade naqueles casos em que en-tram a imprevidência e a irresponsabilidade. Em tais circunstâncias, morre-se “antes da hora” e responder-se-á por isto na Vida Espiritual.

Morrer, por exemplo, num acidente de carro a cento e oitenta quilôme-tros por hora, em estado de embriaguez ou sob o efeito de drogas estupefa-cientes, é suicídio qualificado.

Brigas e outros atritos pessoais, causados por excesso de bebidas, em am-bientes “carregados” de bares, boates e “inferninhos”, gerando homicídios inesperados, também caracterizam, do mesmo modo, mortes violentas e irresponsáveis pela futilidade dos motivos.

Cabe, entretanto, distinguir entre os que morrem irresponsavelmen-te, nas situações aqui definidas, e aqueles que são vitimas dessa irrespon-sabilidade, perecendo, da mesma forma, nesses acidentes ou incidentes violentos.

É bem verdade que nunca deveremos nos arrogar em juízes desses fa-tos. Todo julgamento humano é falho. Somente o juízo de Deus é perfeito e infalível. Isto é óbvio. Todavia, a lógica e o bom senso dizem-nos que será sempre dolorosa a situação desses Espíritos, no outro lado da Vida, eles que,

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de uma forma irresponsável, foram os causadores desses acontecimentos lamentáveis em que seres humanos “inocentes”, perderam as suas vidas.

Cada morte tem uma conotação própria, única. Não há duas mortes idênticas, mas, nas mortes violentas, de um modo geral, não há o desliga-mento imediato do “cordão de prata”, e isto causa àquele que está deixan-do este mundo uma grande perturbação. (ver Capítulo 26, “O Cordão de Prata”)

Estonteados pela violência traumática dessas mortes, não sabem esses Espíritos que já estão noutra dimensão de Vida, e permanecem, por larga margem de tempo, num doloroso estado de inquietação, angústia e perple-xidade. Nesses casos, não acontece aquela assistência especial, previamen-te programada, como, por exemplo, nos casos das mortes coletivas. (ver Capítulo 56, “Mortes Coletivas”)

A morte, por irresponsabilidade, é um crime que o espírito pratica contra si mesmo, com conseqüências cármicas para o seu futuro.

Muitos, após essas mortes, são arrastados de roldão por hordas de Espíritos embrutecidos, animalizados e malfeitores, e até os seus corpos, ainda insepultos, são vampirizados por essas entidades inferiores, num ban-quete sinistro, digno de lástima e de piedade. Os Espíritos vigilantes, guar-diães do Mundo Espiritual, quase nada podem fazer nessas circunstâncias, deixando “o morto”, na maioria das vezes, entregue à sua própria sorte.

Já com aqueles que são vítimas “inocentes” desses acidentes e incidentes violentos, as coisas se passam de modo bem diferente. Isto porque, entre os envolvidos nesses casos, há aqueles que, sem nenhuma culpa “atual” pelo acontecido, estão deixando este mundo no dia aprazado, na hora certa.

Estes recebem, no outro lado da existência, toda a assistência misericor-diosa dos Espíritos benevolentes e amigos. Após algum tempo de perturba-ção, são levados a mergulhar em sono reparador, seguido de recolhimento em instituições especializadas dos Planos do Além. É que tais mortes, em-bora pareçam “casuais”, porque ocorridas de forma violenta e imprevista, não estão acontecendo sem uma razão de ser. Se não há irresponsabilidade ou imprevidência da pessoa envolvida, é que essa morte estava dentro da programação reencarnatória daquela criatura, traçada antes de seu retorno a este mundo.

Mortes violentas são casos especiais e, por isso mesmo, merecem, cada uma, tratamento diferenciado das autoridades espirituais, dentro da per-feição da Lei de Deus. Todavia, em todas elas, vige sempre a advertência evangélica: “A cada um será dado de acordo com as suas obras.” (Apo. 20, 12) •

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56Mortes Coletivas

A lei da reencarnação explica, safisfatoriamente, as mortes coletivas. Resultam de processos cármicos irreversíveis, com raízes em vidas

pretéritas. Nunca são obras do acaso. Todas, por isso mesmo, estão adrede-mente previstas nos programas reencarnatórios de cada um.

Os que não tinham de morrer nesses acidentes – desastres de avião, nau-frágios, incêndios, desabamentos e, ainda, cataclismos naturais, como fu-racões e tornados, terremotos, erupções vulcânicas, inundações, trombas d’água, tsunamis e outros –, perdem o horário, trocam de passagem com outra pessoa, dormem mais do que deviam, viajam para lugares distantes, mudam de residência, e escapam ilesos, ou são salvos, miraculosamente, dessas ocorrências.

Morrem tão somente “os que tinham” de morrer naquele dia. E isto não é um determinismo. É carma coletivo, porque como esclarece o espírito André Luiz, no livro Ação e reação, “nós mesmos é que criamos o carma e este gera o determinismo”.44

Nenhum desses desastres ou cataclismos acontecem fora das leis naturais ou são, propositalmente, provocados pelas autoridades espirituais superio-res. Não! Em outras palavras, não são os “Senhores do Carma” que afundam navios, provocam incêndios ou põem aviões a baixo. Tais fatos acontecem por defeitos técnicos ou falhas humanas, entretanto, sempre haverá Espíritos que são “inspirados” ou “encaminhados” para o núcleo dessas ocorrências, a fim de que se cumpra a Lei: “Quem quer que mate pela espada, pela espada perecerá.” (Mt. 26, 52)

O objetivo deste livro, entretanto, não é o de desenvolver pontos dou-trinários, mas sim o de descrever, realisticamente, os múltiplos fenômenos relacionados com a morte, ou seja, o regresso do espírito à Vida maior.

As mortes coletivas são do prévio conhecimento dos Espíritos

44 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Ação e reação, pp. 83 e seg.

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superiores. Esses Espíritos sabem, perfeitamente, onde e quando elas vão ocorrer. E assim como, no plano material, verificadas as ocorrências, são, de imediato, providenciadas equipes especializadas de salvamento e socorro, o mesmo acontece nos Planos Espirituais. Por antecipação, são preparadas equipes altamente treinadas nesse tipo de assistência, para atenderem, indi-vidualmente, aos que morrem nesses acidentes.

E, mais uma vez, voltamos a insistir: a situação nos Planos do Espírito dos que morrem nesses desastres, vai depender, basicamente, do grau de evolução de cada espírito, porquanto é ainda André Luiz quem nos adverte:

“Se os desastres são os mesmos para todos, a morte é diferente para cada um.”45

Em um grande número de casos, esses Espíritos estão cumprindo eta-pas finais de um longo processo de redenção. Para que possam ascender a esferas mais altas, faltava-lhes, apenas, uma última prova que vinha sendo sempre adiada, à espera do momento propício para acontecer.

Por fim, surgida a oportunidade, eles decidem passar pelo teste decisivo, a fim de poderem subir de nível espiritual. Isto acontece com entidades de elevada expressão evolutiva que, por isso mesmo, saem desses desastres, feli-zes, gloriosas, iluminadas, semelhantemente a uma pessoa que, neste mundo, se submeteu a uma intervenção cirúrgica de alto risco e, ao seu final, foi bem sucedida. Ao abrir os olhos, após o sono da anestesia, vendo-se viva e recu-perada, sente ela uma alegria intraduzível.

Analogicamente, vencido o medo da prova cármica mais difícil e, de-pois dela concretizada, sentindo-se na posse da Vida Eterna, esses Espíritos regozijam-se pela vitória alcançada e por estarem, agora, quites com a Lei. Cantam hosanas e agradecem a Deus a experiência difícil, mas redentora, porque passaram.

Oportuno citar aqui as palavras de Jesus acerca dos delitos praticados contra os nossos irmãos de humanidade enquanto estamos a caminho com eles. Disse o Cristo: “— …e de lá não saireis enquanto não pagardes o últi-mo ceitil” (Mt. 5, 25–26), como quem diz: Não te elevarás de nível espiritual, enquanto não estiveres quites perante a Lei…

Todavia, nem todos os Espíritos que morrem coletivamente estão nas

45 Idem, ibidem, p. 238.

condições acima descritas. Por isso mesmo, torna-se necessária a prestação de assistência eficiente a todas as vítimas desses desastres, a fim de que eles, transpostos os umbrais da morte, recuperem-se dos traumas sofridos, e re-tornem ao seu estado natural de Espíritos livres.

Nas mortes bruscas e inopinadas, o cordão de prata que liga o espírito ao corpo não se rompe de imediato, causando ao espírito recém-liberto uma grande perturbação, especialmente naqueles, de grau evolutivo menor.

Geralmente, os Espíritos que deixam esta Vida traumaticamente, sen-tem-se “vivos”, no outro lado, como se ainda estivessem envergando os seus corpos de carne, e contemplam tudo o que se está passando ao seu redor. A missão das equipes de socorro da Espiritualidade é a de ampará-los nesse transe, levando-os a conciliar o sono, o mais rápido possível, a fim de pode-rem ser transportados para instituições especializadas do Além. Recolhidos, lá receberão assistência carinhosa, sob as bênçãos de Deus e, aos poucos, irão despertando para as realidades da Vida Espiritual.

A dor, a perturbação, a angústia, o desespero vividos pelos Espíritos me-nos evoluídos fazem parte do sofrimento cármico, necessário. Dores seme-lhantes e torturas ainda maiores, eles, um dia, infligiram aos seus irmãos de humanidade, em existências pregressas.

Muitos amigos e parentes, hoje transformados em Espíritos protetores e guardiães, integram essas equipes espirituais de socorro e vêm receber, nos pórticos do Além, os seus protegidos e assistidos. É muito comum os recém-libertos verem esses amigos e protetores, por um lapso de tempo muito cur-to, antes de mergulharem no sono reparador, após esse tipo traumatizante de morte. Essa visão serve-lhes de conforto, suavizando, em parte, as angús-tias dessa hora.

Mortes coletivas são provações muito dolorosas para os que ficam e tam-bém para os que partem, mas integram os programas redentores do espírito endividado perante a Lei e são condição para que possam usufruir, mereci-damente, as glórias da Vida Eterna.

Na Lei de Deus não há o perdão gratuito. Também não há castigos eter-nos. É o que nos diz a Doutrina Espírita. Há provas e expiações volunta-riamente buscadas ou impostas, dentro da Lei Maior, pelas autoridades espirituais superiores, que velam pelo progresso dos seus tutelados. Estes necessitariam dessas provações a fim de ascenderem a níveis espirituais mais

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altos. E, assim todos, um dia, usufruirão da paz merecida, nas Moradas de Luz do Infinito.

“A dor coletiva corrige falhas mútuas, dos que partem e, também, dos que ficam…”46

Todavia, a morte é, mais uma vez, vencida… e a Vida continua!… •

46 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Ação e reação, p. 245.

57Espíritos Inferiores – O

Que Fazem no Além

O Codificador do Espiritismo, Allan Kardec, em sua obra O livro dos Espíritos, faz um estudo minucioso e sistemático acerca do que ele de-

nominou de “escala espírita”47 ou seja, uma classificação dos Espíritos que habitam as Esferas Espirituais pertencentes ao nosso planeta.

Assinala o Codificador três ordens principais de Espíritos: os imperfeitos ou inferiores, os bons e os puros. Tal estudo é dos mais completos e bem reflete a extraordinária lucidez do seu autor. Ele ainda distribui os vários tipos de Espíritos em dez classes, desde os de mais ínfima condição até os mais puros Espíritos.

Não repetiremos, neste trabalho, tudo quanto disse o Codificador. Se o fizéssemos, seria uma mera compilação que, além de imperfeita, se tornaria desnecessária.

O objetivo deste livro – repetimos – não é o de teorizar sobre os temas abordados, mas o de levar o leitor a visualizar a Vida Espiritual em todas as suas facetas, na tentativa de mostrar “Como Vivem os que Morrem”, subtítu-lo do nosso trabalho. É nessa linha de pensamento que vamos tentar desen-volver, neste e nos capítulos seguintes, como vivem e se comportam essas três categorias de Espíritos nos Planos Espirituais.

Comecemos pelos Espíritos inferiores. E, desde logo, poderíamos dizer: entre os Espíritos inferiores, há os ignorantes, imperfeitos e maus, porque os seres humanos são também assim. E se eles são em maior quantidade do que os bons e puros Espíritos, é porque assim também é a humanidade.

Muitos Espíritos inferiores perambulam pelo nosso mundo, vestidos de carne. São os homens e mulheres pérfidos, caluniadores, levianos, egoís-

47 Allan Kardec, O livro dos Espíritos, pp. 84–91.

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tas, vaidosos, orgulhosos, prepotentes, abjetos, preconceituosos, invejosos, traiçoeiros, cruéis, avarentos, cúpidos, violentos e maus.

Evidentemente, Deus não os criou assim. Eles assim se fizeram pelas suas próprias mãos. São obra de uma voluntária opção pelo caminho largo que também conduz “à porta larga da perdição” (Mt. 7, 13), segundo as palavras do Cristo. Degradaram-se. Comprometeram-se, gravemente, perante a Lei. Habitam, já neste mundo, o próprio inferno que criaram para si próprios e, profundamente infelizes e desequilibrados, espalham as mais baixas ir-radiações onde quer que estejam. Ao deixarem este mundo, conservam-se, nos Planos Espirituais inferiores, na mesma situação e no mesmo estado de inferioridade.

Conseqüentemente, a Vida que se desdobra para além da crosta terres-tre, consubstancia planos de prosseguimento da humanidade enclausurada na armadura de carne. Podemos assinalar, apenas, uma grande diferença: enquanto os seres humanos do mais baixo nível, neste mundo, conseguem disfarçar a sua maldade, parecendo ser o que não são, o mesmo jamais po-derá acontecer nos Planos Espirituais. Por lá, cada espírito traz em si mesmo, a marca indelével do seu grau evolutivo. Isto é facilmente observável pela sombra que os envolvem ou através da luz que deles se irradia.

Em nosso mundo, um rosto bonito, um corpo de formas perfeitas e har-moniosas, pode muito bem esconder uma alma cruel e pecaminosa. No Além, o corpo espiritual retrata, em toda a sua crueza, as mazelas da alma, revelando verdadeiros monstros e aleijões morais que, em nosso mundo, es-tavam escondidos e disfarçados sob a vestimenta carnal.

A intuição de Oscar Wilde, em sua obra clássica O retrato de Dorian Gray, tem a sua plena confirmação nos relatos mediúnicos. A criação desse autor é bastante original: Dorian Gray é, fisicamente, um belo homem que se per-verte moralmente no decurso de sua Vida. Seu retrato, feito por um artista, tinha por objetivo retratar a sua alma. E à proporção que ele se vai degra-dando, o seu retrato, no caso, um símile perfeito do corpo espiritual, passa a sofrer terrível metamorfose, revelando, em seus traços, o ser perverso, cruel e ignaro em que ele se transformara. Ao morrer, segundo a criação do autor, o retrato retorna à beleza original, e o seu corpo, no caso, a representação do espírito, transforma-se num verdadeiro monstro.

Por isso mesmo, é realmente dantesca a aparência dos Espíritos

inferiores nos Planos Espirituais. Muitos, ao contemplarem a fealdade moral, retratada em seus corpos espirituais, escondem-se, envergonhados, em ca-vernas sombrias das regiões inferiores do Além. E essas aberrações da forma perduram até a transformação moral desses Espíritos. Mais uma vez, temos de reconhecer o sabor perene das palavras de Jesus: “Nada há oculto que não venha, um dia, a ser descoberto.” (Mt. 10. 26)

Os Espíritos, abrangidos na classificação de “imperfeitos”, possuem inu-meráveis gradações. Eles não estão, todos, reunidos, em conjunto, formando aquilo que as teologias tradicionais denominam de inferno. Estão dissemi-nados em muitas esferas inferiores do astral, desde as regiões subcrostais até à crosta terrestre, e desta até os limites da terceira esfera espiritual. Não há, portanto, apenas um “inferno”. Há muitos “infernos”, com as mais diversifi-cadas gradações espirituais.

Todavia, os que habitam esses “infernos” não estão condenados, eterna e irremissivelmente. Deus, segundo as palavras do Cristo, ama a todos os Seus filhos, inclusive os maus, e estes também terão a sua oportunidade de crescer e redimir-se. Quando esses Espíritos, depois de indescritíveis sofri-mentos, revelam o menor laivo de luz interior, são logo recolhidos a institui-ções do Mundo Espiritual, onde tem início, para eles, um longo processo de reeducação e crescimento. Isto prova que Deus está, também, presente em todas as zonas sombrias e inferiores (Lc. 13, 28). Os que lá se encontram não podem, evidentemente, sentir a Sua presença, porquanto para ver, ouvir e sentir Deus é preciso fazer nascer luz na alma.

Os Espíritos inferiores vivem em paisagens tristes, sem atrativos, frias, densas, escuras. Nessas paragens, a vegetação é rasteira, escassa e sem ne-nhuma beleza. Troncos, com galhos secos e mirrados, sucedem-se aqui e ali, quais braços desesperados implorando o socorro e a piedade dos céus. O ar é pesado, quase asfixiante. Nele, os resíduos mentais desses Espíritos expandem-se, criando uma atmosfera semelhante ao “piche gaseificado” ou à “lama aeriforme”, como bem expressa André Luiz em suas obras.

Pântanos, abismos, lagos imundos, ressumando odores desagradáveis, completam o “habitat” desses Espíritos. A pior das favelas do nosso mundo, com seus esgotos a céu aberto e os mais violentos conflitos, seria um paraíso, quando comparada a essas regiões inferiores da Pátria Espiritual.

O que fazem esses Espíritos? Literalmente, não fazem nada. Vegetam.

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Vivem no ócio, entregues às mais baixas paixões, aos comportamentos mais desregrados. Muitos deles, mesmo afundados na miséria moral, sentem-se, por vezes, superiores aos demais, exercendo até algum poder e controle sobre as almas mais fracas e débeis. Outros, escondem-se, envergonhados, relegados à dor do remorso e da insanidade.

Geralmente, os Espíritos inferiores de mais baixo nível, entregam-se à prática de todos os pecados capitais: a luxúria, o orgulho, a preguiça, a inveja, a ira, a gula e a avareza. E as leis que regulam a Vida nos Planos Espirituais, proíbem que muitos desses Espíritos circulem na superfície do nosso pla-neta, tal o grau de abjeção, maldade e sordidez que eles atingiram. São eles, conseqüentemente, confinados em áreas escuras e pantanosas das quais não podem sair.

Já aqueles que são mais ignorantes do que maus, mais levianos do que perversos, gozam de uma relativa liberdade e, muitas vezes, são atraídos pelos seres humanos. Com eles convivem, irmanados, numa perfeita sinto-nia vibratória, cultivando vícios e entregando-se a outros desregramentos. Freqüentam, assim, com homens e mulheres pervertidos, todos os ambien-tes perniciosos da Terra, instigando aqueles a quem estão jungidos, à prática do mal em todas as suas dimensões. Ressalte-se, entretanto, que nenhum deles pode ser lido à conta de “demônios”, levando os “pobres seres huma-nos” a cair nos abismos da degradação. Não! Quando há, de parte a parte, sintonia de vibrações e identidade de gostos, não se pode falar, a rigor, em obsessores e obsidiados, ou em perseguidores e perseguidos. Todos estão no mesmo grau de inferioridade, gozando, conjuntamente, suas leviandades e irreflexões.

Os homens que já começaram a buscar a luz, mas cujo passado caracte-rizou-se por quedas e desatinos, devem ter muito cuidado, nos novos cami-nhos que passam a percorrer. Por arrastarem consigo esse passado sombrio, as tentações a que estão sujeitos não vêm de fora, mas de dentro de si mes-mos, tornando-os passíveis de novas quedas e defecções. Disto aproveitam-se os Espíritos mergulhados no mal. Eles sentem inveja dos que mudam de rumo e tentam, por todos os meios, perturbar a sua escalada ascensional das trevas para a luz. Espíritos superiores, entretanto, transformados em anjos guardiães e protetores, ajudam os que anseiam, realmente, crescer e conquistar níveis superiores de evolução. E um dia, à semelhança do filho

pródigo da parábola evangélica, o Senhor os receberá, num banquete de amor e Vida! •

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58Vampirismo Entre Dois Mundos

Muitos homens e mulheres que deixaram esta Vida, demasiadamente apegados à matéria, inquietam-se por ter perdido o corpo de carne,

pois com ele usufruíam, mais intensamente, os prazeres materiais. Ficam, então, ligados aos seus antigos lares, chumbados ao solo do mundo e, como nos diz o espírito André Luiz, “presos ao magnetismo terrestre, enganando a si próprios e fortificando antigas ilusões”.48

Viciados de todos os matizes, chegam aos Planos Espirituais, com as mesmas ansiedades e dependências, sofrendo, amargamente, por se verem privados dos prazeres ilusórios que tais vícios lhes proporcionavam. Nesse estado de desequilíbrio, ficam a espreitar pessoas que, aqui, na Terra, reve-lem interesses e pendores semelhantes aos seus. Num processo recíproco de atração, com base na lei das afinidades, esses Espíritos “encostam-se” aos que ainda estão sob a veste de carne e que são, como eles, ociosos e viciados. A isto dá-se o nome de vampirismo.

Passemos a algumas exemplificações. Alcoólatras, no outro lado da Vida, não conseguem matar a sede da bebida, em contacto direto com o álcool em seu estado natural. Podem até ter acesso, dentro de certos limites, às garrafas abertas nos balcões e mesas de bares, bem assim aos alambiques dos enge-nhos e das fábricas de bebidas, mas nada disso lhes satisfaz a sede viciosa e insaciável. É que eles precisam da energia vital do corpo humano e, por isso, aproximam-se dos viciados desse tipo, num processo que bem poderia ser chamado de “simbiose mental” ou de “enxertia psíquica”, termos freqüente-mente utilizados pelo espírito André Luiz em algumas de suas obras. Desse modo, sentem, se bem que em um grau mitigado e relativo, o falso prazer da embriaguez do álcool.

O que dissemos acerca do álcool pode muito bem ser estendido a outros

48 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Missionários da luz, pp. 26 e seg.

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vícios como o das drogas estupefacientes, do fumo, da glutonaria, do jogo e do sexo, com todas as suas perversões.

Todavia, esses falsos prazeres que tais vícios proporcionam não chegam a satisfazer os Espíritos vampirizadores na mesma proporção, quando eram portadores do indumento carnal. Daí porque, eles passam a estimular os

“vivos” da Terra até a exacerbação de todos esses hábitos deletérios.Freqüentemente, amigos e familiares desses viciados buscam, em nosso

mundo, a ajuda de instituições espíritas, umbandistas e evangélicas, julgan-do que seus entes queridos estão sendo vítimas de obsessores cruéis e desal-mados ou possessos por Espíritos diabólicos e infernais. Entretanto, nesses casos, não há, a rigor, obsessores e obsidiados, mas, sim Espíritos afins que se associam simpaticamente para usufruírem dos mesmos prazeres.

Muitas vezes, nas sessões mediúnicas, esses Espíritos vampirizadores são afastados da suposta vítima. Entretanto, por não possuírem uma conduta digna, dentro dos ditames da moral evangélica, os vampirizados transfor-mam-se em verdadeiros imãs, atraindo, novamente, os vampirizadores para a sua companhia. É que, como já dissemos anteriormente, ambos se satisfa-zem reciprocamente.

Bares, boates, “inferninhos”, restaurantes requintados e exóticos, casas para encontros furtivos de casais, motéis, cinemas e teatros que exibem es-petáculos pornográficos, todos esses ambientes abrigam entidades espiri-tuais em desequilíbrio. Nesses lugares, elas reencontram a possibilidade da prática dos mesmos erros, irmanados a seres humanos escravos das mesmas viciações.

Poder-se-ia até pensar que esses Espíritos vampirizadores nada sofrem, e estão, pelo contrário, usufruindo de prazeres desenfreados e gozos ilimita-dos. Ledo engano. Tais entidades padecem, amargamente, como os viciados de todos os tipos, em nosso mundo.

Na Vida da matéria, após farras e orgias desenfreadas, surgem depressões terríveis, remorsos torturantes, “ressacas morais”, desequilíbrios orgânicos, o peso do vazio, enfim – a saturação.

O mesmo acontece nos Planos Espirituais inferiores e, por vezes, em pro-porções muito maiores do que aqui na Terra. Por não conseguirem atingir as dosagens adequadas para a satisfação plena dos seus hábitos viciosos, o sofrimento desses Espíritos atinge o inimaginável. Inquietam-se, perturbam-

se, angustiam-se, enlouquecem e engalfinham-se com Espíritos semelhan-tes a eles. Vivem, assim, uma Vida sem qualidade, perdidos, incapazes de contemplar as belezas da Vida Espiritual. E sofrem, embora alguns, muitas vezes, afirmem-se, enganosamente, felizes e livres para fazerem o que bem quiserem e entenderem, como se liberdade fosse fazer o que se quer e não o que se pode, dentro dos parâmetros da Lei Maior.

Até aqui temos desenvolvido o tema do vampirismo de uma forma gené-rica, sem entrar em maiores detalhes acerca dos seus mecanismos, isto é, do

“como” essas entidades ociosas e perturbadas conseguem atingir níveis de satisfação, nessa troca perniciosa de emoções e prazeres inferiores.

Esclarece-nos o espírito André Luiz, no seu livro Missionários da luz, que a mente doentia dos seres humanos oferece o ambiente propício para o de-senvolvimento de bacilos, germes, larvas ou parasitas espirituais. Estes for-mam verdadeiras colônias no organismo dos vampirizados, comprometendo, severamente, a sua saúde física e psíquica. Cada tipo de emoção doentia ou de hábito deletério, como os vícios do álcool, do fumo, das drogas, do sexo e da gula, produzem bacilos psíquicos de toda a espécie, corpúsculos esses que jamais serão detectados pela Microbiologia humana.

Na obra, acima referida, o seu autor fala-nos de “bacilos da tortura sexual”,49 que podem invadir todos os órgãos do aparelho gênito-urinário das pessoas entregues à viciação do sexo. Informa-nos, ainda, da presença de outros corpúsculos negros nos alcoólatras e nos que se comprazem nos desequilíbrios da glutonaria. Nesses casos citados de viciação, os bacilos psíquicos atacam, ora “as células sexuais”, ora “as células hepáticas” e, ainda,

“os sucos nutritivos”, “com assombroso potencial de destruição”.50

E pasmem os que lêem estas páginas – são esses bacilos de natureza psí-quica que servem de alimentação aos Espíritos vampirizadores que “se en-costam” aos homens e mulheres deste mundo, para sugarem o magnetismo animal de que essas larvas são portadoras.

Os Espíritos-vampiros não permanecerão, indefinidamente, nessa situa-ção. Como acontece com os viciados deste mundo, eles também, um dia, cansar-se-ão dessa Vida vazia e sem sentido.

49 Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Missionários da luz, p. 29.50 Idem, ibidem, p. 31.

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Na Terra, existem psicólogos, psiquiatras e outros terapeutas, bem as-sim clínicas especializadas, procuradas, ansiosamente, pelos que querem, de fato, livrar-se da dependência dos vícios. Nos Planos Espirituais, do mesmo modo, também existem profissionais do mais alto nível que se dedicam à assistência e ao amparo desses Espíritos intemperantes e desequilibrados. Entretanto, para que tal assistência seja eficiente e curativa, mister se faz, como também acontece em nosso mundo, que eles revelem a mais firme disposição de renovarem-se, intimamente, enveredando pelos caminhos que conduzem à luz e à Vida.

Não há tempo determinado para o espírito permanecer nesse lastimável estado de inferioridade e dependência. Tudo está nas mãos de cada um. Se uma mínima fagulha de luz começar a luzir no interior de suas almas, a luz de Deus passará a refletir-se nela, e uma nova Vida terá início.

Na Terra ou em outros planos do espaço infinito, tudo ocorre semelhan-temente, isto porque somos todos Espíritos em evolução, neste mundo ou no outro. Aqui mesmo, na Terra, já estamos vivendo a Vida Eterna, apenas entremeada por crises singulares de renascimento e morte, morte e renas-cimento ou, em outras palavras, imersão em corpos de carne e retorno às fontes da Vida.

O vampirismo é um mal, mas todo mal é apenas uma ausência de bem e, como tal, uma fase transitória na caminhada dos Espíritos para o seio inefá-vel de Deus. •

59Legião É o Meu Nome,

Porque Somos Muitos…

Espíritos que foram, quando na carne, homicidas, assassinos, assaltantes, latrocidas, caluniadores, intrigantes, viciados, em suma, seres humanos

cruéis, perversos e vingativos geralmente, deixam a Vida material em estado de grande revolta e na mais completa perturbação.

Nenhuma criatura de Deus está abandonada nos planos de Sua Criação Infinita, mas tais Espíritos tornaram-se tão endurecidos e impermeáveis à ajuda do Alto que não oferecem qualquer espaço para receberem o auxílio superior. Conseqüentemente, torna-se necessário deixá-los, por algum tem-po, entregues à sua própria sorte, para que colham, na Vida Espiritual, os frutos amargos da semeadura que fizeram.

A sabedoria popular costuma referir-se a essas pessoas de Vida irregu-lar, à margem das leis humanas e divinas, como pessoas “carregadas”. A ex-pressão é verdadeira, por que tais criaturas, quando, na Terra, nunca agem sozinhas. Acompanham-nas, sempre, Espíritos infelizes, que a elas se ligam pelas leis da afinidade vibratória. São entidades que representam a escória dos Planos Espirituais inferiores.

Ao deixarem a matéria física, essas almas, em desatino, são imediatamen-te atraídas por verdadeiras legiões de Espíritos do mesmo padrão evolutivo, as quais caminham de roldão, sem destino, pelas regiões sombrias do Astral inferior. Juntos, nessas hordas inconseqüentes, eles conseguem, pelo menos, haurir as energias uns dos outros, para se manterem “vegetativamente” vivos, numa correria louca e sem destino. Essas entidades inferiores, desordeiras, diabólicas e perigosas, empestam de fluidos pesadíssimos a atmosfera física e espiritual do nosso planeta.

O que atrai entre si esses Espíritos ignorantes e viciosos é tão somente a sintonia de suas vibrações. Esse fenômeno é uma das ocorrências mais tris-

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tes e lamentáveis do astral inferior, oferecendo um real perigo para Espíritos invigilantes e materializados, recém-libertos do corpo físico.

É muito conhecida a passagem evangélica em que Jesus cura os endemo-ninhados gadarenos. Segundo a narrativa evangélica, eles estavam “possessos (o destaque é nosso) de um espírito imundo, que vivia nos sepulcros, e nem mesmo com cadeias alguém podia prendê-lo”. Esse homem, segundo o evan-gelista Marcos, “tendo sido preso, muitas vezes, com grilhões e cadeias, delas se libertava, quebrando-as”. E, quando Jesus com a Sua divina autoridade, expulsou o espírito, ele lhe respondeu: “— Legião é o meu nome, porque somos muitos.” Em seguida, pediu a Jesus que “não os mandasse para fora do país”, isto é, para mundos ainda mais inferiores do que o nosso (na in-terpretação espírita do texto) e sim para uma manada de porcos que por ali passava. Diz, ainda, a passagem evangélica que Jesus os atendeu. “Saindo os Espíritos imundos, entraram nos porcos (…) e precipitaram-se despenha-deiro abaixo para dentro do mar onde se afogaram.” (Mc. 5, 1–4)

Daí, pode-se deduzir o baixíssimo padrão vibratório desses Espíritos que encontraram sintonia perfeita com o magnetismo animal dos suínos, ani-mais que costumam, em nosso mundo, quando não confinados, refocilar no lixo e na lama.

Os Planos Espirituais são esferas de prosseguimento da Vida que aqui levamos. As prisões deste mundo estão cheias de marginais de todos os matizes. Tais criaturas, embora mereçam de nós, cristãos, compreensão e piedade, não se transformam, da noite para o dia, em almas nobres e de bom caráter. A transição para a outra Vida, em nada as modifica.

Todavia, esses Espíritos não vagarão, indefinidamente, pelos planos inferiores. O seu destino é a reencarnação, neste mundo ou em planetas ainda mais atrasados, em precárias condições de Vida. Renascem paranói-cos, imbecis, aleijados e retardados mentais de todos os tipos. Tais criaturas regeneram-se, lentamente, a custa de terríveis sofrimentos.

Mais uma vez, temos de convir que Jesus foi suficientemente claro em sua advertência: “E serão lançados nas trevas exteriores onde haverá choro e ranger de dentes.” (Mt. 8, 12) •

60Como Vivem os Bons Espíritos

Quando, na Terra, imersos na roupagem da carne, foram esses Espíritos homens de bem, mulheres equilibradas e nobres, seres humanos de-

tentores dos mais elevados sentimentos. Neles, a materialidade foi pratica-mente vencida. Um processo de espiritualização manteve-se em pleno cur-so. Em alguns, no seu início. Em outros, atingindo níveis bastante elevados. Ao partirem do mundo pela transição da morte, prosseguem, nos Planos Espirituais, a sua escalada ascensional em direção aos Cimos da Vida.

No Mundo Espiritual, os bons Espíritos residem em cidades ou colônias espirituais, de pequeno, médio e grande porte. Ali, integrados nas tarefas mais diversificadas, constituem grupos com base nas leis da afinidade, for-mando, assim, grandes famílias espirituais. Outros, pelo próprio tempera-mento, vivem sós, em casas ou instituições, na companhia de Instrutores, num estado de convivência semelhante a de Mestres e discípulos.

Suas residências – casas, mansões ou castelos – consoante as dimensões do grupo espiritual, revelam um nobre padrão arquitetônico e, em tudo, um extraordinário bom gosto. É que as construções espirituais projetam, objeti-vamente, o equilíbrio, a harmonia e a beleza interiores desses Espíritos.

Vivem felizes, irradiando amor de seus corações, envolvidos em uma paz espiritual permanente. À disposição deles estão os mais modernos e sofis-ticados recursos que a tecnologia espiritual pode proporcionar. Vivem cer-cados de bibliotecas e de videotecas, cujo acervo reúne o que de mais belo e mais nobre o espírito humano já produziu através dos tempos, na Terra, e em outros orbes. Juntem-se a isto obras de arte deslumbrantes, originais de muitos trabalhos que foram inspirados por artistas espirituais aos artistas terrenos.

Aqueles que foram, em suas últimas reencarnações, maestros ou instru-mentistas exímios, pintores, escultores e artistas, de um modo geral, têm, agora, à sua disposição, os meios mais aperfeiçoados de expressar os seus sentimentos mais puros.

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Envolvidos numa atmosfera de luz e desfrutando de uma Vida sublimada, esses Espíritos jamais permanecem no ócio. Assim como o Pai Celestial e todos os Espíritos superiores, eles trabalham, incessantemente, pelo seu pró-prio progresso espiritual e também pela renovação de Espíritos familiares, simpáticos e amigos, ainda no começo da escalada evolutiva, com dívidas maiores perante a Lei. Labutam em favor deles, em missões sublimes, des-cendo às regiões inferiores para assisti-los e estimulá-los à prática do bem. Ali também recolhem Espíritos sofredores em condições de receberem assis-tência espiritual, em instituições de recuperação do Mundo Invisível.

Possuem todos eles o dom da volitação completamente desenvolvido, mas também dispõem de transporte próprio a seu serviço, podendo neles realizar excursões educativas, em companhia de Espíritos que não possuem ainda o domínio completo das faculdades volitivas.

São os bons Espíritos os executores das determinações dos Espíritos ele-vados, prepostos de Jesus, e tudo fazem para cumprir, primorosamente, os encargos recebidos, indo, por vezes, muito além das expectativas dos seus superiores hierárquicos.

Esforçando-se por viver nos braços da Lei de Deus e cercados do carinho, do amor e da admiração dos seus discípulos, vão ao extremo no desempe-nho de missões sacrificiais em favor das coletividades de que fazem parte.

Todos têm a consciência de um Deus onipresente, pleno de amor e mi-sericórdia, inspiração constante de suas Vidas. Vêem-No em tudo que os cerca. Admiram a grandiosidade da Criação, desde o infinitamente pequeno ao infinitamente grande, sensibilizando-se ante as grandiosidades cósmicas que enchem de luz e beleza os espaços sem fim.

Visitam, em seus momentos de lazer, muito raros, outros mundos e ou-tras humanidades e tais visitas lhes são proporcionadas, muitas vezes, como prêmios às suas atividades incansáveis em favor do bem e da harmonia da Vida.

Depois de atingirem determinados graus evolutivos, esses Espíritos, pre-midos por necessidades interiores, voluntariamente, recorrem a serviços es-pecializados dos Planos Espirituais e retomam a posse de muitos séculos de memória integral, pondo-se ao par de todos os débitos que ainda possuem perante as Leis Divinas.

Analisando esses deslizes passados e com o auxílio de Instrutores

experimentados, decidem-se por novas experiências reencarnatórias. Estas serão caracterizadas por relevantes serviços prestados à humanidade, alia-dos a algumas provas e sofrimentos, de natureza cármica, nem sempre com-preendidos pelos que os cercam, em virtude da bondade e pureza dos seus corações. Resgatam, assim, dócil e estoicamente, os seus últimos débitos perante a Lei a fim de se sentirem merecedores de ascender a esferas mais altas, onde continuarão, indefinidamente, a sua escalada evolutiva.

Os bons Espíritos crescem em duas direções essenciais: a do amor e a do conhecimento. Em níveis mais altos, unificando essas qualidades, transfor-mam-se em sábios com o coração pleno de amor ou em seres amoráveis e generosíssimos, plenos de sabedoria.

Todos os bons Espíritos ainda vivem nos domínios da forma, em Esferas Espirituais superiores, e costumam escolher, para a sua apresentação, aque-la em que eles se sentem melhores. Podem, desse modo, parecerem mais jovens, mais velhos ou simplesmente maduros, consoante seus gostos pessoais.

Muitos desses Espíritos ainda estão presos, fortemente, a laços afetivos deixados atrás, em seus caminhos da Vida e se esforçam por encontrá-los, nos Planos Espirituais, ajudando e amparando os que ainda permanecem em níveis espirituais inferiores.

Recordam, com saudade, experiências reencarnatórias anteriores, afetos particulares, amigos e familiares com quem conviveram e dos quais estão afastados, no presente, por diferença de padrões vibratórios. É que esses Espíritos, mesmo sendo bons e elevados, nobres e justos, ainda não atin-giram a perfeição, estando, apenas, a caminho dela e, por isso mesmo, não sentem, ainda, em suas almas, o amor universal, sem particularismos, que os levará, um dia, a se tornarem cidadãos do Universo e membros da imensa família cósmica. “Quem é minha mãe e quem são os meus irmãos?” Foi o próprio Cristo quem formulou a pergunta, e Ele mesmo respondeu: “— São todos aqueles que fazem a vontade do meu Pai que está nos céus. Estes são, em verdade, minha mãe, meu pai e meus irmãos.” (Mt. 12, 48)

Os bons Espíritos respiram uma atmosfera de paz e irradiam luz e amor de suas almas. Vivem num estado imperturbável de felicidade. Em mis-sões de amor junto à humanidade, transformam-se em verdadeiros anjos guardiães daqueles que fazem jus a essa guarda e proteção. Nessas missões,

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junto aos seres humanos, procuram neutralizar a influência perniciosa dos Espíritos maus, e assim procedem no mais nobre e belo espírito de solidariedade.

Fazendo o bem por amor ao bem e espalhando tão somente amor ao seu redor, esses Espíritos iluminam a Vida e iluminam-se, por sua vez, a cami-nho da Fonte Sempiterna de Luz, o seio augusto de Deus. •

61Espíritos de Luz

“De onde ela vem? De que matéria bruta vem essa luz que cai de igno-tas criptas misteriosas, como as estalactites de uma gruta?” Assim

começa Augusto dos Anjos, o grande vate paraibano, consagrado nacional-mente, uma de suas mais belas criações poéticas – o soneto A idéia. E ele próprio, com o seu gênio, responde: “— Vem do feixe de moléculas nervosas que, em desintegrações maravilhosas, delibera e, depois, quer e executa…”51

Nos planos da imortalidade, os Espíritos podem ser comparados aos as-tros que brilham no firmamento. Nos espaços celestes, há astros luminosos e iluminados. Os primeiros, são as estrelas. Os segundos, os planetas. No Além, também identificamos Espíritos que já conquistaram a sua própria luz. São as almas nobres e puras, próximas da redenção espiritual, ou já redimidas. Outras, nesses mesmos espaços, apenas refletem a luz dos ou-tros. São os Espíritos de mais baixo nível evolutivo, também a caminho da perfectibilidade.

A luminosidade dos Espíritos sublimes, à semelhança da “idéia” de Augusto, em seu poema, provém do seu interior, do mais recôndito de suas almas. Não lhes foi concedida de graça, de fora para dentro. É brilho, legi-timamente, conquistado, através de séculos ou milênios de intenso labor. É prêmio a uma trajetória de sacrifícios e de renúncias, através de existências sem conto.

Noutra parte deste trabalho, citamos Shakespeare, quando diz: “— Duas asas conduzirão o homem a Deus. Uma chama-se conhecimento; a outra, amor.” Diremos nós: a união dessas duas qualidades, além de gerar asas, também darão lugar à luz da sabedoria.

Ser sábio é ter alcançado, por evolução, a maturidade do espírito. É ter atingido uma visão divina do homem e do Universo. É ter pureza de sen-timentos e grandeza de alma. É compreender o crescimento gradativo de

51 Augusto dos Anjos, p. 61.

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todos os seres criados por Deus para a luz da perfeição. É atingir a paz im-perturbável do espírito. É amar a todos os seres humanos. É perdoar “setenta vezes sete” (Mt. 18, 22) “os que não sabem o que fazem” (Lc. 23, 34). É ter Deus no coração e ser a Sua imagem e semelhança. É conquistar a iluminação!

Disse Jesus: “— Vós sois a luz do mundo…” (Mt. 5, 14) “Que resplandeça, portanto, a vossa luz.” (Mt. 5, 16) E, quando o homem se ilumina, mesmo que o queira, em sua modéstia, não poderá jamais apagar essa luz, uma vez que foi adquirida por méritos, inquestionáveis no vôo ascensional da alma em direção a Deus!

O ser iluminado, após múltiplas peregrinações reencarnatórias, “venceu o mundo” ( Jo. 16, 33), por ter escolhido, como Maria de Betânia, “a melhor parte, aquela que jamais lhe será tirada” (Lc. 10, 42). Como está escrito na Sublime Canção dos hindus: “O homem que encontrou Deus está liberto do nascimento e da morte, do renascimento e da dor, da inquietude e da velhice e bebe as águas da imortalidade, feliz, em paz, no seio de Deus e no esplendor da luz!”

Quando o Evangelho entrar no coração humano, terá início um processo lento e, por vezes, doloroso, de sua iluminação. Entretanto, não basta conhe-cer a letra da Lei. Somente o seu espírito é que dá a luz e a Vida! Não basta anunciar a Boa Nova aos quatro ventos, em inspiradas pregações, plenas de entusiasmo e de paixão. Não basta citar de memória as mais belas passagens da saga do Cristo sobre a Terra. Não basta emocionar-se, até as lágrimas, ante os episódios mais belos de Sua Vida! Não! “Nem todo aquele que diz Senhor! Senhor! entrará no Reino dos Céus…” (Mt. 7, 21)

Sem a vivência da palavra, a luz não vem. Sem a conquista do amor evan-gélico, a luz não brilha. Sem o perdão incondicional de coração e a sincera humildade de espírito, a fagulha interior jamais se tornará incêndio!

E, para atingir-se esse estado glorioso, urge optar pelo caminho estreito que, também, conduz à porta estreita. Mister se faz desapegar-se do visgo da matéria e incorporar ao ser eterno os valores transcendentes do espírito.

Somente assim, emergirá, um dia, dos dínamos profundos do espírito, a luz – essa energia de Deus – que, no fiat lux foi o começo de tudo e que, no final da evolução humana, também brilhará na intimidade da alma.

Quando aqui esteve, exilado do Infinito, provindo dos Cimos da Vida, Jesus, pleno de doçura e de amor, revelou-se a três dos Seus discípulos, na

posse de todos os seus dons luminescentes, para mostrar aos filhos do Seu amor o futuro glorioso que os aguarda. E, hoje, em Seu trono de paz, espera-nos, paciente, para o amplexo final, na unidade com Deus, nos páramos de luz da Eternidade! •

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62O Estado Glorioso dos

Puros Espíritos

Muito difícil, ou quase impossível, descrever o estado de felicidade glo-riosa dos Espíritos que estão próximos à perfeição.

Como descrever estados e situações que ainda não provamos?Tentaremos fazê-lo, com base nos próprios relatos desses Espíritos, atra-

vés de médiuns dignos de confiança. Fá-lo-emos como estímulo a todos os seres humanos que, ainda presos à Terra, ensaiam, à luz do Evangelho, os seus primeiros passos em demanda da Casa do Pai.

Habitam os Espíritos redimidos as esferas celestiais. Tendo o céu dentro de si, criam céus em torno deles. Sua apresentação atinge o inimaginável. Estão muito além das formas permanentes, podendo assumir, com os seus envoltórios sutilíssimos, os mais variados aspectos.

Tendo atingido a liberdade plena, transitam, com total desenvoltura, nos Planos Espirituais de todos os níveis, colaborando com o Senhor da Vida na co-criação de mundos, bem como na mitigação da dor, sempre presente às esferas inferiores.

Possuindo um amor sem limite, atingiram esses Espíritos tamanho grau de serenidade que não se angustiam na contemplação do sofrimento e da aflição, por mais atrozes que sejam. Em visões quase oniscientes, antevê-em o estado futuro de felicidade que todos os Espíritos involuídos, um dia, alcançarão.

Iluminados, mergulham nas trevas dos planos inferiores e de lá saem como entraram, plenos de luz! Volitam por todo o Cosmos à velocidade do pensamento, maior que a da luz, e podem visitar todos os mundos e huma-nidades que povoam os Universos de Deus.

Quando lhes apraz, vão ao encontro de Espíritos angelicais, hierarqui-camente superiores a eles, entidades essas que marcaram época na História

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Humana e, nesses contactos, traçam planos e esquematizam missões em fa-vor de todos os seres criados.

Por terem consciência de que o louvor que mais agrada a Deus é o do amor ao próximo, chegam a extremos na vivência desse amor, sacrifican-do-se, em tarefas sublimes, em favor de todos os filhos de Deus, ainda, à margem da Lei. No afã de auxiliar, apagam temporariamente os seus dons luminosos para não ferir nem humilhar os carentes de luz.

O amor que incorporaram aos seus espíritos é tão imenso que são capa-zes de transformar almas rebeldes e reverter situações de conflito, unicamen-te, pela força dessa energia amorosa que deles se irradia. E assim, em seu tra-balho em favor dos outros, despertam os que dormem o sono da indiferença para a luz do entendimento e das reparações salvadoras.

Ricos de misericórdia, apiedam-se dos maus a quem amam com o mes-mo amor que consagram aos bons, e aguardam, à semelhança do Criador, pacientemente, que a luz abra brechas nos corações endurecidos e realize o milagre do novo nascimento. O trabalho, em favor dos outros, leva-os a um estado de inefável felicidade.

Eis como o espírito André Luiz, no seu livro Obreiros da vida eterna, tra-duz o esforço sublime desses mensageiros da luz:

— Exercitam eles o sacrifício e a abnegação; sofrem os choques vibratórios de nos-sos planos mais baixos; retomam a forma que abandonaram desde muito; fazem-se humildes como nós para que nos façamos tão elevados quanto eles; dignam-se ignorar-nos as fraquezas a fim de que nos tornemos partícipes de suas gloriosas experiências. (Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Obreiros da vida eterna, p. 38)

Esses Espíritos podem, se o quiserem, reencarnar nos mundos materiais, em relevantes missões, mas isto, comumente, só acontece em intervalos de tempo que variam de 500 a 1.000 anos terrestres. E quando retornam às li-mitações da criatura humana, revelam-se por aqui, imagem e semelhança de Deus, exemplificando, em plenitude, o amor evangélico e levando a humani-dade a dar saltos gigantescos em sua trajetória evolutiva.

Francisco de Assis foi um deles!Suas missões e seus feitos ficam gravados, indelevelmente, nos registros

históricos e aumenta-lhes o fulgor do brilho, enriquecendo-os de méritos perante o Criador da Vida.

Quanto mais se aperfeiçoam e sublimam, mais humildes se tornam, sen-tindo a alegria inebriante de servir e de colaborar para a harmonia da Vida em todas as suas infinitas dimensões.

Hipersensíveis, extasiam-se diante da arte celestial, a mais bela expres-são do espírito criado. Comunicam-se, com os Espíritos do seu nível, pelo pensamento, assumindo os seus envoltórios as cores de suas emoções su-blimes. Vêem todo mal como fenômeno transitório na ordem do Universo, uma criação infeliz da liberdade humana, treva passageira, encarada por eles como simples ausência da luz.

Contemplam o Cristo nas esferas resplandecentes e Dele recebem as bênçãos de amor que os estimulam a ir sempre mais adiante, a caminho de uma perfeição absoluta, nunca alcançada, porém antegozada durante a própria caminhada. Sentem Deus e a Sua onipresença em toda a Criação e, quais gotas sublimes de luz, mergulham, conscientemente, no Oceano de Amor da Divindade. •

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63A Aura dos Espíritos

É muito comum encontrar-se, nas imagens e pinturas representativas dos santos, um resplendor faiscante em torno de suas cabeças ou irradia-

ções luminosas, exteriorizando-se dos seus corpos. Isto é a representação intuitiva da aura dos Espíritos que interpenetra os seus envoltórios, expan-dindo-se em todas as direções.

Essa reverberação pode apresentar as cores mais variadas, por vezes bem definidas, ou pode revelar-se de forma policromática, com belos e variados matizes.

A aura não é uma veste do espírito. Não surge do exterior para o interior da alma. Pelo contrário, tem ela a sua origem na interioridade do ser.

Assim como as cores e diâmetros, as formas das auras variam de espírito para espírito, dependendo o seu brilho, cor e tamanho, do nível evolutivo de cada um.

Todos, dos mais inferiores aos puros Espíritos, possuem a sua aura ca-racterística, com diâmetro e luminosidade próprios, sendo que essa aura vai aumentando em beleza a policromia, à proporção que a alma evolui.

A aura é como um espelho da mais nobre qualidade, capaz de refletir desde as mais abjetas perversões morais, até as conquistas evolutivas mais altas do espírito. Pode ela retratar o fulgor do gênio ou os pálidos lampejos da mente primitiva, recém-emersa da mais grosseira irracionalidade.

Na aura dos Espíritos estão desenhadas, como marcas indeléveis, as co-res escuras dos vícios e paixões aviltantes, bem como as mais belas nuanças identificadoras dos nossos vôos para o alto, sinalizando o progresso moral e a elevação espiritual atingidos.

A aura é a identidade evolutiva do espírito. É a marca inapagável das eta-pas vencidas no seu carreiro ascensional, em busca do aprimoramento ínti-mo. Reflete, por conseguinte, o nível em que cada espírito se encontra, suas conquistas e avanços.

As auras dos Espíritos inferiores e animalizados são opacas, escuras como

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a sombra, ao passo que as auras dos puros Espíritos podem alcançar o es-plendor de uma estrela de primeira grandeza.

Já dissemos, em outra parte deste livro, que, nos Planos Espirituais, nin-guém pode enganar os Espíritos com quem convive, fingindo ser aquilo que, em verdade, não é. Neste mundo de matéria grosseira, é freqüente essa ocor-rência. Pessoas podem assumir uma aparência falsa de bondade e de pureza, quando, na realidade, possuem, em seu íntimo, sentimentos diametralmente opostos. São os hipócritas, tão recriminados por Jesus em Sua passagem por este mundo. No Mundo Espiritual, é impossível a hipocrisia, em virtude da irradiação que se expande dos Espíritos, caracterizando, com toda a fidelida-de, a qualidade dos sentimentos que palpitam no interior de cada um.

O corpo do espírito possui sete centros de força, também denominados de “chakras”. Cada um desses vórtices, possui uma cor própria. O primeiro deles está situado na base da espinha – é o “chakra básico” – e a cor que ir-radia é a vermelha. O segundo – “o chakra da criatividade” – está localizado na região do sexo e irradia a cor laranja. O terceiro corresponde, no orga-nismo humano, ao plexo solar – é o “chakra do umbigo” – situado, mais ou menos, na boca do estômago. A cor que dele se irradia é a amarela. Segue-se o “chakra do coração”, situado no órgão do mesmo nome. A sua cor é verde. Em seguida, vem o “chakra da garganta”, também chamado de laríngeo, de cor azul e, por último, os dois chakras superiores, o que fica no centro da testa, mais conhecido como o “terceiro olho”, cuja cor é o índigo e o “chakra coronário” – também denominado de “chakra da coroa”, irradiando a cor violeta.

A aura dos Espíritos resulta das diferentes irradiações desses centros de força do corpo espiritual e, consoante os sentimentos inferiores ou elevados da alma, nela vai acontecendo a predominância de uma determinada cor, retratando os sentimentos presentes na sua interioridade.

Espíritos muito apegados às sensações físicas costumam possuir uma aura, predominantemente, cor de brasa, com matizes alaranjados bem visí-veis, revelando as forças vivas da sua sensualidade.

Espíritos de grande energia pessoal e, por vezes, um pouco arrogantes e autosuficientes, possuem uma aura predominantemente amarelada, tradu-zindo o vigor e a fortaleza dos seus sentimentos.

Espíritos de sensibilidade apurada, já capazes de amar

desinteressadamente, sem qualquer tipo de possessividade, possuem, geral-mente, uma aura de belos e suaves matizes policrômicos, mas com a predo-minância da cor verde brilhante.

Espíritos já crescidos, tanto em amor quanto em sabedoria, capazes de grandes cerebrações e, ao mesmo tempo, revelando notável capacidade de renúncia e doação, possuem uma aura cuja cor dominante é o azul índigo, com cambiantes belíssimos, variando do vermelho suave ao azul brilhante. Esses Espíritos são capazes de irradiar, de si mesmos, energias muito puras e transformadoras dos sentimentos inferiores alheios. São Espíritos nobres, semi-evoluídos, capazes de gestos heróicos de amor e sacrifício.

Por último, Espíritos já purificados, redimidos, possuem uma aura muito brilhante, de cor branca, representando a fusão harmoniosa de todas as co-res irradiadas pelos sete centros de força do corpo espiritual.

No momento em que Jesus transfigurou-se, manifestando-se em toda a sua glória e poder, Ele estava irradiando a aura própria dos puros Espíritos. O texto evangélico diz que “as suas vestes tornaram-se brancas e brilhantes como a luz e o seu rosto resplandecia como o Sol!” (Mt. 17, 2)

As auras dos Espíritos, nos vários degraus de sua escalada evolutiva, po-dem ser vislumbradas por médiuns clarividentes. Essas auras, mormente a dos Espíritos de mediana evolução, oferecem, a partir da fraca irradiação e colorido de determinados centros de força, indicações de enfermidades físicas e psíquicas.

A aura interpenetra todos os envoltórios do espírito, chegando mesmo a irradiar-se do corpo físico e tornando-se visível aos médiuns videntes. Esses médiuns podem tornar-se preciosos auxiliares no diagnóstico de muitas doenças que têm a sua gênese na alma e em seus envoltórios sutis.

Em suma, a luz do espírito – a “aura” – é a expressão mais bela da evolu-ção moral, mental e espiritual da alma.

Médiuns, dotados de vidência, em sessões experimentais, não conse-guem fitar o brilho resplandecente dos “Espíritos de luz”. Muitos chegam a levar as mãos aos olhos pela impossibilidade de fixar a deslumbrante lumi-nosidade dessas entidades.

A aura brilhante é um presente de luz à alma que interiorizou o amor, a beleza, a verdade e a justiça e que passa a irradiar de si a puríssima luz de Deus! •

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64A Visão de Deus e de Jesus

É crença generalizada, no seio das religiões cristãs, que as criaturas, de espírito nobre e justo, ao deixarem esta Vida, terão acesso imediato ao

céu, onde permanecerão na visão beatífica de Deus e de Jesus por toda a Eternidade.

Deus é uma realidade insofismável, mas foge completamente à com-preensão humana. Está muito além de nossa imaginação. Ele não é um Ser antropomorfo, com todas as qualidades puras e nobres de um ser humano, elevadas a proporções infinitas.

O grande filósofo grego, Aristóteles, que viveu quatro séculos antes do Cristo, já dizia: — o melhor que o ser humano poderia fazer com relação a Deus era negar-lhe todos os atributos: eternidade, imutabilidade, imateriali-dade, onipotência, onisciência, onipresença, misericórdia, justiça, bondade e amor infinitos, ao invés de afirmá-los, e isto por que – raciocinava o filóso-fo de Estagira – nós, humanos, temos a idéia dessas qualidades em um grau puramente humano e finito, e Deus é um Ser Divino e Infinito.

O próprio Jesus afirmou: “Ninguém jamais viu a Deus” ( Jo. 1, 18), contra-dizendo a afirmação de Moisés, em seu livro “Êxodo” que viu e conversou com Deus no meio de “uma sarça ardente” (Ex. 3, 4), ou, também, quando Dele recebeu, no Monte Sinai, os dez mandamentos de Sua Lei. (Ex. 20, 1–17)

Desse modo, no estágio evolutivo em que se encontram os seres huma-nos, sem exceção, mesmo a mais pura e nobre criatura que habita este mun-do, não está, ainda, em condições espirituais de ver Deus face a face. A visão de Deus, para os Espíritos de luz que já atingiram a perfeição, ocorre de uma forma totalmente inefável para nós.

A essa altura, seria o caso de se perguntar: — Se Deus é um Ser que está presente em toda parte, por que os seres humanos, ou mesmo os Espíritos não o vêem? Tal pergunta, de um ponto de vista físico, não é tão difícil de ser respondida. Senão vejamos:

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Há um mundo invisível ao nosso redor. Não estamos falando do Mundo dos Espíritos. Referimo-nos a um mundo de matéria sutil, inacessível aos sentidos humanos, grosseiros e limitados. Não vemos, por exemplo, o ar, o vento, os odores, as forças que mantêm, em equilíbrio, os mundos. Não en-xergamos os átomos, dentro da intimidade da matéria, nem os corpos celes-tes mais distantes, a bilhões de anos luz. Não percebemos as cores, além das do espectro solar; os raios, as correntes, as ondas, e assim por diante. Ora, se nos domínios da matéria, é-nos impossível perceber certas realidades, a não ser com instrumentos ultra sofisticados, é de se imaginar o que não acontece nos domínios do espírito!

Deus, por enquanto, é uma realidade inatingível pelo ser humano. Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, em seu livro A gênese, usa de um artifício metafórico muito interessante para nos fazer entender em que consistirá, um dia, a visão de Deus. Em síntese, diz ele o seguinte:

— Uma pessoa situada no fundo de um vale escuro não vê o Sol que brilha no infi-nito dos céus. Se essa pessoa escalar as encostas começará, aos poucos, a entrever alguma claridade em torno, mas, somente depois de fazer toda a escalada tendo atingido o cimo da montanha, é que poderá contemplar o astro-rei em todo o seu brilho e esplendor. (Allan Kardec, A gênese, p. 65)

A metáfora é muito inteligente e quer dizer que somente com a purificação integral da criatura humana, através de um esforço de ascese espiritual, po-derá ela, um dia, contemplar o Criador.

Os hindus têm uma concepção oceânica de Deus. Aliás, esta é uma tô-nica de toda a sabedoria oriental. Estaríamos mergulhados em Deus como os peixes no oceano, e assim como os peixes não “sabem” o que é água, do mesmo modo também não “sabemos” o que é Deus. Nessa linha de pen-samento, o Novo Testamento registra: “— Nele vivemos, Nele existimos e temos o nosso ser.” (At. 17, 28)

Do que escrevemos acima, concluímos que Deus nunca deixou de estar presente na Sua criação e, conseqüentemente, de estar bem pertinho de to-das as Suas criaturas. Santa Tereza D’Ávila afirmou, certa vez: “— Deus está mais perto de mim do que meus próprios braços.” Agora, a criatura humana é que, pelas suas imperfeições, afastou-se, voluntariamente, do Seu Criador

e para “vê-Lo”, precisa purificar-se, isto é, remover todos os empecilhos ma-teriais e grosseiros por onde a luz de Deus pode penetrar até o imo do nosso ser.

Deus, ao criar o espírito, fé-lo perfectível, nele deixando a Sua marca in-delével. Todavia, essa centelha divina, que há dentro de toda criatura, foi envolvida por camadas escuras de imperfeições. E somente quando come-çarmos a abrir fendas nessas camadas, através do nosso crescimento espiri-tual, é que a luz Divina poderá, por elas, penetrar. O espelho embaçado não reflete a luz do Sol. O lago, açoitado pelo vento, não retrata a paisagem que o circunda.

O que dissemos, até agora, com relação a Deus, aplica-se, também, a Jesus. Este pôde, um dia, dizer com toda a Sua autoridade: “— Eu e o Pai somos um.” ( Jo. 10, 30) “Quem vê a mim, vê também ao meu Pai que está nos céus.” ( Jo. 14, 9) Jesus está para os seres humanos, como um Deus e, por isso, também não o veremos, quando deixarmos este mundo. Um dia, entretanto, isto acontecerá, e a Ele, certamente, chegaremos mais facilmente e podere-mos senti-Lo e compreendê-Lo, mais depressa, do que ao próprio Deus.

Deus e Jesus. Dois seres de infinita luz. Duas realidades presentes no bojo da Vida Infinita. Ambos estão a nossa espera, e à semelhança do que aconteceu na parábola do filho pródigo, um banquete de luz também nos está reservado. Para merecê-lo, entretanto, teremos de tomar a grande deci-são de nossa Vida: palmilhar o caminho que o Mestre traçou e, cheios de hu-mildade e de arrependimento, irmos ao encontro do Pai para aquele abraço infinito, pleno de amor, com que Ele nos aguarda, há tanto tempo.

Para isso, é preciso ter limpa a alma e nobre, o coração, porquanto, como afirmou o Cristo no Sermão do Monte, somente “os puros de coração verão Deus face a face”… (Mt. 5, 8) •

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65Envoltórios Espirituais

As descrições que temos feito, até agora, dos Planos Espirituais, bem como dos que os habitam, isto é, os Espíritos que deixaram este mun-

do pela transição da morte, levam-nos, obviamente, a uma conclusão: essas esferas que nos rodeiam constituem “uma outra Terra”, formada de matéria mais quintessenciada, e os seus habitantes nada mais são do que homens e mulheres, jovens e crianças apenas desprovidos de corpos de carne.

Ao retornar à Pátria Espiritual, a alma retoma o corpo leve que já possuía antes de reencarnar. Esse corpo é um organismo vivo, em tudo semelhante ao corpo físico, tendo sido o molde preexistente, deste na formação embrio-nária. O corpo da alma possui o desenho genético do ser em formação no útero materno.

O corpo espiritual sempre foi aceito por todas as grandes religiões do passado e até pelo Cristianismo, à luz da teologia paulina. O Hinduísmo chama-o de “linga sharira”; o Judaísmo, de “nephes”; o Pitagorismo, deno-mina-o de “eidolon”; o Hermetismo, de “ochema”.

Ralph Cudworth, teólogo e filósofo inglês do século XVII, reagindo ao materialismo filosófico da época e inspirado no grande filósofo grego, Platão, chama-o de “mediador plástico”, servindo de elo de ligação entre o espíri-to e a matéria. Para ocultistas e teosofistas é ele o “corpo astral” e, para o Espiritismo contemporâneo, é o “perispírito”. São Paulo, o Apóstolo da gen-tilidade, em sua primeira carta aos cristãos de Corinto, refere-se, claramente, ao corpo sutil da alma, ao afirmar: “Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual.” (I Cor. 15, 44)

É com esse corpo que o espírito se apresenta e se movimenta nos Planos Espirituais fronteiriços à Terra. Possui esse organismo, nas suas linhas gerais, a mesma morfologia do corpo carnal. É formado de matéria delicada, facil-mente moldável pela mente. Daí poder o espírito apresentar-se, nas Esferas Espirituais, de muitas maneiras, segundo o nível evolutivo por ele alcançado.

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Em virtude desse poder plasticizante da mente sobre ele, pessoas que mor-reram em plena senectude, podem mudar de apresentação e mostrar-se bem mais jovens, no Além. O contrário também pode ocorrer: pessoas que dei-xaram este mundo na juventude ou até na idade infantil, podem optar, nos Planos do Espírito, por uma apresentação mais madurecida, retornando à condição de “espírito adulto”.

Esse poder da mente sobre o corpo da alma é, também, o responsável pelas formas aberrantes com que muitos Espíritos inferiores se revelam nas zonas sombrias do Mundo Invisível, nos casos de zoantropia e/ou licantro-pia, de que nos dão notícia os escritos mediúnicos.

O corpo espiritual possui, assim, todas as características constitucionais do corpo físico, apenas com uma fisiologia um pouco modificada quanto aos fenômenos de reprodução e nutrição.

Esse corpo é tão somente o envoltório do espírito. Neste é que estão a mente, a consciência, a individualidade. Assim como o corpo de carne sem a presença do espírito é apenas um cadáver, do mesmo modo, sem o espírito que o anima e vitaliza, o corpo espiritual é um organismo morto, um “cascão astral”.

Analogicamente ao corpo físico, o corpo espiritual é constituído de trilhões de células de matéria tênue e à proporção que o espírito evolui, crescendo em virtude e conhecimento, o seu corpo espiritual também vai sutilizando-se cada vez mais, tornando-se apto a habitar Esferas Espirituais superiores.

Nas regiões que se seguem, imediatamente, ao plano material, o corpo espiritual pode ser considerado, ainda, um “veículo físico”, formado de ma-téria em outro padrão vibratório, diferente da que conhecemos neste mundo. Daí podermos falar, ao referirmo-nos aos habitantes dos Planos Espirituais, de uma outra humanidade, “tão viva e concreta” quanto à terrena da qual fazemos parte.

Livros sagrados do Oriente, escritos há mais de cinco mil anos, fazem menção aos múltiplos envoltórios do espírito. Tais envoltórios, segundo, ainda, a tradição oriental, são os veículos através dos quais a centelha divina, emanada de Deus – a alma – manifesta-se, nos inúmeros Planos Espirituais em que a Vida se desdobra nos espaços sem fim.

Por outro lado, relatos mediúnicos autênticos e um sem número de

livros espiritualistas, antigos e contemporâneos, confirmam a antiga tese dos vários corpos do espírito, a ela acrescentando ainda mais luz.

Sabe-se, tanto ontem como hoje, que o espírito possui, no mínimo, sete corpos justapostos, a começar pelo mais grosseiro e denso: o corpo mate-rial. A este, seguem-se os corpos: etérico, astral, mental, causal, búdico e espiritual. A cada um desses envoltórios, corresponde um plano ou esfera ultra-física, compatível com o padrão vibratório da “matéria” de cada um de-les. Conseqüentemente, os Planos Espirituais são, também, no mínimo, em número de sete. É neles que os Espíritos passam a habitar, progressivamente, a cada passo que dão em sua escalada evolutiva.

Annie Besant, na Introdução do seu livro O homem e seus corpos, cita um interessantíssimo exemplo que torna bem clara a tese acerca dos vários envoltórios que encerram a individualidade espiritual. Diz ela:

Um homem que deseje viajar por terra, pelo mar ou pelo espaço, fará uso de um carro, de um navio ou de um avião, porém esses veículos em nada alteram a sua identidade. Do mesmo modo, o homem verdadeiro conserva a sua identidade, seja qual for o corpo em que estiver funcionando, e do mesmo modo como o carro, o navio e o avião variam na qualidade do material e na sua construção, segundo o elemento a que estão destinados, assim também cada corpo varia segundo o meio onde deve agir. (Annie Besant, O homem e seus corpos, p. 12)

Com o corpo físico, denso, de baixíssimo padrão vibratório, movimenta-se o espírito no plano material. Com o corpo astral, também chamado de perispí-rito, ele habita o Plano Astral. Em seguida, ao perder o corpo astral, passará a revestir-se do corpo mental, causal, e assim por diante. O crescimento do espírito em virtude e conhecimento vai possibilitando as metamorfoses dos seus indumentos exteriores.

Dessarte, cada envoltório mais tênue e mais leve é a vestimenta “mereci-da” da alma. Nenhum espírito poderá subir de grau, conduzido ou “carrega-do” pelas mãos de outros Espíritos de categoria superior à dele. A evolução é uma conquista pessoal, intransferível, cada um caminhando com os seus próprios pés ou voando com asas que fez nascer em si mesmo. O “traje nup-cial” a que o Cristo se refere na parábola das bodas nada mais é do que a exteriorização de um corpo luminoso, fruto dos méritos de cada um.

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Médiuns clarividentes, ao contemplarem, de forma concentrada, os seres humanos, conseguem entrever alguns corpos do espírito, visualizando-os com os seus limites e cores precisas, sinaladores do grau evolutivo atingido por cada um. Entretanto, pouquíssimos homens e mulheres, neste mundo, conseguem revelar os seus envoltórios mais finos. Os corpos mental, causal, búdico e espiritual apresentam, geralmente, fraquíssimo desenvolvimento, em todos os seres humanos, exceção feita dos Espíritos de escol, em subli-mes missões de amor, aqui, na Terra.

O Cristo de Deus, num momento único de sua peregrinação pela Terra, apresentou-se com o seu corpo de luz a três dos seus discípulos, no monte Tabor. Assim procedeu como um estímulo ao homem terrestre, proporcio-nando-lhe uma antevisão da meta espiritual que ele atingirá, um dia. Para tanto, cabe tão somente trilhar o “Caminho” e cristificar-se, tornando-se, como Ele, “pão da Vida” ( Jo. 6, 35) e “luz do mundo”! ( Jo. 8, 12) •

66Vidas e Mortes na Caminhada

Evolutiva do Espírito

Este tema será desenvolvido sob três aspectos diferentes. Primeiro, sob o prisma da reencarnação. Através dessa lei, o espírito passa por vidas

sucessivas, no tempo, e, evidentemente, terá de experimentar, também, su-cessivas mortes, uma vez que Vida e morte estão, de tal forma inter-relacio-nadas, que uma não pode acontecer sem a outra.

Já nascemos, morremos e renascemos uma centena de vezes, neste mun-do, e haveremos de nascer, morrer e renascer um sem número de vezes, no amanhã de nossas vidas, até atingirmos a perfeição espiritual.

Allan Kardec, em poucas palavras, resumiu em que consiste essa cami-nhada do espírito em demanda de sua cristificação. Disse ele: “Nascer, mor-rer, renascer ainda, e progredir sempre… tal é a Lei.” Este pensamento está indelevelmente gravado no mausoléu do grande missionário, no cemitério Père Lachaise, em Paris.

Entretanto, não basta tão somente, nascer, morrer e renascer continua-mente. Numa dessas existências, urge que o espírito desperte para uma nova maneira de viver, renunciando ao seu passado de desacertos. Isto é o que significa “nascer de novo”. ( Jo. 3, 3) Somente, nesse instante, terá início a sua caminhada redentora em direção a Deus.

Não fosse a lei da reencarnação e esse despertar para uma “nova Vida” jamais aconteceria, vez que é, geralmente, na decrepitude das forças físicas, ainda na Terra, que a alma amadurece e acorda para as sublimes realidades do espírito imortal.

Num segundo momento, analisaremos o tema em estudo sob o ângulo da perda dos envoltórios do espírito. Esses corpos, como já o dissemos alhures, são as vestes da alma. Ora, se o espírito possui múltiplos envoltórios e os vai perdendo à proporção que se purifica, conseqüentemente, a perda de cada

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um deles, como ocorre com o corpo de carne, representará uma morte para o espírito, até que este se revista somente de luz, quando atingir a consciên-cia cósmica, na glória de Deus.

A morte do corpo físico, entretanto, por ser este o mais denso envoltório da alma, é a única que se reveste de aspectos, visivelmente, chocantes e do-lorosos, tais a rigidez cadavérica, a descida do corpo às profundezas da terra, a putrefação da carne, até a sua completa decomposição. E, mesmo assim, diante da dinâmica da Vida, o retorno dos corpos ao grande laboratório da Natureza é o que assegura a continuidade dessa mesma Vida. Somente assim ela ressurge, sob novas formas, no contexto harmonioso da Criação Divina.

A perda dos demais envoltórios do espírito nada tem de chocante ou dolorosa. Assim como alguns animais, aqui na Terra – aranhas, lagartos e serpentes – deixam facilmente as suas peles gastas, retomando outras mais novas e mais belas, do mesmo modo, o espírito que cresceu, espiritualmen-te, abandona os seus invólucros mais grosseiros, de uma forma suave, para revestir-se de outros mais leves, qual borboleta que deixa a crisálida inerte e alça vôo, em vestes multicores, pelos espaços sem fim.

Por último, enfocaremos o tema sob o ângulo da perda compulsória do cor-po do espírito. É esta a mais dolorosa das mortes. É, também, chamada de

“segunda morte” por teosofistas, esoteristas e, também, pelos espíritas, con-forme relato do André Luiz, no livro Libertação. Vejamos o que esse espírito diz:

… Reparei, não longe de nós, como que ligadas às personalidades sob nosso exame, certas formas indecisas, obscuras. Semelhavam-se a pequenas esferas ovóides, cada uma das quais pouco maior que um crânio humano. Variavam profusamente nas particularidades. Algumas denunciavam movimento próprio, ao jeito de grandes amebas, respirando naquele clima espiritual; outras, contudo, pareciam em repou-so, aparentemente inertes, ligadas ao halo vital das personalidades em movimento. (Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Libertação, p. 84)

E, mais adiante, no mesmo livro, lê-se, ainda:

— Os ignorantes e os maus, os transviados e os criminosos também perdem, um dia, a forma perispiritual. Pela densidade da mente, saturada de impulsos inferiores, não conseguem elevar-se e gravitam em derredor das paixões absorventes que por muitos anos elegeram em centro de interesses fundamentais. Reduzidos a essas esferas ovóides, dormitam em estranhos pesadelos. Registram-nos os apelos, mas respondem-nos, de modo vago, dentro da nova forma em que se segregam, inca-pazes que são, provisoriamente, de se exteriorizarem de maneira completa, sem os veículos mais densos que perderam, com agravo de responsabilidade, na inércia ou na prática do mal. Em verdade, agora se categorizam em conta de fetos ou amebas mentais, mobilizáveis, contudo, por entidades perversas e rebeladas. (Francisco Cândido Xavier & Espírito André Luiz, Libertação, p. 86)

Conclui-se, das duas citações, que se trata de uma perda temporária, muito embora por tempo indeterminado, do corpo da alma. O espírito, perverti-do ao extremo, trânsfuga empedernido das Leis Divinas, criminoso e mau, atinge tal grau de degradação, que perde o seu veículo de manifestação nos Planos Espirituais.

Esses Espíritos ficam, assim, privados, por largos espaços de tempo, de todas as suas faculdades e conquistas evolutivas. Estas permanecem, a par-tir de então, em estado latente. Isto – vale aqui ressaltar – não significa um castigo de Deus. Como está explicado acima, eles perdem o seu envoltório perispiritual por terem as suas mentes atingido níveis baixíssimos de vibra-ções advindas de impulsos torpes e de paixões criminosas. A continuar com a sua lucidez e com a possibilidade de locomoção, constituiriam uma séria ameaça à ordem e à harmonia da Criação Divina. Ficam, portanto, reduzi-dos a formas ovoidais, verdadeiros esferóides vivos, geralmente imantados a outros Espíritos tão inferiores quanto eles próprios, de quem passam a ser sócios e comparsas de desvios, crimes e atrocidades. Tais esferóides podem, também, ficar adstritos a seres humanos, em processos obsessivos de suma gravidade.

O destino desses ovóides é o retorno, através da reencarnação, a outros corpos carnais, na Terra ou em planetas inferiores, em dolorosas experiên-cias cármicas que os levarão, aos poucos, através de atrozes sofrimentos, à retomada dos seus indumentos perdidos.

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E, mais uma vez, vige, aqui, a perfeição da Obra Divina. É o carma com a última palavra, promovendo a indefectível justiça de Deus.

Sintonizados com o Cristo e com os Espíritos de luz, voaremos, em cor-pos leves, belos e translúcidos às esferas de paz do infinito. Distanciados Dele e dos Espíritos nobres, mergulharemos, quais vermes asquerosos e sujos, nas profundezas das fossas abissais onde, em plena escuridão e des-providos dos veículos de manifestação, haveremos de responder pela crueza dos nossos crimes perante a Lei de Deus.

E tudo isto equivale a dizer que colheremos, na seara da Vida, consoante o bem ou o mal que houvermos semeado, um dia, em torno de nossos pas-sos… •

67Ação dos Espíritos no

Mundo em Que Vivemos

Há, nos Planos Espirituais, leis rigorosas, regulando o trânsito dos Espíritos entre as Esferas Espirituais e o nosso mundo. Nessa movi-

mentação, temos de considerar o grau evolutivo dos Espíritos envolvidos.Certa vez, assistíamos a um programa cômico na televisão e um dos ar-

tistas dizia, com muita graça e malícia, que gostaria de estar “morto”, para, como fantasma, visitar a casa de sua namorada e espiá-la, furtivamente, em trajes íntimos, em sua alcova. Pura ilusão! Ledo engano!

Os lares equilibrados são, rigorosamente, protegidos por guardiães da Espiritualidade. E isto tem toda uma lógica.

Aqui mesmo, na Terra, nenhuma pessoa pode entrar em nossa residência sem permissão. O mesmo acontece, e com muito mais rigor, nos Planos do Espírito.

A afirmação acima é feita em tese, porque há, em nosso mundo, lares de todos os tipos. Os lares desajustados, reunindo famílias em desequilíbrio, entregues a vícios e leviandades, podem, perfeitamente, manter intercâmbio sombrio com Espíritos inferiores, libertos do corpo físico. Esses Espíritos são atraídos, segundo a lei das afinidades, por homens e mulheres amorais e pervertidos.

Quanto aos lares harmoniosos, em que a prece é cultivada, regularmente, e onde todos se enforçam por viver os princípios cristãos, não há espaço para o assédio dos Espíritos do mal. Estes podem, até, rondar esses lares,

“mas neles não podem entrar”. Faixas magnéticas se lhes erguem em torno, impedindo o acesso dos marginais da Espiritualidade.

Lupanares, boates, bares, “inferninhos”, motéis, casas de jogos de azar e outros ambientes promíscuos, são lugares onde os Espíritos inferiores têm trânsito livre. A proteção espiritual, nesses locais, é bem limitada, o que

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os torna um foco de atração de grande cópia de entidades da mais baixa categoria.

Espíritos de mediana evolução, residentes em cidades espirituais, onde trabalham e se aperfeiçoam, podem visitar parentes e amigos deixados, aqui, na Terra, mas aguardam a ocasião oportuna e a permissão superior para tanto. Tais Espíritos são sempre dóceis às ponderações de seus guias e protetores e não se precipitam nessas visitas, o que poderia causar-lhes cho-ques emocionais de grande monta, com sérios prejuízos para o seu futuro espiritual.

Espíritos superiores têm trânsito livre nos vários Planos Espirituais e, também, entre estes e o plano material. Podem visitar, quando lhes apraz, os entes queridos ainda na carne e, de acordo com o mérito destes, dar-lhes assistência e ajudá-los em suas missões. Todavia, mesmo livres para essas vi-sitas, os Espíritos evoluídos sempre agem em consonância com as autorida-des espirituais a que estão subordinados, não traindo jamais a confiança dos seus superiores hierárquicos, atuando em nosso mundo, dentro de critérios que revelam a mais absoluta justiça e total equilíbrio.

Os Espíritos superiores também transitam na Terra, no desempenho das mais diversificadas tarefas, colaborando com instituições beneméritas, orientando profissionais bem intencionados, confortando pessoas esmaga-das ao peso de grandes expiações, ajudando cientistas e pesquisadores nos seus estudos e descobertas, inspirando artistas na captação do belo em todas as suas formas de expressão, em suma, desempenhando mil atividades com vistas ao crescimento moral e espiritual da humanidade terrena.

Vivemos em dois mundos. Existe uma humanidade vestida de carne e outra sem o indumento carnal. Ambas coexistem e coabitam os mesmos espaços, apenas separados por fronteiras vibratórias. E o trânsito entre os dois planos é freqüente e faz lembrar o sonho de Jacó, o patriarca, referido na Bíblia Sagrada, em que ele via “uma escada partindo da Terra e cujo topo atingia o céu, por onde desciam e subiam os anjos de luz, mensageiros de Deus”! (Gen. 28, 12) •

68Assombrações – Por

Que Acontecem?

Muitos Espíritos, depois da morte, permanecem na superfície da Terra. Não criaram asas para vôos mais altos. A estes poderíamos chamar,

com propriedade, de almas errantes. São, quase todos, Espíritos atrasa-dos que não desfrutam, construtivamente, da Vida Espiritual. Arraigados aos interesses deste mundo, vagueiam, em perturbação, sem destino certo. Algumas correntes espiritualistas chamam-nos de “almas penadas”.

Geralmente, o desequilíbrio desses Espíritos é tamanho que, acordando nos Planos Espirituais e vendo-se possuidores de um corpo – o perispírito

– semelhante ao que envergavam, quando no mundo, supõem-se, ainda, na Terra, vestindo o indumento carnal.

E tal é o “peso” dos seus corpos espirituais e tão forte a sua fixação men-tal nas coisas deste mundo, que não conseguem visualizar a matéria astral, extremamente sutil. Permanecem, assim, no outro lado, numa situação dú-bia: nem pertencem mais ao plano material que acabaram de deixar, nem tampouco aos Planos Espirituais em que ingressaram. Daí, a grande pertur-bação que os acomete.

Espíritos que, quando na Terra, possuíram grandes fortunas e a elas se apegaram com paixão, continuam, muitas vezes, vigiando os seus patrimô-nios e, muitos deles, passam a habitar as casas, mansões e fazendas que lhes pertenceram no mundo. Continuam a freqüentar as mesas de suas antigas residências e, se foram “patriarcas”, no seio de suas famílias, sentem-se com os mesmos poderes e prerrogativas, pensando, na sua perturbação, que ain-da estão à frente dos negócios que administravam com mão de ferro.

Esses Espíritos, convém esclarecer, pela densidade de seus envoltórios espirituais, sofrem todos os efeitos das intempéries – chuvas, tempestades, inundações, tremores de terra. À semelhança dos seres humanos comuns, necessitam de abrigo seguro por ocasião desses fenômenos e cataclismos,

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e, geralmente, procuram-nos em suas antigas casas que, para eles, ainda são propriedades suas.

Quando, na plenitude de seus direitos, os seus descendentes procuram desfazer-se de determinados bens que, agora, lhes pertencem por herança legítima, muitos desses Espíritos, onzenários e egoístas, ainda “possuídos” pelas suas riquezas, começam a tentar criar obstáculos para a venda ou mes-mo o aluguel desses imóveis, assombrando esses lugares para afugentar pre-tensos moradores ou locatários.

Para provocarem tais fenômenos, eles utilizam-se das faculdades medi-únicas de membros da família ou de amigos, manipulando o ectoplasma que estes lhes fornecem, ou extraindo essa substância da própria Natureza. Assim, conseguem provocar batidas fortes, empurrar móveis, fazer panelas e quadros caírem de seus suportes, objetos levitarem de um ponto a outro, em suma, produzem todos os fenômenos que a Parapsicologia denomina de poltergeist bastante conhecidos pelos que tiveram a oportunidade de morar ou penetrar nas casas ditas “mal assombradas”.

De outras vezes, esses Espíritos, sentindo-se “vivos”, no lado de lá, igno-ram que, agora, estão em planos de matéria mais fina e, na sua perturbação, não entendem porque seus familiares e amigos não os vêem, não os escutam, não correspondem aos seus acenos, nem acatam as suas determinações. Para chamar-lhes a atenção, passam a desencadear todos os fenômenos acima descritos.

Pode, também, acontecer que pessoas, neste mundo, avaras e egoístas, não querendo deixar, como herança, bens amoedados para os seus fami-liares, enterrem esses tesouros ou os escondam em lugares de difícil aces-so, em suas residências. Ao deixarem esta Vida, não se dando conta de que

“morreram”, ficam espreitando as suas riquezas e causando assombrações aqueles que delas se aproximam inocentemente. Quando despertam, depois de muitos e muitos anos, para as realidades do espírito, costumam “dar” suas

“botijas” a determinadas pessoas por elas especialmente escolhidas, para que façam bom uso do dinheiro em favor dos outros. Isto lhes causa alívio de consciência, além de grande satisfação pessoal.

Nos casos tão comuns de “assombrações”, o exorcismo, as benzeduras, nem sempre surtem efeito. E podem até dar bons resultados, se as pessoas que se dispuserem a isto, forem detentoras de uma grande autoridade moral

sobre as entidades infelizes e perturbadas. Elas não são demônios, como muitos pensam. São Espíritos “humanos” que, ainda há pouco, habitavam o nosso mundo e viviam em nossa companhia.

Esses casos, via de regra, o Espiritismo consegue resolvê-los. Através de reuniões sérias, com a participação de médiuns capazes e a presença de dou-trinadores de comprovada força moral, esses Espíritos são doutrinados e en-caminhados a instituições dos Planos Espirituais. Esclarecidos devidamente, despertam para uma Vida nova e lamentam, profundamente o tempo que perderam na ilusão da posse em que se encontravam.

A fixação mental nos bens materiais, retarda por muitos anos e, até por séculos, a evolução desses Espíritos, comprovando a atualidade da asserti-va de Jesus, quando disse, no Sermão do Monte: “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a Terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde os ladrões escavam e roubam… porque onde está o teu tesouro aí estará tam-bém o teu coração.” (Mt. 6, 19–21) •

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69Missões de Amor nas Regiões

Inferiores do Astral

A Vida Espiritual é um imenso campo de trabalho.Tão logo despertam para a Vida imperecível e retomam o seu pro-

cesso evolutivo, os bons Espíritos – de mediana evolução ou de graus evo-lutivos mais altos – engajam-se nas mais diversas atividades missionárias.

Dentre essas múltiplas atividades, daremos destaque às difíceis e com-plexas missões em favor de entidades perturbadas e infelizes, segregadas em zonas purgatoriais e infernais de baixíssimo padrão vibratório. Muitos des-ses Espíritos estão, nessas regiões, aprisionados e cruelmente martirizados por verdugos cruéis, implacáveis e vingativos.

Os resgates dessas almas sofredoras não é tarefa nada fácil para os Espíritos missionários. É que o trabalho em si não depende tão somente das medidas intercessoras provindas das autoridades espirituais superiores. Há que se levar em conta o estado espiritual das próprias entidades a serem socorridas, o grau de sua transformação interior e o sincero desejo de saírem da dolorosa situação em que estagiam.

Desde que haja autênticos sinais de transformação íntima, torna-se pos-sível a assistência e o resgate desses Espíritos, para conduzi-los a instituições educativas e a hospitais da Espiritualidade.

Geralmente, essas missões de amor são desempenhadas por Espíritos esclarecidos, rigorosamente treinados para esse fim. Elas exigem extrema cautela e total conhecimento não só da topografia das regiões visitadas, mas também das ciladas e armadilhas preparadas pelos Espíritos inferiores para obstacular as missões de amor dos Espíritos do bem.

Essas expedições salvadoras são integradas por Espíritos de luz, detento-res dos mais puros sentimentos de amor ao próximo e capazes de conseguir a melhoria dos estados espirituais dos assistidos, pela irradiação de sublimes energias transformadoras.

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Espíritos que possuem o dom da clarividência integram, por vezes, es-sas equipes missionárias. Seu papel é o de mergulhar no passado desses Espíritos infelizes, trazendo à tona fatos significativos de suas vidas pre-gressas, com vistas ao esclarecimento e à compreensão do seu estado atual. Guardiães severos e vigilantes experimentados também acompanham essas equipes de assistência e são utilizados nos trabalhos mais pesados de desbra-vamento, dando segurança e proteção aos missionários.

Essas missões de amor e de renúncia são, rigorosamente, planejadas em instituições dos Planos Espirituais e, normalmente, são muito bem sucedi-das. Os Espíritos que as dirigem, pela sua experiência e extraordinário bom senso, sabem escolher o momento propício para a sua ação, isto é, quando o estado espiritual dos seres infelizes é inteiramente favorável ao completo êxito do cometimento.

As entidades sofredoras não avaliam o enorme sacrifício desses Espíritos iluminados. Para ajudar, nesses planos inferiores, eles têm, na grande maio-ria dos casos, de diminuir o seu padrão vibratório, densificando os seus en-voltórios espirituais e até anulando, temporariamente, os seus dons lumines-centes. E isto lhes acarreta um real sofrimento “físico” e moral, caracterizado por mal estar indescritível, acompanhado de dores lancinantes.

Todavia, as missões desse teor credenciam esses Espíritos missionários a desferir vôos cada vez mais altos em demanda da perfeição. Ao agirem as-sim, estão eles vivenciando o amor cristão, onde o dar nem sempre está em relação direta com o receber, porquanto o verdadeiro servidor do Cristo, à semelhança do Sublime Enviado, ama, serve… e passa! •

70Justiça nos Planos Espirituais

O Apóstolo Paulo, em sua epístola aos Hebreus, escreve: “— Aos ho-mens está ordenado morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo.”

Após a morte, certamente, todos os seres humanos prestarão contas de suas vidas perante Deus.

Todavia, à proporção que o homem progride, espiritualmente, Deus pas-sa a habitar o seu coração e a consciência torna-se um juiz fiel e severo de todas as suas ações.

Quando incorporamos o Evangelho a nossa Vida, ninguém precisa indi-car-nos em que ponto, em nosso agir, estamos certos ou errados. Seremos os primeiros a saber disto, por já termos interiorizado a Lei Divina.

Por conseguinte, existe um “foro íntimo”, um tribunal interno que julga, a todo instante, os nossos menores atos, desde que estejamos vivendo cris-tãmente, nos braços da Lei Maior.

É por isso que o julgamento dos que deixam esta Vida pela transição da morte, difere caso a caso, variando de acordo com o estado consciencial de cada um.

Muitos Espíritos de boa vontade, durante a Vida terrena, lutaram tenaz-mente no combate as suas imperfeições, com os propósitos mais nobres de melhoria moral e espiritual. Estes ao transporem as fronteiras do Além, sentem-se diante desse tribunal interior que os julga de forma severa e irre-preensível, fazendo-os compreender, imediatamente, a justiça do estado em que se encontram e da esfera em que permanecem.

O mesmo não acontece com aqueles que, em sua grande maioria, foram, nesta Vida, hipócritas, desumanos, perversos e maus. Estes, por estarem com a sua consciência, até certo ponto, anestesiada e, também, por terem sido iludidos por promessas fáceis de certos líderes religiosos, julgam mere-cer o céu, depois da morte. E reclamam-no e exigem-no, revoltando-se, até à blasfêmia e ao desespero, quando se vêem confinados à regiões trevosas dos planos inferiores.

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Em nosso mundo, há pessoas que despertam do sono com os acordes suaves de um adágio mozartiano. Outros necessitam de um estampido para retornarem à consciência.

Analogicamente, o mesmo acontece com o despertar dos Espíritos, de-pois do sono da morte. Muitos deles, mal abrem os olhos, no outro lado e vêem “tudo”. Outros acordam sem nada enxergar e permanecem cegos por muito tempo. Muitas vezes, essa cegueira é voluntária e consciente, porque causada pela catarata do orgulho e da vaidade. Estes, serão julgados por tri-bunais exteriores, que irão analisar e punir, implacavelmente, as suas faltas.

Esses tribunais existem nos domínios trevosos do Além, em cidades estranhas e exóticas dos planos sombrios. Ali, magistrados inclementes e cruéis, por delegação, a título precário, de autoridades espirituais superiores, julgam esses Espíritos infelizes, revelando, publicamente, em solenidades aparatosas, os seus delitos e infligindo-lhes os mais dolorosos castigos. Tais penas vão desde as prisões em masmorras e calabouços existentes nesses planos, até as alterações dos seus corpos espirituais, através dos fenômenos de zoantropia e/ou licantropia, que se traduzem por aberrações temporárias de suas formas de apresentação, com símile às mais variadas espécies de animais.

As aberrações da forma perispiritual acontecem através de operações hip-nóticas e do poder mental desses juizes desalmados sobre as mentes frágeis e enfermiças dessas entidades desequilibradas, com reflexos imediatos em seus corpos espirituais, formados de matéria de grande poder plasticizante.

As formas animalescas com que os demônios são representados por mui-tos pintores medievais, têm a sua razão de ser. Seres espirituais com expres-sões faciais de bodes e suínos, com orelhas de cães e de muares, também es-tão presentes em todas as descrições dos purgatórios e infernos das teologias tradicionais. E há foros de verdade em tudo isto.

Tais julgamentos exteriores descartam todo e qualquer resquício de com-paixão, para se concentrarem, única e exclusivamente, na justiça férrea, in-clemente, impiedosa. E os julgados sofrerão as penas merecidas, nos Planos Espirituais inferiores, até que a luz da renovação íntima comece a emitir os seus mais tênues bruxuleios. Aí, então, terá início o grande processo reden-tor de cada um.

Confirma-se, assim, o que está escrito no Livro da Revelação – o Apocalipse de João, o Evangelista:

Vi os mortos, grandes e pequenos, de pé, diante do trono. Abriram-se livros, e ain-da outro livro, que é o livro da Vida. E os mortos foram julgados conforme o que estava escrito nesse livro, segundo as suas obras. (Apo. 20, 12)

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71Prisões e Confinamentos

nos Planos Espirituais

Pode parecer estranho a quem não está familiarizado com a Vida Espiritual, que existam prisões e confinamentos destinados a Espíritos

rebeldes e maus.A idéia da grande maioria sobre os Espíritos e o Além-túmulo é a de que,

por lá, tudo é transparente e diáfano, assim como os cenários e fantasmas dos filmes de terror, que surgem, nas telas, envoltos numa névoa rala ou em tecidos esvoaçantes.

Essa concepção dos Planos do Espírito prevaleceu até a ciência humana comprovar a existência de muitos outros estados da matéria, o que tornou possível definir a morte como a própria Vida, apenas separada por diferentes graus de densidade vibratória.

Matéria, hoje em dia, é a onda sutil dando lugar ao som, à luz, à telefo-nia sem fio, à transmissão de imagens à distância. Matéria são os fluidos, os ventos, os odores, as forças que mantêm em equilíbrio os mundos. Matéria é o átomo e suas inumeráveis partículas infinitesimais. Em suma, é todo um variado mundo de realidades invisíveis, presentes à Vida, decerto, condi-cionador dos fenômenos visíveis. O Mundo dos Espíritos é um mundo es-condido ao olhar humano, mas um mundo real, muito mais real do que o mundo material que, atualmente nos serve de moradia.

Dentro dessa linha de pensamento, à humanidade terrena, segue-se, no outro lado, uma humanidade espiritual. Se, aqui, na Terra, encontramos todo tipo de seres humanos, desde os santos de carne e osso aos marginais mais perigosos, nos Planos Espirituais ocorre o mesmo. Lá, também, exis-tem Espíritos desordeiros e maus, degenerados e vadios, marginais e cri-minosos. Conseqüentemente, é lógico que também existam, nesses planos, masmorras e prisões, para os transviados e recalcitrantes no erro.

Há seres espirituais tão degradados e comprometidos com o mal que

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deixá-los soltos, no outro lado do mundo, seria uma ameaça aos bons Espíritos. Aqueles, diante das crueldades que passam a cometer, são reco-lhidos a prisões modelares do Além, que nada têm de semelhantes aos cár-ceres e enxovias terrenos. Ali, desenvolve-se, pacientemente, para eles um programa de reeducação e recuperação, levando-os, pouco a pouco, a toma-rem consciência dos prejuízos que acarretam, para a sua evolução, a fixação obstinada na prática do mal.

Mentores esclarecidos, preceptores experimentados, equipes bem trei-nadas, todos plenos de boa vontade, dedicam-se, por amor, a esse trabalho sacrificial, nas regiões inferiores, e ele exige uma alta dosagem de renúncia, paciência e caridade. Isto porque, muitas vezes, os Espíritos benevolentes lidam com seres inferiores de grande inteligência e poder mental, mas intei-ramente desviados da estrada reta, utilizando a sua inteligência, tão somente, para maltratarem e ferirem os outros.

As prisões do nosso mundo poderiam muito bem mirar-se no modelar sistema penitenciário dos Planos Espirituais. No trato com Espíritos à mar-gem da lei, a tônica é uma só: muita compreensão e muito amor, associados a uma branda austeridade, atualizadora de valores nobres ainda existentes, em estado latente, na alma desses infelizes, todos criaturas de Deus.

A metodologia adotada pelo sistema está toda centrada no pressuposto de que esses Espíritos desequilibrados, em graves débitos para com a Lei, um dia, cansados de sofrer, retomarão o caminho da “Casa do Pai”, onde serão recebidos com festa e regozijo.

Todo mal é transitório e somente o bem possui o sinete da perpetuidade.

Após cumprirem as suas penas nas prisões espirituais e, tocados por al-gum raio de luz de espiritualidade, retornam esses Espíritos à Vida terrena em experiências reencarnatórias caracterizadas por dolorosas expiações.

Outros Espíritos que, quando, no mundo, infligiram sofrimentos a grandes coletividades e, nos Planos Espirituais, são perseguidos por suas vítimas, ainda não transformadas pelo amor cristão, também permanecem em prisões do Além. Neste caso, o confinamento para eles é benéfico, por colocá-los a salvo de verdadeiras hordas de Espíritos vingadores e perversos, sempre prontos a infligirem, com as suas próprias mãos, as mais cruéis e dolorosas penas aos seus algozes de ontem.

Há, ainda, aqueles casos em que, também, em seu próprio benefício, Espíritos que cometeram grandes delitos, ferindo e prejudicando milhares de pessoas, pedem dolorosíssimas reencarnações em corpos aleijados, defor-mados, verdadeiros abortos vivos e, neles permanecem “escondidos” num outro tipo de prisão: a da carne.

De resto, prisões e confinamentos nos Planos Espirituais inferiores são lugares de transição, onde a dor e o amor, o sofrimento e a compreensão, a treva e a luz casam-se para a realização de grandes feitos remissores, sob as bênçãos misericordiosas do Senhor da Vida! •

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72Deixemos os Que Morrem em Paz…

A morte, para quem viveu a experiência carnal dentro dos ditames da Lei Divina, é uma libertação. Assemelha-se à alegria de um pássaro que,

de repente, vê aberta a portinhola de sua cela de ponteiros, descortinando diante de si a amplidão infinita dos espaços abertos.

Por outro lado, a morte sempre traz aos que ficam – parentes e amigos – dor, tristeza, saudade e desalento, especialmente aos que, na sua grande maioria, não têm uma sólida formação religiosa. Estes, via de regra, quando a morte colhe de surpresa um dos seus entes queridos, ficam a se interroga-rem: — Será que, um dia, verei de novo meu filho, meu noivo, meu esposo, meu amigo?

Temos de reconhecer que a dor e a saudade estarão sempre presentes nesses momentos difíceis de perda.

As teorias, por vezes, são importantes para trazerem o consolo aos que aqui ficam, mas não é raro, mesmo entre espíritas e espiritualistas convic-tos, a ansiedade tomar conta de muitos. Ante qualquer possibilidade deles entrarem em contacto com os que partiram desta Vida, lançam-se, descon-troladamente, na busca de concretizar tais propósitos, consultando médiuns, videntes, orientadores espirituais e até cartomantes e quejandos, na tentativa de ouvir uma palavra sequer, ler uma carta ou, pelo menos, sentir a presença dos que estão no lado de lá.

Temos de reconhecer, humanamente, que essa atitude é perfeitamente compreensível, vez que a morte é uma crise traumática e entrou na Vida do espírito em virtude de suas quedas, erros e defecções perante a Lei Maior.

Desde as épocas mais remotas da história da humanidade, existe o in-tercâmbio entre vivos e “mortos” ou entre mortos e “vivos”. Com o passar do tempo, tais comunicações começaram a ocorrer com tal freqüência que legisladores como Moisés, por exemplo, foram obrigados a proibi-las. O

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intercâmbio tinha ultrapassado os limites do razoável, transformando-se num verdadeiro comércio, bastante lucrativo, entre os “dois mundos”.

Com o advento, no século passado, da Doutrina Espírita, tornaram-se mais conhecidas as leis que regulam as comunicações entre os dois planos, e isto possibilitou contatos mais sérios e mais freqüentes com as Esferas Espirituais, através de pessoas dotadas de faculdades específicas para esse fim, denominadas de médiuns.

O Espiritismo, por assim dizer, regulamentou as relações entre os dois mundos, estabelecendo as condições para um sadio contato dos seres hu-manos, ainda na carne, com os habitantes das Esferas Espirituais que preen-chem o espaço infinito.

Entretanto, ao mesmo tempo que a Doutrina Espírita estabeleceu as condições para um intercâmbio seguro, honesto e isento de mistificações, também fixou os princípios e as normas reguladoras dessas comunicações. Desaconselha, por exemplo, qualquer tipo de “invocação” dos que estão no outro lado da Vida, sublinhando a necessidade de que os médiuns se prestem a essas comunicações, unicamente, por amor e espírito de servi-ço, sem o recebimento de qualquer tipo de remuneração, seja direta ou indiretamente.

A Doutrina Kardecista eleva a mediunidade a um patamar muito alto, guindando-a à condição de sacerdócio e, portanto, considerando-a “uma atividade santa que deve ser exercida, santa e religiosamente”.52

O fato é que, diante da possibilidade de entrar em contacto com o outro mundo, muitos dos que aqui ficaram, espíritas ou não, passam a tentar, de todas as formas, o intercâmbio com os seus entes queridos, invocando-os, por vezes, mentalmente, e causando-lhes, com isto, grandes perturbações nos Planos Espirituais.

A certeza que o Espiritismo proporciona acerca da continuidade da Vida, após a morte, é altamente consoladora, mas isto não deve significar que de-vamos insistir na presença, perto de nós, dos que partiram desta Vida.

É bem verdade que os planos materiais e espirituais se interpenetram. “Mortos” e vivos, “vivos” e mortos convivem nos mesmos espaços físicos e metafísicos, embora em dimensões vibratórias diferentes. Todavia, os dois

52 Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, p. 302.

mundos têm características e singularidades próprias, com as suas leis bem definidas e ajustadas a cada dimensão espiritual.

Os Espíritos, do outro lado, têm ocupações e compromissos, estão tam-bém vinculados a horários, desempenham diversas missões e não podem estar sendo, constantemente, solicitados a permanecerem, “todo o tempo”, ao lado dos que, aqui, ficaram.

O fato é que, deixando este mundo, uma outra programação de Vida se delineia para o espírito liberto, e será sempre inconveniente e até pertur-bador para ele, que se esteja desejando, mentalmente, perto de nós, a sua presença.

Espíritos que deixaram a roupagem da carne necessitam de preces, mui-tas preces, de pensamentos estimulantes, de vibrações positivas para que possam continuar, em outras dimensões espirituais, a sua escalada evolutiva. Daí porque, tentar freqüentes comunicações, emitir constantes pensamen-tos de retenção, desejar que eles continuem habitando, espiritualmente, as nossas casas, invocá-los para que nos ajudem nesta ou naquela situação, são atitudes que, se bem que humanas e compreensíveis, revela profundamente egoístas. Seria o mesmo que conservar um balão preso a amarras, impedin-do-o de desferir o seu vôo pelos espaços sem fronteiras.

Diante dos que partiram deste mundo, deve haver muito equilíbrio por parte dos que ficaram, para que a Vida continue a transcorrer, nos dois la-dos; sem interferências perturbadoras de parte a parte, evitando-se as dores inconsoláveis dos que aqui permaneceram. A morte, realmente, não existe. É apenas passagem, transição de um estado para outro e a Vida estua, em beleza e magnificência, em todos os pontos dos Universos de Deus.

O tempo, o deus mitológico, devorador dos seus próprios filhos – as ho-ras, os minutos e os segundos – levar-nos-á, quando menos esperarmos, ao reencontro dos que nos deixaram, porque a nossa casa definitiva não é, aqui, na Terra. Um dia, estaremos, todos, novamente reunidos numa Vida muito mais rica e gratificante. E tudo isto será apenas uma questão de tempo.

Calma, portanto! Deixemos os que morrem em paz! •

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73Epílogo

Chego ao final deste trabalho. O livro está escrito. A mensagem, concluída.Tudo quanto escrevi, ressuma uma fé robusta na Vida, e tão somen-

te na Vida!Por que escrevi este livro?Há um ano, precisamente, alguns médicos me disseram: — “Você é um

homem marcado para morrer…” Se neles brilhasse a luz da crença, ter-me-iam dito: — “Você é um homem marcado para viver!…”

O fato é que uma cardiopatia incurável e a conseqüente perspectiva da morte, tornou bem mais saudável, construtivo e fecundo o meu viver. E morrer passou a ser o mais belo reencontro com a grandeza da Vida!

Ao decidir escrever este trabalho, pensei, em primeiro lugar, no meu ir-mão de humanidade, especialmente naquele que tem medo e, por vezes, um quase pavor da morte e do morrer. Neste livro, busco levar-lhe uma dadivosa esperança no amanhã, estimulando-o a entoar, a cada segundo de sua exis-tência, um hino de louvor à Vida!

Jesus, “o vencedor da morte”, pronunciou certa vez: “— A boca fala da-quilo que o coração está cheio.” (Lc. 6, 45)

Neste livro, falei da minha fé na imortalidade da alma e na continuidade do viver após a morte.

Falei de minha esperança nesse porvir luminoso, num outro mundo de valores mais puros – O Reino de Deus – onde a paz será o apanágio do ser fiel, e a luz, a “veste nupcial” da alma redimida.

Falei da bondade e da misericórdia de Deus para com todas as Suas criaturas e do amor que cada um deve entronizar na alma como de acesso aos Altos Cimos da Vida imperecível.

E em tudo que falei, acredito.

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Por isso, permitam-me os leitores que expresse, aqui, num testamento sin-gular, minhas últimas vontades antes da hora da partida.

Nesse dia, quando estiver despojado do corpo carnal – escafandro da alma – não desejaria contemplar, da outra margem da existência, onde, se-guramente, estarei bem vivo, prantos e dores nos familiares e amigos que estou deixando.

Como entristecer-se alguém com o vôo de liberdade da alma prisioneira?

Dispenso necrológios. Quero partir em silêncio, como aqui cheguei… apenas cercado do carinho das almas-irmãs, numa despedida amorosa da família espiritual que enriqueceu minha Vida, neste mundo.

Não acumulei tesouros na Terra. Não me apeguei às coisas do mundo. Parto, portanto, sem saudades daqui. Por que a minha fé me diz que, nos planos de luz do infinito, irei encontrar, em proporções imensas, tudo aquilo que de melhor este mundo me pôde oferecer.

Como, então, não me sentir feliz, na condição de gota insignificante ao mergulhar no Oceano de Luz da Eternidade?!

Que nada de fúnebre, de soturno aconteça em torno do meu esquife. Não desejo ladainhas, nem carpideiras… nem flores, nem velas em candela-bros barrocos… Nada, enfim, que lembre as cores e as paisagens da morte.

Que, entretanto, haja música. Acordes finos e repousantes de uma canta-ta de Bach, de uma valsa de Chopin ou de um adágio de Beethoven.

Lacrem o caixão. Não quero que vejam, em meu corpo, a fealdade da morte, mas que todos os meus amigos possam entrever, na minha alma, o brilho de festa e a alegria da ressurreição!

Aos leitores, neste Epílogo, desejaria ofertar, como presente, uma jóia poé-tica do mais fino lavor. Trata-se de um soneto, de rara beleza, sobre a morte do justo, na consciência do dever cumprido.

Agradeço a um jovem amigo – Emerson Aguiar – um moço amadureci-do na noite dos milênios, a lembrança do poema para o desfecho do meu trabalho.

Emerson é um dos meus amigos de outras peregrinações terrenas, parcei-ro dos mesmos ideais e crente, como eu, na Plenitude do Sol da Vida!

Somente os poetas conseguem exprimir os anseios mais nobres da alma, traduzindo em palavras, a luz da inspiração:

Assim SejaCruz e Souza (1861–1898)

Fecha os olhos e morre calmamente!Morre sereno do dever cumprido!Nem o mais leve, nem um só gemido,Traia, sequer, o teu sentir latente.

Morre com a alma leal, clarividente,Da crença, errando no vergel florido;E o pensamento pelos céus brandido,Como um gládio soberbo e refulgente!

Vai abrindo sacrário por sacrárioDo teu sonho, no templo imaginário,Na hora glacial da negra morte imensa…

Morre com o teu dever! Na alta confiançaDe quem triunfou e sabe que descansa,Desdenhando toda a recompensa!…

Praia do Bessa, João Pessoa, Paraíba15.01.1997Aos 62 anos de minha chegada a este mundo.

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