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PEQUENOS DESCUIDOS GRANDES PROBLEMAS Somos associados da Fundação Abrinq pelos direitos da criança. Nossos fornecedores uniram-se a nós e não utilizam mão-de-obra infantil ou trabalho irregular de adolescentes.

Pequenos descuidos grandes problemas américo canhoto

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PEQUENOS DESCUIDOS

GRANDES PROBLEMAS

S o m o s associados da Fundação Abrinq pelos direitos da c r iança .

Nossos fornecedores uniram-se a nós e n ã o

uti l izam m ã o - d e - o b r a infantil ou t rabalho

irregular de adolescentes .

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Pequenos Descuidos, Grandes Problemas Copyright by © Petit Editora e Distribuidora Ltda., 2008

1-3-08-5.000

Direção editorial: Flávio Machado Assistente editorial: Dirce Yukie Yamamoto

Colaboração: Afonso Moreira Jr. Chefe de arte: Mareio da Silva Barreto

Capa: Júl ia Machado Foto da capa: Marcelo Kura Diagramação: Ricardo Brito

Revisão: Mareia Nunes Auxiliar de revisão: Adriana Maria Cláudio

Fotolito da capa e impressão: S E R M O G R A F - Artes Gráficas e Editora Ltda.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Canhoto, Américo.

Pequenos descuidos, grandes problemas / Américo Canhoto. -São Paulo : Petit, 2008.

ISBN 978-85-7253-162-7

1. Crianças - Criação 2. Cuidados 3. Educação de crianças

4. Espiritismo - Filosofia 5. Pais e filhos I. Título.

08-00462 CDD: 133.901

índices para catálogo sistemático: 1. Educação de filhos : Doutrina Espírita 133.901

Direitos autorais reservados. E proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma

ou por qualquer meio, salvo com autorização da Editora.

(Lei na 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.)

Traduções somente com autorização por escrito da Editora.

Impresso no Brasil, no verão de 2008.

Prezado leitor (a),

Caso encontre neste livro alguma parte que acredita que vai interessar ou mesmo ajudar outras pessoas e decida distribuí-la por meio da internet ou outro meio, nunca deixe de mencionar a fonte, pois assim estará preservando os direitos do autor e conseqüentemente contribuindo para uma ótima divulgação do livro.

Page 3: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS

GRANDES PROBLEMAS

Américo Canhoto

e d i t o r a

Rua Atuai, 3 8 3 / 3 8 9 - Vi la Esperança /Penha C E P 0 3 6 4 6 - 0 0 0 - S á o Paulo - SP

Fone: (Oxx l l ) 2 6 8 4 - 6 0 0 0

Endereço p a r a correspondência: Caixa Postal 6 7 5 4 5 - Ag. Almeida L i m a

0 3 1 0 2 - 9 7 0 - S ã o Paulo - SP

www.petit.com.br | [email protected]

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Outros livros de sucesso do mesmo autor:

— Saúde ou doença: a escolha é sua — Chegando à casa espírita — Quem ama cuida

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O tempo todo e em qualquer lugar onde nos

encontrarmos, somos educadores.

Para que os resultados dos nossos esforços

em prol de uma vida familiar melhor sejam mais

produtivos, é preciso nos capacitarmos

para as tarefas que nos aguardam.

Page 6: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

Sumário

Apresentação 11

Um espectador privilegiado 11

Considerações iniciais 21

As crianças da nova geração 27

Nosso ponto de vista 28

Abordagem de questões 31

Parte 1: A educação deve visar desenvolver

a capacidade de discernir 36

Questionamentos 37

Quem somos nós? 37

Quem sou eu? 50

Quem é a criança? 53

Quem é o educador? 57

Quem é o educando? 59

A responsabilidade da mídia 60

Qual é o método pedagógico mais adequado? 61

A quem se destina a educação? 63

7

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AMÉRICO CANHOTO

Parte 2: Relação familiar envolve compromisso... 66

O papel da família 67

Mudança de DNA 70

O que é a família? 70

A forma como a família é constituída 74

Parte 3: Planejar e gerenciar a vida em família

é uma conquista espiritual 76

Qualidade das relações na vida em família 77

Separação e abandono 80

Parte 4: Os pais não são responsáveis pelos

filhos, estão responsáveis 82

Causas da falência da família 83

Maneira de gerenciar 86

Ausência da mãe 87

Herança educacional 88

Educação íntima precária 90

Maturidade dos familiares 91

Senso de responsabilidade dos pais 93

Falta de diálogo 95

Conflitos 100

Parte 5: Não há pessoa mais desconhecida

para nós do que nós mesmos 104

Descuidos comuns na educação 105

Educar para a vida 108

8

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Falta de limite 110

Tentativa de domínio pelo medo 116

Senso de honestidade dos pais 117

Controle 119

Manipulação 120

Chantagem 122

Cultura das pequenas mentiras 123

Perda de autoridade 125

Pensamento mágico 127

Criação de paradoxos 129

Vícios 132

Inversão de metas e suas conseqüências 134

Projeção de frustrações 136

Padronização 140

Em busca de privilégios 141

Cultivo do meio-termo 143

Aceitação das injustiças 146

Demasiada exposição à ação da mídia 148

Entretenimentos perigosos 150

Parte 6: Família: oficina onde aprendemos

a arte de amar 154

Reestruturação da família 155

Modernização da forma de gerenciar a vida familiar .159

Reciclagem do educador 164

Escola de pais 165

Educação compartilhada 167

9

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AMÉRICO CANHOTO

A arte de educar 168

Leis básicas da vida: ensino obrigatório 180

Parte 7: Alguns distúrbios do comportamento

poderiam ser evitados se nós, adultos,

prestássemos mais atenção às crianças,

analisando suas atitudes, impulsos e

tendências naturais 190

Parte 8: A mudança de pequenas coisas

na vida da criança é muito importante para

seu bem-estar 198

Recursos de grande utilidade 199

Considerações finais 204

Bibliografia 210

10

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Apresentação

vivendo uma fase de transição acelerada. A

Terra encaminha-se a passos largos para ser um mundo de re­

generação, no qual haverá a predominância do bem. Por assim

dizer, trata-se de delicada cirurgia cósmica que desperta a aten­

ção e o interesse de todos aqueles que trabalham em prol da

paz e da harmonia do universo.

Espíritos de outros lugares e dimensões estão vindo até

nós e reencarnando por toda parte do orbe terrestre, entre os

quais estão as chamadas crianças da nova geração.

UM ESPECTADOR PRIVILEGIADO

Desde 1977, na condição de médico de família, acom­

panhei o nascimento e o desenvolvimento de muitas crianças.

Hoje tenho a alegria de atender os filhos daqueles a quem con­

sidero "minhas crianças".

Ao longo desses anos, sou testemunha do quanto o de­

senvolvimento dessas crianças tem sido acelerado. Costumo co­

mentar com seus pais que, mal saem do útero, já estão querendo

II

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AMÉRICO CANHOTO

saber onde estão e quem se encontra a seu redor. Brincando,

digo que em breve vão nascer falando.

Até recentemente, atribuía esse desenvolvimento acele­

rado ao nosso estilo de vida, aos estímulos de todo o tipo que

nos alcançam. Pouco a pouco, mudei de idéia, porque essa

explicação me pareceu insuficiente. Considerei também que

não estamos preparados para mudanças tão rápidas, mas sim

confusos diante de tanta precocidade.

Observei que, a princípio, os pais geralmente ficam des­

lumbrados com o filho, pequeno gênio que fazem questão de

exibir, e destacam suas habilidades. Esse deslumbramento,

no entanto, dura pouco: descobrem que essa criaturinha tem

idéias próprias, não aceita ordens, enfrenta os adultos de igual

para igual e, às vezes, até parece que lê pensamentos, além de

manipular as pessoas com extrema facilidade, lembrando-nos

de Gremlins, de Steven Spielberg. Assistam ao filme e percebam

a analogia. Nele fica patente o que ocorre quando uma regra

muito simples não é respeitada.

Ao longo dos anos, tenho observado a angústia de pais

que se sentem perdidos na educação dos filhos, até mesmo de

crianças que se enquadram nos padrões normais de compor­

tamento. Essa angústia é ainda maior quando recebem uma da

nova geração para encaminhar na vida. Nesse caso, as dificul­

dades dos pais são ainda maiores. O que fazer? Onde buscar

soluções?

Muito tenho lido e ouvido falar sobre a necessidade ur­

gente de desenvolver-se uma nova pedagogia, adequada às

12

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

novas crianças. Concordo, mas não acredito na eficácia de ne­

nhuma solução enquanto nós, adultos, não nos reeducarmos.

É hora de reavaliar nossos paradigmas.

Para a maioria dos pais, educadores e profissionais da área

da saúde, a criança da nova geração é um problema, quando,

na verdade, ela é parte da solução da maioria de nossos proble­

mas. Por intermédio delas, que não aceitam as imposições da

atualidade, somos forçados a mudar para melhor, o que acelera

nossa evolução...

Geralmente sou questionado por causa desse posiciona­

mento - querem saber de onde tirei estas idéias. Elas estão fun­

damentadas na experiência de uma vida dedicada à saúde do

próximo. Essa experiência, que é bem modesta, inclui o atendi­

mento clínico a famílias, participação em projetos relacionados

à área de educação e ainda 14 anos de vivência cotidiana em

berçário e escola de educação infantil. Além do conhecimento

científico que busco atualizar, tenho aproveitado inúmeras ex­

periências profissionais que a vida me proporcionou e que me

ajudaram a crescer.

Na medida do possível, desejo compartilhar meu aprendi­

zado com todos aqueles que, de boa vontade, tenham interesse

em aprimorar-se para ajudar a melhorar o mundo em que vive­

mos. Nesse sentido, ministro palestras e seminários, promovo

oficinas culturais, escrevo artigos e livros. Denominei esse meu

esforço de projeto "Educar para um Mundo Novo". Seu objetivo

básico é repensar a educação e integrar os adultos para que,

com as crianças, possam reciclar seus conhecimentos.

13

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AMÉRICO CANHOTO

É minha intenção promover um debate em torno da

natureza das crianças de hoje, cuja educação é considerada

um problema de difícil solução. Essas crianças se apresentam

muito diferenciadas daquelas que as antecederam. Não nos

preparamos para recebê-las, embora essa nova geração tenha

sido anunciada há muito tempo... Esse despreparo é ainda mais

agravado pela nossa dificuldade em aceitar o que é novo, o

que é diferente do que já conhecemos. Inseguros, rejeitamos

quaisquer inovações e estagnamos. Por comodismo, adotamos

a opinião da maioria, fazendo o mesmo que os outros, des­

preocupados se isto é o certo ou o errado. Seguir a maioria

é o nosso álibi.

Este livro é uma tentativa de fazer uma reflexão sobre a

necessidade de mudar essa postura. É o resultado do trabalho

de muitos anos, no qual inserimos a questão das crianças da

nova geração, com o objetivo de esclarecer a que vieram, ana-

lisando-as livres de preconceitos e misticismo.

As crianças de hoje não são gênios

nem seres iluminados, apenas trazem consigo

certas habilidades e um grande potencial

a ser desenvolvido. A questão é:

o que vamos ensinar a elas?

Neste livro, não vou me deter na análise das crianças

da nova geração; meu objetivo é abranger todas as crianças.

Para tanto, acredito que devemos nos preparar para educá-las,

14

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

reformulando nosso modo de ser e de entender a vida. Estou

certo de que educamos a partir do nosso exemplo, já que sim­

plesmente compartilhamos aquilo que somos e o que sabemos.

Pretendo estabelecer um diálogo com aqueles que admi­

tem que a educação de hoje é falha e precisa mudar. Desejamos

o melhor para nossos filhos: saúde, alegria, paz, prosperidade...

Procuramos educá-los para que sejam os melhores, os mais sau­

dáveis, os mais felizes entre outras crianças. Mas estamos fa­

dados a não atingir nosso objetivo porque ainda não sabemos o

que é a felicidade, a saúde, a paz, a prosperidade e a harmonia.

Precisamos rever os conceitos, buscar a verdade, e a verdade

nos libertará das dores, da aflição e da ignorância.

Todo cuidado é pouco:

não podemos projetar nos filhos a

realização de nossos desejos e expectativas.

Não será por intermédio deles que vamos

nos livrar de nossas frustrações.

E um devaneio pretender que nossas fantasias que não

conseguimos vivenciar realizem-se por intermédio de nossos

filhos. Eles têm seu próprio caminho: o que devemos fazer é

prepará-los e incentivá-los para conquistar seus ideais.

Fomos, porém, educados para viver num mundo de ilu­

sões e aparências, povoado de valores que flutuam ao sabor dos

desejos e interesses do momento. Ou seja, estamos perdidos.

Em relação aos nossos filhos, caso não mudemos nosso modo

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AMÉRICO CANHOTO

de viver e entender as coisas como elas são, seremos cegos a

guiar cegos*, como nos alertou Jesus.

Toda criança necessita de cuidados,

atenção, respeito e amor.

Estamos cercados de objetos e utensílios descartáveis, o

que gera hábitos consumistas, bem como uma cultura da su­

perficialidade do "usar e jogar fora". Quando alguma coisa ou

alguém não nos interessa mais ou não nos satisfaz na medida

de nossos interesses, nós o descartamos. Esse modo de agir

contaminou nossas relações: quando alguém não corresponde

às nossas expectativas, é refratário à nossa autoridade, não

buscamos entender suas razões. Acusamos os jovens de rebeldes

e problemáticos, quando, na verdade, a rebeldia está em nós

mesmos por não aceitá-los como nossos iguais e entender que

apenas reencarnamos antes deles...

Desde Sócrates e Platão, os filósofos da Antiguidade se

detiveram diante das dificuldades de relacionamento entre

as gerações. Se amamos nossos filhos, devemos demonstrar

esse amor, cercando-os não apenas com cuidados, mas tam­

bém dando ouvido a eles, além de respeitar seu modo de ver

as coisas.

Poucos estão preparados para as grandes mudanças que

a Terra já está vivendo nos dias de hoje e que, com o passar

* Mateus, 15: 14. (Nota do Editor)

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

dos dias, serão ainda maiores e mais drásticas. A maioria dos

pais, acomodados ou sentindo-se incapazes de educar os filhos,

repassa essa responsabilidade para a escola. Esse é um grande

erro, sobre o qual vamos nos deter, em busca da renovação

de atitudes.

Educar exige preparo,

reciclagem rápida e contínua.

E necessário que os pais se preparem para receber os

filhos com consciência para obter sucesso em sua educação.

Não se trata da educação ideal, pois não há filhos ou pais ideais.

Existe apenas a realidade de cada um. O método informal de "ir

levando a vida para ver no que dá" já provou sua ineficácia.

Hoje, para atingir um padrão de qualidade melhor, é pre­

ciso que tenhamos metas a serem alcançadas e que busquemos

os recursos necessários para atingi-las. Essa providência é in­

teressante em especial na formação da nova geração, pois ela

não aceita imposições nem regras que não sejam obedecidas

por todos.

É importante aprender a arte de compartilhar,

e não apenas ditar regras.

Quando percebermos que educamos mais por meio de

nossas atitudes, ficará mais fácil entender que não se pode con­

trolar o aprendizado de outra pessoa, não é esse nosso papel.

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AMÉRICO CANHOTO

Desse momento em diante, nós nos sentiremos aliviados, pois

tiraremos dos ombros um pesado e indevido encargo: o controle

do destino do próximo.

A educação compartilhada ajuda a definir o papel de

todos. Nela, destaca-se a função de cada um, seu papel espe­

cífico. Os pais, a família, a escola, a sociedade, todos têm fun­

ções interdependentes. Inclusive, a própria criança. Se as

expectativas de uma educação de boa qualidade serão ou não

atendidas, dependerá de uma série de fatores que, embora se

complementem, são independentes. Definir direitos, tarefas e

funções é um passo inicial importante.

A análise do papel que cada um cumpriu bem ou mal

interessa apenas a quem o revisa. E a inteligência determina

que essa reavaliação deve constituir apenas uma revisão de metas,

sem o cultivo de sofrimentos. Também não adianta "jogar a

toalha" e gritar: "Não sei mais o que fazer!". Não há como de­

sistir: os filhos são para toda a existência...

Vamos apenas relembrar alguns erros que, de tão comuns

nem mais os percebemos nas lides do dia-a-dia, mas que po­

derão, no futuro, pela sua repetição, causar muita dor e sofri­

mento tanto para os adultos quanto para as crianças.

Aproveitamos para reforçar um alerta a respeito da tran­

sição que estamos vivendo: de alguns anos para cá, tudo anda

cada vez mais célere, inclusive a Lei de Ação e Reação. Em

outros tempos era possível reparar ou consertar os estragos que

cometíamos com relativa tranqüilidade. Mas, atualmente, o

espaço entre a causa e o efeito está diminuindo cada vez mais.

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Caso continuemos a teimar em continuar presos aos

mesmos padrões, o risco de não haver tempo hábil para as

correções é grande. Para mim, o mais interessante, depois de

estudar detidamente as características da nova geração, foi

descobrir que preencho muitas delas. Se eu tivesse essas infor­

mações antes, será que minha vida teria sido diferente?

Que o azul, que é a cor do nosso planeta visto do alto,

nos envolva a todos na oportunidade deste diálogo aberto.

Sejam bem-vindos!

Américo Canhoto

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Considerações iniciais

termos e às concepções empregados no decorrer do livro, acha­

mos por bem apresentar alguns que já conhecem e que ouvirão

muito daqui em diante. Deixo claro que não concordo nem

discordo inteiramente de nenhum deles, mas, a partir deles,

tentaremos formatar nossa própria forma de ver, sentir e agir.

0 objetivo deste livro é provocar no leitor a atitude de

duvidar, criticar, vivenciar e utilizar o que for possível e perti­

nente, com um único intuito: proporcionar a saúde e a felici­

dade de seus filhos.

Nossas crenças não mudam as leis que regem a vida cós­

mica. Tanto faz crer ou deixar de crer nelas, tudo continua

sendo como deve ser: simples, igualitário ou divinamente per­

feito. Um dia iremos amadurecer e deixar de bancar deuses em

defesa de interesses próprios.

Apenas para servir de parâmetro aos leitores: nas minhas

convicções religiosas, já fui católico de berço e de "vestir a camisa";

depois, apenas por não aceitar nenhum tipo de dogma, conheci e

vivenciei a prática de muitas outras; o que gostaria de dividir com

o leitor fique posicionado em relação aos

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AMÉRICO CANHOTO

os leitores: nenhuma consegue ofender minha convicção de que

devemos ser atuantes e amorosos. O conceito de nova geração

está acima de dogmas e de qualquer sistema de crenças, é uma

realidade com a qual devemos aprender a conviver.

Devo admitir, por exercício de humildade, que o con­

tato com o conceito de nova geração preencheu várias lacunas

nas minhas dúvidas e questionamentos sobre tão interessante

assunto e forneceu-me para compartilhar com os pais dessas

crianças uma nova abordagem, muito diferente dos antigos

paradigmas educacionais.

A pedagogia de valores, anunciada por Jesus e outros e

formulada em parâmetros educacionais por Egidio Vecchio, re­

vela inúmeros pontos em comum com nossa visão sobre como

participar da educação das crianças de hoje e de amanhã - pois

a base é a mesma - e reforça a idéia de estarmos a caminho de

uma educação mais adequada aos novos tempos.

Vivemos numa época cada vez mais acelerada e com fortes

marcas de ação inteligente nas transformações que se operam;

o que, por si só, já explica uma parte das saudáveis mudanças.

Nos livros da Codificação Espírita, há muitos convites à refle­

xão a esse respeito: algumas dessas mudanças já são bem claras

e inquestionáveis; já outras necessitam de mais tempo para que

cada um de nós possa tirar suas próprias conclusões.

Lê-se em A Gênese, no capítulo 11:

"Logo que um mundo tem chegado a um de seus pe­

ríodos de transformação, a fim de ascender na hierarquia dos

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

mundos, operam-se mutações na sua população encarnada e

desencarnada. É quando se dão as grandes emigrações e imigra­

ções. Mas, ao mesmo tempo que os maus se afastam do mundo

em que habitavam, Espíritos melhores aí os substituem, vindos

quer da erraticidade, concernente a esse mundo, quer de um

mundo menos adiantado, que mereceram abandonar (...)."

"São às vezes parciais essas mutações, isto é, circunscritas

a um povo, a uma raça; doutras vezes, são gerais, quando chega

para o globo o período de renovação."

Comentário: embora as crianças de hoje sejam dife­

rentes das antecessoras, vale a pena aguardar mais fatos e o

decorrer do tempo.

Em A Gênese, capítulo 18, lê-se:

Perturbação

"Onde nos parece haver perturbações, o que há são mo­

vimentos parciais e isolados, que se nos afiguram irregulares

apenas porque circunscrita é a nossa visão. Se lhes pudéssemos

abarcar o conjunto, veríamos que tais irregularidades são apenas

aparentes e que se harmonizam com o todo."

Mundo de regeneração

"Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso é que

somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados.

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Page 22: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Havendo chegado o tempo, grande emigração se verifica

dos que a habitam: a dos que praticam o mal pelo mal, ainda

não tocados pelo sentimento do bem, os quais, já não sendo

dignos do planeta transformado, serão excluídos, porque, senão,

lhe ocasionariam de novo perturbação e confusão e constitui­

riam obstáculo ao progresso (...)

Substituí-los-ão Espíritos melhores, que farão reinarem em

seu seio a justiça, a paz e a fraternidade. A Terra, no dizer dos

Espíritos, não terá de transformar-se por meio de um cataclismo

que aniquile de súbito uma geração. A atual geração desapare­

cerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem

que haja mudança alguma na ordem natural das coisas."

Comentário: provavelmente, a geração atual desapa­

recerá por meio de doenças, pois as crianças estão pulando as

doenças dos adultos e indo diretamente para as de idosos.

Lê-se ainda em A Gênese, capítulo 18:

"(...) uma parte dos Espíritos que encarnavam na Terra aí

não mais tornarão a encarnar.

Em cada criança que nascer, em vez de um espírito atra­

sado e inclinado ao mal, que antes nela encarnaria, virá um

Espírito mais adiantado e propenso ao bem.

Assim, decepcionados ficarão os que contem ver a trans­

formação operar-se por efeitos sobrenaturais e maravilhosos.

(...) a nova geração se distingue por inteligência e razão

geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

crenças espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo

grau de adiantamento anterior.

Não se comporá exclusivamente de Espíritos eminente­

mente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham

predispostos a assimilar todas as idéias progressistas e aptos a

secundar o movimento de regeneração.

E muito simples o modo por que se opera a transformação,

sendo, como se vê, todo ele de ordem moral, sem se afastar em

nada das leis da natureza.

Assim, segundo suas disposições naturais, os Espíritos

encarnados formarão duas categorias: de um lado os retardatá­

rios, que partem; de outro, os progressistas, que chegam."

Comentário: os retardatários refletem a grande maioria

chamada normal; já os progressistas podem ser as crianças hoje

rotuladas de problemáticas - apenas por perturbarem a velha

ordem dos interesses em vigor.

Continuando o estudo do livro A Gênese, de Allan Kardec,

ainda no capítulo 18:

Desencarnações coletivas: progresso

"As grandes partidas coletivas, entretanto, não têm por

único fim ativar as saídas; têm igualmente o de transformar mais

rapidamente o espírito da massa, livrando-a das más influências,

e o de dar maior ascendente às idéias novas.

25

Page 24: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Os flagelos destruidores apenas destroem corpos, não atin­

gem o Espírito; ativam o movimento de vaivém entre o mundo

corporal e o mundo espiritual e, por conseguinte, o movimento

progressivo dos Espíritos encarnados e desencarnados.

Os incrédulos rirão destas coisas e as qualificarão de quimé­

ricas; mas, digam o que disserem, não fugirão à lei comum (...)•"

Comentário: de acordo com o resultado de nossas

observações diárias ao longo do tempo, estamos convencidos

de que, graças ao sistema de educação vigente, grande número

de espíritos - hoje na condição de crianças - terá existência

muito curta por causa dos efeitos do estresse crônico, o qual é

a marca registrada da antiga geração.

Allan Kardec, em A Gênese, capítulo 18, continua com o

estudo dessa questão:

Regeneração da humanidade

"A época atual é de transição; já se misturam os elementos

das duas gerações. Quem estiver de fora assistirá à partida de

uma e à chegada de outra (...).

Tudo se concluirá com a geração que se vai, e a que lhe

suceder elevará novo edifício, que as subseqüentes consolidarão

e completarão."

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec,

encontra-se o seguinte comentário:

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

"Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos

em que todas as coisas devem ser restabelecidas em seu verda­

deiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e

glorificar os justos."

AS CRIANÇAS DA NOVA GERAÇÃO

Considero nesta abordagem o entrelaçamento das duas

gerações citadas: de retardatários e progressistas. Para fins con­

ceituais, distingo a geração progressista entre "reformadores" e

"sábios", mas não as tendências de cada um deles:

• A precocidade é sua marca registrada;

• Necessitam de disciplina coerente;

• Viciam-se com facilidade;

• No geral, são mais bonitas que as gerações anteriores;

• Seu potencial dos vários tipos de inteligência supera o

das antigas crianças;

• Necessitam de adultos emocionalmente estáveis e se­

guros ao seu redor;

• Não aceitam autoridade por imposição;

• Dizem o que pensam e só fazem o que desejam;

• São mais práticos;

• São manipuladores ao lado de adultos inseguros;

• São vulneráveis à aceleração: instáveis, apresentam

déficit de atenção seletiva e, por isso, se lembram

apenas do que lhes interessa.

27

Page 26: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

NOSSO PONTO DE VISTA

Convidado a participar de seminários sobre educação,

tenho deixado claro o meu ponto de vista, baseado em estudos

e observações de pacientes que atendi ao longo do exercício

clínico como médico-orientador de famílias. Nesse trabalho,

tenho a certeza absoluta de que tenho o amparo de mentores

amigos e espíritos benfeitores, que me intuem sugestões a serem

transmitidas aos que me procuram todos os dias em busca de

alívio para dores e sofrimentos.

Ao longo deste livro, apresentarei minha forma parti­

cular de ver e de perceber as reações e posturas da criança

da nova geração e das demais, embasado na experiência de

um trabalho profissional de muitos anos. Por vezes, poderá

parecer que contradigo a opinião de outros estudiosos, mas,

ao final, veremos que apenas as repito ou mesmo as com­

plemento.

Minha visão de mundo sofre a cada dia novas inter­

venções. Já a espinha dorsal, base das minhas convicções,

encontra fundamento no livro A Gênese, de Allan Kardec,

especialmente nos capítulos 11, 17 e 18.

Resguardo a intenção deste escrito: pequenos descuidos

tornam-se no futuro grandes problemas quando a educação

é conduzida sem planejamento. Vamos nos ater ao tema, na

tentativa de adquirir disciplina, que é virtude fundamental do

espírito que busca alçar vôo da terceira dimensão, mundo este

onde nos encontramos, para as outras.

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Page 27: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Apenas para compor o quadro dos diferentes tipos de

crianças da atualidade, com a intenção de facilitar seu en­

tendimento, identificaremos as crianças em grupos distintos,

embora separar gerações seja tão complicado quanto distinguir

distúrbios psicológicos (neurose, psicose, personalidade psico­

pática, transtorno bipolar etc.).

As gerações têm idéias e pontos de vistas diferentes,

às vezes opostos. Como o momento é de transição, confun­

dem-se e misturam-se os elementos de duas gerações milenares.

A mudança, que se dava de forma gradativa, atualmente está em

sua fase final, na qual atingirá o clímax determinado pelo nosso

comportamento: o estresse crônico, que levará ao desencarne

milhões de pessoas cada vez mais rapidamente, sem necessidade

de que ocorram desastres físicos, climáticos e geográficos. Apenas

para exemplificar: cada vez mais, as crianças vão sofrer doenças

próprias dos idosos como diabete, enfarte, acidente vascular ce­

rebral, câncer de todos os tipos, depressão, angústia, pânico...

Geração antiga

Podemos enquadrar na geração antiga a quase totalidade

daqueles que hoje rotulamos de pessoas "normais", adaptadas

aos padrões contemporâneos. Os "normais" não são espíritos

propensos ao mal, mas sim tendenciosos à ausência do bem e

aos vícios cada vez mais degradantes. Além disso, estão cen­

trados em si mesmos, nos seus interesses pessoais e familiares

ou grupais. Não são, portanto, nem bons nem maus.

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Page 28: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Predominam neles orgulho, inveja, egoísmo, narcisismo,

intolerância e impaciência. Deles é que a Terra precisa ser ex­

purgada, pois se obstinam em não se emendar. São pessoas que

fazem questão de acreditar em sorte, azar, destino, sobrena­

tural, alimentos diet e light* e crêem que "um pouquinho só não

faz mal", no "beba com moderação", "fume com moderação",

"use camisinha em relações suspeitas" e por aí afora...

Geração transitória

Por estarem mais amadurecidos, apesar de suas imper­

feições, muitos partem cada vez mais rapidamente.

Os "normais" acelerados, ou melhor, os que estão subme­

tidos ao processo de aceleração da última fase da atual transição

planetária, são basicamente as crianças que sofrem fortemente

a pressão da angústia, do pânico, da depressão e doenças como

o câncer.

Por meio de nossos livros e palestras, estimulamos as pes­

soas a pensar e desenvolver o raciocínio crítico revelado por Jesus

quando nos afirmou que somente a verdade nos libertará**.

Pais, mestres e cidadãos adeptos dos vários sistemas de

crenças e de todas as origens sociais devem com urgência re­

ciclar sua visão de mundo para entender, dentre outras coisas,

* Inúmeros produtos rotulados de diet e light contêm mais calorias que os normais e

não apresentam informações sobre os efeitos colaterais dos produtos químicos nos

rótulos. Acho importante lembrar disso porque sei que, quando confiamos que um

produto não é prejudicial, costumamos usá-lo sem critério. (Nota do Autor)

**]oão, 8 :31 ,32 . (RE. )

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Page 29: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

que de fato existe uma Lei de Ação e Reação e que o que gera

nossa realidade são nossos atos.

Nova geração

Caracteriza-se por pessoas dotadas, desde o nascimento,

de potencialidades acima da média, muito mais propensas ao

bem, porém ainda suscetíveis de buscá-lo por meio da visão de

mundo dos "normais".

Cabendo-lhe fundar a era do progresso moral, a nova

geração se distingue por sua inteligência e razão geralmente

precoce, bem como por sentimento inato de religiosidade des­

provido de dogmatismo.

ABORDAGEM DE QUESTÕES

A educação ainda sofre

de um mal crônico: a falfa

de planejamento.

Falta-nos compreensão do que seja educar. Para a maior

parte das pessoas, educar um filho é ditar-lhe regras ou propor­

cionar-lhe um banco escolar sobre o qual atravessará boa parte

de sua vida para receber a instrução formal.

As informações adquiridas nas salas de aula nem sem­

pre serão verdadeiras ou úteis e, o que é pior, pouco serão

utilizadas...

31

Page 30: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Na vivência descuidada,

pequenos deslizes tornam-se graves

e dolorosos problemas.

O estilo "levar a vida e sobreviver do jeito que dá", sem

parar para pensar e planejar, é absorvido pela criança e enten­

dido como se fosse um comportamento "normal". Esse modo

de agir, que é repassado de geração a geração, nos mantém pri­

sioneiros, dependentes de favores.

Conceitos e valores errôneos, reforçados e repassados

de uma geração a outra, hoje transmitidos com mais inten­

sidade pela mídia, acabam por gerar mentira, oportunismo,

agressividade, calúnia, maledicência, orgulho, inveja, traição,

intolerância.

A educação deveria nos estimular a desenvolver pa­

ciência, tolerância, respeito, simplicidade, senso de ética e de

justiça, qualidades muito valorizadas na teoria, mas pouco cul­

tivadas na prática. Exemplo: quando pedimos a uma criança

que vá ao mercado comprar alguma coisa, não devemos pro-

por-lhe que compre uma guloseima com o troco para executar

essa tarefa. Um dia, condicionada por esse comportamento

- toma lá, dá cá - poderá freqüentar os noticiários como de­

putado, presidente, senador ou policial, por exemplo, adepto

do suborno.

Quem não conhece o popular refrão dos pais que come­

tem erros: "Não foi isso o que eu ensinei!"? Um dia, em algum

lugar, teremos de prestar contas à própria consciência do que

Page 31: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

oferecemos aos que a divina providência nos confiou como

filhos, ou mesmo àqueles que estão sob nossa responsabilidade.

Até há alguns anos, o sistema educacional, com todas as

dificuldades, dava a impressão de funcionar a contento. No

entanto, nesta fase de transição planetária, ficam evidentes

suas deficiências.

Geração após geração,

nós nos apegamos obsessivamente

às sensações.

Os hábitos alimentares podem servir de exemplo tanto

à obsessão quanto à lentidão em nos reciclarmos. Mudam

muito pouco de uma geração a outra sob circunstâncias bem

diferenciadas.

A avó que parou no tempo premia todos os dias os netos

com guloseimas, esquecida de que na sua infância eram ofe­

recidas apenas em ocasiões especiais. Dessa forma, isso não

causava danos à saúde daqueles que as recebiam.

Analisemos nossa tendência para consumir carboidratos

(contidos no arroz e no feijão, por exemplo). Antigamente,

predominava o trabalho braçal. Na atualidade, mesmo os que

levam uma vida de pouco ou nenhum uso do corpo conservam

os hábitos herdados dos antepassados: alimentam-se além de

suas necessidades.

0 resultado é o aumento da incidência de diabete em

todas as idades e da obesidade infantil, presente em crianças de

33

Page 32: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

todas as classes sociais, a ponto de tornar-se um sério problema

de saúde pública.

As crianças consomem de tudo, sem nenhum controle.

Os pais se omitem por ignorância ou comodismo. Os poucos

que se preocupam em mudar a sistemática da alimentação

discursam para uma platéia surda.

Nenhum recurso vai eliminar miraculosamente as con­

seqüências de anos de má alimentação. Minha intenção não é

simplesmente criticar, muito menos apontar erros para despertar

culpas e remorsos, mas de alertar o leitor para que faça as ne­

cessárias mudanças nos seus hábitos, as quais vão beneficiá-lo

e servir de exemplo não apenas para seus filhos, mas para todas

as pessoas que o rodeiam.

Nossa contribuição é ofertar material para reflexão, tes­

tado entre as quatro paredes de um consultório e fora dele,

para que a sucessão de pequenos descuidos, ao longo de uma

vida, não se transforme num problema grave, de lenta e dolo­

rida resolução.

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Page 33: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

A reestruturação da família começa com

o aprendizado do diálogo. É fundamental cultivar o

hábito de conversar sobre temas importantes e

inteligentes, mas com bom humor. A alegria cativa

as pessoas, torna o diálogo mais agradável

e atraente.

Page 34: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

A EDUCAÇÃO DEVE VISAR DESENVOLVER

A CAPACIDADE DE DISCERNIR

Page 35: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

QUESTIONAMENTOS

Esclarecendo dúvidas

0 método que indicamos é o mais simples e na­

tural possível: duvidar e, em seguida, refletir (experimentação

e reavaliação periódica). O material pedagógico são as coisas e

os fatos mais simples do dia-a-dia. O roteiro mais fácil a ser se­

guido é o sistema de reestruturação usado em muitas empresas:

metas, projetos, reposicionamento constante, reavaliação dos

recursos e objetivos.

0 primeiro passo da reestruturação íntima e familiar é

abordar algumas questões: "Quem somos nós?; O que fazemos

aqui?; Quem é minha família?; Quem são meus filhos?; O que

é educar?; Qual o melhor método de educação?; Quem é o

educador?; Quem é o educando?; Quando termina o processo

educativo?; De quem é a responsabilidade da educação?".

QUEM SOMOS NÓS?

Viver nos dias de hoje parece algo complicado, difícil e

caro. Gastamos grande parte do nosso tempo e conhecimento

para ganhar dinheiro e por vezes custear a educação dos filhos.

Vez ou outra somos obrigados a nos deparar com jornais e re­

vistas que apresentam gráficos e pesquisas de quanto custa

um filho e sua educação (leia-se instrução). Essas reportagens

servem de estímulo para que muitas pessoas evitem ter filhos.

37

Page 36: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Confundimos educação com simples treinamento e instru­

ção. Desembolsamos uma fortuna para que nossos filhos perma­

neçam na escola boa parte de suas vidas para aprender coisas sem

muita utilidade prática. Claro que num mundo onde a tecnologia

se torna cada vez mais importante, alguns conhecimentos são

necessários, mas não podemos nos esquecer de outros aspectos

que nos caracterizam como pessoas sadias e felizes. Muitas vezes,

nessas instituições de ensino, eles são cobrados em demasia por

resultados que não conseguem alcançar, para depois, fracas­

sados, caírem em depressão, angústia existencial ou pânico.

Onde falhamos?

Desperdiçamos ensinamentos que a vida nos apresenta

no cotidiano de nossa existência, talvez por serem ofertados

de graça pela divina providência - não os valorizamos. Qual

a razão dessa atitude? A crise na educação, em grande parte,

tem sua origem no desconhecimento de quem somos e qual a

nossa função.

Entre nós e os animais irracionais,

há muitas semelhanças e algumas diferenças...

Os animais, guiados pelos instintos, não têm problemas

para comer, saciar a sede, respirar, urinar, evacuar. Qual é a

razão da inapetência, da constipação intestinal, da asma, da

insónia de nossas crianças? Estou certo de que a origem de todos

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Page 37: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

esses males encontra-se no tipo de educação que recebemos e

que transmitimos aos nossos filhos. Mesmo que estes já tenham

desaprendido de dormir, respirar, comer e até evacuar - o que

não ocone com os animais, caso contrário não sobreviveriam -,

mesmo assim, se os educarmos corretamente, fazendo-os en­

tender o que é o corpo humano, como funciona, quais são suas

necessidades, os problemas que poderão advir dos nossos maus

hábitos alimentares e comportamentais poderão ser sanados.

Os instintos guiam o animal, que pode ser domado ou trei­

nado, e suas emoções parecem ser primárias. A mais evidente di­

ferença entre racionais e irracionais é a capacidade de pensar de

forma contínua. Nós, os racionais, pensamos, sentimos e somos

capazes de agir; portanto, em teoria, podemos nos educar.

A educação deve visar desenvolver

a capacidade de discernir.

Pensar/sentir/agir é um processo que deve estar sempre

integrado, embora às vezes pensemos uma coisa, digamos outra

e ajamos de forma discordante, pois quer queiramos quer não,

nossas ações provocam reações e, ao recebê-las, devemos dis­

cernir se continuamos agindo da mesma forma ou mudamos

nosso modo de nos comportarmos.

Se pretendemos educar nossos filhos, em vez de apenas

treiná-los, é preciso, em primeiro lugar, que fique bem claro para

eles que suas ações vão gerar efeitos muito além da imaginação,

pois não há apelação no caso da propagação dos seus efeitos.

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Page 38: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Desculpas ou pedidos de perdão sem que, ao mesmo tempo, bus­

quemos reparar os erros cometidos não resolvem. É certo, porém,

que podemos consertar o mal que causarmos a nós mesmos e aos

outros. Enquanto não o fizermos, aliás, essa dívida permanecerá

gravada em nossa consciência.

Algumas escolhas trazem prazer,

outras carregam dor: o tempo encarrega-se

de revelar o que semeamos...

A dor e o sofrimento são causados por escolhas erradas.

A repetição crônica desses erros revela que estamos nos ne­

gando a evoluir. A educação, nesse sentido, pode ser o fator

determinante de nossa mudança.

A criança da nova geração, por exemplo, é mais receptiva

a entender a necessidade de mudanças. Se lhe explicarmos o

que precisa fazer para ser feliz e se dar bem na vida, embasados

em argumentos bem fundamentados, ela vai, em primeira ins­

tância, refletir sobre nossas afirmações. Por exemplo: "Estou

com vontade de comer bombom, por que não posso comer todos

os que estão na caixa?" Se disser a ela que ficará com dor de

barriga ou algo parecido, ela pode dizer que não se importa.

Cabe a nós, adultos, provar-lhe o contrário não a medicando

quando resolver fazer esse experimento...

O modo de pensar cria nossa realidade:

é necessário idealizar o que desejamos para nós.

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Page 39: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

O pensamento contínuo é uma forma de energia que tem

o poder de deslocar elétrons de suas órbitas. O ato de pensar

cria e movimenta correntes eletromagnéticas e faz fluir a vida.

Vivemos na atmosfera fluídica gerada por nossos pensamentos.

Desde que nosso pensamento seja voltado para o bem, emitido

com intensidade - com fervor, com fé -, e seguido de ação,

poderá realizar-se, pois na terceira dimensão a força do pensa­

mento necessita de atitudes concretas de trabalho.

Quando pensamos, criamos a nossa realidade.

E interagimos com a realidade dos outros,

criando vínculos.

Como a intenção deste livro é oferecer um novo olhar

sobre a educação de nossas crianças, vale lembrar que elas po­

dem ser afetadas pelo pensamento dos adultos. Exemplo: se os

pais pensam continuamente que seu filho é incapaz, incompe­

tente para aprender, dependendo da intensidade do seu modo

de pensar, ele poderá vir a sê-lo, especialmente se vier acom­

panhado de palavras e atitudes. Se tal assertiva vale para o

pensamento negativo, ao qual nos referimos, vale também para

o positivo. Se afirmarmos que existem virtudes em nossos filhos

e os imaginarmos manifestando esses sentimentos, estaremos

contribuindo para semear o bem e a felicidade em suas vidas.

No consultório, atendo algumas crianças que adoecem

com mais freqüência do que outras e demoram mais para

atingir a cura. Na condição de médico de família, descubro

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Page 40: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

que em casos como esse geralmente algum familiar está en­

frentando um conflito que envolve doença, perda ou medo

da morte.

Noutras vezes, há uma guerra não declarada entre pais e

filhos, uma disputa para ver quem manda mais. Colocar uma

criança da nova geração sob tal pressão é desastroso para a

família, pois ela tira proveito da situação, manipula os pais e

pode até provocar a falência da família, sem que o deseje, pois

necessita mais do que as outras de segurança afetiva.

Algumas crianças, além disso, têm medo ou pavor de ir ao

médico. Na maioria das vezes, esse pânico é resultado do pensa­

mento de pais ou familiares, contaminado com o "vírus" do medo,

do apego, da insegurança, da falta de soberania emocional.

A criança não tem capacidade para se proteger dessa

projeção mental de seus familiares, que por sua vez imaginam

que ela esteja doente ou tenha algum problema. Esse pensa­

mento negativo a envolve e contribui para que desenvolva o

temor pelo médico, que vai acompanhá-la por toda vida se não

for capaz de enfrentá-lo.

Com a finalidade de manipular os filhos, muitos pais

usam da visita ao médico como punição: "Se continuar assim,

vou levá-lo ao médico. Você vai ver o que é bom!". Se a crian­

ça muda seu comportamento, influenciada pela ameaça, pre­

miam-na com o adiamento indefinido da ida ao consultório:

"Como você está bonzinho, não vamos ao médico neste mês".

Esse tipo de atitude, contudo, é altamente prejudicial.

Pode agravar problemas que, em tempo hábil, seriam facilmente

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Page 41: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

extirpados. Os pais e familiares devem mudar seu pensamento: o

médico é um facilitador da saúde. Atende a criança com carinho

e a ajuda, segundo suas possibilidades, a viver melhor.

A criança da nova geração

não abre mão da liberdade.

Pensar permite escolhas: é a liberdade que nos permite o

livre-arbítrio. Quando desejar impor limites ou regras para uma

criança da nova geração, deixe em aberto uma ou várias alter­

nativas para que ela possa exercitar sua capacidade de escolha

entre aquilo que lhe é permitido.

Elas têm uma consciência inata de que pensar e escolher

é exercitar a liberdade que tanto ansiamos. Quando presenciam

a atitude passiva de seus pais, que aceitam os males que os ator­

mentam sem esboçar reações, impacientam-se. Perguntam a si

mesmas: "Porque meus pais abrem mão da liberdade de escolher

a felicidade? Por que se recusam a perceber que não escolher, se

acomodar, também é uma forma de fazer uma escolha?".

Nos dias de hoje, a grande maioria das pessoas não pensa

para não ter de escolher, como se isso fosse possível. Delegam

as escolhas corriqueiras a outros e imaginam, assim, esquivar-se de

arcar com as conseqüências, porém pequenos descuidos levam

a grandes problemas (aos quais, pela Lei de Ação e Reação, res­

ponderão no futuro...). Um exemplo disso, bem característico,

é a postura descuidada dos adultos diante da bula dos remédios.

"Para que lê-las? Por que perder tempo com aquele papelzinho

4 3

Page 42: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

impresso com letras tão pequenas? Se o médico receitou, é ele

quem deve lê-la, não eu".

Essas pessoas recusam-se a encarar os dados que constam

da bula. Ler esse impresso significa inteirar-se dos males que

nos afligem e entender a ação medicamentosa, além de conhecer

os efeitos colaterais da medicação e sua composição.

O mesmo ocorre na educação de nossos filhos. Assim

como transferimos para o médico a responsabilidade total de

nos devolver a saúde, agimos da mesma forma em relação à

educação de nossos filhos. Jogamos a responsabilidade para a

escola. Não nos dispomos a ler o programa do curso e muito

menos a tomar conhecimento da bibliografia que será utili­

zada. Matriculamos a criança, compramos o material escolar

e o uniforme, enchemos sua mochila com alimentos indus­

trializados e, se estiver ao nosso alcance, contratamos o trans­

porte que vai levá-la à escola e trazê-la de volta ao lar. Essa

é a nossa parte! Os alunos parecem batatas quentes atiradas

aos professores.

A criança progressista - carente de afetividade e apoio

familiar e consciente das obrigações de seus pais para com elas

- pode perceber o que está por trás da atitude dos adultos: o

desejo de livrar-se do encargo de educá-la e até de conviver

com ela, pois sua forma questionadora de ser lhes tira o sossego.

Tem dificuldade em aceitar a educação que lhe é imposta e

causa algumas dificuldades aos pais e educadores. Como po­

demos observar, a Lei de Ação e Reação funciona de forma

acelerada: pais que se recusam a dar aos filhos a maior riqueza a

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Page 43: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

seu alcance - a educação - são vítimas do sistema, repassando

o que receberam; porém a atitude de alguns beira à omissão.

Criada num ambiente onde não

é permitido experimentar para aprender,

a criança recusa-se a crescer.

Muitas crianças recusam-se a alcançar a maturidade

psicológica (mental, emocional e afetiva) e mantêm de forma

acintosa posturas que não correspondem a sua idade. Essa ati­

tude não é simplesmente birra, é o reflexo do comportamento

de seus pais. E fruto da educação que apenas despeja informa­

ções em sua cabeça.

Geração após geração, não se permite à criança a li­

berdade de escolha. Quando, eventualmente, os adultos lhe

permitem isso, quase sempre ela é impedida de arcar com as

conseqüências, o que retarda significativamente alcançar a

maturidade psicológica.

Quais seriam os motivos principais que levam os pais a

impedir que a criança exercite a capacidade de pensar antes de

escolher, tornando-as incapazes de suportar os efeitos de suas

escolhas? Onde e com quem as crianças aprendem a desenvolver

esse padrão de atitudes pouco responsável? Meditem. No de­

correr deste livro, descobriremos respostas para essa questão.

A educação também deve desenvolver

a capacidade de sentir.

45

Page 44: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CAN»

Perante as situações que vivenciamos, experimentamos

emoções e sentimentos que retomam ao corpo como sensações,

que devemos tentar interpretar. Quando nos recusamos a fazê-lo,

nós as materializamos como doenças. Se porventura nos causam

prazer, dizemos que são emoções boas. Se nos provocam dor ou

sofrimento, nós as classificamos como emoções ruins. Chamam

a isso de inteligência emocional. Como é fácil perceber, nossa in­

teligência emocional deixa muito a desejar, isso é cada vez mais

visível no dia-a-dia, em que, por exemplo, algumas pessoas não

conseguem parar de chorar sem motivo aparentemente lógico

para quem está de fora, para o observador.

Somos seres interdependentes, então permutamos emoções

e sentimentos. Em teoria, somos capazes de controlar a forma

como as emoções e os sentimentos dos outros podem nos afetar

mas não é o que se observa na prática: por exemplo, se num grupo

de pessoas há uma muito irritada, logo todos estarão discutindo

sem saber a razão. Poucas pessoas usam a razão para filtrar e

também para permitir quais energias podem ou não afetá-las.

Essa capacidade é entendida como a soberania da razão

sobre a emoção, uma conquista espiritual ainda ao alcance

de poucas pessoas. A dificuldade que temos para lidar com as

emoções na maioria das vezes nos causa problemas. Essa con­

fusão emocional é mais uma conseqüência da educação que

recebemos.

Não permitimos que a criança enfrente

emoções que rotulamos de inadequadas.

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Page 45: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

A criança está com raiva do irmão que lhe quebrou o

brinquedo e sua reação é dar-lhe uns tapas. Presenciando a

cena, dizemos à criança que o "Papai do Céu" está zangado,

muito zangado com ela, porque cometeu um "pecado". Não

lhe explicamos com lógica e clareza que a sua atitude foi

egoísta, que ela precisa aprender a partilhar seus pertences

eque agredir o irmão pode lhe causar, mais tarde, o retorno

da mesma dor para que aprenda a só fazer aos outros o que

deseja para si.

Na condição de pais, de acordo com as possibilidades

de entendimento de nossos filhos, devemos ensinar-lhes as

conseqüências de suas reações. É importante ajudá-los a

controlar as emoções e a discernir suas atitudes. Observar

seu comportamento durante as brincadeiras e jogos infantis

e corrigir seu comportamento intempestivo é nosso dever.

Devemos contribuir para que superem sentimentos inatos

que desde cedo se manifestam em suas atitudes: ciúme, in­

veja, egoísmo... Ensinemos a eles que Deus não castiga nin­

guém, nem sai por aí distribuindo prêmios. Temos aquilo que

merecemos.

Quando não se explica com honestidade, simplicidade

e clareza, a criança não é capaz de elaborar suas emoções, até

porque tem dificuldade em distinguir se está triste, magoada,

decepcionada, com raiva ou ódio. Ela depende do adulto para

desenvolver essa habilidade, mas com ele apenas aprende a

fingir, camuflar suas emoções. Mais tarde, na idade adulta, ela

poderá colher as conseqüências dessa indiscriminação: doenças

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Page 46: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

as mais diversas, alimentadas por mágoas acumuladas, ressen­

timento, impaciência, ansiedade desvairada...

Soberania emocional

As crianças da nova geração são portadoras de soberania

emocional mais desenvolvida que a nossa e capazes de elaborar

as emoções com objetividade, além de serem muito amorosas.

No entanto, não sofrem por causa das pessoas: auxiliam espon­

taneamente, sem se deter na contemplação de suas dores.

Por assim dizer, são verdadeiras ONGs ambulantes... Re­

gistre bem isso, se for o caso, para entender as atitudes humani­

tárias de seu filho progressista, as quais certamente despertarão

a incompreensão das pessoas "comuns", incapazes ainda de

praticar a caridade que Jesus nos ensinou, ou seja, tratar o pró­

ximo como gostaríamos de ser tratados.

Pensar, sentir, analisar, decidir e agir. Essa é a seqüência

do pensamento contínuo. Discernir se o resultado das escolhas

foi correto é o passo seguinte. Reformular ou não a escolha

inicial é direito e dever de cada um.

Normalmente, o adulto projeta-se na criança e acaba

impedindo que pense e sinta por si mesma. Determina o que

ela deve fazer e como reagir. Quando ela se rebela contra essa

atitude, quase sempre a reação dos adultos não é das mais agra­

dáveis.

A seqüência à qual me referi é tão clara, lógica e natural

que a criança da nova geração revolta-se quando é impedida

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Page 47: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

de executá-la. Quando proibida de agir segundo seus impulsos

mais progressistas, sua reação natural é não aceitar o que vigo­

ra no sistema.

As crianças da nova geração têm um faro

aguçado para descobrir quem somos nós.

Nosso sistema de crenças é que vai nos conduzir na dire­

ção do progresso. Para acelerar essa caminhada, é fundamental

ouvir a todos e analisar as opiniões alheias, sejam elas de origem

religiosa, filosófica ou científica. De posse das informações co­

lhidas, devemos analisá-las e tomar nossas próprias decisões.

Nisso se resume a fé raciocinada. Caso não paremos para

refletir com isenção sobre aquilo que nos alcança, estaremos

presos a dogmas, convenções e preconceitos, e nossas escolhas

poderão ser desastrosas. É importante estarmos sempre dispos­

tos a ouvir, refletir, meditar e, se necessário, debater com as

pessoas nossas dúvidas, até nos sentirmos bem.

Os adultos "normais" evitam discutir alguns temas e,

quando o fazem, querem impor seus pontos de vista. As crian­

ças da nova geração adoram aprender e, boa parte delas, diz

com naturalidade que somos espíritos eternos em aprendizado

contínuo e que esta existência é apenas uma aula breve, duran­

te a qual teremos tempo para refazer algumas lições malfeitas

no passado.

Sem que ninguém lhes diga, lá no fundo de sua alma, elas

têm a intuição de que parar para refletir a respeito de quem so-

49

Page 48: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

mos e o que fazemos aqui é o passo inicial para conquistarmos

calma, paz e alegria de viver.

QUEM SOU EU?

Não estou me referindo à data e ao local de nascimento

e a outras informações óbvias a nosso respeito, tais como nú­

meros de documentos etc. Responder a essa pergunta implica

olhar para dentro de nós e, então, observar nosso comporta­

mento e atitudes e "mapear" nosso íntimo. Esse reconheci­

mento da alma exige boa vontade e um esforço perseverante.

Poucos de nós nos dispomos a despender nosso tempo

nessa aventura. A maioria das pessoas desconhece sua na­

tureza. Vivem apenas para comer, beber, consumir... Fogem

do desconhecido porque ignoram sua natureza e temem que

lhes cause sofrimento. Andam sem rumo pela vida, ao sa­

bor das oportunidades, e padecem de angústia e inquietação

crônicas.

Podemos iniciar desde já o processo de autoconhe-

cimento com base na análise de nossos pensamentos. Des­

tacamos alguns deles, muito comuns a todos nós, os quais

transcrevo a seguir.

"Não quero nem pensar..."

"Não aprendi a escolher por mim mesmo..."

"Se todos fazem assim, por que preciso ser diferente?

"Quem sou eu para mudar?"

"Nem imagino o que vim fazer nesta existência..."

50

Page 49: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

"Ignoro quem sou..."

"Nem imagino como explicar as ocorrências do meu

dia-a-dia..."

"Não consigo parar para pensar nisso tudo..."

"Nem imagino o que fazer para educar melhor meus

filhos..."

Pensamentos tão desencontrados como esses revelam

que é tempo de reformular o modo de ser. Se esse é o seu caso,

as crianças pertencentes à nova geração que eventualmente

forem seus filhos lhes serão de grande ajuda. Diferentes de nós,

elas nascem com a intuição do papel que vão desempenhar

nesta existência; possuem uma visão mais clara do próprio po­

tencial; detêm relativa consciência daquilo que querem e não

abrem mão de seus valores.

Conheço crianças progressistas que, com menos de dez

anos, dizem aos pais que parem de trabalhar tanto, pois não

querem herdar seu dinheiro nem suas propriedades. "Não

quero ser como vocês", dizem aos pais, abrindo-lhes os olhos

para o péssimo exemplo que estão dando: concentração de seus

esforços apenas na conquista de bens materiais.

Será possível recuperar o tempo perdido

e as oportunidades de autoconhecimento?

Sim, sempre é possível, e quem manifesta essa intenção já

atingiu uma condição mínima de maturidade e discernimento

que vai ajudá-lo a conhecer melhor a si mesmo, descobrir a

51

Page 50: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

natureza do seu eu. Será admitido no "clube" das pessoas que

buscam progredir sem a ajuda do sofrimento.

"A quem muito foi dado,

muito será pedido"*, disse Jesus.

Descobrir quem sou e qual minha missão no mundo pa­

rece uma tarefa difícil, quase impossível, mas não é. Quando

sei com clareza quem sou e o que faço aqui, adquiro equilíbrio

para conquistar minhas metas e meus sonhos. Esse passo inicial

deverá ser dado ainda na infância, pois é possível auxiliar a

criança a descobrir seu potencial, suas predisposições, tendên­

cias e impulsos inatos sem ferir os direitos do próximo.

Quando os adultos que nos cercam na infância colaboram

para o nosso processo de autodescoberta, torna-se mais fácil

identificar o que viemos fazer nesta existência. Se não receber­

mos esse auxílio, ainda não é o fim do mundo, pois sempre será

possível analisar nossa condição: fatos ocorridos conosco, de

que forma interagimos com as pessoas que nos cercam... Cada

situação ou acontecimento que já vivemos ou estamos vivendo

pode tornar-se uma oportunidade de aprendizado e um sinal de

mudanças de rumo na vida afetiva ou profissional.

Ajudar a criança na descoberta do projeto de sua exis­

tência é uma das razões de vivermos em família. É a essência

da arte de educar. Mas como educar? Como veremos a seguir,

* Lucas, 12:8. (N.E.)

52

Page 51: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

educar é compartilhar com a criança o aprendizado que já

adquirimos. De preferência discursando menos e exemplifi­

cando mais.

Caso tenhamos uma criança progressista na família,

podemos solicitar-lhe que nos ajude a educá-la. Para tanto,

basta analisar com carinho e humildade suas opiniões sobre

quem somos e como nos comportamos. Procuremos refletir

sobre suas considerações e, a partir delas, reformular nosso

modo de ser.

QUEM É A CRIANÇA?

A criança é um ser eterno

em evolução.

Ela não é um boneco ou um bichinho de estimação. Pa­

rece incrível ter de dizer isso, mas algumas pessoas estão tão

entretidas com seus filhos, a ponto de esquecer que eles não

foram criados para o seu deleite, mas para viverem sua própria

existência, de forma independente mesmo que sob tutela.

E preciso recordar quem somos e o que fazemos aqui e

refletir sobre isso. Nossos pais nos deram a oportunidade bioló­

gica de reencarnar para aprender e progredir. Fazemos o nosso

papel dando essa mesma possibilidade aos nossos filhos.

Os pais não são meros reprodutores, seu dever vai além:

é fundamental que participem ativamente da construção do ser

que receberam em seus braços. Não devem criá-los com mimos

5 3

Page 52: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

ou destacar suas habilidades para exibi-los aos amigos e conhe­

cidos ou, ao contrário, escondê-los se não nasceram de acordo

com suas expectativas...

Faz-se necessário estudar nosso filho para compreendê-lo.

É importante analisar suas tendências, impulsos e comporta­

mento desde a vida uterina até onde for possível, sem intenção

de julgar, criticar ou controlar; além de colaborar para o de­

senvolvimento de suas potencialidades, ajudar a mudar carac­

terísticas inatas conforme colocamos em nosso livro A reforma

íntima começa no berço, "com paciência e muito amor".

Mesmo seres diferenciados como as crianças da nova ge­

ração sofrem a influência do meio em que são criadas. Tanto

podem ser bem-sucedidas quanto experimentar quedas fantás­

ticas. Quanto maior o potencial, claro que maior é o risco a que

nos expomos.

Ao nascer,

não somos páginas em branco.

Para os "normais", é difícil perceber que, ao nascer, tra­

zemos impulsos, tendências e predisposições inatas, algumas

muito marcantes, denominadas por alguns de índole e classifi­

cadas de boa ou ruim. Uma das funções da educação é ajudar a

criança a discernir sobre a própria índole e corrigir as tendên­

cias inadequadas.

Anote a espécie de comportamento de seus filhos. Faça

um esforço para registrar esse comportamento e analisar seu

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Page 53: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

desenvolvimento. Observe também o modo de agir de outras

crianças, evitando julgá-las ou dar palpites a seus pais, mesmo

quando solicitado. Como não estamos inseridos no seu con­

texto familiar, torna-se difícil e arriscado opinar sobre a vida

alheia: cuidemos de nossos próprios filhos.

A criança deve ser estudada o tempo todo.

Viver é educar-se, dia e noite. Cabe ao adulto estudar a

criança para ajudá-la a esboçar seu projeto de vida, ajustado às

suas necessidades evolutivas. A execução desse projeto e o seu

sucesso também dependem da ação dos pais. Quer queiramos,

quer não, somos seus mentores encarnados; em nenhuma

hipótese, podemos abandoná-los à própria sorte.

A maior parte das dificuldades existenciais

encontra sua origem nos problemas mal

resolvidos na época da infância.

Somos criaturas vivendo em permanente evolução. Ao

nascer, trazemos um conjunto de tendências e predisposições,

que vão nos proporcionar paz e felicidade, e outras, por sua vez,

nos causarão infelicidade e dor.

Desde a infância, precisamos nos educar para enfrentar o

prazer e a dor, que serão uma constante em nossas existências,

pois se trata de uma necessidade evolutiva, já que reencarnamos

num mundo de expiação e provas.

55

Page 54: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Por incrível que possa parecer, a educação formal não

contribui para vencermos as más tendências. Além dos im­

pulsos, tendências e predisposições que trazemos ao nascer, ou­

tros são incorporados, decorrentes do contato com a família e

a sociedade. Quantos casos de depressão, pânico, roubos, trai­

ções e mortes serão evitados quando a educação compreender

o estudo e a superação das tendências inatas? Os benefícios

serão incalculáveis para toda a humanidade...

A reforma íntima começa no berço.

Mudar algumas tendências inatas de uma criança bem

pequena é muito mais fácil e simples do que as de uma criança

maior ou de um adulto. Isso é mais do que lógico. Por exemplo,

como ajudar um bebê impaciente e mandão? Isso é possível re­

tardando seus desejos. Demore o máximo para satisfazer suas

vontades (não suas necessidades básicas) para que entenda

que não é "dono do mundo" e que nesta vida nada vai ser

conseguido no berro. Se os pais se dispuserem a tanto, devem

entender que a criança maior tem o direito de participar ati­

vamente dessa transformação; só discursar não adianta. Além

disso, os adultos devem compartilhar com ela sua própria ree­

ducação ou reforma íntima.

Pais e educadores ficam em polvorosa quando a criança

exige que essa transformação seja feita de acordo com seu modo

de entender as coisas, do seu jeito. As crianças da nova geração

não abrem mão de suas prerrogativas.

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Page 55: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

QUEM É O EDUCADOR?

Na escola da vida,

cada qual oferece o que possui.

Os pais são os educadores e os filhos os educandos. O

entendimento dessa questão, porém, amplia-se quando nos

conscientizamos de que somos todos espíritos em evolução:

aprendemos uns com os outros. No convívio com os filhos,

ensinamos e aprendemos de acordo com as circunstâncias e

necessidades.

Muitos pais, contudo, assumem a condição de "doutores

da lei", certos de que são verdadeiros mestres, cabendo aos filhos

seguir-lhes os passos. Outros cometem o desatino dos desatinos:

terceirizam a educação dos filhos, transferindo-a para insti­

tuições e pessoas ainda menos credenciadas que eles mesmos.

Por incrível que possa parecer, pais com pouca instrução mas

dotados de amor e boa vontade tornam-se educadores de qua­

lidade e outros, muito instruídos - em grande parte por como­

dismo ou omissão -, deixam a desejar no papel de educadores.

Os acontecimentos do dia-a-dia

são lições de vida. Nessa escola, o tempo todo,

somos educadores e educandos.

Pais de boa vontade são aqueles que ensinam a partir do

próprio exemplo. Dia desses, atendi em meu consultório um

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Page 56: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

adolescente, ali conduzido pelo pai. Uma raridade, pois quase

sempre é a mãe a levar os filhos ao médico.

Num determinado momento, o garoto foi questionado

pelo pai quanto a seu gosto musical: "Doutor, ele fica horas e

horas ouvindo música sem pé nem cabeça em alto volume e in­

comoda até os vizinhos". A resposta do jovem foi interessante.

Dirigiu seu olhar em minha direção e comentou: "Nunca meus

pais me ensinaram a ter bom gosto musical. Nem sei do que

eles gostam. Foi com meus amigos que aprendi a gostar dessas

músicas. Coloco o som no último volume para abafar a gritaria

deles com meus irmãos".

Acredito que, depois dessa consulta, alguma coisa mudou

no lar desse jovem. No mínimo, seus pais entenderam a neces­

sidade de partilhar com os filhos suas preferências musicais.

A criança também

é um educador.

O adulto deve aprender a interagir com a criança,

permutando ensinamentos; mas, para que isso se realize, é

preciso iniciar um diálogo construtivo. Diálogo construtivo?

Do que se trata? A criança deve ser ensinada a assumir seu

papel de educador perante as outras crianças, os adultos e os

próprios pais.

Como começar? Pelo básico, permita que a criança fale,

não a interrompa nem tente convencê-la com meros discursos.

Antes de tudo, não a interrompa, ouça o que tem a dizer.

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Page 57: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Trate-a de igual para igual. Use de argumentos e não tente

persuadi-la, pressionando-a para que faça o que você acha

correto. Explique o que considera bom e útil para ela. Faça-se

entender com brandura, não eleve seu tom de voz e, acima de

tudo, seja paciente.

As crianças da nova geração

são educadores natos.

Muitas são donas de uma capacidade de discernir e

de um bom senso que supera o de muitos adultos. Seus pais

devem acatar suas ponderações, elogiá-las e verbalizar sua

gratidão - seja na vida em família, seja na escola, seja na

relação social.

Essa atitude pode aguçar ainda mais sua intuição e fazer

aflorar uma sabedoria milenar. As que nos incomodam com

perguntas, exigindo explicações lógicas, e por vezes detalhadas,

e não se convencem quando damos respostas superficiais são

pedras preciosas que recebemos da divina providência, a qual

nos incumbiu de lapidá-las com amor.

QUEM É O EDUCANDO?

Todos nós somos educandos...

O período da infância do ser humano é o maior dentre

todos os mamíferos do planeta. A criança é uma verdadeira

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Page 58: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

"esponja", capaz de absorver as influências do meio em que

se desenvolve. Dessa forma, a maior parte do padrão atual de

atitudes dos adultos é um aprendizado recebido no período

da infância.

Os pais que desejem assumir a condição de verdadeiros

educadores devem posicionar-se junto de seus filhos não como

sábios e donos da verdade, mas como modestos aprendizes.

A RESPONSABILIDADE DA MÍDIA

Educar é interagir.

O comportamento dos nossos filhos pode influenciar

outras crianças. Devemos conscientizá-los disso, destacando a

importância de agirem corretamente, sempre com a intenção

voltada para o bem comum.

Cumpre-nos alertá-los de que somos observados por

olhos invisíveis, atentos aos nossos atos. É incontável o núme­

ro de mentes que captam nossos pensamentos, uma vez que

estamos conectados espiritualmente uns aos outros em rede,

on-line... Influenciamos e somos influenciados o tempo todo,

um processo que vai muito além da nossa imaginação.

Paulo de Tarso nos alertou nesse sentido: "Portanto,

estamos rodeados dessa grande nuvem de testemunhas. Dei­

xemos de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que se

agarra em nós. Corramos com perseverança na corrida, man­

tendo os olhos fixos em Jesus, que tanto incentivou a fé. Em

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Page 59: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

troca da alegria que lhe era proposta, ele se submeteu à cruz,

e se assentou à direita do trono de Deus"*.Vale dizer, é preciso

vigiar nossas atitudes, pois somos responsáveis pela influência

que viermos a causar aos outros.

QUAL É O MÉTODO PEDAGÓGICO MAIS ADEQUADO?

A criança necessita fazer as coisas

do seu jeito para aprender.

Na relação entre pais e filhos, um método pedagógico

essencial é o exemplo. Mil palavras não valem uma atitude.

Mas milhares de palavras e exemplos não rendem os frutos da

própria experiência. Especialmente para as crianças com as

particularidades da nova geração, isso é vital. Elas têm de fazer

as coisas do jeito delas para aprender.

O papel do adulto inteligente é criar-lhes limites e per­

mitir que o aprendizado prossiga sem interferências autoritárias.

Porque vivemos de forma descuidada, o "método pedagógico"

mais usado é o da contradição: faça o que eu digo, mas não faça

o que eu faço... Se o que observamos no dia-a-dia é um grande

número de mal-educados em todos os sentidos, é cada vez

mais evidente que os recursos pedagógicos da atualidade não

são eficientes.

* Carta aos hebreus, 12: 1, 2. (N.E.)

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Page 60: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

É urgente que se permita

à criança experimentar os frutos

das próprias escolhas.

Na dúvida sobre o que fazer, deixe o acontecimento fluir.

Quando não temos domínio sobre algo é melhor não interferir.

Apenas é preciso observar, analisar, para agir quando estivermos

seguros de nossas ações. Ofereçamos à criança o que temos de

melhor: compreensão, carinho, autoridade moral, honestidade

de propósitos, humildade, cuidados e respeito. Com certeza

a criança aprenderá que deve agir assim em reciprocidade e

quando agimos com tolerância e amor, o retorno é maravilhoso,

especialmente entre as crianças da nova geração, que passam a

desenvolver seu potencial com maior desenvoltura.

Somos o modelo.

Como pais, devemos nos matricular na "Universidade

da Reestruturação da Personalidade". Para que nos tornemos

bons exemplos ou modelos, é preciso colocar sempre o foco

de nossa consciência no bem. Nossos filhos aprenderão a fazer

o mesmo.

Ao enaltecermos e valorizarmos suas qualidades, eles vão

copiar nossa forma de agir. Se analisarmos com honestidade de

propósito as qualidades que lhes faltam, é possível ajudá-los a

conquistá-las. Evitando destacar seus defeitos - atitude que só

vai contribuir para reforçá-los ainda mais -, seremos capazes

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Page 61: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

de colaborar para que suas qualidades se evidenciem, incenti-

vando-os a prosseguir no seu aprendizado.

A QUEM SE DESTINA A EDUCAÇÃO?

Somente o humano terráqueo

pode ser educado?

A educação cósmica destina-se a todos os habitantes do

universo, sem distinção, conforme fica bem claro na Codifi­

cação por meio do livro A Gênese. Quem dentre nós é um ET?

Tanto quem não deseja aprender quanto aquele que ainda não

despertou para a necessidade de educar-se serão igualmente

beneficiados.

Algumas pessoas se educam segundo a própria vontade

e da forma que escolheram, outras são educadas compulsoria­

mente segundo a Lei de Ação e Reação. Como diz o ditado,

"se não for pelo amor, será pela dor". A opção da nova ge­

ração, quando lhe permitem, é aprender usando a lógica e a

experimentação: não gostam de modelos teóricos, regimentos

e enquadramentos.

A educação pode ser tanto passiva quanto ativa.

A educação pode ser aplicada de forma ativa ou passiva.

De forma passiva, nós nos educamos desenvolvendo a inteli­

gência e a maturidade psicológica para evitar o sofrimento e a

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Page 62: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

dor. Na forma ativa de educar-se, aprendemos por opção pró­

pria, pelo desejo espontâneo de evoluir.

Cabe ao candidato a mestre - pais, educadores, adultos

de maneira geral - provar a seus alunos que é mais fácil, prático

e inteligente mudar por opção própria do que sob a pressão da

Lei de Causa e Efeito. Aprimorar esse padrão de atitude vai nos

qualificar para o papel de educadores.

6 4

Page 63: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

Educar também é permitir à criança descobrir seus

próprios limites.

Page 64: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PARTE 2 RELAÇÃO FAMILIAR ENVOLVE COMPROMISSO

Page 65: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

O PAPEL DA FAMÍLIA

A base d a civilização está fixada num dos microcosmos

mais importantes da evolução: a família. Sua eficácia ou não

como agente educador depende da forma como foi constituída.

Quando estudamos a educação, não podemos deixar de

dar um destaque especial à família. É entre nossos familiares,

no período da infância, que formamos nossa personalidade e

fixamos padrões de comportamento que vão nos acompanhar

por toda a existência.

De muitas maneiras, espelhamos a qualidade

das pessoas que nos são mais próximas.

Para compreender melhor a importância da vida familiar

na construção da personalidade da criança, imaginemos, por

exemplo, que ela seja um computador. Seu inconsciente, que

seria o disco rígido, é o arquivo de registro de antigas expe­

riências. O subconsciente é a memória periférica, o que está

sendo executado no momento, que tanto pode ser salvo no

arquivo principal ou ir para a lixeira. O foco da consciência

ou do consciente é a tela. Imaginemos que todos os periféricos

estão ligados.

Na criança, comparada grosso modo a um computador,

um equipamento que funciona tal e qual um scanner ligado 24

horas por dia é o subconsciente, o que faz com que ela capte

tudo o que se passa a seu redor. Esse mecanismo de captação,

6 7

Page 66: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

tão operante na criança, interfere e molda até o padrão dos

seus caracteres físicos. Basta observar como as crianças ado­

tadas, desde muito pequenas assemelham-se a seus pais adotivos,

mesmo quando são de outra etnia.

Claro que a estrutura familiar ainda deixa muito a de­

sejar no cumprimento de tão importante papel - a formação

da criança -, especialmente no que se refere aos aspectos que

envolvem a ética e a moral segundo as leis da evolução. Obser­

vamos vários fatores limitadores dessa função: nossas relações

ainda são percebidas e sentidas segundo uma relação limitada

à materialidade. O conhecimento das leis de evolução, além

de precário, é pouco praticado na vida em família, restringindo

sua influência na formação do caráter da criança.

"Já cumpri meu papel de pai, meus filhos já estão criados

e formados."

"Desisto, meu filho não tem jeito..."

Ouvimos afirmações como essas todos os dias ou somos

nós mesmos que as pronunciamos. Precisamos entender que,

nesta existência, um filho será sempre nosso filho e que não

podemos renegar as responsabilidades que temos para com ele,

nunca, daí não importar a idade cronológica dele.

Nas bandas deste universo, a família é a oficina que a

divina providência constituiu para nos conduzir, passo a passo,

existência após outra, rumo à felicidade e à perfeição.

A relação entre pais e filhos é um compromisso

que se estende além do tempo e do espaço.

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Page 67: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Não importa a idade de nossos filhos, muito menos onde

se encontrem. Nesta existência, na condição de pais, estamos

incumbidos de auxiliar seu desenvolvimento. Somos, por assim

dizer, seus mentores encarnados, anjos guardiões, guias, como

queiram. Não podemos nos isentar dessa responsabilidade.

Essa relação é um poderoso instrumento, capaz de nos

ajudar, pais e filhos, a desenvolver a capacidade de amar. Se

nos cabe educar um filho problemático, não vamos desanimar

diante das dificuldades e muito menos renegar nosso compro­

misso. Se o que buscamos são informações, métodos e roteiros

que nos auxiliem nessa tarefa, as informações expostas neste

livro serão de grande utilidade.

Fique bem claro que não disponho de fórmulas mágicas

ou panaceias capazes de resolver quaisquer problemas. Desejo

partilhar a experiência de uma vida dedicada à família e o farei

com isenção e transparência, usando de todos os recursos ao

meu alcance, sem falsear com a verdade.

A maioria das pessoas

está colecionando pequenos descuidos

e ainda não sentiu as conseqüências

de suas atitudes.

Habituados a não parar para pensar e questionar, come­

temos todos os dias pequenos descuidos que vão se avolu­

mando... Atualmente, nós nos descuidamos da educação de

nossos filhos para mais tarde enfrentar problemas angustiantes.

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Page 68: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

O descaso de hoje pode causar sérios e dolorosos pesadelos que

nem médicos ou terapeutas renomados poderão resolver de

pronto. Vale, portanto, empenhar o melhor de nós em prol de

nossos filhos: esta é nossa missão!

MUDANÇA DE DNA

Modernas teorias provam que o meio ambiente afeta

profundamente a membrana das células, alterando a estrutura

do nosso DNA. No entanto, antes mesmo de receber essa in­

formação, já cansamos de comprová-la no dia-a-dia.

No consultório, atendo várias famílias que têm filhos

adotados, os quais absorvem, por assim dizer, ao longo dos

anos, o fenótipo dos pais, ou seja, tornam-se muito parecidos

com eles em todos os sentidos.

Depois da adoção, conhecidos nossos tiveram filhos con­

sanguíneos e percebe-se, embora isso pareça incrível, que os

adotados são até mais parecidos com os pais... Casais, que estão

juntos há muitos anos, por vezes aparentam tantas semelhanças

que até parecem irmãos consanguíneos; se observamos fotogra­

fias antigas dessas pessoas, veremos que, no passado, as seme­

lhanças não existiam.

O QUE É A FAMÍLIA?

Quando influenciamos alguém a tomar

uma atitude, criamos compromissos para o futuro.

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Page 69: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Do conjunto de atitudes do passado,

originaram-se as famílias do presente.

Não fazemos parte de nossa família por acaso. Essa filia­

ção não é um mero acidente de percurso: faz parte da lei da

interatividade.

Estamos juntos daqueles com quem nos compete, nesta

existência, conviver para nos reeducar, aprender ou até mesmo

realizar alguma tarefa em conjunto. "O que fiz para nascer nesta

família?" é uma pergunta pertinente: estamos com aqueles que

serão nossos professores nesta existência, para os quais exerce­

remos o mesmo papel, ou estaremos ombreando com amigos

para executar projetos construtivos que foram combinados no

plano espiritual.

Relação familiar envolve compromisso.

Os integrantes de uma família sentem-se, intuitivamente,

mais ou menos compromissados uns com os outros. Tanto mais

forte será o vínculo familiar quanto maior a capacidade dos

seus integrantes de responsabilizar-se uns pelos outros. A união

familiar depende da condição evolutiva dos envolvidos. Pode

ser correta, saudável, alegre e feliz ou inadequada, doentia

e sofredora.

As crianças progressistas são mais resolvidas e indepen­

dentes na relação familiar. Sentem a importância de fazer parte

desse grupo, daí precisam sentir apoio na companhia de seus

Page 70: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

familiares; pois elas fazem tudo o que está a seu alcance para

que a tarefa combinada seja realizada. Não perdem tempo,

auxiliam e socorrem aqueles que estão do seu lado, amparam

de coração, sem, no entanto, envolver-se emocionalmente no

problema ou na dor do próximo. Sabem que fazem parte do

grupamento familiar no qual se encontram por razões trans­

cendentais. Aceitam essa realidade - embora nem sempre sejam

tão bem-aceitos por seus familiares.

A formação da família pode ser planejada?

Sem dúvida, pois para isso estamos neste mundo. Estamos

aptos para tal empreitada. Um dia, em algum lugar do passado,

nós nos tornamos capazes de planejar, até certo ponto, a cons­

tituição familiar.

Claro que a execução dessa tarefa depende da qualidade

dos relacionamentos que construímos no passado, do grau de

maturidade daqueles que estão envolvidos conosco e da ca­

pacitação que desenvolvemos. Ainda não temos consciência

plena dessa responsabilidade nem do que advém de nossa inse­

gurança em relação à formação da família.

Escolhidos aqueles que vão participar do nosso

grupo, não é possível romper o vínculo.

Como diz a música: "Não adianta querer me abandonar,

pois vou te encontrar por aí". Não adianta fugir, abandonar, se

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Page 71: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

separar. Um dia, retomaremos ao convívio daqueles que hou­

vemos por bem nos separar.

Boa parte dos grupos familiares de hoje - envolvidos em

dores, dificuldades e sofrimentos - são os retardatários de on­

tem, aqueles que fugiram dos compromissos assumidos, ima­

ginando-se liberados de um período de convivência que não

satisfazia suas expectativas.

Para a maioria das pessoas, consideradas "normais", não

cumprir com a palavra é comum. O mesmo não ocorre com a

nova geração, que não entende nem aceita a negação de res­

ponsabilidades, o uso de subterfúgios para escapar de compro­

missos assumidos. Ao contrário, cobra fidelidade daqueles que

a cercam e, por sua vez, não quebra comprometimentos.

Quando enfrentam embargos na caminhada, são bem

francos: revelam suas dificuldades, prontos a negociar. Costumam

ser fiéis a sentimentos, interessados no bem-estar das pessoas

que fazem parte de seu universo afetivo. São livros abertos, não

conseguem camuflar seu estado de alma positivo ou negativo.

A criança da nova geração apresenta a marcante carac­

terística de fazer, sem esforço, espontaneamente, uma leitura

exata dos sentimentos e desejos das pessoas. Se é criada num

ambiente de hipocrisia, logo passará a manipular as pessoas

sem manifestar sentimento de culpa: simplesmente entra no

jogo para ganhar.

Com facilidade, a criança da nova geração

aprende a "dançar conforme a música".

73

Page 72: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Na dança da vida, ela é uma excelente dançarina, seja

qual for o ritmo imposto a ela. Trocando em miúdos: se perceber

que é impossível usar seu senso ético-moral e sua aprimorada

visão de justiça, ela vai atuar segundo as regras e valores do

grupo em que está inserida.

Por uma questão de sobrevivência, vai se adequar ao

meio, o que não significa a perda de suas conquistas espirituais.

Ao enfrentar esse tipo de situação, ela sente um forte impulso

de deixar a vida física, um risco de desastre iminente. Se uma

criança da nova geração disser que está cansada da vida, fique

de olho "para mantê-la na aula até soar o sinal"...

A FORMA COMO A FAMÍLIA É CONSTITUÍDA

Podemos dizer que uma parte das famílias da atualidade for­

mou-se segundo a lei de atração e sintonia sob a batuta da Lei de

Ação e Reação. Pois ela é a força motriz que ainda nos aglutina.

Nós nos aproximamos de nossos familiares graças aos compro­

metimentos do passado, originados geralmente por nossos atos

impensados e transgressões cometidas contra as leis divinas.

Algumas, por merecimento espiritual de seus integrantes

e amparadas por benfeitores do mundo maior, demonstram co­

locar em prática um planejamento que se esboçou do outro lado

da vida. São auxiliadas por aqueles que já fizeram parte delas e

que, agora em melhor condição evolutiva, estão em condição de

ampará-las espiritualmente.

74

Page 73: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

Para educar uma criança, é fundamental não só termos consciência de

quem somos, mas também capacidade de nos

responsabilizar por nós mesmos, pelo nosso corpo,

pelas nossas escolhas.

Page 74: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PLANEJAR E GERENCIAR A

VIDA EM FAMÍLIA É UMA CONQUISTA

ESPIRITUAL

Page 75: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

QUALIDADE DAS RELAÇÕES NA VIDA EM FAMÍLIA

E inegável que até certo ponto somos fruto do meio

ambiente em que nascemos e fomos criados, o que é compro­

vado por recentes descobertas da ciência; o cientista Bruce H.

Lipton deixa isso bem claro no seu livro A biologia da crença.

Os nascidos em famílias mais bem planejadas e administradas

têm mais chances e oportunidades de receber uma educação

de melhor qualidade, mas esse não é o caso da maioria que

habita o nosso planeta.

Em que ponto estamos na escala evolutiva?

Entre os animais, a relação entre pais e suas crias sempre

obedece ao padrão que predomina na espécie. Além do ins­

tinto, o mecanismo do relacionamento familiar entre os homens

compreende a ação das emoções, a manifestação do amor ou

do egoísmo.

Existe amor entre pais e filhos quando há responsabili­

dade e respeito. O egoísmo prevalece quando buscamos satis­

fazer interesses ou desejamos controlar o próximo. A criança

da nova geração, por exemplo, adora ser cuidada e necessita,

como todos, de amor, mas não suporta os excessos da afetividade

em que a soberania emocional não exista.

Na escala evolutiva, estamos no estágio da experimen­

tação da razão e do sentimento. Ainda incapazes de controlar

77

Page 76: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

nossos sentimentos, confundimos amor com a posse do ser

amado e desperdiçamos, muitas vezes, uma convivência que,

de outra forma, seria muito produtiva e gratificante.

Em nossas relações familiares,

ainda predomina a desigualdade

no trato afetivo.

Entre nós, existem aqueles que nos causam sensações

desconfortáveis. Essa sensação explica-se pelo entendimento

da sintonia e afinidades genéticas e energéticas.

A qualidade da relação familiar pode ser de simpatia ou

de antipatia, geradas no passado e no presente. A vida familiar,

quando sadia e harmoniosa, transforma a antipatia em sim­

patia e amplia o amor e o entendimento que já existem entre

aqueles que são afins.

A criança da nova geração, sem que ninguém peça, é

capaz de cuidar de seus irmãos, de pessoas idosas e de todas

aquelas que necessitem de cuidados especiais. Presta essa ajuda

com absoluta naturalidade e não gosta de ser elogiada por isso.

Manifesta estranheza quando percebe que as pessoas não agem

assim, espontaneamente.

Na condição de facilitadoras de nossa passagem para o

mundo de regeneração, as crianças da nova geração não têm

dívidas espirituais para com seus familiares, nem vieram a

este mundo para expiar culpas do passado. Estão, na verdade,

provando sua capacidade de servir ao próximo. Servem de

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Page 77: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

mediadoras entre seus familiares e contribuem para salvar uniões

conjugais e aproximar a parentela.

Reconheço que tenho problemas familiares.

O que devo fazer?

Quando as relações familiares não andam bem, é ne­

cessário humildade para reconhecer isso e buscar ajuda. As

crianças progressistas são excelentes conselheiras e ajudam

a restabelecer a harmonia conjugal e familiar. Precocemente,

manifestam com naturalidade sugestões de grande valor. Obser­

vadoras e intuitivas, identificam com clareza os problemas que

estão minando a união familiar e sugerem medidas práticas

que podem evitar o pior.

Em sintonia com seus pais e irmãos, elas auxiliam pra­

zerosamente, sem cobrar gratidão ou gratificações por sua

intervenção. Com a ajuda deles e daqueles que se dispuserem

a nos auxiliar, devemos planejar o gerenciamento da vida

em comum.

Se não for possível eliminar todos os pontos de atrito,

certamente ficará ao nosso alcance minorar essas ocorrências.

Uma família que faliu em existência anterior e que se reúne em

nova encarnação tem grandes probabilidades de ser feliz, não

obstante as dificuldades acumuladas a enfrentar.

Planejar e gerenciar a vida em família

é uma conquista do homem. 79

Page 78: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

O animal irracional manifesta o impulso instintivo da ma­

ternidade e da paternidade, inerentes à perpetuação da espécie.

O ser humano acrescenta ao instinto, presente em sua constitui­

ção, a emoção, a inteligência e a conseqüência de suas escolhas.

Quem deseja de fato "humanizar-se" e libertar-se dos

instintos primários deve conscientizar-se das responsabilidades

que nos cabem quando geramos um filho. O papel de pais bio­

lógicos ou adotivos é valiosa oportunidade de crescimento es­

piritual, desde que o exerçamos de acordo com as prerrogativas

que nos foram delegadas na espiritualidade ou que decidimos

no momento presente - oportunidades de adoção surgem e

quem quer as aproveita.

SEPARAÇÃO E ABANDONO

Muitas pessoas se acham merecedoras de toda a felici­

dade do mundo e, para alcançá-la, fazem o próximo sofrer sob

o jugo dos seus desejos. Um dia, podem sofrer a conseqüência

do seu egoísmo, pois reencarnarão para vivenciar experiências

junto daqueles que manipularam no passado. O resultado dessas

uniões dependerá do livre-arbítrio na ocasião.

A cada dia, aumenta o número de separações: famílias

problemáticas se desfazem por toda parte. São uniões estabe­

lecidas ao sabor das paixões, cujos integrantes se frustram

diante das dificuldades que são incapazes de enfrentar porque

não amadureceram seu entendimento do que seja, realmente,

um grupamento familiar. Esperam daqueles que os cercam a

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Page 79: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

satisfação de seus desejos egoístas e quando suas expectativas

são frustradas rompem os compromissos.

A nova geração jamais abandona seus filhos,

mesmo que tenha sido desamparada

no período da infância.

Ela manifesta um senso de responsabilidade muito desen­

volvido. Valoriza a união familiar e faz o que está a seu alcance

para sustentá-la. Mesmo quando separada do cônjuge, não se

omite diante dos deveres assumidos. Se porventura foi abando­

nada no período da infância ou sofreu o descaso dos pais, não

guarda mágoas ou rancores daqueles que a privaram de uma vida

melhor. Supera o sofrimento relegando-o ao esquecimento.

São pais devotados, generosos, conscientes de seus deveres

e obrigações, exercidas com prazer. Vibram com a felicidade dos

filhos, mas não se prendem a eles nem se permitem aprisionar-se

nos excessos da afetividade.

81

Page 80: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PARTE 4 OS PAIS NÃO SÃO RESPONSÁVEIS

PELOS FILHOS, ESTÃO RESPONSÁVEIS

Page 81: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

CAUSAS DA FALÊNCIA DA FAMÍLIA

Formar uma família é um empreendimento

como outro qualquer.

Se adotarmos uma visão empresarial da família,

conscientes do nosso compromisso com a Lei de Ação e Reação,

a possibilidade de sucesso do nosso empreendimento familiar

será ainda maior. O lar assemelha-se a uma companhia que

exige administração, planejamento e gerenciamento. Tal qual

uma empresa, não pode ser entregue ao acaso ou a mãos iná­

beis, caso em que estará condenada à falência.

Quando uma empresa "quebra", todos aqueles que fazem

parte dela sofrem as conseqüências. Quando uma família nau­

fraga no mar da vida, contribui para aumentar o número de de­

pressivos e dos que se drogam para dormir ou para acordar, além

do vício do tabagismo, do alcoolismo e do sexo sem amor.

As maiores vítimas desse desastre são os órfãos de pais vivos,

mas separados, que muitas vezes sofrem o fogo cruzado disparado

por seus familiares... Esse tipo de ambiente, deprimente e opres­

sivo, é muito prejudicial ao desenvolvimento da nova geração.

As empresas que planejam o empreendimento antes de

iniciar suas atividades e que, diante das dificuldades, buscam se

ajustar aos desafios quase sempre alcançam um relativo sucesso.

E comum, muitas vezes, saltarem do prejuízo para a lucrati­

vidade. Fazem por merecer o lucro que obtêm, fruto de um

trabalho de equipe.

83

Page 82: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Por outro lado, as famílias estruturadas que se adaptam

diante das dificuldades e as enfrentam com disposição ganham

a paz, a harmonia, a relativa felicidade, a saúde, o crescimento

espiritual dos seus integrantes e a melhoria do padrão de matu­

ridade psicológica de todos bem como a continuidade da vida

em comum.

Como se inicia a maioria

dos empreendimentos familiares?

A força de atração básica é o magnetismo da energia

sexual ou o instinto de perpetuação da espécie. A pressão social

também exerce uma ação considerável na opção de formação

de uma família, além do medo de ficar só, ser conhecido como

uma pessoa problemática, solitária e frustrada. Tudo indica

que a maioria das famílias inicia-se por essas razões.

A fase de incubação da família é o namoro e o noivado. Na

atualidade, os problemas costumam aparecer já nessa etapa,

quando fazemos nossas escolhas ao acaso, ao sabor de paixões

passageiras. Até poucos anos atrás, as crises mais fortes e ca­

pazes de acabar com a relação surgiam por volta dos cinco anos

de relacionamento.

Não estou sugerindo que sejamos frios e calculistas na

escolha do parceiro com o qual iremos dividir nossas res­

ponsabilidades familiares, mas que busquemos analisar quais

serão nossas possibilidades de sucesso ao lado desta ou da­

quela pessoa.

84

Page 83: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Raramente, porém, nessa época da vida, nos aproximamos

para elaborar planos ou desenvolver metas de vida conjugal e

de como criar os filhos, se a opção for tê-los. Nossos encontros

visam apenas usufruir de momentos prazerosos, quando o mais

adequado seria planejar o empreendimento familiar nessa fase.

Quantas dores e desilusões serão poupadas se discutirmos o

dia de amanhã embasados na realidade, sem perder de vista as

necessidades práticas de uma vida em comum.

É necessário o estudo lógico e racional das possíveis difi­

culdades que iremos enfrentar e instituir um programa de metas

comuns para sanar contratempos e evitar problemas antes que

surjam no horizonte de nossas vidas.

Vários fatores contribuem para que

a família não se consolide ou não progrida

segundo nossas expectativas.

Alguns fatores, isolados ou conjugados a outros, podem

frustrar o desejo de encontrar a felicidade familiar. Vejamos

alguns deles:

• Falta de clareza nos objetivos do casal, que não tem

certeza dos motivos pelos quais se atraíram, da ex­

pectativa desse casamento e muito menos do desejo

de trabalhar em equipe para esse empreendimento.

• Ausência de maturidade psicológica (mental, afetiva,

emocional) do casal.

85

Page 84: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

• Visão romanceada do que seja a vida familiar: depositar

no cônjuge expectativas de satisfação de necessidades

pessoais.

• Falta de transparência e dissimulação da personalidade.

• Pouca honestidade de propósitos e falta de diálogo.

• Camuflagem de interesses pessoais.

• Interferências externas: rota de colisão entre familiares.

• Excessiva dependência emocional e financeira da

família.

MANEIRA DE GERENCIAR j

A cada dia que passa, a aceleração dos acontecimentos

expõe de maneira nua e crua nossas dificuldades íntimas e

desgasta relacionamentos pouco sólidos.

Quando estudamos as relações familiares, esse fato

evidencia-se. No passado não muito distante, as atribuições

de cada um eram mais ou menos definidas. Direitos e obri­

gações eram mais delineados, mas nem sempre justos, porém

bem mais definidos. O papel que cada um desempenhava

em família era bem mais claro, o que facilitava a cobrança

de responsabilidades e a suposta eficiência da organização

familiar.

Nos dias de hoje, a família sofre uma crise global. Na

maior parte dos países onde a cultura do consumo prevalece,

o papel do homem é de mero provedor de recursos para a

manutenção do lar. A mulher, em relação ao homem, é mais

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Page 85: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

sobrecarregada por tarefas e comprometimentos que, muitas

vezes, a impedem de exercer plenamente o papel de mãe.

Momento de transição

Muitas foram as aquisições feitas no campo dos direitos

pessoais e da relação familiar com ênfase nos direitos da mulher

e da criança. Vivemos numa época de rápidas transformações,

mas nossa capacidade de mudar com rapidez tem limites es­

treitos; isso nos deixa um pouco perdidos.

Se os papéis familiares estão embaralhados, basta rede­

fini-los para que cada qual cumpra com seus deveres e exerça

seus direitos. Acrescente-se que os valores sociais hoje mudam

muito depressa. Muitas pessoas estão desorientadas e não sabem

como se comportar diante das mudanças. Resultado desse caó­

tico estado de coisas: as crianças apresentam sérios problemas

psicológicos e de comportamento.

Para mudar esse panorama, peça ajuda às crianças da

nova geração de sua família. Felizes daqueles que têm uma

criança progressista reconhecida como tal, com permissão dos

pais para opinar e agir para melhorar a vida familiar.

AUSÊNCIA DA MÃE

As mães estão cada vez mais afastadas dos filhos. Essa

convivência, tão necessária para a harmonia da família, está

cada vez mais escassa. Está provado que a ausência da mãe

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Page 86: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

é um mal ainda maior do que a do pai no dia-a-dia da família.

Muitas mulheres murmuram: "Filhos? Seria melhor não tê-los".

Cabe perguntar: e os compromissos assumidos na espirituali­

dade? Adiar o pagamento de dívidas implica acumular novos

débitos...

HERANÇA EDUCACIONAL

Tal pai, tal filho...

Além da instrução básica, faz parte da educação - para

aqueles que têm acesso a ela - a cultura geral, as noções de

etiqueta e de elegância. Predomina, porém, o conceito de boa

educação baseado no "verniz social": pessoas são elogiadas

como bem-educadas se usam o tom de voz correto, dizem

bom-dia, boa-tarde, sorriem, escutam os outros com atenção

etc. Pouca atenção prestamos na postura ético-moral das pes­

soas nas atividades do dia-a-dia; como disse o Mestre, a árvore

se conhece pelos frutos*.

Mesmo assim, a todo instante, nós nos deparamos com

adultos bem-nutridos e instruídos cujo comportamento deixa

muito a desejar: desacatam as pessoas, empurram-nas em filas,

metem-se na conversa dos outros, não respeitam as leis de

trânsito e muito menos as normas e os regulamentos em geral.

Com quem aprenderam a se comportar assim?

* Mateus, 12: 33. (N.E.)

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Page 87: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

A nova geração não aceita esse tipo de comportamento e

como sempre diz o que pensa e sente é malvista e tratada como

criança mal-educada e problemática. Esse é um dos motivos

que a leva a isolar-se com certa freqüência ou manifestar com­

portamento extravagante se comparada com as normais.

Boa educação ou falta dela

é fruto de aprendizado.

A criança incorpora o que aprendeu na convivência com

os adultos de sua família mais facilmente do que o que leu em

livros ou em sala de aula. Ela assimila, deste modo, a falta de

educação de pais que falam palavrões, agridem e menosprezam

os outros e tentam sempre impor, não importa de que forma,

sua vontade. Mentem, subornam, maldizem. É claro que a edu­

cação da rua ou do meio social (relações sociais, TV e mídia)

influencia e muito, principalmente aqueles cujos pais ou mães

são ausentes.

No ambiente daqueles que trabalham na área da saúde, a

falta de educação das pessoas é mais do que evidente. O con­

vênio médico - uma espécie de "revendedor" da saúde - al­

terou de vez a relação entre médico e paciente, mas teve seu lado

educativo: nivelou as classes sociais, já que todos dão ao médico

o mesmo ganho. O descontentamento com essa instituição - o

plano de saúde - é generalizado, e muitas vezes dirigido, injusta­

mente, àqueles que se encarregam de recepcionar os pacientes,

sobre os quais se descarregam as insatisfações acumuladas.

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Page 88: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

EDUCAÇÃO ÍNTIMA PRECÁRIA

Nós nos comprazemos em imaginar que nossa personali­

dade é herdada dos pais e que nosso caráter é imutável. Com

freqüência, ouvimos ou comentamos: "Eu sou assim mesmo, o

que fazer?"; "Nasci assim"; "Sou, mas quem não é?"; "Ser bom

e honesto para quê?".

Num mundo onde os espertos estão cada vez mais ricos e

poderosos, a salvo da justiça dos homens, esse questionamento

é compreensível, mas não nossa adesão à maioria, que se deixa

corromper com certa facilidade, pois está comprometida com

suas necessidades mais imediatas. Na busca desenfreada pelo

poder, pela riqueza e pelo prestígio, se esse for nosso caso,

estamos influenciando aqueles que são nossos filhos, que vão

repetir os mesmos padrões de comportamento assim que atin­

girem a fase adulta. Estamos criando hoje os egoístas e até cor­

ruptos e corruptores de amanhã...

A criança que se desenvolve numa família onde as pessoas

apenas se educam sob a ação do sofrimento também será uma

forte candidata a fazer o mesmo. Sem parâmetros, poderá mani­

festar desde jovem a falta de responsabilidade e não amadurecer

emocionalmente, pois irá culpar os outros pelas conseqüências e

dissabores que se originarem de sua própria conduta. E, o que é

ainda pior, tenderá a repassar esse padrão de comportamento

aos filhos, desencadeando um processo que não tem fim...

"É isto que você aprende na escola: palavrão", dizem

alguns pais, quando escutam deles palavras inconvenientes.

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Page 89: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

É mais provável que tenha aprendido o palavrão com o pai ou

a mãe, nos engarrafamentos de trânsito, em seus comentários

sobre parentes ou governantes. Se essa criança for progressista,

talvez responda: "Não foi com o professor que aprendi esse pa­

lavrão. Foi com você!".

MATURIDADE DOS FAMILIARES

Quer queiramos, quer não, interferimos na vida do pró­

ximo para beneficiá-lo ou prejudicá-lo. Na vida em família, in­

fluenciamos muito mais do que imaginamos.

A pouca maturidade que se revela em nossas atitudes

irradia-se por meio de pensamentos desorientados, afeta a atmos­

fera fluídica do nosso lar e contribui, decisivamente, para pre­

judicar a todos, indistintamente.

Poluímos o mundo em vez de contribuir para saneá-lo dos

males que estão causando tantos prejuízos. Está ao nosso alcance

reverter esse quadro, usar nosso potencial para o bem-estar da

nossa família, a partir da qual vamos melhorar o mundo.

A imaturidade também pode ser aprendida?

As crianças da nova geração nascem vacinadas contra a

imaturidade cognitiva, afetiva, emocional e social. Se prestar­

mos mais atenção em seu comportamento, perceberemos que

é possível apressar nosso amadurecimento, imitando-as. Viver

91

Page 90: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

novas experiências é o caminho que nos conduz a um estado

adequado de maturidade.

Essas crianças buscam experiência. Querem e necessitam

da prática, não se acomodam na contemplação da teoria. In­

teressam-se por saber como isso ou aquilo funciona e, se for

preciso, desmontam um equipamento para conhecer seu meca­

nismo. Logo em seguida, tentam fazê-lo funcionar...

Ao presenciar cenas como essa, muitos pais chamam os

filhos de destruidores e, por alguma morosidade em pensar, de­

sequilibram-se emocionalmente e agem em descontrole, reve­

lando sua falta de preparo para educar.

Pais imaturos ensinam os filhos a fugir de situações que

os ajudariam a obter melhor discernimento, a partir de uma

análise a respeito, tornando-se assim pessoas com mais matu­

ridade em todos os aspectos. Transmitem o medo e a preguiça

de pensar e de agir e assim atemorizam os filhos, que se retraem

diante da vida.

Se esse for nosso caso, é hora de despertar. Ao agir assim,

impedimos o progresso daqueles que recebemos como discípulos.

Que mestre seremos se impedirmos nossos filhos de fazerem

suas próprias descobertas? Devemos, ao contrário, incentivar

neles a busca pela perfeição e impulsioná-los na direção de seus

ideais. Se eles não os tiverem, sejamos nós seus auxiliares na

busca de metas e objetivos.

Superproteção também é uma forma

de impedir a maturidade.

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Page 91: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Um dos pequenos descuidos - mas também causadores

de sérias conseqüências -, na vida em família, é a superproteção.

0 excesso de cuidados impede que a criança experimente e

seja capaz de avaliar cada experiência de modo a selecionar o

que é e o que não é adequado.

Em especial, no caso das crianças da nova geração, a

superproteção é um sério prejuízo ao desenvolvimento de sua

personalidade. Poderá causar desvios de conduta que vão pre­

judicar a família e, conseqüentemente, a sociedade.

A família é uma escola de

desenvolvimento de maturidade.

A criança recebe forte impulso educacional de seus fa­

miliares, desde que seus pais já tenham aprendido a dominar e

combater o medo, a preguiça de pensar e de agir. Pais com esse

entendimento, cientes de que os filhos precisam viver suas pró­

prias experiências, são capazes de contribuir significativamente

para a educação dos filhos, evitando cercear suas iniciativas.

SENSO DE RESPONSABILIDADE DOS PAIS

Ter filhos e não cuidar deles nem respeitá-los é um grande

desastre perante o Criador e a lei de progresso. Esse tipo de

comportamento acarreta comprometimentos espirituais que

vamos carregar durante um bom tempo, até nos dispormos a

ressarcir aqueles que prejudicamos, reparando nossos erros;

93

Page 92: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

claro que segundo o conhecimento já disponível para cada um

naquele momento.

Os pais não são responsáveis pelos filhos,

estão responsáveis.

Ser implica algo definitivo, estar é temporário. A respon­

sabilidade definitiva é sempre do próprio indivíduo e limitada a

ele no tempo e no espaço. As crianças da nova geração trazem

consigo a consciência dessa realidade e revelam, em seus atos,

a consciência disso.

Responsabiliáade espelha maturidade.

E comum confundirmos responsabilidade e controle.

Estar responsável por alguém não é controlar ou manipular-lhe

a vida. Antes de tudo, é cuidar para que possa viver as próprias

experiências e com elas aprenda a discernir.

Pessoas que têm sua vida controlada por outras não desen­

volvem a responsabilidade por si mesmas e pelo próximo. Podem

também copiar a tendência de controlar os outros, acreditan-

do-se responsáveis por eles, um verdadeiro círculo vicioso.

Convidamos o leitor a uma reflexão profunda sobre essa

questão. Controles exagerados impedem a criança de experi­

mentar vivências que podem contribuir para o seu desenvol­

vimento. Protegê-las sim, mas evitar fazê-las caminhar com

nossos pés...

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Page 93: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

FALTA DE DIÁLOGO

Ver, ouvir, sentir, raciocinar

para depois nos expressar.

Ainda não procedemos assim. Falamos sem pensar, não

conseguimos ouvir e muito menos nos comunicamos com aque­

les que estão ao nosso redor. Verbalizamos nossas insatisfações

sem medir conseqüências.

A providência divina dotou a criança, contudo, de uma

válvula de escape fantástica para evitar que a verborragia a

prejudique: quando criada em ambientes de pessoas que não

primam pelo uso da lógica e do bom senso, ela se defende fácil

- todos os discursos sem sentido, e por isso mesmo emitidos aos

gritos, entram por um ouvido e saem pelo outro.

Muitos pais que levam os filhos a especialistas achando

que eles estão ficando surdos devem, com urgência, reavaliar o

modo de se expressar e procurar ajuda psicológica para mudar

sua postura.

A comunicação deficiente também é aprendida?

Num passado não muito distante, um dos inimigos do diá­

logo em família era a grosseria. Ouvíamos com freqüência: "Quem

manda aqui sou eu!"; "Calem a boca". Poucos ousavam retrucar

e, os que o faziam eram, muitas vezes, vítimas da violência.

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Page 94: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Infelizmente ainda restam resquícios desse tipo de com­

portamento, embora as pessoas sejam mais comedidas ao mani­

festá-lo. Um novo adversário do diálogo em família instalou-se

em nossos lares: a televisão. Hipnotiza as pessoas durante horas

e horas, prendendo sua atenção. O monólogo televisivo é uma

verdadeira lavagem cerebral: empobrece a cultura das pessoas

e embota o raciocínio.

Nas famílias, há uma competição

evidente ou camuflada para ver quem

é capaz de controlar o próximo,

não importa de que forma.

Em geral, as pessoas procuram, a qualquer custo, impoi

seu ponto de vista a respeito de qualquer assunto. Quase sempre,

o conteúdo das conversas em família são cobranças, exigências,

reclamações... Quando um dos litigantes está "cheio de razão",

o diálogo torna-se um monólogo e a parte perdedora fica à es­

preita de uma oportunidade para dar o troco.

A criança progressista não perde tempo na tentativa de

convencer seus familiares, seja do que for. Quando percebe que

o interlocutor não tem condição de compreendê-la, cala-se.

Por instinto, sabe que não deve perder tempo nem energia para

impor suas idéias. -

Criada nesse clima, a criança leva para a escola a forma

de dialogar aprendida em casa e vai impor seus pontos de vista

aos amiguinhos. Quando não consegue incuti-los por meio i

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

argumentos, impõe-os no tapa. É claro que as outras crianças

vão revidar. Quando retornam ao lar apresentando os resultados

desse "diálogo" - arranhões, ferimentos, uniforme rasgado -, os

pais, não imaginando que são eles os culpados dessa ocor­

rência, dirigem-se ferozes aos responsáveis pela escola para

culpá-los pelo que aconteceu.

As crianças da nova geração são pacíficas, mas, depen­

dendo da situação que estão enfrentando, mudam de com­

portamento e tornam-se agressivas. É nessa condição que são

consideradas, por pais e professores, crianças mais problemá­

ticas que as outras.

Soluções ao alcance de todos

Algumas crianças resolvem as diferenças de opinião de

maneira inteligente: admitem quando estão erradas e aceitam

a opinião das pessoas sempre que percebem que estão com a

razão. Se essa capacidade nelas for inata, de qualquer forma

precisam dos pais para incentivar esse tipo de comportamento,

tão proveitoso para sua evolução.

Nunca é demais lembrar: ensinamos mais pelo nosso

comportamento. Sejamos receptivos ao diálogo. Aprendamos

a ouvir nossos familiares, mesmo que, por antecipação, saibamos

que discordamos de seu modo de pensar.

Nessas ocasiões, podemos procurar expor nossas idéias

sem desrespeitar aqueles que pensam de outra forma. Usemos

de lógica, argumentação clara, baseada em fatos. Se mesmo

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AMÉRICO CANHOTO

assim não os convencermos, evitemos nos exaltar diante de

sua resistência. "O tempo é o senhor da razão", afirmou Mareei

Proust, escritor francês de grande notoriedade. Vamos deixar

que o tempo se incumba de revelar quem estava com a razão.

"Quem não se comunica se trumbica",

disse um progressista muito bem-humorado

que já se foi...

A reestruturação da família começa com o aprendizado

do diálogo. É fundamental cultivar o hábito de conversar

sobre temas importantes e inteligentes, mas com bom humor.

A alegria cativa as pessoas, torna o diálogo mais agradável e

atraente. Conversar é uma arte e, como tal, apura-se quando

nos dispomos a fazer o melhor que está ao nosso alcance.

Sem receios, a criança precisa aprender

a expor seus pontos de vista.

Por vivermos tão ocupados, nós nos negamos a ouvir as

crianças, até mesmo aquela que vive dentro de nós. Quantas

vezes desejamos rir e brincar com elas, o que faz bem para

nossa saúde física e espiritual, e não nos permitimos nem por

um instante parar para ganhar fôlego e continuar nossos afa­

zeres com nova disposição?

Por causa desse comportamento, as crianças passam a nos

contrariar em tudo o que lhes seja possível apenas para chamar

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

nossa atenção, porque não as ouvimos, nem lhes permitimos a

liberdade de expressão. Essa é a origem desse comportamento

inconveniente. É como se elas nos dissessem: "Olhe, eu existo,

quero conversar". Adultos costumam tomar decisões e fazer

escolhas pela criança sem sequer se darem ao trabalho de co­

nhecer sua opinião.

Em geral, o adulto acha que tem coisas mais importantes

a fazer do que responder às perguntas de seus filhos. Experi­

mente conversar com a criança como o faz com os adultos.

Com certeza vai se surpreender. As crianças não gostam de ser

rejeitadas - e quem gosta de ser tratado assim? Caso tenha a

oportunidade de dialogar com uma criança da nova geração,

ficará encantado.

Nosso sistema de crenças nos diz que

a criança só se preocupa com brincadeiras.

A criança educada num ambiente onde seus familiares

não a escutam e que sempre tomam decisões sem consultá-la

não aprenderá a escutar e respeitar escolhas e opiniões alheias.

Nas famílias em que o diálogo não existe e tudo é im­

posto sem explicação, reinam a desarmonia e a insatisfação.

Se essa é nossa atitude, está na hora de mudar. O diálogo não

diminui a autoridade dos pais, muito ao contrário: dá respaldo

a ela e fortalece a união familiar.

Na condição de pais, muitas vezes ouvimos reclama­

ções como esta dos filhos: "Você não me deixa fazer isso,

99

Page 98: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

mas na casa de meu amigo os pais dele deixam ele fazer".

Preocupados com nossas ocupações rotineiras, geralmente

nem damos atenção às suas palavras. Nesse caso - como nos

demais -, devemos dar à criança uma resposta lógica e clara:

"Os pais do seu amiguinho pensam diferente de nós. As con­

dições deles são diferentes das nossas. Eles acham que isso é

certo, nós pensamos de outro jeito".

Se, por exemplo, em vez de oferecermos "salgadinhos"

e outros alimentos industrializados aos nossos filhos, dermos

frutas, estaremos certamente remando contra a maré. A mídia

prega exatamente o contrário... Mas quem está certo? Se a ali­

mentação natural faz bem para a saúde de nossos filhos, devemos

não só explicar-lhes sobre o funcionamento do corpo humano,

como também do malefício causado por produtos impregnados

de conservantes e outras substâncias químicas. No livro Quem

ama cuida, propomos considerar o ato de nos alimentarmos como

recurso pedagógico da mais alta importância.

Não percamos de vista o exemplo da água que corre no

leito de um rio, contornando as pedras que encontra pelo ca­

minho. Com o tempo, vai modificar sua forma: "Água mole em

pedra dura tanto bate até que fura".

CONFLITOS j

Complicamos demais nossa existência ao criar con­

flitos desnecessários. Uma criança educada num ambiente

em que existem conflitos, explícitos ou não, sempre tende a

100

Page 99: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

copiar esse tipo de atitude. Um detalhe que não deve ser igno­

rado é que ela capta conflitos não verbalizados irradiados pelo

pensamento.

Essa capacidade inata da criança não tem nada de so­

brenatural. Nela o subconsciente é muito ativo. Esse é um

dos motivos que explicam a forte inteligência intuitiva da

criança. Crianças que têm medo da escuridão ou de dormir,

pois se queixam de pesadelos, podem estar sendo vítimas das

vibrações negativas irradiadas pelo pensamento de seus pais

e familiares, transmutando-os em sensações e sentimentos.

Insistem na presença dos pais junto do seu leito, os quais, na

maioria das vezes, se irritam com esse pedido e as prejudicam

ainda mais com seu comportamento não verbalizado mas di­

fundido no espaço.

Crianças da nova geração

não gostam de competições:

não se preocupam em provar nada

aos outros, apenas a si mesmas.

Nesta sociedade competitiva, as crianças são educadas

para ser as melhores, para superar seus colegas, o que, para

nós, buscadores da paz, não deixa de ser um paradoxo e os

paradoxos contribuem de forma decisiva para também ali­

mentar conflitos íntimos. Pregam-se a ética e a fraternidade

entre as pessoas, mas a sociedade incentiva a disputa e a

competição.

101

Page 100: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

De acordo com nossas convicções, é importante demons­

trar aos nossos filhos que, se for necessário competir por algu­

ma coisa, isso deve ser feito com ética e respeito àqueles que,

ao nosso lado, buscam alcançar o mesmo objetivo. Se alcan­

çarmos vitória, não devemos menosprezar os perdedores, mas

dividir a alegria com eles.

102

Page 101: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

Nas famílias em que o diálogo não

existe e tudo é imposto sem explicação, reinam a

desarmonia e a insatisfação. Se essa é a nossa atitude,

está na hora de mudar.

Page 102: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

NÃO HÁ PESSOA MAIS DESCONHECIDA

PARA NÓS DO QUE NÓS MESMOS

Page 103: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

DESCUIDOS COMUNS NA EDUCAÇÃO

Desenvolvimento de muitas caras.

ça a ser autêntica. Ao contrário do que muitos afirmam, ela

não é um livro em branco; traz de outras existências tendên­

cia atualidade faz surgir também um problema: quanto mais

precoce, maior a capacidade de ocultar verdadeiros sentimen­

tos e camuflar convicções. Muitos pais acham isso lindo e se

vangloriam da esperteza de seus filhos por essa capacidade de

dissimulação. Foram educados dessa forma, instruídos a não

manifestar suas opiniões com clareza e honestidade, mas sim

de acordo com as conveniências.

A aceleração do ritmo de vida nos dias de hoje contribui

para as crianças perderem, cada vez mais cedo, sua candura e

transparência. Voltando à analogia com o computador, é como

se tivessem um scanner muito mais avançado do que o das ge­

rações anteriores: as crianças copiam, com incrível facilidade

e qualidade, o modo de conduta dos adultos, em especial, até

certa idade, a de seus pais.

Praticamente, quase todos nós fomos treinados a ter

"muitas caras" e desenvolver vários papéis de acordo com nos­

sas conveniências. Não nos consideramos hipócritas por essa

atitude, porque esse modo de nos conduzirmos faz parte de

nosso entendimento da vida social.

importantes tarefas dos pais é ajudar a crian

cias, impulsos e predisposições. A precocidade das crianças

105

Page 104: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

A atitude de camuflar intenções é considerada normal.

Estamos certos de que se não agirmos assim, não conse­

guiremos o que desejamos nem seremos capazes de nos rela­

cionarmos com as pessoas. Esse padrão de atitudes nos leva a

uma visão deturpada de nós mesmos: não sabemos exatamente

quem somos.

Nós nos ajustamos conforme a situação para satisfa­

zermos nossos desejos e interesses. Quando percebemos que os

outros fazem o mesmo, reclamamos e os acusamos de falsos e

hipócritas. Sempre que ouvem nossas reclamações em relação

às atitudes das pessoas, as crianças da nova geração não he­

sitam em comentar: "Você faz muito pior".

Esse é um problema muito antigo. Na Grécia Antiga,

Sócrates (470 a.C.-399 d.C.) já nos alertava: "Conhece-te a

ti mesmo". Criamos muitas "personalidades-esconderijo" para

esconder partes de nós mesmos, tanto para levar vantagem

sobre os outros quanto pelo medo de sermos rejeitados.

Na convivência familiar é que iremos revelar quem real­

mente somos, aquilo que pensamos e o que desejamos para nós

mesmos. Geralmente somos bem objetivos e até contundentes:

"Eu sou assim mesmo. Quem manda aqui sou eu. Os incomo­

dados que se mudem".

Não há pessoa mais

desconhecida para nós

do que nós mesmos.

106

Page 105: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Como ajudar a criança a ser ela mesma

Antes que nossos filhos aprendam conosco e com as

pessoas a moldar seu comportamento de acordo com as con­

veniências do momento, devemos observá-los para ver o

que estão ocultando. Com a utilização de certos estímulos, a

criança manifesta seu verdadeiro "eu" e responde de acordo

com suas verdadeiras intenções. Conhecendo-a melhor, va­

mos ajudá-la a superar suas imperfeições, e compartilhando

com ela nossa reforma íntima, para que faça o mesmo dentro

das suas possibilidades e desejos, vamos facilitar-lhe o auto-

conhecimento.

Por conveniência, muitas vezes as crianças comportam-se

de acordo com as expectativas de seus pais, não porque acei­

taram de bom grado suas orientações, mas porque percebe­

ram que lhes obedecer é uma forma de viver bem com eles,

receber afetividade, aceitação e até prêmios pelo seu bom

comportamento. Agem assim na infância e atravessam a vida

adotando o mesmo padrão de comportamento.

Na idade adulta, agem de acordo com as expectativas

das pessoas às quais lhes é conveniente corresponder. Trans­

formam-se em criaturas angustiadas porque estão o tempo

todo a imaginar o que devem falar e como devem se com­

portar. Agem assim inconscientemente, porque - voltando à

comparação com o funcionamento do computador - é o pro­

grama que estão executando.

107

Page 106: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Certos comportamentos colocados em evidência

Cometemos o erro de tapar o sol com a peneira em

determinadas situações e assim desperdiçamos muitas opor­

tunidades de ajudar a criança a refletir. Por exemplo: diante

de uma que está contrariada, buscamos quase sempre acal­

má-la desviando seu interesse do que provocou a revolta.

A experiência indica que essa não é a forma mais correta

de educá-la: quando possível, devemos deixá-la entregue a

si mesma, observando até onde vai sua birra. Ao sentir que

não é capaz de mudar a situação agindo assim, terá apren­

dido uma lição.

Caso sua manifestação de raiva cause dano a algum brin­

quedo ou a si mesma, perceberá que o prejuízo de tal compor­

tamento aumentou ainda mais sua insatisfação e sofrimento.

A importância da lição será ainda maior. Crianças que vivem

tal experiência percebem quanto essa atitude lhes é inconve­

niente e mudam, por si mesmas, seu modo de proceder.

EDUCAR PARA A VIDA

Talvez para fugirmos de nós mesmos e da resolução das

dificuldades íntimas, sejamos levados a cuidar da vida dos

outros, tentando controlá-los. Nós nos iludimos, porém, ao

tentar colocar a culpa no meio externo, quando as coisas não

correm segundo nossos desejos e expectativas.

Page 107: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Ao focalizar a atenção

nos outros, perdemos contato

com nosso mundo interior.

Esse padrão de atitude cria uma situação cada vez mais

insustentável: não temos consciência nem de cinco ou dez por

cento do que pensamos, sentimos e fazemos. Somos seres que

mais reagimos aos estímulos externos do que agimos por nossa

própria iniciativa.

Para educar uma criança, é fundamental não só termos

consciência de quem somos, mas também capacidade de nos

responsabilizar por nós mesmos, pelo nosso corpo, pelas nossas

escolhas. Caso contrário, nossa contribuição será muito pe­

quena para sua educação; ou até a prejudicaremos por transmi­

tir-lhe conceitos errôneos e danosos a seu desenvolvimento.

Não importa se a educação que recebemos de nossos pais

seja, em grande parte, a responsável pelo nosso modo de agir.

Não devemos acusá-los: eles nos deram aquilo que acreditavam

que fosse o melhor para nós.

É nosso dever, sim, reciclar hábitos, libertar-nos de con­

ceitos ultrapassados e ampliar nossa visão do mundo. A urgência

dessa providência deve ser ainda maior se tivermos filhos.

Quando desejar mostrar ou ensinar algo a uma criança

da nova geração, nunca a compare com outras crianças. Não

peça a ela que proceda de uma forma que você mesmo não

adota para si. Pais que procuram libertar-se de seus vícios,

adequar seu comportamento e superar suas imperfeições são

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Page 108: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

observados pelos filhos, embora não o percebam. Em especial,

a criança progressista repara nesse esforço, que a motiva a

fazer o mesmo. Não há como ser pais perfeitos; precisamos,

sim, demonstrar, pelo nosso esforço, que estamos buscando

nossa melhora interior.

FALTA DE LIMITE

Quais são os limites de uma criança? Até onde ela pode ir?

Quando se fala que alguém desconhece seus limites, poderá

vir à nossa mente a imagem da criança que mexe em tudo, que

está sempre em busca de alguma coisa que não sabe bem o que é

nem onde se encontra. Essa criança é conhecida por hiperativa.

A primeira vista, temos até a impressão de que se trata

de uma criança que ignora por completo até onde pode ir e que

tenha sido mal-educada por seus pais. Na verdade, ela sabe seus

limites, mas tem dificuldade em adaptá-los aos dos outros.

Quando invadem nossos domínios, geralmente culpamos

seus pais, acusando-os de omissão ou irresponsabilidade diante

de seu comportamento, que imaginamos poder corrigir a partir

de medidas severas.

É fundamental impor-lhes limites e fazê-las entender até

onde podem ir sem prejudicar o próximo. Não obteremos resul­

tados práticos se impusermos limitações sem ao menos justificar,

com clareza, a razão de nossa medida disciplinar.

Page 109: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Quando invadimos o espaço das crianças da nova geração,

elas se sentem à vontade para agir da mesma forma conosco. Essa

atitude, vista por alguns como uma retaliação por parte delas, não

tem, conforme é possível observar, essa conotação. Para elas, é

como se estivéssemos permitindo que façam o mesmo conosco.

Muitas crianças nascem com um impulso muito forte para

o egocentrismo. Sentem-se o centro do universo. Chegam ao

mundo sentindo-se donas dele. O que mais importa para elas é a

satisfação de seus desejos e necessidades. Uma vez identificados,

necessitam de uma atenção redobrada para entenderem quais

são seus limites. E importante aproveitar todas as oportunidades

para conscientizá-las disso.

A maior parte das crianças incorpora com naturalidade

seus limites, o que não acontece com as egocêntricas. Faz-se

necessário nosso empenho em demonstrar-lhes que seus direitos

terminam onde começam os das pessoas.

De forma intuitiva, as progressistas não se sentem as donas

do mundo. Quando criadas sem que lhes sejam impostos limites e

disciplina, porém, usam indiscriminadamente seu potencial. Daí

em diante, salve-se quem puder... Vão causar danos e transtornos

como todo aquele que não foi educado para viver em sociedade.

Até onde vai a responsabilidade dos pais?

Pode parecer um paradoxo, mas algumas crianças apren­

dem rapidamente com seus pais a não ter limites, mesmo que

111

Page 110: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

essa tendência não seja nelas uma predisposição - esse é o caso

de algumas crianças progressistas.

Algumas crianças que não reconhecem nenhum limite

podem ter sido criadas e, portanto, influenciadas, por pais ego­

cêntricos. Outras são filhas de pais acomodados que não apren­

deram a dizer "não" com medo de perder o afeto delas. Agir

sem limites, por parte da criança, pode ser ainda uma reação

dela ao excesso de controle dos pais. Nesse caso, a atitude dos

pais - preocupados em demasia em controlar os filhos - poderá

ter sua origem em resguardar a família de comentários negativos

sobre o modo de proceder de seus rebentos.

Como determinar limites?

Basta querer, pois querer é poder. Os pais devem impor

limites aos filhos. Delegar essa tarefa a terceiros é comprometer

sua educação. Mas não basta querer; é preciso saber querer. É

necessário dispor de elementos que nos auxiliem nessa decisão.

Um deles é estudar as necessidades da criança.

Necessidade de respeitar limites

Educar também é permitir à criança descobrir seus pró­

prios limites. Por exemplo: uma criança prepara-se para escalar

o sofá. Nós a prevenimos de que poderá se machucar. Ela não

nos dá ouvidos, sobe até onde lhe permitem suas forças e desaba.

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Page 111: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Mais do que depressa, a amparamos e evitamos que sofra as

conseqüências de sua desobediência.

Nesse caso, entramos em contradição com nossa afirmação

("Cuidado, você pode cair e se machucar"). Por conseguinte, a

criança não levará a sério nossas próximas advertências. Se, ao

contrário, considerarmos que o risco da queda é insignificante

e permitirmos que ela desabe, a confirmação da nossa "pro­

fecia" vai ensiná-la que existem limites a respeitar e que nós,

seus pais, podemos auxiliá-la a reconhecê-los.

Experiências como essas devem ser aproveitadas, desde,

é claro, que não ofereçam risco para a integridade física da

criança. Conhecedora da Lei de Ação e Reação - "Faço isso e

acontece aquilo do qual meus pais me preveniram" - a criança

amadurece, aprende a confiar em seus pais, confiança essa que

vai perdurar no decurso de sua existência.

Crianças sem noção de limites,

adultos prepotentes e displicentes.

Se pretendermos impor limites, deveremos, por nossa

vez, aprender a respeitá-los. Quase todos os pais de uma forma

ou de outra ensinam que existem limites aos filhos. A falha

deles está em exemplificar aquilo que ensinam a eles: "Faça o

que eu digo, mas não faça o que eu faço".

Crianças criadas por adultos que se comportam de forma

a desrespeitar os limites alheios são fortes candidatos a se trans­

formarem em adultos prepotentes e indisciplinados. Quando

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Page 112: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

se fala em estabelecer limites para uma criança, muitos ima­

ginam tratar-se apenas da imposição de regras de convivência,

da etiqueta social. Esse é, na verdade, o primeiro passo desse

aprendizado. Embora seja importante, a ele se sobrepõe o en­

sinamento moral de que devemos respeitar o próximo como

gostaríamos que nos respeitassem.

Descobrir até onde

é possível ir é um

aprendizado de amor.

Quem conhece seus limites aprende a respeitar. Quem

ama cuida e quem ama respeita. Amar não é satisfazer os de­

sejos daqueles que nos são caros. Se de fato amamos alguém,

desejamos o melhor para essa pessoa. Se necessário for, para o

bem de quem amamos, nós nos prontificamos a negar aquilo

que nos pedem ou esperam de nós.

Atender aos desejos dos filhos, com a intenção de ca­

tivá-los, é prestar-lhes uma péssima lição de vida. Por várias

razões, muitos pais agem dessa forma. Alguns, ausentes do lar,

tentam suprir o vazio de sua presença com presentes e mimos

de toda a espécie. Outros, embora sua presença ao lado dos

filhos seja constante, pretendem, ao agir assim, firmar seu do­

mínio sobre eles. Os motivos são diversos, mas nenhum deles

é desculpa para esse procedimento. Negar aos filhos aquilo

que for inconveniente à sua saúde física ou espiritual é dever

de pais educadores.

Page 113: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Escolhas do passado, limitações de hoje

Somos criaturas em processo de aperfeiçoamento, a ca­

minho da perfeição. A educação é um processo contínuo de

aprendizado. Parte das nossas limitações de hoje representa o

resultado das nossas escolhas do passado.

Quando me refiro ao passado, nele incluo experiências

de outras existências, inseparáveis de nossa condição espiritual.

Precisamos conhecer nossos limites. Pouca atenção se dá ao

aprendizado dos limites de cada um. Esse é um problema da

atualidade: a falta de bom senso generalizada leva a um es­

tresse crônico. Em todos os sentidos, o nível de tolerância da

maioria é zero.

Estresse crônico, a criança em perigo

Gostaria de estar errado, mas a leitura que é possível

fazer dos efeitos do estresse crônico sobre nossas crianças é

assustadora. Pequenos descuidos que estejamos cometendo

devem levar boa parte delas a uma existência muito breve.

Não me preocupo tanto com as crianças da nova geração,

pois seu senso de limites as faz mais protegidas do que as de­

mais. Elas observam que os pais estão sempre correndo atrás

de recursos para pagar a melhor escola, que as sobrecarrega

de lições inúteis; que os pais não medem esforços para custear

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Page 114: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

terapeutas que elas não necessitam, pois não estão doentes;

que se esforçam para adquirir o melhor plano de saúde para os

filhos, quando, na realidade, quem precisa cuidar melhor da

saúde são eles mesmos. Sentem o desagrado da mãe diante do

pai, que vive gritando para impor sua autoridade junto da es­

posa e dos filhos. Pragmática, a criança progressista racionaliza:

"Por que fazer o que estão mandando? Para ficar igual a eles?

De jeito nenhum, estou fora...". Nesse caso, ela não sofre as

conseqüências do estresse familiar. Torna-se alheia à autoridade

paterna e isola-se de seus familiares criando um sistema de pro­

teção emocional particular.

Limites de convivência

A criança precisa de nossa ajuda para perceber que somos

interdependentes e que o espaço de uma pessoa e o conjunto

de seus direitos terminam no momento em que começam os do

próximo. Da mesma forma que não toleramos que nosso espaço

seja invadido e nossos direitos desrespeitados, e, se tal oconer,

lutaremos para evitá-lo, essa será a mesma reação das pessoas.

TENTATIVA DE DOMÍNIO PELO MEDO

Não cometa o erro de tentar

dominar uma criança progressista

atemorizando-a ou despertando

sentimentos de culpa nela.

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Page 115: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Certas condutas são tão repetitivas que assumem ares

de normalidade. Desde os primórdios da civilização, tentamos

dominar os outros infundindo o medo, inimigo do progresso

humano.

De forma descuidada, causamos medo nas crianças para

que nos obedeçam. Medo de escuro, de médico, de injeção, do

bicho-papão... As letras das músicas infantis são tenebrosas.

Mesmo que algumas crianças consigam superar o medo, mesmo

assim, essa impressão marcada em sua infância poderá tornar-se

um entrave em sua vida e limitar-lhes o futuro, impedindo que

vivam experiências e realizações.

Crianças corajosas como as progressistas incomodam as

pessoas. O medo, embora sirva como uma trava de proteção

a determinadas situações, não deve ser usado para barganhar,

nem reforçado, sob pena de graves dificuldades futuras.

SENSO DE HONESTIDADE DOS PAIS

Quando protegemos as crianças em excesso, impedimos

que vivenciem suas próprias experiências. Com a desculpa de

protegê-las para que não se frustrem nem sofram, camuflamos

a verdadeira razão de nossa atitude, que é o medo de sofrermos

ou nos frustrarmos diante de seus fracassos.

Precisamos ser honestos conosco mesmos, permitindo

que usufruam os benefícios de suas vitórias e as lições de

suas derrotas, partilhando dos sentimentos advindos dessas

situações.

Page 116: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Além do amor incondicional, outra necessidade vital na

educação das crianças da nova geração é a honestidade de pro­

pósitos dos pais. Não minta. Para a maioria das pessoas, camu­

flar desejos ou intenções é um fato corriqueiro. Estas crianças,

porém, captam nossas verdadeiras intenções e reagem a elas.

Para educá-las, é fundamental agir com transparência.

Parte do comportamento incoerente

é aprendida.

Os vícios ou excessos que cometemos representam uma

falta de honestidade íntima. Por exemplo: quando nos ali­

mentamos com algo que sabemos de antemão que nos causa

mal-estar, estamos sendo desonestos conosco mesmos, pois em

seguida recorreremos a um medicamento que nos auxilie a

reparar os efeitos causados pelo alimento.

Grande parte dos acontecimentos presentes da nossa vida

é conseqüência da Lei de Ação e Reação. Depois de aprender

essa lição e agir honestamente conosco mesmos, vamos poder

ensinar nossos filhos a agir corretamente. Pais que se enfastiam

durante as refeições e que depois buscam alívio nos medica­

mentos disponíveis para essa necessidade ensinam os filhos a

agir desonestamente para consigo mesmos.

No consultório, observo que as crianças da nova geração

entendem melhor que as outras o mal que eventualmente causa­

ram a si mesmas, seja pela ingestão de um determinado alimento

prejudicial à sua constituição, seja por excessos alimentares.

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Entendem o que aconteceu como o resultado de uma escolha

errada e evitam reincidir nisso.

Para elas, o desconforto que lhes causou a experiência é

proveitosa lição de vida. A educação alimentar pode consti­

tuir-se numa ferramenta valiosa para aprimorar a capacidade

de discernir e desenvolver a honestidade, que acompanha o

desenvolvimento dos vários tipos de maturidade psicológica.

CONTROLE

Liderar não é controlar.

Os filhos que demonstram liderança nos dão grande sa­

tisfação. Os líderes de fato, no entanto, são raros. Grande parte

daqueles que têm essa capacidade tende a ser controladora,

tirana, agressiva, autoritária. Usam dessa capacidade inata para

controlar os demais e exercer sua influência de forma a se so­

bressair e levar vantagens.

No conjunto de tendências e predisposições inatas, uns

gostam de controlar e outros de ser controlados. A melhor sala

de aula para estudá-la é o lar. Na relação e nas brincadeiras entre

irmãos, é possível identificar cada um dos tipos. Nas escolas e na

relação com os amigos, também é possível observar tendências

e predisposições à tirania, ao ciúme ou a ser controlado e até

manipulado por outros.

As crianças da nova geração tendem a liderar com natu­

ralidade e carisma. Dependendo da forma como foram criadas,

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Page 118: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

podem tornar-se controladoras, não por maldade, mas apenas

para satisfazer suas necessidades afetivas.

Sentir ciúme também é um tipo de medo

de perder o controle.

Sentir ciúme demonstra que pretendemos ser donos de

uma pessoa ou controlar alguém, o que, quase sempre, nos leva

a relacionamentos pouco satisfatórios ou sofridos. Muitos dos

controladores ou daqueles que se permitem ser controlados

são aqueles que receberam uma educação distorcida, em que

foram ressaltadas as tendências inatas, sem terem sido mu­

nidos de meios de trabalhá-las para o seu bem-estar e felici­

dade do próximo.

MANIPULAÇÃO

Aquele que manipula alguém usa de artifícios para ex­

plorar a falta de soberania emocional alheia. Muitas vezes,

bebês e crianças choram sem razão apenas para atrair a atenção

de seus pais. Trata-se de um mecanismo inconsciente desen­

volvido por eles, por intermédio do qual manipulam os adultos.

Basta que o expediente funcione algumas vezes para que fique

gravado em sua mente como a melhor forma de atrair depressa

a atenção dos pais.

Essa tendência pode ser inata e reativada pela convivência

com adultos que agem dessa forma em seus relacionamentos.

120

Page 119: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Quando adultas essas crianças poderão se tornar hábeis mani­

puladores. Entre as da nova geração, o senso inato de justiça

impede que sejam permeáveis a essa influência negativa. Quase

sempre superam esse tipo de influência se advinda de seus pais

ou de adultos que as cercam.

Elas são doces criaturas,

desde que seus desejos sejam atendidos.

Existem crianças que nos manipulam com facilidade,

porque estão conscientes de nossas fraquezas: algumas vezes,

sua saúde é precária, mesmo sob tratamento médico intensivo,

outras vezes sentem dores em toda parte ou então se mantêm

debilitadas para provocar piedade. Diante do seu estado, seus

pais sentem-se impossibilitados de dizer um não a elas. São

crianças manipuladoras por excelência.

Pequenos descuidos na educação

que causam acidentes evolutivos.

Destacamos algumas formas que os pais encontram para

manipular os filhos, com a intenção de obter melhores resultados

em sua educação: aumento da mesada quando as notas esco­

lares melhoram; prêmio em dinheiro para celebrar a medalha

conquistada na competição esportiva; oferta de guloseima se a

criança "raspar" o prato na hora da refeição. Esses exemplos de

manipulação se tornaram tão comuns e corriqueiros que não

121

Page 120: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

nos apercebemos de quanto são perniciosos no desenvolvimento

da maturidade em todos os sentidos.

CHANTAGEM

A chantagem se diferencia da manipulação pela ameaça

implícita ou explícita que carrega consigo. Exemplo de mani­

pulação: pedimos ao nosso filho que vá à padaria comprar pão

e o gratificamos com o troco da transação, ou permitimos que

também compre um sorvete.

A atitude de premiar a criança por tarefa executada é

um tipo de manipulação. Se, para comprar o sorvete, a criança

recebe como condição trazer o pão, é chantagem. A criança

que deseja um brinquedo do irmão e exige-o como prêmio para

ficar de boca calada e não contar aos pais que o outro quebrou

determinado objeto ou deixou de fazer algo que lhe foi pedido

está usando de chantagem para alcançar seus fins.

Os manipuladores enveredam facilmente pelo caminho

da chantagem. Adultos que aprenderam a manipular a família,

recorrendo a ocasionais distúrbios de saúde, por vezes recorrem

a ameaças de suicídio caso seus desejos não sejam atendidos.

Esse comportamento mórbido encontra raízes na infância.

Mesmo que a criança esteja doente, não devemos nos

sentir obrigados a satisfazer todas as suas vontades. Atendê-las,

sim, mas de acordo com suas necessidades e merecimento. Pro­

blemas de saúde devem ser entendidos como sábias providências

da natureza para reajustar nosso procedimento. Entendê-los

122

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

assim e transmitir essa verdade aos nossos filhos é o dever de

pais conscientes de seu papel de educadores.

A tentativa de controlar ou manipular

não raro termina em chantagem com

danosas conseqüências para todos.

Tal e qual os perigosos vícios do tabagismo e do alcoolis­

mo, o hábito de chantagear começa com uma atitude ino­

cente. Como muitas pessoas costumam dizer: "Apenas um gole

ou uma tragada não vai fazer mal...". A chantagem nem precisa

ser descoberta para que o chantagista resgate seu erro: a inse­

gurança, o medo de ser descoberto transforma a vida dele num

caos. A criança da nova geração não recorre à chantagem para

obter o que deseja, o que, de nenhuma forma, desobriga seus

pais de espelharem uma conduta isenta desse mal.

CULTURA DAS PEQUENAS MENTIRAS

Mentir, faltar com a verdade, pode ser uma tendência da

criança. Em outros casos, o vício pode ter sido adquirido nas rela­

ções familiares. Na família em que se mente com facilidade, uma

criança poderá imitar esse comportamento e tornar-se exímia em

falsear a verdade. Outra, criada sofrendo as mesmas influências,

poderá não ser capaz de mentir com tanta desenvoltura.

As tendências inatas nos aproximam ou nos afastam dos

vícios. É fundamental que os pais conheçam as tendências

123

Page 122: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

dos filhos para ajudá-los a superá-las, caso sejam negativas.

Como não somos criaturas angelicais, tenhamos em mente

nossas próprias tendências, e lutemos, com todas as nossas

forças e recursos disponíveis, para superá-las. "Conheça a ver­

dade e a verdade vos libertará"*, afirmou Jesus.

Crianças da nova geração

são péssimas mentirosas...

Fomos treinados para pensar uma coisa e dizer ou fazer

outra. A automatização dessa atitude nos leva, sem pestanejar,

a faltar com a verdade e correr o risco de não mais distinguir

entre o que é verdade e o que é mentira. A compreensão do

abismo que as separa pode tornar-se difícil para o mentiroso

compulsivo. É um vício que, a exemplo dos demais, quando

identificado, exige todo nosso empenho para erradicá-lo de

nossa alma. Descobrir quando uma criança progressista está

mentindo é muito fácil, pois fica estampado no seu rosto.

Crianças que vivem no mundo da fantasia

têm predisposição para mentir.

Muitas crianças copiam dos adultos a técnica de tratar as

pessoas de forma interesseira. Algumas delas, desde muito cedo,

tornam-se exímias nisso. São maledicentes e até caluniadoras,

*João, 8 :31 ,32 . (RE. )

124

Page 123: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

tal e qual aprenderam com os familiares e com as pessoas com as

quais convivem.

Automatizar esse padrão de atitudes leva muitas pessoas

a usar a mentira sempre como arma para atingir seus objetivos

e desejos de forma até consciente. Para o mentiroso contumaz,

a verdade pode tornar-se uma arma contundente, usada apenas

para ferir e magoar, pois fala a verdade para arrogar-se no papel

de justiceiro.

A criança progressista, diante dos professores ou de seus

familiares, geralmente se expressa de forma espontânea. Diz a

verdade sem camuflar seus sentimentos ou distorcer a realidade

com o objetivo de favorecer seus interesses. Ela fala o que

sente de forma clara e verdadeira, o que, para ela, é tão normal

quanto respirar.

PERDA DE AUTORIDADE

Filhos malcriados e agressivos

A perda de autoridade é uma ocorrência globalizada. É

fruto do sistema em que vivemos e da sucessão de descuidos na

relação entre pais e filhos. Em primeiro lugar, é preciso en­

tender que autoridade não se delega nem se impõe: é uma con­

quista moral.

As crianças progressistas obedecem com alegria a pessoas

que revelam honestidade e sensatez em seus propósitos, mas não

se rendem àqueles que desejam impor-se sem méritos para tanto.

125

Page 124: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Angústia e medo tornam as crianças

agressivas como mecanismo de defesa.

O sistema torna crianças e jovens mais angustiados a

cada dia, com medo de tudo, como de não darem conta de

viver conforme o que se espera deles, não serem amados, não

possuírem isto ou aquilo, de serem tachados de fracassados. As

más-criações e a agressividade de muitas crianças decorrera

apenas de uma reação defensiva diante da autoridade imposta

pelo medo, o que faz com que percam o senso de seus limites.

Obtida pelo poder da força,

a autoridade não se sustenta

por muito tempo.

Criaturas atordoadas e desorientadas que mentem, usam

da chantagem e falam de forma desordenada, são incapazes de

exercer autoridade. Aquele que pretende impor sua autoridade

deve inspirar confiança e conquistar o respeito daqueles que

vai liderar. Se não formos capazes de agir assim, perderemos

a autoridade e deveremos nos empenhar em recuperá-la mu­

dando nosso padrão de atitudes. O primeiro passo é reconhecer,

diante de nossos filhos e familiares, que agimos mal tentando

dominá-los pela força. Apontarmos os próprios erros e nossa

disposição em corrigi-los vai, em primeira instância, surpreen­

dê-los favoravelmente. Quem sabe alguém comente: "Até que

enfim caiu na real...".

126

Page 125: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

127

PENSAMENTO MÁGICO

Por muitos anos, no período da infância, fomos incen­

tivados a brincar de "faz-de-conta". Na idade adulta, incons­

cientemente, queremos continuar a brincar com os outros,

fantasiando isto ou aquilo. Causamos dissabores e prejuízos,

mas ignoramos os resultados negativos de nossas ações, prefe­

rindo viver no mundo da imaginação, onde a realidade é fruto

da nossa vontade.

A falta de maturidade cria o falso conceito de que a vida

do homem adulto é um vale de lágrimas, um lugar muito ruim

para se viver. Pensando assim, procuramos poupar nossos filhos

e criamos para eles um mundo de fantasias, isolando-os numa

redoma na qual estejam protegidos de todos os males.

A criança da nova geração se esquiva de situações como

essa e pergunta a si mesma: "Por que não posso assumir res­

ponsabilidades?". Dessa forma, rejeita a proteção exagerada e

desagrada aos pais, que não entendem sua rejeição e sentem-se

preteridos, pois enxergam nos filhos criaturas ingratas que não

merecem seu amor.

A educação formal cultiva a falsa crença de que a criança

só pensa em brincadeiras e jogos e que não se preocupa com

o que ocorre a sua volta e no mundo. Teima-se em mantê-la

presa ao pensamento mágico para depois reclamar que esperam

que nós, os pais, resolvamos todos seus problemas.

As mudanças planetárias estão acontecendo em ritmo

acelerado. O sistema escolar deve se adaptar às necessidades

Page 126: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

de hoje, caso contrário o número de desequilibrados e alienados

aumentará até um patamar insuportável para a sociedade. Se

insistirmos em não educarmos nossos filhos para a realidade,

no futuro deveremos lançar ao espaço uma placa sinalizando

"Bem-vindos ao Hospício Terra", para alertar os irmãos, visi­

tantes de outras galáxias...

Mudar o referencial de ensino é fácil,

basta apenas boa vontade para fazê-lo.

E perfeitamente possível mostrar de forma simples, lógica

e clara os milagres que podemos fazer em nosso favor. Temos a

capacidade de pensar, sentir, decidir, escolher, agir e trans­

formar. Para nós, tudo é possível, na hora e no momento certo.

Infelizmente, insistimos em resolver nossos problemas aper­

tando botões mágicos como nos casos seguintes, tão comuns

em meu consultório:

"Doutor, meu filho não come frutas nem verduras e le­

gumes. Só aceita guloseimas. O senhor não poderia receitar

um remédio para curá-lo?"

"Ajude-me, doutor. Estou desanimada. Levei meu filho

para vários médicos e nenhum deles foi capaz de curar sua

bronquite."

"Estou decepcionado. Levei meu filho ao psicólogo du­

rante um ano e ele não mudou quase nada."

"Não sei o que me acontece. Não como nada e não con­

sigo emagrecer."

128

Page 127: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

CRIAÇÃO DE PARADOXOS

Por que fazemos questão de

ocultar nossas verdadeiras intenções

e complicamos tanto a vida?

Chegamos ao máximo de esconder nossas intenções de

nós mesmos e, para isso, o tempo todo inventamos desculpas

e justificativas as mais absurdas. Quando queremos uma coisa

e dizemos outra, criamos um conflito que vai prejudicar a nós

mesmos e às pessoas. Muitas vezes, esses conflitos criam sistemas

de crenças que serão repassados de geração a geração. Parte

dos postulados que norteiam e sustentam muitos dos nossos

paradigmas educacionais foi assim originado. Somos vítimas e

reféns das crenças que nos afastam do Criador.

O egoísmo doentio, o orgulho exacerbado, a ignorância

voluntária e principalmente a preguiça de pensar são os pilares

dos paradoxos humanos que as crianças da nova geração tanto

rejeitam. Até para as demais crianças, percebem-se esses in­

convenientes.

O máximo do paradoxo

é o conceito de aproveitar a vida.

Talvez esse seja nosso descuido mais perigoso, aquele

cujo resultado mais nos assusta: a morte. O conceito de vida e

morte é um paradoxo se tomarmos uma opinião usual de que

129

Page 128: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

viver bem ou aproveitar a vida é entregar-nos aos vícios e pra­

zeres, praticar excessos de toda ordem, ou seja, correr para os

braços da tão temida morte. Esse desatino que tentamos a todo

custo tornar rotineiros criou a moderna sociedade das pessoas

movidas a "Omeprazol", "Viagra", "Paroxetina" etc.

O conceito do

que é o bem e o mal

está distorcido.

O que hoje parece um grande mal amanhã pode se

mostrar um grande bem. Um ditado popular diz, aliás, que "há

males que vêm para bem". No entanto, o que a maioria das

pessoas não quer perceber é que o bem não precisa do mal para

se identificar como bem.

Escolhas erradas

precisam ser repensadas

e não reforçadas.

Um exemplo concreto e prático: não seria necessária a

doença, um mal, para que as pessoas cultivassem a saúde, um

bem, caso resolvessem pensar, analisar, discernir. A escolha que

se mostra inadequada à natureza permite que o mal, a doença,

sirva de material de estudo para atingirmos o bem, a saúde. 0

que se vê, no entanto, é a persistência da escolhas erradas, que

agravam os males.

130

Page 129: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Excesso de limites

As crianças de hoje vivem num mundo que lhes impõe

muitos limites inadequados e incoerentes. Expliquemos: o es­

paço doméstico ficou limitado, os lares estão repletos de quin­

quilharias e elas mal conseguem se movimentar em sua própria

casa. Vivemos gritando com elas: "Cuidado!", "Não mexa!",

"Tire a mão daí", "Não pode"... O "não", colocado como uma

ordem de comando pronunciada sem maiores explicações,

deixa de ser absorvido pela criança, que não percebe a di­

ferença entre o sim e o não. Nós, adultos, concentrados em

nossos afazeres, nos dispensamos de dar maiores explicações

às crianças, negando a elas o direito de entender o porquê de

nossas ordens. É uma falha que precisamos corrigir.

Como livrar a educação dos paradoxos?

A família necessita ser reestruturada, e sua forma de ge­

renciamento, modernizar-se. É fundamental definir e reciclar a

visão de mundo dos integrantes para trabalhar em equipe com

metas claras e objetivos definidos. Alguém precisa chamar para

si a responsabilidade de gerenciar as mudanças.

Os pais devem definir sua condição. A busca de respostas

para algumas questões é urgente: "Quem somos nós e o que fa­

zemos aqui?"; "Quem sou eu e quais são meus deveres?"; "Quem

é meu filho, e o qual é o meu papel com relação a ele?".

131

Page 130: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Somente a evolução ativa e participativa é capaz de eli­

minar ou aliviar o antagonismo que se forma entre os membros

da família. Queremos controlar os outros sem controlar a pró­

pria vida. Pais e mães disputam o poder usando os mais infantis

e absurdos sistemas de controle e a criança fica perdida entre o

fogo cruzado dos interesses deles.

Os paradoxos devem ser desmontados passo a passo. Para

isso, precisamos desenvolver a transparência, a simplicidade, a

honestidade e a clareza de intenções. As respostas às questões

formuladas pelas crianças devem ser sempre claras, diretas e

verdadeiras. Quando os pais não souberem responder aos filhos,

devem deixar claro seu desconhecimento a respeito do assunto

e convidar a criança para juntos buscarem explicações.

A criança não deve ser poupada de nenhum assunto do

qual seja capaz de participar; claro que segundo a sua capaci­

dade de discernimento. Esse padrão positivo de atitude leva à

eliminação progressiva do pensamento mágico, tão danoso ao

adulto que o cultivou no período da infância com a ajuda da

família. Não devemos dramatizar situações, mas sim expor as

ocorrências sem exagerar os fatos, apresentando-os de forma

sucinta. Essas regras tão simples beneficiam a todas as crianças,

indistintamente.

VÍCIOS

Os pais se encarregam de viciar os filhos desde seu nasci

mento. O primeiro vício é fisiológico: alimentação. O egoísmo

132

Page 131: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

e o orgulho das pessoas as levam a fazer com que seus filhos

sejam maiores e mais fortes que os dos outros. Quem não ouviu

um diálogo parecido com este:

"- Nossa, que grande e esperto é o seu filho! Quantos

meses ele tem?

- Cinco!

- Nossa, parece que ele já tem um ano. O que você dá

para ele comer?"

Para atender à vaidade dos pais, a criança é desrespeitada,

obrigada a alimentar-se em demasia, muito além de suas neces­

sidades, "para ficar forte". Um dos problemas mais comuns nos

dias de hoje, causado pelos pais, é a obesidade infantil.

Alguns pais projetam seus desejos e necessidades nos

filhos e não lhes oferecem os alimentos adequados de que eles

próprios não gostam - e dizem que amam seus filhos tornando

sua vida mais açucarada...

Um bom exemplo dessa conduta é o paladar doce, que

atrai a maioria dos pais. Por que evitam alimentos azedos,

amargos, picantes ou mesmo sem sabor? Que motivos levam o

adulto a preparar a mamadeira ou o suco segundo suas prefe­

rências e não de acordo com as necessidades de seus filhos?

Descontadas as tendências inatas, observadas na pri­

meira infância, os vícios são adquiridos mais por influência do

meio familiar do que pela força dos desatinos cometidos em

outras existências. É desnecessário nos alongarmos quanto à

influência dos adultos. Sabemos que a criança poderá copiar

seus hábitos, seus vícios. Pais que fumam, consomem bebidas

133

Page 132: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

alcoólicas, alimentam-se com exagero estão levando seus filhos

para o mesmo caminho.

Além das influências familiares que induzem ao hábito

da bebida alcoólica e do cigarro, não podemos deixar de men­

cionar o poder da mídia, que veicula mensagens que induzem

a consumir o que é danoso à saúde. Como não é possível evitar

que as crianças sejam expostas a esses comerciais, devemos ex­

plicar, sempre com palavras simples e diretas, o mal que esses

produtos causam à saúde. Essas explicações devem ser acompa­

nhadas de exemplos e comparações.

INVERSÃO DE METAS E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

No plano das relações humanas

Muitas vezes somos induzidos a contentar os outros para

recebermos recompensas. A frustração é certa, pois agradar não

deve ser meta, mas a conseqüência da forma correta de agir.

Quem age com correção certamente vai satisfazer àqueles que

o rodeiam. As crianças da nova geração não se preocupam em

agradar às pessoas: simplesmente agem conforme sua vontade e

visão de mundo.

Na vida profissional

Muitas pessoas sentem-se frustradas no exercício pro­

fissional, pois fazem o que não gostam. Na maioria dos casos,

134

Page 133: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

escolheram a profissão porque lhes parecia a mais rendosa. O

cometimento desse erro é muito generalizado nos dias de hoje

e ainda é, por vezes, agravado pela influência dos pais. Quando

reconhecemos que o ganho financeiro é a conseqüência de um

trabalho profissional bem desenvolvido, realizado com amor

e dedicação, nós nos desvinculamos da escolha interesseira

daquele momento. Essa é a orientação correta que devemos

passar aos filhos: a escolha profissional deve ser movida pelos

talentos e habilidades e não visar apenas ao enriquecimento.

Dieta para emagrecer

A reeducação alimentar deve ser uma tarefa contínua,

cujo objetivo é viver mais e com boa qualidade. Perder o ex­

cesso de peso é apenas conseqüência natural desse trabalho.

Desde cedo, muitos pais influenciam mal os filhos, demons­

trando sua exagerada preocupação com dietas, o que deve ser

evitado. A melhor dieta é aquela que atende às necessidades

do organismo. A criança deve aprender a ouvir o corpo e a

dialogar com ele, pois o corpo fala, mas, às vezes, ele não se faz

ouvir nem mesmo por intermédio de manifestações como a dor,

febre, vômitos, coceiras.

Bloqueio do efeito das más escolhas

O atual sistema de medicina inverte causa e efeito. Gasta­

mos, por exemplo, tempo e dinheiro combatendo febre, espirros,

135

Page 134: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

tosse, coceiras, sistemas de defesa do organismo como se fossem

doenças. Confundimos a cura com o bloqueio temporário de

sintomas e depois ingerimos remédios em cascata, um para blo­

quear o efeito colateral de outro, tudo na tentativa de eliminar

os sintomas (ou avisos de que algo vai mal). Devemos buscar,

com o médico de nossa confiança, as causas dos males que nos

afligem e não apenas medicamentos para amenizar os efeitos da

doença. Nossos filhos devem ser educados de forma a entender

essa necessidade: a cura depende da erradicação do mal.

Busca de solução para problemas materiais na religião

Em geral, as pessoas buscam na religião a solução para

seus problemas materiais. As crianças da nova geração cos­

tumam pensar de forma mais lógica: esses problemas podem

servir de alavanca para a espiritualização. Reflitam sobre as pa­

lavras de Jesus: "Felizes os aflitos"*. Poucas religiões resistem a

sua racionalidade.

PROJEÇÃO DE FRUSTRAÇÕES

O tempo todo

projetamos nos outros o

que nos incomoda.

* Mateus, 5: 4. (N.E.)

136

Page 135: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Sem percebermos, até porque não paramos para pensar,

como se faz necessário, projetamos nos filhos frustrações emo­

cionais de realização profissional e afetivas. Tentamos interferir

na vida e no futuro deles para compensar nossos desequilíbrios.

Pais que se sentem frustrados na profissão tentam de

todas as formas convencer os filhos para que sigam caminhos

diferentes dos deles. Outros, pouco felizes na vida em família,

tentam induzir os filhos a não constituir família.

Frustrações podem ser aprendidas.

As crianças aprendem com os pais a ser amargas, derro­

tistas, desconfiadas, frustradas. Que tipo de atitudes inspira­

mos com nossa conduta? Se nos convencermos de que estamos

projetando nossas frustrações nelas e que, com isso, podemos

prejudicá-las, o passo seguinte é reverter esse quadro. Não

devemos nos culpar ou sentir remorso pelo que já aconteceu:

mudemos nossa conduta. Aqueles que nos cercam perceberão

nossa transformação, que falará mais alto que os atos anteriores,

que, pouco a pouco, serão esquecidos.

A projeção de frustrações

induz ao controle e à chantagem.

Descuidados, podemos projetar nos filhos a realização

daquilo que gostaríamos de ter sido ou feito, sem perguntar-

lhes se é isso realmente o que eles desejam. Com a intenção de

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AMÉRICO CANHOTO

convencê-los, pais mais afoitos e negligentes quanto ao futuro

dos filhos os pressionam para alcançar seus objetivos: "Se você

passar no vestibular, ganha um automóvel zero quilômetro".

Nosso estilo de vida contribui para manter o pensamento

mágico peculiar da criança na vida adulta, que gera desequilí­

brio entre fantasia e realidade, frustrações, mágoas etc. Tentamos

amenizar decepções e fracassos usando os filhos para conseguirem

realizar nossos próprios desejos e suprirem nossas necessidades.

A projeção na prática de esportes

Pais orgulhosos e frustrados costumam fazer sombra aos

filhos em competições esportivas ou escolares: às vezes pagam

aos filhos para ganhar títulos ou medalhas. Quase sempre esse

"toma lá dá cá" torna-se, por parte dos pais, uma forma dissimu­

lada de compensar a própria falta de confiança em si mesmo.

Muitas crianças da nova geração passam a sentir aversão

pela prática esportiva quando são obrigadas a competir sob

pressão dos pais. Para elas, o importante não é vencer, mas sim

participar da competição. Quando vitoriosas, não dão muita im­

portância ao destaque conquistado. Sentem-se constrangidas

diante da fama e não consideram seu feito digno de elogios.

A escolha da profissão

As crianças da nova geração preferem escolher o que

querem fazer. Sempre. Por intuição, quase sabem o papel

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

que vieram desempenhar. Sendo assim, não tente induzi-las a

seguir uma profissão que não desejem. Se forçadas a isso, po­

derão adotar a profissão de "filho" e, de forma consciente, só

farão o que der muito prazer... A nossa missão é ajudar nossos

filhos a escolher o melhor para eles. Para serem bem-sucedidos,

basta observarmos suas aptidões e proporcionar-lhes condições

de desenvolverem seus talentos. O mais virá por acréscimo.

Projeções e vinganças afetivas

Por influência do "efeito espelho", as pessoas costumam

projetar nos filhos as mágoas, decepções, necessidades não

satisfeitas do cônjuge ou de outra pessoa da família apenas

porque são muito parecidos na forma de ser. Não se projete

afetivamente na criança progressista, pois, sem maldade al­

guma, ela vai dizer-lhe tantas verdades que sua auto-estima

poderá ficar abalada.

Projeção da própria personalidade

Exemplo: o ciumento que projeta, além de insegurança e

desejo de posse, sua propensão para trair; e que, caso interesses

novos surjam, usa vários tipos de desculpas e justificativas. A

psicologia explica bem isso, e qualquer um de nós, todos os

dias, tem à frente inúmeras provas do mecanismo da projeção:

basta ter olhos de ver e ouvidos de ouvir - não se trata apenas

âe traições afetivas.

139

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AMÉRICO CANHOTO

Possibilidade do mecanismo de projeção ser útil

Na natureza, tudo tem sua polaridade complementar. Não

há nem bem nem mal definitivo. Como disse o sábio Lavoisier:

"nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".

O mecanismo de projeção pode tornar-se uma ferra­

menta para o autoconhecimento. Observemos as caracterís­

ticas que mais detestamos nas pessoas e estaremos observando

a nós mesmos, como se nossa imagem se refletisse num espelho.

Talvez leve um bom tempo até admitirmos algumas facetas da

nossa personalidade, mas se trata de um processo de grande

utilidade para nossa evolução.

PADRONIZAÇÃO j

Tentar padronizar o ser humano é uma forma de controlar,

manipular, dominar, explorar. Cada criatura é um ser único e

desrespeitar sua natureza traz conseqüências desastrosas não

apenas para aquele a quem prejudicamos, mas também para

a coletividade.

Estas são algumas das tentativas de padronização da

criança:

• Enquadrá-la na média estatística de peso e altura;

• Padronizar sua alimentação;

• Vesti-la de acordo com o que está na moda;

140

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

• Comparar o temperamento e o comportamento entre

irmãos;

• Uniformizar seu aprendizado escolar;

• Ditar sua forma de comportamento.

Quem fugir dos padrões impostos

pela sociedade é marginalizado.

Se, de alguma forma, a criança é diferente da maioria,

ela deixa de ser considerada normal e provavelmente será re­

jeitada pela família e pela sociedade. Em família, quem ousa

infringir os padrões é considerado ovelha negra. Quem se

descuida em observar as normas sociais, tão superficiais e

sujeitas aos modismos, é considerado mal-educado. Aquele

que contradiz os poderosos do momento (ou da hora) é ro­

tulado de agitador.

As crianças da nova geração não toleram ser pressio­

nadas ou induzidas. Perdem o entusiasmo pela vida quando

suas potencialidades são bloqueadas, tornando-se impedidas

de criar, de exercer seu papel e seus direitos e, principalmente,

de cumprir seus deveres - o que para elas é a razão de sua

existência.

EM BUSCA DE PRIVILÉGIOS

Desde cedo, aprendemos a

conquistar regalias e privilégios.

141

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AMÉRICO CANHOTO

Esse aprendizado costuma iniciar-se na vida familiar. A

criança percebe que aqueles que ousam lutar para fazer valer

seus direitos não são bem vistos, até porque são mais difíceis de

serem controlados. Logo, incorpora a seu sistema de crenças

que é muito melhor, para sua tranqüilidade, pleitear mordo­

mias e privilégios que dar murro em ponta de faca e exigir que

seus direitos sejam respeitados.

Nossa sociedade ainda sofre com uma grande quanti­

dade de "folgados", pois geração após geração criamos uma

sociedade cujos valores éticos e morais se baseiam na busca

de privilégios de uns em detrimento de outros. Bem-vindas

sejam as crianças progressistas, por natureza as defensoras da

justiça, que, dia a dia, contribuem para derrubar os privilégios

da legião de folgados, parasitas que assolam o planeta. Ouvi

dia desses um comentário interessante num debate no qual um

dos participantes afirmou que o brasileiro de forma geral não é

muito fã de direitos, pois eles precisam ser exercidos, quando,

na verdade, gostamos mais de privilégios, daí a corrida intensa

aos concursos para o serviço público...

De quem é a

maior responsabilidade?

O estado de coisas que estamos enfrentando foi gerado

pela ausência de regras e regimentos claros a serem cumpridos.

Na vida em família, todos querem ter direitos, mas ninguém

deseja assumir responsabilidades. É lógico que a criança educada

142

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

por pessoas que agem dessa forma seja pobre em cidadania. A

nação é o reflexo da vida familiar de seus cidadãos.

Se assistir a noticiários faz parte de sua rotina, convide seu

filho, se ele tiver idade para isso, para servir de comentarista.

Ficará surpreso com suas observações. Observe a seriedade

de suas colocações. As crianças progressistas são analistas por

natureza, observam e se preocupam com o que está aconte­

cendo com as pessoas: são solidárias por excelência. É nosso

dever reforçar seu comportamento, incentivá-las a agir com

cidadania.

Em vez de nos determos na crítica fácil às autoridades,

por que não ingressarmos num partido político e nos enga­

jarmos em causas que beneficiem a comunidade? As crianças

da nova geração admiram pais que escrevem para revistas e

jornais, dão sugestões, manifestam apoio a iniciativas que me­

recem louvor, participam de uma ONG, são colaboradores vo­

luntários de hospitais, escolas... Esse é o pai que vai cativar esse

filho: um cidadão participativo.

CULTIVO DO MEIO-TERMO

Na natureza não

existe meio-termo, as coisas

ou são ou não são.

Fazemos questão de criar confusão entre equilíbrio e

meio-termo. Mesmo porque o equilíbrio é dinâmico e não

143

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AMÉRICO CANHOTO

estático. Imagine um sujeito balançando na corda bamba.

Sua estabilidade (seu equilíbrio) depende de seus movimentos.

Nesta dimensão de polaridades, todas as experiências

possíveis têm de ser vividas e dominadas - esquerda e direita,

bem e mal, superior e inferior, alto e baixo, claro e escuro - uma

a uma, passo a passo, momento a momento.

Como exemplo: a polaridade entre alegria e tristeza. 0

ponto de equilíbrio é a serenidade. Uma pessoa serena não é

alguém metade alegre e metade triste. Apenas domina muito

bem a situação em que predomina a emoção tristeza e, da mesma

forma, a alegria. Não se apresenta depressivo nem eufórico.

A evolução exige determinação.

Optar pela moderação no combate aos vícios e às defi­

ciências do caráter é condenar-se a um sofrimento prolongado.

Precisamos ser fortes e decididos. Nossas decisões perante o que

devemos mudar devem ser balizadas pela clareza de propósitos

e firmeza para colocá-las em prática. As crianças progressistas

agem assim, são firmes e decididas quando firmam seus propó­

sitos e a sociedade lhes permite colocá-los em prática.

Se temos dúvidas em relação à necessidade de mudar

nosso comportamento, é preciso antes de tudo buscar esclare­

cimento. A percepção do que é bom ou não para nós deve ser

clara, lógica, inteligente, bem definida.

A moderação é necessária no trato com as pessoas tanto

como regra de boa educação ou civilidade quanto como um

144

Page 143: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

motivo extremamente lógico. A interferência na vida alheia é

como uma assinatura numa promissória em branco: impor algo

a alguém ou decidir pelo outro é um descuido fenomenal.

As crianças da nova geração têm uma visão tão clara

disso que, por vezes, podem ser chamadas de pessoas de poucos

sentimentos. Quando convidadas a opinar sobre a vida alheia,

falam das próprias experiências, expõem suas idéias, mas evitam

ser diretos e dar o "prato feito" que a maioria das pessoas deseja:

uma solução servida na bandeja.

"Deixem as crianças vir a mim."*

A criança não tem meio-termo: ou quer ou não quer, ou

é ou não é. Ela tem a saudável tendência de ir fundo nas coisas,

embora o adulto tente, a todo custo, mudar sua atitude, ensi-

nando-a a pedir desculpas para tudo, a arranjar justificativas tão

tolas quanto inúteis. "Oito ou oitenta", esse comportamento é

saudável para a criança, pois acelera o aprendizado e a ajuda a

progredir. Deve ser incentivado pelos pais para que aprenda o

verdadeiro sentido do caminho do meio, não o da mediocri­

dade, do mediano. As crianças da nova geração são muito mais

definidas: boas ou más. Vamos exemplificar: se impomos nosso

credo religioso a essas crianças progressistas, elas nos farão as

mais diversas perguntas para inteirar-se da nossa crença. Pais

impacientes se incomodam com crianças assim, porque não

* Marcos, 8: 14. (N.E.)

145

Page 144: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

sabem como responder a suas perguntas. As da nova geração

estão sempre receptivas para aprender e nossa função é selecio­

nar o material pedagógico e ensinar-lhes.

ACEITAÇÃO DAS INJUSTIÇAS

A injustiça é transitória.

Os fatos que num determinado momento nos parecem

injustos são na verdade a conseqüência de nossas atitudes do

pretérito. Trata-se de simples retorno, explicado pela Lei de

Ação e Reação. No mundo de expiação e provas, a vida em

família é pontuada por dificuldades e aparentes injustiças.

Os adultos geralmente exercem sua liderança por impo­

sição da sua vontade. Entre os pais, isso ocorre quando um diz

que não pode e o outro permite. Quando um penaliza e o outro

libera. Na maior parte das famílias, há uma disputa pelo afeto e

poder camuflada ou explícita entre pais/mães e outros membros

do grupo. A criança está submetida a inúmeras situações de in­

justiça que os adultos não percebem, pois estão contaminados

pelo vírus das desculpas e das justificativas; claro que a persistên­

cia dela vai afetar-lhe a personalidade e muitas vezes a colheita

dos pais nesta mesma existência é o asilo, o quartinho do fundo...

Evidente que todas as situações são reversíveis e temporárias,

desde que façamos as correções necessárias em tempo hábil.

A gente vai levando...

146

Page 145: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Progredimos sempre, pois essa é a lei, mas o fazemos

geralmente de forma passiva. Na relação entre pais e filhos,

quando vivemos de forma descuidada, somos comandados pelo

subconsciente. Como a vida em família é um conjunto de espe­

lhos, um filho que lembra um possível adversário é tratado de

forma diferente dos outros (quem na qualidade de pai e mãe já

está atento a isso?).

Vamos ver como isso ocorre na prática: um pai é soli­

citado para decidir algo que diz respeito ao filho que se parece

muito com sua sogra, com a qual não mantém boas relações.

Com certeza, será rigoroso em seu julgamento. Caso fosse outro

filho, mais parecido com ele mesmo, sua atitude poderia ser

oposta. Essa ocorrência é mais comum do que imaginamos...

Ainda não somos bons

para julgarmos a nós mesmos.

Costumamos esquecer que o sujeito que está sendo

julgado também se julga. Quase sempre absolve a si mesmo.

Quando condenado por outrem, considera a sentença par­

cial ou muito rigorosa. Esse ainda é o nosso caso, na etapa

evolutiva na qual nos encontramos. Somos generosos quando

lavramos a sentença em favor do réu, se estivermos, ao mesmo

tempo, sentados no banco dos réus, porém, excelentes advo­

gados de defesa em causa própria. Esse é o nosso comporta­

mento rotineiro não apenas no lar, mas onde quer que nos

encontremos.

147

Page 146: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Uma criança que sofre essa influência naturalmente le­

vará para a vida adulta esse padrão de comportamento. Sempre

vai puxar a sardinha para a sua brasa, custe o que custar. Cabe

aos pais rever o modo de julgar a si mesmos. Estamos sendo por

demais generosos a nosso favor e rigorosos para com o próximo?

Nossos filhos nos observam e copiam nosso modo de agir.

DEMASIADA EXPOSIÇÃO À AÇÃO DA MÍDIA

O livre-arbítrio é uma ferramenta

perigosa para quem não pensa

ou pensa pouco e mal.

Toda escolha tem um preço e gera um conjunto de bene­

fícios e prejuízos. Usamos os recursos que escolhemos. Quanto

mais poderoso é o recurso à nossa disposição, maior será o risco

de um eventual dano. Esse é o caso da utilização da energia nu­

clear. Trata-se de um recurso poderoso, mas capaz de produzir

prejuízos de grande monta se mal utilizado.

A grande expansão dos meios de comunicação de massa

criou a possibilidade de influenciar e manipular o ser humano

de uma forma como nunca vista. Se grande parte do que somos

aprendemos na infância, a exposição continuada aos meios de

comunicação de massa - comprometidos com a audiência con­

quistada a qualquer preço, que usa e abusa da violência, que

explora o sexo, a ignorância e o sensacionalismo - contribui

148

Page 147: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

para a formação de pessoas desajustadas, alienadas, pobres em

valores éticos, despudoradas e violentas.

Controlar a exposição da criança diante da ação da mídia

A verdade é que nós, adultos, somos pouco honestos em

nossas intenções. O chavão "faça o que digo, mas não o que

faço" é coerente com as atitudes dos pais ao querer selecionar o

conteúdo dos desenhos e programas infantis, mas antes mesmo

que as crianças durmam assistir a filmes e programas recheados

de violência e temperados com erotismo, sexo explícito etc. En­

quanto a situação não ficar crítica, não tomaremos nenhuma

atitude para modificar as coisas. Muitos, porém, mesmo sendo

capazes de discernir e avaliar os riscos a que as crianças estão

expostas, sobretudo à influência da televisão, nada fazem para

mudar. Primeiro porque adoram o que desejam evitar que seja

repassado a seus filhos e segundo porque a televisão é como

uma babá eletrônica, capaz de hipnotizá-los de tal forma que as

crianças dão um pouco de sossego aos pais...

Nem toda criança exposta à ação da mídia

se tornará problemática.

Estudos confiáveis mostram que boa parte das pessoas per­

manece em torno de quatro horas diárias em frente ao aparelho

de televisão. Ao ficar tão exposta, a criança pode aprender a ser

149

Page 148: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

falsa, violenta, oportunista, mentirosa, traidora; também pode

aprender a comer sem ter fome, comprar o que não precisa, en­

dividar-se e dar calote, fumar e beber, usar drogas, seqüestrar,

roubar, ficar doente e até matar.

É claro que atribuir a culpa de todo o mal que assola o

mundo à influência dos programas de televisão é uma atitude

equivocada. No entanto, é urgente avaliar: quem está mais

presente na vida de nossos filhos? Nós ou a TV? Buscamos de­

sesperadamente recursos para comprar as de maior tamanho,

de tela plana ou com outras novidades de mercado, mas quanto

tempo e recursos uso para tornar-me um pai ou mãe de melhor

qualidade? Claro que cada criança vai incorporar o que estiver

disponível.

ENTRETENIMENTOS PERIGOSOS

Até pouco tempo atrás, nossas vidas eram compostas

mais de atividades corporais do que mentais e emocionais.

Hoje, algumas pessoas têm 95 por cento destas atividades e

cinco por cento daquelas. Lógico que um desastre inevitável se

avizinha no horizonte de nossas vidas. Quando a mente falha

nas escolhas, o corpo padece. O que se chama hoje de lazer ou

entretenimento causa sérios problemas à saúde e, a médio prazo,

é capaz de comprometer nossa própria existência.

O corpo não tem vida própria

nem é capaz de discernir.

150

Page 149: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

O tão falado estresse crônico é um leão que foi colocado

na nossa frente e que não ataca nem vai embora. Entretanto,

sua simples presença desencadeia em nosso organismo um ritual

de ataque e defesa por meio dos hormônios e outras substân­

cias. Ora, quando assistimos a um programa de TV - um filme

de ação, suspense, terror ou drama, uma partida de futebol, um

noticiário -, o corpo físico não é capaz de detectar que estamos

presenciando uma realidade virtual; é mais um leão psicológico

que trazemos para engrossar o bando que já nos ameaça. Claro

que, diante disso, nosso corpo físico reage como se tudo aquilo

fosse verdade, produz hormônios e substâncias relacionadas

com as emoções que estamos sentindo, despertadas pelo que

acontece na tela.

Assim, é desencadeado um processo de ataque e defesa

que faz parte do nosso instinto de sobrevivência, o qual, nessas

ocasiões, ordena aos órgãos que despejem na circulação sanguínea

adrenalina, cortisol, vasopressina etc. Jesus bem que tentou nos

avisar: somente a verdade (realidade) vos libertará...

Alerta:

nossas crianças estão em perigo.

Com conteúdo baseado no erotismo e na violência, os

games atingem uma faixa etária cada vez mais próxima da in­

fância. O estrago causado por esses jogos em breve será monu­

mental. Por causa deles, as crianças estão correndo o risco de

sofrer depressão, angústia, desejo de suicídio, pânico e doenças.

Page 150: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Óbvio que não só em razão disso, também, em especial, pelo

sistema educacional como um todo.

Nossas mentes estão intoxicadas

por tanta informação.

Para as crianças da nova geração, é fácil evitar o excesso

de informações que tanto mal causa à maioria das pessoas. Basta

observar o comportamento delas em casa, na sala de aula ou

em outros lugares. Quando se sentem incomodadas, alheiam-se

e ocupam seu pensamento com suas prioridades. Desligam-se,

simplesmente.

O problema delas é sua dificuldade para estabelecer os

próprios limites. Sempre avançam, por vezes além da conta. Se,

por exemplo, aprenderam a gostar do videogame, são capazes

de jogar horas sem parar. Esse tipo de comportamento - mer­

gulhar fundo - é uma das características que mais observamos

nelas. Em geral, comportam-se quase sempre assim. Enquanto

a maioria das pessoas vive na superfície de suas experiências,

as crianças da nova geração exploram suas profundezas, o que

nem sempre pode trazer bons resultados.

152

Page 151: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

Somos criaturas em aperfeiçoamento,

a caminho da perfeição. A educação é um processo contínuo de aprendizado.

Parte das nossas limitações de hoje representam

o resultado das nossas escolhas do passado.

Page 152: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

FAMILIA: OFICINA ONDE APRENDEMOS

A ARTE DE AMAR

Page 153: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

REESTRUTURAÇÃO DA FAMÍLIA

Hora de resgatar compromissos.

Embora os relacionamentos sejam movidos por in­

teresses antagônicos, são valiosas oportunidades de evolução:

seu aproveitamento depende apenas da boa vontade dos en­

volvidos. Mas somente a educação planejada segundo padrões

mais espiritualizados será capaz de criar uma filosofia de geren­

ciamento adequada à vida em família e desenvolver a solida­

riedade que se assemelha ao comportamento que é comum às

crianças da nova geração.

É hora de iniciar esse processo se desejamos fazer parte

do mundo de regeneração, o que nos é imprescindível. Educar

essas crianças progressistas que recebemos na condição de filhos

é a oportunidade que se nos apresenta para, junto deles, ganhar­

mos um inestimável impulso evolutivo. Podemos nos perguntar:

"Como educar criaturas tão diferentes de nós, que não levam em

conta nossas opiniões, questionam nossas idéias e abalam nossas

convicções com tão poucas palavras?". É um desafio e tanto.

Reestruturar a família é um projeto o qual, como qual­

quer outro, exige um coordenador capacitado. Como já vimos,

o método (adotado por muitos chefes de família) "faça o que eu

Reengenharia das relações familiares

155

Page 154: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

digo, mas não faça o que eu faço" já demonstrou que não fun­

ciona. Não se trata de simplesmente dizer "de agora em diante,

aqui em casa, a coisa vai funcionar desta maneira". Esse tipo

de afirmação mata, no nascedouro, a iniciativa que desejar­

mos implantar, simplesmente porque se trata de uma medida

imposta.

Outro exemplo a ser evitado: "Agora as coisas vão mu­

dar de verdade". Se houver uma criança da nova geração na

família, ela será a primeira a questionar as mudanças e revelar

a pouca capacidade de quem as sugeriu.

Sejamos os primeiros a nos engajar no processo de mu­

dança e a tomar o remédio que iremos receitar. Não haverá

necessidade de que estejamos curados para dar início às trans­

formações. O importante é deixar claro aos familiares que esta­

mos procurando mudar, mas ainda sujeitos a erros. Na condição

de coordenadores da melhoria devemos manifestar confiança

em nossa proposta.

Reengenharia da família: mandamentos do gerente

• Respeitar a individualidade. Cada um tem sua própria

personalidade: só vai mudar por sua própria vontade

ou por esforço pessoal.

• Agir com indulgência. É fundamental não provocar

desentendimentos. Vale lembrar que estamos tentando

melhorar a vida em família e não piorá-la.

156

Page 155: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

• Aprender a ouvir antes de falar.

• Não impor metas ou mudanças.

• Conscientizar-se da importância de sua missão.

• Deixar claro que as mudanças estão sendo feitas porque

a família merece uma vida melhor e mais saudável.

• Reconhecer as próprias falhas e fazer o que está a seu

alcance para corrigi-las.

• Anotar os comentários dos familiares, em especial

quando manifestarem descontentamento. Nessas oca­

siões, quando perdemos o controle do consciente, reve­

lamos quem realmente somos.

• Evitar criticar o errado ou o malfeito. Elogiar o certo.

• Não esperar retribuição ou elogios pelos seus esforços

(para evitar frustração).

Fase I - Estudo do que deve ser mudado

Quando nossas expectativas não se cumprem, é hora de

mudar. Na primeira fase do processo, é preciso identificar o que

precisa ser mudado. Depois, formar uma equipe e treiná-la para

buscar as mudanças. Delegar tarefas. Reavaliar o que se atingiu

das metas. Recomeçar.

Além disso, deve ser feita a reavaliação do conjunto

de metas e objetivos que movimentam a família, assim como

a avaliação dos recursos disponíveis e dos que podem ser

buscados.

157

Page 156: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Exemplo para ilustrar: determinada família está priori­

zando a busca de recursos financeiros para construir uma casa.

Para isso, determinados gastos com lazer são cortados; além

disso, os pais tornam-se mais ausentes na relação com os filhos,

até que o rendimento escolar de um deles diminui tanto a ponto

de chamar a atenção, ou um outro passe a consumir cigarros,

bebidas ou maconha. É um sinal de alarme que indica a neces­

sidade de reavaliar prioridades e até as metas.

Fase II - Formar a equipe

E fundamental engajar a família nos objetivos comuns, e

isso não se consegue só com teorias. O projeto deve ser o mais

simples possível e claro para que as resistências às mudanças

sejam mínimas. É preciso criar objetivos comuns que interessem

a todos ou à maioria dos familiares.

Fase III - Delegar tarefas

Faz-se necessário distribuir tarefas e delegar responsa­

bilidades.

Fase IV - Reavaliar

Reavaliações periódicas são imprescindíveis. Deixar o

barco correr, ou seja, ignorar o que está acontecendo, é um

descuido que, no futuro, trará problemas.

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Page 157: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

MODERNIZAÇÃO DA FORMA DE GERENCIAR A VIDA FAMILIAR

Não basta mudar a estrutura das regras e das metas da

vida em família, é preciso aplicar uma metodologia para a con­

tinuidade das mudanças.

Família: oficina onde

aprendemos a arte de amar.

Como instituição, a família vem sendo gerida como um

ajuntamento de pessoas, em que manda e desmanda quem

detém o poder econômico, quem é mais forte, autoritário ou

sabe manipular com mais competência.

Vejamos se não é esse nosso caso. A condição de provedor

da casa não nos dá o direito de agir, em relação aos nossos fa­

miliares, como se fossem nossos servos. O lar não é apenas um

aglomerado de pessoas que vivem sob o mesmo teto: somos

espíritos compromissados, reunidos pela divina providência

que nos enseja no aprendizado do amor.

Metas

Devemos idealizar metas e objetivos comuns, e o grupo

familiar deve participar dessa busca. Na teoria, parece óbvio.

Na prática, freqüentemente, não é o que ocorre. Mudar a di­

nâmica das relações é uma das metas mais importantes para a

reestruturação da vida familiar.

159

Page 158: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Na maior parte das vezes, a competição entre os fami­

liares é intensa, lembra uma guerra não declarada. O compor­

tamento dos irmãos é comparado pelos pais, que os estimulam

a sobrepujar-se um ao outro. Muitas famílias podem ser compa­

radas a times de futebol famosos que montam esquadrões e não

ganham nada, porque cada um dos craques vive apenas para

seu lucro pessoal; um não serve o outro porque todos querem

estar no topo da mídia.

No período da infância e da adolescência, as crianças

destacam de forma nua e crua sem muitos enfeites e disfarces

as características das outras com a intenção de diminuí-las

ou até de agredi-las: ridicularizam o cabelo, a altura, o peso,

a estética (formato do nariz, das orelhas), a falta de aptidão

dos colegas para algumas tarefas, gerando animosidade e

enfrentamentos. Esse tipo de comportamento foi absorvido

por intermédio dos adultos que fazem isso o tempo todo de

forma dissimulada.

Por causa da forma descuidada com que vivemos, a vio­

lência verbal entre irmãos acaba sendo estimulada, sem querer,

de modo inconseqüente. Descuidados, às vezes até nos diver­

timos com a grosseria desse bombardeio verbal. Uma das metas

da reciclagem como educadores é eliminar esse tipo de com­

portamento. Em primeiro lugar, evitar fazer comparações, as

quais, inevitavelmente, desmerecem alguém. Se presenciarmos

diálogos que tenham por objetivo menosprezar alguém, procu­

remos destacar um aspecto positivo dessa pessoa. Façamos o

contraponto e observemos a atitude do grupo.

160

Page 159: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Normas

O grupo familiar deve possuir um conjunto de normas

de convivência e de comportamento que sejam objetivas,

claras e lógicas para serem seguidas por todos sem exceção.

No momento de compor a família, as regras da casa devem ser

discutidas em todos os detalhes. É claro que alguém sempre

tem de ceder em seus pontos de vista quando as idéias e a vi­

são de grupo são muito diferentes ou antagônicas. Se, porém,

apenas um cede, a união está irremediavelmente condenada

ao fracasso.

Deixar para criar normas ou resolver pendências e pro­

blemas apenas quando estes surgem é uma das causas da fa­

lência da família. Preocupar-se em mudar a forma de educar

os filhos apenas quando nos causam problemas e dificuldades

é plantar preocupações: "Primeiro, vamos esperar o problema.

Depois vamos pensar na solução".

Pais que agem dessa forma estão sempre às voltas com

dificuldades. Não perceberam que o objetivo da educação é

nos ajudar a evitar situações de dificuldade. Uma boa educa­

ção alimentar, por exemplo, evita transtornos digestivos. A

educação física que corrige a postura, exercita os músculos e

ajuda a queimar calorias consumidas em excesso coloca-nos

a salvo de vários inconvenientes. A educação espiritual apro­

xima-nos de Deus, desperta nossa sensibilidade para a frater­

nidade e liberta-nos do egoísmo, do excesso de preocupações

com a vida material.

161

Page 160: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

O papel de cada um

Nossos familiares devem saber o papel que lhes cabe na

reestruturação da família para que os objetivos sejam atingidos.

Para tanto, os deveres e as obrigações de cada um devem ser

bem definidos. As crianças da nova geração têm uma noção

muito clara de quais são seus deveres e, quando os adultos per­

mitem, assumem suas responsabilidades com naturalidade.

Devemos evitar repetir os erros de mães que poupam seus

filhos das tarefas domésticas, mas, na idade adulta, jogam neles

a culpa de seus problemas de saúde, supostamente causados

pela sobrecarga de trabalho no lar. Essa atitude provoca sérios

transtornos nos relacionamentos familiares, causando traumas

que, por vezes, as pessoas carregam durante toda a existência.

A definição de tarefas nos dá a oportunidade de par­

ticipar. Membros participativos podem suprir a ausência de

outros. Se a esposa, encarregada da alimentação da família,

adoece, um dos familiares, preparado para executar essa tarefa,

assume a responsabilidade sem a necessidade de ser pressio­

nado para executá-la, e assim por diante.

As reavaliações são importantes

Certamente, iremos encontrar algumas dificuldades.

Para discutir como enfrentá-las e tomar decisões, nada melhor

do que realizar reuniões familiares, que devem ser promovidas

não apenas para resolver problemas, mas para evitá-los.

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Page 161: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Algumas famílias desenvolveram o saudável hábito de

estudar o Evangelho no lar e aproveitam esse momento tão

especial para, por intermédio da leitura e dos comentários a

respeito dela, promover uma reciclagem dos hábitos familiares.

Vale ressaltar que essas reuniões em torno do Evangelho não

têm por objetivo acusar, muito menos menosprezar alguém au­

sente. Trata-se de uma saudável oportunidade para, a partir

dos ensinamentos de Jesus, adequar-nos a uma nova forma de

entender aqueles que nos rodeiam, respeitá-los e perdoá-los

de suas faltas. As páginas espelham lições de amor, fraternidade

e caridade, o que mais necessitamos para viver melhor.

No corre-corre da vida moderna, um mural ajuda. Um

painel colocado na cozinha, por exemplo, é muito prático. Pro­

curemos ajudar nossos familiares em suas tarefas escrevendo

lembretes breves e amistosos. Da nossa parte, sejamos re­

ceptivos a esse correio fraterno: "Obrigado pelo lembrete!",

"Se não fosse você, eu teria esquecido", podemos anotar em

retribuição; e na era eletrônica um arquivo reservado no com­

putador, de uso comum e no qual todos possam expressar sua

opinião, é de grande valia. No entanto, o diálogo, o contato

físico, a carícia e as relações humanas são insubstituíveis.

Estudo dos conflitos

De nossa atual condição evolutiva, decorrem os conflitos

que enfrentamos na vida familiar. O hábito do diálogo, ainda tão

pouco cultivado, é ferramenta útil tanto para prevenir quanto

163

Page 162: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

para resolver problemas observados. Por mais polêmica que seja

uma questão, deve ser esmiuçada e debatida em família. Todos

devem participar. Nessas ocasiões, quando incentivadas a ma­

nifestar-se, as crianças da nova geração costumam surpreender

ao apresentar soluções geniais para problemas aparentemente

considerados insolúveis.

RECICLAGEM DO EDUCADOR

O tempo todo, e em qualquer lugar onde nos encon­

trarmos, somos educadores. Para que os resultados dos nossos

esforços em prol de uma vida familiar melhor sejam mais pro­

dutivos, é preciso nos capacitarmos para as tarefas que nos

aguardam. É necessário rever e atualizar nossos conhecimentos.

Se até os professores precisam de reciclagem contínua, por que

nós, pais, conscientes de nossa condição de educadores, nos

omitimos quanto a essa tão necessária providência?

Há muitas formas de atualizar nossos conhecimentos:

uma delas, a mais prática, é por intermédio de bons livros. Outro

recurso são os meios eletrônicos: com facilidade, podemos de­

senvolver nossas próprias pesquisas e trocar impressões com as

pessoas interessadas, como nós, no bem-estar da família. Cursos,

seminários e palestras também são de grande valia. Exigem um

dispêndio financeiro, mas, sem dúvida, é um dinheiro muito

bem aplicado...

Os educadores são, acima de tudo, semeadores.

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Page 163: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

É lógico que não basta oferecer condições adequadas de

educação. É preciso que o educando seja receptivo. Cabe aos

envolvidos na educação motivar a criança para que não des­

perdice essa valiosa oportunidade de crescimento.

Alguns passos que os pais devem dar:

• Avaliar a importância do filho em sua vida. Esta é uma

prioridade? Ou vem após seu trabalho profissional e

sua vida amorosa, familiar e social?

• Admitir a necessidade de melhorar a si mesmo, o que

exige o desenvolvimento de uma virtude: a humildade.

• Evitar julgar os outros. Aprender a calar-se.

• Assumir os próprios erros. Evitar culpar os outros ou

envolvê-los em seus fracassos.

• Riscar do seu dicionário as expressões "sorte", "falta de

sorte" ou "destino" - conceitos criados pelo homem para

justificar sua incompetência em fazer suas escolhas.

• Estudar. Debater. Assistir a palestras. Se necessário,

buscar ajuda profissional.

ESCOLA DE PAIS

São raras as pessoas preparadas

para serem pais.

Em geral, ingressamos na fase adulta despreparados para

assumir responsabilidades ou mesmo discerni-las. A razão dessa

165

Page 164: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

ocorrência generalizada é que não fomos preparados para

tanto. Algumas escolas particulares e da rede pública voltaram

suas preocupações nesse sentido: realizam reuniões periódicas

com a intenção de engajar os pais no processo educativo. Não

se trata de encontros nos quais apenas se discutem o desenvolvi­

mento dos alunos e seu comportamento escolar, mas também de

motivação a pais e mestres para, juntos, atingirem um objetivo:

educar com qualidade.

É de se lamentar que aqueles pais que mais necessitam

comparecer a essas reuniões, cujos filhos estão vivendo sérias

dificuldades, não participem desses encontros tão importantes

para o bem comum. Em geral, são pais que não se esforçam para

superar os problemas que estão enfrentando. Acomodam-se

e relegam a educação dos filhos a suas menores preocupações.

Acreditam que pagar as contas, suprir as necessidades básicas

da família e, vez por outra, cobrar providências seja o suficiente.

Vão despertar dessa acomodação quando o filho for reprovado

ou expulso da escola, cometer algum delito ou tornar-se depen­

dente de drogas. Nunca é tarde para exercer nossa condição de

pais, mas lembremo-nos do dito popular: "E melhor prevenir

do que remediar".

Faz-se necessário ter humildade para aceitar que estamos

despreparados para exercer nossa condição de pais-educadores.

Entender nossa limitação e buscar nos adaptar ao que se es­

pera de nós é dever de cada um. Pais e professores devem se

empenhar no seu contínuo aperfeiçoamento. Escola, família e

sociedade devem trabalhar em conjunto.

166

Page 165: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

EDUCAÇÃO COMPARTILHADA

Compartilhar é dividir sem cobrar ou exigir.

Compartilhar é dividir o que possuímos. Se não rece­

bemos educação conveniente, como compartilhar algo que não

possuímos? Pais descuidados com a vida repassam essa atitude

para os filhos. Reconhecer nossas limitações é despertar para

a educação continuada. Por outro lado, ter ciência de nosso

despreparo e permanecer de braços cruzados será desperdiçar

nossos talentos e nos condenar a viver com a culpa e o remorso.

Aprender é tentar.

O erro é apenas um acidente de percurso.

Alguns pais procuram fugir de suas responsabilidades ao

transferir a educação dos filhos a outras pessoas. No futuro, a

vida lhes ensinará quanto essa decisão foi responsável pelas

amarguras e desilusões que podem vir a colher. Existem aqueles

que se confessam incompetentes para educar e agem dessa forma

apregoando sua condição de inabilitados, como se essa atitude

pudesse retirar-lhes sua responsabilidade nos possíveis desdobra­

mentos dolorosos.

A realidade é bem outra: pais nessa condição, mas que

aprendem a educar com os próprios erros e persistem em ajudar

seus filhos a evoluir, obtêm resultados muito superiores àqueles

que delegam sua responsabilidade a parentes ou profissionais.

167

Page 166: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Compartilhar não é ditar ordens

ou fazer discursos.

Compartilhar é um exercício de sabedoria, no qual é pre­

ciso engajar a criança e motivá-la a aprender conosco. Ela deve

ser estimulada a raciocinar, decidir e, depois, arcar com as con­

seqüências de suas escolhas. Devemos permitir que ela experi­

mente as conseqüências de seu aprendizado, poupando-a de

comentários negativos: "Eu sabia que isso ia acontecer"; "Eu

bem que avisei..."

Nossa atitude educativa é ajudá-la. Dessa forma, con­

quistaremos sua confiança: a criança enxergará em nós um

amigo, um parceiro, não um promotor público a acusá-la a

toda hora... É claro que devemos alertá-la para as escolhas

que está fazendo:

"Meu filho, venha cá: já passei por isso. Fiz a mesma coisa

que você está fazendo. Quer saber o que aconteceu comigo?"

Nossa experiência de vida, se transmitida por intermédio

de exemplos, será levada em consideração. As crianças em

geral adoram ser educadas com um mínimo de inteligência,

amor e respeito. Impor nossa pretensa sabedoria é uma simples

perda de tempo.

A ARTE DE EDUCAR

Reciclar nossas crenças deve ser um exercício diário e

sistemático para que automatizemos essa disposição em nosso

168

Page 167: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

inconsciente. Somente dessa forma seremos capazes de res­

ponder a uma pergunta que um dia poderemos fazer a nós

mesmos: "Onde foi que eu errei?". Identificado o engano, de­

vemos tratar de corrigi-lo.

Em benefício da família, podemos perguntar a nossos

filhos - antes que os problemas surjam - se estamos sabendo

lidar com eles.

Educar com alegria e prazer

Parte dos conceitos que adotamos no dia-a-dia foi incorpo­

rado da cultura e do meio onde vivemos: todos os dias ouvimos

dizer que ter filhos e educá-los é uma tarefa difícil, que é loucura

ter mais do que um. Se dermos crédito a essas crenças, seremos

prejudicados em nosso propósito de nos tornar eficientes edu­

cadores daqueles a quem a divina providência nos entregou.

Ao contrário, ter filhos é extremamente gratificante.

Nós nos sentimos realizados e recompensados em saber que

lhes proporcionamos a oportunidade de reencarnar por nosso

intermédio. As dificuldades que enfrentamos para criá-los e

educá-los são as mesmas que temos em todos os empreendi­

mentos nos quais nos engajamos. A dedicação, a perseverança,

o trabalho e a determinação nos auxiliarão a superar todas

as barreiras.

Toda criança tem um sonho secreto:

ter pais palhaços...

169

Page 168: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

As crianças merecem nossa atenção, o tempo todo, sempre

que possível. Quanto maior for o tempo do qual dispusermos

para ficar a seu lado, melhor para elas e para nós. Se o fizermos

com disposição e alegria, conseguiremos cativá-las: elas se sen­

tirão à vontade em nossa companhia. Música, teatro e bons

livros ajudam a aproximar as crianças dos pais. Mesmo aquelas

mais resistentes e resmungonas não resistem às brincadeiras

saudáveis que podemos criar.

Improvisar uma comédia, um teatrinho no qual os per­

sonagens sejam os próprios familiares vai provocar reações hi­

lariantes. Experimente também, depois de assistir a um filme

ou peça de teatro, perguntar a seu filho qual dos personagens

parece mais com você. As novas crianças adoram esse tipo de

brincadeira. Suas reações são imediatas: elas têm o poder de

envolver outras crianças e os resultados serão os mais anima­

dores possíveis.

Impor é desrespeitar

Exercitar o uso da liberdade é nosso grande desafio.

Quem pensa com clareza e persevera em suas considerações

não aceita imposições sem sentido claro, lógico. A educação à

moda antiga, que cultivava em excesso a prerrogativa do poder

- "é assim porque eu quero" ou "porque sim" -, esgotou-se...

Pessoas com inteligência acima da média resistem a imposições

discutíveis (como as leis humanas que não se integram com­

pletamente às leis da evolução). A primeira e natural reação

170

Page 169: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

dessas pessoas é boicotar a imposição de forma velada, mais

comum, daquela às claras. Preferimos receber sugestões que

sejam adequadas a cumprir ordens sem sentido. Nossos filhos

acatarão muito melhor nossas ordens se as transmitirmos como

instruções simples e raciocinadas. Isso não significa perda da

autoridade, mas brandura no seu exercício. Recorrer a comen­

tários mordazes, do tipo "Quem pode manda, quem não pode

obedece", simplesmente afasta de nós aqueles que poderiam

ser nossos aliados na reestruturação do lar. Precisamos en­

tender que a verdadeira liderança não é conquistada pela

força, mas pelo carisma. A história da humanidade está repleta

de exemplos que comprovam essa afirmação.

As pessoas mais maduras (não importa a idade cronoló­

gica) tendem a resistir à intolerância, à prepotência e à falta

de coerência. A condição de educador exige a habilidade de

dar ordens entendidas como razoáveis. As crianças que estão

nascendo por toda parte são resistentes à voz de comando

autoritária, ditatorial.

Falar menos e agir mais

A didática do falar muito e não agir de acordo leva a

um desastre educativo. Quando a criança descobre que há no

mundo muitas pessoas além dela, começa a buscar seu limite e

desenvolve uma natural tendência de contrariar o que o adulto

tenta impor apenas para manter o poder. Neste mundo cada

vez mais interativo, inclusive por causa da ajuda da mídia, a

171

Page 170: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

criança descobre que o poder pode ser exercido sem o uso de

nenhum tipo de força...

Quando o adulto é incapaz de se fazer obedecer, perde as

estribeiras e agride verbalmente a criança. Alguns pais alegam

a necessidade de "dar uns tapas" nos filhos para discipliná-los.

É comum presenciarmos a reação de crianças tratadas dessa

forma em público: gritam e esperneiam, para constrangimento

dos pais. Costumam também adoecer, como forma de revidar

a agressão recebida.

Pais descuidados usam a contradição

como recurso pedagógico.

Alguns pais usam de um paradoxo destruidor: falam

para a criança fazer o que não desejam, ou seja, dizem o con­

trário do que esperam dela. Essa prática absurda dá resultados

por pouco tempo e causa sérios transtornos. A criança deve

receber ordens claras e não viver, desde cedo, num mundo de

contradições.

A falta de honestidade não é só roubar alguma coisa,

ludibriar para tirar proveito ou enganar alguém. Mais do que

isso, é pensar uma coisa, dizer outra e agir de forma diversa.

Esse comportamento, além de contraditório, é desonesto.

Por exemplo, quando ajudamos nossos filhos a fazer a

lição de casa, somos movidos pelo desejo de incentivá-los a es­

tudar ou estamos preocupados que eles sejam reprovados e nos

causem constrangimento diante da família e dos amigos? Se

172

Page 171: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

nossos filhos estudam numa escola particular, nós os ajudamos

pensando no dinheiro que vamos desperdiçar caso sejam re­

provados? A criança que, nos primeiros anos de estudo, recebe

esse tipo de ajuda dos pais, no futuro poderá enfrentar dificul­

dades na vida afetiva, social e profissional. A ajuda que recebeu

não foi prestada com amor, pois escondia outras motivações.

Tudo por amor.

Aprendemos e repassamos esse modelo de comporta­

mento sem questioná-lo. Não se trata de incapacidade de nossa

parte, e sim receio de assumir uma postura responsável, de en­

frentar a realidade dos fatos. E, assim, vamos levando a vida

enganando a nós mesmos. Agimos com segundas intenções, as

quais camuflamos de nós mesmos. As crianças da nova gera­

ção são sensíveis a esse tipo de situação e sofrem mais quando

são vítimas de pais que agem dessa forma. Vale a pena reciclar

nosso conceito de amor, que é tão misturado com apego, sen­

timento de posse...

A verdade acima de tudo Neste contexto, da educação infantil até a universidade,

aprendemos a fazer pequenas trapaças cujas conseqüências um

dia nos atingirão. Boa parte da desordem em nossas relações

sociais e até mesmo entre as nações se deve a esse expediente,

falsear com a verdade.

173

Page 172: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

A arte de ficar calado deve ser exercida. Se não soubermos

o que dizer, é melhor calar. Vale mais admitir nossa ignorância e

calar. Pais que recorrem a meias-verdades deseducam os filhos.

Neste mundo, mentimos demais. Durante um único dia,

a maior parte das pessoas vive mais na mentira do que na

verdade. Algumas mentem tanto que automatizam esse com­

portamento e não conseguem mais distinguir entre o que é

verdade ou não. Confundem realidade com ilusão e, nesse

contexto, a verdade é a expressão da verdadeira intenção e a

mentira é a que tem intenção de enganar, ludibriar.

Viver fora da verdade prejudica a criança

da nova geração.

As crianças em geral são sinceras e espontâneas. Falam o

que estão sentindo e transmitem suas impressões com sinceri­

dade. Quando educadas por pais que lhes ensinam as chamadas

mentiras convenientes, ou sociais, confundem-se. As da nova

geração, em especial, sofrem mais quando pressionadas a agir

dessa forma. Um exemplo bem corriqueiro: toca o telefone, a

criança atende. O pai não quer atender e manda dizer que não

está. Uma tempestade desaba no lar quando ela, ao telefone,

responde: "Meu pai mandou dizer que não está" e desliga o

aparelho. A transparência automática da criança progressista

incomoda os pais.

Se desejamos a felicidade e a harmonia familiar, deve­

mos abolir o hábito de usar e abusar das segundas intenções.

174

Page 173: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Na presença de nossos filhos ou longe deles, deixemos de lado

esse tipo de expediente, para o qual não existem justificativas.

Certamente estaremos remando contra a maré: a maioria das

pessoas emprega a fala de acordo com suas conveniências.

Um desafio: provar aos nossos filhos que eles podem ser diferentes

Devemos incentivar nossos filhos a serem diferentes da

maioria das crianças no aspecto do uso da ética e da moral.

Não se trata de inspirar neles o espírito de competição, mas

sim do desenvolvimento do senso crítico, da postura ética e do

autoconhecimento. Sejamos nós a ensiná-los quanto os pre­

conceitos são perigosos para sua formação e como é importante

amparar, socorrer, perdoar, compreender e conviver com os

outros sem impor condições ou exigências...

Nenhum conhecimento pode

ser aplicado sem esforço.

Falar apenas não adianta. Falar uma coisa e fazer outra

é pior ainda. É preciso que se permita à criança viver a si­

tuação para que a experiência seja repetida quantas vezes seja

necessário para que seja arquivada no seu subconsciente e se

automatize como um impulso, uma tendência.

Chega de brincar de faz-de-conta. Os pais não devem

perder tempo e recursos em busca de remédios miraculosos

175

Page 174: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

para mudar os hábitos dos filhos. Tudo se faz com conhecimento

e trabalho sob a ação do tempo.

Quando observamos e avaliamos algo, não devemos ter

medo de fazer errado. É errando e acertando que aprendemos.

O cuidado a tomar é não aplicar de forma imediata as opiniões

alheias sem avaliá-las, sejam de quem for.

Preocupo-me quando vejo pais em busca de botões má­

gicos para apertar. Remédios que tornem as crianças mais obe­

dientes, submissas, cordatas, inteligentes, éticas. Ou quando

buscam profissionais que sejam capazes de "abrir a cabeça" da

criança para mudar seu comportamento. Nossa preocupação

deve ser com o futuro dessas crianças, rotuladas de problemá­

ticas por pais que abrem mão do desenvolvimento da compe­

tência delas. Um mínimo de conhecimento e uma pitada de

maturidade somada a boa vontade são suficientes para começar

a reverter esse quadro.

Aprender a dar tempo ao tempo

Nem sempre, nesta existência, ceifamos o que plantamos,

pois é possível colher os frutos que semeamos num futuro mais

remoto. É mais acertado aprender a nos concentrar no que se­

meamos no subconsciente de nossos filhos - bons hábitos, con­

ceitos verdadeiros, valores morais - e nos despreocupar com a

colheita dessa semeadura. Os bons frutos virão a seu tempo, o

que independerá da nossa vontade. Vivemos num mundo que

funciona rapidamente, tipo fast, em que somos cobrados a fazer

176

Page 175: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

tudo para ontem e também, é claro, cobramos de nós mesmos,

dos outros e da vida um retorno rápido, que satisfaça nossos

interesses e expectativas.

As pessoas não mudam do dia para a noite.

É impossível modificar em alguns meses o que foi assi­

milado em anos de ensinamento inadequado, muito menos

as tendências, impulsos e compulsões que trazemos ao nascer.

Não bastam algumas palavras e tentativas para que, num piscar

de olhos, alguém se modifique para melhor.

Não devemos nos preocupar com a mudança de hábitos

e atitudes dos filhos, mas ensinar-lhes e exemplificar a postura

correta, o padrão adequado de conduta. Quando eles irão co­

locar nossos ensinamentos em prática já está além da nossa res­

ponsabilidade. Vamos limitar nossas cobranças a nós mesmos,

cobrar mudanças do próximo é falta de bom senso. Quem gosta

de ouvir: "Quando é que você vai parar de reclamar?"; "Ainda

não aprendeu o que eu ensinei?"; ou "Será que só depois da

minha morte você vai dar valor para minha opinião?"...

Seres humanos não são robôs.

Não há botões para apertar. Nem fórmulas mágicas para

padronizá-los. Crianças são espíritos que recebemos para enca­

minhar na vida. Cada uma é um desafio único para nosso pro­

gresso. Muito se fala em aprender a lidar com as diferenças, mas

177

Page 176: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

como podemos aceitá-las se não aceitamos que nossos filhos

sejam diferentes? Comecemos, em nosso lar, a viver as diferenças

com bom humor e alegria.

Não basta adquirir conhecimento, é preciso

cultivar a boa vontade para aplicá-lo.

Como e onde aprender? Teoria sem prática é como a fé

sem obras. Estudar, ler e informar-se são práticas importantes,

pois sempre acrescentam algo, embora, ao final de uma palestra

ou de um curso, sintamos dificuldade para colocar a teoria na

prática. Não podemos nos intimidar diante das dificuldades e

das aflições que venhamos a enfrentar.

Bem-aventuradas a dor e a aflição

que obrigam a evoluir.

O sofrimento impulsiona nossa evolução. A dor nos ajuda

a não incorrer nos mesmos erros. A criança deve ser educada

a aprender com o sofrimento que já está em andamento - uma

das nossas metas é exatamente provar à criança que sofrer para

aprender é desnecessário.

Quando uma criança impulsiva e agressiva é contrariada,

perde o controle e quebra um brinquedo ou um objeto qual­

quer. O melhor a fazer é não repor o brinquedo ou o objeto

danificado. Ao sofrer a perda, a criança refletirá sobre a neces­

sidade de mudar seu comportamento.

178

Page 177: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Quer evitar que a criança peça tudo

aos gritos ou chorando?

E simples: jamais lhe dê algo ou atenda a seus desejos en­

quanto ela não falar baixo, com respeito; deixe claro que, cho­

rando ou gritando, ela não vai conseguir nada.

Os pais nunca devem desistir de ajudar os filhos. Apenas

é preciso que fique bem claro que ajudar não é fazer a tarefa do

outro nem tentar controlar sua vida. Fechar as portas e cortar re­

lações indica prepotência e falta de caridade. Atitudes que não

devem ser confundidas com disciplina e severidade. Se desistirmos

de ajudar um filho, ele pode desistir de querer continuar vivendo.

Não há regras para amar

Os pais devem fazer tudo do jeito mais fácil, alegre e praze­

roso. Ao ouvirmos: "Como é difícil educar os filhos", vamos pensar

"Eu também já cometi esse engano". Aceitar nossos filhos como

eles são é a melhor atitude da nossa parte, assim como respeitar

seu modo de ser revela nosso bom senso e humildade. Esse é o

maior, mais simples e eficaz ato de amor que podemos ofertar.

Dizer sempre sim,

qualquer um é capaz.

Agradar aos filhos não deve ser nossa meta. É preciso dis­

cernimento e clareza de intenções para dizer um "não". Os pais

179

Page 178: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

têm de aprender a desenvolver a competência para dizer não

na hora certa. Respeitar não é fazer as vontades e o gosto de

quem quer que seja. Em lares estruturados, as normas da casa

são justas, simples, claras e eficientes.

LEIS BÁSICAS DA VIDA: ENSINO OBRIGATÓRIO

Diz o bom senso que devemos conhecer

as leis do lugar onde nos encontramos

ou para onde vamos.

Para que a qualidade de sua vida seja mais adequada, a

criança precisa ser auxiliada a conhecer as leis divinas. Nesse

caso, as da nova geração levam vantagem, pois nascem conhe­

cendo a legislação divina de forma intuitiva. Elas enfrentam

sérios problemas quando os adultos as impedem de agir em con­

formidade com essas leis. Essa repressão gera um conflito psico­

lógico capaz de conduzi-las a distúrbios afetivos, emocionais, de

comportamento social e até a doenças. Por sua vez, elas tentarão,

a todo custo, provar que os adultos estão equivocados.

Entender e aplicar a Lei de Causa e Efeito

E preciso permitir que a criança sinta integralmente os

efeitos de suas escolhas até que aprenda que a Lei de Ação e

180

Page 179: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Reação é inevitável. Poucas vezes, o adulto assume a responsa­

bilidade sobre os efeitos de seus atos e escolhas menos felizes,

pois não foi educado para isso.

No mundo em transição em que vivemos, daqui para a

frente, raras vezes as pessoas vão conseguir levar alguma mentira

para o túmulo: se tinha pernas curtas, doravante nem pernas

mais terá... Será cada vez mais fácil provar aos nossos filhos que

o crime não compensa, que a era dos espertalhões está no fim...

E não apenas pensar para fugir da dor, do sofrimento e

dos problemas. Prevenir é revelar sabedoria. A nova criança

entende com incrível clareza a necessidade de prevenir. O

processo educativo exige erradicar o mal, que é a verdadeira

prevenção. Muitas pessoas imaginam que prevenir é cercar-se

de medicamentos que aliviam os sintomas causados por seus

vícios. Não se trata disso. Exageram na alimentação, fumam,

consomem bebidas alcoólicas e depois recorrem à assistência

médica para amenizar os efeitos dos vícios.

Responsabilizar-se pelas próprias escolhas

Aquele que, o tempo todo, culpa os outros, as situações,

os acontecimentos ou até Deus pelo que lhe acontece ainda é

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Page 180: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

um arremedo de humano. Para evoluir, a criança deve apren­

der a não culpar os outros pelo mal que causou a si mesma.

As crianças da nova geração

não culpam os outros.

A criança progressista não vive se desculpando nem

usando de justificativas para evitar suas obrigações. Dá o que

fazer para conseguir que essa criança peça desculpas - ela gosta

de fazê-lo com mudança de atitudes e não apenas verbalizando;

para ela é difícil entender como os outros não fazem o mesmo.

Caridade, caminho de evolução

É um descuido levar a criança a crer que só o sofrimento

nos ajuda a evoluir. Devemos incentivá-la a praticar o bem e ser

solidária, indulgente e fraterna. É obrigação dos pais deixar

claro aos filhos que só se alcança a felicidade praticando o bem ao

próximo. Eles devem ser ensinados a perdoar sempre, pois é uma

atitude inteligente e não apenas um comportamento ético, moral

ou religioso. Na exata medida em que nos capacitamos a perdoar,

receberemos dos outros o mesmo sentimento. É preciso que se en­

tenda com absoluta clareza a lógica do perdão. Não se deve pedi-lo

apenas como hábito, para não nos viciar em desculpas, mantendo

porém um padrão repetitivo e inadequado de comportamento.

Vale a pena lembrar que ninguém suporta pessoas que

vivem abusando de segundas intenções por muito tempo. A

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

atitude de viver com clareza e transparência para muitos parece

impossível de ser colocada em prática, mas não é e pode ser

aprendida com as crianças da nova geração que nos rodeiam.

Para isso, é preciso que respeitemos as condições e o momento

das pessoas. Nosso dever é fazer nossa parte: perdoar.

Lei de justiça

As crianças progressistas têm um

adequado senso de justiça, uma de suas

características mais marcantes.

Somos interdependentes. Ao pensar e escolher, criamos

nosso destino. Construímos o futuro e também interferimos na

vida das pessoas. Quanto mais forte for a relação afetiva do outro

para conosco e menor sua soberania emocional, mais nossas

escolhas vão causar distúrbios nele. Nossas atitudes afetam os

outros tanto de forma positiva quanto negativa.

Lei de retorno

A criança deve ser auxiliada a perceber que todos os pen­

samentos que emitimos retornam até nós. Familiarizada com

essa lei, ela desenvolverá soberania emocional para entender

que o momento presente de cada um tem tudo a ver com seu

passado, que não adianta fugir das lições a serem aprendidas

nem das reparações exigidas.

183

Page 182: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

A simples percepção de que o presente decorre das es­

colhas passadas não pode servir de justificativa para permane­

cermos inertes sob pena de prejudicarmos nossa qualidade de

vida futura. Muito menos devemos cruzar os braços perante as

dificuldades do próximo, imaginar que ele merece ou precisa

viver aquela experiência integralmente.

As crianças progressistas intuitivamente sabem disso e

nunca perdem a chance de ser úteis: sentem-se compelidos a

ajudar os mais necessitados, evitando porém envolver-se nos

seus sofrimentos. Elas sabem da necessidade de desenvolver a so­

berania emocional que nos capacita a pensar melhor para encon­

trar formas mais simples de resolver os problemas do presente.

Lei de sintonia

Quando pensamos, emitimos ondas eletromagnéticas

que compõem um padrão vibratório particular e entramos em

sintonia com padrões vibratórios semelhantes. As crianças pro­

gressistas, embora nascendo por toda parte, ainda são minoria

e tendem a sentir-se incompreendidas e isoladas. Mesmo assim,

em geral, têm reações positivas e tendem a agrupar-se para

melhor desempenhar sua missão.

Lei da relatividade

Os fenômenos que regem a vida obedecem à lei da re­

latividade no tempo e no espaço. É fácil e necessário ajudar

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Page 183: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

a criança a usar a lei da relatividade na interpretação dos

acontecimentos. Tudo tem seu momento próprio de desen­

volvimento: algumas pessoas compreendem essa lei mais fa­

cilmente do que outras.

As crianças da nova geração não se deixam apressar tanto

pelas situações nem pelas pessoas. Na maior parte das vezes,

são confundidas com hiperativas: executam muitas tarefas ao

mesmo tempo, mas dão conta delas e são capazes de terminar

todas com boa qualidade. O mesmo não ocorre com o hi­

per ativo, que não é capaz de terminar aquilo que começou e

quando o faz suas tarefas são mal-executadas.

Lei de progresso

Tudo no universo é regido segundo as leis de Deus. Na

equação seqüencial da evolução, a constante é o resultado das

escolhas anteriores ou do passado. A variável capaz de mudar

o resultado (o futuro) é a liberdade de pensar, criar ou interferir

no presente.

Um detalhe importante que ignoramos freqüentemente é

que somos responsáveis por nossas criações. Progredir, sim, mas

com a liberdade regulada pela responsabilidade, esse é nosso

destino. O respeito ou desrespeito a essa lei transforma o pro­

gresso humano em atitude ativa ou passiva. A criança da nova

geração é bem ativa e determinada. Se você negar algo que ela

deseje fazer, prepare-se para explicar bem os motivos: se não

forem lógicos, a birra é certa, e ela vai continuar insistindo.

185

Page 184: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Sistemas de crença

Crer ou deixar de acreditar nas leis de Deus não as modi­

ficam, apenas alteram as ocorrências que estamos vivenciando.

A criança deve compreender se ela acredita ou não em algo, no

entanto isso não muda a realidade das coisas e dos fatos.

Tratando-se da fé religiosa, se os pais conseguissem ao

menos fazer com que as crianças assimilassem a lei mosaica

"Não tomarás em vão o nome do Senhor, teu Deus"*, daríamos

um grande passo na direção da paz. Para que a criança seja capaz

de assimilar suas responsabilidades, é preciso que o adulto dê

o exemplo e evite repetir refrões do tipo: "Deus quis assim!";

"Essa é a vontade de Deus"; "Deus sabe o que faz"; "Estamos

nas mãos de Deus"...

Para as famílias que se guiam pelo Evangelho, apenas duas

das leis nele contidas são aplicadas ao dia-a-dia e suficientes

para que progridam com o mínimo de sofrimento:

"Vigiem e rezem."**

A criança deve aprender a vigiar a si mesma - seu modo

de pensar, sentir e agir - e entender que não deve perder tempo

e energia para vigiar os outros; isso, entre outras coisas, é falta

de consideração. Sempre que se possa relacionar uma situação

* Êxodo, 20: 7. (N.E.)

** Mateus, 26: 41. (N.E.)

186

Page 185: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

desagradável vivida pela criança que tenha sido criada com a

ajuda de uma característica da sua personalidade, essa chance

não pode ser desperdiçada. Por exemplo, a impaciência que

traz consigo a demora, a complicação; a ira que a leva a atirar

e até quebrar objetos...

"Ame o seu próximo como a si mesmo."*

Esse postulado tão sintético e tão amplo abrange tanto a

Lei de Ação e Reação quanto a lei da interatividade que regula

a vida de relações. A lei da caridade é uma das mais importantes

matérias no curso de educação humana.

De geração em geração, somos mestres em repassar con­

ceitos importantes de forma descuidada segundo nossos in­

teresses. Costumamos fazer de conta que não sabemos o que

podemos e o que devemos fazer em benefício das pessoas. Claro

que a criança copia o adulto e sente apenas dó ou pena dos

deserdados da sorte: raramente é ensinada a trabalhar em favor

do próximo.

Esse é um descuido que pode levar a sofrimentos desne­

cessários. No dia de hoje, podemos possuir muito, mas amanhã

é possível que nos encontremos em dificuldade. Nesse caso,

não nos contentemos em saber que se apiedam dos nossos so­

frimentos. Vamos querer receber ajuda. No momento em que a

Terra vive uma grande transição, não podemos fechar os olhos

* Levítico, 19: 18. (N.E.)

187

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AMÉRICO CANHOTO

a essa possibilidade: quando precisarmos de ajuda, seremos so­

corridos segundo nosso merecimento.

Mas, afinal, o que é caridade?

Doar o que para nós não tem mais utilidade ou contri­

buir com algum dinheiro em favor de uma boa causa é um bom

começo para iniciar a criança na arte da caridade. No entanto,

nada substitui a caridade do convívio fraterno: o sorriso com­

preensivo, a palavra de alento endereçada a quem perdeu a

esperança. Os indivíduos progressistas são bons amigos e con­

selheiros, mesmo quando crianças, a seu modo, são capazes de

expressar amor e solidariedade ao próximo.

188

Page 187: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

A criança precisa de nosso ajuda para perceber

que somos interdependentes e que o espaço de uma pessoa e o conjunto de

seus direitos terminam n o momento em que começam

os do próximo.

Page 188: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

ALGUNS DISTÚRBIOS DO

COMPORTAMENTO PODERIAM SER

EVITADOS SE NÓS, ADULTOS, PRESTÁSSEMOS

MAIS ATENÇÃO ÀS CRIANÇAS,

ANALISANDO SUAS ATITUDES, IMPULSOS E

TENDÊNCIAS NATURAIS

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Se a educação fosse orientada também para o

lado prático da vida - as necessidades do cotidiano -, a maior

parte dos problemas que nos atingem na idade adulta seria evi­

tada ou não assumiria proporções capazes de prejudicar nossa

qualidade de vida.

Na saúde

"Essa criança vive doente."

Costumamos reclamar e muito das doenças da infância.

Pouco ou nada aprendemos com elas. Entre outros descuidos

causados por nossa educação deficiente, não estamos prepa­

rados para observar as tendências inatas da criança para adoecer,

nem sabemos diferenciá-las daquelas que se originam de seus

hábitos ou de seu estilo de vida, ocasionados por vícios ou ma­

nifestações emocionais.

Entender a origem e a causa das doenças, bem como seu

tratamento e cura, faz parte de uma complexa cultura, repassada

de geração a geração. Muitas pessoas atribuem as doenças à

falta de sorte, ao destino de cada um, e acreditam nessas cren­

dices, sofrendo suas conseqüências.

Observamos que nossos pequenos descuidos, agravados

por doenças crônicas, como diabete, rinite, sinusite, asma,

bronquite, hipertensão, câncer, displasias, gastrite, causam

repercussões cada vez maiores. Caso continuemos a viver sob

a ação desses paradigmas - superstições sem fundamento -,

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AMÉRICO CANHOTO

nossas crianças podem enfrentar muitos riscos. É dever dos

pais buscar entender por que os filhos sofrem a ação de deter­

minados males e as causas de sua enfermidade.

Nos hábitos

Os hábitos são transmitidos de uma geração a outra. O

que era considerado bom para a saúde hoje pode ser nocivo e

até perigoso. Repetindo o que ouvimos de nossos pais, criaremos

filhos glutões, futuros candidatos à obesidade e diabete:

"Esse menino é bom de boca:

come bem e quer comer a toda hora!"

"Se ele quiser, dou; afinal, quanto

mais se come, mais saúde se tem."

"Se você comer tudo,

vai ganhar aquela sobremesa gostosa."

Esses e muitos outros pequenos e saborosos descuidos le­

vam os filhos a ter um futuro com problemas de saúde.

Pequenos descuidos contribuem para criar viciados em

refrigerantes, estimulantes e até álcool:

"Deixa ele experimentar,

um pouquinho só não faz mal."

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Muitos adultos, que não imaginam o alcance desse tipo

de atitude, divertem-se com a reação do bebê ao ingerir um

gole de refrigerante... Pequenos descuidos ajudam a criar fu­

turos insones, desmemoriados, míopes, sedentários:

"Pelo menos, enquanto ele assiste

à televisão nos deixa em paz."

"Videogame é bom para ativar os reflexos..."

No comportamento

Alguns distúrbios do comportamento poderiam ser evi­

tados se nós, adultos, prestássemos mais atenção às crianças,

analisando suas atitudes, impulsos e tendências naturais. Para

receber atenção, as crianças manifestam comportamentos es­

tranhos. Nem sempre elas têm problemas; muitas vezes, o de­

sajuste está na relação familiar. Se os pais não perceberem a

razão de suas atitudes, a tendência será gravar esses padrões no

inconsciente e manifestá-los quando adultos.

"Esconde essas coisas que

o filho de fulano vem vindo."

Crianças que não param, que mexem em tudo, que in­

vadem sem cerimônia o espaço dos outros nem sempre são

hiperativos. As vezes, apenas copiam a conduta dos pais.

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AMÉRICO CANHOTO

"Não suporto o choro dessa criança."

Uma criança que se habitua a usar as lágrimas para obter

o que deseja tende a ser um adulto inseguro, manipulador e

depressivo.

"Nossa filha já está com outro.

Os jovens são assim mesmo:

não querem compromisso."

Alguns anos depois, a jovem volúvel torna-se uma adulta

inconseqüente. Ninguém consegue ajudá-la: pula de um ana­

lista para o outro...

Na afetividade

"Minha filhinha é muito ciumenta,

não divide nada com ninguém."

Crianças que agem assim enfrentam sérios problemas

conjugais.

"Que menino bravo,

não aceita nem o carinho da mãe."

O menino arredio aos carinhos dos pais provavelmente

enfrentará muitas decepções em seus relacionamentos afetivos.

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Nas tendências emocionais

"Essa criança tem medo até

da própria sombra."

Sem perceber, alguém diagnosticou um surto futuro de

síndrome do pânico.

"Esse bebê tem um ar triste."

Se dermos mais atenção a essa criança, no futuro existirá

um depressivo a menos.

"É uma criança

meiga e carinhosa, mas

que tem mania de arranhar

e de puxar os cabelos."

No adulto, esse tipo de comportamento é diagnosticado

como transtorno bipolar.

"Nunca vi criança tão ansiosa,

fica roxa de tanto chorar."

Crianças inquietas, impacientes e com distúrbios da an­

siedade devem ser preservadas de estímulos intensos e persis­

tentes. Não precisam, necessariamente, de medicação.

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AMÉRICO CANHOTO

Na vida social

Na vida social, crianças que apresentam distúrbios devem

ser vigiadas mais de perto, especialmente as agressivas e com

ímpetos para a violência. A manifestação mais agressiva e vio­

lenta desse comportamento é observada na infância, quando

a criança agride os irmãos ou até mesmo os pais. A criança

aprenderá a conter-se, mas continuará agressiva, com ten­

dência para ser violenta. Sob certos estímulos, poderá causar

sérios prejuízos, os quais, muitas vezes, não conseguirá inde­

nizar nesta existência...

"Cuidado que lá vem o terror,

essa criança bate em todo mundo."

Mais tarde: "Fulano perdeu a cabeça e cometeu esse

desatino".

Na qualidade de vida

"Essas crianças de hoje estão ligadas no 220;

não param um segundo."

"Essa criança é demais,

tem energia para dar e vender;

não sei como consegue dar conta

de tanta coisa ao mesmo tempo."

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Anos depois: "Fulano? Travou, está com estresse agudo,

não consegue fazer mais nada".

"Que criança linda: é gordinha e grande."

Mais tarde: "Está fazendo tratamento para emagrecer.

Até agora, não deu resultado".

"Ela engorda fácil,

mas também emagrece logo."

Mais à frente, é uma adulta que sofre as conseqüências

do efeito sanfona (engorda e emagrece, engorda e emagrece).

Na aprendizagem

"Essa criança é muito curiosa,

não se distrai com um brinquedo

nem por cinco minutos."

"Seu filho tem problemas

na alfabetização porque não é

capaz de se concentrar."

Mais tarde: "Sabe o fulano, perdeu o emprego de novo.

Ele é muito desligado. Tudo o que ele fizer deve ser conferido,

pois comete cada erro..."

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" A MUDANÇA DE PEQUENAS COISAS NA

VIDA DA CRIANÇA É MUITO IMPORTANTE PARA SEU BEM-ESTAR

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RECURSOS DE GRANDE UTILIDADE

Diário da criança

Nada melhor para acompanhar a evolução da

criança. Ao lado dos álbuns de fotografias, um bom caderno

para fazer anotações. Além de registrar tendências e ocorrên­

cias relativas ao desenvolvimento da criança, será possível

comparar as fases e acompanhar seu progresso.

Disciplina na rotina

Alinhar nossa rotina ao ritmo biológico preserva a inte­

gridade do corpo e da mente. Precisamos estabelecer horários

para nos alimentar, dormir, praticar esportes, atividades físicas

etc. Vez por outra, podemos quebrar a rotina. Dispensá-la,

porém, nunca! Aqueles que não têm horário vivem ao sabor

dos acontecimentos e causam a si mesmos sérios comprome­

timentos de saúde.

Atividade física

Brincar é coisa muito séria: a criança necessita de ati­

vidades lúdicas que envolvam também o trabalho corporal.

A vida sedentária e a dieta inadequada são grandes causa­

dores dos problemas de saúde da criança, prejudicando seu

desenvolvimento.

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AMÉRICO CANHOTO

Realização de coisas diferentes

A mudança de pequenas coisas na vida da criança é

muito importante para seu bem-estar. Por exemplo, mudar o

trajeto que costumamos fazer nas andanças diárias, buscar en­

sinar coisas novas, servir alimentos diferentes, levá-la a outros

ambientes, incentivá-la a fazer novas amizades... Inovar é pre­

ciso, pois a criança necessita sempre de novos estímulos.

Desenvolvimento da espiritualidade

Quando conseguirmos separar religião de religiosidade,

muitas de nossas posturas e atitudes mudarão por completo. É

importante estimular a religiosidade das crianças sem aprisio­

ná-las em dogmas religiosos.

Os pais devem evitar críticas às religiões. As crianças

tendem para o aprendizado e a aceitação das diferenças com

naturalidade e respeito, especialmente as da nova geração,

que são muito curiosas e indagadoras. Seu senso crítico é mais

apurado. Por vezes, manifestam percepções mediúnicas desde

a infância.

Geralmente, os pais ignoram que a mediunidade nos per­

mite ver e conversar com espíritos, invisíveis para a maioria das

pessoas, mas perfeitamente reais para outras. É o caso de muitas

crianças que, durante horas, conversam e brincam com ami­

guinhos invisíveis. O conhecimento da vida espiritual ajuda pais

e filhos a entender melhor o mundo que os rodeia, inclusive o

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

outro lado da vida. Vale a pena evitar dizer à criança que uma

experiência vivida é imaginação dela, pois para quem tem vi­

dência as situações são bem reais. Nesses casos, o melhor é buscar

ajuda e conversar naturalmente com a criança a esse respeito.

Aprendendo a compartilhar

Substituir presentes de aniversário por alimentos a serem

doados deveria entrar na moda. O hábito de festejar momentos

importantes junto a crianças hospitalizadas ou residentes em

creches e orfanatos deveria ser estimulado pela família.

É comum pessoas pouco vigilantes tecerem críticas aos

menos favorecidos que se encontram na condição de pedintes

como se eles fossem preguiçosos ou aproveitadores. Outras de­

senvolvem nas crianças um sentimento nefasto de dó, como

se essas pessoas fossem deserdadas da sorte. As duas posturas

são inadequadas.

O correto é explicar à criança os verdadeiros motivos das

desigualdades: dizer que nem sempre estão relacionados com a

Lei de Causa e Efeito, pois muitas vezes a condição é de prova,

com metas de desenvolvimento de qualidades morais.

Ainda se vêem poucas crianças dedicando-se a trabalhos

voluntários, talvez porque não sejam estimuladas ou muitas

vezes sejam impedidas a engajar-se nessas tarefas. As da nova

geração colocam-se sempre à disposição desde que os adultos

permitam. A tarefa voluntária favorece o desenvolvimento da

responsabilidade pelo compromisso assumido.

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AMÉRICO CANHOTO

Começo e fim

Felizes das pessoas que na infância tiveram alguém que as

ensinou que tudo deve ter começo, meio e fim. Aquelas que

desde cedo começam tudo e não terminam nada tendem ao

fracasso em muitos aspectos de sua vida. Uma relação comum

entre começar muitas coisas e terminar poucas acontece com a

obesidade, por exemplo. Caso perceba esse tipo de comporta­

mento na criança, crie para ela exercícios simples que tenham

começo, meio e fim.

Aprendendo a fazer amigos

Está provado que pessoas com muitos amigos vivem mais

e melhor. Somos seres gregários e nascemos para compartilhar

experiências. Crianças que gostam de isolar-se são um indica­

tivo de que possuem problemas afetivos e devem e podem ser

solucionados antes de causar maiores danos. Observemos o

comportamento dos amigos de nossos filhos. Eles podem nos

dar pistas das tendências ou carências de nossos filhos. Não se

trata de julgar nem determinar com quem nossos filhos devem

conviver, mas observar por quem eles sentem afinidade.

Treinando o ouvido

A arte de ouvir é pouco cultivada em nosso meio: todos

querem apenas falar. Daí a tendência para a gritaria. Poucos

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

adultos se dispõem a ouvir a criança. Todos falam ao mesmo

tempo ou interrompem a fala do outro. Aprender a ouvir é

uma das formas de diminuir um pouco o desenvolvimento da

tendência para a hiper atividade, cada vez mais comum nos dias

de hoje.

O hábito de ouvir música ajuda a criança a desenvolver

sua sensibilidade. Melhor ainda se for estimulada a aprender a

tocar um instrumento.

Aprendendo a meditar

Nossas mentes tornam-se cada vez mais inquietas sob

tantos estímulos. Não é à toa que a ansiedade e o medo causam

muitos distúrbios na saúde das pessoas. Nenhum remédio é me­

lhor para superar esse mal que serenar a mente. A meditação e a

ioga ajudam no relaxamento, na respiração e no alongamento.

Assumindo responsabilidades

Muito se comenta a respeito da falta de senso de respon­

sabilidade de alguns adultos. Muitos, porém, foram estimulados

a sê-lo. Para modificar esse quadro, é importante que os pais

aprendam a delegar tarefas domésticas para as crianças em re­

gime de rodízio se a família for constituída de vários filhos. O

erro começa cedo: poucos guardam os brinquedos após o uso,

muitos nunca tiveram estímulo nem para lavar um copo ou um

prato usado por eles mesmos.

Page 202: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

Considerações finais

roteiros e receitas mágicas na arte de educar e que, em vez

disso, receberam material para novos questionamentos. Re­

petições de conceitos foram inevitáveis, algumas tendo sido

propositais, devido à sua importância em nossas vidas, pois

quando falamos de uma educação boa e saudável para as pró­

ximas gerações não podemos perder de vista a reeducação dos

adultos e da sociedade.

Desejamos que tenham incorporado em sua visão de

mundo que não educamos de forma direta e definitiva, mas

que participamos do processo e podemos tornar a tarefa mais

fácil e eficiente. Claro que nesse processo pode ocorrer desper­

dício de talentos, conhecimento e tempo, além de enganos,

erros e acertos. Isso é lógico e normal, porém é preciso cui­

dado para não banalizar o conformismo disfarçado de nor­

malidade: "Hoje em dia é assim mesmo". A soma de pequenos

descuidos sempre conduz a grandes problemas. Que os alertas

tenham atingido seu objetivo sem provocar culpa nem remorso.

não ter decepcionado os que esperavam

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Quantos de nós podemos nos considerar pais e mães de qua­

lidade, pessoas que não cometem descuidos ou faltas? Como

nos sentimos? O saldo até o presente momento foi positivo?

Mesmo que não tenha sido, isso não tem tanta importância

assim; errar faz parte da arte de aprender. Para ficarmos em

paz, basta que tentemos corrigir-nos a cada novo momento,

oportunidade e conhecimento.

Não é difícil transformar pequenos descuidos em grandes

lições. Para trilhar esse caminho em segurança e alegria, não

devemos nos comparar com as outras pessoas usando os filhos

como parâmetros. Aqueles que empreendem esse pequeno des­

cuido - considerar-se bons ou maus pais apenas porque seus

filhos são bem-vistos ou malvistos - caem em armadilhas pre­

paradas por eles mesmos.

Muitos se imaginam pouco competentes porque seus

filhos são considerados problemáticos pela sociedade, quando,

na verdade, estão fazendo o melhor que podem para superar

suas tendências negativas e imperfeições.

O bom mestre é aquele que consegue motivar um aluno

displicente e recuperá-lo. Não educamos nossos filhos para os

olhos do mundo, mas para que sejam felizes e realizados. Por

menor que seja o progresso obtido, será uma vitória do amor.

Se, após a leitura deste livro, algumas pessoas se cons­

cientizarem de que a arte de educar os filhos é dinâmica, par­

ticipante e não passiva - outro pequeno engano é deixar as

coisas como estão para ver como ficam -, nós nos daremos por

realizados.

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Page 204: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

Na condição de país, qual é nossa função?

Somos provedores de educação e fornecemos material di­

dático para que nossos filhos se eduquem. Não se trata apenas

de matriculá-los na escola mais cara ou inscrevê-los em dispen­

diosos cursos. O que importa é nossa postura: o exemplo vivo

que estamos transmitindo, além de nosso padrão de atitudes.

O que fica retido no subconsciente da criança são os

exemplos que damos ao corrigir nossas atitudes todos os dias.

É dessa forma que lhes iremos inspirar confiança. Quando se

trata de lidar com as crianças da nova geração, é bom admitir

que temos muito para melhorar em nós mesmos. Não adianta

tentar esconder nossas falhas de caráter, pois de um jeito ou de

outro elas sabem disso.

Permitindo o aprendizado

Outro ponto importante a destacar: com urgência, de­

vemos permitir que a criança aprenda! Esse alerta pode até

parecer um despropósito, mas não é, porque, na prática, não

permitimos que elas aprendam. O tempo todo enchemos sua

cabeça de teorias, saturamos seus ouvidos com falatório tão

sem sentido quanto fora de hora e impedimos que aprendam

de fato, por conta delas mesmas...

Não lhes permitimos ter experiências simples, como a de

vestir a roupa que deseja, usar ou calçar o sapato que escolheu.

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Page 205: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Alegamos que não combina ou está fora de moda. Sempre a

mesma preocupação: o que os outros vão pensar? Assim im­

pedimos que as crianças desenvolvam a capacidade de cuidar

de si mesmas e de aprender a responsabilizar-se pelos próprios

atos. As desculpas para essa nossa atitude, que tolhe suas ini­

ciativas e impede sua evolução, são tão variadas quanto in­

compreensíveis. O aprendizado não existe sem a prática. Para

capacitar-nos, devemos vivenciar a experiência do simples em

direção ao complexo.

Valores éticos

De que modo passar valores éticos é outra dúvida. É ver­

dade que ainda não é fácil transmiti-los: o que a sociedade ainda

mais valoriza é o possuir, ter boa aparência a qualquer custo,

não importando o preço a pagar. O diferencial de qualidade é

não transformar essa realidade num anestésico da consciência.

Se a maioria das pessoas está agindo errado, na contramão

das leis divinas, expliquemos aos nossos filhos quais serão, no

futuro, as conseqüências dessas atitudes e quanto elas serão

prejudicadas.

Outra dúvida: qual a diferença entre a boa e a má edu­

cação? A rigor não há boa ou má educação, pois cada um apenas

pode oferecer o que de fato dispõe. Em geral, recebemos uma

educação voltada apenas à instrução e aos olhos da sociedade.

Nossos antepassados nos deram educação por amor. Nossos

pais fizeram o que estava a seu alcance. Quanto a nós, tenhamos

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Page 206: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

AMÉRICO CANHOTO

em mente que, no passado, fizemos o possível de acordo com

nossos conhecimentos e crenças.

Cuidado com o corpo e a alma

Qual a melhor receita para bem educar? Qual o melhor

caminho para educar na vida contemporânea? Receitas prontas

não existem, além de que cada caso é um caso. É o nosso esforço

pessoal que vai determinar o que é melhor para cada criança.

Recorrer à meditação é muito proveitoso. Quando meditamos,

serenamos a mente e elevamos o pensamento. Um dia, quem

sabe, a meditação seja ensinada em nossas escolas, o que será

de grande proveito para o progresso da humanidade.

O ensinamento de Jesus, vigiar e orar, deve acompanhar

cada passo dos pais. A leitura e o estudo do Evangelho no lar

trazem benefícios tão significativos que devemos considerá-los

indispensáveis. Retirar o Evangelho da estante, abri-lo e in­

centivar seu estudo é obrigação dos pais. Bicicletas, esteiras e

outros utensílios úteis para manter a boa forma física devem

também ser resgatados dos quartos onde foram esquecidos,

para serem utilizados pela família.

Sementeira

Educar filhos é como trabalhar numa sementeira. Aos

pais, cabe escolher as melhores sementes disponíveis e se­

meá-las. A colheita dependerá de muitos outros fatores.

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PEQUENOS DESCUIDOS, G R A N D E S P R O B L E M A S

Aqueles que encontraram um propósito para a própria exis­

tência e conseguiram superar com serenidade os eventuais

fracassos, perdas e rompimentos, com certeza receberam uma

boa educação.

Muitos já disseram que, para educar, é preciso amar e,

para instruir, bastam o conhecimento e a técnica. Recordemos

apenas que o conceito de amar envolve o de respeitar e cuidar

sem controlar nem impor condições.

E preciso muita atenção da nossa parte para nos cons­

cientizarmos da importância do papel dos pais para, um dia,

com o dever cumprido, alcançarmos a paz.

Ao terminar a leitura deste livro, talvez você tenha ficado com algumas dúvidas e per­

guntas a fazer, o que é um bom sinal. Sinal de que está em busca de explicações para a

vida. Todas as respostas que você precisa estão nas Obras Básicas de Allan Kardec.

Se você gostou deste livro, o que acha de fazer com que outras pessoas venham a

conhecê-lo também? Poderia comentá-lo com aquelas do seu relacionamento, dar de

presente a alguém que talvez esteja precisando ou até mesmo emprestar àquele que não

tem condições de comprá-lo. O importante é a divulgação da boa leitura, principalmente

a da literatura espírita. Entre nessa corrente!

Compartilhemos nosso aprendizado

uns com os outros.

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Bibliografia

CANHOTO, Américo. Saúde ou doença: a escolha é sua. São

Paulo: Petit Editora, 2006.

. Quem ama cuida. São Paulo: Petit Editora, 2007.

. Educar para um mundo novo. São José do Rio Preto,

SP: Editora Ativa, 2002.

. A reforma íntima começa no berço. Santo André:

Editora EBM, 2004.

GARDNER, Howard. Inteligências múltiplas: a teoria na prática.

Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

KARDEC, Allan. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 2002.

STEINER, Claude e PERRY, Paul. Educação emocional. Rio de

Janeiro: Objetiva, 1998.

210

Page 209: Pequenos descuidos grandes problemas   américo canhoto

Em Pequenos descuidos, grandes problemas,

aprendemos com Américo Canhoto - médico

de família há trinta anos, dirigente espírita e

escritor - como exercer com sucesso nosso papel de

pais: podemos e devemos evitar que nossos filhos

sofram dores, aflições e doenças! Prático, Canhoto

ensina como ajudar aqueles a quem tanto amamos a

se desenvolverem mais preparados para viver nesta

época de transição. Descubra agora mesmo como isso

é possível, tornando-se um educador da nova geração,

que veio para transformar a Terra num mundo melhor.