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Seminário Memórias de Um Suicida - Segunda Parte - Capítulo VII - Os Primeiros Ensaios - 23-05-2016

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CAPÍTULO VII

Segunda Parte

DATA: 23/05/2016

Os Primeiros Ensaios

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GEEM – Grupo de Estudos e Educação da MediunidadeSeminário Anual – 2016

Início: 15/02/2016

“Todas as vezes que ajudastes a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes.” JESUS CRISTO

(Mateus, 25:40)Dois dias se passaram. Entregamo-nos a sérias ponderações sobre quanto

víramos e soubéramos nas visitas aos Departamentos Hospitalares. Compreendêramos as lições. Estávamos angustiados! Lágrimas banharam nossas faces! Na manhã do terceiro dia Roberto de Canalejas veio em nosso auxílio para que saíssemos do estado de depressão no qual nos encontrávamos. Convidou-nos a passear pelo parque em sua companhia e advertiu-nos:

"O DESÂNIMO É SEMPRE MAU CONSELHEIRO ! Reagi, meus amigos,

voltando vossas vontades para a Força Suprema e logo sentireis que

disposições regeneradoras reerguerão vossas capacidades para

o prosseguimento da jornada... QUANDO VOS SENTIRDES

ACOVARDADOS E TRISTES DIANTE DO INEVITÁVEL, TRABALHAI! Procurai na

ação enobrecedora e honesta o restaurador para as faculdades em

crise! Nunca seremos tão insignificantes e destituídos de

possibilidades, que não nos permitamos servir ao nosso próximo,

cooperando para seu alívio e bem estar”.

“Ao invés de vos fecharem neste Pavilhão, alimentando pensamentos cruciantes e improdutivos que vos

agravam os sofrimentos, vinde comigo visitar irmãos que sofrem mais do que vós e se acham hospitalizados ainda, aprisionados ao drama de trevas que sobre vós também já se estendeu...

Voltemos ao Hospital a fim de rever os amigos, os colegas, os enfermeiros que

bondosamente por vós zelaram, consolando vossos corações

esmorecidos pela dor, os médicos que vos auxiliaram a expulsar da mente as

impressões contumazes que vos amorteciam a coragem...".

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GEEM – Grupo de Estudos e Educação da MediunidadeSeminário Anual – 2016

Início: 15/02/2016

Aquiescemos.O dia todo, por ele

acompanhados, visitamos enfermos,

abraçamos dedicados amigos,

homenageamos os psiquistas que

reconstituíram nossas energias!...

SUAVE RECONFORTO bordejou nossas

apreensões, ensinando-nos a

buscar TRÉGUAS PARA AS PRÓPRIAS DORES, ALIVIANDO AS DORES

ALHEIAS.

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À tarde, um emissário de Teócrito comunicou-

nos que, no dia imediato, deveríamos

demandar a Terra integrando grande

caravana.

Quando as primeiras paisagens do torrão natal

se desenharam indecisamente, entre as emanações pesadas da

atmosfera, o pranto rolou-me dos recôncavos do ser,

num misto de saudade, respeito e alegria!

Dezesseis anos de prisão, de lágrimas, de dores

cruciantes e inenarráveis em sua verdadeira

expressão!

Havia dezesseis anos que o fardo carnal tombara em

convulsões sinistras, triturado nas garras tétricas do suicídio!

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GEEM – Grupo de Estudos e Educação da MediunidadeSeminário Anual – 2016

Início: 15/02/2016

Atordoado e desambientado da terra natal, assaltou-me enorme receio de

atravessar sozinho as tão conhecidas e saudosas ruas de Lisboa, do Porto, de

Coimbra! Senti-me constrangido e triste, verificando-me de posse da liberdade.

Nossos amigos retiraram-se de nossa visão, refugiando-se em invisibilidade inatingível pelas

nossas capacidades, e deixaram-nos entregues a nós mesmos,

não obstante não nos terem de todo abandonado.

Profundas modificações, de certo, o longo estágio de sofrimentos no Invisível havia

cavado em meu interior, porque me reconheci tímido e apavorado face a face, outra vez, com aquela sociedade a quem

eu amara e desprezara a um mesmo tempo.

Romeu e Alceste zelariam por nossos interesses e necessidades enquanto nos encontrássemos em liberdade, ocultamente, a fim de

não nos privar do mérito e da responsabilidade. Carlos e Roberto de Canalejas, Ramiro e Olivier de Guzman, Padre Anselmo e outros amigos integravam o numeroso

cortejo, incumbidos das instruções que se tornassem necessárias,

caso nosso procedimento durante a liberdade demandasse

providências.

Lembrei-me de que adversas etapas constituíram minha existência, destruída

pelo desespero. O subconsciente despertou ante o retorno ao teatro do pretérito e o drama que vivi desenrolou-se às minhas

lembranças. Lembrei-me dos que amei, dos que me amaram, ou, pelo menos, dos que

tinham o dever de me amar, e tive medo de busca-los!

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Vali-me da afeição de Belarmino suplicando-lhe

não me abandonasse, mas que marchássemos juntos, pois Mário lá se fora à cata de noticiário da esposa e dos filhos.

Meu amigo se perdia em idênticas impressões. Conservava-se mudo e

compenetrado, enquanto eu falava à solta.

Voltei com ele ao antigo solar que o vira nascer e crescer, que já não pertencia aos de Queiroz e Sousa. Desolado procurou pela mãe por toda a parte onde supôs provável

encontra-la.

Vi o antigo professor de Dialética chorar diante da

lareira, posto de joelhos no local justo onde outrora se

conservava o balanço da velha senhora, rogando seu perdão pelo desgosto infligido ao seu

terno coração de mãe; a suplicar, entre pranto aflitivo e

comovedor, sua presença saudosa, ainda que por alguns

instantes, a fim de que se amenizasse em seu peito a dor

feraz da saudade que lhe estorcia a alma!

Dirigiu-se ao jazigo da família, onde repousavam as cinzas dos seus

antepassados. O nome adorado lá se encontrava, gravado na pedra tumular, ao

lado do seu próprio nome...Belarmino ajoelhou-se então, à beira do

próprio túmulo, e orou por sua mãe, desfeito em lágrimas.

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“Será fácil deduzir quanto ao destino de tua

veneranda mãe, ó meu amigo! Não se achará, com

certeza, enclausurada naquela gaiola de

mármore uma vez que nem tu lá te encontras!... O senso indicará que,

sendo nós ambos seres portadores de

personalidade eterna, também ela o será e que, como nós, se encontrará

em local apropriado à sua existência extra corporal,

mas nunca no poço tumular..."

Onde estará ela?... Em que local do Infinito Invisível?... E por que será que nunca mais,

sendo eu imortal, pude encontrar minha mãe

querida?... Por que não a entrevi jamais, refletida nos

possantes aparelhos de nossa enfermaria, em visita telepática?... Vê-la-ei

porventura algum dia?..."

“Perguntemos ainda uma vez aos doutores de Canalejas... Quantas vezes

já o fiz, esquivando-se ambos a respostas decisivas?! Mas... onde os

encontraremos agora?... Não deixaram endereços!...“

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Exercia atividades profissionais na

inspetoria de polícia em Lisboa. Médium,

vem procurando, tanto quanto possível,

testemunhar os preceitos do Divino

Missionário.

Dentre seus atos generosos destaca-se o interesse tomado pelos internos do

presídio, aos quais procura assistir e

servir. Leva-lhes um raio de amor em cada visita

que lhes faz.Infunde-lhes

esperanças aos corações desfalecidos.Acalma-lhes a revolta

interior com a suavidade fraterna e boa da sua palavra inspirada, de onde

jorram esclarecimentos

regeneradores para desalterar-lhes a sede de justiça e proteção!

Era o protetor inesquecível, cujos

caridosos pensamentos de amor e de paz tantas vezes visitaram Camilo no

desconsolo apavorante das trevas

em que vivia!Coração boníssimo,

que continuava, incansável e piedoso, cativando Camilo com

suas constantes visitas mentais, seus abraços amoráveis

convertidos em radiações benfazejas de novas preces para novas conquistas de dias melhores para o

seu destino!

FERNANDODE

LACERDA

Onde, porém, achar

abrigo?!...

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Dirigimo-nos para seu domicílio, ali nos

abrigando, discretos e humildes, ocupando

cômodo acima do telhado (água-furtada) que se diria apropriado pelo

Invisível para hóspedes de nossa categoria.

Readaptei-me rapidamente aos acontecimentos

terrenos, reambientando-me na vida social.

Sem o desejar, grandes desgostos atraí para o pobre Fernando. Ele foi

alvo de críticas demasiado ardentes e

injustas, insultos ingratos, remoques

abusivos!

Apesar da minha boa vontade e da

dedicação do generoso amigo,

passei pela decepção e a

vergonha de ser repelido pela

maioria daqueles mesmos a quem desejava servir revelando-me

individualidade pensante,

inteligência viva, independente e

normal, não obstante a

invisibilidade do estado em que me

achava.

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Entretanto, o convívio com Fernando compensava-me das

derrotas nos outros setores, muito edificado me senti graças às

palestras que comumente com ele empreendia, reservando-lhe eu a minha melhor afeição, um grau sempre crescente de gratidão

pelas simpatias que a mim, como aos meus cômpares,

infatigavelmente demonstrava.

Desapontei-me, contrariado. Não era

possível defender o nobre amigo, visto que não

desejavam me ouvir. De nada valiam tantos e tão interessantes noticiários

que eu trazia do Além a fim de surpreender antigos

competidores na literatura; tantos e tão

impressionantes dramas e narrativas com que

enriquecer outros editores que necessariamente me reconheceriam através da linguagem que lhes fora

habitual! Via-me forçado a calar, porque bem poucos

eram os que me aceitavam a volta!

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Por uma tarde de sol, um mês depois de nossa chegada a Portugal, quando os perfumes amenos dos aloendros se

misturavam ao sugestivo olor dos pomares fartos, espalhando vida e encantamento pela atmosfera serena,

voltei, sozinho e pensativo, num gesto abusivo e temerário, à Quinta de S*...

*São Miguel do Seide – Famalicão – Distrito de Braga – Portugal

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Quando voltei a mim, refeito do colapso maldito, Romeu e Alceste ungiam minha fronte com refrigerantes eflúvios que tonificavam a alma. Ainda me encontrava na Quinta. Enorme desgosto afligia meu coração,

enquanto as lágrimas deslizavam suavizando a opressão que me sufocava.

Roguei aos eminentes Guias que, por mercê especial, me reconduzissem ao Pavilhão Indiano, onde me consideraria seguro, a coberto de

qualquer cilada da mente. Portugal com suas recordações amaríssimas, Lisboa, o velho Porto — a Terra enfim — tudo enoitava meu Espírito,

predispondo-me à extração de sombras e sofrimentos que eu desejava, precisava esquecer!

Mas não fui atendido, a benefício de minha própria reabilitação moral, asseverando-me os nobres mentores que eu deveria realizar algo, naqueles mesmos ambientes, como testemunho da aquisição das

capacidades de renunciação e desprendimento.

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Comovido até as lágrimas, emiti então ardente súplica: “Nobres e queridos mentores, indicai-me então o que seja licito

tentar!... Que eu saiba agir com acerto, algo praticar de meritório, bastante honroso para me permitir refrigério e

consolo eficiente! Aconselhai-me!...” Ouvi que me respondiam com uma interrogação:

“Pois fazei isso... Roberto aconselhou como devia...”

“Quais foram as advertências de Roberto ao vosso grupo, na véspera da descida para estas instruções?...”

“Oh!... Ah! Sim, lembro-me... Que procurássemos atenuar os sofrimentos pessoais levando balsamizador auxílio a sofredores em mais

críticas situações... E nos reanimássemos ao contato dos bons e sinceros amigos, de corações iluminados pelo brilho da verdadeira

virtude, fortes o bastante para aquecer-nos o frio do desânimo, indicando-nos os passos para roteiros prometedores...”

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Reuni então todas as forças de que era capaz, impus serenidade aos sentidos

abalados pelas emoções, alcei energias mentais recordando as invocações ao Mestre

Nazareno e orei também, fervoroso e humilde, a pedir socorro e proteção.

Fustiguei os passos e afastei-me... mas, ao transpor os umbrais malditos,

compensadora surpresa aguardava-me, resposta, certamente, à súplica

feita ao Amigo Divino: Ramiro de Guzman e Roberto de Canalejas ali

estavam à minha espera!

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Organizamos uma como "associação de classe" no intuito de estudarmos e realizarmos ações combativas às ideias de suicídio, às

inclinações mórbidas, detentoras de infernal predisposição que contaminava as diferentes classes sociais, às quais, agora, poderíamos voltar, como entidades invisíveis que éramos.

Queríamos nos tornar vistos e compreendidos, acreditados nos seus conceitos. Queríamos entreter relações amistosas e sérias, conversas

interessantes e elucidativas, intercâmbio permanente de notícias.

Raros, porém, aqueles que consentiram em aceitar nossas tão sinceras efusões. Negavam-se a dar crédito, repeliam-nos ríspida e chocantemente, criticando, zombando, correndo conosco, considerando-nos mistificadores e

mal-intencionados, o que nos decepcionava e entristecia, pois o tempo corria e nada obtínhamos que registrasse algo de bom e meritório no severo livro

da Consciência!

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Em meio a tantas lutas, assaltou-nos desejo ardente de nos transportarmos para o Brasil. Sabíamos ser o país

irmão campo vasto e fácil para o intercâmbio mediúnico, menos preconceituoso do que nossa Pátria.

Repercutia ainda em nossas lembranças a formosa reunião a que assistíramos certa noite, no interior de Minas Gerais, onde

fôramos levados em falange por nossos desvelados educadores do Instituto, e quiséramos, agora, experimentar falar com os

brasileiros, a ver se lograríamos algo de mais positivo.

Os incansáveis legionários encaminharam-nos ao local almejado transportando-nos facilmente sob sua proteção, felicitando-nos

com novas instruções.Tratava-se de benemérita instituição registrada no Mundo

Espiritual como depositária de inspirações superiores.

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Iniciamos, então, luta árdua e exaustiva. Encontramos nestes medianeiros criaturas humildes,

dóceis, afáveis, amorosas, sinceras no desejo de servir, porém o idioma tornou-se uma barreira praticamente

intransponível para alcançarmos o objetivo da comunicação.

O desânimo invadiu-nos, profunda tristeza tomou conta de nossas almas quando, uma noite fomos surpreendidos pela visita de

Fernando, cujo corpo dormia profundamente no velho e amado Portugal, pois ia já alta a noite.

Convidou-nos ele a exercer com mais frequência o dever da oração, criando, através dele, meios de comunicação mais diretos com

nossos mentores e, comovido e sincero, orientou-nos:

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"Se em vez do que vindes tentando improficuamente, procurásseis meios de vos tornardes agentes da lídima

Fraternidade, já vos encontraríeis vitoriosos, vivendo alegrias que longe estariam de vos manter a alma assim carregada e abatida.”“A CARIDADE, meus amigos, é a generosa redentora daqueles

que se desviaram da rota delineada pela Providência! Por isso mesmo Jesus ofereceu-a como ensinamento supremo à

Humanidade como mais fácil e mais rápido caminho para a regeneração! Podereis praticá-la, a um mesmo tempo servindo à vossa e à causa alheia e assim reparar mais rapidamente o gesto

que vos impeliu ao abismo.” “Intensificam-se problemas dolorosos a serem solucionados, na Terra e no Além, requisitando concurso fraterno de cada coração

generoso a fim de serem consoladas!” Nos hospitais, nas prisões, nas residências humildes como na opulência dos palácios, por toda a parte encontram-se mentes

enoitadas pela incompreensão e pelo desespero, corações precipitados pelo ritmo violento de provações e de problemas

insolúveis neste século!

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Aconselhai o pecador a deter-se, em nome da vossa experiência!... e apontai-lhe, como bálsamo para as

amarguras a única força capaz de soerguer a criatura da desgraça: o Amor de Deus! Tornai-vos consoladores,

segredando sugestões animadoras e confortadoras ao coração das mães aflitas, dos jovens desesperados, das desgraçadas mulheres atiradas ao lodo, cujos infortúnios

raramente encontram a compaixão alheia! São seres que estão a requisitar alento protetor dos

corações sensíveis, bem intencionados, quando mais não seja com a dádiva luminosa de uma prece!

Dai-lhes o que recebestes! Contai-lhes o que vos sucedeu e animai-os a sofrerem todas as situações de dificuldades com aquela paciência e aquele valor que vos faltou, a fim de que

não venham a passar pelos transes dramáticos que vos enlouqueceu!

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“E quando encontrardes médiuns cujas organizações vibratórias se adaptarem às vossas, não vos

preocupeis com as homenagens passadas, que glorificaram o vosso nome entre os humanos. Esta glória caiu convosco nos abismos do passado, que

não soubestes honrar!”

“Preferi, portanto, as manobras santificantes da CARIDADE discreta e obscura e bem cedo reconhecereis o nascimento

de muitas e doces alegrias...”

“Furtai-vos ao VAIDOSO prazer de identificar-vos ao fazerdes vossos discursos ou mensagens

psicográficas através dos médiuns.”

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Ouvimo-lo com muito agrado e interesse e no dia imediato deliberamos visitar hospitais, enfermos em geral, deixando para mais adiante empreendimentos outros, relativos aos serviços de auxílio ao próximo que nos fossem sugeridos.

Éramos ao todo trinta entidades, e entendemos dividir-nos em três grupos distintos, por imitarmos os métodos do nosso abrigo do mundo astral.

Com surpresa notamos que, não só nos percebiam os pobres enfermos em seus leitos de dores, como até naturalmente nos ouviam, graças à modorra em que

os mantinha suspensos a gravidade do mal que os afligia, a febre como a lassidão dos fluidos que os atavam ao tronco do fardo corporal. Tanto quanto se

tornou possível, levamos a essas amarguradas almas enjauladas na carne o lenitivo da nossa solidariedade, ora insuflando-lhes conformação no presente e

esperança no futuro, ora procurando, por todos os meios ao nosso alcance, minorar as causas morais dos muitos desgostos que percebíamos duplicando

seus males.

Estendemos as visitas às prisões, obtendo êxito no sombrio silêncio das celas onde se elaboravam remorsos, no trabalho da meditação... E por fim invadíamos domicílios particulares à cata de sofredores inclinados à

possibilidade de suicídio, e que aceitassem nossas advertências contrárias através de sugestões benévolas. Havia casos em que o único recurso que nos

ficava ao alcance era o sugerir a ideia da oração e da fé nos Poderes Supremos.

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Viajamos pelo interior do Brasil procurando, quanto possível, prevenir contra a malfazeja tendência observada, tristemente, por nossos Guias, no caráter impulsivo dos brasileiros, tendência que resultava em estatísticas

inquietadoras nos casos de suicídios!

Conhecemos as extensões desoladas do Nordeste, rendendo homenagens ao sertanejo heroico que, em lutas árduas e incessantes com a penúria da eterna estiagem, não descria jamais nem de Deus nem do futuro, sempre

na esperanças de dias melhores!

Bezerra de Menezes e Bittencourt Sampaio ensinavam-nos com exemplos fecundos colhidos na vida cotidiana de muitos brasileiros, sobre os quais choramos de pena e arrependimento, pois tivemos ocasião de examinar

com eles modalidades de desgraças e sofrimentos comparados aos quais aqueles que nos haviam levado ao desespero não se apresentariam senão

como brincadeiras próprias de boêmios piegas... Estas criaturas tudo suportavam resignadamente, até mesmo a indiferença de seus

compatriotas mais felizes, com o pensamento vigoroso daquele que sabe crer, que sabe esperar!

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... a quem a tuberculose impelira ao

suicídio, preferira dirigir-se aos enfermos dessa categoria, a fim de segredar

sugestões de paciência,

esperança e bom ânimo aos que

assim expungiam débitos

embaraçosos de existências antigas ou

consequências desastrosas de despautérios do

próprio presente.

BELARMINO JOÃO D’AZEVEDO CAMILO... que fora pobre e cego, condições que o arrastaram ao suicídio,

foi impelido, pelo remorso, a procurar

nos hospitais, nas ruas, nas estradas, aqueles

que iam cegando a despeito de todos os

recursos, pobres cegos e miseráveis, para lhes servir de conselheiro, murmurando aos seus pensamentos o grande consolo da Boa Nova.

Sentia que obtinha êxitos, que corações

marcados pelo desânimo e pela

desolação se reanimavam às suas sinceras e ardentes

exortações telepáticas!

... que se escravizara ao vício do jogo; que tudo sacrificara ao domínio das cartas e da roleta:

fortuna, saúde, dignidade, honra, e até a própria vida, voltara aos antros em que se prejudicara a fim de

sugerir advertências e conselhos prudentes aos

pobres viciados, tudo tentando no intuito de afastar do abismo ao

menos um só daqueles infelizes, suplicando o concurso dos mentores que ele sabia dedicados

à ação de desviar do suicídio os incautos que se deixam rodear de mil

possibilidades desastrosas.

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MÁRIO SOBRAL... vivia os testemunhos mais difíceis!

O remorso e os hábitos do passado arrastavam-no para os bordeis, onde

ele tentava demover a juventude inconsequente da obstinação nos maus princípios, narrando a uns e outros, através de discursos, em locais inadequados, as próprias

desventuras, no que não era absolutamente respeitado, porque, nos antros onde a perversão tem

mantido o seu império, as intuições espirituais não se fazem sentidas, em

virtude da excitações dos sentidos animalizados, viciados por tóxicos materiais e psíquicos, de repulsiva inferioridade, tornando-se barreiras

que nenhuma entidade, nas condições de Mário, será capaz de

remover a fim de se fazer compreendida!

Víamos com tristeza que MÁRIO desatendia frequentemente ao

chamamento do dever para as reuniões e caravanas

elucidativas presididas pelos assistentes; faltava às

expedições piedosas de visitação aos sofredores,

olvidando deveres sagrados que conviria cumprisse a bem da reabilitação própria, atraindo,

dessa forma, medida extrema e urgente determinada pela

direção da Colônia: o retorno imediato à encarnação, para resgates pesados, em meio

familiar afinado com seu estado mental!

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Nosso estágio na Terra era um como exame para ascendência a

novos cursos.Tínhamos liberdade de ação, conquanto não

estivéssemos ao desamparo e fosse

muito relativa à liberdade com que

contávamos.Vínhamos obtendo

aprovação nos exames. Mário,

porém, incidia nas

causas passíveis de reprovação.