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O SIGNIFICADO DO NATAL DO SENHOR (Por Pe. Antônio de Assis Ribeiro – SDB) 1. O Sol Nascente nos Veio Visitar (cf. Lc 1,78) São Lucas narra que no oitavo dia, foram circuncidar o menino João Batista no templo (cf. Lc 1,59). Zacarias seu pai, que era sacerdote, com grande alegria, proclama a todos os presentes a grandeza da missão daquela criança e ao mesmo tempo declara a extraordinária manifestação de Deus no Messias. Cheio do Espírito Santo, Zacarias profetizou dizendo: “graças ao misericordioso coração do nosso Deus, o sol que nasce do alto nos visitará, para iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte; para guiar nossos passos no caminho da paz.» (Lc 1,78-79). Sim, por sua pura bondade, o Senhor Deus, o Sol Nascente nos veio visitar! (cf. Lc 1,78-79). Jesus Cristo é o “Emanuel”, “DEUS CONOSCO” (cf. Mt 1,23). “Conosco”, não somente “no planeta terra”... É “conosco” em nossa natureza humana; “conosco” em nossa forma humana; “conosco” em nossa condição existencial; “conosco” em nossos sentimentos (humanos); “conosco” em nossa pequenez; “conosco” em nossas limitações; “conosco” em nossas inquietudes... A Carta aos Hebreus afirma: “ele foi provado como nós, em todas as coisas, menos no pecado” (Hb 4,15). 2. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). É com essa maravilhosa afirmação que o evangelista São João descreve, numa só frase, o mistério da encarnação do Filho de Deus. Encarnação, quer dizer, assumir a carne; carne significa a realidade humana na sua totalidade com todas as suas dimensões. O Filho de Deus, antes sem corpo, agora toma forma humana, fazendo-se humano. É a divindade que se humaniza, sem deixar de ser o que é; e a humanidade, por sua vez, é divinizada, sem deixar suas características próprias, sem confusão! Deus vem ao encontro da humanidade fazendo-se um de nós e sem deixar de ser Deus. Que mistério! A palavra “verbo” usada pelo evangelista João, no início do seu evangelho, quer significar a essência do Filho de Deus antes de vir ao mundo (cf. Jo 1,1,). O Filho de Deus já existia, mas não tinha corpo material, mas unicamente espírito! De fato a palavra não tem expressão material, não tem cor, nem peso, nem medida física; a palavra é sopro, hálito, som... Por isso é invisível, misteriosa, intocável, aérea, fugaz, intangível... Mas sempre perto de nós, nos comunica, provoca, anima, educa, adverte...! Quando João nos fala da transformação da Palavra, nos quer falar da beleza do movimento divino para tornar-se capaz de interação com os seres humanos, de modo humano... e a melhor maneira, era fazer-se humano! O autor da Carta aos Hebreus inicia sua obra contemplando o mistério de Cristo dizendo: “Nos tempos antigos, muitas vezes e de muitos modos, Deus falou aos antepassados por meio dos profetas. No período final em que estamos, falou a nós por meio do Filho. Deus o constituiu herdeiro de todas as coisas e, por meio dele, também criou os mundos. O Filho é a irradiação da sua glória e nele Deus se expressou tal como é em si mesmo. O Filho, por sua palavra poderosa, é aquele que mantém o universo” (Hb 1,2-3).

Significando o Natal do Senhor

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Page 1: Significando o Natal do Senhor

O SIGNIFICADO DO NATAL DO SENHOR (Por Pe. Antônio de Assis Ribeiro – SDB)

1. O Sol Nascente nos Veio Visitar (cf. Lc 1,78)

São Lucas narra que no oitavo dia, foram circuncidar o menino João Batista no templo (cf. Lc 1,59). Zacarias seu pai, que era sacerdote, com grande alegria, proclama a todos os presentes a grandeza da missão daquela criança e ao mesmo tempo declara a extraordinária manifestação de Deus no Messias. Cheio do Espírito Santo, Zacarias profetizou dizendo: “graças ao misericordioso coração do nosso Deus, o sol que nasce do alto nos visitará, para iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte; para guiar nossos passos no caminho da paz.» (Lc 1,78-79).

Sim, por sua pura bondade, o Senhor Deus, o Sol Nascente nos veio

visitar! (cf. Lc 1,78-79). Jesus Cristo é o “Emanuel”, “DEUS CONOSCO”

(cf. Mt 1,23). “Conosco”, não somente “no planeta terra”... É “conosco”

em nossa natureza humana; “conosco” em nossa forma humana;

“conosco” em nossa condição existencial; “conosco” em nossos

sentimentos (humanos); “conosco” em nossa pequenez; “conosco” em

nossas limitações; “conosco” em nossas inquietudes... A Carta aos

Hebreus afirma: “ele foi provado como nós, em todas as coisas, menos

no pecado” (Hb 4,15).

2. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).

É com essa maravilhosa afirmação que o evangelista São João descreve, numa só frase, o

mistério da encarnação do Filho de Deus. Encarnação, quer dizer, assumir a carne; carne

significa a realidade humana na sua totalidade com todas as suas dimensões.

O Filho de Deus, antes sem corpo, agora toma forma humana, fazendo-se humano. É a

divindade que se humaniza, sem deixar de ser o que é; e a humanidade, por sua vez, é

divinizada, sem deixar suas características próprias, sem confusão! Deus vem ao encontro da

humanidade fazendo-se um de nós e sem deixar de ser Deus. Que mistério!

A palavra “verbo” usada pelo evangelista João, no início do seu evangelho, quer significar a

essência do Filho de Deus antes de vir ao mundo (cf. Jo 1,1,). O Filho de Deus já existia, mas

não tinha corpo material, mas unicamente espírito! De fato a palavra não tem expressão

material, não tem cor, nem peso, nem medida física; a palavra é sopro, hálito, som... Por isso

é invisível, misteriosa, intocável, aérea, fugaz, intangível... Mas sempre perto de nós, nos

comunica, provoca, anima, educa, adverte...!

Quando João nos fala da transformação da Palavra, nos quer falar da beleza do movimento

divino para tornar-se capaz de interação com os seres humanos, de modo humano... e a

melhor maneira, era fazer-se humano! O autor da Carta aos Hebreus inicia sua obra

contemplando o mistério de Cristo dizendo:

“Nos tempos antigos, muitas vezes e de muitos modos, Deus falou aos antepassados

por meio dos profetas. No período final em que estamos, falou a nós por meio do

Filho. Deus o constituiu herdeiro de todas as coisas e, por meio dele, também criou os

mundos. O Filho é a irradiação da sua glória e nele Deus se expressou tal como é em

si mesmo. O Filho, por sua palavra poderosa, é aquele que mantém o universo” (Hb

1,2-3).

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Dessa forma, quem escuta a sua Palavra, deve acolher a sua pessoa! A Palavra assumiu um

corpo físico e fez-se presente entre nós!

3. O Deus escondido se manifesta! (cf. Is 45,15)

Deus cumpriu a promessa de vir ao mundo e o sonho dos profetas que falava do Messias

chegando, se converteu em realidade, em história, em fato (cf. Is 7,10-14). A divindade saiu

da abstração! O “Deus escondido, o Deus Salvador” (cf. Is 45,15), se manifestou!

Deus é solidário, fazendo-se presente na história dos homens! O evangelista João ainda

insiste dizendo: “aquilo que existia desde o princípio (o Deus de Filho)”, invisível, se mostrou; o que

ouvimos dos profetas, se cumpriu; o que vimos com nossos olhos (a pessoa de Jesus), o que contemplamos e tocamos com nossas mãos, agora testemunhamos (cf. Jo 11,1-2).

E assim Deus se manifestou como Pastor presente que anda em meio ao rebanho, pedagogo

que acompanha educando, guia que dirige os passos da humanidade pelos caminhos da vida

plena (cf. Lc 1,79).

4. As lições de Deus: para salvar, se aproxima!

Precisamos algo mais do que mensagens natalinas! É necessário que nossos bons propósitos

se convertam em ações, se materializem em obras! A prática da assimilação do bem não é

fácil! Deus transcende a virtualidade, assume um corpo não porque dele necessite, mas

porque sabe que para salvar é preciso estar próximo, portanto, assume a corporeidade como

instrumento salvífico!

A prática do bem requer visibilidade, a prática significa relação, a prática envolve os

sentidos... Então, Deus “onipotente”, “onipresente”, “onisciente”, “invisível”, “espírito

absoluto” decide, por sua liberalidade, assumir uma forma passando assim a ser uma

referência concreta capaz de ser vista, identificada, acolhida, observada, seguida: é Jesus de

Nazaré!

A divindade que, tudo transcende (supera), abraça a humanidade limitada! Deus se faz

solidário e, nessa solidariedade, assume a fragilidade, a limitação, o tempo, o espaço e tudo

o que é naturalmente humano... Contudo, sem deixar de ser Deus! A Encarnação, é

Solidariedade e não renúncia da Identidade Divina... Caso contrário, jamais poderia ser o

nosso Salvador!

Celebrar o Natal é fazer memória de tudo isso! Nasce daí o compromisso de aprendermos

com o exemplo de Deus que, encarnando-se, denuncia toda e qualquer prepotência,

indiferença, invisibilidade, distanciamento, impessoalidade, exclusão, orgulho, fechamento...

A fé é a vivência cotidiana do “Deus conosco”!

Feliz Natal!

FONTE:

RIBEIRO, Antônio de Assis. In: “O TAPIRI”, Boletim Informativo da Inspetoria

Salesiana São Domingos Sávio, No. 170, Novembro/Dezembro 2014, pag. 18-20. Manaus –Am – Brasil

http://issuu.com/inspetoriasalesiana/docs/tapiri_170_digital_novembro_dezembr