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DALMAGRO. Bruna. 1 O corpo que parecia não poder ser um valor cultural tornou-se um valor-fetiche que penetra todas as esferas da cultura: o corpo tornou-se o grande mediador da cultura contemporânea em regime de capitalismo avançado. Uma sociedade que, em conseqüência do fetichismo não tem consciência de si mesma, não decide livremente, não utiliza suas potencialidades, também não tem condições de organizar inteiramente sua própria forma de socialização. O trabalho sob as condições gerais de realização constitui a consciência humana. Contudo, sob as condições capitalistas, o trabalho configura outros processos, o primeiro deles, a alienação. De acordo com Marx (2002), a alienação pode manifestar-se pela alienação do produto desenvolvido pelo indivíduo, o qual não se reconhece naquele. O objeto produzido pelo trabalho, o seu produto, opõe-se a ele como um estranho, como um poder independente do produtor. O produto do trabalho é o trabalho que se fixou num objeto, que se transformou em coisa física, é a objetivação do trabalho. Artistas do cinema e televisão funcionam como um grande modelo a ser copiado em suas atitudes, em seus gestos e, ainda, em seus corpos, porquanto a televisão não contrata pessoas feias para trabalharem, a não ser aquelas usadas para expressar as caricaturas e o que não deve ser seguido ou feito. Dentre este se destacam os modelos de 1 Acadêmica do curso de Jornalismos da FADEP

Artigo Axiologia

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DALMAGRO. Bruna. 1

O corpo que parecia não poder ser um valor cultural tornou-se um valor-fetiche

que penetra todas as esferas da cultura: o corpo tornou-se o grande mediador

da cultura contemporânea em regime de capitalismo avançado.

Uma sociedade que, em conseqüência do fetichismo não tem

consciência de si mesma, não decide livremente, não utiliza suas

potencialidades, também não tem condições de organizar inteiramente sua

própria forma de socialização.

O trabalho sob as condições gerais de realização constitui a

consciência humana. Contudo, sob as condições capitalistas, o trabalho

configura outros processos, o primeiro deles, a alienação. De acordo com

Marx (2002), a alienação pode manifestar-se pela alienação do produto

desenvolvido pelo indivíduo, o qual não se reconhece naquele. O objeto

produzido pelo trabalho, o seu produto, opõe-se a ele como um estranho,

como um poder independente do produtor. O produto do trabalho é o

trabalho que se fixou num objeto, que se transformou em coisa física, é a

objetivação do trabalho.

Artistas do cinema e televisão funcionam como um grande modelo a

ser copiado em suas atitudes, em seus gestos e, ainda, em seus corpos,

porquanto a televisão não contrata pessoas feias para trabalharem, a não ser

aquelas usadas para expressar as caricaturas e o que não deve ser

seguido ou feito. Dentre este se destacam os modelos de corpos a serem

seguidos ou não bem como todos os recursos para se alcançar esse

padrão.

Portanto, a forma do corpo é determinada pelos interesses

relacionados à produção e ao consumo vigentes no modo de produção

capitalista

Existem leis injustas: devemos simplesmente obedecer-lhes ou tentar corrigi-

las?

Sabemos que a vida em sociedade nos impõe normas regulando a

convivência humana, normas que, ainda que, limitem as liberdades das pessoas,

são necessárias para a estrutura fundamental do convívio social, a fim de que a 1 Acadêmica do curso de Jornalismos da FADEP

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ordem seja mantida. Porém, o que nos perguntamos é se agimos ou não por causa

desse conjunto de normas que regem a vida em sociedade, mais especificamente

em decorrência das sanções impostas aos casos de descumprimento, ou, se esta

obediência se dá por razões morais, religiosas e políticas. Desta forma, o normal em

uma sociedade é que o direito seja obedecido em prol do bem comum e não pela

repressão, pelo receio à pena imposta pelo próprio direito. Porém, pode-se dizer que

algumas vezes as pessoas obedecem às leis também por este motivo, ou seja, pelo

medo de sofrer as sanções por elas impostas.

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INTRODUÇÃO

O embasamento principal da percepção de valores é o de que as pessoas

podem ser ajudadas a pensar sobre as questões de valores e a agregar as suas

escolhas, podendo então continuar a fazer isso pela vida fora, aumentando a sua

possibilidade de autodireção esclarecida. Para os autores consultados, mais do que

oferecer uma teoria para promover o comportamento inteligente e autodirigido, a sua

teoria de clarificação de valores constitui um guia para os que trabalham com jovens,

com numerosas sugestões de trabalho e que só poderá ser avaliado a partir dos

elementos colhidos na sua experimentação.

Neste processo o educador encoraja a criança, o jovem ou o adulto, a

iluminar aquilo que valorizam, e não intenta persuadi-los a aceitarem um conjunto

preestabelecido de valores. Para ter sucesso, o educador precisa encorajar as

crianças e jovens a fazerem mais escolhas e a fazê-las livremente, ajudar a

descobrir alternativas e a refletir nas conseqüências de cada uma, ao mesmo tempo

que encoraja a considerarem o que apreciam e a afirmarem-no, quando necessário

e oportuno, bem como a atuarem e a comportarem-se de acordo com as escolhas,

de maneira sistemática. Este tipo de estratégia deverá sempre aparecer como um

convite e não como uma obrigação.

Este artigo aborda as bases axiológicas da educação. Comparando textos de

autores que discutem sobre o tema da fundamentação dos valores morais e a

educação moral.

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ANÁLISE E DISCUSÃO DOS ASSUNTOS E TEXTOS

O estudo da problemática dos valores é muitas vezes denominado de

axiologia, que é um termo derivado do grego axia e que significa “valor”. Num

trabalho de natureza filosófica sobre valores é conveniente, antes de tudo,

esclarecer, pelo menos em termos gerais, o sentido do conceito de valor, apontando

também algumas das dificuldades que lhe são inerentes. De início, pode-se adiantar

que não há um só, mas muitos sentidos para o termo valor como diz André Lalande

(1999) no seu Vocabulário técnico e crítico da Filosofia: a) característica das coisas

que consiste em serem elas mais ou menos estimadas ou desejadas por um sujeito

ou, mais freqüentemente, por um grupo de sujeitos determinados. Este é um

significado subjetivo. b) Característica das coisas que consiste em merecerem elas

maior ou menor estima. Este é um significado objetivo. c) Característica das coisas

que consiste em elas satisfazerem um certo fim. Trata-se do caráter

objetivo/hipotético. d) Característica de coisas que consiste no fato de, em

determinado grupo social e em determinado momento, serem trocadas por uma

quantidade determinada de uma mercadoria tomada como unidade. e) Preço que se

estima do ponto de vista normativo deva ser pago por um determinado objeto ou

serviço (justo valor). f) A significação não só literal, mas efetiva e implícita que

possuem uma palavra ou expressão.

Segundo Cabanas (1996), para algumas posições filosóficas, valores são os

critérios últimos de definição de metas ou fins para as ações humanas e não

necessitam de explicações maiores além deles mesmos para assim existirem. Ou

seja, devemos ser bons porque a bondade é um valor, honestos porque a

honestidade é um valor, e assim por diante com outros valores como a

solidariedade, a tolerância, a piedade, que têm um caráter natural, universal e

obrigatório em nossa existência. Para outras posições, os valores são determinados

por culturas particulares e em função de certos momentos históricos, variando,

portanto, de acordo com cada sociedade e período de sua existência. As ações

humanas seriam, assim, avaliadas de acordo com os costumes locais; algo

considerado um dia como correto e justo poderia ser, em outra época, considerado

errado ou injusto.

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Uma verdadeira educação em valores no entendimento de Ramiro Marques

(1993) tem que possuir um enquadramento antropológico e filosófico sólido e

seguro, deve ser abrangente, ou seja, incluir não só o domínio cognitivo, mas

também os domínios afetivo e volitivo e alargar o seu campo não só aos valores

sociais, mas também aos valores pessoais. Para, além disso, deverá propor escalas

de valores e acentuar o respeito pelas hierarquias de valores, ajudando o aluno a

ser capaz de sacrificar os valores mais baixos aos valores mais elevados. A ideia de

que escolher o Bem é preferir os valores superiores aos valores inferiores é uma

ideia central em qualquer programa de educação em valores.

Segundo Marques, o insucesso da maior parte dos programas de educação

em valores resulta do fato de estarem saturados da ideia de que os alunos são

capazes de construir os valores. Para o autor, isso não é verdade, pois se os

valores puderem ser construídos pela criança, então temos de admitir que não existe

qualquer objetividade nos valores e que estes não passam, portanto, de preferências

e estimativas individuais. Grandes axiólogos, como Max Scheler, Nicolai Hartmann,

Louis Levelle e René le Senne partilham a noção da existência de valores absolutos

que se impõem ao sujeito e que podem ser conhecidos, captados e recebidos, mas

que não podem ser construídos. Estão neste caso, os valores lógicos, os valores

éticos e, em certa medida, todos os valores ideais e racionais.

Observa-se que atribuem-se ao valor dois caracteres contrastantes, o

absoluto e o relativo: o primeiro constitui o modo de ser do valor em si e o segundo,

o seu modo de ser na história. A história é aqui entendida como relativa, como uma

criação humana. Esta também é a posição de Max Weber (1864-1920) que via na

história uma incessante criação de valores, cada qual relativo ao fugaz momento em

permanente luta com valores diferentes que se oferecem ao arbítrio do homem.

Marcos Silva considera o processo axiológico pós-moderno sobre o pano de

fundo das transformações técnico-científicas, produtivas, sociais, filosóficas e

espirituais eu configuram a presente mutação civilizacional.

Para Silva a criação da corte internacional permanente em julho de 1998 em

Roma, foi de primordial importância para julgar crimes contra a humanidade, de

guerra e de genocídio.

Pedro Goergen discorrem sobre a ética e a moral na educação. Para Kant

citado por Goergen “o processo educacional deve submeter a natureza humana a

regras por meio da disciplinação, da cultivação, da civilização e da moralização. Esta

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função não pode ser cumprida pelo professor que transmite informações, mas pelo

educador que educa para a vida. “O bom professor”, assim Annemarie Pieper

resume o pensamento de Kant, “deve estar, ele mesmo, comprometido com a ideia

de liberdade, a qual é ao mesmo tempo o objetivo de sua atividade educativa na

medida em que almeja transformar o educando num cidadão esclarecido, maduro,

autônomo, capaz de autodeterminar-se e responder por seus atos” (KANT, 2003, p.

143).

Dilthey também analisa a relação entre ética, pedagogia e filosofia da religião

e conclui que a pedagogia recebe da ética os seus objetivos gerais e da psicologia

os procedimentos e normas através dos quais ela pode alcançar tais objetivos.

Como, porém, a ética não pode determinar, de uma vez por todas, o sentido da vida,

uma vez que o ideal é sempre mutável e condicionado historicamente, a pedagogia

pode ser uma teoria universalmente válida na medida em que assume aquelas

normas éticas incondicionais que têm validade eterna e não dependem das

circunstâncias históricas.

De acordo com a perspectiva axiológica da educação para os valores é

impossível considerar o ato educativo dissociado do ato valorativo: a pessoa

educada reconhece-se pelas interpretações valorativas que faz.

Para Pedro Goergen, não são apenas os conteúdos que o educando vai

assumindo ao longo do processo de aprendizagem que têm influência sobre sua

formação moral, mas também o comportamento dos educadores, sejam pais ou

professores, se encontra ao abrigo das categorias da moralidade. Estes dois

aspectos – o conteúdo assimilado pelos educandos e as atitudes dos educadores –

revelam tanto a mediatividade ética da pedagogia quanto a mediação moral da

educação.

O valor não é algo estático que possa ser conhecido e depois conservado. Ele

depende das experiências e do processo de amadurecimento dos sujeitos. No

processo educativo, isso significa que o adulto deverá renunciar a qualquer tentativa

de persuadir os jovens a aceitar um conjunto predeterminado de valores. A única

coisa que a educação pode fazer é estimular o aluno a assumir o próprio processo

de valoração. (GOERGEN).

Do ponto de vista individual, a pessoa busca a satisfação de seus desejos,

impulsos e instintos; do ponto de vista social, tais impulsos individuais conflitam com

os de outras individualidades e precisam encontrar formas de equilíbrio que

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permitam a convivência respeitosa e pacífica. No interesse de todos é preciso

encontrar formas de entendimento (consensos) sobre como se portar para garantir

condições de vida e liberdade para todos. Caso contrário, valeria apenas a lei do

mais forte, instalar-se-ia a guerra de todos contra todos. Neste sentido, compete à

educação moral, é verdade, “a tarefa de ensinar a cada um dos sujeitos e aos

diferentes grupos humanos a viver no seio de uma comunidade” (Puig, 1998, p. 27),

mas também o empenho de transformar esta sociedade numa sociedade mais digna

e justa para todos.

Observa-se que Goergen relata as graves implicações que os rumos da

ciência e tecnologia tiveram para áreas vitais das pessoas, da sociedade e da

própria natureza, a ética tornou-se preocupação universal de grande urgência.

Partindo de uma definição de conceito de valor, o autor expõe, desde um ponto de

vista histórico as vertentes individualista, social, pós-moderna e teórico-crítica, para

concluir com algumas observações sobre a formação do sujeito moral. Todo o

trabalho está perpassado pelo olhar da educação.

Marcos Silva apresenta um histórico sobre as bases axiológicas da educação

na sociedade do conhecimento demonstrando o caráter paradoxal do momento

epistemológico atual, que se por um lado justifica o imperativo globalitário, por outro

lado abre espaço ao elemento transcendental. Este paradoxo se reflete no

antagonismo de valores que as duas imagens do professor carregam, ou seja, o

Mistagogo2 ou o Executivo de ensino.

Bianca Reguero faz uma análise sobre o discurso axiológico perante o

marxismo e o existencialismo. De acordo com os resultados e as conclusões de seu

trabalho, destaca-se que a formação de valores é um processo que se desenvolve

de forma espontânea, não dirigida nem explícita, no transcurso das relações

cotidianas, através da forma como se orienta a apropriação de conhecimentos e

normas que são estabelecidas para reger o comportamento escolar e através do tipo

de interações pessoais que são estabelecidas entre professores e alunos.

Partindo-se do pressuposto de que a educabilidade ou a capacidade

permanente do sujeito para adquirir novos conhecimentos, constitui uma condição

essencial à aprendizagem, em geral, e ao ensino dos valores, em particular.

2 Sacerdote que iniciava nos mistérios da religião (ensinava as cerimônias e os ritos), entre os gregos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em conclusão ao visto no decorrer do artigo importa-se, saber como se

caracterizam os valores: isto é, qual a natureza e hierarquia dos valores; qual o lugar

que ocupam no contexto pedagógico e de que modo é que influenciam o

desenvolvimento integral do sujeito.

Ramiro Marques conclui que não vale a pena investir em programas de

educação em valores que ofereçam uma educação moral meramente formalista, que

subvalorize a dimensão afetiva e a dimensão volitiva (relacionada às necessidades,

aos desejos, à aspiração, ao que o indivíduo queira, deseja ou aspira, à sua

vontade) e esqueça que a educação em valores não pode reduzir-se à educação

moral.

A educação para valores segundo Pedro Goergen, deve ser feita

intencionalmente para influenciar positivamente o sujeito, propondo-lhes espaços de

reflexão sobre os problemas morais que impliquem uma realização atuante em

conformidade. Desta forma, é preciso tomar consciência dos seus valores e

fundamentá-los, atualizar ou reconhecer a importância dos conhecimentos ou

informações, ou seja, desenvolver seu próprio quadro de referências, criando a

possibilidade de o expressar fundamentalmente num contexto de conflito.

Segundo este autor, quando os valores absolutos entram em crise geralmente

se impõe uma concepção relativista de valores, que transferem as instâncias

decisivas para o âmbito da subjetividade. Este encaminhamento não reconhece

mais que haja a possibilidade de soluções universais e generalizáveis para os

problemas morais. O fato de se negar a possibilidade de soluções generalizáveis

não significa a imposição da indiferença ou do relativismo diante das controvérsias

morais. Significa apenas que as controvérsias têm que ser resolvidas mediante

decisões individuais pelos indivíduos afetados. Do ponto de vista educacional, isto

significa que o professor deve levar os seus alunos a refletir sobre quais são os

valores com os quais podem sentir-se comprometidos e responsáveis. A tarefa

educativa fica reduzida ao estímulo da reflexão pessoal e do esclarecimento pessoal

dos alunos. Cada indivíduo é responsável pela construção de sua própria vida e, no

que se refere aos valores de ordem pública e social, serão as contribuições

científicas e técnicas que irão decidir.

BIBLIOGRAFIA

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HOBBES, Thomas. Do Cidadão, São Paulo: Martins Fontes, 1992

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PUIG, J.M. A construção da personalidade moral. São Paulo: Ática, 1998.

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