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1 Calagem e adubação da beterraba* Paulo Espíndola Trani ( 1 ) Sebastião Wilson Tivelli ( 2 ) Thiago Leandro Factor ( 3 ) José Maria Breda Júnior ( 4 ) ( 1 ) Instituto Agronômico, Centro de Horticultura, Campinas (SP). [email protected] ( 2 ) APTA - UPD São Roque (SP). [email protected] ( 3 ) APTA - Polo Regional Nordeste Paulista, Mococa (SP). [email protected] ( 4 ) COOPERBATATA, Vargem Grande do Sul (SP). [email protected] * Campinas (SP), junho de 2013 INTRODUÇÃO A cultura da beterraba de mesa (Beta vulgaris L.) situa-se entre as espécies hortícolas que mais respondem à calagem bem como às adubações orgânica e mineral. No Estado de São Paulo predomina o cultivo de beterrabas de ciclo entre 80 e 100 dias, no sistema de semeadura direta, com ou sem canteiros e também, em área menor, com o plantio de mudas. A época ideal para o cultivo é o outono - inverno com temperaturas entre 15 e 20 o C. No verão, apesar de existirem cultivares tolerantes ao calor (temperaturas médias entre 25 e 30 o C) a produtividade é menor devido à alta incidência de doenças fúngicas, o que requer mais atenção com o controle destas além de pragas diversas. A maior parte da área plantada (pelo menos 90%) é composta de cultivares destinadas à colheita de raízes onde a parte aérea é descartada (Figura 1).

Calagem e adubação da beterraba

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Calagem e adubação da beterraba*

Paulo Espíndola Trani (

1)

Sebastião Wilson Tivelli (2)

Thiago Leandro Factor (3)

José Maria Breda Júnior (4)

(1) Instituto Agronômico, Centro de Horticultura, Campinas (SP). [email protected]

(2) APTA - UPD São Roque (SP). [email protected]

(3) APTA - Polo Regional Nordeste Paulista, Mococa (SP). [email protected]

(4) COOPERBATATA, Vargem Grande do Sul (SP). [email protected]

* Campinas (SP), junho de 2013

INTRODUÇÃO

A cultura da beterraba de mesa (Beta vulgaris L.) situa-se entre as espécies hortícolas

que mais respondem à calagem bem como às adubações orgânica e mineral.

No Estado de São Paulo predomina o cultivo de beterrabas de ciclo entre 80 e 100

dias, no sistema de semeadura direta, com ou sem canteiros e também, em área menor,

com o plantio de mudas. A época ideal para o cultivo é o outono - inverno com temperaturas

entre 15 e 20 oC. No verão, apesar de existirem cultivares tolerantes ao calor (temperaturas

médias entre 25 e 30 oC) a produtividade é menor devido à alta incidência de doenças

fúngicas, o que requer mais atenção com o controle destas além de pragas diversas.

A maior parte da área plantada (pelo menos 90%) é composta de cultivares

destinadas à colheita de raízes onde a parte aérea é descartada (Figura 1).

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Figura 1. À esquerda, colheita de beterraba no campo descartando-se as folhas através de corte manual. À direita, caixa com raízes de beterraba para posterior lavagem e classificação. São José do Rio Pardo, 2007. (Foto: Paulo E. Trani).

Existe também o plantio e comercialização de beterrabas em maços (raízes+parte

aérea) nesse caso predominando o cultivo de híbridos de porte mais uniforme (Figura 2).

Figura 2. Beterraba comercializada em maços na CEAGESP. São Paulo, 2007. (Foto:

Sebastião W. Tivelli).

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1. Coeficientes Técnicos e Custo de Produção

A região de São José do Rio Pardo é uma das mais representativas quanto à

produção de beterraba no Estado de São Paulo. Na tabela 1 são apresentados os

coeficientes técnicos da cultura e o custo de produção para o mês de junho de 2011.

Verifica-se um significativo gasto de 28,2% referentes aos custos com calcário, fertilizantes e

sua aplicação ao solo, em relação ao total das despesas com a implantação, manejo e

colheita da beterraba. Torna-se, portanto, fundamental a realização e interpretação da

análise de solo e da análise foliar para o cálculo correto da calagem e adubação.

Deve ser ressaltado que a produtividade citada nesta tabela, de 30 t ha-1 de raízes

encontra-se próxima às aquelas mencionadas pelo Instituto de Economia Agrícola para o

Estado de São Paulo (28 t ha-1 de raízes) em anos recentes. Este fato permite inferir que a

proporção dos gastos com calcário e fertilizantes em outras regiões do Estado deve estar

bastante próxima aos dados apresentados na tabela 1.

É importante mencionar que com a adoção de novas técnicas de plantio, uso de

irrigação, híbridos altamente produtivos, adubação equilibrada e estande de plantas

adequado (450 a 550 mil plantas por ha), tem-se obtido produtividades de até 60 t ha-1, na

época de outono-inverno na região de São José do Rio Pardo.

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Tabela 1. Coeficientes técnicos de produção e viabilidade econômica da beterraba divulgada pela COOXUPÉ - Núcleo de São José do Rio Pardo (SP) em junho de 2011, para uma produtividade de 30 t ha-1 de raízes (1.200 caixas K de 25 kg por hectare).

Descrição Quantidade Unidade V. Unitário(R$) Total (R$)

A - PREPARO DO SOLO Limpeza da área 2,0 HT 35,00 70,00 Aração 4,0 HT 50,00 200,00 Gradagem (2x) 6,0 HT 50,00 300,00 Encanteiramento e semeadura 6,0 HT 80,00 480,00 Conservação do solo 2,5 HT 50,00 125,00 Aplicação de fertiliz. orgânico 4,0 HT 35,00 140,00

SUB TOTAL A 1.315,00

B - MÃO DE OBRA E TRATOS CULTURAIS Irrigações (6x) 3,0 DH 40,00 120,00 Aplicação fertiliz. min. plantio 1,0 DH 40,00 40,00 Aplicação fertiliz. orgânico 2,0 HM 35,00 70,00 Raleação (desbaste) 30,0 DH 40,00 1.200,00 Adubações de cobertura (3x) 3,0 DH 40,00 120,00 Pulverizações fitossanit. (6x) 3,0 DH 40,00 120,00 Colheita (colher e cortar folhas) 30,0 DH 40,00 1.200,00

SUB TOTAL B 2.870,00

C - INSUMOS Sementes 6,0 kg 50,00 300,00 Fertilizante 04-14-08 + B + Zn 0,75 t 750,00 562,50 Fertilizante cobert. (20-00-20) 0,50 t 950,00 475,00 Cama (“piso”) de galinha 5,00 t 120,00 600,00 Mancozebe (2x) 5,0 kg 16,00 80,00 Oxicloreto de cobre (2x) 2,0 kg 15,00 30,00 Azoxistrobina+Difenocon. (2x) 0,2 kg 400,00 80,00 Organofosforado (3x) 2,0 L 16,50 33,00 Piretróide (3x) 0,6 L 45,00 27,00 Ciromazina (2x) 2,0 emb/15 g 18,00 36,00 Espalhante adesivo 20,0 L 6,50 130,00 Energia elétrica 2.000 kW 0,29 580,00

SUB TOTAL C 2.933,50

D - TRANSPORTE INTERNO Fertiliz. de plantio e cobertura 4,0 HT 35,00 140,00 Colheita 10,0 HT 35,00 350,00

SUB TOTAL D 490,00

TOTAL (A + B + C +D) 7.608,50

VIABILIDADE ECONÔMICA Produção Estimada (kg) 30.000 Receita Bruta Estimada 15.000,00 Total do Custo (Orçamento) 7.608,50

LUCRO 7.391,50 HT = hora trator; DH = dia homem; HM = hora máquina. Fonte: Breda Jr., J.M., 2011

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2. Nutrição Mineral

A beterraba apresenta um crescimento intenso até os 80 dias após sua semeadura,

sendo que tanto a parte aérea como a raiz continuam a crescer até o final do ciclo. A

absorção de nutrientes é contínua dos 40 dias até a colheita, com maior intensidade a partir

do 60 dias após a semeadura. Na Horta Experimental da ESALQ, em Piracicaba (1988) em

um solo de alta fertilidade (Terra Roxa Estruturada, atualmente Nitossolo Vermelho

Eutroférrico) verificou-se que para uma população de 330.000 plantas ha-1, a beterraba (cv

Early Top Wonder) extraiu os macronutrientes (em kg ha-1): N = 78; P = 18 (corresponde a

41 de P2O5); K = 203 (corresponde a 244 de K2O); Ca = 20; Mg = 29 e os micronutrientes

(em g ha-1): Cu = 23; Fe = 736; Mn = 584 e Zn = 388. A alta absorção de potássio pelas

plantas de beterraba verificada nesse tipo de solo deve-se em parte ao “consumo de luxo”

que significa a extração deste nutriente acima da necessidade nutricional da planta quando

cultivada em solos ricos em potássio trocável.

Conforme ampla revisão de literatura nacional e internacional é válido citar as

seguintes quantidades de nutrientes extraídas pela beterraba (produtividades entre 20 e 65

t ha-1 de raízes + folhas): macronutrientes em kg ha-1: N = 78 a 275; P = 18 a 40 (ou seja 41

a 92 de P2O5); K= 83 a 476 (ou seja 100 a 571 de K2O) ; Ca = 20 a 74; Mg = 27 a 62.

Quanto aos micronutrientes, os trabalhos realizados no Brasil e no Exterior são mais

escassos. Pode-se citar como exemplo a seguinte exportação de micronutrientes (em g ha-1)

pelas raízes quando se considera uma produtividade de 20 t ha-1 de beterraba: B = 44;

Cu = 22; Fe = 406; Mn = 24; Mo = 0,3 e Zn = 62.

A análise química das folhas permite fornecer a interpretação sobre o estado

nutricional da cultura. No caso da beterraba recomenda-se a amostragem durante o

desenvolvimento das plantas, de preferência no período entre 40 e 60 dias após plantio,

coletando-se o limbo das folhas recém-maduras centrais, de 30 plantas representativas da

lavoura. As faixas de teores adequados de macro e micronutrientes são apresentadas na

tabela 2, a seguir.

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Tabela 2. Faixas de teores adequados de macro e micronutrientes em folhas de beterraba.

N P K Ca Mg S

---------------------------------------------------g kg-1

----------------------------------------------------

30 – 50 2 – 4 20 – 40 25 – 35 3 – 8 2 – 4

B Cu Fe Mn Zn

---------------------------------------------------mg kg-1

--------------------------------------------------

40 – 80 5 – 15 70 – 200 70 – 200 20 – 100

3. Calagem

A maioria dos solos brasileiros apresenta características químicas inadequadas para o

cultivo intensivo de plantas, tais como: elevada acidez, altos teores de hidrogênio e alumínio

trocáveis além da deficiência de cálcio e magnésio. Portanto, a calagem é prática

fundamental para a correção da acidez do solo e para o fornecimento de cálcio e magnésio

às plantas. A cultura da beterraba está entre as hortaliças mais sensíveis à acidez do solo.

Assim sendo, os solos em que será cultivado beterraba devem ser corrigidos, quando

necessário, até obter 80 a 90% de saturação por bases, além de pH entre 6,5 e 7,0.

Dentre os corretivos da acidez do solo, os calcários são os mais comercializados. Os

calcários podem ser classificados em função do teor de óxido de magnésio (MgO) como

calcíticos, magnesianos ou dolomíticos. Calcários que apresentam até 5% de MgO são

denominados calcíticos; de 6-12% de MgO, magnesianos e acima de 12% de MgO,

dolomíticos.

Os calcários comuns têm PRNT (poder relativo de neutralização total) aproximado de

70% e devem ser incorporados ao solo de 60 a 90 dias antes da semeadura ou do plantio da

beterraba para ocorrer completa correção da acidez do solo.

Os calcários finamente moídos denominados “Filler” (PRNT próximo a 85-90%) e os

calcários parcialmente calcinados (PRNT de 95 a 100%) apresentam ação mais rápida na

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correção da acidez do solo (30 a 40 dias após a aplicação).

É importante que se realize a incorporação do corretivo até 20 a 30 cm de

profundidade, para possibilitar o pleno desenvolvimento das raízes da beterraba. Logo após

a incorporação do calcário, recomenda-se irrigar o local para que se atinja umidade

suficiente à reação do calcário junto ao solo.

Vale ressaltar que o gesso agrícola (sulfato de cálcio bi-hidratado) não corrige o pH do

solo. Tem como principal função fornecer cálcio e enxofre às culturas e também arrastar para

longe do alcance das raízes, o alumínio trocável do solo. Sua aplicação deve ser criteriosa,

pois o excesso de gesso agrícola também poderá acarretar a lixiviação para maiores

profundidades, além do Al+++, de cátions como o K+ e o Mg++.

4. Adubação

A recomendação de adubação para a cultura da beterraba no Estado de São Paulo é

a seguinte:

- Adubação orgânica: aplicar de 20 a 40 t ha-1 de esterco bovino bem curtido ou composto

orgânico, sendo a maior dose para solos arenosos. Pode-se utilizar também 1/4 dessas

quantidades com outros fertilizantes orgânicos tais como a cama de frango, o esterco de

galinha, de suínos ou equinos. Todos devem ser bem incorporados ao solo, entre 30 e 40

dias antes da semeadura ou plantio da beterraba. Vale lembrar que os fertilizantes orgânicos

além de melhorar a parte física e biológica do solo, fornecem parcialmente os nutrientes

necessários às plantas de beterraba. A velocidade de liberação dos nutrientes para as

plantas é gradativa e varia bastante conforme o tipo de solo e as temperaturas do período de

desenvolvimento da cultura.

- Adubação mineral de plantio: aplicar e incorporar de 7 a 10 dias antes da semeadura,

conforme a análise do solo (Tabela 3).

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Tabela 3. Recomendação de doses de NPK em pré-plantio, conforme análise de solo

Nitrogênio

P resina, mg/dm3

K+ trocável, mmolc/dm

3 Zn, mg/dm

3

0-25 26-60 61-120 >120 0-1,5 1,6-3,0 3,1-6,0 >6,0 0-0,5 0,6-1,2 >1,2

N, kg ha-1

----------P2O5, kg ha-1

---------- ----------K2O, kg ha-1

---------- -------Zn, kg ha-1

-------

20 a 40 360 240 160 80 160 80 40 20 3 1 0

Aplicar junto com o NPK em pré-plantio, 2 a 4 kg ha-1 de B, sendo as maiores doses em solos deficientes em boro ou pobres em matéria orgânica.

As doses de nutrientes a serem aplicadas antes da semeadura ou do plantio, podem

também variar conforme o sistema de distribuição dos fertilizantes, em área total do canteiro

ou nos sulcos de semeadura. Caso a análise de solo indique a necessidade de doses de

K2O no plantio, acima de 60-80 kg ha-1, o produtor deverá aplicar o fertilizante contendo

potássio em área total do canteiro. Isso porque a aplicação concentrada nos sulcos de

semeadura poderá acarretar a “queima das sementes”. Nessa situação deve-se utilizar a

maior parte de K em cobertura, dividida em 3 ou 4 aplicações durante o ciclo da cultura,

desde os 15 até 60 dias após a emergência das plantas.

O produtor de beterraba que aplica as fórmulas de fertilizantes em sulcos ou linhas

deve sempre regular a máquina para que o adubo fique situado 2,5 cm abaixo e 2,5 cm ao

lado das sementes, diminuindo assim, a possibilidade de “queima” das mesmas, causadas

principalmente pelo Cl- presente no cloreto de potássio.

- Adubação mineral de cobertura: 80 a 160 kg ha-1 de N e 60 a 120 kg ha-1 de K2O. No caso

da irrigação por aspersão convencional as doses poderão ser parceladas em 4 aplicações:

aos 15, 30, 45 e 60 dias após a germinação. Recomenda-se a proporção de 20%; 30%; 30%

e 20% das quantidades a serem aplicadas de nutrientes em cobertura. Caso seja utilizada a

fertirrigação, através de gotejamento ou pivô central, tais doses deverão ser parceladas em

maior número de vezes.

- Adubação foliar: aplicar em pulverização, aos 20 e 40 dias após a semeadura ou após o

transplante das mudas, 5 g de molibdato de sódio (ou molibdato de amônio), e 10 a 20 g de

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ácido bórico em 10 litros de água. Evitar a mistura dos micronutrientes com agrotóxicos para

não ocorrer incompatibilidade entre os componentes.

O boro via foliar também pode ser aplicado em conjunto com fertilizantes fontes de Ca

e N, como o nitrato de cálcio.

Ao iniciar a “tuberização” da raiz da beterraba, próximo dos 50 dias, realizar aplicação

foliar com sulfato de magnésio de 0,3 a 0,5% do volume de calda.

5. A importância do nitrogênio e do boro para a cultura da beterraba.

Dentre os nutrientes mais exigidos pela cultura da beterraba deve ser destacado o

nitrogênio o qual contribui para o aumento da produtividade por promover a expansão foliar

(essencial para a fotossíntese) e mais acúmulo de massa de raízes, além das folhas.

O manejo adequado da fertilização nitrogenada é importante também do ponto de vista

ambiental, pois o excesso de nitrogênio sendo facilmente lixiviado pela água da chuva ou da

irrigação pode atingir o lençol freático do solo.

Observa-se na literatura a existência de diferenças significativas nas quantidades de N

recomendadas para a beterraba de mesa. Isso se deve às diferentes exigências nutricionais das

cultivares utilizadas, às diferentes densidades de plantio e também aos diversos tipos de solo e

clima.

Experimentos com doses de nitrogênio, de 0 até 200 kg ha-1 de N, realizados na década

de 90, em Campinas (Figura 3) (Latossolo Vermelho Amarelo de textura média) e em Monte

Alegre do Sul (SP) (Figura 4) (Argissolo Vermelho Amarelo de textura franco-arenosa), com

teores de matéria orgânica de 2,0%, mostraram que as melhores produtividades de raízes de

beterraba situaram-se na faixa de 90 a 120 kg ha-1 de N, aplicado em cobertura. Nesses

experimentos, a análise foliar revelou boa correlação entre as doses de N aplicadas e os

teores de N nas folhas.

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Figura 3. A foto à esquerda mostra em primeiro plano, canteiro de beterraba onde se aplicou dose adequada de N e em segundo plano, canteiro onde se utilizou dose insuficiente de N. A foto à direita mostra raízes e parte aérea de beterraba que receberam doses crescentes de nitrogênio (0; 40; 80; 120; 160 e 200 kg ha-1 de N). Campinas, 1998. (Foto: Paulo E. Trani).

Figura 4. Estudo de adubação nitrogenada da beterraba em Monte Alegre do Sul, APTA-Polo Leste Paulista. A foto mostra a primeira cobertura com fertilizante nitrogenado aos 15 dias após a germinação. 1990. (Foto: Paulo E. Trani).

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Experimentos com doses de N e diferentes sistemas de plantio (semeadura direta e

transplante de mudas) em um Argissolo Vermelho Amarelo franco-argiloso, em São José do

Rio Pardo (Figura 5) mostraram que as doses entre 180 e 240 kg ha-1 de N foram aquelas

que proporcionaram as maiores produtividades. Nesse local, o plantio foi realizado sobre

palhada (dessecada) de braquiária. Uma parte do N aplicado, no sistema de “plantio direto”,

ao entrar em contato com a palhada na camada superficial e sub-superficial do solo é

utilizado por microrganismos úteis que mineralizam o material orgânico seco e

proporcionam o reequilíbrio da relação C/N do solo.

Figura 5. Aspecto no campo da cultura da beterraba onde foram pesquisadas diferentes doses de N e sistemas de “plantio direto”. Área da Fundação Municipal “Luciano Ribeiro da Silva”, em São José do Rio Pardo, 2010. (Foto: Thiago L. Factor).

É válido lembrar que quantidades excessivas de N afetam a qualidade nutricional

(valor alimentar) das raízes e folhas desta hortaliça, conforme demonstraram experiências

efetuadas em outros Países.

Outro elemento essencial e limitante para a beterraba é o boro, cuja deficiência causa

prejuízos à qualidade das raízes (Figura 6). O fornecimento do boro para as culturas em

geral deve ser preferencialmente via solo, antes da semeadura ou plantio. Na maioria das

vezes o fertilizante que contém o boro vem misturado aos adubos NPK para facilidade de

distribuição e uniformidade no solo. Recomenda-se as doses de 2 a 4 kg ha-1 de B, por

ocasião do plantio, conforme citado anteriormente. As maiores doses são recomendadas

para solos deficientes (teores inferiores a 0,3 mg kg-1 de B de solo) ou pobres em matéria

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orgânica, e as menores doses de B para os demais solos. O boro aplicado via foliar em

complemento à aplicação via radicular, tem as doses mencionadas no item “adubação foliar”.

Figura 6. Raízes de beterraba mostrando manchas corticóides e áreas necróticas escuras devido à deficiência de boro. A parte interna das raízes pode mostrar ou não tais sintomas, conforme o nível de deficiência no solo. Itapecerica da Serra, 2005. (Foto: Takenobu Miazato).

6. Outras recomendações

Para aproveitamento racional dos resíduos de corretivos e fertilizantes utilizados na

produção de beterraba, recomenda-se como rotação de cultura o cultivo de repolho, alface,

ervilha, cenoura, berinjela ou feijão-vagem. Tendo em vista que a beterraba tem uma ampla

faixa de plantio no ano, deve ser escolhido o período com temperaturas mais adequadas

como um fator condicionante na definição da espécie hortícola a ser utilizada no sistema de

rotação / sucessão de culturas.

Se na área de produção de beterraba, for constatado nematóide, fazer rotação de

cultura com espécies de adubos verdes, como Crotalaria juncea ou Crotalaria spectabilis,

milheto ou ainda um “mix” de crotalárias e milheto.

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7. Conclusões

A calagem e adubação são práticas agronômicas fundamentais para se obter altas

produtividades e também raízes e folhas de beterraba com boa qualidade comercial e

nutricional.

O cálculo correto das quantidades de calcário e fertilizantes a serem aplicados no

plantio e em cobertura deve sempre levar em conta a análise de solo e a análise foliar.

Com a adoção destas práticas, ao lado de outras, como a escolha certa da cultivar,

bom estande, irrigação correta e o controle equilibrado de pragas e doenças, será possível a

obtenção de melhores produtividades e qualidade das raízes.

A figura 7 mostra uma plantação de beterraba conduzida conforme modernas

técnicas agronômicas. A figura 8 mostra um engradado com raízes bem selecionadas

prontas para a comercialização.

Figura 7. Plantas de beterraba aos 55 dias mostrando boa uniformidade e ótimo estande, graças à semeadura bem calibrada e também à calagem e adubação bem executadas. São José do Rio Pardo, 2013. (Foto: José Maria Breda Jr).

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Figura 8. Raízes de beterraba após lavagem e classificação, prontas para a comercialização. No detalhe, raízes cortadas mostrando formato arredondado e boa intensidade de cor. 2007. (Foto: Paulo R. Nogueira Carvalho).

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