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Universidade de Aveiro Mestrado Comunicação e Educação em Ciência Temas da Actualidade I – Geologia Marinha MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS A PALAVRA da HIDROSFERA E A COMUNICAÇÃO Filipa M. Ribeiro Rita Portela Dezembro de 2006

MudançAs Climaticas E ComunicaçãO

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Universidade de Aveiro

Mestrado Comunicação e Educação em Ciência

Temas da Actualidade I – Geologia Marinha

MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS

A PALAVRA da HIDROSFERA

E A COMUNICAÇÃO

Filipa M. Ribeiro

Rita Portela

Dezembro de 2006

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ÍNDICE

PARTE I

INTRODUÇÃO ………………………………………………...……………..………..3

REGISTOS SEDIMENTARES ……………………………………………….………..5

Sedimentação nas margens continentais ……………………………………..……...….5

Sedimentação em águas profundas……………………………………………..……….6

A ALTERAÇÃO DO NÍVEL DO MAR COMO MEDIDA DO

AQUECIMENTO GLOBAL …………………………………………………………....6

SISTEMA CLIMÁTICO ………………………………………………………………..8

Componentes…………………………………………………………………………….8

O papel da criosfera ……………………………………………………………………..8

O REGISTO DAS GLACIAÇÕES ANTIGAS ………………………………...……..10

A MARCA DO HOMEM NO AQUECIMENTO GLOBAL DO SÉCULO XX ……..11

PARTE II

COMUNICAÇÃO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS ………………………….....14

Qual o grau de conhecimento, preocupação, percepção do risco e

disposição de alterar comportamento? ………………………………………………...14

Porque é tão difícil a comunicação das alterações climáticas e

consequente alteração de comportamentos? …………………………………………...15

Então qual o caminho a seguir para uma comunicação eficaz? ………………………..17

BIBLIOGRAFIA……………………………………………………………………….18

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PARTE I

INTRODUÇÃO

Foi a Teoria da Tectónica de Placas que nos facultou um entendimento básico das

diferenças entre a geologia continental e a geologia marinha. No mar não existem os

mesmos tipos de montanhas que existe em terra. Além disso, os fenómenos climáticos e

de erosão são muito menos importantes nos oceanos do que em terra, pois naqueles não

existem processos de fragmentação eficientes, tais como o congelamento ou o degelo,

nem existem os grandes agentes erosivos, tais como os rios. As correntes em águas

profundas podem erodir e transportar sedimentos, mas não mais que isso.

Assim, porque a deformação das placas tectónicas, os efeitos do clima e a erosão são

mínimos nos fundos marinhos, são processos como o vulcanismo e a sedimentação que

dominam o grosso da geologia marinha.

As chamadas cristas oceânicas são formadas por vulcanismo e o resto do fundo marinho

é formado por sedimentação. Esta, a grande profundidade, acontece de forma mais

contínua do que nos continentes e, por isso, preserva em melhores condições registos de

eventos geológicos, tais como, por exemplo, uma história mais detalhada das mudanças

climáticas na Terra.

Todavia, estes registos são limitados no tempo, pois a subducção está continuamente a

“engolir” as placas oceânicas, destruindo os sedimentos oceânicos por metamorfismo e

degelo. Em média, são precisas apenas algumas dezenas de milhões de anos para que

uma crosta criada numa crista oceânica se espalhar ao longo do oceano até entrar numa

zona de subducção.

É extremamente difícil mapear os fundos oceânicos devido à ausência total de luz.

Aliás, curiosamente é possível obter com maior precisão imagens do nebuloso planeta

Vénus do que dos fundos marinhos.

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É possível ver o fundo do mar directamente a partir de um submarino, pioneiramente

usado pelo conhecido francês Jacques- Yves Cousteau. Essas máquinas eram

multifunções: conseguiam fotografar a grandes profundidades e, com os seus braços

mecânicos, partir bocados de rocha, colher amostras de sedimentos ou de espécies

exóticas. Agora, os submersíveis robóticos são comandados por cientistas a partir de um

barco-mãe à superfície. Um dos maiores problemas com estes equipamentos é que

cobrem pequenas áreas comparando com o custo elevado que acarretam.

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REGISTOS SEDIMENTARES

Em quase todos os sítios onde os oceanógrafos pesquisam no mar, eles encontram um

manto de sedimentos. As lamas e as areias formam essa espécie de manta que cobre

uma topografia originalmente formada nas cristas do meio dos oceanos. É esse

incessante processo de sedimentação nos oceanos que modifica as estruturas formadas

pelas placas tectónicas e cria uma topografia muito própria em locais de rápida

sedimentação.

Os sedimentos têm essencialmente duas origens: lamas e areias provenientes da erosão

que acontece nos continentes e da precipitação bioquímica das cascas de organismos

que vivem no mar. Nas zonas próximas das áreas de subducção, os sedimentos provêm

de cinzas vulcânicas e de restos de lava. Nas zonas mais tropicais onde acontece

evaporação, originam-se ainda sedimentos provenientes da deposição desses evaporitos.

• Sedimentação nas margens continentais

A sedimentação na crosta continental acontece devido às ondas e correntes. As ondas

originadas com as grandes tempestades e furacões transportam sedimentos das camadas

mais superficiais e as correntes das marés avançam pelas placas continentais. As ondas

e correntes distribuem os sedimentos trazidos pelos rios até se formarem grandes

amontoados de areia e camadas de silício e lama.

A sedimentação bioquímica resulta da formação de camadas de carbonato de cálcio

provenientes das cascas dos crustáceos e de outros organismos que vivem no mar. A

maioria destes organismos não tolera águas com elevados teor de lamas, sendo

encontrados apenas em locais com menores teores de materiais térreos, tais como

acontece na costa da Florida ou na costa de Yucatán, no México. Nestes locais,

abundam os recifes de coral e os organismos constroem espessas camadas de

sedimentos carbonatados.

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• Sedimentação em águas profundas

Longe das margens continentais, grãos finos de partículas resultantes de precipitação

bioquímica e que se encontram em suspensão à superfície vão afundando até atingirem

o fundo do mar. Chama-se os sedimentos pelágicos e caracterizam-se pela distância a

que se encontram da costa, pelo seu tamanho pequeno, por serem muito finos e por se

depositarem no fundo de uma modo muito lento (alguns milímetros por cada mil anos).

Destes uma pequena percentagem pode ser soprado para mar aberto.

A ALTERAÇÃO DO NÍVEL DO MAR COMO MEDIDA DO AQUECIMENTO

GLOBAL

Para entendermos a mudança do nível do mar como uma medida para aferir o

aquecimento global, é necessário entendermos primeiros como se formam as praias e as

linhas costeiras, sobretudo ao nível da erosão e deposição dos sedimentos.

A topografia das linhas costeiras é um resultado das forças tectónicas que elevam ou

deprimem a crosta terrestre, através dos processos de erosão e de deposição de

sedimentos. Os factores mais directamente ligados a esses processos são: a natureza das

rochas e dos sedimentos das linhas costeiras, a média e altura das ondas provocadas por

uma tempestade, as alterações do nível do mar, o alcance das marés que afecta quer a

erosão, quer a sedimentação e o levantamento da região costeira que conduz à formas de

erosão nas costas.

As linhas costeiras são sensíveis a mudanças do nível do mar, pois isso pode alterar o

alcance das marés, o nível de aproximação das ondas e afectar as correntes ao longo da

costa. O aumento ou diminuição do nível do mar pode ser local – como resultado dos

movimentos tectónicos – ou globais, como resultado, por exemplo, do degelo de

glaciares. É por isso que, actualmente, uma das maiores preocupações por causa do

aquecimento global induzido pelo homem reside no facto de isso poder causar um

aumento do nível do mar e, consequentemente, provocar cheias nas linhas costeiras.

Em períodos de abaixamento do nível do mar, as áreas que não pertenciam à costa

passam a pertencer e a estar sujeitos aos agentes de erosão. Os rios aumentam os seus

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cursos e formam vales em planos costeiros que passaram a estar expostos. Quando o

nível do mar aumenta, as cheias nas zonas costeiras são inevitáveis, os vales dos rios

são inundados, os sedimentos marinhos aglomeram-se em terra em vez de ser no mar e a

erosão é substituída pela deposição.

As variações do nível do mar em escalas de tempo geológicas podem ser medidas, mas

detectar mudanças globais nas escalas de tempo humanas pode ser difícil. Essas

mudanças podem ser medidas localmente, recorrendo ao uso de uma aparelho que mede

o nível do mar em relação a um determinado marco posto em terra. O problema maior é

que a própria terra se move verticalmente como resultado da deformação tectónica.

Além disso, também a sedimentação e outras mudanças geológicas são incorporadas

nessas medidas. Ainda assim, com mil precauções, os oceanógrafos verificaram que o

nível do mar subiu entre 10 a 25 cm no século XX.

Este aumento tem sido correlacionado com um aumento, à escala mundial, das

temperaturas, o qual, segundo muitos cientistas, acreditam ter sido causado, pelo menos

em parte, pela poluição atmosférica causada pelo Homem. O aquecimento global, por

sua vez, conduz ao aumento do nível do mar de duas maneiras. Primeiro, pelo degelo de

glaciares que aumenta a quantidade de água nas bases marinhas. Segundo, temperaturas

altas causam a expansão da água através de pequenas fracções, aumentando o seu

volume. Estes efeitos parecem ter magnitudes semelhantes, ou seja, cada um deles pode

explicar cerca de metade do aumento observado do nível do mar.

Altímetros de satélite fornecem uma técnica mais sensível para determinar a altitude da

superfície do mar relativamente à órbita do satélite. Até agora, os dados têm indicado

que o nível do mar está a subir cerca de 4mm por ano. Algum desse aumento pode

resultar de variações de curto prazo, mas a magnitude do aumento condiz com modelos

climáticos que têm em conta o efeito de estufa. De acordo com esses modelos, se não

houverem esforços significativos para reduzir as emissões dos gases de estufa, o nível

do mar continuará a aumentar até cerca de 30-60 cm neste século. Os efeitos também se

vêem nas nossas praias.

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SISTEMA CLIMÁTICO

• Componentes

A maioria dos autores identifica a seguintes componentes incluídas no sistema

climático: atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera. Há quem chame ao conjunto da

litosfera e biosfera de geosfera. Para o propósito deste trabalho, vamos deter-nos na

hidrosfera.

Ainda que a água se mova mais lentamente nos oceanos do que na atmosfera, a água

pode armazenar uma quantidade muito maior de calor. É por esta razão, que as correntes

oceânicas transportam energia de uma forma muito eficiente. O vento ao soprar na

superfície dos oceanos, gera correntes e padrões de circulação em grande escala nas

bases oceânicas. Tal como acontece na atmosfera, as correntes mais importantes para a

regulação do clima são aquelas que transportam o calor desde as regiões equatoriais

para as regiões polares. Estas correntes envolvem um movimento de convecção vertical,

bem como movimentos horizontais. Um exemplo muito conhecido é o canal do Golfo,

que flui ao longo da margem ocidental do Atlântico, trazendo águas desde o mar das

Caraíbas aquecendo o clima do Atlântico Norte e Europa.

A água arrefecida por esta troca de energia no Atlântico Norte move-se depois em

direcção ao Sul por intermédio de um sistema de convecção conhecido como a

thermohaline circulation. Esta envolve os efeitos da temperatura e da salinidade. É

importante porque é responsável por grande parte do calor transportado desde os

trópicos até a latitudes mais altas no clima actual. Alguns cientistas pensam que as

alterações no volume de água que circula do equador para os pólos pelo tipo de circuito

atrás descrito pode influenciar fortemente o clima global.

• O papel da criosfera

O papel da criosfera difere do papel do papel da hidrosfera, pois o gelo é relativamente

branco e imóvel reflectindo quase toda a energia solar que incide sobre ele. Grandes

massas de água são trocadas entre a criosfera e a hidrosfera líquida durante os ciclos

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glaciares. No último ciclo glaciar, há cerca de 18000 anos, o nível do mar era 130 mais

baixo do que é hoje e o volume da criosfera era três vezes maior.

Sabe-se hoje que um rápido aquecimento ocorreu há cerca de 14500 anos, após a última

idade glaciar. Aproximadamente 1000 depois, o clima começou a arrefecer novamente,

dando-se início a mais um período de glaciar há 12500 anos que durou cerca de 1000

anos. Mais tarde, há 11700 anos, a temperatura voltou a subir cerca de 6ºC e o degelo

prosseguiu até ao estado actual de diminuição do tamanho de icebergs e glaciares.

Acontece que a transição da temperatura fria para o período de aquecimento até ao

actual período interglacial decorreu de forma abrupta: começou com um rápido aumento

de temperatura de 5ºC para 10ºC e continuou com um aumento de cerca de 15ºC. Julga-

se que o salto inicial teve lugar em apenas 10 anos. Esta velocidade foi um choque para

muitos geólogos, pois estes julgavam que este tipo de alterações levaria milhares de

anos. O que ficou demonstrado é que o tempo geológico se altera também um pouco

quando se fala de aquecimento global e dos efeitos dos fluxos de temperatura. Além

disso, ficou sugerido que o sistema climático global opera segundo uma espécie de

modelo por turnos, ou seja, muda-se de uma estado para outro num período de apenas

alguns anos.

Algumas das mudanças climáticas dos últimos 10 000 anos parece estar relacionada

com as alterações cíclicas do volume das águas derivadas de degelos. Seis alterações

estão correlacionadas com avanços e recuos de glaciares continentais. Calcula-se que

grandes extensões de icebergues se encontrem nos fundos marinhos, por exemplo, na

França. Sendo que esses “restos” de icebergues terão sido trazidos desde o Canadá. A

água desse degelo acompanhou, à superfície, esses pedaços de icebergues, o que alterou

a circulação do Atlântico Norte e, consequentemente, afectou o clima do Norte da

América e Europa. Durante tempos normais, ou seja, fora das idades glaciais, a

circulação porta-se como um cinto condutor que torna o clima europeu moderado.

Os eventos climáticos do passado foram deduzidos de placas de gelo e confirmadas pela

história humana. De 1450 a 1650, a Terra viveu na Pequena Idade do Gelo, durante a

qual o mar Báltico congelou e o gelo no rio Tamisa, em Inglaterra, atingiu uma

espessura de vários metros. Não existe acordo entre geólogos e cientistas que estudam a

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atmosfera sobre as causas exactas desses eventos. No entanto, parece certo que vamos

poder aprender mais sobre a relação entre mudanças climáticas e a glaciação à medida

que as nações se tornam cada vez mais preocupadas com os efeitos das mudanças

climáticas futuras.

O REGISTO DAS GLACIAÇÕES ANTIGAS

A glaciação do Pleitocénico não foi a única na História da Terra. O gelo glaciar tem a

capacidade de transportar grandes quantidades de sedimentos de todos os tamanhos.

Esses sedimentos são transportados quando o degelo acontece e podem ser depositados

directamente ou ser recolhidos por pequenos cursos de água derivada do degelo dos

gelos

A deriva glaciar da era do Pleistocénico está difundida em regiões de alta altitude que

agora gozam de um clima temperado. Esta deriva é uma evidência de que houve um

tempo em que os glaciares continentais se expandiram muito para além das regiões

polares. Estudos sobre eras geológicas, mostraram que os sedimentos depositados em

terra ou nos fundos marinhos revelam que a época do Pleistocénico consistiu em

múltiplos avanços e recuos de placas de gelo continentais.

Apesar das causas da glaciação permanecerem incertas, o arrefecimento global que

conduz a esse fenómeno parece resultar de uma deriva continental que se move

gradualmente para posições onde bloqueiam o transporte de calor desde o equador até

aos pólos. Uma outra explicação para a alternância entre intervalos glaciares e

interglaciares é que esta resulte de efeitos de ciclos astronómicos. Algumas alterações

periódicas muito pequenas na excentricidade da órbita da Terra e na precedência do seu

eixo de rotação altera a quantidade de luz solar recebida pela superfície terrestre.

Actualmente, vivemos numa fase quente da história do nosso clima, o qual deveria

começar a arrefecer sem demora. Mas este arrefecimento dá-se à velocidade de um 1ºC

por cada 1000 anos, enquanto a taxa de aquecimento contemporânea é muito superior.

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Existe ainda evidências de que a diminuição dos níveis de carbono na atmosfera

terrestre diminui os efeitos de estufa, assim como, pelo contrário, a actual subida dos

níveis de carbono resultante da queima de combustíveis fósseis pode levar a um

aquecimento global.

A MARCA DO HOMEM NO AQUECIMENTO GLOBAL DO SÉCULO XX

Só no início do século XIX se começou a medir de forma sistemática a temperatura do

planeta. Em meados desse século a temperatura media-se quer por estações

meteorológicas espalhadas pelo mundo, quer em navios de forma a se obter uma

estimativa tão exacta quanto possível temperatura média anual à superfície da Terra.

Entre o final do século XIX e o início do século XXI, a temperatura média aumentou

0,6ºC. As causas para este aquecimento já foram suficientemente divulgadas. Mas que

níveis de certeza existem realmente quanto ao facto do aquecimento global no século

XX ser uma consequência directa do aumento de CO2 na atmosfera e não apenas uma

mudança fortuita relacionada com a variabilidade climática natural? É esta a questão

que está hoje no centro da controvérsia.

A maioria dos cientistas especialistas no clima da Terra estão convencidos de que o

aquecimento do século XX foi, em parte induzido pelo Homem, pelo que o fenómenos

aumentará as suas proporções ao longo do século XXI se os níveis de gases de estufa na

atmosfera continuarem a aumentar. Eles baseiam-se em duas justificações principais: os

registos das alterações climáticas e a sua compreensão do modo de funcionamento do

sistema climático.

O aquecimento no século XX baseia-se nas variações de temperatura inferidas do

Holocénio. Com efeito, a média de temperaturas em muitas regiões do mundo foram,

provavelmente mais elevadas há 10 000 ou 8000 anos do que o são agora. Porém, os

registos do século XX são claramente anómalos quando comparados com o padrão de

variações climáticas do último milénio. Com base na análise de dados recolhidos dos

anéis das árvores, de corais e das placas de gelo, bem como de outros indicadores

climáticos, os cientistas chegaram a duas grandes conclusões sobre o clima durante os

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1000 anos que antecederam o século XX: 1) houve um arrefecimento irregular, mas

constante, de cerca de 0,2ºC naquele intervalo de tempo; 2) a flutuação máxima das

temperaturas médias durante qualquer um dos nove séculos anteriores ao século XX foi

provavelmente inferior a 0,3ºC. Logo, o aquecimento registado no século XX parece ser

anormal.

Será, pois, lícito concluir que um défice de compreensão de aspectos relacionados com

o sistema climático pode introduzir erros significativos nos modelos de previsão

climática. No entanto, a consistência das marcas medidas com a evidência física dos

aumentos dos efeitos de estufa confere um apoio substancial à hipótese de o ser

humano ser o agente responsável pelo recente aquecimento global.

Quanto à previsão do futuro a partir de modelos numéricos da atmosfera em

computador, existe um grande número de investigadores, em particular os do

International Panel on Climate Change, que estão a trabalhar nesse sentido. As

respostas não são muito precisas devido às dificuldades inerentes à climatologia - tal

como se verifica com as previsões meteorológicas.

As estimativas, de acordo com os cenários de comportamento humano, vão de 1,5ºC a

5ºC ou mais, para o final do século XXI. Segundo numerosos climatologistas, a situação

está já tão fortemente degradada que, mesmo no caso de se conseguir travar rápida e

suficientemente as emissões de CO2, seria preciso mais de um século para parar o

aquecimento. A diferença de apenas alguns graus não é uma mudança desprezível.

Aquando da última glaciação, com 5ºC a menos, o nível do mar baixou cerca de 120

metros (podia ir-se de França para Inglaterra sem molhar sempre por terra). O Canadá e

a Europa do Norte estavam cobertos por uma camada de gelo de alguns quilómetros de

espessura, como acontece com a Gronelândia e a Antárctida hoje.

Em resumo: O acréscimo da temperatura tem por resultado o aumento da evaporação

da água dos oceanos. O vapor de água produzido contribui, ele também, para o aumento

da temperatura. Este, por sua vez, acelera a evaporação, aquilo a que se chama de «bola

de neve». O fenómeno pode, pois, continuar por muito tempo. E é aqui que, na opinião

de alguns autores, se apresenta uma ameaça terrível escondida nos gelos polares: o

metano. O permafrost (camadas de gelo permanente que cobrem algumas regiões do

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globo) cobre imensas regiões de altas altitudes desde a Sibéria ao Canadá, cujo subsolo

está sempre gelado, pois o Verão não dura o suficiente para derreter os gelos. Acontece

que existem enormes quantidades de metano presas nas malhas cristalinas desse gelo. E

nós sabemos que o metano é um gás de efeito de estufa 100 vezes mais nocivo que o

CO2. O metano contribui já em mais de 5% para o efeito de estufa, sendo que esta taxa

aumenta rapidamente. Libertado pela fusão acelerada do permafrost provocada pelo

aquecimento da atmosfera, os seus efeitos serão de grande impacto. A esse impacto

junta-se o do CO2 e o do vapor de água, o que acelerará o processo de aumento das

temperaturas.

Hoje não é possível, tanto pelo fraco conhecimento dos fenómenos meteorológicos

como pelos nossos meios de cálculo, predizer qual a temperatura que a superfície do

globo atingirá devido àqueles fenómenos.

Actualmente, sabemos que vivemos numa fase quente da história do nosso clima, que

deveria começar a arrefecer rapidamente. Pelo contrário, sabemos hoje também que os

dez anos mais quentes desde 1867 aconteceram depois de 1980. Ou seja, nem a

evolução da órbita terrestre nos ajudará muito a contrabalançar o aquecimento

provocado pelas actividades humanas.

A preocupação com a questão do aquecimento global fica muito bem resumida pela

frase de Hubert Reeves: a nossa “fabulosa odisseia cósmica pode muito bem acaber por

nossa culpa”.

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PARTE II

COMUNICAÇÃO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

Um assunto que surgiu ao escrevermos este trabalho foi a relação da ciência e do

conhecimento relacionado com as alterações climáticas/aquecimento global e a

percepção/envolvimento do público perante estas questões. Achamos que seria

interessante explorar um pouco esta temática, pois achamos ser relevante num mestrado

de Comunicação de Educação e Comunicação de Ciência.

Qual o grau de conhecimento, preocupação, percepção do risco e disposição de

alterar comportamento?

Segundo o estudo As Alterações Climáticas no Quotidiano - Estudo Comportamental de

Curta Duração “ os níveis de apreensão do fenómeno de mudança climática, e até

mesmo o conhecimento do termo ‘alterações climáticas’, são elevados. Já no que

respeita às particularidades do fenómeno (causas, consequências e soluções) surgem

inúmeras confusões (…). Quando confrontados com medidas e instrumentos de política

concretos (aumentos dos preços, redução de utilização do automóvel, etc.), os inquiridos

afirmam muito menos vontade de mudar comportamentos do que quando questionados

de forma genérica acerca da importância de mudar comportamentos”. Os portugueses

estão dispostos a mudar comportamentos, mas não estão dispostos a pagar mais.

Este é exactamente o posicionamento dos cidadãos quer de outros países da Europa,

quer dos Estados Unidos, como refere Bord. R. et al. em que não há dúvida que a

população está alertada e preocupada com questões ambientais, especificamente com o

aquecimento global (embora este não seja completamente compreendido). Contudo esta

preocupação não se reflecte nem numa aceitação de políticas “ambientais”, nem em

mudança de comportamentos.

Curiosamente, no estudo acima referido há alguma predisposição para a mudança de

comportamentos, mas quando inquiridos sobre as políticas e medidas definidas, os

portugueses concordam mais com aquelas que, de forma genérica, não os comprometem

na sua vida quotidiana, e discordam daquelas que os comprometem. Naturalmente, não

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é só em Portugal que as questões económicas têm peso nas opções do dia-a-dia e, sendo

assim, a predisposição de aceitar medidas políticas que afectem directamente cada

indivíduo (aumento da gasolina, taxas ecológicas) não são bem recebidas (Leiserowtitz,

2005).

Há ainda outra contradição no panorama português que, por um lado, afirma que

o principal responsável do aquecimento global é o cidadão e o seu comportamento

individual, que este necessita de ser alterado e por outro, acha que as medidas para

combater as alterações climáticas estão mais associadas a factores colectivos do que

individuais. Esta segunda posição é partilhada por outros países segundo defende

(Cohn, 1991) em que a responsabilidade da resolução de problemas ambientais não é

percepcionada como um dever cívico.

E parece ser muito difícil alterar esta situação: em 1997, a administração Clinton lançou

uma campanha nos media para aumentar o apoio da população ao protocolo de Quioto.

Nesta eram apresentadas as evidências científicas e as consequências do aquecimento

global. Um inquérito antes e depois da campanha mostrou apenas ligeiras alterações na

opinião pública.

Porque é tão difícil a comunicação das alterações climáticas e consequente

alteração de comportamentos?

Existem vários factores que dificultam a compreensão e a alteração de comportamentos

deste tema, como sejam:

• o grau de incerteza inerente a esta ciência. Ainda existem muito

desconhecimento na compreensão deste fenómeno;

• o tempo de resposta longo das consequências (quer do aquecimento, quer da

mudança de comportamento)

• a percepção que não se vai sentir no “nosso jardim” mas algures numa terra

distante

• não existir um sentido de urgência

A ciência que estuda as alterações climáticas é afectada por dois tipos de incerteza

• Desconhecimento de alguns aspectos quanto ao funcionamento do clima

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• Desconhecimento de qual o impacto que as acções humanas futuras terão neste

problema

O facto de haver incertezas é muitas vezes utilizado e manipulado consoante os

interesses. Muitas vezes serve de justificação aos decisores políticos para não se agir.

Aliado a esta limitação, o tratamento que a comunicação social foi dando a este assunto

não melhorou o entendimento, muito pelo contrário, contribuiu para a desinformação.

Para a maioria dos cidadãos o conhecimento sobre ciência é adquirido principalmente

através da comunicação social (e não na escola ou por experiência própria) (Nelkin,

1987), mesmo que uma pessoa tenha sofrido as consequências de uma cheia, ou outro

fenómeno relacionado com o aquecimento global é a comunicação social que faz a

ponte entre os dois eventos e os relaciona.

Num artigo de Corbertt, sobre a representação dos media no aquecimento global, Mazur

e Lee referem que os media em assuntos ambientais, escolhem preferencialmente o

prisma da tragédia humana, de eventos bizarros e não sobre as descobertas científicas

relacionadas. O risco inerente é refutado para segundo plano (se não aconteceu ainda,

não é notícia).

Para além disto é também referido que o próprio conhecimento dos jornalistas sobre

este assunto era (em 200) confuso e desconheciam as certezas que a ciência tinha sobre

o assunto.

Se a todas estas dificuldades acrescentarmos a regra jornalística de analisar sempre os

dois lados da questão teremos um cientista a expor um determinado facto e outra pessoa

(político, comentador) a dizer que não é bem assim, o que leva a uma comunicação

completamente falhada. Se é verdade que há muitas incertezas nesta matéria, também o

é que a grande maioria dos cientistas está de acordo com a maioria das evidências não

havendo muita discussão à volta do que já foi descoberto.

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Então qual o caminho a seguir para uma comunicação eficaz?

É necessário tornar este problema pessoal, que diga respeito a cada um. Todos nós

quando folheamos um jornal paramos para ler as notícias que de uma forma geral nos

afectam ou dizem respeito.

Segundo Leirerowitz (2005), existem cinco estratégias a seguir na comunicação das

alterações climáticas para que esta seja eficaz:

1. Evidenciar o impacto (potencial) a nível regional e local. As ameaças locais são

percebidas com maior premência e necessidade de intervenção que as questões

globais.

2. Explicar que o aquecimento global já está a acontecer. Os problemas presentes

são encarados com mais urgência e maior empenho na sua resolução

3. Sublinhar que estas alterações no clima têm efeitos na saúde humana. Quando se

trata temas relacionados com a saúde, as pessoas estão mais receptivas e alerta.

4. Falar abertamente sobre o que ainda não se sabe, mas focar as certezas. Quando

um determinado assunto fica sem resposta (porque não se sabe, ou não se quer

dizer) leva a confabulações e interpretações erradas. É mais eficaz para a

compreensão de uma matéria assumir a ignorância de determinado aspecto do

que não responder.

5. A informação tem de ser adaptada consoante o público-alvo. A mesma

informação é interpretada de maneira diferente pelas pessoas.

Para resolver esta questão Leiserowitz afirma que (e embora se reporte aos americanos)

a predisposição para ver as mudanças climáticas como um risco significante já existe, o

que falta é o sentido de urgência, uma forte liderança e vontade politica.

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