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PÁGINA 2 - ABRIL DE 2008 ECONOMIA Comércio informal predomina na região O comércio de bairro é tradicio- nal em São Paulo. Na maior Aveni- da da América Latina também não poderia ser diferente. A compra e venda de produtos e a intensa cir- culação de consumidores acontecem diariamente em larga escala e sem qualquer tipo de interrupção. A Avenida Sapopemba é fre- qüentada, em sua maioria, por moradores da própria região. Com- preendida em cerca de 45 km da Zona Leste, sendo a maior da cida- de por sua extensão. Exemplo des- ta grandiosidade é o número de imóveis que ultrapassa os 16 mil. Ao percorrê-la, diversos bairros se unem e os comércios formam centros de compras que, somados, representam a economia da região. Segundo dados do IBGE, de 2004, a atividade econômica na área chega a mais de 5 mil estabelecimentos, formais e informais, como comér- cio, indústria e serviços, e gera, di- reita e indiretamente, mais de 40 mil empregos. Esse movimento é atri- buído à diversidade de produtos, praticidade em comprar e preços mais acessíveis. Na Avenida, os consumidores circulam por su- permercados, pa- darias, perfuma- rias, lojas de calça- dos e roupas e ou- tros tantos estabe- lecimentos. Há ainda residências que improvisam comércios ou pres- tam serviços com o propósito de aumentar a renda familiar. Muitos estabelecimentos estão irregulares por falta de alvará da Pre- feitura. Os ambulantes também compartilham deste espaço. Em vários pontos, eles ocupam, de for- ma irregular, praças, calçadas e prin- cipalmente prédios públicos, como hospitais e escolas devido à movi- mentação do público. A regional da subprefeitura da Vila Prudente/Sapopemba preten- de regularizar a situação dos comer- ciantes e impedir as vendas de mer- cadorias ilegais (piratas). A primeira Subprefeitura quer implantar projeto para regulamentar a atividade de ambulantes Jéferson Roz Karina Paulon ação foi o reconhecimento do espa- ço público. Em maio do ano passa- do, foram levantados os números de camelôs: são cerca de 300 ambu- lantes, sendo apenas 130 cadastra- dos com Termo Permissão de Uso (TPU). Na segunda ação, três me- ses depois, o recadastramento acon- teceu em uma reu- nião. Dos 130 am- bulantes, somente 65 compareceram por estarem de acordo. Os outros 65 não foram à subprefeitura mes- mo tendo o TPU. A terceira etapa do processo vai incluir a legalização. Em média, segundo o coordenador de Planejamento e Desenvolvimento, Dagoberto Resende, mais de 170 ambulantes têm atividades irregu- lares na Avenida. Os ambulantes da Praça Tor- quato Plaza, no bairro do Jardim Grimaldi, por exemplo, tiveram suas barracas retiradas pela subpre- feitura. Foram inúmeros os cadas- tros desde a inauguração, em 1998. Porém, não houve decisão quanto à regularização. “Aguardo até hoje minha autorização. Inscrevi-me em 2000 e depois nas outras duas ve- zes, com as cópias dos documen- Segundo dados do IBGE, a Avenida Sapopemba abriga 5 mil estabelecimentos que geram cerca de 40 mil empregos. tos e nada”, afirma o ambulante de roupas e acessórios Sebastião Perei- ra, 62 anos. Ele diz ter essa ativida- de como única fonte de renda. Uma das metas da subprefeitu- ra é a implantação de sistemas mo- biliários urbanos, que seriam bo- xes de alvenaria ou padronizados. “O problema é que não temos es- paços públicos disponíveis para transferir os comerciantes de rua. Buscamos parcerias com o setor privado para utilizar galpões e fa- zermos como ocorreu no Largo da Concórdia, com os shoppings po- pulares”, diz Resende, 48 anos. Os consumidores preferem comprar na Aveni- da Sapopemba pela proximidade, preços diferencia- dos e variedade de produtos. Alguns chegam a cami- nhar mais de dez minutos. “Venho neste mercado porque o preço é bom. Comprei um pote de maionese, pois perto da minha casa é mais caro”, diz o auxiliar administrativo Paulo Ro- berto, 43 anos, que mora no bairro distante do Grimaldi. Já os comerciantes gostam de trabalhar na Avenida por causa da movimentação de pessoas durante todos os dias da semana. O cabelei- reiro Adilson Bezerra, 33 anos, que trabalha há mais de oito anos no local, afirma ser consumidor na re- gião pela facilidade. “É bom traba- lhar aqui. Os clientes são bons con- sumidores e, com isso, aumentam as ofertas. O que precisa mudar no comércio da Avenida é o trânsito caótico, a falta de estacionamento e a segurança.” Em relação aos lojistas, a maio- ria não tem reclamações, a não ser em datas festivas que surgem con- correntes informais que contrariam alguns comerciantes. Os preços são menores e os came- lôs fazem a abor- dagem na rua, ao contrário do co- merciante Euflô- nio Juy, 62 anos, que está na Aveni- da há mais de 20 anos: “Pago alu- guel do estabeleci- mento que chega em torno de R$ 2.000, enquanto os camelôs não pre- cisam pagar para trabalhar.” O importante para todos que consomem na Avenida é ficar aten- to aos serviços prestados e merca- dorias vendidas. Pela quantidade de pessoas que circulam, há ambulan- tes que, com o propósito de con- quistar clientes, utilizam produtos que não lhes caberiam ao seu co- mércio. Há ainda aqueles que ven- dem produtos terceirizados, sem procedência legal. Um exemplo é o pão, que deveria ser feito na pada- ria, mas é encontrado em estabele- cimentos sem autorização ao lon- go da Avenida. Fica a reflexão: se o pão é alimento, torna-se também uma questão de saúde pública. Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social (Jornalismo) da Universidade Cruzeiro do Sul Ano IX - Número 30 - Abril de 2008 Tiragem: 5 mil exemplares Telefone para contato: 6137-5706 Reitora Sueli Cristina Marquesi Pró-reitor de Graduação Carlos Augusto Baptista de Andrade Pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa Luiz Henrique Amaral Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Jorge Alexandre Onoda Pessanha Coordenador do Curso de Comunicação Social Carlos Barros Monteiro Professores-orientadores Cecília Luedemann, Dirceu Roque de Sousa, Flávia Serralvo, Luciana Rosa e Valmir Santos. A Prefeitura levantou o número de camelôs, cerca de 300, dos quais somente 130 possuem o Termo Permissão de Uso. EDITORIAL Dayane Tedesco SEM IMPOSTOS - Comerciantes regulares reclamam da concorrência com os ambulantes Nas páginas que seguem, con- templamos as histórias e a identi- dade de uma das vias públicas mais extensas da América do Sul: a Avenida Sapopemba e seus quase 45 km de asfalto, numa ponta (ex- tremo leste de São Paulo), ou de terra batida, na outra (divisa com o município de Ribeirão Pires). A origem do nome Sapopemba é indígena e foi adaptado para a linguagem popular. “Sapopema”, de fato, é como os indígenas bati- zavam o conjunto de raízes desen- volvidas em muitas árvores, forman- do em torno delas partes achata- das. As plantas se espalhavam pela região leste da cidade. A Avenida Sapopemba se cons- trói como personagem multifaceta- da. São muitas as questões da co- munidade a serem discutidas. A co- meçar pelo meio ambiente. Uma das reportagens desta edição do jornal- laboratório Cidadão, produzido por estudantes do curso de Jornalis- mo da Unicsul, do campus São Miguel, aborda a atividade do Ater- ro São João, no Parque São Rafael. O lixão vem agredindo o ambiente e a saúde dos moradores vizinhos por causa do mau cheiro. São apresen- tadas informações que ajudam a re- fletir sobre as melhorias que o lixão trouxe, ou não, desde que foi im- plantado em 1992. A falta de lazer na região é sintomática ao longo da própria avenida ou nos bairros do entorno. Por que existem tantas áreas co- merciais em detrimento de poucos centros de esportes e lazer ou de espaços para a expressão cultural? Falta de mobilização das comuni- dades? Insensibilidade dos governos de turno? O comércio informal só faz crescer nos últimos anos, fenôme- no que expõe a disputa com os lo- jistas regularizados por um espaço nas calçadas. Em tempos de acir- rada disputa por oportunidades de trabalho com registro em carteira, o problema dos ambulantes tornou- se calejado devido, entre outros motivos, à substituição da mão-de- obra braçal pela tecnológica. Também focamos os transpor- tes locais com suas linhas de ôni- bus e os taxistas que contam his- tórias curiosas do cotidiano. Fomos até o Mercado Municipal colher relatos de veteranos comerciantes que testemunharam o crescimento do bairro, para bem e para mal. E levantamos ainda algumas “surpre- sas” relativas à Sapopemba, como a existência de um curioso ossário numa igreja. Boa leitura. Universo Sapopemba

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PÁGINA 2 - ABRIL DE 2008 ECONOMIA

Comércio informal predomina na região

O comércio de bairro é tradicio-nal em São Paulo. Na maior Aveni-da da América Latina também nãopoderia ser diferente. A compra evenda de produtos e a intensa cir-culação de consumidores acontecemdiariamente em larga escala e semqualquer tipo de interrupção.

A Avenida Sapopemba é fre-qüentada, em sua maioria, pormoradores da própria região. Com-preendida em cerca de 45 km daZona Leste, sendo a maior da cida-de por sua extensão. Exemplo des-ta grandiosidade é o número deimóveis que ultrapassa os 16 mil.

Ao percorrê-la, diversos bairrosse unem e os comércios formamcentros de compras que, somados,representam a economia da região.Segundo dados do IBGE, de 2004,a atividade econômica na área chegaa mais de 5 mil estabelecimentos,formais e informais, como comér-cio, indústria e serviços, e gera, di-reita e indiretamente, mais de 40 milempregos. Esse movimento é atri-buído à diversidade de produtos,praticidade em comprar e preçosmais acessíveis.

Na Avenida,os consumidorescirculam por su-permercados, pa-darias, perfuma-rias, lojas de calça-dos e roupas e ou-tros tantos estabe-lecimentos. Háainda residênciasque improvisam comércios ou pres-tam serviços com o propósito deaumentar a renda familiar.

Muitos estabelecimentos estãoirregulares por falta de alvará da Pre-feitura. Os ambulantes tambémcompartilham deste espaço. Emvários pontos, eles ocupam, de for-ma irregular, praças, calçadas e prin-cipalmente prédios públicos, comohospitais e escolas devido à movi-mentação do público.

A regional da subprefeitura daVila Prudente/Sapopemba preten-de regularizar a situação dos comer-ciantes e impedir as vendas de mer-cadorias ilegais (piratas). A primeira

Subprefeitura quer implantar projeto para regulamentar a atividade de ambulantes

Jéferson RozKarina Paulon

ação foi o reconhecimento do espa-ço público. Em maio do ano passa-do, foram levantados os númerosde camelôs: são cerca de 300 ambu-lantes, sendo apenas 130 cadastra-dos com Termo Permissão de Uso(TPU). Na segunda ação, três me-ses depois, o recadastramento acon-

teceu em uma reu-nião. Dos 130 am-bulantes, somente65 comparecerampor estarem deacordo. Os outros65 não foram àsubprefeitura mes-mo tendo o TPU.A terceira etapa do

processo vai incluir a legalização. Emmédia, segundo o coordenador dePlanejamento e Desenvolvimento,Dagoberto Resende, mais de 170ambulantes têm atividades irregu-lares na Avenida.

Os ambulantes da Praça Tor-quato Plaza, no bairro do JardimGrimaldi, por exemplo, tiveramsuas barracas retiradas pela subpre-feitura. Foram inúmeros os cadas-tros desde a inauguração, em 1998.Porém, não houve decisão quantoà regularização. “Aguardo até hojeminha autorização. Inscrevi-me em2000 e depois nas outras duas ve-zes, com as cópias dos documen-

Segundo dados doIBGE, a Avenida

Sapopemba abriga5 mil estabelecimentos

que geram cerca de40 mil empregos.

tos e nada”, afirma o ambulante deroupas e acessórios Sebastião Perei-ra, 62 anos. Ele diz ter essa ativida-de como única fonte de renda.

Uma das metas da subprefeitu-ra é a implantação de sistemas mo-biliários urbanos, que seriam bo-xes de alvenaria ou padronizados.“O problema é que não temos es-paços públicos disponíveis paratransferir os comerciantes de rua.Buscamos parcerias com o setorprivado para utilizar galpões e fa-zermos como ocorreu no Largo daConcórdia, com os shoppings po-pulares”, diz Resende, 48 anos.

Os consumidores preferemcomprar na Aveni-da Sapopembapela proximidade,preços diferencia-dos e variedade deprodutos. Algunschegam a cami-nhar mais de dezminutos. “Venhoneste mercadoporque o preço é bom. Compreium pote de maionese, pois pertoda minha casa é mais caro”, diz oauxiliar administrativo Paulo Ro-berto, 43 anos, que mora no bairrodistante do Grimaldi.

Já os comerciantes gostam detrabalhar na Avenida por causa da

movimentação de pessoas durantetodos os dias da semana. O cabelei-reiro Adilson Bezerra, 33 anos, quetrabalha há mais de oito anos nolocal, afirma ser consumidor na re-gião pela facilidade. “É bom traba-lhar aqui. Os clientes são bons con-sumidores e, com isso, aumentamas ofertas. O que precisa mudar nocomércio da Avenida é o trânsitocaótico, a falta de estacionamento ea segurança.”

Em relação aos lojistas, a maio-ria não tem reclamações, a não serem datas festivas que surgem con-correntes informais que contrariamalguns comerciantes. Os preços são

menores e os came-lôs fazem a abor-dagem na rua, aocontrário do co-merciante Euflô-nio Juy, 62 anos,que está na Aveni-da há mais de 20anos: “Pago alu-guel do estabeleci-

mento que chega em torno de R$2.000, enquanto os camelôs não pre-cisam pagar para trabalhar.”

O importante para todos queconsomem na Avenida é ficar aten-to aos serviços prestados e merca-dorias vendidas. Pela quantidade depessoas que circulam, há ambulan-tes que, com o propósito de con-quistar clientes, utilizam produtosque não lhes caberiam ao seu co-mércio. Há ainda aqueles que ven-dem produtos terceirizados, semprocedência legal. Um exemplo é opão, que deveria ser feito na pada-ria, mas é encontrado em estabele-cimentos sem autorização ao lon-go da Avenida. Fica a reflexão: se opão é alimento, torna-se tambémuma questão de saúde pública.

Jornal-laboratório do Curso deComunicação Social (Jornalismo)da Universidade Cruzeiro do SulAno IX - Número 30 - Abril de 2008

Tiragem: 5 mil exemplaresTelefone para contato: 6137-5706

ReitoraSueli Cristina Marquesi

Pró-reitor de GraduaçãoCarlos Augusto Baptista de Andrade

Pró-reitor de Pós-graduação e PesquisaLuiz Henrique Amaral

Pró-reitor de Extensão e Assuntos ComunitáriosJorge Alexandre Onoda Pessanha

Coordenador do Curso de Comunicação SocialCarlos Barros Monteiro

Professores-orientadoresCecília Luedemann, Dirceu Roque de Sousa,

Flávia Serralvo, Luciana Rosa e Valmir Santos.

A Prefeitura levantouo número de camelôs,

cerca de 300,dos quais somente

130 possuem o TermoPermissão de Uso.

EDITORIAL

Dayane Tedesco

SEM IMPOSTOS - Comerciantes regulares reclamam da concorrência com os ambulantes

Nas páginas que seguem, con-templamos as histórias e a identi-dade de uma das vias públicas maisextensas da América do Sul: aAvenida Sapopemba e seus quase45 km de asfalto, numa ponta (ex-tremo leste de São Paulo), ou deterra batida, na outra (divisa como município de Ribeirão Pires).

A origem do nome Sapopembaé indígena e foi adaptado para alinguagem popular. “Sapopema”,de fato, é como os indígenas bati-zavam o conjunto de raízes desen-volvidas em muitas árvores, forman-do em torno delas partes achata-das. As plantas se espalhavam pelaregião leste da cidade.

A Avenida Sapopemba se cons-trói como personagem multifaceta-da. São muitas as questões da co-munidade a serem discutidas. A co-meçar pelo meio ambiente. Uma dasreportagens desta edição do jornal-laboratório Cidadão, produzidopor estudantes do curso de Jornalis-mo da Unicsul, do campus SãoMiguel, aborda a atividade do Ater-ro São João, no Parque São Rafael.O lixão vem agredindo o ambiente ea saúde dos moradores vizinhos porcausa do mau cheiro. São apresen-tadas informações que ajudam a re-fletir sobre as melhorias que o lixãotrouxe, ou não, desde que foi im-plantado em 1992.

A falta de lazer na região ésintomática ao longo da própriaavenida ou nos bairros do entorno.Por que existem tantas áreas co-merciais em detrimento de poucoscentros de esportes e lazer ou deespaços para a expressão cultural?Falta de mobilização das comuni-dades? Insensibilidade dos governosde turno?

O comércio informal só fazcrescer nos últimos anos, fenôme-no que expõe a disputa com os lo-jistas regularizados por um espaçonas calçadas. Em tempos de acir-rada disputa por oportunidades detrabalho com registro em carteira,o problema dos ambulantes tornou-se calejado devido, entre outrosmotivos, à substituição da mão-de-obra braçal pela tecnológica.

Também focamos os transpor-tes locais com suas linhas de ôni-bus e os taxistas que contam his-tórias curiosas do cotidiano. Fomosaté o Mercado Municipal colherrelatos de veteranos comerciantesque testemunharam o crescimentodo bairro, para bem e para mal. Elevantamos ainda algumas “surpre-sas” relativas à Sapopemba, comoa existência de um curioso ossárionuma igreja.

Boa leitura.

UniversoSapopemba