Reparai nos lírios, como crescem! Não trabalham nem fiam; pois Eu digo-vos: Nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. 28Se Deus veste assim a erva, que hoje está no campo e amanhã é lançada no fogo, quanto mais a vós, homens de pouca fé!

29Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber, nem andeis ansiosos, 30pois as pessoas do mundo é que andam à procura de todas estas coisas; mas o vosso Pai sabe que tendes necessidade delas.

31Procurai, antes, o seu Reino, e o resto vos será dado por acréscimo. 32Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino.»

O convite de Jesus «procurai em primeiro lugar o Reino de Deus» sintetiza como viver a vida cristã: com o coração fixo no Reino de Deus.

O Reino de Deus não é uma terra longínqua que esperamos alcançar, nem sequer é uma outra vida que começa depois da morte,

o Reino de Deus já chegou, já opera no mundo: é a presença actuante do Espírito Santo que nos liberta de todos os apegos mundanos e nos orienta para a eternidade.

O coração é o sacrário do Espírito Santo. Ele é o Amor primeiro que da Vida à nossa vida!

Será que confio em Deus, ao ponto de lhe entregar tudo? Ele diz-te: «Deixa pai e mãe, deixa teus irmãos, teus bens e projectos. Não apegar-te em nada! Confia, Eu estarei sempre contigo e dar-te-ei tudo o que tu precisas de verdade». Acreditas nisso?

Estás preocupado com tantas coisas, já procuraste para longe a plenitude do teu ser, mas agora é Deus que te diz: «o que procuras está bem perto de ti, no teu próprio coração, procura em primeiro lugar o Reino de Deus e encontrarás a liberdade desejada»

Jesus disse a Marta, atarefada com muito trabalho: ««Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária». (Lc 12,41)

Jesus parece dizer-te: «se quer preocupar-te, que seja para algo de importante, algo que vale a pena! Nada te perturbe, procura o Reino de Deus e confia em Deus, deixa que teu coração descanse no Seu Amor»

Viver preocupados não prolonga a nossa vida, só contribui a torna-la mais ansiosa e angustiada.

Mas se entrarmos na interioridade, acabam as preocupações porque estamos em comunhão com o Único Presente, capaz de nos libertar de toda a preocupação e apego.

É na oração que os nossos sentimentos de fraqueza se revestem da potencia do Espírito Santo e de uma confiança sem limite Naquele que tudo pode.

É na oração que podemos superar os limites da nossa breve existência e alcançar a Vida Eterna, como Filhos amados, muito amados, do Pai Celeste, que cuida de tudo e de todos com a Sua Providencia infinita.

Será que acabam todas as preocupações? Provavelmente não! Neste mundo, cheio de tenções e dificuldades nunca estaremos completamente livres; mas, se com a mente e o coração nos deixamos envolver pelo Amor eterno de Deus, teremos a capacidade de sorrir, e olhos e ouvidos abertos para vermos e escutarmos os sinais do Reino de Deus já presente e actuante neste mundo.

Como entrar no Santuário do nosso coração e encontrar a paz? Não é fácil dar uma resposta, pois seria diferente por cada pessoa, conforme a sua personalidade e circunstancias.

Podemos contudo, dar uma simples indicação: recitar lentamente uma breve oração com toda atenção possível. Por exemplo, o Pai Nosso, o Glória, o Salmo 23 (O senhor é o meu Pastor), a oração de S. Francisco (Senhor faz-me instrumento da tua paz) ….

Estaremos constantemente distraídos pelas nossas preocupações, mas se continuarmos a voltar nas palavras da oração, descobriremos que as preocupações perdem consistência e começamos a saborear a alegria e a paz da oração.

Descendo, mais e mais, com a mente no coração, sentiremos a mão do Senhor que cura o nosso coração ferido.

Durante muito tempo orei repetindo: «O Senhor é o meu Pastor, nada me falta …» Estas palavras contrastavam abertamente com a minha vida. Sentia falta de muitas coisas … mas ia-me apercebendo que o Senhor queria dar-me descanso e libertar-me do abismo da minha depressão.

Quando estou em oração nunca estou sozinho: uma multidão imensa, de longe e de perto, do passado e do presente me acompanha. Repito as palavras da minha oração e entro no Santuário interior da minha alma: sinto o Eterno Presente em mim, sinto que não estou sozinho, pertenço ao Povo de Deus, percebo, cada vez mais claro, o que significa viver neste mundo mas não pertencer ao mundo.