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2ª. Aula - Como o Futebol explica o Brasil
Marcos Maurício Alves da Silva
O Futebol é
muito mais que uma
“caixinha de surpresas”.
Futeboln substantivo masculino
Rubrica: esportes. 1 esporte disputado em dois tempos, de 45 minutos, por duas equipes de 11
jogadores cada, no qual é proibido (exceto aos goleiros, quando dentro da sua área) o uso dos braços e mãos, e cujo objetivo é fazer entrar uma bola redonda no gol do adversário
1.1 estilo e técnica de jogar futebol
Ex.: o time mostrou um f. de primeira
ing. football (association), orign. adp. foot-ball (1423-1424) 'jogo de bola praticado com os pés', do ing. foot 'pé' + ball 'bola'; no ing.n.-am. football association reduz-se a soccer por alt. de association, e o voc. football designa o jogo rugby football (1864) (cp. rúgbi), que na Inglaterra se firmou como rugby (do top. Rugby, porque a prática desse jogo se inicia na Rugby School, Warwickshire, Inglaterra); as demais línguas copiam (sXIX-XX) o termo football; no it. adapta-se calcio 'coice, pontapé' de gioco del calcio (do lat. calx,cis 'calcanhar, pé, pata') para futebol; o erud. balípodo (gr. bállo 'lançar' + poús,podós 'pé'), proposto pelo gramático Castro Lopes para substituir o anglicismo, não se fixou na língua; f.hist. 1889 foot-boll, 1899 foot-ball, 1933 futebol
Houaiss da Língua Portuguesa. Edição Eletrônica.
O futebol é...(...) o futebol é um espelho do mundo e que, falando da bola,
redonda como o mundo, aparecem as maravilhas e as misérias do
tempo que nos tocou viver.
Eduardo Galeano
O futebol é o maior fenômeno social do Brasil. Representa a
identidade nacional e também consegue dar significado aos desejos
de potência da maioria absoluta dos brasileiros.
[O futebol] é pura construção histórica, gerado como parte
indissociável dos desdobramentos da vida política e econômica do
Brasil. O futebol, se lido corretamente, consegue explicar o Brasil.
Marcos Guterman
Primeiro Tempo:De volta ao princípio
O futebol, no Brasil, é muito mais que um esporte. Entre os
moleques, das variadas classes e raças, ele constitui um dos
primeiros índices de aceitação social. Não importa a cor ou a
situação financeira: um garoto negro e pobre, brilhante com os pés
pode torna-se o rei do jogo ou do país. Trata-se de um exercício
democrático, educativo e político que respeita a individualidade e
o todo. Mas futebol também é drama: a conquista do
reconhecimento público e de uma vida confortável se restringe a
poucos. Mesmo para os que alcançam o sucesso, há um tempo
limitado de aproveitamento, pois logo se atinge a idade de
abandonar a profissão e cair no esquecimento.
(COELHO, Eduardo. In: Donos da Bola, Língua Geral, 2006)
Um jogo inglês para brasileiro ver.
“o futebol até nos lembra o projeto oswaldiano, à moda
antropofágica, por tomar as técnicas do outro, acrescentar nossos
valores e depois levar nosso “produto” ao mundo. (...) Técnicas
foram absorvidas do futebol inglês – não há dúvidas. Adicionamos,
contudo, docilidade e lirismo a ponto de tornar esse jogo um
elemento recorrente da identidade nacional. (…) Gingado,
astúcia, sedução, perspicácia e malandrices são características de
nosso futebol e da nossa gente.”
(COELHO, Eduardo. In: Donos da Bola, Língua Geral, 2006)
Pequenas discussões
SILVA, F. C. T. e SANTOS, R. P. (orgs.) Memória social dos esportes. Futebol e Política: A
construção de uma identidade nacional. Rio de Janeiro: Mauad Editora: FAPERJ, 2006.
O futebol nem sempre foi um sucesso.
“Temos esportes em quantidade. Para que metermos o bedelho em coisas
estrangeiras? O futebol não pega, tenham a certeza. Não vale o argumento de
que ele tem ganho terreno nas capitais de importância. Não confundamos. As
grandes cidades estão no litoral. Isso aqui é diferente, é sertão.
(Graciliano Ramos nos primeiros anos do século XX)
Lima Barreto. Crônica “O football”. publicada na revista Careta em 1 de julho de
1922.
Nosso complexo de inferioridade
SILVA, F. C. T. e SANTOS, R. P. (orgs.) Memória social dos esportes. Futebol e Política: A construção de uma
identidade nacional. Rio de Janeiro: Mauad Editora: FAPERJ, 2006.
A sensação de que o futebol brasileiro engatinhava
se consolidou dolorosamente em 1908,quando um
grupo de argentinos veio disputar partidas amistosas
em São Paulo, Santos e Rio. A maioria deles tinha
sobrenome inglês. (...)
GUTERMAN, Marcos. O futebol explica o Brasil. Uma história da maior expressão popular do país. São
Paulo: Contexto, 2009.
Preconceito
SILVA, F. C. T. e SANTOS, R. P. (orgs.) Memória social dos esportes. Futebol e Política: A
construção de uma identidade nacional. Rio de Janeiro: Mauad Editora: FAPERJ, 2006.
Correio da manhã, 7 de outubro de 1920.
Arte e festa. Espetáculos futebolísticos
A vida é a arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida.
Vinícius de Morais
“La tecnocracia del deporte profesional ha ido imponiendo un fútbol de pura
velocidad y mucha fuerza, que renuncia a la alegría, atrofia la fantasía y prohíbe
la osadía. Por suerte todavía aparece en las canchas, aunque sea muy de vez en
cuando, algún descarado carasucia que se sale del libreto y comete el disparate
de gambetear a todo el equipo rival, y al juez, y al público de la tribunas, por el
puro goce del cuerpo que se lanza a la prohibida aventura de esta libertad.”
(GALEANO, Eduardo. El fútbol a sol y sombra)
“O difícil, o extraordinário, não é fazer 1000 gols como Pelé. É fazer um gol como Pelé.
(Crônica. Pelé: 1000. Carlos Drummond de Andrade)
Armando Nogueira, futebol e eu,
coitada (Clarice Lispector)
(…) Já então era tarde demais para
eu resolver, mesmo com esforço, não
ser de nenhum partido: eu tinha me
dado toda ao Botafogo, inclusive
dado a ele a minha ignorância
apaixonada pelo futebol. Digo
“ignorância apaixonada” porque sinto
que eu poderia vir um dia
apaixonadamente a entender de
futebol.
Mas futebol parece-se com balé? O
futebol tem uma beleza própria dos
movimentos que não precisa de
comparações.
(30 de março de 1968)
A crônica nossa de cada dia
Dize-me quem escalas e te direi quem és. José Roberto Torero
"Sociólogo no Brasil que não tiver os fundilhos das calças puídas pelas arquibancadas não entenderá este país."
Gabriel Cohn (Sociólogo em Folha de S. Paulo, Folha Esporte, 23/04/2006)
“O futebol é a arte do encanto embora haja tantos desencantos pela vida.”
Marcos Maurício
La fiesta
“Hay algunos pueblos y caseríos del Brasil no tienen iglesia, pero no existe ninguno sin cancha de fútbol. El domingo es el día que más trabajan los cardiólogos de todo el país. Un domingo normal, cualquiera puede morir de emoción, mientras se celebra la misa de la pelota. Un domingo sin fútbol, cualquiera muere de aburrimiento.”
(GALEANO, Eduardo. El fútbol a sol y sombra. Catálogos, 2005: 178)
“O bom jogador vê a jogada, o craque antevê.”
Armando Nogueira
Futebol e poesia
O futebol brasileiro evocado da Europa
João Cabral de Melo Neto
A bola não é a inimiga
como o touro, numa corrida;
e embora seja um utensílio
caseiro e que usa sem risco
não é o utensílio impessoal,
sempre manso de gesto usual:
é um utensílio semivivo,
de reações próprias como bicho,
e que como bicho, é mister
(mais que bicho, como mulher)
usar com malícia e atenção
dando aos pés astúcias de mão.
Copa do Mundo de 70
Carlos Drummond de Andrade
(…) De repente o Brasil ficou unido
contente de existir, trocando a morte
o ódio, a pobreza, a doença, o atraso triste
por um momento puro de grandeza
e afirmação no esporte.
Vencer com honra e graça
com beleza e humildade
e ser maduro e merecer a vida,
ato de criação, ato de amor.
A Zagallo, zagal prudente,
e a seus homens de campo e bastidor
fica devendo a minha gente
este minuto de felicidade.
(20 maio 1970)
Futebol e música
“A comunhão entre a música e o futebol e a senha para entender o
país.” (Jair de Souza)
Uma coisa é certa: no Brasil a música brota em todas as partes, como
o futebol. Basta ter uma caixa de fósforos ou uma bola de meia, que
dá samba ou dá jogo.
Se o futebol veio de cima e era jogado pelas elites, como se propala, o
samba surgiu de baixo, alcançando o gosto dessa elites muito depois
da sua popularização; mesmo assim a adesão não foi completa.
Ambos foram redirecionados pelo governo para angariar simpatias
e promover o controle sobre a grande maioria da população. Era a
busca da identidade nacional – a partir de um modo de vida carioca
– torneada naturalmente pelo samba, e por tabela, pelo futebol.
Beto Xavier. Futebol no país da música. Panda Books, 2009.
“Esse casamento tornou possível a sublimação de vários elementos
irracionais de nossa formação social e cultural. A capoeiragem e o
samba, por exemplo, estão presentes de tal forma no estilo brasileiro
de jogar, que é possível ver nele um pouco da molecagem baiana ou
malandragem carioca. Foi com esses resíduos que o futebol brasileiro
se afastou do bem ordenado original britânico para se tornar uma
dança cheia de surpresas e de variações dionisíacas que é” (Gilberto
Freyre, 1947)
Samba e futebol
Samba e futebol tiveram evolução social no final dos anos 1920, início da
consolidação de ambos como peças vitais da identidade brasileira. Pois
foi justamente nesse período que tanto a vida musical quanto o esporte
brasileiro tiveram profundas modificações. (Beto Xavier. Futebol no
país da música. Panda Books, 2009: 34)
Aqui é País do Futebol
Milton Nascimento e Fernando Brant
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
olha o sambão, aqui é o país do futebol
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
olha o sambão, aqui é o país do futebol
No fundo desse país
ao longo das avenidas
nos campos de terra e grama
Brasil só é futebol
nesses noventa minutos
de emoção e alegria
esqueço a casa e o trabalho
a vida fica lá fora
dinheiro fica lá fora
a cama fica lá fora
família fica lá fora
a vida fica lá fora
e tudo fica lá fora
Goleiro (Eu vou lhe avisar)
Jorge Ben Jor
Eu vou lhe avisar
Goleiro não pode falhar
Não pode ficar com fome
Na hora de jogar
Senão, um frango aqui, um frango ali,
Um frango acolá.
Que outros cantores falam de futebol?
O futebol é visto pelo lado mais eufórico
ou disfórico?
Gol Anulado
João Bosco / Aldir Blanc
Quando você gritou mengo
No segundo gol do Zico
Tirei sem pensar o cinto
E bati até cansar
Três anos vivendo juntos
E eu sempre disse contente:
Minha preta é uma rainha
Porque não teme o batente,
Se garante na cozinha
E ainda é vasco doente
Daquele gol até hoje
O meu rádio está desligado
Como se irradiasse
O silêncio do amor terminado
Eu aprendi que a alegria
De quem está apaixonado
É como a falsa euforia
De um gol anulado
Algumas reflexões sobre o futebol(…) o futebol é o jogo da vida. Há toda uma filosofia no futebol, no conjunto que se é
necessário para marcar o gol na vida que a gente passa driblando e de muitas pessoas
que às vezes se dão mal porque não passam a bola para os outros na vida, ou às vezes
passam e não recebem de volta. (Arthur Moreira Lima, maestro e pianista)
“Para Mané Garrincha, o espaço de um pequeno guardanapo era um enorme latifúndio.”
“No futebol, matar a bola é um ato de amor. Se a bola não quica, mau-caráter indica.”
“Os cartolas pecam por ação, omissão ou comissão”
“Tu, em campo, parecias tantos, e no entanto, que encanto! Eras um só, Nílton Santos”.
“Gol de letra é injúria; gol contra é incesto; gol de bico é estupro.”
“A tabelinha de Pelé e Tostão confirma a existência de Deus.”
Armando Nogueira
“O homem nasceu para assistir Copa do Mundo” Gabriel Castanho Oliveira
O Futebol de Armando Nogueira
(...) O futebol é jogado com os pés e feito de gols.
Mas se o futebol tem alma.
A alma do futebol está na sua poesia.
Poesia que brota das letras de quem ama o futebol-sonho.
Hoje a poesia do futebol está em silêncio.
E vai permanecer assim por algum tempo.
Pegando carona no também lendário Drummond.
Difícil não é escrever mil poesias como o Armando.
Difícil é escrever uma só poesia como Mestre Armando Nogueira.
ROBERTO VIEIRA
Futebol e linguagem
“As nossas armas, neste momento, são pois, as de defesa, e da
defesa mais legítima, respeitável, mais nobre possível porque
ela assenta numa demonstração pública, esperada com cerca
de 30 dias de paciência.” (Lima Barreto citando um jornal do
dia 14 de agosto de 1918).
Vocabulário de Guerra.
Atacante / Defesa / Bomba / Artilheiro / Guerra / Petardo /
Tática / Estratégia / Rival / Invadindo a área inimiga
Fuzilou o gol / Campo de batalha / Ficar fora do combate
“A batalha dos Aflitos”
Intervalo (15 minutos)
Segundo Tempo: Brasil nas Copas Participação do Brasil nas Copas do Mundo
Copa
do
Mundo
Colocação
do Brasil J V E D GP GC S
1930 6º 2 1 0 1 5 2 3
1934 14º 1 0 0 1 1 3 -2
1938 3º 5 3 1 1 14 11 3
1950 2º 6 4 1 1 22 6 16
1954 5º 3 1 1 1 8 5 3
1958 1º 6 5 1 0 16 4 12
1962 1º 6 5 1 0 14 5 9
1966 11º 3 1 0 2 4 6 -2
1970 1º 6 6 0 0 19 7 12
1974 4º 7 3 2 2 6 4 2
1978 3º 7 4 3 0 10 3 7
1982 5º 5 4 0 1 15 6 9
1986 5º 5 4 1 0 10 1 9
1990 9º 4 3 0 1 4 2 2
1994 1º 7 5 2 0 11 3 8
1998 2º 7 4 1 2 14 10 4
2002 1º 7 7 0 0 18 4 14
2006 5º 5 4 0 1 10 2 8
2010 6º 5 3 1 1 9 4 5
2014
Total 97 67 15 15 210 88 122
Legenda: J - Jogos | V - Vitórias | E - Empates | D - Derrotas | GP - Gols Pró | GC - Gols
Contra | S - Saldo
Campeões do mundo e os países sedes das Copas
Ano País sede Campeão
1930 Uruguai Uruguai
1934 Itália Itália
1938 França Itália
1950 Brasil Uruguai
1954 Alemanha Alemanha
1958 Suécia Brasil
1962 Chile Brasil
1966 Inglaterra Inglaterra
1970 México Brasil
1974 Alemanha Alemanha
1978 Argentina Argentina
1982 Espanha Itália
1986 México Argentina
1990 Itália Alemanha
1994 EUA Brasil
1998 França França
2002 Japão/Coréia Brasil
2006 Alemanha Itália
2010 África do Sul Espanha
Primeiras Copas
1930 (Uruguai)
1934 (Itália)
1938 (França)
1950 (Brasil)
Eduardo Galeano
Próximo jogo
A história das outras Copas
Futebol e poder no Brasil e no mundo
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