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7/27/2019 7 Carlos Lacerda Proposta Udenista Luciana Lamblet Subtitulo VF
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Revista Eletrnica Novo Enfoque, ano 2012, v. 15, edio especial, p. 34 39
CARLOS LACERDA E A PROPOSTA UDENISTA DE POLTICA
ECONMICA INTERNACIONAL DO BRASIL COM OS ESTADOS UNIDOS1
PGAS, Karen Garcia
2
LAMBLET, Luciana
3
Palavras-chave: UDN. Economia Internacional. Relao Brasil-EUA.
O governo Goulart foi marcado por inmeras crises, o que mesmo com a
exceo de qualquer julgamento partidrio significou acima de tudo a ascenso dosmovimentos sociais, ou seja, a emergncia popular a todos os nveis, em ameaa
ordem estabelecida. No plano da inspirao ideolgica surgia uma nova concepo de
nacionalismo, que se afastava daquela dada a Juscelino Kubitschek e prxima postura
da ltima fase getulista. O corte imperialista passa a identificar toda e qualquer posio
nacionalista, tanto no plano da economia como no plano da poltica. A questo discutida
agora o papel do Brasil como tradicional aliado dos Estados Unidos. Para uma UDN
ortodoxa consistia num alinhamento poltico incondicional com os Estados Unidos e oreforo proposta da poltica externa independente iniciada no governo de Jnio
Quadros, antecessor de Joo Goulart.
Essa abertura da UDN ao capital estrangeiro e a sua intensa oposio ao
monoplio do capital estatal no desenvolvimento de uma poltica industrial,
principalmente no que relacionou a rea dos recursos naturais, como foi o caso da
implantao de uma poltica industrial de petrleo na Era Vargas, trouxe ao partido a
alcunha de entreguistas, pelos nacionalistas, varguistas, a favor de um monoplio estatal
no desenvolvimento de uma poltica industrial. Poltica essa que para a sua eficincia
envolvia um trip com relao a trs capitais: o estadual, o privado e o estrangeiro. O
que no Governo Goulart tomou propores ainda maiores nos embates entre
nacionalistas e udenistas a respeito do capital estrangeiro, devido crise financeira que
assolava ao Brasil e a relao que o Brasil matinha de aliana econmica com os
1 - Resumo expandido do trabalho apresentado no IX Simpsio de Histria da Universo.2
- Acadmica do Curso de Histria e Pesquisadora do PIBIC&T da Universidade Castelo Branco.3 - Professora da Universidade Castelo Branco. Doutoranda em Histria Social pela Universidade FederalFluminense.
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Estados Unidos. Essa relao econmica entre Brasil e EUA foi vista como uma forma
do governo americano controlar a economia e a poltica brasileira atravs da ajuda
econmica com crditos e recursos financeiros, principalmente no que se referiu ao
estmulo ao desenvolvimento industrial, pois vivendo uma situao de grande crise
econmica e os industriais brasileiros no possuindo capital e subsdios necessrios para
fazer progredir tal empreendimento, havia a necessidade de se contar com a ajuda do
crdito e capital externos.
A UDN, que mantinha relaes com os Estados Unidos, em que seus partidrios
regionais alegavam justamente a busca do capital estrangeiro para financiar obras de
desenvolvimento de infraestrutura e econmico de suas respectivas regies, assim como
no mbito da poltica nacional econmica em que seus partidrios elaboravamprogramas com abertura para capital estrangeiro sujeito sano da lei. O problema
vinha dessa relao entre a crise econmica, a ascenso popular to combatida pelos
udenistas, que diziam caminhar para a desordem e que seria uma revoluo com vias a
implantao de um regime comunista. Deste modo, a relao econmica da UDN com
os Estados Unidos era vista de uma forma a produzir benefcios econmicos para as
suas campanhas polticas, alm da unio na luta de combate ao comunismo, fazendo
com que as esquerdas acusassem os udenistas de conceder interveno poltica emilitar americana no cenrio poltico-econmico brasileiro.
Com a emergncia popular, houve a intensificao do movimento sindical, com
a ocorrncia multiplicada de greves, inclusive greves polticas em torno das reformas de
base e com o destaque para o surgimento de lideranas autnticas anti-peleguistas e a
defesa do mandato sindical. Houve tambm uma politizao crescente das associaes
estudantis com novas propostas de reformas universitrias e tambm na cultura popular
com a mobilizao dos setores rurais, no mais isolados como antigamente, atravs dossindicatos e das Ligas Camponesas, com as consequentes ameaas ao sistema senhorial,
com greves inditas e invaso de terras.
No campo poltico-econmico e social, UDN e PSD se configuram como
partidos semelhantes no que tange s linhas gerais dos interesses econmicos, a
principal diferena entre ambos se configura: em uma postura antiestatista e favorvel
ao capital estrangeiro udenista, enquanto os pessedistas defendem uma linha mais
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progressiva ao mesmo tempo, e com igual nfase, a interveno estatal e o capital
estrangeiro. Isso provoca no quadro do cenrio poltico brasileiro a unio de partidos
adversrios defendendo interesses afins e a divergncia entre grupos do mesmo partido
como a Bossa Nova, no caso udenista, e a Ala Moa, no caso pessedista.
Porm no que tange aos interesses econmicos da UDN e do PSD tambm
importante atentar para as peculiaridades das sees regionais e de mbito nacional; os
primeiros que vo causar justamente os conflitos ideolgicos-pragmticos do partido,
que ser o motivo justamente da separao da Bossa Nova da UDN no governo Goulart.
Assim, as tendncias clientelsticas da UDN e do PSD so semelhantes no interior da
regio Leste (Bahia, Minas Gerais, Esprito Santo) e na regio Norte. No entanto, na
zona canavieira do Nordeste, no Cear e nas zonas de pecuria mais antiga da regioCentro-Oeste a poltica de clientela da UDN teria um sentido conservador senhorial,
enquanto o PSD revelaria um clientelismo mais consensual, no interior da regio
Centro-Leste e nas regies novas da Regio Centro-Oeste
A ao econmica do Ibad (Instituto Brasileiro de Ao Democrtica) para o
favorecimento com fundos de origens principalmente americanas dos candidatos
ostensivamente antijanguistas e anticomunistas da Ao Democrtica Parlamentar
tornou-se objeto de CPI (em junho de 1964, relatada pelo udenista Pedro Aleixo e
presidida pelo pessedista Ulisses Guimares. O financiamento da campanha imprensa,
televiso, propaganda, transportes etc. seria depois por vrios beneficirios e pelo
prprio embaixador americano Lincoln Gordon. Porm o efeito foi desastroso: o PTB
duplicou sua bancada no Congresso (s na Guanabara, a Aliana Trabalhista Socialista
chega ao dobro dos votos da UDN, mesmo com os xitos administrativos do governo de
Lacerda), a Frente Parlamentar Nacionalista se afirmou, as reformas de base passaram a
dividir as opinies no Congresso, associado campanha pela volta do presidencialismo.
Logo aps as eleies de outubro, em nota oficial aos brasileiros, a direo da
UDN se afirma totalmente contrria poltica trabalhista de Goulart. Sendo contra o
reajuste dos salrios, que diz no ser feito de forma planejada, levava a vrias
distores, que inflamam as tenses sociais. Com isso, os trabalhadores pouco
qualificados recebem uma bem menor remunerao em comparao aos professores
universitrios e categoriais das patentes das Foras Armadas. So reiteradas denncias
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j tradicionais de corrupo administrativa com a conivncia de personagens do
governo e condena a ilegitimidade da ao das organizaes sindicais, que so
oficiosamente convocadas para as greves polticas e, principalmente, aponta a ciznia
nas Foras Armadas, distraindo de sua funo de garantidoras da ordem (25/11/ 62,
Arquivo UDN). As reformas de base sero apenas aprovadas se estiverem fora da rea
da demagogia e da mistificao e respeitadas nossas tradies crists e democrticas
(25/11/62, Arquivo UDN). Assim como tambm quanto a fase final do segundo
governo Vargas, a oposio udenista tambm ataca diretamente a figura pessoal do
presidente. Embora a defesa do regime parlamentarista constasse nos programas
udenistas desde a sua fundao, a UDN se divide quanto ao plebiscito (a 6/1/63): os
fiis ao parlamentarismo permaneceram lderes como Pedro Aleixo, Milton Campos e
Adauto Lcio Cardoso; favorveis ao presidencialismo, Afonso Arinos, e os
governantes Juraci Magalhes, Carlos Lacerda e Magalhes Pinto: estes interessados
pelo fato de objetivarem as suas prprias candidaturas sucesso presidencial. O
resultado do plebiscito deu a vitria esmagadora ao presidencialismo e reforou
objetivamente os poderes de Joo Goulart. Assim, Goulart viu restaurada a legitimidade
popular de seu mandato e contribuiu para a exacerbao da luta oposicionista e para o
envolvimento de altos chefes militares na conspirao para a derrubada do governo.
A oposio dos udenistas aos projetos de reforma agrria e a emenda
constitucional, em nveis diferentes entre si de radicalizao, baseiam-se em quatro
tipos de motivaes semelhantes, porm com igual nfase num determinado ponto, de
acordo com a ala que defende a Bossa Nova ou a tradicional ruralista: a defesa de
especficos interesses econmicos contra a desapropriao das terras ou contra o modo
de indenizao; a defesa de especficos interesses econmicos, contra a extenso da
legislao trabalhista aos trabalhadores rurais; a denncia da reforma constitucional
como caminho para a subverso comunista, atravs, inclusive, da ampliao dos poderes
presidenciais de Joo Goulart e a denncia da reforma constitucional como golpe de
poder eleitoral. O ltimo ponto se refere ideia do udenista Aliomar Baleeiro, de que a
emenda constitucional daria uma poderosa arma poltica para que Jango fosse o rbitro
quando a desapropriao, o que levaria a uma quebra do PSD e da UDN.
Assim o debate em torno do capital estrangeiro gerou tanto polmica quanto
agrria e desuniu ainda mais a UDN. Essas discusses acaloravam mais o debate entre
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parlamentar entre PSD e UDN que se dividiam em dois principais projetos o de Celso
Brant, limitando a remessa de lucros (20/11/61), e de Srgio Magalhes, impedindo
agncias pblicas de conceder emprstimos ao Brasil a firmas de propriedade ou
controlada por estrangeiros (3/11/63). Assim, devido aos efeitos que a campanha
nacionalista produziu nos partidos de centro e de centro-direita, dava-se um alto nvel de
desintegrao udenista no tocante votao nominal no Congresso.
na Conveno Nacional de Curitiba que o deputado Jos Aparecido apresenta
o manifesto da Bossa Nova a favor das reformas agrria, tributria, bancria e urbana;
da poltica externa independente; da democratizao do ensino, da consolidao de
Braslia, do monoplio estatal do Petrleo, a Eletrobrs e ao Plano Trienal do governo
(24/4/63, Arquivo UDN). A Bossa Nova defende a reforma agrria com emendaconstitucional, incluindo at mesmo a tese do PTB de arrendamento compulsrio;
enquanto para os conservadores e lacerdistas a Constituio intocvel. No
encerramento da Conveno, Bilac Pinto, o presidente do partido, conclama as Foras
Armadas para interromper o curso visvel desse processo revolucionrio, restituindo a
famlia brasileira a tranquilidade, reiterando os ataques contra o governo infiltrado de
comunistas (28/4/ 63 Arquivo UDN).
Logo, pode-se perceber o quanto importante foi a participao da UDN na
poltica e na economia brasileira, principalmente durante o governo de Joo Goulart
quanto s reformas de base, principalmente no que tange economia como a agrria,
tributria e trabalhista. Nos programas elaborados e debates parlamentares e na votao
nominal no Congresso.
As brigas entre esquerda e direta que tanto caracterizou o governo de Jango
tambm foi a marca da ao poltica udenista, nos vetos das propostas nos congressos e
na reorganizao dos setores sociais principalmente militares e aliana com os Estados
Unidos em nome da ordem e contra o comunismo que levaria deposio do governo
de Joo Goulart.
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Problemtica e Enquadramento Conceitual e Terico
O trabalho se prope a compreender as propostas udenistas de relao
econmico-diplomtica do Brasil com os Estados Unidos. E visa tambm
problematizao do conceito de entreguismo, alcunha dada aos partidrios da UDN eque se tornou de senso comum na Historiografia.
Procedimentos Metodolgicos
1- Arquivo UDN. Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro:BOLETIM DA UDN. O Preo da Liberdade a Eterna Vigilncia. 1952. 7
Caderno. IHGB
2- Arquivo Nacional.LACERDA, Carlos. (1961) A UDN na Encruzilhada. (mensagem a Conveno
do Recife), Rio, folheto impresso, sem outras referenciais.
3- Biblioteca Nacional.Jornal. TRIBUNA DA IMPRENSA. 1950. 2 edio. v: 2
Resultados Parciais
A influncia efetiva do pensamento udenista na poltica econmicabrasileira; com a implantao de vrios dos seus projetos partidrios direta
ou indiretamente.
Os projetos udenistas no estiveram distantes em muitos casos dos processosImplantados; o liberalismo udenista no se tornou totalmente derrotado.
RefernciasBENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A UDN e o udenismo. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1981.
DELGADO, Lucilia de A. N. & FERREIRA, Jorge (org.). O tempo da experincia
democrtica: da democratizao de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. Rio de
Janeiro: Civilizao Brasileira, 2008.
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