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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público
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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO
DA ____ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DE GOIÂNIA-GO.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pela
Promotora de Justiça que a presente subscreve, com fundamento nos artigos
127, caput, 129, inciso III, da Constituição Federal, nas Leis nº 7.347/85, nº
8.625/93 e nº 8.429/92 e artigos 294, p. único, 300 e 303 do Código de Processo
Civil/2015, requerer a concessão de:
TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA EM CARÁTER
ANTECEDENTE
- De Natureza Inibitória, Satisfativa e com Efeitos Mandamentais -
Em face do ESTADO DE GOIÁS, pessoa jurídica de
direito público, inscrita no CNPJ com o nº 01409655/0001-80, com sede na Rua
82, S/N, Palácio Pedro Ludovico Teixeira, Setor Sul, neste ato representado
pelo Procurador-Geral do Estado de Goiás, nos termos do art. 132 da
Constituição Federal, com endereço profissional na Praça Dr. Pedro Ludovico
Teixeira, n° 26, nesta Capital;
pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:
78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público
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I – DOS FATOS
Cuida-se de requerimento de concessão de tutela satisfativa
antecedente que busca antecipar os efeitos de futura e principal ação civil
pública declaratória voltada à proteção do patrimônio público do Estado de
Goiás, bem como eventual ação condenatória pela prática de atos de
improbidade administrativa, ou, ainda, com pedido de obrigações de fazer,
não fazer e reparar.
O Jornal “O Popular” publicou matéria jornalística veiculada no
dia 28/11/2011 assim intitulada: “Estado realiza leilão de imóveis de quatro
empresas liquidadas”.
Segundo a referida matéria jornalística, nos dias 11 e 12 de
dezembro do corrente ano serão realizados leilões de 93 áreas avaliadas em R$
22,6 milhões de quatro empresas estatais que estão em processo de liquidação,
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Goiás
(EMATER), Metais de Goiás (METAGO), Empresa Estadual de Processamento
de Dados de Goiás (PRODAGO) e da Companhia de Armazéns e Silos do
Estado de Goiás (CASEGO).
Também consta da matéria publicada que o Deputado Estadual
Jean Carlo apresentou proposta de decreto legislativo para suspender a venda
das áreas públicas, sob a justificativa que a objurgada venda traria “grandes
prejuízos ao Estado de Goiás”.
Ainda segundo o Deputado: “Num contexto de crise e dificuldades
econômicas, não se justifica dispor de bens, que ainda podem ser utilizados e
reutilizados pelo Estado, seja dentro do mesmo órgão ou de outro”.
78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público
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A matéria do Jornal “O Popular” foi encaminhada ao Ministério
Público no dia 29/11/2018, enviada para distribuição nesta mesma data e
distribuída à 78ª Promotoria de Justiça no dia 07/12/2018 (sexta-feira).
Recebida a denúncia na 78ª Promotoria de Justiça na data de
sua distribuição (07/12/2018), in continenti, instaurou-se Inquérito Civil
Público, solicitou-se informações ao Deputado Jean Carlo acerca do
mencionado decreto legislativo destinado à suspensão dos tratados leilões e
carreou-se aos autos cópia do edital dos leilões.
O Edital de Leilão Público nº 002/2018, publicado pelo Estado
de Goiás, por intermédio da PROLIQUIDAÇÃO – Promotoria de Liquidação,
no Diário Oficial nº 22.939 de 26 de novembro de 2018, tem por objeto o
seguinte:
78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público
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Note-se que além de bens imóveis também haverá a alienação
de bens móveis inservíveis da PRODAGO.
Os leilões serão realizados nos dias 11 e 12, a partir das 10
horas.
A Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, por iniciativa do
Deputado Jean Carlo, aprovou o Decreto Legislativo nº 03 de 28 de novembro
de 2018, cujo artigo 1º dispõe que: “Ficam sustados os efeitos do Edital de Leilão
Público nº 002/2018, relativo ao processo nº 201800005016527, referente aos leilões de
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bens móveis e imóveis pertencentes à Companhia de Armazéns e Silos do Estado de
Goiás S/A – CASEGO -, à Empresa de Assistência Técnica, Extensão Rural e
Pesquisa Agropecuária do Estado de Goiás – EMATER-GO -, à Metais Goiás S/A –
METAGO, e à Empresa Estadual de Processamento de Dados de Goiás – PRODAGO
em liquidação”.
Todavia, a notícia que se tem, é que o Estado de Goiás não
acolherá o ato da ALEGO e dará sequência aos leilões. Obtempera-se que esta
informação foi dada ao Ministério Público pelo próprio Deputado Jean Carlo.
II – DO DIREITO
II.1 – DA NECESSÁRIA PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO
Uma das mais relevantes funções do Ministério Público é zelar
pelo conjunto de bens, direitos e valores pertencentes a todos, ou seja, o
patrimônio público e social do Brasil. Nesse rol não se postula apenas pela
correta aplicação das verbas públicas, mas, sobretudo, se exige que o
administrador público paute sua conduta imbuído dos melhores propósitos
republicanos e trace sua linha de atuação em observância aos princípios éticos
da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Em proêmio, o artigo 129, inciso III, da Constituição Federal
dispõe que:
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
(...)
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a
proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público
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O inciso VIII do artigo 1º da Lei nº 7.347/85 dispõe que:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo
da ação popular, as ações de responsabilidade por danos
morais e patrimoniais causados:
(...)
VIII – ao patrimônio público e social.
Na sequência, o artigo 4º da mesma lei prevê que:
Art. 4o Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta
Lei, objetivando, inclusive, evitar dano ao patrimônio
público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à honra
e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, à
ordem urbanística ou aos bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico.
Para Hugo Nigro Mazzilli1 “patrimônio público é o conjunto de
bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico, arqueológico
ou turístico, ou ainda de caráter ambiental”.
Cabe lembrar que, conforme a Lei Maior, é competência comum
dos entes federativos a proteção do patrimônio público:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das
instituições democráticas e conservar o patrimônio público;
Com efeito, em que pese sua competência constitucional em
adotar todas as medidas necessárias para proteção e conservação do
1 In, A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo, 20ª Edição. Editora Saraiva, 2007, p. 183.
78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público
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patrimônio público, o Estado de Goiás resolveu, a toque de caixa, alienar 93
(noventa e três) áreas integrantes de seu acervo imobiliário, bem como bens
móveis inservíveis, sem as devidas cautelas e sem observar os comandos
legais exigíveis.
A justificativa apresentada pelo Estado de Goiás é que os bens
que serão alienadas pertencem a empresas públicas em liquidação e que as
verbas arrecadadas “não são necessariamente do Estado”, pois podem ser
utilizadas para pagamento de dívidas das empresas.
Contudo, ainda que tais empresas públicas estejam em
liquidação, não há razão suficientemente plausível para o Estado de Goiás
realizar leilões de 93 áreas públicas, com intervalo mínimo da publicação do
edital à realização do certame de apenas 15 dias, sem que tenha havido a
realização de audiências públicas ou reuniões com os credores dessas
empresas em liquidação ou, ainda, sem autorização legislativa.
Acerca da alienação de bens pela administração pública, o
artigo 17 da Lei nº 8.666/93 dispõe que:
Art. 17. A alienação de bens da Administração Pública,
subordinada à existência de interesse público devidamente
justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às
seguintes normas:
I - quando imóveis, dependerá de autorização legislativa
para órgãos da administração direta e entidades autárquicas
e fundacionais, e, para todos, inclusive as entidades
paraestatais, dependerá de avaliação prévia e de licitação na
modalidade de concorrência, dispensada esta nos seguintes
casos:
a) dação em pagamento; (...)
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Marçal Justen Filho2 ensina que a alienação de imóveis
pressupõem, como regra (a) a autorização legislativa para os bens de
titularidade de pessoas de direito público; (b) a avaliação prévia e; (c)
procedimento licitatório.
In casu, não há autorização legal para a venda dos referidos
bens públicos do Estado de Goiás, haja vista que não foi editada lei pelo
Legislativo Estadual definindo as condições e os imóveis que poderiam ser
leiloados. Pelo contrário, como mencionado, por iniciativa do Deputado Jean
Carlo, a ALEGO publicou o Decreto Legislativo nº 03 de 28 de novembro de
2018 sustando os efeitos do Edital de Leilão nº 002/2018.
2 In, Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 14ª Edição. Editora Dialética, 2010,
p. 223.
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Obtempera-se que a discricionariedade que a Administração
Pública detêm em alienar bens não deve ser confundida com a ausência de
razoabilidade/proporcionalidade da medida e observância da legislação
pertinente.
Soma-se a tudo isso que faltam apenas 20 (vinte) dias para o
encerramento deste Governo, o qual, como se sabe, foi derrotado nas últimas
eleições e possuem diversos ex-integrantes do 1º escalão presos por
envolvimento em atividade ilícitas e de corrupção, fatos estes suficientes para
que as ações finais desse Governo sejam cuidadosamente analisadas e
adotadas as medidas necessárias para evitar prejuízos irreparáveis ao
patrimônio público.
III – DA TUTELA DE URGÊNCIA EM CARÁTER ANTECEDENTE
O Código de Processo Civil de 2015 trouxe significativos
impactos à Tutela de Urgência e à Tutela Inibitória. De um lado, unificou as
tutelas antecipada e cautelar sob a insígnia “tutelas provisórias de urgência”.
Mais que uma alteração terminológica, muito embora não tenha
extirpado as diferenças ontológicas entre tutelas satisfativas e tutelas
conservativas, a novel legislação unificou os requisitos, pondo fim a antigas
discussões sobre o grau de certeza (“fumus boni iuris” vs. prova inequívoca)
necessário à concessão de cada uma.
Bem assim, são requisitos para concessão da Tutela de
Urgência, inclusive de natureza antecipada/satisfativa: probabilidade do direito e
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
A par da farta argumentação demonstrando que o Estado de
Goiás não tomou as providências e cautelas necessárias para alienação de bens
78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público
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públicos, a probabilidade do direito decorre também da justificativa
apresentada pelo Estado-réu para realização dos leilões. Por nota emitida pela
SEGPLAN, “a verba a ser arrecadada pelos leilões não são necessariamente do Estado,
já que passam a ser para o pagamento de dívidas das empresas em liquidação”. Ora, o
termo “necessariamente” da nota deixa fundadas dúvidas quanto a destinação
destes recursos e, como não houve nenhuma discussão pública quanto a
realização dos leilões, tampouco houve autorização legislativa, essa é mais
uma razão para suspensão do Edital nº 002/2018.
O perigo de dano e o risco ao resultado útil, por sua vez,
decorrem das ações rápidas e temerárias que vem sendo adotadas pelo Estado
de Goiás, que almeja alienar 93 áreas públicas, há menos de 20 dias do final do
governo que não foi reeleito, com intervalo mínimo entre a publicação do
edital e os leilões de apenas 15 dias, dificultando a ação dos órgãos de controle
que sequer teve tempo hábil para analisar a documentação dos leilões e,
principalmente, conferir os valores das avaliações.
Percebe-se que há um risco iminente de grave prejuízo ao
patrimônio público com a alienação de áreas públicas sem o mínimo de
cautela por parte do Estado de Goiás.
Nesse ponto, cabe gizar o avanço propiciado pelo CPC/2015 ao
tornar explícita a possibilidade de tutela contra o ilícito, de caráter inibitório,
independente de qualquer discussão acerca de culpa ou dolo.
De fato, dispõe o art. 497, parágrafo único, que:
“Para a concessão da tutela específica destinada a
inibir a prática, a reiteração ou a continuação de um
ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a
demonstração da ocorrência de dano ou da existência
de culpa ou dolo”.
78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público
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O reconhecimento judicial da ilegalidade dos leilões para
alienação de bens nos moldes que estão sendo realizados pelo Estado de Goiás
impedirá a criação de situação irreversível ou de difícil reversão.
De outro lado, talvez a maior novidade trazida pelo CPC/15, no
que tange às tutelas de urgência, seja a possibilidade de concessão da tutela
antecipada (satisfativa) em caráter antecedente.
Disciplina a novel legislação:
Art. 303. Nos casos em que a urgência for contemporânea
à propositura da ação, a petição inicial pode limitar-se ao
requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido
de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se
busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado
útil do processo.
Sobre a tutela satisfativa antecedente, ensina Humberto
Theodoro Jr.3:
“Justifica-se essa abertura do processo a partir apenas do
pedido de tutela emergencial, diante da circunstância de
existirem situações que, por sua urgência, não permitem
que a parte disponha de tempo razoável e suficiente para
elaborar a petição inicial, com todos os fatos e fundamentos
reclamados para a demanda principal. O direito se mostra
na iminência de decair ou perecer se não for tutelado de
plano, razão pela qual merece imediata proteção judicial. O
novo Código admite, portanto, que a parte ajuíze a ação
apenas com a exposição sumária da lide”
3 Ob. citada
78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público
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Os pressupostos encontram-se preenchidos no presente caso, os
quais foram suficientemente expostos. Finalmente, à guisa de cautela, indica-
se como pedido de tutela final (ação principal) provimento de natureza
declaratória reconhecendo: (i) nulidade do Edital de Leilão nº 002/2018; (ii)
nulidade dos contratos e demais atos de alienação dos imóveis públicos pelo
Estado de Goiás.
Estão presentes, pois, os requisitos para o deferimento do pleito
ministerial, que procura impedir a violação de bem difuso, pois é evidente a
presença de riscos concretos da ofensa, que já caracterizam a prática de atos
contrários ao direito, bem como a certeza quanto à viabilidade de se exigir
obrigações de Fazer e de não fazer por parte do Estado de Goiás.
Além disso, a concessão da tutela não irá causar qualquer dano
na esfera jurídica do Estado de Goiás. O que se espera, aliás, é que o Estado de
Goiás sequer conteste a presente ação e o novo Governo siga a lei e reformule
todo o procedimento, caso ainda opte pela alienação desses bens públicos.
Ademais, rebate-se, desde já, eventual pretensão de se alegar
ofensa ao princípio da separação de poderes.
Como tem advertido o Colendo Superior Tribunal de Justiça,
não há ofensa nos casos em que o comando constitucional é claro:
“(...) em se cuidando de ação civil pública direcionada
contra a Administração Pública, objetivando a
implementação de políticas públicas, o STF tem
entendimento consolidado no sentido de ser lícito ao
Poder Judiciário ‘determinar que a Administração
Pública adote medidas assecuratórias de direitos
constitucionalmente reconhecidos como essenciais, sem
que isso configure violação do princípio da separação dos
Poderes’ (AI 739.151 AgR, Rel.ª Ministra ROSA
78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público
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WEBER, DJe 11/06/2014 e AI 708.667 AgR, Rel.
Ministro DIAS TOFFOLI, DJe 10/04/2012), cuja
compreensão, não há negar, afasta, no presente caso, o
argumento relativo à impossibilidade jurídica dos pedidos
formulados pelo Parquet autor’ (REsp 1150392/SC, Rel.
Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 13/09/2016, DJe 20/09/2016)”.
Por derradeiro, o artigo 2º da Lei n. 8.437/92 dispõe que na ação
civil pública, a liminar será concedida após a audiência do representante
judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no
prazo de setenta e duas horas.
Não obstante a dicção legal, o Superior Tribunal de Justiça e o
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás têm firmado o entendimento pela
relativização do referido dispositivo em razão da possibilidade de graves
danos decorrentes da demora no cumprimento da liminar, uma vez
observada a referida norma. Vejamos:
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.
CONCESSÃO DE LIMINAR SEM OITIVA DO
PODER PÚBLICO. ART. 2° DA LEI N. 8.437/1992.
POSSIBILIDADE. PRAZO DECADENCIAL DE 120
DIAS. IMPETRAÇÃO PREVENTIVA.
INAPLICABILIDADE.
1. No caso dos autos, o Tribunal a quo, ao indeferir o pedido
de suspensão da segurança, concluiu que não se afigurava o
risco de grave lesão aos bens protegidos pela Lei n.
8.437/1992, mas, por outro lado, afirmou que a
plausibilidade do direito se encontrava presente na ação em
razão de sustentada interferência direta nas atividades do
recorrido, já que este determinou a prestação de serviços
sem interesse dos estabelecimentos afetados e o ato
78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público
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impugnado influiria na livre iniciativa das empresas.
2. Sobre a alegada ofensa ao art. 2º da Lei n. 8.437/92,
cumpre observar que esta Corte Superior tem
mitigado, com base em uma interpretação
sistemática, a aplicação do citado dispositivo,
sobretudo quando o Poder Público, embora não tenha
sido ouvido antes da concessão da medida liminar,
deixa de comprovar prejuízo. Precedentes. (...)
4. Recurso especial não provido. (REsp 1052430/MG, Rel.
Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 12/04/2011, DJe
27/04/2011).
ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
CONCESSÃO DE LIMINAR SEM OITIVA DO
PODER PÚBLICO. ART. 2° DA LEI 8.437/1992.
AUSÊNCIA DE NULIDADE.
1. O STJ, em casos excepcionais, tem mitigado a regra
esboçada no art. 2º da Lei 8437/1992, aceitando a
concessão da Antecipação de Tutela sem a oitiva do
poder público quando presentes os requisitos legais
para conceder medida liminar em Ação Civil Pública.
2. No caso dos autos, não ficou comprovado qualquer
prejuízo ao agravante advindo do fato de não ter sido
ouvido previamente quando da concessão da medida
liminar 3. Agravo Regimental não provido.
RECURSO ESPECIAL. AUDIÊNCIA PRÉVIA.
PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO.
LIMINAR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ART. 2º DA LEI
N.º 8.437/92. PRINCÍPIO DA EVENTUALIDADE.
PRINCÍPIO DA IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA.
MITIGAÇÃO. PODER GERAL DE CAUTELA. 1. A
78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público
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medida liminar foi requerida em ação civil pública, em face
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA, quando ainda tramitava o
processo perante a justiça estadual, ocasião na qual a
autarquia federal, após ser devidamente intimada, nos
termos do art. 2º da Lei n.º 8.437/92, preferiu manifestar-se
apenas sobre a incompetência absoluta daquele juízo. À luz
dos princípios da eventualidade e da impugnação específica,
informadores do sistema processual brasileiro, o recorrente
não suscitou toda a matéria de defesa, disponível no
momento em que foi chamado a manifestar-se nos autos,
deixando de impugnar os fatos alegados pelo autor, que
serviram de fundamento para a concessão da cautelar,
acarretando a preclusão consumativa do direito processual
que lhe foi outorgado, por força do art. 2º da Lei n.º
8.437/92. Precedentes. 3. O Superior Tribunal de Justiça
tem flexibilizado o disposto no art. 2º da Lei n.º
8.437/92 a fim de impedir que a aparente rigidez de
seu enunciado normativo obste a eficiência do poder
geral de cautela do Judiciário. Precedentes. 4. Recurso
especial não provido. (AgRg no Ag 1314453/RS, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,
julgado em 21/09/2010, DJe 13/10/2010)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. PERMUTA DE IMÓVEIS. LEI
MUNICIPAL Nº 1483/2008. PRELIMINAR.
AUSÊNCIA DE OITIVA PRÉVIA DO ENTE
PÚBLICO. VIOLAÇÃO DO ART. 2º DA LEI Nº
8437/92. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO
REPRESENTANTE LEGAL DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. APRESENTAÇÃO DAS
78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público
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CONTRARRAZÕES ATEMPADAMENTE.
NULIDADE NÃO CONFIGURADA. DECISÃO
ULTRA PETITA CONFIGURADA. I- Não é ilegal a
decisão judicial proferida na ação civil pública sem a
audiência do representante judicial da pessoa
jurídica de direito público para pronunciamento no
prazo de setenta e duas (72) horas, pois tal ordem
encontra-se mitigada no nosso ordenamento jurídico
em face da possibilidade de ocorrer graves danos
decorrente da demora no cumprimento da liminar,
mormente se há nos autos provas suficientemente
fortes. II - É de se rejeitar a arguição de nulidade de
intimação do órgão ministerial ante a ausência de
intimação pessoal se a sua representante legal ofertou,
dentro do prazo legal, a peça de defesa, fato que supriu a
suposta falha sem que houvesse prejuízo a quaisquer das
partes. III- Em sendo a decisão recorrida proferida além da
quantificação indicada na petição inicial pelo autor, deve-se
reconhecer a sua nulidade em relação ao excesso, cabendo ao
órgão recursal extirpá-lo, adequando-a ao pleito inicial.
AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E
PROVIDO. (TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO
260359-57.2010.8.09.0000, Rel. DES. JEOVA
SARDINHA DE MORAES, 6A CAMARA CIVEL,
julgado em 05/04/2011, DJe 800 de 14/04/2011)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. ACAO CIVIL
PUBLICA. LIMINAR CONTRA O PODER
PUBLICO. INAUDITA ALTERA PARS.
EXCEPCIONALIDADE. PERIGO DE DANO
IRREVERSIVEL. PRESENCA DO FUMUS BONI
IURIS. EMBORA O ARTIGO 2 DA LEI N. 8.437/92
ESTABELECA QUE A CONCESSAO DE LIMINAR
78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público
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EM ACAO DE MANDADO DE SEGURANCA
COLETIVO E EM ACAO CIVIL PUBLICA ESTA
CONDICIONADA A PREVIA AUDIENCIA DO
REPRESENTANTE DA PESSOA JURIDICA DE
DIREITO PUBLICO, QUE DEVERA
PRONUNCIAR-SE NO PRAZO DE SETENTA E
DUAS HORAS, NAO TEM A REGRA CARATER
ABSOLUTO, DEVENDO SER INTERPRETADA EM
CONFORMIDADE COM O ARTIGO 12 DA LEI N.
7347/85, SENDO QUE A LEI N. 8.437/92 VISOU
APENAS COIBIR ABUSO NO MANEJO DE
MEDIDAS CAUTELARES CONTRA A
ADMINISTRACAO PUBLICA, MAS NAO TEM O
EFEITO DE SOBREPOR-SE A PROPRIA EFICIENCIA
DA TUTELA JURIDICA QUE O ESTADO REALIZA
POR MEIO DO PROCESSO. AGRAVO DE
INSTRUMENTO IMPROVIDO (TJGO, AGRAVO DE
INSTRUMENTO 69490-0/180, Rel. DES. CARLOS
ESCHER, 4A CAMARA CIVEL, julgado em 23/04/2009,
DJe 337 de 20/05/2009)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO
DECLARATÓRIA. NULIDADE DE ATO
LEGISLATIVO. PEDIDO LIMINAR. OITIVA DO
ÓRGÃO PÚBLICO MUNICIPAL.
DESNECESSIDADE. PRESSUPOSTOS.
EVIDENCIAÇÃO.
1. Comprovada a possibilidade de dano irreparável e/ou de
difícil reparação (periculum in mora) e relevante o
fundamento do recurso (fumus boni iuris), em face da
situação concreta dos fatos relatados nos autos, impõe-se a
concessão da medida liminar independentemente de prévia
oitiva do órgão público municipal.
78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público
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2. Omissis. 3. Omissis. Recurso conhecido e improvido
(TJGO, 4ª Câmara Cível, DJ 272 de 09/02/2009, acórdão de
27/11/2008, AI 65512-0/180, reator DES. STENKA I.
NETO.)
No caso dos autos, os leilões se iniciarão amanhã (11/12/2018),
não havendo tempo suficiente para oitiva do representante do Ente Público,
devendo, portanto, a medida ser concedida inaudita altera pars.
IV - DO PEDIDO:
Posto isso, o Ministério Público requer:
1. Seja concedida a TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA
em CARÁTER ANTECEDENTE sem a ouvida prévia do
ESTADO DE GOIÁS, a fim de suspender os efeitos do
Edital 002/2018.
2. Seja o réu Estado de Goiás citado e intimado;
3. Em não sendo apresentado o recurso cabível, que se torne
estável a tutela antecipada, na forma do art. 304, CPC/15,
extinguindo-se o processo com resolução provisória do
mérito;
4. Que seja concedido o prazo de 180 dias para eventual
aditamento da petição inicial.
Embora inestimável, dá-se à causa o valor de R$1.000,00.
VILLIS MARRA
– Promotora de Justiça –
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