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A EVOLUÇÃO URBANA DA RUA MARECHAL DEODORO PERANTE A FORMAÇÃO DA PAISAGEM URBANA E CULTURAL DE JUIZ DE
FORA/MG.
MORATORI, DANIEL DE ALMEIDA
1. Universidade Federal de Juiz de Fora. Programa de pós-graduação em Ambiente Construído.
UFJF, Campus Universitário de Martelos, (32) 2102-6465 E-mail: danielmoratori@hotmail.com
OLENDER, MARCOS
2. Universidade Federal de Juiz de Fora – Departamento de História Emails: olender@terra.com.br e marolender@yahoo.com.br
RESUMO
A rua Marechal Deodoro é uma das principais ruas da cidade de Juiz de Fora - MG, devido a sua localização central, tanto como por seu histórico, sendo conhecida no imaginário popular como "a rua do comércio", por concentrar essa atividade na cidade desde seus primórdios. Durante o processo de formação e conformação do município, essa rua teve grande importância na consolidação da Paisagem Cultural juizforana, pois foi umas das principais vias que ajudaram a formar e estruturar o conjunto urbano. Esse artigo busca num primeiro momento analisar a evolução urbana e do patrimônio edificado dentro do processo de construção e consolidação da paisagem construída de Juiz de Fora-MG, usando como estudo de caso a rua Marechal Deodoro (parte baixo). Num segundo momento, a partir do perfil traçado da rua, busca evidenciar quais as edificações do trecho demarcado fizeram parte do pré-inventário de 1981, onde se iniciava na cidade o reconhecimento das edificações como de interesse histórico cultural. Através de uma pesquisa bibliográfica e documental em fontes primárias e secundárias, é possível identificar os valores atribuídos por diferentes agentes à paisagem do conjunto urbano, como projetos para sua melhoria, a elaboração de código de posturas e outros instrumentos, bem como suas formas de relação ao longo do tempo com essa paisagem historicamente construída. Constatou-se que a rua Marechal Deodoro sofreu grandes transformações desde sua criação, sendo que a localização perto da Estação Ferroviária foi uma das impulsionadoras da grande ocupação na parte baixa da rua. Com essa proximidade, houve um desenvolvimento muito rápido, o que impulsionou ainda mais o adensamento da região. Nessa turbulência de idéias e oportunidades, o aspecto urbano é colocado a luz de novos conceitos e transformado. Com o advento do fim do Império, o ecletismo entrou como uma justificação da Republica, afirmando um pensamento positivista que já era dominante no sec. XIX. Com isso, proporcionaria uma arquitetura contemporânea a época, com execução técnica e mão-de-obra especializada, estabelecendo relações em Juiz de Fora uma estética mais atual, superando os costumes de uma sociedade agrária, materializando o poder e a riqueza, numa cidade industrial e moderna. Posteriormente, o art-deco surge como nova proposta estética expressa na rua, reforçando sua posição como via de destaque da cidade. Em 1981, a elaboração do pré-inventário fez elevar o debate sobre a questão de manter vivo o passado arquitetônico da cidade. Nesse processo, foram constatados vinte e uma edificações como de interesse cultural e que posteriormente entrariam em processo de tombamento. Assim, a rua Marechal Deodoro(parte baixa) demonstra com foi uma das vias estruturadoras da cidade desde sua criação, tendo forte presença na Paisagem Cultural da cidade, com varias de suas edificações preservadas no conjunto urbano.
Palavras-chave: Evolução urbana; Paisagem cultural; Juiz de Fora.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
A CONSOLIDAÇÃO DA RUA MARECHAL DEODORO1 (1800-1900)
A cidade de Juiz de Fora tem suas origens no inicio do séc. XVIII, quando à abertura do
Caminho Novo. Essa nova rota, controlaria o fluxo aurífero e reduziria a distancia entre a
capital da província,Vila Rica (atual Ouro Preto) a então capital do Império, Rio de Janeiro.
Essa se tornaria a principal rota por onde o fluxo econômico por 200 anos, já que ligaria num
prazo de 15 dias, Minas Gerais e o Rio de Janeiro. Com isso, o Caminho Velho, que possuía
maior percurso, com tempo aproximado de 45 dias, acabou por esvaziar-se (Carvalho, 2010).
Como o Caminho Novo passava pela Zona da Mata Mineira, ocorreu uma maior circulação de
pessoas pela região, e desta forma, diversas vilas e povoados surgiram às margens da
estrada, sendo um desses chamado de Santo Antônio do Paraibuna (Miranda, 1990, p.20).
Com a decadência do ciclo do ouro e a ascensão da economia cafeeira na região, uma nova
estrada precisou ser construída, para permitir maior agilidade e fluxo de carros de transporte
de cargas. Em 1836, como solução desse impasse, foi contratado pela Província de Minas
Gerais o engenheiro Henrique Guilherme Fernando Halfeld para criar a Estrada do Paraibuna,
a qual usou largas parcelas existentes do percurso do Caminho Novo para sua construção,
apenas ajustando-a ao novo traçado. O engenheiro, ao chegar onde hoje se encontra o centro
da cidade, optou por estender a estrada pelo lado direito do rio Paraibuna, traçando um eixo
que orientou o desenvolvimento do povoado. A construção dessa estrada resultou na primeira
via publica da cidade, inicialmente chamada Rua Principal e depois Rua Direita - atual
Avenida Rio Branco (Oliveira, 1953, p.20).
Em 1844, Henrique Halfeld desenha uma planta (ver fig. 1) onde registra a partilha de doze
faixas paralelas do terreno de Antonio Dias Tostes entre seus doze filhos. A planta mostra a
passagem Estrada Nova pelo povoado, e possibilita analise do rápido desenvolvimento do
mesmo, que em menos de uma década, já possuía quarenta casas e uma capela ladeando a
Estrada Nova do Paraibuna. Um ponto a se exaltar, é que o alinhamento das construções
existentes era segundo critérios estabelecidos pelo próprio engenheiro, afirmando um caráter
de ordem espacial uniforme (Junqueira, 2006, p.44). A organização do povoado começa a ser
delineada, com o rio Paraibuna e sua planície pantanosa em uma extremidade, e o morro do
Imperador na outra, com a estrada traçada por Halfeld dividindo essa localidade e tendo a
conformação urbana concentrada ao longo de si.
1 Este artigo é um recorte da dissertação em curso " As diretrizes legais na Evolução Urbana da Rua
Marechal Deodoro (parte baixa): Dos códigos de posturas às leis de proteção patrimonial", sobre
orientação do Prof. Dr. Marcos Olender.
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Figura 1 - Planta da Estrada Nova do Paraibuna, 1844.Fonte: LESSA, Jair. Juiz de Fora e seus pioneiros (do Caminho Novo à Proclamação). Juiz de Fora: UFJF/FUNALFA, 1985.p 35
A Zona da Mata mineira, após a década de 1850, teve o café como um dos seus produtos
mais importantes, o que gerou um impacto significativo na economia, a ponto de se tornar a
região mais rica de toda a província. Com o progresso, o pequeno núcleo urbano situado no
meio da região do café, o arraial de Santo Antonio do Paraibuna, se emancipa do município de
Barbacena em 31 de março de 1850, sendo elevada à categoria de vila (Oliveira, 1953, p.25).
Mas somente três anos depois que ocorreu a instalação da Câmara, em 07 de abril de 1853.
Paralelamente as obras do engenheiro Halfeld, o comendador Mariano Procópio Ferreira Laje
já idealizava novos planos. Com a necessidade de escoamento da grande produção cafeeira
da região para o porto no Rio de Janeiro, o município teve grande beneficio com a construção
de uma outra estrada, que impactou consideravelmente o processo de industrialização da
cidade. A criação da rodovia União & Industria, a primeira do tipo no Brasil, reduziria a
distancia entre Minas Gerais e Rio de Janeiro (Juiz de Fora- Petrópolis), e foi idealizada pelo
barbacenense Mariano Procópio. Esta estrada permitiu que as rotas pela cidade se
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expandissem gerando uma integração econômica facilitada, possibilitando uma maior
captação de investimentos, escoamento do produto gerado nas lavouras de café, além da
expansão da cultura cafeeira. Em decorrência da construção da rodovia, a pequena
localidade de Santo Antônio do Paraibuna teve seu contingente original aumentado em 20%
na década de 1850, por conta de uma colônia de imigrantes alemã (Colônia Dom Pedro II), a
qual é extinta em 1870 (Oliveira, 2000, p.9). Esses imigrantes alemães foram contratados por
Mariano Procópio com a finalidade de suprir a falta de técnicos artífices na região, atendendo
as necessidades da Companhia União & Industria. Com isso, os operários, técnicos, mestre
de obras e engenheiros alemães deram suporte a construção da rodovia. A presença desses
colonos contribuiu para a criação de manufaturas, que seriam verdadeiros embriões do futuro
desenvolvimento industrial da cidade no final do século XIX e inicio do século XX. A rodovia
União & Industria, que foi concluída em 1861, já havia sido representada no mapa de 1853 do
engenheiro Halfeld (ver fig. 2).
O ano de 1852 é a pedra fundamental desse trabalho, o qual se tem a primeira noticia sobre a
rua Imperial (que foi renomeada de rua da Imperatriz, Tiradentes, General Deodoro e
atualmente Marechal Deodoro). Conforme Jair Lessa, foi nessa época que se teve a abertura
das ruas Califórnia/Câmara, Imperial, São Sebastião e Santo Antônio, além de ser iniciado o
alinhamento do tortuoso caminho da rua de São Mateus (Lessa, 1985, p.60). Uma das
primeiras medidas urbanas dessa época era que as fachadas das casas deveriam ficar "a
tantos palmos do eixo da rua", que tinha pedras fincadas para orientar de orientação às
construções que apareceriam. Em planta (ver fig. 2) datada do ano de 1853, o engenheiro
Halfeld figura as estradas existentes ou com maior expressão na região, os pontos
importantes e limites geográficos delimitadores na ocupação urbana: a Estrada Atual (Estada
Nova, atual av. Rio Branco), Estrada Companhia (projeto de traçado da União e Industria, que
foi inaugurada em 1861), Estrada Velha (Caminho Novo, aberto em 1709), a rua da Califórnia
(atual rua Halfeld) e a rua da Câmara,além da Fazenda do Juiz de Fora, Rio Paraibuna,
pontes e algumas edificações existentes, como a Igreja Matriz e a Câmara.
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Figura 2- Mapa desenhado por Halfeld, 1853. Fonte: Arquivo Histórico de Juiz de Fora
Nessa planta feita por Halfeld, já se pode notar a delimitação do triangulo central da cidade. A
Estrada Companhia (União & Industria) acompanhava a Estrada do Paraibuna, mas na região
denominada de Milheiros (atual Largo do Riachuelo), ela toma um rumo de 45° diagonal para
leste, criando uma bifurcação, e afastando-se da cidade (Lessa, 1985, p.75). Essa estrada,
posteriormente, seria a chama de Rua do Imperador, depois 15 de Novembro, e atualmente
Av. Getulio Vargas. Mas conforme dito anteriormente, foi no ano de 1852 que teve a primeira
citação da rua Imperial, e ela não está representada no referido mapa.
Em 23 de abril de 1853, segundo Jair Lessa, um minucioso plano do arruamento da vila foi
elaborado, onde se aproveitaria as poucas ruas já existentes. Sendo constituído por vinte e
duas mini plantas, estavam representadas três praças, além de dezesseis ruas transversais à
Estrada do Paraibuna e a duas ruas paralelas (Lessa, 1985, p.60) (ver fig. 03). A rua Imperial,
segundo Lessa, era a primeira e a mais larga das ruas abertas, com uma largura de 15,40m;
as demais tinham 13,20m de largura. Esse plano veio a ser extraviado, infelizmente restando
somente sua descrição, o que é confirmado tanto por Lessa (Lessa, 1985, p81), como por
Oliveira (Oliveira, 1953, p.39) .
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Figura 3 - Simulação do arruamento em 1853, conforme descrição de Lessa. Fonte: Daniel Moratori
Em 02 de maio de 1856, a vila foi elevada categoria de cidade, recebendo o nome de Cidade
do Paraibuna, já nascendo como um dos principais municípios cafeicultores de Minas Gerais.
Em homenagem a tal acontecimento, a Câmara tomou certas providencias para festejar tal
conquista; o vereador Alves Garcia propôs o alinhamento e calçamento de cinco novas ruas:
Que esta Câmara ordene ao fiscal o alinhamento e abertura das ruas abaixo declaradas e que constam do mapa adotado por esta Câmara e que deve existir no arquivo da mesma, ficando no centro pedras e aplicando sua constante vigilância para que se não identifiquem casas fora do alinhamento das ruas em geral: 1º A rua do Cano(...). 2° A rua da Califórnia. 3º A rua Imperial. 4º A rua de santo Antônio. 5º A rua Formosa (Oliveira, 1953, p.39).
A rua Imperial (atual rua Marechal Deodoro) e a rua da Califórnia (atual rua Halfeld) dariam
continuidade dos alinhamentos laterais da praça Municipal (atual Parque Halfeld). Nesse ano
já pode-se destacar uma menção oficial da rua Imperial, que é evidenciado por um relatório de
fiscal, citando que as ruas da Califórnia, Câmara, Imperial, São Sebastião e Santo Antônio
foram roçadas (Fiscais e agentes fiscais, 1869). Emancipado, o novo município procura
ordenar o seu desenvolvimento. A necessidade de melhoramentos se mostrou latente, com
alterações e investimentos na infraestrutura urbana, como no arruamento, nos transportes,
eletricidade, saneamento, entre outros. Assim, a Câmara Municipal aprova, em 10 de junho de
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1857,o código de "Posturas da Câmara Municipal da Cidade do Paraibuna". Em sua
atualização em 1858, o código traz disposições para melhor controle do crescimento,
organização social e gestão do município, além de uma política sanitarista para evitar
epidemias e insalubridades. Normas de urbanização determinavam a obrigação de conservar
limpas as testadas dos quintais, terreiros e casas. Havia uma preocupação com o
embelezamento do município, para dar a impressão aos visitantes de uma cidade adequada e
civilizada (Couto, 1997, p.14). Dentre as diretrizes do código de posturas, merece destaque o
capitulo destinado ao Alinhamento, onde pode se identificar importantes ações que dariam
uma uniformidade na paisagem urbana. O artigo 43 fala sobre a necessidade de fazer um
levantamento da planta da cidade, e enquanto a mesma não estivesse pronta, os alinhadores
trabalhariam segundo ordens da própria Câmara. No art. 45, a identidade visual recebe
determinantes legais que fornecem controle sobre as características físicas das edificações,
como o limite de altura do pé direito e o alinhamento das testadas, que por sua vez era
responsável pelo emolduramento da forma das rua, e ainda suas larguras:
Art. 45. Ao Alinhador compete alinhar e perfilar o edifício, conforme o plano da povoação, se o houver, ou segundo as instruções que lhe forrem apresentadas pelo Fiscal. Enquanto não houver plano as ruas desta cidade, e povoações terão de 45 a 60 palmos.(...) As casas que se construírem, ou reedificarem, nunca terão menos de 20 palmos de pé direito, que serão contados acima do nível da rua (Posturas, 1860, p.11).
Dois anos após o código de Posturas, no ano de 1860, a Câmara encomenda um plano com
diretrizes já previamente estabelecidas, contratando o engenheiro Gustavo Dott para
realização de uma planta referente ao perímetro urbano do distrito da cidade. Os vereadores
criticaram a planta de Dott, pela não representação fidedigna do distrito da cidade como se
encontrava no momento, tendo o engenheiro, projetados praças e arruamentos inexistentes, o
que acabou pela rejeição da planta. Após adequação do engenheiro, foi realizada a primeira
planta cadastral (ver fig. 4) da cidade, com propostas de melhoramentos urbanos. Conforme
conferência da Câmara com o engenheiro, as ruas perpendiculares a rua Direita deveriam ser
abertas até a serra da cidade (Morro do Imperador), mas o plano traçado por Dott só
contempla o traçado até a rua Santo Antônio (Oliveira, 1953, p.65). Analisando a planta,
nota-se que a rua da Imperatriz (ex rua Imperial)2 começa na Santo Antonio, transpõem a rua
2 A rua Imperial teve seu nome mudado para rua da Imperatriz, mas não foi encontrado documentação
e referências ao ocorrido.
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Direita e a rua Imperador, terminando na esquina coma rua do Matadouro, na área de várzea
do rio Paraibuna.
Figura 4 - Rua da Imperatriz demarcada (em cor) na planta do Plano de Gustavo Dott para Juiz de Fora, 1860 (copia de José Vieira Lima). Fonte: Setor de Memória da Biblioteca Municipal Murilo Mendes.
A partir do plano de Dott, há uma quantidade de informações sobre questões urbanas no
núcleo da cidade, que são descritas nos Relatórios Fiscais apresentados a Câmara pelos
serviços executados. Em 1861, já se fazia necessário pelos fiscais o nivelamento das
ruas,que fossem calçadas as testadas e fornecidos os modelos ou projetos das extremidades
das casas de sobrado e barracos, pois as construções das casas estavam irregulares,
prejudicando a harmonia das posturas (Fiscais e agentes fiscais, 1861). Em relação a rua da
Imperatriz, um relatório de 1865 indica que a mesma não ficava no alinhamento do Largo
Municipal, pois a Câmara havia comprado mais 35 palmos de terreno, sendo pedido ao
Comendador Halfeld para se alterar a planta afim de não prejudicar a formosidade da cidade
(Fiscais e agentes fiscais, 1865). Já em 1869, há uma nova referência, a qual indica que a rua
precisa de aterro e nivelamento em toda sua extensão, além de valetas para esgoto e águas
pluviais. Reforça que a rua Imperatriz, além da Estrada União & Industria, estava
completamente instransponível, e os moradores com dificuldade e perigo eram obrigados a
passar por ela (Fiscais e agentes fiscais, 1869), questão essa influenciada pelas águas
pluviais e pelo área de várzea rio Paraibuna. Mas esse problema foi minimizado em 1872,
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quando um canal de pedra foi feito para dar saída as águas da rua (Fiscais e agentes fiscais,
1872). Cabe aqui frisar que nesse ínterim, a cidade tem seu nome mudado para Juiz de Fora,
em 1865.
Um dos vetores de crescimento da cidade, que modificou sua estrutura e sua dinâmica, foi a
chegada da Estrada de Ferro Dom Pedro II, que teve impacto significativo no desenvolvimento
da rua Imperatriz. Em 30 de dezembro de 1875, no período do auge da produção cafeeira, os
trilhos chegaram a cidade, consolidando a posição do município dentro da província mineira.
Inicialmente, esses trilhos foram uma decepção, pois eram somente um "estribo" para
desembarque de passageiros, situado entre a rua Califórnia e da Imperatriz. A estação
provisória teve um aumento em 1877, depois um 1883, tomando o aspecto atual em 1902
(Lessa, 1985, p.110). No 1876, mesmo com a chegada da Estrada de Ferro, problemas de
infraestrutura urbana eram corriqueiros na cidade, a rua da Imperatriz e a rua Halfeld ainda se
mostravam intransponíveis, necessitando de nivelamento para os proprietários das casas
fazerem suas calçadas. Um relatório do fiscal desse ano adverte sobre a canalização das
valetas, para se tentar evitar os miasmas desenvolvidos em conseqüência dessas estarem
abertas (Fiscais e agentes fiscais, 1876). Em 1877, a comissão de obras publicas da Câmara
aprovou as obras de empedramento da rua da Imperatriz (Pharol, 1877), que se encontraria
nivelada e macadamizada em toda sua extensão, faltando apenas calçamento nas testadas
de algumas propriedades, que já estavam intimadas e com prazo marcado para conclusão
(Fiscais e agentes fiscais, 1877). Nesse ano, a hotelaria começou a florescer, devido a grande
população flutuante da cidade (Lessa, 1985, p.130), advinda principalmente pela Estrada de
Ferro. Na década de 1880, a cidade começou a ter uma melhor consolidação de diversos
benefícios provenientes do desenvolvimento na estrutura urbana e nos serviços prestados,em
meio ao período em que ocorria a transição da mão-de-obra escrava para os trabalhadores
livres e imigrantes, o que acarretou uma modificação radical na essência urbana da época. A
circulação de pessoas, de mercadorias e idéias foi significativa no progresso da cidade. Os
bondes, após a linha férrea, foram também um dos instrumentos que fomentou ainda mais a
integração e a economia da cidade. Os primeiros bondes da cidade, esses com tração animal,
datam 1881. A inauguração da linha de bondes entre a rua da Imperatriz e o Morro da
Gratidão aconteceu em 1882 (Pharol, 1882). Tendo rua da Imperatriz como uma de suas
rotas, trouxe a tal via uma maior integração com o centro urbano da cidade (Lessa, 1985,
p.147) fomentando o fluxo de pessoas no local. Os bondes a eletricidade só viriam a serem
implantados em 1906.
Em 1881, a Câmara contrata o engenheiro José Barbalho Uchoa Cavalcanti, para fazer uma
planta cadastral e topográfica da cidade. Essa planta cadastral suscitou grande controvérsia,
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sendo que foi aceita somente em 1883, não constando o nome de quem a desenhou.
Conforme Paulino de Oliveira, a relação nominal dos proprietários das casas que se acham na
Planta da Cidade de Juiz de Fora, consta que a rua da Imperatriz, partindo da rua da Direita à
Estrada de Ferro tem um numero total de 59 casas (Oliveira, 1953, p.121-122) (ver fig.7). O
adensamento urbano da parte baixa da rua da Imperatriz (abaixo da rua do Imperador, atual
Av. Getulio Vargas, sentido Praça da Estação) já é evidenciado. Um total de apenas 15
edificações não se concentram nessa área, o que demonstra que a rua se desenvolvia mais
na área próxima da estação ferroviária.Há um deslocamento das atividades concentradas no
núcleo de povoamento original em direção a essa nova concentração urbana, próxima a
Estrada de Ferro. Em contra partida, a rua Halfeld já tem uma distribuição mais homogênea
em toda sua extensão.
Figura 5- Recorte da planta de 1883 - Plano Uchoa Cavalcanti. A rua da Imperatriz em toda sua extensão conta com 59 casas. Fonte: Arquivo Histórico de Juiz de Fora.
Segundo Albino Esteves, em seu Álbum do Município de Juiz de Fora, a rua da Marechal
Deodoro é identificada com um traçado de 1.150 metros de extensão, começando da praça
Dr. João Penido e terminando no morro de São Sebastião (Lage, 1915, p.162) . Conforme
analise das plantas de Dott (1860), de Uchoa (1883), nota-se que a rua da Imperatriz tinha a
mesma extensão da Santo Antonio até meados da Estação. Mas em 1884, a Câmara decide
fazer o prolongamento da Imperatriz, estendendo da Santo Antônio até a encosta da serra
(Pharol, 1884, 08 de jan). O Sr. Joaquim Nogueira Jaguaribe ofereceu a Câmara o terreno
necessário ao prolongamento da rua, conforme consta em nota do jornal O Pharol de 08 de
janeiro de 1884 (Atas da Câmara, 1884, 04 de jan.). Essa informação sobre o prolongamento
é confirmada na ata da Câmara de 08 de janeiro de 1884, o qual o referido proprietário
reclama do fiscal pelo embargo e a intimação a construção de uma casa no referido terreno, e
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relata que o Sr. Jaguaribe “não faz questão de dar gratuitamente o leito para prolongamento
da rua da Imperatriz” (Atas da Câmara, 1884, 08 de jan.). Supunha-se que esses terrenos
seriam logo povoados, pois ofereciam grandes vantagens pelo lado da salubridade, como por
exemplo água em quase todos os lotes. Com isso, foi feito um leilão de lotes no
prolongamento da rua (Pharol, 1884, 24 de janeiro). Essa ultima parte aberta, seria mais tarde
composta de casas residenciais, distinguindo dos outros trechos, onde se concentraria a
função de serviços/comércio.
Desde o sec. XIX, a divisão da cidade em parte alta e parte baixa já era conhecida. Tal como
explica um relatório fiscal de 1888, a topografia da cidade determinou essa divisão, sendo a
chamada de parte alta aquela mais próxima a serra (Morro do Imperador), e a parte baixa
aquela próxima ao rio Paraibuna . Como delimitação para estudo, foi escolhida a parte baixa
da Rua Marechal, sendo definido como objeto de estudo o trecho da Av. Getulio Vargas até a
Av. Francisco Bernardino/Praça Dr. João Penido, que foi a parte precursora da via,
fundamentada na análise da formação histórica da cidade associada às características
arquitetônicas da rua. O recorte partiu dos referenciais apontados, que permitem uma
interpretação da história local.
A CONSOLIDAÇÃO DA RUA MARECHAL DEODORO (PARTE BAIXO) (PÓS
1900) E O SURGIMENTO DO PRÉ-INVENTÁRIO (1981)
Mais uma vez, a estação é tomada como principio de mudanças para a sociedade vigente no
final do sec. XIX. Nos seus trilhos, desciam uma gama de diferentes atrativos, desde víveres,
jornais, livros, revistas, informações, materiais para a construção civil, como também pessoas
com conhecimento em engenharia, arquitetura, construtores e mestres de obras, que viriam
usar esse saber para conceber uma nova era ao município. Nessa turbulência de idéias e
oportunidades, o aspecto urbano é colocado a luz de novos conceitos e transformado. Com o
advento do fim do Império, o ecletismo entrou como uma justificação da Republica, afirmando
um pensamento positivista que já era dominante no sec. XIX. Com isso, proporcionaria uma
arquitetura mais contemporânea a época, com execução técnica e mão-de-obra
especializada, estabelecendo relações entre Juiz de Fora por estética mais atual, superando
os costumes de uma sociedade agrária, materializando o poder e a riqueza, numa cidade
industrial e moderna.
Umas edificações remanescente até os dias atuais, que faz parte da conformação da rua
Marechal Deodoro, é o edifício de sobrado do Grande Hotel Renascença, datado a 1893. É
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um imóvel de esquina, que fica na antiga rua do Matadouro, atual Praça Dr. João Penido
(praça da Estação), esquina com a rua Marechal Deodoro. Essa edificação marca o inicio do
estilo eclético na região. O edifício já sofreu algumas alterações para sua "modernização",
buscando se alinhar ao estilo eclético. O antigo beiral deu lugar a uma platibanda, para ocultar
sua cobertura, como a colocação de um frontão, buscando uma simetria. Conforme Passaglia,
em seu livro "Preservação do patrimônio histórico de Juiz de Fora", na primeira década do
séc. XX, um padrão plástico filiado ao ecletismo seria aplicado na cidade, com tendências
neoclássicas e Art- nouveau. A adoção do estilo eclético foi um meio de expressar sua
identificação com o progresso mundial, aliado ao desenvolvimento local nos setores
econômico, urbano e social, além de abarcar a questão higienista. Com a chegada dos
construtores italianos, as edificações começaram a serem mais elaboradas, refletindo esse
trabalho nas ornamentações das fachadas erguidas. Com isso, começou a ocorrer uma
disputa entre a execução dos edifícios mais imponentes entre proprietários e industriais,
reforçando a superioridade sobre camadas sociais menos favorecidas. Desse período,
pode-se destacar uma quantidade de edificações remanescentes na rua Marechal Deodoro
(parte baixa). Muitos comerciantes, que detinham de lojas na rua Marechal Deodoro,
buscaram com o passar do tempo a escolherem uma arquitetura que destacaria suas
construções. Chegava com isso, uma nova estética a rua, com uma representação dos
anseios por novos valores mais contemporâneos a época. E com isso a arquitetura Art Déco
começou a ser implantada na rua, sendo que a grande maioria das produções de arquitetura
dessa manifestação ocorreu nas décadas de 1930 e 1940, época em que o estilo estava em
seu ápice e se consolidava no país.
Passada algumas décadas, a partir da década de 1970, inúmeros imóveis antigos da cidade
foram destruídos, em uma nova perspectiva que certos setores da sociedade buscavam: o
progresso e o desenvolvimento. A partir do momento em que a sociedade se voltou para tais
acontecimentos, e começou a surgir um sentimento em diversas parcelas da sociedade e da
administração publica a respeito da preservação de bens culturais que faziam parte da
memória coletiva da cidade. Memória essa, que parecia ter sofrido uma deterioração,
resultando numa processo de amnésia social. Com isso, em 1981, o poder publico do
município da aval para a realização do Pré Inventário do Acervo cultural na cidade. O objetivo
do pré-inventário era o de construir um repertório que pudesse contar a como foi a produção
arquitetônica em Juiz de Fora, desde os primórdios até o período contemporâneo a época. O
Arquiteto Alberto Luiz Alberto do Prado Passaglia, que coordenou tal projeto, cita a
importância do levantamento feito para a preservação do patrimônio que tinham relação com
o passado histórico existente da cidade, mas que também serviria para evitar que essa
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amnésia social progredisse com maior intensidade no município, já que varias áreas da
cidade perdiam bens culturais de grau significativo (Passaglia, 1982, p.9).
Nesse levantamento e identificação de bens de interesse cultural, foram cadastrados
aproximadamente 550 imóveis. A rua Marechal Deodoro estava entre as ruas que tiveram
varias edificações cadastradas. Na parte baixo da rua, foram escolhidas para entrarem na
lista do pré-inventário 21 edificações com interesse cultural(ver fig. 6).
Figura 6 - Edificação que entraram no pré inventário de 1981. Representação feita em cima da planta cadastral planialtimétrica de Prefeitura de Juiz de Fora. Fonte: Daniel Moratori (2016)
Como se observa na imagem nº6, uma quantidade considerável de edificações na rua
Marechal Deodoro parte baixa foram inventariadas, seguindo regras técnicas fundamentadas
numa correlação entre história e características arquitetônicas das edificações. Esse
mapeamento inicial permitiu analisar os processos adaptativos que a paisagem urbana
passou, abarcando uma variedade de qualidades arquitetônicas nas edificações, que foram
se modificando conforme a evolução da rua, devido as novas necessidades e atividades que
eram desenvolvidas no local. Essa rua da cidade, que foi uma das precursoras de
desenvolvimento local, refletia na sua paisagem construída uma leitura do espaço urbano as
transformações causadas pelo desenvolvimento repentino, aliado aos diferentes momentos,
estilos arquitetônicos, manifestações populares e memória coletiva sobre a rua conhecida
como "rua do comércio". Com isso, foi identificado um potencial simbólico na rua, devido a
grande quantidade de bens que teriam um valor cultural não apenas como objetos isolados,
mas como uma unidade, um conjunto urbano dentro de um contexto, formando uma paisagem
característica.
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Esse pré-inventário, além de constituir uma documentação embrionária de conhecimento
técnico-científico do bem cultural, foi um dos promotores das futuras propostas de
salvaguarda e valorização das edificações culturais que viria a ocorrer na cidade, sendo a
primeira medida de porte significativo. Criaria com isso, um fortalecimento na consciência de
preservação deste patrimônio. Posteriormente, varias dessas edificações que compõem a
paisagem urbana da rua Marechal Deodoro parte baixa, seriam alvos das políticas de
tombamento e de um futuro inventario (15 anos depois, em 1996), junto com outras
edificações da rua que não estavam no escopo desse pré-inventário.
CONCLUSÃO
Como pode ser analisado, a trajetória da rua Marechal Deodoro abarcou todo o
desenvolvimento da cidade de Juiz de Fora. Foi uma das primeiras ruas, que esteve no
traçado inicial da vila, e contribuiu de forma muito positiva para o desenvolvimento do
pequeno município, até a sua consolidação como uma cidade formada. A evolução urbana da
cidade acompanhou toda uma lógica de progresso, que refletiu diretamente na rua Marechal
Deodoro, influenciando no seu adensamento e formação de uma paisagem urbana de maior
densidade na parte baixa da rua até inicio do sec.XX. Podem ser percebidos os objetivos
almejados por todo esse investimento na urbanização da cidade, que refletiu em sua
arquitetura construída. Há uma busca de uma unidade, de uma perspectiva de submeter a
cidade à idéia do progresso baseados nos preceitos europeus; um olhar para o futuro da
cidade, já adequando a mesma a um planejamento no presente. A rua sofreu grandes
influencias devido aos ferramentas legais que seriam adotadas no Brasil, como o código de
posturas e vários planos urbanos, que iriam conformar sua paisagem urbana, até a formação
de um paisagem construída, que seria consolidada por políticas preservacionistas. Para
preservar a paisagem urbana, e transformá-la em uma paisagem de valor cultural, onde possa
ser vivenciado o passado, tendo uma vivencia no presente, é de toda necessidade resguardar
sua memória, o que contribuirá a favor da apropriação do bem patrimonial pela sociedade e irá
contribuir com a manutenção dos seus valores culturais. Em 1981, a elaboração do
pré-inventário fez elevar o debate sobre a questão de manter vivo o passado arquitetônico da
cidade. Nesse processo, foram constatados vinte e uma edificações como de interesse
cultural e que posteriormente entrariam em processo de tombamento. Assim, a parte baixa da
rua Marechal Deodoro demonstra com foi uma das vias estruturadoras da cidade desde sua
criação, tendo forte presença na Paisagem Cultural da cidade, com varias de suas edificações
preservadas no conjunto urbano e que tiveram sua importância para salvaguarda reconhecida
no pré-inventário.
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REFERÊNCIAS
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Série 92. Relatórios fiscais apresentados a Câmara de Juiz de Fora referente a diversos
serviços executados. 1854/88. Ano de 1861.
Série 92. Relatórios fiscais apresentados a Câmara de Juiz de Fora referente a diversos
serviços executados. 1854/88. Ano de 1865.
Série 92. Relatórios fiscais apresentados a Câmara de Juiz de Fora referente a diversos
serviços executados. 1854/88. Ano de 1869.
Série 92. Relatórios fiscais apresentados a Câmara de Juiz de Fora referente a diversos
serviços executados. 1854/88. Ano de 1872.
Série 92. Relatórios fiscais apresentados a Câmara de Juiz de Fora referente a diversos
serviços executados. 1854/88. Ano de 1973.
Série 92. Relatórios fiscais apresentados a Câmara de Juiz de Fora referente a diversos
serviços executados. 1854/88. Ano de 1876.
Série 92. Relatórios fiscais apresentados a Câmara de Juiz de Fora referente a diversos
serviços executados. 1854/88. Ano de 1877.
Série 164.Outros documentos de Vereadores - Atas (Rascunhos) de sessões da Câmara
Municipal de Juiz de Fora 1857-1889 - Sessão de 04 de janeiro de 1884.
Série 164. Outros documentos de Vereadores - Atas (Rascunhos) de sessões da Câmara
Municipal de Juiz de Fora 1857-1889 - Sessão de 08 de janeiro de 1884.
Posturas da Câmara Municipal da Cidade do Parahybuna da Província de Minas Gerais. Rio
de Janeiro: Typografia de Soares e Irmãos, 1860. 50p.
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