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III Encontro da ANPPAS23 a 26 de maio de 2006
Brasília – DF
Os Impactos Socioeconômicos e Ambientais da Atividade Produtiva do Pequeno Minerador de Materiais para
Construção Civil no Município de Teresina-PI.
Bartira Araújo da Silva Viana¹ & José Luis Lopes Araújo²¹Geógrafa, Mestranda do PRODEMA/UFPI ([email protected]).
²Orientador PRODEMA/UFPI ([email protected]).
A mineração de materiais para a construção civil desenvolvida em Teresina é de grande importância social e econômica, porém, a extração desses bens é realizada com o método de lavra a céu aberto, concorrendo para proliferação de focos de erosão e assoreamento de cursos d’água, provocando uma degradação ambiental e desconfiguração da paisagem local. O estudo realizado no município de Teresina-Pi é motivado pela observação de que as atividades de extração de materiais para construção civil na zona Norte da cidade estão diretamente relacionadas com a expansão urbana da capital nas últimas décadas. A necessidade de exploração desses minerais é cada vez maior, visando atender a demanda de areias, massará, seixos e pedras na cidade. O objetivo deste trabalho é analisar os impactos socioeconômicos e ambientais da atividade produtiva do pequeno minerador de materiais para a construção civil na cidade de Teresina, considerando as condições de trabalho da população envolvida e os efeitos degradantes dessa atividade sobre o meio ambiente da capital. Por meio de pesquisa bibliográfica e observações de campo pôde-se constatar que a exploração mineral é uma atividade que necessita de estreito acompanhamento dos órgãos que zelam por um meio ambiente saudável, pois, ao longo dos anos, ela vem utilizando técnicas e manejo de áreas que comprometem uma proposta de “cidade sustentável”.
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1. INTRODUÇÃO
Os anos de 1970 e 1980 foram marcados pela definição mais precisa da expressão
“impacto ambiental” devido a necessidade de se estabelecer diretrizes e critérios para avaliar
efeitos adversos das intervenções humanas na natureza.
Segundo o art. 1º da Resolução 1, de 23.1.86 do CONAMA – Conselho Nacional do
Meio Ambiente, “considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas,
químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas [..]”. O que caracteriza o impacto ambiental são as
alterações que provocam o desequilíbrio das relações constitutivas do ambiente, tais como as
alterações que excedam a capacidade de absorção do ambiente considerado, portanto, estas
alterações precisam ser quantificadas, pois apresentam variações relativas, podendo ser
positivas ou negativas, grandes ou pequenas.
Deve-se ressaltar que a maioria dos impactos ocorridos no espaço geográfico, desde
o local até o global, estão relacionados ao rápido desenvolvimento econômico, sem a devida
atenção às formas de exploração dos recursos naturais, a exemplo da degradação ambiental
provocada pela atividade extrativa mineral desenvolvida na zona Norte de Teresina. Esse
processo tem estabelecido a necessidade de desenvolvimento de políticas públicas que
orientem a construção de cidades sustentáveis, visando a melhoria do ambiente e da qualidade
de vida na cidade e contribuindo para a determinação de uma sustentabilidade urbana no
espaço teresinense.
O texto estrutura-se em quatro partes. Na primeira, trata da construção de cidades
sustentáveis a partir do estabelecimento do Estatuto da cidade, documento disciplinador das
funções sociais da cidade e implementador da política urbana. Em seguida, mostra a evolução
do processo de urbanização a nível mundial e brasileiro. Depois, discorre sobre a atividade
extrativa mineral desenvolvida na zona Norte de Teresina e sua relação com o processo de
degradação presente no espaço urbano da capital. Encerra a discussão com o enfoque sobre a
insustentabilidade urbana gerada pela forma de exploração da atividade mineral de materiais
destinados a construção civil na cidade de Teresina.
2. O ESTATUTO DA CIDADE E A CONSTRUÇÃO DE CIDADES
SUSTENTÁVEIS
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O Estatuto da Cidade reúne importantes instrumentos urbanísticos, tributários e
jurídicos, podendo garantir a efetividade ao Plano Diretor, obrigatório para cidades com mais
de vinte mil habitantes. Foi instituído pela lei Nº 10.257, de 10 de julho de 2001 e estabeleceu
normas que regulam a segurança e o bem-estar dos cidadãos, bem como o equilíbrio
ambiental. Ela implementa a política urbana que tem como um de seus principais objetivos
ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade mediante “a
garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como direito à terra urbana, à moradia, ao
saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte, serviço, trabalho e lazer para as
presentes e futuras gerações” (BRASIL, 2002, p.17).
O atendimento das exigências do Estatuto da Cidade foi estabelecido em Teresina, a
partir de seu Plano Estratégico no ano de 2002. O Plano de Desenvolvimento Sustentável de
Teresina, mais conhecido como Agenda 2015, foi instituído para contribuir com o processo de
construção da Agenda 21 Brasileira, atendendo as diretrizes do tema nacional “Cidades
Sustentáveis”. Segundo Marcondes (1999, p. 37):
[...] O projeto das cidades sustentáveis passou a ser tema recorrente a partir da Agenda 21, aprovada pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento realizado em 1992, em que se estabeleceu a questão dos assentamentos humanos, em especial dos assentamentos urbanos, como problema ambiental, considerando que, na virada do século, a maioria da população estará vivendo em cidades. [...], a inclusão de metas para a sustentabilidade ambiental ocorrerá por meio da adoção de tecnologias apropriadas.
A Agenda 2015 teresinense revelou vários problemas ambientais decorrentes do
acelerado crescimento urbano das últimas décadas. Esse processo não permite uma
conciliação entre o crescimento populacional e econômico com a proteção ao ambiente e o
estabelecimento de uma qualidade de vida. Dentre as atividades que estão contribuindo para a
degradação do meio ambiente urbano da capital, está a atividade extrativa mineral voltada
para o fornecimento de seixos, areias e massará para a construção civil. O referido problema
ocorre devido a forma de exploração desordenada que tem se estabelecido no espaço urbano
teresinense (TERESINA, 2002, p. 25).
Para compreender os impactos ambientais que estão sendo desenvolvidos em Teresina,
se faz necessário uma retrospectiva histórica dos fatores que têm contribuído para a geração
de impactos ambientais a nível global e nacional, até chegarmos na realidade da capital
piauiense.
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3. O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO MUNDIAL E BRASILEIRO
A partir da industrialização, o espaço geográfico mundial se modificou radicalmente,
tendo uma forte inter-relação com o processo de urbanização em diferentes pontos da Terra. A
Revolução Industrial iniciou-se no final do século XVIII, na Inglaterra, expandindo-se por
toda Europa até o final do século XIX, e continuou intenso nos Estados Unidos por grande
parte da primeira metade do século XX.
Várias transformações políticas, sociais e econômicas ocorreram nos países
subdesenvolvidos a partir da segunda metade desse mesmo século. Nessa época intensificou-
se a implantação do grande capital internacional nos países pobres, por meio da instalação de
unidades produtivas transnacionais. As cidades se expandiram formando regiões
metropolitanas, com extensas periferias ocupadas por populações pobres. “Neste século, o
espaço humano passou a ser entendido como espaço urbano [...]” (MARCONDES, 1999, p. 25).
No Brasil o capitalismo industrial provocou fortes transformações no processo de
urbanização e permitiu o nascimento, crescimento e desenvolvimento de muitas cidades.
Segundo Monte-mór (1996, p. 170) “o principal conceito que orienta a compreensão da
dinâmica contemporânea da organização do espaço social é a idéia da urbanização
extensiva”.
A vinculação da questão urbana às práticas sociais, políticas e econômicas deu-se
“num período marcado pelo intenso processo de expansão do capital, do ritmo de
crescimento urbano e de investimentos no setor imobiliário, intermediado pelo Estado e pelos
grandes interesses financeiros” (MARCONDES, 1999, p.30).
O processo de urbanização brasileiro provocou intensos fluxos migratórios em busca
das cidades devido à oferta de trabalho, renda e acesso a bens, serviços e equipamentos
urbanos. Santos et al. (2004, p. 352) discorrendo sobre o processo de urbanização revela que:
[...] um processo de urbanização concentrada e acelerada indica sérios problemas de ordem ambiental. Analisando-se os aspectos intra-urbanos desse processo, observam-se condições ainda impróprias para o meio ambiente e para a qualidade de vida da população urbana [...].
Vários problemas ambientais presentes no ambiente urbano brasileiro, são atribuídos,
portanto, ao processo de desenvolvimento industrial que foi acompanhado de uma intensa
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urbanização. Esse processo permitiu, também, uma nova configuração espacial em cidades de
médio porte, a exemplo de Teresina.
A produção do espaço urbano da capital piauiense adquiriu uma nova configuração a
partir da década de 1970. Dentre os fatores responsáveis pelas mudanças na organização
espacial da cidade estão os crescentes fluxos migratórios, a intensificação da política
habitacional e a modernização do sistema viário regional e estadual. Portanto, o crescimento
acelerado que ocorreu e ocorre na área urbana de Teresina deve-se ao crescimento natural,
associado aos elevados contingentes de imigrantes, oriundos tanto da zona rural, como de
outras cidades piauienses, além de estados como Maranhão, Ceará e outros. Nesse contexto,
Teresina passa a ser um elo de ligação e integração entre diversos Estados brasileiros, a
exemplo da relação existente entre os Estados do Pará e do Tocantins entre outros, assumindo
um papel de centro regional.
Agora descreveremos o estudo que foi realizado no município de Teresina, motivado,
sobretudo, pela observação de que as atividades de extração de materiais para construção civil
na zona Norte da cidade estão diretamente relacionadas com a expansão urbana da capital nas
últimas décadas.
4. ATIVIDADE EXTRATIVA MINERAL NA ZONA NORTE DE TERESINA
Os materiais para a construção civil em algumas cidades têm peso significativo na
economia regional, pois constituem insumos básicos para o processo de urbanização e
desenvolvimento. Nas últimas décadas ocorreu o crescimento da urbanização e a efetivação
de maiores aglomerados populacionais em Teresina. Esse processo propiciou uma maior
demanda por massará, seixos e areias na cidade.
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O “Projeto Avaliação de Depósitos Minerais para a Construção Civil PI/MA”
realizado pela Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM) detectou que as rochas
mais antigas encontradas na área estudada são integrantes das Formações Piauí e Pedra de
Fogo. Sendo que, a unidade geológica da Bacia sedimentar do Parnaíba de maior expressão
geográfica em toda área investigada, é a Formação Pedra de Fogo.
O conjunto de rochas desta formação possui um largo emprego na construção civil,
pois sua alteração e desagregação formam a maioria dos depósitos secundários, denominados
“formações superficiais” representadas por areias, argilas, barro, massará e seixos (CORREIA
FILHO, 1997, p.7). Vale ressaltar que a zona Norte da cidade de Teresina é a área, segundo a
pesquisa, com maior concentração desses recursos minerais.
Agora analisaremos os principais minerais extraídos na zona Norte da cidade devido à
importância econômica das areias, do massará e dos seixos para a construção civil na capital.
Segundo Correia filho (1997, p. 8) “as areias são sedimentos elásticos inconsolidados,
resultantes da desagregação de rochas pré-existentes, sendo constituídas essencialmente de
grãos de quartzo, podendo, ainda conter impurezas [...]”. São matérias-primas abundantes e
essenciais para a construção civil, sendo utilizadas como material de enchimento e largamente
usadas como agregado para concreto, para argamassa e, também para pavimentação. Em
Teresina, a areia fina é largamente usada, sobretudo, em argamassa para diversas finalidades,
enquanto as areias médias a grossas são utilizadas em concreto e pavimentação asfaltica.
Os dois tipos principais de ocorrências desse mineral são os depósitos aluvionares
dispostos ao longo dos principais cursos d água, sendo os mais importantes aqueles situados
nos terraços marginais, planícies aluviais e leitos dos rios Poti e Parnaíba; Também são
encontradas em áreas relacionadas a ocorrências de sedimentação detritica, encontradas nas
áreas de domínio dos arenitos das Formações Piauí e Pedra de Fogo e, sobre as formações
superficiais arenosas, como o barro e massará, formando delgadas coberturas. Além destes
dois tipos (aluvionar e detritica) existe um terceiro que é o extraído do complexo massará /
seixos por peneiramento. (CORREIA FILHO, 1997, p. 9-10).
Os métodos principais de extração das areias ao redor de Teresina são o de lavra e o de
dragagem. O primeiro método é manual, por meio da garimpagem, onde são usados
instrumentos rudimentares, tais como pá, enxada e picareta. Também são usados os
caminhões ou carroças, ambos carregados manualmente, com pás. O segundo método retira
inicialmente a areia, manualmente, ou são instaladas dragas de sucção, que exigem a presença
de um mergulhador ou de outro mecanismo que conduza a “maraca” para a sucção da areia
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no fundo do rio, sendo que as estações de dragagem de leito são móveis e estão sempre se
deslocando de um lugar para outro.
Outro mineral estudado é o massará que é um sedimento conglomerático de cores e
coloração variadas, creme, vinho, rosa, esbranquiçada, amarelada, arrochada e avermelhada,
com matriz areno-argilosa, média a grosseira e, até conglomerático, ligante, de pouca
consistência, facilmente desagregável (friável), contendo seixos brancos de sílica bem
arredondados, com tamanho variando de subcentimétricos até cerca de 10cm (mais raros),
predominando, contudo o intervalo entre 1 e 3 cm. (CORREIA FILHO, 1997, p. 18).
Na zona Norte da cidade existem locais onde a presença dos seixos, associados ao
massará, são menores, a exemplo do bairro Monte Verde, na zona Norte da cidade, sendo
utilizada uma pá carregadeira para a remoção da laterita e carregamento dos caminhões. Já
em outros locais, como no bairro Pedra Mole, também na zona Norte da cidade, esse mineral
é encontrado em maiores proporções em associação com o massará.
Segundo alguns agentes envolvidos na extração de bens minerais para a construção
civil em Teresina, o massará vem sendo paulatinamente substituído pela areia, que é utilizado
na produção de argamassas, principalmente na aplicação de reboco de paredes. Somente a
população de baixa renda ainda utiliza o massará com essa finalidade, afirma um proprietário
de depósito de materiais para construção civil da cidade, que há dezesseis anos atua no ramo
de venda de minerais.
A maioria dos depósitos de massará explorados ao redor de Teresina utiliza métodos
rudimentares de extração, caracterizando uma típica atividade garimpeira, sendo que o
desmonte é feito por picaretas e alavancas. Porém, em algumas áreas de extração mineral,
existe a presença de retroescavadeiras para a extração do material. Depois que o desmonte é
realizado, o massará é peneirado para ocorrer a separação dos seixos, a exemplo do que ocorre
em jazidas do bairro Pedra Mole. Após este processo, os caminhões são carregados
manualmente ou mecanicamente, onde a matriz é comercializada para uso em argamassa, e os
seixos para concreto (viga, coluna, radier, piso e outros) e recapeamento, inclusive asfaltico.
O poder público tem atuado no desenvolvimento dessa atividade produtiva através de
um programa de atendimento à população de baixa renda na construção de casas populares,
por meio do fornecimento de massará extraído na zona Norte da cidade, nas proximidades do
bairro Monte Verde. O bairro Francisca Trindade, localizado também na zona Norte, tem sido
contemplado por essa ação do governo municipal.
Existem vários locais em Teresina já abandonados pela atividade extrativa mineral,
onde presenciamos um “rastro” de degradação ambiental. São eles: áreas dos bairros Nova
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Brasília, São Joaquim, Mafrense, Matadouro entre outros bairros da zona Norte de Teresina.
As conseqüências do abandono da atividade mineradora nessas áreas são as imensas crateras,
ou melhor, as “cicatrizes” deixadas no solo, que foram transformadas em “lagoas” poluídas
nas proximidades das favelas e bairros surgidos nas antigas áreas das atividades extrativas.
Em outros locais, como no bairro Piçarreira, não ocorreu a formação de “lagoas”, isto é, a
constituição de barreiros cheios de água poluída, porém, as imensas crateras são focos de
erosão e de acumulação de lixo e doenças.
Na região Sul da cidade encontramos regiões degradadas e abandonadas no km 7 e na
região da Nova Alegria, localizada na margem esquerda do rio Poti e nas proximidades da
Usina Santana, na margem direita do mesmo rio.
Percebemos, a partir do exposta acima, que atividade extrativa mineral em Teresina está
gerando impactos ambientais urbanos, contribuindo para a insustentabilidade do espaço
citadino. Dessa forma, agora iremos discorrer sobre esse fato presente na capital.
5. A ATIVIDADE EXTRATIVA MINERAL EM TERESINA x
INSUSTENTABILIDADE URBANA
A mineração de materiais para a construção civil que é desenvolvida em Teresina
possui uma importância econômica e social, porém, a extração desses bens que adota o
método de lavra a céu aberto, proporciona o desenvolvimento de focos acelerados de erosão e
assoreamento de cursos d’água, devido à eliminação da vegetação e remoção do solo, abrindo
cavas profundas e dificultando, inclusive, a posterior utilização das áreas mineradas para
outros usos, provocando degradação ambiental e desconfiguração da paisagem local.
Vale ressaltar, que a referida atividade extrativa utiliza, na maioria das vezes,
métodos manuais, com o uso de instrumentos rudimentares e simples (pás, enxadas,
picaretas, alavancas, peneiras, marreta entre outros) e os caminhões ou carroças são
carregados manualmente, mas, também, ocorre o uso de retroescavadeiras (CORREIA FILHO,
1997, p. 20).
O problema ambiental presente no meio urbano teresinense está condicionado,
portanto, a exploração desordenada e predatória dos recursos naturais locais, não havendo
uma consciência ambiental, por parte dos agentes envolvidos, para determinação de um
melhor uso e ocupação do espaço urbano da capital, visando a sustentabilidade urbana. Vale
enfatizar que, da forma como a referida atividade econômica está sendo desenvolvida, não
está contribuindo para construção de uma cidade sustentável.
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Albuquerque e Ultramari (2004, p. 377) destacam, ao se referir às cidades sustentáveis
que:
Olhar a cidade de frente, reconhecendo a urbanização como processo irreversível e o retorno do homem ao campo como projeto impossível, é talvez o primeiro passo para torná-la mais saudável. Assim, a solução estará no próprio espaço da cidade, é na sua construção adequada que deve estar a solução e não a fuga imaginária da urbanização.
Vale enfatizar que a sustentabilidade do desenvolvimento apresenta-se em cinco
dimensões. A dimensão ambiental mostra a necessidade de conservação dos recursos naturais,
associada à capacidade produtiva da base física. Enquanto que a dimensão social relaciona-se
a capacidade de redução das desigualdades sociais, desestabilizadoras da sociedade. Sachs
(1993, p. 25) mostra que o seu principal objetivo é:
Construir uma civilização do ‘ser’, em que exista maior eqüidade na distribuição do ‘ter’ e da renda, de modo a melhorar substancialmente os direitos e as condições de amplas massas de população e a reduzir a distância entre padrões de vida de abastados e não-abastados.
A dimensão econômica determina a capacidade de sustentação econômica dos
empreendimentos. Nessa dimensão há uma possibilidade de alocação e gestão dos recursos mais
eficientes, além de um fluxo regular de investimentos. Já a dimensão política refere-se a estabilidade
dos processos decisórios e das políticas de desenvolvimento. E, finalmente, a dimensão cultural,
estimula a preservação dos valores com o objetivo de assegurar a identidade cultural dos diversos
povos no espaço mundial.
O meio ambiente urbano representa um conjunto de atividades exercidas na cidade,
determinando, assim, a dinâmica da própria sociedade. Dessa forma podemos perceber que “a
espacialidade da organização societal e econômica, gestada dentro e através da ‘sociedade burocrática
de consumo dirigido’, é necessariamente urbano-industrial (MONTE-MÓR, 1996, p.171)”.
Nesse contexto, insere-se a atividade extrativa mineral para a obtenção de materiais
utilizados na construção civil realizada em Teresina como responsável por diversos impactos
ambientais presentes no espaço urbano da capital. Coelho (2003, p. 25) mostra que “o
impacto ambiental não é, obviamente, só resultado (de uma determinada ação realizada sobre
o ambiente): é relação (de mudanças sociais e ecológicas em movimento) [...]”. Existe,
portanto, “contradições no meio ambiente urbano entre a natureza biológica e a produção
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social, além de contradições sociais, ou seja, são múltiplas contradições” (RODRIGUES, 2002,
p. 143).
Os problemas ambientais presentes no espaço urbano da capital pedem soluções
urgentes, não só no âmbito governamental, por meio de medidas relacionadas a uma gestão
urbano-ambiental, especialmente aquelas que priorizam a sua capacitação técnica, mas
também mudanças no seio da sociedade teresinense. Marcondes (1999, p. 32) enfatiza que:
Os estudos de políticas públicas urbanas, na perspectiva dos agentes e dos interesses envolvidos na produção do espaço, consistem em entender a produção do espaço, por um lado, pelos determinantes estruturais do modo de produção capitalista e, por outro, pela ação e os interesses de frações de classe, em especial a cadeia de agentes que interagem no mercado da construção civil, do proprietário fundiário ao incorporador, passando pelo empreiteiro de obras públicas.
Monte-mór (1996, p. 172) revela que a “expansão metropolitana que acompanhou a
industrialização periférica resultou na superposição espacial de lógicas da produção e
consumo”. O referido autor destaca, ainda, que:
A recente extensão das condições de produção a parcelas mais amplas dos espaços regionais e nacionais e a própria transformação dessas condições em função da dita terceira revolução tecnológica criaram as bases para a transformação espacial que vimos observando nos últimos 20 anos no Brasil (MONTE-MÓR, 1996, p. 172).
A sociedade urbana deve revisar o seu modelo de consumo para colaborar com a
construção de uma cidade sustentável. Santos et al. (2004, p.365) discorre que:
[...] Mais importante do que a alteração do comportamento de consumo é a mudança em relação à imagem que se deve ter da cidade. Esse é, talvez, o maior desafio para a sustentabilidade urbana – a compreensão da cidade, por parte de sua população, como sendo um capital coletivo (sem grifo no original).
Monte-mór (1996, p. 174) comenta que “a questão ambiental e a consciência
ambiental e ecológica vêm trazer transformações profundas na compreensão do processo de
produção e na organização econômica e espacial da sociedade contemporânea”. O referido
autor mostra, ainda, que “as cidadanias que parecem querer nascer, incorporando a
consciência ambiental e ecológica, poderão crescer e frutificar, contribuindo para novos
arranjos sócio-espaciais e ambientais nos centros e nas periferias” (MONTE-MÓR, 1996, p.
179).
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Marcondes (1999, p.39) revela que na abordagem da cidade se faz presente a idéia de
lugar, havendo a necessidade de definição dos “usos do solo a partir de avaliações de impacto
ambiental e da gestão ambiental, as quais buscam levar em consideração o espaço ou
ambiente de forma integrada”.
Portanto, a sustentabilidade urbana exige uma evolução da cidade que não seja
acompanhada do esgotamento dos recursos naturais e da exclusão de grandes contingentes da
população teresinense de ter acesso a um ambiente saudável, que proporcione qualidade de
vida e saúde. No caso especifico da atividade extrativa mineral em Teresina, devem ser
implementadas propostas de manejo ambiental, visando uma organização estrutural dessa
atividade e objetivando a redução dos impactos no meio ambiente urbano da capital
piauiense.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atividade extrativa mineral possui uma importância econômica e social para a cidade
de Teresina, porém, os problemas ambientais desenvolvidos por essa atividade têm gerado a
necessidade de uma investigação dos impactos relacionados a retirada de minerais para a
construção civil na capital.
A análise da relação existente entre a atividade mineradora e a expansão dos espaços
horizontal e vertical de Teresina, ou seja, a expansão urbana que determinou o crescimento da
necessidade por massará, areias e seixos, também deve ser realizada, para que se possa
entender os diversos elementos que estão relacionados a essa atividade produtiva. As formas
de controle do uso e ocupação do solo da capital também devem ser verificadas, assim como
diversos estudos sobre a implementação da legislação urbana vigente na capital.
A investigação da atuação dos agentes produtores do espaço urbano teresinense,
também é requisitada, para que se possa detectar as formas desordenadas de extração dos
recursos minerais e os impactos ambientais gerados no meio urbano teresinense por esses
agentes produtivos.
Vale lembrar que essa atividade produtiva mineral tem contribuído para
determinação de uma insustentabilidade urbana, permitindo, assim, um desacordo com os
princípios estabelecidos no Estatuto da Cidade quanto à política urbana, que estabelece a
“garantia do direito a cidades sustentáveis”.
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A atividade extrativa mineral realizada para atender as demandas de materiais para a
construção civil em Teresina, desenvolvidas por pequenos mineradores, necessita de um
planejamento integrado, devendo estar de acordo com o Plano Diretor Urbano da cidade.
Cabe assim, ao poder público, desenvolver ações de controle desse espaço, pois
existe um consenso quanto a necessidade de desenvolvimento de políticas públicas que
possam contribuir para a implementação da Agenda 21 local, assim como, propostas de
manejo ambiental da área de extração mineral e uma orientação para o adequado uso e
ocupação do solo urbano, visando reduzir os impactos sobre o meio ambiente teresinense.
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