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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES
AUTOR
JORGE LUIZ MARQUES DE MELLO
ORIENTADOR
PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO
Rio de Janeiro
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES
Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes – Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito e Processo do Trabalho. Por Jorge Luiz Marques de Mello. Orientador: Prof. Carlos Afonso Leite Leocadio
Rio de Janeiro
Campus Centro II
2010
3
Agradeço à minha amada e querida mãe por todo esforço, carinho, dedicação e cumplicidade. In memoriam.
4
RESUMO O fenômeno da terceirização tem causado diversos impactos sociais, políticos e econômicos no Brasil. Prática corriqueira em todo o mundo em virtude da globalização econômica, a terceirização desperta discussões acaloradas acerca de sua licitude no âmbito doutrinário e jurisprudencial, sobretudo no que tange à preservação dos direitos trabalhistas e na aversão à precarização dos serviços prestados e das conquistas alcançadas pelos trabalhadores ao longo do tempo. Na análise realizada no setor de telecomunicações, a polêmica continua aberta acerca da possibilidade ou não de terceirização das atividades-fim das empresas tomadoras de serviços, da falta de leis que expressamente se posicionem e delimitem as responsabilidades dos sujeitos contratantes e as anomalias provocadas quando não se respeitam os limites impostos pelo ativismo judicial. Ativismo judicial, aliás, que, embora muito discutido, toma papel de destaque nesta situação de anomia, a fim de se evitar a sensação de insegurança jurídica das relações contratuais.
5
METODOLOGIA
O presente trabalho consiste em análise pormenorizada da prática da
terceirização no setor das telecomunicações, desde a exposição do histórico da
telefonia e das telecomunicações no Brasil ao conceito de terceirização no ambiente
jurídico brasileiro e internacional, bem como os aspectos contraditórios e conflitantes
que tornam o fenômeno da terceirização um assunto palpitante e discutível no setor
das telecomunicações.
Para tanto, realizou-se pesquisa em livros de doutrinas dominantes e
divergentes, bem como em publicações como revistas, jornais, blogs e páginas da
internet e em arquivos de empresas de telecomunicações, BNDES e Justiça do
Trabalho. A consulta também se pautou na leitura e interpretação da legislação
vigente e de decisões judiciais e pareceres periciais constantes em reclamações
trabalhistas.
Além disso, a pesquisa que resultou nesta monografia também se utilizou
da farta jurisprudência e de textos produzidos pelos estudiosos que já se
debruçaram sobre o tema anteriormente, os quais permitiram buscar e compreender
as causas e consequencias dos diversos aspectos que envolvem o objeto do
presente estudo, sob os pontos de vista positivista, argumentativo e teleológico, com
o propósito de expor com clareza e riqueza de detalhes os valores e
posicionamentos existentes e seus impactos na realidade social.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................ 7
CAPÍTULO I
A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES................................. 9
1.1 – BREVE HISTÓRICO SOBRE A TERCEIRIZAÇÃO........................................ 15
1.2 – ASPECTOS JURÍDICOS DA TERCEIRIZAÇÃO............................................ 21
1.3 – OS IMPACTOS POLÍTICOS, ECONÔMICOS E SOCIAIS.............................. 25
CAPÍTULO II
A PRECARIZAÇÃO DOS DIREITOS DOS TRABALHADORES............................. 31
2.1 – A RESPONSABILIDADE DO TOMADOR DE SERVIÇOS............................. 36
2.2 – O ATIVISMO DO PODER JUDICIÁRIO.......................................................... 40
2.3 – A REGULAMENTAÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO............................................. 50
CAPÍTULO III
QUANDO A EXCEÇÃO SE TORNA A REGRA....................................................... 53
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 56
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 59
7
INTRODUÇÃO
O presente trabalho é uma análise sobre a utilização da terceirização na
contratação de mão-de-obra no setor de telecomunicações no Brasil, bem como um
estudo acerca do seu impacto na ordem econômica do país, das suas vantagens e
desvantagens para a sociedade e trabalhadores.
Com o ritmo incessante dos grandes centros urbanos e o mundo cada vez
mais globalizado, o mercado econômico-financeiro precisou se adequar à nova
realidade de competição. As empresas, para se tornarem sólidas e rentáveis,
necessitaram encontrar soluções para resistir a uma concorrência cada vez mais
acirrada e em constante avanço tecnológico. Algumas das conseqüências desta
transformação foram o aumento do desemprego e a redução drástica dos custos na
produção, o que impactou diretamente nas sociedades e nas economias mundiais.
Iniciou-se, então, o dilema entre esta inevitável e agressiva tendência do capitalismo
moderno e a preservação dos direitos trabalhistas, prejudicados com as demissões
em massa e as habituais crises econômicas.
Era preciso encontrar meios para suprir as exigências do mercado,
garantir o lucro dos empresários e aumentar a oferta por oportunidades de trabalho.
Uma das soluções encontradas foi a utilização de um fenômeno mundial há muito
tempo conhecido, a terceirização da mão-de-obra operária.
No Brasil, tal fenômeno refletiu com maior intensidade nas chamadas
privatizações no setor público, ocorridas a partir do ano de 1997, no mandato do
Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Um dos fatos marcantes
dessa época foi a desestatização do Sistema Telebrás, quando empresas privadas
adquiriram a concessão dos serviços de telefonia, até então controladas com
exclusividade pelo Estado, e, amparados pela Lei nº 9472/97, viram na terceirização
de seus serviços um método para a otimização de sua produção, redução de custos
e crescimento no mercado.
Este trabalho expõe os diversos posicionamentos jurisprudenciais e
doutrinários, à luz das garantias constitucionais de proteção aos direitos dos
8
trabalhadores e à dignidade da pessoa humana, no intuito de esclarecer se a
terceirização no setor de telecomunicações é um mal necessário e inevitável na
nova relação de trabalho, sendo tão-somente contestada pelos defensores de um
paternalismo arcaico da Justiça do Trabalho, ou uma grande ameaça aos direitos já
tão duramente conquistados pelos trabalhadores brasileiros e carecedores, portanto,
de um protecionismo atuante do Judiciário.
Decerto que, para se entender o presente, é necessário rememorar o
passado. Dessa forma, a pesquisa realizada focou-se, primeiramente, em conhecer
a evolução histórica dos fatos, ou seja, as realizações praticadas ao longo do tempo
que permitiram, com seus erros e acertos, a implantação e a expansão das
telecomunicações no Brasil, para, posteriormente, adentrar no instituto jurídico da
terceirização, fenômeno este praticado no Brasil desde antes do grande marco das
privatizações, mas que só tomou grandes proporções a partir de então.
Justifica-se, assim, o estudo inicial em separado desses dois aspectos: a
evolução das telecomunicações e a terceirização, pois, melhor conhecendo os dois
temas, tornaram-se mais claras e objetivas a exposição e análise dos efeitos que o
segundo provocou no primeiro. A terceirização está presente em diversos
segmentos do mercado de trabalho brasileiro, mas é no setor das telecomunicações
que reside a maior repulsa jurisprudencial e doutrinária desta prática empresarial tão
comum nos dias atuais.
Outro fato analisado é que o tema terceirização une em si aspectos dos
ramos do Direito e da Administração, pois, para o primeiro, é um fenômeno que, se
não usado devidamente, pode causar severos impactos sociais, desde a ruptura do
sistema trabalhista, a precarização dos direitos dos trabalhadores, a segregação e a
exclusão social, mas, para o outro, a terceirização é uma ferramenta poderosa de
gestão empresarial que permite ao administrador controlar gastos com pessoal e
alcançar melhores resultados, voltados sempre para a obtenção de lucros.
Fez-se necessário, portanto, entender o comportamento da sociedade, da
jurisprudência, da doutrina e da legislação diante da nova realidade do mercado de
trabalho brasileiro e de diversos países para analisar o fenômeno da terceirização.
9
CAPÍTULO I
A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES
Para falar sobre o fenômeno da terceirização no setor de
telecomunicações do Brasil, é preciso lembrar a origem das telecomunicações,
desde o escocês Alexander Graham Bell, o inventor do telefone, e Dom Pedro II,
imperador do Brasil que apostou na invenção e a trouxe para o Brasil, viabilizando a
implantação das primeiras linhas telefônicas no Rio de Janeiro em 1876, até os dias
atuais com a implantação da televisão digital, da tecnologia 3G e das portabilidades
dos números telefônicos. Naquela época, o sistema foi implantado rapidamente, mas
só começou a operar efetivamente na metade do Século XX.
O professor Maurício dos Santos Neves, em artigo comemorativo aos 50
anos do BNDES1, analisou e destacou os principais fatos que ajudaram a difundir o
sistema de telecomunicações no Brasil. A comunicação telefônica em meados dos
anos 50 era estabelecida principalmente através do auxílio de telefonistas, sendo
prestada por operadoras de telecomunicações concessionárias distribuídas pelos
diversos entes da Administração Pública. Com isso, a exploração do serviço
telefônico chegou a ser realizada por mais de mil empresas espalhadas por todo o
país, o que provocou a ineficiência de todo o sistema. A demanda era muita para
uma pouca e desestruturada oferta.
Nesse cenário conturbado, no início da década de 60 foram implantadas
as primeiras centrais eletromecânicas, que funcionavam através da geração de
sinais elétricos, ou seja, os pulsos telefônicos. A tecnologia de microondas também
foi utilizada para estabelecer a conexão entre as cidades do Rio de Janeiro, Belo
Horizonte, Brasília e Goiânia. Em 27 de agosto de 1962, o Congresso Nacional
promulga a Lei nº 4.117, que instituiu o Código Brasileiro de Telecomunicações e
disciplinou a prestação desse serviço no país, prevendo as criações do Conselho
Nacional de Telecomunicações (Contel), do Fundo Nacional de Telecomunicações
1 NEVES, Mauricio dos Santos. BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. O setor de telecomunicações. BNDES 50 Anos – Histórias Setoriais. http://www.bndes.gov.br/. Link: SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/livro_setorial/setorial13.pdf. Acesso em: 26/05/2010.
10
(FNT), e da Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel), fundada em 16 de
setembro de 1965, responsável pela conexão interurbana de alta capacidade em
microondas entre São Paulo e Porto Alegre. Em 1967, foi criado o Ministério das
Comunicações, responsável pela fiscalização das diversas concessionárias de
serviço telefônico espalhadas no país.
Maurício dos Santos Neves2 destacou que, embora a situação da
telefonia brasileira estivesse razoavelmente equilibrada e com o fornecimento de um
serviço de boa qualidade no início da década de 70, ainda existiam diversas
barreiras tecnológicas instransponíveis devido ao alto número de empresas
concessionárias. O que faltava era uma maior integração entre essas empresas e,
visando diminuir essa falta de comunicação, surgiu a Telebrás - Telecomunicações
Brasileiras S.A., com a promulgação da Lei nº 5.792, de 11 de julho de 1972. A
sociedade de economia mista foi criada com o objetivo de implantar um melhor
planejamento e operação do sistema telefônico, sendo o grande órgão centralizador
das telecomunicações no Brasil, criando em cada estado uma empresa-pólo para
uma melhor ingerência, as chamadas “teles”, e incorporando as companhias
telefônicas existentes3. Sob esse regime a telefonia foi administrada no Brasil ao
longo das décadas de 70, 80 e 90.
Nos anos 80, houve um grande avanço tecnológico com o lançamento
dos satélites de comunicações BrasilSat-I e BrasilSat-II, por meio dos quais se
conseguiu integrar todo o território brasileiro. Iniciou-se também o estudo para a
implantação da telefonia móvel e a inauguração do primeiro sistema analógico.
Entretanto, a economia do país estava em franca recessão, o que dificultava a
manutenção do sistema já existente e a implantação de novos sistemas. Assim, o
sistema Telebrás permaneceu estagnado e tornou-se obsoleto e defasado, gerando
grande escassez de linhas telefônicas no mercado.
Com a queda da qualidade dos serviços prestados, o congestionamento
da rede, o aumento nas tarifas, a demora para a aquisição dos Planos de Expansão
(PEX) e a gradual “sucatização” da infra-estrutura das “teles”, os assinantes
2 Id. Ibid. 3 TELEBRÁS – Telecomunicações Brasileiras S/A. A TELEBRÁS e a Evolução das Telecomunicações. http://www.telebras.com.br/. Link: historico.htm. Acesso em: 07/08/2010.
11
passaram a ser obrigados a comprar ações da Telebrás ou de suas subsidiárias ao
encomendarem uma nova linha telefônica que só iriam receber um ou dois anos
depois da inscrição. O que parecia ser um investimento, em verdade, era apenas um
embuste, no qual o Governo repassava ao consumidor o ônus pela manutenção do
sistema e investimentos no setor. Além disso, a extinção em 1982 da sobretarifa do
Fundo Nacional de Telecomunicações (FNT) em nada serviu para amenizar a alta
tributação sobre o serviço telefônico, já que logo em seguida, através do Decreto-Lei
nº 2.186, de 20 de dezembro de 1984, foi instituído o Imposto Sobre Serviços de
Comunicações (ISSC), transformado pela Constituição Federal de 1988 em Imposto
Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
A primeira metade da década de 90 foi marcada com a existência de um
mercado negro de linhas telefônicas, que, atuando clandestinamente, dava
preferência de instalação aos consumidores que pudessem pagar cada vez mais
caro. Diante dessa nova realidade e de um futuro nada promissor, a terceirização
começou a ser praticada em 1993, mas ainda de forma tímida, até mesmo pela falta
de experiência em se lidar com esse novo fenômeno. Ademais, a partir daí, já se
aventava nos bastidores do Governo a possibilidade de privatização de todo o setor
de telecomunicações, o que freou a realização de concursos públicos para a
contratação de novos servidores. Com isso, a terceirização deixou de ser uma mera
tendência e passou a ser uma prática crescente.
Em 16 de julho de 1997, foi promulgada a Lei nº 9.472, a Lei Geral de
Telecomunicações (LGT), que criou e implantou a Anatel – Agência Nacional de
Telecomunicações, autarquia responsável pela regulação e fiscalização de um novo
sistema nacional de telecomunicações. Com a Lei Geral de Telecomunicações
foram aprovados o Plano Geral de Outorgas, o Plano Geral de Metas e a
reestruturação do Sistema Telebrás, determinando a venda das ações de
propriedade da União. Com estes procedimentos o Governo pretendia implantar a
telefonia móvel da banda B, em 1997, dividindo o território nacional em dez áreas de
concessão; privatizar o Sistema Telebrás, em 1998, dividindo a telefonia fixa em três
áreas de concessão, concentrando a longa distância numa só operadora e
repartindo a telefonia móvel da banda A em dez áreas; criar empresas-espelhos de
12
telefonia fixa e de longa distância, com a concessão do serviço em 1999; e implantar
a telefonia móvel nas bandas C, D e E, formando o Serviço Móvel Pessoal (SMP).
Mas foi em 29 de julho de 1998 que se deu o passo mais importante para
a revitalização das telecomunicações no Brasil ao ser realizado na Bolsa de Valores
do Rio de Janeiro o leilão que estabeleceu a desestatização do sistema Telebrás,
apesar de todo o movimento radical contrário às privatizações. Decerto que a
desestatização do sistema nacional de telecomunicações foi positiva para a
economia do país. Abandonar o obsoleto padrão Telebrás era extremamente
necessário para adequar o sistema à realidade de concorrência em um mercado
globalizado.
A Anatel, em seu Relatório à Sociedade de 20064, divulgou que na
telefonia fixa o número de acessos instalados em 2001 foi de 47,8 milhões e
terminou o ano de 2006 com 51,2 milhões. Sem dúvida, uma excelente evolução se
comparados com os 16,5 milhões de acessos instalados em 1996, ano anterior ao
processo de privatização. No serviço móvel, a evolução foi gigantesca. Em 1996,
eram pouco mais de 2,5 milhões de acessos. Em 2001, um salto para 28,7 milhões.
Em 2006, já eram quase cem milhões de acessos em funcionamento. Houve
também considerável aumento nos serviços de televisão por assinatura (TVs a
cabo).
A divisão das áreas de concessão no processo de privatização ocorrido
em 1998 criou alguns “quase monopólios” privados na telefonia fixa. Isto porque o
processo de privatização estabelecia que, em cada área de concessão, existiriam,
ao menos, duas empresas concessionárias: uma principal, sucessora da “tele” local,
e outra, chamada “espelho”. O objetivo era garantir a concorrência comercial e a
oferta diversa de produtos e preços aos consumidores. Entretanto, na prática, isso
não funcionou, já que as “empresas-espelho” não conseguiram competir de igual
com as “teles”, já estabelecidas, com rede e maquinário instalados e à disposição
para a utilização, necessitando apenas de investimento para ampliação e
manutenção. Também não foi fácil para as “empresas-espelhos” convencer os
4 ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações. Relatório Anual da Anatel 2006. http://www.anatel.gov.br/. Link: hotsites/relatorio_anual_2006/pdf/serie_historica.pdf. Acesso em: 16/06/2010.
13
consumidores a ingressar e adquirir produtos inovadores de qualidade não
comprovada e futuro duvidoso. Neste aspecto, o tradicionalismo prevaleceu e a
relutância em mudar para algo novo e desconfiável foi determinante para que as
“teles” continuassem a dominar o mercado, operando quase que exclusivamente em
suas áreas.
Para crescer e modernizar era preciso alcançar metas e reduzir as
despesas. Absorver o maquinário obsoleto das “teles”, necessitando modernizá-lo e
colocá-lo em funcionamento e à disposição da população em prazos recordes, era
um desafio a ser alcançado. Igualmente, absorver um quadro funcional inchado e
desestimulado do antigo modelo estatal era algo que não combinava com a urgência
da época. O primeiro passo natural foi diminuir o quadro de pessoal com planos de
incentivo à demissão. O segundo passo foi contratar pessoas melhor preparadas
para lidarem com os avanços tecnológicos a serem implantados na rede de
telecomunicações.
Posteriormente, numa estratégia de gestão, fez-se necessário repassar
os serviços técnicos a empresas especializadas, que pudessem se dedicar
exclusivamente à realização das atividades não consideradas inerentes e precípuas
das empresas tomadoras. Assim foi feito e, com o início do século XXI, a
terceirização de serviços ganhou uma importância maior no setor das
telecomunicações. Com um quadro enxuto, os funcionários remanescentes nas
tomadoras de serviço podem se dedicar às suas atividades preponderantes, quais
sejam traçar as estratégias da empresa, planejar investimentos, cumprir metas
estabelecidas, administrar o negócio e checar o desempenho das empresas
terceirizadas.
Obviamente que toda novidade causa impacto e chama a atenção. E,
neste caso, não foi diferente. A demissão em massa de centenas, milhares de
trabalhadores causou comoção5. Igualmente, a mudança de procedimentos,
pessoas e estrutura acarretou numa queda de qualidade, ainda que momentânea,
pois seria necessário algum tempo para a adequação, provocando grande repúdio
5 CORREIO SINDICAL MERCOSUL. Terceirização é questionada. http://www.sindicatomercosul.com.br/. Link: noticia02.asp?noticia=1078. Acesso em 05/08/2010.
14
da opinião pública. O novo desafio agora era convencer o público em geral, desde
consumidores aos órgãos fiscalizadores estatais, de que a terceirização realmente
foi um procedimento necessário, que visava melhorar a qualidade do fornecimento
dos serviços e realizado de forma legítima.
Além do mais, erros foram cometidos na fase inicial do processo de
terceirização, o que contribuiu para denegrir a imagem da terceirização e das
empresas de telecomunicações. Os trabalhadores terceirizados atuavam juntamente
aos empregados das “teles”, misturando-se às suas atividades corriqueiras ou, até
mesmo, substituindo-os sem qualquer critério, perdendo, assim, a essência
fundamental do processo de terceirização que é a especialização. Neste caso, o
empregado terceirizado, ao exercer as mesmas funções dos funcionários
contratados pela tomadora de serviços está sendo utilizado como mera mão-de-
obra, sem nenhuma distinção que justifique a sua contratação, em regra, sob
menores salários e benefícios. Esse foi o grande equívoco, já que esse fenômeno
não visa simplesmente a mera substituição da mão-de-obra, mas sim a
especialização dos meios de produção, tornando-os mais técnicos e qualificados.
Outro exemplo desta situação denigrescedora foi a terceirização do
serviço de atendimento aos clientes. As empresas tomadoras de serviços
desmantelaram seus postos físicos de atendimento ao público, criando os chamados
call centers. O contato que antes era direto e pessoal passou a ser mecanizado,
realizado unicamente através de ligações telefônicas ou por computadores ligados à
internet. Com mais um paradigma quebrado, as reclamações surgiram e a falta de
costume nesse tipo de atendimento agravou a insatisfação. Afinal, como concluiu o
engenheiro Ronaldo de Andrade Martins6, o atendimento pessoal era algo bem ao
gosto do brasileiro, onde era possível se tirar dúvidas, fazer reclamações, bater papo
com as atendentes, etc. No entanto, ao telefone ou através do computador também
é possível realizar as mesmas atividades, com uma diferença básica: não é
necessário se deslocar para local algum, bastando portar um telefone, fixo ou móvel,
6 TRT 21ª Região. Laudo Pericial Sobre As Atividades Desenvolvidas Pelas Concessionárias De Serviços De Telefonia No Brasil elaborado pelo Dr. Ronaldo de Andrade Martins em 20 de julho de 2001 in Processo nº 95900-91.2000.5.21.0004. http://www.trt21.jus.br/. Link: asp/online/I1_detalheProcesso.asp?ID_PROCESSO=80767&Instancia=04&Tipo=. Acesso em 07/08/2010.
15
para entrar em contato com a central de atendimento. O auto-serviço e a
mecanização são passos evolutivos no processo de modernização.
Existem empresas especializadas no treinamento e fornecimento de
serviços de call center, que prestam serviços para diversas empresas tomadoras de
serviço e são responsáveis pelo emprego de milhares de trabalhadores, que se
revezam diariamente em turnos ininterruptos. Mas, infelizmente, quando o assunto é
terceirização, a discussão sempre versa acerca do que é ou não atividade-meio e
atividade-fim, mas nunca se analisa os benefícios econômicos trazidos com a
geração de empregos e a oportunidade de especialização técnica provenientes das
empresas prestadoras de serviços.
Divergências à parte, a perspectiva do futuro das telecomunicações no
Brasil é otimista, uma vez que nos últimos anos foram tomadas medidas corajosas e
necessárias para a alteração das normas que possibilitaram o aumento na
concorrência do mercado, seja pela “invasão” de diversas operadoras em áreas
antes exploradas apenas por uma ou outra concessionária, ou pelas fusões e
aquisições entre os grupos empresariais, criando “superteles”7, financeira e
administrativamente melhor preparadas para competir no mercado brasileiro e,
quiçá, internacional.
1.1 – BREVE HISTÓRICO SOBRE A TERCEIRIZAÇÃO
Terceirização, vocábulo encontrado no renomado dicionário de Aurélio
Buarque de Holanda Ferreira8, consiste em transferir a terceiros atividade ou
departamento que não faz parte de sua linha principal de atuação. Terceiro, do latim
tertiariu, é toda pessoa estranha a uma relação ou ordenação jurídica. Na definição
do dicionário de língua portuguesa de Antonio Houaiss9, a terceirização é uma forma
de organização estrutural que permite a uma empresa transferir a outra suas 7 FOLHA DE SÃO PAULO. Oi anuncia compra da Brasil Telecom por R$ 5,8 bilhões. http://www1.folha.uol.com.br/. Link: folha/dinheiro/ult91u395747.shtml. Acesso em: 05/08/2010. 8 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3. ed. rev. atual. Curitiba: Positivo, 2004. p.1937. 9 HOUAISS, Antonio, VILLAR, Mauro de Salles, FRACO, Francisco Manoel de Mello. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 1.0. São Paulo: Objetiva, 2001.
16
atividades-meio, proporcionando maior disponibilidade de recursos para sua
atividade-fim, reduzindo a estrutura operacional, diminuindo os custos,
economizando recursos e desburocratizando a administração, ou seja, a contratação
de terceiros, por parte de uma empresa, para a realização de atividades não
essenciais, visando à racionalização de custos, à economia de recursos e à
desburocratização administrativa.
Embora a história registre a prática da terceirização de serviços em
países como a Inglaterra, França e Austrália em idos dos séculos XVIII e XIX, a
terceirização nos moldes modernos teve sua origem e disseminação nos Estados
Unidos da América durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945)10, onde as
indústrias bélicas, para conseguirem suprir a demanda na produção de armamentos,
realizavam o chamado outsourcing, buscando fora do âmbito de suas empresas
terceiros prestadores de serviços, aos quais seriam delegadas determinadas
atividades de suporte, mediante contratação. Ou seja, pode-se afirmar que a
terceirização teve origem numa estratégia empresarial, cujo objetivo foi possibilitar
que a gestão da empresa pudesse focar a sua atenção às atividades principais,
deixando as demais atividades-meio sob a operação de terceiros.
No âmbito da Administração, a terceirização é uma excelente forma de
tornar a empresa mais eficiente, com redução de custos. Porém, o processo de
terceirização só se torna plenamente satisfatório quando firmado com parcerias
conscientes e planejamento adequado. Caso contrário, a utilização indevida da
terceirização pelas empresas pode acarretar em sérios problemas jurídicos,
notadamente no campo trabalhista.
Assim, a terceirização alcança o âmbito do Direito quando a escolha da
empresa contratada pela tomadora de serviços é equivocada ou quando há
deficiências na vigilância do cumprimento da prestação de serviços e dos encargos
inerentes aos contratos de trabalho dos trabalhadores terceirizados, casos em que a
empresa interposta não adimpliu com suas obrigações. Além disso, quando a
empresa contratante, ilicitamente, delega a terceiros a execução daquilo que é a sua
atividade-fim, ou seja, o seu objeto social essencial para a sua atuação empresarial,
10 CASTRO, Rubens Ferreira de. A terceirização no Direito do Trabalho. São Paulo, Malheiros, 2000, p.75.
17
cabe ao Ministério Público do Trabalho fiscalizar e denunciar as irregularidades e ao
Poder Judiciário corrigir a situação danosa ao trabalhador, aplicando as sanções
legais ao contratante faltoso.
No direito comparado, observa-se que países orientais como o Japão,
Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong admitem plenamente a
terceirização, sendo que a legislação japonesa impõe a anuência do Ministério do
Trabalho para o funcionamento de empresa voltada para o fornecimento de mão-de-
obra, existindo um sindicato específico para os trabalhadores subcontratados.
Ressalta-se que a China, não só admite a terceirização, como é uma das maiores
fornecedoras internacionais de mão-de-obra terceirizada, devido ao seu baixo custo
de produção. O doutrinador Carlos Zangrando11 define países como a China, a Índia
e a Indonésia como “novos paraísos trabalhistas”, locais onde as grandes empresas,
insatisfeitas com as condições de suas localidades originais, podem transferir suas
atividades, instalando suas filiais ou todo o negócio.
Na Itália, o art. 1º da Lei nº 1.369, de 23 de outubro de 1960, proíbe a
intermediação de mão-de-obra, salvo nos casos expressos em lei:
“Art. 1. É vedado ao empresário contratar ou
subcontratar, inclusive através de cooperativas, a execução da
prestação de trabalho através da utilização de mão-de-obra
contratada e paga por terceiro contratado ou intermediador,
independentemente da natureza da produção ou do serviço
despendido. É também proibido ao empregador confiar a
intermediários, sejam eles terceirizados ou cooperados, a
realização de trabalho em obra certa (empreitada) a ser
executado por seus próprios empregados”.12 Em caso de
descumprimento, os terceirizados são considerados como
11 ZANGRANDO, Carlos Henrique da Silva. Curso de Direito do Trabalho: Tomo III. São Paulo: LTr, 2008. p.1510. 12 Legge del 23 Ottobre 1960 n. 1369. Art. 1. “È vietato all'imprenditore di affidare in appalto o in subappalto o in qualsiasi altra forma, anche a società cooperative, l'esecuzione di mere prestazioni di lavoro mediante impiego di manodopera assunta e retribuita dall'appaltatore o dall'intermediario, qualunque sia la natura dell'opera o del servizio cui le prestazioni si riferiscono. È altresì vietato all'imprenditore di affidare ad intermediari, siano questi dipendenti, terzi o società anche se cooperative, lavoro da eseguirsi a cottimo da prestatori di opere assunti e retribuiti da tali intermediari. (...)”
18
empregados diretos do tomador de serviço, ou seja, o vínculo
empregatício é reconhecido imediatamente: “Os trabalhadores
contratados em inobservância às vedações previstas no
presente artigo, serão considerados, para todos os efeitos,
empregados do empresário que tenha, de fato, tomado a
prestação de seus serviços”.13
Ressalta-se que mesmo nos serviços autorizados a terceirizar pela Lei,
tais como serviços de instalação e montagem de maquinário, transportes de
funcionários, limpeza, portaria, vigilância, manutenção extraordinária e construções
edilícias na planta, a responsabilidade do tomador pelos débitos trabalhistas é
solidária ao prestador de serviços. Posteriormente, em 24 de junho de 1997, foi
instituída a Lei nº 196 que disciplina a terceirização nos chamados contratti di
fornitura di prestazioni di lavoro temporaneo, ou seja, os contratos temporários.
A França autoriza a terceirização tão-somente para a realização de
trabalho temporário, nos termos do art. L8241-1 do Code du Travail:
“Art. L8241-1. Qualquer operação de lucro, cujo único
objetivo é a cessão de mão-de-obra é proibida. Todavia, estas
disposições não se aplicam: (..) ao trabalho temporário, às
atividades de gerenciamento de trabalho autônomo (freelancers)
e à exploração de agência de modelos (...)”.14
O Ministro do Tribunal Superior do Trabalho Maurício Godinho Delgado15
assevera que na França a lei manda o tomador de serviços não só pagar aos
terceirizados os mesmos direitos do empregado diretamente contratado, como
13 Legge del 23 Ottobre 1960 n. 1369. Art. 1. “(...) I prestatori di lavoro, occupati in violazione dei divieti posti dal presente articolo, sono considerati, a tutti gli effetti, alle dipendenze dell'imprenditore che effettivamente abbia utilizzato le loro prestazioni.” 14 Code du Travail. Art. L8241-1. “Toute opération à but lucratif ayant pour objet exclusif le prêt de main-d'oeuvre est interdite. Toutefois, ces dispositions ne s'appliquent pas aux opérations réalisées dans le cadre: (...) Des dispositions du présent code relatives au travail temporaire, au portage salarial aux entreprises de travail à temps partagé et à l'exploitation d'une agence de mannequins lorsque celle-ci est exercée par une personne titulaire de la licence d'agence de mannequin (...)”. 15 TST. Notícias do Tribunal Superior do Trabalho: Precarização do trabalhador terceirizado preocupa TST. http://ext02.tst.jus.br/. Link: pls/no01/NO_NOTICIASNOVO.Exibe_Noticia?p_cod_noticia=10017&p_cod_area_noticia=ASCS&p_txt_pesquisa=v%EDnculo%20empregat%EDcio. Acesso em: 24/07/2010.
19
obriga a pagar um adicional de terceirização. Tal disposição é encontrada no art.
L8232-1 do Code du Travail:
“Art. L8232-1. Quando o tomador celebra contrato
para a execução de trabalhos ou prestação de serviços com
empreiteiro, que recruta a mão-de-obra necessária e que não é
o proprietário do negócio, o tomador respeitará, quanto aos
empregados terceirizados, a igualdade de salários e direitos em
relação aos seus próprios funcionários (...)”.16
A Espanha autoriza a subcontratação, inclusive para a prestação de
serviços ligadas à atividade-fim da empresa tomadora de serviços, mas estabelece
que é obrigatória a comunicação da subcontratação ao sindicato da categoria, bem
como só será válida e autêntica quando se verificar que, além de deter o poder de
comando e gerenciamento diretos do trabalho, a empresa subcontratada tem
atividade empresarial própria, com patrimônio e instrumental suficiente e compatível
para consecução de seus fins, nos termos do art. 42 do Real Decreto Legislativo nº
1, de 24 de março de 1995 (Estatuto de los Trabajadores):
“Art. 42. Os empregadores que contratam ou
subcontratam para a realização de obras ou serviços em suas
atividades deve fiscalizar se as empresas contratadas estão
quites com o pagamento das contribuições previdenciárias
(...)”.17
Entretanto, a lei espanhola proíbe a intermediação de mão-de-obra, salvo
nos casos de trabalho temporário, nos termos do art. 43 do Estatuto de los
Trabajadores:
16 Code du Travail. Art. L8232-1. “Lorsqu'un chef d'entreprise conclut un contrat pour l'exécution d'un travail ou la fourniture de services avec un entrepreneur qui recrute lui-même la main-d'oeuvre nécessaire et que celui-ci n'est pas propriétaire d'un fonds de commerce ou d'un fonds artisanal, le chef d'entreprise respecte, à l'égard des salariés de l'entrepreneur employés dans son établissement ou les dépendances de celui-ci et sous les mêmes sanctions que pour ses propres salariés (...)”. 17 Real Decreto Legislativo nº 1, de 24 de marzo de 1995 (Estatuto de los Trabajadores). Art. 42. “Los empresarios que contraten o subcontraten con otros la realización de obras o servicios correspondientes a la propia actividad de aquéllos deberán comprobar que dichos contratistas están al corriente en el pago de las cuotas de la Seguridad Social. (…)”
20
“Art. 43. A contratação de trabalhadores com o intuito
de intermediá-los (cedê-los) a outras empresas só pode ser
efetuada através de agências de trabalho temporário,
devidamente autorizadas, nos termos estabelecidos por lei”.18
Em qualquer situação, as empresas tomadoras de serviços respondem
solidariamente às prestadoras de serviços pelos débitos trabalhistas e de
recolhimentos à Seguridade Social que contraírem no decurso da contratação.
A doutrinadora Vólia Bomfim19 assevera que países europeus como
Alemanha, Luxemburgo, Irlanda e Suíça autorizam a terceirização, mas, por não
haver regulamentação, os limites são impostos pela negociação coletiva. Na
Inglaterra ocorre da mesma forma, porém o processo de terceirização está num
estado muito mais avançado.
Em países como a Suécia, a Holanda, a Dinamarca, a Bélgica e a
Noruega, a terceirização não é proibida, mas sim a exploração abusiva da mão-de-
obra operária.
Na América do Sul, a Argentina admite a terceirização, mas proíbe a
intermediação da mão-de-obra, salvo na forma de locação temporária de
trabalhadores, existindo previsão de responsabilidade solidária entre as empresas
tomadora e a prestadora de serviços, para fins trabalhistas e previdenciários. Chile,
Colômbia e Venezuela também admitem a terceirização e estabelecem a
responsabilidade solidária entre tomador e prestador de serviços. O Peru autoriza a
terceirização, mas impõe limites.
Nos Estados Unidos, o berço do outsourcing, a terceirização é
plenamente admitida, mas percebe-se uma leve tendência do mercado atual norte-
americano em tornar própria a sua mão-de-obra, em virtude da necessidade de um
melhor controle de despesas e devido às oscilações no custo dos contratos. No
18 Real Decreto Legislativo nº 1, de 24 de março de 1995 (Estatuto de los Trabajadores). Art. 43. “La contratación de trabajadores para cederlos temporalmente a otra empresa sólo podrá efectuarse a través de empresas de trabajo temporal debidamente autorizadas en los términos que legalmente se establezcan”. 19 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 2. ed. rev. ampl. e atual. Niterói: Impetus, 2008, p.500.
21
México, a Ley Federal del Trabajo define a responsabilidade solidária entre tomador
e prestador de serviços.
Países da América Central como Jamaica, Costa Rica e República
Dominicana são também exemplos dos chamados “paraísos trabalhistas”. A Costa
Rica, por exemplo, tem se consolidado como um ambiente atrativo para o ramo dos
call centers internacionais, já que sua população fala fluentemente o idioma inglês,
fato que, por si só, já se torna uma grande vantagem sobre o mercado de trabalho
brasileiro e de outras localidades que não dominam esse idioma. Ademais, a recém-
criada infra-estrutura de telecomunicações, a proximidade geográfica com os
Estados Unidos e os salários e o custo de vida mais baixos ajudam na hora da
escolha pelo melhor custo-benefício ao contratar.
No Brasil, o fenômeno da terceirização ganha ênfase a partir da década
de 60, impulsionado pela indústria automobilística que passa a adquirir peças e
componentes de diversos fornecedores. No setor de telecomunicações, como já dito,
a terceirização toma corpo em meados da década de 90 e atinge o seu ápice nos
primeiros anos do século XXI. Porém, a análise que se faz é que o mercado de
trabalho brasileiro ainda carece de melhor preparação e nível técnico, pois a maioria
dos trabalhadores ainda não possui qualificação suficiente para a oferta de vagas
especializadas.
1.2 – ASPECTOS JURÍDICOS DA TERCEIRIZAÇÃO
A doutrinadora Vólia Bomfim20, juíza do trabalho do Tribunal Regional do
Trabalho da 1ª Região, define a terceirização de serviços como “a relação trilateral
formada entre trabalhador, intermediador de mão-de-obra (empregador aparente,
formal ou dissimulado) e o tomador de serviços (empregador real ou natural),
caracterizada pela não coincidência do empregador real com o formal.” Na
dissertação de Sérgio Pinto Martins21, juiz do trabalho do Tribunal Regional do
20 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 2. ed. rev. ampl. e atual. Niterói: Impetus, 2008. p.492. 21 MARTINS, Sérgio Pinto. A terceirização e o Direito do Trabalho. 7. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2005, p.19.
22
Trabalho da 3ª Região, a palavra terceirização é comumente substituída por alguns
doutrinadores por “terciarização”, uma vez que envolve o setor terciário, um dos três
setores da economia que abrange a comercialização de produtos e a prestação de
serviços. Destaca, ainda, que a terceirização significa a contratação de serviços de
terceiros por uma empresa para a execução de suas atividades-meio.
O doutrinador Carlos Zangrando22 define a terceirização não como um
instituto jurídico, na acepção da expressão, mas sim uma mera estratégia de
administração empresarial, através da qual uma empresa contrata e delega serviços
a terceiros, propiciando uma maior racionalidade na produção. Segundo Maurício
Godinho Delgado23, a terceirização, neologismo derivado da palavra terceiro, que
consiste em intermediário e interveniente, é um fenômeno moderno no Direito
brasileiro, só ganhando importância no Brasil nos últimos trinta anos. A própria
Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (Decreto-Lei nº 5.452), datada de 1º de
maio de 1943, não vislumbrou a dimensão desse fenômeno, apenas prevendo a
possibilidade de subcontratação de mão-de-obra através da empreitada e da
subempreitada, previstas no artigo 455, bem como a pequena empreitada, prevista
no artigo 652, a, III.
No final da década de 60, surgem o Decreto-Lei nº 200/67 e a Lei nº
5.645/70 que trazem em seu bojo aspectos relativos à terceirização no âmbito da
Administração Pública Direta e Indireta da União, Estados e Municípios. Somente
em 1974 surge a primeira legislação específica sobre as condições de terceirização
de mão-de-obra: a Lei do Trabalho Temporário (Lei nº 6.019/74). Posteriormente,
surgiram outras leis, como a Lei nº 7.102/83, que trata acerca do trabalho dos
vigilantes bancários, e a Lei nº 9.601/98, que trata sobre o contrato de trabalho por
prazo determinado.
Quanto às modalidades de subcontratação de mão-de-obra, Valentin
Carrión24, falecido doutrinador e juiz do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região,
destacou, em posicionamento minoritário, a diferença destes institutos com a
22 ZANGRANDO, Carlos. Curso de Direito do Trabalho: Tomo II. São Paulo: LTr, 2008. p.1005. 23 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2004, p.418-419. 24 CARRIÓN, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 33. ed. atual. por Eduardo Carrión. São Paulo: Saraiva, 2008, p.306-308.
23
chamada terceirização. Para o referido autor, a subempreitada consiste no repasse
daquele que se comprometeu a realizar obra certa a outra pessoa que efetivamente
irá executar, parcial ou totalmente. Já a locação de mão-de-obra, a qual equiparou a
uma falsa empreitada, os trabalhadores são colocados à disposição do empresário,
ao qual têm subordinação, relacionamento pessoal direto e habitual e estão
efetivamente inseridos em seu meio empresarial, onde a figura do locador
(contratante formal) é mera intermediária e intromissora. Tal situação caracterizaria o
chamado marchandage, expressão francesa que consiste na intermediação da mão-
de-obra de trabalhadores como se mercadorias fossem.
O marchandage é prática comercial expressamente vedada na França,
nos termos do art. L125-1, com nova redação dada pelo art. L8231-1, do Code du
Travail:
“Art. L8231-1. A intermediação de mão-de-obra,
definida como toda operação com fins de obtenção de lucros às
custas do fornecimento de trabalho operário e que tem por
consequencia causar prejuízo aos salários e direitos dos
trabalhadores ou de iludir a aplicação dos dispositivos legais ou
da aplicação das previsões contidas em convenções ou acordos
coletivos de trabalho, é proibido”25.
O doutrinador Amauri Mascaro Nascimento26 assevera que um dos
primeiros atos da Revolução Francesa foi, em 1848, proibir a intermediação da mão-
de-obra, considerada prática lesiva em virtude dos constantes prejuízos causados
aos trabalhadores assalariados.
Da mesma forma, o marchandage é proibido em diversos países, uma vez
que se trata de prática empresarial aviltante, que visa auferir maior lucro e
rentabilidade às empresas, prejudicando os direitos dos trabalhadores e reduzindo-
lhes salários e benefícios. Sendo assim, quando flagrada a intermediação de mão-
25 Code du Travail. Art. L8231-1. “Le marchandage, défini comme toute opération à but lucratif de fourniture de main-d'oeuvre qui a pour effet de causer un préjudice au salarié qu'elle concerne ou d'éluder l'application de dispositions légales ou de stipulations d'une convention ou d'un accord collectif de travail, est interdit” 26 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 1992. p.350-351.
24
de-obra, as leis estrangeiras determinam a responsabilidade solidária pelo débito
trabalhista entre o tomador e o prestador de serviços contratado.
Para Carrion, o trabalho temporário, previsto na Lei nº 6.019/74, e o
trabalho do vigilante bancário, previsto na Lei nº 7.102/83, são exemplos de
marchandage presentes na legislação brasileira, embora estejam agasalhados sob
tais diplomas legais. Quanto à terceirização, ressaltou que este fenômeno resulta da
contratação de uma empresa por outra para a realização de tarefas certas e
habituais, que não estejam incluídos nos fins social desta, com a utilização de
empregados daquela. Porém, trata-se de entendimento minoritário se comparado à
vasta jurisprudência e doutrina moderna, que entendem serem estas espécies do
gênero terceirização, ou seja, não há distinção entre os institutos, pois são todas
espécies de terceirização, sendo necessário tão-somente avaliar se o caso é de
terceirização lícita ou ilícita.
Nos dias contemporâneos, a terceirização permanece sem disposição
legal. Porém, coube ao ativismo judicial regular o assunto na forma atual como é
conhecido, através de sua jurisprudência. Em 1980, o Tribunal Superior do Trabalho
editou o Enunciado da Súmula nº 256 (posteriormente Súmula nº 331, após revisão
ocorrida em 1994) tratando acerca da responsabilidade subsidiária do tomador de
serviços quando a terceirização for lícita e da formação de vínculo empregatício com
o tomador de serviços quando a terceirização for considerada ilícita, assim como a
não formação de vínculo empregatício com os órgãos da Administração Pública
direta, indireta ou fundacional, ou quando se tratar de contratação para a prestação
de serviços de vigilância, de limpeza e de serviços técnicos especializados ligados a
atividade-meio do tomador de serviços, salvo quando preenchidos os requisitos de
subordinação e pessoalidade previstos no art. 3º da CLT.
Em recente dissertação, Vantuil Abdala27, Ministro do Tribunal Superior do
Trabalho, acertadamente enfatizou que todos perdem com a ausência de normas
específicas acerca deste novo fenômeno de terceirização no Brasil. Perdem os
trabalhadores, que são as vítimas mais frágeis das fraudes praticadas pelas
27 ABDALA, Vantuil. Terceirização: Anomia inadmissível. http://www.migalhas.com.br/. Link: mostra_noticia_articuladas.aspx?cod=71915. Acesso em: 23/10/2009.
25
empresas prestadoras de serviços inidôneas. Perdem as prestadoras de serviços
idôneas, que passam a ser mal vistas pela sociedade em virtude da prática
degradante e predatória das empresas fraudulentas. Perdem as empresas
tomadoras de serviços, que também passam a ter uma imagem negativa perante a
sociedade em virtude dos abusos praticados pelas empresas prestadoras de serviço
inidôneas e pela insegurança jurídica sofrida com a contratação errônea destas.
Perde o Estado, que perde nas arrecadações fiscal e previdenciária, bem como se
vê obrigado a movimentar demasiadamente o seu maquinário com as freqüentes
demandas judiciais. Perdem os consumidores, que se veem diante da precarização
dos serviços e pela má qualidade em seu fornecimento.
Assiste razão ao Ministro. O Estado não pode mais se furtar em atender
aos anseios da coletividade. É preciso definir, para o bem do desenvolvimento da
economia, a segurança jurídica das relações contratuais e a harmonia entre os
valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, os critérios objetivos que se adéquem
a nova realidade do mercado brasileiro.
1.3 – OS IMPACTOS POLÍTICOS, ECONÔMICOS E SOCIAIS
O art. 21, XI, da Constituição Federal de 1988, dispõe que compete à
União explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os
serviços de telecomunicações, cabendo à lei dispor sobre a organização dos
serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais.
Desta forma, o legislador constituinte autorizou a possibilidade de a
Administração Pública delegar a execução dos serviços de telecomunicações a
terceiros, mediante a promulgação de legislação específica sobre o assunto. Assim
ocorreu com as chamadas “teles”, sociedades de economia mista criadas para
gerenciar e executar os serviços de telefonia e telecomunicações no Brasil, e a
Telebrás, o órgão governamental criado para regular e fiscalizar o sistema.
Com o processo de privatização iniciou-se a desestatização das “teles”,
que, através de leilão público, passaram a ser controladas pela iniciativa privada,
26
pondo fim ao sistema Telebrás e criando a Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações). Esse foi o grande marco para o início do processo de
terceirização de mão-de-obra na área de telecomunicações no Brasil nos moldes
atuais. Isto porque, antes das privatizações, o Poder Público já utilizava mão-de-
obra terceirizada nesta área, mas apenas de forma eventual e para suprir as
necessidades previstas em lei.
A terceirização permanente de mão-de-obra operária é um fenômeno
mundial que surgiu até tardiamente no Brasil, pois já era habitualmente utilizada pelo
mundo afora. Com ela as empresas objetivavam reduzir custos, aumentar os lucros
e a produtividade e ter maior eficiência técnica. Entretanto, a terceirização é um
processo que, se não for implantado de forma correta e organizada, pode causar
diversos estragos, tais como o repentino desemprego em massa, o desequilíbrio na
ordem econômica, a precarização dos serviços e o desrespeito aos direitos dos
trabalhadores.
Muitas empresas, com o intuito de obter lucro rápido e para se firmarem
no mercado, demitiram seus funcionários próprios e optaram pela contratação de
empresas prestadoras de serviços para que estas lhes fornecessem mão-de-obra
terceirizada para a execução de serviços concedidos pelo Poder Público, o que lhes
diminuiu sobremaneira os encargos trabalhistas, repassando esta responsabilidade
a terceiros.
Decerto que, em tese, a diminuição do quadro de pessoal visava facilitar à
administração e ao gerenciamento da empresa, reduzindo a tão conhecida e, muitas
vezes, desnecessária sobrecarga do maquinário público. Porém, o grande erro
praticado pelas empresas concessionárias foi a escolha de empresas prestadoras
de serviços inadequadas e sem estrutura financeira para suportar as obrigações
perante seus empregados, fornecedores e o próprio Estado.
Assim, com contratações temerárias, os direitos trabalhistas preconizados
no art. 7º da Constituição Federal, foram colocados em risco, pois se tornaram
direitos constitucionais sem garantias efetivas, uma vez que os prejudicados
trabalhadores não teriam a quem cobrar a dívida, já que eles eram empregados de
27
empresas sem idoneidade e solidez financeira e prestavam serviços para empresas
concessionárias que sequer os conheciam.
Desta forma, foi preciso encontrar soluções legais e políticas para a
adequação deste novo cenário no direito do trabalho contemporâneo. Diversos
foram os entendimentos a respeito do tema. Coube até mesmo ao Judiciário inovar,
ao legislar acerca da responsabilidade subsidiária dos tomadores de serviço e do
vínculo empregatício direto com aqueles que terceirizam a própria atividade-fim de
seus objetos sociais, nos termos da Súmula nº 331 do Colendo Tribunal Superior do
Trabalho.
Para alguns, tal ativismo judicial é extremamente necessário para
respaldar e garantir os direitos dos trabalhadores diante de um panorama, até então,
incerto e duvidoso de precarização do trabalho. Para outros, se trata de nítida
usurpação de competência legislativa, afrontando o Princípio da Separação dos
Poderes preconizado por Montesquieu28 e ofendendo os arts. 22, IV, e 48, XII, da
Constituição Federal.
As operadoras de telefonia, orientadas por uma lógica de enxugamento
de quadros e aumento de produtividade, passaram a terceirizar cada vez mais suas
atividades, chegando ao momento atual em que apenas gerenciam e monitoram as
empresas que prestam o serviço terceirizado para elas. As atividades de instalação
e manutenção de rede, operação virtual de rede, comercialização de serviços, tele
atendimento, dentre outras, foram terceirizadas em sua maioria.
Outro aspecto já mencionado é o fato de serviços públicos, que são
delegados a empresas concessionárias, serem por estas repassados, sem licitação
oficial, a terceiros prestadores de serviços para a sua efetiva execução. Tal situação,
em princípio, pode aparentar uma fraude, mas é exaustivamente defendida pelas
empresas concessionárias, que alegam a validade da terceirização, amparados pela
Lei Geral das Telecomunicações (Lei nº 9472/97). Há um nítido conflito de
competência entre a norma constitucional e uma lei infraconstitucional específica.
28 MONTESQUIEU, Charles-Louis de Secondat, Baron de. Do espírito das leis - De l'esprit des lois, ou du rapport que les lois doivent avoir avec la constituin de chaque gouvernement, les moeurs, le climat, la religion, le commerce, etc. Tradução de Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2003.
28
Em Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn nº 1.668) proposta em 09
de setembro de 1997 pelo Partido Comunista do Brasil – PC do B, pelo Partido dos
Trabalhadores – PT, pelo Partido Democrático Trabalhista – PDT e pelo Partido
Socialista Brasileiro – PSB contra dispositivos da Lei Geral das Telecomunicações29,
foi alegada a inconstitucionalidade dos artigos 119 e 210, que preveem a
simplificação no procedimento de licitação e a regência exclusiva da referida Lei nos
procedimentos de concessão, permissão e autorização de serviço de
telecomunicações e uso de radiofrequência, bem como as respectivas licitações,
não se aplicando, assim, a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993 (Institui normas
para licitações e contratos da Administração Pública), a Lei nº 8.987, de 13 de
fevereiro de 1995 (Dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação
de serviços públicos) e a Lei nº 9.074, de 07 de julho de 1995 (Estabelece normas
para outorga e prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos).
O fundamento da alegação de inconstitucionalidade do artigo 210 baseia-
se no fato de que a Lei pretende inovar ao criar um procedimento licitatório
“simplificado”, inexistente na Lei de Licitações e que, por isso, vai de encontro ao
estabelecido nos artigos 21, XXVII, e 175 da Constituição Federal, que determinam
que as outorgas de serviço público, mediante concessão ou permissão, devem
obedecer ao prescrito na norma geral de licitação fixada pela União e que nenhuma
nova modalidade pode ser editada sem o aspecto da generalidade. Desta forma, sob
essas alegações, a Lei Geral das Telecomunicações teria atribuído um aspecto de
especialidade a uma norma que deveria ser genérica. O Tribunal, por votação
majoritária, indeferiu o pedido de suspensão cautelar de eficácia do art. 210 da Lei
nº 9.472/97, mas acolheu o pedido de medida cautelar, por votação unânime, para
suspender até a decisão final da ação a execução e aplicabilidade das expressões
"simplificado" e "nos termos por ela regulados" contidas no art. 119. A ADIn ainda
está pendente de julgamento definitivo.
A Constituição Federal, em seu art. 5º, XIII, define que é livre o exercício
de qualquer trabalho, ofício ou profissão, desde que atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer. Poder-se-ia, então, interpretar esse dispositivo 29 STF; Tribunal Pleno; Relator: Ministro Marco Aurélio de Mello; ADI nº 1.668; julgado em 20/08/1998. http://www.stf.jus.br/. Link: portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=1682731. Acesso em 21/07/2010.
29
como uma autorização ilimitada para o exercício de atividades lícitas inerentes à
administração de uma empresa. Porém, tal situação sofre limitação no próprio
mandamento constitucional quando se observa no art. 170 que o legislador
constituinte determinou que a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social. Trata-se da análise principiológica acerca da
precariedade na utilização do trabalho humano, ou seja, consoante o disposto no art.
193 da Constituição Federal, que estabelece o primado do trabalho como base para
a ordem social e bem estar e justiça sociais como seus objetivos, o empregador
deve, ao instituir a sua metodologia de trabalho, observar e garantir a dignidade e a
boa condição de existência de seus empregados, sob pena de ter considerada sua
atividade como ilícita. Tal fato é um dos temas centrais na discussão acerca da
licitude da aplicação da terceirização no mercado de trabalho.
Nesse entendimento de precarização do trabalho em virtude da prática de
terceirização ilícita, tem-se a premissa do doutrinador José Martins Catharino30 de
que o trabalho humano subordinado não pode nunca ser taxado e tratado como uma
mera mercadoria. O filósofo belga-polonês Chaïm Perelman31 definia a Justiça como
“um princípio de ação segundo o qual os seres de uma mesma categoria essencial
devem ser tratados da mesma forma.” Em uma de suas concepções, tem-se que a
justiça concreta é como a cada qual segundo suas necessidades, ou seja, apesar de
exigir o tratamento igual entre todos, aqueles que se encontram em situação
precária, carecendo de condições consideradas como um mínimo vital, devem ter
um tratamento diferenciado. Esta concepção, profundamente inserida na legislação
contemporânea, não leva em consideração os méritos dos indivíduos ou os seus
produtos, mas tenta reduzir os sofrimentos de que resultam da impossibilidade em
que o homem se encontra de satisfazer suas necessidades essenciais. Pode-se
afirmar que o conceito de justiça social derivou desta concepção, pondo em xeque a
economia liberal onde o trabalho é assimilado a uma mercadoria32.
30 CATHARINO, José Martins. Tratado Jurídico do Salário. ed. fac-similada. São Paulo: LTr, 1994. p.71-78. 31 PERELMAN, Chaïm. Ética e Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p.19. 32 PERELMAN, Chaïm, op. cit., p.11.
30
O Procurador Federal do Trabalho Rodrigo Carelli33 afirma que a
intermediação de mão-de-obra, por si só, causa séria e grave ruptura no sistema
jurídico-trabalhista, acostumado e moldado a relações em que figuram apenas
empregado e empregador. A interveniência de uma terceira pessoa na relação de
trabalho vai de encontro a diversos aspectos basilares da estrutura trabalhista, tais
como a confiança entre o empregador e seus comandados, ou o conhecimento
pessoal do trabalhador para a realização da atividade, ou a imediata subordinação
jurídica no vínculo de trabalho, com a fiscalização exercida diretamente por aquele
que detém factualmente a ingerência sobre o serviço praticado pelo trabalhador.
O administrador e consultor Ermínio Alves de Lima Neto34 questionou a
atuação do Ministério Público do Trabalho no combate à terceirização, taxando-a de
meramente ideológica, uma vez que não se funda em critérios objetivos e
estatísticos, mas apenas no simples desejo de não permitir a todo custo o avanço da
terceirização, a despeito de qualquer pretexto. O Direito do Trabalho deve ser
flexível, não podendo ser inimigo da modernidade e do progresso, com visões
extremadamente paternalistas, sob pena de condenar ao regresso a ordem
econômica do país.
Na visão de Ermínio Alves35, as empresas prestadoras de serviços a
terceiros desempenham atividade essencial na economia, proporcionando maior
empregabilidade e cidadania aos trabalhadores que têm em seus respectivos
segmentos de atuação a oportunidade de crescimento e qualificação profissionais.
Além disso, percebe-se que a terceirização não é apenas um contrato formal, mas
sim um sentimento de cooperação, parceria e confiança mútua entre o tomador e o
prestador de serviços, pois, na relação, se um perde, ambos saem perdendo.
É inegável que, com a privatização, o sistema de telecomunicações
conheceu a sua fase mais próspera, alavancando a produção de tecnologia e o
fornecimento de serviços, possuindo um importante papel na economia brasileira.
33 CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Terceirização e Intermediação de Mão-de-Obra: ruptura do sistema trabalhista, precarização do trabalho e exclusão social. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p.150-154. 34 LIMA NETO, Ermínio Alves de. Blog da Terceirização. Ministério Público do Trabalho, temerariamente, tem tratado a questão da terceirização pelo viés ideológico. http://www.terceirizacao.blog.br/. Link: 2010/03/ministerio-publico-do-trabalho.html. Acesso em: 20/07/2010. 35 Id. Ibid.
31
Na mesma proporção em que a terceirização em nada influenciou de negativo nesse
processo de crescimento. Pelo contrário, com as empresas tomadoras
financeiramente enxutas e rentáveis, as prestadoras de serviços puderam adquirir
contratos mais rentáveis e expandir os seus quadros funcionais. É questão de
lógica: na medida em que a demanda aumenta, a oferta também aumenta, e os
postos de trabalho tendem obrigatoriamente a acompanhar esse crescimento, sob
pena de não se prestar um serviço de qualidade e eficiência. Em um mercado tão
competitivo como o das telecomunicações, ser taxada de ineficiente e desqualificada
é um suicídio para os negócios de qualquer empresa.
CAPÍTULO II
A PRECARIZAÇÃO DOS DIREITOS DOS TRABALHADORES
A Constituição da República Federativa do Brasil prevê, nos artigos 7º e
8º, direitos e garantias dos trabalhadores, tais como a proteção contra dispensa
arbitrária, a irredutibilidade de salário, o seguro-desemprego, o Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço, o salário mínimo, a associação profissional e sindical, a
aposentadoria, a não discriminação salarial, as férias, entre outros. Infelizmente,
algumas empresas ardilosamente se utilizam do expediente da terceirização para se
verem livres de obrigações e encargos legais e, assim, aviltar direitos trabalhistas.
O doutrinador Amauri Mascaro Nascimento36, citando o jurista mexicano
Mario de la Cueva y de la Rosa, afirma que com a prática da terceirização e do
marchandage há, naturalmente, a precarização de determinados direitos
trabalhistas, uma vez que, para a realização da intermediação, necessariamente
parte do valor pago pelo tomador fica retido pelo prestador de serviços, que dali
deduz o seu lucro, o que acarreta num repasse inferior ao trabalhador terceirizado.
Logo, neste entendimento, o salário do terceirizado é reduzido em cotejo com os
demais empregados da mesma categoria. Desta análise, corrobora o Procurador do
36 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 1992. p.350-351.
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Trabalho Rodrigo Carelli37, ao deduzir que se torna impossível existir a aventada
justificativa de redução de custos ao terceirizar determinado serviço, uma vez que,
do pagamento realizado pela tomadora deve constar necessariamente o valor a ser
repassado ao trabalhador pelo labor desempenhado, os encargos tributários e o
lucro auferido pelo prestador de serviços, pois, do contrário, alguém nesta relação
estaria levando prejuízo.
Por certo há vantagens na terceirização de serviços, o que não implica
necessariamente em dizer que alguém está sendo prejudicado nesta relação. As
empresas terceirizadas têm organização própria e independência jurídica e fiscal,
com empregados próprios regidos pelas leis trabalhistas vigentes. Trata-se de um
contrato, tanto no que concerne à relação entre empresa tomadora e empresa
prestadora de serviços, quanto à relação havida entre a empresa empregadora e o
seu empregado, onde as partes estipulam os valores que atendem aos seus
interesses. O custo de um empregado terceirizado pode até ser menor, mas isso
deriva da livre negociação entre as partes no ato do contrato de trabalho. Para isso a
lei determinou a participação e atuação sindical: para que se estabelecesse a livre
negociação coletiva e a devida fiscalização em defesa dos interesses dos
trabalhadores.
Por falar em representação sindical e livre negociação coletiva, a juíza
Vólia Bomfim38 destaca que não há exigência legal para a existência de isonomia
salarial entre empregados contratados pela empresa prestadora de serviços e os
funcionários da tomadora, tanto que a própria CLT, em seu art. 461, veda a
equiparação salarial entre trabalhadores de empresas distintas, salvo quando
comprovada a irregularidade da terceirização e, por conseqüência, o
reconhecimento da vinculação direta com a empresa tomadora de serviços. Neste
caso, o trabalhador terceirizado estaria autorizado a se equiparar ao funcionário da
empresa tomadora de serviço, bem como a pleitear o reenquadramento sindical com
o sindicato de categoria relativo à atividade desenvolvida pela tomadora de serviço,
desvinculando-se, por conseguinte, do sindicato relacionado com a atividade
37 CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Terceirização e Intermediação de Mão-de-Obra: ruptura do sistema trabalhista, precarização do trabalho e exclusão social. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p.168-170. 38 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 2. ed. rev. ampl. e atual. Niterói: Impetus, 2008.p.524.
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desenvolvida pelo seu empregador aparente (prestador de serviços), que, em regra,
tem normas e benefícios menos favoráveis ao trabalhador.
Um exemplo claro da distorção acerca do enquadramento sindical no
setor de telecomunicações é o fato de os funcionários da empresa tomadora de
serviços estarem vinculados ao Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações
– Sinttel, enquanto que os trabalhadores terceirizados são vinculados aos sindicatos
relacionados com a atividade profissional que a prestadora de serviços tem em seu
objeto social, que nem sempre é o ramo das telecomunicações. Assim, ficam os
trabalhadores terceirizados representados por entidades sindicais que não
correspondem efetivamente às atividades desenvolvidas por eles na prestação do
serviço, que, em regra, possuem normas e benefícios coletivos menos favoráveis ao
trabalhador, muitas vezes sequer prevendo a existência de salários normativos
específicos ao cargo ocupado.
Entretanto, em recente posicionamento39, a Sexta Turma do Tribunal
Superior do Trabalho, por unanimidade, admitiu o enquadramento sindical do
empregado de empresa prestadora de serviços na categoria a que estão vinculados
os trabalhadores da empresa tomadora de serviços em casos de terceirização,
mesmo quando o trabalhador não teve o vínculo empregatício reconhecido
diretamente com o tomador. Desta forma, uma vez comprovado que o empregado
prestava serviço terceirizado ao lado de empregados da tomadora dos serviços, em
funções ligadas à atividade-fim desta, justifica-se o enquadramento sindical na
categoria profissional da tomadora, ainda que esteja formalmente vinculado ao
sindicato da empresa prestadora de serviços. Trata-se da invocação do princípio da
primazia da realidade, onde o TST reconheceu que o enquadramento sindical ocorre
em virtude do exercício efetivo da função do trabalhador e não conforme a atividade
preponderante do empregador, como haviam entendido os órgãos julgadores das
instâncias inferiores vinculados ao Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, que
se basearam tão-somente nos termos do artigo 581, § 2º, da CLT, em prejuízo ao
direito do operário. Pode parecer uma possível e radical mudança de entendimento,
39 TST. Notícias do Tribunal Superior do Trabalho: Terceirização permite enquadramento sindical diferente da empresa prestadora de serviços. http://ext02.tst.jus.br/. Link: pls/no01/NO_NOTICIAS.Exibe_Noticia?p_cod_noticia=10692&p_cod_area_noticia=ASCS&p_txt_pesquisa=terceiriza%E7%E3o. Acesso em: 23/07/2010.
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mas o certo é que, até o momento, o posicionamento majoritário não admite tal
inovação jurídica.
Existem duas situações atípicas à regra das terceirizações: quando o
tomador de serviços se utiliza de cooperativas para a intermediação de mão-de-obra
e quando a empresa prestadora de serviços subcontrata outra empresa para a real
execução dos serviços, na chamada “quarteirização”.
As cooperativas são definidas por Carrión40 como o conjunto de
trabalhadores autônomos, livres para contratar e não subordinados, que oferecem
seus serviços profissionais, individualmente ou em grupo, rotativamente e sem
exclusividade, a terceiros interessados na prestação destes serviços. Aduz ainda
que as remunerações sejam repartidas entre eles e proporcionais ao esforço
promovido por cada um.
O art. 3º da Lei nº 5.764/71 dispõe que não há interesse econômico nas
cooperativas. O mesmo diploma legal estabelece que, por ser uma ação conjunta de
esforços, cujos resultados são repartidos entre os cooperados, as decisões devem
ser tomadas em assembleias, nas quais todos têm o direito e o poder de voto.
Porém, quando a cooperativa não segue os preceitos legais e os cooperados são
tratados como empregados, estando presentes os requisitos da relação de emprego
da subordinação, onerosidade, pessoalidade e habitualidade, torna-se uma fraude e
é admissível que se peça judicialmente o reconhecimento do vínculo empregatício
com a cooperativa ou, até mesmo, com o próprio tomador de serviços, uma vez que
a cooperativa nada mais é, neste caso, que uma empresa interposta mascarada.
Para tanto, não há que se falar em não preenchimento do requisito onerosidade,
uma vez que, flagrada a burla e tida como fraudulenta a terceirização, é verossímil
que o pagamento é oriundo dos cofres do tomador de serviços, ainda que sofra
intermediação e repasse da cooperativa.
No caso das empresas quarteirizadas, estas são subcontratadas pela
empresa prestadora de serviços para a execução de serviços acessórios ao contrato
de prestação com a tomadora ou, em alguns casos, a execução do próprio objeto 40 CARRIÓN, Valentim. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 33. ed. atual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2008. p.285.
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contratual. Desta forma, ampliam-se ainda mais os sujeitos na relação de trabalho.
Com isso, aumenta a dificuldade de fiscalização por parte da tomadora de serviços
e, consequentemente, aumenta o risco de inadimplência das obrigações trabalhistas
e fiscais por parte das prestadoras de serviço. A situação piora quando, como ocorre
em muitos casos, a Carteira de Trabalho dos trabalhadores sequer é anotada.
Observa-se que, no setor de telecomunicações, a quarteirização é admitida quando
realizada em tarefas inerentes, por exemplo, à construção civil, tais como a fixação
de postes, construção de galerias subterrâneas para a futura passagem de cabos
telefônicos, etc., desde que ocorrida com a anuência da empresa tomadora de
serviços.
Sem um contrato de trabalho anotado em sua CTPS, o trabalhador não
tem garantidos os seus direitos básicos, tais como o direito a receber o aviso prévio
pela dispensa imotivada, a contagem para o tempo de serviço no FGTS e o efetivo
recolhimento de valores fundiários e previdenciários, etc. Tal situação, além de
ilegal, viola o princípio da dignidade da pessoa humana, preconizado no art. 1º, III,
da Constituição Federal. Garantir o mínimo existencial é dever de todo aquele que
exerce a atividade empresarial, atuando como empregador. Trata-se da função
social negocial, onde não se pode confundir a competitividade, a excelência da
qualidade do serviço prestado e a redução de custos com a retirada de direitos
basilares do trabalhador.
Ressalta-se que quanto ao recolhimento das cotas fiscais, o art. 31 da Lei
nº 8.212/91, com redação modificada pela Lei nº 9.711/98, prevê que o tomador de
serviços deve efetuar a retenção prévia na fonte dos valores aos quais o prestador
de serviços é obrigado a recolher a título de contribuição previdenciária de seus
empregados, ou seja, o tomador de serviços deve reter onze por cento do valor
bruto da nota fiscal ou fatura da prestação de serviços da empresa terceirizada.
Quanto ao ambiente de trabalho, este deve ser salutar e propício para o
desempenho das atividades laborais. A CIPA – Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes, instituída pela Norma Regulamentadora nº 04 do Ministério do Trabalho,
visa treinar os trabalhadores para que eles próprios atuem como guardiões das
regras de segurança e saúde no ambiente de trabalho. Para isto, a própria
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Constituição Federal garantiu estabilidade aos empregados eleitos para atuarem na
CIPA, os chamados “cipeiros”, para que, com isso, tenham liberdade de ação e não
sofram coações ou interferências em suas atuações por parte de empregadores não
cumpridores de seus deveres.
É certo que as grandes empresas, em regra, tomadoras de serviços,
possuem CIPAs devidamente instituídas em seus postos de trabalho e têm
elaborados seus Programas de Prevenção de Riscos Ambientais e Programas de
Controle Médico de Saúde Ocupacional, conforme determina o Ministério do
Trabalho. Entretanto, para a execução de trabalhos terceirizados, as empresas
prestadoras de serviços também têm que estar adequadas a essas estruturas, sob
pena de precarizar o meio ambiente do trabalho.
Como visto, a empresa que resolve terceirizar seus serviços deve ser
atuante no sentido de fiscalizar a sua contratada prestadora de serviços, garantindo
assim a eficiência e observância dos direitos e garantias dos trabalhadores. Ou seja,
não basta apenas repassar a execução dos serviços para terceiros, pois a tomadora
não pode ser omissa, já que é seu dever acompanhar e fiscalizar a empresa eleita
por ela como sua prestadora de serviços, tomando as medidas cabíveis quando
apurar irregularidades.
2.1 – A RESPONSABILIDADE DO TOMADOR DE SERVIÇOS
A Lei nº 9.472/97, conhecida como a Lei Geral de Telecomunicações –
LGT, dispõe sobre a organização dos serviços de telecomunicações no Brasil e a
criação e funcionamento de um órgão regulador para este setor. Ela traz alguns
pontos controversos em seu texto, que geram dúvida e discussão doutrinária e
jurisprudencial.
O art. 60, § 1º, da LGT, define que telecomunicações são a transmissão,
emissão ou recepção, por fio, radioeletricidade, meios ópticos ou qualquer outro
processo eletromagnético, de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons
37
ou informações de qualquer natureza. Daí nasce a discussão acerca da extensão do
que seria a atividade-fim de uma empresa de telecomunicações.
Numa análise do sentido de atividade-fim, pode-se entender que o
objetivo de uma empresa de telecomunicações é garantir a conectividade de seus
usuários. A operação ou manutenção de redes, metálicas ou de fibras óticas,
centrais telefônicas, satélites, sistemas físicos e infra-estrutura são atividades-meio
para o alcance desta finalidade. A lei brasileira parece não ter evoluído no sentido de
compreender que o conceito de empresa, nos moldes modernos, se tornou muito
mais amplo no sentido de gestão, não sendo apenas um mero comércio, mas sim
uma atividade de administração e gerenciamento em larga escala de estratégias de
mercado e metas de planejamento.
O texto do art. 94, II, da Lei, também estabelece que, nos limites e
condições impostos pela Agência Reguladora, a concessionária, no cumprimento de
seus deveres contratuais, pode contratar terceiros para a execução de atividades
inerentes, acessórias ou complementares ao serviço, bem como a implementação
de projetos associados. No dicionário de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, a
palavra inerente consiste em tudo aquilo que está inseparavelmente ligado a alguma
coisa ou pessoa. Logo, não há dúvidas de que o dispositivo legal autoriza a
contratação de empresas terceirizadas para a execução de projetos e serviços, não
só os de atividade-meio (acessórios e complementares), mas como também
daquelas inerentes ao objeto do contrato da empresa de telecomunicações
tomadora de serviços, ou seja, a própria atividade-fim.
Em contraponto ao que dispõe a Lei Geral de Telecomunicações, a
jurisprudência majoritária entende duas situações em que o contrato de trabalho
celebrado com a empresa interposta é nulo e o vínculo empregatício deve ser
reconhecido diretamente com a tomadora de serviços: 1) quando a empresa
tomadora de serviços terceiriza a própria atividade-fim e coloca em sua execução
trabalhadores contratados pela prestadora de serviços, e 2) quando os
trabalhadores contratados pela empresa prestadora de serviços está subordinado
diretamente aos prepostos da tomadora de serviços, estando presentes os requisitos
previstos no art. 3º da Consolidação das Leis Trabalhistas ensejadores da relação
38
de emprego. Tais decisões se amparam na Súmula nº 331, I, do Colendo Tribunal
Superior do Trabalho, que declara ilegal a intermediação de mão-de-obra.
Com isso, a jurisprudência parece ter dado um aviso às empresas de
telecomunicações: a terceirização só é admitida na contratação de empresa
especializada em atividades paralelas ou de suporte à atividade-fim, e não para que,
de maneira distorcida, haja a substituição total dos empregados próprios por outros
oriundos de empresa interposta. Ou seja, a terceirização não existe para mascarar o
real e fraudulento objetivo de reduzir salários e encargos trabalhistas, através da
contratação de pessoal por intermédio de empresas especializadas.
Diante disso, poder-se-ia entender que a Súmula nº 331, III, do TST, veda
quase que totalmente a terceirização no Brasil, sendo a única forma de terceirização
efetivamente admitida no Brasil a contratação de trabalho temporário, nas atividades
de vigilância, conservação e limpeza, bem como nos serviços especializados ligados
à atividade-meio da empresa tomadora. Entretanto, não é isso que se observa com
a evolução histórica do tema. Nota-se que, apesar de tal posicionamento
jurisprudencial recente, o sistema jurídico trabalhista brasileiro vem se flexibilizando
e admitindo cada vez mais a possibilidade de as empresas terceirizarem seus
serviços. Do texto da Súmula nº 256 do TST, cancelada pela Resolução nº 121 do
TST, em 19 de novembro de 2003, o juiz Sérgio Pinto Martins41 verifica um rigor
exacerbado na quase proibição da interposição de mão-de-obra, razão pela qual
nunca foi levada ao pé da letra pelos magistrados, que sempre procuraram abrandar
a sua aplicação, utilizando-a tão-somente nos casos de flagrante fraude.
Assim, aparece a dúvida acerca do que é, objetivamente, a atividade-fim
de uma empresa de telecomunicações e o que é um caso de flagrante fraude. Para
a jurisprudência, a afirmativa expressa no art. 60, § 1º, da LGT, já é uma prévia
confissão de que fazem parte da atividade-fim das empresas de telecomunicações
quaisquer recursos para a transmissão, emissão ou recepção de sons, sinais, dados
e imagens, inclusive todo o processo de implantação, instalação e manutenção da
rede. Já as empresas de telecomunicações se defendem afirmando que tal
41 MARTINS, Sérgio Pinto. A terceirização e o direito do trabalho. 7. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2005. p.127.
39
posicionamento é muito simplório diante da complexidade de um sistema em
constante evolução tecnológica e dos novos conceitos de administração em um
mundo globalizado. Desta forma, a atividade-fim das empresas de telecomunicações
nada mais seria que o gerenciamento e o planejamento dos serviços e atividades a
serem ofertadas aos usuários e toda e qualquer operação é mera atividade-meio,
uma vez que o objetivo principal e preponderante é administrar a prestação e o
provimento do acesso ao serviço de telecomunicações.
O doutrinador J. C. Mariense Escobar42 destaca a abrangência da
definição legal e entende que não existe prestação do serviço de telecomunicações
sem o concurso de uma série de trabalhos, técnicas e equipamentos, que são
empregados exclusivamente para viabilizar a comunicação à distância. Da mesma
forma, entendem a doutrina e a jurisprudência majoritárias ao estabelecer que a
oferta do serviço de telecomunicações depende de todo o conjunto de atividades
operacionais, desde a implantação da rede de acesso até a manutenção dos
terminais já instalados, sendo, portanto, parte integrante de sua atividade-fim. Logo,
se o trabalhador terceirizado laborou, com exclusividade, para a tomadora de
serviços, beneficiária única dos serviços prestados por ele, e o mister então
desenvolvido se acha inserido na atividade-fim, habitual, necessária e permanente
ou atividade laboral integrante do processo produtivo da tomadora de serviços, é
pertinente o reconhecimento do vínculo empregatício diretamente com esta. Tal
entendimento está em manifesta dissonância com o texto da Lei Geral de
Telecomunicações.
Antes do advento da LGT, a Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, já
dispunha acerca do regime de concessão e permissão da prestação de serviços
públicos previsto no art. 175 da Constituição Federal. O mandamento constitucional
determina que incumbe ao Poder Público e suas concessionárias ou permissionárias
a prestação de serviços públicos, obrigatoriamente mediante licitação. O art. 25 da
Lei nº 8.987/95 (Lei das Concessões) autoriza que as empresas concessionárias,
originalmente responsáveis pela execução do serviço, repassem a terceiros,
mediante contrato, o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou
42 ESCOBAR, João Carlos Mariense. O Novo Direito de Telecomunicações. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999, p.24.
40
complementares ao serviço concedido, bem como a implantação de projetos
associados.
Consonante ao entendimento do Ministro do Tribunal Superior do
Trabalho Aloysio Corrêa da Veiga43, as empresas não devem se abster de terceirizar
seus serviços se existe norma legal autorizando tal prática. Ademais, não há motivos
para a proibição da terceirização de serviços, já que o que deve ser combatido é a
precarização. Na mesma sessão de julgamento, o Ministro Presidente do Tribunal
Superior do Trabalho Milton de Moura França44 asseverou que a terceirização não é
nociva, desde que observados os requisitos de fiscalização, controle e proteção do
trabalhador. A grande ofensa à dignidade da pessoa humana é a falta de empregos
e oportunidades, sendo certo que a precarização inexiste se os direitos trabalhistas
são respeitados.
2.2 – O ATIVISMO DO PODER JUDICIÁRIO
De um lado, há uma lei específica sobre a organização dos serviços de
telecomunicações no Brasil (Lei nº 9.472/97) que, numa interpretação favorável às
empresas de telecomunicações, autoriza a delegação da execução das atividades
meio e fim a terceiros especializados. Do outro, uma Súmula editada pelo Tribunal
Superior do Trabalho (Súmula nº 331) que estabelece limites ao fenômeno moderno
de terceirização, matéria que ainda sofre de anomia em virtude de uma inexplicável
inércia legislativa.
É notório que Súmula é um conjunto de reiterados acórdãos proferidos
por um mesmo Tribunal que visa uniformizar a interpretação acerca de um preceito
jurídico em tese. Sua aplicação não é obrigatória, mas tem efeito persuasivo nas
demais decisões judiciais. É, portanto, editada por um órgão membro do Poder
Judiciário, que encontra amparo no art. 8º da CLT para legislar com base em sua
43 TST. Notícias do Tribunal Superior do Trabalho: SDI-1 julga irregular terceirização nas Centrais Elétricas de Goiás. http://ext02.tst.jus.br/. Link: pls/no01/NO_NOTICIAS.Exibe_Noticia?p_cod_noticia=9288&p_cod_area_noticia=ASCS&p_txt_pesquisa=negocia%E7%E3o. Acesso em: 28/07/2010. 44 Id. Ibid.
41
jurisprudência acerca de um tema, na falta de disposições legais. Já a Lei é a norma
escrita e elaborada pelo Poder Legislativo, através da qual as regras jurídicas são
criadas, modificadas ou extintas. Segundo o doutrinador Paulo Nader45, a lei é ato
emanado pelo Poder Legislativo, estabelecendo preceito comum e obrigatório,
voltado para atender os interesses do povo e cujas características substanciais são
a generalidade, abstratividade, bilateralidade, imperatividade e coercibilidade.
A Lei autoriza, indiscriminadamente, a utilização da terceirização no setor
de telecomunicações. A Súmula e a jurisprudência majoritária impõem restrições
severas a tal prática. O doutrinador Miguel Reale46, assevera que os juízes devem
interpretar a lei para aplicar o Direito, procurando extrair dela aquilo que a sociedade
realmente espera para a solução dos conflitos. A lei jurídica procura se adaptar à
realidade e aos anseios da população, na busca pela justiça. Talvez por isso o
ativismo judicial seja tão aceito na Justiça do Trabalho, uma vez que o julgador deve
se ater aos princípios constitucionais de proteção das relações de trabalho e dos
direitos do trabalhador, bem como aos princípios norteadores do Direito do Trabalho,
como a prevalência da norma e condição mais favoráveis ao trabalhador e a
interpretação in dubio, pro operario. Desta forma, justifica-se que a interpretação
judicial seja, em muitas vezes, tão favorável ao trabalhador, buscando proteger e
garantir o hipossuficiente e afastar da letra fria da lei qualquer intenção prejudicial
aos seus direitos.
Quem defende o ativismo judicial argumenta que não se trata de
usurpação de competência, uma vez que os Poderes têm funções preponderantes,
mas que não são exclusivas. A tripartição dos Poderes, conceito esboçado por
Aristóteles47, idealizado por Nicolau Maquiavel48 e celebrizado por John Locke49 e
Montesquieu50, separou a organização do Estado em três Poderes, independentes e
45 NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p.139-141. 46 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27 ed. ajustada ao novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2002, p.167. 47 ARISTÓTELES. A Política (La politique). Tradução de Torrieri Guimarães. São Paulo: Martin Claret, 2002. 48 MACHIAVELLI, Nicolò. O Príncipe (Il Principe). Tradução de Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2004. 49 LOCKE, John. Dois Tratados sobre o Governo Civil (Two Treatises of Government). Tradução de Julio Fischer. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 50 MONTESQUIEU, Charles-Louis de Secondat, Baron de la Bréde et de. Do espírito das leis - De l'esprit des lois, ou du rapport que les lois doivent avoir avec la constituin de chaque gouvernement, les moeurs, le climat, la religion, le commerce, etc. Tradução de Jean Melville. São Paulo: Martin Claret, 2003.
42
harmônicos entre si, nos termos do art. 2º da Constituição da República federativa
do Brasil, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, e lhes concedeu funções próprias
e distintas. Entretanto, a própria Carta Magna previu situações em que os Poderes
poderiam sair dos limites de suas funções típicas, haja vista que estas são
autônomas, mas não absolutas. É com este fundamento que o Poder Judiciário
encontra legitimidade para intervir em função tipicamente legislativa e assegurar a
concretização de direitos e demandas sociais através da interpretação
principiológica.
O Ministro Maurício Godinho Delgado51, criador da teoria da subordinação
estrutural, defende que esta ocorre quando o trabalhador é inserido na dinâmica e
organização estrutural de trabalho do tomador de serviços, independentemente do
recebimento ou não de ordens diretas desta. Com isso, a subordinação estrutural
não se limitaria a verificar apenas se há o recebimento pelo trabalhador de ordens
diretas dadas pelos prepostos do tomador de serviços, mas sim de analisar toda a
estrutura organizacional da terceirização, que, inevitavelmente, expõe o trabalhador
terceirizado aos ditames e regramentos da empresa tomadora de serviços, seja
através de seus métodos e dinâmicas de trabalho, seja através de seu planejamento
ou estrutura operacional. Decerto que as ordens dadas aos trabalhadores,
invariavelmente, emanam de um mesmo ponto central, qual seja a própria empresa
tomadora de serviços, ainda que recebidas indiretamente por empresas prestadoras
de serviços. Desta forma, não haveria forma de existir terceirização sem a
necessária subordinação, uma vez que a estrutura montada necessariamente
estabelece uma hierarquia e obediência do trabalhador, seja para com o seu
empregador formal ou com o tomador de seus serviços.
Embora se note uma clara tendência da magistratura de 1ª e 2ª instâncias
em coibir a prática da terceirização no setor de telecomunicações, tal situação não é
tão nítida assim no Tribunal Superior do Trabalho, órgão máximo da Justiça do
Trabalho. Em recente decisão deste órgão, foi reconhecida a permissão legal para a
terceirização das atividades da empresa de telecomunicações. Segundo este
entendimento, a aplicabilidade da Lei Geral de Telecomunicações afasta o
51 DELGADO, Maurício Godinho. Direitos fundamentais na relação de trabalho. v. 70, n. 6. São Paulo: Revista LTr, 2006, p.657-667.
43
reconhecimento de vínculo empregatício com a empresa tomadora de serviços, uma
vez que atividades como a de instalador e reparador de linhas aéreas e a de cabista
não caracterizam atividade-fim de uma empresa de telecomunicações, ainda que
sejam estritamente relacionadas a ela. Com isso, mesmo que se admitisse que tais
atividades fizessem parte da atividade-fim da tomadora de serviços, a expressa
disposição legal impediria o reconhecimento da fraude.
A Súmula nº 331 do TST não se restringe apenas em declarar a
ilegalidade da intermediação de mão-de-obra, mas também estabelece a
responsabilidade da empresa tomadora de serviços quando a terceirização é
considerada lícita.
Neste caso, não há discussão acerca da atividade-fim do tomador de
serviços ou da ilicitude da terceirização, sendo o contrato de trabalho havido entre
empresa prestadora de serviços e trabalhador perfeitamente válido. É esta a
terceirização idealizada pelo administrador: a que traz benefícios para a produção,
que ganha eficiência e especialização técnica, para as empresas, que ganham
saúde financeira e melhor estrutura operacional para concorrer no mercado; para o
Estado, que arrecada mais em uma economia sólida e descentralizada; e para os
consumidores, que têm maior oferta de produtos e serviços.
Porém, quando a prestadora de serviços não arca devidamente com as
suas obrigações, coube ao Judiciário encontrar o meio para garantir a executividade
do crédito trabalhista. O comando sumular nº 331, IV, do Tribunal Superior do
Trabalho, visou exatamente proteger os direitos do trabalhador quando a prestadora
de serviços fica inadimplente com as suas obrigações contratuais. Desta forma, a
empresa tomadora de serviços será responsável pelo pagamento das verbas
trabalhistas devidas caso a prestadora de serviços não possa ser executada
judicialmente. Ressalta-se que, diferentemente da responsabilidade solidária ou da
vinculação empregatícia direta, na subsidiariedade o tomador de serviços só será
alcançado depois de esgotados todos os meios cabíveis para a execução dos bens
da empresa terceirizada, chegando, muitas vezes, à despersonificação desta para
que os sócios respondam pelas obrigações contraídas.
44
Para a apuração da responsabilidade do tomador de serviços, aplicaram-
se analogicamente dois institutos inerentes ao Código Civil, as culpas in eligendo e
in vigilando. Os artigos 186, 187 e 927 do Código Civil definem que aquele que, por
ato ilícito, ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, fica obrigado a repará-lo.
A culpa in eligendo consiste na má e equivocada escolha pela tomadora
da empresa que lhe prestou os serviços, ou seja, ao eleger a empresa que lhe
prestaria serviços, a tomadora deveria ter verificado a solvabilidade e saúde
estrutural e financeira para arcar com as obrigações contratuais e trabalhistas. A
culpa in vigilando consiste no fato de a empresa tomadora de serviços não ter
fiscalizado devidamente o efetivo cumprimento das obrigações contratuais,
trabalhistas e fiscais pela prestadora de serviços, ou seja, a tomadora de serviços
pecou pela negligência em não vigiar a sua terceirizada. Sendo assim, em tese, se a
tomadora comprovar não ter existido falhas na eleição ou na fiscalização da
prestadora de serviços, deveria afastar qualquer tipo de condenação subsidiária.
Entretanto, na prática, é uma prova quase impossível de produzir, já que a
terceirização, por si só, atrai a responsabilidade subsidiária, tendo em vista que um
simples passivo trabalhista já pressupõe falha na vigilância por parte da tomadora.
Como o mercado de trabalho no ramo das telecomunicações é muito
amplo, mas, em comparação, as empresas tomadoras de serviço são poucas,
dificilmente um trabalhador empregado de uma empresa terceirizada não teria,
efetivamente, prestado serviços à tomadora dominante de uma determinada
localidade, fato este que justifica a maciça presença das empresas de
telecomunicações nas demandas trabalhistas. Com isso, surge também a chamada
indústria de processos, onde as empresas se tornam reféns de trabalhadores que,
mancomunados uns com os outros, useiros e vezeiros em ingressar com ações
trabalhistas, cobrando, muitas das vezes, direitos que não possuem, cediços da
facilidade que têm em comprovar judicialmente fatos que podem nunca ter existido,
sob o simples juramento de não mentir em testemunho, e certos da dificuldade que
as empresas tomadoras tem em se organizar e obter as informações relativas aos
prestadores de serviço, que, na teoria e na prática, ficam sob o controle das
empresas prestadoras de serviços.
45
A Lei não admite a ingerência direta do tomador de serviços sobre o
trabalhador terceirizado, mas exige que ela tenha ciência da sua existência e
fiscalize as prestadoras de serviço no cumprimento de suas obrigações. Porém,
fiscalizar sem se intrometer na relação contratual do trabalho terceirizado é das
tarefas mais difíceis para a empresa tomadora.
Ressalta-se que, no direito do trabalho, a prova testemunhal é a prova de
maior valoração que o juiz pode se utilizar para a proferição de suas decisões, uma
vez que esteja devidamente convencido da veracidade da informação fornecida pela
testemunha compromissada. Trata-se do Princípio da Primazia da Realidade, o qual,
pela definição do jurista uruguaio Américo Plá Rodriguez52, consiste em se dar
preferência aos fatos que ocorrem na prática, ainda que dissonantes daqueles que
emergem de documentos ou acordos. O trabalhador reclamante é o hipossuficiente
na relação do trabalho, ou seja, em virtude da sua inferioridade econômica em
relação ao empregador, a Justiça do Trabalho o confere certa superioridade jurídica
na relação processual, como, por exemplo, produzir prova invocando a realidade dos
fatos através de testemunhas. Para o reclamante, então, é mais fácil comprovar a
alegação de ter prestado serviços terceirizados a uma empresa tomadora de
serviços, do que esta, em defesa, negar e comprovar tal fato.
É consenso majoritário que numa instrução processual é necessária a
prova contundente de que o trabalhador tenha prestado serviços à empresa
tomadora para que esta seja condenada subsidiariamente pela dívida trabalhista.
Afinal, o fato de um trabalhador ser funcionário de uma empresa prestadora de
serviços que possua contrato com determinada tomadora, não significa
necessariamente que tenha prestado serviços a ela. Isto porque o que se espera de
uma empresa especializada em prestação de serviços é que esta possua contratos
com diversas empresas tomadoras de seus serviços em sua área de operação,
como por exemplo, uma empresa que presta serviços de call center. Entretanto,
existem decisões judiciais que entendem que basta haver o contrato de prestação
de serviços da tomadora com a terceirizada para que aquela se obrigue
subsidiariamente com os créditos trabalhistas devidos aos funcionários desta,
52 PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Princípios de Direito do Trabalho. 3. ed. atualizada. São Paulo: LTr, 2000. p.217.
46
independentemente de prova da efetiva prestação pessoal do trabalhador. Trata-se
de um posicionamento minoritário na Justiça do Trabalho.
Há outra responsabilidade aplicável às empresas tomadoras de serviços
quando estas se utilizam do expediente da terceirização e suas prestadoras não
adimplem com suas obrigações legais. Trata-se da solidariedade, prevista no art. 2º,
Parágrafo 2º, da CLT, e no art. 275 do Código Civil. No Direito do Trabalho, em
regra, são responsáveis solidárias pelas obrigações decorrentes do contrato de
trabalho todas as empresas integrantes de um mesmo grupo econômico. Desta
forma, o trabalhador, ao exigir judicialmente seus direitos trabalhistas, pode optar de
qual empresa cobrar, total ou parcialmente, a dívida comum.
Em 23 de novembro de 2007, num encontro promovido pelo TST –
Tribunal Superior do Trabalho, pela Anamatra – Associação Nacional dos
Magistrados da Justiça do Trabalho e pela Enamat – Escola Nacional de Formação
e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho, e apoiada pelo Conemat –
Conselho Nacional de Escolas de Magistratura do Trabalho, denominado 1ª Jornada
de Direito Material e Processual na Justiça do Trabalho53, magistrados de todo o
Brasil se reuniram para discutir e deliberar acerca de temas repisados e impactantes
no dia-a-dia dos fóruns trabalhistas. Daí nasceu o Enunciado nº 10 que dispõe
acerca dos limites à prática da terceirização de serviços e a responsabilidade do
tomador de serviços. Definiu-se que a terceirização somente será admitida na
prestação de serviços especializados, de caráter transitório, desvinculados das
necessidades permanentes da empresa, bem como que a responsabilidade entre as
empresas, tomadora e prestadora de serviços, é solidária.
Ressalta-se que, assim como as Súmulas de caráter não vinculante, os
Enunciados e Orientações Jurisprudenciais são comandos informativos e
norteadores, que não obrigam ao juiz a sua aplicação, mas que expressa e
transparece o posicionamento corrente dos colegiados dos Tribunais superiores.
53 ANAMATRA. Enunciados aprovados na 1ª Jornada de Direito Material e Processual na Justiça do Trabalho 23/11/2007. http://www.anamatra.org.br/. Link: jornada/enunciados/enunciados_aprovados.cfm. Acesso em 13/07/2010.
47
Em uma de suas recentes publicações, o jornal O Estado de São Paulo54
posicionou-se no sentido de criticar, em parte, o ativismo judicial nos julgamentos
das relações de trabalho. O "dumping social", teoria existente no direito internacional
do trabalho e no direito econômico, consiste na busca de vantagens comerciais
através da adoção de condições desumanas de trabalho, e, embora não existente
na legislação brasileira, tem sido cada vez mais admitido pelos órgãos julgadores
como punição ao reiterado e sistemático desrespeito à legislação trabalhista.
A utilização da terceirização como justificativa para a redução de custos é
um dos alvos desta medida punitiva do Judiciário, uma vez que, ao vilipendiar os
direitos dos trabalhadores, a terceirização ilícita provoca danos também à
sociedade, na medida em que propicia vantagens comerciais indevidas aos
empregadores perante a concorrência. Estas agressões reincidentes aos direitos
trabalhistas resultam em condenações expressivas de pagamento de indenização
pelos empregadores infratores.
Estas condenações, apesar de ainda aplicadas timidamente pelos juízes
de primeira instância e pouco aceitas pelos Tribunais, ganharam força com a
elaboração do Enunciado nº 4, aprovado na 1ª Jornada de Direito Material e
Processual na Justiça do Trabalho, em 200755. Ressalta o Enunciado que há
expressa autorização legal no art. 404, Parágrafo único, do Código Civil, e artigos
652, “d”, e 832, § 1º, da CLT, para a aplicação da multa indenizatória suplementar
aos empregadores agressores contumazes.
Desta forma, pode-se dizer que o "dumping social" é uma medida
exemplificativa que visa impedir ou eliminar a proliferação de processos judiciais
oriundos de reiteradas práticas lesivas aos direitos trabalhistas, mas que, ainda
assim, deve ser aplicada com cautela e no grau certo às pessoas certas, pois, caso
contrário, pode provocar prejuízos irreparáveis aos empregadores, causando
insegurança à coletividade empresarial.
54 O ESTADO DE SÃO PAULO. A tese do ''dumping social''. http://www.estadao.com.br/. Link: estadaodehoje/20091026/not_imp456262,0.php. Acesso em: 30/06/2010. 55 ANAMATRA. Enunciados aprovados na 1ª Jornada de Direito Material e Processual na Justiça do Trabalho 23/11/2007. http://www.anamatra.org.br/. Link: jornada/enunciados/enunciados_aprovados.cfm. Acesso em 13/07/2010.
48
Em 28 de maio de 2009, um fato movimentou os corredores do Tribunal
Superior do Trabalho e estarreceu as empresas de telecomunicações: realizou-se o
julgamento dos Embargos opostos em Recurso de Revista interposto pelo Ministério
Público do Trabalho da 18ª Região em face de Centrais Elétricas de Goiás S.A. –
CELG, no qual se postulava a proibição da contratação de trabalhadores
terceirizados para desempenhar atividades-fim na empresa reclamada. O
julgamento acolheu, por maioria, o pleito ministerial, considerando irregular a
terceirização praticada pela CELG, embora exista Lei específica que autoriza a
terceirização, mesmo em atividade-fim.
O decisum proferido pela Seção Especializada em Dissídios Individuais
do TST (SDI-1) pautou-se, principalmente, na ideia asseverada pelo voto do Ministro
Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, na qual a legislação trabalhista visa proteger o
trabalho humano, prestado em benefício de outrem, de forma habitual, onerosa e
subordinada, nos termos do art. 3º da CLT, bem como este trabalho é protegido sob
a égide do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana56. Adentrando na
tendência jurídica moderna de que as diversas esferas do Direito vêm sofrendo um
processo de constitucionalização principiológica na interpretação de seus institutos,
vislumbrou o Ministro que a norma administrativa, Lei nº 8.987/1995, que rege as
concessionárias e os permissionários de serviços públicos e autoriza, em seu art.
25, § 1º, a terceirização irrestrita destes serviços, não pode prevalecer ou até
mesmo derrogar o preceito fundamental da legislação trabalhista, qual seja a relação
contratual bilateral de trabalho havida entre trabalhador e empregador. Sendo assim,
a autorização legal pode até dar legitimidade ao contrato administrativo celebrado,
mas não impede o exame da fraude trabalhista cometida com a prática de
terceirização ilegal.
Outrossim, a terceirização de serviços na atividade-fim da tomadora, em
virtude da inclusão de um intermediário nesta relação, pode afastar os protagonistas
da relação de trabalho e criar transtornos irreparáveis no campo da organização
sindical e da negociação coletiva, servindo, tão-somente, como um escudo para que 56 TST; Subseção I Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho; Relator: Ministro Aloysio Corrêa da Veiga; ED-E-RR - 586341/1999.458; julgado em 28 de maio de 2009. http://ext02.tst.jus.br/. Link: pls/ap01/ap_decis.Decisao?num_int=68184&ano_int=1999&cod_org=53&ano_pau=2009&num_pau=15&tip_ses=O. Acesso em 20/07/2010.
49
a empresa tomadora, embora beneficiária final dos serviços prestados, possa se
eximir das obrigações trabalhistas e isentar-se do cumprimentos das normas
coletivas pactuadas, uma vez que os trabalhadores não teriam qualquer vinculação
com ela, mas sim com o intermediário da mão-de-obra. O voto vencedor do Ministro-
Relator ainda entendeu que a Súmula nº 331 do TST está em consonância com os
princípios e normas constitucionais e, portanto, é a que melhor se adéqua ao caso
em questão por vedar a terceirização da atividade-fim.
Embora esta decisão esteja relacionada a uma empresa fornecedora de
energia elétrica, na mesma pauta de julgamentos estavam Embargos em Recurso
de Revista de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho da 21ª
Região movida em face de Telemar Norte Leste S/A, empresa concessionária de
serviços de telecomunicações. No processo, o MPT pleiteava a vedação à
terceirização, fundando-se basicamente nos mesmos termos da Ação proposta
contra a CELG, mas impugnando especificamente a autorização contida na Lei
Geral das Telecomunicações, que permite a contratação de trabalhadores
terceirizados na atividade-fim da demandada, aos quais estariam inclusos os
serviços de call center. Porém, por entender não estarem preenchidos os
pressupostos suficientes para conhecer o recurso, a SDI-1 considerou extinto o
processo, denegando o seu seguimento e não julgando o mérito da questão57. Neste
processo, uma decisão contrária à prática da terceirização na Telemar iria,
fatalmente, estender-se a todas as demais operadoras de telecomunicações.
Sendo assim, permanece aberta a discussão, mas, até que exista decisão
definitiva em contrário do TST, a terceirização é lícita nas telecomunicações,
amparada pela Lei Geral de Telecomunicações. No entanto, dificilmente o Ministério
Público do Trabalho se absterá em ingressar com novas proposituras pleiteando a
proibição desta prática empresarial.
57 TST; Subseção I Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho; Relator: Ministro João Batista Brito Pereira; RE-ED-E-RR - 4661/2002-921-21-00.4; julgado em 28 de maio de 2009. http://brs02.tst.jus.br/. Link: cgi-bin/nph-brs?s1=4810215.nia.&u=/Brs/it01.html&p=1&l=1&d=blnk&f=g&r=1. Acesso em 20/07/2010.
50
2.3 – A REGULAMENTAÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO
O Ministério do Trabalho e Emprego elaborou o texto do anteprojeto de
lei58 para a regulamentação da contratação de serviços terceirizados no setor
privado, visando criar efetivamente uma lei específica sobre o tema. Com isso, não
se pretende regularizar qualquer mera terceirização de mão-de-obra, mas sim a
contratação de serviços terceirizados, onde há um tomador de serviços, uma
empresa intermediadora e um trabalhador. Segundo o Ministro do Trabalho Carlos
Lupi, a medida visa regulamentar a terceirização no mercado de trabalho brasileiro
de modo a proteger os empregados, garantindo-lhes melhores condições de vida.
Aliás, a precarização da dignidade do trabalhador em relação à
terceirização não é preocupação apenas do Poder Executivo, mas também do
Judiciário, constantemente invocado a pronunciar-se acerca do tema. O Ministro do
Tribunal Superior do Trabalho Aloysio Corrêa da Veiga59 afirmou ser leviandade
posicionar-se contra a terceirização, uma realidade dominante no atual mercado de
trabalho, mas também não é possível admitir a sua licitude se houver a precarização
da atividade, com restrição de direitos e tratamento diferenciado entre trabalhadores.
Esse pronunciamento foi realizado no julgamento de uma lide em que figuravam
uma empresa de telecomunicações tomadora dos serviços de outra empresa
contratada para o atendimento de call center.
O texto do anteprojeto de lei que está sendo analisado pela Casa Civil e
em breve será enviado ao Congresso Nacional prevê, no que diz respeito à
responsabilidade do tomador de serviços, em seus artigos 4º e 5º, que, ressalvada a
configuração de vínculo empregatício pelo preenchimento dos requisitos previstos
no art. 3º da CLT, haverá a responsabilidade subsidiária do tomador quanto ao
pagamento das verbas trabalhistas não adimplidas pelo prestador de serviços
quando comprovar que na celebração e durante a vigência do contrato cumpriu
devidamente o seu dever de fiscalização do contrato e da empresa prestadora de 58 MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Proposta de anteprojeto de terceirização. Dispõe sobre a contratação de serviços terceirizados por pessoas de natureza jurídica de direito privado. http://www.mte.gov.br/. Link: consulta_publica/Minuta_terceirizacao.pdf. Acesso em: 02/06/2010. 59 Tribunal Superior do Trabalho. Notícias do Tribunal Superior do Trabalho: Precarização do trabalhador terceirizado preocupa TST. http://ext02.tst.jus.br/. Link: pls/no01/NO_NOTICIASNOVO.Exibe_Noticia?p_cod_noticia=10017&p_cod_area_noticia=ASCS&p_txt_pesquisa=v%EDnculo%20empregat%EDcio. Acesso em: 24/07/2010.
51
serviços, não acarretando, assim, em sua culpa in vigilando. Do contrário, a
responsabilidade do tomador de serviços, será solidária. Tal alteração dirime a
dúvida quanto à possibilidade de aplicação da solidariedade nos casos de
terceirização de mão-de-obra, uma vez que esta não é presumível, nos termos do
art. 265 do Código Civil, decorrendo tão-somente de lei ou pela convenção entre as
partes.
Entretanto, a crítica a estes dispositivos ocorre quando o legislador, para
evitar a ocorrência da responsabilidade solidária, obriga o tomador de serviços a
manter em seus arquivos vasta documentação acerca do pessoal terceirizado, que,
a rigor, deveria submeter-se a controle exclusivo de seu empregador formal. Cabe
ainda ao tomador de serviços monitorar a administração dos bens do contratado e
sua saúde financeira, fato este que parece fugir da sua alçada, ou seja, fiscalizar as
atividades financeiras e a regular administração fiscal de uma empresa é atividade
cabível somente aos órgãos públicos competentes.
Ademais, ao estabelecer a solidariedade entre tomador e prestador de
serviços, o anteprojeto de lei pode permitir, ainda que ao contrário do pretendido,
que as empresas prestadoras de serviço deixem simplesmente de arcar com as
suas responsabilidades contratuais, uma vez que sempre haverá o tomador de
serviços como agente garantidor direto ao pagamento das obrigações trabalhistas
inadimplidas. Tal situação, diga-se, muito benéfica aos trabalhadores, pode
apresentar-se como um entrave à prática de qualquer terceirização pelas empresas
e um retrocesso do atual modelo de gestão corporativa.
Outra novidade é a expressa autorização para a subcontratação ou
quarteirização da realização de parte dos serviços contratados, desde que prevista
no contrato principal e com anuência da empresa tomadora de serviços, nos termos
do art. 6º do anteprojeto.
O art. 10 do anteprojeto de lei estabelece a diferença entre contratação de
serviços e intermediação de mão-de-obra, determinando que a contratação de
prestação de serviços com empresa não especializada configura mera locação e
fornecimento de mão-de-obra (intermediação) e importa na existência de relação de
52
emprego entre os empregados contratados e a tomadora de serviços. Sendo assim,
o art. 1º, Parágrafo único, do anteprojeto, define que empresa prestadora de
serviços especializados é aquela que possui em seu objeto social atividades
específicas relacionadas ao serviço contratado.
Quanto ao disposto no art. 8º do anteprojeto de lei, os doutrinadores Agra
Belmonte, Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, e
Guilherme Caputo Bastos, Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, concordam na
opinião de que o texto que assegura aos empregados da empresa contratada os
direitos instituídos em negociação coletiva celebrada pelo sindicato representativo
da categoria profissional respectiva é claro e se refere apenas aos direitos previstos
em acordo ou convenção da categoria referente à prestadora de serviços, não
havendo, portanto, qualquer isonomia salarial ou de benefícios entre os
trabalhadores contratados e os funcionários da tomadora de serviços (informação
verbal) 60.
O doutrinador Carlos Zangrando61, em artigo publicado no jornal Valor
Econômico, ressalta que, de fato, a terceirização no Brasil possui uma imagem
negativa perante a opinião pública devido aos malfadados insucessos do passado,
que, quase sempre, consistiam em fraude e burla à legislação do trabalho. Porém,
destaca que a responsabilidade não se deve apenas ao empresariado, mas também
ao legislador que se omite em não conceituar precisamente o que é a terceirização e
em definir objetivamente as hipóteses de sua admissão.
De fato, um novo ordenamento legal sobre a terceirização se faz
necessário. Principalmente, o surgimento de uma norma que não deixe margem a
interpretações ou dúvidas acerca do que é atividade inerente e qual a
responsabilidade a ser atribuída à empresa tomadora de serviços. A constante
colisão entre as normas existentes e os entendimentos jurisprudenciais enfraquece
cada vez mais as relações de trabalho e os julgados proferidos. Igualmente, o
instituto da segurança jurídica fica abalado a cada nova decisão conflitante, uma vez
60 Palestras realizadas por Alexandre de Souza Agra Belmonte e Guilherme Augusto Caputo Bastos no II Encontro de Direito do Trabalho na área de Telecomunicações, em Teresópolis-RJ, em dezembro de 2008. 61 ZANGRANDO, Carlos Henrique da Silva. Valor Econômico. Anteprojeto de lei sobre terceirização no Brasil. http://www.fsindical.org.br/. Link: fs/index.php?option=com_content&task=view&id=7774&Itemid=2. Acesso em: 05/07/2010.
53
que não se sabe qual punição será aplicada ao caso concreto por existirem diversos
posicionamentos sobre a mesma matéria.
Porém, na prática, dificilmente se alcançará uma norma ideal em curto
espaço de tempo, uma vez que todas as classes sociais estão envolvidas nesse
processo e têm opiniões distintas sobre o tema. Logo, ainda devem existir mais
debates e sugestões sobre o anteprojeto de lei em curso antes que se obtenha uma
efetiva e satisfatória legislação sobre a terceirização.
CAPÍTULO III
QUANDO A EXCEÇÃO SE TORNA A REGRA
Como visto, a terceirização ganhou força no setor de telecomunicações
brasileiro a partir do final da década de 90 com o processo de desestatização das
“teles”. O obsoleto sistema Telebrás foi repartido e transferido ao domínio da
iniciativa privada que, gradativamente, reduziu e renovou o quadro de pessoal e se
incumbiu de realizar a substituição e a modernização do defasado maquinário
estatal. Mais de uma década depois dos leilões das privatizações, verifica-se que, de
fato, era necessário tomar uma providência contra a ineficiente ingerência estatal
nas telecomunicações, não só pela importância deste segmento na economia
brasileira, mas também pela imprescindível necessidade de atualização de recursos
e tecnologia. O Estado deixava de ser gestor para assumir o papel de fiscalizador.
Com o passar do tempo, as empresas realizaram o enxugamento do
pessoal com os chamados planos de incentivo às demissões, mas, ao mesmo
tempo, iniciaram o processo de renovação funcional de seus postos de trabalho. A
falta de planejamento e treinamento no manuseio de novas tecnologias, a
necessidade de alcançar (e até mesmo antecipar) as metas estabelecidas pela
Anatel e a redução de empregados fizeram com que o ritmo de trabalho se tornasse
alucinante. A mão-de-obra própria já não dava vazão à urgência da demanda, o que
acelerou a contratação de empresas terceirizadas, que dispunham seus
54
trabalhadores para realizarem os mesmos serviços e funções desempenhadas pelos
empregados da empresa contratante, mas com remunerações inferiores. Tal
procedimento aumentou o número de ações judiciais por violar os direitos dos
trabalhadores e serviu para desgastar a imagem das empresas de telecomunicações
junto à Justiça do Trabalho e à opinião pública.
O setor de telecomunicações expandiu e se popularizou. As metas foram
alcançadas e novos objetivos foram traçados, mas isso não reverteu o processo de
terceirização dos serviços que, àquela altura, já parecia um caminho sem volta. A
necessidade de crescer e lucrar cada vez mais para competir no mercado fez com
que o administrador adotasse a estratégia da redução de custos e, por conseguinte,
de pessoal. A ideia foi repassar a terceiros a execução de serviços não
considerados como atividades-fim da empresa, uma vez que havia vedação
jurisprudencial. Com isso, todos os serviços de infra-estrutura, atendimento,
manutenção e instalação de rede foram terceirizados, fato este que foi, de pronto,
rechaçado pela maioria dos juízes e Tribunais do Trabalho, que entenderam se
tratar de repasse ilícito da atividade-fim para terceiros. Daí nasceu a discussão
acerca do que era ou não atividade-fim em uma empresa de telecomunicações.
Muito se discutiu até que se percebesse que existia uma Lei tratando
sobre o tema, a Lei Geral das Telecomunicações, que, inclusive, expressamente
autoriza a terceirização dos serviços de telecomunicações, mesmos os que seriam
inerentes à atividade-fim da empresa. Com isso, essa discussão perdeu um pouco
de seu sentido, já que agora a divergência não se limita mais em apenas definir o
que é ou não atividade-fim numa empresa de telecomunicações, mas sim em se
estabelecer os limites de abrangência da Lei específica diante de casos de
interposição de mão-de-obra, precarização de direitos e de princípios constitucionais
consagrados, como a dignidade da pessoa humana e a valorização do trabalho.
Se ainda há relutância de grande parte dos juízes do trabalho em aceitar
tal situação, nos Tribunais já se vislumbra uma maior aceitação, pois muitos
desembargadores e ministros, mesmo que intimamente contrariados, asseveram
como lícita a terceirização de serviços de telecomunicações, pois esta encontra
guarida na LGT, o que autoriza as empresas concessionárias a repassarem seus
55
serviços a empresas terceirizadas, ainda que possam estar inseridos no objeto
principal de suas atividades. A conclusão a que se chega no presente estudo
corrobora com esse entendimento, mas ressalta que ainda existe grande dissensão
entre os julgados62.
A Lei Geral de Telecomunicações existe e está em plena vigência.
Entretanto, se para alguns ela não regula de forma satisfatória ou se é
inconstitucional, cabem aos órgãos judiciais competentes analisarem e se
pronunciarem pela sua inaplicabilidade no ordenamento jurídico. Até que isso
ocorra, ela deve ser aplicada como reguladora do setor de telecomunicações. Sendo
assim, cabe igualmente ao Poder Legislativo se posicionar e definir com clareza a
situação das empresas perante a terceirização de seus serviços, criando normas
que definam com exatidão a responsabilidade dos contratantes.
Não se defende, porém, a fraude. A utilização da terceirização como
mecanismo para burlar direitos dos trabalhadores não é admitida e deve ser
combatida pelos órgãos estatais e pela sociedade. Mas, sendo a terceirização lícita
e praticada com a transparência e retidão que a lei exige, não há porque ser proibida
apenas por ideais românticos e saudosistas. Nos dizeres de Erminio Lima Neto63,
“qualquer trabalho, idôneo, dignifica as pessoas”. Está correto em seu pensamento,
pois, a economia do país torce para que suas empresas sejam financeiramente
independentes e lucrativas e a prática da terceirização aparece como uma
importante ferramenta de inclusão e especialização do trabalho.
Ideologias à parte, a situação deve ser analisada sob o ponto de vista
objetivo. Se não há lesão aos direitos do trabalhador, qualquer prática econômica
que vise o desenvolvimento empresarial e garanta a existência ou criação de postos
de trabalho no território nacional deve ser encarada como positiva pela sociedade.
62 CONVERGÊNCIA DIGITAL. Terceirização em Telecom: Turmas do TST dão sentenças distintas. http://convergenciadigital.uol.com.br/. Link: cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=22981&sid=16. Acesso em 08/08/2010. 63 LIMA NETO, Ermínio Alves de. Blog da Terceirização. Ministério Público do Trabalho, temerariamente, tem tratado a questão da terceirização pelo viés ideológico. http://www.terceirizacao.blog.br/. Link: 2010/03/ministerio-publico-do-trabalho.html. Acesso em: 20/07/2010.
56
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É cediço que a terceirização é um fenômeno de tendência irreversível e
crescente na ordem econômica moderna, apesar da inércia legiferante em
normatizá-la devidamente. A terceirização acarreta ao tomador de serviços uma
série de obrigações, mas aparenta ser uma opção atraente de gestão administrativa,
pois visa uma melhor estruturação organizacional de uma empresa, reduzindo os
encargos com funcionários próprios, entregando a execução de serviços técnicos a
prestadoras especializadas com o intuito de diminuir os gastos da produção e
aumentar a eficiência do serviço oferecido.
Além disso, visa-se também uma melhor avaliação no mercado de ações,
uma vez que a empresa tomadora de serviços, enxuta, pode se dedicar mais e
melhor à ingerência de suas atividades precípuas, se tornando mais rentável e
saudável financeira e competitivamente. Em suma, a finalidade da terceirização é
uma maior especialização, pela qual as empresas tendem a se aprimorar delegando
a terceiros aqueles serviços em que não se especializaram. Esse modelo de
parceria especializada tornou-se um importante fator de competitividade.
Entretanto, a falta de uma legislação própria e clara sobre o assunto
produz anomalias. É inadmissível, por exemplo, que um empresário se utilize
obtuosamente da terceirização para reduzir benefícios, salários e direitos dos
trabalhadores, ou quando, por falta de comprometimento dos prestadores de
serviços, o serviço é oferecido de forma precária e insatisfatória aos consumidores.
Situações degradantes como estas desvirtuam o real objetivo da terceirização e
provocam na sociedade um sentimento de repulsa e desconfiança.
No setor de telecomunicações, observou-se no início um efeito inverso ao
idealizado pelo administrador quando terceirizou a produção da empresa tomadora
de serviços. A escolha equivocada de empresas prestadoras de serviços inidôneas
tornou o tomador de serviços responsável subsidiário pelas obrigações decorrentes
do contrato de trabalho inadimplidas pelo prestador de serviços. Em muitos casos, a
ingerência sobre os empregados terceirizados, com a configuração dos elementos
57
caracterizadores da relação de emprego, acarretou na vinculação direta destes com
a própria tomadora de serviços.
Atualmente, percebe-se a nítida tentativa de corrigir os erros do passado,
posicionando-se a empresa tomadora no papel que realmente lhe cabe no processo
de terceirização, qual seja o de fiscalizar a empresa prestadora contratada, sem
interferir na relação entre esta e seu trabalhador ou na execução dos serviços, já
que, se optou por terceirizar, não lhe cabe mais estar à frente da operação. O papel
principal do tomador de serviços tornou-se mais estratégico, voltado para a gestão
do contrato e do negócio empresarial, exigindo o efetivo e satisfatório cumprimento
por parte da empresa contratada.
Repisa-se, a terceirização visa a especialização, a concentração de
esforços naquilo que é vocação principal da empresa e a busca de maior eficiência.
Entretanto, há a necessidade urgente de melhor disciplinar tal matéria, uma vez que
o sistema jurídico brasileiro não tende a vedar a terceirização, por se tratar de um
fenômeno moderno e irreversível, mundialmente conhecido. A tal anomia se refere
ao fato de não existir uma norma que, de forma clara e objetiva, descreva o que
pode ou não ser terceirizado e quais são as implicações para os responsáveis.
As legislações existentes não definem satisfatoriamente estes assuntos,
tornando-as confusas e, muitas vezes inócuas, diante dos constantes ataques do
ativismo judicial e do Ministério Público. Porém, não se pode fugir à realidade. Essas
leis existem, mesmo que não seja ainda o ideal, e autorizam a terceirização até
mesmo da atividade-fim da empresa de telecomunicações. Desta forma, respeitados
os limites para a terceirização e enquanto não for declarada a inconstitucionalidade
do art. 94, II, da Lei nº 9.472/97, há a permissão legal para que as empresas de
telecomunicações terceirizem suas atividades meio e fim.
Na visão de Platão64, a vida não é um simulacro, uma cópia degradada do
objeto real de um mundo ideacional ou um arremedo de realidade onde o que se
planeja em tese não prospera na prática. Pelo contrário. Devem-se analisar muito
bem os impactos das decisões a serem tomadas, pois, uma vez postas em prática, 64 PLATÃO. A República. Título original em grego: IIOΛITEIA (Politéia), séc. IV a.C. Tradução Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2003.
58
podem ser prejudiciais, sem chances para testes ou experiências teóricas ou
ideológicas. O Direito deve se adequar aos novos fatos da vida social e a
normatização se faz necessária quando os conflitos de interesses chegam a níveis
insustentáveis. É preciso considerar todo o progresso e evolução obtidos antes de
se posicionar contrário às terceirizações, pois uma vez interrompido o processo,
danos irreversíveis podem ocorrer.
Ao legislador fica a sugestão de se autorizar a terceirização em toda e
qualquer atividade, meio ou fim, e atribuir a responsabilidade subsidiária ou solidária
ao tomador de serviços em qualquer caso. Assim, as discussões terminariam, os
direitos dos trabalhadores estariam resguardados e as partes contratantes estariam
bem mais seguras juridicamente ao firmarem seus contratos, sabendo exatamente
os ônus e bônus que estariam assumindo com a terceirização.
59
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serviços de comunicações, e dá outras providências. Brasília, DF: 1984.
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Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Brasília, DF:
1991.
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Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração
Pública e dá outras providências. Brasília, DF: 1993.
61
BRASIL. Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. Dispõe sobre o regime de
concessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da
Constituição Federal, e dá outras providências. Brasília, DF: 1995.
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prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos e dá outras
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utilização de Títulos da Dívida Pública, de responsabilidade do Tesouro Nacional, na
quitação de débitos com o INSS, altera dispositivos das Leis nos 7.986, de 28 de
dezembro de 1989, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.212, de 24 de julho de 1991,
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67
ÍNDICE
RESUMO.................................................................................................................... 4
METODOLOGIA......................................................................................................... 5
SUMÁRIO................................................................................................................... 6
INTRODUÇÃO............................................................................................................ 7
CAPÍTULO I
A TERCEIRIZAÇÃO NO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES................................. 9
1.1 – BREVE HISTÓRICO SOBRE A TERCEIRIZAÇÃO........................................ 15
1.2 – ASPECTOS JURÍDICOS DA TERCEIRIZAÇÃO............................................ 21
1.3 – OS IMPACTOS POLÍTICOS, ECONÔMICOS E SOCIAIS.............................. 25
CAPÍTULO II
A PRECARIZAÇÃO DOS DIREITOS DOS TRABALHADORES............................. 31
2.1 – A RESPONSABILIDADE DO TOMADOR DE SERVIÇOS............................. 36
2.2 – O ATIVISMO DO PODER JUDICIÁRIO.......................................................... 40
2.3 – A REGULAMENTAÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO............................................. 50
CAPÍTULO III
QUANDO A EXCEÇÃO SE TORNA A REGRA....................................................... 53
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 56
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 59
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