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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM
ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA
DDIISSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MMEESSTTRRAADDOO PPRROOFFIISSSSIIOONNAALLIIZZAANNTTEE EEMM AADDMMIINNIISSTTRRAAÇÇÃÃOO
ADMINISTRAÇÃO ESPORTIVA: UMA COMPARAÇÃO DA COMPETITIVIDADE DO FUTEBOL BRASILEIRO COM O FUTEBOL
EUROPEU (G-5) USANDO MÉTODOS QUANTITATIVOS.
CCLLAAUUDDIIOO VVIICCEENNTTEE DDII GGIIOOIIAA FF.. SSIILLVVAA
OORRIIEENNTTAADDOORR:: MMAARRIIAA AAUUGGUUSSTTAA MMAACCHHAADDOO
Rio de Janeiro, 17 de Novembro de 2006
“ADMINISTRAÇÃO ESPORTIVA: UMA COMPARAÇÃO DA COMPETITIVIDADE DO FUTEBOL BRASILEIRO COM O FUTEBOL EUROPEU (G-5), UTILIZANDO
MÉTODOS QUANTITATIVOS ”
CLAUDIO VICENTE DI GIOIA FERREIRA SILVA
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração Esportiva com Métodos Quantitiativos
ORIENTADOR: MARIA AUGUSTA MACHADO
Rio de Janeiro, 17 de novembro de 2006.
““ADMINISTRAÇÃO ESPORTIVA: UMA COMPARAÇÃO DA COMPETITIVIDADE DO FUTEBOL BRASILEIRO COM O FUTEBOL EUROPEU
(G-5), UTILIZANDO MÉTODOS QUANTITATIVOS ”
CLAUDIO VICENTE DI GIOIA FERREIRA SILVA
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração Esportiva com Métodos Quantitiativos
Avaliação:
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________________________
Professor MARIA AUGUSTA MACHADO (Orientador) Instituição: IBMEC-RJ _____________________________________________________
Professor LUIZ ALBERTO NASCIMENTO CAMPOS FILHO (Co-orientador) Instituição: IBMEC-RJ _____________________________________________________
Professor FATIMA CRISTINA BACELLAR Instituição: USP
Rio de Janeiro, 17 de Novembro de 2006.
FICHA CATALOGRÁFICA
658.4033 S586
Silva, Claudio Vicente Di Gioia Ferreira. Administração esportiva: uma comparação da competitividade do futebol brasileiro com o futebol europeu (G-5) usando métodos quantitativos / Cláudio Vicente Di Gioia Ferreira Silva. - Rio de Janeiro: Faculdades Ibmec. 2006. Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração das Faculdades Ibmec, como requisito parcial necessário para a obtenção do título de Mestre em Administração. Área de concentração: Administração geral. 1. Métodos quantitativos. 2. Administração esportiva . 3. Competitividade. 4. Futebol – Equilíbrio competitivo.
1
AGRADECIMENTOS
“Um brinde! Ao prazer da pesquisa de campo, à desculpa acadêmica, à quebra de um mito: se não há razões nas paixões dessa vida, nao poderia ter ao menos um capítulo escrito”.
(Claudio Vicente Di Gioia, em ´Tendências do Mercado de Cerveja no Brasil`, Monografia, UFRJ, Dez 2001, Defendida em 2002)
Considero essa defesa de dissertação no mestrado em administração – “ Administração Esportiva: Uma Comparação da Competitividade do Futebol Brasileiro com o Futebol Europeu (G-5), utilizando métodos quantitativos” – um segundo passo de um legado, que pude descrever primeiramente por ocasião de minha monografia, quando então me formava bacharel em economia, e com trecho de dedicatória então reescrito no começo dessa seção. Na defesa do tema “Tendências do mercado de cerveja no Brasil” já começava a trajetória, ainda incompleta, sobre os três impulsionadores tradicionais de um brasileiro comum, embora não necessariamente nessa mesma ordem de prioridade, ou simplesmente seguindo essa ordem, pela necessidade de um entendimento ainda maior sobre o universo feminino, que ainda não ousei descrever. E como motivador intrínseco e em analogia ao próprio título dessa dissertação, agradeço aos que colaboraram para que eu pudesse concluir esse trabalho, utilizando-me da máxima que compartilho: Competitividade não é nada sem Talento!
Agradeço também aos meus familiares, em especial a minha irmã Inês Caterina Di Gioia.
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RESUMO
O futebol como negócio tem sido encarado como uma indústria crescente e tem como um dos
seus temas relevantes o equilíbrio competitivo dos clubes, à medida que a concentração de
títulos e vitórias dos mesmos é tida como um risco para a indústria. Este risco é representado
pela ameaça de falência de clubes, falta de atratividade dos jogos para o torcedor e
aparecimento de campeonatos rivais. Além disso, a falta de equilíbrio, por sua vez, significa
não maximizar a quantidade de torcedores que comparece aos estádios ou assiste aos jogos
pela televisão, por conta da previsibilidade do resultado final, que aliada à qualidade do jogo e
ao sucesso do time do torcedor constituem os principais elementos para a demanda por jogos
de futebol. Esse trabalho procurou testar esse equilíbrio competitivo na série A do
Campeonato Brasileiro, comparando com os cinco maiores campeonatos europeus
(Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália). Foram utilizadas medidas de concentração
industrial, em especial o indicador HHI (Herfindahl-Hirschman), baseados nos trabalhos de
Oughton and Michie (2004) e Dell’Osso. F & Symanski, S (1991) para testar equilíbrio
competitivo sazonal (por temporada) e no longo prazo. O trabalho ainda tem como cenário o
novo modelo de campeonato em pontos corridos adotado no Brasil em 2003, copiando o
formato Europeu. Os resultados mostram que o Campeonato Brasileiro é o mais equilibrado
dentre os pesquisados. Entretanto, boa parte desse equilíbrio se deve à falta de estrutura e
capacidade administrativa dos clubes de manter times competitivos por mais de uma
temporada, devido à necessidade de fazer caixa com a venda de jogadores. A análise ainda
pode ser classificada como precoce com relação à influência atual desse novo modelo de
campeonato. No entanto, os clubes já podem ficar em alerta quanto a essa temática.
Palavras Chave: Administração Esportiva, Futebol, Equilíbrio Competitivo, Competitividade.
3
ABSTRACT
Football as a business has been faced as a growing industry. Amongst the relevant subjects for
this industry it’s distinguished the Competitive Balance of the clubs due to the perception of
the risks derived from the concentration of titles and victories. These risks are represented by
the threat of bankruptcy of clubs, lack of attractiveness for the supporters and the appearance
of rivals’ leagues. Besides, the lack of competitive balance means that the supporters are not
maximized in the long run since the match outcome is predictable. Besides, the prediction of
the game allied to the games´ quality and the club success all represent the main elements for
the football games demand. This work aim to test the competitive balance of Campeonato
Brasileiro Série A comparing with the big five leagues in Europe (Germany, Spain, France,
England and Italy). It was utilized measures of industry concentration, specially the HHI
index (Herfindahl-Hirschman), based on the works of Oughton and Michie (2004) and
Dell´Osso, F and Symanski, S (1991) in order to test both the seasonal and the long run
balance. In addition, this work has as new scenario, adopted in 2003 in Brazil, copying the
existing models in Europe – Pontos Corridos - (Each club played the other twice, once at
home and once away, and the winner is the club that makes more points after all games). The
results show that the Brazilian Championship is the most Balanced League amongst the
leagues studied. However, this result is influenced by the lack of structure and club
management in order to build competitive teams in the long run usually associated with the
need of cash derived from players’ transfers. Due to the fact that the new model of league in
Brazil is very recent, this analysis need more time to mature, but the clubs can already be alert
in response of this subject.
Key Words: Sports Management, Football, Competitive Balance, Competitiveness.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Curva de Lorenz 32 Figura 02 – A Estrutura da Industria do Futebol 44 Figura 03 – Stakeholders do Futebol Brasileiro 45 Figura 04 – Cadeia Produtiva e Clientes da Indústria 46 Figura 05 – Fontes de Receitas dos Clubes Europeus 51 Figura 06 – Stakeholders do Futebol Brasileiro 53 Figura 07 – Estrutura Organizacional do Futebol Brasileiro 56 Figura 08 – Impacto do Equilíbrio Competitvo na Curva de Demanda 64 Figura 09 – Ciclo Virtuoso do Futebol Europeu 65 Figura 10 – Caracteristicas dos Clubes de Futebol Europeu 67 Figura 11 – Distância entre os Clubes de Futebol Europeu 67 Figura 12 – Comparativo Sazonal em Relação ao Máximo Desequilíbrio 81 Figura 13 – Curva de Tendência (Sazonal) em Relação ao Máximo Desequilíbrio 81
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Máximo Desequilíbrio para 20 times 74 Tabela 02 – Máximo e Mínimo Desequilíbrio - Resumido 75 Tabela 03 – Exemplo de Calculo para Longo Prazo 77 Tabela 04 – Calculo do Índice de Concentração (HHI) para o Campeonato Brasileiro 78 Tabela 05 – Calculo do Índice de Concentração de (HHI) para o Campeonato Inglês 79 Tabela 06 – Calculo do Índice de Concentração de (HHI) para o Campeonato Italiano 79 Tabela 07 – Calculo do Índice de Concentração de (HHI) para o Campeonato Espanhol 79 Tabela 08 – Calculo do Índice de Concentração de (HHI) para o Campeonato Alemão 80 Tabela 09 – Calculo do Índice de Concentração de (HHI) para o Campeonato Francês 80 Tabela 10 – Calculo de Dominancia de Longo Prazo para o Campeonato Inglês 82 Tabela 11 – Calculo de Dominancia de Longo Prazo para o Campeonato Espanha 82 Tabela 12 – Calculo de Dominancia de Longo Prazo para o Campeonato França 83 Tabela 13 – Calculo de Dominancia de Longo Prazo para o Campeonato Alemanha 83 Tabela 14 – Calculo de Dominancia de Longo Prazo para o Campeonato Italia 83 Tabela 15 – Calculo de Dominancia de Longo Prazo para o Campeonato Brasileio 84 Tabela 16 – Tabela Agrupada de Concentração no Longo Prazo 84
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Objetivo da Pesquisa 12
5
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO 06 2 – O PROBLEMA 08 2.1 – CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA 08 2.2 – FORMULAÇÃO DO PROBLEMA 10 2.3 – OBJETIVOS 11 2.3.1 – OBJETIVOS PRINCIPAL 11 2.3.1 – OBJETIVOS INTERMEDIARIOS 12 2.3 – RELEVANCIA DO ESTUDO 12 2.4 – DELIMITAÇÃO DO ESTUDO 13 3 – REVISÃO DE LITERATURA 15 3.1 – COMPETITIVIDADE E CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL 15 3.1.1 – COMPETITIVIDADE E TEORIA DA CONCORRÊNCIA 16 3.1.2 – CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL 24 3.1.2.1 – MEDIDAS DE CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL 26 3.1.3 – VANTAGENS COMPETITIVAS 33 3.1.3.1 – DEFINIÇÃO DE ESTRATÉGIA 34 3.1.3.2 – ESTRATÉGIA E VANTAGENS COMPETITIVAS 36 3.1.3.3 – SUSTENTANDO UMA VANTAGEM COMPETITIVA 40 3.2 – FUTEBOL COMO INDUSTRIA – CONTEXTUALIZAÇÃO 42 3.2.1 – A INDUSTRIA DO FUTEBOL 43 3.2.2 – O FUTEBOL EUROPEU E OS GRANDES CENTROS (G-5) 50 3.2.3 – O FUTEBOL BRASILEIRO 56 3.3 – EQUILIBRIO COMPETITIVO NO FUTEBOL 63 3.3.1 – CONDICIONANTES DO EQUILIBRIO COMPETITIVO NO FUTEBOL 64 3.3.2 – FORMANDO CLUBES COMPETITIVOS 68 3.3.3 – MEDIDAS DE EQUILIBRIO COMPETITIVO NO FUTEBOL 70 4 – METODOLOGIA 71 5 – RESULTADOS 78 5.1 – CALCULO SAZONAL 78 5.2 – CALCULO DE DOMINANCIA 81 5.3 – INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 85 5.3.1 – ANALISE SAZONAL 85 5.3.2 – ANALISE DE LONGO PRAZO 86 5.3.3 – ANALISE FINAL POR CAMPEONATO NACIONAL 86 5.3.4 – ASSOCIAÇÃO DO TEMA COM PADRÃO DE CONCORRENCIA E PAPEL DA ESTRUTURA
90
5.3.5 – INDICADOR DE CONCENTRAÇÃO (EX-POST) 90 5.3.6 – PAPEL DAS CONDUTAS DAS EMPRESAS E BUSCA DE VANTAGENS COMPETITIVAS
91
5.3.7 – ANALISE DA INFLUENCIA DO NOVO MODELO DE CAMPEONATO BRASILEIRO
91
5.4 – ANALOGIA COM OUTROS ESPORTES 93 5.5 – SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS 93 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS 94 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 97 APENDICE
6
1. INTRODUÇÃO
EEssssee tt rraabbaa llhhoo tteemm ccoommoo oobb jjeett iivvoo tteess ttaarr oo eeqquuiill ííbbrr iioo ccoommppeett iitt iivvoo eennttrree ooss cc lluubbeess qquuee dd iissppuuttaamm
aa ““SSéérr iiee AA”” ddoo ccaammppeeoonnaattoo bbrraass iillee iirroo eemm ccoommppaarraaççããoo ccoomm ooss cc iinnccoo mmaa iioo rreess ccaammppeeoonnaa ttooss
eeuurrooppeeuuss ((AAlleemmaannhhaa,, EEssppaannhhaa,, FFrraannççaa,, IInnggllaatteerr rraa ee II ttáá lliiaa))..
AAss pprreeooccuuppaaççõõeess rree llaa tt iivvaass aa eessssee tteemmaa eessttããoo aassssoocc iiaaddaass aaoo rr iissccoo ddee ccoonntt iinnuuiiddaaddee ddaa iinnddúússtt rr iiaa,,
àà mmeedd iiddaa qquuee aa ccoonncceennttrraaççããoo ddee vviittóórr iiaass ee tt ííttuullooss ssoobb rree ooss mmeessmmooss tt iimmeess ggeerraa ppeerrddaa ddee
aattrraatt iivviiddaaddee ppaarraa ooss ttoorrcceeddoo rreess.. VVaa llee rreessssaa llttaarr qquuee aa ddeemmaannddaa ppoorr jjooggooss ddee ffuutteebboo ll éé
iinnfflluueenncc iiaaddaa ppee lloo ssuucceessssoo ddoo tt iimmee ddoo ttoorrcceeddoo rr,, ppee llaa qquuaa lliiddaaddee ddoo jjooggoo ee ppee llaa iimmpprreevviiss iibb iilliiddaaddee
ddoo rreessuullttaaddoo ((DDUUCCRREEYY eett aa ll..,,22000033 )).. AAssss iimm,, oo ddeesseeqquuiillííbb rr iioo eennttrree ooss cc lluubbeess eess ttáá rree llaacc iioonnaaddoo àà
aammeeaaççaa ddee ffaa llêênncc iiaa ddee cc lluubbeess mmeennoorreess ee oo aappaarreecc iimmeennttoo ddee lliiggaass ((ccaammppeeoonnaattooss )) rr iivvaa iiss
((OOUUGGHHTTOONN AANNDD MMIICCHHIIEE,, 22000044))..
OO ddeebbaattee ssoobb rree ccoommppeett iitt iivviiddaaddee ee ccoonnccoorrrrêênncc iiaa tteemm oorr iiggeennss nnaa lliittee rraattuurraa eeccoonnôômmiiccaa ee
aaddmmiinniissttrraatt iivvaa.. AA ppaarrtt iirr ddaa tteeoo rr iiaa ddee ccoonnccoorrrrêênncc iiaa éé ppoossss íívvee ll eenntteennddeerr ssoobb rree oo ccoonnccee iittoo ddee
ccoommppeett iitt iivviiddaaddee eemm ss ii,, bbeemm ccoommoo ssuuaa eevvoo lluuççããoo nnaass eessccoo llaass cc lláássss iiccaass,, mmaarrxxiiss ttaa,, nneeoocc lláássss iiccaass,,
sscchhuummppeettee rr iiaannaa,, ddeennttrree oouuttrraass qquuee sseerrããoo aapprreesseennttaaddaass nnaa rreevviissããoo ddee lliitteerraattuurraa ddeessttee ttrraabbaa llhhoo..
OO ttrraattaammeennttoo ssoobbrree eeqquuiill ííbbrr iioo ddee mmeerrccaaddoo,, aa bbuussccaa ddee ooppoo rrttuunniiddaaddee ee iinnoovvaaççããoo,, ooss mmooddee llooss ddee
eessttrruuttuurraa--ccoonndduuttaa ee ddeesseemmppeennhhoo,, bbeemm ccoommoo ooss eenntteenndd iimmeennttooss ssoobbrree ppaaddrrããoo ddee ccoonnccoo rrrrêênncc iiaa ee
aaddeeqquuaaççããoo ddaass eessttrraattééggiiaass ccoommppõõeemm aa bbaassee ddoo ccoonnccee iittoo qquuee sseerráá tteess ttaaddoo nneess ttee tt rraabbaa llhhoo.. PPaarraa
iissssoo,, sseerrããoo uutt iilliizzaaddooss iinndd iiccaaddoo rreess ddee ccoonncceennttrraaççããoo ccoommuunnss nnaa lliitteerraa ttuurraa eeccoonnôômmiiccaa ee ddee
rreegguullaaççããoo iinndduusstt rr iiaa ll ddeessccrr iittooss eemm BBooffff ee RReesseennddee ((22000022));; AArraaúújjoo,, NNeettoo ee PPoonnccee ((22000055 ));;
BBiikkkkee rr ee HHaaaa ff ((22000000 && 22000022 )) ee PPoossssaass eett aa ll,, ((11999977)).. DDeennttrree ee lleess,, oo mmaa iiss ccoonnhheecc iiddoo éé oo HHHHII
7
((HHeerrffiinnddaahhll-- HHiirrsscchhmmaann)),, uutt iill iizzaaddoo ppee lloo FFeeddeerraall TTrraaddee CCoommiissss iioonn ddoo DDeeppaarrttaammeennttoo ddee JJuusstt iiççaa
ddooss EEss ttaaddooss UUnniiddooss ppaa rraa jjuullggaarr ffuussõõeess ee aaqquuiiss iiççõõeess ((SS HHYY,, 11999955 ))11 ..
NNoo eennttaannttoo,, oo ss rreessuullttaaddooss eennccoonnttrraaddooss ppoorr eesssseess iinndd iiccaaddoorreess nnããoo eexxpp lliiccaamm ccoommoo ddeettee rrmmiinnaaddaass
eemmpprreessaass,, ee nneessssee ccaassoo eessttuuddaaddoo,, ooss cc lluubbeess ddee ffuutteebboo ll,, aa llccaannççaarraamm ddeetteerrmmiinnaaddaa ppooss iiççããoo
pprr iivviilleeggiiaaddaa ffrreennttee aaooss oouuttrrooss.. AAlléémm dd iissssoo,, ooss iinndd iiccaaddoo rreess ddee ccoommppeett iitt iivviiddaaddee aa llccaannççaaddooss hhoojjee
ppaarreecceemm sseerr ffuunnççããoo ddee eesstt rraattééggiiaass ee iinnvveesstt iimmeennttooss aaddoo ttaaddooss aanntteerr iioo rrmmeennttee ((KK uuppffee rr 22000055))..
NNeessssee ccoonntteexxttoo,, éé nneecceessssáá rr iioo eenntteennddeerr aa dd iissccuussssããoo ssoobbrree eesstt rraattééggiiaass ee vvaannttaaggeennss ccoommppeett iitt iivvaass ee
ccoommoo ooss cclluubbeess ddee ffuutteebboo ll lliiddaamm ccoomm ee llaass.. OOss mmooddee llooss ddee rreeccee iittaa,, aa ffoo rrmmaa ddee rree llaacc iioonnaammeennttoo
ccoomm ooss ttoorrcceeddoorreess,, ee mmeessmmoo aa aammeeaaççaa ddee pprroodduuttooss ssuubbss tt iittuuttooss,, nnaa áárreeaa ddee eennttrree tteenniimmeennttoo,,
iinnfflluueenncc iiaamm aa ccuurrvvaa ddee ddeemmaannddaa ppee llooss ccaammppeeoonnaa ttooss ((PPOORRTTEERR,, 11999988)).. NNoo eennttaannttoo,, eexxiiss tteemm
eexxeemmpp llooss rree lleevvaanntteess ppaarraa aa ccoonnssttrruuççããoo ddee cc lluubbeess ccoommppeett iitt iivvooss ((DDEELLLL´́OOSSSSOO AANNDD
SSYYMMAANNSSKKII,, SS,, 11999911))
EEssttee tt rraabbaa llhhoo lleevvaa rráá eemm ccoonnttaa ooss mmooddee llooss ppaarraa tteessttaarr eeqquuiillííbb rr iioo ccoommppeett iitt iivvoo ssaazzoonnaa ll ((ppoorr
tteemmppoorraaddaa)) ee nnoo lloonnggoo pprraazzoo,, ccoonnffoorrmmee mmeettooddoo llooggiiaass uutt iilliizzaaddaass ppoorr OO uugghhttoonn aanndd MMiicchhiiee
((22000044)) ee DDee llll’’OOssssoo ee SS yymmaannsskk ii,, SS ((11999911)),, aassssoocc iiaannddoo ooss rreessuullttaaddooss oobbtt iiddooss àà lliittee rraattuurraa ddaa
aaddmmiinniissttrraaççããoo ee àà ccoonnsstt rruuççããoo ddee eeqquuiippeess qquuee ccoonntt iinnuuaammeennttee eennttrraamm eemm uumm cc iicc lloo vviirr ttuuoossoo ddee
rreessuullttaaddooss ooppeerraacc iioonnaa iiss ee ffiinnaannccee iirrooss ((LLAAMM,, 22000066)).. AA iinntteerrpprree ttaaççããoo lleevvaa rráá eemm ccoonnttaa oo nnoovvoo
cceennáá rr iioo bbrraass iillee iirroo,, qquuee aa ppaarr tt iirr ddee 22000033 ppaassssoouu aa aaddoottaa rr uumm mmooddee lloo ddee ppoonnttooss ccoorrrr iiddooss,,
ccoopp iiaannddoo ooss ffoo rrmmaa ttooss aaddoottaaddooss nnaa EEuurrooppaa..
1 Tabela 1 do Apêndice
8
2. O PROBLEMA
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA
O esporte mundial tem sido encarado como uma indústria crescente que movimenta cerca de
US$ 1 trilhão por ano. Nessa indústria, o futebol gira aproximadamente US$ 250 bilhões
anuais sendo o Brasil responsável por cerca de 1% desse valor. A crescente comercialização
e globalização do futebol fizeram com que novos temas surgissem e dentre eles podemos
destacar: riscos associados à competitividade; necessidade de gestão profissional; criação de
clube-empresa; estratégias e marketing esportivo; contabilidade; accountability, dentre outros.
Este trabalho tem como propósito: i) entender os riscos associados à competitividade das ligas
de futebol; ii) comparar o equilíbrio competitivo nos cinco maiores mercados do futebol
europeu (Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália) com relação ao futebol brasileiro;
iii) Analisar o impacto do novo modelo de campeonato adotado no Brasil em 2003 e; iv)
interpretar os resultados à luz da literatura da administração.
VVaa llee rreessssaa llttaarr qquuee aass pprreeooccuuppaaççõõeess eemm ttoorrnnoo ddaa ffaa llttaa ddee ccoommppee tt iitt iivviiddaaddee nnoo rrmmaa llmmeennttee eessttããoo
rree llaacc iioonnaaddaass aa qquueess ttõõeess ccoommoo :: CCoonncceennttrraaççããoo IInndduusstt rr iiaa ll,, PPooddeerr ddee MMeerrccaaddoo,, RReegguullaaççããoo
EEccoonnôômmiiccaa,, BBaarrrree iirraass àà EEnnttrraaddaa ee PPoo llíítt iiccaa IInndduuss ttrr iiaa ll,, aapp lliiccaaddaass àà oouuttrraass iinnddúúss ttrr iiaass..
NNoo ccaassoo ddaa iinndduuss ttrr iiaa ffuutteebboo llííss tt iiccaa,, eesssseess tteemmaass ppooddeemm sseerr eennccoonnttrraaddooss eemm ss iittuuaaççõõeess ccoommoo aa
eexxiissttêênncc iiaa ddee mmoonnooppóó lliioo ddee ddiirree iittooss ddee ttrraannssmmiissssããoo ddaass ppaarrtt iiddaass,, ppaattrroocc íínniioo//ccoo-- ggeessttããoo ddee mmaa iiss
ddee uumm tt iimmee nnaa mmeessmmaa lliiggaa ppee lloo mmeessmmoo ggrruuppoo ((eexxeemmpp lloo ddaa EEmmpprreessaa PPaarrmmaa llaa tt qquuee ppaattrroocc iinnaavvaa
ddooiiss cc lluubbeess nnoo BBrraass iill –– PPaa llmmee iirraass ee JJuuvveennttuuddee )) ee aa ccoommpprraa ddee tt iimmeess ppoorr eemmpprreessaass ddee mmíídd iiaa
9
((BBSSkkyyBB ee MMaanncchheess tteerr UUnniitteedd)).. NNaa EEuurrooppaa,, eesssseess eexxeemmpp llooss jjuuss tt iiffiiccaamm aa pprreesseennççaa ddee óórrggããooss
rreegguullaaddoorreess ccoommoo mmaa iiss uumm ssttaakkeehhoollddeerr ddeessssaa iinndduussttrr iiaa,, ffiissccaa lliizzaannddoo ppoossss íívvee iiss mmoonnooppóó lliiooss ee
aattooss qquuee vveennhhaamm aa pprree jjuudd iiccaa rr aaooss oouuttrrooss ssttaakkeehhoollddeerrss,, ccoommoo ooss ttoorrcceeddoorreess ee jjooggaaddoorreess.. NNoo
BBrraass iill,, ee ssssee ppaarreeccee ssee rr uumm tteemmaa qquuee aa iinnddaa ccaa rreeccee ddee mmaa iioo rreess eess ttuuddooss ee aa tteennççããoo ppoo rr ppaarr ttee ddaass
iinnsstt iittuuiiççõõeess qquuee rreegguullaamm ee ccoommaannddaamm oo ffuutteebboo ll..
DDeennttrroo ddeessssaa aammpp llaa dd iissccuussssããoo eemm ttoo rrnnoo ddaa ccoommppeett iitt iivviiddaaddee nnaa iinnddúússtt rr iiaa ddoo ffuutteebboo ll,, oo pprreesseennttee
ttrraabbaa llhhoo pprr iioo rr iizzaa oo eess ttuuddoo ddooss rr iissccooss ddaa ccoonncceennttrraaççããoo ddee vviittóó rr iiaass ee tt ííttuullooss eemm ttoo rrnnoo ddee
ddeetteerrmmiinnaaddooss tt iimmeess,, eemm ooppooss iiççããoo aaooss sseeuuss rr iivvaa iiss,, ccaarraacc tteerr iizzaannddoo uummaa ddoommiinnâânncc iiaa ddaaqquuee lleess
ssoobbrree eesssseess úúlltt iimmooss,, pprree jjuudd iiccaannddoo oo ssuucceessssoo ddooss ccaammppeeoonnaa ttooss aa lloonnggoo pprraazzoo.. AA ppeessqquuiissaa tteerráá
ccoommoo oobbjjee tt iivvoo ccoommbb iinnaarr uummaa aannáá lliissee ssaazzoonnaa ll ((ppoorr tteemmppoorraaddaa)) ee ddee ddoommiinnâânncc iiaa..
NNeessssee ccoonntteexxttoo,, aa pp rreeooccuuppaaççããoo ddeessttee tt rraabbaa llhhoo eessttáá vvoo llttaaddaa ppaa rraa oo eeqquuiillííbb rr iioo eennttrree ooss cc lluubbeess
qquuee dd iissppuuttaamm ooss ccaammppeeoonnaa ttooss nnaacc iioonnaa iiss ddee ffuutteebboo ll,, eemm ssuuaass pprr iimmee iirraass dd iivviissõõeess ((““SSéérr iiee AA””
bbrraass iillee iirraa ee ooss cc iinnccoo mmaa iioorreess eeuurrooppeeuuss)).. OO nniivvee llaammeennttoo ggee rraa mmaa iioorr iinnccee rrtteezzaa ddoo rreessuullttaaddoo ddee
uummaa ppaarrtt iiddaa ee ppoorr ccoonnsseeqqüüêênncc iiaa ddoo ccaammppeeoonnaa ttoo (( lliiggaa)) ccoommoo uumm ttooddoo.. AA ffaa llttaa ddee eeqquuiillííbb rr iioo,,
ppoorr ssuuaa vveezz,, ss iiggnniiff iiccaa nnããoo mmaaxxiimmiizzaa rr aa qquuaanntt iiddaaddee ddee ttoorrcceeddoorreess qquuee ccoommppaarreeccee aaooss eessttáádd iiooss
oouu aassss iiss ttee aaooss jjooggooss ppee llaa ttee lleevviissããoo,, ppoorr ccoonnttaa ddaa pprreevviiss iibb iilliiddaaddee ddoo rreessuullttaaddoo ffiinnaa ll,, qquuee aa lliiaaddaa àà
qquuaa lliiddaaddee ddoo jjooggoo ee aaoo ssuucceessssoo ddoo tt iimmee ddoo ttoorrcceeddoorr ccoonnss tt iittuueemm ooss pprr iinncc iippaa iiss ee lleemmeennttooss ppaarraa aa
ddeemmaannddaa ppoorr jjooggooss ddee ffuutteebboo ll..
LLiiggaass ddeesseeqquuiilliibb rraaddaass ttaammbbéémm ppooddeemm rreessuullttaa rr eemm rr iissccooss ccoommoo aa aammeeaaççaa ddee ffaa llêênncc iiaa ddee cc lluubbeess,,
aammeeaaççaa ddee oouuttrraass lliiggaass rr iivvaa iiss ee ccrr iiaaççããoo ddee ggrraannddeess ggaappss ddee rreeccee iittaa ddeennttrroo ddaass lliiggaass,,
aauummeennttaannddoo oo rr iissccoo ddaa iinnddúússtt rr iiaa aaoo iinncceenntt iivvaarr uummaa eesstt rruuttuurraa qquuee eennccoorraa jjaa ooss cc lluubbeess aa ggaass ttaarr
aa iinnddaa mmaa iiss ppaarraa ggaarraanntt iirr ssuucceessssoo..
10
DDeessssaa ffoorrmmaa,, ccoomm aa ffaallttaa ddee eeqquuii llííbbrriioo ccoommppeettiitt iivvoo,, ooss cclluubbeess ee aass lliiggaass eessppoorrtt iivvaass
ppaassssaarriiaamm aa iinnccoorrrree rr nnoo rriissccoo ddee ppeerrddaa ggrraaddaattiivvaa ddee eessppeeccttaaddoorreess ,, aalliiaaddoo aa ppoossss iibbii lliiddaaddee
ddee ddoommiinnâânncc iiaa ppoorr aa llgguunnss cclluubbeess ,, ((ssaazzoonnaa ll oouu nnoo lloonnggoo pprraazzoo)) ee aa aammeeaaççaa ddee
ccoonntt iinnuuiiddaaddee ddee cclluubbeess ee lliiggaass ..
OO ttrraabbaa llhhoo aa iinnddaa tteemm ccoommoo cceennáárr iioo aa mmuuddaannççaa ddoo mmooddee lloo ddee ccaammppeeoonnaattoo aaddoottaaddoo ppee llooss
cc lluubbeess nnoo BBrraass iill,, eemm 22000033,, eemm uummaa tteennttaatt iivvaa ddee ssee ‘‘ccoopp iiaarr’’ ooss ccaammppeeoonnaa ttooss nnaacc iioonnaa iiss
eeuurrooppeeuuss qquuee uutt iilliizzaamm oo ffoorrmmaattoo ddee ppoonnttooss ccoorrrr iiddooss.. AAss ccoonncc lluussõõeess,, aa iinnddaa pp rreeccoocceess,, ddeevviiddoo
aaoo ppoouuccoo tteemmppoo ppaa rraa aannáá lliisseess ee ccoommppaarraaççõõeess,, eess ttaarrããoo ttaammbbéémm rree llaacc iioonnaaddaass àà eessccoo llhhaa ddeessssee
‘‘nnoovvoo ’’ffoorrmmaattoo..
EEssttee tt rraabbaa llhhoo ttee rráá ssuuaa rreevviissããoo ddee lliitteerraa ttuurraa dd iivviiddaa eemm tt rrêêss ppaa rrtteess :: ii)) AApprreesseennttaaççããoo ddaa dd iissccuussssããoo
ssoobbrree ccoommppeett iitt iivviiddaaddee,, ccoonnccoorrrrêênncc iiaa ee ccoonncceennttrraaççããoo iinndduusstt rr iiaa ll;; iiii)) CCoonntteexxttuuaa lliizzaaççããoo ddaa
IInndduussttrr iiaa ddoo FF uutteebboo ll,, ooss aassppeecc ttooss eess ttrruuttuurraa iiss ee oo cceennáárr iioo ddeessssee eessppoo rrttee nnaa EEuurrooppaa ee nnoo BBrraass iill;;
iiiiii)) AApprreesseennttaaççããoo ddooss tteemmaass mmaa iiss eessppeecc ííffiiccooss ddeessssee tt rraabbaa llhhoo,, eemm ttoo rrnnoo ddoo eeqquuiillííbb rr iioo
ccoommppeett iitt iivvoo nnoo ffuutteebboo ll..
2.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
As perguntas formuladas para orientar o trabalho são:
§§ QQuuaa iiss ooss rr iissccooss//ppee rr iiggooss ddaa ffaa llttaa ddee ccoommppeett iitt iivviiddaaddee nnaass lliiggaass eessppoorr tt iivvaass ee eemm eessppeecc iiaa ll
nnooss ccaammppeeoonnaa ttooss ddee ffuutteebboo ll??
§§ CCoommoo oo ffuutteebboo ll bb rraass iillee iirroo ppooddee sseerr ccoommppaarraaddoo aaoo ffuutteebboo ll eeuurrooppeeuu eemm ttee rrmmooss ddee
ccoommppeett iitt iivviiddaaddee //eeqquuiillííbbrr iioo eessppoorr tt iivvoo??
11
§§ OO qquuee eexxpp lliiccaa eessssee nníívvee ll ddee ccoommppee tt iitt iivviiddaaddee nnoo ffuutteebboo ll bb rraass iillee iirroo??
§§ OO mmooddee lloo ddee ppoonnttooss ccoorrrr iiddooss,, aaddoottaaddoo eemm 22000033,, ppooddee iinnfflluueenncc iiaa rr eessssee eeqquuiillííbb rr iioo
ccoommppeett iitt iivvoo??
2.3 OBJETIVOS
OOss oobbjjeett iivvooss ffoorraamm cc llaassss iiffiiccaaddooss eemm dduuaass ppaarr tteess,, ccoonnffoorrmmee ddeessccrr iittoo aadd iiaannttee :: ii)) OObbjjee tt iivvoo
PPrr iinncc iippaa ll;; iiii)) OObbjjeett iivvooss IInntteerrmmeedd iiáárr iiooss..
2.3.1 OBJETIVO PRINCIPAL
O objetivo principal deste trabalho está em comparar e interpretar os níveis de
competitividade do futebol brasileiro com o futebol europeu, mais especificamente os cinco
maiores centros do futebol mundial (Inglaterra, Espanha, Alemanha, França e Itália). A
interpretação dos resultados terá relação com o risco de dominância de alguns clubes, falência
de outros e redução dos torcedores expectadores no longo prazo. Serão analisadas ainda, as
características da estrutura e da gestão do futebol brasileiro que possam vir a influenciar os
resultados obtidos, bem como os impactos da mudança do modelo de campeonato, atualmente
em pontos corridos, seguindo os padrões dos campeonatos nacionais europeus.
Para ilustrar o objeto e o sujeito da pesquisa é apresentada no Quadro 1, baseada em
Tachizawa (2002), contendo o tipo de organização e tema definido.
12
Quadro 1: Objetivo da Pesquisa
Sujeito: Administração Esportiva Objeto: A Indústria do Futebol Título: Comparando a Competitividade do Futebol Brasileiro com o Futebol Europeu (G-5) Interpretações e Sugestões Sujeito e objeto delimitado
Tipo de organização Tema definido
Pesquisa Quantitativa em Administração Esportiva
Clubes de Futebol brasileiros competindo na primeira divisão.
Comparar a competitividade (equilíbrio) dos cinco maiores campeonatos europeus com o Brasileiro, em uma ótica sazonal (por temporada) e de dominância de longo prazo.
2.3.2 OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS
Este trabalho tem como objetivos intermediários:
§§ AApprreesseennttaarr bb rreevvee dd iissccuussssããoo ssoobbrree CCoommppeett iitt iivviiddaaddee ee MMeedd iiddaass ddee CCoonncceennttrraaççããoo
IInndduussttrr iiaa ll
§§ RReeaa lliizzaarr uumm eess ttuuddoo eexxpp lloorraattóórr iioo ddoo FF uutteebboo ll ccoommoo IInnddúússtt rr iiaa
§§ CCoonntteexxttuuaa lliizzaarr oo FF uutteebboo ll BBrraass iillee iirroo,, oo ss aattuuaa iiss pprroobb lleemmaass ee ssuuaa eess ttrruuttuurraa..
§§ AApprreesseennttaarr ssuuggeessttõõeess ddee ppeessqquuiissaa ppaarraa oo ffuutteebboo ll ee oouuttrrooss eessppoo rrtteess
2.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO
Apesar de sua relevância e disseminação internacional, o futebol é um esporte que carece de
estudos detalhados e de pesquisas acadêmicas principalmente relativas aos novos temas, como
governança, competitividade e globalização. Essa é uma tentativa de aumentar a literatura no
âmbito da pesquisa em administração relacionada ao esporte e mais especificamente ao
13
futebol, apresentando um objeto de pesquisa diretamente ligado a continuidade desse esporte
no longo prazo (Competitividade e Equilíbrio entre os clubes).
Além disso, esse pode ser um primeiro passo em direção a um debate sobre competitividade,
principalmente do ponto de vista de dominância de longo prazo por certos clubes no Brasil. O
assunto permite aos clubes e as instituições responsáveis pela gestão e organização do futebol
avaliarem e anteciparem aos riscos à indústria, provenientes do tema, ou seja, as preocupações
oriundas da presença dos mesmos clubes repetitivamente nas primeiras posições do
campeonato brasileiro.
2.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
Este estudo será restrito ao comparativo dos níveis de competitividade e equilíbrio esportivo
no Brasil e nos cinco maiores centros do futebol europeu: Itália, Alemanha, Espanha,
Inglaterra e França. A pesquisa leva em consideração trabalhos como o do Football
Governance Research Centre da Universidade de Londres (Birbeck, University of London),
tal qual Oughton and Michie (2004), que sumariza as medidas de competitividade utilizadas
na literatura, conforme demonstrado na tabela B do apêndice desse trabalho.
O período utilizado para comparação é de dez anos, principalmente devido às dificuldades de
se obter padronização dos dados para os campeonatos brasileiros anteriores, que contavam
com muitos times e fórmulas diferentes de disputa.
Além disso, não serão tratados como foco principal desse trabalho os temas relativos a
Marketing de Serviços e Marketing Esportivo. O trabalho se limitará a pesquisa quantitativa
14
de equilíbrio competitivo e as analises dos resultados tendo em vista a literatura em torno de
competitividade e vantagens competitivas.
15
3. REVISÃO DE LITERATURA
CCoomm oo oobbjjeett iivvoo ddee aabboorrddaarr oo ddeebbaattee ssoobbrree eeqquuiillííbb rr iioo ccoommppee tt iitt iivvoo nnaa iinnddúúss ttrr iiaa ffuutteebboo ll,, aa
rreevviissããoo ddee lliitteerraa ttuurraa ddeess ttee tt rraabbaa llhhoo eessttáá dd iivviidd iiddaa eemm ttrrêêss ppaarrtteess..
AA pprriimmee iirraa ppaarrttee aapprreesseennttaa aa ddiissccuussssããoo ssoobbrree ccoommppeettii ttiivviiddaaddee ,, ccoonnccoorrrrêênncc iiaa ee
ccoonncceennttrraaççããoo iinndduussttrriiaall,, aassssuunnttooss mmuuiittoo aannaa lliissaaddooss eemm eeccoonnoommiiaa iinndduuss ttrr iiaa ll,, rreegguullaaççããoo
eeccoonnôômmiiccaa ee eemm eesstt rraattééggiiaass aaddmmiinn iisstt rraatt iivvaass.. NNeessssaa pprr iimmee iirraa ppaa rrttee ssee rrããoo iinnttrroodduuzziiddaass aass
mmeedd iiddaass ddee ccoonncceennttrraaççããoo iinndduusstt rr iiaa ll qquuee sseerrããoo ppooss tteerr iioo rrmmeennttee aapp lliiccaaddaass aaoo ddeebbaa ttee ssoobbrree
eeqquuiillííbb rr iioo ccoommppeett iitt iivvoo nnoo ffuutteebboo ll,, ccoommoo ppaarr ttee ddaa ppeessqquuiissaa ddeessssee ttrraabbaa llhhoo..
AA sseegguunnddaa ppaarrttee ccoonntteexxttuuaall iizzaa aa IInndduussttrriiaa ddoo FFuutteebboo ll,, ooss aassppeeccttooss eess ttrruuttuurraa iiss ee oo cceennáárriioo
ddeessssee eessppoorrttee nnaa EEuurrooppaa ee nnoo BB rraass iill.. OOss pprr iinncc iippaa iiss pp llaayyeerrss,, aass cc llaassss iiffiiccaaççõõeess ddooss ttoorrcceeddoo rreess,,
ooss mmooddee llooss ddee rreeccee iittaa ee aass dd iiffeerreennççaass eennttrree oo mmeerrccaaddoo bbrraass iillee iirroo ee oo eeuurrooppeeuu sseerrããoo
eennffaatt iizzaaddooss..
NNaa tteerrccee iirraa ppaarrttee sseerrããoo aapprreesseennttaaddooss ooss tteemmaass mmaaiiss eessppeeccííffiiccooss ddeessssee ttrraabbaallhhoo,, eemm ttoorrnnoo
ddoo eeqquuiill ííbbrriioo ccoommppeettii ttiivvoo nnoo ffuutteebboo ll.. AA uutt iilliizzaaççããoo ddaass mmeedd iiddaass ddee ccoonncceennttrraaççããoo,, aass
ccoonndd iicc iioonnaanntteess ppaarraa ffoorrmmaaççããoo ddee cc lluubbeess ccoommppeett iitt iivvooss ee aa llgguunnss eexxeemmpp llooss hhiiss ttóórr iiccooss sseerrããoo
aapprreesseennttaaddooss..
3.1 COMPETITIVIDADE E CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL
O objetivo dessa seção é introduzir os conceitos de competitividade e concentração dividido-
os em três partes.
16
§ A primeira parte analisa o conceito de competitividade em si e a teoria de
concorrência.
§ A segunda parte está destinada ao tema de concentração industrial e as medidas de
concentração utilizadas nas análises industriais.
§ A terceira parte está destinada a uma visão mais relacionada à busca de vantagens
competitivas por parte das empresas.
3.1.1 COMPETITIVIDADE E TEORIA DA CONCORRÊNCIA
O conceito de competitividade revela lacunas não só associadas a estudos sobre estrutura e
políticas industriais, bem como aos desafios metodológicos para trabalhos que tem como
objetivo diagnosticar uma situação competitiva de determinada industria ou cadeia produtiva
(TEIXEIRA E GUERRA, 2003). Segundo Kupfer (2005), a principal insuficiência está na
redução da noção de competitividade a algo que se esgota no produto ou na firma, ao invés da
percepção de que esse é um fenômeno que ocorre no âmbito da indústria (conjunto de firmas)
e do mercado (a parcela de demanda a ser conquistada ou mantida pela firma, o verdadeiro
espaço de concorrência intercapitalista). Assim, antes mesmo de escolher indicadores mais
adequados para avaliar determinada competitividade industrial é mister entender o conceito
propriamente dito.
Chudnosky (1990, p.8) trabalhou o conceito de competitividade em torno do que considera
enfoques microeconômicos e macroeconômicos. O enfoque micro está ligado diretamente à
firma, como aptidão para projetos, produção e vendas. Já o macro está ligado à capacidade
que as economias nacionais têm de apresentar determinados resultados econômicos.
17
A organização desse tema por Haguenauer (1989) parece pertinente ao separar em duas
famílias o conceito de competitividade: i) competitividade como desempenho – seria expressa
na forma de participação de mercado (market-share) alcançada pela firma. Ou seja, é a
demanda que, ao arbitrar quais produtos são adquiridos, está definindo a posição competitiva
da firma.; ii) competitividade como eficiência – relacionada à capacidade da firma de produzir
bens com eficácia do ponto de vista de tecnologia, salários e produtividade vis à vis a
concorrência. Nesse caso, é o produtor que, ao escolher técnicas de produção (relação
insumo-produto) e submetido às suas restrições financeiras, tecnológicas e gerenciais, que
define a sua competitividade.
Em termos práticos, para Kupfer (2005), a incompatibilidade entre as duas vertentes
conceituais pode ser resumida ao seguinte dilema:
§§ PPaarraa ooss ddee ffeennssoo rreess ddaa vveerrssããoo ““ddeesseemmppeennhhoo””,, ccoommppee tt iitt iivviiddaaddee éé uumm ffeennôômmeennoo eexx --ppoosstt ..
ÉÉ oo rreessuullttaaddoo ddee vváárr iiooss ffaattoorreess,, ddeennttrree ooss qquuaa iiss aa ee ffiicc iiêênncc iiaa ttééccnniiccaa.. CCoommppeett iitt iivviiddaaddee
ss iinnttee tt iizzaa pprreeççoo ee nnããoo pprreeççoo,, iinncc lluuiinnddoo qquuaa lliiddaaddee ddee pprroodduuttoo ee dd iiffeerreenncc iiaaççããoo,, ffaa ttoorreess
eesssseess qquuee ppooddeemm aattéé sseerr ssuubb jjeett iivvooss..
§§ PPaarraa ooss ddee ffeennssoo rreess ddaa vveerr tteennttee ““ee ffiiccáácc iiaa””,, ccoommppeett iitt iivviiddaaddee éé uumm ffeennôômmeennoo eexx--aannttee,,
uumm ggrraauu ddee ccaappaacc iittaaççããoo ddaass ffiirrmmaass qquuee ssee tt rraadduuzz eemm ttééccnniiccaass ppoo rr ee llaass uutt iilliizzaaddaass.. NNeessssee
ccaassoo,, oo ddeesseemmppeennhhoo sseerr iiaa aa pprroovváávvee ll ccoonnsseeqqüüêênncc iiaa ddaa ccoommppeett iitt iivviiddaaddee,, ee nnããoo ssuuaa
eexxpprreessssããoo..((HHAAGGUUEENN AAUUEERR,, 11998899))..
No entanto, há alguns problemas com o conceito de competitividade. Um deles está na
aceitação de que a eficiência produtiva se traduza em maior participação de mercado. Isto
significa, em verdade, concordar com as premissas de mobilidade do capital, inexistência de
18
barreiras à entrada e saída, além de se supor que os consumidores não têm preferências por
marcas. Em um debate ainda mais complexo, há ainda mais insuficiência em ambas
correntes (desempenho e eficácia) decorrente do tratamento estático que lhes é
habitualmente conferido, de tal forma que, em análise dinâmica, percebe-se que as
relações entre competitividade e desempenho ou eficiência são fundamentalmente
tautológicas (KUPFER 2005).
Na versão desempenho, o problema está no fato de que não se pode estabelecer causalidades
com as variáveis conhecidas a posteriori, como market share e taxa de crescimento.O que
explicaria as diferenças de desempenho ent re as firmas seria a taxa de sucesso dos
investimentos escolhidos (MANCKE 1974). A tautologia está na relação: se é competitiva a
firma que domina ou cresce no mercado, é igualmente correto que irá dominar ou crescer no
mercado justamente a firma que for competitiva.
Na versão eficiência, o problema está associado a um conceito simétrico a economias
empresarias, tais como escala, escopo, gerenciais ou aprendizado. As empresas parecem
competir ao longo do tempo com o propósito de reduzir custos e financiar suas estratégias, de
forma que, em um dado momento, o grau de eficiência da firma é na verdade
determinado por estratégias competitivas adotadas anteriormente.
Aceitando essas ponderações acima descritas, chega-se a conclusão que a análise de
competitividade não só possui caráter intertemporal, mas também que os conceitos de
desempenho e eficiência sozinhos não explicam o fenômeno por inteiro, mas o reduz a um
determinado ponto de uma seqüência temporal. Isso sugere que a competitividade não pode
ser entendida somente como uma característica de produto ou firma, e sim, como um conceito
determinado pelo padrão de concorrência vigente, ou como conclui Kupfer (2005, p.14):
19
“competitividade é a função da adequação das estratégias das empresas individuais ao
padrão de concorrência vigente”.
Nesse sentido, as obras de Schumpeter (1911; 1942), consideradas os primeiros passos da
teoria da concorrência, mostram-se pertinentes (POSSAS, 2002, p. 416). Esta teoria não
ortodoxa tem como principal contribuição ter inserido uma visão dinâmica e
evolucionista baseada no processo contínuo de difusão de inovações. Antes desses dois
trabalhos acima mencionados era possível juntar noções sobre o assunto nas escolas clássicas,
marxistas e nos autores neoclássicos. Ainda segundo Possas (2002, p.416) essas noções
podem ser resumidas como:
§ A noção clássica de concorrência – A noção básica da concorrência, adotada por
autores como Adam Smith e David Ricardo, supõe que existe mobilidade de capital
entre as diferentes indústrias, não existindo barreiras à entrada. Ou seja, existe a
possibilidade de livre iniciativa e a concorrência é vista como um processo pelo qual
os investimentos são atraídos pelas indústrias que proporcionam maior taxa de
retorno. Dessa forma, esse contínuo fluxo entre as diversas indústrias, na busca de
retornos acima da média, faz com que as taxas de lucro entre essas atividades tendam
a se igualar. O enfoque clássico se preocupa menos como o processo de concorrência
e mais com o resultado desse equilíbrio intersetorial, em torno de uma teoria de
equilíbrio geral, estática, e com taxas de lucro uniforme no longo prazo.
§ A concorrência em Marx – A concorrência para Karl Marx também era considerada
como um processo auxiliar, apesar de importante. Segundo Marx, a concorrência não
gera efeitos relevantes na economia, sendo vista apenas como um intermediário que
executa as leis de movimento econômico determinadas nas relações de produção e
20
pelas leis do capital. A teoria marxista aceita os pressupostos de mobilidade de capital
como um mecanismo de tendência de uniformização da taxa de lucro, mas também
introduz um conceito endógeno à economia capitalista: o progresso técnico. Esse
elemento será crucial no trabalho desenvolvido por Schumpeter em sua teoria
dinâmica da concorrência.
§ A noção neoclássica da concorrência – A concepção clássica foi estendida pelos
neoclássicos, como por exemplo, Marshall, fundador da Microeconomia. A noção de
concorrência perfeita em torno de um atomismo de mercado (pulverização da oferta e
da demanda) sugere que as empresas são tomadoras de preço e portanto são incapazes
de interferir no equilíbrio de mercado, caracterizado pelo preço que iguala os custos
marginais. Esse é um enfoque estático de eficiência alocativa muito utilizado em
políticas econômicas. A teoria neoclássica reconhece também o monopólio como o
outro extremo desse atomismo. Nesse caso, uma empresa tem concentração e poder de
mercado, maximiza lucros, não enfrenta produtos substitutos e existem barreiras à
entrada. As causas desse monopólio podem ser a propriedade exclusiva de matérias
primas, patentes de produtos, licenças governamentais ou monopólio natural (onde o
mercado só suporta uma empresa). Tanto os modelos de monopólio, quanto o de
competição perfeita, sofreram contestações inspirando teorias alternativas, como os
trabalhos de Sraffa (1926), Robinson (1933) e Chamberlin (1933) sobre competição
imperfeita e competição monopolística. Na verdade, em paralelo ao
desenvolvimento da concepção neoclássica foi surgindo um desconforto com o
papel omisso da firma, inteiramente passiva e incapaz de elaborar estratégias. A
crítica aos neoclássicos, nesse caso, está no fato de que as firmas não podem estar
inteiramente submetidas à ditadura do mercado (de acordo com a premissa
neoclássica do atomismo de mercado).
21
As três escolas apresentadas acima antecederam a teoria de concorrência de Schumpeter, hoje
conhecida como concorrência schumpeteriana. Nela, qualquer inovação é entendida como a
busca constante de lucros extraordinários e de diferenciação e obtenção de vantagens
competitivas entre os agentes (empresas) por meio de estratégias deliberadas. Nesse sentido,
a concorrência não é o contrário de monopólio e a busca de novas oportunidades, ou
inovações, em um sentido mais amplo, deve gerar monopólios.
Esses monopólios podem durar mais ou menos tempo, dependendo da capacidade de novos
concorrentes de copiar, ou imitar a empresa inovadora.
A concorrência é um processo (ativo) de criação de espaços e oportunidades econômicas, e não apenas, ou principalmente, um processo (passivo) de ajustamento em direção a um suposto equilíbrio, nem supõe qualquer estado tendencial ‘normal’ ou de equilíbrio, como nos enfoques clássico e neoclássico. (POSSAS, 2002, p. 419)
Em conseqüência, a concorrência implica o surgimento permanente e endógeno da
diversidade, trazendo os conceitos de diferenciação de produto, diversidade estratégica e
variedade tecnológica, além da interação das estratégias competitivas das empresas. Essa
dinâmica industrial sugere que as situações monopolísticas criadas a partir de inovações
devem ser vistas como o resultado do processo competitivo.
A visão schumpeteriana ainda tem como hipótese que estruturas industriais oligopólicas com
maior grau de concentração são mais propícias à inovação tecnológica, e conseqüentemente, a
um melhor desempenho. (TEIXEIRA E GUERRA, 2003) Esta hipótese está de alguma forma
ligada ao modelo E-C-D (Estrutura, Conduta, Desempenho), que tem origens atribuídas à
Mason (1939).
22
A partir da década de 50, as proposições do tipo Estrutura-Conduta-Desempenho passaram a
ocupar o posto de paradigma teórico, sendo a contribuição de Bain (1959) uma ferramenta
básica de análise de organização industrial.
O modelo E-C-D tentou estabelecer relações causais entre estrutura, conduta (estratégia
empresarial) e desempenho. Nessa abordagem, a competitividade passou a ser associada a
indicadores, que por sua vez, são influenciados pela estrutura industrial na qual as empresas
estão inseridas. Muitos dos trabalhos em torno do modelo E-C-D, tais como Coase (1939) e
Williamson (1985) testaram essa relação causal entre concentração (um atributo estrutural),
inovação (uma decisão estratégica) e lucratividade (indicador de desempenho).
Segundo Teixeira & Guerra (2003), esses trabalhos empíricos não suprem a lacuna teórica
ainda existente sobre competitividade. Um deles está no desprezo da relevância da conduta
das empresas. A resposta a esse problema foi a aceitação de causalidades menos rígidas, o que
na verdade enfraqueceu o modelo de forma que “tudo depende de tudo”.
Já os Neo-schumpeterianos como Nelson e Winter (1977, 1982), Freeman e Soete (1997),
Dosi (1984) e Teece (1998) rompem com a idéia de que o mercado é a única instituição capaz
de garantir eficiência econômica e partem para uma abordagem dinâmica de estruturas de
mercado. Com a ótica neo-schumpeteriana, o processo de inovação passa a ser internalizado
de forma a transformar as estruturas industriais. A tecnologia passa a ser simultaneamente
componente estrutural e estratégico (conduta). Como elemento dinâmico, a mudança
tecnológica não é mais exógena, e a competição passa a ser constantemente influenciada por
novos produtos, novos processos e novos segmentos de mercado (PORTER, 1989, p.21). A
eficiência estática num ponto é rapidamente superada por um índice de progresso mais
intenso.
23
A hipótese de endogeneidade também originou uma corrente alternativa, na organização
industrial a partir de 1970, deixando de lado as premissas do modelo E-C-D. A Teoria dos
Jogos, ou o que autores como Davies e Lyons denominam como New Industrial Organization
trata desempenho e estrutura como variáveis endógenas, enquanto as condições básicas e as
condutas seriam exógenas. Formula-se um equilíbrio das firmas que ajustam quantidades e/ou
preços de forma cooperativa, resgatando tradicionais modelos como o de Cournot, Bertrand,
ou Nash.
Acompanhando a corrente da endogeneidade surgiu a Teoria de Contestabilidade. Nela, o que
importa na determinação de desempenho são as condições básicas (funções de custo). Nessa
teoria, é mais relevante a concorrência potencial e não a real. A concorrência potencial, por
sua vez, seria determinada pela existência ou não de sunk-costs para o entrante.
A discussão até aqui apresentada se torna ainda mais importante por ocasião da formulação de
política econômica e política industrial tendo em vista a construção de ambientes
competitivos, formados por empresas competitivas.
Ambiente Competitivo, por sua vez, não está só relacionado à necessidade de estratégias
empresarias, mas também à criação de fatores sistêmicos favoráveis à concorrência e
competitividade tais como: criação de externalidades positivas, infra-estrutura, mão-de-obra,
financiamento e instrumentos de defesa de concorrência.
Conclui-se então, que existe toda uma interação entre os aspectos regulatórios, infra-
estruturais e sociais que influenciam a competitividade das empresas. Nesse caso,
empresas competitivas são aquelas que tem eficiência técnica, produtiva e
organizacional. A busca de vantagens competitivas por parte das empresas, por sua vez,
24
passa a ser componente relevante para a industria como um todo 2 (POSSAS, 2002,
p.428).
Essa discussão na literatura econômica está diretamente relacionada à: concentração
industrial, barreiras à entrada, defesa da concorrência e regulação econômica, temas esses
debatidos e encontrados nos livros de economia industrial. Na administração, esses temas
surgem como base por ocasião das condutas da empresas e por conta do papel dos gestores
nas escolhas das estratégias implementadas.
Além disso, a concentração industrial, e mais especificamente as medidas de concentração,
são de interesse para a determinação do equilíbrio competitivo no futebol, entendido como
uma indústria que deve ter as mesmas preocupações quanto à competitividade e concentração
como qualquer outra. Esses temas serão trabalhados mais especificamente na próxima seção.
3.1.2 CONCENTRACAO INDUSTRIAL
Existe uma pratica recorrente em aproximar a estrutura de mercado à concentração industrial.
(Resende, 1994, p.24-33). Segundo Bain (1968), as seguintes características descrevem uma
estrutura de mercado: i) o grau de concentração descrito pelo número e distribuição de
tamanho dos vendedores do mercado; ii) o grau de concentração relativa aos compradores; c)
o grau de diferenciação dos produtos; iv) as condições de entrada no mercado (referindo-se a
existência de barreiras à entrada)
2 Na seção 3.1.3 será trabalhado o tema constante na literatura da administração e estratégia que é a busca vantagens competitivas por parte das empresas.
25
A quantificação do componente estrutural, em termos de medidas sintéticas, ainda
encontra ampla utilização em Economia Industrial. As medidas de concentração
pretendem captar de que forma as empresas apresentam um comportamento dominante em
determinado mercado, em geral, associado à uma participação de mercado (market-share).
Nesse sentido, medidas de concentração são úteis para indicar preliminarmente os setores para
os quais se espera que o poder de mercado seja significativo.
No entanto, segundo Boff e Resende (2002, p.73) existem pelo menos três razões para que
esses indicadores, construídos a partir de participações de mercado não sejam completos nesse
tocante:
§ Se a entrada em um mercado for fácil, nenhuma empresa poderá exercer poder de
mercado, não importando o quão ampla seja sua participação atual.
§ Uma empresa pode ter grande participação no mercado devido a custos inferiores ou a
melhor qualidade de seus produtos, não necessariamente associando essa vantagem ao
poder de mercado.
§ O cálculo de medidas de concentração normalmente ignora produtos substitutos, ou
seja, pressupõe a delimitação de mercado.
Do ponto de vista regulatório, poder econômico está diretamente associado à capacidade de
aumentar preços sem atrair novos competidores e obter lucro acima do normal. A Lei
Brasileira (Lei 8884, art.20 §3 e §4) utiliza o termo posição dominante para designar o mesmo
conceito que poder de mercado. Nesse caso, posição dominante equivale a ter parcela
fundamental (20% ou mais) de um mercado relevante, apesar de não haver correlação perfeita
entre concentração industrial e poder de mercado.
26
Além disso, para Possas (1996), a determinação do poder de mercado esbarra nos conceitos
tais como: i) definição do mercado relevante; ii) análise das elasticidades de demanda e
oferta; iii) substitubilidade de produtos; iv) oferta potencial e entrantes no mercado; v) a
própria delimitação do que é poder de mercado (a aceitação de fatores como qualidade,
inovações ou qualidade de produtos como elementos capazes de restringira concorrência).
Independente desses fatores acima citados é indispensável, na análise de concentração
industrial, que se faça a quantificação da participação no mercado, seja ela calculada em torno
de capacidade produtiva, participação da empresa na quantidade vendida, ou do percentual do
faturamento da empresa nesse mercado. Por isso é importante entender os indicadores de
concentração, bem como suas utilidades e restrições, assuntos que serão apresentados a
seguir.
3.1.2.1 MEDIDAS DE CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL
Segundo Boff e Resende (2002, p.73), do ponto de vista classificatório, podemos classificar as
medidas de concentração como parciais, sumárias, positivas ou normativas. As medidas
parciais não utilizam os dados totais das empresas atuantes na industria em questão. O caso
mais exemplar desse tipo de medida é a razão de concentração, que será descrita mais à
frente. As medidas sumárias requerem dados sobre todas as empresas em operação. Um caso
dessa medida é o índice de Herfindahl-Hirschman que será apresentado mais adiante e que é
utilizado na análise de equilíbrio competitivo do futebol, conforme consta no Apêndice
(Tabela 2) desse trabalho. Por sua vez, as medidas positivas são unicamente função da
estrutura aparente de mercado (nível e distribuição das parcelas de mercado) e não dependem
de parâmetros comportamentais, sejam eles relativos aos produtores, ou aos consumidores.
27
Por fim, as medidas normativas são aquelas que levam em conta, além dos parâmetros
estruturais, os parâmetros comportamentais (Elasticidades, variações conjunturais e
coeficientes de aversão à incerteza).
As principais medidas de concentração descritas na literatura são: i) CRk (razões de
concentração); ii) HHI (Índice de Herfindahl-Hirschman); iii) E (Índice de Entropia de Theil);
iv) Critério de Lorenz.; v) RI (Índice de Rosenbluth); vi) CCI (Comprehensive Industrial
Concentration); vii) HKI (Hannah and Kay Index); viii) HTI (Hall- Tiedman).
Estes índices são descritos em Boff e Resende (2002); Araújo, Neto & Ponce (2005); Bikker e
Haaf (2000 & 2002); (Possas et al, 1997); dentre os diversos casos aplicados na regulação
anti-truste, em especial o HHI utilizado pelo Federal Trade Comission e do Departamento de
Justiça dos Estados Unidos para julgar fusões e aquisições (SHY, 1995).
Além dos trabalhos listados, cabe ressaltar os que constam também no apêndice (tabela B)
desse trabalho, por descrever alguns dos índices em trabalhos para a indústria do futebol e em
ligas esportivas de forma geral.
Em seqüência serão descritos alguns desses índices listados anteriormente, concentrando-se
nos que também fazem parte da literatura de equilíbrio competitivo no futebol, constantes na
seção 3.3.3 (Medidas de Equilíbrio Competitivo no Futebol) e que fazem parte da listagem no
apêndice (tabela2) desse trabalho: Razões de Concentração; Índice de Herfindahl-Hirschman;
Índice de Entropia, Curva de Loren. As outras medidas de concentração, listadas
anteriormente, e que não serão descritas no corpo deste trabalho constam no Apêndice (tabela
A).
28
Antes de explicar os índices, cabe introduzir algumas notações:
Seja Xi (Xi>0) a informação da empresa i (quantidade produzida, por exemplo) que opera em
uma indústria, compreendendo n empresas: i = 1, 2, ..., n. Dessa maneira, a informação
agregada disponível para a indústria X pode ser descrita tal como: ? n i=1 Xi e as parcelas de
Mercado de cada empresa: si = Xi / X. Normalmente as empresas são classificadas em ordem
decrescente, de acordo com sua posição no mercado: X1 > X2 >... >Xn, de modo que a empresa
1 é a maior do mercado (s1 > s2 > ... > sn)
§ Razões de Concentração – A razão de concentração de ordem k é um índice positivo
que fornece a parcela de mercado das k maiores empresas da indústria (k= 1, 2, 3,...,
n). Assim, temos a seguinte fórmula:
CRk ∑=
=k
i
Si1
Quanto maior o índice, maior é o poder de mercado exercido pelas k maiores
empresas. Dentre as principais deficiências desse índice (razão de concentração)
temos: i) ignora-se a presença das n-k empresas menores da indústria. Assim o índice
não terá, por exemplo, nenhuma alteração caso ocorra uma fusão de empresas que
façam parte do grupo de empresas n-k. ii) O índice não leva em consideração a
participação relativa de cada empresa no grupo das k maiores. Ou seja, Cr(4) de quatro
empresas com 25% de participação de mercado cada é igual ao Cr (4) de quatro
empresas sendo: duas com 45% cada e as outras duas com 5% cada. Ou seja, fusões
entre as empresas constantes em k, também não alterarão o total do índice.
29
§ Índice de Herfindahl-Hirschman (HHI) – Este é um índice positivo muito utilizado
conforme descrito anteriormente3. “Desde o início de 1980, a Federal Trade
Commission dos Estados Unidos tem definido a utilização do índice Hirschman-
Herfindahl em substituição ao índice CR(4) para fins de política antitruste” (Boff, H &
Resende,H 2002). O índice varia de 1 e 1/n sendo que o limite superior está associado
ao caso extremo, o monopólio. O limite inferior do HHI decresce à medida que
aumenta o número de empresas. No limite (para n? 8) ele tende para zero.
∑=
=n
i
SiHHI1
2
Como podemos ver na fórmula, o índice é a soma das participações de cada empresa
elevada ao quadrado, de forma a atribuir peso maior às empresas relativamente
maiores.
Ainda com relação à utilização do índice na política antitruste, as orientações emitidas
em 1992 pelo Federal Trade Commision a respeito de processos de fusões (Merger
Guidelines) instituem bandas referenciais com o objetivo de balizar a análise de
fusões. Nesse caso, três são as faixas propostas. i) 0= HH = 1000: não existe
preocupação quanto à competição na indústria, caso a fusão se concretize; ii) 1000=
HH = 1800: existe preocupação quanto à competição se o índice for maior ou igual a
100 pontos, com relação ao índice pré-fusão; iii) HH = 1800: existe preocupação
quanto à competição se o aumento do índice for maior ou igual a 50 pontos, com
relação à situação inicial (pré-fusão).
3 O índice HHI é mencionado utilizado por órgãos de defesa da concorrência. Nos EUA, por exemplo, o índice é descrito por Shy (1995) e no Brasil em órgãos como o CADE. (Conselho Administrativo de Defesa Econômica – www.cade.gov.br)
30
Nota-se que ao calcular o valor pontencial HHpós, o regulador assume hipóteses simplificadoras; (...); fusão não gera sinergias; fusão não altera posições de mercado das empresas não participantes; (...) Apesar destas limitações, as faixas propostas no Mergers Guidelines fornecem critérios diretores muito úteis para uma análise preliminar; (...) Seu emprego não dispensa, todavia, detalhamentos posteriores”. (BOFF E RESENDE, 2002)
§ Índice de Entropia – Este índice foi proposto por Theil (1967) no contexto da Teoria
da Informação e que teve sua aplicação em economia industrial. A explicação desse
índice também pode ser encontrada em Braga e Mascolo (1982) e (Boff e Resende,
2002). Seja A um evento genérico e p sua probabilidade de ocorrência. A uma
mensagem confirmando a ocorrência de A vem associado o que chamamos de grau de
surpresa, o qual varia inversamente à p. O conteúdo informacional da mensagem,
notado h, é considerado como uma função crescente e derivável do grau de surpresa
associado à ocorrência de A, de modo que podemos expressá- lo como função
decrescente de p, a probabilidade do evento relatado na mensagem h(p), com h’<0.
Segundo Theil, com a utilização de logaritmo: h(p) = ln (1/p) = -ln(p).
O argumento anterior pode ser estendido para o caso de n eventos (A1, A2, ..., An), com
probabilidades (p1, p2, ..., pn). Essas probabilidades somam 1 se pelo menos um desses
eventos certamente ocorrer. Pode-se calcular o conteúdo informacional esperado da
mensagem relatando a ocorrência de um desses eventos tomando-se a esperança
matemática de h(p) com relação à distribuição de probabilidade p1, p2, ..., pn:
∑=
=n
iii phphE
1
)(.)(
Assim fica definido como Índice de Entropia, notado ET, usando a especificação de
Theil para o conteúdo informacional:
31
∑=
=n
iii ppET
1
)/1ln(.
Este índice pode ser interpretado como uma medida inversa de concentração. Braga e
Mascolo (1982) particularizam a interpretação para o contexto de Economia Industrial
substituindo pi pela parcela de mercado si da firma i. Reescrevendo a formula para si
temos:
∑=
−=n
iii ssET
1
)ln(.
Dessa forma, dada a ocorrência de uma venda no mercado industrial, a probabilidade
que esta venda tenha sido efetuada pela empresa i é si, e a contribuição desta para o
conteúdo informacional presente na mensagem é “–si ln(si)”, de modo que o índice ET
estará indicando o conteúdo informacional esperado da ocorrência, calculado sobre
todas as empresas da indústrias. Assim, o limite inferior do índice é igual a zero, para
o caso de 1 produtor somente, ou seja, o monopólio.
§ Curva de Lorenz - A curva de Lorenz é obtida quando se mede ao longo do eixo
vertical a fração acumulada da participação das empresas no mercado e, no eixo
horizontal, a fração acumulada que elas representam no total de empresas existentes.
Caso a participação nas vendas fosse a mesma para todas as empresas, a cada fração X
acumulada do número de empresas (i = 1,2, ..., n), corresponderia uma fração idêntica
Y no total de vendas (i = 1, 2, ..., n), de tal forma que a representação gráfica seria
uma reta com inclinação de 45o. Essa situação poderia ser representada pelo segmento
32
de reta AC na Figura 1, chamada de linha de perfeita igualdade ou reta de
equidistribuição.
No caso extremo, em que toda a venda estivesse concentrada apenas em uma empresa,
teríamos a chamada linha de perfeita desigualdade, representada na Figura 1 pela linha
ABC. Em estudos de concentração de mercados, a distribuição normalmente tende a
localizar-se entre estes dois extremos, como por exemplo, a linha AEDC na Figura 3.
Neste caso, o nível de desigualdade da distribuição pode ser medido pela área
compreendida entre a reta de perfeita distribuição AC, e a linha de desigualdade
AEDC, medida pela chamada Curva de Lorenz.
Figura 1 – A Curva de Lorenz
As medidas de concentração descritas acima são na verdade um meio para que se identifique
determinada concentração industrial, ou como se trabalha na literatura de economia industrial
33
e no meio da regulação, “posição dominante”, seja ela em torno de quantidade física de
produtos, de faturamento, ou mesmo de capacidade produtiva. No entanto, elas nada dizem
sobre como as empresas chegaram a essa posição.
Cabe ressaltar que as empresas buscam constantemente se diferenciar através da busca de
estratégias inovadoras, pesquisa e desenvolvimento, melhores performances de controle, bem
como diferentes modelos gerenciais. Essa busca é tratada na literatura da administração como
busca de vantagens competitivas e sustentabilidade dessas vantagens. Na literatura
econômica, conforme visto anteriormente, o tema parece ter associação à competitividade na
concepção schumpeteriana em torno do papel da firma de buscar inovações4, aliado à
endogeneidade, que dá relevância às condutas das empresas.
Os temas sobre vantagens competitivas e como as empresas fazem para sustenta-las serão
descritos em seguida, de forma a se entender como as empresas buscam se diferenciar, e de
certo modo, como as empresas atingem determinada posição no mercado em relação aos
concorrentes.
3.1.3 VANTAGENS COMPETITIVAS
Segundo Teixeira & Guerra (2003), o conceito de competitividade deixa de ser apenas
microeconômico e ganha dimensão mais ampla: incorpora as possibilidades de interação entre
empresas, setores e industrias. Essa noção de competitividade origina-se da literatura utilizada
nas escolas de administração Lall (2001, p.1.503), formando a base para análises sobre
estratégias empresariais. “Firmas competem por mercados e recursos, medem competitividade
4 O estudo das estratégias de inovação é um tema relativamente recente na literatura sobre Economia Industrial. A principal corrente teórica que aborda o assunto é a institucionalista-schumpeteriana. Ver Hasenclever, L e Tigre, P (2002)
34
através de participações relativas nos mercados/e ou lucratividade, e usam estratégias
competitivas para melhorar seu desempenho”. Nesse sentido, Porter (1989, p.24)
complementa sobre o teste prático de sua teoria: “tenha sentido tanto para os administradores
como para os elaboradores de políticas econômicas”.
Na luta por participação de mercado, a competição não se manifesta apenas através dos demais concorrentes: os clientes, os fornecedores, os novos entrantes em potencial e os produtos substitutos são todos os competidores que podem ser mais ou menos proeminentes ou ativos, dependendo do setor industrial. (PORTER, 1998, p.11).
Ou seja, para Porter, o estado de competição industrial depende de cinco forças e o objetivo
estratégico da empresa é encontrar uma posição no setor onde ela possa melhor se defender
delas ou influenciá- las a seu favor.
Assim, a discussão em torno da busca de vantagens competitivas está relacionada à concepção
de estratégia, que será definida a seguir.
3.1.3.1 DEFINIÇÃO DE ESTRATÉGIA
Políticas, objetivos, metas, táticas e programas. Todos esses podem ser conceitos associados à
estratégia organizacional que parece não ter uma definição consensual, apesar de ser assim
definidas por Mintzberg e Quinn (1995): “o padrão ou plano que integra as principais metas,
políticas, e seqüências de ação de uma organização em um todo coerente”.
Para Quinn (1991) as principais dimensões de uma estratégia são: i) conter os mais
importantes objetivos, as mais significantes políticas e ações a serem executadas; ii) ser
concebida através de um conjunto de conceitos e forças que lhe dêem coesão, equilíbrio e
foco; iii) lidar com imprevistos e com o desconhecido; iv) possuir hierarquia (em caso de
35
organizações complexas); Ainda segundo o autor, uma estratégia para ser eficaz deve
apresentar as seguintes características: i) apresentar objetivos claros; ii) promover a iniciativa,
preservando liberdade de ação e aumentando o comprometimento; iii) prover flexibilidade; iv)
coordenar liderança; surpreender competidores; v) prover segurança para a base de recursos
do negócio.
Segundo Mintzberg (1987), existem cinco definições diferentes encontradas na literatura para
o conceito de estratégia: i) plano de ação (plan); ii) manobra (play); iii) padrão (pattern); iv)
posicionamento (position); v) perspectiva (perspective). Estas definições são conhecidas
como o modelo dos 5P´s, no qual o autor resume da seguinte maneira: estratégia como plano
ou manobra envolveria uma intencionalidade, já a estratégia como padrão ou posicionamento
pode ser não intencional.
Outra abordagem encontrada na literatura encontra-se em Boaventura e Fischmann (2003), na
qual as definições de estratégias permitem uma classificação em quatro grandes grupos: i)
Estratégias por Objetivos; ii) Estratégia pela Vantagem Competitiva; iii) Estratégia pela
Competência Essencial; iv) Estratégia pela Interação com Competidores. Os principais
autores de cada um dos grupos desta classificação estão resumidos na tabela 3, no apêndice
desse trabalho.
Ainda segundo Boaventura e Fischmann (2003) a estratégia empresarial está dividida em: i)
Estratégia Corporativa; ii) Estratégia de Negócios; iii) Estratégia Funcional ou Operacional.
§ Estratégia Coporativa – Estratégia citada e defendida por autores como Hofer e
Schendel (1978:27); Lorange e Vancil (1977;12) e constante na definição de Porter in
Montgomery e Porter (1998:237), na qual estratégia corporativa é o plano geral de
uma empresa diversificada. Christensen in Fahey e Randall (1999:67) dividem a
36
estratégia corporativa em três questões: i) o escopo corporativo; ii) relacionamento
entre as unidades de negócios; métodos para gestão do escopo e do relacionamento.
§ Estratégia de Negócios – Handerson (1979:12) explica que a estratégia de negócio se
preocupa com preços e custos, ao contrário da estratégia corporativa que está focada
em aquisições, estilo organizacional e finanças. Para o autor a estratégia de negócios
deve: i) definir a área de negócio; ii) ident ificar os concorrentes mais importantes; iii)
identificar diferenças entre a empresa e os concorrentes; iv) projetar mudanças no
ambiente que afetarão a concorrência; v) identificar os objetivos da empresa e as
diferenças comparando com os dos concorrentes.
§ Estratégia Funcional – Está ligada à forma em que os componentes da organização
(pessoal, recursos e processos) contribuem para acertar as diretrizes das estratégias da
unidade de negócios e corporativa (JOHNSON e SCHOLES, 1999:13).
Por fim, quanto as escolas de estratégias, cabe ressaltar a classificação de Mintzberg (1999)
em dez escolas: i) Design School; ii) Planning School; iii) Positioning School; iv)
Entrepreneurial School; v) Cognitive School; vi) Learning School; vii) Power School; (viii)
Cultural School; ix) Environmental School; x) Configuration School.
3.1.3.2 ESTRATÉGIA E VANTAGEM COMPETITIVA
A discussão sobre competitividade das empresas tem sido enriquecida nos últimos anos com
novas abordagens, sendo a clássica a "análise da indústria" ou do "posicionamento
estratégico" (PORTER, 1980, 1996). Esta abordagem prioriza a análise dos mercados e da
competição, bem como o entendimento da posição relativa de cada empresa em seu segmento
produtivo. Esses são os principais elementos no processo de formulação da estratégia, que
37
deve ser resultante da identificação de tendências e de oportunidades. Nesse sentido, ela é
considerada uma abordagem "de fora para dentro".(FLEURY e FLEURY, 2003)
A teoria das cinco forças de Porter foi ampliada pelo próprio autor com o conceito de cadeia
de valor e sistema de valor, reconhecendo "as atividades da empresa" como base da vantagem
competitiva. As escolhas de posicionamento determinam não somente quais atividades a
empresa desempenhará e como essas atividades serão configuradas, mas também como essas
atividades estarão relacionadas entre si. (PORTER, 1996).
Com o tempo, as críticas à análise do posicionamento estratégico foram crescendo. A maior
delas diz respeito a sua natureza estritamente estática. D'Aveni (1995) e Day e Reibstein
(1998), argumentam que "(...) estratégia é crescentemente dinâmica e complexa". Usando as
metáforas da imitação e da erosão das vantagens competitivas no tempo, os autores advertem
que "não é mais possível esperar pelo competidor para agir ou reagir".
Uma outra abordagem está construída a partir da "visão da empresa baseada em recursos"-
Resources Based View of the Firm - Fleury e Fleury (2003). Essa abordagem amplia o quadro
de referência dos tomadores de decisão considerando que toda empresa possui um portfolio de
recursos: físicos, financeiros, intangíveis, organizacionais e humanos. A partir desse portfolio,
a empresa pode criar vantagens competitivas. Essa abordagem tem como alguns defensores:
Prahalad e Hamel (1990) e Krogh e Ross (1995). Para estes autores, as estratégias
competitivas são definidas a partir da compreensão das possibilidades estratégicas passíveis
de serem operacionalizadas e sustentadas por tais recursos. Ou seja, uma abordagem "de
dentro para fora".
38
Assim, a diferenciação estaria pautada pelos recursos da empresa consubstanciados em
competências e capacitações. Outra premissa básica da VBR é de que as firmas diferem de
forma fundamental em seus modos de operar porque cada uma delas possuirá um
agrupamento singular de recursos – seus ativos, competências e capacitações específicas. A
crítica ao modelo é feita pelo próprio Porter (1996): "Em empresas competitivas pode ser
enganoso explicar o sucesso a partir da identificação de seus pontos fortes, competências
essenciais ou recursos críticos”.
As abordagens acima descritas acompanham o que Hitt (2003, p.21) chama de dois modelos
utilizados pelas empresas para gerar as informações, formular estratégias e preservar
flexibilidade durante o processo: i) O Modelo I/O – Organização Industrial; ii) Modelo
Baseado nos Recursos.
§ Modelo I/O – Esse é um modelo que busca explicar a influência do ambiente externo
sobre as ações estratégicas de uma empresa, ou seja, o setor no qual uma empresa atua
exerce maior influencia do que as decisões internas dos gestores. As suposições
inerentes estão baseadas nas características do setor, como economias de escala,
barreiras à entrada, diversificação e grau de concentração de empresas. Além disso,
supõe-se que: i) o ambiente externo impõe limitações que determinam as estratégias;
ii) que quase todas as empresas do setor utilizam recursos semelhantes; iii) que esses
recursos são móveis de empresas para empresas.
§ Modelo Baseado em Recursos – Toda organização é um conjunto de recursos e
capacidades únicos de tal forma que as diferenças de desempenho são muito mais
conseqüência do conjunto único de recursos e capacidade da empresa do que pela
característica estrutural do setor. Nesse caso, recursos são os inputs ao processo de
produção da empresa, e capacidade é a condição que um conjunto de recursos tem de
gerar desempenho.
39
Outra perspectiva sobre o assunto consta em Fleury & Fleury (2003), dividindo o conceito de
estratégia em três categorias: Excelência Operacional, Inovação em Produto e Relação com o
Cliente. Essa tipologia, fortemente baseada em Treacy e Wiersema (1995) e em Porter (1996)
está descrita seguir e leva os autores a concluir que uma empresa, para ser competitiva,
precisa realmente compreender como se articulam competência essencial e estratégia
empresarial.
§ Estratégia de Excelência Operacional – É aplicada pelas empresas que competem em
mercados nos quais a relação qualidade/preço é a maior determinante da
competitividade de produtos ou serviços
§ Estratégia de Inovação em Produto – As companhias competem continuamente,
investindo para criar conceitos de produto radicalmente novos para clientes e
segmentos de mercado definidos. A função crítica é Pesquisa - Desenvolvimento -
Engenharia (P&D&E).
§ Estratégia Orientada para Cliente – As empresas que adotam essa estratégia são
voltadas para as necessidades de clientes específicos e procuram se especializar no
desenvolvimento de produtos, sistemas e soluções que atendam a suas demandas
atuais e futuras. Para isso, tais companhias priorizam o desenvo lvimento do
conhecimento sobre cada cliente e seu negócio: Vendas & Marketing tornam-se
funções críticas, impulsionando os esforços de Pesquisa & Desenvolvimento,
Engenharia e também de Operações.
Por fim, cabe ressaltar que a busca por melhores resultados, associada à estratégia da empresa
– seja ela em qualquer uma das definições constantes na literatura – não pode se exaurir na
conquista momentânea ou pontual, mas sim na tentativa de manutenção no longo prazo desse
resultado. Esse assunto terá breve tratamento na próxima seção.
40
3.1.3.3 SUSTENTANDO UMA VANTAGEM COMPETITIVA
“Se um homem... fizer uma ratoeira melhor que a de seu vizinho, mesmo que ele tenha
construído sua casa na floresta, o mundo fará uma trilha de terra batida até a sua porta’. Estas
palavras atribuídas a Ralph Waldo Emerson - em uma de suas conferências no século XIX -
parecem conter uma antevisão dos grandes chamamentos que surgiram no século seguinte:
gerencie no sentido da singularidade, desenvolva uma competência que o distinga, crie uma
vantagem competitiva” (GHEMAWAT, 1998, p.29)
A discussão em torno da sustentabilidade da vantagem competitiva inclui a possibilidade dos
rivais imitarem ou até mesmo melhorarem uma invenção. As empresas sabem que para obter
melhor desempenho, é preciso vencer a concorrência, mas o problema é que os concorrentes
também sabem disso.
Uma vantagem sustentável é alcançada quando a empresa é bem-sucedida na implementação de uma estratégia que gere valor que outras empresas não conseguem reproduzir ou acreditam que seja muito dispendioso sustentá-la (...) para que a empresa consiga obter retornos superiores à média é necessário o entendimento de como explorar a própria vantagem competitiva (HITT, 2003, p.5).
No entanto, para Proença (1999), os frameworks não dão resposta às questões mais cruciais
para o tomador de decisão: por que certas firmas foram capazes de construir posições de
vantagem e sustentá- las, ou falharam nessa tentativa? O autor comenta que, "na visão jocosa
dos profissionais da área, trata-se de um excelente método para saber por que os outros estão,
neste momento, se dando bem e você não".
Corroborando, ainda segundo Ghemawat, (1998, p.29) três pontos marcantes parecem impor
um impasse:
41
§ Inovação de produto – na média, uma imitação custa um terço menos do que custa
partir para uma inovação e é um terço mais rápido para ser implementada;
§ Produção – Novos Processos são mais difíceis de proteger que novos produtos;
§ Marketing – a utilização de instrumentos extra-preços é uma técnica de grande
potência, mas muitas vezes as reações dos concorrentes, no marketing mix anulam
essas ações.
Por fim, ainda segundo Ghemawat (1998), as vantagens sustentáveis estão incluídas em três
categorias: i) porte no mercado-alvo; ii) acesso superior a recursos ou clientes e; iii) restrições
à opção dos concorrentes.
§ Benefícios do Porte – As vantagens de porte existem porque os mercados são finitos.
Porém o porte só se torna uma vantagem competitiva se existirem fatores econômicos
competindo á larga escala, tais como: i) economias de escala; ii) efeitos da
experiência; iii) economias de escala.
§ Acesso Superior a Recursos ou Clientes – O acesso a recursos ou clientes pode
fornecer vantagem não necessariamente associada ao porte da empresa. Esse acesso
conduzirá a vantagem competitiva em duas condições: i) se for garantido por melhores
termos do que competidores conseguirão no futuro; ii) essa vantagem deve ser imposta
no longo prazo. Entretanto o risco está em se estabelecer amarras a um negócio com
termos piores do que os rivais terão. Essas vantagens estão associadas a acesso à
informação (know-how), acesso a insumos e acesso preferencial a mercados.
§ Restrições às Opções dos Concorrentes – As opções dos concorrentes podem diferir da
opção da empresa em questão. Os rivais podem ficar paralisados nas posições em que
se encontram por: i) políticas governamentais – leis de patentes, leis antitruste,
concessões e etc. Ou seja, a empresa deve saber como ficar do lado certo da política
governamental; ii) defesa – negócios podem se sustentar se os concorrentes estiverem
42
restritos por investimentos feitos no passado; iii) atrasos de resposta – alterações de
preço podem sofrer respostas dos concorrentes em semanas ou dias, mas alterações em
P&D, ou o ganho de economias de escopo, podem levar mais de uma década para a
concorrência se equiparar.
Sendo assim, esses fatores acima descritos devem interagir com a formulação estratégica de
forma a criar uma sustentabilidade das vantagens competitivas no que o próprio Ghemawat
(1998, p.40) define como: “escolher a ênfase relativa que vai imprimir a duas coisas:
comprometimento para competir de uma certa maneira e reter a flexibilidade para competir
com eficácia de outras maneiras”.
3.2 FUTEBOL COMO INDÚSTRIA – CONTEXTUALIZAÇÃO
Após a discussão apresentada sobre competitividade, concentração industrial e vantagens
competitivas, torna-se importante contextualizar a indústria do futebol para posteriormente
agregar a discussão em torno do equilíbrio competitivo, via medidas de concentração
industrial.
Assim, essa seção 3,2 tem como objetivo contextualizar a industria do futebol, dividindo em
três partes:
§ A indústria do Futebol;
§ O futebol Europeu e os grandes centros (g-5);
§ O futebol Brasileiro;
43
Após endereçarmos a discussão pelos assuntos acima descritos, será possível agrega- los à
literatura de competitividade e medidas de concentração, descritos anteriormente na seção 3.1.
A combinação desses temas será apresentada na seção 3.3 (Equilíbrio Competitivo no
Futebol).
3.2.1 A INDUSTRIA DO FUTEBOL
O esporte mundial tem sido encarado como uma indústria crescente que movimenta cerca de
US$ 1 trilhão por ano. Nessa indústria, o futebol gira aproximadamente US$ 250 bilhões
anuais sendo o Brasil responsável por cerca de 1% desse valor. Boa parte das pesquisas
recentes sobre a economia dos esportes encontra-se resumida em Tollison (2002) e Scully
(2002).
Uma das maneiras de se entender a indústria do futebol está na tipologia proposta na figura 2,
baseada em Westerbeek e Smith (2003, p.89). Esta figura sugere que a industria esportiva
esteja dividida em três principais segmentos, tal qual descrito em Ducrey et al. (2003):
§ Mercadorias – Empresas que produzem equipamentos, materiais esportivos, produtos
licenciados. Exemplos de empresas: Nike, Adidas e Reebok.
§ Consultoria – Empresas que prestam serviços em consultoria, administração, medicina
esportiva dentre outras. Exemplos de Empresas: IMG e Octagon.
§ Serviços Esportivos – Organizações que oferecem o esporte como seu produto final.
Esse segmento pode ser dividido em três categorias:
44
o Espetáculo – Organizações que geram receitas direta,ou indiretamente
provenientes dos espectadores. Nessa categoria os atletas são profissionais e
exemplos de participantes são clubes e Ligas Esportivas.
o Participantes – Entidades que provém oportunidades para as pessoas se
engajarem em atividades esportivas, em uma base não profissional, como
clubes amadores, escolas de ginástica e comunidades esportivas.
o Híbrido – Organizações oferecem um mix das categorias acima descritas:
espetáculo e participantes. Exemplos desse caso são órgãos governamentais
que desenvolvem participação em massa e promovem atletas que podem se
destacar em nível de elite.
Figura 2 – A estrutura da Industria do Futebol: (WESTERBEEK e SMITH, 2003) Tabela adaptada pelo autor.
Outra visão sobre industria futebolística consta em Leoncini (2001) e é baseada em Aidar et
al. (2000), dividindo a estrutura do futebol da seguinte maneira: i) Mercado Produtor; ii)
45
Mercado Consumidor; iii) Mercado Intermediador (Revenda e Industrial). Essa perspectiva
consta na figura 3 a seguir.
Figura 3: Estrutura do Futebol em Mercados. (AIDAR, 2000)
Nesta visão de Aidar et al (2000), os torcedores são o mercado consumidor que têm relação
comercial via bilheteria ou merchandising diretamente com o Mercado Produtor, representado
pelos clubes de futebol. Esse mercado consumidor também consome do Mercado
Intermediário de Revenda (tv e empresas licenciadas) e do Mercado Intermediador Industrial
(Empresas de Marketing Esportivo). Por fim, o Mercado Intermediário de Revenda e o
Mercado Intermediador Industrial interagem com o Mercado Produtor, via operações de
venda de direitos de transmissão e operações de serviços de marketing, respectivamente.
A organização do mercado produtor respeita uma hierarquia mundial na qual a FIFA
(Fédération Internationale de Football Association, ou Federação Internacional das
Associações de Futebol) é a entidade máxima do esporte. Abaixo dela existem as
confederações responsáveis pelo futebol nos seus continentes, como é o caso da CONMEBOL
46
(Confederacion Sudamericana de Futbol, ou Confederação Sul-Americana de Futebol) e da
UEFA (Union of European Federal Associantions ou União das Associações Européias de
Futebol).
Na continuação desta hierarquia existem as federações ou confederações nacionais, como a
CBF (Confederação Brasileira de Futebol), as ligas esportivas e federações estaduais, como é
o caso da FERJ (Federação Estadual do Rio de Janeiro) e por fim os clubes.
Figura 4: Cadeia Produtiva e Clientes da Indústria: (LEONCINI, 2001)
Na Inglaterra existe também uma tentativa de classificação do mercado consumidor, o
torcedor do futebol, em: i) torcedores virtuais (que não vão ao estádio); ii) torcedores locais,
que assistem partidas ao vivo em sua região; iii)torcedores followers, que acompanham o
clube em outras regiões; iv) Family Suporters, que vão ao estádio com mais um membro da
família; e v) Corporate Suportes, aqueles que vão ao estádio e requerem tratamento especial
em camarotes e áreas vips. (LEONCINI, 2001).
47
Uma das peculiaridades desse consumidor final do futebol é a de que, diferente de mercados
comuns, seu relacionamento com o seu clube é duradouro apesar do serviço oferecido não ser
dos melhores, como, por exemplo, a falta de títulos, desconforto e insegurança nos estádios.
Avaliada por Taylor (1998) essa é uma relação emocional que é convertida em relação
comercial e uma comprovação está descrita em um dos cases mais conhecidos do futebol, o
clube Manchester United, que, por ter uma reputação superior aos outros clubes ingleses,
mantinha uma liderança no ranking de média de público em seus jogos, mesmo sem
conquistar títulos (Szymansky, 1995). No Brasil, clubes conseguem estreitar sua relação com
a torcida, mesmo sendo rebaixados para a segunda divisão, como o Botafogo – Rj e até
mesmo para a terceira divisão nacional, como o Fluminense – RJ.
Este relacionamento entre cliente e clube sugere que a demanda do futebol é inelástica em
relação ao preço (Szymansky; Kuypers 1999). Entretanto, no Brasil, esta inelasticidade parece
ser discutível, à medida que os clubes não conseguem maior arrecadação nos estádios com o
aumento de preço. Um fator que pode contribuir com essa inelasticidade é que o futebol
concorre dentro da indústria do entretenimento, com outras alternativas para a sociedade
(cinema, teatro, shows, outros esportes) e a sociedade brasileira tem mostrado sua insatisfação
com o nível de serviço oferecido nos eventos esportivos. Esse fato que aponta um erro
estratégico na conduta do negócio.:
Muitos gerentes se concentram tão unicamente em seus antagonistas diretos na luta por participação do mercado, que deixam de perceber que eles estão também competindo com seus clientes e fornecedores por poder de barganha. Enquanto isso eles também negligenciam a atenção para com os novos entrantes ou deixam de reconhecer a sutil ameaça de produtos substitutos . (PORTER 1998, p.26).
Ainda quanto aos clientes finais, segundo Ducrey et al. (2003) os fatores mais importantes
para o torcedor são:
48
§ Qualidade do Jogo – Lida com aspectos de espetáculo, entretenimento, prazer de
assistir aos jogos e qualidade dos times visitantes.
§ Incerteza ou imprevisibilidade do resultado (da partida, ou do campeonato) – Sobre a
incerteza de uma partida, geralmente quanto mais apertado for o resultado esperado de
uma partida, maior a atratividade para o torcedor. Quanto ao resultado de um
campeonato, existe um entendimento de que a média de publico é influenciada pela
disputa e quanto maior o equilíbrio competitivo, mais times tem chances de chegar ao
título. Em conseqüência, existe maior utilidade no consumo dos torcedores em
resposta a disputa acirrada, gerando crescimento das atividades comerciais
relacionadas ao campeonato e aos clubes.
§ Sucesso do time desse torcedor – Existe um nível de satis fação dos torcedores que é
atingido com a boa performance do time. Times que constantemente perdem tem
menos atratividade ao publico.
Uma outra perspectiva sobre a estrutura do futebol mostra que a performance de um clube
pode ser entendida pela caracterís tica da indústria (estrutura e comportamento) e pela
estratégia desse clube (LEONCINI, 2001). Essa análise foi feita por Szymansky e Kuypers
(1999) identificando fatores críticos que poderiam explicar a lógica do negócio futebol: i)
Performance Esportiva – Desempenho do time no campeonato; ii) Lucro Operacional –
Diferença entre receitas geradas pelo clube e suas despesas totais, antes do Imposto de Renda;
iii) Gasto com Salários – Gastos com salários, principalmente com o departamento técnico
(jogadores, treinadores, preparadores, etc.); iv) Resultado de Transferência de jogadores –
resultado financeiro da exploração do mercado de jogadores.
Apesar de não se ter uma relação comprovada entre performance no campo e performance
financeira, estes fatores estariam na verdade formando a base para duas relações estudadas na
49
definição de um escopo de gestão estratégica de um clube de futebol: i) gasto com salário x
performance em campo; ii) performance em campo x receitas geradas (Leoncini, 2001).
Segundo Dell’Osso e Symanski (1991), é possível atribuir ao gasto com salários uma relação
direta com desempenho em campo. Porém, o gasto com altos salários é também uma ameaça
ao equilíbrio financeiro dos clubes, o que torna essa equação mais difícil de ser solucionada.
Um agravante, é que um clube pode investir em grandes jogadores para um desempenho de
curto prazo, ganhe títulos e mesmo assim tenha prejuízo no final do período. Na Europa,
especificamente no futebol inglês, a preocupação quanto a essa ameaça dos altos salários é
visível nos relatórios de administração dos clubes, como é o caso do relatório anual de 2003
do Liverpool5: “Na nossa visão, o clube continua a exercer controle cuidadoso sobre os
custos relacionados aos salários dos jogadores”.
Por fim, é possível analisar a indústria do futebol via suas fontes de receita, conforme consta
em Leoncini (2001) na qual os relacionamentos comerciais mais comuns para as ligas e
clubes italianos/ingleses podem ser classificados em torno dos tipos de receita: i)
relacionamento com a TV (direitos de transmissão); ii) relacionamento com o principal
patrocinador; iii) relacionamento com Loterias; iv) relacionamento com o cliente torcedor
(bilheteria/merchandising); v) relacionamento com o patrocinador técnico; vi) relacionamento
com empresas produtoras de bens (exploração de marca via licenciamento/ placas de
publicidade); vii) relacionamento com outros clubes /federações (negociações de jogadores)
Este trabalho utilizará a classificação das fontes de receita que consta nos relatórios dos
clubes mais ricos do mundo em termos de receita da DELOITTE & TOUCHE: i) Comercial,
dividido em a) Merchandising e Licenciamento; b) Patrocínio e Fornecimento de Material
5 Tradução realizada pelo Autor.
50
Esportivo; ii) Bilheteria; iii) Mídia. A análise comparativa entre as fontes de receita dos
clubes europeus com os clubes brasileiros constará na seção 3.2.4, sobre o futebol brasileiro.
3.2.2 O FUTEBOL EUROPEU E O GRANDES CENTROS (G-5)
Futebol é o negócio mais global do mundo em uma época da globalização e do triunfo do lazer. Qual outro bem foi comprado por mais de três bilhões de consumidores. Nem mesmo a Coca-Cola6. (Sergio Cragnotti, em Boniface, 2000 e Ducrey, 2003)
Nas décadas de 60, 70, e 80 o futebol europeu era considerado amador e tinha como principal
fonte de receita as bilheterias (Lam, 2006). A Transformação do futebol aconteceu a partir dos
anos 90, com a desestatização de meios de comunicação e uma participação maior da mídia
no modelo de negócio do futebol. Não só a mídia passou a ser grande responsável por receitas
dos clubes, através do pagamento dos direitos de transmissão, como também passou a ser
parte integrante do capital social de alguns clubes, como o Milan (Mediset) e Paris Saint
Germain (Canal Plus). Segundo a DELOITTE & TOUCHE (2005), com dados da temporada
2004, o item mídia já representava entre 40% e até 54% das fontes de receita dos clubes
europeus, conforme a figura 5 que segue.
6 Trecho traduzido pelo Autor
51
Figura 5 – Fontes de Receita dos Clubes Europeus (DUCREY, 2003)
PPaarraa EEkkee lluunndd ((11999988)) aa eevvoo lluuççããoo ddoo ss iisstteemmaa iinnggllêêss ddoo mmooddee lloo ddee rreeccee iittaa éé uumm iinndd iiccaaddoorr ddaa
eevvoo lluuççããoo ddoo ccoonnssuummoo nnaa iinnddúúss ttrr iiaa ddoo ffuutteebboo ll pprroo ffiissss iioonnaa ll.. OO aauuttoorr pprrooppõõee aa sseegguuiinnttee dd iivviissããoo ::
§ Até a década de 50 (A Era do Estádio), onde o principal do negócio era a relação clube
– torcedor e ela se dava em torno das entradas nos estádios;
§ Entre as décadas de 50 – 70 (A Era da TV Comercial Tradicional), quando as
televisões gratuitamente transmitiam os jogos e originando os patrocinadores;
§ Década de 80 (A Era dos Patrocinadores), os patrocinadores passaram a se interessar
pelo futebol pela visibilidade proporcionada pelo aumento da audiência;
§ Após a década de 80 (A era da Nova Mídia), quando a televisão e a internet passaram
a ser grandes consumidores (intermediários), pagando pelos direitos de transmissão e
objetivam o retorno financeiro.
52
Em 2004, os cinco maiores mercados europeus de futebol (Alemanha, Espanha, França,
Inglaterra e Itália) arrecadaram 53% dos US$ 13,9 bilhões totais do futebol europeu,
somando a quantia de US$ 6,9 bilhões; grande parte desse montante, cerca de 60% é
utilizada para pagamento de salários 7. (LAM, 2006).
A globalização tem trazido tendências no esporte e aumentado sua visibilidade, bem como o
interesse comercial. Hoje, as televisões e grandes corporações financiam o esporte, que tem
como escopo de competição um ambiente não mais regional, e sim global. (Ducrey, 2005)
Além disso, o progresso esportivo passou a ser cientificamente estudado e dentre essas
tendências esportivas se destacam:
§ Aumento de envolvimento de empresas globais de telecomunicações;
§ Uso de mão-de-obra (divisão de trabalho internacional) para produzir matérias
esportivos;
§ Organizações esportivas vendendo direitos de transmissão e patrocínios para empresas
globais;
§ Promoção de times e seleções nacionais no cenário externo (ex: seleção brasileira);
§ Aumento de empresas de consultoria e administração esportiva;
§ Aumento de atletas estrangeiros nos clubes;
§ Profissionalização de esportes amadores.
Uma maneira de se entender a indústria de futebol, em especial no caso europeu, é analisar o
quadro de stakeholder, que será mostrado a seguir (figura 6), e com tabela descrita no
apêndice desse trabalho.
7 Esse assunto será tratado na seca de Globalização como uma crise do futebol moderno.
53
Figura 6 – Stakeholders do Futebol Europeu. (DUCREY , 2003)
A descrição dos principais interesses dos stakeholders demonstrados na figura 6 será feita na
tabela 4 do apêndice deste trabalho.
Conforme demonstrado na tabela 4, a FIFA é o organismo supremo desse esporte, sendo a
UEFA a detentora do monopólio da organização do jogo na Europa, dando elegibilidade aos
jogadores e clubes. Isso significa que existe uma relação entre os campeonatos nacionais
europeus e as competições européias, como por exemplo, a UEFA Champions League. Os
participantes das competições européias são classificados de acordo com as colocações nos
campeonatos nacionais e recebem uma quantia significativamente alta por essa classificação.
Este é inclusive um dos motivos para que haja cada vez mais um gap entre os clubes
nacionais, devido à injeção maior de receitas oriundas dessas competições.
Vale ressaltar que a União Européia tem interesse direto na manutenção de relacionamentos
comerciais dentro industria do futebol, bem como com outras industrias. Além disso, existe
uma preocupação com o equilíbrio competitivo dos clubes que formam as ligas nacionais de
futebol, assunto esse que está relacionado com o objeto de pesquisa desta dissertação, seja
54
sazonalmente ou no longo prazo. Os resultados das pesquisas já realizadas, como o de
Oughton and Michie (2004) mostram que nos cinco maiores mercados europeus, o
desequilíbrio competitivo das ligas nacionais está em nível alto, trazendo um sinal de alerta
para a industria como um todo.
Outro stakeholder importante no cenário é o próprio atleta, jogador de futebol profissional. A
estrutura do mercado de trabalho está diretamente associada à performance dos clubes: o
acesso aos jogadores, a formação de equipes competitivas e o investimento nas categorias de
base. Conforme detalhado nas seções sobre globalização e equilíbrio competitivo no futebol,
clubes arcam com despesas altas em salário para contar com os melhores jogadores. Esse fato
não só contribui para escalonar despesas em clubes de elite, mas também ajuda a criar um
‘gap’ entre os principais clubes e os de porte médio e pequeno.
Ainda quanto ao mercado de trabalho, a Europa foi pioneira em um acontecimento que
marcou a legislação trabalhista esportiva em todo mundo, após o caso na justiça do jogador
belga Jean-Marc Bosman. O atleta conseguiu os direitos de se transferir sem o consentimento
do seu clube, abrindo assim precedente jurídico para a extinção do passe. Esse acontecimento
ficou conhecido no ambiente de negócios futebolístico como o “Caso Bosman” e ocorreu em
1996.
Antes do “Caso Bosman”, a transferência de um jogador entre dois clubes, mesmo após o
término de contrato, requeria uma quantia a ser paga entre o clube que vai permanecer com o
jogador para com o clube que cede este jogador. Utilizando a descrição constante na lei
brasileira, em setembro de 1976 foi sancionada a Lei 6.354, conhecida como Lei do Passe,
que em seu artigo 11 defini que: “entende-se por passe a importância devida por um
empregador a outro, pela cessão do atleta durante a vigência do contrato ou, depois de seu
55
término, observadas as normas pertinentes”. Assim, a lei do passe atribuía aos clubes o que
hoje é conhecido como “direitos federativos” do jogador. Esta relação entre o profissional e
seu empregador fugia aos parâmetros das demais atividades econômicas existentes, se
estendendo inclusive após o término do contrato entre as partes.
Assim, ter acesso aos grandes jogadores passa a ser uma questão de salário, à medida que os
jogadores são “livres” para se transferirem para os clubes que desejam jogar, caso não tenham
contrato vigente com nenhum outro. Por outro lado, dois questionamentos podem surgir: i)
clubes que investem e são formadores de atletas podem perder o incentivo a investir nas
categorias de base, já que fica mais fácil perder esse jogador para um clube que tenha maior
poder financeiro; ii) a disputa por jogadores pode ajudar a escalonar despesas com salários.
Desses dois questionamentos, o primeiro será mais bem discutido na contextualização do
futebol brasileiro, na seção a seguir. Já quanto ao possível aumento de salários, essa já é uma
preocupação corrente, conforme consta em Sloan (1997, p.4): “Além do aumento potencial
das receitas, os clubes ainda enfrentam a escalada dos custos de salários, como
conseqüência do caso Bosman, julgado na Corte Européia em dezembro”.8
Ainda com relação a esse assunto, na Europa, as receitas vindas de patrocinadores e dos
direitos de transmissão fizeram com que no período de 1992 a 2003, o faturamento da
primeira liga de futebol inglesa (Premiership) tenha aumentado em torno de 650%.
Entretanto, o custo em transações e salários também acompanhou esse crescimento resultando
em 550% de acréscimo entre 1994 e 2003 (OUGHTON, 2005).
8 Texto Traduzido pelo Autor.
56
3.2.3 O FUTEBOL BRASILEIRO
O esporte como indústria nem sempre apresenta números confiáveis, porém estima-se que
essa indústria no Brasil gire em torno de R$ 31 bilhões por ano, o que seria equivalente a
3,3% do PIB brasileiro. Já o futebol no Brasil movimenta responsável cerca de US$ 2,5
bilhões. (LEONCINI, 2005; TOP SPORTS, 2006)
Segundo o Ministério dos Esportes em estudo realizado em 1997, cerca de um milhão de
empregos podem ser criados em dez anos no Brasil devido à profissionalização do esporte.
Estes números mostram que o futebol como negócio representa uma oportunidade de
alavancagem sócio-econômica e também, um grande negócio (LEONCINI, 2001). No Brasil,
a estrutura do futebol está representada, conforme figura 7 abaixo:
Figura 7 – A Estrutura Organizacional do Futebol Brasileiro:
.
57
De acordo com o relatório final do Plano de Modernização do Futebol Brasileiro (2000) da
Fundação Getúlio Vargas, que inclui os agentes diretos, como clubes e federações, e indiretos,
como indústrias de equipamentos esportivos e a mídia, o futebol no Brasil tem efeito
multiplicador maior que vários setores tradicionais. Os números são da ordem de trezentos
(300) mil empregos diretos; trinta (30) milhões de praticantes (formais e não formais);
quinhentos e oitenta (580) mil participantes em treze (13) mil times que participam de jogos
organizados (esporte formal); quinhentos e oitenta (580) estádios com capacidade para abrigar
mais de cinco e meio (5,5) milhões de torcedores; cerca de quinhentos (500) clubes
profissionais disputando uma média de noventa (90) partidas por ano; e em termos de
fornecimento anual de materiais e equipamentos esportivos, nove (9) milhões de chuteiras
para futebol e futsal, seis (6) milhões de bolas e trinta e dois (32) milhões de camisas.
Mesmo com todos esses números o Brasil ainda está longe de aproveitar todo seu potencial.
Além dos problemas estruturais da nossa economia e das diferenças de renda per capita entre
o Brasil e os principais países europeus que investem no futebol como atividade econômica,
ainda faltam instrumentos de gestão profissional e planejamento para as entidades esportivas.
Embora não seja consenso que a definição de estratégia determine o sucesso das organizações
(medido em forma de lucros), constata-se que uma das peculiaridades do setor esportivo é a
de ter baixo índice de formalização do processo estratégico. Em geral, as ações de interação
com o ambiente, são desenvolvidas em torno das oportunidades e sem uma orientação
definida. (PROHMANN, 2003; ANSOFF, 1977).
Entretanto, os resultados obtidos no esporte em outros países como EUA, Inglaterra, Itália,
Espanha e Alemanha sugerem que o Brasil está atrasado em sua gestão profissional e poderia
fazer melhor. Nos EUA, a NBA (National Basketball Association - Liga de Basquete
58
Americana) e a NFL (National Football League, ou Liga de Futebol Americano),
apresentavam respectivamente 11% de crescimento ao ano nos anos 90 e 60.000 pessoas de
média de público. Além disso, na Europa, os estádios abrigam em média de 25.000 a 30.000
torcedores por partida, em um crescimento que foi observado por Sloane (1997) resultando
em jogos os quais os estádios ficam praticamente lotados. A realidade esportiva brasileira, que
tem no futebol a sua principal atividade, é diferente. A atual média de público no campeonato
brasileiro não é superior a 12.000 pessoas (SOUZA, 2004; GOLDBLATT, 2002)
Ainda que não consensualmente, o custo de captar novos clientes é maior do que o da
manutenção dos atuais. Por isso, é importante discutir estratégias que aumentem a satisfação
do cliente e contribuam para sua lealdade, (AGUILAR E TEIXEIRA, 2003). Vale lembrar
que um relacionamento duradouro com os clientes é a base das fontes de receita das
organizações. O atual cenário, pós Lei Pelé, compromete a rentabilidade dos clubes através
da negociação da venda de passe de jogadores e cria uma necessidade de se relacionar com os
clientes.
Essa relação com o cliente, que está diretamente relacionada à capacidade de gerar receitas,
pode ser demonstrada através da descrição das fontes de receita dos clubes.
§ Comercial – Fonte de Receita que pode ser dividida entre: i) Merchandising e
Licenciamento e; ii) Patrocínio e Fornecimento de Material Esportivo.
o (Merchandising e Licenciamento) – Merchandising é a venda de produtos com
a marca dos clubes na qual a utilidade está na satisfação de se usar esta marca.
Esta fonte de receita se chama Licenciamento quando não é controlada pelo
clube e sim por empresa terceira. No Brasil, uma das grandes ameaças ao
licenciamento de produtos está na pirataria. Estima-se que esta represente 12%
do faturamento esportivo. Na Europa, por conta da renda disponível do
59
torcedor para itens relacionados ao entretenimento, essa fonte de receita é
significativa para os clubes, representando, junto com o patrocínio mais de
25% das receitas em times como Manchester e Liverpool. No caso do São
Paulo, este item não passa dos 2%.
o (Patrocínio e Fornecimento de Matéria Esportivo) - As empresas
patrocinadoras vinculam suas imagens aos clubes por conta do retorno em
mídia que esse clube pode fornecer. No Brasil, com o mercado consumidor não
tão desenvolvido e a imagem de má gestão associada aos clubes, as empresas
patrocinadoras pensam duas vezes ao investir no futebol brasileiro. Enquanto
não houver credibilidade, não haverá apoio dos investidores. Na Europa as
empresas patrocinadoras vêem os clubes como grandes expositores em mídia.
O Liverpool faturou cerca de £15 milhões em patrocínio, em 2003.
§ Bilheteria - Operação principal do mercado produtor com o mercado consumidor, ou
seja, do clube com o consumidor final. A bilheteria tem sua utilidade na satisfação do
público que vai ao estádio. No Brasil, o problema dessa fonte de receita é que os
clubes reclamam de prejuízos em estádios e jogos de pouco apelo, conforme analisado
anteriormente por Brunoro (1997). Além disso, a renda desse torcedor é baixa se
comparada a do torcedor inglês. Apesar do estudo de Szymansky e Kuypers (1999) já
citado, os clubes brasileiros, salvo em jogos finais ou competições especiais, não
conseguem aumentar a receita de bilheteria aumentando o preço, seja por condições
sócio-econômicas dos seus torcedores, ou pelo atrativo oferecido no estádio. Por isso,
existe a necessidade de se reorganizar os campeonatos para que eles passem a ser mais
rentáveis. No caso Europeu, conforme citado, a média atual de público chega a ser
duas vezes maior do que a média dos campeonatos brasileiros. Em clubes como o
Liverpool e como o Manchester, esta fonte de receita chega a ser em torno de 28%.
60
§ Mídia - A televisão, conforme citada anteriormente, representa um grande consumidor
intermediário. Porém, no Brasil, dado a posição dominante da emissora de tv, estima-
se que seu poder de barganha é bem alto frente aos clubes, que mesmo se unindo em
grupos como é o caso do clube dos 13 (os principais clubes do Brasil), ainda precisam
de uma mentalidade de negociação em conjunto. Essa relação entre a televisão e os
clubes foi descrita por Souza (2004) na qual os clubes, por precisarem arcar com
compromissos de curto prazo, perderam poder de barganha e pediram para que cotas
dos campeonatos fossem adiantadas. Ainda assim, hoje em dia a televisão é uma
grande parceira dos clubes. Estima-se que a cota de televisão para cada clube da
primeira divisão do campeonato brasileiro seja de R$ 6 milhões, (HARA; BURLIM;
UYETA ; BENINI, 2004). No Manchester, a tv representa 33% do faturamento.
Além das preocupações em torno do relacionamento com os clientes (torcedores), outros
temas ainda são importantes tais como: a situação econômica dos clubes, o êxodo
(transferência) de jogadores para o exterior e, como assunto para essa pesquisa, o equilíbrio
competitivo dos campeonatos.
No cenário pós- lei Pelé, os clubes perderam a sustentabilidade de sua principal fonte geradora
de caixa, a venda de jogadores. Na Europa, antes do ocorrido em 1996, os clubes já
apresentavam um histórico de profissionalização da gestão e da busca de outras fontes de
receita baseadas na aproximação entre cliente e clube como: a bilheteria, contrato com mídia e
área comercial. Assim, o impacto da extinção do passe nas fontes de receita dos clubes
europeus foi menor, visto que os clubes haviam desenvolvido alternativas como a venda de
pacotes de viagens para os jogos, carnês antecipados, lojas, museus e até canais próprios de
TV com programação diária sobre os clubes.
61
No Brasil, uma das conseqüências desse novo cenário está no número de transações de
jogadores para o exterior, que é cada vez maior. Sem gestão profissional no futebol, os clubes
brasileiros não conseguem competir com os salários oferecidos pelos de outros países e como
resultado, desde os anos 90, o número de jogadores deixando o país subiu de 130 para 850.
Não só os jogadores brilhantes, mas também os de menor expressão, saem do país para
destinos menos óbvios como Indonésia, Armênia, Islândia e Índia (The Economist, 2005).
Outro fator relevante é que o futebol brasileiro, era o detentor da tríplice coroa mundial até
2005 (Copa do Mundo; Mundial sub-23 anos e Mundial sub-17 anos) e participou das ultimas
três finais de Copa do Mundo vencendo duas, o que indica que o jogador brasileiro está cada
vez mais em alta no futebol internacional.
PPoorr ccoonnttaa ddeessssaa nnoovvaa ss iittuuaaççããoo rreegguullaa ttóórr iiaa ee ttaammbbéémm ppee llaass ccoonndd iiççõõeess ffaavvoorráávvee iiss àà ssaa ííddaa ddooss
jjooggaaddoorreess ppaa rraa oo eexxttee rr iioorr,, éé nneecceessssáá rr iioo qquuee ooss cc lluubbeess bb rraass iillee iirrooss ddeesseennvvoo llvvaamm eesstt rraattééggiiaass qquuee
ddiimmiinnuuaamm ssuuaa ddeeppeennddêênncc iiaa ddaa vveennddaa ddee jjooggaaddoo rreess ddeennttrroo ddee ssuuaass ffoonntteess ddee rreeccee iittaa ee bbuussqquueemm
aa lltteerrnnaatt iivvaass qquuee ssuupprraamm eessssee iitteemm..
Como analisado anteriormente, isso requer um melhor relacionamento com os clientes, o
que inclui atratividade para o torcedor e também equilíbrio competitivo e qualidade nos
campeonatos, itens esses, citados anteriormente, como fatores determinantes para
estimular a demanda.
Ainda com relação à capacidade de se relacionar com os torcedores, cabe ressaltar um
exemplo ocorrido no futebol inglês, quando a média de público no campeonato diminuiu, ao
longo da década de 80 e 90. O governo, através do relatório Taylor, atuou como uma das
grandes forças externas para atrair o torcedor de volta aos estádios. O relatório Taylor ocorreu
em janeiro de 1990 quando o governo Inglês percebeu que estava havendo uma diminuição do
62
público no campeonato inglês em decorrência de problemas como violência e conforto nos
estádios. A violência já estava presente nos estádios ingleses desde a década de 60, mas o
ponto crucial ocorreu no desastre de Hillsbourg, em 1989, com a morte de 95 pessoas em um
pisoteamento. Peter Taylor, responsável pela investigação das causas do desastre e das
condições dos estádios ingleses, chegou às seguintes conclusões: estádios e campos velhos,
“hooliganismo”, excesso de bebida e pouca liderança (Conn, 1998). Assim, o governo
obrigou os clubes a investirem de forma a resolver esses problemas e essa obrigação deu
origem a abertura de capital em Bolsa, pois os clubes necessitavam de capital para realizar
esses investimentos.
No Brasil, o estatuto do torcedor (Lei nº. 10.671 de 2003) foi uma das tentativas de “copiar” o
relatório Taylor. Em seus artigos 14 e 19, o estatuto atribui aos dirigentes dos clubes e a
entidade de prática desportiva mandante do jogo a responsabilidade pela segurança do
torcedor bem como do ressarcimento dos prejuízos causados por falhas de segurança.
Entretanto, suas conseqüências ainda não são relevantes para que o público volte aos estádios.
A média de público do campeonato brasileiro tem diminuído e é menor que nos anos 70.
Um outro fator relevante é que os clubes vem há muito tempo tentando negociar com o
governo, pois muitos apresentam dividas de caráter fiscal. Uma das ações que poderia ser
implementada seria a criação de programas que ajudem o parcelamento dessas dívidas e em
contra partida obriguem os clubes a caminhar no sentido de profissionalização. Nesse
contexto, um novo programa que está sendo trabalhado no Ministério dos Esportes pode ser
uma solução no curto/médio prazo. Uma loteria (sorteio) estaria sendo criada: Time Mania.
Os clubes emprestam suas marcas e como contrapartida recebem parcela da receita do jogo
lotérico. Essa parcela fica comprometida com o pagamento de dívidas e aqueles que quitarem
suas dividas passarão a receber integralmente sua parte no seu caixa.
63
Esse programa cria um marco zero no qual as dividas dos clubes ficam parceladas e
comprometidas a uma loteria. Desse modo, os clubes passam a controlar seu orçamento para o
presente e futuro. Umas das exigências para estar nesse programa de parcelamento é que os
clubes não podem mais atrasar seus pagamentos como pena de ficarem fora do programa. Esta
pode ser uma boa iniciativa abrindo um novo horizonte que não atrelado somente às suas
dividas impagáveis. Porém, não terá resultado positivo se os clubes não profissionalizarem
sua gestão e procurarem manter suas contas equilibradas.
3.3 EQUILIBRIO COMPETITIVO NO FUTEBOL
Após a contextualização da indústria do futebol e das medidas de concentração ligadas as
teorias de concorrência, utilizadas na literatura de economia industrial e administração
estratégica, esta seção tem como objetivo apresentar a discussão mais especifica em torno do
equilíbrio competitivo no futebol, bem como as medidas utilizadas para testá- lo.
Para isso, essa seção será dividida em três partes: i) a primeira parte está relacionada aos
condicionantes do equilíbrio competitivo no futebol; ii) a segunda parte está destinada à
descrição de exemplos e fatores que influenciam na formação de clubes competitivos; iii) a
terceira está relacionada à apresentação das medidas de equilíbrio competitivo esportivo
demonstradas na literatura.
64
3.3.1 CONDICIONANTES DO EQUILIBRIO COMPETITIVO NO FUTEBOL
O debate sobre a competitividade nas ligas de futebol tem raízes nas preocupações com o
sucesso das ligas (campeonatos) no longo prazo e está baseado na premissa de que as ligas
esportivas requerem níveis de equilíbrio competitivo para crescer e se manter (Oughton and
Michie, 2004).
De acordo com essa premissa, a falta de competitividade nas partidas e nas ligas as torna
previsíveis e isso faz com que a quantidade de torcedores que vai aos estádios e que
assiste aos jogos pela televisão não seja maximizada. Por outro lado, o equilíbrio
competitivo é importante porque, ao gerar interesse pelos torcedores, provoca mudanças
(deslocamentos) na curva de demanda pe los jogos (ver figura 8). Essa premissa pode ser
aplicada a outros os esportes, como por exemplo, as corridas de carro no caso, da Formula-1.
Figura 8: Impacto de Equilíbrio Competitivo na Curva de Demanda dos Espectadores: (OUGHTON e MICHIE, 2004)
Ainda segundo Oughton e Michie (2004), ligas desequilibradas também podem resultar em
outros riscos tais como:
a) Falência, ou ameaça de falência de clubes.
Preço
D1 D2
No de Espectadores
65
b) Ameaça de outras ligas rivais (Exemplos de Criação de Super Ligas Européias)
c) Criação de grandes gaps de receita entre e dentro das ligas, resultando em ganhos maiores
por participação em determinados campeonatos (European Champions League). Esses
Gaps podem aumentar o risco da indústria ao incentivar uma estrutura que encoraja os
clubes a gastar ainda mais para garantir sucesso.
Como podemos ver, essa discussão tem raízes na performance financeira, em particular na
distribuição de receitas dos clubes.
Um dos grandes riscos a ser entendido está no que Lam (2006) trata como ciclo vicioso do
futebol, conforme figura 9. Clubes com maiores receitas, provenientes de maior bilheteria,
participação em grandes competições, cotas de televisão, ou oriundas de estratégias de
marketing e relacionamento com os clientes, são os que obtém maior sucesso financeiro. É
esse sucesso que possibilita maiores contratações e gastos com salários, influenciando
diretamente no sucesso dentro de campo. Com o sucesso dentro de campo, o clube passa a ter
maiores receitas, conforme descrito no começo desse raciocínio (ciclo vicioso).
Figura 9: Ciclo Vicioso do Futebol Europeu –(LAM, 2006; adaptado de Márquez & Martin,
2000)
66
É esse ciclo vicioso do futebol que está diretamente ligado à dominância de certos clubes
sobre outros, assunto principal deste trabalho. Para que um clube entre nesse ciclo vicioso a
única barreira à entrada é ´dinheiro´ (BESANKO et al.2006). No outro lado da análise, os
clubes que também não conseguem esse sucesso financeiro e operacional entram num ciclo
vicioso de insucesso. Em médio e longo prazo, essa situação também pode gerar cada vez
mais a criação de ligas regionais, gerando menor atenção às competições locais e aumentando
ainda mais o gap entre os clubes nos países. Esse assunto está diretamente relacionado ao
equilíbrio competitivo no futebol.
Esse cenário, acima descrito, contribui para uma estratificação dos times em torno de perfis
tais quais descritos por Lam (2006), At Kearny (2004) e Marquez e Martin (2000).
Segundo a At Kearny (2004) os clubes europeus podem ser divididos em três categorias: i)
fábrica de jogadores; ii) estrela nacional; iii) marca internacional. Ainda nessa perspectiva,
para se alcançar o segundo e terceiro estágios, respectivamente, é necessário: i) do primeiro
para o segundo estágio – sucesso estável em nível nacional; presença constante em
campeonatos europeus; atração de astros nacionais; base de torcedores nacional; fontes de
receitas oriundas de tv e patrocínios; ii) do segundo para o terceiro estágio – sucesso
repetitivo na Europa; atração de astros internaciona is; base de torcedores internacional;
modelo orientado para esporte como entretenimento; fontes de receitas diversificadas e
balanceadas. A tabela com as características dos três grupos, propostos por At Kearny (2000)
encontra-se em anexo.
Marquez e Martin (2000) apresentam visão complementar, dividindo os clubes europeus em
quatro grupos: i) elite do futebol europeu; ii) seguidores de elite; iii) times nacionais; iv) times
sobreviventes. As características dos clubes estão apresentadas na figura abaixo (Lam, 2006).
67
Figura 10: Características dos Clubes de Futebol Europeu: Fonte: Lam (2006), adaptado de
Márquez e Martin (2000).
Ainda em complemento a esses quatro grupos, Márquez e Martin (2000) concluem que existe
uma distância entre eles e que é difícil alcançar o nível de elite do futebol, tal qual
demonstrado na figura 11:
Figura 11: Distancia entre os grupos do futebol Europeu: Lam (2006), Márquez e Martin
(2000)
68
3.3.2 FORMANDO CLUBES COMPETITIVOS
Essa seção tem como objetivo apresentar fatores e exemplos que contribuem para a formação
de clubes competitivos. Em verdade, existem outras causas para a performance operacional e
financeira, associada ao ciclo vicioso do futebol proposto por Lam (2006), que não estão
somente ligadas à quebra da barreira de entrada em torno do dinheiro, conforme citado
anteriormente por Besanko et al.(2006)
Analogamente à discussão da seção 3.1.1, desprezar o papel da conduta das empresas e a
busca incessante por vantagens e inovações que as diferencie é na verdade atribuir o sucesso
dos clubes e o nível de equilíbrio competitivo somente à estrutura do mercado, o que ex-post
seria possível medir com indicadores de medida de concentração industrial.
Na raiz dessas condutas está a administração eficiente dos clubes, de forma a construir
vantagens competitivas frente aos seus concorrentes. Essa visão está diretamente relacionada
ao tema tratado anteriormente na seção 3.1.3, em torno da busca e manutenção de vantagens
competitivas e tem alguns exemplos, citados a seguir, baseados na construção de
administrações sólidas e na reputação e relacionamento do clube com seus clientes.
Dell’Osso e Symanski, S (1991) analisam como alguns times ingleses atingem certa posição
privilegiada dentro do cenário de negócios competitivos em torno do futebol e concluem que
quatro fatores são importantes para criar vantagens competitivas: i) monopólio; ii) reputação;
iii) tecnologia; iv) arquitetura.
69
O estudo conclui que alguns times foram capazes de atingir melhor performance do que seus
rivais pelos seguintes motivos:
§ Nottingham Forest – A performance de Brian Clough, principal manager da
Inglaterra no período, conseguindo melhorar a posição media do clube no campeonato,
que entre os anos de 1946 a 1975 era de ‘21,3’, para ‘7,0’ entre 1976 e 1989, período
em que dirigiu o clube. Assim, Brian Clough pode ser considerado um input
monopolizado pelo clube para o período, gerando efeitos diretos na performance do
clube;
§ Manchester United – O clube Manchester United criou sua reputação no pós-
segunda guerra. O clube que era reconhecidamente o mais famoso na Inglaterra,
apesar de declínio nos resultados em campo, mantinha liderança de média de público
nos estádios. Assim como tecnologia, reputação requer investimento de longo prazo e
o Manchester United soube cria-la;
§ Liverpool – O Liverpool, segundo os autores, tinha sua performance atribuída a
arquitetura, o que significa que o produto do coletivo de indivíduos é superior a soma
do produto desses mesmos indivíduos, separadamente. Liverpool era um clube
organizado, que mantinha boas relações contratuais e seleção de jogadores, que
levavam a uma performance superior a seus rivais.
Assim, o papel da gestão estratégica das empresas passa a ser componente decisivo na
formação de clubes competitivos.
Se você tem um projeto, tem um rumo, mas os clubes do Rio não costumam pensar no dia seguinte. No Palmeiras, montamos um primeiro projeto cujo tempo médio era de três anos para ganhar um título. Acabamos ganhando vários. Percebemos que os outros não faziam nada (...) O Rio de Janeiro sempre foi um grande revelador de talentos, mas está se esquecendo de olhar para a base. Os grandes títulos do Flamengo foram conquistados com jogadores feitos em casa. O processo está se invertendo. (Brunoro, 2005)
70
3.3.3 MEDIDAS DE EQUILIBRIO COMPETITIVO NO FUTEBOL
Apesar de ser difícil quantificar o equilíbrio competitivo de determinados campeonatos, ou
ligas, e até mesmo entre dois times, existe uma série de trabalhos na literatura que se
preocupam com esse assunto. O trabalho de Oughton e Michie (2004) sumariza as principais
técnicas não só para o futebol, mas também para as ligas esportivas americanas. Esse sumário
encontra-se na tabela 1 no apêndice desse trabalho.
Conforme pode ser visto na tabela 1, no apêndice, em geral as linhas de pesquisa em torno das
medidas de competitividade são trabalhadas na dominância de longo prazo, nos equilíbrios
durante a temporada e na probabilidade de vitória para determinadas partidas, assim como
descrito por Cairns (1987): match uncertainty; seasonal uncertainty; inter-seasonal
uncertainty or lack of dominance across seasons.
71
4. METODOLOGIA DE PESQUISA
A pesquisa sobre o equilíbrio competitivo foi primeiramente estudada em torno do que a
literatura em economia industrial e regulação econômica apresenta como medidas de
concentração industrial. Essas são medidas que, conforme analisado na revisão de literatura,
demonstram, ex-post, o que pode ser considerado uma posição dominante, ou ainda, em
termos de regulação, poder de mercado, que certa empresa detém frente aos seus
concorrentes. A listagem dessas medidas encontra-se na tabela 1, no apêndice deste trabalho.
Dentre essas medidas de concentração industrial destacam-se as razões de concentração e
principalmente o índice HHI, como indicador que inclusive é utilizado na análise de atos de
concentração pelos órgãos de regulação econômica, como é o caso do Federal Trade
Commission dos Estados Unidos.
Já na pesquisa especifica em torno do equilíbrio competitivo, o trabalho de Oughton e Michie
(2004) sumariza as principais técnicas utilizadas em ligas esportivas. Essas medidas estão
listadas na tabela 2 do apêndice deste trabalho. No caso especifico do equilíbrio competitivo
no futebol, a tabela 2, em seu item “b” mostra os diferentes trabalhos em torno desse esporte,
classificados em torno dos objetivos de pesquisa tais como: i) dominância de longo prazo, ii)
sazonal; iii) jogo.
Na análise dos trabalhos de equilíbrio no futebol e nas ligas esportivas, percebe-se que o
indicador HHI é utilizado tanto para preocupações de dominância de longo prazo, quanto
sazonalmente, o que está de acordo com a delimitação do estudo proposto. Assim, tendo em
vista a aceitação deste indicador como medida de concentração, bem como nas publicações
em torno de ligas esportivas e no futebol, este trabalho buscará calcular os resultados em
72
torno dos cinco maiores mercados de futebol europeu (Alemanha, Espanha, França, Inglaterra
e Itália) tendo o HHI como medida de analise.
A escolha do período a ser pesquisado é de dez anos, levando em conta as dificuldades de se
obter os números para o Campeonato Brasileiro em anos mais distantes, devido aos diferentes
formatos adotados pelos clubes.
Nesse cenário, dois problemas passam a ser relevantes para a pesquisa. Eles serão
apresentados a seguir e solucionados na apresentação dos dois cálculos que serão utilizados.
i) A mudança do modelo de campeonato utilizado na serie A do Campeonato
Brasileiro
Antes de 2003, o modelo de campeonato brasileiro adotado era conhecido como um modelo
de fase de classificação; Após o ano de 2003 (inclusive) o modelo escolhido foi o de pontos
corridos. Dessa forma, por exemplo, como no ano de 2002, os oitos primeiros colocados na
primeira fase do campeonato se classificam para a segunda fase. Isso significa dizer que um
clube poderia ter maior numero de pontos, ou aproveitamento, ao longo do campeonato, e não
ser campeão, pois a vantagem adquirida na primeira fase poderia ser eliminada na segunda
fase. Dessa forma, alguns clubes (os que se classificam para fase seguinte) acabam por jogar
mais partidas do que outros (que não se classificam), o que prejudica o calculo a ser realizado.
ii) A quantidade de times que disputa os campeonatos.
73
Tanto na Europa, quanto no Brasil, existem casos em que a quantidade de times que disputam
o campeonato varia de um ano para o outro, na seqüência histórica que será pesquisada. Além
disso, a quantidade de times que disputam também varia de um país para o outro.
Esses problemas serão solucionados a seguir, dentro da demonstração dos dois tipos de
cálculos realizados.
§ Calculo 1: HHI – Modelo de Oughton e Michie (2004) – Sazonal
Este cálculo é utilizado por trabalhos como o de Oughton e Michie (2004 e por Depkin
(1999), realizando o calculo do HHI sobre a tabela de classificação e o aproveitamento
percentual de cada clube. Para fins de demonstração, a tabela abaixo descreve o HHI, para o
exemplo de máximo desequilíbrio possível, no caso de 20 times.
O calculo é feito sobre o aproveitamento de cada time no campeonato fazendo a soma dos
quadrados desse aproveitamento, tal qual descrito na fórmula abaixo, sendo Si o
aproveitamento de cada clube em relação ao total de pontos máximo potencial:
74
Tabela 1: Maximo Desequilíbrio para 20 times:
A tabela abaixo demonstra esse HHI máximo e mínimo de acordo com a quantidade de times
que disputa o campeonato. Assim, no caso de um campeonato com 20 times, caso o cálculo
do HHI chegue ao valor de, por exemplo, “0,4789”, em determinado ano, significa que nesse
ano o HHI está a 70% do HHI máximo, ou seja, do máximo desequilíbrio, que nesse caso
seria “0,0684”. Dessa forma, o problema “ii” apresentado acima, com relação à quantidade
de times que disputa o campeonato estaria resolvido, já que a utilização de um percentual
sobre o HHI máximo servira como padronizador, independente do numero de times.
Times Jogos Vitorias PPG Total Maximo Aproveitamento % (Aproveitamento%) 2
1 38 38 3 114 114 100% 1,0002 38 36 3 108 114 95% 0,8983 38 34 3 102 114 89% 0,8014 38 32 3 96 114 84% 0,7095 38 30 3 90 114 79% 0,6236 38 28 3 84 114 74% 0,5437 38 26 3 78 114 68% 0,4688 38 24 3 72 114 63% 0,3999 38 22 3 66 114 58% 0,33510 38 20 3 60 114 53% 0,27711 38 18 3 54 114 47% 0,22412 38 16 3 48 114 42% 0,17713 38 14 3 42 114 37% 0,13614 38 12 3 36 114 32% 0,10015 38 10 3 30 114 26% 0,06916 38 8 3 24 114 21% 0,04417 38 6 3 18 114 16% 0,02518 38 4 3 12 114 11% 0,01119 38 2 3 6 114 5% 0,00320 38 0 3 0 114 0% 0,000
BASE 6,842HHI (MAXIMO) 0,068
75
Tabela 2: Máximo e Mínimo Desequilíbrio - Resumido
Dessa forma será possível calcular, para os cinco maiores campeonatos europeus e
Campeonato Brasileiro, um histórico nesses dez anos em relação ao HHI máximo e uma curva
de tendência, permitindo assim comparar o equilíbrio competitivo brasileiro em relação aos
outros campeonatos.
Para evitar problemas com relação à quantidade de jogos, no caso do Brasil, para os anos que
não tiveram campeonatos de pontos corridos (antes de 2003), serão utilizados apenas os dados
da primeira fase (fase de classificação).
No entanto, apesar de ser um dos melhores indicadores de comparação, sua utilização
significa assumir o problema “i” apresentado anteriormente, no qual o campeão pode não ter
o melhor aproveitamento entre todos os times do campeonato, para o caso do campeonato
brasileiro antes de 2003. Esse problema será compensado no calculo “2” deste trabalho.
Times jogos* Max HHI Min HHI18 17 ou 34 0,0684 0,022220 19 ou 23 0,0684 0,022222 21 ou 42 0,0751 0,024424 23 ou 46 0,0817 0,026725 24 ou 48 0,0851 0,027826 25 ou 50 0,0884 0,028928 27 ou 54 0,0951 0,0311
* Para o calculo do HHI Max, independe se o formato for de um turno (jogo de ida)ou dois turnos (ida e volta)
76
§ Calculo 2: Modelo de Dell’Osso e Symanski, S (1991) – Dominância de Longo Prazo
O trabalho utilizará também a medida proposta por Dell’Osso. F & Symanski, S (1991) no
artigo intitulado ‘Who Are the Champions?’, como um cálculo simples para complementar a
análise anterior, atribuindo 1, 2 e 3 pontos para o terceiro, segundo e terceiro lugares dos
campeonatos e verificando a concentração dos mesmos times nas primeiras posições do
campeonato, representando assim uma dominância de longo prazo.
Essa metodologia será complementada com a utilização do HHI, com o intuito de
demonstrarmos a concentração dos mesmos times nas primeiras posições dos campeonatos ao
longo de um período, no caso, dez anos. Essa metodologia é baseada em Gerrad (2004) e
Eckard (2001) para dominância de longo prazo.
Também para esse calculo, serão comparados os números alcançados com o HHI máximo.
Nesse caso, o “HHI Maximo” representa o máximo de concentração de times nas três
primeiras posições, representando o maior desequilíbrio possível, conforme demonstrado a
seguir.
O comparativo desse “HHI máximo” (exemplo 1) será feito com uma outra situação mais
equilibrada (exemplo 2). No exemplo 2, o HHI histórico para os dez anos estudados
representa apenas 32% do HHI Máximo, que representaria o máximo desequilíbrio.
77
Tabela 3: Exemplo de Calculo para Longo Prazo
Dessa forma, será possível calcular esse indicador para os cinco maiores campeonatos
europeus e também o Campeonato Brasileiro, analisando a diferença de concentração dos
mesmos times nas primeiras divisões. Essa se torna uma medida eficaz de dominância de
longo prazo.
Além disso, complementando o calculo “1” proposto anteriormente, essa passa a ser
uma maneira de solucionar o problema “i” de forma que os primeiros colocados na
classificação final são os que servem de base para o comparativo.
Exemplo 1País 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 SOMA % HHI MAXTime A 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 30 50% 2500Time B 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 20 33% 1111Time C 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 10 17% 278
SOMA 60 100% 3889Campeão 3ptsVice Campeao 2ptsTerceiro Lugar 1pt
Exemplo 2País 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 SOMA % HHITime A 3 3 3 2 2 2 1 1 1 1 19 32% 1003Time B 2 2 2 1 1 1 0 0 0 0 9 15% 225Time C 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 3 5% 25Time D 0 0 0 3 3 3 2 2 2 2 17 28% 803Time E 0 0 0 0 0 0 3 3 3 3 12 20% 400
SOMA 60 52% 1253Campeão 3ptsVice Campeao 2pts HHI MAX % HHI MAXTerceiro Lugar 1pt 3889 32,21%
78
5. RESULTADOS
Os resultados das pesquisas serão demonstrados conforme os dois cálculos descritos na
metodologia de pesquisa. O primeiro deles é baseado no modelo de Oughton & Michie (2004)
e em outros trabalhos como o de Depkin (1999), para determinação de equilíbrio competitivo
sazonal. O segundo, está baseado em autores como Dell’Osso e Symanski, S (1991), Gerrad
(2004) e Eckard (2001) para dominância de longo prazo As interpretações sobre os resultados
e os comentários sobre outros esportes e sobre futuras pesquisas serão apresentadas em
seguida.
5.1 CALCULO SAZONAL
O calculo sazonal levou em conta as tabelas de classificações anuais, de cada campeonato,
para o período de dez anos. Primeiro serão apresentados os dados de cada país, calculados
anualmente e comparados com o máximo desequilíbrio possível, para a quantidade de times
que disputara o campeonato. Esses dados serão apresentados nas tabelas a seguir
Tabela 04: Calculo do Índice de Concentração (HHI) para o Campeonato Brasileiro
Campeonato Brasileiro H INDEX Temporada times jogos Max Min Índice Brasileiro % Max Des.Brasil
2005 22 42 0,0751 0,0244 0,0487 64,9% 2004 24 48 0,0817 0,0267 0,0508 62,1% 2003 24 48 0,0817 0,0267 0,0524 64,2% 2002 26 25 0,0884 0,0289 0,0582 65,9% 2001 28 27 0,0951 0,0311 0,0632 66,5% 2000 25 24 0,0851 0,0278 0,0552 64,9% 1999 22 21 0,0751 0,0222 0,0471 62,8% 1998 24 23 0,0817 0,0267 0,0534 65,4% 1997 26 25 0,0884 0,0289 0,0561 63,4% 1996 24 23 0,0817 0,0267 0,0529 64,7%
79
Tabela 05: Calculo do Índice de Concentração (HHI) para o Campeonato Inglês
Campeonato Inglês H INDEX Temporada times jogos Max Min Indice Inglaterra % Max Des.Ing 2005 / 06 20 38 0,0684 0,0222 0,0485 70,9% 2004 / 05 20 38 0,0684 0,0222 0,0451 65,9% 2003 / 04 20 38 0,0684 0,0222 0,0443 64,8% 2002 / 03 20 38 0,0684 0,0222 0,0458 67,0% 2001 / 02 20 38 0,0684 0,0222 0,0456 66,7% 2000 / 01 20 38 0,0684 0,0222 0,0444 64,9% 1999 / 00 20 38 0,0684 0,0222 0,0460 67,3% 1998 / 99 20 38 0,0684 0,0222 0,0433 63,3% 1997 / 98 20 38 0,0684 0,0222 0,0443 64,7% 1996 / 97 20 38 0,0684 0,0222 0,0422 61,6% Tabela 06: Calculo do Índice de Concentração (HHI) para o Campeonato Italiano Campeonato Italiano H INDEX Temporada times jogos Max Min Indice Italia % Max Des.Italia 2005 / 06 20 38 0,0684 0,0222 0,0464 67,8% 2004 / 05 20 38 0,0684 0,0222 0,0425 62,1% 2003 / 04 18 34 0,0618 0,0200 0,0416 67,3% 2002 / 03 18 34 0,0618 0,0200 0,0397 64,3% 2001 / 02 18 34 0,0618 0,0200 0,0405 65,6% 2000 / 01 18 34 0,0618 0,0200 0,0401 64,9% 1999 / 00 18 34 0,0618 0,0200 0,0399 64,6% 1998 / 99 18 34 0,0618 0,0200 0,0398 64,5% 1997 / 98 18 34 0,0618 0,0200 0,0409 66,3% 1996 / 97 18 34 0,0618 0,0200 0,0379 61,3% Tabela 07: Calculo do Índice de Concentração (HHI) para o Campeonato Espanhol Campeonato Espanhol H INDEX Temporada times jogos Max Min Indice Espanha % Max Des.Esp 2005 / 06 20 38 0,0684 0,0222 0,0444 64,8% 2004 / 05 20 38 0,0684 0,0222 0,0446 65,2% 2003 / 04 20 38 0,0684 0,0222 0,0446 65,1% 2002 / 03 20 38 0,0684 0,0222 0,0443 64,7% 2001 / 02 20 38 0,0684 0,0222 0,0432 63,1% 2000 / 01 20 38 0,0684 0,0222 0,0440 64,3% 1999 / 00 20 38 0,0684 0,0222 0,0422 61,6% 1998 / 99 20 38 0,0684 0,0222 0,0446 65,1% 1997 / 98 20 38 0,0684 0,0222 0,0433 63,3% 1996 / 97 22 42 0,0751 0,0244 0,0492 65,5%
80
Tabela 08: Calculo do Índice de Concentração (HHI) para o Campeonato Alemão Campeonato Alemão H INDEX
Temporada times jogos Max Min Indice Alemanha % Max
Des.Alem 2005 / 06 18 34 0,0618 0,0200 0,0394 63,8% 2004 / 05 18 34 0,0618 0,0200 0,0420 68,0% 2003 / 04 18 34 0,0618 0,0200 0,0415 67,1% 2002 / 03 18 34 0,0618 0,0200 0,0398 64,4% 2001 / 02 18 34 0,0618 0,0200 0,0423 68,5% 2000 / 01 18 34 0,0618 0,0200 0,0402 65,1% 1999 / 00 18 34 0,0618 0,0200 0,0397 64,2% 1998 / 99 18 34 0,0618 0,0200 0,0400 64,8% 1997 / 98 18 34 0,0618 0,0200 0,0386 62,5% 1996 / 97 18 34 0,0618 0,0200 0,0410 66,3%
Tabela 09: Calculo do Índice de Concentração (HHI) para o Campeonato Francês Campeonato Francês H INDEX Temporada times jogos Max Min Indice Franca % Max Des.Fra 2005 / 06 20 38 0,0684 0,0222 0,0429 62,7% 2004 / 05 20 38 0,0684 0,0222 0,0406 59,4% 2003 / 04 20 38 0,0684 0,0222 0,0446 65,1% 2002 / 03 20 38 0,0684 0,0222 0,0433 63,2% 2001 / 02 18 34 0,0618 0,0200 0,0388 62,7% 2000 / 01 18 34 0,0618 0,0200 0,0390 63,1% 1999 / 00 18 34 0,0618 0,0200 0,0386 62,4% 1998 / 99 18 34 0,0618 0,0200 0,0397 64,2% 1997 / 98 18 34 0,0618 0,0200 0,0401 65,0% 1996 / 97 20 38 0,0684 0,0222 0,0431 63,0% Em seguida serão apresentados os valores das tabelas acima em forma de gráfico, nas figuras
abaixo, primeiro em relação a esse máximo desequilíbrio e segundo, com a curva de tendência
em logaritmo do gráfico anterior.
81
Figura 12 – Comparativo Sazonal em Relação ao Máximo Desequilíbrio
Comparativo Sazonal em Relação ao Máximo Desequilíbrio
58%
60%
62%
64%
66%
68%
70%
72%
2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996
% Max Des.Brasil % Max Des.Italia % Max Des.Alem% Max Des.Fra % Max Des.Esp % Max Des.Ing
Figura 13 – Curva de Tendência (Sazonal) em Relação ao Máximo Desequilíbrio
Curva de Tendência (Sazonal) em relação ao Máximo Desequilibrio
60.0%61.0%62.0%63.0%64.0%65.0%66.0%67.0%68.0%69.0%70.0%
2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996
Log. (% Max Des.Alem) Log. (% Max Des.Italia) Log. (% Max Des.Brasil)Log. (% Max Des.Fra) Log. (% Max Des.Esp) Log. (% Max Des.Ing)
5.2 CALCULO DE DOMINANCIA
O calculo de dominância levou em conta as posições finais nas classificações anuais. A partir
delas, foi calculada a concentração dos mesmos times nas posições de liderança (Primeiro,
82
Segundo e Terceiro Lugares), utilizando indicador de concentração HHI, para o período de
dez anos, e comparando entre os distintos campeonatos nacionais.
As tabelas abaixo mostram os cálculos por Campeonato Nacional, e sem seguida será
apresentada uma tabela em ordem de desequilíbrio, que sumariza os dados apresentados.
Tabela 10: Calculo de Dominância de Longo Prazo para o Campeonato Inglaterra.
Tabela 11: Calculo do Índice de Concentração (HHI) para o Campeonato Francês.
Tabela 11: Calculo de Dominância de Longo Prazo para o Campeonato Espanhol.
Espanha 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 SOMA % HHI % HHI MAXBarcelona 3 3 2 2 3 3 2 18 30% 900,0Valencia 1 3 3 1 8 13% 177,8Real Madrid 2 2 3 1 3 2 3 16 27% 711,1Deportivo 1 1 2 2 3 9 15% 225,0Villareal 1 1 2% 2,8Real Sociedad 2 1 3 5% 25,0Mallorca 1 1 2 3% 11,1Atletico Bilbao 2 2 3% 11,1Sevilla 1 1 2% 2,8
SOMA 60 100% 2066,667 53%Campeão 3pts HHI MAX 3889Vice Campeao 2ptsTerceiro Lugar 1pt
Inglaterra 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 SOMA % HHI % HHI MAXChelsea 3 3 2 1 9 15% 225,0Manchester 2 1 1 3 1 3 3 3 2 3 22 37% 1344,4Arsenal 2 3 2 3 2 2 2 3 1 20 33% 1111,1Liverpool 1 2 1 1 5 8% 69,4Leeds 1 1 2% 2,8New Castle 1 2 3 5% 25,0
SOMA 60 100% 2777,778 71%Campeão 3pts HHI MAX 3889Vice Campeao 2ptsTerceiro Lugar 1pt
83
Tabela 12: Calculo de Dominância de Longo Prazo para o Campeonato Francês.
Tabela 13: Calculo de Dominância de Longo Prazo para o Campeonato Alemão.
Tabela 14: Calculo de Dominância de Longo Prazo para o Campeonato Italiano.
Italia 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 SOMA % HHI % HHI MAXJuventus 3 3 1 3 3 2 2 3 3 23 38% 1469,4Milan 2 2 3 1 1 3 12 20% 400,0Roma 2 2 3 7 12% 136,1Lazio 1 3 2 6 10% 100,0Inter Milao 1 1 2 1 2 1 8 13% 177,8Fiorentina 1 1 2% 2,8Udinese 1 1 2% 2,8Parma 2 2 3% 11,1
SOMA 60 100% 2300,00 59%Campeão 3pts HHI MAX 3889Vice Campeao 2ptsTerceiro Lugar 1pt
Alemanha 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 SOMA % HHI % HHI MAXBayer Munique 3 3 2 3 1 3 3 3 2 3 26 43% 1877,8Werder 2 1 3 6 10% 100,0Borussia 1 3 1 1 6 10% 100,0Kaiserslautern 3 3 5% 25,0Hamburger 1 1 2 3% 11,1Shalke 04 2 2 4 7% 44,4Bayer Leverk. 1 2 2 2 1 2 10 17% 277,8Stuttgart 2 2 3% 11,1Hertha 1 1 2% 2,8
SOMA 60 100% 2450,00 63%Campeão 3pts HHI MAX 3889Vice Campeao 2ptsTerceiro Lugar 1pt
França 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 SOMA % HHI % HHI MAXLion 3 3 3 3 3 2 1 1 19 32% 1002,8Monaco 1 1 2 3 1 3 11 18% 336,1Nantes 3 1 4 7% 44,4Bordeaux 2 3 5 8% 69,4Lens 2 3 5 8% 69,4Lille 1 2 1 4 7% 44,4PSG 2 2 2 6 10% 100,0Marseille 1 2 3 5% 25,0Auxerre 1 1 2% 2,8Metz 2 2 3% 11,1
SOMA 60 100% 1705,556 44%Campeão 3pts HHI MAX 3889Vice Campeao 2ptsTerceiro Lugar 1pt
84
Tabela 15: Calculo de Dominância de Longo Prazo para o Campeonato Brasileiro
A tabela abaixo agrupa os resultados, em ordem de máximo desequilíbrio, do ponto de vista
de dominância a longo prazo, acima apresentados. Assim, o Campeonato Inglês, nos últimos
dez anos, tem o maior índice de desequilíbrio, representados pela concentração dos mesmos
times nas três primeiras posições na classificação final.
Tabela 16: Tabela Agrupada de Concentração no Longo Prazo.
BRASIL 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 SOMA % HHI % HHI MAXCorinthians 3 2 3 3 11 18% 336,1Santos 3 2 3 1 9 15% 225,0Cruzeiro 3 1 2 6 10% 100,0Vasco 3 3 6 10% 100,0Atl Par 2 3 5 8% 69,4Gremio 1 3 4 7% 44,4São Caetano 2 2 4 7% 44,4São Paulo 1 1 1 3 5% 25,0Atletico MG 2 1 3 5% 25,0Inter 2 1 3 5% 25,0Palmeiras 2 2 3% 11,1Portuguesa 2 2 3% 11,1Fluminense 1 1 2% 2,8Goias 1 1 2% 2,8
SOMA 60 100% 1022,222 26%Campeão 3pts HHI MAX 3889Vice Campeao 2ptsTerceiro Lugar 1pt
Pais % HHI MAXInglaterra 71%Alemanha 63%Italia 59%Espanha 53%França 44%Brasil 26%
85
5.3 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
Esta seção de interpretação dos resultados será divida em pequenos tópicos de forma que
possam ser endereçados os comentários e conclusões pertinentes, relativos aos dados da
pesquisa e em associação com a revisão de literatura. A interpretação será dividida
respeitando a seguinte ordem: i) Análise Sazonal; ii) Análise de Longo Prazo; iii) Análise
Final por Campeonato Nacional; iv) Associação do Tema com Padrão de Concorrência e
Papel da Estrutura; v) Indicador de Concentração (ex-post); vi) Papel das Condutas das
Empresas e Busca de Vantagens Competitivas; vii) Análise da Influência do Novo Modelo de
Campeonato Brasileiro.
5.3.1 ANÁLISE SAZONAL
Os dados relativos à análise sazonal (temporada,) evidenciaram que os campeonatos nacionais
da série A na Itália, Alemanha e Inglaterra apresentam níveis altos e crescentes de
desequilíbrio por temporada, conforme gráfico de tendência, demonstrado no item 5.1.2. Já os
campeonatos Brasileiro e Espanhol, no período de dez anos, mantiveram um nível
relativamente constante, com mais equilíbrio competitivo sazonal que os campeonatos
Alemão, Inglês, e Italiano. Por fim, a França apresentou a maior tendência de equilíbrio
dentre os países estudados. Esses números têm relação direta com a atratividade de cada
campeonato e com a capacidade que os times tem de se reforçar ano a ano, vis à via a
concorrência. Da forma apresentada na pesquisa, evolutivamente, esse indicador sazonal pode
ser um primeiro passo na análise de competitividade no longo prazo. No entanto, mesmo com
o crescimento de um desequilíbrio por temporada, isso não significa dizer que são os mesmos
times que alcançam as primeiras posições na tabela. Da mesma forma, no caso, por exemplo,
86
da França, um aumento no equilíbrio competitivo, não deixa uma conclusão definitiva sobre a
presença dos mesmos times no topo, como será demonstrado na análise a seguir.
5.3.2 ANÁLISE DE LONGO PRAZO
A análise sazonal é na verdade um primeiro indicador de dominância podendo, por exemplo,
ser associado à média de publico anual dos campeonatos. No entanto, do ponto de vista de
concentração dos times, esses indicadores devem ser complementados com os resultados da
análise de longo prazo. Nesse sentido, o Brasil apresentou o maior equilíbrio dentre os
países estudados, conforme tabela o item 5.2.2. A Inglaterra atingiu o maior índice de
desequilíbrio, representando 71% do máximo desequilíbrio possível, do ponto de vista
de concentração dos mesmos times nas primeiras posições do campeonato. Esse índice
para o Brasil ficou apenas em 26%, seguido pela França, com 44%. As conclusões sobre
o tema, por país, serão apresentadas a seguir:
5.3.3 ANÁLISE FINAL POR CAMPEONATO NACIONAL
• O Campeonato Inglês mostrou ser o campeonato de maior desequilíbrio dentre os
mais importantes do mundo, concentrando-se em dois times: Manchester United e
Arsenal. Mais recentemente o Chelsea entrou nesse grupo seleto. Conforme
demonstrado na revisão de literatura, os clubes ingleses conviveram com a construção
de grandes times, como foi Liverpool e Manchester, com reputação superior aos
outros e com administrações eficazes (Dell’Osso. F; Symanski, S, 1991). Esses clubes
desenvolveram-se financeiramente e entraram em um ciclo virtuoso de sucesso, tal
qual estudado por Lam (2006). A entrada do Chelsea nesse grupo de times principais
deve-se a uma grande injeção de capital de investidores russos, o que parece coincidir
87
com a afirmação de Besanko et al (2006) relativa à única barreira à entrada, que
conforme o autor, seria ‘dinheiro’. No entanto, conforme visto anteriormente, a
Inglaterra foi pioneira em legislação relacionada à proteção e segurança do torcedor,
bem como nos passos positivos da administração e criação de clubes empresas. A
estrutura do mercado inglês (conjunto de leis, órgãos reguladores e organização de
campeonato) parece influenciar as condutas e o desempenho das empresas.
Independente disso, os novos temas de governança e de equilíbrio competitivo já se
mostram pertinentes em terreno britânico, já que existe um gap de receitas entre os
clubes. Este distanciamento entre as estruturas de clubes pode estar associado a um
possível encorajamento a uma estrutura de custos altos, com altos salários, levando a
perdas financeiras no final da temporada. No entanto, mesmo alguns times famosos,
como o Liverpool, preferem uma administração mais preocupada com os resultados
financeiros, mas não tem conseguido chegar no topo da classificação do campeonato
inglês, trazendo de volta a discussão: qual o objetivo de um clube; resultado financeiro
ou conquista de títulos?
• O Campeonato Alemão também apresenta alto nível de desequilíbrio, sazonal e de
longo prazo, principalmente devido ao papel de liderança do Bayer de Munique e do
Leverkusen na primeira metade estudada (96-01). O campeonato alemão parece já
sofrer com a ameaça de ligas rivais, de tal forma que na Europa, os campeonatos
Inglês, Espanhol e Italiano detém maior apelo, com melhores jogadores internacionais.
Além disso, as ligas européias também são de grande influência frente a constância
dos mesmos clubes nas mesmas posições na liga alemã.
• O Campeonato Italiano sempre foi visto como um dos grandes campeonatos
mundiais. Nos últimos anos, as equipes da Juventus e do Milan dominaram o cenário
88
influenciando os números altos de desequilíbrio encontrados na pesquisa.
Recentemente, na temporada de 2005/06, o campeonato sofreu investigação sobre
compra de resultados e alterações de balanços. Esses dois principais clubes foram
penalizados e a Juventus foi rebaixada para a segunda divisão. É possível que essa seja
uma oportunidade para outros times, como o Inter, mas em geral, o peso dos mesmos
clubes (os três citados) permanece alto devido a presença dos mesmos nas ligas
européias e a uma injeção de capital no Milan e na Juventus, que excede o raciocínio
puramente financeiro. Nesses clubes, e mais notadamente no Milan, os diretores e
sócios, também ligados à política, compensam com aporte de capital, os eventuais
prejuízos no fim do ano. Esse ano, no entanto, a Juventus foi penalizada e não
participa também de nenhuma liga européia, o que representa uma menor receita para
o clube. Independente disso, os principais clubes italianos apresentam elevado índice
de profissionalismo do ponto de vista de dar condições aos atletas, com centros de
treinamento e calendários planejados. O risco presente na indústria está no
encorajamento de custos altos, na tentativa de outros clubes acompanharem os altos
salários e investimentos vis à vis Milan, Juventus e Inter.
• O Campeonato Espanhol também apresenta, assim como os demais acima citados,
dominância de mesmos clubes nas primeiras posições. Mais recentemente, o
Barcelona retomou o posto de principal equipe, inclusive no cenário europeu e
mundial. A Espanha também foi pioneira em legislação obrigando aos clubes a abrir
capital, caso tivessem resultados negativos em seus balanços. Isso os obrigou a
aperfeiçoar seus instrumentos de gestão e de prestação de contas. O Barcelona, devido
à grande quantidade de sócios, mantém-se como um clube fechado, assim como o
Real Madrid. Este, recentemente, não vem conseguindo o título espanhol, apesar de
89
liderar os rankings de altos salários aos jogadores, que estão também associados à
uma agressiva estratégia de marketing e resultados financeiros, que vem sendo
alcançados. Os clubes, acima citados, constam na listagem de clubes mais ricos do
mundo.
• O Campeonato Francês, apesar do resultado mais baixo de desequilíbrio, dentre os
campeonatos europeus, vem apresentando uma das maiores seqüências do mesmo
time na liderança da classificação. O Lion é o atual penta-campeão seguido do
campeonato. A resposta para os índices alcançados na França está provavelmente
associada a uma disputa mais equilibrada entre todos os times (à exceção do Lyon),
influenciando o resultado do calculo final. Este parece ter conseguido entrar no ciclo
virtuoso, descrito por Lam (2006), associado a capacidade de manter grandes
jogadores por mais de uma temporada e criando um padrão de longo prazo.
• O Campeonato Brasileiro tem como principal característica à alternância dos
mesmos times nas primeiras posições. Ao contrário do que acontece com clubes como
o Lyon, Bayer de Munique, Barcelona, Milan, Juventus, dentre outros grandes na
Europa, os clubes Brasileiros não conseguem manter uma estrutura de longo prazo,
com formação de equipes competitivas. O modelo de receita dos clubes de futebol,
associado à venda de jogadores, faz com que a necessidade de se conseguir resultados
positivos ao final da temporada leve os clubes a desmantelar suas equipes, mesmo no
meio da temporada. A estrutura desorganizada, associada a uma economia frágil,
encoraja a transferência de jogadores para o exterior, em um cenário de decadência
doméstica (The Economist, 2005). Assim, por conta de uma incapacidade estrutural e
também administrativa da maioria dos clubes, o campeonato brasileiro, por uma via
errada, atinge o melhor nível de equilíbrio competitivo. Conforme será analisado nos
90
três tópicos a seguir, isso significa que os clubes brasileiros precisam se preparar para
alterar esse modelo de receita, através de um melhor relacionamento com os clientes e
através de condutas relevantes (estratégias e buscas de vantagens competitivas), se
diferenciarem e mudarem o panorama do mercado. No entanto, o principal desafio
está na manutenção do equilíbrio histórico já inerente ao campeonato brasileiro.
5.3.4 ASSOCIAÇÃO DO TEMA COM PADRÃO DE CONCORRÊNCIA E PAPEL DA
ESTRUTURA
Conforme apresentado na seção 3.1, ambiente competitivo está relacionado à necessidade de
estratégias empresarias, mas também à criação de fatores sistêmicos favoráveis à concorrência
e competitividade tais como: criação de externalidades positivas, infra-estrutura, mão-de-obra,
financiamento e instrumentos de defesa de concorrência. No caso do futebol. No Futebol, a
presença de instrumentos públicos (ações governamentais) mostraram-se eficazes na
Inglaterra e na Espanha, no sentido de impulsionar os clubes a em direção à um melhor
relacionamento com os clientes e à uma estrutura organizacional profissional. Conforme
apresentado, Kupfer (2005, p.14): “competitividade é a função da adequação das estratégias
das empresas individuais ao padrão de concorrência vigente.”
5.3.5 INDICADOR DE CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL (EX-POST)
A utilização de indicadores de concentração é na verdade uma maneira rápida de se
diagnosticar determinada situação de desempenho, no caso do futebol, as posições na tabela
de classificação. Entretanto, a principal discussão a ser apresentada é: Quanto tempo de
maturação (retorno para os investimentos) é necessário na construção de equipes
continuamente competitivas? Seguindo o mesmo raciocínio, até que ponto uma determinada
91
situação hoje representa a competitividade alcançada anteriormente (em um dado momento, o
grau de eficiência da firma é na verdade determinado por estratégias competitivas adotadas
anteriormente)? Em alguns casos, como o do clube inglês Chelsea, o grande aporte de capital
foi suficiente para criar resultado operacional (títulos), mas será que isso é uma verdade para
todos os clubes?
5.3.6 PAPEL DAS CONDUTAS DAS EMPRESAS E BUSCA DE VANTAGENS
COMPETITIVAS
Conforme apresentado anteriormente: “Essa dinâmica industrial sugere que as situações
monopolísticas criadas a partir de inovações devem ser vistas como o resultado do processo
competitivo”. Nesse caso, os clubes de futebol que conseguirem melhor acesso a mão-de-
obra, (como jogadores e técnicos) e investirem em centros de treinamento e formação de
equipes competitivas no longo prazo, serão aqueles que se diferenciarão da média dos seus
rivais. Essa seria uma estratégia baseada em recursos (Hitt 2003, p.21). No caso do
Nottingham Forest, citado na seção 3.2.2, a captação do melhor general manager foi crucial
para o desempenho do clube.
5.3.7 ANÁLISE DA INFLUENCIA DO NOVO MODELO DE CAMPEONATO
BRASILEIRO
Um fator relevante para a discussão apresentada é a mudança do modelo de campeonato
adotado pelos clubes no Brasil em 2003, em uma tentativa de se ‘copiar’ os campeonatos
92
nacionais europeus. O modelo de pontos corridos foi adotado e as conclusões sobre o impacto
desse formato para o equilíbrio competitivo são ainda precoces.
Apesar disso, é de se esperar que os times mais organizados repetitivamente alcancem as
primeiras posições da tabela, uma vez que os campeonatos de pontos corridos privilegiam os
melhores times e normalmente dão menos margens às “zebras” (resultados não esperados) a
medida que elas são compensadas no longo prazo.
Assim, as instituições que comandam o futebol brasileiro, bem como os clubes de futebol
devem se preocupar de antemão e estarem alertas para eventuais concentrações de títulos,
representando um risco de perda de atratividade para o torcedor.
Vale dizer, que o campeonato já conta com uma baixa média de público, devido às más
condições dos serviços oferecidos. Conforme descrito na revisão de literatura, o futebol
compete com outros eventos de entretenimento e os clubes, apesar da fidelidade (Giovanetti et
al.,2004), parecem não perceber essa ameaça de produtos substitutos.
Outro fator relevante, conforme apresentado na seção 3.2.3, é a loteria (Time Mania) que está
sendo criada Esse programa cria um marco zero para as dívidas dos clubes e aqueles que
estiverem com suas contas saneadas acabarão recebendo mais capital para investir no futebol.
Além disso, grandes clubes, como, por exemplo, o Flamengo, já contam com um orçamento
alto. No momento em que este orçamento não estiver comprometido com dividas passadas, o
clube poderá investir melhor na construção de equipes competitivas. Entretanto, essa não será
uma solução se os clubes não profissionalizarem sua gestão e procurarem manter suas contas
equilibradas.
93
5.4 ANALOGIA COM OUTROS ESPORTES
A discussão do tema sobre equilíbrio competitivo pode ser também apresentada em outros
esportes, tal como as ligas de basquete e baseball (ver anexo tabela 2).
Além desses exemplos, uma das aplicações poderia estar nas corridas de automóveis, mais
especia lmente a Fórmula 1, que teve seu predomínio em quase sete anos da mesma equipe e
do mesmo piloto, Ferrari e Michael Schumacher, respectivamente. Nesse sentido, a
preocupação sobre a atratividade do evento esportivo se torna mais visível, influenciando a
curva de demanda com relação principalmente ao nível de audiência da televisão,
influenciando contratos de patrocínio e a realização do evento como um todo.
5.5 SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS
Algumas sugestões de pesquisas podem ser feitas a partir da discussão apresentada nesse
trabalho.
• Qual o período de Maturação para se construir um Clube Competitivo?
• Até que ponto um nível de desequilíbrio sazonal interfere na média de público?
(Regressão entre evolutivo do índice HHI com a média de público)
94
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho procurou apresentar o debate sobre o equilíbrio competitivo no futebol desde
suas raízes, encontradas no conceito de competitividade e concorrência da literatura, até a
busca de vantagens competitivas e construção de clubes de sucesso dentro da indústria do
Futebol. O objetivo final foi testar o equilíbrio competitivo do futebol brasileiro comparado
ao futebol europeu , usando métodos quantitativos e interpretando os resultados à luz da
literatura econômica e administrativa.
Os conceitos de competitividade foram associados às noções de eficiência e desempenho além
da evolução do seu tratamento nas escolas clássica, marxista, neoclássica, schumpeteriana,
estrutura-conduta-desempenho, neo-schumpeteriana, teoria dos jogos e teoria da
contestabilidade, todas relevantes para o entendimento da construção de ambientes
competitivos e da associação do tema, dentro da literatura de administração, em torno da
busca de inovação e vantagens competitivas.
A teoria econômica aliada aos conceitos de estratégia foi levada em conta para elaboração da
pesquisa, considerando as limitações dos indicadores utilizados e a relevância da estratégia
para diferenciação e posicionamento superior no mercado, de uma empresa, em relação aos
seus rivais.
A metodologia para a pesquisa foi baseada nos indicadores de concentração industrial e nos
trabalhos de Oughton e Michie (2004) e Dell’Osso e Symanski, S (1991) para testar equilíbrio
competitivo sazonal (por temporada) e no longo prazo. O indicador de concentração industrial
95
utilizado foi o HHI (Herfindahl-Hirschman), utilizado na análise de atos de concentração
pelos órgãos de regulação econômica, como é o caso do Federal Trade Commission dos
Estados Unidos.
Os objetos de pesquisa foram os clubes de futebol disputando a Série A do campeonato
brasileiro e dos cinco maiores campeonatos europeus (Alemanha, Espanha, França, Inglaterra
e Itália). Os resultados obtidos foram analisados levando em conta inclusive o novo cenário
brasileiro, que a partir de 2003 passou a adotar um modelo de pontos corridos, copiando os
formatos adotados na Europa.
Nesse contexto, os campeonatos europeus apresentam maior nível de desequilíbrio frente ao
campeonato brasileiro. A Inglaterra mostrou o maior índice de desequilíbrio dentre os
pesquisados. No entanto, por mais que seja positivo ter um campeonato equilibrado, o
resultado brasileiro só apresenta o melhor desempenho devido à falta de gerenciamento e de
estrutura do futebol no país como um todo.
Face ao modelo brasileiro de receitas, baseado na venda de jogadores, os clubes não
conseguem manter os mesmos times por mais de uma temporada, de tal forma que o resultado
da pesquisa mostra que não existe dominância de clubes no longo prazo no Brasil. O novo
modelo de campeonato ainda é recente e por isso, a análise da sua influencia sobre o tema de
equilíbrio se torna precoce. Entretanto, a preocupação de dominância já pode ser apresentada
às organizações que controlam o futebol. Além disso, conforme descrito na revisão de
literatura, os resultados oriundos do desempenho de clubes podem estar associados a
estratégias e investimentos realizados no passado, de tal forma que os efeitos do novo modelo
de campeonato também só podem estar mais claros nos próximos anos.
96
Vale ressaltar que a preocupação do tema está associada ao risco de perda de atratividade para
os torcedores. Esse risco, aliado à ameaça de falência de pequenos clubes e à entrada de
outros campeonatos (ligas continentais) como substitutos fazem com que esse assunto seja
pertinente para o futebol brasileiro.
O futebol brasileiro já vem enfrentando a perda de espectadores devido a fatores como
segurança e conforto do torcedor e deve se preocupar com esses assuntos diretamente ligados
à continuidade do esporte. O presente trabalho, dessa forma, pode ser considerado um passo
na introdução de um tema que pode vir a ser ainda mais relevante futuramente.
97
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1
APÊNDICE A
TABELA 1 - Sumário das Medidas de Concentração Industrial
Fonte Medida Fórmula Descrição Comentários
Bikker & Haaf (2001), Araujo, Neto
& Ponce (2005)
HTI (Hall- Tiedman) ∑
−
−=n
iisiHTI
1
)12(1
Onde “i” é designado segundo o tamanho dos bancos. A
participação de cada banco recebe peso igual a sua ordem na
apuração. HTI varia de 1/n 1, no caso de monopólio.
Utilizadas em análises de Concentração em segmentos
financeiros (Bancos)
Hoffmann (1998),
Bikker & Haaf (2002)
RI (Índice de Rosenbluth) ∑
−
−=n
ii
yiB1
)12(1
Onde “y” são as empresas. Índice para varia de B=0 (produção
dividida de maneira igualitária entre as empresas) e B=1, para
monopólio.
Utilizada como índice de concentração industrial.
Bikker & Haaf (2002) CCI (Comprehensive
Industrial Concentration)
∑−
−++=n
iissCCI s
2
211
))1(1(
Medida é a soma da participação de mercado da empresa líder, com
a soma dos quadrados das participações das outras empresas.
Índice surgiu do debate de concentração e dispersão em
bancos.
Bikker & Haaf (2002)
HKI (Hannah and Kay Index) ∑
−
−=n
i
sHKI1
)1/(11 )( αα
10 ≠> αα e Ver Bikker & Haaf (2002) para descrição completa
2
TABELA 2 - Sumário das medidas de Equilíbrio Competitivo nas ligas Esportivas Americanas e no Futebol
a) Ligas Esportivas Americanas
Autor e Ano de Publicação
Tipo de Equilíbrio Competitivo
Descrição da Medida Comentários
Scully(1989), Quirk and Fort (1992)
Sazonal Desvio Padrão da percentagem de vitórias dividido pelo desvio padrão ideal
Medida Padrão nas ligas americanas.
Fort and Quirk (1992) Dominância de Longo Prazo
Curva de Lorenz medindo a percentagem cumulativa de campeonatos vencidos no período de 1901 a 1990.
Usada para comparativo cross-section e dominância para longo prazo. Mostra que a NBA tem o pior índice de competitividade nas 5 maiores ligas americanas
Horowitz (1997) Sazonal Medida Entrópica usada em percentagem de vitórias. Relativa ao Maximo Valor Relativo em uma liga perfeitamente desequilibrada
Estima a Entropia Relativa da liga de Baseball Americana entre 1903-1995 e descobre aumento de equilíbrio competitivo.
Depkin (1999) Sazonal Índice de Herfindahl-Hirschman calculado pela diferença entre a soma dos quadrados do percentual de vitória de cada time e 1/N
Pesquisa de competitividade na liga de baseball no período de 1920-1996 resultando em mais estabilidade
Eckard (2001) Sazonal e Dinâmica Medida de Variância que considera o nível de efeitos cumulativos de vitórias decompondo a variância das percentagens de vitória ao longo do tempo em variância cumulativa e variância no tempo
Medida de variância cumulativa entre 1975 e 1999 para a liga de baseball.
Eckard (2001) Dominância Índice de Herfindahl-Hirschman baseado no percentual de participação nos 4 primeiros lugares na liga em um período de 5 anos
Encontra resultado consistente com a medida de variância em ligas americanas
b) Futebol
Autor e Ano de Publicação
Tipo de Equilíbrio Competitivo
Descrição da Medida Comentários
Peel and Thomas (1988) Jogo Probability Odds: Probabilidades para vitórias em partidas disputadas em casa.
Captura incerteza na partida. Usada para explicar a variação da demanda por futebol. Curva (U-Shaped) de relação entre inerteza entre as partidas e publico nos estádios.
3
Kuyoers and Szymanski (1999)
Sazonal Desvio Padrão para cada pontuação de clube na temporada em 10 temporadas desde 1946. Sensível para mudanças no sistema de pontuação e no. de times.
Mostra que a media de desvio padrão dos pontos totais (para as ultimas 10 temporadas) aumentou nas ultimas 3 decadas desde 1946, mas caiu no período entre 1986-96.
Kuyoers and Szymanski (1999)
Dominância de Longo Prazo
Segue o modelo de Fort and Quik (1992) para a curva de Lorenz medindo o percentual cumulativo das vitórias de campeonato no período de 1946-1998 para as 5 ligas Européias.
Mostra que a liga Inglesa tem o menor grau de dominância no longo prazo e o Campeonato Holandês tem o maior para o período de 1946-1998
Dobson and Goddard (2001)
Jogo Modelos de Previsão usando probabilidades e informações históricas para previsão de partidas.
Performance passada é usada para prever performance futura, mas ainda com efeitos randomicos
Szymanski (2001) Sazonal e Tendências
SDW (Desvio padrão das pecentagens de vitória) calculado entre os clubes das ligas de Futebol e na Premier League no período de 1977 – 1999. Medida mais comum nos estudos americanos que em maioria são deflacionados pelo desvio padrão ideal onde cada clube tem igual chance de ganhar uma partida.
Mostra que não existe clara tendência no equilíbrio competitivo. A medida combina 4 ligas e compara o SDW nas ligas.
Forrest and Simmons Jogos Baseada em probabilidades. Usada como variavel para explicar media de publico. Captura Incerteza das partidas na temporada 1977/8
Dominância Indicador que olha para o atual numero de times que vencem o campeonato ou entram nos primeiros 5 lugares comparando com a distribuição teórica de probabilidade de vitórias
3 ligas fechadas americanas tem mais equilíbrio que 3 ligas fechadas européias
Buzzacchi, Szymanski and Valleti (2003) Sazonal O trabalho também inclui estimativas (medias de 5 períodos de
10 anos) de SDW Medida de SDW para liga inglesa mostra declínio em equilíbrio competitivo no final dos anos 80 e melhoras nos anos 90.
Morrow (2003) Dominância Pesquisa dos cinco maiores clubes no período de 5 anos (1998-2002)
Produz uma tabela para os cinco maiores clubes para 7 ligas européias
Bourg (2004) Sazonal SDW, como Scully(1989) e Fort and Quirk(1992) Media de SDW para o periodo de 4 anos entre 1980-200. Encontra que o equilíbrio competitio deteriora entre 86-90, melhora entre 91-95 e volta a deteriorar entre 96-2000
Dobson and Goddard (2004)
Sazonal e Tendência para Copa Inglesa.
Probabilidade de vitórias nas partidas da FA Cup condicionante a posição do clube na liga.
Assim como Szymanski (2001) acha declínio na competitividade da FA CUP.
Gerrad (2004) Dominância Assim como Eckard (2001) usa o Herfindahl index para medir concentração de títulos e participação nos 4 maiores lugares. Também analisa a participação de títulos nos top 2 e top 3 clubes e as diferenças de pontos entre os 1o. E 2o. Lugares.
A concentração de titulos é usada para analise cross-section e comparação entre competitividade entre diferentes ligas nacionais.
4
Fonte: Oughton & Michie (2004); Tabela adaptada pelo Autor. TABELA 3 – Tipologias e Autores em Estratégia
TIPOLOGIA AUTOR ANO TIPOLOGIA AUTOR ANO
Chandler 1962 Porter 1980 Learned et al 1965 Andrews 1987 Ackoff 1970 Henderson 1989 Andrews 1971 Hax & Majluf 1991 Rhenman 1973 Pfeffer 1998 Rumelt 1974
VANTAGEM COMPETITIVA
Fahey & Randall 1998 Drucker 1977 Hofer & Schendel 1978 Lorange & Vancil 1977 Andrews 1987 Steiner & Miner 1977 Quinn 1992 Miles & Snow 1978 Werther & Kerr 1995 Christensen et al. 1978
COMPETËNCIA ESSENCIAL
Hamel & Prahalad 1995
Hofer & Schendel 1978 Von Neumann & Morgensten 1944
Ansoff 1984 Simon 1947 Fahey & Randall 1998 Newmann 1950 Johnson & Scholes 1999 Schelling 1960
OBJETIVOS
Bethlem 2001 Allison 1971 Quinn 1991 Dixit & Nalebuff 1992 n/a
INTERAÇÃO C/ COMPETIDORES
Zaccarelli 2000 Fonte: Boaventura & Fischmann (2003) – tabela adaptada pelo autor
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TABELA 4 – Características dos Três Grupos de clubes de Futebol Europeu, segundo AT KEARNEY (2000)
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